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O bambu é uma gramínea gigante, flexível e fácil de manusear e transportar, e é mais leve que a maioria dos outros materiais fortes. Na Ásia há os exemplos vivos mais antigos da arquitetura com bambu, em templos japoneses, chineses e indianos. O Taj Mahal, por exemplo, teve sua abóbada estruturada por metal recentemente, quando substituíram a estrutura milenar de bambu. A construção de pontes com este material na China também é bastante comum, com vãos enormes e tencionados com cordas de bambu. Na África também se encontram muitas habitações populares construídas com bambu. É usado na estruturação como coluna, viga e lastro entre outros, mas também serve como telha, forro, maçaneta e encanamentos de água. Contrariamente à madeira, o bambu ainda não sofreu uma exploração intensa e pode, eventualmente, substituir essa matéria-prima em um grande número de aplicações. Sua exploração nacional pode permitir a preservação de recursos florestais, diminuindo a forte pressão exercida sobre algumas espécies florestais. Os bambus são constituídos, basicamente, de um rizoma subterrâneo e de um colmo lenhoso, oco, com feixes de fibras, vasos e células de parênquima dispostos longitudinalmente. A principal forma de propagação do bambu acontece assexuadamente, através da ramificação dos rizomas, dos colmos ou galhos. Contrariamente às madeiras, os bambus apresentam apenas o crescimento longitudinal pois os colmos saem do solo com o diâmetro definitivo. Pode-se desse modo afirmar que o crescimento dos bambus é semelhante ao deslocamento de uma antena telescópica. Os bambus são as plantas de mais rápido crescimento na Terra. A velocidade média de crescimento varia de 8cm a 10cm por dia, podendo atingir até 40cm por dia. Após o final do crescimento, o bambu começa a amadurecer e este processo pode prolongar-se por três a seis anos, quando a planta atinge o máximo de sua resistência. Tal característica física é extrema nos nós e mínima nos internódios. O USO DO BAMBU NA ARQUITETURA alternativas para emprego em grandes centros urbanos Suas características estruturais tornam o bambu um material de excelente qualidade. Em países como a Índia e a China o bambu é muito utilizado como andaime, e se tornam gigantescos esqueletos à volta dos prédios modernos, em cidades como Hong Kong. É mais resistente que o aço, sendo sua compressão, flexão e tração já amplamente testadas e aprovadas em laboratório. Se tratado adequadamente, ele apresenta durabilidade equivalente a do eucalipto, por exemplo. Possui variações dimensionais dentro da mesma espécie por ser um material natural e umidade próximo de 80% e ainda grande concentração de seiva após o corte, daí a necessidade de tratamento químico específico. TRATAMENTO QUÍMICO. O ácido bórico é o elemento mais utilizado no tratamento químico de bambu. Pode-se utilizar um produto pronto (como o BORAX) ou preparar uma solução. Para banhar os troncos na solução pode-se construir uma banheira com barris de ferro cortados ao meio e soldados. Esta banheira pode ser adaptada para cozinhar os bambus, se afastada do chão para queimar lenha. Um outro modo de tratar quimicamente o bambu éo boucherie e que consiste em fazer passar, sob pressão, a solução química através dos colmos e fibras do bambu. Usa-se uma bomba de ar comprimido para dar pressão, e mangueiras adaptadas nas extremidades do bambu. O bambu também pode ser tratado apenas pela permanência em água parada (piscina ou tanque) ou corrente (riachos) por algumas semanas, porém precisará passar por um processo de secagem demorado após o banho. Características estruturais Cultivo e tratamento do bambu O fator principal para se obter colmos resistentes de bambu é a forma e hora da colheita. A época do ano que o bambu guarda uma maior parte de suas reservas nas raízes (rizomas) é o inverno, o momento antes do aparecimento dos novos brotos. Colhendo nesta hora obtemos um bambu com menos açúcar, que é o alimento dos insetos e fungos que se alimentam do bambu, e estes aparecem menos no inverno. No Brasil e no Hemisfério Sul esta época acontece no meio do ano: maio, junho, julho e agosto. Após este período começa a geração de novos brotos. Outra atenção especial a ser tomada é a idade do bambu. Para fins de tecelagem ou cestaria usam-se os bambus jovens e imaturos, pela sua flexibilidade. Para fins de construção devem-se usar os bambus maduros, mas não podres, com cerca de 3 a 4 anos, quando atingiram sua resistência ideal. Estando na época certa do ano deve-se escolher a fase adequada da lua , esta sendo a lua minguante. Dentro da fase adequada da lua, escolhem-se as horas antes do amanhecer como as ideais. Após o corte aconselha- se deixar o bambu em pé no local de colheita, ainda apoiado nos vizinhos, por cerca de 2 a 3 semanas. Neste tempo ele secará, mas ainda nos estados de temperatura, pressão e umidade em que sempre viveu. Os passos seguintes diferem muito entre si na quantidade de colmos, disponibilidade de recursos e transporte, fins, etc. SECAGEM. O colmo cortado ainda estará úmido por dentro, e, desejando utilizar-se o bambu para fins de construção de objetos ou estruturas deve-se secá-lo para obter resistência e durabilidade. Pode-se apoiar o bambu, ainda com as folhas, em um aposento arejado com chão e parede livres de umidade, sob proteção da chuva e do sol, e, dependendo da espécie e das condições climáticas, deixar a seiva escorrer e evaporar de duas a oito semanas. Com fogo podem-se obter resultados mais rápidos, mesmo com climas mais frios e úmidos. O bambu deve ser colocado a 50 cm acima do fogo. Para que seque de maneira uniforme, devem-se virar os troncos de vez em quando. Com este método, a parede do tronco fica mais resistente aos insetos. Outra forma de secagem com fogo éa utilização de uma fonte pontual de calor como o maçarico. Neste processo é importante utilizar fogo baixo, e obtém-se alta resistência e brilho. Porém é um método mais demorado e trabalhoso, por ser feito um a um. Nos métodos onde se utiliza