beira113

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ISSN 1982-5994 Ano XXVII • n. 113 • Junho e Julho, 2013 Água da chuva pode ser reutilizada Página 5 Recursos Hídricos Nova forma de estudar Queimada gera conflito Livros Amazônia Didáticos e paradidáticos propõem-se a apresentar temas amazônicos de forma contextualizada. Páginas 8 e 9. Tese analisa as consequências da ex- pansão da fronteira agropecuária no território paraense. Páginas 6 e 7.

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Beira do Rio edição 113

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ISSN

198

2-59

94

Ano XXVII • n. 113 • Junho e Julho, 2013

Água da chuva pode ser reutilizadaPágina 5

recursos Hídricos

Nova forma de estudar Queimada gera confl itoLivros Amazônia

Didáticos e paradidáticos propõem-se a apresentar temas amazônicos de forma contextualizada. Páginas 8 e 9.

Tese analisa as consequências da ex-pansão da fronteira agropecuária no território paraense. Páginas 6 e 7.

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL

JORNAL BEIRA DO RIOcientifi [email protected]ção: Prof. Luiz Cezar Silva dos Santosedição: Thaís Braga (2.361-SrT/PA)reportagem: Walter Pinto (013.585-DrT/MG)Bolsistas: Mayara Albuquerque, Helder Ferreira, Paloma Wilm e Vitor BarrosFotografi a: Alexandre Moraes e Laís TeixeiraSecretaria: Silvana VilhenaProjeto Beira On-Line: Danilo SantosAtualização Beira On-Line: rafaela Andrérevisão: Júlia Lopes e Cintia MagalhãesProjeto gráfi co e diagramação: Rafaela AndréImpressão: Gráfi ca UFPATiragem: 2 mil exemplares

ÍNDICE

Curso de Biblioteconomia da UFPA faz 50 anos 4Sistema reutiliza água da chuva 5Tese investiga o desmatamento 6História da Amazônia reescrita 8

Corantes artifi ciais substituídos 10Mudança na grade curricular contribui para a boa avaliação na Filosofi a 12Teatro paraense de 1950 revisto 14

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

reitor: Carlos edilson ManeschyVice-Reitor: Horácio SchneiderPró-reitor de Administração: edson Ortiz de MatosPró-reitor de Planejamento: raquel TrindadePró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros FreitasPró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas NevesPró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: emmanuel Zagury TourinhoPró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida JúniorPró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar

Assessoria de Comunicação Institucional - ASCOM/UFPACidade Universitária Prof. José Silveira Nettorua Augusto Corrêa n.1 - Prédio da reitoria - 1º andarCeP: 66075-110 - Guamá - Belém - ParáTel. (91) 3201-8036www.ufpa.br

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas

qualidades”. Os versos de Luís Vaz de Camões, escritos nos século XVI, refletem o momento que o Beira do Rio atravessa. O jornal passa a adotar, a partir desta edição, novo design gráfico. Mais compacto, a fim de facilitar o manuseio, a ideia é aproveitar melhor os recursos ilustrativos e também os textos - estes, ainda que estejam reduzidos na plataforma impressa, serão disponibilizados, na íntegra, na página do Beira do Rio da internet. Desta forma, a integração com as plataformas digitais torna-se patente.

O site do Beira do Rio também está de cara nova. Com chamadas animadas, objetiva-se apresentar o conteúdo de forma mais atraente para o público. As seções tradicionalmente disponibilizadas no ciberespa-ço, tais como enquete, galeria de imagens e edições anteriores do jornal, serão mantidas.

Aliás, é importante frisar que as mudanças, no entanto, não implicam perda de qualidade. Pelo contrário, a cada edição, a equipe - formada de pro-

fissionais e estudantes de Jornalismo e Publicidade, fotógrafos, designer e revisores - esforça-se para di-vulgar para a sociedade, da melhor forma possível, a ciência produzida na academia com recursos públicos. Na verdade, entende-se que a divulgação científica ga-rante à coletividade o retorno daquilo que ela própria é financiadora, uma vez que a arrecadação de impostos garante também verbas para pesquisa na Universidade.

A aposta está feita. Se representa a melhor opção de produzir um jornal científico-institucional, não se sabe, pois sempre há uma margem de tentati-va e erro em toda e qualquer iniciativa de mudança. Críticas construtivas são bem-vindas, assim como co-laborações. O Beira do Rio é produzido pela Assessoria de Comunicação Institucional, mas busca expressar as falas de toda a comunidade acadêmica, composta por professores, técnico-administrativos, alunos e comunidade externa que utiliza os serviços ofertados pela Universidade Federal do Pará. É um jornal plural e feito a várias mãos. Portanto, compete, da mesma forma, à coletividade engajar-se para o desenvolvi-mento científico da Amazônia e da Região Norte.

4 - Beira do rio - Junho e Julho, 2013

OpiniãOCurso de Biblioteconomia da UFPA faz 50 anos

Williams Pinheiro

Diretor da Faculdade de

Biblioteconomia

[email protected]

LAíS

Tei

xeir

A

A criação do curso de Biblio-teconomia na Universidade Federal do Pará (UFPA) satisfez

a exigência fundamental das queixas da comunidade universitária e da so-ciedade da capital paraense, porque, em Belém, embora com a existência de duas entidades tradicionais de pesquisa – o Museu emílio Goeldi e o Instituto Agronômico do Norte –, seis escolas superiores oficiais, quatro particulares, além da Biblioteca, do Arquivo Público e de bibliotecas das instituições privadas, havia apenas uma bibliotecária, não obstante a existência de bibliotecas nessas instituições.

A criação do curso teve seus problemas de ordem consensual. Sua instituição ocorreu por acolhimento à proposição do reitor José da Silvei-ra Netto pelo Conselho de Curadores, por meio da Resolução nº 1-A, de 28/01/1963. Dominada, à época, pelo bacharelismo, a Universidade, por meio de alguns “conservadores”, não compreendia a criação de um curso que não fosse ligado às profis-sões tradicionais e, no máximo, teria lhe dado um caráter aleatório ou o transformado em curso semelhante aos de curta duração, sem previsão de continuidade. Valeram-se, aí, a liderança e a visão prospectiva do então reitor e a pertinácia e obs-tinação do primeiro coordenador do curso, professor Clodoaldo Fer-nando Ribeiro Beckmann, um mé-dico enviado ao rio de Janeiro para especializar-se em Documentação, na época, no Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD). Portanto, cria-se, em 28 de janeiro de 1963, o curso de Bacharelado em Biblioteconomia na UFPA.

