bayer castilho pinto campos 1973 resenha la civilizacion en 15795

14
RESENHA BIBLIOGRÁFICA La civili%ación en la encrucijada RICHTA, Radovan et alii. Trad. Fernando de Valenzuela. Cidade do \1éxico, Siglo Veitiuno Editores, 1971. 350 p. Esta é uma obra pouco comum; tal qualificação pode ser empregada tanto em relação à sua forma, quanto a seu conteúdo e até a maneira como foi elaborada. Foi preparada por uma equipe de 44 pesquisadores que se dedicam às mais diversas especialidades no campo científico: filo- sofia, economia, sociologia, medicina, política, psicologia, historio- grafia e outras, pesquisadores esses ligados aos diversos institutos da Academia de às universidades e a outras instituições tcheco- eslovacas, e que trabalharam no projeto de pesquisa que deu origem a este livro sob a direção do Dr. Radovan Richta, da Academia Tcheco- Eslovaca de Ciencias. A diversificação dos campos a que se dedicam os membros da equipe poder-se-ia constituir em séria dificuldade, refletindo-se numa obra des- conexa ou frágil do ponto de vista da coesão interna. Entretanto, talvez pelo fato de, nos países socialistas, haver também no campo intelectual e científico maior tradição de esforço coletivo, a obra em questão mostra que mesmo no difícil campo das ciencias sociais podem-se obter ótimos resultados do trabalho de equipe, principalmente se não existem proble- mas de projeção pessoal; toda a obra apresenta alto nível de precisão teórica, sentindo-se também que os autores formularam cada proposição nela contida após uma pesquisa realmente crítica e discussões coletivas R. Adm. públ., Rio de Janeiro, 7(2): 189-202, abr./;un. 1973

Upload: renan-alfenas

Post on 02-Oct-2015

224 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Resenha : A civilização na encruzilhada

TRANSCRIPT

  • RESENHA BIBLIOGRFICA

    La civili%acin en la encrucijada

    RICHTA, Radovan et alii. Trad. Fernando de Valenzuela. Cidade do \1xico, Siglo Veitiuno Editores, 1971. 350 p.

    Esta uma obra pouco comum; tal qualificao pode ser empregada tanto em relao sua forma, quanto a seu contedo e at a maneira como foi elaborada. Foi preparada por uma equipe de 44 pesquisadores que se dedicam s mais diversas especialidades no campo cientfico: filo-sofia, economia, sociologia, medicina, c~ncia poltica, psicologia, historio-grafia e outras, pesquisadores esses ligados aos diversos institutos da Academia de C~ncias, s universidades e a outras instituies tcheco-eslovacas, e que trabalharam no projeto de pesquisa que deu origem a este livro sob a direo do Dr. Radovan Richta, da Academia Tcheco-Eslovaca de Ciencias.

    A diversificao dos campos a que se dedicam os membros da equipe poder-se-ia constituir em sria dificuldade, refletindo-se numa obra des-conexa ou frgil do ponto de vista da coeso interna. Entretanto, talvez pelo fato de, nos pases socialistas, haver tambm no campo intelectual e cientfico maior tradio de esforo coletivo, a obra em questo mostra que mesmo no difcil campo das ciencias sociais podem-se obter timos resultados do trabalho de equipe, principalmente se no existem proble-mas de projeo pessoal; toda a obra apresenta alto nvel de preciso terica, sentindo-se tambm que os autores formularam cada proposio nela contida aps uma pesquisa realmente crtica e discusses coletivas

    R. Adm. pbl., Rio de Janeiro, 7(2): 189-202, abr./;un. 1973

  • de cada problema apresentado, sem que se notem em nenhum momento formulaes gratuitas ou contrapostas ao sentido global do livro.

    No se trata, e os prprios autores o afirmam, de uma obra conclusiva ou exaustiva da matria em estudo; na introduo, Richta a define, mes-mo, como um projeto de anlise terica dos aspectos sociais e humanos do fenmeno que ele chama de revoluo cientfico-tcnica. Porm, se comparada grande maioria das obras elaboradas nos EUA ou na Europa Ocidental sobre o desenvolvimento da tcnica moderna e o chamado "fa-tor humano", verifica-se que a equipe de Richta logrou alcanar maior exito na percepo da essncia dos processos que caracterizam a civilizao atual e das principais implicaes do progresso cientfico e tcnico sobre a vida do homem moderno. A mais flagrante falha que se poderia apontar na literatura ocidental sobre o tema que, apesar da quantidade assomo brosa de material emprico acumulado, o mximo que se consegue so anlises, algumas interessantes, dos processos de automao ou das inova-es tecnolgicas; falta-lhe porm uma interpretao objetiva da verda-deira dimenso da revoluo que atualmente presenciamos, e talvez por isso a maior parte das obras se apie, alternada e conflituosamente, ora em quadros estatsticos dos mais "concretos", ora em consideraes extre-mamente fantasiosas, assemelhando-se seus autores, por vezes, a estranhas pitonisas. Uma das fontes de limitao das concluses desses trabalhos pode ser encontrada na posio geralmente por eles defendida no sentido de enquadrar o desenvolvimento cientfico e tecnolgico, extremamente acelerado de que somos testemunhas, e as transformaes por ele acar-retadas, como simples fase dentro da Revoluo Industrial. Tal enqua-dramento no permite a viso de que as mudanas nas foras produtivas, introduzidas pela revoluo cientfico-tcnica no possuem apenas aspec-tos quantitativos, mas tambm, qualitativos, abrindo perspectivas intei-ramente novas atividade humana.

