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CAOCTICA, ESPAÇO CULTURAL PÁGINA 14 Bem-vindos ao seu lar, calouros! DESTRUIÇÃO DO CANIL PÁGINA 22 São Paulo, Fevereiro de 2013 - Ano LXXXIII - Edição n o 1

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CAOCTICA, espAçO CulTurAl

págInA 14

Bem-vindos ao seu lar, calouros!

DesTruIçãO DO CAnIlpágInA 22

São Paulo, Fevereiro de 2013 - Ano LXXXIII - Edição no 1

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São Paulo, Fevereiro de 20132

Editorial

Editorial

em-vinda, turma 101! Eu sou o Strike, da 97. Infeliz-

mente, não vou poder conhecer vocês pessoalmente, visto que no momento eu me encontro longe pra cacilda, mas vou aproveitar essa coluna aqui no canto pra tro-car uma ideia com vocês... Essa coluna, aliás, se presta ao serviço de realizar uma critica incógnita da edição anterior do Bisturi, ou, em outras palavras, serve pra zuar um pouco o que o coleguinha es-creveu, e, melhor, ele nem fica sa-bendo que foi você!

Bom, como vocês acabaram de entrar e nem leram a edição pas-sada, vamos falar de outra coisa... História recente do CAOC, pode ser? Então bora!

Ate uns dez anos atras, o po-rão era bem diferente. Era um espaço pichado grafitado colorido com mais personalidade e mais re-

OmbudsmanB presentativo dos alunos. Um dia,

houve um incêndio e o porão in-teiro pegou fogo e ficou inutilizá-vel por algum tempo. Ate que foi reformado e passou a ser branco, limpo, estéril, monótono, sem sal e extremamente subaproveitado. Pra ser sincero, quando eu era ca-louro, o CAOC não me entusiasmou muito.

O C.A. que vocês estão conhe-cendo agora esta diferente daque-le, e isso se reflete no espaço do po-rão: recuperamos um pouquinho da cor, agora temos um boteco (fanta-siado de pub irlandes, que e muito mais chic, claro) e logo mais vamos ter um restaurant. Temos, acima de tudo, gente muito boa no comando dessa espelunca, então podem ter certeza de tem muito mais coisa boa por vir nesse ano. Vocês estão entrando na faculdade em um mo-mento muito legal do CAOC!

Abração,Guilherme Strike Sztrajtman

97Varanasi, 05/02/13

em-vindos a todos, turma 101; olá novamente, de-

mais colegas. O que vocês tem em suas mãos é o já tradicional jornal O Bisturi, o jornal dos alunos da Faculdade de Medicina da USP. Dos alunos de fato, não apenas porque ele é feito, em boa parte, para os alunos, mas também pelos alunos. O que significa que VOCÊ (sim, em maiúsculas, podem julgar) leitor é potencial redator. E como costu-mamos dizer, você pode escrever sobre bioquímica ou sobre o seu dedão do pé, passando por toda a ampla gama de temas imaginá-veis. O que quer que você ache pertinente (ou não).

Como os mais íntimos devem ter percebido, a plástica foi um sucesso e O Bisturi entra em 2013 mais enxuto, mais mignon, mas tão cortante como sempre, se não mais. A ordem agora é não enro-lar. Encher linguiça é coisa pra FU-VEST, aqui o que conta é transmitir sua ideia de modo sucinto. Por isso vou cortar o parágrafo aqui, reca-do transmitido.

Essa edição d'O Bisturi, que me perdoem os veteranos, vem direcionada sobretudo aos recém--chegados. Ao longo do jornal vo-cês encontrarão textos dos seus colegas mais experientes, que quiseram falar do que aprende-

B ram aqui dentro, do que acham importante. Encontrarão também textos de apresentação de algu-mas extensões da faculdade. São muitas, cara 101, e vocês não vão arrumar tempo para fazer tudo – e olha alguns vão se esforçar aluci-nadamente para conseguir. Mas calma. O Bisturi e seus veteranos estão aqui para isso. Leiam, per-guntem, leiam de novo, façam uma pergunta ainda mais bobinha que a primeira, deixem-se perder. Mas deixem-se encontrar também.

O que importa mesmo é escre-ver para O Bisturi.

Por isso, tudo que eu tenho a dizer eh: curtam muito isso tudo! Conheçam gente, encham a lata no PubMed, escutem um som no DIS, varem noites trocando ideias com pessoas estranhas que vocês nunca tinham visto; quando não aguentarem mais, vão capotar um pouco no cochilódromo (ate agora pouco nem tinha), acordem e cheguem a tempo pra aula (ou pelo menos deem um jeito de as-sinar a lista). Ou então não façam nada disso, façam o que vocês es-tiverem a fim, mas não deixem de aproveitar ao máximo essa fase na vida de vocês. Alias, aproveitem todas as fases!

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São Paulo, Fevereiro de 20133

Prestação de contas

Prestação de Contas

no

ve

mb

ro

CréditosVenDAs lOjA

Aluguel CAfé CAOC

TOTAL

r$ 1.515,93r$ 4.518,51R$ 6.034,44

de

ze

mb

ro

COnTA TelefOne

pAgAmenTO rubIAn

TArIfAs bAnCárIAs

gAsTOs CAbAreT

enCArgOs TrAbAlhIsTAs

gAsTOs pubmeD

gAsTOs pApelArIA

ADVOgADOs

segurO pOrãO

gAsTOs COmunICAçãO

enCArgOs TrAbAlhIsTAs

COmprAs lOjA

gAsTO pATrImônIO

gAsTO InTerCâmbIO

gTm - sAlárIO DIreTOrA

gAsTOs CerVejADA 6º AnO

esTADãO

TOTAL

r$ 102,26r$ 1.073,99r$ 114,24r$ 3.786,00r$ 226,67r$ 4.794,84r$ 617,78r$ 2.393,50r$ 190,05r$ 30,00r$ 1024,61r$ 1.318,00r$ 255,30r$ 520,00r$ 1.500,00r$ 29.595,90r$ 54,50R$ 7.631,30

Débitos

TelefOne(meDensInA)seCreTárIA (OuTubrO)

TAxAs

pubmeD

fgTsO bIsTurI

ADVOgADOs

CerVejADA (AmbulânCIA)esTADãO

segurO DO pOrãO

gpsTOTAL

r$ 133,30r$ 1.073,99r$ 106,50r$ 3.504,48r$ 226,67r$ 3.896,92r$ 2.468,80r$ 550,00r$ 54,50r$ 190,05r$ 1.031,37R$ 13.236,58

Débitos

VenDA lOjInhA Aluguel CAfé CAOC

TOTAL

r$ 759,30r$ 4.518,51R$ 5.277,81

Créditos

Esse jornal não se responsabiliza pelos textos assinados. Os textos assinados não refletem necessariamente a posição da gestão. O Bisturi se disponibiliza a publicar carta-respota aos textos aqui publicados. Envie textos, dúvidas e críticas para: [email protected]

JORNAL DOS ESTUDANTESDE MEDICINA DA USP

EditoresAllan Brum

Gabriella Vargas De Marco

DiagramaçãoCarla Fernanda Nascimento (ECA)

ColaboradoresLeandro Iuamoto (99), Bruna Rusig (98), Maria Beatriz L C de Paula (98), Lucas Chen (97), Abraão Deyvid (100), Leonardo Gama (100), Glauco Plens (100), Lucas Halulli (99), Felipe Scalisa (100), Vicente Amato Neto, Tharcillo Toledo Filho, Rodrigo Kuromoto (99), Mauro

Shigueharu (99), Sumaya Ghaffar (100), CAPB UNIFESP

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São Paulo, Fevereiro de 20134

Extensões

Grupo de teatro medicinaSurpreende alunos, professores e ex-integrantes

No deserto, o ponto que foge a aridez, que salva os exauridos

viajantes e que verdeja a perigo-sa insipidez é tomado pelo nome de oásis. Na faculdade, aquele que por aqui passar descobrirá os mais diversos oásis, cada um atendendo as mais diversas se-des: CAOC, atlética, show me-dicina, bandeira, ema, dentre tantos outros. Ao nosso oásis, foi dado o nome de GTM.”Emmanuel Longa, turma 99

" Tradição esta palavra tem peso, e os alunos desta casa sabem bem disso. Assim que se entra na Facul-dade de Medicina da USP, sente-se a responsabilidade. Responsabili-dade de representar 100 anos de história, de ter uma atuação glo-riosa e deixar marcas positivas, como tantos brilhantes alunos, que por aqui passaram, o fizeram. No entanto, a arte foge à mera tradi-ção, incorpora o que é tido como estático e o transforma, mostran-

do o belo que existe até mesmo no comum. Transformar o presente olhando para o passado, esse foi o GTM no ano que se sucedeu.

O Grupo de Teatro Medicina, surgido na década de 60, nasceu em meio a um dos mais turbulen-tos períodos da nossa história: a ditadura militar. Sempre com pe-ças de denúncia e protesto, seus integrantes tentaram, à sua ma-neira, mudar a realidade nacional: lutando contra a repressão e a fal-

ta de liberdade de expressão. Para tanto, usaram a ferra-menta de que dispunham, aquela que dava voz à sua ne-cessidade de mudança e que sensibiliza os ouvidos dos que temiam pensar: a Arte. Uma ferramenta transformadora.

Para homenagear nossos bravos antecessores, fizemos uma montagem cujo tema foi ditadura militar. A peça “Lembrar é Resistir” de Analy Pinto e Isaias Almada, dirigi-da por Néia Barbosa, retrata os horrores ocorridos neste período, como desrespeito, repressão e tortura. Foi apre-sentada em novembro de 2012, re-inaugurando o grupo

GTM com muito louvor. Os ingres-sos foram disputados, esgotaram- se em 6 minutos na estreia. Nos dias que se seguiram, havia for-mação de fila meia hora antes do espetáculo. A peça ocorreu no po-rão da FMUSP, local cheio de sim-bolismos para os ex-TMistas, pois foi palco de sua antiga luta.