No entanto, no decorrer dos últimos 20 anos, significativas mudanças aconteceram na profissão de bibliotecário, basicamente, em função de fatores como as novas demandas sociais por informação e a viabilidade do uso de modernas tecnologias nos processos de coleta e disseminação da informação nos ambientes das bibliotecas. Perce-be-se, claramente, que, nos tempos atuais, algumas mudanças estabele-cidas no paradigma da atuação das bibliotecas, nas quais se atestam as possibilidades de geração de novos serviços e produtos de informação, quer no formato presencial, quer

“O biblio-tecário

deve compre-ender as ne-cessidades,

possibilidades e potenciali-dades do uso

da informação nos contextos administrati-vo, político e sociocultural”por meios de comunicação em rede, pois o fenômeno da internet ampliou sobremaneira a visibilidade e a usa-bilidade da informação, através dos serviços e produtos.

O objetivo do curso de Biblio-teconomia da UFPA é formar profis-sionais Bacharéis em Bibliotecono-mia, para o exercício da profissão de bibliotecário, em condição de atuar em todos os espaços onde as infor-mações, independentemente de seus suportes de armazenamento, possam passar por tratamento técnico de acordo com os padrões nacionais e internacionais, para que possam ser utilizadas pelos usuários por acesso presencial ou por acessos on-line.

O bibliotecário deve com-preender as necessidades, possi-bilidades e potencialidades do uso da informação nos contextos admi-nistrativo, político e sociocultural, sendo indispensável a esse profis-sional: possuir uma cultura geral, a qual lhe facilitará a interação com diferentes áreas do conhecimento humano e o trabalho cooperativo interdisciplinar; dominar os meios necessários, incluindo tecnologias

da informação e da comunicação, que lhe permitirão otimizar o tra-balho de seleção, a organização, o processamento, a recuperação e a disseminação da informação; estar informado sobre os recursos informa-cionais em seus diferentes suportes e formatos, nas diversas áreas do conhecimento; ser um educador no sentido de desenvolver o gosto pela leitura, a valorização da cultura, o exercício da cidadania, o espírito in-vestigativo, a capacidade de acesso e uso da informação; possuir conhe-cimento de língua estrangeira, pre-ferencialmente língua inglesa, o que lhe facilitará o uso das ferramentas profissionais específicas e o acesso a produção científica mundial, promo-vendo a interconexão da informação em uma sociedade globalizada; ter capacidade de aplicação dos funda-mentos, dos princípios e ds técnicas de gestão, o que lhe favorecerá o ótimo uso dos recursos humanos, materiais e financeiros disponíveis, bem como os meios de ampliá-los.

em relação às suas compe-tências e habilidades, o bibliotecário deve estar preparado para lidar, de forma crítica e inovadora, com as questões da informação, ao ponto de garantir que se torne um pro-fissional qualificado. Em relação à infraestrutura física e tecnológica do curso, este possui um bloco anexo à Biblioteca Central, possuindo: quatro salas de aula, com capacidade para trinta e cinco alunos; um laboratório de informática com capacidade para vinte alunos; três gabinetes compar-tilhados pelos professores; uma sala de reunião; área administrativa, com sala de direção e secretaria; banheiros masculinos, femininos e de deficientes; pequenos espaços destinados ao Centro Acadêmico, à cantina, à reprodução de documen-tos e à guarda de equipamentos. Pos-sui, ainda, um hall de entrada, com aproximadamente 250m2, incluindo jardim de inverno.

O curso tem duração de qua-tro anos e, hoje, conta com um total de 2.804 horas a serem cumpridas para obtenção do grau de Bacharel em Biblioteconomia. Estima-se que, até hoje, já colocou no mercado de trabalho, ao longo de seus 50 anos mais de 1.300 profissionais biblio-tecários.

COnfira!Artigo completo

disponível no Beira On-line

Junho e Julho, 2013 - Beira do rio - 5

Recursos Hídricos

Pesquisa avalia o reaproveitamento doméstico do bem natural

Sistema reutiliza água da chuvaALEXANDRE MORAES

Trabalhos do GPAC Amazônia buscam alternativas para que a cidade de Belém faça o reaproveitamento da água da chuva

Helder Ferreira

O fato de Belém estar localizada em uma região que, segundo a Agência Nacional de Águas

(ANA), possui 81% dos recursos hídricos do Brasil e 12% da água doce superficial do planeta passa a impressão de que a cidade terá água em abundância por muitos anos. No entanto a realidade é outra. Apenas uma parte da água doce disponível na Amazônia é própria para o con-sumo humano. Com este cenário, projetos e ações para uso racional da água são criados, porém uma das possíveis soluções para a preserva-ção do líquido mais precioso para o homem pode vir do céu, mais pre-cisamente, das nuvens: a chuva. O Grupo de Pesquisa “Aproveitamento de água da chuva na Amazônia” (GPAC Amazônia), coordenado pelo doutor em Desenvolvimento Socio-ambiental e professor do Núcleo de Meio Ambiente da Universidade Federal do Pará (NUMA/UFPA), Ro-naldo Mendes, trabalha na linha de pesquisa “Aproveitamento de água da chuva em área urbana”, uma tentativa de proporcionar um novo caminho para a obtenção de água na cidade de Belém, para atividades comuns do dia a dia, em uma área em que o uso e o desperdício são intensos: a grande cidade.

Segundo o coordenador do grupo, a pesquisa está na fase pre-liminar. “A partir do Google Earth, coletamos imagens e medimos a área de mais de mil telhados de uma parte da cidade de Belém (uma amostragem estatística, com margem de erro de 3,95%). Também estimamos o número de pessoas por residência. Chegamos à conclusão que poderíamos atender, com o sistema de coleta da água da chuva, considerando o período menos chu-voso, que é de junho a novembro, 18% dos domicílios da cidade e, no

período de chuvas intensas, 36%.” Ronaldo Mendes lembra que

18% dos domicílios correspondem a uma estimativa de 200 mil pes-soas. “Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis), em Belém, mais de 170 mil pessoas não têm água encanada. Se essas casas possuíssem sistemas de coleta da água da chuva, a fal-ta d’água nessas residências seria amenizada. Para os que já possuem água em casa, o sistema poderia ser usado, por exemplo, no vaso sanitário”, afirma.

Visibilidade dos estudos fomenta parceriasO grupo iniciou os traba-

lhos em 2008, mas começou a se estruturar, efetivamente, a partir de 2010. Conta com a conjugação de esforços do Núcleo de Meio Ambiente (Numa) e do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará (ITEC/UFPA), em especial, com as Faculdades de Engenharia Sanitária e Ambiental (Faesa) e Engenharia Civil (FEC). As ações são executadas tanto na graduação como na pós-graduação. Segundo Ronaldo Mendes, a proposta do GPAC é estudar os recursos hídricos, em especial, os pluviais em diversas plataformas. “estamos atuando na

área do abastecimento residen-cial, mas já começamos a receber uma nova demanda para estudar a captação para o uso na irrigação”.

