belisário - o sistema eleitoral no império

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FRANCISCO BELISÁRIO SOARES DE SOUZA O SISTEMA ELEITORAL NO IMPÉRIO (com apêndice contendo a legislação eleitoral no período 1821-1889)

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Page 1: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

FRANCISCO BELISÁRIO SOARES DE SOUZA

O SISTEMA ELEITORALNO IMPÉRIO

(com apêndice contendo a legislação eleitoralno período 1821-1889)

Page 2: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

1NIVI «l.IU*[Jl Dt BRASÍLIA

| l I N D A í , AO U N I V E R S I D A D E DE BRASÍLIA( O N S l . M I O D I R E T O R

Abí l io Machado Filho, Amadeu C u r y , A n t ó n i o Moreira Couceiro,Anstides Azevedo Pacheco Leão, José Carlos de Almeida Azevedo,José Carlos V i e i r a de Figueiredo, José Vie i ra de Vasconcelos, IsaacKerstenetzky

Reitor: José Carlos de Almeida Azevedo

EDITORA U N I V E R S I D A D E DE B R A S Í L I ACONSELHO EDITORIAL

David Queirós V i e i r a , V a m i r e h Chacon de A l b u q u e r q u e Nascimento,Carlos Hen r ique Card im, Charles Sebastião Mayer, João Ferreira,Walter Ramos da Costa Porto, Geraldo Severo de Souza Ávi la , JoséMaria Gonçalves de Almeida J r .

Presidente do Conselho: Carlos Henrique Cardim

FRANCISCO BELISÁRIO SOARES DE/SOUZAL

, L,l'V"i

O SISTEMA ELEITORALNO IMPÉRIO

(com apêndice contendo a legislação eleitoralno período 1821-1889)

Co-edição com aEditora da Universidade de Brasília

Coleção Bernardo Pereira de Vasconcelos(Série Estudos Jurídicos)

Volume n9 18

Direção de Octaciano Nogueira

SENADO FEDERALBrasília — 1979

Page 3: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

CAETANO RÉ/CÍCEROdo Toxto: GERALDO SOBRAL ROCHA

CARMEM MORUM XAVIER

FICHA CATALOGRAFICA

(Preparada pela Biblioteca do Senado)

Soares de Souza, Francisco Belísário, 1839-1889.

O sistema eleitoral no Império; com apêndice contendo a legis-lação eleitora! no período 1821-1889. Brasília, Senado Federal, 1979.

504 p. (Coleção Bernardo Pereira de Vasconcelos. Ser. Estudos

jurídicos, 18).

"Co-edição com a Editora da Universidade de Brasília".

1. Eleições — Brasil. 2. Eleições — Legislação — Brasil,

l Série. M. Título.

O 341.28

APRESENTAÇÃO

Uma das conclusões do Seminário Internacional de EstudosBrasileiros, realixado pelo Instituto de Estudos Brasileiros da USP,cm 1972, por ocasião do Sesqnicentenário da Independência, reco-mendou que se desse ênfase à análise dos problemas institucionaisbrasileiros durante o Império, citando entre eles a legislação eleito-ral, sabidamente uma das questões de maior permanência de nossaevolução política.

O fato de se ter transformado em reivindicação tanto de liberaise conservadores, quanto dos republicanos, tax do aprimoramentodas eleições algo que transcende o próprio regime. Se no Impérioas "Câmaras unânimes" a que se reteria Nabuco de Araújo e os"deputados de enxurrada" a que aludia o marquês do Paraná,constituíam vícios do próprio sistema, na República Velha as eleiçõesa "bico de pena" e as depurações a que se procediam com o rituaJda "verificação de poderes" não foram inales menores.

Por isso mesmo, considera-se que as duas grandes reformaseleitorais do Império, a chamada "lei dos círculos", de 1855 e aeleição direta de 1881, adotada depois da experiência do "terço",também chamada de representação das minorias, constituem doisgrandes momentos na evolução política brasileira, ambas sósuperadas, em termos de aperfeiçoamento do regime, pela instituiçãoda Justiça Eleitoral, conquista da Revolução de 1930.

O livro de Francisco Belisário Soares de Souza que orareeditamos, incluindo-o na Coleção Bernardo Pereira de Vasconcelos,constitui sem dúvida uma das melhores sínteses de nosso sistemaeleitoral, até a data de sua publicação em 1872. Enriquecido coma legislação eleitoral do Império, c um roteiro seguro para o examedo problema e uma abordagem cáustica do sistema vigente. A elese referiu elogiosamente Joaquim Nabuco e nele se baseou Tavares

Page 4: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

viuth: l.yra, na apreciação que fez dos cem anos do sistema eleitoralbrasileiro, abrangendo o período de 1821 a 1921.

Tratando-se de obra extremamente rara, foi incluída nesta sériecomo valiosa contribuição para o exame de uma das questões maistranscendentais da vida pública em que histórica e tradicionalmentese assenta o regime democrático: a autenticidade da representação

popular.

Brasília, janeiro de 1979.

Senador Petrônio PortellaPresidente

SUMÁRIO

Artigo da redação do Diário do Rio de Janeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . l

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 5

PARTE l

As eleições na a tua l i da de

CAPÍTULO I

Estado da questão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

CAPÍTULO II

Processos preparatórios da eleição primária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25§ l? As qualificações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25§ 2? As mesas eleitorais e seus auxiliares extralegais . . . . . . . . . 28

CAPÍTULO ni

A eleição primária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33§ l? Os votantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33§ 2? Os eleitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

CAPÍTULO IV

A eleição secundária — O deputado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

PARTE II

Alterações que tem sofrido o sistema eleitoral, quais os

resultados obtidos.

CAPÍTULO I

As nossas primeiras eleições. As instruções de 26 de março de 1826e de 4 de maio de 1842 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

CAPÍTULO U

A lei de 19 de agosto de 1846 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

Page 5: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

A lei de 19 deeleitorais

CAPÍTULO III

setembro de 1855. Os círculos e as incompatibilidades - 69

78

86

92

CAPÍTULO IV

Resultados perniciosos da lei dos círculos sobre a política, os par-tidos e o regime eleitoral em geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

CAPÍTULO V

Continuação do mesmo assunto. Os círculos de um deputado substi-tuídos pêlos distritos de três deputados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

CAPÍTULO VI

A lei de 22 de agosto de 1860 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

PARTE III

REFORMAS INDISPENSÁVEIS — ELEIÇÃO DIRETA —INCOMPATIBILIDADES.

CAPÍTULO I

Nova direção do espírito público. Reconhecimento da necessidadede reformar-se radicalmente o sistema eleitoral, e não simples-

-:-.—— adotado . . . . . . . . . . 105

SplriLU |/uui»_\, . ,v~- -

v.v .^~.,,._ __ radicalmente o sistema eleitoral, e não simples-mente as fórmulas que presidem ao sistema ' '"

CAPÍTULO II

Como tem sido sustentada a teoria da eleição indireta pêlos publi-cistas em geral e particularmente entre nós . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112

CAPÍTULO III

A decretação da eleição direta importa uma reforma constitucional? 118

CAPÍTULO IV

Condições e garantias do exercício do voto . . .

CAPÍTULO V

A representação das minoriais . . . . . . . . . . . . .

CAPÍTULO VI

As incompatibilidades parlamentares . . . . . . .

APÊNDICE

LEGISLAÇÃO ELEITORAL DO IMPÉRIO

1. Decreto de 7 de março de 1821 . . . 1632. Decreto de 3 de junho de 1822 . . . . . . . . . . . . . . . . . 1773. Decisão n? 57 do Ministério do Reino, de 19 de junho

de 1822 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1784. Decreto de 26 de março de 1824 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1875. Decreto n9157, de 4 de maio de 1842 . . . . . . . . . . . . . 201

6. Lei n° 387, de 19 de agosto de 1846 . . . . . . . . . . . . . . . . 2087. Decreto n° 565, de 10 de julho de 1850 . . . . . . . . . . . . 2338. Decreto n° 842, de 19 de setembro de 1855 . . . . . . . . 2349. Decreto n" 1.812, de 23 de agosto de 1856 . . . . . . . . 238

10. Decreto n1? 1.082,'de 18 de agosto de 1860 . . . . . . . . 24511. Decreto n? 2.675, de 20 de outubro de 1875 . . . . . . . 24812. Decreto n°6.097, de 12 de janeiro de 1876 . . . . . . . . 26613. Decreto n? 3.029, de 9 de janeiro de 1881 . . . . . . . . .4 33514. Decreto n° 7.981, de 29 de janeiro de 1881 . . . . . . . . 37015. Decreto n° 8.213, de 13 de agosto de 1881 . . . . . . . . 39416. Decreto n" 8.308, de 17 de novembro de 1881 . . . . . . 47917. Decreto n° 3.122, de 7 de outubro de 1882 . . . . . . . . . . 48318. Decreto n° 3.340, de 14 de outubro de 1887 . . . . . . . . 4!Ki19. Decreto n° 9.790, de 17 de outubro de 1887 . . . . . . 4»5

Page 6: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

ARTIGO DA REDAÇÃO DO DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO,O QUAL PRECEDEU A PUBLICAÇÃO DESTA OBRA NAS

SUAS COLUNAS

Começamos hoje a publicar, por partes, o estudo crítico dosistema eleitoral ainda em vigor, sob o titulo A Reforma Eleito-ral. (')

O País ansiado por sair do sofisma e entrar na realidadeconstitucional, estimará devidamente tão momentoso trabalhodo jovem e talentoso deputado Francisco Belisario Soares deSouza. Em linguagem concisa recapitulou todos os abusos e ex-cessos a que se presta o nosso sistema eleitoral em extremo des-crédito. Para tornar mais fácil a leitura, teve S. Ex^ a feliz ideiade às demonstrações jurídicas preferir as de boa razão, sem ata-vios e nem aparatos de erudição.

A ideia em toda a sua pureza e evidência chegará a todosos cidadãos, ainda os menos preocupados desta gravíssima ques-tão. A segurança na análise, a perspicácia na crítica e a clarezado método dão a todo o estudo unidade e solidez.

A reforma eleitoral é um pregão patriótico e enérgico con-tra o nosso desmoralizado regime eleitoral, instrumento infalí-vel de opressão do voto e de deformidade das instituições jura-das.

O deputado Belisario tenta um nobre e generoso esforço nosentido de tornar a Constituição uma verdade. O estudo que fezservirá de eficaz auxiliar, senão de roteiro aos que de boa-féquiserem restituir à opinião pública o Governo do País.

Tem-se por muitos anos entretido a Nação com promessasde reforma eleitoral, sempre ilusórias. Não é mais possível adiá-

(1) Foi sob este título que o Diário fez a publicação.

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l ; » . • • , *. ; i lvo se há o perigoso propósito de expor as instituições à( ! i - i i f u l e i r a prova. Nenhum governo poderá resistir às manifes-1.1',-invs públicas de desprezo por esse regime condenado e semcxcruc.ão.

< > único recurso que resta aos amigos sinceros da monar-quia constitucional para fortificá-la e dar-lhe condições de per-niuiirncia, é o da reforma eleitoral restituindo-se à Nação o votolivre, de que está realmente despojada.

Que o eleitorado se constitua independente, superior às es-prancas e temores; a responsabilidade do poder será real e in-falível. Esta é a maior garantia da ordem e da liberdade. Osgovernos que tudo-podem são os mais expostos aos assaltos dasrevoluções e a rápidas decadências. Só quem anda alheio ao mo-vimento do espírito público, não terá percebido a rapidez comque se propaga a descrença política. Os antigos partidos se de-sorganizam ante a impossibilidade de fazerem prevalecer suasopiniões e de vencerem as resistências oficiais.

A nossa história política registra dois fatos recentes e deextenso alcance: da luta repetida e vã dos partidos regularescontra o poder sempre triunfante. A máquina eleitoral funcio-na tão a sabor dos desejos do poder, que não pode dar-se o re-ceio de efetiva responsabilidade. Nestas condições excepcionaise transitórias tudo nos leva a crer na formação de uma grandecrise política. Para conjurá-la não vemos outro recurso senãoa reforma eleitoral.

Eleitorado numeroso e independente e incompatibilidadesabsolutas, salvas outras medidas complementares e de menorimportância.

O atual regime eleitoral está condenado e seria um clamo-roso escândalo que servisse de norma a futuras eleições.

É tempo de restabelecer o governo parlamentar, de levan-tá-lo do abatimento em que caiu, de salvá-lo da degeneração queo transforma em ameaça da liberdade e em perigo público.

Não prolonguem a ansiedade pública que facilmente se con-verterá em desesperação; não empreendam sofismar a reforma,

porque a reaçao do país enganado será mais violenta do quepensam os que por obstinada ambição não querem renunciar umpoder, que por ilegítimo em vez de fortalecer enfraquece.

A reforma eleitoral é uma exigência nacional, que há deser atendida, custe o que custar.

O deputado Belisário trabalhou para esta fecunda e neces-sária reforma, pondo em relevo os vícios e defeitos do regimeatual, lembrando os meios que julga mais próprios para corri-gi-los.

Os que desejam a reforma no sentido de dar ao parlamentocompleta independência, recolocando-o na posição que lhe foitraçada na constituição, devem unir-se sem distinção de partidossob esta legenda: A reforma eleitoral. Ainda contra a vontadedo governo a vitória é certa. Tenhamos constância e firmeza,empregando todos os recursos constitucionais com tão feliz êxi-to usados pêlos povos livres.

Administrador
nota
Começamos hoje a publicar, por partes, o estudo crítico do sistema eleitoral ainda em vigor, sob o titulo A Reforma Eleitoral. (') O País ansiado por sair do sofisma e entrar na realidade constitucional, estimará devidamente tão momentoso trabalho do jovem e talentoso deputado Francisco Belisario Soares de Souza. Em linguagem concisa recapitulou todos os abusos e excessos a que se presta o nosso sistema eleitoral em extremo descrédito. Para tornar mais fácil a leitura, teve S. Ex^ a feliz ideia de às demonstrações jurídicas preferir as de boa razão, sem atavios e nem aparatos de erudição. A ideia em toda a sua pureza e evidência chegará a todos os cidadãos, ainda os menos preocupados desta gravíssima questão. A segurança na análise, a perspicácia na crítica e a clareza do método dão a todo o estudo unidade e solidez. A reforma eleitoral é um pregão patriótico e enérgico contra o nosso desmoralizado regime eleitoral, instrumento infalível de opressão do voto e de deformidade das instituições juradas. O deputado Belisario tenta um nobre e generoso esforço no sentido de tornar a Constituição uma verdade. O estudo que fez servirá de eficaz auxiliar, senão de roteiro aos que de boa-fé quiserem restituir à opinião pública o Governo do País. Tem-se por muitos anos entretido a Nação com promessas de reforma eleitoral, sempre ilusórias. Não é mais possível adiá- (1) Foi sob este título que o Diário fez a publicação. l;».••, *.;ilvo se há o perigoso propósito de expor as instituições à (!i-i i fuleira prova. Nenhum governo poderá resistir às manifes- 1.1',-invs públicas de desprezo por esse regime condenado e sem cxcruc.ão. <> único recurso que resta aos amigos sinceros da monarquia constitucional para fortificá-la e dar-lhe condições de perniuiirncia, é o da reforma eleitoral restituindo-se à Nação o voto livre, de que está realmente despojada. Que o eleitorado se constitua independente, superior às esprancas e temores; a responsabilidade do poder será real e infalível. Esta é a maior garantia da ordem e da liberdade. Os governos que tudo-podem são os mais expostos aos assaltos das revoluções e a rápidas decadências. Só quem anda alheio ao movimento do espírito público, não terá percebido a rapidez com que se propaga a descrença política. Os antigos partidos se desorganizam ante a impossibilidade de fazerem prevalecer suas opiniões e de vencerem as resistências oficiais. A nossa história política registra dois fatos recentes e de extenso alcance: da luta repetida e vã dos partidos regulares contra o poder sempre triunfante. A máquina eleitoral funciona tão a sabor dos desejos do poder, que não pode dar-se o receio de efetiva responsabilidade. Nestas condições excepcionais e transitórias tudo nos leva a crer na formação de uma grande crise política. Para conjurá-la não vemos outro recurso senão a reforma eleitoral. Eleitorado numeroso e independente e incompatibilidades absolutas, salvas outras medidas complementares e de menor importância. O atual regime eleitoral está condenado e seria um clamoroso escândalo que servisse de norma a futuras eleições. É tempo de restabelecer o governo parlamentar, de levantá- lo do abatimento em que caiu, de salvá-lo da degeneração que o transforma em ameaça da liberdade e em perigo público. Não prolonguem a ansiedade pública que facilmente se converterá em desesperação; não empreendam sofismar a reforma, porque a reaçao do país enganado será mais violenta do que pensam os que por obstinada ambição não querem renunciar um poder, que por ilegítimo em vez de fortalecer enfraquece. A reforma eleitoral é uma exigência nacional, que há de ser atendida, custe o que custar. O deputado Belisário trabalhou para esta fecunda e necessária reforma, pondo em relevo os vícios e defeitos do regime atual, lembrando os meios que julga mais próprios para corrigi- los. Os que desejam a reforma no sentido de dar ao parlamento completa independência, recolocando-o na posição que lhe foi traçada na constituição, devem unir-se sem distinção de partidos sob esta legenda: A reforma eleitoral. Ainda contra a vontade do governo a vitória é certa. Tenhamos constância e firmeza, empregando todos os recursos constitucionais com tão feliz êxito usados pêlos povos livres.
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INTRODUÇÃO

A época em que aparece este estudo poderá autorizar asuposição de ter sido escrito no correr das últimas eleições erefletir assim impressões de momento. Os recentes acontecimen-tos políticos têm, sem dúvida, influído muito sobre a opiniãopública e tornado ainda mais geral a aspiração pela eleição dire-ta e pelas incompatibilidades parlamentares. Devemos, entretan-to, declarar que havíamos concluído este trabalho quando tevelugar a dissolução da câmara dos deputados em 22 de maio.Não foi ele, pois, inspirado pelo influxo da ocasião, mas é a ex-pressão de convicções cada dia mais radicadas pela observação.

Depois das estranhas ocorrências da sessão legislativa doano passado devia se esperar que a reforma eleitoral seria oprincipal assunto da sessão do ano corrente.

Antes de realizar-se a inexplicável dissolução da câmarados deputados já tínhamos coordenado os apontamentos quepossuímos sobre a matéria. Interessados depois na luta eleitoralnão quisemos deliberadamente refazer o nosso trabalho e inter-calar fatos da atualidade para não torná-lo suspeito da parciali-dade que mais ou menos fundadamente se atribui aos juízos so-bre sucessos em que tomamamos parte.

A observação a mais superficial revela quanto há de anó-malo, irregular e absurdo no nosso regime parlamentar. Outroraos partidos excluiam-se em massa e alteraadamente da repre-sentação nacional, cada vez que eram chamados ao poder. Hojeuma fração de partido exclui em massa não só o partido contrá-rio, como a outra fração do seu próprio partido, e designada-mente os cidadãos que incorrem em seu desagrado.

Há poucos anos, numa situação francamente liberal, os mi-nistjérios não eram compostos dos cidadãos indicados pela con-fiança dos seus correligionários políticos, mas daqueles que, nãotendo outro fito senão o poder, eram matéria disposta para aformação de partidos oficiais. Fato análogo revelou-se com a úl-tima dissolução da câmara dos deputado?

5

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Dá-se deste modo uma luta intestina no seio dos própriospartidos, que lhes exaure a seiva e os desmoraliza .

Esta política de partidos oficiais assenta no fato de seremas eleições produto meramente oficial. Os candidatos não sepreocupam com os eleitores, mas com o governo, cujas boas gra-ças solicitam e imploram. Ser candidato do governo é o anelode todo o indivíduo que almeja um assento no parlamento; pro-clamar-se, e ser reconhecido como tal, é o seu primeiro e prin-cipal cuidado. Ninguém se diz candidato dos eleitores, do comér-cio, da lavoura, desta ou daquela aspiração nacional; mas do go-verno.

Os solicitadores se acotovelam nas ante-salas dos ministrose presidentes de província, e abandonam os comícios populares;naquelas e não nestes pleiteara as candidaturas. Tudo tornou-se artificial nas eleições. O mais desconhecido cidadão nomea-do presidente de província constitui-se logo, e por este simplesfato, o único poder eleitoral da província a que preside. O minis-tro do Império, seja o mais nulo dos políticos do seu partido, faze desfaz deputados a seu talente desde o Alto Amazonas atéMato Grosso com uma simples carta de recomendação. O quese observa nas altas regiões políticas reproduz-se nos colégiose freguesias eleitorais.

O presidente de província resolve constituir F. chefe do par-tido em tal localidade para dirigir a eleição no sentido do go-verno. F. é nomeado para algum posto da guarda nacional, oucondecorado com uma distinção honorífica. Por sua indicação eintermédio fazem-se as nomeações de polícia, e atendem-se àspequenas pretensões locais. Recebe assim a sagração de chefede partido no lugar; faz a eleição, e o colégio inteiro vota como governo, nemine discrepante. No Norte do Império, segundoparece, os meios, em regra geral, são mais sumários, enérgicose eficazes; destacamentos de tropa de linha, da guarda nacionalou da polícia fazem, a sabor do presidente da província, os maisdóceis e arregimentados eleitores.

Se todos estes meios falham, resta ainda o último recursodas duplicatas e eleições falsas, cuja aprovação obtém o gover-no da complacência dos amigos na câmara dos deputados.

Com tais eleições, os candidatos nada têm que fazer nosdistritos perante eleitores que não representam senão o elementooficial que lhes deu o ser. A questão decide-se com o governo,e uma vez proferida por este a última palavra, cessa a luta,ficando em campo unicamente os candidatos governistas, de or-

dinário os amigos pessoais dos ministros: as urnas consagramsempre o acerto da escolha. Se algum candidato recalcitra con-tra a preferência do governo, nem por isso o resultado da eleiçãoé diferente. É necessário que o ministério tenha atingido a ele-vado grau de desprestígio, e chocado o espírito público poratos reiterados de prepotência e desvios de todas as regras cons-titucionais, para ver contrariadas as suas ordens e vencidos al-guns dos candidatos oficiais.

Em suma das mais importantes províncias do Norte um can-didato terminava sua circular aos eleitores com estas palavras:"Na quadra atual, no ministério e nos mais cargos importantesnão diviso senão amigos, entre os quais não posso deixar de dis-tinguir o grande homem da situação, o eminente estadista, vis-conde do Rio Branco, atual presidente do conselho, que nãofaz segredo de que pela eleição de um amigo antigo e compa-nheiro de banco, de cerca de 20 anos, na câmara dos depu-tados, toma todo o interesse e faz o maior empenho compatívelcora a elevada posição que tão dignamente ocupa", O

Os amigos das reminiscências históricas se hão de lembrarque no célebre ministério Pitt na Inglaterra, remando Jorge III,os candidatos, depois da dissolução da câmara dos comuns, hos-til àquele ministério, sustentado apenas pela influência da Coroa,não tomaram outro compromisso perante os eleitores senãoapoiar o escolhido do rei, direta e vivamente empenhado naaprovação do seu ato de ditadura constitucional. Um conhecidohistoriador observa que se então já se tivessem efetuado as re-formas eleitorais introduzidas mais tarde na Inglaterra, poderiater acontecido {como na verdade aconteceu depois) que a nação,reelegendo os deputados dissolvidos, obrigasse o governo a en-trar nos eixos constitucionais.

É característico o fato que se deu ultimamente na provín-cia do Piauí. Os três deputados desta província, tendo apoiadoo governo na sessão de 1871, contra ele se pronunciaram emmaio deste ano. Teriam ou não procedido bem? Teriam ou nãocorrespondido às intenções e sentimentos dos seus constituin-tes? O centro ou grémio do partido reuniu-se na capital da pro-

(1) Circular do Sr. Augusto Frederico de Oliveira impressa noDiário de Pernambuco de 6 de setembro de 1872. As palavras do can-didato, como é sabido, não foram confirmadas oficialmente e os eleitoresnão lhes deram crédito. Outro candidato, neste mesmo número do Diáriode Pernambuco, publicou a seguinte lacónica circular: "Pela segundavez, e ainda por acordo com o chefe do partido conservador (scilicer como governo), animo-me a solicitar um lugar na representação nacional".

Administrador
nota
A observação a mais superficial revela quanto há de anómalo, irregular e absurdo no nosso regime parlamentar. Outrora os partidos excluiam-se em massa e alteraadamente da representação nacional, cada vez que eram chamados ao poder. Hoje uma fração de partido exclui em massa não só o partido contrário, como a outra fração do seu próprio partido, e designadamente os cidadãos que incorrem em seu desagrado. Há poucos anos, numa situação francamente liberal, os ministjérios não eram compostos dos cidadãos indicados pela confiança dos seus correligionários políticos, mas daqueles que, não tendo outro fito senão o poder, eram matéria disposta para a formação de partidos oficiais. Fato análogo revelou-se com a última dissolução da câmara dos deputado? 5 Dá-se deste modo uma luta intestina no seio dos próprios partidos, que lhes exaure a seiva e os desmoraliza . Esta política de partidos oficiais assenta no fato de serem as eleições produto meramente oficial. Os candidatos não se preocupam com os eleitores, mas com o governo, cujas boas graças solicitam e imploram. Ser candidato do governo é o anelo de todo o indivíduo que almeja um assento no parlamento; proclamar- se, e ser reconhecido como tal, é o seu primeiro e principal cuidado. Ninguém se diz candidato dos eleitores, do comércio, da lavoura, desta ou daquela aspiração nacional; mas do governo. Os solicitadores se acotovelam nas ante-salas dos ministros e presidentes de província, e abandonam os comícios populares; naquelas e não nestes pleiteara as candidaturas. Tudo tornouse artificial nas eleições. O mais desconhecido cidadão nomeado presidente de província constitui-se logo, e por este simples fato, o único poder eleitoral da província a que preside. O ministro do Império, seja o mais nulo dos políticos do seu partido, faz e desfaz deputados a seu talente desde o Alto Amazonas até Mato Grosso com uma simples carta de recomendação. O que se observa nas altas regiões políticas reproduz-se nos colégios e freguesias eleitorais. O
Administrador
nota
O presidente de província resolve constituir F. chefe do partido em tal localidade para dirigir a eleição no sentido do governo. F. é nomeado para algum posto da guarda nacional, ou condecorado com uma distinção honorífica. Por sua indicação e intermédio fazem-se as nomeações de polícia, e atendem-se às pequenas pretensões locais. Recebe assim a sagração de chefe de partido no lugar; faz a eleição, e o colégio inteiro vota com o governo, nemine discrepante. No Norte do Império, segundo parece, os meios, em regra geral, são mais sumários, enérgicos e eficazes; destacamentos de tropa de linha, da guarda nacional ou da polícia fazem, a sabor do presidente da província, os mais dóceis e arregimentados eleitores. Se todos estes meios falham, resta ainda o último recurso das duplicatas e eleições falsas, cuja aprovação obtém o governo da complacência dos amigos na câmara dos deputados.
Administrador
nota
Com tais eleições, os candidatos nada têm que fazer nos distritos perante eleitores que não representam senão o elemento oficial que lhes deu o ser. A questão decide-se com o governo, e uma vez proferida por este a última palavra, cessa a luta, ficando em campo unicamente os candidatos governistas, de ordinário os amigos pessoais dos ministros: as urnas consagram sempre o acerto da escolha. Se algum candidato recalcitra contra a preferência do governo, nem por isso o resultado da eleição é diferente. É necessário que o ministério tenha atingido a elevado grau de desprestígio, e chocado o espírito público por atos reiterados de prepotência e desvios de todas as regras constitucionais, para ver contrariadas as suas ordens e vencidos alguns dos candidatos oficiais. Em suma das mais importantes províncias do Norte um candidato terminava sua circular aos eleitores com estas palavras: "Na quadra atual, no ministério e nos mais cargos importantes não diviso senão amigos, entre os quais não posso deixar de distinguir o grande homem da situação, o eminente estadista, visconde do Rio Branco, atual presidente do conselho, que não faz segredo de que pela eleição de um amigo antigo e companheiro de banco, de cerca de 20 anos, na câmara dos deputados, toma todo o interesse e faz o maior empenho compatível cora a elevada posição que tão dignamente ocupa",
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víncia para deliberar sobre a reeleição. Não queremos desmaiaras cores do painel, que tão fielmente retrata a nossa políticaeleitoral; transcreveremos as razões apresentadas e aceitas parajustificar o repúdio dessas candidaturas.

"Postas em discussão as candidaturas dos três deputadosacima referidos (Drs. Coelho, Enéas e Saües) falou em primeirolugar sobre elas o Sr. Dr. Simplicio, o qual disse que conquantofosse muito digna e honrosa a posição hostil ao gabinete queassumiram na câmara aqueles ex-representantes da província,visto como o que os levou a negar apoio ao atual ministério foia recusa deste a satisfazer necessidades vitais e urgentes do par-tido conservador do Piauí e da província, a tomar medidas efi-cazes que reclamavam os interesses mais sagrados do mesmopartido e província, não era, todavia, prudente nem convenienteserem aceitas as candidaturas dos mesmos senhores, por maio-res que fossem as simpatias que lhes votava o partido, por maio-res que fossem as dedicações que lhes consagrassem os conser-vadores do Piauí, pela razão de que tendo eles definitivamentevotado contra o atual gabinete e perdido assim a confiança deste,não podiam de forma alguma ser elas simpáticas ao dito gabi-nete, o qual, ao contrário, era natural que as considerasse co-mo uma provocação direta, como o sinal de uma luta, que, semprobabilidade de bom êxito, traria em resultado o aniquilamen-to total do partido (que não tem forças bastantes para vencero governo e os adversários comuns) em proveito do partido libe-ral, que ficaria pela consequência inevitável dos fatos senhor dopleito e de todas as posições oficiais. Abundando em outras con-siderações tendentes a demonstrar estes resultados, concluiu oSr. presidente dizendo que o partido conservador devia resignar-se a este penoso e cruel sacrifício em atenção a conveniênciasfuturas de ordem mui elevada, e que confiava bastante na abne-gação, bom-senso e civismo daqueles três dignos ex-represen-tantes do Piauí, para supor que eles, fazendo justiça aos senti-mentos e estima que lhes consagram os seus correligionários ecomprovincianos, aguardariam satisfeitos a ocasião oportuna devoltar ao parlamento como deputado por esta província."

Os dignos ex-deputados tinham sem dúvida correspondidoàs intenções e sentimentos de seus constituintes, segundo alta-mente se proclamou perante a província; como, porém, elegê-losse haviam perdido a confiança do governo? A confiança do go-verno e não a dos eleitores devem procurar os candidatos àdeputação. Tal é a teoria que o instituto de conservação inspirouaos membros do grémio da remota província do Piauí, na qualaliás se refletem as cenas da nossa política em matéria eleitoral.

Nas últimas e multiplicadas eleições da província do Rio deJaneiro para senadores e deputados, o governo, ora demitindodos cargos públicos locais os conservadores e nomeando os libe-rais (2), ora demitindo estes e reitegrando aqueles, ia obtendo deuns e de outros votações para os seus candidatos, conforme vej>-cia a eleição primária esta ou aquela parcialidade. Se aconteciavencerem os demitidos a eleição primária, eram eles logo rein-tegrados nos cargos, dos quais há pouco tinham sido demitidosa bem do serviço público, isto é, das eleições, e davam em trocoos seus votos ao mesmo governo, que antes os perseguira e lhesdificultara o pleito eleitoral. Outra eleição, porém, aproximava-se, e, segundo observou com verdadeira sagacidade o grémio doPiauí, "não convém ter contrários ao mesmo tempo o governoe os adversários locais".

Demais, uma revendita, uma desfeita contra os adversáriosda localidade tem um sabor a que não é possível resistir, aindamesmo beijando a mão que há pouco inflingiu a afronta. Comosuportar os contrários nas posições oficiais quando o partidoestá fora do governo, e ainda mais quando no governo?

Se a despeito de tudo, algum candidato oposicionista conse-gue ser eleito, a derrota do governo é transformada em argu-mento a seu favor, como prova de imparcialidade na eleição.Desta hipocrisia se está usando agora em larga escala para dis-farçar a mais considerável derrota que até hoje sofreu um mi-nistério depois de haver dissolvido a câmara dos deputados. Seo sistema parlamentar funcionasse com regularidade, nem a dis-solução ter-se-ia dado com os frívolos pretextos que se imagina-ram para explicá-la, nem, caso fosse decretada, o governo pode-ria contar maioria na câmara reeleita.

Ao abrir-se em maio a sessão deste ano, a situação da Câma-ra era mui clara e definida. O ministério havia sustentado noano anterior uma luta vigorosa, na qual conseguira afinal seuintento. A oposição não impugnara unicamente a solução pro-posta à questão servil, mas revoltara-se principalmente contrao procedimento do governo na apresentação, discussão e direçãode tão importante reforma. Se a questão servil estava vencidacom a votação do projeto, ficavam não só os vestígios de umaluta veemente, como permaneciam as mais graves e fundadasacusações contra o gabinete. Restabelecer a confiança em mi-nistros que tudo haviam praticado para aliená-la era, no terre-

(2) Só no município de Cantagalo_ com quatro freguesias, foramüadas em um dia 26 nomeações e demissões.

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no da política, impossível, e no da moral, pouco decoroso, àvista da exacerbação do ano anterior, para a qual o próprio mi-nistério fornecera todos os motivos e estímulos.

Encontrara ele uma câmara unânime, mas os membros dealgumas deputações estremecidos por divergências peculiares desuas províncias. O gabinete de 16 de julho querendo manter aunião entre os conservadores, procurara remover as causas semtomar partido a favor de nenhum dos lados queixosos. Era, pois,de esperar algum arrefecimento nessas deputações. O ministé-rio de 7 de março encarou a situação por outra face e levantoua divisa política: "quem não é por mim é contra mim."

O órgão do governo nos entrelinhados do Jornal do Commér-cio, neste particular, foi de uma clareza absoluta; para o quemuito concorreram os "sentimentos individuais do escritor minis-terial, deputado por S. Paulo, em franco antagonismo pessoalcom parte dos seus colegas de deputação. Dividir a Câmara emdois campos opostos, acentuar e aprofundar a divisão, arredandodo poder um dos lados, a fim de garantir a dedicação plena eilimitada do outro, tal foi o plano do gabinete. A ausência doImperador, as dificuldades naturais de nova organização minis-terial na pendência da solução servil as revelações do presiden-te do conselho que se ostentava impotente e insuprível, ausenteo promotor e iniciador da reforma, como então se apregoava, tu-do contribuía para manter aquela dedicação, que no correr dasessão deu, entretanto, frequentes mostras de fictícia e constran-gida, apenas sustentada pelo ardor da luta e pundonor das posi-ções definidas.

Finda a sessão, a política do gabinete não sofreu alteração:os oposicionistas conservadores foram tratados no pé de adver-sários políticos encarniçados; completamente arredados do go-verno, que não desprezou meios de magoá-los com demissõesde meros cargos honoríficos e todos os largos recursos adminis-trativos. Era manifesto ao abrir-se a sessão do ano corrente que,dos quarenta e tantos deputados oposicionistas do ano anterior,um só não passaria para o governo. Isto se realizou sem discre-pância de um voto, apesar de resolvida a questão servil e modi-ficado duas vezes o ministério, provando a justiça da nossa apre-ciação quanto aos sentimentos e deveres dos deputados oposi-cionistas. Por outro lado, dos 62 governistas do ano anterior, viao governo afastarem-se muitos que se iam alistar na oposição.

A situação era, pois, insustentável se não conseguisse abalaras fileiras contrárias, angariando votos que suprissem os perdi-dos.

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Patenteada esta situação, o governo arvorou, depois de 20 deabril, a política do congraçamento do partido. O partido, porém,não estava fracionado, nem eram hostis os dois lados da Câma-ra. Exceto algumas queixas pessoais, a câmara só estava divi-dida no modo de encarar o gabinete, sendo parte governista eparte oposicionista. Retirado o ministério, o motivo único de di-vergência desapareceria e da câmara unânime podia sair novogabinete sem distinção de governistas ou oposicionistas, cujarazão de ser ter-se-ia desvanecido, removida a causa da dissen-ção.

Na justificação do seu procedimento o ministério afir-mou (s) que o pundonor impediria os dois lados da câmara dese unirem, se ele se retirasse. A inexatidão desta apreciação pa-tente aos olhos dos deputados, deveria ser também aos do pú-blico, que via a dissidência em minoria no ano anterior, cres-cer de cerca de 20 novos votos, sem distinção de oposicionistasdo primeiro ou do segundo ano. Além disto, os deputados aindafiéis ao ministério não lhe estavam enfeudados de modo a nega-rem apoio a outro gabinete conservador que se organizasse. Ocongraçamento do partido que o ministério aparentava promo-ver, quando viu faltar-lhe maioria reduzia-se, pois, unicamenteaos esforços (realmente sinceros) de angariar os votos da oposi-ção em benefício da continuação das pessoas dos ministros àfrente de suas repartições. De outro congraçamento não tratavao gabinete, como demonstrou o fato da dissolução da câmara, exa-tamente o mais capaz de produzir uma profunda cisão no seiodo partido pela luta desigual e acrimoniosa que ia abrir em todoo Império contra a maioria em favor da minoria.

Achando-se a câmara no último ano da legislatura, épocacm que o poderio dos ministérios cresce pela aproximação daeleição, e refletindo-se no afã, nunca talvez presenciado até en-tão, com que o ministério procurava aliciar votos e atrair osdeputados tentando-os um por um, parecia impossível não con-seguir a final maioria. A câmara, porém, estava firme na con-vicção de ser indispensável a retirada do gabinete que, tendoperdido a confiança parlamentar, lançava mão de todos os meiospara manter-se no poder, sacrificando e desunindo cada vezmais o partido.

No dia 16 de maio, ao abrir-se a sessão foi apresentada amoção de confiança, contando a oposição cerca de 16 votos so-bre o governo. Depois de discursos exageradamente protelató-rios dos ministros, recorreram eles ao tristíssimo expediente de

(3) Circular do presidente do conselho de 28 de Maio.

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ler relatórios para absorver o tempo da sessão até às 5 horasda tarde: caso virgem nos anais do parlamento! Nos dias se-guintes evitaram-se as sessões, e, espalhado o boato da dissolu-ção da Câmara, criado sem mais contestação, à vista de fatos sig-nificativos (5), redobrou o governo de esforços para obter votos,conseguindo quase igualar o número dos oposicionistas, esta-cinário desde o dia 16. Neste com menos alguns deputados apor-taram a esta cidade decididos oposicionistas, e entraram na Câ-mara para votar no dia 21, governistas ainda mais decididos.

Se o governo possuia o decreto de dissolução, deveria tê-loapresentado logo, poupando este espetáculo à nação, ou retirar-se se o não possuia. Foi crença geral ter sido a ameaça da disso-lução concedida justamente com o fim de ajeitar-se maioria, es-perança alimentada com a iminência deste remédio heróico. Sen-do ponto assentado a continuação do ministério, era sem dúvi-da preferível esta aparência de legalidade constitucional (a nãose ter em conta a corrupção dos caráteres) ao expediente graveda dissolução.

A dissolução da câmara fez reviver a política do gabinetede 31 de Agosto de 1866 ao encerrar-se o parlamento nesse ano,último da legislatura, tendo tido o governo dois ou três votosde maioria: uma fração do partido dominante ia ser armada detodos os poderosos meios governativos para arredar a outra fra-ção de sua legítima participação no governo; tanto porém quan-to bastasse para não esmagá-la de todo, fazendo-a desaparecer,e surgir então um partido novamente unido, na câmara ao me-nos. O gabinete aconselhando esta política à Coroa, apresentou-aintervindo na direção dos partidos de um modo palpável e con-trário à sua missão constitucional.

Não é lícito supor a política dirigida pela lei do acaso.Vendo-se lançar mão de meios que conduzem a um fim conhe-cido, é natural acreditar que justamente se teve em vista essefim. Um notável historiador expõe do seguinte modo as opiniõese intenções de Jorge III da Inglaterra sobre os partidos políti-cos: (••)

"Por outro motivo ainda, lord Chatham era agradável ao rei.Ambos estavam de acordo, conquanto por motivos diferentes, so-

(4) Taís como a recomposição do ministério durante a crise, entran-do os Srs. Junqueira e J. Delfino, e a convocação do conselho de estadopleno para ser consultado sobre a dissolução antes de estabelecer-se le-galmente o conflito entre a câmara e o gabinete.

(5) E. May, Hist. Const. de Inglaterra, cap. I.

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bre a conveniência de romper as ligações dos partidos. Era aideia fixa do rei, e ele a seguia com infatigável constância. Es-crevendo a lord Chatham, dizia: "Sei que o conde de Chathamprestar-me-á ardentemente o seu concurso para destruir todas asdistinções dos partidos e restabelecer essa subordinação paracom o governo, a qual unicamente pode obstar que o inestimá-vel benefício da liberdade degenere em licença". . . Por esta po-lítica (continua o historiador) o rei esperava alcançar o seu fimpredileto: aumentar sua influência pessoal. Triunfar da ligawhig, era tornar a colocar no governo os amigos de lord Bute eo partido da corte, que" era submisso à vontade deste. Lord Cha-tham adotava a política do rei com intenções bem diferentes. . .Desorganizando os partidos, contava deminá-los todos. O seuprojeto, porém, malogrou-se... Muito tarde descobriu que o reiera mais sagaz e que, enquanto o seu próprio poder e seu pontode apoio no parlamento desvanecia-se, o partido da corte ({i)adquiria um ascendente perigoso. Os partidos estavam desorga-nizados e a influência real triunfava. Os chefes de partido ti-nham sido reduzidos à insignificância enquanto o rei dirigia osnegócios públicos à vontade."

Nas condições em que se acham os deputados entre nós,dependendo sua reeleição e toda a sua carreira política do go-verno e possuindo este os recursos mais vastos de corrupçãoparlamentar, é fato significativo uma maioria oposicionista, emais ainda, atendendo-se que não havia na câmara um só depu-tado liberal, isto é, um só membro sistematicamente contrárioao governo por divergência partidária. A regra até hoje predo-minante é organizarem-se e dissolverem-se os gabinetes sem oinfluxo da opinião parlamentar. A câmara dos deputados assu-mia uma vez e dignamente os seus direitos constitucionais re-cusando confiança ao ministério. A dissolução veio punir esteato de altivez, ou rebeldia, para arrancar do país uma manifes-tação favorável a um ministério hostilizado pelo partido liberalinteiro e por grande, senão a máxima parte, do partido conser-vador.

Na eleição de 1868, achando-se o partido conservador uni-do e tomando o poder no meio do entusiasmo geral, era natural(afora uma ou outra exceção) que tivessem vindo para a câmaraos membros mais autorizados do partido, os que mais se haviamdistinguido na oposição por seus talentos, serviços e dedicação.O apelo desta câmara, representante natural do partido, signi-ficava, pois, que o governo, prevalecendo-se da defeituosíssima

(6) No Brasil diríamos: o partido oficial.

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legislação eleitoral, ia escolher entre os conservadores unica-mente aqueles que o apoiavam para compor a câmara dos depu-tados.

O ministério alegava em seu favor a confiança da Corte e oapoio das sumidades do partido no Senado. Sem negar a influên-cia que pertence aos senadores, é claro que não podem eles, oumelhor, alguns deles, impor nomes para ministros e indicar adireção política dos partidos. Acastelados numa corporação vi:talícia, tornar-se-iam em oligarquia no dia em que o fizessem.Quanto à confiança da Coroa, nenhum ministério a pode invocarperante as câmaras e a Nação. Todos os ministérios, enquanto àfrente dos negócios, a possuem ou presume-se possuirem-na. Seconstituísse um fato especial para com o gabinete de 7 de mar-ço, a Coroa teria saído da posição imparcial e constitucional demantenedora do equilíbrio entre os poderes; teríamos, em talcaso, a confissão plena da desarmonia que se argüe à organi-zação política do Império, pela preponderância absorvente deum dos poderes constitucionais.

A Coroa pode apelar para a nação da política da câmara emfavor da do ministério; mas, no conflito do dia 21 de maio, ne-nhum princípio político estava em questão, e sim a confiançaem um gabinete que a maioria da câmara entendia prejudicara seu partido e cavar-lhe a ruína pela divisão e desarmonia. Oministério, como representante do partido conservador, não ins-pirava confiança à câmara conservadora. Tinha a Coroa o direi-to de impô-lo a este partido? Não se provocava o pronunciamen-to da Nação sobre a política conservadora ou liberal, ou sobreum princípio qualquer proposto pelo ministério e rejeitado pe-la câmara. A Coroa insistia unicamente pela conservação pessoaldo gabinete, quando, nestes termos, sua confiança deve inspi-rar-se na da câmara. A missão constitucional do poder modera-dor repele qualquer intervenção e ingerência na economia dospartidos, nas suas adesões e repugnâncias individuais.

O sistema eleitoral, com tanta razão acusado de favoreceros partidos oficiais, prepara-se agora para ser levado à últimaperfeição. Conservando-se tal qual, com alguns retoques, que

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apenas modificarão as fórmulas e manterão a essência, isto ó, apreponderância exclusiva do governo, imagina-se enxertar nelemeios para a representação da minoria (T). O leitor verá quesomos partidários deste princípio. Como querem, porém, esta-belecê-lo, remata-se o já aperfeiçoado mecanismo das situaçõesartificiais, cuja mola real continuará nas mesms mãos. Funcio-nando a máquina eleitoral com este complemento, virá semprepara a câmara uma maioria à feição do ministério da confiançaimperial, e uma minoria do partido oposto.

Nesta residirá a reserva para as evoluções nos momentosprecisos. Ao menor conflito, ou desagrado, tira-se um ministé-rio da minoria e dissolve-se a câmara. Na câmara novamenteeleita, a maioria será do partido do novo ministério, e a mino-ria da oposição. Ainda outra mutação de cena, e voltaremos àsprimeiras posições: tira-se o ministério da minoria, dissolve-sea câmara, elege-se outra com maioria para o governo. Manten-do-se o incomparável sistema eleitoral que permite estes resul-tados certos, assegura-se para sempre em todos os casos essasubordinação constante para com os governos, a qual unicamen-te pode obstar que o inestimável benefício da liberdade degene-re em licença. A maioria das câmaras continuará a ser liberal,conservadora, progressista, ligeira, deste ou daquele ministério,segundo o impulso e as exigências da ocasião.

"De todos os instrumentos engenhosos do despotismo, diziaSidney Smith, (8) recomendo, sobretudo, uma assembleia popu-lar, cuja maioria seja paga e comprada, e onde alguns homenshonrados e distintos venham, por seus ousados discursos, per-suadir ao povo que ele é livre."

Se o autor destas palavras tivesse visitado o Brasil em épo-ca posterior à sua viagem, modificando a frase maioria compra-da, teria retratado o ideal do sistema constitucional como aquise realiza.

(7) Qual seja o meio de assegurar a representação da minoria nãodiz o relatório do Sr. ministro do Império. Não é fácil compreender oque pretendem significar as palavras: "representação proporcionada aosnúmeros": Submetemos este trecho do relatório ao leitor, que poderá re-putar-se feliz se o destrinchar: "Nele (no projeto que promete apresentarsobre a reforma das leis eleitorais) consagrarei também o princípio darepresentação das minorias, ou da representação proporcionada aos núme-ros, convencido de que ele é uma exigência da justiça social, e uma ne-cessidade política."

(8) Memórias, II, pág. 214.

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PRIMEIRA PARTE

AS ELEIÇÕES NA ATUALIDADE

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CAPÍTULO I

Estado da Questão

Falar hoje da necessidade de reforma eleitoral entre nós,é repetir uma trivialidade, proclamar o que todos sabem, expri-mir o que todos sentem.

Não há no Brasil um só homem por menos que reflita sobreas coisas públicas que desconheça os defeitos gravíssimos donosso sistema de eleições, e não aspire ver mudado um estado decoisas, cuja perniciosa influência sobre nossas instituições émanifesta.

As falas do trono na abertura das câmaras, os relatórios dosministros, os discursos parlamentares, os escritos políticos têmtornado desde longos anos um lugar comum a necessidade da re-forma eleitoral. E o que mais é, no dia seguinte ao de qualquerdas que temos realizado no atual regime, o mal-estar continua,novos defeitos aparecem, os antigos se agravam, e a urgênciade reforma mais completa afigura-se a todos cada vez maisimprescindível para a marcha regular do mecanismo político.

Na verdade, não há na política brasileira quem esteja satis-feito, quem se ache bem. A máxima parte dos votantes da eleiçãoprimária não tem consciência do direito que exercem, não vão àurna sem solicitação, ou, o que é pior, sem constrangimento oupaga. Os que estão no caso de compreender esse direito nãoligam valor aos seus votos perdidos na imensidade dos primeiros,nem dão importância ao seu resultado, isto é, à eleição do inter-mediário que há de eleger, por sua própria inspiração, o depu-tado, ou propor os nomes para senador. O eleitor, entidade tran-sitória, dependente da massa ignorante que o elege com o auxíliodas autoridades, do dinheiro, da fraude, da ameaça, da intimida-ção, da violência, não tem força própria para resistir a qualquerdos elementos a que deve seu poder passageiro, cuja instabili-dade é ele o primeiro a reconhecer. O deputado, vendo-se entreo eleitorado dependente do governo para manter-se no posto, e o

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Não há no Brasil um só homem por menos que reflita sobre as coisas públicas que desconheça os defeitos gravíssimos do nosso sistema de eleições, e não aspire ver mudado um estado de coisas, cuja perniciosa influência sobre nossas instituições é manifesta. As falas do trono na abertura das câmaras, os relatórios dos ministros, os discursos parlamentares, os escritos políticos têm tornado desde longos anos um lugar comum a necessidade da reforma eleitoral.
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governo, que é afinal quem dá ou tira o diploma de eleitor, vivesujeito a ambos sem poder satisfazer a nem um. Não traz aogoverno o prestígio do verdadeiro eleito da nação, forte pela se-gurança de representar eleitores certos, conhecidos, com cujaopinião e simpatia se acha identificado. Também não conseguetornar-se para os eleitores procurador bastante feliz das milpretensões, já individuais, já coletivas dos diversos grupos, de-sejosos todos de conservarem-se nas posições adquiridas pêlosmeios oficiais. Desgostosos os eleitores do mau procurador, odeputado torna-se insuportável para o governo, sobre o qual nãopode sacar indefinidamente, atendendo a todas as exigências epequenas frivolidades que entram por muito na vida de aldeiae sustentam as cabalas eleitorais.

O deputado, juiz do governo, vem, pois, a tornar-se ou de-pendente, se ministrial, ou despeitado, se oposicionista. Quandoreage contra tão aviltante papel, e pretende conciliar as conve-niências de partidário com os deveres parlamentares, corre orisco, ou antes tem a certeza, de desagradar às influências, ordi-nariamente fatícias, e em todo o caso vacilantes, que o elegeram,e que, por sua vez, precisam ser sustentadas. Pesa-lhes, portanto,a independência de deputado, que só lhes traz embaraços, e aeventualidade de triunfo para o adversário do campanário, ques-tão esta de tal magnitude no lugar que com ela nenhuma outrase compara.

Aqui no Brasil, mais do que já se tem sentido em outrospaíses, o eleitor não avalia a importância e o merecimento doseu representante pêlos triunfos na tribuna, mas pelo númerode conquistas nas secretarias e ante-salas dos ministros.

Formado de tais elementos, qual o valor de um ministério,que enfaticamente se diz saído da maioria das câmaras, quetambém pretendem representar o país? Entidades sem forçapara com o poder moderador, que conhece-lhes os elementos dasmaiorias parlamentares, os ministérios, organizados fora do in-fluxo dos partidos, vivem isolados deles, transigindo com os gru-pos parlamentares, até que o tédio quando dele são seus mem-bros sucetíveis) ou alguma discórdia intestina, força-os a reti-rarem-se, ficando assim os ministros livres de uma meada decompromissos que já não podem deslindar.

Por outro lado, nenhuma maioria pode dizer-se unida eestável, ou forte uma minoria. As grandes teses políticas, de or-dinário, apenas encobrem os despeitos ou as afeições pessoais.Como a administração superior se envolve cm tudo, o gabinete épor tudo responsável. Um presidente de província que se man-

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têm, um juiz de direito que não se remove, algumas patentes deguarda nacional que não se concedem, mudam grupos inteiros nacâmara da direita para a esquerda, sem que o país possa dar fédas modificações políticas que por acaso se realizaram no seiodo gabinete.

No meio de toda esta fraqueza e instabilidade dos homense das coisas, um só poder tem força, enquanto a máquina funcio-nar. Infelizmente não há governo, não há sistema político quepossa ter duração e contar com o dia de amanhã quando a socie-dade não repousa em base sólida.

A Coroa aceita, ou não aceita a demissão de um gabinete,nomeia outro, dissolve câmaras, exerce, em suma, todas as atri-buições legais que lhe confere a constituição, sem que a maisleve sombra de contraste ou resistência lhe indique se procedeuacertada e oportunamente. A nação nunca muda de política, nun-ca deseja espontaneamente e por seu próprio impulso passar deum governo, ou partido para outro; dos farrapos, chimangosou luzias para os saquaremas; dos conservadores para os liberais,progressistas ou ligeiros. Só à Coroa é dado saber quando é che-gada a hora precisa (que coisa alguma tem antes indicado) depermitir ou ordenar que uma mudança em tal sentido se realize;e por tal modo acerta, sem discrepância de um átomo, que ja-mais a nação opõe a mais leve resistência.

Numa sociedade política bem constituída, a opinião pú-blica dirige o governo; mas nem o governo deve ser o joguete daspaixões populares, inflamáveis, irrefletidas e muitas vezes bru-tais, nem a nação deve humilhada e cabisbaixa só mover-se aoaceno do governo. Governo e governados devem reciprocamenteinfluir um sobre os outros, de modo que, nem as impressões dasmassas grosseiras predominem e arrastem o governo, como acon-tece na demagogia, nem os governados se destinem ao avilta-mento da obediência passiva, como no despotismo.

A consequência natural e forçada da nossa situação é aimpossibilidade de formarem-se verdadeiros partidos políticos,tais como são necessários para o jogo regular do sistema. Ne-nhum princípio, nenhuma doutrina ou ideia pode radicar-se noPaís e ganhar força para impor-se ao parlamento por suas ade-sões na sociedade; nenhum homem pode constituir-se o que noregime constitucional se chama chefe de partido, pois que nempartidas regulares existem com princípios definidos e discrimi-nados que os legitimem. Por si ou por seu próprio mérito, no-nhum homem político pode contar com um numeroso grupo de

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concidadãos que o auxiliem na realização dos princípios de suaescola política. A nação inteira se enerva e gasta numa luta es-terilizadora para os homens e para as ideias.

Sair de tal situação, firmar a verdade de sistema parlamen-tar é o anelo de todo bom cidadão. E como esta forma de go-verno repousa na eleição, naturalmente para ela se volvem to-das as vistas.

Chegadas a esta convicção, em duas grandes classes se divi-dem as opiniões. Observando as tentativas que temos feito, aslutas que se tem travado no parlamento, a improficuidade detodas as medidas legislativas, se deixam uns apoderar de desâ-nimo, justificado pelo aforismo; vance leges sine moribus. Tudoesperam outros da lei; a lei é a fonte de todo o bem, ou de todoo mal social. Se o Brasil ainda não igualou ou excedeu os Esta-dos Unidos da América do Norte qual a causa senão a diversi-dade da forma de governo? A depública, só por sua influênciamágica, nos daria todas as virtudes que nos faltam e dissipariaos vícios e defeitos de que sofremos.

A primeira opinião não é menos errónea que a segunda.Eduquemos, moralizemos o povo e as leis tornar-se-ão boas. Mascomo educar, como moralizar o povo? Será resultado este quedeva provir espontâneo da força ingênita da natureza, como agerminação das sementes ou a florescência das árvores? Cum-pre ao legislador estabelecer leis que desenvolvam e fortaleçamos costumes políticos, e remover as causas do seu viciamento.

Para os radicais (como vão aparecendo entre nós) é excusadofalar em leis eleitorais; o mal reside na forma de governo quese opõe a todo o melhoramento real e a todas as liberdades.Quanto a nós, há nisto completa ilusão, pois dá-se como provadoo que cumpre demonstrar. Não duvidaríamos acompanhá-los, senos pudessem provar que qualquer melhoramento social, qual-quer progresso material, moral ou político, qualquer das liber-dades reais é incompatível com a forma de governo monárquico.Se vivêssemos sob o governo republicano, com as desejáveis ga-rantias de estabilidade e aperfeiçoamento social que a Constitui-ção nos oferece na monarquia constitucional, não quereríamospassar a outra forma de governo, como não queremos deixar aatual, que reputamos capaz de preencher os fins da sociedadepolítica.

Deixados, portanto, estes irreconciliáveis em tudo e portudo, na questão da reforma eleitoral também nós somos radicais.Do que existe coisa alguma pode ser conservada. É preciso fazer

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tábua rasa e começar de novo. É preciso pôr a baixo todo oedifício existente, carcomido e podre e principiar outro desdeos alicerces.

Todos conhecem os males; conhecer-lhes, porém, as causasnem a todos é dado, pois nem todos os cidadãos se entregam àsinvestigações políticas. É indispensável conhecer os males, suascausas, as tentativas e experiências feitas, os remédios lembradose quais os mais adequados. Não proporemos experiências de me-didas ainda nunca experimentadas; anulemos o que temos demau e acomodemos aos nossos costumes e condições sociais asleis gerais que já de tempo remoto regem este assunto em to-das as sociedades civilizadas. A Inglaterra desde o século XIVhavia .independentemente de teorias filosóficas, hoje tão emmoda, achado as grandes bases da representação nacional. (1)

Para o legislador o estado dos espíritos e da opinião pú-blica é condição indispensável para qualquer reforma nas ins-tituições. Por mais firme e robusta que seja sua convicção sobreum objeto qualquer, o estadista prudente não o traduzirá em leise a opinião pública não reclamar a medida e não estiver dispostaa aceitá-la. No caso contrário seria seu dever ilustrar o público,criar a opinião, preparar, em suma, o terreno para que as novasideias possam frutificar.

É no processo das reformas, no modo de compreendê-las eexecutá-las que mais se caracterizam as duas principais escolaspolíticas que sob todos os governos livres dividem as opiniões: aliberal e a conservadora. Nem aquela está sempre descontentede tudo quanto existe e quer tudo destruir e reformar; nemesta se acha ligada por supersticiosa veneração a todas as insti-tuições. Eis porque tantas vezes as duas escolas se confundemnum mesmo pensamento em ocasiões dadas.

Na questão eleitoral achamo-nos nesta favorável situaçãopara uma reforma radical e completa. E o que mais importanteé; as duas opiniões políticas se acham mais ou menos acordes nospontos capitais da reforma.

Dissemos que para muitos espíritos descrentes ou timoratosbastavam alguns retoques na lei eleitoral. Discutiremos depoissuas objeções; reconheçamos, entretanto, desde já uma verdade:é que essa opinião por sua própria natureza jamais será um

(1) Guizot — Histoire dês origines du governemenf réprésentatif. —Seizième leiçon.

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obstáculo. Os descrentes a nada se opõem; os timoratos não re-sistem ao impulso dos homens convencidos e resolutos.

A opinião pública, há muitos anos e mais particularmentedepois da última lei eleitoral de 1860, tem se aferrado à convic-ção de que sem eleição direta nunca o sistema parlamentar seráuma realidade, isto é, que na eleição dos eleitores reside todo omal. É esta a principal causa da intervenção do governo, dosabusos das autoridades locais, das violências, das fraudes, dadesmoralização e finalmente da descrença política. A extirpaçãode um mal tão sério é uma necessidade urgente.

CAPÍTULO II

Processos Preparatórios da Eleição Primária

§ l? — AS QUALIFICAÇÕES

Não é nossa intenção desenrolar perante o leitor o quadrocompleto das eleições primárias quer nas grandes cidades, quernas freguesias rurais. Compreenderemos unicamente no já tristepainel que vamos apresentar, os males gerais inerentes ao nossosistema eleitoral, para os quais se deve procurar remédio. Nãohá muita conveniência em recordar as trapaças e misérias daocasião; bastará revelar os traços grandes e gerais do sistema.

A base da eleição primária é a qualificação dos votantes.

Veremos depois, em rápida resenha histórica do nosso re-gime eleitoral, as esperanças que em 1845 e 1846 fundaram-senas atuais qualificações. Nada disto existia na legislação ante-rior a 1842. A lei de 19 de agosto de 1846 veio apenas regula-rizar, metodizar a ideia cujo gérmen estava nas instruções de 4de maio de 1842. Apesar dos requisitos estabelecidos na Cons-tituição para poder o cidadão votar nas eleições primárias, ne-nhuma autoridade as examinava e reconhecia previamente. Avozeria, o alarido, o tumulto, quando não murros e cacetadas,decidiam do direito de voto dos cidadãos que compareciam. Maistarde, em 1842, as instruções do governo, independentementede lei, criaram juntas de qualificação compostas do juiz de paz,vigário e delegado ou subdelegado de polícia. As fraudes dasqualificações, a intervenção direta da autoridade policial e ou-tros muitos abusos anularam os resultados que por ventura pu-dessem nutrir os autores das instruções quanto a seus efeitos.

Segundo a legislação atual, no terceiro domingo do mês dejaneiro de cada ano, reúne-se a junta qualificadora, cujo pro-cesso e recursos são conhecidos. Aparentemente não se poderiamdescobrir meios mais eficazes, mais completos e perfeitos de da-rem bons resultados. As duas parcialidades políticas intervêm

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e são ouvidas; há todos os recursos, decididos afinal pela magis-tratura mais elevada do Império. Entretanto, na prática nadamais defeituoso; e não há quem ignore qual a importância deci-siva de uma qualificação para o resultado da eleição primária.A junta reúne-se cada ano e pode alterar toda a lista das quali-ficações anteriores. Nem sempre os partidos acompanham e fis-calizam com solicitude o trabalho da qualificação. É um processotedioso para o qual poucos têm disposição e sobra de tempo. Ovotante absolutamente ignora o que se faz, nem lhe dá o menorcuidado, sua sorte e seu direito em questão no consistório de suaigreja matriz. São os cabalistas que excluem a este, incluemaquele e têm todo o trabalho e gastos do fastidioso e informeprocesso. Cada parcialidade pede aos seus correligionários maisconsiderados e estranhos à rnesa qualificadora uma lista dosseus votantes. O nome do indivíduo a quem pertence o votante,determina a oposição dos contrários à sua qualificação. A con-dição a que se recorre mais geralmente para justificar todas asexclusões e inclusões, é possuir-se ou não a renda legal. A leiconstitucional não podia definir em que consistia e como reco-nhecer-se a renda líquida de 200$000; as leis regulamentaresnunca o fizeram. A prova única que oferecem as partes litigantesperante a junta é a pior possível. A pior absolutamente falando,a tanto se rebaixa o homem! e no caso especial das contendaseleitorais é prova tão má que não há termos que a qualifique.Fulano e Sicrano, os dois mais indignos miseráveis da freguesiajuram, mediante qualquer paga, que 10, 20, 30 indivíduos têma renda legal para serem qualificados votantes, e tanto maiscorrentemente juram, quanto por si nada sabem, mas decora-ram bem o papel. Outros dois miseráveis, só comparáveis aosprimeiros, depõem justamente o contrário. Sendo os cidadãospor sua parte gente desconhecida, ou quase, nenhum documentopode-se apresentar a seu respeito. Nada possuem, vivem de sol-dada, em terras alheias, não sabem ler, nem escrever. Tudo istose alega; porém responde-se que ninguém pode viver sem umarenda de 200$000, que o simples jornaleiro não vence por diamenos de 1$, 1$500 e 2$000. Incluem-se, pois, na lista os cida-dãos em litígio, e, por seu turno, aqueles que neste sentido tra-balharam vão alegar o mesmo que haviam há pouco refutado,para excluir os votantes do adversário.

Numa freguesia de mil ou mil e tantos votantes, as novas in-clusões e exclusões contam-se por centenas, de modo que a alte-ração da lista dos qualificados excede às vezes a mais da metadedo número total dos votantes. Sobre este grosseiro processocomeçam os recursos, primeiro para a mesma junta qualifica-dora, constituída em junta de reclamação, depois para o conselho

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municipal de recurso presidido pelo juiz municipal, e finalmentepara a relação do distrito. Se na relação os magistrados desco-brem alguma falta de formalidade, dão-se por felizes e anulamtodo ou parte do processo. Livram-se assim de julgar do seumerecimento, além de satisfazerem o pendor natural de seu es-pírito que os torna meticulosos e exagerados no que diz respeitoà observância de formalidades legais, ainda que exteriores e vãs.Se nenhuma falta foi cometida, o magistrado, na carência abso-luta de dados para julgar, decide pelo lado em que supõe maisgarantias, isto é, ordinariamente pelo seu partido.

Feita uma boa qualificação, está quase decidida a eleição.Todos nós temos ouvido constantemente esta linguagem: "Nãopodemos dar a campanha eleitoral; a qualificação não é nossa".Outras vezes a seguinte: "Estamos seguros; a menos que os nos-sos amigos não mudem de partido e passem com seus votantes,temos a eleição ganha. Contamos na qualificação uma diferençade 200 ou 300 votos; temos, pois, sobra para todas as eventuali-dades".

Nem sempre o processo da qualificação é assim fiscalizado.Muitas vezes falta a um dos partidos a espécie de cabalistas ne-cessários e capazes deste serviço enfadonho e inglório, emboratão útil. Então acontece que partidos fortes, numerosos, esseacham excluídos a priori de disputar a eleição primária.'

Além dos recursos legais, há ainda o procedimento discri-cionário da administração, dos presidentes das províncias e doministro do Império sobre as qualificações. É a última palavrado escândalo nesta matéria. O que fazer, porém, se a lei nãooferece garantias sérias e eficazes? Há às vezes abusos clamoro-sos a corrigir nas qualificações, e os recursos não foram possí-veis, as próprias juntas obstaram, praticando, como temos visto,os mais despejados excessos. É uso frequente cometerem-se in-tencionalmente faltas de formalidades para tornar nula na rela-ção uma qualificação que não convém. Como ficar a administra-ção de braços atados perante os mais revoltantes desmandos?

Infelizmente, porém, os abusos dos presidentes de provínciano exercício deste direito adquirido, não são nem menores, nemmenos revoltantes. Em anos eleitorais anulam-se em cada pro-víncia dezenas de qualificações completamente findas por suges-tões e exigências das influências locais, que recusam trabalharna eleição sem este poderoso adjutório. Entre a espada e a pare-de, o presidente, querendo corresponder à confiança do governo,prefere subscrever a tudo, fundando-se nos mais frívolos pre-textos para anular qualificações, muitas vezes mais regulares do

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Administrador
nota
Numa freguesia de mil ou mil e tantos votantes, as novas inclusões e exclusões contam-se por centenas, de modo que a alteração da lista dos qualificados excede às vezes a mais da metade do número total dos votantes.
Administrador
nota
Feita uma boa qualificação, está quase decidida a eleição. Todos nós temos ouvido constantemente esta linguagem: "Não podemos dar a campanha eleitoral; a qualificação não é nossa". Outras vezes a seguinte: "Estamos seguros; a menos que os nossos amigos não mudem de partido e passem com seus votantes, temos a eleição ganha. Contamos na qualificação uma diferença de 200 ou 300 votos; temos, pois, sobra para todas as eventualidades".
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que as dos anos anteriores, que entretanto, têm assim de preva-lecer para a eleição. Temos visto pela anulação consecutiva dequalificações e pelo obstáculo oposto por algumas das parciali-dades locais, fazerem-se eleições durante anos por uma mesma esó qualificação antiga.

Não queremos falar das alterações nos livros da qualificação,da troca de nomes e do remédio heróico do desaparecimento dolivro na ocasião da eleição. Finalmente, para requinte de confu-são e escândalo, a Câmara dos Deputados em 1864 aprovou, àvista de pareceres da mesma comissão, eleições da província doRio de Janeiro, nas quais as mesas eleitorais ora haviam cum-prido as ordens do presidente da província anulando qualifica-ções, ora haviam deixado de fazê-lo por conveniência própria daocasião.

Os requisitos vagos, indeterminados de idoneidade para aqualificação dos votantes tais como exige a lei e têm sido enten-didos, sào uma fonte perene de abusos pelas inclusões e exclu-sões de turbas inúmeras e desconhecidas, as quais por si sósalteram todas as condições normais e estáveis dos partidos naslocalidades. Era preferível o voto universal por lei; pouparía-mos, não só nas qualificações, como mais ainda durante a vota-ção, uma parte das fraudes que a sociedade presencia, e que acorrompe, como sem dúvida corrompe o espetáculo diuturno detantas tropelias.

§ 2° — A MESA ELEITORAL E SEUS AUXILIARESEXTRALEGAIS

Além da qualificação, há outro elemento poderoso para fa-cilitar o triunfo às parcialidades locais: é ter de seu lado a mesaque preside aos trabalhos eleitorais. A lei cercou-a de todas asgarantias e procurou tirar-lhe todo o arbítrio que desse lugar aabusos. Vãos desejos! Segundo o sistema da lei de 19 de agostode 1846, as parcialidades políticas contendoras intervêm na for-mação da mesa: os quatro mesários, secretários e escrutinadores,são igualmente divididos pelas duas parcialidades. O 5? membro,o juiz de paz, presidente da mesa e da assembleia paroquial, de-termina a maioria para este ou aquele lado.

A mesa não tem autoridade alguma sobre a idoneidade dosvotantes. Pedro apresenta-se para votar, está qualificado; bemou mal, à mesa não compete julgá-lo: o voto de Pedro há de serrecebido. Nada parece mais simples, menos suscetível de abusos.

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Engano manifesto! A mesa tem uma soberania especial e, o quemais é, impossível de lhe ser tirada ou substituída: é quem profe-re a última palavra sobre a identidade do votante. Pedro esta qua-lificado; mas é realmente o Pedro qualificado o indivíduo desco-nhecido que ali está presente com uma cédula na mão? Os me-sários o desconhecem, bem como a maior parte dos circunstan-tes. Entretanto, o cabalista que lhe deu a cédula, declara que éo próprio; os mesários, seus partidários, esposam-lhe a causa, epela mesma razão os outros esposam a contrária. É! Não é!grita-se de todos os lados. Interroga-se o cidadão. Justamente osinvisíveis, os fósforos, na gíria cabalista, são os mais ladinos emresponderem, segundo os dados constantes da qualificação: tem30 anos, é casado, carpinteiro, etc. A maioria da mesa decide:está acabado; não há, nem pode haver recurso. Outras vezes,Pedro é conhecido, é o verdadeiro Pedro da qualificação. Ne-gam-lhe, porém, a identidade; Pedro atrapalha-se, intimida-secom aquela vozeria; o seu voto é rejeitado.

Numa eleição disputada, que se há de ganhar ou perderpor 30 ou 40 votos, 15 ou 20 votos indevidamente aceitos ourecusados dão ganho de causa a esta, ou àquela parcialidade.Uma maioria de mesa eleitoral, intrépida, resoluta, bem apoiadapor uma multidão vociferadora e disposta a todos os desacatos,é invencível. Em matéria de eleição primária isto é axioma.

O invisível, ou fósforo, representa um papel notável nasnossas eleições, e mais ainda nas grandes cidades do que nas fre-guesias rurais. Um bom fósforo vota três, quatro, cinco e maisvezes, e em várias freguesias, quando são próximas. Os cabalistassabem que F. qualificado, morreu, mudou de freguesia, está en-fermo; em suma, não vem votar: o fósforo se apresenta. É muivulgar que, não acudindo à chamada um cidadão qualificado,não menos de dois fósforos se apresentem para substituí-lo; cadaqual exibe melhores provas de sua identidade, cada qual temmaior partido e vozeria para sustentá-lo em sua pretensão. Afinalum é aceito. Muitas vezes, contra a espectativa dos cabalistas,apresenta-se a contestar a um fósforo o verdadeiro cidadão qua-lificado, que por isso mesmo que é o próprio, que é sincero edespido de embuste, fica confundido pelo desplante e desfaca-mento do seu contraditor, a quem tal desapontamento não des-concerta. O fósforo que sai-se bem de um destes transes arris-cados, adquire direito à paga dobrada. Assim manda a justiçaeleitoral, porquanto, não só introduziu na urna um voto indevido,como impediu que entrasse o competente. Estes fatos são rigo-rosa consequência do voto universal que temos. Chamais paraexercer a primeira função social o ente mais nulo, mais desco-

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Administrador
nota
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\lnhecido, mais incapaz da sociedade e não quereis presenciarfatos desta ordem?

Todo abuso novo encontra repugnância e resistência nasociedade; porém se perdura, favorecido pelas leis, vai vencendoas relutâncias, ganhando terreno e a tendência é sempre parase agravar e generalizar. A primeira recusa de um votante legí-timo, ou aceitação de um ilegítimo provoca represálias do partidooposto, e a exageração do mal é a consequência infalível. Demais, os partidos são sempre inclinados a excusarem os seuspróprios vícios e a exagerarem os dos contrários; por maiores quesejam as traficâncias que tenham cometido, reputam ainda maisgraves as alheias; e bem depressa se acomodam com a ideia deque ficariam em condições de inferioridade se pretendessemcombater somente com armas leais a adversários para os quaistodas as armas são boas. A tal ponto o excesso destes males temestragado o espírito público nas localidades, que um partidonumeroso, vencido pelas artimanhas e traças do adversário in-ferior em número, é reputado incapaz e tende por este mesmofato a enfraquecer-se! Para muitos cabalistas, uma eleição regu-lar, sisuda, não tem atrativos; sem alguma alicantina bem plane-jada e bem tramada, falta-lhe todo o sainete.

Nas eleições gerais de 1863, o partido que dissolveu a Câ-mara temporária conseguiu ter maioria na mesa de uma fregue-sia, sede de um município dos mais importantes de serra-acimano Rio de Janeiro. Na memória da província ficou gravada alembrança dos mais inauditos abusos. A mesa recusou receber ovoto dos mais conhecidos cidadãos, de importantes fazendeiros,e levou o despejo aos últimos limites da verosimilhança. Estetriunfo imoral achou então encomiastas nos periódicos da suaparcialidade! Parece, entretanto, que a ele se refere o que se lêà pág. 42 do folheto o Imperialismo e a Reforma, publicado em1865 por uma hábil pena liberal e assim insuspeita para apreciareste fato. Eis suas palavras: "Sabemos de uma eleição em queapresentando-se a votar um comendador de duas ordens, pro-prietário de vários estabelecimentos rurais e milionário, a mesadecidiu que não era ele o indivíduo que fora chamado e se acha-va qualificado, levando o capricho ao ponto de fazer votar porele em sua presença o carcereiro do lugar! Nessa mesma eleição,por um proprietário e bacharel em direito, a mesa fez votar umliberto, e pelo coletor cie rendas provinciais um moleque a quemhaviam chamado para isso, dando-lhe alguns vinténs".

O abuso de que tratamos, além do fósforo, tem dado lugar àexistência de outra entidade eleitoral, sustentáculo daquele eseu arrimo, supinamente imoral e desprezível: o capanga de

eleições. O capanga é um indivíduo que se lança nas lutas elei-torais em busca de salário, e muito mais ainda por gosto, pordeleite próprio. Uma facção que traz arregimentados e assoldada-dos os principais capangas do lugar, tem ganho imenso terreno.Se ela é comedida, o esquadrão tem ordem restrita de se apre-sentar desarmado, de não ofender gravemente aos adversários(salvo caso extremo que não se pode prever), sob pena de lheser recusada a paga. Os capangas são o ponto de apoio dos cabosde eleição; sustentam suas opiniões, atordoam os adversários,intimidam-no s, dão coragem, força e energia aos partidários.Como pode o homem pacífico, apresentar-se perante uma mesaeleitoral para falar em nome da lei, cercado de dezenas de caraspatibulares, que, a qualquer expressão sua, vociferam e amea-çam? Para haver energia e falar com vantagem é indispensávelter de seu lado um esquadrão igual, por cuja conta corra o riscode qualquer rolo (expressão técnica). O capanga não entra emluta por convicção, nem questiona por dignidade; sua palavrade ordem é a obediência aos chefes. Entretanto, não está nasmãos de pessoa alguma conter-lhe o ímpeto em certos momentossobretudo quando ao esquadrão arregimentado reúne-se a turbamulta indisciplinada que adere voluntariamente, eletrizada einebriada pelo rumor e agitação.

Presenciando estes fatos ocorre a muitos observadores su-perficiais, que o mal não está nas leis, mas em seus executores.A verdade é que a lei autorizou o mal, a prática deu-lhe corpoe radicou-o nos costumes. Estes fatos lamentáveis são a prova daproposição que temos enunciado: a prática de um abuso, corrom-pendo os caráteres, tende sempre a generalizá-lo e agravá-lo.

Quer o leitor convencer-se por um exemplo? Dar-lhe-emosum, fácil de ser observado, e tanto mais saliente quanto maisdisputada a eleição: é o que tem lugar nas freguesias da Cande-lária e de SanfAna, por exemplo, na cidade do Rio de Janeiro.A primeira compreende o centro mais importante da cidade,limitado pelas ruas Sete de Setembro, Ourives, S. Pedro, ouViolas e o mar. Todos os seus votantes são pessoas conhecidas:é o negociante de pequeno ou grosso trato, o capitalista, o ban-queiro, o proprietário, o médico, o advogado, etc. Numa eleiçãodireta o eleitorado desta freguesia compreenderia talvez a tota-lidade dos atuais votantes. A freguesia de SanfAna apresentauma face diferente, É o quartel-general da arraia-miúda; é afreguesia mais populosa. A cidade, crescendo em riqueza, empopulação abastada, o centro foi sendo ocupado pelo comércio,pelas grandes casas, e a arraia-miúda foi-se aglomerando nasabas dos morros, nos brejos, nos confins da cidade. Ali mora em

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vastos cortiços o operário nómade, que trabalha hoje aqui eamanhã acolá, o servente de repartição pública remota, o oficialde justiça, o mascate, o pombeíro itinerante, etc., pessoas todasque saem de manhã para seus trabalhos, voltam à noite, semque, fora do pequeno raio de sua moradia, alguém mais na fre-guesia os conheça.

Entrai na matriz destas freguesias em dias de eleições dispu-tadas. Na primeira, a mesa trabalha isolada, desafrontada doenxame de povo que dificulta o acesso e perturba todos os atoseleitorais. Vários grupos conversam mais ou menos animada-mente; algumas pessoas tomam notas. Todo o trabalho é forada igreja: consiste em avisar os votantes para responderem àchamada, em resolver os indolentes, apáticos, despeitados a viremvotar; os emissários entram e saem; o votante chega, depositaa cédula e volta para suas ocupações. A cada nome chamadoresponde um indivíduo conhecido de todos. Se um votante emcondições diversas se apresenta, ninguém ousa contestar a iden-tidade, receiando enganar-se e expor-se a desacerto, vendo paten-tear-se a verdade, fácil de ser reconhecida. Em outras freguesias,a identidade do votante é, por via de regra, contestada, discutidae sofismada.

Entrai agora na matriz de SanfAna. Custar-vos-á enorme-mente romper a multidão que se atropela na entrada. Dentrotareis o espetáculo de um pandemônio, salvo a irreverência(quê não é nossa, mas dos que ali se acham), pois estamos nointerior de um templo cristão; na verdade foram retiradas todasas imagens, os círios, os candelabros, tudo quanto podia con-verter-se em arma ou projétil durante uma luta à mão armada.O fato tem tido lugar em tantas igrejas que estas cautelas nãoconstituem exceção. A sagração das imagens não as garante.

É contristador o espetáculo que em tais ocasiões oferecemalgumas das nossas igrejas. O cidadão ainda não calejado portanta infâmia, retira-se indignado; apenas deposita o voto, fogeo mais depressa possível de um lugar em que se reputa aviltado.Os timoratos evitam o perigoso tumulto. Muitos desses mesmosque atiraram-se na vertigem da luta, refletem depois com vergo-nha dos atos que praticaram e consentiram se praticasse, oraem seu nome, ora com sua responsabilidade real, ou moral.

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CAPÍTULO III

A Eleição Primária

§ 19 _ os VOTANTES

Temos visto a qualificação do votante e o recebimento dovoto; em ambos os casos é ele um ente quase passivo, cujos atossão permitidos ou pela junta qualificadora, ou pela mesa elei-toral. Vejamos agora o seu procedimento espontâneo ou cons-trangido, porém próprio.

O votante pode ser um homem ilustrado e importante; masnão é este o votante em cujo poder está decidir das eleiçõesprimárias, porque nelas os votos se contam pelo número e nãopela qualidade. Os votantes são a grande massa arrolada naslistas de qualificação, a turba multa, ignorante, desconhecida edependente. O votante é, por via de regra, analfabeto; não lê,nem pode ler jornais; não frequenta clubes, nem concorre ameetings, que os não há; de política só sabe do seu voto, queou pertence ao Sr. fulano de tal por dever de dependôncia (algu-mas vezes também por gratidão), ou a quem lho paga por melhorpreço, ou lhe dá um cavalo, ou roupa a título de ir votar àfreguesia.

Se por qualquer motivo a eleição primária não é disputada,a mercadoria voto fica sem valor. A igreja acha-se deserta, ne-nhum votante aparece para exercer o seu direito. A fim desalvarem-se as aparências, correm-se os arredores da matriz, con-vocam-se os mais desocupados; algum cidadão de melhor vontadevota pêlos ausentes, ou introduz na urna 10 ou 12 sédulas decada vez; e, finalmente, como apesar de tudo o número dos con-correntes é mesquinhos, i\ ata é arranjada de modo a figurarque cousa diferente teve lugar. Km regra geral, as eleições assimfeitas, a bico de pena, como se diz, são as mais regulares, segundoas atas: não há nelas uma só formalidade preterida, tudo se feza horas e com os preceitos das leis, regulamentos e avisos dogoverno; é difícil que ofereçam brecha para nulidades.

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Numa eleição fortemente disputada a cena é diferente. Oarraial toma ares festivos; de toda a parte o povo em gruposconcorre para a igreja. Ao lado desta, cada um dos partidostem o seu barracão (expressão técnica) onde se regalam a fartaros seus votantes com as iguarias e bebidas de sua predileção.Não é de esperar que estas frequentes libações predisponhamos espíritos de tais fregueses ao entrar na igreja do mesmomodo que as aspersões e água benta em outras ocasiões.

O votante das freguesias urbanas é mui diferente do dasrurais. É mais repugnante, venal e corrompido nas primeiras;mais dependente e lastimável nestas. No género que nos ocupa,o votante divide-se em várias categorias: ou é agregado, ou depen-dente de certo indivíduo em cujas terras vive; ou é mais oumenos independente e baldio. Se inspira bastante confiança aquelecom quem vota, vai livremente à igreja, entra, vota, come, bebee embriaga-se livremente. Se é acostumado ou suspeito de tra-ficar com o voto, não o deixam só enquanto não tem votado.Os desta classe vêm, aos magotes vigiados, aquartelam-se elugar seguro e já de antemão preparado; não se lhes permitedigressão alguma; entram na igreja debaixo de forma, separadosde todo o povo: e por este modo o cidadão votante de um paíslivre deposita gravemente o voto na urna da sua freguesia.Apenas começa a ser chamado tal quarteirão, manda-se avisoà gente do Sr. F. para que seja apresentado. Os votantes da cate-goria livre têm a liberdade de vender o voto como e a quemlhes apraz. Também têm suas manhas, e contam depois proezasde receber duas ou três pagas, e as maiores de pessoa a quemfaltaram.

Pouparemos a descrição das cenas repulsivas que então têmlugar, não desceremos ao particular, que é sempre mais vil edesmoralizados

A grande massa dos votantes, tal qual é constituída, oferecevasto campo para a intervenção das autoridades no pleito elei-toral e para todas as violências. As leis do recrutamento, daguarda nacional e de 3 de Dezembro de 1841, isto é, da organi-zação judiciária e policial, são aquelas à cuja sombra principal-mente se dizem praticadas todas as violências e exações. Nãodefenderemos estas leis, mormente a primeira, em todas assuas disposições; é, porém, forçoso reconhecer que elas apenasservem de pretexto para os abusos. A principal fonte resideno sistema eleitoral. Imaginai as leis que quiserdes; e entregai aeleição à parte ínfima da sociedade, à mais ignorante e depen-dente; estimulai as autoridades a intervirem no pleito, como

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em causa própria; elas procurarão forçosamente todos os meiosde aliciar prosélitos, de intimidar, de arredar os adversários.Mostraremos depois onde está principalmente o estímulo queimpele aos excessos e que tanto acentua e irrita as lutas paraa eleição dos eleitores.

A lei do recrutamento é, por certo, mal incompatível comuma sociedade que é, quer ser, ou se diz livre. Reconhecemos,não obstante, que os seus mais perniciosos efeitos provém daslutas da eleição primária.

Não é esta ocasião oportuna para discutir essa lei; masseremos excusados de dizer algumas palavras a este respeito,de tal modo ela se liga hoje à questão a liberdade do voto. Asmedidas lembradas para substitui-la têm a conscrição e o sorteio,ou o engajamento voluntário. O primeiro constitue o sistemadas nações militares da Europa: o segundo, da Inglaterra, é oúnico inatacável pelo lado das liberdades do cidadão, porémonerosíssimo e ineficaz em ocasiões de guerra. Parece-nos quepoderia ser adotado nas circunstâncias normais do país, e queo recrutamento só deveria ser decretado pelas câmaras nas oca-siões excepcionais de guerra, quando votassem os meios pecuniá-rios. A ideia de recorrer ao recurtamento, o governo pedindo-o,as câmaras o decretando, e o país suportando, talvez nos obri-gasse a meditar mais seriamente antes de empreender, provocar,ou facilitar guerras.

De 1846 para cá, o recrutamento foi suspenso durante algumtempo, antes e depois da eleição primária. Foi um progresso,porém deficiente, como não podia deixar de ser.

Acontece muitas vezes que às acusações da oposição de vexa-ções por parte das autoridades locais, estas respondem demos-trando que não se tem recrutado, que o número dos presos e dosprocessos policiais é o mesmo dos tempos ordinários. A provaparece concludente. O que constitui, porém, o verdadeiro vexameé antes a ameaça do mal do que o próprio mal. Por um indivíduorecrutado e remetido para fora do município, a população inteira,sujeita ao recrutamento, isto é, a grande massa dos votantes,foi ameaçada e aterrada com a iminência de perigo. Todos igno-ram em quem cairá o golpe; a espada está suspensa sobre todas ascabeças.

A lei de 3 de dezembro foi uma necessidade do seu tempo,e é inquestionavelmente uma lei sábia, previdente em acautelaros abusos, previdente em fornecer recursos aos perseguidos.Não é, porém, usando das faculdades da lei que a autoridade

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policial abusa; mas arrogando-se outras, intimidando com supos-tos poderes que não possui e com os excessos que pode impune-mente praticar. Alterai quanto quiserdes a lei, como se acaba defazer; conservai porém a mesma massa de votantes e os abusoscontinuarão, mutatis mutandis. A última eleição deixou este fatoevidente. Mostraremos em ocasião oportuna quanto prejudicouno conceito público a esta lei o seu enlaçamento com a lei elei-toral, na qual aliás residia todo o mal.

Quanto aos abusos atribuídos à lei da guarda nacional, arespeito da qual muito se poderia dizer, não são diferentes doque acontece com as leis precedentes. Os males que fazemaparecer em época de eleição primária não se derivam tantodelas, como são nelas enxertados pelo mau sistema eleitoral.

§ 2.° OS ELEITORES

Somos decididos adversários do sufrágio universal. Insciente,inerte, escravizável por natureza nos tempos ordinários, o votouniversal é um imenso perigo nas crises sociais, ou por ocasiãode comoções populares. Até certo ponto, a eleição do primeirograu ou do eleitor amortece o choque do sufrágio universalnestes últimos casos; porém duplica-lhe os males nos temposordinários, de modo tal que a eleição direta com o mesmo votoseria talvez menos deletéria para os costumes públicos. Bastaque o leitor reflita no que se passa entre nós para ficar certodesta verdade.

Chegada a ocasião de uma eleição primária geral, qual é aposição dos partidos e dos chefes eleitorais nas localidades doImpério em relação à política e aos candidatos? Muitas vezes aotravar-se a eleição primária as candidaturas não são conhecidas;outras vezes são alteradas, substituídas ou baldeadas para distri-tos diferentes, e até passam da provincia de Goiás, por exem-plo, para a do Maranhão e vice-versa. Em grande número deprovíncias, o candidato é pessoa totalmente estranha aos elei-tores, de quem eles ouvem falar pela primeira vez ou que sóde nome e vagamente conhecem.

Argumentemos, porém, com o fato mais elevado e que deveraser a regra: os chefes dos colégios eleitorais apresentam-se naliça por urna ideia política, esposada por certo candidato de suaconfiança, ou somente por amor da ideia. Bem depressa a lutatoma o caráter pessoal. Pedro e Paulo, as influências rivais do

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lugar, acham-se frente a frente, procurando cada qual derrotar < >adversário de longos anos. Os amigos dos dois campeões se divi-dem, e, sob o nome de partidos políticos, ocultam-se motivos devárias procedências. Pedro e Paulo têm contra si não só os adver-sários políticos, mas todo aquele a quem eles ou algum dos seusprincipais aderentes ofenderam em algum tempo, ou a quematribuem qualquer agravo. A derrota de uma das parcialidadesnão se afigura como um mal para o partido; mas um desar parao vencido no lugar, o qual assim parece demonstrar sua fraqueza,falta de simpatias, de amigos, de poderio e influência. A lutatem todo o incentivo, e toda a irritabilidade e profundos ódiosdas contendas pessoais entre vizinhos que se conhecem e se aco-tovelam todos os dias. Nesse conflito acrimonioso, que tantoselementos avigoram e azedam, o deputado a eleger desaparecede todo. Preocupado com uma causa que é a de suas própriaspessoas, os chefes eleitorais não podem ver um terceiro, estranhoe indiferente às rivalidades locais.

Quando duas parcialidades pleiteiam a eleição em qualquerparóquia é que suas forças mais ou menos se equilibram: desdeque uma prepondera sem contraste, a luta é impossível e opartido adverso vai desaparecendo até que algum fato novo possafazê-lo surgir e constituir-se com pessoal destacado do antigo.Desde que existe luta, cada parcialidade procura aliciar prosélitose criar elementos de força e preponderância. Ora, um dos maisfortes destes elementos é sem dúvida a autoridade nas mãosdos seus partidários. Entre duas parcialidades cujas forças maisou menos se equilibram, penderá a concha da balança em que secoloca o prestígio e o peso da autoridade pública. Eis aí já umdos primeiros e grandes empenhos em possuir cada facção locala autoridade de seu lado; é um motivo de submissão e subser-viência aos governos central e provincial que nomeam as auto-ridades locais.

Nós que não poupamos censuras, nem sempre fazemos destefato capítulo de acusação. A autoridade de seu lado não repre-senta só um grande e eficaz auxílio para uma parcialidade, repre-senta (o que é mais importante) a tranquilidade, a segurança, asgarantias contra as perseguições dos adversários, das quais con-quanto se achem isentas as principais pessoas do lugar, não oestão os pobres deserdados da fortuna, a grande massa dos votan-tes, que os acompanharam e à cuja sorte lhes é lícito ser indi-ferentes. Possuir a autoridade não é somente ter uma conside-rável coadjuvação eleitoral; é também a isenção e a imunidadecontra as perseguições.

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Por seu lado, também o governo sofre grande pressão paraintervir. As influências locais solicitam e instam, por intermédiode seus procuradores perante o governo, pela nomeação ou demis-são das autoridades locais, e no fervor da luta, não são os homensmais convenientes os lembrados, porém os mais resolutos e aptospara o fim que se tem em vista, e que está muito longe de sero que convém à distribuição da justiça.

Suponhamos que tivéssemos a eleição direta. Por apaixo-nadas e inflamadas que reputemos as influências de uma locali-dade a favor de uma ideia política personificada num candidato;por mais estremecidos e dedicados amigos que dele sejam, aluta já se acha colocada em objeto estranho e distante do cam-panário. Não só o ardor pelas ideias em abstrato não excita aacrimônia das lutas e rivalidades pessoais, como o agenciar votospara um amigo ausente não desperta o fervor de um pleito queinteressa aos próprios autores, aos seus nomes, influência, tran-quilidade e, sobretudo, ao seu amor próprio individual. Demais,a luta já não tem um resultado definitivo nesse lugar, e o candi-dato derrotado aí, pode triunfar em outro colégio e vencer afinal. Na eleição primária, cada paróquia constitui por si, inde-pendentemente de outras, um campo de batalha. Pouco importaà influência eleitoral aí vencida que seus correligionários tenhamtriunfado nas restantes freguesias do distrito. Às vezes a mesmaexceção na derrota aguça-lhe o sentimento de pesar.

Além de que em uma eleição direta o pessoal do eleitoradodeve ser tal que não o exponha tão facilmente aos manejos evexames das autoridades, o interesse pessoal e o empenho dasinfluências locais se acha incomparavelmente reduzido. A demis-são ou nomeação de um delegado de polícia poucos votos maispoderá dar ou tirar a este ou aquele candidato, e pouco influiráem uma eleição em que os votos se contarão por centenas.

Objetar-nos-ão, talvez, que as eleições municipais e para juizesde paz continuarão a ser pessoais particulares em cada município.A diferença, porém, entre estas e as dos eleitores é radical. Emprimeiro lugar a importância, não dizemos bem, a veemência eagitação que estas eleições hoje excitam provém do papel decisivoque representam para com aquela, da dependência em que umaestá das duas outras. O juiz de paz mais votado é o presidenteda junta de qualificação e da mesa da assembleia paroquial. Épois o personagem que determina o partido em maioria em qual-quer das importantes funções daquelas comissões. O presidenteda câmara municipal é membro do conselho municipal de recurso,que conhece das decisões proferidas pela junta de reclamação.

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De mais, com os atuais votantes, a influência das câmaras municipais é considerável para aliciar aderentes e dependentes para ;iparcialidade dos vereadores.

Freguesias há que por sua extensão são divididas em maisde um distrito de paz. Nestas, as atribuições eleitorais cometidasaos juizes de paz são excedidas pêlos do distrito em cujo territóriose acha a igreja matriz. Em tais paróquias, todo o fervor da lutase concentra na eleição dos juizes de paz do distrito, sede damatriz. Nos outros distritos, não só a eleição corre calma, comorecai em homens mais desapaixonados e que aceitam o cargopelo próprio cargo e não como elemento eleitoral. Decretássemosa eleição direta, tornássemos indiferentes ao resultado da eleiçãodos deputados e senadores, ou dos seus eleitores, a cor políticados vereadores e dos juizes de paz, e a eleição destes cidadãoscorreria logo mais tranquila, e quando a luta fosse por qualquermotivo renhida e vigorosa, a administração central não interviriapor não lhe preocupar e não lhe interessar, senão mui remota-mente, o resultado desas lutas.

Do que temos observado se compreende que do voto uni-versal nas eleições primárias e de natureza especial da eleiçãodos eleitores, ou votantes do segundo grau, decorrem os abusosda intervenção do governo nas eleições locais, das violências evexações das autoridades subalternas, da cavüação das leis esua desmoralização. Nenhum governo tem interesse nem desejode nomear ruins autoridades locais. Um mau presidente de pro-víncia, porém, terá muito mais ocasiões de errar com o estadoatua! de coisas, do que se as influências locais e seus procura-dores e patronos nos centros (quase sempre os deputados geraise provinciais) não fossem interessados em converterem as auto-ridades locais em cabos de eleição. Igualmente um bom presi-dente de província encontraria mais facilidade de acertar e nãose veria iludido tantas vezes, instado, urgido, e afinal inimizadopor não assumir a responsabilidade dos excessos que dele seexigem. A autoridade local deixaria de ser o agente de eleições,trêfego, astuto e vexatório quando se trata deste objeto, tole-rante e desleixado para os seus deveres reais. Não seria o per-seguidor e inimigo do adversário político, porém o protetor detodo o direito ofendido e de todos os homens bons.

São conhecidas as consequências funestas das inimizades queas lutas para o eleitorado criam e fomentam nas localidades. Asrivalidades oriundas da política local em muitos municípios doImpério já têm degenerado em inimizades irreconciliável, segui-das das mais criminosas e fatais consequências, Sem chegar a

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este ponto extremo, que é sempre uma exceçao, inimizades destaorigem têm desunido famílias, amigos, e causado grave detrimentoàs próprias localidades. Se a influência das câmaras municipais,dos juizes de paz, das autoridades policiais e judiciárias (atéestas!) não fosse decisiva para o eleitorado, era de esperar maiscordura entre os principais cidadãos do mesmo município, comojá acontece nos lugares onde as lutas não têm sido tão acerbas.

Como infelizmente um dos meios mais poderosos de angariarvotos é comprá-los, o mal que isso derrama na sociedade é consi-derável, não só pela imoralidade do fato, como pelas fortunasque se arruinam e se delapidam nesse pleito incerto em que oamor-próprio está em jogo. Em todos os países representativoseste mal existe mais ou menos intenso. É porém inquestionávelque o sistema da eleição de dois graus muito concorre para agra-vá-lo, não só porque nele intervém forçosamente indivíduos maismiseráveis, como pelo interesse imediato, isto é, pessoal daquelesque se acham em luta, segundo acabamos de ver.

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CAPÍTULO IV

A Eleição Secundária — O Deputado

De quanto temos visto naturalmente se compreende quantoé precária e penosa a situação do indivíduo que a constituiçãodenomina augusto e digníssimo representante da nação.

Sendo q governo à mola real de todo o mecanismo eleitoral,é ele o principal eleitor do deputado? Pessoas que jamais conhe-ceram uma província, nem um só dos seus habitantes, nomeadospresidentes, são logo, e por este simples fato, as primeiras in-fluências eleitorais da província: fazem e desfazem deputados elistas senatoriais. É o caso, aliás regra da nossa política, em que,o hábito faz o monge. Dificilmente evita-se o abuso quando seconcede tamanho poderio.

Tem havido grande número de deputados por muitas vezeseleitos e afinal escolhidos senadores, que jamais se preocuparamcom o eleitorado de província alguma. Ligados aos governos dequalquer das parcialidades políticas, ou oportunamente desliga-dos, são despachados deputados, ora por aqui, ora por ali, e lo-gram sempre serem eleitos, aparentemente com a maior suavida-de, e seguramente sem trabalho. A lei dos círculos, da qual seesperou modificação para este estado, não o alterou pelo acrésci-mo de influência que o governo derivou dela, como demonstra-remos depois.

Os caminhos regulares, porém, não deixam de ter sectários,e assim, muitos homens que aspiram posições políticas, começampor contrair relações num distrito, a frequentar suas influências,a prestar-lhes serviços, corresponder-se com elas, ganhar-lhes assimpatias etc. Mas nem por isso, em tempo algum de sua carrei-ra política, por mais eminentes que venham a ser, conseguem oque se chama influência política. Os governos, sem lançar mãode grandes violências, zombam de qualquer dos intitulados vultos,ou influências políticas das províncias. Citaremos exemplos mo-dernos das mais importantes províncias do Império.

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Há alguns anos em uma eleição senatorial na província deMinas Gerais sob o domínio do partido liberal, conseguiu o go-verno excluir da lista tríplice o nome do Sr. C. Ottoni, apoiadopor seu irmão, nome liberal o mais prestigioso daquela província,e por todos os antigos e mais ilustres liberais. Acrescendo queo partido conservador, sem candidatos, deu àquele oposicionistaseus votos. Nada lhe valeu contra os candidatos do governo^ in-comparavelmente inferiores a ele em nome, posição, ilustração eserviços.

Na eleição da província de Pernambuco em fins de 1866, ospartidos reais, únicos existentes até então na província, o liberale o conservador, uniram-se contra uma facção oficial que se apos-sara do governo, e que, sob o nome de partido progressista ouligueiro, pretendia-se oficialmente implantar no país. De fato, ven-ceu a facção oficial em toda a parte, não conseguindo o chefedo partido conservador, unido aos liberais, fazer-se eleger, nemao menos eleitor na freguesia de sua residência, í1)

Há pouco tempo corria a eleição senatorial na província deS. Paulo e o nome histórico e benquisto do conselheiro Netaias, hátantos anos ligado a todas as vicissitudes do partido conservador,sustentado pelo que possue aquela província de mais importantenesse partido, era derrotado por nomes que em consideração polí-tica não podiam valer aquele.

Dá-se na eleição fecundaria o mesmo que na eleição primá-ria, onde o mais ftíspIcW e considerado cidadão não consegueser eleitor de sua paróquia contra a vontade do governo, ou deseus agentes locais.

No Norte do Império estes males são ainda mais intensos egerais do que no Sul e sua deputação é, entretanto, mais nume-rosa. Não há quem possa reputar uma eleição segura, ainda mes-mo estando no governo seu próprio partido. Se o eleitorado nãoé firme e estável, o deputado não pode ter uma qualidade quefalta aos seus constituintes, e tais são as dependências do eleitora-do, que ele sacrifica os mais dedicados amigos às imposições dogoverno.

(1) Este fato teve lugar em quase todo o Império, ligando-se os doispartidos reais contra o oficial, afinal vencedor. Com a dissolução da câ-mara dos deputados no ano corrente, reproduziram-se os mesmos aconte-cimentos: os partidos reais uniram-se de novo em alguns lugares contra ooficial e foram também vencidos pela força exclusivamente derivada dogoverno. No primeiro caso, a facção oficial destacara-se do partido liberal,no segundo, do partido conservador.

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Um deputado eleito unanimemente pêlos eleitores de umdistrito pode na seguinte eleição, se assim quiser o governo, serexcluído da votação pêlos mesmos eleitores, quaisquer que sejamos seus merecimentos e boas relações. (~)

Revelará este fato uma grande perversão dos caráteres, umabatimento e prostração absoluta do espírito público? Completa-mente não. Suas causas são conhecidas. O geral dos homens nãoconsegue jamais elevar-se além do círculo dos interesses que ocercam para encarar os grandes interesses sociais; sobretudo quan-do estes se opõem àqueles.

Qualquer que seja o grave problema social que agite a po-lítica da nação, a questão local, a questão do campanário, aquelaque o eleitor vê, que toca todos os dias, que o interessa de pertoe preocupa sempre, não desmerece perante aquela outra; pelocontrário, dificilmente ele se resolverá a sacrificar a última àprimeira. Ora, com o atual sistema de eleições, a intervenção dogoverno nas localidades é de uma vantagem inestimável para ospartidos, como já temos observado. Demais, em uma luta com ogoverno, os eleitores podem expor-se a terríveis contingências: amá vontade se revelará em tudo quanto os possa molestar e pre-judicar. As insígnias da autoridade, que só devem ornar os cida-dãos dignos, irão revestir os mais aptos para perseguirem osdesafetos do governo. A autoridade policial será confiada aosmais audazes cabos eleitorais e até as nomeações dos suplentesdos magistrados irão recair em mãos infames, contanto que sejamde adversários dos eleitores independentes. Na luta entre a ingra-tidão para abandonar um correligionário dedicado, e a utilidadede não desagradar ao governo, vacila-se muitas vezes, mas pre-fere-se afinal o primeiro mal. Os governos não são de ordináriotão imorais e vingativos que no caso de rebeldia executem sem-pre as ameaças; basta, porém, a probabilidade e a possibilidade,para recear-se a contingência de um fato, que muitas vezes acon-tece.

Sem recorrer a meios tão violentos, ou reprovados, os gover-nos têm sempre uma infinidade de necessidades locais para sa-tisfazer, e de vaidades pessoais a lisonjear. A estas, sobretudo, <>coração humano raras vezes resiste: uma ocasião perdida dificil-mente se recupera, e os sonhos dourados de uma vida inteira,

(2) O eleitorado da província do Rio de Janeiro, expressamente composto e ajeitado por Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho (viscondr deSepetiba), para eleger seu irmão Saturnino, candidato liberal, foi o inuHmíssimo que elegeu Manuel Felizardo, candidato conservador, apenu« opoder moderador mudou a situação política, passando o poder dos HbcrulNpara os conservadores: ad exemplum Coesaris totus componitur orbt.

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são, às vezes, umas dragonas de oficial da guarda nacional, asinsígnias das ordens de Cristo ou da Rosa, ou um título que apa-gue um nome comum e plebeu.

Com a eleição direta ninguém espere que todos estes meiose seduções desapareçam por encanto. Mas com certeza o mal di-minuirá de intensidade. No sistema atual basta uma destas coisasou a simples ameaça ou promessa, conforme se trata do bem oudo mal, para mudar radicalmente a votação de um colégio inteirode 40, 60 ou 80 votos, os quais, em uma eleição secundária temde ordinário valor decisivo. Na verdade, hoje em dia toda a vo-tação de um colégio depende de um homem só, como o triunfode uma parcialidade na eleição primária de uma paróquia tam-bém pode depender de um só indivíduo. Este é um dos males daeleição de dois graus e que tanta pressão exerce sobre o depu-tado e sobre o governo, e que por seu turno é o meio de influiro governo ou fazer pressão sobre um colégio inteiro.

Não é necessário que o negócio se dê com o chefe eleitoralda paróquia; mudança de um de seus principais auxiliares de seucampo para o do adversário, sua recusa de envolver-se na eleição,deixando os seus votantes livres, pode determinar a perda de umaeleição primária. Como todos os interesses se ligam estreitamenteneste sistema, qualquer questão com um dos principais indiví-duos do grupo é esposada por todos como própria e o colégio in-teiro coloca-se do seu lado para não desgostar ou perder um ami-go prestimoso e indispensável para as lutas futuras. Aí temos poiso deputado dependendo do capricho, da má-vontade de um colé-gio a quem ele aliás tem servido sempre, porque, infelizmente,esquecem-se todos os serviços, ou benefícios recebidos por umúnico que afinal não se pode conceder.

Se não obstante o governo adota a candidatura desse depu-tado, todas as queixas, sejam frívolas ou graves desaparecem;mas se o governo é indiferente à sua sorte, ou se é contrário,então à má-vontade se agrava e ele nda tem que esperar dosseus antigos amigos.

As decepções, os desgotos, os incómodos, que provêm desteestado de coisas leva muitos homens políticos a não prestarematenção aos eleitores, a recusarem-se a um trabalho estéril e en-fadonho, que eles sabem, por longa experiência própria e alheia,nada valer nas circunstâncias difíceis da política. Com a eleiçãodireta não desaparecerão as influências locais; nem isto seria umavantagem. O homem benquisto, considerado, reunindo os necessá-rios requisitos, será sempre a influência de seu município e ar-

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rastará os votos dos amigos e correligionários. Porém, o homem,chefe de eleições primárias, que nem sempre possui as qualida-des daquele ou o simples auxiliar valioso, não exercerá mais essaterrível pressão. Em um colégio de 100 ou 150 votos ele poderádesviar do seu desafeto um bom número de votos; mas, aindaassim, o candidato poderá contar com os votos das pessoas quenão esposem a mesma afeição ou desafeição.

Na verdade, cada eleitor possue o direito de votar por suasqualidades pessoais e o deriva da lei independentemente da von-tade de qualquer; o voto lhe pertence e disporá dele como lheaprouver.

No atual sistema, o eleitor sabe ter sido eleito pelo trabalho,esforços e dinheiro dos chefes; o seu voto deve ser empregado àvontade destes e segundo as conveniências, que só estes estão ha-bilitados a conhecer e julgar.

Não se pense, porém, que este poderio dá satisfação a quemo exerce; já vimos quais os motivos que determinam as resoluçõesdos chefes de eleição e as dificuldades em que se acham coloca-dos: é um poder que exercem constrangidos, que lhes custa dis-sabores, mas do qual não podem abrir mão no interesse de suaprópria parcialidade mais do que no seu particular. As necessi-dades da eleição primária são a causa deste mal-estar para oeleitor, o deputado e o governo.

Elevando-nos um pouco acima destas cenas para considerara posição do deputado perante os princípios elementares do siste-ma parlamentar, salta aos olhos a ausência absoluta de princípiospolíticos que reina em nossas eleições. O deputado não se achacolocado perante um corpo numerosos de seus concidadãos maisilustrados e capazes, dos quais pretende merecer o voto, isto é,a adesão para seus princípios e teorias políticas, e simpatia parasua pessoa.

Embora muito longe de funcionar regularmente, não negare-mos que entre nós existam partidos políticos, e que apenas hajafrações, parcialidades sem nexo de interesses ou ideias, comopretendem alguns políticos pessimistas. O partido a que se achaligado o deputado não deixa de influir na sua votação: um eleito-rado conservador não elegerá um liberal e vice-versa. (3) Na ge-neralidade, pois, muito influi o partido político do candidato, masseu merecimento, sua ilustração, seus serviços, suas ideias e opi-

(3) Não deixa de haver exceçôes, como a que mencionamos na últimanota, além de outras muitas.

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niões, nada, nada absolutamente importa aos eleitores na con-corrência com outros candidatos.

Quem já viu neste país um deputado ter votos, ou deixar deter, porque segue os princípios da escola protecionista, ou do co-mércio livre, da centralização, ou descentralização, da liberdadereligiosa, ou não, porque promove a difusão da instrução pública,a decretação de melhoramentos materiais etc.?

Captar as boas graças do governo, alcançar o seu apoio,tornar-se agradáveis às influências eleitorais pêlos meios parti-culares, cultivando-lhes as relações, correspondendo-se com elas,cuidando-lhes nos negócios perante a administração, tais são osmeios únicos que conduzem um pretendente a resultado seguroe proveitoso.

SEGUNDA PARTE

ALTERAÇÕES QUE TEM SOFRIDO O

SISTEMA ELEITORALQUAIS OS RESULTADOS OBTIDOS

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CAPÍTULO ï

As nossas primeiras Eleições — As instruções de 26de março de 1826 e de 4 de maio de 1842

Os abusos, os males a que nos temos referido, não são mo-dernos; alguns se têm modificado e transformado, outros se têmagravado; e finalmente novos aparecem e crescem todos os dias.Um fato tem sido constante; experiências novas, reformas, disrcussoes parlamentares, nada têm aproveitado. No dia seguinte aode uma reforma os males renascem mais intensos, e mais geral setorna a aspiração por novas reformas.

Com o fim de demonstrar a necessidade de profunda refor-ma no sistema eleitoral, parece-nos não ser improfícuo recordaro que temos feito nesta matéria durante a nossa existência políti-ca; lembrar os defeitos mais sensíveis em cada época, os remédiosque se lhes opuseram, as opiniões dos nossos homens políticosmais eminentes, e sobretudo qual o resultado que o país e o siste-ma representativo auferiram de cada uma das reformas, algumasdas quais provocaram lutas parlamentares renhidas e disputadas.

O que vamos fazer não é propriamente um estudo de históriaparlamentar, e muito menos um repertório da legislação eleitoralpassada, em parte obsoleta, em parte ainda existente. Não re-ceiem, pois, aqueles a quem desagradam as investigações da his-tória, ou que detestam, com razão, a tediosa aridez dos repertó-rios.

As primeiras eleições que se fizeram no Brasil, para depu-tados às cortes constituintes de Portugal, realizaram-se segundoo método estabelecido na constituição espanhola de 1812, adota-do no Brasil pelo decreto de 7 de março de 1821, ainda firmadopor D. João VI.

Em outubro do ano anterior o governo provisional e revolu-cionário de Lisboa havia adotado o parecer da sua junta ou co-missão, mandando proceder de modo diferente à eleição dos depu-tados de toda a monarquia portuguesa às cortes constituintes.

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O decreto de 31 de outubro criava o sufrágio universal e a elei-ção de dois graus, mandando que os moradores das paróquias ele-gessem eleitores, que procedessem à eleição dos deputados. Aabertura das cortes constituintes deveria efetuar-se no dia 6 dejaneiro seguinte, quando o decreto, convocando os deputados,poderia apenas ser conhecido no Brasil.

Em consequência de motins populares ocorridos em Lisboa,foi logo jurada provisoriamente a constituição espanhola de 1812,e, finalmente, por outro motim revogada, menos, entre outrascoisas, quanto ao sistema de eleições. Assim, novas instruções,de 25 de novembro, foram promulgadas, revogando as de outu-bro e mandando observar as disposições da constituição espa-nhola na parte relativa a eleições.

Nestas instruções, diferentemente do que se fizera nos atosanteriores, só se dispunha sobre a eleição no Reino de Portugal,excluído o Brasil. Por este motivo foi publicado o já mencionadodecreto de 7 de março do ano seguinte, que teve por fim man-dar fazer a eleição aqui pela mesma forma adotada para Portugal,como diz o preâmbulo do decreto. Antes de ser D. João VI obri-gado a este passo, havia, por decreto de 18 de fevereiro, virtual-mente revogado pelo de 7 de março, convocado para a cidade doRio de Janeiro os procuradores que as câmaras das cidades e vilasprincipais elegessem para, reunidos em junta de cortes, examina-rem e consultarem quais dos artigos da constituição, que pro-mulgassem as cortes de Portugal, seriam adaptáveis ao Reino doBrasil, e proporem também outras reformas e melhoramentosúteis a esta parte dos seus estados.

A omissão das instruções portuguesas de 25 de novembrofora intencional por parte da junta provisional e governo de Por-tugal com o fim de excluir o Brasil da constituinte. Reunindo-seas cortes em 24 de janeiro de 1821, foi ainda rejeitada a indica-ção de um deputado para que se mandasse proceder à eleição dedeputados no Reino do Brasil, sendo aceita a parte da emendarelativa às ilhas dos Açores e da Madeira.

Foi, pois, na forma das disposições da constituição espanho-la que fizeram-se as primeiras eleições em Portugal e no Brasil.O povo em massa nomeava compromissários, os quais por seuturno nomeavam incontinente eleitores de paróquia. Estes eleito-res, reunidos na cabeça da comarca, designavam os eleitores decomarca, que deviam concorrer à capital da província para alieleger os deputados às cortes. O número dos eleitores de comarcadevia ser triplo do dos deputados a eleger, mandando, porém,

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cada comarca pelo menos um eleitor; o número dos elc-ilorcs deparóquia era de um por 200 fogos, e os compromissários 11 paraum eleitor paroquial, 22 por dois e 33 de três para cima.

Este sistema de eleições em quatro graus, já de si compli-cado, ainda mais se tornava pelas muitas formalidades a obser-var. Admira que o sistema mais racional adotado pelo decretode 31 de outubro fosse pretendo por este.

Não menos admira que a constituição espanhola de 1812,promulgada em circunstâncias tão especiais, sem a intervençãodo monarca, influenciada pela francesa de 1791, que estabelecia aeleição de dois graus, tão ciosa dos direitos populares que apre-goava e procurava resguardar, fundasse um método eleitoral tãocontrário à ação livre dos povos e sua influência sobre os repre-sentantes.

Encetamos, portanto, os primeiros passos na vida política eno sistema parlamentar subordinados à eleição indireta, que as-sim se entranhou em nossa organização política.

Para a eleição dos procuradores gerais das províncias, con-vocados por D. Pedro I, então príncipe regente, por decreto de 16de fevereiro de 1822, "para ir de antemão dispondo e arraigandoo sistema constitucional", ainda serviu a legislação espanhola,mandando-se elegê-los pêlos eleitores de paróquias, reunidos nascabeças das comarcas.

Os 100 deputados, convocados por decreto de 3 de junhopara assembleia geral constituinte e legislativa, foram eleitos pe-las instruções de 19 de junho de 1822. O sistema é com pouca dí-

\ ferença o que a constituição depois adotou. A eleição é de doisgraus. Só eram excluídos de votar nas eleições provinciais (arts.7°, 8(-} e 99) os que tivessem menos de 20 anos, sendo solteiros;os filhos famílias; os que recebessem salário ou soldada, menosos guarda-livros, primeiros caixeiros de casas de comércio, cria-dos da casa real, menos os de galão branco; os administradoresdas fazendas rurais e fábricas; os religiosos regulares; os estran-geiros não naturalizados e criminosos. Dissolvida a assembleiaconstituinte, não se realizou a eleição da convocada com o mesmotítulo pelo decreto de 17 de novembro de 1822, julgada desne-cessária pela apresentação do projeto de constituição organizadopelo conselho de estado, como diz o decreto de 26 de março de1824. Com este decreto publicaram-se as instruções que regeremas eleições de deputados e senadores até 1842, com algumas mo-dificações e explicações, entre outras, da resolução de 29 de ju lhoe decretos de 6 de novembro de 1828, de 28 e 3 de junho de 1830.

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Tanto quanto se podia esperar de uma legislação imperfeitae de um povo não educado para o regime parlamentar, as nossasprimeiras eleições correram regularmente, ou antes deram emresultado a eleição de deputados, que representavam realmente opovo, suas ideias e sentimentos.

Na primeira eleição a que se procedeu no Império, o governonão tomou parte na designação dos deputados; o mesmo, porém,não praticou quanto a de senadores, como diz o Sr. Pereira daSilva, ( ]) indicando nomes, mas prudentemente. Na segunda elei-ção, legislatura de 1830 a 1833, a oposição, que infelizmente tinhamuito de pessoal ao monarca, apresentou-se em luta aberta con-tra o governo, que por seu lado aceitou-a, procurando derrotaros adversários. O espírito público, então vigoroso, sustentou acausa da oposição, sendo eleitos muitos oposicionistas e derrota-dos os governistas. Vasconcellos veio o primeiro na lista de Minas,Evaristo foi eleito. São fatos significativos, e desde então únicosno Império, que sendo nomeado ministro da Justiça o deputadopela província de Minas, Lúcio Soares Teixeira de Gouvêa, e pro-cedendo-se a nova eleição em 1830, foi eleito era seu lugar JoséFeliciano Pinto Coelho da Cunha, posteriormente barão de Cocais.Pouco tempo depois, nomeado ministro do Império o desembarga-dor José António da Silva Maia, também deputado pela provínciade Minas, foi vencido na eleição a que se procedeu em janeiro de1831, e eleito Gabriel Francisco Junqueira, mais tarde barão deAlienas. (-)

A eleição de 1830 excitara grande efervescência e agitaçãopolítica no conflito travado com tamanho ardor entre o governoe a oposição.

O desencadeamento de paixões políticas, que seguiu-se ao 7de abril, não conheceu mais limites nos excessos eleitorais. Um

(1) Reinaldo de D. Pedro I. Narrativa histórica.(2) Durante a legislatura de 1834 a 1837, sendo nomeado ministro

do Império Joaquim Vieira da Silva e Souza, e procedendo-se a novaeleição em 1835, foi eleito em seu lugar Frederico Magno Abranches.Ignoramos os motivos que ocasionaram este acontecimento, ao qual nuncaouvimos atribuir uma manifestação da opinião pública sobre a nomeaçãoministerial,

O deputado por Pernambuco Sá e Albuquerque tendo aceitado umapasta no ministério de 24 de Maio, não foi reeleito. Já não era porémministro quando se procedeu à eleição. O gabinete de 24 de Maio apenasdurou três dias.

Além destes quatro, não nos consta nem um outro caso de não tersido reeleito o deputado nomeado ministro. Os dois primeiros, porém,são os únicos a que se ligou significação política, mormente o segundo.

membro do partido liberal (;1) assim apreciava, em 1845, o inte-resse que se ligava então às eleições, das quais todo o governodependia, excitando por isso tanto exaltamento e violência: "Comregente de seu lado e câmaras suas, estava o partido vencedorpor quatro anos no poder, fossem quais fossem os meios porqueo houvesse ganho." As instruções de 26 de março nada garantiam,antes facilitavam o furor pouco escrupuloso das facções e dospartidos em conquistar o poder.

O resultado da eleição paroquial dependia absolutamenteda mesma eleitoral: seu poder e arbítrio não conheciam limites;sua formação era a mais irregular e filha sempre das inauditasdesordens e demasias.

Segundo o § 3° do capítulo 2° das instruções, no dia daeleição o presidente da assembleia eleitoral (era o juiz de foraou ordinário, ou quem suas vezes fizesse nas freguesias), de acor-do com o pároco, propunha à assembleia eleitoral, isto é, à massado povo reunido na matriz, dois cidadãos para secretários e doispara escrutadores, que fossem da confiança pública. Estes quatrocidadãos, sendo aprovados ou rejeitados por aclamação do povo,com o presidente e o pároco, formavam a mesa eleitoral.

A esta mesa assim composta, a lei entregava um poder ili-mitado. Não havia nenhuma qualificação anterior de votantes:aceitava a mesa os votos de quem queria, e recusava outros apretexto de falta de condições legais. Não havia chamada, nemprazo algum marcado para o recebimento das cédulas, que come-çava e terminava quando parecia à mesa.

Além da maior amplitude e arbítrio na faculdade de conhe-cer da idoneidade dos votantes para aceitar-lhes os votos, aindaa lei {§ 3? do capítulo 2°) ordenava ao presidente que perguntasseaos "circunstantes (palavras textuais) se algum sabia ou tinhaque denunciar suborno ou conluio para que a eleição recaísseem pessoa ou pessoas determinadas." "Verificando-se por examepúblico e verbal (continuava a lei) a existência do fato, se houverarguição, perderá o incurso o direito ativo e passivo de voto, poresta vez somente. A mesma pena sofrerá o caluniador." A inge-nuidade desta disposição é digna dos tempos patriarcais.

O poder da mesa ia até o ponto de ser ela quem marcava onúmero dos eleitores da paróquia, em que funcionava. Para a de-signação deste número a lei estabelecia condições; porém era elade tal modo executada, que dava frequentemente lugar a abusos,como os referidos no relatório do ministro do Império de 1837 (o

(3) O Sr. V. de Souza Franco. Discurso na câmara dos deputados nasessão de 19 de fevereiro de 1845.

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Sr. Limpo de Abreu), de figurar votando no colégio do Lagarto,composto de cinco freguesias na província de Sergipe, 3.627 elei-tores! A votação dos distritos de Piancó e Souza na província daParaíba, diz o mesmo relatório, suplantou pelo número os votosde todo o resto da província e só por si nomeou os deputados. (')

Com tais faculdades compreende-se a suma importância queadquiria a nomeação das mesas eleitorais. Era entretanto entre-gue à aclamação do povo, que aceitava ou rejeitava as pessoas in-dicadas pelo presidente. Ainda se conservam, e é provável que seconservem para sempre, na lembrança de todos os que assistiramàs eleições anteriores a 1814, as cenas de que eram teatro asnossas igrejas na formação das mesas eleitorais. Cada partido ti-nha seus candidatos, cuja aceitação ou antes imposição, era ques-tão de vida ou morte. Quais, porém, os meios de chegarem as di-versas parcialidades a um acordo, Nenhum. A turbulência, o ala-rido, a violência, a pancadaria decidiam o conflito. Findo ele, opartido expelido da conquista da mesa nada mais tinha que fazerali, estava irremessivelmente perdido. Era praxe constante: decla-rava-se coato e retirava-se da igreja, onde, com as formalidadeslegais, fazia-se a eleição conforme queria a mesa.

Ainda assim, .nenhum candidato estava seguro nas eleiçõessecundárias. Estes eleitores, que com tanta dificuldades arranca-vam o direito de falar em nome dos votantes, não se preocupa-vam com candidato algum à deputação. Custaria a compreenderque interesse poderiam ter em praticar tantos excessos para ex-clusivamente servir ao governo, se em câmbio não esperassem osafagos oficiais e nomeações que lhes lisonjeavam a vaidade. {r>}Reunindo-se nos colégios para a eleição secundária, assinavam asatas em branco e remetiam-nas aos gabinetes dos presidentes dasprovíncias, onde afinal se fazia livremente a eleição. Estes fatosnas províncias do Norte, sobretudo, não constituíam exceção. Osregistros das atas nas notas dos tabeliães públicos foram criadosdepois. Por sua vez ficaram inutilizados com o recurso das dupli-catas eleitorais.

(4) Por este motivo o governo, de sua própria autoridade, anulou aeleição dos deputados dessa província, como consta do decreto de 6 demarço de 1837.

(5) Um fato atual mostra claramente quão pouco preocupam-se oseleitores com o nome dos candidatos. Nas eleições deste ano houve maisde um distrito, de províncias diferentes, em que os candidatos do governonão só obtiveram unanimidade de votos dos eleitores regulares, como aindadas diversas turmas de elc-itores das freguesias em que houve duplicatasde eleição. Tal era o fervor de votar com o governo que disputou-se ar-dentemente a eleição para saber-se quem teria a glória de votar no governo.

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Não temos por costume citar artigos de relatórios dos ministros de estado. Nessas páginas secas, fastidiosas, incolores, desem-penha-se de ordinário a arte oficial de escrever sem se dizer coisaalguma. Fazem, porém, exceção os artigos que vamos trasladar.Foram escritos por ministros de ambas as escolas políticas e re-traiam as opiniões da época.

No relatório de 1837, pág. 5, dizia o ministro do Império, oSr. Limpo de Abreu (visconde de Abaete): "Em diversos pontosdo Império as eleições tanto para o corpo legislativo, como paraos cargos municipais, têm dado causa a agitações mais ou menosgraves; e se este objeto não for por vós tomado em séria consi-deração, deve-se receiar que desordens maiores apareçam, e quese veja infelizmente comprometida a paz interna. . . O cidadãosisudo e pacífico naturalmente se retira do foco da desordem, emuito difícil é discriminar entre os outros quais os agressores equais os agredidos, e achar testemunhas imparciais, que depo-nham contra o delito e sobre os delinquentes. As leis eleitoraissão a base do sistema representativo: onde essas leis forem vi-ciosas, o sistema necessariamente há de padecer, e porventuraalterar-se em sua essência. . .

"O governo viu-se na dura necessidade de anular as eleiçõesfeitas nas províncias de Sergipe e na da Paraíba. Grossos parti-dos se apresentaram em campo, e por meio das mais inauditasilegalidades e cabalas propuseram-se a ganhar a maioria dos votospara seus candidatos. O excesso na primeira daquelas provínciassubiu a tal ponto, que só o número dos eleitores, que figuramcomo votando no colégio do Lagarto, pertencentes a cinco fregue-sias, eleva-se a 3.627. Os habitantes das diferentes vilas não ces-sam de reclamar por enérgicas providências contra a repetição desemelhante mal: na segunda o excesso foi nos seus resultados pa-recido com aquele, nos distritos de Piancó e Souza. Estes sufoca-ram os votos dos eleitores de todos os outros distritos e dispuse-ram das eleições da província inteira. É de esperar, senhores, quenão faltareis com o adequado remédio a um objeto de tamanhamagnitude."

No relatório do ano seguinte (1838) dizia o ministro interinodo Império, Bernardo Pereira de Vasconcellos, pág. 4 : . . . "nãocansarei a vossa paciência com a repetição do que então se disse(no relatório anterior); cumprindo-me, portanto, remeter-vos aoreferido relatório e aos documentos que existem em poder docorpo legislativo, de quem o governo espera o conveniente remé-dio em assunto de tamanha importância, no qual a experiênciatem mostrado a necessidade de providências vigorosas, para que

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se não repitam os abusos, que se tem cometido. Nem as disposi-ções das leis eleitorais, nem as do código criminal são bastantespara conter dentro dos limites do lícito e do honesto as paixõesque nestas ocasiões se desencadeiam e que ultimamente se osten-taram com uma arrogância e despejo sem exemplo. É necessário,senhores, que vos penetreis bem da persuasão de que a falta deadequadas e vigorosas providências sobre esta matéria trará con-sigo a gradual mas infalível destruição do sistema representa-tivo."

Francisco de Paula de Almeida Albuquerque no relatório de1839, pág. l?, dizia:

"Por vezes tem sido trazido ao vosso conhecimento os abusospraticados no ato das eleições; é com inexplicável pesar que eureconheço quanto se acha adulterado esse princípio de liberdadepolítica, que a constituição reconhece e a ambição tanto prostitui."