    Essa limitao no se encontra na obra de Richta e sua equipe. O trabalho em questo conceitua a revoluo cientfico-tcnica no como uma fase da Revoluo Industrial, e sim como uma nova revoluo na base econmica da sociedade, que levaria a novas contradies com as superestruturas geradas pela Revoluo Industrial, da resultando novo estgio na evoluo da humanidade. Esse tipo de abordagem permite uma viso mais clara da extraordinria fora dinmica contida no pro-cesso de desenvolvimento cientfico e tecnolgico dos dias atuais, per-mitindo uma anlise mais precisa e concreta dos fenmenos que decorrem desse desenvolvimento, do que aquele tipo de vaticnio que encontramos em certos autores, que pressentem a importncia do que est acontecendo, mas no possuem o embasamento terico ou a viso crtica necessrios elaborao de um estudo mais srio sobre o tema.

    Para a equipe de cientistas tchecos, a essncia da revoluo cientfico-tcnica resume-se, basicamente, nos seguintes pontos principais:

    190 R.A.P. 2/73

  • a) ocorrencia de profundas modificaes na estrutura e na dinmica das foras produtivas, modificaes tanto quantitativas quanto, e principal-mente, qualitativas; b) a cincia (ciencias naturais e sociais) assumindo um novo papel no campo das foras de produo; c) a automao, definida como transformao da produo num pro-cesso tcnico controlado pelo homem, eliminando o trabalho elementar e encaminhando a maior parte do trabalho humano a tarefas de direo tcnica, planejamento, pesquisa, etc., o que traria uma transformao na relao homem/foras produtivas, levando-o a assumir um novo status na sociedade. O desenvolvimento do homem seria, ento, um fim em si mesmo;

    d) o processo produtivo deixaria de ser um processo operativo, pas-sando a processo cientfico; e, e) cincia e tecnologia transformadas em ncleo tanto da produo quanto do conjunto da vida social.

    Estabelecido o que seria, ento, a essncia da revoluo cientfico-tcnica, os autores prosseguem a obra aprofundando anlises sobre as transformaes no trabalho, na qualificao profissional e na instruo; sobre a revoluo cientfico-tcnica e sua ao sobre o Terceiro Mundo, o desenvolvimento do socialismo, o lazer e a apropriao, pelo homem, do tempo e do espao. Analisam, tambm, as novas caractersticas de pro-gresso social na era da revoluo cientfico-tcnica, terminando com a apresentao de um apndice tratando do caso especfico da revoluo cientfico-tcnica na Tcheco-Eslovquia.

    Uma das partes mais interessantes do livro aquela em que se abordam modelos de desenvolvimento econmico, que os autores classificam como extensivo (que seria um desenvolvimento do tipo industrial), caracterizado pelo incremento do capital, absoro pela indstria de nmero maior de mo-de-obra e consumo das massas restrito, e desenvolvimento intensivo (trazido pela revoluo cientfico-tcnica), em que haveria uma "liberta-o do capital", com predominncia no da quantidade, mas da qualidade e grau de utilizao do capital e do trabalho, substituio da mo-de-obra por processos tcnicos e expanso do consumo. No desenvolvimento inten-sivo, o relacionamento cincia/tecnologia/produo traria o incremento da produtividade total e um rebaixamento na relao capital/produto. Essa anlise do desenvolvimento econmico, porm, logo seguida por uma abordagem mais ampla, em que se aponta a necessidade de avaliar o desenvolvimento intensivo do ponto de vista humano e social, avaliao que seria estabelecida pela amplitude com que a cincia, enquanto fora produtiva, controlada e usufruda pelo fator humano e provoca o desen-volvimento do prprio homem, atravs do aumento de sua capacidade e energia criadora; a revoluo cientfico-tcnica seria, tambm e princi-palmente, uma revoluo cultural.

    Resenha bibliogrfica 191

  • Note-se que, durante todo o decorrer da obra, so analisadas paralela-mente as implicaes da revoluo cientfico-tcnica tomando por base dois sistemas sociais - o socialismo e o capitalismo - sendo opinio dos autores que a revoluo cientfico-tcnica, em toda sua amplitude, vista como uma transformao qualitativamente superior no processo de evo-luo da humanidade, somente pode ser alcanada com o socialismo, ape-sar de seus primeiros sinais terem surgido nos mais avanados pases capitalistas, pois sob o capitalismo a revoluo seria embargada pelo obstculo da disparidade entre o nvel da ciencia e da tecnologia e o tipo de relaes sociais existente.

