bahá'u'lláh e a nova era

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É a obra bahá’í mais divulgada de todos os tempos, tendo vários de seus capítulos lidos e aprovados por ‘Abdu’l-Bahá. Trata de temas básicos da Fé Bahá’í, desde sua história, ensinamentos, administração e perspectivas futuras. Escrita por John Esslemont, uma das primeiras Mãos da Causa a ser nomeada por Shoghi Effendi. Imprescindível para quem quer conhecer a Fé Bahá’í.

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BAHÁ’U’LLÁH

E ANOVA ERA

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BAHÁ’U’LLÁHE A

NOVA ERA

UMA INTRODUÇÃO À FÉ BAHÁ’Í

CONSTRUINDO UMA CIVILIZAÇÃO PACÍFICA E GLOBAL,UM DESAFIO À HUMANIDADE

J. E. Esslemont

Page 6: Bahá'u'lláh e a Nova Era

Título original em inglês: Bahá’u’lláh and the New Era

© 1984

EDITORA BAHÁ’Í DO BRASIL

Caixa Postal 108513800-973 – Mogi Mirim – SP

www.editorabahaibrasil.com.br

ISBN: 978-85-320-0170-2

1ª edição: 19282ª edição: 19393ª edição: 19464ª edição: 19525ª edição: 19626ª edição: 19757ª edição: 19848ª edição: 19969ª edição: 200110ª edição: 2007

Tradução: Hyram Faria Ribeiro e Leonora S. Armstrong

Revisão: Coordenação Nacional Bahá’í de Tradução e Revisão do Brasil

Capa: Gustavo Pallone de Figueiredo

Impressão: Prisma Printer Gráfica e Editora Ltda., Campinas – SP

Page 7: Bahá'u'lláh e a Nova Era

Introdução ix

1 AS BOAS NOVAS 1O Maior Acontecimento da História – 1; O Mundo em Transfor-mação – 3; O Sol da Retidão – 4; A Missão de Bahá’u’lláh – 5;Cumprimento das Profecias – 6; Provas de Autenticidade – 8;Dificuldades na Investigação – 10; O Propósito do Livro – 11.

2 O BÁB: O PRECURSOR 12O Berço da Nova Revelação – 12; Infância e Juventude – 14;Declaração – 15; A Disseminação do Movimento Bábí – 15;Outras Declarações do Báb – 16; Aumentam as Perseguições –17; Martírio do Báb – 18; Túmulo no Monte Carmelo – 19;Escritos do Báb – 20; Aquele que Deus Tornará Manifesto – 21;Ressurreição, Paraíso e Inferno – 22; Ensinamentos Sociais e Éticos– 22; Paixão e Triunfo – 23.

3 BAHÁ’U’LLÁH: A GLÓRIA DE DEUS 25Nascimento e Infância – 25; Preso por Ser Bábí – 26; Exílio emBagdá – 28; Dois Anos no Deserto – 29; Oposição dos Mullás –30; Declaração em Ridván, Proximidades de Bagdá – 32;Constantinopla e Adrianópolis – 32; Cartas aos Reis – 33; Prisãoem ‘Akká – 35; Restrições Abrandadas – 36; Abrem-se os Portõesda Prisão – 37; Sua Vida em Bahjí – 40; Ascensão – 43; Bahá’u’lláhcomo Profeta – 43; Sua Missão – 49; Seus Escritos – 51; OEspírito Bahá’í – 52.

4 ‘ABDU’L-BAHÁ: O SERVO DE BAHÁ 54Nascimento e Infância – 54; Mocidade – 55; Casamento – 57;

SUMÁRIO

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Centro do Convênio – 58; Renova-se a Prisão Rigorosa – 59;Comissões Turcas de Investigação – 62; Viagens ao Ocidente –63; Regresso à Terra Santa – 65; Haifa Durante a Guerra – 67;Sir ‘Abdu’l-Bahá ‘Abbás, K.B.E. – 68; Últimos Anos – 68; OFalecimento de ‘Abdu’l-Bahá – 69; Escritos e Discursos – 71;Posição de ‘Abdu’l-Bahá – 72; Exemplo de Vida Bahá’í – 74.

5 QUE É UM BAHÁ’Í? 76A Vida Bahá’í – 76; Devoção a Deus – 77; Busca da Verdade –78; Amar a Deus – 80; Desprendimento – 82; Obediência –84; Serviço – 85; A Disseminação dos Ensinamentos – 86; Cortesiae Reverência – 87; Olhos que Não Vêem o Pecado – 89; Humildade– 90; Veracidade e Honestidade – 92; Auto-Realização – 93.

6 ORAÇÃO 95Conversação com Deus – 95; A Atitude Devocional – 96; ANecessidade de um Mediador – 98; A Oração é Indispensável eObrigatória – 99; A Oração Congregacional – 101; Oração, aLinguagem do Amor – 102; A Salvação das Calamidades – 103;A Oração e a Lei Natural – 105; Orações Bahá’ís – 106.

7 SAÚDE E CURA 109O Corpo e a Alma – 109; A Unidade de Toda a Vida – 109; AVida Simples – 110; Álcool e Narcóticos – 111; Divertimentos –111; O Asseio – 112; Efeitos da Obediência aos MandamentosProféticos – 112; O Profeta como Médico – 114; A Cura porMeios Materiais – 114; A Cura por Meios Não-Materiais – 116;O Poder do Espírito Santo – 117; Atitude do Paciente – 118;Aquele que Cura – 120; Como Todos Podem Ajudar – 122; AIdade Áurea – 123; Como Usar a Saúde – 124.

8 A UNIDADE RELIGIOSA 125O Sectarismo no Século Dezenove – 125; A Mensagem deBahá’u’lláh – 127; Pode-se Transformar a Natureza Humana? –127; Primeiros Passos para a Unidade – 129; O Problema da Autoridade

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– 130; A Revelação Progressiva – 132; Infalibilidade dos Profetas– 134; O Manifestante Supremo – 135; Uma Nova Situação –137; A Plenitude da Revelação Bahá’í – 138; O Convênio Bahá’í– 139; Nenhum Clero Profissional – 141.

9 A VERDADEIRA CIVILIZAÇÃO 143Religião – A Base da Civilização – 143; Justiça – 144; Governo –146; Liberdade Política – 149; Governantes e Súditos – 150;Nomeação e Promoção – 151; Os Problemas Econômicos – 152;Finanças Públicas – 153; Partilha Voluntária – 154; Trabalho paraTodos – 154; A Ética da Riqueza – 155; Nenhuma EscravidãoIndustrial – 156; Legados e Heranças – 158; Igualdade entre Homense Mulheres – 159; As Mulheres e a Nova Era – 161; A Rejeição dosMétodos Violentos – 162; Educação – 163; As Diferenças Inatasde Natureza – 164; Aperfeiçoamento do Caráter – 165; Artes,Ciências e Ofícios – 166; Tratamento aos Criminosos – 166;Influência da Imprensa – 168.

10 O CAMINHO DA PAZ 169Conflito versus Concórdia – 169; A Paz Suprema – 170; Precon-ceito Religioso – 171; Preconceitos de Raça e de Pátria – 173;Ambições Territoriais – 175; Idioma Universal – 176; LigaUniversal das Nações – 179; O Arbitramento Internacional –181; Limitação de Armamentos – 183; A Não-Resistência –183; A Guerra Justificável – 185; Unidade do Oriente e Ocidente– 187.

11 VÁRIAS LEIS E ENSINAMENTOS 189A Vida Monacal – 189; Casamento – 190; Divórcio – 192; OCalendário Bahá’í – 192; Assembléias Espirituais – 194; As FestasBahá’ís, Aniversários e Dias de Jejum – 196; Festas – 197; Jejum –198; Reuniões – 199; A Festa de Dezenove Dias – 201;Mashriqu’l-Adhkár – 201; A Vida após a Morte – 203; Céu eInferno – 205; A Unidade dos Dois Mundos – 207; A Inexistênciado Mal – 210.

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12 A RELIGIÃO E A CIÊNCIA 213Conflito Devido ao Erro – 213; Perseguição aos Profetas – 214;A Aurora da Reconciliação – 216; Busca da Verdade – 217; OVerdadeiro Agnosticismo – 218; O Conhecimento de Deus –219; As Manifestações Divinas – 220; A Criação – 221; AEvolução do Homem – 223; Corpo e Alma – 225; A Unidadedo Gênero Humano – 226; A Era da Unidade – 227.

13 PROFECIAS CUMPRIDAS PELA FÉ BAHÁ’Í 229Interpretação da Profecia – 229; A Vinda do Senhor – 230;Profecias Referentes a Cristo – 231; Profecias sobre o Báb e Bahá’u’lláh– 232; A Glória de Deus – 234; O Ramo – 235; O Dia de Deus– 237; O Dia do Juízo – 237; A Grande Ressurreição – 238; AVolta de Cristo – 241; O Tempo do Fim – 243; Sinais no Céu e naTerra – 245; A Maneira de Sua Vinda – 248.

14 PROFECIAS DE BAHÁ’U’LLÁH E ‘ABDU’L-BAHÁ 252O Poder Criador da Palavra de Deus – 252; Napoleão III –255; Alemanha – 256; Pérsia – 257; Turquia – 258; América –260; A Grande Guerra – 262; Distúrbios Sociais do Pós-Guerra– 263; A Vinda do Reino de Deus – 267; ‘Akká e Haifa – 269.

15 RETROSPECTO E PERSPECTIVA 271O Progresso da Causa – 271; O Báb e Bahá’u’lláh como Profetas –273; Uma Perspectiva Gloriosa – 274; A Renovação da Religião –275; Necessidade de uma Nova Revelação – 276; A Verdade é paraTodos – 276; A Última Vontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahá –277; O Guardião da Causa de Deus – 280; As Mãos da Causade Deus – 282; A Ordem Administrativa – 283; A Ordem Mundialde Bahá’u’lláh – 292.

Epílogo 301

Bibliografia 305

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Conheci os ensinamentos bahá’ís pela primeira vez emdezembro de 1914, conversando com amigos que haviam seencontrado com ‘Abdu’l-Bahá e que me emprestaram alguns folhetos.Logo fui atraído por seu alcance, beleza e poder. Tive a impressão deque preenchiam as grandes necessidades do mundo moderno maisplena e satisfatoriamente de que qualquer outro ensinamentoreligioso que eu já havia encontrado – impressão esta que estudossubseqüentes vieram a aprofundar e confirmar.

Ao buscar conhecimentos mais completos sobre o Movimento,encontrei considerável dificuldade em obter a literatura que desejava,e cedo concebi a idéia de colocar num livro a essência daquilo queeu havia aprendido, a fim de facilitar seu acesso a outras pessoas.Quando a comunicação com a Palestina foi reaberta após a guerra,escrevi a ‘Abdu’l-Bahá e anexei uma cópia dos nove primeiroscapítulos do livro, cujo esboço estava então quase terminado. Recebiuma resposta muito gentil e animadora, e um convite cordial paravisitá-Lo em Haifa e comigo levar o manuscrito inteiro. O convitefoi por mim aceito com prazer, e no inverno de 1919-1920 tive ogrande privilégio de passar dois meses e meio como hóspede de‘Abdu’l-Bahá. Em diversas ocasiões durante esta visita, ‘Abdu’l-Baháconversou comigo sobre o livro, dando várias sugestões valiosas paraaperfeiçoá-lo, e propôs que assim que eu tivesse revisado omanuscrito, este seria inteiramente traduzido para o persa a fim deque Ele pudesse ler na íntegra e alterar ou corrigir onde fossenecessário. A revisão e tradução foram feitas como sugerido, e ‘Abdu’l-Bahá encontrou tempo em meio a Seus inúmeros afazeres para corrigircerca de três capítulos e meio (Capítulos 1, 2, 5, e parte do 3) antes

INTRODUÇÃO

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x INTRODUÇÃO

de Seu falecimento. É motivo de grande pesar para mim que ‘Abdu’l-Bahá não pode completar a correção do manuscrito, pois assim ovalor do livro seria aumentado extraordinariamente. O manuscritointeiro foi, entretanto, cuidado-samente revisado por um comitê daAssembléia Nacional Bahá’í da Inglaterra, que também aprovou asua publicação.

Sou muito grato pelo valioso apoio prestado pela srta. E. J.Rosenberg, sra. Claudia S. Coles, Mírzá Lutfu’lláh S. Hakím, sr.Roy Wilhelm e sr. Mountfort Mills, e por muitos outros amáveisamigos, na preparação deste trabalho.

Quanto à transliteração dos nomes e palavras árabes e persas,o sistema adotado neste livro é o recomendado por Shoghi Effendipara aplicação em todo o mundo bahá’í.

J. E. Esslemont

Fairford, Cults,by Aberdeen

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BAHÁ’U’LLÁHE A

NOVA ERA

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O Prometido de todos os povos do mundo já veio.Todas as nações e comunidades aguardavam umaRevelação, e Ele, Bahá’u’lláh, é o proeminenteInstrutor e Educador de toda a humanidade.

‘Abdu’l-Bahá

O Maior Acontecimento da História

Ao estudarmos o que registram as páginas da história acercada “evolução do homem”, torna-se evidente que o fator principalnesse progresso é o advento, de tempos em tempos, de homens queultrapassam as idéias aceitas em seu tempo, e tornam-sedescobridores e reveladores de verdades até então desconhecidas entreo gênero humano. O inventor, o pioneiro, o gênio, o profeta – estessão os homens de quem depende primordialmente a transformaçãodo mundo. Como diz Carlyle:

A verdade clara, muito clara, pensamos, é que... um homemdotado de uma Sabedoria superior, de uma Verdade espiritualainda não conhecida, é mais forte não apenas do que dezhomens que não a possuem, nem do que dez mil, e sim, émais forte do que todos os homens que não a têm; sobressai-se entre eles com um poder realmente etéreo e angélico, comose possuísse uma espada do próprio arsenal do céu, a quenenhum escudo e nenhuma torre de bronze, afinal, resistirá.

Signs of the Times

Capítulo 1

AS BOAS-NOVAS

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2 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Na história da ciência, da arte, da música, vemos abundantesexemplos desta verdade, mas em domínio algum salienta-se maisnitidamente a suma importância do grande homem e de suamensagem que na história da religião. Através de todos os tempos,sempre que a vida espiritual do homem degenera e a corrupçãomoral predomina, aparece Aquele mais admirável e misterioso doshomens, o Profeta. Só, contra o mundo, sem pessoa alguma que Opossa ensinar ou guiar, ou até compreender perfeitamente, ouparticipar de Sua responsabilidade, Ele surge entre os homens comoum vidente entre cegos, proclamando Seu evangelho de verdade eretidão.

Entre os Profetas, alguns se sobressaem com uma proeminênciaespecial. De tempos em tempos, um grande Revelador Divino –um Krishna, um Zoroastro, um Moisés, um Jesus, um Muhammad– surge no Oriente como um Sol espiritual para iluminar as mentesobscurecidas dos homens e despertar suas almas adormecidas. Sejaqual for nossa opinião sobre a grandeza relativa desses Fundadoresde religião, devemos admitir serem Eles os fatores mais potentes daeducação humana. Esses profetas são unânimes em declarar que aspalavras por Eles proferidas não são Suas, mas que constituem, sim,uma Revelação por Seu intermédio, uma Mensagem Divina da qualsão apenas os Portadores. Em Seus discursos encontram-se tambéminúmeras promessas e referências a um grande Educador Mundialdestinado a aparecer na “plenitude dos tempos”, Aquele que há decontinuar a levar à fruição a tarefa por Eles começada, estabelecendoum reino de paz e justiça na Terra e unindo em uma só famíliatodas as raças, religiões, nações e tribos, “para que haja somente umrebanho e um Pastor”, e todos, “do menor ao maior”, possamconhecer e amar a Deus.

A vinda desse “Educador da Humanidade”, no fim da era,deve certamente ser o maior acontecimento da história. E a Fé Bahá’íproclama ao mundo as boas-novas de que esse Educador, de fato, jáveio, e que Sua Revelação foi transmitida e escrita, podendo assimser estudada por qualquer pesquisador sincero, que o “Dia do

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3AS BOAS NOVAS

Senhor” já alvoreceu e o “Sol da Justiça” tornou-se visível. Até agoraapenas alguns, nos cumes das montanhas, avistaram o Orbe glorioso,mas seus raios já estão iluminando o céu e a terra e, em breve, Elehá de aparecer acima das montanhas, brilhando em todo seuesplendor sobre as planícies e os vales, dando vida e guiando a todos.

O Mundo em Transformação

É evidente a todos que o mundo, no século dezenove e naprimeira parte do século vinte, passou pelos tormentos da morte deuma velha era e pelas dores do nascimento de uma nova. Os velhosprincípios do materialismo e egoísmo, os velhos preconceitos eanimosidades de seita e pátria estão perecendo, desacreditados, entreas ruínas por eles causadas, e em todos os cantos do globo vemossinais de um novo espírito de fé, de fraternidade, deinternacionalismo, que está rompendo os velhos grilhões eultrapassando as fronteiras antigas. Transformações revolucionárias,sem precedentes em sua extensão, têm ocorrido em todos os setoresda vida humana. A velha era não morreu ainda. Empenha-se numduelo de morte com a nova. Males há em quantidade, gigantescos eterríveis, mas estão sendo expostos, investigados, desafiados ecombatidos com novo vigor e nova esperança. Nuvens há emabundância, grandes e ameaçadoras, mas já a luz as rompe,iluminando a estrada do progresso e revelando os obstáculos earmadilhas que obstruem o caminho à frente.

No século dezoito era diferente. Quase nenhum raio de luzdiminuía a treva espiritual e moral que amortalhava o mundo. Eracomo a hora mais escura que precede a alvorada, quando as escassaslâmpadas e velas ainda acesas pouco fazem além de tornar visível aescuridão. Carlyle, em sua obra Frederick the Great, assim fala doséculo dezoito:

Um século que não tem história, e pouca ou nenhuma podeter. Um século tão opulento em falsidades acumuladas... como

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4 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

nenhum outro anterior! Tão falso se tornara que já não tinhaconsciência de o ser; tão saturado e impregnado de falsidadeaté os ossos que, de fato, atingira o ponto culminante e umaRevolução Francesa teve de lhe pôr termo.... Conclusão estabem apropriada, penso eu com gratidão, para um século comoesse. Pois havia, mais uma vez, necessidade de uma RevelaçãoDivina aos inertes e frívolos seres humanos para que se nãobaixassem completamente à condição do símio.

Frederick the Great, Livro 1, Capítulo I.

A época atual, em comparação com o século dezoito, é a auroraapós a noite tenebrosa, ou a primavera que segue o inverno. O mundosente o impulso de uma vida nova e vibra de novas esperanças enovas idéias. O que há poucos anos parecia um sonho irrealizável éagora um fato. O que parecia ser para um futuro muito distante jáfaz parte da “vida prática”. Voamos nos ares e fazemos viagenssubmarinas. Enviamos mensagens ao redor do mundo com a rapidezdo relâmpago. Em poucas décadas temos visto milagres numerososdemais para serem mencionados.

O Sol da Retidão

Qual a causa desse súbito despertar no mundo inteiro? Osbahá’ís acreditam que seja em conseqüência de uma grande efusãodo Espírito Santo por intermédio do Profeta Bahá’u’lláh, nascidona Pérsia em 1817 e falecido na Terra Santa em 1892.

Bahá’u’lláh ensina que o Profeta, ou “Manifestante de Deus”,é o Portador de Luz ao mundo espiritual, assim como o Sol é oportador de luz ao mundo natural. Do mesmo modo que o Solmaterial brilha sobre a Terra, fazendo crescer e desenvolver osorganismos materiais, também o Sol da Verdade, através doManifestante Divino, brilha sobre o mundo da alma e do coração,educando os pensamentos, a moral e o caráter dos homens. E assimcomo os raios do Sol material têm uma influência que penetra nos

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5AS BOAS NOVAS

mais escuros e sombrios recantos do mundo, dando calor e vida atéa seres que nunca viram o próprio Sol, assim também a emanaçãodo Espírito Santo, através do Manifestante de Deus, exerce umainfluência sobre a vida de todos, inspirando as mentes receptivasaté em lugares e entre povos que desconhecem em absoluto o nomedo Profeta. O advento do Manifestante é como a vinda da primavera.É um dia de Ressurreição em que os espiritualmente mortosadquirem uma vida nova, a realidade das religiões divinas é renovadae restabelecida – dia em que aparecem “novos céus e uma novaterra”.

No mundo da natureza, entretanto, a primavera causa não sóo crescimento e o despertar de uma vida nova como também adestruição e remoção da velha e gasta; pois o mesmo Sol que fazbrotarem as árvores e abrirem as flores causa também a decomposiçãodas coisas mortas e inúteis, dissolve o gelo e a neve do inverno, eliberta as inundações e tempestades que limpam e purificam a Terra.O mesmo sucede no mundo espiritual. O brilho do sol espiritualcausa idêntica agitação e mudança. Assim, pois, o Dia da Ressurreiçãoé também o Dia do Juízo, dia em que as corrupções e imitações daverdade, as idéias antiquadas e os costumes obsoletos são descartadose destruídos, em que o gelo e a neve do preconceito e da superstição,que se acumularam durante o inverno, são dissolvidos etransformados, e energias há muito tempo congeladas e presas sãolibertas para inundar e ressuscitar o mundo.

A Missão de Bahá’u’lláh

Clara e repetidamente declarou Bahá’u’lláh ser Ele oEducador e Instrutor de todos os povos, há muito tempo esperado,o intermediário de uma emanação de Graça maravilhosa que haveriade transcender todas as emanações anteriores, na qual todas as antigasformas de religião se uniriam, semelhantes aos rios que se incorporamao oceano. Lançou Ele um alicerce que forma uma base firme para aunidade no mundo inteiro e para a inauguração daquela era gloriosa

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6 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

de paz na terra e boa vontade entre os homens, predita pelos profetase celebrada pelos poetas.

Busca da verdade, unidade do gênero humano, unificaçãodas religiões, raças e nações, união do Oriente e do Ocidente,reconciliação entre a religião e a ciência, eliminação dos preconceitose das superstições, igualdade entre o homem e a mulher,estabelecimento da justiça e retidão, criação de um supremo tribunalinternacional, unificação dos idiomas, educação compulsória – estese muitos outros ensinamentos similares, a pena de Bahá’u’lláh reveloudurante a última metade do século dezenove, em inúmeros livros eepístolas, das quais diversas foram dirigidas aos reis e governantesdo mundo.

Sua mensagem, de incomparável clareza e alcance, mostrauma harmonia extraordinária com os sinais dos nossos tempos ecom nossas necessidades. Jamais foram os novos problemas com osquais o homem se defronta tão gigantescos e complexos como agora.E em nenhum tempo as soluções propostas foram tão numerosas etão contraditórias. Nunca se sentiu tão extensa e urgentemente anecessidade de um grande Instrutor mundial. E nunca, talvez,esperou-se tão confiante e universalmente pela vinda deste Instrutor.

Cumprimento das Profecias

Escreve ‘Abdu’l-Bahá:

Quando Cristo apareceu, há vinte séculos, embora tivessemos judeus esperado com ansiedade Sua vinda e rezado todosos dias com lágrimas nos olhos: “Ó Deus, apressa a Revelaçãodo Messias”, ao alvorecer o Sol da Verdade, porém, eles Onegaram, levantaram-se contra Ele com a maior inimizade, eafinal, crucificaram Aquele Espírito Divino, o Verbo de Deus,e O denominaram Belzebu, o malfeitor – assim como nosdiz o Evangelho. O motivo disso, disseram, era que “ARevelação de Cristo, segundo o claro texto do Torá, seráatestada por certos sinais e, enquanto estes não aparecerem,

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7AS BOAS NOVAS

quem pretender ser o Messias será apenas um impostor. Entreesses sinais figura o seguinte: O Messias há de vir de umlugar desconhecido, mas todos nós conhecemos a casa destehomem em Nazaré, e pode alguma coisa boa vir de Nazaré?O segundo sinal é que Ele governará com bastão de ferro,isto é, deverá agir com a espada, mas este Messias nem sequertem um báculo de madeira. Outra condição é que se sentaráno trono de Davi e estabelecerá a soberania de Davi. Ora,longe de ser entronizado, este homem nem possui uma esteirasobre que se sentar. A promoção de todas as leis do Torá éoutro sinal; entretanto, este homem anulou essas leis, nemguardou o sábado, embora diga claramente o texto do Toráque qualquer um que se diga Profeta, realize milagres masnão guarde o sábado, deve ser morto. Outro sinal é este:durante Seu reinado, a justiça será tão adiantada que a retidãoe as boas ações atingirão até o reino animal – a serpente e orato ocuparão o mesmo abrigo, a águia e a perdiz o mesmoninho, o leão e a gazela habitarão o mesmo pasto, e o lobo eo carneiro beberão da mesma fonte. Agora, porém, a injustiçae a tirania chegaram a tal ponto que O crucificaram! Outracondição é que, nos dias do Messias, os judeus haverão deprosperar e triunfar sobre todos os povos do mundo, masestão agora vivendo na maior humilhação, escravizados, noImpério dos Romanos. Como pois, poderá este ser o Messiasprometido no Torá?

Assim fizeram objeção àquele Sol da Verdade, apesar dofato de ser esse Espírito de Deus realmente o Prometido doTorá. Por não haverem, entretanto, compreendido asignificação desses sinais, crucificaram o Verbo de Deus.Agora os bahá’ís sustentam que todos esses sinais apareceramna Manifestação de Cristo, embora não no sentido em queos judeus os entenderam, sendo alegórica a descrição no Torá.Entre os sinais figura, por exemplo, o da soberania. Dizemos bahá’ís que a soberania de Cristo era celestial, divina,eterna, e não uma soberania como a de Napoleão, a qual sedesvanece em pouco tempo. Há quase dois mil anos

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8 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

estabeleceu-se essa soberania de Cristo, até agora elapermanece e, por toda a eternidade, esse Ser Divino seráenaltecido sobre um Trono imperecível.

De igual modo, manifestaram-se todos os outros sinais,mas os judeus não os compreenderam. Embora quase vinteséculos hajam passado desde o aparecimento de Cristo emesplendor divino, no entanto, os judeus ainda esperam a vindado Messias, achando que têm razão e que Cristo era falso.

Escrito por ‘Abdu’l-Bahá para este capítulo.

Tivessem os judeus se dirigido a Cristo, Ele lhes teria explicadoo verdadeiro sentido das profecias a Seu respeito. Aproveitemos nóso seu exemplo e, antes de decidirmos que as profecias relativas àManifestação do Instrutor dos Últimos Dias não tenham sidocumpridas, vejamos o que o próprio Bahá’u’lláh escreve sobre ainterpretação delas, pois devemos admitir serem muitas das profeciasexpressões “lacradas”, e o Verdadeiro Educador é o Único que podequebrar o selo e mostrar o verdadeiro sentido encerrado nas palavras.

Muito escreveu Bahá’u’lláh explicando as profecias daAntigüidade, porém não as apresenta como prova de ser Ele Profeta.O sol é sua própria prova para todos aqueles dotados do poder dapercepção. Quando nasce, não necessitamos de predições antigaspara convencermo-nos de seu brilho. É assim quando aparece oManifestante de Deus. Se todas as profecias antigas caíssem emesquecimento, continuaria Ele a ser Sua própria prova, plena econcludente, para todos aqueles cujos sentidos espirituais estivessemaguçados.

Provas de Autenticidade

A ninguém Bahá’u’lláh pediu para aceitar cegamente Suasasserções e sinais. Ao contrário, antes de tudo, nos Seus ensinamentosfez enfáticas advertências contra a cega sujeição à autoridade e exortoua todos que abrissem seus olhos e ouvidos e fizessem uso do próprio

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9AS BOAS NOVAS

juízo, independente e destemidamente, a fim de certificarem-se daverdade. Aconselhou Ele a mais completa investigação, jamais Seocultando, e apresentou, como provas supremas de Sua condiçãode Profeta, Suas palavras e ações, e os efeitos destas na transformaçãodo caráter e da vida do homem. As mesmas provas foram estabelecidaspelos Seus grandes predecessores. Disse Moisés:

Quando o tal profeta falar em nome do Senhor, e tal palavrase não cumprir, nem suceder assim, esta é palavra que oSenhor não falou: com soberba a falou o tal profeta: não tenhastemor dele.

Deuteronômio, 18:22.

Cristo estabeleceu Sua prova com igual clareza, usando-a emapoio a Sua própria pretensão. Disse Ele:

Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vósvestidos como ovelhas, mas interiormente são lobosdevoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventuracolhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim,toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore máproduz frutos maus.... Portanto, pelos seus frutos osconhecereis.

Mateus, 7:15-20.

Nos capítulos seguintes tentaremos mostrar, pela aplicaçãodestas provas, se é justificável ou não a pretensão de Bahá’u’lláh deser Profeta; se o que Ele disse de fato aconteceu, e se os Seus frutosforam bons ou maus; em outras palavras, se estão sendo cumpridasSuas profecias e estabelecidos Seus ensinamentos, e se o trabalho deSua vida contribuiu para a educação e o adiantamento dahumanidade e a elevação da moral, ou se aconteceu o contrário.

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10 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Dificuldades na Investigação

Há, naturalmente, dificuldades no caminho daquele que buscaa verdade a respeito desta Fé. Como todas as grandes reformas moraise espirituais, a Fé Bahá’í tem sido muito mal interpretada. Sobre asterríveis perseguições e sofrimentos por que passaram Bahá’u’lláh eSeus discípulos, amigos e inimigos estão em perfeito acordo. Sobreo valor do Movimento, entretanto, e o caráter de seus Fundadores,as afirmações dos que crêem e dos que negam são inteiramentecontraditórias. É justamente como no tempo de Cristo. Quanto àcrucificação de Jesus e às perseguições e martírio de Seus adeptos,historiadores cristãos e judeus estão de acordo, mas enquanto aquelesque acreditam em Cristo dizem haver Ele cumprido e desenvolvidoos ensinamentos de Moisés e dos outros profetas, os que negamdeclaram que Ele infringiu as leis e mandamentos, sendo por istodigno de morte.

Na religião, como na ciência, a verdade revela os seus mistériossomente ao humilde e reverente pesquisador que estiver pronto apôr de lado qualquer preconceito ou superstição – a vender tudo oque possui a fim de poder comprar “a pérola de grande preço”. Paraque compreendamos a Fé Bahá’í em sua plena significação, devemosiniciar seu estudo em espírito de sinceridade e desinteressada devoçãoà verdade, perseverando no caminho da busca e dependendo daorientação divina. Nos Escritos de seus Fundadores poderemosencontrar a chave-mestra que nos abrirá os mistérios desse grandedespertar de espírito, e o critério final de seu valor. Infelizmente,também aqui há dificuldades no caminho do pesquisador que nãoconheça o persa nem o árabe, pois são estes os idiomas em que seencontram os ensinamentos. Apenas uma pequena parte foitraduzida para o inglês, e grande parte dessas traduções muito deixaa desejar, não só em exatidão como em estilo. A despeito, porém, daimperfeição e da insuficiência das narrativas históricas e traduções,as grandes verdades essenciais que constituem as bases maciças e

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11AS BOAS NOVAS

*Existem agora as incomparáveis traduções feitas por Shoghi Effendi dos Escritos deBahá’u’lláh e de ‘Abdu’l-Bahá, do persa e do árabe. Estas, juntamente com seus consideráveisescritos próprios que tratam da história da Fé, das exposições e implicações de suas verdadesfundamentais e do desenvolvimento de sua Ordem Administrativa, tornam a tarefa dopesquisador infinitamente mais fácil nos tempos atuais do que no tempo do dr. Esslemont.

firmes desta Fé sobressaem-se como montanhas entre as névoas daincerteza*.

O Propósito do Livro

Nossa intenção, nos capítulos que seguem, será mostrarmos,tanto quanto possível, imparcialmente e sem preconceito, os fatosnotáveis da história e, mais especialmente, dos ensinamentos da FéBahá’í, de maneira a tornar possível aos leitores a formação de umjuízo inteligente quanto à sua importância e, talvez, induzi-los ainvestigar mais profundamente este assunto por si próprios.

A busca da verdade, entretanto, por importante que seja, nãoé tudo a que se deva dedicar a vida. A verdade não é uma coisamorta que, quando encontrada, deva ser posta num museu –rotulada, classificada, aí exibida e deixada, seca e estéril. É algo vital,que deve criar raízes no coração do homem e dar frutos em sua vida,para que ele possa atingir a plena recompensa de sua busca.

O verdadeiro objetivo, pois, de disseminar-se o conhecimentode uma Revelação profética, é que os que se tornam convictos dasua verdade venham a praticar seus princípios, a “viver a vida” edifundir as boas-novas, apressando desse modo o advento do diaabençoado em que a Vontade de Deus seja feita assim na terra comono Céu.

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O Opressor* sujeitou à morte o Bem-Amado dosmundos para extinguir a luz de Deus entre o povo epara privá-lo do manancial da vida eterna nos dias deteu Senhor, o Benévolo, o Mais Generoso.

Bahá’u’lláh. O Chamado do Senhor das Hostes, pp. 119-20.

O Berço da Nova Revelação

A Pérsia†, berço da Revelação Bahá’í, já ocupou um lugarsem igual na história do mundo. Nos dias da sua primitiva grandezaera uma verdadeira rainha entre as nações, não rivalizada emcivilização, em poder ou esplendor. Deu ao mundo grandes reis eestadistas, profetas e poetas, artistas e filósofos. Zoroastro, Ciro eDario, Háfis e Firdawsí, Sa’dí e Omar Khayyám são apenas umapequena parcela de seus inúmeros filhos ilustres. Era insuperável ahabilidade dos seus artífices; seus tapetes eram inigualáveis, suascutelarias inimitáveis, sua cerâmica de fama mundial. Em toda partedo Oriente Próximo e Médio deixou traços de sua grandeza antiga.

Não obstante, nos séculos dezoito e dezenove achava-se numestado de deplorável degradação. Sua antiga glória pareciairremediavelmente perdida. Seu governo tornara-se corrupto e suascondições financeiras eram extremamente críticas; alguns de seusgovernantes eram incapazes, outros de uma crueldade monstruosa.Seu clero era intolerante e seu povo ignorante e supersticioso. Amaioria pertencia a uma seita muçulmana, denominada xiita‡, masexistia também um número considerável de zoroastrianos, judeus e

Capítulo 2

O BÁB: O PRECURSOR

*Xá Muhammad.†Hoje: Irã.‡Uma das duas grandes facções – xiita e sunita – nas quais o Islã foi subdividido pouco

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13O BÁB: O PRECURSOR

cristãos, de seitas diversas e antagônicas. Todos se diziam adeptosde sublimes instrutores que os exortavam a adorar a um Deus únicoe a viver em amor e união, mas, não obstante, evitavam-se uns aosoutros mostrando ódio e escárnio, e cada seita julgando as demaiscomo impuras, como cães ou pagãos. Havia amaldiçoamento eexecração em grau assustador. Era perigoso um judeu ou umzoroastriano andar nas ruas num dia chuvoso, pois se a sua roupamolhada tocasse um muçulmano, este se considerava poluído e ooutro talvez pagasse com a vida a ofensa cometida. Quando ummuçulmano recebia pagamento de um judeu, zoroastriano ou cristão,antes de pôr o dinheiro no bolso tinha que lavá-lo. Se um judeu viaum filho dar um copo d’água a um pobre mendigo muçulmano,arremessava-lhe o copo das mãos, pois a maldição e não a bondadeera o quinhão do infiel! Os próprios muçulmanos estavam divididosem várias seitas entre as quais ocorriam freqüentemente lutas amargase violentas. Os zoroastrianos participavam menos dessasrecriminações mútuas, preferindo viver em comunidades separadas,sem nenhum contato com seus compatriotas de outros credos.

As condições sociais, tanto quanto as religiosas, haviamchegado a um estado de desesperada decadência. A educação eranegligenciada; as ciências e artes ocidentais eram consideradascontrárias à religião. A justiça era uma farsa. As estradas nenhumasegurança ofereciam aos viajantes; prevaleciam a pilhagem e o roubo.A falta de saneamento era lamentável.

Apesar de tudo isso, porém, a luz da vida espiritual não estavaextinta na Pérsia. Aqui e ali, em meio ao mundanismo e à superstiçãoprevalecentes, ainda podiam-se encontrar algumas almas santas, emuitos corações nutriam o ardente desejo de conhecer a Deus,semelhantes aos corações de Ana e Simeão antes do aparecimentode Jesus. Muitos esperavam ansiosamente um prometido Mensageirode Deus, confiantes de que o Seu advento estava próximo. Tal era oestado de coisas na Pérsia quando o Báb, Arauto de uma nova era,despertou a atenção de todo o país com a Sua Mensagem.

depois da morte de Muhammad. Os xiitas sustentam que ‘Alí, o genro de Muhammad, foio primeiro legítimo sucessor do Profeta, e que somente seus descendentes são os califasverdadeiros.

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14 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Infância e Juventude

Mírzá ‘Alí Muhammad, que depois assumiu o título de Báb(isto é, Porta) nasceu em Shíráz, no sul da Pérsia, em 20 de outubrode 1819 (primeiro dia de Muharram, 1235 d.h.). Era um Siyyid,isto é, um descendente do Profeta Muhammad. Seu pai, umconhecido negociante, morreu pouco depois de Seu nascimento,ficando Ele aos cuidados de um tio materno, comerciante em Shíráz,que O criou. O Báb aprendeu a ler na infância, recebendo a educaçãoelementar usual.* Aos quinze anos entrou no comércio, primeirocom Seu tutor, depois com outro tio que morava em Búshihr, nascostas do Golfo Pérsico.

Quando jovem, distinguia-Se pela grande formosura pessoale o encanto de Suas maneiras, como também por Sua piedadeexcepcional e nobreza de caráter. Era infalível na observância dasorações, jejum e outros ritos da religião muçulmana, e não somenteobedecia ao pé da letra, como vivia o espírito dos ensinamentos doProfeta. Casou-Se com cerca de vinte e dois anos de idade. O filhonascido deste casamento morreu quando ainda criança, no primeiroano do ministério do Báb.

*Sobre este ponto observa um historiador: “A crença de muitas pessoas no Oriente,entre os adeptos do Báb (agora bahá’ís) especialmente, é que o Báb não recebeuinstrução alguma, mas que os mullás, a fim de rebaixá-Lo aos olhos do povo, diziamque sabedoria tão profunda e tão grandes conhecimentos como os possuídos por Elesó poderiam ser atribuídos à instrução que recebera. Depois de profundas pesquisassobre a veracidade deste assunto, encontramos evidências que demonstram quedurante Sua infância Ele freqüentou por um curto período de tempo a casa doShaykh Muhammad (também conhecido por ‘Ábid), onde aprendeu a ler e escrevero persa. Foi a isto que o Báb referiu-Se quando escreveu no livro de Bayán: ÓMuhammad! Ó Meu professor”!...

“Mas o que é interessante notar é que este Shaykh, Seu professor, tornou-se umdedicado discípulo do próprio aluno, e o tio do Báb, Hájí Siyyid ‘Alí, também veioa ser adepto sincero, sendo martirizado por ser bábí”.

A compreensão destes mistérios é dada àqueles que buscam a verdade, massabemos que a educação recebida pelo Báb foi apenas elementar e que qualquer sinalextraordinário de grandeza e conhecimento por Ele manifestado era inato e procedentede Deus”.

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15O BÁB: O PRECURSOR

Declaração

Ao atingir Seu vigésimo quinto ano de idade, atendendo aomandamento divino, Ele declarou que “Deus, o Excelso, O escolherapara a missão de ser o Báb”. No livro Narrativa de um Viajante, p. 4,lemos:

Entretanto, o que pretendeu pelo termo Báb foi que Ele era ocanal de graça de um grande Ser ainda atrás do véu da Glória –Aquele que era o possuidor de incontáveis e ilimitadasperfeições – através da vontade de Quem, Ele movia-Se, epelo vínculo do amor de Quem, Ele apegava-Se.

A crença na iminente aparição de um Mensageiro Divinoprevalecia naqueles dias, principalmente entre uma seita conhecidacomo os shaykhís, e foi a um distinto membro desta seita, chamadoMullá Husayn Bushrú’í, que o Báb primeiro declarou Sua missão.A data exata desta declaração, segundo o Bayán, uma das obras doBáb, foi a véspera do quinto dia do mês de Jamádíyu’l-Avval 1260d.h.*, isto é, 23 de maio de 1844 d.C., duas horas e onze minutosdepois do pôr do sol. ‘Abdu’l-Bahá nasceu durante a mesma noite,não se tendo verificado, porém, a hora exata. Após alguns dias deansiosa investigação e estudo, Mullá Husayn tornou-se firmementeconvencido de que o Mensageiro de há muito esperado pelos xiitasaparecera de fato. Seu ardente entusiasmo por esta descoberta cedofoi partilhado por vários de seus amigos. Dentro de pouco tempo amaioria dos shaykhís aceitou o Báb, tornando-se conhecidos porbábís; e logo a fama do jovem Profeta começou a alastrar-serapidamente por todo o país.

A Disseminação do Movimento Bábí

Os dezoito primeiros discípulos do Báb foram denominados“Letras do Vivente”, sendo Ele próprio a décima nona. Estes*d.h. – depois da hégira (isto é, a fuga de Muhammad de Meca a Medina em 622d.C.).

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16 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

discípulos Ele os enviou as diferentes partes da Pérsia e do Turquestãopara anunciarem o Seu advento, enquanto Ele próprio empreendeuuma peregrinação à Meca, lá chegando em dezembro de 1844 edeclarando abertamente a Sua missão. Ao regressar a Búshihr, causougrande agitação por haver-Se proclamado o Báb. O fogo de Suaeloqüência, o prodígio de Seus escritos rápidos e inspirados, Suaextraordinária sabedoria e conhecimento, Sua coragem e Seu zelode reformador despertaram entre Seus discípulos o maiorentusiasmo, excitando porém, um grau correspondente de alarme einimizade entre os ortodoxos muçulmanos. Os doutores xiitasdenunciaram-No com veemência e persuadiram o governador deFárs, chamado Husayn Khán, um tirano fanático, a empreender asupressão da nova heresia. Começou então para o Báb uma longasérie de encarceramentos, deportações, interrogatórios diante detribunais, açoites e indignidades, que só terminaram com Seumartírio em 1850.

Outras Declarações do Báb

A hostilidade que Ele provocara com a declaração de ser oBáb, redobrou quando o jovem Reformador procedeu em seguida àproclamação de ser Ele próprio o Mihdí (Mahdi), cuja vindaMuhammad predissera. Os xiitas identificaram esse Mihdí como odécimo segundo imame*, que segundo suas crenças desapareceramisteriosamente de entre os homens havia cerca de mil anos.Acreditavam que ele ainda estivesse vivo e devesse reaparecer nomesmo corpo, e interpretaram em seu sentido material as profeciasrelativas ao seu domínio, à sua glória, às suas conquistas, e aos “sinais”de seu advento, justamente como fizeram os judeus no tempo deCristo com referência às profecias similares sobre o Messias.Esperavam que ele aparecesse com uma soberania terrestre e umexército numeroso, e que declarasse sua revelação fazendo ressuscitaros mortos, etc. Por não haverem aparecido esses sinais, os xiitasrejeitaram o Báb com o mesmo escárnio feroz que os judeus*O imame dos xiitas é o divinamente ordenado sucessor do Profeta, a quem devemtodosos fiéis obedecer. Onze pessoas, sucessivamente, ocuparam o lugar de Imame, tendo oprimeiro sido ‘Alí, o primo e genro do Profeta. A maioria dos xiitas afirma

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17O BÁB: O PRECURSOR

mostraram para com Jesus. Os bábís, por outro lado, interpretaramfigurativamente muitas das profecias. Consideravam a soberania doPrometido como aquela do Galileu – “Homem das Tristezas” – umasoberania mística; como espiritual a Sua glória, e não terrena; Suasconquistas como sendo sobre as cidades dos corações dos homens; eencontraram provas abundantes da declaração do Báb em Sua vidae ensinamentos maravilhosos, em Sua fé inabalável, Sua convicçãoinvencível, e em Seu poder de ressuscitar espiritualmente aquelesque estavam nas sepulturas do erro e da ignorância.

O Báb, entretanto, não Se limitou ao título de Mihdí. Eleadotou o título sagrado de “Nuqtiyiúlá” ou “Ponto Primordial”.Este fora o título aplicado ao próprio Muhammad pelos Seusdiscípulos. Mesmo os imames eram de importância secundária emrelação ao “Ponto”, de Quem recebiam sua inspiração e autoridade.Ao assumir este título, o Báb, semelhantemente a Muhammad,entrou na série dos grandes Fundadores de Religião e por isso foiconsiderado pelos xiitas um impostor, do mesmo modo queacontecera com Seus predecessores, Moisés e Jesus. Ele inaugurouaté um novo calendário, restaurando o ano solar e indicando o anode Sua própria Declaração como início da Nova Era.

Aumentam as Perseguições

Em conseqüência destas declarações do Báb e da alarmanterapidez com que pessoas de todas as classes, ricas e pobres, doutas eignorantes, aceitavam entusiasticamente Seus ensinamentos, astentativas de supressão tornavam-se cada vez mais impiedosas eresolutas. Lares eram pilhados e destruídos. Mulheres agarradas elevadas embora. Em Teerã, Fárs, Mázindarán e outros lugaresexecutaram grande número de adeptos. Muitos eram decapitados,enforcados, arremessados das bocas de canhões, queimados ouretalhados. A despeito de todas estas tentativas de repressão, porém,o Movimento progredia, ou melhor, através desta mesma opressão,a firmeza dos adeptos aumentava, pois em tudo isto viram oque o décimo-segundo Imame, por eles denominado o Imame Mihdí, enquantoainda criança, desapareceu numa passagem subterrânea em 329 d.h., e que no devidotempo aparecerá, vencerá os infiéis e inaugurará uma era de felicidade.

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18 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

cumprimento literal de muitas profecias a respeito da vinda doMihdí. Assim, numa tradição mencionada por Jábir, tida pelos xiitascomo autêntica, lemos:

Ele encerrará a perfeição de Moisés, a preciosidade de Jesus, e apaciência de Jó; em seu tempo, seus santos serão humilhados esuas cabeças serão trocadas como presentes, como o foram asdos turcos e dos deylamitas; eles serão mortos e queimados; ehaverá medo, temor e consternação; a terra será tinta pelo seusangue e suas mulheres cairão em prantos; são estes, de fato,meus santos.

New History of the Báb, traduzida pelo professor E. G. Browne, p. 132.

Martírio do Báb

Em 9 de julho de 1850*, o próprio Báb, que contava entãotrinta e um anos de idade, caiu vítima da fúria fanática dos Seusperseguidores. Com um jovem e devotado discípulo, de nome ÁqáMuhammad ‘Alí, que havia pedido insistentemente que lhe fossepermitido compartilhar do Seu martírio, foi o Báb conduzido aocadafalso do velho largo do quartel de Tabríz. Aproximadamente àsdez horas da manhã, foram amarrados por baixo dos braços edependurados de tal modo que a cabeça de Muhammad ‘Alírepousava no peito do seu querido Mestre. Um regimento desoldados armênios foi formado e recebeu ordem de fogo. Osestampidos logo se fizeram ouvir, mas quando a fumaça se dissipou,constatou-se que o Báb e Seu companheiro estavam ainda vivos. Asbalas haviam apenas decepado as cordas pelas quais estavamsuspensos, de modo que haviam caído ao chão, ilesos. O Báb seguiupara um cômodo próximo, onde foi encontrado conversando comum de Seus amigos. Ao meio-dia, mais ou menos, foram outra vezsuspensos. Os armênios, que haviam considerado o resultado dosseus disparos um milagre, recusaram-se a atirar novamente, de modoque um outro regimento de soldados teve que ser trazido ao cenário.*Sexta-feira, 28 de Sha’bán, 1266 d.h.

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19O BÁB: O PRECURSOR

Desta vez os tiros surtiram efeito. Os corpos de ambas as vítimasforam crivados de balas e horrivelmente mutilados; seus rostos,porém, permaneceram quase intactos.

Com este ato vil, o largo do quartel de Tabríz tornou-se umsegundo Calvário. Os inimigos do Báb vibraram com o triunfoculposo, pensando que a odiada árvore da Fé Bábí estivesse agoracortada pela raiz, e que sua destruição completa seria fácil! Poucodurou, porém, seu triunfo! Não compreenderam que jamais a Árvoreda verdade poderia ser derrubada por um machado material. Malpoderiam imaginar que o próprio crime por eles perpetrado foi omeio de dar maior vigor à Causa. O martírio do Báb realizou Seudesejo há muito nutrido e inspirou em Seus adeptos um zelo maisintenso. Tal era o ardor de seu entusiasmo espiritual, que os maisamargos ventos da perseguição outro efeito não surtiram senão o delhe aumentar a intensidade. Quanto mais se esforçavam por extingui-las, mais alto subiam as chamas.

Túmulo no Monte Carmelo

Após o martírio do Báb, Seus restos mortais, com os de Seudevotado companheiro, foram atirados à beira do fosso fora dos murosda cidade. Na noite seguinte alguns bábís conseguiram removê-los,à meia-noite e, depois de guardados durante muitos anos emdepósitos secretos na Pérsia, foram finalmente levados com grandeperigo e dificuldade para a Terra Santa. Lá estão agora enterrados,num túmulo lindamente situado no declive do Monte Carmelo,não distante da Caverna de Elias e apenas a poucas milhas do lugaronde Bahá’u’lláh passou os últimos anos de vida e onde jazem agoraSeus restos mortais. Entre os milhares de peregrinos que de todas aspartes do mundo vêm prestar homenagem no Túmulo Sagrado deBahá’u’lláh, nenhum deixa de oferecer uma prece também noSantuário de Seu devotado Precursor, o Báb.

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20 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Escritos do Báb

Volumosos foram os Escritos do Báb, e a rapidez com que,sem estudo ou premeditação, Ele fez esmerados comentários,exposições profundas ou preces eloqüentes, era tida como uma dasprovas da Sua inspiração divina. Pode-se resumir do seguinte modoo conteúdo de Seus vários Escritos:

Alguns destes são comentários e interpretações dos versículosdo Alcorão; outros são orações, sermões e alusões ao verdadeirosignificado de certas passagens; enquanto outros sãoexortações, admonições, dissertações sobre os diversos ramosda doutrina da Unidade Divina, demonstrações da especialmissão profética do Senhor das coisas existentes(Muhammad), e (conforme compreendemos) encorajamentospara o aperfeiçoamento do caráter, desprendimento dosestados mundanos e dependência das inspirações de Deus.Mas a essência e significado das Suas composições eram oselogios e descrição daquela Realidade que claramente foi Seuúnico objetivo e propósito, Seu Bem-Amado e Seu anelo*.Pois, Ele considerou Sua própria vinda como Aquele arautodas boas-novas, e considerou Sua verdadeira natureza comosendo meramente um meio para manifestar as maioresperfeições dAquele Ser. E realmente, Ele não cessava dia enoite de celebrá-Lo nem por um único instante, mascostumava dizer a todos os Seus seguidores que deveriamesperar Sua vinda. De tal maneira que Ele declara em SeusEscritos: Eu não sou senão uma letra desse poderosíssimolivro, uma gota de orvalho desse oceano ilimitado, e quandoEle aparecer, a Minha verdadeira natureza, os Meus mistériose enigmas, se tornarão evidentes, e o embrião desta religiãose desenvolverá através dos graus da sua existência e suaevolução, e atingirá a posição ‘da mais perfeita forma’†, e seadornará com o manto do ‘Louvado seja Deus, Criador porexcelência...’‡ e tão inflamado estava o Báb com a chama de

*Bahá’u’lláh.†Alcorão, 95:4.‡Alcorão, 23:14.

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21O BÁB: O PRECURSOR

Bahá’u’lláh que a comemoração dEle era a vela luminosa deSuas noites escuras na fortaleza de Mákú, e a lembrança dEleera o melhor dos companheiros nas dificuldades da prisão deChihríq. Por meio disso, o Báb obteve grande elevaçãoespiritual. Com Seu vinho inebriava-Se e na lembrança dEle,o Báb regozijava-Se.

‘Abdu’l-Bahá. Narrativa de um Viajante, pp. 43-45.

Aquele que Deus Tornará Manifesto

Compara-se às vezes o Báb a João Batista, mas a Sua Missãonão foi meramente a de arauto ou precursor. O Báb foi em Si umManifestante de Deus, o Fundador de uma religião independente,embora limitada em tempo a um curto período de anos. Os bahá’ísacreditam que o Báb e Bahá’u’lláh foram Co-Fundadores da sua Fé,sendo as seguintes palavras de Bahá’u’lláh testemunho desta verdade:“Que tão breve período tenha separado esta mais poderosa eadmirável Revelação e Minha própria Manifestação anterior, é umsegredo que nenhum homem pode desvendar e um mistério quemente alguma pode penetrar. Sua duração havia sido preordenada,e ninguém jamais descobrirá sua razão, a não ser que, e não antes deinformar-se do conteúdo do Meu Livro Oculto.” Em Suas referênciasa Bahá’u’lláh, porém, o Báb mostrou uma humildade absoluta,declarando que, no dia de “Aquele que Deus tornará manifesto”:

Ouvir e recitar um único versículo dEle é melhor do querecitar mil vezes o Bayán [isto é, a Revelação do Báb].

O Báb citado por E. G. Browne em: A Traveller’s Narrative, p. 349.

Ele julgava-Se feliz em suportar qualquer aflição, se assimprocedendo, pudesse, ainda que no mínimo grau, aplainar a sendapara “Aquele que Deus tornará manifesto”, Aquele que era, diziaEle, a fonte única da Sua inspiração e o objeto único do Seu amor.

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22 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Ressurreição, Paraíso e Inferno

Constituem uma parte importante dos ensinamentos do Bábas Suas explicações dos termos ressurreição, juízo final, paraíso einferno. Entende-se pelo termo ressurreição, diz Ele, o aparecimentode uma nova Manifestação do Sol da Verdade. A ressurreição dosmortos significa o despertar espiritual dos que dormem no túmuloda ignorância, negligência e luxúria. O Dia do Juízo Final é o Diada nova Manifestação, quando as ovelhas pela aceitação ou rejeiçãoà Sua Revelação, serão separadas das cabras, pois as ovelhas conhecema voz do Bom Pastor e O seguem. Paraíso é a felicidade de conhecere amar a Deus, como revelado por Seu Manifestante, atingindoassim a mais alta perfeição de que o homem é capaz, e após a morteobtendo entrada no Reino de Deus e na vida eterna. Inferno ésimplesmente a privação desse conhecimento de Deus, com oconseqüente insucesso em atingir a perfeição divina, e a perda doFavor Eterno. Ele declara definitivamente que estes termos não têmnenhuma outra verdadeira significação a não ser esta, e que as idéiasprevalecentes sobre a ressurreição do corpo físico, um céu e uminferno materiais, e outras coisas semelhantes são meros produtosda imaginação. Ensina que há vida após a morte, e que o progressono caminho para a perfeição é ilimitado.

Ensinamentos Sociais e Éticos

O Báb, em Seus Escritos, exorta Seus discípulos adistinguirem-se pela cortesia e pelo amor fraternal. Os ofícios e asartes úteis devem ser cultivados. A educação elementar deve ser geral.Nesta nova e maravilhosa Dispensação, agora em seu início, a mulherhá de ter mais completa liberdade. O tesouro público terá que proverao pobre os meios de subsistência, porém sendo estritamenteproibida a mendicância, bem como o uso de bebidas alcoólicas.

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23O BÁB: O PRECURSOR

O princípio orientador do verdadeiro bábí deve ser o amorpuro, sem a esperança de recompensa ou o medo de punição. Assimdiz Ele no Bayán:

Adora a Deus de tal modo, que se a recompensa da tua adoraçãoa Ele fosse o fogo, nenhuma alteração sofreria a tua adoração.Adorar a Deus por medo é indigno do limiar da Sua santidade....Assim também, se a tua contemplação estiver no Paraíso, e setua adoração na esperança de alcançá-lo, fizeste da criação deDeus Sua co-participante.

Bábís of Persia II, por professor E. G. Browne, J.R.A.S., vol. XXI, p. 931.

Paixão e Triunfo

Estas palavras que acabamos de citar revelam o espírito queanimou a vida inteira do Báb. Conhecer e amar a Deus, espelharSeus atributos e preparar o caminho para Sua próxima Manifestação– estas foram a meta e o objeto único do Seu ser. Para Ele a vida nãotinha terrores, nem a morte aguilhão, pois o amor expulsara o medo,e o próprio martírio não era senão o enlevo de sacrificar Seu todoaos pés do Seu Bem-Amado.

Como é extraordinário que esta pura e bela Alma, esteinspirado expositor da Verdade Divina, este fervoroso amante deDeus e de Seus semelhantes fosse tão odiado e finalmente mortopelos ditos religiosos de Sua época! Seguramente, nada, a não serum preconceito irrefletido ou proposital, poderia cegar os homensao fato de aqui haver, em verdade, um Profeta, um Santo Mensageirode Deus. Grandeza e glória mundanas, Ele não as possuía, mas quala maneira de se dar provas de Poder e Domínio espirituais, a não serpela capacidade de dispensar qualquer auxílio material e triunfarsobre toda a oposição terrena, ainda mesmo a mais potente evirulenta? Como pode o Amor Divino ser demonstrado a um mundodescrente, senão pelo seu poder de resistir até o fim aos golpes dacalamidade e aos dardos da aflição, ao ódio dos inimigos e à perfídia

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24 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

dos falsos amigos, levantar-se sereno sobre todos eles e, semconsternação e ressentimento, ainda perdoar e abençoar?

O Báb resistiu e o Báb triunfou. Milhares sacrificaram, emdedicação à Sua Causa, todas as possessões e a própria vida, comoprova da sinceridade do seu amor por Ele. Bem poderiam os reisinvejar Seu poder sobre o coração e a vida dos homens. E, alémdisso, “Aquele que Deus tornará manifesto” apareceu, confirmou asdeclarações de Seu Precursor e aceitou a Sua devoção, fazendo-Opartícipe da Sua Glória.

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Capítulo 3BAHÁ’U’LLÁH: A GLÓRIA DE DEUS

Ó tu que esperas, não mais te demores, pois Ele jáveio. Vê o Seu Tabernáculo e a Sua Glória neleencerrada. É a Glória Antiga com uma novaManifestação.

Bahá’u’lláh

Nascimento e Infância

Mírzá Husayn ‘Alí, que depois adotou o título de Bahá’u’lláh(isto é, Glória de Deus), era o filho mais velho de Mírzá ‘Abbás deNúr, um vizir ou ministro de Estado. Sua família era rica e distinta,tendo muitos de seus membros ocupado cargos importantes nogoverno e nos serviços civil e militar da Pérsia. Ele nasceu em Teerã,capital da Pérsia, entre a alvorada e o nascer do sol no dia 12 denovembro de 1817*. Nunca freqüentou colégio ou escola, sendo-Lhe dada em casa a pouca instrução que recebeu. Não obstante,mesmo quando criança mostrou grande sabedoria e conhecimentosadmiráveis. Quando Bahá’u’lláh ainda era moço, Seu pai morreu,deixando-O responsável pelos irmãos mais jovens e pela direção dasextensas propriedades da família.

Sobre os primeiros anos da vida de Bahá’u’lláh, Seu filhomais velho, ‘Abdu’l-Bahá, contou uma vez ao autor deste livro oseguinte:

Desde criança, era extremamente bondoso e generoso. Gostavamuito da vida campestre e passava grande parte de Seu tempo

*2 de Muharram, 1233 d.h.

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nos jardins ou nos campos. Ele tinha um extraordinário poderde atração, que por todos era percebido. Sempre havia muitosque se aglomeravam ao Seu redor. Ministros e pessoas dacorte O rodeavam, e crianças tinham-Lhe grande afeição.Quando contava apenas treze ou quatorze anos de idade,tornou-Se célebre pelos Seus conhecimentos. Discorria sobrequalquer assunto e resolvia qualquer problema que Lhe eraapresentado. Em grandes reuniões, Ele tratava de váriosassuntos com os ulemás (os mullás mais eminentes) e explicavaintrincadas questões religiosas. Todos O ouviam com o maiorinteresse.

Quando contava vinte e dois anos de idade, Bahá’u’lláhperdeu o pai e, como era costume na Pérsia, o governo quisque ocupasse o cargo do Seu pai no Ministério. Bahá’u’lláh,entretanto, recusou. O Primeiro Ministro então disse: “Deixe-O. Tal posição não Lhe é digna. Ele tem em vista algum idealmais elevado. Não O posso entender, mas estou convencidode que está destinado a alguma carreira elevada. Seuspensamentos não são iguais aos nossos. Deixe-O.”

Preso por Ser Bábí

Quando, em 1844, o Báb declarou Sua missão, Bahá’u’lláh,então em Seu vigésimo sétimo ano, abraçou intrepidamente a Causada nova Fé, da qual cedo foi reconhecido como um dos maispoderosos e destemidos expositores.

Já por duas vezes havia Ele sido preso por ser adepto da Causae, em certa ocasião, sofrido a tortura da bastonada, quando, emagosto de 1852, houve um acontecimento de terríveis conseqüênciaspara os bábís. Sádiq, um jovem adepto do Báb, ficara tão afetadopelo martírio do seu querido Mestre, de que fora testemunha ocular,que perdeu o uso da razão e, com intuito de vingar Sua morte,armou uma cilada para o xá e disparou uma pistola contra ele. Emvez de usar uma bala, porém, carregou a arma com pequenos grãosde chumbo, e embora tivessem alguns atingido o xá, nenhum

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ferimento grave houve. O jovem arrancou o xá do seu cavalo, masfoi imediatamente preso pelos guardas de Sua Majestade e assassinadono mesmo momento. Injustamente a responsabilidade desse ato foiatribuída ao inteiro grupo dos bábís e houve, em conseqüência, umhorrível massacre. Oitenta foram mortos logo em Teerã com torturasas mais revoltantes, e muitos outros, inclusive Bahá’u’lláh,aprisionados. Tempos depois, Bahá’u’lláh escreveu:

Pela retidão de Deus! Nós não estávamos de modo algumligados àquele ato perverso e Nossa inocência foiinequivocamente estabelecida pelos tribunais. Ainda assim,eles Nos prenderam e de Níyávarán, que era então a resistênciade Sua Majestade, conduziram-Nos a pé e acorrentados, coma cabeça nua e os pés descalços, ao calabouço de Teerã. Umhomem brutal, acompanhando-Nos a cavalo, arrancou Nossochapéu, enquanto éramos apressados por uma tropa decarrascos e oficiais. Fomos condenados a quatro meses emum lugar imundo além de qualquer comparação. Quanto aocalabouço no qual este Injustiçado e outros similarmenteinjustiçados foram confinados, uma escura e estreita cova seriapreferível.

Após Nossa chegada fomos primeiro conduzidos ao longode um corredor negro como breu, do qual descemos trêsíngremes lances de escadas até o local de confinamento aNós designado. O calabouço estava envolto em densas trevase Nossos companheiros de prisão contavam cerca de cento ecinqüenta almas: ladrões, assassinos e salteadores. Emboraapinhado, não havia outra abertura senão a passagem pelaqual entramos. Pena alguma pode descrever aquele local,língua alguma descrever seu cheiro terrível. Aqueles homens,em sua maioria, não tinham roupas nem lençóis sobre osquais deitar-se. Somente Deus sabe o que Nos aconteceunaquele lugar sumamente fétido e lúgubre!

Dia e noite, enquanto confinado naquele calabouço, Nósmeditamos sobre os atos, a condição e a conduta dos bábís,

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imaginando o que poderia Ter levado um povo de tão altosprincípios, tão nobre e tal inteligência, a perpetrar ato tãoaudacioso e ultrajante contra a pessoa de Sua Majestade. EsteInjustiçado, por isso, decidiu erguer-se após ser libertado daprisão e assumir, com o máximo vigor, a tarefa de regenerareste povo.

Certa noite, em um sonho, estas excelsas palavras fizeram-se ouvir: “Em verdade, Nós Te faremos vitorioso por Ti mesmoe por Tua pena. Não Te lamentes por aquilo que Te sucedeu,nem tenhas medo, pois estás em segurança. Em breve Deuserguerá os tesouros da terra – homens que Te ajudarão por Timesmo e por Teu Nome, meio pelo qual Deus revivificou ocoração daqueles que O reconheceram.”

Epístola ao Filho do Lobo, pp. 37-38.

Exílio em Bagdá

Durante os quatro meses desse encarceramento terrível,Bahá’u’lláh e Seus companheiros continuaram dedicados, cheios deentusiasmo e no maior contentamento. Quase diariamente, um delesera torturado ou trucidado e os outros lembrados de que a próximavez poderia ser a sua. Quando os carrascos vinham buscar um deles,aquele cujo nome era chamado dançava, literalmente, com júbilo,beijava as mãos de Bahá’u’lláh, abraçava seus demais companheirosde crença e então apressava-se, com ânimo e alegria, para o lugar domartírio.

Foi provado concludentemente que Bahá’u’lláh nenhumaparte tomara na conspiração contra o xá, e o ministro russo atestoua pureza do Seu caráter. Ele estava, além disso, tão doente, que sereceava a Sua morte. Em lugar, pois, de sentenciá-Lo à morte, o xáordenou que fosse exilado a ‘Iráq-i-‘Arab, na Mesopotâmia, e paralá, quinze dias depois, Bahá’u’lláh seguiu acompanhado de Suafamília e grande número de amigos. Sofreram penosamente com ofrio e com outras durezas na longa jornada de inverno, e chegarama Bagdá em um estado de quase completa destituição.