“Na semana passada fui à primeira apresentação feita pelo GTM na faculdade e não tinha ideia do que ia ver. Imaginei que veria um grupo amador de teatro, alunos de medicina fazendo teatro. Não poderia es-tar mais enganado. Vi, outrossim, uma apresentação brilhante, cheia de entusiasmo, emocionante do começo ao fim. Vi atores que no seu dia a dia se disfarçam de estudantes de medicina. Me arrependi não de ter ido mas de não ter tempo de voltar e ver novamente a apresenta-ção brilhante que o GTM promoveu. Gostaria de parabenizar o grupo em sua totalidade e sobretudo recomendar que aqueles que ainda não o viram se apresentando que o façam. PARABÉNS AO GTM”

Guilherme Garcia, turma 98

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São Paulo, Fevereiro de 20135

Extensões

O que você não sabe sobre o grupoAs oficinas começaram em maio

de 2012, com mais de 80 inscritos. O grupo, ao final, ficou com cerca de 25 participantes. Até meados de agosto a nossa diretora, Neia Barbo-sa, popôs exercícios de expressão e improviso, Após isso, começamos o processo de montagem da peça. Es-colhido o tema, papéis demarcados, começamos a ensaiar. A partir daí, iniciou-se algo curioso, a transfor-mação foi clara: no começo, havia dispersão e individualidade, o que mudou totalmente no final. Devido ás dificuldades de montar uma peça

complexa em um prazo curto, nós, atores amadores, nos vimos diante de duas opções: fracassar ou traba-lharmos juntos e intensamente para alcançarmos o tão desejado suces-so. Foi preciso vontade, e isso nós tínhamos, ou fomos criando à me-dida que nos identificávamos com o grupo mais e mais... Cresceu-se um sentimento de união, de cuida-do com o outro, de ajuda, de torci-da pelo sucesso do companheiro, e entender que a peça como um todo dependia de cada um de nós. Não havia, agora, papéis mais importan-

tes que outros. O sucesso dependia de todos. E no final, uma confirma-ção, de que somos capazes de gran-diosidades. Estas memórias serão eternas em nossa mente. Sempre iremos nos lembrar do frio na bar-riga de quando faltavam três sema-nas e não sabíamos se íamos conse-guir finalizar a peça. E ao final da apresentação para os ex-membros do GTM, ver seus olhos admirados, cheios de lembranças próprias, e suas palavras de gratificação. Foi um sentimento incrível. Honramos a tradição.

A primeira parte da consulta médica é a anamnese. Porque? Porque o médico, primeiro, pre-cisa entender. Entender qual é a queixa, entender quando come-çou, quais as características do sintoma em questão. Atualmente, tem se descoberto que não é ape-nas do sintoma que o médico pre-cisa entender.

A consulta torna-se muito mais eficaz quando o médico entende a subjetividade do paciente. O tea-

tro ajuda a entender as pessoas. Empatia. Característica de ouro que faz toda a diferença. A maio-ria das pessoas classifica o médico como “bom” ou “ruim” pela em-patia do médico, pela sua doçura e delicadeza. Não podemos despre-zar essa visão dos pacientes, temos que aprender com eles. Fazendo um papel numa peça, você é obri-gado a sentir algo que não lhe per-tence, esse é o princípio do médi-co humanista. Em uma construção

conjunta, como aconteceu com o GTM, é preciso observar as virtu-des e as limitações de cada cole-ga. Saber quando e como ajudar, e pedir ajuda. Em fim, o teatro está cheio de desafios muito parecidos com os novos desafios da medicina humanista. De modo que o teatro participa da nossa formação médi-ca fazendo toda a diferença.

Bruna Polese Rusig turma 98

“Fiquei muito emocionado com a peça. Penso que o nosso velho porão, como vocês o utilizaram, aca-bou por ficar melhor do que o Dops como espaço cênico. e muito congruente com o conteúdo da peça. A montagem, começando com o preenchimento da ficha e a coleta da impressão digital, só merece elo-gios. Aliás, fiquei tentando limpar aquele dedo o tempo todo; e como isso me fez retornar a situações que tais. (...) Pessoalmente, digo-lhes que vivi/acompanhei todas aquelas barbaridades – mas não em uma única hora! Quando terminou, minha vontade era de abraçar um por um de vocês. No entanto, e isto fala da qualidade do desempenho dos colegas, não consegui abraçar alguns dos(as) “guardas” e/ou “torturadores(as)”! (…) Yuri, o artesão da música, é um grande artista, esbanjando sensibilidade (e como fiquei feliz de ver e ouvir aquele velho piano, dos inícios da Gestão Novo Caoc/1969!). Podia falar muito mais (lá na hora, me ocorreu só fazer um pequeno relato do convívio que tive com o Eduardo Leite-Ba-curi, meu companheiro de militância na guerrilha e depois reencontrado nos porões da tortura, a fim de testemunhar um fato citado na peça). Quero apenas repetir que me senti muito orgulhoso de todos vocês.

Grande abraço,”Reinaldo Morano. Turma 54/62, ex-presidente do CAOC. Esteve preso 7 anos no período militar.

Homenageado com uma medalha no centenário da faculdade (14/set/2012)

Por que teatro e medicina?

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São Paulo, Fevereiro de 20136

Olá, 101

Aviso aos navegantes

alve calouros! Como vão?Creio que bem, uma vez que

estão na melhor faculdade de me-dicina da América Latina, certo? Receberam alguns parabéns? Tam-bém imagino que não foram pou-cos. Da mesma forma, e com ca-loroso acolhimento digo também a vocês: parabéns! Vocês merecem. Esforçaram-se por um ideal e o conquistaram.

Muitos de vocês já tinham sido aprovados em outros cursos ou em outras faculdades de medicina, mas sempre quiseram o melhor para si, então persistiram. Muitos fizeram cursinho, lapidaram suas habilidades, para então poderem agora ser chamados de caçulas de Arnaldo.

Bem vindos. Vocês passam a fazer parte desta instituição, já centenária, chamada Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Aqui vocês provavelmente se-rão felizes, pois existem tantos grupos com os quais vocês podem se identificar. Podem dar plantões no MedEnsina, treinar na atléti-ca, fazer parte da liga do trauma e trabalhar em projetos no CAOC, por exemplo. Concomitantemen-te. Basta ser organizado.

Calouros, se entreguem à Fa-culdade calouros! Deem o melhor de si para esta instituição e toda a sua dedicação será recompensada com agradecimentos, medalhas, conhecimento e principalmente com crescimento pessoal. Aqui

vocês podem amadurecer e criar vínculos para além da graduação. A decisão mais acertada é viver intensamente esses anos universi-tários.

Caçulas, como disse, comple-tou-se o centenário da FMUSP e com ele cresceram os anseios para galgar posições em rankings inter-nacionais. E, para ter melhores classificações, alguns critérios de-vem ser seguidos e as prioridades traçadas. Aqui se vivem tempos de mudança, calouro, e você aca-ba de chegar a um turbilhão de al-terações e de possibilidades.

Calouros, eu sugiro que vocês parem de ler este texto, porque agora não serei mais ufanista. Tudo o que vocês leram até ago-ra é verdade, não se sintam en-ganados ou menosprezados. Se quiserem continuar lendo, sai-bam que é por decisão própria. Entendam que vou desconstruir seus sonhos. Sugiro que esperem o momento de sua primeira de-cepção na FMUSP para então re-tomar esta leitura.

Não leia agora, leia quando estiver decepcionado

Ainda não é a hora de ler.Espere, não leia.Não leia.Se você decidiu ler, então gos-

taria de dividir algumas experiên-cias com você.

Quando cheguei aqui não co-nhecia nada na FMUSP. Me senti tão confusa com todas as informa-ções da semana de recepção, com tantos conselhos de tantos vete-ranos (muitas vezes contraditó-rios). Conheci os meus colegas de turma e logo fomos separados em A e B. Randomicamente (?). Meu padrinho me ajudou a encontrar minha grade horária e me explicou como eu deveria fazer para ir as-sistir à minha aula. Até então eu estava certa de que teria minhas aulas naquele grande edifício de arquitetura rebuscada, em seus anfiteatros tombados. "Metrô na porta, que maravilha!". Mas então o primeiro choque: "Quase todas as suas aulas vão ser na Cidade Universitária". Nunca tinha ido até lá, não sozinha pelo menos. Pegar ônibus, metrô, ponte orca (ainda existe?) e o Circular da C.U., é uma experiência inigualável. Só quem a viveu sabe o que é ter que esperar pelo "secular".

E é aqui que começaram as mi-nhas indagações indignadas. "Por que não colocam mais circulares?", "Por que não instalam pontos com bicicletas para usarmos, já que a C.U. é tão grande?", "Eles não que-rem formar pessoas aqui? Como se nem nos deixam chegar na hora à aula?!". O que eu fiz? Fui até o pré-dio da Reitoria tentar conversar com alguém, e descobrir se não tinha como melhorar aquela situ-ação. Sozinha. Meus amigos esta-vam me achando maluca e só me

Você acaba de chegar a um turbilhão de mudanças e de possibilidades (leia só a primeira parte do texto)

S

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São Paulo, Fevereiro de 20137

Olá, 101

esperaram na porta. Por fim, vocês podem imaginar o desfecho: fui desestimulada a prosseguir pelo segurança, pela secretária... e fui embora.

Ah, você tem carro? Bom, en-tão você não vai passar por isso. Eu em seguida arranjei carona com colegas de sala e minha situação melhorou. Mas muitas vezes ainda precisei recorrer ao transporte pú-blico. Se você não se identificou com esse problema, provavelmen-te vai se identificar com os próxi-mos (foi você quem decidiu ler!): estado das peças nos laboratórios do ICB III, aulas teóricas longas ("Como querem que eu aprenda tudo isso?!"), falta de empenho e didática por parte de alguns pro-fessores, a falta de contextualiza-ção da matéria ("Por que estão me ensinando isso?"), dentre muitos outros com os quais você irá se de-parar. Eu disse muitos.

Lembra dos critérios para clas-sificação em rankings internacio-

nais? Será que todos eles colocam a graduação em primeiro plano? Se não colocarem, então você já pode imaginar quais serão as es-tratégias das quais a Faculdade lançará mão? Será que o tripé da Universidade (pesquisa, ensino e extensão) tem todas as pernas do mesmo tamanho? Será que você calouro, continua buscando o me-lhor para si?

Sabe por que existe trote em outras faculdades? Eu vejo que um dos motivos é: os veteranos têm inveja e medo de vocês. Inveja, porque vocês estão assumindo o posto que até então era deles, e os estão "empurrando para fora da graduação". O medo é de que vocês desconstruam tradições e ordens cristalizadas. O olhar de calouro ainda é claro e limpo, ca-paz de enxergar muito bem onde estão os problemas e o que pode ser melhorado. E o calouro tem muita disposição para a mudança. Aqui não tem trote, só o que falta

para que a força de mudança que vem de vocês seja potencializada é união e organização. União vem da turma e a para a organização podem contar com o Centro Aca-dêmico, é obrigação dele acolher todas as suas vontades de mudan-ça e cooperar para que vocês te-nham êxito no que se dispuserem a realizar.

Por fim, eu gostaria de dizer é que esta é uma grande Faculdade, e que é natural que ela tenha de-feitos. E você que até então sem-pre buscou o melhor pra si deve continuar dessa maneira.