fogo geralmente um tipo de óleo (ácido piro - lenhoso) aparece na superfície dos troncos. Este óleo pode ser removido com pano ou reutilizado como fonte de fumaça. O MATERIAL O USO NA CONSTRUÇÃO CIVIL CONEXÕES E INTERFACES As propriedades estruturais do bambu superaram muito as demais madeiras. Possui um ótimo isolamento térmico e acústico, além de leveza e flexibilidade. No entanto deve-se escolher muito bem a espécie a ser utilizada. Os tipos mais recomendados pelos especialistas são o Guadua e o Dendrocalamus, mais resistentes. Outra grande contribuição dessa planta está em evitar o desmatamento, ao ser usada no lugar da madeira. Das cerca de 1300 espécies conhecidas, há pelo menos 400 no Brasil. As espécies guadua (Guadua angustifolia), bambu-gigante (Dendrocalamus giganteus) e bambu-mossô (Phyllostachys pubescens) são as indicadas para as construções. Em território nacional, o bambu está presente em vários estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraná e Acre, onde é especialmente mais usado do que em outras partes do país. Na cidade de Campo Grande, MS, a atuação de Edson Sartori e Rubens Cardoso, engenheiro e arquiteto, têm destaque na produção das construções de bambu no país. No ano de 1999 construíram, a pedido da prefeitura, o Memorial da Cultura Indígena dentro da comunidade indígena, consistindo de duas "ocas" estruturadas por bambu e cobertas por fibra natural. O potencial socializador do bambu está cada vez mais sendo percebido como de importância vital no desenvolvimento de países "pobres". Existem recentes programas de habitação que o utilizam na Colômbia, Equador e Costa Rica. Esses programas são o resultado do esforço de arquitetos e engenheiros latino-americanos como Simon Velez e Oscar Hidalgo Lopes. A recente produção em larga escala dos laminados de bambu, também chamados de Plyboo em referência aos laminados de madeira (Plywood), possibilitou um novo mercado na utilização do bambu na construção. Com este material são feitos pisos e forros de parede. No entanto, tanto na forma de laminados quanto na forma natural, um problema que ainda precisa ser resolvido é a criação de normas técnicas para as construções de bambu no Brasil. Considerando a imensa diversidade de espécies e mesmo as características distintas entre as varas encontradas em uma mesma touceira (“pé de bambu”), é de se esperar que as condições de uma obra também venham a variar bastante, o que torna as regras ainda mais importantes. Essas normas já existem em países vizinhos como a Colômbia e Costa Rica, que utilizam bastante o material e podem servir como modelo. O DESTAQUE DE SIMON VELEZ. Trabalha em Bogotá e possui muitos trabalhos realizados em zonas rurais, o que proporcionou a ele a oportunidade da experimentação com materiais locais devido à dificuldade de importação de blocos industriais para edifícios e cimento. Vélez só constrói com sua equipe já treinada de operários, o que permite um processo de projeto mais rápido. Seus projetos são característicos por possuírem muitos balanços, mas também mantém um centro rígido de gravidade para estabilidade. Vélez não comete o mesmo erro que outros arquitetos cometem que é o uso do bambu baseado nos mesmos princípios do uso da madeira, mas respeita o material como ele é e com suas peculiaridades. A maioria de seus projetos serviu para criar uma boa imagem do bambu mesmo na classe alta colombiana, tentando caminhar para uma respeitabilidade e usabilidade deste material tanto quanto o concreto, o aço, a madeira e a pedra. O eucalipto, por exemplo, leva 23 anos para chegar à fase madura e o pinheiro 21; já o bambu leva apenas 3 anos, e regenera-se sem necessidade de replantio. Ideal para matas ciliares, o bambu é o primeiro passo para construir florestas. Nasce tanto em terreno seco quanto úmido. Resistência física e mecânica (mais forte que o aço), beleza visual, facilidade de manuseio e tratamento (fibras verticais enquanto na madeira são trançadas). O bambu é um ótimo seqüestrador de carbono. Gera 30% mais oxigênio que as árvores. É necessária uma menor área de cultivo para se construir uma casa em bambu, comparada com uma de madeira. Crescimento anual em biomassa de 10-30% comparado com 2-5% de árvores. Vantagens Em contato permanente com o solo, ele apodrece e é atacado por insetos. Depois de cortado, o bambu sofre ataque de insetos e pode deteriorar-se rapidamente, então é preciso fazer o tratamento logo em seguida ao corte. Devido ao seu perfil circular, criar juntas é um tanto difícil e obtém-se geometrias nada convencionais nos nós. As fibras do bambu só crescem no sentido longitudinal, tendo este fato bastante impacto na resistência de cargas transversais, já que não há fibras neste sentido. Por ser um material natural, possui variações de diâmetro, comprimento e qualidade de acordo com o clima. Há contração no bambu depois de seco e pode ocorrer problemas estruturais, sobretudo como reforço estrutural em concreto. Desvantagens Arquitetos e trabalhos expoentes na construção em bambu IDÉIAS PARA OS CENTROS URBANOS johnny klemke costa pinho, 5143301 [email protected] Faculdade de Arquitetura e Urbanismo_USP AUT221_2º semestre 2007 Estufas também são muito eficazes para secar o bambu. Na Colômbia existem modelos verticais de muitos metros de altura, onde o bambu é colocado em pé, mas geralmente são horizontais. As estufas devem coletar o calor dos raios do sol durante o dia, sem incidir diretamente sobre os bambus e sem causar calor excessivo, e manter seu interior quente durante a noite. Este processo dura algumas semanas. O aquecedor é construído com blocos, latas pintadas de negro e vidro ou plástico. O armazém deve ter paredes isolantes, para que o calor não escape durante a noite. De dia, controla-se o fluxo de ar com painéis, que ficam fechados à noite. Praticamente todas as partes de uma casa podem ser feitas de bambu: o chão, os pilares, as paredes, o telhado, as portas e as janelas. A casa popular de bambu pode ficar até 50% mais barata do que uma construída de maneira convencional, e