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Assim que Sua saúde permitiu, Bahá’u’lláh começou a ensinaràqueles que pediam esclarecimentos sobre a Fé e a animar e exortaros adeptos; e em pouco tempo a paz e a felicidade reinavam entre osbábís*. Tal estado de coisas, entretanto, pouco durou. Um irmão deBahá’u’lláh por parte do pai, Mírzá Yahyá, conhecido também porSubh-i-Azal, chegou a Bagdá e logo depois começaram a surgirdivergências secretamente instigadas por ele, assim como semelhantesdivisões sucederam entre os discípulos de Cristo. Essas divergências(que mais tarde, em Adrianópolis, tornaram-se abertas e violentas)eram muito penosas para Bahá’u’lláh, cujo único ideal na vida era apromoção da unidade entre os povos do mundo.

Dois Anos no Deserto

Cerca de um ano após Sua vinda a Bagdá, Bahá’u’lláh partiusó, para o deserto de Sulaymáníyyih, levando nada mais que umamuda de roupa. Sobre este período, Ele escreve no Kitáb-i-Íqán oseguinte:

Nos primeiros dias após a Nossa chegada nesta terra,percebendo os sinais dos iminentes acontecimentos,decidimos retirar-nos antes que se realizassem. Fomos aodeserto, onde, afastados e sós, tivemos por dois anos umavida completamente solitária. Nossos olhos vertiam lágrimasangustiosas e do Nosso coração dilacerado surgia um oceanode agônicos pesares. Muitas noites não tivemos com o queNos sustentar; muitos dias Nosso corpo não encontrourepouso. Por Aquele que tem o Meu ser entre Suas mãos!Não obstante essas chuvas de aflições e calamidadesincessantes, Nossa alma estava envolta de êxtase e todo oNosso ser mostrava uma alegria inefável. Pois em Nossa solidãonão estávamos cientes do prejuízo ou benefício, saúde oudoença, de qualquer pessoa. Inteiramente sós, comungávamoscom Nosso espírito, esquecidos do mundo e de tudo o que

*Isto foi no começo do ano de 1853, ou nove anos depois da Declaração do Báb,cumprindo assim certas profecias do Báb concernentes ao “ano nove”.

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nele existe. Não sabíamos, porém, que o enredo do destinodivino excede ao mais vasto dos conceitos mortais, e o dardode Seu decreto transcende o mais audaz dos planos humanos.Ninguém pode escapar aos enredos que Ele arma – nenhumaalma pode libertar-se, a não ser pela submissão à Sua Vontade.Pela justiça de Deus! Nossa retirada não contemplavaregresso; Nossa separação não esperava nenhuma reunião. Oúnico propósito de Nossa retirada foi evitar que Nostornássemos motivo de discórdia entre os fiéis, fonte dedistúrbios entre Nossos companheiros, meio de prejuízo paraqualquer pessoa, ou causa de tristeza para algum coração.Além dessas, nenhuma intenção acariciávamos; fora dessas,nenhum propósito tivemos em vista. E não obstante, cadaum maquinava segundo seu próprio desejo e se entregava àsua vã fantasia, até a hora em que veio da Fonte mística aordem de que voltássemos para o lugar donde havíamos vindo.Rendendo Nossa Vontade à Sua, submetemo-nos à Suainjunção.

Qual a pena que possa descrever o que foi visto por Nós aoregressarmos? Passaram-se dois anos, durante os quais Nossosinimigos maquinaram assídua e incessantemente a fim deNos exterminar, assim como todos atestam.

O Kitáb-i-Íqán, pp. 152-153.

Oposição dos Mullás

Após o regresso desse retiro, Sua fama tornou-se maior doque nunca, e de toda parte iam a Bagdá muitas pessoas desejosas devê-Lo e ouvir Seus ensinamentos. Judeus, cristãos, zoroastrianos emuçulmanos interessavam-se pela nova mensagem. Os mullás(doutores muçulmanos), entretanto, assumiram uma atitude hostile tramaram persistentemente a Sua queda. Certa ocasião um delesfoi enviado para entrevistá-Lo e fazer-Lhe algumas perguntas. Oemissário achou as respostas de Bahá’u’lláh tão convincentes e Suasabedoria tão admirável, embora evidentemente não adquirida por

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meio de estudos, que se viu obrigado a confessar ser Ele, ementendimento e sabedoria, incomparável. Entretanto, a fim de queos mullás que o haviam enviado admitissem ser Bahá’u’lláh, de fato,um Profeta, pediu-Lhe que fizesse um milagre como prova.Bahá’u’lláh expressou Sua boa vontade em aceitar a sugestão, sobcertas condições, declarando que forneceria a prova desejada, ousenão, permitiria ser declarado impostor, se os mullás concordassema respeito do milagre a ser realizado e assinassem e selassem umdocumento pelo qual se comprometessem, caso fosse o milagre levadoa efeito, a confessar a validez da Sua missão e a cessar sua oposição aEle. Tivesse sido o objetivo dos mullás descobrir a verdade, esta era,sem dúvida, sua oportunidade; mas sua intenção era outra. Queriamde qualquer modo uma decisão a seu próprio favor. Tinham medoda verdade, e assim recusaram o desafio audaz. O embaraço que issolhes causou, porém, apenas instigou-os a maquinar novasconspirações para a extinção da Fé oprimida. O cônsul-geral daPérsia em Bagdá os apoiou e mandou repetidas mensagens ao xá,alegando estar Bahá’u’lláh, mais do que nunca, prejudicando areligião maometana, e ainda exercendo uma influência maligna naPérsia, devendo Ele, pois, ser exilado para algum lugar mais distante.

Nesta crise, quando os governos iranianos e turcos, instigadospelos mullás, reuniam os seus esforços para a extirpação doMovimento, Bahá’u’lláh manteve Sua calma e serenidadecaracterísticas, animando e inspirando os Seus discípulos, eescrevendo palavras imperecíveis de guia e consolo. ‘Abdu’l-Baháconta como nesse tempo Bahá’u’lláh freqüentemente ia passear aolongo das margens do Tigre, donde voltava com uma expressão alegre,escrevendo em seguida algumas daquelas jóias líricas de sábiosconselhos, As Palavras Ocultas, que têm trazido consolo e alívio amilhares de corações aflitos e magoados. Por alguns anos só existiampoucos exemplares manuscritos de As Palavras Ocultas, os quaistiveram de ser cuidadosamente escondidos para que não caíssemnas mãos dos numerosos inimigos, mas esse pequeno livro é agora,provavelmente, a mais conhecida de todas as obras de Bahá’u’lláh,

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sendo lido em todos os cantos do globo. O Kitáb-i-Íqán é outraobra de Bahá’u’lláh muito conhecida, escrita mais ou menos nomesmo período, por volta do fim de Sua estada em Bagdá (1862-1863).

Declaração em Ridván*, Proximidades de Bagdá

Após muitas negociações, a pedido do governo iraniano, foiassinada pelo governo da Turquia uma ordem chamando Bahá’u’lláha Constantinopla. Essa notícia causou grande consternação entreSeus discípulos. Afluíram à casa de seu bem-amado Mestre, a talponto que a família, enquanto a caravana se preparava para a longajornada, acampou por doze dias no jardim de Najíb Páshá, fora dacidade. Foi durante estes doze dias (21 de abril a 2 de maio de1863, isto é, dezenove anos após a declaração do Báb) que Bahá’u’lláhdeu a vários dos Seus adeptos as boas novas de ser Ele próprio oPredito pelo Báb, o Escolhido de Deus, o Prometido de todos osProfetas. O jardim onde foi feita essa memorável Declaração veio aser desde então conhecido pelos bahá’ís por “Jardim de Ridván”, eos dias que Bahá’u’lláh ali passou são comemorados com a “Festa doRidván”, anualmente celebrada no aniversário desses doze dias.Durante aqueles dias, em vez de tristeza ou desalento, Bahá’u’lláhmostrou o maior contentamento, dignidade e poder. Seus discípulostornaram-se alegres e entusiasmados, e grandes multidões vieramprestar-Lhe seus respeitos. Todas as notabilidades de Bagdá, inclusiveo próprio governador, vieram prestar suas homenagens ao Prisioneiroque iria partir.

Constantinopla e Adrianópolis

A viagem a Constantinopla durou de três a quatro meses,sendo o grupo composto por Bahá’u’lláh, membros de Sua famíliae vinte e seis discípulos. Ao chegarem em Constantinopla ficaramprisioneiros numa pequena casa que muito mal os comportava. Mais

*Pronuncia-se Rezván.

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tarde conseguiram alojamentos um pouco melhores, mas decorridosquatro meses foram transferidos novamente, desta vez paraAdrianópolis. Embora durasse poucos dias, a viagem a Adrianópolisfoi a mais terrível que realizaram. Durante quase todo o tempo aneve caía pesadamente e, como estavam desprovidos de roupasapropriadas e de alimentos, seus sofrimentos foram extremos. Noprimeiro inverno em Adrianópolis, Bahá’u’lláh e Sua família,composta de doze pessoas, foram acomodados numa pequena casade três cômodos, sem conforto e infestada de ratos e insetos. Naprimavera obtiveram alojamento mais confortável. Aqui passarammais de quatro anos e meio, e Bahá’u’lláh recomeçou a ensinar,congregando ao Seu redor um grupo numeroso. Anuncioupublicamente Sua missão e foi entusiasticamente aceito pela maioriados bábís, que daí em diante tornaram-se conhecidos por bahá’ís.Uma minoria, entretanto, sob liderança do meio-irmão deBahá’u’lláh, Mírzá Yahyá, fez-Lhe violenta oposição, e uniu-se aosantigos inimigos, os xiitas, com quem planejou Sua queda.Seguiram-se grandes distúrbios e, por fim, o governo turco baniu aambos, bábís e bahá’ís, de Adrianópolis, exilando Bahá’u’lláh e Seusadeptos para ‘Akká, na Palestina, onde chegaram, segundo Nabíl*,em 31 de agosto de 1868, enquanto Mírzá Yahyá e o seu grupoforam mandados a Chipre.

Cartas aos Reis

Nesse período, Bahá’u’lláh escreveu Sua famosa série de cartasao sultão da Turquia, a muitas das cabeças coroadas da Europa, aopapa e ao xá da Pérsia. Mais tarde, em Seu Kitáb-i-Aqdas†, dirigiu-Se a outros soberanos, aos governantes e presidentes da América,aos dirigentes da religião em geral e a todo o gênero humano.Anunciou a todos Sua missão, exortando-os a dedicar suas energiasao estabelecimento da verdadeira religião, de um governo justo e dapaz internacional. Em Sua carta ao xá, Ele pleiteou com veemênciaa causa dos oprimidos bábís e pediu para ser levado à presença*Narrador da história dos primeiros anos da Fé, contada em Os Rompedores da Alvorada.Nabíl foi participante de algumas das cenas que descreve e conheceu pessoalmente muitosdos primeiros crentes.†O Aqdas, Kitáb-i-Aqdas, O Livro de Aqdas e O Livro Mais Sagrado, todos referem-se aomesmo livro.

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daqueles que haviam instigado sua perseguição. Desnecessário dizerque não se satisfez esse pedido. Badí‘, o jovem e devotado discípuloque entregou a carta de Bahá’u’lláh, foi preso e martirizado comterríveis torturas, sendo-lhe aplicados ao corpo tijolos de barroquente!

Na mesma carta Bahá’u’lláh faz a mais comovente descriçãode Seus próprios sofrimentos e anseios:

Tenho visto, ó xá, no caminho de Deus, o que olhos jamaisviram nem ouvidos ouviram. Meus conhecidos Merepudiaram e Meus caminhos se estreitaram. A fonte do bem-estar secou-se e as folhas do caramanchão da tranqüilidademurcharam. Quão numerosas as tribulações que choveram,e que em breve choverão sobre Mim. Sigo adiante, com aface volvida para Aquele que é o Onipotente, o Todo-Generoso, enquanto atrás de Mim desliza a serpente. Meusolhos têm derramado lágrimas até ensopar Meu leito.

Minha tristeza não é por Minha própria causa, entretanto.Por Deus! Nunca passei por uma árvore sem que Meu coraçãonão lhe tivesse dirigido estas palavras: “Oxalá fosses cortadaem Meu nome, e Meu corpo sobre ti crucificado, na veredade Meu senhor!”, pois vejo o povo vagando desatento einconsciente em seu estupor embriagado. Elevaram às alturassuas paixões e diminuíram seu Deus. Parece-Me que tomaramSua Causa por zombaria e a consideram uma brincadeira eum passatempo, acreditando o tempo todo que agem bem, eque habitam com segurança na cidadela da proteção. Nãoobstante, o assunto não é como eles insensatamenteimaginam: amanhã verão aquilo que hoje estão habituados anegar!

Dentro em breve, os expoentes da riqueza e do poder Nosbanirão da terra de Adrianópolis para a cidade de ‘Akká. Deacordo com o que se diz, é a mais desoladora cidade de todoo mundo, a de mais feio aspecto, mais detestável por ser ametrópole das corujas, dentro de cujos arredores nada se pode

*A fim de serem sepultados dois daqueles que morreram, Bahá’u’lláh deu Seu própriotapete para que, com o produto da sua venda, se atendesse às despesas do sepultamento,mas, em lugar de usarem o dinheiro para esse fim os soldados lançaram mão dele ejogaram os cadáveres num buraco feito na terra. (‘Abu’l-Husayn Ávárih Tafti,historiador persa.)

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ouvir, salvo o eco de seu lamento. Lá resolveram aprisionareste Servo, para que se fechem, diante de Nossas Faces, asportas da tranqüilidade e do conforto, e para nos privaremde cada benefício deste mundo, ao longo do restante de nossosdias.

Por Deus! Embora a fadiga Me abata e a fome Me consuma,a rocha dura seja Meu leito e as feras do deserto Minhascompanheiras, não Me queixarei, mas, sim, sofrereipacientemente, como sofreram aqueles dotados de constânciae firmeza, através do poder de Deus, o Rei Eterno e Criadordas nações, e agradecerei a Deus sob todas as condições.Pedimos que, por Sua bondade – exaltado seja Ele Pedimosque, por Sua bondade – exaltado seja Ele – através desteencarceramento, Ele livre das cadeias e correntes os pescoçosdos homens e os leve a volverem-se, com face sincera, para aFace dAquele que é o Potente, o Generoso. Prontamente, Eleresponde a quem O invoca, e próximo está de quem com Elecomunga. Imploramos, ademais, que Ele faça desta tribulaçãosombria uma proteção para o Templo de Sua Causa, e aproteja do ataque das espadas afiadas e das adagaspontiagudas. A adversidade tem sempre dado origem àexaltação de Sua Causa e à glorificação de Seu Nome. Taltem sido o método de Deus levado a cabo nos séculos e eraspassadas.

‘Abdu’l-Bahá. Narrativa de um Viajante, pp. 111-112.

Prisão em ‘Akká

Naquele tempo ‘Akká (Acre) era uma cidade-prisão para ondeeram mandados os piores criminosos de toda parte do Império Turco.Aí chegando, após uma penosíssima travessia marítima, Bahá’u’lláhe Seus adeptos – uns oitenta a oitenta e quatro, incluindo homens,mulheres e crianças – foram encarcerados no quartel do exército.Estava extremamente sujo e sombrio. Não havia camas nem confortode espécie alguma. O alimento era tão ruim e insuficiente que,depois de algum tempo, os presos imploraram permissão paracomprar sua própria comida. Durante os primeiros dias as crianças

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choravam continuamente e era quase impossível dormir. Malária,disenteria e outras doenças cedo se manifestaram, e todos, comexceção de dois, caíram vítimas. Três faleceram, e os sofrimentos dossobreviventes eram indescritíveis*.

Essa prisão rigorosa durou por mais de dois anos e, duranteeste período a nenhum dos bahá’ís era permitido transpor os umbraisda porta da prisão, a não ser no caso de quatro homens que saíamdiariamente sob cuidadosa vigilância para comprar alimentos.Durante o encarceramento no quartel, visitas aos presos eramestritamente proibidas. Vários bahá’ís da Pérsia fizeram todo ocaminho a pé, a fim de verem seu querido Líder, mas não lhes foipermitido adentrar as muralhas da cidade. Costumavam ir a umaplanície além do terceiro fosso, donde podiam ver as janelas docompartimento de Bahá’u’lláh, que a eles Se mostrava numa dasjanelas. Depois de fitá-Lo à distância, voltavam em prantos paraseus lares, mas inflamados com um novo entusiasmo pelo sacrifícioe dedicação.

Restrições Abrandadas

A prisão foi por fim mitigada. Houve mobilização das tropasturcas e o quartel foi requisitado para os soldados. Bahá’u’lláh e Suafamília foram transferidos para uma casa nas imediações e Seusadeptos foram acomodados numa estalagem na cidade. Bahá’u’lláhpermaneceu por mais sete anos confinado nessa casa. Num pequenoquarto próximo àquele que Lhe foi designado, treze pessoas de Suafamília, de ambos os sexos, tiveram que se acomodar como melhorpuderam! No início de sua permanência nesta casa, sofreramexcessivamente em conseqüência da insuficiente acomodação,alimentação inadequada e falta das comodidades usuais da vida.Depois de certo tempo, porém, alguns quartos adicionais forampostos à sua disposição, podendo eles assim viver com relativoconforto. Depois que Bahá’u’lláh e Seus companheiros deixaram oquartel, visitas eram-lhes permitidas, e gradativamente as severas

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restrições impostas pelas ordens imperiais foram sendo relaxadasmais e mais, embora de vez em quando novamente impostas poralgum tempo.

Abrem-se os Portões da Prisão

Mesmo durante a pior época de encarceramento, os bahá’ísnão desanimaram e sua serena confiança jamais foi abalada. Enquantoainda no quartel de ‘Akká, Bahá’u’lláh escreveu a alguns amigos:“Não tenhais medo. Estas portas abrir-se-ão. Minha tenda seráerguida no Monte Carmelo e o maior contentamento será alcançado.”Esta declaração foi uma grande fonte de consolo para Seus adeptose, no devido tempo, foi literalmente cumprida. A história de comose abriram as portas da prisão é melhor contada nas palavras de‘Abdu’l-Bahá, traduzidas pelo Seu neto, Shoghi Effendi:

Bahá’u’lláh amava a beleza e o verdor dos campos. Um diaEle fez a seguinte observação: “Há nove anos não vejo o verdordos campos. O campo é o mundo da alma, a cidade é omundo do corpo.” Ao saber indiretamente destas palavras,compreendi que Ele desejava ir ao campo e eu estava certoque seria bem sucedido em qualquer tentativa de satisfazeresse Seu desejo. Havia em ‘Akká, nesse tempo, um homemchamado Muhammad Páshá Safwat, que nos fazia muitaoposição. Ele tinha um palácio chamado Mazra‘ih, a cercade seis quilômetros e meio ao norte da cidade, um lugar muitoaprazível, cercado por jardins e com água corrente. Fui fazeruma visita a esse páshá. Disse-lhe: “Pashá, deixastes vazio ovosso palácio e estais vivendo em ‘Akká.” Ele retrucou: “Souinválido, não posso deixar a cidade. Se for para o campo ficareisó, privado da companhia de meus amigos.” “Enquanto nãoestiverdes morando lá e a casa estiver desocupada, alugai-apara nós”, disse-lhe eu. A princípio surpreendeu-se com aproposta, mas logo consentiu. Arrendei a propriedade porum preço muito baixo, cerca de cinco libras esterlinas anuais,

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paguei-o por cinco anos e assinei um contrato. Envieitrabalhadores para fazer alguns reparos na casa, tratar dojardim e construir um banheiro. Também havia preparadouma carruagem para o uso da Abençoada Beleza*. Um dia,resolvi ir ver o lugar. Não obstante as reiteradas ordenscontidas em sucessivos firmãs [ordem emanada de umsoberano ou autoridade muçulmana] proibindo a nossapassagem além dos muros da cidade, saí pelo portão da cidade.Soldados estavam de guarda, mas não fizeram nenhumaobjeção; então fui diretamente ao palácio. No dia seguintesaí novamente, acompanhado de alguns amigos e oficiais,sem sermos molestados ou barrados, embora os guardas esentinelas estivessem a postos em ambos os lados dos portõesda cidade. Em outra ocasião, convidei os oficiais enotabilidades de ‘Akká para um banquete, que eu haviapreparado, à sombra dos pinheiros de Bahjí, e à noite todosregressamos à cidade juntos.

Um dia, fui à Santa Presença da Abençoada Beleza e disse:“O palácio de Mazra‘ih está pronto para Vós, como tambémuma carruagem para Vos conduzir até lá.” Bahá’u’lláhrecusou-Se a ir, dizendo-me: “Sou prisioneiro.” Mais tarde,pedi-Lhe outra vez, mas recebi a mesma resposta. Pela terceiravez voltei à Sua presença, mas Ele ainda disse “Não!”, e eunão ousei insistir mais. Havia, entretanto, em ‘Akká, um certoMuhammadan Shaykh, homem bem conhecido e de muitainfluência, que tinha uma grande afeição por Bahá’u’lláh e aquem Ele concedia muitos favores. Chamei esse shaykh eexpus-lhe a situação. Eu disse: “Vós sois ousado. Ide hoje ànoite à Sua Santa Presença, ajoelhai-vos diante dEle, segurai-Lhe as mãos e não O deixeis enquanto não vos prometer sairda cidade”!... Ele era árabe... foi diretamente a Bahá’u’lláh esentou-se perto de Seus joelhos. Tomando as mãos daAbençoada Beleza e beijando-as, perguntou: “Por que nãodeixais a cidade”? “Sou prisioneiro”, disse Bahá’u’lláh. “Deusnos livre!”, respondeu o shaykh, “Quem tem o poder de Vos

*Jamál-i-Mubárak (literalmente, Abençoada Beleza), título freqüentemente aplicadoa Bahá’u’lláh pelos Seus adeptos e amigos.

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fazer prisioneiro? Vós Vos tendes conservado na prisão. FoiVossa própria vontade ser encarcerado e agora Vos imploro asair e ir ao palácio. Está bonito e verdejante. As árvores estãolindas, e as laranjas parecem bolas de fogo!” Assim que aAbençoada Beleza dizia, “Sou um prisioneiro, não pode ser”,o shaykh tomava Suas mãos e beijava-as. Por uma hora inteiraesteve a implorar. Finalmente Bahá’u’lláh disse, “khaylí khub”(muito bem) e, assim, a paciência e a persistência do shaykhforam recompensadas*. Ele veio com grande alegria dar-meas boas novas do consentimento de Sua Santidade. A despeitodo estrito firmã de ‘Abdu’l-‘Azíz que me proibia de encontrar-me ou de ter qualquer relacionamento com a AbençoadaPerfeição, tomei a carruagem no dia seguinte e O levei até opalácio. Ninguém fez qualquer objeção.

Durante dois anos Bahá’u’lláh permaneceu nessefascinante e encantador lugar. Foi então decidido que nosmudássemos para uma outra casa em Bahjí. Por causa deuma epidemia, irrompida em Bahjí, o dono da casa, comtoda a família, havia-se retirado com pavor, disposto a cedê-la gratuitamente a qualquer pretendente. Alugamos a casapor um preço muito baixo, e aí foram as portas da majestadee da verdadeira soberania completamente abertas. Emboranominalmente um prisioneiro (pois os severos firmãs dosultão ‘Abdu’l-‘Azíz nunca foram anulados), Bahá’u’lláhmostrava de fato tal nobreza e dignidade em Seu porte e Suavida, que todos Lhe tinham grande reverência e os governantesda Palestina invejavam-Lhe a influência e o poder.Governadores e mutasarrifs, generais e altos funcionários dolugar solicitavam-Lhe humildemente a honra de seremadmitidos à Sua presença – pedido a que raramente Ele acedia.

Em uma ocasião, um governador da cidade implorou estefavor porque havia recebido de autoridades superiores a ordemde ir, acompanhado de certo general, visitar a AbençoadaPerfeição. Sendo satisfeito o pedido, foram; e o general, queera europeu e um homem muito corpulento, ficou tão

*Khayli khúb é língua persa. Shaykh ‘Alíy-i-Mirí era o mutfí de ‘Akká.

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impressionado com a majestosa presença de Bahá’u’lláh quepermaneceu ajoelhado próximo à porta. Tal foi oconstrangimento de ambos os visitantes que somente depoisde repetidos convites feitos por Bahá’u’lláh, foram induzidosa fumar o narguilé* oferecido. Mesmo assim, apenas o tocaramcom os lábios e então, pondo-o de lado, cruzaram os braçose sentaram-se numa atitude de tal humildade e respeito quedeixou pasmos todos aqueles que estavam presentes.

A amorosa reverência dos amigos, a consideração e orespeito que Lhe eram mostrados por todos os oficiais e pessoasproeminentes, a onda de peregrinos e outros em busca daverdade, o espírito de devoção e serviço evidente por toda aparte, o semblante majestoso e augusto da AbençoadaPerfeição, a eficácia de Seu mando, o número de Seus zelososadeptos – tudo isto testemunhava o fato de que na realidadeBahá’u’lláh não era um prisioneiro e, sim, um Rei dos Reis.Dois soberanos déspotas Lhe faziam oposição, dois poderosose autocráticos governantes, mas mesmo enquanto encarceradoem suas prisões, Bahá’u’lláh dirigiu-Se a eles em termos osmais austeros, como se fosse um rei dirigindo-se aos seussúditos. Mais tarde, a despeito dos severos firmãs, Elecontinuou a viver em Bahjí como um príncipe. Muitas vezesdizia: ”Em verdade, em verdade, a prisão mais vil foiconvertida num Paraíso de Éden.”

Não se testemunhou tal coisa, certamente, desde a criaçãodo mundo.

Sua Vida em Bahjí

Tendo nos primeiros anos de durezas mostrado como se deveglorificar a Deus, embora num estado de pobreza e ignomínia,Bahá’u’lláh nos Seus últimos anos de vida em Bahjí, mostrou comose deve glorificar a Deus, sob uma condição de honra e afluência. Asofertas de centenas de milhares de devotados adeptos colocaram àSua disposição vastos cabedais que Lhe coube administrar. Apesar

*Cachimbo largamente usado pelos turcos, hindus e persas composto de um fornilho,um tubo, e vaso cheio de água perfumada que o fumo atravessa antes de chegar à boca.

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de ter-se descrito a Sua vida em Bahjí como realmente majestosa nomais elevado sentido da palavra, não se deve imaginar, porém, quefosse caracterizada por esplendor material ou extravagância. AAbençoada Perfeição e Sua família viviam com a maior simplicidadee modéstia; o gasto com luxo egoísta era coisa desconhecida naquelelar. Perto de Sua casa os adeptos prepararam um jardim quedenominaram Ridván, no qual Ele passava muitos dias consecutivosou mesmo semanas, dormindo à noite numa pequena cabana. Devez em quando Ele ia mais longe fazendo várias visitas a ‘Akká eHaifa e, mais de uma vez, armou Sua tenda no Monte Carmelo,como Ele predissera enquanto ainda encarcerado no quartel de ‘Akká.A maior parte do tempo de Bahá’u’lláh era dedicada à prece emeditação, à revelação dos Livros Sagrados e Epístolas e à educaçãoespiritual dos amigos. A fim de Lhe dar toda a liberdade que essagrande obra reclamava, ‘Abdu’l Bahá encarregou-se dos demaisafazeres, incumbindo-se até mesmo de receber os mullás, poetas emembros do governo. Todos estes ficavam encantados e contentesao conhecerem ‘Abdu’l-Bahá, e inteiramente satisfeitos com Suasexplicações e palestras. E, embora não houvessem encontrado opróprio Bahá’u’lláh, tornavam-se plenos de sentimento de amizadepor Ele, através do relacionamento com Seu filho, pois a atitude de‘Abdu’l-Bahá fazia-os compreenderem a posição de Seu pai.

O eminente orientalista, o falecido professor Edward G.Browne, da Universidade de Cambridge, visitou Bahá’u’lláh emBahjí, em 1890, e registrou suas impressões, como segue:

...O meu guia parou por um momento enquanto eu tirava ossapatos. Então, com um rápido movimento de mão, retirou-se e, enquanto eu passava, repôs as cortinas; e encontrei-menuma ampla sala, em cujo fim achava-se um baixo divã,havendo do lado oposto à porta duas ou três cadeiras. Emboravagamente suspeitasse para onde ia e com quem haveria deestar (pois nenhuma informação clara me fora dada),passaram-se um ou dois segundos antes que eu, palpitantede admiração e reverência, tomasse finalmente consciência

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de que a sala não estava deserta. No canto onde o divã tocavaa parede, sentava-se uma maravilhosa e venerável figura,coroada de um taj de feltro, do tipo usado pelos dervixes(mas de altura e feitio não comuns), ao redor do qual estavaenrolado um pequeno turbante branco. Jamais posso esquecer-me da fisionomia daquele a quem olhava, embora não possadescrevê-la. Aqueles olhos penetrantes pareciam ler-nos aprópria alma; poder e autoridade residiam naquela testa larga,enquanto as linhas profundas na fronte e rosto indicavamuma idade que os cabelos pretos de azeviche e a barba que,em indistinguível magnificência, quase tocava a cintura,pareciam desmentir. Não me foi preciso perguntar em presençade quem eu estava, enquanto curvei-me diante daquele que éo objeto de uma devoção e um amor que os reis poderiaminvejar e os imperadores almejar em vão!

Uma voz cheia de dignidade e brandura convidou-me asentar e então prosseguiu: “Louvado seja Deus por haveresalcançado!... Vieste ver um prisioneiro e exilado... Sódesejamos o bem do mundo e a felicidade das nações; nãoobstante, consideram-Nos instigador de discórdia e sedição,merecedor de cativeiro e banimento.... Que todas as naçõestornem-se uma na Fé e todos os homens venham a ser comoirmãos; que os laços de afeição e unidade entre os filhos doshomens sejam fortalecidos; que cesse a diversidade de religião,e as diferenças de raça sejam anuladas – que mal há nisto?...E assim há de ser: essas lutas infrutíferas, essas guerras ruinosashão de passar e a ‘Paz Máxima’ há de chegar... Vós, na Europa,não precisais disso também? Não é o que Cristo predisse?...Vemos, entretanto, vossos reis e governantes gastarem seustesouros mais livremente com meios de destruição dahumanidade do que com aquilo que poderia conduzi-la àfelicidade... Estas lutas, esta carnificina e discórdia devemcessar e todos os homens serem como uma família... Que ohomem não se vanglorie pelo amor a sua pátria e, sim, peloamor a sua espécie...”

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Se bem posso recordá-las, tais foram as palavras que, alémde muitas outras, ouvi de Behá*. Que aqueles que as lêem,julguem por si mesmos se o propagador de tais doutrinasmerece morte e encarceramento, e se é mais provável que omundo ganhe ou perca com a sua difusão.

A Traveller’s Narrative, p. 39.

Ascensão

Assim passou Bahá’u’lláh, simples e serenamente, o outonoda Sua vida na terra, até que, após um ataque de febre, expirou, em29 de maio de 1892, com a idade de setenta e cinco anos. Entre asúltimas Epístolas por Ele reveladas, figura Sua Vontade eTestamento, escrita de Seu próprio punho. Nove dias após Sua morteos selos foram rompidos pelo Seu filho mais velho na presença dosmembros da família e de alguns amigos, e o seu conteúdo, curtomas notável, foi revelado. Por este Testamento, ‘Abdu’l-Bahá foiconstituído o representante de Seu pai e o expositor de Seusensinamentos, e a família e demais parentes de Bahá’u’lláh e todosos adeptos foram instruídos a dirigirem-se a Ele e obedecer-Lhe.Isso constituiu uma barreira contra o sectarismo e dissensão, e umagarantia à unidade da Causa.

Bahá’u’lláh como Profeta

É importante ter-se uma idéia clara de Bahá’u’lláh comoProfeta. Seus discursos, como os dos outros Manifestantes Divinos,podem ser divididos em duas classes: uma, em que Ele escreve oufala simplesmente como um homem a quem Deus encarregou delevar uma mensagem à humanidade, e outra, em que as palavras sãoproferidas como se viessem diretamente de Deus.

No Kitáb-i-Íqán, Ele diz:

*Bahá’u’lláh.

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Nas páginas precedentes já designamos dois graus para cadaum desses Luminares oriundos das Auroras da santidadeeterna. Um deles, o grau da unidade essencial, já explicamos.“Nenhuma distinção fazemos entre eles”. (Alcorão, 2:136)O outro é o grau da distinção e pertence ao mundo da criaçãoe às suas limitações. Neste sentido, cada Manifestante deDeus tem uma individualidade distinta, sua Missãodefinitivamente prescrita, uma Revelação predestinada elimitações especialmente designadas. Cada um deles éconhecido por um nome diferente, é caracterizado por umatributo especial, cumpre uma certa Missão e lhe é confiadauma Revelação distinta. Assim mesmo como Ele diz: “A algunsdos Apóstolos Nós fizemos exceder aos outros. A alguns Deusfalou e a alguns elevou e enalteceu. E a Jesus, Filho de Maria,demos sinais manifestos e Nós O fortalecemos com o EspíritoSanto...”

É por causa desta diferença em seu grau e sua missão, queas palavras que provêm desses Mananciais do conhecimentodivino parecem divergir. Não fora isso, e todas as suas palavras– aos olhos daqueles iniciados nos mistérios da sabedoriadivina – seriam, na realidade, apenas expressões de umamesma Verdade. Como a maioria dos homens não soubeapreciar esses graus aos quais nos referimos, sente-se, portanto,confusa e atônita diante das afirmações tão divergentespronunciadas por Manifestantes que são, essencialmente, ume o mesmo.

Assim, pois, quando aquelas Essências da existência sãoconsideradas do ponto de vista de sua unidade e seu sublimedesprendimento, os atributos de Deidade, Divindade,Suprema Unicidade e Mais Íntima Essência, lhes têm sido esão aplicáveis, já que todas permanecem no trono da Revelaçãodivina, estabelecidas sobre o assento da Ocultação divina.Com seu aparecimento, a Revelação de Deus se manifesta, eatravés de seu semblante, a Beleza de Deus se revela. Assim éque se têm ouvido os acentos do próprio Deus pronunciadospor esses Manifestantes do Ser Divino.

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Vistos à luz de seu segundo grau – o grau da distinção,da diferenciação, das limitações, características e normastemporais – eles manifestam servitude absoluta, extremabeleza e abnegação completa. Assim como Ele diz: “Sou oservo de Deus. Sou apenas um homem como vós”...

Se qualquer um dos Manifestantes de Deus – Aquelesque a tudo abrangem – declarasse: “Sou Deus!”, Elecertamente diria a verdade, sem a menor dúvida. Pois já foidemonstrado, repetidas vezes, que, através de sua Revelação,seus atributos e nomes, se tornam manifestos no mundo aRevelação, o Nome e os atributos de Deus. Assim Ele revelou:“Aqueles dardos pertenciam a Deus; não foram Teus!” (Alcorão,8:17) E diz também: “Em verdade, aqueles que hipotecaramfidelidade a Ti, hipotecaram, realmente, fidelidade a Deus.”(Alcorão, 48:10) E se qualquer deles proferisse estas palavras:“Sou o Mensageiro de Deus,” Ele também estaria dizendo averdade, a verdade indubitável. Assim como Ele diz:“Muhammad não é pai de homem algum entre vós, mas Eleé o Mensageiro de Deus.” Vistos a essa luz, todos eles sãoapenas Mensageiros daquele Rei ideal, daquela Essênciaimutável. E se todos proclamassem: “Sou o Selo dos Profetas,”realmente só diriam a verdade, sem qualquer sombra dedúvida. Pois eles todos não são mais que uma só pessoa, umasó alma, um só espírito, um único ser, uma única revelação.Todos manifestam o “Princípio” e o “Fim”, o “Primeiro” e o“Último”, o “Visível” e o “Oculto” – tudo o que se refereÀquele Que é o mais íntimo Espírito dos Espíritos e a eternaEssência das Essências. E se dissessem: “Somos os servos deDeus,” (Alcorão, 33:40) isso também é um fato manifesto eindiscutível. Pois eles se manifestaram no máximo grau deservitude – como nunca homem algum atingirá. Assim, essasEssências da vida, em momentos em que estavamprofundamente imersas nos oceanos da antiga e sempiternasantidade, ou quando se elevavam até os mais sublimes ápicesdos mistérios divinos, declaravam ser sua voz a Voz daDivindade, o Chamado do próprio Deus. Se os olhos do

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discernimento se abrissem, perceberiam que, até neste estado,eles se consideravam a si mesmos como inteiramenteobliterados e inexistentes diante dAquele Que é oOnipresente, o Incorruptível. Parece-me que a si mesmos sejulgaram um simples nada e acharam sua própria mençãonaquela Corte um ato de blasfêmia. Pois o menor sussurrodo ego dentro daquela Corte, evidencia engrandecimentopróprio e existência independente. Aos olhos dos queatingiram essa Corte, meramente sugerir isso é, em si, umagrave transgressão. Quanto mais grave seria, se qualquer outracoisa fosse mencionada naquela Presença, se o coração dohomem, a língua, a mente, ou a alma, se ocupasse com alguémque não fosse o Bem-Amado, se os olhos contemplassemqualquer outro semblante e não Sua beleza, se o ouvido seinclinasse para alguma outra melodia em vez de Sua voz e ospés algum caminho trilhassem que não fosse o Seu.

Neste dia sopra a brisa de Deus, e Seu Espírito atingiutodas as coisas. Tão grande é a efusão de Sua graça que a penadeixa de se mover e a língua emudece.

Em virtude deste grau, reclamaram para si a Voz daDivindade e coisas semelhantes, enquanto declarando, emvirtude de seu grau de Mensageiro, que eram os Mensageirosde Deus. Em cada caso, pronunciavam aquilo que conformavaàs exigências da ocasião e atribuíam a si próprios todas essasdeclarações – declarações que se estendem desde o reino daRevelação divina até o reino da criação, e desde o domínio daDivindade até mesmo o domínio da existência terrestre. Assimé que, seja qual for sua asserção – quer se refira ao reino daDivindade, ou ao de Senhor, ou Profeta, Mensageiro, Guardião,ou Apóstolo, ou ao da Servitude – indubitavelmente, tudo éverdade. Essas asserções, portanto, que citamos para sustentarNosso argumento, devem ser consideradas atentamente, afim de que as declarações divergentes feitas por essesManifestantes do Invisível, essas Auroras da Santidade, deixemde agitar a alma e confundir a mente.

Bahá’u’lláh. O Kitáb-i-Íqán, pp. 109-112.

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Quando Bahá’u’lláh fala como um simples homem, o grauque Ele assevera para Si é o de absoluta humildade, da “extinção deSi próprio em Deus”. O que distingue o Manifestante em Suapersonalidade humana dos outros homens é Sua completa abnegação,como também a perfeição das Suas faculdades. Em todas ascircunstâncias pode Ele dizer, como disse Jesus no Jardim deGetsêmani: “Todavia não se faça a minha vontade, mas a Tua.” (Lc,22:42) Assim em Sua Epístola ao xá, Bahá’u’lláh diz:

Ó rei! Eu era apenas um homem como os outros, adormecidoem meu leito, mas eis que os sopros do Todo-Gloriosomanaram sobre Mim e Me deram o conhecimento de tudo oque existe. Isso não provém de Mim, mas de Um que é oTodo-Poderoso, o Onisciente. E Ele ordenou que Eulevantasse Minha voz entre a terra e o céu, e por isso Mesucedeu o que fez correrem as lágrimas de todo homem decompreensão. A erudição comum entre os homens, não aestudei; nem entrei em suas escolas. Pergunta na cidade emque residi, a fim de teres a certeza de que Eu não sou dos quefalam falsamente. Este Ser é apenas uma folha movida pelosventos da Vontade de teu Senhor, o Todo-Poderoso, Alvo detodo louvor. Poderá aquietar-se quando soprarem os ventostempestuosos? Não, por Aquele que é o Senhor de todos osNomes e Atributos! Movem-na a seu bel-prazer. O efêmeroafigura-se como nada perante Aquele que é o Sempiterno.Seu chamado predominante atingiu-Me e Me fez expressarSeu louvor entre todos os povos. Em verdade, estava eu comomorto, quando Seu imperativo foi enunciado. A mão daVontade de teu Senhor, o Compassivo, o Misericordioso,transformou-Me. Poderá alguém pronunciar espontaneamen-te o que faça todos os homens, grandes e humildes, contraele protestarem? Não, por Aquele que ensinou à Pena osmistérios eternos, salvo quem fosse fortalecido pela graça doOnipotente, do Todo-Poderoso.

O Chamado do Senhor das Hostes, pp. 80-81.

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Assim como Jesus lavava os pés de Seus discípulos, Bahá’u’lláhcostumava às vezes preparar os alimentos ou prestar outros serviçoshumildes a Seus adeptos. Era o servo dos servos, e só Se gloriava emservir, contente em dormir no chão duro, se necessário fosse, emviver de pão e água, ou mesmo, certas vezes, daquilo que Ele chamava“o sustento divino, isto é, a fome!” Sua perfeita humildade erapercebida em Sua profunda reverência à natureza, à naturezahumana, e especialmente aos santos, profetas e mártires. Para Ele,todas as coisas falavam de Deus, da mais insignificante à mais elevada.

Deus escolhera Sua personalidade humana para ser o Porta-Voz e Pena Divinos. Não foi por Sua própria vontade que Ele assumiutal posição de dificuldades e durezas sem paralelo. Assim como Jesusdisse: “Meu Pai, se for possível, afaste de Mim esse cálice,” Bahá’u’lláhdeclarou: “Houvesse outro expositor ou porta-voz sido encontrado,não Nos teríamos feito objeto de censura, escárnio e calúnias porparte do povo” (Epístola de Ishráqát). Mas o chamado divino foiclaro e imperativo, e Ele obedeceu. A vontade de Deus tornou-se aSua vontade, e o agrado de Deus, Seu agrado; e com “aquiescênciaradiante” Ele declarou:

Em verdade Eu digo: Tudo o que ocorre no caminho de Deus é oanseio da alma e o desejo do coração. Em Seu caminho, o venenomortal é puro mel e cada tribulação um gole de água cristalina.

Bahá’u’lláh. Epístola ao Filho do Lobo, p. 35.

Em outras ocasiões, como já mencionamos, Bahá’u’lláh fala“com a voz de Divindade”. Quando assim fala, Sua personalidadehumana é tão completamente subordinada que é deixadainteiramente de lado. Por Seu intermédio, Deus dirige-Se às Suascriaturas, proclamando Seu amor por elas, ensinando-lhes Seusatributos, tornando conhecida Sua vontade, anunciando Suas leispara guiá-las, e pedindo-lhes seu amor, sua fidelidade e dedicação.

Nos Escritos de Bahá’u’lláh, dá-se freqüentemente a mudançade uma para outra destas formas. Algumas vezes, é evidente ser o

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homem que fala; depois, sem interrupção, prossegue como se Deusestivesse falando na primeira pessoa. Mesmo quando falando comoum homem, entretanto, Bahá’u’lláh fala como Mensageiro de Deus,como o exemplo vivo da completa devoção à vontade de Deus. Suavida inteira é atuada pelo Espírito Santo. Não se pode, pois, traçaruma linha definitiva entre os elementos humanos e os divinos emSua vida ou ensinamentos. Diz-Lhe Deus:

Dize: Nada é visto em Meu templo, exceto o Templo de Deuse em Minha beleza, salvo a Sua Beleza e em Meu ser, salvo SeuSer, em Mim próprio, salvo Ele próprio e em Meu movimento,salvo Seu Movimento e em Minha aquiescência, salvo SuaAquiescência e em Minha pena, salvo Sua Pena, a Poderosa, aToda-Louvada. Nada tem existido em Minha alma, salvo aVerdade, e em Mim nada pode ser visto, exceto Deus.

Bahá’u’lláh. O Chamado do Senhor das Hostes, p. 18.

Sua Missão

A missão de Bahá’u’lláh no mundo é realizar a Unidade –Unidade de todo o gênero humano em Deus e através dEle. “Estapalavra sublime”, diz Ele: “é o fruto Todo-Glorioso da Árvore daSabedoria: vós todos sois os frutos de uma só Árvore, e as folhas deum mesmo Ramo. Que o homem não se vanglorie pelo amor à suapátria, e sim pelo amor à sua espécie.”

Profetas anteriores prenunciaram uma era de paz na terra eboa vontade entre os homens, e deram Suas vidas para apressar seuadvento, mas todos Eles declararam claramente que essa abençoadaconsumação só seria realizada após a “Vinda do Senhor” nos últimosdias, quando os maus seriam julgados e os justos recompensados.

Zoroastro predisse três mil anos de conflito antes do adventodo Sháh Bahrám, o salvador do mundo, que haveria de dominarAhríman, o espírito do mal, e estabelecer um reinado de paz eretidão.

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Moisés predisse um longo período de exílio, perseguição eopressão para os filhos de Israel, antes que aparecesse o Senhor dosExércitos e os reunisse de todas as nações para destruir os opressorese estabelecer Seu Reino na terra.

Cristo disse: “Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vimtrazer paz, mas a espada” (Mateus 10:34); e Ele predisse um períodode guerras e rumores de guerras, de tribulações e aflições, quecontinuariam até a vinda do Filho do Homem “na Glória do Pai”.

Muhammad declarou que entre judeus e cristãos, por causade suas más ações, ‘Alláh estabelecera inimizade e ódio que durariamaté o Dia da Ressurreição, quando Ele apareceria para julgar a todos*.

Bahá’u’lláh, por outro lado, anuncia ser Ele o Prometido detodos esses Profetas – o Manifestante Divino em cuja era o reinadode paz será realmente estabelecido. Esta afirmação é única e semprecedentes, mas está admiravelmente em harmonia com os sinaisdos tempos e com as profecias de todos os grandes Profetas.Bahá’u’lláh revelou, de um modo completo e com clarezaincomparável, os meios de realizar a paz e a unidade entre ahumanidade.

É verdade que, desde o advento de Bahá’u’lláh até agora, temhavido guerras e destruição em escala sem precedentes, mas éjustamente o que havia de suceder, segundo todos os profetas, aoamanhecer o “grande e terrível Dia do Senhor”, confirmando aopinião, pois, de que a “Vinda do Senhor” não está apenas próxima,e sim já é um fato consumado. Segundo a parábola de Cristo, oSenhor da Vinha deve destruir completamente os maus lavradores,antes de dar a Vinha a outras pessoas que Lhe dêem os frutos emsuas épocas. Não significa isso que, à vinda do Senhor, esteja reservadaterrível destruição aos governos despóticos, padres avaros eintolerantes, mullás ou chefes tirânicos, que, como maus lavradores,vêm há séculos desgovernando a terra, e apropriando-seindevidamente de seus frutos?

É possível que haja no mundo, por algum tempo ainda,acontecimentos terríveis e calamidades sem paralelo, mas Bahá’u’lláh*Vide citações do Alcorão no Capítulo 13, no subtítulo O Tempo do Fim.

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assegura-nos que dentro em breve “essas lutas infrutíferas, essasguerras ruinosas hão de passar, e a Paz Máxima virá”. As guerras elutas têm-se tornado tão intoleráveis em seu poder destruidor, quea humanidade deve livrar-se delas ou perecer.

“A plenitude dos tempos” é chegada e, com ela, o PrometidoLibertador!

Seus Escritos

De âmbito mais abrangente são os Escritos de Bahá’u’lláh,tratando de todas as fases da vida do homem, individual e social,das coisas materiais e das coisas espirituais, das interpretações dasescrituras antigas como também das modernas, e das antecipaçõesproféticas, tanto a respeito do futuro próximo quanto do remoto.

É admirável a vastidão como também a exatidão de Seusconhecimentos. Ele podia citar e elucidar de maneira convincente eautoritária as Escrituras das várias religiões que Seus correspondentesou inquiridores conheciam, embora nunca tivesse tido os meiosusuais de acesso a muitos desses livros. Em A Epístola ao Filho doLobo, Ele declara que nunca lera o Bayán, embora em Seus própriosEscritos Ele demonstre o mais perfeito conhecimento e compreensãoda Revelação do Báb (O Báb, como vimos, declarou haver sido SuaRevelação, o Bayán, inspirada por “Aquele que Deus tornarámanifesto”, e dEle emanado!) Com uma única exceção, a de umavisita que lhe fez em 1890 o professor Edward Granville Browne, aquem concedeu quatro entrevistas de vinte a trinta minutos cadauma, Bahá’u’lláh nenhuma oportunidade teve de estar em contatocom os ilustres pensadores do Ocidente; não obstante, Seus Escritosmostram uma perfeita compreensão dos problemas sociais, políticose religiosos do mundo ocidental, e até mesmo Seus inimigos tiveramque admitir serem incomparáveis Sua sabedoria e conhecimento.As bem conhecidas circunstâncias de Sua longa prisão tornamimpossível duvidar-se de que a riqueza de conhecimento manifestaem Seus Escritos deve ter sido adquirida de alguma fonte espiritual,

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inteiramente independente dos meios usuais de estudo ou instrução,e do auxílio de livros ou professores*.

Bahá’u’lláh algumas vezes escrevia em persa moderno, a línguacomum de Seus compatriotas, a qual tem uma grande mescla deárabe. Outras vezes, por exemplo quando Se dirigia aos sábioszoroastrianos, Ele escrevia no mais puro persa clássico. Com igualfluência Ele também escrevia em árabe, ora em linguagem muitosimples, ora em estilo clássico semelhante ao do Alcorão. Seu perfeitodomínio desses diversos idiomas e estilos era notável em vista deSua inteira falta de instrução literária.

Em alguns de Seus Escritos o caminho da santidade éapontado em termos tão simples que “os caminhantes, até mesmoos loucos, não errarão” (Isaías, 35:8). Em outros há uma riqueza demetáfora poética, filosofia profunda e alusões às escriturasmuçulmanas, zoroastrianas e outras, ou à literatura e lendas da Pérsiae da Arábia, como somente o poeta, o filósofo ou o erudito podeadequadamente apreciar. Ainda outros tratam dos estágios adiantadosda vida espiritual, e são compreensíveis somente para aqueles que játenham passado pelos estágios anteriores. Suas obras são como umamesa abundantemente provida de alimentos e iguarias adequadasàs necessidades e agradáveis ao paladar de todos os que sinceramentebuscam a verdade.

É por isso que Sua Causa surtiu efeito entre os letrados ecultos, poetas espirituais e escritores de renome. Mesmo alguns dosmais eminentes dos sufis e de outras seitas, e alguns ministros deEstado que eram escritores, foram atraídos pelas Suas palavras, poisexcediam as de qualquer outro autor quanto à doçura e àprofundidade de significado espiritual.

O Espírito Bahá’í

Do local de Sua prisão na longínqua ‘Akká, Bahá’u’lláhemocionou profundamente Sua terra natal, a Pérsia, e não somentea Pérsia, emocionou e continua emocionando o mundo. O espírito*Ao ser perguntado se Bahá’u’lláh fizera um estudo especial das literaturas ocidentais,fundando Seus ensinamentos de acordo com elas, ‘Abdu’l-Bahá disse que os livros de

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que O animou, bem como aos Seus discípulos, era infalivelmentegentil, cortês e paciente, porém de uma força de vitalidade admirávele poder transcendente. Realizou o que parecia impossível:transformou a natureza humana. Aqueles que se sujeitavam à suainfluência tornavam-se novas criaturas. Estavam plenos de um amor,uma fé e um entusiasmo tão grandes que, comparados às alegrias etristezas terrenas eram apenas como pó na balança. Eles estavamprontos a enfrentar o sofrimento por toda a vida ou uma morteviolenta, com perfeita equanimidade, ainda mais, com alegriaradiante, fortalecidos por sua inabalável confiança em Deus.

E o mais admirável de tudo: seus corações transbordavam decontentamento por haverem atingido uma vida nova, a tal pontoque nenhum lugar neles restava para sentimentos de amargura oudesejos de vingança contra seus opressores. Desistiram por completodo uso da violência, mesmo em defesa própria, e em vez delastimarem sua sorte, consideravam-se os mais afortunados doshomens por terem o privilégio de receber esta nova e gloriosaRevelação e de dedicar a vida ou derramar o sangue em testemunhoà sua verdade. Bem podiam seus corações cantar de alegria, poisacreditavam que Deus, o Supremo, o Eterno, o Bem-Amado, lhesfalara através de lábios humanos, convocando-os a serem Seus servose amigos; que Ele viera para estabelecer Seu Reino na terra e trazerSua dádiva inestimável da Paz para um mundo exausto de luta edesgastado pelas guerras.

Tal foi a fé inspirada por Bahá’u’lláh. Ele anunciou Sua própriamissão, assim como o Báb predissera, e graças aos dedicados esforçosde Seu grandioso Precursor, houve milhares prontos para aclamarSeu advento – milhares que haviam rejeitado as superstições e ospreconceitos e, com corações puros e mentes abertas, aguardavam aManifestação da Prometida Glória de Deus. Pobreza e grilhões,circunstâncias sórdidas e ignomínia externa não lhes puderam ocultara Glória Espiritual de seu Senhor – não, antes, essas sombriascondições terrestres serviram apenas para intensificar o brilho doSeu verdadeiro Esplendor.Bahá’u’lláh, escritos e impressos em tempos tão remotos como a década de 1870,continham os ideais agora tão familiares no Ocidente, embora naquele tempo estasidéias não houvessem sido impressas ou sequer concebidas no Ocidente.

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Capítulo 4‘ABDU’L-BAHÁ: O SERVO DE BAHÁ

Quando o oceano de Minha presença tiver refluído, eo Livro de Minha Revelação se achar completo, volveivossas faces Àquele eleito por Deus, Aquele que brotoudesta Raiz Antiga.

Bahá’u’lláh. O Kitáb-i-Aqdas, K121, pp. 50-51.

Nascimento e Infância

‘Abbás Effendi, que mais tarde adotou o título de ‘Abdu’lBahá (isto é, Servo de Bahá), foi o filho mais velho de Bahá’u’lláh.Nasceu em Teerã, antes da meia-noite, na véspera do dia 23 demaio de 1844*, na mesma noite em que o Báb declarou Sua missão.

Contava Ele nove anos de idade quando Seu pai, a Quem jácom esta idade tinha grande devoção, foi encarcerado na masmorrade Teerã. Uma multidão saqueou Sua casa, espoliando a família dosbens e deixando-a em desamparo completo. ‘Abdu’l Bahá relata queum dia obteve permissão para entrar no pátio da prisão, a fim de verSeu amado pai quando Ele saía para Seu exercício diário. Bahá’u’lláhestava terrivelmente alterado, tão doente que mal podia andar; Seucabelo e barba em desordem, Seu pescoço ferido e inchado devido àpressão do pesado aro de aço, Seu corpo curvado pelo peso dascorrentes, e a cena causou tal impressão na mente do sensível meninoque jamais se apagou.

Durante o primeiro ano em que residiram em Bagdá, dezanos antes de haver Bahá’u’lláh declarado abertamente Sua Missão,a percepção aguda de ‘Abdu’l-Bahá, que tinha então apenas nove*Quinta-feira, 5 de Jamádíyu’l-Avval, 1260 d.h.

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anos de idade, conduziu-O à momentosa descoberta de que Seu paiera de fato o Prometido, cuja Manifestação todos os bábís esperavam.Cerca de sessenta anos depois, Ele assim descreveu o momento emque esta convicção, de repente, apoderou-se de toda a Sua natureza:

Sou o servo da Abençoada Perfeição. Ainda era criança, emBagdá, quando Ele anunciou-me a Palavra e nEle acreditei.Logo que me proclamou a Palavra, lancei-me aos Seusabençoados pés, implorando-Lhe e suplicando-Lhe queaceitasse meu sangue como sacrifício em Seu Caminho.Sacrifício! Quão doce acho esta palavra! Não há maior dádivapara mim do que esta! Que maior glória posso eu conceber,do que a de ver este pescoço acorrentado por amor a Ele,estes pés agrilhoados por devoção a Ele, este corpo mutiladoou atirado às profundezas do mar pela Sua Causa! Se emrealidade Lhe adoramos sinceramente, se em realidade souSeu servo sincero, então devo sacrificar minha vida, tudo quepossuo, em Seu Abençoado Limiar.

Diário de Mírzá Ahmad Sohrab, 3 de janeiro de 1914.

Foi naquele tempo que Seus amigos começaram a Lhe chamarde “O Mistério de Deus”, título que Lhe dera Bahá’u’lláh, peloqual foi geralmente conhecido durante o período de residência emBagdá.

Quando Seu pai partiu e passou dois anos em solidão, ‘Abbásficou inconsolável. Sua principal distração consistia em copiar edecorar as Epístolas do Báb, e grande parte de Seu tempo eraempregada em meditação solitária. Quando, finalmente, Seu pairegressou, o menino não coube em si de contentamento.

Mocidade

A partir desse tempo, Ele tornou-se o mais íntimocompanheiro de Seu pai e, por assim dizer, Seu protetor. Emboramuito jovem, Ele já mostrava admirável perspicácia e discernimento,

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incumbindo-Se de receber todos os inúmeros visitantes que vinhamver Seu pai. Só admitia à presença ‘Abdu’l-Bahá de Bahá’u’lláhaqueles que julgasse serem genuínos pesquisadores da verdade; docontrário, não permitia que incomodassem Bahá’u’lláh. Em muitasocasiões ajudava Seu pai, respondendo às perguntas e solucionandoas dificuldades desses visitantes. Quando, por exemplo, um doslíderes sufis, de nome ‘Alí Shawkat Páshá, pediu uma explicação dafrase, “Eu era um Mistério Oculto”, que se encontra numa bemconhecida tradição muçulmana*, Bahá’u’lláh dirigiu-Se ao “Mistériode Deus”, ‘Abbás, e pediu-Lhe que desse a explicação por escrito. Orapaz, que contava então quinze ou dezesseis anos, escreveuimediatamente uma importante epístola, fazendo uma exposiçãotão elucidativa que o Páshá ficou pasmo. Esta epístola acha-se agoravastamente disseminada entre os bahá’ís, e é bem conhecida pormuitas outras pessoas, fora da Fé Bahá’í.

Nesse tempo, ‘Abbás visitava freqüentemente as mesquitas,onde discutia assuntos teológicos com os doutores e sábios. Nuncafreqüentou qualquer escola ou universidade, sendo Seu pai, Seu únicoprofessor. Seu divertimento predileto era a equitação, pela qual tinhagrande prazer.

Após a Declaração de Bahá’u’lláh no Jardim dos arredores deBagdá, a devoção de ‘Abdu’l-Bahá pelo Seu pai tornou-se maior doque nunca. Durante a longa jornada a Constantinopla, vigiavaBahá’u’lláh noite e dia, acompanhando a cavalo Sua carruagem eguardando Sua tenda. Ele auxiliava Seu pai tanto quanto possívelnos cuidados e responsabilidades da casa, tornando-Se o esteio e oconforto de toda a família.

Durante os anos passados em Adrianópolis, ‘Abdu’l-Baháganhou o afeto de todos. Ele ensinava muito, tornando-Se conhecidogeralmente como o “Mestre”. Em ‘Akká, quando quase todos ficaramdoentes, com tifo, malária e disenteria, Ele banhava os pacientes,cuidava deles, alimentava-os, vigiando-os sem descanso, até que,completamente exausto, Ele próprio foi acometido por umadisenteria e durante aproximadamente um mês permaneceu em*Esta tradição é citada numa Epístola de Bahá’u’lláh. Vide capítulo 5 deste livro.

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estado grave. Em ‘Akká, como em Adrianópolis, todos, do governadorao mais humilde mendigo, vieram a amá-Lo e respeitá-Lo.

Casamento

As seguintes particularidades sobre o casamento de ‘Abdu’lBahá foram gentilmente fornecidas ao autor por um historiadorpersa da Fé Bahá’í:

Durante a mocidade de ‘Abdu’l-Bahá, a questão de umcasamento apropriado para Ele foi, naturalmente, de grandeinteresse para os adeptos, e muitas pessoas apresentaram-sedesejosas de que tal coroa de honra coubesse à sua família.Durante muito tempo, porém, ‘Abdu’l-Bahá nenhumainclinação demonstrou para o casamento, e ninguémcompreendia a sabedoria disto. Soube-se depois que haviauma moça destinada a tornar-se esposa de ‘Abdu’l-Bahá, umamoça cujo nascimento se dera através da bênção concedidapelo Báb aos seus pais, em Isfahán. Ela pertencia a uma dasgrandes e nobres famílias de Isfahán, sendo seu pai, MírzáMuhammad ‘Alí, tio do “Rei dos Mártires” e do “Bem-Amadodos Mártires”. Quando o Báb esteve em Isfahán, MírzáMuhammad ‘Alí não tinha filhos, mas sua esposa tinha grandedesejo de tê-los. Ao ouvir isto o Báb deu a ele uma porção deSeu alimento, dizendo-lhe que repartisse com sua esposa.Pouco depois de haverem tomado deste alimento, tornou-seevidente que suas esperanças de há tanto nutridas estavamprestes a serem realizadas, e no devido tempo nasceu-lhesuma filha, sendo-lhe dado o nome de Munírih Khánum*.Mais tarde, nasceu um filho, ao qual deram o nome de SiyyidYahyá, e tiveram ainda outros filhos. Algum tempo depois,morreu ‘Abdu’l-Bahá o pai de Munírih, seus primos forammartirizados pelo Zillu’s-Sultán e pelos mullás, e a famíliaencontrava-se em grandes dificuldades e severas perseguiçõespor serem bahá’ís. Bahá’u’lláh permitiu então que Munírih

*É interessante comparar esta história com a do nascimento de João Batista. VideEvangelho de São Lucas, capítulo 1.

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e seu irmão Siyyid Yahyá viessem a ‘Akká por motivo desegurança. Bahá’u’lláh e Sua esposa, Navváb, genitora de‘Abdu’l-Bahá, dispensavam tanta bondade e estima a Munírihque todos perceberam que eles queriam que ela se tornasse aesposa de ‘Abdu’l-Bahá. O desejo dos pais tornou-se o desejode ‘Abdu’l-Bahá também. Ele tinha um terno sentimento deamor e afeição por Munírih, que era inteiramentecorrespondido, e dentro em breve uniram-se em casamento.

O casamento foi extremamente feliz e harmonioso. Dos filhosque tiveram, quatro filhas sobreviveram aos rigores de seu longoencarceramento e, através das suas belas vidas de serviço, elas tornaram-se queridas de todos que tiveram o privilégio de conhecê-las.

Centro do Convênio

Bahá’u’lláh indicou de várias maneiras que, após a Sua própriaascensão, ‘Abdu’l-Bahá deveria assumir a direção da Causa. Muitosanos antes de Sua morte, fez esta declaração de maneira velada noKitáb-i-Aqdas. Em várias ocasiões referiu-Se a ‘Abdu’l-Bahá como“O Centro de Meu Convênio”, “O Supremo Ramo”, “O Ramo daRaiz Antiga”. Costumava chamá-Lo “O Mestre” e exigia que toda afamília O tratasse com especial deferência; e em Sua Vontade eTestamento deixou instruções explícitas para que todos a Ele sedirigissem e obedecessem.

Após a morte da “Abençoada Beleza” (título pelo qualBahá’u’lláh era geralmente chamado por Sua família e Seus adeptos),‘Abdu’l Bahá assumiu a posição que Seu pai claramente Lhe indicara:dirigente da Causa e autorizado Intérprete dos ensinamentos, porémisto foi causa de muito ressentimento de alguns de Seus parentes eoutras pessoas, os quais tornaram-se tão cruéis opositores a ‘Abdu’l-Bahá, quanto Subh-i-Azal havia sido a Bahá’u’lláh. Tentaram semeardissensões entre os adeptos e, sendo nisso mal sucedidos, fizeramvárias acusações falsas contra ‘Abdu’l-Bahá ao governo turco.

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Seguindo as instruções recebidas de Seu pai, ‘Abdu’l Baháestava erigindo um monumento no Monte Carmelo, no alto deHaifa, destinado a ser o permanente local de repouso dos restosmortais do Báb e ter também alguns salões para reuniões econferências. As autoridades foram falsamente informadas de queali se construía uma fortaleza, onde ‘Abdu’l-Bahá e os adeptospretendiam entrincheirar-se, desafiar o governo e tentar apossar-seda vizinha região da Síria.

Renova-se a Prisão Rigorosa

Há mais de vinte anos, ‘Abdu’l-Bahá e Sua família tinhamliberdade para andar pelo campo ao redor de ‘Akká, dentro dealgumas milhas, mas agora, no ano de 1901, em conseqüência destase de outras acusações igualmente sem fundamento, foram outra vezestritamente confinados dentro dos muros da cidade-prisão por maisde sete anos. Isso, porém, não O impediu de disseminareficientemente a mensagem bahá’í na Ásia, Europa e América. Sobreeste período, assim escreve Horace Holley:

A ‘Abdu’l-Bahá, como instrutor e amigo, vinham homens emulheres de todas as raças, religiões e nacionalidades, parasentar-se à Sua mesa como hóspedes privilegiados, pedindoSua opinião sobre o programa social, espiritual ou moral,que mais tocasse o coração de cada um; e depois de umapermanência que variava entre algumas horas e muitos meses,voltavam para casa inspirados, renovados e esclarecidos.Certamente, o mundo jamais possuiu uma casa dehospitalidade igual a essa.

Dentro de suas portas, as rígidas castas da Índiadesvaneciam-se, e o preconceito de raça – fosse do judeu,cristão ou muçulmano – tornava-se menos que um vestígio;e desmoronava-se todo critério que não fosse a lei essencialde corações ardentes e aspirações elevadas, banido e proibidopela cordialidade unificadora do dono da casa. Era como umrei Artur e a Távola Redonda... mas um Artur que condecorava

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mulheres tanto quanto homens, conduzindo-os não com aespada, mas com a Palavra.

Horace Holley. The Modern Social Religion, p. 171.

Durante esses anos, ‘Abdu’l-Bahá manteve uma enormecorrespondência com adeptos e pessoas desejosas de informações,de todas as partes do mundo. Foi grandemente auxiliado por Suasfilhas nesse trabalho, além dos vários intérpretes e secretários.