Sonhar grande e sonhar pequeno dá o mesmo trabalho.

Sonhe com a melhor faculdade que você pode ter e fazer.

Maria Beatriz (Bia 98)Diretoria CAOC 2012

Diretoria MedEnsina 2012

Oportunidades

Intercâmbio USP-Harvardintercâmbio Harvard--FMUSP tem como missão

formar pensadores. O pensador é aquele que, a partir de seus conhecimentos e experiências, consegue enxergar de forma crí-tica e em uma ótica distanciada a realidade que o cerca. É capaz de atuar na busca de soluções ou auxiliar ativamente aqueles que buscam-nas. É um indivíduo para o qual a busca de respostas abri-ga uma infinidade de processos e pensamentos.

O O objetivo do Harvard-FMUSP é proporcionar oportunidades e criar situações atraves das quais o aluno se torne um individuo pensante, explorando-as academica e pesso-almente. Através do programa, o aluno será inserido na comunidade dos pensadores científicos e aca-dêmicos de um centro de excelên-cia. A pesquisa cientifica, orienta-da por professores e pesquisadores com vasta experiência, estimula o aluno a formular perguntas, criar hipóteses, conduzir estudos e, en-

tão, desenvolver mecanismos para descobrir repostas por si só. Duran-te o programa, o aluno é apresen-tado e aprende dentro do modelo de uma universidade americana de renome, a Harvard University.

São alunos do Programa, atu-almente, estudantes da Universi-dade de São Paulo (USP) que con-cluíram o segundo ou terceiro ano do curso de Medicina, sendo que ja participaram alunos que cursavam outros periodos do mesmo curso. Os alunos são orientados por pro-

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São Paulo, Fevereiro de 20138

Oportunidades

fessores do departamento de Envi-ronmental Health da Harvard Scho-ol of Public Health e do Children’s Hospital e Beth Israel Deconess Medical Center, dois hospitais--escola afiliados à Harvard Medical School. Esses profissionais são con-siderados os principais pensadores na sua área e coordenam laborató-rios com ótima estrutra para rece-ber os alunos. São professores que tem vasta experiência em orientar alunos para a produção científica e incitar o pensamento crítico. Além disso, trabalham em contato com toda a equipe do laboratório, tais como alunos, Postdocs, técnicos e pesquisadores associados.

Durante 10 anos de sua exis-tência, o programa tem sido fun-damental para estreitar os laços e estimular parcerias entre a Har-vard University, a Universidade de São Paulo, atraves da Faculdade de Medicina (FMUSP), e o Brasil.

Durante um período de 11 me-ses, os alunos estarão sob a tutela do pesquisador e professor respon-sável pelo laboratório, para desen-volver o seu projeto científico ou colaborar em outros. Estes proje-tos serão definidos de acordo com o departamento com o qual irão se afiliar, os temas abrangidos são:

» Poluição Ambiental;» Asma e Obesidade;» Farmacologia e NanoToxi-

cologia;» Doenças Ambientais do

Pulmão;» Epigenética Ambiental;» Arritmias Cardíacas;» Cardiologia;» Urologia e Ci-

rurgia.Cada projeto

será duplamente avaliado, pelo De-

partamento de Saude Ambiental da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard (HSPH) e pelo Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina daUniversi-dade de São Paulo. Esta avaliação consistirá em relatórios semestrais redigidos em inglês enviados aos dois departamentos, junto a isto, haverá duas avaliações orais for-mais através da apresentação do projeto em reuniões. A primeira será realizada em Julho, entitu-lado “working in Progress” e a se-gunda em Novembro, “MIPS Semi-nar”.

Além dessas duas avaliações, os alunos terão a oportunidade de escreverem trabalhos cien-tíficos e publicá-los em revistas científicas de renome, tais como New England Journal of Medicine e Journal of Urology, entre ou-tros, como também participar de congressos internacionais de me-dicina e pesquisa.

Os alunos terão a oportunidade de auditar cursos do HSPH e inclu-sive realizar cursos de graduação de medicina com a pretensão de

equivalência de crédito-aulas. É oferecido, toda a infra-estrutura acadêmica da HSPH e Harvard, tais como, bibliotecas, laboratórios de atividades, centros esportivos e centro de estudos, aos alunos.

Em Abril de 2012, a Presiden-te da Republica Federativa do Brasil, Dilma Rousseff esteve em Boston e visitou a Harvard Univer-sity, onde se encontrou com Drew Faust, presidente da Universidade de Harvard para assinar acordo de cooperação entra a Universidade e o Brasil nas áreas de educação e inovação. Entre os assuntos discu-tidos esteve o Ciências sem Fron-teiras, programa que tem um con-junto de metas específicas para a Harvard University. Durante pales-tra na Kennedy School of Govern-ment, a Presidente afirmou que “o Brasil precisa de Harvard”.

Lucas Chen turma 97

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Extensões

9

lá, calouros e calouras da 1ª

turma do novo cen-tenário!

Parabéns por essa grande conquis-ta que é se tornar os mais novos filhos de Arnaldo!

É importante sa-ber que nossa facul-dade é conhecida não só pelo desem-penho acadêmico de seus alunos, mas sim pela enorme quanti-dade de oportunida-des e de atividades extracurr iculares que são oferecidas. Essas opor-tunidades vocês encontrarão só aqui, em sua mais nova casa, e acreditem: elas farão valer a pena todo o esforço que fizeram.

Entre as diversas oportunida-des encontradas na FMUSP, estão as instituições e extensões das quais vocês provavelmente farão parte!

O Departamento Científico da Faculdade de Medicina da Univer-sidade de São Paulo (conhecido como DC) é uma instituição estu-dantil fundada em 1931, que tem como finalidades: a promoção de atividades de extensão univer-sitária e o incentivo à produção científica.

Entre as atividades de exten-são universitária, encontramos as Ligas Acadêmicas, grupos de alu-nos coordenados por Professores e profissionais médicos, visando a aprimorar o conhecimento sobre determinado assunto. Isso é rea-lizado através de atividades prá-ticas (acompanhamento de aten-

dimentos ambulatoriais, cirurgias etc.) e também de aulas teóricas.

Em relação à produção cientí-fica, podemos citar a organização de palestras, cursos, debates e diversos eventos que ampliem e aprofundem o conhecimento ad-quirido na graduação, voltados para alunos das mais diversas áre-as da saúde. O DC é responsável por editar a “Revista de Medici-na”, a revista científica acadêmi-ca mais antiga do mundo (criada em 1916) em circulação. Ela traz temas atuais e relevantes da área médica que auxiliam na comple-mentação da nossa formação, por meio de artigos científicos, entre-vistas, discussões de casos clínicos etc. Pode-se dizer que o evento mais importante que o DC organiza é o Congresso Médico Universitário (COMU), que reúne acadêmicos de todas as regiões do Brasil e chega a sua 32ª edição em 2013. Parti-

cipem vocês também! Seja como ouvinte, palestrante, colaborador ou organizador.

O DC, como foi descrito, é responsável por várias atividades dentro da faculdade. Agora, basta vocês decidirem em qual área gos-tariam de participar conosco.

Sejam todos bem-vindos ao DC! Sejam bem-vindos à Casa de Arnal-do!!

Diretoria DC-2012

Leandro Ryuchi Iuamototurma 99

Presidente do Departa-mento Científico da FMUSP

Gestão 2013

OO departamento científico

Membros e ex--membros do DC “Pizzada dos

Velhos”

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São Paulo, Fevereiro de 201310

Extensões

Jornada Universitária da Saúde

O que é Cuidado?Confesso que mesmo sabendo

a definição para esse termo, não conseguia entender direito o que era esse tal de ''Cuidado‘’. Bem, acho que só consegui entender sua importância e o seu significado quando me deparei com sua falta.

A viagem que fiz com a Jorna-da Universitária da Saúde (JUS) foi um verdadeiro ''choque de realida-de ''. Percebi que há lugares cuja falta de infraestrutura parece im-pedir que o acolhimento da popu-lação seja realizado. Percebi que é possível ser doente sem doença. Percebi também que mesmo estu-dando infinitas matérias o foco do bom profissional da saúde sempre será o ser humano. Percebi, ainda,

que cada pessoa é única e que essa singularidade deve ser respeitada.

Mas enfim, voltando à pergunta inicial, ''O que é cuidado?''. Cuida-do é entender o outro, é ter in-teresse em todas as esferas que o compõe, é tratar com alteridade aquele que, frequentemente, en-xerga o médico como o único em que se pode confiar. Cuidado é de-cidir junto com o paciente qual o melhor tratamento, é explicar ao paciente o que está acontecen-do. Cuidado é... cuidar, é algo muito diferente de ser ''bonzinho'' ou ''educado'', é, na verdade, en-tender que o acolhimento ao pa-ciente e que a compreensão deste são essenciais na prática médica eficiente, é notar que o entendi-mento do sofrimento do outro é a

melhor forma de se planejar uma intervenção satisfatória.

A experiência vivida na JUS me mostrou que o Cuidado, assim como o acolhimento e a alteridade são possíveis de serem executados em todas as situações . A foto ilustra bem o que estou tentando expres-sar : mesmo longe de casa , dor-mindo mal e com rotina exaustiva , cada um dos jornadeiros mostra satisfação por ter praticado o Cui-dado: lidando com os moradores de Barra do Chapéu com muita de-dicação, entendendo (mesmo que inconscientemente) a singularida-de e a demanda de cada pessoa. Cada futuro profissional da saúde da foto, sem a menor dúvida, será diferenciado já que entendeu, an-tes mesmo de se formar, a impor-

Entendendo o Cuidado‘’Não se Cuida efetivamente de indivíduos sem Cuidar de populações, e não há verdadeira saúde pública que não

passe por um atento Cuidado de cada um de seus sujeitos”

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tância do cuidar. O Sorriso no rosto de cada um mostra, por fim, que o cuidado é uma ação em que tan-to quem foi cuidado quanto quem cuidou acabam ganhando. Mesmo exaustos aprendemos que o outro, independente de sua classe social, etnia ou crenças pode nos surpre-ender e, por que não?, nos ensinar.