ao substituir o ferro ou o tijolo queimado, por exemplo, o bambu possibilitará uma grande economia de energia despendida na fabricação desses materiais, diminuindo a taxa de energia embutida. Uma vez que a casa esteja construída, os cuidados são parecidos com os que devem ser tomados com uma casa de madeira comum, como envernizar a cada três anos por exemplo. Nos Estados Unidos, baseado no mercado de casas pré-fabricadas de madeira há também em alguns poucos estados, sobretudo no Hawai, o mercado de casas pré-fabricadas de bambu com grande aceitação junto ao consumidor. A casa de bambu Parece haver duas correntes na arquitetura moderna de bambu: aqueles que usam-no como um material alternativo, conectados com elementos industriais como nós e placas de aço; e aqueles que tentam encontrar no bambu uma característica moderna least-tech e que pode ser produzido mais barato e feita por profissionais não treinados. Independente da corrente, contudo, as conexões do bambu são essenciais e geralmente difíceis devido à secção circular dos canos. A INFLUÊNCIA DOS COLOMBIANOS. A vanguarda de arquitetos e engenheiros colombianos que fizeram do bambu guadua seu principal material de trabalho influenciaram fortemente iniciativas em outros países vizinhos da América Latina como Peru, Equador e Costa Rica, e também serviram de guia para outros profissionais ao redor do mundo. Às vezes usando o bambu como estrutura ou como vedação somente, seja na forma crua e de secção inteira ou na forma de tiras, algumas obras concebidas por arquitetos fora da Colômbia merecem destaque. Pavilhões para exposições na Alemanha que servem de experimentação a uma técnica que ainda é só dominada pelos colombianos e a imponente cobertura com forro em tiras de bambu do Aeroporto Internacional de Barajas em Madri, de Renzo Piano, são alguns exemplos de projetos de destaque, mas que ainda não adquiriram o requinte de detalhes das construções de bambu da Colômbia. Junções tradicionais ou soluções mais elaboradas como as interfaces de bambu com metal podem ser de várias formas. As mais simples entre bambu-bambu são as amarras de tiras do mesmo só que verdes e embebidas em água antes de laçar ao redor dos canos, pois ao secarem as tiras se contraem e reforçam a conexão. Há também o encaixe entre os canos furando-os e colocando um dentro do outro em direções perpendiculares, mas é um tanto complicado devido à forma da secção do bambu, apesar de ser muito usado em edifícios pequenos de bambu. As conexões mais elaboradas feitas com pinos e nós de aço, compondo geometrias espaciais, são possíveis com bambus de diâmetro menores que 80mm e possuem resistência elevada, comparadas com as mesmas inteiramente em aço. Edifícios baixos Grandes coberturas Andaimes Concreto com reforço de bambu Memorial dos Índios em Campo Grande - MS Pavilhão da Colômbia na Exposição de 2000 Bambu como material na construção civil na forma natural e industrializada (plyboo) Disponibilidade de bambu no mundo Secagem do bambu com fogo Uso do bambu para fins estruturais Secagem do bambu em estufa Banheira para imersão do bambu em solução química Foto interna de uma casa pré-fabricada de bambu Casa de bambu em vila ecológica em Manaus Projeto de habitação social ganhador da categoria no concurso Bamboo Competition 2006 Habitações populares de bambu Casa pré-fabricada de bambu no Hawaii Obras do arquiteto colombiano Simon Vélez Aeroporto Internacional de Barajas, Madrid Andaimes de bambu em Hong Kong Cobertura de restaurante na Indonésia Formas permanentes para laje em concreto. Dispensa ferragem. Escola de bambu na Índia. Vencedor do Bamboo Competition 2006 na categoria Edifício de escritório. Estrutura de aço e revestimento em bambu, fibras e canos. Vencedor do Bamboo Competition 2006 Conexão tradicional de bambu e com auxílio de nó de aço (least-tech X high-tech) Junções típicas de conexões tradicionais de bambu, perpendicular e em paralelo Conexões de bambu Embora de difícil aplicação nas estruturas de edifícios médios ou altos devido a cargas, o bambu pode muito bem ser usado como vedação em sua forma de fibras, tiras ou canos. Tomadas as devidas precauções como por exemplo proteção e resistência contra cargas de vento, o material combina bem com concreto e aço, respeitadas as características de cada um. O bambu trabalha muito bem à tração, tal como o aço, e por isso usá-lo em grandes coberturas, inclusive na substituição eventual do metal pode ser uma boa alternativa na especificação de um material mais sustentável e também resistente. Experiências realizadas por Richard Rogers e Renzo Piano com ligações espaciais entre bambu e aço, demonstram que é possível, por exemplo, usar esta associação em coberturas planas constituídas por treliças espaciais de mercados ou estações de trem e metrô de superfície. Muito comum na China, o bambu também pode ser usado como andaimes para construções em altura. Bem mais econômico e tão resistente quanto os de andaimes de aço, o bambu ainda tem um aspecto mais agradável na composição da paisagem urbana. O bambu é um material que apresenta grande potencialidade na utilização como reforço e, vigas de concreto, ou como forma permanente em lajes de concreto, as quais podem ser aplicadas em pequenas construções. As lajes em forma permanente de bambu são facilmente executáveis, exigindo escoramento bem reduzido em relação às lajes convencionais. O diafragma nos canos tem grande resistência ao cisalhamento, o que permite associá-los aos conectores utilizados nas estruturas mistas aço- concreto. No entanto, o principal problema dessas vigas mistas está na aderência com o concreto já que a superfície do bambu é lustrosa e escorregadia. BURGARDT, Lilian. Uso do bambu nas contruções. Universia, 2006. LOPEZ, Oscar Hidalgo. Bambu: su cultivo y aplicaciones. Cali, Colômbia. VILLEGAS, Marcelo. Tropical Bamboo. Rizzoli, New York, 1990. http://www.bambubrasileiro.com/info/ http://www.bambooliving.com/brochures.html www.bamboocompetition.com http://www.koolbamboo.com/ Referências bibliográficas