Outra ação do GPAC Ama-zônia é a divulgação de pesquisas. Em janeiro deste ano, foi realizado o Seminário “Aproveitamento da água da chuva para diversos usos”. Com o apoio do Numa e da Faesa/ITEC, os pesquisadores do GPAC Amazônia atuaram como pales-trantes no evento, que serviu para mostrar à comunidade acadêmica e à sociedade as realizações do grupo de pesquisa, bem como para atrair novos interessados. “este foi

o primeiro evento realizado pelo grupo e queremos fazer a segunda edição ainda este ano, desta vez, com um foco bem maior”, adianta ronaldo Mendes. O coordenador afirma que, com a visibilidade do projeto, a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) procurou o grupo para firmar parceria.

História – A preocupação de usar a água da chuva para fins urbanos, utilizando conhecimentos científicos e técnicos, não é ideia nova. Segundo o coordenador do GPAC Amazônia, a prática é realizada desde a antiguidade.

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6 - Beira do rio - Junho e Julho, 2013

Amazônia

Expansão da fronteira agropecuária no Estado norteia a análise

Tese investiga o desmatamentoALEXANDRE MORAES

Mayara Albuquerque

O aumento do desmata-mento da Floresta Ama-zônica, nos últimos anos,

passou a ser um assunto recor-rente na mídia nacional e inter-nacional. A pressão não somente dos ambientalistas, mas tam-bém da sociedade organizada brasileira contra a destruição da floresta levou o governo federal a incorporar a questão em sua agenda. Com o objetivo de investigar as causas deste desmatamento como resultado da expansão da fronteira agro-pecuária na Amazônia paraense, o professor André Cutrim Carva-lho, da Faculdade de Economia da Universidade Federal do Pará (Facecon/UFPA), desenvolveu a tese “Expansão da Fronteira Agropecuária e a Dinâmica do Desmatamento Florestal na Amazônia Paraense” para a ob-tenção do título de doutor em Desenvolvimento Econômico, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A intenção foi trabalhar numa perspectiva de abordagem realizada por intermédio da Nova Economia Institucional (NEI), com uso e aplicação da econometria espacial como ferramenta para mensurar os efeitos que o des-matamento florestal vem pro-vocando na região.

A NEI visa ao desenvol-vimento de uma teoria eco-nômica das instituições e ao provimento de um conjunto de evidências históricas sobre como as instituições afetam o desenvolvimento econômico das nações. As instituições definem as regras do jogo de uma socie-dade, na qual os jogadores, ou seja, as organizações (políticas, econômicas, ambientais e so-ciais) atuam. elas encontram a sua racionalidade econômica na medida em que, no mundo real, os mercados não criam esponta-neamente uma ordem, isto é, as instituições – caracterizadas

pelo conjunto de regras formais (como leis e regulamentações), constrangimentos informais (como convenções e códigos de conduta), bem como pelos mecanismos de promoção e de coerção das leis – são formadas para reduzir a incerteza nas interações humanas. Já o mo-delo econométrico conseguiu demonstrar que existe uma relação entre a taxa de cres-cimento do desmatamento florestal e as externalidades geradas pelos fatores econômi-cos, demográficos e agropecuá-rios envolvidos no território da Amazônia paraense.

Marcos – A periodização adotada pela pesquisa do professor An-

dré Cutrim Carvalho, do ponto de vista histórico, compreende dois grandes períodos: o pri-meiro cobre o Regime Militar de 1967-1985; e o segundo, o novo Regime Republicano, que vai de 1986 a 2010. O critério adotado para a periodização foi averiguar as ações do estado na Amazônia em dois períodos: o primeiro que corresponde à criação da Amazônia Legal e das instituições governamen-tais promotoras do processo de ocupação e desenvolvimento da fronteira amazônica; o se-gundo, que envolve a criação das instituições ambientais governamentais de combate ao desmatamento e a promoção do desenvolvimento sustentável.

Pesquisador observa que a floresta é palco de conflitos sociais

Capital entra em conflito com o social

Segundo o professor An-dré Cutrim Carvalho, a questão do desmatamento florestal na Amazônia Legal e, em particu-lar, o desmatamento florestal que vem ocorrendo na Ama-zônia paraense não podem ser compreendidos sem uma discussão sobre a região como uma nova fronteira importante para o desenvolvimento do capitalismo brasileiro. A in-vestigação do desmatamento florestal na fronteira paraense requer um tratamento sobre o papel das instituições legais em uma fronteira em que a pene-tração do grande capital ocorre num espaço de conflitos sociais como consequência da luta pela terra entre posseiros, grileiros e fazendeiros.

“Numa economia de fronteira, como no caso da Amazônia paraense, os proces-sos econômicos determinam a forma como os interesses privados se manifestam na busca da riqueza e do lucro. Os interesses privados, às vezes, podem ir de encontro aos inte-resses da sociedade quando os custos sociais para esta última são demasiadamente elevados. A fronteira deve ser entendida como uma sociedade econômica em processo de formação de instituições sociais modernas”, explica o professor.

André Cutrim Carvalho afirma que, em resposta à pres-são internacional, o governo federal teve que instituir leis, regulamentos e órgãos para dar conta do desmatamento flo-restal na Amazônia Legal. “É a combinação das ações políticas e econômicas, operadas pelas instituições públicas, que per-mite a formulação e a execução de políticas dirigidas.”

Junho e Julho, 2013 - Beira do rio - 7

AmazôniaFatores diversos são causadores do dano ambiental

A tese constatou que o desmatamento da fl oresta na fronteira econômica do estado do Pará está intimamente liga-do com o processo de ocupação e de expansão das atividades agropecuária, madeireira e de mineração, mas também com o avanço da agricultura de subsistência itinerante. Nesse contexto, a expansão da fron-teira no Brasil seria uma con-sequência da divisão regional do trabalho, como decorrência do desenvolvimento capitalista brasileiro.

Os resultados da pes-quisa apontam que existem vá-rios fatores responsáveis pelo

aumento do ritmo do desma-tamento fl orestal no Estado do Pará, tais como: a tendência de aumento do preço da terra; o fl uxo da corrente migratória e as atrativas externalidades dos investimentos em novas estradas ou em linhas de dis-tribuição de energia elétrica no meio rural e urbano, assim como o crescimento das cida-des com a inserção dos grandes empreendimentos de explora-ção mineral, além das causas estruturais e institucionais, responsáveis pelo avanço da fronteira pecuária na Ama-zônia paraense, decorrente do seu atraso histórico como

periferia em relação ao centro brasileiro.

Outro fator constatado na tese, atrelado ao desmata-mento, também são os fatores conjunturais (migração, preço da terra, crédito, aberturas de estradas, incentivos fi scal-financeiro, proximidades de cidades e valorização da carne bovina) que acentuam a taxa do desmatamento florestal. Entretanto, de acordo com o professor, o elemento principal para o desmatamento fl orestal na Amazônia paraense ainda é a expansão da fronteira agro-pecuária, por meio da pecuária de corte em regime extensivo.

