bela, recatada e do lar : o estereótipo da mulher...

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016 1 Bela, Recatada e do Lar : o estereótipo da mulher perfeita 1 Bárbara Rodrigues NUNES 2 Vitor Silva RAMOS 3 Márcio de Oliveira GUERRA 4 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG Resumo Este trabalho visa analisar o artigo “Bela, Recatada e do Lar”, publicado na edição extra de abril de 2016, da Revista Veja. O texto traçou o perfil da então vice-primeira-dama, Marcela Temer, tendo o título da matéria causado repercussão principalmente nas redes sociais em todo o Brasil. Mulheres e movimentos feministas não se viram representados pela construção do modelo ideal feminino apresentado na revista, e se rebelaram, postando fotos que mostravam atitudes não tidas tradicionalmente como sendo femininas. Palavras-chave: patriarcalismo, mulher, cultura, política. Introdução Atualmente, as mulheres ocupam lugares, no contexto social que antes pertenciam aos homens. Na sociedade patriarcal do Brasil colônia, as funções e papéis eram determinados e justificados por diversos fatores, como o biológico e também o jurídico. As mulheres eram consideradas seres inferiores, e por isso, não poderiam assumir atividades previstas como masculinas. Foram séculos de lutas reivindicando direitos e maior inserção em diferentes esferas públicas e sociais. Embora as mulheres tenham conseguido adentrar o espaço antes reservado somente aos homens, a presença deles ainda é maior. Muitas vezes, isso é causado por conta do histórico de estereótipos que foram construídos ao longo da história. Elas precisam saber conciliar várias funções como o papel de mãe e cuidadora do lar, que são os principais, 1 Trabalho apresentado no GP Comunicação e Culturas Urbanas XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Mestranda em Comunicação e Poder no Programa de Pós Graduação da Faculdade de Comunicação da UFJF, email: [email protected] 3 Mestrando em Comunicação e Poder no Programa de Pós Graduação da Faculdade de Comunicação da UFJF, email: [email protected] 4 Orientador e coautor do trabalho, doutor em Comunicação pela UFRJ; mestre em Comunicação e Cultura pela UFRJ e membro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação e Esporte, da Intercom, e de Comunicação, Esporte e Cultura da UFJF e professor da Faculdade de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social (PPGCOM) da UFJF. email: [email protected]

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

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Bela, Recatada e do Lar : o estereótipo da mulher perfeita1

Bárbara Rodrigues NUNES

2

Vitor Silva RAMOS3

Márcio de Oliveira GUERRA4

Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG

Resumo

Este trabalho visa analisar o artigo “Bela, Recatada e do Lar”, publicado na edição extra de

abril de 2016, da Revista Veja. O texto traçou o perfil da então vice-primeira-dama,

Marcela Temer, tendo o título da matéria causado repercussão principalmente nas redes

sociais em todo o Brasil. Mulheres e movimentos feministas não se viram representados

pela construção do modelo ideal feminino apresentado na revista, e se rebelaram, postando

fotos que mostravam atitudes não tidas tradicionalmente como sendo femininas.

Palavras-chave: patriarcalismo, mulher, cultura, política.

Introdução

Atualmente, as mulheres ocupam lugares, no contexto social que antes pertenciam

aos homens. Na sociedade patriarcal do Brasil colônia, as funções e papéis eram

determinados e justificados por diversos fatores, como o biológico e também o jurídico. As

mulheres eram consideradas seres inferiores, e por isso, não poderiam assumir atividades

previstas como masculinas. Foram séculos de lutas reivindicando direitos e maior inserção

em diferentes esferas públicas e sociais.

Embora as mulheres tenham conseguido adentrar o espaço antes reservado somente

aos homens, a presença deles ainda é maior. Muitas vezes, isso é causado por conta do

histórico de estereótipos que foram construídos ao longo da história. Elas precisam saber

conciliar várias funções como o papel de mãe e cuidadora do lar, que são os principais,

1 Trabalho apresentado no GP Comunicação e Culturas Urbanas XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação,

evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

2 Mestranda em Comunicação e Poder no Programa de Pós Graduação da Faculdade de Comunicação da UFJF, email:

[email protected]

3 Mestrando em Comunicação e Poder no Programa de Pós Graduação da Faculdade de Comunicação da UFJF, email:

[email protected]

4 Orientador e coautor do trabalho, doutor em Comunicação pela UFRJ; mestre em Comunicação e Cultura pela UFRJ e

membro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação e Esporte, da Intercom, e de Comunicação, Esporte e Cultura da UFJF

e professor da Faculdade de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social (PPGCOM) da

UFJF. email: [email protected]

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destinados e tidos como femininos. Uma vez que isso não é cumprido, ou o trabalho é posto

como prioridade, abre-se brecha para que haja julgamentos contra o que elas deveriam ou

não fazer.

