bd p evoluçãosolvabilidadesistemabancário_3fev2012

4
EVOLUÇÃO DA SOLVABILIDADE DO SISTEMA BANCÁRIO O sistema bancário está hoje mais robusto e mais resiliente O sistema bancário português tem evidenciado, desde o final de 2008 (agudização da crise financeira com a falência da Lehman Brothers), um nível de resiliência assinalável. Os rácios de solvabilidade, medidos segundo a métrica do Core Tier1, o tipo de capital de maior qualidade e mais valorizado nos mercados como indicador da solidez financeira de uma instituição bancária, apresenta, desde aquela data, uma tendência claramente positiva. Evolução Trimestral do Rácio Core Tier1 do Sistema Bancário (excluindo intervencionadas) O sector bancário português, excluindo o BPN e o BPP, apresentava, em Setembro de 2011, um rácio Core Tier1 de 8,5%, valor que compara com um nível de 6,8% no final de 2008 (de acordo com dados preliminares disponíveis, o rácio Core Tier1 no final de 2011 ultrapassará confortavelmente os 9%). Ao longo deste período, fortemente conturbado por uma crise financeira com origem no sector financeiro norte-americano que derivou, em 2010, para uma crise dos soberanos europeus com um renovado subsequente impacto sobre o sistema financeiro, o sector bancário português apresentou uma tendência de reforço continuado dos seus índices de solidez financeira. O progressivo aumento do nível de solvabilidade exigido no plano regulamentar (Banco de Portugal e outras autoridades internacionais, como o Comité de Basileia) reflectiu a alteração do paradigma de capital anteriormente prevalecente, reforçando a necessidade de detenção de mais e melhor capital. Note-se que, no final de 2008, o Banco de Portugal aumentou o requisito mínimo de rácio Tier1 a cumprir pelos bancos (para 8%), tendo, já em 2011, aumentado o grau 6,8% 7,9% 8,1% 8,5% Dez 2008 Dez 2009 Dez 2010 Set 2011

Upload: pedroribeiro1973

Post on 29-May-2015

210 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Bd p evoluçãosolvabilidadesistemabancário_3fev2012

EVOLUÇÃO DA SOLVABILIDADE DO SISTEMA BANCÁRIO

O sistema bancário está hoje mais robusto e mais resiliente

O sistema bancário português tem evidenciado, desde o final de 2008 (agudização da crise

financeira com a falência da Lehman Brothers), um nível de resiliência assinalável. Os rácios de

solvabilidade, medidos segundo a métrica do Core Tier1, o tipo de capital de maior qualidade e

mais valorizado nos mercados como indicador da solidez financeira de uma instituição bancária,

apresenta, desde aquela data, uma tendência claramente positiva.

Evolução Trimestral do Rácio Core Tier1 do Sistema Bancário (excluindo intervencionadas)

O sector bancário português, excluindo o BPN e o BPP, apresentava, em Setembro de 2011, um

rácio Core Tier1 de 8,5%, valor que compara com um nível de 6,8% no final de 2008 (de acordo

com dados preliminares disponíveis, o rácio Core Tier1 no final de 2011 ultrapassará

confortavelmente os 9%). Ao longo deste período, fortemente conturbado por uma crise

financeira com origem no sector financeiro norte-americano que derivou, em 2010, para uma

crise dos soberanos europeus com um renovado subsequente impacto sobre o sistema

financeiro, o sector bancário português apresentou uma tendência de reforço continuado dos

seus índices de solidez financeira.

O progressivo aumento do nível de solvabilidade exigido no plano regulamentar (Banco de

Portugal e outras autoridades internacionais, como o Comité de Basileia) reflectiu a alteração do

paradigma de capital anteriormente prevalecente, reforçando a necessidade de detenção de

mais e melhor capital. Note-se que, no final de 2008, o Banco de Portugal aumentou o requisito

mínimo de rácio Tier1 a cumprir pelos bancos (para 8%), tendo, já em 2011, aumentado o grau

6,8%

7,9%8,1%

8,5%

Dez 2008 Dez 2009 Dez 2010 Set 2011

Page 2: Bd p evoluçãosolvabilidadesistemabancário_3fev2012

de exigência, na definição do rácio para o qual se manteve o nível mínimo de 8% (rácio Core

Tier1 em vez de rácio Tier1).