Grande parte de Seu tempo era despendida com as visitas aosdoentes e aflitos, em suas próprias casas; e nos bairros mais pobresde ‘Akká nenhum visitante era mais bem-vindo que o “Mestre”.Assim escreve um peregrino que ali esteve nesse tempo:

É hábito de ‘Abdu’l-Bahá distribuir esmolas aos pobres todasemana, na sexta-feira pela manhã. De seus poucos haveres,dá um pouco a cada necessitado que vem pedir ajuda. Estamanhã cerca de cem estavam em fila, sentados e agachadosna rua defronte ao largo onde fica a casa de ‘Abdu’l-Bahá. Eque indefinível conglomeração de seres humanos eram eles.Toda espécie de homens, mulheres e crianças – pobres,infelizes, de aspecto desesperador, seminus, muitos delesaleijados e cegos, mendigos na verdade, totalmentedesprovidos – aguardando esperançosos – até que ‘Abdu’lBahá surgisse à porta.... Indo rapidamente de um a outro,parando algumas vezes para dar uma palavra de solidariedadee incentivo, deixando cair pequenas moedas em cada mãoansiosamente estendida, tocando a face de uma criança,tomando a mão de uma mulher idosa que quase se seguravaà orla de Suas vestes enquanto Ele passava, dizendo palavrasiluminadoras a homens velhos e cegos, perguntando pelosque eram demasiado fracos e infortunados para virem receberseu quinhão de auxílio, e enviando-lhes sua porção com umamensagem de amor e elevação espiritual.

Glimpses of Abdul Baha, p. 13.

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Poucas eram as necessidades pessoais de ‘Abdu’l-Bahá. Elecomeçava Seu trabalho de madrugada e só o deixava tarde da noite.Duas refeições simples por dia Lhe eram suficientes. Seu vestuárioconsistia de umas poucas peças de tecidos modestos. Ele não podiaadmitir o luxo enquanto havia necessitados.

Tinha um grande amor às crianças, às flores e às belezas danatureza. Cada manhã, às seis ou sete horas, a família costumavareunir-se para tomarem juntos o chá da manhã e, enquanto o Mestreservia o Seu chá, as crianças entoavam preces. O sr. Thornton Chaseescreve sobre essas crianças:

Nunca vi crianças como estas, tão corteses, desprendidas,atenciosas com os outros, jamais inoportunas, inteligentes esempre prontas a privarem-se das pequenas coisas das quaisas crianças gostam muito....

In Galilee, p. 51.

O “ministério das flores” era uma característica da vida de‘Akká, da qual cada peregrino levava consigo fragrantes recordações.A sra. Lucas escreve:

É impressionante ver o Mestre inalar o odor das flores. Écomo se o perfume dos jacintos Lhe estivesse segredandoalguma coisa, enquanto mergulha o Seu rosto nas flores. Écomo o esforço do ouvido para ouvir uma bela harmonia –uma atenção concentrada!

A Brief Account of My Visit to ‘Akká, pp. 25-26.

Ele adorava presentear Seus numerosos visitantes com belasflores de doces aromas.

Thornton Chase dá sua impressão sobre a vida na prisão em‘Akká, como segue:

Cinco dias passamos dentro daquelas paredes, prisioneiroscom Aquele que habita na “Maior Prisão”. É uma prisão de

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paz, de amor e serviço. Nenhuma vontade, nenhum desejohá ali, senão o bem da humanidade, a paz do mundo, oreconhecimento da Paternidade de Deus e dos mútuosdireitos dos homens como Suas criaturas, Seus filhos. Defato, a verdadeira prisão, a atmosfera sufocante, a separaçãode todos os verdadeiros desejos do coração, o vínculo àscondições terrenas, estão fora dessas paredes de pedra,enquanto que por dentro delas encontram-se a liberdade e apura aura do Espírito de Deus. Todos os problemas, tumultos,aflições ou ansiedades pelas coisas do mundo estão delaexcluídos.

In Galilee, p. 24.

As durezas da vida de prisão pareceriam calamidadeslastimáveis para a maioria das pessoas, mas a ‘Abdu’l Bahá nenhumterror causaram. Enquanto na prisão, Ele escreveu:

Não vos inquieteis por causa de meu aprisionamento ecalamidade, pois esta prisão é meu belo jardim, meu paraísoe meu trono de domínio entre a humanidade. Meu flageloem minha prisão é uma coroa para mim, a qual me glorificaentre os retos.

Qualquer um pode ser feliz na condição de conforto, sossego,saúde, sucesso, prazer e contentamento; mas se alguém estiverfeliz e contente em tempo de infortúnio, penúria e enfermidadeprolongada, isso é uma prova de nobreza.

Tablets of Abdul-Baha, vol. II, pp. 258 e 263.

Comissões Turcas de Investigação

Em 1904 e 1907 o governo turco nomeou comissões parainvestigar as acusações contra ‘Abdu’l-Bahá e testemunhas mentirosasprestaram declarações falsas contra Ele. ‘Abdu’l-Bahá, enquanto asrefutava, expressou Sua total prontidão em submeter-Se a qualquersentença que o tribunal Lhe impusesse. Declarou que se O

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encarcerassem, arrastassem pelas ruas, amaldiçoassem, apedrejassem,submetessem a toda sorte de ignomínia, enforcassem ou fuzilassem,ainda assim estaria contente.

Nos intervalos entre as sessões da Comissão de Investigação,Ele prosseguia Sua vida usual com a maior serenidade, plantandoárvores frutíferas em um jardim ou presidindo uma festa matrimonialcom a dignidade e a radiância da liberdade espiritual. O cônsulespanhol ofereceu-se para arranjar-Lhe passagem segura para qualquerporto estrangeiro que Ele quisesse, mas embora grato, Ele recusoufirmemente essa oferta, dizendo que quaisquer que fossem asconseqüências, deveria seguir os passos do Báb e da AbençoadaPerfeição, que nunca tentaram proteger-Se ou fugir de Seus inimigos.Ele encorajou a maioria dos bahá’ís, entretanto, a sair dos arredoresde ‘Akká, que se havia tornado muito perigosa para eles,permanecendo sozinho, com apenas alguns dos fiéis, à espera deSeu destino.

Os quatro oficiais corruptos que constituíam a última Comissãode Investigação, chegaram a ‘Akká no começo do inverno de 1907,onde permaneceram durante um mês e partiram para Constantinopla,depois de concluir a assim chamada ‘investigação’, resolvidos a declararque as acusações contra ‘Abdu’l-Bahá foram comprovadas e arecomendar Seu exílio ou execução. Assim que regressaram à Turquia,entretanto, irrompeu a revolução e os quatro membros da Comissão,por serem do regime antigo, tiveram que fugir. Os Jovens Turcosestabeleceram sua supremacia, e todos os presos políticos e religiososno Império Otomano foram postos em liberdade. Em setembro de1908 ‘Abdu’l-Bahá foi libertado da prisão e, no ano seguinte, o própriosultão ‘Abdu’l-Hamid foi feito prisioneiro.

Viagens ao Ocidente

Após ser posto em liberdade ‘Abdu’l Bahá continuou a mesmavida de santidade, de incessante atividade no ensino, nacorrespondência e no auxílio ao pobre e ao enfermo, apenas

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mudando-Se de ‘Akká para Haifa e de Haifa para Alexandria, atéagosto de 1911, quando partiu para Sua primeira visita ao mundoocidental. Nessas viagens ‘Abdu’l-Bahá esteve com pessoas das maisvariadas opiniões, e cumpriu plenamente o mandamento deBahá’u’lláh: “Associai-vos a todos os povos com alegria econtentamento.”

Nos primeiros dias de setembro de 1911 Ele chegou a Londres,onde passou um mês, durante o qual além das palestras diárias compesquisadores e de muitas outras atividades, falou à congregação dorev. R. J. Campbell no City Temple, e à do arquidiácono Wilberforceem St. John’s, Westminster e almoçou com o lord Mayor [prefeitode Londres].

Dirigiu-Se em seguida a Paris, onde Seu tempo foi ocupadoem entrevistas e palestras diárias a ouvintes entusiastas de muitostipos e nacionalidades.

Em dezembro Ele voltou ao Egito e, na primavera seguinte,acedendo aos ardorosos pedidos dos amigos americanos, embarcoupara os Estados Unidos, chegando em Nova Iorque em abril de1912. Durante os nove meses seguintes Ele percorreu a América doNorte, de costa a costa, dirigindo-Se a pessoas de toda espécie econdição, estudantes universitários, socialistas, mórmons, judeus,cristãos, céticos, esperantistas, sociedades pró-paz, clubes de NovosPensamentos, sociedades para sufrágio feminino, e falando em igrejasde quase todas as denominações, fazendo em cada caso discursosapropriados à audiência e à ocasião. Em 5 de dezembro embarcoupara a Grã-Bretanha, onde passou seis semanas, visitando Liverpool,Londres, Bristol e Edimburgo. Em Edimburgo Ele fez um notáveldiscurso na Sociedade de Esperanto, no qual declarou haverencorajado os bahá’ís do Oriente a estudarem o Esperanto, a fim depromoverem melhor entendimento entre o Oriente e o Ocidente.

Após dois meses em Paris, passados, como antes, em entrevistase conferências diárias, Ele partiu para Stuttgart, onde realizou umasérie de conferências de grande sucesso entre os bahá’ís alemães.

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Dirigiu-Se depois a Budapeste e Viena, fundando novosgrupos nestes lugares e regressando ao Egito em maio de 1913; eem 5 de dezembro do mesmo ano voltou para Haifa.

Regresso à Terra Santa

Contava Ele então setenta anos, e as longas e árduas atividadesculminando nestas estafantes viagens pelo Ocidente, haviam esgotadoSeu corpo físico. Depois de Seu regresso, ‘Abdu’l-Bahá fez o seguintecomovente comentário dirigido aos adeptos orientais:

Amigos! Está chegando o tempo quando não mais estareientre vós. Tenho feito tudo que podia ser feito. Tenho servidoa Causa de Bahá’u’lláh até o máximo de minha capacidade.Tenho trabalhado dia e noite, todos os anos de minha vida.Ó! Como desejo ver os amados assumindo as responsabilidadesda Causa! Agora é tempo de proclamar o Reino de Bahá!Agora é hora de amor e união! Este é o dia da harmoniaespiritual dos amados de Deus! Tenho exaurido todos osrecursos de minha força física, e o espírito da minha vida sãoas notícias bem-vindas da unidade do povo de Bahá. Estoudirigindo meus ouvidos na direção do leste e na direção dooeste, na direção do norte e na direção do sul, quiçá possaouvir as canções de amor e companheirismo entoadas nasreuniões dos fiéis. Meus dias estão contados, e, não restaalegria alguma para mim senão esta. Ó! Como anseio ver osamigos unidos como um colar de pérolas cintilantes, comoas brilhantes plêiades, como os raios do Sol, como as gazelasde um prado!

O Rouxinol místico está gorjeando para eles todos. Nãovão escutar? A Ave do Paraíso está cantando. Não lhe prestarãoatenção? O Anjo de Abhá está chamando-os. Não O ouvirão?O Arauto do Convênio está suplicando. Não obedecerão?

Ah, eu estou esperando, esperando ouvir as jubilosasnotícias de que os crentes são a própria personificação de

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sinceridade e veracidade, a encarnação de amor e amizade, ossímbolos vivos de unidade e concórdia. Não irão alegrar meucoração? Não satisfarão meu anseio? Não manifestarão meudesejo? Não cumprirão o desejo do meu coração? Não darãoouvidos a meu chamado?

Estou esperando, esperando pacientemente.Introdução de A Última Vontade e Testamento, pp. xlii-xliii.

Os inimigos da Causa Bahá’í, cujas esperanças atingiram oápice quando o Báb caiu vítima de sua fúria, quando Bahá’u’lláh foiexpulso de Sua terra natal e feito um prisioneiro perpétuo, enovamente com o passamento de Bahá’u’lláh – esses inimigosvibraram uma vez mais quando viram a fraqueza física e o cansaçode ‘Abdu’l-Bahá após Seu regresso do Ocidente. Mas novamentesuas esperanças estavam fadadas ao desapontamento. Em poucotempo ‘Abdu’l Bahá pôde escrever:

Inquestionavelmente este corpo físico e energia humana nãoteriam sido capazes de resistir ao constante desgaste... mas oapoio e o auxílio do Desejado foi o Guardião e Protetor dofraco e humilde ‘Abdu’l-Bahá.... Têm alguns dito que ‘Abdu’l-Bahá está prestes a se despedir deste mundo, que as suasenergias físicas estão depauperadas e esgotadas, e que dentroem breve essas complicações hão de pôr termo à sua vida.Isto está longe da verdade. Embora na opinião dosrompedores do Convênio e deficientes mentais, seu corposeja fraco em conseqüência das vicissitudes no CaminhoAbençoado, ainda, graças a Deus, através da providência daAbençoada Perfeição, as forças espirituais estão no maiorrejuvenescimento e vigor. Graças a Deus, através do favor ebênção de Bahá’u’lláh, mesmo as energias físicas estãointeiramente restauradas, alegria divina é obtida, as supremasboas novas estão resplandecentes e a felicidade idealtransbordando.

Star of the West, vol. V, no 14, p. 213.

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Não só durante a guerra européia como depois, ‘Abdu’l Bahá,em meio a inúmeras outras atividades pôde escrever uma série deextensas e inspiradas cartas que, depois de reabertas as comunicações,despertou nos crentes do mundo inteiro novo entusiasmo e zelo.Sob a inspiração dessas cartas a Causa cresceu rapidamente, e portoda parte a Fé mostrava sinais de nova vitalidade e vigor.

Haifa Durante a Guerra

Houve um exemplo notável da previsão que ‘Abdu’1 Bahá fezdurante os meses que precederam imediatamente a guerra. Nostempos de paz, havia usualmente um grande número de peregrinosem Haifa, vindos da Pérsia e de outras regiões do globo. Cerca deseis meses antes de irromper a guerra, um dos bahá’ís antigos queresidia em Haifa apresentou um pedido de vários adeptos da Pérsiapara que lhes fosse permitido visitar o Mestre. ‘Abdu’1-Bahá nãoconcedeu a permissão e, daí em diante, foi gradualmente dispensandoos peregrinos que se achavam em Haifa, de modo que no final dejulho de 1914 já não restava nenhum. Quando, em princípios deagosto, o estouro repentino da grande guerra assombrou o mundo,a sabedoria da Sua precaução tornou-se evidente.

Quando a guerra irrompeu, ‘Abdu’l-Bahá, que já havia passadocinqüenta e cinco anos de Sua vida em exílio e prisão, veio a ser maisuma vez virtualmente prisioneiro do governo turco. As comunicaçõescom amigos e crentes fora da Síria foram quase inteiramenteinterrompidas, ficando Ele e o Seu pequeno grupo de seguidoresnovamente sujeitos a circunstâncias difíceis, à escassez de alimentos,e a grandes transtornos e perigos.

Durante a guerra, ‘Abdu’l-Bahá esteve muito ocupado ematender às necessidades materiais e espirituais daqueles que Orodeavam. Organizou pessoalmente extensos serviços agrícolas pertode Tibérias, garantindo desse modo um grande suprimento de trigo,através do qual foi evitada a fome não somente entre os bahá’íscomo também entre centenas de pobres de todas as religiões em

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Haifa e ‘Akká, cujas necessidades Ele liberalmente supriu. Ele cuidoude todos, mitigando seus sofrimentos tanto quanto possível. Acentenas de pobres Ele dava diariamente uma pequena quantia.Além de dinheiro, distribuía pão. Quando não havia pão, Ele davatâmaras ou outro alimento. Fazia freqüentes visitas a ‘Akká a fim deali confortar e ajudar os bahá’ís e os pobres. Durante o tempo daguerra Ele tinha reuniões diárias com os adeptos, e através de Seuauxílio mantinham-se contentes e tranqüilos durante todos aquelesanos conturbados.

Sir ‘Abdu’l-Bahá ‘Abbás, K. B. E.

Grande foi a alegria em Haifa quando, às 15 horas de 23 desetembro de 1918, após umas vinte e quatro horas de combate, acidade foi tomada pelas cavalarias britânica e indiana, assim fazendocessar as horrorosas condições de guerra sob o regime turco.

Desde o início da ocupação britânica, grande número desoldados e oficiais de todos os graus, até do mais alto, procuravaentrevistas com ‘Abdu’l-Bahá, deleitando-se com a Sua palavra cheiade luz, Sua largueza de visão, profundeza de percepção, Sua cortesia,dignidade e genial hospitalidade. Tão profundamenteimpressionados ficaram os representantes do governo pelo Seu nobrecaráter e pela Sua grandiosa obra em prol da conciliação para a paze da verdadeira prosperidade do povo, que o título de cavaleiro doimpério britânico foi conferido a ‘Abdu’l-Bahá, tendo a cerimôniase realizado no jardim do governador militar de Haifa, aos 27 diasdo mês de abril de 1920.

Últimos Anos

Durante o inverno de 1919-1920, o autor teve o grandeprivilégio de passar dois meses e meio como hóspede de ‘Abdu’lBahá em Haifa, podendo assim observar intimamente Sua vidacotidiana. Nesse tempo, embora com quase setenta e seis anos de

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idade, Ele estava ainda muito vigoroso e realizava diariamente umtrabalho quase incrível. Ainda que muitas vezes fatigado, Elemostrava um admirável poder de recuperação, e Seus serviços estavamsempre ao dispor daqueles que mais os necessitavam. Sua infalívelpaciência, docilidade, bondade e tato fizeram da Sua presença umabênção. Era Seu costume passar grande parte de cada noite em oraçãoe meditação. Desde o amanhecer até a noite, com exceção de umabreve sesta depois do almoço, estava Ele sempre muito ocupado emler e responder cartas de vários países, e em dirigir os múltiplosafazeres da família e da Causa. À tarde, Ele usualmente fazia umpequeno relaxamento, na forma de uma caminhada ou um passeiode carruagem, mas quase sempre acompanhado de um, dois oumais peregrinos, com os quais conversaria sobre assuntos espirituais,ou encontraria no caminho alguma oportunidade de visitar e auxiliaralguns pobres. Ao regressar, convidava os amigos para a costumeirareunião noturna em Seu salão. Não só no almoço como no jantar,Ele costumava entreter um bom número de peregrinos e amigos, eencantava Seus hóspedes com histórias alegres e cheias de humor,como também com palestras preciosas sobre assuntos os maisvariados. “Minha casa é a casa do riso e da alegria”, dizia Ele e, defato, assim era. Sentia grande prazer em reunir pessoas de váriasraças, cores, nações e religiões, em espírito de unidade e cordialamizade ao redor de Sua mesa hospitaleira. Era realmente um paiamoroso não só para a pequena comunidade de Haifa como tambémpara a comunidade bahá’í inteira, no mundo todo.

O Falecimento de ‘Abdu’l-Bahá

As múltiplas atividades de ‘Abdu’l-Bahá continuaram compequena diminuição a despeito da crescente fraqueza física e fadiga,até o último ou penúltimo dia de Sua vida. Na sexta-feira, 25 denovembro de 1921, Ele assistiu à prece do meio-dia na mesquita deHaifa, distribuindo, em seguida, esmolas entre os pobres com Suaspróprias mãos, como era Seu costume. Após o almoço Ele ditou

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algumas cartas. Depois de um pequeno descanso, foi passear nojardim, onde conversou com o jardineiro. À noite deu Sua bênção econselho a um estimado e fiel servo da casa que havia se casadonesse dia, assistindo, logo após, à reunião usual dos bahá’ís em Seupróprio salão. Menos de três dias depois, na segunda-feira, 28 denovembro, à l hora e 30 minutos da madrugada, Ele expirava, tãotranqüilamente que, às duas filhas que estavam ao Seu lado, pareceuque Ele estava dormindo.

A triste notícia cedo espalhou-se pela cidade e foi difundidapelo telégrafo por toda parte do mundo. O funeral foi realizado namanhã seguinte, terça-feira, 29 de novembro:

...um funeral o qual nem Haifa, nem a Palestina nunca haviamvisto. Tão profundo eram os sentimentos que uniu milharesde pessoas, representantes de várias religiões, raças e línguas.

O alto comissário da Palestina, sir Herbert Samuel, ogovernador de Jerusalém, o governador da Fenícia, os altosfuncionários do governo, os cônsules de vários paísesresidentes em Haifa, os líderes de várias comunidadesreligiosas, as altas personalidades da Palestina, judeus, cristãos,muçulmanos, drusos, egípcios, gregos, turcos, curdos e umahoste de Seus amigos americanos, europeus e nativos, homens,mulheres e crianças, tanto de classes altas como de classesbaixas, ao todo, cerca de dez mil, chorando a perda de seuAmado...

— Ó Deus, meu Deus – o povo pranteava num só coro –Nosso pai nos deixou, nosso pai nos deixou!

Conforme subiam lentamente o Monte Carmelo, a Vinhade Deus, o ataúde parecia, à distância, estar sustentado pormãos invisíveis, de tão alto acima das cabeças do povo era elecarregado. Depois de duas horas de caminhada, chegaramao jardim do Santuário do Báb...

...Enquanto o enorme grupo se amontoava ao redor dotabernáculo de Seu corpo que aguardava para ser depositadoem Seu lugar de repouso, dentro da câmara contígua à do

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Báb, os representantes das várias denominações muçulmanas,cristãs e judias, todos com corações ardentes pelo fervorosoamor a ‘Abdu’l-Bahá, uns levados pelo impulso do momento,outros com preparo, ergueram suas vozes em elogio e lástima,prestando sua última homenagem de despedida ao seuAmado. Tão unidos estavam em aclamá-Lo como o educadore reconciliador sábio da raça humana nesta era perplexa etriste, que parecia restar nada para os bahá’ís dizerem.

Introdução de A Última Vontade e Testamento, pp. xviii-xx.

Nove oradores, todos eles proeminentes representantes dascomunidades muçulmana, cristã e judaica, prestaram eloqüentes ecomoventes testemunhos de seu amor e admiração pela pura e nobrevida que acabava de findar-se. Então o ataúde foi suavemente colocadona simples e sagrada sepultura.

Seguramente, esse foi um tributo à altura da memóriadAquele que labutou durante toda a Sua vida pela unidade dasreligiões, raças e línguas – um tributo e também uma prova de queSua vida de trabalho não fora em vão, de que os ideais de Bahá’u’lláhque eram Sua inspiração, ainda mais, Sua própria vida, já começavama difundir-se pelo mundo e a destruir as barreiras constituídas pelasseitas e castas que, por séculos, vinham separando muçulmanos,cristãos, judeus e as diversas outras facções nas quais a família humanase havia dividido.

Escritos e Discursos

Os Escritos de ‘Abdu’l-Bahá são muito numerosos e estão, namaior parte, em forma de cartas aos bahá’ís e a inquiridores. Grandenúmero de Seus discursos e palestras foi registrado e muitos forampublicados. Dos milhares de peregrinos que O visitaram em ‘Akká eHaifa, muitos descreveram suas impressões, e alguns destes registrosacham-se impressos.

Assim estão completamente preservados Seus ensinamentos,os quais abrangem uma grande variedade de assuntos. A respeito de

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vários problemas tanto do Oriente quanto do Ocidente, Ele tratoumais amplamente do que o fizera Seu pai, dando aplicações maisdetalhadas dos princípios gerais determinados por Bahá’u’lláh.Muitos desses Seus Escritos não foram traduzidos ainda paranenhuma língua ocidental, mas já há o bastante para dar umconhecimento amplo e profundo dos princípios mais importantesdos Seus ensinamentos.

Ele falava o persa, o árabe e o turco. Nas viagens ao Ocidente,as palestras eram sempre traduzidas, com o que certamente muitoperdiam de sua beleza, eloqüência e força; não obstante, tal era opoder do Espírito que acompanhava Suas palavras que todos que Oouviam ficavam impressionados.

Posição de ‘Abdu’l-Bahá

A Abençoada Perfeição indica na seguinte passagem aincomparável posição que designara a ‘Abdu’l-Bahá:

Quando o oceano de Minha presença tiver refluído, e o Livrode Minha Revelação se achar completo, volvei vossas facesÀquele eleito por Deus, Aquele que brotou desta Raiz Antiga.

Bahá’u’lláh. O Kitáb-i-Aqdas, K121, pp. 50-51.

E outra vez:

...para qualquer coisa no Livro que não compreendais, dirigi-vos Àquele que ramificou deste poderoso Tronco.

O próprio ‘Abdu’l-Bahá escreveu o seguinte:

Segundo o texto explícito do Kitáb-i-Aqdas, Bahá’u’lláhdesignou o Centro do Convênio para ser o Intérprete da SuaPalavra – um Convênio tão firme e poderoso que, desde oprincípio do tempo até o dia presente, nenhuma Dispensaçãoreligiosa produziu outro semelhante.

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73‘ABDU’L-BAHÁ: O SERVO DE BAHÁ

Foi exatamente pela completa servitude com que ‘Abdu’l-Bahápromulgava a Fé de Bahá’u’lláh por todo o Oriente e o Ocidenteque resultava algumas vezes em confusão na crença dos adeptos arespeito de Sua posição. Percebendo a pureza do espírito que animavaSuas palavras e ações, cercados como estavam de influências religiosasque assinalavam o desmoronamento das doutrinas tradicionais,alguns bahá’ís imaginavam que honrariam ‘Abdu’l-Bahácomparando-O a um Manifestante ou saudando-O como a “voltade Cristo”. Nada Lhe causou tão intensa tristeza como essa falha emperceber que Sua capacidade de servir Bahá’u’lláh procedia da purezado espelho voltado para o Sol da Verdade, e não do próprio Sol.

Além disso, diferente das Revelações anteriores, a Fé trazidapor Bahá’u’lláh continha a potência de uma sociedade humanauniversal. Durante a missão de ‘Abdu’l-Bahá, que abrangeu o períodode 1892 a 1921, a Fé evoluiu através de etapas sucessivas dedesenvolvimento na direção de uma verdadeira ordem mundial. Seudesenvolvimento necessitou de uma contínua orientação e deinstruções específicas por parte de ‘Abdu’l-Bahá, único conhecedorda plenitude dessa nova e potente inspiração trazida à terra nestaépoca. Até o falecimento de ‘Abdu’l-Bahá, quando se tornouconhecida Sua Última Vontade e Testamento, sendo sua significaçãoexposta por Shoghi Effendi, o Guardião da Fé, os bahá’ís quase queinevitavelmente atribuíam à orientação de seu bem-amado Mestreum grau de autoridade espiritual que se igualava ao do Manifestante.

Não mais se notam os efeitos de tão ingênuo entusiasmo dentroda comunidade bahá’í. Tendo os bahá’ís adquirido uma compreensãomais nítida do mistério daquelas incomparáveis devoção e servitude,tanto mais conscientemente podem hoje apreciar o caráterextraordinário da missão cumprida por ‘Abdu’l-Bahá. A Fé queparecia tão fraca e impotente em 1892, em vista do exílio eencarceramento de seu Exemplo e Intérprete, tem, desde aqueletempo, com poder irresistível, levantado comunidades em muitospaíses*, e desafia a fraqueza de uma civilização decadente com

*Desde a publicação da primeira edição deste livro em 1928, a Fé a tal ponto sedifundiu pelo mundo que existem agora bahá’ís residindo em mais de 220 países eterritórios (em mais de 110.000 localidades). Para informações atualizadas acessarsites da web. (n.e.)

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ensinamentos que são únicos em revelar o futuro de umahumanidade desesperada.

A Última Vontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahá expõe comperfeita clareza o mistério das posições do Báb e de Bahá’u’lláh, eSua própria missão:

É esse o fundamento da crença do povo de Bahá (seja minhavida sacrificada por Eles). Sua Santidade, o Excelso (o Báb),é a manifestação da Unidade Divina e o Precursor da AntigaBeleza. Sua Santidade, a Beleza de Abhá, (seja minha vidaum sacrifício por Seus amigos fiéis!) é o SupremoManifestante de Deus e a Aurora de Sua Mais DivinaEssência. Todos os demais são Seus servos e fazem o que Eleordena.

A Última Vontade e Testamento, p. 22.

Por esta e por muitas outras afirmações nas quais ‘Abdu’l Baháacentuou a importância de fundamentar o conhecimento da Fé emSuas Epístolas gerais, ficou estabelecido um alicerce para a unidadede crença, que resultou no rápido desaparecimento das diferençasde compreensão causadas pela referência às Suas Epístolas ‘Abdu’l-Bahá endereçadas a indivíduos, nas quais o Mestre respondia aperguntas pessoais. Acima de tudo, o estabelecimento de uma bemdefinida ordem administrativa, dirigida pelo Guardião, transferiuàs instituições toda a autoridade anteriormente exercida ‘Abdu’l-Bahá na forma de prestígio e influência dos bahá’ís individualmente,nos vários grupos locais.

Exemplo de Vida Bahá’í

Bahá’u’lláh foi o proeminente Revelador do Verbo. Seusquarenta anos de prisão deram-Lhe apenas limitadas oportunidadespara contato com Seus semelhantes. A ‘Abdu’l-Bahá, portanto, coubea importante incumbência de expoente da Revelação, o Executor

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do Verbo, o Grande Exemplar da vida bahá’í em real contato com omundo hodierno nas mais diversas fases de sua miríade de atividades.Ele mostrou ser ainda possível, em meio ao intenso torvelinho queé a vida moderna, em meio ao egoísmo e à luta pela prosperidadematerial que em toda parte prevalecem, ter-se uma vida de inteiradevoção a Deus e serviço ao próximo, assim como Cristo eBahá’u’lláh e todos os Profetas exigiram dos homens. Por um lado,rodeado de provações e vicissitudes, calúnias e perfídia, e por outro,de amor e louvor, devoção e veneração, Ele manteve-Se como umfarol edificado numa rocha, no inverno, batido pelas tempestadesem fúria, no verão, acariciado pelo oceano, Seu porte e serenidadepermanecendo sempre firmes e inabaláveis. Ele viveu a vida de fé, eexorta Seus seguidores a vivê-la aqui, neste mundo, e agora. Eleergueu em meio a um mundo belicoso a Bandeira da Unidade e daPaz, o Estandarte de uma Nova Era, e assegura àqueles que selevantem em seu apoio que serão inspirados pelo Espírito do NovoDia. É o mesmo Espírito Santo que inspirou os Profetas e Santos daAntigüidade, mas é uma nova emanação desse Espírito, apropriadaàs necessidades do novo tempo.

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Capítulo 5QUE É UM BAHÁ’Í?

O homem deve produzir frutos. Quem não dá frutoalgum é – nas palavras do Espírito (Jesus) – semelhante auma árvore infrutífera, a qual não é digna, senão do fogo.

Bahá’u’lláh. Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 70.

Disse uma vez Herbert Spencer, que por nenhuma alquimiapolítica é possível extrair conduta áurea de instintos de chumbo, eé também verdade que por nenhuma alquimia política é possívelextrair uma sociedade áurea de indivíduos de chumbo. Bahá’u’lláh,como todos os Profetas anteriores, proclamou esta verdade e ensinouque, a fim de estabelecer o Reino de Deus na terra, primeiro erapreciso fazê-lo no coração dos homens. Ao examinarmos osensinamentos bahá’ís, portanto, começaremos pelas instruções deBahá’u’lláh sobre a conduta individual, e tentaremos formar umconceito claro do que significa ser um bahá’í.

A Vida Bahá’í

Tendo alguém Lhe perguntado, em certa ocasião: “Que é umbahá’í?”, ‘Abdu’l-Bahá respondeu: “Ser bahá’í significa simplesmenteamar a todos; amar à humanidade e esforçar-se por servi-la; trabalharpela paz e fraternidade universais.” Noutra ocasião, definiu um bahá’ícomo sendo “uma pessoa dotada de todas as perfeições humanas emação”. Num de Seus discursos em Londres, disse que uma pessoapode ser um bahá’í mesmo que nunca tenha ‘Abdu’l-Bahá ouvido onome de Bahá’u’lláh. Disse ainda:

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77QUE É UM BAHÁ’Í?

A pessoa que vive a vida de acordo com os ensinamentos deBahá’u’lláh já é um bahá’í. Por outro lado, uma pessoa podese chamar de bahá’í por cinqüenta anos e se não viver a vida(bahá’í) não é bahá’í. Uma pessoa feia pode se chamar bela,mas não engana a ninguém...

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Londres – 1911, pp. 95-96.

Quem não conhece os Mensageiros de Deus, entretanto, écomo uma planta que cresce na sombra. Embora não conheça o sol,dele depende inteiramente. Os grandes Profetas são sóis espirituaise Bahá’u’lláh é o sol deste “Dia” em que nós vivemos. Os sóis dosdias passados aqueceram e vivificaram o mundo e, se não tivessembrilhado, a Terra estaria agora fria e morta, mas somente o sol dehoje pode amadurecer os frutos que os sóis dos dias anteriorestrouxeram à vida.

Devoção a Deus

A fim de que seja atingida a vida bahá’í em toda a suaplenitude, uma cônscia e direta relação com Bahá’u’lláh é tãonecessária como é o sol para o desabrochar do lírio ou da rosa. Obahá’í não adora a personalidade humana de Bahá’u’lláh, e sim aGlória de Deus manifesta através dessa personalidade. Ele venera aCristo, a Muhammad e a todos os antigos Mensageiros de Deus àhumanidade, mas reconhece Bahá’u’lláh como o portador daMensagem de Deus para a nova era em que vivemos, como o GrandeEducador Mundial que veio prosseguir e consumar a obra de Seuspredecessores.

A aceitação intelectual de um credo não faz de um homemum bahá’í, nem a aparente retidão de conduta. Bahá’u’lláh exige deSeus discípulos uma devoção sincera e completa. Somente Deustem o direito de fazer tal exigência, mas Bahá’u’lláh fala comoManifestante de Deus e Revelador de Sua Vontade. OsManifestantes anteriores foram igualmente claros quanto a esse

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ponto. Cristo disse: “Se alguém quiser Me seguir, que renuncie a simesmo, e tome sobre si a sua cruz, e siga-Me. Pois aquele que quisersalvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amora Mim, salvá-la-á.” Em palavras diferentes, todos os Manifestantesde Deus fizeram esta mesma exigência aos Seus discípulos, e ahistória da religião mostra claramente que enquanto esta exigênciaera francamente reconhecida e aceita, a religião florescia, a despeitode toda a oposição terrena, a despeito das aflições, das perseguiçõese do martírio dos seguidores. Por outro lado, todas as vezes que aconsideração aos ditames da sociedade e a sua “respeitabilidade”vêm a substituir a dedicação incondicional, a religião decai. Tornou-se moda, mas perdeu seu poder de salvar e transformar, seu poderde fazer milagres. A verdadeira religião jamais esteve em moda.Permita Deus que algum dia ela esteja; mas ainda é verdade, assimcomo nos dias de Cristo, que “estreita é a porta e apertado o caminhoque conduz à vida, e poucos há que a encontrem”. A porta donascimento espiritual, como a do natural, somente dá passagem aoshomens um a um, e quando não há empecilhos. Se no futuro onúmero de pessoas que conseguir passar por esse caminho for maiordo que no passado, não será porque a passagem tenha sido alargada,e sim, por causa de uma maior disposição por parte dos homens ematingir a “grande renúncia” que Deus exige; porque longa e amargaexperiência fez com que vissem, finalmente, a loucura de escolherseu próprio caminho em lugar do caminho de Deus.

Busca da Verdade

Bahá’u’lláh prescreve a justiça a todos os Seus seguidores eassim a define:

A essência de tudo o que temos revelado é a justiça; está emse livrar da vã fantasia e da imitação; com os olhos da unidadedeve o homem discernir a Glória de Deus, e averiguar todasas coisas com visão perspicaz.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 175.

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79QUE É UM BAHÁ’Í?

É necessário que cada indivíduo veja e compreenda por simesmo a Glória de Deus manifesta no templo humano deBahá’u’lláh; de outro modo, a Fé Bahá’í não lhe seria mais do queum nome sem significação. O chamado dos Profetas à humanidadetem sempre sido para que abra seus olhos, não os feche, use suarazão, não a suprima. É a visão clara e o pensamento livre, não acredulidade servil, que a tornará capaz de penetrar as nuvens dopreconceito, a livrar-se dos grilhões da imitação cega, e a atingir acompreensão da verdade de uma nova Revelação.

Aquele que quiser ser um bahá’í precisa buscardestemidamente a verdade, sem contudo limitar sua busca ao planomaterial. Seus poderes de percepção espiritual devem ser tãodespertos quanto os físicos. Ele deve usar todas as faculdades queDeus lhe deu para a aquisição da verdade, em nada acreditandosem motivo válido e suficiente. Se seu coração for puro e sua menteestiver livre de preconceitos, quem busca sinceramente não deixaráde reconhecer a Glória Divina, seja qual for o templo em que possamanifestar-Se. Bahá’u’lláh declara também:

O homem deve conhecer a si próprio e reconhecer o que levaà sublimidade ou à humilhação, à glória ou ao rebaixamento,à riqueza ou à pobreza.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 43.

A origem de toda a erudição é o conhecimento de Deus –exaltada seja Sua glória – e este só será atingido através doconhecimento de Seu Manifestante Divino.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 175.

O Manifestante é o Homem Perfeito, o grande Exemplar paraa Humanidade, o Primeiro Fruto da árvore do gênero humano. Antesde O conhecermos, não conhecemos as possibilidades latentes queexistem dentro de nós. Cristo nos diz que devemos contemplar oslírios, como crescem, e declara que Salomão, em toda a sua glória,não adornou-se como aqueles. O lírio cresce de uma raiz

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absolutamente sem atrativos. Se nunca tivéssemos visto o desabrochardo lírio, se jamais tivéssemos contemplado o incomparável encantode sua folhagem e flor, como poderíamos conceber a realidade contidanessa raiz? Ainda que pudéssemos dissecá-la com o maior cuidado ea examinássemos minuciosamente, jamais descobriríamos a belezaadormecida que o jardineiro sabe como despertar. Assim, antes quetenhamos visto a Glória de Deus revelada no Manifestante, nãopodemos fazer uma idéia da beleza espiritual latente em nossa próprianatureza e na dos nossos semelhantes. Conhecendo e amando aoManifestante de Deus e seguindo os Seus ensinamentos, tornamo-nos capazes, pouco a pouco, de compreender as perfeições potenciaisdentro de nós mesmos; então, e não antes, a significação e o propósitoda vida e do universo tornam-se visíveis para nós.

Amar a Deus

Conhecer o Manifestante de Deus significa também amá-Lo. Uma coisa é impossível sem a outra. Segundo Bahá’u’lláh, oobjetivo da criação do homem é que ele possa conhecer a Deus eadorá-Lo. Assim diz Ele numa de Suas Epístolas:

O amor foi a causa da criação de todos os seres contingentes,como diz a conhecida tradição. “Eu era um Tesouro Oculto.Desejei tornar-Me conhecido, e assim Eu trouxe a criação àexistência para que Me pudesse conhecer”.

Bahá’u’lláh. O Kitáb-i-Aqdas, n23, p. 145.

Também na obra As Palavras Ocultas, Bahá’u’lláh diz:

Ó Filho do Ser! Ama-Me, a fim de que Eu te possa amar. Senão Me amas, de modo algum pode o Meu amor te atingir.Sabe isto, ó servo!

Ó Filho da Visão Maravilhosa! Insuflei em ti um sopro deMeu próprio Espírito, a fim de que Me pudesses amar. Por

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81QUE É UM BAHÁ’Í?

que Me abandonaste e quiseste outro, que não Eu, como teubem-amado?

Ter amor a Deus! Este é o objetivo único da vida para o bahá’í.Ter a Deus como seu maior companheiro e mais íntimo amigo, seuIncomparável Bem-Amado, em cuja Presença está a plenitude docontentamento! E amar a Deus significa amar a tudo e a todos, poistodos provêem de Deus. O verdadeiro bahá’í será a personificaçãoperfeita do amor. A todos amará com um coração puro,fervorosamente. A ninguém odiará. A ninguém desprezará, pois teráaprendido a ver a face do Bem-Amado em toda face, e a ver Seustraços em toda parte. Seu amor não conhecerá limites de credo,nação, classe ou raça. Diz Bahá’u’lláh:

Em tempos remotos se revelou: “O amor à pátria é elementoda Fé Divina.” No dia de Sua manifestação, porém, a Línguada Grandeza proclamou: “Não se vanglorie quem ama suapátria, mas sim, quem ama o mundo.”

Bahá’u’lláh. Seleção dos Escritos de Bahá’u’lláh, p. 80.

E mais:

Bem-aventurado quem prefere seu irmão antes de si próprio.Verdadeiramente, de acordo com a Vontade de Deus, oOnisciente, a Suma Sabedoria, tal homem figura entre o povode Bahá, que habita na Arca Carmesim.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 83.

‘Abdu’l-Bahá nos diz que devemos ser “como uma só almaem muitos corpos, pois quanto mais amarmos uns aos outros, maispróximos estaremos de Deus”. A um auditório norte-americano Eledisse:

De igual modo, as divinas religiões dos santos Manifestantesde Deus são, na realidade, a mesma, embora sejam designadas

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por nomes diferentes. O homem deve amar a luz, não importaem que horizonte ela surja. Ele deve amar a rosa, não importaem que solo ela cresça. Ele deve ser um buscador da verdade,não importa de que fonte ela provenha. Apego à lâmpadanão significa amor à luz. Apego à terra é indigno, o que édigno é desfrutar a rosa que surge do solo. Devoção à árvoreé inútil, benéfico é participar dos frutos. Frutos deliciososdevem ser saboreados, não importa em que árvore cresçamou onde sejam encontrados. A palavra da verdade deve serapoiada, não importa que língua a pronuncie. Verdadesabsolutas devem ser aceitas, não importa em que livro estejamregistradas. Se fomentarmos o preconceito, ele será causa deprivação e ignorância. O conflito entre religiões, nações eraças surge da incompreensão. Se investigarmos as religiõespara descobrirmos os princípios subjacentes aos seusfundamentos, veremos que elas estão de acordo; pois arealidade fundamental delas é uma e não múltipla. Atravésdisso, os seguidores das religiões do mundo chegarão à suaunidade e reconciliação.

A Promulgação da Paz Universal, p. 187.

Ele disse ainda:

Cada um dos bem-amados deve amar aos outros e não lhesnegar suas possessões e sua vida, e deve procurar por todos osmeios fazê-los alegres e felizes. Mas estes outros devemtambém ser desinteressados e abnegados. Assim pode esteSol Nascente inundar os horizontes, esta Melodia alegrar efazer felizes a todos os povos, este Remédio Divino tornar-sea panacéia para todas as doenças, este Espírito da Verdadeconverter-se em fonte de vida para cada alma.

Tablets of Abdul-Baha, vol. I, p. 147.

Desprendimento

Devoção a Deus implica também em desprendimento detudo que não seja de Deus, isto é, desprendimento de todos os

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desejos egoísticos e mundanos, e mesmo dos que dizem respeito àvida do outro mundo. O Caminho de Deus pode passar pela riquezaou pobreza, saúde ou doença, por um palácio ou uma masmorra,um jardim de rosas ou uma câmara de tortura. Qualquer que sejaseu destino, o bahá’í aprenderá a aceitá-lo com “aquiescênciaradiante”. O desprendimento não quer dizer estulta indiferença aoque lhe rodeia, ou resignação passiva às más condições; nem significadesprezar as boas coisas criadas por Deus. O verdadeiro bahá’í nãoserá insensível, apático, nem ascético. Encontrará abundanteinteresse, abundante trabalho e abundante alegria no Caminho deDeus, mas dele não se desviará nem sequer pela grossura de um fiode cabelo em busca de prazer, nem cobiçará o que Deus lhe hajanegado. Quando um homem se torna um bahá’í, a Vontade deDeus vem a ser sua vontade, pois estar em desacordo com Deus é oque ele não pode tolerar. No Caminho de Deus, não há males quelhe possam amedrontar, nem aborrecimentos que lhe possamdesanimar. A luz do amor ilumina seus dias mais escuros, muda ossofrimentos em alegria, e o próprio martírio, em êxtase. A vida éelevada ao plano heróico e a morte torna-se uma alegre aventura.Bahá’u’lláh diz:

Pois quem nutre em seu coração o amor a qualquer um alémde Mim, seja na extensão de uma semente de grão demostarda, não poderá ser admitido em Meu Reino.

O Chamado do Senhor das Hostes, pp. 43-44.

Ó Filho do Homem! Se Me amas não te prendas a ti mesmo;e se buscas Meu prazer, não consideres o teu próprio; paraque tu morras em Mim e Eu possa viver eternamente em ti.

Ó Meu Servo! Liberta-te dos grilhões desse mundo edesprende tua alma da prisão do ego. Aproveita tuaoportunidade, pois não mais te virá.

As Palavras Ocultas, no 7 do árabe e no 40 do persa

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Obediência

Devoção a Deus envolve obediência implícita aos SeusMandamentos revelados, mesmo quando a razão destes não écompreendida. O marinheiro obedece implicitamente às ordens deseu capitão, ainda que ignore a razão delas; a sua submissão àautoridade, porém, não é cega. Ele sabe muito bem que o capitãoprestou serviços em cada posto e deu fartas provas de competênciacomo navegador. Se assim não fosse, ele seria insensato, realmente,em submeter-se à sua autoridade. Assim, o bahá’í deve obedecerimplicitamente ao Capitão de sua Salvação, mas seria insensato, emverdade, se primeiro não se certificasse ter esse Capitão dado provassobejas de ser digno de confiança. Tendo recebido tais provas, porém,ele seria ainda mais insensato em recusar-se a obedecê-Lo, poissomente pela obediência inteligente e consciente ao mestre sábio éque podemos colher os benefícios de sua sabedoria e adquirir estasabedoria para nós próprios. Por mais sábio que fosse o capitão, se atripulação não lhe obedecesse, como poderia o navio alcançar o portoou os marinheiros aprender a arte da navegação? Cristo mostrouclaramente que a obediência é o caminho do saber. Ele disse:

A minha doutrina não é minha, mas dAquele que me enviou.Se alguém quiser fazer a vontade dEle, pela mesma doutrinaconhecerá se ela é de Deus, ou se Eu falo de mim mesmo.

João, 7:16-17.

Outrossim, diz Bahá’u’lláh:

A verdadeira crença em Deus e o reconhecimento dEle nãopodem estar completos, a não ser que seja aceito o que Elerevelou, e seja observada qualquer coisa que Ele tivessedecretado e que fosse assentada no Livro pela Pena de Glória.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 60.

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85QUE É UM BAHÁ’Í?

Obediência implícita não é uma virtude popular nestes diasdemocráticos e, de fato, inteira submissão à vontade de um simpleshomem seria desastrosa. A Unidade do Gênero Humano, porém,somente pode ser alcançada através da completa harmonia de todoscom a Vontade Divina. A não ser que essa Vontade seja claramenterevelada e os homens abandonem todos os outros dirigentes eobedeçam ao Mensageiro Divino, os conflitos e lutas prosseguirão eos homens continuarão opor-se uns aos outros, a dedicar uma grandeparte de sua energia à frustração dos esforços de seus semelhantes,em vez de trabalhar harmoniosamente para a Glória de Deus e obem-estar comum.

Serviço

Devoção a Deus implica em uma vida de serviço aos nossossemelhantes. De nenhum outro modo podemos servir a Deus. Sevoltarmos as costas aos nossos semelhantes, estaremos tambémvoltando as costas a Deus. Cristo disse: “Sempre que não o fizestesa um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim não o fizestes.” Dissetambém Bahá’u’lláh:

Ó filho do homem! Se teus olhos estiverem volvidos para amisericórdia, abandona as coisas que te são proveitosas eapega-te ao que trará proveito à humanidade. E se teus olhosestiverem volvidos para a justiça, escolhe para o teu próximoaquilo que para ti próprio escolherias.

Epístola ao Filho do Lobo, p. 45.

‘Abdu’l-Bahá diz:

Na Causa Bahá’í, as artes, as ciências e todos os ofícios são(considerados como) adoração. O homem que faz uma folhade papel de escrever com o máximo de sua habilidade,conscienciosamente, concentrando toda a eficiência em

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aperfeiçoá-la, está louvando a Deus. Em poucas palavras, todoesforço, toda função desempenhada pelo homem, de todo ocoração, se for movida pelos mais nobres propósitos e pelodesejo de servir à humanidade, é adoração. Isto é adoração:servir à humanidade e suprir as necessidades do povo. Serviré orar. “Um médico, cuidando do doente benignamente,ternamente, livre de preconceito e crente na solidariedadeda raça humana, está louvando a Deus”.

Palestras de Abdu’l-Bahá, Paris – 1911, p. 175.

A Disseminação dos Ensinamentos

O verdadeiro bahá’í não só acredita nos ensinamentos deBahá’u’lláh como também encontra neles a guia e inspiração de suavida inteira, e alegremente transmite aos outros o conhecimentoque é a fonte do seu próprio ser. Somente assim receberá ele “opoder e a confirmação do Espírito” em sua plenitude. Nem todospodem ser oradores eloqüentes ou bons escritores, mas todos podemensinar pelo “exemplo de vida”. Diz Bahá’u’lláh:

Incumbe, ao povo de Bahá, através do poder de Suas palavras,fazer o Senhor triunfar e, por meio de suas belas ações e deseu bom caráter, admoestar o povo, desde que a influênciaexercida por ações é maior do que a de palavras.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 67.

O bahá’í, entretanto, em hipótese alguma imporá suas idéiasàqueles que não querem ouvi-las. Atrairá as pessoas ao Reino deDeus, não tentará forçá-las a isso. Será como o bom pastor queconduz o seu rebanho e encanta suas ovelhas com sua música, aocontrário daquele que as empurra com cães e bastão.

Diz Bahá’u’lláh em As Palavras Ocultas:

Ó Filho do Pó! Sábios são aqueles que não falam salvo setiverem quem ouça, assim como o portador da taça, que só aoferece quando encontra quem a procure, e o apaixonado,

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87QUE É UM BAHÁ’Í?

que não exclama das profundezas de seu coração antes defitar a beleza de sua bem-amada. Lança, pois, as sementes dasabedoria e do conhecimento no solo puro do coração, eguarda-as ocultas, até que os jacintos da sabedoria divinabrotem do coração, e não do lodo e do barro.

E ainda, na Epístola de Ishráqát, Ele diz:

Ó povo de Bahá! Sois os mananciais do amor de Deus e asfontes de Sua benevolência. Não corrompais vossas línguasamaldiçoando e causando injúria a qualquer alma, e guardaivossos olhos de tudo que não seja condigno. Apresentai oque possuís. Se for recebido favoravelmente, tereis atingidovosso objetivo; se não, protestar é inútil. Deixai tal alma asós e volvei-vos ao Senhor, o Protetor, o Subsistente por Sipróprio. Não sejais causa de tristeza, muito menos de discórdiae contenda. Nutre-se a esperança de que possais obter aeducação verdadeira à sombra da árvore de Sua ternamisericórdia e agir de acordo com o que Deus deseja. Soistodos as folhas de uma só árvore e as gotas de um mesmooceano.

O Kitáb-i-Aqdas, p. 73.

Cortesia e Reverência

Bahá’u’lláh diz:

Ó povo de Deus! Eu vos admoesto que observeis cortesia,pois é aquilo que, acima de tudo mais sobressai como umpríncipe entre as virtudes. Feliz aquele que está iluminadocom a luz da cortesia e ataviado com a vestidura da retidão.Quem está imbuído de cortesia atingiu, em verdade, umgrau sublime. Espera-se que este Ser Oprimido e todos osdemais homens sejam capacitados a adquiri-la e a ela e segurarfirmemente, a observá-la e nela fixar o olhar. É este um

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88 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

mandamento inescapável que emanou da Pena do NomeSupremo.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 100.

E repetidas vezes Ele diz:

É permitido que os povos e raças do mundo se associem unscom os outros jubilosa e radiantemente. Ó povo! Conviveicom os seguidores de todas as religiões em espírito amistosoe fraternal.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 30.

‘Abdu’l-Bahá diz, numa carta aos bahá’ís da América:

Acautelai-vos! Acautelai-vos! Para que não ofendais a nenhumcoração!

Acautelai-vos! Acautelai-vos! Para não ferir nenhuma alma!Acautelai-vos! Acautelai-vos! Para que a pessoa alguma

trateis de um modo pouco bondoso!Acautelai-vos! Acautelai-vos! Para que não sejais causa de

desespero para nenhuma criatura!Fosse alguém tornar-se causa de pesar a algum coração, ou

de desânimo a qualquer alma, melhor seria que se escondessenas ínfimas profundezas da terra do que sobre ela andasse.

Ele ensina que assim como a flor está escondida no botão,também um espírito de Deus habita no coração de todo homem,não importa sua aparência exterior, por dura e desagradável queseja. O verdadeiro bahá’í, pois, tratará a todas as pessoas do mesmomodo que o jardineiro cuida de uma bela e rara planta. Ele sabe quenenhuma intervenção impaciente de sua parte pode fazer o botãoabrir-se em uma flor; somente Deus, por intermédio dos raios solares,pode fazer isso. Por conseguinte, Seu objetivo é levar estes raiosvivificantes a todos os corações e lares obscurecidos.

‘Abdu’l-Bahá diz ainda:

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89QUE É UM BAHÁ’Í?

Entre os ensinamentos de Bahá’u’lláh há um que exige dohomem, sob todas as condições e circunstâncias, que perdoe,que ame ao seu inimigo, e considere uma pessoa que lhequer mal como uma pessoa que lhe quer bem. Isso não querdizer que se considere a alguém como inimigo, e então osuporte... e tolere. Isto é hipocrisia e não verdadeiro amor.Não, pelo contrário, deveis ver os vossos inimigos comoamigos, as pessoas que vos desejam mal como pessoas quevos desejam bem, e tratá-las de acordo. Vosso amor e bondadedevem ser verdadeiros... não apenas por tolerância, porque atolerância, se não vem do coração, é hipocrisia.

Star of the West, vol. IV, p. 191.

Tal conselho parece ininteligível e contraditório atécompreendermos que, embora o exterior físico do homem possa serrancoroso e malévolo, há, dentro de cada um, a natureza interior,espiritual, que é o verdadeiro homem, do qual somente o amor ebenevolência podem emanar. É para este homem verdadeiro, interior,dentro de cada um de nossos semelhantes, que devemos dirigir nossopensamento e amor. Quando este desperta e entra em atividade ohomem exterior é transformado e renovado.

Olhos que Não Vêem o Pecado

Em nenhum assunto são os ensinamentos bahá’ís maisimperativos e incondicionais do que na exigência da abstenção defazer críticas.

Cristo falou com muita veemência sobre o mesmo assunto,mas hoje tornou-se usual considerar-se o Sermão da Montanha umacomposição de “Conselhos de Perfeição” que não se pode esperarsejam seguidos pelo cristão comum. Não só Bahá’u’lláh, como‘Abdu’l-Bahá, empenharam-se em tornar claro que tudo o que Elesdizem sobre este assunto é o que Eles esperam que seja cumprido.Lemos em As Palavras Ocultas:

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Ó Filho do Homem! Nem sequer sussurres os pecados alheiosenquanto tu próprio fores pecador. Fosses tu transgredir estemandamento, maldito serias, e disso dou testemunho.

Ó Filho do Ser! Não atribuas a nenhuma alma o que nãodesejarias que a ti fosse atribuído, nem digas o que nãocumpres. É este Meu mandamento a ti; observa-o.

‘Abdu’l-Bahá nos diz:

Guardar silêncio sobre os defeitos dos outros, orar por eles eajudá-los com bondade a corrigir seus defeitos. Olhar semprepara o bem e não para o mal. Se um homem tiver dez boasqualidades e uma só má, devemos olhar para as dez e esquecer-nos desta última; e se um homem tiver dez más qualidades eapenas uma boa, devemos olhar para esta e nos esquecermosdas dez.

Jamais nos consentir pronunciar uma única palavra que nãoseja bondosa sobre outra pessoa, ainda que seja nossa inimiga.

A um amigo americano, Ele escreve:

A pior qualidade humana e o maior pecado é a calúnia,especialmente quando emana das línguas dos que crêem emDeus. Se fosse descoberto algum meio pelo qual as portas dacalúnia pudessem ser eternamente fechadas, e cada um dosque crêem em Deus descerrasse os lábios em louvor aos outros,então os ensinamentos de Sua Santidade Bahá’u’lláh seriamdisseminados, os corações iluminar-se-iam, os espíritos seriamglorificados, e o mundo humano atingiria a felicidade eterna.

Star of the West, vol. IV, p. 192.

HumildadeEnquanto somos ordenados a fechar os olhos ‘Abdu’l-Bahá

para as faltas dos outros e a olhar para suas virtudes, somos ordenados,

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91QUE É UM BAHÁ’Í?

por outro lado, a descobrir nossas próprias faltas e a não levar emconta nossas virtudes. Bahá’u’lláh diz, em As Palavras Ocultas:

Ó Filho do Ser! Como pudeste esquecer as tuas próprias faltase ocupar-te com as alheias? Quem assim fizer, será por Mimabominado.

Ó Emigrantes! A língua, Eu a designei para Me mencionar;não a corrompais com a difamação. Se a flama do ego vossobrevier, lembrai-vos de vossas próprias faltas e não das faltasde Minhas criaturas, já que cada um de vós conhece a simesmo melhor do que aos outros.

‘Abdu’l-Bahá diz:

Seja a vossa vida uma emanação do Reino de Cristo. Ele nãoveio para ser servido, e sim, para servir.... Na religião deBahá’u’lláh, todos são servos e servas, irmãos e irmãs. Assimque alguém se julgue um pouco melhor, um tanto superioraos outros, estará em posição perigosa e, a não ser que rejeitea semente de tal pensamento mau, ele não será uminstrumento apto para o serviço do Reino.

Descontentamento consigo mesmo é um sinal deprogresso. Aquele que está satisfeito consigo é umamanifestação de Satã, e o que não está contente consigo mesmoé a manifestação do Misericordioso. Se uma pessoa tem milqualidades boas, não deve olhar para elas; deve, ao contrário,esforçar-se em descobrir seus próprios defeitos eimperfeições.... Por mais que um homem possa progredir,está ainda imperfeito, porque há sempre um ponto à suafrente. E logo que olha para aquele ponto, ele torna-sedescontente com sua própria condição e aspira atingir aqueleestado. Elogio a si próprio é o sinal de egoísmo.

Diário de Mírzá Ahmad Sohrab, 1914.

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92 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Embora nos seja ordenado que reconheçamos nossas faltas edelas nos arrependamos com sinceridade, é definitivamente proibidaa prática da confissão a padres ou a outras pessoas.

Bahá’u’lláh nos diz em Bishárát (Boas Novas):

O pecador, quando se encontra completamente desprendidoe liberto de tudo, salvo de Deus, deve pedir dEle clemência eperdão. Não é permissível a confissão de pecados e transgressõesperante seres humanos, pois isso jamais conduziu, nem haveráde conduzir ao perdão divino. Essa confissão diante de umapessoa, além disso, resulta na humilhação e no rebaixamento,e Deus – exaltada seja Sua glória – não deseja a humilhação deSeus servos. Em verdade, Ele é o Compassivo, o Misericordioso.O pecador deve, entre ele e Deus, implorar misericórdia doOceano da misericórdia, suplicar perdão do Céu dagenerosidade.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 32.

Veracidade e Honestidade

Bahá’u’lláh diz na Epístola de Tarázát:

Verdadeiramente, é a porta da segurança para todos os quehabitam na terra e um sinal de glória da parte do Todo-Misericordioso. Quem dela participa, tem participado,realmente, dos tesouros da riqueza e prosperidade. Afidedignidade é o maior portal que conduz à tranqüilidade esegurança dos povos. Dela a estabilidade de todo assunto tem,deveras, dependido e ainda depende. Todos os domínios depoder, de grandeza e de riquezas são iluminados por sua luz...

Ó povo de Bahá! A fidedignidade é, verdadeiramente, amelhor das vestes para vossos templos e a mais gloriosa coroapara vossas cabeças. A ela segurai-vos firmemente, segundo opreceito de Quem ordena, dAquele que é de tudo informado.

Epístolas de Bahá’u’lláh, pp. 45-46.

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93QUE É UM BAHÁ’Í?

Ele diz ainda:

A essência da fé está na escassez de palavras e na abundância deações; se as palavras de um homem excedem as ações, saibam,verdadeiramente, que sua morte é melhor que sua vida.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 174.

‘Abdu’l-Bahá diz:

A veracidade é a base de todas as virtudes do homem. Sem averacidade, o progresso e sucesso da alma em todos os mundossão impossíveis. Quando este atributo sagrado for estabelecidono homem, todas as outras qualidades divinas também ‘Abdu’l-Bahá serão realizadas.

Tablets of Abdul-Baha, vol. II, p. 459.

Que a luz da veracidade e honestidade resplandeça neles, demodo que todos aqueles que os contemplarem possam saberque sua palavra, no trabalho ou no lazer, será uma palavra parase confiar e depender.Esquecei o ego e trabalhai para toda a raça.

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Londres – 1911, p. 114.

Auto-Realização

Bahá’u’lláh constantemente exorta o homem a compreendere exprimir plenamente as perfeições latentes dentro dele – overdadeiro ser interior como distinto do limitado ser exterior, o qual,quando muito, é apenas o templo e, demasiadas vezes, a prisão doverdadeiro homem. Diz Ele em As Palavras Ocultas:

Ó Filho do Ser! Com as mãos do poder, Eu te fiz; com osdedos da potência, Eu te criei; e dentro de ti coloquei a essênciade Minha luz. Que estejas contente com isso e nada maisbusques, pois é perfeita Minha obra e inexorável Meumandamento. Não questiones, nem alimentes dúvida sobreisto.

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Ó Filho do Espírito! Eu te criei rico; porque te empobreces?Nobre te fiz; com o que te rebaixas? Da essência da sabedoria,Eu te concedi a existência; por que buscas iluminação de outro,senão de Mim? Da argila do amor, te moldei; como é que teocupas com outro? Volta teus olhos a ti mesmo, a fim de que,dentro de ti, Me possas encontrar, forte, poderoso, O quesubsiste por Si Próprio.

Ó Meu Servo! És assim como uma espada de fina têmpera,oculta na escuridão de sua bainha, cujo valor se esconde doconhecimento do artífice. Que saias, pois, da bainha do ego edo desejo, para que teu mérito resplandeça e se manifeste aomundo inteiro.

Ó Meu Amigo! Tu és o sol dos céus de Minha santidade; nãopermitas que a corrupção do mundo eclipse teu esplendor.Rompe o véu da negligência, para que possas emergir,resplandecente, de trás das nuvens, e adornar todas as coisascom as vestes da vida.

A vida para a qual Bahá’u’lláh convoca Seus seguidores écertamente de tal nobreza que, em toda a vasta extensão daspossibilidades humanas, nada há mais nobre ou mais belo a que ohomem possa aspirar. A compreensão do ser espiritual dentro denós mesmos significa a compreensão da verdade sublime de que nósviemos de Deus e a Ele haveremos de retornar. Esta volta a Deus éa meta gloriosa do bahá’í; mas, para atingi-la, o único caminho é oda obediência aos Seus Mensageiros escolhidos e, especialmente, aoSeu Mensageiro para a época em que vivemos, Bahá’u’lláh, o Profetada Nova Era.

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Capítulo 6ORAÇÃO

A oração é uma escada pela qual todos podem subir aoCéu.

Muhammad

Conversação com Deus

“A oração”, diz ‘Abdu’l-Bahá, “é a conversação com Deus”. Afim de tornar conhecida aos homens a Sua Mente e Vontade, Deuslhes deve falar numa linguagem que eles possam compreender, eisto Ele faz pela boca de Seus Santos Profetas. Enquanto fisicamentevivos, esses Profetas conversam com os homens face a face etransmitem-lhes a Mensagem de Deus, e depois de Sua morte, Suamensagem continua a atingir as mentes humanas através de Seusdizeres registrados e de Seus escritos. Não é essa, porém, a únicamaneira pela qual Deus pode lhes falar. Há uma “linguagem doEspírito”, que é independente da fala ou da escrita, pela qual Deuspode comunicar-Se com aqueles cujos corações buscam a verdade einspirar-lhes onde quer que estejam e seja qual for sua raça ou línguanativa. Nessa linguagem o Manifestante continua a manter aconversação com os fiéis depois de Sua partida deste mundo material.Após Sua crucificação, Cristo continuava a conversar com Seusdiscípulos e a inspirar-lhes. De fato, Ele os influenciou maisfortemente do que antes, e o mesmo tem sucedido com outrosProfetas. ‘Abdu’l-Bahá fala muito sobre essa linguagem espiritual.Ele diz, por exemplo:

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Devemos falar na linguagem do céu, na linguagem doespírito, pois há uma linguagem do espírito e do coração. Étão diferente da nossa linguagem como a nossa o é da dosanimais, que se exprimem apenas por gritos e sons. É alinguagem do espírito que fala a Deus. Quando, em oração,libertamo-nos de todas as coisas externas e voltamo-nos paraDeus, é como se ouvíssemos no coração a voz de Deus. Sempalavras falamos, comunicamo-nos, conversamos com Deus eouvimos a resposta... Todos nós, quando, atingimos umaverdadeira condição espiritual, podemos ouvir a voz de Deus.

De uma palestra registrada pela srta. Ethel J. Rosenberg.

Bahá’u’lláh declara que as mais elevadas verdades espirituaissó podem ser comunicadas por meio dessa linguagem espiritual. Apalavra falada ou escrita é completamente inadequada. Numpequeno livro chamado Os Sete Vales, em que Ele descreve a jornadadesde a morada terrestre até o Lar Divino, diz, tratando das etapasmais adiantadas da jornada:

A língua falha ao tentar descrever estes três Vales, e as palavrassão inadequadas. A pena não escreve nessa região; a tintadeixa apenas um borrifo.... Somente os corações, do êxtase dossábios místicos podem falar; pois não há mensageiro ou missivaque consiga relatar*.