“Percebe-se que, no decorrer das últimas quatro décadas, houve uma crescente e con-tínua modifi cação da Floresta Amazônica provocada pelos altos índices de desmatamento, o que culminou com uma perda importante de cobertura fl ores-tal”, pontua o professor. Nesse contexto, as queimadas são causadoras de três problemas que afetam diretamente toda a biodiversidade ali envolvida, afi nal, causam poluição do ar, degradação cada vez maior do solo; constante alteração do ciclo hidrológico e climático e, principalmente, destruição da biodiversidade.

Economia e ecologia da fl oresta colocadas em riscoSegundo o pesquisador,

os efeitos dos desmatamentos fl orestais acabam afetando a produtividade econômica e provocam outros transtornos de natureza ecológica. Mas, dentre os desmatamentos de cobertu-ras vegetais, o desaparecimento das fl orestas tropicais úmidas na Amazônia tem se tornado o mo-

tivo de maior preocupação, pois vem acontecendo num ritmo bastante acelerado. Este des-matamento coloca em risco as funções econômicas e ecológi-cas da fl oresta, já que estas não são apenas fonte fornecedora de recursos naturais, mas tam-bém dão sustento, por meio da atividade extra-

tiva, aos povos das fl orestas e às populações ribeirinhas que moram próximas aos rios e igarapés.

“Além de tudo isso, as fl orestas tropicais da Amazô-nia têm importância cultural, espiritual e paisagística. em suma, o aumento signifi cativo das taxas de desmatamento

poderá levar a incapacidade da fl oresta amazônica de se autorreproduzir, o que pode precipitar sua decadência, não só ambiental, mas econômica e social”, destaca o professor Andre Cutrim Carvalho.

Matéria completa disponível no Beira On-line

8 - Beira do rio - Junho e Julho, 2013

Livros

Paradidáticos da Editora Estudos

Amazônicos apresentam

a história da região associada

ao contexto

Materiais didáticos são formulados para uso no ensino básico

História da Amazônia reescrita

Walter Pinto

Livros de História escritos por autores paraenses para o ensino básico não se constituem uma

novidade no meio editorial amazô-nico. eidorfe Moreira nos dá notícia do surgimento do primeiro deles, em 1863. Trata-se de “Noções de Geografia e de História do Brasil”, do professor cametaense Joaquim Pedro Correia de Freitas. Gerações de ginasianos estudaram a história do Pará e do Brasil em livros escritos por historiadores e professores consagra-dos, como Arthur Vianna, Antônio de Macedo, Theodoro Braga, Raimundo Proença e Sílvio Nascimento.

De há muito, porém, esta produção tornou-se escassa, quase desaparecendo em alguns momen-tos, ao mesmo tempo em que, nas universidades, foi se constituindo um saber historiográfico, hoje, consoli-dado. entre as principais causas da longa intermitência editorial, está o mercado, impondo a difícil concor-rência entre as poucas editoras locais e os grandes grupos editoriais nacio-nais. O resultado disto é o consumo, nas escolas paraenses, de didáticos e paradidáticos que desconhecem a

história da Amazônia. Tal situação levou ao seguinte paradoxo: profes-sores de escolas particulares pedem aos diretores redução da carga horá-ria da disciplina Estudos Paraenses, por falta de material didático.

Não se deve pensar que eles não existam. Aos trabalhos escritos ou organizados pelos professores José Alves de Souza Júnior, William Gaia e Edilza Fontes, docentes da Faculdade de História da Uni-versidade Federal do Pará (Fahis/UFPA), vieram somar os didáticos e os paradidáticos da editora estudos Amazônicos, uma das mais recentes do mercado editorial paraense, fundada há pouco mais de um ano. Convidado pelo editor Paulo Pal-mieri para coordenar a produção dos textos, o professor Mauro Cezar Coelho, então diretor da Fahis, cer-cou-se de professores da UFPA com pesquisas consolidadas nas temáti-cas abordadas, recomendando que transformassem o saber acadêmico em saber escolar, de modo a facili-tar o contato dos especialistas com crianças e adolescentes em idade escolar. “A abordagem dada pelos autores, no entanto, tornou os livros acessíveis a todos os interessados na

compreensão do passado histórico da Amazônia”, observa.

Propagação – Para o coordenador, a editora tem um mérito fundamental na reversão da tendência, até aqui preponderante, de consumo nas es-colas paraenses de livros de história desvinculada do contexto amazônico. “Foi iniciativa da editora a formulação de coleções voltadas para o público da Região Norte, as quais abordem os processos vividos na Amazônia”, ressalta Mauro Cezar Coelho. “Cabe, agora, aos responsáveis pela adoção e distribuição do material didático a avaliação e o acolhimento dessa iniciativa. Só com a participação de todos, poderemos oferecer às nossas crianças e aos adolescentes uma for-mação pensada e formulada a partir da própria região em que eles estão inseridos”. O catálogo da editora destaca temas da longa experiência do homem na Amazônia, relacionan-do a história dos povos indígenas, da sociedade colonial e dos povos europeus e africanos na Amazônia à experiência histórica contemporânea, tais como: “Fundação de Belém”, de Mauro Coelho; “A independência no Pará (1823)”, de Geraldo Mártires etc.

ALEXANDRE MORAES

Junho e Julho, 2013 - Beira do rio - 9

LivrosObra responde dúvidas sobre os povos indígenas

Antropóloga Jane Felipe Beltrão assina o título "Povos Indígenas na Amazônia", o qual foi construído a partir de perguntas sobre os índios em aulas e oficinas

A antropóloga Jane Felipe Bel-trão, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPA, disse que, ao receber o convite para escrever sobre os povos indígenas na Amazô-nia, lhe foi recomendado escrever um texto voltado para o grande público, que fosse paradidático e abrangesse várias faixas de leitores. Seguindo a diretriz, produziu um texto ágil, fácil de ler, construído a partir de perguntas sistematicamente ouvidas sobre os índios, em aulas e oficinas, entre as quais, “onde estão”, “como estão” e se “continuam índios mesmo morando em cidades”.

O livro traz informações fun-damentais para que se conheçam os indígenas da Amazônia, desde a aceitação estratégica do pejorativo termo “índio” até os problemas administrativos das aldeias localiza-das em zona de limites geográficos, passando pelo mito do “pouco índio para muita terra”, pelos desconhe-cidos povos “resistentes” e pelas questões mais prementes: a saúde e a educação, esta fundamental para o cumprimento daquela, pelos órgãos competentes, como nos ensina a au-tora. Aprendemos, ainda, por que não se deve acrescentar “s” aos nomes indígenas.

Jane Beltrão busca sempre trazer o leitor com quem dialoga para a proximidade dos índios, ou melhor, fazê-lo ver que eles estão

mesmo perto: grande parte reside em centros urbanos, em geral, nas periferias das cidades, onde procu-ram, de alguma forma, reproduzir os costumes da aldeia de origem. Ou seja, nunca deixam de se sentir índios. Em algumas cidades, como São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, e Itaituba, no Pará, eles são a maioria dos moradores, podendo alcançar até 90% do total.