Este ministro termina o seu artigo sobre eleições com a sin-gular declaração de que existiam trabalhos para uma reforma,porém que ele os não conhecia, e entregava o assunto às câmaras.

No relatório de 1824 o ministro do Império o Sr. CândidoJ. de Araújo Vianna marquês de Sapucaí) dizia à pág. 4:

"As eleições ultimamente feitas para deputados das assem-bléis legislativas e para os cargos municipais, foram em diversoslugares acompanhadas de agitações mais ou menos graves; deabusos e excessos mais ou menos escandalosos, segundo o grau deefervescência das paixões postas em movimento pêlos partidos,que em tais ocasiões só procuram triunfar a todo o custo, semcurar da legalidade dos meios que empregam para conseguiremo desejado fim. Os defeitos da nossa elei eleitoral são assaz co-nhecidos e a experiência os tem tornado tão palpáveis, que pas-sá-los em resenha seria duvidar de vosso discernimento; e comoem tais leis assenta principalmente o sistema representativo, nãoadmirará que, continuando a falta de providências vigorosas, oedifício social, minado em sua base, venha a desmantelar-se poucoe pouco até que ao fim se aniquile. A volta sucessiva de cadaperíodo eleitoral aumenta de dia em dia a necessidade de leisadequadas e a nação as espera de vossa sabedoria e patriotis-mo."

No relatório do ano seguinte dizia o mesmo ministro:"Não será para admirar que entre nós caia em completo

descrédito, que chegue a tornar-se odioso o sistema represen-tativo, se a sabedoria da assembléia-geral não ocorrer com enér-gicas e bem calculadas providências, que assegurem a pureza

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das eleições... O escândalo tem chegado a tal ponto, que passacomo princípio inquestionável que, feitas as mesas paroquiais,está feita a eleição dos representantes da nação; e estabelecidoeste princípio, não há abuso, não há atentado, não há crime, queos partidos desenfreados não cometam para instalarem nas mesasas pessoas da sua facção e afastarem não só as que lhes são hostis,mas ainda aquelas que lhes não são estreitamente aderentes.Era de urgente e absoluta necessidade coibir tão escandalososaubsos."

O relatório em que se lê este último trecho, de 1843, foi lidona l? sessão da 5^ legislatura, já eleita pelas instruções de 4 demaio do ano anterior. Estas instruções foram objeto de repetidasacusações ao governo, sendo a primeira sua inconstitucionali-dade, isto é, falta de competência do governo para regular omodo prático das eleições, o que o art. 97 da constituição cometeà assembléia-geral legislativa. A acusação era procedente e ogoverno só tinha a escusa da situação difícil em que se achara.Defendia-se ele, entretanto, dizendo que, sendo as instruções de26 de Março de 1826 emanadas do poder executivo, nenhumarazão ravia para que o governo não pudesse desfazer e substituiresse ato. Releva, porém, notar que as primeiras instruções pre-cederam a reunião da primeira assembleia legislativa, e não podiao governo, única autoridade então existente, deixar sem exe-cução essa parte da constituição. Tendo depois funcionado a as-sembléia-geral por 15 anos, sem decretar a lei regulamentar deeleições, era claro que havia legalizado a do governo. Não ofizera só tacitamente, mas expressamente, quando na lei de 30de Julho de 1830, por exemplo, depois de estabelecer que as con-dições de capacidade do eleitor deviam ser avaliadas na cons-ciência dos votantes, acrescentava que para este efeito somenteficava sem vigor o § 7? do capítulo 29 das instruções de 26 deMarço de 1826.

A conjuntura em que o governo se achava era difícil. O mi-nistério de 23 de Março havia dissolvido a câmara de 1842, queele declarara ilegítima e não-representante da opinião nacionalpêlos vícios da eleição, oriundos não só das fraudes e eferves-cência das paixões partidárias, como da incapacidade da lei emcontê-las. Não podia ele mandar proceder às eleições pela lei quecondenava; e com o exaltamento partidário e faccioso daquelaquadra revolucionária era impossível, segundo entendia, respon-der pela ordem pública, se as novas eleições fossem regidas pelasinstruções em vigor.

As instruções de 4 de maio constituíram um melhoramentono sistema eleitoral. Criaram uma qualificação prévia dos votan-

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í tes (e também dos elegíveis) feita por uma junta composta dojuiz de paz, do pároco e do subdelegado de polícia. A mesa elei-toral, à qual só competia conhecer da identidade, e não mais daidoneidade dos votantes, era nomeada por 16 cidadãos, cujos no-mes a sorte designava entre os elegíveis. Eram proibidos os votospor procuração, origem de infinitos e curiosíssimos abusos.

A formação da junta levantou enérgica oposição. Até então aeleição pertencia à turbulência popular; passava agora à impo-sição da autoridade policial, árbitro único das qualificações e,portanto, da eleição. O governo defendia-se mostrando a impos-sibilidade de compor de outra forma uma junta que oferecessegarantias, e de ter adotado um alvitre já lembrado por pessoaseminentes do partido liberal.

A este respeito precisamos referir o que havia. Em Maio de1838 foi oferecido no senado um projeto, assinado pêlos senadoresCassiano, marqueses de Paranaguá, de Palma e de Maricá, e seisoutros para regular as eleições primárias e secundárias. Esteprojeto definia a renda líquida, providenciava sobre a qualifica-ção prévia dos votantes por uma junta formada do juiz de paz edo pároco, com recurso para o ministro do Império e presidentesdas províncias nas capitais, e para os juizes de direito nas respec-tivas comarcas. O projeto não teve andamento. Em 1839 a câmaraelegeu uma comissão para apresentar um projeto de reforma elei-toral, composta de Andrada Machado, Silva Pontes e AlvaresMachado. Procurando remediar os defeitos das instruções de 26de Março, organizava uma junta do juiz de paz, do vigário e deuma pessoa nomeada pelo governo dentre os cidadãos abastadosdo lugar, com as qualidades para eleitor. Estabelecia o recursopara o presidente da província, auxiliado por um conselho for-mado de seis eleitores, tendo o presidente voto de qualidade;também definia a renda líquida. O primeiro projeto concediao recurso final nas qualificações ao governo; o segundo, alémdisto, introduzia desde logo na junta um delegado do governo.

Na formação das juntas de qualificação julgava-se ter dadotodas as garantias, chamando-se para compô-las o juiz de paz,que representava o elemento popular; o subedelago de polícia,fiscal do governo encarregado de manter a ordem e a regularida-de do processo eleitoral; o pároco, entidade neutra entre o repre-sentante do povo e o do poder.

A intervenção das autoridades policiais criadas pela lei de3 de Dezembro prejudicou incalculável mente esta lei, fazendocrer à nação que seu verdadeiro fim era montar uma máquinade eleição. A lei acabava de ser promulgada, e transformaram-

se logo as autoridades, que ela criou, em agentes eleitorais, jus-tamente na ocasião em que se ia travar uma luta eleitoral cmextremo apaixonada, depois, da dissolução da câmara temporá-ria em 19 de Maio de 1842. Se não fora esta circunstância; seas instruções de 4 de Maio não tivessem enlaçado a lei de 3 deDezembro no seu sistema e na odiosidade que excitaram, aquelalei não se teria desvirtuado na opinião pública e outros teriamsido os seus resultados e o modo de considerá-la.

Num ponto as instruções de 4 de Maio foram aplaudidas,pondo termo ao escândalo dos votos por procuração, de que seabusava de modo indecoroso.

Até então somente o governo tinha legislado sobre matériaeleitoral; vamos agora ver este assunto nos debates do parlamentocom a lei de 19 de Agosto de 1846.

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CAPÍTULO II

A Lei de 19 de agosto de 1846

A discussão desta lei oferece vasto campo para apreciaçõessobre a nossa história parlamentar. Entretanto, tocaremos ape-nas no que for pertinente ao nosso fim, isto é, assinalar os de-feitos constantes do regime eleitoral reproduzindo-se em todas asépocas, sua agravação ou atenuação segundo as reformas quese tem operado, e o estado da opinião pública e parlamentarem cada período.

A situação política inaugurada em 23 de Março de 1841,que dissolvera no dia l1? de Maio de 1842 a câmara temporária,havia caído com o ministério de 30 de Janeiro. A política opostadirigia os negócios públicos desde 2 de Fevereiro de 1844; dis-solvia por sua vez a câmara temporária a 24 de Maio desse anoe mandava proceder às eleições, pelas instruções de 4 de Maio de1842. Que elas prestavam-se admiravelmente à intervenção dogoverno, provaram-no a última evidência essas eleições, que dei-xaram impressão indelével em todo o Império, especialmente naprovíncia do Rio de Janeiro, presidida por Aureliano de Souza eOliveira Coutinho, depois visconde de Sepetiba. Como únicoexemplo geral ( J) lembraremos que, de 116 comarcas em queentão se dividia o Império, só num dia (4 de Julho) foram pu-blicadas as remoções de 52 juizes de direito!

Quando o presidente da província do Rio de Janeiro avocavaprocessos, como no termo de Piraí, suspendia outros, como emS. João do Príncipe, e dava carta branca a um indivíduo tal comoo padre Cêa, em Saquarema, bem se poderia dizer que o malestava nos homens e não nas leis.

Os relatórios do ministério do Império de 1844, 45 e 46nada dizem acerca da reforma eleitoral; o silêncio deste úl-

(1) Sr. Dr. Mello Mattos, Páginas de história constitucional. O leitorpoderá com vantagem ler a respeito este escrito de real merecimento, salvoo ponto de vista em que se colocou o autor.

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timo ano, quando no parlamento se achava travada uma impor-tante discussão, é sobremodo singular.

Na sessão de 21 de Janeiro de 1845 da câmara dos depu-tados foi apresentado por Odorico Mendes um projeto contendo47 artigos, assinado por Paulo Barbosa e por ele, reformandoa legislação eleitoral. No dia 6 de Fevereiro, em substituição aeste projeto, a comissão de constituição, a cujo exame fora sub-metido, composta de António Carlos, Urbano e T. Ottoni, apre-sentou outro projeto contendo apenas quatro artigos, corres-pondendo a outros tantos títulos, com grande número de pa-rágrafos, muito mais extenso, mais metódico, porém pouco dife-rente do primeiro. A 2^ discussão, pela qual se começou naforma do regimento (era projeto de comissão da câmara), foiiniciada no dia 13 do mesmo mês por um discurso insignificantede Villela Tavares. Assim foram os que se seguiram até o séti-mo orador, H. Ferreira Penna, que pronunciou um discursosuculento. "O pensamento que predomina na atualidade é o se-guinte, diz o orador (sessão de 14 de Fevereiro): o governo su-premo, subdelegados, as autoridades constituídas, devem ser con-sideradas como inimigos comuns em tempo de eleições e convémdebelá-los por todos os meios."

Paulo Barbosa declara que ele e o outro signatário do pro-jeto haviam tido largas conferências com a comissão. Duas ideiasrepugnavam à comissão: uma foi aceita por dois membros, aincompatibilidade de alguns funcionários; a outra, a elevação docenso (o cômputo em prata dos 100$ de renda fixados pela cons-tituição), só foi inserta no projeto substitutivo para a discussão,não o aceitando a comissão. Entende que o projeto cerceia a auto-ridade do governo em matéria eleitoral, e diz: "Declaro muitoexplicitamente que sou amigo de alguns dos Srs. ministros; masafirmo, e devo ser acreditado, que nem eu, nem o meu amigo,nem os membros da comissão, fomos o veículo do governo quandoapresentamos este projeto."

Ferraz (barão de Uruguaiana) entende que o projeto quer dargarantias à minoria: "Só podemos legislar, observa, sobre o modoprático de eleições; tudo quanto este projeto contém de exclusões,restrições ao gozo de direitos políticos do cidadão, na parte ex-cepcional, é inconstitucional." Era inconstitucional, segundo suaopinião: l1?, na parte que exclui de serem votados os magistra-dos e certos funcionários; 2°, na exclusão do voto das praçasde pré que têm a renda constitucional e na dos guardas nacio-nais, destacados em serviço militar; 3°, na elevação da renda decem a duzentos mil-réis. Manifesta-se energicamente contra todo

fíl

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o projeto por iníquo, parcial ,opressivo, tirânico e anticonsti-tucional.

Vários oradores demonstraram, segundo os sãos princípioseconómicos, que a elevação da renda era apenas nominal emrelação ao quantum da constituição; o censo eleitoral não podiaficar dependente das variações nominais da moeda, que haviaenfraquecido na razão de 100 para 200. No projeto de constitui-ção, que discutiu a constituinte, a renda era avaliada para todosos graus de capacidade política, votante, eleitor, deputado etc.pelo preço de certo número de alqueires de farinha de mandio-ca. António Carlos, autor do projeto, havia defendido esta partesingular, e mui ridicularizada então do seu projeto, com sólidosfundamentos, visto a instabilidade do meio circulante que nessaépoca tocava o extremo da extravagância. Agora, porém, defen-dia ele a elevação da renda de modo incompleto, e a exclusãodas praças de pré, não pela falta de renda, mas por falta decapacidade, como uma ilação da constituição.

O Sr. Barros Pimentel assim como via o espírito democráticonas instruções de 26 de Março, e o espírito e tendências auto-ritárias nas de 4 de Maio, via no atual projeto espírito e tendên-cias mais que democráticas, demagógicas. Devemos confessarque isto causou estranheza. Combate a "exótica" distribuiçãode influência às minorias, que nada têm que intervir, expondoideias extravagantes a respeito. O deputado Junqueira sentia quenão se apresentasse um projeto de reforma da constituição; o queestava em discussão, tratando somente de fórmulas, era incom-pleto. Via desde logo que a onipotência das qualificações e dasmesas eleitorais continuaria, com a diferença que seria exercidapelo juiz de paz, que ficava sendo o árbitro; profligava os invisí-veis que sob diferentes nomes votavam em várias freguesias.Supunha, porém, a câmara, que, constituindo árbitro supremoo juiz de paz, autoridade popular, ficavam sanados todos os males.Era tal a ilusão a este respeito que o Sr. Salles Torres-Homem(visconde de Inhomirim), sucedendo na tribuna ao precedenteorador, entendia que o projeto era destinado a fechar a porta aoarbítrio ainda pêlos mais exíguos interstícios. "As fraudes resu-miam-se na fórmula muito conhecida: feita a mesa, está feita aeleição; a câmara a destruiu completamente." O Sr. Urbano,membro da comissão que organizou o projeto, exclamava "Opensamento da comissão é a eleição livre; a eleição feita pelanação, não queremos a eleição a capricho do governo". Outrosnão pansavam assim. Ferraz (barão de Uruguaiana) entendia queas mesmas irregularidades apareceriam, existindo os mesmos ele-mentos de imoralidade e influência indébita do governo. Com a

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discussão, os espíritos foram-se aclarando, e já Nunes Machadodizia também que o projeto criava uma verdadeira ditadura parao juiz de paz; e Franco de Sá reconhecia a onipotência que te-riam as mesas eleitorais na faculdade de conhecerem da iden-tida dos votantes.

Durante toda a discussão, o ministério conservou-se indife-rente à sorte do projeto. Na sessão de 18 de Fevereiro, Peixotode Brito observava a este respeito: "Um nobre deputado por Mi-nas se admirou que o governo se não tenha apresentado na dian-teira desta discussão, e eu entendo que o governo tem proce-dido prudentemente, deixando ampla liberdade na discussão deum projeto desta ordem. Não se trata de meios governativos,não se trata de dar força ou dinheiro, não foi o projeto iniciadopelo governo, portanto ele faz bem em conservar-se fora da dis-cussão e assim teremos bom resultado". Finalmente, depois deser o governo várias vezes provocado, em sessão de 18 de Março,discutindo-se o orçamento do Império, pelo qual fora interrom-pida a discussão da reforma eleitoral desde 10 do mesmo mês, oministro do Império e presidente do Conselho, Almeida Torres(v. de Macaé) proferiu estas palavras: "Pelo que diz respeito aoprojeto de lei que se discute nesta câmara, relativo ao modode se fazerem as eleições; sem entrar no miúdo exame de todasas suas doutrinas, em geral, minha opinião individual, e comosenador, é a favor dele; não me julgo, porém, obrigado, comoministro, a dizer se o governo o aceita. Também não acho razãonos que pensam que o governo devia ser convidado para interpora sua opinião acerca da necessidade de uma semelhante lei,quando essa necessidade é por nós proclamada; e sobre suas dis-posições particulares, o governo nada tinha que dizer, porqueesta tarefa compete ao corpo legislativo; em tempo competente,se o governo não julgar conveniente, esta lei, aconselhará àCoroa o negar-lhe a sua sanção."

A opinião que pugna pela liberdade de discussão no par-lamento sem a pressão constante dos ministros, era agora levadaa um extremo erróneo: o governo nada tinha que dizer sobre tãoimportante reforma; a sanção da Coroa era a sua égide contraqualquer medida inconveniente adotada pelas câmaras. O certoé que estas palavras do ministro do Império foram as únicaspronunciadas pelo ministério na discussão desta reforma, tendofalado 62 oradores.

A discussão foi especialmente renhida sobre a doutrina do§ 13 do art. 49, assim concebido: "Nas províncias, em que exer-citarem jurisdição ou autoridade, não podem ser eleitos depu-

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tados, ou senadores, os generais em chefe, os presidentes, oscomandantes das armas, os chefes de polícia, os inspetores dastesourarias, os chefes da administração da fazenda provincial eos juizes de direito".

Várias emendas se apresentaram a este parágrafo, entre ou-tras, na sessão de 6 de março, duas: uma de Alvares Machado,declarando que certos funcionários que fossem eleitos membrosda assembléia-geral, ou provincial, aceitassem qualquer dessaseleições, perderiam por este fato os empregos que exerciam, eproibia também ao deputado receber empregos e despachos dogoverno. A outra emenda, de Rodrigues dos Santos, era quaseidêntica, dispondo, porém, a respeito dos juizes de direito quedeixariam vagas as suas comarcas durante a legislatura somente.

Na votação nominal do § 13 na 2? discussão a 9 de Abril,votaram a favor 21 deputados, os senhores: Acahuam, FrançaLeite, Cunha Barbosa, Santos Barreto, Gomes dos Santos, Getulio,Meirelles, Coelho da Cunha, Odorico Mendes, Paulo Barbosa, Ot-toni, Andrada Machado, Campos Mello, Gavião Peixoto, AlvaresMachado, Souza Queiroz, Rodrigues dos Sanctos, Machado de Oli-veira, Tobias, Maranhão e Carvalho. Votaram contra os senho-res: Souza Franco, Paranhos, Bricio, Franco de Sá, Moura Ma-galhães, Sanctos Almeida, Toscano de Brito, Ayres do Nascimen-to, Uchôa Cavalcanti, Afonso Ferreira, Rego Monteiro, Mello, Lo-pes Netto, Moniz, Tavares, Peixoto de Brito, Villela Tavares,Nunes Machado, Mendes da Cunha, Urbano, Barros Pimentel, Sáe Camará, Amancio, Ferraz, Ferreira França, Ribeiro, GonçalvesMartins, Couto, Junqueira, Wanderley, Rios, Souto, Barbosa deAlmeida, Amaral, Monjardim, Veiga, bispo capelão mor, MonizBarreto Josino, Valdetaro, Souza França, Saturnino, Costa Pinto,Godoy, Dias da Motta, Torres-Homem, Antão, Marinho, Fernan-des Torres, Dias de Carvalho, Mello Franco, Cerqueira Leite, Al-varenga, Sanctos Azevedo, D. Manoel, Stockler, Coelho, SouzaMartins e Souza Ramos. Total 58 votos.

Foi aprovada a última parte da emenda de Rodrigues dosSantos idêntica à de Alvares Machado. No número dos depu-tados, que votaram contra o parágrafo da comissão, estavamCoelho e Ernesto França, ministros da guerra e dos negócios es-trangeiros; no dos 21 primeiros estavam os mais notáveis chefesliberais com exceção dos do Norte, cujo principal grupo eramos praieiros. Grande sensação causou o voto dos ministros, prin-cipalmente porque na sessão de 24 de Março havia o relator dacomissão, António Carlos, declarado, que se entendera com o ga-binete sobre o projeto. Não cabe no nosso plano referir as con-

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sequências deste fato a que se atribuiu a crescente desuniãodo gabinete com a maioria da câmara e a retirada deste, ao qua lsucedeu o de 5 de Maio.

Entretanto, ainda durante o mesmo ministério, a 27 de Abr i l ,foi votada a lei em 3? discussão, por não haver mais orador ins-crito com a palavra. A votação durou cerca de três horas porcausa das multiplicadas emendas da comissão e muitas mais dosdeputados. Foram aceitas muitas que melhoraram o projeto; masinfelizmente foi suprimida a disposição, que tão a medo introdu-zia o princípio das incompatibilidades. A oposição, que energica-mente combatera este projeto, sem dúvida um progresso na de-feituosíssima legislação eleitoral, tornara-se muito mais cordatana 3^ discussão e já reconhecia algumas das suas vantagens.Era palpável a modificação, que se operara no partido conserva-dor em relação ao projeto; os chefes no senado, também a prin-cípio infensos, embora não estivesse o projeto em discussão na-quela câmara, tornaram-se seus defensores no ano seguinte, quan-do ali se abriu a discussão.

Na sessão do senado de 6 de junho de 1846 a comissãode constituição, composta de Vergueiro, Paula Souza e CostaFerreira (barão de Pindaré), apresentou seu parecer sobre o pro-jeto vindo da câmara dos deputados e formulou inúmeras emen-das, entre as quais sobresaiam, por sua importância, uma crian-do círculos eleitorais de dois deputados e um senador, e outraestabelecendo algumas incompatibilidades parlamentares. No dia16 de Junho, quando ia o projeto entrar em discussão, Vascon-celJos ofereceu, como seu, o projeto vindo da câmara, com alte-ração apenas do art. IV e supressão do art. 120, dizendo: "É indispensável quanto antes uma lei eleitoral; do contrário, adeus ins-tituições do país! A que existe está desmoralizada, mormentepêlos últimos excessos de que foi pretexto". Refere que na pro-víncia do Rio de Janeiro, de nove juizes de direito, sete foramremovidos; de vinte e dois juizes municipais, onze foram remo-vidos; a designação dos suplentes alterada contra a lei. Nãoobstante serem os juizes de paz do partido dominante, aindaassim, foram suspensos dezessete; a um de Saquarema. continuao mesmo senador, dirigiu o delegado de polícia um ofício comestas palavras "Como Vm. tem de ser responsabilizado, declaro-Ihe que fica suspenso do exercício de suas funções. O chefede polícia ordenou aos seus delegados que não cumprissem or-dens de habeas corpus contra prisões por eles ordenadas, "É un icrime, exclama o orador, que só no ano de 1844 se poderiacometer no Brasil". Seis ou sete cidadãos presos em Cabo Friorecorreram para o juiz de direito; o delegado declarou que esta-

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vam à ordem do chefe de polícia, e tanto bastou para que o juiznão quisesse mais tomar conhecimento do recurso. Refere aindaos fatos do Piraí, a que em outro lugar aludimos.

O senador Carneiro Leão requer urgência para entrar emdiscussão o projeto de Vasconcellos, preterindo-se o da comis-são; não acha o projeto perfeito, e o adota pela urgência de haveruma lei de eleições; julga convenientes as duas principais ideiascontidas nas emendas da comissão, já mencionadas. No mesmosentido, e mais pronunciadamente, fala Paula Souza. O marquêsde Oíinda manifesta-se contra a reforma nestes termos; "Eu de-claro francamente (e é para isto que me levantei) que não atribuoo que houve nessas eleições (as de 1844) às instruções de 4 deMaio; não acho fundada esta acusação, e para mim a maior provade que as instruções de Maio são boas é que para se vencer aseleições foi preciso calcá-las aos pés, desprezá-las, assim como aoutras muitas leis. Não foram executadas; façam-se outras! Queconclusão, senhores! Não foram, executadas? Pois executem-se:eis o que eu esperava que fizesse o legislador. Levantei-me sópara fazer esta declaração muito publicamente: não são as ins-truções que produziram estes atentados de que temos notícia;foi a má execução delas."

O motivo que levava Vasconcellos a este procedimento, quan-do o projeto da câmara ia entrar em discussão, era o receio deque, adotado ele, e, rejeitado o senado o art. 120, que no seuprojeto era suprimido, pudesse a câmara requerer fusão e co-locar o senado em situação difícil. Honorio, que a princípio oapoiava fortemente, em sessão posterior declarou que esperavado senado firmeza em recusar-se à fusão. Vasconcellos explica opensamento que o guiou, e, retirado o requerimento, procede-seà discussão regular do projeto da câmara.

O artigo em questão era o que não só dava competênciaaos mesmos eleitores de deputados para elegerem os senadores(conforme até então sempre se fizera, com exceção única de umaeleição, em 1826, na província da Bahia), como tirava ao senadoa faculdade de julgar da eleições dos seus membros, a qualsempre exercera.

Como em todas as discussões, Vasconcellos sobressaiu nesta,conquanto muito se preocupasse com as últimas eleições da pro-víncia do Rio de Janeiro. Pareceu-lhe má a ideia dos círculos,que teria o inconveniente de trazer de preferência para o par-lamento as celebridades de aldeia: o sistema representativo era,dizia ele, o governo dos melhores, dos mais esclarecidos, dos maisvirtuosos da nação. Referindo-se à emenda da comissão que man-

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dava fazer a eleição do suplente na mesma ocasião, porém se-paradamente da do deputado, pronunciou as mais sensatas pala-vras, defendendo o sistema então em vigor, que permitia ouvi-rem-se os representantes das minorias. Se a eleição dos suplentes,dizia ele, se fizer na mesma ocasião em que a dos deputados,hoje que o governo faz as eleições, não haverá uma voz no corpolegislativo para contrariar qualquer medida do governo, que sejadanosa ao país. "Senhores, continuava, esses suplentes são oseleitos da minoria; e o país não interessa em ouvir a minoria?Que infeliz não é à condição do governo que acha uma câmarauniforme. . . não pode servir ao país; pode servir a um partidoesmagando todos os outros que contrariem ao que a câmara re-presenta. Ora, se o país interessa nas minorias dos corpos legis-lativos, se quanto mais livre é o país com tanto mais atençãoouve a essas minorias, que vantagem nos resulta se impedirmosque apareçam representantes delas no corpo legislativo? É umdos corretivos do atual sistema a eleição dos suplentes, comotem sido até o presente considerado." Mostrando, pois, a conve-niência de ser ouvida a minoria, este notável estadista estabele-cia a questão com toda a clareza, muito antes de ser a ideia sis-tematizada e formulada como teoria nova.

Na sessão de 4 de Julho votou-se o projeto em 3^ discussãocom quatro emendas, das quais duas continham matéria impor-tante: a primeira dando recurso das decisões do conselho munici-pal de qualificação para as relações dos distritos; a segunda man-dando proceder às eleições de senadores por eleitores especiais,de cuja eleição conheceria o senado. Voltando à câmara dos depu-tados o projeto assim emendado, foi discutido e votado em umasó sessão, a 27 de julho, falando o Sr. Rebouças contra as duasemendas acima referidas, Junqueira defendendo-as e Urbano im-pugnando a primeira.

Tal foi a primeira lei que o corpo legislativo promulgousobre eleições em cumprimento do art. 97 da constituição, e queainda vigora nas suas principais disposições. Como vimos, foiela iniciada por dois deputados, alterada pela respectiva comissãoda câmara temporária, discutida com a maior amplitude, cor-rigida e emendada livremente pela maioria e minoria em quasetodos os artigos. Se o ministério em qualquer tempo se preocupoucom a sorte desta lei, apenas o sabemos pela declaração do rela-tor da comissão, António Carlos, que na sustentação do projetorepresentou importante papel.

O projeto, recebido a princípio com veemente e enérgicaoposição pelo grupo conservador da câmara, especialmente pêlosSrs. Ferraz, D. Manoel, Wanderley e Gonçalves Martins, foi de-

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pois, na 3.^ discussão, mais sensatamente encarado, e afinal de-fendido e promovido pêlos esforços dos conservadores do senado,à frente dos quais estavam Vasconcelos e Honorio. A eles se de-veu a passagem da lei, desembaraçando-a das inúmeras emendase profundas alterações da comissão, composta dos chefes liberais,Paula Souza e Vergueiro. Com tais alterações, o projeto não con-seguiria ser aprovado no senado e menos na câmara.

Com o sistema eleitoral da constituição, a lei de 19 de Agostofoi um melhoramento no método prático de eleições sobre asinstruções de 1824 e 1842, principalmente no que dizia respeitoà formação das mesas eleitorais e às qualificações. A discussãonão deixou também de fazer ganhar algum terreno a ideia salu-tar das incompatibilidades parlamentares.

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CAPÍTULO III

A Lei de 19 de setembro de 1855 — Os Círculose as incompatibilidades eleitorais

Na sessão de 27 de Julho da câmara temporária fora defini-tivamente votado o projeto de reforma eleitoral e, com data dodia seguinte, Paulo Souza apresentava na sessão de 3 de Agostono senado novo projelo, contendo as emendas, que, como mem-bro da comissão, propusera ao projeto da câmara dos deputadose sustentara com afinco na tribuna. Este novo projeto ficou,como era natural, nas pastas da respectiva comissão.

No relatório l ido às câmaras, no ano seguinte, pelo ministrodo Império, o Sr. J. M areei Uno de Brito, dizia-se "Tantas foramas dúvidas ocorridas na execução da lei de 19 de Agosto de 1846e tal é a gravidade de algumas e tão transcendente c o objetoem si mesmo, que eu não posso furtar-me ao dever de solicitardo vosso patriotismo a pronta revisão desta lei."

Como presidente do gabinete de 31 de Maio, Paula Souzapromoveu o andamento do seu projeto, sobre o qual pronuncia-ram-se as comissões de constituição e legislação do senado nasessão de 28 de Julho de 1848, concluindo com um projeto subs-titutivo assinado por todos os membros, Honorio, viscondes deMonte Alegre, Olinda e Macaé, Miranda Ribeiro e Vergueiro.Os artigos principais do projeto de Paula Souza eram a eleiçãopor círculos de um senador e dois deputados; eleição especialde suplentes para todos os cargos eletivos; incompatibilidade dealguns funcionários nos distritos de sua jurisdição; uma peque-na elevação do censo pelo cômputo da renda etc. De acordo como autor do projeto, a comissão introduziu várias alterações C);aceitou a eleição por círculos, reduzindo-os a um só deputado,em lugar de dois; aceitou as incompatibilidades; rejeitou, poro m,

(1) Este acordo foi negado polo presidente do conselho o provadodepois pelo marquês de Paraná. Vid. Páginas de História Constitucionalpelo Sr. Dr. Mello Mattos.

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a eleição de senadores por distritos e a eleição especial de su-plentes para todos os cargos eletivos, menos para deputado.

A discussão travou-se principalmente entre Paula Souza, Ho-norio e Vergueiro de um lado, e Vasconcellos do outro. A ideiadominante era fazer com que todas as aspirações e interessesfossem representados no parlamento e que as maiorias provin-ciais não esmagassem as locais ou parciais. Vasconcellos nãovia como o projeto pudesse remediar os vícios das eleições, osquais não eram atacados em sua causa e origem. Na sessão de6 de Julho observava, que o governo era o subornador-mor, eraquem transtornava as eleições, quem privava o cidadão do di-reito de voto. "Quais as providências que dá o projeto contraesta intervenção indébita? Pela minha parte adoto quase todasas disposições do projeto. . . mas que benefícios vêm daí? Jádisse e continuo a dizê-lo, estou desesperado da causa pública.. .No tempo das regências não havia subornos como nos temposde hoje." Entende que o projeto aumenta o poder do governo.Paula Souza opinava justamente o contrário, que a eleição porcírculos diminuía a influência do governo e as fraudes nas elei-ções. Justificando a eleição especial de suplentes de deputado,dizia Honorio na sessão de 27 de Julho: "Nas eleições provin-ciais, as maiorias locais algumas vezes são sufocadas pelas maio-rias provinciais; assim, havia talvez vantagens em que o suplen-te representasse a minoria porque deste modo apareciam nocorpo legislativo todas as opiniões; era, portanto, uma correçãodo sistema entre nós seguido das eleições provinciais. Mas des-de que está adotado outro sistema, que já se dá a possibilidadedas maiorias locais terem representação, não vamos estendero círculo a ponto de ir buscar ainda essas pequenas minorias."

Os argumentos em que se baseava a eleição por círculospodem ser resumidos nos seguintes: l? diminuir a influência dogoverno e as fraudes eleitorais; 2? pôr o eleito em contato como eleitor; 3.° facilitar a fiscalização da eleição por parte das câ-maras, o que é difícil e embaraçoso, quando se trata de umaprovíncia inteira; 4"? oferecer menores perigos e abalos à socie-dade do que uma eleição geral em toda a província, pondo emjogo o conjunto de paixões e interesses provinciais; 5? moderaro espírito de provincialismo; 6.° tirar as grandes deputações oespírito de união e disciplina que as tornam preponderantes so-bre as pequenas; 7*? diminuir a pressão que sobre o governoexercem as grandes deputações vinculadas pêlos mesmos inte-resses; 8*? dar lugar a serem consultados os interesses locais, na-turalmente melhor conhecidos dos deputados do distrito; 9.° fi-nalmente, e este era o principal fundamento a que já nos temos

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referido, impedir que as maiorias locais fossem esmagadas t; anuladas pelas provinciais, de modo a dar entrada no parlamentoa todas as opiniões políticas.

Quanto às incompatibilidades, a discussão não adiantou coi-sa alguma ao parecer das comissões. O Sr. Limpo de Abreu, nasessão de 23 de Agosto, sustentava que elas constituíam antesuma proteção à liberdade do que restrição dela. Seria exato,encarada a questão por um lado: a liberdade do votante, livreda coação da autoridade; mas não considerando-se a perda dodireito de elegível.

Alves Branco, respondendo às constantes provocações deVasconcellos, declarou que em 1831 apresentara um projeto,também assinado por José Bonifácio, dando direito de votar àsmães de família viúvas.

O projeto, votado em 1 discussão, não teve mais andamen-to depois da sessão de 25 de Agosto. Os dissabores do presidentedo conselho, a retirada do ministério, a mudança de políticaque lhe seguiu, deram outro curso às discussões parlamentares,até que, achando-se o relator das comissões, o marquês de Pa-raná, à frente do governo em 1855, de novo fê-lo vir à discussão.Suas convicções eram tão terminantes a este respeito, que esta-mos certos não ter influído nesta sua resolução o desejo deagradar ao partido liberal ou uma transação a que o forçassea política de conciliação.

As comissões reunidas de constituição e legislação apresen-taram seu parecer na sessão de 9 de Junho de 1855. Em sua to-talidade os respectivos membros foram contrários ao projeto,divergindo, porém, entre si. A maioria da comissão, Euzeoio deQueiroz (relator), marquês de Olinda e visconde de Maranguape,entendia que as duas ideias capitais do projeto, incompatibili-dade e eleição por círculos, eram inconstitucionais. Os Srs. Pi-menta Bueno e visconde de Sapucaí adotavam a segunda, quejulgavam vantajosa, e substituíam as incompatibilidades diretasdo projeto, reputadas inconstitucionais, por incompatibilidadesindiretas; isto é, declaravam vago o lugar do empregado públicoque fosse eleito deputado, e quanto aos magistrados, vago so-mente durante a legislatura não podendo perceber ordenado,nem contar antiguidade, dando-se-lhes substitutos. O sexto mem-bro da comissão, o Sr. Gabriel Mendes dos Santos, concordava naconstitucionalidade e conveniência da eleição por círculo e na in-constitucionalidade das incompatibilidades, que ele entretantojulgava mui úteis; porém, temendo uma reforma da constituição,a causa mais perigosa do mundo, esperava que o governo, que s<-dizia poder tudo, obstasse à eleição dos magistrados.

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No seu ponto de vista, o parecer da maioria das comissõesé a argumentação mais completa, clara e precisa, que se temapresentado sobre o assunto. Conquanto difícil de ser compen-diada, procuraremos resumir as ideias capitais. Em relação àsincompatibilidades, observa a maioria das comissões, que o di-reito de eleger e ser eleito é direito político, ainda tomando-seesta palavra no seu mais restrito sentido; de onde se deve con-cluir que tudo quanto disser respeito a este direito não podeser alterado sem as formalidades prescritas pêlos arts. 174 e se-guintes da constituição. Coerentemente com esta doutrina, o art.97 da constituição deixa apenas à lei regulamentar o marcar"o modo prático das eleições e o número dos deputados." Tãoprevidente foi a constituição em determinar as exclusões únicasao direito de votar e ser votado, que levou o escrúpulo a decla-rar excluídos os menores, os filhos famílias, não deixando à leiordinária arbítrio para exclusões a pretexto de aplicação de prin-cípios gerais de direito. As exclusões do direito de votar e servotado são todas taxativas pela constituição. Assim, quando sãoexcluídos de votar nas eleições primárias: IP, os menores; 2.°, osfilhos famílias; 3V os criados; 4.°, os religiosos; í>9, os que nãotiverem a renda de 100$, se alguém se lembrasse de adicionaralguma outra exceção, iria alterar o que diz respeito a direitospolíticos. O mesmo se refere às condições do eleitor firmadas noart. 94. O artigo seguinte dispõe: "Todos os que podem ser elei-tores são hábeis para serem nomeados deputados." Excetuam-se:1 , os que não tiverem 400$ de renda líquida; 2?, os estrangeirosnaturalizados; 3.°, os que não professarem a religião do estado.K, pois, evidente que, a não ser alterado este artigo, todo o cida-dão que reunir estes requisitos pode ser deputado. E tanto eraeste o pensamento da constituição, que expressamente incom-patibilizou o presidente de província, o seu secretário e o co-mandante das armas de serem eleitos membros dos conselhosgerais das respectivas províncias. A constituição foi tão cautelosae ligou tanta importância aos direitos políticos que estabeleceuos casos em que eles se perdem e até mesmo aqueles em queapenas se suspendem. Decretar, portanto, que um cidadão, go-zando de todas as condições constitucionais, deixa de ser elegí-vel por um distrito eleitoral é cercear os seus direitos políticos,é uma diminuição que sofre nesses direitos. Essa restrição dedireitos não prejudica unicamente ao votando senão também aovotante, cuja liberdade de escolha é limitada.

Apreciando a argumentação deduzida da analogia de outrasleis, observa judiciosamente o parecer; "Diz-se; mas já esse di-reito foi limitado quando se proibiu que os eleitores votassemem certos parentes próximos, e se negou às praças de pré o

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direito de votar." A primeira limitação era tão pouco apreciávele parecia tão natural, que passou desapercebida; a segunda, po-rém, foi arguida de inconstitucional, e os sustentadores do artigoa defenderam, dizendo que essas praças não tinham os 200$anuais (100$ fortes), que a constituição exige, pois que a etapenão se pode considerar renda líquida. Reconhecendo-se, porém,ofendida a constituição por essas medidas legislativas, do fatonão se pode concluir para o direito. Era necessário demonstrarque dessas vezes não se havia errado.

Finalmente, sobre esta questão o parecer lembra o meio dese alcançar o mesmo fim sem se decretarem incompatibilidades;quanto aos magistrados, privando-os de vantagens em sua car-reira, quando a abandonam temporariamente; e quanto aos em-pregados de comissão, confiando (o que nos parece bastanteingénuo) ao governo afastá-los de se apresentarem candidatosnos lugares onde exercem autoridade, até que os costumes se-jam bastante severos para coibirem os excessos.

Referindo-se aos círculos, as comissões dizem, que não pa-recendo a todos tocar ao mesmo grau de evidência a sua incons-titucionalidade, que aliás elas habilmente procuram demonstrar,examinariam a questão da conveniência da medida. Suas refle-xões são tão sensatas e foram tão proféticas que não podemosdeixar de transcrevê-las, aqui. "A eleição por círculos oferecealgumas vantagens que as comissões não desconhecem; mas nãoé extremo de inconvenientes que as contrabalancem e talvez ex-cedam. Desde que a honra de representar a nação depender demenor concurso de vontades, despertar-se-ão muitas ambiçõesque jazem adormecidas, e este excitamento não será de certo ummeio de regularizar as eleições. Quando os candidatos aumen-tarem em número e diminuírem em qualidades, haverá razãopara esperar que tudo se passe mais regularmente? O interessede cada um será menos arrojado quando concentrar seus esfor-ços em um colégio só, em vez de se dividir por muitos? Os parti-dos serão menos ^obstinados quando o triunfo ou a derrota emuma localidade não poderem ser neutralizados pêlos outros co-légios da província? A certeza de que aí se decide a sorte de umaeleição não aumentará a porfia dos contendores? O maior in-conveniente das eleições está nos vestígios de intrigas, inimiza-des e rancores que deixam após si. Ora, é fora de dúvida queestes inconvenientes crescerão com os círculos. O maior núme-ro de esperanças malogradas, o maior excitamento nos amigosparticulares desses novos candidatos, o maior esforço dos in-fluentes quando o seu triunfo importar o definitivo de umaeleição, hão de necessariamente aumentar esse triste cortejo elei-

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. inimizades e rancores, que se prolongam portoral de intriga , vezes produzem consequências da maior gra-muitos anos e asvidade.

t . ^o das câmaras se deverá também muito res-A orgamzaç sjstema; nem todas essas novas candidaturas

sentir desse nov serao mal sucedidas. Supondo eleições livres,menos justmcad ^esejai-( os deputados e senadores não sairãocomo se devem ssoas notáveis e bastante conhecidas para semais dentre as p r uma provmcia inteira; os empregados subal-fazerem aceitar P^jades de aldeia, os protegidos de alguma in-ternos, as notaDn^0 QS escoihidos. Se as eleições não forem li-fluencia locai, s ^er^ p^or Quando se indicarem nomes a umavres, o resultad se pr5pri0 aconselhará a escolha de pessoaprovíncia, o mt com QS outros concorrentes; se a indicaçãocapaz de compe cujos candidatos sejam menos importantes,for a um^ circuio- pensará tanto escrúpulo na escolha.a concorrência disr

, 0bservar-se além disto que nós já temos tidoE digno a ^as eieições p0r círculos de um só deputado.

larga experiência garita Catarina Mato Grosso, Espírito Santo,As províncias a^orje e piauí deram por muito tempo um sóRio Grande 0:0 -e Q <jão as províncias do Amazonas, Espíritodeputado; ainda w nta Catarina E por ventura têm sido as elei-banto, Paraná e cjas majs iivres puras e perfeitas do que nascoes nessas provii'outras?

^do dos dois membros das comissões defendiaU^voto sep j com og argumentos que já deixamos subs-a eleição por circv* & ^ j

tanciados.se abriu no senado na sessão de 16 de Junho

U debate q jantes e animados. Iniciou-o o relator das co-foi dos mais imp Queiroz pronunciando um discurso que pro-missões Euzemo ^ais v-ya impressao O discurso é mais políticoduziu e deixou no quaj a argumentação é mais lógica, cerradado que o parece , . g ^QT gua ma^rja) muito havia de concorrere precisa. Impo ^ue exerceu a posição eminente do orador empara a mlluenci Q marqUês de Paraná, ambos igualmente consi-antagonismo com partid0) Conquant0 aquele mais intimamente

P°r S ( ~ ^le, e a sorte do gabinete que seu presidenteidentificado .Q ouvjTam 0 discurso, a impressãoQ ,ligara a do Pr°J ^deravam abalado, senão morto, o ministério,foi vivíssima; con poderia reabilitar de tão rude golpe. Para oque dificilmente ? contribuiram também os dotes pessoais doefeito do discu vezes terá encontrado superiores nos parla-orador, que pouc** r r

mentos modernos-

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O orador não tocou na questão dos círculos; ocupou-se uni-camente com as incompatibilidade s; fez o histórico desta questãono parlamento e demorou-se principalmente em descrever o pa-pel que os magistrados haviam representado no país, para de-monstrar a sabedoria com que até então não haviam sido expe-lidos da arena política.

Depois de vários oradores, falou o presidente do conselhona sessão de 20 do mesmo mês. Seu discurso não é menos va-lioso, principalmente quanto à argumentação. Defendia as in-compatibilidade s do projeto por não serem absolutas e entendiaque era conveniente virem magistrados para o parlamento, e querepeli-los todos seria atacar a constituição. Argumentava por pa-ridade com todas as restrições que as leis haviam criado, regu-lando o voto ativo e passivo, desde as instruções de 26 de Marçode 1824 até a lei de 19 de Agosto, isto é, o domicílio exigido parao direito de votar, a nulidade dos votos dados a parentes de cer-to grau, a perda do voto quando o votante incorre em subornoou conluio (instruções de 1824), a exclusão das praças de pré devotarem, não valendo a razão de não terem a renda de 200$,porque podem haver entre elas cadetes, filhos de pessoas abas-tadas etc.

Sobre a conveniência dos círculos eleitorais, recordou osargumentos a que já nos temos referido, insistindo principal-mente na necessidade de evitar que as maiorias locais fossemsuplantadas pelas provinciais. Facilita-se, diz o orador, a repre-sentação de todas as opiniões existentes no país. As maioriasprovinciais sufocam hoje as maiorias locais. Uma opinião podedominar na maioria de uma província, mas não dominar em taisou tais localidades em que universalmente se adere à outraopinião. Se todos os colégios da província tiverem de votar cons-tantemente numa lista de deputados, é evidente que a opiniãolocal não terá meio de ser representada, porque mesmo a maio-ria acha meios de prover de suplentes a representação nacional,e conseguintemente tira a faculdade de serem representadasopiniões realmente existentes no país, quando seria melhor dar-lhes meios de advogarem sua causa, de se fazerem ouvir pelopúblico, do que condená-las a não ter meio de expor suas neces-sidades para poderem ser atendidas pêlos altos poderes do Es-tado. Quando se trata de obter uma boa representação do país,parece que não é para desprezar com efeito o conseguimentodas representações de todas as opiniões."

O visconde de Jequitinhonha sustentava por este modo aconstitucionalidade das incompatibilidade s: "Considera-se direi-

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toral de intrigas, inimizades e rancores, que se prolongam pormuitos anos e às vezes produzem consequências da maior gra-vidade.

"A organização das câmaras se deverá também muito res-sentir desse novo sistema; nem todas essas novas candidaturasmenos justificadas serão mal sucedidas. Supondo eleições livres,como se devem desejar, os deputados e senadores não sairãomais dentre as pessoas notáveis e bastante conhecidas para sefazerem aceitar por uma província inteira; os empregados subal-ternos, as notabilidades de aldeia, os protegidos de alguma in-fluência local, serão os escolhidos. Se as eleições não forem li-vres, o resultado será pior. Quando se indicarem nomes a umaprovíncia, o interesse próprio aconselhará a escolha de pessoacapaz de competir com os outros concorrentes; se a indicaçãofor a um círculo, cujos candidatos sejam menos importantes,a concorrência dispensará tanto escrúpulo na escolha.

"É digno de observar-se além disto que nós já temos tidolarga experiência das eleições por círculos de um só deputado.As províncias de Santa Catarina Mato Grosso, Espírito Santo,Rio Grande do Norte e Piauí deram por muito tempo um sódeputado; ainda hoje o dão as províncias do Amazonas, EspíritoSanto, Paraná e Santa Catarina. E por ventura têm sido as elei-ções nessas províncias mais livres, puras e perfeitas do que nasoutras?

O voto separado dos dois membros das comissões defendiaa eleição por círculo com os argumentos que já deixamos subs-tanciados.

O debate que se abriu no senado na sessão de 16 de Junhofoi dos mais importantes e animados. Iniciou-o o relator das co-missões Euzebio de Queiroz pronunciando um discurso que pro-duziu e deixou a mais viva impressão. O discurso é mais políticodo que o parecer, no qual a argumentação é mais lógica, cerradae precisa. Importante por sua matéria, muito havia de concorrerpara a influência que exerceu a posição eminente do orador emantagonismo com o marquês de Paraná, ambos igualmente consi-derados por seu partido, conquanto aquele mais intimamenteidentificado com ele, e a sorte do gabinete que seu presidenteligara à do projeto. Nos que ouviram o discurso, a impressãofoi vivíssima; consideravam abalado, senão morto, o ministério,que dificilmente se poderia reabilitar de tão rude golpe. Para oefeito do discurso contribuíram também os dotes pessoais doorador, que poucas vezes terá encontrado superiores nos parla-mentos modernos.

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O orador não tocou na questão dos círculos; ocupou-sc unicamente com as incompatibilidades; fez o histórico desta questãono parlamento e demorou-se principalmente em descrever o pa-pel que os magistrados haviam representado no país, para de-monstrar a sabedoria com que até então não haviam sido expe-lidos da arena política.

Depois de vários oradores, falou o presidente do conselhona sessão de 20 do mesmo mês. Seu discurso não é menos va-lioso, principalmente quanto à argumentação. Defendia as in-compatibilidades do projeto por não serem absolutas e entendiaque era conveniente virem magistrados para o parlamento, e querepeli-los todos seria atacar a constituição. Argumentava por pa-ridade com todas as restrições que as leis haviam criado, regu-lando o voto ativo e passivo, desde as instruções de 26 de Marçode 1824 até a lei de 19 de Agosto, isto é, o domicílio exigido parao direito de votar, a nulidade dos votos dados a parentes de cer-to grau, a perda do voto quando o votante incorre em subornoou conluio (instruções de 1824), a exclusão das praças de pré devotarem, não valendo a razão de não terem a renda de 200$,porque podem haver entre elas cadetes, filhos de pessoas abas-tadas etc.

Sobre a conveniência dos círculos eleitorais, recordou osargumentos a que já nos temos referido, insistindo principal-mente na necessidade de evitar que as maiorias locais fossemsuplantadas pelas provinciais. Facilita-se, diz o orador, a repre-sentação de todas as opiniões existentes no país. As maioriasprovinciais sufocam hoje as maiorias locais. Uma opinião podedominar na maioria de uma província, mas não dominar em taisou tais localidades em que universalmente se adere à outraopinião. Se todos os colégios da província tiverem de votar cons-tantemente numa lista de deputados, é evidente que a opiniãolocal não terá meio de ser representada, porque mesmo a maio-ria acha meios de prover de suplentes a representação nacional,e conseguintemente tira a faculdade de serem representadasopiniões realmente existentes no país, quando seria melhor dar-lhes meios de advogarem sua causa, de se fazerem ouvir pelopúblico, do que condená-las a não ter meio de expor suas neces-sidades para poderem ser atendidas pêlos altos poderes do Es-tado. Quando se trata de obter uma boa representação do país,parece que não é para desprezar com efeito o conseguimentodas representações de todas as opiniões."

O visconde de Jequitinhonha sustentava por este modo aconstitucionalidade das incompatibilidades: "Considera-se direi-

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to aquilo que é condição do emprego; considera-se o empregocomo dando uma nova forma, uma existência nova ao cidadão,para por esta forma ter direitos, quando ele os tem somentecomo cidadão, e não os tem como empregado público; supõemdireitos preexistentes, absolutamente preexistente, que não po-dem dar-se senão conforme a lei. Ora, se se decretar que este ouaquele emprego público há de ter tais ou tais condições, há deser exercido por tal ou tal forma, necessariamente esse decretohá de ser respeitado, não pode ser inconstitucional".

O Sr. Souza Ramos (visconde de Jaguari) na sessão de 31de Julho julgava a reforma altamente prejudicial, em nada apro-veitando permanentemente à opinião em minoria. Justificavao seu voto contrário ao projeto, lendo o seguinte trecho traduzi-do dos Estudos sobre o governo representativo em França peloconde L. de Carne relativo à monarquia de 1830. "Em vez deatenuar os inconvenientes da eleição direta, parece que de pro-pósito trata-se de agravá-lo. Com a criação das circunscrições(arroiKtissements) e de colégio de 150 eleitores colocaram-se efe-tivamente os deputados na dependência íntima e todo pessoalde seus comitentes; ligou-se o destino dos homens públicos, qual-quer que fosse sua importância, aos interesses e caprichos deum pequeno número de famílias, e para proteger a câmara con-tra o espírito de partido, a entregou ao espírito de localidade., .Em lugar de fazer que os deputados dos departamentos expri-missem a opinião de uma importante porção do território, osconstituía servidores cegos de mesquinhas ambições; eles tive-ram ares de tiranos, quando não eram, por via de regra, mais doque escravos."

Num segundo discurso, pronunciado na sessão de 8 de Agos-to, o marquês de Paraná referiu as suas palavras de 1853 aoentrar para o governo: "E se no país se formar uma opiniãoque queira mudar a base da eleição, adotando a eleição direta epor crículo, não duvidaríamos acoroçoar esta opinião para selevar a efeito este pensamento. Para a eleição direta entendi sem-pre em todas as épocas de minha vida que era necessária umareforma da constituição, que não se podia fazer isto por lei or-dinária."

Na sessão de 9 de Agosto foi o projeto aprovado pelo se-nado e remetido para a câmara dos deputados, onde na sessãode 22 do mesmo mês a respectiva comissão de constituição epoderes, composta dos Srs. Zacarias (relator), Figueira de Melloe Diogo de Macedo, apresentou seu parecer. Como no senado,o parecer era totalmente contrário ao projeto ministerial, que

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reputava anti-constitucional nas duas ideias culminantes: i t inunpaübüidades e crículos. Além disto ainda reputava ineficaz a pri-meira medida e prejudicial a segunda. Quanto aos inconveniiMi-tes desta, explanava mais detalhadamente o que dissera a comis-são do senado, ajuntando novas reflexões. Prqvia que a opres-são seria mais intolerável, e que o vexame do povo cresceria narazão da eficácia que adquirissem com a nova ordem de coisasas influências locais, tão pouco ilustradas, como eram dantes,porém agora mais violentas, porque sacudiam o jugo das reser-vas e contemplações que a necessidade do apoio de influênciasestranhas ao seu círculo lhes impunha. Entendia que a interven-ção indevida dos agentes do poder era bastante para inutilizaresse respiradouro, que, com a criação de distritos eleitorais, pre,-tendia-se oferecer à opinião em minoria, pois tanto o deputadocomo p suplente, eleitos pela mesma maioria, pertenceriam àuma só opinião. Quanto à vantagem do contato entre o eleito eseu eleitor, parecia-lhe que a dependência em que os candidatosteriam de ficar dos potentados locais (cuja preponderância coma reforma ia subir ao zenith), rebaixaria a missão dos represen-tantes, fazendo-os proceder menos segundo os interesses de umaopinião ou de uma província, o que é sempre nobre e elevado,do que_no interesse de influências locais, que não medem suasaspirações pela bitola das conveniências públicas; a baixeza eadulação, impraticáveis quando se trata de um grande partidoou de uma província, podem insinuar-se na execução de ummandato, devido aos esforços e vontade de individualidades pre-ponderantes em certos e limitados círculos. A comissão reputavaa medida das incompatibilidades ineficaz, porque, proibindoa eleição de certos funcionários nos distritos de sua jurisdição,não obstava as permutas de serviços, que entre si pudessemprestar, quando combinasse cada um fazer eleger no distritode sua jurisdição o amigo incompatível no seu próprio distrito.

Na sessão de 25 começou o debate. Conquanto nele figu-rassem oradores de merecimento, a questão estava esgotada, e,o que é mais, o resultado previsto, mormente depois que, nasessão de 27, o presidente do conselho fez da aprovação da leiquestão de gabinete. Na sessão de l1? de Setembro adotou-se emvotação nominal o projeto em 3^ discussão por 54 votos contra35. No senado obtivera apenas a maioria de 3 votos em vota-ção simbólica.

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CAPITULO IV

Resultados perniciosos da Lei dos Círculos sobre aPolítica, os Partidos e o Regime Eleitoral em geral

A lei de 19 de Setembro continha duas ideias cardeais, co-mo acabamos de ver: a divisão das províncias em círculos deum deputado e as incompatibilidades eleitorais. Perniciososquanto, à primeira ideia, a lei encerrava verdadeiro progressona medida salutar, que introduzia o princípio das incompatibili-dades, embora o fizesse muito imperfeita e incompletamente.Desde então era lícito esperar que o princípio se desenvolvessecom o progresso de regime parlamentar. Via-se finalmente con-sagrada em lei uma medida pela qual tanto se tinham esforçadoalguns políticos distintos, na máxima parte do lado liberal; quehavia sofrido tantas vicissitudes durante os últimos cinco anosdo domínio deste partido e que ele jamais conseguira firmar nanossa legislação. A grande luta de 1855 não tivera outra causa:a questão dos círculos não despertaria tanto ardor, nem no ata-que, nem na defesa. Sob este ponto de vista, pois, a lei era umprogresso e contrastava com a outra medida, que ia exercer in-fluência deletéria sobre os nossos costumes políticos, e aindamais avivar os males e defeitos do regime eleitoral de dois graus.

Entretanto, afora os políticos mais ilustrados e experientes,a lei dos círculos foi em geral recebida como grande melhora-mento, e por todo o partido liberal como uma proveitosa con-quista em seu favor. As decepções não se deviam fazer esperar.

As câmaras unânimes, ora de um partido, ora do outro, cho-cavam o espírito público e levavam ao desespero o partido expe-lido de quase toda a vida parlamentar (de toda senão tivesseuma tribuna na câmara vitalícia). Sem procurar dar ao voto ou-tras garantias, julgava-se que a simples divisão das provínciasem, círculos de um deputado asseguraria à opinião em oposiçãoao governo algumas vozes na câmara temporária, em maior nú-mero, e de modo mais permanente e eficaz do que no regimeanterior dos suplentes das grandes deputações.

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Todos conhecem o malogro de tantas esperanças.A lei foi, na verdade, modificada pela dos distritos de três

deputados; mas o princípio da divisão das províncias prevaleceu,e as câmaras unânimes sucederam-se com maior frequência doque antes, e a onipotência governamental em matéria de eleiçãotocou ao apogeu.

Para os eleitores, a medida se anunciava sobremodo impor-tante. Até então parecia aos cidadãos de qualquer localidadeuma disputa estéril a que travavam nas eleições primárias parao triunfo desta ou daquela parcialidade. Que influência podiameles exercer com os seus 15 ou 20 votos na decisão de uma con-tenda, que se pleiteava no vasto campo de uma província intei-ra? Eram obrigados a votar nas chapas que os chefes, diretorescentrais do partido, lhes remetiam, ou teriam de ver seus votosperdidos em candidaturas isoladas, destituídas de probabilida-de de sucesso.

Numa circunscrição territorial, compreendendo três ou qua-tro colégios vizinhos, com pouco mais de cem eleitores, que po-deriam entrar em inteligência e ligar-se, o aspecto da eleiçãoparecia outro, e todo em vantagem sua, de sua importância pes-soal, de seus interesses e das suas localidades. Não previam en-tão o aumento de preponderância governativa, a dependênciaem que cada partido, para triunfar nas eleições primárias, iaficar do poder e a submissão a que teriam de sujeitar-se; julga-vam adquirir foros de dominadores, quando iam ser forçadosa abdicar toda a vontade e liberdade; com esta diferença, porém,que antes tinham uma escusa obedecendo aos chefes ilustradose autorizados dos partidos, e agora deviam aceitar as imposiçõescaprichosas de improvisados régulos, aos quais só elevavam asinsígnias da autoridade geral ou provincial.

A curta duração da lei dos círculos, pela qual só se fez umaeleição, não deixou aparecerem todos os seus males; alguns, po-rém, e estes de que falamos, são também comuns à lei que alar-gou os círculos, conquanto em menor escala. Já tratamos de al-guns deles na primeira parte deste trabalho. Não repetiremos oque ali dissemos.

Como consequência da lei, a maioria dos homens políticosvia ainda a importante vantagem de libertar-se da rígida disci-plina dos partidos. Na verdade, com o antigo regime não deixa-va essa disciplina de ser severa, trazendo os constrangimentose incómodos individuais, que lhe são inerentes, contra as gran-des vantagens que dela decorrem.

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Nesse regime, a candidatura desamparada pêlos chefes departido não tinha probabilidade de vingar. Dificilmente um ho-mem não filiado a um dos partidos, independente deles, desafetoou inimigo dos respectivos chefes, quer do centro, quer das pro-víncias, conseguia ser eleito. Organizadas as listas dos candida-tos (as chapas) pêlos diretores dos partidos, os eleitores não vo-tavam em candidatos divergentes, pelo receio de fazer triunfaros adversários com a dispersão dos votos. Não era também fácila qualquer candidato, sobretudo aos que procuravam entrar navida política, ser conhecidos e, mais ainda, arrastar os votos deuma província inteira para suas candidaturas isoladas. Muitasvantagens compensavam a tirania que às vezes apresentava esteregime.

Não há quem tenha refletido sobre o sistema parlamentarem qualquer parte do mundo, que possa desconhecer a utilidadedos partidos políticos unidos e compactos, com ideias próprias,com tendências conhecidas, dirigidos pêlos homens mais emi-nentes da política. São, na frase de Bulwer Lytton, os nervos daliberdade parlamentar.

Os círculos trouxeram logo esta consequência: enfraquece-ram os partidos, dividindo-os em grupos, em conventículos dameia dúzia de indivíduos, sem nexo, sem ligação, sem interessescomuns e traços de união. Toda a nossa esfera política, até entãoelevada, apesar da nossa relativa pequenez como nação, sentiu-serebaixada.

À medida que, pela força natural das coisas, o País cresciaem riqueza e ilustração, a política se apoucava e amesquinhava,e com ela tudo que a rodeia e a ela se prende. Os membros domesmo partido se dilaceravam, enfraquecendo-o com dissensõesintestinas; os ministérios tornaram-se escravos dos corrilhos queos avassalaram, e os grandes e nobres fins dos partidos nacionaisdesapareceram perante o egoísmo individual, e a filáucia de in-trigantes ativos, e audazes.

Os partidos eram diretamente interessados em apresentarnas câmaras os seus melhores talentos fque nem sempre são osmelhores cabalistas e quase sempre os últimos aduladores dopoder); e como os chefes não podiam deixar de ser eminentes,estavam isentos desse espírito de inveja, que nos homens vulga-res procura abater o mérito alheio. Por outro lado; era muitodiferente entender-se um candidato com homens como Vascon-cellos, Vergueiro, Paula Souza, Honorio, Eusebio ou Paulino, oumesmo com algum político considerado pêlos serviços, talentos,relações ou virtudes das províncias, do que com as mediocridades

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empavezadas e fofas, quando não piores, que freqücntenu-nU1

presidem as nossas desgraçadas províncias e se constituem aliúnicos chefes de partido.

Fugimos de sobrecarregar este escrito com citações de es-critores estrangeiros; mas a legislação da França tem exercidotal influência sobre nós, temo-la tantas vezes copiado, que julga-mos útil transcrever, de um escritor insuspeito ao partido libe-ral, Armanâ Marrast, algumas palavras frisantes sobre os resul-tados das pequenas circunscrições eleitorais.

''A experiência que temos feito, há cinquenta anos, não de-monstrou que as escolhas foram tanto mal acertadas quantoeram mais numerosos os colégios eleitorais? O que acontece comas eleições fracionadas com que se dotou o País? Os interesseslocais invadem de modo assustador: os grandes interesses daPátria são esquecidos. Não é mais o mérito, não é a capacidade,não são os serviços prestados que constituem títulos para os elei-tores. A fortuna, as relações de família fazem somente inclinar abalança; daí câmaras em que se encontram todos os vícios desua origem; pequenas paixões, intrigas miseráveis, lutas de pes-soas, em que o interesse nacional desaparece, e o País inteiro,que pouco a pouco se enerva e se acostuma ao espetáculo desseantogonismo sem grandeza e dessas discussões sem dignidade.

"Não, não é exato que as eleições feitas por grandes massaspossam dar jamais resultados tão funestos à Nação. Tudo se en-grandece e se eleva ao contato das assembleias numerosas; oegoísmo não ousa mostrar-se, e as personalidades sempre mes-quinhas, se pejariam de apresentar-se nelas. Não se deve falarsenão do povo, de sua vida poderosa, de seus altos destinos, quan-do se fala ao povo. Os pequenos horizontes das localidades seperdem e absorvem na vasta atmosfera nacional."

No sistema parlamentar, o partido que triunfa tem no mi-nistério os seus homens mais eminentes, com os quais se iden-tifica, que realizam e executam suas ideias, segundo as tendên-cias e a índole do partido. O desmembramento dos partidos eseu enfraquecimento mudaram este estado de coisas. As medio-cridades, que as vicissitudes da fortuna ou os interesses dos gru-pos e corrilhos eleva por acaso ao poder, medindo o seu valor eimportância pela extensão do poderio, que tantos abusos e cor-rutelas têm acumulado nas mãos das autoridades, julgam-se en-tes privilegiados aos quais se deve inteira e plena obediência.Indivíduos, que saíram do seu nada por uma intriga parlamentar,ou por motivos estranhos às suas pessoas, para voltarem ao

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mesmo nada no dia em que despirem a farda de ministros, jul-gam ter (e têm!) carta branca para fazer o que lhes apraz; tal éo estado a que tem chegado este País!

Muitos dos fatos que temos observado, desde 1855 para cá,não eram antes possíveis. Como poderia em outros tempos umministério fazer surgir um partido que não existia no País sópara apoiá-lo; um partido meramente oficial que devia desapa-recer sem deixar vestígios no dia em que descesse as escadas dopoder? Entretanto, um tal governo, estranho aos únicos partidosentão existentes na sociedade, combatido energicamente por eles,reunia quase unanimidade nas câmaras, tendo expelido de seuseio os homens mais eminentes, e aparentava uma pujança in-vencível e inesgotável. ( ' )

A ordem natural das coisas parecia transtornada. Ela indicaque uma opinião um partido se inicia, cria forças pelas ideias epelo número dos prosélitos, até conseguir o governo, a direçãoda sociedade. Porém, alguns homens elevados ao poder criaremum partido, que a sociedade não conhecia, que as necessidadespúblicas não exigiam nem justificavam, só com o fim de perma-necerem no poder, de coonestarem suas apostasias e ambições,e conseguirem por largo tempo este intento, é fato que só porsi revela quáo mal assentada se acha a nossa sociedade política,quantos vícios a têm estragado e corrompido.

A bandeira desse partido era o poder, seu fim o exercício dopoder, sua razão de existência a posse do poder. No dia em queo governo lhe escapou das mãos, desvaneceu-se. Assim haviaforçosamente de ser.

A desilusão havia de vir a todas as esperanças que se fun-daram na lei dos círculos. Os eleitores, supondo assumir a livreescolha de seus representantes, ficaram mais dependentes; e oscandidatos, julgando-se emancipados da disciplina dos partidos,perderam a certeza de suas eleições, mesmo quando seu partidoestivesse no poder e tornaram-se o ludíbrio das improvisadas in-fluências eleitorais, os presidentes das províncias e os ministros.

A decepção não foi menos cruel quanto à esperança de evi-tar a unanimidade das câmaras e assembleias provinciais, e darrepresentantes às minorias, isto é, à opinião vencida no todo doImpério. Pela lei dos círculos de um deputado somente se fezuma eleição geral em 1856. A seguinte já teve lugar segundo alei de 22 de agosto de 1860, isto é, pêlos círculos de três depu-

(1) Com a última dissolução da câmara, o ministério de 7 de Marçoseguiu uma política até certo ponto análoga.

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tados. A oposição liberal contra esta lei na câmara dos depu-tados, na sessão de 1860, alegava sempre, como uma vantagemda lei dos círculos, ter permitido a entrada de alguns liberaisno parlamento. Não faltou aii quem explicasse o fato, aliás sin-gular, como argumentação da parte dos ilustres liberais, os Srs.F. Octaviano, Martinho Campos e outros. A eleição de 1856 eraa terceira eleição geral a que presidia o partido conservador semdeixar o poder. É sabido, e natural, que a exuberância de vigorque ostentam os partidos nos primeiros tempos em que conquis-tam, ou obtém o poder, se vai enfraquecendo à medida que seudomínio se prolonga.

Estava em pleno ensaio em 1856 a política de conciliação,de que era penhor a lei eleitoral de 1855. Não podia, pois, o go-verno (o mesmo que havia promovido a adoção da lei) justa-mente na primeira execução da mesma lei, mostrar-se intole-rante contra as candidaturas dos antigos adversários, nem ospróprios partidos estavam dispostos ao exclusivismo de outrasépocas. Para não sair da província do Rio de Janeiro, onde te-mos procurado os nossos poucos exemplos, dois dos principaismembros da oposição liberal, já citados, haviam sido eleitos, umpelo círculo de Cabo-Frio com votos conservadores, o segundo,como suplente, pelo círculo de Vassouras, igualmente com votosconservadores, os mesmos que haviam eleito deputado um dignoe ilustrado conservador, que não tomou assento (-). Não era, poisa lei dos círculos que lhes havia franqueado as portas do parla-mento, mas o estado dos ânimos e o congraçamento momentâ-neo dos partidos. Ainda assim, para o entusiasmo da primeiraexecução da lei, o número dos liberais que entraram na Câmara(parece-nos certo que um só não deixou de ter votos conserva-dores) foi tão diminuto, que admira tivessem trazido este argu-mento, e tão calorosamente fosse a lei defendida.

Nos 24 votos, contra 74, que rejeitaram o projeto revogandoa lei dos círculos, eram de liberais os dos seguintes Srs: Francode Almeida, Landulfo, Teixeira Soares, F. Octaviano, MartinhoCampos, Francisco Campos, Rocha Franco, Cerqueira Leite,Moura Costa, Gavião Peixoto, Abelardo de Brito e B. de PortoAlegre — 12 votos.

Eis aqui, numa época de notável tolerância, numa épocaem que o governo estava empenhado em demonstrar a perfeiçãode sua obra, o resultado da lei dos círculos quanto à representa-ção das minorias locais.

(2) O Dr. J. J. Teixeira Leite.

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É sabido que o ministério, que presidiu a esta eleição, tendoperdido o seu prestigioso chefe, o Marquês de Paraná, conservou-se no poder unicamente até executar a sua lei predileta. Elereunia aos desejos sinceros de bem executar a lei no sentidoda conciliação dos ânimos, a fraqueza de um ministério reco-nhecidamente provisório. Tais eram os sentimentos que presi-diram à eleição e predominaram na política dessa quadra, que aeste ministério sucedia o de 4 de maio, que, embora conservador,contava entre os seus membros o Sr. Visconde de Souza Franco,liberal extremado.

Com tantos elementos favoráveis, a oposição conseguiu ape-nas fazer entrar na Câmara uma dúzia de votos.

Depois dessa eleição não dominou, é certo, a lei dos círculossingulares, porém a dos círculos de três deputados, que inega-velmente se aproxima daquela e constitui alteração profundanas antigas representações provinciais. Pois bem, depois de 1856,já se fizeram quatro (3) eleições gerais, e com exceção da de1860, todas as mais produziram câmaras unânimes. Em 1864 e1867 entraram seis deputados conservadores nas duas câmarasliberais, número, que numa luta desabrida em todo o Império,não pode por certo contrariar a nossa afirmação f4).

Como já vimos, em 1848 Vasconcellos previa este resultadoda lei dos círculos, que os suplentes, que na eleição por provínciatomavam assento, eram os representantes da minoria, e corri-giam assim os males de não se darem de outro modo meios deserem ouvidas as vozes da opinião vencida. Em todas as eleiçõesos homens mais eminentes e mais conhecidos são os primeirosvotados, salvo se ocorrem circunstâncias particulares. No regimeanterior, das chapas provinciais, não era possível nas grandesprovíncias, sobretudo, que todos os nomes de uma chapa triun-fassem. Os mais fracos perdiam votos que aproveitavam aos maisfortes da combinação oposta. Assim, eram probabilidades detriunfo que tinham as oposições, do que houve uma estrondosaexceção em 1850.

(3) Não incluímos neste número a eleição do ano corrente.(4) É sabido que houve tolerância especial dos presidentes de pro-

vriKias nos distritos que elegeram deputados conservadores em Minas,S. Paulo e Rio de Janeiro. Na primeira província em 64 e na última em 67.

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Demais, outro fato importante ocorria. Durante os quatroanos da legislatura, por várias causas, ianvse abrindo vagas nasdeputações das províncias: deputados que não tomavam assento,que faleciam, que eram escolhidos senadores, etc. Eram outrostantos lugares que iam sendo preenchidos pêlos imediatos emvotos aos deputados, isto é, pêlos primeiros das chapas vencidas,ordinariamente os melhores talentos das oposições. Assim, muitoimperfeitamente, é verdade, se corrigiam os males das câmarasde uma só opinião política.

Com os círculos e os distritos não podia haver suplentesimediatos em votos.

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CAPÍTULO V

Continuação do mesmo assunto — Os Círculos deum Deputado substituídos pêlos Distritos

de três Deputados

Demoramo-nos na explanação dos efeitos principais da leidos círculos sobre os nossos costumes políticos, porque esses efei-tos persistem ainda depois da lei de 1860. Esta lei não revogou,não anulou os círculos; alargou-os apenas. Experimentamos aeleição por províncias; seus resultados foram maus: a Nação sin-ceramente desejava uma reforma; a lei dos círculos, numa únicaexperiência, apresentou resultados mais funestos. A opinião pú-blica não sabia se havia de condenar simplesmente este sistema,se voílar ao antigo; não lhe ocorreu mudar radicalmente o regi-me eleitoral da Constituição.

Este fato, evidente nas discussões do parlamento nessa épo-ca, é singular; parecia que toda a questão estava colocada namaior ou menor dimensão das circunscrições eleitorais; restringirou ampliar os círculos, importava favorecer ou prejudicar à li-berdade, à pureza das eleições. Quanto a nós, as circunscriçõeseleitorais da lei de 1860 são judiciosas; mas não se devia buscaraí o criterium de uma boa lei eleitoral. O mal permaneceu; estavaainda em chamar para os comícios eleitorais as multidões desco-nhecidas, cegas, instrumentos, ora das paixões individuais, oradas autoridades, para, segundo o condenado meio das eleiçõesde dois graus, decidir dos destinos da Nação.

Ainda conforme o propósito, que temos seguido, não des-ceremos à análise dos fatos singulares, mais ou menos escanda-losos, embora provenientes da lei. Seguiremos unicamente os decaráter geral, que não revelam tanto uma perversão particular,mas um traço do regime eleitoral. Contrista frisar as linhas e ascorjs de um quadro já sombrio de intrigas e manobras repulsivas.Parecerá talvez denegrir uma parte da nossa sociedade, não ser-vindo o consolo que em outros fatos idênticos se observem.

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A lei dos círculos, não podendo deixar de pôr t e rmo aossuplentes, como imediatos em votos ao deputado, mandou fa/ereleição especial para suplentes pela mesma maioria que elegiao deputado. A lei de 22 de agosto anulou simplesmente o su-plente, mandando fazer nova eleição no caso de va^a. Nào setratando então de dar representantes às minorias, pêlos meioshoje imaginados, a disposição da lei era razoável quanto à depu-tação geral. Quanto à composição das assembleias provinciais,o mal foi de consequências mais graves do que é lícito supor deuma disposição aparentemente insignificante. Como este mal nãotoca tão de perto à grande política, não tem sido bem aquilatado,embora sobre modo sensível e palpável.

A assembleia provincial representa em nossa organizaçãopolítica um papel de importância considerável; e tanto maiscrescerá quanto mais a vida provincial se desenvolver, e as pro-víncias, que encerram elementos e território de vastos estados,prosperarem e engrandecerem.

Entretanto as assembleias provinciais têm funcionado e fun-cionam pessimamente em toda a parte! O mal é mais grave doque a muitos se afigura, pois é essa uma instituição indispensá-vel à vida provincial deste vastíssimo Império, e impossível deser por outra substituída. Não é na exorbitância da sua esferade ação, nos excessos ou invasões que cometem, e tanto incomo-dam a certos políticos timoratos, que vemos o mal, porém nopéssimo uso das suas legítimas faculdades.

Os pensadores da escola liberal, sem observarem onde em-perra o mecanismo provincial, só vêem um remédio para o mal,que sentem, mas de cuja origem não inquirem. O remédio con-siste em aumentar as faculdades das assembleias ( l)- Se elasexercem e empregam mal as que possuem, suficientemente vas-tas, não nos parece que, dando-se-lhes outras mais importantese delicadas, executarão bem as que já possuem. Este assunto, po-rém, não cabe nos nossos limites, que é a questão eleitoral.

Para a supressão dos suplentes dos deputados provinciaisnão se davam as mesmas razões que a justificavam quanto àdeputação geral, sobretudo desde que os círculos foram amplia-dos para três deputados. Há muitas províncias em que a depu-tação provincial é eleita por um só distrito, e no geral, nas ou-tras, o distrito dá 15, 12, 10 deputados. Parece-nos que nem umcírculo elege menos de seis. A supressão dos suplentes desde lo-go obstou que o partido em minoria conseguisse ter na assembléia provincial algumas vozes a seu favor. Como com a depu-

(1) Vid. Tavares Bastos: A Província.

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tacão geral, desinteressou o partido em minoria de pleitear aeleição, de trabalhar para o triunfo dos seus membros, ainda quepara suplentes. Deu lugar a uma pletora nociva ao partido ven-cedor, e pôs termo à agitação das ideias e interesses, que vivificae robustece a vida política da Nação.

Para o andamento regular dos trabalhos legislativos provin-ciais, a reforma não podia ser mais perniciosa. Muitos deputadosprovinciais moram distante das capitais, têm ocupações em suaslocalidades; em geral São advogados, médicos ou lavradores; istoa metade; a outra, ordinariamente, se compõe de empregadospúblicos da capital. Alguns, depois de grande esforço para se-rem eleitos, deixam de comparecer, e, se comparecem, continua-damente ausentam-se para seus negócios. Na assembleia provin-cial do Rio de Janeiro, com 45 membros, é muito difícil que asessão se abra com mais dos 23 indispensáveis pela lei. Consul-tem-se os anais provinciais, e ver-se-á que só nos últimos dias desessão consegue-se haver presentes aos trabalhos acima de 30membros. Uma maioria jamais é bastante numerosa para fazercasa. Nas últimas cinco legislaturas desta província, apenas umavez a maioria conseguiu ter justamente os 23 membros para sópor si fazer sessão. Acontece, pois que a primeira arma das mino-rias, quando governistas, é impedir que haja sessão; quando opo-sicionistas, sendo o seu interesse falar, comparecem para estefim; mas põem em prática todas as manobras a fim de obstar asvotações; para o que, é eficaz retirarem-se do recinto das sessões.Estes fatos dão-se com lamentável frequência em todas as pro-víncias. Na sessão da assembleia fluminense a que nos referi-mos, apenas a minoria via que era necessária a presença de umsó de seus membros para haver sessão, isto é, que faltava umpelo menos dos da maioria, retirava-se, e a sessão se encerrava.A legislatura que findou em 1865 não tendo votado a lei do or-çamento, foram convocados os novos eleitos no princípio do anoseguinte para cumprir este dever. O partido liberal contava aquase totalidade dos membros. Mas aconteceu que a maioria daassembleia era oposta ao presidente da província, e que o can-didato deste à presidência da assembleia seria derrotado. Nemum dia houve sessão, nem para eleger-se a mesa da assembleia!Decorreram os dias marcados para a sessão, e a província ficousem as leis necessárias para o andamento regular da administra-ção. E era o presidente da província quem promovia essa paredede amigos seus, entre os quais empregados públicos de sua con-fiança.

Ainda quando estas manobras são coonestadas pelo interessedos partidos, embora muitas vezes mal compreendido, alguma

coisa as escusa. Mas quão frequentemente se fazem tais manejospara meros fins particulares! Reunindo-se pouco mais do núme-ro dos deputados indispensável para haver a sessão, fica nasmãos de três ou quatro, bastante desembaraçados, obstarem as vo-tações, imporem preferências para a discussão de questões par-ticulares e outros arranjos sobre os quais é melhor correr aquium véu. É urgente numa lei eleitoral prover a estas necessida-des, que tanto desacreditam as assembleias provinciais.

Há na vida dos homens políticos uma face desagradável,que os humilha e fá-los retirarem-se, às vezes, à vida privada:são os conflitos e as polémicas pessoais a que os obrigam asambições e interesses contrariados. A irritação e acrimônia des-sas lutas só é moderada pela vastidão e elevação do campo emque se travam e a ilustração e adiantamento social da Nação.Quanto mais diminui a civilização e grandeza de uma nação,tanto mais azedas são as disputas; e na mesma nação, quantomais circunscrito é o teatro, tanto mais violentas e implacáveissão os ódios e a irritação que produzem. As lutas da nossa polí-tica geral são menos acerbas do que as da provincial, e as destamenos do que as das pequenas localidades. É um dos mais funes-tos efeitos dos círculos eleitorais de um deputado: a competên-cia entre os candidatos perde em elevação e aumenta em azedu-me e rancor pessoal. Os concorrentes não procuram elevar-se pe-las nobres qualidades que engrandecem os homens, porém de-primir e destratar uns aos outros. Versando a contenda ordina-riamente entre dois homens que se acham colocados face à face,é difícil que a rivalidade política não degenere em inimizadeparticular, que a discussão das pessoas não substitua a das ideiase o interesse geral não desapareça perante o individual. Numaárea mais vasta não se vêem tanto as personalidades, e o interes-se particular não ousa levantar o colo com tamanha audácia; opleito ganha tanto em elevação entre os próprios contendores,os candidatos, como aos olhos dos eleitores. Quando estes esco-lhem o deputado, cuja sorte está ligada aos poucos votos de al-guns vizinhos e compadres, não podem encarar os grandes in-teresses nacionais, mas os seus próprios e dos seus campanários.Frisemos a questão, com um exemplo. Num canto da provínciade Minas podia algum político de aldeia, hábil arranjador depequenos negócios dos amigos, derrotar a um Vasconcelos ouParaná; numa eleição de toda a província, seria este fato impos-sível. A intriga e a mediocridade podem triunfar num círculoestreito, dizia um orador distinto no parlamento francos em1817; mas, à medida que o círculo se amplia, é preciso que ohomem aumente de estatura para poder ser visto do corpo elei-toral; à medida, pelo contrário, que os círculos se restringem, os

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candidatos minguam em estatura e a eleição se rebaixa, produ-zindo o obscurantismo parlamentar.

Nos círculos de um deputado, às polémicas mais desabridassucediam algumas vezes transações entre os contendores; cadaqual cedia parte do seu tempo de sessão parlamentar ao adver-sário, combinando revezar-se ao modo dos reis gémeos das len-das gregas, e asseguravam assim um triunfo, para ambos difícile duvidoso. Este espírito de transação, de barganha, onde iriaparar se a lei dos círculos se perpetuasse? Nas eleições paradeputados provinciais, porém, tem continuado, conquanto peloalargamento dos círculos, mais tímido. Por via de regra, quantomais medíocre e desconhecido é o candidato, tanto mais instan-temente pede a um colégio que o adote como seu representante;feito isto, tem-se tido o desembaraço de anunciar pêlos jornais,que tal candidato, aceito por tal colégio, adota os candidatos dosoutros colégios do distrito, contanto que dêem a ele todos osvotos. Estabelece-se uma correspondência, ninguém procura sa-ber das qualidades e aptidão de tais candidatos, e o espírito dorio ut dês, da transação, vem triunfante para o recinto dos legis-ladores da província.

Queixavam-se alguns municípios durante as eleições por pro-víncias, que, perdendo-se os seus votos nas votações gerais, a vi-da política tendia a extinguir-se pelo reconhecimento da nenhu-ma influência que exerciam. Com os círculos de um deputadoeste mal deveria crescer. Entre três municípios vizinhos quecompunham o círculo, desde que dois eram da mesma opinião eadotavam um candidato, para o terceiro, em minoria, estava des-de logo finda a questão, e a luta era escusada. O deputado Sérgiode Macedo, na discussão desta reforma, citou exemplos de nãocomparecerem aos colégios muitos eleitores que sabiam serinúteis os seus votos. Pela mesma razão, desde que cada colégioconhecia que dele dependia a sorte de uma eleição, tudo empre-gava para assegurar o triunfo da sua causa.

Muito escandalizou ao público o grande número de duplica-tas de eleições e diplomas de deputados, que se deram duranteos círculos, e cujo vício se inoculou nas eleições seguintes.

A parcialidade, que não podia vencer, retirava-se logo daigreja, e ia à parte fazer tranquilamente outra eleição, e as duasturmas de eleitores votavam separadamente. As câmaras muni-cipais apuradoras reputavam válidas as eleições que lhes pare-ciam e expediam o diploma de deputado. Os presidentes de pro-víncias eram de ordinário os agentes destas cabalas, responsabi-lizando e suspendendo os vereadores e formando nova câmara

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com os suplentes, quando por meio de seduções ou ameaças nãoconseguiam, daqueles, decisão favorável aos seus candidatos.Frequentemente acontecia que a primeira turma de vereadoresjá havia expedido diploma aos seus protegidos, quando a segundase reunia. Assim, turma de eleitores em duplicatas, de vereado-res em duplicata, de diplomas em duplicata e de pretendentesna Câmara dos Deputados em duplicata. Aí os interesses partidá-rios decidiam afinal o pleito no sentido do partido dominante.

Se a eleição por círculos se repete algumas vezes sem aspaixões adormecidas de 1856, pleno domínio da conciliação, tería-mos presenciado cenas repulsivas, capazes só por si de lançarempor terra o sistema parlamentar.

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CAPITULO VI

A Lei de 22 de agosto de 1860

A lei que reformou os círculos, ou antes que os transformouem distritos de três deputados, teve origem num projeto apre-sentado na sessão de 2 de Agosto de 1859 pelo deputado Sérgiode Macedo, então ministro do Império. Na discussão do projetono ano seguinte (sessão de 21 de Junho) declarou seu autor que,antes de apresentá-lo, o ministério havia celebrado uma reuniãodos deputados que o apoiavam, e lhes expusera o plano da refor-ma, o qual, tendo sido aprovado, foi consignado no projeto porele oferecido.

Os longos debates da questão bancária não permitiram queo gabinete promovesse o andamento da reforma nesse ano, oque fez vigorosamente o ministério de 10 de Agosto, que lhesucedeu.

No dia 9 de Junho apresentou seu parecer a comissão da câ-mara temporária, especialmente nomeada, composta dos Srs. Sa-raiva (relator), Dias Vieira, Ferreira de Aguiar e Torres Homem.O parecer era favorável ao projeto e julgava urgente que entrasseem discussão. Expondo o princípio que dominava nas eleiçõesanteriores à lei de 1855, dizia: "Ã maneira por que o corpo elei-toral, em quase todas as províncias, usou de suas faculdades nadesignação dos representantes da nação, mereceu tão geral esevera censura, que mesmo aos espíritos mais ilustrados pareceuconveniente restringir aquelas faculdades, dando-lhe novas eseguras inspirações. As câmaras unânimes derivaram-se da con-fraternidade de vistas, de interesses e até de paixões do eleito-rado da província, e, como se queria achar a regularidade donosso sistema político no embate das opiniões no recinto dacâmara temporária, procurou-se destruir essa conformidade,fazendo dos eleitores de província eleitores de pequenos distri-tos".

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A comissão, porém, observa que a eleição por círculos, quaistinha criado a lei então vigente, acarretava inconvenientes maisgraves e tinha a modificar o espírito público, em sentido con-trário às conveniências sociais; que o interesse individual iaprevalecer sobre o nacional na escolha dos representantes danação, sendo de recear-se a sorte de um estado, cujas leis polí-ticas estimulavam as tendências egoísticas da humanidade. Seos interesses coletivos ocasionam grandes crises, desvairamentose violências, o interesse individual isolado abate o caráter doscidadãos, acoroçoa fraudes e promove intrigas. O projeto, diziaainda a comissão, coloca o combate em terreno mais largo emais moralizador: não restabelece as antigas eleições, mas pro-cura dar à luta mais elevação, pondo as candidaturas peranteum júri mais numeroso, influenciado por outras ideias. O alar-gamento do círculo destroi esse duelo de morte travado entretodos os candidatos. A difamação não fica sendo um dos meiosmais poderosos para a exclusão do adversário, a fraude perdea maior parte de sua importância e eficácia, o espírito da associa-ção política renasce; com ele revive a confiança dos candidatos,e com este a necessidade de manter a eleição de todos e de cadaum em altura que agrade aos homens sérios, que têm meios evontade de dar ganho de causa ao merecimento e à virtude.

A oposição liberal combateu o projeto com vigor. Faiaramcontra na discussão geral (l? discussão e 2? do art. 1.°) os Srs.F. Octaviano, J. J. Teixeira Júnior (conservador), Landulpho,Francisco Campos, Tito Franco, Casimiro Madureira, Abelardode Brito. O Sr. Marinho Campos falou várias vezes em outrasdiscussões. O Sr. Teixeira Júnior confessou que se havia inscritocontra, com o fim de ter a preferência; na verdade não falounem contra, nem a favor do projeto. Falaram a favor os Srs.Saraiva, Almeida Pereira, Sérgio de Macedo, Torres Homem,Dias Vieira, Paranhos e Nebias. A discussão foi importante eelevada, conquanto nem sempre pertinente ao assunto. Quasetodos os oradores, senão todos, julgaram-se obrigados a largoscomentários sobre a legislação e história francesa da restaura-ção e da monarquia de Julho. Embora o fizessem alguns sobria-mente e derivando bons argumentos para sua tese, isto em geralos preocupou mais do que o estudo detido e o exame acuradodas nossas cousas. Alguns não perderam o vezo de nosso parla-mento dos enormes discursos, diluindo seus raciocínios numdilúvio de palavras. Landulpho Medrado falou cerca de quatrohoras principalmente sobre a política do gabinete e questõesalheias ao objeto do debate. Pronunciaram-se, porém, algunsdiscursos sólidos, suculentos e elegantes.

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A oposição combateu o projeto por aniquilar uma conquistaliberal, a lei dos círculos de um deputado, que já havia obstadoa uma câmara unânime; censurou a vacilação das opiniões noshomens políticos, que reprovavam hoje o que ainda ontem ha-viam obtido com tantos esforços e tenacidade; atribuía a certasleis compressoras o vício das eleições, que não residia na leieleitoral. Censurava também a oportunidade da reforma nasvésperas de uma eleição, parecendo que a maioria, vendo-sefraca, queria alterar a lei em seu proveito; objetava, ainda, quea estreiteza do tempo não permitiria fazer-se acertadamente adivisão dos novos distritos. Landulpho censurava o ministérioporque "com a sua reforma vinha reconhecer perante o parla-mento, que o parlamento não era a expressão do país".

Foi no primeiro argumento que principalmente se estriba-ram os impugnadores da reforma. O Sr. F. Octaviano, que ence-tou a discussão, fez o histórico da questão, lendo as opiniões dePaulo Souza e Vergueiro desde 1846, quando propuseram medidaanáloga no senado. Respondeu-lhe com vantagem o ministro doImpério, o Sr. Almeida Pereira, mostrando que a ideia desses doisilustres parlamentares era justamente de distritos maiores doque os círculos da lei de 1855. Citou suas opiniões de 1846 e1848, demonstrando, o que era verdade, que haviam sido venci-dos no seu projeto de círculos de dois deputados por Honorio,Monte Alegre, Olinda, José Cesario, etc., que preferiram oscírculos de um só deputado. O mesmo primeiro orador, citandoe insistindo nas opiniões do marquês de Paraná, dizia (sessãode 18 de Junho) que o Sr. Nabuco, quando se discutiu no gabi-nete Paraná, do qual era membro, a apresentação desse projetoà cântara (o projeto dos círculos), propôs que os distritos fossemde três ou pelo menos de dois deputados; os seus colegas rejei-taram este alvitre.

O Sr. Saraiva a este respeito observa: "O nobre marquêsdeclarou sem mistério a mim, a todos que estavam nas mesmasideias, que melhor seria talvez o alargamento dos círculos, masque ele não podia emendar a lei na câmara, porque não a queriamais no senado, e que em todo o tempo se podiam corrigir osdefeitos dela". Os ex-ministros daquele gabinete confirmaramestas palavras, e o Sr. Paranhos, falando na sessão de 30 deJulho, explanou este ponto. "Devo manifestar à câmara que aideia das circunscrições de três ou pelo menos de dois deputadosjá em 1855 me parecia preferível. Quando esta ideia foi suscitadanas conferências do gabinete de 6 de Setembro, aderi plenamenteà opinião do ilustrado Sr. conselheiro Nabuco que a iniciou.

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"O ilustrado marquês de Paraná não aceitou, nem repeliuabsolutamente a ideia; respondeu-nos com uma questão prejudi-cial. Ele via perigo para a adoção da lei pelo senado, em qual-quer alteração importante, que fosse feita no projeto já iniciado;vai maior perigo se porventura essa alteração fosse feita nacâmara dos Srs. deputados, porque podia trazer a necessidade deuma fusão, e, senão impedir, pelo menos retardar a adoção dalei, cuja urgência era reconhecida. Não sei, ninguém pode saber,como pensaria o ilustre marquês de Paraná; mas eu creio terbem compreendido as razões que então atuavam em seu espírito.

'Todos compreendem que o ilustre marquês de Paraná enfra-queceria muito sua posição, privar-se-ia de algumas de suas armasmais valentes, se porventura não se apresentasse em 1855, sus-tentando o mesmo que havia sustentado em 1848, se apresen-tasse um projeto de circunscrições maiores em presença de opo-sitores que sustentavam a superioridade da eleição por pro-víncias."

Combatendo o projeto, a oposição liberal queria pura e sim-plesmente a continuação da lei dos círculos, com a qual pareciaentão contentar-se este partido. Sobre a eleição direta apenaspronunciou algumas palavras o deputado baiano Landulpho, semdesenvolver a ideia, mostrando apenas que se inclinava a ela.

Na sessão de 4 de Julho dizia o deputado Nebias: ". . .Declarou-se que, não tendo proposto a comissão o corretivo daeleição direta, os vícios notados na eleição permaneceriam emtoda a sua intensidade.

"O Sr. Franco de Almeida: — Não fui eu quem disse isto.'O Sr. Nebias: — Então quem assim argumentou foi o hon-

rado Sr. Landulpho.

'O Sr. Landulpho: — Apoiado. Fui eu mesmo."O Sr. Nebias: — Sr. presidente, nós sabemos que a eleição

primária é a origem de todo o poder; não sei que melhoramentopoderíamos trazer a essa eleição.

"Aqui ainda me dirijo à parte liberal da câmara e peco-lheque me diga se garantirá melhor a liberdade da eleição primá-ria à restrição ou o alargamento do censo?

"O Sr. F, Octaviano: — Eu aceito a constituição tal qual."

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No mesmo discurso dizia ainda este deputado:"Algum dos nobres deputados falou na eleição direta como

o único corretivo ao mal."O Sr. Landulpho: — Apoiado."O Sr. Nebias: — Todos nós reconhecemos que no estado

atual de nossa população a eleição direta não adiantaria nenhumpasso para a verdade da mesma eleição. Seria uma conflagração,um ato mais confuso e desordenado.

"O Sr. Franco de Almeida: — Isto é lá com o Sr. SallesTorres Homem í1).

"O Sr. Nebias: — Eu entendo, senhores, que a eleição emdois graus de nossa constituição é medida sábia e o fruto damais elevada concepção...

"O Sr. Franco de Almeida: — Estamos de acordo nisto,

"O Sr. Nebias: — Os nobres deputados lançam proposiçõescontrárias, e depois dizem que estamos de acordo!

"O Sr. F. Octaviano: — Aonde é que combatemos a eleiçãoem dois graus?"

Nenhum dos oradores que intervieram no debate defendeua eleição por província, nem propôs que se voltasse a este sis-tema. Apenas na sessão de 23 o Sr. Junqueira pronunciou algu-mas palavras para justificar um projeto que apresentou com estefim.

Os Srs. Pedreira e Paranhos, ex-ministros do gabinete Paraná,aquele ministro do Império, que havia referendado a lei dos cír-culos, votaram a favor da reforma, e ambos a defenderam. Talera o sentimento público contrário à lei, que este procedimentonão levantou as censuras que se deveriam esperar num paísonde as discussões tomam sempre o caráter pessoal, e os adver-sários jamais se esquecem dos argumentos ad hominem paradoestarem e desacreditarem seus antagonistas.

A 17 de Julho votou-se o projeto em última discussão, sendoaprovado em votação nominal por 74 votos contra 24. Entreestes contavam-se cerca de 12 votos conservadores.

(1) O Sr. Torres Homem havia reconhecido a vantagem da eleiçãodireta no discurso que pronunciara na sessão de 25, ao qual nos referire-mos em outra ocasião.

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A '2í> do Julho entrou o projeto em discussão no senado. Édifícil seguir aí os debates, que tomaram o caráter quase exclu-sivamente protelatório. A oposição não tinha outro fito senãoobstar a adoção do projeto nessa sessão.

A protelação é uma das tâticas mais ordinárias dos parla-mentos e da qual grandemente se abusa. Entretanto, um espí-rito imparcial escusará facilmente a que se empregou contra oprojeto, apesar de quanto indignou e desesperou a maioria dosenado. Este procedimento foi várias vezes profligado durantea discussão, e, na sessão de 11 de Agosto, muito energicamentepelo presidente do conselho, Ferraz, e ainda mais pelo ex-presi-dente do transato gabinete, o Sr. visconde de Abaete.

A oposição parecia sincera no desejo de conservar a leidos círculos. Devia-se proceder à eleição logo depois do encer-ramento da sessão, última da legislatura; esperava a oposiçãoque a nova prova da lei faria acreditá-la no conceito público edaria grande número de lugares na câmara dos deputados a cor-religionários seus. Embaraçada a adoção da lei durante a sessão,viria logo após a eleição e seguir-se-ia um período de quatroanos sem eleições gerais, no qual a política poderia tomar novocurso.

O Sr. senador Souza Ramos (visconde de Jaguari), que impug-nava o projeto, era dirigido por uma ideia justamente oposta.Fora ele contrário à lei dos círculos e a combatera, como fizemosmenção, não somente como inconstitucional em suas duas ideiascapitais, mas também como inconveniente quanto aos círculos.Agora, na revogação desta disposição da lei, ou ao menos na suamodificação, parecia que deveria ser sôfrego em abraçar a refor-ma, que atenuava parte dos seus males. Referimos algumas desuas palavras para tornar bem claro o seu pensamento; isto é,como impugnando o projeto, ele se mostrava, entretanto, o maisconvencido e decidido adversário dos círculos, que temia verainda renascerem.

"O Sr. Souza Ramos (sessão de 14 de Agosto): — Senãofora a apresentação deste projeto de reforma, o pronunciamentocontra os círculos em breve seria geral . . . Para mim, é forade dúvida que mais uma eleição por este sistema levaria a con-vicção a todos que é inconveniente e insustentável.

"O Sr. ministro de estrangeiros (Cansansão de Sinimbu): —É exatamente para não se chegar a esta convicção que queremosa reforma (!)

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F"O Sr. Souza Ramos: — Mas esta reforma tem o grande

inconveniente de ressuscitá-lo."Entendia o orador que era útil mais uma experiência da lei

para levar a todos a convicção de quanto era nocivo e para nãotornar favoráveis aos círculos aqueles que fossem com a reformamalogrados em suas pretensões e que lhe atribuiriam o malogro.

Alegou-se durante a discussão (o Sr. Silveira da Motta) quea protelação impedia os sustentadores da reforma de um exameacurado das objeções que se faziam e de um debate regular.Ainda hoje, não tanto a protelação, como seu método dificultao estudo desta discussão no senado. No dia em que o projetoentrava em discussão, o Sr. Souza Franco requereu que fosseenviado à respectiva comissão para dar a respeito seu parecer.Sustentando este requerimento, que em si não era desarrazoado,além de outros oradores, o autor pronunciou dois estiradíssimosdiscursos, que enchem vinte e tantas colunas das páginas dosanais do senado. Na sessão de 7 de Agosto o mesmo senador,falando pela ordem, para fundamentar um requerimento propon-do que a 2? discussão do projeto tivesse lugar por partes, consi-derando-se artigos os diferentes parágrafos do artigo único, dis-pendeu cerca de três horas, e seu discurso, apesar do fimexclusivamente protelatório, figura nos anais tomando quatorzecheias colunas.

Os mesmos discursos pronunciados sobre a matéria partici-param deste propósito e tornaram-se prolixos e fastidiosos, nãopodendo evitar o escolho da vulgaridade e da frivolidade de argu-mentação. Não querendo apresentar como exemplo os incidentesque os oradores repisavam e sobre os quais demoravarn-se longotempo, lembraremos que o Sr. Dias de Carvalho, que encetoua discussão, procurou longamente demonstrar que o artigo doprojeto, dispondo que nenhuma província daria menos de doisdeputados, era inconstitucional; porquanto, estabelecendo a cons-tituição no art. 42 que as províncias, que elegessem um deputado,não obstante, elegeriam um senador, pressupunha ela que pro-víncias haveria com um só deputado. O Sr. Souza Franco reforçoupor sua vez esta sólida argumentação, e o senador Diogo de Vas-concelos gravemente propôs emendas para salvar esta inconsti-tucionalidade, apesar da disposição do art. 97 da constituição,que entrega às leis regulamentares marcar o número dos depu-tados de cada província.

Parecia-nos mais acertado que os discursos protelatórios, jápouco justificáveis nos jornais, quando publicados por extenso,não figurassem nas páginas dos anais.

Como na câmara, a oposição liberal no senado nada apresen-tou para obviar os vícios da eleição o mal, que todos reconhe-ciam, de não ser a representação parlamentar a verdadeira ex-pressão da vontade nacional: queria unicamente a conservaçãodo statu quo, isto é, da lei dos círculos e da de 19 de Agosto de1846. Assim, censurando a supressão dos suplentes, eis o remé-dio que oferecia o Sr. Souza Franco. "Porque não serão maisadmitidos? Porque alguns se combinaram, porque se deram fatosde revoltante abuso entre pessoas que, para se fazerem eleger,fizeram contrato e dividiram entre si os anos da legislatura.Estava nas mãos, estava no poder da própria câmara evitar a repe-tição destes abusos; não admitisse os suplentes senão naquelescasos em que reconhecidamente havia dificultado da vinda doproprietário. Desde que se conhecesse que era um manejo, queera um arranjo, que era suplente de escritura pública (ninguémtinha feito, nem poderia haver quem fizesse escritura pública),não desse a dispensa ao efetivo".

O Sr. Nabuco, declarando-se em unidade e desligado de todosos partidos, não conseguiu, apesar de seu notável talento e ilustra-ção, sair com vantagem da difícil posição em que se colocou. Estaposição difícil estava bem longe de ser aquela a que se referirano proêmio do seu discurso, isto é, o pesar que o consternavadivergindo de seus amigos; mas a impugnação de uma ideia, queela advogara no próprio momento em que travavam os debatesda lei dos círculos em 1855, como já vimos. Logo no primeirodia de discussão (25 de Julho) o Sr. Nabuco, discutindo o reque-rimento do Sr. Souza Franco, ao qual já nos referimos, lançavaesta proposição: "Digo incidentemente que hei de votar contrao projeto, não porque entenda que a lei atual é boa, mas porqueentendo que a lei atual não se pode reformar no ano da eleição,sem inspirar-se desconfiança à população, sem desmorali^ar-se ocorpo legislativo, sem desmoralizar-se o regime parlamentar".

Não deixa de ser curioso o modo pelo qual o ilustrado orador,na sessão de 2 de Agosto, explicou esta sua opinião. Porque em1855 ele queria o alargamento dos círculos, não ficou obrigado aadotar esta ideia em todo o tempo, até nas vésperas da eleição."Que força moral, dizia, pode ter uma lei feita no ano da eleição,nas vésperas da eleição, sob a pressão da eleição? Que forçamoral pode ter a eleição que dessa lei provier, e a câmara criaturadela?. . .

"Quantas candidaturas não estão aí fundadas, prováveis, sobo regime atual? Estas candidaturas não ficam porventura defrau-dadas, prejudicadas, pela surpresa desta lei?"

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fMuito mais singular era a proposta contida num projeto de

reforma eleitoral apresentado ao parlamento inglês em 18 deAbril por Pitt, primeiro ministro, de indenizar-se pecuniaria-mente os representantes dos burgos podres (rotten borough), cujodireito de eleger deputados fosse cassado.

O mesmo senador ainda se opunha à reforma, porque am-pliava as incompatibilidades dos magistrados sem uma compen-sação, que lhes favorecesse a carreira, sem talvez se recordarque, quando foram criadas as incompatibilidades, cinco anosantes, sendo ele ministro da justiça, não se lhes dera compensa-ção alguma.

Outro voto significativo era do marquês de Olinda, por terintervido várias vezes nesta questão dos círculos: em 1848, subs-crevendo o parecer de que foi relator o marquês de Paraná sobreo projeto de Paulo Souza, aceitando os círculos e as incompatibili-dades; em 1855, assinando o parecer de Euzebio de Queiroz, decla-rando inconstitucionais e inconvenientes estas duas ideias; final-mente, combatendo com a palavra e com o voto o projeto quemodificava os círculos. Em sua opinião essa lei que lhe pareceuprática excelente resultado. "À vista de tal resultado, dizia naprática excelente resultado. "A vista de tal resultado, dizia nasessão de 9 de Agosto, que desmentiu todas as prevenções, declaroque não sou eu, nem devemos ser nós, que votamos contra a lei,que devemos vir aqui sustentar a sua revogação. Se esta lei, cujosefeitos eu temia. . .

"O Sr. D. Manoel: — E eu."O Sr. marquês de Olinda: — desmentiu na prática o meu

juízo, acho-me desarmado contra ela."Este discurso, mui aplaudido pela oposição, terminava com

estas palavras:"Senhores, tenhamos princípios fixos, sejamos coerentes."Por maior que fosse a importância que a oposição nas duas

câmaras ligasse à questão da oportunidade da reforma, a ponto deser a razão determinativa do voto de alguns impugnadores do pro-jeto, segundo declararam, não julgamos necessário discuti-la.Diremos somente que à objeção derivada da falta de tempo egrande arbítrio concedido ao governo para desfazer os círculos ereuni-los em distritos de três deputados, respondia-se que, pos-suindo o governo todos os dados para a divisão das províncias emcírculos, por eles se guiaria na reunião dos círculos, para a qualo projeto impunha condições claras, isto é, de respeitar, quantopossível, a contiguidade e integridade dos círculos.

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A oposição via no projeto o começo de uma reaçao contra oscírculos, que iria brevemente até restaurar as eleições por provín-cias. Se era sincera neste receio, muito se iludia; não estava estaideia nas intenções gerais, conquanto muitas pessoas, vendo osmales dos círculos e esquecendo os das eleições provinciais, em-bora menos graves, não deixassem de preferir este método deeleição. No importante discurso pronunciado na sessão da câmarados deputados de 21 de Junho, Sérgio de Macedo, autor do proje-to, dizia com exatidão que a medida proposta não era um paliativo,mas um sistema que havia de predominar no Brasil por muitosanos.

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TERCEIRA PARTE

REFORMAS INDISPENSÁVEIS — ELEIÇÕES DIRETAS— INCOMPATIBILIDADES

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CAPÍTULO I

Nova Direção do Espírito Público — Reconhecimentoda Necessidade de Reformar-se Radicalmente o

Sistema Eleitoral e não Simplesmente às fórmulasque Presidem ao Sistema Adotado

A lei de 22 de Agosto de 1860 é o último ato legislativo sobreo modo prático de eleições. Como vimos, não é uma reforma dalei dos círculos de 1855; as ideias capitais ficaram vencedoras,conservaram-se as incompatibilidades, e a divisão das provín-cias para a eleição de deputados foi apenas modificada.

Tinha-se feito a experiência das grandes circunscrições terri-toriais e das mínimas, ia-se fazer das médias. O resultado nãotem satisfeito. É inquestionável que parte dos males da eleiçãopor círculos diminuiu de gravidade, mas somente aqueles pe-culiares a ter pequenas circunscrições. O espírito público foi seconvencendo desta verdade; que o vício das eleições podia seragravado ou atenuado pêlos acidentes das divisões territoriaismaiores ou menores, e p elas regras mais ou menos bem combi-nadas, que constituem as fórmulas sob as quais funciona o sis-tema, mas que residia essencialmente no próprio sistema eleito-ral, que tínhamos ensaiado por vários modos, sempre porém, omesmo em substância.

Até então, raras vezes no parlamento lembraram a.conve-joiência da eleição direta; limitarám-se a emitir a proposição deque seria mais conveniente este sistema, sem haver quem sedemorasse em provar suas vantagens e formular um projeto. Ovisconde de Jequitinhonha em 1855 e o Sr. Salles Torres Ho-mem (visconde de Inhomirim) em 1860, foram os únicos quedisseram algumas coisas além da manifestação de um desejo.Em regra regrai, apenas se falava em eleição direta, a alegaçãode inconstitucionalidade punha logo termo a qualquer exame doassunto. Ainda assim, foram raras as vozes, como dissemos, que,durante todo o período de nossa história constitucional, até i\época de que tratamos, se pronunciaram no parlamento a favor

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da eleição direta. Não nos ocorre nem um outro nome além dosseguintes Srs: Paula Souza, Nunes Machado, Paulo Barbosa, An-tão, Souza Ramos (visconde de Jaguari), visconde de Jequitinho-nha, marquês de Paraná, Landulpho Medrado, Torres Homem(visconde de Inhomirim), e Paranhos (visconde do Rio Branco.)Vergueiro não foi explícito, como se supõe, apenas mostroudesejar que algum dia se realizasse este sistema.

Com a experiência das eleições gerais de 1860, 1863, 1866,1868 e 1872 ( ' ) a opinião pública tem de todo aderido à ideia dereformar-se radicalmente o sistema eleitoral. Pode-se dizer queas hesitações, os embaraços só existem em alguns homens po-líticos.

De 1860 em diante não somente em discursos, em escritosespeciais, em artigos de jornais, como em relatórios ministeriais,em projetos legislativos, em pareceres de comissões da câmaratemporária, tem-se advogado a ideia da eieição direta. Não pode-ríamos, sem nos tornarmos demasiadamente extensos, acompa-nhar todo o movimento dessa época em diante. É a nossa histó-ria contemporânea de todos conhecida. Limitar-nos-emos, pois,a tocar nos pontos mais salientes e a notar os princípios quetêm predominado.

Em 1862 o Sr. Dr, Souza Bandeira, depois deputado à assem-Jaléia geral, publicou no Recife um livro exclusivamente desti-nado a provar a necessidade da eleição direta censitária, con-tendo artigos, mui dignos de serem lidos, dos Srs. Drs. MoraesSarmento, Figueiredo, Autran, Silveira de Souza, Feitosa e ge-neral Abreu e Lima. Os Srs. Figueiredo, Silveira de Souza eFeitosa foram depois deputados à assembleia geral, onde nãonos conta que tivesse promovido a reforma tão calorosamentedefendida nos seus escritos.

Etn 1865 um deputado, que ocultou seu nome, publicou umbem escrito folheto sobre o mesmo assunto, com o título O Im-perialismo e a Reforma. Descrevendo com espírito sagaz a situa-ção política que observava, da qual fazia parte, e que, com poucasmodificações e exceções, é a mesma desde muitos anos, concluíapela necessidade indeclinável d.e rcformar-se o sistema eleitoral.

Tem relação com este escrito o projeto apresentado na câ-mara temporária, na sessão de 20 de Junho de 1857, assinadopêlos Srs. Souza Carvalho, Paulino de Souza, Adolpho de Barros,

(1) A experiência certamente não tinha em nenhuma outra épocasido mais concludente e terminante do que neste último ano. A interven-ção do governo levou o sistema eleitoral ao extremo descrédito.

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Tavares Bastos, barão de Prados, Fernandes da Cunha, ( Í ; I M I ; IAbreu, Araújo e Vasconcelos, Leão Velloso, C. B. Ottoni e Beifort Duarte.

O projeto, conservando p atual sistema^.criava eleitores fixou,ou jure próprio, os quais concorreriam nas eleições secundáriascom os eleitores provenientes das eleições primárias.. A capaci-dade dos novos eleitores era regulada ou pelo pagamento decerto imposto, ou por graduação de habilitação intelectual, in-dependente uma condição da outra. O projeto continha tam-bém algumas providências tendentes a garantir a liberdade dovoto nas eleições primárias.

Entrando para o ministério um dos signatários deste proje-to, o Sr^ Paulino, tratou de dar-lhe impulso, e a ideia ganhoualgum terreno nos domínios oficiais. Em quase todos os relató-rios anteriores dos ministros do Império falava-se da necessida-de de ser revista a lei eleitoral e dos males de que era causa.Especialmente insistiam neste assunto os Srs. José Bonifácio eLiberato Barroso. No relatório de 1869 o Sr. Paulino não é tãoexplícito como no seguinte, de 1870, em que se pronunciou comtoda a franqueza.

Q_relatório observa que a lei de 19 de Agosto de 1846 ape-sar da regularidade de seu sistema, da harmonia de suas dispo-sições e das garantias que procurou dar aos partidos, não temproduzido o resultado desejado, .cavüadas as suas providênciaspõFabus~os, que se tem radicadonos CQstumes__el.eitoiais. O terre-no da luta não^é das idéia.s1J3 espírito de revindita, dos. que s.ofrg,-ràrrrcüntra"ãqueTès"quë acabam de dominar, traz a administração,superior em constante suspeita e vigilância sobre as autoridadessubalternas.

A cada mudança na alta direção política do país* continua /o relatório, corresponde a substituição quase completa do eleito^ , yràdo, revelando na aparência os partidos, ora .extraordinária pu-4 Jjança, ora extrema debilidade. Observa, com verdade, que emtempos normais as variações da opinião não podem ser tão pro-nunciadas e excessivas. Demonstra que, conquanto outras leisinfluam sobre as eleições, não é nelas que reside o mal. "Auto-rizam a lei de 3 de Dezembro, a de 18 de Setembro de 1850 (daguarda nacional) e as disposições em vigor sobre o recrutamen-to, o arbítrio e excessos de que tanto se queixam? Se, pelo con-trário, a legislação dá garantia e recursos, e estes na prática nãosurtem o desejado efeito, deve-se procurar no estudo dos fatosas causas que desvirtuam na execução os preceitos legislativos."

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Em desempenho da promessa feita no documento citado, nasessão de 22 de Julho, o mesmo ministro apresentou um projeto,que fundamentou na tribuna, desenvolvendo as teses do relató-rio. O projeto é idêntico nas ideias capitais ao de 1865, poremmais completo e metódico.

Na sessão de 20 de Agosto do mesmo ano apresentou seuparecer a respeito do projeto a comissão, especialmente nomea-da para tal fim, composta dos Srs. Costa Pinto (relator), PintoMoreira, Corrêa de Oliveira e Gomes de Castro. O parecer erafavorável ao projeto, no qual a comissão via "as duas grandesvantagens: l? a de tornar mais livre a eleição e portanto maislegítima a representação nacional: 2? a de libertar a grande mas-sa dos cidadãos, principalmente os menos favorecidos da fortu-na, da opressão que sofrem das autoridades subalternas poramor do voto".

Ainda nesta sessão legislativa o Sr. deputado Pereira daSilva apresentou um projeto no mesmo sentido.

No senado as opiniões do relatório haviam sido impugnadasantes da apresentação do projeto. Objetava-se com a aristocra-tização do voto nos eleitores jure próprio, criando-se assim duasclasses de cidadãos com direitos distintos; com a anulação dovoto dos simples votantes, cujos eleitores seriam suplantadospêlos de direito próprio, resultando daí um amálgama.

Quanto ao primeiro ponto, respondia o autor do projeto,"não constituo classes com privilégios; porém, para o exercíciode um direito, estabeleço condições, que cada um pode adquirirou perder." Sobre o segundo, entendia, que, passando a eleito-res censitários a maior parte da classe de cidadãos de que hojese forma o eleitorado, os votantes, sem a intervenção daqueles,elegeriam, para representá-los nos colégios eleitorais, cidadãostirados das classes a que em grande parte pertencem, até hojeexcluídos do eleitorado. Não ficariam, porém, os eleitores destacategoria suplantados pelo maior número dos eleitores censitá-rios, porque, sendo estes de todos os partidos, aqueles se gru-pariam aos de sua parcialidade, dando-lhe assim o predomínio."Onde está o amálgama, dizia o orador, se defino precisamenteas condições, pelas quais se deve aferir a capacidade, e digo,quem as não tiver, nem por isso deixa de continuar a intervir naseleições, como até hoje, e enquanto as não obtém? Desinteressoos que hoje fazem as eleições de empregar os meios abusivospostos em prática para dominar a outra classe e firmo o direitode cada um, adotando o mesmo sistema por igual em toda aparte."

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O orador confrontou também o seu plano com o programado partido liberal de 1868, cuja ideia era tornar a eleição diretanas capitais das províncias e em algumas cidades e continuarindiretas nos distritos rurais.

Assim, pois, o projeto apresentado em 1868 tinha tido emseu favor as assinaturas de homens importantes de vários ma-tizes políticos.

O expediente das eleições mistas nos parece provir do dese-jo de evitar o escolho de duas objeções a que se tem ligado sumaimportância: a reforma constitucional, e a privação do voto agrande número dos atuais votantes.

Na discussão da lei dos círculos em 1855 o visconde de Je-quitinhonha, defendendo a eleição direta, entendia que uma le-gislatura ordinária poderia decretá-la, se a lei não privasse dovoto direto aqueles que já o possuíam indireto. Conviria em talcaso definir a renda constitucional e fazer qualificações mais re-gulares, sendo eleitores diretos todos os atuais votantes da cons-tituição. Esta opinião é também abraçada pelo Sr. Dr. Figuei-redo no escrito inserto na publicação do Recife, já referida.

Em capítulos especiais examinaremos a questão constitucio-nal, bem como a da privação dos direitos dos atuais votantes.

Toda a argumentação dos iniciadores do plano da eleiçãomista leva-os a concluir pela eleição direta, pois assinalam osvícios da eleição indireta e procuram rcmovò-los.

Não se animaram, porém, a propor logo a eleição direta,arguida de inconstitucional; talvez rccciassem levantar oposito-res contra uma ideia, até certo ponto nova nos domínios oficiais,ou quiseram antes sondar a opinião e prepará-la para a soluçãodefinitiva do problema, a qual dificilmente ficaria incompleta.Era o menos que já então se poderia propor. Seria também estaa sua escusa para com alguns espíritos timoratos ou retarda-tários. As exigências da opinião pública, em nosso conceito, longede satisfazer-se com essa medida incompleta, levá-la-ia à sua legí-tima e necessária consequência, à eleição direta.

Verificada a existência do mal, cumpre removê-lo desde logosem hesitações. Uma transação entre os dois sistemas facilmen-te comprometerá o que se deseja estabelecer. Como transição, oplano da eleição mista poderia levar-nos à lei portuguesa, que,partindo da eleição indireta, exatamente idêntica à da nossa cons-tituição, chegou ao verdadeiro sufrágio universal, transforman-do em eleitores diretos os votantes da constituição. De mais, a

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opiniau está hoje muito pronunciada e não há mais que temera inércia do espírito público, que, neste assunto, longe de resis-tir, impele os propugnadores da eleição direta.

Se a eleição indireta está desacreditada, se é fonte de inau-ditos abusos, se contamina e corrompe os costumes políticos, seé causa de opressão e violência, não se deve convir na conserva-ção de um princípio condenado. Supondo num distrito eleitoral5.000 eleitores de direito, isto é, 5.000 cidadãos aptos para bemescolherem os representantes da nação, não acrescentareis auto-ridade alguma, nem mais probabilidade de acerto à sua escolha,se lhes adicionais 500 eleitores secundários, provenientes de umsistema reconhecidamente vicioso.

A sessão legislativa de 1870 encerrou-se sem que o projetoem questão tivesse andamento. Na sessão seguinte outro gabine-te dirigia os negócios públicos. Nas regiões oficiais a ideia daeleição direta retrogradou para os paliativos dos retoques nométodo atual, considerado o suprasummum da peífeição políti-ca, apesar de tão larga experiência.

No relatório lido às câmaras legislativas na sessão de 1871o atual Sr. ministro do Império começava o artigo sobre eleiçõescom estas palavras: "Os graves abusos introduzidos na,-.i*práticado nosso sistema eleitoral tem tornado indispensável e urgente (oque todos reconhecem) a reforma deste sistema em diferentespontos." A reforma segundo o relatório, devia ter por fim: l?,modificar as qualificações, ando às juntas e assembleia paro-quiais de recurso nova organização, que evite (quanto for possí-vel) o espírito de partido; os recursos finais devem ser cometidosaos juizes de direito das comarcas. As qualificações, uma vezconcluídas, serão permanentes, salvo as inclusões, ou exclusõesindividuais que foram requeridas; 2?, regular os trabalhos con-cernentes às eleições, assegurando-se melhor o direito de votar,evitando-se os principais abusos das mesas eleitorais. Para estefim os cidadãos qualificados possuirão um título, sem o qualnão poderão votar, nem ser recusado o voto, sendo apresentadoo título. Fazer observar regras certas em relação à chamada dosvotantes, na apuração das cédulas, organização das mesas etc.,etc.; 3? fixar definitivamente o número dos eleitores de cadaparóquia, dividindo-se as que derem um número de eleitoresexcedente a certo máximo; 41? determinar o número mínimo e omáximo dos eleitores para a formação dos colégios eleitorais,não podendo alterar-se a divisão, senão por ato legislativo; 5*? de-finir os casos de incompatibilidade não só entre empregos pú-blicos e cargos de eleição popular, como também entre estesmesmos cargos.

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O relatório termina com estas palavras: " Ind i r ando estespontos capitais, dou ideia da reforma que me pareceu couveniente realizar no nosso sistema eleitoral. Se, como não duvidarei reconhecer, ela não tiver a virtude (que qualquer outra re-forma dificilmente terá) de extirpar todos os vícios e abusos queem nossas eleições infelizmente se observam, e suscitam tantosclamores, até certo ponto justos, não se lhe negará ao menos oefeito de melhorar sensivelmente o seu modo prático, garantin-do-se quanto é possível a liberdade do voto, sem se alteraremas bases fundamentais do sistema, segundo o qual tem-se já for-mado os nossos costumes, e sem se agitarem questões de altaimportância política, sobre as quais vacilam ainda as opiniões,e que por isso trariam embaraços à pronta realização de melho-ramentos práticos, geral e urgentemente reclamados."

Julgamos escusado analisar particularmente a reforma pro-posta, contrária a tudo quanto temos escrito, e da qual, aliás,seu autor faz tão triste comentário, e espera tão fracos resulta-dos. Parece-nos ver o funcionário público sem convicções, pôrmãos à obra a que o impelem a seu pesar, e que, sem coragem,nem confiança para resolver as grandes dificuldades, procuracontorná-las e quer unicamente a escusa de dizer: tentei algumacoisa.

No relatório deste ano, o Sr. ministro do Império insistenas mesmas opiniões emitidas no ano anterior, dizendo: "No re-latório do ano passado manifestei a minha opinião sobre o graveassunto que preocupa geralmente os espíritos: a reforma do sis-tema e processo eleitoral. Disse então e repito que, se infeliz-mente as urnas nem sempre exprimem o verdadeiro voto popu-lar, este mal provém principalmente dos abusos que se têm intro-duzido na prática do sistema e que não têm sido possível coibir,porque as paixões dos partidos políticos acham meios fáceis deiludir em pontos capitais a combinações em que ele assenta".

Este relatório publicado em Agosto, depois da dissoluçãoinconstitucional da câmara temporária, quando a Coroa acaba-va de apelar da maioria da câmara para o país (que irrisão!) nãopodia deixar de atenuar os defeitos do sistema eleitoral, atribuin-do os abusos à execução prática das leis.. O fim evidente do rela-tório era a enganadora promessa de mjWrar os abusos e escân-dalos eleitorais com a imparcialidade e rigidez daexeqiïçãb dásíeísTë a escusa-JÍa..oUssõlirçãp da câmara e de um.jy>éTo ITnacãõsem. ter -sido reformado o defeituosíssimo sistema eleito rá]7dc!vconceituado pelo órgão da Coroa, pGucós dias antes, na aberturado parlamento.

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CAPITULO II

Como tem sido sustentada a Teoria da Eleição Indiretapêlos Publicistas em geral e particularmente entre nós

Não tem entrado no nosso plano as discussões especulativase abstratas de princípios de direito público constitucional, maso estudo do nosso estado social. Os princípios teóricos não con-denam em todos os casos de modo absoluto a eleição indireta;são, porém, numerosos os adversários deste sistema, e, na verda-de, parece pouco natural exigir-se um intermediário para exer-cer um cargo que já é em si uma delegação: o eleitor secundá-rio é um delegado para delegar poderes.

Nos países (nos raríssimos países) em que o sistema parla-mentar tem tido uma origem histórica e não é o produto deuma revolução social irrompendo subitamente e destruindo opassado para criar tudo de novo, a eleição direta é a fórmulada nomeação dos representantes do povo. Nos outros países, po-rém, quer as constituições sejam feitas por assembleias popula-res, quer outorgadas pêlos soberanos, coagidos pela necessidade,a eleição indireta predomina. Ao organizar estas constituições,seus autores acham-se na alternativa ou de descontentar e irri-tar as massas populares, ou de dar-lhes direitos extensos e am-plos, cujas consequências imprevistas os aterram. Assim, per-mitindo em aparência grande amplidão de voto, restringem, se-não nulificam, esta faculdade, interpondo outra classe menosnumerosa, menos acessível às paixões impetuosas e violentas,por intermédio da qual aquele direito deve ser exercido.

Eis como se exprime um escritor francês o conde L. deCarne (') apologista da eleição indireta: "A constituição do anoIII, oriunda da reação do Thermidor, restabeleceu, salvo algunspontos, o método eleitoral de 1791... Assim a eleição indiretatriunfava logo, com um penhor precioso oferecido à ordem pú-

(1) Estudos sobre a história do governo representativo em Franca.

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blica, como um primeiro princípio de segurança dado à socieda-de agitada alo seus últimos abismos. Desde esta época ela con-servou sempre este caráler.

"fi sobretudo em vista do temperamento francês que a elei-ção indireta parece ter sido concebida. Dá-se com este métodoo mesmo que com a divisão do poder legislativo: é uma reservacontra o ímpeto do primeiro movimento, um refúgio para aconsciência pública recolhida no cumprimento de seus deveres."

A reação, que apenas começava, não podia nesse ano IIIchegar ao ponto de arrancar o direito eleitoral das massas popu-lares, ainda fanatizadas; transigia, pois. Agora, coincidência sin-gular! A Krança apresenta uma situação análoga, inversamenteconsiderada. A assembleia nacional e alguns estadistas reconhe-cendo no sufrágio universal o instrumento do despotismo napo-leônico, como havia sido dos desvarios revolucionários; mas, re-ceando parecer alentar contra liberdades aparentes e os direi-tos populares, inulinain-se à mesma transação, e a ideia da elei-ção indireta domina certos espíritos, como uma transição paramelhor futuro.

A regra exposta por lord Brougham, aliás tantas vezes cita-da, que deve-se reputar apto e capaz de bem escolher o represen-tante da nação quem é reputado capaz de escolher n eleitor deparóquia, só é verdadeira, exigindo-se certa habilitação no vo-tante. Na teoria doutrinária, sobretudo, a eleição indireta podeser defendida em princípio, conquanto pensem diversamenteGuizot e os sectários desta escola. Se o governo representativoé o governo dos mais habilitados, dos mais capazes, se a eleiçãotem por fim escolher tais indivíduos para discutir e promulgarleis que consagrem os princípios da razão c da justiça na so-ciedade, parece natural que o povo na sua paróquia, incapaz dever os grandes vultos nacionais, escolha ai os mais habilitados,para estes escolherem outros ainda superiores, que legislem cgovernem o estado. Um pequeno negociante, lavrador, artista ouoperário, naturalmente ignora e não distingue no estado quaisos melhores cidadãos que se entregam à carreira política paralhes confiar o direito de representá-lo; podem, entretanto, co-

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nhecer em sua paróquia os seus concidadãos mais habilitadospara fazerem a escolha.