    Chamando a ateno sobre os novos problemas e a necessidade de novas solues que surgem da revoluo cientfico-tcnica; abrindo, em alguns aspectos, amplo campo investigao e fornecendo algumas con-cluses e sugestes (embora no detalhadas ou definitivas) bastante in-teressantes e principalmente por refletir o resultado de um trabalho liber-to das influencias nefastas do desejo de projeo individual e talvez em funo disso, dos mais honestos que ultimamente tivemos oportunidade de ler, La civilizacin en la encruci;ada constitui-se em leitura obrigatria a todo aquele que pretende, atravs da compreenso das mudanas tra-zidas pelo desenvolvimento cientfico e tcnico, compreender nossa poca.

    NOTA Apesar de existir a traduo brasileira da obra comentada - sob o ttulo Economia socialista e revoluo tecnolgica, traduzido do italiano La via cecoslovaca por Giseh Viana Konder, Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1972 - preferimos tomar como base de indicao a edio me-xicana, em virtude de se encontrar a edio brasileira profundamente prejudicada por grosseiros erros de reviso, falhas de traduo que che-gam a comprometer, em alguns casos, a compreenso do texto e princi-palmente pela supresso sumria de todos os quadros, tabelas, grficos e referencias bibliogrficas que podem ser encontrados na edio mexicana.

    o desenvolvimento pela cincia

    GUSTAVO F. BAYER E NIRA DE CASTILHO

    SPAEY, Jacques. Trad. Jair Gramacho. Rio, Fundao Getulio Vargas em convenio com a Universidade de Braslia, 1972. 331 p.

    o impacto exercido, em todas as atividades humanas, pelo crescente de-senvolvimento da ciencia e da tecnologia fato inconteste, qualquer que seja a posio filosfica ou ideolgica em que se coloque o observador. Assim tambm, cada vez menos se discute que cincia e tecnologia sejam objetos de uma poltica especfica; o fato de que necessrio, e no apenas desejvel, que uma nao aja no sentido de equacionar uma pol-192 R.A.P. 2/73

  • tica cientfica e tecnolgica parece inquestionvel. A simples observao mostra que, nas naes mais desenvolvidas, a utilizao sistemtica e pla-nejada do conhecimento cientfico e da inovao tecnolgica tem sido, recentemente, uma das mais importantes fontes de acelerao do progresso econmico e social. Nos pases em desenvolvimento, a preocupao com a formulao de polticas ou planos de ao no campo da cincia e da tecnologia j se faz sentir, quer seja atravs de pronunciamentos oficiais, quer seja pelo maior interesse que vm dedicando ao tema as prprias comunidades cientficas dessas naes.

    Entretanto, o fato de existir consenso quanto necessidade de formu-lao de polticas cientfica e tecnolgica (entendidas como parte ou ins-trumento de uma poltica de desenvolvimento econmico e social) nos pases em desenvolvimento, se puder ser encarado como um dado alta-mente positivo, no , ao menos no caso brasileiro, de muita valia na soluo do problema da formulao e da operacionalizao das referidas polticas. As divergncias que surgem, ento, so dos mais variados tipos, desde problemas como mecanismos de captao de fundos at determina-o de reas de competncia ou estabelecimento de critrios de prioridade quando da alocao de recursos. Essa uma pequena amostra do tipo de dificuldades que podem surgir quando se passa da discusso terica sobre o problema poltica cientfica e tecnolgica para uma real tentativa de formulao dessas polticas.

    A equipe supervisionada pelo professor Jacques Spaey (secretrio-geral dos servios da programao da poltica cientfica do Primeiro-Ministro da Blgica), responsvel pela elaborao do livro que ora comentamos, certamente defrontou-se com problemas desse tipo; sua tarefa, porm, pa-rece ter sido razoavelmente facilitada pelo tipo de estratgia adotado pelos autores. Esta seria a de alternar informaes concretas e tericas, permitindo assim ao leitor a familiarizao progressiva com um tema de considervel abstrao - o papel da cincia na sociedade contempornea - ao mesmo tempo que o mantm informado sobre os processos e prti-cas que vm sendo utilizados, em termos de formulao de poltica cien-tfica, naqueles pases onde essa poltica no mais um tema em aberto para discusses a longo prazo, e sim uma realidade. Desse modo, os autores conseguem evitar algo muito comum em obras do gnero, ou seja, uma passagem brusca do campo terico, em que tudo aponta a necessidade imperiosa de que sejam formuladas as polticas em questo, para um ter-reno mais concreto, onde toda uma constelao de dificuldades parece erguer-se contra a efetivao dessas polticas, embora em parte essas difi-culdades no passem de quixotescos moinhos de vento.

    Outro aspecto da obra que nos pareceu bastante positivo, embora alguns possam encar-lo como falta de objetividade, que em nenhum momento os autores se propem a apresentar uma receita universal de poltica cientfica. Pelo contrrio, sua preocupao parece ter sido a de dotar o leitor de um amplo quadro de reflexo, que lhe possa servir de subsdio quando da anlise dos problemas caractersticos de seu pas e da crtica

    Resenha bibliogrfica 193

  • s decises adotadas pelos rgos encarregados da formulao das pol-ticas cientfica e tecnolgica nacionais. Nota-se, inclusive, que h diversi-dade no s na exposio dos problemas, mas tambm das opinies emi-tidas, o que no chega a comprometer a unidade da obra, visto que seu propsito central, qual seja o de evidenciar a importncia da cincia como fator de desenvolvimento e progresso, sempre destacado, assim como constantemente ressaltada a necessidade de no apenas relacionar a nao e o mundo cientfico e tcnico, e sim colocar a cincia e a tec-nologia a servio dos objetivos maiores da nao, como condio sine qua non para que seja alcanada uma real poltica de desenvolvimento pela cincia.

