bens comuns e negócio a alargada fatura da privatizaçomda água · lho felipe, com reverência de...

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nÚmero 138 15 de junho a 15 de julho de 2014 2 € periódico galego de informaçom crítica braSil 2014 24 Textos da Plataforma Pro-Oficialidade Galega e da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa exponhem como o espetáculo do Mundial de Fute- bol está a afetar aos setores populares mais desfavorecidos do Brasil. o leGado de neGreira 17 O Concelho da Corunha prevê investir uns 16,5 milhons para soterrar o tránsito de veículos nas Marinhas. Plataformas vizinhais tildam este projeto de “obra faraónica” e denunciam o elevado investimento de dinheiro público. N ovas da G ali a “O mundo do jazz é um mundo machista, como toda a nossa sociedade” xAn cAmpos, pianista e compositor de jazz pág. 22 oPiniom A minhA línGuA nom é mundiAl m. rosendo colApso, violênciA e direito: A políticA dA ‘normAlidAde’ por borxa colmenero / 3 o bArco por maurício delito / 28 SuPlemento central a reviSta os montes do lume João Aveledo expóm os usos tradicionais do fogo e refere proveitos tirados antigamente dos matagais cinemA Xurxo González reflete sobre as ajudas públicas ao audiovisual galego como ferramenta para um cinema ao serviço do país Apesar do esgotamento do modelo energético atual, Galiza continua sem preparar-se para o impacto do ‘peak oil’ / PÁG. 10 A alargada fatura da privatizaçom da água benS comunS e neGócio Desde os anos 90 diversos con- celhos entregaram o saneamen- to e abastecimento das águas a empresas privadas, chegando quatro delas a controlar boa parte da gestom destes serviços na Galiza. A experiência na pe- quena vila de Punxim, onde a vi- zinhança se revelou ante a suba das tarifas, e o sumário da Po- kémon, que recolhe indícios que apontam a práticas irregulares da empresa Aquagest, dotam de argumentos aos setores que re- clamam a re-municipalizaçom destes serviços. / PÁGS. 16 Dos clubes de alterne às cúpulas políticas redeS mafioSaS e corruPçom Da investigaçom das máfias po- liciais e de proxenetas que ex- ploravam mulheres na cidade de Lugo surgírom as operaçons 'Campiom' e 'Pokémon', onde diversos cargos políticos se vem imputados em casos de corrup- çom. Algumhas das peças cha- ve para o avance destas pesqui- sas judiciais foram o empresá- rio Jorge Dorribo, cliente dum dos clubes imersos na 'Carioca', e o ex-concelheiro luguês Fran- cisco Fernández Liñares, quem aportaria dados sobre subornos a cargos políticos. / PÁG. 18-19 acordo tranSatlÁntico de comércio e inveStimento Há vida depois do petróleo? um tratado Para abrir PaSSo aoS eStadoS unidoS da euroPa O Acordo Transatlántico de Comércio e Investimen- to (TTIP, em inglês) que estám a negociar a Uniom Europeia e os Estados Unidos pretende intensificar a vaga neoliberal e promover a desregulaçom dos serviços e dos mercados financeiros. Estas negocia- çons estám a decorrer num absoluto obscurantismo avalado polo regulamento europeu, sendo difícil mesmo para jornalistas e europarlamentares aceder a documentaçom sobre o desenvolvimento das con- versas. Porém, os 'lobbies' das transnacionais nom encontram tales impedimentos e participam em reunions preparatórias. / PÁGS. 20-21 Maria Pardo, ex portavoz do PPdeG salpicada polo sumário da ‘Pokémon’

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Page 1: benS comunS e neGócio A alargada fatura da privatizaçomda água · lho Felipe, com reverência de PP e PSOE, foi o detonante para que milheiros de pessoas saíram às ruas para

nÚmero 138 15 de junho a 15 de julho de 2014 2 €

p e r i ó d i c o g a l e g o d e i n f o r m a ç o m c r í t i c a

braSil 2014 24Textos da Plataforma Pro-OficialidadeGalega e da Articulação Nacional dosComitês Populares da Copa exponhemcomo o espetáculo do Mundial de Fute-bol está a afetar aos setores popularesmais desfavorecidos do Brasil.

o leGado de neGreira 17O Concelho da Corunha prevêinvestir uns 16,5 milhons parasoterrar o tránsito de veículos nasMarinhas. Plataformas vizinhaistildam este projeto de “obrafaraónica” e denunciam o elevadoinvestimento de dinheiro público.

Novas da Gali a

“O mundo

do jazz é um

mundo machista,

como toda

a nossa

sociedade”

xAn cAmpos,pianista ecompositorde jazzpág. 22

oPiniom

A minhA línGuA nom é mundiAl m. rosendo

colApso, violênciA e direito: A políticAdA ‘normAlidAde’ por borxa colmenero / 3

o bArco por maurício delito / 28

SuPlemento central a reviSta

os montes do lumeJoão Aveledo expóm os usos tradicionais do fogo e refereproveitos tirados antigamente dos matagais

cinemAXurxo González reflete sobre as ajudas públicas ao audiovisualgalego como ferramenta para um cinema ao serviço do país

Apesar do esgotamento do modelo energético atual, Galizacontinua sem preparar-se para o impacto do ‘peak oil’ / PÁG. 10

A alargada fatura daprivatizaçom da água

benS comunS e neGócio

Desde os anos 90 diversos con-celhos entregaram o saneamen-to e abastecimento das águas aempresas privadas, chegandoquatro delas a controlar boaparte da gestom destes serviçosna Galiza. A experiência na pe-quena vila de Punxim, onde a vi-

zinhança se revelou ante a subadas tarifas, e o sumário da Po-kémon, que recolhe indícios queapontam a práticas irregularesda empresa Aquagest, dotam deargumentos aos setores que re-clamam a re-municipalizaçomdestes serviços. / PÁGS. 16

Dos clubes de alterneàs cúpulas políticas

redeS mafioSaS e corruPçom

Da investigaçom das máfias po-liciais e de proxenetas que ex-ploravam mulheres na cidadede Lugo surgírom as operaçons'Campiom' e 'Pokémon', ondediversos cargos políticos se vemimputados em casos de corrup-çom. Algumhas das peças cha-

ve para o avance destas pesqui-sas judiciais foram o empresá-rio Jorge Dorribo, cliente dumdos clubes imersos na 'Carioca',e o ex-concelheiro luguês Fran-cisco Fernández Liñares, quemaportaria dados sobre subornosa cargos políticos. / PÁG. 18-19

acordo tranSatlÁntico de comércio e inveStimento

Há vida depois do petróleo?

um tratado Para abrir PaSSoaoS eStadoS unidoS da euroPa

O Acordo Transatlántico de Comércio e Investimen-to (TTIP, em inglês) que estám a negociar a UniomEuropeia e os Estados Unidos pretende intensificara vaga neoliberal e promover a desregulaçom dosserviços e dos mercados financeiros. Estas negocia-çons estám a decorrer num absoluto obscurantismo

avalado polo regulamento europeu, sendo difícilmesmo para jornalistas e europarlamentares acedera documentaçom sobre o desenvolvimento das con-versas. Porém, os 'lobbies' das transnacionais nomencontram tales impedimentos e participam emreunions preparatórias. / PÁGS. 20-21

Maria Pardo, ex portavoz do PPdeG salpicada polo sumário da ‘Pokémon’

Page 2: benS comunS e neGócio A alargada fatura da privatizaçomda água · lho Felipe, com reverência de PP e PSOE, foi o detonante para que milheiros de pessoas saíram às ruas para

02 oPiniom Novas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

Se tés algumha crítica a fazer, algum facto a denunciar, ou desejas transmitir-nos algumha in-quietaçom ou mesmo algumha opiniom sobre qualquer artigo aparecido no NGZ, este é o teulugar. As cartas enviadas deverám ser originais e nom poderám exceder as 30 linhas digitadasa computador. É imprescindível que os textos estejam assinados. Em caso contrário, NOVAS DA

GALIZA reserva-se o direito de publicar estas colaboraçons, como também de resumi-las ou ex-tratá-las quando se considerar oportuno. Também poderám ser descartadas aquelas cartasque ostentarem algum género de desrespeito pessoal ou promoverem condutas antisociaisintoleráveis. Endereço: [email protected]

o Pelourinho do novaS

nem um euro Para o colonialiSmo elétrico!

De momento nom temos na Gali-za nenhuma cooperativa que co-mercialize energia 100% renová-vel. Porém, até que nos dotemosdeste serviço comunitário, nomtemos porquê continuar a enri-quecer as multinacionais elétri-cas. Existem alternativas e estámao alcance de todo o mundo. Porexemplo, a cooperativa vascaGoiener, que tem sócias no restodo Estado (especialmente emCantábria). Associar-se é tam fácilcomo achegar 100 euros de quotaúnica, em conceito de capital so-cial da cooperativa. Umha vezrealizado o ingresso, já se podesolicitar a mudança de provedorelétrico para a Goiener, que entre-ga o certificado que garante que aenergia que compra a usuária é100% renovável. Aliás, com esses100 euros nom seremos “clien-tes”, senom sócias cooperativas,com direito a participar na assem-

bleia anual e sermos informadasde todas as decisons da diretiva.

Outra opçom é a Som Energiacatalá. Como no caso de Goiener,a mudança de provedor é muisimples, e embora como consu-midoras continuemos a pagar omesmo pola eletricidade, a por-

çom da fatura destinada a pagarà comercializadora irá para umhacooperativa ecologista e nom pa-ra o oligopólio elétrico. Seja comofor, nom temos nenhum pretextopara continuar a dar-lhe o nossodinheiro ao capitalismo energéti-co e anti-ecológico. Por que conti-

nuar a engrossar as suas contasquando é tam singelo nom fazê-lo? Que sentido tem financiareconomicamente o que denuncia-mos no discurso?

Para além da decisom pessoal,poderia-se organizar coletiva-mente a “desconexom” com o ca-

pitalismo energético: perto de 40centros sociais estám a financiaressas empresas mês a mês, locaissindicais, estabelecimentos coo-perativos, redaçons de meios decomunicaçom comunitária, esco-las populares, etc. Poderia-se cal-cular o dinheiro que mensalmen-te se deixa de transferir ao oligo-pólio, e incentivar esta “desobe-diência” ou “objeçom de cons-ciência” elétrica criando algumdistintivo que colocar nos estabe-lecimentos que a adiram. Porexemplo, algum colante do estilo“Neste local funcionamos comenergia 100% renovável e coope-rativa”; ou um selo para o que seproduza nesse regime: “este jor-nal foi produzido com energia100% renovável e cooperativa”,etc. E, sobretudo, irmos pensandoem criar umha cooperativa gale-ga, que dê trabalho na terra e cor-te cumplicidades económicascom uns dos principais espolia-dores da Galiza, responsáveisdum modelo energético suicida.

Carlos C. Varela

Som diversas as vozes quelevam alguns anos diag-nosticando a crise do regi-

me do 78 e das suas instituiçons,incluída a monarquia. A abdica-çom do rei Juan Carlos e a suces-som express na figura do seu fi-lho Felipe, com reverência de PPe PSOE, foi o detonante para quemilheiros de pessoas saíram àsruas para reclamar capacidadede decisom nom só sobre a figurado Rei, senom sobre o modelo deEstado na sua totalidade, incluin-do o esquema territorial e o direi-to de autodeterminaçom dos po-vos. Com brocha gorda, poderia-se dizer que se evidenciou a dia-

léctica entre, por umha banda, osque querem umha segunda tran-siçom bourbónica deixando todoatado e bem atado e; do lado con-trário, os que defendem um pro-cesso constituinte em chave derutura democrática, incluindoneste segundo grupo um espec-tro político e social muito amploe contraditório nalguns casos.

Em contraste com estas mobi-lizaçons, fôrom escassas as vozesde protesta contra o TratadoTransatlántico de Comércio e In-vestimento (TTIP por suas siglasem inglês) que os Estados Unidose a Uniom Europeia levam mesesa negociar. Nom surpreende o si-

lêncio. Apesar da sua transcen-dência, ou precisamente por morda sua transcendência, a nego-ciaçom está a decorrer em estritaconfidencialidade e sem fazer ba-rulho. O também conhecido co-mo Acordo de Livre Comérciopersegue, nem só diminuir as jámínimas barreiras arancelárias,mas homologar a baixa as legis-laçons europeias e estadouniden-se e adapta-las às necessidadesdas grandes multinacionais.

Assim, a aprovaçom do TTIP(prevista para 2015) vai suporum passo de gigante no processode esvaziado democrático dos es-tados-naçom ocidentais, pois im-

pedirá-lhe aos parlamentos mo-dificar as suas leis quando as mu-danças vaiam contra o estipuladono tratado. Para isso, está previs-ta umha cláusula para as dispu-tas entre empresas e estados se-gundo a qual as primeiras pode-rám demandar aos segundos an-te tribunais supranacionaisquando os países impulsem cám-bios regulatórios que podam ircontra os benefícios esperadospolas multinacionais. Neste sen-tido, é ilustrativa a denúncia in-terposta por Philip Morris contrao Estado do Uruguai por endure-cer a lei do tabaco: os membrosdo tribunal de arbitragem fôrom

designados polo Banco Mundial.Neste cenário, qualquer movi-

mento a prol do direito a decidire da soberania popular nom serátal de limitar-se a reivindicar es-colher entre monarca ou presi-dente da República. Conta acasocom mais legitimidade demo-crática o TTIP ou a Troika doque a monarquia? Além da Che-fatura do Estado, um democratadeve defender o direito dos po-vos a decidir sobre todas aque-las questons que lhes afetarem.De nada serve contar com umEstado republicano próprio seeste continua a ser um súbditodo gram capital.

Os Reis som os mercadoseditorial

humor SuSo Sanmartin

D. LEGAL: C-1250-02 / As opinions expressas nos artigos nom representam necessariamente a posiçom do periódico. Os artigos som de livre reproduçom respeitando a ortografia e citando procedência.

editorAA.c. minho mediA

conselho de redAçomiván G. riobó, Aarón lópez rivas, rubén melide, xavier miquel, raul rios,xoán r. sampedro, olga romasanta, Alonso vidal e Ana viqueira

secçonscronologia: iván cuevas / economia:raul rios / mar: Afonso dieste / media: xoán r. sampedro e Gustavo luca / Além minho: eduardo s. maragoto / povos:

José Antom ‘muros’ / dito e Feito: olga ro-masanta / A denúncia: iván García / despor-tos: Anjo rua nova e xermán viluba / consu-mir menos, viver melhor: xan duro / A crian-ça natural: maria Álvares rei / Agenda: irenecancelas / A revista: rubén melide / A Gali-za natural: João Aveledo língua nacional:isabel rei samartim / criaçom: patricia Ja-neiro / cinema: xurxo chirro, iván GarcíaAmbruñeiras e Julio vilariño

desenho GrÁFico e mAQuetAçomhilda carvalho, manuel pintor

FotoGrAFiAArquivo nGZ, sole rei, Galiza independente(GZi-Foto), Zélia Garcia, borja toja

AdministrAçom: carlos barros Gonçales

AudiovisuAl: Galiza contrainfo

humor GrÁFicosuso sanmartin, pestinho, xosé lois hermo,Gonzalo, ruth caramés, pepe carreiro, mincinho, beto

Fecho de ediçom: 20/06/2014

correçom linGÜísticAxiam naia, F. corredoira, vanessa vila verde,mário herrero, Javier Garcia, iván velho, Josédias cadaveira, Albano coelho

colAborAm neste nÚmeroborxa colmenero, maria rosendo, miguelGarcia, benet salellas i vilar, xoán ramóndoldán García, carlos c. varela, JosephGhanime, sílvia pinha, André Guieiro, xaviercarriba, l. dopazo ruibal, plataforma prooficialidade Galega, larissa Araújo, luisacuevas raposo, J. sanches, maurício delito,miguel Auria, hadrián elices

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No passado mês a AGALvem de lançar umha novacampanha da língua sob a

legenda: “O mundial fala galego”.A minha decepçom nom é tantacomo a indignaçom.

Por todas é conhecida a vontadeda AGAL de situar o galego comoumha língua de prestigio mundialque pode oferecer-nos umhacheia de oportunidades, entre elasmaiores opçons de intercambiocultural e comercial no Globo.

Eu sempre fum muito céticacom estas possibilidades que elasenfatizam porque, se bem é certoque ao reconhecermo-nos na nor-mativa reintegracionista faz-seevidente que a nossa língua é fala-da com outros sotaques além doMinho e do atlântico, nom acho

que o prestígio de umha língua te-nha de vir dado polas opçons mer-cantilistas com as que esta provêas suas falantes, máxime quandoo intercambio mercantil ao que sefaz referência sustenta-se em eco-nomias capitalistas e neoliberais.Também o intercámbio culturalpossibilitador da nossa línguanom pode eximir-nos da toma deconsciência crítica sobre o factode estar-nos a relacionar com po-vos que nom tinham o galego-por-tuguês como língua autóctonemas milheiros de outras línguasnativas que foram exterminadascom o Imperialismo português.

É por isso que eu me considerogalega. Por pertencer a um povoe a umha língua oprimida. E, aoigual que da condiçom de mulherna qual me construo, busco sairdessa opressom resistindo desdeabaixo e caminhando cara à

igualdade, nom buscando a su-premacia frente a outras. O meusonho nom é chegar a ser o que aopressora é, senom acabar com aopressom toda e que cada quempoda viver na liberdade da suaprópria identidade.

Por isso estou indignada com acampanha da AGAL, porque nomentendo como para dar prestígio à

nossa língua podemos passar-nosao bando do opressor e fazer apo-logia dum evento como a Copa doMundo de Futebol, que atualmen-te está a massacrar o Brasil:

O Comitê Popular da Copa falaem mais de 20.000 famílias atingi-das com deslocamentos desde2009 no Rio para a construçom decomplexos comercias e rodoviasque levam nada a lugar nenhum.Demoliçons sem prévio aviso compessoas ainda dentro das casas eremoçons para áreas sem estrutu-ra, desde saneamento básico atérede escolar. Por nom falar do re-forço brutal na “segurança” com aaçom das forças armadas e da po-lícia, que estám a cometer viola-çons sistémicas de direitos huma-nos contra as comunidades po-bres e negras e de jeito especialcontra as mulheres.

O processo de mercantilizaçom

e elitizaçom do país está a ser bru-tal (cerca de 100.000 milhons deeuros já foram gastos em obras).Mas também o som os movimen-tos insurgentes, condenados e de-monizados polos mídia. Com es-ses é que eu estou e com esses éque eu me sinto galega, e se possodizer que “a rebeldia fala galego”nom é porque as suas gentes fa-lem galego-português, mas por-que muitas delas ainda falam ma-kuxi, terena, boniwa ou guaraní;línguas que, ao igual que a minha,foram oprimidas.

O nosso reto deve ser dignificaro galego a partir da perspectiva dadiversidade e nunca da suprema-cia capitalista e patriarcal.

Mais info:

http://www.portalpopulardacopa.org.br/

http://blogueirasnegras.org/2014/06/02/n

ao-vai-ter-copa-se-nao-houver-direitos/

03oPiniomNovas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

oPiniom

Acontecimentos como o Ca-

so Bárcenas, o 22-M emMadrid, a chamada opera-

ção aranha ou o assassinato daPresidenta da Deputação de Leão,constituem fatos que podemos si-tuar como os rasgos do desmoroneda ordem topológica vigente. O co-lapso de um corpo político nosseus diferentes lugares, já for naintensificação dos conflitos inte-restatais ou na guerra intestina.Um mal ataca o corpo político. To-do parece que rache, de fora e dedentro, a arquitetura jurídica e po-lítica sofre uma implosão sem pre-cedentes na contemporaneidade.

Porém, as janelas de oportuni-dade, messianicamente anuncia-das, não se albiscam tão facilmen-te. O conflito situou-se no centroda política, o príncipe de Maquia-velo impus a sua lógica. A violên-cia, a legitimidade e o Direito somos conceitos que atravessam os fa-tos políticos. Assim, numa atentaleitura ao autor florentino, estedeixou-nos duas ideias para com-preender o presente momento. Opoder hegemónico tanto é capazde produzir instrumentos defensi-vos contra as ameaças, como utili-

zar as revoltas como armadilhapara reforçar o seu aparelho. Des-ta forma, os elementos destrutivosdo sistema são utilizados em ter-mos produtivos para reforçá-lo. Aforça e a violência são, então, plu-rais e ubíquas, ligando aos cida-dãos sempre ao Estado, ao siste-ma, ao capitalismo, sem qualquerhipótese de separação efetiva.

Se hoje em dia a crítica socialpensava que o capitalismo seriavencido polas organizações revo-lucionárias, as quais nos achega-riam ao paraíso socialista, a tarefados revolucionários de hoje é ape-nas conservar “algumas” conquis-tas essenciais. A crítica social, co-mo nos diz Anselm Jappe, choca

com a violência, com a legitimida-de e com o Direito, portanto, coma impossibilidade de mudar radi-calmente o estado de cousas quenão duvida, em troques, em recor-rer à força. Parece que só restaprocurar certo possibilismo, lutarpor não ficar excluído do reparto,por cativo que este for.

Já lá polos anos vinte, WalterBenjamin nos ensinou que o muroinfranqueável do sistema político,quer dizer, o seu ordenamento ju-rídico e político é uma forma decontrolo da vida. O Direito e a legi-timidade do sistema provem domesmo substrato: a violência doEstado. Uma violência que é à vezfundadora de Direito e conserva-

dora do mesmo, movendo-se co-mo um pendulo que vai desde aforça ao poder e desde o poder àforça. Deste jeito, estabelece umcorsé na sociedade que limita omargem de manobra, determinan-do a vida justa, a vida normaliza-

da, submetendo-a a um juízo cons-tante. O Estado, através do Direito,busca um crime que ainda não secometeu, busca responsáveis defatos hipotéticos, e para isto ante-cipa a sentença condenatória,prescindindo da culpa real. A vidanão é julgada por ser culpável,mas é culpável para ser julgada.

A violência financeira, a violên-cia imobiliária, a violência laboralou a violência machista, a violên-cia em todas as suas faces cons-trói, pola força, não só um quadrolegal, seja na forma de um deter-minado sistema tributário, umprocedimento de despejos, umareforma laboral ou reparto de quo-tas entre homens e mulheres, se-não que a violência do Estado é aque legitima, em última instância,o marco interpretativo da realida-de. Eis, talvez, o fundo da questão,mudarmos o marco interpretativoda realidade, virarmos o sentido

comum, construirmos a nova(nossa) normalidade emancipado-ra, antagonista e constituinte.