Alguns escritores observam, com razão, que nem todas aseleições secundárias tom produzido maus resultados e apontam oexemplo conhecido da eleição dos senadores nos Estados Uni-dos (-'). Cada estado da União Americana manda dois senadores aosenado, os quais são eleitos pelas assembleias legislativas do res-pectivo estado. Ao passo que o congresso dos representantes, elei-to dire tamunte pelo povo, se compõe, na máxima parte, de homensvulgares e pouco importantes (um dos males inerentes à demo-cracia americana) para o senado as legislaturas escolhem osprincipais personagens políticos, que comunicam a esta corpo-ração a consideração de que ela goza. É que nos Estados Unidosa legislatura dos estados não é eleita com o fim exclusivo de es-colher senadores, porém de legislar para o respectivo estado.Composta, embora de homens abaixo da missão de legisladoresde uma nação tão i lustrada, eles são. sem dúvida, mui superioresao nível geral dos eleitores comuns e não podem deixar de es-colher as sumidades dos partidos para representar o seu estadono senado americano, onde a influência política pertence ao ta-lento e não ao número, pois cada estado, qualquer que seja suaextensão e população, elege só dois senadores.

Poderíamos acomodar a nós este modo de compor o sena-do, escolhendo as nossas assembleias provinciais os senadores,cujo número se renovasse pela terça parte em certos períodos.Não só as assembleias assumiriam logo maior importância polí-tica e conteriam em seu seio os homens mais eminentes das res-pectivas províncias, interessando nos seus negócios os que atual-

(2) O notável escritor radical J. S. Mill insiste neste ponto na suaobra sobre o governo representativo. Já antes o havia feito nos mesmostermos, o justamente conceituado escritor. A. de Tocqueville. Eis um.breve extrato de suas próprias palavras (Da democracia na América, vol,2'-' cap. 41?): "Logo que entrais na sala dos representantes em Washington,sereis impressionado do aspecto vulgar desta grande assembleia. Os olhosprocuram em vão em seu seio um homem célebre. Quase todos os membrossão personagens obscuros, cujo nome nada recorda. . . A dois passos daí seabre a sala do Senado, cujo estreito recinto encerra uma grande parte dascelebridades da América. Difici lmente ver-se-á aí um homem que não lem-bre urna ilustração recente . . . Donde procede este singular contraste?Porque a primeira assembleia reúne tantos elementos vulgares, quando asegunda parece ter o monopólio dos talentos e das luzes?. .. Não vejosenão um fato que explica isto: a eleição, que produz a câmara dos repre-sentantes, é direta; aquela de que emana o Senado é de dois graus. A uni-versalidade dos cidadãos nomeia a legislatura do cada estado, e a consti-tuição federal, transformando por sua vez cada uma destas legislaturas emcorpos eleitorais, vai derivar destes os membros do Senado."

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mente são senadores, como o acerto da escolha era mais prová-vel do que na composição das listas tríplices, fornecidas pelasnossas defeituosas eleições. Por este modo a supressão da vita-liciedade do senado não seria um maf; esta instituição melho-raria, e as assembleias provinciais, que estão apodrecendo emtoda a parte numa agitação estéril se reabilitariam para seuselevados f ins .

Várias objeções se apresentam para combater a eleição di-reta entre nós. Em primeiro lugar, por importar uma reformaconsti tucional. Esta questão é tão vasta e tem ocupado tanto aatenção pública, que não podemos deixar de reservar-lhe lugarespecial em que será examinada.

Em segundo lugar, a eleição indireta está radicada no paíse com ela se tem formado os nossos costumes políticos.

Esta objeção ó comum a toda a ideia de reforma; c por ex-celência o argumento da rotina. Sei os costumes políticos, queas leis eleitorais têm formado, são detestáveis, cumpre extinguiras instituições que tão maus frutos têm produzido. Este propósi-to de ultraconservnção não esta na índole e nas tendências dopartido conservador. Repugna ao espírito deste partido impor àsociedade uma reforma a que ela não aspira, de cuja necessi-dade a maioria da nação não se acha convencida; quando, po-rém, o mal está palpável, o remédio conhecido e indicado portodos, e a ideia amadurecida, é sem duvida chegada a ocasiãoda reforma; será bem aceita e firmar-se-á na sociedade. O esta-dista conservador está tão longe do reformador inconsiderado,quanto do supersticioso rotineiro.

Em terceiro lugar figura a objeção derivada da privaçãodo voto a grande número dos atuais votantes pela elevação dacapacidade do eleitor direío. Devemos observar: l? que não hádireitos adquiridos, quando se trata de funções, cujo exercíciopressupõe certas condições de capacidade. A capacidade perde-se ou adquiri-se, e com ela, o direito que lhe corresponde, oqual nunca se pode dizer um direito adquirido. No nosso atualregime de eleiçõe.s este fato se dá na mais larga escala. Em se-gundo lugar, o direito de votar não é um direito natural. Sefosse, não poderia ser exercido somente preenchidas certas con-dições de capacidade. Seria igualado, por exemplo, ao direito deliberdade de pensamento, de ter cada um em sua casa um asiloinviolável, de não ser punido senão em virtude de lei ante-rior etc. Todas as sociedades civilizadas, ainda as mais de-mocráticas, assim têm entendido, salvo casos raríssimo.s. Con-

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sequentemente, restringir ou privar certos cidadãos de uma fa-culdade, que ofende e prejudica à sociedade, não pode consti-tuir uma injustiça individual, é antes uma justiça social. Em ter-ceiro lugar, no estado atual da sociedade brasileira, o direito dovotante não tem estabilidade alguma. As juntas qualificadorastiram-no cm massa e dão-no em massa, sem que os cidadãos, decuja sorte se trata, se incomodem, quer no primeiro, quer nosegundo caso. É questão dos cabalistas eleitorais e não dos cida-dãos. É um direito ineficaz, precário, que nada garante, quenenhuma vantagem, regalia ou importância social confere. Emquarto lugar, votar é antes um dever social do que o gozo de umdireito. Assim têm-no encarado as nossas leis, que, desde as pri-meiras da nossa organização política, cominam multas àquelesque não comparecem para votar.

No capítulo em que tratarmos da capacidade do eleitor, istoé, do censo eleitoral, tornaremos particularmente a este assunto.

Alguns homens políticos vêem ainda na adoção da eleiçãodireta um grave perigo, que reputam certo em futuro próximo:é o abaixamento progressivo do censo eleitoral até chegar aosufrágio universal.

Já temos observado que a eleição indireta com o voto uni-versal sem garantias, avassalado às paixões locais, c mais perni-ciosa à sociedade em épocas normais do que a eleição direta comos mesmos atuais votantes. Aconteceria em tal caso que as elei-ções seriam destituídas de interesses, não concorrendo senãouma fração mínima de votantes às urnas, pois que para o indi-víduo ignaro e analfabeto que habita o nosso pais, é bem indife-rente ser deputado Pedro ou Paulo, para ele totalmente desco-nhecidos.

É o interesse local que leva hoje o votante à matriz daparóquia para fazer seus vizinhos eleitores, e não a questão polí-tica que se debate entre os candidatos ao parlamento. A eleiçãodireta com o voto universal só traria perigos nas épocas de ebu-lição social e comoções populares. Estas, pela natureza da orga-nização política e económica do Brasil, não encontrarão por mui-tos anos os elementos que em outros países lhes dão vida e per-sistência. Não obstante, contando ainda com este mal, nos pa-rece que não se deve temer tão extraordinário abaixamento docenso e sua abolição completa ou o voto universal. Uma certa ca-pacidade eleitoral tem sido sempre exigida em todas as socieda-des, salvo mui raras exceçoes de algumas épocas transitórias. Nãodevemos esperar que no Brasil se faça o que em outros países,

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contaminados pêlos princípios ultrademocráticos, não se U-m conseguido dos legisladores.

Em certos Estados da União Americana, por exemplo,não pode comparecer para votar o cidadão que não prova pagaralgum imposto direto, e que não sabe ler e escrever. Parece-nos que a democracia não pode exigir menos do que estas duascondições únicas para o exercício do voto, e, entretanto, elas jáse nos afiguram garantidoras de certa solidez social. Só a dema-gogia exigirá mais; quando, porém, esta conseguir dominar editar leis à sociedade, não serão os frágeis esteios da eleição in-direta que a salvarão.

Apontar, ainda em resumo, as vantagens do sistema oposto,isto é, da eleição direta, seria compendiar tudo quanto tem sidoexposto neste escrito. A eleição direta é hoje a regra de todosos países constitucionais, com exceção única da Noruega na Eu-ropa (:i) e do Brasil na América.

(3) Assim era em 1864populares por Bicderman.

Vid. Os sistemas representativos e as eleições

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Não era, entretanto, só por sua origem que a constituiçãopodia encerrar assunto estranho aos seus limites. Não repugnavaentão esta confusão de matérias no código político. Havia o remé-dio que a constituição adotou no art. 178 com a maior amplidão.

Conquanto por sua natureza alguns artigos não possam serreformados, pois constituem a essência da constituição e reformá-los seria destruir a própria constituição, ela só faz distinção entreartigos reformáveis por lei ordinária, equiparados à outra qual-quer lei, e artigos reformáveis, segundo certos trâmites, tenden-tes a evitar precipitações. A constituição avisadamente previu quese levantasse barreiras a qualquer melhoramento social ou liber-dade pública se enfraqueceria e não tardaria a desaparecer pe-rante as exigências da civilização. Assim, pois, conservando-seem essência a mesma enquanto a forma de governo monárquicoconstitucional representativo existir no Brasil, ela encerra os ele-mentos para aperfeiçoar-se e colocar-se a par do progresso social.

O que seja constitucional ou não no corpo da constituiçãoestá definido no art. 178: "É só constitucional o que diz respeitoaos limites e atribuições respectivas dos poderes políticos e aosdireitos políticos e individuais do cidadão: tudo que não é cons-titucional pode ser alterado, sem as formalidades referidas, pelaslegislaturas ordinárias." Como todas as definições, esta, apesarde aparentemente clara e precisa, tem levantado as mais sériasdúvidas.

Não se pode contestar que o voto seja direito político. Seassim é, concluem, o direito de voto está compreendido na gene-ralidade da definição: o voto é matéria constitucional. Tanto assimentendeu a constituição que no art. 97, o último do cap. 6? dotít. 4'.1, intitulado Das eleições, depois de estabelecer as basesdo direito de votar, dispõe que uma lei regulamentar marcaráo modo prático das eleições.

A hermenêutica literal contenta-se com estas duas razões.\crescenta-se ainda, onde a lei não distingue não podemos dis-t ingui r , o direito de voto é político, o art. 178 não faz distinçãoentre direitos políticos, portanto, todos os direitos políticos sãomatéria constitucional.

Para outra opinião esta argumentação não resolve a contro-vérsia. Sem dúv ida o direito de voto é político; mas estará estedireito entre aqueles que a constituição reveste das garantiasconstitucionais? Será exato que ela não distinga entre os direitospolíticos, quais aqueles que importam matéria constitucional,quais não? Tal é a questão, sobremodo interessante e complexa.

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A constituição, como outra qualquer lei, não pode dispensarpara sua interpretação o elemento histórico, isto é, as circuns-tâncias que presidiram à sua elaboração. Já desde muito antes de1824 a teoria constitucional não classificava entre as matériasconstitucionais o direito de voto. Benjamin Constant, o autor maisacreditado nessa época, começa o seu capítulo intitulado Do quenão é constitucional, por estas palavras: "Tudo o que não dizrespeito aos limites e às atribuições respectivas dos poderes, aosdireitos políticos e aos direitos individuais, não faz parte daconstituição."

Na explanação desta tese, de que é cópia o nosso artigoconstitucional, eis o que diz o autor: "A felicidade das sociedadese a segurança dos indivíduos repousam sobre certos princípios.Estes princípios são verdadeiros em todos os climas, sob todas asïatitudes. Jamais podem variar qualquer que seja a extensão deum país, seus costumes, sua crença e seus hábitos. É incontes-tável, numa aldeia de cento e vinte cabanas, como numa naçãode trinta milhões de homens, que pessoa alguma deva ser arbi-trariamente punida sem ter sido julgada; julgada senão em vir-tude de leis aceitas e segundo fórmulas prescritas; impedidoenfim de exercer suas faculdades físicas, morais, intelectuaise industriais de um modo inocente e pacífico. Uma constituição éa garantia destes princípios. Conseqüentemente, tudo o que dizrespeito a estes princípios é constitucional, e, eonseqüentementetambém, nada do que lhes é estranho é constitucional."

Em relação, pois, aos direitos dos cidadãos, as constituiçõestêm por fim a garantia dos direitos que possui todo o homem,somente em virtude de sua natureza racional e livre, independen-temente de qualquer circunstância, direitos que são superiores eanteriores a todo o governo, universais e imprescritíveis. (1)

Sem querer acumular citações, transcreveremos, não obstan-te, de E. Laboulaye, aplaudido escritor moderno, a seguinte defi-nição que se lê no artigo da Revista dos Dois Mundos de 15 deOutubro de 1871 intitulado Do poder constituinte, como nos Es-tados-Unidos. "É necessário fixar legalmente a competência decada um dos poderes públicos e limitá-los uns pêlos outros. Oobjeto próprio de uma constituição é esta distribuição de atribui-ções, é o estabelecimento destes limites, é, além disto a enume-ração das liberdades que o governo deve garantir e nas quaisnão pode tocar." Referindo-se ao direito de votar, assim se expri-me: "Não conheço nos Estados Uniros um só jurisconsulto, um

(1) V. Cousin Phil. moral.

REG.i 121

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PÓ publicista que faça do eleitorado um direito natural, um di-reito que o legislador não possa modificar".

Podemos concluir, que nem na época em que foi feita a nossaconstituição, nem depois, a verdadeira teoria tem considerado,como matéria constitucional o chamado direito de voto. Sua ex-tensão, exercício, condições, são por sua natureza variáveis e su-jeitas a tantas circunstâncias, que não pode encerrá-lo a matériaconstitucional. Tal é a prática e a inteligência de todas as nações.Ainda naquelas em que as constituições têm legislado sobre o di-reito de voto, jamais se tem reputado uma infração constitucionalou necessária a intervenção do poder constituinte para se modifi-car e alterar, como profundamente se tem feito, a legislação elei-toral.

A constituição do Brasil não se afastou dos princípios quedominam a matéria. Todas as constituições, inclusive a nossa, in-fluenciadas pelas ideias francesas, que consagraram a célebredeclaração dos direitos do homem, contêm a longa enumeraçãodestes direitos, que, segundo a frase já citada, são superiores eanteriores a todo o governo, universais e imprescritíveis. Ora,nem essas constituições, nem os publicistas acreditados das dife-rentes escolas têm considerado o direito de voto entre os direi-tos que as constituições devem garantir, porquanto não consi-deram tais aqueles que só pertencem a uma parte dos cidadãos enão à universalidade da comunhão política.

Se a nossa constituição incluiu disposições não constitucio-nais sobre matéria eleitoral, conformou-se com as ideias do tem-po em que promulgada, aliás sem inconvenientes com a ressalvado art. 178, e também submeteu-se às necessidades da ocasião,como já referimos.

Em Portugal, onde a constituição na parte relativa à eleiçãoera inteiramente idêntica à nossa, sendo em tudo quase iguaisas duas constituições, decretou-se a eleição direta sem se julgarnecessária reforma constitucional. Eis como o Sr. Dr. Moraes Sar-mento, no escrito já citado, expõe o que teve lugar naquele país."Este funesto estado (criado pelas eleições indiretas) e seus de-ploráveis efeitos, excitaram um clamor geral dos cidadãos hones-tos e cônscios dos seus direitos, e finalmente apresentou-se nacâmara dos deputados um projeto de lei, para converter a eleiçãoindireta universal em direta e censitária.

"Lá, como aqui vai sucedendo, a primeira objeção dos ini-migos da pureza eleitoral foi que ela não se podia efetuar sempoderes especiais dos eleitores, porque diziam eles também, osartigos que regulam a forma eleitoral são artigos constitucionais.

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Depois de renhidas discussões, votou-se no parlamento porlugm-sque os artigos que regulavam a eleição não eram artigos constitucionais, que, determinando o que se devia entender pelas e,xpressões renda líquida que dá o direito constitucional ao voto,tudo o mais é puramente regulamentar, cabendo a sua alteraçãonas atribuições das câmaras ordinárias.

"Por efeito desta decisão parlamentar, procedeu-se à dis-cussão da lei eleitoral, a qual foi votada antes de se pensar emato adicional, e sem que a grande maioria das câmaras reconhe-cesse a necessidade de pedir autorização especial ao corpo elei-toral."

"O duque de Saldanha entendendo que era conveniente mu-dar alguns artigos da constituição, para tranquilizar os escrúpulosdaqueles que anteriormente se tinham oposto de boa fé à reformaeleitoral já votada, incluiu na lista dos artigos aqueles que diziamrespeito à forma das eleições. Mas a lei ficou qual estava e talqual tinha sido votada pelas câmaras ordinárias, sem poder algumespecial do corpo eleitoral."

Como se depreende desta exposição, as câmaras portuguesasr.ão julgaram necessária reforma constitucional para a decreta-ção da eleição direta, porque não privaram a nenhuma classede cidadãos do direito de voto que já tinha pela carta consti-tucional: converteram em eleitores diretos todos os votantes daseleições primárias segundo a carta, definindo a renda legal e esta-belecendo regras para sua verificação e conhecimento. A lei por-tuguesa, portanto, seguiu a opinião, a que já nos temos referido,do visconde de Jequitinhonha, dos artigos da publicação do Re-cife (especialmente dos Srs. Drs. Moraes Sarmento e Figueiredo)e que parece ser a dos autores dos projetos sobre a eleição mista,apresentados à câmara dos deputados.

Se, porém, não existe ofensa à constituição na modificaçãodo voto, alterando-se o seu exercício, dando-se-lhe nova forma,outra extensão e eficácia, não é na privação do direito de certosindivíduos que pode existir a ofensa. O direito neste caso, deri-vando-se do preenchimento de certas condições de capacidade,não pertence designada e precipuamente a cidadão algum, masàqueles que reunirem as condições estabelecidas. No estado atual,segundo a constituição, todo o cidadão pode perder o direito devoto, perdendo o quantum da renda, o domicüio, etc., e, de fato,todos os anos as qualificações paroquiais incluem e excluem vo-tantes às centenas, sem que alguém reclame em nome do seudireito adquirido.

12,'ï

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Para o exercício de voto são necessárias certas condições:1°, ser cidadão brasileiro no gozo dos direitos políticos, ou es-trangeiro naturalizado; 29, ter 25 anos de idade, salvo certasexceçóes; 39, estar emancipado do pátrio poder, exceto de serviremprego público; 49, não ser criado de servir; 59, não ser reli-gioso regular; 69, ter a renda líquida de 200$. Para o exercício'do voto qualquer destas condições tem importância igual; isto é,uma só que falte torna o indivíduo inábil para votar. Entretanto,não há quem sustente que só as leis constitucionais podem regulartais condições. É opinião geral que legislar sobre a qualidade decidadão pertence às legislaturas ordinárias, bem como regular asnaturalizações, que trazem o direito de votar, do qual é condiçãoa nacionalidade.

Entre os que sustentam a competência das legislaturas ordi-nárias para mudar o sistema eleitoral da constituição, discutiucom vantagem o autor do folheto O Imperialismo e a Reforma,para quem todo o capítulo da constituição relativo à eleiçõespode ser reformado por lei ordinária. O texto da constituiçãoindica ter ela adotado estes princípios. O título 29, logo depoisdaquele que define a associação política, o governo, dinastia ereligião, é consagrado aos cidadãos brasileiros, bem como o título89 e último, que se inscreve: Das disposições gerais e garantiasdos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros. O art. 173,o primeiro pelo qual começa o título 89, dispõe sobre o dever daassembleia geral no princípio de suas sessões de examinar se aconstituição tem sido observada; os arts. 174 a 177 estabelecemas regras para a reforma dos artigos constitucionais; o art. 178define o que seja matéria constitucional e o art. 179, o último,é o seguinte: "A inviolabilidade dos direitos civis e políticos doscidadãos brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurançaindividual e a propriedade, é garantida pela constituição do Im-pério, pela maneira seguinte." Parece evidente que os direitospolíticos que a constituição revestiu das garantias constitucionaissão aqueles que ela enumera neste capítulo, isto é, aqueles quetêm por base a liberdade, a segurança individual e a propriedadedos cidadãos, de acordo com as teorias de direito público consti-tucional e com as demais constituições políticas. Ela não trataneste título do direito de votar, que se acha compreendido nocapítulo 69 do título 4.°, que se inscreve: Do poder legislativo.

O art. 91 deste capítulo dispõe: "Têm voto nas eleições pri-márias: 19, os cidadãos brasileiros que estão no gozo de seusdireitos políticos. "Logo, diz o autor ultimamente citado, o votodos votantes não é um dos direitos políticos." A constituiçãoreconhece assim que pode estar o cidadão no gozo de seus direi-

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tos políticos, sem possuir o direito de voto; isto é, direitos politicos são outros direitos diversos do do voto; ou como se exprinu1

o citado escritor, "o voto dos votantes não é um dos direitos politicos dos cidadãos, é coisa que está fora e além dos direitos po-líticos dos cidadãos, visto que para tê-lo é mister primeiro estarno gozo dos direitos políticos."

As constituições francesas de 1793 e 1795 consideravam odireito de voto entre os direitos naturais do cidadão e os reves-tiam das garantias constitucionais. Eis, porém, como elas se expri-mem, a primeira diz: "Todo o cidadão tem igual direito de concor-rer para a formação da lei e para a nomeação de seus mandatá-rios ou agentes"; a segunda dizia: "Todo o cidadão tem igual di-reito de concorrer imediata ou mediatamente para a formaçãoda lei, para a nomeação dos representantes do povo e dos funcio-nários públicos".

Assim teria procedido a nossa constituição se houvesse abra-çado a teoria daqueles que julgam o voto matéria constitucional.

Seja, porém, o que for, desta questão, ela não pode ser umabarreira insuperável à decretação da eleição direta. Nenhum depu-tado, senador, ministro pode no Brasil dizer: tal artigo da cons-tituição é inconveniente, é nocivo, não satisfaz às necessidadespúblicas, perverte os costumes, estraga-os, corrompe-os, mas nãodevemos reformá-los! Se a constituição é apresentada como obs-táculo ao bem público, se enfraquece, pois não se mantém poruma necessidade imaginária, mas pela conveniência e utilidadesocial.

O distinto parlamentar G. Rodrigues dos Santos era intér-prete destes sentimentos, quando exclamava na sessão de 25 deJunho de 3845 da câmara temporária: "Vou quase tendo medoda constituição; vou vendo que ela não pode dar ao país aquiloque prometeu. Toda a ideia nobre e grande que se apresentaacha quem diga que a constituição se opõe a ela!"

Para responder ainda àqueles que pensam como um senador,cuja opinião citamos, "que a reforma de qualquer artigo consti-tucional é a cousa mais perigosa do mundo", lembraremos asseguintes mui sensatas palavras do profundo publicista B. Cons-tant: "Todas as vezes que para alcançar um fim é necessárioum esforço, é para temer-se que o fim não seja excedido por esteesforço. Quando, do contrário, o caminho está traçado, o movi-mento torna-se regular. Os homens sabendo onde querem chegare que meios devem empregar, não se lançam ao acaso, escravosdo impulso, que de si próprios receberam.

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"Mesmo para a estabilidade, a possibilidade de melhora-mentos graduais é muito preferível à inflexibilidade das consti-tuições. Quanto mais segura é a perspectiva do aperfeiçoamento,tanto menos se expõe aos descontentes... Só é durável parauma nação, desde que ela tem começado a raciocinar, aquilo quese explica pelo raciocínio e se demonstra pela experiência. . .

"A recusa de mudar as leis, porque se as não quer mudar,explica-se, ou pela bondade intrínseca dessas leis ou pelo incon-veniente de uma mudança imediata. Mas tal recusa, motivada nãosei porque misteriosa impossibilidade, torna-se ininteligível. Quala causa desta impossibilidade? Onde a realidade da barreira quese nos opõe? Todas as vezes que em matéria de raciocínio arazão é posta fora da questão, não se sabe mais donde se parte,riem para onde se vai."

Não é à nossa constituição que cabem estas arguições, porémaos seus supersticiosos e infiéis intérpretes.

CAPÍTULO IV

Condições e Garantias do exercício do voto

"Todo o cidadão tem direito de ser bem governado e, por-tanto, de intervir nos negócios políticos do seu pais; todo o cida-dão, por consequência, tem o direito de votar". Eis como se ex-primia um democrata brasileiro na Câmara dos Deputados (1)num discurso inçado de ideias francesas; dessas que imaginamo mundo inteiro imerso em trevas até a revolução e 89 e quenele jamais raiaria a liberdade sem a enfática declaração dos di-reitos do homem, grande irrisão nas vésperas das tremendas ca-tástrofes que nesse mesmo país iam submergi-los por tantos anos.

Não julgamos necessário num escrito, não destinado às dis-cussões especulativas da ciência, demorarmo-nos em refutar ob-jeções e desfazer dúvidas que nenhum homem prático e de bomsenso nutre a respeito do direito de votar. Citaremos somentede novo, porém mais completo, um trecho de Ed. Laboulaye, es-critor liberal, grande entusiasta da democracia norte-america-na (L '): "Assinalo esta diferença entre as ideias americanas e asfrancesas, não conheço nos Estados Unidos um só jurisconsulto,um só publicista que faça do eleitorado um direito natural, umdireito que o legislador não possa modificar. Para os americanos,como para os ingleses, o eleitorado é uma função que a lei regu-la, segundo melhor convém aos interesses da sociedade, e estafunção tem limites, como todas as funções. Por exemplo, em cer-tos estados, tais como a Pensilvânia, nada parece mais legítimo emais democrático do que excluir os cidadãos que não contribuempara as rendas públicas; reputa-se imoral atribuir um direito aosvadias e aos mendigos.. . A multidão não é o povo; politica-mente ela não tem direito algum, sua vontade não pode jamaisfazer lei."

Em outro lugar diz o mesmo escritor: "Não há país maislivre do que a América (Estados Unidos); mas conhecem ali muito

(1) Landulpho Medrado — Sessão de 22 de junho de 1860.(2) Revista dos Dois Mundos, 15 de outubro de 1871

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bem as condições da liberdade para acreditarem na sabedoriadas massas e na infalibilidade da multidão!" (3).

Se o direito de votar e eleger os legisladores da Nação fosseum direito natural de todos os homens, independentemente de,qualquer cláusula de capacidade, não constituiriam regra geralas restrições impostas por toda as constituições políticas a estepretendido direito, que somente se torna legal para o indivíduoque preenche certas condições. Só algumas das muitas constitui-ções francesas, filhas da demagogia triunfante, têm conferido odireito de voto indistintamente a todo o cidadão que tenha atin-gido a certa idade. Asssim, a Constituição de 24 de junho de1793 estabeleceu o voto direto (a Constituição anterior, de 1791,consagrava a eleição indireta), reduziu a idade para o eleitor a21 anos e aboliu qualquer censo ou restrição do voto. Esta Cons-tituição, como é sabido, não se executou; apenas promulgada,foi suspensa alguns dias depois em 12 de agosto pela ditadurademagógica do commité de salut public. A Constituição que seseguiu, ainda em plena república, porém depois da grande épocado terror, a de 23 de setembro de 1795, restabeleceu o censoeleitoral. A Constituição de 1848 também aboliu o censo, dandoo direito de voto a todo o francês de mais de 21 anos e no gozodos direitos civis e políticos.

A assembleia legislativa, sucedendo à constituinte, que ha-via promulgado esta última Constituição revogou o voto univer-sal e estabeleceu restrições que privaram, segundo os cálculosda época, três milhões de eleitores do exercício do voto. A Cons-tituição promulgada em 14 de janeiro de 1852 por Luiz Napoleão,eleito presidente da República por 10 anos, e revista no ano se-guinte, de novo estabeleceu o sufrágio universal na França, oqual ainda existe entre os maus legados do Império. Este su-frágio universal aprovou a Constituição, que instituiu a autocra-cia em França, e a sustentou por 18 anos.

Todos conhecem os frutos do sufrágio universal cm França.Reproduziremos não obstante a seguinte apreciação de um emi-

(3) Este elogio não pode caber a toda a União Americana e apenas aalguns estados.

O partido que acaba de vencer com a reeleição do presidente Grantconta-nos votos que obteve os dos negros do Sul, há pouco escravos e aindaprivados de quaisquer rudimentos de educação e instrução.

As simpatias de Laboulayc pela América do Norte levaram-no a atri-buir a toda a União o que só pertence à parte dela c a um dos seus partidospolíticos.

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nente escritor moderno (4) "Quando se chamaram às urnas to-dos os franceses sem distinção, sem condições, sem preparação,cometeu-se uma falta, cujas consequências desastrosas hoje so-fremos, e que lamentam sobretudo, segundo se assegura, aquelesque foram autores... Fica-se aterrado quando se reflete de queabismos de preconceitos, de superstições, de animosidades, detrevas, deve sair o veredict, que periodicamente decide dos desti-nos de um grande país como a França".

Grande ou pequeno o país, as consequências são as mesmaspara sua felicidade, e tanto mais sensíveis serão, quanto maisatrasada for sua civilização e instrução.

O sufrágio universal é o instrumento cego e dócil de todosos despotismos, partam da demagogia ou da autocracia. Tanto oconheceram as sociedades modernas, como as da idade média,como as da antiguidade. Foi apoiando-se nas classes ínfimas queno segundo grande período da história os reis abateram os se-nhores feudais para estabelecer e consolidar o poder absoluto;foi com o mesmo apoio que na antiguidade quase todas as tira-nias se fundaram. Aristóteles dizia: "O meio de chegar à tiraniaconsiste em ganhar a confiança da multidão. O tirano começasempre por ser demagogo. Assim fizeram Pisistrato em Atenas,Theagenes em Megara, Dionisio em Siracusa". Já desde as socie-dades gregas os espetáculos das cenas e consequências do votouniversal desgostava os cidadãos esclarecidos nesses governos,aliás, livres. Entre outros nos lembram Xenophonte na Cyro-pedia e Isocrates em seu discurso a Nicolcles (príncipe de Chy-pre), os quais mostraram as vantagens do governo absoluto dedireito, mas temperado na prática pela bondade e sabedoria domonarca. Isto lhes parecia preferível à versatilidade, turbulênciae corrupção das eleições da plebe ateniense.

Dirá a escola ultra-democrática que a opinião geral dos pu-blicitas e as regras das constituições escritas nada provam contrao direito natural de intervir todo o cidadão na escolha de seusrepresentantes. A própria natureza dos direitos rejeita este pre-tendido direito. "O direito é a liberdade de cada um coexistindocom a liberdade de todos". Isto é, o exercício de um direito épleno e completo dentro de sua esfera de ação e limita-se pelodireito de terceiro. Escolher um representante, um legislador éinfluir na marcha da sociedade, é fazer refletir sobre terceirosuma ação a que estes só devem submeter-se no caso de existi-rem os requisitos de acerto ou, pelo menos, probabilidade dele.

(4) É de Laveleye — Revista dos Dois Mundos de l? de novembro de1871, artigo — Das formas de governo.

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O direito que eu exerço sobre o meu cavalo, o meu campo, a mi-nha herança não prejudica a quem quer que seja; o voto por suanatureza reflete sobre outrem. É confiado como um múnus pú-blico, um cargo social àqueles que, mediante certas condições-são reputados aptos para bem exercê-lo.

Se esta doutrina é universalmente reconhecida verdadeira,o legislador não deve ter outro objeto senão o bem da sociedade,quando determina as cláusulas de capacidade eleitoral; ele asdeve restringir ou ampliar tanto quanto reclama o interesse so-cial.

Julgamos inconveniente transplantar para nós as disposi-ções da reforma eleitoral portuguesa, como muitos desejam, se-gundo temos visto. Naquele país elas têm produzido os mausresultados que lhe são inerentes.

A lei portuguesa confere o direito de eleitor a todo o cida-dão no gozo dos direitos civis e políticos, uma vez que prove: 19}ter a renda líquida de 100$; 29) ter entrado na maioridade legal;39) não ser criado de servir; 49) não se achar interdito da admi-nistração de seus bens; iniciado em pronúncia ratificada pelo júriou passada em julgado; 59) não estar falido, não reabilitado; 69)não ser liberto. São considerados como tendo a renda legal osque houverem sido coletados: 19) em 10$ de décima de juros;29) em 5$ de contribuição predial; 39 em 1$ de contribuição in-dustrial ou pessoal; 49) todo aquele que recebe do estado esti-pêndio anual superior a 100$; 59) os egressos que tiverem 100$de prestação anual; 69) os aspirantes a oficiais, os sargentos-aju-dantes, quartéís-mestres dos corpos do Exército e o dos guardasmunicipais, que tiverem de rendimento 12$ mensais.

Este censo é sumamente baixo. Sem precisar argumentarpor paridade, poderíamos facilmente avaliar e predizer as suasconsequências no Brasil. Em Portugal grande parte do eleitoradoé indiferente ao exercício do seu direito. Nos países como Por-tugal e Brasil (e aqui ainda mais), onde a instrução pública estátão pouco difundida, a grande massa da população não pode dei-xar de ser indiferente às coisas públicas, cuja compreensão lheescapa. A maior parte da população por seu trabalho rude, quelhe toma o dia inteiro, não pode entragar-se ao estudo, à refle-xão ainda a mais ligeira sobre os negócios políticos.

Esta parte da sociedade, por falta de estímulo, jamais con-correrá às urnas nos tempos ordinários e calmos em que se ela-boram as mais sólidas instituições sociais. Numa ocasião, porém,de crise, de lutas e agitações tumultuarias, essa grande, mole,

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indiferente até então, e agora ignorantemente apaixonada e vio-lenta, intervém com todo o seu peso numérico nos destinos daNação, justamente quando ela mais reclama os conselhos da ra-zão e da prudência.

Para não acumular exemplos de um fato, que a razão sópor si facilmente explica, apresentaremos um, terminante, depaís notavelmente civilizado. Todos se lembram das crises vio-lentíssimas de que foi teatro a cidade de Marselha nas últimase dolorosas provações da França, após as formidáveis catástrofesde que foi vítima. Dirigida e excitada por um energúmeno envia-do por Gambetta (A. Esquiros), a população de Marselha, anteci-pando a de Paris, parecia apoderada de um espírito político in-fernal, pretendendo governar a França inteira. Pois bem; apenasa efervescência se modera e a sociedade, embora agitada, come-ça entretanto a entrar nos seus eixos, procede-se à eleição doconselho do departamento, e em 28.523 eleitores que tem a ci-rade, apenas 4.721 concorrem à urna, o número das abstençõeseleva-se a 23.802! Serenada a agitação, o povo tinha voltado àssuas ocupações habituais, que não são a política.

Entre nós o que leva às urnas os votantes é o forte estímuloda luta local, apaixonada e pessoal. Se em lugar da eleição dovizinho que disputa o eleitorado, se decidisse diretamente naurna da paróquia a candidatura de tal ou tal pretendente à depu-tação, não se iluda pessoa alguma que os atuais votantes se mo-vessem e incomodassem por um pleito que não compreendem.Hoje é o chefe de eleições, que dá ao votante o cavalo, que lhefornece o calçado, o chapéu, a roupa para apresentar-se na ma-triz da paróquia, quem o obriga a comparecer.

A escola ultra-democrática, vítima eterna de absurdas e ex-travagantes ilusões, jamais refletirá nas lições da experiência enos ditames da razão. As massas populares, alternadamente in-diferentes ou apaixonadas e desvairadas, serão sempre o instru-mento cego de todos os despotismos e nunca a base segura e só-lida em que repouse o edifício trabalhoso e delicado do governoconstitucional representativo, única forma, até hoje possível daverdadeira liberdade. A eleição neste regime, é a origem de todaa direção social; dela saem os legisladores, os fiscais do governo eo próprio governo; dela emanam e nela fenecem todos os pode-res sociais. Não é das trevas, da ignorância, das abusões, das pai-xões selvagens e brutais que surgirá o reinado da razão e da jus-tiça na sociedade. Se a escola ultra-democrática é incorrigível,não é de recear, porém, que a luz da civilização deixe de iluminaro espírito público sobre a verdadeira liberdade.

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O exercício do voto exige duas condições imprescindíveispara fazer presumir certa capacidade em quem as preenche. Aprimeira é uma tal ou qual instrução. Conferir o voto ao indiví-duo que nem ao menos sabe ler e escrever parece uma zombaria,e um contrasenso. Com que aparência de razão pretenderá in-fluir nos destinos de seus concidadãos, aquele que ainda não selibertou das trevas mais grosseiras da inteligência? HoracioMann, referindo-se ao seu pais (os Estados Unidos) dizia: "Sobum governo como o nosso é indispensável que a educação tornecada cidadão apto para preencher seus deveres civis e sociais".Isto é, não possui aptidão para preencher os deveres sociais oindivíduo privado de educação.

Esta condição é reputada cardeal em alguns estados daUnião Americana para o exercício do voto. A Itália modernatambém a consagrou em sua constituição. O analfabeto é aí con-siderado interdito dos direitos políticos. Para J. S. Mill, escritorradical da Inglaterra, é esta uma das primeiras restrições aosufrágio universal. Ele entende razoável, e espera que virá aépoca da realização, que os cidadãos, gozando de certo grau deinstrução, tenham maior número de votos do que aqueles priva-dos desta capacidade. Por exemplo: vota todo o indivíduo quesabe ler e escrever e paga imposto; aquele, porém, que preencheestas condições, e além disto possui um grau científico ou lite-rário, deve votar nas suas diversas qualidades, dando mais deum voto.

Outra condição indispensável deve ser o pagamento de umimposto direto.

A primeira e mais constante função dos parlamentos con-siste em fixar as despesas públicas e criar impostos para satisfa-zé-las. Tal é a origem histórica dos parlamentos e ainda hoje suaocupação mais importante. Dar o direito de voto, de concorrerpara ter um representante no parlamento, àquele que não con-tribui diretamente para as despesas públicas, que não sofre opeso dos impostos, a quem é indiferente que eles se agravem ouatenuem, repugna ao bom senso mais trivial.

Estas duas condições nos parecem indispensáveis e podemsatisfazer todas as exigências da democracia. Conquanto ténues,nos parecem, ainda assim, garantidoras de certa solidez e estabi-lidade social.

As condições de capacidade eleitoral devem ser simples ede fácil prova, sob pena de serem sofismadas e caviladas pelasfraudes eleitorais. É fácil a prova de saber-se ler e escrever e

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sobre ela não pode haver contestação séria. O mesmo acontececom o pagamento de imposto direto. Neste ponto as nossas leisfiscais devem ser modificadas para se generalizarem os impostosdiretos, embora com suma modicidade, de maneira a compre-ender a população urbana e rústica.

O juiz dos requisitos para a capacidade eleitoral não podedeixar de ser a magistratura. É mister elevá-la à sua inteira in-dependência e desinteressá-la das lides políticas, garantindo-sea carreira contra as vicissitudes parlamentares, melhorando-sesuas condições pecuniárias e assegurando-se mais elevada posi-ção social. A magistratura é o ponto de apoio das sociedades mo-dernas. Cumpre que esta verdade esteja sempre em lembrança.

Os últimos projetos de reforma eleitoral apresentados àscâmaras encerram medidas salutares e aproveitáveis sobre asqualificações eleitorais. Para serem, porém, profícuas é indis-pensável que a eleição seja direta; do contrário serão burladase fraudadas pêlos interesses locais e pela dificuldade intrínsecada eleição de dois graus, que abrange indivíduos de todo desco-nhecidos.

O relatório do ministério do Império de 1870 contém dadosvaliosos sobre a estatística eleitoral do Império. (5) Está ele di-vidido em 46 distritos eleitorais, em 408 colégios e em 1.333paróquias.

O número dos senadores é deDos deputados gerais de . . . . .Dos deputados provinciais deDos eleitores de . . . . . . . . . . . .Dos votantes de . . . . . . . . . . . .

58122578

20.0061.039.659

O termo médio da proporção dos eleitores para com os vo-tantes e dos senadores, deputados gerais e provinciais para comos eleitores é o seguinte, desprezadas as frações:

Um eleitor está para . . . . . . . . . . . . . . . 51 votantesUm deputado provincial para . . . . . . . . 33 eleitoresUm deputado geral para . . . . . . . . . . . . . 163 "Um senador para . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 344 "

(5) Esta estatística não inclui a província de Mato Grosso.

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É convicção nossa que o algarismo da população do Impérioé exagerado nas conjecturas dos nossos livros e relatórios oficiais.Não nos devemos surpreender do pequeno número de eleitoresdiretos que produzirá um censo, embora não elevado. De 1814 a1830 havia em França pouco mais de 100.000 eleitores, sendoentão a população desse país de cerca de 30.000.000 de habitan-tes. De 1830 a 1848 o número dobrou por efeito da reforma elei-toral. Na Bélgica, até a reforma eleitoral de 1848, o número deeleitores estava na proporção de l para 86 habitantes. Na Grã-Bretanha a proporção era, antes da última lei eleitoral, de lpara 28 habitantes. Depois da última reforma, segundo as esti-mativas que lemos numa discussão da casa dos comuns de junhode 1870, o número total dos eleitores é de cerca de dois milhõese meio.

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CAPITULO V

A Representação das Minorias

A necessidade da representação das minorias, sua justiça evantagens, é hoje uma tese tão geralmente aceita em teoria, quan-to controvertida no terreno prático, onde o tempo e a experiêncianão a resolveram suficientemente. É a discussão sobre este modoprático que tem dado uma espécie de novidade à questão. A re-presentação das opiniões em minoria já vimos que preocupou osautores da lei de 19 de agosto de 1846, conquanto muito imper-feitamente, conforme fizemos notar. A lei dos círculos não teveoutro fundamento, como também ficou demonstrado. Vasconcel-los combatendo esta lei, dizia, que o regime da lei de 1846, lheera superior neste particular por assegurar melhor e mais eficaz-mente a entrada no parlamento de representantes da minoria,isto é, dos suplentes dos deputados, os eleitos da opinião vencidanas urnas.

Cumpre, entretanto, reconhecer que a questão, que já seapresentava aos espíritos esclarecidos, não estava desembaraçadadas ideias erróneas de governo das maiorias, como se denominacomumente o sistema representativo. A discussão, e sobretudo osmeios de assegurar a representação das minorias, comunicou cer-ta novidade ao todo da questão, que pareceu assim surgir de re-pente nos domínios da ciência constitucional. Colocada nestestermos, vejamos o que se tem passado entre nós.

Em 1860, na sessão da câmara temporária de 21 de junho, odeputado Sérgio de Macedo, referindo o assunto do escrito deGrath Marshal, publicado em 1853 (') em forma de carta a lordJohn Russell, propondo o voto incompleto ou o cumulativo paraassegurar a representação das minorias, denominava-o uni singu-lar processo e acrescentava: "tudo isto tem sido rejeitado como

(1) Revista de Edimburgo de julho de 1854, art. 8?, que se inscreve:Minorities and majorities; thiers relatíve rights. Hare publicou o seu planoem 1859: On the election of representativas, Andrae na Dinamarca publi-cou um plano idêntico pela mesma época.

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utopia." O Sr. Martinho Campos dizia em aparte: "Apoiado; comoabsurdo." Pouco depois, na sessão de 9 de agosto no Senado, oSr. Silveira da Motta dizia: "O princípio fundamental que deveregular a representação dos representantes, é que ela deve ser oproduto da maioria, só a maioria é que dá o direito de repre-sentar . . .

"Escutei sempre com o maior respeito um homem muitoconsiderado na província, onde sempre residi, em S. Paulo, ecom quem, mesmo desde estudante, conversava em coisas políti-cas. Declaro a V. Ex? que nunca o ouvi falar nesta matéria queele não clamasse contra esta excentricidade do comparecimentode suplentes nas câmaras, representando as minorias."

O orador referia-se ao eminente liberal Paula Souza, o pri-meiro que propôs a supressão dos suplentes em 1846, ideia afinalvencedora em 1855 e que em 1846 e 1848 foi combatida por Vas-concellos, sustentando desde então a teoria moderna. Paula Souzaestranhava, na verdade, em 1846 a existência dos suplentes dedeputados, que, na qualidade de representantes da minoria, lhepareciam repugnar com os princípios do sistema representantivo,que para ele era o das maiorias. Várias vezes se pronunciara comenergia contra estes suplentes, que reputava uma anomalia emnossa organização parlamentar.

Não obstante, dois anos depois, sendo este estadista presi-dente do conselho, e promovendo a adoção do projeto que apre-sentara em 1846, contendo as emendas rejeitadas pelo Senado naaprovação da lei de 19 de agosto, já havia abraçado uma teoriamais racional, como se vê das seguintes palavras proferidas nasessão do Senado de 7 de julho de 1848: "uma minoria, que podeser maioria num terço da província, pode não aparecer no par-lamento, e isto é um mal muito sério."

No escrito a que já nos temos referido. O imperialismo e areforma, lê-se na pág. 51: "Hoje sonha-se (sonha-se!) com outrosmeios de melhorar o processo eleitoral. Não há muito um talen-toso e ilustre parlamentar formulou, quando esteve no ministério,dois projetos de reformas eleitorais que não chegaram a ser apre-sentados. Por um deles, etc."

"O outro projeto continha duas partes. A primeira era umacoleção de disposições minuciosas e casuístícas sobre qualificação,etc. A outra parte diz o seguinte sob o título disposições gerais:

"Art. 56. Em qualquer eleição os votantes ou eleitores, vo-tarão somente nos dois terços do número dos cidadãos que tive-rem de ser eleitos.

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Art. 57. Nenhuma paróquia dará um número de eleitoresque não seja múltiplo de três.

Art. 58. Nenhum distrito eleitoral dará menos de trêsdeputados.

Art. 59. A disposição do art. 57 aplicar-se-á também à fi-xação do número dos membros das assembleias provinciais, etc.

Art. 60. Fica reduzido a seis o número dos vereadores dascâmaras municipais das vilas."

Quem seja o ministro não diz o escritor; acha-se, porém, norelatório lido pelo Sr. José Bonifácio, ministro do Império, nasessão das câmaras de 1864 o seguinte: "Concluirei as minhas ob-servações acerca deste assunto manifestando que sigo a opiniãodos que entendem que a justiça social exige que o direito de re-presentação seja sempre assegurado em justa proporção, às mi-norias numéricas. Se no governo representativo, o voto das maio-rias deve a todos os respeitos prevalecer, não se segue daí quelhes compita o direito de privar as minorias de ser ouvidas noparlamento, e de exercer, na parte que lhes deve caber, a in-fluência que lhes resulta do direito de representação."

Na sessão de 28 de julho de 1866 da câmara temporária oSr. I. de Barros Barreto ofereceu um projeto de reforma eleitoral,para a representação das minorias. Apenas foi impresso. A eleiçãodos eleitores teria lugar de modo deficiente, votando cada cida-dão num só nome, sendo os mais votados os eleitos. No caso denão ser preenchido o número dos eleitores do distrito em que sedividiria a paróquia, seriam apurados os votos dos outros distri-tos da mesma paróquia. Esta circunscrição eleitoral acompanha-ria a divisão dos distritos de paz.

Quanto à eleição dos deputados, dispunha que cada cédulasó conteria um nome de candidato a deputado. Feita a apuração,a câmara apuradora enviaria diploma ao candidato que tivesse ob-tido pelo menos um terço ou metade dos votos dos eleitores pre-sentes nos colégios eleitorais do respectivo distrito; um terço, seo distrito fosse de três deputados; metade, se fosse de dois. Seo número de deputados da província não estivesse completo, acâmara da capital tendo presentes as autênticas enviadas pelascâmaras apuradoras, faria uma apuração geral de todos os votosque tivessem recaído em candidatos, que em algum dos distritoseleitorais não houvessem reunido o número de votos necessáriospara obter diploma. Com os mais votados por esta apuração su-plementar, completar-se-ia o número que porventura faltasse parapreencher a representação da província.

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Na sessão de 27 de agosto de 1869 o Sr. Cruz Machado apre-sentou um projeto para a representação das minorias. O meioconsistia em votar-se para eleitores em listas contendo dois terçosdo número dos eleitores da paróquia. Da mesma sorte votar-se-iapara deputados gerais e provinciais. Finalmente na sessão de 13de agosto do ano seguinte o Sr. J. Mendes de Almeida apresentousobre este assunto um projeto, que examinaremos depois.

Na sessão da mesma câmara em 22 de julho o Sr. Paulinode Souza, ministro do Império, fundamentando o seu projeto dereforma eleitoral, depois de citar vários atos da execução naInglaterra da representação das minorias, concluía por esta for-ma: "O sistema das minorias é realmente engenhoso, mas dandoocasião o manejo que triunfam da vontade dos eleitores, não oposso aceitar, quando o meu fim é a verdade da representação enão adestrar ainda mais os partidos aos estratagemas eleitorais.Demais, Sr. presidente, nem o voto incompleto, nem o cumulati-vo, nem o complementar ou o quociente eleitoral que tanto mo-difica na forma o sistema das minorias, tem por ora assentadoem meios práticos capazes de surtir os desejados efeitos, aindaquando o plano seja bom em teoria."

Os fatos ocorridos em Inglaterra e com os quais o oradorpretendia demonstrar que na prática a representação da minorianão corresponde à teoria, foram discutidos na sessão da câmarados comuns em Inglaterra de 16 de junho de 1870. Estes fatoseram a exclusão do mais simpático dos candidatos liberais, o Sr.Rolhschild, na eleição da City em Londres; a eleição de três libe-rais em Birmingham, apesar do voto incompleto dos eleitores; aeleição do candidato conservador (representante da minoria) comvotação superior aos liberais em Manchester e outros ainda me-nos importantes.

Os eleitores liberais da City, julgando-se com forças para ele-gerem todos os deputados, cortaram votos ao mais popular, eassim, sacrificaram-no, elegendo, porém, os outros liberais. EmManchester os conservadores concentraram os votos, ao passoque os liberais, divididos em grande número de frações com di-versos candidatos, dispersaram a votação. Em Birmingham o par-tido liberal, muito numeroso, pôde realizar o plano que falhou naCity e conquistar os três lugares.

O efeito pois, da lei nestes casos foi antes fazer concordar oresultado do escrutínio com o estado dos partidos, do que ades-trá-los em manejos eleitorais. É comum entre nós triunfarem oscandidatos do partido, que concentra os votos, sobre os adversá-rios que dispersam os seus.

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Em geral, nessa sessão do parlamento inglês os defensoresda representação da minoria foram mais numerosos. Quanto aoplano do Sr. Hare (do quociente eleitoral) dizia o Sr. Hardcastle:"Se jamais um plano uniu a ingenuidade com a impossibilidade,é tal o plano do Sr. Hare." O Sr. Faucett dizia, que era tão perfei-to que se tornava impraticável. O certo é, que os dois mais concei-tuados chefes dos partidos foram desfavoráveis à representaçãoda minoria. Exige porém a verdade que digamos que os argu-mentos do Sr. Gladstone não primaram pela novidade e proce-dência, sendo vantajosamente refutados. O Sr. Disraeli enunciouesta proposição: "Não ocultarei que os meus próprios sentimentosnão são favoráveis a estes arranjos apurados ou fantásticospara a representação do povo."

A representação das minorias era advogada em Inglaterra,entre eminentes escritores, por homens políticos, como lord J.Russell, lord Cairns, lord Palmerston, e o Sr. J. S. Mill. Rejeitadana câmara dos comuns, foi introduzida pela dos lords, por imen-sa maioria, como emenda à reforma eleitoral de 1867, e depoisaceita pela dos comuns. A cláusula só funciona em alguns distri-tos eleitorais, naqueles que elegem três deputados — three cor-nered contituencies. Acostumada a maioria dos eleitores de cer-tas cidades, ou distritos rurais, a preencher sempre o número to-tal dos deputados respectivos exclusivamente com candidatos aoseu partido, tem ficado descontente vendo quebrado o seu domí-nio pelo representante da minoria. Assim acontece em Birmin-gham, Leeds, Manchester, Liverpool, Oxfordshire, Berkshire, etc.

Esta questão da representação das minorias, que, depois demetodizada e coordenada num corpo de doutrina se pode consi-derar nova, está, entretanto, hoje consagrada na legislação eleito-ral de alguns países e tem sido em toda a parte largamente dis-cutida. Entre nós, infelizmente, muita gente há a quem a ideiacausou estranheza e mal a conhece de outiva. O leitor, portanto,nos desculpará algumas citações que esclareçam o princípio. De-vemos, porém, declarar que a teoria da representação da minoriafoi apresentada entre nós com notável precocidade.

Em 1848 imprimiu-se em Pernambuco um pequeno folhetocom este título: Memória acerca de um novo sistema de organi-zação do governo representativo por I. de B. B. Júnior (2) em que,acompanhado de planos inaceitáveis, a verdadeira doutrina darepresentação das minorias estava exposta. O meio prático de

(2) São as iniciais do Sr. Dr. Ignacio de Barros Barreto, autor doprojeto apresentado à câmarados dos deputados em sessão de 28 de julhode 1866, ao qual já nos referimos.

Klí)

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realizar a ideia consistia em não marcar-se número fixo de depu-tados, votando cada eleitor num só candidato. Este meio, segundonos afirmam, o autor repudiou no ano seguinte. A doutrina eraapresentada nestes termos: "Em tais sistemas de eleições (osatuais). . . necessariamente se permite às maiorias, que são fra-ções da sociedade, usurparem as minorias, que fazem parte tam-bém dela, o seu direito nauferível de tomarem também parte narepresentação dos interesses sociais... para essa usurpação asmaiorias de nada mais precisam do que de tornarem-se compac-tas nas eleições."

O autor exemplifica o seu pensamento deste modo: "Umaprovíncia ou antes um dos círculos de alguma província, compon-do-se de três interesses, ou partidos, ou individualidades (comolhes quisessem chamar) e um desses partidos de 500 votantes, eoutros de 300, e o terceiro de 100; esse circulo somente seria re-presentado perfeitamente, isto é, segundo a importância e a na-tureza de cada um de seus partidos, se a representação desse cír-culo constasse de três grupos de representantes, estando essesgrupos entre si, a respeito da importância de cada um deles, namesma razão das dos seus representados entre si."

Estas ideias apresentadas num folheto de poucas páginas es-crito por um estudante de direito, acompanhadas de outras inad-missíveis, deviam ficar, como na verdade aconteceu, de todo es-quecidas, de modo a poder o Sr. conselheiro José de Alencar (3)crer que era no Brasil quem primeiro havia exposto a teoria.Isto fizera o abalizado escritor em alguns artigos impressos emjaneiro de 1859 no Jornal do Commercio: Infelizmente a sériedesses artigos ficou interrompida, não tendo o autor apresentadoo seu plano para a representação das minorias, salvo a citação quefez de E. de Girardin, da sua obra intitulada Política racional.Na parte teórica, o sistema da representação das minorias eraapresentado com a clareza e exatidão com que a expuseram notá-veis escritores.

Já justificamos a necessidade de algum desenvolvimento teó-rico desta questão; pedimos escusa aos leitores lidos na matéria.

"A minoria deve ceder à maioria, o menor número ao maior,é uma ideia familiar (4): conseqüentemente julga-se que nenhumaoutra coisa deva inquietar, e não ocorre que pode haver ummeio termo, entre dar o menor número o mesmo poder que aomaior, ou anular completamente o menor. Num corpo legislativo,

(3) Prefácio do seu Sistema representativo.(4) J. S. Mill — Do governo representativo.

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que realmente delibera, a minoria deve necessariamente ser ven-cida, e numa democracia, onde existe a igualdade (pois que asopiniões dos comitentes quando estes são a elas aferrados de-terminam a dos corpos representantivos), a maioria do povo pre-valecerá, e vencerá, à pluralidade de votos, à minoria e aos seusrepresentantes. Segue-se, porém, que a minoria não deva ter detodo representantes? Porque a maioria deve prevalecer sobre aminoria, é necessário que a maioria tenha todos os votos, que aminoria não tenha nem um? É necessário que a minoria não sejaouvida? Só um hábito e uma associação de ideias imemoriais po-dem conciliar um ser racional com uma injustiça inútil. Numa de-mocracia, realmente igual, qualquer partido, seja qual for, deviaser representado numa proporção, não superior, porém idênticaao que ele é. Uma maioria de eleitores deveria sempre ter umamaioria de representantes; mas uma minoria de eleitores deveriasempre ter uma minoria de representantes. Homem por homem,a minoria deveria ser representada tão completamente quanto amaioria. Sem isto não há igualdade no governo, mas desigualdadee privilégio: uma parte do povo governa a restante: há uma por-ção, à qual se recusa a parte de incluência que lhe pertence dedireito na representação, e isto contra toda a justiça social e, so-bretudo, contra o princípio da democracia, que proclama a igual-dade, como sendo sua própria raiz e seu fundamento."

Eis como também coloca a questão o Sr. Aubry Vitel (°):"Antes de tudo, cumpre separarmos dois princípios, dois direitos,cuja confusão inveterada causa todo o mal: o direito de decisãoe o direito de representação. Expliquemo-nos.

"Quando se trata em qualquer assembleia de tomar uma de-cisão, é de necessidade que esta decisão pertença à maioria. Quea maioria seja exigida de metade dos votos e mais um, ou dedois terços, ou de três quartos não é menos exato que o únicomeio de chegar a uma solução, é que a maioria decida. Estão reu-nidas 30 pessoas; estabelece-se uma questão: isto é branco ou pre-to? Quatorze respondem branco, dezesseis respondem preto. Éclaro que a resposta dos dezesseis deve prevalecer e fazer lei.Pura questão de fato, que é mister decidir praticamente e logo.No seio de um estado democrático, onde o governo é absoluta-mente direto, é necessário que na assembleia popular o veredictda maioria seja soberano. Não há outra saída possível; é uma ne-cessidade material: o direito de decisão não tem, nem pode terexistência fora da maioria.

(5) Revista dos Dois Mundos de 15 de maio de 1870, pág. 378.

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"Mas o direito de representação? Como acima, estamos reu-nidas trinta pessoas. Desta vez, porém, já não temos de resolvera questão por nós mesmo, hic et nunc. Temos de escolher trêsdelegados, que em outro recinto deliberarão por nós, falarão pornós, discutirão por nós, decidirão por nós, três homens, que serãooutros nós mesmos e, para dizer tudo, nossos representantes. Aquem devem pertencer estes três representantes? A todos nósevidentemente, a todos nós em geral e a cada um em particular,mas não já a uma parte de entre nós, ainda a mais numerosa.Não se trata agora de decidir uma questão, não se trata princi-palmente de decidir quais de entre os presentes devem ser repre-sentados. Cada um de nós tem igual direito a ser representado,e esse direito, inatacável em sua essência, não tem, em seus efei-tos, outro limite senão o de ser exercido por um grupo suficientede vontades. Donde se deduz esta consequência, a um tempo, ló-gica e justa: cada um de nós tem um- direito igual, cada umvoto nosso tem igual valor, equivale a certa parte de representa-ção e, deixem passar a expressão, a uma certa fração de repre-sentante."

É uma felicidade para este sistema que ele satisfaça a ambasas escolas, _à conservadora e à liberal. Como já notamos, foi aceitona legislação inglesa, por acordo dos dois partidos, numa lei pro-movida pelo partido tory, sendo defendido por homens como oslords J. Russell, Palmerston e Cairns, os Srs. Th. Haret J. S. MUI,Faucett; em França pêlos Srs. E. de Girardin, E. Laboulaye, Pré-vot, Parodal, E. de Lavelaye, etc. Satisfaz à escola liberal, am-pliando as discussões, como um respeito à liberdade, dando en-trada nas câmaras a todas as opiniões; à escola conservadora,para a qual as maiorias são uma necessidade para a decisão dascontrovérsias, tendo apenas a presunção de possuir a verdade.O parlamento não é um meio de contar votos, mas de esclareci-mento e discussão. Ë do interesse social que todas as opiniõessejam ouvidas, que suas razões sejam examinadas e confronta-das com as que se lhes opõem. As discussões do parlamento,tanto quanto as da imprensa, só têm por fim fazer aparecer averdade, e seriam um torneio vão de retórica, se não concor-ressem para ilustrar e esclarecer, mas constituíssem apenas umaparato precedendo a contagem dos votos.

A representação exclusiva da maioria encerra uma grave in-justiça, e, muitas vezes, um perigo social. Numa província, duasopiniões disputam a eleição, suas forças se contrabalançam: naapuração do escrutínio uma reúne mil votos e a outra pouco me-nos de mil. Aquela vai para o parlamento fazer leis e será a única

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ouvida, ao passo que a outra será desatendida e aniquilada. Res-ponder-nos-ão: é justo; a maioria deve governar. Sim; porém daeleição não saiu a lei, e somente os eleitos do povo, como os maiscapazes de fazê4a. A discussão da imprensa só em parte e pelasteses gerais precede a eleição; ela tem propriamente lugar no seiodo parlamento entre os eleitos das urnas.

Tratando-se, pois, da formação de uma assembleia deliberati-va, é extravagante começar pondo inteiramente fora de combateuma opinião inteira. É da índole do sistema parlamentar que to-das as opiniões venham apresentar suas armas na arena, da qualsaem as leis e o governo da sociedade. Os debates da imprensanão podem satisfazer, nem dispensar os do parlamento; os destecompletam aqueles. Se ali é necessário e útil o choque das opi-niões, muito mais aqui, onde os meios de discussão são mais per-feitos.

Suponhamos que entre nós o sistema eleitoral funcionasse omais regularmente possível. Não se poderia, entretanto, evitar queem certas épocas, ora de grande movimento reformador, ora dereação e contração, as nossas câmaras apresentassem o espetá-culo que temos observado: uma opinião domina alternadamente esem contraste; fazem-se leis e governa-se a sociedade, na ausên-cia da fiscalização e audiência de um dos partidos, isto é, de umaparte da sociedade, que, numa ocasião dada, pode constituir amaioria da nação. Isto repugna ao bom senso. A_ maioria devegovernar, mas a maioria só se forma pela discussão e para umadiscussão regular é necessário ouvirem-se todas as opiniões.

Pelo sistema adotado das maiorias, considerando-se entre nósas eleições perfeitamente regulares, muitas províncias de um oumais distritos podem por dezenas de anos só mandar ao parla-mento representantes de uma opinião; sem haver jamais quemadvogue e defenda, não só a causa das opiniões vencidas, comodo partido e dos indivíduos que o compõem. É muitas vezes o re-ceio dos debates na câmara, que contém as autoridades provin-ciais em certos abusos. Fechada, porém, por anos e anos a portado parlamento à opinião vencida, assegura-se a impunidade aosdominadores e leva-se o desânimo e o desespero aos vencidos.

Sem falar nos abusos e violências contra as pessoas, mas re-motando-se somente às ideias, é um grave mal privar qualqueropinião de ser livremente ouvida e atendida. As grandes conquis-tas sociais, como já se tem dito, começam sempre defendidas porum peqeuno número de partidários, até serem abraçadas pelamaioria da nação.

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Se constituem um benefício, uma vantagem, a sociedade lu-cra em apoderar-se delas o mais cedo possível, e a discussão par-lamentar é um dos meios mais poderosos de propaganda. Mesmoquanto às ideias nocivas à sociedade, é melhor ouvi-las, repudiá-las, do que deixar que à surdina lavrem pelas camadas inferioresda população à espera de uma comoção súbita para surgirem edominarem, ainda que temporariamente.

E. de Lavelaye assim se exprime ("): "Os partidos modificam-se e desaparecem; mas, enquanto um partido está ainda cheio devida, embora em minoria, é uma grave imprudência tirar-lhe osmeios de reaver o ascendente pêlos meios legais." Os partidos, aosquais não se fornecem meios regulares de manifestarem-se, tra-mam nas trevas, seduzem muitas vezes e impõem como um deusignoto. Um escritor italiano moderno, Jacini, diz mui expressivae acertadamente: "Tapar a boca aos tributos e quebrar a pena dosescritores não é praticar a arte de governar; consiste esta em tor-nar inofensivos os discursos dos agitadores e as violências dospanfletistas." Permitir, facilitar que todas as opiniões se mani-festem, não é somente uma justiça, é também uma conveniênciasocial. O país em que o bom senso popular não é educado parareagir contra as más teorias, pode-se ter como certo que o mis-tério e certa aparência de perseguição atrairão simpatias e prosé-litos.

O Sr. Gladstone objetava na câmara dos comuns na sessãojá citada, que as minorias eram representadas pela divisão dopaís em pequenos distritos, em que predominava, ora um partido,ora o outro; assim, se os liberais venciam sempre em Birminghame Manchester, os conservadores venciam em Liverpool, Oxfordetc. O Sr. Collins respondia com superioridade, que uma injustiçaparcial não é destruída por uma injustiça igual, pelo fato de serpraticada em sentido inverso. Se em Manchester havia 18.000eleitores liberais e 15.000 conservadores, era injusto que umafração tão importante, que quase formava a metade do eleitora-do, fosse sempre privado do direito de representação e perdessede todo a esperança de sê-lo, contentando-se apenas de saber queos conservadores de Oxford eram representados. Finalmente, queum conservador, negociante em Manchester, deveria ser uma cas-ta de político diferente do gentil-homem caçador de raposas deOxford.

Aplicando esta linguagem ao Brasil, suponhamos que em taise tais províncias, correndo as eleições livres, o eleitorado sejafrancamente conservador, e em outras do partido oposto. Nem é

(6) Revista dos Dois Mundos de W de agosto de 1871.

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uma compensação para os indivíduos das primeiras provínciassaberem, que seus correligionários das outras irão para as câ-maras, nem será indiferente para os partidos que os membrosde províncias, onde a política é mais local, ocupem o lugar deum representante que melhor advogará os interesses e ideias dopartido.

A reunião periódica no centro do Império dos representan-tes mais autorizados dos partidos políticos, vindos de todas asprovíncias, não pode deixar de trazer conseqüêncis vantajosas aosmesmos partidos, à sua ação, direção e disciplina, e aos interesses,ainda mais elevados, da unidade política deste dilatadíssimo país.

Nos meios práticos de assegurar a representação das mino-rias consiste a dificuldade deste sistema, e grande é a diversida-de de opiniões. Vários meios têm sido lembrados. À primeira re-flexão ocorrem os que se têm denominado voto cumulativo e in-completo. Consiste o primeiro em permitir ao eleitor do distrito,que deve eleger mais de um deputado, concentrar todos os votosem favor de um só ou de alguns candidatos. Assim, por exemplo,tendo-se de eleger num distrito três deputados, o eleitor pode ins-crever em sua cédula três nomes ou um só, e, neste último caso,contará o candidato, inscrito três votos. Combinando a minoriaem votar num só candidato, pode ela fazer eleger um represen-tante, se, na hipótese figurada, formar um terço do eleitorado.São óbvios os inconvenientes deste meio, que pressupõe nos par-tidos o conhecimento prévio de se acharem em maioria ou mino-ria e uma disciplina difícil de ser observada, e que na práticaapresentaria resultados contrários à intenção do legislador.

O voto incompleto consiste em conceder aos eleitores umnúmero de votos inferior ao dos deputados a eleger. Devendo-seeleger três deputados, cada eleitor teria dois votos, e, assim, oseleitores em minoria alcançariam um representante sobre doisda maioria. Este meio é de fácil compreensão e execução. O de-feito que lhe argüem os publicistas é a falta de proporcionalida-de. Tal distrito tendo de eleger três, quatro ou cinco deputados,o legislador declara antecipadamente que a maioria terá dois,três ou quatro representantes, e a minoria um ou dois, quer sejaesta mui numerosa e quase igual à maioria, quer insignificante.Desapareceria a justa e igual representação de todas as opiniõesna proporção das suas forças, o que constitui uma das principaisrazões de ser do sistema.

Outros meios são ainda lembrados, não nos parecendo, po-rém, necessário referi-los, por serem patentes os seus inconve-nientes práticos.

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Nos domínios da ciência o meio mais apregoado é o conhe-cido pelo da representação proporcional ou do quociente eleitoral.Copiemos do Sr. Aubry Vitet (artigo citado) o seu mecanismo:"Há quase quinze anos que dois homens, desconhecidos um dooutro, em dois países diferentes, o Sr. Androe na Dinamarca eo Sr. Hare na Inglaterra, quase ao mesmo tempo o criaram, se-não no todo, ao menos nas suas partes principais. . . Nada maissimples. Sendo os distritos divididos de modo que nomeiem certonúmero de deputados, cada eleitor deve inscrever na sua cédulatantos nomes quantos são os representantes que se vão eleger nodistrito; inscreve-se por ordem de preferência; todavia a sua cé-dula nunca pode, em caso algum, valer por mais de um voto.Terminado o escrutínio, divide-se o número de cédulas pelo nú-mero dos deputados a eleger. O resultado da operação é o núme-ro necessário, e quanto estritamente basta o candidato obter paraque seja eleito. É o que chamamos quociente eleitoral. Fixado estealgarismo fundamental, conta-se em cada cédula o primeiro nomeApenas um candidato chega ao quociente exigido, é proclamadoeleito, e as cédulas que o elegeram ficam sem valor; depois, seem alguma das cédulas seguintes vem em primeiro lugar o nomedaquele candidato, é riscado, e só se conta o nome do candi-dato que está em seguida. Prossegue-se o mesmo processo até quese esgotem as cédulas, até que cada uma delas tenha contribuídopara eleger um deputado."

Tornemos mais claro o sistema com um exemplo. A pro-víncia de Minas tem de eleger 20 deputados e são recolhidas2.000 cédulas. O quociente eleitoral será de 100 votos e o can-didato que reunir este número é eleito. Se estes 2.000 eleitoresse compuserem de 1.200 conservadores, 600 liberais e 200 repu-blicanos ou federalistas, terão os primeiros 12 representantes, ossegundos seis, os terceiros dois. Todas as opiniões serão repre-sentadas na justa proporção das suas forças e importância.

Este sistema encerra inegavelmente muitas e importantesvantagens (7), mas também oferece notáveis inconvenientes. Numpaís retalhado por vários partidos ou facções, na Espanha mo-derna, para tomarmos um exemplo concludente, este sistema deeleição traria graves dificuldades para o governo da sociedade.Um partido poderia ser muito mais numeroso do que cada um dosseus antagonistas, isoladamente considerados, porém inferior atodos os outros reunidos. Qual o meio de obter maioria parlamen-tar? Supondo o parlamento espanhol composto de 200 membros,o partido conservador da nova monarquia poderia reunir 80 votos,os radicais 50, os carlistas 40, os republicanos 30 etc.

(7) Vid. J. S. Mill — Do governo representativo.

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Nenhum partido reuniria, pois, maioria capaz de governar.Não chegando mesmo a este ponto extremo, as maiorias parla-mentares poderiam ser tão diminutas, que qualquer governo es-taria sempre em crise, à mercê dos despeitos dos seus correligio-nários e das coligações destes com os grupos oposicionistas.

Como já referimos, este sistema foi proposto entre nós peloSr. deputado J. Mendes de Almeida em sessão da câmara de13 de agosto de 1870.

À objeção de ser complicado, respondem que a complicaçãoé mais aparente do que real, e que consiste na apuração das cédu-las, operação incumbida a funcionários públicos sob a fiscaliza-ção dos partidos e interessados, e não nos atos exigidos dos elei-tores. A transcrição de alguns artigos do projeto do Sr. Mendes deAlmeida habilitará o leitor a julgar desta dificuldade.

"Art. 4<? § 3.° Cada eleitor depositará na urna duas cédulas,uma para deputados, gerais ou provinciais, e outra para os su-plentes de uns ou de outros, com o necessário sobrescrito.

"§ 59 Contadas, separadas e emaçadas as cédulas, serãoabertas uma a uma: numeradas e rubricadas pêlos mesários à pro-porção que forem abertas e transcritas na ata integralmente, namesma ordem em que os nomes estiverem colocados.

"§ 6? As cédulas, depois de transcritas na ata, serão coorde-nadas, emaçadas, fechadas em invólucro lacrado, e remetidas,com a autêntica de que trata o art. 79 da lei de 19 de agosto de1846, à câmara municipal da capital da província.

"Art. 5? O ministro do Império na Corte e os presidentesnas províncias, logo que receberem as autênticas dos colégioseleitorais, mandarão publicar no jornal oficial as cédulas de cadacolégio, desde a primeira até a última, segunda a discriminaçãoe numeração constantes das mesmas autênticas, e guardada rigo-rosamente a ordem dos nomes votados em cada uma das das ditascédulas."

Além dos defeitos apontados, este sistema consagra injusti-ças graves. Consiste ele em utilizar de cada cédula um só nomepor ordem de preferência na inscrição dos candidatos. Começa-sea apuração pêlos primeiros nomes de cada cédula e logo que ocandidato reúne o quociente nessa categoria, as cédulas, que jápreencheram seu fim, são inutilizadas, e, se o mesmo nome aindaaparece em outras, é obliterado. Se outro candidato não preencheo quociente nessa categoria, vão-se buscar na imediata os votos,que lhe faltam, e as listas, que serviram para elegê-lo, são inuti-

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lizadas, como as primeiras. Continua-se a apuração do mesmomodo até o fim. Quantas vezes, porém, um candidato deixaráde ser eleito por ter obtido uma parte dos votos que lhe sãonecessários para o quociente em cédulas já inutilizadas? Umarígida e severíssima disciplina nos partidos na colocação dos can-didatos não conseguiria evitar de todo este sério inconveniente.

A legislação da Dinamarca parece ter previsto esta difi-culdade e lançou-a à conta da boa ou má fortuna dos candidatos,sujeitando-os à sorte. Eis a disposição textual do art. 82 da leieleitoral dessa nação: "Os eleitores procedem, à votação enchen-do as listas que lhe forem entregues, as quais são válidas aindaque contenham um nome. Entregam-nas depois na ordem deter-minada pelo comício, ao presidente que as recebe todas e asconta.

"Depois de metidas e misturadas as listas numa urna "adhoc", o presidente tira-as uma por uma, dá-lhe o número de ordeme lê em voz alta o nome que figurar à cabeça em cada uma delas,o qual é ao mesmo tempo escrito por outros dois membros do co-mício."

Quanto em particular ao projeto do Sr. Dr. J. Mendes deAlmeida, encerra ele ainda o gravíssimo defeito da eleição dedois graus, com o péssimo expediente de ser a eleição primáriafeita pelo voto singular. Isto é, cada votante só votaria em umnome para eleitor, sendo considerados eleitos os mais votados,até o número marcado para cada paróquia. A menor falta dedisciplina num partido acumularia votos em alguns dos seus ho-mens mais populares, formando, porém, a grande maioria doeleitorado o partido adverso, o qual, aliás, pode ser muito inferiorem número de votantes. A maioria nas eleições primárias ficariapertencendo aos cabalistas atilados e astutos com detrimento dapopulação honesta, que dificilmente se adestra nas alicantinas emanobras eleitorais. (8)

Um escritor moderno (9) propõe uma modificação ao métododo quociente eleitoral que, isentando as candidaturas do incon-

(8) Na introdução referimo-nos ao projeto do governo de enxertar noatua! sistema eleitoral meios para a representação das minorias. Pretenderconservar o atual sistema de eleições é menoscabar a opinião pública, queo tem evidentemente condenado, como farsa ridícula. Introduzir meios paraassegurar a representação das minorias no sistema defeituoso e viciadode eleições de dois graus é ideia que ainda não passou pela mente depublicista algum. Seria tornar desprezível a nossa forma de governo, trans-formada numa fantasmagoria extravagante.

(9) J. Borély — Représentation proportionelle de Ia major i té et dêsminorités — Paris, 1870.

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veniente do acaso, não deixa, porém de trazer outros. Seu fimexclusivo é simplificar o sistema e libertar o eleitor da pressãodos candidatos oficiais dos partidos, impostos pêlos seus centros,chefes e redações de jornais.

Todos sabem que o eleitor é coagido a deixar de dar o votode simpatia para não esperdiçá-lo em candidatos fora de chapas,pois que da dispersão dos votos se aproveitam os adversários,concentrando os seus. O sistema do Sr. Borély é o seguinte: Cadaeleitor entrega duas cédulas, uma para seu partido e outra paraseu candidato. A primeira operação da mesa eleitoral consisteem verificar quantos deputados tocam a cada partido. Divididosos votos recebidos pelo número dos deputados a eleger, obtém-se o quociente preciso para ser considerado eleito o deputado, etantos deputados cabem a cada partido, quantas vezes o númerodos votos desse partido contiver o quociente achado. Tomandoo exemplo do autor, supomos 200.000 votantes e oito deputadosa eleger; o quociente é 25.000 votos. O partido do centro obtém103.300 votos, a direita 26.200, a esquerda 70.500. Logo, cabemà primeira categoria quatro deputados, à segunda um e à terceiradois. O resto dos votos não aproveitados é concedido à categoriaque concorre com o maior número; na hipótese, à terceira. Se-gundo a regra estabelecida, deve-se procurar, em primeiro lugar,o número de deputados a atribuir a cada opinião, depois, em cadaopinião, os candidatos que devem ser nomeados deputados. Emcada categoria são eleitos deputados simplesmente os mais vo-tados.

Este sistema por um lado divide a população em campospolíticos de tal modo discriminados, ao que felizmente não cor-responde a realidade das coisas, e por outro lado, extremadosos partidos, dispensa-os de qualquer ordem ou disciplina. As fac-ções anárquicas teriam grande vantagem sobre os partidos regu-lares, úteis à sociedade política. Além dos defeitos indicados, sãocomuns a ele alguns do sistema proporcional ou do quociente.

No estado atual da ciência, o meio que adotaríamos noBrasil, para assegurar a entrada de representantes da minoriana câmara dos deputados, seria o voto incompleto. As objcçõcsque se lhe fazem são duas, de ordem diferente. A primeira, cien-tífica, consiste na falta de proporcionalidade de votos atribuídosà maioria e minoria. Há nisto exageração teórica. Desde que sótrata de representantes da minoria, desaparece a importânciado algarismo dos seus votos nas decisões finais dos debates, isloé, nas votações. O que se requer é a audiência da opinião emminoria durante as discussões, e aí, algumas vezes de mais oude menos, não alteram a significação dos debates.

M!»

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A outra objeçao deriva-se do estado do Brasil. Se na câmarados deputados, em 122 votos, a oposição a qualquer gabinetecontasse seguros quarenta votos, os descontentes de maioria te-riam sempre uma base certa em que se apoiar, colocando assimo governo em crise e, portanto, à sua mercê. Concedido este nú-mero de votos às oposições partidárias, as consequências na ver-dade seriam estas. Mas que necessidade obriga a conceder sem-pre e invariavelmente um deputado da minoria sobre dois damaioria? Em nossa opinião a proporção deve ser muito menor. Setratássemos de apresentar um projeto de lei, estabeleceríamos aproporção de um representante da minoria sobre três ou quatroda maioria. Elevaríamos a mais 20 ou 25 o número dos deputadosatuais, conquanto, em regra, sejamos adversários das assembleiasmuito numerosas, para as quais, aliás há grande tendência, e atri-buiríamos os lugares criados à minoria. Assim, o partido em opo-sição teria sempre na câmara temporária representantes vindosde todos os pontos do Império.

A não se querer aumentar o número dos deputados, far-se-ianova divisão dos distritos. Por exemplo, a província de Minas emlugar de sete distritos, teria quatro de cinco deputados; os elei-tores só poderiam votar em quatro candidatos e o resultado daeleição asseguraria sempre, pelo menos, quatro representantesda minoria na deputação daquela província. Se fosse preferidoelevar o número dos deputados, poder-se-ia, tomando para exem-plo a província do Rio de Janeiro, aumentar um deputado emcada um dos seus três distritos, conservando-se aos eleitores omesmo número de votos. Esta província teria então 12 deputados,dos quais três seriam representantes da minoria.

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CAPÍTULO VI

Incompatibilidades Parlamentares

A reforma eleitoral seria incompleta se não consagrasse oprincípio das incompatibilidades parlamentares e eleitorais. Nãobasta tornar o deputado verdadeiro e espontâneo representantedo povo; uma vez eleito, deve ficar resguardado, não só das se-duções, como, ainda mesmo, da suspeita de qualquer seduçãodo governo.

Não é lícito insistir na demonstração de necessidade tão ge-ralmente reconhecida.

Quando refletimos no estado do Brasil, admiramo-nos que osistema parlamentar tenha podido manter-se com certa aparên-cia de regularidade e algumas vezes mesmo com brilho. O depu-tado é quase sempre feitura do governo. Poucas vezes, circuns-tâncias especiais podem impor uma candidatura ou dar lugar aqualquer eleição contra a vontade do governo. É tal a opinião,que julga-se desairado e inutilizado o presidente de província, adespeito de cujos esforços um candidato da oposição conseguevencer. Torna-se logo indispensável um sucessor para restituir aforça moral à suprema autoridade da província, cujos brios fica-ram ofuscados pela derrota do candidato oficial com quem seidentificou. Não obstar a eleição de oposicionistas é desdouropara a carreira administrativa do presidente, que assim se revelaincapaz, inábil, imprestável.

Eleito pelo governo, mas decorado com o pomposo título derepresentante da nação, vem o deputado para a câmara fiscali-zar o próprio governo e contribuir para a direção da política doImpério! Como se não bastasse tão extraordinária dependência,o deputado, em contato com o governo, encontra ainda todas asseduções para dar o voto contra sua consciência.

A grande maioria das nossas câmaras tem sido compostade empregado públicos, ou de pretendentes a concessões de todoo gônero; tais como, empregos nas repartições e na magistratura,distinções honoríficas, empresas industriais etc. Até certo tempo

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principalmente, o magistrado, não político, com dificuldade obti-nha bons lugares. Para adiantar e promover sua carreira, o meiomais seguro era entrar na política, alcançar um assento nas câma-ras, ou mesmo a presidência de alguma província, onde, preci-sando o governo de delegado seguro e desembaraçado para elei-ções difíceis, a remuneração devesse corresponder ao serviço.

Não só as câmaras carecem de independência para o exatocumprimento dos seus altos deveres, como desconceituam-se edesmoralizam-se perante a opinião pública: já o dissemos, o opo-sionista é julgado despeitado; o governista, agradecido ao poder,pelo que obteve ou espera obter. O deputado sõ devia ter paracom o governo as ligações de partido e de conformidade de opi-niões. Assim deve ser, e convém ser crido.

Os empregados públicos, não deveriam, ter assento nas câ-maras; a própria dignidade do cargo e as necessidades sociaiso exigem. Sabemos que a independência de caráter não se despecom a nomeação do emprego, e que entre os empregados pú-blicos há tantos homens íntegros e independentes como nas de-mais classes da sociedade.

Refletindo-se, porém, na posição e nas obrigações do repre-sentante da nação, ressalta a inconveniência de sua aliança como serviço do emprego público. A seus próprios olhos o empre-gado público sente-se inferior a seus colegas nas câmaras; osministros contam com sua adesão, não a solicitam; irrita-os, ecausa admiração geral, se revela assomos de independência.

Os hábitos das hierarquias administrativas, contraídos nasrepartições públicas repelem a ideia de oposição do subordinadopara com o superior. O mesmo empregado público reconhece econfessa não dever alistar-se na oposição. Quando a consciênciao obriga ter no próprio fato do emprego a escusa de continuargovernista. Todos temos ouvido esta linguagem a deputados e atéa eleitores: "Não posso deixar de acompanhar o governo, souseu empregado." Se por acaso o deputado vota contra o governoe ele tolera, o ato de rebeldia do subordinado lhe é lançado emrosto, como uma censura de fraqueza. A opinião pública o excitaa lavrar a demissão, e se não o faz, as oposições elevam a açãodo deputado, aliás comezinha e insignificante, individualmenteconsiderada, como ato de coragem cívica digno de um Thraseas.

O empregado público, deputado, pretere, em regra geral,seus companheiros de repartição, embora não seja o mais mere-cedor e conte menos tempo de serviço. Se o emprego é neces-sário, não se compreende que possa ficar cinco ou seis meses

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do ano vago, enquanto o deputado se acha nas câmaras. É umprivilégio concedido contra toda a equidade e contra o serviçopúblico. Tem-se visto empregados, eleitos deputados, abando-narem o emprego durante o tempo das câmaras; no intervalodas sessões irem presidir províncias; e, assim, por longo tempoos empregos conservam-se vagos, à espera que os deputados vol-tem a ocupá-los, obtidos despachos de acesso.

Para os magistrados, o mal é ainda maior. Entrados na polí-tica, aí permanecem anos, deixando vagas as comarcas, que nãoforam criadas para as férias dos deputados, mas por motivosde ordem diferente. O magistrado, que obtém uma cadeira noparlamento, alcança, sem outro merecimento, todas as vantagensna carreira.

Muitos magistrados políticos temos tido que oferecem exem-plos da mais ilibada reputação de honestidade e severidade decostumes. As lutas políticas, como todos os teatros em que seagitam as paixões humanas, apuram e fazem ressaltar as quali-rades nobres dos homens, o patriotismo, a abnegação, a dedica-ção pela causa pública; como também patenteiam e definem asqualidades más de outros homens, pondo-as em relevo. O ma-gistrado lançado nas lides políticas, arrastado pela voragem dasambições insofridas, não pode conservar nem a imparcialidadedo juiz, nem o respeito público de que tanto hão mister os sacer-dotes da justiça. Tal magistrado poderia continuar em seu plá-cido e retirado cargo, cercada de certa consideração pública, evem revelar no campo da política a adulação mais impudica, oservilismo mais indecoroso ao poder.

Quanto ao governo, estes votos, que facilmente se merca-dejam, são uma tentação irresistível. Naturalmente capacitam-seos ministros que sua conservação no poder vale a compra dealgumas consciências fáceis. Incapazes, aliás, de atos ignóbeisem seu proveito, muitos não vacilam realizar torpes barganhas.Julgam inestimável benefício público {e mais ainda particular)sua permanência à frente dos negócios e dificilmente param nes-se plano escorregadio. Haverá talvez quem já tenha avaliado ofundo de verdade que encerra a sentença de Machiavel quandoaponta os perigos da corrupção por despertar os apetites da vo-racidade.

Em abono das nossas câmaras devemos dizer, que só emperíodos, felizmente passageiros, e em círculos limitados se temmanifestado casos tão reprovados. Quanto, porém, não as des-conceitua na opinião pública o epíteto de confraria de pedintescom que já foram designadas?

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Na votação contra o governo, que precedeu a dissolução daúltima câmara dos deputados, a maioria oposicionista contavaum só empregado público demissível! Em todas as votações fatosanálogos se têm sempre observado.

Se existisse opinião pública, esclarecida e vigorosa, há muitoteria imposto às câmaras a lei de incompatibilidades para res-guardar a independência e salvar o decoro do parlamento. Seriamuito mais honroso para a sociedade que fossem os costumespúblicos bastante severos para estigmatizar os casos de corrupçãoparlamentar e evitá-los, sem necessidade de leis; infelizmente,porém, todas as nações têm sido obrigadas a dotar medidas dire-tas para coibi-la.

Uma objeção se tem sempre apresentado: a falta de pessoalhabilitado para os lugares de deputados e senadores.

Apenas nos primeiros anos de nossa vida política poder-se-iaalegar este pretexto; pois os homens mais habilitados eram osbacharéis em direito, e, portanto, os magistrados, e os emprega-dos superiores da administração, acostumados ao manejo dos ne-gócios. Esta oponião tocou à tal exageração, que só pelo fatode ter folheado as Pandectas do direito romano e lido Pegas eCujacio sem outra instrução, qualquer bacharel formado é julga-do habilitado para todos cargos da administração e para qualquerpasta de ministro.

A nossa esfera intelectual tem-se, entretanto, ampliado, e aobjeção de falta de pessoal não pode ser hoje em dia alegada.Dever-se-ia antes restringir o número dos deputados, se faltassepessoal idóneo, a dar entrada no parlamento a quem não con-viesse.

Anteriormente ao século atual, a corrupção parlamentar emInglaterra chegou a um extremo incrível. Desde 1693 a câmarados comuns adotou um bill proibindo aos seus membros aceita-rem empregos dependentes da Coroa. Rejeitado pela câmara doslords, ambas as câmaras o odotaram no ano seguinte; mas foinegada a sanção régia. Quando em 1742 aprovou-se definitiva-mente uma lei sobre a incompatibilidade de algumas funçõespúblicas com as parlamentares, verificou-se que entre os mem-bros da câmara dos comuns havia cerca de 200 com empregosremunerados.

A proporção dos empregados públicos nas nossas câmarasainda hoje é maior!

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Quantos senadores ao encerrar-se o parlamento, deixam suacuruis para irem ocupar empregos públicos sob as ordens dosministros!

O hábito dos desvios da honestidade evita as surpresas daopinião e a indignação popular, e vai todos os dias amortecendoa sensibilidade pública. Uma moral de ocasião tolera que cadaum se aproveite das circunstâncias propícias em que se acha.E. May (1) transcreve um bilhete de lord Grenvüle, primeiroministro no reinado de Jorge III, a lord Oxford oferecendo umemprego a seu sobrinho em troca do voto, e terminando porestas palavras: "É propor-vos um negócio, mas um destes negó-cios que um homem de bem pode propor a outro sem ofendê-lo."O mesmo ministro, acoroçoado pelo rei, que do seu lado e porsua conta fazia outro tanto, comprava votos com os dinheirospúblicos, sem o menor recato, nem constrangimento.

Este historiador observa que a corrupção chegava ao pontode precisar escusar-se, como de falta de atenção, quem rejeitavaum oferecimento, ainda mesmo pecuniário.

Apesar de termos começado cedo as tentativas para o esta-belecimento de incompatibilidades parlamentares ainda hoje te-mos apenas as enfezadas disposições da lei de 19 de setembrode 1855, consagrando algumas muito incompletas incompatibili-dades eleitorais. Em 20 de outubro de 1823 a assembleia cons-tituinte adotou um projeto do Sr. Araújo Vianna (marquês doSapucaí), proibindo aos deputados o exercício de qualquer outroemprego durante o tempo da deputação, exceto o de ministro eintendente geral da polícia (2).

No período de 1844 a 1848 as câmaras ocuparam-se váriasvezes com a questão dos incompatibilidades, o que em parte járeferimos.

No projeto eleitoral que depois foi a lei de 19 de agostode 1846, um aditivo introduzindo algumas incompatibilidades di-retas foi rejeitado na câmara dos deputados por 58 votos; asincompatibilidades indiretas foram rejeitadas por 42 votos. Noministério de Paula Souza, sendo ministros os Srs. visconde deSouza Franco e Dias de Carvalho, e com os seus votos, caiu umprojeto de incompatibilidades, sob o fundamento de ser incons-

(1) E. May — História constitucional da Inglaterra — cap. 6?(2) Sessão de 21 de julho — Diário da Constituinte — pág. 134. Ho-

mem de Mello. — A constituinte perante a história.

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titucional. Durante o ministério do visconde de Macaé, foi de novodiscutida a matéria, pela qual se empenhava o gabinete. Infe-lizmente o senado não adotou a medida.

O ministério Paraná em 1855 fez passar, segundo relata-mos, com a reforma eleitoral, um começo de incompatibilidadeseleitorais. Em 1860, durante a discussão da reforma da lei doscírculos, a oposição liberal apresentou na sessão de 2 de julhoo seguinte artigo aditivo ao projeto eleitoral. "Os membros dacâmara dos deputados e das assembleias provinciais não podem,durante a legislatura a que pertencem, e um ano depois, ser no-meados para empregos ou comissões que vençam estipêndio doscofres públicos gerais ou provinciais.

"Excetuam-se desta regra os seguintes empregos gerais: Asmissões diplomáticas extraordinárias, as presidências das provín-cias, os comandos militares de terra e mar, os lugares de dire-tores gerais do tesouro, os de diretores gerais dos ministérios dajustiça, estrangeiros e marinha, o de oficial-maior da secretariada guerra, de diretores gerais das repartições do correio, terraspúblicas e instrução primária e secundária da Corte. (3)

"Artigo. Os membros da câmara dos deputados e das assem-bleias provinciais que forem eleitos, sendo já empregados públi-cos, só terão acesso ou promoção em virtude de preceito expressode lei anterior, e nunca poderá perceber aumento de vencimentosou gozar de acréscimo de vantagens que forem votadas duranteas legislaturas a que pertencerem.

"Artigo. Os membros da câmara dos deputados e das assem-bleias provinciais durante a legislatura a que pertencerem, e umano depois, não poderão celebrar com os governos geral ou pro-vinciais contratos de qualquer natureza, dos quais lhes possamprovir lucros pecuniários, nem receber dos mesmos governosconcessões para empregos industriais, salvos os direitos garan-tidos por lei ao inventor ou introdutor de inventos úteis."

A discussão, porém, da reforma jamais se fixou sobre esteassunto, nem por parte dos governistas, nem dos oposicionistas.Os artigos foram rejeitados.

Na última sessão do ano passado na câmara dos deputados,depois de aprovar-se a redação do projeto da reforma servil, o

(3) Todo o artigo podia ser substituído por este: "exceto os empregosmais ambicionados pêlos deputados e senadores". Ainda assim não foiaprovado!

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Sr. Dr. Ferreira Vianna num discurso, notável pela forma e pelaoportunidade, justificou o projeto seguinte:

"Art. l? O deputado que aceitar qualquer emprego ou co-missão retribuídos ou distinção honorífica do poder executivo,deixa vago o seu lugar, e proceder-se-á à nova eleição.

Art. 29 O deputado demissionário poderá ser reeleito."Os acontecimentos das últimas legislaturas vieram demons-

trar ainda mais evidentemente a necessidade de estabelecerem-seincompatibilidades parlamentares e eleitorais. A ideia é popular,dificilmente as câmaras se hão de esquivar de consigná-la, maiscedo ou mais tarde, na legislação.

É tempo de estabelecer o sistema parlamentar na purezaexigida pêlos mais elevados interesses da sociedade.

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Apêndice

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Legislação Eleitoral

do Império

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DECRETO, DE 7 DE MARÇO DE 1821

Manda proceder a nomeação dos Deputados às CortesPortuguesas, dando instruções a respeito

Havendo eu proclamado no meu Real Decreto de 24 de fe-ve re i ro próximo passado a Consti tuição Geral da Monarquia, qualí < * r de l iberada , feita e acordada pelas Cortes da Nação a esse fime x t r a o r d i n a r i a m e n t e congregadas na minha muito nobre e leal( ' i d a d e de Lisboa: K c u m p r i n d o que de todos os Estados desteU c m o Unido concorra um proporcional número de Deputados acompletar a Representação Nac iona l : Hei por bem ordenar quenesie Reino do "Bras i l e D o m í n i o ? Ul t ramar inos se proceda des-de logo à nomeação dos respectivos Deputados, na fo rn ia dasI n s t r u ç õ e s , que p^ira o mesmo efei to foram adotadas no Reino deK>rU:ga l , e que com este Decreto baixam ass inadas por Tgná-e in da Costa Quimel la , meu Min i s t ro e Secretário de Estado dosXegucios do Reino: e aos Governadores e Capitães Generais dasd i f e r e n t e s Capitanias, se expedirão as necessárias ordens, parala/.erem efetiva a partida dos ditos Deputados à custa da minhal í e a ï Fazenda. O mesmo Ministro e Secretário de Estado o tenha.r;smï entendido e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro, em7 de março de 1821.

Com a rubrica de Sua Majestade.

INSTRUÇÕES PARA ELEIÇÕES DOS DEPUTADOS DAS COR-TES, SEGUNDO O MtfTODO ESTABELECIDO NA CONSTI-TUIÇÃO ESPANHOLA, E ADOTADO PARA O REINO UNI-DO DE PORTUGAL, BRASIL E ALGARVES, A QUE SEREFERE O DECRETO ACIMA.

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CAPITULO I

Do modo de formar as Cortes

Artigos da Constituição Espanhola

Art. 27. Cortes são: a reunião de todos os Deputados querepresentam a Nação, nomeados pêlos cidadãos na fornia queadiante se dirá.

Art. 28. A base da Representação Nacional é a mesma emambos os hemisfér ios .

Art- 29. Es ta base é a população composta dos indivíduos,que pelas duas l inhas são oriundos dos Domínios Espanhóis, dosque tiverem obtido carta de Cidadão das Cortes, e dos compre-endidos nas disposições do ar!. 21 que diz assim: São outrossimcidadãos os f i l h o s legí t imos dos estrangeiros domiciliados nasEspanhas, que. lendo nascido em Domínio Espanhóis, nunca ostiverem deixado sem l icença do Governo, e que tendo 21 anoscompletos, se domiciliarem em qualquer povoação dos ditos do-mínios, exercendo nela algum emprego, ofício ou ocupaçãoút i l .

Art. 30. Para o cálculo da povoação dos domínios europeus,servirá o último cadastro do ano de 1797, até que possa formar-se outro; e formar-se-á o correspondente ao cálculo dos Domí-nios Ultramarinos, servindo entretanto os mais autênticos ca-dastros u l t imamente formados.

Adicional . Para o cálculo da nossa povoação, servirá o re-censeamento de 1801, enquanto se não forma outro mais exato.

Art. 31- Toda a povoação composta de 70.000 almas, comofica disposto no art. 29T terá um Deputado nas Cortes.

Ad. Para que a Nação Portuguesa goze de uma representa-ção que preencha cabalmente o seu destino, cumpre que o riú-mero dos Deputados não desça de 100; haverá pois para cada30.000 almas um Deputado.

Art. 32. Distribuída a povoação pelas diferentes Províncias,se em alguma houver um excesso maior 'que 35.000 almas, ele-ger-se-á mais um Deputado como se o número chegasse a 70.000;se, porém, o excesso não passar de 35.000; tal deputado nãoterá lugar.

Ad. Aplicando este artigo segundo a alteração do antece-dente, quer dizer, que cada Província há de dar tantos Dcpu-

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lados, quantas vezes contiver em sua povoação o número de30.000 almas; e que se por f im restar um excesso que chegue a15.000 almas, dará mais um Deputado; e não chegando o exces-so da povoação a 15.000 almas, não se contará com ele.

Art- 33. A Província cuja povoação não chegar a 70.000almas, não sendo inferior a 60.000, elegerá o seu Deputado, seporém, for menor, unir-se-á à imediata para completar o de70.000 requerido. Excetua-sc a Ilha de S. Domingos, que nomea-rá sempre um deputado, seja qual for a sua povoação.

Ad. Este artigo não pode ter aplicação a Portugual, vistonão haver no Reino Província alguma que não exceda muito a70.000 almas.

CAPÍTULO II

Da nomeação dos Deputados das Cortes

Art. 34. Para a eleição dos Deputados das Cortes, se deve-rão formar Juntas Eleitorais de Freguesias. Comarcas e Provín-cias.

CAPÍTULO III

Das Juntas Eleitorais de Freguesias

Art. 35. As Juntas Eleitorais de Freguesias, serão com-postas de todos os cidadãos domiciliados e residentes no territó-rio da respectiva Freguesia, em cujo número serão compreen-didos os Eclesiásticos seculares.

Art. 36. Estas Juntas serão sempre celebradas na Penín-M i l a . Ilhas e Domínios adjacentes, no primeiro domingo do mêsi t r outubro do ano anterior ao da celebração das Cortes.

Ad. Pelo que respeita ao ano de 1820, serão celebradas as. I m i t a s Eleitorais de Freguesi-as no segundo domingo do mês dedr/embro.

Art . 37. Nos Domínios Ultramarinos serão convocadas nop r i m e i r o domingo do mês de dezembro, 15 meses antes da cele-bração das Cortes, e em virtude de urrt aviso que para tal efeitoMies deve antecipadamente ser dirigido pela autoridade compe-I c u l e .

Ad. Não tem por agora aplicação.Art. 3í!. Nas Juntas ou Assembleias Paroquiais, será no-

meado um eleitor paroquial por cada 200 fogos.

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Art. 39. Se o número dos fogos da Freguesia exceder a300, e t i n o chegar a 400, nomear-se-ào dois eleitores; excedendode DOO ainda que não chegue a ROO, nomear-se-ão três, e assimprogressivamente.

Art. 40. Nas Paróquias cujos fogos não cheguem a 200,contanto que tenham 150. será nomeado um eleitor; naquelasem que se não achar este número, os seus moradores se ajunta-rão aos da Freguesia i m e d i a t a para nomear o Eleitor ou Eleito-res que lhe corresponderem.

Art. 41. A Assem hl ria Paroquial nomeará, à pluralidadede votos. 11 compromissários, que devem nomear o eleitor paro-quia l .

Art. 42. Sc cm uma As se m hl cia Paroquial houverem denomear-se dois eleitores paroquiais , elcger-se-áo 21 compromis-sados; e se três. H l ; mas nunca se poderá exceder este númerode Compromissnrios, a fim de e v i t a r n confusão.

Art. 43. Para conc i l ia r a maior comodidade das povoaçõespequenas, se observará que, a Freguesia (íe 20 fogos eleja umcompromissário; a que t i v e r de 30 a 40, dois; a de 50 a 00, t r es,c assim progressivamente. As Freguesias que l iverem menos de20 fogos se un i rão às imediatamente mais próximas para elege-rem um compromissário.

Art. 44. Os com promissórios das Freguesias das povoaçõespequenas assim eleitos, se a juntarão no lugar ou povo que me-lhor lhe convier; e sendo ao todo J 1 , ou O pelo menos, nomearãoum eleitor paroquia l ; sendo 21. ou 17 pelo menos, nomearãodois; e se forem 31, ou quando menos 25. nomearão três eleito-res, ou os que corresponderem.

Art. 45. Para ser nomeado eleitor paroquial é necessárioser cidadão maior de 25 anos. e ser morador c residente naFreguesia.

Art. 46. As Assembleias das Paróquias serão presididaspela autoridade pol í t ica , ou pelo Alcaide da Cidade Vila ou Al-deia em que se congregarem, com a assistência do pároco, paramaior solenidade do ato; mas se em uma mesma povoação hou-verem duas ou mais assembleias em razão do número das Fre-guesias, então uma daquelas Juntas será presidida pela autori-dade civil ou Alcaide; outra por outro Alcaide, e as mais pelasautoridades subal ternas à sorte.

Ad. Segundo a nossa organização política, a presidênciadestas Juntas compete ao Juiz de Fora, Juiz Ordinário, e na falta

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destes, aos que f izerem suas vezes. Os Vereadores poderão lam-hcm presidir , quando assim o demande o número das Assem-bleias Paroquiais ; c não bastando os atuais, serão chamados osdo ano passado.

Art. 47. Chegada a hora da reunião, a qual se fará nascasas do Conselho, ou no lugar do costume, achando-se juntosos cidadãos que tiverem concorrido, se dirigirão com o Presi-dente à igreja matriz, c nela celebrará o pároco a missa solene(ie Espírito Santo, e fará um discurso análogo às circunstâncias.

Ad. Aonde não houver casa do Conselho, ou esta não for\ u f i c i e n t e . a igreja será o lugar destinado à celebração destasassembleias.

Art. 48. Acabada a missa, voltarão ao lugar donde tive-rem saído, e nele darão princípio à Junta, nomeando entre oscidadãos presentes, e a portas abertas, dois escruíinadores e umsecretário.

Art . 40. Depois perguntará o Presidente se algum cidadãol cm o que queixar-se relativamente à conluio ou suborno, paraque a eleição recaia em pessoa determinada; c havendo queixa,( leve r á pública e verbalmente vcríf icar-se no mesmo ato. Ve-r i f i c a d a a acusação, as pessoas que tiverem cometido o delito,perderão o seu voto al ivo e passivo. Os ca luniadores sofrerão amesma pena; c deste juízo não se admitirá recurso algum.

Art. 50. Suscitando-se dúvidas sobre se alguns dos presen-tes têm ou não as qualidades requeridas para poder votar, a.l un ta as decidirá no mesmo ato, e esta decisão se executarátambém sem recurso por esta vez, e para este fim somente.

Art. 51. Imediatamente se procederá à nomeação dos Com-(immissários, para o que cada um dos cidadãos designará umnúmero de pessoas igual ao número dos compromissários; entãoe para este f im , se aproximará da mesa do Presidente, Escruti-nadorcs c Secretário, e este na sua presença escreverá cm umal i s t a os nomes das ditas pessoas; e tanto neste, como em todos osoutros atos de eleição, ninguém poderá votar em si mesmo, sobpena de perder o direito de votar.

Art. 52. Findo esto ato, o Presidente, Escrutinadorcs e Se-cretário verificarão as listas, e o Presidente publicará em al tavoz os nomes dos compromissários eleitos pela pluralidade devotos.

Art. 53. Os compromissários nomeados se retirarão a umacasa separada antes da dissolução da Junta; e conferindo entre

Page 90: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

si, nomearão o eleitor ou eleitores daquela Paróquia, ficandoeleitos aqueles, que reunirem mais de metade dos votos. Ime-diatamente se publicará a nomeação na Junta.

Art. 54. O Secretário lavrará o termo, que será assinadopor ele, pelo Presidente e pêlos Compromissados, entregando-seã pessoa-ou pessoas eleitas uma cópia do dito termo, igualmenteassinada, para fazer constar a sua nomeação.

Art. 55. Nenhum cidadão poderá escusar-se destes encar-gos por.qualquer mo t ivo ou pretexto que seja.

Art. 56. Na - J u n t a Paroquial nenhum cidadão poderá en-trar com armas.

Art. 57. Veri f icada a nomeação dos eleitores, a Junta sedissolverá imediatamente; e f icará sondo nulo todo e qualqueroutfo ato em que ela queira intrometer-se.

Art. 58. Os cidadãos que formarão a Junta , levando o elei-tor ou eleitores entre o Presidente. Escrutinadores e Secretário,se dirigirão à Igreja Matriz, onde se cantará um Te De u m solene.

CAPÍTULO IV

Das Juntas Eleitorais das Comarcas

Art. 59. As Juntas Eleitorais de Comarcas se comporãodos eleitores paroquiais, os quais se reunirão na cabeça de cadaComarca, a f im de nomear o eleitor ou eleitores que hão de con-

,, correr à Capital da Província para aí eleger os Deputados das'Cortes.

Art. 60. Estas Juntas se convocarão e celebrarão semprena Península, Ilhas e possessões adjacentes, no primeiro domin-go do mês de novembro do ano anterior ao em que se houveremde celebrar Cortes.

Ad. As Juntas Eleitorais de Comarca (pelo que toca aopresente ano) serão celebradas no domingo próximo seguinteàquele em que o tiverem sido as de Paróquia.

Art. 61. Nas Províncias Ultramarinas se celebrarão no pri-meiro domingo do mês de janeiro próximo seguinte ao mês dedezembro, em que se tiverem celebrado as Juntas das Paróquias.

Ad. Este artigo não tem agora aplicação.

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Art. 62. Para conhecer o número de eleitores que cadauma das Comarcas deve nomear, ter-se-ão em vista as regras se-guintes.

Art. 63. O número dos eleitores das Comarcas será o triplodo dos Deputados que se hajam de eleger.

Art. 64. Se o número das Comarcas da Província for maiorque o dos eleitores pedidos pelo artigo precedente para a no-meação dos Deputados, que lhes correspondam, isso não obstantenomear-se-á sempre um eleitor por cada Comarca.

Art. 65. Se o número das Comarcas for menor que o doseleitores que devem nomear-se, cada Comarca nomeará um, dois,ou mais, até completar o número pedido; porém, faltando aindaum eleitor, será nomeado pela Comarca de maior população;fa l tando outro, será nomeado pela imediata em maior população,e assim sucessivamente.

Art. 66. Pelo que fica estabelecido nos arts. 31, 32, 33 enos três artigos precedentes, o censo determina os Deputadosque correspondem a cada Província, e os eleitores de cada umadas respectivas Comarcas.

Ad. O mapa que vai junto a estas Instruções indica o nú-mero dos eleitores, que correspondem a cada Comarca, e onúmero de Deputados, que correspondem a cada Província.

Art. 67. As Juntas Eleitorais de Comarcas serão presididaspela autoridade civil, ou primeiro Alcaide da povoação cabeça daComarca; e a ele se apresentarão os eleitores paroquiais com osdocumentos que legalizam as suas eleições, para que os seus no-mes sejam lançados nos livros em que hão de exarar-se as Atas(ia Junta.

Ad. Ao Corregedor, ou a quem fizer suas vezes, toca o pre-sidir a estas eleições, por ser a autoridade que entre nós corres-ponde à indicada neste art. 67.

Art. 68. No dia determinado os eleitores paroquiais com oPresidente se ajuntarão nos Paços do Conselho, e, a portas aber-Ias, principiarão pela nomeação de um Secretário, e de dois Es-«•rutinadores escolhidos entre os eleitores.

Art. 69. Depois apresentarão os eleitores as suas Cartasde nomeação para serem examinadas pelo Secretário e Escruti-nadores, os quais no dia seguinte deverão informar se as acharamou não em regra. As nomeações do Secretário, e dos Escrutina-dores, serão examinadas por uma comissão de três indivíduos da

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Junta, nomeados para este efeito, e que igualmente no seguintedia informarão sobre este objeto.

Art. 70. Neste dia congregados os eleitores paroquiais, se-rão lidas as informações sobre as Cartas de nomeação; e tendo-se achado defeito em algumas delas, ou nos eleitores por faltade alguma das qualidades requeridas, a Junta resolverá defini-t ivamente, e em ato contínuo, e a sua resolução se executará semrecurso.

Art. 71. Concluído este ato, os eleitores paroquiais com oseu Presidente se dirigirão á Igreja principal, onde a maior dig-nidade eclesiástica cantará uma missa solene do Espírito Santo,e fará um discurso próprio das circunstâncias .

Art. 72. Acabado este ato religioso, voltarão à casa da Câ-mara, onde assentados os eleitores sem preferência, o Secretáriolerá este capítulo da Constituição; depois do que o Presidentefará a mesma pe rgun ta de que trata o art. 49, observando tudoquanto nele se dispõe.

Art . 713. Imediatamente se procederá á nomeação do elei-tor, ou eleitores da Comarca, elegendo-os um depois de outro, epor escrutínio secreto, por meio de bilhetes, nos quais estejaescrito o nome da pessoa, que cada um elege.

Art. 74. Recolhidos os votos, o Presidente, Secretário eEscrutinadorcs os apurarão; e ficará eleito aquele que tiver,quando menos a metade dos votos c mais um; o Presidente irápublicando cada uma das eleições. Se ninguém tiver tido plurali-dade absoluta de votos, os dois em que houver recaído o maiornúmero, entrarão em 2'-' escrutínio, e ficará eleito o que reunirmaior número de votos. A sorte decidirá o empate, havendo-o.

Art. 75. Para ser eleitor de Comarca, é preciso ser cidadão,estar em exercício dos seus direitos, ser maior de 25 anos, do-miciliado e residente na Comarca, seja qual for o seu estado,ou secular, ou eclesiástico secular; podendo recair a eleição, noscidadãos que compõem a J u n t a , ou nos que não entram nela.

Art. 76, O Secretário escreverá num Livro o Auto da Elei-ção, e o assinará juntamente com o Presidente e Escrulinado-res; c dele se dará uma cópia, igualmente assinada pêlos so-breditos, à pessoa, ou pessoas eleitas, para fazer constar a suanomeação. Ò Presidente desta Junta remeterá uma igual cópiaassinada por ele e pelo Secretário, ao Presidente da Junta daProvíncia, onde se fará notória a eleição nos papéis públicos.

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Ad. A copia do auto das eleições de Comarca será remetida;i autoridade c i v i l mais graduada da Capital da Província.

Ad. Em vez da publicação nos papéis públicos, se fará pú-hí ica a eleição por editais na Capital da Província.

Art. 77. Nas Juntas Eleitorais de Comarcas se observarão;is mesmas disposições, que os arts. 55, 56, 57 e 58 prescrevempara as Juntas Eleitorais de Paróquias.

CAPÍTULO V

Das Juntas Eleitorais de Província

Art. 78. \s J u n t a s Elei torais de Província constarão doseleitores de todas as Comarcas dela, os quais se congregarão naCapital, para a l i nomearem os Deputados, que devem assistir as< 'or tes como Representantes da Nação.

Art. 79. Estas J u n t a s deverão ceíebrar-se sempre, na Pe-n ínsu la e I l h a s adjacentes, no pr imeiro domingo do mês de de-xembro do ano anterior ás Cortes.

Ad. As J u n t a s Ele i tora is de Província, respectivas ao pre-sente ano, terão luga r tio domingo próximo seguinte à celebraçãodas Assembleias Ele i tora is de Comarca.

Art. 80. Nas Possessões Ul t ramar inas se celebrarão no 2'.'domingo do mês de março do mesmo ano cm que se celebraremas Juntas de Comarca.

Ad. Este art igo não tem por agora aplicação.

Art. 81. 1'residirá a estas Juntas a Autoridade civil da Ca-pital da Província, á qua! se apresentarão os eleitores das comar-cas com os documentos das suas eleições, para que se notem osseus nomes no livro em que hão de exarar-se as Atas da Junta.

Ad. Como não temos Chefe Político de Província, cumpreque a Junta Eleitoral de Província eleja dentre si Presidente, àpluralidade de votos; c presidirá a esta eleição a Autoridade civilmais graduada da Capital.

Art. 82. No dia aprazado, os Eleitores das Comarcas como seu Presidente se ajuntarão nos Paços do Conselho, ou no Edi-fício mais próprio para ato tão solene; e ali, estando abertas asportas, nomearão um Secretário, e dois Escrutinadores à plurali-dade de votos, e do número dos Eleitores.

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Art. 83. A Provinda, que não deva ter mais de um Depu-tado, terá pelo menos cinco Eleitores para a sua nomeação; parao que este número se dividirá pelas Comarcas, que a formarem,ou KC formarão as precisas para este fim.

Ad. Não há província em Portugal a que seja aplicável esteartigo.

Art. 84. Serão lidos os quatro capítulo desta Constituição,e que tratam das Eleições. Depois serão lidas as Certidões dosAutos das Eleições feitas rias cabeças das Comarcas, e que foramremetidas pêlos respectivos Presidentes: os Eleitores apresenta-rão outrossim as Certidões das suas nomeações para serem exa-minadas pelo Secretário e Escrutinadores, os quais no dia seguin-te informarão sobre a sua regularidade. As Certidões da nomea-ção do Secretário e dos Escrutinadores serão examinadas poruma comissão de três membros da Junta, nomeados para estefim, os quais também no dia seguinte darão a sua informaçãosobre aquele objeto.

Art. 85. Neste dia, juntos os Eleitores das Comarcas, selerão as informações sobre as Certidões; e se nelas se tiver acha-do defeito, ou nos Eleitores carônda de algumas das requeridasqualidades, a Junta resolverá imediatamente, e sem descontinuar:esta resolução se executará sem recurso.

Art. 86. Imediatamente depois os Eleitores das Comarcascom o seu Presidente, se dirigirão à Igreja Catedral, na qual secantará uma Missa solene do Espírito Santo; e o Bispo, ou nasua ausência, a maior Dignidade Eclesiástica fará um discursoanálogo às circunstâncias.

Art. 87. Concluído este ato religioso, voltarão ao lugar don-de saíram; c estando as portas abertas, sentados os Eleitores, semprecedência, o Presidente fará a pergunta do art. 49, observandotudo o que se dispõe.

Art. 88. Isto feito, os Eleitores que se acharem presentes,procederão à eleição do Deputado ou Deputados, aos quais elege-rão um depois de outro aproximando-se da mesa, em que se achamo Presidente, Secretário e Escrutinadores; e o Secretário na pre-sença deles escreverá em uma lista o nome da pessoa que cadaum tiver eleito. O Secretário e os Escrutinadores serão os primei-ros a votar.

Art. 89. Recolhidos os votos, o Presidente, Secretário, eEscrutinadores os apurarão, ficando eleito aquele, sobre quem re-cair, pelo menos, a metade dos votos e mais um. Se ninguém reu-

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n i r a pluralidade absoluta de votos, os dois que tiverem tidomaior número, entrarão em 2? escrutínio, e será eleito aquele emquem recair a pluralidade. A sorte decidirá o empate; logo feitaa Kleição de cada um, o Presidente a publicará.

Art. 90. Depois da Eleição dos Deputados, se procederá àdos Substitutos, pela mesma forma e método; e o número destesserá, cm cada Província, igual ao terço dos Deputados, que lhecorresponderem. Quando uma Província não tiver de eleger maisde um ou dois Deputados, elegerá sempre um Deputado Substitu-to. Estes concorrerão nas Cortes, ou pela morte do proprietário,ou pela sua impossibilidade legalizada pelas mesmas Cortes, eisto em qualquer tempo, que um ou outro acidente se verificar,depois de feita a Eleição.

Art. 91. Para ser Deputado das Cortes é preciso ser Cida-dão, e estar em exercício dos seus direitos, ser maior de 25 anos,ter nascido na Província, ou ser domiciliado nela com residênciade 7 anos, pelo menos, quer seja do estado Secular, quer do Ecle-siástico Secular, e podendo recair a Eleição nos Cidadãos que for-mam a Junta, ou nos que não entram nela.

Art. 92. Outrossim é necessário para ser Deputado das Cor-tes ter um rendimento anual proporcionado e proveniente de benspróprios.

Ad. Não tem agora aplicação este artigo.Art. 93. Fica suspensa a disposição do artigo precedente

até que as Cortes, que ao diante se deverão celebrar, declaremter já chegado o tempo em que deve ter efeito, designando a quo-ta da renda e a qualidade de bens de que deve provir; e seráreputado constitucional tudo o que as Cortes então resolverem aeste respeito, e como se disso aqui se houvesse feito expressamenção.

Ad. Não tem agora aplicação este artigo.Art. 94. Sucedendo que a mesma pessoa seja eleita ao mes-

mo tempo pela Província em que nasceu, e pela em que está do-miciliado, subsistirá a eleição do domicílio; e pela Província dasua naturalidade representará nas Cortes o Substituto, que lhecorresponder.

Art. 95. Não podem ser eleitos Deputados das Cortes osConselheiros de Estado e todas as pessoas que ocupam empregosda Casa Real.

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Art. 96. Não podem da mesma sorte ser eleitos Deputadosdas Cortes os Estrangeiros, ainda que tenham Carta de Cidadãopassada peias Cortes.

Art. 97. Nenhum funcionário público, nomeado pelo Go-verno, poderá ser eleito Deputado das Cortes pela Província, emque exercer as suas funções.

Art. 98. O Secretário registrará os Autos das Eleições; eo Presidente e todos os Eleitores os assinarão com ele.

Art. 99. Imediatamente iodos os Eleitores, sem escusa al-guma, outorgarão a todos e a cada um dos Deputados poderesamplos, conforme o teor seguinte, entregando a cada um dosDeputados o seu respectivo Diploma para ser apresentado em asCortes.

Art. 100. Estes poderes serão concebidos nos termos se-guintes: "Na Cidade, ou Vila do . . . aos. . . d ias do mês de. . . doano de. . nas salas de. . . estando reunidos os senhores (aqui seescreverão os nomes do Presidente e dos Eleitores de Comarca,que formam a Junta Eleitoral de Província) disseram perante rnimEscrivão abaixo assinado, e das testemunhas para o mesmo fimchamadas, .que havendo-se procedido, em conformidade da Cons-t i tuição Política da Monarquia Espanhola, à nomeação dos Eleito-res das Paróquias e das Comarcas, com todas as solenidades pres-critas pela Constituição, como constou das certidões originaispresentes, reunidos os sobreditos Eleitores das Comarcas daProvíncia de . . . em o dia. . . do mês de. . . do presente ano, ti-nham f e i t o a nomeação dos Deputados que, em nome, e represen-tação desta Província, devem achar-se nas Cortes; e que por estaProvíncia foram eleitos para Deputados nelas N.N.N.; como constado termo exarado e assinado por N.N.; que em consequência lhesoutorgam a todos cm geral , e a cada um em particular poderesamplos para cumprir e desempenhar as augustas funções que lhessão cometidas, e para que com os mais Deputados das Cortes, co-mo Representantes da Nação Espanhola, possam decidir e resolvertudo quanto entenderem que conduz ao bem geral da Nação(usando das faculdades determinadas peia Constituição e dentrodos limites que ela prescreve, sem que possam derrogar, alterar,ou variar, por qualquer maneira que seja, nenhum dos seus arti-gos) e que os outorgantes se obrigam por si, em nome de todosos moradores desta Província, em virtude das faculdades, quelhes são concedidas como Eleitores para tal nomeados, a ter porfirme e valioso, obedecer, cumprir e guardar tudo quanto os ditosDeputados das Cortes fizerem e por elas for decidido, conforme

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.1 Constituição Política da Monarquia Espanhola. Assim o disseramc outorgaram, sendo presentes como testemunhas N.N., que aquiassinaram com os senhores outorgantes: do que dou fé".

Ad. Estes poderes serão concedidos entre nós nos termos se-guintes: "Na Cidade ou Vila de. . . aos. . dias. . . do mês de. . .do ano de. . . nas salas de. . . estando reunidos N.N e N. (aqui.se escreverão os nomes do Presidente e dos Eleitores das Co-marcas, que formam a Junta Eleitoral de-Província) disseram pe-rante mim Escrivão abaixo assinado, e das testemunhas para omesmo fim chamadas, que havendo-se procedido, em conformi-dade das Instruções c Ordens da Junta Provisional do GovernoSupremo do Reino, à nomeação dos Eleitores das Paróquias e dasComarcas com todas as solenidades prescritas nas ditas Instru-ções os sobreditos Eleitores das Comarcas da Província d e . . .em o dia. . . do mês de . . . do presente ano, tinham feito a no-meação dos Deputados que, em nome, e representação desta Pro-víncia, devem achar-se nas Cortes; e que por esta Província forameleitos para Deputados nelas N.N.N., como consta do termo exa-rado e assinado por N.N., que em consequência lhes outorgam atodos em gerai e a cada um em particular poderes amplos paracumprir e desmpenhar as augustas funções, que lhes são come-tidas, e para que com os mais Deputados das Cortes como Repre-sentantes da Nação Portuguesa possam proceder à organizaçãoda Constituição Política desta Monarquia, mantida a ReligiãoCatólica Apostólica Romana e a Dinast ia da Sereníssima Casa deBragança, tomando por bases fundamentais as da Constituição daMonarquia Espanhola co-rn as declarações e modificações, que fo-rem apropriadas às diferentes circunstâncias destes Reinos, con-tanto porém, que estas modificações ou alterações não sejam me-nos liberais, e ordenando tudo o mais, que entenderem que con-duz ao bem geral da Nação. E que os outorgantes se obrigam porsi. e em nome de todos os moradores desta Província, em virtudedas faculdades, que lhes são concedidas como Eleitores para estefim nomeados, a ter por firme e valioso, obedecer e cumprir eguardar tudo quanto os ditos Deputados das Cortes fizerem, epor elas for decidido conforme as Instruções e Ordens da JuntaProvisional do Governo Supremo do Reino. Assim o disseram eoutorgaram, sendo presentes como testemunhas N. e N., que aquiassinaram com os Outorgantes, de que dou fé".

Art. 101. O Presidente, Escrutinadores e Secretário envia-rão sern perda de tempo à Deputação permanente das Cortes umacópia das Atas das eleições, que eles assinaram; e publicando aseleições por meio da imprensa, remeterão um exemplar a cadaunia das povoações das Províncias.

I7,rí

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Ad. Esta cópia deve ser mandada ao Governo.Art. 102. Para indenizar os Deputados, as respectivas Pro-

víncias lhes assistirão conforme o que as Cortes, no segundo anode cada Deputação geral, regularem, para a Deputação que há desuceder; e aos Deputados do Ultramar se lhes abonará, além disso,o que se julgar necessário, a juízo das suas respectivas Províncias,para as despesas da viagem, ida e vinda.

Ad. Aos Deputados se hão de dar 4$800 por dia desde aquele,em que se puserem em marcha para a Capital, os quais serãopagos pelo Erário, conforme a Resolução da Junta Preparatóriadas Cortes.

Art. 103. Nas Juntas Eleitorais de Província observar-se-átudo o que dispõem os arts. 55, 56, 57 e 58, excetuando o que pre-vine o art. 328.

Ad. Este art. 328 é relativo às Deputações Provinciais, e nãotem agora aplicação alguma.

Palácio do Rio de Janeiro, em 7 de março de 1821. — Ignacioda Costa Quintella.

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DECRETO DE 3 DE JUNHO DE 1822

Manda convocar uma Assembleia Geral Constituintee Legislativa composta dos Deputados das Províncias doBrasil, os quais serão eleitos pelas Instruções que foremexpedidas.

Havendo-Me representado os Procuradores Gerais de algu-mas Províncias do Brasil já reunidos nesta Corte, e diferentesCâmaras, e Povo de outras, o quanto era necessário, e urgentepara a mantença da Integridade da Monarquia Portuguesa, e jus-to decoro do Brasil, a Convocação de uma Assembleia Luso-Brasi-liense, que investida daquela porção de Soberania, que essencial-mente reside no Povo deste grande, e riquíssimo Continente.Constitua as bases sobre que se devam erigir a sua independên-cia, que a Natureza marcara, e de que já estava de posse, e asua União com todas as outras partes integrantes da Grande Fa-mília Portuguesa, que cordialmente deseja: E reconhecendo Eua verdade e a força das razões, que Me foram ponderadas, nemvendo outro modo de assegurar a felicidade deste Reino, manteruma justa igualdade de direitos entre ele e o de Portugal, semperturbar a paz, que tanto convém a ambos, e tão própria é dePovos irmãos: Hei por bem, e com o parecer do Meu Conselhode Estado, mandar convocar uma Assembleia Geral Constituintee Legislativa, composta de Deputados das Províncias do Brasil,novamente eleitos na forma das instruções, que em Conselho seacordarem, e que serão publicadas com a maior brevidade. JoséBonifácio de Andrada e Silva, do Meu Conselho de Estado, e doConselho de Sua Majestade Fidelíssima El-Rei o Senhor D. JoãoVI, e Meu Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Reinodo Brasil e Estrangeiros, o tenha assim entendido, e o faça exe-cutar com os despachos necessários.

Paço, 3 de junho de 1822.

Com a rubrica do Príncipe Regente.

José Bonifácio de Andrada e Silva.

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DECISÃO N4? 57 — REINO — EM 19 DE JUNHO DE 1882

Instruções, a que se refere o Real Decreto de 3 dejunho do corrente ano que manda convocar uma Assem-bléia Geral Constituinte e Legislativa para o Reino doBrasil.

CAPITULO IDas Eleições

1. As nomeações dos Deputados para a Assembleia GeralConstituinte do Brasil serão feitas por Eleitores de Paróquia.

2. Os Eleitores, que hão de nomear os Deputados, serãoescolhidos diretamente pelo Povo de cada uma das Freguesias.

3. As Eleições de Freguesias serão presididas pêlos Pre-sidentes das Câmaras com assistência dos Párocos.

4. Havendo na Cidade ou Vila mais de uma Freguesia,será a Presidência distribuída pêlos atuais Vereadores da sua Câ-mara, e na falta destes pêlos transatos.

5. Toda a Povoação ou Freguesia, que tiver até 100 fogos,dará um Eleitor; não chegando a 200, porém se passar de 150,dará dois; não chegando a 300 e passar de 250, dará três, e assimprogressivamente.

6. Os Párocos farão afixar nas portas das suas IgrejasEditais, por onde conste o número de seus fogos, e ficam res-ponsáveis pela exatidão.

7. Têm direito a votar nas Eleições Paroquiais todo o Ci-dadão casado e todo aquele que tiver de 20 anos para cima sen-do solteiro, e não for filho-familia. Devem, porém, todos os vo-tantes ter pelo menos um ano de residência na Freguesia ondederem o seu voto.

8. São excluídos do voto todos aqueles que receberemsalários ou soldadas por qualquer modo que seja. Não são com-preendidos nesta regra unicamente os Guardas-Livros e l?s-cai-

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xeiros de casas de comércio, os criados da Casa Real, que não fo-rem de galão branco, e os Administradores de fazendas ruraise fábricas.

