bases biológicas dos transtornos psiquiátricos

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  • 7/26/2019 Bases Biolgicas Dos Transtornos Psiquitricos

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    Bases biolgicas dos transtornos psiquitricosFlvio Kapczinski, Joo Quevedo e Ivn Izquierdo e colabora-dores. Porto Alegre: Artmed,

    2004, 503 pginas. 2a

    edio.ISBN 85-363-0283-6.

    A exploso de novidadesrelacionadas s bases biol-gicas dos transtornos mentaisnos ltimos dez anos tornadifcil aos psiquiatras o apren-dizado, a organizao e sn-tese destas informaes, demaneira tal que se possa de-senvolver uma viso abran-gente e integrada deste cam-po de conhecimentos. Estatarefa ser tremendamentefacilitada para os que se de-dicarem leitura da segunda edio de Bases biolgicas dostranstornos psiquitricos. Os renomados autores empreende-ram a herclea tarefa de transmitir estes conhecimentos atua-lizados e de modo didtico. De maneira humilde, admitiramque toda tentativa de sistematizao nesta rea seria incomple-ta. Conseguiram, entretanto, refletir os progressos nas grandesreas que configuram a psiquiatria biolgica atual.

    O texto se estrutura em cinco sees: 1) O sistema nervoso cen-tral; 2) Avaliao neuropsicolgica; 3) Tratamentos biolgicos;

    4) Os transtornos psiquitricos e 5) Novos desenvolvimentos.Na primeira seo, os autores abordam de forma extensa ebastante abrangente as bases biolgicas do sistema nervosocentral. Temas como neurnio, neurotransmissores, neuro-anatomia, neuroplasticidade, psiconeuroendocrinologia, psico-imunologia, neurotoxicologia, gentica e modelos animais detranstornos mentais so apresentados didtica e elegantemen-te, tornando a leitura no s informativa, mas tambm bastanteprazerosa. No entanto, o leitor criterioso eventualmente senti-r a ausncia da descrio dos mecanismos de neuroplasticidadedo modelo biolgico do kindling, importante para a descriodos fenmenos neuropsiquitricos possivelmente associadoss epilepsias, mas tambm considerados para os transtornos

    bipolares e dependncias qumicas.Na segunda seo, so apresentados os instrumentos de in-

    vestigao neuropsicolgica e por neuroimagem. No captulode neuroimagem, abordam-se os mtodos de imagem estrutu-ral e funcional.

    A terceira seo trata das bases para as terapias psicofarmaco-lgica e eletroconvulsiva. Sentimos a falta de um captulo so-bre psicocirurgias, ainda um tema polmico dentro da psiquia-tria, mas fonte importante de informaes sobre as bases bio-lgicas de certos transtornos mentais.

    Na quarta seo, os autores resumem as informaes maisimportantes sobre as bases biolgicas dos transtornos mentais.

    Livro

    A abordagem predominantemente terica, e aspectos psicopato-lgicos e ou clnicos so descritos apenas para lanar as bases daabordagem biolgica. No entanto, os autores, de uma maneira

    geral, no caem no reducionismo biologizante. Esforos especi-ais para o desenvolvimento de uma viso integradora podem serobservados, a exemplo dos captulos sobre transtorno obsessi-vo-compulsivo e impulsividade.

    H uma certa desigualdade na apresentao de problemasmentais dos transtornos neuropsiquitricos: embora houvesseuma brilhante apresentao dos mecanismos envolvidos comepileptognese no captulo sobre epilepsias, os autores no fa-zem qualquer meno aos freqentes e importantes transtor-nos mentais associados a esta condio neuropsiquitrica, tam-pouco aos seus mecanismos biolgicos, o que no acontece nocaptulo sobre doena de Parkinson. O que no tira o brilhan-tismo das apresentaes.

    Segundo os autores, a ltima seo, em que so abordados opapel da fosfolipase A2, da adenosina, do prion, da protena S100e do estresse oxidativo nos transtornos mentais, se desti-nou a transmitir a idia de que os avanos nesta rea so per-manentes e qualquer tratado sobre o assunto equivale a umafoto de um objeto em movimento. Uma bela foto sem dvida.

    Devemos, portanto, comemorar a chegada de Bases biol-gicas dos transtornos psiquitricos, desfrutar a sua leitura ouconsulta e apenas aguardar uma prxima edio.

    Renato Luiz Marchetti

    Instituto e Departamento de Psiquiatriado Hospital das Clnicas da

    Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    Vencendo o transtorno obsessivo-compulsivo:manual da terapia cognitivo-comportamentalpara pacientes e terapeutasAristides Volpato Cordioli. Porto Alegre: Artmed, 2004, 166pginas. ISBN 85-363-0284-4.