Uma sociedade mais igualitária, onde se tenha respeito pelas funções

desempenhadas por cada um, independente do sexo, e que tenha liberdade para exercer

ofícios sem distinção entre masculino e feminino, contribui para a construção de um

modelo livre de estereótipos e preconceitos. Isto também favorece o campo político, uma

vez que a diversidade resulta em políticas públicas que possam abranger, cada vez mais, as

minorias que foram, por muitos anos, esquecidas.

A formação da imagem feminina na sociedade patriarcal brasileira

O estudo de temáticas como as relações de gênero e o papel da mulher na sociedade

brasileira contemporânea pode ser analisado a partir da revisão bibliográfica de obras

clássicas de Gilberto Freyre, como “Casa Grande e Senzala” e “Sobrados e Mucambos”; e

Sérgio Buarque de Holanda em “Raízes do Brasil”. A observação desses estudos demonstra

que a tradição da família patriarcal brasileira, que se desenvolveu a partir da tradição ibérica

portuguesa, tem até hoje resquícios em diversos ramos sociais do Brasil, podendo também

ser observado no tratamento que é dado às mulheres no país. Entender como se deu esse

enraizamento cultural, tão característico da nossa sociedade, abre um horizonte mais nítido

para se observar que, apesar dos avanços no que tange o papel da mulher na sociedade,

ainda remetem àquela formação social que se iniciou no século XVI.

Ao analisar a colonização portuguesa no Brasil no clássico “Raízes do Brasil”,

Sérgio Buarque de Holanda aborda a questão da cultura da personalidade, herdada da

tradição do povo da Península Ibérica, uma das principais características formadoras das

estruturas sociais do Brasil. Sobre este particular, Holanda (1995, p.33) afirma que a

frouxidão da estrutura social aliada à falta de hierarquia organizada gera falta de coesão

social e elementos anárquicos, “com a cumplicidade ou a indolência displicente das

instituições e costumes. As iniciativas, mesmo quando se quiseram construtivas, foram

continuamente no sentido de separar os homens, não de os unir”.

A sociedade colonial no Brasil, que tinha como principal símbolo representativo a

família patriarcal rural, iniciou seu desenvolvimento dentro de um contexto de grandes

propriedades rurais, principalmente de plantações de açúcar, tendo como importante

impulsionador para seu funcionamento a mão-de-obra escrava. É dentro dessa formação da

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social que Freyre (2003, p.44) relaciona a casa-grande e a senzala com aspectos do

comportamento do brasileiro e de suas representações, “da sua vida doméstica [...] sob o

patriarcalismo escravocrata e polígamo; da sua vida de menino; do seu cristianismo

reduzido à religião de família e influenciado pelas crendices da senzala”. A família

patriarcal tradicional tinha sua estrutura composta, no grupo principal, pelo patriarca

(grande chefe de família), a esposa, filhos e descendentes; e por um segundo grupo formado

por outros parentes, filhos bastardos, empregados e escravos. Essa estrutura representava

não somente o sistema social, mas também o político e o econômico da época.

Vivo e absorvente órgão da formação social brasileira, a família colonial reuniu,

sobre a base econômica da riqueza agrícola e do trabalho escravo, uma variedade de

funções sociais e econômicas. Inclusive, como já insinuamos, a do mando político:

ou oligarquismo ou nepotismo, que aqui madrugou, chocando-se ainda em meados

do século XVI com o clericalismo dos padres da Companhia. (...) Pela presença de

um tão forte elemento ponderador como a família rural ou, antes, latifundiária, é que

a colonização portuguesa do Brasil tomou desde cedo rumo e aspectos sociais tão

diversos da teocrática, idealizada pelos jesuítas [...]. (FREYRE, 2003, p.84)

É neste contexto que a autoridade patriarcal se desenvolve, inicialmente dentro da

família, refletindo depois em diversos ramos da sociedade. Dentro do cotidiano da vida

doméstica enraíza-se o princípio de autoridade do chefe da família, poder este que é alijado

de contestações. Como ressalta Holanda (1995, p.11), “não existe [...] outra sorte de

disciplina perfeitamente concebível além da que se funde na excessiva centralização do

poder e na obediência". Assim, há uma transposição do modo de agir familiar para o da

administração do Estado brasileiro.