Fique por dentro...O que é a Jornada Universitária da Saúde, a JUS…"A Jornada Universitária da Saúde (JUS) é um projeto da USP que busca promover a saúde de populações de cidades pequenas e pouco desenvolvidas do interior do estado de São Paulo. Os participantes são alunos dos cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição e Terapia Ocupacional da USP, sendo um projeto interdisciplinar. A JUS trabalha com a mesma cidade num ciclo de três anos e para a realização do projeto é feita uma viagem até a cidade escolhida, no feriado da Semana da Pátria, em setembro e não há custos, nem prejuízo com as aulas.A JUS é uma oportunidade do estudante conhecer uma realidade distinta da sua ao realizar atividades de educação em saúde. As atividades são planejadas durante o ano e executadas durante a viagem e o trabalho é feito com grupos, como profissionais da saúde, crianças e ido-sos, buscando atender às demandas da cidade e promover a saúde. A viagem e o projeto são custeados pela Universidade São Paulo, por meio do apoio financeiro da Comissão de Cultura e Extensão da Faculdade de Saúde Pública (CCEx-FSP), da Comissão de Cultura e Extensão da Faculdade de Medicina (CCEx-FSP) e da Fundação Faculdade de Medicina (FFM)."

Abraão D. A. de Lima Barreto

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MadAlegriaApenas mais um relato de caso

eitada no leito estreito, há tanto tempo que o próprio

corpo é incômodo, tento descan-sar depois de um dia exaustivo de agulhas, aparelhos e exames. Meu novo vizinho parece já ter se

acostumado à rotina quase militar, às refeições insossas, às visitas, e tudo com sua hora marcada. Eu não. Médicos, enfermeiras e es-tudantes, todos vestindo o mes-mo branco pálido, entram e saem

apressados do quarto. O sorriso, apesar de muitas vezes sincero, é protocolar. Tentam quebrar o gelo, levantar meu astral, me tranquili-zar... Eles não têm mesmo muito a me dizer e, apesar de comparti-

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lharem a minha aflição, parecem tão impotentes quanto eu nas ten-tativas de amenizá-la. O futuro é incerto. O presente, fugaz.

Lá de fora, vez por outra, um eco distante interrompe o ruí-do incessante das máquinas do prédio ao lado: uma risado solta, uma maca rangendo, uma conver-sa despreocupada (ou muito pre-ocupada) no corredor. A televisão fala, mas eu não sei muito bem do que - parece que descobriram ou-tro esquema de corrupção em Bra-sília ou algo assim. Mas de que im-porta? Não sei mais quanto tempo vou passar aqui. Se demorar muito a sair, vão precisar contratar um substituto pra mim na empresa, e eu vou ter que contratar uma substituta pra mim em casa. E, se acontecer de eu... Não! Melhor não pensar nessas coisas.

Me distraio com esses pensa-mentos quando surge um estranho à porta, com os mesmos sapatos

sociais, mesmo jaleco branco e o mesmo... nariz de palhaço!? Só pode ser brincadeira! Numa hora dessas, a última coisa que eu pre-ciso é de um palhaço pra vir me perturbar com gracinhas! Se bem que - que estranho - veio pergun-tando dos meus filhos, do que eu faço, se o "serviço de quarto" está atendendo aos meus gostos, ou se-não ele vai reclamar com a gerên-cia! Ha! Ha! Até que tem senso de humor esse esquisito. Vixe, chegou a outra (é um casal de esquisitos agora) usando um penteado ridí-culo! Meu Deus! E ainda vestindo por baixo de tudo uma saia renda-da! Lembrou minha mãe... Sauda-de dela... Era ela quem nunca me deixava abater.

A doidinha ainda me deu uma rosa de papel, bem bonita até, pra eu lembrar da visita deles. Guar-dei. Mal chegaram e já foram em-bora - assim como os outros - di-zendo que tinham de socorrer um

doutor que teve um ataque de mau humor... São mesmo uns palhaços esses - como é que disseram mes-mo? - besteirologistas, eu acho! Só que não se foram totalmente, é como se tivesse ficado um pouco deles no ar. Acho que vou deixar a flor de papel da mocinha em cima do criado mudo, pra lembrar dela e de minha mãe, pra me dar forças.

E também a novela vai acaban-do, junto com as minhas energias. O cansaço do dia corrido bate em cheio e eu me deixo render ao sono. Vou me desligando da rea-lidade, meio acordada, meio dor-mindo, e imaginando o dia seguin-te. Quem sabe amanhã eles não me liberam pra casa? Afinal meu mais novo, coitado, não sabe se virar sem mim! Ou pelos menos, quem sabe, esse casal de desen-gonçados não volta pra me trazer outro presente? É... Quem sabe...

Leonardo Gamaturma 100

i! O MadAlegria é coisa séria!Antes de tudo, parabéns ca-

louras e calouros! Vocês acabam de adentrar o fantástico mundo da USPlândia, onde (quase) tudo é possível! Porém, citando o céle-bre tio Ben, "com grandes poderes vêm grandes responsabilidades". E é aí que a nossa história entra, tendo como palco os corredores do HC. Me pediram pra explicar o que é o MadAlegria, só que às vezes a melhor forma de fazer entender o que é uma coisa é dizendo o que ela não é. Então lá vai:

Não, não somos a Turma do Bozo! Não, não queremos formar artistas! Deixe esses preconcei-tos de lado. Um dos objetivos do MadAlegria é levar aos pacientes atendidos um pouco de acolhimen-

to e de alegria (por que não?), mas na dose certa. Vocês já devem ter ouvido falar de palhaços de hospi-tal, de clowns ou dos Doutores da Alegria - se pensou neles, acertou, são os nossos mestres nessa no-bre arte. Mais do que isso, o que queremos é oferecer uma ferra-menta pra que vocês, estudantes e futuros profissionais da saúde, possam lidar melhor com as com-plicadas situações do dia-a-dia nos hospitais, e também com as pes-soas (não menos complicadas) que convivem nesse admirável mundo louco. Faz sentido?

Em termos técnicos, o MadAle-gria é um projeto de extensão uni-versitária, aberto aos estudantes dos seis cursos de saúde de Pinhei-ros. O trabalho de atendimento é

voluntário e feito semanalmente nas enfermarias do HC. Pra entrar pra essa trupe é fácil: é só parti-cipar do curso introdutório que acontece em março e do processo seletivo logo em seguida. São dois cursos de formação que aconte-cem ao longo do ano: o de Clowns às quartas à noite e o de Contação de Histórias aos sábados durante o dia. As novas turmas já começam a atender no segundo semestre, acompanhados dos palhaços mo-nitores. Então não espere mais calourito, não tenha medo de ser feliz! Venha para o MadAlegria e vire dono do seu nariz!

*Se quiser saber mais, acesse www.MadAlegria.org.br

Diretoria 2013 do MadAlegria

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MedEnsinalá, Calouro!Já estão cansados de ouvir

isso mas...Parabéns! É com orgu-lho que venho falar para vocês so-bre uma Extensão Acadêmica de grande importância para a facul-dade, que é o MedEnsina!

O MedEnsina é uma extensão bem próxima do vestibular, e nin-guém melhor do que um cursinho para entender o quanto o dia da lista foi importante na sua vida! E você, que deu uma raça muito grande, sabe o quão difícil é al-cançar uma vaga em uma univer-sidade pública. Todos os anos vá-rias pessoas prestam vestibulares e a grande maioria dos egressos do Ensino Médio, principalmente da escola pública, ficam de fora. Foi pensando nisso que alguns alunos desta Casa, fundaram o MedEnsi-na! A idéia é oferecer um ensino pré-vestibular de qualidade, to-talmente gratuito, para alunos de baixa renda que não tenham con-dições financeiras de pagar por um cursinho convencional. Ótima iniciativa, afinal de contas, quem entende mais de vestibular que os aprovados na Faculdade de Medi-cina da USP? Portanto, contamos com você, já que o nosso cursinho depende muito dos calouros para funcionar. Nós acreditamos que a sua proximidade com o vestibular vai garantir uma porção de conhe-cimentos ainda frescos para passar para os nossos alunos.

No primeiro ano, você pode participar como plantonista e até já pode dar algumas aulas de re-forço para, a partir do segundo ano, quem sabe, virar professor. Todos os calouros estão convida-dos para juntar-se a nós; teremos

O uma reunião nas pri-meiras semanas de aula e você nos dirá o melhor dia e a ma-téria de preferência para o seu plantão. Os plantões ocor-rem de terça a quin-ta, entre às 18h e às 18h45, em dois anfiteatros da faculdade. Nossos alunos chegam uma semana an-tes e já terão dúvidas fresquinhas pra tirar com você, então esteja preparado! Quem gostar e estiver bastante interessado em dar umas aulinhas, pode entrar em contato com a nossa diretoria de reforços. As aulas de reforço acontecem de segundas e sextas, no horário do plantão, e aos sábados de manhã e à tarde. Essas aulas são dadas, principalmente, pelos plantonistas e é a sua chance de mostrar o que sabe fazer e nos convencer de que será um bom professor! No seu se-gundo ano, quando os professores mais velhos forem embora, nós chamaremos gente nova.

Além do plantão e das aulas, os alunos da faculdade também for-mam uma diretoria, que organiza tudo isso. Todos os diretores são professores, mas que acabam do-ando um pouco mais do seu tem-po para o MedEnsina. Qualquer dúvida que tiver ou problema que estiver acontecendo, pode falar com a gente! Completando nos-so quadro de funcionários, com a única pessoa que não é aluna da faculdade, nós temos uma secre-tária que cuida das presenças dos alunos e plantonistas e também da nossa biblioteca. Biblioteca essa, aliás, que depende bastante de você para existir. Como nem todos

nossos alunos podem comprar a lista inteira de livros obrigatórios, contamos muito com sua doação no começo do ano!

E lembre-se que, ao participar do cursinho, nós não apenas passa-mos conhecimento, mas também aprendemos a desenvolver habili-dades de comunicação e relacio-namento, que serão importantes fora do contexto de aula e plantão de dúvidas, como por exemplo, na relação médico-paciente. Nossos pacientes terão que entender o que falarmos, e isso nem sempre é simples!

Contamos muito com a sua participação, tão necessária para a continuidade desse projeto, que ajuda muitas pessoas nesse mo-mento difícil da vida que é a pre-paração para o vestibular. Apare-ça!

A secretaria do MedEnsina fica no porão da Faculdade, perto do Xerox! Não tem como errar! Esta-mos abertos entre 17:30 e 21:30, e você também pode pegar infor-mações no nosso site (www.me-densina.com), pelo nosso perfil no Facebook (www.facebook.com/MedEnsinaFMUSP), ou seguir nosso Twitter (@MedEnsinaFMUSP).

Até breve!

Diretoria MedEnsina 2013

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ano de 2013 entrou e com ele um dos maiores e mais despretenciosos projetos de 2012 começa a re-aparecer: o já conhecidíssimo "Suruba Cultural". Para quem ainda não sabe uma iniciativa singela de um espaço de sugestões sobre músicas, filmes e livros foi criado por um aluno um tanto visionário e hoje este projeto dá mais um passo,ganha também uma coluna nas edições do Bisturi. Bom, para começar, como eu só entendo de filmes nesse universo cultural, seguem aí algumas sugestões (e "anti-sugestões") nos filmes que alcançaram o frenesi do Oscar 2013.