Colapso, violência e Direito: a política da ‘normalidade’

borxa colmenero

A minha língua nom é mundialmaria rosendo

o direito e a legitimidade do sistema provémdo mesmo substrato:a violência do estado.uma violência que é à vez fundadorade direito e conservadora do mesmo

o intercámbio possibilitador nompode eximir da críticade estar-nos a relacionar com povosque nom tinham o galego-portuguêscomo língua autóctone

Page 4: benS comunS e neGócio A alargada fatura da privatizaçomda água · lho Felipe, com reverência de PP e PSOE, foi o detonante para que milheiros de pessoas saíram às ruas para

04 oPiniom Novas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

Nicolau Eimeric, nado emGirona em 1334, inquisidorgeral da Coroa de Aragom,

foi autor dum dos tratados mais fa-mosos sobre o ofício inquisitoriale, na reflexom sobre o valor das de-laçons dos cúmplices do acusado,desbotava de jeito taxativo o seupeso como única prova no proces-so judicial. Desgraçadamente, o di-reito de emergência construído poralguns Estados pretensamente de-mocráticos no s. XX rebaixou mui-to este enganido listom provatórioaté o ponto de que, em nome da lui-ta antiterrorista, se validou a possi-bilidade de aceitar como única esenlheira prova dumha condena adeclaraçom dum arrependido. Itá-lia de 80 e 90 do século passado foio autêntico campo de treino destaexcepçom processual. Encontra-sevetada como tal noutros países em

que se exige que haja sempre con-firmaçom do que explica o delator

além da sua própria declaraçom eque esta se filtre num interrogató-rio cruzado com quem for acusado,como acontece por exemplo natradiçom anglo-saxá.

A Audiência Nacional espanho-la condenou este mês de Maio de2014 o moço Carlos Calvo Varelaa doze anos de privaçom de liber-dade por delitos de pertença a or-ganizaçom terrorista (ResistênciaGalega) e possessom de explosi-vos ao serviço desta organiza-çom, com a única prova da con-fissom em juízo do outro acusado,Xurxo Rodríguez, que chegarapreviamente a um acordo com afiscalia para lhe rebaixar a pena àmetade, tal como assumiu o Tri-bunal, em troca de modificar osentido das suas declaraçons, quesempre foram de exculpaçom doCarlos Calvo, e convertê-las emincriminatórias. A sentença, redi-

gida por Fernando Grande-Mar-laska e com o voto em contra dumdos três magistrados que forma-vam o tribunal, situa-se assim navanguarda do direito de emergên-cia contemporâneo, mesmo alémdas soluçons desesperadas dostribunais italianos nos anos de

chumbo, a verdade é que aos queo vivemos na primeira linha der-ruba-nos todos os esquemas.

Podem-lhe oferecer a alguém arebaixa dumha pena à metade (aXurxo Rodríguez impugérom-lheseis anos de privaçom de liberda-de) em troca de mudar as suas de-claraçons. Esta pessoa declara nojuízo negando-se a responder asperguntas do advogado do outroacusado (e portanto extirpandoqualquer hipótese de contradiçomda prova como exigiria o princípiode justiça mais elementar). E todoisto, sem mais, passa-se a impri-mir numha sentença com umhapena própria dum delito de homi-cídio. Isto sim que resulta um au-têntico atentado contra o sentidocomum e contra a inocência dal-guém que, como Carlos Calvo,sempre negou ter nengum tipo derelaçom com organizaçons de tipoterrorista ou semelhante e dequem os mesmos agentes que agí-rom no juízo pudérom acusar co-mo muito de fazer parte do uni-verso do independentismo galego.

Custa-me muito nom pensar naInquisiçom e de aí a cita do princí-pio. O sofrimento que se provocavanos justiçáveis polo Santo Ofíciofazia com que os cidadaos fossemquem de aceitar como própria amais abominável das heresias. Osistema de pactos com a fiscalia daAudiência Nacional hoje pode-lhefazer declarar a qualquer herege omais terrível dos crimes a respeitode qualquer outro acusado, em be-nefício de nom sofrer o tormentodumha pena alongada e dos pré-mios previstos na legislaçom anti-terrorista para os arrependidos co-

laboradores. Neste caso o sofri-mento nom é físico, mas a coaçomao direito à livre declaraçom é amesma. E o mais grave, a inocên-cia daquele contra quem se vira adelaçom nom sabe como fazer pa-ra sobreviver a isso. Carlos Calvo,vemo-nos no Tribunal Supremo.

Benet Salellas é advogado

oPiniom

Nom concordo com amaioria das reaçons quetenho percebido no âmbi-

to do independentismo a respeitodo sucesso eleitoral de Podemos.As acusaçons a esta formaçompolítica de contar com a ajudados meios, de apoiar-se num li-derado personalista, de ter o co-raçom em Madrid ou de carecerde estrutura na Galiza, além demuito matizáveis, nom vam aofundo da questom: explicarmospor que a maioria do (chame-mos-lhe assim) 'voto crítico' dasgalegas e dos galegos deixou derecair no nacionalismo. As des-qualificaçons a quem recebeu es-se voto pode servir para acalmaralgumha consciência e cerrar fi-las, mas nom evitam nem corri-gem o que, para mim, é umhatendência preocupante: o nacio-nalismo galego está a perder ahegemonia do sentimento rebel-de do nosso povo.

Confesso que nom participeina eleiçons europeias, posto quesó me interessam como indica-dor demoscópico. Mas destaperspectiva, o espectacular re-sultado de Podemos alerta-nosdum fenómeno que, talvez, tenha

as suas origens no 15-M. Essemovimento marcou um antes eum depois na história política re-cente do nosso país, enquanto foio primeiro fenómeno social con-testatário, capaz de mobilizar eorganizar milhares de galegas egalegos, que nom estivo ideoló-gica e politicamente hegemoni-zado polo nacionalismo. Cego,torpe, orgulhoso e incapaz de as-sumir a sua falta de iniciativa, onosso movimento auto-excluiu-se maioritariamente daquelaspraças ateigadas de gente quesuava rebeldia, e por primeira

vez -e ao contrário das geraçonspolitizadas a raiz da insubmis-som, da LOU, de Nunca Mais oudo Nom à Guerra, por citar asque me som próximas- permitiuque a mocidade inqueda que as-sistia aos debates naqueles espa-ços se socialízasse politicamenteem outros discursos, em outrasprioridades, em outros quadrosde referência. As conseqüênciasestám por vir.

Estamos a viver umha mudan-ça profunda nas formas de orga-nizaçom e participaçom política,que se há-de saldar com a desa-

pariçom das velhas estruturas(partidos, sindicatos e organiza-çons cuja crise é manifesta quan-do, nas circunstâncias actuais,som incapazes de protagonizar odescontento social) e a invençomdoutras novas. Perante esta reali-dade, o nacionalismo pode tomara iniciativa e oferecer respostasautóctones, ou atrincheirar-se nodogmatismo e deixar que as pro-postas venham de Madrid. Falan-do claro: se quando a sociedadeexige assemblearismo, participa-çom, flexibilidade, originalidadee o sacrifício das identidades e asburocracias partidárias, desde onacionalismo respondemos comGaliza pola Soberania, nom é deestranhar que a simpatia e osapoios vaiam cara a Podemos.

Inveja, isso é o que me provocaa mim o triunfo de Pablo Iglesias.Inveja sá, porque gostaria de quefosse o nacionalismo galegoquem falasse nos meios sem pe-los na língua, quem propugessemétodos abertos e participativosde acçom política, quem decla-rasse a guerra à caste dos políti-cos engravatados que passeiamnos mesmos iates e comem nosmesmos restaurantes que a oli-garquia... E quem se convertesse,assim, na referência principal daGaliza indignada.

Poderemos?miguel Garcia

Direito de emergência, além da Inquisiçombenet salellas i vilar

o nacionalismo podetomar a iniciativa e oferecer respostasautóctones, ou trincheirar-se nodogmatismo e deixar que as propostas venhamde madrid

o sistema de pactoscom a fiscalia podefazer declarar aqualquer ‘herege’ o mais terrível doscrimes a respeito de qualquer outro acusado

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05aconteceNovas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

aconteceSegundo o expediente sancionador, inter-posto pola Subdelegaçom do Governo, osnove ativistas da Plataforma Sarriana poloRio aos que se quere multar teriam causado“desordens públicas” ao protestar contra atala de árvores na contorna natural do rio.

6.900 euroS em multaS Por defender o rio SÁrria

Cadernos de Comunicación e Análi-se, o meio digital da diáspora galega,anunciou o seu fecho após quase qua-tro anos de atividade. Gestionem Me-dia, a empresa editora, já formou um-ha equipa para reformular o projecto.

‘cadernoS de comunicaçom’ bota o fecho

NGZ / O estado lançou na semana posterior à de-tençom de Maria Osório mais umha montagempolicial-judicial. O ativista compostelano BrunoRuival foi detido baixo legislaçom anti-terrorista,incomunicado e transladado a Madrid, onde tivoque declarar diante do juiz Eloy Velasco da Au-diência Nacional espanhola que tinha ordenado asua detençom sob a acusaçom de 'colaboraçomcom organizaçom terrorista'. O moço foi liberadoapós o desembolso de 5.000 euros em conceito defiança, enquanto o cargo de 'colaboraçom' seguevigente à espera de juízo. A advogada que aten-deu o compostelano, as acusaçons seriam 'infun-dadas' por completo. A imprensa comercial cara-terizou-se mais umha vez por atuar como parte

integral da estratégia de criminalizaçom, publi-cando fotografias de Ruival ao que nomeáromdesde o primeiro momento de 'colaborador' ou'membro de Resistência Galega'.

nova montagem policial

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NGZ / A ativista Maria Osório Lo-pes foi capturada pola polícia es-tatal em Ponferrada no passado14 de junho. Após a sua detençom,efetuada enquanto a militante seencontrava com o seu pai e maena cidade berciana, à jovem inde-pendentista foi-lhe aplicada a in-comunicaçom. Foi deslocada paraMadrid, onde passou a disposi-çom da Audiência Nacional espa-nhola na manhá da segunda-feira.Após o passo polo tribunal de ex-ceçom foi transladada polos cor-pos armados à cadeia de Soto delReal, onde aguardará por um des-tino definitivo para o cumprimen-to dos quase sete anos que lhe res-tam de condena.

“Nom vou petar à porta de nengumha prisom”Umha semana antes da sua deten-çom, no dia 7 de junho, o centro so-cial compostelano A Gentalha doPichel acolhia um ato, organizadopolo Organismo Popular Anti-Re-pressivo Ceivar, de apoio à militan-te. O ato foi acompanhado por umexagerado dispositivo da políciaespanhola, que interveu todas asvias de acesso ao espaço coletivodo bairro de Santa Clara. Registosem automóveis, identificaçonsmassivas, entradas em autocarros,e mesmo o impedimento a acede-rem ao ato a algumhas pessoas -entre as quais dous redatores desteperiódico- concretizárom a tomaquase militar da zona.

No interior do ato, em video-con-ferência através dumha conexom

encriptada, Maria Osório confirma-va que se atopava na clandestinida-de, e que nom iria facilitar o labordos corpos repressivos. "Vam-medeter e vam-me volver encarcerar,mas isto só vai produzir-se porqueme venham buscar novamente".

No ato, um vozeiro de Ceivar ca-raterizou de “farsa” o juízo a queOsório foi submetida junto comAntom Santos, Teto Fialhega eEduardo Vigo em junho de 2013,e dixo que “vai continuar a ser re-corrida a todos os meios e a todasas instáncias possíveis”.

Maria Osório declarou-se nasua intervençom “insubmissaante um Estado do que só conhe-ço agressons, repressom e per-seguiçom política e ideológicadesde a adolescência”.

Polícia espanhola encarcera a independentistaMaria Osório, após um mês em ‘busca e captura’

a jovem reivindica num ato, diaS anteS, “a Geraçom que oPtou Pola luita como forma de diGnificar a exiStência”

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06 acontece Novas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

A greve do lixo convocada em Lugo polas trabalhadorasde Urbaser saldou-se com o atropelo dumha delegadasindical de UGT por parte dum responsável da empresaque se deu à fuga. Ademais, como medidas repressivas,a empresa despediu a doze trabalhadoras e abriu expe-diente a todo o Comité de Greve.

deleGado de urbaSer atroPela SindicaliSta

A Fiscalia Anticorrupçom solicita três anos de prisom pa-ra quatro ex-diretivos das caixas de aforro, assim como adevoluçom de 18,9 milhons de euros e umha multa de75.000. Os acusados, entre os que está Fernández Gayoso,teriam cometido presuntos delitos de apropriaçom inde-vida e estafa ao pôr prejubilaçons milionárias para si.

fiScalia Pede 3 anoS de cadeia Para a cÚPula daS caixaS

O primeiro dos dias do macro-jul-gamento contra ativistas sob aacusaçom de participar em alter-cados durante a manifestaçom deGB de 2009 foi a jornada em quemais se fijo notar a solidariedade.Dúzias de pessoas concentraram-se nas portas dos julgados, partici-pando neste ato de apoio repre-sentantes de organizaçons políti-

cas e de defesa da língua. Tambémesta foi a primeira jornada de umforte despregamento policial queestivo presente nas quatro jorna-das de julgamento. A intimidatóriapresença de agentes policiais, queem ocasions mesmo contou comvalados metálicos, impediu a livrecirculaçom das pessoas e o livreacesso a um prédio público nosdias em que se desenvolveu o jul-gamento, obrigando as pessoassolidárias deslocadas até os julga-dos compostelanos de Fontinhas apermanecer no passeio frente àsdependências judiciais.

#8f45anosEm datas prévias às vistas oraispúblicas deste processo, saltavaàs redes sociais umha campanhade solidariedade mobilizada atra-vés do hashtag #8f45anos. Estaetiqueta virtual salientava a tota-lidade de anos de prisom que aFiscalia solicitava para as pessoasacusadas de delitos de desordenspúblicas, danos e/ou atentado du-rante a marcha de GB na cidadede Compostela. Deste jeito, a acu-saçom do ministério público im-putava às 12 pessoas um delito dedesordens públicas com agravan-te de disfraz para logo engadir anível individual diversos cargos

de danos e/ou atentado. Estes úl-timos cargos foram imputadoscom diferente gradaçom a cadaumha das pessoas encausadas,atingindo algumha das petiçonsos sete anos de prisom.

Mobilizaçom em defesa da línguaDas doze pessoas acusadas, apre-sentaram-se onze ante a juíza Ma-ria Elena Fernández Currás afir-mando na sua maioria que naque-le dia estavam em Compostela pa-

ra participar em manifestaçonsconvocadas em defesa da línguagalega. Por outra banda, um delesassegurou que na jornada dos fei-

tos nom estava nesta cidade, se-nom que permanecera na sua ca-sa em Vigo. Várias das pessoasque afirmaram estar na capital daGaliza naquele 8 de fevereiro in-dicaram que sofriram agressons einsultos por parte de participantesna manifestaçom de GB.

Defesa impugnou as provasA Procuradoria afirmou, na ex-posiçom das conclusons, queneste julgamento haveria que

Visto para sentença julgamento contraativistas polo galego trás cinco anos

fiScalia retira carGoS a douS doS acuSadoS PoloS altercadoS durante a manifeStaçom de ‘Galicia bilinGüe’

A.L.R. / Nos dias 20, 22 e 23 demaio e 13 de junho realizou-seo julgamento contra 12 ativis-tas em defesa da língua que fo-ram acusados pola Procurado-ria de desordens públicas e di-ferentes delitos de danos e/ouatentado durante a manifesta-çom que o coletivo Galicia Bi-lingüe (GB) encabeçara na ci-dade de Compostela em feve-reiro de 2009. Inicialmente, oministério público elevava apetiçom das penas, no seuconjunto, a um total de 45 anosde prisom e umha indemniza-çom superior aos 34.000 eu-ros. Porém, no final das quatrojornadas de julgamento a Pro-curadoria retirou todos os car-gos a duas das pessoas acu-sadas. Para a defesa, este mo-vimento evidencia a invalidezdas provas apresentadas. vários acusados

afirmaram receberagressons e insultos demanifestantes de Gb

11.05.2014 / Vizinhança de Pun-gim impede a entrada na igrejaao párroco, ao que rejeitam po-los sermons ultras e machis-tas. Depois, o cura demite-se.

12.05.2014 / Apresenta-se emPonte Vedra ‘Salvemos a Fra-cha’, plataforma das pessoasafetadas pola A-57 em defensado entorno natural e cultural.

13.05.2014 / Vizinhança de Teis(Vigo) manifesta-se contra aprivatizaçom do Centro Cívico.

14.05.2014 / Centos de pessoastombam-se diante dos hospi-tais galegos para protestar po-lo anúncio do maior feche decamas na história do Sergas.

15.05.2014 / Uns 2.000 operá-rios do naval percorrem 20 qui-lómetros da ria de Ferrol paraexigir contratos e datas con-cretas para os existentes.

16.05.2014 / Trabalhadores deSeaga protestam em Santiagopara reclamar carga de traba-

lho e denunciar a “prevençomzero” contra os incêndios.

17.05.2014 / Milhares de pes-soas manifestam-se simulta-neamente em defesa do galegoem oito cidades.

19.05.2014 / Morre em Redon-dela um motorista ao cair o seucamiom por um balo da N-550.

21.05.2014 / Um 30% dos trabalha-dores galegos cobra menos dosalário mínimo, segundo a UGT.

22.05.2014 / A.R.R., trabalhadormorre em Compostela atrapadonum guindastre. Na Guarda, En-rique G. Alonso e Diego G. Mota,pescadores de Tui, desaparecemarrastrados polas ondas.

23.05.2014 / Referendo no IESde Cacheiras sobre a cadeirade religiom, onde o 87,5% dospais e maes votam em contrade que tenha peso lectivo.

24.05.2014 / Bombeiros deMonforte, Chantada, Sárria,

Santa Comba, e As Pontes re-clamam a rescisom do contratocom Nanutecnia trás dous des-pedimentos “ilegais”.

25.05.2014 / J.J.R., sem-teito de45 anos nascido em Múrcia,aparece morto numha vivendaabandonada em Lugo.

26.05.2014 / Adrián Varela, do PP,vereador em Compostela impu-tado por falsidade documental,tráfico de influencias e suborno,apresenta a demissom.

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As reduzidas dimensons da sala dificultárom a presença de público nas primeiras jornadas

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07aconteceNovas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

O Concelho da Corunha (PP) aumentou quase um 25% osorçamentos para o Sam Joám com respeito a 2013. A ce-lebraçom, rebaptizada como ‘San Juan is back’, contacom concertos que chegam a custar mais de 60.000 eurospor grupo. Desde o BNG denunciárom que o PP estea aconverter esta festa popular num macrofestival.

neGreira GaSta 600.000 euroS no ‘San juan iS back’

A sentença firme emitida polo Julgado do Social número3 de Vigo condenou o hospital Povisa a restabelecer ascondiçons laborais de 110 auxiliares de clínica e celado-res. Os sindicatos celebrárom a decisom já que, após osúltimos despedimentos, o restabelecimento das quendasde trabalho obrigará a empresa a fazer contrataçons.

Sentença condena PoviSa e dÁ razom aoS SindicatoS

dar resposta ao interrogante de oque acontecera aquela jornadaem Compostela e definir o que fi-geram as pessoas acusadas. Paraisto, o ministério fiscal contavacom diversos vídeos e fotogra-fias, declaraçons policiais e asnotícias publicadas nos meios decomunicaçom comerciais. A de-fesa pediu num primeiro momen-to a impugnaçom das provas au-diovisuais através das que se pro-cura indentificar as pessoas acu-sadas. Na vista final os advoga-dos da defesa insistiram na faltade garantia de tais provas ao con-siderar que nom se conhecia aprocedência dos vídeos nem qualfoi o seu processo de ediçom.

As diversas defesas expugéromtambém o emprego “viciado” querealizou a Procuradoria do delitode desordens públicas. O letradoBorxa Colmenero considerou queneste caso nom se dam os elemen-tos que comporiam tal tipificaçom,pois nom se acreditou a existênciade um sujeito organizado paraquebrantar a paz pública na jorna-da dos feitos. As defesas tambémassinalaram a improcedência dasdiversas acusaçons de danos eatentado, pois no percorrer do juí-

zo nom se individualizaram estesdelitos. Assimesmo, questionaromos depoimentos policiais em quese afirmava que alguns dos acusa-dos portavam elementos comomartelos ou puntais, pois as decla-raçons sobre este tema modifica-ram-se em várias ocasions duranteo procedimiento e os elementosque se apresentaram na sala ape-nas foram um cacete e gudes.

Depoimentos policiaisNa sua intervençom nas conclu-sons, o avogado Guillermo Presalembrou ante a juíza que as teste-munhas policiais nom som “im-parciais” e que o seu interessepassa por conseguir umha conde-na que se corresponda com osseus atestados. Presa salientouque mesmo manifestaram cousascontrárias a feitos provados emsentenças firmes. Os depoimentos

policiais também foram duramen-te criticados por Manuel Chao,quem solicitou que se abrisse um-ha investigaçom por falso testimó-nio a três dos agentes que se apre-sentaram nas vistas orais. Destejeito, Chao pediu que se investi-gasse a terminal telefónica de umdeles, ao ter-se escutado que fala-va com alguém sobre o seu depoi-mento justo depois do seu teste-munho. As outras duas testemu-nhas policiais, segundo indicaChao, teriam estado de guarda nosjulgados e presentes nos depoi-mentos testemunhais.

Por outra banda, o letrado Ale-xandre Cortizas salientou nassuas conclusons que os agentespoliciais reconheceram a exis-tência de umha “lista negra” deindependentistas. “Se há alterca-dos, é mais fácil tirar da 'lista ne-gra' do que investigar os factos”,expujo Cortizas.

Dilaçons indevidasNas suas conclusons finais, a Pro-curadoria anunciou que retira to-dos os cargos contra dous dosacusados. Um deles é o preso in-dependentista Roberto Fialhega'Teto' quem foi deslocado para es-te julgamento desde o penal de Es-tremera, na Comunidade de Ma-drid, para permanecer durante opercorrer destas vistas na cadeiade Teixeiro. A outra pessoa cujoscargos foram retirados já acudiraa um juízo em que umha sentença

confirmava que sofrira umhaagressom por parte dum manifes-tante de GB. Por outra banda, aProcuradoria modificou tambémum cargo de atentado por um deresistência e engadiu a outro dosacusados um agravante num deli-to de danos. Este último movi-mento provocou que a defesa ale-gasse indefensom.

Assim, fica visto para sentençaum processo que já demora maisde cinco anos. Precisamente, Guil-lermo Presa expujo que as diver-sas dilaçons neste processo foramprovocadas fundamentalmentepor erros e modificaçons nos es-critos da acusaçom, elemento queé fundamental para marcar as li-nhas de defesa. Fica agora a deci-som da juíza com respecto das dezativistas que ficam imputadas esobre as que ainda pesam diversaspetiçons de prisom.

defesa pediu impugnaçom de

provas audiovisuais

solicitam investigartrês agentes por falso testimónio

erros nos escritos da acusaçom

provocaram dilaçons

27.05.2014 / Morre um trabalha-dor em Pol ao lhe cair enribaumha árvore.

28.05.2014 / Sergas pede des-culpas por carta trás negar-lheassistência médica ao filhodumha imigrante caboverdianaem Burela a 30 de abril.

30.05.2014 / Relatório da Coor-denadora Estatal para a Preven-çom da Tortura recolhe 19 de-núncias por agressom e 2 mor-tes baixo custódia na Galiza.

31.05.2014 / Mais de 150 vizi-nhos concentram-se na PraiaGrande de Minho contra os re-cheios previstos com areia dedistinto grao e cor à do areal.

01.06.2014 / Paróquia de Monei-xas (Lalim) homenageia XesúsFroiz, galeguista assassinado a9 de Outubro de 1936.

02.06.2014 / Milheiros de pes-soas manifestam-se pola Re-pública em Vigo, Corunha,Compostela, Ferrol, Ponte Ve-

dra, Ourense, Lugo, Ponferra-da, Vila Garcia, Boiro, Porrinho,Redondela, Foz, Monforte,Chantada, Ponte Areias e Cee.