Bahá’u’lláh. Os Sete Vales, pp. 29-30.

A Atitude Devocional

A fim de que possamos atingir a condição espiritual em quese torne possível conversarmos com Deus, ‘Abdu’l-Bahá diz:

Devemos nos esforçar para atingirmos essa condição,separando-nos de todas as coisas e do povo do mundo, evoltando-nos para Deus somente. Será preciso algum esforçopor parte do homem para alcançar tal estado, mas ele deve

*Este trecho é do poeta persa, Shamsu’d-Dín Muhhamad, de Shíráz.

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97ORAÇÃO

trabalhar para isso, lutar por isso. É pensando e cuidandomenos das coisas materiais, e mais das coisas espirituais, quepodemos atingi-lo. Quanto mais nos afastamos de uma, maispróximos estamos da outra. A escolha é nossa.

Nossa percepção espiritual, nossa visão interior, deve seraberta, de modo que possamos em tudo ver os sinais e traçosdo Espírito de Deus. Tudo nos pode refletir a luz do Espírito.

De uma palestra registrada pela srta. Ethel J. Rosenberg.

Bahá’u’lláh escreveu:

Aquele que busca deve... ao alvorecer de cada dia, comungarcom Deus e perseverar de toda a alma na busca do Bem-Amado. Com a chama de Sua amorosa menção, deve eleconsumir todo pensamento refratário...

Seleção dos Escritos de Bahá’u’lláh, pp. 198-199.

Da mesma maneira, ‘Abdu’l-Bahá declara:

Quando o homem permite ao espírito, através da alma,iluminar seu entendimento, então ele contém toda a Criação...mas, por outro lado, quando o homem não abre a mente e ocoração às bênçãos do espírito, e sim inclina a alma para olado material, na direção da parte corporal de sua natureza,então ele desce de sua alta posição e torna-se inferior aoshabitantes do mais baixo reino animal.

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Paris –1911, pp. 91-92.

Bahá’u’lláh escreve também:

Livrai vossas almas, ó povo, da escravidão do eu, e purificai-as de todo apego a qualquer coisa além de Mim. A lembrançade Mim limpa de contaminação todas as coisas – pudésseisvós apenas o perceber...

Entoa, ó Meu servo, os versículos de Deus por tirecebidos... a fim de que a doçura de tua melodia possa

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acender tua própria alma e atrair os corações de todos oshomens. Se alguém, recluso em seu aposento, recitar osversículos revelados por Deus, os anjos do Todo-Poderoso,dispersando-se, difundirão por toda parte a fragrância daspalavras emanadas de seus lábios...

Seleção dos Escritos de Bahá’u’lláh, p. 219.

A Necessidade de um Mediador

De acordo com ‘Abdu’l-Bahá:

É necessário um mediador entre o homem e o Criador –alguém que receba a plena luz do Esplendor Divino e a irradiesobre a humanidade, do mesmo modo que a atmosfera daTerra recebe e difunde o calor dos raios solares.

Divine Philosophy, p. 8.

Se desejamos orar, devemos ter algum objeto em que nosconcentrarmos. Se nos voltamos para Deus, devemos dirigirnossos corações a algum centro. Se o homem adora a Deus deoutro modo a não ser através de Seu Manifestante, deve primeiroformar um conceito de Deus, e este conceito é criado por suaprópria mente. Como o finito não pode compreender oInfinito, assim Deus não pode ser compreendido deste modo.Aquilo que o homem concebe com sua própria mente é-lhecompreensível. Aquilo que ele pode compreender não é Deus.Aquele conceito de Deus que um homem forma por si próprioé apenas um fantasma, uma imagem, uma ilusão. Nenhumaconexão há entre tal conceito e o Ser Supremo.

Se uma pessoa deseja conhecer a Deus, deve encontrá-Lono espelho perfeito, Cristo ou Bahá’u’lláh. Em qualquer dessesespelhos ele verá refletido o Sol Divino. Do mesmo modo queconhecemos o sol físico pelo seu esplendor, pela sua luz e calor,assim também conhecemos a Deus, o Sol Espiritual, quandoEle brilha do templo do Manifestante, pelos Seus atributos de

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99ORAÇÃO

perfeição, pela beleza das Suas qualidades, e pelo esplendor daSua luz.

De uma palestra com o sr. Percy Woodcock em ‘Akká, 1909.

Diz Ele ainda:

A menos que o Espírito Santo se torne o intermediário, nãose pode receber diretamente as dádivas de Deus. Não deixesde considerar a verdade óbvia, pois é evidente per se, queuma criança não pode ser instruída sem um professor, e osaber é uma das graças de Deus. O solo não se cobre de relvae vegetação sem a chuva das nuvens; por conseguinte, a nuvemé a intermediária entre as graças divinas e o solo.... A luz temum centro e se alguém deseja procurá-la de outro modo quenão seja do seu centro, jamais a atingirá.... Volta a tua atençãopara os dias de Cristo; algumas pessoas imaginavam que semas emanações Messiânicas fosse possível atingir a verdade,mas foi precisamente essa idéia que se tornou a causa da suaprivação.

Tablets of Abdul-Baha, vol. III, pp. 591-592.

Um homem que tenta adorar a Deus sem dirigir-se a SeuManifestante é como um homem numa masmorra, tentando atravésde sua imaginação deleitar-se com as glórias da luz do sol.

A Oração é Indispensável e Obrigatória

O uso da oração é recomendado aos bahá’ís em termosinequívocos. Bahá’u’lláh diz no Kitáb-i-Aqdas:

Recitai os versículos de Deus a cada manhã e anoitecer. Quemnão os recita não é fiel ao Convênio de Deus e a SeuTestamento, e quem neste Dia se afasta destes versículossagrados é dos que por toda a eternidade se afastaram deDeus. Temei vós todos a Deus, ó Meus servos!

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100 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Não vos ufaneis de muito lerdes os versículos, ou daprofusão de atos pios realizados noite e dia. Pois ler um únicoversículo com júbilo e radiância é melhor do que a leituraenfastiada de todos os Livros Sagrados de Deus, o Amparono perigo, O que existe por Si só. Recitai os versículossagrados em tal medida que vos não sobrevenha a prostraçãoe o desânimo. Não sujeiteis vossas almas ao que lhes trazfadiga e abatimento, mas sim alívio e ânimo, para que seergam nas asas dos versículos divinos rumo ao Nascente deSeus sinais manifestos. Assim vos aproximareis de Deus, se oapenas compreendêsseis.

O Kitáb-i-Aqdas, K149, p. 59.

Diz ‘Abdu’l-Bahá a um correspondente:

Ó tu, amigo espiritual!... Saiba que a oração é indispensávele obrigatória, e sob nenhum pretexto está o homem isentodesta obrigação, a menos que sofra de uma doença mentalou um obstáculo intransponível o impeça.

Tablets of Abdul-Baha, vol. III, p. 683.

Ao ser perguntado por outro correspondente: “Por que orar?Que sabedoria há nisto, já que Deus estabeleceu tudo e executatodas as coisas na melhor ordem – qual a sabedoria, pois, em rogar,e suplicar, e em expor os desejos e pedir auxílio?” ‘Abdu’l-Bahárespondeu:

Sabe tu que, em verdade, convém ao fraco suplicar ao Forte,e incumbe a quem aspira às graças suplicar ao Glorioso eGeneroso. Quando se roga a seu Senhor, voltando-se a Ele ebuscando graças de Seu Oceano, esta súplica traz luz ao seucoração, iluminação à sua vista, vida à sua alma e enlevo aoseu ser.

Durante tuas súplicas a Deus e tuas recitações: “TeuNome é minha cura,” considera o quanto teu coração se alegra,

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101ORAÇÃO

tua alma se deleita pelo espírito do amor de Deus e tua menteé atraída para o Reino de Deus! Através desta atração ashabilidades e capacidades crescem. Quando o recipiente éampliado, mais água pode conter, e quando a sede aumenta,as graças da nuvem tornam-se agradáveis ao paladar dohomem. Eis o mistério da súplica e a sabedoria que há emexpor as carências.

De uma Epístola a um bahá’í americano,traduzida por ‘Alí Kulí Khán, outubro de 1908.

Bahá’u’lláh revelou três orações diárias obrigatórias. O crentetem a liberdade de escolher qualquer uma destas três orações, mastem a obrigação de recitar uma delas e da maneira indicada porBahá’u’lláh.

A Oração Congregacional

As orações que Bahá’u’lláh ordenou como obrigação diária paraos bahá’ís devem ser recitadas individualmente. Só no caso da Oraçãopelos Mortos ordenou Bahá’u’lláh a oração congregacional, e a únicaexigência é que ela seja lida em voz alta e que todos permaneçam empé. Isto difere da prática islâmica da oração congregacional, segundoa qual os crentes formam fileiras em pé atrás de um Imame, quedirige a oração, o que é proibido na Fé Bahá’í.

Esses preceitos, que estão de acordo com a abolição do cleroprofissional por Bahá’u’lláh, não querem dizer que Ele não dessenenhum valor às reuniões para adoração. Sobre a importância dereunir-se para orar, ‘Abdu’l-Bahá disse o seguinte:

Um homem talvez diga: “Posso orar a Deus quando quiser,quando os sentimentos do meu coração forem atraídos a Deus;quando estiver no deserto, na cidade, ou onde quer que eu esteja.Por que devo ir aonde outros se acham reunidos, num diaespecial, a uma hora determinada, unir as minhas preces com assuas, quando eu talvez não esteja com disposição para orar?”

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102 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

É fútil pensar-se assim, pois onde muitos se reúnem aforça é maior. Soldados combatendo isolados eindividualmente não têm a força de um exército unido. Setodos os soldados reúnem-se nessa guerra espiritual, seussentimentos espirituais unidos auxiliam-se reciprocamente esuas preces tornam-se aceitáveis.

De notas tomadas pela srta. Ethel Rosenberg.

Oração, a Linguagem do Amor

A alguém que perguntou se a oração era necessária, visto queDeus conhece, presumivelmente, os desejos de todos os corações,‘Abdu’l-Bahá respondeu:

Se uma pessoa sente amor por outra, terá vontade de lhedizer. Embora saiba que o amigo percebe que ele o ama, eleainda terá vontade de lhe dizer.... Deus conhece os desejosde todos os corações. Mas o impulso à oração é natural,provindo do amor do homem a Deus.

...Não é preciso que a prece seja em palavras, mas antes,em pensamento e atitude. Mas se esse amor e desejo estãofaltando, é inútil tentar forçá-los. Palavras sem amor nadasignificam. Se alguém conversar convosco como umdesagradável dever, sem amor ou prazer, desejareis conversarcom ele?

Artigo em Fortnightly Review, junho de 1911, pela srta. E. S. Stevens.

Em outra palestra, Ele disse:

Na oração mais elevada, os homens suplicam só pelo amor deDeus, e não por terem medo dEle ou do inferno, nem pelaesperança de atingir graças ou o céu...Quando uma pessoa seenamora por um ser humano, torna-se-lhe impossível deixarde mencionar o nome de seu amado. Quanto mais difícil aindaé deixar de mencionar o Nome de Deus quando se vem a amá-

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103ORAÇÃO

Lo.... O homem espiritual não encontra prazer em outra coisaque não seja a comemoração de Deus.

De notas da srta. Alma Robertson e outros peregrinos,novembro e dezembro de 1900.

A Salvação das Calamidades

Segundo o ensinamento dos Profetas, as doenças e todas asoutras formas de calamidades são devidas à desobediência aosMandamentos Divinos. Até mesmo os desastres motivados porenchentes, furacões e terremotos são atribuídos por ‘Abdu’l Baháindiretamente a esta causa.

O sofrimento que se segue ao o erro não é, contudo, vingativo,e sim, educativo e remediador. É a Voz de Deus proclamando aohomem que ele desviou-se do caminho reto. Se o sofrimento éterrível, é só porque o perigo das más ações é mais terrível ainda,pois “a paga do pecado é a morte”.

Assim como a calamidade é devida à desobediência, tambémé só pela obediência que a salvação da calamidade pode ser obtida.Não existe casualidade ou incerteza acerca disso. Afastar-nos de Deusnos traz inevitáveis desastres, ao passo que também serão inevitáveisas bênçãos se nos volvermos para Deus.

Visto ser a humanidade, em seu todo, um só organismo,entretanto, o bem-estar de cada indivíduo não só depende de seupróprio comportamento, mas também do de seus semelhantes. Sealguém comete uma ação má, todos sofrem em maior ou menorgrau; outrossim, uma boa ação a todos traz proveito. Cada um temque suportar até certo ponto os fardos do próximo, e os melhoresdos homens são aqueles que carregam os maiores fardos. Os santossempre sofreram abundantemente; os Profetas sofreramsuperlativamente. Bahá’u’lláh diz no Kitáb-i-Íqán:

Deveis ter sido informados, sem dúvida, das tribulações, dapobreza, das adversidades e da degradação que sobrevieram atodo Profeta de Deus e Seus companheiros. Deveis ter sabido

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104 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

como as cabeças de Seus discípulos foram enviadas de presentea várias cidades...

O Kitáb-i-Iqán, pp. 47-48.

Isto não é porque os santos e Profetas tenham merecidopunição mais do que os outros homens. Não, eles sofrem muitasvezes pelos pecados dos outros, e escolhem sofrer por causa dosoutros. Seu interesse é pelo bem-estar do mundo, não pelo seupróprio. A prece do verdadeiro amigo da humanidade não consisteem que ele, individualmente, livre-se da pobreza, da doença ou dodesastre, e sim, em que a humanidade seja salva da ignorância e doerro, e das adversidades que deles inevitavelmente fluem. Se ele desejaa saúde ou a riqueza para si é para que possa servir ao Reino, e se ariqueza e saúde física lhe são recusadas, ele aceita sua sorte com“aquiescência radiante”, bem ciente de que há uma sabedoriainquestionável em tudo o que lhe suceda no Caminho de Deus.

‘Abdu’l-Bahá, diz:

Padecimentos e infortúnios não nos chegam por acaso; sãoenviados pela Providência Divina para nosso próprioaperfeiçoamento. Enquanto o homem é feliz, pode esquecer-se de Deus; mas quando vem a aflição, e as mágoas o oprimem,então lembrar-se-á de seu Pai que está no Céu e pode livrá-lode suas humilhações. Quanto mais o homem é castigado,maior é a colheita de virtudes espirituais por ele produzida.

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Paris – 1911, p. 39.

À primeira vista pode parecer muito injusto que o inocentedeva sofrer pelo culpado, mas ‘Abdu’l-Bahá assegura-nos ser apenasaparente a injustiça, e que, afinal, prevalece a perfeita justiça. Eleescreve:

Quanto aos bebês e crianças, e aos inválidos que são afligidospelas mãos dos opressores... para essas almas há uma recompensaem outro mundo... esse sofrimento é a maior mercê de Deus.

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105ORAÇÃO

Verdadeiramente, esta mercê do Senhor é muito melhor doque todo o conforto deste mundo e o crescimento e progressopertencentes a este lugar da mortalidade.

Tablets of Abdul-Baha, vol. II, p. 337.

A Oração e a Lei Natural

Muitos encontram dificuldade em acreditar na eficácia daprece, pois pensam que as respostas à oração implicariam eminterferência arbitrária com as leis da natureza. Uma analogia podeajudar a remover esta dificuldade. Se um ímã for colocado sobrealgumas limalhas de ferro, estas saltarão para cima e aderir-se-ão,mas isso não implica em interferência com a lei da gravidade. Aforça da gravidade continua a agir sobre as limalhas tal como antes.Apenas foi posta em ação uma força superior – uma outra força cujoefeito é tão uniforme e tão calculável como a da gravidade. Segundoo ponto de vista bahá’í, a prece faz entrar em ação forças superioresaté agora relativamente pouco conhecidas; mas parece não haverrazão para se acreditar que estas forças sejam mais arbitrárias em suaação do que as físicas. A diferença é que ainda não foram estudadasa fundo e experimentalmente investigadas, e parece misteriosa eincalculável a sua ação, por causa da nossa ignorância.

Outra dificuldade diante da qual alguns ficam perplexos éque a oração parece uma força muito fraca para produzir os grandesresultados que freqüentemente se lhe atribuem. Uma analogia podeservir para esclarecer esta dificuldade também. Uma pequena força,quando aplicada à comporta de um reservatório, pode liberar eregular uma enorme vazão de potência hidráulica ou, quandoaplicada ao leme de um vapor transatlântico, pode controlar o cursodo enorme navio. Segundo o ponto de vista bahá’í, o poder queatende à oração é o inexaurível Poder de Deus. A parte do suplicanteconsiste apenas em exercer a pequena força necessária para liberar ofluxo ou determinar o curso da Divina Mercê, que está sempre prontaa servir àqueles que tiverem aprendido a valer-se dela.

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106 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Orações Bahá’ís

Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá revelaram inúmeras preces parauso de Seus seguidores em ocasiões diversas e para vários fins. Agrandeza de conceito e a profunda espiritualidade reveladas nestespronunciamentos devem impressionar a toda pessoa que estudaatenciosamente, mas sua significação só pode ser plenamenteapreciada, e seu poder benéfico compreendido, fazendo-se de seuuso uma parte regular e importante da sua vida diária. Infelizmente,considerações de espaço nos impedem de dar mais do que algunsbreves exemplos dessas orações. Para mais exemplos, o leitor deve sereferir às outras obras.

Ó Meu Senhor! Deixa Tua beleza ser meu alimento, e dá-mede beber de Tua presença. Que o Teu agrado seja minhaesperança, e o louvor a Ti, a expressão de meus atos. Que Tualembrança me acompanhe e o poder de Tua soberania meampare. Que Tua habitação seja meu lar, e, minha morada, olugar que santificaste das limitações impostas àqueles que seexcluem de Ti como por um véu.

Tu és, em verdade, o Todo-Poderoso, o Todo-Glorioso, oPotentíssimo.

Orações e Meditações de Bahá’u’lláh, pp. 209-210.Dou testemunho, ó meu Deus, de que Tu me criaste para Teconhecer e adorar. Confesso, neste momento, minhaincapacidade e Teu poder, minha pobreza e Tua riqueza.

Não há outro Deus além de Ti, o Amparo no Perigo, O quesubsiste por Si próprio.

Bahá’u’lláh, citado em: Orações Bahá’ís, p. 5.

Ó meu Deus! Ó meu Deus! Une os corações de Teus servos erevela-lhes Teu grande plano. Que sigam Teus mandamentose permaneçam firmes em Tua lei. Ajuda-os, ó Deus, em seusesforços, e concede-lhes o poder de Te servirem. Ó Deus, nãoos abandones a si mesmos, mas guia seus passos pela luz do

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107ORAÇÃO

Teu conhecimento e, com Teu amor, alegra seus corações. Emverdade, Tu és seu Amparo, e seu Senhor.

Bahá’u’lláh, citado em: O Alimento da Alma, p. 108.

Ó Tu senhor bondoso! Criaste toda a humanidade dos mesmospais. Desejaste que todos pertencessem ao mesmo lar. Em TuaSanta Presença, todos são Teus servos e todo o gênero humanose abriga sob Teu Tabernáculo. Todos se têm reunido à TuaMesa de Graças e brilham pela luz da Tua Providência.

Ó Deus! És bondoso para com todos, provês a todos,amparas a todos, e a todos concedes vida. De Ti, todos os seresrecebem faculdades e talentos. Todos estão submersos nooceano da Tua misericórdia.

Ó Tu, Senhor bondoso! Une todos, faze as religiõesconcordarem e torna as nações uma só, para que considerem-se todos como uma única família e tenham a terra como um sólar. Que se associem em união e acordo.

Ó Deus! Ergue o estandarte da unidade do gênero humano.Ó Deus! Estabelece a Suprema Paz.Enlaça os corações, ó Deus.Ó Tu, Pai bondoso! Extasia os corações com a fragrância do

Teu amor, ilumina os olhos com a Luz de Tua Guia. Alegra osouvidos com as melodias da Tua Palavra e abriga-nos no recintoda Tua Providência.

Tu és o Grande e o Poderoso! És o Clemente, Aquele queperdoa as faltas da humanidade.

‘Abdu’l-Bahá. A Promulgação da Paz Universal, pp. 121-122.

Ó Tu Todo-Poderoso! Eu sou um pecador, mas Tu és oClemente! Estou cheio de faltas, mas Tu és o Compassivo!Encontro-me na escuridão do erro, mas Tu és a Luz do Perdão!

Por isso, Ó Tu Deus Benévolo, perdoa meus pecados,concede Tuas Dádivas, não consideres minhas faltas, provê-me um abrigo, imerge-me na Fonte de Tua Paciência e cura-me de toda enfermidade e doença.

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108 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Purifica-me e santifica-me. Dá-me uma porção da efusãode santidade, a fim de que o desgosto e a tristeza sedesvaneçam, venham a alegria e o contentamento, o desânimoe o desespero se transformem em ânimo e confiança, e acoragem substitua ao medo.

Verdadeiramente, Tu és o Clemente, o Compassivo; és oGeneroso, o Bem-Amado!

‘Abdu’l-Bahá, citado por Esslemont – de seus arquivos pessoais.

Ó Deus compassivo! Agradeço-Te por me haveres despertadoe tornado consciente. Deste-me olhos que vêem e mefavoreceste com ouvidos que ouvem. Tu me conduziste a Teureino e me guiaste a Teu caminho. Fizeste-me ver o rumo certoe entrar na arca da salvação. Ó Deus! Concede-me firmeza etorna-me constante e vigoroso. Protege-me de provaçõesviolentas e abriga-me na fortaleza inexpugnável de TeuConvênio e Teu Testamento. És o Poderoso! És Quem vê! ÉsQuem ouve!

Ó Tu, o Deus Compassivo! Dota-me de um coração que,semelhante a um espelho, se ilumine com a luz do Teu amor econcede-me um pensamento que possa transformar este mundonum jardim de rosas, através da graça espiritual.

Tu és o Compassivo, o Clemente. És o Deus de GrandeMisericórdia.

‘Abdu’l-Bahá, citado em: O Alimento da Alma, p. 43.

A prece para o bahá’í não é, entretanto, limitada ao uso deformas prescritas, apesar de serem estas muito importantes.Bahá’u’lláh ensina que a vida inteira deve ser uma prece, que otrabalho feito no espírito certo é adoração, que todo pensamento,palavra e ação devotados à Glória de Deus e ao bem-estar dos nossossemelhantes é oração, no mais verdadeiro sentido da palavra*.

*Sobre o assunto de Preces de Intercessão, vide Capítulo 11.

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Capítulo 7SAÚDE E CURA

Volver a face a Deus traz cura ao corpo, à mente e àalma.

‘Abdu’l-Bahá

O Corpo e a Alma

Segundo os ensinamentos bahá’ís o corpo humano serve aum fim temporário no desenvolvimento da alma e, depois decumprir essa missão, é posto de lado; assim como a casca do ovoserve a um fim temporário no desenvolvimento do pinto e é quebradae descartada quando cumprido esse propósito. O corpo físico, diz‘Abdu’l-Bahá, é incapaz de atingir a imortalidade, pois é compostode átomos e moléculas e, semelhante às demais coisas compostas,há de se decompor no devido tempo.

O corpo deve ser o servo da alma, nunca seu senhor; mas eledeve ser um servo solícito, obediente e eficiente, e deve ser tratadocom a consideração que um bom servo merece. Se não fordevidamente tratado, resultam doença e desastre, trazendoconseqüências prejudiciais tanto ao senhor como ao servo.

A Unidade de Toda a Vida

A unidade essencial de toda a miríade de formas e graus devida é um dos ensinamentos fundamentais de Bahá’u’lláh. A nossasaúde física é tão ligada à nossa saúde mental, moral e espiritual, etambém à saúde individual e social de nossos semelhantes – ainda

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110 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

mais, à vida dos animais e das plantas – que cada um destes é afetadopelos outros num grau muito maior do que geralmente se percebe.

Não há, pois, nenhum mandamento do Profeta – seja qualfor o setor da vida a que possa primordialmente referir-se, que nãoafete a saúde física. Alguns dos ensinamentos, entretanto, cuidammais diretamente da saúde física do que outros, e são estes queagora vamos examinar.

A Vida Simples

Diz ‘Abdu’l-Bahá:

A economia é a base da prosperidade humana. O esbanjadorestá sempre em apuros. A prodigalidade por parte de qualquerpessoa é um pecado imperdoável. Nunca devemos viver àscustas de outros, como uma planta parasita. Cada pessoa deveter uma profissão, quer seja literária, quer manual, e deve teruma vida limpa, corajosa, honesta, um exemplo de pureza aser imitado pelos outros. É mais nobre satisfazer-se com umacasca de pão velho do que desfrutar de um jantar suntuoso,composto de pratos variados, mas pago dos bolsos de outrem.A mente de um homem contente está sempre em paz e seucoração tranqüilo.

Bahá’í Scriptures, p. 453.

O alimento animal não é proibido, mas ‘Abdu’l-Bahá diz:

O alimento do futuro constará de frutos e cereais. Tempovirá em que o homem não mais comerá carne. A ciênciamédica está apenas na infância, porém já demonstrou quenosso alimento natural é aquele que vem da terra.

‘Abdu’l-Bahá, citado em: Saúde, Higiene e Cura, p. 1.

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111SAÚDE E CURA

Álcool e Narcóticos

O uso de narcóticos e tóxicos de qualquer espécie éestritamente proibido por Bahá’u’lláh, exceto como remédios emcaso de doença.

Divertimentos

Os ensinamentos bahá’ís baseiam-se na moderação, não noasceticismo. Apreciar as boas e belas coisas da vida, tanto materiaiscomo espirituais, não é somente encorajado, mas ordenado. DizBahá’u’lláh: “Não vos priveis daquilo que foi criado para vós.” DizEle também: “Incumbe-vos manifestar júbilo e contentamento emvossos rostos.” ‘Abdu’l-Bahá diz:

Tudo o que foi criado é para o homem, o qual se acha noápice da criação e deve ser grato pelas dádivas divinas. Todasas coisas materiais são para nós, de modo que, através denossa gratidão, possamos aprender a considerar a vida umagraça divina. Se estivermos desgostosos com a vida, nós somosingratos, pois tanto nossa existência material como espiritualsão a evidência exterior da Mercê Divina. Devemos, portanto,estar contentes e ocupar nosso tempo em louvores, apreciandotodas as coisas.

Divine Philosophy.

Perguntado se a proibição que os ensinamentos bahá’ís fazemao jogo se aplica aos jogos de toda espécie, ‘Abdu’l-Bahá respondeu:

Não, alguns jogos são inocentes, e se tratados comopassatempo, não causam mal. Mas há perigo de que sedegenere em perda de tempo. A perda de tempo não éaceitável na Causa de Deus. Mas, a recreação que podemelhorar os poderes físicos, como o exercício, é desejável.

‘Abdu’l-Bahá, citado em: O Avanço da Unidade Racial, pp. 5-6.

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112 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

O Asseio

Diz Bahá’u’lláh no Kitáb-i-Aqdas*:

Sede a própria essência da limpeza entre os homens... Conservaio refinamento sob todas as circunstâncias... que não se vejanenhum vestígio de sujeira em vossas vestes... Imergi-vos emágua limpa... Verdadeiramente, é isso que o vosso Senhor, oIncomparável, o Sapientíssimo, deseja para vós.

Mírzá ‘Abu’l-Fadl, em seu livro, The Bahá’í Proofs†, mostra asuma importância desses mandamentos, especialmente em algumaspartes do Oriente, onde a água mais impura é muitas vezes usadapara fins domésticos, para banho e até mesmo para beber, e condiçõeshorrivelmente anti-higiênicas proliferam-se, causando doenças esofrimentos evitáveis. Supondo-se, freqüentemente, serem taiscondições sancionadas pela religião prevalecente, elas somente podemser alteradas, entre os orientais, através do mandamento de alguémque acreditassem possuir autoridade divina. Também em muitaspartes do hemisfério ocidental, resultaria uma transformaçãoadmirável se a higiene fosse aceita não apenas como algo próximo àdevoção, mas sim como uma parte essencial desta.

Efeitos da Obediência aos Mandamentos Proféticos

A influência que exercem sobre a saúde estes mandamentosrelativos à vida simples, à higiene, à abstinência do álcool e do ópio,etc., é tão óbvia que dispensa muitos comentários, se bem que suavital importância está sujeita a ser grandemente subestimada. Sefossem geralmente observados, a maior parte das doenças contagiosase muitas outras, breve desapareceriam. É prodigioso o número dedoenças causadas pela inobservância de simples precauções higiênicase pelo uso do álcool e do ópio. Além disso, a obediência a estesmandamentos não somente afetaria a saúde como também teria um*K74 e K46.†Mírzá Abu’l-Fadl. The Bahá’í Proofs (Hujaja’l-Bahíyyih), traduzido por Ali-KuliKhán, da edição de 1929 (Wilmette, Ill.: Bahá’í Publishing Trust, 1983), pp. 85-89.

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113SAÚDE E CURA

enorme efeito benéfico sobre o caráter e a conduta do homem. Oálcool e o ópio afetam-lhe a consciência muito antes de lhe afetaremo porte ou causarem males físicos óbvios, de modo que o benefíciomoral e espiritual da abstinência seria ainda maior do que o físico.Com referência ao asseio, ‘Abdu’l-Bahá diz:

O asseio do corpo, embora seja apenas uma coisa física,concorre muito para a espiritualidade... O fato de se ter umcorpo puro e limpo exerce uma certa influência sobre oespírito do homem.

‘Abdu’l-Bahá, citado em: Saúde, Higiene e Cura, p. 2.

Se fossem usualmente observados os mandamentos dosProfetas a respeito da castidade em relações sexuais, outra fértil causade doença seria eliminada. As repugnantes moléstias venéreas queminam hoje a saúde de tantos milhares de pessoas, inocentes eculpadas, crianças e pais, muito cedo seriam uma coisa inteiramentedo passado.

Se fossem observados em geral os mandamentos dos Profetassobre a justiça, o auxílio mútuo, o amor ao próximo, como poderiamo problema de superlotação habitacional, exploração do trabalho epobreza sórdida, por um lado, e por outro a extravagância, aociosidade, o luxo sórdido, continuar a causar ruína mental, morale física?

A simples obediência aos mandamentos sobre moral e higiene,deixados por Moisés, Buda, Cristo, Muhammad ou Bahá’u’lláh,contribuiria mais para prevenir as doenças do que todos os médicose todos os regulamentos de saúde pública do mundo. Parece certoque, de fato, se tal obediência fosse geral, a boa saúde também setornaria geral. Em vez de terem as vidas devastadas pela doença ouinterrompidas na infância, na juventude ou no auge da vida, comoé hoje tão freqüente, o homem viveria até uma idade avançada, comoum fruto são, que amadurece completamente antes de se desprenderdo ramo.

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114 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

O Profeta como Médico

Vivemos, porém, em um mundo em que, desde temposimemoriais, a obediência aos mandamentos dos Profetas tem sido aexceção em vez de ser a regra, onde o homem tem feito do amor a sipróprio motivo mais dominante do que o amor a Deus, onde osinteresses limitados e partidários têm prevalecido sobre os interessesda humanidade em geral, e onde os bens materiais e prazeres sensuaistêm sido preferidos ao bem-estar social e espiritual do gênerohumano. Daí se originaram violenta rivalidade e conflito, opressãoe tirania, os extremos de riqueza e pobreza – todas aquelas condiçõesque geram doença, mental e física. Em conseqüência, toda a árvoreda humanidade está doente, e cada folha dessa árvore partilha dadoença geral. Até mesmo os mais puros e santos têm que sofrerpelas faltas dos outros. A cura é necessária – a cura da humanidadecomo um todo, das nações e dos indivíduos. Assim, pois, Bahá’u’lláh,a exemplo de Seus inspirados predecessores, não somente ensinacomo conservar a saúde, mas também como ela pode ser recuperadaquando perdida. Ele vem como o Grande Médico, Aquele que curaas doenças físicas e mentais do mundo.

A Cura por Meios Materiais

Evidencia-se no mundo ocidental de hoje, um renascimentoextraordinário de fé na eficácia da cura por meios mentais eespirituais. De fato, muita gente em sua revolta contra as idéiasmaterialistas prevalecentes no século dezenove a respeito das doençae seus tratamentos, tem chegado ao extremo oposto – o de negarque remédios materiais ou medidas de higiene tenham qualquervalor. Bahá’u’lláh reconhece o valor de ambos – remédios espirituaise materiais. A ciência e arte de curar, ensina Ele, devem serdesenvolvidas, incentivadas e aperfeiçoadas, de modo que todos osmeios de cura possam ser utilizados com o máximo benefício, cadaum em sua esfera apropriada. Quando membros da própria família

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115SAÚDE E CURA

de Bahá’u’lláh adoeciam, um médico profissional era chamado, eisso é recomendado aos Seus adeptos. Ele diz: “Quando enfermos,recorrei a médicos competentes.” (O Kitáb-i-Aqdas, K113, p. 49) Isso estáde pleno acordo com a atitude bahá’í para com a ciência e arte emgeral. Todas as ciências e artes que forem de benefício à humanidade,mesmo de forma material, devem ser estimadas e promovidas. Pelaciência o homem torna-se o senhor das coisas materiais; porignorância ele permanece seu escravo.

Bahá’u’lláh escreve:

Não negligencieis o tratamento médico, quando este fornecessário, mas abandonai-o logo que a saúde estiverrecuperada... Tratai a doença por meio de dieta,preferivelmente, abstendo-vos de usar drogas; e seencontrardes numa simples erva o que vos for preciso, nãorecorrais a um medicamento composto. Abstende-vos dedrogas quando estiverdes com boa saúde, ministrando-as,porém, quando necessário.

Lawh-i-Tibb (Epístola da Medicina) – tradução provisória do árabe.

Em uma de Suas Epístolas ‘Abdu’l-Bahá diz:

Ó tu que buscas a verdade! Há dois meios de curar doença, omaterial e o espiritual. O primeiro é pelo uso de remédiosmateriais. O segundo consiste em suplicar a Deus e volver-sea Ele. Ambos os métodos devem ser usados e praticados...Além disso, eles não são incompatíveis, e vós deveis aceitar osremédios físicos como vindos da mercê e favor de Deus, querevelou e tornou manifesto o conhecimento médico, de modoque Seus servos pudessem tirar proveito também deste métodode tratamento.

Tablets of Abdul-Baha, vol. III, p. 587.

Se nossos gostos e instintos naturais, ensina Ele, não estivessemviciados por modos de viver imprudentes e não-naturais, tornar-se-

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116 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

iam guias confiáveis na escolha não apenas da dieta apropriada, defrutas e ervas medicinais, e de outros remédios, como é o caso dosanimais selvagens. Numa interessante palestra sobre a cura, registradaem Respostas a Algumas Perguntas, ‘Abdu’1-Bahá diz, em conclusão:

Evidentemente, pois, é possível efetuar curas por meio dealimentação – frutas e vegetais, mas como a ciência damedicina hoje está imperfeita, este fato não foi aindaplenamente compreendido. Quando a ciência médica tiveralcançado a perfeição, tratamento será por meio de alimentos– frutas fragrantes e vegetais, e por várias águas, quentes efrias de temperatura.

Respostas a Algumas Perguntas, p. 210.

Mesmo quando os meios de tratamento são materiais, o podercurador é realmente divino, pois os atributos da erva ou do mineralprovêm da Divina Mercê. “Tudo depende de Deus. A medicina éapenas uma forma ou meio exterior pelo qual obtemos a cura celestial.”

A Cura por Meios Não-Materiais

Há também muitos métodos de cura – ensina Ele – atravésde meios não-materiais. Existe um “contágio de saúde” como tambémum contágio de doença, embora seja o primeiro muito vagaroso ede pequeno efeito, enquanto que o último, muitas vezes, é de açãoviolenta e rápida.

Efeitos muito mais poderosos resultam do próprio estadomental do paciente, e a “sugestão” pode exercer um importantepapel em determinar esses estados. Tanto são o medo, a zanga, oaborrecimento, etc., muito prejudiciais à saúde, quanto são benéficosa esperança, o amor, a alegria, etc.

Assim diz Bahá’u’lláh:

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117SAÚDE E CURA

Verdadeiramente, a coisa mais necessária é o contentamentosob todas as circunstâncias. Assim se é preservado de condiçõesmórbidas e lassitude. Não vos entregueis à tristeza e ao pesar;estes causam a maior miséria. O ciúme consome o corpo e araiva queima o fígado; evitai estes dois como evitaríeis umleão.

Bahá’u’lláh, citado em: Saúde, Higiene e Cura, pp. 24-25.

E, nas palavras de ‘Abdu’l-Bahá:A alegria dá-nos asas. Em momentos de alegria nossa força émais vital, nosso intelecto mais perspicaz.... Quando, porém,a tristeza nos visita, nossa força nos abandona.

Outra forma de cura mental, escreve ‘Abdu’l-Bahá, resulta:

...quando a mente de uma pessoa forte se concentrainteiramente numa pessoa enferma, e esta espera, com todasua fé concentrada, que se efetuará uma cura através do poderespiritual da pessoa forte, ao ponto de se estabelecer entre asduas pessoas uma relação cordial. O maior esforço possível éfeito para que a cura seja realizada, e o paciente deve tercerteza de ser curado. Essas impressões mentais produzemum excitamento dos nervos, e isto pode causar orestabelecimento do enfermo.

‘Abdu’l-Bahá. Respostas a Algumas Perguntas, p. 207.

Todos esses métodos de cura, entretanto, são de efeitoslimitados, e podem falhar em casos de graves enfermidades.

O Poder do Espírito Santo

O mais potente meio de cura é o Poder do Espírito Santo:

...Não depende de contato, vista ou presença, nem dequalquer outra condição. Seja branda ou severa a enfermidade,

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118 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

haja ou não contato de corpo, e ainda que se não estabeleçaentre o doente e o curador uma relação pessoal, a cura realiza-se através do poder do Espírito Santo.

‘Abdu’l-Bahá. Respostas a Algumas Perguntas, p. 208.

Numa conversa com a srta. Ethel Rosenberg, em outubro de1904, ‘Abdu’l-Bahá disse:

A cura proveniente do Poder do Espírito Santo não precisade concentração ou contato especial. É através do desejo daPessoa santificada. O doente pode estar no oriente, e o Curadorno ocidente. Podem nem se conhecer pessoalmente. Mas tãologo o Ser divino volver Seu coração a Deus e começar a orar,a cura ocorre. Esta é uma dádiva pertencente aos SantosManifestantes e a pessoas que estão no mais alto grau.

‘Abdu’l-Bahá, citado em: Saúde, Higiene e Cura, p. 9.

Desta natureza, aparentemente, foram as curas realizadas porCristo e Seus apóstolos, e curas semelhantes têm sido atribuídas apessoas santas em todos os tempos. Não só Bahá’u’lláh, como ‘Abdu’l-Bahá, eram dotados desse poder, e poderes similares são prometidosaos Seus fiéis adeptos.

Atitude do Paciente

Para a plena operação do poder de cura espiritual, certosrequisitos são necessários por parte do paciente, daquele que cura,dos amigos do paciente e da comunidade em geral. Por parte dopaciente o principal requisito é voltar-se de todo coração para Deus,com uma confiança implícita tanto em Seu Poder, como em SuaVontade de realizar o que for melhor. A uma senhora americana, emagosto de 1912, ‘Abdu’l-Bahá disse:

Todas essas doenças desaparecerão e recebereis perfeita saúdefísica e espiritual.... Que vosso coração esteja confiante e seguro

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119SAÚDE E CURA

de que através das graças de Bahá’u’lláh, através do favor deBahá’u’lláh, tudo vos sairá bem.... Mas deveis voltar vossaface inteiramente para o Reino de Abhá (o Todo-Glorioso),prestando perfeita atenção – a mesma atenção que MariaMadalena proporcionou à Sua Santidade Cristo – e asseguro-vos que adquirireis saúde física e espiritual. Sois digna. Euvos dou as boas novas de que sois digna, pois é puro vossocoração.... Tende confiança! Sede feliz! Regozijai-vos! Alegrai-vos! Tende esperanças!

Embora neste caso ‘Abdu’l-Bahá tenha garantido a realizaçãode uma perfeita saúde física, não o faz em todos os casos, mesmoquando há grande fé por parte do indivíduo. Ele escreveu:

As orações reveladas com o fito de suplicar cura aplicam-se àcura física como à espiritual... Se a cura for melhor para opaciente, indubitavelmente será concedida; para algunsenfermos, porém, a cura seria apenas a causa de outros males,e a sabedoria, por conseguinte, não consente uma respostapositiva à prece.

Ó serva de Deus! O poder do Espírito Santo cura tantomoléstias físicas como espirituais.

Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, p. 146.

E ainda, a uma pessoa enferma, Ele escreveu:

Verdadeiramente, a Vontade de Deus age algumas vezes deuma maneira cuja razão a humanidade é incapaz de descobrir.As causas e razões aparecerão. Tem fé em Deus e confia nEle, eresigna-te à Sua Vontade. Em verdade, teu Deus é Afetuoso,Compassivo e Misericordioso... e fará descer sobre ti Sua Mercê.

Star of the West, vol. VIII, p. 232.

‘Abdu’l-Bahá ensina que a saúde espiritual conduz à saúdefísica, mas esta depende de muitos fatores, alguns dos quais fora do

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120 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

controle do indivíduo. Mesmo a atitude espiritual mais exemplarpor parte do indivíduo, pois, pode não assegurar a saúde física emtodos os casos. Os homens e mulheres mais santos, algumas vezessofrem de doenças.

Não obstante, a influência benéfica sobre a saúde física queresulta de uma atitude espiritual correta é muito mais poderosa doque geralmente se pensa, e é suficiente para banir a doença emgrande número de casos. ‘Abdu’l-Bahá escreveu a uma senhorainglesa:

Escrevestes sobre a vossa fraqueza física. Peço que, pelas graçasde Bahá’u’lláh, vosso espírito se torne forte, e que através daforça de vosso espírito vosso corpo também possa ser curado.

Diz Ele também:

Deus concedeu-lhe poder tão admirável, a fim de que eleolhasse sempre para o alto e recebesse, entre outras dádivas,a cura de Sua divina Generosidade.

Mas, ah! O homem não é grato por este supremo bem;dorme o sono da negligência, sendo indiferente à grande graçaque Deus destinou-lhe, voltando-se contra a luz eprosseguindo no seu caminho de trevas.

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Paris – 1911, p. 7.

Aquele que Cura

O poder da cura espiritual, sem dúvida, é comum a toda ahumanidade em maior ou menor grau, mas assim como algunshomens são dotados de talento excepcional para a matemática ou amúsica, outros parecem ser dotados de aptidão excepcional paracurar. São estas as pessoas que deveriam dedicar a vida à arte decurar. Infelizmente, nos últimos séculos o mundo tornou-se tãomaterialista que tem até perdido de vista a possibilidade da curapor meios espirituais. Como todos os outros talentos, a dádiva de

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121SAÚDE E CURA

cura deve ser reconhecida, treinada e educada, a fim de que atinjaseu mais alto desenvolvimento e poder, e é provável que haja nomundo milhares de pessoas ricamente dotadas da aptidão naturalpara curar, nas quais esta preciosa dádiva acha-se adormecida einativa. Quando as potencialidades do tratamento mental e espiritualforem mais plenamente compreendidas, a arte de curar serátransformada e enobrecida, aumentando-se assimincomensuravelmente sua eficácia. E quando estes novosconhecimento e poder de quem cura combinarem-se com fé eesperança vivificantes por parte do paciente, podem ser esperadosresultados maravilhosos.

Em Deus deve estar nossa confiança. Não há outro Deus senãoEle, o Curador, o Sábio, o Auxiliador.... Nada na terra ou nocéu está fora do domínio de Deus.

Ó doutor! Ao tratares o doente, primeiro menciona o nomede teu Deus, o Possuidor do Dia de Juízo, e então usa o queDeus designou para a cura de Suas criaturas. Por Minha Vida!A visita do médico que sorveu do Vinho do Meu Amor é cura,e seu sopro é mercê e esperança. Apega-te a ele para o bem-estar da constituição física. Ele é confirmado por Deus em seutratamento.

Este conhecimento é a mais importante de todas as ciências,pois é o maior meio criado por Deus, o Vivificador do pó, parapreservar a saúde de todos, e Ele o colocou à frente de todas asciências e conhecimentos. Pois este é o dia em que deves televantar para Minha Vitória.

Teu nome é minha cura, ó meu Deus, e a lembrança de Ti,meu remédio. Aproximar-me de Ti, é minha esperança, e meuamor por Ti, meu companheiro. Tua misericórdia por mim éminha cura e meu socorro, neste mundo como no vindouro.Tu, em verdade, és o Todo-Generoso, o Onisciente, a SupremaSabedoria!

Bahá’u’lláh. Epístola da Medicina. (tradução provisória)

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‘Abdu’l-Bahá escreve:

Quem estiver pleno do amor de Bahá e se esquecer de tudomais, de seus lábios será ouvido o Espírito Santo, e o espíritoda vida preencherá seu coração.... Palavras manarão de seuslábios como fios de pérolas, e toda a doença e moléstia serácurada com um simples deitar das mãos.

Star of the West, vol. VIII, p. 233.

Ó tu, médico espiritual! Volve-te para Deus com o coraçãovibrante de Seu amor, devotado a Seu louvor, fitando a SeuReino, e buscando auxílio do Seu Espírito Santo, em umestado de êxtase, enlevo, amor, anelo, alegria e fragrância.Deus ajudar-te-á, através de um espírito de Sua Presença, acurar doenças e moléstias.

Continua a curar corações e corpos, e procura curar pessoasdoentes, volvendo-te ao Reino Supremo e dirigindo o coraçãoà obtenção de cura através do poder do Máximo Nome epelo espírito do Amor de Deus.

Tablets of Abdul-Baha, vol. III, pp. 628-629.

Como Todos Podem Ajudar

O trabalho de curar os doentes, entretanto, não dependeapenas do paciente e do clínico, e sim, de todos. Todos devem ajudaratravés de solidariedade e cooperação, por meio de uma vida reta ede pensamentos retos, e especialmente através da prece, pois detodos os remédios a prece é o mais potente. “A súplica e a prece embenefício dos outros”, diz ‘Abdu’l-Bahá, “certamente serão eficazes”.Os amigos do paciente têm uma responsabilidade especial, pois asua influência, tanto para o bem como para o mal, é extremamentedireta e poderosa. Em quantos casos de doença o resultado dependeprincipalmente do auxílio dos pais, amigos ou vizinhos do indefesosofredor!

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123SAÚDE E CURA

Até os membros da comunidade em geral têm uma influênciaem todos os casos de doenças. Em casos individuais essa influênciapode não parecer grande, contudo, em conjunto o efeito é poderoso.Cada um é afetado pela “atmosfera” social em que vive, pelopredomínio geral da fé ou do materialismo, da virtude ou do vício,da alegria ou do desânimo; e cada pessoa tem a sua parte emdeterminar o estado dessa “atmosfera” social. Pode não ser possível,no presente estado do mundo, atingir uma saúde perfeita, mas épossível a cada um tornar-se um “canal disposto” a receber o podercurador do Espírito Santo e exercer, desse modo, uma cura, umainfluência benéfica não só sobre seu próprio corpo como tambémsobre todos com quem entre em contato.

Poucos deveres são mais repetida e enfaticamente recomendadosaos bahá’ís do que o de curar os enfermos, e muitas belas orações paracura foram reveladas por Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l Bahá.

A Idade Áurea

A Idade Áurea pode ser alcançada, assegura-nos Bahá’u’lláh,através da cooperação harmoniosa entre pacientes, aqueles quecuram, e a comunidade em geral, e pelo uso apropriado dos váriosmeios de preservação da saúde – materia1, mental e espiritual –quando, pelo Poder de Deus, “toda tristeza converter-se-á em alegria,e toda doença em saúde”. ‘Abdu’1-Bahá diz que “quando forcompreendida a Mensagem Divina, todos os infortúnios desvanecer-se-ão”. E também Ele diz:

Quando o mundo material e o mundo divino estiverem bemcorrelacionados, quando os corações tornarem-se celestiais eas aspirações puras, uma conexão perfeita realizar-se-á. Essepoder, então, produzirá uma perfeita manifestação. Então seatingirá a cura absoluta tanto para as doenças físicas comopara as espirituais.

Tablets of Abdul-Baha, vol. II, pp. 3-9.

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Como Usar a Saúde

Ao concluirmos este capítulo, será bom recordarmos oensinamento de ‘Abdu’1-Bahá sobre o uso certo da saúde física. Emuma de suas Epístolas aos bahá’ís de Washington, Ele diz:

Se a saúde e o bem-estar do corpo forem despendidos nocaminho do Reino, isso é em verdade aceitável e digno delouvor; se forem despendidos em benefício da humanidadeem geral – mesmo sendo para seu benefício material – e se forum meio de fazer o bem, isso também é aceitável. Mas se asaúde e o bem-estar do homem forem dedicados aos desejossensuais, a uma vida no plano animal, e às ocupações diabólicas,então a doença seria melhor do que tal saúde – antes, a própriamorte seria preferível a tal vida. Se desejas saúde, deseja-a paraservir ao Reino. Tenho esperança de que possas atingir umaperfeita compreensão, resolução inflexível, completa saúde, eforça espiritual e física, a fim de que possas sorver da fonte davida eterna e ser auxiliado pelo espírito da confirmação divina.

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Capítulo 8A UNIDADE RELIGIOSA

Ó vós que habitais na terra! O distintivo que assinala ocaráter proeminente desta Revelação Suprema consiste,por um lado, nisto, que temos apagado das páginas dosanto Livro de Deus qualquer coisa que tenha sido causade contenda, malícia e perversidade entre os filhos doshomens e, por outro lado, temos estabelecido osrequisitos essenciais da concórdia, da compreensão, daunidade completa e durável. Bem-aventurados aquelesque observam Meus estatutos.

Epístolas de Bahá’u’lláh, pp. 106-107.

O Sectarismo no Século Dezenove

Nunca, talvez, o mundo pareceu estar mais longe da unidadereligiosa do que no século dezenove. Há muitos séculos as grandescomunidades religiosas – a zoroastriana, a judaica, a budista, a cristã,a maometana e outras – têm existido lado a lado mas, em lugar defundirem-se num todo harmonioso, têm estado em constanteinimizade e luta umas contra as outras. E não somente isto, mastambém cada uma delas tem se rompido, divisão após divisão, emum crescente número de seitas, as quais não raro têm feito violentaoposição entre si. Cristo, entretanto, dissera: “É pelo amor que tendesuns aos outros que todos saberão se sois Meus discípulos,” e disseraMuhammad: “Esta, vossa religião, é a religião única.... A vós Deusprescreveu a fé que Ele ordenou a Noé, e que Nós te revelamos, eque Nós ordenamos a Abraão, a Moisés e a Jesus, dizendo: ‘Observaiesta fé, e não sejais divididos em seitas!’” O Fundador de cada uma

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126 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

das grandes religiões convocara Seus discípulos ao amor e unidade,mas sempre o objetivo do Fundador era quase que completamenteperdido no torvelinho de intolerância e fanatismo, formalismo ehipocrisia, corrupção e deturpação, divisão e contenda. O númerototal de seitas mais ou menos hostis no mundo era provavelmentemaior no começo da Era Bahá’í do que em qualquer outro períodoanterior da história da humanidade. A humanidade, nesse tempo,parecia estar experimentando todas as espécies possíveis de crençareligiosa, com toda a sorte possível de ritos e cerimônias, com todaa variedade possível de códigos de moral.

Ao mesmo tempo, um crescente número de pessoas dedicavasuas energias à destemida investigação e ao exame criterioso das leisda natureza e das bases da crença. Adquiriam-se rapidamente novosconhecimentos científicos, e novas soluções eram encontradas paramuitos problemas da vida. O desenvolvimento de invenções, taiscomo o navio a vapor e a estrada de ferro, serviço postal e imprensa,auxiliou grandemente a difusão de idéias e o contato fertilizadordos mais diferentes tipos de pensamento e de vida.

O assim chamado “conflito entre a religião e a ciência” tornava-se uma batalha renhida. Entre os cristãos, a crítica à Bíbliacombinava-se com a ciência física para disputar e, até certo ponto,refutar a autoridade da Bíblia, autoridade esta por muitos séculosgeralmente aceita como base da crença. Uma parte cada vez maiorda população tornava-se cética a respeito dos ensinamentos dasigrejas. Grande número dos próprios sacerdotes mantinha, quersecreta ou abertamente, dúvidas ou reservas acerca dos credos aindaadotados pelas suas respectivas seitas.

Esse fermento e fluxo de opinião que levaram os homens aum crescente reconhecimento da deficiência das velhas ortodoxias edogmas, a tatear e a buscar mais ampla compreensão econhecimento, não se confinaram aos países cristãos, mas forammanifestados, em maior ou menor grau e em diferentes formas,entre os povos de todos os países e de todas as religiões.

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127A UNIDADE RELIGIOSA

A Mensagem de Bahá’u’lláh

Foi quando tal estado de conflito e confusão atingiu seuapogeu, que Bahá’u’lláh fez soar, de Sua trombeta, o grande chamadoà humanidade:

Que todas as nações se tornem uma na Fé e todos os homens,venham a ser como irmãos; que os laços de afeição e unidadeentre os filhos dos homens sejam fortalecidos; que cesse adiversidade de religião, e as diferenças de raça sejam anuladas...Estas lutas, esta carnificina e discórdia devem cessar e todosos homens serem como uma família...

Bahá’u’lláh, citado em: A Traveller’s Narrative, p. 39.

É uma mensagem gloriosa, mas como levar a efeito seuspropósitos?

Há milhares de anos pregam os Profetas, cantam os poetas, eos santos suplicam por estas coisas, mas as diversidades de religiãonão cessaram, nem foram suprimidas a luta e a carnificina e a discórdia.O que há para mostrar que agora o milagre está para ser realizado? Háalguns novos fatores na situação? Não é a natureza humana a mesmade sempre, e não continuará a ser a mesma enquanto durar o mundo?Se duas pessoas ou duas nações desejam a mesma coisa, não lutarãopor ela no futuro como o fizeram no passado? Se Moisés, Buda, Cristoe Muhammad não conseguiram realizar a unidade mundial,Bahá’u’lláh logrará êxito? Se todas as religiões anteriores foramcorrompidas e dividiram-se em seitas, não será o mesmo destinocompartilhado pela Fé Bahá’í? Vejamos que respostas dão osensinamentos bahá’ís a estas e outras questões similares.

Pode-se Transformar a Natureza Humana?

A educação e a religião são igualmente fundamentadas naassunção de que é possível transformar a natureza humana. De fato,

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128 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

requer pouca investigação provar que a única coisa que podemosdizer com certeza sobre qualquer coisa viva é que ela não pode escaparà transformação. Sem mudança não pode haver vida. Mesmo omineral não pode resistir à modificação e, quanto mais alto subirmosna escala da existência, mais variadas, complexas e maravilhosas astransformações se tornam. Além disso, em progresso edesenvolvimento entre as criaturas de todos os graus, encontramosduas espécies de modificações – uma lenta, gradativa e muitas vezesquase imperceptível; e a outra veloz, repentina e dramática. A última,ocorre, nos assim chamados “estágios críticos” de desenvolvimento.No caso dos minerais, observamos tais estágios críticos nos pontosde fusão e ebulição, por exemplo, quando subitamente o sólidotorna-se líquido, ou o líquido transforma-se em gás. No caso dasplantas, vemos esses estados críticos ao se iniciar a germinação dasemente ou ao desabrochar do botão. No mundo animal, o mesmofenômeno é observado constantemente, como por exemplo, quandoa larva de súbito se transforma numa borboleta, ou o pinto sai dacasca, ou o bebê nasce do ventre de sua mãe. Em plano mais elevado,na vida da alma, vemos freqüentemente uma transformação similar,quando o homem “nasce de novo” e todo o seu ser torna-seradicalmente transformado em seus objetivos, seu caráter e suasatividades. Tais estados críticos muitas vezes afetam uma espécieinteira ou uma multidão de espécies, simultaneamente, como porexemplo, quando toda a vegetação irrompe-se repentinamente emnova vida na primavera.

Bahá’u’lláh declara que, assim como os seres inferiores têmépocas de repentina emergência para uma vida nova e mais ampla,também para a humanidade está próximo um “estágio crítico”, umtempo de “renascimento”. Então os modos de vida que vêmpersistindo desde o alvorecer da história serão rápida eirrevogavelmente alterados, e a humanidade atingirá uma nova fasede vida, tão diferente da antiga como o é a borboleta da larva, ou opássaro do ovo. A humanidade como um todo, à luz da novaRevelação, alcançará uma nova visão da verdade; assim como um

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129A UNIDADE RELIGIOSA

país inteiro é iluminado ao nascer o sol, de modo que todos possamver claramente onde, uma hora antes, tudo estava escuro e sombrio.“Este é um novo ciclo do poder humano”, diz ‘Abdu’l Bahá. “Todosos horizontes do mundo são luminosos, e o mundo se tornará defato um jardim de rosas e um paraíso”. As analogias da natureza sãotodas favoráveis a esta visão; os Profetas da antigüidade foram acordesna predição do advento desse dia glorioso; os sinais dos temposmostram claramente que transformações profundas e revolucionáriasnas idéias e instituições humanas estão, agora mesmo, em progresso.Que poderia ser mais fútil e infundado, portanto, do que o argumentopessimista de que, embora todas as outras coisas sofram mudanças,não as possam sofrer a natureza humana?

Primeiros Passos para a Unidade

Como meio de promover a unidade religiosa, Bahá’u’lláhrecomenda a maior caridade e tolerância, e convoca os adeptos a“associarem-se às pessoas de todas as religiões com alegria e júbilo”.Em Sua Última Vontade e Testamento*, Ele diz:

Conflito e contenda são terminantemente proibidos em SeuLivro [Kitáb-i-Aqdas]. É este um decreto de Deus nesta MaisGrandiosa Revelação. É divinamente preservado de anulaçãoe é por Ele investido do esplendor de Seu beneplácito.

Ó vós que habitais na Terra! A religião de Deus é paraamor e unidade; não a torneis causa de inimizade edissensão.... Esperamos que o povo de Bahá seja guiado pelasbenditas palavras: “Dize: todas as coisas são de Deus.” Estaexcelsa afirmação é como água para extinguir o fogo do ódioe da inimizade latente dentro dos corações e peitos doshomens. Por esta afirmação, simplesmente, povos e raças emconflito atingirão a luz da verdadeira unidade. Ele, deveras,diz a verdade e mostra o caminho. Ele é o Todo-Poderoso, oExcelso, o Benévolo.

Epístolas de Bahá’u’lláh, pp. 242-244.

*Kitáb-i-‘Ahd (Livro do Convênio), p. 243.

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‘Abdu’l-Bahá diz:

Todos devem abandonar os preconceitos e devem mesmofreqüentar as igrejas e mesquitas uns dos outros, pois em todosesses lugares de adoração menciona-se o Nome de Deus. Jáque todos se reúnem para adorar a Deus, qual a diferença?Nenhum deles adora a Satanás. Os muçulmanos devem ir àsigrejas dos cristãos e às sinagogas dos judeus, e vice-versa, estesdevem ir às mesquitas dos muçulmanos. Evitam-semutuamente só por causa de preconceitos e dogmas semfundamento. Na América estive em sinagogas judaicas que sãosimilares às igrejas cristãs, e vi em todas adorarem a Deus.

Em muitos desses lugares falei-lhes sobre os fundamentosoriginais das religiões divinas, expondo-lhes as provas daautenticidade dos profetas divinos e dos Santos Manifestantes.Encorajei-os a acabar com as cegas imitações. Todos os dirigentesdevem, igualmente, ir às igrejas uns dos outros, e falar dasbases e dos princípios fundamentais das religiões divinas. Namais perfeita unidade e harmonia devem adorar a Deus noslugares de adoração uns dos outros, e devem abandonar ofanatismo.

Star of the West, vol. IX, n° 3, p. 37.

Fossem mesmo esses primeiros passos realizados e umacondição de amistosa tolerância mútua estabelecida entre as váriasseitas religiosas, que transformação maravilhosa seria ocasionada nomundo! A fim de que a verdadeira unidade seja atingida, entretanto,algo além disso é necessário. A tolerância é um valioso paliativo paraa doença do sectarismo, mas não é uma cura radical. Não remove acausa do problema.

O Problema da Autoridade

As várias comunidades religiosas não lograram unir-se nopassado por haverem os membros de cada uma considerado o

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131A UNIDADE RELIGIOSA

Fundador de sua própria comunidade como a autoridade única esuprema, e Sua lei, a lei divina. Qualquer Profeta, pois, queproclamasse uma mensagem diferente, era considerado um inimigoda verdade. As diversas seitas de cada comunidade separaram-se pormotivos similares. Os adeptos de cada uma aceitaram algumaautoridade subordinada e consideraram alguma versão ouinterpretação particular da Mensagem do Fundador como a ÚnicaVerdadeira Fé, e como errôneas todas as demais. É obvio que,enquanto persistir tal estado de coisas, nenhuma verdadeira unidadeé possível. Bahá’u’lláh, por outro lado, ensina que todos os Profetaseram portadores de autênticas mensagens de Deus; que cada umrevelou os ensinamentos mais elevados que o povo de Seu tempo eraentão capaz de receber, e educou os homens de modo a torná-losaptos a receber dos Seus sucessores ensinamentos mais adiantados.Ele convoca os adeptos de cada religião, não para que neguem ainspiração Divina de seus próprios Profetas, mas a reconhecerem ainspiração Divina de todos os outros Profetas, a verem que osensinamentos de todos estão essencialmente em harmonia e sãopartes de um grande plano para a educação e unificação dahumanidade. Ele convoca os membros de todas as seitas ademonstrarem sua reverência aos seus Profetas pela devoção de suasvidas à realização dessa unidade pela qual todos os Profetas labutarame sofreram. Em Sua carta à Rainha Vitória, Bahá’u’lláh compara omundo a um doente cuja enfermidade foi agravada por haver elecaído nas mãos de médicos incompetentes; e Ele nos expõe o modopelo qual o remédio pode ser levado a efeito:

O que o Senhor ordenou como o remédio soberano e o maispoderoso instrumento para a cura do mundo inteiro é a uniãode todos os seus povos em uma Causa Universal, em uma Fécomum. Isso de modo algum se há de realizar, salvo através dopoder de um Médico hábil, onipotente e inspirado. Isto,deveras, é a verdade, e tudo mais não é senão erro.

Seleção dos Escritos de Bahá’u’lláh, p. 192.

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132 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

A Revelação Progressiva

Um grande obstáculo para muitos, no caminho da unidadereligiosa, é a diferença entre as Revelações transmitidas pelos váriosProfetas. O que um recomenda, outro proíbe; como então podemambos ter razão, ambos estarem proclamando a Vontade de Deus?Certamente a verdade é Una e não pode variar. Sim, a VerdadeAbsoluta é Una, e não pode mudar, mas a Verdade Absoluta estáinfinitamente além do presente alcance da compreensão humana, enossas concepções dessa verdade devem modificar-seconstantemente. As nossas primeiras, imperfeitas idéias, serão pelaGraça de Deus substituídas, no decorrer do tempo, por concepçõescada vez mais adequadas. Bahá’u’lláh diz a alguns bahá’ís da Pérsia:

Ó povo! As palavras são reveladas segundo a capacidade, demodo que os principiantes possam fazer progresso. O leitedeve ser dado segundo a medida, a fim de que a criancinhadeste mundo, possa entrar no Reino da Grandeza eestabelecer-se na Corte da Unidade.

É o leite que fortifica o bebê de modo que ele possa, com otempo, digerir alimentos mais sólidos. Dizer que um Profeta estácorreto ao revelar um certo ensinamento em uma certa época, eportanto um outro Profeta deve estar errado ao revelar umensinamento diferente em uma diferente época, é como dizer que,por ser o leite o melhor alimento para o bebê recém-nascido, o leitee nada a não ser leite deveria ser, pois, o alimento do homem adulto,e que qualquer outra dieta seria errada!

Diz ‘Abdu’l-Bahá:

Cada Revelação divina divide-se em duas partes. A primeiraparte é essencial e pertence ao mundo eterno. É a exposiçãode verdades Divinas e de princípios essenciais. É a expressãodo Amor de Deus. É a mesma em todas as religiões –permanente e imutável. A segunda parte não é eterna; trata

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133A UNIDADE RELIGIOSA

da vida prática, transações e negócios, e muda de acordo coma evolução do homem e os requisitos do tempo de cadaProfeta. Durante o período mosaico, por exemplo, a mão deuma pessoa era cortada como punição por um pequenoroubo; havia uma lei de olho por olho e dente por dente,mas como tais leis não eram apropriadas no tempo de Cristo,foram anuladas. Do mesmo modo, o divórcio já se tornaratão comum que não restava nenhuma lei fixa de casamento;portanto Sua Santidade Cristo proibiu o divórcio.

Segundo as exigências do tempo, Sua Santidade Moisésrevelou dez leis de punição capital. Era impossível naqueletempo proteger a comunidade e preservar a segurança socialsem essas medidas severas, pois os filhos de Israel viviam nodeserto de Ta, onde não havia cortes de justiça estabelecidase penitenciárias. Porém, esse código de conduta não eranecessário no tempo de Cristo. A história da segunda parteda religião não tem importância, porque se relaciona apenasaos costumes desta vida; mas o fundamento da religião deDeus é um só, e Sua Santidade Bahá’u’lláh renovou essefundamento.