"Mas nada mudou" O Oscar continua com suas características de

sempre: filmes ufanistas "puxa-saco" favoritos versus alguns poucos filmes incríveis com poucas chances de vitória. Continua sendo uma festa para você torcer para a zica. Esse ano os ufanistas apareceram em peso! "Lincoln" aparece como mais um filme de presi-dente dos EUA (que são os melhores e mais importan-tes seres do planeta). Assim como em todos os filmes de personalidades importantes, destaca-se a incrível metamorfose ambulante que é Daniel Day-Lewis e o carisma do presidente. Para mim "Lincoln" é "A Dama de Ferro" da vez. Apesar da Maryl Streep não ter dado a raça do Lewis. Ainda no barco dos "puxa-saco" vem "A Hora Mais Escura" (filme da Kathryn Bigelow, ou a mulher do maluco do Avatar). Não assisti, mas mal posso esperar para assistir um filme americano so-bre a caça do Bin Laden, deve ser bastante original. Quem pensaria nesse tema? Por último vem "Argo", um filme ufanista mais interessante. Pelo menos con-segue unir filmes de ficção de Hollywood com ataque de radicais iranianos no consulado americano instala-do no Irã. Uma combinação inusitada.

O "Avatar" da vez surge muito melhorado. Ang Lee mais uma vez mostra sua genialidade no filme "As Aventuras de Pi". O cara consegue fazer uma his-tória de um garotinho de um zoológico na Índia (sal-ve Flora) ser muito mais profundo e surpreendente

Lucas Lisboa Halulli turma 99

que os filmes aqui de cima. Deve ganhar alguma coisa além do meu respeito. No grupo das surpresas brisa-das está o aflitivo "Indomável Sonhadora", mais um filme excelentemente traduzido (nome original: the Beasts of the Southern Wild). Uma garotinha que me fez parar de reclamar da vida por um bom tempo. A vida dela é um lixão (literalmente) e ela é muito de bem com a vida. Não é todo dia que uma menina de 6 anos te serve de inspiração.

Continuando por essa vibe zen: "O Lado Bom da Vida". Li hoje uma crítica que dizia que era um filme original. Realmente, nunca vi nenhuma comédia ro-mântica onde dois desajustados se apaixonam, ta aí uma idéia nova, bom, pelo menos o maluco é bipolar e até que tenta fingir uma mania seguida de depres-são. Divertido sim, não original. A melhor cena me lembrou nossa vida acadêmica: comemora-se uma nota 5 como se fosse um 10. Outro filme na corrida ao Oscar é "Os Miseráveis", um dos dois filmes que não vi. Confesso ter um (ou dois) pés atrás para musicais, ainda mais com um monte de ator famoso, para mim vira uma versão Hollywood de A Dança dos Famosos do Faustão mas o tema revolucionário francês é bom e nos fornece um descanço do ufanismo norte-ameri-cano supersaturado deste ano. Ponto positivo.

O importado da vez, "Amour" é um filme muito bom, apesar de parado, Perfeito pra francófilos que apreciam filmes com uma história mais relevante que efeitos especiais. Um casal de velhinhos interpreta-dos magistralmente.

Enfim, "Django Livre". Para convencer qualquer pessoa a assistir basta o nome do diretor: Quentin Tarantino. Mas, se alguém quiser mais motivos: um escravo libertado por um alemão (o excepcional Christoph Waltz, ou o nazista maluco de Bastárdos Inglórios) sai matando senhores de escravo no melhor estilo vingança com as próprias mãos do Tarantino. Menção à ótima trilha sonora e piadas muito bem co-locadas num texto tragicômico. Única crítica possível que eu faria é que esse filme repete um pouco o ro-teiro do Bastárdos Inglórios, mas só tenho uma cer-teza nessa vida: deu certo antes e deu certo agora.

"Mudaram as estações"O

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ob o sol do sul norteamericano, soberana nos campos de plantação, a escravidão, opressora, regia sua orquestra irônica e estridente. Aprisionados sob a cadência da regente, os instrumentistas, negros como a noite, a cada compasso sofriam com o esta-lar do açoite, ordenando-os a seguir com a música. Mas do suor negro, um canto entoado à tristeza e ao sofrimento nascia, filho da labuta, e trazia, em sua essência, libertação.

Embora pouco documentada, essa é a origem do blues. Cantado pelos escravos africanos no sul do Es-tados Unidos, o blues era a expressão da angústia de um povo, tendo, em sua raiz, a herança cultural afri-cana. Na atualidade, inclusive, a maioria das letras de blues ainda versam sobre desilusões.

Com a chegada da Abolição e o avançar do tempo, o blues sofreu mudanças, e o estilo musical, que fora desacompanhado de instrumentos em seu primórdio, agora tinha no violão sua fonte harmônica. Os novos blueseiros, muitas vezes verdadeiros boêmios, utili-zavam o instrumento de forma peculiar – para tirar sonoridade diferente do violão, faziam uso de bocas de garrafa, deslizando-as pelo braço do instrumento. Essa técnica, ainda utilizada por muitos guitarristas da atualidade, como Eric Clapton, trouxe timbres ca-racterísticos ao blues, quebrando com a tradicional tonalidade européia.

Foi só na década de 1930, no entanto, que o blues conheceu seu maior ídolo. Sendo grande influência para diversos artistas, como os das bandas Led Ze-ppelin, Rolling Stones e o já citado guitarrista Eric Clapton, Robert Johnson, músico do Delta do Mississi-

Raízes africanas Glauco Marinho Plens

turma100Ilustração por Patrícia Sousa

turma 99S ppi, era violonista e cantor, tendo gravado, somente 29 músicas. O blues, que já havia sido considerado música do diabo por algumas comunidades religiosas, teve, em Robert Johnson, o mito de maior intimidade com o demo. Inacreditavelmente habilidoso com o violão, dizia-se que o blues man do Mississippi vende-ra a alma ao diabo numa encruzilhada, em troca do virtuosismo com o instrumento. Morreu alguns anos depois do suposto ocor-rido, possivel-mente após ter tomado whisky envenenado por um homem en-ciumado – Robert Johnson, supos-tamente, atiçava a mulher do assassino.

Ainda hoje, o blues é reproduzido por músicos consagrados. Interessante saber sobre sua origem, porque foi esse estilo musical que proporcionou o surgimento de vários outros: o jazz, o funk e o rock são herdeiros diretos do blues. E a Bossa Nova, filha do casamento entre jazz e samba, também deve dar ao gênero algum crédito por sua existência. Por essas e outras, o blues é evidência de algo significativo – berço de inúmeros ritmos e tendências musicais, o continente africano, com tão grande riqueza cultu-ral, foi extremamente influente para a arte no mun-do. A música é africana.

15Fevereiro 13

Em verdade lhe digo... Às vezes, neste lugar, a tradição é imperativaEm alguns casos, chega a ser uma liturgiaPor isso deve-se combater a mente altivaDa homofobia, do preconceito e da disfarçada misoginia Saiba...

A ideia que vier com você tem valiaPois induzirá um novo pensamento guiaPortanto, sempre questione-se na companhiaDos grupos massificados e rotos em nostalgia Quando entrar aqui, seja diferenteSeja você mesmo com a mais sincera estipulia

Exponha sua história e sua opinião latenteMesmo que se precise mostrar as parafilias A faculdade quer o seu diferencialQue certamente não é banalEla quer um novo idealQue transcenda o decrépito conceito do bem e do mal Trata-se de um ato fatalDe realizar o seu desejo cabalO qual mesmo que lhe seja animalPode resultar num grande final

Poema de boas-vindas

Bem vindo à universidadeLocal de esmeras alegriasOnde se imagina grande liberdadeDe fazer extravagantes folias Sim, foi uma grande conquistaVencer o vestibular que o tolhiaMas agora há novas vistasPara serem miradas com epifania

Contudo... Tenha cuidado para não se ludibriarNada é perfeito, e a aprovação exalta em demasiaO platonismo com que há de analisarA famigerada Pinheiros e sua cortesia

Felipe Scalisaturma 100

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São Paulo, Fevereiro de 201316

Memórias ou "Quando eu era calouro..."

Recordações (turma de 1951)ntigos e atuais alunos de nossa querida Faculdade

de Medicina conheceram particu-laridades quando vinculados ao curso de graduação. Em virtude de variados motivos poderiam registrar tais fatos. Senti vonta-de de anotar alguns. São curiosi-dades e críticas, expostas neste texto.

» Foi admitido para traba-lhar na recepção de pacientes no Pronto Socorro um novo servidor. Logo ganhou apelido, aliás, bem escolhido: Pé de Valsa. Em vir-tude da maneira de andar. Como parte das atividades que devia exercer recebeu pedido para ir chamar doutorando de plantão, no sexto andar. O local com de-zesseis camas era a Humilhação. O encarregado entrou e, certa-mente mal instruído, convocou: Doutor Ando!; Doutor Ando! Lo-gicamente, ninguém respondeu. E o verdadeiro convocado optou por prosseguir dormindo.

» Aconteceu com o mesmo Pé de Valsa. Foi á Humilhação convocar o Doutor Zaqueu para comparecer ao Pronto Socorro. Médicos e doutoran-dos usavam o mesmo local. Chegou e disso: Doutor Zaqueu, compareça ao Pronto Socorro; e repetiu. O Za-queu, sonolento cansado ou maroto berrou: Zaqueu do quê?; Zaqueu do quê? O encarregado da convocação, confuso e desorientado, afastou-se sem obedecer com êxito a missão. De fato, não pretendeu saber se Za-queu poderia ter sobrenome. Estra-vagância e detalhe não informado. Parece que a provável habilidade do médico prevaleceu.

» Aula teórica de Fisiologia. Alunos a postos para obter ensi-namento. Assunto: Fisiologia da respiração. O docente entrou na sala e timidamente começou a ex-planação programada. Começou, prosseguiu um pouco e repentina-mente parou. Desfez-se do giz, do apagador de quadro negro, abriu a porta e retirou-se. Nada dis-se e não retornou. Os presentes, surpresos, foram saindo tranqui-lamente. Interpretações e pon-derações só ocorreram depois ou em encontros de grupos, creio que com enfoques variados.

Eu critico o acontecimento. O chefe do Departamento agiu de maneira inconveniente. Para designar responsáveis em tare-fa como a citada tem obrigação de escolher quem conhece bem o tema e possui pelo menos algu-ma qualidade didática. O indicado provavelmente só decorou a ma-téria, esquecida perante um mau momento.