“É no sentido de esclarecer esta proximidade e informar quem são os índios que o texto se torna vá-lido para todos os públicos, inclusive para os alunos da pós-graduação que estão trabalhando com sociedades indígenas”, avalia. No Pará, existem

mais de 50 povos indígenas, que falam sete troncos linguísticos, sem contar com os “resistentes”, obviamente de línguas não identificadas. As ter-ras indígenas somam 64, das quais, 35 estão homologadas, portanto, garantidas oficialmente para uso per-manente deles. “É preciso entender que os povos indígenas sabem o seu lugar, conhecem cada palmo de suas terras. Quem não conhece são os não indígenas”. Falando diretamente ao leitor, diz Jane Beltrão: “Se você usar um mapa, vai ficar cansado de ver quantas atividades os povos indígenas fazem para sobreviver, não existem espaços vazios nas terras, tudo tem finalidade e significado”.

Educação e saúde, vitais para sobrevivênciaA educação guarda um papel

fundamental para as sociedades indígenas. É por meio dela que eles podem entender como pensam os não indígenas e, a partir deste sa-ber, melhor enfrentar a sociedade branca. Conhecer os direitos, por exemplo, é um dos frutos da edu-cação. “Para muitos, a saúde é uma questão de vida ou morte”, diz Jane Beltrão. “entendo que mais vital é a educação porque, sem ela, os povos indígenas não podem reivindicar seus direitos à saúde”. Apesar de a UFPA oferecer duas vagas em cada curso de graduação, no Estado do Pará, não há escola indígena. As tentativas geralmente acabam se chocando com a insensibilidade das Secretarias de Educação estadual e municipal, com

suas políticas que ignoram as expe-riências indígenas na formulação de calendários, ações pedagógicas e eixos temáticos.

Na área da saúde, até meados da década de 1970, praticamente inexistiu regulamentação de acesso indígena ao sistema médico. Muitos povos ficavam à mercê de ajudas humanitárias, seja por missões reli-giosas, seja por comandos médicos universitários. Os índios eram vistos como fora do sistema de saúde. A pressão do movimento indígena garantiu importantes conquistas na Constituição de 1988. A Fundação Nacional da Saúde (Funasa) passou a ser o órgão responsável pelo aten-dimento dos índios, com supervisão de Conselhos Distritais de Saúde indí-

gena, colegiado com representações indígenas.

No entanto os problemas não foram totalmente resolvidos. “Se todos os dias há notícias sobre as difi-culdades da saúde pública no atendi-mento aos não indígenas, imagine os problemas que implicam concepções culturais diferenciadas, em tradução entre sistemas de ação para a saúde, por vezes, antagônicos”, diz a autora de “Povos indígenas na Amazônia”. Jane Beltrão refere-se ao tratamento que ignora os costumes, à falta de formação em tratamento indígena dos agentes de saúde, aos problemas de abastecimento de remédios e ao confronto de línguas estranhas, com médicos que não falam a língua dos índios.

COnfira!Matéria completa disponível no Beira On-line

LAíS TeixeirA

10 - Beira do rio - Junho e Julho, 2013

Tecnologia

Alimentos podem ter sua cor realçada por pigmentos naturais

Corantes artificiais substituídosFOTOS ALEXANDRE MORAES

Os colorantes obtidos por meio

dos recursos naturais podem

ser utilizados em cosméticos, em

medicamentos e na restauraçao de edificações

históricas

Vitor Barros

Quando você vai ao super-mercado, a que alimentos dá preferência, aos de cores

vivas e vistosas ou aos de cores apagadinhas? Claro que escolhemos aqueles que são mais atraentes aos nossos olhos. De toda a nossa per-cepção corporal, 87% delas é captada pela visão. Estudos apontam que, por causar impressão imediata, a cor, juntamente com a textura e o aroma, é o fator mais importante no momento de aceitar ou rejeitar um alimento. Em vista disso, o setor alimentício, de olho no consumidor, tem uma grande preocupação com a aplicação de cores na produção de alimentos. Porém os riscos à saúde são grandes quando são agregados corantes artificiais a esses produtos.

Como solução para esse impasse, surge a possibilidade dos pigmentos naturais se tornarem substitutos benéficos. Cientistas da Universidade Federal do Pará (UFPA) vêm desenvolvendo estudos acerca

da melhor forma de extrair pigmen-tos de plantas, frutos e sementes da Amazônia a fim de torná-los mais estáveis para aplicação em alimen-tos, bem como para a aplicação em diversos outros produtos, a exemplo de cosméticos e remédios. Os pig-mentos estudados são importantes até para a restauração de obras e prédios de patrimônio e valor histórico.

O Projeto de Pesquisa “For-talecimento da pesquisa em ciência e tecnologia de pigmentos naturais da Amazônia: alimentos, fármacos e tintas para recuperação de edifica-ções históricas” é coordenado pela professora Alessandra Santos Lopes, do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) da UFPA. O estudo con-ta, ainda, com pesquisadores dos Programas de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU); Engenharia Civil (PPGEC); Engenha-ria Mecânica (PPGEM); Engenharia de Recursos Naturais da Amazônia (PRODERNA) e Ciências Farmacêu-

ticas (PPGCF). O objetivo é que o pesquisador, de acordo com a neces-sidade de cada área, possa não ape-nas encontrar meios mais eficazes de produzir esses pigmentos, mas também valorizar as matérias-pri-mas oriundas da Amazônia.

Para Alessandra Lopes, a pes-quisa envolve também um aspecto sociocultural. “essas variedades naturais fazem parte da nossa exis-tência na Amazônia. O uso e o co-nhecimento delas são repassados de geração a geração. Com o desenvol-vimento das cidades e da economia, vamos perdendo esse conhecimento e deixando de lado nossas riquezas”, diz. A professora acrescenta que a pesquisa pode trazer, no futuro, um valor econômico para nossa região, repassando tecnologia para comunidades extrativistas e man-tendo a floresta em pé. “Essa é a importância da pesquisa: quando ela retorna para a sociedade e não fica confinada aos muros da universida-de, contribuindo para a preservação do meio ambiente.”

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Junho e Julho, 2013 - Beira do rio - 11

Tecnologia

Arquitetura recobra o saber dos povos tradicionaisO que aproxima a Arqui-

tetura da engenharia de Alimen-tos é a aplicação dos pigmentos. Os mesmos corantes extraídos para fins alimentícios podem ser utilizados para o restauro de prédios históricos da cidade de Belém. O Laboratório de Conservação, Restauração e Re-abilitação (Lacore), coordenado pela professora Thais Sanjad, conduz as pesquisas para a me-lhor aplicação dos pigmentos. Esse trabalho sempre busca levar em consideração como aquela obra foi concebida. “Os pesquisadores da Arquitetura possuem receitas antigas de como fazer a extração de pig-mentos em cadernos históricos, com relatos do passado, que fazem parte do acervo da nos-sa história”, conta Alessandra Lopes.