    O livro se desenvolve em trs partes principais, sendo a primeira delas dedicada anlise dos objetivos a que geralmente se prope uma poltica nacional de desenvolvimento econmico e social, sendo que essa anlise mais aprofundada quando se trata do crescimento econmico, visto ser esse um dos objetivos primordiais de tal poltica; ainda nessa primeira fase, os autores se estendem no estudo do processo de mutao cientfica e tcnica da sociedade, encarado como uma transformao da sociedade que lhe afeta todos os valores e todas as estruturas. Essa , sem dvida, a parte que se poderia designar como a mais terica de todo o livro, e a que os autores debatem um tema cada vez mais em evidncia, a exi-gncia de racionalidade que caracteriza a sociedade contempornea.

    Na segunda parte do livro propese uma tipologia de situaes nacio-nais, baseada no estgio de desenvolvimento j atingido pela nao no momento em que a ao de desenvolvimento pela cincia foi desejada, concebida ou posta em prtica; mostra, em suma, os pontos de partida da ao dos governos dos diversos pases estudados. Essa tipologia traz como objetivo fornecer um mtodo de anlise da situao de um pas e, a partir dessa anlise, possibilitar a identificao e seleo dos objetivos que se pretendam alcanar atravs de uma poltica de desenvolvimento pela cincia. A segunda parte complementada por algumas realidades numricas, em forma de quadros e tabelas comparativas que do uma viso da grandeza do fenmeno que se convencionou chamar de revoluo cientfico-tecnolgica, sendo apresentado tambm um apanhado histrico que evoca os primeiro mtodos e instituies de estmulo pesquisa e a maneira pela qual aquilo que atualmente se entende como poltica cien-tfica tomou forma e consistncia.

    A parte final caracteriza-se por situar a poltica cientfica no contexto mais amplo da poltica governamental, tentando definir-lhe funes e instrumentos prprios, conseguindo os autores alcanar um nvel de ra-zovel objetividade, principalmente se considerarmos o carter amplo da obra e sua preocupao em no tom-la um manual ou receiturio. A obra encerra-se com um breve histrico e a anlise das formas de coope-rao cientfica e tcnica entre as naes.

    Em resumo, se no se trata de uma obra revolucionria ou que v marcar poca, o livro em questo prima pela seriedade com que o tema

    194 R.A.P. 2/73

  • tratado, o que no desprezvel, principalmente se levarmos em conta o grande nmero de publicaes em geral de baixssimo nvel, cujos auto-res foram motivados apenas pelo interesse ultimamente despertado pelo tema cit~ncia e tecnologia. No houvesse os demais fatores positivos, an-teriormente citados, essa seriedade j influiria bastante na recomendao do livro a todos os que se interessam pelo assunto.

    ~1ARA DARCY BIASI FERRARI PINTO E N IRA DE CASTILHO

    Le rle de la science et la technologie dans le dveloppement conomique

    Vrios autores. Paris, Unes co, 1971. 231 p. (tudes et documents de politique scientifique, n.o 18).

    A cincia e a tecnologia ocupam um lugar cada vez mais importante na moderna teoria econmica; realmente, o desenvolvimento acelerado da atividade cientfica e tcnica vem colocando frente aos estudiosos sempre novos e complexos problemas econmicos, em sua maioria de carter essencial, dado o papel extremamente dinmico desempenhado pela cin-cia e pela tecnologia no s no crescimento econmico, mas tambm em todo o processo de desenvolvimento econmico e social.

    Despertada para a importncia desses problemas, a Unes co iniciou o estudo de alguns deles, e a estratgia adotada foi a de se realizarem encontros peridicos, que permitissem a confrontao de pontos de vista de diversos economistas, visando obteno de solues finais para aque-les problemas. Entretanto, das primeiras concluses a que se chegou, quando da realizao desses encontros, foi que a economia prpria cincia e tecnologia constitui-se num campo extremamente vasto e com-plexo, e que seu interesse e estudo no devem ficar restritos somente aos economistas, e sim devem-se estender a representantes de outros setores de pesquisa e dos rgos de planejamento; fundamental que esse campo seja explorado em conjunto por economistas, cientistas, planejadores. Nes-se sentido, convocou a Unes co, em dezembro de 1968, uma reunio de especialistas, representando diferentes regies e diferentes escolas tericas, para a discusso do tema Papel da cincia e da tecnologia no desenvolvi-mento econmico. Seus objetivos principais eram dois: primeiro, discutir os novos problemas econmicos surgidos com o desenvolvimento da cin-cia e da tecnologia, a fim de poderem a Unesco e seus estados-membros dar uma nova orientao ao estudo desses problemas e estimular a pes-quisa econmica nesse campo relativamente novo; o segundo objetivo seria chegar a concluses prticas passveis de utilizao pela Unesco em proveito de suas atividades operacionais.