03.06.2014 / Demite Rebeca Do-mínguez, edil da cámara deCompostela. O dia anterior, ou-tros sete concelheiros demiti-ram trás ser inabilitados.

04.06.2014 / Centos de pessoasconcentram-se em actos reivin-dicativos nas cidades galegasem protesta contra a LOMCE.

05.06.2014 / Homem de 78anos morre em Coirós trásenganchar-se-lhe a roupa namáquina agrícola que estavaa utilizar.

06.06.2014 / Mais de 500 pes-soas marcham em Culheredopara exigir um segundo institu-to para a localidade.

07.06.2014 / Maria Osório falapor vídeoconferência num atopúblico de denúncia em Com-postela para anunciar que nom

se vai entregar para cumprir asua condena de prisom.

08.06.2014 / David Fernández,presidente de Novas Geraçonsde Riveira, identificado trás ati-rar bébedo copos e garrafas àorquestra París de Noia emCarreira. PP inicia expedientede expulsom.

09.06.2014 / Começa a greve in-definida em Urbaser, conces-sionária da limpeza do conce-lho de Lugo.

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Um forte dispositivo policial impediu o livre acesso aos julgados de compostela

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NGZ / Na sua clássica mensagemde Natal, o rei Juan Carlos I pro-metia ante a audiência que conti-nuaria exercendo como monarca.Era umha tentativa por deter osrumores que se foram amplifican-do nos últimos meses entorno àsua eventual saída do trono, masnom funcionou. Apenas dous me-ses depois, o 22 de fevereiro, umvozeiro de Zarzuela via-se obriga-do a assegurar frente à imprensaque a abdicaçom nem sequer eracontemplada como opçom: “DomJuan Carlos nom tem nenhumhaintençom de abdicar”.

Finalmente, o anuncio da abdi-caçom fazia-se público o 2 de ju-nho. Foi a data pactuada entreZarzuela e as cúpulas de PP ePSOE. Segundo o relato oficial,Rajoy fora informado da decissomo 31 de março e Rubalcaba o 4 deabril com o objetivo de estabelecerum calendário acorde aos seus in-teresses: após os comícios euro-peus, justo antes do Mundial defutebol e deixando tempo antes doreferendo catalám. E claro, antesde que umhas eleiçons gerais dei-xem o bipartidismo numha piorcorrelaçom de forças no congres-so espanhol. Assim, enquanto aabdicaçom colhia por surpresa osagentes políticos e sociais republi-canos, PP e PSOE levavam no mí-nimo dous meses preparando asucessom express na figura dopríncipe Felipe.

Segunda Transiçom?Na sua declaraçom institucional, orei limitou-se a oferecer motivos deidade e de renovaçom geracionalpara explicar a abdicaçom; em todomomento apresentada como umhadecissom quase que de carácter

pessoal e que o monarca teria to-mado no seu próprio aniversário.

Nessa linha, os líderes de PP ePSOE dérom por sentada a su-cessom na figura de Felipe VI jádesde um princípio. A bandeirada “normalidade” foi içada tantopor Rajoy como por Rubalcabaem todo momento, tentando evi-tar qualquer debate sobre o mo-delo de Estado ou abrir o ‘melom’da Constituiçom –o PSOE parali-sou o projeto de reforma que es-

tava a preparar-. Em nenhumhadas múltiplas declaraçons feitasdas cúpulas desses partidos hou-vo espaço para umha interpreta-çom do que a sucessom supomem termos políticos.

Contra esta corrente que teimaem fugir de qualquer leitura polí-tica da abdicaçom, houvo diferen-tes vozes que coincidirom em verumha manobra do regime de caraa umha segunda transiçom. Se-gundo Xosé Manuel Beiras, vozei-ro nacional de Anova, o regimeatual encontra-se numha situa-çom análoga à do regime da pri-meira restauraçom bourbónicanos anos 20. Ante o descrédito ab-soluto, segundo contestava o na-cionalista numha entrevista em ElPaís, a abdicaçom seria “um golpede mao” de PP e “do aparelho feli-pista” do PSOE para evitar a Re-pública e, em última instância, aderrota do neoliberalismo. Polasua banda, o BNG coincidia ao verna sucessom umha “mudança cos-mética” dum regime “em crise ter-minal” que pretende assim garan-tir a sua própria continuidade.

Muito longe do tom de denún-cia, também de possiçons conser-vadoras houvo reaçons que vi-rom na abdicaçom do rei um mo-vimento enquadrado numha se-gunda transiçom. Nesse sentidoe entre elogios ao monarca, opresidente do grupo Prisa, JuanLuis Cebrián, defendia num arti-go umha reforma constitucionalpara garantir a “continuidade” dosistema da Transiçom e manter a“coesom territorial e social”. Um-ha posiçom que dalgum modovem a evidenciar a aceitaçom daideia de que o regime está sumi-do numha profunda crise.

Abdicaçom, por que agora?

08 acontece Novas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

O Estado espanhol exportou armamento por valor de3.907 milhons de euros em 2013, segundo um relatóriodo Centre Delàs. Esta cifra dobra a quantidade vendidaem 2012, 1.953 milhons de euros, e multiplica por dez ade 2004. Segundo Esculca, um terço das armas vai aOriente Próximo e a ditaduras como Arábia Saudita.

eStado eSPanhol vende dez vezeS maiS armaS em 10 anoS

O alcalde de Compostela, Ángel Currás, e nove concelhei-ros, sete dos quais resultaram inabilitados para cargospúblicos, demitiram. O PPdeG colocou ao já ex-conselhei-ro Agustín Hernández à fronte deste Concelho para con-formar um governo municipal, que na sua maioria teráque estar composto por pessoas nom eleitas.

demitem alcalde e nove concelheiroS em comPoStela

NGZ / As cúpulas de PP e PSOE levavam tempo pre-parando a sucessom, mas o anúncio de abdicaçomo 2 de junho colheu por surpresa as forças nacio-nalistas e republicanas. Apesar de todo, nessa mes-ma segunda-feira sucedérom-se mobilizaçons ci-dadás contra a monarquia em todas as cidades evárias vilas galegas apoiadas polos principais parti-dos nacionalistas e republicanos.

Se bem num primeiro momento a reivindicaçomantimonárquica foi tam difusa como espontánea, como passo dos dias os diferentes agentes republicanosfôrom definindo posturas até chegar a certo consensosobre a necessidade dumha rutura nom só com a mo-narquia, mas com o modelo de Estado atual.

Nesse sentido, as forças nacionalistas maioritá-rias no país, BNG e Anova, coincidírom ao recla-marem um processo constituinte que vaia alémdumha consulta sobre a Chefatura do Estado. Tan-to o BNG como Nós-UP e Causa Galiza centrároma campanha antimonárquica na reivindicaçomdumha República Galega. Assim, a deputada doBloque no congresso dos deputados, Olaia Fernán-dez Davila, apresentou umha emenda à totalidade

contra a lei que regula a abdicaçom na que expres-sava que “os passos cara o futuro estám claros epassam polo início de processos constituintes nasnaçons que componhem o Estado espanhol”.

O líder de Anova, Xosé Manuel Beiras, pediunesse sentido “vários referendos” dentro desseprocesso constituinte para que as naçons sem es-tado decidam “se participam [no Estado espanhol]ou viajam pola sua conta”. Também o pleno muni-cipal de Teu, concelho governado por Anova, foi oprimeiro do Estado em aprovar umha moçom aprol do referendo sobre a monarquia e a aberturadum processo constituinte que respeite o direitode autodeterminaçom “das pessoas dos povos”.

Distante foi a postura mantida por Izquierda Uni-da, que se bem se mostra partidária dum referendosobre a Chefiatura do Estado que dê pé a um pro-cesso constituinte, evitou fazer fincapé na questomdas naçons sem estado. Ainda assim, o portavoz nocongresso desta formaçom, Cayo Lara, assinalouna emenda à totalidade contra a Lei Orgánica deAbdicaçom que querem “umha República Federal,Solidária, Plurinacional e Laica”.

republicanismo abre passo àexigência dum processo constituínte

o nacionaliSmo GaleGo Pom no debate o direito de autodeterminaçom

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09aconteceNovas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

crónica GrÁfica

centos de pessoas participarám no domingo 15 de julho da romaria lilás em Vigo, em que a Plataforma Galega poloDireito ao Aborto celebrava a luita feminista / Gz foto

Ana e tamara, duas grevistas de Ponte Vedra condenadas a entrar na cadeia,apresentaram a sua petiçom de indulto em Madrid / iNDUlto PArA ANA E tAMArA

os movimentos sociais da corunha mostraram a sua solidariedadecom Pepita Seoane, quem tive que declarar nos julgados acusadade um delito de ‘enaltecimento do terrorismo’ / GAlizAcoNtrAiNfo

No 21 de maio dúzias de pessoa deslocaram-se ate o penal de teixeiropara saudar ao preso independentista roberto fialhega, deslocado provisionalmente a esta prisom / GAlizAcoNtrAiNfo

centrais sindicais voltaram sair à rua em defesa do indulto para carlos e Serafim,sindicalistas condenandos a prisom por exercer o seu direito a greve / ciG

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No seu anuário de 2010 a Agên-cia Internacional da Energia(AIE), depois de tê-lo negadomuitos anos, reconheceu porvez primeira a possibilidade deque houvesse um teito máximonas extraçons de petróleo(peak oil), informando de quese teria produzido em 2007.Nom é casual que em 2008 opreço do barril de petróleo che-gasse ao seu máximo diário –quase 150 dólares- ou que co-meçasse o longo período decrise económica no que esta-mos imersos. O estoupido dabolha imobiliária e a falência fi-nancieira, junto com a paráliseeconómica, servirom para aga-char a componhente energéti-ca da crise e o facto de que aeconomia financieiro-especu-lativa se tinha afastado perigo-samente da base material so-bre a que se constrói todo o tra-mado económico.

XOÁN RAMÓN DOLDÁN GARCÍA /

Nom deveria ter sido assim, seconsiderarmos que a energia éfundamental para manter a capa-cidade de extraçom, transforma-çom, distribuiçom e consumo demateriais que nutre a produçomeconómica. Os derivados do pe-tróleo som, ademais, quase osúnicos combustíveis utilizadospara mover todas as formas detransporte no mundo, indispen-sáveis para manter a enormecomplexidade do capitalismo glo-balizado, onde as matérias pri-mas vam dum continente a outroe os processos de transformaçomse estendem por diferentes paí-ses, para que os produtos finaissejam distribuídos e consumidosem diversos lugares do mundo. Asubstituiçom por outros combus-tíveis, como por exemplo a eletri-

cidade, mantendo a mobilidade ecomplexidade atual é pratica-mente impossível. Até certo pon-to seria factível no transporte co-letivo terrestre, mas nom no ma-rítimo e aéreo. Isto deve-se a cer-tas restriçons tecnológicas e, so-bre todo, à incapacidade paraobter umha potência energéticaequivalente e polas sérias limita-çons de certos materiais impres-cindíveis para algumhas compo-nhentes. Mais de oitenta por cento da ener-gia que utilizamos procede de re-cursos fóseis (petróleo, carbom egas natural), polo que, junto àenergia nuclear, mais de noventapor cento procede de fontes nomrenováveis, é dizer, finitas. Exis-tem outros motivos polos que se-ria desejável um descenso natransformaçom e uso de energia,o seu uso massivo está a mudaras condiçons para a vida do pla-neta. Com todo, os intentos por

mudar a estrutura energética li-mitarom-se a fomentar a expan-som no uso das renováveis e evi-tar o aumento das emisons indus-triais de gases de efeito de estufanum número reduzido de países.Décadas depois, o resultado des-tas iniciativas é decepcionante: amaior presença das renováveiscompensou-se com o aumento doconsumo energético de modo quequase nom tem mudado a propor-çom que representam no total daprocura mundial; por outra parte,as emisons de gases tenhem-se

reduzido mais pola menor ativi-dade económica em tempos decrise do que por medidas especí-ficas.

Mitos do crescimento sem límitesPor quê, se existem estas evidên-cias, nom se caminha cara umhamudança radical do atual modeloenergético? Mesmo depois de vá-rios anos de crise continuam vi-vos diferentes mitos sobre as in-comparáveis bondades do capita-lismo: a capazidade para nos for-necer dumha quantidade de pro-dutos impensável em outrasépocas, um desenvolvimento tec-nológico sem igual ou a posibili-dade de alimentar umha popula-çom que cresceu exponencial-mente no último século superan-do os sete mil milhons de pes-soas. No entanto, ficam emsegundo plano a desigualdade so-cial crescente, mesmo a exclu-som, que impede que umha gran-

de parte da humanidade tenhaacesso a esses produtos ou a essatecnologia, ou o espólio violento –polas armas, as leis injustas ou omercado- com que se furtan re-cursos e terras a muitos povos.Uns e outros fenómenos nom es-tam desvinculados e atendem àmesma lógica do sistema: a ne-cessidade dum crescimento eco-nómico continuado que permitaumha acumulaçom e concentra-çom crescente do capital.

Este relato mítico mantém-se

10 acontece Novas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

Após tê-lo negado muitos anos, a Agência internacional da energiareconheceu em 2010 que já chegamos ao ‘pico do petróleo’economia

Há vida depois do petróleo?

mais de noventapor cento da energiaque utilizamos é de

tipo fóssil e nuclear, defontes nom renováveis

o modelo económico ocidental dePende dum conSumo enerGético inSuStentÁvel a médio Prazo

por quê, se existemestas evidências, nom

se caminha cara umha mudança radical do atual

modelo energético?

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Page 11: benS comunS e neGócio A alargada fatura da privatizaçomda água · lho Felipe, com reverência de PP e PSOE, foi o detonante para que milheiros de pessoas saíram às ruas para

11acontece

mar

Se nom há peixe, há multas

A.DIESTE / Multas e sançonseconómicas derivadas da par-ticipaçom ou presença emprotestos acumulam-se sobreas mesas de agrupaçons e co-letivos do setor do mar. Algopróprio em tempos de crise econseguinte ‘agitaçom’. Poloscomeços de ano, um grupo demariscadoras arouçanas fo-ram notificadas para sançonsde por volta de 100 euros ca-da umha por realizarem umsingelo protesto na praia con-tra umha decisom da Juntasobre o plano de exploraçommarisqueira. Nom houvo al-boroto, nem incidentes nemnada além de umha concen-traçom. 100 euros.

Aliás, a Subdelegaçom do go-verno espanhol está a impor amarinheiros do cerco até 150euros de multa por participa-rem na manifestaçom do 6 demarço em Vigo. Segundo a Sub-delegaçom, os feitos denuncia-dos pola polícia espanhola, eque som objeto da sançom, con-sistem em “desordens leves”

mas a faltas que se lhes atri-buim aos cerqueiros som quali-ficadas como “graves”. Os feitosaos que se refere o organismosom berros pronunciados pormanifestantes às portas do pré-dio da Junta na cidade olívica.Berros como “para dentro, porcima da polícia” ou "lume".

Os marinheiros animam aremitir as comunicaçons à As-sociaçom de Armadores doCerco da Galiza (Acerga).Aliás, denunciam que as noti-ficaçons das sançons estám achegar às confrarias.

O cerco desenvolveu umhaforte mobilizaçom durante omês de março em defesa de umoutro reparto das quotas pes-queiras desenhadas por Bruxe-las e que deixavam a Galizacom umha percentagem de sar-da e xurelo mui inferior à capa-cidade da sua frota. Após as ne-gociaçons com a Junta da Gali-za e o compromisso desta demelhorar o reparto para 2015,os cerqueiros desconvocaramas manifestaçons.

Novas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

o ano 2014 arrancou com multas e sançons amariscadoras por participar em protestos, continuoucom os bateeiros e agora, com os do cerco

porque se asomem algumhas pre-missas como a capacidade ilimita-da da natureza para obtermos ma-teriais e energia em quantidade equalidade suficientes para mantera lógica do crescimento. Asome-se a existência dumha capazidadeperfeita para substituir uns mate-riais e fontes de energia por ou-tros. Além disso, a acumulaçomdo conhecemento e o desenvolvi-mento ilimitado da tecnologiaacabariam por superar qualquerlimitaçom, mesmo quando istocontradiga o enunciado das leis fí-sicas ou da natureza. Outorga-se,ademais, um poder salvífico à tec-nologia, obviando que esta nomimpede a existência desses límitesfísicos, nom é neutral e obedeceaos mesmos interesses hoje domi-nantes, padece das mesmas limi-taçons físicas e mesmo nos ache-ga mais a elas.

Teimar no petróleoEntretanto, vemos como o petró-leo convencional mantém a suatendência à baixa, que desde osanos oitenta os novos descobri-mentos nom cobrem os aumentosda procura de petróleo, que o des-coberto é de pior qualidade obri-gando a um maior esforço para re-finá-lo e que devemos perforar ca-da vez a maior profundidade e emlugares mais hostis, como o fundodo mar. Todo isto reduz a taxa deretorno energético, é dizer, a dife-rença ou saldo neto entre a ener-gia que obtemos e a empregadapara obté-la, reduzindo a rendibi-lidade energética. Ao tempo, ele-va-se o volume de investimentos arealizar para manter a capacidadede extraçom, diminuindo a rendi-bilidade monetária. Umha suba dopreço do petróleo compensaria emparte a esta última, mas para a ta-xa de retorno energético existe umnível crítico por baixo do qual nen-gum preço resolveria o problema.Em realidade, dado o desfase tem-poral, até de dez anos, entre o mo-mento dos novos investimentos eo de pór esse novo petróleo nomercado e as incógnitas que se ge-ram, fam com que esse nível críti-co se situe muito antes de que a ta-

xa de retorno energético caia atéumha tonelada de petróleo extraí-da por tonelada utilizada.

Técnicas como o fracking ou ouso de petróleo de xisto bitumino-so forom apressentados como agrande esperança para manter osubministro de petróleo atual.Apesar disso, a AIE, defensoradessa tese, vém publicar o infor-me "Perspectivas mundiais de in-vestimento em energia" em que seindica que o teito de extraçons pa-ra o petróleo obtido por fratura hi-dráulica em Estados Unidos terálugar aproximadamente em 2020,muito afastado da prosperidadeprometida.

Passividade ou alternativasO panorama energético vai trans-formar-se drasticamente em pou-cos anos sem que esteja a em-prender-se umha adaptaçom nomtraumática para a maior parte dasociedade. Galiza, como outrassociedades ocidentais, é muitovulnerável aos impactos destatransformaçom. A nossa organi-zaçom económica obriga a umhaforte dependência energética. Ga-liza exporta eletricidade, deriva-dos do petróleo ou agrocombustí-veis, graças á importaçom massi-va de petróleo, carbom, gas natu-ral ou cereais. O setor energéticogalego é um grande transforma-dor de energia primária para ne-cessidades próprias e alheias,mais com umha capacidade limi-tada para cubrir o consumo ener-gético interno. A eletricidade ge-rada com recursos próprios pode-ria cubrir o consumo eléctrico in-terno se nom houver exporta-çons, se reduzisse a procura–particularmente em certas in-

dústrias intensivas no consumoeléctrico- e se favorecesse o auto-consumo eléctrico e a produçomdistribuída. Porém, a dependên-cia externa é absoluta nos com-bustíveis para o transporte, e ele-vada para a demanda de calor. Aprimeira tem umha soluçom com-plexa que passa por reduzir osdeslocamentos, recompor as rela-çons sociais e produtivas, recupe-rar o tecido social rural, reorgani-zar a vida urbana, etc. A demandade calor pode conseguir-se me-diante o uso da biomassa, maisacompanhado dumha melhorabioclimática das vivendas e pré-dios públicos, mudanças tecnoló-gicas nalgumhas atividades pro-dutivas e reduçom da demandaem outras, transformaçom do pa-pel atual do monte e reintegra-çom na lógica produtiva agrária,etc. Todas estas mudanças servi-riam também para atender outragrave vulnerabilidade, a depen-dência alimentar, ao consumirnumha proporçom elevada ali-mentos importados de milheirosde quilómetros de distância. So-berania alimentar e energéticairiam de par, mais se considera-mos que produzir alimentos naatualidade requer dumha procuracontinuada de combustíveis fósi-les para mover a maquinária, for-necermo-nos de fertilizantes, er-vicidas, pesticidas, etc. e causafundas agresons ao ambiente.

Os desafios som o suficiente-mente importantes e urgentes co-mo para permanecer inativos ouaguardar a que alguém o solucio-ne por nós. Cumpre atuar indivi-dual e coletivamente para iniciar ainevitável transiçom energéticaantes que aguardar por um colap-so caótico. O caminho do descensoenergético estará inçado de atran-cos mas emprendê-lo com decis-som e de forma compartilhada po-de supor superar múltiplas eivasda atual sociedade capitalista.

Xoán Ramón Doldán García é editor do

Guía para o descenso enerxético, presi-

dente da associaçom Véspera de Nada

por unha Galiza sen petróleo e professor

de Economia Aplicada na USC.

Galiza, como outrassociedades

ocidentais, é muitovulnerável aos

impactos damudança energética

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12 internacional Novas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

vários países estám a incorporar estas experiências através das instituiçõesa terra treme

Autogestão de defesa e justiça em méxicoC.C.V. / Da impotência perante umaviolência continua, e o desleixo doEstado, nascem em México a co-meços de 90 as auto-organizaçõespara a defesa. É um fenómeno tãoplural que abrange experiênciasde todo tipo, das mais admiráveisàs mais terríveis. De facto, a pró-pria denominação de “autodefe-sas” ainda gera desconfiança: asconhecidas Autodefesas Unidas,surgidas no anos 90 em Colôm-bia, remataram tornando-se umaorganização paramilitar, cúmpli-ce do narcotráfico e suspeita defazer parte dos planos contra-in-surgentes. As próprias autodefe-sas são um campo de batalha en-tre esquerda e direita.

A CRAC.PC de GuerreroEm 1995 cria-se no empobrecidoestado de Guerrero a Coordena-dora Regional de Autoridades Co-munitárias e Polícia Comunitária(CRAC-PC), para garantir a segu-rança das suas comunidades.Aproveitavam alguma fírgoa legaldos direitos indígenas, de jeito se-melhante a como faz o zapatismo,que também gere a justiça nosseus territórios. Os membros daCRAC-PC são democráticamenteelegidos nas assembleias das suascomunidades, e só perante elasrendem contas. Assumem tarefasde prevenção, detenção, enjuiza-mento, sanção… Cirino Plácido

Valeiro, um dos seus fundadores,explica a sua filosofia de “luta polarestituição do direito coletivo, on-de o povo manda e o governo obe-dece”. Recusam a política penal doEstado, e advogam polos trabalhoscomunitarios para o que chamam“processo de ré-educação”: “Nãose permite a tortura nem o abuso –explica Cirino Plácido-, porque seum detido está aí por ser violentoe se permite mais violência, nocanto de re-educar-se, vai sair ain-da mais violento. Trata-se de hu-manizar, de re-educar”. Agora têmpor diante o repto de superar as“cooptações por grupos de opor-tunistas” e as pressões do Estado.Só o estrito controlo democráticodas assembleias comunitárias po-derá evitar corrupções como a deColômbia, ou outros jeitos, de (pa-ra)militarização.