Divine Philosophy

A religião de Deus é a Religião Única, e todos os Profetastêm-na ensinado, mas é algo que vive e cresce, e não uma coisa semvida e imutável. Nos ensinamentos de Moisés, vemos o Botão; nosde Cristo, a Flor; nos de Bahá’u’lláh, o Fruto. A flor não destrói obotão, nem o fruto destrói a flor. Não destrói, e sim completa. Assépalas do botão devem cair a fim de que a flor desabroche, e aspétalas devem cair para que o fruto cresça e amadureça. Foram assépalas e pétalas, pois, descartadas por terem sido erradas ou inúteis?Não, ambas em seu tempo foram certas e necessárias; sem elas nãopoderia ter havido frutos. O mesmo se dá com os vários ensinamentosproféticos: seu exterior muda de tempos em tempos, mas cadaRevelação é a consumação das anteriores; elas não são separadasnem incompatíveis, mas sim, diferentes etapas na história da vida

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134 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

da Religião Única, que vem sendo revelada como semente, botão eflor, sucessivamente, e que entra agora no período da frutificação.

Infalibilidade dos Profetas

Bahá’u’lláh ensina que cada um dotado da Posição de Profetaé munido de provas suficientes da Sua Missão, é autorizado areivindicar a obediência de todos os homens, e tem autoridade paraanular, alterar ou ampliar os ensinamentos de Seus predecessores.No Kitáb-i-Íqán, lemos:

Quanto estaria longe da graça do Todo-Generoso e poucoem harmonia com Sua providência benévola e Sua ternacompaixão, escolher dentre todos os homens uma alma paraguiar Suas criaturas e, por um lado, negar-lhe o testemunhodivino em sua plenitude e, por outro, infligir severo castigo aSeu povo por se haver afastado de Seu Escolhido! Não, emtodos os tempos, as múltiplas graças do Senhor de todos osseres têm abrangido a terra e todos os que nela habitam, atravésdos Manifestantes de Sua Essência Divina.

Bahá’u’lláh. O Kitáb-i-Íqán, p. 13.

E não é o objetivo de cada Revelação, entretanto, efetuar umatransformação em todo o caráter da humanidade – umatransformação que se manifeste tanto exterior comointeriormente, que afete sua vida íntima bem como suas condiçõesexternas? Pois se o caráter da humanidade não for mudado, seráevidente a futilidade dos Manifestantes universais de Deus.

Bahá’u’lláh. O Kitáb-i-Íqán, pp. 146-147.

Deus é a Autoridade Única infalível, e os Profetas são infalíveis,porque Sua Mensagem é a Mensagem de Deus transmitida aomundo através dEles. Essa Mensagem permanece válida até sersubstituída por uma Mensagem posterior trazida pelo mesmo oupor outro Profeta.

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135A UNIDADE RELIGIOSA

Deus é o Grande Médico, Único capaz de diagnosticar comexatidão a doença do mundo e prescrever o remédio apropriado. Oremédio prescrito numa época não mais é aplicável em épocasubseqüente, quando o estado do paciente é diferente. Apegar-se aoantigo remédio quando o médico determinou um novo tratamentonão é demonstrar fé no médico, mas sim, desconfiança. Pode serum choque ao judeu ser informado que são agora antiquados einaplicáveis alguns remédios que Moisés, há mais de três mil anos,determinou para a enfermidade do mundo; pode ser igualmenteum choque ao cristão se lhe dissessem que Muhammad tinha algonecessário ou valioso para acrescentar ao que Jesus prescreveu; eassim também ao muçulmano, se lhe pedissem que admitisse aautoridade do Báb ou de Bahá’u’lláh para alterar os mandamentosde Muhammad; mas, de acordo com o ponto de vista bahá’í, averdadeira devoção a Deus implica em reverência a todos os SeusProfetas e a obediência implícita a Seus mais recentes Mandamentos,revelados pelo Profeta para nossa própria era. Somente através de taldevoção é que pode ser atingida a verdadeira Unidade.

O Manifestante Supremo

Assim como todos os outros Profetas, Bahá’u’lláh tambémexpõe Sua Missão nos mais inequívocos termos. Em Lawh-i-Aqdas,uma Epístola dirigida especialmente aos cristãos, Ele diz:

Veio o Pai, e se cumpriu o que vos foi prometido no Reino! Éesta a Palavra que o Filho ocultou, quando àqueles ao Seuredor Ele disse: “Não podeis suportá-la agora.” E quando secumprira o tempo determinado e a Hora havia soado, a Palavraresplandeceu acima do horizonte da Vontade de Deus.Acautelai-vos, ó seguidores do Filho, para que não a rejeiteis.A ela vos deveis segurar tenazmente. Isto vos é melhor doque tudo o que possuis... Aquele que é o Espírito da Verdadeveio, deveras, a fim de vos guiar à toda verdade. Não é

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136 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

inspirado em Si Próprio que Ele fala e sim, como ordenaAquele que é o Onisciente, O de toda sabedoria... Abandonaias coisas correntes entre vós e adotai o que o Conselheiro fielvos ordena.

Epístolas de Bahá’u’lláh, pp. 19-21; 82.

E em uma carta ao papa, escrita em Adrianópolis em 1867,Ele diz:

Dize: Acautelai-vos para que vossas devoções não vos impeçamde reconhecer Aquele que é o Objeto de toda devoção, ouque vossa adoração vos prive dAquele que é o objeto de todaadoração. Rasgai os véus de vossas vãs fantasias! Este é o vossoSenhor, o Todo Poderoso, o Onisciente, que veio para vivificaro mundo e unir todos os que habitam a terra. Volvei-vos parao Alvorecer da Revelação, ó povos, e não tardeis, ainda queseja por menos de um piscar de olhos. Ledes o Evangelho eainda vos recusais a aclamar o Senhor Todo-Glorioso? Isso, defato, mal vos convém, ó assembléia de eruditos!

Dize: Se negardes esta Revelação, por qual prova tendesacreditado em Deus? Produzi-a....

Bahá’u’lláh. O Chamado do Senhor das Hostes, p. 47.

Assim como Bahá’u’lláh anuncia nestas cartas aos cristãos ocumprimento das promessas do Evangelho, de modo semelhanteproclama também aos muçulmanos, judeus, zoroastrianos, e aospovos de outros credos, o cumprimento das promessas de seus LivrosSagrados. Dirige-Se a todos os homens como sendo as ovelhas deDeus, que até agora têm estado divididas em vários rebanhos eabrigadas em diferentes apriscos. Sua Mensagem, diz Ele, é a Vozde Deus, o Bom Pastor, que veio na plenitude dos tempos a fim dereunir em único rebanho Suas ovelhas dispersas, removendo asbarreiras entre elas de modo que possa haver “um só rebanho e umsó Pastor”.

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137A UNIDADE RELIGIOSA

Uma Nova Situação

A posição de Bahá’u’lláh entre os Profetas é única e semprecedentes, porque a condição do mundo no tempo de Seu adventotambém era única e sem precedentes. Por um processo longo etortuoso de desenvolvimento da religião, ciência, arte e civilização,havia o mundo amadurecido a ponto de poder receber umensinamento de Unidade. As barreiras que nos séculos anterioreshaviam tornado impossível a unidade mundial, estavam prontas adesmoronar quando Bahá’u’lláh apareceu, e desde Seu nascimento,em 1817, e mais especificamente, desde que iniciou a promulgaçãode Seus ensinamentos, estas barreiras vêm sucumbindo da maneiramais extraordinária. Seja qual for a explicação, acerca deste fato nãopode haver nenhuma dúvida.

Nos tempos dos Profetas anteriores bastavam as barreirasgeográficas para impedir a unidade mundial. Agora esse obstáculofoi vencido. Pela primeira vez na história humana, pessoas de partesopostas do globo podem comunicar-se fácil e rapidamente. As coisasfeitas ontem na Europa são hoje sabidas em cada continente domundo, e um discurso realizado na América hoje, pode ser lidoamanhã na Europa, Ásia e África.

Outro grande obstáculo era a dificuldade de idioma. Graçasao estudo e ensino das línguas estrangeiras essa dificuldade já foiem grande parte superada; e tudo nos faz supor que dentro de algunsanos será adotado um idioma internacional auxiliar, a ser ensinadoem todas as escolas do mundo. Então este empecilho será tambémcompletamente removido.

O terceiro grande obstáculo era o preconceito e a intolerânciareligiosa. Isso também está desaparecendo. As mentes dos homensestão se tornando mais receptivas. A educação do povo estálibertando-se pouco a pouco das mãos dos sacerdotes sectários; enão mais pode-se impedir que as idéias novas e mais liberais penetrematé mesmo nos círculos mais exclusivistas e conservadores.

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138 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Bahá’u’lláh é, assim, o primeiro dos grandes Profetas cujamensagem tem-se tornado conhecida em cada canto do globo dentrode um período de relativamente poucos anos. Dentro em breve osensinamentos essenciais de Bahá’u’lláh, traduzidos de Seus própriosautênticos Escritos, serão diretamente acessíveis a cada homem,mulher e criança do mundo que saiba ler.

A Plenitude da Revelação Bahá’í

A Revelação Bahá’í é única e sem precedentes entre os credosdo mundo em razão da amplitude e perfeição de seus escritosautênticos. As palavras registradas que podem, com certeza, seratribuídas a Cristo, a Moisés, a Zoroastro, a Buda ou a Krishna, sãopouquíssimas, e deixam sem respostas várias questões modernas degrande importância prática. Muitos dos ensinamentos comumenteatribuídos a estes Fundadores das religiões são de autenticidadeduvidosa, e alguns são evidentemente acréscimos posteriores. Osmuçulmanos possuem no Alcorão, e num vasto número de tradições,um registro muito mais amplo sobre a vida e os ensinamentos doseu Profeta, mas o próprio Muhammad, embora inspirado, erailetrado, assim como a maioria de Seus primeiros adeptos. Osmétodos empregados para registrar e disseminar Seus ensinamentoseram, em muitos aspectos, insatisfatórios, e a autenticidade de muitasdas tradições é bastante duvidosa. Como resultado, diferenças deinterpretação e opiniões conflitantes motivaram divisões e dissensõesno Islã, como havia acontecido em todas as comunidades religiosasanteriores.

Por outro lado, tanto o Báb como Bahá’u’lláh escreveramfartamente e com grande eloqüência e poder. Como ambos foramprivados de falar em público, e por haverem passado em prisão amaior parte de Suas vidas (após a declaração de Suas missões), Elesdevotaram grande proporção de Seu tempo a escrever, resultandoque, em riqueza de escrituras autênticas, a Revelação Bahá’í éincomparável a qualquer de suas predecessoras. Contém exposições

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139A UNIDADE RELIGIOSA

claras e completas de muitas verdades apenas vagamenteprenunciadas nas Revelações anteriores, e os princípios eternos daverdade que todos os Profetas ensinaram foram aplicados aosproblemas que hoje o mundo enfrenta – problemas da maiorcomplexidade e dificuldade, muitos dos quais ainda não haviamsurgido nos dias dos antigos Profetas. É evidente que este completoregistro de revelação autêntica deve exercer um efeito poderoso emevitar futuros mal entendidos e em esclarecer aqueles mal entendidosdo passado que têm mantido separadas as várias seitas.

O Convênio Bahá’í

A Revelação Bahá’í é única e sem precedentes em ainda outroaspecto. Antes da morte, Bahá’u’lláh reiteradamente deixou porescrito um Convênio, apontando Seu Filho mais velho, ‘Abdu’l-Bahá, a Quem Ele muitas vezes refere-Se como “O Ramo” ou “OSupremo Ramo”, o autorizado intérprete dos ensinamentos, edeclarando que quaisquer explicações ou interpretações dadas porEle devem ser aceitas como de igual validade que as palavras dopróprio Bahá’u’lláh. Em Sua Vontade e Testamento, Ele diz:

Considerai o que temos revelado em nosso Mais Sagrado Livro:Quando o oceano de Minha presença tiver refluído, e o Livrode Minha Revelação se achar completo, volvei vossas facesÀquele eleito por Deus, Aquele que brotou desta Raiz Antiga.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 244.

E na Epístola do Ramo, na qual Ele explica a posição de ‘Abdu’l-Bahá, diz:

Rendei louvores a Deus, ó povo, por Seu aparecimento; poisEle é, em verdade, o maior favor a vós, a mais perfeita dádivapara vós; e através dEle cada osso em decomposição se revivifica.Quem a Ele se dirigir, ter-se-á dirigido a Deus, e quem Lheder as costas, terá dado as costas à Minha Beleza, repudiadoMinha Prova, e contra Mim transgredido.

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140 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Após a morte de Bahá’u’lláh, ‘Abdu’l-Bahá teve inúmerasoportunidades, não só em Sua própria casa como durante Suasextensas viagens, de contato com pessoas de todas as partes do mundoe das mais variadas opiniões. Ouvia todas as suas perguntas,dificuldades e objeções, e dava explicações detalhadas que eramcuidadosamente registradas em escritos. Durante uma longa sériede anos, ‘Abdu’l-Bahá continuou esse trabalho de elucidação dosensinamentos, mostrando suas aplicações aos mais variados problemasda vida moderna. Divergências de opinião que surgiam entre osadeptos eram submetidas a Ele e autorizadamente resolvidas,reduzindo ainda mais, desse modo, os riscos de futurosdesentendimentos.

Bahá’u’lláh, ainda mais, providenciou que uma Casa Universalde Justiça, representativa de todos os bahá’ís do mundo inteiro,fosse eleita para incumbir-se dos assuntos da Causa, controlar ecoordenar todas as suas atividades, prevenir divisões e cismas, elucidarpontos obscuros e preservar os ensinamentos contra a corrupção e adeturpação. O fato de que esse supremo corpo administrativo podenão só iniciar legislação sobre todas as questões não definidas nosEnsinamentos, mas também anular seus próprios decretos quandonovas condições exigirem medidas diferentes, capacita a Fé a expandire adaptar-se, como um organismo vivo, às necessidades e exigênciasde uma sociedade mutante.

Além disso, Bahá’u’lláh proibiu expressamente a interpretaçãodos ensinamentos por qualquer pessoa a não ser o intérpreteautorizado. Em Sua Vontade e Testamento, ‘Abdu’l Bahá designouShoghi Effendi para ser, depois dEle, o Guardião da Fé, e ter opoder de interpretar os Escritos.

Daqui a mil anos ou mais aparecerá outro Manifestante, àsombra de Bahá’u’lláh, com provas claras de Sua missão, mas atéentão as palavras de Bahá’u’lláh, de ‘Abdu’l-Bahá e do Guardião, eas decisões da Casa Universal de Justiça constituem as autoridadesàs quais todos os adeptos devem volver-se para guia. Nenhum bahá’ípode fundar uma escola ou seita baseada em qualquer interpretação

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141A UNIDADE RELIGIOSA

particular dos ensinamentos ou em qualquer revelação supostamentedivina. Qualquer um que aja de modo contrário a estas injunções éconsiderado um “rompedor do Convênio”*. ‘Abdu’l-Bahá diz:

Um dos inimigos da Causa é aquele que tenta interpretar aspalavras de Bahá’u’lláh, assim deturpando o sentido de acordocom sua capacidade, e que reúne em seu redor quem o siga,formando uma seita diferente, promovendo sua própriaposição, e fazendo uma divisão na Causa.

Star of the West, vol. III, p. 8.

Em outra Epístola, Ele escreve:Essas pessoas (promotores de cisma) são como a espuma quese ajunta na superfície do mar; surgirá uma onda do oceanodo Convênio e, através do poder do Reino de Abhá, lançarátal espuma à praia.... Todos esses pensamentos corruptos queemanam das intenções más e pessoais desaparecerão, enquantoque o Convênio de Deus permanecerá firme e seguro.

Star of the West, vol. X, p. 95.

Nada há que impeça os homens de abandonarem a religião,quando assim o desejam. ‘Abdu’l-Bahá diz: “O próprio Deus nãocompele a alma a tornar-se espiritual. O exercício da livre vontadehumana é necessário”. O Convênio espiritual torna, entretanto, deforma inequívoca, inteiramente impossível o sectarismo dentro dacomunidade bahá’í.

Nenhum Clero Profissional

Uma outra característica da organização bahá’í deve serespecialmente mencionada, e é a que diz respeito à ausência de umclero profissional. Contribuições voluntárias para as despesas deinstrutores são permitidas, e muitas pessoas devotam ao trabalhopela Causa todo o seu tempo, mas de todos os bahá’ís espera-se que

*Vide o Capítulo 15 para mais elucidações a respeito da Guardiania e da CasaUniversal de Justiça.

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142 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

compartilhem do trabalho de ensino da Fé, etc., de acordo comsuas oportunidades e habilidades, e não há nenhuma classe especialentre seus adeptos para o exercício exclusivo das funções eprerrogativas sacerdotais.

Nos tempos antigos, o clero era necessário, porque o povo erailetrado e não educado, e dependia dos sacerdotes para sua instruçãoreligiosa, para a conduta dos ritos e cerimônias religiosas, para aadministração da justiça, etc. Agora, entretanto, os temposmudaram. Rapidamente a educação está tornando-se universal e, seos mandamentos de Bahá’u’lláh forem observados, todos os meninose meninas do mundo receberão uma educação sadia. Cada indivíduoserá então capaz de estudar as Escrituras por si mesmo, de extrair aÁgua da Vida por si mesmo, diretamente da Fonte. Cerimônias eritos elaborados, que necessitam dos serviços de uma profissão oucasta especial, não têm lugar no sistema bahá’í; e a administraçãoda justiça é confiada às autoridades instituídas para esse fim.

Para uma criança um instrutor é necessário, mas o intuito doverdadeiro instrutor é preparar seu aluno para que possa conduzir-se por si só, sem um instrutor; para ver as coisas com seus própriosolhos, ouvir com seus próprios ouvidos e compreender com seupróprio intelecto. Da mesma maneira, na infância da criação osacerdote é necessário, mas seu verdadeiro trabalho é tornar ahumanidade capaz de conduzir-se sem ele: de ver as coisas divinascom seus próprios olhos, ouvi-las com seus próprios ouvidos ecompreendê-las com suas próprias mentes. O trabalho do sacerdoteestá agora quase que terminado, e o objetivo dos ensinamentos bahá’ísé completar esse trabalho para tornar os homens independentes detudo, salvo de Deus, de modo que se possam dirigir diretamente aEle, isto é, ao Seu Manifestante. Quando todos se dirigirem aomesmo Centro, não poderá então haver divergências de propósitosou confusão, e quanto mais todos se aproximarem do Centro, maisaproximar-se-ão uns dos outros.

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Capítulo 9A VERDADEIRA CIVILIZAÇÃO

Não vos ocupeis com vossos próprios interesses;concentrai os pensamentos naquilo que possa reabilitaras fortunas da humanidade e santificar os corações ealmas dos homens.

Bahá’u’lláh. Seleção dos Escritos de Bahá’u’lláh, p. 79.

Religião – A Base da Civilização

Segundo o ponto de vista bahá’í, os problemas da vidahumana, tanto individual como social, são tão inconcebivelmentecomplexos que o intelecto do homem comum é incapaz, por simesmo, de resolvê-los com acerto. Só o Onisciente tem plenoconhecimento do desígnio da criação e do modo que se pode atingi-lo. Através dos Profetas Ele mostra ao homem a verdadeira meta davida humana e o caminho reto do progresso; e a construção de umaverdadeira civilização depende da obediência fiel à guia da Revelaçãoprofética. Bahá’u’lláh diz:

A religião é, em verdade, o instrumento principal para oestabelecimento da ordem no mundo e da tranqüilidade entreseus povos. O enfraquecimento dos pilares da religião temfortalecido os insensatos, tornando-os mais audazes e maisarrogantes. Verdadeiramente digo: Quanto maior o declínioda religião, mais penosa se torna a desobediência dos ímpios.Isso não pode levar, afinal, senão ao caos e confusão...

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144 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Consideremos a civilização do Ocidente, quanto temagitado e alarmado os povos do mundo. Inventou-se umamáquina infernal que se tem mostrado ser arma de destruiçãotão cruel como jamais se viu outra semelhante, nem se ouviufalar em outro igual. A fim de efetivarem sua purificação decorrupções tão profundamente arraigadas e sobrepujantes,os povos do mundo deverão unir-se em seus esforços paraatingirem um objetivo comum e abraçarem uma fé universal...

Ó povo de Bahá! Cada um dos preceitos por Nós reveladosé uma poderosa cidadela para a preservação do mundoexistente.

Epístolas de Bahá’u’lláh, pp. 74-81.

A atual situação da Europa e do mundo em geral confirmaeloqüentemente a verdade destas palavras escritas há tantos anos. Anegligência aos mandamentos proféticos e o predomínio da irreligiãotêm sido acompanhados por desordem e destruição na mais terrívelescala e, sem a mudança de coração e de objetivo que é a característicaessencial da verdadeira religião, a reforma da sociedade pareceinteiramente impossível.

Justiça

No pequeno livro Palavras Ocultas, em que Bahá’u’lláh nosdá, em resumo, a essência dos ensinamentos proféticos, Seu primeiroconselho refere-se à vida individual: “Possui um coração puro,bondoso e radiante....” O segundo trata do princípio básico daverdadeira vida social:

Ó Filho do Espírito!A mais amada de todas as coisas, a Meu ver, é a Justiça;

não te desvies dela, se é que Me desejas, nem a descures, paraque Eu em ti possa confiar. Nela te apoiando, verás com teuspróprios olhos e não com os alheios; saberás pela tua própria

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145A VERDADEIRA CIVILIZAÇÃO

compreensão e não pela compreensão de teu semelhante.Pondera isto em teu coração: como te incumbe ser. Emverdade, a justiça é Minha dádiva a ti e o sinal de Minhamisericórdia. Guarda-a, pois, ante os teus olhos.

O primeiro requisito da vida social é que o indivíduo torne-secapaz de discernir o verdadeiro do falso, o certo do errado, e de veras coisas em suas verdadeiras proporções. A maior causa da cegueiraespiritual e social, e o maior inimigo do progresso social, é o egoísmo.Diz Bahá’u’lláh:

Ó filhos do entendimento! Se a pálpebra, por mais delicadaque seja, pode privar a visão externa do homem de contemplaro mundo e tudo o que nele existe, considere então o quepode ocorrer se o véu da cobiça cobrir sua visão interna. Dize:Ó povo! A escuridão da ganância e da inveja obscurece oresplendor da luz do Sol.

O Tabernáculo da Unidade, p. 7.

A longa experiência está por fim convencendo o homemquanto à verdade dos ensinamentos proféticos de que as opiniões eações egoístas conduzem inevitavelmente ao desastre social e, paraque a humanidade não pereça ingloriamente, cada um deve ver oque é do próximo como sendo tão importante quanto o que é seu, esubordinar seus próprios interesses aos da inteira humanidade. Assimserão melhor servidos, definitivamente, os interesses de cada um ede todos. Bahá’u’lláh diz:

Ó Filho do homem! Se teus olhos estiverem volvidos para amisericórdia, abandona tu as coisas que a ti são proveitosas eadere àquilo que trará proveito ao gênero humano. E se teusolhos estiverem volvidos para a justiça, escolhe tu para teupróximo o que para ti próprio escolhes.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 75.

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146 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Governo

Os ensinamentos de Bahá’u’lláh contêm dois diferentes tiposde referências à questão da verdadeira ordem social. Um éexemplificado nas epístolas reveladas aos reis, as quais tratam doproblema de governo tal como existia no mundo durante a vida deBahá’u’lláh na Terra; as outras referências são à nova ordem a serdesenvolvida dentro da própria comunidade bahá’í.

Daí surge o vívido contraste entre tais passagens como:

“Convém a todos os homens, neste Dia, segurarem-se aoMaior Nome e estabelecerem a unidade de todo o gênerohumano. Não há lugar para onde fugir, nem asilo quequalquer um possa buscar, senão Ele.”

e: “O Deus Uno e Verdadeiro – exaltada seja Sua glória –sempre considerou e continuará a considerar os corações doshomens como Sua própria e exclusiva possessão. Tudo mais,quer pertencente à terra ou ao mar, seja riqueza ou glória,Ele o legou aos reis e governantes da Terra.”

Seleção dos Escritos de Bahá’u’lláh, pp. 155; 157.

A aparente incompatibilidade entre estas duas asserçõesdesaparece quando observamos a distinção que Bahá’u’lláh faz entrea “Paz Menor” e a “Paz Máxima”. Em Suas epístolas aos reis,Bahá’u’lláh exorta-os a reunirem-se e tomarem medidas para amanutenção da paz política, para a redução de armamentos, e paraa remoção dos fardos e da insegurança do pobre. Suas palavrasmostram com perfeita clareza, porém, que o fracasso deles emresponder às necessidades do tempo resultaria em guerras e revoluçõesque conduziriam à derrubada da velha ordem. Assim, por um ladoEle disse:

“O que a humanidade necessita, neste dia, é obediênciaàqueles que estão em autoridade.”

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147A VERDADEIRA CIVILIZAÇÃO

E por outro:“Os homens que, tendo amontoado as vaidades e adornos

da terra, se afastaram, de Deus com desdém – estes perderamtanto este mundo, como o vindouro. Dentro de poucotempo, Deus, com a Mão do Poder, haverá de despojá-los desuas possessões e despir do manto de Sua bondade.” “Temosum tempo marcado para vós, ó povos. Se, na hora designada,deixardes de vos volver a Deus, Ele, verdadeiramente, poráas mãos em vós com violência e fará que penosas aflições vosacometam de todas as direções.” “Os sinais de caos econvulsões iminentes podem agora ser discernidos, desde quea ordem que predomina parece ser lamentavelmentedefeituosa.” “Nós Nos comprometemos a segurar Teu triunfona terra e a enaltecer Nossa Causa acima de todos os homens,ainda que não seja encontrado nenhum rei que queira paraTi volver sua face.”

Seleção dos Escritos de Bahá’u’lláh, pp. 158-159; 163; 165 e 187.

“O Grande Ser, desejando revelar os requisitos da paz etranqüilidade do mundo e do progresso de seus povos,escreveu: Há de vir o tempo em que se compreendauniversalmente a necessidade imperiosa de se convocar umavasta assembléia de homens – assembléia essa, que a todosabranja. Os governantes e reis da Terra devem forçosamenteassisti-la e, participando de suas deliberações, consideraremtais meios e modos que possam lançar entre os homens osalicerces da Grande Paz do mundo. Tal paz exige que asGrandes Potências resolvam, para a tranqüilidade dos povosda Terra, reconciliar-se plenamente entre si. Se algum reiempregar armas contra outro, todos unidos deverão levantar-se e impedi-lo.”

Seleção dos Escritos de Bahá’u’lláh, p. 187.

Por este conselho, Bahá’u’lláh revelou as condições sob asquais se deve exercer a responsabilidade pública neste Dia de Deus.

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148 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Apelando, por um lado, pela solidariedade internacional, Ele comigual clareza advertiu aos governantes que a continuação das lutasdestruiria seu poder. E a história moderna agora confirma estaadvertência, com o aparecimento daqueles movimentos coercivosque em todas as nações civilizadas adquiriram tamanho poderdestrutivo, e com o desenvolvimento da ciência da guerra a tal pontoque a vitória não está mais ao alcance de qualquer das partes.

“Agora que recusastes a Paz Maior, segurai-vos a essa, aPaz Menor, a fim de que talvez possais melhorar em algumgrau vossa própria condição e a daqueles que de vósdependem.” “O que o Senhor ordenou como o remédiosoberano e o mais poderoso instrumento para a cura do mundointeiro é a união de todos os seus povos em uma CausaUniversal, em uma Fé comum. Isso de modo algum se há derealizar, salvo através do poder de um Médico hábil,onipotente e inspirado.”

Seleção dos Escritos de Bahá’u’lláh, pp. 191-192.

Entende-se por Paz Menor uma união política dos Estados,enquanto que a Paz Máxima é uma união que abrange fatoresespirituais, bem como políticos e econômicos.

Breve será a presente ordem posta de lado, e uma nova seestenderá em seu lugar.

Seleção dos Escritos de Bahá’u’lláh, p. 20.

Em épocas passadas podia um governo ocupar-se com questõesexternas e assuntos materiais, mas hoje em dia a função de governorequer uma qualidade de liderança, de consagração e deconhecimentos espirituais, impossíveis, salvo para aqueles que sehajam volvido para Deus.

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149A VERDADEIRA CIVILIZAÇÃO

Liberdade Política

Embora Bahá’u’lláh recomende como a condição ideal umaforma representativa de governo, tanto local como nacional einternacional, ensina que isso é possível somente quando o homemtiver atingido um grau suficientemente elevado de desenvolvimentoindividual e social. Conceder subitamente plena autonomia ahomens não educados, dominados por desejos egoístas e semexperiência em dirigir negócios públicos, seria desastroso. Nadaexiste mais perigoso do que conceder liberdade àqueles que nãoestejam preparados para usá-la sensatamente. Bahá’u’lláh escreveno Kitáb-i-Aqdas:

Considerai a mesquinhez do juízo dos homens! Pedem o quelhes traz dano e desprezam o que lhes é proveitoso. São, emverdade, dos que longe se perderam. Vemos alguns desejandoa liberdade e vangloriando-se disso. Tais homens estão nasprofundezas da ignorância.

Ao fim a liberdade conduzirá à sedição, cujas chamasninguém pode extinguir. Assim Ele que é o Avaliador, oOnisciente, vos adverte. Sabei vós que a personificação esímbolo da liberdade é o animal. O que convém ao homem éa submissão àquelas restrições que o protejam de sua própriaignorância e guardem-no do dano causado pelos malévolos.A liberdade faz o homem transpor os limites do decoro eviolar a dignidade da sua posição. Rebaixa-o à depravação emalícia extremas.

Considerai os homens como um rebanho de ovelhas quenecessitam de um pastor que as proteja. Isso realmente é averdade, a verdade certa. Aprovamos a liberdade em certascircunstâncias e recusamo-Nos a sancioná-la em outras. Nós,em verdade, somos o Onissapiente.

Dize: A verdadeira liberdade consiste na submissão dohomem aos Meus mandamentos, conquanto não o percebais.Observassem os homens o que Nós lhes enviamos do Céu daRevelação, eles, com toda certeza, atingiriam a liberdade

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150 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

perfeita. Feliz quem apreende o Desígnio de Deus em tudoo que Ele revelou do Céu de Sua Vontade, a qual permeiatodas as coisas criadas. Dize: A liberdade que vos é proveitosasó se encontra em completa servitude a Deus, a VerdadeEterna. Quem experimentar a sua doçura recusará trocá-lapor todo o domínio da terra e do céu.

O Kitáb-i-Aqdas, K122-125, p. 51.

Os ensinamentos Divinos são o remédio soberano paramelhorar a condição das raças e nações atrasadas. Quando o povo,bem como os estadistas, conhecerem e adotarem estes ensinamentos,as nações livrar-se-ão de todos os seus grilhões.

Governantes e Súditos

Bahá’u’lláh proíbe, nos mais enfáticos termos a tirania e aopressão. Escreve Ele em As Palavras Ocultas:

Ó Opressores na terra! Retirai as vossas mãos da tirania,porque jurei não perdoar a injustiça de nenhum homem.Este é Meu pacto, o qual decretei irrevogavelmente na epístolapreservada e selei com Meu selo de glória.

Os que são incumbidos de formular e administrar as leis epreceitos devem:

Aí se devem segurar à corda da consulta, vindo assim a adotare executar o que possa conduzir à segurança, prosperidade,riqueza e tranqüilidade do povo. Pois, fosse adotada qualqueroutra medida, senão esta, só poderia resultar em caos ecomoção.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 105.

Por outro lado, o povo deve cumprir a lei e ser leal ao governojusto. Deve confiar em métodos educacionais e na força do bom

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151A VERDADEIRA CIVILIZAÇÃO

exemplo, e não em violência, para melhorar a situação do país. DizBahá’u’lláh:

Em todo país em que qualquer uma destas pessoas residam,elas devem mostrar lealdade ao governo desse país e serhonestas e verazes.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 31.

Ó povo de Deus! Ataviai vossos templos com o adorno dafidedignidade e da piedade. Servi, então, a vosso Senhor, comas hostes de belas ações e de um caráter louvável. Nós vostemos proibido a dissensão e o conflito – em Meus Livros,Minhas Escrituras, Meus Pergaminhos e Minhas Epístolas,nada desejando com isso, senão vossa elevação e vosso progresso.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 133.

Nomeação e Promoção

Ao se fazer nomeações, o único critério deve ser o daidoneidade para a posição. Diante desta consideração suprema, todasas outras devem ceder – quer seja tempo de serviço no cargo, posiçãosocial ou financeira, parentesco ou amizade pessoal. Bahá’u’lláh dizna Epístola de Ishráqát:

Os governos devem informar-se plenamente das condições dosque eles governam e lhes conferir posições de acordo com seuvalor e mérito. Cumpre a todo governante e soberanoconsiderar esse assunto com o máximo cuidado, a fim de que otraidor não usurpe a posição do fiel, nem o espoliador governeem lugar do fidedigno.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 140.

Requer apenas pouca consideração para mostrar que, quandoeste princípio tornar-se geralmente aceito e aplicado, a transformaçãoem nossa vida social será espantosa. Quando a cada indivíduo for

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152 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

dada a posição para a qual seus talentos e capacidades sejamespecialmente adequados, ele poderá colocar seu coração em seutrabalho e tornar-se-á um artista em sua profissão, com incalculávelbenefício a si mesmo e ao resto do mundo.

Os Problemas Econômicos

Os ensinamentos bahá’ís, em termos os mais enfáticos,insistem na necessidade de uma reforma nas relações econômicasentre ricos e pobres. Diz ‘Abdu’l-Bahá:

As condições do povo devem ser arranjadas de tal modo quea pobreza desapareça, que todas as pessoas, tanto quantopossível, de acordo com sua classe e posição, participem noconforto e bem-estar. Vemos entre nós homens excessivamentericos, de um lado, e, de outro, desafortunados entregues aosrigores da fome; aqueles que possuem vários paláciosmajestosos e os que não têm onde reclinarem a cabeça... Esteestado de coisas é injusto e deve ser remediado. Porém, oremédio deve ser cuidadosamente administrado. Não deveser aplicado no sentido da absoluta igualdade entre oshomens. A igualdade é uma quimera! É inteiramenteimpraticável! Mesmo que a igualdade pudesse ser atingida,não poderia continuar; e, se sua existência fosse possível, aordem total do mundo seria destruída. A lei da ordem devesempre prevalecer no mundo da humanidade. O Céu assimdecretou na criação do homem... A humanidade, semelhantea um grande exército, requer um general, capitães, suboficiaise soldados, cada qual com seus deveres determinados. Ahierarquia é absolutamente necessária para assegurar umaorganização bem ordenada. Um exército não pode sercomposto unicamente de generais ou de capitães apenas, nemtão somente de soldados, sem alguém de autoridade.

Sendo alguns excessivamente ricos e outroslamentavelmente pobres, certamente é necessária uma

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153A VERDADEIRA CIVILIZAÇÃO

organização para controlar e melhorar esse estado de coisas.É importante limitar a riqueza, como também é deimportância limitar a pobreza. Nenhum extremo é bom...Deixar-se a pobreza chegar ao estado de inanição é sinal certode que em algum lugar se encontra a tirania. Os homensdevem agir nessa questão e não mais protelar a alteração dascondições que trazem a desgraça da pobreza oprimente avastíssimo número de pessoas. Os ricos devem dar parte desua abundância, abrandar seus corações e cultivar umainteligência compassiva, pensando naqueles seres tristes quesofrem por falta dos próprios meios de subsistência.

Deve haver leis especiais que tratem desses extremos deriqueza e pobreza... Os governos dos países devem conformar-se com a Lei Divina, que confere justiça igual a todos... Atéque isso seja feito, a Lei de Deus não será obedecida.

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Paris – 1911, pp. 149-151.

Finanças Públicas

‘Abdu’l-Bahá sugere que cada cidade, vila ou distrito sejaincumbido tanto quanto possível da administração das finançaspúblicas dentro de sua própria área, e contribua com sua devidaproporção para as despesas do governo geral. Uma das principaisfontes de receita seria um imposto graduado sobre rendas. Se a rendade uma pessoa não excede a sua despesa necessária, não lhe deve serexigido pagar qualquer imposto, mas em todos os casos em que arenda exceder a despesa necessária, um imposto deve ser cobrado,sendo a percentagem crescente à proporção em que a renda excederà despesa necessária.

Se por outro lado, em conseqüência de doença, má colheita,ou outra causa pela qual não seja responsável, uma pessoa não puderganhar o suficiente para cobrir as suas despesas necessárias para oano, então o que lhe faltar para a sua manutenção e a da sua famíliadeverá ser suprido pelo fundo público.

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154 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Haverá também outras fontes de receita pública, por exemplo:bens de intestados [pessoas que não deixam testamento], minas,tesouros encontrados e contribuições voluntárias; enquanto, entreas despesas, haverá concessões para a manutenção dos enfermos,dos órfãos, das escolas, dos surdos e cegos, e para a conservação dasaúde pública. Assim o bem-estar e conforto de todos serão providos*.

Partilha Voluntária

Numa carta à Central Organization for a Durable Peace[Organização Central para uma Paz Durável], escrita em 1919,‘Abdu’l-Bahá diz:

E entre os princípios de Bahá’u’lláh está a repartiçãovoluntária dos bens com o semelhante. Essa partilhaespontânea é superior à igualdade, e consiste em que o homemnão se dê preferência a si mesmo sobre outrem, senão quesacrifique a vida e os haveres pelo próximo. Isso, entretanto,não deve ser introduzido pela coerção, de modo que se torneuma lei que o homem seja constrangido a obedecer. Não,antes, o ser humano deve, por sua própria vontade e opção,sacrificar as posses e a vida pelos outros e, de bom grado, daraos pobres, assim como fazem os bahá’ís da Pérsia.

Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, p. 275.

Trabalho para Todos

Uma das mais importantes instruções de Bahá’u’lláh acercada questão econômica é que todos se devem ocupar em algumtrabalho útil. Não deve haver zangões na colméia social, nenhumparasita fisicamente capaz na sociedade. Ele diz:

É ordenado que cada um de vós se ocupe em alguma formade trabalho – seja ofício, algum ramo de comércio, ou coisasemelhante. Benevolamente temos elevado vossa ocupação

*Para maiores detalhes ver as palestras publicadas de ‘Abdu’l-Bahá, especialmenteaquelas proferidas nos Estados Unidos.

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155A VERDADEIRA CIVILIZAÇÃO

em tal trabalho ao grau de adoração a Deus, o Ser Verdadeiro.Ponderai em vossos corações as graças e bênçãos de Deus erendei-Lhe agradecimentos, ao anoitecer e ao alvorecer.

Não desperdiceis vosso tempo em indolência e ociosidade.Dedicai-vos àquilo que a vós mesmos e aos outros possa trazerproveito. Assim foi decretado nesta Epístola de cujo horizontese irradia, resplandecente, o Sol da sabedoria e daproclamação.

Os mais desprezados dos homens, aos olhos de Deus, sãoaqueles que se sentam indolentemente e mendigam. Segurai-vos com firmeza à corda dos meios materiais, pondo vossa inteiraconfiança em Deus, o Provedor de todos os meios.

Epístolas de Bahá’u’lláh, pp. 34-35.

No mundo de negócios de hoje, quanta energia não édespendida simplesmente em cancelar e neutralizar os esforços dosoutros em lutas e competições improfícuas! E quanta é gasta demodos ainda mais prejudiciais! Se todos trabalhassem, e se todo otrabalho, quer mental ou manual, fosse de um tipo proveitoso àhumanidade, como Bahá’u’lláh ordena, então o suprimento de tudonecessário para uma vida sã, confortável e nobre satisfaria amplamentea todos. Não é necessário que existam favelas, fome, miséria,escravidão industrial, ou trabalho penoso e insalubre.

A Ética da Riqueza

De acordo com os ensinamentos bahá’ís, riquezas adquiridascom retidão e usadas com retidão são dignas de honra e louvor.Serviços prestados devem ser remunerados de um modo adequado.Bahá’u’lláh diz na Epístola de Tarázát:

O povo de Bahá a nenhuma alma deve negar a recompensaque lhe é devida, deve tratar com deferência os artífices...Deve-se falar com eqüidade e apreciar essa graça.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 47.

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Com respeito a juros, Bahá’u’lláh diz na Epístola de Ishráqát:

Muitas pessoas necessitam disso, pois, se não houvesseperspectiva de se ganhar juros, os interesses dos homenssofreriam colapso ou desequilíbrio. Raramente se podeencontrar uma pessoa que manifeste tal consideração para comseu semelhante, um patrício seu, ou seu próprio irmão, e lhemostre tão terna solicitude, que esteja disposta a conceder-lheum empréstimo em termos de benevolência*. Como sinal defavor aos homens, pois, temos prescrito que juros sobre dinheirosejam considerados como outras transações de negócios correntesentre os homens. Assim... é legítimo e apropriado cobrar jurossobre dinheiro... É este um assunto, entretanto, no qual sedeve exercer moderação e eqüidade. Nossa Pena de Glória, comosinal de sabedoria e para a conveniência de todos, desistiu delhe estabelecer o limite. Exortamos os bem-amados de Deus,no entanto, a observarem justiça e eqüidade, e a fazerem o quepossa incentivar os amigos de Deus a mostrarem ternamisericórdia e compaixão uns para com os outros...

Epístolas de Bahá’u’lláh, pp. 147-148.

A aplicação destes assuntos foi colocada a cargo dos homensda Casa de Justiça, a fim de que pudessem agir de acordo com asexigências do tempo e com sabedoria.

Nenhuma Escravidão Industrial

No Kitáb-i-Aqdas Bahá’u’lláh proíbe a escravidão, e ‘Abdu’lBahá explica que não somente a escravidão propriamente dita comotambém a escravidão industrial são contrárias à lei de Deus. Quandonos Estados Unidos, em 1912, Ele disse ao povo americano:

Entre 1860 e 1865 fizestes uma coisa admirável: abolistes aescravidão; mas hoje deveis fazer uma coisa muito maisadmirável: deveis abolir a escravidão industrial...

*Empréstimos sem juros e pagáveis quando o devedor deseje.

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157A VERDADEIRA CIVILIZAÇÃO

Não serão resolvidas as questões econômicas pela disposiçãodo capital contra o trabalho, e do trabalho contra o capital,em lutas e conflitos, e sim pela atitude de boa vontade deambos os lados. Então uma justiça real e duradoura estaráassegurada...

Entre os bahá’ís não há extorsões, mercenarismo ou atosinjustos, demandas rebeldes, nem levantes revolucionárioscontra os governos existentes...

No futuro não será possível aos homens acumular grandesfortunas pelo labor dos outros. Os ricos repartirão os seusbens voluntariamente. Chegarão a isso gradualmente,naturalmente, por sua própria vontade. Isso jamais seconseguirá por meio da guerra e carnificina.

Star of the West, vol. VII, no 15, p. 147.

É pela consulta amigável e cooperação, pelo justocompartilhamento e divisão dos lucros, que os interesses do capitale do trabalho serão melhor servidos. As armas violentas da greve edo impedimento de trabalho pelo patrão [lock-out] são prejudiciais,não só aos negócios imediatamente afetados, mas também àcomunidade em geral. É incumbência, pois, dos governos, planejaros meios de prevenir que se recorra a tais métodos bárbaros de ajustardisputas. ‘Abdu’l Bahá disse em Dublin, New Hampshire, em 1912:

Agora desejo falar-vos sobre a lei de Deus. De acordo com a leidivina, os empregados não devem ser pagos meramente porordenados. Não, antes, devem ser parceiros em todos osempreendimentos. A questão da socialização é assaz difícil.Não será resolvida por greves salariais. Todos os governos domundo devem unir-se e organizar uma assembléia, cujosmembros serão eleitos entre os parlamentos e os homensconceituados das nações. Estes devem planejar com sabedoriae autoridade, de modo que nem os capitalistas sofram enormesperdas, nem os trabalhadores tornem-se necessitados. Devemlegislar com a maior moderação e anunciar então, ao público,

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158 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

que os direitos do trabalhador serão efetivamente preservados;também serão protegidos os direitos dos capitalistas. Quandopor vontade de ambas as partes for adotada esta lei geral, seuma greve ocorrer, todos os governos do mundo devem resistircoletivamente. De outro modo, o trabalho conduzirá a muitadestruição, especialmente na Europa. Coisas terríveis sucederão.

Esta questão será uma das várias causas de uma guerra geralna Europa. Os donos de propriedades, minas e fábricas, devemrepartir seus rendimentos com seus empregados, dando umacerta porcentagem justa de seus lucros a seus trabalhadores,de modo que recebam, além de seus salários, parte da receitageral da empresa, e possam esforçar-se de corpo e alma notrabalho.

Star of the West, vol. VIII, no 1, p. 7.

Legados e Heranças

Bahá’u’lláh diz que uma pessoa deve ser livre para dispor desuas possessões da maneira que lhe aprouver durante sua vida, eincumbe a cada um escrever um testamento especificando comodevem ser dispostos os seus bens após sua morte. Quando umapessoa morre sem deixar um testamento, o valor de seus bens deveser avaliado e dividido em determinadas proporções entre sete classesde herdeiros, a saber: filhos, mulher ou marido, pai, mãe, irmãos,irmãs e professores, diminuindo gradativamente a parte de cadaum, do primeiro ao último. Na ausência de uma ou mais destasclasses, a parte que lhes caberia vai para a tesouraria pública, paraser gasta em benefício dos pobres, órfãos e viúvas, ou para outrasobras de utilidade pública. Caso o morto não tenha herdeiros, todosos seus bens vão para o Tesouro Público.

Nada há na lei de Bahá’u’lláh que impeça um homem dedeixar todos seus bens a uma única pessoa, se assim o deseja, mas osbahá’ís, ao fazerem seus testamentos, serão naturalmenteinfluenciados pelo modelo estabelecido por Bahá’u’lláh para os casos

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159A VERDADEIRA CIVILIZAÇÃO

de bens de intestados, o qual assegura sua distribuição entre umnúmero considerável de herdeiros.

Igualdade entre Homens e Mulheres

Um dos princípios sociais ao qual Bahá’u’lláh atribui grandeimportância é o de que as mulheres devem ser consideradas comoiguais aos homens, e devem desfrutar de direitos e privilégios iguais,educação igual e oportunidades iguais.

A educação universal é o grande meio em que Ele confia pararealizar a emancipação das mulheres. As meninas devem receberuma educação tão boa quanto os meninos. De fato, a educação dasmeninas é até mais importante do que a dos meninos, pois no devidotempo estas meninas se tornarão mães e, como mães, serão asprimeiras educadoras da próxima geração. As crianças são como ramosverdes e tenros; se o primeiro treinamento for correto, crescerãodireitos, e se for errôneo, crescerão tortos; e até o fim de suas vidaselas serão afetadas pelo ensino de seus primeiros anos. Como éimportante, pois, que as meninas sejam bem e sabiamente educadas!

Durante Suas viagens ao Ocidente, ‘Abdu’l-Bahá teve muitasocasiões para explicar o ensinamento bahá’í sobre este assunto. Numareunião da Women’s Freedom League [Liga para a Liberdade dasMulheres] em Londres, em janeiro de 1913, Ele disse:

A humanidade assemelha-se a uma ave com suas duas asas –uma é o macho, a outra a fêmea. A ave, a menos que ambasas asas sejam fortes e impelidas por uma força comum, nãopode voar rumo ao céu. De acordo com o espírito desta época,as mulheres devem progredir e cumprir sua missão em todosos setores da vida, tornando-se igual ao homem. Devem estarno mesmo nível que os homens e gozar de direitos iguais.Esta é minha mais ardente prece, e é um dos princípiosfundamentais de Bahá’u’lláh.

Alguns cientistas têm declarado que o cérebro do homempesa mais do que o da mulher, e sustentam que isto seja uma

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160 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

prova de superioridade do homem. Não obstante, quandoolhamos ao nosso redor, vemos pessoas com cabeças pequenas,cujos cérebros devem pesar pouco, manifestarem a maiorinteligência e grande poder de compreensão; e outras comcabeças grandes, cujos cérebros devem ser pesados, e contudosão desajuizadas. O peso do cérebro, pois, não é uma medidacorreta de inteligência ou superioridade.

Quando os homens apresentam como uma segunda provada sua superioridade a asserção de que as mulheres nãoalcançaram tantas realizações quanto os homens, usamargumentos pobres que não levam em consideração a história.Se eles se mantivessem melhor informados da história,saberiam que grandes mulheres viveram e realizaram grandescoisas no passado, e que há muitas vivendo e realizandograndes coisas hoje.

A seguir, ‘Abdu’l-Bahá descreveu as realizações de Zenóbia eoutras grandes mulheres do passado, prestando em conclusão umeloqüente tributo à destemida Maria Madalena, cuja fé permaneceufirme enquanto a dos apóstolos era abalada. Prosseguiu Ele:

Entre as mulheres de nosso tempo encontra-se Qurratu’l ‘Ayn,filha de um sacerdote muçulmano. No tempo doaparecimento do Báb, ela mostrou tão tremenda coragem epoder que todos os que a ouviam ficavam pasmos. Abandonouo uso do véu, a despeito do costume imemorial das mulheresda Pérsia, e embora fosse considerado indecoroso uma mulherse dirigir a um homem, essa heroína sustentava controvérsiascom os mais eruditos, e vencia-os em cada debate. O governoda Pérsia fê-la prisioneira; ela foi apedrejada nas ruas,anatematizada, exilada de cidade a cidade sob ameaça demorte, porém jamais vacilou em sua determinação detrabalhar pela liberdade de suas irmãs. Suportou perseguiçãoe sofrimento com o maior heroísmo; mesmo na prisãoconseguiu adeptos. A um ministro da Pérsia, em cuja casa

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161A VERDADEIRA CIVILIZAÇÃO

estava aprisionada, disse: “Podeis matar-me tão cedo quantoquiserdes, mas não podeis impedir a emancipação da mulher.”Finalmente chegou a termo sua vida trágica; conduziram-naa um jardim onde a estrangularam. Ela vestiu-se, nãoobstante, com suas melhores vestes, como se estivesse indo auma festa de núpcias. Deu sua vida com tal magnanimidadee coragem que surpreendeu e emocionou a todos que a viram.Era de fato uma grande heroína. Hoje no Irã, entre os bahá’ís,há mulheres que também mostram coragem inabalável e quesão dotadas de grande visão poética. São muito eloqüentes efalam diante de grandes auditórios.

Para o aperfeiçoamento da humanidade as mulheres devemcontinuar a progredir, estendendo seus conhecimentos sobreciência, literatura e história. Dentro em breve elas receberãoseus direitos. Os homens olharão com toda seriedade para asmulheres, portando-se com dignidade, aprimorando a vidacivil e política, opondo-se à guerra, reclamando o direito desufrágio e oportunidades iguais. É minha expectativa ver-vosprogredir em todas as fases da vida; então sereis coroadascom o diadema da glória eterna.

As Mulheres e a Nova Era

Quando o ponto de vista da mulher receber a devidaconsideração e à sua vontade for permitida adequada expressão nasolução das questões sociais, poderemos esperar grande progressoem assuntos que foram muitas vezes deploravelmente negligenciadossob o antigo regime do domínio masculino – tais como a saúde, aabstinência de tóxicos, a paz, e a consideração ao valor da vidaindividual. Progressos nestes assuntos terão efeitos benéficos degrande alcance. Diz ‘Abdu’l-Bahá:

O mundo até agora tem sido governado pela força, e o homemtem dominado a mulher em virtude de sua maior força e desuas qualidades físicas e mentais mais agressivas. Mas a balança

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162 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

já está mudando; a força está perdendo seu predomínio, e avivacidade mental, a intuição, e as qualidades espirituais deamor e serviço, nas quais a mulher é forte, estão ganhandoascendência. Em conseqüência, a nova era será uma era menosmasculina e mais permeada pelos ideais femininos, ou parafalar mais exatamente, será uma era em que os elementosmasculinos e femininos da civilização estarão melhorequilibrados.

Star of the West, vol. VIII, no 3, p. 4.

A Rejeição dos Métodos Violentos

Para levar a efeito a emancipação da mulher, como em outrosassuntos, Bahá’u’lláh aconselha aos Seus adeptos que evitem métodosde violência. Uma excelente ilustração do método bahá’í para reformasocial foi dada pelas mulheres bahá’ís na Pérsia, no Egito e na Síria.Nesses países é costume da mulher maometana, quando fora decasa, usar um véu cobrindo o rosto. O Báb indicou que na NovaDispensação, as mulheres seriam aliviadas desta importuna restrição,mas Bahá’u’lláh aconselha Seus seguidores que, quando nenhumaimportante questão de moralidade estiver envolvida, respeitem oscostumes estabelecidos até que o público torne-se esclarecido, emvez de escandalizarem àqueles entre os quais vivem e despertaremantagonismos desnecessários. Assim as mulheres bahá’ís, emborabem cientes de que o costume antiquado de usar o véu é, para pessoasesclarecidas, desnecessário e inconveniente, não obstante, em vezde incitarem uma tempestade de ódio fanático e oposição rancorosa– por não cobrirem seus rostos em público, serenamente sujeitam-se a essa inconveniência. De modo algum é por medo a conformidadea esse costume, mas sim, por uma segura confiança no poder daeducação e no efeito de transformar e vivificar da verdadeira religião.Os bahá’ís nessas regiões estão devotando suas energias à educaçãodos seus filhos, especialmente das meninas, e à difusão e promoçãodos ideais bahá’ís, certos de que, com o crescimento e a disseminação

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163A VERDADEIRA CIVILIZAÇÃO

entre o povo, da nova vida espiritual, os costumes e preconceitosantiquados serão abandonados pouco a pouco, tão natural einevitavelmente como os invólucros dos brotos são descartados naprimavera, quando as folhas e flores desabrocham à luz do sol*.

Educação

A educação – instrução e guia do homem, e o desenvolvimentoe treino de suas faculdades inatas – tem sido a meta suprema detodos os Santos Profetas desde o começo do mundo, e nosensinamentos bahá’ís a importância fundamental e as possibilidadesilimitadas da educação são proclamadas nos mais explícitos termos.O educador é o fator mais potente na civilização, e seu trabalho é omais nobre ao qual o homem possa aspirar. A educação tem iníciono ventre materno e é tão interminável como a vida da pessoa. Éuma perene necessidade da vida reta, e a base do bem-estar individuale social. Quando a educação em linhas corretas tornar-se geral, ahumanidade será transformada e o mundo tornar-se-á um paraíso.

Na atualidade, o fenômeno mais raro é um homem realmentebem educado, pois quase todos têm preconceitos falsos, ideais iníquose concepções errôneas, e maus hábitos, que lhes foram imbuídosdesde a primeira infância. Quão poucos foram ensinados, desdeseus primeiros anos, a amar a Deus de todo coração e a dedicar-Lhea vida; a considerar o serviço à humanidade como o mais elevadoideal de vida; a desenvolver suas faculdades com vistas ao maiorbenefício e bem-estar geral de todos! Certamente, ainda, são estesos elementos essenciais à boa educação. Meramente abarrotar amemória com fatos sobre aritmética, gramática, geografia, línguas,etc., tem um efeito relativamente pequeno em produzir vidas nobrese úteis.

Bahá’u’lláh diz que a educação deve ser universal:

A todo o pai se ordenou a instrução do filho e da filha na artede ler e escrever, e em tudo que se encontra registrado na

*Isso foi claramente demonstrado pelo progresso social realizado sob o regime darepública turca.

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164 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Santa Epístola. Quanto àquele que desconsidera o que lhefoi prescrito: se tiver posses, os Mandatários tomarão dele onecessário para a instrução das crianças, caso contrário,entregue-se o assunto à Casa de Justiça. Verdadeiramente,fizemos dela um abrigo para os pobres e necessitados. Quemcria o seu próprio filho, ou o filho de outrem, é como secriasse um filho Meu; sobre ele repousem Minha glória,Minha ternura e Minha mercê, que envolveram o mundointeiro.

O Kitáb-i-Aqdas, K48, p. 31.

Cada um, seja homem ou mulher, deve entregar a uma pessoade confiança uma parte daquilo que ele ou ela ganha – pormeio de algum ofício, ou mediante agricultura ou outraocupação – para o ensino e a educação das crianças, sendo talquantia gasta para esse fim com o conhecimento dos Membrosda Casa de Justiça.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 102.

As Diferenças Inatas de Natureza

Segundo o ponto de vista bahá’í a natureza da criança não seassemelha à cera, que pode ser moldada, indiferentemente, aqualquer forma, de acordo com a vontade do instrutor. Não, cadaum tem desde o início seu caráter e individualidade próprios, dadospor Deus, os quais somente de um modo especial podem atingirseu melhor desenvolvimento; e esse modo é único em cada caso.Não há duas pessoas que tenham exatamente as mesmas capacidadese talentos, e o verdadeiro instrutor jamais tentará forçar duas naturezasao mesmo molde. De fato, ele jamais tentará forçar qualquer naturezaa qualquer molde. Pelo contrário, ele reverentemente cuidará dodesenvolvimento dos poderes dos jovens, encorajando-os eprotegendo-os, suprindo-lhes a nutrição e assistência de quenecessitam. Seu trabalho é como o do jardineiro que cuida dediferentes plantas. Uma gosta do sol, outra da sombra fresca; umaadora a beira da água, e outra, a colina ressequida; uma cresce melhor

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165A VERDADEIRA CIVILIZAÇÃO

no solo arenoso, outra, na terra fértil. Cada uma deve ter suasnecessidades convenientemente supridas, sem o que as suas perfeiçõesjamais se revelarão em sua plenitude. ‘Abdu’l-Bahá diz:

Os Profetas admitem que a educação exerce uma grandeinfluência sobre a humanidade, mas Eles declaram, entretanto,que as mentes e compreensões são originariamente diferentes.Vemos que certas crianças da mesma idade, nacionalidade eraça, e até da mesma família, sob os cuidados do mesmoinstrutor, diferem quanto aos seus intelectos e compreensões.Não importa quanto a concha seja educada (ou polida), nuncapode tornar-se uma pérola radiante. A pedra negra não se tornaráa jóia que ornamenta o mundo. O cacto espinhoso não podejamais, por meio do cultivo e desenvolvimento, tornar-se umaárvore benéfica. Isto é, a educação não muda a natureza essencialda jóia humana, mas produz um efeito maravilhoso. Por estepoder eficaz, tudo o que está latente de virtudes e capacidadesna realidade humana, será revelado.

Tablets of Abdul-Baha, vol. III, p. 577.

Aperfeiçoamento do Caráter

O que é de suma importância na educação é o aperfeiçoamentodo caráter. Com respeito a isto, o exemplo é mais eficaz do que opreceito, e a vida e o caráter dos pais da criança, de seus professorese colegas habituais são fatores da maior relevância.

Os Profetas de Deus são os grandes educadores dahumanidade, e Seus conselhos e a história de Suas vidas devem serinstilados na mente da criança tão cedo lhe seja possível compreendê-los. São de especial importância as palavras do Supremo Instrutor,Bahá’u’lláh, Quem revelou os princípios básicos sobre os quais afutura civilização deve ser edificada. Ele diz:

Ensinai aos vossos filhos o que foi revelado através da Pena deGlória. Educai-os naquilo que desceu do céu da grandeza e poder.

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166 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Que decorem as Epístolas do Misericordioso, e as entoem comas mais melodiosas vozes nas salas do Mashriqu’l-Adhkár.

Star of the West, vol. IX, no 7, p. 81.

Artes, Ciências e Ofícios

O aprendizado nas artes, ciências, ofícios e profissões úteis, éconsiderado importante e necessário. Diz Bahá’u’lláh:

O conhecimento é como asas para a vida do homem; é comouma escada pela qual ele possa ascender. Incumbe a cada umadquiri-lo. O conhecimento deve ser adquirido, porém, detais ciências que possam prestar benefícios aos povos da terra,e não daquelas que por meras palavras comecem e assimtambém terminem. Grande, verdadeiramente, é a prerrogativados cientistas e dos artífices entre os povos do mundo.... Naverdade, o conhecimento é um verdadeiro tesouro para ohomem; é para ele uma fonte de glória, de graça, de júbilo eexaltação, de alegria e contentamento.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 62.

Tratamento aos Criminosos

Numa palestra sobre o método certo de tratar os criminosos,‘Abdu’l-Bahá disse o seguinte:

...O mais importante, porém, é que o povo seja educado demodo a não cometer crime algum, pois é possível educarsuficientemente as massas, a ponto de evitarem os delitos, defugirem deles, de considerarem o próprio crime como o maiorcastigo, a mais severa condenação, o tormento máximo. Assimnenhum crime será cometido, tornando-se desnecessáriaqualquer punição.

Se, por exemplo, alguém oprimir, injuriar ou maltratar aoutro, e este revidar, isto será uma vingança e, portanto,

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167A VERDADEIRA CIVILIZAÇÃO

censurável... Se Amru desonrar a Zaid, este não terá o direitode desonrar a Amru; se assim proceder, estará se vingando, oque é muito condenável. Em lugar de assim fazer, deve pagaro mal com o bem, e não só perdoar mas também, se lhe forpossível, prestar algum serviço ao opressor. Esta é a condutadigna do homem. Que lucraria ele com a vingança? As duasações são equivalentes: se uma é repreensível, a outra tambémo é. A única diferença está em ter sido, uma, cometida antes,e a outra, depois.

Mas a comunidade tem o direito de defesa e proteçãoprópria. Além disso, a comunidade não alimenta ódio, nemanimosidade, contra o assassino; ela o prende ou punesimplesmente para proteger e garantir os outros...

Assim, pois, quando Cristo disse: “Se alguém te bater naface direita, oferece-lhe também a esquerda”, foi com opropósito de ensinar aos homens a não tomar vingançapessoal. Ele não pretendeu dizer que, quando um loboquisesse destruir um rebanho, nós devêssemos animá-lo aassim o fazer. Não, se Cristo tivesse sabido que um loboentrara no aprisco e estava prestes a destruir o rebanho,certamente teria tentado impedi-lo.

...a constituição das comunidades depende da justiça...Cristo não pretendeu dar a entender por clemência e perdão,que, ao vos atacarem as nações, queimando-vos os lares eroubando-vos o bem, assaltando as vossas esposas, os vossosfilhos e parentes, e atacando-vos a honra, devêsseis permanecersubmissos em presença desses inimigos tirânicos, e permitirque cometessem todos os seus atos de crueldade e opressão.Não, as palavras de Cristo referem-se à conduta de umindivíduo para com outro. Se uma pessoa assaltar outra, ainjuriada deverá perdoar, mas as comunidades devem protegeros direitos do homem...

Uma coisa ainda resta dizer: que as comunidades seocupam dia e noite em fazer leis penais, em prepararinstrumentos e organizar meios de punição. Constroem

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prisões, fazem cadeias e algemas, arranjam exílios e desterros,e várias espécies de provações e torturas, pensando por taismeios corrigir os criminosos, ao passo que na realidade estãodestruindo a moral e pervertendo os caracteres. A comunidadedeve, em lugar disso, dedicar todos os seus esforços à educaçãocompleta do homem, fazê-lo progredir dia a dia, aumentarseus conhecimentos, torná-lo virtuoso, possuidor de uma sãmoral, e combater-lhe os vícios, de modo a se acabarem oscrimes.

Respostas a Algumas Perguntas, pp. 217-219.

Influência da Imprensa

Bahá’u’lláh reconhece plenamente a importância do papelda imprensa como um meio de difusão de conhecimento e educaçãoao povo, e a sua influência como uma força civilizatória, quandocorretamente dirigida. Ele escreve:

Neste Dia, os segredos da terra são desvendados diante dosolhos dos homens. As páginas de jornais rapidamenteaparecendo são, em verdade, o espelho do mundo. Refletemos feitos e as ocupações dos diversos povos e raças – refletem etambém os tornam conhecidos. São um espelho dotado deaudição, visão e expressão oral. É este um fenômenoextraordinário, potente. Cumpre a seus redatores, porém, sepurificarem da influência dos maus desejos e paixões e seadornarem com as vestes da justiça e eqüidade. Devem investigaras situações, tanto quanto lhes seja possível, certificando-sedos fatos, e então registrá-los por escrito.

Quanto a este Ser Injuriado, a maioria das coisas relatadasnos jornais carece de verdade. Palavras justas e verazes, emvirtude de seu elevado grau e sua posição, assemelham-se aum sol que brilha do horizonte do conhecimento.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 48.

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Capítulo 10O CAMINHO DA PAZ

Este jovem veio para vivificar o mundo e unir todos osseus povos. Aproxima-se o dia em que aquilo que Deusdesignou terá prevalecido, e tu verás a terratransformada no paraíso todo-glorioso.

Bahá’u’lláh. O Chamado do Senhor das Hostes, p. 120.

Conflito versus Concórdia

Durante o século passado os cientistas dedicaram um tempoimenso ao estudo da luta pela existência nos reinos vegetal e animale, em meio às perplexidades da vida social, muitos voltaram-se àguia dos princípios considerados válidos nos reinos inferiores danatureza. Desse modo vieram a considerar a rivalidade e o conflitocomo necessidades da vida, e o extermínio cruel dos membros maisfracos da sociedade como um meio legítimo, ou mesmo necessário,de aprimorar a raça. Por outro lado, se desejamos ascender na escalado progresso, diz-nos Bahá’u’lláh, ao invés de olharmos para trás,para o reino animal, devemos dirigir nosso olhar para frente e paracima, e tomar por nossos guias os Profetas, e não os animais. Osprincípios de unidade, concórdia e compaixão ensinados pelosProfetas são a exata antítese daqueles predominantes na luta animalpela auto-preservação, e nós temos que escolher entre eles, uma vezque não podem ser reconciliados. ‘Abdu’l-Bahá diz:

No mundo da natureza a nota predominante é a luta pelaexistência, cujo resultado é a sobrevivência do mais apto. A

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lei da sobrevivência do mais apto é a origem de todas asdificuldades. É a causa de guerra e contenda, de ódio eanimosidade entre os seres humanos. No mundo da natureza,há tirania, egoísmo, agressão, soberbia, usurpação dos direitosalheios, e outros atributos censuráveis que são defeitos domundo animal. Por conseguinte, enquanto os requisitos domundo natural exercerem o papel preeminente entre os filhosdos homens, o sucesso e a prosperidade serão impossíveis. Anatureza é guerreira, a natureza é sanguinária, a natureza étirânica, pois a natureza é inconsciente de Deus, o Todo-Poderoso. Eis porque essas qualidades cruéis são naturais aoreino animal.

