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m meados dos anos 1950, milhões de ado- lescentes, em todo o mundo, se encanta- ram com a beleza, o charme, a e n e rgia e a bela voz do jovem can- tor norte-americano Elvis Presley. Já na década de 1960, um quart e- to inglês, vindo de Liverpool, ba- lançou a juventude da Europa e dos Estados Unidos. O enorm e sucesso conquistado por estes dois mitos do rock ficou eternizado na história da música. Prova disso é que hoje, quatro décadas depois, suas canções continuam tocando e influenciando antigas e novas gerações. Mais do que isso, esses ícones são responsáveis pela histe- ria e loucura de fãs que não satis- feitos em apenas ouvirem músicas como Love me Tender e She loves you copiam o modo de vestir, an- dar, falar e viver dos art i s t a s . Julho/Dezembro 2005 70 ANA CAROLINA BESSA, CAROLINA MENESCAL, JÚNIA DAMINELLI FERNANDES E PATRÍCIA BARROS Bandas Covers: nada se cria, tudo se copia Fãs dos Beatles e de Elvis Presley não medem esforços para manterem vivas a memória e a obra dos artistas Túnel do Tempo: há 21 anos cantando sucessos dos Beatles Arquivo Túnel do tempo

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m meados dos anos1950, milhões de ado-lescentes, em todo omundo, se encanta-

ram com a beleza, o charme, ae n e rgia e a bela voz do jovem can-tor norte-americano Elvis Pre s l e y.Já na década de 1960, um quart e-

to inglês, vindo de Liverpool, ba-lançou a juventude da Europa edos Estados Unidos. O enorm esucesso conquistado por estes doismitos do ro c k ficou eternizado nahistória da música. Prova disso éque hoje, quatro décadas depois,suas canções continuam tocando

e influenciando antigas e novasgerações. Mais do que isso, essesícones são responsáveis pela histe-ria e loucura de fãs que não satis-feitos em apenas ouvirem músicascomo Love me Te n d e r e She lovesy o u copiam o modo de vestir, an-d a r, falar e viver dos art i s t a s .

Julho/Dezembro 200570

ANA CAROLINA BESSA, CAROLINA MENESCAL, JÚNIA DAMINELLI FERNANDES E PATRÍCIA BARROS

Bandas Covers: nadase cria, tudo se copia

Fãs dos Beatles e de Elvis Presley não medem esforços paramanterem vivas a memória e a obra dos artistas

Túnel do Tempo: há 21 anos cantando sucessos dos Beatles

Arquivo Túnel do tempo

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Com roupas da época e cortesde cabelos iguais aos do quartetode Liverpool, a banda cover dosBeatles, Túnel do Tempo (LuizMattos, Pedro Lima, Mario Vitor,Moacir Júnior e Bruno Audi), fazshows por todo Brasil e até noexterior. Há 21 anos reproduzin-do antigos e inesquecíveis suces-sos da banda mais famosa domundo, estes fãs dos Beatlesforam a primeira banda cover agravar um disco no lendário estú-dio de Abbey Road, onde elesgravaram a maior parte de suascanções. Além disso, o grupo jámarcou presença duas vezes noI n t e rnational Beatle Week, emLiverpool, e tocaram no p u bCavern Club, na qual os Beatlesfizeram o show de estréia, e noCasbah Club.

O fundador da banda, LuizMattos, 52 anos, conta que suapaixão pelos Beatles começou nosanos 1960, mais precisamente em1962, e não parou mais. A part i rde então, o “beatlemaníaco”deixou o cabelo crescer e adotou ovisual cabelo “lisão” com franji-nha. Entretanto, foi apenas em1982 que ele teve a idéia de mon-tar uma banda c o v e r. “Comecei asentir muita saudade daquelaépoca, então resolvi montar abanda Túnel do Tempo”, contaLuiz.

Recentemente, a Túnel doTempo não tem tido a mesmasorte. Luiz diz que, com o cres-cente número de bandas quefazem c o v e r apenas pelo di-nheiro, eles têm tido dificuldadesde encontrar lugares com infra-e s t rutura suficiente para tocar.No entanto, o passado da bandaé glorioso. A Túnel do Tempo já

foi a Liverpool – terra natal dosBeatles – sete vezes tocar em umfestival de grupos musicais for-mados por fãs. O convite paraparticipar da homenagem nãopodia ter sido melhor: partiu deGeorge Martin, produtor da ban-da inglesa.