9. São igualmente excluídos de voto os Religiosos Regula-res, os Estrangeiros não naturalizados e os criminosos.

10. Proceder-se-á às Eleições de Freguesias no primeirodomingo depois que a elas chegarem os Presidentes nomeadospara assistirem a este ato.

CAPITULO II

Do Modo de Proceder às Eleições dos Eleitores

1. No dia aprazado para as Eleições Paroquiais, reunidona Freguesia o respectivo Povo, celebrará o Pároco Missa sole-ne do Espírito Santo, e fará, ou outro por ele, um discurso aná-logo ao objeto e circunstâncias.

2. Terminada esta Cerimónia Religiosa, o Presidente, o Pá-roco e o Povo se dirigirão às Casas do Conselho, ou às quemelhor convier, e tomando os ditos Presidente e Pároco assen-to à cabeceira de uma Mesa, fará o primeiro, em voz alta e in-teligível, a leitura dos Capítulos I e II destas Instruções. Depoisproporá dentre os circunstantes os Secretários e Escrutinadores,que serão aprovados ou rejeitados por aclamações do Povo.

3. Na Freguesia que tiver até 400 fogos inclusive, haveráum Secretário e dois Escrutinadores; e nas que tiverem daí pa-ra cima, dois Secretários e três Escrutinadores. O Presidente, oPároco, os Secretários e os Escrutinadores formam a Mesa ouJunta Paroquial.

4. Lavrada a Ata desta nomeação, perguntará o Presidentese algum dos circunstantes sabe e tem que denunciar subornoou conluio para que a Eleição recaia sobre pessoa ou pessoasdeterminadas. Verificando-se por exame público e verbal a exis-tência do fato arguido (se houver arguição), perderá o incursoo direito ativo e passivo de voto. A mesma pena sofrerá o calu-niador. Qualquer dúvida que se suscite será decidida pela Mesaem ato sucessivo.

5. Não havendo, porém, acusação, começará o recebimen-to das listas. Estas deverão conter tantos nomes quantos são osEleitores que tem de dar aquela Freguesia; serão assinadas pê-los votantes, reconhecida a identidade pelo Pároco. Os que não

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l

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souberem escrever chegar-se-ão à Mesa e, para evitar fraude,dirão ao Secretário os nomes daqueles em que votam; este for-mará a Lista competente, que depois de lida será assinada pelovotante com uma Cruz, declarando o Secretário ser aquele osinal de que usa tal indivíduo.

G. Não pode ser Eleitor quem não tiver (além das qua-lidades requeridas para votar) domicílio certo na Província, háquatro anos inclusive pelo menos. Além disso deverá ter 25 anosde idade, ser homem probo e honrado, de bom entendimento,sem nenhuma sombra de suspeita e inimizade à Causa do Brasil,e de decente subsistência por emprego, ou indústria, ou bens.

7. Nenhum Cidadão poderá escusar-se da nomeação, nementrar com armas nos lugares das Eleições.

CAPITULO IIIDo Modo de Apurar os Votos

1. Recolhidas, contadas e verificadas todas as listas, a Me-sa apurará os votos aplicando o maior cuidado e exação nestetrabalho, distribuindo o Presidente as letras pêlos Secretáriose Escrutinadores, e ele mesmo lendo os nomes contidos nasmencionadas listas.

2. Terminada a apuração destas, proceder-se-á à conta dosvotos, e o Secretário formará uma relação de todos os sujeitosque os obtiveram, pondo o número em frente do nome. Então oPresidente e a Mesa, verificando se os que alcançaram a plura-lidade possuem os requisitos exigidos e demarcados no § 6? doCapitulo II, os publicará em alta voz. No caso de empate decidi-rá a sorte.

3. O ato destas Eleições é sucessivo: as dúvidas que ocor-rerem serão decididas pela Mesa, e a decisão será terminante.

4. Publicados os Eleitores, o Secretário lhes fará imedia-tamente aviso para que concorram à casa onde se fizerem asEleições. Entretanto lavrará o Termo delas em livro competente,o qual será por ele sobrescrito, e assinado pelo Presidente, Pá-roco e Escrutinadores. Deste se extrairão as cópias necessárias,igualmente assinadas, para se dar uma a cada Eleitor, que lheservirá de Diploma, remeter-se-á uma à Secretaria de Estado dosNegócios do Brasil e uma ao Presidente da Câmara das Cabe-ças de Distrito,

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5. As Câmaras das Vilas requererão aos ComandantesMilitares os Soldados necessários para fazer guardar a ordem etranquilidade, e executar as comissões que ocorrerem.

6. Reunidos os Eleitores, os Cidadãos que formaram aMesa, levando-os entre si e acompanhados do Povo, se dirigirão;i Igreja Matriz, onde se cantará um Te Deum solene. Fará oPároco todas as despesas de altar, e as Câmaras todas as outras;bem como proverao de papel e livros todas as Juntas Paroquiais.

7. Todas as listas dos votos dos Cidadãos serão fechadase seladas, e remetidas com o Livro das Atas ao Presidente daCâmara da Comarca para serem guardadas no Arquivo dela,pondo-se-lhes rótulos por fora, em que se declare o número daslistas, o ano e a Freguesia, acompanhado tudo de um ofício doSecretário da Junta Paroquial.

8. Os Eleitores, dentro de 15 dias depois da sua nomea-ção, achar-se-ão no Distrito que lhes for marcado. Ficarão sus-pensos pelo espaço de 30 dias, contados da sua nomeação, todosos processos civis em que eles forem autores ou réus.

9. Todas estas ações serão praticadas a portas abertas eTrancas.

10. Para facilitar as reuniões dos Eleitores, ficam sendo(só para este efeito) Cabeças de Distrito, os seguintes:

Na Província Cisplatina: — Montevidéu, Maldonado, Coló-nia.

Na Província do Rio Grande do Sul: — Vila de Porto Ale-gre, Vila do Rio Grande, Vila do Rio Pardo, Vila de S. Luís.

Na Província de Santa Catarina: — Vila do Desterro, Vilade S. Francisco, Vila da Laguna.

Na Província de S. Paulo: — A Cidade de S. Paulo, Vila deSantos, Vila de Itu, Vüa de Curitiba, Vila de Paranaguá, Vila deTaubaté.

Na Província de Mato Grosso: — Vila Bela, Vila de Cuiabá,Vi la do Paraguai Diamantino.

Na Província de Goiás: — Cidade de Goiás, Julgado de San-ta Cruz, Julgado de Cavalcante.

Na Província de Minas Gerais: — Vila de S. João d'El-Rei,Vila da Princesa da Campanha, Vila de S. Bento de Tamanduá,Vila Rica, Cidade de Mariana, Vila de Pitangui, Vila do Príncipe,Vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso, Vila do Piracatu.

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Na Província do Rio de Janeiro: — A Capital, Vila de S.João Marcos, Vila de Santo António de Sá, Macaé.

Na Província do Espírito Santo:S. Salvador.

Vila da Vitória, Vila de

Na Província da Bahia: — Vila de Porto Seguro, Vila deS. Mateus, Vila de S. Jorge, Vila do Rio das Contas, Cidade deS. Salvador, Vila de Santo Amaro, Vila do Itapicuru, Vila da Ca-choeira, Vila da Jacobina, Vila de Sergipe, Vila Nova de SantoAntónio.

Na Província das Alagoas: — Vila de Porto Calvo, Vila dasAlagoas, Vila do Penedo.

Na Província de Pernambuco: — Cidade de Olinda, Cidadedo Recife, Garanhuns, Vila das Flores, Vila da Barra, Carinha-nha, Campo Largo, Cabrobó.

Na Província da Paraíba: — Cidade da Paraíba, Vila Real,Vila da Rainha da Campina Grande.

Na Província do Rio Grande do Norte: — Cidade do Natal,Vila Nova da Princesa.

Na Província do Ceará:Vila de Icó.

Vila do Aracati, Vila do Sobral,

Na Província do Piauí: — Vila da Parnaíba, Cidade deOeiras.

Na Província do Maranhão: — Cidade de S. Luís, Vila deItapicuru-merim, Vila de Caxias.

Na Província do Pará: — Cidade de Belém, Vila Viçosa, San-tarém, Barcelos, Marajó, Vila Nova da Rainha, Vila do Crato,Olivença, Cametá.

11. Os Eleitores das Freguesias das Vilas e lugares inter-médios concorrerão àquele Distrito que mais cómodo lhes fordos apontados.

CAPITULO IV

Dos Deputados

1. Os Deputados para a Assembleia Geral Constituinte eLegislativa do Reino do Brasil não podem ser por ora menos de100. E porque a necessidade da mais breve instalação da Assem-bleia obste a que se espere por novos e mais bem formados

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Censos, não devendo merecer atenção por inexatos todos os queexistem, este número 100 será provisoriamente distribuído pelasProvíncias na seguinte proporção:

Província Cisplatina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2Rio Grande do Sul . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3Santa Catarina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . lS. Paulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9Mato Grosso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . lGoiás . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2Minas Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20Rio de Janeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8Capitania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . lBahia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13Alagoas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5Pernambuco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13Paraíba . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5Rio Grande do Norte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . lCeará . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8Piauí . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . lMaranhão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4Pará . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2. Para ser nomeado Deputado cumpre, que tenha, alémdas qualidades exigidas para Eleitor no § 6<? capítulo II, as se-guintes: Que seja natural do Brasil ou de outra qualquer parteda Monarquia Portuguesa, contanto que tenha 12 anos de residên-cia no Brasil, e sendo estrangeiro que tenha 12 anos de estabele-cimento com família, além da sua naturalização; que reúna àmaior instrução, reconhecidas virtudes, verdadeiro patriotismoc decidido zelo pela causa do Brasil.

3. Poderão ser reeleitos os Deputados do Brasil, ora resi-dentes nas Cortes de Lisboa, ou os que ainda para ali não par-t i r am.

4. Os Deputados receberão pelo Tesouro Público da sua1'rovíncia 6.000 cruzados anuais, pagos a mesada no princípiode cada mês; e no caso de que haja alguma Província, que nãopossa de presente com a despesa, será ela paga pelo cofre geraldo Tesouro do Brasil, ficando debitada à Província auxiliadapara pagá-la quando, melhoradas as suas rendas, o puder fazer.

5. Os Governos Provisionais proverão aos transportes dosDeputados das suas respectivas Províncias, bem como ao pon-t ua l pagamento de suas mesadas.

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6. Ficarão suspensos todos e quaisquer outros vencimen-tos, que tiverem os Deputados, percebidos pelo Tesouro Públi-co, provenientes de empregos, pensões, etc.

7. Os Deputados pelo simples ato da Eleição ficam inves-tidos de toda a plenitude de poderes necessários para as Augus-tas Funções da Assembleia; bastando para autorização a cópiada Ata das suas Eleições.

8. Se acontecer que um Cidadão seja ao mesmo tempoeleito Deputado por duas ou mais Províncias, preferirá a no-meação daquela onde tiver estabelecimento, e domicílio. A Pro-víncia privada procederá a nova escolha.

9. As Câmaras das Províncias darão aos respectivos Depu-tados instruções sobre as necessidades, e melhoramentos dassuas Províncias.

10. Nenhum cidadão poderá escusar-se de aceitar a no-meação.

11. Quando estiverem reunidos 51 Deputados, instalar-se-áa Assembleia. Os outros tomarão nela assento à proporção queforem chegando.

CAPÍTULO VDas Eleições dos Deputados

1. Os Eleitores das Freguesias, tendo consigo os seus Di-plomas, se apresentarão à Autoridade Civil mais graduada doDistrito fque há de servir-lhes de Presidente até à nomeação doque se ordena no § D7 deste Capítulo) para que este faça ins-crever seus nomes, e Freguesias, a que pertencem, no Livroque há de servir para as Atas da próxima eleição dos Deputados;marque-lhes o dia e o local da reunião, e faça intimar à Câmaraa execução dos preparativos necessários.

2. No dia aprazado, reunidos os Eleitores presididos peladita autoridade, depois de fazer-se a leitura dos Capítulos IV eV, nomeação por aclamação de um Secretário e dois Escrutinado-res, para examinarem os Diplomas dos Eleitores, e acusarem asfaltas que lhe acharem, e assim mais uma Comissão de doisdentre eles para examinarem os Diplomas do Secretário e Es-crutinadores, os quais todos darão conta no dia seguinte dassuas informações.

3. Logo depois começarão a fazer por escrutínio secreto epor cédulas a nomeação do Presidente escolhido dentre os Elei-

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tores, e, apurados os votos pelo Secretário e Escrutinadores, serápublicado o que reunir a pluralidade, do que se fará Ata ou Ter-mo formal com as devidas explicações. Tomando o novo Presi-dente posse, o que será em ato sucessivo, retirar-se-á o ColégioEleitoral.

4. No dia seguinte, reunido e presidido o Colégio Eleito-ral, darão as Comissões conta do que acharam nos Diplomas.Havendo dúvidas sobre eles (ou qualquer outro objeto), serãodecididas pelo Presidente, Secretário, Escrutinadores e Eleito-res; e a decisão é terminante. Achando-se, porém, legais, diri-gir-se-á todo o Colégio à Igreja principal, onde se celebrará pelamaior Dignidade Eclesiástica Missa solene do Espírito Santo, êo Orador mais acreditado (que não se poderá escusar) fará umdiscurso análogo às circunstâncias, sendo as despesas como noart. 6 do Capítulo III.

5. Terminada a Cerimónia, tornarão ao lugar do Ajunta-mento e, repetindo-se a leitura dos Capítulos IV e V, e feita apergunta do § 41?, Capítulo II, procederão à eleição dos Deputados,sendo ela feita por cédulas individuais, assinadas pelo votante,e tantas vezes repetidas, quantas forem os Deputados que devedar a Província; publicando o Presidente o nome daquele, queobtiver a pluralidade, e formando o Secretário a necessária Re-lação, em que lançará o nome do eleito e os votos que teve.

6. Preenchido o número, e verificadas pelo Colégio Elei-toral as qualidades exigidas no § 2 do Capítulo IV, formará oSecretário o Termo da eleição, e circunstâncias que a acompa-nharam; dele se extrairão duas cópias, uma das quais será re-metida à Secretaria de Estado dos Negócios do Brasil, e outrafechada e selada à Câmara da Capital, levando inclusa a relaçãodos Deputados que saíram eleitos naquele distrito, com o númerode votos, que teve, em frente do seu nome. E.ste Termo e Rela-ção serão assinados por todo o Colégio, que desde logo fica dis-solvido.

7. Recebidas pela Câmara da Capital da Província todasas remessas dos diferentes Distritos, marcará por Editais o diao hora em que procederá à apuração das diferentes nomeações:e nesse dia, em presença dos Eleitores da Capital, dos Homensbons e do Povo, abrirá as Cartas, fazendo reconhecer pêlos cir-custantes que elas estavam intactas, e, apurando as relações pelométodo já ordenado, publicará o seu Presidente, aqueles quemaior número de votos reunirem. A sorte decidirá os empates.

8. Depois de publicadas as eleições, formados e exaradosos necessários Termos e Atas assinadas pela Câmara e Eleitores

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da Capital, se dará uma cópia a cada um dos Deputados, e re-meter-se-á outra à Secretaria de Estado dos Negócios do Brasil.

9. O Livro das Atas, e as Relações e Ofícios recebidos dosdiferentes Distritos serão emaçados eonjuntamente, sobrepondo-se-lhes o rótulo — Atas das Eleições dos Deputados para a Assem-bleia Geral Constituinte e Legislativa do Reino do Brasil no anode 1822; e se guardará no Arquivo da Câmara.

13. A Câmara, os Deputados, Eleitores, e Circunstantesdirigir-se-ão à Igreja principal, onde se cantará solene Te Deuma expesas da mesma Câmara.

Paço, 19 de junho de 1822. — José Bonifácio de Andradae Silva.

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DECRETO DE 26 DE MARÇO DE 1824

Manda proceder à eleição dos Deputados e Senado-res da Assembleia Geral Legislativa e dos Membros dosConselhos Gerais das Províncias.

Tendo a maioria do Povo Brasileiro aprovado o projeto deConstituição organizado pelo Conselho de Estado, e pedido quecie fosse jurado, como foi, para ficar sendo a Constituição do Im-pcrio: E cessando por isso a necessidade das eleições de Depu-tados para nova Assembleia Constituinte, a que Mandei procederpor Decreto de 17 de novembro do ano próximo passado: Hei porhcm que, ficando sem efeito o citado decreto, se proceda à elei-ção dos Deputados para a Assembleia simplesmente Legislativa,na forma das Instruções, que com este baixam assinadas por JoãoSeveriano Maciel da Costa, do Meu Conselho de Estado, Ministroc Secretário de Estado dos Negócios do Império. O mesmo Minis-t ro e Secretário de Estado o tenha assim entendido, e o faça exe-cutar com os despachos necessários. Paço, em 26 de março deI f ï 2 4 , 3<? da Independência e do Império.

Com a rubrica de Sua Majestade Imperial.

João Severiano Maciel da Costa.

l NSTRUÇÕES PARA SE PROCEDER ÀS ELEIÇÕES DAS CÂMA-RAS DE DEPUTADOS E SENADORES DA ASSEMBLEIAGERAL LEGISLATIVA DO IMPÉRIO DO BRASIL, E DOSMEMBROS DOS CONSELHOS GERAIS DAS PROVÍNCIAS.

CAPÍTULO I

Das Eleições das Assembleias Paroquiais

S 19 As nomeações dos Deputados e Senadores para a As-sembleia Geral do Império do Brasil, e dos Membros dos Consc-l lm.y Gerais das Províncias, serão feitas por eleitores de paróquia.( A r t . 90 da Constituição.)

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§ 2? Em cada freguesia deste Império se fará uma assem-bleia eleitora], a qual será presidida pelo Juiz de Fora, ou Ordi-nário, ou quem suas vezes fizer, da cidade ou vila, a que a fre-guesia pertence, com assistência do Pároco, ou de seu legítimosubstituto.

§ 31? Havendo mais de uma freguesia na cidade ou vila, eseu termo, o Juiz de Fora, ou Ordinário presidirá à assembleiada freguesia principal, sendo as das outras presididas pêlos Ve-readores efetivos, e mais pessoas da Governança, nomeados pelaCâmara, se precisos forem.

., iïM(í Toda a paróquia dará tantos eleitores, quantas vezescontiver o número de cem fogos na sua população; não chegandoa duzentos, mas passando de cento e cincoenta, dará dois: pas-sando de duzentos e cincoenta, dará três, e assim progressiva-mente.

§ 5^ Os Párocos faraó afixar nas portas de suas Igrejaseditais, por onde conste o número de fogos da sua freguesia, cficam responsáveis pela exatidão.

§ 6*? Têm votos nas eleições primárias: 1<? Os cidadãos bra-sileiros, que estão no gozo de seus direitos políticos; 2? Os estran-geiros naturalizados, contanto que uns e outros sejam domiciliá-rios da freguesia, ou tenham pelo menos ali a sua residência des-re a dominga da Septuagésima, que é quando os Párocos devemfazer os róis de seus fregueses, e tomar deles conhecimento. Osque depois deste dia mudarem de freguesia, devem ir votar na emque dantes residiam.

§ 7*? São excluídos de votar nas assembleias paroquiais:l*? Os menores de vinte e cinco anos, nos quais se não com-

preendem os casados, e oficiais militares, que forem maiores devinte e um anos; os Bacharéis formados, e os Clérigos de OrdensSacras.

2? Os filhos famílias, que estiverem em companhia de seuspais, salvo se servirem ofícios públicos.

31? Os criados de servir, em cuja classe não entram os guar-da-livros, e primeiros caixeiros das casas de comércio; os criadosda Casa Imperial, que não forem de galão branco; e os adminis-tradores das fazendas rurais, e fábricas.

4? Os Religiosos, e quaisquer que vivam em comunidadecl austral.

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5? Os que não tiverem de renda líquida anual cem mil réispor bens de raiz, indústria, comércio, ou emprego. (Arts. 91 e 92da Constituição.)

§ 8^ Proceder-se-á às eleições de paróquias nas cidades evilas no dia designado pela Câmara, e nas freguesias do termono primeiro domingo depois que a elas chegarem os Presidentes,nomeados para assistirem a este ato.

CAPÍTULO H

Modo de Proceder à Nomeação dos Eleitores Paroquiais

§ l? No dia aprazado pelas respectivas Câmaras para as elei-ções paroquiais, reunido o respectivo povo na Igreja matriz pelasoito horas da manhã, celebrará o Pároco Missa do Espírito Santo,e fará, ou outrem por ele, uma oração análoga ao objeto, e leráo presente capítulo das eleições.

§ 2? Terminada esta cerimónia religiosa, posta uma mesano corpo da Igreja, tomará o Presidente assento à cabeceira dela,ficando a seu lado direito o Pároco, ou o Sacerdote, que suas ve-/c-s fizer, em cadeiras de espaldar. Todos os mais assistentes terãoassentos sem precedência, e estarão sem armas, e a portas aber-tas . O Presidente fará em voz alta e inteligível a leitura deste ca-pítulo, e do, antecedente.

§ 3? O Presidente, de acordo com o Pároco, proporá àassembleia eleitoral dois cidadãos para Secretários, e dois paraKscrutinadores, que sejam pessoas de confiança pública, as quaissendo aprovadas, ou rejeitadas por aclamação do povo, tomarãolugar de um e outro lado. O Presidente, o Pároco, os Secretáriosc os Escrutinadores formam a mesa da assembleia paroquial.

§ 4? Lavrada a ata desta nomeação, perguntará o Presiden-te se algum dos circunstantes sabe, ou tem de denunciar subornoou concluio para que a eleição recaia em pessoa, ou pessoas de-terminadas. Verificando-se por exame público e verbal a existên-cia do fato (se houver arguição), perderá o incurso o direito ativor passivo de voto por esta vez somente. A mesma pena sofrerá ocaluniador. A mesa resolverá a questão à pluralidade de votos,fa/endo-se de tudo um auto com todas as circunstâncias, paraser em seu devido tempo apresentado à Assembleia Nacional, ese tomarem a tal respeito medidas, que em casos tais se possamoferecer, ficando salvo ao queixoso o direito de peüçiïo.

1Sí>

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§ 59 Imediatamente votando primeiro o Presidente, o Pá-roco, Escrutinadores e Secretários, lançarão suas relações em umaurna, onde se recolherão todas as mais, que por sua vez for apre-sentando cada um dos moradores da freguesia, que tem direitode votar, as quais serão por eles assinadas, e devem conter tan-tos nomes e suas respectivas ocupações, quantas são as pessoasque a Paróquia deve dar para eleitores.

§ 69 Podem ser eleitores, e votar na eleição dos Senadorese Deputados, todos o.s que podem votar nas assembleias paro-quiais. Excetuam-se os seguintes:

19 Os que não tiverem de renda líquida anual duzentos milréis por bens de raiz, comércio, indústria ou emprego.

2° Os libertos.

3? Os criminosos pronunciados em querelas, ou devassa.(Art. 04 da Constituição.)§ 7° O eieitor deve ser homem probo c honrado, de bom

entendimento, sem nenhuma sombra de suspeita e inimizade àcausa do Brasil.

§ 8? Nenhum cidadão que tern direito de votar nestas elei-ções, poderá isentar-se de apresentar a lista de sua nomeação.Tendo legítimo impedimento, comparecerá por seu procurador,enviando a sua lista assinada, c reconhecida por Tabelião nas ci-dades ou vilas, e no termo por pessoa conhecida e de confiança.

CAPITULO IIIDo Modo de Apurar os Votos Para Eleitores

S 19 Entregues que sejam todas as listas, mandará o Pre-sidente por um dos Secretários contar, publicar e escrever naata o número delas.

§ 29 Dissolvida pela Mesa qualquer dúvida, ordenará oPresidente que um dos escrutinadores, em sua presença, leia cadauma das listas recebidas, e repartirá as letras do alfabeto pelooutro escrutador e secretários, os quais irão escrevendo, cadaum em sua relação, os nomes dos votados, e o número dos votospor algarismos sucessivos da numeração natural, de maneira queo último número de cada nome mostre a totalidade dos votos,que este houver obtido, publicando em voz alta os números, àproporção que for escrevendo.

190

§ 39 Acabada a leitura das listas, um dos secretários, pelasrelações indicadas, publicará sem interrupção alguma os nomesde todas as pessoas, e o número de votos que obtiveram paraeleitores de Paróquia, formando das tais relações uma geral, queseT á copiada na ata, principiando desde o número máximo, atéo mínimo, que será assinada pela Mesa.

§ 49 Esta nomeação será regulada pela pluralidade relativade votos. Os que tiverem a maioria deles serão declarados eleito-res de Paróquia até aquele número, que a freguesia deve dar,contanto que neles se verifiquem os predicados exigidos. Os ime-diatos depois destes servirão de suplentes para substituírem qual-quer dos proprietários que legítimo impedimento tiver.

§ 51? Publicados os eleitores, o Secretário lhes fará imedia-tamente aviso por carta, para que concorram à Igreja, onde sefizerem as eleições. Entretanto, lavrado termo delas no compe-tente livro, dele se extrairão cópias autênticas, que serão assina-das pela Mesa, para se dar uma a cada eleitor, que lhe serviráde diploma.

§ 69 Reunidos os eleitores, se cantará na mesma Paróquiaum te Deum solene paro o qual fará o Vigário as despesas doAltar, e as Câmaras todas as outras; ficando a cargo de seus res-pectivos procuradores aprontarem mesa, assentos, papel, tinta,serventes, e o mais que necessário for, para se efetuar com todaa dignidade este solene ato. As Câmaras requererão aos Coman-dantes militares os soldados necessários para fazer guardar aordem e tranquilidade, e executar as comissões que ocorrerem.

§ 79 Todas as litas dos votos dos cidadãos serão fechadase seladas, e remetidas com o livro das atas ao Presidente da Câ-mara da cabeça do distrito, para serem guardadas no arquivo dela,pondo-se-lhes rótulo por fora, em que se declare o número daslistas, o ano, e a freguesia; acompanhado tudo de um ofício doSecretário da mesa paroquial.

§ 89 Com este último ato se haverá a assembleia paroquialpor dissolvida; e ficará nulo qualquer procedimento que de maispraticar.

CAPITULO IVDos Colégios Eleitorais, e suas Reuniões

§ 19 Os eleitores, dentro de quinze dias depois da sua no-meação, achar-se-ão no distrito, que lhes for marcado. Ficarãosuspensos por espaço de trinta dias, contados dessa mesma data,

Page 102: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

todos os processos em que os eleitores forem autores ou réus,querendo.

§ 2? Para facilitar as reuniões dos eleitores, ficam sendo(para este efeito somente) cabeças de distritos as seguintes:

Província CisplatinaMaldonado.Montevidéu.Colónia do Sacramento.

Província do Rio Grande do SulCidade de Porto Alegre.Vila do Rio Grande.Vila do Rio Pardo.Vila de S. Luiz.

Província de Santa CatarinaCidade do Desterro.Vila de S. Francisco.Vila da Laguna.

Província de S. PauloImperial cidade de S. Paulo.Vila de .Santos.Fidelíssima vila do Itu.V i l a da Coritiba.Vila de Paranaguá.Vila de Taubaté.

Província de Mato GrossoCidade de Mato Grosso.Cidade do Cuiabá.Vila do Paraguai Diamantino.

Província de GoiásCidade de Goiás.Julgado de Santa Cruz.Julgado do Cavalcante.

Província de Minas GeraisImperial cidade do Ouro Preto.Cidade de Mariana.Fidelíssima vida do Sabará.Vila de Pitangui.

Vila do Paracatu.Julgado de S. Romão.Vila de S. João, d'El-Rei.Vila da Princesa da Campanha.Vila de S. Bento de Tamanduá.Vila do Príncipe.Vila de N. S. do Bom Sucesso.

Província do Rio de JaneiroMuito leal e heróica cidade de

S. Sebastião.Vila de S. João Marcos.Vila de Santo António de Sá.Vila de Macaé.

Província do Espírito SantoCidade da Vitória.Vila de Campos.

Província da Bahia('idade de S. Salvador.Vila de Santo Amaro.Vila da Cachoeira.Vila do Itapicuru.Vila da Jacubina.Vila do Rio das Contas.Vila de S. Jorge.Vila do Camamu.Vila do Porto Seguro.Vila de S. Mateus.

Província de Sergipe d'E!-ReiCidade de Sergipe.Vila Nova de Santo António.

Províncias das AlagoasCidade das Alagoas.Vila de Porto Calvo.Vila do Penedo.

192

Província de Pernambuco('idade de Olinda.Vila de Goiana.Vila do Limoeiro.Cidade do Recife.Vila de Serinhém.Vila da Barra.V i l a das Flores.Carunhanha.Campo Largo,("abrobó.

Província da Paraíba('idade da Paraíba.Vila Real.Vila da Rainha da Campina

Grande.

Província do Rio Grande doNorte

('idade do Natal.Vila da Nova Princesa.Vila de Porto Alegre.

Província do CearáCidade da Fortaleza.

Vila do Aracati.Vila do Icó.Vila do Sobral.Vila do Grato.

Província do PiauíCidade de Oeiras.Vila da Parnaíba.

Província do MaranhãoCidade de S. Luís.Vila de Itapicuru-mirim.Vila de Caxias.Vila de Alcântara.

Província do ParáCidade de Belém.Vila de Bragança.Vila de Viçosa.Vila de Santarém.Vila de Barcelos.Vila de Marajó.Vila Nova da Rainha,Vila do Grato.Vila de Olivença.Vila de Cametá.

§ 3? Os eleitores das freguesias das vilas e lugares inter-médios concorrerão àquele distrito, que mais cómodo lhes fordos indicados.

§ 41? Os Deputados para a Assembleia Legislativa desteImpério devem ser por agora do número provisoriamente distri-buído pelas Províncias na forma seguinte:

Província Cisplatina . . . . . 2Hio Grande do Sul . . . . . . 3Santa Catarina . . . . . . . . . lS. Paulo . . . . . . . . . . . . . . 9Mato Grosso . . . . . . . . . . . lGoiás . . . . . . . . . . . . . . . . . 2Minas Gerais . . . . . . . . . . . 20Itio de Janeiro . . . . . . . . . 8Espírito Santo . . . . . . . . . llïahia . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

Sergipe d'El-Rei . . . . . . . . 2Alagoas . . . . . . . . . . . . . . . 5Pernambuco . . . . . . . . . . . 13Paraíba . . . . . . . . . . . .Rio Grande do NorteCeará . . . . . . . . . . . . .Piauí . . . . . . . . . . . . . .Maranhão . . . . . . . . .Pará . . . . . . . . . . . . . .

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§ 5? Os eleitores das freguesias, tendo consigo seus diplo-mas, se apresentarão à autoridade civil mais graduada do seudistrito (que há de servir de Presidente até a nomeação do quese ordena no § 79 deste capítulo), para que este faça escreverseus nomes e freguesias a que pertencem, no livro que há deservir para as atas da próxima eleição; marque-lhes o dia e olocal da reunião, e faça intimar à Câmara a prontificação dosnecessários preparativos.

§ 6(-> No dia aprazado, reunidos os eleitores, e presididospela dita autoridade, depois de fazer-se a leitura dos capítulos4(), 59, 6° e 9'.' nomearão por aclamação, dois secretários e doisescTulinadores para examinarem diplomas dos eleitores, e acusa-rem as faltas, que neles acharem; e assim mais uma comissãode dois dentre eles, para examinarem os diplomas dos secretá-rios e escrutinadores, os quais todos darão conta no dia seguintede suas informações.

$ 7" Imediatamente começarão a fazer por escrutínio se-creto, e por cédulas, a nomeação de presidente, escolhido dentreos eleitores; e apurados os votos pêlos secretários e escrutado-res, será eleito, e publicado o que reunir a pluralidade relativa,de que se fará termo com as devidas explicações. Tomando onovo presidente posse (o que será em ato sucessivo), retirar-se-áo colégio eleitoral.

§ 8? No seguinte dia, reunido e presidido o colégio, darãoas comissões conta do que acharam os diplomas. Havendo dúvi-das sobre eles, ou acerca de qualquer outro objeto, serão resol-vidas pelo presidente, secretário, escrutadores e eleitores; e adecisão é terminante. Achando-se porém legais os diplomas, di-rigir-se-á o colégio à Igreja principal, aonde se celebrará {pelamaior Dignidade eclesiástica) Missa solene do Espírito Santo, eum dos oradores mais acreditados fque se não poderá escusar)fará um discurso análogo às circunstâncias; sendo as despesasfeitas na forma do capítulo 39 § 69; e finda esta ação religiosa,voltará imediatamente ao lugar do ajuntamento.

CAPITULO VDa Eleição de Senadores

§ 19 Achando-se o colégio reunido no lugar indicado, pro-cederá imediatamente por esta primeira vez à eleição da Câmarados Senadores, cujos Membros serão vitalícios, e feita a sua pro-posta por eleição provincial.

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§ 2? Cada Província dará tantos Senadores, quantos foremmetade de seus respectivos Deputados, com a diferença que,quando o número dos Deputados da Província for ímpar, o nú-mero dos seus Senadores será metade do número imediatamentemenor. (Art. 41 da Constituição.)

§ 3? A Província que der um só Deputado, elegerá todaviao seu Senador, não obstante a regra acima estabelecida. (Art. 42da Constituição.)

§ 49 Esta eleição será feita por listas tríplices, das quaisSua Majestade Imperial escolherá o terço da sua totalidade. Oslugares que vagarem, serão preenchidos pela mesma forma daprimeira eleição por sua respectiva Província. (Arts. 43 e 44 daConstituição.)

§ 59 Para ser Senador é necessário:19 Que seja cidadão brasileiro, e que esteja no gozo dos

seus direitos políticos.29 Que tenha a idade de quarenta anos para cima.39 Que seja pessoa de saber, capacidade e virtudes, com

preferencia os que tiverem feito serviços à Pátria.4. Que tenha de rendimento anual por bens, indústria, co-

mércio, ou emprego a quantia líquida de oitocentos mil réis.(Art . 45 da Constituição.)

§ 69 Lido o presente capítulo, e feita a pergunta determi-nada no Cap. 29, § 49, se procederá a esta eleição, votando pri-meiro o presidente, os secretários, os escrutinadores, e depois,todos os eleitores por listas (que serão recolhidas em uma urna),nas quais se contenha o triplo do número dos Senadores, quepertencem à sua respectiva Província; declarando marginalmentea cada um dos nomes a idade, emprego ou ocupação, e rendi-mento exigido da pessoa nomeada.

§ 79 Entregues que sejam todas as listas para a eleição dosSenadores, mandará o presidente por um dos secretários contar,publicar, e escrever na ata o número delas, apurando-se os votospelo método estabelecido no Cap. 39, § 2*?

§ 89 Terminada a leitura das listas, um dos secretáriospelas relações indicadas publicará sem interrupção os nomes detodas as pessoas, que obtiveram votos para Senadores, formando-se uma lista geral pela ordem dos números, desde o máximo atén mínimo, que será o objeto da ata da eleição com todas as mais

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circunstâncias, que a acompanharam, a qual será assinada pelaMesa, e colégio eleitoral, em cuja presença se queimarão as re-feridas listas.

§ 9? O livro desta ata ficará no arquivo da Câmara cabeçado distrito, e dela se extrairão duas cópias autênticas pelo Escri-vão da Câmara, e consertadas por outro Escrivão, ou Tabelião,se remeterão fechadas e seladas com a maior brevidade e segu-rança, uma para a Secretaria de Estado dos Negócios do Império,e outra para a Câmara da capital, onde se hão de apurar as elei-ções, acompanhadas uma e outra do ofício do Secretário do co-légio eleitoral, que se retirará, havendo naquele dia por findosos seus trabalhos.

CAPITULO VI

Da Eleição dos Deputados

§ l'.' No dia imediato pelas oito horas da manhã, reunido ocolégio no mesmo lugar, depois de lido este capítulo, e feita apergunta do Cap. 2?, § 49, se procederá à eleição dos Deputados,votando primeiro o presidente, o secretário, e escrutinadores, etodos os eleitores por listas, que serão recolhidas em uma urna,nas quais se contenham os nomes, moradas, e empregos ouocupações de tantas pessoas, quantas são as que a Província de-ve dar à Câmara dos Deputados, conforme a tabela inserta nes-tas Instruções.

§ 29 Todos os que podem ser eleitores são hábeis para serDeputados. Excetuam-se:

19 Os que não tiverem de renda líquida anual a quantiade quatrocentos mil réis por bens, indústria, comércio ou em-prego.

29 Os estrangeiros, ainda que naturalizados sejam.39 Os que não professarem a religião do Estado.§ 39 O Deputado deve ter a maior instrução, reconhecidas

virtudes, verdadeiro patriotismo, e decidido zelo pela causa doBrasil.

§ 49 Os eleitores podem votar para Deputados nos mesmosindivíduos em que votaram para Senadores, porque recaindo aescolha destes na terça parte da lista tríplice, ficariam excluídosde um e outro cargo os dois terços da proposta, em que necessa-riamente se hão de compreender os cidadãos beneméritos, tais

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quais se devem considerar os que entram nessa eleição; até paraque os eleitores tenham a mais ampla liberdade de votar emuma e outra.

§ 59 Entregues que sejam todas as listas, se praticará oque está determinado no capítulo 39, § 29, e capítulo 59, § 79

§ 69 Depois de lidas todas as listas, se executará literal-mente a disposição dos §§ 89 e 99 do capítulo antecedente.

CAPITULO VH

Da Eleição dos Membros dos Conselhos Provinciais

§ 19 Em terceiro lugar prosseguirá o colégio eleitoral nodia seguinte em ato sucessivo à eleição dos Membros dos Con-selhos Gerais de Província, por listas, e decretado número, comoestá disposto nos arts. 73, 74 e 75 da Constituição, guardando-seem tudo o mais o método das antecedentes eleições.

CAPITULO VIII

Da última apuração dos votos

§ 19 Recebidos pela Câmara da capital todos os ofícios doscolégios eleitorais das cidades e vilas de sua Província, imedia-tamente assinará o primeiro domingo, ou dia santo, que der ointervalo de cinco dias, e daí para cima, para a apuração dasditas eleições, o que fará público por editais afixados nos lugaresdo estilo, pêlos quais convide os eleitores da capital, pessoas daGovernança, e Povo dela para assistirem à solenidade deste ato.

§ 29 No dia aprazado, reunida a Câmara da capital comassistência de seu respectivo Presidente nos Paços do Conselho,ou no lugar que mais convier, pelas oito horas da manhã, e comtoda a publicidade, abrirá o Presidente os ofícios recebidos, rela-livamente à eleição dos Senadores; e fazendo conhecer aos cir-cunstantes que eles estavam intactos, mandará contar, e escreverria ata o número das autênticas remetidas.

§ 39 E principiando o Presidente pela eleição dos Senado-res, apurando-as com os Vereadores e Procurador do Conselhopelo método estabelecido no capítulo 3?, § 29, o Escrivão da Câ-mara publicará sem demora ou interrupção alguma os nomesdas pessoas e número de votos que obtiveram para Senadores daAssembleia Nacional por aquela Província, formando-se, destaeleição uma ata geral desde o número máximo até o mínimo, a

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qual será finalmente assinada pela mesma Câmara e eleitoresque presentes se acharem.

§ 49 Esta nomeação será regulada pela pluralidade rela-tiva. Serão apurados para Senadores os que tiverem a maioria devotos, contando-se seguidamente desde o número máximo atécompletar o triplo dos Senadores que a Província deve dar, for-mando-se uma relação especial dos nomes dos eleitos, com de-claração do número dos votos e as mais cláusulas recomendadasno capítulo 5?, § 69

§ 5*? Esta lista assim apurada (subscrita pelo Escrivão eassinada pela Câmara) será remetida com ofício da mesma Câ-mara à Imperial Presença com toda a brevidade e segurança pe-la Secretaria de Estado dos Negócios do Império, para que SuaMajestade Imperial escolha da totalidade da lista tríplice o nú-mero de Senadores que pertencem àquela Província; cujo resul-tado será participado à Câmara pela mesma Secretaria de Estadopara sua inteligência, e porem-se no livro das atas as verbas ne-cessárias. Uma certidão autêntica da ata geral desta eleição acom-panhará a referida lista apurada.

§ 6? No dia imediato da apuração dos Senadores, reunidada mesma sorte a Câmara no lugar indicado, e com a mesma pu-blicidade, abrindo o Presidente os ofícios relativos à eleição dosDeputados da Assembleia Nacional, procederá, como está deter-minado nos §§ 2? e 3<? deste capítulo.

§ 7? A pluralidade relativa regulará igualmente esta elei-ção, de maneira que serão declarados Deputados da AssembleiaNacional os que tiverem a maioria de votos seguidamente até onúmero dos que devem representar por sua respectiva Província:de que se fará termo especial, do qual se extrairão cópias autên-ticas pelo Escrivão da Câmara, para ser uma remetida à Secre-taria de Estado dos Negócios do Império, e outra para servir dediploma ao Deputado nomeado, acompanhando-o de um ofícioda Câmara para identidade da pessoa que o apresenta, sem oque não será admitido a esse exercício.

§ 8? Para suplentes dos Deputados nomeados ficam desig-nadas, por agora, as pessoas que a estes se seguirem em númerode votos, constantes da ata geral, precedendo-se entre si pelomaior número que cada um deles tiver; de maneira que, achan-do-se algum dos Deputados legitimamente impedido por ausên-cia, moléstia prolongada, ou por ter sido nomeado Senador, aCâmara da capital expedirá ao suplente um diploma igual aosque se passaram aos Deputados; acompanhando-o de um ofício,

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em que declare que vai tomar na Assembleia lugar como subs-tituto, ou por falta absoluta ou durante o impedimento temporá-rio; seguindo-se este método quando forem mais de um os legiti-mamente impedidos.

§ 9? Apuradas as relações pelo modo determinado, e pu-blicadas as eleições pelo Presidente, serão imediatamente osDeputados que presentes estiverem e que facilmente se pude-rem chamar, acompanhados pela Câmara, eleitores, pessoas daGovernança e povo, conduzidos à Igreja principal, onde se can-tará solene Te Deum à expensas da mesma Câmara, com o quefica terminado este solene ato.

§ 10. No dia imediato voltará a Câmara ao mesmo lugarpara se apurar a eleição dos Membros dos Conselhos Gerais deProvíncia; e abertos os ofícios que lhes são relativos, proceder-se-á em tudo o mais como está deliberado nos §§ 8<? e 99 destecapítulo; e com a remessa dos diplomas aos eleitos se haverápor concluída esta ação.

CAPÍTULO IXProvidências Gerais

§ 19 Se a apuração de cada uma das eleições se não puderultimar no mesmo dia até sol posto, o Presidente mandará reco-lher as relações e listas em um cofre de duas chaves, de que teráo Presidente uma, e o Secretário outra, o qual fará arrecadar emlugar seguro, para no dia seguinte ser aberto em mesa plena, ese prosseguir na apuração dos votos.

§ 29 Os Deputados da Assembleia Nacional receberão peloTesouro Público de sua Província seis mil cruzados, na forma doart. 39 da Constituição, e Decreto de 11 de fevereiro do ano pró-ximo passado; e no caso que haja alguma Província, que não pos-sa de presente com essa despesa, será ela paga pelo cofre geraldo Tesouro do Brasil, ficando debitada a Província auxiliada,para pagá-la quando, melhoradas suas rendas, o puder fazer.

§ 3*? Os Governos Provinciais proverão aos transportes dosDeputados de suas respectivas Províncias, bem como ao pontualpagamento de suas mesadas, remetendo-as ao Tesouro Público.

§ 49 O subsídio dos Senadores será de tanto, e mais meta-de do dos Deputados, na forma do art. 51 da Constituição, tendoa opção, concedida no Decreto de 11 de fevereiro do ano próximopassado.

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§ 5? Os cidadãos brasileiros em qualquer parte que exis-tam, são elegíveis em cada distrito eleitoral para Deputados ouSenadores, ainda quando não sejam nascidos ou domiciliados na-quela Província. (Art. 96 da Constituição.)

§ 6<? Quando qualquer for nomeado por duas ou mais Pro-víncias conjuntamente, preferirá a da sua naturalidade; na faltadesta, a da residência, e na falta de ambas, prevalecerá aquelaem que tiver mais votos relativamente ao colégio que o elegeu.

§ 7? Nenhum eleitor poderá nomear para Deputado, ouSenador seus ascendentes, ou descendentes, irmãos, tios e pri-mos irmãos, sob pena de perder o voto ativo e passivo.

§ 8? No caso de empate nas apurações dos últimos votos,decidirá a sorte.

§ 9? Se qualquer dos colégios eleitorais for negligente naremessa das suas autênticas, calculada esta demora pelas distân-cias e tempo competente para sua reunião, a Câmara da capitaloficiará à da cabeça do distrito, para que proponha os meios deacelerar esta importante diligência, fazendo-lhe patente os gra-ves inconvenientes, que se podem seguir da falta de cumprimentodeste dever.

§ 10. Os Governos Provinciais e Comandantes das Armasrespectivas prestarão o necessário auxílio para que se faciliteesta correspondência de umas com outras Câmaras, e destas como Ministério, a fim de serem seus ofícios remetidos com brevida-de e segurança.

§ 11. Os Deputados poderão ser reeleitos de uma para ou-tra Legislatura; e nenhum cidadão poderá escusar-se de aceitarestas nomeações por esta vez, enquanto a Assembleia Legislativanão organizar a Lei regulamentar que deve servir de regra paraas futuras eleições.

§ 12. Todos os papéis e livros relativos a estas eleiçõesmandará a Câmara da capital emassar com seus competentes ró-tulos, para ficarem em guarda no seu arquivo.

§ 13. O exercício de qualquer emprego, à exceção dos deConselheiro de Estado e de Ministro de Estado, cessa interina-mente, enquanto durarem as funções de Deputado ou Senador.

Paço, em 26 de março de 1824. — João Se ver i a no Maciel daCosta.

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DECRETO N9 157 DE 4 DE MAIO DE 1842

Dá Instruções sobre a maneira de se proceder àsEleições Gerais, e Provinciais.

Tomando em consideração o Relatório do Meu Ministro eSecretário de Estado dos Negócios do Império. Hei por bem quese proceda às Eleições para a presente Legislatura pelas Instru-ções, e mais Ordens em vigor, com as alterações seguintes.

CAPITULO IDo Alistamento dos Cidadãos Ativos, e dos Fogos

Art. l? Em cada Paróquia formar-se-á uma Junta com-posta do Juiz de Paz do Distrito em que estiver a Matriz, comoITcsidente; do Pároco, ou quem suas vezes fizer; c de um Fis-cal, que será o Subdelegado, que residir na Paróquia, ou o ime-diato Suplente deste no seu impedimento. Não havendo, ou nãoresidindo na Paróquia Subdelegado, o Juiz de Paz e o Pároco,nomearão o Fiscal dentre os primeiros seis Suplentes do Juizde Paz. Esta Junta formará duas Listas, contendo uma os Cida-Haps ativos, que podem votar nas Eleições Primárias, e ser vota-dos para Eleitores de Província; e outra os Fogos da Paróquia.

A Lista dos Cidadãos ativos terá ao diante de cada um dosnomes nelas inscritos a nota de — Votante — ou de — Elegível.

Serão notados como votantes todos os Cidadãos ativos, quet rm voto nas Eleições Primárias conforme os Arts. 91 e 92 daConstituição; e como elegível todos os Cidadãos ativos, que po-dem ser votados para Eleitores conforme o Art. 94 da mesmaConstituição.

As deliberações desta Junta serão tomadas à pluralidade devotos.

Art. 2? Na Lista dos Cidadãos ativos de uma Paróquia nãoserá compreendido o que nela não tiver um mês de residência,pulo menos, antes da primeira reunião da Junta.

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Os que nela se tiverem estabelecido há menos de mês irãovotar na em que anteriormente residiam.

Art. 3? Também não serão compreendidos na Lista dos Ci-dadãos ativos para Eleitores os pronunciados em queixa, denún-cia, ou sumário; estando a pronúncia competentemente susten-tada.

Art. 4? A Lista dos Cidadãos ativos será formada porQuarteirões, e por ordem alfabética, devendo conter tantos Ca-pítulos, quantos forem os Quarteirões da Paróquia; e os nomesdos Cidadãos nela contidos serão numerados sucessivamenteconforme a ordem natural, e sucessiva da numeração, de ma-neira que o último número mostre a totalidade dos Cidadãosativos dela.

A Lista dos Fogos será pela mesma maneira organizadapor Quarteirões, declarando-se em frente de cada um Fogo onome da pessoa, ou chefe de família, que o habite, sendo osFogos igualmente numerados conforme a ordem natural, e su-cessiva da numeração, de sorte que o último número dos Fogosindique a totalidade deles.

Art. 5? Para a formação destas Listas os Párocos, Juizesde Paz, Inspetores de Quarteirão, Coletores ou Administradoresde Rendas, Delegados, Subdelegados, e quaisquer outros Em-pregados Públicos, devem ministrar à Junta todos os esclareci-mentos, que lhes forem pedidos, procedendo, para os satisfa-zerem, até as diligências especiais, se forem precisas.

Art. 6^ Por Fogo entende-se a casa, ou parte dela, emque habita independentemente uma pessoa ou família; de ma-neira que um mesmo edifício pode ter dois, ou mais Fogos.

Art. 7? No primeiro domingo que se seguir pelo menostrês dias ao recebimento deste Decreto, reunir-se-á a Junta; eno Domingo, em que se completarem quinze dias depois da suareunião, serão afixadas as referidas duas Listas na porta daIgreja Matriz, antes da Missa Conventual; e até quinze dias de-pois serão recebidas e decididas pela Junta as reclamações e re-presentações, tanto sobre a ilegal inclusão, exclusão e classifi-cação dos Cidadãos ativos, como sobre o indevido aumento oudiminuição de Fogos.

Art. 8? Todas as alterações que a Junta, em virtude dasreclamações de que trata o Artigo antecedente, fazer nas Listasque tiver afixado, deverão ser publicadas pelo mesmo modo,como aditamentos ou declarações das mesmas Listas.

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Art. 9? Organizadas assim definitivamente as Listas, se ex-trairão delas duas cópias, das quais, depois de verificadas eassinadas pela Junta, será enviada uma ao Juiz de Paz que hou-ver de presidir à Assembleia Paroquial; e outra no Municípioda Corte ao Ministro e Secretário de Estado dos Negócios doImpério, e nas Províncias aos respectivos Presidentes; e com istose haverá por satisfeita toda a incumbência da Junta, e ela pordissolvida.

Art. 10. Quando acontecer que entre o domingo, em quefindarem os primeiros quinze dias da reunião da Junta, na for-ma do Art. 7"-*, e o dia marcado para a Eleição, não decorra umprazo de vinte e três dias completos, a Junta em todo o caso seentenderá de fato dissolvida oito dias antes do da Eleição.

Art. 11. O Fiscal deve, e os interessados podem, repre-sentar ao Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Im-pério na Corte, e aos Presidentes nas Províncias, contra os abu-sos e ilegalidades cometidas na formação das Listas e suas alte-rações a fim de que se faça efetiva a responsabilidade dos quea tiverem.

CAPITULO IIDa Formação da Mesa Paroquial e Entrega das Cédulas

Art. 12. No dia marcado para a reunião da AssembleiaParoquial, o Juiz de Paz do Distrito em que estiver a Matriz,com o seu Escrivão, o Pároco ou quem suas vezes fizer, se diri-girão à Igreja Matriz, de cujo corpo e Capela Mor se farão duasdivisões, uma para os votantes, e outra para a Mesa.

Só nas Paróquias em que não houver Matriz fica permitidoreunir-se em outro edifício que antecipadamente designarão,mandando nela fazer-se a divisão indicada.

Art. 13. Terminada a cerimónia Religiosa, e feita a lei-tura de que trata o § 2? da Capítulo 2(.} das Instruções de 26 demarço de 1824, anunciará o Juiz de Paz que vai proceder-se ànomeação da Mesa. Imediatamente o Pároco lerá pela cópia daLista afixada os números e nomes dos Cidadãos notados comoelegíveis, e o Escrivão do Juiz de Paz irá lançando em uma urnaum bilhete com o mesmo número que for lido. Estes bilhetesdeverão estar feitos, e numerados com antecipação.

Art. 14. Concluída pelo Pároco a leitura da Lista, e reco-lhidos na urna os bilhetes com os números correspondentes aosdos nomes dos Cidadãos elegíveis, mandará o Juiz de Paz ex-

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trair dela, por um menor, dezesseis bilhetes; e os Cidadãos queos números designarem, estando presentes, ou outros igualmen-te sorteados na falta deles, formarão a Comissão que tem de no-mear, primeiramente, dois Secretários, e depois dois Escrutado-res, os quais terão de compor a Mesa com o Juiz de Paz e o Pá-roco.

Ar t. 15. Os Cidadãos designados pela sorte na forma doArtigo antecedente tomarão logo assento na divisão da Mesa;e sob a presidência do Juiz de Paz, servindo de Escrutador oPároco, e de Secretário o Escrivão do Juiz de Paz, procederão porescrutínio secreto, e à pluralidade de votos, à eleição dos doisSecretários e dos dois Kscrutadores, dentre os Cidadãos presen-tes ou que possam comparecer dentro de uma hora.

No impedimento de qualquer Membro da Mesa, que não sejao Juiz de Paz ou o Pároco, os quais têm substitutos designadospor Lei, a me.srna Mesa nomeará quem substitua ao impedido.

Art. 16. Feita a eleição da Mesa, o Escrivão do Juiz dePaz lavrará Ata no Livro próprio, em que relate fielmente to-do o .sucedido e se declare quais os Cidadãos nomeados Secre-tários e quais os Escrutinadores, e com quantos votos. Esta Ata,depois de aprovada, será assinada por todos, ficando assim defato dissolvida a Comissão e constituída a Mesa Paroquial, à qualcomplete:

§ l'.* Reconhecer a identidade dos votantes.§ 2<? Receber as Cédulas, numerá-las e apurá-las.§ 31? Requisitar à Autoridade competente as medidas ne-

cessárias para manter-se a ordem na Assembleia, e fazer obser-var este Decreto.

Art. 17. Imediatamente depois de constituída a Mesa Pa-roquial, o Juiz de Paz, fazendo a chamada pela Lista dos votan-tes, convidará os Cidadãos ativos do Quarteirão mais distanteda Matriz para irem à Mesa, cada um por sua vez, à medidaque for chamado, entregar suas Cédulas, obsrevando-se depois omesmo com cada um dos Quareirões da Paróquia, preferindo osmais distantes aos mais próximos, e não podendo entrar na di-visão em que estiver a Mesa, os Cidadãos de um Quarteirão, se-não depois que tiverem, saído os que anteriormente tiverem en-trado, e forem chamados pelo Juiz de Paz.

Art. 18. Nenhum Cidadão poderá votar nas AssembleiasParoquiais se não tiver sido incluído na Lista dos Cidadãos ati-

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vos de que trata o Artigo l? deste Regulamento, ou seja, romovotante ou como elegível; e nenhum Cidadão poderá ser Eleitorse não tiver sido notado na mesma Lista como elegível.

Art. 19. Os Cidadãos ativos que não estiverem presentesquando o seu Quarteirão votar, só serão admitidos a fazê-loquando, depois de terem votado todos os Quarteirões, se fizernova chamada dos mesmos; a qual se repetirá enquanto houverpresentes Cidadãos votantes, que ainda não tenham dado seusvotos.

Art. 20. Se a ordem prescrita nos Artigos antecedentesfor transtornada, entrando, sem serem chamados pelo Presiden-te, na divisão da Mesa maior número de Cidadãos, deverá estepor si ou por votação da Mesa (a que sempre se procederá nestecaso a requerimento de qualquer de seus Membros) ordenar quese retirem todos os presentes; e no caso de não ser obedecido,poderá suspender o trabalho, até que se restabeleça a ordem;e fará proceder contra os desobedientes.

Art. 21. À proporção que cada votante for entregando asua Cédula, um dos Secretários designados pelo Presidente anumerará, rubricará e recolherá na urna.

Art. 22. Quando as Cédulas não forem entregues na formaprescrita neste Decreto, e se não puderem extremar as que ti-verem sido recebidas regularmente, proceder-se-á a novo rece-bimento de Cédula, se a Mesa assim o resolver, depois de quei-madas as primeiras.

Art. 23. Findo o recebimento das Cédulas, e indo-se pro-ceder na apuração, serão convidados e admitidos na divisão daMesa os Cidadãos presentes, para que assistam, querendo, à suaapuração, e mais atos da Mesa, até que seja dissolvida.

Art. 24. As Cédulas constarão de tantos nomes, quantosEleitores se devem nomear.

Se constarem de menor número de nomes, serão, não obs-tante, apuradas: se contiverem maior número, serão despreza-dos os nomes excedentes no fim.

Aquelas que contiverem nomes de pessoas não elegíveis, te-rão vigor somente a respeito das pessoas devidamente nomea-das.

Art. 25. Não é permitido ao Eleitor o mandar por outrema sua Cédula, mas a deve pessoalmente apresentar.

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CAPITULO III

Disposições Diversas

Art. 26. Principiada a apuração de qualquer Eleição, nãoserá recebida mais Cédula a lguma.

Art. 27. Quando as Eleições se não puderem fazer no diamarcado, deverão verificar-.se no primeiro dia que se seguir aoem que tiver cessado o impedimento.

Art. 28. Havendo denúncia de suborno em qualquer Elei-Ção, será remetida com todos os documentos e provas que seapresentarem, à Autoridade competente, a fim de proceder .con-forme o Direito.

Art. 29. As Cédulas dos votantes nas Eleições Primárias,como as dos Eleitores nas Secundárias, serão emassadas e lacra-das, e remetidas pelas Mesas para os Arquivos das Câmaras Mu-nicipais onde se conservarão ate a fu tu ra Legislatura, e entãoserão queimadas.

Fica salvo a qualquer Cidadão interessado o direito de re-querer pela Autoridade Judiciária competente um exame nelasà sua custa. Este exame será feito em presença do Presidenteda Câmara, Secretário e dos Vereadores que se puderem reunir;e, concluído ele, serão judicialmente emassadas e lacradas de no-vo as Cédulas, e entregues ao Arquivo da Câmara.

Art. 30. Os Livros que as Câmaras Municipais devem for-necer na forma do § 5<? do Capítulo 3?, § 9?, do Capítulo 5.°, e§ 6? do Capítulo 61? das Instruções de 26 de março de 1824,serão numerados e rubricados, abertos e encerrados pelo Presi-dente da Câmara, ou por qualquer Vereador por ele designado.

Art. 31. Não é permitido chamar Suplente, senão parasubstituir Eleitor que tenha falecido ou mudado seu domicíliopara fora da Província. Em todos os outros casos se entenderáque o Eleitor dará seu voto no Colégio que lhe seja mais có-modo.

Art. 32. As Mesas dos Colégios, se se apresentarem Elei-tores de outros Distritos, farão no fim das Atas da Eleição de-claração especial deles e dos Colégios a que cada um pertenci";como também declararão quais os do seu Distrito, que aí nãovotaram, e quais os Suplentes chamados, e por morte e mudançade domicílio de quais Eleitores.

Art. 33. Além das duas cópias de que tratam o § 9? doCapítulo 5?, e o § 6? do Capítulo 6? das Instruções de 26 de

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março de 1824, se extrairá na mesma ocasião mais iun ; i I r m - i r a ,que será enviada ao Presidente da Província.

Art. 34. Com as Ordens que acompanharem este Decrelupara _as presentes Eleições, irá também a que marcar o dia daEleiça» em cada Província; de maneira que a Junta de Paróquiaforme as Listas do Art. l*-', enquanto se publica, e chega ao co-nhecimento de todos os Paroquianos o dia da Eleição.

A Eleição Primária não poderá ter lugar na mais remotaParóquia, senão cinco semanas, pelo menos, depois que a elaschegarem as ordens.

Cândido José de Araújo Vianna, do Meu Conselho, Minis-tro e Secretário de Estado dos Negócios do Império, o tenhaassim entendido e faça executar com os despachos necessários.Palácio do Rio de Janeiro, em quatro de maio de mil oitocentose quarenta e dois, vigésimo primeiro da Independência e do Im-pério.

Com a Rubrica de Sua Majestade o Imperador.

Cândido José de Araújo Vianna

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LEI N? 387 — DE 19 DE AGOSTO DE 1846

Regula a maneira de proceder às Eleições de Sena-dores, Deputados, Membros das Assembleias Provinciais,Juizes de Paz e Câmaras Municipais.

Dom Pedro por Graça de Deus, e Unânime Aclamação dosPovos, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil:Fazemos saber a todos os nossos Súditos, que a Assembleia GeralDecretou, e Nós Queremos a Lei seguinte.

LEI REGULAMENTAR DAS ELEIÇÕES DO IMPÉRIO DO BRASIL

TITULO IDa qualificação dos votantes

CAPITULO IDa formação das Juntas de Qualificação

Art. 1° Na terceira dominga do mês de janeiro do ano queprimeiro se seguir à promulgação desta Lei, far-se-á em cadaParóquia uma Junta de Qualificação, para formar a lista geraldos Cidadãos que tenham direito de votar na eleição de Eleitores,Juizes de Paz e Vereadores das Câmaras Municipais.

Art. 29 O Presidente da Junta será o Juiz de Paz mais vo-tado do distrito da Matriz, esteja ou não em exercício, estejaembora suspenso por ato do Governo ou por pronúncia em crimede responsabilidade. Na sua ausência, falta ou impossibilidadefísica ou moral, fará as hSuas vezes o imediato em votos.

Art. 39 O Juiz de Paz de que trata o Artigo antecedente,será sempre o eleito na última eleição geral de Juizes de Paz,embora se tenha procedido a outra eleição posterior em virtudede nova divisão ou incorporação de distritos. Nas Paróquias cria-

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das depois da eleição geral servirá de, Presidente da J u n t a oJuiz de Paz eleito em virtude da criação da Paróquia.

Art. 49 Um mês antes do dia marcado para a formnçan < l aJunta, o Presidente convocará nominalmente, por Editais af ixadosnos lugares públicos, e publicados pela imprensa, onde, a houver,e por notificação feita por Oficial de Justiça, ou por Ofício, osEleitores da Paróquia, e igual número de Suplentes, para quese reunam no dia designado, sob sua presidência, no Consistório,e se este não for bastante espaçoso, no corpo da Igreja Matriz,ou em outro edifício por ele designado, se não puder ser naMatriz, a fim de organizar-se a Junta de Qualificação.

Art. 59 Os Eleitores convocados serão unicamente os pri-meiros votados da eleição até o número de Eleitores que tiverdado a Paróquia, então quaisquer Suplentes, embora estejammudados, mortos ou impedidos alguns Eleitores: assim como osSuplentes convocados serão unicamente os primeiros imediatosem votos aos nomeados Eleitores, não se chamando Suplentesmenos votados em lugar de alguns dos mais votados, que estejammudados, mortos ou impedidos.

Art. 69 Nas Paróquias criadas depois da última eleição deEleitores, deverá o Presidente da Junta convocar, em lugar deEleitores, e Suplentes, os oito Cidadãos que lhes ficarem imedia-tos em votos; os quatro primeiros para representarem a turmados Eleitores, e os outros quatro a turma dos Suplentes.

Art. 79 O Governo na Corte, e os Presidentes nas Provín-cias expedirão em tempo as precisas ordens às Câmaras Munici-pais, e estas, até o último de novembro impreterivelmente, aosque têm de presidir às Juntas de Qualificação do seu Município,remetendo-lhes cópia outêntica das Atas da eleição dos Eleitorese da do Juiz de Paz do distrito da Matriz, bem como declaraçãodo número de Eleitores que deu a Paróquia no ano de 1842,

Art. 89 No dia aprazado, às nove horas da manhã, reuni-dos os Eleitores e Suplentes, o Presidente tomará assento no topoda mesa, tendo à sua esquerda o Escrivão de Paz, e os Eleitores eSuplentes em torno da Mesa. O Presidente, depois de feita a lei-tura do presente Capítulo, anunciará que vai proceder à formaçãoda Junta de Qualificação. Imediatamente fará a chamada dosEleitores convocados, e o Escrivão irá lançando em uma lista osnomes dos presentes, com declaração dos votos de cada um, epela ordem da votação que obtiveram para Eleitores. Concluídaachamada, o Presidente lerá a lista e publicará o número total dosEleitores presentes,, passando a dividi-los em duas turmas iguais;

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a primeira dos mais votados, e a segunda dos menos votados; eescolherá dois Eleitores, um que será o último da l* turma, eoutro que será o primeiro da 2^ turma. Se o número dos Eleitorespresentes for ímpar, não será contado o Eleitor mais votado, paraque o número fique par.

Art. 9? Se a lista dos Eleitores presentes contiver três no-mes, escolherá o Presidente o 2? e 3*?; se contiver dois, serão estesos designados; e se contiver somente um, chamará este a um Ci-dadão de sua confiança, que tenha as qualidades de Eleitor, eambos farão parte da Junta de Qualif-cação.

Art. 10. Se não comparecer nenhum Eleitor, o Presidenteconvidará o seu imediato em votos na ordem da votação paraJuiz de Paz; e se este não comparecer até o dia seguinte pelas9 horas da manhã, será convidado o imediato, e assim por diante.O Cidadão assim convidado nomeará uma pessoa de sua confiança,que tenha as qualidades de Eleitor, e ambos serão Membros daJunta de Qualificação.

Art. 11. Designados por este modo dois Membros da Junta,passará o Presidente a designar os outros dois dentre os Suplen-tes presentes, fazendo-se a lista deles, e procedendo-se a tal res-peito como está disposto nos Arts. 8? e 9?

Art. 12. Se não comparecer nenhum Suplente, convidará oPresidente o 5? votado na eleição de Juiz de Paz do distrito, ese este não comparecer até o dia seguinte pelas 9 horas da manhã,convidará o 6?, e assim por diante. O Cidadão convidado nomearáuma pessoa de sua confiança, que tenha as qualidades de Eleitor, eambos serão Membros da Junta de Qualificação.

Art. 13. As disposições anteriores, relativas à designaçãodos Membros da Junta de Qualificação, são aplicáveis às turmasmandadas convocar no Art. 69, nas Paróquias criadas depois daúltima eleição de Eleitores.

Art. 14. Os quatro Cidadãos assim designados comporão,com o Presidente, a Junta de Qualificação, e tomarão imediata-mente assento de um e outro lado da mesa. A Junta imporá amulta do art. 126 aos Eleitores, Suplentes e mais Cidadãos que,sendo convocados, deixarem de comparecer sem motivo justifi-cado.

Art. 15. O Presidente da Junta mandará lavrar pelo seuEscrivão uma Ata circunstanciada da formação dela, mencionan-do os nomes dos Eleitores, Suplentes e mais pessoas convidadasque deixarem de comparecer, e as multas que lhes forem impos-

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tas, os nomes das pessoas que os substituírem, e consignando puiextenso, e pela ordem em que forem escritas, as listas dos Klcitores e Suplentes que comparecerem para a organização da Junl;iA Ata será lavrada em livro especial da qualificação e assinadapelo Presidente e Membros da Junta, e por todos os Eleitores eSuplentes que tiverem sido presentes.

CAPÍTULO HDo Processo da Qualificação

Art. 16. Lida a Ata da formação da Junta, o Presidente,feita a leitura do presente Capítulo, anunciará que se vai pro-ceder imediatamente à organização da lista gera] dos volantes.

Art. 17. Serão compreendidos na lista geral dos votantes(Art. 91 da Constituição): l? os Cidadãos Brasileiros que estive-rem no gozo de seus Direitos Políticos: 2"? os Estrangeiros natu-ralizados, contanto que uns e outros tenham pelo menos ummês de residência na Paróquia antes do dia da formação da Jun-ta: os que aí residirem menos tempo serão qualificados na Pa-róquia em que dantes residiam. Os Cidadãos que de novo chega-rem à Paróquia vindos de fora do Império, ou de outra Província,qualquer que seja o tempo que tenham de residência na épocada formação da Junta, serão incluídos na lista se mostraremânimo de aí permanecer.

Art. 18. Não serão incluídos na lista geral (Artigo 92 daConstituiçãoJ:

l*? Os menores de 25 anos, nos quais se não compreendemos casados e os Oficiais Militares que forem maiores de 21 anos;os Bacharéis formados e os Clérigos de Ordens Sacras.

2? Os filhos famílias que estiverem em companhia de seuspais, salvo se servirem Ofícios Públicos.

3*? Os criados de servir, em cuja classe não entram os Guar-da-livros e primeiros Caixeiros das casas de comércio; os cria-dos da Casa Imperial que não forem de galão branco; e os Admi-nistradores das Fazendas rurais e Fábricas.

W Os Religiosos, e quaisquer que vivam em Comunidadecl austral.

51? Os que não tiverem de renda líquida anual, avaliadaem prata, a quantia de 100$000 por bens de raiz, indústria, co-mércio, ou Emprego.

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6*? As praças de pré do Exército e Armada, e da ForçaPolicial paga, e os Marinheiros dos Navios de Guerra.

Art. 19. A lista geral será feita por distritos, por quartei-rões, e por ordem alfabética em cada quarteirão, e os nomes dosvotantes numerados sucessivamente pela ordem natural da nume-ração, de sorte que o último número mostre a totalidade dos vo-tantes. Em frente do nome de cada votante se mencionará a suaidade, ao menos provável, profissão e estado. Para este fim osJuizes de Paz em exercício nos distritos da Paróquia, enviarãoao Presidente da Junta, até o último de Dezembro, a lista parcialdo seu respectivo distrito, do mesmo modo organizada.

Art. 20. A Junta celebrará as suas Sessões em dias suces-sivos, principiando às 9 horas da manha, e terminando ao Solposto, devendo concluir o seu trabalho no espaço de 20 dias aomais tardar. Os Párocos e Juizes de Paz assistirão aos trabalhosda Junta como informantes; mas a falta de uns e outros não inter-romperá as Sessões.

Art. 21. Feito o alistamento, será lançado em o livro daqualificação, em a competente Ata assinada pela Junta, e dele seextrairão três cópias, pela mesma assinadas, das quais uma seráremetida, na Corte ao Ministro do Império, e nas Províncias aosPresidentes, uma afixada no interior da igreja Matriz, em lugarconveniente e à vista de todos, e outra que ficará em poder doPresidente. Do mesmo livro se extrairão cópias parciais do alista-mento de cada um dos distritos, assinadas pela Junta, para seremremetidas aos respectivos Juizes de Paz em exercício, a fim deque as façam publicar por Editais. O que concluído, interrom-per-se-ão por trinta dias as Sessões da Junta, ficando porém oPresidente obrigado, durante esse tempo, a inspecionar, se é con-servada a lista afixada, e no caso de desaparecer, a substituí-la,mandando tirar nova cópia do livro que deve estar sob sua guarda

Art. 22. Passado o intervalo de trinta dias depois de afi-xada a lista na Matriz, a Junta celebrará Sessão em cinco diasconsecutivos, para decidir sobre quaisquer queixas, reclamaçõesou denúncias que qualquer Cidadão pode fazer acerca das faltasou ilegalidades com que tenha procedido a Junta; ou seja, emrelação ao queixoso, reclamante ou denunciante, ou em relaçãoa qualquer outro.

Art. 23. As queixas, reclamações ou denúncias só serão ad-mitidas vindo assinadas; e quando forem acompanhadas de do-cumentos justificativos que serão isentos do selo, o Presidentepassará recibo deles. As decisões da Junta serão motivadas e lan-çadas nos requerimentos que serão restituídos às partes.

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Art. 24. As alterações que se fizerem em vi r lmlc das qunxás, reclamações ou denúncias, serão igualmente lançadus cm ulivro da qualificação, em a respectiva Ata, e dele só tirarão ;iscópias determinadas no Artigo 21. Quando as cópias da lista ^cralabrangerem maior espaço, que o de uma folha, será cada folhaassinada por todo a Junta.

Art. 25. Todos os anos, na 3^ dominga de janeiro, seformará a Junta Qualificadora para rever a qualificação do anoantecedente, observando-se todas as disposições do presente Capí-tulo e do l1?, não só a respeito da formação da Junta, como doprocesso da revisão.

Art. 26. A revisão terá unicamente por fim; 19 eliminaros Cidadãos que houverem falecido, estiverem mudados ou tive-rem perdido as qualidades de votantes: 2<? incluir os que se tive-rem mudado para a Paróquia ou adquirido as qualidades de vo-tantes.

Art. 27. Feita a revisão, incluídos e excluídos os que odeverem ser, far-se-á uma nova lista geral que será igualmentelançada no livro da qualificação, publicada e remetida às diversasAutoridades já mencionadas, praticando-se o mesmo a respeitodas alterações feitas em virtude das queixas, reclamações oudenúncias.

Art. 28. Formada a Junta de Qualificação ficarão suspen-sos, por espaço de sessenta dias, os processos cíveis em que osseus Membros forem autores, ou réus, se o quiserem; assim como,durante o mesmo tempo, não se poderão intentar contra eles no-vos processos crimes, salvo o caso de prisão em flagrante delito.

Art. 29. No impedimento de qualquer dos Membros daJunta, durante os seus trabalhos, a mesma Junta nomeará quemo substitua, contanto que tenha as qualidades de Eleitor, O Pre-sidente será substituído pelo modo estabelecido no Artigo 29

Art. 30. O Presidente da Junta requisitará o Escrivão dePaz ou o do Subdelegado, assim como os Oficiais de Justiça queforem necessários; e no impedimento ou falta destes Emprega-dos, nomeará e jurarnentará pessoas que sirvam para os trabalhosda eleição somente.

Art. 31. Para a formação das listas de qualificação, osPárocos, Juizes de Paz, Delegados, Subdelegados, Inspetores deQuarteirão, Coletores e Administradores de Rendas, e quaisqueroutros Empregados Públicos devem ministrar à Junta os escla-recimentos que lhes forem pedidos, procedendo para os satisfa-zerem até a diligência especiais, se forem precisas.

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Art. 32. No caso de dissolução da Câmara dos Deputadosservirá para a eleição de Eleitores a qualificação ultimamentefeita, não se procedendo a nova qualificação entre a dissoluçãoe a eleição feita em consequência dela.

CAPÍTULO III

Dos recursos da qualificação

Art. 33. Em cada Município haverá um Conselho Municipalde recurso, composto do Juiz Municipal, que será o Presidente,do Presidente da Câmara Municipal e do Eleitor mais votado daParóquia cabeça do Município. No caso de qualquer deles ter feitoparte da Junta Qualificadora de alguma Freguesia, servirá em seulugar o seu substituto legal ou imediato em votos.

Art. 34. Nos Municípios que estiverem reunidos a outros,formando um só Termo Judiciário, e em que não resida o JuizMunicipal, será o Conselho presidido pêlos respectivos Suplentes.Nos Municípios que não tiverem Tribunal de Jurados será o Con-selho composto do Presidente da Câmara Municipal, do seu ime-diato em votos, e do Eleitor mais votado.

Art. 35. Para este Conselho pode qualquer Cidade recor-rer da Junta de Qualificação, tendo precedido reclamação desa-tendida por ela sobre o objeto do recurso, nos seguintes casos:l? inscrição indevida na lista dos votantes: 2? omissão na mes-ma lista: 3? exclusão dos inscritos na qualificação do ano an-terior.

Art. 36. Este Conselho se reunirá na 33 dominga do mêsde abril, em lugar público, anunciado por Editais, e funcionarápor espaço de 15 dias. Suas deliberações serão tomadas pormaioria de votos e sempre motivadas, declarando-se os seus fun-damentos não só na Ata que se deve lançar em livro próprio,mas também nos despachos proferidos nos requerimentos daspartes, a quem serão restituídos. As Atas serão escritas porqualquer dos Membros do Conselho, exceto o Presidente, e o li-vro ficará depositado no Arquivo da Câmara Municipal.

Art. 37. O Conselho remeterá ao Presidente da Junta deQualificação uma relação nominal das pessoas cujos recursos ti-verem sido atendidos: o Presidente da Junta as fará incluir nolivro da qualificação em a lista suplementar, e o remeterá ime-diatamente à Câmara Municipal.

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Art. 38. Das decisões deste Conselho podcr-sc-á rv rn r rc ipara a Relação do Distrito, a qual decidirá p r o n l a i n u i i l c < > in-curso, segundo a fórmula estabelecida nos Artigos 32 c 33 doRegulamento das Relações, com preferência e qualquer ou t roserviço, sem formalidade de Juízo, examinando as reclamaçõesnão atendidas e os documentos, que as acompanharam, s t; m ad-mitir novos, nem alegações. Se a Relação julgar atendível o re-curso, mandará reparar a injustiça, procedendo-se em confor-midade do disposto no Artigo antecedente, e imporá aos Mem-bros do Conselho a multa do Artigo 126 § IV número 3(-> O re-curso será apresentado na Relação, dentro do prazo marcadopara as apelações crimes e não terá efeito suspensivo.

T I T U L O II

Da Eleição dos Eleitores

CAPÍTULO I

Da Organização das Mesas Paroquiais

Art. 39. As nomeações dos Deputados e Senadores paraa Assembleia Geral do Império do Brasil, e dos Membros dasAssembleias Legislativas Provinciais, serão feitas por Eleitoresde Paróquia (Artigo 90 da Constituição e Artigo 4(.' do Ato Adi-cional), fazendo-se em cada Freguesia, uma Assembleia Paro-quial, a qual será igualmente presidida pelo Presidente da Jun-ta de Qualificação.

Art. 40. A eleição de Eleitores em todo o Império será nol*? domingo do mós de novembro do 4? ano de cada Legislatura.Excetua-se o caso de dissolução da Câmara dos Deputados, emque o Governo marcará um dia em que a eleição se fará emtodo o Império.

Art. 41. Um mês antes do dia estabelecido no Artigo an-tecedente, o Presidente da Mesa Paroquial, tendo recebido porintermédio da Câmara Municipal as ordens do Governo para aeleição, convocará, na forma dos Artigos 4?, 5? e 6?, as pessoasaí mencionadas, a fim de proceder-se à organização da MesaParoquial. Pela mesma ocasião convidará os Cidadãos qualifica-dos a fim de darem os seus votos.

Art. 42. No dia aprazado, reunido o Povo pelas 9 horas damanhã, celebrará o Pároco Missa do Espírito Santo e fará, ououtrem por ele, uma Oração análoga ao objeto. Terminada a ce-

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rimônia religiosa, posta no Corpo da Igreja uma mesa, tomaráo Presidente assento à cabeceira desta, ficando à sua esquerda oEscrivão, e de um e outro lado os Eleitores e Suplentes; fazen-do-se porém uma div!são conveniente, de sorte que os indiví-duos chamados para a organização da Mesa, estando sempre aoalcance da inspeção e fiscalização dos Cidadãos presentes, pos-sam preencher regularmente as funções que a Lei lhes incum-be. Todos os mais assistentes terão assento, sem precedência, eestarão sem a Tnas e a portas abertas.

Art. 43. O Presidente fará, em voz alta, e inteligível, a lei-tura deste Título, e do Capítulo I do Título antecedente: ime-diatamente fará a chamada e procederá à designação dos Mem-bros da Mesa Paroquial, observando fielmente todas as disposi-ções dos Artigos 8° até 15 inclusivamente. A Ata da organizaçãoda Mesa será lançada em um livro próprio da eleição de Eleito-res, e diferente do da qualificação.

Art. 44. Concluída a Ata da formação da Mesa, o Presi-dente fará inutilizar a separação que a isolava dos assistentes eretirar de junto dela as cadeiras destinadas aos Eleitores e Su-plentes; e depois de haver assim desembaraçado a Mesa, desorte que os assistentes possam rodear e examinar os seus tra-balhos, encetará a eleição, declarando — Está instalada a Assem-bleia Paroquial.

Art. 45. São aplicáveis aos Membros das Mesas Paro-quiais, enquanto durarem suas funções, as disposições do Ar-tigo 28.

Art. 46. Compete à Mesa Paroquial o seguinte:

§ 1<? O reconhecimento da identidade dos votantes, poden-do ouvir, em caso de dúvida, o testemunho do Juiz de Paz, doPároco ou de Cidadãos em seu conceito abojiados.

§ 2? A apuração dos votos dos votantes e a expedição dosDiplomas aos Eleitores.

§3*? A decisão de quaisquer dúvidas que se suscitem acer-ca do processo eleitoral na parte que lhe é cometida.

§ 4? Coadjuvar o Presidente na manutenção da ordem,na forma desta Lei.

As decisões da Mesa serão tomadas por maioria, votandoem primeiro lugar o Presidente.

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Art. 47, Compete ao Presidente da Mes;i Paroquia l§ l? Regular a polícia da Assembleia Paroquial, ch;mi;m

do à ordern os que dela se desviarem, impondo silêncio aos espectadores, fazendo sair os que se não aquietarem e os que mjuriarem os Membros da Mesa ou a qualquer dos votantes; man-dando fazer neste caso auto de desobediência, e remetendo-o aAutoridade competente. No caso porém de ofensa física contraqualquer dos Mesários ou votantes, poderá o Presidente pren-der o ofensor, remetendo-o ao Juiz competente para o ulteriorprocedimento na forma das Leis.

§ 2? Regular os trabalhos da Mesa, designando um dosSuplentes ou seus substitutos para fazer a leitura das cédulas,debaixo de sua inspeção direta, e imediata; mandando retificarquaisquer enganos que tenham havido; e deferindo às reclama-ções que com o respeito conveniente pode fazer qualquer dosassistentes sobre os trabalhos da Mesa. O Presidente designaráum dos Eleitores Mesários para servir de Secretário desde quese achar a Mesa instalada.

CAPITULO IIDo Recebimento das Cédulas dos Votantes

Art. 48. Instalada a Assembleia Paroquial, se procederáao recebimento das cédulas dos votantes, sendo estes chamadospela ordem em que estiverem seus nomes inscritos no alista-mento, e recolhendo-se as cédulas em uma urna, à proporçãoque se forem recebendo. Finda a chamada pela lista geral sepraticará o mesmo com a suplementar, se existir. Dos que nãoacudirem à 1^ chamada, far-se-á um rol pelo qual se procederáa Uma 2?, e depois a uma 3? Esta terá sempre lugar em outrodia depois da segunda, em hora anunciada pelo Presidente aoencerrar a Sessão do dia antecedente.

Art. 49. Com a terceira chamada termina o prazo do re-cebimento das cédulas; as recebidas serão contadas e emassa-das; e o seu número mencionado na Ata especial em que se de-clare o dia e hora em que a terceira chamada se fez, e os no-mes dos votantes que a ela não acudiram, os quais por esse faloperderão o direito de votar nessa eleição.

Art. 50. Não se receberão votos de quem não esteja incluído na qualificação, nem dos votantes que não comparecerempessoalmente, assim como não serão admitidas as cédulas que

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contiverem nomes riscados, alterados ou substituídos por ou-tros.

Art. 51. Os votantes não serão obrigados a assinar suaíicédulas; e estas devem conter tantos nomes e suas respectivasocupações quantos Eleitores tiver de dar a Paróquia.

Art. 52. Enquanto não for fixado por Lei o número deEleitores de cada Paróquia do Império, na forma do Artigo 107,será ele regulado na razão de 40 votantes por cada Eleitor. Da-rá mais um Eleitor aquela Paróquia que além de um múltiplode 40 contiver uma fração de mais de 20 votantes: nenhumaParóquia porém deixará de dar ao menos um Eleitor, por me-nor que seja o número dos votantes.

Não obstante a regra antecedente, os Eleitores de qualquerParóquia em nenhum caso irão além do número dado por essaParóquia naquela das duas eleições de 1842 e de 1844, em quemenor número houver eleito; acrescentando-se-lhe uma quintaparte mais.

Art. 53. Podem ser Eleitores todos os que podem votarnas Assembleias Paroquiais. Excetuam-se:

§ 19 Os que não tiverem de renda líquida anual, avaliadaem prata, a quantia de duzentos mil réis por bens de raiz, co-mércio, indústria, ou Emprego.

§ 2'.' Os Libertos.§ 39 Os pronunciados em queixa, denúncia ou sumário,

estando a pronúncia competentemente sustentada.

CAPITULO IIIDa Apuração dos Votos

Art. 54. Terminado o recebimento das cédulas e lavradaa Ata ordenada no Artigo 49, dissolvidas pela Mesa as dúvidasque ocorrerem, ordenará o Presidente que um dos Suplentes ouseus Substitutos, em sua presença, leia cada uma das listas re-cebidas, e repartirá as letras do alfabeto pêlos outros três Mem-bros da Mesa, os quais irão escrevendo, cada um em sua relação,os nomes dos votados e o número dos votos por algarismos su-cessivos da numeração natural, de maneira que o último núme-ro de cada nome mostre a totalidade dos votos que este houverobtido, publicando em voz alta os números, à proporção que for

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escrevendo. As cédulas que contiverem menor número ilc nomês do que deve dar a Paróquia para Eleitores serão, n;io ob.stante, apuradas: se contiverem maior número serão desprovidosos nomes excedentes no fim.

Art. 55. Acabada a leitura das listas, o Secretário, pelasrelações indicadas, publicará sem interrupção alguma os nomesde todas as pessoas, e o número de votos que obtiveram paraEleitores da Paróquia, formando das tais relações uma geral,que será lançada na Ata especial da apuração, principiando des-de o número máximo até o mínimo, que será assinada pela Me-sa.

Art. 56. A eleição dos Eleitores será regulada pela plura-lidade relativa de votos. Os que tiverem a maioria deles serãodeclarados Eleitores de Paróquia até aquele número que a Fre-guesia deve dar. Os imediatos depois destes servirão de Suplen-tes. Se recair maioria de votos em um indivíduo que a Mesa jul-gue não estar em circunstâncias de ser Eleitor, expedir-lhe-á,não obstante, o respectivo Diploma, lançando na Ata a declara-ção de todas as dúvidas que ocorrerem sobre a idoneidade dovotado, a fim de que o Colégio Eleitoral decida por ocasião daverificação dos Poderes dos Eleitores.

Art. 57. Publicados os Eleitores, o Secretário lhes faráimediatamente aviso por carta, para que concorram à Igreja, on-de se fizeram as eleições. Entretanto se extrairão cópias autên-ticas da Ata especial da apuração desde o máximo até o menornúmero de votos, as quais serão assinadas pela Mesa, e se daráuma a cada Eleitor, que lhe servirá de Diploma.

Art. 58. Reunidos os Eleitores, se cantará um Te Deumsolene, para o qual fará o Vigário as despesas do Altar, e as Câ-maras todas as outras, ficando a cargo de seus respectivos Pro-curadores aprontarem mesa, assentos, papel, tinta, serventes eo mais que necessário for para se efetuar com toda a dignidadeeste solene ato.

Art. 59. O livro das Atas será remetido ao Presidente daCâmara Municipal com Ofício do Secretário da Mesa Paroquial;e inutilizando-se as listas dos votantes, se haverá a AssembleiaParoquial por dissolvida, sendo nulo qualquer procedimento quede mais praticar.

Art. 60. Quando em alguma Freguesia se não puder veri-ficar a eleição no dia designado, far-se-á logo que esse impedi-mento, em outro dia designado pelo Presidente da Mesa Paro-

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quial, ou por esta, se já tiver sido instalada e anunciado porEditais; não poderão porém os Eleitores votar para Deputados,se a sua eleição se não tiver concluído antes do dia marcado paraa reunião dos Colégios Eleitorais.

Art. 61. As urnas em que se guardarem de um dia paraoutro as cédulas, e mais papéis relativos à eleição, serão, depoisde fechadas e lacradas, recolhidas com o livro das Atas em umcofre de três chaves, das quais terá uma o Presidente, outra umdos Eleitores, e outra um dos Suplentes Membros da Mesa. Ocofre ficará na parte mais ostensiva e central da Igreja ou edi-fício onde se estiver fazendo a eleição; e guardado pelas senti-nelas que a Mesa julgar precisas, não se pondo impedimentoa quaisquer Cidadãos que igualmente o queiram guardar coma sua presença.

T I T U L O m

Da Eleição Secundária

CAPÍTULO lDos Colégios Eleitorais e Eleição dos Deputados

Art. 62. Os Eleitores de Paróquia se reunirão em Colé-gios Eleitorais, quando tiverem de proceder à eleição de Depu-tados e Senadores à Assembleia Geral ou de Membros das Assem-bleias Legislativas Provinciais.

Art. 63. Logo que for publicada esta Lei, os Presidentesdas Províncias procederão a uma nova divisão dos Colégios Elei-torais, conservando, ampliando ou restringindo os Círculos exis-tentes; combinando a comodidade dos Eleitores com a conveniên-cia de não serem muito circunscritos os Círculos. Determinadauma vez a nova divisão, não poderá ela ser alterada senão porLei.

Art. 64. Ficarão suspensos, por espaço de 40 dias, conta-dos da nomeação dos Eleitores, todos os processos em que osmesmos forem autores, ou réus, querendo.

Art. 65. Nenhum Eleitor poderá votar, senão no ColégioEleitoral, em cujo Círculo estiver a Freguesia pela qual for elei-to. Não se chamará Suplente, senão para substituir o Eleitor quetiver falecido ou mudado seu domicílio para fora da Província,

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ou que, por ausente dela, se ache inibido de comparecer no diada eleição.

Art. 66. O Presidente interino do Colégio Eleitoral é oPresidente da Assembleia Paroquial da Freguesia onde se reuniro Colégio, e na falta ou impedimento, o seu imediato em votos.

Art. 67. As Câmaras providenciarão para que sejam pre-sentes aos Colégios Eleitorais os livros das Atas das AssembleiasParoquiais, os quais reverterão com prontidão e segurança, parao seu Arquivo, dissolvido o Colégio.

Art. 68. A eleição dos Deputados à Assembleia Geralfar-se-á em todo o Império trinta dias depois do dia marcadopara a eleição primária, tanto nos casos ordinários como quan-do tiver sido dissolvida a Câmara dos Deputados.

Art. 69. No dia aprazado, reunidos os Eleitores pelas 9horas da manhã, o Presidente interino tomará assento à cabe-ceira da mesa, que deverá ser colocada de modo que possa serrodeada e inspecionada pêlos Eleitores, os quais terão assentoindistintamente. O Presidente, feita a leitura do presente Capí-tulo, chamará para servirem interinamente como Secretários eEscrutadores, os 4 Eleitores que mais moços lhe parecerem, ehavendo reclamação de que existam outros Eleitores mais mo-ços, o Colégio decidirá por meio de votação se devem estes seros chamados, ou outros.

Art. 70. Constituída a Mesa interina, se procederá à no-meação de dois Secretários e dois Escrutadores, em escrutíniosecreto, votando cada Eleitor em 4 nomes. Os dois mais votadosserão os Secretários, e os outros dois Escrutinadores. Os nomea-dos tomarão logo assento na mesa, e imediatamente se passaráa nomear o Presidente, por escrutínio secreto, e por cédulas,dentre os Eleitores; e apurados os votos pêlos Secretários e Es-crutadores, será eleito e publicado o que reunir a pluralidade re-lativa. Tomando o novo Presidente posse, em ato sucessivo, no-meará uma Comissão de 3 Eleitores, à qual entregarão os seusDiplomas os Mesários, tomando estes conta dos Diplomas detodos os outros Eleitores. Lavrada e assinada a Ata especial dainstalação do Colégio, este retirar-se-á.

Art. 71. No dia seguinte, reunido e presidido o Colégio,darão as Comissões conta do que acharam nos Diplomas. Ha-vendo dúvidas sobre eles, ou acerca de qualquer outro objeto,serão resolvidas pelo Presidente, Secretário, Escrutadores e Elei-tores, Quando o Colégio anular o Diploma de um ou mais Elei-

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tores, chamará os Suplentes para os substituírem: tomará todaviaem separado, não só os votos dos Eleitores declarados nulos,como os daqueles que os substituírem, e de tudo se fará naAta minuciosa declaração.

Art. 72. Verificados os Poderes dos Eleitores, dirigir-se-áo Colégio à Igreja principal, onde se celebrará, pela maior Dig-nidade Eclesiástica, Missa solene do Espírito Santo e um dosOradores mais acreditados (que se não poderá isentar) fará umdiscurso análogo às circunstâncias, sendo as despesas feitas naforma do Art. 58; e finda a cerimónia religiosa, voltará o Colégioao lugar do ajuntamento e procederá imediatamente à eleiçãodos Deputados, charnando-se os Eleitores por Freguesias e reco-lhendo-se em uma urna as cédulas que se forem recebendo.

Art. 73. As cédulas devem conter os nomes, moradas eempregos ou ocupações de tantas pessoas quantas são os Depu-tados que a Província deve dar, com assinatura do Eleitor.

Art. 74. A Província do Rio Grande do Sul dará três Depu-tados; Santa Catarina um; S. Paulo nove; Mato Grosso um; Goiásdois; Minas Gerais vinte; Rio de Janeiro dez; Espírito Santo um;Bahia quatorze; Sergipe d'El-Rei dois; Alagoas cinco; Pernam-buco treze; Paraíba cinco; Rio Grande do Norte um; Ceará oito;Piauí dois; Maranhão quatro; Pará três.

Art. 75. Todos os que podem ser Eleitores são hábeis pa-ra serem Deputados. Excetuam-se:

§ 19 Os que não tiverem de renda líquida anual, avaliadaem prata, a quantia de quatrocentos mil réis por bens de raiz,indústria, comércio ou emprego.

§ 2? Os estrangeiros, ainda que naturalizados sejam.

§ 3*? Os que não professarem a Religião do Estado.Art. 76. O Eleitor pode votar, sem limitação alguma, na-

queles que em sua consciência forem dignos, e julgar que têmas habilitações precisas, competindo exclusivamente a quem ve-rificar os Poderes dos eleitos examinar se têm eles as condiçõesde idoneidade exigidas pela Constituição.

Art. 77. Entregues que sejam todas as listas, mandará oPresidente, por um dos Secretários, contar, publicar e escreverna Ata o número delas; designará um dos Escrutinadores paraas ler, debaixo de sua inspeção imediata, e direta, advertindo

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qualquer engano, e exigindo que seja reparado, ou por si mesmoou a requerimento de qualquer Eleitor; e se procederá à apura-ção dos votos pelo método estabelecido no Art. 54.

Art. 78. Terminada a leitura das listas, um dos Secretá-rios, pelas relações indicadas, publicará sem interrupção os no-mes de todas as pessoas que obtiveram votos para Deputados,formando um lista geral pela ordem dos números, desde o má-ximo até o mínimo, que será o objeto da Ata, com todas as maiscircunstâncias que a acompanham, a qual será assinada pelaMesa e Colégio Eleitoral, em cuja presença se queimarão as re-feridas listas, dando-se o Colégio por dissolvido.

Art. 79. Um dos Secretários, em ato sucessivo ao da elei-ção, extrairá três cópias autênticas da Ata, que serão assinadaspor todos os Membros da Mesa do Colégio, conferidas e conser-tadas pelo Secretário da Câmara, e na fala por um Tabelião deNota;: será a primeira remetida à Câmara da Capital, a segundaao Presidente da Província, e a terceira ao Ministro do Império.Estas Atas serão entregues, dentro dos respectivos Ofícios, emqualquer Agência do Correio, quatro dias depois do encerramen-to do Colégio, e a Mesa cobrará recibo, salvo se preferir fazê-laschegar particularmente ao seu destino, em um prazo que nãoexceda a tantos dias quantas vezes se contiverem quatro léguasna distância do lugar da reunião do Colégio à Capital. O livrodas Atas será restituído ao Arquivo da Câmara Municipal.

CAPITULO H

Da Eleição de Senadores e Membros das AssembleiasLegislativas Provinciais

Art. 80. Tendo-se de nomear algum Senador, por morteou aumento de número, se procederá a nova eleição de Eleito-res de Paróquia, em dia designado pelo Presidente da respecti-va Província, o qual também marcará o dia em que se hão dereunir os Colégios Eleitorais, compostos dos Eleitores então no-meados.

Art. 81. Cada Eleitor votará para Senador por uma listade três nomes, declarando a idade, emprego ou ocupação de ca-da um dos votados. Se tiverem de eleger-se dois Senadores, vo-tará cada Eleitor em seis nomes, e assim por diante.

Art. 82. Para ser Senador requer-se:

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§ l? Que seja Cidadão Brasileiro, e que esteja no gozo deseus direitos políticos.

§ 2? Que tenha a idade de quarenta anos para cima.§ 3*? Que seja pessoa de saber, capacidade e virtudes, com

preferência os que tiverem feito serviços à Pátria.§ 4? Que tenha de rendimento anual, por bens, indústria,

comércio ou emprego, a quantia líquida de oitocentos mil réis,avaliada em prata.

Art. 83. A idade de vinte e cinco anos, probidade, e decen-te subsistência, são as qualidades necessárias para ser Membrodas Assembleias Legislativas Provinciais. Excetuando-se da ragrarelativa à idade os casados, e os Oficiais Militares, que poderãoser eleitos quando forem maiores de vinte e um anos; os Bacha-réis formados, e os Clérigos de Ordens Sacras. Não podem ser elei-tos Membros da Assembleia Provincial, o Presidente da Provín-cia, o seu Secretário e o Comandante das Armas.

Art. 84. Os Senadores e Membros das Assembleias Pro-vinciais serão eleitos pelo método estabelecido no Capítulo ante-cedente, observando-se fielmente todas as disposições aí contidas,a respeito da instalação, dos Colégios, cerimónia religiosa, rece-bimento e apuração dos votos, expedição das Autênticas, etc.Na eleição da Assembleia Provincial deve ser remetida à mesmaAssembleia, por intermédio do seu Secretário, a Autêntica, que noCapítulo precedente se manda remeter ao Ministro do Império.

CAPÍTULO IIIDa última apuração dos votos

Art. 85. Dois meses depois do dia marcado paara a reuniãodos Colégios Eleitorais, far-se-á a apuração geral dos votos nasCâmaras Municipais das Capitais das Províncias. A Câmara con-vidará por Editais os Cidadãos para assistirem a esse solene ato.

Art. 86. No dia aprazado, reunida a Câmara, pelas 9 horasda manhã, e com toda a publicidade, abrirá o Presidente os Ofí-cios recebidos, e fazendo reconhecer aos circunstantes que elesestavam intactos, mandará contar e escrever na Ata o número dasAutênticas recebidas: imediatamente se passará a apurá-las, comos Vereadores presentes pelo método estabelecido no Art, 54. Fin-da a apuração, o Secretário da Câmara publicará, sem demoraou interrupção alguma, os nomes das pessoas e número de votosque obtiveram, formando-se uma Ata geral, desde o número máxi-

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mo até o mínimo, a qual será assinada pela mesma Câmara rEleitores que presentes se acharem.

Art. 87. A Câmara Municipal se limitará a somar os votosmencionados nas diferentes Atas. Se porém houver duplicata deeleições em um Colégio, e vierem duas Atas desse Colégio, apura-rá a que mais legítima lhe parecer, deixando de apurar a outra, etambém deixará de apurar quaisquer Atas de reuniões de Eleito-res celebradas em lugares que não esteja declarados ColégiosEleitorais; fazendo porém declaração especificada das Atas quedeixou de apurar englobadamente, e mencionando por extensoos votos atribuídos em cada uma dessas Atas a quaisquer Cida-dãos.

Art. 88. A pluralidade relativa regulará a eleição, de ma-neira que serão declarados eleitos os que tiverem a maioria devotos seguidamente até o número dos que devem eleger a Provín-cia. Da Ata se extrairão cópias autênticas pelo Secretário da Câ-mara, uma para ser remetida ao Ministro do Império, ou aoPresidente da Província, no caso da eleição da Assembleia Pro-vincial, e outra para servir de Diploma ao eleito, acompanhadade um Ofício da Câmara para identidade da pessoa.

Art. 89. Para Suplentes dos Deputados e Membros das As-sembleias Provinciais, ficam designadas as pessoas que se lhesseguirem em número de votos, constantes da Ata geral, prece-dendo-se entre si pelo maior número que cada urn deles tiver,de maneira que achando-se algum dos efetivos legitimamenteimpedido por ausência, moléstia prolongada ou por ter sido no-meado Senador, a Câmara da Capital expedirá ao Suplente umDiploma igual aos que se passaram aos efetivos; acompanhando-ode um ofício em que declare que vai tomar assento como substi-tuto, ou por falta absoluta, ou durante o impedimento tempo-rário.

Art. 90. Apuradas as relações pelo modo determinado, epublicadas as eleições, serão imediatamente os eleitos, que pre-sentes estiverem e que facilmente se puderem chamar, acompa-nhados pela Câmara, Eleitores e Povo, conduzidos à Igreja princi-pal, onde se cantará solene Te Deum a expensas da mesma Câma-ra, com o que fica terminado o solene ato da apuração dos votos.

Art. 91. Na eleição de Senador a certidão autêntica da Atageral da apuração será remetida à Secretaria de Estado dos Negó-cios do Império, acompanhando a lista tríplice (subscrita pelo Se-cretário da Câmara, por ela assinada, e com Ofício da mesma Câ-mara) apurada dentre os primeiros votados até o triplo dos Sena-dores que tiver eleito a Província.

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TÍTULO IV

Da eleição dos Juizes de Paz e Câmaras Municipais

Art. 92. A eleição dos Juizes de Paz e Câmaras Munici-pais será feita de 4 em 4 anos, no dia 7 de Setembro, em todasas Paróquias do Império. Qualquer que seja o número de distri-tos de Paz da Paróquia, e embora se contenham nela CapelasCuradas, a eleição será uma só, no mesmo lugar, e com uma sóMesa Paroquial para apurar todos os votos da Freguesia, nãosó para Vereadores, como para Juizes de Paz dos diversos dis-tritos e Capelas Curadas que nela se compreenderem.

Art. 93. O Presidente da Assembleia Paroquial nestas elei-ções será o mesmo designado pela presente Lei para presidir àJunta de Qualificação e à eleição primária,

Art. 94. Um mês antes do dia marcado para a eleição, oPresidente, a quem a Câmara Municipal já deverá ter expedidoas ordens para se proceder a ela, convocará, na forma dos Arti-gos 4l), 51? e 6"=', as pessoas ali mencionadas, a fim de proceder-seà organização da Mesa Paroquial. Pela mesma ocasião convidaráos Cidadãos qualificados votantes para irem dar os seus votos,publicando a lista geral deles por cópia autêntica da qualificação.

Art. 95. No dia aprazado, reunido o respectivo Povo pelas 9horas da manhã, posta uma mesa no corpo da Igreja, o Presi-dente, tomando assento à cabeceira dela, tendo à sua esquerdao Escrivão, e de um e outro lado os Eleitores e Suplentes, sepa-rados pela divisão ordenada no Artigo 42, fará em voz alta einteligível, a leitura do presente Título, do Título II, e do Capí-tulo I do Título I: imediatamente procederá à organização daMesa Paroquial nos termos prescritos para a eleição primária.

Art. 96. Lavrada a Ata da formação da Mesa, em livroespecial para esta eleição, o Presidente declarará — Está insta-lada a Assembleia Paroquial — e passará ao recebimento dascédulas dos votantes, fazendo a chamada deles pela cópia autên-tica na qualificação que, na forma da Lei, deve estar em seupoder.

Art. 97. Podem votar para Juizes de Paz e Vereadores to-dos os cidadãos compreendidos na qualificação geral da Paróquia.

Art. 98. Podem ser Vereadores todos os que podem votarnas Assembleias Paroquiais, tendo dois anos de domicílio dentrodo Termo.

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Art. 99. Podem ser Juizes de Paz todos os que podem serEleitores, contanto que morem no distrito a que pertencer aeleição.

Art. 100. Cada votante entregará duas cédulas, uma con-tendo os nomes de sete ou nove pessoas para Vereadores, e outracontendo quatro nomes para Juizes de Paz. As cédulas, sem as-sinatura, serão fechadas tendo por fora o rótulo — Vereadorespara a Câmara Municipal da Vila de. . . ou Cidade de. . . ; Juizesde Paz do Distrito de. . ., ou da Capela de.. .

Art. 101. Terminado o recebimento das listas, o Presidentemandará separar as cédulas relativas à eleição de Vereadores eas pertencentes a cada um dos Distritos ou Capelas para a eleiçãode Juizes de Paz; contar, publicar e escrever na Ata, com adevida distinção, o número de cédulas pertencentes a cada elei-ção. Começará a apuração pelas cédulas de Vereadores, passandosucessivamente às cédulas pertencentes à eleição de Juizes dePaz de cada um dos Distritos. De tudo se fará uma Ata circuns-tanciada, com a precisa clareza, contendo o número de votos,desde o máximo até o mínimo, de cada uma das eleições.

Art. 102. Não se aceitarão cédulas senão dos que compa-recerem pessoalmente, c aos que faltarem, sem legítimo impedi-mento participado à Mesa, esta imporá a multa do Artigo 126§ 7?

Art. 103. A Mesa remeterá à Câmara Municipal o livro dasAtas, acompanhado de Ofício do Secretário e, queimadas as listas,se haverá por dissolvida a Assembleia Paroquial.

Art. 104. As disposições do Título II são inteiramente apli-cáveis à eleição de Juizes de Paz e Vereadores, salvo na parte emque estiverem alteradas pelo presente Título.

Art. 105. Recebidas pelas Câmaras Municipais as Atas dasdiversas Paróquias, procederão imediatamente à apuração dosvotos para Vereadores, em dia anunciado por Editais, seguindo ométodo gerai das apurações. Terminada a apuração, serão decla-rados Vereadores os que tiverem maioria de votos; os imedia-tos serão suplentes. As Câmaras enviarão a cada um dos Verea-dores eleitos uma cópia autêntica da Ata da apuração tirada peloseu Secretário, assinada pêlos Membros da Câmara e acompanha-da de Ofício da mesma Câmara, convidando-os a irem prestar ojuramento e tomar posse no dia sete de Janeiro. Para prestaremjuramento no mesmo dia serão igualmente convidados pelas Câ-maras os Juizes de Paz eleitos, cujos Suplentes serão os imediatosem votos.

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Art. 106. As Câmaras, logo que concluírem a apuração,participarão ao Ministro do Império na Corte, e aos Presidentesnas Províncias, o resultado da eleição de Vereadores e Juizes dePaz do seu Município.

TITULO VDisposições Gerais

Art. 107. De oito em oito anos proceder-se-á ao arrolamen-to geral da população do Império, pela maneira que o Governojulgar acertada; devendo conter os mapas geral e parciais, alémde outras declarações que forem julgadas necessárias, a do núme-ro de fogos de cada uma Paróquia. Este arrolamento determi-nará o número de Eleitores, correspondendo cem fogos a cadaEleitor, e dando um Eleitor mais a Paróquia que, além de ummúltiplo qualquer de cem, contiver mais uma fração maior decinquenta fogos. N e n h u m a Paróquia porém deixará de dar aomenos um Eleitor, por menor que seja o número dos seus fogos.O arrolamento será enviado à Assembleia Geral para o fim defixar-se por Lei o número de Eleitores de cada Paróquia doImpério. Por fogo entende-se a casa ou parte dela, em que habitauma pessoa livre ou uma família com economia separada, demaneira que um edifício pode conter dois ou mais fogos.

Art. 108. Suspender-se-á o recrutamento em todo o Impé-rio por três meses, a saber: nos sessenta dias anteriores e nostrinta posteriores ao dia da eleição primária. Ficam proibidosarrumamentos de tropas e qualquer outra ostentação de forçamilitar no dia da eleição primária, a uma distância menor deuma légua do lugar da eleição.

Art. 109. Em qualquer eleição, concluída a apuração daslistas, o Presidente do ato mandará publicar por Editais, na portado edifício onde estiver fazendo a eleição, e pela imprensa, ondea houver, o resultado da votação.

Art. 110. O Presidente da Junta de Qualificação será sem-pre o indivíduo que houver feito a convocação dos Eleitores eSuplentes para a formação da Junta, e seus Substitutos serão emtodo o caso os que se lhe seguirem na escala da eleição de quefoi tirado o seu nome, embora no ato da instalação da Junta,antes o no progresso de seus trabalhos, entrem em exercícioJuizes de Paz dados pela eleição para um novo quadriénio.

Art. 111. Qualquer procedimento Judicial, ex officio ou arequerimento de parte que deva ter lugar por motivo de defeito,

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vício ou irregularidade na formação das Juntas de Qualificação,organização das Mesas Paroquiais e Colégios Eleitorais, comoacerca da qualificação e apuração dos votos em qualquer eleição,só poderá ser iniciado depois de verificados pela Autoridade com-petente os Poderes conferidos pela eleição de que se tratar.

Art. 112. Dissolvida a Câmara dos Deputados, considera-sefinda a Legislatura, e cassados os Poderes dos respectivos Elei-tores, os quais servirão todavia para os trabalhos das Mesas Paro-quiais. Qualquer eleição por eles feita posteriormente ao ato dadissolução ficará sem vigor.

Art. 113. Quando os Eleitores de uma mesma Legislaturativerem de proceder, em ato sucessivo, a mais de uma eleição,servirá em todas elas a mesma Mesa que a princípio se houvernomeado, e não se repetirá a cerimónia religiosa ordenada pelaLei.

Art. 114. Quando os Colégios Eleitorais se reunirem, tendosido já verificados os Diplomas em reunião anterior, praticar-;=e-á logo no 19 dia da reunião a nomeação da Mesa, solenidadereligiosa, recebimento das listas, e mais atos da eleição.

Art. 115. No caso de empate nas apurações dos últimosvotos, decidirá a sorte; o sorteamento será anunciado por Editais,com antecipação de vinte e quatro horas ao menos, e feito com amaior publicidade, para que assistam, se quiserem, as partes in-teressadas, devendo as cédulas ser extraídas da urna por ummenino que não tenha mais de 7 anos, lidas em voz alta peloPresidente do ato, e apresentadas a qualquer dos assistentes queo requerer.

Art. 116. As Câmaras e Juizes de Paz eleitos para as Ci-dades, Vilas, e distritos novamente criados, só terão exercício atétomarem posse os que deverem servir em virtude da eleiçãogeral de 7 de Setembro.

Art. 117. Para completar o número de nove Vereadores nasCâmaras das Vilas que forem elevadas à categoria de Cidades,serão chamados a exercício os dois Suplentes imediatos, até àépoca da eleição geral.

Art. 118. O Governo é competente para conhecer das irre-gularidades cometidas nas eleições das Câmaras Municipais cJuizes de Paz, e mandar reformar as que contiverem nulidade.Esta atribuição poderá ser provisoriamente exercida pêlos Pre-sidentes de Província, quando da demora possa resultar o inçou-

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veniente de não entrarem em exercício os novos eleitos no diadesignado pela Lei.

Art. 119. Todos os livros de que trata esta Lei, serão for-necidos pelas Câmaras Municipais, numerados e rubricados, aber-tos e encerrados pêlos Presidentes delas, ou por quaisquer Ve-readores por eles nomeados. O Governo pagará a importânciados livros e cofres para guarda das cédulas, quando as CâmarasMunicipais ou não puderem fazer por falta de meios.

Art. 120. Se na execução desta Lei ocorrerem dúvidas quepossam ser decididas pelo Governo ou pêlos Presidentes de Pro-víncia, serão as decisões publicadas pela imprensa, comunicadasoficialmente a todas as Autoridades a quem possa interessar oseu conhecimento, apresentadas ao Senado e à Câmara dos Depu-tados na sua primeira reunião.

Art. 121. Os Presidentes das Províncias remeterão à Câ-mara dos Deputados, por intermédio do Governo, cópia autênti-cas das Atas da eleição de Eleitores de todas as Freguesias dasrespectivas Províncias e a Câmara dos Deputados decidirá, naocasião da verificação dos Poderes de seus Membros, da legiti-midade dos mesmos Eleitores. Os Eleitores que assim forem jul-gados válidos, serão os competentes, durante a Legislatura, paraprocederem a qualquer eleição de Deputados e Membros dasAssembleias Provinciais. Se a Câmara dos Deputados anular aeleição primária de qualquer Freguesia, proceder-se-á a novaeleição, cuja Ata será igualmente remetida à mesma Câmara,para deliberar sobre a sua legitimidade.

Art. 122. Não ó permitido ao Eleitor mandar por outrema sua cédula, mas a deve pessoalmente apresentar.

Art. 123. O Governo remeterá à Câmara respectiva ascópias autênticas que receber, da eleição de Senadores e Depu-tados.

Art. 24. Os Cidadãos Brasileiros, em qualquer parte queexistam, são elegíveis em qualquer distrito eleitoral para Depu-tados ou Senadores, ainda quando não sejam nascidos ou domi-ciliados naquela Província (Artigo 96 da Constituição.) Quandoqualquer for nomeado por duas ou mais Províncias conjunta-mente, preferirá a da sua naturalidade; na falta desta, a da re-sjdência; e na falta de ambas, prevalecerá aquela em que tivermais votos relativamente aos Colégios que o elegeram.

Art. 125. Nenhum Eleitor poderá votar para Deputados,Senadores e Membros das Assembleias Provinciais, em seus as-cendentes ou descendentes, irmãos, tios e prímos-irmãos.

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Art. 126. Serão multados quando, na parte que lhes tocar, se mostrarem omissos ou transgredirem as disposições dapresente Lei:

§ l1? Pelo Ministro do Império na Corte, e Presidentes nasProvinciais:

N? IP As Câmaras Municipais das Capitais e do MunicípioNeutro, funcionando como apuradoras das Atas dos ColégiosEleitorais, na quantia de 400 a 800$ repartidamente pêlos Verea-dores em exercício:

N? 2? As Mesas dos Colégios Eleitorais na quantia de 200a 700$, repartidamente pêlos seus Membros.

N1? 3.° As Câmaras Municipais em geral, e os ConselhosMunicipais de recurso, na quantia de 200 a 700$ repartidamen-te pêlos seus Membros.

NP 40 Q Presidente da Junta de Qualificação e da Assem-bleia Paroquial, na quantia de 100 a 300$.

N? 5P As Juntas de Qualificação e Mesas Paroquiais, naquantia de 150 a 400$ repartidamente peius seus Membros.

§ 2? Pêlos Colégios Eleitorais:Os Eleitores que, sern causa justificada, faltarem às reu-

niões dos Colégios Eleitorais em 30 a 60$.§ 3P Pelas Câmaras Municipais:Os Eleitores que não assinarem as Atas da eleição secun-

dária, na quantia de 60 a§ 4? Pelas Mesas dos Colégios Eleitorais:

Os Secretários das Câmaras Municipais, ou Tabeliães cha-mados para o serviço do Art. 79, na quantia de 20 a 40$.

§ 5P Pelas Juntas de Qualificação e Mesas Paroquiais:

NP IP Os Membros das mesmas, que se ausentarem semmotivo justificado, na quantia de 40 a 60$.

NP 2.° Os Eleitores e Suplentes, e mais Cidadãos convoca-dos para a formação delas, que não comparecerem ou, tendo com-parecido, não assinarem a Ata, na quantia de 40 a ~ ~ ~

N'-' 3P Os Escrivães de Paz chamados para qualquer serviçoem virtude desta Lei, na quantia de 20 a 40$.

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§ 6? Pelas Juntas de Qualificação:Os Juizes de Paz que não enviarem as listas parciais dos

votantes ou não fizerem publicar os Editais de que trata o Artigo21, na quantia de 40 a

§ 7*? Pelas Mesas Paroquiais:Os votantes, que sem impedimento legítimo participado às

mesmas, não votarem na eleição de Juizes de Paz e Vereadores,na quantia de 10$.

Art. 127. As multas decretadas por esta Lei farão parteda Renda Municipal do Termo em que residir a pessoa multada.Uma Portaria do Ministro do Império, ou do Presidente da Pro-víncia, contendo os nomes dos multados, os motivos e a quantiada multa, assim como uma certidão da Ata das Câmaras Muni-cipais, Juntas de Qualificação, Mesas Paroquias, Colégios Eleito-rais e Mesas dos mesmos, em que as multas houverem sidoimpostas, terão força de sentença para a cobrança delas.

Art. 128. Os Presidente de Província que, por demora naexpedição das ordens, forem causa de se não concluírem emtempo as eleições, incorrem na pena do perdimento dos Empre-gos que tiverem, e inabilidade perpétua para quaisquer outros.Esta pena .será imposta judicialmente, na forma das Leis.

Art. 129. Ficam revogadas todas as disposições relativas aoprocesso das eleições de Senadores, Deputados, Membros das As-sembleias Provinciais, Juizes de Paz e Câmaras Municipais, asquais se farão somente pela presente Lei.

Mandamos portanto a todas as Autoridades a quem o conhe-cimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram efaçam cumprir e guardar, tão inteiramente como nela se contém.O Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império afaça imprimir, publicar e correr. Dada no Palácio do Rio de Ja-neiro aos dezenove de agosto de mil oitocentos e quarenta e seis,vigésimo quinto da Independência e do Império.

IMPERADOR. Com Rubrica e Guarda.

DECRETO N? 565, DE 10 DE JULHO DE 1850

Declara que os eleitores de Paróquia, uma vez elei-tos na conformidade da Lei n9 387, de 19 de agosto de1846, são competentes para proceder a todas as eleiçõesde Senadores durante a respectiva Legislatura.

i por bem sancionar, e mandar que se execute a resoluçãoseguinte da Assembleia Geral Legislativa.

Art. 1<? Os eleitores de Paróquia, uma vez eleitos em vir-tude do artigo oitenta da Lei número trezentos e oitenta e setede dezenove de agosto de mil oitocentos e quarenta e seis, sãocompetentes para proceder a todas as eleições de Senadores quehajam de fazer-se até o fim da Legislatura que então decorrer.

Art. 2? Ficam revogadas as disposições em contrário. OVisconde de Monte Alegre, Conselheiro de Estado, Presidentedo Conselho de Ministros, Ministro e Secretário de Estado dosNegócios do Império, assim o tenha entendido, e faça executar.Palácio do Rio de Janeiro, em dez de julho de mil oitocentos ecincoenta, vigésimo nono da Independência e do Império.

Com a rubrica de Sua Majestade o Imperador.

Visconde de Monte Alegre.

Joaquim Marcellino de Brito.

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DECRETO N? 842, DE 19 DE SETEMBRO DE 1855

Altera a Lei de 19 de agosto de 1846.

Hei por bem sancionar e mandar que se execute a resoluçãoseguinte da Assembleia Geral Legislativa.

Art. 19 A Lei de 19 de agosto de 1846 será observada comas seguintes alterações:

§ 19 Os Membros das Juntas de Qualificação e os das Me-sas das Assembleias Paroquiais que têm de ser tirados dentre oseleitores e suplentes, conforme a disposição do art. 89, e seguin-tes da dita Lei, serão eleitos, dois pêlos referidos eleitores, e nasua falta pelas pessoas designadas no art. 10; e dois pêlos su-plentes, e na sua falta pelas pessoas designadas no art. 12, po-dendo os votos recair em quaisquer cidadãos da Paróquia quetenham as qualidades para eleitor.

§ 2? A eleição dos Secretários e Kscrutinadores dos Colé-gios Eleitorais continuará a ser feita por escrutínio secreto, vo-tando porém cada eleitor em dois nomes somente. Serão Se-cretários os dois mais votados, e Escrutinadores os dois imedia-tos em votos.

§ 39 As Províncias do Império serão divididas em tantosdistritos eleitorais quantos forem os seus Deputados à Assem-bleia Geral.

§ 4? A primeira divisão será feita pelo Governo, ouvidosos Presidentes das Províncias, e só por lei poderá ser alterada.Na divisão guardará o Governo as seguintes bases:

1 As Freguesias, de que se compuser cada Distrito Eleito-ral, serão unidas entre si sem interrupção.

2^ Os diferentes Distritos Eleitorais de cada Província se-rão designados por números ordinais e iguais, quanto for possí-vel, em população de pessoas livres.

§ 59 O Governo designará para cabeça de cada DistritoEletoral a cidade ou vila mais central, onde se reunirão em um

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só Colégio no dia marcado para a eleição dos Deputados à As-sembleia Geral, e no edifício que o Governo também designar,todos os eleitores do Distrito; c depois de observadas as formali-dades para a organização do Colégio, e as mais de que trata oCapítulo 1° do Título 39 da Lei, procederão à eleição de umDeputado, votando cada eleitor por cédula não assinada, e escri-ta em papel fornecido pela Mesa. Recolhidos os votos em escru-t ínio secreto, contados e apurados, ficará eleito Deputado o cida-dão que obtiver maioria absoluta de votos.

i} 6? Se ninguém obtiver maioria absoluta de votos, pró-ceder-se-á imediatamente a segundo escrutínio, votando cadaeleitor unicamente em um dos quatro cidadãos mais votados noprimeiro escrutínio. Se ainda no segundo escrutínio ninguémobtiver maioria absoluta de votos, proceder-sc-á imediatamente>a terceiro, votando cada eleitor unicamente em um dos dois ci-dadãos mais votados no segundo escrutínio, e ficará eleito Depu-tado o que obtiver maioria absoluta de votos. No caso de empatedecidirá a sorte, e aquele contra quem ela decidir será declaradoSuplente.

§ 79 Fora do caso da última parte do parágrafo anteceden-te, finda a eleição de Deputado, proceder-se-á à eleição de umsuplente, observando-se a respeito dela o mesmo que fica de-terminado para a eleição de Deputados.

§ 89 Tanto para o Deputado, como para o suplente, serviráde Diploma uma cópia autêntica da Ata, dispensada a remessada cópia destinada à Câmara da Capital pela disposição do art.79 da Lei.

§ 99 O Governo, não obstante a regra estabelecida no pa-rágrafo 59, poderá subdividir em mais de um Colégio os Distritosem que pela disseminação da população for muito difícil a reu-nião de todos os eleitores em um só Colégio, contanto que nuncaa distância do lugar em que se reunir o Colégio seja menor detrinta léguas de sua extremidade.

§ 10. Quando o Distrito tiver mais de um Colégio, reuni-dos os eleitores em cada um deles nos edifícios designados peloGoverno, e observadas as formalidades indicadas no § 59, prócederão à eleição na forma do mesmo parágrafo, devendo poréma cédula de cada eleitor conter dois nomes, um para Deputado coutro para suplente, sem que se faça essa designação. Recolhidos, contados e apurados os votos, se lavrará a Ata que será nomesmo ato transcrita no livro das notas do Tabelião do lugar , cassinada pela Mesa e eleitores que o quiserem, sendo obrigado n

2:»,'»

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fdito Tabelião a dar logo traslado a quem o requerer. Desta Atacontinuarão a ser extraídas as três cópias de que trata o art. 79da Lei, sendo porém remetida à Câmara Municipal da cabeça doDistrito a que era destinada à da Capital da Província.

§ 11. A remessa das Atas nunca deixará de ser feita peloCorreio, dentro do prazo, e com todas as formalidades prescritasno art. 79 da Lei, ainda quando por duplicata hajam de chegarparticularmente ao seu destino.

§ 12. Trinta dias depois do marcado para a eleição a Câ-mara Municipal da cabeça do Distrito, reunida com os eleitoresdo respectivo Colégio, que serão convocados, fará com eles aapuração, procedendo na forma dos Arts 85, 86 e 87 da Lei.

O cidadão que reunir maioria de votos será declarado Depu-tado, e Suplente o seu imediato, ainda que só tenham maioriarelativa. Os diplomas serão expedidos pela Câmara Municipal naforma do art. 88 da Lei.

§ 13. O cidadão que for eleito deputado por mais de umDistrito terá opção do Distrito que quiser representar, e serásubstituído pelo respectivo suplente, e na falta deste proceder-se-á a nova eleição. A opção será feita dentro de três dias de-pois da verificação dos poderes; e na falta dela a preferência seregulará pela disposição do art. 124 da Lei.

§ 14. As Províncias do Rio de Janeiro e Sergipe darão maisdois Deputados, e mais um a de Piauí.

§ 14. As Províncias do Rio de Janeiro e Sergipe darãomais dois Deputados, e mais um a de Piauí.

§ 15. A eleição dos Membros das Assembleias Provinciaisserá também feita por Distritos, guardando-se a respeito dela asmesmas regras estabelecidas para a eleição dos Deputados, ealterando-se o seu número da maneira declarada no parágrafoseguinte.

§ 16. A Assembleia Provincial da Bahia terá 42 Membros,a três por Distrito; a de Minas Gerais 40, a dois por Distrito; ade Pernambuco 39, a três por Distrito; a de São Paulo 36, a qua-tro por Distrito; a do Rio de Janeiro, tantos quantos derem osseus Distritos à razão de 5, excetuados o Distrito ou Distritos daCprte e seu Município; a do Ceará 32, a quatro por Distrito; asde São Pedro e Maranhão 30, a cinco por Distrito; a do Pará 30,a dez por Distrito; as das Alagoas e Paraíba 30, a seis por Dis-trito; a de Sergipe 24, a seis por Distrito; a de Piauí 24, a oito

por Distrito; as de Goiás, Rio Grande do Norte e Mato Grosso22, a onze por Distrito; as de Santa Catarina, Espírito Santo,Amazonas e Paraná 20.

§ 17. Nas Províncias que tiverem um só Distrito Eleitoral,o Governo dividirá pêlos Colégios do mesmo Distrito o númerodos Membros de que se compuser a Assembleia Provincial, ele-gendo cada Colégio o número somente dos que houver de dar.

§ 18. Os Distritos ou subdivisões do Distrito que derem atéquatro Membros à Assembleia Provincial darão dois suplentes;os que derem cinco até seis Membros, darão três suplentes; osque derem sete até oito, darão quatro suplentes; e assim pordiante.

§ 19. Fica revogado o art. 111 da Lei.§ 20. Os Presidentes de Província e seus Secretários, os

Comandantes de Armas e Generais em Chefe, os Inspetores deFazenda Geral e Provincial, os Chefes de Polícia, os Delegados eSubdelegados, os Juizes de Direito e Municipais, não poderão servotados para Membros das Assembleias Provinciais, Deputadosou Senadores nos Colégios Eleitorais dos Distritos em que exer-cerem autoridade ou jurisdição. Os votos que recaírem em taisempregados serão reputados nulos.

Art. 2(> Ficam revogadas todas as disposições em contrário.Luiz Pedreira do Coutto Ferraz, do meu Conselho, Ministro

e Secretário de Estado dos Negócios do Império, assim o tenhaentendido e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro, em deze-nove de setembro de mil oitocentos e cinquenta e cinco, trigési-mo quarto da Independência e do Império.

Com a Rubrica de Sua Majestade o Imperador.

Luiz Pedreira do Couto Ferraz

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DECRETO N? l .812, DE 23 DE AGOSTO DE 1856

Contém instruções para execução do Decreto n?842, de 19 de setembro de 1855.

Usando da atribuição que Me confere o Art. 102 § 12 daConstituição do Império, e para execução do Decreto n? 842,de 19 de setembro do ano próximo passado, Hei por bem Orde-nar que se observem as instruções seguintes:

CAPÍTULO !<->

Da formação das Juntas de Qualificação, e das Mesasdas Assembleias paroquiais

Art. 1° Os Juizes de paz mais votados dos distritos das ma-trizes, de que tratam os Arts. 2? e 3? da Lei n<> 387 de 19 deagosto_dc 1846, convocarão, para a formação das Juntas de qua-lificação e das Mesas das Assembleias paroquiais, segundo amaneira indicada nos Arts. 4? e 5? da dita Lei, os Eleitores e su-plentes de paróquia que houverem nomeado os Deputados, e cujaeleição já estiver reconhecida peio Poder competente.

Não serão convocados os Eleitores e suplentes que se tive-rem mudado das respectivas paróquias.

Art. 2(-' Nas paróquias que ainda não tiverem Eleitores, ouem que estes se não acharem reconhecidos pelo Poder compe-tente, por haverem sido criadas depois da última eleição, e bemassim naquelas que, por haverem os antigos Eleitores termina-do as suas funções, em razão de ter começado nova Legislatura,estiverem sem novos Eleitores por motivo de não terem sidoeleitos, ou de não haver sido aprovada a respectiva eleição peloPoder competente, o Presidente da Junta ou da Mesa paroquialconvocará, em lugar de Eleitores e de suplentes, os oito cida-dãos que lhe ficarem imediatos em votos e residirem na paró-quia, sendo os quatro primeiros para representarem a turma dosEleitores, e os outros quatro a dos suplentes.