O quadro familiar torna-se, assim, tão poderoso e exigente, que sua sombra

persegue os indivíduos mesmo fora do recinto doméstico. A entidade privada

precede sempre, neles, a entidade pública. A nostalgia dessa organização compacta,

única e intransferível, onde prevalecem necessariamente as preferencias fundadas

em laços afetivos, não podia deixar de marcar nossa sociedade, nossa vida pública,

todas as nossas atividades. Representando, como já se notou acima, o único setor

onde o principio de autoridade e indisputado, a família colonial fornecia a ideia

mais normal do poder, da respeitabilidade, da obediência e da coesão entre os

homens. O resultado era predominarem, em toda a vida social, sentimentos próprios

à comunidade doméstica, naturalmente particularista e antipolítica, uma invasão do

público pelo privado, do Estado pela família. (HOLANDA, 1995, p.84)

Dentro desse contexto da família patriarcal rural do século XVI, a mulher tem seu

papel diretamente ligado à vida doméstica, do lar, devotada ao marido. Além do trabalho

familiar, a mulher observava as atividades que eram ligadas ao funcionamento da casa-

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grande. Saffioti (1979, p.170) ressalta que a mulher “supervisionava a confecção de rendas

e o bordado, a feitura da comida dos escravos, os serviços do pomar e do jardim, o cuidado

das crianças e dos animais domésticos”. Além dos costumes, a moral também é concebida

de maneira diferente de acordo com o gênero. Freyre (2013, p.258) afirma que, nesse

sentido, havia um padrão de moralidade diferenciado “dando ao homem todas as liberdades

de gozo físico do amor e limitando o da mulher a ir para a cama com o marido, toda a santa

noite que ele estiver disposto a procriar”.

As mulheres também eram analisadas pela sociedade conforme o comportamento.

Elas deveriam se portar de forma discreta e recatada, antes e depois do casamento. A

virgindade e a reputação de uma mulher eram diretamente ligadas a sua honra, se

estendendo consequentemente à honra de suas famílias, pais ou maridos se fosse o caso.

Toda essa vigilância em torno da mulher era necessária para se resguardar a

virgindade, a fidelidade e a honra. Caso fosse solteira, a mulher era vigiada para que

mantivesse essa qualidade, pois de sua castidade e pureza dependia a honra de todos

os homens da família, ou seja, irmãos e pai. Quando casada a mulher era vigiada

porque dela também dependia a honra do marido, tanto no que dizia respeito à

fidelidade e a legitimidade da prole, quanto no que se referia à própria

masculinidade do marido. Assim, cabia à mulher, em parte, a responsabilidade pela

manutenção da honra dos homens da família a qual pertencia. (FOLLADOR, 2009,

p.7)

Outro objeto de diferenciação entre o masculino e o feminino era o sexo. Nesse

sentido, o corpo da mulher era visto como sendo frágil, de apreciação e servidão do homem.

O adjetivo do belo ligado ao corpo feminino e o de força ligado ao masculino configuravam

modelos imperativos de caracterização dos gêneros.

A extrema diferenciação e especialização do sexo feminino em “belo sexo” e “sexo

frágil” fez da mulher de senhor de engenho e de fazenda e mesmo da iaiá de

sobrado, no Brasil, um ser artificial, mórbido. Uma doente, deformada no corpo

para ser a serva do homem e a boneca de carne do marido. Ainda assim, houve

figuras magníficas de mulheres criadoras, dentro dos sobrados, como no interior das

casas-grandes. (FREYRE, 2013, p.129)

Mesmo com todos os avanços sociais, políticos e culturais obtidos pelas mulheres

através dos anos que se desdobraram após o século XVI, características tão presentes na

estereotipização e formação de uma imagem feminina da sociedade patriarcal - mulher bela,

recatada e do lar - ainda prevalecem, mesmo que seja de forma velada.

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O Papel da mulher na sociedade

O patriarcalismo culminou para as mulheres injustiças e desigualdades,

principalmente pelo fator biológico, que a colocou, por muitos anos, como um ser inferior.