O mal sucedido foi o Professor Beraldo. Eminente cientista, que posteriormente colaborou com o desenvolvimento da bradicinina. Trata-se de polipeptídeo com di-versos restos de aminoácidos, que desempenha papel importante na regeneração de tecido lesado. No desastre infelizmente estava jo-gando em time e posição errados.

» Aula prática de Fisiologia. Bo-nita demonstração bem preparada para mostrar a influência de tem-peratura na atividade cardíaca. Uma argola metálica estava fixada em suporte e no centro dela seria colocado pequeno coração de ani-mal: ao ser aquecida a peça cir-

cular, a atividade do órgão ficaria registrada graficamente. Método instrutivo de fato elogiável, que o caríssimo colega Paulo David Bran-co recebeu a missão de executar. Porém, no decurso do procedimen-to, um docente colidiu com o Pau-lo, certamente sem intenção, mas houve desequilíbrio da haste bási-ca e o coração foi fritado. Decep-ção, desconforto e abatimento. Diante do ocorrido, o Paulo tomou providência: obrigou o trombador a confessar, por escrito, culpa pelo desfecho desagradável. Responsá-vel, zeloso e disciplinado, o aluno temia consequência futura na esti-mativa do desempenho, por meio de nota em geral usada para apro-vação. Evento pleno de diversifica-dos louvores.

» No curso de Anatomia Pa-tológica, nada digno de elogio, enfiaram uma parte sobre fisiopa-tologia da nutrição. Nada a ver. Embaralhamento do programa, se é que este existiu. O pedaço infiltrado mostrou-se superficial, apresentado de maneira didati-camente ruim e pouco confiável doutrinariamente. Raramente tive dinheiro para comprar livros, mas prevendo contratempos em futuro exame de avaliação gastei num preparado pelo responsável quanto às explanações, a fim de recorrer à decoração, já que per-cebi insegurança e falta de res-paldo respeitável.

Provavelmente estou certo ao deduzir que o professor, que cito assim para ser educado, es-tava ali para cumprir contrato que tinha com a Universidade de São Paulo e devia lecionar. Então,

A

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São Paulo, Fevereiro de 201317

Memórias ou "Quando eu era calouro..."

dirigentes ajeitaram a situação, mesmo que de forma estranha. Como aluno cuidadoso, ganhei aprovação em prova final, por-quanto aprendi tudo de cor e ju-diei de minha memória.

Esclarecimento e comentário. Nome do encarregado das pre-

leções: Doutor Mario Egydio de Souza, também violinista na Or-questra Universitária. Duvido que hoje os estudante tolerariam tal arranjo.

Costume: discentes habitual-mente atribuem apelidos e, com frequência, acerta.

O cidadão mencionado tor-nou-se o Foca. E não poderia ser diferente pois para ele, esse mamífero, de acordo com o que considerou, é peixe.

Vicente Amato NetoNúmero 42

helen keller – conferência na Faculdade de Medicina da USP em 1953

embrando nossa fase aca-dêmica, quero destacar um

episódio marcante, que recordo com muito carinho. Foi a visita da HELEN KELLER. Ela já muito famosa como escritora, nasci-da cega, surda e muda. Veio ao Brasil trazer doações de entida-des para assistência aos cegos e para estender aqui a campanha que fez nos EE UU a favor do aproveitamento dos diversos ti-pos de deficientes nas empresas. Havia manifestado o desejo de fazer palestras para estudantes, por serem, segundo ela, men-tes abertas, em formação e que poderiam atuar a favor dos defi-cientes. Insistia que o deficiente não precisava de caridade e sim de oportunidade. Nos EE UU sua campanha obteve grandes re-sultados, tendo havido mesmo a modificação de Leis, obrigando as empresas a incluírem deficien-tes em seus quadros.

O diretor da Faculdade de Medicina, Professor Jayme Arco-verde de Albuquerque Cavalcan-ti, lembrado sempre como um dos grandes Diretores, convocou professores, alunos e funcioná-

rios para a conferência da HE-LEN KELLER e nós da diretoria do CAOC (Centro Acadêmico Oswal-do Cruz) ficaríamos com ele na mesa diretora.

Na hora marcada chega a HELE KELLER, guiada pela secretária, com a qual se comunicava pela linguagem de mãos. O plenário, à sua passagem, bateu palmas. Ao chegar à mesa, ela disse (via secretária) que agradecia as pal-mas. Ao espanto geral, seguiu-se a pergunta do Professor Caval-canti, de como ela percebera as palmas se não ouvia. Respondeu que “só” porque não tinha 3 dos 35 sentidos conhecidos não have-ria de perceber? Sugeriu um tes-te: levantaria o braço cada vez que novamente aplaudíssemos e o abaixaria no fim. A experiência foi feita três vezes e ela acer-tou todas. Fez uma conferência belíssima, arrancando lágrimas da estudantada emocionada. Ao final da conferência ela pediu que fizéssemos perguntas. Emo-cionados, ficamos em silêncio, e ela muito brejeira, disse ter sido informada que os brasilei-ros eram muito ardorosos, sendo

verdadeiros “latin lovers”. Como então estavam tímidos ou com medo de uma velhinha pequeni-na? Nós da mesa confabulamos e lhe fizemos a seguinte pergunta: Se Deus lhe desse momentos de visão, quais as três coisas que mais gostaria de ver? Ela respon-deu que a pergunta era muito in-teligente e mesmo poética. Que era gostosa de responder. A pri-meira coisa que amaria ver seria a face de ANNE SULLIVAN, em fo-tografia ou em filme. Disse que havia mandado fazer bustos dela e que quando a saudade aperta-va ficava apalpando-os. Que a Anne Sullivan conseguira ensinar uma criança nascida cega, surda e muda, com amor, admirável inteligência e com metodologia original, nunca antes tentada. A segunda coisa que gostaria de ver era um por-do-sol, pois não tinha ideia do que fosse “cor”. Assim veria as cores numa oca-sião que, segundo dizem, ficam maravilhosas. A terceira coisa a ser vista seria o sorriso de uma criança, para ver a face humana ainda não alterada pela civiliza-ção.

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São Paulo, Fevereiro de 201318

Memórias ou "Quando eu era calouro..."

Encerrando, o Professor Caval-canti fez um belo discurso, agra-decendo a visita da conferencista, tão emocionado quanto a estudan-tada. Nunca mais esqueci a per-sonalidade encantadora da nossa conferencista e tive oportunidade de assistir, mais tarde, um filme sobre a sua vida.

DepoimentoTharcillo Toledo Filho – Presidente do CAOC em 1953

Quando assumi a Presidência do CAOC (Centro Acadêmico Oswaldo Cruz) em 1953 e o saudoso Luiz Bacalá a Presidência da Atlética, procuramos o instrumento legal da doação da área do nosso estádio ao CAOC. A nossa preocupação era devida ao fato de algumas instituições estarem pretendendo aumentar suas áreas invadindo espaços do nosso está-dio. Procuramos inicialmente a doação nas atas das reuniões da Diretoria e do Conselho Técnico Administrativo, nada foi encontrado. Incumbimos um Despachante especializa-do na procura da escritura que legalizava o CAOC como proprietário da referida área, nos Cartórios e também nada foi encontrado. Procuramos o Diretor da Faculdade de Me-dicina o Professor Jayme Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, sempre lembrado como um dos grandes Diretores, e solicitamos que a área do nosso estádio fosse totalmente envolvida por muros, o que caracterizaria a posse de fato, podendo depois ser feita a escritura. Sabíamos que existia uma verba da Reitoria para obras dentro do conjunto da Faculdade. O professor Cavalcanti, inicialmente em dúvida, disse que consultaria a Congregação. Dissemos-lhe que poderíamos dar um documento, assinado pela Diretoria do CAOC, afirmando que a iniciativa e a responsabilidade era nossa.O caro mestre após as devidas consultas apoiou a nossa iniciativa, fez os trâmites legais para a escolha da firma que faria o muro. Fomos chamados para falar com o engenheiro da firma escolhida, que nos pediu o projeto. Informamos que o “projeto” era a situação de fato. Corremos com ele todos os limites, mostrando toda a extensão dos futuros mu-ros, bem como o local dos portões. Ele fez um croqui e memorial que foram entregues à Diretoria e O MURO FOI FEITO. Assim foi feita a legalização da área do nosso estádio.

Diretoria do CAOC em 1953Tharcillo Toledo Filho - PresidenteJoão Pagenotto - Vice-PresidenteJoamel Bruno de Mello - 1º SecretárioAdelôncio Faria de Santana - 2º SecretárioEnio O. dos Santos – 1º tesoureiroMário Cinelli Junior – 2º TesoureiroLauro Roberto Fogaça – 1º OradorWilhelm Kenzler – 2º OradorLuiz Bacalá – Presidência da Atlética do CAOC

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São Paulo, Fevereiro de 201319

Extensões

Recital dos estudantes de medicina da Universidade de São Paulo

eja bem-vinda, Turma 101! Parabéns pela sua conquista!!!

Entrar na faculdade significa vida nova: novos aprendizados, novos amigos, novos horizontes. Entretanto, vocês não devem dei-xar para trás alguns dos hábitos que tinham antes de dar início à fase de estudos e dedicação para o vestibular. Muitos de vocês abri-ram mão de várias atividades e compromissos como esportes, te-atro, música...

É por isso que na nossa facul-dade há uma gama diversificada de atividades extracurriculares sendo oferecida a vocês, calouros, e cabe-lhes decidir de quais delas farão parte!

O Recital dos Estudantes de Medicina da Universidade de São Paulo (REMUSP) é um grupo de es-tudantes de medicina interessados em música, que surgiu no segundo semestre de 2011. Assim, o REMUSP

oferece a todos vocês a oportuni-dade de reviverem os tempos me-lódicos de suas vidas, em que se dedicavam a cantar ou a tocar um instrumento, abrangendo diversos tipos de gêneros musicais.

Em sua primeira apresentação realizada em novembro de 2011, os 16 membros do REMUSP exe-cutaram numa noite espetacular peças do gênero clássico, popular e rock. No ano de 2012, a equipe aumentou de 16 para 49 membros, mostrando o rápido crescimento e adesão dos membros da facul-dade, o que ampliou ainda mais a sua diversidade. Ao se observar os encontros e ensaios no ano de 2012, notou-se também uma ten-dência cada vez maior de executar peças musicais em conjuntos, de modo a potencializar o trabalho em equipe nas apresentações e a garantir uma ampla participação. Em outubro de 2012, o REMUSP fez

S

Leandro Ryuchi Iuamototurma 99

Diretor Geral do Recital dos Estudantes de

Medicina da USP

sua mais recente grande apresen-tação e obteve sucesso absoluto de público e de crítica. Neste ano de 2013, queremos mais! E para isso contamos com vocês, novos talentos da casa de Arnaldo!