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Se não se acharem na lista dos votados para Juiz de paz maisde quatro nomes além do do Presidente, convidará este um cida-dão que tenha as qualidades de Eleitor, para representar a tur-ma dos suplentes.

Art. 3? Nas novas paróquias, enquanto se não tiver proce-dido à eleição dos respectivos Juizes de paz, competirá à presi-dência da Junta de qualificação ou da Mesa paroquial ao maisvotado do distrito a que pertencia o lugar em que se achar aMatriz das mesmas paróquias, e no impedimento ou falta deste,ao seu imediato em votos.

Art. 4° No dia aprazado, às 9 horas da manhã, reunidosos Eleitores e suplentes, o Presidente tomará assento no topoda mesa, tendo à sua esquerda o Escrivão de paz, e colocando-seos Eleitores e suplentes ern torno da mesma mesa. Feita a lei-tura, na parte que respeitar ao ato, ordenada nos Arts. 8{->, 43 e95 da Lei n° 387 de 19 de agosto de 1846, e a do presente Capí-t u l o destas Instruções, anunciará o Presidente que se vai proce-dur à eleição dos Membros da Junta, ou da Mesa paroquial pelaforma disposta no § 1(.> do Art. 19 do Decreto n? 842 de 19 desetembro de 1855.

Art. 5'.' Imediatamente o Presidente fará a chamada dosEleitores convocados e o Escrivão irá lançando em uma lista osnomes de todos os que não responderem. Cada um dos presen-Ics entregará, pela ordem da chamada, uma cédula não assinada,(•( intendo os nomes de dois cidadãos da paróquia, que tenham asqualidades de Eleitor, e serão recolhidas em uma urna à pro-porção que se forem recebendo não só estas cédulas, como asque apresentarem os Eleitores que comparecerem antes de dar-se começo à apuração, contanto que seus nomes constem da refe-r i f h i lista.

Art. 6(-> Concluído o recebimento das cédulas, o Presidentecontará, publicará, e fará escrever na ata o número delas, eimediatamente dará princípio à sua leitura, tomando o Escrivãoos nomes dos votados e o número de votos pela forma estabele-ci t la no Art. 54 da Lei n(> 387 de 19 de agosto de 1846, facilitan-do-se aos Eleitores e Suplentes a inspeção ocular na leitura dascédulas , ou na sua apuração, a fim de que possa qualquer delesrequerer que seja reparado algum engano.

Art. 1(> Concluída a apuração, o Presidente declarará Mem-bros da Junta ou da Mesa paroquial os dois cidadãos que obtive-rem a pluralidade relativa de votos: se mais de dois a tiverem

2,'lí)

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por empate, se decidirá, em ato sucessivo, e pela sorte, qual den-tre estes deva ser preferido.

Art. 89 Se não comparecer nenhum Eleitor, o Presidenteconvidará o seu imediato na ordem da votação para Juiz de paz,e se este não comparecer até o dia seguinte pelas 9 horas damanhã, será convidado o imediato, e assim por diante. O cidadãoque comparecer nomeará os dois Membros da Junta ou da Mesaparoquial, cuja eleição pertencia aos Eleitores,

Art. 9? Eleitos os dois primeiros Membros da Junta ou daMesa paroquial, se procederá imediatamente à eleição dos outrosdois pêlos suplentes, observando-se o que a tal respeito dispõemos Arts. 5?, 69 e 79

Art. 10. Se não comparecer nenhum suplente, convidaráo Presidente o 59 votado na eleição de Juiz de paz do distrito,e se este não comparecer até o dia seguinte pelas 9 horas damanhã, convidará o 69, o assim por diante. O cidadão que com-parecer nomeará os dois Membros da Junta ou da Mesa paro-quial, cuja eleição pertencia aos suplentes.

Art. 11. Se o Presidente for Eleitor, votará na eleição dosMembros da Junta ou da Mesa paroquial com os mais Eleitores,ou com os suplentes, se estiver incluído na lista destes. Não po-derá porém ser eleito Membro da Junta ou da Mesa paroquial,reputando-se nulos os votos que nele recaírem.

Art. 12. As questões que se suscitarem acerca da elegibi-lidade de qualquer cidadão para Membro da Junta ou da Mesaparoquial, serão decididas pela pluralidade dos votos da turmaque houver concorrido para a sua eleição.

A alegação poderá ser apresentada por qualquer cidadãocontanto que seja feita por escrito e imediatamente que se pu-blicar o resultado da eleição, e só se permitirá que tomem par-te na discussão aqueles que tiverem de decidir da questão.

Reconhecida a não elegibilidade do cidadão, se procederálogo à nova eleição.

Art. 13. As disposições anteriores relativas à eleição dosMembros da Junta ou da Mesa paroquial, são aplicáveis às tur-mas de que trata o Artigo 2*?

Art. 14. Se não comparecer nenhum dos cidadãos que de-verem representar os Eleitores e suplentes no caso do Art. 29,o Presidente convidará dentre os cidadãos que se seguiremàqueles em votos e que puderem comparecer até o dia seguinte

240

pelas 9 horas da manha, os dois mais votados, dando preferi'ncia, no caso de igualdade de votação, aos que estiverem presen-tes, e se mais de dois se acharem nestas circunstâncias, se deci-dirá pela sorte em ato sucessivo. Sendo a falta de uma só turma,convidará um cidadão somente.

No caso de não haver, além dos oito cidadãos de que seIrala, nenhum votado para Juiz de paz, ou se nenhum compare-cer, o Presidente convidará dois cidadãos que tenham as quali-dades de Eleitor, ou um só, se comparecer algum daqueles.

Os cidadãos assim convidados, quer na l? quer na 2? hipó-tese, elegerão os Membros da Junta ou da Mesa paroquial porparte das turmas que representarem.

Art. 15. Os quatro cidadãos que forem eleitos comporão,com o Presidente, a Junta ou Mesa paroquial, e tomarão ime-diatamente assento de um e de outro lado da mesa. Os trabalhoscomeçarão pela imposição da multa do Art. 126 § 59 da Lei n9387 de 19 de agosto de 1846 aos Eleitores, suplentes e mais ci-dadãos que, sendo convocados, deixarem de comparecer sem mo-tivo justificado.

Art. 16. O presidente da Junta ou da Mesa paroquial man-t lará lavrar pelo seu Escrivão uma ata circunstanciada da for-mação dela, fazendo-se menção dos nomes dos Eleitores, suplen-los, e mais cidadãos convocados que deixarem de comparecer,de as multas que lhes forem impostas, bem como dos nomes daspessoas que os substituírem, e dos que compareceram e vota-ram na eleição dos Membros da Junta ou Mesa paroquial, decla-rando-se por extensão o resultado da eleição e todas as mais cir-cunstâncias que ocorrerem. A ata será escrita no livro de quel ratam os Arts. 15, 43 e 96 da Lei n1? 387 de 19 de agosto deque tiverem concorrido para a eleição da mesma Junta ou Mesa.paroquial, e por todos os Eleitores, suplentes e mais cidadãosque tiverem concorrido para a eleição da mesma Junta ou Mesa.

Art. 17. No impedimento ou falta de qualquer dos Mem-bros da Junta ou da Mesa paroquial, depois de assinada a ata deque trata o Artigo precedente, a mesma Junta ou Mesa paro-quial, durante os seus trabalhos, nomeará quem os substitua con-tanto que tenha as qualidades de Eleitor.

Se porém o dito impedimento ou falta se der antes de assi-nada a ata, proceder-se-á à eleição do substituto pela mesmamaneira estabelecida para a primeira eleição.

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O Presidente será substituído pelo seu imediato em votosna eleição para Juiz de paz, e quando estiverem impedidos todosos Juizes do distrito, serão convocados os do distrito mais vizi-nho.

CAPITULO II

Da composição das Mesas dos Colégios eleitorais.

Art. 18. Feita a leitura de que trata o Art. 69 da Lei n?587 de 19 de agosto de 1846, e do presente Capítulo destas Ins-truções, e constituída a Mesa interina do Colégio, se procederáà eleição de dois Secretários, e dois Escrutinadores, dentre osEleitores, por escrutínio secreta, e por cédulas não assinadas,votando cada Eleitor em dois nomes somente. Os dois mais vo-tados serão os Secretários e Escrutinadores os dois imediatos emvotos. Na caso de empate, a sorte designará em ato sucessivoos que devam ser preferidos.

Art. 19- Se o resultado da votação apresentar menos dequatro nomes, proceder-se-á a novo escrutínio, votando cadaEleitor em tantos nomes quantos forem precisos para comple-tar-se o número dos Membros da Mesa do Colégio, e ficarão elei-tos os que reunirem pluralidade de votos, sendo porém designa-dos para Escrutinadores, ainda quando tenham obtido maiornúmero de votos do que os Secretários.

Art. 20. Tomando assento na Mesa os eleitos para Secre-tários e Escrutadores, passará o Colégio à nomeação de Presi-dente, e aos mais atos de que trata o Art. 70 da Lei n? 387, de19 de agosto de 1846. Na Ata especial da instalação do Colégiose fará menção dos nomes de todos os Eleitores que houveremobtido votos para Secretários e Escrutinadores desde o máximo atéo mínimo. Esta Ata será assinada pelo Presidente interino doColégio, e por todos os Membros da Mesa, e mais Eleitores quese tiverem achado presentes.

Art. 21. Se durante os trabalhos tiver impedimento algumdos Membros da Mesa, será substituído pela maneira seguinte:o Presidente pelo Secretário que houver obtido maior número devotos, e os outros Membros pêlos imediatos em votos ao, últimoEscrutinador. Se nenhum houver na respectiva lista, o Presidentenomeará dentre os Eleitores quem deva suprir a falta que se der.

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CAPITULO IVDa eleição de Deputados à Assembleia Geral, e Membros

das Assembleias Legislativas Provinciais

Art. 22. Na eleição de Deputado à Assembleia Geral, eMembros das Assembleias Legislativas Provinciais, se observa-rão em cada uma das Províncias do Império as disposições dosDecretos concernentes à divisão dos respectivos distritos eleito-rais, de conformidade com as regras prescritas nos Capítulos l1?e 3° do Título 3? da Lei n(> 387 de 19 de agosto de 1846 na parteem que não foram alteradas pelo Decreto n1? 842 de 19 de se-tembro de 1855.

Art. 23. Na eleição da Assembleia Provincial continuaráa ser remetida à mesma Assembleia, por intermédio do seu Se-cretário, a autêntica que no Art. 79 da Lei n<? 387, de 19 de agostode 1846 se manda remeter ao Ministro do Império.

CAPÍTULO IIIDa Eleição de Senadores

Art. 24. Para a eleição de Senadores os Eleitores se reuni-rão nos Colégios eleitorais criados em virtude do Decreto n1? 842de 19 de setembro de 1855, observando-se o que a este respeitodispõem os Capítulos 2'.' e 3(.' do Tit. 39 da Lei n? 387 de 19 deagosto de 1846, e Decreto n? 565 de 10 de julho de 1850 comas alterações seguintes:

?• l •=• A eleição dos Secretários e Escrutinadores do ColégioHeitoral se fará pela forma disposta nos Arts. 18 e 19 das pre-sentes Instruções.

§ 2C.' A lista que tem de entregar cada Eleitor, contendo< > s nomes das pessoas em quem votar para Senador, não seráassinada.

§ 3° Depois de lavrada e assinada a Ata da eleição, deconformidade com o Art. 78 da Lei n'-* 387 de 19 de agosto de1H46, será no mesmo ato transcrita no livro das notas do Tabe-l ião do lugar, e assinada pela Mesa e Eleitores que o quiserem,sendo obrigado o dito Tabelião a dar logo traslado a quem o re-querer. Desta Ata continuarão a ser extraídas as três cópias deque trata o Art. 79 da dita Lei, e a remessa delas nunca deixaráde ser feita pelo Correio dentro do prazo e com todas as forma-l idades prescritas no referido Artigo, ainda quando por duplica-la hajam de chegar particularmente ao seu destino.

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CAPITULO V

Disposições gerais

Art. 25. As cédulas ou listas que contiverem os votos dosEleitores para Membros das Assembleias Provinciais, Deputadosou Senadores, serão escritas em papel fornecido pelas Mesas dosColégios eleitorais. Este papel será de igual tamanho e da mes-ma cor e qualidade, e distribuído antes de proceder-se à chama-da de que trata o Art. 72 da Lei n'-' 387 de 19 de agosto de 1846.

Art. 26. As Atas dos Colégios eleitorais nas eleições deDeputados e de Membros das Assembleias Provinciais deverãoser assinadas na conformidade do Artigo 78 da Lei n? 387 de 19de agosto de 1846, c transcritas no livro das notas do Tabeliãodo lugar, na forma e nos casos da § 10 do Art. l? do Decreton1? 842 de 19 de setembro de 1855.

Art. 27. Serão reputados nulos os votos que para Membrosdas Assembleias Provinciais, Deputados ou Senadores, recaíremnos Presidentes de Província e seus Secretários, Comandantes dearmas e Generais em chefe, Inspetores de Fazenda Geral e Prorvincial, Chefes, Delegados e Subdelegados de Polícia e Juizes deDireito e Municipais nos Colégios eleitorais dos distritos em queexercerem autoridade ou jurisdição.

Dos votos que forem reputados nulos pêlos Colégios eleito-rais se fará expressa menção na Ata da respectiva eleição.

Art. 28. Nas eleições dos Membros das Assembleias Pro-vinciais, Deputados ou Senadores se observarão todas as dispo-sições do Tit. 5? da Lei n? 387 de 19 de agosto de 1846, que lhesdisserem respeito, e não se acharem revogadas pelo Decreto n?842 de 19 de setembro de 1855.

Luiz Pedreira do Couto Ferraz, do Meu Conselho, Ministro eSecretário de Estado dos Negócios do Império, assim o tenhaentendido e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro, em vintee três de agosto de mil oitocentos cincoenta e seis, trigésimoquinto da Independência e do Império.

Com a Rubrica de Sua Majestade o Imperador.

Luiz Pedreira do Couto Ferraz.

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DECRETO N<? 1.082, DE 18 DE AGOSTO DE 1860

Altera a Lei n? 387, de 19 de agosto de 1846, e oDecreto n? 842, de 19 de setembro de 1855, sobre elei-ções.

Hei por bem sancionar e mandar que se execute a resolução.seguinte da Assembleia Geral Legislativa:

Art. l? A Lei n1? 387, de 19 de agosto de 1846, e o De-rreto n? 842, de 19 de setembro de 1855, serão observados com;is seguintes alterações:

§ 19 Nenhuma província dará menos de dois Deputados àAssembleia Geral.

íí 21? As províncias do Império serão divididas em distritoseleitorais de três Deputados cada um. Quando porém derem sódois Deputados, ou o número destes não for múltiplo de três,haverá tantos, colégios eleitorais quantas forem as cidades evi las do Império, contanto que nenhum deles tenha menos devinte eleitores. Nos Municípios, porém, em que se não verificar<'s(e número, os respectivos eleitores formarão colégio com osda cidade ou vila do mesmo distrito que ficar mais próxima,rxceto quando distarem entre si mais de trinta léguas por terra,caso em que poderá haver colégio de menos de vinte eleitores.

S 41? Os Deputados à Assembleia Geral serão eleitos pormaioria relativa de votos.

S 59 Não haverá suplentes de Deputados à AssembleiaGeral. No caso de morte do Deputado, opção por outro distritoou perda do seu lugar por qualquer motivo, proceder-se-á a novaeleição no respectivo distrito.

§ 6(-' A eleição dos membros das Assembleias provinciaisfar-se-á da mesma maneira que a dos Deputados à AssembleiaGeral, ficando revogada a disposição do parágrafo dezessete doartigo primeiro do Decreto de 19 de setembro de 1855, e distri-luiindo-se o número que compete a cada província, nos termos

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do p . i i . ï j ; r ; i í o dezesseis do mesmo artigo, pêlos novos distritos,na proporção do número de Deputados que cada um deles eleger.

i; 7° As disposições dos parágrafos quarto e quinto são ex-tensivas aos membros das Assembleias Provinciais.

S 8(.( Nos distritos eleitorais, que tiverem mais de um Co-légio, o Governo designará para a apuração geral dos votos aCâmara Municipal da cidade ou vila mais importante dos mes-mos distritos.

§ 91? Os eleitores de que trata o parágrafo doze do artigoprimeiro do Decreto de 19 de setembro de 1855, são unicamenteos do Colégio, que se reúne na cidade ou vila, cabeça do distritoeleitoral, e suas funções limitam-se a assistir ao ato da apuraçãoe reclamar contra qualquer irregularidade que nela observem,lançando-se a reclamação na ata respectiva. Poderão porém assis-tir àquele ato e usar do mesmo direito de reclamação os eleito-res dos demais Colégios do distrito.

§ 10. O Governo na Corte, e os Presidentes nas Provínciasfixarão o número de eleitores que deva dar cada Paróquia, narazão de um eleitor por trinta votantes, conforme a menor dasqualificações feitas nos anos de 1857, 1858 e 1859, contanto po-rém que nenhuma Paróquia dê menos eleitores do que o númeroaprovado na atua,! Legislatura, nem tenha aumento maior que ametade desse rr'"nero.

Se faltar l ->uma das qualificações acima apontadas, regu-lará a menor aas duas que existirem; havendo apenas uma, esta;e na falta das três, a do corrente ano.

§ 11. Quando de uma ou mais Paróquias se houver des-membrado território para se anexar a outra, ou para formarnova Paróquia, esta ou aquela juntamente com as que perderamterritório não darão maior número de eleitores do que deramantes da alteração, ou quando reunidas na eleição da atual Le-gislatura, salvo o aumento permitido no parágrafo antecedente.

A distribuição do número de Eleitores que deve tocar a cadauma delas, será feita sobre a base da qualificação anterior aodesmembramento.

§ 12. Nas Paróquias que sofrerem alteração em seus ter-ritórios, ou que forem criadas depois da execução desta Lei,far-se-á a distribuição do número de seus eleitores segundo aregra estabelecida no parágrafo antecedente.

§ 13. As incompatibilidades estabelecidas pelo par;ï j ' , r ; ifovinte do artigo primeiro do Decreto de 19 de setembro (1«* lit. r»ítcompreendem os Juizes de Órfãos, e os substitutos dosli-s, bemcomo os dos funcionários designados no mesmo Decreto quo ti-verem estado no exercício dos respectivos cargos dentro dosquatro meses anteriores à eleição secundária.

§ 14. A incompatibilidade dos funcionários efetivos a quese refere o parágrafo antecedente, e o vigésimo do artigo pri-meiro do Decreto de 19 de setembro de 1855, subsiste ainda emtodo o distrito eleitoral, se não tiverem deixado seis meses antesda eleição secundária o exercício dos respectivos cargos, em vir-tude de renúncia, demissão, acesso ou remoção.

§ 15. Os prazos marcados nos dois parágrafos antecedentesficam reduzidos a três meses para a primeira eleição de Depu-tados que se fizer em virtude desta Lei; bem como nos casos dadissolução da Câmara dos Deputados.

§ 16. A eleição de Eleitores da próxima Legislatura terálugar no último domingo do mês de dezembro deste ano.

Art. 2<? A organização dos novos distritos eleitorais se faráde conformidade com o parágrafo segundo do artigo primeiro,atendendo o Governo na anexação dos atuais distritos, quanto forpossível a sua integridade e contingüidade.

Feita a divisão e designação de que tratam os parágrafos se-gundo, terceiro, oitavo, décimo e décimo primeiro do artigo pri-meiro, não poderão ser alteradas senão por Lei.

Art. 3? Ficam revogadas as disposições em contrário.João de Almeida Pereira Filho, do meu Conselho, Ministro

e Secretário de Estado dos Negócios do Império assim o tenhaentendido, e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro, em dezoitode agosto de mil oitocentos e sessenta, trigésimo nono da Inde-pendência e do Império.

Com a rubrica de Sua Majestade o Imperador.

João de Almeida Pereira FilhoJoão Lustosa da Cunha Paranaguá

12A1

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DECRETO N° 2.675, DE OUTUBRO DE 1875

Reforma a legislação eleitoral.

Hei por bem sancionar e mandar que se executa a seguinteresolução da Assembleia Geral:

Art. l? As Juntas paroquiais serão eleitas pêlos eleitoresda paróquia, e pêlos imediatos na ordem da votação correspon-dente ao terço do número dos eleitores, os quais votarão em duascédulas fechadas, contendo cada unia dois nomes com o rótulo —para mesários para .suplentes —. Serão declarados membrosdas J u n t a s os qua t ro mais votados para mesários, e seus substi-tutos os quatro mais votados para suplentes. Imediatamente de-pois, os eleitores somente elegerão, por maioria de votos, o Pre-sidente e três substitutos, votando em duas cédulas fechadas,das quais a primeira conterá um só nome com o rótulo — paraPresidente, e a segunda três nomes com o rótulo — para subs-titutos —. O Presidente, mesários e seus substitutos deverão teros requisitos exigidos para eleitor.

Esta eleição, presidida pelo Juiz de Paz mais votado, se farátrês dias antes do designado para o começo dos trabalhos daqualificação, lavrando-se uma ata na conformidade do art. 15da Lei de 19 de agosto de 1846 e mais disposições em vigor. Con-vidados os eleitores e o primeiro terço dos imediatos em votos econstituída a Junta, o Juiz de Paz entregará ao Presidente destao resultado dos trabalhos preparatórios acompanhado das listasparciais de distritos, e dos demais documentos e esclarecimentosordenados por lei.

Não havendo três eleitores, pelo menos, ou imediatos emvotos no primeiro terço no ato da convocação ou no ato da or-ganização da Junta, por morte, ausência fora da Província, mu-dança, ou não comparecimento, o Juiz de Paz completará aquelenúmero convocando ou convidando os Juizes de Paz e seus ime-diatos em votos; na falta de uns e outros, cidadãos com as quali-dades de eleitor; e todos promiscuamente farão a eleição. De

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igiu i l mudo se procederá nas paróquias cujo número de dei lon-sfor i n f e r i o r a três.

Nas paróquias novamente criadas, os eleitores que aí residi-rem desde a data do provimento canónico, serão convocados ateperfazerem o número de três. Na falta ou insuficiência de eleito-res, se procederá pelo modo já estabelecido neste artigo.

§ l'-' Na falta de eleitores, por ter sido anulada a eleiçãodos da legislatura corrente, não se haver efetuado a eleição, oun;m estar aprovada pelo poder competente, serão convocados osiia legislatura anterior.

Na falta absoluta dos últimos, o Jui/ de Paz recorrerá àl i s t a dos votados para Juizes de Paz do quatriênio corrente, e nafa l ta destes convidará três cidadãos com as qualidades de eleitor.

$ 2? Para verificar e apurar os trabalhos das Juntas pa-roquiais constituir-se-á na sede de cada município uma Juntamunic ipa l composta do Juiz Municipal ou substituto do Juiz deDireito, como Presidente, e de dois membros eleitos pêlos Ve-readores da Câmara, em cédulas contendo um só nome. No mes-mo ato c do mesmo modo serão eleitos dois substitutos.

O Presidente da Junta municipal, nos municípios quenão constituírem termos, será o suplente respectivo do Juiz Mu-nic ipa l . Nos municípios de que trata a segunda parte do art. 34ila Lei de 19 de agosto de 1846, a Junta municipal será organiza-da como aí se dispõe.

i$ 3? No impedimento ou falta do Presidente da Junta pa-roquial e dos seus substitutos, os mesários elegerão dentre si ol 'residente. No impedimento ou falta de qualquer dos mesáriosc seus substitutos, a mesa se completará na forma do art. 17 doDecreto n? 1.812, de 23 de julho de 1856. Na falta ou impedi-mento de todos os mesários e seus substitutos, se observará odisposto no art. 4° do Decreto n1? 2.621, de 22 de agosto de 1860.

O mesmo se praticará para suprir a falta dos membros esubsti tutos eleitos das Juntas municipais.

S 4(-' As listas gerais, que as Juntas paroquiais devem or-í ',nni/ar, conterão, além dos nomes dos cidadãos qualificados, aidade , o estado, a profissão, a declaração de saber, ou não, ler eescrever, a filiação, o domicílio e a renda conhecida, provadaou presumida; devendo as Juntas, no último caso, declarar osmotivos de sua presunção e as fontes de informação a que tive-rem recorrido.

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I. Têm renda legal conhecida:N. 1. Os Oficiais do Exército, da Armada, dos corpos poli-

ciais, da guarda nacional e da extinta 2? linha, compreendidosos ativos, da reserva, reformados e honorários;

N. 2. Os cidadãos que pagarem anualmente 6$000 ou maisde imposições e de taxas gerais, provinciais e municipais;

N. 3. Os que pagarem o imposto pessoal estabelecido pelaLei n1-» 1.507, de 26 de setembro de 1867;

N. 4. Em geral, os cidadãos que a título de subsídio, soldo,vencimento ou pensão, receberem dos cofres gerais, provinciaisou municipais 2ÓO$000 ou mais por ano;

N. 5. Os advogados e solicitadores, os médicos, cirurgiõese farmacêuticos, os que tiverem qualquer título conferido ouaprovado pelas Faculdades, Academias, Escolas e Institutos deensino público secundário, superior e especial do Império;

N. 6. Os que exercerem o magistério particular como dire-tores e professores de colégios ou escolas frequentadas por 40ou mais alunos,

N. 7. Os clérigos seculares de ordens sacras;N. 8. Os Titulares do Império, os Oficiais e Fidalgos da

Casa Imperial e os criados desta que não forem de galão branco;N. 9. Os negociantes matriculados, os corretores e os agen-

tes de leilão;N. 10. Os guarda-livros e primeiros caixeiros de casas co-

merciais que tiverem 200£000 ou mais de ordenado, e cujos títu-los estiverem registrados no registro do comércio;

N. 11. Os proprietários e administradores de fazendas ru-rais, de fábricas e de oficinas;

N. 12. Os capitães de navios mercantes e pilotos que tive-rem carta de exame.

II. Admite-se como prova de renda legal:N. 1. Justificação judicial dada perante o Juiz Municipal ou

substituto do Juiz de Direito, na qual se prove que o justificantetem, pêlos seus bens de raiz, indústria, comércio ou emprego, arenda líquida anual de 200$;

N. 2. Documento de estação pública, pelo qual o cidadãomostre receber dos cofres gerais, provinciais ou municipais ven-

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< i m e n l o , soldo ou pensão de 200SOOO pelo menos, ou pagar o i in-p i ^ l n pessoal ou outros na importância de 6$000 anualmente;

N. lï. Extinção de contrato transcrito no livro de notas, do< | i i a ! consto que o cidadão é rendeiro ou locatário, por prazo nãoi n f e r i o r a três anos, de terrenos que cultiva, pagando 20$000 oumais por ano;

N. 4. Título de propriedade imóvel, cujo valor locativo nãoseja i n f e r i o r a 200^000.

^ f)'.' Kicam elevados a trinta dias o prazo do art. 20 e a dezf l i ; i s o do art. 22 da Lei de 19 de agosto de 1846.

No último prazo ouvirão as Juntas paroquiais as queixas,denúncias e reclamações que lhes forem feitas; e, reduzindo-asa t e rmo assinado pelo queixoso, denunciante ou reclamante emi-t i r ã o sobre elas sua opinião com todos os meios de esclareci-mento; mas só poderão deliberar sobre a inclusão de nomes quet e n h a m sido emitidos.

i; 61-' As Juntas paroquiais trabalharão, desde as dez horasda manhã, durante seis horas consecutivas em cada dia; suassessões serão públicas e as deliberações tomadas por maioria devotos. Todos os interessados poderão requerer verbalmente oupor escrito o que julgarem a bem de seu direito e da verdade(ia qualificação, dando-se-lhes um prazo razoável, até cinco dias,para apresentarem as provas de suas alegações.

Das ocorrências de cada dia se lavrará urna ata, que seráassinada pêlos membros da Junta e pêlos cidadãos presentes queo quiserem.

ï; 7° Organizada no primeiro prazo de que trata o § 5?a lista geral dos votantes da paróquia com todas as indicaçõesdo ií 4lí e com as observações convenientes para esclarecimentoe decisão da Junta municipal, será publicada pela forma de-terminada no art. 24 da Lei de 19 de agosto de 1848 e tambémpela imprensa, se a houver no município.

Do mesmo modo se procederá com a lista suplementar,depois do segundo prazo.

§ 8? Concluídos os trabalhos da Junta paroquial e remeti-dos imediatamente ao Juiz Municipal ou ao substituto do Jui/.de Direito, este convocará, com antecedência de 10 dias, os Ve-readores que tiverem de eleger os outros dois membros da J u n -ta do município, para que no dia e hora designados compare

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çam no paço da Câmara Municipal, ou em outro edifício queofereça mais comodidade.

Ai presentes, se efetuará em ato público a eleição com asformalidades que estão estabelecidas para a composição dasJuntas de qualificação e mesas paroquiais, e lhe forem aplicá-veis. De tudo se lavrará uma ata circunstanciada, a qual seráassinada pelas pessoas que intervierem no ato e pêlos cidadãospresentes que o quiserem.

§ 9? Instalada a Junta municipal, o Presidente distribuirápêlos membros dela as listas paroquiais, para que as examinem,e mandará anunciar por editais e pela imprensa, onde a houver,o dia e hora em que deverão principiar as sessões ordináriaspara a verificação e apuração de cada uma das referidas listas,começando pelas das pankjuias mais distantes.

§ 1 0 . Esta reunião da Junta municipal, que deverá prin-cipiar trinta dias depois de encerrados os trabalhos das Juntasparoquiais, ou antes, se for possível, durará o tempo necessário,contanto que não exceda de um mês; e poderá ser interrompidadepois de quinze dias, se houver muita afluência de trabalho,para recomeçar no vigésimo dia, que será anunciado pêlos meiosde publicidade já indicados.

§11. A Junta municipal compete:

l'.' Apurar e organizar definitivamente, por paróquias, dis-tritos de paz e quarteirões, a lista geral dos votantes do muni-cípio, com a declaração dos que são elegíveis para eleitores,servindo-se para este fim dos trabalhos das Juntas paroquiais,das informações que devem prestar-lhe os agentes fiscais dasrendas gerais, provinciais e municipais, bem como todas as au-toridades e chefes de repartições administrativas, judiciárias,policiais, civis, militares e eclesiásticas; finalmente, de todos osesclarecimentos e meios de prova necessários para verificaçãoda existência dos cidadãos alistados e das qualidades com queo devem ser.

2"? Incluir pelo conhecimento que a Junta tiver, ou pelasprovas exibidas de capacidade política, os cidadãos cujos nomeshouverem sido omitidos.

3? Excluir os que tiverem sido indevidamente qualifica-dos pelas Juntas paroquiais, devendo neste caso notificá-los poreditais afixados nos lugares mais públicos, ou pela imprensa,para alegarem e sustentarem o seu direito.

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4(> Ouvir e decidir, com recurso necessário para « Jtiiy.< l e Direito, todas as queixas, denúncias e reclamações que versa-rem sobre a regularidade dos trabalhos das Juntas paroquiais,ass im como tomar conhecimento ex officío e com o mesmo romrso, de quaisquer irregularidades, vícios, ou nulidades quedescobrir no processo dos trabalhos das Juntas paroquiais.

;í 12. As sessões da Junta municipal serão públicas e du-nirào desde as dez horas da manhã até às quatro da tarde; suasdeliberações serão tomadas por maioria de votos.

Todos os interessados poderão requerer verbalmente ou poresrrito o que julgarem a bem de seu direito e da verdade daqual i f icação, e terão um prazo razoável, até cinco dias, paraapresentarem as provas de suas alegações.

Das ocorrências de cada dia se lavrará uma ata, a qual seráassinada pêlos membros da Junta e pêlos cidadãos presentes qued quiserem.

§ 13. Revistas, alteradas ou confirmadas as listas envia-das pelas Juntas paroquiais, serão publicadas na sede do muní-i ' i | ) io, e devolvidas às ditas Juntas, para que também as publi-quem nas paróquias. A publicação será feita durante dois meses,por editais, e quatro vezes com intervalos de quinze dias, pêlosjornais, se os houver no município. Ao mesmo tempo se enviarárópia de cada uma das ditas listas ao Juiz de Direito.

§ 14. Decorrido o prazo de dois meses, marcado para apublicação das listas no parágrafo antecedente, as Juntas muni-cipais reunir-se-ão segunda vez durante dez dias, a fim de rece-berem recursos de suas decisões para os Juizes de Direito dasrespectivas comarcas; o que será anunciado com oito dias, pelomenos, de antecedência. Nas comarcas em que houver mais deum Juiz de Direito, é competente para conhecer dos recursos oda l1'-1 vara cível. Perante a Junta municipal servirá de Escrivãoo Secretário da Câmara Municipal.

§ 15. Os recursos podem ser interpostos: pêlos não alis-tados ou por seus especiais procuradores, quando se tratar desua inclusão; por qualquer cidadão da paróquia, quando se tra-ia r de exclusão de cidadãos alistados na mesma paróquia, oude nulidade.

Devem ser acompanhados de documentos que façam provaplena, ou de justificação processada com citação do PromotorPúblico, no primeiro caso, e dos interessados no segundo.

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S 16. Presentes os recursos à Junta municipal, esta, nomesmo dia ou no imediato, se as partes não requererem a dila-ção do § 12, os decidirá, proferindo despacho nos requerimentosdos recorrentes, e mandando transcrevê-lo na ata do dia e pu-blicá-lo pêlos meios estabelecidos.

§ 1 7 . O despacho favorável da Junta, no l'-1 caso do § 15,será imediatamente executado, salvo o recurso com efeito devo-lutivo, que qualquer cidadão pode interpor para o Juiz de Di-reito; quando, porém, houver indeferimento, seguirão os papéisno prazo de três dias para o sobredito Juiz, podendo os interes-sados produzir novas alegações e documentos.

Também seguirão para o Juiz de Direito, qualquer que sejaa decisão da Junta municipal, os recursos no segundo caso do§ 15.

í; 18. Os recursos interpostos sobre qualificação serão de-cididos pelo ,]u\7. de Direito, em despachos fundamentados, noprazo improrrogável de trinta dias.

A decisão produzirá desde logo todos os seus efeitos. To-davia, no caso de exclusão, poderão os cidadãos interessados in-terpor a todo tempo recurso para a Relação do distrito, a qualo decidirá prontamente, na conformidade do art. 38 da Lei de19 de agosto de 1846.

Se, porém, a decisão versar sobre irregularidades e víciosque importem nulidade da qualificação, haverá recurso necessá-rio e com efeito suspensivo para o mesmo Tribunal, o qual o de-cidirá no prazo improrrogável de trinta dias, contados da dataem que os papéis tiverem entrado na respectiva Secretaria, e,se o recurso não for provido dentro deste prazo, ter-se-á por fir-me e irrevogável a decisão do Juiz de Direito. No caso de anula-ção, o Presidente do Tribunal da Relação enviará imediatamen-te ao Presidente da respectiva Província cópia do acórdão, a fimde que sejam dadas prontas providências para a nova qualifica-ção. Servirá perante o Juiz de Direito o Escrivão do Júri.

§ 19. Satisfeitas todas as formalidades prescritas nos pa-rágrafos antecedentes e lançadas pelas Juntas municipais as lis-tas gerais em livro especial que ficará no arquivo da Câmara domunicípio, está ultimada e encerrada a qualificação; e a todosos cidadãos irrevogavelmente inscritos na lista se passarão tí-tulos de qualificação, que deverão ser impressos e extraídos delivros de talão.

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Kstos títulos serão remetidos, dentro de três dias, pelas. ]un tas municipais aos Juizes de Paz em exercício nas respecti-vas paróquias.

S 20. Por meio de editais publicados na imprensa do lu-j ; ; t r e afixados na porta da Câmara Municipal e da igreja matrizda paróquia, convidará sem demora o Juiz de Paz respectivo oscidadãos qualificados para pessoalmente receberem seus títulosdt- qualificação no prazo de 30 dias. A entrega do título será feitaao próprio cidadão, o qual por si, ou por outrem, se não souberescrever, o assinará perante o Juiz de Paz, e passará recibo eml i v ro especial. Decorrido aquele prazo, os títulos não reclama-dos serão remetidos à Câmara Municipal, e aí guardados emum cofre.

No caso de recusar o Juiz de Paz a entrega do título de qua-l i f icação ao cidadão a quem pertencer, poderá este recorrer pa-ra o Juiz de Direito da comarca, por simples petição. O Juizde Direito, ouvindo o de Paz, que responderá no prazo de trêsdias, decidirá definitivamente.

O mesmo recurso terá lugar no caso de recusar a CâmaraMunicipal a entrega do título de qualificação depositado emseu cofre.

S 21. A qualificação feita em virtude desta lei é perma-nente para o efeito de não poder nenhum cidadão ser eliminado,som provar-se que faleceu, ou que perdeu a capacidade políticapara o exercício do direito eleitoral por algum dos fatos designa-dos no art. 7'-* da Constituição do Império.

§ 22. A prova da perda da capacidade política do cidadão,na conformidade do parágrafo antecedente, deve ser a maiscompleta e incumbe àquele que requerer a eliminação. Perantea Junta municipal, quando reunida, será produzida essa provapor meio de certidão autêntica de algum dos fatos de que re-sulta a perda de capacidade, ou por meio de sentença proferidapelo Juiz de Direito da comarca em processo regular instauradocom citação pessoal do eliminado, quando se achar em lugar co-nhecido, e em todo o caso com citação edital de quaisquer ter-ceiros interessados.

A eliminação por morte poderá ser feita ex officio pela Jun-l.a municipal, com exibição da certidão de óbito, que, à suarequisição, lhe deverá ministrar a repartição competente.

S 23. Poderão ser também eliminados da lista de uma pa-róquia, durante a reunião das Juntas municipais a que se refe-

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ré o § 14, os cidadãos que tiverem mudado de domicílio paramunicípio diferente ou para país estrangeiro.

Se a mudança for de uma para outra paróquia do mesmomunicípio, ou de um para outro distrito da mesma paróquia,far-se-ào nas listas as alterações consequentes.

$ 2 4 . A qualificação pelo processo ordinário estabelecidonos parágrafos antecedentes será feita de dois em dois anos.

§ 25. Nos termos do art. 21 da Lei de 19 de agosto de1846, as Juntas Municipais enviarão ao Ministro do Império, nomunicípio da Corte, e aos Presidentes, nas Províncias, cópia dalista geral de que trata o § 19 e, em todos os anos, no mês dejaneiro, cópia da lista complementar, contendo os nomes doscidadãos excluídos da lista geral, ou nela novamente incluídosdurante o ano anterior.

§_26. São nulos os trabalhos da Junta paroquial de qua-lificação:

T . Tendo sido a organização da Junta presidida por Juizincompetente ou não juramentado;

I I . Tendo concorrido para a eleição dos membros da Jun-ta pessoas incompetentes em tal número que pudessem ter in-fluído no resultado da eleição;

III. Não se tendo feito, nos termos do art. 4? da Lei de19 de agosto de 1846, a convocação dos eleitores e dos imedia-tos em votos, que deviam concorrer para a eleição dos membrosda Junta, vício que, entretanto, se considerará sanado pelo com-parecimento voluntário da maioria, não só dos eleitores, comodos imediatos em votos que deviam ser convocados conforme oart. l?;

IV. Tendo a Junta deixado de funcionar no lugar designa-do para suas reuniões, salvo o caso de força maior, devidamentecomprovado;

V. Tendo por causas justificadas e atendíveis funcionadoem lugar diverso do designado para suas reuniões, sem fazerconstar por editais o novo lugar destas;

VI. Tendo feito parte da Junta pessoas sem as qualidadesde eleitor;

VII. Não se tendo reunido a Junta pelo tempo e nas oca-siões que a lei marca;

356

VIII. Não tendo sido feita a qualificação por distritos, quar-(eirões, e com todas as declarações exigidas nesta lei.

§ 27. As irregularidades não especificadas no parágrafoantecedente não anulam o processo da qualificação, se este forrin sua substância confirmado ou corrigido pela Junta municipal;c apenas dão lugar à responsabilidade dos que as motivaram,uma vez que se verifique ter havido culpa.

§ 28. São nulos os trabalhos da Junta municipal:I. Nos casos marcados no § 26, n.051, II, m, IV, V, VI e VII;II. Não se tendo feito, nos termos do § 8? deste artigo,

a convocação dos Vereadores que deveriam ter concorrido paraa eleição dos dois membros da Junta; o que, contudo, se conside-rará sanado pelo comparecimento voluntário da maioria dos di-tos Vereadores;

III. Não tendo sido feita a qualificação por paróquias, dis-Iritos, quarteirões e com todas as declarações exigidas nesta lei;

IV. Não se tendo feito a publicação da lista geral da qua-l if icação pelo tempo e modo prescrito no § 13.

§ 29. É aplicável aos trabalhos da Junta municipal a dis-posição do § 27, se as irregularidades não forem das menciona-das no parágrafo antecedente, ou houverem sido supridas emtempo.

Os recursos sobre nulidades e irregularidades serão inter-postos perante o Secretário da Câmara Municipal dentro de 30d ias depois de finda a qualificação.

Art. 2? O Ministro do Império fixará o número de eleito-res de cada paróquia sobre a base do recenseamento da popula-ção e na razão de um eleitor por 400 habitantes de qualquer sexoou condição, com a única exceção dos súditos de outros Estados.Havendo sobre o múltiplo de 400 número excedente de 200,acrescerá mais um eleitor.

Em falta de dados estatísticos para a fixação de eleitores dealguma paróquia, ser-lhe-á marcado o mesmo número de eleito-res da última eleição aprovada.

§ 1<? Para todos os efeitos eleitorais até o novo arrolamen-to geral da população do Império, subsistirão inalteráveis as cir-cunscrições parolquiais contempladas no atual recenseamento,não obstante qualquer alteração feita com a criação de novasfreguesias, ou com a subdivisão das existentes.

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§ 2? Fixado o número de eleitores de cada paróquia, sópor lei poderá ser alterado, para mais ou para menos, à vistadas modificações que tiverem ocorrido no novo arrolamento dapopulação.

§ 31? A eleição de eleitores gerais começará em todo oImpério no primeiro dia útil do mês de novembro do quarto anode cadft legislatura.

Excetua-se o caso de dissolução da Câmara dos Deputados,no qual o Governo marcará, dentro do prazo de quatro mesescontados da data do decreto de dissolução, um dia útil para ocomeço dos trabalhos da nova eleição.

§ 4? As mesas das assembleias paroquiais serão constituí-das do modo estabelecido nesta lei, art. l? e seus §§ 19 e 3?

§ 5? A organização, porém, das Juntas e mesas paroquiais,para se proceder à primeira qualificação e eleição em virtude des-ta lei, será feita pêlos eleitores e suplentes, sem prejuízo do modoestabelecido no art. 19 o ^ 1° e 3°

§ 69 Não se admitirá questão sobre a elegibilidade dequalquer cidadão para membro da mesa, se o seu nome estiverna lista da qualificação como cidadão elegível e não houver de-cisão que o mande eliminar, proferida três meses antes da elei-ção.

Excetua-se o caso de exibir-se prova de que o dito cidadãoacha-se pronunciado por sentença, passada em julgado, a qualo sujeite à prisão e livramento.

§ 79 Compete à mesa da assembleia paroquial:I . Fazer as chamadas dos votantes pela lista geral da qua-

lificação da paróquia e pela complementar dos cidadãos quali-ficados até três meses antes da eleição;

II. Apurar as cédulas recebidas;

III. Discutir e decidir as questões de ordem que forem sus-citadas por qualquer membro da mesa, ou cidadão votante daparóquia;

IV. Verificar a identidade dos votantes, procedendo a talrespeito nos termos do § 16 deste artigo;

V. Expedir diplomas aos eleitores;VI. Enviar ao colégio eleitoral a que pertencerem os elei-

tores uma cópia autêntica das atas da eleição, uma igual ao Mi-

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nistro do Império, na Corte, e ao respectivo Presidente, em cadaProvíncia, e outra, por intermédio destes, ao l9 Secretário daCâmara dos Deputados ou do Senado, conforme for a eleição doeleitores gerais ou especiais para Senador.

§ 89 Ao Presidente da mesa da assembleia paroquial in-cumbe:

I. Dirigir os trabalhos da mesa;II. Regular a discussão das questões que se suscitarem,

dando ou negando a palavra e suspendendo ou prorrogando ostrabalhos;

III. Desempatar a votação dos assuntos discutidos pelamesa;

IV. Manter a ordem no interior do edifício, onde nenhu-ma autoridade poderá intervir sob qualquer pretexto, sem re-quisição sua, feita por escrito ou verbalmente, se não for possí-vel por aquele modo.

§ 9? Instalada a mesa paroquial, começará a chamada dosvotantes, cada um dos quais depositará na urna uma céduala fe-chada por todos os lados, contendo tantos nomes de cidadãos ele-gíveis quantos corresponderem a dois terços dos eleitores que aparóquia deve dar.

Se o número de eleitores da paróquia exceder o múltiplode três, o votante adicionará aos dois terços um ou dois nomes,conforme for o excedente.

§ 10. Os trabalhos da assembleia paroquial continuarãotodos os dias, começando às 10 horas da manhã e suspendendo-seàs quatro horas da tarde, salvo se a esta hora se estiver fazendoa chamada dos cidadãos qualificados de um quarteirão, a qualdeverá ficar terminada.

§11. À hora em que cessarem os trabalhos de cada diase lavrará uma ata, na qual se declarem as ocorrências (to diae o estado do processo eleitoral, com expressa menção do núme-ro das cédulas recebidas, os nomes dos cidadãos que não acudiramà terceira chamada, e do número das cédulas apuradas, dispen-sadas as atas especiais de que tratam os arts. 49 e 55 da Lei de19 de agosto de 1846.

§ 12. Servirá de diploma ao eleitor um resumo da vota-ção, datado e assinado pêlos membros da mesa; segundo o mo-delo que for estabelecido em regulamento pelo Governo. Rece-

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br-lo-ao os <'i[i;K];)US elegíveis que tiverem reunido maioria devolo.s ate ao riumcro de eleitores que deve eleger a paróquia.

§ 13. f; aplicável aos cidadãos elegíveis que tiverem rece-bido votos para eleitores a disposição do § 69 deste artigo.

_§ 14- % ato da eleição não se admitirá protesto ou recla-mação que njj0 seja escrita e assinada por cidadão votante daparoquia.

Admitem.seí porém, observações que, por bem da ordem eregularidade <jos trabalhos, queira verbalmente fazer algum vo-tante.

Admitidos 0 protesto, a reclamação ou as observações, sóaos membros ^a mesa cabe discuti-los e decidir pelo voto damaioria.

§ 15. Ç>s protestos demasiadamente extensos serão sim-plesmente mencionados, e não transcritos nas atas, mas serãointegralmente transcritos no livro das atas em seguida à última,e a transcnça,0 ser^ encerrada com a rubrica de todos os mem-bros da mesa,i

Quando ^xtraírem-se as cópias das atas para os fins declara-dos no art. 121 da Lej de 19 (je agosto de 1846, serão transcritos"^•v^6^113^ ^ópias os sobreditos protestos, sob pena de respon-sabilidade de quem sem estes extraí-las.

§ 16. A, transcrição, erro de nome ou contestação de iden-tiqade não püçierá servir de pretexto para que deixe de ser ad-mitiup a vot^r 0 cjdadão que acudir à chamada, apresentar oseu titulo de qualificação, cujo número de ordem coincida como da lista ger^j e^ escrevendo seu nome perante a mesa, mostrarque a letra e jgual à da assinatura do título ou, não sabendo es-crever, provaj, com 0 testemunho de pessoas fidedignas que équalificado.

Nos caso^ fje dúvida, ex officio, ou a requerimento de trêseleitores ou cj^a(jãos elegíveis, deverá a mesa tomar o voto emseparado com todas as declarações necessárias para justificar oseu procediment0

§ 17. Bara Deputados à Assembleia Geral, ou para mem-bros das Asse,mbieias Legislativas Provinciais, cada eleitor vota-ra em tantos nomes quantos corresponderem aos dois terços donúmero total marcado para a Província.

Se o nurr^ero marcaa0 para deputados à Assembleia Geral emembros da Assembleia Legislativa Provincial for superior ao

260

múltiplo de três, o eleitor adicionará aos dois terços um ou doisnomes de cidadãos, conforme for o excedente,

§ 18. Enquanto por lei especial não for alterado o númerode Deputados à Assembleia Geral, cada Província elegerá namesma proporção ora marcada.

§ 19. Nas que tiverem de eleger Deputados em númeromúltiplo de três, cada eleitor votará na razão de dois terços;nas que tiverem de eleger quatro Deputados, o eleitor votará emtrês nomes, e nas que tiverem de eleger cinco Deputados, o elei-tor votará em quatro.

Nas Províncias que tiverem de eleger somente dois Depu-tados, cada eleitor votará em dois nomes.

Para as eleições gerais de Deputados e Senadores, a Provín-cia do Rio de Janeiro e o Município da Corte formam a mesmacircunscrição eleitoral,

§ 20. No caso de vagas durante a legislatura, o eleitorvotará em um ou dois nomes, se as vagas forem só uma ou duas.

Para três ou mais vagas, o eleitor votará como dispõem os§§ 17 e 19.

§ 21. Na eleição de Senador observar-se-á o seguinte:l? A organização das mesas paroquiais para a eleição dos

eleitores especiais, a ordem dos trabalhos, e o modo de procederà eleição dos eleitores serão os mesmos estabelecidos no § 4?deste artigo;

29 A eleição primária, ou a secundária, se aquela estiverfeita, proceder-se-á dentro do prazo de três meses contados dodia em que os Presidentes de Província houverem recebido acomunicação do Presidente do Senado ou do Governo, ou tive-rem notícia certa da vaga. Uma e outra comunicação serão re-gistradas no Correio.

§ 2 2 . O Ministro do Império, na Corte, e os Presidentesnas Províncias, criarão definitivamente tantos colégios eleitoraisquantas forem as cidades e vilas, contanto que nenhum deles te-nham menos de vinte eleitores.

§ 23. As autênticas dos colégios eleitorais de cada Pro-víncia serão apuradas pela Câmara Municipal da capital, cxculoas dos colégios da Província do Rio de Janeiro, nas eleições paraDeputados à Assembleia Geral e senadores, as quais serão apu-radas pela Câmara Municipal da Corte.

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Page 137: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

§ 24. A eleição de Vereadores das Câmaras Municipais ede Juizes de Paz se fará no 19 dia do mês de julho do últimoano do quatriènío, observando-se na organização da mesa paro-quial e no recebimento e apuração das cédulas dos votantes tudoquanto nesta lei está determinado para a eleição de eleitores.

§ 25. Cada cidadão depositará na urna duas cédulas comos respectivos rótulos, contendo uma os nomes de seis cidadãoselegíveis para Vereadores, se o município der nove Vereadores,ou de cinco cidadãos elegíveis, se o município der sete Vereado-res; outra contendo os nomes de quatro cidadãos elegíveis paraJuizes de Paz da paróquia em que residir, ou do distrito, se aparóquia tiver mais de um.

§ 26. Só podem ser Vereadores os cidadãos com as quali-dades de eleitor, residentes no município por mais de dois anos.

§ 27. Só podem ser Juizes de Paz de um distrito os cida-dãos que, além dos requisitos de eleitor, tiverem por mais dedois anos residência nesse distrito.

§ 28. Se o município for constituído por uma só paróquia,a mesa paroquial, finda a eleição, expedirá logo os diplomas aosJuizes de Paz, e às duas cópias das atas darão o destino indicadoautênticas das atas, remeterá uma à Câmara Municipal e outraao Juiz de Direito da comarca.

§ 29. Se o município compreender mais de uma paróquia,as respectivas mesas paroquiais expedirão os diplomas só aosjuizes de paz, e às duas cópias das atas darão o destino indicadono parágrafo antecedente.

A Câmara Municipal, 30 dias depois daquele em que tivercomeçado a eleição, procederá à apuração geral dos votos paraVereadores, e disto lavrará uma ata, da qual remeterá cópia aoJuiz de Direito da comarca, além das que deve remeter comodiplomas aos novos eleitos, na forma do art. 105 da Lei de 19 deagosto de 1846.

§ 30. O Juiz de Direito é o funcionário competente paraconhecer da validade ou nulidade da eleição de Juizes de Paz eVereadores das Câmaras Municipais, mas não poderá fazê-lo se-não por via de reclamação, que deverá ser apresentada dentrodo prazo de 30 dias, contados do dia da apuração.

Declarará nula a eleição, se verificar algum dos casos apli-cáveis do art. 19, § 26 desta lei, ou que houve fraude plena-mente provada e que prejudique o resultado da eleição; e fará

262

intimar o seu despacho por carta do Escrivão do Júri não só àCâmara Municipal, como a, cada um dos membros da mesa daassembleia paroquial, e por edital aos interessados.

Do despacho que aprovar a eleição só haverá o recurso vo-luntário de qualquer cidadão votante do município, que o deveráinterpor dentro de 30 dias, contados da publicação do edital domesmo despacho; do que, porém, anular a eleição, além do re-curso que a qualquer cidadão é lícito interpor, haverá recursonecessário com efeito suspensivo para a relação do distrito.

§ 31. O Juiz de Direito deverá proferir o seu despacho noprazo improrrogável de 15 dias, contado da data em que receberas cópias autênticas e, no caso de recurso, deverá enviar as atascom o seu despacho motivado e com as alegações e documentosdo recorrente, no prazo também de 15 dias, contado da data dainterposição do recurso, à autoridade superior competente; aqual o decidirá definitiva e irrevogavelmente, nos termos da últi-ma parte do § 18 do art. IV desta lei.

§ 32. O Presidente do Tribunal da Relação enviará aoPresidente da respectiva Província a cópia do acórdão, e imedia-tamente se procederá a nova eleição, no caso de anulação da pri-meira.

§ 33. Os Vereadores e Juizes de Paz do quatriênio anteriorsão obrigados a servir enquanto os novos eleitos não forem em-possados.

Art. 39 Não poderão ser votados para Deputados à Assem-bleia Geral Legislativa os Bispos, nas suas dioceses; e para mem-bros das Assembleias Legislativas Provinciais, Deputados à As-sembleia Geral ou Senadores, nas Províncias em que exerceremjurisdição:

I. Os Presidentes de Províncias e seus Secretários;II. Os Vigários Capitulares, Governadores de Bispados, Vi-

gários Gerais, Provisores e Vigários forâneos;IIT. Os Comandantes de Armas, Generais em Chefe de ter-

ra ou de mar, Chefes de estações navais, Capitães de porto, Co-mandantes militares e dos corpos de polícia;

IV. Os Inspetores das Tesourarias ou repartições de fazen-da geral e provincial, os respectivos Procuradores Fiscais ou dos

Keitos, e os Inspetores das Alfândegas;V. Os Desembargadores, Juizes de Direito, Juizes substi-

tutos, Municipais ou de Órfãos, os Chefes de Polícia e seus De-

263

Page 138: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

legados e Subdelegados, os Promotores Públicos, e os Curadoresgerais de órfãos;

VI. Os Inspetores ou Diretores Gerais da instrução pública.§ l? A incompatibilidade eleitoral prevalece:I. Para os referidos funcionários e seus substitutos legais

que tiverem estado no exercício dos respectivos empregos den-tro de seis meses anteriores à eleição secundária;

II. Para os substitutos que exercerem os empregos dentrodos seis meses, e para os que os precederem na ordem da subs-tituição, e que deviam ou podiam assumir o exercício;

III. Para os funcionários efetivos desde a data da aceitaçãodo emprego ou função pública até seis meses depois de o teremdeixado em virtude de remoção, acesso, renúncia ou demissão.

§ 2*? O prazo de seis meses, de que trata o parágrafo ante-cedente, é reduzido ao de três meses, no caso de dissolução daCâmara dos Deputados.

§ 31? Também não poderão ser votados para membros dasAssembleias Provinciais, Deputados e Senadores, os empresários,diretores, contratadores, arrematantes ou interessados na arre-matação de rendimentos, obras ou fornecimentos públicos na-quelas Províncias em que os respectivos contratos e arremata-ções tenham execução e durante o tempo deles.

§ 4? Serão reputados nulos os votos que para membros dasAssembleias Provinciais, Deputados ou Senadores recaírem nosfuncionários e cidadãos especificados neste artigo; e disto se farámenção motivada nas atas dos colégios ou das Câmaras apurado-ras.

§ 5? Salva a disposição do art. 34 da Constituição do Im-pério, durante a legislatura, e seis meses depois, é incompatívelcom o cargo de Deputado a nomeação deste para empregos oucomissões retribuídas, gerais ou provinciais, e bem assim a con-cessão de privilégios e a celebração de contratos, arrematações,rendas, obras ou fornecimentos públicos. Excetuam-se: l? osacessos por antiguidade; 2<? o cargo de Conselheiro de Estado;3? as Presidências de Província, missões diplomáticas especiaise comissões militares; 4? o cargo de Bispo.

A proibição relativa a empregos (salvo acesso por antigui-dade), comissões, privilégios, contratos e arrematações de rendas,obras ou fornecimentos públicos, é aplicável aos membros das

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Assembleias Legislativas Provinciais, com relação ao governo daProvíncia.

Art. 4? O Governo fará coligir e publicará por decreto to-das as disposições que ficam vigorando em relação ao processoeleitoral.

Promulgado o referido decreto, ficará sem vigor à disposi-ção do art. 120 da Lei n? 387, de 19 de agosto de 1846.

Art. 5? Fica o Governo autorizado a espaçar a reunião daAssembleia Geral Legislativa da seguinte legislatura, contantoque se efetue dentro do primeiro ano.

Outrossim é autorizado a encurtar para a primeira eleiçãogeral os prazos mencionados nos §§ 5? a 10, 13, 14 e 18 do art. l?

Art. 6? A eleição das Assembleia Provinciais continuará aser feita pelo processo da legislação vigente, enquanto se nãoeleger novo corpo eleitoral.

As incompatibilidades, porém, serão também observadas nes-sas eleições, desde que se promulgue a presente lei.

Art. 7? Revogam-se as disposições em contrário.O Dr. José Bento da Cunha e Figueiredo, do Meu Conselho,

Senador do Império, Ministro e Secretário de Estado dos Negó-cios do Império, assim o tenha entendido e faça executar. Palá-cio do Rio de Janeiro, em vinte de outubro de mil oitocentoso setenta e cinco, qüinguasésimo quarto da Independência e doImpério.

Com a rubrica de Sua Majestade o Imperador.

José Bento da Cunha e Figueiredo

265

Page 139: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

DECRETO N? 6.097, DE 12 DE JANEIRO DE 1876

Manda observar as instruções regulamentares paraexecução do Decreto n? 2.675, de 20 de outubro de1875.

Tendo ouvido a Seção dos Negócios do Império do Conselhode Estado, hei por bem que para execução do Decreto n? 2.675,de 20 de outubro de 1875 se observem as Instruções regulamen-tares que com este baixam, assinadas pelo Dr. José Bento daCunha e Figueiredo, do meu Conselho, Senador do Império, Mi-nistro e Secretário de Estado dos Negócios do Império, que assimo tenha entendido e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro,em doze de janeiro de mil oitocentos e setenta e seis, qüinquagé-simo quinto da Independência e do Império.

Com a rubrica de Sua Majestade o Imperador.

José Bento da Cunha e Figueiredo.

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INSTRUÇÕES REGULAMENTARES PARA EXECUÇÃO DODECRETO N? 2.675, DE 20 DE OUTUBRO DE 1875

TÍTULO IDa qualificação dos votantes

CAPÍTULO IDisposições Gerais deste Título

Art. IP De dois em dois anos, a contar do de 1876, proce-der-se-á em todo o Império aos trabalhos de qualificação dos ci-dadãos aptos para votar nas eleições primárias, nas de Juíxes dePaz e nas de Vereadores das Câmaras Municipais.

Estes trabalhos terão começo, quanto à primeira qualifica-ção, no dia que o Governo designar, e, quanto às seguintes, no3? domingo do mês de janeiro de cada biénio. No mencionadodia se reunirão para tal fim as Juntas paroquiais.

(Decreto n? 2.675 de 1875, art. IP, § 24, e Lei n» 387de 1846, art. IP)

Art. 2P São encarregados dos trabalhos de qualificação:IP As Juntas paroquiais, que organizarão as listas dos ci-

dadãos aptos para ser votantes em cada paróquia;2? As Juntas municipais, que, verificando e apurando es-

tas listas, organizarão a da qualificação dos cidadãos de cadamunicípio;

3^ Os Juizes de Direito e as Relações, que decidirão os re-cursos.

(Decreto nP 2.675, de 1875, art. IP, §§ 4P, 11 e 18.)Art. 3P A qualificação feita em virtude do Decreto núme-

ro 2.675 de 20 de outubro de 1875 é permanente para o efeitode não poder nenhum cidadão ser eliminado sem provar-se que

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Page 140: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

faleceu ou que perdeu a capacidade política para o exercício dodireito eleitoral por algum dos fatos designados no art. 79 daConstituição do Império.

(Decreto n? 2.675, de 1875, art. 19, § 21.)

CAPÍTULO IIDa Organização das Juntas Paroquiais

Art. 4? Três dias antes do designado no art. l? para a reu-nião das Juntas paroquiais, se procederá à eleição dos seus mem-bros sob a presidência do Juiz de Paz mais votado do distrito damatriz, ainda que não se ache em exercício, embora esteja delesuspenso por ato do Governo, ou em virtude de pronúncia porcrime de responsabilidade.

(Decreto n? 2.675, de 1875, art. 19, parte 2?, e Lein? 387, de 1846T art. 29)

§ 19 O Juiz de Paz a que se refere este artigo será sempreo eleito na última eleição geral, embora se tenha procedido aeleição posterior em consequência de nova divisão ou incorpora-ção de distritos.

(Lei n° 387, de 1846, art. 3?)§ 2? Quando a convocação, de que trata o art. 59, para a

eleição da Junta paroquial for feita por Juiz de Paz de quatriê-nio a expirar, ao dito Juz, e no seu impedimento ou falta aosoutros Juizes de Paz, do mesmo distrito e quatriênio, segundo aordem da votação, compete em todo caso a presidência da ditaeleição, ainda quando ao tempo desta já se achem em exercícioos Juizes de Paz eleitos para o novo quatriênio.

No caso de não ter sido feita a dita convocação pelo Juiz dePaz mais votado, por estar impedido, todavia competir-lhe-áaquela presidência desde que cessar o impedimento.

Se, porém, não puder presidir a eleição o Juiz de Paz doquatriênio findo que tiver feito a convocação, nem algum dosseus substitutos do mesmo distrito, assumirá a presidência daeleição da Junta o Juiz de Paz mais votado do novo quatriênio,ou, na sua falta ou impedimento, o legítimo substituto, devendoceder a presidência a qualquer daqueles que se apresentar.

(Lei n9 387, de 1846, art. 110, Decreto n» 503, de 1817e Av. n» 35, de 1853.)

268

§ 39 Transladada canonicamente de uma para outra I j ï rr jaa sede de paróquia contemplada no atual recenseamento, pertence ao Juiz de Paz mais votado do distrito da nova matri/. pri-sidir a organização da Junta paroquial.

(Instruções n9 565, de 1868, art. 79)§ 49 Os Juizes de Paz do quatriênio findo, enquanto con-

servarem a jurisdição, por não ter havido eleição na época legal,ou ter sido anulada a ultima eleição, são competentes para pre-sidir a organização das Juntas paroquiais.

(Instruções n9 565, de 1868, art. 39)§ 59 Nos casos de ausência, falta, ou impossibilidade física

ou moral do Juiz de Paz competente para presidir a organizaçãoda Junta paroquial, será este substituído:

19 Pêlos Juizes de Paz seus imediatos, segundo a ordemda votação, contanto que estejam juramentados, ou logo que osejam;

29 Na falta, ausência ou impossibilidade destes, pêlos Jui-zes de Paz de cada um dos outros distritos que a paróquia tiver,segundo a ordem de sua votação, preferidos os dos distritos maisvizinhos à sede da paróquia, e em último lugar pêlos dois distri-tos mais próximos de outras paróquias, ainda que estas perten-çam a município diverso.

(Instruções n9 565, de 1868, art. 19)§ 69 Estas substituições se farão independentemente de

convocação ou convite dos substitutos, ou de ordem prévia de au-toridade superior, sempre que por qualquer modo constar àque-les a falta do Juiz de Paz a quem deverem substituir.

(Instruções n9 565, de 1868, art. 29)§ 79 Logo que se apresentar, para tomar a presidência,

qualquer dos Juizes de Paz que tiverem precedência ao que aestiver exercendo, ceder-lhe-á este o lugar.

(Instruções n9 565, de 1868, art. 29)Art. 59 Para fazer-se a eleição da Junta paroquial, o Juiz

de Paz que houver de presidir a este ato, deverá, 30 dias antesdo marcado para a organização da mesma Junta, convocar nomi-nalmente por editais, que nos lugares públicos se afixarão e se-rão publicados pela imprensa, se a houver, e por notificação feitapor Oficial de Justiça, ou por ofício:

20!)

Page 141: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

1° Os eleitores existentes da paróquia cuja eleição tiver.sido aprovada pela Câmara dos Deputados, excetuados somente:1 ( > os que tiverem mudado o domicílio para fora da mesma pa-róquia, ainda que para esta voltem, caso em que se não com-preende a ausência temporária da paróquia, provada por fatossignificativos que revelem não ter havido ânimo deliberado deefetiva mudança, a qual sempre se presumirá nos dois seguintescasos — achar-se o cidadão incluído em lista de qualificação deoutra paróquia sem ter reclamado, e haver nela exercido cargopara o qual a lei exija domicílio; 29 os que se acharem ausentesda Província;

29 O terço dos imediatos em votos aos eleitores, contan-do-se este terço em relação ao número dos eleitores efetivamen-te convocados, de modo que a proporção seja sempre de umimediato para três eleitores, dois para seis, e assim por diante,embora o número daqueles eleitores exceda o múltiplo de três.

Não serão convocados os imediatos que estiverem compre-endidos nas duas exceções do número antecedente.

Em nenhum caso, porém, poderão ser convocados imediatosque não se achem incluídos no primeiro terço da respectiva lista,contado em relação ao número total dos eleitores que a paró-quia deve dar.

Quando se apresentar, reclamando o seu direito de votar,o eleitor ou imediato que não tiver sido convocado por motivode mudança de domicílio para fora da paróquia, será resolvidaesta questão pela pluralidade dos votos dos eleitores e mais ci-dadãos convocados para tomarem parte na eleição.

(Decreto n» 2.675, de 1875, art. l?, e Lei n1? 387, de1846, art, 4?)

^ 19 Quando o Juiz de Paz competente deixar de fazer porqualquer motivo a convocação de que trata este artigo, o primeirodos seus substitutos legais, nos termos dos §§ 5? e 69 do art. 49,cumprirá este dever no prazo de 24 horas contadas das 10 horasda manhã do dia em que aquele Juiz é obrigado a praticar esseato. Expirado o prazo sem que a convocação tenha sido feitapelo dito substituto, cabe a qualquer dos outros desempenharimediatamente o mesmo dever. O tempo que assim decorrer atérealizar-se o ato da convocação, não será computado nos 30 diasmarcados neste artigo. Se, porém, for excedido este tempo, de-signar-se-á novo dia para a reunião da Junta nos termos #"> art.23.

270

(Instruções n9 168 de 1849, arts. 79 e 89)§ 29 No edital da convocação se declarará expressamente

que a reunião dos eleitores e imediatos para o dito fim se faráàs 10 horas da manhã no consistório, ou, se este não oferecersuficiente espaço, no corpo da igreja matriz, ou finalmente, senesta não for absolutamente possível, em outro edifício situadodentro da paróquia e designado pelo Juiz de Paz de acordo como Juiz de Direito, ou com o Juiz Municipal ou quem suas vezesfizer nos termos em que o primeiro não residir, expondo os mo-tivos que exigirem a mudança.

Se depois da publicação do edital ocorrer caso imprevistoque, não admitindo demora, obste absolutamente à reunião namatriz, o Juiz de Paz designará e anunciará logo em novo editalo edifício em que a reunião se fará, comunicando o fato ao Juizde Direito ou ao Juiz Municipal.

Se durante os trabalhos da Junta sobrevier motivo de forçamaior que obrigue à mudança de alugar, à mesma Junta com-petirá designar o edifício, para o qual se transferirão os traba-lhos. Não se efetuará porém a mudança sem prévio anúncio poredital em que se especifique o motivo.

Na ata competente se mencionará circunstanciadamente aocorrência em qualquer dos casos.

(Decreto n? 2.675, de 1875, art. 19, § 69; Lei n° 387,de 1846, art. 49; Aviso n9 229, de 1860 e Instruçõesn9 565, de 1868, art. 96.)

§ 39 A falta dos eleitores ou dos seus imediatos compre-endidos no primeiro terço, que tiverem morrido, mudado da pa-róquia sua residência, ou se houverem ausentado para fora daProvíncia, não será suprida, no ato da convocação, salvo no casodo § 49 deste artigo.

Se porém, anulados em virtude de ato da Câmara dos Depu-tados os poderes de algum eleitor, passar a ocupar o seu lugaro respectivo suplente, será convocado este como eleitor, e emseu lugar o imediato que se seguir em votação ao último do pri-meiro terço.

(Decreto n? 2.675, de 1875, art. 19; Lei n9 387, de 1846,art. 59, e Aviso n9 53, de 1854.)

§ 49 Na Paróquia cujo número de eleitores for inferior atrês, ou em que, por morte, ausência da província, ou mudançada paróquia, não puderem ser convocados três pelo menos, o

271

Page 142: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

Juiz de Paz convocará, pelo mesmo modo já estabelecido nesteartigo acerca da convocação dos eleitores, e até completaremaquele número, os Juizes de Paz que a ele se seguirem, pela or-dem da votação, e na falta deste, a cidadãos com as qualidadesde eleitor e residentes na paróquia.

Do mesmo modo, se não puderem ser convocados, pelo me-nos, três imediatos compreendidos no primeiro terço, a falta des-tes será suprida ou preenchida, até ao dito número, pela convo-cação dos imediatos em votos aos ditos Juizes de Paz, segundoa ordem de sua votação, e na falta destes, por cidadãos com asqualidades de eleitor e residentes na paróquia.

Esta última disposição não é aplicável ao caso em que sejainferior a três o número dos imediatos necessários para perfazero terço do dos eleitores efetivamente convocados. Em tal caso oJuiz de Paz convocará somente um ou dois imediatos aos Juizesde Paz, ou cidadãos, conforme o número daqueles eleitores.

Assim, se tiverem sido convocados de três a cinco ou de seisa oito eleitores, e nenhum imediato puder sê-lo, convocar-se-ãoapenas dois substitutos deste no segundo caso e um no primeiro:a necessidade da convocação de três substitutos dos imediatos,para perfazer-se este número, refere-se pois ao caso, unicamente,de serem convocados 9 ou mais eleitores.

(Decreto n° 2.675, de 1875, art. l", parte 3?)§ 5? Sempre que a convocação para a eleição da Junta for

feita por Juiz de Paz de distrito vizinho, a falta dos eleitores, noscasos do parágrafo antecedente, não será suprida pêlos Juizesde Paz segundo a regra estabelecida no mesmo parágrafo, e simpor cidadãos com os requisitos ali exigidos. A falta porém dosimediatos aos eleitores será suprida pêlos imediatos aos Juizes dePaz do distrito da matriz, na conformidade do referido pará-grafo.

(Decreto n° 1.812, de 1856, art. 2?)§ 6*? Quando ao ato da organização da Junta paroquial não

comparecer nenhum eleitor ou comparecerem menos de 3 doseleitores ou dos seus substitutos convocados, o Juiz de Paz pre-sidente preencherá, só até ao número 3, a sua falta, convocandopor ofício, ou, se estiverem presentes, verbalmente, os Juizesde Pa? seus imediatos, nos termos do art. 69, e na falta deles,cidadãos com as qualidades de eleitor e residentes na paróquia.

Se ao mesmo ato nenhum imediato comparecer, ou com-parecqrem menos de 3 dos imediatos ou de seus substitutos con-

272

vocados, o dito presidente preencherá também as f n l t a . s , n;i próporção do terço dos eleitores presentes, mas só até ao númerode 3, convidando pelo modo acima declarado quem os deva .subs-tituir.

Assim, se comparecerem de 3 a 5 eleitores, c nenhum ime-diato, será convidado um só substituto; se comparecerem de 6a 8 eleitores, serão convidados 2 substitutos na falta absoluta deimediatos, ou l só, se estiver presente um imediato; finalmente,se comparecerem de 9 a 11 eleitores c nenhum ou menos de 3imediatos, serão convidados, no l1? caso, 3 substitutos, e no 29,l ou 2 substitutos para perfazer-se o número de 3.

O convite será feito:l1? Aos imediatos que se seguirem aos já convocados, e que,

estando compreendidos no l? terço em relação ao número totaldos Eleitores que a paróquia der, tenham todavia deixado deser contemplados na convocação por não haver esta abrangido onúmero completo dos Eleitores por motivo de morte, mudançada paróquia, ou ausência para fora da Província: assim, se, sendo30 o número completo dos Eleitores que a paróquia der, só tive-rem sido efetivamente convocados 27, e conseqüentemente, emvez de todos os 10 imediatos que constituírem o 19 terço, só ohouverem sido 9, terço de 27. mas comparecerem unicamente 2imediatos, convidar-se-á em l? lugar, para perfazer-se o número3, o 109 imediato que não fora convocado, e só na falta deste oprimeiro imediato dos Juizes de Paz;

29 Aos imediatos dos Juizes de Paz;

39 A cidadãos com as qualidades de Eleitor e residentesna paróquia.

(Decreto n9 2.675 de 1875 art. 19 parte 3?)

§ 79 No caso de presidir à eleição da Junta paroquial Juizdo Paz de distrito vizinho, a falta de Eleitores ou imediatos serápreenchida pelo modo estatuído no § 59

íí 89 Será esperado até às 10 horas do dia seguinte o com-paredmento dos novos convocados; mas, se estes não se acha-rem presentes até então, o Juiz de Paz presidente completaráimediatamente o número necessário, por convite feito a cidadãospresentes com as qualidades de Eleitor e residentes na paróquia ,p r e li; rindo para a substituição dos Juizes de Paz e dos imed iu -tos destes os que se seguirem em votos e se acharem presentes.

27: ï

Page 143: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

(Decreto n? 2.675 de 1875 art. IP parte 3?nP 1.812 de 1856 arts. 8, 10 e 14.)

Decreto

§ 9P Nas paróquias novamente criadas, contempladas noatual recenseamento, serão convocados, até 3 e segundo a or-dem de sua votação, os Eleitores das paróquias de que aquelasfaziam parte, residentes em territórios das novas desde a datado provimento canónico, e um dos seus imediatos que aí tambémresidam desde a mesma data.

No caso de ter-se formado a nova paróquia com territóriosdesmembrados de duas ou mais, serão convocados com prefe-rência os Eleitores de qualquer delas e seus imediatos, cuja re-sidência na nova paróquia for mais vizinha do lugar da igrejamatriz.

Na falta de todos, ou de algum destes Eleitores e seus ime-diatos, será preenchido e completado o seu número pelo modoestabelecido nos parágrafos anteriores.

í Decreto n" 2.675 de 1875 art. l» parte 4?)

ií 10. Não havendo Eleitores em uma paróquia, por tersido anulada a eleição dos da legislatura corrente, ou não se ha-ver ela efeluado, ou não estar ainda aprovada pela Câmara dosDeputados, serão convocados os Eleitores da legislatura prece-dente e seus miediatos, observadas as disposições dos parágrafosanteriores.

(Decreto n<> 2.675 de 1875 art. IP S 1°)§ 11. No caso de falta absoluta destes últimos Eleitores

e de seus imediatos do IP terço, serão convocados, em lugar da-queles, até 3 dos Juizes de Paz do distrito da matriz, e, em lugardos ditos imediatos, outros tantos imediatos dos Juizes de Paz.E na falta dos Juizes de Paz e seus imediatos, serão convocadosou convidados, para suprirem a falta dos l.03, até 3 cidadãos comas qualidades de Eleitor e residentes na paróquia, e a dos se-gundos até outros 3 cidadãos com iguais requisitos.

No caso de constar oficialmente, depois da convocação, tersido aprovada a última eleição de Eleitores, ficará sem efeitoaquele ato e serão convocados os novos Eleitores e seus imedia-tos, ainda com redução do prazo legal, fazendo-se em todo casoa nova convocação por ofício do Juiz de Paz dirigido a cada umdos Eleitores e dos imediatos destes.

(Decreto nP 2.675, de 1875 art. IP § IP parte 2truções nP 565 de 1868 art. 41.)

Ins-

274

Art. 6P Os Juizes de Paz e seus suplentes que houveremde ser convocados ou convidados, nos casos especificados nasdisposições anteriores, para suprirem as faltas dos Eleitores eimediatos destes, serão sempre os eleitos para o quatriênio den-tro do qual se fizer a convocação ou o convite.

(Decreto nP 2.675 de 1875 art. IP § IP parte 2?)

Art. ?P No caso de se não ter feito, nos termos do art. 5P,a convocação dos Eleitores e de seus imediatos, considerar-se-ácontudo sanado tal vício pelo comparecimento voluntário damaioria, não só destes, como daqueles.

(Decreto nP 2.675 de 1875 art. IP § 26 n" 3.)

Art. 8P No dia aprazado para a eleição da Junta paroquial,reunidos os Eleitores e seus imediatos, ou substitutos convoca-dos, à hora e no lugar designados nos termos do art. 5P § 29,tomarão assento; o dito Juiz de Paz, como presidente, no topoda mesa com o Escrivão do Juízo à sua esquerda, e em tornoda mesma mesa os ditos Eleitores e seus imediatos ou substitu-tos. Eeita pelo presidente Jeitura do art. IP §§ IP e SP do DecretonP 2.675 de 20 de outubro de 1875 e do cap. 2P destas Instru-ções, anunciará ele que se vai proceder à eleição da Junta pa-roquial.

Na falta, ou impedimento do Escrivão, e no caso de ser esteeleito membro da Junta, será substituído como se determina noart. 25.

Se lhe competir, como Eleitor ou imediato, votar na ditaeleição, exercerá este direito sem interromper as funções deEscrivão da mesma Junta,

(Lei n" 387 de 1846 arts. 8 e 30 — Decreto nP 1.812de 1856 art. 4P — Decreto nP 2.621 de 1860 art. 3P)

Art. 9P Imediatamente o Juiz de Paz presidente fará achamada dos Eleitores e seus imediatos, ou substitutos convoca-dos, e o Escrivão irá lançando cm uma lista os nomes de todosos que não responderem. Cada um dos presentes entregará, pelaordem da chamada, duas cédulas fechadas de todos os lados, enão assinadas, contendo cada uma dois nomes de cidadãos daparóquia com a.s qualidades de Eleitor. Uma destas cédulas teráo rótulo — Para mesários — e a outra — Para suplentes - ; eserão recolhidas em uma urna à proporção que forem entregues.

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Sc algum dos convocados, não substituídos, comparecer de-pois da chamada, mas antes de dar-se começo à apuração dascédulas, será admitido a votar.

(Decreto n9 2.675 de 1875 art. 19 — Lei n9 387 de1846 art. 8° — Decreto n9 1812 de 1856 art. 59)

Art. 10. Concluído o recebimento das cédulas, o Juiz dePaz presidente, depois de as separar segundo os seus rótulos,em dois maços distintos, contará as de cada um destes e publi-cará o seu número; do que tomara nota o Escrivão para ser lan-çado na ata.

Imediatamente o mesmo presidente dará princípio à leitu-ra das cédulas, começando pelas que tiverem o rótulo — Paramesários —, e o Escrivão irá tomando os nomes dos cidadãosvotados e o número dos votos por algarismos sucessivos da nume-ração natural , de maneira que o último número de cada nomemostre a totalidade dos votos que este houver obtido, publican-do em alta voz os números á proporção que os escrever.

(Decreto n9 1.812 de 1856 art. 69)Art. 11. As cédulas em que houver número de nomes in-

ferior ao determinado, serão não obstante apurados; das que po-rém contiverem número superior se desprezar os excedentes,segundo a ordem em que os nomes se acharem escritos.

Não se apurará a cédula que contiver nome riscado, altera-do ou substituído, ou declaração contrária à do rótulo; também,quando se encontrar mais de uma dentro de um só invólucro,quer sejam todas escritas cm papéis separados, quer uma delasno próprio invólucro, nenhuma se apurará.

(Lei n9 387 de 1846 art. 54 e Instruções n9 565 de 1868ar t . 83.)

Art. 12. No caso de se encontrarem cédulas em númerosuperior ao dos votantes, serão todavia apuradas; mas se, à vistada apuração, ve r i f i ca r - se que o excesso influi no resultado daeleição, ficará esta sem efeito e se procederá imediatamente anova eleição da Junta, declarando o Juiz de Paz em alta voz arazão deste fato. Da ocorrência se fará na ata menção especifi-cada.

(Instruções n? 565 de 1868 art. 75. — Aviso n9 204 de1861 e outros.)

Art. 13. Acabada a apuração das cédulas de cada um dosdois maços, o Juiz de Paz presidente publicará sem interrupção

276

os nomes dos cidadãos votados e o número dos votos do cadaum, e declarará membros da Junta paroquial os quatro cidadãosque obtiverem a pluralidade relativa de votos, para mesários, eseus substitutos os quatro que também a obtiverem para su-plentes.

Em caso de igualdade de votação proceder-se-á, em ato su-cessivo, ao desempate pela sorte.

(Decreto n9 1.812 de 1856 art. 7?)Art. 14. Seguir-se-á logo a eleição do Presidente da Junta

paroquial e de três substitutos deste, concorrendo para a eleiçãoos Eleitores somente, cada um dos quais entregará pela ordemda chamada duas cédulas fechadas de todos os lados e não assi-nadas, contendo uma, que terá o rótulo — Para Presidente —,um só nome de cidadão da paróquia com as qualidades de Eleitor,e a outra, que terá o rótulo — Para substitutos —, três nomesde cidadãos com os mesmos requisitos. Recolhidas as cédulasna urna, serão apuradas, em l1? lugar, as da eleição do Presiden-te, e logo depois as da eleição dos seus substitutos, sendo decla-rados eleitos os que obtiverem a maioria de votos.

É aplicável ao processo desta eleição o que se acha dispostonos arts. 9 a 13 a respeito da dos membros das Juntas e seussubstitutos.

(Decreto n? 2.675 de 1875 art. l?)Art. 15. Quando se acharem em branco todas as cédulas

recebidas, ou quando todos os convocados recusarem votar, pro-ceder-se-á pelo modo estabelecido no § 69 do art. 59 para ocaso de falta absoluta de Eleitores e de imediatos.

(Instruções n? 565 de 1868 art. 27.)

§ l? Se nenhuma das cédulas puder ser apurada nos casosda 2^ parte do art. 11, far-se-á logo nova eleição, e se for idên-tico o resultado desta, proceder-se-á segundo o disposto na parteacima citada do § 6? do art. 59

§ 29 Se, feita a apuração das cédulas, verificar-se que nãose acha completo o número dos cidadãos que deviam ser eleitos,a falta se preencherá por nova eleição, votando-se em cédulasque só contenham o número necessário de nomes; e se o resul-tado ainda for o mesmo, proceder-se-á pelo modo estabelecidona parte final do parágrafo antecedente.

277

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Art. 16. Aos Eleitores e mais cidadãos convocados parafazerem a eleição da Junta é permitido inspecjonar ocularmentea leitura das cédulas e a sua apuração, e requerer que seja re_parado qualquer engano.

(Decreto nP 1.812 de 1856 art. 6?)

Art. 17. Se o Juiz de Paz presidente for Eleitor, ou ime-diato compreendido no IP terço, votará na eleição da Junta, epoderá ser eleito presidente ou membro desta ou substituto.

(Decreto n? 1.812 de 1856 art. 11 parte l*)Art. 18. As questões que se suscitarem acerca da elegi-

bilidade de qualquer cidadão para membro da Junta ou presi-dente desta, e para substitutos, serão decidi(jas peia pluralidadedos votos dos Eleitores e mais cidadãos que tiverem tomado par-te na eleição respectiva, decidindo o Juiz de Paz presidente nocaso de empate, só no qual poderá votar. A qualquer cidadãoqualificado da paróquia é permitido apresentar alegação àquelerespeito, logo que se publicar o resultado da eleição- mas só po-derão intervir na discussão os competentes para decidir.

Não se admitirá porém questão sobre a elegibilidade dequalquer cidadão, se o seu nome estiver incluído na lista dequalificação como elegível, e não houver deçjsao proferida trêsmeses antes da eleição, e pela qual perdesse essa qualidade. Ex-cetua-se o caso de exibir-se prova de achar_se 0 dito cidadãopronunciado por sentença passada em julga.^ que 0 sujeite aprisão e livramento.

Reconhecida a não-elegibilidade do eleito proceder-se-á ime-diatamente a nova eleição.

Constituída a Junta, não terá lugar alegacã0 nem decisãoalguma sobre a elegibilidade de qualquer de seus membros.

(Decreto n» 2.675 de 1875 art. 2? s go e Decreto n °1.812 de 1856 art. 12.)

Art. 19. Todos os Eleitores, e mais cidadãos convocados,são obrigados a conservar-se no lugar da eleipao a^é a assinaturada ata da organização da Junta. Os que não a assinarem incor-rerão na multa estabelecida no art. 126 § 5P no 2 da Lei n1? 387de 19 de agosto de 1846.

(Lei n9 387 de 1846 arts. 15 e 126 § 59 no 2 e DecretonP 1.812 de 1856 art. 16.)

278

Art. 20. O Juiz de Paz presidente convidará imediatamen-te para tomarem assento os eleitos presidente e membros daJ u n t a paroquial , ou os seus substitutos; se nem um nern outrosestiverem presentes em número suficiente para constituir-se aJun t a , o Ju iz de Paz convidará por ofício os ausentes e esperaráo seu comparecimento até às 2 horas da tarde. Passado este pra-/,o, proceder-se-á a nova eleição para preencherem-se os lugaresdos que nào tiverem comparecido. Esta nova eleição será feitapêlos Eleitores e seus imediatos presentes, observadas as dispo-sições anteriormente estabelecidas, ou, se já não estiverem pre-sentes, ou recusarem-se ao novo ato, por cidadãos convidadospelo Juiz de Paz. Do mesmo modo se procederá no caso de re-cusarem todos os eleitos, ou algum, tomar assento.

(Decreto nP 2.675 de 1875 art. 1(»1.812 de 1856 arts. 15 e 17 parte 2*)

3», e Decreto nP

Art. 21. O Juiz de Paz presidente mandará em seguidalavrar pelo Escrivão uma ata circunstanciada da organização daJunta, mencionando-se por extenso e expressamente os nomesdü todos os cidadãos votados para presidente, membros da Juntai' seus substitutos, e o número de votos dados a cada um desdeo máximo até ao mínimo; os nomes dos Eleitores, dos imediatosdestes e de outros cidadãos convocados para o ato da organiza-ção da Junta, que não comparecerem, e dos que os tiverem subs-t i tu ído nesse ato; os nomes dos que compareceram e votaram naeleição,, e finalmente todas as ocorrências e incidentes havidosdurante esta.

A dita ata será lavrada em um livro especial e assinada:1° pelo Ju iz .de Paz presidente da eleição da Junta, pêlos cida-dãos eleitos presidente e membros da mesma Junta, ou pêlossubstitutos que em sua falta tiverem tomado assento; 2? portodos os Eleitores, imediatos destes e mais cidadãos, que tiveremvotado na eleição e se acharem presentes.

No final da mesma ata se fará expressa declaração dos no-mes dos que deixaram de assiná-la e dos motivos.

(Decreto n? 1.812 de 1856 art. 16, e Instruções nP 565de 1868 art. 72.)

Art. 22. Assim constituída a Junta, o Juiz de Paz que ti-ver presidido à eleição, entregará ao Presidente eleito a ata daorganização da mesma Junta, bem assim quaisquer documentosque tenham sido apresentados, e finalmente as listas dos Inspe-tores de quarteirão e as parciais de distrito, que são obrigados

27!)

Page 146: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

a enviar àquele Juiz de Paz, até ao último dia do mês de dezem-bro do ano antecedente ao da reunião da Junta, os Juizes de Pazem exercício dos diversos distritos da paróquia, as quais devemser organizadas pelo mesmo modo estabelecido no art. 27.

As listas parciais de distrito se basearão na última qualifi-cação dos votantes e compreenderão:

19 Uma relação dos cidadãos incluídos na última qualifica-ção que houverem falecido ou mudado da paróquia a sua resi-dência, declarando-se em seguida ao nome de cada um a datado falecimento (para o que poderá o Juiz de Paz requisitar dacompetente autoridade informação ou certidão), ou a da mu-dança de domicílio, e indicando-se ao mesmo tempo o númerosob o qual se acharem relacionados na lista da última qualifica-ção;

29 Uma relação dos cidadãos que, tendo sido qualificadoscomo elegíveis para Eleitores, houverem perdido esta qualidade,declarando-se em seguida ao nome de cada um o motivo da per-da e indicando-se ao mesmo tempo os números sob os quais seacharem inscritos na lista da última qualificação;

3? Uma relação dos cidadãos que estejam no caso de serincluídos na qualificação por se haverem mudado para o distritoou adquirido as qualidades de votante depois da última qualifi-cação, declarando-se, em seguida ao nome de cada um, a datada mudança para o distrito, ou a razão pela qual adquiriu aque-las qualidades;

49 Uma relação dos cidadãos que, tendo sido incluídos co-mo simples votantes na última qualificação, houverem adquiridoa qualidade de elegíveis para Eleitores, declarando-se em seguidaao nome de cada um o motivo do reconhecimento dessa qualida-de e indicando-se ao mesmo tempo os números sob os quais seacharem inscritos na lista da última qualificação.

Para a organização das listas e relações de que trata esteartigo, poderá o Juiz de Paz requisitar das competentes autori-dades as certidões, documentos ou esclarecimentos precisos.

(Decreto n? 2.675 de 1875 art. 19 parte 2^ e § 49 —Decreto n.° 2.865 de 1861 art. 19 — Lei n9 387 de 1846art. 31.)

Art. 23. Quando por qualquer motivo não se puder cons-tituir em alguma paróquia a respectiva Junta no tempo próprio,

280

.salvo o caso do § 19 do art. 59, o Governo na Corto e os Presi-dentes nas Províncias designarão novo dia para esse fim e farãoas necessárias comunicações.

(Aviso n9 22 de 1847 § 19, e outros Avisos.)

CAPÍTULO III

Das Funções das Juntas Paroquiais

Art. 24. Reunida a Junta paroquial, no dia que o art. 19designa, o seu Presidente, depois de ler o presente capítulo,anunciará que ela vai proceder aos seus trabalhos.

Art. 25. Servirá perante a Junta o Escrivão do Juízo dePaz, em sua falta o da Subdelegacia, e na deste um cidadão no-meado e juramentado pelo Presidente.

Quando a afluência de trabalhos o exigir, o mesmo Presi-dente, à requisição do Escrivão, nomeará e juramentará cida-dãos que a este auxiliem.

(Lei n9 387 de 1846 arts. 16 e 30 — Decreto n? 2.621de 1860 art. 39 parte 2? — Decreto n? 511 de 1847art. 13.)

Art. 26. À Junta paroquial incumbe organizar a lista ge-ral dos cidadãos da paróquia aptos para votar, incluindo:

19 Os nomes de todos os cidadãos inscritos na última qua-lificação concluída nos termos do Decreto n9 2.675 de 20 de ou-tubro de 1875 e destas Instruções, com declaração dos falecidose dos que houverem mudado o domicílio para fora da paróquia,indicando o lugar para onde, sempre que for possível: em am-bos os casos juntará os documentos ou informações em que sebasear.

29 Os nomes de quaisquer outros cidadãos brasileiros queestiverem no gozo de seus direitos políticos, ou estrangeiros na-turalizados, contanto que uns e outros tenham pelo menos ummês de residência na paróquia antes do dia da reunião.

§ 19 Os que tiverem menor tempo de residência serãoqualificados na paróquia em que antes residiam.

Os que chegarem, vindos de fora do Império ou de provín-cia diversa, qualquer que seja o tempo de sua residência naépoca da reunião da Junta, serão incluídos na lista, se mostra-rem ânimo de permanecer na paróquia.

281

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§ 29 Não serão incluídos na referida lista geral:19 Os menores de 25 anos, nos quais se não compreendem

os casados, c oficiais militares, que forem maiores de 21 anos,os bacharéis formados, e clérigos de ordens sacras.

2? Os filhos-famílias, que estiverem na companhia de seuspais, salvo se servirem ofícios públicos.

3? Os criados de servir, em cuja classe não entram osguarda-livros e primeiros caixeiros das casas de comércio, oscriados da Casa Imperial que não forem de galão branco, e osadministradores das fazendas rurais e fábricas.

4? Os religiosos e quaisquer que vivam em comunidadeclaustral.

5"? Os que não tiverem a renda conhecida, provada ou re-sumida, de que trata o art. 28 destas Instruções.

6*.* As praças de pré do Exército e Armada, e da forçapolicial paga, e os marinheiros dos navios de guerra.

(Arts. 91 e 92 da Constituição,n'-' 387 de 1846.)

Arís. 17 e 18 da Lei

Art. 27. A dita lista geral se organizará por distritos equarteirões, e os nomes dos votantes serão nela escritos por or-dem alfabética em cada quarteirão, e numerados sucessivamen-te pela ordem natural da numeração, de modo que o últimonúmero mostre a totalidade dos mesmos votantes.

Em frente do nome de cada um destes se mencionarão aidade, o estado, a profissão, a circunstância de saber ou não lere escrever, a filiação, o domicílio e a renda conhecida, provadaou presumida, devendo a Junta, no último caso, declarar os mo-tivos de sua presunção e as fontes de informação a que tiver re-corrido.

Esta lista geral, que terá por base a da última qualificação,será acompanhada de quatro listas especiais feitas do mesmomodo que as relações de que trata o art. 22.

(Decreto n» 2.675 de 1875 art. 19 § 4", e Lei n.° 387 de1846 art. 19.)

Art. 28. A renda líquida necessária para ser votante é de200$000 anuais.

282

§ 19 Têm renda legal conhecida:1a Os oficiais do exército, da armada, dos corpos policiais,

da guarda nacional, e da extinta 2? linha, compreendidos os ati-vos, da reserva, reformados e honorários;

2? Os cidadãos que pagarem anualmente 6^000 ou mais deimposições e taxas gerais, provinciais e municipais;

39 Os que pagarem o imposto pessoal estabelecido pela Lein<> 1.507 de 26 de setembro de 1867;

4? Em geral, os cidadãos que, a título de subsídio, soldo,vencimento ou pensão, receberam dos cofres gerais, provinciaisou municipais 200$000 ou mais por ano;

5? Os advogados e solicitadores, os médicos, cirurgiões efarmacêuticos, os que tiverem qualquer título conferido ou apro-vado pelas faculdades, academias, escolas e institutos de ensinopúblico secundário, superior e especial do Império;

69 Os que exercerem o magistério particular como direto-res e professores de colégios ou escolas, frequentados por 10 oumais alunos;

7^ Os clérigos seculares de ordens sacras;8'? Os titulares do Império, os oficiais e fidalgos da Casa

Imperial, e os criados desta que não forem de galão branco;99 Os negociantes matriculados, os corretores e os agentes

de leilão;10. Os guarda-livros e primeiros caixeiros de casas comer-

ciais que tiverem 200&000 ou mais de ordenado, e cujos títulosestiverem registrados no registro do comércio;

11. Os proprietários e administradores de fazendas rurais,de fábricas e de oficinas;

12. Os capitães de navios mercantes e pilotos que tiveremcarta de exame.

§ 29 Admite-se como prova de renda legal:19 Justificação judicial dada perante o Juiz Municipal ou

Substituto do Juiz de Direito, na qual se prove que o justificantetem, pêlos seus bens de raiz, indústria, comércio ou emprego,a renda líquida anual de 200$;

29 Documento de estação pública, pelo qual o cidadão mos-tre receber dos cofres gerais, provinciais ou municipais vcnci-

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mento, soldo ou pensão de 200$000 pelo menos, ou pagar o im-posto pessoal ou outros na importância de 6$000 anualmente;

39 Extinção de contrato transcrito em livro de notas, doqual conste que o cidadão é rendeiro ou locatário, por prazo nãoinferior a três anos, de terrenos que cultiva, pagando 20$000 oumais por ano;

49 Título de propriedade imóvel, cujo valor locativo nãoseja inferior a 200$000.

§ 3? Quanto aos cidadãos mencionados nos diferentes nú-meros do § l? deste artigo, a Junta terá sempre por conhecidaa renda necessária para serem incluídos na lista dos votantes, ese limitará a verificar se aqueles cidadãos estão compreendidosem qualquer dos casos especificados nos ditos números.

A respeito de quaisquer outros cidadãos, a renda legal serápresumida pela Junta, ou provada perante ela pêlos meios desig-nados no S 2°

(Decreto n9 2.675, de 1875 art. 19 § 49)Art. 29. Os Párocos, Juizes de Paz, Delegados e Subdele-

gados de Polícia, Inspetores de quarteirão, Colletores e Adminis-tradores de rendas e quaisquer outros empregados públicos sãoobrigados a prestar à Junta todos os esclarecimentos que estarequisitar para os trabalhos da organização da lista geral dosvotantes, procedendo para este fim até a diligenciais especiais,se forem precisas.

(Lei n» 387, de 1.846 art. 31)Art. 30. As sessões da Junta, que serão públicas, se cele-

brarão em dias sucessivas, tendo princípio às 10 horas da manhãe devendo durar 6 horas consecutivas.

Os trabalhos da Junta deverão concluir-se no prazo de 30dias. Suas deliberações serão tomadas por maioria de votos.

{Decreto n? 2.675, de 1.875, art. 19, §§ 5° e 6?)Art. 31. Todos os interessados poderão requerer verbal-

mente ou por escrito, durante a 1 reunião da Junta, o que jul-garem a bem de seu direito e da verdade da qualificação, e selhes dará um prazo razoável até 5 dias para apresentarem as pro-vas de suas alegações.

(Decreto n? 2.675, de 1875, art. l1?, § 69)

284

Art . 32. No caso de impedimento ou falta do Presidenteda Junta , e dos seus substitutos, os mesários elegerão dentre siq n r r n a presida.

No caso de impedimento ou falta de qualquer dos membrosda Junta, c dos seus substitutos, os presentes elegerão para subs-l i l u í - l o um cidadão que tenha as qualidades de eleitor e sejae le i tor e seja residente na paróquia, prevalecendo, se houverempate, o voto do Presidente.

Sc o impedimento ou falta for de todos os membros daJ u n t a e seus substitutos, o Presidente desta nomeará para com-pô-Ui dois cidadãos com os requisitos acima ditos, e com eles ele-.r.erá os outros dois membros, votando os três por escrutínio•;ccreto.

(Decreto n" 2.675, de 1875, art. 19 § 39 — Decreton9 1.812, de 1.856, art. 17, parte l? — Decreto n? 2.621,de 1860, art. 49)

Art. 33. Em cada dia se lavrará no livro especial, de quel rata o art. 21, uma ata circunstanciada, da qual constarão asdeliberações tomadas pela Junta, com a exposição dos motivos equaisquer ocorrências havidas durante os trabalhos, e as quelenham sido impostas. A ata será assinada por todos os mem-bros da Junta e pêlos cidadãos da paróquia presentes que o qui-'.crem.

(Decreto n? 2.675, de 1875, art. 19, § 69, parte 2?)Art. 34. Acabada a organização da lista geral, de que trata

n art. 26, com todas as indicações mencionadas no art. 27 e comas observações convenientes para esclarecimento e, decisão daJun ta municipal, será transcrita essa lista em livro especial.

A mesma lista será publicada pela imprensa, se o município, i l.iver, e do livro em que estiver lançada se extrairão três cópias,que a Junta assinará, e das quais será remetida uma ao Ministrodo Império na Corte, e nas Províncias ao Presidente, outra sea f i x a r á no interior da Igreja matriz no lugar mais convenientei - público, e a terceira ficará em poder do Presidente da Junta.< 'ada folha destas cópias será assinada por toda a Junta.

Serão também extraídas e assinadas pela Junta cópias par-< iais da referida lista por distritos, para serem remetidas, dentro<l r oito dias contados daquele em que ficar terminada a listar.cnil, aos respectivos Juizes de Paz em exercício, a fim de asla /erem publicar por editais.

Page 149: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

O Presidente da Junta é obrigado a inspecionar, até à 2?reunião desta, a conservação da dita lista afixada na matriz, e,no caso de desaperecer, a substituir por nova cópia extraída docompetente livro, o qual estará sob sua guarda.

(Decreto n? 2.675, de 1875, art. 19, § 7? — Lei n1-1 387,de 1846, art. 21 — Decreto n? 583, de 1849)

Art. 35. Os dois livros especiais de que tratam os arts. 21,33 e 34. serão fornecidos pela Câmara do município, e abertos,numerados, rubricados e encerrados pelo Presidente desta, oupelo Vereador que ele designar.

(Lei n? 387, de 1846, art. 119.)

Art. 36. Passado o intervalo de 30 dias depois daquele emque, como se determina no art. 34, for afixada na matriz a cópiada lista geral dos votantes da paróquia, reunir-se-á novamente aJunta paroquial, e celebrará sessões durante 10 dias consecuti-vos, nas quais receberá as queixas, reclamações, ou denúncias,que qualquer cidadão lhe apresentar sobre faltas ou ilegalidadesem seus trabalhos, em relação quer ao queixoso, reclamante oudenunciante, quer a outrem.

(Decreto n? 2.675, de 1875, art. l1?, § 5? e Lei n? 387, de1846, art. 22.)

Art. 37. Estas queixas, reclamações ou denúncias, serãoreduzidas a termo, que será assinado pelo cidadão que as apresen-tar. Se as acompanharem documentos, o Presidente da Juntapassará recibo destes, sendo pedido.

(Decreto n1? 2.675, de 1875, art. l'-' § 5?, parte 2? eLei n9 387, de 1846, art. 23.)

Art. 38. Tomando logo conhecimento das ditas queixas,reclamações ou denúncias, a Junta só deliberará acerca da inclu-são de nomes omitidos na lista geral; quanto as que se referiremà exclusão de nomes inscritos na mesma lista, a Junta, emboranada possa decidir a tal respeito, deverá contudo dar a sua opi-nião fundamentada, prestando todos os esclarecimentos possíveis.

(Decreto n° 2.675, de 1875, art. l?, § 5°, parte 2?)Art. 39. Organizada, pelo mesmo modo estabelecido no

art. 27, nova lista ou lista suplementar dos cidadãos, cujos nomesdevam ser incluídos segundo as deliberações da Junta, em virtu-de das ditas queixas, reclamações ou denúncias, e transcrita nolivro especial de que trata o art. 34, se fará a sua publicação,

286

e a extraçao das cópias determinadas no mesmo artigo para osfins nele declarados.

(Decreto n1? 2.675, de 1875, art. 19, § 79, parte 2?)Art. 40. Nas atas das sessões, que serão lavradas pela mes-

ma forma estatuída no art. 33, se fará menção das queixas, recla-mações, ou denúncias apresentadas, declarando-se: 19, os nomesdos que as fizerem, e resumidamente o seu objeto; 29, as delibe-rações tomadas pela Junta, quando se tratar da inclusão de novosnomes, ou a sua opinião, quando se pretender a exclusão.

Art. 41. Concluídos os trabalhos da Junta paroquial, o Pre-sidente desta remeterá imediatamente ao substituto do Juiz deDireito, ou ao Juiz Municipal, os livros da qualificação, e todosos mais papéis e documentos concernentes aos ditos trabalhos.

{Decreto n? 2.675, de 1875, art. 19, § 89)S 1° A remessa dos ditos livros, papéis e documentos será

feita pelo Correio sob registro ou por Oficial de Justiça, ou porpessoa da confiança do Presidente da Junta, de modo que, o maistardar, até 10 dias, contados daquele em que se tiverem encer-rado os trabalhos da mesma Junta, sejam recebidos pelo Subs-tituto do Juiz de Direito ou pelo Juiz Municipal.

Só no caso de não haver no lugar agência do Correio, ou node não poder ser feita por este, no prazo indicado, a referidaremessa, se recorrerá a qualquer dos outros dois meios.

O Substituto do Juiz de Direito ou o Juiz Municipal passarárecibo dos ditos livros, papéis e documentos, com declaração dodia do recebimento.

(Lei n° 387, de 1846, art. 79.)§ 29 Quando até o último dia do prazo estabelecido no pará-

grafo antecedente o Substituto do Juiz de Direito ou do Juiz Mu-nicipal não receber os livros, papéis e documentos de que trata omesmo parágrafo, imediatamente os reclamará do Presidente daJunta paroquial.

Se os ditos Substitutos ou Juiz não receberem todos os livrose papéis que lhes devam ser remetidos, reclamarão do mesmomodo os que faltarem.

§ 39 Se em algum dos livros achar o mesmo Substituto ouJuiz falta ou substituição de folhas, ou qualquer vício, imediata-mente chamará duas testemunhas que verifiquem o fato, e pro-cederá ao auto do corpo de delito com peritos.

287

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Do mesmo modo procederá se achar violados o invólucro doslivros e o dos papéis, ou suspeitar que o foram.

Art. 42. Reunir-se-ão novamente as Juntas paroquiais nodia que o seu Presidente marcar, e por convite deste, para o fimde receberem os respectivos livros de atas e as listas que lhesremeterem as Juntas municipais nos termos do § IP do art. 62.

A Junta paroquial remeterá os ditos livros, no prazo e pelomodo estabelecidos no art. 41 § IP, à Câmara do município paraserem arquivados; e publicará as mencionadas listas.

Da sessão que para este fim for celebrada se lavrará umaata no respectivo livro.

Se a Junta não se reunir até três dias depois do designado,o seu Presidente mandará publicar as referidas listas.

(Decreto nP 2.675, de 1875, art. 1<? § 13.)

CAPÍTULO IV

Da Organização da Junta Municipal

Art. 43. A Junta Municipal se reunirá na sede do Muni-cípio.

§ l? Presidirá a esta Junta:O Substituto do Juiz de Direito da l? vara cível, ou o Juiz

Municipal, no município em que residir;

O respectivo suplente, no município que estiver reunido aoda residência do Juiz Municipal, formando um só Termo Judi-ciários;

O Presidente da Câmara Municipal, no município que nãotiver Tribunal de Jurados.

§ 2P Serão membros da mesma Junta:

No município em que residir o Substituto do Juiz de Direitoou o Juiz Municipal, e no que a esse estiver reunido formandoum só Termo Judiciário, dois cidadãos com as qualidades de Elei-tor e residentes no respectivo município, os quais serão eleitospêlos Vereadores da Câmara Municipal;

No município que não tiver Tribunal de Jurados o Vereadorimediato em votos ao Presidente da Câmara Municipal, e o Elei-

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tor mais votado da paróquia onde estiver a sede do munic íp io ,que não se achar ausente ou impossibilitado.

§ 3^ Não pode presidir à Junta municipal ou fazer partedela quem tenha servido em Junta paroquial do município.

(Decreto n? 2.675, de 1875, art.de 1846, art. 33 e 34).

§ 2<? e Lei n1? 387,

Art. 44. A Junta municipal se reunirá para celebrar suassessões ordinárias no dia que for designado dentro do prazomais breve possível, o qual não excederá a 30 dias, contadosdaquele em que se houverem concluído e encerrado os traba-lhos das Juntas paroquiais.

(Decreto n° 2.675, de 1875, art. 19, § 10).Art. 45. A fim de elegerem os dois melhores da Junta e

dois substitutos destes serão convocados para o dia que for desig-nado, com antecedência de 10, todos os Vereadores da Câmarado Município, ainda os que não se acharem em exercício, con-tanto que não estejam privados deste por efeitos legais. Nãoserão porém convocados os não juramentados e os que estiveremausentes do município, e neste caso convocar-se-ão em lugar dosimpedidos os respectivos suplentes, os quais deverão ser jura-mentados, se já o não estiverem, até ao dia da eleição da Juntapelo Presidente desta.

§ IP No município que não tiver Tribunal de Jurados, serãoconvocados os cidadãos mencionados no art. 43 para constituí-rem a Junta neste caso especial.

§ 2P É aplicável a esta eleição o disposto no art. 7P

(Decreto n? 2 . 675, de 1875, art. IP, § 8P)Art. 46. É competente para fazer a convocação de que

trata o artigo antecedente, em todos os casos do art. 43, o Subs-tituto do Juiz de Direito ou o Juiz Municipal.

(Decreto nP 2.675, de 1875, art. IPArt. 47. Serão substituídos:

89)

O Juiz Municipal, ou o Substituto do Juiz de Direito, pelorespectivo suplente, e na falta de suplentes pelo Presidente daCâmara Municipal;

O Suplente do dito Juiz ou Substituto, no município reunidoao da residência destes, pêlos suplentes que se lhe seguirem, e,

289

Page 151: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

na falta de outros suplentes, pelo Presidente da Câmara Muni-cipal;

O Presidente da Câmara Municipal, quando Presidente damesma Junta no caso especial da última parte do § 29 do art. 43,pelo Vereador imediato que se achar desimpedido.

(Lei n? 387, de 1846, arl. 33 e 34.)Art. 48. A convocação de que trata o art. 45 se fará por

editais, que serão publicados pela imprensa, se a houver, na sededo município, e por ofícios, marcando-se o dia em que, às 10horas da manhã, deverão os convocados comparecer na Casa daCâmara Municipal, ou, caso soja absolutamente indispensável, emoutro edifício expressa e previamente designado que ofereça anecessária comodidade.

Os referidos editais e ofícios serão enviados por Oficial deJustiça ao Secretário da Câmara Municipal para mandar afixaros primeiros e entregar os segundos.

(Decreto n'.1 2.675, de 1875, art. 19, § 8", parte W)Art. 49. O Juiz Municipal, ou o Substituto do Juiz de Di-

reito designará um Escrivão do Juízo para executar todos os tra-balhos preparatórios concernentes à convocação.

Desde o dia, porém, em que se dever proceder à eleiçãoda Junta, até à conclusão dos seus trabalhos, servirá peranteela, como Escrivão, o Secretário da Câmara Municipal, e, na faltadeste e de quem o substitua, um cidadão nomeado e juramen-tado pelo Presidente da mesma Junta.

No Município que não tiver Tribunal de Jurados, também ser-virá como Escrivão da Junta o Secretário da Câmara Municipal.

(Decreto n? 2.675, de 1875, art. l1-' § 14, parte 2? —Lei n? 387, de 1846, art. 30 — Aviso n? 114, de 1847, §29, in fine.)

Art. 50. No dia designado para a eleição da Junta munici-pal, reunidos os funcionários convocados, o Presidente, depoisde ter o presente capítulo, anunciará que se vai proceder por es-crutínio secreto à eleição dos membros da mesma Junta, e dedois substitutos destes.

Art. 51. A esta eleição se procederá segundo as disposi-ções, que lhe forem aplicáveis, do cap. 29, do tít. 19, destas Ins-truções. Cada um dos funcionários convocados entregará duascédulas, tendo uma destas o rótulo — Para mesário — e a outra

290

o rótulo — Para suplente —. Em cada uma delas se escreveráum só nome de cidadão com as qualidades de Eleitor e resi-dente no município.

(Decreto n9 2.675, de 1875, art. 19, §§ 29 e 8'-')Art. 52. No caso de não comparecer nenhum dos Verea-

dores até às 2 horas da tarde, ser-lhes-á feito novo convite porofícios para as 10 horas da manhã do dia seguinte; e se aindanesse dia e à hora marcada nenhum se apresentar, o Presidenteda Junta convocará imediatamente para novo dia, que designarácom antecedência de oito dias, os suplentes dos Vereadores, emnúmero igual ao destes e segundo a ordem da votação, emboranão estejam juramentados. Se também esses suplentes não com-parecerem, serão convocados pelo mesmo modo os que se lhesseguirem em votos, e na sua falta, os Vereadores do quatriênioantecedente em 19 lugar, os suplentes destes em segundo lugar, efinalmente os Vereadores, e seus suplentes, do município maisvizinho.

§ 19 Do mesmo modo procederá o Presidente da Junta,quando todos os convocadas recusarem votar ou votarem em bran-co, ou quando, tendo votado em cidadão que careça dos requisi-tos declarados no fim do art. 51, recusarem fazer nova eleição,ou de novo votarem na mesma pessoa ou em outra que tambémcareça daqueles requisitos.

(Instruções n9 565, de 1868, art. 27.)§ 29 Se até 2 horas da tarde não comparecer mais do que

um Vereador, ficará adiada a eleição para o dia seguinte às 10horas da manhã, fazendo-se novo convite aos Vereadores, e seainda então não comparecer mais do que um, serão convocadostantos suplentes quantos perfaçam, com o Vereador que tivercomparecido, número igual ao dos Vereadores do município.

§ 39 Feita a nova convocação ou convite a que se referemeste artigo e seus parágrafos, não será admitido a votar nenhumdos anteriormente convocados, que depois compareça.

§ 49 Se feita a apuração das cédulas, não ficar completoo resultado da eleição, proceder-se-á sem demora a nova eleiçãopara preenchimento das vagas, e, se o resultado ainda for o mes-mo, o Presidente da Junta e o cidadão ou os cidadãos eleitos,com os quais se considerará constituída a mesma Junta, pre-encherão os lugares vagos pelo modo estabelecido no art. 32,parte 2^

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§ 5" Na Junta formada pelo modo especial estabelecidono § 2? do art. 43, por ser de município que não tenha Tribunalde Jurados, a falta de comparecimento do Vereador ou do Eleitorconvocado para compô-la será preenchida, por convite do Presi-dente, pêlos cidadãos que a cada um daqueles se seguirem naordem da votação. A falta do Presidente porém será suprida peloVereador, membro da mesma Junta.

§ 6? Das concorrências extraordinárias mencionadas nesteartigo e seus parágrafos fará participação especial o Presidenteda Junta ao Juiz de Direito, e também na Corte ao Ministro doImpério, e nas Províncias ao Presidente.

Art. 53. Se nenhum dos cidadãos eleitos comparecer paratomar assento, o Presidente da Junta procederá pelo modo esta-belecido no artigo 20.

Se só um dos eleitos comparecer, .se procederá também anova eleição para se preencher a falta, e se não for possível anova eleição, se procederá como está estabelecido no art. 32, par-te 2;»

Art. 54. Não podem ser eleitos membros da Junta muni-cipal cidadãos que hajam feito parte das Juntas paroquiais.

(Lei n1? 387, de 1864, art. 33.)Art. 55. Se durante os trabalhos da Junta municipal dei-

xarem de comparecer algum de seus membros e os substitutos,será preenchida a falta pelo modo estabelecido na 2^ parte doart. 32. Deverá ser residente no município o cidadão que para estefim se eleger.

Se a falta ou impedimento for do Presidente, será substituí-do pelo modo estabelecido no art. 47.

No caso de serem para este fim convidados Vereadores nostermos do dito art. 47, se estes não comparecerem, os dois mem-bros da Junta nomearão para preencher a falta do Presidenteum cidadão que tenha os requisitos legais, decidindo a sorte emcaso de empate.

No caso de ser formada a Junta municipal pelo modo espe-cial a que se refere o § 5? do art. 52, proceder-se-á nos mes-mos termos deste parágrafo.

Art. 56. Nas questões que se suscitarem acerca da elegibi-lidade de qualquer cidadão para membro da Junta municipal, seobservará, no que for aplicável, o disposto no art. 18 relativoàs Juntas paroquiais.

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Art. 57. Constituída a Junta municipal, íavrar-sc logo arespectiva ata semelhante à Je que trata o art. 21, a ai .seráassinada pêlos membros da mesma Junta, pêlos funcií.rúrios ccidadãos que na eleição tiverem intervido, e pêlos mais cidadãospresentes que o quiserem. Em seguida o President ria Juntadistribuirá pêlos membros dela as listas paroquiais, para que asexaminem no próprio lugar da reunião, e nos termos do art. 44marcará, anunciado por editais e pela imprensa, onde a houver,o dia e hora em que deverão principiar as sessões ordinárias damesma Junta para verificação e apuração de cada uma das refe-ridas listas, começando-se pelas das paróquias mais distantes.

(Decreto n? 2.675, de 1875, art. 19, §§ 8? e 9V)Art. 58. Lançar-se-âo as atas da Junta municipal em um

livro especial, que será fornecido pela Câmara do município, eaberto, numerado, rubricado e encerrado pelo Presidente desta,ou pelo Vereador que ele designar.

(Lei n° 387, de 1846, art. 119.)

CAPITULO VDas Funções da Junta Municipal

Art. 59. No trigésimo dia depois daquele em que se hou-verem concluído e encerrado os trabalhos de todas as Juntas pa-roquais do município, ou antes do trigésimo dia, no que, segundoo art. 57, tiver sido designado pelo Presidente da Junta muni-cipal, reunir-se-á esta para celebrar a sua l? sessão ordinária, aqual durará o tempo necessário, não excedendo este a 30 dias.

Quando for grande a afluência de trabalhos, poderá a Junta,passados 45 dias, deliberar que, sem prejuízo do prazo máximojá estabelecido neste artigo, se interrompa a sessão até ao vigé-simo dia; dste em diante prosseguirão os trabalhos para seremconcluídos sem mais interrupção. Por editais, e se for possívelpela imprensa, mandará a Junta publicar esta deliberação.

(Decreto n<.> 2.675, de 1875, art. 19, § 10.)Art. 60. Â Junta municipal compete:19 Apurar e organizar definitivamente, por paróquias, di.s

tritos de paz e quarteirões, a lista geral dos votantes do municlpio, com a declaração dos que são elegíveis para Eleitores, servindo-se para este fim dos trabalhos das Juntas paroquiais, dasinformações que devem prestar-lhe os agentes fiscais das rcruhis

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gerais, provinciais e municipais, bem como todas as autoridadese chefes de repartições administrativas, judiciárias, policiais, civis,militares e eclesiásticas; finalmente, de todos os esclarecimentos emeios de prova necessários para verificação da existência doscidadãos alistados e das qualidades com que o devem ser.

29 Incluir pelo conhecimento que a Junta tiver, ou pelasprovas exibidas de capacidade política, os cidadãos cujos nomeshouverem sido omitidos.

3? Excluir os que tiverem sido indevidamente qualificadospelas Juntas paroquiais, devendo neste caso notificá-los por edi-tais afixados nos lugares mais públicos, ou pela imprensa, para aalegarem e sustentarem o seu direito.

49 Ouvir e decidir, com recurso necessário para o Juiz deDireito, todas as queixas, denúncias e reclamações que versaremsobre a regularidade dos trabalhos das Juntas paroquiais, assimcomo tomar conhecimento ex officio, e com o mesmo recurso, dequaisquer irregularidades, vícios, ou nulidades que descobrir noprocesso dos trabalhos das Juntas paroquiais.

(Decreto n1-' 2.675, de 1875, art. 19, § 11.)Art. 61. No exercício da função de que tratam os n'-">s 19,

39 e 49, do artigo antecedente, a Junta municipal observará asseguintes disposições:

§ l1? Das listas da qualificação definitivamente concluídanos termos do Decreto n9 2.675, de 28 de outubro de 1875, edestas Instruções não podem as Juntas municipais eliminar ci-dadão algum senão nos seguintes casos: perda da capacidade po-lítica, morte, mudança de domicílio para município diferente, oupara país estrangeiro.

No primeiro destes casos a eliminação não pode ter lugarsenão em virtude de requerimento de algum cidadão e de provacompleta, por este produzida, de haver perdido o qualificado acapacidade política por ter-se naturalizado em país estrangeiro,ou ter aceitado sem licença do Imperador emprego, pensão oucondecoração de qualquer Governo estrangeiro, ou ter sido ba-nido por sentença, nos termos do art. 79 da Constituição do Im-pério. Esta prova consistirá em certidão autêntica de qualquerdos 'ditos fatos, ou sentença proferida pelo Juiz de, Direito dacomarca, em processo regular, instaurado com citação pessoal docidadão, cuja eliminação se requerer, quando se achar em lugarconhecido, e em todo caso com citação edital de quaisquer ter-ceiros interessados.

294

Nos outros dois casos referidos a eliminação poderá ser feitaex officio pela Junta municipal: no caso de morte, só à vista decertidão de óbito, que lhe for apresentada, ou que ela houverrequisitado da autoridade ou repartição competente, e no de mu-dança de domicílio, pelo conhecimento que a Junta tiver do fato,ou pelas informações que lhe forem dadas, ou ela requisitar.

(Decreto n'-' 2.075, de 1875, art. 19, §§ 21, 22, e 23parte l?)

§ 29 A respeito do cidadão compreendido em qualificaçãodefinitivamente concluída, e que haja mudado seu domicílio deuma para outra paróquia do mesmo município, ou de um paraoutro distrito da mesma paróquia, fará a Junta nas respectivaslistas as consequentes alterações.

(Decreto n9 2.675, de 1875, § 39, parte 2?)§ 39 Na notificação que, no caso do citado n9 39 do artigo

antecedente, a Junta fizer por editais e pela imprensa, para ale-garem e sustentarem o seu direito, aos cidadãos compreendidosnas listas gerais organizadas pelas Juntas paroquiais e que poraquela tiverem sido excluídos, serão declarados os motivos daexclusão. Na respectiva ata se fará idêntica declaração.

(Lei n9 387, de 1846, art. 23.)§ 49 As queixas, denúncias e reclamações, a que se refere

o citado n9 49 do artigo antecedente, e que qualquer cidadãopoderá apresentar, serão reduzidas a termo, que este cidadãoassinará e se transcreverá na ata. Se as acompanharem documen-tos, o Presidente da Junta passará recibo destes, sendo pedido.

Antes de as decidir poderá a Junta requisitar para seu es-clarecimento os precisos documentos e informações, e receberáqualquer contestação, que será também reduzida a termo assi-nado pelo cidadão que a apresentar.

Proferidas as decisões, que na ata se transcreverão integral-mente, serão elas remetidas sem demora com os requerimentose termos das queixas, denúncias e reclamações, e com todos ospapéis e documentos que lhes forem concernentes, ao Juiz deDireito, para delas conhecer em recurso necessário; o que serámencionado na ata da sessão.

Da entrega dos ditos papéis ao Juiz de Direito o Secretárioda Câmara Municipal, como Escrivão da Junta, haverá recibo.

(Decreto n9 2.675, de 1875, art. 19, § 5., parte 2^ e §11, n9 4, e Lei n9 387, de 1846, art. 31.)

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§ 59 As decisões que, nos termos da segunda parte do re-ferido n? 49 do artigo antecedente, a Junta tomar sobre as irre-gularidades, vícios ou nulidades que descobrir no processo dostrabalhos das Juntas paroquiais, e de que tomar conhecimentoex officio, serão, como no caso do parágrafo anterior e para omesmo fim, remetidas também ao Juiz de Direito, e transcritasna ata da sessão. Entretanto, não se interromperão os trabalhosda Junta.

(Decreto n« 2.675, de 1875, art. 1°, § 11, n? 4.)

Art. 62. Revistas, alteradas ou confirmadas pela Junta mu-nicipal as listas gerais, organizadas pelas Juntas paroquiais, se-rão elas lançadas nos livros especiais da qualificação dos votan-tes de cada paróquia, e assinadas pela Junta municipal.

§ 19 Nestas listas fará a Junta municipal a competente de-claração dos cidadãos elegíveis para eleitores, exigida no n? l1?do art. 60.

De cada uma uma destas listas será enviada, no prazo decinco dias, uma cópia autêntica segundo o art. 34, ao Juiz deDireito da comarca, e outra à Junta da respectiva paróquia,acompanhando-a o livro das atas desta, do qual trata o art. 21.

§ 29 Serão sem demora publicadas as referidas listas, todasna sede do município, e cada uma, por ordem da respectiva Jun-ta Paroquial, na paróquia a que pertencer, por meio de editaisafixados durante dois meses e pela imprensa, se a houver, qua-tro vezes com o intervalo de 15 dias.

O Secretário da Câmara Municipal e em cada paróquia oEscrivão do Juízo de Paz são obrigados a substituir imediata-mente os editais que se inutilizarem ou forem tirados.

§ 39 Se for necessário e o Secretário da Câmara requisitar,a Junta nomeará quem o auxilie nos seus trabalhos, especial-mente na ocasião de se extraírem as cópias das listas de que tra-tam os dois parágrafos anteriores.

(Decreto n9 2.675, de 1875, art. 19, § 13, Decreton9 511, de 1847, art. 13.)

Art. 63. Decorrido o prazo de dois meses, contado do diaseguinte ao do encerramento da 1 reunião das Juntas munici-pais, estas se reunirão segunda vez durante dez dias consecutivosa fim de receberem recursos de suas decisões para os Juizes deDireito das respectivas comarcas.

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Ksta 2^ reunião será anunciada com antecedência de oitodias, pelo menos, por edital e pela imprensa, se a houver no lu-gar.

Nas comarcas que tiverem mais de um Juiz de Direito, ccompetente para conhecer dos referidos recursos o da 1a VaraCível.

(Decreto n9 2.675, de 1875, art. l?, § 14.)Art, 64. Os recursos que tiverem por fim a inclusão de

cidadãos na qualificação, serão interpostos por meio de requeri-mento pêlos próprios a quem se referirem, ou por seus especiaisprocuradores; os que porém tiverem por fim a exclusão poderãosê-lo por qualquer cidadão da paróquia.

Também poderão ser interpostos por qualquer cidadão daparóquia os recursos que versarem sobre irregularidades, víciosou nulidades dos trabalhos das Juntas e da organização destas.

Os ditos recursos serão tomados por termo, procedendo-secomo está determinado no § 49 do art. 61.

No caso de recurso voluntário, será este instruído com cer-tidão dos respectivos termos e das decisões sobre que versarem,além dos documentos que os recorrentes quiserem produzir.

(Decreto n9 2.675, de 1875, art. 19, § 15, parte l?)Art. 65. Os recursos deverão ser acompanhados de do-

cumentos que façam prova plena, ou de justificações processadascom citação do Promotor Público, no 19 caso do artigo anterior,e com citação dos interessados nos outros dois casos.

(Decreto n9 2.675, de 1875, art. 19, § 15, parte 2?)Art, 66. A Junta, no mesmo dia em que lhe forem apresen-

tados os recursos, ou no imediato, salvo o prazo de que trata oart. 72, os decidirá proferindo despacho nos requerimentos dosrecorrentes, o qual será transcrito na ata e publicado por edital,e pela imprensa, se a houver.

(Decreto n9 2.675, de 1875, art. 19, § 16.)Art. 67. As decisões favoráveis aos recorrentes que reque-

rerem sua inclusão na qualificação, serão logo executadas in-cluindo-se seus nomes nas respectivas listas; mas dessas decisõespoderá qualquer cidadão interpor, para o Juiz de Direito, recursocorn efeito devolutivo. Se porém forem desfavoráveis as decisõesno mesmo caso, a Junta remeterá, dentro de três dias, os recur-

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sos com todos os papéis e documentos, que os acompanharem,ao dito Juiz de Direito, e com quaisquer novos documentos oualegações que naquele prazo os interessados quiserem produ-zir.