Por isso, o Senhor da humanidade, tendo grande amor emisericórdia, causou o aparecimento dos Profetas e a revelaçãodos Livros Sagrados, a fim de que a humanidade, através daeducação divina, pudesse ser libertada da corrupção danatureza e das trevas da ignorância, ser confirmada com asvirtudes ideais e os atributos espirituais, e tornar-se o pontodo alvorecer de emoções misericordiosas....

Cem mil vezes, que lástima! Serem os preconceitosignorantes, as diferenças desnaturais, e os princípiosantagônicos ainda manifestados entre as nações do mundo,retardando assim o progresso geral. Esse retrocesso vem dofato de estarem abandonados completamente os princípiosda civilização divina, e esquecidos os ensinamentos dosProfetas.

Star of the West, vol. VIII, p. 15.

A Paz Suprema

Em todos os tempos os Profetas de Deus têm previsto a vindade uma era de “paz na terra e boa vontade entre os homens”. Comojá vimos, Bahá’u’lláh, nos mais fervorosos e confiantes termos,confirma essas profecias e declara que sua realização está próxima.‘Abdu’l-Bahá diz:

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Neste ciclo maravilhoso, a terra será transformada, e o mundohumano atingirá tranqüilidade e beleza. Disputas, contendase assassínio serão substituídos por paz, verdade e concórdia;entre as nações e raças, veremos amizade e amor. A guerra,afinal, será inteiramente suprimida, vindo a se estabelecercooperação e unidade... A paz universal erguerá sua tenda nocentro da terra, e a Abençoada Árvore da Vida crescerá atéabrigar à sua sombra Oriente e Ocidente. Fortes e fracos,ricos e pobres, seitas rivais e nações hostis – que se assemelhama lobo e cordeiro, a leopardo e cabrito, a leão e novilho –virão a tratar-se reciprocamente com o mais perfeito amor,amizade, justiça e equidade. O mundo encher-se-á de ciência,do conhecimento da realidade dos mistérios dos seres, e doconhecimento de Deus.

Respostas a Algumas Perguntas, pp. 69-70.

Preconceito Religioso

A fim de vermos claramente como pode ser estabelecida a PazMáxima, examinemos primeiro as causas principais da guerra nopassado e notemos como Bahá’u’lláh propõe tratar cada uma delas.

Uma das causas mais prolíficas da guerra tem sido opreconceito religioso. Quanto a isso, os ensinamentos bahá’ísmostram claramente que a animosidade e o conflito entre as pessoasde diferentes religiões e seitas jamais foram motivados pela verdadeirareligião, e sim pela sua falta, por sua substituição pelos preconceitosfalsos, pelas imitações e interpretações errôneas.

Num de Seus discursos em Paris, ‘Abdu’l-Bahá disse:

A religião deve unir todos os corações e fazer com que asguerras e disputas desapareçam da face da terra, dar origem àespiritualidade e trazer vida e luz a cada coração. Se a religiãotorna-se causa de aversão, ódio e divisão, melhor seria deixá-la, e tirar-se de tal religião constituiria ato verdadeiramentereligioso. Pois é claro que o propósito de um remédio é curar;

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mas se o remédio agrava a doença, é melhor deixá-lo de lado.Qualquer religião que não seja fonte do amor e da unidade,não é verdadeira religião.

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Paris – 1911, pp. 126-127.

Em outra ocasião, Ele disse:

Desde o começo da história humana até a presente data, asvárias religiões do mundo mutuamente se anatematizaram ese acusaram de falsidade.... Por isso elas rigorosamente têmevitado umas às outras, exercendo mútua animosidade erancor. Considerai o registro das guerras religiosas.... Umadas maiores guerras religiosas, as Cruzadas, estenderam-sepor um período de mais de duzentos anos.... Algumas vezesos cruzados conseguiam matar, pilhar e levar cativos osmuçulmanos; outras vezes os muçulmanos eram vitoriosos,impondo carnificina, morte e ruína aos invasores.

Assim eles continuaram por dois séculos, alternadamentelutando com ferocidade e descansando devido à fraqueza, atéque os religiosos da Europa se retiraram do Oriente, deixandoatrás de si de desolação e encontrando suas próprias naçõesem condições de turbulência e revolta.... Ainda assim, essafoi apenas uma das “guerras santas”.

Foram muitas as guerras religiosas. Novecentos mil mártirespara a causa protestante foi o registro do conflito e dadivergência entre essa seita do Cristianismo e os católicos....Quantos languesceram nas prisões! Quão impiedoso otratamento dos cativos! Tudo em nome da religião!

Por exemplo, os cristãos e muçulmanos consideravam osjudeus como satânicos e inimigos de Deus. Por isso eles osamaldiçoavam e perseguiam. Grande número de judeus foimorto, suas casas queimadas e pilhadas, seus filhos levadoscativos. Os judeus, por sua vez consideravam os cristãos comoinfiéis e os muçulmanos como inimigos e destruidores daslei de Moisés. Por isso clamam por vingança contra eles e osamaldiçoam até hoje.

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173O CAMINHO DA PAZ

Quando a luz de Bahá’u’lláh alvoreceu no Oriente, Eleproclamou a promessa da unicidade da humanidade. Ele Sedirigiu a toda a humanidade, dizendo: “Todos vós sois osfrutos de uma só árvore. Não existem duas árvores, uma dadivina mercê, a outra de Satã....” Devemos ser amáveis a todosos povos do mundo. Não devemos considerar qualquer povocomo o povo de Satã, mas devemos saber e reconhecer quetodos são servos do Deus uno... Quando muito, ocorre oseguinte: alguns não sabem, devem ser orientados etreinados... Alguns são como crianças, ainda não desenvolvidas;devem ser ajudados a atingir a maturidade. Alguns, sãoenfermos, sua condição moral é doentia; devem ser tratadosaté que sua moralidade seja purificada... Mas o doente nãodeve ser odiado por causa de sua doença, a criança não deveser evitada por ser criança, o insipiente não deve ser desprezadopor sua falta de conhecimento. Eles todos devem ser tratados,educados, treinados e ajudados com amor. Tudo deve ser feitopara que a humanidade possa viver à sombra de Deus namáxima segurança, desfrutando o mais elevado grau defelicidade.

A Promulgação da Paz Universal, pp. 330-337.

Preconceitos de Raça e de Pátria

A doutrina bahá’í a respeito da unidade da humanidaderemove pela raiz uma outra causa de guerra: o preconceito racial.Certas raças consideram-se superiores às outras e supõem que, deacordo com o princípio da “sobrevivência dos mais aptos”, essasuperioridade lhes dê o direito de explorar, para seu próprio proveito,ou até mesmo de exterminar as raças mais fracas. Muitas das páginasmais negras da história do mundo são exemplos da impiedosaaplicação deste princípio. Segundo o ponto de vista bahá’í, pessoasde todas as raças têm igual valor perante Deus. Todas possuemmaravilhosas capacidades inatas, que requerem apenas educaçãoapropriada para seu desenvolvimento, e cada um pode desempenhar

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um papel, o que em lugar de empobrecer virá a enriquecer e completara vida de todos os outros membros do corpo da humanidade. Diz‘Abdu’l-Bahá:

O preconceito de raça é uma ilusão, uma superstição pura esimples! Pois Deus nos fez todos de uma só raça... No princípiotambém não houve limites e demarcações entre as diferentesterras; nenhuma parte da terra pertencia mais a um povo doque a outro. Aos olhos de Deus nenhuma diferença há entreas várias raças. Por que o homem inventaria tal preconceito?Como podemos apoiar a guerra provocada pela ilusão? Deusnão criou os homens para que se destruíssem mutuamente.Todas as raças, tribos, seitas e classes participam igualmentena Generosidade do Pai Celestial.

A única diferença repousa no grau de fidelidade, deobediência às leis de Deus. Existem alguns, semelhantes a tochasacesas, e outros que brilham como estrelas no firmamento dahumanidade. Os que amam o gênero humano são homenssuperiores, sejam de qualquer nação, credo ou cor.

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Paris – 1911, p. 146.

Igualmente pernicioso é o preconceito político ou patriótico.Chegou o tempo em que se deve incorporar o estreito patriotismode nação ao patriotismo mais amplo, cujo país é o mundo. DizBahá’u’lláh:

Em tempos antigos se revelou: “O amor à pátria é elementoda Fé de Deus.” A Língua da Grandeza no dia de Suamanifestação, entretanto, tem proclamado: “A quem ama suapátria, não compete jactar-se, mas sim, a quem ama omundo.” Com o poder liberado por essas palavras excelsas,prestou Ele um novo impulso e determinou uma direçãonova para as aves dos corações humanos e, do Livro Sagradode Deus obliterou todo traço de restrição e limitação.

Epístolas de Bahá’u’lláh, pp. 99-100.

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Ambições Territoriais

Muitas têm sido as guerras travadas por porções de territóriocuja posse duas ou mais nações rivais cobiçavam. A avidez pelapossessão tem sido tão fecunda causa de conflito entre nações comoentre indivíduos. Segundo o ponto de vista bahá’í, a terra realmentenão pertence aos homens individualmente, nem às naçõesindividualmente, e sim à humanidade como um todo; ou melhor,pertence a Deus somente, e todos os homens são apenasarrendatários.

Por ocasião da Batalha de Bengazi*, ‘Abdu’l-Bahá disse:

A notícia da batalha de Bengazi aflige meu coração.Surpreende-me a selvageria humana que ainda existe nestemundo! Como é possível que seres humanos lutem de manhãà noite, matando-se uns aos outros e derramando o sanguede seus semelhantes? E para que finalidade? Para se apossaremde uma parte da terra! Mesmo os animais, quando lutam,têm uma causa imediata e mais razoável para seus ataques.Como é terrível que os homens, criaturas superiores, possamdescer à chacina e causar aflição aos semelhantes, pela possede um trato de terra!

A Terra não pertence a um só povo, mas sim a todos ospovos. Não é o lar, e sim o túmulo do homem. É por seustúmulos que esses homens estão brigando. Nada há tãohorrível neste mundo quanto o túmulo, a morada dos corposdecompostos dos homens.

Por maior que seja o conquistador e inúmeros sejam ospaíses que possa reduzir à escravidão, ele é incapaz de reterqualquer parte dessas terras devastadas, a não ser umapequenina porção — sua sepultura!

Se, para melhorar as condições do povo, para propagar acivilização (pela substituição de costumes brutais por leisjustas), houver necessidade de mais terra, certamente será

*Uma batalha da Guerra Ítalo-Turca, que irrompeu em 29 de setembro de 1911.

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possível conseguir-se pacificamente a extensão de territórioindispensável.

Eu vos exorto, a cada um de vós, que concentreis o íntimodos vossos pensamentos no amor e na união. Quando surgirum pensamento de guerra, fazei-lhe oposição com umpensamento mais forte de paz. Um pensamento de ódio deveser destruído por um mais poderoso pensamento de amor.Pensamentos de guerra trazem destruição da harmonia, dobem-estar, da tranqüilidade e do contentamento.

Pensamentos de amor constroem a fraternidade, a paz, aamizade e a felicidade. Quando os soldados do mundo sacamdas espadas para a carnificina, os soldados de Deus apertamas mãos, uns aos outros. Que assim desapareça a selvageriados homens, pela Graça de Deus atuando através dos purosde coração e dos sinceros de alma. Não julgueis que a paz domundo seja ideal impossível de se realizar! Nada é impossívelà Sublime Benevolência de Deus. Se, de todo o coração,desejais amizade com todas as raças da terra, vossopensamento, espiritual e positivo, propagar-se-á; virá a ser odesejo dos outros, tornando-se cada vez mais forte, até atingiras mentes de todos os homens.

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Paris – 1911, pp. 15-17.

Idioma Universal

Tendo passado os olhos pelas principais causas da guerra e osmeios de evitá-las, podemos agora examinar certas propostasconstrutivas feitas por Bahá’u’lláh com o fim de alcançar a PazMáxima.

A primeira trata do estabelecimento de um idioma universalauxiliar. Bahá’u’lláh refere-Se a este assunto no Kitáb-i-Aqdas e emmuitas de Suas Epístolas. Assim, na Epístola de Ishraqát, Ele diz:

O sexto Ishráq é a união e a concórdia entre os filhos doshomens. Desde o princípio do tempo, a luz da unidade tem

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irradiado sobre o mundo seu esplendor divino, e o maiormeio para a promoção dessa unidade é que os povos do mundoentendam o idioma – escrito e falado – um do outro. EmEpístolas anteriores temos ordenado aos membros da Casade Justiça o que escolhessem uma língua dentre aquelas jáexistentes, ou que adotassem uma nova, e que, igualmente,escolhessem uma escrita comum, as quais seriam ensinadasem todas as escolas do mundo. Assim virá a terra a serconsiderada um só país e apenas um lar.

Epístolas de Bahá’u’lláh, p. 141.

Na época em que, pela primeira vez, tornou-se conhecida aomundo esta proposta de Bahá’u’lláh, havia nascido na Polônia ummenino de nome Ludovic Zamenhof, que estava destinado arepresentar um papel proeminente em sua realização. Desde suainfância, o ideal de um idioma universal tornou-se um motivodominante na vida de Zamenhof, e o resultado de seus dedicadostrabalhos foi a criação e ampla adoção da língua conhecida porEsperanto, ao qual tem resistido ao teste de muitos anos e provadoser um meio satisfatório de comunicação internacional. Tem a grandevantagem do poder ser dominado em cerca de uma vigésima partedo tempo necessário para dominar-se tais idiomas como o inglês, ofrancês, o alemão. Na ocasião de um banquete dos Esperantistas emParis, em fevereiro de 1913, ‘Abdu’l-Bahá disse:

Uma das causas principais das diferenças hoje na Europa é adiversidade de idiomas. Dizemos que este homem é umalemão, o outro é um italiano, e então encontramos um inglêse depois um francês. Embora pertençam à mesma raça, oidioma é a maior barreira entre eles. Houvesse uma línguaauxiliar universal em uso, todos seriam considerados um sópovo.

Há mais de quarenta anos, Sua Santidade Bahá’u’lláhescreveu sobre esse idioma internacional. Ele diz que enquantonão for adotada uma língua internacional, não se realizará

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uma união completa entre as várias partes do mundo, poisvemos que mal entendidos impedem os povos de associarem-se mutuamente e estes mal-entendidos não serão dissipadosexceto através de uma língua auxiliar internacional.

Falando em geral, todos os povos do Oriente não estãointeiramente informados dos acontecimentos no Ocidente,nem podem os ocidentais colocar-se em contato amigávelcom os orientais; seus pensamentos estão encerrados numcofre – a língua internacional será a chave-mestra que o abrirá.Se possuíssemos um idioma universal, os livros ocidentaispoderiam ser facilmente traduzidos para esse idioma, e assimo povo do Oriente seria informado de seu conteúdo. Domesmo modo, os livros orientais poderiam ser traduzidos paraaquele idioma, em benefício aos povos do Ocidente. Omelhor meio de apressar a união de Oriente e Ocidente seráum idioma comum. Este fará do mundo inteiro um lar etornar-se-á o mais forte impulso ao progresso humano.Erguerá o estandarte da unidade do gênero humano.Transformará a terra em uma comunidade universal. Será acausa de amor entre os filhos dos homens. Produzirá umaamizade legítima entre as várias raças.

Assim sendo, louvores a Deus por haver o dr. Zamenhof*criado o idioma esperanto. Essa língua tem todas as qualidadespotenciais para tornar-se o meio de comunicaçãointernacional. Todos nós devemos ser gratos e reconhecidos aele por tão nobre esforço; pois desta forma ele bem serviu aosseus semelhantes. Com esforço incansável e auto-sacrifíciopor parte de seus adeptos, o esperanto tornar-se-á universal.Todos nós, pois devemos estudar essa língua e disseminá-latanto quanto possível, de modo que dia a dia ela possa receberum reconhecimento mais amplo, ser adotada por todas asnações e governos do mundo, e tornar-se parte do currículoem todas as escolas públicas. Eu faço votos de que o esperantoseja adotado como a língua de todas as futuras conferências econgressos internacionais, de modo que todos os povos sóprecisem aprender dois idiomas – sua própria língua e o idioma

*É interessante saber que Lydia, a filha de Zamenhof, tornou-se uma bahá’í ativa.

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internacional. Então será estabelecida perfeita união entre todosos povos do mundo. Considerai o quanto é hoje difícilcomunicar-se com as várias nações. Ainda que alguém estudecinqüenta idiomas, poderá viajar por um país cujo idiomadesconhece. Espero pois, que façais o máximo esforço para queesse idioma, o esperanto, possa ser largamente difundido.

Embora sejam essas alusões ao Esperanto específicas eanimadoras, ainda é verdade que, enquanto a Casa de Justiça nãotiver tomado uma resolução de acordo com a instrução deBahá’u’lláh, a Fé Bahá’í não estará comprometida nem ao Esperantonem a qualquer outro idioma existente ou artificial.

O próprio ‘Abdu’l-Bahá disse:

O amor e o esforço empregados no Esperanto não serãoperdidos, mas nenhuma pessoa sozinha pode construir umalíngua universal.

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Londres – 1911, p. 84.

Qual a língua a ser adotada, e se deve ser uma existente ouuma construída, é uma decisão que as nações do mundo terão quetomar.

Liga Universal das Nações

Outra proposta freqüente e poderosamente recomendada porBahá’u’lláh foi a criação de uma Liga Universal das Nações para amanutenção da paz internacional. Em uma carta à rainha Vitória,escrita enquanto Ele era ainda prisioneiro no quartel de ‘Akká*, disse:

Ó governantes da Terra! Sede reconciliados entre vós, paraque não mais necessiteis de armamentos, salvo na medidaprecisa a fim de proteger vossos territórios e domínios.

Uni-vos, ó reis da Terra, pois assim a tempestade dadiscórdia se aquietará entre vós e vosso povo encontrará

*De 1868 a 1870.

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sossego... Se alguém dentre vós lançar mão de armas contraoutro, levantai todos contra ele, pois isso nada mais é quejustiça manifesta.

Bahá’u’lláh. O Chamado do Senhor das Hostes, pp. 76-77.

Em 1875, ‘Abdu’l-Bahá predisse o estabelecimento de umaLiga Universal das Nações, o que é especialmente interessanteatualmente* em vista dos vigorosos esforços que agora se fazem parainstituir tal liga.

Ele escreveu:

A verdadeira civilização desfraldará sua bandeira no íntimodo coração do mundo onde quer que um certo número deseus distinguidos e magnânimos soberanos – os brilhantesexemplares de devoção e determinação – erguerem-se, pelobem-estar e a felicidade de toda humanidade, com resoluçãofirme e visão clara, a fim de estabelecerem a Causa da PazUniversal. Eles devem fazer da Causa da Paz o objeto deconsulta geral e buscar, por todos os meios em seu poder,estabelecer uma União das nações do mundo. Eles devemconcluir um tratado obrigatório e estabelecer um convêniocujas provisões sejam sólidas, invioláveis e definidas. Elesdevem proclamá-lo ao mundo inteiro e obter para ele a sançãode toda raça humana. Este supremo e nobre empreendimento– a verdadeira fonte da paz e bem-estar do mundo todo –deve ser considerado como sagrado por todos os que habitama terra. Todas as forças da humanidade devem ser mobilizadaspara assegurar a estabilidade e a permanência deste MaiorConvênio. Neste Pacto todo-abrangente devem ser claramentedeterminados os limites e fronteiras de cada nação,definitivamente formulados os princípios que fundamentamas relações dos governos entre si e averiguados todos os acordose obrigações internacionais. De igual modo, o volume dosarmamentos de cada governo deve ser estritamente limitado,pois se os preparativos para guerra e as forças militares de

*O autor escreveu este trecho em 1919-1920.

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qualquer nação fossem permitidos a aumentar, elesdespertariam a suspeita das demais. O princípio fundamentalque forma a base deste Pacto solene deve ser tão estável que,se qualquer governo violar posteriormente alguma de suasprovisões, todos os governos da terra devem levantar-se parareduzi-lo à absoluta submissão, mais ainda, a raça humanacomo um todo deve decidir, com todo o poder à suadisposição, destruir aquele governo. Se este maior de todosos remédios for aplicado ao corpo enfermo do mundo, eleindubitavelmente se recuperará de suas doenças e permaneceráeternamente salvo e seguro.

‘Abdu’l-Bahá. O Segredo da Civilização Divina, pp. 76-78.

Os bahá’ís vêem graves deficiências na estrutura da Liga dasNações*, a qual fica muito aquém do tipo de instituição descritopor Bahá’u’lláh como essencial ao estabelecimento da paz mundial.Em 17 de dezembro de 1919, ‘Abdu’l-Bahá declarou:

Presentemente, a paz universal é uma questão de grandeimportância, mas a unidade de consciência é essencial, demodo que se tornem seguros os alicerces desta questão, firmeseu estabelecimento e robusto seu edifício.... conquanto játenha sido instituída a Liga das Nações, esta é incapaz deestabelecer a paz universal. O supremo Tribunal queBahá’u’lláh descreve, porém, levará a cabo essa tarefa sagradacom a máxima pujança e poder.

Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, pp. 271-279.

O Arbitramento Internacional

Bahá’u’lláh também aconselhou o estabelecimento de umacorte internacional de arbitramento, a fim de que qualquer diferençaque surja entre as nações possa ser ajustada de acordo com a justiçae a razão, em vez de recorrer-se ao flagelo do combate.

Em uma carta ao Secretário da Conferência de Mohonk sobreo Arbitramento Internacional, em agosto de 1911, ‘Abdu’l-Bahá disse:

*As mesmas considerações são aplicáveis à Organização das Nações Unidas.

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182 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Há cerca de cinqüenta anos, Bahá’u’lláh ordenou no Kitáb-i-Aqdas que se estabelecesse a paz universal, e convocou todasas nações ao banquete divino do arbitramento internacional,a fim de que as questões de fronteiras, de honra nacional epropriedade, e de interesses vitais entre as nações, pudessemser resolvidas por uma corte arbitral de justiça, e que nenhumanação ousasse desrespeitar as decisões assim alcançadas. Sesurgir qualquer disputa entre duas nações, deve ser adjudicadapor essa corte internacional, e arbitrada e decidida do mesmomodo que no julgamento apresentado pelo juiz em questõesentre dois indivíduos. Se a qualquer tempo uma naçãoatrever-se a desrespeitar tal decisão, todas as demais naçõesdevem levantar-se para reprimir tal rebelião.

E num de Seus discursos em Paris, em 1911, Ele disse:

Um Supremo Tribunal será estabelecido pelos povos egovernos de todas as nações, composto de membros eleitosde cada país e governo. Os componentes desse GrandeConselho reunir-se-ão em unidade. Todas as disputas decaráter internacional serão submetidas a essa Corte, cuja tarefaserá conciliar por arbitragem tudo quanto, de algum modo,possa ser a causa de guerra. A missão desse tribunal seráprevenir a guerra.

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Paris – 1911, p. 153.

Durante o quarto de século antecedente ao estabelecimentoda Liga das Nações, foi instituída em Haifa (1900) uma Corte deArbitramento permanente, e muitos tratados de arbitramento foramassinados, os quais, porém, na sua maioria, estavam muito aquémdas abrangentes propostas de Bahá’u’lláh. Não se ratificou entreduas grandes potências tratado algum que incluísse todas as questõesem disputa. Foram especificamente omitidas as divergências queafetavam “interesses vitais”, “honra” e “independência”. Não somenteisso, como também faltavam efetivas garantias de que as nações

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183O CAMINHO DA PAZ

honrassem os termos dos tratados que haviam firmado. Segundo aspropostas bahá’ís, por outro lado, as questões de fronteiras, de honranacional e de interesses vitais são expressamente incluídas, e osacordos terão como retaguarda a suprema garantia da Liga Mundialdas Nações. Somente quando essas propostas forem completamenteexecutadas, o arbitramento internacional alcançará o pleno âmbitode suas benéficas possibilidades, e o flagelo da guerra será finalmentebanido do mundo.

Limitação de Armamentos

Diz ‘Abdu’l-Bahá:

Por um acordo geral todos os governos do mundo devemdesarmar-se simultaneamente. De nada servirá que um sódeponha suas armas se os outros recusarem-se a fazer omesmo. As nações do mundo devem concordar entre si sobreeste assunto de suprema importância, de modo que elespossam simultaneamente abandonar os armamentosmortíferos de carnificina humana. Enquanto uma naçãoaumentar seu orçamento militar e naval, as demais serãoforçadas por seus supostos interesses naturais a entrar nessacompetição insana.

Diário de Mírzá Ahmad Sohrab, de 11 a 14 de maio de 1914.

A Não-Resistência

De acordo com o expresso mandamento de Bahá’u’lláh, osbahá’ís, como organismo religioso, abandonaram inteiramente ouso da força armada em seu próprio interesse, até mesmo para finsestritamente defensivos. Na Pérsia, muitos e muitos milhares debábís e bahá’ís sofreram mortes cruéis por causa da sua fé. Nosprimeiros dias da Causa, os bábís em várias ocasiões defendiam a simesmos e às suas famílias pela espada, com grande coragem e bravura.Bahá’u’lláh, entretanto, proibiu isso. ‘Abdu’l-Bahá escreve:

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184 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Quando Bahá’u’lláh apareceu, Ele declarou que de modoalgum seria permissível a promulgação da verdade por taismeios, nem mesmo em se tratando de defesa própria. Aboliuo domínio da espada e anulou o preceito da “Guerra Santa”.Disse: “Melhor é que sejais mortos do que mateis. É pelafirmeza e convicção dos fiéis que a Causa do Senhor deve serdifundida. À medida que os fiéis, corajosos e destemidos,levantarem-se com desprendimento absoluto para exaltar oVerbo de Deus e, com os olhos fechados às coisas deste mundo,ocuparem-se em serviço por amor a Deus e através de Seupoder, assim conseguirão o triunfo do Verbo da Verdade.Pelo seu sangue vital, essas almas abençoadas dão testemunhoda verdade da Causa e atestam-na pela sinceridade de sua fé,sua devoção e sua constância. O Senhor tem o poder dedifundir Sua Causa e derrotar os obstinados. Não desejamosoutro defensor a não ser Ele e, com as nossas vidas em nossasmãos, encaramos o inimigo e damos boas-vindas ao martírio.”

Escrito por ‘Abdu’l-Bahá para este livro.

Bahá’u’lláh escreveu a um dos perseguidores de Sua Causa:

Em nome de Deus! Este povo não precisa das armas dadestruição, pois se cingiram com os meios para reconstruir omundo. Suas hostes são as hostes dos bons atos, e suas armasas armas da conduta correta, e seu comandante o temor aDeus. Bem-aventurado o que julga com imparcialidade. Pelaretidão de Deus! Tais têm sido a paciência, a calma, aresignação e o contentamento deste povo que eles se tornaramos expoentes da justiça, e tão grande tem sido sua tolerânciaque eles preferiram ser mortos a matar, e isso embora aquelesa quem o mundo injuriou tenham suportado tribulaçõesnunca antes registradas pela história do mundo nemtestemunhadas pelos olhos de qualquer nação. O que poderiatê-los induzido a reconciliar-se com essas sérias provações erecusar-se a avançar uma mão para repeli-las? O que poderiater causado tal resignação e serenidade? A verdadeira causa

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185O CAMINHO DA PAZ

deve ser encontrada na proibição que a Pena da Glória, dia enoite, escolheu impor, e em Nossa aceitação das rédeas daautoridade, através do poder e força dAquele que é o Senhorde toda a humanidade.

Epístola ao Filho do Lobo, pp. 78-79.

Os resultados já provaram a validez do princípio da não-resistência que Bahá’u’lláh promulgara. Para cada adepto martirizadona Pérsia, a Fé Bahá’í recebeu em seu seio cem novos seguidores, ea alegria e coragem com que esses mártires depuseram as coroas dassuas vidas aos pés do seu Senhor, forneceram ao mundo a provamais clara de que haviam encontrado uma nova vida para a qual amorte não tem terrores, uma vida de inefável plenitude e alegria,em comparação com a qual os prazeres terrenos são apenas como póna balança, e as mais diabólicas torturas físicas insignificantementeleves como ar.

A Guerra Justificável

Assim como Cristo, Bahá’u’lláh orienta Seus adeptos que,tanto individual como coletivamente, adotem uma atitude de não-resistência e perdão para com seus inimigos, mas ensina que é, noentanto, dever da comunidade impedir a injustiça e a opressão. Seindivíduos são perseguidos e injuriados é correto para eles perdoar eabster-se de retaliação, mas é injusto que uma comunidade permitaque a pilhagem e o assassínio continuem sem repressão dentro deseus limites. O bom governo tem por dever impedir as más ações epunir os transgressores*. Assim também na comunidade das nações:se uma nação oprimir ou prejudicar outra, todas as demais devemunir-se para impedir tal opressão. ‘Abdu’l-Bahá escreve:

Pode acontecer que, em determinado momento, tribosbelicosas e selvagens ataquem a comunidade com a intençãode realizar indiscriminada matança de seus membros; sobtal circunstância a defesa é necessária.

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Paris – 1911, p. 190.

*Vide Tratamento aos Criminosos, no Capítulo 9.

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186 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Até agora a prática usual entre a humanidade, no caso de umataque contra qualquer nação, foi que as demais naçõespermaneceram neutras e não assumiram qualquer responsabilidadena questão, a não ser que seus próprios interesses fossem diretamenteafetados ou ameaçados. Por mais fraca e indefesa que fosse a naçãoatacada, a ela era deixado todo o fardo da defesa. Os ensinamentosde Bahá’u’lláh revertem essa posição e lançam a todas as nações,individual e coletivamente, a responsabilidade pela defesa, e nãoespecialmente à nação atacada. Como toda a humanidade é uma sócomunidade, um ataque a qualquer nação é um ataque à comunidade,e deve ser assim tratado pela comunidade. Fosse essa doutrinageralmente reconhecida e aplicada, qualquer nação que tencionasseuma agressão a outra, saberia antecipadamente que teria queconsiderar não só a oposição do país agredido como a de todo oresto do mundo. O simples conhecimento desse fato seria suficientepara deter até as mais audazes e belicosas das nações. Quando forestabelecida uma liga suficientemente forte de nações amantes dapaz, a guerra tornar-se-á, por conseguinte, uma coisa do passado.Durante o período de transição do antigo estado de anarquiainternacional ao novo estado de solidariedade internacional, serápossível haver ainda guerras agressivas e, nessas circunstâncias, açõesmilitares ou outra ação coercitiva a favor da justiça, unidade e pazinternacionais podem ser um dever positivo. ‘Abdu’l-Bahá escreveque, nesse caso:

Uma conquista pode ser algo louvável, e existem momentosem que a guerra torna-se a poderosa base da paz, e a ruína, opróprio meio de reconstrução. Se, por exemplo, ummagnânimo soberano dispõe suas tropas para bloquear oataque do insurgente e do agressor, ou ainda, se ele entra nocampo de batalha e distingue-se em uma luta para unificarum estado e um povo divididos, se, em resumo, ele estátravando guerra por um propósito justo, então esta aparentefúria é a própria mercê, e esta aparente tirania, a própriaessência da justiça, e esta guerra, a pedra angular da paz.

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187O CAMINHO DA PAZ

Hoje, a incumbência condizente aos grandes governantes éestabelecer a paz universal, pois nisto jaz a liberdade de todosos povos.

O Segredo da Civilização Divina, p. 84.

Unidade do Oriente e Ocidente

Outro fator que contribuirá para a realização da paz universalé a união entre o Oriente e o Ocidente. A Paz Máxima não é a meracessação de hostilidades, e sim, uma união fecunda e cooperaçãocordial entre os povos da terra, até agora separados, o que produzirámuitos e preciosos frutos. Em um de Seus discursos em Paris, ‘Abdu’l-Bahá disse:

No passado, como no presente, o Sol Espiritual da Verdadetem sempre resplandecido no horizonte oriental. Abraãoapareceu no Oriente. No Oriente ergueu-se Moisés parainstruir e guiar o povo. Do horizonte oriental surgiu o SenhorCristo. Muhammad foi enviado a uma nação do Oriente. OBáb nasceu numa região oriental, a Pérsia. Bahá’u’lláh viveue ensinou no Oriente. Todos os grandes Instrutores Espirituaisnasceram no mundo oriental. Embora, entretanto, o Sol deCristo tivesse despontado no Oriente, seu resplendor atingiuo Ocidente, onde a radiância de sua glória foi vista maisclaramente. A divina luz do Seu Ensinamento brilhou commaior intensidade no mundo ocidental, onde fez maisprogresso do que na terra de sua origem.

Atualmente, o Oriente necessita de progresso material eo Ocidente precisa de um ideal espiritual. Seria bom que oOcidente buscasse a iluminação do Oriente e desse, em troca,seu conhecimento científico. Deve haver esse intercâmbiode dádivas.

O Oriente e o Ocidente devem unir-se para permutaremo que está faltando a ambos. Esta união ocasionará umaverdadeira civilização, em que o espiritual é expresso e

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188 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

realizado no material. Recebendo, assim, um do outro,prevalecerá a maior harmonia, todos os povos serão unidos,um estado de grande perfeição será atingido, haverá umasólida cimentação e este mundo tornar-se-á um espelhoreluzente para refletir os atributos de Deus.

Todos nós, as nações orientais e ocidentais, devemos lutardia e noite, de corpo e alma, para conseguirmos este altoideal, para concretizarmos a união entre todas as nações daterra. Todos os corações serão, então, reanimados, abrir-se-ãotodos os olhos, manifestar-se-á o mais maravilhoso poder e afelicidade dos homens será assegurada...

Isso será o paraíso que há de vir sobre a terra, quandotoda a humanidade estiver reunida sob a tenda da unidadeno Reino da Glória.

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Paris – 1911, pp. 8-9.

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Capítulo 11VÁRIAS LEIS E ENSINAMENTOS

Sabe tu que, em cada era e dispensação, todas as leisdivinas são mudadas e transformadas segundo osrequisitos do tempo, exceto a lei do amor, que, comouma fonte, sempre flui e jamais é atingida por umatransformação.

Bahá’u’lláh. Epístola a Ra’ís.

A Vida Monacal

Bahá’u’lláh, como Muhammad, proíbe aos Seus adeptos avida de reclusão monacal.

Na Epístola a Napoleão III, lemos:

Ó assembléia de monges! Não vos enclausureis em igrejas econventos. Saí com Minha permissão e ocupai-vos com aquiloque possa trazer proveito a vós e a outros.

Entrai em matrimonio para que, depois de vós outro possasurgir em vosso lugar. Nós, verdadeiramente vos proibimos alascívia, e não aquilo que conduz à fidelidade. Tendes vosapegado às sugestões de vossas próprias inclinações, jogandoatrás de vós as normas de Deus? Temei a Deus e não sejaisdos imprudentes. Se não fosse o homem, quem faria mençãode Mim em Minha terra, e como se haveriam revelado Meusatributos e Meu Nome? Ponderai e não sejais dos que seacham velados, profundamente adormecidos. Aquele que nãoentrou em matrimônio não conseguia lugar para morar, nempara repousar a cabeça, por causa daquilo perpetrado pelas

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190 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

mãos dos traiçoeiros. Sua santidade não consiste naquilo quecredes ou imaginais, mas, antes, nas coisas que Nós possuímos.Perscrutai, para que possais compreender Sua condição, quefoi elevada acima das vãs imaginações de todos os povos daterra. Bem-aventurados são aqueles que compreendem.

Bahá’u’lláh. O Chamado do Senhor das Hostes, pp. 57-58.

Não parece estranho que as seitas cristãs tenham instituído avida monacal e o celibato para o clero, em vista do fato de haverCristo escolhido homens casados para Seus discípulos, e não só Elepróprio como Seus apóstolos terem vivido vidas de ativa beneficência,em associação íntima e relacionamento familiar com o povo?

No Alcorão muçulmano, lemos:

A Jesus, Filho de Maria, Nós demos o Evangelho, e pusemosbondade e compaixão nos corações daqueles que O seguiam;mas quanto à vida monacal, eles próprios a inventaram. Foisomente o desejo de agradar a Deus que Nós lhesprescrevemos, e isso eles não observaram como deveria tersido observado.

Alcorão, 57:27.

Qualquer que possa ter sido a justificação para a vida monacalnos tempos antigos e em passadas circunstâncias, Bahá’u’lláh declaranão mais existir tal justificação; e, de fato, parece óbvio que se umgrande número dos mais devotados e tementes a Deus entre apopulação se afastar da associação com seus semelhantes, e dos deverese responsabilidades paternos, isto deve resultar no empobrecimentoespiritual da raça.

Casamento

Os ensinamentos bahá’ís prescrevem a monogamia, e Bahá’u’lláh torna o casamento condicional ao consentimento de ambasas partes e de seus pais. No Kitáb-i-Aqdas, Ele diz:

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191VÁRIAS LEIS E ENSINAMENTOS

No Bayán estipulou-se que o matrimônio depende doconsentimento de ambos os nubentes. Desejando estabelecero amor, a unidade e a harmonia entre os Nossos servos, Nóso ainda condicionamos, conhecida a vontade dospretendentes, à permissão dos respectivos pais e mães, paraque nem inimizade nem rancor nasçam entre eles.

Bahá’u’lláh. O Kitáb-i-Aqdas, K65, p. 35.

Sobre este ponto, ‘Abdu’l-Bahá escreveu a um inquiridor:

Quanto à pergunta sobre o casamento dentro da Lei de Deus:primeiro deves escolher alguém que te seja agradável, e entãoo assunto fica sujeito ao consentimento do pai e da mãe.Antes de fazeres a escolha, eles não têm o direito de interferir.

Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, p. 106.

‘Abdu’l-Bahá diz que, como resultado desta precaução deBahá’u’lláh, o constrangimento entre as duas famílias, que se tornouproverbial nos países cristãos e muçulmanos, é quase desconhecidoentre os bahá’ís, e o divórcio é também muito raro. Sobre ocasamento, Ele escreve o seguinte:

O casamento bahá’í é o compromisso recíproco das duaspartes, e sua ligação mútua de coração e mente. Cada umdeve, porém, exercer o máximo cuidado para familiarizar-setotalmente com o caráter do outro, para que o firme convênioentre eles seja um laço que dure para sempre. Seu propósitodeve ser este: tornarem-se amorosos companheiros ecamaradas, unidos um ao outro por todo o sempre....

O verdadeiro casamento de bahá’ís é este: que o marido ea mulher estejam unidos física e espiritualmente, que sempremelhorem a vida espiritual um do outro, e que desfrutem deunidade sempiterna em todos os mundos de Deus. É este ocasamento bahá’í.

Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, p. 106.

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192 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

A cerimônia nupcial bahá’í é muito simples, exigindo-seapenas que o noivo e a noiva, na presença de pelo menos duastestemunhas, digam cada um: “Nós todos, verdadeiramente,anuiremos à vontade de Deus.”

Divórcio

Sobre o divórcio, como sobre o casamento, as instruções dosProfetas têm variado segundo as circunstâncias dos tempos. Assimexpõe ‘Abdu’l-Bahá os ensinamentos bahá’ís a respeito do divórcio:

Devem abster-se estritamente do divórcio, a não ser que surjaalgo que os obrigue a se separarem em virtude de sua aversãomútua; neste caso, com o conhecimento da AssembléiaEspiritual, podem decidir se separar. Devem então serpacientes e esperar um ano completo. Se durante este ano aharmonia não for restabelecida entre eles, então seu divórciopode ser realizado... As bases do Reino de Deus estãoalicerçadas na harmonia e amor, unicidade, afinidade e união,e não sobre divergências, especialmente entre o esposo e aesposa. Se um destes dois se torna a causa de divórcio, este,inquestionavelmente, cairá em grandes dificuldades, setornará a vítima de formidáveis calamidades e sentirá granderemorso.

‘Abdu’l-Bahá, citado em: Preservando Casamentos Bahá’ís, pp. 4-5.

No divórcio, bem como em outros assuntos, os bahá’ís,naturalmente, terão que obedecer não somente ao ensinamentobahá’í, mas também às leis do país em que vivem.

O Calendário Bahá’í

Os meses no Calendário Bahá’í são como segue:

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193VÁRIAS LEIS E ENSINAMENTOS

Entre os diversos povos e em várias épocas, diversos métodostêm sido adotados para medir o tempo e fixar as datas, e muitoscalendários diferentes estão ainda em uso diário; por exemplo, ogregoriano na Europa Ocidental, o juliano em muitos países daEuropa Oriental, o hebraico entre os judeus, e o muçulmano nascomunidades muçulmanas.

O Báb assinalou a importância da Dispensação à qual Eleveio como Arauto, com a inauguração de um novo calendário. Neste,como no calendário gregoriano, o mês lunar é abandonado e éadotado o ano solar.

Mês

123456789101112131415161718

19

Nome Árabe

BaháJalálJamál‘AzamatNúrRahmatKalimátKamálAsmá’‘IzzatMashíyyat‘IlmQudratQawlMasá’ilSharafSultánMulk

‘Alá’

Tradução

EsplendorGlóriaBelezaGrandezaLuzMisericórdiaPalavrasPerfeiçãoNomesForçaVontadeConhecimentoPoderDiscursoPerguntasHonraSoberaniaDomínio

Sublimidade

Primeiro Dia

21 de março9 de abril28 de abril17 de maio5 de junho24 de junho13 de julho1o de agosto20 de agosto8 de set.27 de set.16 de out.4 de nov.23 de nov.12 de dez.31 de dez.19 de janeiro7 de fevereiro

2 de março

Dias Intercalares: 26 de fevereiro a 1o de março, inclusive.

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194 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

O ano bahá’í consiste em dezenove meses de dezenove dias(isto é, 361 dias), com a adição de certos “Dias Intercalares” (quatronos anos comuns e cinco nos bissextos) entre o décimo oitavo e odécimo nono mês, a fim de ajustar o calendário ao ano solar. O Bábdeu aos meses os nomes dos atributos de Deus. O Ano Novo bahá’í,como o antigo Ano Novo persa, é astronomicamente fixado, iniciandono equinócio de março (usualmente 21 de março), e a Era Bahá’ícomeça no ano da declaração do Báb (1844 da Era Cristã, 1260 daEra Muçulmana).

Num futuro não muito distante, será preciso que todos ospovos do mundo concordem sobre um calendário comum.

Parece apropriado, portanto, que a nova era da unidade devater um novo calendário, livre das objeções e associações que tornamcada um dos calendários antigos inaceitáveis para grande parte dapopulação do mundo, e é difícil visualizar como qualquer outrosistema poderia exceder, em simplicidade e conveniência, àqueleproposto pelo Báb.

Assembléias Espirituais

Antes de completar Sua missão na terra, ‘Abdu’l-Bahá lançaraum alicerce para o desenvolvimento da ordem administrativaestabelecida nos Escritos de Bahá’u’lláh. A fim de mostrar a altaimportância a ser atribuída à instituição da Assembléia Espiritual,‘Abdu’l-Bahá, numa Epístola, declarou que uma certa traduçãodeveria ser aprovada pela Assembléia Espiritual do Cairo antes deser publicada, apesar de haver Ele próprio revisto e corrigido o texto.

Entende-se por Assembléia Espiritual o corpo administrativode nove pessoas, eleito anualmente em cada comunidade bahá’ílocal, que é dotado de autoridade de decisão sobre todas as questõesde ação mútua por parte da comunidade. Essa designação éprovisória, pois no futuro as Assembléias Espirituais serãodenominadas Casas de Justiça.

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195VÁRIAS LEIS E ENSINAMENTOS

Diferentes da organização das igrejas, esses organismos bahá’íssão instituições sociais e não eclesiásticas. Isto é, aplicam a lei daconsulta a todas as questões e dificuldades que surgem entre bahá’ís,aos quais se pede não recorrer a uma corte civil, e visam promover aunidade, bem como a justiça, em toda a comunidade. A AssembléiaEspiritual não equivale em absoluto ao sacerdote ou ao clero, mas éresponsável por apoiar os ensinamentos, estimular o serviço ativo,realizar reuniões, manter a unidade, administrar a propriedade bahá’ípara a comunidade e representá-la em suas relações com o públicoe com outras comunidades bahá’ís.

A natureza da Assembléia Espiritual, local e nacional, édescrita mais minuciosamente na parte do capítulo final referente àVontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahá, mas suas funções geraisforam definidas por Shoghi Effendi do seguinte modo:

A questão do Ensino, de sua orientação, seus métodos e seusmeios, sua expansão, sua consolidação, embora essenciais aosinteresses da Causa, de modo algum constituem o únicoassunto que deve receber a total atenção dessas Assembléias.Um cuidadoso estudo das Epístolas de Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá revelará que outros deveres não menos vitais aosinteresses da Causa cabem aos representantes eleitos entre osamigos em cada localidade.

Cabe-lhes ser vigilantes e cautelosos, discretos e atenciosos,e proteger sempre o Templo da Causa contra o dardo domalfeitor e o ataque do inimigo.

Devem esforçar-se em promover amizade e concórdia entreos amigos e apagar de todos os corações qualquer traço dedesconfiança, frieza e alienação, substituindo isto por umacooperação ativa e sincera no serviço à Causa.

Devem sempre, o mais que possível, estender a mão emsocorro ao pobre, ao doente, ao incapacitado, ao órfão, à viúva,independentemente de cor, casta ou credo.

Devem promover por todos os meios ao seu alcance aorientação à juventude, material bem como espiritual, os

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196 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

recursos para educação das crianças, estabelecer, sempre quepossível, instituições educativas bahá’ís, organizar esupervisionar seu trabalho e prover os meios mais eficazespara seu progresso e desenvolvimento....

Devem incumbir-se da preparação de reuniões regularesdos amigos, as festas e os aniversários, como também dasreuniões especiais destinadas a servir e promover os interessessociais, intelectuais e espirituais de seus semelhantes.

Nestes tempos em que a Causa está ainda em sua infância,devem supervisionar todas as publicações e traduções bahá’ís,e providenciar uma apresentação digna e acurada de toda aliteratura bahá’í e sua distribuição ao público em geral.

As possibilidades inerentes às instituições bahá’ís só podemser estimadas quando se percebe com que rapidez a civilizaçãomoderna está se desintegrando por falta daquele poder espiritual,único que pode suprir aos dirigentes a atitude necessária deresponsabilidade e humildade, e aos membros individuais dasociedade a lealdade imprescindível.

As Festas Bahá’ís, Aniversários e Dias de Jejum

Festa de Naw-Rúz (Ano Novo Bahá’í) 21/03Festa de Ridván (Declaração de Bahá’u’lláh) 21/04 a 02/05Declaração do Báb* 23/05Ascensão de Bahá’u’lláh 29/05Martírio do Báb 09/07Nascimento do Báb 20/10Nascimento de Bahá’u’lláh 12/11Dia do Convênio 26/11Ascensão de ‘Abdu’l-Bahá 28/11Período do Jejum, 19 dias 02/03 a 20/03

*Esta data coincide com a do nascimento de ‘Abdu’l-Bahá.

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197VÁRIAS LEIS E ENSINAMENTOS

Festas

A alegria essencial da religião bahá’í exprime-se em numerosasfestas e dias sagrados no decorrer do ano.

Numa palestra sobre a Festa de Naw-Rúz, em Alexandria,Egito, em 1912, ‘Abdu’l-Bahá disse:

De acordo com as sagradas leis de Deus, em cada ciclo edispensação há festas sacras, dias santos e dias de descanso.Em tais dias toda espécie de ocupação – comércio, indústria,agricultura, etc. – deve ser suspensa.

Juntos, todos devem regozijar-se, realizando reuniões geraise tornando-se como uma só assembléia, de modo que a união,a unidade e harmonia nacionais possam ser demonstradasaos olhos de todos.

Uma vez que se trata de um dia abençoado, não se devenegligenciá-lo, nem se privar de seus benefícios, dedicando-o ao mero prazer.

Durante tais dias devem ser fundadas instituições quepossam ser de benefício permanente e de utilidade ao povo....

Hoje não há resultado ou fruto maior do que o de guiaros povos. Os amigos de Deus devem, sem dúvida, nessesdias, deixar traços tangíveis, filantrópicos ou ideais queatinjam a toda a humanidade e não somente aos bahá’ís.Nessa maravilhosa Dispensação as ações filantrópicas devemser para toda a humanidade, sem exceção, porque é amanifestação da misericórdia de Deus. É minha esperança,pois, que os amigos de Deus, cada um deles, torne-se umamanifestação de Sua Mercê para todo o gênero humano.

As Festas de Naw-Rúz (Ano Novo) e Ridván, o aniversárionatalício do Báb e o de Bahá’u’lláh, e o aniversário da Declaraçãodo Báb (que é também aniversário natalício de ‘Abdu’l-Bahá), sãoos dias de imensa alegria do ano para os bahá’ís. No Irã sãocomemorados com a realização de piqueniques ou reuniões festivas,

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198 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

em que há música, entoação de versículos e epístolas, e pequenosdiscursos apropriados à ocasião oferecidos por aqueles presentes. Osdias intercalares entre o décimo oitavo e o décimo nono mês (isto é,26 de fevereiro a 1º de março) são especialmente dedicados àhospitalidade, à distribuição de presentes, auxílio aos pobres edoentes, etc.

Os aniversários do martírio do Báb e da ascensão de Bahá’u’lláhe de ‘Abdu’l-Bahá são celebrados com solenidade, através de reuniõese discursos apropriados, e a entoação de preces e Epístolas.

Jejum

O décimo-nono mês, que segue imediatamente àhospitalidade dos dias intercalares, é o mês do jejum. Durantedezenove dias o jejum é observado através da abstinência de alimentose bebidas, do nascer ao pôr-do-sol. Como o mês do jejum terminano equinócio de março, o jejum cai sempre na mesma estação, istoé, primavera no hemisfério setentrional, e outono no meridional;nunca no extremo calor do verão nem no frio intenso do inverno,quando provavelmente seria penoso. Nessa estação, além disso, ointervalo entre o nascer e o pôr do sol é aproximadamente o mesmoem toda a porção habitável do globo, isto é, de cerca de seis horasda manhã até seis da tarde. O jejum não é obrigatório às crianças,aos inválidos, aos viajantes, àqueles que são muito idosos ou muitofracos (inclusive mulheres grávidas ou que amamentam).

Há muita evidência que indica ser um jejum periódico, comoo adotado pelos ensinamentos bahá’ís, benéfico como medida dehigiene física, mas justamente como a realidade da festa bahá’í nãoreside no consumo de alimentos físicos, e sim, na comemoração deDeus, a qual é o nosso alimento espiritual, da mesma maneira arealidade do jejum bahá’í não consiste na abstinência do alimentofísico, embora isso possa concorrer para a purificação do corpo, esim, na abstinência dos desejos e luxúrias carnais, e nodesprendimento de tudo, salvo de Deus. Diz ‘Abdu’l-Bahá:

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199VÁRIAS LEIS E ENSINAMENTOS

O jejum é um símbolo. Jejuar significa abster-se da luxúria. Ojejum físico é um símbolo dessa abstinência, e nos faz lembrardela; isto é, do mesmo modo que uma pessoa abstém-se desatisfazer os apetites fésicos, deve abster-se dos apetites e desejosdo ego. Mas a mera abstinência de alimentos não tem nenhumefeito sobre o espírito. É apenas um símbolo, um meio de noslembrarmos. Do contrário é de nenhuma importância. Jejuarcom esse intuito não significa inteira abstinência de alimentos.A regra de ouro a respeito de alimentos é não se alimentar emdemasia nem muito pouco. A moderação é necessária. Há umaseita na Índia que pratica a abstinência ao extremo, reduzindogradualmente a sua nutrição até passarem quase que semalimentos. A sua inteligência, porém, sofre com isso. Umhomem não pode servir a Deus com a mente ou o corpo seestá fraco por falta de alimentos. Ele não pode ver com clareza.

Citado pela srta. E. S. Stevens em Fortnightly Review, junho 1911.

Reuniões

‘Abdu’l-Bahá dá a maior importância a reuniões regulares dosbahá’ís para devoção em conjunto, para a exposição e o estudo dosensinamentos, e para consulta sobre o progresso do Movimento.Em uma das Epístolas Ele diz:

É propósito de Deus que no Ocidente a união e harmoniapossam aumentar dia a dia entre os amigos de Deus e asservas do Misericordioso. Até que isso seja realizado não podeser alcançado qualquer progresso. E o meio mais eficaz depromover união e harmonia entre todos os amigos são asreuniões espirituais. Esta questão é muito importante, e écomo um ímã que atrairá as confirmações divinas.

Tablets of Abdul-Baha, vol. I, pp. 124-125.

Nas reuniões espirituais dos bahá’ís, o argumento contenciosoe a discussão de assuntos políticos ou mundanos devem ser evitados;o único objetivo dos bahá’ís deve ser ensinar e aprender a Verdade

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200 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Divina, ter seus corações cheios de Amor Divino, atingir umaobediência mais perfeita à Vontade Divina, e promover a vinda doReino de Deus. Num discurso em Nova Iorque em 1912, ‘Abdu’l-Bahá disse:

É minha esperança que as reuniões da Assembléia Bahá’í emNova Iorque se tornem como as reuniões da AssembléiaSuprema. Ao vos reunirdes, deveis refletir as luzes do Reinocelestial. Que vossos corações sejam como espelhos nos quaisa luz do Sol da Realidade é visível. Cada alma deve ser umaestação telegráfica – tendo uma extremidade do fio ligada àalma e a outra, à Assembléia Suprema – para que a inspiraçãopossa descer do Reino de Abhá e os assuntos da realidadesejam discutidos. Então as opiniões coincidirão com averdade; dia após dia haverá progresso e as reuniões tornar-se-ão mais radiantes e espirituais. Isto depende de unidade eharmonia. Quanto mais perfeitos forem o amor e a concórdia,mais as confirmações divinas e a assistência da AbençoadaPerfeição descerão.

A Promulgação da Paz Universal, p. 227.

Em uma de Suas Epístolas Ele diz:

Nessas reuniões, não deve haver qualquer conversação alheia.O grupo deve, preferivelmente, restringir-se a ler e recitar asPalavras Sagradas, e tratar de questões relativas à Causa de Deus,expondo, por exemplo, provas e argumentos conclusivos, e osEscritos do Mais Amado da humanidade. Aqueles queparticipam destas reuniões devem ataviar-se em vestesimaculadas, voltar suas faces ao Reino de Abhá e então, comhumildade e submissão, lá entrar. Durante as leituras eles devemmanter completo silêncio. Caso alguém deseje falar, deveráfazê-lo com total humildade, exatidão e eloqüência.

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201VÁRIAS LEIS E ENSINAMENTOS

A Festa de Dezenove Dias

Com o desenvolvimento da Ordem Administrativa bahá’ídesde a ascensão de ‘Abdu’l-Bahá, a Festa de Dezenove Dias,observada no primeiro dia de cada mês bahá’í, adquiriu umaimportância muito especial, pois provê oportunidade não somentepara a oração e leitura dos Livros Sagrados em comunidade, mastambém para consulta geral sobre todas as questões correntes entreos bahá’ís e para o convívio dos amigos. A Festa é a ocasião em quea Assembléia Espiritual faz os seus relatórios à comunidade e aconvida a considerar planos e dar sugestões para novos e melhoresmétodos de serviço.

Mashriqu’l-Adhkár

Bahá’u’lláh deixou instruções para que templos fossemconstruídos em cada país e cidade. A esses templos Ele deu o nomede Mashriqu’l-Adhkár, que significa Lugar do Alvorecer do Louvora Deus. O Mashriqu’l-Adhkár é um edifício de nove lados, encimadopor uma cúpula e o mais belo possível em concepção e acabamento.Deve ser construído num grande jardim adornado com fontes, árvorese flores, circundado por vários edifícios suplementares destinados àeducação, à caridade e aos fins sociais, de modo que a adoração aDeus no templo possa ser sempre intimamente associada ao reverenteencanto pelas belezas da natureza e da arte, e ao trabalho práticopara melhorar as condições sociais*.

*A respeito do Mashriqu’l-Adhkár, é interessante lembrarmo-nos das seguintes linhasde Tennyson:SonheiQue pedra por pedra ergui um sacrário,Um templo, nem Pagode, Mesquita ou Igreja,E sim, mais altivo, mais simples, sempre de portas abertasPara todo sopro do céu, e Verdade e PazE Amor e Justiça vieram e nele habitaram.

Sonho de Akbar, 1892.

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No Irã, até o tempo presente, os bahá’ís têm sido impedidosde construírem templos para adoração pública, e assim o primeirogrande Mashriqu’l-Adhkár foi construído em ‘Ishqábád*, na Rússia.‘Abdu’l-Bahá, durante Sua visita à América em 1912, consagrou olocal da segunda Casa Bahá’í de Adoração, a ser erigida à margemdo Lago de Michigan, a poucas milhas ao norte de Chicago†.

Em Epístolas referentes a esse “Templo-Mater” do Ocidente,‘Abdu’l-Bahá escreve o seguinte:

Louvor a Deus, pois, neste momento, de todos os países domundo, de acordo com as suas posses, contribuições sãocontinuamente enviadas ao fundo do Mashriqu’l-Adhkár naAmérica.... Desde o tempo de Adão, jamais testemunhou ohomem tal coisa – que do mais longínquo país da Ásia foramenviadas contribuições à América. Isso é através do poder doConvênio de Deus. Em verdade, esta é uma causa deadmiração às pessoas de percepção. Espera-se que os que crêemem Deus possam manifestar magnanimidade e levantem umagrande soma para a construção.... Desejo que cada um sejalivre para agir como quiser. Se alguém quiser empregardinheiro em outras coisas, que assim o faça. Não interfiraisde modo algum, mas estai seguros de que a coisa maisimportante hoje é a construção do Mashriqu’l-Adhkár.

...O mistério do edifício é grande, e não pode ser reveladoainda, mas sua construção é o mais importanteempreendimento deste tempo. O Mashriqu’l-Adhkár temimportantes dependências acessórias, que são consideradascomo parte integrante do mesmo.São estas: escola para órfãos,hospital e dispensário para os pobres, lar para os inválidos,escola para a educação científica superior, e hospedaria. Emcada cidade deve ser fundado um grande Mashriqu’l-Adhkársegundo esse modelo. No Mashriqu’l-Adhkár serão mantidasprogramações devocionais todas as manhãs. Não haverá órgãono Templo. Nos edifícios próximos realizar-se-ão festivais,programas devocionais, convenções, reuniões públicas e

*O governo comunista da Rússia disse na época que esta primeira Casa de Adoraçãofoi seriamente danificada num terremoto em 1948 e teve que ser demolida algunsanos depois.†Este Templo foi completado em 1953. Desde então outros templos bahá’ís foram

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203VÁRIAS LEIS E ENSINAMENTOS

reuniões espirituais, porém no Templo a entoação e o cantonão serão acompanhados. Abri as portas do Templo a toda ahumanidade.

Quando estiverem construídas estas instituições – escola,hospital, hospedaria e estabelecimento para os doentesincuráveis, universidade para o estudo das ciências superiores,com cursos de pós-graduação, e outros edifícios filantrópicos– as portas serão abertas a todas as nações e religiões. Nãohaverá, em absoluto, nenhuma linha de demarcação. Suascaridades serão dispensadas independentemente de cor ouraça. Suas portas abrir-se-ão a todo o gênero humano;preconceito para com ninguém, amor a todos. O edifíciocentral será dedicado à prece e à adoração. Deste modo... areligião tornar-se-á harmonizada com a ciência, e a ciênciaserá a serva da religião, derramando ambas a toda ahumanidade suas dádivas materiais e espirituais.

A Vida após a Morte

Bahá’u’lláh diz-nos que a vida física é apenas a etapaembrionária de nossa existência, e que a libertação do corpo é comoum novo nascimento através do qual o espírito humano entra numavida mais ampla, mais livre. Ele escreve:

Sabe tu que, em verdade, a alma após sua separação do corpocontinuará a progredir até que atinja a Presença de Deus, emuma condição e um estado que nem a revolução dos séculose eras, nem os acasos e as vicissitudes deste mundo, poderãoalterar. Durará enquanto durar o Reino de Deus – Suasoberania, Seu domínio e Seu poder. Haverá de manifestaros sinais de Deus e Seus atributos e revelar Sua benevolênciae generosidade. O movimento de Minha Pena aquieta-sequando tenta descrever, de um modo digno, a sublimidade ea glória de tão excelsa condição. Tamanha é a honra da qual aMão da Misericórdia investirá a alma, que nenhuma língua

construídos, em Kampala, Uganda; em Sidney, Austrália; em Frankfurt, Alemanha;na cidade de Panamá, Panamá; em Apia, Samoa Ocidental; e em Nova Delhi, Índia.Locais para mais 126 já foram adquiridos.

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pode revelá-la adequadamente, nem qualquer outroinstrumento terreno descrevê-la. Bem-aventurada a alma que,na hora de sua separação do corpo, estiver santificada das vãsimaginações dos povos do mundo. Essa alma vive e atuasegundo a Vontade de seu Criador e entra no Paraíso supremo.As Donzelas do Céu, habitantes das, mais elevadas mansões,circundá-la-ão e os Profetas de Deus e Seus eleitos procurarãosua companhia. Com eles essa alma conversará livremente,relatando-lhes o que teve de sofrer no caminho de Deus, oSenhor de todos os mundos. Se a alguém se disser o que edestinado a essa alma nos mundos de Deus, Senhor do trononas alturas e do reino terrestre, todo o seu ser arderáinstantaneamente em seu anseio por atingir essa condiçãoexcelsa, santificada e resplandecente...

A natureza da alma após a morte não pode jamais serdescrita, nem é apropriado ou permissível revelar seu caráterplenamente aos olhos dos homens. Os Profetas e Mensageirosde Deus têm sido enviados com o fim único de guiar ahumanidade ao Caminho Reto da Verdade. É o intuitofundamental de Sua Revelação educar todos os homens paraque possam, na hora de sua morte, ascender ao trono doAltíssimo no grau máximo de pureza e santidade e comdesprendimento absoluto. Da luz irradiada por essas almas,dependem o progresso do mundo e o adiantamento de seuspovos. Elas são como fermento que leveda o mundo, existente;constituem a força animadora que faz manifestarem-se as artese maravilhas do mundo. Por seu intermédio, as nuvensdispensam suas graças aos homens e a terra produz seus frutos.É mister que todas as coisas tenham uma causa, uma forçamotriz, um princípio animador. Essas almas, símbolos dodesprendimento, têm provido e continuarão a prover oimpulso supremo que move o mundo dos seres.

O mundo do além é tão diferente deste mundo comoeste o é do mundo da criança ainda no ventre materno.

Seleção dos Escritos de Bahá’u’lláh, pp. 122-123.

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205VÁRIAS LEIS E ENSINAMENTOS

De modo semelhante, escreve ‘Abdu’l-Bahá:

Os mistérios despercebidos pelo homem no mundo terreno,ele os descobrirá no mundo celestial, e aí será ele informadodos segredos da verdade; mais ainda, ele reconhecerá oudescobrirá as pessoas às quais esteve associado.Indubitavelmente, as almas santas que atingem uma visãopura e são agraciadas com a compreensão, no reino da luzserão informadas de todos os mistérios e procurarão a graçade perceber a realidade de todas as grandes almas.Contemplarão ainda claramente a Beleza de Deus naquelemundo. Do mesmo modo, encontrarão presentes naassembléia celestial todos os amigos de Deus, os dos temposrecentes como os dos mais remotos.

A diferença e distinção entre os homens tornar-se-ãonaturalmente percebidas após sua partida deste mundomortal. Essa distinção, porém, não se refere a lugares, e simà alma e à consciência. Pois o Reino de Deus é santificado(ou livre) de tempo e lugar – é outro mundo e outro universo.E sabe tu com certeza que nos mundos divinos os bem-amadosespirituais reconhecerão uns aos outros, e procurarão uniãouns com os outros, mas uma união espiritual. Do mesmomodo, um amor que se teve por alguém não será esquecidono mundo do Reino, nem tampouco lá esquecerás a vida quetiveste no mundo material.

Tablets of Abdul-Baha, vol. I, p. 205.

Céu e Inferno

Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá não consideram literais, e simsimbólicas, as descrições do céu e do inferno encontradas em algumasdas mais antigas escrituras religiosas, como por exemplo, a históriabíblica da criação. Eles ensinam que o céu é o estado da perfeição, eo inferno, o da imperfeição; céu é a harmonia com a vontade deDeus e com os nossos semelhantes, e inferno é a falta desta harmonia;

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céu é a condição da vida espiritual, e inferno, a da morte espiritual.Enquanto ainda no corpo físico, pode estar um homem no céu ouno inferno. As alegrias do céu são alegrias espirituais, e as penas doinferno consistem-se na privação destas alegrias. Diz ‘Abdu’l-Bahá:

Quando, graças à luz da fé, elas se libertam da escuridão detais vícios, sendo iluminadas pelo esplendor do Sol daRealidade e enobrecidas por todas as virtudes, nisso vêemsua maior recompensa – nisso reconhecem o verdadeiroparaíso. Da mesma maneira, elas consideram a puniçãoespiritual, isto é, a tortura ou o castigo da existência, comoequivalente a estar sujeito ao mundo da natureza, a ser privadode Deus, a ser brutal e ignorante, dominado pela luxúria,absorvido pela fraqueza animal, caracterizado por mástendências...tudo isso constitui a maior tortura, a mais severapunição...

...As recompensas do outro mundo são, pois, a paz, asgraças espirituais, as várias dádivas espirituais no Reino deDeus, a realização dos desejos da alma e do coração, e oencontro com Deus no mundo da eternidade; justamentecomo, por outro lado, as punições ou torturas do outro mundoconsistem em achar-se destituído das especiais bênçãosdivinas e graças absolutas, e em degradar-se aos grausinferiores da existência. Quem se priva destes favores divinos,embora continue a existir após sua partida deste mundo, é,no entanto, considerado pelo povo da verdade como sendoum morto.