Segundo ele, nos anos 1980ainda não existiam tantas ban-das c o v e rs como atualmente. “Eume lembro que, nesta mesma

época, fui assistir a um grupo quetocava Beatles. Mas eles tro c a r a mos arranjos e usaram bateriaeletrônica. Fiquei super re v o l t a d ocom aquilo. Afinal, beatlemanía-co é purista, fiel mesmo. Foi ap a rtir deste momento que a nossabanda decidiu que tocaríamoscom os arranjos originais e usa-ríamos roupas parecidas. E, desdeentão, continuamos assim”, lem-bra Luiz.

É tudo mentira!71

Elvis Presley: o rei do rock não morreu

www.elvis.com

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FanelvisE não é apenas a memória dos

Beatles que permanece viva atéhoje entre os fãs. Todo ano, acidade norte-americana de Mem-phis, no Tennessee, é invadidapor cerca de 30 mil pessoas e del-egações de mais de 60 países quehomenageiam, assistem a con-cursos e shows de imitadores deElvis Pre s l e y, além de visitarGraceland, a famosa mansãoque pertenceu ao ídolo. No Brasil,o paulista Walteir Terciani, de 59anos, fã do rei do rock desde 1957,foi o responsável pela fundação

da Gang’Elvis, grupo que inicial-mente funcionava por corre s-pondência e que, hoje, é um dosmaiores fã-clubes do cantor nopaís, reunindo milhares deadmiradores do artista, intitula-dos “fanelvis”.

Em 1990, Walteir organizou op r i m e i ro encontro nacional defãs do cantor, que se tornou umatradição. “Já estamos no 43º En-contro de ‘Fanelvis’, que acontecesempre em São Paulo, de três emtrês meses”, explica. As reuniõestêm o objetivo de estreitar o rela-cionamento entre os adeptos de

Elvis e contam com a audição dediscos novos, exibição de clipes eshows especiais com covers do rei.“Às vezes fico saudoso quandolembro dos tempos em que rece-bia a notícia de um lançamento eficava meses na expectativa deouvir ou ter em mãos a novidade.Cada encontro renova essa sen-sação”, confessa Walteir.

Walteir lembra que quandosoube da morte de Elvis, em 16 deagosto de 1977, sentiu que o seumundo iria desmoro n a r. Apesarda ocorrido, ele afirma que o ídolo“não foi embora, passou a habitar

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Inspiração e idolatriaPara a psicanalista Te reza Cristina Miranda, essa

idolatria e paixão sem limites por um ídolo sãon o rmais. Entretanto, ela afirma que “a partir domomento que você deixa de ser você mesmo paraq u e rer ser outra pessoa, isso vira doença”. Segundoela, é natural e saudável, durante a juventude e/ou a vida, termos um modelo – pode ser o pai, amãe, ou até mesmo um ídolo. Entretanto, quandoessa inspiração ou essa idolatria se tornam exage-rados, pode se transformar em doença.

Ou seja, quando uma pessoa passa a imitar emtodos os sentidos – vida emocional, profissional epsicológica – um cantor, uma banda, um ator, elapode acabar modificando a sua própria identidadepara se tornar mais parecido com o seu ídolo. Te re z aexplica que “a maioria dos c o v e r s tem noção de queestão apenas interpretando, imitando alguém.Todos sabem que o imitador não está mentindo, quenão está tentando se passar pelo cantor verd a d e i ro .Nesse caso, eu acho que é a re p resentação de umpersonagem e isso de certa forma é uma maneira dehomenagear o ídolo, desde que isso não passe deuma postura profissional, sem influenciar no com-p o rtamento da vida pessoal”.

Contudo, alguns fãs deixam de lado esta linha deseparação entre o fã e o ídolo e passam a repre-sentar também na vida. “Isso ocorre não só com asbandas covers, mas em todas as profissões. Algunsexemplos são o presidente da República, que den-tro de casa deve ser um pai de família e não umaautoridade que comanda e toma todas as decisões;o psicanalista que analisa a família; o general que

cuida da casa como se cuidasse do quartel; o atorque representa o personagem fora de cena. As pes-soas têm que saber separar o personagem/traba-lho da vida pessoal”, esclarece.

E n t retanto, em um ponto Te reza não tem dúvidas.Ela afirma que a existência e o surgimento de diver-sas bandas c o v e r s de artistas como Beatles, Elvis eKiss é o resultado de um saudosismo ou de uma ten-tativa frustrada de recuperar a juventude. “Achoque, ao mesmo tempo em que os fãs tentam manterviva a memória de um determinado artista, eles,inconscientemente, tentam se manter etern a m e n t ejovens. Ou seja, ao perpetuar as letras, ritmos, músi-cas de um determinado artista, eles também man-tém vivos momentos, pessoas e lugares que fizeramp a rte da sua juventude. Mas também há casos, éc l a ro, de fãs que não querem que bandas antigascaiam no esquecimento”, conclui.