A formação desse estereótipo estipulou ao longo dos tempos a diferenciação de papéis tanto

para os homens como para as mulheres. Na pré-história, entretanto, elas eram quase

endeusadas, consideradas a origem da vida, por ainda ser desconhecido o papel do homem

na reprodução humana, e assim possuíam grande força nos conjuntos familiares. Nessa

época, era permitido o matrimônio por grupos, ou seja, não se sabia quem seria o pai de

uma criança, só podia-se conhecer a mãe, identificando somente a descendência materna

(ENGLES, 1978). “Caíram do pedestal, quando se tomou conhecimento da imprescindível,

mesmo que efêmera, colaboração masculina no engendramento de uma nova vida (...)”

(SAFFIOTI, 2004, p.33).

No Brasil colonial, os índios configuravam um modelo de família muito diferente

para os padrões europeus. A liberdade sexual antes do casamento não era motivo de

espanto; os casamentos não arranjados eram comuns, podendo ser desfeitos por ambas as

partes; a poligamia para os homens era normal e prestigiosa; somente o adultério era razão

para penalidades, como a morte da mulher e se engravidasse, da criança fruto da desonra. A

índia cuidava da roça, na fabricação de algodão, da casa e da preparação de alimentos. De

certo modo não era submissa ao homem, apenas depois do casamento, que a função

primordial era servir e obedecê-lo. Com a chegada dos missionários à colônia, reforçava-se

o modelo patriarcal: “a todo-poderosa Igreja exercia forte pressão sobre o adestramento da

sexualidade feminina. O fundamento escolhido para justificar a repressão da mulher era

simples: o homem era superior, e portanto cabia a ele exercer autoridade”(DEL PRIORE,

2012, p. 45 e 46).

À escrava cabia tomar conta da casa, fazer as vontades da sinhá e também dos

sinhôs, servindo a eles de amantes, como as índias também o fizeram, e sendo

posteriormente vítimas dos castigos das esposas deles, por ciúme ou da inveja pelo corpo

que chamava atenção. Já a mulher branca tinha como dever zelar pela casa, tutelar a

educação dos filhos e se manter resguardada, a fim de manter a honra e o nome da família:

“a mulher podia ser mãe, irmã, filha, religiosa, mas de modo algum amante” (DEL

PRIORE, 2012, p. 73). Essa preocupação com a castidade feminina tinha como finalidade

preservar o patrimônio que pertenciam à prole futuramente, e assim, repassar além dos

bens, o nome da família para os herdeiros.

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O movimento iluminista no século XVIII trouxe novas vertentes, colocando a

educação como ponto de partida para o progresso. Com isso, as mulheres puderam, mesmo

que ainda de modo inferior aos homens, estudar e ganhar instrução, e posteriormente, servir

ao magistério, resultando no aumento da liberdade e autonomia feminina. Para Bourdieu

(2005), a educação foi um fator decisivo para as transformações que mudariam o destino

das mulheres, como a independência econômica, reformulações dos modelos de família e

também da inserção da mulher no espaço público. Embora com as conquistas deste século,

de acordo com Beauvoir (2009), foi com a revolução industrial que o papel da mulher

realmente veio a se modificar, sobretudo com a expansão contínua do período, que viu na

mulher uma ferramenta de trabalho oportuna, alcançando de maneira lenta e gradual, sua

dignidade como ser humano.

Com os processos que se desenvolveram ao longo do século XIX, como a abolição

da escravatura e a urbanização, o patriarcado perde um pouco de sua força, a mulher que

pertence ao espaço privado, ganha novos lugares:

Com a urbanização e a industrialização, a vida feminina ganha novas dimensões não

porque a mulher tivesse passado a desempenhar funções econômicas, mas em

virtude de se terem alterado profundamente os papéis, no mundo econômico. O

trabalho nas fábricas, nas lojas, nos escritórios rompeu o isolamento em que vivia

grande parte das mulheres, alterando, pois sua postura diante do mundo exterior.

(SAMARA, 1986, p. 179).

Sob uma perspectiva de avanços significativos, como o de maior instrução e

emancipação da mulher, que decorreram desde o século XIX e se concretizaram no decorrer

do século seguinte, surgiram então, movimentos feministas que contestavam os direitos

ainda não obtidos e as atrocidades cometidas por uma sociedade ainda machista e

exploradora.

A luta pela emancipação consistia na exigência da igualdade (jurídica, política e

econômica) com o homem, mas mantinha-se na esfera dos valores masculinos,

implicitamente reconhecidos e aceitos. Com o conceito de libertação, prescinde-se

da “igualdade” para afirmar a “diferença” da mulher, entendida não como

desigualdade ou complementaridade, mas como assunção histórica da própria

alteridade e busca de valores novos para uma completa transformação da sociedade

(ODORISIO, 1994, p. 486).