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O bambu é uma gramínea gigante, flexível e fácil de manusear e transportar, e é mais leve que a maioria dos outros materiais fortes. Na Ásia há os exemplos vivos mais antigos da arquitetura com bambu, em templos japoneses, chineses e indianos. O Taj Mahal, por exemplo, teve sua abóbada estruturada por metal recentemente, quando substituíram a estrutura milenar de bambu. A construção de pontes com este material na China também é bastante comum, com vãos enormes e tencionados com cordas de bambu. Na África também se encontram muitas habitações populares construídas com bambu.

É usado na estruturação como coluna, viga e lastro entre outros, mas também serve como telha, forro, maçaneta e encanamentos de água. Contrariamente à madeira, o bambu ainda não sofreu uma exploração intensa e pode, eventualmente, substituir essa matéria-prima em um grande número de aplicações. Sua exploração nacional pode permitir a preservação de recursos florestais, diminuindo a forte pressão exercida sobre algumas espécies florestais.

Os bambus são constituídos, basicamente, de um rizoma subterrâneo e de um colmo lenhoso, oco, com feixes de fibras, vasos e células de parênquima dispostos longitudinalmente. A principal forma de propagação do bambu acontece assexuadamente, através da ramificação dos rizomas, dos colmos ou galhos. Contrariamente às madeiras, os bambus apresentam apenas o crescimento longitudinal pois os colmos saem do solo com o diâmetro definitivo. Pode-se desse modo afirmar que o crescimento dos bambus é semelhante ao deslocamento de uma antena telescópica. Os bambus são as plantas de mais rápido crescimento na Terra. A velocidade média de crescimento varia de 8cm a 10cm por dia, podendo atingir até 40cm por dia. Após o final do crescimento, o bambu começa a amadurecer e este processo pode prolongar-se por três a seis anos, quando a planta atinge o máximo de sua resistência. Tal característica física é extrema nos nós e mínima nos internódios.

