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BARBIERI, José Carlos. VASCONCELOS, Isabella Freitas Gouveia de. ANDREASSI, Tales. VASCONCELOS, Flávio Carvalho de. Inovação e Sustentabilidade: Novos modelos e proposições. São Paulo, v. 50, n. 2, p. 146-154, abr./jun., 2012, ISSN 0034-7590,
Este artigo se trata de uma pesquisa de cunho teórico, e tem por objetivo, segundo os
autores, realizar uma análise histórica da questão do desenvolvimento sustentável de ordem
empresarial/organizacional. Tomando como base inicial do conceito de movimento de
desenvolvimento sustentável proposto no ano de 1987, com a publicação do relatório da
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), conhecida por
Brundtland, mas que veio a se caracterizar em 1992 após o encontro ocorrido na cidade do
Rio de Janeiro, denominado Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento (CNUMAD), e que como descreve Barbieri & Org, movimento este que
funciona de fora das empresas para dentro, pois se inicia com as críticas feitas pela sociedade
quanto aos processos de degradação social e ambiental, dessa forma as empresas aderem ao
desenvolvimento sustentável para se redimirem quanto a essas críticas. Apresentam também a
questão do movimento pela qualidade, que teve seu processo inicial no pós-guerra, mas que
veio a se firmar em 1980, como um processo de adequação ao novo quadro competitivo no
mundo empresarial. Os autores fazem uma relação entre sustentabilidade e inovação, tendo
como referência a teoria institucional, introduzindo o conceito de organizações inovadoras
sustentáveis, concluem que a empresa deve inovar considerando as três dimensões da
sustentabilidade: social, ambiental e econômica. Porém, tal visão histórica é descartada por
alguns autores norte-americanos e europeus, que consideram como marco inicial a década de
70, quando foram fundados, na Europa, os primeiros partidos políticos que defendiam o meio
ambiente, os chamados, ainda hoje, de partido verde, e que, dessa forma, negam a
participação dos países considerados, na época, países de Terceiro Mundo, como salientam os
autores, não surgiram novas perspectivas para o desenvolvimento sustentável na região
devido ao sistema ditatorial que se abarcou nos países latino-americanos.
A apropriação do desenvolvimento sustentável aplica-se através do crescimento
econômico, o que, para muitos, é o princípio dos maiores problemas ambientais e sociais
observados no mundo atual, como ressaltam os autores mediante ao relatório da CMMAD.
Devido a isso, alguns autores criticam o conceito de desenvolvimento sustentável apresentado
pela Comissão de que se trata de um movimento “que atende às necessidades presentes, sem
comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem suas próprias necessidades”,
como mostram Barbieri & Org, pois consideram seus conceitos confusos e contraditórios, e
não apresentam uma dimensão temporal, podendo ocorrer a qualquer momento e com
qualquer duração, não ultrapassando 10 anos. E que em ambientes francofônicos, não se
intitula desenvolvimento sustentável, mas sim desenvolvimento duradouro, que apresenta uma
conotação temporal, e de que se trata de um conceito do mínimo que as empresas devem
realizar para a institucionalização dos problemas ambientais.
Mostram a diferença existente, segundo Dobson, entre ecologismo – prática política,
que deve empregar crenças a respeito das condições humanas – de ambientalismo – serve para
qualquer ideologia. E apresentam uma das maiores críticas a esse movimento, pois tal é
impulsionado pelas multinacionais, que antes eram contra o ecodesenvolvimento.
Os autores destacam que, nos dias de hoje, as empresas aderem ao movimento
sustentável para se diferenciarem e se qualificarem, além de, dessa forma, se manterem
competitivas no mercado, o que significa que as empresas devem substituir suas práticas
antigas para se adequarem aos princípios, objetivos e diretrizes do novo movimento, pois tais
adequações se transformaram, segundo a teoria institucional, em “mitos” que devem ser
seguidos, fazendo com que as empresas façam o que consideram melhor dentro do setor.
Aderindo então, aos modelos institucionalizados, considerados os ideais, legitimando as
dimensões sociais e de recursos ambientais para responderem à pressão sofrida pela
necessidade de adequação. A institucionalização das práticas a serem desenvolvidas pelas
empresas nos país é feita pela mídia, pelos movimentos ambientalistas e sociais e pelo
governo.
Barbieri & Org, legitimam os dizeres de Powell e DiMaggio, que acreditam que a
adoção de modelos normativos e institucionais devem seguir quatro princípios de
institucionalização – coerção, normalização, indução e mimetismo organizacional –, que
juntos configuram a manutenção ou mudança dos valores e práticas culturais. Essa adesão é
denominada “isomorfismo estrutural”, que segundo os autores do estudo, faz com que as
incertezas e turbulências ocorridas na organização sejam reduzidas, e garantem o seu êxito e
sua sobrevivência.