Os nossos encontros musicais ocorrem aproximadamente uma vez a cada semana no Teatro da FMUSP, sendo as datas divulgadas por e-mail ou facebook. Portanto, calouro, esteja atento às datas dos ensaios! Apareçam quando quise-rem para conhecer os membros do REMUSP e fazer parte dessa fa-mília! As portas do Teatro sempre estarão abertas a todos os aprecia-dores de uma boa música!

Acessem o nosso site! http://www.fmusp.med.br/remusp/

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São Paulo, Fevereiro de 201320

Tutoria

Meninos, eu vi!Se eu te pedir uma coisa, você faz?

cho que todos já passamos por uma situação na qual nos

apegamos muito a um paciente... Sofremos com ele, vivenciamos

suas dores e agonias, acolhemos sua família, e o levamos para casa.

Sim, é consenso que se deve deixar a profissão de lado assim que se entra no carro para voltar para casa... Mas, quem nunca se pegou pensando em um paciente, ou ligando para o hospital para sa-ber dele, tarde da noite, enquanto sua família dorme?

A Letícia era uma menina de nove anos, e a conheci no meu ter-ceiro ano de residência, em UTI Pediátrica, no Instituto da Criança. Tinha um grave tipo de câncer, dado como incurável. No primeiro dia de estágio, dividimos os pacientes e fiquei com ela. Pelo jeito que me passaram o plantão, logo pensei que ficaria pouco tempo ao seu lado.

Lembro-me de nosso diálogo de apresentação...

– Você é a Letícia?– Sou sim! E você deve ser o novo

médico que vai cuidar de mim...Claro, dois meses de interna-

ção... ela passou por esse rodízio duas ou três vezes.

– Isso! Pode me chamar de Dudu, tá bom?

– Dudu é o nome do meu tio! Já gostei!

_ Que ótimo!Mais tarde...– Letícia, o tio vai ter que co-

lher alguns exames seus, tá?– Tá, mas colhe desse braço

aqui, porque o outro está todo roxo! Vai começar uma quimiote-rapia mais forte, né?

– Quem te disse?

– Ontem, falaram durante a manhã aqui perto. Teve um tio, inclusive, que falou algo do tipo que eu não iria aguentar... ele achou que eu não tinha ouvido, mas a gente escuta tudo aqui!

Essa tinha doído... Lição número 1 – sejam discretos perto dos doentes. Imaginem um comentário assim na mente de uma criança?

Dois dias de quimioterapia de-pois, o coraçãozinho dela ficou tão fraco, mas tão fraco, que tinha a total certeza de que realmente ela morreria. Os exames não deixavam dúvida. O quadro era irreversível, e discutimos com a família dela que nada mais poderia ser feito. Em comum acordo, limitamos as condutas e medidas terapêuticas, para não prolongar o sofrimento. Nas visitas, diante de tantas outras crianças graves, ela mal era citada.

Uns cinco dias depois, se não me engano, a enfermeira me chamou dizendo que a pressão da Letícia estava alta. Num primeiro momen-to, achei que ela estava sonhando. Afinal, isso seria um indício de me-lhora? Fui checar, e não só estava alta, como os pulsos haviam volta-do, a cor dela não era mais aquele branco quase fantasmagórico, e a mãe dela pedia para consertar o monitor, pois isso seria impossível.

Na visita...– Edu, seus casos.– Professor, a Letícia...– Puxa, tadinha, ela foi?– Não! Ela está melhorando!– Ahn??Voltamos com tudo em cima

dela... e, dias depois, ela acor-dou, e após extubada, e com for-

ças, conversou comigo de novo...– Tio Dudu, eu me lembro de

você...E eu, com lágrimas nos olhos...– Meu amor! Que bom te ver

assim!– Se eu te pedir uma coisa,

você me faz?– Qualquer coisa! (como um fi-

lho pedindo com carinha de dodói)– Eu quero um pão de queijo!

Achei que morreria sem comer um!Naquele dia, eu estava de

plantão durante a noite... e a úni-ca opção de comprar um salgado era um boteco para lá de suspei-to, aberto 24 horas, ao lado do ICr. Pensei, que remédio? Desci uma da manhã, quando acabamos a vi-sita, e dei a sorte (sorte?) de uma fornada quentinha ter acabado de sair. Peguei dois, subi para a UTI e, claro, antes de dar...

– Letícia, meu chefe tem que autorizar tá?

– Ahhhhhhhh....– (no telefone) Alô professor?

(duas da manhã)– Fala Edu, o que houve? (apre-

ensivo)– Sabe a Letícia, aquela pa-

ciente que....– Sei sim! (quase gritando) O

que houve? Estou indo aí!– Não!!! (gritando) Calma! É que

ela quer um pão de queijo, e eu...

Tutor Eduardo Mekitarian Filho

A

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São Paulo, Fevereiro de 201321

Tutoria

ntes de tudo, seja bem vin-da, 101, à gloriosa Casa de

Arnaldo!E você que passou um ano (ou

mais) estudando incansavelmen-te, agora vê seu nome na lista da FUVEST. Todos nós sabemos o quão maravilhosa é essa sensação: sua família te idolatra, seus amigos se dividem entre incrédulos e felizes, até aquele Pastor Alemão que tem no sítio da sua tia e late até pra formiga passou a te amar, com o amor mais sincero e eterno.

E no dia da lista você gritou, chorou, pulou e achou que essa fe-licidade não ia ter mais fim. Pois isso até que é verdade, pois vem aí a sua semana de recepção (es-pumada!), a sua Calomed, a sua p1 de bioquímica (as pessoas tem estágios de felicidade diferentes), suas primeiras noites viradas de estudo sem efetivamente enten-der a matéria (no cursinho você entendia, né, eu suponho)...

Pois é, nem tudo serão flores. Mas antes de você ficar se corro-

endo querendo saber como fará para ir lá pra baixo (vulgo Cidade Universitária) todos os dias, sendo que os seus compromissos estarão, em maioria, aqui na Casa; ou como será seu desempenho em Bioquí-mica, Biomol (será que eu tenho que saber a matéria inteira de cor para o resto da vida?), lembre--se que o ano de calouro aconte-ce uma vez só. Quantas vezes eu vi veteranos meus e colegas de turma comentando que não apro-veitaram devidamente a própria semana de recepção, entupidos com essas vãs preocupações? De-sapegue, calouro. Você terá muito tempo para pensar nisso e muitos veteranos dispostos a te orientar e sanar suas dúvidas.

Você está em uma faculdade livre de trotes, onde ninguém irá obrigá-lo a fazer coisas que você não quer e isso, se tratando de fa-culdades de Medicina, é relativa-mente raro. Aproveite a sua sema-na de recepção em cada segundo! Aproveite para conhecer seus ve-

teranos, seus colegas de turma, a pessoa que vos escreve por hora, a história da sua nova Casa, desfru-tar do porão e da atlética (poucos têm tais estruturas). Conheça as instituições da SUA faculdade (elas são muitas!), treine para sua Ca-lomed (depois você vai querer de volta...).

Ao longo do ano, envolva-se em algo além da graduação (nem só de ICB vive o estudante do ciclo básico), vá às festas, happy hours e sociais, curta a sua turma (ali es-tão seus futuros melhores amigos e colegas de trabalho). Você está na melhor faculdade de Medicina da América Latina, em todos os senti-dos possíveis. Não deixe esse fato passar em branco e, principalmen-te, não deixe seu ano de calouro passar em branco!

E... Parabéns, mais uma vez, caçulas! (vocês vão ouvir isso du-rante muito tempo ainda...)

Sumaya A. Ghaffar turma 100

A

Olá, 101

Para 101

– Ah Eduardo, tenha paciência para me ligar a essa hora pra isso...

– Mas pode?– Ah, dê logo! Mas nego até a

morte!E, assim, ela comeu os dois pães

mais rapidamente do que eu come-ria, com o maior brilho nos olhos que vi num ser humano. Ela foi de alta, morreu poucos meses depois, mas muito me ensinou. Não adian-ta para nós colocarmos limite nas

coisas... Definitivamente, isso não nos compete! E eu fiquei feliz por ter feito parte da história dela... E não "medicamente" falando, mas "humanamente" o que, convenha-mos, é beeeem mais legal!

EDUARDO MEKITARIAN FILHO (no Programa Tutores desde 2011)

Gosto de ser tutor para conviver de perto com os alunos, minha razão de estar na universidade, e poder fazer parte da vida deles.Escolhi ser médico para poder ajudar o próximo naquilo que ele tem de mais valioso, a vida.Quando estudante eu queria ser cirurgião cardíaco, mas virei pediatra intensivista... Sorte dos pacientes, pois minhas habilidades cirúrgicas... tsc, tsc, tscHoje, como pediatra, meu cotidiano é hospital, aula, hospital, aula...Penso que na vida do médico devemos ter espaço para tudo. Nada é mais importante do que nossas escolhas e nossa família.

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São Paulo, Fevereiro de 201322

Para além da Dr. Arnaldo, 455

enho poucas dúvidas de que a maior parte do corpo dis-

cente da Faculdade de Medicina da USP não tem a real dimensão do que é pertencer a uma univer-sidade. As aulas na Cidade Univer-sitária são frequentemente trata-das como um mal desnecessário, um limbo incômodo, uma pedra no caminho para a Medicina que re-side no campus da Dr. Arnaldo. É raro encontrar com estudantes de Medicina em festas de outras uni-dades da USP e nos é praticamen-te impossível cursar optativas que digam respeito a outras áreas do conhecimento que não às mais ob-viamente relacionadas à saúde. As-sim, “aqui em cima”, na outra USP em que estudamos, pouco se falou da demolição do Canil e dos pro-blemas enfrentados pelo Centro Acadêmico Lupe Cotrim, da ECA, e por outros centros acadêmicos da USP e de outras universidades para manter seus espaços estudantis.

A ECA é composta por oito de-partamentos que oferecem mais de quinze cursos de graduação e tantos outros de pós-graduação, além de ser sede da Escola de Arte Dramática, um dos mais concei-tuados cursos técnicos para for-mação de atores no Brasil. Estive, durante dois anos e meio, matricu-lado no Curso Superior do Audiovi-sual do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR) que tem por objetivos formar profissionais que atuem em diversas áreas do mercado audiovisual, além de ser um importante polo da pesquisa. Lá, tive meu primeiro contato com a Universidade de São Paulo.