    Resenha bibliogrfica 195

  • Um terceiro objetivo, aceSSOrIO do ponto de vista da Unes co, porm importante se encarado pelo prisma do leitor comum, foi alcanado com a publicao das concluses dessa reunio e dos trabalhos nela apresen-tados, pois essa obra impressa aparece como excelente contribuio a todos os que se interessam pelo assunto, servindo tambm como documen-tao complementar sempre que um especialista se dedique no apenas aos aspectos econmicos da cincia e da tecnologia, mas ao estudo apro-fundado das implicaes oriundas da formulao de uma poltica cient-fica e tecnolgica coerente com metas de real desenvolvimento econmico e social.

    A reunio abordou trs temas amplos, subdivididos, sendo que a cada um deles ligou-se a apresentao de estudos e trabalhos, contribuies de especialistas que representavam, como j foi dito, diferentes regies e escolas tericas.

    O primeiro grande tema abordado foi Poltica cientfica e desenvolvi-mento econmico, dividido em dois subtemas: Contribuio da cincia e da tecnologia ao desenvolvimento econmico e Critrios econmicos de escolha na poltica cientfica e na aplicao da cincia e da tecnologia ao desenvolvimento. Nessa parte, destaca-se a necessidade de reviso dos modelos clssicos e neoclssicos de crescimento econmico, em funo das novas relaes surgidas entre cincia e economia. Apresentam-se, alm disso, propostas de modelos de otimizao da contribuio da cincia e da tecnologia ao desenvolvimento econmico e, como nota destacada, m-todos recentemente desenvolvidos no sentido de fixao de instrumentos de seleo de projetos de R & D. A esse primeiro grande tema da reunio ligam-se os estudos apresentados por Matthews, R. C. O. Contribution de la science et de la technique au dveloppement conomique e L'Estoile, H. de. Critt~res de choix pour une strategie de la recherche-developpe-ment, sendo este ltimo um trabalho bastante interessante, do ponto de vista da utilizao prtica de suas proposies.

    Segue-se a apresentao do segundo tema, ~ftodos de integrao dos planos cientficos e dos planos econmicos no planejamento geral, tam-bm subdividido em: Diversas abordagens ao problema da integrao e Cincia, tcnica e inovao: implicaes econmicas. Discutem-se aqui os problemas de terminologia, a necessidade de integrao dos planos cientficos e econmicos e as dificuldades que se colocam a essa integra-o, e os possveis mtodos de integrao. A seguir, abordam-se as impli-caes econmicas da cincia e da tecnologia: o efeito multiplicador da tecnologia, o problema da eficcia, no que se refere adoo de novas tecnologias e finalmente a questo da interveno pblica ou o papel a ser desempenhado pelo Estado no processo de inovao tecnolgica. Des-taca-se nessa parte o estudo apresentado por J ames Brian Quinn em que o autor, contrariando o que parecia ser consenso geral, afirma que so os progressos nos setores mais "prosaicos", como a agricultura ou o trans-porte, com a conseqente liberao de mo-de-obra para outros setores, que mais contriburam para melhorar o nvel de vida nos ltimos 20 anos,

    196 R.A.P. 2/73

  • apesar da publicidade que se d pesquisa nuclear, conquista do es-pao ou miniaturizao da eletrnica.

    O ltimo tema em discusso tratava dos Problemas e mtodos de fi-nanciamento da pesquisa cientfica e tcnica, analisando tanto o aspecto do "quanto" deve ser dispendido, quanto o problema da escolha de cri-trios de alocao de recursos, e as tcnicas de financiamento mais acon-selhveis no caso da pesquisa cientfica.

    Ilustram o terceiro tema da reunio trabalhos de J. C. Gerritsen, ana-lisando tanto a dimenso quanto o fluxo e as tcnicas de gesto dos fundos dedicados R & D; de Mieczyslaw Marlewicz, apresentando o sistema de financiamento da pesquisa cientfica e tcnica em alguns pases socia-listas e os estudos de Yujiro Hayashi e A. Rahman abrangendo, respecti-vamente, os problemas de financiamento da pesquisa cientfica e tcnica no Japo e na ndia.

    Em seu conjunto, a publicao oportuna no sentido em que, apesar de seu carter fragmentado, ou por isso mesmo, abre novas perspectivas apreciao dos problemas discutidos na reunio, quer por parte do simples iniciante, que encontra a ponto de partida para um posterior apro-fundamento no tema, quer por parte do expert, que se pode utilizar de mais esta publicao da Unesco como subsdio para estudo e discusso, ao mesmo tempo que se mantm a par das teorias e mtodos mais atualizados sobre o assunto.

    ANNA MARIA S. M. CAMPOS E NIRA DE CASTILHO

    Ciencia y tecnologia en el contexto sociopoltico da Amrica Latina

    JAGUARIBE, Hlio. Argentina, Universidad Nacional de Tucumn, 1971. 78 p. (Serie Mansaje.)