Continuando a contextualização de desenvolvimento sustentável, Barbieri conceitua e
diferencia uma organização inovadora de uma organização sustentável, sendo a primeira uma
organização que insere novidade de qualquer tipo e colhe os resultados esperados dentro de
bases sistemáticas, e a segunda é uma organização que visa o respeito ao meio ambiente, a
eficiência em termos econômicos e promover a inclusão social, simultaneamente. Insere o
conceito de organização inovadora sustentável, que é uma organização que introduz
novidades que atendam as dimensões da sustentabilidade em bases sistemáticas e que os
resultados colhidos sejam positivos para ela, para a sociedade e para o meio ambiente.
Inovando dentro das três dimensões da sustentabilidade – a social (preocupação com os
impactos sociais que possam vir a ocorrer devido às mudanças) –, a ambiental (preocupação
com os impactos ambientais, tanto pela sua exploração quanto pela emissão de poluente na
atmosfera) –, a econômica (preocupação com o desenvolvimento econômico, para que não se
reduza os ganhos).
Para os autores a questão da sustentabilidade do negócio deve garantir a perpetuação
da organização, tal qual está prescrito em seu contrato social. As inovações devem gerar
recursos para remunerar os fatores de produção, para repor os ativos usados, para investir e
para que continuem competindo, sem desrespeitar as dimensões ambientais e sociais, o que
complica a garantia da sustentabilidade, uma vez que as inovações podem ser radicais ou
possuir um elevado grau de novidade em relação ao estado de arte. Pois os resultados sociais e
ambientais são mais difíceis de prever do que os resultados econômicos, sendo assim, o que se
avalia é a intenção, se boa ou não de se manter a busca de resultados positivos nas três
dimensões, e não apenas a dimensão econômica, e como mostra Barbieri, as dimensões
socioambientais também devem fazer parte da inovação.
A empresa Native, como expõem os autores Barbieri e Carvalho, é uma empresa que
respeita as três dimensões da sustentabilidade nos processos de inovação, a sua alta
produtividade garantiu a sua sustentabilidade econômica, bem como benefícios ambientais,
através da gestão e no modelo de negócio, diminuindo a emissão de gases estufa dentre
outros. E para os autores, as inovações dessa empresa, podem ser consideradas como
ecoinovações, pois são inovações na produção, assimilação ou exploração de um produto,
segundo conceituaram Kemp e Pearson, e que se refere à ecoeficiência, de forma que atua em
duas dimensões da sustentabilidade, a social e a econômica.
Apresentam, também, o modelo de John Elkington, o triple bottom line, que enfatiza a
necessidade de empreender uma gestão nos três pilares da sustentabilidade, e que a
ecoeficiência compreende um espaço entre sustentabilidade econômica e ambiental,
desenvolvendo ações que garantam preços competitivos, que satisfaçam as necessidades
humanas e que reduzam progressivamente os impactos ambientais. Porém as inovações
ecoeficientes podem gerar desemprego, dentre outros problemas sociais, fano evidenciado
pelos autores que explicam a necessidade da presença explicita da dimensão social dentro das
inovações ecoeficientes, para que de fato se torne uma inovação sustentável, e devem levar
em consideração as partes interessadas e que são secundárias, como a comunidade local, os
ambientalistas, os ativistas, etc. Estas inovações devem ser realizadas de forma contínua, pois
só assim caracterizará uma organização inovadora. Os autores ressaltam que inovar seguindo
as três dimensões da sustentabilidade não é, ainda, uma regra, pois as inovações nas
dimensões sociais e ambientais exigem novos modelos e instrumentos de gestão.
Ainda na década de 80, os autores buscaram o conceito criado por Christopher
Freeman e Richard Nelson sobre o Sistema Nacional de Inovação (SNI), sendo um produto de
uma ação planejada ou não planejada, consciente ou desarticulada, que “impulsiona o
progresso tecnológico em economias capitalistas complexas”. Sendo suas tarefas identificar
oportunidades e a capacidade do país de aproveitá-las. E as quatro questões, que segundo
Dormann e Holliday, uma empresa deve formular durante o desenvolvimento de seus
processos inovadores: 1) Como garantir a sustentabilidade no processo criativo; 2) Como
assegurar a sustentabilidade no processo de gestão empresarial; 3) Como e quando incorporar
a visão externa ao processo criativo de desenvolvimento da inovação; 4) Quais processos são
mais adequados para aumentar o valor do capital intelectual da empresa.
E finalizam a contextualização histórica com a abordagem Strategic Niche
Management (SNM), formulada para facilitar a introdução e difusão de tecnologias
sustentáveis em meios protegidos que permitem experimentos quanto as práticas de uso e
estruturas regulatórias, e organizados de forma correta, possibilitariam mudanças maiores em
termos de desenvolvimento sustentável.
E, após essas considerações, os autores do artigo resenhado, consideram o tema acerca
do desenvolvimento sustentável como sendo um dos temas que ainda gerarão muitas
discussões, pois ainda há muito o que se aprimorar, e sua gestão , segundo as três dimensões
da sustentabilidade, poderá gerar uma redução de recursos e na emissão de poluentes e um
aumento na arrecadação dos ganhos. Assim, um dos maiores desafios das empresas será o
alinhamento com as organizações inovadoras sustentáveis, e devem ser capazes de inovar com
eficiência em termos econômicos, mas com responsabilidade social ambiental.