O USO DO BAMBU NA ARQUITETURAalternativas para emprego em grandes centros urbanos

Suas características estruturais tornam o bambu um material de excelente qualidade. Em países como a Índia e a China o bambu é muito utilizado como andaime, e se tornam gigantescos esqueletos à volta dos prédios modernos, em cidades como Hong Kong. É mais resistente que o aço, sendo sua compressão, flexão e tração já amplamente testadas e aprovadas em laboratório. Se tratado adequadamente, ele apresenta durabilidade equivalente a do eucalipto, por exemplo. Possui variações dimensionais dentro da mesma espécie por ser um material natural e umidade próximo de 80% e ainda grande concentração de seiva após o corte, daí a necessidade de tratamento químico específico.

TRATAMENTO QUÍMICO. O ácido bórico é o elemento mais utilizado no tratamento químico de bambu. Pode-se utilizar um produto pronto (como o BORAX) ou preparar uma solução. Para banhar os troncos na solução pode-se construir uma banheira com barris de ferro cortados ao meio e soldados. Esta banheira pode ser adaptada para cozinhar os bambus, se afastada do chão para queimar lenha. Um outro modo de tratar quimicamente o bambu é o boucherie e que consiste em fazer passar, sob pressão, a solução química através dos colmos e fibras do bambu. Usa-se uma bomba de ar comprimido para dar pressão, e mangueiras adaptadas nas extremidades do bambu. O bambu também pode ser tratado apenas pela permanência em água parada (piscina ou tanque) ou corrente (riachos) por algumas semanas, porém precisará passar por um processo de secagem demorado após o banho.

Características estruturais

Cultivo e tratamento do bambu

O fator principal para se obter colmos resistentes de bambu é a forma e hora da colheita. A época do ano que o bambu guarda uma maior parte de suas reservas nas raízes (rizomas) é o inverno, o momento antes do aparecimento dos novos brotos. Colhendo nesta hora obtemos um bambu com menos açúcar, que é o alimento dos insetos e fungos que se alimentam do bambu, e estes aparecem menos no inverno. No Brasil e no Hemisfério Sul esta época acontece no meio do ano: maio, junho, julho e agosto. Após este período começa a geração de novos brotos.

Outra atenção especial a ser tomada é a idade do bambu. Para fins de tecelagem ou cestaria usam-se os bambus jovens e imaturos, pela sua flexibilidade. Para fins de construção devem-se usar os bambus maduros, mas não podres, com cerca de 3 a 4 anos, quando atingiram sua resistência ideal. Estando na época certa do ano deve-se escolher a fase adequada da lua , esta sendo a lua minguante.