A riqueza do outro mundo consiste na proximidade deDeus. Por conseguinte, é permitido aos que estão próximosda Corte Divina interceder pelos outros, sendo tal intercessãoaprovada por Deus...

É até possível modificar o estado dos que morreram empecado, descrentes; isto é, o perdão ser-lhes-á concedido,graças à bondade de Deus, e não de acordo com Sua justiça,pois dar quando não há merecimento constitui pura bondade,

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enquanto a justiça exige que se dê o que é merecido. Assimcomo temos neste mundo o poder de orar por essas pessoas,tê-lo-emos no outro mundo, também, no Reino de Deus...Portanto, ali poderão também progredir. Como aqui recebemluz por meio da prece, igualmente poderão ali pedir perdãoe receber luz mediante preces e súplicas.

Não só antes de abandonar esta forma material, mastambém depois de o fazer, há progresso, aperfeiçoamento,embora não seja em estado... Não existe criatura superior aohomem perfeito. Quando atinge esse estado, o homem podeainda progredir no sentido de se aperfeiçoar, embora não emestado, pois não há estágio superior ao do homem perfeitopara o qual possa ser transferido. Ele progride somente dentrodo estado humano, sendo infinitas as perfeições humanas.Assim por mais sábio que seja um homem, ainda é possívelimaginarmos um outro mais sábio.

Logo, em virtude de serem infinitas as perfeições dahumanidade, o homem pode continuar a afeiçoar-se apóssua partida deste mundo.

Respostas a Algumas Perguntas, pp. 186-195.

A Unidade dos Dois Mundos

A unidade do gênero humano ensinada por Bahá’u’lláh refere-se não somente aos homens ainda no plano físico, mas a todos osseres humanos, encarnados ou desencarnados. Não só todos homensque vivem agora neste mundo, mas todos no mundo espiritualtambém, são partes de um só organismo, e essas duas partes sãointimamente dependentes uma da outra. A comunhão espiritualentre uma e outra, longe de ser impossível e fora do natural, éconstante e inevitável. Aqueles cujas faculdades espirituais aindanão estão desenvolvidas, são inconscientes dessa conexão vital, masà medida que as faculdades de alguém são desenvolvidas, acomunicação com aqueles além do véu gradualmente se torna maisconsciente e definida. Essa comunhão espiritual é, para os Profetas

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e santos, tão familiar e real como são a visão e a conversação usuaispara o resto da humanidade. ‘Abdu’l-Bahá diz:

As visões dos Profetas não são sonhos, mas sim, verdadeirasrevelações espirituais. Se eles dizem, por exemplo: “Vi umapessoa de certa forma, a quem eu disse tal coisa, dando-meela tal resposta,” esta visão pertence ao mundo da vigília enão ao do sono. É uma revelação espiritual...

Entre os que cultivam a vida espiritual há umentendimento espiritual, revelações, uma comunhão que nadatem de ver com a imaginação e a fantasia, uma associaçãoque escapa à ação do tempo e do espaço. Diz o Evangelhoque no Monte Tabor Moisés e Elias vieram ter com Cristo:evidentemente, não se trata aqui de um encontro material,mas sim de um acontecimento espiritual...

...Estas são reais, e operam maravilhas nos pensamentos,na mente dos homens, atraindo-lhes os corações.

Respostas a Algumas Perguntas, pp. 205-206.

Embora admitindo a realidade das faculdades psíquicas“supernormais”, ‘Abdu’l-Bahá condena as tentativas de forçar o seudesenvolvimento prematuramente. Essas faculdades desenvolver-se-ão naturalmente, no devido tempo, se nós simplesmente seguirmosa senda do progresso espiritual que os Profetas traçaram para nós.Diz Ele:

Envolver-se com forças psíquicas, enquanto neste mundo,interfere na condição da alma no próximo mundo. Essas forçassão reais mas, normalmente, não são ativas neste plano. Acriança no útero tem seus olhos, ouvidos, mãos, pés, etc.,mas não estão em atividade. O inteiro propósito da vida nomundo material é a entrada no mundo da realidade, ondeaquelas forças tornar-se-ão ativas. Elas pertencem àquelemundo.

De notas da srta. Buckton, revisadas por ‘Abdu’l-Bahá.

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209VÁRIAS LEIS E ENSINAMENTOS

Comunicação com os espíritos dos mortos não deve serprocurada nem por si só, nem meramente com o fim de satisfazer avã curiosidade. É, porém, um privilégio e dever daqueles que estãode um lado do véu, amar e auxiliar e orar por aqueles do outro. Osbahá’ís têm por dever orar pelos mortos. ‘Abdu’l-Bahá disse a srta.E. J. Rosenberg em 1904:

A graça da intercessão efetiva é uma das perfeições das almasadiantadas, bem como dos Manifestantes de Deus. Enquantona terra, Jesus Cristo teve o poder de interceder pelo perdãodos Seus inimigos, e certamente Ele tem este poder agora.‘Abdu’l-Bahá nunca menciona o nome de uma pessoa mortasem dizer: “Possa Deus perdoá-lo!” ou palavras de efeitosemelhante. Os discípulos dos Profetas também têm este poderde orar pelo perdão das almas. Por conseguinte, não devemospensar que algumas almas estejam condenadas a uma condiçãoestacionária de sofrimento ou privação, por causa de suaabsoluta ignorância de Deus. O poder da efetiva intercessãopor eles existe sempre....

O rico no outro mundo pode ajudar o pobre, como o ricopode ajudar o pobre aqui. Em cada mundo, todos são criaturasde Deus. São sempre dependentes dEle. Não sãoindependentes e jamais o podem ser. Como têm necessidadede Deus, quanto mais suplicam, mais ricos se tornam. Quaissão seus bens, suas riquezas? Em que consiste auxílio e assistênciano outro mundo? Na intercessão. As almas pouco desenvolvidasdevem progredir primeiro através das súplicas dosespiritualmente ricos; depois, podem progredir através das suaspróprias súplicas.

Ele diz ainda:

Aqueles que ascenderam possuem atributos diferentesdaqueles que ainda permanecem sobre a terra, ainda assimnão há verdadeira separação. Na oração há uma mescla de

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estados, uma mistura de condições. Orai por eles assim comoeles oram por vós.

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Londres – 1911, p. 86.

Interrogado se era possível, através da fé e do amor, levar anova Revelação ao conhecimento daqueles que partiram desta vidasem ouvirem falar dela, ‘Abdu’l-Bahá respondeu:

Sim, seguramente! visto que a prece sincera tem sempre oseu efeito e exerce uma grande influência no outro mundo.Não somos jamais separados daqueles que lá estão. Ainfluência real e genuína não é neste mundo e sim no outro.

Notas de Mary Hanford Ford, Paris, 1911.

Por outro lado, Bahá’u’lláh escreve*:

Por aquele que vive de acordo com o que lhe é ordenado, aAssembléia Celestial, o povo do Paraíso Supremo, e aquelesque habitam a Abóbada da Grandeza, rogarão, de acordocom um Mandamento de Deus, o Mais Amado, e o Dignode Louvor.

Quando se perguntou a ‘Abdu’l-Bahá como é que o coraçãofreqüentemente dirige-se com apelo instintivo a algum amigo quejá passou para a próxima vida, Ele respondeu:

É uma lei da criação de Deus que o fraco deve se apoiar sobreo forte. Aqueles a que vos volveis podem ser mediadores dopoder de Deus a vós, da mesma forma que quando sobre aterra. Mas é o Espírito Santo que fortalece todos os homens.

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Londres – 1911, p. 87.

A Inexistência do Mal

Segundo a filosofia bahá’í, a doutrina da unidade de Deusdefine que não pode existir coisa tal como o mal positivo. Pode*De uma Epístola traduzida do árabe para o inglês por ‘Ali Kulí Khán.

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existir apenas um Infinito. Se houvesse qualquer outro poder nouniverso além desse ou oposto a esse Único, então o Único não seriainfinito. Assim como a escuridão é apenas a ausência ou insuficiênciada luz, semelhantemente o mal é apenas a ausência ou insuficiênciado bem, o estado não desenvolvido. Um homem mau é um homemcom o lado mais elevado de sua natureza ainda não desenvolvido. Seé egoísta, o mal não está no seu amor a si mesmo – todo amor,mesmo o amor próprio, é bom, é divino. O mal é ter ele um amora si próprio tão pobre, inadequado, desorientado, e tanta carênciade amor aos outros e a Deus. Ele se considera apenas uma espéciesuperior de animal, e insensatamente satisfaz à sua natureza inferiorda mesma maneira que satisfaria a um cachorro de estimação – compiores resultados em seu próprio caso do que naquele do cachorro.

Em uma de Suas cartas, ‘Abdu’l-Bahá diz:

Quanto à tua observação de haver ‘Abdu’l-Bahá dito a algunsdos amigos que o mal não existe, ou melhor, que é uma coisainexistente, isso não é mais que a verdade, visto que o maiormal é o homem perder-se e ser velado da verdade. O erro é afalta de orientação; a escuridão é a ausência de luz; a ignorânciaé a falta do saber; a falsidade é a ausência da verdade; a cegueiraé a falta da visão; e a surdez é a falta da audição. Porconseguinte, o erro, a cegueira, a surdez e a ignorância sãocoisas inexistentes.

Outra vez Ele diz:

Na criação não existe o mal; tudo é bom. Certas qualidadesinatas em algumas pessoas, embora pareçam ser censuráveis,não o são na realidade. Por exemplo, notamos numa criançadesde o começo de sua vida, enquanto ainda amamentada,certos sinais de desejo, ira e impaciência, e disso talvezqueiramos inferir que o bem e o mal sejam inatos no homem.Tal inferência, entretanto, seria contrária ao conceito da purabondade da natureza, e de toda a criação. A explicação é a

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212 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

seguinte: o desejo – a vontade de possuir algo – é umaqualidade louvável, contanto que seja usado de modoconveniente. Assim, um homem pode desejar adquirir ciênciaou outros conhecimentos, ou talvez queira tornar-secompassivo, generoso e justo. Tudo isso é muito louvável. Seexercer sua indignação e ira contra os tiranos sanguinários,que são como animais ferozes, isso ainda será muito meritório.Se, porém, essas qualidades não forem usadas de maneiraapropriada, serão também censuráveis...

...Igual caso se dá com todas as qualidades naturais dohomem, que constituem o capital da vida: se forem usadasou exteriorizadas de um modo condenável, tornar-se-ãocensuráveis. É claro, pois, ser a criação puramente boa.

‘Abdu’l-Bahá. Respostas a Algumas Perguntas, pp. 180-181.

O mal é sempre a falta de vida. Se o lado inferior da naturezahumana for desproporcionalmente desenvolvido, o remédio não émenos vida para este lado, e sim, mais vida para o lado superior, afim de que o equilíbrio possa ser restabelecido. Cristo disse:

Eu vim para que possais ter vida, e para que possais tê-lamais abundantemente.

É disso que todos nós precisamos – vida, mais vida, a vidaque é a verdadeira vida! A mensagem de Bahá’u’lláh é a mesma quea de Cristo. Diz Bahá’u’lláh:

Este Jovem veio para vivificar o mundo.

E aos discípulos Ele diz:

Segui a Mim, para que vos possamos fazer vivificadores dahumanidade.

O Chamado do Senhor das Hostes, p.120 e 54.

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Capítulo 12A RELIGIÃO E A CIÊNCIA

‘Alí, genro de Muhammad, disse: “O que está emconformidade com a ciência está também emconformidade com a religião.” Tudo quanto ainteligência do homem não possa compreender, areligião não deve aceitar. A religião e a ciência andamde mãos dadas e qualquer religião contrária à ciêncianão é verdadeira.

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Paris – 1911, p. 127.

Conflito Devido ao Erro

Um dos ensinamentos fundamentais de Bahá’u’lláh é que averdadeira ciência e a verdadeira religião devem estar sempre emharmonia. A verdade é uma só e, sempre que surge o conflito, não édevido à verdade, mas ao erro. Entre a assim chamada ciência e aassim chamada religião tem havido violentos conflitos através detodas as eras, mas revendo esses conflitos à luz da mais ampla verdade,podemos identificar sempre sua origem na ignorância, preconceito,vaidade, cobiça, estreiteza de visão, intolerância, obstinação ou coisasemelhante – algo alheio ao verdadeiro espírito da ciência como aoda religião, pois o espírito de ambas é um só. Como nos diz Huxley:“Os grandes feitos dos filósofos têm sido menos o fruto do seuintelecto do que a guia desse intelecto por uma tendência mentaleminentemente religiosa. A verdade tem-se deixado manifestar maispor sua paciência, seu amor, sua sinceridade e sua abnegação, doque por sua argúcia lógica.” Boole, o matemático, assegura-nos que:

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214 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

“a indução geométrica é essencialmente um processo de oração –um apelo da mente finita à Infinita por luz sobre questões finitas.”Os grandes profetas da religião e da ciência jamais se denunciaramuns aos outros. São os indignos adeptos desses grandes instrutoresmundiais – adoradores da letra, mas não do espírito dos seusensinamentos – que têm sido sempre os perseguidores dos profetassubseqüentes e os mais implacáveis oponentes do progresso.Estudaram a luz da revelação em particular por eles consagrada, ecom o máximo cuidado e precisão definiram suas propriedades epeculiaridades de acordo com sua limitada visão. É para eles a únicaluz verdadeira. Se Deus, em Sua Mercê infinita, envia de outroponto uma luz mais intensa, e a tocha da inspiração arde em novotocheiro mais intensamente do que antes, eles, em vez de daremboas vindas à nova luz e de adorarem com gratidão renovada ao Paide todas as luzes, iram-se e alarmam-se. Esta nova luz não correspondeàs suas definições. Não tem a cor ortodoxa, não brilha do lugarortodoxo e deve, pois, ser extinta a todo custo para que nãodesencaminhe a humanidade aos caminhos da heresia! Muitosinimigos dos Profetas são deste tipo – cegos condutores de cegos,que se opõem à verdade nova e mais ampla, no suposto interessepor aquilo que acreditam ser a única verdade. Outros, são de umtipo mais ignóbil e por interesses egoísticos são movidos a combatera verdade ou mesmo, por causa de entorpecimento espiritual einércia, a obstruir o caminho do progresso.

Perseguição aos Profetas

Na ocasião de Seu aparecimento, os grandes Profetas dareligião têm sido sempre desprezados e rejeitados pelo homem. TantoEles como também Seus primeiros adeptos resignaram-se aos seusopressores e sacrificaram seus bens e suas próprias vidas no caminhode Deus. Até em nosso tempo isso tem sido assim. Desde 1844,muitos milhares de bábís e bahá’ís no Irã têm sofrido mortes cruéispela sua fé, e um número ainda maior tem suportado a prisão, o

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215A RELIGIÃO E A CIÊNCIA

exílio, a pobreza e a degradação. A última das grandes religiões teveum “batismo de sangue” maior do que suas predecessoras, e osmartírios continuam até hoje. O mesmo tem acontecido com osprofetas da ciência. Giordano Bruno foi queimado como herege em1600 por ensinar, entre outras coisas, que a Terra movia-se ao redordo Sol. Alguns anos mais tarde o filósofo veterano Galileu teve, dejoelhos, que renunciar à mesma doutrina, a fim de escapar de umdestino semelhante. Tempos depois, Darwin e os pioneiros dageologia moderna foram denunciados com veemência por ousaremrefutar o ensinamento da Sagrada Escritura, de que o mundo foifeito em seis dias e há menos de seis mil anos passados! Entretanto,a oposição à nova verdade científica não veio somente da Igreja. Osortodoxos da ciência têm sido tão hostis ao progresso como osortodoxos da religião. Colombo foi ridicularizado com desdém pelosassim chamados cientistas do seu tempo, convictos de que, se osnavios conseguissem descer até os Antípodas pelo lado do globo,seria absolutamente impossível subirem novamente! Galvani,pioneiro da ciência da eletricidade, foi escarnecido pelos seus sábioscolegas, e chamado de “o mestre de dança das rãs”.Harvey, quedescobriu a circulação do sangue, foi ridicularizado e perseguidopelos seus irmãos de profissão por causa de sua heresia, e expulso desua cátedra. Quando Stephenson inventou a locomotiva, osmatemáticos europeus da época, em lugar de abrirem seus olhos eestudarem os fatos, continuaram por muitos anos insistindo queuma locomotiva sobre trilhos lisos jamais poderia puxar uma cargaporque as rodas simplesmente deslizariam e, assim, o trem não sairiado lugar. A exemplos como estes pode-se acrescentar inúmeros outrosda história antiga e da moderna, e até de nossos próprios tempos. Odoutor Zamenhof, inventor do Esperanto, teve que lutar pela suamaravilhosa língua internacional contra a mesma espécie dezombaria, desprezo e estúpida oposição com que acolheramColombo, Galvani e Stephenson. Até o Esperanto, que foi dado aomundo tão recentemente, em 1887, teve seus mártires!

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216 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

A Aurora da Reconciliação

Nota-se no último meio século, porém, uma transformaçãono espírito dos tempos – surgiu uma Nova Luz da Verdade, que játem feito as controvérsias do último século pareceremsurpreendentemente antiquadas. Onde estão agora os materialistasarrogantes e os ateus dogmáticos que, há poucos anos apenas,ameaçavam expulsar do mundo a religião? E onde estão os pregadoresque tão confiantemente condenavam ao fogo do inferno e às torturasda danação aqueles que não aceitavam seus dogmas? Podemos aindaouvir os ecos do seu clamor, mas seu dia vai declinando-serapidamente e suas doutrinas estão sendo desacreditadas. Podemosagora ver que as doutrinas em torno das quais se desenvolviam asmais amargas controvérsias não eram verdadeira ciência nemverdadeira religião. Qual o cientista que, à luz das modernaspesquisas psíquicas, ainda poderia afirmar que o “pensamento ésecretado pelo cérebro do mesmo modo que a bílis é secretada pelofígado”? Ou que a decomposição do corpo é acompanhadanecessariamente pela decomposição da alma? Vemos agora que opensamento, para ser realmente livre, há de elevar-se aos reinos dosfenômenos psíquicos e espirituais, e não ser confinado somente aomaterial. Percebemos que nosso conhecimento atual sobre a naturezaé apenas uma gota num oceano em comparação com o que resta serdescoberto. Admitimos francamente, pois, a possibilidade demilagres, não como violações às leis da natureza, mas comomanifestações da operação de forças sutis ainda desconhecidas paranós, assim como o foram a eletricidade e os raios-X aos nossosantepassados. Por outro lado, qual dos nossos principais teólogosdeclararia ser ainda necessário para a salvação acreditar-se que omundo tenha sido feito em seis dias, ou que a descrição das pragasdo Egito, como apresentada no Livro do Êxodo, seja literalmenteverdade, ou que o Sol tenha permanecido parado no céu (isto é, quea Terra tenha interrompido sua rotação) a fim de deixar Josuéperseguir seus inimigos, ou que, se uma pessoa não aceitasse o credo

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de Santo Atanásio “pereceria indubitavelmente para sempre”? Taiscrenças podem ser ainda repetidas em forma, mas quem as aceita noseu sentido literal e sem reservas? Sua influência nos corações e nasmentes dos homens já passou ou está rapidamente passando. Omundo religioso tem uma dívida de gratidão para com os homensda ciência que ajudaram a despedaçar tais credos e dogmasantiquados, e permitiram que a verdade surgisse sem embaraço.Mas o mundo científico tem uma dívida ainda mais pesada com osverdadeiros santos e místicos que, em meio a críticas boas e más,preservaram as verdades vitais da experiência espiritual edemonstraram a um mundo incrédulo que a vida é mais do quecarne, e o invisível de maior importância do que o visível. Essescientistas e santos eram como os cumes das montanhas, os quaisrecebem os primeiros raios do sol nascente e os refletem ao mundoinferior, mas agora o sol elevou-se e seus raios estão iluminando omundo todo. Nos ensinamentos de Bahá’u’lláh, temos uma gloriosarevelação da verdade que satisfaz não somente o coração, mas tambéma mente, e na qual a religião e a ciência estão unidas.

Busca da Verdade

A completa harmonia com a ciência está evidente nosensinamentos bahá’ís a respeito do modo pelo qual devemos buscara verdade. O homem deve libertar-se de todo preconceito, a fim deque possa, sem empecilho, buscar a verdade. Diz ‘Abdu’l-Bahá:

A fim de encontrarmos a verdade, devemos abandonar nossospreconceitos, nossas próprias pequenas noções triviais; éessencial termos mente aberta e receptiva. Se nosso cálice écheio do eu, não há lugar nele para a água da vida. O fato denos imaginarmos com a razão e os outros errados é o maiorde todos os obstáculos no caminho para a unidade; e a unidadeé necessária se desejarmos alcançar a verdade, pois esta é una...

Nenhuma verdade pode contestar outra verdade. A luz éboa, seja qual for a lâmpada em que brilhe! A rosa é bela,

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qualquer que seja o jardim em que floresça! Uma estrela temo mesmo resplendor, quer brilhe do Leste ou do Oeste.Libertai-vos do preconceito; assim amareis o Sol da Verdade,seja qual for o ponto do horizonte em que se levante!Compreendereis que, se a Luz Divina da Verdade brilhouem Jesus Cristo, também brilhou em Muhammad e em Buda.O pesquisador fervoroso chegará a esta verdade. Isto é o quesignifica a “Busca da Verdade”.

Quer dizer também que devemos estar dispostos a livrar-nos de tudo quanto aprendemos, tudo quanto possamosembaraçar nossos passos no caminho da verdade; não devemosesquivar-nos, se necessário, de recomeçar nossa educação játerminada. Não devemos permitir que nosso amor porqualquer religião ou personalidade nos deixe cegos os olhos aponto de nos acorrentar à superstição! Quando estivermoslivres de todos esses vínculos, pesquisando com mente aberta,poderemos atingir nosso objetivo.

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Paris – 1911, pp. 133-134.

O Verdadeiro Agnosticismo

Os ensinamentos bahá’ís estão em perfeito acordo com aciência e a filosofia quando declaram ser a natureza essencial deDeus inteiramente além da compreensão humana. Tãoenfaticamente como Thomas Huxley e Herbert Spencer ensinamser incognoscível a natureza da Grande Causa Primordial, Bahá’u’lláhensina que “Deus compreende tudo; Ele não pode sercompreendido”. Para o conhecimento da Divina Essência “o caminhoestá obstruído e a estrada é intransitável”, pois como pode o finitocompreender o Infinito; como pode uma gota conter o oceano, ouuma partícula de pó dançando nos raios do sol abraçar o universo?Não obstante, todo o universo exprime eloqüentemente a existênciade Deus. Em cada gota de água ocultam-se oceanos de significações,e em cada molécula está encerrado um universo inteiro de sentidosmuito além do conhecimento do mais douto cientista. O químico e

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o físico, ao empreenderem suas pesquisas sobre a natureza da matéria,passaram das massas às moléculas, das moléculas aos átomos, dosátomos aos elétrons e éter, mas a cada passo as dificuldades da suainvestigação aumentam, até o ponto além do qual o mais profundointelecto não pode penetrar, e pode apenas curvar-se em reverentesilêncio ante o Infinito desconhecido que permanece sempre veladoem mistério inescrutável.

Flor na fenda do muro,Eu te colho da fenda

E te acolho aqui, raiz e tudo, em minha mão,Pequena flor, mas se eu pudesse compreender

O que tu és, raiz e tudo, e tudo em tudo,Eu saberia o que é Deus e o que é o homem.

Tennyson

Se a flor na fenda do muro, se mesmo um simples átomo dematéria, apresenta mistérios que o mais profundo intelecto não podedesvendar, como é possível ao homem compreender o universo?Como ousa ele pretender definir ou descrever a Causa Infinita detodas as coisas? Todas as especulações teológicas relativas à naturezada essência de Deus são assim postas de lado como insensatas efúteis.

O Conhecimento de Deus

Mas embora a Essência seja incognoscível, as manifestaçõesda sua mercê acham-se evidentes em toda parte. Ainda que se nãopossa conceber a Primeira Causa, seus efeitos atraem todas as nossasfaculdades. Assim como o conhecimento dos quadros de um pintordá ao connoisseur um verdadeiro conhecimento do artista, tambémo conhecimento do universo em qualquer dos seus aspectos – danatureza em geral ou da natureza humana, das coisas visíveis ou dascoisas invisíveis – é o conhecimento da obra de Deus, e dá àquele

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que busca a Verdade Divina um verdadeiro conhecimento da SuaGlória.

Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anunciaa obra das Suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, euma noite mostra sabedoria a outra noite.

Salmos, 19:1-2.

As Manifestações Divinas

Todas as coisas manifestam a generosidade de Deus com maiorou menor clareza, assim como todos os objetos materiais expostosao sol refletem sua luz em maior ou menor grau. Um monte defuligem reflete um pouco, uma pedra reflete mais, um pedaço degiz mais ainda, mas em nenhum desses reflexos podemos traçar aforma e a cor do orbe glorioso. Um espelho perfeito, entretanto,reflete o sol em sua verdadeira forma e cor, de modo que ao olharmospara ele é como se olhássemos para o próprio sol. Portanto, é destemodo que as coisas nos falam de Deus.

A pedra pode dizer-nos algo a respeito dos atributos divinos,a flor pode dizer-nos mais, o animal, com seus maravilhosos sentidos,instintos e faculdade de locomoção, mais ainda. No menos favorecidodos nossos semelhantes, podemos perceber faculdades admiráveisque nos falam de um maravilhoso Criador. No poeta, no santo, nogênio, encontramos uma revelação mais elevada ainda, porém osgrandes Profetas e Fundadores de religiões são os espelhos perfeitosatravés dos quais o amor e a sabedoria de Deus são refletidos paratoda a humanidade. Os espelhos dos outros homens são ofuscadospelas máculas e o pó do egoísmo e preconceito, mas Aqueles sãopuros e imaculados, inteiramente devotados à Vontade de Deus.Assim Eles tornam-Se os maiores educadores da humanidade. Osensinamentos divinos e o poder do Espírito Santo que dEles emana,têm sido e ainda são a causa do progresso da humanidade, poisDeus ajuda os homens através de outros homens. Cada um cujo

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grau é mais elevado na escala da vida é o meio de ajuda aos que estãomais abaixo, e aqueles que estão mais alto que todos são osauxiliadores de toda a humanidade. É como se todos os homensestivessem ligados entre si por cordas elásticas. Se um homem ergue-se um pouco acima do nível geral dos seus semelhantes, as cordasretesam-se. Seus antigos companheiros tendem a puxá-lo de volta,mas com força igual ele puxa-os para cima. Quanto mais alto sobe,mais sente o peso do mundo inteiro puxando-o para baixo, e maisdependente ele está do apoio divino, que o alcança através dos poucosque lhe estão mais acima. Mais alto que todos se encontram osgrandes Profetas e Salvadores, os “Manifestantes” Divinos – aqueleshomens perfeitos que foram, cada um em Seu tempo, únicos eincomparáveis, e que, ajudados somente por Deus, suportaram ofardo do mundo inteiro. “O fardo de nossos pecados estava sobreEle” era a verdade de cada um dEles. Cada um foi “o Caminho, aVerdade e a Vida” para Seus discípulos. Cada um foi o canal daMercê Divina para cada coração que quisesse recebê-la. Cada umteve Seu papel a desempenhar no grande plano divino para a elevaçãoda humanidade.

A Criação

Bahá’u’lláh ensina que, em se tratando de tempo, o universonão tem começo. É uma perpétua emanação da Grande CausaPrimordial. O Criador sempre teve e sempre terá Sua criação.Mundos e sistemas podem surgir e desaparecer, mas o universopermanece. Todas as coisas que estão sujeitas à composição, no devidotempo são submetidas à decomposição, mas os elementoscomponentes permanecem. A criação de um mundo, de umamargarida, ou de um corpo humano, não consiste em “fazer algumacoisa do nada”, e sim, em reunir elementos que antes estavamdispersos, em tornar visível algo que antes estava oculto. Temposdepois, os elementos serão novamente dispersos, a formadesaparecerá, porém nada é realmente perdido ou aniquilado; sempre

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surgem combinações e formas novas das ruínas das antigas.Bahá’u’lláh confirma os cientistas que atribuem para a história dacriação da Terra, não seis mil, mas milhões ou bilhões de anos. Ateoria da evolução não nega o poder criador. Ela apenas tentadescrever o método da sua manifestação; e a história maravilhosa douniverso material que o astrônomo, o geólogo, o físico e o biólogoestão gradualmente desvendando aos nossos olhos é, quandodevidamente apreciada, muito mais capaz de evocar a nossa maisprofunda reverência e adoração do que a crua e tosca narrativa dacriação apresentada nas Escrituras Hebraicas. A antiga narrativa noLivro de Gênesis teve, entretanto, a vantagem de indicar através depoucos toques audazes de simbolismo, a essencial significaçãoespiritual da história, do mesmo modo que um exímio pintor, atravésde algumas pinceladas, transmite expressões que um apenasesforçado, com a mais laboriosa atenção aos detalhes, pode falharcompletamente em retratar. Se os detalhes materiais ocultam-nos asignificação espiritual, deveríamos estar melhor sem eles; mas seuma vez compreendemos firmemente a significação essencial dosistema inteiro, o conhecimento dos detalhes acrescentará admiráveisriqueza e esplendor ao nosso conceito, e o transformará em ummagnífico quadro em vez de um mero esboço.

‘Abdu’l-Bahá diz:

É uma verdade, embora das mais obscuras, que o mundo daexistência – este universo infinito, não teve começo...

... um criador sem criatura é inconcebível, como tambémo é um provedor sem que exista alguém beneficiado. Todosos nomes e atributos divinos implicam a existência de seres.Se pudéssemos conceber um tempo em que não existissemseres, tal conceito encerraria a negação da divindade de Deus.Além disso, a inexistência absoluta não pode tornar-seexistência. Se os seres houvessem sido absolutamenteinexistentes, a existência não teria vindo a se realizar. Como,pois, a Essência da Unidade, isto é, a existência de Deus, éduradoura, eterna – não tendo começo nem fim – é certo

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também que não há para esse mundo existente, esse infinitouniverso, nem começo nem fim... Pode acontecer, é verdade,que uma das partes do universo, um dos astros, venha a existirou a decompor-se, mas ainda existiram outros astros semconta... Como todo astro teve seu começo, terá forçosamenteseu fim, desde que toda a composição – seja coletiva, ouindividual – há de se desfazer. A única diferença é que algumasse decompõem rapidamente, e outras com lentidão, mas éimpossível que um ser composto não venha a decompor-se.

Respostas a Algumas Perguntas, pp. 155-156.

A Evolução do Homem

Bahá’u’lláh confirma também o biólogo que encontra para ocorpo do homem uma história que remonta a milhões de anos dodesenvolvimento da espécie. Partindo de uma forma muito simples,aparentemente insignificante, o corpo humano é descrito como tendose desenvolvido etapa por etapa no decorrer de gerações incontáveis,tornando-se cada vez mais complexo e melhor organizado, até chegarao homem atual. Cada corpo humano desenvolve-se individualmenteatravés de uma tal série de etapas, a partir de uma pequeninapartícula esférica de substância gelatinosa até o homemcompletamente desenvolvido. Se isso é verdadeiro no caso doindivíduo, como ninguém nega, por que deveríamos considerardepreciativo à dignidade do homem admitir-se um desenvolvimentosimilar no caso da espécie? Isto é uma coisa muito diferente do queafirmar-se que o homem é descendente do macaco. O embriãohumano pode em certa fase assemelhar-se a um peixe, com guelrase cauda, porém não é um peixe. É um embrião humano. Assimpode a espécie* humana, vista por olhos exteriores, ter-seassemelhado, nas diversas fases do seu longo desenvolvimento, avárias espécies de animais inferiores, mas era, não obstante, espéciehumana, possuindo o misterioso poder latente de desenvolver-seno homem como hoje o conhecemos e, mais que isso, de desenvolver-se no futuro, esperamos, em algo ainda muitíssimo mais elevado.*A palavra “espécie” é usada aqui para explicar a distinção que existe desde sempreentre o homem e o animal, a despeito de aparências exteriores. Não deve ser lidacom seu corrente significado biológico especializado.

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‘Abdu’l-Bahá diz:

Este globo terrestre – é claro – não apareceu logo de uma vezem sua forma atual, mas sim, gradativamente, esta existênciauniversal veio atravessando fases diversas até atingir suapresente perfeição...

...o homem no começo de sua existência, nas entranhasda terra, semelhante ao embrião no ventre materno, cresceue desenvolveu-se gradativamente, passando de uma a outraforma e condição, até atingir seu presente estado de perfeição,formosura, força e poder. É certo que não possuía desde oprincípio esse encanto, essa graça e essa excelência, mas sóaos poucos adquiriu sua forma atual tão bela e graciosa.

Do mesmo modo, o homem na terra atravessou muitosgraus em sua caminhada desde o princípio até seu estadoatual, sua forma e suas condições presentes, e isso levounecessariamente muito tempo. O homem é, entretanto, desdeo começo de sua existência, espécie distinta... E ainda que seadmita existirem realmente vestígios de órgãos jádesaparecidos, isso não constitui prova da inconstância daespécie; não prova que ela não seja original. Indica, quandomuito, que a forma, a aparência e os órgãos do homem têmprogredido. O homem foi sempre espécie distinta – homem,e não animal.

Respostas a Algumas Perguntas, pp. 157-159.

Sobre a história de Adão e Eva, Ele diz:

Esta história, tomada em seu sentido aparente, segundo ainterpretação das massas, é de fato extraordinária. A inteligêncianão pode aceitá-la, afirmá-la ou imaginá-la, pois tais arranjos,detalhes, discursos e repreensões estão longe de ser de umhomem inteligente, e muito menos da Divindade – daquelaDivindade que organizou este infinito universo do modo maisperfeito, e seus inumeráveis habitantes como ordem, poder eperfeição absolutas.

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Devemos considerar, pois, esta história de Adão e Eva, quecomeram da árvore e foram expulsos do Paraíso, comosimplesmente simbólica, e perceber que encerra mistériosdivinos e significados universais e permite explicaçõesmaravilhosas.

Respostas a Algumas Perguntas, p. 112.

Corpo e Alma

Com referência ao corpo e à alma, e à vida após a morte, osensinamentos bahá’ís estão em completa harmonia com os resultadosdas pesquisas psíquicas. Como vimos, eles dizem que a morte éapenas um novo nascimento – a libertação da prisão do corpo parauma vida mais ampla, e que o progresso pós-vida é ilimitado.

Uma grande quantidade de evidência científica tem sidogradativamente acumulada, a qual, na opinião de investigadoresimparciais e altamente críticos, é amplamente suficiente paraestabelecer, além de qualquer questão, o fato de uma vida após amorte – da continuação da vida e atividade da “alma” conscienteapós a decomposição do corpo material. Como diz F.W.H. Myersem sua obra Human Personality, que sumariza muitas dasinvestigações da Psychical Research Society:

A observação, a experiência, a dedução, têm levado muitospesquisadores como eu a uma crença na intercomunicaçãodireta ou telepática, não apenas entre as mentes de homensainda na terra, mas também entre as mentes ou espíritos aindana terra e os espíritos que partiram. Tal descoberta abre tambéma porta para a revelação....

Temos mostrado que, em meio a muita decepção e auto-decepção, fraude e ilusão, vêm-nos de além-túmulomanifestações verdadeiras....

Por descoberta e por revelação, certas teses que temosconseguido encontrar, têm sido provisoriamente estabelecidasa respeito dessas almas que partiram. Acima de tudo, eu pelo

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menos, percebo que seu estado é aquele de infinita evoluçãoem sabedoria e amor. Seu amor às pessoas na terra persiste e,principalmente, aquele amor mais elevado, que se exprime emadoração e devoção.... O mal lhes parece menos uma coisaterrível do que escravizadora. Não é incorporado em nenhumpoderoso potentado; antes, forma uma loucura alienadora, daqual os espíritos mais elevados esforçam-se para livrar a almadesviada. Não se necessita do castigo de fogo; autoconhecimentoé a punição do homem e a sua recompensa; autoconhecimentoe a proximidade ou o afastamento de almas amigas. Pois naquelemundo o amor é realmente autopreservação; a Comunhão dosSantos não somente adorna como constitui a Vida Eterna.Ainda mais, das leis da telepatia se deduz que essa comunhãonos é válida aqui e agora. Agora mesmo o amor das almas quepartiram responde às nossas invocações. Agora mesmo nossalembrança amorosa – o amor é em si próprio uma oração –apóia e fortalece aqueles espíritos libertados no seu caminhopara o alto.

O grau de acordo entre essa opinião, baseada em cuidadosaspesquisas científicas, e os ensinamentos bahá’ís, é realmente notável.

A Unidade do Gênero Humano

“Vós todos sois os frutos de uma só árvore, as folhas de ummesmo ramo, as flores de um só jardim”. Essa é uma das asserçõesmais características de Bahá’u’lláh, e há outra semelhante: “A glórianão pertence àquele que ama sua pátria, mas àquele que ama suaespécie.” Unidade – a unidade da humanidade e de todas as criaturasem Deus – é o tema principal do Seu ensinamento. Também aqui éevidente a harmonia entre a verdadeira religião e a ciência. Cadaprogresso da ciência tem tornado mais claramente evidente aunidade do universo e a interdependência de suas partes. O âmbitodo astrônomo é inseparavelmente ligado ao do físico, e o do físicoao do químico, do químico ao do biólogo, do biólogo ao do psicólogo,

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e assim por diante. Toda nova descoberta num campo de pesquisalança nova luz sobre outros campos. Assim como a ciência físicademonstrou que cada partícula de matéria no universo, por maisminúscula ou remota que seja, atrai e influencia todas outraspartículas, do mesmo modo a ciência psíquica está descobrindo quecada alma no universo afeta e influencia todas outras almas. Opríncipe Kropotkin, no seu livro sobre Mutual Aid (Auxílio Mútuo),mostra muito claramente que, até entre os animais inferiores o auxíliomútuo é absolutamente necessário à continuação da vida, enquantoque, no caso do homem, o progresso da civilização depende dacrescente substituição da inimizade mútua pelo auxílio mútuo. “Umpor todos e todos por um” é o princípio único sobre o qual umacomunidade pode prosperar.

A Era da Unidade

Todos os sinais dos tempos indicam que nós estamos noalvorecer de uma nova era na história do gênero humano. Até agoraa jovem águia da humanidade tem-se apegado ao ninho antigo, nasólida rocha do egoísmo e materialismo. Seus esforços em usar suasasas têm sido tímidos e tentativos. Ela tem sentido irrequietos anseiospor algo ainda não alcançado. Cada vez mais irrita-se sob oconfinamento dos antigos dogmas e ortodoxias. Mas agora a era doconfinamento está no fim, e ela pode alçar vôo com as asas de fé erazão para os reinos mais elevados do amor e verdade espirituais.Não mais estará presa à terra como antes do desenvolvimento dassuas asas, e sim elevará seu vôo à vontade pelas regiões de vastaperspectiva e gloriosa liberdade. Uma coisa, entretanto, é necessária,se é para que seu vôo seja certo e firme. Suas asas não só devem serfortes, como também devem agir em perfeita harmonia ecoordenação. Como diz ‘Abdu’l-Bahá:

Não é possível voar com uma asa apenas! Se um homemtentasse voar unicamente com a asa da religião, cairia

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imediatamente no pântano da superstição, enquanto, poroutro lado, somente com a asa da ciência, também nenhumprogresso faria, antes se afundaria no lodaçal desesperadordo materialismo.

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Paris – 1911, p. 141.

Perfeita harmonia entre a religião e a ciência é o sine qua nonde uma vida mais elevada para a humanidade. Quando isso foratingido, e a toda criança for ensinado não somente as ciências e aarte, mas também o amor a toda a humanidade e a aquiescênciaradiante à Vontade de Deus, conforme revelada no progresso daevolução e nos ensinamentos dos Profetas, então, e não antes, virá oReino de Deus e será feita Sua Vontade, assim na terra como noCéu; então, e não antes, a Suprema Paz derramará suas bênçãossobre o mundo.

Quando a religião, despojada de suas superstições, tradiçõese dogmas ininteligíveis, demonstrar sua conformidade coma ciência, então haverá no mundo grande força purificadorae unificadora que varrerá todas as guerras, desacordos,discórdias, porfias – e então a humanidade será unida nopoder do Amor de Deus.

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Paris – 1911, p. 143.

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Capítulo 13PROFECIAS CUMPRIDAS PELA FÉ BAHÁ’Í

Quanto à Manifestação do Nome Supremo(Bahá’u’lláh): é Aquele que Deus prometeu em todosos Seus Livros e Escrituras, tais como a Bíblia, osEvangelhos e o Alcorão.

‘Abdu’l-Bahá

Interpretação da Profecia

A interpretação da profecia é notoriamente difícil, e sobrenenhum outro assunto são mais divergentes as opiniões dos eruditos.Isso não é de se admirar, pois de acordo com as próprias escriturasreveladas, muitas das profecias eram feitas de tal maneira que nãopodiam ser inteiramente compreendidas antes da sua realização e,mesmo então, somente pelas pessoas que eram puras de coração elivres de preconceito. Assim, no final das visões de Daniel, foi ditoao profeta:

E tu, Daniel, fecha estas palavras e sela este livro, até ao fimdo tempo: muitos correrão de uma parte para outra, e ociência se multiplicará.... Eu pois ouvi, mas não entendi; porisso eu disse: “Senhor meu, qual será o fim destas cousas?” Eele disse: “Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas eseladas até ao tempo do fim.”

Daniel, 12:4-9.

Se Deus lacrou as profecias até o tempo marcado e não revelouplenamente a interpretação nem mesmo aos profetas que as

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pronunciaram, podemos estar certos de que ninguém, a não ser odesignado Mensageiro de Deus, será capaz de quebrar o selo edesvendar as significações ocultas no cofre das parábolas proféticas.A reflexão sobre a história das profecias e suas interpretações errôneasem eras e dispensações anteriores, juntamente com as solenesadmoestações dos próprios profetas, deve nos tornar muito cautelososem aceitar as especulações dos teólogos quanto à verdadeirasignificação destas declarações e à maneira de sua realização. Poroutro lado, quando aparece alguém que afirma cumprir as profeciasé importante que examinemos sua reivindicação com mentes abertase livres de preconceitos. Caso seja um impostor, cedo se descobriráa fraude e nenhum mal será causado, mas ai daqueles quenegligentemente rejeitarem o Mensageiro de Deus pelo fato de Elevir numa forma ou num tempo inesperado.

A vida e as palavras de Bahá’u’lláh atestam que Ele é oPrometido de todos os Livros Sagrados, Aquele que tem o poder dequebrar os selos das profecias e despejar o “vinho seleto e lacrado”dos mistérios divinos. Apressemo-nos, pois, em ouvir Suas explicaçõese reexaminar, à luz destas, as palavras familiares, mas freqüentementemisteriosas proferidas pelos profetas da antiguidade.

A Vinda do Senhor

A “Vinda do Senhor” nos “últimos dias” é o “remotoacontecimento divino” que todos os Profetas aguardam, sobre o qualSeus mais gloriosos cantos foram entoados. Ora, que significa a“Vinda do Senhor”? Certamente que Deus está sempre com Suascriaturas, em tudo, através de tudo, e sobre tudo; “Ele está maispróximo que nossa respiração, mais próximo que nossas mãos e pés”.Sim, mas os homens não podem ver ou ouvir a Deus imanente etranscendente, não podem perceber a Sua Presença, enquanto Elenão Se revela através de uma forma visível e não lhes fala em linguagemhumana. Para a revelação dos Seus atributos mais elevados, Deussempre fez uso de um instrumento humano. Cada um dos Profetas

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231PROFECIAS CUMPRIDAS PELA FÉ BAHÁ’Í

foi um mediador através do qual Deus visitou e falou ao Seu povo.Jesus foi um desses mediadores, e os cristãos consideraramacertadamente Seu aparecimento como a vinda de Deus. Viam nElea face de Deus, e através de Seus lábios ouviam a Voz de Deus.Bahá’u’lláh diz-nos que a “Vinda” do Senhor dos Exércitos, do PaiEterno, Criador e Redentor do mundo, a qual, segundo todos osProfetas, é para ter lugar no “tempo do fim”, não quer dizer outracoisa senão Sua manifestação num templo humano, assim comoEle manifestou-Se através do templo de Jesus de Nazaré, mas destavez com uma Revelação mais ampla e mais gloriosa, para a qualJesus e todos os Profetas anteriores vieram preparar os corações e asmentes dos homens.

Profecias Referentes a Cristo

Por falharem em entender o significado das profecias sobre odomínio do Messias, os judeus rejeitaram Cristo. ‘Abdu’l-Bahá diz:

Os judeus ainda esperam a vinda do Messias e oram a Deus,dia e noite, para apressar Seu advento. Quando Cristo veio,eles O denunciaram e mataram, dizendo: Este não é Aquelea quem nós esperamos. Observai! Quando o Messias vier,sinais e prodígios testificarão que em verdade, Ele é o Cristo.Conhecemos os sinais e as condições, e eles não apareceram.O Messias procederá de uma cidade desconhecida. Sentar-se-á no trono de Davi, e vede, Ele virá com uma espada deaço, e com um cetro de ferro Ele reinará! Cumprirá a lei dosProfetas, conquistará o Leste e o Oeste e glorificará o Seupovo eleito, os judeus. Estabelecerá um reinado de paz,durante o qual até os animais deixarão de ser inimigos dohomem. Vede! Pois o lobo e o cordeiro beberão da mesmafonte... e todas as criaturas de Deus repousarão...

Assim os judeus pensavam e falavam, pois não entendiamas Escrituras nem as gloriosas verdades nelas contidas. A letraeles sabiam de cor, mas do espírito vivificante nadacompreenderam.

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232 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Escutai, e eu vos explicarei o significado disso. Emborativesse vindo de Nazaré, que era um lugar conhecido, Eleveio também do Céu. Seu corpo nasceu de Maria, mas SeuEspírito veio do Céu. A espada que ele carregava era a espadada Sua língua, com a qual separou o bom do mau, overdadeiro do falso, o fiel do infiel e a luz da treva. Sua Palavraera realmente uma espada afiada! O trono no qual Cristo sesentou é o Trono Eterno de onde Ele reina para sempre, umtrono celestial, não terreno, pois as coisas da terra passam,mas as coisas celestiais não passam. Ele reinterpretou ecompletou a Lei de Moisés e cumpriu a Lei dos Profetas. Suapalavra conquistou o Leste e o Oeste. Seu Reino é eterno.Ele exaltou aqueles judeus que O reconheceram. Eramhomens e mulheres de nascimento humilde, mas o contatocom Ele os fez grandes e deu-lhes dignidade perpétua. Osanimais que haviam de viver reunidos significavam asdiferentes seitas e raças que, outrora em estado de guerra,agora conviveriam em amor e caridade, bebendoconjuntamente a água da vida da Fonte Eterna – Cristo.

Palestras de ‘Abdu’l-Bahá, Paris – 1911, pp. 43-44.

A maioria dos cristãos aceita estas interpretações das profeciasmessiânicas como aplicáveis a Cristo; mas a respeito das profeciassemelhantes sobre o Messias dos últimos dias, muitos deles adotama mesma atitude dos judeus, esperando uma demonstração milagrosano plano material que cumpra literalmente as profecias.

Profecias sobre o Báb e Bahá’u’lláh

De acordo com as interpretações bahá’ís, as profecias quefalam do “tempo do fim”, dos “últimos dias”, da vinda do “Senhordos Exércitos”, do “Pai Eterno”, referem-se especialmente, não aoadvento de Cristo, mas ao de Bahá’u’lláh. Tomemos, por exemplo,a bem conhecida profecia em Isaías:

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O povo que andava em trevas, viu uma grande luz, e sobre osque habitavam na região da sombra da morte resplandeceu aluz.... Porque tu quebraste o jugo que pesava sobre ele, a varaque lhe feria os ombros, e o cetro do seu opressor como nodia dos midianitas. Porque toda a armadura daqueles quepelejavam com ruído, e os vestidos que rolavam no sangueserão queimados, servirão de pasto ao fogo. Porque um meninonos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre osseus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro,Deus Forte, Pai da eternidade, Príncipe da Paz. Doincremente deste principado e da paz não haverá fim, sobreo trono de Davi e no seu reino, para o firmar e o fortificar emjuízo e em justiça, desde agora para sempre; o zelo do Senhordos Exércitos fará isto.

Isaías, 9:2-7.

Esta é uma das profecias consideradas muitas vezes comoreferentes a Cristo, e grande parte dela pode com razão ser assimaplicada, mas um pequeno exame mostrará quão mais apta eplenamente ela aplica-se a Bahá’u’lláh. Cristo, de fato, tem sidouma fonte de luz e um Salvador, mas por quase dois mil anos desdeSeu advento, a grande maioria dos homens tem continuado acaminhar nas trevas, e os filhos de Israel e muitos outros filhos deDeus continuam a gemer sob a vara do opressor. Por outro lado,durante as primeiras poucas décadas da Era Bahá’í a luz da verdadetem iluminado Oriente e Ocidente, o evangelho da Paternidade deDeus e da fraternidade do homem foi levado a todos os países domundo, as grandes autocracias militares foram derrubadas, e surgiuuma consciência de unidade mundial que traz esperança de umalívio final a todas as nacionalidades espezinhadas e oprimidas domundo. A grande guerra que de 1914 a 1918 convulsionou o mundocom seu uso sem precedentes de armas de fogo, bombas incendiáriase combustível para motores, foi, de fato, com “incêndio e pasto defogo”*. Em Seus Escritos, Bahá’u’lláh, tratando extensamente das

*A Segunda Guerra Mundial demonstrou melhor ainda o cumprimento desta profecia,culminando no uso da bomba atômica.

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questões de governo e administração, e mostrando a melhor maneirade resolvê-las, tomou “o governo sobre os Seus ombros” de um modoque Cristo nunca o fez. A respeito dos títulos “Pai Eterno”, “Príncipeda Paz”, Bahá’u’lláh repetidas vezes refere-Se a Si próprio como amanifestação do Pai, de Quem Cristo e Isaías falaram, enquantoque Cristo sempre Se referia a Si próprio como o Filho; e Bahá’u’lláhdeclara que Sua missão é estabelecer paz na terra, ao passo que Cristodisse: “Não vim para trazer paz, mas a espada” e, em verdade, durantetoda a Era Cristã abundaram guerras e lutas sectárias.

A Glória de Deus

O título “Bahá’u’lláh” é do árabe e significa “Glória de Deus”,e este mesmo título é freqüentemente aplicado pelos profetas hebreusao Prometido que haveria de aparecer nos últimos dias. Assim, noquadragésimo capítulo de Isaías, lemos:

Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falaibenignamente a Jerusalém e bradai-lhe que já a sua malícia éacabada, que a sua iniqüidade está expiada e que já recebeuem dobro da mão do Senhor, por todos os seus pecados.

Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor:endireitai no ermo vereda a nosso Deus. Todo o vale seráexaltado, e todo o monte e todo o outeiro serão abatidos: e oque está torcido se endireitará, e o que é áspero se aplainará. Ea glória do Senhor se manifestará, e toda a carne juntamenteverá que foi a boca do Senhor que isto disse.

Isaías, 40:1-5.

Assim como a profecia anterior, esta também cumpriu-separcialmente com o advento de Cristo e de Seu precursor, JoãoBatista; mas só em parte, pois nos dias de Cristo ainda não estavamterminadas as guerras de Jerusalém; muitos séculos de amargaprovação e humilhação estavam ainda reservadas para ela. Com oadvento do Báb e de Bahá’u’lláh, entretanto, inicia-se seu mais pleno

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235PROFECIAS CUMPRIDAS PELA FÉ BAHÁ’Í

cumprimento, pois melhores dias já alvoreceram para Jerusalém, esuas expectativas de um futuro pacífico e glorioso parecem estaragora razoavelmente asseguradas.

Outras profecias falam do Redentor de Israel, da Glória doSenhor, vindo para a Terra Santa, do Oriente, do nascer do sol.Bahá’u’lláh apareceu na Pérsia, que está a leste da Palestina, do ladodo sol nascente, e Ele veio para a Terra Santa, onde passou os últimosvinte e quatro anos de Sua vida. Tivesse Ele vindo ali como umhomem livre, o povo poderia ter dito que se tratava de truque deum impostor, para que houvesse conformidade com as profecias;Ele veio, porém, como um exilado e prisioneiro. Ele foi mandadopara lá por ordem do xá da Pérsia e do sultão da Turquia, os quaisdificilmente podem ser suspeitos de qualquer intento de fornecerargumentos em favor da afirmação de Bahá’u’lláh, de ser a “Glóriade Deus”, cuja vinda os Profetas predisseram.

O Ramo

Nas profecias de Isaías, Jeremias, Ezequiel e Zacarias há váriasreferências a um homem chamado o Ramo. Estas, muitas vezes têmsido tomadas pelos cristãos como aplicáveis a Cristo, mas sãoconsideradas pelos bahá’ís como referentes especificamente aBahá’u’lláh.

A mais longa profecia bíblica sobre o Ramo está no décimoprimeiro capítulo de Isaías:

Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suasraízes um renovo frutificará. E repousará sobre ele o espíritodo Senhor, o espírito de sabedoria e de inteligência, o espíritode conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e dotemor ao Senhor.... E a justiça será o cinto dos seus lombos,e a verdade o cinto de seus rins. E morará o lobo com ocordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará; e o bezerro, e ofilho de leão e a nédia ovelha viverão juntos, e um meninopequeno os guiará.... Não se fará mal nem dano algum em

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236 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

todo o monte da minha santidade, porque a terra se encherádo conhecimento do Senhor, como as águas cobrem omar... Porque há de acontecer naquele dia que o Senhor tornaráa estender a sua mão para adquirir outra vez os resíduos do seupovo, que restarem da Assíria, e do Egito, e de Patros, e daEtiópia, e de Elão, e de Sinar, e de Hamate, e das ilhas do mar.E levantará um pendão entre as nações, e ajuntará os desterradosde Israel, e os dispersos de Judá congregará desde os quatroconfins da terra.

Isaías, 11:1-12.

‘Abdu’l-Bahá assim comenta esta e outras profecias sobre oRamo:

Um dos grandes acontecimentos a se realizarem no dia damanifestação desse Ramo incomparável é a elevação doEstandarte de Deus entre todas as nações; isto é, todas as naçõese raças entrarão na sombra dessa Bandeira Divina, que não éoutra senão o próprio Ramo Senhoril, e haverão de se tornarum só povo. O antagonismo entre seitas e religiões, a hostilidaderacial e as diferenças nacionais desaparecerão. Todos unir-se-ãoem uma só fé, uma só raça e um mesmo povo, habitando namesma terra natal, no globo terrestre. A paz e concórdiauniversais serão realizadas entre todas as nações, e esse RamoIncomparável reunirá todo Israel; isto é, neste ciclo Israelregressará para a Terra Santa; o povo judaico espalhado porLeste e Oeste, Norte e Sul, se reunirá.

Agora vejamos: isso não ocorreu no ciclo cristão, pois asnações não se reuniram sob um só Estandarte, o Ramo Divino.Neste ciclo do Senhor dos Exércitos, porém, todas as nações eraças entrarão na sombra desta Bandeira. Semelhantemente,Israel, espalhado pelo mundo inteiro, não se uniu na TerraSanta no ciclo cristão; mas no princípio do ciclo de Bahá’u’lláh,esta promessa divina, assim como se acha claramente expostaem todos os Livros dos Profetas, já começou a se manifestar.

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Podemos ver como judeus estão vindo de todas as partes domundo para a Terra Santa; moram em vilas e adquirem terras,e dia a dia seu número aumentará até que toda a Palestina setorne seu lar.

Respostas a Algumas Perguntas, p. 71.

O Dia de Deus

A palavra “Dia”, em tais frases como “Dia de Deus” e “ÚltimoDia”, é interpretada como significando “Dispensação”. Cada umdos grandes Fundadores de religião tem Seu “Dia”. Cada um é comoum sol. Seus ensinamentos têm seu alvorecer, gradativamente suaverdade ilumina mais e mais as mentes e os corações dos homens,até atingir o zênite da sua influência. Então, pouco a pouco, tornam-se obscurecidos, mal interpretados e corrompidos, e as trevasencobrem a terra, até erguer-se o sol de um novo dia. O dia doSupremo Manifestante de Deus é o Último Dia, por ser um dia quenão terá fim, e não será seguido pela noite. Seu sol jamais declinará,e sim, iluminará as almas dos homens não só neste mundo, comotambém no vindouro. Na realidade nenhum dos sóis espirituaisjamais se põe. Os sóis de Moisés, de Cristo, de Muhammad e detodos os outros Profetas estão ainda brilhando no céu sem diminuiçãode seu esplendor. Mas nuvens procedentes da terra esconderam doshomens sua radiância. O Supremo Sol de Bahá’u’lláh dispersarápor fim essas nuvens escuras, de modo que os povos de todas asreligiões regozijar-se-ão à luz de todos os Profetas e, em harmonia,adorarão o Deus único, cuja luz todos os Profetas têm refletido.

O Dia do Juízo

Cristo falou muito em parábolas sobre o grande Dia do Juízo,porque “o Filho do homem virá na glória de Seu Pai... e... dará acada um segundo as suas obras”. (Mateus, 16:27) Ele compara esteDia ao tempo da colheita, quando o joio é queimado e o trigo éajuntado em celeiros:

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...assim será na consumação deste mundo. Mandará o Filhodo homem os seus anjos, e eles colherão do seu reino tudoque causa escândalo, e os que cometem iniqüidade. E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger dedentes. Então os justos resplandecerão como o sol, no reinode seu Pai.

Mateus, 13:40-43.

A frase “fim do mundo” usada na versão autorizada da Bíblianesta passagem e em outras semelhantes, tem levado muitos a suporque, ao chegar o Dia do Juízo, a terra será repentinamente destruída,mas isto é um erro evidente. A verdadeira tradução da frase pareceser “a consumação ou fim da era”. Cristo ensina que o Reino do Paiserá estabelecido na terra, bem como no céu. Ele nos ensina a orar:“Venha o Teu Reino, seja feita a Tua Vontade, assim na terra comono céu.” Na parábola da Vinha, quando o Pai, o Senhor da Vinha,vem destruir os maus vinhateiros, Ele não destrói a vinha (o mundo)também, mas deixa-a para outros vinhateiros que Lhe entregarão osfrutos na estação própria. A terra não será destruída, e sim, renovadae regenerada. Cristo fala desse dia, noutra ocasião, como “aregeneração, quando o Filho do homem sentar-se-á no trono de suaglória”. São Pedro fala dele como “o tempo da renovação”, “o tempoda restituição de todas as coisas, do qual Deus falou pela boca detodos os Seus Santos Profetas desde o começo do mundo”. O Diado Juízo do qual Cristo fala é evidentemente o mesmo da vinda doSenhor dos Exércitos, o Pai, que foi profetizado por Isaías e pelosoutros profetas do Velho Testamento; um tempo de terrível puniçãopara os maus, mas um tempo em que a justiça será estabelecida e odireito reinará, assim na terra como no céu.

Segundo a interpretação bahá’í, a vinda de cada Manifestantede Deus é um Dia de Juízo, mas a vinda do Manifestante Supremo,Bahá’u’lláh, é o grande Dia do Juízo para o ciclo mundial em quevivemos. O toque da trombeta de que falam Cristo, Muhammad, emuitos outros profetas, é o chamado do Manifestante, que ressoa

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para todos que estão no céu e na terra – encarnados e desencarnados.A reunião com Deus, através do Seu Manifestante, é, para aquelesque desejam encontrá-Lo, o portal do Paraíso do conhecimento eadoração a Ele, e do viver em amor a todas as Suas criaturas. Poroutro lado, aqueles que preferem seu próprio caminho ao caminhode Deus, como revelado pelo Manifestante, condenam-se assim aoinferno do egoísmo, erro e inimizade.

A Grande Ressurreição

O Dia do Juízo é também o Dia da Ressurreição, do despertarda morte. São Paulo, em sua Primeira Epístola aos Coríntios, diz:

Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todosdormiremos, mas todos seremos transformados, nummomento, num abrir e fechar de olhos, ante a últimatrombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarãoincorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convémque isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, eisto que é mortal se revista da imortalidade.

I Coríntios, 15:51-53.

Quanto ao significado destas passagens relativas à ressurreição,Bahá’u’lláh escreve no Kitáb-i-Íqán:

Pelos termos “vida” e “morte” mencionados nas Escrituras,entende-se a vida de fé e a morte que é a descrença. O povo emgeral, não podendo compreender o sentido destas palavras,rejeitou e desprezou a pessoa do Manifestante, privando-se daluz de Sua orientação divina e recusando seguir o exemplodaquela Beleza imortal...

...Assim como disse Jesus: “Necessário vos é nascer de novo”[João 3:7] E ainda: Na verdade, na verdade, te digo que aqueleque não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reinode Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido

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do Espírito é espírito [João 3:5-6] O intuito destas palavras éque, em cada era, quem nasce do Espírito e se vivifica peloalento do Manifestante da Santidade, é, em verdade, dos queatingiram a “vida” e a “ressurreição”, e entraram no “paraíso”do amor de Deus. E quem quer que não seja desses, écondenado à “morte” e “privação”, ao “fogo” da descrença e à“ira” de Deus...

Em cada era e século, os Profetas de Deus e Seus eleitosnão tiveram outro objetivo senão o de afirmar o sentidoespiritual dos termos “vida”, “ressurreição” e “juízo”... Fosse tuatingir uma simples gota de orvalho das águas cristalinas doconhecimento divino, haverias de compreender, prontamente,que a vida verdadeira não é a vida da carne, mas sim, a doespírito. Pois a vida da carne é comum aos homens e animais,enquanto que a do espírito é possuída somente pelos puros decoração, por aqueles que sorveram do oceano da fé e participaramdo fruto da certeza. Essa vida não conhece morte alguma; essaexistência é coroada pela imortalidade. Assim mesmo como sedisse: “Quem é um crente verdadeiro, vive em ambos osmundos, neste e no vindouro.” Se por “vida” se entende a vidaterrena, evidentemente, a morte há de alcançá-la.

O Kitáb-i-Íqán, pp. 73-77.

Segundo os ensinamentos bahá’ís, a ressurreição nada tem aver com o grosseiro corpo físico. Este corpo, uma vez morto, estáacabado. Ele decompõe-se e seus átomos jamais serão recompostosno mesmo corpo.

A ressurreição é o nascimento do indivíduo para a vidaespiritual através da dádiva do Espírito Santo concedida através doManifestante de Deus. O túmulo do qual ele surge é o túmulo daignorância e negligência a Deus. O sono de que acorda é a condiçãode dormência espiritual em que muitos esperam o alvorecer do Diade Deus. Este alvorecer ilumina a todos que têm vivido sobre a faceda terra, estejam eles em seus corpos ou fora deles, mas aquelesespiritualmente cegos não podem percebê-lo. O Dia da Ressurreição

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não é um dia de vinte e quatro horas, mas uma era que começouagora e perdurará enquanto durar o presente ciclo mundial. Persistiráainda quando todos os traços da civilização atual tiverem sidoapagados da superfície do globo.

A Volta de Cristo

Em muitas de Suas conversações, Cristo refere-Se ao futuroManifestante de Deus na terceira pessoa, mas em outras é utilizadaa primeira pessoa. Ele diz: “Vou preparar-vos lugar. E, se eu for, evos preparar um lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo.”(João, 14:2-3) No primeiro capítulo de Atos, lemos que foi dito aosdiscípulos no momento da ascensão de Jesus: “Esse Jesus, que dentrevós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu ovistes ir.” Por causa destes e outros dizeres semelhantes, muitoscristãos esperam que, quando o Filho do Homem vier “nas nuvensdo céu e com grande glória”, verão na forma física o mesmo Jesusque andava nas ruas de Jerusalém há dois mil anos, e verteu sanguee padeceu na cruz. Esperam poder pôr seus dedos nos sinais dospregos em Suas mãos e Seus pés, e tocar com suas mãos a ferida delança em Suas costelas. Mas, certamente, uma pequena reflexão sobreas próprias palavras de Cristo dissiparia tal idéia. Os judeus do tempode Cristo tinham as mesmas idéias sobre a volta de Elias, mas Jesusexplicou seu erro, mostrando-lhes que a profecia de que “Elias devevir primeiro” foi cumprida não pelo regresso da pessoa e do corpodo antigo Elias, e sim na pessoa de João Batista, que veio “no espíritoe poder de Elias”. “E se vós quereis compreender”, disse Cristo,“este é o Elias que estava por vir. O que tem ouvidos para ouvir,ouça”. A “volta” de Elias, portanto, significou o aparecimento deoutra pessoa, nascido de outros pais, mas inspirado por Deus com omesmo espírito e poder. Estas palavras de Jesus podem certamenteser tomadas como significando que a volta de Cristo, de igual modo,será realizada pelo aparecimento de outra pessoa, nascida de outramãe, mas que manifeste o Espírito e o Poder de Deus, como o fez

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Cristo. A “nova vinda” de Cristo, explica Bahá’u’lláh, foi cumpridano advento do Báb e em Sua própria vinda. Ele diz:

Considerai o sol. Se dissesse agora, “Sou o sol de ontem”,diria a verdade. E se, levando em conta a seqüência do tempo,pretendesse ser outro sol, estaria ainda dizendo a verdade.De modo semelhante, se dissermos que todos os dias são omesmo, isso será certo e verdadeiro; e se, referindo-nos a seusnomes e designações especiais, dissermos que diferem, issotambém será verdade. Pois embora sejam iguais, se reconheceem cada um, no entanto, uma designação separada, umatributo específico, um caráter particular. Deves conceber,semelhantemente, a distinção, a diversidade e, ao mesmotempo, a unidade, que caracterizam os vários Manifestantesda Santidade, para que possas compreender as alusões que oCriador de todos os nomes e atributos faz aos mistérios dadistinção e da unidade, e descobrir a resposta à tua perguntasobre a razão por que a Beleza Eterna, em várias épocas, temsido chamada por nomes e títulos diferentes.

