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barlavento 02ABR2015 6 ECONOMIA Sabonetes de leite de burra made in Algarve Leite de burra, devido às suas qualidades, é utilizado para a elaboração de sabonetes no Algarve, num projeto que se encontra em progressão Foi num ambiente campestre, na zona do Arão, em Lagos, numa quinta onde vivem ga- linhas, cães, cavalos e gatos, que o «barlavento» encon- trou uma burricada bem ca- racterística. São animais inte- ligentes e afáveis, que estive- ram, a maioria do seu tempo, a comer ervas tranquilamen- te, enquanto desfrutavam o sol algarvio. Uma das burras está à es- pera de uma cria e será, dois meses após o seu nascimento, que o produtor conseguirá extrair o leite a este animal para os sabonetes, que são feitos de forma artesanal no Algarve. É aqui que começa a história de empreendedoris- mo de José Duarte, proprietá- rio desta quinta na zona rural de Lagos e da marca «Pérola do Algarve». «A burra alimenta a cria com o seu leite e, eu posso extraí-lo do segundo ao sex- to mês», sem que o animal deixe de produzir alimento para o seu filhote, começou por explicar ao «barlavento». O projeto de comercialização de sabonetes surgiu numa conversa com amigos que lhe deram a conhecer esta ideia de negócio. Mas, afinal, quais os benefícios deste leite para o ser humano, que vantagens tem para a pele e qual o ver- dadeiro segredo para o suces- so deste produto? São conhecidas as histó- rias de antigos que tinham rituais de beleza com leite de burra, como por exemplo Cleópatra e Pauline, irmã de Napoleão. Já em França há relatos da criação de burras num orfanato, para que o seu leite substitui-se o leite ma- terno, argumentou o proprie- tário que dedica o seu tempo a aprender mais sobre esta indústria. Aproveitar a qualidade do leite de burra, que trans- formado em sabonete possui «características hidratantes, suavizantes e melhora a qua- lidade da pele», foi para o em- presário, uma oportunidade a não desperdiçar. Ser pioneiro no Algarve numa área que não é muito conhecida na região, ainda que já existam outros projetos semelhantes em Portugal, não é tarefa fá- cil. A aventura começa por criar os burros, aprender a sua dinâmica, a alimentação e os hábitos, de modo a mantê- -los saudáveis no dia a dia. É um trabalho a tempo inteiro que exige dedicação a estes animais. Há, por isso, diversos cuidados a ter em conta. A alimentação é controlada, «à base de ervas e ferragens», tendo o empresário feito um «prado permanente com todas as matérias primas capazes de assegurar a boa alimentação dos animais», que pensa serem suficientes para a boa qualidade do leite. Também a ração não entra na dieta e as fibras são essen- ciais, sendo estes alguns dos aspetos fundamentais para a qualidade do leite do animal, que, por sua vez, garantem as propriedades deste sabonete made in Algarve. Com todas as condições de bem estar do animal asse- guradas, é possível afiançar o sucesso do produto. O pas- so seguinte será a ordenha da burra, num processo que também exige uma boa dose de conhecimento. Segundo o proprietário deste espaço, as burras só produzem um litro de leite por dia, sendo difícil a sua extração. Como os sabonetes não são fabricados nesta quinta, é necessário congelar o leite, garantindo que nenhuma das suas qualidades é perdida. Depois é enviado, de imedia- to, a um produtor algarvio, da confiança de José Duarte, para a preparação artesanal e embalamento destes agentes hidratantes. O produto final é um sa- bonete da marca «Pérola do Algarve», com 130 gramas, que custa 5,60 euros, e pro- mete dar nova suavidade à pele. Além do leite da burra, que compõe 10,8 por cento do sabonete, uma percenta- gem bastante alta quando comparada com outros pro- dutos semelhantes comercia- lizados no mercado, a «Peróla do Algarve» utiliza outros in- gredientes, como «a mantei- ga de sementes, theobroma cacau ou lavandula angusti- fólia». Com o projeto a dar os seus primeiros passos, o em- presário ainda não tem um local de venda específico, por isso o sabonete pode ser comprado através do con- tacto direto com José Duarte (927561347). No entanto, há metas que o empresário pretende con- cretizar em breve. Possuir mais burras, aumentando para o dobro a produção de leite, criar uma sala de liofi- lização (processo de trans- formação do leite de líquido para sólido, garantindo todas as suas propriedades, aumen- tando a durabilidade e subs- tituindo a congelação) são al- guns dos objetivos. «Para este processo é preciso um liofili- zador. Já falei com o Institu- to Politécnico de Beja e esta entidade disponibilizou-o», esclareceu José Duarte. Este é um «processo complicado» e demora algum tempo até que o leite passe do estado liqui- do para o sólido, «porque a máquina não tem a capacida- de para liofilizar em grande quantidade». Esta inovação na quin- ta, quando implantada em maior escala, permitirá a ex- portação do leite liofilizado para o estrangeiro. No futuro, José Duarte ambiciona, ain- da, criar um sabonete mais pequeno, de 75 gramas, que custará 3,90 euros, dando a conhecer o produto aos curio- sos que queiram experimen- tar. Para já, o público-alvo é o português, ainda que haja já contactos no estrangeiro. «Já foram vendidos alguns para a Holanda e França», concluiu José Duarte. Com Inês Coelho TEXTO coordenação Ana Sofia Varela

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Page 1: barlavento 02 Sabonetes de leite de burra made in Algarve · extrair o leite a este animal para os sabonetes, ... tem para a pele e qual o ver-dadeiro segredo para o suces - ... alimentação

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o 02

ABR

2015

6

ECONOMIA

Sabonetes de leite de burra made in Algarve

Leite de burra, devido às suas qualidades, é utilizado para a elaboração de sabonetes no Algarve, num projeto que se encontra em progressão

Foi num ambiente campestre, na zona do Arão, em Lagos, numa quinta onde vivem ga-linhas, cães, cavalos e gatos, que o «barlavento» encon-trou uma burricada bem ca-racterística. São animais inte-ligentes e afáveis, que estive-ram, a maioria do seu tempo, a comer ervas tranquilamen-te, enquanto desfrutavam o sol algarvio.