(Decreto n9 2.675, de 1815, art. 19, § 17.)Art. 68. As decisões proferidas pela Junta sobre os recur-

sos interpostos para exclusão de cidadãos compreendidos na qua-lificação, ou relativos a irregularidades, vícios ou nulidades dostrabalhos das Juntas e da organização destas, não terão efeitoimediato, e os recursos serão remetidos pela Junta ao Juiz deDireito dentro do prazo e pelo modo estabelecidos na segundaparte do artigo antecedente, .sob pena de responsabilidade.

§ 19 Os recursos necessários nos termos deste artigo e doantecedente serão remetidos ao Juiz de Direito pelo Correio esob registro. Também serão remetidos pelo mesmo modo os re-cursos voluntários, quando os recorrentes o requererem.

§ 29 Se a Junta municipal deixar de remeter ao Juiz deDireito até ao último dia de sua sessão os recursos, nos termosdeste artigo e do antecedente, terão os recorrentes o direito deinterpô-los diretamente perante o Juiz de Direito no prazo dequinze dias.

Se o recurso não remetido versar sobre irregularidades, ví-cios e nulidades da qualificação, incumbe ao Promotor Públicofazê-lo seguir para o Juiz de Direito, quando o fato lhe constarou lhe for denunciado.

(Decreto n9 2.675, de 1875, art. 49, § 17, parte 2?)Art. 69. Na segunda reunião a Junta municipal não pode

tomar deliberação alguma sobre inclusão ou exclusão de cida-dãos, senão por virtude de recursos interpostos nos termos dosartigos anteriores.

(Decreto n? 2.675, de 1875, art. 19, § 14.)Art. 70. As sessões da Junta municipal serão públicas, e

durarão desde as dez horas da manhã até às quatro da tarde.(Decreto n9 2.675, de 1875, art. 19, § 12).

Art. 71. As deliberações da Junta serão sempre tomadaspor maioria de votos.

(Decreto n9 2.675, de 1875, art. 19, § 12.)Art. 72. Em qualquer sessão poderão os interessados re-

querer verbalmente ou por escrito o que julgarem a bem do seu

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direito e da verdade da qualificação, e se lhes concederá pra/.orazoável, até cinco dias, para apresentarem provas de .suas alegações, contanto que este se inclua nos prazos dos arts. 59 e (i:t

(Decreto n9 2.675, de 1875, art. 19, § 12, parte 2;|)

Art. 73. De cada sessão se lavrará uma ata circustanciadasemelhante à de que trata o art. 33, a qual será assinada pêlosmembros da Junta municipal e por todos os cidadãos presentesque o quiserem.

(Decreto n9 2.675, de 1875, art. 29, § 12, parte 3?)

Art. 74. Findos os trabalhos da qualificação, será lançadaem livro especial, fornecido pela Câmara do município, e aberto,numerado, rubricado e encerrado pelo Presidente desta, ou peloVereador que ele designar, a lista geral dos cidadãos do muni-cípio por paróquias, distritos e quarteirões, organizada de con-formidade com as listas paroquiais feitas na l^ reunião, corno seacha estabelecido no art. 62.

Serão também lançadas no mesmo livro quatro listas suple-mentares da dita lista geral, organizadas, como esta, por paró-quias, distritos e quarteirões, contendo uma os nomes dos cida-dãos incluídos, outra os dos excluídos, outra os dos deputadoselegíveis e outra os dos declarados não elegíveis, à vista das de-cisões tomadas pela Junta na 2^ reunião em virtude de recursosinterpostos.

No livro especial de cada paróquia se lançará a parte dasditas listas suplementares que lhe for concernente, escrevendo-se em seguida à respectiva lista geral.

Da lista geral da qualificação do município, bem como daslistas suplementares de que se trata neste artigo, remeterá aJunta cópias autênticas ao Ministro do Império na Corte, e aoPresidente nas Províncias, e destas últimas listas remeterá tam-bém cópia autêntica ao Juiz de Direito competente segundo oart. 63, e ao Juiz de Paz mais votado de cada paróquia. Cada fo-lha destas cópias será assinada por toda a Junta.

Por editais e pela imprensa, se a houver, publicarão os Jui-zes Municipais ou os Substitutos dos Juizes de Direito, na sede domunicípio, as mesmas listas suplementares, e o dito Juiz de Pa/.,em cada paróquia, a parte delas que a esta for relativa.

(Decreto n9 2.675, de 1875, art. 19, §§ 13 e 19.)

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Ari. 7íï. (,'oncluídos estes trabalhos, se passarão os títulos<ir qua l i f i cação , procedendo-se a este respeito segundo as dis-posições do cap. 8? destas Instruções.

(Decreto n° 2.675, de 1875, art. 19, § 19.)Art. 76. O livro das atas da Junta municipal, e o da qua-

lificação do município, concluídos todos os trabalhos da mesmaJunta, serão recolhidos no arquivo da Câmara do município.

(Decreto n? 2.675, de 1875, art. 19, § 19.)Art. 77. No l? dia útil do mês de janeiro de cada ano, por

convocação feita pêlos Presidentes das Juntas municipais, estasse reunirão de novo, por prazo que não exceda a cinco dias, paraorganizarem duas listas complementares, nas quais lançarão, emuma os nomes dos cidadãos incluídos na qualificação, e na outraos nomes dos excluídos dela, pelas decisões dos Juizes de Direitoe Relações, proferidas em virtude dos recursos interpostos nostermos dos anteriores artigos. Para este fim os mesmos Juizes eTribunais remeterão aos Presidentes das Juntas relações nomi-nais dos incluídos ou excluídos por suas decisões, cujas datasserão declaradas naquelas listas.

Destas relações nominais os Presidentes das Juntas envia-rão, logo que as receberem, cópia aos Juizes de Paz mais votadosdas respectivas paróquias para o fim indicado no § 4<? do art. 107.

Quanto à organização destas listas complementares e ao pro-cedimento que a respeito delas se deve seguir, se observarão asdisposições, que lhe forem aplicáveis, do art. 74 relativo às listassuplementares.

(Decreto n? 2.675, de 1875, art. 19, § 25.)Art. 78. Qualquer omissão competida na organização das

distas listas complementares, quanto aos nomes dos cidadãos quedeverão serem incluídos na qualificação, ou desta excluídos emvirtude das decisões dos Juizes de Direito e Relações, não privaráos primeiros daqueles cidadãos do direito de votar nas eleições,nem importará este direito quanto aos segundos. A omissão ficarásuprida com a exibição, perante a Mesa paroquial, em ocasiãocompetente, de certidão das referidas decisões.

(Instruções n9 168, de 1849, art. 13.)Art. 79. Da dita reunião da Junta municipal se lavrará uma

ata no livro especial das atas desta Junta, e se remeterão cópiasautênticas dela ao Ministro do Império na Corte, e ao Presidentenas Províncias.

300

CAPÍTULO VI

Dos Recursos

Art. 80. Os recursos necessários e os interpostos pêlos in-teressados perante as Juntas municipais, nos termos dos arts.64 e 65, das deliberações das mesmas Juntas, serão decididospelo Juiz de Direito da comarca em despachos fundamentadosno prazo improrrogável de 30 dias contados daquele em que re-ceberem os mesmos recursos, sob pena de responsabilidade.

Se o Juiz de Direito não julgar o recurso dentro do prazomarcado, terá o recorrente o direito de renovar o mesmo recur-so para a Relação do distrito, interpondo-o perante o dito Juiz deDireito.

Se não for interposto este novo recurso, ficará subsistindocom todos os seus efeitos a decisão recorrida.

Se o recurso não decidido pelo Juiz de Direito versar sobreirregularidade s, vícios, ou nulidades da qualificação, incumbe aoPromotor Público fazê-lo seguir para a Relação do distrito, quandoo fato lhe constar, ou lhe for denunciado.

(Decreto n? 2.675, de 1875, art. l?, § 18, parte l?)Art. 81. Concluída a qualificação pela Junta municipal, se-

rão interpostos perante o Secretário da Câmara Municipal, den-tro de 30 dias contados daquele em que se finalizar o lançamentodas listas no livro competente, os recursos sobre irregularidadese nulidades da mesma qualificação, os quais serão decididos peloJuiz de Direito no prazo e pelo modo estabelecidos no artigo an-tecedente. É aplicável a este caso a disposição da 2? e da 3? partedo dito artigo.

(Decreto n? 2.675, de 1875, art. 19, § 29, parte 2?)Art. 82. O recorrente ou qualquer interessado poderá, nos

casos do artigo antecedente, apresentar ao Juiz de Direito asalegações e documentos que julgar convenientes a bem de seudireito, ou da verdade e legalidade da qualificação.

Art. 83. Nos processos dos recursos servirá perante o Juizde Direito o Escrivão do Júri ou quem o deva substituir.

(Decreto n» 2.675, de 1875, art. 19, § 18, in fine.)Art. 84. As decisões do Juiz de Direito em recursos sobre

a qualificação produzirão desde logo todos os seus efeitos.§ l? No caso porém de exclusão, poderão os cidadãos in-

teressados interpor a todo tempo recurso para a Relação do dis-trito.

301

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Os recursos interpostos serão tomados por termo lavradopelo Ksrrivào do Júri, independentemente de despacho, em livrocspc í 'Ui l , no qual posteriormente serão transcritas as decisões quesnbro eles forem proferidas.

ü 29 Se a decisão versar sobre irregularidades e víciosque importem a nulidade da qualificação, haverá dela recursonecessário para a Relação com efeito suspensivo.

O recurso será remetido pelo Correio, sob registro, para esteTribunal no prazo de três dias contados da data da decisão doJuiz de Direito. Acompanharão o mesmo recurso os papéis so-bre que tiver sido dada a decisão recorrida.

(Decreto n? 2.675, de 1875, art. 19, § 18. partes 2? e3?).

Art. 85. As Relações decidirão, no prazo improrrogávelde 30 dias contados da data do recebimento dos respectivos pa-péis na Secretaria, os recursos concernentes a irregularidades evícios que importem a nulidade da qualificação; e prontamente,conforme a disposição do art. 38 da Lei n*? 387, de 19 de agostode 1846, e os outros recursos.

Se o recurso não for provido dentro do referido prazo, ter-se-á por firme e irrevogável a decisão do Juiz de Direito.

No caso de ser anulada a qualificação, ou no de não tersido decidido o recurso no prazo estabelecido, o Presidente daRelação, no l? caso, enviará imediatamente ao Ministro do Im-pério na Corte, e ao Presidente nas Províncias, cópia do respec-tivo acórdão, a fim de proceder-se prontamente a nova qualifica-ção, e, no 2? caso, comunicará a ocorrência, a fim de providen-ciar-se convenientemente.

(Decreto n? 2.675, de 1875, art. 19, § 18, partes 2? e 3$)

CAPÍTULO VHDas Nülidades da Qualificação

Art. 86. Importam necessariamente nulidade da qualifica-ção os seguintes motivos:

§ 19 Quanto aos trabalhos da Junta paroquial;19 Ter sido a organização da Junta presidida por Juiz in-

competente ou não juramentado;

.302

29 Terem concorrido para a eleição dos membros <l; i Juntapessoas incompetentes em tal número, que pudessem ler influídono resultado da eleição;

39 Não se ter feito, nos termos do art. 49 da Lei n'.> 387,de 19 de agosto de 1846, a convocação dos eleitores e dos imedia-tos em votos, que deviam concorrer para a eleição dos membrosda Junta; vício que, entretanto, se considerará sanado pelo com-parecimento voluntário da maioria, não só dos eleitores, comodos imediatos em votos que deviam ser convocados conforme oart. 59 destas Instruções;

49 Ter a Junta deixado de funcionar no lugar designadopara suas reuniões, salvo o caso de força maior, devidamentecomprovado;

59 Ter, por causas justificadas e atendíveis, funcionado emlugar diverso do designado para suas reuniões, sem fazer cons-tar por editais o novo lugar destas;

6^ Terem feito parte da Junta pessoas sem as qualidadesde eleitor;

79 Não se ter reunido a Junta pelo tempo e nas ocasiõesque o Decreto n9 2.675, de 20 de outubro de 1875 destas Ins-truções determinam;

89 Não ter sido feita a qualificação por distritos e quartei-rões, e com todas as declarações exigidas no mesmo Decreto enas Instruções.

§ 29 Quanto aos trabalhos da Junta municipal:19 Ter ocorrido qualquer dos casos especificados nos n9s

l, 2 e 4 a 7 do parágrafo antecedente;29 Não se ter feito, nos termos do art. 45 destas Instruções

a convocação dos Vereadores que deveriam ter concorrido paraa eleição dos dois membros da Junta; o que, contudo, se consi-derará sanado pelo compare cimento voluntário da maioria dosditos Vereadores;

39 Não ter sido feita a qualificação por paróquias, distritose quarteirões, e com todas as declarações exigidas no referidoDecreto e nestas Instruções;

49 Não se ter feito a publicação da lista geral da qualifica-ção pelo tempo e modo prescritos no art. 62 destas Instruções.

(Decreto n9 2.675, de 20 de outubro de 1875, art. 19,§§ 26 e 28.)

303

Page 158: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

Art. 87. Qualquer irregularidade não especificada no ar-l igo antecedente, embora pudesse por sua natureza influir nasubstância do processo da qualificação, não o aulará nos dois se-guintes casos, e apenas dará lugar à responsabilidade de quem amotivar, uma vez que se verifique ter havido culpa:

l? Se tendo ocorrido durante os trabalhos das Juntas pa-roquiais, for aquele processo em sua substância confirmado oucorrigido pelas Juntas municipais;

2? Se, tendo ocorrido durante os trabalhos das Juntas mu-nicipais, for por estas suprida em tempo.

(Decreto n° 2.675, de 1875, art. 19 §§ 27 e 29.)Art. 88. Em nenhum caso se julgará nula a qualificação

por irregularidades que não influírem direta e substancialmenteno seu processo ou no seu resultado.

CAPITULO VIIIDos Títulos de Qualificação

Art. 89. Até 10 dias depois daquele em que se concluir olançamento das listas gerais da qualificação no competente livro,nos termos do art. 74, cada Junta municipal passará, segundo omodelo junto n9 l, os títulos de qualificação de todos os cidadãosinscritos nas ditas listas.

(Decreto n» 2.675, de 1875, art. l?, § 19.)Art. 90. Estes títulos, extraídos de livros de talão impres-

sos, serão assinados pelo Presidente da Junta e pelo Secretárioda Câmara Municipal, ou quem suas vezes fizer, e deverão con-ter, além da indicação da província, município, paróquia, distritoe quarteirão, o nome, idade, estado, profissão, filiação, domicílioe renda do cidadão; a circunstância de saber este, ou não, ler eescrever; o número sob o qual se achar qualificado na respec-tiva lista; a data da sua qualificação, ou da decisão em virtudeda qual tiver sido posteriormente incluído; finalmente a decla-ração de ser simples votante ou elegível para eleitor.

(Decreto n° 2.675, de 1875, art. § 19.)Art. 91. Em cada talão, que será rubricado pelo Presidente

da Junta, se escreverá o número do título de qualificação, o no-me do cidadão e o número da lista em que se achar incluído, ese designará a paróquia a que pertencer.

304

Art. 92. Dos títulos de qualificação, passados na nmidade do arí. 89, os que pertencerem aos cidadãos a rcspnlode cuja inclusão nas l i s t a s gerais não tenha havido recurso, ser ;»»remetidos pela Junta, no prazo de três dias, aos Juizes de pá/.,em exercício, das paróquias em que residirem os ditos cidadãospara o f im declarado no art. 93.

Os que porém forem relativos aos cidadãos a respeito dosquais tenha sido interposto recurso, não serão expedidos c serecolherão no arquivo da ("amara Munic ipa l até serem decididosos recursos, ou f icarem estes sem efeito nos casos dos arts. 80e 85.

Proferidas as decisões que negarem provimento a estes re-cursos, ou nos casos dos mencionados arts. 80 e 85, o Presidenteda Junta remeterá aos competentes Juízos de Paz, no prazo detrês dias contados daquele em que tiverem disto conhecimento,os títulos de qualif icação pendentes a que se refere a parte 2?deste artigo.

(Decreto n<> 2.675, de 1875, art. 1°. § 19.)§ l'-1 Quanto aos cidadãos não inscritos nas mencionadas

listas gerais, que, cm vir tude de recurso, forem nelas posterior-mente incluídos, o Presidente da J u n t a mandará passar pelo Se-cretário da Câmara M u n i c i p a l e com ele assinará os competen-tes títulos, que remeterá aos respectivos Juizes de Pa/, no prazode três dias contados daquele em que tiver conhecimento oficialdo provimento do recurso.

§ 29 Serão recolhidos no arquivo da Câmara Municipal oslivros de talão, á vista dos quais o Secretário desla prestará osesclarecimentos que lhe forem requisitados e passará as certidõesque forem requeridas.

Art. 93. Os Juizes de Paz, logo que receberem os títulosde qualificação, mandarão a f ixar editais nas portas da Casa daCâmara Municipal e das igrejas matrizes, e, se houver imprensa,publicá-los por esta, convidando os cidadãos qualif icados parapessoalmente procurarem os respectivos títulos no prazo de trin-ta dias.

O próprio cidadão, ou, se não souber escrever, outrcm porele, assinará o seu título perante o Juiz de Paz na ocasião de ser-lhe por este entregue, e passará recibo em livro para tal f imespecialmente destinado.

Os títulos que, decorrido o prazo marcado, não forem re-cebidos, serão remetidos pelo Juiz de Paz à Câmara Municipal,que os mandará recolher e guardar em um cofre.

Page 159: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

(Decreto n'.1 2.675, de 1875, art. 19, § 20.)A r i . 94. Quando o Juiz de Paz duvidar ou recusar entregar

o t i t u l o ao cidadão que para recebê-lo se apresentar, poderá esterecorrer para o Juiz de Direito, que decidirá, ouvindo aqueleJuiz, cuja resposta deve ser dada no prazo de três dias.

O mesmo recurso terá lugar no caso de recusar a CâmaraMunicipal a entrega do título de qualificação depositado em seucofre.

(Decreto n? 2.675, art. 19, í? 20, parte 2?)Art. í)õ No caso de perda do título de qualificação, po-

derá o cidadão, justificada a perda com citação do Presidente daJunta, requerer novo título, tendo recurso para o Juiz de Direito,se for indeferido.

No novo t í tulo e no respectivo talão se declarará a circuns-tância de ser segunda via, e o motivo pelo qual foi passado.

Passar-se-á também e do mesmo modo novo título no casode ter havido erro no primeiro.

TÍTULO II

Das eleições

CAPÍTULO I

Disposições gerais deste Título

Art. 96. Nas primeiras eleições de Eleitores, Vereadoresda Câmara Municipal, e Juizes de Faz se observarão as disposi-ções transitórias do tit. 49 destas Instruções.

(Decreto n9 2.675, de 1875 art. 2» $ 5»)Art. 97.

Império:As subsequentes eleições começarão em todo o

No 19 dia útil do mês de novembro do 49 an0 da legislatu-ra as dos Eleitores gerais, excetuado o caso de dissolução daCâmara dos Deputados, no qual o Governo marcará dentro doprazo de 4 meses, contados da data do Decreto de dissolução, umdia útil para o começo dos trabalhos da nova eleição;

No 19 dia do mês de julho do último ano do quatriênio asdos Vereadores das Câmaras Municipais e de Juizes de Paz.

.306

(Decreto n» 2.675, de 1875 art. 29 ^ ;i" e :M iArt. 98. Para todos os efeitos eleitorais até ao novo am>

lamento geral da população do Império subsistirão ina l te ráve l :*as circunscrições paroquiais contempladas no atual recensea-mento, não obstante qualquer alteração feita pela criação denovas paróquias, extinção ou subdivisão das existentes.

(Decreto n'.' 2.675 de 1875 art. 1°)

CAPÍTULO II

Da Organização da Mesa Paroquial

Art. 99. Três dias antes do designado para a eleição pro-ceder-se-á á organização da Mesa paroquial pelo modo estabele-cido para a organização das Juntas paroquiais no cap. 29 do tit.19 destas Instruções, com as seguintes alterações nas disposiçõesdo Ü 29 do art. 49, e do S 49 do art. 59;

l? Embora, no caso do dito § 2°, tenha sido feita por Juizde Paz de quatriênio a expirar a convocação pnra a eleição daMesa paroquial , é competente para presidir a esta eleição o Juizde Paz do novo quatr iênio, se tiver entrado em exercício;

2? Embora, no caso do citado S 49, tenham sido convida-dos por Juiz de Pa/ do quatr iênio a expirar os Juizes de Paz seusimediatos e os imediatos destes, do mesmo quatriênio, far-se-ánova convocação dos Juizes de Paz do novo quatriênio.

(Decreto n9 2.675 de 1875 art. 29 ;< 49 -- Aviso n9 160de 1849, e Instruções n9 565 de 1868 art. 89 n.™ 6 e 8.)

Art. 100. No edital de convocação das pessoas competen-tes para elegerem a Mesa paroquial, o Ju iz de Paz convidará oscidadãos qualificados a f im de darem seus votos na eleição aque se tiver de proceder, declarando qual o número dos Eleito-res que à paróquia competir dar em virtude da designação feitapelo Governo, c quantos nomes deverá conter a cédula do vo-tante nos termos do art. 106.

(Lei n'-» 387 de 1846 art. 41art. 16.)

Decreto n<? 2.621 de 1860

Art. 101. Ainda que não tenha o Juiz de Paz recebido ascompetentes ordens, cumpre-lhe no tempo marcado fazer a con-vocação para organização da Mesa paroquial, e requisitar depoisda Câmara Municipal as necessárias providências. Na falta dês-

Page 160: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

tas o Juiz de Paz recorrerá aos meios estabelecidos no § 19 doart. 107.

(Instruções n9 168 de 1849 art. 69)

Art. 102. Quando não tenha sido feita na ocasião própriaa convocação para a eleição da Mesa paroquial, o Juiz de Paza fará, embora seja necessário reduzir o prazo que deve mediarentre a dita convocação e a eleição, contanto que a eleição pri-mária não deixe de realizar-se a tempo de poderem os Eleitoresconcorrer à reunião do colégio eleitoral.

(Decreto n9 2.675 de 1875 art. 19 § n9 3. — Instru-ções n9 168 de 1849 art. 99)

Art. 103. O Juiz de Paz presidente, antes de proceder àorganização da Mesa paroquial, fará a leitura deste capítulo edos artigos do tit. 19 cap. 29 concernentes à organização dasJuntas paroquiais.

(Lei n" 387 de 1846 art. 43.)

CAPÍTULO IIIDa Eleição dos Eleitores

Art. 104. No dia designado para a eleição, o Pároco ce-lebrará Missa do Espírito Santo, e às 10 horas se reunirá a Mesaparoquial no lugar determinado no art. 59 § 29 para a reuniãodas Juntas paroquiais, e dará começo aos trabalhos.

(Decreto n9 2.675 de 1875 art. 2° S 10. — Lei n9 387de 1846 art. 42.)

Art. 105. Compete:$ 1° À Mesa da Assembleia paroquial:19 Fazer as chamadas dos votantes pela lista geral da qua-

lificação da paróquia e pela complementar dos cidadãos qualifi-cados até três meses antes da eleição;

29 Apurar as cédulas recebidas;39 Discutir e decidir as questões de ordem que forem sus-

citadas por qualquer membro da Mesa, ou cidadão votante daparóquia;

49 Verificar a identidade dos votantes, procedendo a talrespeito nos termos do § 69 do artigo 107 destas Instruções;

308

59 Expedir diplomas aos Eleitores;69 Enviar ao colégio eleitoral a que pertencerem os Elei-

tores uma cópia autêntica das atas da eleição, uma igual ao Mi-nistro do Império, na Corte, e ao respectivo Presidente, em cadaProvíncia, e outra, por intermédio destes, ao 19 Secretário daCâmara dos Deputados ou do Senado, conforme for a eleição deEleitores gerais ou de especiais para Senador.

§ 29 Ao Presidente da mesma Mesa:ln Dirigir os trabalhos desta;29 Regular a discussão das questões que se suscitarem, dan-

do ou negando a palavra e suspendendo ou prorrogando os tra-balhos;

3" Desempatar a votação dos assuntos discutidos pela Me-sa;

49 Manter a ordem no interior do edifício, onde nenhumaautoridade poderá intervir sob qualquer pretexto sem requisi-ção sua, feita por escrito, ou verbalmente, se não for possívelpor aquele modo.

(Decreto n9 2.075 de 1875 ar t . 2" ^ 7° e 8°)

Art. 106. Instalada a Mesa paroquial , o Presidente destadesignará um dos mesários para servir como secretário e outropara fazer as chamadas, e poderá incumbir esla função aos trêsmesários sucessivamente, excetuado o Secretário, se as listasforem demasiadamente extensas.

Em seguida se começará a chamada dos votantes, cada umdos quais depositará na urna uma cédula fechada por todos oslados, contendo tantos nomes de cidadãos elegíveis quantos cor-responderem a dois terços dos Eleitores que a paróquia deverdar. Será declarada a profissão do cidadão votado.

Se o número dos Eleitores da paróquia exceder a três ouao múltiplo de três, o votante adicionará aos dois terços um oudois nomes conforme for o excedente. Conseguintemente, se ti-verem de ser eleitos quatro ou cinco Eleitores, cada cédula con-terá três nomes no 19 caso e quatro no 29, e assim por diante.

Nas paróquias que derem menos de três Eleitores, cada cé-dula conterá o nome do único Eleitor ou dos dois que houveremde ser eleitos.

(Decreto n9 2.675 de 1875 art. 29 § 79 n9 l e § 99 —Lei n9 387 de 1846 art. 47 § 29 in fine e art. 51.)

30!)

Page 161: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

Art. 107. Serão ícitas três chamadas dos votantes. Asduas primeiras poderão ter lugar no mesmo dia; a 3a se farásempre às dez horas do dia seguinte ao do encerramento da 2a

O Presidente da Mesa anunciará este dia e a hora, cm alta voz,logo que for encerrada a 2;i chamada.

(Decre to n" 2.075 de 1875 art. 2°de 1846 art. 48.)

10. Lei n" 387

;í T.) A 1a chamada dos votantes se fará pelas listas geral,suplementar e complementar, segundo a ordem dos distritos edos quarteirões, a sua numeração e a ordem em que os nomesse acharem inscritos nas ditas listas.

Faltando estas ou estando viciadas, serão supridas pelo edi-tal da convocarão, ou por cópia au t ên t i ca , extraída quer do livroda qua l i f i cação recolhida na Câmara Municipal, quer das listasque t i ve rem sido remet idas ao Governo na (lorte, e ao Presiden-te nas províncias.

A 2'' e a 3'.' chamada se f a r ão pó l a relação dos nomes dosvo lan te s que houverem deixado de comparecer à antecedente.

(Lei n? 3ÍÏ7 de 1R46 art. 48. — Instruções n'.' 5G5 delíiíiíí art. 60.)

§ 2? Na 3^ chamada o nome do votante, que não compare-cer logo, será repetido cm alta voz.

(Aviso n? 369 de 1860.)§ 3? O cidadão que, cm qualquer das três chamadas, não

estiver presente quando seu nome for pronunciado, será nãoobstante admitido a votar, se comparecer antes de estar termi-nada a chamada.

S 4'.* Até concluir-se a 3? chamada, será admitido a votaro cidadão que. embora não esteja incluído na respectiva listacomplementar, ou não se ache esta ainda organizada ou não tenhasido remetida, provar ter a isso direito, apresentando certidão deprovimento de recurso para inclusão na lista, proferido três me-ses antes da eleição.

(Decreto n<> 2.675 de 1875 art. 2 (> § 7 ( ) n < > 1.coes n<> 565 de 1868 art. 65.)

Instru-

§ 5° Não será admitido a votar em qualquer das chamadaso cidadão contra o qual se provar, exibindo-se certidão, ter sidoexcluído da respectiva lista por decisão proferida, em virtude derecurso, três meses antes da eleição.

(Instruções n? 168 de 1849 art. 13.)§ 6'.' Nem a transposição ou erro de nome, nem a n

íação de identidade poderá servir de pretexto para que deixe drser admitido a votar o cidadão que acudir à chamada, apresentaro seu títulos de qualificação, cujo número de ordem coinc idacom o da lista geral, e, escrevendo seu nome perante a Mesa,mostrar que a letra é igual à da assinatura do título, ou, n;msabendo escrever, provar, com o testemunho e a letra de quempor ele tiver assinado o t í tu lo , ou com o testemunho de pessoasfidedignas, que é o qualificado.

Nos casos de dúvida a Mesa deverá, ex officio, ou a reque-rimento de três Eleitores ou cidadãos elegíveis, receber em se-parado a cédula , mandando fazer nela e na ata as declaraçõesnecessárias para just i f icar o seu procedimento.

Para verificação da identidade dos votantes a Mesa terá pre-sente o livro de talão de que tratam os arts. 90 e 91, e que paraeste fim lhe será remetido conjuntamente com o livro das ataspela Câmara Municipal, em cujo arquivo deve estar guardado naforma do § 2(-J do art. 92.

(Decreto n ü 2.675 de 1875 art. 2" i; 16.)

íï 7? Será também recebida em separado, nos casos e domodo indicado na 2a parte do parágrafo antecedente, a cédulaque for entregue por cidadão que se alegue estar privado, pormotivo legal, do direito de votar.

(Decreto n? 2.675 de 1875 art. 2° $ 16.)

Art. 108. As-cédulas poderão ser assinadas, ou não, e es-critas no próprio invólucro ou em papel separado; mas devemser fechadas por todos os lados. A cédula em que esta circuns-tância se não der, não será admitida, e o Presidente da Mesa ad-vertirá da falta o votante, para que imediatamente a preencha,e só depois de ser recebida se chamará outro votante.

As cédulas serão introduzidas, na urna em que se recolhe-rem, por uma simples abertura, pela qual só uma cédula possapassar; e até concluir-se o recebimento estará fechada a mesmaurna.

Esta urna será, depois de lacrada, recolhida com o livro deatas em um cofre de três chaves, das quais o Presidente terá uma,o mesário mais votado outra e o menos votado a terceira. Asorte decidirá no caso de igualdade de votação.

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O mesmo cofre permanecerá na parte mais ostensiva e cen-tral da Igreja ou do ed i f í c io onde se estiver fazendo a eleição, eserá guardado pelas sentinelas que a Mesa julgar precisas, nãose pondo impedimento a quaisquer cidadãos que também o quei-ram guardar.

(Lei n(» 387 de 1846 arls. 51 e 61. — Instruções de 27de setembro de 185(1 arts. 2<> e 3° — Decreto n° 2.621de 1860 art. 11.)

Art. 109. Podem ser Eleitores todos os cidadãos aptos pa-ra votar nas Assembleias paroquiais, se estiverem incluídos naqualificação, ou se, tendo interposto recurso, este houver sidoprovido três meses antes da eleição. Excetuam-se:

lü Os que não tiverem a renda líquida anual de 400$;2" Os libertos;3° Os pronunciados por queixa, denúncia ou sumário, ten-

do a sentença passado em julgado.(Lei n'.' 387 de 1846 art.de novembro de 1846.)

53. — Decreto n" 484 de 25

Art. 110. Concluído o recebimento das cédulas, serão es-tas contadas e emaçadas, e se mencionarão expressamente, naata do dia em que terminar a 3;1 chamada, o número total dasrecebidas durante as três chamadas e os nomes dos cidadãosque não houverem comparecido à 3?

Imediatamente o Presidente da Mesa designará um dos me-sários para ler em sua presença cada uma das cédulas recebidas,e anunciará que se vai proceder à apuração destas.

Repartirá as letras do alfabeto pêlos outros três mesários,cada um dos quais irá escrevendo, em sua relação, os nomes dosvotados e o número dos votos por algarismos sucessivos da nume-ração natural, de maneira que o último número de cada nomemostre a totalidade dos votos que este houver obtido, e publican-do em voz alta os números à proporção que os for escrevendo.

(Lei n? 387 arts. 49 e 54.)

Art. 111. As cédulas serão contadas tirando-se da urnacada uma por sua vez, e se apurarão abrindo-se também e exa-minando-se cada uma por sua vez.

(Instruções de 27 de setembro de 1856 art.

§ l? As cédulas em que se achar número de nomes infe-rior ao que deverem conter em conformidade da regra estabele-cida no arl. 106, serão não obstante apuradas. Das que contive-rem número superior, serão desprezados os nomes excedentes,e segundo a ordem em que os mesmos se acharem escritos.

(Lei n1? 387 de 1846 art. 54.)i; 2'.' Embora se não ache fechada por todos os lados algu-

ma cédula, será não obstante apurada.(Aviso n<> 540 de 1860.)

íí 3" Não se apurará a cédula que contiver nome riscado,alterado ou substituído, ou declaração contrária à do rótulo; quan-do se encontrar mais de uma dentro de um só invólucro, quersejam todas escritas em papéis separados, quer uma delas nopróprio invólucro, nenhuma se apurará.

(Decreto n(.> 2.621 de 1860 art. 12.de 1868 art. 83.)

I n s t r u ç ã o n'.' 565

312

ií 4" Serão apuradas em separado as cédulas que, nos ca-sos dos ^ 6'.1 e 7° do art. 107, tiverem sido recebidas em sepa-rado.

(Decreto n" 2.675 de l»7f. a r l . '2° < 1 6 . )

i; r>° Apurar-se-á em separado o volo dado a cidadão cujonome se achar na cédula al terado por troca, aumento ou supres-são do sobrenome ou apelido, a inda que se refira visivelmentea indivíduo determinado.

(Instruções n11 563 de 1867 art. 77.)

Art. 112. Einda a apuração dos votos, a Mesa paroquialprocederá, por sorteio conforme dispõe o art. 115 da Lei n?387 de 19 de agosto de 1846, ao desempate dos cidadãos que ti-verem obtido igual número de votos, e em seguida formará oSecretário e lerá em alta voz duas relações, uma geral, na qual secompreenderão todos os votados, e outra especial que compre-enderá somente os que para Eleitores tiverem obtido a plurali-dade relativa dos votos c os imediatos a eles até ao terço da to-talidade dos Eleitores que a paróquia dever dar.

Taiito em uma como em outra destas relações os nomes se-rão escritos segundo a ordem dos votos, que também se escreve-rão com letras alfabéticas, começando-se pelo número máximo;e ambas serão assinadas pela Mesa e transcritas na ata.

313

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o r r r .Mdr r iU 1 da Mesa, concluída a leitura das relações, de-r l . i r a r a MS i L o m r s dos Eleitores da paróquia e os dos seus ime-d i a l u s ; i i r ao leipço da totalidade dos Eleitores, e mandará pu-b l i c a i - por ed i ta l na porta do edifício, e pela imprensa, se a hou-ver, o resultado da votação.

Assinada a ata do dia na conformidade do art. 114, o Secre-t á r i o da Mesa remeterá eom ofício ao Presidente da Câmara Mu-nicipal o livro das atas, e inut i l izadas as cédulas, se haverá pordissolvida a Assembleia paroquial.

(Lei n° 387 de 1846 arts. 55, 59 e 109.2.621 de 1860 art. 18.)

Decreto n'.'

Art. 113. Os trabalhos da Mesa paroquial começarão às10 horas da manhã e continuarão todos os dias ate às 4 da tarde,em que se suspenderão, salvo se a esta hora se estiver fazendoa chamada dos cidadãos qualificados de um quarteirão, a qualdeverá ficar terminada.

(Decreto n f > 2.675 de 1875 art. 2" £ 10.)Art . 114. A hora em que cessarem os trabalhos de cada

dia se lavrará, no mesmo livro em que estiver escrita a ata daorganização da Mesa, uma ata, na qual se declarem as ocorrên-cias do d ia e o estado do processo eleitoral, fazendo-se expressamenção, nas ocasiões competentes, do número das cédulas re-cebidas, dos nomes dos cidadãos que não tiverem comparecidoà 3a chamada, das horas em que esta foi começada e concluída,do número das cédulas apuradas, dispensadas as atas especiaisde que tratam os arts. 49 e 55 da Lei n(? 387 de 19 de agosto de1846, e f ina lmente das multas que tiverem sido impostas.

Todas as atas serão assinadas pelo Presidente e mais mem-bros da Mesa. Se aigum ou alguns não quiserem assiná-las, de-clarar-se-á esta ocorrência no final da ata, e se chamará parasuprir a falta o legítimo substituto. No caso de recusarem a as-sinatura todos os membros da Mesa e seus substitutos, esta seránovamente organizada.

(Decreto n° 2.675 de 1875 ar t . W § 11. Lei n? 237 de1846 art. 43. — Instrução n° 168 de 1849 art. 23.)

Art. 115. No ato da eleição não se admitirá reclamação ouprotesto que não seja escrito e assinado por cidadão votante daparóquia. Serão aceitas porém as observações que por bem daordem e regularidade dos trabalhos queira verbalmente fazeralgum votante.

314

Admitido o protesto ou reclamação, ou acei tas as observa-ções, caberá só aos membros da Mesa discuti-los e decid i r pelovoto da maioria.

Os protestos demasiadamente extensos serão simplesmentemencionados, e não transcritos nas atas, mas transcrcver-se-aointegralmente no l ivro das atas em seguida à última, sendo atranscrição encerrada com a rubrica de todos os membros daMesa.

Quando se extraírem as cópias das atas para os fins decla-rados no n'.' 6 do S l'-' do art. 105 destas instruções, serão trans-critos nas mesmas cópias os sobreditos protestos sob pena deresponsabilidade de quem as extrair sem eles.

(Decreto n1? 2.675 de 1875 art. 2' 14 e 15:'

A r i . 116. A Mesa paroquial expedirá aos Eleitores os seusdiplomas.

Estes diplomas constarão do resumo da votação dos Eleito-res, datado e assinado pêlos membros da Mesa, e feito segundoo modelo n° 2.

No lugar competente do diploma se farão as observaçõesque a Mesa paroquial julgar convenientes, e uma exposição re-sumida das dúvidas que tiverem ocorrido acerca da elegibilida-de do cidadão, indicando-se a ata em que se acharem menciona-das.

(Decreto n" 2.675 de 1875 art. 2<> Ü 12.)Art. 117. No caso de serem anulados pelo Poder compe-

tente os votos dados a algum Eleitor, será pela Câmara Munici-pal, na falta da Mesa paroquial, cassado o diploma desse Eleitor,e conferido novo diploma ao imediato em votos aos Eleitores,que for ocupar o seu lugar.

A vaga que em consequência se der na lista dos imediatosdo l'.1 terço, será preenchida pelo cidadão que se seguir em vo-tos ao último destes.

(Aviso n° 53 de 1854.)

CAPÍTULO IVDa Eleição Secundária

Art. 118. O Ministro do Império na ('orte e os Presidentesnas Províncias criarão definitivamente tantos colégios elei torais

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quantas forem as cidades e vilas, contanto que nenhum desseslenha menos de 20 Eleitores. Nos municípios porém em que senão verificar este número, os respectivos Eleitores formarão co-légio com os da cidade ou vila mais próxima, exceto quando dis-tarem entre si mais de 30 léguas, caso em que poderá haver co-légio de menos de 20 Eleitores.

(Decreto n? 2.675 de 1875 art. 2° § 22, e Decreto n?1.082 de 1860 art. 1° § 3'.')

;í l? As autênticas dos colégios eleitorais serão apuradaspela Câmara Municipal da Capital da Província, exceto as doscolégios da Corte c da Província do Rio de Janeiro, nas eleiçõesde Senadores e Deputados à Assembleia Geral, que serão apu-radas pela Câmara Municipal da Corte.

(Decreto n? 2.675 de 1875 art. 29 S 23.)

$ 2" A apuração geral dos votos se fará logo que a com-petente Câmara Munic ipa l tiver recebido as autênticas de todosos colégios da província, anunciando-se por edital, publicado pelaimprensa , o dia e a hora em que houver de começar o ato.

A Câmara Municipal procederá à apuração geral dentro doperíodo que decorrer do 30? ao 40? dia, contados do dia marca-do para a reunião dos colégios. Este prazo porém poderá serprorrogado até 60 dias, contados igualmente da dita reunião, nocaso de não terem sido recebidas todas as autênticas.

O processo e as formalidades que na dita apuração se devemobservar, serão os mesmos estabelecidos na legislação anteriorao Decreto nn 2.675 de 20 de ou tubro de 1875.

íí 3'-' Alem das a u t ê n t i c a s que devem ser remetidas nostermos dos arts. 79 e 84 da Lei n° 387 de 19 de agosto de 1846,os colégios e le i tora is enviarão, por intermédio do Governo naCorte e dos Presidentes nas províncias, no pra/o e pelo rnodoestabelecidos nos ditos artigos e no § 11 do art. l? do Decreton? 842 de 19 de setembro de 1855, uma ao l'.'-Secretário do Se-nado ou ao da Câmara dos Deputados, conforme for a eleição.

Art. 119. Organizadas as Mesas dos colégios eleitorais naconformidade do í; 2? do art. l? do Decreto n? 842 de 19 desetembro de 1855, do capítulo 2? das Instruções anexas ao De-creto n? 1.812 de 23 de agosto de 1856, e mais legislação ern vi-gor, o Presidente interino do colégio fará a leitura do presentecapítulo, além da do capítulo l? do título 3? da Lei n? 387 de19 de agosto de 1846 e do cap. 2? das ditas Instruções.

316

Art. 120. Os trabalhos dos colégios eleitorais nas eleições,quer de Senadores, quer de Deputados â Assembleia Geral, querdos Membros das Assembleias Legislativas Provinciais, continua-rão a sei' regulados pelas disposições da legislação em vigor comas alterações que constam deste capítulo e de suas seçõcs.

Art. 121. As atas dos colégios eleitorais lavradas e assina-das nos termos do art. 78 da Lei n? 387 de 19 de agosto de1846, serão transcritas no livro de notas do Tabelião do lugar,por ele ou por quem suas vezes fizer, como se acha determinadono í; 10 do art. l'.1 do Decreto n? 842 de 19 de setembro de 1855,e nos arts. 24 c 26 das Instruções anexas ao Decreto n? 1.812 de23 de agosto de 1856.

SEÇÃO l*Da eleição de Deputados à Assembleia Geral e de Membros

das Assembleias Legislativas Provinciais

Art. 122. A eleição de Deputados à Assembleia Geral ea dos Membros das Assembleias Legislativas Provinciais serãofeitas por Províncias.

(Decreto n? 2.675 de 1875 art. 2? ^ 17, 18 e 19.)

Art. 123. Para Deputados à Assembleia Geral, cujo núme-ro continua a ser o que se acha atualmente fixado para cadaProvíncia, enquanto não for alterado por lei especial, e paraMembros das Assembleias Legislativas Provinciais, cujo númerotambém continua a ser o atualmente estabelecido para cadaProvíncia, votará o eleitor em tantos nomes quantos correspon-derem aos dois terços do número total dos Deputados ou dosMembros da Assembleia Provincial que a Província der.

Na circunscrição formada pela reunião da Província do Riode Janeiro e do Município da Corte para a eleição dos Depu-tados à Assembleia Geral, os dois terços referem-se ao númerototal dos Deputados que atualmente dão a Província e o Muni-cípio.

Quando o número total dos Deputados à Assembleia Geral,ou dos Membros da Assembleia Legislativa Provincial, for supe-rior a três ou ao múltiplo de três, o Eleitor adicionará aos doisterços um ou dois nomes conforme o excedente. Assim, se onúmero total dos Deputados for quatro ou cinco, o Eleitor vo-tará em três nomes no primeiro caso e em quatro no segundo.

31'

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Nas Províncias que elegerem só dois Deputados, o Eleitorvotará em dois nomes.

(Decreto n() 2.67;! de 187.r> art. 2° $ 19.)

Ari. 124. No caso de vagas durante a legislatura, o Elei-tor votará em um nome se houver uma só vaga, e em dois se asvagas forem duas.

Sendo três ou mais as vagas, o Eleitor votará segundo asregras estabelecidas no artigo antecedente.

(Decreto n° 2.675 de 1875 art. 2° $ 20.)

SEÇÃO 2a

Da Eleição de Senadores

Art. 1.25. Na ele ição de Elei tores especiais que devem vo-tar para Senadores se observarão, quan to à orgaii i /açao das Mesasparoquiais, à urdem dos trabalhos e ao processo da e le ição , as dis-posições estabelecidas para a eleição dos Eleitores gerais,

Cada votan te porém i n c l u i r á em sua cédula tantos nomesquantos forem os Eleitores que a paróquia der.

(Derreto n'.' 2.675 de 1875 a r t . 2') ^ 21 n'.' 1.)

Art. 126. A eleição primária, «u, se esta estiver fe i ta , à se-cundária , se procederá dentro do pra/o de três meses contados dodia em que o Presidente da Província houver recebido do Presi-dente do Senado, ou do Governo, comunicação da vaga no Se-nado, ou desta tiverem notíeia certa. Uma e outra comunicaçãoserá registrada no Correio.

(Decreto n? 2.675 de 1875 art. 2? § 21 n'.' 2.)

Art. 127. Cada Eleitor votará em três nomes se houver depreencher-se uma vaga de Senado, em seis se forem duas as va-gas, e assim por diante, na forma do art. 81 da Lei n? 387. de 19de Agosto de 1846.

Quanto ao mais u processo desta eleição será o mesmo estabe-lecido para a dos Deputados à Assembleia Geral.

(Decreto n? 2.675 de 1875 art. 2? § 17.

318

SEÇAO 3?Das Incompatibi lEdades Eleitorais

A r i . 12íi . Não poderão ser votados para Deputados àAssembleia Geral os Ris pó R, nas suas dioceses; e p» r a Mem-hrns das Assembleias Legislativas Provinciais, Deputados à Assem-b l e i a ( i era l ou Senadores, nas Províncias cm que exercereml i i r i s d i ç á o :

f]'.' Os Presidentes de Província e sous..<!!ecretários.2'.' Os Vigários Capitulares, Governadores de bispados. V i -

gár ios gerais Provisores e Vigários foráneos.T' Os Comandantes de Armas, Genera i s em chefe de te r -

ra ou de mar, Chefes de estações, navais , Capi láes de por lo . Co-m a n d a n t e s mili tares e dos corpos de Po l í c i a .

• l ' * Os Inspetnrcs das Tesourar ia^ ou lie partições de K axenda geral c provincial , os respectivos Procuradores Kiscais oudos leitos, e os Inspetorcs das Alfândegas.

5'.' Os Desembargadores, Juizes de Direito, Juí/cs substi-t u i os, Municipais ou de Órfãos, os Chefes de Polícia e seus Dele-gados e Subdelegados, os Promotores públicos, c os Curadoresgerais de órfãos.

W Os Inspetores ou Diretorcs gerais da Instrução pública,íí t? A incompatibi l idade eleitoral prevalece:l" Para os referidos funcionár ios c seus substitutos legais

q u e tiverem estado no exercício dos respectivos empregos dentrot ios seis meses anteriores à eleição secundária.

2 v Para os substitutos que exercerem os empregos dentrodos seis meses, e para os que os precederem na ordem da subs-l i l n i ç á o , e que deviam ou podiam assumir o exercício.

3'.' Para os funcionários efetivos desde a data da aceitaçãod« emprego ou função pública até seis meses depois de o teremd e i x a d o cm virtude de remoção, acesso, renúncia ou demissão.

í; 29 O prazo de seis meses, de que trata o parágrafo an-Iccedenle, é reduzido ao de três meses no caso de dissolução daCâmara dos Deputados.

$ 3" Também não poderão ser votados para Membros dasAssembleias Provinciais, Deputados e Senadores, os emprcsá-

319

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rios, diretores, contratadores, arrematantes ou interessados naarrematação de rendimentos, obras ou fornecimentos públicos,naquelas províncias em que os respectivos contratos e arremata-ções tenham execução e durante o tempo deles.

(Art. 3? do Decr. n<? 2.675 de 1875.)

Art. 129. Serão reputados nulos os votos que para Sena-dores, Deputados á Assembleia Geral e Membros das AssembleiasLegislativas Provinciais recaírem nos func ioná r ios e cidadãos es-pecificados no artigo antecedente, e disto se fará menção moti-vada nas atas dos colégios e das Câmaras apuradoras.

Neste caso o diploma de Deputado à Assembleia Gerai oude Membro de Assembleia Legislativa Provincial será expedidoao imediato em votos.

(Art. 3° S 4° do Decr. n<-> 2.675 de 1875.)

CAPÍTULO V

Da Eleição das Câmaras Municipais e dos Juizes de Paz

Art. 130. A eleição dos Vereadores das Câmaras Munici-pais e a dos Juizes de Paz só farão em todas as paróquias doImpério, de quatro em quatro anos, no l'-1 dia do mês de julhodo último ano do quatriênio.

(Decreto n'.1 2.675 de 1875 art. 29 i; 24.)

Art. 131. Quanto ã organi/ação da Mesa paroquial c aoprocesso do recebimento e apuração das cédulas nesta eleição,se seguirá o que está estabelecido para a eleição de Eleitoresgerais.

(Decreto n'.' 2.675 de 1875 art. 2» § 24.)Art. 132. Qualquer que seja o número de distritos de paz

da paróquia, e embora nela se contenham capelas curadoras, aeleição será uma só, no mesmo lugar e perante uma só Mesaparoquiai, que apurará todos os votos da paróquia, não só paraVereadores, corno para Juizes de Paz dos diversos distritos, ecapelas curadas que nela se compreenderem.

(Lei n? 387 de 1846 art. 92.)Art. 133. Constituída a Mesa, o Presidente, além do pre-

sente capítulo, o 2? do tit. 21? destas Instruções.(Lei n? 387 de 1846 art. 93.)

320

Art. 134. Cada cidadão votante depositará na urna duascédulas sem assinatura e fechadas por todos os lados.

Em uma destas, que terá o rótulo — Para Vereadores daCâmara Municipal da cidade ou da vila de . . . —, se conterãoseis nomes de cidadãos elegíveis se for nove o número dos Ve-readores do município, ou cinco nomes se for sete o número dosVereadores.

Na outra cédula, que terá o rótulo — Para Juizes de Pazda paróquia de . . . ou do distrito n. . . da paróquia de . . . , ouda capela de . . . —, se conterão quatro nomes de cidadãos ele-gíveis.

(Decreto n<? 2.675 de 1875 art. 2° § 23 e Lei n" 387 de1846 art. 100.)

Art. 135. Terminado o recebimento das cédulas, o Pre-sidente mandará separar as que forem relativas ã eleição deVereadores, e as pertencentes a cada um dos distritos ou capelaspara a eleição de Juizes de Paz, e contar, publicar e escreverna ata, com a devida distinção, o número de cédulas pertencen-tes a cada eleição.

Começará a apuração pelas cédulas de Vereadores, e passa-rá sucessivamente às cédulas pertencentes à eleição de Juizesde Paz de cada um dos distritos.

Na ata se fará de tudo circunstanciada menção com a pre-cisa clareza, e se indicará o número de votos, desde o máximoaté ao mínimo, obtidos pêlos votados em cada uma das eleições,procedendo-se, no que for aplicável, pelo modo estabelecido noart. 112.

(Lei n<> 387 de 1846 art. 101.)Art. 136. A Mesa paroquial remeterá à Câmara Munici-

pal o livro das atas acompanhado de ofício do Secretário; e inuti-lizadas as cédulas, se haverá por dissolvida a mesma Mesa.

(Lei n° 387 de 1846 art. 103 e também art. 59.)Art. 137. Só pode ser eleito:Vereador, o cidadão que, tendo as qualidades de Eleitor, seja

residente no município por mais de dois anos.Juiz de Paz, o cidadão que, além das qualidades de Eleitor,

tenha residência por mais de dois anos no distrito para que foreleito.

(Decreto n? 2.675 de 1875 art. 2? §§ 26 e 27.)

321

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Art. 138. Se no município houver uma só paróquia, aMesa paroquial, finda a eleição, expedirá logo os diplomas aosJuizes de Paz e aos Vereadores eleitos, e fazendo extrair dasatas duas cópias autênticas, remeterá uma ã Câmara Municipal,e outra ao Juiz de Direito da comarca.

Se, porem, o município compreender mais de uma paró-quia, a Mesa expedirá os diplomas só aos Juizes de Paz, dandoàs duas cópias das atas o referido destino.

E neste caso a Câmara Municipal, 30 dias depois daqueleem que tiver começado a eleição, procederá, em dia anunciadopor editais, à apuração geral dos votos para Vereadores pelomodo estabelecido para semelhantes atos. Terminada a apuração,serão declarados Vereadores os cidadãos que tiverem obtidomaioria de votos; os imediatos serão suplentes. Disto se lavraráuma ata, da qual se remeterá cópia autêntica ao Juiz de Direitoda comarca.

(Decreto n1? 2.675 de 1875 art. 2'.' §$ 28 e 29.)Art. 139. Os diplomas que devem ser expedidos aos Ve-

readores e aos Juizes de Paz constarão de uma cópia autênticada ata da apuração dos votos. Esta cópia será tirada pelo Secre-tário da Mesa paroquial e assinada pêlos membros desta noscasos m que, nos termos do artigo antecedente, compete à mes-ma Mesa a expedição dos diplomas; e será tirada pelo Secretárioda Câmara Municipal e assinada pêlos membros desta, no casoda parte final do dito artigo, em que pertence à referida Câmaraexpedir os diplomas aos Vereadores.

Estes diplomas serão acompanhados de ofícios pêlos quaisse convidarão os cidadãos eleitos Vereadores e Juizes de Pazpara prestarem juramento e tomarem posse no dia 7 de janeiroperante a Câmara Municipal.

(Decreto n1? 2.675 de 1875 art. 29 §§ 28 e 29.)Art. 140. Logo que se concluir a apuração final dos votos,

a Câmara Municipal participará o resultado da eleição de Verea-dores e Juizes de Paz ao Ministro do Império na Corte, e ao Pre-sidente nas Províncias.

(Lei n? 387 de 1846 art. 106.)Art. 141. Os Vereadores e Juizes de Paz do quatriénio

anterior são obrigados a servir enquanto os novos eleitos nãoforem empossados.

(Decreto n? 2.675 de 1875 art. 2? § 33.)

322

Art. 142. No caso de se não ter procedido, em algumaou algumas paróquias do município, à eleição para Vereadoresno dia para tal fim designado, poderá esta ser feita nos diasimediatamente seguintes, contanto que o seja em ato sucessi-vo sem que se torne necessária nova convocação, e em tempoem que não possa ser ainda conhecido naquela ou naquelas pa-róquias o resultado da votação das outras do município.

§ 19 Se não puder ser feita a eleição nos dias imediata-mente seguintes ao designado, por se não verificarem as circuns-tâncias referidas neste artigo, e o número dos votantes da pa-róquia ou das paróquias for inferior à metade do número totaldos votantes do município, prevalecerá a eleição que tiver sidofeita pelas outras paróquias do mesmo município, sem embargoda falta de votação daqueles, salvo a disposição do S 3?

§ 2? Na hipótese de ser superior à metade do número to-tal dos votantes do município o número dos votantes da paró-quia, ou das paróquias em que se tiver deixado de fazer a elei-Ção, proceder-se-á a nova eleição geral no município, ficandosem efeito as eleições parciais efctuadas.

§ 39 Também se procederá a nova eleição geral no muni-cípio, ainda no caso rïe ser superior à metade do número tïosvotantes dele o número dos da paróquia ou das paróquias emque se tiver feito a eleição, se o número i n f l u i r no resultado daeleição quanto à maioria dos Vereadores.

§ 41? Nos casos dos antecedentes §^ 29 e 39 o Ministrodo Império na Corte, ou o Presidente nas Províncias, mandaráproceder a nova eleição geral no município.

§ 59 As disposições dos parágrafos anteriores aplicam-seao caso de anulação parcial da eleição.

(Lei n9 387 de 1846 arts. 60 e 104, e Aviso n? 62 de1853 parte final.)

Art. 143. Nos distritos em que não se tiver feito no tem-po competente a eleição de Juizes de Paz, far-se-á posteriormen-te em dia designado pelo Ministro do Império na Corte, e peloPresidente nas Províncias, ainda que o distrito pertença a algu-ma paróquia que não tenha concorrido na época legal, nem pos-sa mais concorrer para a eleição de Vereadores do quatriénio.

(Aviso n9 8 de 1849, n» 3.)Art. 144. Sem embargo de ficar prejudicada, nos casos dos

§§ 29 e 39 do art. 142, a eleição realizada para Vereadores em

323

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alguma paróquia, substituirão todavia as eleições feitas para Jui-zes de Paz dos distritos da mesma paróquia.

(Aviso n» 8 de 1849, n<> 3.)Art. 145- O Juiz de Direito é o funcionário competente

para conhecer da validade ou nulidade das eleições de Juizes dePaz e de Vereadores das Câmaras Municipais.

Compete-lhe porém exercer esta atribuição em virtude dereclamação que lhe for apresentada dentro do prazo de trintadias contados do dia da final apuração dos votos.

Nas comarcas que tiverem mais de um Juiz de Direito, per-tence a dita atribuição ao da l1-1 Vara Cível.

(Decreto 2.675 de 1878 art. 2<> $ 30.)Art. 146. Será declarada nula a eleição de Vereadores, ou

de Juizes de Paz nos seguintes casos:l1? Quando se verificar algum dos motivos expressamen-

te mencionados no art. 86, ïj l'-', destas Instruções, que tenha apli-cação a essa eleição.

2? Quando houver prova plena de fraude que prejudiqueo resultado da eleição.

(Decreto n? 2.675 de 1875 art. 2<? § 30 parte 2?)Art. 147. O Juiz de Direito deverá proferir o seu despa-

cho no prazo improrrogável de 15 dias contados da data em quelhe for apresentada a reclamação, se já em seu poder se acha-rem as cópias autênticas das atas de que trata o art. 138, ou,caso contrário do dia em que receber esta cópia.

(Decreto m' 2.675 de 1875 art. 2<? § 31.)Art. 148. O despacho pelo qual for anulada a eleição será,

por ordem do Juiz de Direito, intimado por carta do Escrivãodo Júri à Câmara Municipal e também a cada um dos membrosda Mesa paroquial, e por edital aos interessados.

(Decreto n1? 2.675 de 1875 art. 2? 5 30 parte 2?)Art. 149. Do despacho pelo qual for aprovada a eleição

só haverá recurso voluntário, interposto, dentro do prazo de 30dias contados da publicação edital do mesmo despacho, por qual-quer cidadão votante do município.

Do despacho porém, pelo qual for anulada a eleição, have-rá recurso necessário com efeito suspensivo para a Relação do

324

distrito, além do recurso que a qualquer cidadão é lícito inter-por.

(Decreto n1? 2.675 de 1875 art. 2° § 30 parte 3a)Art. 150. No caso de recurso, o Juiz de Direito, no prazo

de 15 dias contados da data de sua interposição, deverá enviarâ Relação do distrito as atas com o seu despacho motivada e comas alegações e documentos do recorrente.

(Decreto n(> 2.675 de 1875 art. 2'-' S 31.)Art. 151. A Relação do distrito decidirá o recurso defini-

tiva e irrevogavelmente nos termos do art. 85 destas Instruções.O Presidente do Tribunal enviará ao Ministro do Império

na Corte, e ao Presidente nas Províncias, cópia do acórdão.E, no caso de anulação da eleição, serão expedidas imedia-

tamente as necessárias ordens para se proceder a outra eleição.(Decreto n» 2.675 de 1875 art. 2<> §§ 31 e 32.)

Art. 152. Logo que ao Juiz de Direito for apresentado orecurso para ele interposto, ou logo que recorrer da decisão queproferir, mandará o mesmo Juiz de Direito publicar o fato poredital e pela imprensa, se a houver no lugar.

TÍTULO IIIDisposições Gerais Destas Instruções

Art. 153. Continua em vigor, com as modificações que re-sultam das disposições do Decreto n1? 2.675, de 20 de outubro de1875, e destas Instruções, o art. 126 da Lei n? 387 de 19 deagosto de 1846, relativo à imposição de multas por omissão outransgressão dos preceitos da legislação eleitoral.

Art. 154. As Câmaras Municipais fornecerão os livros ne-cessários para os trabalhos da qualificação e das eleições, osquais serão numerados, rubricados, abertos e encerrados pêlosPresidentes das mesmas Câmaras ou pêlos Vereadores que elesdesignarem, bem assim os livros de talão, contendo impressosos títulos de qualificação de que trata o art. 90, e finalmenteas urnas e os cofres destinados à guarda das cédulas.

O Governo pagará a importância de todos esses livrose mais objetos quando as Câmaras não puderem, por falta demeios, satisfazer a despesa.

325

Page 169: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

de 20 de outubro de 1875, servirão de base à primeira que sefizer em virtude do mesmo Decreto.

As Juntas municipais poderão eliminar daquelas qualifica-ções, sobre informação das respectivas Juntas paroquiais, os ci-dadãos que forem falecidos, estiverem mudados da paróquia,ou tiverem perdido as qualidades de votante, independentemen-te das provas e formalidades exigidas no art. 61 § 19 destas Ins-truções.

Art. 161. Nas paróquias onde, na ocasião em que se tiverde proceder à primeira eleição de eleitores gerais ou especiais ede Vereadores e Juizes de Paz, em virtude do Decreto n'-' 2.675,de 20 de outubro de 1875, não estiver ainda concluída a novaqualificação, não se fará eleição alguma até que essa qualifica-ção esteja devidamente ultimada .

Esta disposição não se aplicará as eleições posteriores: nelasse observará a legislação anterior àquele Decreto, segundo a qualtem lugar recorrer-se, no caso mencionado, à úl t ima qualificaçãoregularmente concluída, contanto que esta tenha sido feita nostermos do mesmo Decreto.

(Instruções n? 565, de 1868, art. 54.)Art. 162. Na eleição de Deputados à Assembleia Geral para

a 16a legislatura no prazo para a apuração geral dos votos nãoexcederá a 40 dias contados do dia marcado para a reunião doscolégios eleitorais.

Art. 163. Enquanto se não eleger novo corpo eleitoral, aeleição dos Membros das Assembleias Legislativas Provinciaiscontinuará a ser feita pelo processo da legislação anterior ao De-creto n9 2.675, de 20 de outubro de 1875.

Serão porém observadas, ainda neste caso, as disposiçõesdo § 59 do art. 39 do dito Decreto, que determina os motivos deincompatibilidade, entendendo-se sempre que estes se referem atoda a Província.

Se, depois de eleito o novo corpo eleitoral, ocorrer vaga emalguma Assembleia Legislativa Provincial cujos Membros hajamsido anteriormente eleitos, será feita por todos os eleitores daProvíncia a eleição, para preenchimento do lugar ou dos lugaresvagos, conforme a disposição do art. 124 destas Instruções.

(Decreto n? 2.675, de 1875, art. 69)Palácio do Rio de Janeiro em 12 de Janeiro de 1876. — José

Bento da Cunha e Figueiredo.

328

Número de nomes que deve conter a cédula do votante naeleição de eleitores gerais, segundo o art. 106 das Instruções

de 12 de janeiro de 1876

Se o n° de eleitores de paróquia for l, cada cédula

3.4.5.6.7.8.9.

10.11.12.13.14.

15.16.17.18.19.20.21.2'2,23.24.20,26.

27.28.29.30.31.32.33.34.35.36.37.

38.39.40.41.42.43.44.45.46.47.

48.49.50.

conterá 1 nome

'•1

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''

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•1

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2 nomes23445667

89101011121213141415161617181819202021222223242425262627282R2930303132323334

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1

1

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Page 170: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

de eleitores de paróquia for 51, cada tvdula conterá 3452. " " " 3553. " " " 3654. " " " 3655. " " " 3756. " " " 3857. " " " 3858. " " " 3959. " " " 4060. " " " 4061. " " " 4162. " " " 4263. " " " 4264. " " " 4365. " " " 4466. " " " 4467. " " " 4568. " " " 4669. " " " 4670. " " " 4771. " " " 4872. " " " 4873. " " •' 4974. " " - 5075. " " " 5076. " " " 5177. " " " 5278. " " " 5279. " " " 5380. " " " 5481. " " " 5482. " " " 5583. " " " 5684. " " " 5685. " " " 5786. " " " 5887. " " " 5888. " " " 5989. " " " 6090. " " " 6091. " " " 6192. " " " 6293. " " " 6294. " " " 6395. " " " 6496. " " " 6497. " " " 6598. " " " 6699. " " " 66

100, " " " 67

Número de nomes que deve conter a cédula do eleitor na eleição deDeputados à Assembleia Gerat e de Membros das Assembleias

Legislativas Provinciais, e segundo o art. 123 das Instruçõesde 12 de janeiro de 1876

ELEIÇÃO DE DEPUTADOS

Númerode

Deputados

Amazonas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

Pará . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

Maranhão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

Piauí . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

Ceará . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

Rio Grande do Norte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

Paraíba . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

Pernambuco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

Alagoas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

Sergipe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

Bahia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 4

Espírito Santo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

líio de Janeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

São Paulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Paraná . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

Santa Catarina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

São Pedro do Rio Grande do Sul . . . . . . . . . . . . . 6

Minas Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 0

Goiás . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

Mato Grosso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

Númerosde

Nomes

2

2

4

2

6

2

4

9

4

3

10

2

6

2

2

4

14

2

2

Page 171: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

DK MEMBROS DAS ASSEMBLEIAS LEGISLATIVASPROVÍNCIA is

ProvínciaNúmero

deDeputados

Númerosde

NomesMODEIX)

Amazonas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 0

Fará . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

Maranhão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 0

Piauí . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

Ceará . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

Rio Grande do Norte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

Paraíba . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

Pernambuco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

Alagoas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

Sersipe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

Bahia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 2

Espírito Santo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

Rio de Janeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

São Paulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

Paraná . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

Santa Catarina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

São Pedro do Rio Grande do Sul . . . . . . . . . . . . . 30

Minas Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

Goiás . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

Mato Grosso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 2

14

20

20

16

22

15

20

26

20

16

28

30

24

14

14

20

27

15

15

IMPÉRIO .DO BRAZIL

332

Page 172: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

DECRETO N? 3.029, DE 9 DE JANEIRO DE 1881

AIODKÏ-O X.

IMPÉRIO DO BRíZIL&C^í PROVÍNCIA O

Município '!

M-íi pnorti,

Reforma a Legislação Eleitoral

Hei por bem sancionar e Mandar que se execute a seguinteResolução da Assembleia Geral:

Art. l? As nomeações dos Senadores e Deputados para aassembleia geral, membros das Assembleias Legislativas Pro-vinciais, e quaisquer autoridades eletivas, serão feitas por elei-ções diretas, nas quais tomarão parte todos os cidadãos alistadoseleitores de conformidade com esta lei.

A eleição do Regente do Império continua a ser feita na for-ma do Ato Adicional à Constituição Política pêlos eleitores deque trata a presente lei.

Dos eleitores

Art. 2(.> É eleitor todo cidadão brasileiro, nos termos dosarts. 6(>, 91 e 92 da Constituição do Império, que tiver renda lí-quida anual não inferior a 200$ por bens de raiz, indústria, co-mércio ou emprego.

Nas exclusões do referido art. 92 compreendem-se as praçasde pré do exército, da armada e dos corpos policiais, e os ser-ventes das repartições e estabelecimentos públicos.

Art. 3»far-se-á;

A prova da renda, de que trata o artigo antecedente.

Il'.' Quanto à renda proveniente de imóveis,

Se o imóvel se achar na demarcação do imposto predialou décima urbana, com certidão de repartição fiscal de estar oimóvel averbado com valor locativo não inferior a 200$ ou comrecibo daquele imposto passado pela mesma repartição.

II — Se o imóvel não se achar na demarcação do impostopredial ou décima urbana, ou não estiver sujeito a este imposto,ou se consistir em terrenos de lavoura ou de criação, ou em quais-quer outros estabelecimentos agrícolas ou rurais:

335334

Page 173: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

Quando o ocupar o próprio dono — pela computação darenda à razão de 6% sobre o valor do imóvel, verificado por títulolegítimo de propriedade ou posse, ou por sentença judicial queas reconheça.

Quando não o ocupar o próprio dono — pela computaçãoda renda feita do mesmo modo, ou pela exibição de contrato doarrendamento ou aluguel do imóvel, lançado em livro de notascom antecedência de uma ano, pelo menos, e expressa declaraçãodo preço do arrendamento ou aluguel.

ij 2° Quanto à renda proveniente de indústria ou profissão:I — Com certidão que mostre estar o cidadão inscrito, desde

um ano antes, no registro do comércio, como negociante, cor-rctor, agente de leilões, administrador de trapiche, capitão denavio, piloto de carta, ou como guarda-livros ou 1<? caixeiro decasa comercial ou administrador de fábrica industrial, uma vezque a casa comercial ou a fábrica tenha o fundo capital de6:800$ pelo menos.

U — Com certidão, passada pela respectiva repartição fiscal,de possuir o cidadão fábrica, oficina ou outro estabelecimentoindustrial ou rura l , cujo fundo capital seja, pelo menos, de3.400$, ou com certidão ou talão de pagamento de imposto deindústria ou profissão ou de qualquer outro imposto baseado novalor locaüvo do imóvel urbano ou rural, em importância anualnão inferior a 24$ no município da Corte, a 12$ dentro das cida-des e a 6$ nos demais lugares do Império.

III — Com certidão, passada pela respectiva repartição fiscal,de possuir o cidadão estabelecimento comercial, cujo fundo ca-pital seja de 3:400$, pelo menos, e pelo qual também pagueo imposto declarado no número antecedente.

IV — Os impostos a que se referem os dois últimos númerossó conferem a capacidade eleitoral havendo sido pagos pelo me-nos um ano antes do alistamento.

Não servirão para prova da renda quaisquer outros impostosnão mencionados nesta lei.

§ 3{-' Quanto à renda proveniente de emprego público:I — Com certidão do Tesouro Nacional e das Tesourarias de

Fazenda gerais e provinciais, que mostre perceber anualmente ocidadão ordenado não inferior a 200$ por emprego que dê direitoà aposentação, não sendo, porém, esta última condição aplicávelaos empregados do Senado, da Câmara dos Deputados e das As-

336

sembléias Legislativas Provinciais, contanto que tenham nomea-ção efetiva.

II — Com igual certidão das Câmaras Municipais, quanto aosque nelas exercerem empregos que dê direito à aposentação.

III — A mesma prova servirá para os empregados aposenta-dos ou jubilados e para os oficiais reformados do exército, da ar-mada e dos corpos policiais, compreendidos os oficiais: honoráriosque percebam soldo ou pensão.

IV — Os serventuários providos vitalíciamente em ofíciosde justiça, cuja lotação não for inferior a 200$ por ano, provarãoa respectiva renda com certidão da lotação dos mesmos ofícios,passada pela repartição competente.

§ 4? Quanto à renda proveniente de títulos de dívida pú-blica geral ou provincial — com certidão autêntica de possuir ocidadão no próprio nome ou, se for casado, no da mulher, desdeum ano antes do alistamento, títulos que produzam anualmentequantia não inferior à renda exigida.

§ 5? Quanto á renda proveniente de açôcs de bancos e com-panhias legalmente autorizados, e de depósitos em caixas econó-micas do Governo —-• com certidão autêntica de possuir o cidadão,desde um ano antes do alistamento, produzam quantia não infe-rior à mencionada renda.

Art. 4? São considerados como tendo a renda legal, inde-pendentemente de prova:

I — Os Ministros e os Conselheiros de Estado, os Bispos, eos Presidentes de província e seus secretários.

II — Os Senadores, os Deputados à Assembleia Geral e osmembros das Assembleias Legislativas Provinciais.

Til — Os magistrados perpétuos ou temporários, o secretáriodo Supremo Tribunal de Justiça e os das Relações, os promo-tores públicos, os curadores gerais de órfãos, os Chefes de Polí-< h. e seus secretários, os delegados e subdelegados de polícia.

IV — Os clérigos de ordens sacras.V — Os diretores do Tesouro Nacional e das Tesourarias

de Fazenda gerais e provinciais, os procuradores fiscais e os dosFeitos da Fazenda, os inspetores das Alfândegas e os chefes deoutras repartições de arrecadação.

VI — Os diretores das Secretarias de Estado, o inspetordas terras públicas e colonização, o diretor geral e os adminis-

337

Page 174: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

tradores dos Correios, o diretor geral e vice-diretor dos Telégra-fos, os inspetores ou diretores das Obras Públicas gerais ou pro-vinciais, os diretores das estradas de ferro pertencentes ao Esta-do, e os chefes de quaisquer outras repartições ou estabelecimen-tos públicos.

Vil — Os empregados do Corpo Diplomático ou Consular.

VIII — Os oficiais do exército, da armada e dos corpos poli-ciais.

IX — Os diretores, lentes e professores das faculdades, aca-demias e escolas de instrução superior, os inspetores gerais ouõiretores da instrução pública na Corte e províncias, os diretoresou reitores de institutos, colégios ou outros estabelecimentos pú-blicos de instrução e os respectivos professores, os professorespúblicos de instrução primária por titulo de nomeação efetiva ouvitalícia.

X — Os habilitados com diplomas científicos ou literáriosde qualquer faculdade, academia, escola ou instituto nacional ouestrangeiro, legalmente reconhecidos.

Será título comprobatório o próprio diploma ou documentoautêntico que o supra.

XI — Os que desde mais de um ano antes do alistamentodirigirem casas de educação ou ensino, frequentadas por 20 oumais alunos, ou lecionarem nas mesmas casas.

Servirá de prova — certidão passada pelo inspetor ou dire-tor da instrução pública na Corte ou nas províncias.

XII — Os juizes de paz e os vereadores efetivos do qua-triênio de 1877—1881 e do seguinte, e os cidadãos qualificadosjurados na revisão feita no ano de 1879.

Art. 5? O cidadão que não puder provar a renda legalpor algum dos meios determinados nos artigos precedentes seráadmitido a fazê-lo:

I — Pelo valor locativo do prédio em que houver resididodesde um ano antes, peio menos, com economia própria, sendoo valor locativo anual, por ele pago, de 400$ na cidade do Riode Janeiro, de 300$ nas da Bahia, Recife, S. Luís do Maranhão,Belém do Pará, Niterói, São Paulo e Porto Alegre, de 200$ nasdemais cidades, e de 100$ nas vilas e outras povoações.

II — Pelo valor locativo anual de 200$, pelo menos, de ter-renos de lavoura ou de criação, ou de quaisquer outros estabele-

338

cimentos agrícolas ou rurais que o cidadão haja tomado porarrendamento desde um ano antes.

Ü l'.' A prova será dada em processo sumário perante ojuiz de direito da comarca; e, nas que tiverem mais de um juizde direito, perante qualquer deles, e será a seguinte:

I — Quanto aos prédios sujeitos ao imposto predial ou déci-ma urbana — certidão de repartição fiscal, de que conste esta-rem averbados com o referido valor locativo anual.

IT — Quanto aos prédios não sujeitos ao dito imposto oudécima — contrato de arrendamento ou aluguel, celebrado porescritura pública com a data de um ano antes, pelo menos, oupor escrito particular lançado com igual antecedência em livrode notas, havendo expressa declaração do preço do arrendamentoou aluguel; e, em falta destes documentos — o título legítimoou sentença passada em julgado, que prove ter o último donodo prédio adquirido a propriedade ou posse deste por valor sobreo qual, à razão de 6%, se compute a renda anual, na importânciadeclarada no n'-' I deste artigo.

III — Quanto aos terrenos de lavoura ou criação, ou outrosestabelecimentos agrícolas ou rurais — contrato de arrendamentopor escritura pública com a data de um ano antes, pelo menos,havendo expressa declaração do preço.

]V — As provas que ficam designadas se adicionará sempreo recibo do proprietário do prédio, terreno ou estabelecimento,com data não anterior a um mês, provando estar pago até entãodo preço do arrendamento ou aluguel.

§ 2'.' O juiz de direito julgará, à vista das provas estabe-lecidas no parágrafo antecedente, por sentença proferida no pra-/o de 15 dias, ouvindo o promotor público, que responderá dentrode cinco dias.

Nenhum processo compreenderá mais de um cidadão, e neleuao terá lugar pagamento de selo, nem de custas, exceto as dosescrivães, que serão cobradas pela metade.

^ 3^ A sentença do juiz de direito será fundamentada edela haverá recurso voluntário para a relação do distrito, inter-posto dentro do prazo de 10 dias pelo próprio interessado ou por:.(Mi procurador especial, no caso de exclusão; e por qualquerelei tor da paróquia ou distrito, no caso de admissão.

;; 4" As certidões e outros documentos exigidos para o alis-l ;unento dos eleitores são isentos de selo e de quaisquer outrosdireitos.

339

Page 175: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

§ 59 Ern caso de falta ou impedimento, o juiz de direitoserá substituído:

Nas comarcas que tiverem um só juiz de direito: 19 pelojuiz municipal efetivo da sede da comarca; 2(-> pêlos juizes muni-cipais efetivos dos outros termos da mesma comarca, que foremmais vizinhos.

Nas comarcas que tiverem mais de um juiz de direito: l?pêlos outros juizes de direito, conforme a regra geral de suasubstituição; 2" pêlos juizes substitutos formados, de conformi-dade com a mesma regra.

Se todos eles faltarem ou acharem-se impedidos, o processoserá feito perante o juiz de direito da comarca mais vizinha.

Do Alistamento Eleitoral

Art. 6? O alistamento dos eleitores será preparado, em cadatermo, pelo respectivo juiz municipal, e definitivamente organi-zado por comarcas pêlos juizes de direito destas.

§ l1' Na corte o Ministro do Império, e nas províncias osPresidentes, marcarão dia para começo dos trabalhos do pri-meiro alistamento que se fizer em virtude desta lei.

§ 2" Nas comarcas que tiverem mais de um juiz de direito,tanto o preparo como a organização definitiva do alistamentoserão feitos pêlos juizes de direito, cada um no respectivo dis-trito criminal, competindo ao do l" o registro do alistamentogeral dos eleitores de toda a comarca, pelo modo estabelecidonos §§ 8° a 11 deste artigo.

Para este fim ser-lhe-ão remetidos pêlos outros juizes osalistamentos parciais que tiverem organizado.

§ 3" Em caso de falta ou impedimento, o juiz de direitoserá substituído: 19 pelo juiz municipal efetivo da sede da comar-ca; 2? pêlos juizes municipais efetivos dos outros termos da mes-ma comarca que forem mais vizinhos.

Nas comarcas que tiverem mais de um juiz de direito: 19pêlos outros juizes de direito conforme a regra geral de sua subs-tituição; 29 pêlos juizes substitutos formados de conformidadecom a mesma regra.

Se todos eles faltarem ou acharem-se impedidos, o alista-mento dos eleitores será organizado pelo juiz de direito da co-marca mais vizinha.

340

§ 49 Nenhum cidadão será incluído no alistamento doseleitores sem o ter requerido por escrito o com assinatura suaou de especial procurador, provando o seu direito com os do-cumentos exigidos nesta lei.

Em cada requerimento não poderá f igurar mais que umcidadão.

O juiz de direito e os juizes municipais serão, porém, incluí-dos ex offício no alistamento da paróquia de seu domicílio.

§ 59 Só no alistamento da paróquia em que tiver domiciliopoderá ser incluído o cidadão que for reconhecido eleitor.

§ 6" Os requerimentos de que trata o § 49 serão entreguesaos juizes municipais no prazo de 30 dias, contados da data doedital em que este deverão convidar para tal fim os cidadãosdos seus municípios.

Desses requerimentos e dos documentos que os acompanha-rem, ou forem posteriormente apresentados, darão recibo os jui-zes municipais.

§ 79 Estes mesmos juizes, no prazo de 10 dias, exigirãopor despachos lançados naqueles requerimentos, e que serão pu-blicados por edital, a apresentação dos documentos legais quenão tiverem sido juntos, sendo concedido para essa apresentaçãoo prazo de 20 dias.

§ 8° Findo este último prazo, os juizes municipais enviarãoaos juizes de direito da comarca, dentro de 20 dias, todos osrequerimentos recebidos e respectivos documentos, acompanha-dos de duas relações que organizarão por municípios, paróquias edistritos de paz, sendo colocados os nomes por ordem alfabéticaL-m cada quarteirão.

Em uma destas relações se conterão os nomes dos cidadãosque houverem exibido todos os documentos legais, em devidaforma, e na outra se mencionarão os nomes daqueles cujos reque-rimentos não se acharem completamente instruídos ou foremacompanhados de documentos defeituosos, declarando-se as faltasou defeitos. Em ambas as relações farão os juizes municipais asobservações que lhes parecerem convenientes para esclarecimentodos juizes de direito.

§ 99 Os juizes de direito, dentro do prazo de 45 dias, con-tados do em que tiverem recebido os requerimentos preparadospêlos juizes municipais e as respectivas relações, julgarão pro-vado ou não o direito de cada cidadão de ser reconhecido eleitor,

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por despachos fundamentados, proferidos nos próprios requeri-mentos; e, de conformidade com estes despachos, organizarão oalistamento geral e definitivo dos eleitores por comarcas, municí-pios, paróquias, distritos de paz e quarteirões, podendo para essefim exigir de quaisquer autoridades ou empregados públicos asinformações de que necessitarem.

Nos dez primeiros dias do dito prazo será permitido aoscidadãos apresentar aos juizes de direito, para serem juntos aosseus requerimentos, os documentos exigidos pêlos juizes munici-pais, ou quaisquer outros que melhor provem o seu direito,quando não tenham podido fazê-Io perante estes em tempo pró-prio, devendo ser informados pêlos respectivos juizes municipaisos requerimentos que acompanharem esses documentos.

S 10. No prazo de 20 dias em seguimento do estabelecidono parágrafo antecedente, os juizes de direito farão extrair cópiasdo alistamento geral da comarca, das quais remeterão — uma aoMinistro do Império na Corte, ou nas províncias ao Presidente, eoutra ou outras ao tabelião ou tabeliães a quem competir fazero registro do mesmo alistamento. Além destas farão tambémextrair cópias parciais do alistamento, contendo cada uma o rela-tivo a cada município da comarca, as quais remeterão aos respec-tivos juizes municipais, que as publicarão por edital logo que asreceberem, e as farão registrar pelo tabelião ou tabeliães domunicípio, quando este não for o da cabeça da comarca.

Em falta absoluta de tabelião será feito este serviço pelaescrivão ou escrivães de paz, que o juiz competente designar.

§11. Se houver mais de um tabelião na cabeça da comarcaou no município, o juiz de direito ou o juiz municipal poderámandar fazer o registro por dois ou mais, quando julgar conve-niente esta divisão do trabalho à vista do número das paróquiasou dos distritos de paz, designando quais os municípios, paróquiasou distritos de paz que ficarão a cargo de cada um.

§ 12. O registro será feito em livro fornecido pela respec-tiva Câmara Municipal, aberto e encerrado pelo juiz de direitoou pelo juiz municipal, os quais também numerarão e rubricarãoas folhas do mesmo livro.

§ 13. O registro ficará concluído no prazo de 40 dias, con-tados do em que o respectivo tabelião houver recebido a cópiado alistamento. Esta cópia será devolvida ao juiz competente comdeclaração da data do registro.

O trabalho do registro terá preferência a qualquer outro.

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§ 14. Os títulos de eleitor, extraídos de livros de talõesimpressos, serão assinados pêlos juizes de direito que tiveremfeito o alistamento.

Estes títulos conterão, além da indicação da província, co-marca, município, paróquia, distrito de paz e quarteirão, o nome,idade, filiação, estado, profissão domicílio e renda do eleitor, sal-vas as exceções do art. 4'-', a circunstância de saber ou não lere escrever e o número e data do alistamento.

Os títulos serão extraídos e remetidos aos juizes municipaisdentro do prazo de 30 dias, contados do cm que se t iver con-cluído o alistamento geral.

Quarenta e oito horas depois de terem recebido os títulos,os juizes municipais convidarão por edital os eleitores, compre-endidos nos alistamentos dos respectivos municípios, para osirem receber, dentro de 40 dias, nos lugares que para este fimdesignarem, desde as 10 horas da manhã até às 4 da tarde.

Nas comarcas especiais a entrega dos títulos será feita pêlosjuizes de direito, que tiverem organizado o alistamento.

í; 15. Os títulos serão entregues aos próprios eleitores, osquais os assinarão à margem perante o juiz municipal ou juiz dedireito; e em livro especial passarão recibo com sua assinatura,sendo admitido a assinar pelo eleitor que não souber ou nãopuder escrever, outro por ele indicado.

§ 16. Os títulos dos eleitores que os não tiverem procuradodentro do prazo designado para sua entrega, serão remetidospelo juiz competente ao tabelião que houver feito o registro dorespectivo alistamento, o qual os conservará sob sua guarda, af im de entregá-los quando forem solicitados pêlos próprios elei-tores, satisfeita por estes a exigência do parágrafo antecedente,sendo assinados o título e recebido deste perante o mesmo tabe-lião.

§ 17. Quando o juiz municipal ou juiz de direito recusarou demorar por qualquer motivo a entrega do título, poderáo próprio eleitor, por simples requerimento, recorrer do juiz mu-nicipal para o juiz de direito, e deste para o Ministro do Impé-rio na Corte, ou nas províncias para os Presidentes destas.

Nestes casos o juiz de direito ou Ministro do Império na Cortee os Presidentes nas províncias, mandarão por despacho, dentrode 24 horas, que o juiz recorrido responda, o que este deveráfazer dentro de igual prazo, contado da hora em que houver

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recebido o requerimento, e que será certificada pelo agentedo Correio ou pelo oficial de justiça encarregado da entrega.

O recurso será decidido dentro do prazo de 5 dias, contadosdo recebimento da resposta do juiz recorrido; ou da data em quedeveria ter sido dada.

No caso de recusa ou demora na entrega do título pelo tabe-lião que o tiver sob sua guarda, haverá recurso, pelo modo acimaestabelecido, para o juiz de direito, na cabeça da comarca, e foradesta, para o respectivo juiz municipal.

§ 18. No caso de perda de título poderá o eleitor requererao competente juiz de direito novo título, à vista de justificaçãodaquela perda com citação do promotor público, e de certidãodo seu alistamento.

O despacho será proferido no prazo de 48 horas; e, se fornegativo, haverá recurso para o Ministro do Império na Corte,ou nas províncias para os Presidentes destas.

No novo título e no respectivo talão se fará declaração dacircunstância de ser segunda via e do motivo pelo qual foi pas-sado.

Do mesmo modo se procederá quando se passar novo título,no caso de verificar-se erro na primeiro.

Art. 7° Para o primeiro alistamento que se fizer, em vir-tude desta lei, ficam reduzidos a 4 meses os prazos de que setrata nos arts. 39, § 19, n1? n, § 2° números I e IV, § 49 e 59;art. 4^, n? XI; e art. 59 números l e n, e § l1? números U e III relati-vamente às provas de renda.

Art. 89 No primeiro dia útil do mês de setembro de 1882,e de então em diante todos os anos em igual dia, se procederá àrevisão do alistamento geral dos eleitores, em todo o Império,somente para os seguintes fins:

I — De serem eliminados os eleitores que tiverem falecidoou mudado de domicílio para fora da comarca, os falidos não rea-bilitados, os que estiverem interditos da administração de seusbens, e os que, nos termos dos arts. 79 e 89 da Constituição, hou-verem perdido os direitos de cidadão brasileiro ou não estiveremno gozo de seus direitos políticos.

II — De serem incluídos no dito alistamento os cidadãos querequererem e provarem ter adquirido as qualidades de eleitorde conformidade com esta lei, e souberem ler e escrever.

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§ l" A prova de haver o cidadão atingido a idade legal seráf u l a por meio da competente certidão; e a de saber íer e escre-ver pela letra e assinatura do cidadão que requerer a sua inclusãono alistamento, uma vez que a letra e firma estejam reconhecidaspor tabelião no requerimento que para este fim dirigir.

§ 2'? Para que se considere o cidadão domiciliado na paró-quia, exige-se que nela resida um ano antes da revisão do alista-mento geral dos eleitores, salva a disposição do § 49

§ 3^ O eleitor eliminado do alistamento de uma comarca,l>or ter mudado para outra seu domicílio, será incluído no alis-tamento desta, bastando para este fim que perante o juiz de di-reito da última comarca prove o novo domicílio e exiba seu títulode eleitor com a declaração da mudança, nele posta pelo juiz dedireito respectivo ou, em falta deste título, certidão da sua elimi-nação, por aquele motivo, do alistamento em que se achava oseu nome.

§ 4 9 Se a mudança de domicílio for para paróquia, distritode paz ou seção compreendidos na mesma comarca, o juiz dedireito desta, requerendo o eleitor, fará no alistamento as neces-sárias declarações.

§59 A eliminação do eleitor terá lugar somente nos seguin-tes casos: de morte, à vista da certidão de óbito; de mudança dodomicílio para fora da comarca, em virtude do requerimento dopróprio eleitor ou de informações da competente autoridade, pre-codendo anúncio por edital afixado com antecedência de 30 diasem lugar público da sede da comarca e na paróquia, distrito depaz ou seção de sua residência, ou de certidão autêntica de estaro eleitor alistado em outra paróquia de comarca diversa, ondet enha estabelecido novo domicílio, sendo apresentada esta certi-( iao por meio de requerimento assinado por pessoa competentenos termos do § 79; e no de perda dos direitos de cidadão bra-sileiro ou suspensão do exercício dos direitos políticos, de falêncianu interdição da gerência de seus bens, à vista das provas exigidasI K > $ 22 do art. F do Decreto Legislativo n9 2.675, de 20 deoutubro de 1875.

§ 69 Nos trabalhos das revisões dos alistamentos serão ob-servadas as disposições desta lei relativas ao processo estabeleci-do para o primeiro alistamento geral, reduzidos porém a 10 diasos prazos dos §§ 79 e 89, a 30 o do § 99, a 10 o do § 10, e a 30os dos §§ 13 e 14, todos do art. 61?

§ 79 A eliminação do eleitor, em qualquer dos casos don" I deste artigo, será requerida pelo promotor público ou pelo

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seu adjunto, ou por três eleitores da respectiva paróquia, pormeio de petição documentada nos termos do § 3?

Os documentos serão fornecidos gratuitamente pela repar-tição ou pelo funcionário público competente.

§ 8? As eliminações, inclusões e alterações que se fizeremnos alistamentos, quando se proceder a sua revisão, serão publi-cadas, com a declaração dos motivos, por editais afixados nasportas das matrizes e capelas, ou em outros lugares públicos.

§ 9° Concluídos os trabalhos das revisões e extraídas asnecessárias cópias, o juiz de direito passará os títulos de eleitorque competirem aos novos alistados, seguindo-se para sua expedi-ção e entrega as disposições dos §§ 14 a 16 do art. 6? desta lei.

§ 10. No caso de dissolução da Câmara dos Deputados,servirá para a eleição o alistamento ultimamente revisto, nãose procedendo à nova revisão entre a dissolução e a eleição quese fizer em consequência dela.

Art. 9? As decisões dos juizes de direito sobre a inclusãodos cidadãos no alistamento dos eleitores, ou a sua exclusão deste,serão definitivas.

Delas, porém, terão recurso para a Relação do distrito, semefeito suspensivo: l? os cidadãos não incluídos e os excluídos,requerendo cada um de per si 21? qualquer eleitor da comarca,no caso de inclusão indevida de outro, referindo-se cada recursoa um só indivíduo.

Estes recursos serão interpostos no prazo de 30 dias, quantoàs inclusões ou não inclusões, e em todo o tempo, quanto asexclusões.

§ l? Interpondo estes recursos, os recorrentes alegarão asrazões e juntarão os documentos que entenderem ser a bem deseu direito.

No prazo de 10 dias, contados do recebimento dos recursos,os juizes de direito reformarão ou confirmarão as suas decisões;e, no último caso, o recorrente fará seguir o processo para aRelação, sem acrescentar razões nem juntar novos documentos.

§ 2? Os recursos interpostos para a Relação de decisõesproferidas sobre alistamento de eleitores serão julgados, no prazode 30 dias, por todos os seus membros presentes.

§ 3? Não é admissível suspeição de juizes no julgamentodos recursos, salvos somente os casos do art. 61 do Código do

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Processo Criminal; nem se interromperão os prazos por motivode férias judiciais.

§ 4? Serão observadas as disposições do Decreto Legislativon° 2.675, de 20 de outubro de 1875 e das respectivas Instruçõesde 12 de janeiro de 1876, sobre os recursos, na parte não alte-rada por esta lei.

Dos elegíveis

Art. 10. É elegível para os cargos de Senador, Deputado à As-sembleia Geral, membro de Assembleia Legislativa Provincial, ve-reador e juiz de paz todo cidadão que for eleitor nos termos doart. 2? desta lei, não se achando pronunciado em processo crimi-nal, e salvas as disposições especiais que se seguem:

§ 19 Requer-se:Para Senador: a idade de 40 anos para cima e a renda anual

de 1:600$ por bens e raiz, indústria, comércio ou emprego;Para Deputado à Assembleia Geral: a renda anual de 800$

por bens de raiz, indústria, comércio ou emprego;Para membro de Assembleia Legislativa Provincial: o domi-

cílio na província por mais de dois anos;Para vereador e juiz de paz: o domicílio no município e dis-

trito por mais de dois anos.§ 2? Os cidadãos naturalizados não são, porém, elegíveis para

o cargo de Deputado à Assembleia Geral sem terem seis anos deresidência no Império, depois da naturalização.

Das incompatibilidades

Art. 11. Não podem ser votados para Senador, Deputado àAssembleia Geral ou membro de Assembleia Legislativa Pro-vincial:

I. Em todo o Império:Os diretores gerais do Tesouro Nacional e os diretores das

Secretarias de Estado.II. Na Corte e nas províncias em que exercerem autoridade

ou jurisdição:Os Presidentes de província;Os Bispos em suas dioceses;

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Os comandantes de armas;Os generais em chefe de terra e mar;Os chefes de estações navais;Os capitães de porto;Os inspetores ou diretores de Arsenais;Os inspetores de corpos do exercício;Os comandantes de corpos militares e de polícia;Os secretários de Governo Provincial e os secretários de Po-

lícia da Corte e Província;Os inspetores de Tesourarias de Fazenda gerais ou provin-

ciais, e os chefes de outras repartições de arrecadação;O diretor geral e os administradores dos Correios;Os inspetores ou diretores de instrução pública, e os lentes e

diretores de faculdade ou outros estabelecimentos de instruçãosuperior;

Os inspetores das Alfândegas;Os desembargadores;Os juizes de direito;

Os juizes municipais, de órfãos e os juizes substitutos;Os juizes de direito;

Os juizes municipais; de órfãos e os juizes substitutos;Os chefes de Polícia;

Os promotores públicos;Os curadores gerais de órfãos;

Os desembargadores de relações eclesiásticas;Os vigários capitulares;Os governadores de bispado;

Os vigários gerais, provisores e vigários forâneos;Os procuradores fiscais e os dos Feitos da Fazenda e seus

ajudantes.

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III. Nos distritos em que exercerem autoridade ou juris-dição:

Os delegados e subdelegados de Polícia.§ l*? A incompatibilidade eleitoral prevalece:

I. Para os referidos funcionários e seus substitutos legais,que tiverem estado no exercício dos respectivos empregos den-tro de seis meses anteriores à eleição.

II. Para os substitutos que exercerem os empregos dentrodos seis meses, bem como para os que os precederem na ordemda substituição e deviam ou podiam assumir o exercício.

III. Para os funcionários efetivos, para os substitutos dosjuizes de direito, nas comarcas especiais, e para os suplentes dosjuizes municipais, desde a data da aceitação do emprego ou fun-ção pública até seis meses depois de o terem deixado, em vir-tude de remoção, acesso, renúncia ou demissão.

§ 21? Também não poderão ser votados para Senador, Depu-tado à Assembleia Geral ou membro de Assembleia LegislativaProvincial: — os diretores de estradas de ferro pertencentes aoEstado, os diretores e engenheiros chefes de obras públicas, em-presários, contratadores e seus prepostos, arrematantes ou in-teressados em arrematação de taxas ou rendimentos de qualquernatureza, obras ou fornecimentos públicos, ou em companhiasque recebam subvenção, garantia ou fiança de juros ou qualquerauxílio, do qual possam auferir lucro pecuniário da Fazenda ge-ral, provincial ou das Municipalidades, naquelas províncias ondeexercerem os ditos cargos, ou os respectivos contratos e arrema-tações tenham execução e durante o tempo deles.

A palavra "interessados" não compreende os acionistas.Art. 12. O funcionário público de qualquer classe que

perceber pêlos cofres gerais, provinciais ou municipais, venci-mentos ou porcentagens ou tiver direito a custas por atos de ofí-cios de justiça, se aceitar o lugar de Deputado à Assembleia Ge-ral ou de membro de Assembleia Legislativa Provincial, não po-derá, durante todo o período da legislatura, exercer o empregoou cargo público remunerado que tiver, nem perceber vencimen-tos ou outras vantagens, que dele provenham, nem contar anti-guidade para aposentação ou jubilação, nem obter remoção ouacesso em sua carreira, salvo o que lhe competir por antiguida-de.

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§ l? Os juizes de direito ficarão avulsos durante o perío-do da legislatura, e finda esta voltarão para as comarcas emque se achavam, se estiverem vagas ou irão servir em comarcasequivalentes, que o Governo lhes designará.

§ 29 A aceitação do lugar de Deputado ou de membro deAssembleia Legislativa Provincial importará para os juizes subs-titutos nas comarcas especiais, e para os juizes municipais e deórgãos a renúncia destes cargos.

§ 39 O funcionário público compreendido na disposiçãodeste artigo, que aceitar o lugar de Senador, será aposentado oujubilado com o vencimento correspondente ao tempo de exercí-cio que tiver, na forma da lei.

§ 49 Das disposições deste artigo excetuam-se:I. Os Ministros e Secretários de Estado;II. Os Conselheiros de Estado;III. Os Bispos;

IV. Os embaixadores e os enviados extraordinários emmissão especial;

V. Os Presidentes de província;

VI. Os oficiais militares de terra ou mar, quanto à anti-guidade, e, nos intervalos das sessões, quanto ao soldo.

Art. 13. Os Ministros e Secretários de Estado não poderãoser votados para Senador enquanto exercerem o cargo e até seismeses depois, salvo na província de seu nascimento ou domicílio.

Art. 14. Não poderão os Senadores e, durante a legislatu-ra e seis meses depois, os Deputados à Assembleia Geral, salvaa disposição do art. 34 da Constituição, nem os membros das As-sembleias Legislativas Provinciais, aceitar do Governo geral ouprovincial comissões ou empregos remunerados, exceto os deConselheiro de Estado, Presidente de província, embaixador ouenviado extraordinário em missão especial, Bispo e comandantede forças de terra ou mar.

Não se compreendem nesta disposição as nomeações poracesso de antiguidade para emprego civil ou posto militar deterra ou mar.

Não poderão também os Senadores, os Deputados à Assem-bleia Geral e os membros das Assembleias Legislativas Provin-

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ciais obter a concessão, aquisição ou gozo de privilégios, contratos, arrematações de rendas, obras e fornecimentos públicos, em-bora a título de símplices interessados.

Esta disposição não compreende os privilégios de invenção.

Da eleição em geral

Art. 15. As eleições de Senadores, Deputados à AssembleiaGeral, membros das Assembleias Legislativas Provinciais, verea-dores e juizes de paz continuarão a fazer-se nos dias e pelo mododeterminados na legislação vigente, com as alterações seguintes:

§ l1? A eleição começará e terminará no mesmo dia.§ 29 São dispensadas as cerimónias religiosas e a leitura

das leis e regulamentos que deviam preceder aos trabalhos elei-torais.

§ 39 Fica proibida a presença ou intervenção de força pú-blica durante o processo eleitoral.

§ 4^ O lugar onde dever funcionar a mesa da assembleiaeleitoral, será separado, por uma divisão, do recinto destinadoà reunião da mesma assembleia, de modo que não se impossibili-te aos eleitores a inspeção e fiscalização dos trabalhos.

Dentro daquele espaço só poderão entrar os eleitores à me-dida que forem chamados para votar.

§ 59 Compete ao presidente da mesa regular a polícia daassembleia eleitoral, chamando à ordem os que dela se desvia-rem, fazendo sair os que não forem eleitores ou injuriarem osmembros da mesa ou a qualquer eleitor, mandando lavrar nestecaso auto de desobediência e remetendo-o à autoridade compe-tente.

No caso, porém, de ofensa física contra qualquer dos mesá-rios ou eleitores, o presidente poderá prender o ofensor, reme-tendo-o ao juiz competente para ulterior procedimento.

§ 69 As eleições se farão por paróquias, ou, nas que con-tiverem número de eleitores superior a 250, por distritos de paz,ou, finalmente, por secções de paróquia ou de distrito, quandoa paróquia, formando um só distrito de paz ou o distrito, conti-ver número de eleitores excedente ao designado. Cada secçãodeverá conter 100 eleitores, pelo menos.

O Governo, na Corte, e os Presidentes, nas províncias, de-signarão com a precisa antecedência os edifícios em que deve-

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rão fazer-se as eleições. Só em falta absoluta de outros edficíciosI>oderão ser designados para esse fim os templos religiosos.

§ 7? Em cada paróquia, distrito de paz ou secção, se or-ganizará uma mesa para o recebimento, apuração dos votos emais trabalhos da eleição.

Esta mesa se comporá:

I. Nas paróquias ou distritos de paz: do juiz de paz maisvotado da sede da paróquia ou do distrito de paz, como presi-dente, nos termos dos arts. 2? e 3? da Lei n? 387 de 19 de agostode 1846, e de quatro membros, que serão: os dois juizes de pazque àquele se seguirem em votos, e os dois cidadãos imediatosem votos ao 4? juiz de paz.

Em caso de ausência, falta ou impossibilidade do juiz depaz mais votado, exercerá as funções de presidente da mesa oque se lhe seguir em votos até ao 4^

Quando por ausência, falta ou impossibilidade não compa-recer o 2^ ou o 3? juiz de paz, que devem ser membros da mesa,será convidado o 4?; e se destes três juizes de paz só compare-cer um ou nenhum se apresentar, o presidente da mesa convi-dará, para suprir as faltas, um ou dois eleitores dentre os pre-sentes.

Se deixarem de comparecer os dois cidadãos imediatos emvotos aos juizes de paz, que devem também compor a mesa oualgum deles, serão convocados um ou dois que àqueles se se-guirem em votos, até ao 49, sendo a falta destes últimos preen-chida por eleitores dentre os presentes, designados, no caso defaltarem ambos, pelo presidente, e no caso de comparecer um,pelo imediato que tiver comparecido.

Esta mesa será constituída na véspera do dia designado pa-ra a eleição, dia em que também se reunirá à de que trata onúmero seguinte, lavrando o escrivão de paz, em ato contínuo,no livro que tiver de servir para a eleição, a ata especial de suaformação ou instalação, a qual será assinada pelo presidente edemais membros da mesa constituída.

II. Nas secções da paróquia que contiver um só distritode paz ou nas dos distritos de paz: — de um presidente e dequatro membros, os quais serão nomeados: o presidente e doisdestes membros pêlos juizes de paz da sede da paróquia ou dodistrito; e os outros dois pêlos imediatos dos mesmos juizes depaz.

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Estas nomeações serão feitas dentre os eleitores da secçãorespectiva três dias antes do marcado para a eleição, no edifíciodesignado para a da paróquia ou distrito, havendo convocaçãodos referidos juizes e de seus quatro imediatos com a antecedên-cia de 15 dias.

Basta o comparecimento de um dos juizes de paz e de umdos imediatos convocados para se proceder à mesma nomeação.

Concluído este ato, o escrivão de paz lavrará, no livro quetiver de servir para a eleição na respectiva secção, a ata espe-cial da nomeação da mesa.

Esta ata será assinada pêlos juizes de paz e seus imediatos,que houverem comparecido.

§ 8*? Quando, no caso do § 61?, se dividir em secções algumaparóquia ou distrito, a mesa da secção onde estiver a sede daparóquia será organizada pelo modo estabelecido no § 7? n? I.

Quando o distrito dividido não for o da sede da paróquia,será também organizada do mesmo modo a mesa naquela dassecções do distrito que contiver maior número de eleitores.

Será aplicável somente às demais secções a regra estabeleci-da no n° H do § 7?

§ 9<? Os juizes de paz deverão concorrer para formar asmesas eleitorais, quer estejam ou não em exercício, estejam em-bora suspensos por ato do Governo, ou por pronúncia em crimede responsabilidade. Esta disposição é extensiva aos quatro ime-diatos aos mesmos juizes, na parte que lhe for aplicável.

§ 10. Os presidentes e mais membros, que têm de comporas mesas eleitorais, são obrigados a participar por escrito, atéàs 2 horas da tarde da véspera do dia da eleição, o impedimentoque tiverem, sob a pena do art. 29 § 14.

Só poderão ser substituídos depois de recebida esta partici-pação, ou depois das 2 horas da tarde, no caso de não ser elafeita.

§ 11. O presidente ou membros das mesas eleitorais, emcaso de falta ou impedimento durante os trabalhos da eleição,eerão substituídos pelo modo seguinte:

Nas mesas eleitorais de paróquia, distrito ou secção organi-zadas pela forma estabelecida no n? I do § 7?: — l? o presidente,pelo juiz de paz que se lhe seguir em votos, ainda que seja mem-

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bro da mesa e, no caso de não haver juiz de paz desimpedido,pelo eleitor que os membros presentes nomearem, decidindo asorte em caso de empate; 29 os membros da mesa pelo modo de-terminado na 2? e na 3? parte do n9 I citado.

Nas mesas das secções de que trata a parte final do § 89: —19 o presidente, pelo eleitor que os membros presentes nomea-rem, decidindo a sorte em caso de empate; 29 qualquer dos doismembros que os juizes de paz houverem nomeado, pelo eleitorou eleitores que o presidente convidar; 39 qualquer dos doismembros que os imediatos dos juizes de paz tiverem nomeado,pelo eleitor que o outro membro presente designar, e, faltandoambos os ditos membros, pêlos eleitores que o presidente convi-dar.

§ 12. Não será válida qualquer eleição feita perante mesaque não for organizada pela forma estabelecida nos parágrafosanteriores.

§ 13. Quando na véspera, ou, não sendo possível, no diada eleição até à hora marcada para o começo dos trabalhos, nãose puder instalar a mesa eleitoral, não haverá eleição na paró-quia, distrito ou secção.

§ 14. Deixará também de haver eleição na paróquia, dis-trito ou seção onde por qualquer outro motivo não puder serfeita no dia próprio.

_ § 15. No dia e no edifício designados para eleição come-çarão os trabalhos desta às 9 horas da manhã.

Reunida a mesa, que deve ser instalada na véspera, se pro-cederá ao recebimento das cédulas dos eleitores pelo modo es-tabelecido para a eleição primária na legislação vigente.

§ 16. Cada candidato à eleição de que se tratar, até aonúmero de três, poderá apresentar um eleitor para o fim defiscalizar os trabalhos em cada uma das assembleias eleitoraisdo distrito. Na ausência do candidato, a apresentação poderá serfeita por qualquer eleitor.

Havendo, porém, mais de três candidatos, terão preferênciaos fiscais daqueles que apresentarem maior número de assinatu-ras de eleitores, declarando que adotam a sua candidatura.

A apresentação destes fiscais será feita por escrito aos pre-sidentes das mesas eleitorais, quando estas se instalarem.

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Os fiscais terão assento nas mesas eleitorais e assinarão asatas com os respectivos membros, mas não terão voto deliberati-vo nas questões que se suscitarem acerca do processo da eleição.

O não comparecimento dos fiscais ou a sua recusa de assi-natura nas atas não trará interrupção dos trabalhos, nem osanulará.

^ 17. Haverá uma só chamada dos eleitores.Se depois de findar esta chamada, mas antes da abertura

da urna que contiver as cédulas, algum eleitor que, não tendoacudido à mesma chamada, requerer ser admitido a votar, serárecebida a sua cédula.

§ 18. Nenhum eleitor será admitido a votar sem apresen-tar o seu título, nem poderá ser recusado o voto do que exibiro dito título, não competindo à mesa entrar no conhecimento daidentidade de pessoa do eleitor em qualquer destes casos.

Se, porém, a mesa reconhecer que é falso o título apresen-tado ou que pertence a eleitor, cuja ausência ou falecimento sejanotório, ou se houver reclamação de outro eleitor que declarepertencer-lhe o título, apresentando certidão de seu alistamentopassada pelo competente tabelião, a mesa tomará em separadoo voto do portador do título, e assim também o do reclamante,se exibir novo título expedido nos termos do art. 69 § 18 destalei, a fim de ser examinada a questão em Juízo competente, àvista do título impugnado ou sobre que haja dúvida, título queficará em poder da mesa para ser remetido ao mesmo Juízo pa-ra os devidos efeitos, com quaisquer outros documentos que fo-rem apresentados.

§ 19. O voto será escrito em papel branco ou anilado, nãodevendo ser transparente nem ter marca, sinal ou numeração.A cédula será fechada de todos os lados, tendo rótulo conformea eleição a que se proceder.

As cédulas que contiverem sinais exteriores ou interiores,ou forem escritas em papel de outras cores ou transparente, se-rão apuradas em separado e remetidas aos poder verificador com-petente com as respectivas atas.

Depois de lançar na urna sua cédula, o eleitor assinará oseu nome em um livro para esse fim destinado e fornecido pelaCâmara Municipal, o qual será aberto e encerrado pelo respecti-vo presidente ou pelo vereador por ele designado, que tambémnumerará e rubricará todas as folhas do mesmo livro.

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Quando o eleitor não souber ou não puder assinar o seunome, assinará em seu lugar outro por ele indicado, e convida-do para este fim pelo presidente da mesa.

Finda a votação, e em seguida à assinatura do último eleitor,a mesa lavrará e assinará um termo, no qual se declare o númerodos eleitores inscritos no dito livro.

O mesmo livro será remetido à Câmara municipal com osdemais livros concernentes à eleição.

§ 20. Concluída a apuração dos votos, que se fará pelomodo estabelecido na legislação vigente, será lavrada e assina-da pela mesa, e pêlos eleitores que quiserem a ata da eleição, naqual serão mencionados os nomes dos eleitores que não tive-rem comparecido, os quais por essa falta não incorrerão na penade multa.

A mesma ata será transcrita no livro de notas do tabeliãoou do escrivão de paz, e assinada pela mesa e pêlos eleitoresque quiserem.

§ 21. É permitido a qualquer eleitor da paróquia, distritoou secção apresentar por escrito e com sua assinatura protestorelativo a atos do processo eleitoral, devendo este protesto, ru-bricado pela mesa e com o contraprotesto desta, se julgar con-veniente fazê-lo, ser apensado à cópia da ata que, segundo adisposição do parágrafo seguinte, for remetida ao Presidente doSenado, da Câmara dos Deputados, da Assembleia LegislativaProvincial, ou à Câmara Municipal. Na ata se mencionará sim-plesmente a apresentação do protesto.

§ 22. A mesa fará extrair três cópias da referida ata e dasassinaturas dos eleitores no livro de que trata o § 19, sendo asditas cópias assinadas por ela e consertadas por tabelião ou es-crivão de paz.

Destas cópias serão enviadas — uma ao Ministro do Impé-rio na Corte, ou ao Presidente nas províncias; outra ao Presi-dente do Senado, da Câmara dos Deputados ou da AssembleiaLegislativa Provincial, conforme a eleição a que se proceder;e a terceira ao juiz de direito de que trata o art. 18, se a eleiçãofor de Deputado à Assembleia Geral ou de membro de Assem-bleia Legislativa Provincial.

Na eleição de vereadores, a última das ditas cópias será en-viada à Câmara Municipal respectiva.

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Quando a eleição for para Senador, será esta última cópuienviada à Câmara Municipal da Corte, se a eleição a ela perten-cer e à Província do Rio de Janeiro, e às Câmaras das capitaisdas outras províncias, se a eleição a estas pertencer.

Acompanharão as referidas cópias as das atas da formaçãodas respectivas mesas eleitorais.

Da eleição de Senadores

Art. 16. A eleição de Senador continua a ser feita porprovíncia, mas sempre em lista tríplice, ainda quando tenham deser preenchidos dois ou mais lugares: nesta hipótese proceder-se-á à segunda eleição logo depois da escolha de Senador emvirtude da primeira e assim por diante.

I. O Governo, na Corte e Província do Rio de Janeiro, eos Presidentes nas outras províncias designarão dia para a elei-ção, devendo proceder-se a esta dentro do prazo de três meses.

Este prazo será contado:No caso de morte do Senador, do dia em que na Corte o

Governo, e nas províncias o Presidente, tiverem conhecimentocerto da vaga, ou em que receberem comunicação desta, feita aoGoverno pelo Presidente do Senado, ou ao Presidente da respec-tiva província pelo Governo ou pelo Presidente do Senado. Estascomunicações serão dirigidas pelo Correio sob registro.

No caso de aumento do número de Senadores, do dia dapublicação da respectiva lei na Corte ou na província a que sereferir.

II. Cada eleitor votará em três nomes, constituindo a listatríplice os três cidadãos que maior número de votos obtiverem.

§ l? A apuração geral das autênticas das assembleias elei-torais e a formação da lista tríplice serão feitas pela CâmaraMunicipal da Corte, quanto às eleições desta e da Província doRio de Janeiro, e pelas Câmaras das capitais das outras provín-cias, quanto às eleições destas.

A estes atos se procederá dentro do prazo de 60 dias, con-tados do em que se houver feito a eleição.

I. Devem intervir nos referidos atos ainda os vereadoresque se não acharem em exercício ou estiverem suspensos porato do Governo, ou por pronúncia em crime de responsabilidade.

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I I . Na apuração a Câmara Municipal se limitará a somaro.s votos mencionados nas diferentes autênticas, atendendo so-mente as das eleições feitas perante mesas organizadas pela for-ma determinada nos §§ 79 a 11 do art. 15.

I I I . Finda a dita apuração, se lavrará uma ata, na qual semencionarão os nomes dos cidadãos e o número de votos que ob-tiveram para Senador, desde o máximo até ao mínimo; as ocor-rências que se deram durante os trabalhos da apuração; e asrepresentações que, por escrito e assinadas por qualquer cida-dão elegível, sejam presentes à Câmara Municipal, relativas àmesma apuração.

IV. Desta ata, depois de devidamente assinada, a CâmaraMunicipal remeterá — uma cópia autêntica ao Ministro e Secre-tário de Estado dos Negócios do Império, acompanhando a listatríplice, assinada pela mesma Câmara, para ser presente ao Po-der Moderador; — outra cópia da mesma ata ao Presidente doSenado; — e outra ao Presidente da respectiva província.

§ 29 Na verificação dos poderes a que proceder o Senado,nos termos do art. 21 da Constituição, se resultar a exclusão dalista tríplice do Senador nomeado, far-se-á nova eleição em todaa província: no caso de exclusão recair em qualquer dos outrosdois cidadãos contemplados na lista tríplice, será organizada pe-lo Senado nova lista e sujeita ao Poder Moderador.

I. Se o Senado reconhecer que algum ou alguns dos trêscidadãos incluídos na lista tríplice se acham compreendidos emqualquer das incompatibilidades especificadas no art. 11, serãodeclarados nulos os votos que lhes tiverem sido dados: e o cida-dão ou cidadãos que se seguirem completarão a lista tríplice.

II. Proceder-se-á também à nova eleição em toda a pro-víncia quando, antes da escolha do Senador, falecer algum dostrês cidadãos que compuserem a lista tríplice.

O mesmo se observará no caso de morte do Senador nomea-do, cujos poderes não tenham sido ainda verificados ou quandoaigum dos cidadãos incluídos na lista tríplice careça de qualquerdas condições de elegibilidade exigidas nos n.081, II e IV do art.45 da Constituição.

Da eleição de Deputados à Assembleia Geral e membrosdas Assembleias Legislativas Provinciais

Art. 17. As províncias serão divididas em tantos distritoseleitorais quantos forem os seus Deputados à Assembleia Geral,

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ïatendendo-se quanto possível à igualdade de população entre osdistritos de cada província e respeitando-se a contingüidade doterritório e a integridade do município.

§ 19 O Governo organizará e submeterá à aprovação doPoder Legislativo a divisão dos ditos distritos sobre as seguin-tes bases:

I. O município da Corte compreenderá três distritos elei-torais e os das capitais da Bahia e Pernambuco dos distritos,cada um.

II. Os distritos eleitorais de cada província serão designa-dos por números ordinais, computada a população segundo abase do art. 29 do Decreto Legislativo n? 2.675 de 20 de outubrode 1875.

III. Para cabeça de cada distrito eleitoral será designadoo lugar mais central e importante dele.

IV. Na divisão dos distritos eleitorais só serão contempla-das as paróquias e municípios criados até 31 de dezembro de1879.

Para todos os efeitos eleitorais até ao novo arrolamento dapopulação geral do Império subsistirão inalteráveis as circuns-crições paroquiais e municipais contempladas na divisão dos dis-tritos eleitorais feita em virtude desta lei, não obstante qualqueralteração resultante de criação, extinção ou subdivisão de paró-quias e municípios.

§ 29 A divisão dos distritos eleitorais, feita de conformi-dade com o parágrafo precedente, será posta provisoriamenteem execução até à definitiva aprovação do Poder Legislativo, nãopodendo o Governo alterá-la depois de sua publicação.

§ 3"? Cada distrito elegerá um Deputado à Assembleia Ge-ral e o número de membros da Assembleia Legislativa Provin-cial marcado no art. 19 § 16 do Decreto Legislativo n? 842 de19 de setembro de 1855.

Quanto às Províncias de Santa Catarina, Paraná, EspíritoSanto e Amazonas, que têm de ser divididas em dois distritos,elegerá cada uma delas 22 membros, cabendo 11 por distrito.

Art. 18. O juiz de direito que exercer jurisdição na cidadeou vila designada pelo Governo para cabeça do distrito eleitoral,ou, em caso de falta, o seu substituto formado em direito, oufinalmente, na falta deste último, o juiz de direito da comarca

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mais viz inha comporá com os presidentes das mesas eleitoraisuma junta por cie presidida, a qual fará a apuração geral dos vo-tos das diversas eleições do mesmo distrito para Deputado à As-sembleia Geral ou membros das Assembleias Legislativas Pro-vinciais.

A esta apuração se procederá pelas autênticas das atas da-quelas eleições, dentro do prazo de 20 dias, contados do em queelas se tiverem feito, precedendo anúncio por editais e avisosaos ditos presidentes com declaração do dia, hora e lugar dareunião.

Para que a junta apuradora possa funcionar é necessária apresença, pelo menos, de quatro presidentes de assembleias elei-torais. Na falta destes, serão chamados pela ordem de sua vota-ção os juizes de paz da paróquia ou do distrito, onde funcionara junta. Se ainda estes, não comparecerem recorrer-se-á aos jui-zes de paz da paróquia ou do distrito mais vizinho.

Na apuração a junta se limitará a somar os votos menciona-dos nas diferentes autênticas, atendendo somente às das eleiçõesfeitas perante mesas organizadas pela forma determinada nos§§ 7? a 11 do art. 15, procedendo no mais como dispõe a legis-lação vigente. Os eleitores presentes, que quiserem, assinarãoa ata da apuração.

§ l1? Na cidade onde houver mais de um juiz de direito,será presidente da junta apuradora o mais antigo, tendo prefe-rência o de mais idade quando for igual a antiguidade; e, se-gundo a mesma regra, serão substituídos uns pêlos outros nocaso de falta ou impedimento.

No município em que, nos termos do § l? n? I do artigoantecedente, houver dois ou mais distritos eleitorais, seguir-se-ápara a presidência de cada junta apuradora a regra acima esta-belecida, correspondendo a antiguidade do juiz de direito aonúmero dos distritos eleitorais, de modo que o mais antigo sirvano l?, o imediato no 2? e assim por diante.

§ 2? Não se considerará eleito Deputado à Assembleia Ge-ral o cidadão que não reunir a maioria dos votos dos eleitores,que concorrerem à eleição.

Neste caso o presidente da junta expedirá os necessários avi-sos para se proceder à nova eleição vinte dias depois da apura-ção geral.

Na segunda eleição, para a qual servirão nas assembleiaseleitorais as mesmas mesas da primeira, só poderão ser votados

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os dois cidadãos que nesta tiverem obtido maior número de votos, sendo suficiente para eleger o Deputado a maioria dos votosque forem apurados.

§ 31? Na eleição dos membros das Assembleias LegislativasProvinciais cada eleitor votará em um só nome.

Serão considerados eleitos os cidadãos que reunirem vota-ção igual, pelo menos, ao quociente eleitoral, calculado sobreo número total dos eleitores que concorrerem à eleição. Se al-gum ou alguns dos cidadãos não reunirem aquela votação, proce-der-se-á, quanto aos lugares não preenchidos, à nova eleição pelaforma disposta no parágrafo antecedente, observando-se também,quanto ao número dos nomes sobre os quais deva recair a novavotação, a regra estabelecida ao mesmo parágrafo.

Art. 19. Concluída definitivamente a eleição e transcritano livro de notas de um dos tabeliães do lugar a ata da apura-ção geral dos votos, a junta apuradora expedirá diplomas aoseleitos — Deputado à Assembleia Geral ou membros da Assem-bleia Legislativa Provincial, remetendo as cópias autênticas daata da apuração dos votos ao Ministro do Império, na Corte, aoPresidente, nas províncias, e à Câmara dos Deputados ou à As-sembleia Legislativa Provincial, conforme for a eleição, ficandorevogado o art. 90 da Lei n? 387 de 19 de agosto de 1846.

Art. 20. No caso de reconhecer a Câmara dos Deputadosou a Assembleia Legislativa Provincial que um ou mais dos elei-tos estão compreendidos em qualquer das incompatibilidades es-pecificadas no art. 11, serão declarados nulos os votos que lhestiverem sido dados, e proceder-se-á à nova eleição, na qual nãopoderão ser votados o cidadão ou cidadãos, cuja eleição tiver sidopor esse motivo anulada.

Proceder-se-á também à nova eleição, se da anulação de vo-tos pela Câmara ou Assembleia resultar a exclusão de algumdos que tiverem obtido o respectivo diploma.

Art. 21. No caso de vaga de Deputado à Assembleia Geralou de membro de Assembleia Legislativa Provincial que ocor-rer durante a legislatura, proceder-se-á à nova eleição para opreenchimento do lugar, dentro do prazo de três meses, contados do dia em que, na Corte o Governo e nas províncias o Pre-sidente, tiverem conhecimento certo da vaga, ou em que rece-berem comunicação desta, feita pelo Presidente da Câmara do.',Deputados, no primeiro caso, ou pelo Presidente da Assembln;iLegislativa Provincial, no segundo. Estas comunicações será»dirigidas pelo Correio sob registro.

Page 186: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

Da eleição de vereadores e juizes de paz

Art. 22. Na eleição de vereadores cada eleitor votará emum só nome.

As Câmaras Municipais continuarão a fazer a apuração ge-ral dos votos do município.

Serão declarados vereadores os cidadãos que, até ao númerodos que deverem compor a Câmara do município, reunirem vo-tação igual, pelo menos, ao quociente eleitoral, calculado sobreo número total dos eleitores que concorrerem à eleição. Se al-gum ou alguns dos cidadãos não reunirem aquela votação, pro-ceder-se-á á nova eleição pelo modo determinado no § 3" doarí. 18.

No processo desta eleição e em todos os seus termos serãoobservadas as disposições da legislação vigente, com as alteraçõesfeitas nesta leí.

i; l'.' Quando se tiver deixado de proceder à eleição em pa-róquia, distritos de paz ou secções, cujo número de eleitores ex-ceder à metade dos de todo o município, ou quando nas eleiçõesanuladas houver concorrido maior número de eleitores do quenas julgadas válidas, ficarão sem efeito as das outras paróquias,distritos de paz e secções, e se procederá à nova eleição geralno município.

Em nenhum outro caso se fará nova eleição geral.§ 21? Na Corte, nas capitais das províncias e nas demais

cidades os vereadores só poderão ser reeleitos quatro anos depoisde findar o quatriênio em que servirem.

í? 3() No caso de morte, escusa ou mudança de domicíliode algum vereador proceder-se-á à eleição para preenchimentoda vaga.

§ 4'-' Quando, em razão de vagas ou de faltas de compare-cimento, não puderem reunir-se vereadores em número neces-sário para celebrarem-se as sessões, serão chamados para perfa-zerem a maioria dos membros da Câmara os precisos imediatosem votos aos vereadores. Se, no caso da última parte do § 3?do art. 18, se houver procedido a duas eleições para vereadores,aqueles imediatos serão os da primeira eleição.

Só poderão ser chamados, em tais casos, os imediatos emvotos aos vereadores, até número igual ao dos vereadores deque a Câmara se compuser.

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§ 5^ As Câmaras Municipais continuarão a compor-se domesmo número de vereadores marcado na legislação vigente,com exceção das seguintes que terão: a do município da Corte21 membros; as das capitais das Províncias da Bahia e Pernam-buco 17; as das capitais das do Pará, Maranhão, Ceará, Rio deJaneiro, Minas Gerais, S. Paulo e S. Pedro do Rio Grande doSul 13; e as das capitais das demais províncias 11.

Cada uma das mesmas Câmaras terá um presidente e umvice-presidente, os quais serão eleitos anualmente, na 1? sessão,pêlos vereadores dentre si.

§ 61? As Câmaras não poderão funcionar sem a presençada maioria de seus membros.

Ao vereador que faltar à sessão, sem motivo justificado,será imposta a muita de 10$ nas cidades e 5$ nas vilas.

Art. 23. A eleição dos juizes de paz continuará a fazer-sepelo modo determinado na legislação vigente, com as alteraçõesfeitas nesta lei.

A apuração dos votos será feita pela Câmara Municipal res-pectiva, quando a paróquia ou o distrito de paz estiver divididoem secções.

Art. 24. As funções de vereador e de ju iz de paz são incom-patíveis com as de empregos públicos retribuídos; e não podemser acumuladas com as de Senador, Deputado à Assembleia Ge-ral e membro de Assembleia Legislativa Provincial, durante asrespectivas sessões.

Art. 25. Feita a primeira eleição de Deputados à Assem-bleia Geral pelo modo estabelecido nesta lei, proceder-se-á tam-bém à eleição das Câmaras Municipais e dos juizes de paz emtodo o Império no primeiro dia útil do mês de ju lho que se se-guir, começando a correr o quatriênio no dia 7 de janeiro subse-quente.

Art. 26. Quando alguma vila for elevada à categoria decidade, a respectiva Câmara Municipal continuará a funcionarcom o número de vereadores que tiver, até à posse dos que fo-rem nomeados na eleição geral para o quatricnio seguinte.

Art. 27. A disposição da última parte do n? IV do S l'-1 doart. 17 não impede a eleição de Câmaras e juizes de paz nosmunicípios, paróquias e distritos de paz que forem novamentecriados, contanto que o sejam dentro dos limites marcados paraos distritos eleitorais.

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Ari . 28. O juiz de direito da comarca continua a ser of u n c i o n á r i o competente para conhecer da validade ou nulidade,não .só da eleição de vereadores e juizes, de paz, mas também daapuração dos votos, decidindo todas as questões concernentes aestes assuntos pela forma que dispõe a legislação vigente.

§ 1° Nas comarcas que tiverem mais de um juiz de direi-to competirão essas atribuições ao juiz de direito do l"? distritocriminal e, na sua falta, aos que deverem substituí-lo.

§ 29 Das decisões do juiz de direito sobre as eleições devereadores e juizes de paz, em conformidade deste artigo, ha-verá recurso para a Relação do distrito. O recurso será julgado,no prazo de 30 dias, por todos os seus membros presentes.

Parte Penal

Art. 29. Além dos crimes contra o livre gozo e exercíciodos direitos políticos do cidadão, mencionados nos arts. 100,101 e 102 do Código Criminal, serão também considerados crimesos definidos nos parágrafos seguintes e punidos com as penasnele estabelecidas:

§ 19 Apresentar-se algum indivíduo com título eleitoralde outrem, votando ou pretendendo votar:

Penas: prisão de um a nove meses e multa de 100$ a 300$000.Nas mesmas penas incorrerá o eleitor que concorrer para

esta fraude, fornecendo o seu título.