Eram os índios, na época em que os portugueses aqui che-garam, os responsáveis pela pin-

Produtos tornam-se mais bonitos e mais saudáveisNos alimentos, segundo

afirma a professora Alessandra Lopes, a substituição de coran-tes artificiais por pigmentos naturais traz benefícios im-portantes, pois essa variedade de frutas e vegetais é rica em compostos bioativos, os quais possuem ações antioxidantes. “Nós sabemos que os alimentos ricos em cores promovem ações importantes nos organismos, pois retardam o envelhecimento das células. O uso dos pigmen-tos naturais, além de tornar os produtos atraentes aos olhos, agregam valores à saúde e po-dem melhorar a qualidade de vida”, reforça.

Em 2012, por meio do

edital Pró equipamentos insti-tucional, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o projeto adquiriu dois aparelhos que permitem a otimização das pesquisas em torno dos pigmentos naturais. Um deles é um secador - Spray Dryer -, um aparelho que desumidifica a matéria em estado fluido, tor-nando-a um pó (atomização), o que garante ao pigmento maior estabilidade e amplo prazo de validade. Ao ser transformado em pó, o pigmento é recoberto com uma camada de proteção (encapsulação) no processo de atomização. Outro equipamen-to é um Microscópio Binocular,

que permitirá a avaliação desse processo. “Checamos se houve recobrimento completo do pigmento, o que forneceria ao produto maior estabilidade”, explica. O microscópio, para os pesquisadores da arquitetura, serve para avaliar tanto os frag-mentos de obras arquitetônicas com coloração original quanto buscar a origem daquele pig-mento para o restauro.

Pesquisas no âmbito do projeto trabalham com varieda-des como o mangostão, de onde se obtém um pigmento verme-lho; o Jenipapo Verde, do qual, oxidado naturalmente, pode-se extrair a coloração azul. Outras matérias-primas para a extração

de pigmentos são a semente do cacau, o taperebá e o jambolão, conhecida como ameixa preta. As pesquisas de pigmentos des-sas matérias já vinham sendo estudadas, mesmo antes da oficialização do projeto. Agora, os estudos envolvem a extração e a secagem. Três dissertações e uma tese de doutorado entre o PPGAU e PPGCTA estão em andamento.

Pensando que esse pig-mento pode ser utilizado para alimento ou fármaco, ele é ex-traído com água ou com etanol, que são solventes não tóxicos. Além disso, são estudados diver-sos processos de extração em determinadas condições.

tura de diversos prédios. Tudo era feito com o conhecimento que eles tinham de aplicar as matérias nativas da Amazônia. Assim, extraíam os pigmentos a partir da água e do etanol. Este último, eles obtinham da fermentação da mandioca. De acordo com a professora Ales-sandra Lopes, “do ponto de vis-ta histórico, esse conhecimento tem um alto valor, porque é um legado que os nossos antepassa-dos indígenas nos deixaram.”

Por não possuírem ampla informação na literatura cien-tífica, as pesquisas em torno desses pigmentos ganham maior responsabilidade. Além disso, como afirma Alessandra Lopes, “no mundo globalizado, nós, pesquisadores, temos que aten-tar para o seguinte fato: nós temos que manter as riquezas do nosso país. e a pesquisa é uma forma de começar a ater um mercado de alta tecnologia, a partir da nossa realidade. e

mais, nós temos que garantir que nossas riquezas estejam em nossas mãos e não nas de empresas estrangeiras, que comercializam esses produtos a preços muito altos”, conclui.

12 - Beira do rio - Junho e Julho, 2013

Entrevista

Participação maciça dos estudantes no Exame Nacional de Desempenho também concorre para que o conceito do curso da UFPA suba para 4

Mudança na grade curricular contribui para a boa avaliação na FilosofiaElizabEth dE assis dias

Elizabeth de Assis Dias atribui a boa nota do curso de Filosofia no Enade à mudança no currículo

WALTER PINTO

Walter Pinto

Na terceira participação no Exame Nacional de Desempenho de estudan-

tes (Enade), o curso de Filosofia obteve nota 4, a maior nota no âmbito da Universidade Federal do Pará (UFPA), entre os cursos avaliados. Comparativamente com os demais cursos de Filoso-fia de instituições brasileiras, o curso da UFPA ficou, da mesma forma, acima da média nacional. A boa avaliação é o resultado de mudanças operadas no pro-jeto pedagógico do curso, mas também fruto de uma eficiente campanha de mobilização dos estudantes visando à ampla participação deles na prova. em entrevista ao Beira do Rio, a professora Elizabeth de Assis Dias, diretora da Faculdade, conta como foi essa mobiliza-ção e as mudanças ocorridas no projeto pedagógico que levaram ao enxugamento do currículo, à eliminação de disciplinas em duplicata e à integralização dos conteúdos pedagógicos às disci-plinas filosóficas.

Beira do Rio - Pela primeira vez, o curso de Filosofia da UFPA obteve nota 4 no Enade, a maior nota obtida por um curso de Filosofia das univer-sidades brasileiras. Como foi o trabalho desenvolvido para que os alunos não boicotassem a avaliação? Elizabeth de Assis Dias - A nota representou o resultado de todo um trabalho, não a conseguimos gratuitamente. Foi todo um esforço conjunto realizado por professores, pela coordenação e pelos alunos. No curso de Filosofia, trabalhamos não só a formação dos estudantes, mas também a formação de uma consciência sobre a importância da participação deles no enade. ressaltamos que a nota do cur-so também é uma nota deles,

afinal, a avaliação reflete a qualidade de seus desempenhos. Nós os incentivamos para que resolvessem a prova, na medida em que estavam qualificados para tal. O resultado do trabalho foi a participação de quase 100% dos alunos na prova.

Beira do Rio - E como era a participação dos alunos nas avaliações anteriores?Elizabeth de Assis Dias - Ti-vemos participações menores de estudantes. Muitos apenas assinavam a lista de presença e entregavam a prova em branco. Não havia participação maciça como tivemos na última prova.Desta vez, os alunos não só compareceram, como também resolveram as questões. este foi o nosso diferencial. Não basta convocá-los; eles precisam ter consciência de que a prova é importante para medir a qua-lidade do curso e da formação que estão tendo na instituição.

Beira do Rio - Esta ampla par-

ticipação indica que o discurso das lideranças estudantis pelo boicote não tem mais a mesma força com os estudantes?Elizabeth de Assis Dias - O dis-curso ainda é proferido. Ainda vemos vários cursos passando por essa dificuldade. A nossa campanha visou, justamente, combater o argumento dessas lideranças à medida que se buscou conscientizar os alunos sobre a importância de eles fazerem a prova, porque ela é um dos indicadores da quali-dade do curso. A nós, gestores, interessa-nos ter um respaldo sobre como o curso está sendo avaliado. A prova, na verdade, é apenas um dos requisitos da avaliação. Nós somos avaliados com relação à infraestrutura, ao projeto pedagógico, às ins-talações do curso, à produção e qualificação docente. Tudo isso faz parte do enade. A prova é o ponto culminante da avaliação.