O Canil era um lugar impor-tante para a ECA, mais ou menos como o porão é para nós. Era um

espaço de trocas culturais, sociais e políticas, fundamentais para a formação dos artistas e comuni-cadores que saem daquela Esco-la, uma vez que arte e comunica-ção não se fazem no isolamento. Com a apropriação dos alunos da construção em forma de lâmpada concebido para abrigar geradores, posteriormente convertida no ca-nil que foi desativado tempos de-pois, era interessante acompanhar as várias caras do Canil ao longo do tempo: decorado com incríveis grafites, pintado inteiro de rosa--choque ou vermelho... aquele era um ponto onde se concretizava a proposta central da própria exis-tência de uma Escola de Comuni-cação e Artes, que é a integração das diversas áreas do conhecimen-to que formam a ECA. A perda do Canil é irreparável.

Utilizou-se como pretexto a construção da Nova ECA para dar lugar a (mais) um novo prédio da reitoria. Ou um estacionamen-to. Ou um jardim. Não se sabe ao certo. A Nova ECA vem sendo dis-cutida desde 2010, pelo menos, e ainda deve demorar muito a pra sair do papel. Aliás, para entrar no papel, porque aparentemente não existe sequer um projeto ar-quitetônico concreto pra ser posto em prática. É fato que a ECA está onde está em caráter provisório desde que foi criada nos idos de 1960, e que um espaço adequado é necessidade urgente para a maio-ria dos departamentos (à exceção do CTR, que após 12 anos de cria-ção do Curso Superior do Audiovi-sual, finalmente tem instalações e equipamentos adequados às aulas lá ministradas), mas o Canil nada tem a ver com isso.

Na primeira tentativa de des-truição do espaço, no ano retrasa-do, também no período de férias, em que menos pessoas frequenta-vam o local, alguns alunos conver-saram com os funcionários respon-sáveis pelas marretadas e, como categorias tradicionalmente ali-nhadas, entraram em acordo para que o processo fosse suspenso na-quele momento. O professor Mau-ro Wilton, então diretor da Escola, divulgou uma nota repudiando a ação. O telhado do Canil ficou com um buraco, como cicatriz de uma batalha que não havia sido ganha, mas tampouco perdida.

O mesmo professor alegou, em conversa com o corpo discente da Escola, que houve um trato com a reitoria: a ECA deve funcionar onde está até que o outro pré-dio esteja absolutamente pronto e equipado para abrigar todos os cursos (adiciono: quando esse dia chegar, fujam com seus netos para as montanhas, pois será o fim dos tempos). Assim, não faz o menor sentido que a reitoria saia por aí demolindo pedaços da ECA antes de qualquer coisa concreta apare-cer no que diz respeito a um novo espaço.

Espaços acadêmicos exigem administração e cuidado, mas isso é consideravelmente mais difícil num cenário em que o CA segue a tradição de posicionar-se politica-mente contra abusos e incoerên-cias das instâncias superiores da Universidade. Objetivamente fa-lando, se já é difícil cuidar do nos-so porão quando estamos alinha-dos à diretoria da Faculdade (e, claro, à reitoria, que banca uma boa parte das nossas reformas), tente imaginar cuidar da Vivência

O CANiL_, a ECA, a Reitoria, a FMUSPT

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São Paulo, Fevereiro de 201323

Para além da Dr. Arnaldo, 455

do CALC, do Canil, da Prainha e de todos os espaços da ECA com o rei-tor querendo colocar tudo abaixo?

Aqui em cima, na Dr. Arnaldo, talvez muitos não saibam que pelo Canil, pelo Teatro-laboratório, pelo Auditório Olivier Toni, pela lanchonete da Dona Hermínia, passaram e passam figuras indis-pensáveis para o desenvolvimento cultural do País. Não é só porque o nosso prédio é mais branquinho que a importância histórica da FMUSP, com sua atlética e seu CA, é maior que a das outras escolas da USP. O que acontece nesta Uni-versidade está claro: cursos liga-dos às Ciências Humanas travam uma constante batalha para con-

tinuarem existindo. Visitem a ECA. Visitem a FFLCH. É sucata. E ainda assim são instituições de destaque internacional.

A demolição do Canil é um marco nesse processo. Ao invés de valorizar aquilo que torna a USP única, de colaborar com os estu-dantes na manutenção de espaços (físicos ou não) importantes para o desenvolvimento de debates e do conhecimento, a reitoria mo-vimenta-se no sentido de "higie-nizar". E assim continuamos sendo essa vergonha. A Faculdade de Me-dicina é exceção na USP. A regra é bem mais sombria.

Por fim, creio que caiba uma nota: espaços físicos, por mais

concretos que pareçam, vem e vão. Um dia o Canil estava lá e no dia seguinte não estava mais. A perda é triste e o espaço é im-portante, mas mais importante é o movimento que se formou em tor-no dele. A Universidade não pode desrespeitar seus estudantes dessa maneira, e a perda de paredes de concreto não será suficiente para acabar com as ideias que nortea-ram os alunos na sua apropriação. Terá sido o fim de um canil, mas não do CANiL_.

Caio Zampronha turma 100

ex-aluno da ECA

em-vindos a USP, a melhor Universidade do Brasil!

Toda a diretoria da Extensão Médica Acadêmica (EMA) parabe-niza-os e os convida a fazer parte do nosso projeto de extensão.

Trata-se de um projeto volun-tário que existe há 15 anos orga-nizado por estudantes medicina, fisioterapia e nutrição.

As ideias do projeto são:1. Atender a população da pe-

riferia de São Paulo comserviço de qualidade;2. Dar a oportunidade aos ca-

louros de entrar em contatocom o paciente desde o primei-

ro ano da faculdade, indoalém das aulas teóricas em sala

de aula;3. Conhecer mais veteranos e

aprender com eles!Vocês terão a oportunidade de

atender pacientes junto aos vete-

ranos, e até sozinhos quan-do se sentirem confiantes. Após a consulta, cada caso é discutido com um profissio-nal de saúde de cada área, que os orientarão quanto ao diagnóstico, conduta e possíveis tratamentos. Esses atendimentos são realizados aos sábados na Penha e no Jardim São Luis.

Durante a semana, rea-lizamos reuniões com todos os membros do projeto, na FMUSP ou na Cidade Univer-sitária. Veteranos ajudam os calouros a correlacionar o que é visto em sala de aula com a prática do profissional de saúde, ajudando a entender diagnósticos e tratamentos.

Você, que acabou de entrar na faculdade e não vê a hora de vestir o jaleco branco e ajudar pacientes

de regiões carentes, venha ao cur-so introdutório do EMA, que acon-tecerá nos dias 11 e 12 de março na FMUSP!!

Diretoria do EMA

Extensões

Extensão Médica AcadêmicaB

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São Paulo, Fevereiro de 201324

O centro acadêmico Pereira Barretto (epm-unifesp)

lá alunos e alunas da FMUSP!

Vocês já ouviram falar do CAPB?O Centro Acadêmico Pereira

Barretto é o órgão representativo máximo dos estudantes de Medi-cina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Contudo, sua história antecede (e muito) a fun-dação da Universidade em 1994. O CAPB (nomeado em homenagem a Luiz Pereira Barretto, um gran-de médico sanitarista, famoso por combater epidemias de varíola) foi fundado em 07 de agosto de 1933 pelos alunos da recém-fundada Es-cola Paulista de Medicina, então uma instituição privada, criada por 31 médicos e 2 engenheiros em conjunto com estudantes apro-vados no vestibular da Faculdade de Medicina de São Paulo (futura FMUSP), que não tiveram suas va-gas garantidas.

Nosso Centro Acadêmico foi criado inicialmente com o propó-sito de propiciar algum lazer aos estudantes, sempre muito ocupa-dos com os compromissos acadê-micos para fazê-lo fora da Escola. Tais atividades de lazer ocorriam através do desenvolvimento de atividades esportivas e do conhe-cimento científico, que aos poucos levou a questionamentos, forma-ção e atividade política.

Desde então, foi uma história longa de muita luta, começando com a represália sofrida da comu-nidade catedrática no ato da cria-ção da Escola, que levou a um re-conhecimento um pouco tardio da instituição. Passamos por um gran-de endividamento nos primeiros

quinze anos de nossa existência, até a autorização do presidente Gaspar Dutra, para que o governo federal a saldasse em 1949. Esse processo finalmente resultou na federalização da EPM em 1956, po-rém, o Hospital São Paulo, primei-ro hospital universitário do Brasil fundado em 1940, permaneceu sob administração da Sociedade Civil Escola Paulista de Medicina, hoje chamada de Sociedade Pau-lista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), um passado que nos assombra até hoje.

Um dos maiores momentos de sofrimento, mas também de gló-ria ocorreu na época da ditadura, quando os Diretórios Acadêmicos (órgãos subordinados a hierarquia universitária) foram criados com o intuito de esvaziar o movimen-to estudantil, se opondo a filosofia antes existente nos CAs. Contudo, o CAPB resistiu, e mesmo tendo alunos presos e o mimeógrafo (no qual nosso jornal, O Barrettinho, era impresso) apreendido em 1968 por ação das forças opressoras, se-guiu sua luta desempenhando pa-pel fundamental na derrubada da ditadura militar.

Apesar do passado glorioso descrito, hoje o CAPB passa por várias dificuldades, enfrentamos atualmente os clássicos proble-mas de falta de verba e falta de espaço, que foram sendo minados

lentamente através de diversas mudanças na estrutura universi-tária, lutamos contra a presença limitadora da SPDM na gerencia de diversos espaços utilizados por nossos estudantes (principalmente o HSP e o próprio prédio do DCE, onde ficam todos os CAs do campus São Paulo), buscamos o controle da expansão universitária precá-ria e descontrolada da qual nossa universidade é o maior exemplo, e principalmente tentamos acabar com o desinteresse dos alunos pe-las causas apresentadas.

Não, hoje não existe uma dita-dura a ser combatida, mas a opres-são ainda está presente, disfarça-da no macro e no micro, seja em âmbito nacional, estadual, munici-pal ou dentro da própria universi-dade. O movimento estudantil está ligeiramente esvaziado, mas ainda temos pessoas boas e com vontade de mudança. Nos resta trabalhar para que o Movimento Estudantil e toda sua história de luta não caiam no esquecimento propiciado pela ilusão de que vivemos tempos me-lhores, e para que os Centros Aca-dêmicos, seja o CAPB, o CAOC ou quaisquer outros, não sofram um distanciamento de seus próprios estudantes, estando sempre ati-vos como locais de lazer, descanso, formação e principalmente como entidades em busca de uma univer-sidade e de uma sociedade justas.

O

Matheus Ghossain BarbosaCoordenador Geral – Gestão

“Apoenas” 2012Centro Acadêmico Pereira

Barretto