Embora o século XX tenha sido de tamanha importância para as mulheres, que

apoderaram-se de diversos espaços sociais, alcançando direitos, mesmo com vários

empecilhos (ditadura militar e preconceitos enraizados), ainda há um caminho muito longo

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a ser trilhado, visto que espaços como a política, são considerados “(...) a última fortaleza

masculina, a esfera mais machista, mais fechada às mulheres” (LIPOVETSKY, 2000,

p.279). Essa diferenciação, ainda existente, entre espaço público sendo dos homens, e

privado das mulheres, culmina no enfraquecimento da democracia, que só será fortalecida

quando houver participação igualitária nos campos políticos.

A Mulher na Política

Atualmente, as mulheres representam a maioria da população (51,5%) e do

eleitorado brasileiro (52,1%), de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Entretanto, na esfera política,

embora a participação feminina tenha crescido desde a promulgação da Constituição de 88,

ainda é uma “profissão de homens, concebida e organizada no masculino” (PERROT, 1998,

p.129). A luta feminina por um lugar no espaço de poder no Brasil é antiga, se destacando,

nesse contexto, três importantes momentos históricos: a conquista do direito ao voto, em

1932; o movimento feminista da década de 70 e a Constituição de 1988.

A batalha para poder integrar o sistema político, começou ainda no Brasil Império e

foi vencida depois de acentuada campanha nacional. Em um primeiro momento, em 1932,

delimitava-se que somente as mulheres casadas ou que comprovassem renda própria

poderiam votar. Dois anos após a homologação do decreto 21.076 do Código Eleitoral

Provisório, a delimitação foi retirada, e todas as mulheres passaram a constituir o quadro de

eleitores. Mas a obrigatoriedade feminina só foi estipulada em 1946 (TRE, 2014). A

demora em incorporar a mulher nas esferas públicas se deve, principalmente, pelo fato de

ter se criado papéis e funções femininas estereotipadas:

O espaço público moderno foi definido como esfera essencialmente masculina, do

qual as mulheres participavam apenas como coadjuvantes, na condição de

auxiliares, assistentes, enfermeiras, secretárias, ou seja, desempenhando as funções

consideradas menos importantes nos campos produtivos que lhes eram abertos.

As autoridades e os homens de ciência consideravam a participação das mulheres na

vida pública incompatível com a sua constituição biológica. (...) Só muito

recentemente a figura da “mulher pública” foi dissociada da imagem da prostituta e

pensada sob os mesmos parâmetros pelos quais se pensa o “homem público”, isto é,

enquanto ser racional dotado de capacidade intelectual e moral para a direção dos

negócios da cidade. (DEL PRIORE, 2012, p. 603 e 604).

Embora o movimento feminista já existisse, foi na década de 70 que ele ganhou

relevância, principalmente em função de em 1975, ser decretado o Ano Internacional da

Mulher pela Organização das Nações Unidas (ONU). A partir disso, alguns documentos

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foram produzidos com o intuito de garantir a igualdade de direitos e o fim da discriminação

entre homens e mulheres, sobretudo, na Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas

de Discriminação Contra as Mulheres, em 1979, e posteriormente Recomendações e

Plataformas de Ação das Conferências Mundiais de Nairóbi (1985) e Beijing (1995)

(RANGEL, 2012, p. 79).

A participação feminina na política é um fenômeno recente, visto que, após a

conquista do sufrágio feminino em 32, o país passou por momentos de conflito e restrições

de direitos, tanto na era Vargas e anos depois com a Ditadura Militar. As mulheres só

começaram a se envolver efetivamente nas esferas de poder com a redemocratização do

Brasil. Na década de 80 surgiram vários mecanismos de forma protetiva à mulher, como

leis, delegacias, eventos, convenções, e também, os primeiros conselhos para traçar

políticas públicas para as mulheres. O “lobby do batom”, como ficou conhecida a

organização de mulheres recrutadas, defendia os direitos femininos e tentava sensibilizar os

políticos sobre as demandas femininas:

Os avanços realizados pela participação política das mulheres, desde então, podem

ter sido menores que os desejados, mas a mudança de patamar da presença feminina

no meio parlamentar já não admitia retrocessos. Não mudou apenas o número de

mulheres na Câmara dos Deputados e na política brasileira. Mudou o nível de

articulação entre elas, mudou a agenda legislativa, mudou a qualidade das políticas

públicas. (AZEVEDO e RABAT, 2012, p.124).