Asseguram que se reduziumuito a delinquência, e de factojá outros países estão a incorpo-rar estas experiências desde asinstituições. Na cidade guate-malteca de Villanueva, por

exemplo, o Instituto Interameri-cano de Direitos Humanos im-pulsionou uma polícia comunitá-ria. Em apenas 10 meses, a per-centagem de pessoas que decla-rava ter sofrido algum delito pas-sou de 34 a 24% da população.Também no Brasil se estão acriar estas organizações.

O caso de MichoacánOs cárteis de droga tinham todoum estado paralelo, que incluia“impostos” e todo o tipo de abusosà população, sem que a polícia es-tatal de Michoacán solucionassenada. A situação limite resume-se

num dado, nas 12.715 mortes do-losas desde 2006 até o passado se-tembro. Perante as matanças, vio-lações e sequestros quotidianos, opovo teve que se autodefender.“Agora selecionamos a forma emque queremos morrer. Otamos porlutar. Se nos vão matar amarra-dos, melhor morrer defendendo-nos”, eram as desesperadas decla-rações de José Manuel MirelesValverde, da autodefesa de Tepal-catepec, ao periódico Diagonal.

O “já basta” definitivo chegouhá um ano, e pouco a pouco foramconstruindo espaços de seguran-ça para a população, e desarticu-

lando o cártel dos Cavaleiros Tem-plários. Agora o problema é como Estado federal, esse mesmo quepermaneceu passivo perante aviolência mafiosa. Em janeiroanunciou que pretende desarmaras autodefesas, e estas reagiramcom multitudinárias caravanas.Advertem ao Estado que não dei-xarão as armas até estableceruma paz verdadeira, e no entantocontinuam a sua expansão.

Durante a caravana de Apatzin-gán, Estanislao Beltrán assegura-va que não abandonarão a cidade“até que formem o seu conselhocidadão e se defendam sós”.

auto-orGanizaçõeS naSceram noS 90 ante o deSleixo do eStado Perante a violência

estado federal pretende desarmar

as autodefesaspopulares mexicanas

Após alguns acendidos debatesao abeiro do maio francês, a‘descoberta’ dos horroresmaoístas desterrou por muitotempo a justiça popular do ter-reno debatível pola esquerdaeuropeia. Reduzidas as posibili-dades à eleição entre a justiçaestatal ou o linchamento reacio-nário, a imaginação política daesquerda repregou-se num“mal menor” que incluia tortu-ras higiénicas e abusos policiaisconstitucionais. Em coincidên-

cia com a direita, proclamou-sea minoria de idade do povo paraparticipar na justiça, afirmaçãoque não tem pouco de profeciaauto-cumprida.

Mas nem sempre foi assim. Acomeços do s. XX o agrarismosoubo estabelecer sistemas dejustiça comunitária, como a ar-bitragem, que evitassem ter quechegar à justiça espanhola.Apoiavam-se nas tradicionaispráticas da democracia paro-quial. Também para organizara vigilância dos comunais, queé o que a dia de hoje fazem essavintena de projetos de custodiado território, que autodefendemumas 4.000 hectareas.

o agrarismo souboestablecer sistemas

de justiça comunitáriacomo a arbitragem

E na Galiza?

o 28 de fevereiro de 2013 um tribunal popular julgou Emilio González, exgovernador de Jalisco(2006-2012), por corruçom e por quadriplicar a dívida pública durante o seu mandato

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13internacionalNovas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

os eventos da associação costumam ser aos sábados, e neles sempre se homenageia uma ou um poetaalém minho

JOSÉ A. ‘MUROS’ / Neste novo ar-tigo imo-nos centrar em dous ca-sos ainda mais concretos e parti-culares que matizam as luitas dospovos pola sua soberania e tam-bém as concretizam. Que mos-tram problemáticas e demandas,auto-organizaçom e particulari-dades legítimas que convém terem conta. Toca falar de dous ar-quipélagos que, estando ao nortede Escócia/Alba, som também ad-ministrativamente parte dela.

O caso das Orcadas e as She-tlans tem os seus paradoxos porser, como bem sabemos, escoce-sas de iure, mas nom cultural esentimentalmente. Mas quandoapenas restam cem dias para rea-lizar um referendo pactuadoexemplarmente polas escocesascom o Estado Britânico para de-cidir ser independentes ou man-ter o status quo atual.

A diferença das Hébridas, o ou-tro grande arquipélago escocês

vizinho das Terras Altas e, comoestas, bastiom da língua e a cultu-ra gaélicas e do soberanismo es-cocês, as Orcadas e as Shetlandtenhem em boa parte umha histó-ria comum às Ilhas Feroé e a Is-lándia, foram colonizadas polosantigos noruegueses que as in-corporaram à sua cultura e cos-movisom superponhendo-se àsantigas populaçons pictas e gaéli-cas. Dous dialetos do Nórdico An-tigo falaram-se nestas terras atéo Século XVII e mantiveram,além de elementos culturais e lin-guísticos particulares, elementosde direito comum escandinavoestranho ao direito romano esco-cês e à Common Law inglesa. Es-tes dous povos islenhos mantive-ram também umha tradiçom ma-rinheira e pesqueira específicaque causava admiraçom nos po-vos do Norte de Europa e na Ma-rina de Guerra Britânica. Forampovos que sem se vertebrar com

entusiasmo no mundo institucio-nal britânico como os burguesesdas terras baixas escocesas simque se uniram a instituiçons tambritânicas como a Marina deGuerra, a marina Mercante e aR.A.F. Nas mesmas terras filhasdo colonialismo britânico os es-quiladores e pastores das She-tland e as Orcadas eram reconhe-cidos e admirados. Na Nova Ze-lándia e a Austrália famosos eramos profissionais de tais origens jáque o pastoreio ovino era a outrabase das economias insulares.Além das tradiçons marinheiras,a tradiçom britânica marcou pro-fundamente estes povos.

A institucionalidade britânicae a sua representaçom nas Ilhastentaram utilizar estas particula-ridades contra o referendo esco-cês dizendo que se Alba/Escóciase independizava do Reino Uni-do teriam também os povos dasilhas que decidir o seu status ou,

quando isto nom fosse assim, ha-via que distribuir de outra ma-neira os benefícios que o petró-leo e o gás do Mar do Norte da-vam ao Reino Unido, a Alba e àsOrcadas e Shetlands. A respostados soberanistas escoceses nompudo ser mais sensata e madura:efetivamente, os habitantes des-tes dous territórios som livres deser parte do novo estado que pu-desse nascer, de manter-se britâ-nicos ou ser eles mesmo inde-pendentes, sabem que cultural-mente som distintos e sabem queao igual que as Hébridas e asTerras Altas estes recursos te-nhem que beneficiá-los maior-mente. O Partido NacionalistaEscocês enquadra este caso naregionalizaçom/descentraliza-çom que desenvolveu em todo oterritório escocês -muito deman-dado nas Hébridas e Terras Al-tas- mas aceita qualquer decisomque eles tomassem, especifican-

do que "os recursos das Orcadase as Shetland som dos seus habi-tantes e de ninguém mais".

Este caso voltou-se contra umpoder britânico que querendocontrolar recursos e territóriosterá que distribui-los mais equi-tativamente. Independentemen-te de que as energias fósseismencionadas sejam finitas, somum recurso destas comunidadesque além dos estados constituí-dos tenhem que ajudá-las a con-solidar o seu marco próprio e asua soberania. Tenhem direito àsuficiência energética e à sobe-rania alimentar. As falsas saídascomo depender dos grandes es-tados multinacionais, seja polomonopólio do petróleo ou dogás, seja via funcionar como pa-raísos fiscais -Ilha de Mam ouIlhas anglo-normandas- nomsom como nos tem demonstradoa diversificaçom económica des-tas últimas a soluçom.

As ilhas orcadas e as ilhas shetland som escocesas'de iure' mas nom cultural e sentimentalmentePovoS

Ilhas singulares do Atlántico nor-europeu

Poesia angolana e galega na Porta Xiii

Dei com a Porta XIII por primeiravez no verão de 2013, quando ci-randava por Vila Nova de Cer-veira à procura de café, chamu-ças bem picantes e o Jornal deNotícias. Surpreenderam-me oslivros de poesia africana, galegae portuguesa na montra.

JOSEPH GHANIME / Inaugurada emnovembro de 2010, a Porta XIII éuma “associação poética de todasas artes”. Depois de algumas tertú-lias, doze pessoas ligadas à poesiapuseram em andamento este pro-jeto de convívio, “rigorosamentecultural para fins de solidariedadesocial”. Os eventos da associaçãocostumam ser aos sábados, e nelessempre se homenageia uma ou umpoeta, combinando poesia commúsica, pintura e outras artes.

A sede é na rua Queirós Ribeiro,no local onde faltava uma portacom o número 13. Depois de fo-lhear os livros de poesia, reparai,quando fordes ao local, nas obrasdo escultor José Rodrigues e nos

livros de contos. Muito gostei des-te que tenho em cima da mesa:Diamandondo, o morcego dos três

nomes, de Luandino Vieira. O pró-prio Luandino, por sinal, é um dossócios mais envolvidos no projeto.

A associação também edita ma-teriais -a preços populares- dospoetas homenageados, como Ce-cília Meireles, Teixeira de Pas-coaes, Amália Rodrigues, Viriatoda Cruz, Álvaro Cunqueiro ou Ma-noel António, entre muitos outros.

De Braga e do Porto são a maio-ria dos sócios. Com a entrada deMaria Seisdedos na associação, apresença galega foi ganhando pro-tagonismo, como ela própria escla-rece: “decidimos abrir as portas àpoesia escrita em galego, com o

que se conseguiu que alguns dosportugueses que nos visitam des-cobrissem a existência da literatu-ra galega (e a língua!). Os galegosconhecemos mais ou menos bem aorigem da nossa língua, mas é sur-preendente o desconhecimentoque dela têm muitos portugueses”.

O Dia das Letras Galegas foi fes-tejado com sessão dedicada a Ma-noel António. Xosé Luis Axeitos,da RAG, falou-nos do poeta e dasua relação com Portugal. Rareiam

os poetas que, como o rianjeiro, fa-lassem do mar desde o próprio mar-esse mar largo que o Minho emCerveira só intui como um palpite.

A editora Nóssomos faz a liga-ção direta com Angola. Dos livrosformosamente editados, deixai quedestaque a edição facsimilar da re-vista Poesia negra de expressão

portuguesa, documento emblemá-tico da história literária da Áfricalusófona. Recorro novamente àsaclarações de Maria Seisdedos:

“Polo que eu sei, a editora Nósso-mos nasceu para proporcionar aosjovens angolanos interessados napoesia livros a uns preços acessí-veis. Desse jeito, é para Angola quevai a maior parte da tiragem de ca-da exemplar. Mas não deve con-fundir-se Porta XIII com Nósso-

mos, pois a relação entre elas é ade compartir espaço e colabora-rem na difusão da poesia, mas sãoentidades diferentes. Da mesmamaneira que compartimos o espa-ço com a Associação do Conventode S. Paio, que promove o acervodo escultor José Rodrigues”.

Não por acaso, Vila Nova de Cer-veira é chamada Vila das Artes -as17 edições da sua Bienal e a biblio-teca da Câmara Municipal basta-riam para fazer jus à etiqueta. Ora,o meu fraquinho é bater mesmo àporta do número 13 da rua.

Onde, além do regalo da poe-sia e das artes, há balcão parabeber um café -que seria perfei-to com uma chamuça bem api-mentada a acompanhar.

baSta dar um Saltinho a vila nova de cerveira Para emPaPar-Se da melhor cultura luSófona

Ato público organizado na livraria Porta Xiii de Vila Nova de cerveiraluandino vieira é

um dos sócios mais envolvidos no projeto

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14 dito e feito Novas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

durante o mês de maio em ourense diversas atividades visibilizaram a luita da populaçom presadito e feito

entreviSta a orGanizadoraS da ‘feira itinerante fora daS PriSonS’

SÍLVIA PINHA / 'Livre livre queroser'. Assim é como se apresen-tou a Feira Itinerante Fora dasPrisons que durante todo omês de maio circulou por Ou-rense, tendo como cenárioquatro bares de diferentesbairros da cidade. Ali instala-vam-se cada semana a exposi-çom permanente “A arte comoarma”, um espaço de recolhade artigos básicos e dinheiro,um ponto de carteio, umha dis-tribuidora informativa... Comoremate, cada quinta-feira ter-minava com atividades, desdeentrevistas a hiphop ou teatro.Falamos com algumhas dasorganizadoras, que nos expli-cam o por que da feira e a ne-cessidade de “altifalantes” forados lugares onde estamosafeitas a ouvir experiências re-pressivas e punitivas.

De onde parte a ideia dumha fei-

ra? Quem se encarrega da sua or-

ganizaçom?

A ideia sai dum pequeno grupo depessoas que levamos tempo soli-darizando-nos com as pessoaspresas em luita nas cadeias do Es-tado espanhol. A feira pretendeser um meio mais de dar visibili-dade à realidade dos cárceres, epara devolver a estas pessoas a vi-da roubada polo Estado.

A feira realiza-se fora dos con-

textos habituais (centros so-

ciais, datas assinaladas), para

aparecer em bares onde nom se

tenhem feito este tipo de ativi-

dades. Pensades que tem che-

gado a um público diferente

por esta razom?

Na atualidade as cadeias encon-tram-se longe da sociedade, deum lado o fantasma do cárcerevoa por cima das cabeças com aintençom de manter a ordem es-tabelecida, de outro lado as cas-tigadas som escondidas para queninguém pense demasiado nessagente, em por que estám presos,em como é a vida dumha pessoapresa... O afastamento da socie-dade permite aos meios de co-municaçom e às instituiçonsconstruir umha realidade falsaao redor das cadeias. Isto mesmotambém acontece com muitas

outras cousas, sempre se nos ne-ga conhecer a realidade do quesucede ao nosso redor...

O feito de fazer sempre as ati-vidades sociais e de denúnciadentro de um circuito pré-esta-belecido de centros sociais e lo-cais afins nom ajuda a desman-telar a realidade dos mecanis-mos estatais repressivos e mani-puladores, porque nom geramosnengum conflito de opinions.Quando expós temas tam confli-tivos como "o cárcere" fora do"gueto político" achegas as tuasideias a muita mais gente, quenunca vai passar polo centro so-cial, e perturbas a "paz social"porque, gostarmos ou nom, lem-bras à sociedade que a nossa de-mocracia constrói-se sobre ocastigo, a repressom e a ditadurada maioria.

Se bem nom sabemos com cer-teza a acolhida social que tivo estafeira em Ourense, sim é certo quecada quinta-feira havia pessoasparticipando que nunca viras an-tes em este tipo de atividades,mesmo as proprietárias dos locaisficárom surpreendidas coa expo-siçom porque nom estám afeitas ater esse tipo de mensagens dentro

dos seus locais, a todas elas agra-decemos ter-nos acolhido, apoia-do e compreendido.

A ideia do ponto de recolha de

material dá conta das necessida-

des principais da populaçom pre-

sa. Há umha pauperizaçom acres-

centada assim que se está dentro?

Há, e vem sendo mais evidentedesde que se assentou a atual es-trutura económica de decresci-mento. Um exemplo: cousas tambásicas como produtos para a tuahigiene pessoal (desde sabom paralavar-se ou para lavar a roupa) tensque os comprar no economato docárcere (os produtos no economa-to som mais caros do que na rua)porque a instituiçom nom chos fa-cilita e tampouco podem levar-chos as visitas que venhem de "fo-ra". Às vezes toca fazer coleta entrefamiliares e amigos para que umhapessoa presa poida manter a sua

higiene. Este é um pequeno exem-plo das múltiplas incoerências queexistem dentro do cárcere.

De todos jeitos, as principaisnecessidades das pessoas encar-ceradas nom som só do tipo ma-terial; outro aspeto mui impor-tante da feira é o ponto de car-teio, onde qualquer pode escre-ver umhas linhas mostrando oseu apoio, rachar um pouco maisa barreira do isolamento e encur-tar distancias fora-dentro.

Até o de agora, na cadeia entra-

vam "pobres e terroristas", o que

fazia que nom lhes tocasse a mui-

tas. Achades que o contexto

atual, e mais o que se vem em ci-

ma, vam fazer que a cadeia seja

algo mais quotidiano?

Já o estamos a ver, agora mesmonom sabes em que momento vaispassar de ser umha moça rebeldee antissistema a perigosa terroris-ta, e digo que nom o sabes porquenom o decides tu, decidem-no asleis: Lei Mordaça ou de SegurançaCidadá. Ou mesmo qualquer mu-lher por decidir abortar. Nas ca-deias já há pessoas por dar positi-vo nos testes de alcoolemia. Ade-mais cada vez somos mais as pes-

soas que nom chegamos nem aomeio do mês... e a pobreza é deli-to, porque nem sequer podes tra-balhar na rua pola tua conta...Nom podes pôr placas solares natua casa para aforrar quartos emenergia... Estám a criminalizar-semuito as iniciativas de okupaçom,num momento no que muita genteestá a ficar sem casa... Este EstadoEspanhol está cada vez mais cheiode "pobres e terroristas" e quiçá aúnica soluçom que encontra a in-teligência política é virar a penín-sula num imenso cárcere!

Afeitas como estamos à (relativa)

visibilizaçom das presas políticas,

que credes que fai que continue a

ser necessária no caso de presas

sociais? Ainda existem graus de

toleráncia cara os muros?

Nós pretendemos nom cair nessadistinçom entre políticos e so-ciais... mas também somos cons-cientes de que nom podemosapoiar diretamente a todas as pre-sas e presos, e se bem a postura dafeira é abolicionista, o primeirocontacto é com pessoas presas emluita. Umha pessoa presa em luitapode estar condenada por motivospolíticos ou sociais, mas sempreestá condenada polo estado e asleis que pretendem manter umhaordem social. Quiçá por isto, ade-mais de identificarmo-nos comoabolicionistas, consideramos quetodos os presos som políticos, poisa consideraçom de delito é subjec-tiva e depende por completo do go-verno de turno; o delito nom se es-tabelece por consenso social, esta-belece-se por imposiçom política emanipulaçom mediática. Quandoestendes o apoio a "presos sociais",é inevitável ampliar o discurso e oconhecimento do que é um cárceree para que existem os cárceres, oscódigos penais, a repressom e ocontrolo. Entom deslegitimas todoo sistema democrático de castigo.O trabalho fai-se maior, mais com-plexo e tens menos apoios.

“O afastamento da sociedade permite construirumha realidade falsa arredor dos cárceres”

“o delito estabelece-se por

imposiçom política”

“escondem-se as castigadas para

nom pensar nelas”

Page 15: benS comunS e neGócio A alargada fatura da privatizaçomda água · lho Felipe, com reverência de PP e PSOE, foi o detonante para que milheiros de pessoas saíram às ruas para

o.r. / 54 centros educativos e 14estudos de rádio, 24 horas, umhacultura em comum. No passado 30de maio as duas beiras do Minhopugérom prontas as suas antenaspara se conectarem e fazer possí-vel a vigésima ediçom do progra-ma de rádio Ponte…Nas Ondas!,umha das iniciativas pedagógicasmais consolidadas e apoiadas dopaís. O meio som as rádios: as lo-cais, as escolares, as livres; o fim,criar umha ponte que salve as dis-táncias impostas das instituiçonsentre Galiza e Portugal, partindodo reconhecimento dumha culturacompartilhada. Centos de criançase jovens ouvírom nestes dias mui-tas pessoas que falam, pensam eescrevem noutros galegos, desco-brendo o potencial internacionalda sua própria língua.

Ponte…Nas Ondas!: dos começos até a actualidadeO ano do bravu e do Xabarin Clu-be nom passou desapercebido noscentros de ensino do Sul do pais:em 1985 alguns membros do pro-fesorado do CEIP Altamira de Sal-ceda de Caselas punham a andara Rádio Altamira. Com meios ab-solutamente precários, partilha-vam a ilusom polo mundo da rá-dio e o convencimento de que estemeio, muito introduzido no ruralgalego, poderia ajudar criar laçoscom as comunidades vizinhas dooutro lado da raia. O detonantedesta aventura foi a inauguraçomdumha ponte arquitectónica entreSalvaterra e Monção, quando umgrupo de 16 centros de ensino de-cidírom estabelecer umha pontecomunicativa através da rádio.

As possibilidades didácticas queachega a rádio fôrom já compreen-didas por aquele primeiro grupode mestres e mestras. Paco Gonzá-lez, um dos impulsores, assinalaque o potencial deste meio comoinstrumento pedagógico “é impre-sionante. Para eles estar diantedum micro é umha aventura queos ilusiona. Podem falar de todo,das cousas de que gostam. Umquer trabalhar as motos, outros po-nhem a sua música. E sempre al-gum conteúdo cultural, como falardos castros ou das rias da Galiza”.

Aquele projecto modesto e ilu-sionante repetiu-se ano trás anograças à implicaçom do profesora-do e à emoçom com que o alunadoacolheu a iniciativa. E polo cami-nho foi medrando: o que começoucomo umha pequena experiênciade rádio passou depois a Internet,à televisom na rede graças à cola-boraçom com a Universidade deVigo, e nesta ediçom misturáromtodos os formatos. Cada ano foi au-mentando o poder de convocató-ria; em 2000, por exemplo, estabe-lecérom a primeira videoconferen-cia profissional a três bandas, comum centro de Rio de Janeiro, outrode Maputo, e o de Salvaterra. Apar-tir de 2003 a jornada radiofónicaalcançou as 24 horas de emisomcom programas produzidos pormais de 50 centros educativos.

No programa que tivo lugar o

passado 30 de maio houvo fitostam destacados como um progra-ma do Brasil, um tema compostoad hoc pola cantora caboverdianaGabriela Mendes, ou múltiplas co-laboraçons de literatos de toda alusofonia para o programa “Escritanas Ondas”. As nenas e nenos tivé-rom a oportunidade de colaborarcom figuras como Luís Cardoso(Timor), Ana Paula Tavares e ArturPestana "Pepetela" (Angola), LuizRufato e Otto Winck (Brasil), Ma-nuel Jorge Marmelo e Pedro Mi-guel Rocha (Portugal), GermanoAlmeida (Cabo Verde), entre mui-tos outros nomes da Galiza.

Santiago Veloso, coordenadordo programa de Galiza, mostra-se orgulhoso dos resultados: “de-pois destes vinte anos, a experiên-cia converteu-se num referentepara investigadores de didática enovas pedagogias”.

Muito mais do que umha jornada de rádioAinda que o que transcende aosmeios é essa impresionante jor-nada de rádio interescolar, Pon-te…Nas Ondas! é muito mais doque umha celebraçom dum dia.

Detrás dos micros há professora-do e alunado que leva todo umcurso trabalhando o patrimóniomaterial e imaterial da Galiza e oNorte de Portugal, promovendorecolhas, investigando as tradi-çons musicais, escuitando os seusmaiores, e, em definitiva, conver-tendo-se em sujeitos activos eparticipativos que exploram o seuterritório e a sua cultura.

Som muitos os projectos para-lelos que fôrom surgindo arredorde Ponte…Nas Ondas!, como porexemplo congressos, certames derecolha de manifestaçons orais,encontros de jogos tradicionais eartes musicais –o mais conhecido,o CD de Meninos Cantores-, oprémio a iniciativas didáticas pio-neiras “Boas Ondas”, bibliotecasvivas ou o programa de artes cé-nicas da lusofonia Ponte…na Ce-na, graças ao qual centos de ne-

nas e nenos pudérom desfrutardo trabalho de companhias comoa brasileira Bocaccione.