Uma das burras está à es-pera de uma cria e será, dois meses após o seu nascimento, que o produtor conseguirá extrair o leite a este animal para os sabonetes, que são feitos de forma artesanal no Algarve. É aqui que começa a história de empreendedoris-mo de José Duarte, proprietá-rio desta quinta na zona rural de Lagos e da marca «Pérola do Algarve».

«A burra alimenta a cria com o seu leite e, eu posso extraí-lo do segundo ao sex-to mês», sem que o animal deixe de produzir alimento para o seu filhote, começou por explicar ao «barlavento». O projeto de comercialização de sabonetes surgiu numa conversa com amigos que lhe deram a conhecer esta ideia de negócio. Mas, afinal, quais os benefícios deste leite para o ser humano, que vantagens tem para a pele e qual o ver-dadeiro segredo para o suces-so deste produto?

São conhecidas as histó-rias de antigos que tinham rituais de beleza com leite

de burra, como por exemplo Cleópatra e Pauline, irmã de Napoleão. Já em França há relatos da criação de burras num orfanato, para que o seu leite substitui-se o leite ma-terno, argumentou o proprie-tário que dedica o seu tempo a aprender mais sobre esta indústria.

Aproveitar a qualidade do leite de burra, que trans-formado em sabonete possui «características hidratantes, suavizantes e melhora a qua-lidade da pele», foi para o em-presário, uma oportunidade a não desperdiçar. Ser pioneiro no Algarve numa área que não é muito conhecida na região, ainda que já existam outros projetos semelhantes em Portugal, não é tarefa fá-cil. A aventura começa por criar os burros, aprender a sua dinâmica, a alimentação e os hábitos, de modo a mantê--los saudáveis no dia a dia. É um trabalho a tempo inteiro que exige dedicação a estes animais.

Há, por isso, diversos cuidados a ter em conta. A alimentação é controlada, «à base de ervas e ferragens», tendo o empresário feito um «prado permanente com todas as matérias primas capazes de assegurar a boa alimentação dos animais», que pensa serem suficientes para a boa qualidade do leite. Também a ração não entra na dieta e as fibras são essen-ciais, sendo estes alguns dos

aspetos fundamentais para a qualidade do leite do animal, que, por sua vez, garantem as propriedades deste sabonete made in Algarve.

Com todas as condições de bem estar do animal asse-guradas, é possível afiançar o sucesso do produto. O pas-so seguinte será a ordenha da burra, num processo que também exige uma boa dose de conhecimento. Segundo o proprietário deste espaço, as burras só produzem um litro de leite por dia, sendo difícil a sua extração.

Como os sabonetes não são fabricados nesta quinta, é necessário congelar o leite, garantindo que nenhuma das suas qualidades é perdida. Depois é enviado, de imedia-to, a um produtor algarvio,

da confiança de José Duarte, para a preparação artesanal e embalamento destes agentes hidratantes.

O produto final é um sa-bonete da marca «Pérola do Algarve», com 130 gramas, que custa 5,60 euros, e pro-mete dar nova suavidade à pele. Além do leite da burra, que compõe 10,8 por cento do sabonete, uma percenta-gem bastante alta quando comparada com outros pro-dutos semelhantes comercia-lizados no mercado, a «Peróla do Algarve» utiliza outros in-gredientes, como «a mantei-ga de sementes, theobroma cacau ou lavandula angusti-fólia».

Com o projeto a dar os seus primeiros passos, o em-presário ainda não tem um

local de venda específico, por isso o sabonete pode ser comprado através do con-tacto direto com José Duarte (927561347).

No entanto, há metas que o empresário pretende con-cretizar em breve. Possuir mais burras, aumentando para o dobro a produção de leite, criar uma sala de liofi-lização (processo de trans-formação do leite de líquido para sólido, garantindo todas as suas propriedades, aumen-tando a durabilidade e subs-tituindo a congelação) são al-guns dos objetivos. «Para este processo é preciso um liofili-zador. Já falei com o Institu-to Politécnico de Beja e esta entidade disponibilizou-o», esclareceu José Duarte. Este é um «processo complicado» e

demora algum tempo até que o leite passe do estado liqui-do para o sólido, «porque a máquina não tem a capacida-de para liofilizar em grande quantidade».

Esta inovação na quin-ta, quando implantada em maior escala, permitirá a ex-portação do leite liofilizado para o estrangeiro. No futuro, José Duarte ambiciona, ain-da, criar um sabonete mais pequeno, de 75 gramas, que custará 3,90 euros, dando a conhecer o produto aos curio-sos que queiram experimen-tar. Para já, o público-alvo é o português, ainda que haja já contactos no estrangeiro. «Já foram vendidos alguns para a Holanda e França», concluiu José Duarte.

Com Inês Coelho

TEXTO coordenação Ana Sofia Varela