Desde então, o número de mulheres nas esferas de poder vem aumentando, embora

o número de homens ainda prevaleça. Contudo, a participação feminina é importante,

justamente porque “a mulher na política abre uma brecha nos persistentes discursos da

cultura patriarcal, que ainda reserva lugares marcados para homens em instâncias decisórias

do poder” (PAIVA, 2008, p. 19). Além disso, “o que está levando em conta hoje, no mundo

inteiro, é a preocupação em tornar os centros decisórios mais democráticos, com

representações diversas, e a participação da mulher é um dos tópicos de grande influência

nesse processo” (PAIVA, 2008, p. 29).

Dilma: a primeira mulher presidente

O histórico de Dilma Rousseff é marcado pelo engajamento político, tendo

pertencido a movimentos de luta armada, ainda jovem, contra a ditadura militar. Foi presa,

condenada e torturada, teve diversos codinomes enquanto esteve na clandestinidade. Após

ser absolvida, se formou em economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

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(UFRGS), onde se estabeleceu junto do marido e da filha. Seu envolvimento político não

parou, nos anos 80 participou de vários cargos do governo do Rio Grande do Sul e atuou na

campanha de Brizola.

Em 2001 se filiou ao Partido dos Trabalhadores (PT), sendo nomeada Ministra de

Minas e Energia em 2003 e, posteriormente, comandou a Casa Civil.

À frente de ambos os ministérios, tornou-se conhecida por ter um perfil tido como

centralizador e técnico, bem como por suas fortes cobranças a ministros e

assessores. Em sua gestão, também ganhou popularidade ao ser indicada pelo

presidente Lula como gestora do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)

(UOL, 2010).

Após o fim de seu governo, Lula apoiou a candidatura de Dilma para ser sua

sucessora no cargo executivo. Ela por sua vez, mantinha uma boa imagem em relação ao

eleitorado, justamente por conta das ações realizadas anteriormente pelo presidente petista.

Dilma Rousseff, aos 63 anos, é eleita Presidenta da República Federativa do Brasil,

com mais de 55,7 milhões de votos (56,05%). É a primeira mulher a chegar ao

Palácio do Planalto, como já fora a primeira mulher secretária da Fazenda de Porto

Alegre, a primeira secretária estadual de Energia, a primeira ministra de Minas e

Energia, e a primeira chefe da Casa Civil.(BRASIL, 2015).

A sucessora de Lula seguiu os projetos implementados por ele, dando continuidade

às obras de inclusão social e redução das desigualdades inaugurada na gestão

anterior. Aperfeiçoou políticas voltadas para saúde, educação e mobilidade urbana. No final

de seu primeiro mandato, a presidenta se reelege, em 2014, e começa a enfrentar forte

oposição às medidas praticadas, sobretudo no campo social, e não consegue manter a

popularidade que tinha, se comparada ao seu primeiro mandato. No ano passado, a instabilidade

política e a insatisfação popular abalaram seu governo.

Neste ano, ocorreram várias manifestações, pró e contra governo. As investigações

da operação “Lava-Jato” pautaram a mídia e o cotidiano da população. A expressão “tchau

querida” ganhou a boca do povo e dos políticos contrários à Dilma, após a divulgação de

um grampo telefônico, de uma conversa entre Lula e Dilma, propagada para a mídia pelo

Juiz Sérgio Moro.

A expressão, que na tarde desta quarta-feira, 11, está no trending topics do Twitter e

é fruto de vários memes, em função da votação do processo de impeachment da

presidente por parte do Senado, virou motivos de camisetas, se fez presentes nas

manifestações de rua contrárias ao governo Dilma e transformou-se em um recurso

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de citação por parte de diversos veículos nacionais e também pela imprensa

estrangeira (MEIO E MENSAGEM, 2016).

O tom irônico quanto à desaprovação da gestão Dilma fica evidente, revelando um

caráter machista quanto à sua rejeição. Atualmente, a presidenta está afastada de seu cargo

devido a um processo de impeachment que avalia se ela cometeu, ou não crime de

responsabilidade civil.