A Candidatura do PatrimonioImaterial Galego-PortuguêsMas quiçá a iniciativa em paralelocom mais impato emprendida porestes centros de ensino foi a apre-sentaçom da Candidatura do Pa-trimónio Imaterial Galego-Portu-guês diante da UNESCO em 2001.Quando em 2004 se apresenta ofi-cialmente, convertia-se na primei-ra candidatura multinacional pro-movida de centros educativos, ul-trapasando as barreiras políticas,e baseada no sentimento de per-tença a umha cultura comum. Napágina da candidatura, que aindacontinua operativa, fam fincapénos componhentes da cultura tra-dicional que compartilha este es-paço geo-cultural, que o indivi-dualiza do resto da Península.

A organizaçom de Ponte…NasOndas! aguarda que “o impatodesta vigésima ediçom se retomea iniciativa, e que a sociedade noseu conjunto reclame à adminis-traçom compromisso para a defe-sa do nosso património”.

15em anÁliSeNovas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

em anÁliSe A iniciativa com mais impato foi a apresentaçom da candidatura do património imaterial Galego-português

o que era umha pequena experiência

de rádio passou à internet

o ProGrama anual ‘Ponte...naS ondaS!’ celebrou a Sua viGéSima ediçom

Quando a ponte com a lusofonia se constrói a partir das aulas

Fôrom medrando projetos paralelos

ao programa

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16 em anÁliSe Novas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

processo de privatizaçom do abastecimento nos concelhos galegos começou nos 90em anÁliSe

A.L. / A privatizaçom do abasteci-mento de água é já umha realidadena Galiza. Segundo tenhem reco-lhido os meios de comunicaçom,Aquagest, filial da transnacionalfrancesa Suez Environment e queagora opera baixo o nome de Via-qua; Aqualia, da empresa espa-nhola FCC; Gestagua, da francesaSaur International, e Urbaser, daconstrutora espanhola ACS, somas que controlam a maior parte doabastecimento no nosso país. Oprocesso de entrega de diversasfases do ciclo da água a estas enti-dades foi-se consolidando nesteúltimos vinte anos. As vozes críti-cas com esta privatizaçom e parti-dárias da remunicipalizaçom dosserviços indicam que a gestom porparte de empresas privadas provo-ca a suba das tarifas nas faturas eum empioramento no mantimentodas infraestruturas.

Além dos problemas expostos,existem indícios de que as rela-çons entre administraçons e em-presas concessionárias fortalecê-rom umha rede de favoritismos,obscurantismo e corruçom. Exem-plo de todo isto está a ser o sumá-rio do mediático caso Pokémon,onde se recolhem acusaçons con-tra a Aquagest como a de realizaragasalhos a cargos políticos em di-versas localidades galegas. Aliás,nos últimos meses a luita dos vizi-nhos do pequeno concelho dePunxim, na comarca do Carvalhi-nho, pujo de relevo o obscurantis-mo com que agem empresas e ad-ministraçons na gestom do abas-tecimento aquífero.

Pesquisas vizinhaisJoaquín Moldes é vizinho de Pun-xim e participa da recém criadacomissom vizinhar da água. Mol-des começa explicando o aconte-cido nesta vila polo que mais deperto atinge à vizinhança: as tari-fas. Em 2011 os recibos eram deuns 6,68 euros, mas em 2012 os

preços chegaram aos 25. “Umhasuba do 300%”, salienta Moldes.Foi a partir das protestas e as in-vestigaçons das e dos vizinhosque descobrírom que o abasteci-mento de Punxim fora concedidoa Aquagest afinais de 2009, apli-cando-se tal contrato em 2010. Aconcessom tivo também um altocuste económico para as arcas doConcelho de Punxim, o qual lhededicou a este contrato umhaquantia que supunha o 30% do or-çamento municipal. O trabalho in-formativo e mobilizador da vizi-nhança motivou que em agosto de2013 Aquagest renunciasse à ges-tom do serviço de abastecimento.

Ademais da suba nas tarifas, agestom de Aquagest provocou ou-tros problemas. Segundo indicaMoldes, através das pesquisas dacomissom da água descobriramque a empresa concessionária es-tava a incumprir vários dos com-promissos adquiridos com o con-trato. Por exemplo, apenas se teriagastado a metade do previsto emfazer analíticas. Por outra banda,Vigilância Aduaneira propujo àjuíza instrutora do caso Pokémona imputaçom do ex-alcalde dePunxim e dum apoderado da

Aquagest polas irregularidadesdetetadas neste concelho, en-quanto o Seprona emitiu um rela-tório em que apreciava “ilícitospenais” na reabertura dum poçocujas águas estavam contamina-das de arsénico.

Empresas mistasMoldes lembra que as operaçonsde Aquagest em Punxim começa-ram da mao da Deputaçom de Ou-rense, através de assistências téc-nicas gratuitas. Aquagest, agoraViaqua, e a Deputaçom de Ouren-se som sócios da empresa mistaAquaOurense. Este tipo de empre-sas mistas nom som umha exce-çom da Deputaçom de Ourense.Umha das sete grandes cidades dapaís, Ferrol, conta também comumha empresa deste tipo gerindoa água. Trata-se de Emafesa, um-ha sociedade que se encontra par-ticipada num 51% polo Concelho

do Ferrol e num 49% pola Urbaser.O coletivo Ecologistas en Acción

tem denunciado que este tipo desociedades, que mantem a aparên-cia de entidade pública ao ser o seuaccionista maioritário o concelho,som umha importante fonte de in-gressos para a empresa que parti-cipa. Na sua publicaçom El agua

como la vida no es una mercancia

exponhem-se casos de cidades doEstado espanhol como Huelva ouLeón que abriram empresas mistassimilares, provocando um aumen-to nas tarifas e a apertura de canlesde negócio para as empresas parti-cipantes, pois costumam fazer-secom o controlo da estratégia em-presarial e com importantes postosde decisom na empresa mista.

Vozes pola re-municipalizaçomMas escuta-se também a reivin-dicaçom da re-municipalizaçomdos serviços relacionados com agestom da água. Em Ferrol, ogrupo municipal de IU vem de re-clamar a volta a gestom munici-pal do ciclo aquífero, assinalandoas perdas económicas que Ema-fesa está a arrastar.

Também desde a AlternativaCanguesa de Esquerdas (ACE), de

Cangas do Morraço, se vem de re-clamar a remunicipalizaçom. Nocaso deste concelho duns 25.000habitantes esta reivindicaçom fai-se depois de que o Concelho deci-disse apresentar a concurso públi-co a adjudicaçom da gestom de to-do o ciclo da água (abastecimento,saneamento e depuraçom) a um-ha mesma empresa, quando atéeste ano estavam nas maos deduas diferentes: Aqualia e Accio-na. A quantia da concessom poruns 25 anos que pretende esteconcelho ascende a 50 milhons deeuros, e houvo já várias das em-presas que apresentaram recur-sos contra as condiçons iniciais docontrato. Para Xosé Manuel Pa-zos, de ACE, o feito de as estasempresas entrarem a pelejar entreelas desvenda o seu interesse e de-monstra que tal serviço dá benefí-cios, polo que pom acima da mesaa re-municipalizaçom de todo o ci-clo da água e que esses benefíciosse empreguem para o mantemen-to da rede e a reduçom de tarifaspara a populaçom.

O caminho leva de volta paraPunxim. Todos os meses quetranscorrêrom de pesquisas, jun-tas e mobilizaçons levárom a es-pertar a consciência de que o queaconteceu neste concelho nom éum caso isolado. Joaquín Moldesanuncia que após o verám se cele-brará um foro em que se falaráabertamente da privatizaçom daágua no nosso país e se reivindica-rá a gestom pública deste bem.“Nom há justificaçom política paraque os municípios privaticem es-tes serviços, salvo que haja outrosinteresses...”, reflexiona Moldes.

vozeS críticaS reclamam a re-municiPalizaçom doS ServiçoS

Água em maos privadas: mais cara e mais obscuraAté ao ano 2010 as Naçons Unidas nom reconhecê-rom explicitamente o direito humano à água potávele ao saneamento. Tal declaraçom foi fruito de inicia-tivas de diversos países do Sul, onde a maioria delespadecêrom desde a década de 80 as conseqüências

sociais dumha vaga privatizadora dos serviços deabastecimento urbanos. Este direito à agua enfren-ta-se com o interesse das transnacionais que pro-curam operar nas redes de abastecimento, umhaatividade que lhes oferece uns ingressos periódicos

continuados através do consumo de água da popu-laçom. Na Galiza, desde a década de 90, muitos con-celhos galegos passárom da gestom municipal dasredes a entregar, geralmente em regime de conces-som, este serviço a empresas privadas.

caso pokémon desvenda irregularidades

em concessons

Gestom privada provoca suba das tarifas pola água

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17a PeSquiSaNovas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

O alcalde da Corunha, CarlosNegreira, chegou ao Governolocal em 2011 fazendo bandei-ra de uma reclamação princi-pal: a austeridade. Três anosdepois, o presidente camarâ-rio acaba de rasgar aquelapromessa com o início deumas obras que, além de mu-dar por completo uma das fa-chadas marítimas da cidade,suporão um investimento inu-sitado em tempos de crise.

ANDRÉ GUIEIRO / As conhecidas co-mo obras da Marinha terão umcusto de 16,5 milhões de euros,dos quais dois serão achegados pe-la Autoridade Portuaria e o restopor Governo local e Xunta de Ga-liza. Os trabalhos visam soterrar otrânsito por completo e convertereste espaço numa área para opeão, um total de 28.000 metrosquadrados entre o Teatro Rosalíae Porta Real. As obras foram ou-torgadas à UTE Copasa e CivisGlobal, apesar de haver outrasofertas que ofereciam um custo in-ferior. Copasa é já uma das habi-tuais nas grandes obras da cidadee, atualmente, é a responsável daconstrução do parking e o túnel doParrote, que serão uma continua-ção do soterramento da Marinha ecustarão 14 milhões de euros.

Mas os investimentos não sóatingem às obras de construção,senão também aos trabalhos deurbanização da superfície libera-da. O projeto, segundo informa-ções publicadas no diário La Opi-nión, está longe de ser um exem-plo de poupança e austeridade.Com um investimento total de 6,8milhões de euros, Negreira querdestinar 600.000 euros à criaçãode uma passarela sobre o mar nopróprio porto e instalar bancos dedesenho com um custo de entre807 e 14.610 euros cada um. Oscandeeiros também terão o seuaparato. Haverá cinco modelos di-ferentes, alguns com forma de ár-vore. O modelo Marina 1 de faro-la, por exemplo, custará 3.300 eu-ros cada um e serão instaladas 68.Além disto, a nova superfície tam-bém terá dois prédios de 173 e 243metros quadrados e dois quios-ques de vinte metros quadradosque serão destinados à hostelaria.

Perante estas cifras gerais, acontestação dos vizinhos não de-morou para chegar. As associações

dos bairros próximos, como a Ci-dade Velha ou Monte Alto, denun-ciam o “excessivo investimento” deumas obras em plena crise queapenas reclamam coletivos veci-nhais muito minoritarios, criadospelo PP durante o Bipartito e vin-culados à direita mais conservado-ra da cidade. Os vizinhos dos bair-ros mais longínquos do centro tam-bém criticam o interesse do alcaldepor urbanizar a Marinha quandoeles têm uma ampla listagem dereivindicações sem cumprir e de-nunciam que a cidade está-se aconverter numa urbe com “bairrosde primeira e de segunda”.

A oposição vezinhal levou à cria-ção de uma Plataforma contra asobras das Marinhas, que tambémtem o apoio de BNG e EsquerdaUnida, com representação na Câ-mara. Após varias concentraçõescontra a “obra faraónica de Negrei-ra”, organizaram o passado mêsuma manifestação que apenas reu-niu meio milhar de pessoas. O quedesde os coletivos sociais e movi-mentos vecinhais da cidade se pen-sava que seria um “Gamonal coru-nhês” ficou num fraco movimentode contestação que alguns dosmembros destas organizações jus-tificam em que a Marinha não é

uma zona muito residencial, comosim aconteceu em Burgos.

Os planejamentos de Negreirasão inaugurar as obras semanasantes das eleições municipais demaio de 2015. Uma aposta arroja-da que poderia não ser cumpridacaso haja algúm imprevisto, comoos temporais do passado inverno,que obrigaram a paralisar durantesemanas as atividades deste tipona rua. O alcalde e os minoritárioscoletivos vezinhais que apoiam oprojeto acham que “é agora oununca” e que a liberação para opeão deste espaço “require o in-vestimento que seja”, independen-temente do contexto económico.

A mobilização contra as obrasquase não tem força, com excepção

de Monte Alto. Os residentes no po-pular bairro corunhês são os maisafetados por estas obras já que, en-quanto não finalicem, não haverátrânsito por uma das principais viasde entrada ao bairro, o túnel de Ma-ria Pita. O presidente da associaçãovizinhal, Alberte Fernandes, já fezuma chamada à mobilização paraas próximas semanas.

Os problemas com o acessoatingem também aos vizinhos dacidade velha onde, além de gran-des fortunas como Amancio Orte-ga ou o exregedor, Francisco Váz-quez, vive população idosa e semmuitos recursos. A peatonalizaçãoda superfície apenas permitirá cir-cular aos autocarros públicos, ostaxis e os vehículos de residentes.A presidenta da associação de vi-zinhos da Cidade Velha, Rosa Qui-roga, já alerta de que muitos dosque lá vivem não têm carro, senãoque são recolhidos pelos seus fi-lhos ou outros familiares. “Agora,o quê vai acontecer? Não vão po-der entrar os filhos com o carro aapanhar aos seus familiares? Qualvai ser o sistema de controlo doGoverno? Aqui ninguém disse na-da”, nota Quiroga.

As obras também contam coma visão cética dos arquitetos cole-

giados na cidade. O presidente dadelegação do Colegio Oficial deArquitetos de Galicia na cidade,Carlos Pita, duvida da necessida-de de soterrar o trânsito na Mari-nha e acredita que este tipo degrandes investimentos apenas sefaz para reactivar um setor, comoo da construção, duramente gol-peado pela crise a e a queda dosinvestimentos em infraestruturas.Além disso, o Governo visa soter-rar o trânsito e partos dos restoshistóricos das muralhas descober-tas em Porta Real.

Com o trânsito já fechado, o so-terramento da Marinha semelhaimparável. O tempo tirará a dúvidade se pode ser inaugurado antes daseleições municipais e de se os cida-dãos premiam ou castigam ao Go-verno municipal pela sua decisão,numas eleições em que o PP podeperder a sua maioria absoluta e nasque a oposição pode ficar tambémmais fragmentada que nunca.

A herança faraónica de Negreira

As obras foram outorgadas à ute

copasa e civis Globalapesar de haver

outras ofertas comum custo inferior

vizinhança denuncia que a cidade está-se a converternuma urbe com “bairros de primeira e de segunda”a PeSquiSa

aS obraS da marinha corunheSa SuPorão um inveStimento de 16,5 milhõeS de euroS em Plena criSe

o alcaide também visa soterrar restos da

muralha histórica

Manifestação contra o soterramento do trânsito da Marinha da corunha,organizada pola Plataforma ‘Non às obras da Mariña’ no passado 12 de maio

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Mulheres migrantes e comescassos recursos fôrom aforça detonante das trêsgrandes investigaçons judi-ciais sobre a corrupçomempresarial, política e poli-cial nos últimos anos daGaliza. Na sequência das in-formaçons recolhidas me-diante as testemunhas e es-cuitas telefónicas com quearranca a operaçom 'Cario-ca' no outono de 2009, sur-gem a 'Campiom' -primave-ra 2011- maila 'Pokémon',em setembro de 2012.

ANA VIQUEIRA / 'Guarda Civil, Ar-mando, onde está Ana?'. As pare-des nom deixaram de perguntarpor umha das trabalhadoras doprostíbulo lucense Queen's desa-parecida no ano 2007, nem tam-pouco pararam de apontar para oGuarda Civil Armando Lorenzo.O ex-cabo é um dos principais im-putados no caso Carioca por deli-tos de tráfico ilegal de pessoas,suborno, tráfico de influências,revelaçom de segredos e agres-som sexual, mas nom por homicí-dio. Acompanha-o José ManuelGarcía Adán –acusado de delitosde posse ilícita de armas, indu-çom à prostituiçom e branqueiode capitais, entre outros– que levao clube de alterne em que se jogao xadrez judicial. Sobre o tabulei-ro estám em marcha as três ope-raçons mais complexas contra acorrupçom na Galiza.

Feminicidas e proxenetas protegidos pola Guarda Civil e Polícia Nacional O ex-cabo Armando Lorenzo Tor-re fazia-se passar por chefe do de-partamento de ‘Estrangeiria’ emLugo para receber presumivel-mente favores das mulheres emsituaçom irregular. Em 2007 foi àcasa dumha moça de nacionalida-de brasileira, sacou sua pistola,pousou-na na mesa do salom eobrigou a mulher a ter relaçonssexuais com ele. Esta atuaçom fa-ria parte dum comportamento ha-bitual com as mulheres que tra-balhavam em prostíbulos lucen-ses e que nom tinham nacionali-

dade espanhola, segundo indicamas fontes da investigaçom da ope-raçom Carioca. Mas, ao contráriodas outras mulheres, esta denun-ciou a violaçom a que estava a sersubmetida quotidianamente. Oseu caso foi recolhido polos As-suntos Internos da Guarda Civil,que iniciaram a investigaçom po-licial que parou nas maos da juízaPilar de Lara. Em dezembro de2009 já se estava a reunir maistestemunhas e a pôr escuitas nostelefones de empresários, políciase cargos políticos.

Entre os implicados, destaca Jo-sé Manuel García Adán, conside-rado epicentro da máfia e queconta com umha rede policial cor-rupta que lhe ampara as opera-çons. Ademais do ex-cabo Arman-do Lorenzo, figura como imputa-do Eduardo Antonio Castro, su-binspetor do Corpo Nacional dePolícia em Lugo. Castro é investi-gado pola sua relaçom com os clu-bes de alterne, ao suspeitar-se queprestava favores aos proxenetas edonos dos locais, além de retirarcartas de expulsom a algumhasdas trabalhadoras. Outro dos no-mes próprios desta trama é o doproxeneta José Marcos Grandío,chefe do Clube Eros, acusado deimpor um horário prolongado detrabalhos às mulheres que exer-ciam a prostituiçom e castigá-lascom multas em caso de que se au-

sentassem do local. As investiga-çons também tratam de aclarar seas obrigava a abortar.

Entre as declaraçons reveladas,ademais da desapariçom de Ana,conta-se umha violaçom múltiplaseguida de feminicídio. Segundo atestemunha, umha trabalhadorado Queen's foi violada por várioshomens e, depois de que um deleslhe introduzisse umha bola de bi-lhar na vagina, morreu em ques-tom de horas por hemorragia. Asmulheres do Queen's também de-nunciaram como desapareceu ou-tra mulher em março de 2010, coma operaçom já iniciada. As teste-munhas relatam como umha rapa-za de 19 anos, recém chegada aoprostibulo, nom voltou a ver-se de-pois de no meio da noite se ouvirum disparo. Ainda que sem êxito,a juíza Pilar de Lara ordenou em2010 e em 2014 buscas no localcom a finalidade de achar o corpo.

A Campiom: Dorribo, entre asredes do Queen's, o Ministériodo Fomento e a Xunta de Galiza Segundo os testemunhos das mu-

lheres do Queen's, o empresárioJorge Dorribo era um cliente ha-bitual. Ele é o suposto cérebro datrama da fraude de subvençons esuborno da 'Operaçom Campiom'que Pilar de Lara passaria depoisà sua colega juíza Estela San José. Mediante as escuitas e vigilâncias,as declaraçons e conversas deDorribo implicárom o ex ministrodo Fomento José Blanco e o secre-tário de Convergència Democràti-ca de Catalunya, Oriol Pujol. Aempresa de Dorribo, a farmacêu-tica Nupel, recebia milionáriassubvençons da Xunta de Galiza evendiam no Queen's um kit depreservativo e lençol polo que sepagava entre três e cinco euros.

'Acción&Klasse', clube que reúneimputados nas três tramasAdemais, Jorge Dorribo fundouum clube gastronómico chamado'Accion&Klasse' cuja base estavanum restaurante de Lugo chama-do 'Tempo', onde se reuniam numcomedor reservado para a oca-siom. Um dos fundadores desseclube também é dono da Cons-tructora Sanle, adjudicatária deobras públicas em Lugo, ManuelSantiso González. Casualmente,Santiso é co-proprietário da fincae do edifício do Queen's junto comJavier Manuel Reguera, ambosimputados na Pokémon. A listados promotores de 'Acción&Klas-

se' inclui outros dous imputadosno caso Campeom: o ex-conse-lheiro de Indústria da Xunta, Fer-nando Blanco (BNG) –primo deJosé Blanco (PSOE)– o vice-presi-dente da empresa Azkar, José An-tonio Orozco, e, entre outros, umimputado polo caso Carioca, o ex-subdelegado do Governo em Lu-go, Jesús Otero.

Imputados na Pokémon, os donos da finca do Queen's As escuitas também levárom ajuíza a interessar-se por Francis-co Fernández Liñares e por JavierReguera, encarregado da ORA. Oseu seguimento desemboca naoperaçom Pokémon e a investiga-çom ao redor do grupo Vendex,as empresas da grua e a ORA.

Nesta nova jogada, o movi-mento-chave para colher Liña-res foi a colaboraçom de JorgeDorribo. O empresário inculpouo Liñares quem, segundo ele,concedera um concurso sob pa-gamento de comissons a entida-de que nesse momento presidia,Hidrográfica Miño Sil. Mas Liña-

18 a fundo Novas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

a fundo

Dos prostíbulos às cúpulas dosgrandes partidos galegos

aS PeSquiSaS judiciaiS iniciadaS no ‘queen´S’ acabarom revelando aS redeS de corruPçom do PP e PSoe

A busca de mulheresdesaparecidasnom tivo êxito

o 'Acción&Klasse' reunia construtores

e políticos

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19a fundoNovas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

res, logo que foi preso, opta polamesma via que Dorribo. O ex-concelheiro do Urbanismo de Lu-go deu à juíza umha lista de em-presários que supostamente pa-gavam subornos a políticos naGaliza para obter contratos pú-blicos, o qual desatou definitiva-mente a operaçom Pokémon. Ja-vier Manuel Reguera, empregadodo grupo Vendex como gerentedo serviço da ORA em Lugo, fun-cionário no concelho lucense,membro de 'Acción&Klasse', co-proprietário da parcela onde seergueu o Queen's e assinaladocomo um cliente habitual doprostibulo, foi encarcerado den-tro da Pokémon acusado de su-borno e branqueio de capitais eposto em liberdade em novembrodo 2013 depois de pagar umhafiança de 40.000 euros. O seu só-cio empresarial, Manuel Santiso,imputado na Pokémon pola mes-ma causa, também ficou em li-berdade após pagamento de20.000 euros. Meses depois deentrarem em prisom, Liñares eDorribo também obtenhem a li-berdade condicional.

Com as investigaçons em curso,começou a xurdir a 'síndrome dotelefone intervindo' polo que co-

meçárom a brotar nomes em cifrapara referir-se a alcaides e empre-sários de Lugo e Compostela –oCura, o Chino, o Puñales, Ghar-bancito...- relacionados com o re-parto de contratos públicos emtroca de dinheiro, sobretodo aque-las adjudicaçons relacionadascom umha empresa com sede emMadrid: a Vendex.