    O ttulo deste trabalho de Hlio Jaguaribe poderia, primeira vista, sugerir tratar-se de mais um dos estudos genencos, superficiais e irrele-vantes sobre o tema. A personalidade acadmica de Hlio Jaguaribe, po-rm, assegura uma abordagem pelo menos original, se bem que question-vel, ao tratar o problema do desenvolvimento cientfico e tecnolgico da Amrica Latina sob uma perspectiva culturalista e historicista nitidamente weberiana. Como o autor explicita em sua introduo, a inteno , par-tindo de consideraes sobre os aspectos bsicos das relaes entre a cin-e a sociedade, indagar sobre as razes pelas quais a cincia e a tecnologia no se desenvolveram na Amrica Latina e, finalmente, discutir como seria possvel a recuperao do atraso cientfico-tecnolgico dessa regio a partir de decises polticas.

    Resenha bibliogrfica 197

  • A primeira parte do estudo - Cincia e sociedade - discute inicial-mente as interpretaes da evoluo cientfica como um processo cont-nuo ou descontnuo, sendo que o autor tende segunda interpretao ao constatar duas "grandes revolues de paradigma na trajetria do co-nhecimento cientfico" (p. 10). A introduo, na cultura grega, do con-ceito da cincia como conhecimento sistemtico e causal das caractersti-cas gerais das coisas, num sentido meramente descritivo, seria a primeira, e a cincia moderna baseada no modelo mecanicista do mundo, a segun-da. O conceito grego teria permitido o surgimento de uma cultura racio-nal, superando a viso mgica do mundo. A cincia moderna, porm, requereria uma viso puramente secular da natureza e a existncia de fortes estmulos sociais para a produo e o consumo da cincia e suas aplicaes. A evoluo do cristianismo teria propiciado ambas as condies ao se opor concepo cclica do cosmo e da Histria, o que significa uma implcita viso mecanicista da natureza, tendncia essa fortalecida pela acentuao da separao entre o homem e a natureza durante a Reforma. Neste contexto se desenvolve a cincia moderna, nitidamente distinta da grega por seu sentido operacional. Inicialmente pode-ria ser observado um progresso independente e at paralelo da cin-cia e da tecnologia, sendo que a partir da segunda metade do sculo XIX as relaes entre ambas as formas do saber se estreitariam aceleradamente, at que a partir da II Guerra Mundial o processo de interdependncia entre ambas, e entre essas e a evoluo industrial, se tornaria evidente, originando o chamado "complexo cientfico - tecnolgico - industrial".

    Ao estudar as condies que levaram ao atual atraso cientfico e tec-nolgico da Amrica Latina na segunda parte do seu estudo:

    Por que a cincia no se desenvolveu na Amrica Latina - o autor destaca inicialmente trs aspectos desse atraso:

    a) h um desajuste do nvel da produo cientfica - tecnolgica da Amrica Latina mesmo em relao a alguns pases no plenamente de-senvolvidos, inexistindo alguma integrao e auto-sustentao de seus sis-temas cientfico-tecnolgicos; b) no se trata de um atraso conjuntural ou historicamente recente, mas de um processo em evoluo desde o surgimento da revoluo cientfica, quando a Pennsula Ibrica no acompanhou a tendncia geral s demais culturas europias de abandonar o "paradigma aristotlico da c~ncia es-colstica para adotar o galilico"; e, c) este atraso mantm na atualidade algumas de suas caractersticas histricas fundamentais, de tal maneira que tanto a comunidade cientfica como os dirigentes polticos e econmicos esto conscientes desse fato, sem que tenha sido possvel modificar as condies que o determinam.

    O segundo desses trs aspectos especialmente enfatizado pelo autor como o "legado ibrico". Segundo sua interpretao, o florescimento da cultura ibrica durante o perodo da Reconquista, que teria levado a uma

    198 R.A.P. 2/73

  • unidade sociopoltica de alto nvel em relao aos demais pases europeus, foi seguido de um processo de decadencia prematura, no qual ele desta-ca trs aspectos:

    a) economicamente, o mercantilismo metlico, o "lingotismo", teria le-vado ao descuido da prpria capacidade agrcola e manufatureira; b) culturalmente, "a iluso de pureza ideolgica e de ortodoxia levou ao poltica e a uma doutrina oficial, formulada e imposta pela Inquisi-o". (p. 29); e, c )sociopoliticamente, a iluso da onipotencia do aparelho aristocrtico-militar teria levado a "uma sociedade dualista de privilgios rgidos e baixas mobilizao e participao populares, que conduziu ao imobilismo social" (p. 30).

    Essa evoluo discutida como conseqencia de um processo cultural, desviando-se do "humanismo erasmiano" inicial, levando ao "ortodoxismo da Reforma, a um tradicionalismo medievalizante e a um oficialismo ab-solutista" (p. 30). Segundo a interpretao de Jaguaribe, a conquista de Granada representaria o momento de mudana da poltica oficial de tole-rncia cultural baseada na influncia erasmiana, sendo que o processo de represso oficial ento iniciado "obedecia ao deliberado propsito de con-duzir, por meio de unificao religiosa, consolidao nacional do reino" ( p. 34). Quando o conflito com a Reforma se radicalizou em toda Euro-pa, essa nova tendencia levaria "constituio de uma administrao dog-mtica e rgida de ortodoxia tradicionalista e medievalizante" (p. 34).