O modelo ideal de mulher: Um estudo de caso

No artigo intitulado “Bela, recatada e do lar”, publicado na edição especial da

Revista Veja5, do dia 20 de abril de 2016, a autora Juliana Linhares traça o perfil de Marcela

Temer, mulher do então Vice-Presidente da República, Michel Temer. A publicação foi

veiculada três dias após a votação que teve como resultado favorável o impeachment da

Presidenta Dilma Rousseff, na Câmara dos Deputados Federais, em Brasília. A edição extra

da revista é dividida em três seções: a primeira, intitulada “Como é”, fala da votação do

impeachment6 e do “desarranjo” do Governo Dilma; a segunda, chamada de “Como será”,

ressalta a Era de recomeços que virão com o possível Governo Temer7, exaltando diversas

qualidades do político, de sua família e de seu partido, além discutir perspectivas que

garantam o fim da impunidade no Brasil; a última seção, denominada “Como Foi”, fala de

importantes manifestações relacionadas à política na história do país, como as “Diretas Já”,

a vitória de Tancredo Neves, o impeachment de Collor, as manifestações de 2013 e de

2016, além de trazer algumas considerações negativas sobre a administração petista dos

últimos catorze anos.

Antes de evidenciar o modo como o artigo “Bela, recatada e do lar” tenta retratar o

modelo ideal de mulher, primeiramente é importante observar que este texto em particular,

está inserido, entre outros, em uma seção da revista que busca evidenciar algumas

qualidades de Michel Temer, exaltando a base familiar sólida constituída pelo político

atualmente. É nesse contexto que aparece a figura de Marcela Temer, que na época estava

próxima de se tornar a primeira-dama do país. O artigo aborda a história do casal, desde o

começo do relacionamento, mostrando hábitos familiares e particulares de Marcela. Nesse

sentido, vale destacar que o papel de mulher que é ressaltado da esposa de Temer, é de

alguém que vive à sombra do marido, dedicada ao bem estar da família e da casa.

5 O artigo está disponível em:<http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/bela-recatada-e-do-lar>.

6 O artigo está disponível em: <http://veja.abril.com.br/brasil/folga-de-25-votos/>.

7 O artigo está disponível em: <http://veja.abril.com.br/brasil/a-hora-e-a-vez-do-vice/>.

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O próprio título “Bela, recatada e do lar” já remete a um modelo ideal de mulher,

que foi construído nos moldes da família patriarcal brasileira do início da colonização do

país. Os três adjetivos relacionados à beleza, comportamento e dedicação à família e a casa,

são destacados ao logo de todo o texto, enaltecendo os hábitos e qualidades de Marcela, que

também refletem o padrão feminino que ainda é idealizado no imaginário de parte da

sociedade.

A beleza física de Marcela é salientada pela autora em diversas passagens do texto.

Linhares (2016, p.29) destaca a carreira profissional da esposa de Temer: “Marcela

comporta em seu curriculum vitae [...] dois concursos de miss no interior de São Paulo

(representando Campinas e Paulínia, esta sua cidade natal). Em ambos, ficou em segundo

lugar”. Além disso, mostra que, a então vice-primeira-dama, é vaidosa por cuidar de seu

físico, considerada, por seu cabeleireiro, a “nossa Gracie Kelly”.

O comportamento recatado é evidenciado na descrição dos hábitos e roupas

utilizadas.

Em todos esses anos de atuação política do marido, ela apareceu em público

pouquíssimas vezes. "Marcela sempre chamou atenção pela beleza, mas sempre foi

recatada", diz sua irmã mais nova, Fernanda Tedeschi. "Ela gosta de vestidos até os

joelhos e cores claras", conta a estilista Martha Medeiros. (LINHARES, 2016, p.29)

A autora também sobressalta o pudor que Marcela e sua família tiveram desde o começo

deste relacionamento, relatando que além de Michel ter sido seu primeiro namorado, mostra

o cuidado que sua mãe teve ao acompanha-la no primeiro encontro.

A dedicação e o zelo ao lar e à família podem ser observados no fragmento do texto

onde a autora relata o amor e a atenção que Marcela dispõe ao filho: “Marcela é uma vice-

primeira-dama do lar. Seus dias consistem em levar e trazer Michelzinho da escola, cuidar

da casa, em São Paulo, e um pouco dela mesma também (nas últimas três semanas, foi duas

vezes à dermatologista tratar da pele)” (LINHARES, 2016, p.29).