    Nos ltimos anos, temos

    acompanhado um crescenteinteresse da mdia e da opi-nio pblica sobre questesrelacionadas ao transtornoobsessivo-compulsivo (TOC).O aumento desse interessedeve-se, em parte, ao esforoincansvel de associaes deportadores e coragem de-monstrada por pessoas famo-sas, que tornaram pblica suahistria de sofrimento em

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    funo do problema. Outra parte importante responsvel poressa maior divulgao o empenho de pesquisadores da reaem tornar acessvel ao pblico leigo o avano do conhecimen-to cientfico, tanto no que se refere investigao mdica, quan-to s terapias comportamental e cognitiva.

    O presente livro um excelente exemplo desse ltimo grupo.O autor apresenta de forma precisa, detalhada e simples infor-maes bsicas sobre o TOC, suas provveis origens e, princi-palmente, as estratgias comportamentais e cognitivas destina-das ao manejo dos problemas relacionados a esse diagnstico.

    A obra composta por doze captulos, cada um deles repre-sentando uma seo de um programa cognitivo-comportamental.

    As sees 1 a 5 seguem as etapas caractersticas desse tipode programa, incluindo a avaliao inicial e informaes sobreo transtorno (sees 1 e 2), explicaes sobre a tcnica de ex-posio com preveno de respostas e sua aplicao para cadatipo de comportamento obsessivo-compulsivo (sees 3 e 4) eapresentao das estratgias cognitivas (seo 5).

    nas sees 6 a 9 que o livro apresenta seu maior mrito: adescrio, de forma didtica e minuciosa, das especificidadesdo tratamento para cada um dos principais grupos de sintomasobsessivo-compulsivos (obsesses de contaminao - 6; hiper-responsabilidade - 7; obsesses de contedo imprprio - 8;perfeccionismo - 9). Essas quatro sees por si s j justifi-cariam a edio do livro, pois at ento no existia no Brasiluma obra que trouxesse essa contribuio.

    A seo 10 discute o impacto do TOC na famlia e seu pa-pel na manuteno do problema, bem como na sua supera-o, enquanto as sees 11 a 14 (cap. 11) tratam da continui-dade do tratamento.

    A seo 15, por fim, apresenta aspectos referentes alta e

    preveno de recadas.O livro traz ainda algumas informaes bsicas sobre o tra-

    Referncia1. Banaco RA. Tcnicas cognitivo-comportamentais e anlise funcional. In: Kerbauy RR, Wielenska RC, orgs. Psicologia comportamental e cognitiva: da

    reflexo terica diversidade na aplicao. Santo Andr: ARBytes; 1999. vol. 4. p. 75-82.

    tamento medicamentoso e algumas escalas de avaliao de sin-tomas e planilhas para auto-monitoramento.

    Consideradas todas as qualidades do livro, vale apontar umacaracterstica que merece discusso: o autor apresenta a tera-pia cognitivo-comportamental como um tratamento breve,realizado, na maioria das vezes, em 10 a 15 sees. Mais frente, afirma que ela de curta durao e est focada nossintomas. Esse tipo de apresentao apenas refora o precon-ceito generalizado de que terapia comportamental se resume aum conjunto de procedimentos para o alvio de sintomas e que,caso o paciente queira um trabalho mais profundo, deve pro-curar outras abordagens de psicoterapia. Infelizmente, o autor acompanhado por grande parte da literatura cognitivo-comportamental na divulgao desse preconceito.

    Entretanto, o que no livro chamado de terapia cognitivo-comportamental corresponde apenas a um conjunto de tcni-cas (muito eficazes, por sinal) destinadas soluo de um pro-blema especfico. Ou seja, so estratgias derivadas da terapia

    cognitivo-comportamental, mas no a terapia cognitivo-comportamental. Essa postura talvez justifique as recomenda-es (p. 34) do autor sobre quando procurar esse tipo de tera-pia (se os sintomas so bastante graves, ou se voc no disci-plinado o suficiente para fazer os exerccios sozinho). Empres-tando uma analogia utilizada por Banaco1 (1999) a arte estsendo confundida com o conjunto de procedimentos que utili-za. Embora isso possa parecer uma questo de mera nomencla-tura, ela diz respeito ao papel assumido pelo profissional: demero tcnico que remove sintomas, ou de algum que pode ofe-recer suporte teraputico integral a uma pessoa em sofrimento.

    Denis Roberto Zamignani

    Curso de Ps-graduao em Psicologia Clnicada Universidade de So Paulo