    Tal evoluo teria levado tambm a um retorno ao Aristotelismo To-mista, justamente no perodo de formao e desenvolvimento da cincia moderna.

    Em termos da Amrica Latina, a colonizao ibrica transferiu para o Novo Mundo as caractersticas bsicas das metrpoles, e de acordo com Jaguaribe entre essas caractersticas estavam os trs aspectos da prpria decadncia ibrica. Condies prprias aqui encontradas fortaleceriam ainda mais esses aspectos, dando origem a uma organizao dualista da sociedade e a uma economia primrio-exportadora. Posteriormente o ilu-minismo conseguiria, ao nvel cultural, romper esse sistema medievali-zante, tanto nas metrpoles como nas colnias americanas. Isso no corres-pondeu, porm, a um rompimento ao nvel econmico e social, justamente pelo fato de o sistema tradicional no ter permitido a formao de uma burguesia moderna e dinmica nem de uma capacidade de investimento suficiente. A alternativa que teria sido possvel - interveno do Estado - apesar de exercitada no caso da administrao do Marqus de Pombal, foi frustrada pela "conjuno das foras internas e dos interesses estrangei-ros (que) levou adoo de polticas e medidas de alienao nacional, mediante uma filosofia liberal privatista que as justificava" (p. 41).

    As conseqencias da crise de 1930 representariam a segunda interrup-o nesse processo, em especial por ter estado ligada ao aparecimento

    Resellha bibliogrfica 199

  • interno de novas demandas sociais, polticas e culturais das classes mdias nos principais pases da Amrica Latina. Mais tarde demandas de parti-cipao do proletariado levariam a um novo tipo de regime poltico, o populismo, baseado em alianas multiclassistas, abrangendo a burguesia, a classe mdia e o proletariado, cuja ideologia estaria representada na tentativa "de conciliar os conflitos de classe sobre a base de um rpido crescimento geral da economia, permitindo uma redistribuio parcial s massas do excedente assim produzido e, sobretudo, alimentando esperan-as de uma maior redistribuio futura" (p. 46). Essa evoluo criaria necessidades que s poderiam ser satisfeitas pela importao total das facilidades correspondentes, e a conseqncia disso teria sido a comprova-da importao macia de cincia e tecnologia para fins produtivos. A incapacidade demonstrada pelo populismo de realizar a esperada Revo-luo Industrial, no conseguindo manter o ritmo suficientemente acele-rado de crescimento econmico, levaria crise dessa forma de expresso poltica, gerando condies para que as Foras Armadas assumissem o controle dos sistemas polticos latino-americanos. Isso significaria o incio de uma segunda etapa do processo de industrializao que, segundo J a-guaribe, seria caracterizada pela renncia a um modelo autnomo de desenvolvimento. A transferncia do controle das principais indstrias a superempresas estrangeiras, como conseqncia dessa renncia, criaria no-vos e insuperveis obstculos para o desenvolvimento cientfico-tecnol-gico latino-americano.

    Essa diagnose da situao latino-americana serve de base ao autor para a discusso de polticas a serem adotadas frente a esses problemas, o que feito na terceira parte de seu estudo: Cincia e projeto nacional. Ini-cialmente Jaguaribe acentua que a transferncia do controle das principais indstrias latino-americanas a superempresas estrangeiras acompanhada da alienao "tanto de sua capacidade de produzir cincia e tecnologia, como de sua prpria capacidade de autodeterminao nacional" (p. 55). Da sua concluso genrica, de que "a formulao por parte de dirigentes de qualquer pas de propsitos de produzir cincia e tecnologia (_. _ ) tem um sentido meramente retrico enquanto no est inserida, efetiva e estavelmente, em uma grande deciso poltica de desenvolvimento nacio-nal autnomo" (p. 56). Seria portanto necessria uma deciso poltica de alcanar uma capacidade nacional relativamente autnoma e auto-susten-tada de produo cientfica, no contexto de um "grande Projeto Nacional orientado para o desenvolvimento nacional autnomo; exteriormente na linha de uma integrao latino-americana (_ .. ) e internamente na linha de uma integrao da prpria sociedade nacional" (p. 70).