O papel de mulher submissa e que aparece em um segundo plano na vida do casal é

nítido quando a autora do artigo descreve um programa familiar organizado pela esposa,

mas que foi desfeito pela vontade do marido em não expor a família em um momento que

julgava ser de ânimos acirrados no país, e que foi aceito sem discussão por Marcela:

No Carnaval, Marcela planejou uns dias de sol e praia só com o marido e o filho e

foi para a Riviera de São Lourenço, no Litoral Norte de São Paulo. Temer iria

depois, mas, nos dias seguintes, o plano foi a pique: o vice ligou, dizendo que estava

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receoso de expor a família, devido aos ânimos acirrados no país. Pegou Marcela,

Michelzinho, e todo mundo voltou para casa. (LINHARES, 2016, p.29)

Além do texto apresentado no artigo, a então vice-primeira-dama é ilustrada em uma

fotografia em que aparece com um vestido discreto e sem decotes, com os cabelos presos,

pouca maquiagem e um sorriso tênue, posando de forma distinta. Todas essas formas de

caracterização de Marcela retomam ao velho padrão social de comportamento construído de

maneira patriarcal no Brasil ao longo dos anos.

Considerações finais

A partir da análise do texto, é possível observar que as qualidades atribuídas a

Marcela Temer no artigo “Bela, recatada e do lar”, da Revista Veja, revelam o estereótipo

de modelo ideal de mulher, entranhado na cultura brasileira desde o início da colonização

do país. Sobressai também a cultura do machismo, pelo fato de enaltecer características a

Michel Temer como sendo de um homem pertencente ao espaço público, e a de Marcela

como de alguém que cuida do espaço privado. Nesse contexto, a revista tenta enquadrar a

figura de Michel como a de um político que, além de possuir capacidade administrativa, é

também um homem de sorte, por ser chefe de família e ter uma esposa que se encaixa nos

padrões conservadores herdados da família patriarcal brasileira do século XVI, onde a

mulher tinha o papel diretamente ligado à vida doméstica, do lar, devotada ao marido.

Mesmo com os avanços alcançados pelas mulheres ao longo dos séculos, como a

independência econômica e igualdade de direitos, culminando em maior inserção no espaço

público e reformulações dos modelos de família, o artigo da Revista Veja demonstra que

ainda hoje é possível observar uma caracterização das mulheres como sendo cuidadoras das

famílias, inferiores aos homens e incapazes de exercer, com a mesma excelência, atividades

realizadas por eles.

Um exemplo dessa caracterização preconceituosa pode ser observado ao analisar a

maneira como a construção da imagem da Presidenta Dilma Rousseff é feita pela revista em

alguns artigos, como sendo uma administradora incapacitada, sem os atributos necessários

para exercer um cargo, que pela primeira vez na história do país, é ocupado por uma

mulher. Na mesma publicação, a história, os atributos e a intimidade de Michel Temer são

exaltados, dando uma perspectiva de que ele seja o homem certo para a presidência.

Há também no texto, de maneira velada, uma comparação entre os perfis de Marcela

Temer e de Dilma Rousseff. Ao exaltar a beleza, o recato, o papel de mulher cuidadora do

lar e submissa ao marido, da mulher de Michel Temer, a autora traça um perfil totalmente

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oposto do que é associado à Dilma em outros artigos da mesma publicação. Na edição,

Rousseff é tida como uma mulher soberba e incapaz de gerir o país. Além disso, as fotos

mostradas na revista mostram a Presidenta com um tom mais arrogante e com gestos que

não são esperados de uma mulher, como por exemplo, falar rispidamente durante um

discurso. Ao mesmo tempo em que a publicação demonstra o sucesso que Marcela tem em

suas atividades dedicadas ao marido e ao lar, mostra o suposto fracasso que Dilma teve ao

exercer uma função que, ainda majoritariamente, é realizada por homens no país.

O fator biológico ainda está presente, mesmo que de forma invisível, quando a

Revista Veja valoriza a excelência do tipo de mulher que Marcela representa, uma

caracterização conservadora que liga a reputação e o comportamento feminino a um modelo

familiar “perfeito”. Em contrapartida, a mulher que utiliza-se do espaço e de características

tradicionalmente pertencentes aos homens dentro do contexto social brasileiro, caso de

Dilma Rousseff, não é vista como uma mulher bem sucedida.

A repercussão que a publicação teve em todo o país, principalmente nas redes

sociais, com parte da população repudiando um conteúdo com viés conservador e

preconceituoso, demonstra a importância dos meios de comunicação no cotidiano do

brasileiro, chamando atenção para o combate a uma imprensa parcial e que busca a

manipulação da grande massa através de publicações tendenciosas.

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