Carioca, Campiom e Pokémoncobram a sua independência Ainda que partírom dum mesmooperativo, as operaçons cobramautonomia e começam-se a dividirem partes. Deste jeito, a operaçominicial –a Carioca– fica num pro-cesso de relativa lentitude judiciale invisibilizaçom social ao ganha-rem peso as conseqüências políti-cas e públicas das tramas de cor-rupçom institucional e empresa-rial, como é a Pokémon.

'Pokémon': 109 imputaçons Repartida entre a Galiza, Astúriase Catalunha, a Pokémon constade 109 imputaçons e 9 processosjudiciais divididos em 8 autos re-partidos segundo as demarca-çons judiciais. Um destes proces-sos –o número 9– já está ser jul-gado no Carvalinho enquanto o

resto está a caminho dos julgadosde Lugo e Compostela.

A peça número 1 consta de 12imputaçons por delitos de prevari-caçom, suborno, tráfico de influên-cias e falsidade documental, nasquais se destacam José ClementeLópez Orozco, alcaide de Lugo,Francisco Fernández Liñares, ex-concelheiro socialista, ManuelSantiso González e Javier Regue-ra Pérez. O segundo processo emi-te 64 imputaçons e toca a tramadas adjudicaçons a Vendex. O al-caide de Santiago, Ángel CurrásFernández, o de Lugo, José LópezOrozco, e do Carvalinho, ArgimiroMarnotes, estám imputados, bemcomo os ex-regedores de Ourense,Francisco Rodríguez, e de Boquei-xom, Adolfo Gacio, junto edis deCompostela como Rebeca Domín-guez (PP) e Bernardino Rama(PSOE), os ex-concelheiros

Adrián Varela, do PP, e FernandoVarela, do BNG, entre outros.

A peça número 3 é a que com-preende os subornos mediante aHidrográfica Miño-Sil e alberga21 imputaçons. As mais salientá-veis som a de Francisco Fernán-dez Liñares, Javier Reguera ouManuel Santiso, já imputados napeça 1, ou Carlos Monjero Álva-rez, que também terá imputa-çom no caso Campeom. Entre-tanto, o quarto processo está re-lacionado com as adjudicaçons àAquagest e leva 12 imputaçonspara Compostela. Destacam-se oex-alcaide santiagués Conde Roajunto os ex-edis Ángel Luis Es-padas, Bernardino Rama e Albi-no Vázquez Aldrey. TambémFrancisco Rodríguez Fernández,ex-alcaide de Ourense. ParaCompostela também vai a peçanúmero 5 em que constam 11 im-putaçons relacionadas com di-versas adjudicaçons. Estám im-putados Gerardo Conde Roa, Jo-sé Albino Vázquez Aldrey, ÁngelLuis Espadas, Adrián Varela Sa-randeses entre outros. As irregu-laridades em adjudicaçons noConsell Comarcal de la Selva,em Girona, englobam-se na peça6 e conta de 9 imputaçons. Nacausa número 7, em referênciaaos contratos em Cangas de Nar-cea, Astúrias, há 4 imputados.

O suposto financiamento ilegaldo PSOE em Santiago através daempresa de imprensa 'La Ibérica'leva à imputaçom de BernardinoRama, Antonio Luis Murcia Piñei-ro, José Luis Míguez Rey e HenryLaíño López. Mentres, o supostotráfico de influências no Carbali-nho causa a imputaçom do alcaidelocal, Argimiro Marnotes (PP)junto com José Daniel Blanco Fer-nández, empresário, e Olga Gon-zález Fernández.

Paula Prado, Gómez Besteiro e García-Gesto na investigaçomA juíza instrutora Pilar de Laraabrirá umha peça mais dedicada àex-portavoz do Partido Popular naGaliza ainda que, devido à suacondiçom de aforada –também édeputada autonómica– precisariada autorizaçom do Tribunal Supe-rior de Justiça de Galiza (TSJG).Também será julgado em proces-so separado José Ramón GómezBesteiro. O líder do PSdG e presi-dente da Deputaçom de Lugo seráinvestigado no quadro da Poké-mon por causa de supostas irre-gularidades nas reformas da suacasa. Também abrirá um terceiro

processo para julgar o empresárioMiguel García-Gesto, como con-seqüência de denúncias cruzadasentre a juíza e o querelado.

'Carioca': 84 imputaçons, 23 so-bre agentes e mandos policiaisAs diligências prévias desta inves-tigaçom iniciada em finais do ano2009 concluírom em março de2012, tendo como resultado a divi-som do caso em 47 peças separa-das para afrontar a abertura dojulgamento oral. Trata-se damaior operaçom contra as redesde proxenetismo feita no nossopaís. As imputaçons envolvem 23agentes da Guarda Civil, entreeles o coronel José Herrera, o te-nente-coronel Gonzalo Borrás, ocomandante Andrés Velarde, oumesmo o comissário-chefe da Po-lícia Nacional de Lugo, MaximinoLosada, junto a membros do de-partamento de 'Estrangeiria'.

As imputaçons também chegá-rom ao ex-subdelegado do gover-no lucense, Jesús Otero, acusadodum delito de omissom do deverde perseguir delitos. Otero apre-sentou demissom ao também serimputado noutro processo polasuposta retirada irregular de mul-tas de tráfico na província.

'Campiom': 6 processos e 50 imputaçons judiciaisA investigaçom acabou por envol-ver o ex-Ministro do Fomento JoséBlanco, quando Dorribo sustémque se reuniram numha gasolinei-ra lucense após pagamento de200.000 euros ao primo de Blanco–Fernando Blanco (BNG)– com asuposta finalidade de que acele-rasse as gestons no Ministério daFazenda e da Saúde de Espanhaem seu favor. Contodo, o processoinstaurado contra José Blanco foiarquivado no dia 18 de abril de2013 polo Tribunal Supremo e emmaio de 2014 entrou como núme-ro 10 na lista do PSOE para o Par-lamento Europeu.

Ficam por aclarar a peça contraSergi Pastor, ex-conselheiro dele-gado da Applus, Sergi Alsina, J.Tous, da Deputaçom de Barcelonae I. Masalles, subdiretores da Ge-neralitat e coordenada no Julgadode Instruçom número 9 da cidadecondal. Também, a partir do julga-do de Instruçom número 3 de Lu-go, o processo contra Manuel Ig-nacio Castro Gil, notário, AvelinoFernández, e Amador Fernández,empregado de Laboratórios Nupel.Ademais da correspondente a Xo-sé López Orozco, alcaide de Lugo.

Estas operaçons figérom queos registos de delitos relaciona-dos com a corrupçom aumentas-sem em 23% (152) em 2012 en-quanto caíam em 35,7% os casosque finalmente eram levados ajuízo. Houvo um escrito de acu-saçom junto do Ministério Fiscalem 18 processos e, finalmente,só houvo 8 sentenças.

José A. orozco, Manuel Dorribo e José Blanco (de esq. a dir.) numha ceiahomenagem da confederaçom de Empresários de lugo (cEl) ao último

A investigaçom do‘pokémon’ consta de

109 imputaçons e9 processos judiciais

liñares deu nomesde empresários

que supostamentepagavam a políticos

Sete concelheiros e concelheiras polo PP no concelho de compostelademitírom logo de serem condenados por pretenderem pagar com

dinheiro municipal a defesa dum outro concelheiro implicado na Pokemon

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20 tribuna Novas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

o Acordo transatlántico de comércio e investimentos (ttip, em inglês)procura aumentar a liberalizaçom de produtos e serviços tribuna

XAVIER CARRIBA / O Acordo Transa-tlántico de Comércio e Investimen-tos (polas suas siglas em inglêsTTIP) entre a Uniom Europeia e osEstados Unidos já está na sua fasefinal de negociaçons. Este tratadopretende aumentar a liberaliza-çom do comércio de produtos eserviços assim como a reduçom debarreiras para os investimentos eas operaçons financeiras entre aspartes assinantes. Um novo fitodentro do guiom neoliberal, aindaque com um marco de negociaçomdiferente ao acostumado nas últi-mas décadas. Os EUA abandonamo marco da Organizaçom Mundialdo Comércio (OMC) polo fracassodo seu intento de impulsar umhanova vaga liberalizadora. Na Ron-da de Doha, os países emergentesquigérom pôr condiçons e o pri-meiro mundo nom foi capaz de im-por-se, polo que agora os EUA im-pulsam negociaçons com os seusaliados mais próximos no Atlánti-co através do TTIP e no Pacíficocom um tratado similar: o AcordoEstratégico Transpacífico de Asso-ciaçom Económica (polas suas si-glas em inglés TPSEP).

Estes dous tratados, TTIP eTPSEP, pretendem determinar osnovos estándares das relaçonseconómicas internacionais alémdo ámbito dos seus assinantes. Opeso das economias implicadasnestes acordos fará que os produ-tores de terceiros países se vejamobrigados a entrar nas novas re-gras de jogo. Umha grande opera-çom de geoestratégia económica.

A quem beneficia o TTIP?Os EUA deixárom de ser um gran-de exportador com importantesexcedentes, atualmente a sua eco-nomia centra-se nos serviços e nacaptaçom de investimentos parafinanciar o seu défice comercialcom o resto do mundo. A econo-mia ianque depende de WallStreet para ter excedentes, poloque pede mais lenha para pôr acaldeira da burbulho-economia fi-nanceira ao máximo outra vez.Por isso, o TTIP centra boa parteda negociaçom num maior desre-gulamento dos mercados financei-ros. As conseqüências desta políti-

ca económica nos EUA já som su-ficientemente conhecidas, as dife-rentes bolhas financeiras nom fi-gérom mais que redistribuir a ri-queza cara ao 1% mais opulentoda sociedade ianque e desviáromrecursos das atividades económi-cas que geram emprego numhasociedade onde nom ter trabalhoimplica passar à indigência.

Na Uniom Europeia, o máximodefensor do TTIP é a Alemanha,que impulsou a abertura das ne-gociaçons durante a sua presidên-cia de turno da UE em 2007. Ospostos de mando da economiaalemá tenhem um justificado in-teresse neste acordo, com o queesperam aumentar as suas expor-

taçons aos EUA e dirigir commaior facilidade os seus exceden-tes a Wall Street. A hiper-competi-tividade alemá a custa das condi-çons de vida dos seus trabalhado-res permite-lhes fazer este cálcu-lo. Mas para outros integrantes daUE, como o Estado Espanhol, estenovo desregulamento pode pro-vocar que o comércio entre os paí-

ses da UE seja substituído porprodutos e, especialmente, servi-ços estadounidenses.

As beneficiárias do TTIP serámpolo tanto as elites económicasda UE e os EUA. Mas os promo-tores do tratado nom param de fa-lar dos milagrosos efeitos que te-rá a sua assinatura para toda apopulaçom. Simples propaganda.

Alternativa ao TTIP?O TTIP é mais do mesmo na lógi-ca da economia neoliberal, comas conseqüências conhecidas um-ha e outra vez: continuar na linhade empobrecimento e polariza-çom social e territorial. Frente apropaganda dos apóstolos do li-

vre comércio as evidências empí-ricas apontam à existência dumexcesso de capacidade produtivadesde os anos 70, agravada poloscontínuos incrementos na produ-tividade e pola eclosom de novoscompetidores: a China e os paísesemergentes. Estes fatores estáma determinar umha forte quedana taxa de benefícios nas ativida-des da economia “real” que pro-vocam o movimento de recursosàs atividades especulativas. A for-te competência internacional estáa ser um jogo de 'soma zero' paraa maioria da sociedade.

Neste marco, seria preciso al-go totalmente oposto ao TTIP:impedir a desviaçom de fundosaos mercados financeiros espe-culativos, buscar umha raciona-lizaçom da produçom a nível in-ternacional que siga a lógica dacooperaçom frente a competi-çom, estabelecer outros modosde integraçom na sociedade quevaia além do trabalho.

Também há algo fundamentalpara os seres humanos que estáfora das consideraçons do TTIP:as conseqüências ecológicasque estám a ter as lógicas deprodutividade. A economia de-veria de ter em conta non ape-nas as variáveis monetárias,mas também o desgaste mate-rial deste mundo finito, esteecossistema já enfermo onde vi-vemos. O incremento no PIBnom dim nada sobre a vida daspessoas e menos sobre a sua fe-licidade. Se a ciência económicaescapar destas consideraçons,para que nos servirá?

A negociaçom centra-se num maior desregulamento dos

mercados financeiros

oS eua imPulSam neGociaçonS com oS SeuS aliadoS no atlÁntico e no Pacífico

Um tratado de livre comércio à medida de Berlim e Wall Street

evidências apontama um excesso de

capacidade produtivadesde os anos 70

Quedam fora as consequênciasecológicas das

lógicas produtivistas

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21mediaNovas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

notaS de rodaPé

ALei de Abdicaçom entrou aferro-lhada no Congresso, bem embru-

lhada polos institucionalistas, e saiusem lhe faltar um precinto.

Nenhumha novidade para um tex-to legal proclamado como Ra-

zom de Estado e receita da Ordemcontra o Caos. Só que as operaçonspara que nada mude no Estado sem-pre anunciam que o Estado está àbeira de grandes mudanças.

Significa o 85,4% do voto favorá-vel à Lei um referendo para a

Monarquia? A imprensa institucio-nalista pretende que seja assim.Quando dizem que as razons parti-culares cedêrom o passo a umhaquestom de interesse geral, o querealmente estám a assegurar é queprescindírom da democracia.

Aconsigna foi interpretada ao péda letra polos jornais da Galiza.

O Faro de Vigo, por exemplo, ver-sando sobre a sessom do Congresso,é menos atento às emendas do que obancário, centralista e mariano (deMarine Le Pen) ABC. A diferença éque o Faro informa num territóriocheio de manifestaçons republica-nas e em demanda dum referendo,despachadas como “protestas emprol da República”.

tam preocupados polas excepcio-nalidades anedóticas do País

(sobretodo se trazerem turistas) osdiários galegos desprezam o votoem contra do BNG para descobrirdepois que ABC e El País sim que lhedam importância.

oregulamento televisivo dos deba-tes do Congresso revela, contodo,

umha verdade objetiva: há mais vozescontra a Monarquia do que a favor. Asvozes de alarma tenhem às vezes efei-tos tam paradoxais como este: numhabeira os diários tiram a sua credibili-dade pola borda em nome dumha ra-zom continuadora de Estado e doutraos ecráns explicam que começa umprocesso constituinte.

Quando um Rei proclama querero melhor para o povo, pode estar

recomendando a República.

Informaçomsem mudanças àbeira de grandesmudanças

media

RAUL RIOS / Como é possível que, se o TTIP étam importante para a vida das europeias,se esteja a negociar totalmente a porta fe-chada? Segundo o negociador principal daparte europeia, Ignacio García Bercero, éprecisamente o seu “conteúdo de naturezasensível” o que fai necessária a confidencia-lidade de todos os documentos elaboradose intercambiados durante as negociaçons.Esta opacidade seria necessária para man-ter a confiança entre as partes (EU e EUA) epara proteger-se face a terceiros países.

Assim, numha carta pública datada em ju-lho de 2013, o negociador europeu comuni-cava ao seu homólogo estado-unidense, L.Daniel Mullaney, que o TTIP suporá umhaexcepçom ao Regulamento 1049/2001 daUE, segundo o qual qualquer documentomanejado pola Uniom ou os seus organis-mos deve ser de acesso público. Nom obs-tante, este regulamento de transparência es-tabelece umha série de exceçons polas quehaverá documentos que se podam censurarno caso de existir um “interesse público su-perior”, entre os que inclui “as relaçons in-ternacionais e a política financeira, monetá-ria ou económica” da Comunidade. Nestamistura cabe todo o que a CE considerar quedeve ser confidencial, incluídos os papéis doTTIP. Ademais, a normativa permite que osdocumentos permaneçam ocultos até 30anos depois de ser aprovado o acordo, limiteque García Barrero assegura que se cumpri-rá no caso do tratado de livre comércio.

Mas a opacidade arredor do TTIP nom sóimpede a cidadás ou jornalistas aceder aosdocumentos da negociaçom, senom quetambém veta às europarlamentares. O co-missário europeu de Comércio, Karel DeGucht, negou a funçom negociadora do Par-lamento Europeu durante um debate nessamesma cámara em maio de 2013. Assim, sóumha pessoa por grupo parlamentário podeter acesso à informaçom dos negociadoresatravés da Comissom de Comércio Interna-cional do Parlamento.

Alguém pode pensar que umha represen-tante dum grupo de esquerdas poderia fil-trar estes documentos e fazê-los públicos,mas é quase impossível: só podem consul-tá-los em cabines de leitura fechadas e es-pecificamente desenhadas para impedirqualquer reproduçom dos textos. A CE nomaforra precauçons e mesmo tomar umhasbreves notas fica radicalmente proibido.

Ao contrário de jornalistas e de europar-lamentares eleitas, os lobbies das multina-cionais sim tenhem acesso aos documentosdo TTIP. Em resposta a um requerimento doCorporate Europe Observatory, a Comis-som tivo que reconhecer oficialmente quedos 130 encontros mantidos com “partes in-teressadas” para preparar as negociaçonsdo acordo, 119 reunions fôrom com gruposde pressom e grandes empresas. Aquelasposiçons da negociaçom que havia queocultar ao público por serem demasiadosensíveis, essas é que podem, porém, serconhecidas polo setor privado.

Que sabemos?Os poucos documentos feitos públicos atéagora procedem de filtraçons que vam cain-do como umha pingueira, sendo mui difi-cultoso realizar umha análise sistemáticado decurso das negociaçons e das medidasconcretas do acordo propostas por cadaparte. Que tipo de documentaçom é confi-dencial? A carta pública redigida por GarcíaBercero responde à pergunta: “Todos os do-cumentos relacionados com a negociaçomou com o desenvolvimento do Acordo doTTIP, incluindo os textos da negociaçom, aspropostas de cada parte, os anexos de ma-terial explicativo, os documentos de discus-som, os emails relacionados com o fundodas negociaçons e qualquer outra informa-çom intercambiada no contexto das nego-ciaçons”. Em menos palavras, todo é confi-

dencial. Sirva como exemplo do tipo de in-formaçom que se lhe oculta à sociedade oúltimo documento destapado: um texto coma oferta inicial de serviços a liberalizar emEuropa, sanidade e educaçom incluídos, fil-trado através da plataforma 'filtrala.org'.

Os comunicados e informes oficiais quefoi tirando a Comissom pouco tinham a vercom o conteúdo concreto do TTIP. O maisdifundido foi o informe que avalia o supostoimpacto que o acordo terá sobre as relaçonscomerciais UE-EUA, elaborado polo grupode trabalho da Comissom. Estes documen-tos favoráveis ao TTIP estám baseados emmodelos econométricos pouco realistas masque permitem às autoridades dar cifras so-bre crescimento do PIB e criaçom de em-prego, que é o que sai nos grandes titulares.As medidas concretas do tratado, que per-mitiriam a um observador independente fa-zer umha outra análise das suas conseqüên-cias, continuam a ser confidenciais e nomaparecem nestes textos oficiais.

Assim, ante a ocultaçom de certos dadose a ávida difusom doutros, a imprensa con-vencional opta por nom falar dos primeirosnem se perguntar por que nom som públi-cos; enquanto reproduzem os segundos edam por assente o seu rigor científico.

Lendo os relatórios oficiais entre linhas,atendendo aos documentos filtrados e ob-servando as conseqüências doutros tratadosde livre-comércio similares; vários econo-mistas e jornalistas críticos fôrom tirandoconclusons bem argumentadas que diferempor completo das teses da Comissom. Aindaassim, a livre consulta de toda a informa-çom relativa às negociaçons permitiria umdebate em pé de igualdade entre defensorese detratores do TTIP. Mas num mundo emque a informaçom é poder, a classe dirigen-te reserva a informaçom para si.

a ue Permite cenSurar documentoS oficiaiS Se hÁ “intereSSe PÚblico SuPerior”

Negociar um acordo decisivosem que ninguém saibaO Acordo Transatlántico de Comércio e Investimento(TTIP, polas suas siglas em inglês) que estám a negociara Uniom Europeia (UE) e os Estados Unidos (EUA) estáchamado a acabar com o panorama económico tal comoo conhecemos, dando um salto de gigante no processode desregulaçom económica. Apesar da sua transcen-

dência e de que este tratado de livre comércio vai afetardiretamente as condiçons de vida de todo cidadao daUE, é pouco ou nada o que a maioria da gente sabe dele.Com efeito, a Comissom Europeia (CE) está a manter to-talmente em segredo o decurso das negociaçons comos EUA iniciadas oficialmente em 2013.

Ao contrário de jornalistas eeuroparlamentares, 'lobbies'

acedem à documentaçom

fragmento da carta redigida polo negociador europeu García Bercero

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22 cultura Novas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

cultura 'ectropia' é o novo trabalho de xan campos trio

“todos estamos a procurar os nossosmodos de não ter que renunciar à cultura”

converSa com xan camPoS, PianiSta e comPoSitor de jazz

Xan Campos (Cangas, 1987),pianista e compositor de jazz,acaba de mostrar uma vez maiso seu imenso talento em um dis-co chamado Ectropia, saído doforno em mediados do mês demaio. Se por momentos semelhafalar de um jogo, põe em cada pa-lavra, em cada frase, um cuidadoespecial, teimando em ser enten-dido. A primeira pergunta obri-gada é por que Ectropia. “Ectro-

pia é a tendência da energia a seordenar de jeito natural. A minhadefinição pessoal é a tendênciade algo a se organizar sem umaexplicação racional aparente;pensei que o termo se identifica-va muito com a minha música,com a minha maneira de sentir ede entender a música”.

O seu primeiro disco comoXan Campos Trio, Orixe cero, da-ta de 2011, ainda que já contavaentão com um outro disco em so-litário, o Idas e voltas. No circuitode jazz, Orixe cero, interpretadopor ele, Iago Fernández e Hora-cio García, teve uma muito boaacolhida e posicionou-os comonovos valores na cena galega. “Ofato de que eles estejam no meutrio é muito importante paramim, não só por serem os bonsintérpretes que são, senão peloseu critério, por tudo o que apor-tam à música e, por suposto, pelarelação pessoal que temos. Con-fio cem por cento em eles”, enfa-tiza Xan.

Compor para um trio é algomais que escrever música paraser interpretada por varias pes-soas: “tudo começa nas ideias,paixões e loucuras que cada umtem na sua cabeça; eu para com-por plasmo estas ideias e levo-asao ensaio em forma de tema, àsvezes mais acabado e outrasmais como rascunho; depois Iagoe Horacio aportam toda a suapessoalidade aí.”

Levam oito anos tocando jun-tos, e mostram pouca preocupa-

ção por definir a que correntepertencem, qual é o nome que ca-lha melhor para o seu estilo eclé-tico, porque ainda que partem dojazz, superam a definição do jazztradicional. “Os momentos emque um mais desfruta de fazermúsica, tanto compondo comointerpretando ou improvisando,na minha opinião, são aquelesem que tens essa sensação tãobrutal de que não estás intelec-tualizando nada, nada é racional,senão que a música toca-se sozi-nha. Tu só tens que representá-la, mas a sensação é que já elasozinha se cria”.