Beira do Rio - Certamente, não foi somente a ampla participa-

ção estudantil no Enade que levou à boa avaliação do curso. O que mais contribuiu?Elizabeth de Assis Dias - Cer-tamente, não. Antes, porém, quero relatar como vem ocor-rendo a participação do curso de Filosofia no Enade. Em 2005, realizou-se a nossa primeira avaliação. Foi um processo muito tumultuado em função de pro-blemas ocorridos na inscrição dos alunos, por causa de uma greve que os impediu de serem informados sobre os prazos. Poucos participaram. Então, fizemos um documento expondo o problema e solicitando que a nota fosse cancelada. Ficamos sem avaliação neste ano. Na se-gunda avaliação, que ocorreu em 2008, obtivemos nota 3. Agora, nesta última (2011), alcançamos nota 4. Evidentemente, não se pode atribuir esta boa avalia-ção apenas à participação dos alunos. Ela é fruto também de toda uma caminhada no sentido da atualização do nosso projeto pedagógico, da reformulação da

Junho e Julho, 2013 - Beira do rio - 13

“A nota do curso é a nota dos alunos,

afinal, a avaliação reflete a qualidade do desempenhos deles. Os estudantes precisam ter consciência de que a prova é importante para medir a formação que estão tendo na instituição.”

Entrevista

Participação maciça dos estudantes no Exame Nacional de Desempenho também concorre para que o conceito do curso da UFPA suba para 4

Mudança na grade curricular contribui para a boa avaliação na Filosofia

grade curricular, da qualificação do corpo docente, da melhoria das instalações físicas das salas de aula e do equipamento da bi-blioteca com livros de Filosofia.

Beira do Rio - Explique como ocorreu este processo de mu-dança no projeto pedagógico de Filosofia.Elizabeth de Assis Dias - O curso de Filosofia seguia o mo-delo de todas as licenciaturas ofertadas pela Universidade, nas quais há uma separação entre a formação específica, no nosso caso, ministrada pela Faculdade de Filosofia, e a for-mação pedagógica, ministrada pela Faculdade de Educação. A formação do pesquisador, no caso do Bacharelado, era ape-nas uma complementação dessa formação. A partir de 2005, começamos a trabalhar no sen-tido de efetivar a atualização do projeto pedagógico. Neste processo, enxugamos o currí-culo, eliminamos disciplinas em duplicata e procuramos integra-

lizar os conteúdos pedagógicos às disciplinas filosóficas, com a participação dos professores, da própria Faculdade de Filosofia, assumindo a formação peda-gógica especifica. Tudo isso foi importante para a eliminação de problemas, tais como: a alta taxa de evasão e o baixo número de formandos do curso. Outras mudanças importantes ocorre-ram por meio da introdução de novas disciplinas pedagógicas, por exemplo, os Laboratórios de Ensino, que visam possibili-tar a formação pedagógica em níveis de ensinos fundamental e médio. Nós substituímos a didática geral por uma didática da Filosofia, mais direcionada, portanto, ao ensino da Filosofia. Também integramos o estágio com os Laboratórios de Ensino. A partir de então, os alunos passaram a treinar a docência, a discutir metodologias, a pes-quisar os conteúdos e a preparar materiais didáticos para as au-las, no interior dos Laboratórios de ensino.

Beira do Rio - Qual a crítica que o curso de Filosofia faz ao antigo ciclo básico?Elizabeth de Assis Dias - O antigo ciclo básico foi criado num determinado momento para suprir certas deficiências da formação dos alunos que vinham do ensino médio. Todos os cursos passaram por esta for-mação básica. No caso da área de humanas, havia um básico comum a todos os cursos dessa área, durante o qual os alunos estudavam, por exemplo, Intro-dução à Filosofia, Introdução à Economia, Introdução à Me-todologia das Ciências Sociais, Introdução à Sociologia, Língua Portuguesa. A experiência colhi-da nos anos de funcionamento do curso mostrou-nos que o básico não conseguia suprir, sa-tisfatoriamente, as deficiências do ensino médio, nem eficaz-mente preparar o aluno para a formação profissional especifica de cada curso. Quando nós re-formulamos o nosso currículo, decidimos que não precisávamos mais desta formação básica. Então, eliminamos esse básico de caráter mais geral e criamos uma formação básica mais espe-cifica e diretamente relacionada à formação do profissional de Filosofia. No curso de Filosofia da UFPA, o aluno, ao ingressar no primeiro semestre, estuda as disciplinas propriamente filosóficas de seu currículo, a saber: Filosofia Geral I, Lógica I, História da Filosofia Antiga, Teoria do Conhecimento i e uma ciência à introdução à Teoria Sociológica. O estudo dessas dis-ciplinas, incluindo a Ética, que aparece em blocos posteriores, constitui o que denominamos de formação básica. Mas, por outro lado, isso causa um impacto, porque os alunos saem do en-sino médio com uma visão da Filosofia que não é a mesma da Filosofia que aqui se trabalha. É bem verdade que eles sentem algumas dificuldades, o que nos

preocupa e estamos empenha-dos em resolvê-las.

Beira do Rio - Depois desta formação básica diferenciada, qual o trajeto curricular dos alunos de Filosofia?Elizabeth de Assis Dias - Depois do que chamamos de formação básica, que é uma consistente formação teórica no âmbito das matérias básicas da própria Filosofia, o currículo se bifurca em disciplinas de formação es-pecífica, que são, entre outras, Filosofia da Ciência, Filosofia da Arte, Filosofia da Linguagem, Filosofia Politica, ou seja, dis-ciplinas que estudam a Filosofia aplicada a certos campos do conhecimento. Uma outra etapa diz respeito às disciplinas que chamamos tópicos, nas quais os alunos irão aprofundar o estudo de certos temas ou de certos filósofos. É uma etapa que está muito ligada aos projetos de pesquisa dos professores e diz respeito à formação do Bacharel em Filosofia. A formação pedagó-gica aparece no terceiro período e acompanha o aluno ao longo do curso.

Beira do Rio - O curso não forma filósofos. Então, quem é o pro-fissional graduado pelo curso de Filosofia?Elizabeth de Assis Dias - Forma-mos o licenciado em Filosofia, que atua no ensino de Filosofia, nos níveis fundamental e médio, e o bacharel, cuja formação está direcionada para a pesquisa em Filosofia, com atuação em ins-tituições científicas e culturais que demandem um trabalho interdisciplinar de pesquisa. Ele pode também trabalhar como assessor de instituições educacionais em que se deman-da por uma reflexão filosófica sobre pressupostos culturais e políticos.