Tereza Cristina: as pessoas têm que saber separar opersonagem/trabalho da vida pessoal

Carolina Menescal

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o coração de todos aqueles que oamam verdadeiramente. Dia a-pós dia explodia um pouco o Elvisque estava contido dentro do meupeito”. Sua vontade de saber tudoa respeito do cantor, assistir osfilmes de Elvis dezenas de vezesdurante semanas e ir ao maiorn ú m e ro de eventos possíveis co-meçou a cre s c e r.

“Elvis ultrapassa os novos tem-pos e assim o será para sempre ,especialmente porque ele tem umvalor de voz insuperável e um físi-co extraordinário. Ele é import a n t ena minha vida e acho que as pes-soas deveriam sempre enaltecersuas qualidades que, para mim,são mais do que exemplo, são umre f e rencial”, acrescenta Wa l t e i r.

Seu amor pelo ídolo não temlimites. Ele chega a afirmar que,quando incorporou o espírito deElvis, aprendeu a abrir seus hori-zontes e, por isso, hoje se consi-dera uma pessoa mais feliz. “Comcerteza Elvis veio com uma mis-são especial de união e nós somosa prova viva deste fato. Queromanter sempre comigo a essên-cia do bom e do bem que ele mefez. Sem ele, eu não seria quemsou hoje”, admite.

Maquiagem e salto altoVale lembrar que essa idolatria

sem limites por um artista não seresume aos quarentões e cin-quentões integrantes da bandaTúnel do Tempo, nem ao paulistaWalteir Terciani. A idéia de sercomo o ídolo também é cons-tante na vida de Victor Santiago.Ele disse que cada vez que sobeao palco caracterizado como umdos membros do Kiss, sente-serevivendo o passado da banda.“A gente toca em lugares pe-quenos, da mesma maneira queeles tocavam e a gente tem osmesmos medos que eles tinhamna época que começaram. Seráque vai dar tudo certo? Será que opúblico vai gostar da gente? Seráque eu vou cair do salto?” Salto?É, além de tocarem vestidos e ma-quiados como os nort e - a m e r i-canos, eles ainda sobem em sal-tos de 23 centímetros para incor-porar os personagens.

Mas essa não é a única loucuraque a banda cover Flaming Lipsfaz para se parecer com o Kiss.Victor contou que chegou apagar 5 mil reais em uma guitar-ra igual a do ídolo só para aindumentária do show ficar com-pleta. Todos os músicos da bandatocam com instrumentos origi-nais, ou seja, da mesma marca emodelo que a banda original. Oúnico que ainda não conseguiu

colocar a mão em uma dessaspreciosidades foi o baixista. Tam-bém pudera: o baixo em formade machado usado por GeneSimmons, o titular do instrumen-to na década de 1970, custa emtorno de 24 mil dólares.

Mais de cinco minutos de famaMas até onde o sonho de ser o

ídolo pode ser apenas uma fanta-sia ou se tornar realidade? Ofilme Rock Star, do diretor StephenHerek, mostra a trajetória de umfã de uma banda de heavy metalchamada Steel Dragon. ChrisCole tem uma banda cover comseus amigos e se empenha em serigual aos seus ídolos, mesmo queisso o afaste dos seus amigos. Noentanto Chris vive o seu “dia deCinderela” quando o vocalista doSteel Dragon resolve deixar abanda e ele é convidado a tomaro lugar do mestre. A bela históriapoderia ser mais uma das fábulascriadas por Hollywood se nãofosse inspirada na vida do cantorTim “Ripper” Owens, ex-voca-lista do Judas Priest. Tim era fã ecantor de uma banda cover doconjunto quando foi convidado aocupar o lugar de Rob Halford,que deixou o Judas Priest pordesavenças com os outros inte-grantes da banda.

É tudo mentira!73

Siga o roteiro dos CoversCafé Etílico: Avenida das Américas 7.380, con-domínio Rio Mar, Barra da Tijuca. Telefone: 2490-1684Néctar: Estrada dos Bandeirantes 22.774, em VargemGrande. Telefone: 2428-1387Far Up: Cobal do Humaitá/Rua Voluntários daPátria, 448, Botafogo, loja 1Rio Rock & Blues Club: Rua Professor Ferreira daRosa 180, Largo da Barra. Telefone: 8132-8583

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