Dentro da fase adequada da lua, escolhem-se as horas antes do amanhecer como as ideais. Após o corte aconselha-se deixar o bambu em pé no local de colheita, ainda apoiado nos vizinhos, por cerca de 2 a 3 semanas. Neste tempo ele secará, mas ainda nos estados de temperatura, pressão e umidade em que sempre viveu. Os passos seguintes diferem muito entre si na quantidade de colmos, disponibilidade de recursos e transporte, fins, etc.

SECAGEM. O colmo cortado ainda estará úmido por dentro, e, desejando utilizar-se o bambu para fins de construção de objetos ou estruturas deve-se secá-lo para obter resistência e durabilidade. Pode-se apoiar o bambu, ainda com as folhas, em um aposento arejado com chão e parede livres de umidade, sob proteção da chuva e do sol, e, dependendo da espécie e das condições climáticas, deixar a seiva escorrer e evaporar de duas a oito semanas. Com fogo podem-se obter resultados mais rápidos, mesmo com climas mais frios e úmidos. O bambu deve ser colocado a 50 cm acima do fogo. Para que seque de maneira uniforme, devem-se virar os troncos de vez em quando. Com este método, a parede do tronco fica mais resistente aos insetos. Outra forma de secagem com fogo é a utilização de uma fonte pontual de calor como o maçarico. Neste processo é importante utilizar fogo baixo, e obtém-se alta resistência e brilho. Porém é um método mais demorado e trabalhoso, por ser feito um a um. Nos métodos onde se utiliza fogo geralmente um tipo de óleo (ácido piro - lenhoso) aparece na superfície dos troncos. Este óleo pode ser removido com pano ou reutilizado como fonte de fumaça.

O MATERIAL

O USO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

CONEXÕES E INTERFACES

As propriedades estruturais do bambu superaram muito as demais madeiras. Possui um ótimo isolamento térmico e acústico, além de leveza e flexibilidade. No entanto deve-se escolher muito bem a espécie a ser utilizada. Os tipos mais recomendados pelos especialistas são o Guadua e o Dendrocalamus, mais resistentes. Outra grande contribuição dessa planta está em evitar o desmatamento, ao ser usada no lugar da madeira.

Das cerca de 1300 espécies conhecidas, há pelo menos 400 no Brasil. As espécies guadua (Guadua angustifolia), bambu-gigante (Dendrocalamus giganteus) e bambu-mossô (Phyllostachys pubescens) são as indicadas para as construções. Em território nacional, o bambu está presente em vários estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraná e Acre, onde é especialmente mais usado do que em outras partes do país. Na cidade de Campo Grande, MS, a atuação de Edson Sartori e Rubens Cardoso, engenheiro e arquiteto, têm destaque na produção das construções de bambu no país. No ano de 1999 construíram, a pedido da prefeitura, o Memorial da Cultura Indígena dentro da comunidade indígena, consistindo de duas "ocas" estruturadas por bambu e cobertas por fibra natural.

O potencial socializador do bambu está cada vez mais sendo percebido como de importância vital no desenvolvimento de países "pobres". Existem recentes programas de habitação que o utilizam na Colômbia, Equador e Costa Rica. Esses programas são o resultado do esforço de arquitetos e engenheiros latino-americanos como Simon Velez e Oscar Hidalgo Lopes.

A recente produção em larga escala dos laminados de bambu, também chamados de Plyboo em referência aos laminados de madeira (Plywood), possibilitou um novo mercado na utilização do bambu na construção. Com este material são feitos pisos e forros de parede. No entanto, tanto na forma de laminados quanto na forma natural, um problema que ainda precisa ser resolvido é a criação de normas técnicas para as construções de bambu no Brasil. Considerando a imensa diversidade de espécies e mesmo as características distintas entre as varas encontradas em uma mesma touceira (“pé de bambu”), é de se esperar que as condições de uma obra também venham a variar bastante, o que torna as regras ainda mais importantes. Essas normas já existem em países vizinhos como a Colômbia e Costa Rica, que utilizam bastante o material e podem servir como modelo.

O DESTAQUE DE SIMON VELEZ. Trabalha em Bogotá e possui muitos trabalhos realizados em zonas rurais, o que proporcionou a ele a oportunidade da experimentação com materiais locais devido à dificuldade de importação de blocos industriais para edifícios e cimento. Vélez só constrói com sua equipe já treinada de operários, o que permite um processo de projeto mais rápido. Seus projetos são característicos por possuírem muitos balanços, mas também mantém um centro rígido de gravidade para estabilidade. Vélez não comete o mesmo erro que outros arquitetos cometem que é o uso do bambu baseado nos mesmos princípios do uso da madeira, mas respeita o material como ele é e com suas peculiaridades. A maioria de seus projetos serviu para criar uma boa imagem do bambu mesmo na classe alta colombiana, tentando caminhar para uma respeitabilidade e usabilidade deste material tanto quanto o concreto, o aço, a madeira e a pedra.