Depois do seu passo pelo Mu-sikene donostiarra e pelo Semi-nario Permanente de Jazz dePonte Vedra, tem sido louvadopor médios especializados nojazz, como a revista estaduniden-se All About Jazz, que escreveusobre o seu anterior disco dizen-do de algumas canções que eram“como uma sacudida do primeirocafé da manhã”. Xan Campos éna atualidade estudante do Euro-pean Jazz Master, fato que o le-vou a morar em diferentes cida-

des europeias e que tem tambéma sua pegada neste disco.“Influiumuito a nível pessoal, e tambémpelas experiências vividas em to-dos estes lugares; ao final o discoé um reflexo disto tudo”.

Distribuição e supervivência

A crise econômica bateu fortenos últimos anos em todos os se-tores, mas no das artes os seusefeitos têm-se sentido enorme-mente. Para as pessoas que semantenham à margem dos gran-

des circuitos comerciais da mú-sica, a supervivência passa porpensar em alternativas de distri-buição e de publicidade que per-mitam chegar ao público geralde forma mais eficiente.“Alémdo desastre que estamos a vivera nível econômico, está o temada mudança social provocadapelas novas tecnologias; não po-demos viver no passado e pen-sar que as pessoas vão continuara comprar discos em formato fí-sico como antes”.

Internet, em especial, é a fer-ramenta que mais facilita ascoisas na música. “Cada vez hamais facilidades para acessar atodo tipo de música, mais gru-pos que publicam os seus traba-lhos, e uma comunicação maisdireta e próxima entre artistase público; os meus discos po-dem ser escutados gratuitamen-te na internet e parece-me umasorte que as pessoas possam es-cutá-los”. Mas há trabalho de-trás. E os músicos têm que co-mer, também. “Fazer um disco efazer a tua música leva muitotrabalho por trás, por isso as

pessoas podem comprar o CDtanto digital como físico; o CDfísico é uma maneira de apoiaros grupos que lutam cada diapara continuar fazendo música,por esse motivo, nos concertosé onde mais discos se vendem,ainda que também tentamos ex-plorar outros aspetos”.

Internet ajuda a vender discosalém das nossas fronteiras. O úl-timo pedido de discos véu do Ja-pão. Pouco a pouco é possívelchegar a um público afastado.Não obstante, a falta de sítios pa-ra tocar ao vivo, pelo menos aqui,no país, sente-se bem forte. “To-dos os anos há festivais que de-saparecem ou que rebaixam mui-to os seus orçamentos, os locaistêm-no ainda mais complicado,não podes pagar um cachê dignoa uns músicos se as pessoas nãotêm dinheiro para consumir, e asajudas públicas escasseiam”.

Diminuem os orçamentos, etem que aumentar a vontade dequem peleja dia a dia por manterviva a cena musical. “Há uma coi-sa boa e é que estamos a falar demúsica, arte e ao mesmo tempodiversão, normalmente as pes-soas põem muita paixão nisto,tanto os músicos como os pro-gramadores e o público, entre to-dos penso eu que estamos conse-guindo que todo continue funcio-nando, que haja um movimentomuito grande em todo o país; to-dos estamos procurando as nos-sas maneiras de não ter que re-nunciar à cultura”.

Em tempos de crise a culturaé, talvez, ainda mais importante.“Eu falo do ponto de vista domúsico, do público e agora quetenho a sorte de estar na organi-zação do Festival de Jazz deCangas, também falo como pro-gramador: é muito complicado,há muitas dificuldades, mas aspessoas não querem renunciar auma riqueza como esta”. E, porsuposto, exigir apoio: “isto não

L. DOPAZO RUIBAL / A última canção do disco Ectropia chama-se Entropia.Mais que um jogo de palavras é um jogo de conceitos. Em ela soam vo-zes que semelham não dizer nada. “O tema Entropia está gravado com-pletamente do revés, por isso soa assim tão especial; tocamo-lo tendoem conta que tudo ia soar revertido, tratando de dar-lhe uma coerênciamusical inversa à harmonia, melodia, ritmos, dinâmicas, estrutura...” ex-

plica Xan Campos, o seu autor. E continua “uma vez gravado demos-lhea volta e o resultado é essa sonoridade elástica e aparentemente eletrô-nica, mas na realidade está interpretado de jeito totalmente acústico”. Epor fim responde à pergunta sobre a letra: “as vozes por suposto tam-bém estão gravadas do revés, assim que suponho que se lhe dás a voltapoderás entender a letra”.

"tudo começa naspaixões e loucurasque cada um tem

na sua cabeça"

"nom se pode pensarque as pessoasvão continuar acomprar discos"

M. V

EN

cE

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23culturaNovas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

quita que tenhamos que lutarpor ela e sair à rua quando façafalta para exigi-lo; refiro-me aorespeito à cultura, e à dignidadehumana em geral”, recalca en-quanto sorri.

Cada vez é mais complicado vi-ver da música, roçando a utopia.“A minha experiência é que cadaano que passa torna-se mais difí-cil poder viver disto, mas a a rea-lidade é que cada vez é mais difí-cil viver tenhas a profissão quetenhas”. A arte, em tempos decrise e de capitalismo selvagem,é considerada luxo, especialmen-te por quem maneja os orçamen-tos e, como tal, não existe comodireito da população toda. “Nãoo consideram uma necessidade,mas para mim a cultura é umanecessidade como comer. Inclu-sive nestes tempos é mais impor-tante a cultura, quando temosoutras carências”.

Falar de novos valores do jazz ga-lego obriga a citar em primeiro lu-gar o Seminário Permanente deJazz de Ponte Vedra, que continuaa formar e a dar a conhecer os mú-sicos e músicas mais novos dopaís, assim como a trazer músicosdoutros lugares ao país. Mais deuma década de historia dá contado bom trabalho realizado e dacanteira imensa que há no país.

Por baixo da geração de artis-tas já consagrados e com umacarreira formada, como Abe Rá-bade ou Paco Charlín, destacamcompositores e intérpretes como

Virxilio da Silva, Pablo Castaño,Alberto Vilas, Javi “GDJazz” Pe-reiro, Fernando Sánchez, Sumr-rá, Carlos López. Alguns, como o

próprio Xan Campos, Iago Fer-nández ou Yago Vázquez, tam-bém estão a trunfar fora das nos-sas fronteiras.

É assombrosa a quantidade debons músicos do país que há ago-ra mesmo, e a qualidade dos seustrabalhos. Para Campos, “muitaculpa é da gente que está a lutarpor que isto aconteça, como LuisCarballo e o Seminário de Jazzde Ponte Vedra, algumas escolas,e os programadores que se rom-pem os cornos para continuar afazer concertos ao vivo”.

E as mulheres?

Mas, onde estão as mulheres emtodo este mapa do jazz galego?Xan Campos não duvida em res-ponder: “pois claro que o mundodo jazz é um mundo machista,como toda a nossa sociedade; écurioso que na música clássicahá como mínimo o mesmo núme-

ro de mulheres que de homens,ou inclusive mais. Sinceramente,não sei qual é o motivo, mas nojazz continua a haver uma dife-rença abismal; parece que há co-mo uns roles designados e as mu-lheres parece que só podem sercantantes no mundo do jazz”.

A história do jazz, de certo,tem restringido à mulher o rol decantante. E sem dúvida o tópicodo músico de jazz, boêmio, mu-lhereiro, bala perdida, não temajudado a que as mulheres seachegassem a ele até datas re-centes, tendo em conta o estig-ma social que suporia para elas.“De todas formas, pouquinho apouco estamos a mudar isto”,adiciona Campos, “mas muitopouquinho a pouco”.

O novo jazz galego

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24 deSPortoS Novas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

PLATAFORMA PRO OFICIALIDADEGALEGA / Começa o mundialdo Brasil; o negócio por cimado desporto, a assimilaçomcultural por cima dos direitos,os grandes por cima dos des-favorecidos. Essa é a data emque o circo volta estar por ci-ma de todo.

Mais um mundial e mais umhavez voltam ser repetidas as for-mas de atuaçom do poder. Inclusi-ve poderíamos dizer que commaior força do que anteriormen-te; eles vam aperfeiçoando os me-canismos que parecem ter suces-so, e numha situaçom mais grave,onde a crise continua a bater commais força no povo.

Na Galiza vamos sofrer de novoesta ofensiva e por partida dupla:como país e como classe. Por umlado, nom poderemos nem tamsequer optar a disputar esta ououtra competiçom internacional.

A proibiçom do Estado espanhola que outras naçons tenham aoportunidade de participar nesteseventos repete-se ano após ano.Mas nom devemos esquecer o ou-tro lado, o económico, o mundialde futebol vai voltar a exercer decirco mediático para ocultar osproblemas reais (e nom nos refe-rimos a essa monarquia corruptaque nos querem impor de novo)de muitos e muitas galegas.

Volta a “maravilhosa” unifica-çom do pensamento, já podemoscomprar todo o merchandisingnas grandes áreas comerciais, vernos jornais e nas televisons toda aprogramaçom sobre o mundial ea seleçom espanhola. Mas de ver-dade temos que aguentar isto? Te-mos que ficar calados ante estapressom, temos que ter vergonhade dizer o que pensamos?

Temos que ter medo a dizer queo que nos preocupa de verdadesom as 297 mil pessoas no desem-

prego na Galiza, que alcança23,2% no ultimo trimestre, e umhataxa de 46,5% em menores de 25anos. Onde 17,2% da populaçomgalega vive por baixo do umbralda pobreza, segundo o Inquéritode Condiçons de Vida (ECV).

Temos que ter medo a dizer quenos importam os 7 despejos que ca-da dia som realizados na Galiza e omais de meio milheiro de pequenasempresas que entrárom na lei con-cursal durante o ano passado naGaliza. Medo a dizer que mais de100.000 jovens menores de 35 anosemigrárom desde o ano 2010.

Pois nom, nom queremos termedo de dizer nada disso quandocada jogador de espanha vai rece-ber 720.000 euros no caso de ga-nhar o mundial (mais do duploque qualquer outro país). Comumha suba de 20% a respeito doanterior mundial (nom lhe deviachegar ainda…). Mas agora pare-ce ser que já vam cotizar os seus

ganhos no Estado espanhol, evi-tando assim a controvérsia dou-tros anos. Os nossos irónicos pa-rabéns para eles... E já nem co-mentamos os presentes que rece-bem de grandes empresas comoEl Corte Inglés.

Também sabemos e diremosque se a Galiza nom pode partici-par neste Mundial nom é por um-ha norma de Direito Internacionalou da FIFA. É unicamente polo ve-to da Federaçom Espanhola de Fu-tebol. Nós sabemos que Gales, Ir-landa do Norte, Escócia, HongKong ou Andorra, entre outrosmuitos, participam nos torneiosclassificatórios... E nós? Ah claro,nós nom podemos nem decidir,assim é a sua democracia.

Mais umha vez nom vamos termedo a dizer nada disto todo,mais umha vez nom teremos me-do a que algum siareiro espanholcegado por todo o circo diga queestamos loucos, que somos uns

radicais e nom sabemos de que fa-lamos. Nom temos medo porqueo que temos é a verdade.

A Plataforma Pro OficialidadeGalega (prooficialidade.org) for-mada por desportistas galegos egalegas de diferentes modalida-des desportivas, luita para que odesporto galego que esmorece porfalta de vontade política e capaci-dade de financiamento saia adian-te e se desenvolva dumha formacorreta e sustentável dentro danossa realidade social. Por issoanimamos a que todo o mundo, damesma maneira que já acontececom muitas pessoas no próprioBrasil, denuncie a injustiça quesupom a utilizaçom do mundial defutebol para ocultar a realidadeque nos rodeia, para unificar opensamento da sociedade e queas e os galegos nom podamos dis-putar estes eventos. Nós, vós e tutemos os argumentos, por issonom vamos calar.

d deSP

orto

SSabor aGridoce no rÁGuebi GaleGo

A futebolista Vero Boquete disputoucom o Tyresö sueco a final da Cham-pions em Lisboa. A galega marcou umgolo e deu uma assistência. Perdérom 3-4, ficando às portas do título. O novo rep-to será a Liga norte-americana com asua nova equipa, os Portland Thorns.

vero boquete ficou Perto de erGuer a chamPionS

As moças do CRAT Corunha ficárom se-gundas da Liga estatal. É a terceira vezem quatro anos que repitem esta classifi-caçom. Em homens, o representante ga-lego na máxima categoria estatal, o VigoRugby, conseguiu a remontada e assegu-rou a permanência na Divisom de Honra.

12 de junho, o circo por cima de tudo

OVARAL-MEDIA /Justamente nodia das passadas eleiçons euro-peias, desafiando mais umha vezo apodrecimento coletivo queolha para as urnas como umhasuposta soluçom à infinidade deproblemas que afetam ao povogalego, a serpente multicor daLNB permaneceu inquebrantávelna teima de sinalar o último do-mingo do mês de maio para reali-zar o já mítico Play Off Nacional.Foi nesta ediçom 2014 quando asbilhardas e os paláns, após o exí-lio do ano anterior na paróquiacompostelana de Marrozos, re-gressárom à terra mae de Conjo.Um espaço carregado de historiaonde fôrom disputadas as trêsgrandes finais em sessom de ma-nhá como a feminina , a infantil ea de equipas, já na sessom da tar-de, após o jantar de irmandadeCarnelao, fôrom disputadas as es-

petaculares finais de Varados (ti-ros diretos ) e a Absoluta, da qualsairia o grande Coroceir@ Nacio-nal 2014. E como nom podia serdoutro modo, enquanto os candi-datos e candidatas ao parlamentoeuropeu esfregavam as maosaguardando o seu passaporte pa-ra o paraíso-lixeira de Bruxelasos palanadores e palanadoras dasLNB cuspiam nas maos à procuradum título nacional que, ao con-

trário do que qualquer dos euro-deputados e eurodeputadas gale-gas, os converteria em seres ad-mirados e repeitados por todos osativistas da indomável tribo LNB.Bego e Brais, de Corredoiras deBueu, abriam o lume do Play OffNacional ao se converterem emcampeons de feminino e infantilrespetivamente, depois, os Lúa deForza, de Porto Novo, numha fi-nal passada por água, converte-

rom-se em campeons nacionaispor equipas. E depois do grandejantar de irmandade, onde foi rea-lizada a nova ediçom do concursogastronômico Carnelao-MIllo-Corvo para escolher a melhor e apior tortilha do Play Off Nacional,foi disputada a esperadíssima esuperexigente final de Varados,onde o grande palanador dasTroitas Bravas da Ponte Nova,Xosé Regueiro, conseguiu impor-

se dumha forma espetacular quevai passar à história do desportogalego , e na final de finais, maisumha vez, já vam duas consecuti-vas, Ginés, dos Lúa de Forza doSalnés, enfrentava-se ao seu com-panheiro de equipa Xan Rodiño ,umha final a fume de caroço quedesembocou de novo em tragédiapara o palanador nativo das ter-ras de Cervo e que converteu ogrande Xan Rodiño no primeiropalanador vegetariano CoroceiroNacional . Finalizou a temporadaregular, mas permanecei atentose atentas porque a serpente mul-ticor da LNB continua imparávelreptando por todo o país para quenom falte em nenhuma festa , fes-tival ou celebraçom o ruído dasbilhardas anunciando o fim damonarquia espanhola ...Bilharda

Sempre , Adiante a República In-

dígena Galega!

#Conxo2014 catapulta Xan Rodiño comovegetariano coroceiro nacional da LNB!

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25deSPortoSNovas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

No mundial de duatlo realizado em Ponte Vedra, a tria-tleta Susana Rodriguez Gacio obtivo um novo campeo-nato do mundo de duatlo, na categoria PT5. Este é o seuterceiro mundial da especialidade. Pola sua parte, oatual campeon mundial Javier Gomez, venceu as trêsprimeiras provas das series mundiais, tendo mais pertoa consecuçom da sua quarta coroa mundial.

novaS aleGriaS em triatlo

Finalizada a temporada, o Celta confirmou a sua pre-sença na Primeira Divisom, onde também vai joga o De-portivo, após o seu ascenso. Na Segunda, o Lugo tivoque aguardar a última jornada para certificar a catego-ria. Boa parte do sucesso das equipas galegas está ba-seado na aposta polo futebol de base e na confiança ou-torgada aos jogadores da canteira.

bom ano Para o futebol GaleGo

LARISSA ARAÚJO / Remoções defamílias; violência policial; re-pressão a ambulantes, trabalha-dores informais e população derua; corrupção; endividamentopúblico; obras faraônicas; elefan-tes brancos; saúde e educaçãoprecária; exploração sexual; vio-lação de direitos de crianças eadolescentes; falta de transpa-rência e acesso à informação; eli-tização do esporte; leis de exce-ção; proibição de protestos e ati-vidades culturais tradicionais.

A Copa do Mundo já começou!E seu saldo não é positivo para amaior parte do povo brasileiro.

Desde 2010, a Articulação Na-cional dos Comitês Populares daCopa (ANCOP) vem denunciandoas remoções e as ameaças de re-moção de cerca de 170 mil pesso-as. Moradores e moradoras quesofrem a violação de direitos hu-manos em todas as cidades sedesde obras e projetos para a Copado Mundo e Olimpíadas no Brasil.

Graças à luta das comunidadesameaçadas, com apoio dos Co-mitês e redes parceiras, já seconquistaram vitórias importan-tes. Mesmo que isso tenha pro-vocado a ira de governos, em-preiteiros e agentes da repressãoe especulação, a luta diminuiu asviolações nas cidades e garantiudireitos. Porém, a gana da FIFA,do COI e dos grandes empresá-rios - por privilégios e por utili-zarem a Copa para se tornaremos donos das cidades - voltoucom força nesta semana.

Primeiramente, o secretário-ge-ral da FIFA, em mais um ato de in-

gerência e desrespeito ao povobrasileiro - e com a conivência dogoverno federal - enfatizou quecopa e democracia não combi-nam. Lamentavelmente, a popula-ção brasileira vem aprendendo is-so nos últimos anos, sofrendo di-retamente o avanço do fundamen-talismo e da repressão popular.Devemos, como integrantes doprocesso de construção do estadodemocrático brasileiro, repudiarsempre tais manifestações e inge-rências em nossa soberania.

Logo em seguida, Salvador - ci-dade que já teve as baianas e seusacarajés banidos pela FIFA do en-torno da Arena Fonte Nova - rece-be a informação que, em nome da“segurança” da Copa das Confe-

derações, a tradicional festa juni-na de São João corre o risco denão acontecer. Igualmente incertocontinua o destino das baianas deacarajé, vetadas de exercerem umofício tradicional da cultura dematriz africana. A mesma FIFA -que ganhou isenção de imposto ecarta-branca para explorar os e astrabalhadores e trabalhadorasbrasileiros e brasileiras sob o eu-

femismo de voluntários e voluntá-rias -, exige que todas as manifes-tações e protestos, direitos de cul-tura e expressão - centrais para aconstituição brasileira - sejam su-primidas nos jogos.

Finalizando essa rodada deofensas, assistimos à violência e àrepressão policial ao ato pacíficopromovido pelo Comitê Popularda Copa e Olimpíadas no Rio deJaneiro, contra a mutilação doComplexo Maracanã e a privati-zação de um estádio que é patri-mônio histórico da população bra-sileira. A mesma arbitrariedadeque violou os direitos indígenasna Aldeia Maracanã, agora amea-ça o direito ao esporte e à educa-ção, com a tentativa de demolição

do Célio de Barros, do Júlio Della-mare e da escola Friedereinch.

Esta não parece ser nem a festado povo, nem a da democracia. Acoibição de manifestações justase pacíficas, de caráter político, cul-tural ou mesmo lúdico, expressamais uma vez que a política re-pressiva da Copa visa a criminali-zar a pobreza e suprimir direitosfundamentais. Enquanto a segu-rança dos jogos é reforçada, a viti-mização de crianças, adolescentese mulheres ameaçadas pela ex-ploração sexual continua evidentepela ausência de medidas especí-ficas e recursos orçamentários.

A ANCOP repudia firmementeo avanço de leis de repressão, co-mo o PLS 728, que, entre suaspropostas, pretende restringir odireito de greve e enquadrar co-mo terroristas quaisquer formasde ativismo político constitucio-nalmente asseguradas. Abomi-namos também as declaraçõesfascistas, acompanhadas de açõ-es violentas e anti-democráticascontra o povo brasileiro.

Conclamamos o povo atingidoa se contrapor a esta Copa doMundo que viola os direitos his-toricamente conquistados e favo-rece os interesses da FIFA, dosgrandes empresários do capital ede políticos a eles associados.Copa para quem? Os impactadossomos todos nós.

São Paulo, 28 de abril de 2013

Larissa Araújo é representante

da Articulação Nacional dos Comitês

Populares da Copa (ANCOP)

Copa para quem? A realidade do Brasil

remoções e ameaçasde remoções

atingem a perto de170.000 pessoas

A realização da Copa do Mundo de futebol em 2014 e das Olimpíadasem 2016 no Brasil é a oportunidade de gerar investimentos que redu-zam as desigualdades sociais, com a promoção de melhoria das con-

dições de vida da população brasileira. Mas o que assistimos em nomeda realização destes Megaeventos Esportivos é a violação de direitoshumanos e sociais a todos os níveis.

centroS SociaiS

aguilhoarO Forno · Ginzo de Límia

arredistaRodas, 25 · Compostela

cS almuinhaRosalia de Castro, 46 · Marim

artábriaTrav. Batalhons · Ferrol

aturujoPrincipal · Boiro

bou evaTerço de Fora · Vigo

a casa da estaciónPonte d’Eume

casa do SarCurros Enríquez · Compostela

cSo casa do ventoFigueirinhas · Compostela

cSoa escárnio e maldizerAlgália de Riba · Compostela

cSo a kasa negraPerdigom · Ourense

lS do coletivo terraBoa Vista · Ponte d´Eume

a cova dos ratosRomil · Vigo

distrito 09Coia · Vigo

ateneu libertário a engranaxeRio Sil · Lugo

faíscaCalvário · Vigo

fervesteiroAdám e Eva · Ferrol

o frescoBº da Ponte · Ponte Areias

o fuscalhoFrente à Atalaia · Guarda

a GhavillaPonte da Raínha · Compostela

Gomes GaiosoMonte Alto · Corunha

liceo muranteRosalia de Castro · Ponte Vedra

cS lume!Rouxinol nº16 · Vigo

mádia levaSerra de Ancares · Lugo

cSo PalaveaPalaveia · Corunha

cS en PéZona velha · Ponte Vedra

o PichelSta. Clara · Compostela

a revolta do berbésRua Real · Vigo

a revolta de trasancosA Faísca · Narom

Sem um camRua do Vilar, 9 · Ourense

a tiradouraReboredo · Cangas

cS vagalumeR. das Nóreas, 5 · Lugo

cS xebraLeandro Curcuny · Burela

cSo xuntasRua do Carme · Vigo

cS a zalenváR. Carris, Valençá · Barbadás

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26 temPoS livreS Novas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

CARLOS C. VARELA / Há que pôr-se em contexto para entender avoracidade destes patriófagos,imaginar as saudades tropicaisdum Dia da Pátria Galega em Ma-tanzas, o irrespirável calor dumjulho de 1912 do que conserva-mos a crónica: “Relación do quepreparou o gaiteiro de Gondomar,fillo do vello Martínez, para pri-meira henchedela d’os enxebresque componen a sociedá Os Lar-peiros: Viño con quinina, tortiñas,salchichón de Landrove, morta-dela da Guardia, aceitunas dosolivares de Bouzas, caldo galegoalo pontevedrés, años da Terradas burgas, chivos asados, arróscon polo ao xeito da Coruña, viñobranco e tinto, sidra, cervexa, ca-fé e tabacos”. A naçom pola boca,e no menu, sabores hoje estra-nhados: sidra galega e azeitonasda olívica Bouças.