§ 2? Votar o eleitor por mais de uma vez na mesma eleição,aproveitando-se de alistamento múltiplo:

Penas: privação do direito do voto ativo e passivo por qua-tro a oito anos e multa de 100$ a 300$000.

§ 39 Deixar a autoridade competente de incluir no alista-mento dos eleitores cidadão que, nos termos desta lei, tenha pro-vado estar nas condições de eleitor, incluir o que não estiver emtais condições ou excluir o que não se achar compreendido emalguns dos casos do § 59 do art. 89.

Demorar a extração, expedição e entrega dos títulos ou do-cumentos, de modo que o eleitor não possa votar ou instruir orecurso por ele interposto:

Penas: suspensão do emprego por seis a dezoito meses emulta de 200$ a 600$000.

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§ 49 Deixar a autoridade competente de preparar e enviarao juiz de direito, nos termos do § 89 do art. 69, os requerimen-tos dos cidadãos que pretenderem ser alistados e as relações queos devem acompanhar:

Penas: suspensão do emprego por um a três anos e multade 300$ a 1:000$000.

Nas mesmas penas incorrerá o empregado que ocultar ouextraviar títulos de eleitor e documentos, que lhe forem entre-gues, relativos ao alistamento.

§ 59 Passar certidão, atestado ou documento falsos, queinduza a inclusão no alistamento ou a exclusão:

Penas: as do art. 129 $ 89 do Código Criminal.Ao que se servir da certidão, atestado ou documentos falsos

para se fazer alistar:Penas: as do art. 167 do Código Criminal.§ 69 Impedir ou obstar de qualquer maneira a reunião da

mesa eleitoral ou da junta apuradora no lugar designado:Penas: prisão por um a três anos e multa de 500$ a

1:500$000.§ 7? Apresentar-se alguém munido de armas de qualquer

natureza:Penas: prisão por seis meses a um ano e multa de 100$ a

300$000.Se as armas estiverem ocultas:Penas dobradas.§ 89 Violar de qualquer maneira o escrutínio, rasgar ou inu-

tilizar livros e papéis relativos ao processo da eleição:Penas: prisão com trabalho por um a três anos e multa de

1:000$ a 3:000$, além das penas em que incorrer por outros cri-mes.

tor:§ 99 Ocultar, extraviar ou subtrair alguém o título do elei-

Penas: prisão por um a seis meses e multa de 100$ a 300$000.10. Deixar a mesa eleitoral de receber o voto do eleitor

que se apresentar com o respectivo título.

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Penas: privação do voto ativo e passivo por dois a quatroanos e mul t a de 400$ a 1:200$000.

§11. Reunir-se a mesa eleitoral ou a junta apuradora forado lugar designado para a eleição ou apuração:

Penas: prisão por seis a dezoito meses e muita de 500$ a1:500$000.

§ 12. Alterarem o presidente e os membros da mesa elei-toral ou junta apuradora o dia e a hora da eleição, ou induzirem,por outro qualquer meio, os eleitores em erro a este respeito:

Penas: privação do direito do voto ativo ou passivo por qua-tro a oito anos e muita de 500$ a 1:500$000.

§ 13. Fazer parte ou concorrer para a formação de mesaeleitoral ou de junta apuradora ilegítimas:

Penas: privação do voto ativo e passivo por quatro a oitoanos e multa de 300$ a 1:000$000.

§ 14. Deixar de comparecer, sem causas participada, paraa formação da mesa eleitoral, conforme determina o § 10 doart. 15:

Penas: privação do voto ativo e passivo por dois a quatroanos e multa de 200$ a 600$000.

Se por esta falta não se puder formar a mesa:Penas: privação do voto ativo e passivo por quatro a oito

anos e multa de 400$ a 1:200$000.§ 15. O presidente da província que, por demora na expe-

dição das ordens, der causa a se não concluírem em tempo aseleições:

Penas: suspensão do emprego por seis meses a um ano.§ 16. A omissão ou negligência dos promotores públicos no

cumprimento das obrigações, que lhes são impostas por esta lei,será punida com suspensão do emprego por uni a três anos emulta de 300$ a 1:000$000.

§ 17. As disposições dos arts. 56 e 57 do Código Criminalsão aplicáveis aos multados que não tiverem meios ou não quise-rem satisfazer as multas.

Art. 30. No processo e julgamento dos crimes previstos noartigo antecedente, ainda quando cometidos por pessoas que não

são empregados públicos, se observarão as disposições < l n j n l *.'.f»§§ 19 e 5? da Lei n? 261, de 3 de dezembro de 1H4I r n v : p f r l i v i mregulamentos.

§ 19 Nestes processos observar-se-á o disposto nos arls, tiae 100 da Lei de 3 de dezembro de 1841, quanto ao pagamentode custas e selos, e não serão retardados pela supervenièneia deférias.

As primeiras certidões serão passadas gratuitamente.§ 29 Aos promotores públicos das respectivas comarcas se-

rão intimadas todas as decisões proferidas pelas autoridades com-petentes a fim de promoverem a responsabilidade dos funcioná-rios que nela houverem incorrido ou requererem o que for dedireito.

Art. 31. Serão multados administrativamente quando dei-xarem de cumprir quaisquer das obrigações que lhes são impos-tas:

§ 19 Pelo Ministro do Império na Corte e pelo Presidentenas províncias:

I. Os juizes de direito e as Câmaras municipais, funcionandocomo apuradores de atas de assembleias eleitorais: na quantia de100$ a 300$ os primeiros, e de 50$ a 200$ cada vereador.

II. Os funcionários e empregados públicos que deixarem deprestar as informações exigidas para o alistamento dos eleitores:na quantia de 50$ a 200$000.

§ 29 Pêlos juizes de direito:I. As mesas eleitorais: na quantia de 250$ a 500, repartida-

mente pêlos seus membros.II. Os presidentes das mesas eleitorais ou seus substituitos,

chamados para apuração de atas de assembleias eleitorais, quenão comparecerem sem motivo justificado: na quantia de 50$ a200$ cada um.

IH. Os tabeliães incumbidos da transcrição de ata de apu-ração dos votos: na quantia de 50$ a 100$000.

§ 39 Pelas mesas eleitorais:I. Os membros destas que não comparecerem, ausentarem-

se ou deixarem de assinar a ata sem motivo justificado: na quan-tia de 50$ a 100$000.

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I I Os cidadãos convocados para a formação das mesmasmesas que não comparecerem ou que, tendo comparecido, nãoassinarem a ata: na quantia de 50$ a 100^000.

M I - Os escrivães de paz ou de subdelegacia de Polícia, cha-mados para qualquer serviço em virtude desta lei: na quantia de50$ a 100$000.

§ 4<? Da imposição .das multas administrativas cabe recursona Corte para o Governo, e nas províncias para o Presidente.

Art. 32. As multas estabelecidas nesta lei farão parte darenda municipal do termo em que residir a pessoa multada, e se-rão cobradas executivamente.

Disposições Gerais

Art. 33. No caso de empate nas apurações últimas de votosem qualquer eleição, será preferido o cidadão que for mais ve-lho em idade.

Art. 34. As Câmaras Municipais fornecerão os livros neces-sários para os trabalhos do alistamento dos eleitores e os de ta-lões, devendo estes conter impressos os títulos de eleitor, bemcomo fornecerão os livros, urnas e mais objetos necessários paraa eleição.

A importância desses livros e demais objetos será paga peloGoverno, quando as Câmaras não puderem, por falta de meios,satisfazer a despesa.

No caso de não serem fornecidos pelas Câmaras Municipaisos mencionados livros suprir-se-á a falta por outros que serão nu-merados e rubricados, com termo de abertura e encerramento,pêlos juizes de direito ou juizes municipais e pêlos presidentesdas mesas eleitorais ou juntas apuradoras.

Art. 35. Enquanto não estiver concluído defintivamente oprimeiro alistamento geral dos eleitores, conforme se determinanesta lei, não haverá eleições para Deputados à Assembleia Geral,salvo o caso previsto no art. 29 da Constituição, para Senadores,membros das Assembleias Legislativas Provinciais, vereadores ejuizes de paz.

O Governo poderá espaçar até ao último dia útil do mês dedezembro de 1881 a eleição geral dos Deputados para a próximalegislatura.

Art. 36. Em ato distinto ou não das instruções, que serãoexpedidas para a execução desta lei, o Governo coligirá todas as

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disposições das leis vigentes e dos diversos atos do Poder Kxc-cutivo, relativo a eleições, que estejam em harmonia com a mes-ma lei e convenha conservar.

Este trabalho será sujeito à aprovação do Poder Legislativono começo da primeira sessão da próxima legislatura; e, depoisde aprovado, considerar-se-ão revogadas as leis e disposições an-teriores relativas a eleição, cessando desde que for publicadoesse trabalho a atribuição concedida ao Governo no art. 120 daLei n? 387, de 19 de agosto de 1846.

Art. 37. Ficam revogadas as disposições em contrário.O Barão Homem de Mello, do meu Conselho, Ministro e Se-

cretário de Estado dos Negócios do Império, assim o tenha en-tendido e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro em 9 de Ja-nero de 1881, 60? da Independência e do Império.

Com a rubrica de Sua Majestade o Imperador.

Barão Homem de Mello.

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DECRETO N? 7.981 — DE 20 DE JANEIRO DE 1881

Manda observar as instruções para o primeiro alis-tamento dos eleitores a que se tem de proceder em vir-tude da Lei n? 3.029, de 9 de janeiro do corrente ano.

Tendo ouvido a Seção dos Negócios do Império do Conselhode Estado, Hei por bem que, para o primeiro alistamento dos elei-tores a que se tem de proceder em virtude da Lei n<? 3.029, de9 de janeiro do corrente ano, se observem as instruções que comeste baixam, assinadas pelo Barão Homem de Mello, do Meu Con-selho, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império,que assim o tenha entendido e faça executar. Palácio do Rio deJaneiro, em 29 de janeiro de 1881, 60? da Independência e doImpério.

Com a rubrica de Sua Majestade o Imperador.

Barão Homem de Mello.

INSTRUÇÕES PARA O PRIMEIRO ALISTAMENTO DE ELEITO-RES A QUE SE TEM DE PROCEDER EM VIRTUDE DA LEIN? 3.029, DE 9 DE JANEIRO DE 1881, E ÀS QUAIS SE RE-FERE O DECRETO DESTA DATA.

Das Autoridades Encarregadas do Alistamento dos Eleitores

Art. 19 Os trabalhos do primeiro alistamento dos eleitorescomeçarão no dia que for marcado pelo Ministro do Império naCorte e pêlos Presidentes nas províncias.

Art. 2? O alistamento dos eleitores, nas comarcas onde hou-ver um só juiz de direito ,será preparado em cada termo pelorespectivo juiz municipal, e definitivamente organizado pelo juizde direito da comarca.

Art. 3? Quando houver mais de um termo sob a jurisdiçãode um só juiz municipal formado, a este compete o preparo doalistamento nos termos de sua jurisdição.

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No termo onde não residir o juiz municipal formado, o res-pectivo suplente limitar-se-á a receber os requerimentos e do-cumentos que lhe forem apresentados por aqueles que não pre-ferirem fazer a entrega ao dito juiz municipal, e a enviá-los a estedentre de três dias, passado recibo dos requerimentos e documen-tos que perceber.

Art. 49 Nas comarcas especiais de mais de um juiz de di-reito, a estes compete o preparo e a organização do alistamento,cada um no respectivo distrito criminal.

Nas comarcas especiais de um só termo, ao respectivo juizde direito compete igualmente o preparo e a organização do alis-tamento.

Art. 59 Os juizes municipais serão substituídos em suasfaltas ou impedimentos pêlos respectivos suplentes.

Art. 6.9 Nas comarcas que tiverem um só juiz de direito,será este substituído:

19 Pelo juiz municipal efetivo da sede da comarca.29 Pêlos juizes municipais efetivos dos outros termos da

mesma comarca, preferindo nesta substituição os dos termos maisvizinhos aos dos mais remotos.

39 Pelo juiz de direito da comarca mais vizinha, isto éaquela cuja sede for mais próxima da do juiz impedido.

Art. 79 Nas comarcas de mais de um juiz de direito, sesubstituirão:

19 Uns pêlos outros, conforme a regra geral de sua subs-tituição.

29 Pêlos juizes substitutos formados, de conformidade coma mesma regra.

39 Pelo juiz de direito da comarca mais vizinha, no casode falta ou impedimento de todos os juizes de direito e substi-tutos formados.

Parágrafo único. Estas regras de substituição serão obser-vadas de modo que os juizes de direito nunca sejam substituí-dos pêlos suplentes dos juizes municipais, ou dos juizes substi-tutos.

Art. 89 O serviço do alistamento dos eleitores, que a leiincumbe às autoridades judiciárias, prefere a qualquer outro.

Art. 99 O Governo na Corte, e os Presidentes nas provín-cias, em atos especiais, declararão quais os termos e comarcas

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mais vizinhos, a fim de estabelecer-se a ordem das substituições,conforme prescrevem o art. 6*? n*?8 2? e 3? e o art. 7<? n<? 3.°

Dos Eleitores

Art. 10. São eleitores todos os cidadãos brasileiros, quese acharem no gozo dos direitos políticos, e provarem as condi-ções exigidas para o exercício do direito de votar.

Art. 11. São cidadãos brasileiros:I. Os que no Brasil tiverem nascido, quer sejam ingénuos

ou libertos, ainda que o pai seja estrangeiro, uma vez que estenão resida por serviço da sua nação.

II. Os filhos de pai brasileiro e os ilegítimos de mãe bra-sileira, nascidos em país estrangeiro, que vierem estabelecer do-micílio no Império.

in. Os filhos de pai brasileiro, que estivesse em país es-trangeiro em serviço do Império, embora eles não venham esta-belecer domicílio no Brasil.

IV. Todos os nascidos em Portugal e suas possessões, que,sendo já residentes no Brasil na época em que se proclamou aIndependência nas províncias onde habitavam, aderiram a estaexpressa ou tacitamente pela continuação da sua residência.

V. Os estrangeiros naturalizados, qualquer que seja a suareligião.

Art. 12. Perde o direito de Cidadão Brasileiro:I. O que se naturalizar em país estrangeiro.H. O que, sem licença do Imperador, aceitar emprego, pen-

são ou condecoração de qualquer governo estrangeiro.III. O que for banido por sentença.Art. 13. Suspende-se o exercício dos direitos poltíicos:I. Por incapacidade física ou moral, legalmente verificada.H. Por sentença condenatória a prisão ou degredo, en-

quanto durarem os seus efeitos.Art. 14. São requisitos legais para o exercício do direito

de voto, além do gozo dos direitos políticos:I. Ter o cidadão vinte e cinco anos ou mais de idade, salvo

os casados e oficiais militares que forem maiores de vinte e umanos, os bacharéis formados e clérigos de ordens sacras.

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u. Ter renda líquida anual não inferior a 200$0<)() por bensde raiz, indústria, comércio ou emprego.

Art. 15. São excluídos do direito de votar:I. Os filhos-famílias que estiverem na companhia de seus

pais, salvo se servirem ofícios públicos.II. Os criados de servir, em cuja classe não entram os

guardas-1 ivros e primeiros caixeiros das casas de comércio, oscriados da Casa Imperial que não forem de galão branco, e osadministradores das fazendas rurais e fábricas.

III. Os religiosos e quaisquer que vivam em comunidadeclaustral.

IV. As praças de pré do exército, da armada e dos corpospoliciais. Na designação de corpos policiais se compreendem to-dos os indivíduos alistados para o serviço de polícia, qualquerque seja a sua denominação.

V. Os serventes das repartições e estabelecimentos públi-cos.

Do Processo do Alistamento dos Eleitores

Art. 16. No dia marcado para começarem os trabalhos doprimeiro alistamento dos eleitores, os juizes municipais e osjuizes de direito, encarregados de seu preparo, expedirão edi-tais convidando os cidadãos, que pretendam ser inscritos no re-gistro eleitoral, a requerê-lo no prazo improrrogável de trintadias.

Art. 17. Os editais mencionarão os dias, hora e lugar paraa apresentação dos requerimentos e serão afixados em lugarespúblicos, e publicados pela imprensa, onde a houver.

Dos protocolos das audiências constará o dia da expediçãodos editais.

Art. 18. Nenhum cidadão será incluído no alistamento doseleitores, sem que o requeira singularmente, por si ou por pro-curação, sendo o requerimento assinado pelo próprio indivíduo,quando souber ler e escrever, ou pelo procurador; e quando nãosouber ler e escrever, por um indivíduo a seu rogo.

Os juizes de direito e municipais serão ex officio incluídosno alistamento da paróquia do seu domicílio.

Art. 19. Cada cidadão no requerimento que apresentardeclarará a paróquia, o distrito de paz e o quarteirão de seu do-

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micflio, provando com documentos as condições indispensáveispara que possa ser inscrito no respectivo registro eleitoral.

Parágrafo único. As certidão e outros documentos exigi-dos para o alistamento dos eleitores são isentos de selo e dequaisquer outros direitos.

Art. 20. A posse não contestada dos direitos políticos, nãohavendo prova em contrário, é suficiente para que o cidadão,se tiver os demais requisitos para eleitor, seja compreendido noalistamento.

Entende-se provada a dita posse pelo exercício anterior dosdireitos políticos e de quaisquer cargos públicos.

Art. 21. A idade será provada por meio de certidão debatismo ou por qualquer outro documento autêntico que legal-mente a substitua.

Será dispensada esta prova quando o cidadão se achar com-preendido em alguma das classes a que se refere o art. 14 n? le o art. 56 destas instruções.

Art. 22. Os juizes municipais e os juizes de direito sãoobrigados a passar recibo dos requerimentos e dos documentosque os acompanham, podendo o recibo ser impresso para somen-te ser assinado pelo juiz.

Art. 23. Os despachos para apresentação de documentosserão proferidos em prazo nunca maior de dez dias, contados dadata da entrega do requerimento.

Estes despachos serão lançados nos próprios requerimentose publicados por edital.

Art. 24. Para apresentação dos documentos será marcadano despacho do requerimento e no edital a que se refere o arti-go antecedente o prazo de vinte dias.

Art. 25. Findo este último prazo, juizes municipais, den-tro de vinte dias, enviarão aos juizes de direito todos os reque-rimentos acompanhados de duas relações, organizadas por mu-nicípios, paróquias, distritos de paz e quarteirões, com os nomesdos indivíduos que requereram, colocados por ordem alfabéti-ca nos quarteirões de seus domicílios.

Art. 26. Dessas duas relações, uma conterá os nomes doscidadãos que exibirem os documentos legais na devida forma,e outra os nomes dos que não instruíram devidamente os seusrequerimentos, por não terem juntado os documentos legais,

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ou por tê-los juntado defeituosos, declarando-se quais as faltase defeitos.

Em ambas as relações farão os juizes municipais as obser-vações que julgarem convenientes para esclarecimento dos jui-zes de direito.

Art. 27. Os juizes de direito no mesmo dia em que rece-berem os requerimentos preparados pêlos juizes municipais, ouno imediato, publicarão editais convidando os cidadãos a que noprazo de dez dias, requeiram para juntar a seus requerimentos,vindos do juízo municipal, os documentos exigidos naquele juí-zo, ou outros que melhor provem o seu direito, quando não otenham podido fazer em tempo próprio.

Estes requerimentos não poderão ser admitidos sem quevenham informados pêlos juizes municipais, o que estes farãono prazo de três dias, contados da data do recebimento dosmesmos.

Art. 28. Dentro do mesmo prazo não somente os juizesmunicipais, mas quaisquer outras autoridades, empregados e re-partições públicas são obrigados a prestar aos juizes de direitoas informações e esclarecimentos, e a fornecer os documentosque lhes forem requisitados.

Art. 29. Passados os dez dias a que se refere o art. 27, edentro de quarenta e cinco, contados da data do edital de quetrata o mesmo artigo, os juizes de direito, por despachos fun-damentados, proferidos nos próprios requerimentos, julgarãoprovado ou não o direito de cada cidadão de ser reconhecido elei-tor.

Art. 30. Nenhum cidadão poderá ser alistado eleitor emmais de uma paróquia, e só poderá sê-lo naquela em que tivero seu domicílio.

Art. 31. A paróquia do domicílio é aquela em que o cida-de reside habitualmente.

Na palavra domicílio não se compreendem os escritóriospara exercício da advocacia, da medicina ou de qualquer outraprofissão.

Art. 32. Depois do julgamento definitivo de que trata oart. 29, haverá um prazo de vinte dias, dentro do qual serãoextraídas cópias do alistamento geral da comarca, sendo umapara ser remetida na Corte ao Ministro do Império, e nas pro-víncias aos Presidentes, e tantas outras quantos forem os tabe-liães da sede da comarca encarregados do registro dos eleitores.

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Art. 33. Além das cópias do artigo antecedente, se extrai-rão cópias dos alistamentos relativos a cada um dos municípiosque não forem o da cabeça da comarca, a fim de serem enviadasaos juizes municipais, para que as façam publicar por edital emcada um dos municípios e registrar por tabelião ou quem suasvezes fizer.

No município da sede da comarca o edital do respectivoalistamento será publicado pelo juiz de direito.

Art. 34. Além das precedentes serão extraídas tantas có-pias parciais do alistamento quantas forem as paróquias, distri-tos de paz, secções de paróquias e de distritos de paz, onde deconformidade com a Lei n? 3.029, de 9 de janeiro do correnteano se tiverem de constituir mesas de assembleias eleitorais. Es-tas cópias serão oportunamente remetidas aos juizes de paz maisvotados, que entregarão aos presidentes das mesas eleitorais nassecções de paróquia e de distrito de paz aquelas que forem rela-tivas ao alistamento dos eleitores destas secções.

O juiz de direito na sede da comarca e os juizes municipaisefetivos nos outros termos, designarão dentre os escrivães e ta-beliães quem deva fazer este serviço, ficando a seu cargo man-dá-lo executar por dois, três ou por todos estes serventuários.

Art. 35. Todas as cópias de que tratam os três artigos pre-cedentes, serão assinadas pelo juiz de direito e pelo mesmo ru-bricadas em cada urna das folhas.

Art. 36. Nas comarcas onde, segundo o disposto no art.4? destas instruções e art. 6? § 2? da Lei n? 3.029, de 9 de ja-neiro do corrente ano, os juizes de direito tiverem a seu cargoo preparo e a definitiva organização do alistamento, logo quese houver terminado o prazo a que se refere o art. 24, os juizesde direito marcarão aos interessados o prazo de dez dias destina-do à corroboração de provas e juntada de documentos, segundodispõe o art. 27, e dentro de quarenta e cinco dias. nos quaisse computarão aqueles dez, darão os despachos definitivos, a quese refere o art. 29.

Art. 37. Proferidos os despachos definitivos relativamen-te ao alistamento dos eleitores de cada um dos distritos, onde osjuizes de direito exercem jurisdição criminal, serão extraídas ascópias respectivas, a fim de serem remetidas ao juiz de direitodo primeiro desses distritos, o qual ordenará o registro nos ter-mos do art. 33.

O edital do alistamento em cada distrito criminal será pu-blicado pelo respectivo juiz de direito.

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Art. 38. Os requerimentos ficarão arquivados no respecti-vo cartório, depois do despacho definitivo, e às partes se entre-garão somente os documentos originais que forem requeridos,ficando traslado.

Art. 39. As decisões dos juizes de direito sobre a inclusãodos cidadãos no alistamento dos eleitores, ou a sua exclusão des-tes, serão definitivas.

Delas, porém, terão recurso para a Relação do distrito, semefeito suspensivo: l? os cidadãos não incluídos e os excluídos,requerendo cada um de per si; 29 qualquer eleitor da comarca,no caso de inclusão indevida de outro, referindo-se cada recursoa um só indivíduo.

Estes recursos serão interpostos no prazo de 30 dias, quan-to às inclusões ou não inclusões, e em todo o tempo, quanto àsexclusões.

Da Prova da Renda

Art. 40. Na prova da renda exigida para ser eleitor serãoestritamente observadas as prescrições da Lei n^ 3.029, de 9de janeiro do corrente ano.

Art. 41. Se a renda provier de bens de raiz, examinar-se-áse estão eles ou não sujeitos ao imposto predial ou décima urbana.

Art. 42. No caso do imóvel ser urbano, e estar sujeito aeste imposto, a renda será provada por algum dos seguintes mo-dos:

l"? Certidão da competente repartição fiscal de estar o imó-vel averbado com valor locativo anual não inferior a 200^000.

2? Recibo de pagamento daquele imposto sobre a base domesmo valor locativo não inferior a 2QO$000.

Art. 43. Quando o imóvel não se achar na demarcação doimposto predial ou décima urbana, ou não estiver sujeito a esteimposto, se consistir em terrenos de lavoura ou de criação ou emquaisquer outros estabelecimentos agrícolas ou rurais, se exami-nará se é ou não ocupado pelo próprio dono.

§ l? Quando for ocupado pelo próprio dono, o rendimen-to será computado na razão de 6% sobre o valor do imóvel, ve-rificado por título legítimo de propriedade ou posse, ou por sen-tença judicial que as reconheça.

§ 2? Quando o imóvel não for ocupado pelo próprio dono,seu rendimento será também calculado na razão de 6% sobre o

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valor, sendo este verificado pelo modo estabelecido neste artigoou à vista do preço do aluguel ou arrendamento.

§ 39 O preço do aluguel ou arrendamento será provadopela exibição do respectivo contrato, lançado em livro de notas,pelo menos quatro meses antes do dia marcado para começo doprimeiro alistamento.

§ 49 Para que os contratos constituam prova da renda doimóvel é necessário que expressamente declarem o preço doaluguel ou arrendamento.

Art. 44. A renda proveniente de indústria ou profissão se-rá provada pêlos seguintes modos:

I. Certidão de estar o cidadão matriculado como negocian-te, pelo menos desde quatro meses antes do dia marcado paracomeço do primeiro alistamento.

II. Certidão de estar o cidadão desde o mesmo tempo ins-crito no registro do comércio em alguma das seguintes classes:

19 Corretor;29 Agente de leilões;39 Administrador de trapiche;49 Capitão de navio;59 Piloto de carta;69 Guarda-livros ou 19 caixeiro de casa comercial;79 Administrador de fábrica industrial.Art. 45. Para que os guarda-livros, ou 193 caixeiros de

casa comercial e administradores de fábrica industrial sejamalistados, é necessário provarem que a casa comercial ou fábri-ca industrial tem o fundo capital realizado ou efetivo não infe-rior a 6:800$000.

Art. 46. O fundo capital será provado pêlos seguintes mo-dos:

19 Se o estabelecimento pertencer a companhia ou socie-dade mercantil — com certidão do registro do comércio, queprove se achar inscrito o contrato da sociedade ou estatutos dacompanhia, pelo menos quatro meses antes do dia do começodo primeiro alistamento.

29 Se o estabelecimento não pertencer a companhia ousociedade mercantil — com certidão que demonstre o quantum

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do fundo capital, passada por oficial público, à vista do últimobalanço da casa comercial ou fábrica, extraído do respectivo li-vro, o qual deverá ser exibido ao oficial público que tiver depassar a certidão.

Art. 47. Constitui também prova legal da renda prove-niente de indústria ou profissão:

I. Certidão extraída de qualquer repartição fiscal, geral ouprovincial, de haver o cidadão pago, pelo menos quatro mesesantes do dia do começo do primeiro alistamento, o imposto deindústria ou profissão, ou outro fundado no valor locativo do imó-vel urbano ou rural, sendo qualquer destes impostos não inferior:a 24$000 anuais, no município da Corte; a 12$000, nas outras ci-dades; e a 6^000, nos demais lugares do Império.

II. Certidão da repartição fiscal competente, de possuir ocidadão fábrica ou outro estabelecimento industrial ou rural, cujofundo capital seja, pelo menos de 3:400$000.

A prova da existência do fundo capital será a mesma esta-belecida no artigo antecedente.

III. Certidão da respectiva repartição fiscal, de possuir o ci-dadão estabelecimento comercial, de fundo capital não inferiora 3:400$000, e de ter pago, pelo menos quatro meses antes, oimposto de indústria e profissão.

É aplicável a este caso o que já está determinado para pro-var-se em casos semelhantes o fundo capital.

Art. 48.público:

I. Certidão do Tesouro Nacional e das Tesourarias de Fa-zenda gerais e provinciais, pela qual se mostre que o cidadãopercebe anualmente vencimento não inferior a 200$000, por em-prego que dê direito à aposentação.

II. Certidão das Câmaras Municipais, quanto aos que nelasexercem empregos, provando que o empregado aufere venci-mento anual não inferior a 200$000, e que tem direito à apo-sentação

III. Certidão das mesmas repartições, quanto aos emprega-dos gerais, provinciais e municipais, e oficiais do exército, daarmada, dos corpos policiais, e honorários, que percebam doscofres gerais, provinciais ou municipais, por aposentação, jubila-ção, reforma ou pensão, vencimentos anuais não inferiores a200$000.

É prova legal da renda proveniente de emprego

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Page 195: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

I V . Certidão de lotação dos ofícios de justiça, pela qualse prove que o respectivo serventuário tem rendimento anualnão inferior a 200$000.

Art. 49. O direito à aposentação se provará à vista das leisgerais ou provinciais que tenham determinado as respectivas con-dições, organizado os serviços ou criado os empregos.

Art. 50. Serão alistados eleitores, embora sem direito ex-presso à aposentação, os empregados das secretarias do Senado,da Câmara dos Deputados e das Assembleias Legislativas Provin-ciais, contanto que exibam título de nomeação efetiva, e certidãode que têm vencimentos não inferiores a 200$ por ano.

Art. 51. Também é renda legalmente reconhecida, comocondição do direito de voto, a proveniente: l? — de títulos dadívida pública, geral ou provincial; 2^ — de açòes de bancos ee companhias legalmente autorizadas; 31? — de depósito nascaixas económicas do Governo.

Art. 52. Provar-se a renda proveniente de títulos da dívi-da pública geral ou provincial — com certidão autêntica de pos-suir o cidadão, desde quatro meses antes do dia do começo doprimeiro alistamento, em seu nome ou no da mulher, se forcasado, títulos desta espécie, cujos juros produzam anualmenterenda não inferior a 200$000.

Art. 53. É prova da renda proveniente de ações de bancosou companhias — certidão autêntica de possuí-las o cidadão, pelomenos desde quatro meses antes do dia do começo do primeiroalistamento, em seu nome ou no da mulher, se for casado, emnúmero e valor tal que no último dividendo tenham produzidojuros correspondentes a uma renda anual não inferior a 200$000.

Art. 54. Somente se considerarão títulos de renda, paraconferir o direito de votar, as ações de bancos e companhiasque, sendo nacionais, estejam legalmente constituídos, e estran-geiros, competentemente autorizados a funcionar no Império.

Art. 55. A renda proveniente dos depósitos em caixas eco-nómicas do Governo se provará por meio dos respectivos conhe-cimentos, ou de certidões autênticas que mostrem que o depósi-to se efetuou em nome do cidadão ou no da mulher, se for casa-do, pelo menos desde quatro meses antes do dia do começo doprimeiro alistamento, e que produza anualmente rendimento nãoinferior a 200$000.

Art. 56. São considerados como tendo a renda legal, afim de serem alistados, independentemente de prova, os cida-dãos compreendidos em qualquer das seguintes classes:

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I. Ministros e Conselheiros de Estado; Bispos; Presidentesde província e respectivos secretários.

u. Senadores, Deputados à Assembleia Geral e membros dasAssembleias Legislativas Provinciais.

III. Magistrados perpétuos ou temporários; secretários doSupremo Tribunal de Justiça e secretários das Relações; promoto-res públicos; curadores gerais de órfãos; chefes de polícia e seussecretários; delegados e subdelegados de polícia.

IV. Clérigos de ordens sacras.V. Diretores do Tesouro Nacional e inspetores das Tesoura-

rias de Fazenda gerais e provinciais; procuradores fiscais e os dosFeitos da Fazenda; inspetores das Alfândegas e chefes de outrasrepartições de arrecadação.

VI. Diretores das Secretarias de Estado; inspetor das terraspúblicas e colonização; diretor geral e administradores dos Cor-reios; diretor geral e vice-diretor dos telégrafos; inspetores ou di-retores das obras públicas gerais ou provinciais; diretores das es-tradas de ferro pertencentes ao Estado, e chefes de quaisquer ou-tras repartições ou estabelecimentos públicos.

VII. Empregados do corpo diplomático ou consular, que esti-verem no Império.

VIII. Oficiais do exercito, da armada e dos corpos policiais.I.. Diretores, lentes e professores das faculdades, acade-

mias e escolas de instrução superior; inspetores gerais ou dire-tores da instrução pública na Corte e nas províncias; diretores oureitores de institutos, colégios ou outros estabelecimentos públi-cos de instrução, e respectivos professores; professores públicos deinstrução primária por título de nomeação efetiva ou vitalícia.

.. Os habilitados com diplomas científicos ou literários dequalquer faculdade, academia, escola ou instituto nacional ou es-trangeiro, legalmente reconhecidos.

.I. Os que, desde mais de quatro meses antes do primeiroalistamento, dirigirem casas de educação ou ensino, frequentadaspor 20 ou mais alunos, ou lecionarem nas mesmas casas.

.II. Os juizes de paz e vereadores efetivos do quatriênio de1877 — 1881 e do seguinte; e os cidadãos qualificados juradosna revisão feita no ano de 1879.

Art. 57. Os cidadãos a que se refere o artigo antecedente,desde que o requererem, serão alistados, uma vez que estejam

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compreendidos em algumas das classes nele enumeradas, salvasas disposições dos arts. 58, 59, 60 e 61.

Art. 58. Os delegados e subdelegados a que se refere o n?III do art. 56, são unicamente os efetivos que tenham solicitadoseus títulos, prestado juramento e exercido os cargos.

Art. 59. Servirá de prova aos cidadãos compreendidos non? XI do art. 56, certidão passada pelo inspetor ou diretor da ins-trução pública ou por quem suas vezes fizer, na Corte e nas pro-víncias.

Art. 60. Os juizes de paz e vereadores a que se refere o n*?XII do art. 56 serão alistados à vista de certidão de que forameleitos, prestaram juramento, entraram em exercício e a respec-tiva eleição não foi posteriormente anulada.

Art. 61. A prova de estar compreendido na lista dos jura-dos pela revisão de 1879 será dada mediante certidão do escri-vão do Júri.

Art. 62. O cidadão que não puder provar a renda por algumdos meios determinados nos artigos antecedentes, será admitidoa fazê-lo em processo singular e sumário requerido ao juiz de di-reito da comarca e, quando esta tiver mais de um, a qualquerdeles.

Mediante este processo singular e sumário, será declaradoque tem a renda legal o cidadão que provar que desde quatromeses pelo menos antes do dia do começo do primeiro alistamen-to, reside, com economia própria, em prédio cujo valor locativoanual, por ele pago, seja:

I. De 400$000 na cidade do Rio de Janeiro.II. De 300$000 nas cidades de Belém do Pará, S. Luís do

Maranhão, Recife, Bahia, Niterói, S. Paulo e Porte Alegre.III. De 200$000 nas demais cidades.IV. De 100$000 nas vilas e outras povoações.Art. 63. Será igualmente declarado que tem a renda legal

o cidadão que provar que, desde quatro meses pelo menos antesdo dia do começo do primeiro alistamento na respectiva provín-cia, tomou por arrendamento terrenos de lavoura ou de criação,ou quaisquer outros estabelecimentos agrícolas ou rurais, cujo va-lor locativo anual, por ele pago, seja de 200$000 pelo menos.

Art. 64. Na petição inicial o requerente declarará o lugarde sua morada, especificando o município, paróquia, distrito, quar-

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teirão, rua, número do prédio, setor urbano, tempo de residênciano prédio e, se ocupa por contrato de aluguel ou arrendamento,o nome do proprietário.

Art. 65. A petição virá acompanhada dos documentos le-gais comprobatórios do valor locativo do prédio, os quais são osseguintes:

I. Sendo o prédio sujeito a imposto predial ou décima ur-bana, certidão de repartição fiscal, de que conste sua averbaçãocom o referido valor locativo.

II. Não sendo o prédio sujeito ao dito imposto, contrato dearrendamento ou aluguel celebrado por escritura pública, com adata de quatro meses antes do dia do primeiro alistamento, oupor escrito particular, lançado com igual antecedência em livrode notas, havendo expressa declaração do preço do arrendamentoou aluguel.

III. A falta dos documentos a que se referem os números an-tecedentes, será suprida por título de domínio ou posse, ou porsentença judicial que os reconheça, provando que o último donodo prédio o adquiriu por preço sobre o qual, computando-se seurendimento na razão de 6%, se verifique que produz anualmentea importância declarada nos arts. 62 e 63.

IV. Quanto aos terrenos de lavoura ou criação e outros esta-belecimentos agrícolas ou rurais, a prova será o contrato de arren-damento por escritura pública, celebrado pelo menos quatro me-ses antes, havendo expressa declaração do preço.

Art. 66. É substancial neste processo que às provas acimaexigidas se adicione o recibo do proprietário do prédio, terrenoou estabelecimento, com data não anterior a um mês, provandoestar pago até então do preço do arrendamento ou aluguel.

Art. 67. O juiz de direito, recebendo a petição, examinaráse vem acompanhada dos documentos legais, para neste caso dar-lhe andamento, e no outro mandar juntar os documentos.

Art. 68. Instruída a petição, será distribuída e atuada, e ojuiz dará imediatamente vista ao promotor público da comarca,que interporá o seu parecer no prazo de cinco dias, requerendoo que julgar conveniente a bem da justiça e esclarecimento daverdade.

Art. 69. Subindo os autos à conclusão, o juiz deferirá ounão o requerimento do promotor, ordenando as diligências decaráter sumário, e julgará afinal, em sentença fundamentada, no

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prazo de quinze dias, contado do em que houver sido apresentadaem juízo a petição.

Nenhum processo compreenderá mais de um cidadão e nelenão terá lugar pagamento de selo nem de custas, exceto as dosescrivães que serão cobradas pela metade.

Art. 70. No caso de falta ou impedimento no julgamentodestes processos será o juiz de direito substituído:

I. Nas comarcas de um só juiz de direito: 19 pelo juiz muni-cipal efetivo da sede da comarca; 29 pêlos juizes municipais efe-tivos dos outros termos da mesma comarca, que forem mais vi-zinho.

H. Nas comarcas de mais de um juiz de direito: 19 pêlos ou-tros juizes de direito conforme a regra geral de sua substituição;29 pêlos juizes substitutos formados, de conformidade com a mes-ma regra.

Parágrafo único. Se todos eles faltarem ou se acharem im-pedidos, o processo .será feito perante o juiz de direito da comar-ca mais vizinha.

Art. 71. Da sentença de que trata o art. 69 haverá recursovoluntário, com efeito devolutivo, interposto para a Relação dodistrito, dentro de dez dias de sua publicação:

I. Pelo próprio interessado ou seu procurador, quando nãofor admitida a prova da renda.

II. Por qualquer eleitor da paróquia ou distrito de paz, nocaso de admissão.

Dos Recursos

Art. 72. Os recursos de que tratam os arts. 39 e 71 serãointerpostos por meio de requerimento ao juiz de direito, que osmandará tomar por termo.

Interpondo estes recursos, os recorrentes alegarão as razõese juntarão os documentos que entenderem ser a bem de seu di-reito.

No prazo de 10 dias, contados do recebimento dos recursos,os juizes de direito reformarão ou confirmarão as suas decisões e,no último caso, o recorrente fará seguir o processo para a Relação,sem acrescentar razões nem juntar novos documentos.

Art. 73. A certidão da sentença de admissão determinaráa inclusão no alistamento do indivíduo que a tiver obtido, se oalistamento não estiver encerrado.

384

Art. 74. Os recursos serão julgados pela Relação no prazode trinta dias, contados da data do seu recebimento, por todo oTribunal, não podendo e mcaso algum o dito prazo ser interrom-pido por motivo de férias. Se não forem providos dentro do re-ferido prazo ter-se-á por firme e irrevogável à decisão do juiz dedireito.

Art. 75. No julgamento destes recursos não será admitidasuspeição dos juizes, salvo nas hipóteses expressas no art. 61 doCódigo do Processo Criminal, com aplicação ao caso, a saber: 19inimizade capital; 2^ amizade íntima; 3? parentesco consanguíneoou a fim até o 29 grau.

Art. 76. Serão também observadas as disposições do De-creto Legislativo n? 2.675, de 20 de outubro de 1875 e das res-pectivas Instruções de 12 de janeiro de 1876, sobre os recursos,na parte não alterada pela Lei n? 2.029, de 9 de janeiro do cor-rente ano.

Do Registro do Alistamento dos Eleitores

Art. 77. O alistamento dos eleitores será registrado em li-vros próprios a cargo dos tabeliães e, na sua falta, de escrivãesde paz, para tal fim designados.

Art. 78. Haverá um registro geral por comarca, e outrosespeciais por municípios, não compreendendo o da sede da co-marca.

Art. 79. O registro geral da comarca ficará a cargo do ta-belião ou tabeliães da cidade ou vila, cabeça da comarca.

Art. 80. Quando na cidade ou vila, sede da comarca, hou-ver mais de um tabelião, e o juiz de direito, à vista do númerodas paróquias, julgar conveniente a divisão do trabalho do re-gistro, o encarregará a dois ou mais tabeliães, distribuindo osalistamentos das paróquias ou distritos de paz e designando osque ficarem a cargo de cada um deles.

Art. 81. O registro dos alistamentos dos municípios quenão forem sede de comarca, será ordenado pêlos juizes munici-pais, e ficará a cargo do respectivo tabelião; podendo ser distri-buído pelo modo estabelecido no artigo antecedente, quando hou-ver mais de um tabelião, e o juiz municipal julgar convenientea divisão do trabalho.

Art. 82. Nos municípios onde não houver tabelião, o regis-tro ficará a cargo do escrivão ou escrivães de paz, designadospelo juiz municipal.

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Art 83. Os registros, tanto o geral como os parciais, fica-rão concluídos dentro de quarenta dias, contados da data do rece-bimento das cópias dos alistamentos pêlos tabeliães ou escrivãesde paz, sendo este trabalho feito de preferência a qualquer outro.

Art. 84. Os tabeliães e escrivães de paz, encarregados doregistro, são obrigados a acusar imediatamente o recebimento dascópias do alistamento, declarando a data em que as receberem,bem como a devolvê-las aos juizes de direito e municipais, dequem as houverem recebido, com declaração do dia em que fi-cou terminado o registro.

As cópias dos alistamentos serão recolhidas aos arquivos dosrespectivos juizes, ficando a cargo e sob a responsabilidade de umdos seus escrivães.

Art. 85. O registro será feito em livros fornecidos pelarespectiva Câmara Municipal, abertos e encerrados pelo juiz dedireito na sede da comarca, e pêlos juizes municipais nos outrosmunicípios; sendo pelas mesmos juizes numeradas a rubricadasas suas folhas, e escriturados segundo o modelo junto, sob n 9 1.

Art. 86. A? Câmaras Municipais fornecerão os livros à re-quisição dos juizes ae direito no município da sede da comarca,e nos outros à requisição dos juizes municipais.

Art. 87. Quando as Câmaras Municipais não puderem for-necer os livros por falta de meios, serão eles fornecidos pelo Go-verno, providenciando o Ministro do Império na Corte, e os Pre-sidentes nas províncias, de modo que a falta dos ditos livros nãoembarace os trabalhos do alistamento e registro dos eleitores.

Da Expedição e Entrega dos Títulos de Eleitor

Art. 88. Ao cidadão reconhecido eleitor é garantido o di-reito de votar, por meio de um título extraído do alistamentogeral da comarca e assinado pelo juiz de direito que tiver orga-nizado o mesmo alistamento.

Art. 89. Os títulos de eleitor serão impressos conforme omodelo junto, sob n9 2, em livros de talão, e conterão, além daindicação da província, comarca, município, paróquia, distrito depaz e quarteirão, o nome, idade, filiação, estado, profissão, do-micílio e renda do eleitor, salvas as exceções do art. 56, a circuns-tância de saber ou não ler e escrever e o número e data do alis-tamento.

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Art. 90. Os juizes de direito, além de assinarem os títulos,rubricarão os talões de onde forem cortados, em cada um dosquais se escreverá o número do titulo, o nome do cidadão, a pa-róquia e o distrito de paz a que pertencer.

Este trabalho será feito conjuntamente com o da extraçãodas cópias de que tratam os arts. 32, 33 e 34, ou em ato seguido,de modo que no prazo de trinta dias da terminação do alistamentosejam os mencionados títulos remetidos aos juizes municipais afim de distribuí-los aos eleitores.

Art. 91. Quarenta e oito horas depois de receber os títulos,o juiz municipal, por meio de edital afixado em lugar público ereproduzido na imprensa, onde a houver, marcará o prazo dequarenta dias, dentro do qual os eleitores compreendidos nosalistamentos do município ou municípios de sua jurisdição pes-soalmente irão recebê-los no lugar para este im designado, dasdez horas da manhã até às quatro da tarde.

Art. 92. Quando houver mais de um termo sob a jurisdiçãode um só juiz municipal, este fará a entrega dos títulos no termode sua residência, e os seus suplentes nos outros termos.

Art. 93. Nas comarcas especiais a entrega do.s títulos com-pete aos juizes de direito que tiverem organi/ado o alistamento,os quais expedirão os editais a que se refere o art. 91. logo queestejam concluídos os trabalhos de que trata o art. 90.

Art. 94. O lugar designado para a entrega dos títulos seráde preferência a sala do edifício público destinada para as audiên-cias dos juizes encarregados da entrega, e somente na falta da-quela a casa de sua residência.

Art. 95. Não é permitido ao eleitor fazer-se representar porprocurador no recebimento do título, que será entregue à própriapessoa, a qual passará recibo em livro especial, para este fim des-tinado, com sua assinatura, quando souber e puder escrever, ena hipótese contrária por nutrem que ela indicar.

Art. 96. Esgotado o prazo de quarenta dias, destinado à en-trega dos títulos, os que não tiverem sido procurados serão reme-tidos pelo juiz competente aos tabeliães, ou escrivães de paz en-carregados do registro dos eleitores a quem pertençam, acompa-nhados dos livros de recibos.

Art. 97. Estes títulos e livros ficarão sob a guarda e res-ponsabilidade dos ditos tabeliães ou escrivães, que os irão distri-

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buindo à medida que forem solicitados, sendo as assinaturas dostítulos e recibos escritas perante o tabelião ou escrivão.

Art. 98. Quando os juizes encarregados da entrega dos tí-tulos e^recusarem ou demorarem por qualquer motivo, o eleitorpoderáVecorrer:

l? Se o juiz recusante for o municipal, para o juiz de di-reito.

2? Sendo o recusante o juiz de direito, para o Ministro doImpério na Corte, e para os Presidentes nas províncias.

Art. 99. O Ministro do Império, Presidente de provínciaou juiz de direito, logo que lhe for apresentado algum requeri-mento de recurso, ordenará que dele e dos documentos se tirecópia, que ficará em seu poder; e dentro de vinte e quatro horas,contadas da apresentação, mandará, por despacho lançado nopróprio requerimento, que responda o juiz recorrido, o qual de-verá fazê-lo dentro de igual prazo, contado da hora do recebi-mento do recurso para informar, certificada pelo agente do Cor-reio ou pelo oficial de justiça encarregado da entrega.

Art. 100. Com a resposta do juiz recorrido, ou sem ela,será o recurso decidido no prazo de cinco dias, contados do re-cebimento da resposta ou da data em que deveria ter sido dada.

Art. 101. Quando a recusa ou demora da entrega do tí-tulo for cometida pêlos tabeliães ou escrivães de paz, haverárecurso, pelo modo estabelecido, para o juiz de direito, se o ta-belião for da sede da comarca, e para o juiz municipal nos outrostermos.

Nas comarcas de mais de um juiz de direito, poderá o re-curso ser interposto para o juiz que houver organizado o alista-mento, ou para o que tiver mandado registrá-lo, à escolha do-ei eitor.

Art. 102. Quando o eleitor perder o seu título, poderá re-querer a expedição de novo ao juiz de direito que tiver organi-zado o alistamento.

Art. 103. Para ser expedido novo título é preciso que oeleitor prove: 19 que é o próprio a quem foi expedido o títuloperdido; 2? que está alistado como eleitor.

Art. 104. A perda do título e a identidade de pessoa se-rão provadas por meio de justificação, precedendo audiência dopromotor público, produzida perante o juiz de direito, o qual

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deferirá ou não o pedido de novo título, no prazo de quarentae oito horas da data da conclusão da justificação.

Art. 105. Do despacho negativo da expedição de novo tí-tulo haverá recurso para o Ministro do Império na Corte, e paraos Presidentes nas províncias.

Art. 106. Este recurso terá o mesmo processo do estabe-lecido para os casos de recusa ou demora na entrega do títulopêlos juizes municipais e juizes de direito.

Art. 107. Também se expedirá novo título quando o elei-lor o requerer, apresentando o primeiro e provando ter havidoerro neste.

Art. 108. No caso de expedição de novo título, tanto porperda como por erro do primeiro, no que de novo for expedidofar-se-á a declaração de ser segunda via e do motivo pelo qualfoi passado.

Das Penas por Omissões ou Infrações no Processo de Alistamento

Art. 109. Além dos crimes contra o livre gozo e exercíciodos direitos políticos do cidadão, mencionados nos arts. 100, 101e 102 do Código Criminal, serão também considerados crimes osdefinidos nos parágrafos seguintes c punidos com as penas nelesestabelecidas:

19 Deixar a autoridade competente do inc lu i r no alista-mento dos eleitores cidadão que, nos termos da Lei n" 3.029,de 9 de janeiro do corrente ano, lenha provado estar nas con-dições de eleitor, incluir o que não estiver em tais condições,ou se excluir o que se achar compreendido em algum dos ca-sos do § 59 do art. 89 da mesma lei.

Demorar a extração, expedição e entrega dos títulos ou do-cumentos, de modo que o eleitor não possa votar ou instruiro recurso por ele interposto:

Penas: suspensão do emprego por seis a dezoito meses emulta de 200$ a 600$000.

29 Deixar a autoridade competente de preparar e enviarao juiz de direito, nos termos do § 89 do art. 69 da citada lei, osrequerimentos dos cidadãos que pretenderem ser alistados e asrelações que os devem acompanhar:

Penas: suspensão do emprego por um a três anos e multade 300$ a 1:000$000.

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Nas mesmas penas incorrerá o empregado que ocultar ouextrair títulos de eleitor e documentos que lhe forem entregues,relativos ao alistamento.

3? Passar certidão, atestado ou documento falsos, que in-duza a inclusão no alistamento ou a exclusão:

Penas: as do art. 129 § 81? do Código Criminal.Ao que se servir da certidão, atestado ou documentos falsos

para se fazer alistar:Penas: as do art. 167 do Código Criminal.Art. 110. No processo e julgamento dos crimes previstos

no artigo antecedente, ainda quando cometidos por pessoas quenão sejam empregados públicos, se observarão as disposições doart. 25, §§ 19 e 5? da Lei n? 261, de 3 de dezembro de 1841 erespectivos regulamentos.

Art. 111. Aos promotores públicos das respectivas comar-cas serão intimadas todas as decisões proferidas pelas autorida-des competentes, a fim de promoverem a responsabilidade dosfuncionários que nela houverem incorrido, ou requererem o quefor de direito.

Art. 112. A omissão ou negligência dos ditos promotoresno cumprimento das obrigações que lhes são impostas na Lein? 3.029, de 9 de janeiro do corrente ano será punida com asuspensão do emprego por um a três anos e multa de 300$ a1:0001000.

Art. 113. Nos processos mencionados no art. 110 observar-se-á o disposto nos arts. 98 e 100 da Lei n? 261, de 3 de dezembrode 1841, quanto ao pagamento de custas e selos, e não serãoretardados pela superveniência de férias.

As primeiras certidões serão passadas gratuitamente.Art. 114. Quando a pena for a de multa, e o condenado,

sendo intimado da sentença condenatória que houver passadoem julgado não a pagar, será recolhido à prisão até satisfazê-la,na forma do art. 56 do Código Criminal.

Art. 115. Não tendo o condenado meios de pagar a multa,será esta comutada em tanto tempo de prisão com trabalho quan-do for necessário para ganhar sua importância, na forma do art.57 do citado Código Criminal, procedendo-se à conversão pelomodo estabelecido nas leis e regulamentos respectivos.

390

Art. 116. Pelo Ministro do Império na Corte e pêlos Presi-dentes nas províncias será imposta administrativamente a multa<Ie 50$ a 200$000 aos funcionários e empregados públicos quedeixarem de prestar as informações exigidas para o alistamentodos eleitores, cabendo recurso para o Governo na Corte, quandofor imposta pêlos Presidentes.

Art. 117. As multas mencionadas nestas instruções farãoparte da renda municipal do termo em que residir a pessoa mul-tada, e serão cobradas executivamente.

Palácio do Rio de Janeiro, em 29 de janeiro de 1881.

Barão Homem de Mello.

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392 393

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DECRETO N? 8.213, DE 13 DE AGOSTO DE 1881

Regula a execução da Lei n? 3.029, de 9 de janeirodo corrente ano que reformou a legislação eleitoral.

Hei por bem, tendo ouvido a Seção dos Negócios do Impériodo Conselho de Estado, e em observância do art. 36 da Lein? 3.029, de 9 de janeiro do corrente ano, decretar o seguinte:

TÍTULO I

Dos eleitores e da revisão do alistamento eleitoral

CAPÍTULO IDos eleitores

Art. l? É eleitor todo cidadão brasileiro nos termos dosarts. 6?, 91 e 92 da Constituição do Império, que tiver renda lí-quida anual não inferior a 200$000 por bens de raiz, indústria,comércio ou emprego.

Art. 2? São cidadãos brasileiros nos termos do art. 69 daConstituição:

I. Os que no Brasil tiverem nascido, quer sejam ingénuosou libertos, ainda que o pai seja estrangeiro, uma vez que estenão resida por serviço de sua nação.

II. Os filhos de pai brasileiro e os ilegítimos de mãe bra-sileira, nascidos em país estrangeiro, que vierem estabelecer do-micílio no Império.

III. Os filhos de pai brasileiro que estivesse em país estran-geiro em serviço do Império, embora eles não venham estabelecerdomicílio no Brasil.

IV. Todos os nascidos em Portugual e suas possessões, que,sendo já residentes no Brasil na época em que se proclamou a

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Independência nas províncias onde habitavam, aderiram a esta,expressa ou tacitamente, pela continuação de sua residência.

V. Os estrangeiros naturalizados, qualquer que seja a suareligião.

§ 19 Perde os direitos de cidadão brasileiro nos termos doart. 79 da Constituição:

I. O que se naturalizar em país estrangeiro .II. O que, sem licença do Imperador, aceitar emprego, pen-

são ou condecoração de qualquer governo estrangeiro.III. O que for banido por sentença.§ 2? Suspende-se o exercício dos direitos políticos nos ter-

mos do art. 89 da Constituição:I. Por incapacidade física ou moral.II. Por sentença condenatória a prisão ou degredo, en-

quanto durarem os seus efeitos.Art. 39 Têm voto nas eleições nos termos do art. 91 da

Constituição:§ 19 Os cidadãos brasileiros que estão no gozo de seus di-

reitos políticos.§ 29 Os estrangeiros naturalizados.Art. 49 São excluídos de votar, nos termos do art. 92 da

Constituição:19 Os menores de 25 anos, nos quais se não compreendem

os casados e oficiais militares que forem maiores de 21 anos,os bacharéis formados, e os clérigos de ordens sacras.

29 Os filhos-famílias que estiverem na companhia de seuspais, salvo se servirem ofícios públicos.

39 Os criados de servir, em cuja classe não entram osguarda-livros e primeiros caixeiros das casas de comércio, oscriados da Casa Imperial que não forem de galão branco e osadministradores das fazendas rurais e fábricas.

49 Os religiosos e quaisquer que vivam em comunidadeclaustral.

Art. 59 Nos termos do art. 29 da Lei n9 3.029, de 9 dejaneiro de 1881 compreendem-se nas exclusões do referido art.92 da Constituição;

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Page 203: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

19 As praças de pré do exército, da armada e dos corpospoliciais.

29 Os serventes das repartições e dos estabelecimentos pú-blicos.

§ 19 A disposição do n? l deste artigo não abrange as pra-ças de pré reformadas.

§ 29 Na designação de — corpos policiais —, de que tratao dito n9 l deste artigo, compreendem-se os guardas e vigias dasalfândegas, os guardas municipais, o corpo de bombeiros, e to-dos os mais que tiverem por fim o serviço de polícia, qualquerque seja a sua denominação.

CAPÍTULO IIDa prova da renda

Art. 69 A renda líquida anual não inferior a 200$ por bensde raiz, indústria, comércio, ou emprego, que deve ter o eleitornos termos do art. 29 da Lei n1? 3.029, de 9 de janeiro de 1881,será provada pêlos modos declarados nos artigos seguintes.

Art. 79 A renda proveniente de imóveis (bens de raiz) seráprovada:

§ 19 Se o imóvel se achar na demarcação do imposto pre-dial ou décima urbana, e estiver sujeito a este imposto:

I. Com certidão da repartição fiscal de estar o imóvel aver-bado com valor locativo não inferior a 200$ ou com recibo da-quele imposto passado pela mesma repartição.

II. No caso de ser baseado o referido imposto, não sobreo valor locativo, mas sobre o do próprio imóvel — pela compu-tação da renda à razão de 6% sobre o valor do mesmo imóvel,verificado por certidão da competente repartição fiscal.

§ 2? Se o imóvel não se achar na demarcação do impostopredial ou décima urbana, ou não estiver sujeito a este imposto,ou se consistir em terrenos de lavoura ou de criação, ou emquaisquer outros estabelecimentos agrícolas ou rurais:

I. Quando o ocupar o próprio dono — pela computação darenda à razão de 6% sobre o valor do imóvel, verificado portítulo legítimo de propriedade ou posse, ou por sentença judicialque as reconheça.

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II. Quando não o ocupar o próprio dono — pela cumpu-tação da renda feita do mesmo modo, ou pela exibição de con-trato de arrendamento ou aluguel do imóvel, lançado em livro denotas com antecedência de um ano, pelo menos, do último diado prazo do art. 27, e expressa declaração do preço do arrenda-mento ou aluguel.

Art. 89 A renda proveniente de indústria ou profissão seráprovada:

§ 19 Com certidão que mostre estar o cidadão inserido des-de um ano antes, pelo menos, do último dia do prazo do art. 27no registro do comércio, como negociante, corretor, agente deleilões, administrador de trapiche, capitão de navio, piloto decarta, ou como guarda-livros ou primeiro caixeiro de casa co-mercial, ou administrador de fábrica industrial, uma vez que acasa comercial ou a fábrica tenha o fundo capital de 6:800$, pelomenos.

A falta da referida certidão, quanto aos capitães de navio epiltos de carta, poderá ser suprida com certidão da capitaniado porto ,que mostre estar o cidadão, desde um ano antes, pelomenos, do último dia do prazo do art. 27, inscrito, em algumadestas qualidades, no registro da mesma repartição.

§ 29 Com certidão, passada pela respectiva repartição fis-cal, geral ou provincial de possuir o cidadão fábrica, oficina, ououtro estabelecimento industrial ou rural, cujo fundo capital seja,pelo menos, de 3:400$, ou com certidão ou talão de que consteo pagamento, pela fábrica, oficina, ou estabelecimentos ditos, deimposto de indústria ou profissão, ou de qualquer outro impostobaseado no valor locativo do imóvel urbano ou rural, em que seacharem os mesmos estabelecimentos, sendo a importância anualde qualquer destes impostos não inferior a 24$ no município daCorte, a 12$ dentro das cidades e a 6$000 nos demais lugaresdo Império.

§ 39 Com certidão, passada pela respectiva repartição fis-cal, geral ou provincial, de possuir o cidadão estabelecimentocomercial, cujo fundo capital seja de 3:400$, pelo menos, e peloqual também pague o imposto declarado no parágrafo antece-dente.

§ 49 Quando não for possível provar, com as certidões aque se referem os três parágrafos antecedentes, o fundo capitalde que se trata nos mesmos parágrafos, a falta dessa prova serásuprida pêlos seguintes modos:

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19 Se o estabelecimento pertencer a companhia ou socie-dade mercantil — com certidão de acharem-se inscritos no re-gistro do comércio os estatutos da companhia bu o contrato dasociedade, com declaração expressa do respectivo fundo capital.

2? Se o estabelecimento não pertencer a companhia ou so-ciedade mercantil — com certidão do seu fundo capital, segundoo último balanço do estabelecimento, a qual será passada poroficial público à vista do competente livro.

8 íi*.1 Os impostos a que se referem os antecedentes §§ 2? e39 só conferem a capacidade eleitoral havendo sido pagos desdeum ano antes, pelo menos, do último dia do prazo do art. 27.

Art. 99 Não servirão para prova da renda quaisquer ou-tros impostos não mencionados neste Capítulo.

Art. 10. A renda proveniente de emprego público será pro-vada:

§ 19 Com certidão do Tesouro Nacional e das tesourariasde fazenda gerais e provinciais, que mostre perceber anualmenteo cidadão ordenado não inferior a 200$, por emprego que, emvirtude de lei, dê direito a aposentação, não sendo porém estaúltima condição aplicável aos empregados do Senado, da Câmarados Deputados, e das assembleias legislativas provinciais, con-tanto que tenham nomeações efetivas.

A certidão poderá ser passada pelas próprias repartições aque pertencerem os empregados, quando por elas diretamentelhes forem pagos os respectivos ordenados.

§ 29 Com igual certidão das câmaras municipais, quantoaos que nelas exercerem empregos que, em virtude de lei, dêemdireito à aposentação.

§ 3? Com certidão da competente repartição, tesouro na-cional, tesouraria geral ou provincial, ou câmara municipal —quanto aos empregados aposentados ou jubilados, e quanto aosoficiais reformados do Exército, da Armada e dos corpos policiais,compreendidos os oficiais honorários que percebem soldo ou pen-são.

Nesta disposição compreendem-se os pensionistas do Es-tado.

§ 49 Com certidão da lotação dos ofícios de justiça, passa-da pela repartição competente — quanto aos serventuários pro-vidos vitaliciamente nos mesmos ofícios, sendo a lotação destesnão inferior a 200$ por ano.

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Art. 11. A renda proveniente de títulos de dívida pública,geral ou provincial, será provada — com certidão autêntica depossuir o cidadão no próprio nome, ou, se for casado, no da mu-lher, desde um ano antes, pelo menos, do último dia do prazodo art. 27, títulos que produzam anualmente quantia não inferiorà renda exigida.

Art. 12. A renda proveniente de ações de bancos e compa-nhias, legalmente autorizados, e de depósitos em caixas econó-micas do governo, será provada — com certidão autêntica depossuir o cidadão, desde um ano antes, pelo menos, do últimodia do prazo do art. 27, no próprio nome, ou, se for casado, noda mulher, títulos que produzam quantia não inferior à mencio-nada renda.

Art. 13. São considerados como tendo a renda legal, inde-pendentemente de prova:

I. Os ministros e os conselheiros de estado, os bispos, e ospresidentes de província e seus secretários.

II. Os senadores, os deputados à assembleia geral e osmembros das assembleias legislativas provinciais.

III. Os magistrados perpétuos ou temporários, o secretáriodo Supremo Tribunal de Justiça c os das relações, os promotorespúblicos, os curadores gerais de órfãos, os chefes de polícia eseus secretários, os delegados e subdelegados de polícia efetivos,íjiie tiverem entrado em exercício um ano antes, pelo menos, doúltimo dia do prazo do art. 27.

IV. Os clérigos de ordens sacras.V. Os diretores do Tesouro Nacional e das tesourarias de

fazenda gerais e provinciais, os procuradores fiscais e os dos fei-tos da fazenda, os inspetores das alfândegas e os chefes de ou-Iras repartições de arrecadação.

VI. Os diretores das secretarias de estado, o inspetor dasterras públicas e colonização, o diretor geral e os administrado-res dos correios, o diretor geral e o vice-diretor dos telégrafos,os inspetores ou diretores de obras públicas gerais ou provin-ciais, os diretores das estradas de ferro pertencentes ao Estadoe os chefes de quaisquer outras repartições ou estabelecimentospúblicos.

VII. Os empregados do corpo diplomático ou consular.VIII. Os oficiais do Exército, da armada e dos corpos poli-

ciais.

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IX. Os diretores, lentes e professores das faculdades, aca-demias e escolas de instrução superior, os inspetores gerais oudiretores da instrução pública na corte nas províncias, os direto-res ou reitores de institutos., colégios ou outros estabelecimentospúblicos de instrução e os respectivos professores, os professo-res públicos de instrução primária por título de nomeação efetivaou Vitalícia.

X. Os habilitados com diplomas científicos ou literários dequalquer faculdade, acedemia, escola ou instituto nacional ouestrangeiro, legalmente reconhecidos.

Será título comprobatório o próprio diploma ou documentoautêntico que o supra.

XI. Os que desde mais de um ano antes, pelo menos, doúltimo dia do prazo do art. 27, dirigirem casas de educação ouensino, frequentadas por 20 ou mais alunos, ou tencionarem nasmesmas casas.

Servirá de prova — certidão passada pelo inspetor ou dire-tor da instrução pública na corte ou nas províncias.

XII. Os juizes de paz e os vereadores efetivos do quatriê-nio de 1877-1881 e do seguinte, e os cidadãos qualificados jura-dos para servirem no ano de 1879.

Os juizes de paz e vereadores a que se refere este númerodeverão provar com certidões não terem sido anuladas as respec-tivas eleições, e haverem prestado o competente juramento.

No caso de se não ter feito revisão de jurados para o ano de1879 servirá para o referido fim a última anterior.

O fato de ter sido o cidadão incluído na dita revisão seráprovado com certidão do escrivão do júri.

Art. 14. O cidadão que não puder provar a renda legal poralgum dos meios determinados nos artigos precedentes será ad-mitido a fazê-lo.

I. Pelo valor locativo do prédio em que houver resididodesde um ano antes, pelo menos, do último dia do prazo do art.27, com economia própria, sendo o valor locativo anual, por elepago, de 400$ na cidade do Rio de Janeiro; de 300$ nas da Bahia,Recife, São Luís do Maranhão, Belém do Pará, Niterói, SãoPaulo e Porto Alegre; de 200$ nas demais cidades; e de 100$nas vilas e outras povoações.

H. Pelo valor locativo anual, não inferior a 200$, de ter-renos de lavoura ou de criação ou de quaisquer outros estabele-

400

cimcntos agrícolas ou rurais, que o cidadão haja tomado por ar-rendamento desde um ano antes, pelo menos, do último dia doprazo do art. 27.

§ l? A prova será dada em processo sumário perante o juizde direito da comarca; e, nas que tiverem mais de um juiz dedireito, perante qualquer deles, e será a seguinte:

I. Quanto aos prédios sujeitos ao imposto predial ou dé-cima urbana — certidão de repartição fiscal, de que consteestarem averbados com o referido valor locativo anual.

II. Quanto aos prédios não sujeitos ao dito imposto ou dé--cima — contrato de arrendamento ou aluguel, celebrado porescritura pública com a data de um ano antes pelo menos, doúltimo dia do prazo do art. 27, ou por escrito particular lançadocom igual antecedência em livro de notas, havendo expressa de-claração do preço do arrendamento ou aluguel; e, em falta destesdocumentos — o título legítimo ou sentença passada em julga-gado que prove ter o último dono do prédio adquirido a proprie-dade ou posse deste por valor sobre o qual, à razão de 6%, secompute a renda anual na importância declarada no n1? l desteartigo.

III. Quanto aos terrenos de lavoura ou criação, ou outrosestabelecimentosa grícolas ou rurais — contrato de arrendamentopor escritura pública, com a data de um ano antes, pelo menos,do último dia do prazo do art. 27, havendo expressa declaraçãodo preço.

IV. Às provas que ficam designadas se adicionará sempreo recibo do proprietário do prédio, terreno ou estabelecimento,com data não anterior a um mês, provando estar pago até entãodo preço do arrendamento ou aluguel.

No caso de ter o cidadão residido, durante o prazo declaradono n? l deste artigo, em mais de um prédio, deverá provar quan-to a cada um dos prédios o pagamento do valor locativo exigidono mesmo número, exibindo os respectivos recibos de aluguel.

§ 2<? O juiz de direito julgará, à vista das provas estabeleci-das no parágrafo antecedente, por sentença proferida no prazode 15 dias, contados do dia da apresentação do requerimento docidadão, ouvindo o promotor público, que responderá dentro dode cinco dias.

Nenhum processo compreenderá mais de um cidadão, e ne-le não terá lugar o pagamento de selo, nem de custas, exceto asdos escrivães, que serão cobradas pela metade.

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§ 3? A sentença do juiz de direito será fundamentada edela haverá recurso voluntário para a relação do distrito, comefeito devolutivo somente, interposto, dentro do prazo de 10dias depois da publicação da sentença, pelo próprio interessado,ou por seu procurador especial no caso de exclusão, e por qual-quer eleitor da paróquia ou distrito no caso de admissão.

§ 4*? Sendo favorável ao requerente a sentença do juiz dedireito, ser-lhe-á entregue o processo sem ficar traslado para oexibir como prova de renda perante o competente juiz.

No caso contrário havendo interposição de recurso, será ob-servado o disposto no art. 75.

§ 59 Em caso de falta ou impedimento o juiz de direito serásubstituído:

Nas comarcas gerais: 19 pelo juiz municipal eletivo da sededa comarca; 2? pêlos juizes municipais eletivos dos outros ter-mos da mesma comarca que forem mais vizinhos.

Nas comarcas especiais de mais de um juiz de direito: 19pêlos outros juizes de direito, conforme a regra geral de sua subs-tituição; 29 pêlos juizes substitutos formados, de conformidadecom a mesma regra.

Nas comarcas especiais de um só juiz de direito, pelo respec-tivo juiz substituto formado.

Se todos os referidos juizes faltarem ou acharem-se impedi-dos, o processo será feito perante o juiz de direito da comarcamais vizinha.

Art. 15. As certidões e outros documentos exigidos para oalistamento dos eleitores são isentos de selo e de quaisquer ou-tros direitos.

Nesta disposição não se compreendem, quanto às certidõese aos outros documentos fornecidos por oficiais públicos, os emo-lumentos que a eles são devidos como retribuição legal do traba-lho que desempenham por encomenda das partes.

CAPITULO III

Da revisão do alistamento eleitoral

Art. 16. No primeiro dia útil do mês de setembro de 1882,e de então em diante todos os anos em igual dia, se procederá

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rui todo o Império à revisão do alistamento geral dos eleitores,organizado nos termos do art. 69 da Lei n? 3.029, de 9 de janeiroile 1881 e das Instruções anexas ao Decreto n*? 7.981, de 29 dosH ilos mês e ano.

Art. 17. A revisão será feita somente para os seguintes fins:§ l? De serem eliminados os eleitores que tiverem falecido

ou mudado de domicílio para fora da comarca, os falidos nãoreabilitados, os que estiverem interditos da administração de seushens e os que houverem perdido os direitos de cidadão brasileiro,nu não estiverem no gozo de seus direitos políticos, nos termosdos arts. 79 e 8? da Constituição, transcritos nos §§ 19 e 2? do;irt. 2^ deste Regulamento.

§ 2"? De serem incluídos no dito alistamento os cidadãosque o requererem e provarem ter adquirido as qualidades deeleitor, de conformidade com os Capítulos l? e 21? do mesmo Re-Muiamento e, além delas, a de saber ler e escrever.

Art. 18. Na mesma ocasião em que se proceder à revisãodo alistamento da comarca serão feitas neste:

19 A inclusão dos eleitores novamente domiciliados na co-marca que, por haverem mudado de outras o seu domicílio, tive-rem sido eliminados dos respectivos alistamentos.

29 As alterações e declarações necessárias relativas à mu-dança de domicílio do eleitor para paróquia, distrito de paz ousecção compreendidos na mesma comarca.

SEÇAO l?

Das inclusões e alterações no alistamento

Art. 19. O alistamento dos cidaidãos, que nas revisõesanuais se acharem no caso do § 29 do art. 17, será preparado emcada termo pelo respectivo juiz municipal, e organizado por co-marcas pêlos juizes de direito destas.

Quando houver mais de um termo sob a jurisdição de umsó juiz municipal formado, a este compete o preparo do alista-mento nos termos de sua jurisdição.

Art. 20. Nas comarcas especiais de mais de um juiz de di-reito serão feitos por estes, nos respectivos distritos criminais, opreparo e a organização do alistamento.

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Ao juiz de direito do 19 distrito compete mandar fazer oregistro do alistamento geral da comarca pelas cópias do alista-mento parcial mencionados nos n.081 e U do art. 48, as quais lheserão enviadas pêlos j-uízes de direito dos outros distritos.

Art. 21. Nas comarcas especiais de um só juiz de direitoserão feitos por este o preparo e a organização do alistamento.

Art. 22. Os juizes de direito em suas faltas ou impedi-mentos serão substituídos:

§ 19 Nas comarcas especiais de mais de um juiz de direito:19 Feios outros juizes de direito, conforme a ordem da

substituição recíproca.

21? Pêlos juizes substitutos formados, conforme a mesmaordem.

§ 29 Nas comarcas especiais de um só juiz de direito, pelorespectivo juiz substituto formado.

§ 39 Nas comarcas gerais:

19 pelo juiz municipal efetivo da sede da comarca.29 Pêlos juizes municipais efetivos dos outros termos da

comarca que forem mais vizinhos.

§ 49 Se em cada uma das comarcas mencionadas nos trêsanteriores parágrafos faltarem ou estiverem impedidos os juizesque devem substituir os juizes de direito, a revisão do alista-mento será feita pelo juiz de direito da comarca mais vizinha.

§ 59 Os juizes municipais efetivos, como preparadores doalistamento dos eleitores, serão substituídos pêlos respectivossuplentes.

§ 69 Para os fins a que se referem os antecedentes §§3?e 49, deve considerar-se como mais vizinho o termo ou a comar-ca cuja sede se achar a menor distância quilométrica da do ter-mo ou comarca de que se tratar.

Ao governo na corte, e aos presidentes nas províncias, in-cumbe fazer a designação dos termos e comarcas segundo a suavizinhança, de conformidade com esta regra.

Art. 23. Nenhum cidadão será incluído no alistamento doseleitores sem o ter requerido por escrito de próprio punho ecom assinatura sua, provando o seu direito com os documentosdeclarados neste Regulamento.

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§ l1? Os juizes de direito, os juizes substitutos formados eos juizes municipais serão incluídos ex officio no alistamento daparóquia de seu domicílio.

§ 29 O suplente de juiz municipal, quando a este estiversubstituindo nos trabalhos de preparo do alistamento, poderá in-cluir ex officio o seu nome na competente relação que organi-zar nos termos do art. 30, não ficando porém dispensado de re-meter o seu requerimento devidamente instruído ao juiz de di-reito para o fim de ser por este incluído no alistamento.

Art. 24. Em cada requerimento não poderá figurar maisdn que um cidadão, e nele serão declarados:

19 A paróquia, o distrito de paz e o quarteirão da residên-cia do cidadão, bem como o tempo desta na paróquia, designan-do-se o prédio que ele habitar.

29 A idade, o estado, a filiação, a profissão do cidadão, e,M' este não estiver compreendido em qualquer das exceçoes doart . 13, a sua renda.

Art. 25. Só no alistamento da paróquia em que tiver do-micíl io poderá ser incluído o cidadão que for reconhecido eleitor.

§ 19 Para que se considere o cidadão domiciliado na pa-róquia é necessário que nela resida desde um ano antes da revi-do do alistamento dos eleitores, salva a disposição do art. 33.

§ 29 A paróquia do domicílio é aquela em que o cidadãoreside habitualmente.

Na palavra — domicílio — não se compreendem os escritó-t LOS para o exercício de qualquer profissão.

Art. 26. O cidadão que requerer sua inclusão no alista-mento deverá provar, além da renda legal pelo modo estabele-< ido no Capítulo 29 deste Regulamento:

§ 19 Ter atingido a idade legal nos termos do art. 49 domesmo Regulamento. Para provar a idade apresentará certidão(Ir batismo ou certidão extraída do registro civil dos nascimen-los.

Quando não for possível por justos motivos, que serão de-r larados a apresentação de qualquer destas certidões será supri-da a sua falta:

l" Por certidão autêntica que prove estar o cidadão ou teri -stado no exercício de seus direitos políticos sem contestação.

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29 Por certidão autêntica que prove exercer o cidadão outer exercido cargo ou emprego público, para o qual seja exigidaa idade legal.

§ 29 Saber ler e escrever.Será provada esta habilitação pela letra e assinatura do ci-

dadão que requerer a sua inclusão no alistamento, uma vez quea letra e a firma estejam reconhecidas por tabelião no requeri-mento para este fim dirigir.

§ 3"? Ter sua residência na paróquia desde um ano antesnos termos do art. 25, § 19

Será provado este fato com certidão autêntica de que cons-te o exercício de cargo público para o qual a lei exija domicíliona paróquia, ou com atestado jurado do respectivo pároco, juizde paz, delegado ou subdelegado de polícia.

§ 49 Às certidões e outros documentos a que se referemos parágrafos antecedentes é aplicável a disposição do art. 15.

Art. 27. No dia designado no art. 16 para se proceder àrevisão do alistamento dos eleitores os juizes municipais, ou nascomarcas de que tratam os arts. 20 e 21 os juizes de direito, pu-blicarão editais convidando os cidadãos dos seus municípios oudos respectivos distritos criminais para entregarem no prazo de30 dias, contados da data dos mesmos editais, os requerimen-tos para sua inclusão no dito alistamento nos termos dos arts.23 e 24.

§ 19 Estes editais, em que se designará o lugar onde sereceberão os requerimentos todos os dias, sem interrupção, das10 horas da manhã às 4 da tarde, serão afixados, em lugares pú-blicos, em todas as paróquias e distritos de paz, e, quando forpossível, publicados pela imprensa nas sedes dos municípios.

§ 29 Nas paróquias e nos distritos de paz distantes da sededo município a afixação dos referidos editais será feita no 19 diado prazo dentro o qual deverem ser apresentados os requerimen-tos.

Em tal caso a data do edital será a do dia de sua expedição,mas nele se fará declaraçã.o do 19 dia do prazo para a apresen-tação dos requerimentos.

Art. 28. Dos referidos requerimentos e dos documentos-que os acompanharem, ou que nos termos dos arts. 29 e 34 fo-rem posteriormente apresentados, deverá o juiz competente (juiz

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municipal ou juiz de direito) dar recibo, que poderá ser impresso,tendo porém sempre a assinatura do mesmo juiz.

Art. 29. Os juizes municipais no prazo de 10 dias, conta-dos em que tiverem recebido cada requerimento, exigirão pordespacho, que será lançado no próprio requerimento e publicadopor edital, a apresentação dos documentos legais que não tiveremsido juntos.

Esta apresentação será feita dentro do prazo de 10 dias,contados da publicação do referido edital.

Art. 30. Findo este último prazo, os juizes municipais en-viarão aos juizes de direito das comarcas, dentro de 10 dias,todos os requerimentos recebidos e os respectivos documentos,acompanhados de duas relações, que organizarão por municípios,paróquias e distritos de paz, sendo colocados os nomes dos cida-dãos por ordem alfabética em cada quarteirão, podendo para estefim exigir de quaisquer autoridades ou empregados públicos asinformações de que necessitarem.

Em uma destas relações se conterão os nomes dos cidadãosque houverem exibido todos os documentos legais, em devidaforma, e na outra se mencionarão os nomes daqueles cujos re-querimentos não se acharem completamente instruídos, ou fo-rem acompanhados de documentos defeituosos, declarando-se asfaltas ou defeitos. Em ambas as relações farão os juizes munici-pais as observações que lhes parecerem convenientes para es-clarecimento dos juizes de direito.

Os juizes de direito darão recibo destes requerimentos, do-cumentos e relações.

Art. 31. Os juizes de direito dentro do prazo de 30 dias,contados do em que tiverem recebido os requerimentos prepa-rados pêlos juizes municipais e as respectivas relações, julgarãoprovado ou não o direito de cada cidadão de ser reconhecidoeleitor por despachos fundamentados proferidos nos própriosrequerimentos.

Art. 32. No mesmo prazo do artigo antecedente, e poriguais despachos, os juizes de direito incluirão nos alistamentosdas respectivas comarcas os eleitores que para elas tiverem mu-dado de outras o seu domicílio.

Para este fim o eleitor no prazo estabelecido no art. 27 apre-sentará requerimento, com assinatura sua ou de especial pro-curador, ao juiz de direito, bastando que perante este prove o

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seu novo domicílio desde um ano antes, e exiba seu título deeleitor com a declaração da mudança, nele posta pelo juiz dedireito da comarca da qual se houver mudado, ou, em falta destetítulo, certidão de sua eliminação, por aquele motivo nos termosdo art. 18 n1? l, do alistamento em que se achava o seu nome.

São aplicáveis ao caso a que se refere este artigo as dispo-sições do art. 25 e seus parágrafos.

Art. 33. Também no mesmo prazo do art. 31 os juizes dedireito no caso de mudança de domicílio do eleitor para paró-quia, distrito de paz ou secção compreendidos na mesma comar-ca farão, em virtude de seus despachos, as declarações necessá-rias nos alistamentos a fim de ser transferido o nome do eleitorpara o alistamento da paróquia, distrito de paz ou secção de seunovo domicílio, requerendo o mesmo eleitor por escrito e comassinatura sua ou de especial procurador, e aprovando aquelamudança no prazo a que se refere o citado artigo.

§ l? No título do eleitor assim transferido por decisão dojuiz de direito, ou da Relação em virtude de recurso, fará o mes-mo juiz de direito a declaração da mudança de domicílio, a qualeerá também posta no competente talão, e restituirá o título deeleitor no prazo de três dias, contados do em que tiver sidoapresentado para aquele fim.

§ 2? Da falta de cumprimento da disposição do parágrafoantecedente caberá ao eleitor o recurso estabelecido no art. 62.

Art. 34. Nos 10 primeiros dias do prazo de que trata oart. 34 será permitido aos cidadãos a que se refere o mesmo ar-tigo apresentar aos juizes de direito, para serem juntos aos seusrequerimentos, os documentos exigidos pêlos juizes municipais,ou quaisquer outros que melhor provem o seu direito, quandonão tenham podido fazê-lo perante estes em tempo próprio, de-vendo ser informados pêlos respectivos juizes municipais os re-querimentos que acompanharem esses documentos.

§ l? Para o fim declarado neste artigo os juizes de direitodentro do prazo de 24 horas, contadas da em que tiverem recebi-do dos juizes municipais os ditos requerimentos, documentos erespectivas relações, convidarão por editais, que serão afixadosem lugares públicos, os cidadãos a que se refere o mesmo artigo,para usarem do seu direito.

Nesses editais serão inscritos, quando for possível, os nomesdos referidos cidadãos.

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§ 2? Os juizes municipais deverão informar os requerimen-los de que trata este artigo no prazo de três dias, contados dahora em que para esse fim os cidadãos lhos apresentarem.

§ 3? Quando até ao último dia do referido prazo de 10dias for apresentado ao juiz de direito, sem estar informado pelorespectivo juiz municipal, algum dos requerimentos a que se re-fere o mesmo artigo, aquele juiz imediatamente remeterá a esteD requerimento pelo correio e sob registro, ou pelo interessado,se este o preferir, para que o informe e lho devolva, pelo mes-mo modo, no prazo de três dias contados da hora em que o re-ceber.

Art. 35. De conformidade com os despachos proferidosnos casos e nos termos dos arts. 31, 32 e 33 os juizes de direitoorganizarão duas listas por comarcas, municípios, paróquias, dis-I ritos de paz e quarteirões, podendo para este fim exigir dequaisquer autoridades ou empregados públicos as informaçõesHe que necessitarem.

Uma destas listas conterá por ordem alfabética em cadaquarteirão, e sob numeração geral, os nomes dos cidadãos quel iverem sido reconhecidos eleitores e os dos eleitores incluídosno alistamento da comarca por terem mudado de outra o seudomicílio.

A outra lista conterá do mesmo modo os nomes dos eleito-res que, por haverem mudado o seu domicílio de umas paraoutras paróquias, distritos de paz ou secções compreendidas namesma comarca, tiverem sido transferidos dos alistamentos da-queles para os alistamentos das últimas.

Serão declarados: na l? destas listas os motivos das inclu-sões no alistamento, e na 2? os motivos das alterações nele fei-l;is por mudança de domicílio dentro da mesma comarca, indi-cando-se a paróquia, distrito de paz ou quarteirão a que perten-ciam os eleitores transferidos, e o número de ordem sob o qualse achavam alistados.

Art. 36. Nas comarcas em que nos termos dos arts. 20 elíl compete aos juizes de direito tanto o preparo como a organi-zação do alistamento, estes juizes, findos os prazos e cumpridasas disposições dos arts. 27, 28 e 29, julgarão ou não provado odireito de cada cidadão no prazo de 30 dias, procedendo pelomodo estabelecido nos arts. 31, 32 e 33.

Nos 10 primeiros dias deste último prazo será permitidoaos cidadãos apresentar aos juizes de direito, para serem jun-

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tos aos seus requerimentos, os documentos exigidos pêlos refe-ridos juizes, ou quaisquer outros que melhor provem o seu di-reito.

Para este fim os juizes de direito no 1° dia do mesmo prazoconvidarão os cidadãos por meio de editais escritos e publicadosnos termos do § l9 do art. 34.

Art. 37. Os requerimentos em que tiverem sido proferidosos despachos de que tratam os arts. 31, 32 e 33 serão arquiva-dos com os documentos que os acompanharem, nos cartórios dosescrivães dos juizes que os deverem ter a seu cargo e sob suaresponsabilidade.

Os documentos originais serão entregues aos próprios cida-dãos a quem pertencerem, se os solicitarem, ficando deles tras-lado, ou extrato quando forem extensos.

Art. 38. As inclusões e alterações feitas, segundo as dispo-sições desta seção, no alistamento dos eleitores, serão publica-das e registradas pelo modo estabelecido na seção 3^

SEÇÃO 2?Das eliminações do alistamento

Art. 39. A eliminação dos eleitores dos alistamentos emque estiverem incluídos terá lugar somente nos casos expressa-mente definidos no § l? do art. 17.

Art. 40. Ao juiz de direito da comarca, ou, nas comarcasespeciais de mais de um juiz de direito, a cada um destes no res-pectivo distrito criminal, compete fazer a eliminação dos eleito-res:

2?No caso de morte — à vista de certidão de óbito.No caso de mudança de domicílio para fora da co-

marca — em virtude de requerimento do próprio eleitor, ou deinformações da competente autoridade, precedendo anúncio poredital afixado com antecedência de 30 dias em lugar público dasede da comarca, e na paróquia, distrito de paz ou secção da re-sidência do eleitor, ou em virtude de certidão autêntica de estaro eleitor alistado em paróquia de comarca diversa, onde tenhaestabelecido novo domicílio.

§ 3? No caso de perda dos direitos de cidadão brasileiro:I. À vista de certidão autêntica que prove: ter-se o eleitor

naturalizado em país estrangeiro, ou haver, sem licença do Im-

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perador, aceitado emprego, pensão ou condecoração de qualquergoverno estrangeiro; ou por meio de sentença proferida sobreestes fatos pelo juiz de direito da comarca em processo regular,instaurado com citação pessoal do eliminado, quando se acharem lugar conhecido, e em todo o caso com citação edital dequaisquer terceiros interessados.

II. À vista de certidão autêntica de sentença de banimen-to do eleitor.

§ 4*? No caso de suspensão do exercício dos direitos políti-cos — à vista de certidão autêntica:

I. De sentença que tenha julgado a incapacidade físicaou moral.

II. De sentença condenatória a prisão ou degredo enquan-to durarem os seus efeitos.

§ 59 No caso de falência sem a reabilitação, ou de interdi-ção da gerência dos próprios bens — à vista de certidão autên-tica de sentença que tenha julgado qualquer destes fatos en-quanto durarem os seus efeitos.

Art. 41. A eliminação só será feita em virtude de reque-rimento do próprio eleitor no caso de mudança de seu domicíliopara fora da comarca, ou, também neste caso, bem como nosoutros mencionados nos parágrafos do artigo antecedente, pelopromotor público ou seu adjunto, ou por três eleitores da res-pectiva paróquia.

§ l1? Os requerimentos apresentados pelo promotor públi-co ou seu adjunto, ou por três eleitores da paróquia, serão sem-pre acompanhados dos documentos ou das informações que, nostermos dos parágrafos do artigo antecedente, os devem instruir.

Estes documentos serão fornecidos gratuitamente pela re-partição ou pelo funcionário público competente.

§ 2? O eleitor, a quem se referirem os ditos documentosou informações, poderá apresentar ao juiz de direito por meiode requerimento, dentro do prazo de 30 dias de que trata o art.31, os documentos que julgar convenientes a fim de contestaro fato alegado para a sua eliminação.

Art. 42. Os requerimentos para a eliminação de eleitoresserão entregues diretamente aos juizes de direito no mesmoprazo de 30 dias marcados no art. 27 para o recebimento dosrequerimentos que tiverem por fim a inclusão de cidadãos noalistamento.

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Art. 4;í- No processo relativo aos requerimentos para aeliminação, e no julgamento sobre as eliminações requeridas,procederão os juizes de direito (Je conformidade com o que seacha disposto no art. 36.

Art. 44. De conformidade com as suas decisões os juizesde direito organizarão pelo mesmo modo estabelecido no art. 35uma lista que conterá os nomes dos eleitores eliminados do alis-tamento da comarca com a declaração dos motivos da eliminação.

Art. 45. Aos requerimentos em que tiverem sido proferi-das as decisões a que se refere o artigo antecedente e aos respec-tivos documentos, bem como às informações de que trata o § 2?do art. 40, é aplicável a disposição do art. 37.

Art. 46, No título do eleitor que, por decisão do juiz dedireito ou da Relação em virtude de recurso, for eliminado doalistamento da comarca por mudança de seu domicílio para forada mesma comarca, o juiz de direito desta fará, para o fim deque trata o art. 32, a declaração da mudança, que será tambémposta no correspondente talão, e restituirá o título ao eleitor aquem pertencer, dentro do prazo de três dias, contados do emque lhe tiver sido apresentado.

Da falta de cumprimento desta disposição caberá ao eleitoro recurso estabelecido no art. 62.

Art. 47. As eliminações do alistamento, feitas segundo asdisposições desta seção, serão publicadas e registradas pelo mo-do estabelecido na seção seguinte.

SEÇÃO 3?Oa publicação e do registro do alistamento

Art. 48. No prazo de 10 dias, em seguimento do de 30estabelecido no art. 31 para as decisões dos juizes de direito narevisão do alistamento dos eleitores, os mesmos juizes farãoextrair de cada uma das três listas de que tratam os arts. 35e 44 as seguintes cópias que serão por eles assinadas e rubrica-das em cada uma de suas folhas e remetidas no mesmo prazo:

I. Uma ao ministro do Império na corte, e nas provínciasaos presidentes;

II. Outra ou outras ao tabelião ou tabeliães da cabeça dacomarca para o registro geral a seu cargo nos termos do art. 51,

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III. Outras, compreendendo cada uma a parte das mesmaslistas relativa a cada município da comarca, excetuado o da ca-beça desta, aos respectivos juizes municipais para a publicaçãoe para os registros parciais de que tratam os arts. 50, 3? partee 52.

Art. 49. Nas comarcas especiais de mais de um juiz dedireito cada juiz no mesmo prazo estabelecido no artigo antece-dente fará extrair das listas parciais do respectivo distrito cri-minal as cópias mencionadas nos n.06 I e II do mesmo artigo, eas remeterá ao juiz do l? distrito criminal, cumprindo a este juizdar-lhes o destino determinado nos referidos números.

Art. 50. As inclusões e alterações feitas no alistamento eas eliminações de eleitores do mesmo alistamento serão publica-das, com a declaração dos motivos, por editais afixados nas por-tas das matrizes e capelas, ou em outros lugares públicos, e,quando for possível, pela imprensa.

Esta publicação será feita:Na cabeça da comarca, no prazo de 10 dias de que trata o

art. 48, pelo juiz de direito desta, ou, tendo a comarca maisde um juiz de direito, pêlos diversos juizes de direito da mesmacomarca, cada um quanto à parte relativa ao alistamento do res-pectivo distrito criminal.

Nos outros municípios da comarca — pelo respectivos juizesmunicipais no prazo de 48 horas, contadas da em que lhes forementregues as cópias parciais que lhes devem ser remetidas pêlosjuizes de direito nos termos do n^ IO do dito art. 48, cumprindo-lhes acusar o recebimento dessas cópias no mesmo dia ou noimediato.

Art. 51. O registro geral das inclusões e alterações no alis-tamento de cada comarca e das eliminações de eleitores do mes-mo alistamento será feito pelo tabelião da cabeça da comarcaà vista da cópia ou das cópias -das três listas mencionadas noart. 48 n1? II, que lhe forem remetidas nos termos do dito artigopelo respectivo juiz de direito, ou nas comarcas especiais de maisde um juiz de direito pelo do l? distrito criminal nos termos doart. 49.

Se porém houver mais de um tabelião na cabeça da comarca,o juiz de direito poderá mandar fazer esse registro por dois oumais tabeliães, quando julgar conveniente esta divisão do tra-balho à vista do número das paróquias ou dos distritos de paz,designando quais os municípios, paróquias ou distritos de pazque ficarão a cargo de cada um dos mesmos tabeliães.

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§ 19 Em falta absoluta de tabelião, o serviço do registroserá feito pelo escrivão ou pêlos escrivães de paz que o juizde direito designar.

§ 29 Os tabeliães ou escrivães de paz acusarão o rece-bimento das cópias a que se refere este artigo no mesmo diaou no seguinte.

§ 39 O registro será feito, segundo o modelo n1? l, emlivros fornecidos pelas respectivas câmaras municipais, e aber-tos e encerrados pêlos juizes de direito, que também nume-rarão e rubricarão as folhas dos mesmos livros.

§ 4? O registro ficará concluído no prazo de 30 dias, con-tados do em que os respectivos tabeliães houverem recebidoas referidas cópias; e no mesmo dia da conclusão do registro,ou no seguinte, os tabeliães devolverão as ditas cópias, com de-claração da data do registro, aos juizes de direito, que as farãoarquivar nos cartórios dos escrivães do seu juí?o, a cujo cargoe sob cuja responsabilidade deverem estar.

Art. 52. Os juizes municipais, dentro do prazo determi-nado para a publicação das cópias parciais de que trata o n<? IIIdo art. 48, mandarão proceder ao registro destas nos respectivosmunicípios.

Este registro se fará pelo mesmo modo estabelecido no ar-tigo antecedente, e lhe são aplicáveis todas as disposições queneste se contém, pertencendo porém aos juizes municipais, naparte relativa ao registro do alistamento de cada município, asfunções e os atos que, quanto ao registro geral do alistamentoda comarca, são incumbidos aos juizes de direito e estão men-cionadas no dito artigo.

Art. 53. O trabalho do registro terá preferência a qual-quer outro.

CAPITULO IVDos Títulos dos Eleitores

Art. 54. A todos os cidadãos incluídos no alistamento doseleitores serão conferidos títulos pelo modo declarado nos arti-gos seguintes.

Nesta disposição compreendem-se: l? os eleitores incluídosno alistamento da comarca por terem sido eliminados dos de ou-tras em razão de mudança do seu domicílio, e aos quais se referea l? parte do art, 18; 29 os cidadãos incluídos no mesmo alis-

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lamento em virtude de recurso, devendo ser passados os respec-l ivos títulos dentro do prazo de 5 dias, contados do em que sepublicar a decisão do juiz de direito ou da Relação.

Art. 55. Os títulos de eleitor extraídos de livros de talões,:;egundo o modelo junto sob n1? 2, serão assinados pêlos juizesdr direito que tiverem feito o alistamento e conterão, além daindicação da província, comarca, município, paráquia, distrito dep;i/ e quarteirão, o nome, idade, filiação, estudo, profissão, do-micí l io e renda do eleitor, salvas as exceções do art. 13, e onúmero e data do alistamento.

Conterão também a circunstância de saber ou não o eleitorler G escrever os novos títulos que se passarem, no l1? caso daú l t i m a parte do artigo antecedente e nos dos arts. 66 e 67, aoseleitores incluídos no 19 alistamento.

Art. 56. Os talões correspondentes aos títulos serão rubri-cados pêlos juizes de direito, e neles se escreverão: o número deordem no alistamento dos eleitores e o do título, e o nome do.'•leitor, declarando-se a paróquia e o distrito de paz a que elepertencer.

Art. 57. Os títulos serão extraídos e remetidos pêlos juizesde direito aos juizes municipais dentro do prazo de 30 dias con-tados do em que se tiver concluído o alistamento.

Os juizes municipais acusarão no mesmo dia ou no seguinteo recebimento destes títulos, cuja remessa, quanto aos muni-cípios, que não forem cabeças de comarca, será feita pelo correioMtb registro.

Art. 58. Quarenta e oito horas depois de terem recebido osreferidos títulos os juizes municipais convidarão, por edital, oseleitores compreendidos nos alistamentos dos respectivos muni-cípios, para irem receber aqueles títulos dentro de 30 dias, conta-dos da data do edital, nos lugares que para tal fim designarem,desde as 10 horas da manhã até às 4 da tarde.

No mesmo edital, que será afixado em lugar público, e,quando for possível, publicado pela imprensa, se farão estas de-clarações e se mencionarão os nomes dos eleitores convidados.

Art. 59. Nas comarcas especiais de um só juiz de direitoou de mais de um juiz de direito a entrega dos títulos aos elei-tores será feita pêlos juizes de direito que tiverem organizadou.s alistamentos.

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Neste caso procederão os mesmos juizes pelo modo estabe-lecido no artigo antecedente, devendo o edital a que se refere omesmo artigo ser publicado no dia seguinte ao em que se tiverconcluído a extração dos títulos.

Art. 60. Os títulos serão entregues aos próprios eleitores,que os assinarão à margem perante o juiz municipal, ou juiz dedireito, e em livro especial passarão recibo, com sua assinatura,sendo admitido a assinar pelo eleitor, que não puder escrever,outro por ele indicado.

Será também admitido a assinar pelo eleitor outro por eleindicado, quando, no 19 caso da última parte do art. 54 e nosdos arts. 66 e 67, se passar novo título a algum eleitor, incluí-do no 19 alistamento geral, que não souber ler e escrever.

Art. 61. Os títulos dos eleitores que não tiverem procura-do dentro do prazo designado para sua entrega serão remetidospelo juiz competente, com os livros dos recibos, ao tabelião ouescrivão de paz que houver feito o registro do respectivo alista-mento, o qual os conservará sob sua guarda, a fim de entregaros mesmos títulos quando forem solicitados pêlos próprios elei-tores, satisfeita por estes a exigência do artigo antecedente, esendo assinados o título e o recibo deste perante o mesmo ta-belião ou escrivão.

Art. 62. Quando o juiz municipal ou juiz de direito re-cusar ou demorar por qualquer motivo a entrega do título pode-rá o próprio eleitor, por simples requerimento, recorrer do juizmunicipal para o juiz de direito, ou deste para o ministro doimpério na corte, e nas províncias para os presidentes.

Art. 63. Nos casos do artigo antecedente o juiz de direito,ou o ministro do império na corte, e os presidentes nas provín-cias, dentro de 24 horas, farão tirar cópia do requerimento edos documentos que o acompanharem, e mandarão por despa-cho que o juiz recorrido responda, o que este deverá fazer den-tro de igual prazo, contado da hora em que houver recebidoo requerimento, e que será certificada pelo agente do correioou pelo oficial de justiça encarregado da entrega.

Art. 64. Com a resposta do juiz recorrido, ou sem ela, serádecidido o recurso dentro do prazo de cinco dias, contados dorecebimento da mesma resposta, ou da data em que esta deve-ria ter sido dada.

§ 19 No caso de não terem sido recebidos os papéis dorecurso com a resposta do juiz recorrido, ou sem ela, no prazo

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de 24 horas nos termos do artigo antecedente, será o recursodecidido à vista das cópias dos mesmos papéis, às quais se refereo dito artigo.

§ 29 Quando for distante a residência do juiz recorrido,o prazo de cinco dias para a decisão do recurso, em qualquerdas hipóteses mencionadas, será contado do dia em que os pa-péis do recurso deveriam ter sido recebidos daquele juiz, con-forme a distância, calculada na razão de 24 quilómetros por dia.

Art. 65. No caso de recusa ou demora na entrega do títu-lo pelo tabelião ou escrivão de paz que o tiver sob sua guardahaverá recurso, pelo modo estabelecido nos três artigos ante-cedentes, para o juiz de direito na cabeça da comarca, e foradesta para o respectivo juiz municipal.

Nas comarcas especiais de mais de um juiz de direito esterecurso poderá ser interposto pelo eleitor ou para o juiz de di-reito que tiver organizado o respectivo alistamento, ou para odo l? distrito criminal.

Art. 66. No caso de perda de título poderá o eleitor re-querer ao competente juiz de direito novo titulo, à vista de jus-tificação daquela perda, com citação do promotor público, e decertidão do seu alistamento.

§ l? O despacho do juiz de direito será proferido no prazode 48 horas; e, se for negativo, haverá recurso para o ministrodo império na corte, ou nas províncias para os presidentes.

Este recurso será decidido no prazo de cinco dias.§ 2^ No novo título e no respectivo talão se fará declara-

ção da circunstância de ser segunda via, e do motivo pelo qualfoi passado.

No mesmo sentido se fará declaração no talão, do qual tiversido extraído o título substituído pelo novo.

Art. 67. Também no caso de verificar-se erro no título dealgum eleitor será passado a este novo título, procedendo-se pelomesmo modo e cabendo o mesmo recurso estabelecido no artigoantecedente.

Art. 68. Proferida pelo juiz de direito ou pela Redação adecisão que eliminar do alistamento da comarca algum eleitorpor qualquer dos motivos especificados no § 19 do art. 17, comexceção somente do da mudança de domicílio para fora da co-marca, o juiz de direito ordenará o recolhimento do título an-

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teriormente conferido ao eleitor, publicando para este fim edi-tal com declaração de estar nulo o mesmo título; e, recolhidoeste, o mandará arquivar no cartório do tabelião ou escrivão quehouver feito o registro do respectivo alistamento, lançando-se notítulo e no correspondente talão a declaração de ficar aqueleinutilizado em virtude da referida decisão.

No caso de ter sido proferida esta decisão pelo juiz dedireito e de a reformar a Relação por via de recurso aquele juizpassará novo título ao eleitor.

Art. 69. Os títulos dos eleitores que, nos termos dos arts.34, última parte n<? l, e 67, forem substituídos por títulos novosserão no ato da entrega destes recolhidos e arquivados no car-tório do tabelião ou escrivão a que se refere o artigo antece-dente, fazendo-se nos mesmos títulos a declaração do motivoda substituição.

CAPÍTULO VDos Recursos

Art. 70. As decisões dos juizes de direito incluindo ou nãocidadão no alistamento dos eleitores, ou eliminando ou não elei-tores dos respectivos alistamentos, serão definitivas. Delas po-rém caberá recurso para a Relação do distrito, sem efeito sus-pensivo.

Art. 71. Compete este recurso:No caso de inclusão indevida no alistamento

eleitor da comarca.a qualquer

No de não inclusãoferida a decisão.

ao cidadão contra o qual for pro-

No de eliminação — ao eleitor eliminado.No de não eliminação; l? ao promotor público ou seu ad-

junto, ou aos eleitores que, nos termos do art. 41, tiverem re-querido a eliminação; 29 ao eleitor não eliminado, quando nostermos do mesmo artigo tiver sido por ele próprio requerida asua eliminação.

Art. 72. O mesmo recurso caberá ao eleitor cujo requeri-mento, a fim de ser transferido o seu nome, nos termos do art.33, para o alistamento de outra paróquia, distrito de paz ouseção da mesma comarca por mudança de seu domicílio, tiversido indeferido.

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Art. 73. Em qualquer dos casos dos artigos antecedentes,qm-r seja interposto o recurso pelo próprio cidadão ou eleitornmlra quem for proferida a decisão, quer pelo promotor públi-co ou seu adjunto ou por outros eleitores a quem esse direitocompete, cada recurso se referirá sempre a um só indivíduo.

Art. 74. Os recursos serão interpostos por meio de reque-rimentos assinados pêlos recorrentes ou por seus especiais pro-curadores.

No prazo de 30 dias, contados da data da publicação dasdecisões quanto às inclusões ou nào inclusões e às não elimi-nações, bem como quanto à não transferência dos nomes deeleitores de uns para outros alistamentos da mesma comarca,no caso do art. 72.

Em todo tempo — quanto às eliminações.§ 19 Os recursos interpostos serão tomados por termo la-

vrado pelo escrivão do júri, independentemente de despacho, emlivro especial, em que posteriormente serão transcritas as deci-sões que sobre eles forem proferidas.

§ 2° Interpondo estes recursos, os recorrentes alegarão asrazões e juntarão os documentos que entenderem ser a bem doseu direito.

Art. 75. No prazo de 10 dias, contados do recebimento dosrecursos, os juizes de direito reformarão ou confirmarão as suasdecisões; e no último caso o recorrente fará seguir o processopara a Relação sem acrescentar razões, nem juntar novos do-cumentos.

Para este fim será o processo entregue sem demora ao re-corrente, que dará recibo ao escrivão. Se porém o recorrentepreferir e requerer que a remessa seja feita pelo escrivão,este enviará o processo à Relação pelo correio, sob registro noprazo de três dias. Do processo não ficará translado.

Art. 76. Findo o prazo de 10 dias de que trata o artigoantecedente, sem ter o juiz de direito proferido despacho refor-mando ou confirmando sua decisão, o recorrente requererá aentrega do processo a fim de o fazer seguir para a relação dodistrito, e, quando lhe não seja possível obtê-lo, terá o H i rei tode renovar o seu recurso para aquele tribunal, interpundo-o,pelo mesmo modo estabelecido no § l? do art. 74, dentro de30 dias contados do em que tiver terminado o sobredito prazode 10 dias.

-11!)

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Art. 77. Em virtude e de conformidade com as decisõespelas quais, nos termos do art. 75, tiverem reformado as ante-riormente proferidas, os juizes de direito, dentro dos cinco diasseguintes aos 10 marcados no dito artigo, organizarão pelo mes-mo modo estabelecido no art. 35 quatro listas contendo: uma— os nomes dos cidadãos novamente incluídos no alistamento;outra — os dos excluídos deste; outra — os dos eleitores ulti-mamente eliminados do mesmo alistamento; e outra — os doseleitores, cuja anterior eliminação tiver ficado sem efeito pelasnovas decisões.

§ l? Destas listas os juizes de direito farão extrair e re-meter, dentro do mesmo prazo de cinco dias, às autoridades efuncionários designados no art. 48, para os fins aí declarados,as necessárias cópias.

§ 29 As decisões, em virtude das quais tiverem sido orga-nizadas as referidas listas, serão publicadas, pelo modo estabe-lecido no art. 50, na cabeça da comarca, dentro dos mesmos cin-co dias, e nos outros municípios no prazo de 48 horas marcadono mesmo artigo.

§ 39 As mencionadas decisões serão registradas de con-formidade com as disposições da seção 3? do Cap. 3? concer-nentes ao registro geral do alistamento, e delas dará o juiz co-nhecimento ao escrivão do júri para o fim declarado no § 19do art. 74.

Art. 78. No caso de reformarem os juizes de direito assuas decisões, nos termos do art. 75, terão o direito de inter-por das novas decisões para a Relação do distrito o mesmorecurso estabelecido no art. 70:

O cidadão que, tendo sido incluído no alistamento, for des-te excluído pela reforma da decisão;

Qualquer eleitor da comarca no caso de ser incluído noalistamento algum cidadão cujo direito de ser eleitor não tives-se sido reconhecido pela decisão reformada;

O eleitor eliminado do alistamento da comarca pela novadecisão;

O promotor público ou seu adjunto, ou os três eleitores deque trata o art. 41, quando for reformada a decisão pela qual,em virtude do requerimento por eles feito, tivesse sido elimi-nado do alistamento da comarca algum eleitor.

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Art. 79. Quanto à interposição e ao processo dos recursosde que trata o último artigo, serão observadas as disposiçõesdos artigos deste Capítulo com as seguintes alterações:

§ 19 O prazo de 30 dias para interposição do recurso serácontado do dia em que for publicada a decisão pela qual tiversido reformada a anterior.

§ 29 Nos 10 dias de que trata o art. 75, o juiz de direitosustentará, à vista das razões alegadas pelo recorrente, os fun-damentos de sua decisão e dirá o que julgar conveniente sobreos documentos apresentados pelo mesmo recorrente; não poderáporém reformar a decisão proferida. O processo seguirá para aRelação, observando-se a este respeito o disposto no mesmo ar*-Ugo.

Art. 80. Os recursos interpostos para a Relação serão jul-gados por todos os seus membros presentes, no prazo de 30rtias contados da data do recebimento dos processos na respec-t iva secretaria.

O presidente do tribunal não terá voto; e havendo empatena votação prevalecerá a decisão favorável ao direito contes-tado no recurso ou não reconhecido na decisão recorrida.

Nestes processos não terá lugar o pagamento de selo, nemde custas, exceto as dos escrivães, que serão cobradas pela me-tade.

Art. 81. Não é admissível suspeição de juizes no julga-mento dos recursos, salvos somente os casos determinados noart. 61 do Código do Processo Criminal, de serem os juizes ini-migos capitais ou íntimos amigos ou parentes consanguíneos ouafins, até ao 29 grau, de algumas das partes, ou particular-mente interessados na decisão da causa; e nestes casos são obri-gados os mesmos juizes a dar-se de suspeitos, ainda quando nãosejam recusados.

§ 19 No processo e julgamento das suspeições observar-se-ao as disposições que forem aplicáveis, dos arts. 138 e seguintesdo Título 39, cap. 29, seção 8? do Decreto n9 5.618, de 2 de maiode 1874.

§ 29 o tempo decorrido durante este processo e julga-mento não se computará no prazo marcado para o julgamentodos recursos.

Art. 82. As férias judiciais não interromperão os prazosestabelecidos relativamente à interposição e ao processo e jul-gamento dos recursos.

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Page 216: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

Ari. 81. Dentro do prazo de três dias da data do acórdãopeio qual for julgado o recurso o presidente da Relação reme-terá uma cópia do mesmo acórdão, na corte ao ministro doimpério, e nas províncias ao presidente; e outra ao juiz de direi-to de cuja decisão se houver interposto o recurso, sendo estaúltima cópia para os fins declarados nos parágrafos seguintes.

Esta mesma cópia será acompanhada dos documentos dosrecorrentes para os fins de que trata o art. 37.

§ 19 Dentro de três dias contados do recebimento da cópiado acórdão o juiz de direito: 19 fará publicá-la na sede da co-marca por editais afixados nas portas das matrizes e capelas, ouem outros lugares públicos, e, se for possível, pela imprensa;29 remeterá cópia do mesmo acórdão ao tabelião que tiverfeito o registro do alistamento da paróquia a que pertencer ocidadão a quem se referir o acórdão a fim de ser este registradosegundo o modelo n9 l.

§ 29 No mesmo prazo de três dias o juiz de direito envia-rá uma cópia do acórdão ao escrivão do júri para ser feita poreste a transcrição de um que trata o § 19 do art. 74, e outracópia ao juiz municipal do termo onde residir o cidadão a quema decisão se referir, excetuado o termo da cabeça da comarca.

O juiz municipal no prazo de 48 horas contado do recebi-mento da referida cópia, o qual acusará no mesmo dia ou noseguinte, a fará publicar na sede do município pelo modo de-clarado no parágrafo antecedente, e mandará proceder ao regis-tro do mesmo acórdão, de conformidade com o disposto no ditoparágrafo.

T Í T U L O IIDos Elegíveis e das Eleições

CAPITULO IDos Elegíveis e das Incompatibilídades

Art. 84. É elegível para os cargos de senador, deputado àassembleia geral, membro de assembleia legislativa provincial,vereador e juiz de paz todo cidadão que tiver as qualidadesrequeridas no Cap. 19 do Título 19 deste Regulamento para sereleitor, não se achando pronunciado em processo criminal, esalvas as disposições especiais dos parágrafos seguintes.

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§ 19 Requer-se:Para senador: a idade de 40 anos para cima, e a renda anual

de 1:600$ por bens de raiz, indústria, comércio ou emprego.Para deputado à assembleia geral: a renda anual de 800$

por bens de raiz, indústria, comércio ou emprego.Para membro de assembleia legislativa provincial: o domicí-

lio na província por mais de dois anos.Para vereador e para juiz de paz: o domicílio no município

e no distrito de paz por mais de dois anos.

§ 2° Os cidadãos brasileiros, em qualquer parte que exis-tam, são elegíveis em cada distrito eleitoral para deputados ousenadores, ainda quando aí não sejam nascidos, residentes oudomiciliados. (Const. art. 96.)

§ 39 O prazo de mais de dois anos de domicílio, exigidopara a eleição de membros de assembleia legislativa provincial,de vereador e de juiz de paz, será contado, quanto aos cidadãosnaturalizados, desde o tempo em que anteriormente tiverem fi-xado sua residência na província, no município ou no distritode paz.

§ 49 Os cidadãos naturalizados não são elegíveis para ocargo de deputado à assembleia geral sem terem seis anos deresidência no Império, depois da naturalização.

Este prazo será contado do dia em que os mesmos cidadãostiverem prestado o juramento ou a promessa que a Lei n9 1.950de 12 de julho de 1871 exige.

§ 59 Os prazos de domicílio ou residência, de que tratamos §§ 1^, 39 e 49, devem estar completo no dia da eleição, nãosendo necessária a continuidade do domicílio ou residência, con-tanto que, descontado o tempo das interrupções, fique preenchi-do o mesmo prazo.

Art. 85. Não podem ser votados para senador, deputadoà assembleia geral ou membro de assembleia legislativa pro-vincial:

I. Em todo o Império:

Os diretores gerais do tesouro nacional e os diretores dassecretarias de estado.

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rII. Na corte e nas províncias em que exercerem autorida-

de ou jurisdição:

Os presidentes de província;Os bispos em suas dioceses;Os comandantes de armas;Os generais em chefe de terra e mar;Os chefes de estações navais;Os capitães de porto;

Os inspetores ou diretores de arsenais;Os inspetores de corpos do exército;Os comandantes de corpos militares e-de polícia;Os secretários de governo provincial e os secretários de po-

lícia da corte e das províncias;

Os inspetores de tesourarias de fazenda gerais ou provin-ciais, e os chefes de outras repartições de arrecadação;

O diretor geral e os administradores dos correios;

Os inspetores ou diretores de instrução pública, e os lentese diretores de faculdades ou outros estabelecimentos de instru-ção superior;

Os inspetores das alfândegas;Os desembargadores;Os juizes de direito;Os juizes municipais, de órfãos, e os juizes substitutos;Os chefes de polícia;Os promotores públicos;Os curadores gerais de órfãos;Os desembargadores de relações eclesiásticas;Os vigários capitulares;Os governadores de bispado;Os vigários gerais, provisores e vigários forâneos;

Os procuradores fiscais, e os dos feitos da fazenda, e seusajudantes.

III. Nos distritos em que exercerem autoridade ou jurisdi-ção:

Os delegados e subdelegados de polícia.Art. 86. A incompatibilidade eleitoral prevalece:I. Para os referidos funcionários e seus substitutos legais,

que tiverem estado no exercício dos respectivos empregos den-tro de seis meses anteriores à eleição;

II. Para os substitutos que exercerem os empregos dentrodos seis meses, bem como para os que os precederem na ordemda substituição e deviam ou podiam assumir o exercício;

III. Para os funcionários efetivos, para os substitutos dosjuizes de direito nas comarcas especiais, e para os suplentes dosjuizes municipais, desde a data da aceitação do emprego ou fun-ção pública até seis meses depois de o terem deixado em virtudede remoção, acesso, renúncia ou demissão.

Art. 87. Também não poderão ser votados para senador,deputado à assembleia geral ou membro de assembleia legislati-va provincial os diretores de estradas de ferro pertencentes aoEstado, os diretores e engenheiros chefes de obras públicas, em-presários, contratadores e seus prepostos, arrematantes ou inte-ressados em arrematação de taxas ou rendimentos de qualquernatureza, obras ou fornecimentos públicos, ou em companhiasque recebam subvenção, garantia ou fiança de juros, ou qualquerauxílio, do qual possam auferir lucro pecuniário da fazenda ge-ral, provincial ou das municipalidades, naquelas províncias ondeexercem os ditos cargos, ou os respectivos contratos e arremata-ções tenham execução e durante o tempo deles.

A palavra — interessados — não compreende os acionistas.Art. 88. Os ministros e secretários de estado não poderão

ser votados para senador enquanto exercerem o cargo e até seismeses depois, salvo na província de seu nascimento ou domicílio.

Art. 89. O funcionário público de qualquer classe, queperceber pêlos cofres gerais, provinciais ou municipais, venci-mentos ou porcentagens, ou tiver direito a custas por atos de ofí-cios de justiça, se aceitar o lugar de deputado à assembleia ge-ral ou de membro de assembleia legislativa provincial, não po-derá, durante todo o período da legislatura, exercer o emprego

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ou cargo público remunerado que tiver, nem perceber venci-mentos ou outras vantagens, que dele provenham, nem contarantiguidade para aposentação ou jubílação, nem obter remoçãoou acesso em sua carreira, salvo o que lhe competir por anti-guidade.

§ l Os juizes de direito ficarão avulsos durante o períododa legislatura, e finda esta voltarão para as comarcas em quese achavam, se estiverem vagas, ou irão servir em comarcasequivalentes, que o governo lhes designará.

§ 2° A aceitação do lugar de deputado ou de membro deassembleia legislativa provincial importará para os juizes substi-tutos, nas comarcas especiais, e para os juizes municipais e deórfãos a renúncia deites cargos.

§ 3° O funcionário público compreendido na disposiçãodeste artigo, que aceitar o lugar de senador, será aposentadoou jubilado com o vencimento correspondente ao tempo de exer-cício que tiver, na forma da lei.

§ 4? Das disposições deste artigo excetuam-se:I. Os ministros e secretários de estado;II. Os conselheiros de estado;

III. Os bispos;

IV. Os embaixadores e os enviados extraordinários emmissão especial;

V. Os presidentes de província;

VI. Os oficiais militares de terra ou mar, quanto à anti-guidade e, nos intervalos das sessões, quanto ao soldo.

Art. 90. Não poderão os senadores e, durante a legislatu-ra e seis meses depois, os deputados à assembleia geral, salva adisposição do art. 34 da Constituição, nem os membros das as-sembleias legislativas provinciais, aceitar do governo geral ouprovincial comissões ou empregos remunerados, exceto os deconselheiros de estado, presidente de província, embaixador ouenviado extraordinário em missão especial, bispo, e comandan-te de forças de terra ou mar.

Não se compreendem nesta disposição as nomeações poracesso de antiguidade para emprego civil ou posto militar deterra ou mar.

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Não poderão também os senadores, os deputados à assem-bleia geral e os membros das assembleias legislativas provin-ciais obter a concessão, aquisição ou gozo de privilégios, contra-tos, arrematações de rendas, obras e fornecimentos públicos, em-bora a título de simples interessados.

Esta disposição não compreende os privilégios de invenção.

CAPITULO nDas eleições

Art. 91. As nomeações dos senadores e deputados para aassembleia geral, membros das assembleias legislativas provin-ciais, e quaisquer autoridades eletivas, serão feitas por eleiçõesdiretas, nas quais tomarão parte todos os cidadãos alistados elei-tores de conformidade com este Regulamento.

A eleição do Regente do Império continuará a ser feita naforma do Ato Adicional à Constituição Política pêlos eleitoresde que trata o dito Regulamento.

Art. 92. As eleições de senadores, deputados à assembleiageral, membros das assembleias legislativas provinciais, verea-dores e juizes de paz se farão:

l? Por paróquias, embora estejam divididas em distritosde paz, qualquer que seja o número dos eleitores nelas alista-dos, contanto que este número não exceda a 250;

21? Por distritos de paz, quando a paróquia a que os mes-mos distritos pertencerem contiver número de eleitores supe-rior a 250;

3? Por secções de paróquia ou de distrito de paz, quandoa paróquia formando um só distrito de paz, ou o distrito, conti-ver número de eleitores excedente a 250. Cada secção deveráporém conter 100 eleitores, pelo menos,

Art. 93. A paróquia ou distrito de paz, que compreenderterritório pertencente a mais de uma província ou distrito elei-toral, será dividida em secções de forma que cada uma destasse constitua somente com eleitores do distrito eleitoral a quepertencerem, contanto que contenha o número de eleitores de-terminado no artigo antecedente. Se porém não contiver essenúmero, os eleitores que pertencerem a distrito eleitoral diver-so do da paróquia, ou distrito de paz votarão nas nomeações de

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senadores, deputados à assembleia geral e membros das assem-bleias legislativas provinciais na paróquia, distrito de paz ou sec-ção mais vizinha do distrito eleitoral do qual fizerem parte.

Art. 94. O governo na corte e os presidentes nas provín-cias, com a precisa antecedência, farão a divisão das paróquias edos distritos de paz, devendo ser numeradas as secções, e desig-narão os edifícios em que se deverá proceder às eleições. Só emfalta absoluta de outros edifícios poderão ser designados paraeste fim os templos religiosos.

§ 19 A divisão de paróquia e distritos de paz e a designa-ção dos edifícios para as eleições serão comunicadas em devidotempo às câmaras municipais, e estas imediatamente darão co-nhecimento da divisão e designação referidas aos juizes de pazcompetente, os quais no dia seguinte as farão publicar por edi-tais afixados em lugares públicos das paróquias ou dos distritosde paz e das secções.

Será feita também pela imprensa na sede do município,sendo possível, a publicação dos ditos editais.

S 29 Quando a comunicação de que trata o parágrafo an-tecedente, quanto à designação dos edifícios, não for recebidaaté ao terceiro dia anterior àquele em que na conformidade doart. 124 dever ser publicado o edital de convocação dos eleito-res, o juiz de paz a quem competir a expedição do mesmo edital,de acordo com o juiz de direito ou com o juiz municipal ou quemsuas vezes fizer nos termos em que o primeiro não residir, de-signará um edifício situado dentro da paróquia ou do distrito depaz ou da secção para nele se proceder à eleição.

Embora seja recebida depois de publicado o dito edital co-municação do presidente da província de haver designado edifí-cio diverso, prevalecerá a designação do edifício feita pelo mes-mo juiz de paz, e nele se procederá aos trabalhos eleitorais.

Art. 95. A divisão feita das paróquias e dos distritos depaz será alterada depois das revisões anuais dos alistamentos doseleitores quando destas resultar aumento ou diminuição de elei-tores, que torne necessária a alteração, a fim de ser sempremantida a base estabelecida no art. 92 para a divisão das paró-quias e dos distritos de paz.

Art. 90. Excetuadas as eleições de vereadores e de juizesde paz, quaisquer outras eleições serão sempre feitas em dias di-versos e cada uma perante mesa especialmente organizada.

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SEÇAO l?

Da organização das Mesas Eleitorais

Art. 97. Em cada paróquia, distrito de paz ou secção seorganizará uma mesa para o recebimento, apuração dos votos emais trabalhos da eleição.

Art. 98. Nas paróquias ou distritos de paz a mesa eleito-ral se comporá do juiz de paz mais votado da sede da paróquiaou do distrito de paz, como presidente, e de quatro membros,que serão os dois juizes de paz que àquele se seguirem em votosie os dois cidadãos imediatos em votos ao 4? juiz de paz.

§ l? Em caso de ausência, falta ou impossibilidade do juizde paz mais votado exercerá as funções de presidente da mesao que se lhe seguir em votos até ao 4?

§ 29 Quando por ausência, falta ou impossibilidade nãocomparecer o 29 ou o 3? juiz de paz que devem ser membrosda mesa, será convidado o 49; e, se destes três juizes de pazsó comparecer um ou nenhum se apresentar, o presidente damesa convidará, para suprir as faltas, um ou dois eleitores den-.íre os presentes.

§ 3^ Se deixarem de comparecer os dois cidadãos imedia-tos em votos aos juizes de paz, que devem também compor amesa, ou algum deles, serão convocados um ou dois que àquelesse seguirem em votos, até ao 4? dos imediatos aos juizes de paz,sendo a falta destes últimos preenchida por eleitores dentre ospresentes, designados, no caso de faltarem ambos, pelo presi-dente, e, no caso de falta um, pelo imediato que tiver compare-cido.

§ 49 Nos casos e para os fins dos parágrafos antecedentes,se nenhum eleitor se achar presente, será designado e convida-do por ofício qualquer eleitor da paróquia ou do distrito de paz.

Art. 99. A mesa a que se refere o artigo antecedente seráconstituída na véspera do dia designado para a eleição que sehouver de fazer na paróquia ou no distrito de paz, reunindo-separa esse fim os competentes juizes de paz e imediatos, às 9horas da manhã, no edifício destinado para a mesma eleição.

§ 19 Quando não for possível constituir-se a mesa na vés-pera da eleição, terá lugar este ato no dia da eleição uma horaantes da marcada para o começo dos trabalhos eleitorais.

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S 29 O escrivão de paz lavrará em ato contínuo, no livroque tiver de servir para a dita eleição, a ata especial da forma-ção da mesa, a qual será assinada pelo presidente e demais mem-bros desta.

Na ata se mencionarão os nomes dos juizes de paz e dosimediatos que compareceram e dos que deixaram de comparecer,com declaração dos motivos; os nomes dos juizes de paz, dosimediatos ou dos eleitores que os tiverem substituídos; bem as-sim a apresentação dos fiscais dos trabalhos eleitorais de quetrata o art. 131; os nomes destes e os dos candidatos ou eleito-res que os tiverem apresentado; finalmente todos os incidentese ocorrências que houver. No fim da mesma ata se fará expressadeclaração dos nomes dos que tenham deixado de assiná-la e darazão da falta.

Art. 100. Para o fim de serem feitas as substituições deque tratam os parágrafos do art. 98 os juizes de paz e os seusimediatos que, nos termos do dito artigo, devem compor a mesa,são obrigados, se não puderem comparecer, a participar por es-crito até às 2 horas da tarde da véspera do dia da eleição oimpedimento que tiverem, sob a pena de § 14 do art. 232 desteregulamento.

Só poderão ser substituídos depois de recebida a participa-ção, ou depois das 2 horas da tarde, no caso de não ser ela feita.

Art. 101. Nas secções de paróquia que contiver um só dis-trito de paz, ou nas dos distritos de paz, a mesa eleitoral se com-porá de um presidente e de quatro membros, os quais serão no-meados: o presidente e dois destes membros pêlos juizes de pazda sede da paróquia ou do distrito, e os outros dois pêlos ime-diatos dos mesmos juizes de paz, salvos os casos e disposiçõesdos dois parágrafos seguintes.

§ 1 A mesa eleitoral da secção da paróquia ou do distritode paz onde estiver a sede da paróquia se comporá dos juizesde paz desta sede e seus imediatos, de conformidade com o art.98 e seus parágrafos.

§ 2? Do mesmo modo a mesa eleitoral da secção de distri-to de paz (não sendo este o da sede da paróquia), na qual secontiver o maior número dos eleitores do distrito, se comporádos juizes de paz e imediatos a estes nos termos do citado art.98 e seus parágrafos.

Art. 102. As nomeações de que trata o artigo antecedenteserão feitas dentre os eleitores da secção respectiva três dias

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antes do marcado para a eleição, no edifício designado para ada paróquia ou do distrito.