    A exposio da linha de raciocnio do estudo em questo pode parecer demasiado extensa para uma resenha bibliogrfica, mas qualquer comen-trio a um trabalho to original e interessante como este exige uma an-lise mais detalhada de sua estrutura lgica e metodolgica. Como j foi mencionado, trata-se de uma interpretao dentro da metodologia webe-riana pura de interpretao de fenmenos macros sociais, segundo a qual

    200 R.A.P. 2/73

  • a evoluo histrico-cultural seria o elemento explicativo das transforma-es sociais. Tal modelo no exclui totalmente qualquer considerao dialtica dos fenmenos em questo, mas toma impossvel sua anlise do ponto de vista da causalidade materialista. Isso fica suficientemente claro quando o autor, ao discutir a evoluo histrica da cincia e da tecnologia, no faz nenhuma meno direta aos processos de causao econmica do progresso cientfico e tecnolgico procurando, ao contrrio, explicar esse progresso a partir de uma evoluo cultural, a qual, no entanto, tambm pode ser justificada a partir de causaes econmicas. Do outro lado, justamente, essa unilateralidade metodolgico-terica que toma o estudo de Hlio Jaguaribe extremamente interessante, por conseguir introduzir uma alta dose de polmica na discusso de um tema to enfadonhamente tratado por diversos autores.

    Seria impossvel fazer referncia aqui a todos os itens dignos de discus-so neste estudo de Jaguaribe. Algumas questes centrais poderiam, no entanto, ser brevemente lanadas.

    As "duas grandes revolues de paradigma na trajetria histrica do sa-ber cientfico" mencionadas pelo autor so um fato. Mas teriam sido elas conseqncia de uma evoluo filosfica, como o autor as coloca, ou no te-riam sido motivadas por drsticas transformaes no modo de produo dos perodos em questo? E do outro lado, seria impossvel identificar uma terceira "grande revoluo", economicamente caracterizada pelas tendn-cias automao e filosoficamente caracterizada pelo materialismo dia-ltico?

    No que diz respeito interpretao do autor sobre a evoluo ibrica, a afirmao de que a Reconquista tenha levado a uma unidade sociopol-tica parece ser carente de uma melhor definio. Se isso fosse uma cons-tatao vlida, realmente a decadncia posterior seria inexplicvel. No se trata, porm, de uma unificao cultural no seu sentido mais amplo, como conseqncia de mobilizao para uma "guerra santa"? E esse tipo de mobilizao puramente ideolgica, ou seja, no baseada em uma inte-grao social nem econmica, no levaria necessariamente ao autorita-rismo posterior? A evoluo dos demais pases europeus seguiu exatamen-te o caminho inverso: partindo da gradual integrao econmica, passando por processo de integrao social - formao da burguesia - para atingir uma integrao cultural, inicialmente ligada ao movimento da Reforma e posteriormente ao Iluminismo. No seria mais razovel procurar as causas da decadncia cientfico-tecnolgica da Pennsula Ibrica em relao ao resto da Europa nessas diferenas, e no na atividade "medievalizante" da Inquisio?

    No caso da explicao do atraso cientfico-tecnolgico da Amrica La-tina a nfase na exportao das tendncias de decadncia da Pennsula Ibrica parece ser totalmente vlida. Jaguaribe menciona tambm que condies locais favorecem essas tendncias. Mais como sugesto a futu-ros trabalhos que como crtica obra aqui comentada, poderia ser pro-posta uma anlise mais minuciosa do impacto dessas condies locais

    Resenha bibliogrfica 201

  • sobre as tendencias do "legado ibrico". Possivelmente isso poderia expli-car o fenmeno mencionado, mas no analisado por Jaguaribe, de quc apesar da consciencia generalizada sobre o atraso cientfico-tecnolgico no foi possvel aos pases latino-americanos, inclusive os de governos com tendencias mais progressistas, tomar a iniciativa real em um processo de recuperao nesse setor.

    Quanto ltima parte do estudo de Jaguaribe, no que se refere pol-tica necessria para a superao do atraso cientfico-tecnolgico, suas con-sideraes se baseiam no princpio de que seria possvel a formulao de um "grande Projeto Nacional" visando um desenvolvimento autnomo e auto-sustentado. Ao comentar tais tendencias durante a administrao do Marques de Pombal o prprio Jaguaribe acentua que interesses nacionais e estrangeiros transformaram essa experiencia em um episdio histrico. Seria o caso de indagar aqui se, antes de procurar estabelecer modelos de poltica cientfica e tecnolgica, no seria necessrio um levantamento das condies econmicas, sociais e polticas que permitiriam a execuo de tais modelos. S assim seria possvel esperar que trabalhos tericos sobre polticas governamentais em geral, e especialmente no campo da ciencia e da tecnologia, deixassem de ser meros exerccios intelectuais. Essa restrio no se refere somente ao estudo de Hlio Jaguaribe aqui comentado, mas tambm aos trabalhos que o prprio autor dessa "book review" vem desenvolvendo, inclusive o que consta deste mesmo nmero da RAP.

    202

    GUSTAVO F. BAYER

    BNUS DA UNESCO

    Facilidades espeCiais para importaes, sem sada de divisas nacionais. Livros, revistas, materiais cientficos e audiovisuais so obtidos atravs dos bnus da UNESCO.

    Os bnus so utilizados tambm para pagamentos de anuidades de sociedades cientficas e culturais, e de direitos autorais.

    Atendem-se pedidos de bnus por correspondncia.

    Informaes na Praia de Botafogo 186 - Cx. Postal 21.120 - ZC-05. Tel.: 266-2856, Rio de Janeiro, GB.

    R .. 4.P. 2/73