Com a sidra galaica há contro-vérsias: seria de maçá a zhytos

que descreve Strabom? Da me-dieval nom temos lugar a dúvi-das: o Códice Calistino descrevea nossa Terra como “escassa empan e vinho, mas abundante empans centeio e sidra” e, de facto,o historiador Anselmo López

Carreira indica que eram muitomais abundantes os foros de ma-çá que os de vinho. O médio cen-to de variedades autóctones demaçá, a profusom na toponímia emicrotoponímia –“onde se cons-tantan que só no nosso país haimáis topónimos referidos às ma-çás que no resto do estado xun-to”; aponta Bieito Romero-, ou aextensom do apelido Lagares porcomarcas nom vinícolas, damideia do arraigo que deveu ter asidra na Galiza. Enquanto ingen-tes quantidades de maçá galeganutrem a indústria asturiana, anossa foi-se esquecendo comobebida tradicional. Contodo, con-

tinua-se a produzir sidra caseiraem muitos lugares, como em Ne-menzo, e conservam-se lagares,por exemplo, em Tabeaio (Car-ral). A sidra galega nom precisaescanciado, e está mais ligadacom a bretoa do que com a astu-riana. Em algumhas zonas mistu-rava-se com vinho. A que fam naAlta de Soandres é mui seca eamarga, “selvagem e tirando a si-dras británicas”, dim os críticosda Cider Guerrilla. Agora já sepode provar, de contrabando, nal-gum centro social.

E o azeite? Cunqueiro, saudoso,reconhecia que “Sim, já sei quenom há oliveiras prateadas em

Quiroga agora: nom haverá umhasequer, umha presada de azeito-nas para o azeite dumha lámpa-da, dumha só lámpada (…)?” Narealidade, sim houvo algumhassuperviventes à tala decretadapolos Reis Católicos. Entrando aModernidade ainda nom se com-prava azeite, “nalgúns pazos doRibeiro, Valdeorras e o Miñor, quedispuñan de abondosas olivei-ras”, recorda Xavier Castro. E emdatas mais recentes, como na IIGuerra Mundial, fôrom regista-das greves de jornaleiros da azei-tona na trasmontana Paradela.No recordo conserva-se um ricofolclore, normalmente de temáti-

ca erótica, e que abrangia todo opaís, de Traço a Velhe: “Debaixodas oliveiras / dá gosto bater o fa-do, / tem as folhinhas muidas / eajuda a deter o orvalho”; “Debai-xo das oliveiras / dá gosto parra-fear / tem as folhinhas miúdas /nom deixam dar o Luar”; “SamAntónio de Maside / capitán dosazeiteiros, / Sam António de Ma-side / vivam os moços solteiros”.

A maioria de receitas conserva-das nom som gastronómicas se-nom mágico-medicinais, para oque também se emprega a árvoreinteira –por exemplo, na terapiado engadido com as oliveiras deSaiáns (Moranha). Mas no testa-mento do Fidalgo Roi Díaz de Ca-dórniga, datado em 1572, encon-tra-se umha ordem com receitaincluída: que se dem aos pobres,cada semana de Coresma, duascomidas consistentes “numha olade castanhas cozidas…, com o seuazeite e um pam de centeio e um-ha azumbre (¿) de vinho…”.

Castanhas com azeite e vinhocom sidra, duas materializaçonsdessa encruzilhada entre o mun-do atlántico e o mediterráneo,que caracteriza tantos aspectosda cultura galega.

temPoS livreS

Azeite e sidra para a patriofagia

entrelinhaS ‘arrojado a loS leoneS’, de Sabino cuadra

GaStronomia

LUISA CUEVAS RAPOSO / Quan-do dizes dum livro que o lestedumha vez, no comboio e no au-tocarro, a cada momentinho li-vre do dia e na cama tirando-lhehoras ao sono, eu pouco maispodo ou costumo dizer para re-comendar a sua leitura.

Mas, se quero que no Novasme publiquem uma resenha so-bre "Arrojado a los leones", domeu deputado favorito SabinoCuadra, algo mais devo escrever.

Podo acrescentar que é amenoe interessante. Ameno porquetodos os temas, até os mais sé-rios, sem deixar de os analisarem profundidade, som aborda-dos com uma linguagem com-preensível, até divertida, salpi-

cada de anedotas. E interessantepelos mesmos motivos.

O livro repassa desde a situa-çom em Euskal Herria que levouà formaçom de Amaiur e comoele, umha pessoa dos movimen-tos sociais, acabou encabeçandoa lista por Nafarroa, até umhaprofunda análise sobre a "crisecapitalista". Desde a solidarie-dade entre os povos até as mú-mias do Congresso (e nom emsentido figurado). Desde comolhe foi negado a Amaiur o tergrupo parlamentar próprio até adecoraçom do congresso, cheiode símbolos religiosos e impe-riais. Desde as luitas nacionaisaté as luitas de classe. Em defi-nitiva, umha completa e profun-

da análise da realidade de hojeno estado espanhol.

Destaco positivamente a lin-guagem inclusiva; nota-se que écousa assumida. Sem necessi-dade de utilizar continuamenteo masculino e o feminino, equando o faz é para ressaltar opapel que jogamos ou, no seucaso, padecemos as mulheres.Como deve ser.

Só umha nota negativa paramim, como galega, e já está co-mentada com o autor: nom falada Galiza até o final do livro, e ésó no momento em que explicapor que é independentista. E dizque igual que o sol nom dá voltasao redor da terra, também o ca-talám, o euscaro e o galego, nem

Catalunya, Euskal Herria e Gali-za nom giram ao redor de Espa-nha e o castelhano. Nem umexemplo de luitas, solidarieda-des ou repressom na Galiza. Sa-bino prometeu fazer um esforçopor conhecer a nossa realidade.

Mesmo assim, recomendomuitíssimo a leitura deste livro,aliás porque os benefícios do au-tor irám integramente destina-dos a "Harrera" asociaçom deajuda e apoio a ex-presos e ex-presas políticas bascas que aosair dos cárceres padecem pro-blemas de saúde, emprego, etc.

Arrojado a los leones.

Sabino Cuadra,

Icaria Editorial. 2014.

um ‘abertzale’ no congresso espanhol

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27temPoS livreSNovas da GaliZa 15 de junho a 15 de julho de 2014

que fazer

17.06.2014 / MERCADO EN-TRE LUSCO E FUSCO / 17:00no parque de Belvis. COMPOSTELAFeira de produtos locais, bioló-gicos e de comércio justo. To-das as terças-feiras.

18.06.2014 / PROJEÇOM DEOS VERDES ANOS, DE PAU-LO ROCHA / 20:30 no C.S.Gomes Gaioso (Rua Marconi,9 - Monte Alto). CORUNHA

18.06.2014 / PROJEÇOM DEPRIMEIROS TRABALHOS, DEŽELIMIR ŽILNIK / 21:30 noC.S. O Pichel (Rua Santa Cla-ra, 21). COMPOSTELAOrganiza o Cineclube de Com-postela. Ciclo de Cinema e Fi-losofia. VOSG.

20.06.2014 / APRESENTA-ÇOM DO GUIA PARA O DES-CENSO ENERGÉTICO / 20:30no Auditório (Rua Autores daRianxeira, s/n). RIANJOElaborado pola AsociaciónVéspera de Nada por unha Ga-liza sen petróleo.

20.06.2014 / PROJEÇOM DEVIVIR LA ANARQUÍA, DEJUAN GAMERO / 21:00 noC.S. O Carneiro Alado (Ruasalvador de Madariaga, 8).LUGODentro das jornadas 'Achega-mento à anarquia'.

20.06.2014 / PALESTRA SO-BRE ELABORAÇOM DE CER-VEJA ARTESÁ / 21:30 no L.S.Faísca (Rua Toledo, 9). VIGOCom degustaçom ao finalizar.

21.06.2014 / III FESTIVAL HIS-TÓRICO AUGAS SANTAS /Toda a jornada em Santo Es-tevo do Ermo (San Miguel deReinante). BARREIROSAnunciam sorteios, casamen-tos celtas, queimada e atua-çons, entre outros, de Tumba eDalle e Sacha na Horta.

21.06.2014 / SOLSTÍCIO DEVERAO / 11:30 na Eira da Xo-ana (Ramil). AGOLADAObradoiro de horta sustentávele de baixo mantemento. A ins-criçom custa 5 euros.

21.06.2014 / PALESTRA 'ES-TRATÉGIAS DE DESOBE-DIÊNCIA ATUAIS' / 20:30 naCova dos Ratos (Rua Romil,3). VIGOConversa com pessoas do CSOPalavea, da Rede Feminista Ga-lega e do Espazo Aberto Anti-militar. Dentro das jornadas '25anos de insubmissom, 25 anosdesobedecendo'.

21.06.2014 / FESTA XIII ANI-VERSÁRIO DO CINECLUBEDE COMPOSTELA / 21:30 noC.S. O Pichel (Rua Santa Cla-ra, 21). COMPOSTELAPrograma em http://cineclube-decompostela.blogaliza.org/.

21.06.2014 / TEATRO: “AVES-TRUZ EN TERRA ALLEA” /22:00 na Casa da Cultura(Rua Rainha Dona Urraca).SALVATERRA DE MINHOOrganiza a SCD do Condado.Criada e representada por Be-rrobambán Teatro.

22.06.2014 / ROTEIRO “AU-GAS DOCES E SALGADAS”POLAS NEGRADAS (VICE-DO) / 09:00 frente à Faculda-de de Formaçom do Profes-sorado (Avenida de RamónFerreiro). LUGOOrganiza Adega-Lugo.

23.06.2014 / LUME NOVO / Àtardinha em Fontinhas (fren-te ao Mercadona). LUGOOrganiza a Coordenadora de

Centros sociais de Lugo.

24.06.2014 / CELSO CONTACONTOS NA GENTALHA /17:30 no C.S. O Pichel (RuaSanta Clara, 21). COMPOS-TELAContadas de Celso F. Sanmar-tín todas as últimas terças-fei-ras de cada mês.

25.06.2014 / PROJEÇOM DEANGELS' SHARE, DE KENLOACH / 20:30 no C.S. Go-mes Gaioso (Rua Marconi, 9 -Monte Alto). CORUNHA

25.06.2014 / PROJEÇOM DEO DIA DOS IDIOTAS, DEWERNER SCHROETER /21:30 no C.S. O Pichel (RuaSanta Clara, 21).

COMPOSTELAOrganiza o Cineclube de Com-postela. Ciclo de Cinema e Fi-losofia. VOSG.

27.06.2014 / FESTA DA REPÚ-BLICA GALEGA / Toda a jor-nada na velha estaçom decomboios. ORDESPrograma em festadarepublica-galega.blogspot.com.

27.06.2014 / CEIA SOLIDÁRIAE CONCERTO / 21:30 no C.S.Mádia Leva (Rua Serra dosAncares, 18). LUGOMostra de hip-hop em galego.

27.06.2014 / MOULLA ROCK2014 / 22:30 em Boado. GIN-ZO DE LÍMIAConcertos de Noite Fechada,

Mildeu ou The Skarnivals.Mais informaçom emhttp://www.moullarock.tk/.

28.06.2014 / APRESENTA-ÇOM DO GUIA PARA O DES-CENSO ENERGÉTICO / 17:00em Hórreos. QUIROGAElaborado pola AsociaciónVéspera de Nada por unha Ga-liza sen petróleo.

28.06.2014 / VI ENCONTRONO ‘EIDO DOURADO’ / 20:00na Praia da Pasada (San Mi-guel de Reinante). BARREI-ROSHaverá música e outras artes.

28.06.2014 / PALESTRA 'PRE-SENTE E PERSPETIVAS DEFUTURO DO ANTIMILITARIS-MO' / 20:30 no C.S. A Revolta(Rua Real, 12). VIGOPablo San José, do Grupo Anti-militarista Tortuga. Dentro dasjornadas '25 anos de insubmis-som, 25 anos desobedecendo'.

04.07.2014 / MASSA CRÍTICA/ 20:00 na Praça de Maria Pi-ta. CORUNHATodas as primeiras sextas-fei-ras de cada mês, evento ciclistade participaçom aberta.

05.07.2014 / IX FESTIVALARREAOCABO / 21:00 na es-planada de Lavandeiras (Ce-leiro). VIVEIROConcertos de Gatillazo, Daki-darría ou The Brosas.

11 a 13.07.2014 / FESTIVALREPERKUSIÓN / Toda a jor-nada na Cidade dos Mucha-chos (Bemposta). OURENSEAtuam Manu Chao, Muchachi-to, The Turres Band ou Cuchu-fellos. Também há circo e ou-tras atividades que podem serconsultadas neste site:http://www.reperkusion.com.

12.07.2014 / IX FESTIVAL DACHAIRA / 23:20 em Baltar.PASTORIÇAAtuam Xenderal, MoondogsBlues Party e Medomedá entreoutros grupos. Inclui sessomvermute, aberto de bilharda emas atividades durante a tarde.Organiza A.C. A Chaínza. In-formaçom em http://www.festi-valdachaira.com.

12 a 27.07.2014 / CURSO DEDESENHO DE PERMACUL-TURA / Toda a jornada no C.de Educaçom Ambiental AsCorcerizas (Pista forestal Ar-nuide – San Mamede, Km.10). VILAR DE BAIRROHá diferentes módulos e preçosque podem ser consultados emhttp://ascorcerizas.com.

Jornadas sobre o uso dos espaços urbanosvazios da plataforma ‘proxecto cárcere’‘proxecto cárcere’ é umha plata-forma cidadá criada em 2010 po-la vizinhanza do antigo cárcereprovincial da corunha para recla-mar este edifício para um uso pú-blico de caráter “social, cultural eeducativo e onde a memória his-tórica esteja sempre presente”.A plataforma organizou a convo-catória ‘corunha baleira’ que cha-

mava a retratar espaços em des-uso da cidade. Fôrom apresenta-das fotos de mais de 30 lugares.o dia 20 de junho às 19:30 seráapresentado o resultado de ‘co-runha baleira’ em forma de expo-siçom na casa tomada (estaçomde comboios) e também vai serprojetado o documentário Unha

histora de redeiras e grúas, sobre

a especulaçom em monte Alto.o sábado 21 organizam o obra-doiro ‘Ficción: o cárcere en man-común’, guiado por Fran Quiroga,do projeto montenoso. À tarde, apartir das 17:30, será realizado o‘i encontro de iniciativas de Auto-xestión cidadá’. mais informaçom em http://pro-

xectocarcere.blogaliza.org/.

Jornadas de autoediçom‘Gropo Gropo’ é o nome das ivJornadas de Autoediçom do li-ceo mutante, que se realizamneste centro social de ponte ve-dra (rua rosalia de castro, 100)nos dias 20 e 21 de junho.As jornadas consistem numhafeira de venda e troca de fan-

zins, discos ou qualquer outramostra de ediçom gráfica, literá-ria, sonora, ou doutro tipo. o úni-co requisito é que os trabalhossejam realizados à margem deestruturas empresariais.há mais informaçom no blogueplasticamutante.blogspot.com.

o local social Faísca (rua to-ledo, 9) de vigo organiza douscursos de iniciaçom à gaita eao tamboril que começam nofim do mês de junho.As aulas de iniciaçom à gaitavam ser nas terças-feiras a par-tir das 20:00 e as de tamborilnas quintas à mesma hora.para formalizar a inscriçom po-de-se chamar ao 625 028440, contatar a través de Fa-cebook (Faisca calvario vigo)ou avisar no local.

Aulas de gaita e tamboril

faíSca (viGo)

na corunha

liceo mutante

ENVIA CONVOCATÓRIAS aocorreio [email protected] do dia 12 de cada mês.

Anuncia os teus atosno NOVAS DA GALIZA.

Page 28: benS comunS e neGócio A alargada fatura da privatizaçomda água · lho Felipe, com reverência de PP e PSOE, foi o detonante para que milheiros de pessoas saíram às ruas para

Novas da Gali a Apartado 39 (15701) compostelA tel. 692 060 607 [email protected]

umha vez que asratas abandoná-rom o barco, o

alcaide e a tenente de al-caide continuárom a fa-zer as suas cousas. ele,por exemplo, passeoupola proa e pensou emreis assassinos, no papapio xii que definira noano 50 o dogma da as-sunçom de maria, e nomuito que botava em fal-ta àquelas gloriosas tar-des náuticas com osamigos nas quais a vidase convertera numhapaisagem de anúncio demartini. As camareiras ecamareiros moviam-sepor toda a parte do barcosem assentar no chamos calcanhares. trans-portavam vinho e frutafresca, que lhes chegavatodos os dias, direta-mente do mercado.eram como o impérioromano.

A tenente de alcaideleva dias sem sair do seucamarote. destaca o ca-marote polas paredes re-pletas de monocromosde malevich e por um te-levisor sem volume queretransmite durante as24 horas do dia os parti-dos da copa mundial defutebol brasil 2014. vêtodos os partidos váriasvezes repetidos. o fute-bol é a sua vida. nalgumlugar soa em bucle Pe-

nélope na versom de mi-ni e mero. A letra é im-portante. Aram os bois echove e ao lado dos bois,dous cadáveres com um-ha corda ao pescoço e asmaos amarradas atrásdas costas. os bois nompercebem nada. sommuito estúpidos.

todo o mundo sabeque o alcaide e a tenentede alcaide vam coincidirnalgum momento no ex-terior do barco, observa-rám o céu, as nuvenspassageiras, e ele ou ela,ela ou ele, pronunciará afrase definitiva: hei-teamar os próximos dezmil anos. nom percebemque vivem já no climaté-rio do seu desejo. e istoé o trágico, mas tambémo divertido.

maurício delito

o barco

Como foi a descoberta da pro-

clamaçom da República Galega?

Porque decidides comemorá-la?

A descoberta foi totalmente for-tuita. Um dia o Carlos Calvo esta-va rebuscando na Biblioteca Gerale de repente topou-se com o titularda proclamaçom da República.Começou a movê-lo por Foucel-has, e depois já se contatou com oresto de associaçons da comarca.Vimos que o assunto era umhaboa oportunidade para juntar-nose pensamos que havia que recupe-rar este dia. E daí saiu a ideia daprimeira festa, que nom foi em Or-des, senom na velha estaçom decomboios de Gesteda, em Cerze-da, o 27 de junho de 2010.

Surpreendeu-vos o estado de in-

visibilizaçom a que estava sub-

metido este fato histórico? Que

pode levar a que mesmo depois

de ter saído à luz as historiado-

ras apenas o considerem como

umha anedota?

O que realmente surpreende é quena Galiza haja festa por quasequalquer cousa e que esta nom es-tivesse colhida, nom? Talvez nosmovimentos populares e políticoso problema fosse de desconheci-mento, mas à historiografia oficialsim que lhe interessou que nom sesoubesse do tema. Afinal a histó-ria responde aos interesses de

quem a fai e este nom foi um epi-sódio que casara demasiado coma imagem que queriam dar do na-cionalismo. Foi um episódio muitocombativo, em que se levou às úl-timas consequências algo que tan-to se está a negar que poda chegara existir, mas que sim aconteceu.Portanto, o peso que tem isto co-mo referente é algo que nom con-vém a muita gente, por isso tentatornar invisível um episódio deluita de classes na Galiza em queo independentismo foi a estratégiaescolhida pola classe trabalhado-ra para se emancipar.

Que vos leva a pensar este dia em

Cerzeda e depois em Ordes? Por

que nom foi nalgumha cidade?

Primeiro, somos quem somos enom tinha sentido ir fazê-la a ou-tro lado. Segundo, nom quería-mos repetir os esquemas de sem-pre, pois assim também se lhe dáluz a todo esse movimento de ba-se que há além das cidades e quemuitas vezes nem se vê tanto nemtem tanto reconhecimento. Sobre-todo o que pretendíamos era jun-tar as associaçons de por aqui pa-ra fazer algo e o lógico era fazê-lonalgum dos concelhos dos quevínhamos. E a ideia é que se mul-tiplique a celebraçom. Preferimosmuitas festas modestas repartidasque umha grande e única festa na

estaçom de Ordes. Queremos fa-zê-lo como umha festa de amigasque sempre vamos celebrar, mastambém para as que quigerem vir,porque se a gente que vem quigervoltar, pois melhor.

Depois, a partir da vinculaçomda proclamaçom da Repúblicacom o comboio também se pre-tende recuperar espaços como asvelhas estaçons de comboio, dasquais há um lote pola comarca deOrdes, mas num estado de aban-dono total. Assim, ao tempo quecelebramos este dia tambémaproveitamos para dinamizarmosestes sítios. Nom tinha sentidonom fazê-lo aqui.

Em relaçom à organizaçom

do ato, que tendes pensado

para este ano?

Estes anos foi repetido mais oumenos o mesmo esquema, e aindafaltando rosquilheiras, afinal é umpouco umha romaria. Haveráarengas, onde se recolhe a partemais política, um recital poético e,sobretodo, muita música. Tam-bém se tenta sempre que haja ati-vidades para as crianças, porqueao ser umha festa de dia é um pú-blico mui presente.

A gente que há detrás, a organi-

zaçom, de onde saídes?

Sobretodo somos gente que sai

das associaçons culturais, dosmovimentos sociais da zona emais que nada do companheiris-mo, de irmos vinculando a gentepróxima. Há um lote de gente quecrê muito no dia da República eque vem ainda apesar de todos ospesares. Há casos de gente quevem da França, de Matosinhos ouda Catalunha só por esta festa, ouquem, como Mini e Mero ou Xer-molos, venhem mantendo umcompromisso total desde o pri-meiro ano. A participaçom na fes-ta está aberta e, de fato, este anomesmo véu gente diretamente apedir para tocar.

Como vedes, para finalizar,

o panorama social na zona?

No ámbito cultural as associa-çons estám um pouco paradasporque, entre a emigraçom e quea gente nova vai para as cidades,estamos em mínimos. Mas a nívelsocial sim que está a haver espa-ços que estám a dar muita gue-rra, como um tecido musical queestá a funcionar um pouco detrampolim para a juventude co-meçar a pensar ou iniciativas co-mo o Desordes Creativas, a partirda qual também se gera umha di-namizaçom cultural tremenda. Ésignificativo, por exemplo, quena entrada de Ordes haja um Pi-kachu gigante pintado.

J. SANCHES / No ano 2010 juntam-se as associaçons cultu-rais Foucelhas (Ordes), Luzerna (Cerzeda) e A RevoltainaCultural da Beira de Bergantinhos (Laracha) para recuperaro dia da proclamaçom da República Galega, lá polo 27 dejunho de 1931, para fazer dele umha jornada de festa e rei-vindicaçom que esperam poder levar a todos os recantos

do país. Este fito, oculto para a maioria das galegas polashistoriadoras, converte-se num símbolo de resistência dopovo e a revalorizaçom deste episódio na nossa história éumha dívida que temos, sobretodo, com este grupo de pes-soas, que simplesmente procuravam pouco mais que umhaescusa para fazerem algo na comarca.

converSa com a orGanizaçom da feSta da rePÚblica GaleGa de ordeS

“A proclamaçom da república Galegafoi um episódio de luita de classes”