�• O eucalipto, por exemplo, leva 23 anos para chegar à fase madura e o pinheiro 21; já o bambuleva apenas 3 anos, e regenera-se sem necessidade de replantio.

�• Ideal para matas ciliares, o bambu é o primeiro passo para construir florestas. Nasce tanto em terreno seco quanto úmido.

�• Resistência física e mecânica (mais forte que o aço), beleza visual, facilidade de manuseio e tratamento (fibras verticais enquanto na madeira são trançadas).

�•O bambu é um ótimo seqüestrador de carbono.

�• Gera 30% mais oxigênio que as árvores.

�• É necessária uma menor área de cultivo para se construir uma casa em bambu, comparada com uma de madeira.

�•Crescimento anual em biomassa de 10-30% comparado com 2-5% de árvores.

Vantagens

�• Em contato permanente com o solo, ele apodrece e é atacado por insetos.

�• Depois de cortado, o bambu sofre ataque de insetos e pode deteriorar-se rapidamente, então épreciso fazer o tratamento logo em seguida ao corte.

�• Devido ao seu perfil circular, criar juntas é um tanto difícil e obtém-se geometrias nada convencionais nos nós.

�• As fibras do bambu só crescem no sentido longitudinal, tendo este fato bastante impacto na resistência de cargas transversais, já que não há fibras neste sentido.

�• Por ser um material natural, possui variações de diâmetro, comprimento e qualidade de acordo com o clima.

�• Há contração no bambu depois de seco e pode ocorrer problemas estruturais, sobretudo como reforço estrutural em concreto.

Desvantagens Arquitetos e trabalhos expoentes na construção em bambu

IDÉIAS PARA OS CENTROS URBANOS

johnny klemke costa pinho, [email protected]

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo_USPAUT221_2º semestre 2007

Estufas também são muito eficazes para secar o bambu. Na Colômbia existem modelos verticais de muitos metros de altura, onde o bambu é colocado em pé, mas geralmente são horizontais. As estufas devem coletar o calor dos raios do sol durante o dia, sem incidir diretamente sobre os bambus e sem causar calor excessivo, e manter seu interior quente durante a noite. Este processo dura algumas semanas. O aquecedor é construído com blocos, latas pintadas de negro e vidro ou plástico. O armazém deve ter paredes isolantes, para que o calor não escape durante a noite. De dia, controla-se o fluxo de ar com painéis, que ficam fechados à noite.

Praticamente todas as partes de uma casa podem ser feitas de bambu: o chão, os pilares, as paredes, o telhado, as portas e as janelas. A casa popular de bambu pode ficar até 50% mais barata do que uma construída de maneira convencional, e ao substituir o ferro ou o tijolo queimado, por exemplo, o bambu possibilitará uma grande economia de energia despendida na fabricação desses materiais, diminuindo a taxa de energia embutida. Uma vez que a casa esteja construída, os cuidados são parecidos com os que devem ser tomados com uma casa de madeiracomum, como envernizar a cada três anos por exemplo.

Nos Estados Unidos, baseado no mercado de casas pré-fabricadas de madeira há também em alguns poucos estados, sobretudo no Hawai, o mercado de casas pré-fabricadas de bambu com grande aceitação junto ao consumidor.

A casa de bambu

Parece haver duas correntes na arquitetura moderna de bambu: aqueles que usam-no como um material alternativo, conectados com elementos industriais como nós e placas de aço; e aqueles que tentam encontrar no bambu uma característica moderna least-teche que pode ser produzido mais barato e feita por profissionais não treinados. Independente da corrente, contudo, as conexões do bambu são essenciais e geralmente difíceis devido àsecção circular dos canos.

A INFLUÊNCIA DOS COLOMBIANOS. A vanguarda de arquitetos e engenheiros colombianos que fizeram do bambu guadua seu principal material de trabalho influenciaram fortemente iniciativas em outros países vizinhos da América Latina como Peru, Equador e Costa Rica, e também serviram de guia para outros profissionais ao redor do mundo. Às vezes usando o bambu como estrutura ou como vedação somente, seja na forma crua e de secção inteira ou na forma de tiras, algumas obras concebidas por arquitetos fora da Colômbia merecem destaque. Pavilhões para exposições na Alemanha que servem de experimentação a uma técnica que ainda é só dominada pelos colombianos e a imponente cobertura com forro em tiras de bambu do Aeroporto Internacional de Barajasem Madri, de Renzo Piano, são alguns exemplos de projetos de destaque, mas que ainda não adquiriram o requinte de detalhes das construções de bambu da Colômbia.