O Programa de Assistência Económica e Financeira, acordado no segundo trimestre de 2011

com o FMI, o BCE e a Comissão Europeia, contempla o reforço das exigências ao nível da

solvabilidade (e liquidez) dos bancos portugueses, num contexto de extrema adversidade no que

respeita ao acesso aos mercados internacionais para financiamento e de deterioração

generalizada da envolvente macroeconómica. Desta forma, o Banco de Portugal determinou a

necessidade de cumprimento de um requisito mínimo de rácio Core Tier1 de 9% no final de 2011

e de 10% no final de 2012.

Refira-se que o aumento dos requisitos de capital foi acordado num período de encerramento

dos mercados financeiros internacionais para os bancos portugueses. Considerando que o rácio

Core Tier1 corresponde à divisão do capital Core Tier1 pelo total de activos ponderados pelo

risco, importa aferir a forma como o reforço do rácio foi alcançado.

Evolução Trimestral do Capital Core Tier1 do Sistema Bancário (excluindo intervencionadas), M.€

De facto, desde o final de 2008, o capital Core Tier1 no sistema bancário (capital de mais

elevada qualidade) apresenta uma clara tendência positiva, com um crescimento de 28,6%

desde o final de 2008 até Setembro de 2011. Este crescimento acumulado corresponde a uma

taxa média de crescimento de 2,3% por trimestre.

Ao mesmo tempo, os activos ponderados pelo risco (RWA) apresentaram uma taxa acumulada

de crescimento positiva, entre o final de 2008 e Setembro de 2011, de 2,8% (taxa de

crescimento média de 0,3% por trimestre).

10.000

12.000

14.000

16.000

18.000

20.000

22.000

24.000

26.000

28.000

Dez 2008 Dez 2009 Dez 2010 Set 2011

Page 3: Bd p evoluçãosolvabilidadesistemabancário_3fev2012

Evolução Trimestral dos RWA do Sistema Bancário (excluindo intervencionadas), M.€

Considerando que os objectivos de requisitos mais exigentes para o rácio Core Tier1 poderiam

ser cumpridos através de uma redução abrupta dos activos em balanço das instituições

bancárias, nomeadamente no que respeita ao crédito a clientes (cerca de 70% do activo), o facto

de o aumento sustentado do rácio Core Tier1 ser obtido por via do aumento do core capital

revela o compromisso responsável dos bancos para com o financiamento da economia

portuguesa.

De facto, o cumprimento dos objectivos traçados para a solvabilidade do sistema tem sido

suportado por um esforço assinalável, consubstanciado na realização de operações de

aumentos de capital (até ao período em que os mercados de financiamento internacionais

encerraram), de conversão de títulos de dívida em acções ordinárias (operações realizadas com

uma elevada taxa de sucesso), de recompras de dívida transaccionada no mercado (com

ganhos de capital) e, claro, com a retenção dos resultados gerados no período.

Relativamente a 2011, os principais grupos bancários portugueses apresentarão um resultado

líquido agregado negativo. Esta situação fica, em larga medida, a dever-se ao efeito de eventos

de natureza não recorrente que originaram o registo de perdas por parte dos bancos

portugueses, com destaque para o reforço no valor das imparidades registadas para a carteira

de crédito na sequência do programa especial de inspecções (SIP), para o apuramento de

prejuízos na operação de transferência parcial de responsabilidades com pensões de reforma

para o âmbito da Segurança Social realizada ao abrigo do Decreto-Lei n.º 127/2011, de 31 de

Dezembro e para o reconhecimento de imparidades resultantes da exposição a dívida soberana

grega.

De referir que, conforme acordado na segunda revisão do Programa de Assistência Económica e

Financeira, o Banco de Portugal emitiu o Aviso n.º 1/2012, através do qual se procede à

neutralização temporária dos impactos decorrentes do programa especial de inspecções e da

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

350.000

Dez 2008 Dez 2009 Dez 2010 Set 2011

Page 4: Bd p evoluçãosolvabilidadesistemabancário_3fev2012

transferência parcial dos planos pós-emprego de benefício definido para a esfera da Segurança

Social no cálculo dos fundos próprios e na determinação de requisitos mínimos de fundos,

devendo as necessidades de fundos próprios daí resultantes serem supridas pelas instituições

até 30 de Junho de 2012.