Basta o comparecimento de um dos juizes de paz e de umdos imediatos para se proceder às mesmas nomeações.

Art. 103. Para as ditas nomeações o juiz de paz mais vo-tado da paróquia ou do distrito de paz convocará os referidosjuizes de paz e seus quatro imediatos, com a antecedência de15 dias, por ofício ou notificação, e por edital que será afixadoem lugar público, e, sendo possível, publicado pela imprensa,declarando-se que a reunião se efetuará no edifício designado,às 9 horas da manhã.

§ l? Ao mesmo juiz de paz cumpre fazer no tempo próprioa dita convocação ainda que não tenha recebido a competenteordem para a eleição e requisitar da câmara municipal as ne-cessárias providências.

§ 2? Em caso de ausência, de falta ou impossibilidade dojuiz de paz mais votado, ou de deixar o mesmo juiz por qualquermotivo de fazer a convocação, cumprirá este dever o primeirodos seus substitutos legais, no prazo de 24 horas, contadas dasnove horas do dia em que devia ter sido publicado o edital daconvocação, cabendo, no caso de igual falta do 29 juiz de paz,a qualquer dos juizes que se lhe seguirem em votos desempe-nhar imediatamente o mesmo dever. O tempo que assim decor-rer até realizar-se o ato da convocação será computado nos 15dias marcados neste artigo.

§ 3° Embora se tenha deixado de fazer a convocação porqualquer motivo até ao dia marcado para a nomeação das me-sas, deverão todavia os competentes juizes de paz e seus imedia-tos comparecer no dia e no edifício próprios e proceder àqueleato.

Art. 104. Reunidos os juizes de paz e os imediatos destessob a presidência do juiz de paz mais votado, e presente o escri-vão de paz, proceder-se-á à nomeação do presidente e dos mem-bros da mesa ou das mesas das secções segundo a ordem danumeração destas, observando-se as disposições dos parágrafosseguintes:

§ l? Em primeiro lugar votarão os juizes de paz, entregan-do cada um duas cédulas fechadas de todos os lados e não as-sinadas, as quais serão recolhidas em urna contendo uma delaso nome de um eleitor para presidente, e a outra os nomes de

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dois eleitores para membros da mesa. A 1 terá o rótulo — parapresidente —, e a 2? — para membros da mesa —.

§ 2<> Serão lidas pelo juiz de paz presidente e apuradasprimeiramente as cédulas que tiverem o rótulo — para presiden-te —, e o mesmo juiz publicará sem interrupção os nomes doscidadãos votados e o número dos votos de cada um, declarandopresidente da mesa o que obtiver a pluralidade relativa de votos.

Do mesmo modo se procederá em seguida à leitura e apura-ção das cédulas que tiverem o rótulo — para membros da me-sa —, e à declaração dos dois eleitores nomeados membros damesa.

§ 3? Em ato sucessivo votarão os imediatos dos juizes depaz, entregando cada um deles uma cédula contendo os nomesde dois eleitores, e com o rótulo — para membro da mesa —,observando-se as disposições do parágrafo antecedente.

§ 4? Se algum dos juizes de paz ou dos seus imediatos con-vocados comparecer depois da entrega das cédulas, mas antes dedar-se começo à apuração destas, será admitido a votar.

§ 59 Se, feita a apuração das cédulas, entregues pelo juizde paz ou pêlos imediatos, para a nomeação de membros da me-sa, verificar-se ter sido votado um só nome.

§ 6*? Havendo igualdade de votação, nos casos dos pará-grafos antecedentes, proceder-se-á logo ao desempate pela sorte.

§ 7? São aplicáveis à apuração das referidas cédulas asdisposições do art. 147 §§ l1?, 2? e 4? parte l?

§ 8? Nenhum dos juizes de paz, nem dos imediatos queo art. 98 designa para serem membros efetivos das mesas eleito-rais das paróquias e dos distritos de paz, ou para suprirem asua falta, poderá ser nomeado membro da mesa de secção aindaque esteja compreendido como eleitor na parte do alistamentocorrespondente a esta circunscrição.

No caso de ser feita tal nomeação ficará sem efeito, e pro-ceder-se-á a nova nomeação pelo modo estabelecido no § 5?

Art. 105. Da nomeação do presidente e dos membros damesa eleitoral, logo que for concluída, o escrivão de paz lavraráata especial no livro que tiver de servir para a eleição da res-pectiva secção, devendo ser assinada pêlos juizes de paz e seusimediatos que tiverem comparecido.

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Nesta ata serão mencionados os nomes de todos os votadospara presidente e membros da mesa, e o número de votos dadosa cada um; os nomes dos juizes de paz e dos imediatos que nãocompareceram, com declaração dos motivos e os nomes dos quecompareceram e votaram; finalmente todos os incidentes e ocor-rências que houver. No fim da mesma ata se fará expressa de-claração dos nomes dos juizes de paz e imediatos que tenhamdeixado de assiná-la e da razão da falta.

Art. 106. Aos nomeados presidente ou membros da mesa,que não se acharem presentes ao ato, o juiz de paz comunicaráimediatamente por ofício a sua nomeação para o fim declaradono artigo seguinte.

Art. 107. Na véspera do dia designado para a eleição seinstalará a mesa, reunindo-se o presidente e os membros destasàs 9 horas da manhã no edifício da secção em que a eleição sehouver de fazer, sendo os que faltarem substituídos pelo mododeterminado no art. 135.

§ l1? Quando não for possível a instalação da mesa na vés-pera da eleição, terá lugar este ato no dia da eleição uma horaantes da marcada para o começo dos trabalhos eleitorais.

§ 2? Pelo escrivão de paz será lavrada no livro que tiverde servir para a eleição a ata especial da instalação da mesa,a qual será assinada pelo presidente e pêlos membros da mesaconstituída.

Nesta ata se mencionarão os nomes dos que se apresenta-ram, dos que não compareceram, declarando-se os motivos, e doseleitores que substituíram os últimos; a apresentação dos fiscaisdos trabalhos eleitorais, de que trata o art. 131; os nomes delese os dos candidatos ou eleitores que os tiverem apresentado;bem assim todas as ocorrências e incidentes que houver; final-mente se fará expressa declaração dos que tenham deixado deassiná-la e da razão da falta.

Art. 108. Para o fim de se fazerem as substituições de quetrata o artigo antecedente o presidente ou qualquer dos mem-bros da mesa que não puder comparecer é obrigado a participarpor escrito, até às duas horas da tarde da véspera do dia daeleição que se houver de fazer na secção, o impedimento quetiver, sob a pena do § 14 do art. 232 deste Regulamento.

Só poderão ser substituídos depois de recebida a participa-ção, ou depois das duas horas da tarde, no caso de não ser elafeita.

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Art. lOg A falta do escrivão de paz para os trabalhos quelhes são incumbidos relativamente à constituição das mesas elei-torais será suprida pelo escrivão da subdelegacia de polícia, e afalta deste pei0 cidadão que para tal fim for nomeado e jura-mentado pel0 juiz de paz competente para presidir à composiçãoou nomeaça0 da mesa, ou pelo presidente nomeado.

Quando a afluência de trabalhos o exigir, o mesmo juiz depaz ou pressente, à requisição do escrivão, nomeará e juramen-tara cidadaos que a este auxiliem.

Art. lio O juiz de paz ou o presidente a quem se refereo artigo antece(jente, poderá requisitar, para os serviços concer-nentes a constituição das mesas, às autoridades competentes osoficiais de Justiça necessários, e, na falta destes empregados, no-mear e jura.mentar pessoas para esse fim.

Art. ll\ ]\ja paróquia que ainda não tiver juizes de paz,por não se haver procedido à eleição destes depois da criaçãoda mesma fiaróquia, a respectiva mesa eleitoral será nomeadapêlos juizes de paz e imediatos do distrito da sede da paróquiada qual tive^ sjdo desmembrado o seu território.

§ l" No caso de se dever fazer a eleição na nova paróquiapor distrito^ de paz ou por secções da paróquia ou de distritonos termos dos n.<>K 2<J e 39 do art. 92, em razão de exceder a250 o númet-0 de seus eleitores, as mesas eleitorais dos diversosdistritos e secções serão nomeadas pêlos mesmos juizes de paze imediatos do distrito da sede da antiga paróquia.

§ 2 9 Se o território da nova paróquia tiver sido desmem-brado de du^s ou mais paróquias e se o número de eleitores nelaalistados nã<^ exceder a 250, nomearão a respectiva mesa eleito-ral os juizes de paz e imediatos do distrito da sede daquela dasantigas paróquias da qual tiver sido desmembrada a parte doterritório da, nova paróquia, que contiver o maior número doseleitores alijados nesta.

§ 3? Se no caso do parágrafo antecedente houver de fa-zer-se a eleição na nova paróquia por distritos de paz ou por sec-ções da paráquia ou de distrito nos termos dos n.03 2 e 3 do art.92, em raza^ de exceder a 250 o número de seus eleitores, amesa eleitor^ de cada distrito ou secção será nomeada pêlos jui-zes de paz ^ imediatos do distrito da sede da antiga paróquiada qual tiveï^ Sid0 desmembrado o território que formar o distri-to ou a

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Se o distrito ou a secção abranger territórios desmembradosde duas ou mais paróquias, a mesa eleitoral do distrito ou da.secção será nomeada pêlos juizes de paz e imediatos do distritoda sede da antiga paróquia à qual houver pertencido a partedaqueles territórios, que contiver o maior número dos eleitoresalistados no mesmo distrito ou secção.

Art. 112. As disposições do artigo e parágrafos antece-dentes não são aplicáveis: l? à nova paróquia constituída comum só distrito de paz desmembrado integralmente de outra paró-quia; 2^ aos distritos de paz de paróquia nova, nos quais, nostermos do n? 29 do art. 92, se deva proceder a eleições, se taisdistritos tiverem sido integralmente desmembrados de outra oude outras paróquias.

Nestes casos, continuando a servir na nova paróquia e na-estes novos juizes de paz, mas pêlos eleitos na última eleiçãona última eleição geral, comporão estes e seus imediatos as res-pectivas mesas para qualquer eleição que se haja de fazer.

Art. 113. Na paróquia novamente criada, na qual, em vir-tude de sua criação, já se tiver procedido à eleição dos respecti-vos juizes de paz, comporão estes juizes e seus imediatos a res-pectiva mesa eleitoral para qualquer eleição que nela se haja defazer.

Art. 114. Quando, em virtude de nova divisão ou incorpo-ração de distritos, se tiver já procedido nestes à eleiçãodos respectivos juizes de paz, as mesas dos mesmos distritos paraqualquer eleição que se haja de fazer serão organizadas não porestes novos juizes de paz, mas pêlos eleitores na última eleiçãogeral de juizes de paz, de conformidade com as disposições dosparágrafos seguintes:

§ 19 No caso de incorporação de distritos, sendo um desteso da sede da paróquia, os juizes de paz do antigo distrito da sedecomporão a mesa do novo distrito.

§ 29 No caso de ser dividido o distrito em que se achar asede da paróquia os juizes de paz do antigio distrito comporãoa mesa do novo, que continuar a ser o daquela sede, e nomearãoa mesa do outro novo distrito.

§ 39 No caso de abranger a nova divisão territórios per-tencentes a dois ou mais distritos sendo um destes o em que es-tiver a sede da paróquia, os juizes de paz do antigo distrito da-quela sede comporão a mesa do distrito que continuar a ser o damesma sede e nomearão as mesas dos outros novos distritos.

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H t rïaso ^e incorPoraç,ao de distritos, não sendo al-gum destes o aa sede ^g paróqujai comporão a mesa do novodistrito os JU126S de paz daquele dos antigos distritos que, naordem de sua numeraça0) tinna 0 aigarismo inferior.

, \ , ^so de ser dividido o distrito, não sendo o dasede da paroqula Qg juizes de paz do antig0 distrito comporãoa mesa daquele (jos novos distritos, ao qual, na ordem de suanumeração, se der algarismo inferior, e nomearão as mesas dosoutros novos distritos

s o- J\o caSo de abranger a nova divisão territórios perten-centes a dois ou mais distritos, não sendo algum destes o da se-de da paroquia, Os ju;zes de paz e imediatos daquele dos antigosdistritos que, na ordem de sua numeração, tinha o algarismo in-lerior, comporão a mesa do novo distrito que continuar a serdesignado por esSe mesmo algarismo, e nomearão as mesas dosoutros novos

Art 1 1 S ii. ±i<j. ^ara as e}eiçoes de novos juizes de paz, as quais^ïP ilVPT* M P Vir*or» —oç wvGi uc H^^eder em virtude da divisão ou incorporação dedistritos as mes9s eiejtorais se constituirão segundo as disposi-ções dos paragrafos do arügo antecedente.

r h ' •* \ ^a paróquia ou no distrito de paz em que nãotiver navido clcïçüo de juizes de paz na época legal) ou nouversido anulada a Ultjma eleição, os juizes de paz do quatriênio fin-

o, enquanto c°nservarem a jurisdição, e os seus imediatos serãoos competentes para Comp0r ou n0mear as mesas eleitorais.

, - F '. f . , A convocação dos juizes de paz e imediatos dequatriênio lindo u caso do arü antecedente, ou de juizes den íi 7 p iTYiPfiiíí tn^ Hi •+ • „. ,Ue quatriênio e expirar, para a nomeação de mesasfMíïlTnfíl l C T i r ^ Q r - 6 *-eieiiuidis, ncara Sem efeitO) se antes do dia desta nomeação en-trarem em exercício os juizes de paz novamente eleitos. Em talcaso serão estes uitjmos e seus imediatos os competentes paraaquele ato, íazen(j0 para este fim 0 juiz de paz mais votado dosnovamente eleitos outra convocação para o mesmo dia já desig-

_ ~f Poren> por qualquer motivo não for feita a nova convo-cação, deverão os novos juízes de az na Obstante esta falta,concorrer ao ato. r

Art 1 1 S x-' ~r Não poderão concorrer para a composição ounomeação das mesas eleitorais os juízes de paz que ainda nãotiverem sido jurarnentados.

juiz de p9z a quem ainda não tiver sido deferido jura-mento peia camara municipal, poderá prestá-lo perante qualquer436

autoridade local e, em último caso, na própria mesa, fazendo-sena ata menção especial deste fato.

Art. 119. Os juízes de paz deverão concorrer para for-mar ou nomear as mesas eleitorais que estejam ou não em exer-cício, estejam embora suspensos por ato do governo ou por pro-núncia em crime de responsabilidade.

Esta disposição é extensiva aos quatro imediatos aos mesmosjuízes de paz na parte que lhes for aplicável.

Art. 120. Não se compreende na disposição do artigo an-tecedente e portanto não poderá concorrer para formar ou no-mear a mesa eleitoral o juiz de paz que estiver pronunciado porcrime que não seja de responsabilidade, ou condenado por sen-tença passada em julgado por qualquer crime.

Art. 121. No caso de apelação, como efeito devolutivosomente, de sentença absolutória de crime que não seja de res-ponsabilidade, deixando de produzir seus efeitos a pronúncia, nãofica incumbido, por tal apelação, o juiz de paz absolvido deconcorrer ao ato da formação ou nomeação das mesas.

Art. 122. Antes de estar constituída a mesa eleitoral com-pete ao juiz de paz que presidir ao ato deliberar sobre qualquerocorrência e decidir as dúvidas que porventura se suscitem, per-mitindo-se somente breves e resumidas observações ou esclare-cimentos sobre a dúvida ocorrida. Constituída a mesa porém, de-ve o mesmo juiz de paz ou o seu presidente conformar-se como voto da maioria nas deliberações que à mesma mesa coube-rem, salvo o direito de fazer inserir seu voto na ata.

Art. 123. Constituída a mesa eleitoral a que se refere oart. 98, ou nomeada a de que trata o art. 101, ficarão suspensos,até que se conclua a eleição que perante ela se houver de fazer,os processos cíveis em que os seus membros forem autores 04réus, se o quiserem, assim como durante o mesmo tempo não sepoderão intentar contra eles novos processos crimes, salvo o casode prisão em flagrante delito.

SEÇÃO 2?Do Processo Eleitoral em Geral

Art. 124. Um mês antes do dia marcado para a eleiçãoa que se tiver de proceder o juiz de paz a quem competir, nostermos dos arts. 98 e 104, presidir à organização da mesa eleito-

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§ 4*? No caso de incorporação de distritos, não sendo al-gum destes o da sede da paróquia, comporão a mesa do novodistrito os juizes de paz daquele dos antigos distritos que, naordem de sua numeração, tinha o algarismo inferior.

§ 5*? No caso de ser dividido o distrito, não sendo o dasede da paróquia, os juizes de paz do antigo distrito comporãoa mesa daquele dos novos distritos, ao qual, na ordem de suanumeração, se der algarismo inferior, e nomearão as mesas dosoutros novos distritos.

§ 6*? No caso de abranger a nova divisão territórios perten-centes a dois ou mais distritos, não sendo algum destes o da se-de da paróquia, os juizes de paz e imediatos daquele dos antigosdistritos que, na ordem de sua numeração, tinha o algarismo in-ferior, comporão a mesa do novo distrito que continuar a serdesignado por esse mesmo algarismo, e nomearão as mesas dosoutros novos distritos.

Art. 115. Para as eleições de novos juizes de paz, as quaisse tiver de proceder em virtude da divisão ou incorporação dedistritos as mesas eleitorais se constituirão segundo as disposi-ções dos parágrafos do artigo antecedente.

Art. 116. Na paróquia ou no distrito de paz em que nãotiver havido eleição de juizes de paz na época legal, ou houversido anulada a última eleição, os juizes de paz do quatriênio fin-do, enquanto conservarem a jurisdição, e os seus imediatos serãoos competentes para compor ou nomear as mesas eleitorais.

Art. 117. A convocação dos juizes de paz e imediatos dequatriênio findo no caso do artigo antecedente, ou de juizes depaz e imediatos de quatriênio e expirar, para a nomeação de mesaseleitorais, ficará sem efeito, se antes do dia desta nomeação en-trarem em exercício os juizes de paz novamente eleitos. Em talcaso serão estes últimos e seus imediatos os competentes paraaquele ato, fazendo para este fim o juiz de paz mais votado dosnovamente eleitos outra convocação para o mesmo dia já desig-nado. Se porém por qualquer motivo não for feita a nova convo-cação, deverão os novos juizes de paz. não obstante esta falta,concorrer ao ato.

Art, 118. Não poderão concorrer para a composição ounomeação das mesas eleitorais os juizes de paz que ainda nãotiverem sido juramentados.

O juiz de paz a quem ainda não tiver sido deferido jura-mento pela câmara municipal, poderá prestá-lo perante qualquer

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autoridade local e, em último caso, na própria mesa, fazendo-sena ata menção especial deste fato.

Art. 119. Os juizes de paz deverão concorrer para for-imir ou nomear as mesas eleitorais que estejam ou não em exer-cício, estejam embora suspensos por ato do governo ou por pro-núncia em crime de responsabilidade.

Esta disposição é extensiva aos quatro imediatos aos mesmosjuizes de paz na parte que lhes for aplicável.

Art. 120. Não se compreende na disposição do artigo an-tecedente e portanto não poderá concorrer para formar ou no-mear a mesa eleitoral o juiz de paz que estiver pronunciado porcrime que não seja de responsabilidade, ou condenado por sen-tença passada em julgado por qualquer crime.

Art. 121. No caso de apelação, como efeito devolutivo.somente, de sentença absolutória de crime que não seja de res-ponsabilidade, deixando de produzir seus efeitos a pronúncia, nãofica incumbido, por tal apelação, o juiz de paz absolvido deconcorrer ao ato da formação ou nomeação das mesas.

Art. 122. Antes de estar constituída a mesa eleitoral com-pete ao juiz de paz que presidir ao ato deliberar sobre qualquerocorrência e decidir as dúvidas que porventura se suscitem, per-mitindo-se somente breves e resumidas observações ou esclare-cimentos sobre a dúvida ocorrida. Constituída a mesa porém, de-ve o mesmo juiz de paz ou o seu presidente conformar-se como voto da maioria nas deliberações que à mesma mesa coube-rem, salvo o direito de fazer inserir seu voto na ata.

Art. 123. Constituída a mesa eleitoral a que se refere oart. 98, ou nomeada a de que trata o art. 101, ficarão suspensos,até que se conclua a eleição que perante ela se houver de fazer,os processos cíveis em que os seus membros forem autores ou,réus, se o quiserem, assim como durante o mesmo tempo não sepoderão intentar contra eles novos processos crimes, salvo o casode prisão em flagrante delito.

SEÇÃO 2?Do Processo Eleitoral em Geral

Art. 124. Um mês antes do dia marcado para a eleiçãoa que se tiver de proceder o juiz de paz a quem competir, nostermos dos arts. 98 e 104, presidir à organização da mesa eleito-

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ral da paróquia, do distrito de paz ou da secção convocará poreditais afixados nos lugares públicos, e, sendo possível, publica-dos pela imprensa, os eleitores a fim de darem os seus votos,reunindo-se naquele dia às nove horas da manhã no edifício de-signado para a eleição.

Ainda que o juiz de paz não tenha recebido a competenteordem, cumpre-lhe no tempo marcado fazer a dita convocação,requisitando da câmara municipal as necessárias providências.

Art. 125. Em caso de ausência, de falta ou impossibili-dade do juiz de paz mais votado, ou de deixar o mesmo juiz porqualquer motivo de fazer a convocação dos eleitores, será estafeita pelo primeiro dos seus substitutos legais, no prazo de 24horas contadas das nove horas do dia em que devia ter sidopublicado o respectivo edital. No caso de faltar também o 2? juizde paz, compete a qualquer dos juizes que se lhe seguirem emvotos fazer imediatamente a referida convocação. O tempo queassim decorrer até realizar-se o ato da convocação será compu-tado no prazo de um mês marcado no artigo antecedente.

Qualquer que seja a redução assim feita no dito prazo pelademora da convocação no caso deste artigo, proceder-se-á, nãoobstante, à eleição, cabendo à autoridade competente para co-nhecer da validade desta atender e apreciar a importância dafalta de cumprimento da referida formalidade.

Art. 126. No dia e no edifício designados para a eleição,reunida a mesa eleitoral instalada na véspera ou no caso aque se referem o § 19 do art. 99 e o § 19 do art. 107, no dia daeleição, começarão os trabalhos desta às nove horas da manhã.

§ l? A falta de comparecimento do presidente ou de ou-tros membros da mesa será preenchida pelo modo estabelecidono art. 135.

§ 2? São dispensadas as cerimónias religiosas e a leitura dedisposição de lei ou regulamento, como se praticava anterior-mente.

§ 3? O lugar onde dever funcionar a mesa será separado,por uma divisão, do recinto destinado à reunião da assembleiaeleitoral, mas de modo que não se impossibilite aos eleitores ainspeção e fiscalização dos trabalhos.

Dentro daquele espaço só poderão entrar os eleitores à me-dida que forem chamados para votar.

§ 49 Na mesa, que deverá ser colocada no dito recinto,tomarão assento: à cabeceira op residente, e de um e outro lado438

os quatro mesários, seguindo-se os fiscais de que se trata noart. 131.

Dentre os mesários o presidente designará um para servirde secretário, e outro para fazer a chamada, podendo incumbiresta função aos outros mesários sucessivamente, se for neces-sário.

Art. 127. Quando na véspera, ou, não sendo possvel, nodia da eleição até à hora marcada para o começo dos trabalhosnão se puder instalar a mesa eleitoral, não haverá eleição na pa-róquia, distrito de paz ou seção.

Art. 128. Deixará também de haver eleição na paróquia,distrito de paz ou secção onde por qualquer outro motivo nãopuder ser feita no dia próprio.

Art. 129. Não será válida qualquer eleição feita perantemesa que não for organizada pela forma estabelecida nas dispo-sições da seção antecedente.

Art. 130. É proibida a presença ou intervenção de forçapública durante o processo eleitoral.

Não se compreende nesta disposição a presença ou inter-venção de força pública, fora do edificio em que se fizer a elei-ção, para o fim de obstar a atos atentatórios da ordem públicaou do comparecimento dos eleitores e da reunião e do trabalhodas mesas eleitorais.

Art. 131- Cada candidato à eleição de que se trata, atéao número de três, poderá apresentar um eleitor para o fim defiscalizar os trabalhos em cada uma das assembleias eleitoraisdo distrito. Na ausência do candidato a apresentação poderá serfeita por qualquer eleitor.

Havendo porém mais de três candidatos, terão preferênciaos fiscais daqueles que apresentarem maior número de assina-turas de eleitores declarando que adotam a sua candidatura.

§ 19 A apresentação destes fiscais será feita por escritoaos presidentes das mesas eleitorais, quando estas se instalarem.

§ 2? Os fiscais terão assento nas mesas eleitorais e assina-rão as atas, com os respectivos membros, mas não terão votodeliberativo nas questões que se suscitarem acerca do processoda eleição.

O não comparecimento dos fiscais ou a sua recusa de assi-natura nas atas não trará interrupção dos trabalhos, nem osanulará.

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Art. 132. A eleição começará e terminará no mesmo dia,não podendo prolongar-se além das sete horas da tarde.

Art. 133. As questões concernentes ao processo eleitoralserão decididas pela maioria dos membros da mesa, votando eml? lugar o presidente.

Sobre estas questões só se admitirá breve discussão, queserá encerrada desde que o requerer algum dos membros damesa e aprovar a maioria desta.

Só poderão suscitar tais questões e intervir na discussão osmembros da mesa, os fiscais e os eleitores da respectiva paró-quia, distrito de paz ou seção.

Art. 134, Compete ao presidente da mesa eleitoral:§ 19 Dirigir os trabalhos e regular a discussão das ques-

tões que se suscitarem, nos termos do artigo antecedente.§ 29 Regular a polícia da assembleia eleitoral, chamando

à ordem os que dela se desviarem, fazendo sair os que não foremeleitores e os que injuriarem os membros da mesa ou qualquereleitor, mandando lavrar neste caso auto de desobediência e reme-tendo-o à autoridade competente.

Fará também sair os que se apresentarem munidos de ar-mas de qualquer natureza, mandando lavrar o competente auto,a fim de se tornarem efetivas as penas estabelecidas no § 79 doart. 232 deste Regulamento.

No caso porém de ofensa física contra qualquer dos mesá-rios ou eleitores, o presidente poderá prender o ofensor, reme-tendo-o ao juiz competente para ulterior procedimento.

Para estes fins poderá o presidente da mesa requisitar porescrito, ou verbalmente, se por aquele modo não for possível,a intervenção de autoridade competente.

Art. 135. O presidente e os demais membros das mesaseleitorais, em caso de falta ou impedimento durante os traba-lhos da eleição, serão substituídos pelo modo estabelecido nosparágrafos seguintes:

§ l? Nas mesas eleitorais de paróquias, distritos de pazou seções, organizadas nos termos do art. 98, serão substituí-dos:

ï. O presidente pelo juiz de paz que se lhe seguir em votos,ainda que seja membro da mesa e, no caso de não haver juiz de

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paz desimpedido, pelo eleitor que os membros presentes nomea-rem, decidindo a sorte em caso de empate.

II. Os membros da mesa pelo modo determinado nos §§ 2°e 39 do art. 98.

§ 29 Nas mesas eleitorais das seções de que trata o art.101 serão substituídos:

I. O presidente pelo eleitor que os membros presentes no-mearem, decidindo a sorte em caso de empate,

II. Qualquer dos dois membros ou ambos que os juizesde paz houverem nomeado, pelo eleitor ou pêlos eleitores queo presidente convidar.

III. Qualquer dos dois membros que os imediatos dos juizesde paz tiverem nomeado pelo eleitor que o outro membro pre-sente designar, e faltando ambos os ditos membros, pêlos elei-tores que o presidente convidar.

Art. 136. Se na ocasião de reunir-se a mesa para os tra-balhos da eleição, comparecer para tomar assento na dita mesaalgum dos juizes de paz ou imediatos, ou dos eleitores nomea-dos, que, por se não haver apresentado no ato da organizaçãoou instalação da mesma mesa, tiver sido substituído, só poderátomar assento, cedendo-lhe o lugar o substituto, se houver par-ticipado o motivo do seu não comparecimento, nos termos dosarts. 100 e 108, com a declaração de ser temporário o impedi-mento.

Art. 137. Instalada a mesa eleitoral, se procederá ao re-cebimento das cédulas dos eleitores.

Haverá uma só chamada destes.Art. 138. A chamada dos eleitores será feita pela cópia

parcial do alistamento eleitoral da paróquia, do distrito de pazou da seção, de conformidade com a última revisão concluída.

Considera-se, para este fim, concluída a revisão, findo oprazo estabelecido no § 4° do art. 51 para o registro do alista-mento feito pelo juiz de direito.

§ 19 Os juizes de direito, com a antecedência precisa, aqual será, quando for possível, de 30 dias, pelo menos, antes dodesignado para a eleição, farão extrair e remeterão aos juizesde paz a quem competir a presidência das mesas eleitorais nasparóquias ou nos distritos de paz as cópias dos respectivos alis-tamentos parciais de que trata este artigo.

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Remeterão também aos mesmos juizes de paz as cópias dosalistamentos concernentes" às secções da paróquia ou do distritode paz, a fim de serem entregues por esses juízos aos presidentesdas mesas das mesmas seções, logo que forem nomeadas.

A remessa das ditas cópias se fará pelo correio, sob regis-tro, e o seu recebimento será acusado do mesmo modo pêlosjuizes de paz, dentro de 48 horas, e no caso de não haver agên-cia de correio, a remessa será feita por oficial de justiça.

Nas comarcas especiais de mais de um juiz de direito a cadaum destes compete fazer a referida remessa na parte relativaao alistamento do respectivo distrito criminal.

$ 2<? Quando -até ao 159 dia anterior ao designado para aeleição, não tiver recebido a dita cópia o competente juiz de paz,deverá requisitar do tabelião do município ou da cabeça da co-marca a extração e a entrega de tal cópia, requisição que o ta-belião satisfará no prazo de três dias sob pena de suspensãoimediata e de responsabilidade. Para este fim poderá o juiz depaz recorrer, se for preciso, ao juiz de direito ou ao juiz municipal,ou a quem suas vezes fizer.

§ 3'.' Nas eleições a que se proceder antes da l? revisãodo alistamento geral, a chamada dos eleitores será feita pelascópias parciais do dito alistamento, relativas às paróquias e aosdistritos de paz ou seções.

Art. 139. Os eleitores serão chamados segundo a ordemdos distritos e dos quarteirões, e a ordem em que os seus nomesse acharem inscritos na respectiva lista.

Art. 140. Cada eleitor chamado para votar entrará no lu-gar em que funcionar a mesa e que será separado, nos termosdo § 3^ do art. 126, do recinto destinado à reunião da assem-bleia eleitoral, e depositará sua cédula em urna, que deveráconservar-se fechada a chave durante a votação, em cuja partesuperior haverá uma simples abertura pela qual uma só cédulapossa passar.

Art. 141. Nenhum eleitor será admitido a votar sem apre-sentar o seu título, nem poderá ser recusado o voto do que exi-bir o dito título, não competindo à mesa entrar no conhecimentoda identidade de pessoa do eleitor, qualquer que seja o caso.

Se porém a mesa reconhecer que é falso o título apresenta-do ou que pertence a eleitor, cuja ausência ou falecimento sejanotório, ou se houver reclamação de outro eleitor que declarepertencer-lhe o título, apresentando certidão de seu alistamen-

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to passada pelo competente tabelião, a mesa tomará em separa-do o voto do portador do titulo, e assim também o do reclaman-te, se exibir novo título expedido nos termos do art. 66 desteRegulamento, a fim de ser examinada a questão em juízo com-petente, à vista do título impugnado ou sobre que haja dúvida,título que ficará em poder da mesa para ser remetido ao mesmojuízo para os devidos efeitos, com quaisquer outros documentosque forem apresentados.

Art. 142. O voto será escrito em papel branco ou anilado,não devendo este ser transparente, nem ter marca, sinal ou nu-meração. A cédula será fechada de todos os lados, tendo rótuloconforme a eleição a que se proceder.

A mesa não é permitido fazer exames, inspcções ou qualqueraveriguação sobre as cédulas no ato do seu recebimento, poden-do porém advertir ao eleitor que a cédula deve ser fechada detodos os lados e trazer o competente rótulo.

Art. 143. Depois de lançar na urna sua cédula o eleitorassinará o seu nome cm livro para esse fim destinado e forne-cido pela câmara municipal, o qual será aberto e encerrado pelorespectivo presidente ou pelo vereador por ele designado, quetambém numerará e rubricará todas as folhas do mesmo livro.

Quando o eleitor não souber ou não puder assinar o seunome, assinará em seu lugar outro por ele indicado e convidadopara esse fim pelo presidente da mesa.

Finda a votação, e em seguida à assinatura do último elei-tor, a mesa lavrará e assinará um termo, no qual se declare onúmero dos eleitores inscritos no dito livro.

O mesmo livro será remetido â câmara municipal com osdemais livros concernentes à eleição.

Art. 144. O eleitor que não acudir logo à chamada, masapresentar-se, antes de ter assinado o nome no livro o eleitorimediatamente chamado depois dele, será admitido a votar emseguida.

Art. 145. Se depois de findar a chamada mas, antes daabertura da urna que contiver as cédulas, algum eleitor que,não tendo acudido à mesma chamada, requerer ser admitido avotar, será recebida a sua cédula.

Nesta ocasião votarão os que compuserem a mesa eleitoralnão tendo contemplados os seus nomes no alistamento pelo qualse fizer a chamada, em razão de achar-se a paróquia ou o distri-

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to de paz dividido em seçõe^. Estes eleitores assinarão os seusnomes no livro de que trata o art. 143, declarando a seção daparóquia ou distrito de paz a que pertencerem, na qual ficaminibidos de votar sob a pena do art. 232 § 2? deste Regulamento.Na ata respectiva se fará menção desta ocorrência.

Art. 146. Concluído o recebimento das cédulas, serão estascontadas e emassadas, e imediatamente o presidente da mesadesignará um dos mesários para as ter, e anunciará que se vaiproceder à apuração delas.

Repartirá as letras do alfabeto pêlos outros três mesários,cada um dos quais irá escrevendo em sua relação os nomes dosvotados e o número de votos por algarismos sucessivos da nu-meração natural, de maneira que o último número de cada no-me mostre a totalidade dos votos, que este houver obtido, e pu-blicado em voz alta os números, a proporção que os for escre-vendo.

Art. 147. As cédulas serão contadas tirando-se da urnacada uma por sua vez, e se apurarão abrindo-se também e exa-minando-se cada uma por sua vez.

§ 19 As cédulas em que se achar número de nomes infe-rior ao que devem conter serão não obstante apuradas. Das quecontiverem número superior, serão desprezados os nomes exce-dentes, e segundo a ordem em que os mesmos se acharem es-critos.

§ 29 Embora se não ache fechada por todos os lados algu-ma cédula, será não obstante apurada.

Esta disposição é aplicável à cédula que não trouxer rótulo,salvo na eleição de vereadores e de juizes de paz.

§ 39 Serão apuradas em separado as cédulas que estive-rem assinadas ou contiverem sinais exteriores ou interiores, ouforem escritas em papel transparente ou de cores diversas dasmencionadas no art. 142.

Tais cédulas e os seus invólucros serão remetidos ao poderverificador competente com as respectivas atas.

Apurar-se-á também em separado o voto dado a cidadão cujonome se achar na cédula alterado por troca, aumento ou supres-são do sobrenome ou apelido, ainda que se refira visivelmentea indivíduo determinado, procedendo-se, quanto a esta cédula,pelo mesmo modo acima estabelecido.

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§ 49 Não se apurará a cédula que contiver nome riscado,alterado ou substituído, ou, na eleição de vereadores e de juizesde paz, declaração contrária à do rótulo; quando se encontrarmais de uma dentro de um só invólucro, quer sejam todas es-critas em papéis separados, quer uma delas no próprio invólu-cro, nenhuma se apurará.

Em tais casos as cédulas serão remetidas ao poder verifi-cador competente, pelo modo estabelecido quanto às de que tra-ta o parágrafo antecedente.

§ 59 As cédulas e invólucros a que se referem os antece-dentes §§ 39 e 49 serão rubricados pelo presidente da mesa.

Art. 148. Terminada a leitura das cédulas, o secretárioda mesa, sem interrupção alguma, formará das relações de quetrata o art. 146 uma lista geral contendo os nomes de todos oscidadãos votados, segundo a ordem do número de votos dados acada um destes desde o máximo até ao mínimo, e publicará emvoz alta aqueles nomes e números.

O presidente mandará imediatamente publicar esta lista poredital afixado na porta do edifício e, sendo possível, pela im-prensa.

Art. 149. Em seguida o secretário lavrará no livro próprioa ata da eleição, a qual será assinada pela mesa e pêlos fiscaise eleitores que quiserem; e em presença da mesma mesa se quei-marão as cédulas com exceção das de que tratam os §§ 39 e 41?do art. 147.

§ 19 Nesta ata será transcrita a lista geral dos nomes doscidadãos votados, e do número de votos de cada um, organizadapelo modo declarado no artigo antecedente, sendo escritos osnúmeros em letra alfabética. Na mesma ata se mencionarão: 19o dia em que se procedeu à eleição, com a indicação da hora doseu começo; 29 os nomes dos eleitores que não compareceram,os quais por essa falta não incorrerão na pena de multa; 3? onúmero das cédulas recebidas e apuradas promiscuamente; 49 onúmero das que foram recebidas e apuradas em separado no casodo art. 141, com os nomes das pessoas que as entregaram, e onúmero das apuradas em separado nos termos do art. 147, deven-do ser declarados os motivos em ambos os casos; 59 os nomesdos membros da mesa que não assinaram a ata, e os motivos;69 quaisquer ocorrências e incidentes havidos.

§ 29 No caso de deixarem de assinar a ata os quatro mem-bros da mesa, será suprida a sua falta segundo as disposições doart. 135.

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§ 3^ O presidente da mesa ou qualquer de seus membrospode, na ocasião de assinar a ata, declarar-se vencido.

§ 49 A ata da eleição será transcrita no livro de notas dotabelião ou do escrivão de paz.

A transcrição será feita imediatamente, assinando-a a mesae os fiscais e eleitores que quiserem.

O tabelião ou escrivão de paz é obrigado a dar sem demoratraslado a quem o requerer,

Art. 150. É permitido a qualquer eleitor da paróquia, dis-trito de paz ou secção apresentar por escrito e com sua assinaturaprotesto relativo a atos do processo eleitoral, devendo este pro-testo, rubricado pela mesa e com contraprotesto desta, se jul-gar conveniente fazê-lo, ser apensado à cópia da ata que, segun-do a disposição do artigo seguinte, for remetida ao presidente dosenado, na câmara dos deputados ou da assembleia legislativaprovincial, ou à câmara municipal. Na ata se mencionará sim-plesmente a apresentação do protesto.

Será também apensada à cópia da ata qualquer exposição derazões do voto ou declaração que algum dos membros da mesmaapresente.

Art. 151. A mesa fará extrair três cópias da referida ata edas assinaturas dos eleitores no livro de que trata o art. 143,sendo as ditas cópias assinadas por ela e concertadas por tabe-lião ou escrivão de paz.

Destas cópias serão enviadas — uma ao ministro do impé-rio na corte ou ao presidente nas províncias; outra ao presidentedo senado, da câmara dos deputados ou da assembleia legislativaprovincial, conforme a eleição a que se proceder; e a terceira aojuiz de direito de que tratam os arts. 171 e 172, se a eleição forde deputado à assembleia geral ou de membro de assembleialegislativa provincial.

Na eleição de vereadores e de juizes de paz a segunda dasditas cópias será enviada ao juiz de direito de que tratam o art.216 e seu § 29, e a última à câmara municipal respectiva.

Quando a eleição for para senador, será esta última cópiaenviada à câmara municipal da corte, se a eleição a ela pertencere à província do Rio de Janeiro, e às câmaras das capitais dasoutras províncias, se a eleição se fizer nestas.

Acompanharão as referidas cópias as das atas da formaçãodas respectivas mesas eleitorais.

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SEÇÃO 3*Da Eleição de Senadores

Art. 152. A eleição de senador continua a ser feita porprovíncia, mas sempre em lista tríplice, ainda quando tenhamde ser preenchidos dois ou mais lugares: nesta hipótese proce-der-se-á à segunda eleição logo depois da escolha de senador emvirtude da primeira, e assim por diante.

Para esta eleição a província do Rio de Janeiro e o municí-pio da corte continuam a formar uma só circunscrição eleitoral.

Art. 153. O governo na corte e província do Rio de Janeiroe os presidentes nas outras províncias designarão dia para a elei-ção, devendo proceder-se a esta dentro do prazo de três meses.

Este prazo será contado:No caso de morte do senador — do dia em que na corte o

governo e nas províncias o presidente tiverem conhecimentocerto da vaga, ou em que receberem comunicação desta, feita aogoverno pelo presidente do senado, ou ao presidente da respec-tiva província pelo governo ou pelo presidente do senado. As co-municações ao presidente de província serão dirigidas pelo cor-reio sob registro.

No caso de aumento do número de senadores — do dia dapublicação da respectiva lei na corte, ou na província a que sereferir.

Art. 154. Cada eleitor votará em três nomes, constituindoa lista tríplice os três cidadãos que maior número de votos obti-verem.

Art. 155. A apuração geral das autênticas das assembleiaseleitorais e a formação da lista tríplice serão feitas pela câmaramunicipal da corte, quanto às eleições desta e da província doRio de Janeiro, e pelas câmaras das capitais das outras províncias,quanto às eleições nelas feitas.

§ l? A estes atos se procederá dentro do prazo de 60 dias,contados do em que se houver feito a eleição.

No caso de não terem sido recebidas todas as autênticas atéao 40? dia, a câmara municipal solicitará do governo na corte, oudo presidente nas províncias, as providências necessárias paralhe serem presentes as que faltarem.

É aplicável a este caso a disposição do § 21? do art. 176.

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Qualquer que seja, entretanto, o número das autênticas re-cebidas, a apuração se fará até ao fim do referido prazo de 60dias.

§ 29 O dia e a hora em que se tiver de proceder à apura-ção das autênticas serão anunciados com a antecedência, pelo me-nos, de três dias, por editais afixados em lugares públicos, e,sendo possível, pela imprensa.

Art. 156. Devem intervir nos atos de que trata o artigoantecedente ainda os vereadores que se não acharem em exer-cício ou estiverem suspensos por ato do governo, ou por pro-núncia em crime de responsabilidade.

São aplicáveis aos vereadores, e aos suplentes que os substi-tuírem, as disposições dos arts. 118, 120 e 121 deste Regulamento.

Art. 157. No dia aprazado e anunciado a câmara municipal,reunida às nove horas da manhã, procederá aos atos de que tratao art. 155.

O respectivo presidente, com toda a publicidade, verificandoacharem-se intatos os ofícios que contiverem as autênticas, osabrirá e mandará contar as mesmas autênticas, devendo ser es-crito na ata o número das recebidas.

Em seguida se procederá à apuração das ditas autênticas comos vereadores presentes, pelo mesmo modo por que é feita a apu-ração dos votos pelas mesas eleitorais.

Art. 158. Quando, por falta ou impedimento de alguns ve-readores, não for possível celebrar sessão no dia aprazado e anun-ciado, o presidente da câmara convocará e juramentará suplentesa fim de não ser por tal motivo adiado o ato da apuração.Se esta providência for impraticável, poderá ele transferir o ato .para o dia imediato, publicando-se tudo por editais, e, sendo pos-sível, pela imprensa.

Art. 159. Na apuração a câmara municipal se limitará asomar os votos mencionados nas diferentes autênticas, atendendosomente às das eleições feitas perante mesas organizadas de con-formidade com as disposições da seção l? deste Capítulo.

§ l? Na ata da apuração geral se fará especificada decla-ração das autênticas que, de conformidade com a disposição des-te artigo, deixarem de ser apuradas, e bem assim dos nomes doscidadãos que constar delas terem sido votados, e do número devotos de cada um.

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§ 2? Na apuração os votos que, segundo as autênticas, tive-rem sido tomados em separado pelas mesas eleitorais não serãosomados, mas especificadamente mencionados na ata da apura-ção geral.

Art. 160. Finda a apuração, o secretário da câmara munici-pal publicará, sem demora ou interrupção algumas, os nomes doscidadãos que obtiverem votos e o número destes, formando umalista geral desde o número máximo até ao mínimo.

Art. 161. Em seguida se lavrará uma ata, na qual se farãoas declarações de que tratam os §§ IP e 29 do art. 459, e se men-cionarão os nomes dos cidadãos e o número dos votos que obti-veram para senador desde o máximo até ao mínimo; as ocorrên-cias que se deram durante os trabalhos da apuração e as repre-sentações que, por escrito e assinadas por qualquer cidadão ele-gível, sejam presentes à câmara municipal, relativas à apuraçãogeral.

Esta ata será assinada pela câmara municipal.

Art. 162. Da ata da apuração geral a câmara municipalremeterá imediatamente uma cópia autêntica ao ministro e secre-tário de estado dos negócios do império, acompanhando a listatríplice, assinada pela mesma câmara, para ser presente ao podermoderador; outra cópia ao presidente do senado; e outra ao pre-sidente da respectiva província, excetuada a do Rio de Janeiro.

Art. 163. Na verificação dos poderes a que proceder osenado nos termos do art. 21 da Constituição, se resultar a ex-clusão da lista tríplice do senador nomeado, far-se-á nova eleição;no caso da exclusão recair em qualquer dos outros dois cidadãoscontemplados na lista tríplice será organizada pelo senado novalista e sujeita ao poder moderador.

Art. 164. Se o senado reconhecer que algum ou alguns dostrês cidadãos incluídos na lista tríplice se acham compreendidosem qualquer das incompatibilidades especificadas no art. 85, se-rão declarados nulos os votos que lhes tiverem sido dado, e ocidadão ou cidadãos que se seguirem completarão a lista tríplice.

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Art. 165. Proceder-se-á também a nova eleição, quando,antes da escolha de senador, falecer algum dos três cidadãos quecompuserem a lista tríplice.

O mesmo se observará no caso de morte do senador no-meado, cujos poderes não tenham sido ainda verificados ou quan-do algum dos cidadãos incluídos na lista tríplice careça de qual-quer das condições de elegibilidade exigidas nos n.05 I, II e IV doart. 45 da Constituição.

SEÇAO 4?

Da Eleição de Deputados à Assembléia-Geral e de Membros dasAssembleias Legislativas Provinciais

Art. 166. As províncias serão divididas em tantos distritoseleitorais quando forem os seus deputados à assembléia-geral,atendendo-se quanto possível à igualdade de população entre osdistritos de cada província, e respeitando-se a contiguidade doterritório e a integridade do município.

Art. 167. Para todos os efeitos eleitorais, até ao novo ar-rolamento da população geral do Império, subsistirão inalteráveisas circunscrições paroquiais e municipais contempladas na divi-são dos distritos eleitorais de que trata o artigo antecedente, nãoobstante qualquer alteração resultante de criação, extinção ousubdivisão de paróquias e municípios.

Art. 168. A divisão dos distritos eleitorais, feita de con-formidade com o art. 17 da Lei n? 3.029, de 9 de janeiro de 1881,não poderá ser alterada pelo governo, depois de sua publicação.

Art. 169. Cada distrito elegerá um deputado à assembléia-geral e o número de membros da assembleia legislativa provin-cial que, de conformidade com o § 3° do art. 17 da Lei n? 3.029,

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de 9 de janeiro de 1881, e com o art. l? § 16 da Lei n1? 842, de19 de setembro de 1855, é designado na seguinte tabela:

Províncias Número de membros dasassembleias legislativas

Amazonas . . . . . . . . . . .Espírito Santo . . . . . . .Santa Catarina . . . . . .Paraná . . . . . . . . . . . . .Goiás . . . . . . . . . . . . . . .Rio Grande do Norte .Mato Grosso . . . . . . . .Pará . . . . . . . . . . . . . . .Piauí . . . . . . . . . . . . . . .Alagoas . . . . . . . . . . . . .Paraíba . . . . . . . . . . . . .Sergipe . . . . . . . . . . . . .Rio de Janeiro, exce-

tuados os distritos dacorte e seu município

Rio Grande do Sul . . . .Maranhão . . . . . . . . . . .São Paulo . . . . . . . . . . .Ceará . . . . . . . . . . . . . .Bahia . . . . . . . . . . . . . . .Pernambuco . . . . . . . . .Minas Gerais . . . . . . . .

222222222222223024303024

4530303632423940

Número de membrospor distritosprovinciais

11111111111111108666

55544332

Art. 170. A eleição de deputados à assembléia-geral se faráno l? dia útil do mês de dezembro do 4° ano de cada legislatura.

No caso porém de dissolução da câmara dos deputados, ogoverno marcará dentro do prazo de quatro meses contados dadata do decreto da dissolução, um dia útil para a nova eleição.

A eleição dos membros das assembleias legislativas provin-ciais se procederá no último ano da respectiva legislatura nodia que marcar o presidente da província.

Art. 171. O juiz de direito que exercer jurisdição na ci-dade ou vila designada pelo governo para cabeça do distrito elei-toral, ou, em caso de falta, o seu substituto formado em direito,

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ou finalmente, na falta do último, o juiz de direito da comarcamais vizinha, comporá com os presidentes das mesas eleitoraisuma junta por ele presidida, a qual fará a apuração geral dosvotos das diversas eleições do mesmo distrito para deputado àassembléia-geral ou membros das assembleias legislativas pro-vinciais.

Art. 172. Na cidade onde houver mais de um juiz de direi-to será presidente da junta apuradora o mais antigo, tendo pre-ferência o de mais idade, quando for igual a antiguidade; e, se-gundo a mesma regra, serão substituídos uns pêlos outros nocaso de falta ou impedimento.

No município em que houver dois ou mais distritos elei-torais, seguir-se-á para a presidência de cada junta apuradora aregra acima estabelecida, correspondendo a antiguidade dos jui-zes de direito ao número dos distritos eleitorais, de modo que omais antigo sirva no l? distrito, o imediato no 2?, e assim pordiante

O governo na corte e os presidentes nas províncias publi-carão com a conveniente antecedência a ordem em que os ditosjuizes devam servir nas mencionadas juntas apuradoras.

Art. 173. A junta apuradora se reunirá na casa da câma-ra municipal ou, não sendo absolutamente possível, em outroedifício designado pelo juiz de direito.

No município em que houver dois ou mais distritos eleito-rais as juntas apuradoras desses distritos se reunirão — na casada câmara municipal a do distrito em que se achar esta casa —e as dos outros distritos nos edifícios que para esse fim designa-rem o governo na corte e os presidentes nas províncias.

Art. 174. Para que a junta apuradora possa funcionar énecessária a presença pelo menos, de quatro presidentes de as-sembleias eleitorais. Na falta destes, serão chamados pela ordemde sua votação os juizes de paz da paróquia ou do distrito ondefuncionar a junta. Se ainda estes não comparecerem, recorrer-se-á aos juizes de paz da paróquia ou do distrito mais vizinho.

Art. 175. São aplicáveis aos presidentes e aos demais mem-bros das juntas apuradoras, e aos que os devem substituir, asdisposições dos arts. 119 a 121.

Art. 176. A apuração geral se procederá pelas autênticasdas atas das eleições de que trata o art. 171, dentro do prazode 20 dias, contados do em que elas se tiverem feito, prece-dendo anúncio por editais afixados em lugares públicos, e, sendo

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possível, pela imprensa, e aviso aos presidentes das mesas elei-torais, com declaração do dia, hora e lugar da reunião.

§ 1 No caso de não terem sido recebidas todas as autên-ticas até ao décimo dia o juiz de direito requisitará as que fal-tarem dos presidentes das respectivas mesas, ou cópias delas dostabeliães ou escrivães de paz em cujos livros de notas estiveremtranscritas. Qualquer que seja entretanto o número das recebi-das, a apuração se fará até ao fim do referido prazo de 20 dias.

§ 29 É permitido a qualquer eleitor apresentar as atas quefaltarem; e por elas, se não houver dúvida sobre a sua autentici-dade, se procederá à apuração.

§ 3? Se, na hipótese de que se trata nenhum dos cidadãosvotados reunir a maioria de votos nos termos do art. 178, mar-cará o juiz de direito novo prazo, que não excederá a outros 20dias, para nova apuração geral com as autênticas que na l? tive-rem faltado e forem recebidas neste segundo prazo.

Art. 177. Na apuração a junta se limitará a somar os votosmencionados nas diferentes autênticas, atendendo somente àsdas eleições feitas perante mesas organizadas de conformidadecom as disposições da seção l? deste Capítulo, e procederá pelomodo estabelecido nos arts. 159, 160 e 161, servindo de secretá-rio um dos membros da mesma junta designado pelo presidentedesta.

A ata da apuração geral será assinada pela junta e pêloseleitores presentes que quiserem.

Art. 178. Não se considerará eleito deputado à assembléia-geral o cidadão que não reunir a maioria absoluta dos votos doseleitores que concorrerem à eleição.

Esta maioria será calculada pêlos votos tomados e apuradospelas mesas eleitorais sem exclusão dos votos em separado.

As cédulas em branco não serão computadas para o cálculoda dita maioria.

Art. 179. No caso do artigo antecedente, lavrada a compe-tente ata, que será assinada pela junta e pêlos eleitores quequiserem, o presidente da junta expedirá os necessários avisospara que se proceda a nova eleição 20 dias depois da apuraçãogeral.

Os ditos avisos serão dirigidos aos mesmos juizes de pá/ aquem se refere o art. 124, e acompanhados da lista dos nomesdos cidadãos que possam ser votados na 2? eleição nos termos doartigo seguinte.

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Art. 180. Na 2? eleição, para a qual servirão nas assem-bleias eleitorais as mesmas mesas da l?, só poderão ser votadosos dois cidadãos que nesta tiverem obtido maior número de votose, se houver empate na votação terão preferência os que foremmais velhos em idade. É suficiente para eleger o deputado amaioria dos votos que forem apurados, julgando-se nulos os votosque recaírem em outros cidadãos.

Art. 181. Para o fim declarado nos dois artigos antece-dentes os juizes de paz, logo que receber o aviso do presidenteda junta, convocarão os eleitores e ao mesmo tempo as mesasda 1^ eleição por ofício ou notificação e por edital afixado emlugar público, e, sendo possível, publicado pela imprensa, decla-rando-se que a reunião se efetuará às nove horas da manhã dodia e no edifício designados.

Art. 182. Na eleição dos membros das assembleias legisla-tivas provinciais cada eleitor votará em um só nome.

Art. 183. Serão considerados membros eleitos da assem-bleia legislativa provincial os cidadãos que reunirem votaçãoigual, pelo menos, ao quociente eleitoral, calculado sobre o nú-mero total dos eleitores que concorrerem à eleição, dividindo-seeste número pelo dos membros da assembleia que o distritodever eleger.

§ l1? Se algurn ou alguns dos cidadãos não reunirem vota-ção igual, pelo menos, ao dito quociente eleitoral, lavrada a com-petente ata, que será assinada pela junta e pêlos eleitores quequiserem proceder-se-á, quanto aos lugares não preenchidos, anova eleição.

§ 2? Nesta 2? eleição, que deverá ser feita 20 dias depoisda apuração geral, expedindo para este fim o presidente da juntaos necessários avisos pelo mesmo modo estabelecido no art. 179,servirão nas assembleias eleitorais as mesmas mesas da l? elei-ção.

§ 39 Na dita 2? eleição a votação para os lugares que nal? não foram preenchidos por falta de votação igual, pelo me-nos, ao quociente eleitoral nos termos deste artigo, deverá recairnos cidadãos que se seguirem em votos aos eleitos até ao númeroduplo do número dos lugares não preenchidos. Assim, se forum só o lugar não preenchido, a votação recairá nos nomes dosdois cidadãos que tiverem sido mais votados depois dos eleitos;se forem dois os lugares, recairá a votação nos quatro mais vo-tados, e assim por diante.

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Não se contarão os votos dados a cidadãos que não se acha-rem incluídos no referido número duplo.

§ 49 Se para o fim do parágrafo antecedente for precisopreferir entre cidadãos igualmente votados, terão preferência osque forem mais velhos em idade.

§ 59 Quando na hipótese do § 3? não houver número decidadãos votados igual, pelo menos, ao duplo de número dos luga-res não preenchidos, não terá aplicação a disposição do mesmoparágrafo, e na 2? eleição cada eleitor votará em um só nomelivremente como na l?, sendo em tal caso considerados eleitosos cidadãos que reunirem maior número de votos.

§ 69 Se pela 2£? eleição, no caso do parágrafo antecedente,não ficarem preenchidos todos os lugares por terem sido votadoscidadãos em número inferior ao daquele, far-se-á para o pre-enchimento dos restantes lugares nova eleição em dia que o presi-dente da província designará, no menor prazo possível, nuncaexcedente a 60 dias, procedendo-se nos termos dos arts. 124 eseguintes.

Art. 184. Na 2? eleição a que se proceder nos termos dosarts. 179 e 183, § 19 serão observadas, quanto ao processo eleito-ral e à apuração geral dos votos, as disposições estabelecidas paraa l? eleição.

Art. 185. Concluída definitivamente a eleição e transcritano livro de notas de um dos tabeliães do lugar a ata da apura-ção geral dos votos, a junta apuradora expedirá diplomas aoseleitos — deputado à assembléia-geral ou membros da assem-bleia legislativa provincial, remetendo as cópias autênticas daata da apuração dos votos ao ministro do império na corte, aopresidente nas províncias, e à câmara dos deputados ou à assem-bleia legislativa provincial, conforme for a eleição.

A cópia autêntica da ata da apuração geral dos votos seráo diploma que, nos termos deste artigo, deve ser expedido aoeleito deputado à assembléia-geral ou membro da assembleialegislativa provincial. Será acompanhada a mesma cópia de ofí-cio dirigido ao eleito e assinado pela junta apuradora.

Art. 186. No caso de reconhecer a câmara dos deputadosou a assembleia legislativa provincial que um ou mais dos eleitosestão compreendidos em qualquer das incompatibilidades espe-cificadas no art. 85, serão declarados nulos os votos que lhestiverem sido dados, e proceder-se-á a nova eleição, na qual nãopoderão ser votados o cidadão ou cidadãos, cuja eleição tiver sidopor esse motivo anulada.

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Proceder-se-á também a nova eleição, se da anulação devotos pela câmara ou assembleia resultar a exclusão de algumdos que tiverem obtido o respectivo diploma.

Art. 187. O cidadão que for eleito deputado à assembléia-geral ou membro de assembleia legislativa provincial por maisde um distrito terá o direito de optar pelo distrito que quiserrepresentar. A opção será feita dentro de três dias depois daverificação dos poderes.

§ 19 Não havendo opção, prevalecerá a eleição do distritoda naturalidade do eleito; na falta desta, a do distrito da resi-dência; e na falta de ambas, a do distrito em que o cidadão tiverobtido mais votos relativamente ao número de eleitores que ohouverem eleito. No caso de estarem os distritos em provínciasdiversas, prevalecerá a eleição do distrito pertencente à provín-cia da naturalidade do eleito, ou na falta desta à província de suaresidência.

§ 29 No distrito pelo qual não se der a opção ou a prefe-rência da lei proceder-se-á a nova eleição.

Art. 188. À nova eleição nos casos dos dois artigos ante-cedentes se procederá no prazo e em virtude da comunicação deque trata o artigo seguinte.

Art. 189. No caso de vaga de deputado à assembléia-geralou de membro de assembleia legislativa provincial, que ocorrerdurante a legislatura, proceder-se-á a nova eleição para preenchi-mento do lugar, dentro do prazo de três meses, contados dodia em que, na corte o governo, e nas províncias o presidente,tiverem conhecimento certo da vaga, ou em que receberem co-municação desta, feita pelo presidente da câmara dos deputados,no 1^ caso, ou pelo presidente da assembleia legislativa provin-cial, no 2<? as comunicações aos presidentes de província relati-vas às vagas de deputado à assembléia-geral serão dirigidas pelocorreio sob registro.

No caso de aumento do número de deputados à assembléia-geral ou dos membros de assembleia legislativa provincial temaplicação o disposto na última parte do art. 153.

SEÇÃO 5*Da Eleição de Vereadores e de Juizes de Paz

Art. 190. As câmaras municipais continuarão a compor-sedo mesmo número de vereadores marcado na legislação vigente,456

com exceção das seguintes, que terão: a do município da corte21 membros; as das capitais das províncias da Bahia e de Per-nambuco 17; as das capitais das do Pará, Maranhão, Ceará, Riode Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Sào Pedro do Rio Grandedo Sul 13; e a s das capitais das demais províncias 11.

Cada uma das mesmas câmaras terá um presidente e umvice-presidente, os quais serão eleitos anualmente, na 1 sessão,pêlos vereadores dentre si.

Art. 191. Feita a primeira eleição de deputados à assem-bléia-geral pelo modo estabelecido na Lei n? 3.029, de 9 de ja-neiro de 1881, e neste Regulamento, proceder-se-á também àeleição das câmaras municipais e dos juizes de paz em todo oImpério no primeiro dia útil do mês de julho que se seguir,começando a correr o quatriênio do dia 7 de janeiro subsequente.

De então em diante se continuará a fazer a mesma eleiçãode quatro em quatro anos em igual dia do mês de julho.

Art. 192. Na corte, nas capitais das províncias e nas de-mais cidades os vereadores só poderão ser reeleitos quatro anosdepois de findar o quatriênio em que servirem.

Art. 193. A eleição de vereadores e a de juizes de paz serãofeitas conjuntamente perante a mesma mesa eleitoral.

Cada eleitor depositará na urna duas cédulas, sendo umapara a 1 eleição, com o rótulo — para vereador — e a outrapara a 2?, com o rótulo — para juizes de paz da paróquia de. . .,ou do distrito n. da paróquia de. . .

Art. 194. Na eleição de vereadores cada eleitor votará emum só nome, e na de juizes de paz em quatro nomes.

Art. 195. Terminado o recebimento das cédulas, o presi-dente da mesa eleitoral mandará separar as que se referirem àeleição de Vereadores das que forem relativas à de juizes de paz,distinguindo-se entre estas últimas as pertencentes a cada umdos distritos de paz em que for dividida a paróquia, quando, no19 caso do art. 92, na paróquia se proceder à eleição peranteuma só mesa. Em seguida serão contadas as mesmas cédulas epublicado o número das pertencentes a cada eleição.

§ 19 Serão apuradas primeiramente as cédulas para verea-dores e sucessivamente as concernentes à eleição dos juizes depaz de cada um dos distritos.

§ 29 Na ata se fará separadamente menção do número dascédulas recebidas e dos votos relativamente a cada uma daseleições.

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Art . 196. As câmaras municipais continuarão a fazer a;Huiraçao geral dos votos do município.

I'ara este ato são aplicáveis aos vereadores e aos suplentesque os substituírem as disposições do art. 156.

Art. 197. À apuração geral se procederá pelas autênticasatas das eleições do município, dentro do prazo de 20 dias, con-tados do em que elas tiverem feito, precedendo anúncio poreditais afixados em lugares públicos e, sendo possível, pela im-prensa, com declaração do dia e hora da reunião.

§ 19 No caso de não terem sido recebidas todas as autên-ticas até ao 109 dia, o presidente da câmara municipal requisi-tará as que faltarem dos presidentes das respectivas mesas elei-torais, ou cópias delas dos tabeliães ou escrivães de paz, em cujoslivros de notas estiverem transcritas, recorrendo à autoridadejudiciária mais graduada do município, se for preciso.

S 29 Quando até ao último dia do referido prazo de 20dias só tiverem sido recebidas autênticas de paróquias, distritosde paz ou secções, cujo número de eleitores, nos termos do art.204, não exceder à metade dos de todo o município, não se pro-cederá à apuração geral, e a câmara municipal no mesmo diao participará ao juiz de direito da comarca a fim de ser poreste marcado novo prazo para aquele ato, o qual não excederáa outros 20 dias, dando o mesmo juiz as providências necessá-rias para que sejam presentes à câmara municipal as autênticasque faltarem.

É aplicável a este caso a disposição do § 29 do art. 176.Art. 198. Na apuração a câmara municipal procederá de

conformidade com as disposições dos arts. 159, e seus parágra-fos, e 160,Art. 199. Serão declarados vereadores os cidadãos que,

até ao número dos que deverem compor a câmara do município,reunirem votação igual, pelo menos, ao quociente eleitoral cal-culado sobre o número total dos eleitores que concorrerem àeleição, dividindo-se este número por aquele.

Se algum ou alguns dos cidadãos não reunirem a dita vota-ção, lavrada a competente ata, que será assinada pela câmaramunicipal e pêlos eleitores que quiserem proceder-se-á, quantoaos lugares não preenchidos, a nova eleição pelo modo deter-minado nos §§ 2? a 6? do art. 183, competindo ao presidente dacâmara municipal a expedição dos avisos de que trata o § 2?do dito artigo.

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Art. 200. Na nova eleição a que se refere o artigo antece-dente serão observadas quanto ao processo eleitoral e à apuraçãogeral dos votos as disposições estabelecidas para a l? eleição.

Art. 201. Concluída definitivamente a eleição, se lavraráata especial da apuração geral dos votos para vereadores, naqual se farão as declarações de que tratam os parágrafos doart. 159, e se mencionarão os nomes dos cidadãos e o númerodos votos que obtiveram para vereador desde o máximo até aomínimo; as ocorrências que se deram durante os trabalhos daapuração, e as representações que, por escrito e assinadas porqualquer cidadão elegível, sejam presentes à câmara municipal,relativas à apuração geral.

Esta ata será assinada pela câmara municipal e transcritano livro de notas de um dos tabeliães do lugar.

§ 19 Desta ata serão remetidas cópias autênticas ao minis-tro do Império na corte, ou ao presidente nas províncias, e aojuiz de direito da comarca.

§ 29 Na mesma ocasião a câmara municipal expedirá aosvereadores eleitos, para lhes servirem de diplomas, cópias dadita ata, que serão tiradas pelo secretário da câmara e assina-das pêlos membros desta.

Estes diplomas serão acompanhados de ofício, pêlos quaisse convidarão os vereadores eleitos, para prestarem juramentoe tomarem posse no dia 7 de janeiro.

Art. 202. Se a eleição de todo o município for feita pe-rante uma só mesa em razão de não haver nela mais do queuma paróquia cujo número de eleitores não exceda a 250, a mes-ma mesa, finda a eleição, expedirá logo os diplomas aos verea-dores eleitos e praticará os demais atos de que trata o art. 151.

Art. 203. Se no caso do artigo antecedente se houver deproceder a 2? eleição para os lugares não preenchidos por faltade votação igual, pelo menos, ao quociente eleitoral, nos termosdo art. 199, o presidente da câmara municipal, à vista da atarespectiva, acompanhada de ofício da mesa comunicando o ocor-rido, mandará proceder à dita 2? eleição.

Art. 204. Quando se tiver deixado de proceder à eleiçãoem paróquias, distritos de paz ou secções, cujo número de eleito-res exceder a metade dos de todo o município, ou quando naseleições anuladas houver concorrido maior número de eleitoresdo que nas julgadas válidas, ficarão sem efeito as das outras

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paróquias e dos outros distritos de paz e secções, e se procederáa nova eleição geral no município.

Para esta nova eleição, o governo na corte, ou o presidentenas províncias, designará dia logo que tiver conhecimento de qual-quer dos fatos referidos.

Em nenhum outro caso se farão nova eleição geral.Art. 205. Quando nas eleições anuladas houver concorrido

menor número de eleitores do que nas julgadas válidas, devendoestas em tal caso prevalecer segundo a disposição do artigo ante-cedente, proceder-se-á a nova apuração dos votos das eleiçõesválidas. Se já se acharem em exercício os vereadores novamenteeleitos, procederá a esta nova apuração a câmara do quatriêniofindo.

Art. 206. No caso de morte, escusa ou mudança de domi-cílio de algum vereador, proceder-se-á à eleição para preenchi-mento da vaga.

A esta nova eleição se procederá em dia que será designadopelo governo na corte, ou pelo presidente nas províncias, logoque tiver conhecimento certo da vaga ou desta receber comunica-ção, que lhe deverá dirigir imediatamente o presidente da câma-ra municipal pelo correio soh registro.

Art. 207. A apuração geral dos votos na eleição de juizesde paz será feita pela câmara municipal respectiva, quando aparóquia ou o distrito de paz estiver dividido em secções.

§ 19 À dita apuração se procederá em seguida à dos votospara vereadores, pelo mesmo modo estabelecido quanto à últimanos arts. 197 e 198.

§ 29 A eleição de juizes de paz será regulada pela plurali-dade relativa de votos.

Serão declarados juizes de paz os quatro cidadãos que tive-rem a maioria dos votos segundo a ordem da votação, e seus su-plentes os que se lhes seguirem em votos, pela mesma ordem.

Art. 208. Da apuração geral dos votos para juizes de pazse lavrará ata especial, pelo mesmo modo estabelecido para aeleição de vereadores no art. 201, e dela serão extraídas e reme-tidas as cópias de que trata o § 19 do dito artigo.

Aos juizes de paz eleitos serão expedidos diplomas pelo modoestabelecido no § 29 do mesmo artigo.

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Art. 209. Quando a elevação de juizes de paz for feita emparóquia ou distrito não divididos em secções, a respectiva mesaeleitoral, finda a eleição, expedirá fogo aos juizes de paz eleitosos diplomas, e praticará os demais atos de que trata o art. 151.

Art. 210. Quando na eleição de juizes de paz feita em pa-róquia ou distrito divididos em secções, se der algumas das hipó-teses mencionadas no art. 204, terá aplicação a essa eleição o dis-posto no mesmo artigo.

Art. 211. Quando alguma vila for elevada à categoria decidade, a respectiva câmara municipal continuará a funcionar como número de vereadores que tiver, até à posse dos que foremnomeados na eleição geral para o quatriênio seguinte.

Art. 212. A disposição do art. 167 não impede a eleição decâmaras e juizes de paz nos municípios, paróquias e distritos depaz que forem novamente criados, contanto que o sejam dentrodos limites marcados para os distritos eleitorais.

As câmaras e juizes de paz, eleitos em conformidade desteartigo, só terão exercício até tomarem posse os que deverem ser-vir em virtude da eleição geral de que trata o art. 191.

Art. 213. Na paróquia novamente criada constituindo umsó distrito de paz, ou nos distritos de paz de paróquia novamentecriada, se no 19 caso a nova paróquia, e no 2"? os distritos de paztiverem sido integralmente desmembrados de outra ou de outrasparóquias, os juizes de paz eleitos na última eleição geral conti-nuarão a servir até ao fim do quatriênio.

Art. 214. Quando os juizes de paz de um distrito, que fordividido em dois ou mais, ficarem residindo uns no território aque se houver reduzido o primeiro, e os outros nos territórios dosdistritos novamente criados, far-se-á nova eleição nos mesmos dis-tritos, observando-se a disposição da 2^ parte do art. 212.

Art. 215. No caso de se compreenderem em alguma paró-quia que constitua um só distrito de paz, ou em algum distrito depaz ou secção, territórios pertencentes a dois municípios as cédu-las, na eleição de vereadores, relativas a cada um dos municípios,serão apuradas separadamente, e a respectiva mesa eleitoral reme-terá cópia da ata às câmaras de ambos os municípios para o fimde serem contemplados na apuração geral os votos concernentesà eleição dos vereadores de cada um dos mesmos municípios.

Art. 216. O juiz de direito da comarca continua a ser o fun-cionário competente para conhecer da validade ou nulidade não

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só da eleição de vereadores e de juizes de paz, mas também daapuração dos votos, decidindo todas as questões concernentes aestes assuntos.

§ 1° Cabe-lhe porém exercer esta atribuição só em virtudede reclamação que lhe for apresentada dentro do prazo de 30 dias,contados do dia da final apuração dos votos.

É final apuração, quanto à eleição de vereadores, a apura-ção a que se refere o art. 201, e, quanto à eleição de juizes de paz,a apuração feita pelas mesas eleitorais no caso do art. 209, oupelas câmaras municipais no caso do art. 207.

§ 2? Nas comarcas especiais de mais de um juiz de direitocompetirá a dita atribuição ao juiz de direito do l? distrito crimi-nal, e, na sua falta, aos que deverem substituí-lo.

Art. 217. Será declarada nula a eleição de vereadores oude juizes de paz nos seguintes casos:

!<.' Falta de observância ou infraçâo das disposições dos arts.126, quanto ao dia e ao edifício designados para a eleição; 127,128, 129. 130, 132, 137; 141, quando o número dos votos ilegal-mente recebidos ou recusados puder influir no resultado da elei-ção; 143 parte 3a; e 149 § 4?, quando provier de fraude a faltade transcrição da ata da eleição no livro de notas do tabelião oudo escrivão de paz.

2'.' Prova plena de fraude que prejudique o resultado daeleição.

Será declarada nula a apuração geral dos votos, quando severificar falta de observância ou infraçâo das disposições do § 2?do art. 197 e dos arts. 198, na parte em que se refere ao art. 159e parágrafos; 201, excetuados os seus parágrafos; e 208; ou quan-do houver prova plena de fraude, praticada no mesmo ato, queprejudique o resultado da eleição.

Art. 218. O juiz de direito deverá proferir o seu despachono prazo improrrogável de 15 dias, contados da data em que lhefor apresentada a reclamação, se em seu poder se acharem as có-pias autênticas das atas de que tratam os arts. 151 e 201 § l?, ouno caso contrário, do dia em que receber estas cópias.

Art. 219. O despacho pelo qual for anulada a eleição será,por ordem do juiz de direito, intimado por carta do escrivão dojúri à câmara municipal e também a cada um dos membros damesa eleitoral, e por edital aos interessados.

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Quando for anulada a apuração geral, o juiz de direito man-dará do mesmo modo intimar o seu despacho à câmara munici-pal, e por edital aos interessados.

Art. 220. Das decisões do juiz de direito sobre as eleiçõesde vereadores e de juizes de paz, ou sobre a apuração dos votos,em conformidade dos artigos antecedentes, haverá recurso paraa Relação do distrito.

§ l? Da decisão pela qual for aprovada a eleição, ou a apu-ração, só haverá recurso voluntário, interposto, dentro do prazode 30 dias, contados da publicação do edital da mesma decisão,por qualquer eleitor do município, da paróquia ou do distrito depaz, conforme for a eleição.

§ 2? Do despacho porém pelo qual for anulada a eleição,ou a apuração, haverá recurso necessário com efeito suspensivopara a Relação do distrito, além do recurso que a qualquer cida-dão é lícito interpor.

Art. 221. No caso de recurso necessário, o juiz de direito,no prazo de 15 dias, contados da data da sua interposição, deveráenviar à Redaçao do distrito as atas, com seu despacho motivadoe com as alegações e documentos do recorrente.

Art. 222. Os recursos interpostos para a relação serão jul-gados por todos os seus membros presentes, no prazo de 30 diascontados da data do recebimento dos processos na respectiva se-cretaria.

Nestes processos não terá lugar o pagamento de seío, nemde custas, exceto as dos escrivães, que serão cobradas pela metade.

Art. 223. Serão observadas quanto ao julgamento dos refe-ridos recursos, na parte que for aplicável, as disposições dos arts.80 e 81.

Art. 224. As férias judiciais não interromperão os prazosestabelecidos relativamente à interposição e ao processo e julga-mento dos recursos.

Art. 225. Dentro do prazo de três dias da data do acórdãopelo qual for julgado o recurso o presidente da Redaçao remete-rá uma cópia do mesmo acórdão, na corte ao ministro do império,e nas províncias ao presidente; e outra ao juiz de direito de cujadecisão se houver interposto o recurso.

Art. 226. Dentro de três dias contados do recebimento dacópia do acórdão a que se refere o artigo antecedente o juiz de

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direito: 1<? mandará publicá-la pela imprensa, sendo possível, epor editais afixados em lugares públicos da sede do município, sea decisão versar sobre eleição de vereadores, ou no respectivodistrito, se a decisão for relativa à eleição de juizes de paz; 2<? re-meterá cópia do mesmo acórdão à câmara municipal respectivapara os devidos efeitos.

§ l? No caso de ficar anulada a eleição em virtude doacórdão o governo na corte, ou o presidente nas províncias, man-dará imediatamente proceder a nova eleição.

§ 2? No caso de ser anulada a apuração dos votos a câ-mara municipal procederá a nova apuração nos termos do acór-dão, ou da decisão do juiz de direito, se tiver sido confirmada,dentro do prazo de 10 dias, contados do em que houver recebidoa cópia do dito acórdão.

Art. 227. Logo que ao juiz de direito for apresentado orecurso para ele interposto, ou logo que recorrer da decisão queproferir, mandará o mesmo juiz de direito publicar o fato poredital e pela imprensa, sendo possível.

Art. 228. As câmaras não poderão funcionar sem a pre-sença da maioria de seus membros.

Ao vereador que faltar à sessão sem motivo justificado seráimposta a multa de 10$000 nas cidades e de 5$000 nas vilas.

Art. 229. Quando em razão de vagas ou de faltas de com-parecimento não puderem reunir-se vereadores em número ne-cessário para celebrarem-se as sessões, serão chamados para per-fazerem a maioria dos membros da câmara os precisos imediatosem votos aos vereadores. Se, no caso da última parte do art.199, se houver procedido a duas eleições para vereadores, aque-les imediatos serão os da l? eleição.

Só poderão ser chamados, em tais casos, os imediatos emvotos aos vereadores até número igual ao dos vereadores de quea câmara se compuser.

Art. 230. As funções de vereador e de juiz de paz são in-compatíveis com as de empregos públicos retribuídos; e não po-dem ser acumuladas com as de senador, deputado à assembleiageral e membro de assembleia legislativa provincial, durante asrespectivas sessões.

Art. 231. Os vereadores e juizes de paz do quatriênio an-terior são obrigados a servir enquanto os novos eleitos não fo-

464

rem empossados, e bem assim quando, por qualquer motivo, dei-xar de funcionar a câmara municipal e for absolutamente im-possível a sua reunião apesar da disposição do art. 229.

T Í T U L O IIIDa Parte Penal

Art. 232. Além dos crimes, contra o livre gozo e exercí-cio dos direitos políticos do cidadão, mencionados nos arts. 100,101 e 102 do Código Criminal, serão também considerados cri-mes os definidos nos parágrafos seguintes e punidos com as pe-nas nestes estabelecidas:

§ l? Apresentar-se algum indivíduo com título eleitoralde outrem. votando ou pretendendo votar:

Penas: prisão de um a nove meses e multa de 100$ a300$000.

Nas mesmas penas incorrerá o eleitor que concorrer paraesta fraude, fornecendo o seu título.

§ 21? Votar o eleitor por mais de uma vez na mesma elei-ção, aproveitando-se de alistamento múltiplo:

Penas: privação do direito do voto ativo e passivo por qua-tro a oito anos e multa de 1003 a 300^000.

§ 3'.' Deixar a autoridade competente de incluir no alista-mento dos eleitores cidadão que, nos termos deste Regulamento,tenha provado estar nas condições de eleitor, incluir o que nãoestiver em tais condições ou excluir o que não se achar com-preendido em alguns dos casos do art. 40:

Demorar a extraçào, expedição e entrega dos títulos ou do-cumentos, de modo que o eleitor não possa votar, ou instruiro recurso por ele interposto:

Penas: suspensão do emprego por seis a dezoito meses emulta de 200$ a 600$000.

§ 41-' Deixar a autoridade competente de preparar e enviarao juiz de direito, nos termos do art. 30, os requerimentos doscidadãos que pretenderem ser alistados e as relações que os de-vem acompanhar:

Penas: suspensão do emprego por urn a três anos e multade 300$000 a 1:000$000.

465

Page 239: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

Nas mesmas penas incorrerá o empregado que ocultar ouextraviar títulos de eleitor e documentos, que lhe forem entre-gues, relativos ao alistamento.

§ 51? Passar certidão, atestado ou documento falso, queinduza a inclusão no alistamento ou a exclusão:

Penas: as do art. 129 § 81? do Código Criminal.Ao que se servir de certidão, atestado ou documentos falsos

para se fazer alistar:Penas: as do art. 167 do Código Criminal.§ 6<? Impedir ou obstar de qualquer maneira a reunião da

mesa eleitoral ou da junta ou câmara apuradora no lugar desig-nado:

Penas: prisão por um a três anos e multa de 500® a1:000$000.

§ 7? Apresentar-se alguém munido de armas de qualquernatureza:

Penas: prisão por seis meses a um ano e multa de 100$ a3003000.

Se as armas estiverem ocultas:Penas dobradas.§ 8? Violar de qualquer maneira o escrutínio, rasgar ou

inutilizar livros e papéis relativos ao processo da eleição:Penas: prisão com trabalho por um a três anos e multa de

1:000$ a 3:000$, além das penas em que incorrer por outroscrimes.

§ 9? Ocultar, extraviar ou subtrair alguém o título do elei-tor:

Penas: prisão por um a seis meses e multa de 100$ a300$000.

§ 10. Deixar a mesa eleitoral de receber o voto do eleitorque se apresentar com o respectivo título:

Penas: privação do voto ativo e passivo por dois a quatroanos e multa de 400$ a 1:200$000.

§ 11. Reunir-se a mesa eleitoral ou a junta ou câmaraapuradora fora do lugar designado para a eleição ou apuração:

Penas: prisão por seis a dezoito meses e multa de 500$ a1:500$000.

466

§ 12. Alterarem o presidente e os membros da mesa elei-toral ou da junta ou câmara apuradora o dia e a hora da elei-ção, ou induzirem por outro qualquer meio os eleitores em erroa este respeito:

Penas: privação do direito do voto ativo e passivo por qua-tro a oito anos e multa de 500$ a 1:000$000.

§ 13. Fazer parte ou concorrer para a formação de mesaeleitoral ou de junta ou câmara apuradora ilegítimas:

Penas: privação do voto ativo e passivo por quatro a oitoanos e multa de 300$ a 1:000$000.

§ 14. Deixar de comparecer, sem causa participada, paraa formação da mesa eleitoral, conforme determinam os arts. 100e 108:

Penas: privação do voto ativo e passivo por dois a quatroanos e multa de 200$ a 600$000.

Se por esta fal ta não se puder formar a mesa:Penas: privação do voto ativo e passivo por quatro a oito

anos e multa de 400$ a 1:200$000.§ 15. O presidente da província que, por demora na ex-

pedição das causas a se não concluírem ern tempo as eleições:Penas: suspensão do emprego por seis meses a um ano.

§ 16. A omissão ou negligência dos promotores públicosno cumprimento das obrigações que lhos são impostas pela Lein<? 3.029, de 9 de janeiro de 1881 e mencionadas neste Regula-mento será punida com suspensão do emprego por um a trêsanos e multa de 300$ a 1:000$000.

§ 17. As disposições dos arts. 56 e 57 do Código Criminalsão aplicáveis aos multados que não tiverem meios ou não qui-serem satisfazer as multas.

Art. 233. No processo e julgamento dos crimes previstosno artigo antecedente, ainda quando cometidos por pessoas quenão são empregados públicos, se observarão as disposições doart. 25 §§ 1° e 5(> da Lei n? 261, de 3 de dezembro de 1841 erespectivos Regulamentos.

§ 1 Nestes processos observar-se-á o disposto nos arts. 98e 100 da mesma Lei, quanto ao pagamento de custas e selos, enão retardados pela superveniência de férias.

467

Page 240: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

As primeiras certidões serão passadas gratuitamente.§ 2? Aos promotores públicos das respectivas comarcas se-

rão intimadas todas as decisões proferidas pelas autoridades com-petentes, a fim de promoverem a responsabilidade dos funcio-nários que nela houverem incorrido, ou requererem o que forde direito.

Art. 234. Serão multados administrativamente quando dei-xarem de cumprir quaisquer das obrigações que lhes são im-postas:

§ l? Pelo ministro do império na corte e pelo presidentenas províncias:

I. Os juizes de direito e as câmaras municipais, funcionan-do como apuradores de atas de assembleias eleitorais, na quan-tia de 100$ a 300$ os primeiros, e de 50$ a 200$ cada vereador.

II. Os funcionários e empregados públicos que deixaremde prestar as informações exigidas para o alistamento dos elei-tores, na quantia de 50$ a 200$000.

§ 2(-) Pêlos juizes de direito:I. As mesas eleitorais: na quantia de 250$ a 500$, reparti-

damente pêlos seus membros.II. Os presidentes das mesas eleitorais ou seus substitu-

tos, chamados para apuração de atas de assembleias eleitorais,que não comparecerem sem motivo justificado, na quantia de50$ a 200$ cada um.

III. Os tabeliães incumbidos da transcrição de ata de apu-ração de votos, na quantia de 50$ a 100$000.

§ 3? Pelas mesas eleitorais:I. Os membros destas que não comparecerem, se ausenta-

rem ou deixarem de assinar a ata sem motivo justificado, naquantia de 50$ a 100$000.

II. Os cidadãos convocados para a formação das mesmasmesas que não comparecerem ou que, tendo comparecido, nãoassinarem a ata, na quantia de 50$ a 100$000.

III. Os escrivães de paz ou de subdelegacia de polícia, cha-mados para qualquer serviço em vitrude da Lei n? 3.029, de9 de janeiro de 1881 e deste Regulamento, na quantia de 50$ a100$000.

468

§ 49 Da imposição das multas administrativas cabe recursona corte para o governo, e nas províncias para o presidente.

Art. 235. As multas estabelecidas pela Lei n1? 3.029, de9 de janeiro de 1881 e mencionadas neste Regulamento farãoparte da renda municipal do termo em que residir a pessoamultada, e serão cobradas executivamente.

T I T U L O IVDisposições gerais

Art. 236. No caso de dissolução da câmara dos deputadosservirá para a eleição o alistamento ultimamente revisto, nãose procedendo a nova revisão entre a dissolução e a eleição quese fizer em consequência dela.

Se porém ao tempo em que o ato da dissolução se realizarjá se estiver procedendo à revisão, prosseguir-se-á nos trabalhosdesta, mas o alistamento revisto não servirá para aquela eleição.

Art. 237. No caso de empate nas apurações últimas devotos em qualquer eleição será preferido o cidadão que for maisvelho em idade.

Art. 238. As câmaras municipais fornecerão os livros ne-cessários para os trabalhos do alistamento dos eleitores e os detalões, devendo estes conter impressos os títulos de eleitor, bemcomo fornecerão os livros, urnas e mais objetos necessários pa-ra a eleição, e preparação os edifícios em que se tiverem de fa-zer as eleições.

A importância destes livros e demais objetos será paga pelogoverno, quando as câmaras não puderem, por falta de meios,satisfazer a despesa.

No caso de não serem fornecidos pelas câmaras municipaisos mencionados livros, suprir-se-á a falta por outros, que serãonumerados e rubricados, com termo de abertura e encerramen-to, pêlos juizes de direito ou juizes municipais e pêlos presi-dentes das mesas eleitorais ou juntas apuradoras.

Art. 239. O serviço eleitoral e o exercício do direito devotar preferem a qualquer serviço público.

Art. 240. São proibidos arrumamentos de tropas e qual-quer outra ostentação de força militar no dia da eleição a umadistância menor de seis quilómetros do lugar em que a eleiçãose fizer.

4fl!)

Page 241: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

Art. 241. Em virtude do art. 36 da Lei n? 3.029 de 9 dejaneiro de 1881:

§ l? Fica sujeito à aprovação do poder legislativo esteRegulamento na parte a que se refere o citado art. 36.

§ 2? Depois do ato do poder legislativo de que trata oparágrafo antecedente considerar-se-ão revogadas as leis e dis-posições anteriores à citada Lei n<? 3.029 e a este Regulamento,relativas a eleições.

§ W Publicado este Regulamento cessará desde logo a atri-buição concedida ao governo e aos presidentes de província noart. 120 da Lei n9 387 de 19 de agosto de 1846.

Art. 242. Ficam sem efeito desde já as Instruções quepara o l1? alistamento dos eleitores, ao qual se tinha de proce-der em virtude da Lei n? 3.029 de 9 de janeiro de 1881, man-dou observar o Decreto n? 7.981 de 29 do mesmo mês e ano.

O Barão Homem de Mello, de Meu Conselho, Ministro e Se- |cretário de Estado dos Negócios do Império, assim o tenha en-tendido e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro, em 13 deagosto de 1881, 60^ da Independência e do Império.

Com a rubrica de Sua Majestade o Imperador. MODELOS

Barão Homem de Mello.

470

Page 242: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

MUNICÍPIO O I-:..-

do ctnno do.,,Província de.. .

Eleitores alistados na comarca.,,. (A)

PARTEI

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Fazenda de. . . . . . .

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Mo f i 1)0 lar o ocrcver

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N. B.— E a^siiti por diante quanto áa parochias. Kala 1.» parlo ó para o registro Jo luaoíeipio. O modelo para o ro;i?tro ;crai da -:ci"i ser.m «ai o, com o ïccresïimO do outro uiuDicipio qae porTeoltir» a comarca t iver .

Page 243: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

Kle.tores da comarca.MU>'TOïr*IO ... ( V )

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Província de. . .(A) que transferiram, eeu domicilio dentro da mesma comarca

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Page 244: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

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Província de. . . .Cidadãos incluídos no alistamento da comarca de......... em virtude de recursos

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Page 245: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

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Idade

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Profigjïo

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Inïlrucçïo

JViimera dt afdcM.

No alistamonlo gorai.

No aüstaincnto da rorlslo.

Fiíiafio Data do aKítaaituto

Auigiiatvn ia tïtitor. K.HJ e assiynatura dt Juit dtftrriía.

DECRETO N? 8.308, DE 17 DE NOVEMBRO DE 1881

Fixa a inteligência do art. 177 do Regulamenton? 8.213, de 13 de agosto do corrente ano.

Suscitando-se dúvidas sobre a inteligência do art. 177 doRegulamento que baixou com o Decreto n*? 8.213, de 13 deagosto último, visto entenderem uns que em face da segundaparte do mesmo artigo à Junta apuradora compete em todo casoconhecer do modo por que se organizaram as mesas eleitorais, erestringirem outros esta faculdade ao caso de serem presentes àJunta mais de uma autêntica da mesma eleição; e podendo destadivergência de opiniões resultar conflitos que embaracem asfunções da mesma Junta, hei por bem, conformando-me com oparecer das Seções reunidas dos Negócios do Império e da Jus-tiça do Conselho de Estado, declarar o seguinte:

Devendo a Junta apuradora limitar-se a somar os votos men-cionados nas diferentes autênticas como é expresso no art. 177do regulamento, somente na hipótese de lhe serem presentesmais de uma autêntica da mesma eleição, compete-lhe procedernos termos do final do citado artigo, somando os votos da autên-tica da eleição feita perante a mesa organizada na forma da lei,com exclusão dos outros.

Manoel Pinto de Souza Dantas, Conselheiro de Estado, Se-nador do Império, Ministro e Secretário de Estado dos Negóciosda Justiça e interino dos do Império, assim o tenha entendidoe faça executar. Palácio do Rio de Janeiro, em 17 de novembrode 1881, 60? da Independência e do Império.

Com a rubrica de Sua Majestade o Imperador.

Manoel Pinto de Souza Dantas

479

Page 246: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

CONSULTAS DAS SEÇÕES REUNIDAS DOS NEGÓCIOS DOIMPÉRIO E DA JUSTIÇA DO CONSELHO DE ESTADO, DE17 DE NOVEMBRO DE 1881, SOB A INTELIGÊNCIA DOART. 177 DO REGULAMENTO N? 8.213, DE 13 DEAGOSTO DO MESMO ANO.Senhor. — Mandou Vossa Majestade Imperial que as Se-

ções reunidas dos Negócios do Império e da Justiça do Conselhode Estado consultassem com o seu parecer sobre a matéria cons-tante do Aviso de 14 do corrente mês, deste teor:

l? Diretoria — Ministério dos Negócios do Império. — Riode janeiro, 14 de novembro de 1881.

Ilm? e Exm9 Sr: Pelo Juiz de Direito Presidente da Juntaapuradora do 29 distrito eleioral do município da Corte, me foicomunicado que, na ocasião de proceder a Junta à apuração deque trata o art. 177 do Regulamento de 13 de agosto último, lhefoi presente uma reclamação de um eleitor da paróquia de SantaRita, representando contra a regularidade da organização dasmesas eleitorais da l1? e 2? seções do l? distrito de paz da men-cionada paróquia e pedindo que deixassem de ser somados osvotos mencionados nas respectivas autênticas.

Suscitando-se divergência no seio da Junta apuradora, en-tendendo alguns de seus membros, em maioria, que a Junta temcompetência para tomar conhecimento da dita representação eproceder no sentido requerido pelo eleitor, e entendendo outrosque a Junta devia limitar-se a mencionar na ata respectiva a re-ferida representação. Há sua Majestade o Imperador por bemque as Seções reunidas nos Negócios do Império e da Justiça doConselho de Estada, servindo V. Ex? de relator, consultem comseu parecer sobre esta questão, reunindo-se para este fim na Se-cretaria de Estado dos Negócios do Império no dia 17 às 2 horasda tarde.

Deus Guarde a V. Ex? — Manoel Pinto de Souza Dantas —Sr. Visconde de Jaguari".

Bem ponderada e discutida a matéria por todos os Conse-lheiros reunidos em conferência sob a presidência do ConselheiroManoel Pinto de Souza Dantas, Ministro e Secretário de Estadodos Negócios do Império, foram acordes no seguinte parecer:

A opinião favorável à competência da Junta apuradora paratomar conhecimento da regularidade da organização das mesaseleitorais e deixar de somar os votos mencionados nas autên-ticas vindas de mesas que no seu entender não tiverem sido or-

480

i;;mi/.;ukis regularmente, não tem fundamento plausível no art.177 do líegulamento de 13 de agosto último, em que procura

A di.sposição desse artigo em seu começo, sendo terminantep;ir;i que a Junta se limite a somar os votos mencionados nasdi fe ren tes autênticas, não permite supor que nas palavras sub-sequentes que completam e tornam exequível em todas as hipó-teses este preceito, o contrariasse ou anulando-o inteiramente.

As expressões — atendendo somente às das eleições feitasperante mesas organizadas de conformidade com as disposiçõesda seção l? deste capítulo — em vez de autorizarem um arbítrionovo e nunca usado nas anteriores apurações, consagram saluta-res restrições à intervenção cometida à Junta apuradora para oconhecimento do resultado da votação.

De outra sorte o Regulamento não se conformaria com adeterminação expressa da lei, assim concebida:

"Na apuração a Junta se limitará a somar os votos mencio-nados nas diferentes autênticas, atendendo somente às das elei-ções feitas perante mesas organizadas pela forma determinadanos §§ 7? e 11 do art. 15, procedendo no mais como dispõe alegislação vigente."

A palavra — forma — de que se serve a lei, não pode auto-rizar investigação que não se refira à composição exterior dasmesas, pois que o conhecimento da legitimidade da eleição éprivativo, pela Constituição, da Câmara repectiva.

Um grande defeito do antigo sistema eleitoral, demonstra-do pela experiência, era a faculdade concedida às Câmaras Mu-nicipais para a escolha da ata que lhes parecesse mais legítimano caso de duplicata.

A lei novíssima pôs grande empenho em corrigir tal defeito,dificultando as duplicatas e estabelecendo regra para apuração,no caso de haver mais de uma autêntica na mesma eleição, subs-tituindo o arbítrio da escolha da ata que parecesse mais legítima,pela obrigação de apurar a da eleição feita perante mesa orga-nizada na forma da lei, fácil de distinguir-se da outra, bastandopara isso atender às circunstâncias do lugar e do tempo prescri-tas pela lei.

Pela legislação anterior não tiveram as Câmaras Municipais,então encarregadas da apuração, faculdade para deixar de so-mar os votos de alguma autêntica de colégio eleitoral fora doaludido caso de duplicatas.

481

Page 247: Belisário - o Sistema Eleitoral No Império

r

Não é concebível que a lei novíssima a concedesse às Juntas,principalmente no primeiro escrutínio em que o abuso da apu-ração não teria corretivo que satisfizesse direitos ofendidos.

Semelhante faculdade é subversiva do pensamento da lei ede todo o sistema que ela combinou para alcançar a legitimidadeda eleição.

Não pode, pois, ser tolerada.Em seguida o Ministro manifestou o desejo de ouvir o pare-

cer dos mesmos Conselheiros de Estado sobre uma questão co-nexa com a antecedente e ofereceu à sua consideração o seguintequesito:

— Dado o caso de que o Governo Imperial se conforme comeste parecer das Seções, expedindo as providências convenientes,de que meio se servirá para fazê-las efetivas quando a maioriade uma Junta a isso se recuse?

Foram acordes os mesmos Conselheiros em declarar que,não tendo a lei cogitado desta hipótese, não providenciou a esterespeito, mas verificada ela, a providência que lhes parece maisadaptada é a de ordenar-se a substituição legal dos membros daJunta que, embaraçando a fiel execução da lei, mostram assimabandonar o exercício legítimo de suas funções.

Tal é, Senhor, o parecer das Seções reunidas dos Negóciosdo Império e da Justiça.

Sala das conferências das Seções reunidas dos Negócios doImpério e da Justiça do Conselho de Estado em 17 de novembrode 1881. — Visconde de Jaguary — Visconde de Abaete — Vis-conde de Niterói — Visconde de Bom Retiro — Paulíno JoséSoares de Souza — Jerônimo José Teixeira Júnior.

Resolução. — Como parace. — Paço de S. Cristóvão, 17 denovembro de 1881. — Com a rubrica de Sua Majestade o Impera-dor — Manoel Pinto de Souza Dantas.

DECRETO N* 3.133, DE 7 DE OUTUBRO DE 1882

Altera algumas disposições da Lei n? 3.029, de 9 dejaneiro de 1881

Hei por bem sancionar e mandar que se execute a seguinteResolução da Assembleia Geral:

Art. IP As disposições da Lei n? 3.029, de 9 de janeirode 1881, relativas à revisão do alistamento dos eleitores, serãoobservadas com as alterações que constam dos parágrafos desteartigo.

§ l? O § 1 do art. 3? da dita lei fica substituído pelo se-guinte:

Quanto à renda proveniente de imóveis:I. Se o imóvel se achar na demarcação do imposto predial

ou décima urbana — com certidão ou recibos de repartição fiscal,de que conste estar o imóvel averbado com valor locativo nãoinferior a 200$ desde um ano antes, pelo menos, do último diado prazo do § 6? do art. 6? da mesma lei, e ter sido pago aqueleimposto desde o mesmo tempo.

U. Se o imóvel não se achar na demarcação do impostopredial ou décima urbana, ou não estiver sujeito a este imposto,ou se consistir em terrenos de lavoura ou de criação ou em quais-quer outros estabelecimentos agrícolas ou rurais — pela compu-tação da renda à razão de 6% quanto aos prédios, e de 10%quanto aos terrenos de lavoura ou de criação ou quaisquer outrosestabelecimentos agrícolas ou rurais, sobre o valor do imóvel,verificado por título legítimo de propriedade ou posse passadono nome do cidadão, ou no de sua mulher, com a data de umano antes, pelo menos, do último dia do prazo do § 6<? do art.69 da dita lei, ou com qualquer data se o título for sentença ju-diciária que reconheça a propriedade ou posse.

Se o título da propriedade ou posse for de permuta ou doa-ção, não será computado valor superior ao que se tiver dado ao

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imóvel no título, que também será exibido, da propriedade ouposse do doador ou perrnutante, sendo aplicável a este caso adisposição do § 5? seguinte, quando se verificar a respeito doimóvel permutado ou doado qualquer das circunstâncias a quese refere o mesmo parágrafo.

Não será admitido para o efeito de que se trata qualquertítulo que contenha cláusula reversiva de propriedade ou posse.

§ 2? Se o cidadão possuir diversos imóveis, cada um dosquais tenha valor locativo ou próprio inferior ao mencionado noparágrafo antecedente, a prova da renda legal será feita sobreos valores reunidos de mais de um desses imóveis.

§3? Se a mais de um cidadão pertencer um imóvel, a rendalegal de cada um desses cidadãos será computada sobre o valorcorrespondente à parte que nele tiver, segundo o valor totallocativo ou próprio do mesmo imóvel, verificado pêlos modosestabelecidos nos n?s i e II do 8 l? deste artigo.

§ 4'-' Quando tenha sido alienada parte somente de umapropriedade que consista cm terrenos de lavoura ou criação, ovalor dessa parte, para prova da renda legal do cidadão que ahouver adquirido, será verificado não só pelo título de que tratao n(.' II do § l1? deste artigo, o qual neste caso deve ter data detrês anos antes, pelo menos, do último dia do prazo do § 6<? doart. 6(.' da dita Lei n? 3.029, mas também e conjuntamente poravaliação judicial , à qual se procederá pelo seguinte modo:

I. A avaliação será feita perante o Juiz de Direito da co-marca ou, nas que tiverem mais de um Juiz de Direito, perantequalquer deles, com assistência do Promotor Público, por doisperitos nomeados, um pelo cidadão que a requerer, e o outro peloAdministrador da Recebedoria ou Mesa de Rendas, ou pelo Cole-tor de rendas gerais do lugar.

Os ditos peritos se limitarão a declarar se o terreno tem ounão o valor exigido pela lei, de conformidade com o disposto non° II do § 1° do art. 19

Se houver divergência entre os dois, as partes nomearãoterceiro perito; e, se não chegarem a acordo quanto à nomeaçãodeste, será o mesmo perito designado pela sorte dentre dois no-mes, propondo um cada uma das partes. O terceiro perito assimnomeado será obrigado a cingir-se a um dos laudos divergentes.

II. O Juiz de Direito julgará a avaliação por sentença profe-rida no prazo de 15 dias contados do em que lhe forem conclusos

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os autos, ouvindo o Promotor Público, que responderá dentro docinco dias.

Cada processo poderá referir-se a mais de um terreno pos-suído, uma vez que pertençam a um só cidadão.

III. A sentença do Juiz de Direito será imediatamente in-timada ao Promotor, e publicada por edital afixado em lugarpúblico, e, sendo possível, pela imprensa. Desta sentença haverárecurso necessário para a Relação do distrito; cabendo tambémrecursos voluntários interpostos pelo próprio interessado ou seuprocurador especial, pelo Promotor ou seu adjunto e por qual-quer eleitor da comarca. Todos os ditos recursos terão efeitosuspensivo.

IV. Os recursos voluntários serão interpostos por meio derequerimento, e tomados por termo no próprio processo no prazode 15 dias contados do da publicação da sentença, alegando orecorrente no mesmo requerimento as razões do recurso, e jun-tando os documentos que julgar convenientes.

O Escrivão fará seguir o processo para a Relação do distritodentro dos 10 dias seguintes ao prazo marcado neste númeropara a interposição dos recursos.

V. A Relação, no prazo de 30 dias contados da data dorecebimento do processo na respectiva secretaria, julgará os re-cursos interpostos pelo modo determinado no § 2? do art. 9"? daLei n9 3.029, e no art. 80 do respectivo Regulamento n1? 8.213;observadas as disposições do § 3? do art. 9? da mesma Lei edo art. 81 e parágrafo do citado regulamento.

VI. A avaliação a que se refere o n1? I não poderá ser alte-rada pela sentença ou pelo acórdão de que tratam os n9s m e V;devendo limitar-se o julgamento à confirmação da mesma ava-liação, ou à sua anulação nos casos de infração de disposiçõesdeste parágrafo.

VII. No prazo de três dias contados da data do acórdão,o processo será devolvido ao Juiz recorrido, devendo constar daata do Tribunal a natureza da decisão do acórdão; e este Juizem igual prazo, contado do dia do recebimento do mesmo pro-cesso, fará publicar o acórdão por edital afixado em lugar pú-blico, e, sendo passível, pela imprensa.

VIII. No caso de ser a decisão proferida no acórdão favo-rável ao cidadão que tiver requerido a avaliação, e de não terhavido interposição de recurso voluntário, o Juiz de Direito man-dará entregar o processo, sem ficar traslado, ao mesmo cidadão

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mi a .seu especial procurador, a fim de ser exibido como provade renda legal.

Se, porém, tiver havido interposição de recurso voluntárioserão dadas ao referido cidadão para o mesmo fim cópias doacórdão e de quaisquer outros papéis que requerer, bem comoos documentos que houver juntado.

§ 59 Quando a renda do cidadão provier de imóveis com-preendidos em qualquer das classes designadas no n<? II do § 19deste artigo, terá lugar a avaliação judicial, feita nos termos doparágrafo antecedente, para provar:

I. O valor do prédio edificado pelo seu atual proprietário,suprindo a dita avaliação a falta do título de propriedade exigidono citado n? II.

II. O aumento do valor do prédio ou terreno depois de suaaquisição, em razão de benfeitorias acrescidas ou de alteração dovalor da propriedade, procedente da diversidade dos tempos oude outras circunstâncias.

§ 69 A disposição do n? I do § 29 do art. 39 da Lei número3.029, fica substituída pela seguinte:

Com certidão que mostre estar o cidadão inscrito no regis-tro do comércio — desde um ano antes, pelo menos, do últimodia do prazo do § 69 do art. 69 da dita lei como negociante, cor-retor ou agente de leilões —; e desde três anos antes, pelo me-nos, do dito dia, como administrador de trapiche, guarda-livros,ou primeiro caixeiro de casa comercial, ou administrador de fá-brica industrial, uma vez que a casa comercial ou a fábrica tenhao fundo capital de 6:800$ pelo menos;

Com certidão que mostre estar o cidadão inscrito em capi-tania do porto, com antecedência de um ano, como capitão denavio ou piloto de carta;

Com escritura pública cuja data seja de três anos antes, pelomenos, do último dia do prazo da citada disposição, ou escritoparticular lançado com igual antecedência em livro de notas,que mostre ser o cidadão administrador de fazenda ou fábricarural, cujo valor seja de 10:000$, pelo menos, verificado pelotítulo legítimo de propriedade ou posse destes estabelecimentosou por sentença judicial que as reconheça.

§ 79 As disposições dos n?s n, m e IV do § 2? do art. 39fla Lei n? 3.029 ficam substituídas pela seguinte:

Com certidão passada pela competente repartição fiscal, daqual conste não só que, desde dois anos antes, pelo menos, con-

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tados do último dia do prazo do § 69 da Lei n? 3.029, o cidadãopossui efetivamente qualquer estabelecimento industrial, ruralou comercial, mas também que por ele tem pago, durante o mes-mo tempo, o imposto geral ou provincial de indústria ou profis-são ou qualquer outro baseado no valor locativo do imóvel, naimportância de 24$, dentro dos limites da cidade do Rio de Ja-neiro, de 12$ dentro dos limites das outras cidades, e de 6$ nosdemais lugares do Império.

Não servirão para a prova da renda quaisquer outros im-postos não mencionados na dita lei.

§ 89 Fica revogada a disposição do n9 III do § 39 do art. 3?da Lei n? 3.029, quando exige a percepção de soldo ou pensãopara que possam os oficiais honorários ser alistados como elei-tores.

As praças de pré reformadas, que perceberem soldo não in-ferior à renda legal, têm direito a ser alistadas como eleitores.

§ 9? Ficam sem efeito as palavras "os Delegados e Subde-legados de Polícia", que se acham no n? III do art. 4"? da Lein? 3.029.

Na disposição do n<? XII do mesmo artigo compreendem-seos cidadãos qualificados jurados nas revisões dos anos de 1878e 1879.

§ 10. As disposições do art. 49 da Lei n<? 3.029 e do art.13 do Regulamento n? 8.213, com as alterações do parágrafoantecedente, isentando de prova da renda legal os cidadãos aque se referem, não os dispensam da prova de algum dos ou-tros requisitos legais da capacidade eleitoral, quando o Juiz deDireito a exigir à vista de reclamação procedente ou por terfundada razão de dúvida sobre a existência de tal requisito.

§ 11. As disposições do art. 59 da Lei n? 3.029, e do art. 14do Regulamento n? 8.213 serão executadas com as seguintes al-terações:

I. Da certidão de repartição fiscal, a que se refere o n? Ido § 19 do citado art. 59, deve constar que o prédio se achaaverbado com o exigido valor locativo desde três anos antes,pelo menos, do último dia do prazo do § 69 do art. 69 da dita lei,excetuado, quanto ao tempo da averbação, o caso de ter sido oprédio construído novamente.

II. A escritura pública ou o escrito particular lançado emlivro de notas, bem como a escritura pública, de que tratam os

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n'.'-1» II e III do § 19 do mesmo art. 59, devem ter a data de quatroanos antes, pelo menos, do último dia do mencionado prazo.

O título legítimo de propriedade ou posse, a que também serefere o citado n? II, deve ter data anterior a um ano antes,pelo menos, do referido dia.

III. Quando o arrendamento de terrenos de lavoura oucriação, de que trata o n? III do § 19 do referido art. 59, com-preender parte somente de uma propriedade territorial, o valorlocativo dessa parte arrendada será verificado, não só pela es-critura pública a que se refere o mesmo número, mas também, econjuntamente, por avaliação judicial feita pelo modo estabele-cido no anterior § 49

IV. O recibo exigido no n1? IV do § 19 do mencionado art.51? não dispensa em caso algum a apresentação das provas a quese refere o mesmo número.

V. Não se admitirá a provar a renda legal pelo valor loca-tivo do prédio em que residir, segundo os n9s I e II do § 19 dodito art. 59, senão o cidadão que houver alugado o prédio inteiro,salvo tendo este mais de um pavimento, caso em que será admi-tido o cidadão que tiver alugado todo o pavimento em que resi-dir com economia separada, pagando o valor locativo estabele-cido no n? I do mesmo artigo.

VI. As disposições do citado art. 59 e as do número antece-dente são em tudo aplicáveis aos sublocatários, juntando esteso contrato de locação entre o sublocador e o locador.

A prova da efetiva residência no prédio é em todos os casosnecessária para dar aos locatários e sublocatários o direito aserem alistados.

§ 12. A disposição do primeiro período do § 49 do art. 69da Lei n? 3.029, bem como a do art. 23 do Regulamento n9 8.213<sem prejuízo dos §§ 19 e 29 deste último artigo), ficam substituí-das pela seguinte:

Nenhum cidadão será incluído no alistamento dos eleitoressem o ter requerido por escrito de próprio punho e com assina-tura sua, provando o seu direito com os documentos exigidospela lei. Será, porém, admitido requerimento escrito e assinadopor especial procurador, no caso somente de impossibilidade fí-sica de escrever do cidadão, provada com documento.

§ 13. Quando, nos termos do parágrafo antecedente, forescrito e assinado por procurador especial o requerimento docidadão que pretender ser incluído no alistamento dos eleitores,

;i prova de saber o mesmo cidadão ler e escrever, da qual trata< > a r l . 8°, § 19, da Lei n? 3.029, será feita pela exibição de papel;ml(TÍormente escrito e assinado por esse cidadão, uma vez que;i l e i ra e assinatura estejam reconhecidas no próprio papel porl ;i bei ião.

fí 14. Os Juizes Municipais, dentro de três dias depois do(Mn que enviarem aos Juizes de Direito os requerimentos e asrelações mencionadas no § 89 do art. 69 da Lei n9 3.029, publica-rão por edital afixado em lugar público, e, sendo possível, pelaimprensa, na sede do município, os nomes de todos os cidadãosincluídos em cada uma dessas relações.

Se o Juiz Municipal deixar de enviar ao Juiz de Direito todosou alguns dos ditos requerimentos, os requerentes terão o di-reito de apresentar novos requerimentos ao Juiz de Direito, atéao 209 dia do prazo em que a este incumbe organizar o alista-mento, devendo os requerentes provar o fato com a exibiçãodos recibos do Juiz Municipal, passados na ocasião da entregados primeiros requerimentos.

O mesmo direito cabe ao cidadão cujo requerimento, apre-sentado no prazo legal, o Juiz Municipal recusar receber, provadaa recusa.

O Juiz de Direito, em qualquer dos referidos casos, tomaráconhecimento dos requerimentos e procederá, quanto a eles, nostermos do § 99 do art. 69 da dita lei.

§ 15. O direito, que pelo art. 9f-' da Lei n? 3.029 competea qualquer eleitor da comarca, de recorrer da decisão do Juizde Direito no caso de inclusão indevida de algum cidadão no alis-tamento dos eleitores, não fica prejudicado pelo fato de haverjá recurso interposto por outro eleitor sobre a mesma inclusão.

§ 16. Nos recursos interpostos contra a inclusão de cida-dãos no alistamento de eleitores é permitida prova, por escriturapública ou sentença passada em julgado, de simulação dos con-tratos, quer sobre propriedade ou posse, quer sobre rendas, oude ilegitimidade ou falsidade dos títulos ou certidões que te-nham servido de base ao alistamento.

§ 17. Além dos recursos estabelecidos no art. 99 da Lei.n? 3.029 e no capítulo V do Regulamento n9 8.213, haverá tam-bém para a Relação do distrito recurso do alistamento dos elei-tores quando nos trabalhos deste se tiver cometido qualquer dasseguintes irregularidades, que importarão nulidade total ou par-cial do alistamento:

Incompetência do Juiz organizador do alistamento;

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Falta de observância do prazo marcado no art. 69, § 69,I. Terão o direito de interpor este recurso o Promotor Pú-

blico ou seu adjunto ou três eleitores da comarca.II. Quanto à interposição e ao processo do referido recurso,

serão observadas as disposições do art. 99 da dita lei e do Capí-tulo V do regulamento citado, com as seguintes alterações:

O prazo de 30 dias para a interposição do recurso será con-tado do dia em que for feita a publicação do alistamento, aos ter-mos do § 10 do art. 69 combinado com o § 6? do art. 89 da mes-ma lei e do art. 50 do referido regulamento.

Nos 10 dias de que tratam o S 1° do art. 9? da dita lei e oart. 75 do citado regulamento, o Juiz de Direito, à vista das ra-zões alegadas e dos documentos apresentados, julgará válidoou nulo o alistamento, na totalidade ou na parte em que forarguido, e publicará imediatamente a sua decisão por editaisafixados em lugares públicos e, sendo possível, pela imprensa.

III. No caso de ser julgado válido o alistamento, cabe aorecorrente o direito de fazer seguir o processo para a Relação,de conformidade com as disposições do f j 19 do art. 99 da referidalei e do art. 75 do mencionado regulamento, tendo o recurso oefeito devolutivo somente.

No caso de ser julgado nulo o alistamento, a decisão nãoterá efeito imediato, e o recurso, com todos os papéis e documen-tos que o tiverem acompanhado, será remetido, no prazo de trêsdias, sob registro do Correio, pelo Juiz de Direito à Relação dodistrito.

IV. Se o Juiz de Direito deixar de remeter o recurso à Re-lação no dito prazo de três dias, terá o recorrente o direito deinterpô-lo diretamente perante aquele Tribunal no prazo de 15dias e mais tantos quantos corresponderem à distância, à razãode cinco léguas por dia.

Em todo caso incumbe ao Promotor Público fazê-lo seguir,quando o fato lhe for denunciado ou lhe constar de qualquer for-ma.

V. No caso de julgar a Relação nulo o alistamento, o res-pectivo Presidente enviará imediatamente ao Ministro do Impé-rio na Corte ou ao Presidente nas províncias cópia do acórdão,à vista do qual serão prontamente expedidas as necessárias or-dens a fim de se proceder a novo alistamento em toda a comarcaou na parte em que o alistamento tiver sido anulado.

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Neste caso serão restituídos aos cidadãos ou seus procura-dores especiais os documentos e mais papéis por eles apresenta-dos, relativos ao alistamento anulado, sem ficar traslado.

VI. Estes recursos serão julgados por todos os membrospresentes do Tribunal da Relação no prazo de 30 dias, contadosda data do recebimento dos processos na respectiva secretaria,do mesmo modo determinado no § 29 do art. 9? da lei e noart. 80 do regulamento citados para os recursos a que estes ar-tigos se referem; observando-se as disposições do § 39 do ditoart. 99 da mencionada lei- e dos arts. 81 e parágrafos e 82 doreferido regulamento.

Em caso de empate prevalecerá a decisão recorrida.§ 18. No prazo marcado para o julgamento na Relação

dos recursos de que tratam o art. 9? da Lei n9 3.029 e o capítuloV do Regulamento n? 8.213, bem como o parágrafo anteceden-te, não se computará o tempo da interrupção das scções do tri-bunal por falta de reunião de seus membros em número sufi-ciente para celebrá-las.

§ 19. Das decisões das Relações em caso de nulidade doalistamento haverá recurso para o Supremo Tribunal de Justiça,que decidirá defintivamente.

§ 20. Os emolumentos, de que trata o art. 15 do Regula-mento n? 8.213, pelas certidões e por outros documentos for-necidos por oficiais públicos para o alistamento dos eleitores,serão pagos pela metade.

Serão também pagas pela metade as custas dos Escrivãesnos processos de recursos sobre o dito alistamento, ficando osmesmos processos isentos de quaisquer despesas de preparo e dopagamento do selo e de outros direitos.

Quando, porém, os recursos forem intentados ex officio pe-lo Promotor Público, não terá lugar pagamento dos ditos emo-lumentos nem de custas.

§ 21. A sentença condenatória, passada em julgado, que,nos termos do § 59 do art. 29 da Lei n9 3.029 reconhecer a fal-sidade das certidões atestados ou outros documentos, que tive-rem induzido à inclusão de algum cidadão no alistamento doseleitores, ou que, segundo a disposição do § 39 do mesmo artigo,declarar que essa inclusão se fundou em documentos não admi-tidos pela lei como prova da capacidade eleitoral, importará aeliminação do cidadão assim alistado. Produzirá o mesmo efeitoa sentença condenatória em caso de simulação de contratos parao dito fim.

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T

Esta eliminação será ordenada pelo Juiz de Direito que tiverorganizada o respectivo alistamento .executada imediatamente epublicada, nos termos do § 89 da dita lei e do art. 50 do Regu-lamento n? 8.213.

§ 22. Os títulos dos eleitores de que tratam os §§ 15 e 16do art. 69 da Lei n? 3.029 poderão ser entregues a seus procura-dores especiais, passando estes recibos nas respectivas procura-ções, que ficarão arquivadas.

Neste caso, o cidadão a quem pertencer o título o assinará,nos termos dos ditos parágrafos, perante o Juiz de Paz em exer-cício da paróquia ou distrito de sua residência, ficando registra-do esse ato no competente protocolo do Escrivão do Juízo dePaz.

§ 23. São aptos para serem alistados como eleitores todosos cidadãos que, reunindo as demais condições legais, foremmaiores de 21 anos de idade,

Art. 2'.' Para a l? revisão do alistamento dos eleitores,além do prazo marcado no § 6? do art. 69 da Lei n<? 3.029, seráaberto outro prazo de 30 dias, que começará a correr no primei-ro dia útil do mós de janeiro de 1883, para o seguinte fim:

Até ao vigésimo dia deste último prazo serão entregues di-retamente aos Juizes de Direito os requerimentos, competente-mente instruídos, dos cidadãos que tiverem adquirido, em vir-tude das disposições da presente lei, o direito de serem incluídosno alistamento dos eleitores.

Os ditos Juizes, até ao último dia do referido prazo, julga-rão provado ou não o direito daqueles cidadãos procedendo pelomodo estabelecido no $ 9? do art. 69 da citada Lei n9 3.029, eobservando-se as subsequentes disposições da mesma lei, con-cernentes ao alistamento dos eleitores.

Art. 39 Ficam revogadas as disposições em contrário.Pedro Leão Velloso, do Meu Conselho, Senador do Império,

Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império, assimo tenha entendido e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro, em7 de outubro de 1882, 61? da Independência e do Império.

Com a rubrica de Sua Majestade o Imperador.

Pedro Leão Velloso.

DECRETO N? 3.340, DE 14 DE OUTUBRO DE 1887

Altera o processo das eleições dos membros dasAssembleias Legislativas Provinciais e dos Vereadoresdas Câmaras Municipais, e dá outras providências.

A Princesa Imperial Regente, em Nome do Imperador, hápor bem Sancionar e Mandar que se execute a seguinte Resolu-ção da Assembleia Geral:

Art. l? A eleição dos membros das Assembleias Legislati-vas Provinciais será feita, votando cada eleitor em tantos nomesquantos corresponderem aos dois terços do número dos mem-bros das ditas Assembleias que cada distrito eleitoral dever ele-ger.

§ 19 Para este efeito, cada um dos distritos eleitorais daProvíncia de Minas Gerais elegerá três membros da respectivaAssembleia Legislativa; cada um dos distritos da Província doPiauí elegerá nove membros; e cada um dos distritos das Pro-víncias do Amazonas, Pará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Es-pírito Santo, Santa Catarina, Paraná, S. Pedro do Rio Grandedo Sul, Goiás e Mato Grosso elegerá mais um membro.

Nos distritos de outras Províncias que elegem somente qua-tro ou cinco membros, o eleitor escreverá em sua lista, no pri-meiro caso três nomes, e no segundo quatro.

§ 29 Para preenchimento de vagas de membros das mes-mas Assembleias, votará cada eleitor em um ou dois nomes,sendo uma ou duas as vagas, e pelo modo estabelecido nos pa-rágrafos anteriores, se as vagas forem três ou mais.

§ 39 Considerar-se-ão eleitos membros das referidas Assem-bleias os cidadãos que reunirem a maioria relativa de votos doseleitores que concorrerem à eleição, até o número que ao respec-tivo distrito couber eleger, sendo para este efeito contados osvotos tomados em separado pelas mesas das assembleias eleito-rais.

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§ 4? Pode ser eleito membro de Assembleia LegislativaProvincial cidadão que, embora não residente na Província, nelatenha nascido.

§ 5? Pode ser eleito membro da Assembleia Legislativado Rio de Janeiro cidadão residente na Corte.

Art. 29 A eleição dos Vereadores das Câmaras Municipaisserá feita pelo mesmo modo estabelecido no artigo antecedentee §§ 2? e 3?

Se o número de vereadores exceder ao múltiplo de três,cada eleitor adicionará aos dois terços um ou dois nomes, con-forme for o excedente.

Art. 31? Formar-se-á mesa e haverá eleição para Senadores,Deputados, membros das Assembleias Provinciais, Vereadores eJuizes de Paz em todas as paróquias criadas por atos legislativosprovinciais até o dia 31 de dezembro de 1886.

Igualmente haverá eleição nos distritos de paz em que seacharem alistados 20 eleitores pelo menos.

Art. 49 Revogam-se as disposições em contrário.O Barão de Cotegipe, do Conselho de Sua Majestade o Im-

perador, Senador do Império, Presidente do Conselho de Minis-tros, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeirose interino dos do Império, assim o tenha entendido e faça exe-cutar. Palácio do Rio de Janeiro, em 14 de outubro de 1887, 66?da Independência e do Império.

Princesa Imperial Regente.

Barão de Cotegipe.

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DECRETO N? 9.790 — DE 17 DE OUTUBRO DE 1887

Dá Instruções para a Execução do Decreto Legisla-tivo n? 3.340, de 14 de outubro de 1887.

A Princesa Imperial Regente, em Nome do Imperador, hápor bem, em observância do Decreto Legislativo n1? 3.340, de 14de outubro de 1887, Ordenar que o Decreto n9 8.213, de 13 deagosto de 1881 seja executado com as seguintes alterações:

Art. 19 A eleição dos membros das Assembleias Legislati-vas Provinciais será feita, votando cada eleitor em tantos nomesquantos corresponderem aos dois terços dos membros das ditasAssembleias que cada distrito eleitoral dever eleger.

§ l? Para este efeito, cada distrito elegerá o número demembros designado na seguinte tabela:

Províncias

Amazonas . . . . . . . . . .Espírito Santo . . . . . .Santa CatarinaParaná . . . . . . . . . . . .Goiás . . . . . . . . . . . . .Rio Grande do NorteMato Grosso . . . . . . .Piauí . . . . . . . . . . . . . .Pará . . . . . . . . . . . . . .Rio Grande do Sul . .Maranhão . . . . . . . . . .

N? de membrosdas Assembleias

LegislativasProvinciais

2424242424242427363636

N? de membrospor distritos

121212121212129666

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Províncias

Alagoas . . . . . . . . . . . . . . . .Paraíba . . . . . . . . . . . . . . . . .Sergipe . . . . . . . . . . . . . . . . .Rio de Janeiro (excetuados

os distritos da Corte) . .S. Paulo . . . . . . . . . . . . . . . .Ceará . . . . . . . . . . . . . . . . . .Pernambuco . . . . . . . . . . . .Bahia . . . . . . . . . . . . . . . . . .Minas Gerais . . . . . . . . . . . .

N? de membrosdas Assembleias

LegislativasProvinciais

303024

453632394260

N? de membrospor distritos

§ 2? Nos distritos que elegerem somente quatro ou cincomembros o eleitor escreverá em sua lista, no primeiro caso trêsnomes, e no segundo quatro.

§ 39 Para preenchimento de vagas de membros das mes-mas Assembleias, votará cada eleitor cm um ou dois nomes, sen-do uma ou duas as vagas, e pelo modo estabelecido neste artigoe no parágrafo antecedente, se as vagas forem três ou mais.

§ 4? Considerar-se-ão eleitos membros das referidas Assem-bleias os cidadãos que reunirem a maioria relativa de votos doseleitores que concorrerem à eleição até o número que ao respec-tivo distrito couber eleger, sendo para este efeito contados osvotos tomados em separado pelas mesas das assembleias eleito-rais.

Art. 29 Pode ser eleito membro de Assembleia LegislativaProvincial cidadão que, embora não residente na Província, nelatenha nascido. Na falta desde requisito, é indispensável a condi-ção exigida na legislação vigente, a saber; o domicílio na Pro-víncia por mais de dois anos, salvo a disposição seguinte:

Parágrafo único. Pode ser eleito membro da AssembleiaLegislativa da Província do Rio de Janeiro cidadão residente naCorte.

Art. 39 A eleição dos Vereadores das Câmaras Municipaisserá feita pelo mesmo modo estabelecido no art. 19

Se o número de Vereadores exceder ao múltiplo de três,cada eleitor adicionará aos dois terços um ou dois nomes, confor-

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me for o excedente. Assim, se for 17 aquele número, o eleitorvotará em 12 nomes; se for 13 votará em 9 nomes; se for 11, em8, e se for 7, em 5.

Parágrafo único. Para preenchimento de vagas de Vereado-res, cada eleitor votará pelo modo estabelecido no § 39 do art. 19

Esta disposição é aplicável às eleições a que se tenha deproceder para preenchimento de um ou mais lugares de Verea-dores antes da época marcada na lei para a próxima eleição geralde Câmara Municipais.

Art. 49 Formar-se-á mesa e haverá eleições para Senadores,Deputados à Assembleia Geral, membros das Assembleias Legis-lativas Provinciais, Vereadores e Juizes de Paz em todas as paró-quias criadas por atos legislativos provinciais até o dia 31 de de-zembro de 1886.

Art. 59 As eleições se farão:19 Por paróquia, quando estas formarem um só distrito de

paz, qualquer que seja o número de eleitores nelas alistados, con-tanto que este número não exceda a 250.

29 Por distritos de paz, qualquer que seja o número de elei-tores neles alistados, contanto que este número não seja inferiora 20.

39 Por secções de paróquia ou de distrito de paz, quandoa paróquia formando um só distrito de paz, ou o distrito conti-ver número de eleitores excedentes a 250. Cada secção deverá,porém, conter 100 eleitores pelo menos.

Art. 69 A atribuição de que trata o art. 216 do citado De-creto n9 8.213 será exercida pelo Juiz de Direito em virtude dereclamação que lhe for apresentada dentro do prazo de 30 diascontados do dia da apuração geral dos votos.

O Barão de Cotegipe, do Conselho de Sua Majestade o Im-perador, Senador do Império, Presidente do Conselho de Minis-tros, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros einterino dos do Império, assim o tenha entendido e faça executar.Palácio do Rio de Janeiro, em 17 de outubro de 1887, 669 da In-dependência e do Império.

Princesa Imperial Regente.

Barão de Cotegipe.

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