Entrevista completa disponível no Beira On-line

14 - Beira do rio - Junho e Julho, 2013

Documentário

Obra recupera o trabalho de artistas durante os anos dourados

Teatro paraense de 1950 revistoHAROLDO FRANçA

O ator Armando Mendonça (na

foto, à direita) também assina a trilha sonora

do documentário "Norte Escola

Teatro do Pará", de Luciano Lira

Vitor Barros

Década de 1950. Anos Dourados. O mundo via transformações intensas nas ciências, na tec-

nologia e, principalmente, no cená-rio das artes. O Brasil, nesse período, foi sede, pela primeira vez, da Copa do Mundo de Futebol e, apesar de não sair campeão, anos mais tarde, na mesma década, 1958, conquistou o mundial e garantiu ao País a Taça Julies Rimet (a qual foi, posterior-mente, roubada e transformada em barras de ouro). O lançamento da primeira sonda espacial russa, a Sputinik II, com o primeiro ser vivo (a cadela Laika), a Criação da Comunidade europeia e da Agência

Espacial Norte Americana (Nasa) en-traram para os livros de História. em paralelo, no Brasil, vivíamos o plano “Cinquenta Anos em Cinco”, do pre-sidente Juscelino Kubistschek, e, nas lutas sociais, as Ligas Camponesas lançavam os germens do que seria o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), nos anos 80. Para o deleite dos ouvidos, a Bossa Nova chegava consagrando nomes como João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes. e uma das grandes rein-venções das artes dos anos 50, no País, foi o teatro.

Nessa época, estouravam, com grande efervescência, grupos amadores de teatro, dos quais se pode destacar o Teatro Brasileiro de

Comédia, Teatro de Arena e Teatro Oficina. Em 1957, no Pará, despre-tensiosamente, nasce um grupo que atualizou tanto a cena artística da região quanto a do País. Para ter uma ideia, o Norte Teatro Escola do Pará (NTEP) foi o primeiro a encenar o Auto “Morte e Vida Severina”, do poeta João Cabral de Melo Neto, no Primeiro Festival Nacional de Teatro Amador, em Recife, terra do autor, no ano de 1958. Resultado? Arrebatou os principais prêmios do festival. Toda a trajetória desse ousado grupo foi registrada no do-cumentário “Norte Teatro Escola do Pará – Teatro amador em Belém, nos anos dourados do Brasil”, do diretor, ator e músico Luciano Lira.

Não só premiação, mas o curto e intenso percurso desse grupo, que saiu do tablado para a história da cultura paraense, também traz na sua bagagem um dos fatos mais simbólicos para a cena artística para-ense. O legado mais concreto do gru-po foi a criação de um lugar para se aprender, fazer e refletir a linguagem teatral e suas possibilidades, com a fundação do Serviço de Teatro da Universidade Federal do Pará (UFPA), em 1962. “É o que podemos chamar de ‘célula geradora’ da escola de Teatro e Dança da UFPA. Atualmente, esta escola conta com 50 anos de história e representa um dos polos de pesquisa e formação técnica em artes mais importantes no estado do Pará e, consequentemente, da Região Norte”, comenta Lira.

Grupo encontrava-se na “Casa da Estrella”Composto por jovens talento-

sos, intelectuais e amantes das artes que se encontravam, inicialmente, para fazer recitais de poesia, o grupo começa com a reunião de amigos na casa de Maria Sylvia Nunes, que morava com o marido, o filósofo Benedito Nunes. A residência ficou conhecida como a Casa da Estrella, batizada com o nome da via em que se situa – Travessa da Estrella, no bairro Marco. Nesse lugar aconte-ciam os ensaios do grupo, além de

ocorrerem apresentações para os amigos mais íntimos e alguns inte-lectuais da sociedade belenense da época.

essa densidade intelectual fez o grupo romper com o que vinha se fazendo dentro da tradição, assu-mindo uma postura vanguardista na linguagem teatral, além de permitir que eles próprios desenvolvessem todo o processo criativo, desde a tradução de textos estrangeiros, a montagem, até a encenação. A

escolha do repertório para as mon-tagens das encenações revela o ca-ráter inovador. Fizeram montagens de textos inéditos na dramaturgia, como o “Piquenique no Front”, de Fernando Arrabal; “No poço do Falcão”, escrita pelo irlandês William Butler Yeats;“Biderman e os Incendiários”, do dramaturgo suíço Max Frisch. “Dessa forma, o grupo se confunde com o nascimento do teatro moderno no Pará e no Brasil”, afirma Luciano Lira.

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A História na Charge

Em DiaVestibularUm banner com “Perguntas Frequentes” a respeito das regras e novidades sobre o Pro-cesso Seletivo 2014 da Universidade Federal do Pará (UFPA) está disponível no site do Cen-tro de Processos Seletivos (Ceps), www.ceps.ufpa.br. O Exame Nacional de Ensino Médio (enem) será a única etapa do concurso. Além disso, até 20% das vagas serão ofertadas pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu).

CadastroPara se manter atualizado sobre propostas de estágio, o aluno da UFPA deve efetivar dois cadastros na internet. O primeiro, no site da Coordenadoria de Apoio ao Discente, da Pró-reitoria de ensino de Graduação (Cadis/Proeg),www.centraldeestagios.ufpa.br. O segundo refere-se à Lista de Discentes e deve ser feito em http://listas.ufpa.br/mailman/listinfo/proeg-discentes.

Unifesspa A presidente Dilma rousseff já sancionou a lei que cria a Universidade Federal do Sul Sudeste do Pará (Unifesspa), que começará a partir do desmembramento do Campus Marabá da UFPA, acrescido de novos campi em Rondon do Pará, Santana do Araguaia, São Félix do Xingu e Xinguara. A nova Federal Paraense ofertará 12.830 vagas, em 47 cursos de graduação.

IntercâmbioOs alunos da UFPA que se inscreveram no Programa Ciência sem Fronteiras (PCsF), a fim de realizar “graduação sanduíche”, devem ficar atentos à chamada pública do edital para o qual submeteram inscrição. A homologação das candidaturas pré-selecio-nadas se encerrará até 9 de agosto. Para outras informações, acesse www.cienciasem-fronteiras.gov.br.

Intercâmbio 2Cinco alunos do curso de Letras-Francês da UFPA passarão dois anos na França, cursan-do “graduação sanduíche” na Universidade Paris-Sorbonne. A ação é resultado do Projeto “Licenciatura internacional em Let-ras-Francês UFPA / Université Paris-Sorbonne (U. Paris IV)”, aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

DiscursoDe 7 a 9 de agosto, será realizado na UFPA o II encontro de Análise do Discurso na Amazônia (eDiA) e i o Colóquio internacional Discurso e Mídia na Amazônia. O evento, cuja temática é “Apropriações e Regimes de Visualidade”, contará com a apresentação de 200 trabalhos de pesquisadores nacionais e internacionais ao longo de 21 GTs. informações em http://adamazonia2013.blogspot.com.br.