Junções tradicionais ou soluções mais elaboradas como as interfaces de bambu com metal podem ser de várias formas. As mais simples entre bambu-bambu são as amarras de tiras do mesmo só que verdes e embebidas em água antes de laçar ao redor dos canos, pois ao secarem as tiras se contraem e reforçam a conexão. Há também o encaixe entre os canos furando-os e colocando um dentro do outro em direções perpendiculares, mas é um tanto complicado devido à forma da secção do bambu, apesar de ser muito usado em edifícios pequenos de bambu. As conexões mais elaboradas feitas com pinos e nós de aço, compondo geometrias espaciais, são possíveis com bambus de diâmetro menores que 80mm e possuem resistência elevada, comparadas com as mesmas inteiramente em aço.

Edifícios baixos Grandes coberturas Andaimes Concreto com reforço de bambu

Memorial dos Índios em Campo Grande - MS Pavilhão da Colômbia na Exposição de 2000

Bambu como material na construção civil na forma natural e industrializada (plyboo)Disponibilidade de bambu no mundo

Secagem do bambu com fogo

Uso do bambu para fins estruturais

Secagem do bambu em estufa

Banheira para imersão do bambu em solução química

Foto interna de uma casa pré-fabricada de bambu

Casa de bambu em vila ecológica em Manaus Projeto de habitação social ganhador da categoria no concurso Bamboo Competition 2006

Habitações populares de bambu Casa pré-fabricada de bambu no Hawaii

Obras do arquiteto colombiano Simon Vélez Aeroporto Internacional de Barajas, Madrid

Andaimes de bambu em Hong KongCobertura de restaurante na IndonésiaFormas permanentes para laje em concreto. Dispensa ferragem.

Escola de bambu na Índia. Vencedor do Bamboo Competition 2006 na categoria

Edifício de escritório. Estrutura de aço e revestimento em bambu, fibras e canos. Vencedor do Bamboo Competition 2006

Conexão tradicional de bambu e com auxílio de nó de aço (least-tech X high-tech)

Junções típicas de conexões tradicionais de bambu, perpendicular e em paralelo

Conexões de bambu

Embora de difícil aplicação nas estruturas de edifícios médios ou altos devido a cargas, o bambu pode muito bem ser usado como vedação em sua forma de fibras, tiras ou canos. Tomadas as devidas precauções como por exemplo proteção e resistência contra cargas de vento, o material combina bem com concreto e aço, respeitadas as características de cada um.

O bambu trabalha muito bem à tração, tal como o aço, e por isso usá-lo em grandes coberturas, inclusive na substituição eventual do metal pode ser uma boa alternativa na especificação de um material mais sustentável e também resistente.

Experiências realizadas por Richard Rogers e RenzoPiano com ligações espaciais entre bambu e aço, demonstram que é possível, por exemplo, usar esta associação em coberturas planas constituídas por treliças espaciais de mercados ou estações de trem e metrô de superfície.

Muito comum na China, o bambu também pode ser usado como andaimes para construções em altura. Bem mais econômico e tão resistente quanto os de andaimes de aço, o bambu ainda tem um aspecto mais agradável na composição da paisagem urbana.

O bambu é um material que apresenta grande potencialidade na utilização como reforço e, vigas de concreto, ou como forma permanente em lajes de concreto, as quais podem ser aplicadas em pequenas construções.

As lajes em forma permanente de bambu são facilmente executáveis, exigindo escoramento bem reduzido em relação às lajes convencionais. O diafragma nos canos tem grande resistência ao cisalhamento, o que permite associá-los aos conectores utilizados nas estruturas mistas aço-concreto. No entanto, o principal problema dessas vigas mistas está na aderência com o concreto jáque a superfície do bambu é lustrosa e escorregadia.

BURGARDT, Lilian. Uso do bambu nas contruções. Universia, 2006.

LOPEZ, Oscar Hidalgo. Bambu: su cultivo y aplicaciones. Cali, Colômbia. VILLEGAS,

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http://www.bambubrasileiro.com/info/

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www.bamboocompetition.com

http://www.koolbamboo.com/

Referências bibliográficas