O Kitáb-i-Íqán, pp. 17-18.

Diz ‘Abdu’l-Bahá:

Sabe tu, que a volta de Cristo não significa o que o povo acredita,e sim refere-se ao Prometido a vir depois dEle. Ele virá com oReino de Deus e o Seu Poder que circundou o mundo. Essedomínio está no mundo dos corações e espíritos, e não naqueleda matéria; pois o mundo material não é comparável, à vistade Deus, nem a uma simples asa de uma mosca, fosses tudaqueles que sabem! Em verdade, Cristo veio com Seu Reinodesde o começo que não tem começo, e virá com Seu Reinoaté a eternidade das eternidades, visto que “Cristo”, nessesentido, é uma expressão da Realidade Divina, da simplesEssência e Entidade celestial, que não tem começo nem fim.Tem aparecimento, ascensão, manifestação e declínio, em cadaum dos ciclos.

Tablets of Abdul-Baha, vol. I, p. 138.

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O Tempo do Fim

Cristo e Seus apóstolos mencionaram muitos sinais quedistinguiriam o tempo da “Volta” do Filho do Homem na glória doPai. Cristo disse:

Mas, quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei entãoque é chegada a sua desolação.... Porque dias de vingança sãoestes, para que se cumpram todas as coisas que estãoescritas.... Porque haverá grande aperto na terra, e ira sobreeste povo. E cairão ao fio da espada, e para todas as naçõesserão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, atéque os tempos dos gentios se completem.

Lucas, 21:20-24.

Disse Ele também:

Acautelai-vos, que ninguém vos engane; Porque muitos virãoem meu nome, dizendo: “Eu sou o Cristo;” e enganarão amuitos. E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhainão vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, masainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação,e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos emvários lugares. Mas todas estas coisas são o princípio de dores.Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as gentes por causa do meunome. Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ãouns aos outros se aborrecerão. E surgirão muitos falsos profetas,e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniqüidade, oamor de muitos esfriará. Mas aquele que perseverar até ao fim,será salvo. E este evangelho do reino será pregado em todo omundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim.

Mateus, 24:4-14.

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Nestas duas passagens Cristo predisse em termos claros, semvéu ou disfarce, as coisas que devem vir a realizar-se antes da vindado Filho do Homem. Durante os séculos decorridos desde que Cristofalou, tem-se cumprido cada um desses sinais. Na última parte decada passagem Ele menciona um acontecimento que marcará otempo da vinda – numa, o término do exílio judeu e a restauraçãode Jerusalém, e na outra, a pregação do Evangelho em todo o mundo.É espantoso verificar que ambos estes sinais estão sendo literalmentecumpridos em nossos tempos. Se essas partes da profecia são tãoverdadeiras como as demais, segue-se que devemos estar vivendoagora no “tempo do fim” de que falou Cristo.

Muhammad também menciona certos sinais que persistirãoaté o Dia da Ressurreição. Lemos no Alcorão:

Quando Alláh disse: “Ó Jesus! Verdadeiramente, Eu fareicom que morras e te eleves a Mim, e livrar-te-ei das acusaçõesdos que descrêem, e colocarei aqueles que te seguem [isto é,cristãos] acima daqueles que não crêem [judeus e outros],até o Dia da Ressurreição; então para Mim voltarás; assimEu decidirei entre vós sobre aquilo em que divergistes.”

Sura, 3:54.

“A Mão de Deus”, dizem os judeus, “está acorrentada”. Assuas próprias mãos serão acorrentadas – e eles serãoamaldiçoados por aquilo que disseram. Pelo contrário! Ambasas Suas Mãos estão estendidas! À Sua própria vontade concedeEle dádivas. O que te foi enviado pelo teu Senhor certamenteaumentará a rebelião e a descrença de muitos deles; e Nóspusemos entre eles inimizade e ódio que durarão até o Diada Ressurreição. Quantas vezes acenderem a tocha do fogoda guerra, tantas vezes Deus a apagará.

Sura, 5:69.

E temos aceito o Convênio dos que dizem, “Nós somoscristãos”. Mas eles também se esqueceram de uma parte do

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que lhes foi ensinado; por essa razão Nós provocamos entreeles inimizade e ódio que durarão até o Dia da Ressurreição;e, no fim Deus lhes falará das suas ações.

Sura, 5:17.

Estas palavras também foram literalmente cumpridas, nasujeição dos povos judeus aos povos cristãos (e muçulmanos), e nosectarismo e luta que têm criado divisões não só entre judeus, mastambém entre cristãos, durante todos os séculos desde queMuhammad falou. Somente após o início da Era Bahá’í (o Dia daRessurreição) foi que apareceram sinais da aproximação do fim dessascondições.

Sinais no Céu e na Terra

Nas Escrituras hebraicas, cristãs, muçulmanas, e muitas outras,há uma semelhança notável na descrição dos sinais que devemacompanhar a vinda do Prometido.

No Livro de Joel, lemos:

E mostrarei prodígios no céu, e na terra, sangue e fogo, ecolunas de fumo. O sol se converterá em trevas, e a lua emsangue, antes que venha o grande e terrível dia doSenhor... Porquanto, eis que naqueles dias, e naquele tempo,em que removerei o cativeiro de Judá e de Jerusalém.Congregarei todas as nações, e as farei descer ao vale de Josafá;e ali com elas entrarei em juízo.... Multidões, multidões novale da decisão! porque o dia do Senhor está perto, no vale dadecisão. O sol e a lua se enegrecerão, e as estrelas retirarão oseu resplendor. E o Senhor bramará de Sião, e dará a Sua vozde Jerusalém, e os céus e a terra tremerão; mas o Senhor seráo refúgio do seu povo.

Joel, 2:30-31; 3:1-2, 14-16.

Cristo diz:

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E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a luanão dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potênciasdos céus serão abaladas. Então aparecerá no céu o sinal doFilho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, everão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, compoder e grande glória.

Mateus, 24:29-30.

Lemos no Alcorão:

Quando o sol estiver encoberto,E quando as estrelas caírem,E quando se arrasarem as montanhas...E quando as folhas do Livro forem desenroladas,E quando o céu estiver descoberto,E quando se fizer que o inferno arda.

Sura, 81.

No Kitáb-i-Íqán, Bahá’u’lláh explica que essas profeciasrelativas ao sol, à lua e às estrelas, aos céus e à terra, são simbólicas enão devem ser meramente interpretadas no sentido literal. Os Profetasestavam interessados principalmente em coisas espirituais e nãomateriais; na luz espiritual, e não física. Quando Eles mencionam osol em relação ao Dia do Juízo, referem-se ao Sol da Retidão. O solé a fonte suprema da luz; assim, Moisés foi um Sol para os hebreus,Cristo para os cristãos, e Muhammad para os muçulmanos. Quandoos Profetas falam do escurecimento do sol, querem dizer que osensinamentos puros desses Sóis espirituais tornaram-se obscurecidospelas interpretações errôneas, mal-entendidos e preconceitos, demodo que os homens acham-se mergulhados em trevas espirituais.A lua e as estrelas são as fontes menores de iluminação, os dirigentese instrutores religiosos, os que deveriam guiar e inspirar o povo.Quando se diz que a lua não dará sua luz ou será transformada emsangue, e que as estrelas cairão do céu, indica-se que os dirigentesdas igrejas tornar-se-ão rebaixados, ocupando-se em luta e contenda,

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e que os sacerdotes tornar-se-ão mundanos, ocupados das coisasterrenas em vez das celestiais.

O significado destas profecias não é esgotado, porém, emuma só explicação, e há outros sentidos nos quais podem serinterpretados esses símbolos. Bahá’u’lláh diz que em outro sentidoas palavras “sol”, “lua” e “estrelas” são aplicadas às leis e instruçõesestabelecidas em cada religião. Como em cada Manifestaçãosubseqüente as cerimônias, formas, costumes e instruções dosManifestantes anteriores são modificados de acordo com os requisitosdos tempos, assim, nesse sentido, o sol e a lua são transformados eas estrelas dispersas.

Em muitos casos o cumprimento literal dessas profecias emseu sentido exterior seria absurda ou impossível; por exemplo, atransformação da lua em sangue ou a queda das estrelas sobre aTerra. A menor das estrelas visíveis é muitos milhares de vezes maiorque a Terra, e fosse uma cair sobre ela não restaria mais Terra sobrea qual caísse outra! Em outros casos, porém, tanto há umcumprimento material como um espiritual. A Terra Santa, porexemplo, tornou-se literalmente deserta e desolada por muitosséculos, como predisseram os Profetas, mas agora, no Dia daRessurreição, está começando a “regozijar-se e florescer como a rosa”,como predisse Isaías. Fundam-se colônias prósperas, a terra estásendo irrigada e cultivada, e vinhedos, alamedas de oliveiras e jardinsflorescem onde há meio século* havia apenas deserto arenoso. Semdúvida, quando os homens forjarem das suas espadas, relhas dearados, e das suas lanças, foices de poda, os sertões e desertos emtodas partes do mundo serão regenerados; ventos escaldantes etempestades de areia que vêm desses desertos e tornam a vida emsua vizinhança quase intolerável, serão coisas do passado; o clima domundo inteiro se tornará mais suave e uniforme; as cidades nãomais poluirão o ar com fumaça e gases venenosos, e, até no sentidoexterno, material, haverá “novos céus e uma nova Terra”.

*Começo do século XX.

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248 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

A Maneira de Sua Vinda

Quanto à maneira de Sua vinda no fim da era, Cristo disse:

Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas astribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindosobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. E ele enviaráos seus anjos com rijo clamor de trombeta.... então se assentaráno trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diantedele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodesas ovelhas.

Mateus, 24:30-31; 25:31-32.

Com respeito a estas e a outras passagens semelhantes,Bahá’u’lláh escreve no Kitáb-i-Íqán:

O termo “céu” significa sublimidade e exaltação, desde que éa sede da revelação desses Manifestantes da Santidade, Aurorasda Glória antiga. Embora nasçam do ventre materno, essesSeres antigos descem, na realidade, do céu da Vontade deDeus. Ainda que habitem nesta terra, suas verdadeirasmoradas são, entretanto, as plagas gloriosas nos reinos doalém. Enquanto andam entre os homens mortais, voam nocéu da Presença Divina. Sem pés, trilham o caminho doespírito e, sem asas, se elevam às sublimes alturas da UnidadeDivina. Com cada alento fugaz, atravessam a imensidade doespaço e a todo instante passam pelos domínios do visível edo invisível....

...o termo “nuvens” significa aquelas coisas que sãocontrárias aos métodos e aos desejos dos homens. Assimmesmo como Ele revelou no versículo já citado: “Todas asvezes que vem um Apóstolo trazendo-nos o que vossas almasnão desejam, vós vos inchais de orgulho, acusando alguns deimpostores e a outros matando.” (Alcorão, 2:87) Essas“nuvens” significam, em um sentido, a anulação das leis, a

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249PROFECIAS CUMPRIDAS PELA FÉ BAHÁ’Í

revogação das Revelações anteriores e dos ritos e costumescorrentes entre os homens, o enaltecimento dos iletrados fiéisacima dos eruditos que se opõem à Fé. Em outro sentido,referem-se ao aparecimento daquela Beleza Eterna na imagemdo homem mortal, com tais limitações humanas como anecessidade de comer e beber, a pobreza e a riqueza, a glóriae a humilhação, o dormir e o despertar e outras coisassemelhantes que criam dúvida na mente dos homens e causamseu afastamento. Todos esses véus são chamados,simbolicamente, “nuvens”.

Essas são as “nuvens” que fazem com que se rompam oscéus do conhecimento e da compreensão de todos os quehabitam a terra. Assim como Ele revelou: “Naquele dia o céuserá rompido pelas nuvens.” (Alcorão, 25:25) Do mesmomodo que as nuvens impedem os olhos dos homens de ver osol, também essas coisas impedem suas almas de reconhecera luz do Luminar Divino. A isso testifica o que procedeu daboca dos descrentes, segundo revela o Livro Sagrado: “Edisseram: Que espécie de apóstolo é esse? Toma alimentos eanda nas ruas. A não ser que um anjo seja enviado e apóieSuas advertências, nós não acreditaremos.” (Alcorão, 25:7)Outros Profetas, igualmente, têm estado sujeitos à pobreza eàs aflições, à fome e aos males e vicissitudes deste mundo.Porque essas Pessoas santas estavam sujeitas a tais necessidades,o povo, em conseqüência disso, perdia-se nas solidões dedesconfianças e dúvidas, aflito pela confusão e perplexidade.Como seria possível – queriam eles saber – uma pessoa serenviada por Deus, declarar Sua ascendência sobre todos ospovos e todas as raças da terra e se proclamar o objetivo detoda a criação – assim mesmo como Ele disse: “Se não fossestu, Eu não teria criado todos os que estão no céu e na terra,”– e, apesar de tudo isso, ainda ficar sujeita a coisas tão triviais?Deveis ter sido informados, sem dúvida, das tribulações, dapobreza, das adversidades e da degradação que sobrevieram atodo Profeta de Deus e Seus companheiros. Deveis ter sabido

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250 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

como as cabeças de Seus discípulos foram enviadas de presentea várias cidades e como se os impediu, lastimavelmente,daquilo que lhes fora ordenado. Cada um deles caiu vítimanas mãos dos inimigos de Sua Causa, tendo que sofrer tudoo que estes decretassem.

O Todo-Glorioso decretou estas coisas contrárias aosdesejos dos homens perversos, exatamente para serem a pedrade toque, o padrão pelo qual Ele prova Seus servos, de modoque o justo se distinga do ímpio, e o fiel do infiel...

E agora, com referência às Suas palavras: “E Ele enviará Seusanjos...” Por “anjos” se quer dizer aqueles que, reforçados pelopoder do espírito, consumiram todas as qualidades e limitaçõeshumanas com o fogo do amor de Deus, e se adornaram com osatributos dos Seres mais excelsos e dos Querubins...

Como os seguidores de Jesus jamais compreenderam osentido oculto dessas palavras, e como os sinais esperados poreles e pelos dirigentes de sua Fé não apareceram, eles, por isso,se recusaram a admitir – e ainda hoje se recusam – a verdadedos Manifestantes da Santidade que têm vindo desde os diasde Jesus. Assim se privaram das emanações da santa graça deDeus e das maravilhas de Suas palavras divinas. Tal é seu baixograu neste Dia, o Dia da Ressurreição! Nem mesmo perceberamque, se os sinais do Manifestante de Deus em cada eraaparecessem no reino visível de acordo com o texto das tradiçõesestabelecidas, seria impossível que pessoa alguma o negasse oudEle se afastasse, e assim o bem-aventurado não se distinguiriado desventurado, o transgressor do piedoso. Julgaiimparcialmente: se as profecias registradas no Evangelho fossemcumpridas literalmente: se Jesus, Filho de Maria, acompanhadode anjos, descesse do céu visível sobre as nuvens, quem seatreveria a descrer, quem ousaria rejeitar a verdade e se tornardesdenhoso? Não, tamanha consternação logo se apoderariade todos os que habitam a terra, que nenhuma alma se sentiriacapaz de pronunciar uma palavra e, muito menos, de rejeitarou aceitar a verdade.

Bahá’u’lláh. O Kitáb-i-Íqán, pp. 44-52.

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251PROFECIAS CUMPRIDAS PELA FÉ BAHÁ’Í

Segundo esta explicação, a vinda do Filho do Homem sob ahumilde forma humana, nascido de uma mulher, pobre, nãoeducado, oprimido e desprezado pelos grandes da terra – esta maneirade vir é a verdadeira pedra de toque através da qual Ele julga ospovos da terra e separa-os uns dos outros, como um pastor separasuas ovelhas dos bodes. Aqueles cujos olhos espirituais estão abertospodem ver por essas nuvens e rejubilar-se no “poder e grande glória”– a verdadeira glória de Deus – que Ele veio a revelar; os outros,cujos olhos estão ainda impedidos pelo preconceito e erro, podemver apenas as nuvens negras, e continuam a tatear na escuridão,privados da abençoada luz do sol.

Eis que eu envio o meu anjo, que preparará o caminho diantede mim: e de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vósbuscais, o anjo do concerto, a quem vós desejais.... Mas quemsuportará o dia da sua vinda? e quem subsistirá, quando eleaparecer? porque ele será como o fogo do ourives e como osabão dos lavadeiros.... Porque eis que aquele dia vem ardendocomo forno: todos os soberbos, e todos os que cometemimpiedade, serão como palha... Mas para vós, que temeis omeu nome nascerá o sol da justiça, e salvação trará debaixo dassuas asas.

Malaquias, 3:1-2; 4:1-2.

Nota: O assunto do cumprimento das profecias é tão extenso que asua adequada exposição exigiria muitos volumes. Tudo o que podeser feito dentro dos limites de um simples capítulo é indicar osprincipais delineamentos das interpretações bahá’ís. Não forammencionados os detalhados Apocalipses revelados por Daniel e SãoJoão. Os leitores encontrarão alguns destes capítulos interpretadosem Respostas a Algumas Perguntas. No Kitáb-i-Íqán, por Bahá’u’lláh,em Bahá’í Proofs, por Mírzá Abu’l-Fadl, e em muitas das Epístolasde Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l Bahá podem ser encontradas outrasexplicações sobre as profecias.

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Capítulo 14

E, se disseres no teu coração: Como conheceremos apalavra que o Senhor não falou? Quando o tal profetafalar em nome do Senhor, e tal palavra se não cumprir,nem suceder assim, esta é palavra que o Senhor nãofalou: com soberba a falou o tal profeta: não tenhastemor dele.

Deuteronômio, 18:21-22.

O Poder Criador da Palavra de Deus

Deus, e somente Deus, tem o poder de fazer o que Ele deseje,e a maior prova de um Manifestante de Deus é o poder criador daSua palavra – sua eficácia em mudar e transformar todos os afazereshumanos, e triunfar sobre toda a oposição humana. Através da palavrados Profetas, Deus anuncia Sua vontade, e o cumprimento imediatoou subseqüente dessa palavra é a prova mais clara da pretensão doProfeta e da autenticidade de Sua inspiração.

Porque, assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lánão torna, mas rega a terra, e a faz produzir, e brotar, e darsemente ao semeador, e pão ao que come, assim será a palavraque sair da Minha boca: ela não voltará para Mim vazia, antesfará o que Me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei.

Isaías, 55:10-11.

Quando os discípulos de João Batista perguntaram a Jesus:“És Tu Aquele que havia de vir, ou esperamos por outro?”, a resposta

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253PROFECIAS DE BAHÁ’U’LLÁH E ‘ABDU’L-BAHÁ

de Jesus foi simplesmente apontar os efeitos produzidos por Suaspalavras:

Ide, e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: Os cegosvêem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdosouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciadoo evangelho. E bem-aventurado é aquele que se nãoescandalizar em Mim.

Mateus, 11:4-6.

Vejamos agora que evidência existe para demonstrar que aspalavras de Bahá’u’lláh possuem este poder criador distintivo daPalavra de Deus.

Bahá’u’lláh ordenou aos governantes do mundo queestabelecessem a paz universal, e seu prolongamento da política deguerra desde 1869-1870 tem derrubado muitas dinastias antigas,enquanto as sucessivas guerras têm produzido cada vez menos dosfrutos da vitória, até que a Guerra Européia de 1914-1918 revelouo fato historicamente assustador de que a guerra tornou-se igualmentedesastrosa para vencedor e vencido*.

Bahá’u’lláh, de igual maneira, ordenou aos governantes queagissem como fideicomissários dos interesses de seus súditos, fazendoda autoridade política um meio de promover o verdadeiro bem-estar geral. O progresso no sentido da legislação social tem sido semprecedentes.

Ele ordenou a limitação dos extremos de riqueza e pobreza, edesde então tem sido uma constante preocupação a legislação parao estabelecimento de níveis mínimos de subsistência e para tributaçãogradativa sobre a riqueza, através de impostos sobre renda e herança.Ordenou a abolição tanto da escravidão propriamente dita, bemcomo da econômica, e desde então o progresso no sentido daemancipação tem sido um fermento em todas as partes do mundo.

Bahá’u’lláh declarou a igualdade de homens e mulheres –expressa através de responsabilidades iguais, e direitos e privilégios*Ainda maior evidência disto foi dada pela Segunda Guerra Mundial.

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254 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

iguais. Desde essa declaração, cada vez mais se rompem os grilhõesseculares que prendiam a mulher, e rapidamente ela está obtendoseu devido lugar como igual e parceira do homem. Ele declarou aunidade fundamental das religiões, e o intervalo que se seguiu temtestemunhado os mais determinados esforços de almas sinceras emtodas as partes do mundo por atingir um novo grau de tolerância,de entendimento mútuo e de cooperação para fins universais. Aatitude sectária tem sido solapada em toda parte, e sua posiçãohistórica tem-se tornado cada vez mais insustentável. A base doexclusivismo na religião tem sido destruída pelas mesmas forças quetornam o nacionalismo do tipo auto-suficiente incapaz de sobreviver.

Ele ordenou a educação universal e fez da independenteinvestigação da verdade uma prova de vitalidade espiritual. Acivilização moderna tem sido profundamente afetada por este novofermento. A educação compulsória para crianças e a extensão defacilidades educativas para adultos têm-se tornado uma políticaprimordial de governo. Nações que deliberadamente procuramrestringir a independência de mente e de espírito entre seus cidadãostêm, por tal política, incitado revolução dentro de suas fronteiras, esuspeita e medo fora delas.

Bahá’u’lláh ordenou a adoção de uma língua auxiliar universal,e o doutor Zamenhof e outros obedeceram a Seu chamado, dedicandosuas vidas e talentos a essa grande tarefa e oportunidade.

Acima de tudo, Bahá’u’lláh imbuiu a humanidade com umnovo espírito, despertando novos anseios nas mentes e corações, enovos ideais para a sociedade. Em toda a história nada é tão dramáticoe impressionante como o curso dos acontecimentos desde o alvorecerda Era Bahá’í, em 1844. Ano após ano tem enfraquecido o poderde um passado morto, prolongado por idéias, hábitos, atitudes einstituições antiquadas, até que, presentemente, todos os homens emulheres inteligentes sobre a terra percebem que a humanidadeestá atravessando sua mais terrível crise. Vemos, por um lado, anova criação surgindo à medida que a luz dos ensinamentos de

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255PROFECIAS DE BAHÁ’U’LLÁH E ‘ABDU’L-BAHÁ

Bahá’u’lláh tem revelado o verdadeiro caminho da evolução. Poroutro lado, nada vemos senão desastre e frustração em todos osdomínios onde essa luz seja repelida ou ignorada.

Para o bahá’í fiel, no entanto, estas e inúmeras outrasevidências, por mais impressionantes que sejam, falham em fornecera real extensão da majestade espiritual de Bahá’u’lláh. Sua vida naterra e a força irresistível das Suas palavras inspiradas permanecemcomo o único verdadeiro critério da vontade de Deus.

Um estudo das profecias mais detalhadas de Bahá’u’lláh e deseu cumprimento revelará poderosa evidência confirmadora. Destasprofecias daremos agora alguns exemplos, sobre cuja autenticidadenão pode haver nenhuma discussão. Elas foram largamentepublicadas e conhecidas antes de virem a cumprir-se. As cartas queEle enviou às cabeças coroadas do mundo, em que se encontrammuitas dessas profecias, foram compiladas em um livro (Súrriy-i-Haykal)* que foi primeiro publicado em Bombaim, em fins do séculoXIX. Desde então, várias edições têm sido publicadas. Daremostambém alguns exemplos de notáveis profecias de ‘Abdu’l-Bahá.

Napoleão III

No ano de 1869, Bahá’u’lláh escreveu a Napoleão IIIcensurando-o por sua ânsia pela guerra e pelo desprezo com quehavia acolhido uma carta anterior. A Epístola contém a seguinteadmoestação severa:

Por causa daquilo que fizeste, prevalecerá confusão em teureino, e teu império será tirado de tuas mãos, em puniçãopelos teus feitos†. Então saberás claramente que erraste.Comoções apoderar-se-ão de todo o povo nesse país, a menosque te levantes para auxiliar esta Causa e sigas Aquele que é oEspírito de Deus neste Caminho Reto. Foi a tua pompa quete tornou orgulhoso? Por Minha vida! Não durará; não, muitobreve há de passar, a menos que te segures firmemente a esta

*Esta Epístola encontra-se no livro O Chamado do Senhor das Hostes.†Nesse ano Napoleão III foi derrotado na Batalha de Sedan (1870) e exilado.

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Corda forte. Vemos humilhação se aproximar de tirapidamente, enquanto tu és dos desatentos.

Bahá’u’lláh. O Chamado do Senhor das Hostes, p. 59.

É desnecessário dizer-se que Napoleão, então no zênite deseu poder, nenhuma atenção prestou a esta advertência. No anoseguinte, entrou em guerra com a Prússia, firmemente convencidode que as suas tropas tomariam Berlim facilmente; mas a tragédiapredita por Bahá’u’lláh o esmagou. Ele foi derrotado em Saarbruck,em Weissenburg, em Metz e, finalmente, na esmagadora catástrofeem Sedan. Foi levado então prisioneiro para a Prússia, e veio a terum fim miserável na Inglaterra dois anos depois.

Alemanha

Bahá’u’lláh fez, mais tarde, aos conquistadores de Napoleão,uma advertência igualmente solene que também encontrou ouvidossurdos, mas cumpriu-se de uma maneira terrível. No Kitáb-i-Aqdas– obra que Bahá’u’lláh começara em Adrianópolis e terminou nosprimeiros anos de Sua prisão em ‘Akká – Ele assim Se dirige aoImperador da Alemanha:

Ó Rei de Berlim!... Recordai aquele cujo poder transcendiao vosso poder e cuja posição era superior à vossa. Onde estáEle? Onde foi parar tudo o que possuía? Sede advertido, enão dos que estão profundamente adormecidos. Foi ele quemdesprezou a Epístola de Deus quando Nós o informamos doque as hostes da tirania Nos fizeram sofrer. Por isso a desgraçaatacou-o de todos os lados e ele baixou ao pó em granderuína. Ponderai bem, ó Rei, sobre o que sucedeu a ele e aosque, como vós, conquistaram cidades e dominaram homens.O Todo-Misericordioso fê-los descer de seus palácios às suassepulturas. Sede advertido, sede dos que refletem...Ó margens do Reno! Nós vos vimos cobertas de sangue, poisas espadas da represália desembainharam-se contra vós; e

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257PROFECIAS DE BAHÁ’U’LLÁH E ‘ABDU’L-BAHÁ

haverá ainda outra vez. E ouvimos os lamentos de Berlim,embora hoje esteja em glória conspícua.

Bahá’u’lláh. O Kitáb-i-Aqdas, pp. 42-43.

Durante o período das vitórias alemãs na Grande Guerra de1914-1918 e especialmente durante a última grande ofensiva alemãna primavera de 1918, essa bem conhecida profecia foi extensamentecitada pelos inimigos da Fé Bahá’í na Pérsia com o fim de lançardescrédito sobre Bahá’u’lláh; mas quando o avanço dos vitoriososalemães foi subitamente transformado em desastre esmagador eirresistível, os esforços desses inimigos da Causa Bahá’í reverteramsobre eles mesmos, e a notoriedade que haviam dado à profeciatornou-se um poderoso meio de elevar a reputação de Bahá’u’lláh.

Pérsia

No Kitáb-i-Aqdas, escrito quando o tirânico xá Násiri’d-Dínestava no apogeu de seu poder, Bahá’u’lláh abençoa a cidade deTeerã, capital da Pérsia e Seu próprio berço, dizendo:

Que nada te entristeça, ó Terra de Tá (Teerã), pois Deus teescolheu como a fonte de júbilo para toda a humanidade.Ele, caso for Sua Vontade, haverá de abençoar teu trono comalguém que te governará com justiça, que retinirá o rebanhode Deus que os lobos dispersaram. Tal governante, com júbiloe contentamento, se volverá ao povo de Bahá e lhe concederáseus favores. Ele, em verdade, é estimado, aos olhos de Deus,como uma jóia entre os homens. Que sobre ele repouse parasempre a glória de Deus e a glória de todos os que habitamno reino de Sua revelação.

Regozija-te com grande júbilo, pois Deus te fez “a Aurorade Sua Luz”, desde que dentro de ti nasceu o Manifestantede Sua Glória. Alegra-te por este nome que te foi conferido -nome através do qual o Sol da graça difundiu Seu esplendor,através do qual, tanto a terra como o céu, foram iluminados.

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Em breve o estado de coisas dentro de ti será mudado e asrédeas do poder cairão nas mãos do povo. Verdadeiramente,teu Senhor é o Onisciente. Sua autoridade abrange todas ascoisas. Assegura-te nos generosos favores de teu Senhor. Oolhar de Sua benevolência há de ser a ti dirigido para sempre.Aproxima-se o dia em que a tua agitação terá sidotransmudada em paz e serena tranqüilidade. Assim foidecretado no Livro maravilhoso.

Seleção dos Escritos de Bahá’u’lláh, pp. 90-91.

Até agora a Pérsia [atual Irã] apenas começou a emergir doperíodo de desordem predito por Bahá’u’lláh, mas já se inaugurouum governo constitucional e não faltam sinais de estar próxima umaera mais luminosa.

Turquia

Ao sultão da Turquia e ao seu primeiro-ministro, ‘Álí Páshá,Bahá’u’lláh, então (em 1868) confinado em uma prisão turca, dirigiualgumas de Suas mais solenes, severas admoestações. Ao sultãoescreveu do quartel de ‘Akká:

Ó tu que te consideras o maior de todos os homens... dentroem breve teu nome será esquecido e te encontrarás em grandeperda. Segundo tua opinião, este Vivificador do mundo eseu Pacificador é culpável e sedicioso. Que crime cometeramas mulheres, crianças, e os sofridos bebês para mereceremtua ira, tua opressão e teu ódio? Tens perseguido numerosasalmas que nenhuma oposição demonstraram em teu país eque nenhuma revolução instigaram contra o governo; não,ao contrário, ocupavam-se pacificamente, dia e noite, namenção de Deus. Pilhaste suas propriedades e, através dosteus atos tirânicos, tudo que eles tinham foi-lhestomado.... Perante Deus uma mão cheia de pó é maior doque teu reino, tua glória, tua soberania e teu domínio, e

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259PROFECIAS DE BAHÁ’U’LLÁH E ‘ABDU’L-BAHÁ

desejasse Ele, dispersar-te-ia como a areia do deserto. Dentroem breve Sua ira cairá sobre ti, revoluções surgirão em teumeio e teus países serão divididos! Então chorarás elamentarás, e em parte alguma encontrarás auxílio eproteção.... Sê atento, pois a ira de Deus está preparada, ebreve verás o que está escrito pela Pena do Mandamento.

Star of the West, vol. II, p. 3.

E a ‘Álí Páshá Ele escreveu:

Ó Ra’ís (chefe), cometeste aquilo que fez Muhammad, oApóstolo de Deus, gemer no Mais Excelso Paraíso. O mundotornou-te orgulhoso a tal ponto que te afastaste da Face atravésde cujo esplendor a Assembléia no alto foi iluminada. Cedo teencontrarás em ruína evidente. Tu te uniste ao Governante daPérsia para Me causar dano, não obstante Eu ter vindo a ti doLugar do Alvorecer do Todo-Poderoso, do Grande, com umaCausa que refrescou os olhos dos favorecidos de Deus....

Pensaste que pudesses extinguir o fogo que Deus ateou noUniverso? Não! Eu declaro pela Sua Alma Verdadeira – fossestu dos que compreendem. Mais do que isso, pelo que fizeste,têm sido aumentados seu calor e sua chama. Cedo envolverá omundo e seus habitantes.... Aproxima-se o dia em que setransformarão a Terra do Mistério (Adrianópolis) e aquilo queestá a seu lado, e sairão das mãos do Rei, e aparecerão distúrbios,e a voz da lamentação será erguida, e as evidências da maldadeserão reveladas em todos os lados, e confusão espalhar-se-á porcausa daquilo que sucedeu a estes cativos (Bahá’u’lláh e Seuscompanheiros) pelas mãos das hostes da opressão. O curso dascoisas será mudado, e tão aflitivas tornar-se-ão as condiçõesque as próprias areias nas colinas desoladas gemerão, e as árvoresnas montanhas chorarão, e sangue jorrará de todas as coisas.Então verás o povo em penosa aflição....

Assim foi o assunto decretado por parte do Arquiteto, doSábio, a cujo mandamento as hostes do céu e da terra nãopoderiam resistir, nem todos os reis e governantes poderiam

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impedi-Lo daquilo que Ele deseja. Calamidades são o óleo destaLâmpada, e através delas sua Luz aumenta – fosses dos quecompreendem! Todas oposições exibidas pelos opressores são,de fato, como arautos para esta Fé, e através delas o aparecimentode Deus e Sua Causa têm-se tornado vastamente disseminadosentre os povos do mundo.

E ainda no Kitáb-i-Aqdas Ele escreveu:

Ó Lugar sito na orla dos dois mares! Em verdade, o trono datirania em ti se estabeleceu, e a chama do ódio ateou-se emteu seio, de tal sorte que a Assembléia no alto e aqueles quese movem ao redor do Trono Excelso gemeram e prantearam.Em ti vemos os néscios governando os sábios e as trevasescarnecendo da luz. Estás, de fato, cheio de evidente orgulho.Fez-te arrogante o teu aparente esplendor? Por Aquele que éo Senhor da humanidade! ele cedo há de findar, e tuas filhase tuas viúvas e todas as famílias em ti residentes lamentarão.Assim te informa o Onisciente, o Sapientíssimo.

O Kitáb-i-Aqdas, p. 43.

As sucessivas calamidades que têm assolado esse outroragrande império desde a publicação destas advertências, têm fornecidoum comentário eloqüente sobre seu significado profético.

América

No Kitáb-i-Aqdas, revelado em ‘Akká no ano de 1873,Bahá’u’lláh fez o seguinte apelo à América:

Dai ouvidos, ó Governantes da América e Presidentes dassuas Repúblicas, ao que chilreia o Pombo no Ramo daEternidade: “Não há outro Deus além de Mim, o Imutável,o Perdoador, o Todo-Generoso.” Adornai o templo dasoberania com o ornamento da justiça e do temor a Deus, e

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sua cabeça com a coroa da lembrança de vosso Senhor, oCriador dos céus. Assim vos aconselha Aquele que é a Aurorados Nomes, conforme ordenado por Ele, o Conhecedor detudo, o Onissapiente. O Kitáb-i-Aqdas, K88, p. 42.

‘Abdu’l-Bahá, em Seus discursos na América e em outraspartes, freqüentemente expressava a esperança, a oração e a confiançade que a bandeira da paz internacional seria primeiro levantada naAmérica. Em Cincinnati, Ohio, em 5 de novembro de 1912, disse:

A América é uma nação nobre, o porta-estandarte da paz nomundo todo, irradiando luz a todas as regiões. As outrasnações não estão desimpedidas e livres de intrigas ecomplicações como os Estados Unidos; por isso, não sãocapazes de realizar a harmonia universal. Mas, a América –louvado seja Deus! – está em paz com o mundo todo e édigna de erguer a bandeira da fraternidade e da harmoniainternacional. Quando isto acontecer, o resto do mundo háde concordar. Todas as nações se unirão para adotar osensinamentos de Bahá’u’lláh, revelados há mais de cinqüentaanos. Em Suas Epístolas, Ele pediu aos parlamentos do mundopara enviarem seus melhores e mais sábios homens a umaconferência internacional que deveria decidir todas as disputasentre os povos e estabelecer a paz... Este seria o mais altotribunal de apelação, e o parlamento humano, há tanto temposonhado por poetas e idealistas, tornar-se-ia realidade.

A Promulgação da Paz Universal, p. 488.

Os apelos de Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá já têm sido atendidosem grande escala pelos Estados Unidos da América, e em nenhumpaís do mundo os ensinamentos bahá’ís têm encontrado mais prontaaceitação. O papel destinado à América, entretanto, de convocar asnações para a paz internacional, até agora tem sido apenasparcialmente desempenhado, e os bahá’ís aguardam com interesseos acontecimentos que o futuro reserva*.*É interessante notar-se que a reunião de fundação da Organização das NaçõesUnidas realizou-se em São Francisco.

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A Grande Guerra

Não só Bahá’u’lláh como ‘Abdu’l-Bahá, em muitas ocasiõespredisseram com surpreendente exatidão a vinda da Grande Guerrade 1914 a 1918. Em Sacramento, Califórnia, em 26 de outubro de1912, ‘Abdu’l-Bahá disse:

O continente europeu é como um arsenal, um paiol deexplosivos pronto para explosão, e uma só faísca incendiará aEuropa inteira, particularmente nesta época em que a questãobalcânica se apresenta ao mundo.

A Promulgação da Paz Universal, p. 472.

Em muitos de Seus discursos na América e na Europa,‘Abdu’l-Bahá fez advertências semelhantes. Em outro discurso naCalifórnia, em outubro de 1912, Ele disse:

Estamos na véspera da Batalha de Armagedon, a que se refereo décimo sexto capítulo do Apocalipse. O tempo é daqui adois anos, quando apenas uma fagulha incendiará a Europainteira.

A inquietação social em todos os países, o crescenteceticismo religioso antecedente ao milênio, já presente,incendiarão toda a Europa, segundo profetizado no Livro deDaniel e no Livro (Apocalipse) de São João.

Até 1917, reinos cairão e cataclismos sacudirão a Terra.Relatado pela sra. Corinne True em The North Shore Review,

26 de setembro de 1914, Chicago, E.U.A.

Na véspera do grande conflito Ele declarou:

Uma luta geral das nações civilizadas está à vista. Um conflitotremendo está próximo. O mundo está no limiar do maistrágico combate.... Vastos exércitos – milhões de homens –estão sendo mobilizados e posicionados às suas fronteiras.Estão sendo preparados para a batalha temível. A mínima

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263PROFECIAS DE BAHÁ’U’LLÁH E ‘ABDU’L-BAHÁ

fricção levá-los-á a um terrível impacto, e haverá umaconflagração como nunca registrada em toda a história dahumanidade (em Haifa, 3 de agosto de 1914).

Star of the West, vol. V, p. 163.

Distúrbios Sociais do Pós-Guerra

Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá predisseram também um períodode grande convulsão social, conflito e calamidade, como resultadoinevitável da irreligião e dos preconceitos, da ignorância e dasuperstição, prevalecentes em todo o mundo. O grande conflitomilitar internacional foi apenas uma fase dessa convulsão. NumaEpístola, em janeiro de 1920, ‘Abdu’l-Bahá escreveu:

Ó vós amantes da verdade! Ó vós, servos da humanidade! Aoinsuflar-se sobre mim a suave fragrância de vossos pensamentose elevadas intenções, sinto que minha alma é impelidairresistivelmente a comunicar-se convosco.

Ponderai em vossos corações quão penoso é o tumulto emque o mundo acha-se submerso; o quanto as nações da terraestão manchadas pelo sangue humano, não somente isto masaté seu próprio solo converteu-se em sangue coagulado. A chamada guerra tem causado uma conflagração tão violenta que omundo, quer em seus dias primitivos, quer na idade média,ou nos tempos modernos, nunca presenciou igual. Os moinhosda guerra esmagaram e trituraram inúmeras cabeças humanas,e ainda mais severa tem sido a sorte destas vítimas! Paísesprósperos têm-se tornado desolados, cidades têm sido arrasadase alegres aldeias transformadas em ruínas. Pais perderam seusfilhos, e filhos tornaram-se órfãos. Mães derramaram lágrimasde sangue em lamento pelos seus jovens filhos, criancinhasficaram órfãs e mulheres deixadas errantes e sem lares. Numapalavra, a humanidade em todas as suas fases foi degradada.Alto é o clamor e o choro dos órfãos, e amargos os lamentosdas mães, que ecoam pelos céus.

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264 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

A causa principal de todos esses acontecimentos são ospreconceitos de raça, de nação, de religião e de política, e araiz de todos esses preconceitos está nas tradições antiquadas eprofundamente arraigadas, sejam religiosas, raciais, nacionaisou políticas. Enquanto persistirem estas tradições o alicercedo edifício humano estará inseguro e a própria humanidadeexposta a perigo contínuo.

Agora, nesta era radiante em que se tornou manifesta aessência de todos os seres e foi revelado o segredo oculto detodas as coisas criadas, quando se rompeu a luz matinal daverdade e transformou-se em luz a escuridão do mundo, édigno e decente que tão horrenda carnificina, que causa ruínairreparável ao mundo, torne-se possível? Por Deus! Isso nãopode ser.

Cristo chamou todos os povos do mundo à reconciliação eà paz. Mandou que Pedro guardasse na bainha a sua espada.Tal foi Seu desejo e conselho e, no entanto, aqueles que levamSeu nome desembainharam a espada! Como é grande a diferençaentre seus atos e o explícito texto do Evangelho!

Há sessenta anos Bahá’u’lláh, como o sol radiante, brilhouno firmamento da Pérsia e proclamou que o mundo está envoltoem escuridão, e esta escuridão é repleta de conseqüênciasdesastrosas, e conduzirá a temível conflito. Da cidade-prisãoem ‘Akká, Ele, em termos inequívocos, apostrofou o Imperadorda Alemanha, declarando que haveria uma guerra terrível eBerlim cairia em lamentação e pranto. De igual maneira,enquanto injustiçado prisioneiro do sultão da Turquia nafortaleza de ‘Akká, Ele escreveu-lhe clara e enfaticamente queConstantinopla cairia vítima de grave desordem, de tal formaque mulheres e crianças ergueriam seu grito de lamento.Enfim, Ele dirigiu Epístolas a todos os principais governantese soberanos do mundo e tudo o que Ele predisse tem-secumprido. De Sua pena de glória emanaram ensinamentossobre a prevenção da guerra, e estes têm sido extensamentedisseminados.

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265PROFECIAS DE BAHÁ’U’LLÁH E ‘ABDU’L-BAHÁ

Seu primeiro ensinamento é a busca da verdade. A cegaimitação, declarou Ele, mata o espírito do homem, enquantoque a investigação da verdade liberta o mundo das trevas dopreconceito.

Seu segundo ensinamento é a unidade do gênero humano.Todos os homens são um só rebanho, e Deus é o amorosoPastor. Ele concede-lhes Sua maior misericórdia e considera-os a todos como um só. “Não encontrarás diferença entre ascriaturas de Deus”. Todos são Seus servos e todos buscamSua graça.

Seu terceiro ensinamento é que a religião é a mais poderosafortaleza. Deveria ser conducente à unidade, ao invés de ser acausa de inimizade e ódio. Fosse ela conduzir à inimizade eódio, melhor seria não tê-la. Pois a religião é como umremédio que, se agravasse a enfermidade, seria preferível seuabandono.

Os preconceitos de religião, raça, nação e política sãoigualmente subversivos à base da sociedade humana; todoslevam-na à carnificina, todos contribuem para sua ruína.Enquanto estes persistirem, o horror de guerra continuará.O único remédio é a paz universal. E esta é alcançada apenasatravés do estabelecimento de um Tribunal supremo,representativo de todos os governos e povos. Todos osproblemas nacionais e internacionais deveriam ser submetidosa este tribunal, e qualquer que fosse sua decisão, deveria seraplicada. Fosse um governo ou povo discordar, o mundo comoum todo levantar-se-ia contra ele.

E entre os Seus ensinamentos encontra-se a igualdade dedireitos de homens e mulheres, e assim por diante, commuitos outros ensinamentos similares que foram reveladospela Sua pena.

Atualmente tem-se tornado evidente e manifesto que estesprincípios são a própria vida do mundo e a incorporação deseu verdadeiro espírito. E agora, vós que sois os servos dahumanidade, deveis esforçar-vos, de coração e alma, por

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266 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

libertar o mundo das trevas do materialismo e do preconceitohumano, a fim de que possa ser iluminado pela luz da Cidadede Deus.

Vós, louvado seja Ele, conheceis as várias escolas,instituições e princípios do mundo; hoje, nada a não ser estesensinamentos divinos pode assegurar a paz e a tranqüilidadedo gênero humano. Se não for por estes ensinamentos, essaescuridão jamais se desvanecerá, jamais serão curadas essasdoenças crônicas; ao contrário, tornar-se-ão mais violentas diaa dia. Os Bálcãs continuarão irrequietos, e agravar-se-á suasituação. Os vencidos não permanecerão quietos, mas agarrar-se-ão a todos os meios para acender novamente a chama daguerra. Movimentos universais modernos farão o máximo pararealizar seus propósitos e intenções. O Movimento da Esquerdaadquirirá grande importância e sua influência difundir-se-á.

Esforçai-vos, pois, para que, com um coração iluminado,com um espírito celestial e um poder divino, e auxiliados pelaSua graça, possais conceder ao mundo a dádiva generosa deDeus... a dádiva do conforto e tranqüilidade para todo o gênerohumano.

Numa outra palestra em novembro de 1919, Ele disse:

Bahá’u’lláh pressagiava freqüentemente que haveria um períodoem que a irreligião e conseqüente anarquia prevaleceriam. Ocaos será causado pela demasiada liberdade entre os povos,que ainda não estão preparados para ela, e em conseqüênciahaverá necessariamente uma temporária reversão a um governocoercivo, nos interesses dos próprios povos e a fim de evitar adesordem e o caos. É claro que cada nação deseja agora acompleta autodeterminação e liberdade de ação, mas algumasdelas não estão preparadas para isso. O estado prevalecente domundo é o de irreligião, o que é destinado a resultar emanarquia e confusão. Tenho dito sempre que as propostas depaz após a grande guerra eram apenas um vislumbre da aurora,e não o nascer do sol.

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A Vinda do Reino de Deus

Em meio a esses tempos de inquietação, entretanto, a Causade Deus prosperará. As calamidades causadas pela egoística lutapela existência individual ou pelo proveito de partido, seita ou nação,induzirão os povos a recorrerem em desespero ao remédio oferecidopela Palavra de Deus. Quanto mais calamidades houver, mais ospovos recorrerão ao único remédio verdadeiro. Diz Bahá’u’lláh emSua Epístola ao xá:

Deus fez as tribulações como uma chuva matinal para esteprado verdejante e como um pavio para Sua Lâmpada, pormeio do qual a terra e o céu são iluminados.... Através daaflição Sua Luz brilhou e Seu Louvor tem estado sempreresplandecente; este tem sido Seu método, desde eras passadase tempos idos.

Não só Bahá’u’lláh, mas também ‘Abdu’l-Bahá, predizem emtermos mais confiantes, o rápido triunfo da espiritualidade sobre omaterialismo e o conseqüente estabelecimento da Paz Máxima.‘Abdu’l-Bahá escreveu em 1904:

Sabei que, dia a dia, provações e infortúnios aumentarão edesse modo os povos serão afligidos. As portas da alegria e dafelicidade serão fechadas por todos os lados e guerras terríveisocorrerão. Frustração e desespero circundarão os povos atéserem obrigados a volverem-se para Deus Uno e Verdadeiro.Então a luz da mais jubilosa mensagem iluminará oshorizontes de tal modo que o brado de Yá Bahá’u’l Abhá[uma invocação: Ó Tu, Glória do Mais Glorioso] será erguidode todas as direções. Isto virá a acontecer.

Epístola a Isabella D. Brittingham,citada em Star of the West, vol. XII, no 8, 01/08/1921.

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268 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Quando interrogado, em fevereiro de 1914, se algumas dasgrandes potências tornar-se-iam crentes, ‘Abdu’l-Bahá respondeu:

Todos os povos do mundo tornar-se-ão crentes. Secomparásseis o início da Causa à sua posição hoje, observaríeisque a rápida influência da Palavra de Deus, e agora a Causade Deus, tem envolvido o mundo.... Inquestionavelmente,todos se abrigarão à sombra da Causa de Deus.

Star of the West, vol. IX, p. 31.

Ele declarou que o estabelecimento da unidade mundialacontecerá durante o século atual. Em uma de Suas Epístolas Eleescreveu:

De modo igual, todos os membros da família humana, querpovos, quer governos, cidades ou aldeias, têm-se tornado cadavez mais interdependentes. A auto-suficiência não mais épossível a nenhum deles, pois que todos os povos e naçõesestão unidos por laços políticos e cada dia mais se fortalecemas relações de comércio e indústria, de agricultura e educação.Portanto, a unidade de todo o gênero humano pode serconseguida na época atual. Em verdade, isso não é senão umadas maravilhas desta admirável era, deste século glorioso.Disso, as eras passadas foram privadas, pois este século – oséculo da luz – foi dotado de glória, poder e iluminaçãoincomparáveis. Daí a miraculosa revelação de nova maravilhaa cada dia. Há de vir o dia em que se verá quão intensamenteardem suas velas na Assembléia da humanidade.

Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, pp. 28-29.

Nos dois últimos versículos do Livro de Daniel encontram-se as palavras enigmáticas:

Bem-aventurado o que espera e chega até mil trezentos etrinta e cinco dias. Tu, porém, vai até ao fim: porquerepousarás, e estarás na tua sorte, no fim dos dias.

Daniel, 12:12-13.

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Muitas têm sido as tentativas de sábios estudiosos para resolvero problema da significação destas palavras. Numa palestra à mesa, àqual estava presente o autor, ‘Abdu’l-Bahá calculou o cumprimentoda profecia de Daniel desde a data do começo da Era Muçulmana.

As Epístolas de ‘Abdu’l-Bahá tornam claro que esta profeciarefere-se ao centésimo aniversário da Declaração de Bahá’u’lláh emBagdá, ou seja, o ano de 1963:

Agora, a respeito do versículo no Livro de Daniel, do qualpediste a interpretação, a saber, “Bem-aventurado o que esperae chega até mil trezentos e trinta e cinco dias”. Estes dias devemser calculados como anos solares e não lunares. Pois de acordocom este cálculo um século terá transcorrido desde o alvorecerdo Sol da Verdade; então os ensinamentos de Deus estarãofirmemente estabelecidos sobre a terra e a Luz Divina inundaráo mundo de Oriente a Ocidente. Então, neste dia, os fiéisregozijar-se-ão!

‘Akká e Haifa

Mírzá Ahmad Sohrab registrou no seu diário a seguinteprofecia sobre ‘Akká e Haifa, proferida por ‘Abdu’l-Bahá enquantosentado próxima à janela de uma das Casas de Peregrinos bahá’ísem Haifa, no dia l4 de fevereiro de 1914:

A vista que se descortina da Casa dos Peregrinos é muitoatraente, especialmente por estar voltada para o AbençoadoSepulcro de Bahá’u’lláh. No futuro, por toda a distância quesepara ‘Akká e Haifa, haverá construções, vindo assim as duascidades a unir-se e apertar-se as mãos, tornando-se as seçõesterminais de uma única poderosa metrópole. Quando olhoagora para este cenário, vejo tão claramente que ele tornar-se-á um dos primeiros empórios do mundo. Esta grande baíasemicircular será transformada no mais belo porto, no qualos navios de todas as nações procurarão abrigo e refúgio. As

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grandes embarcações de todos os povos virão a este porto,trazendo em seus conveses milhares e milhares de homens emulheres de toda parte do globo. Os mais modernos prédiose palácios pontilharão a montanha e a planície. Indústriasserão estabelecidas e várias instituições filantrópicas fundadas.As flores da civilização e cultura de todas as nações serãotrazidas aqui para unir suas fragrâncias e mostrar o caminhopara a fraternidade do homem. Maravilhosos jardins,pomares, bosques e parques estender-se-ão por todos os lados.À noite a grande cidade será iluminada por eletricidade. Oporto inteiro, de ‘Akká a Haifa, será uma vereda de luz.Poderosos holofotes serão colocados de ambos os lados doMonte Carmelo para guiar os navios. O próprio MonteCarmelo, do cume à base, será submerso num mar de luzes.Uma pessoa no cimo do Monte Carmelo, e os passageirosdos navios vindo em sua direção, verão o mais sublime emajestoso espetáculo de todo o mundo.

De toda parte da montanha a sinfonia de “Yá Bahá’u’l-Abhá!” erguer-se-á e, antes do alvorecer, música que extasia aalma, acompanhada por vozes melodiosas, será elevada aotrono do Todo-Poderoso.

Em verdade, os métodos de Deus são misteriosos einescrutáveis. Que conexão externa existe entre Shíráz e Teerã,Bagdá e Constantinopla, Adrianópolis e ‘Akká e Haifa? Deustrabalhou pacientemente, passo a passo, através destas váriascidades, segundo Seu próprio plano, claro e eterno, de modoque as profecias e predições dos Profetas pudessem sercumpridas. Esse fio dourado da promessa concernente aoMilênio Messiânico percorre a Bíblia, e foi assim destinadoque Deus o fizesse aparecer no tempo que Ele próprio achasseoportuno. Nem sequer uma só palavra permanecerá semsignificado e deixará de ser cumprida.

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Capítulo 15RETROSPECTO E PERSPECTIVA

Dou testemunho, ó amigos, de que o favor estácompleto, o argumento se cumpriu, a prova semanifestou e a evidência acha-se estabelecida! Que sejavisto agora o que os vossos esforços no caminho dodesprendimento revelarão. Desse modo, o favor divinofoi plenamente concedido a vós e àqueles que estão nocéu e na terra. Todo louvor a Deus, o Senhor de todosos Mundos.

Bahá’u’lláh. As Palavras Ocultas, pp. 171-172.

O Progresso da Causa

Infelizmente, é impossível no espaço de que dispomos,descrever em detalhe o progresso da Fé Bahá’í pelo mundo. Muitoscapítulos poderiam ser dedicados a este fascinante assunto, e muitashistórias emocionantes relatadas a respeito dos pioneiros e mártiresda Causa, mas temos que nos contentar com apenas um breveresumo.

Na Pérsia os primeiros adeptos desta Revelação encontrarama maior oposição, perseguição e crueldade nas mãos de seuscompatriotas, mas enfrentaram todas as calamidades e provaçõescom sublime heroísmo, firmeza e paciência. Seu batismo foi em seupróprio sangue, pois muitos milhares deles pereceram comomártires, enquanto outros milhares foram açoitados, aprisionados,destituídos de seus bens, expulsos de seus lares ou maltratados deoutras formas. Durante sessenta anos ou mais, qualquer pessoa na

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272 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

Pérsia que ousasse confessar sua fé no Báb ou em Bahá’u’lláh, fazia-o sob o risco de perder seus bens, sua liberdade, ou até mesmo suavida. Essa oposição determinada e feroz, entretanto, não poderiadeter o progresso da Fé mais do que uma nuvem de pó poderiaimpedir o nascer do Sol.

Encontram-se hoje bahá’ís de uma a outra extremidade doIrã*, em quase todas cidades e aldeias, e mesmo entre tribos nômades.Em alguns povoados a população inteira é bahá’í, e em outros lugaresuma grande proporção dos habitantes. Recrutados de muitas ediversas seitas que eram implacavelmente hostis umas às outras,formam agora uma grande sociedade de amigos que reconhecem afraternidade, não só entre eles, mas também entre todos os homenspor toda parte, que trabalham pela unificação e elevação dahumanidade, pela eliminação de todos os preconceitos e conflitos,e pelo estabelecimento do Reino de Deus no mundo.

Que milagre poderia ser maior do que este? Somente um: arealização, em todo o mundo, da tarefa à qual esses homens têm-sededicado. E não faltam indícios de que este milagre maior, também,esteja em progresso. A Fé está mostrando uma vitalidadesurpreendente e está espalhando-se como fermento pela massa dahumanidade, transformando indivíduos e sociedade à medida emque se espalha†.

Em comparação com os adeptos das religiões antigas, onúmero relativamente pequeno de bahá’ís pode ainda parecer*Lord Curzon, em seu livro Persia and the Persian Question, publicado em 1892, anoda morte de Bahá’u’lláh, escreve:

“O cálculo mais desfavorável estima em meio milhão o presente número debábís na Pérsia. Estou inclinado a acreditar, entretanto, que de acordo com asconversações com pessoas bem informadas, o total é de quase um milhão. Eles sãoencontrados em todos os níveis sociais, desde os ministros e nobres da Corte até osvarredores de rua ou os criados, constituindo o próprio clero muçulmano uma arenanão menos considerável de sua atividade....”

“Se o bábísmo continuar a crescer com sua presente taxa de progressão, éconcebível que virá um tempo em que substituirá a religião muçulmana na Pérsia.Isto, penso, seria improvável se aparecesse no campo sob a bandeira de uma fé hostil.Mas desde que os seus recrutas sejam conquistados dentre os melhores soldados daguarnição que está atacando, há razão suficiente para acreditar-se que há depredominar afinal.” (Vol. I, pp. 499-502)†O número de bahá’ís aumenta a cada ano, e a população mundial bahá’í é superiora seis milhões de pessoas, no começo do século XXI.

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273RETROSPECTO E PERSPECTIVA

insignificante, mas eles são confiantes de que um Poder divino osabençoou com o alto privilégio de servir a uma nova ordem, à qualafluirão as multidões do Oriente e do Ocidente em um dia nãomuito distante.

Embora, pois, seja verdade que corações puros, em todos ospaíses, tenham refletido o Espírito Santo, ainda que inconscientesda Fonte, e que o progresso da Fé possa ser atestado pelos numerososesforços externos à comunidade bahá’í em promover um ou outrodos ensinamentos de Bahá’u’lláh, não obstante, a falta de qualquerbase duradoura na velha ordem é prova convincente de que os ideaisdo Reino somente podem tornar-se frutíferos dentro da estruturada comunidade bahá’í.

O Báb e Bahá’u’lláh como Profetas

Quanto mais estudamos as vidas e os ensinamentos do Báb ede Bahá’u’lláh, mais impossível se nos afigura encontrarmos qualquerexplicação de Sua grandeza, a não ser a Inspiração Divina. Eles forameducados numa atmosfera de fanatismo e intolerância. Eles receberamapenas a educação mais elementar. Eles não tiveram nenhum contatocom a cultura ocidental. Eles não tiveram nenhum poder políticoou financeiro como retaguarda. Nada pediram Eles dos homens, epouco receberam a não ser injustiça e opressão. Os grandes da terraOs desprezavam ou faziam-Lhes oposição. Foram açoitados etorturados, aprisionados e expostos às mais terríveis calamidades nocumprimento de Sua missão. Estavam sós contra o mundo, semnenhum auxílio salvo o de Deus, mas já Seu triunfo está manifestoe magnificente.

A grandeza e a sublimidade de Seus ideais, a nobreza e aabnegação de Suas vidas, Suas destemidas coragem e convicção, Seusadmiráveis conhecimentos e sabedoria, Sua compreensão dasnecessidades dos povos do Leste e do Oeste, a amplitude e apropriedade de Seus ensinamentos, Seu poder de inspirar em Seusadeptos a devoção e o entusiasmo sinceros, a penetração e o poder

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274 BAHÁ’U’LLÁH E A NOVA ERA

de Sua influência, o progresso da Fé que fundaram – tudo isto,certamente, constitui provas de serem Eles Profetas, provas tãoconvincentes como qualquer outra que a história da religião possaapresentar.

Uma Perspectiva Gloriosa

As boas novas bahá’ís revelam uma visão da Mercê de Deus edo futuro progresso da humanidade, que certamente é a maior emais gloriosa Revelação jamais dada ao homem, o desenvolvimentoe consumação de todas as Revelações anteriores. O seu intuito nãoé outro senão a regeneração da humanidade e a criação de “novoscéus e uma nova Terra”. É a mesma tarefa à qual Cristo e todos osProfetas têm devotado Suas vidas, e entre estes grandes Instrutoresnão há nenhuma rivalidade. Não é por este ou aquele Manifestante,e sim por todos juntos, que a tarefa será cumprida.

Como diz ‘Abdu’l-Bahá:

Não é necessário rebaixar Abraão a fim de enaltecer Jesus.Não é necessário rebaixar Jesus para proclamar Bahá’u’lláh.Devemos acolher com alegria a Verdade de Deus, onde querque a vejamos. A essência da questão é que todos esses grandesMensageiros vieram para erguer o Divino Estandarte dasPerfeições. Todos Eles brilham como orbes no mesmo céu daVontade Divina. Todos Eles provêem luz ao mundo.

Star of the West, vol. III, no 8, p. 8.

A tarefa é de Deus, e Deus chama não só aos Profetas mas atoda humanidade, para ser Seus cooperadores nesse processo criativo.Se recusarmos o Seu convite, não impediremos o avanço do trabalho,pois o que for a vontade de Deus virá certamente a realizar-se. Sefalharmos em desempenhar nosso papel, Ele pode criar outrosinstrumentos a fim de realizar Seu objetivo; mas nós não atingiremoso verdadeiro propósito e objetivo de nossas vidas. Em harmonia

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275RETROSPECTO E PERSPECTIVA

com Deus – tornando-nos Seus adoradores, Seus servos, os canais eintermediários da vontade do Seu Poder Criador, a ponto de nãoestarmos conscientes de nenhuma vida em nós a não ser a Sua VidaDivina e Abundante – isto, segundo os ensinamentos bahá’ís, é aconsumação inefável e gloriosa da existência humana.

A humanidade, entretanto, está sã de coração, pois é feita “àimagem e semelhança de Deus”, e quando vier, finalmente, a percebera verdade, não persistirá nos caminhos da insensatez. Bahá’u’lláhassegura-nos que em breve o chamado de Deus será atendido portodos, e a humanidade como um todo volver-se-á à retidão e àobediência. “Toda tristeza será então transformada em alegria, etoda doença em saúde”, “os reinos do mundo vieram a ser de nossoSenhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre” (Apocalipse,11:15). Não somente os que vivem na terra, mas todos nos céus ena terra tornar-se-ão unidos em Deus, e nEle regozijar-se-ãoeternamente.

A Renovação da Religião

O estado do mundo de hoje fornece, seguramente, amplaevidência de que, com raras exceções, pessoas de todas as religiõesprecisam ser despertadas novamente para a verdadeira significaçãode sua religião; e tal despertar constitui uma parte importante dotrabalho de Bahá’u’lláh. Ele veio a fim de fazer dos cristãos melhorescristãos, dos muçulmanos verdadeiros muçulmanos, para tornar todosos homens fiéis ao espírito que inspirou seus Profetas. Ele tambémcumpre a promessa, feita por todos esses Profetas, de um Manifestantemais glorioso destinado a aparecer na “plenitude dos tempos”, paracoroar e consumar Seus trabalhos. Ele dá uma exposição mais ampladas verdades espirituais do que Seus predecessores, e revela a Vontadede Deus a respeito de todos os problemas da vida individual e socialque nos confrontam no mundo hodierno. Ele dá-nos umensinamento universal que proporciona uma base sólida sobre aqual pode ser edificada uma civilização nova e melhor – um

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ensinamento adaptado às necessidades do mundo na nova era queagora se inicia.

Necessidade de uma Nova Revelação

A unificação do mundo da humanidade, a união das diferentesreligiões mundiais, a reconciliação entre a religião e a ciência, oestabelecimento da Paz Universal, do Arbitramento Internacional,de uma Casa Internacional de Justiça, de uma língua internacional,a emancipação das mulheres, a educação universal, a abolição daescravidão industrial bem como da escravidão propriamente dita, aorganização da humanidade como um todo, com a devidaconsideração dos direitos e liberdades de cada indivíduo – estes sãoproblemas de magnitude gigantesca e de dificuldade estupenda arespeito dos quais cristãos, muçulmanos e adeptos de outras religiõessustentaram e ainda sustentam opiniões as mais diversas e muitasvezes violentamente opostas, mas Bahá’u’lláh revelou princípiosclaramente definidos cuja adoção geral, obviamente, faria do mundoum paraíso.

A Verdade é para Todos

Muitos estão inteiramente prontos a admitir que osensinamentos bahá’ís seriam algo esplêndido para a Pérsia e todo oOriente, mas imaginam que para as nações do Ocidente sejamdesnecessários ou inadaptáveis. A alguém que manifestou semelhanteopinião, ‘Abdu’l-Bahá respondeu:

Quanto à significação da Causa de Bahá’u’lláh, tudo o quecontribua para o bem-estar universal é divino, e tudo o queseja divino é para o bem-estar universal. Se for verdade, é paratodos; se não for, não é para ninguém; por conseguinte, umacausa divina de bem-estar universal não pode ser limitada aoOriente nem ao Ocidente, pois o esplendor do Sol da Verdade

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ilumina tanto o Oriente como o Ocidente, e faz sentir o seucalor no sul e no norte – nenhuma diferença há entre um póloe outro. No tempo da Manifestação de Cristo, os romanos egregos pensavam que Sua Causa fosse especialmente para osjudeus. Eles supunham que tivessem uma civilização perfeitae nada a aprender dos ensinamentos de Cristo e, por esta falsasuposição, muitos foram privados da Sua Graça. Outrossim,sabei que os princípios do cristianismo e os Mandamentos deBahá’u’lláh são idênticos, e seus caminhos são os mesmos. Tododia há progresso; houve um tempo em que esta instituiçãodivina (da revelação progressiva) esteve embrionária, depoisrecém-nascida, mais tarde um jovem intelectual; mas hoje elaé resplandecente em beleza e brilha com o maior esplendor.

Feliz é aquele que penetra o mistério e toma seu lugar nomundo dos iluminados.

A Última Vontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahá

Com o falecimento de seu bem-amado dirigente, ‘Abdu’l Bahá,a Fé Bahá’í entrou numa nova fase da sua história. Esta nova faserepresenta um estado mais elevado na existência do mesmo organismoespiritual, uma expressão mais madura e, conseqüentemente, maisresponsável da fé sentida pelos seus membros. ‘Abdu’l-Bahá haviadedicado Sua energia sobre-humana e capacidade incomparável àtarefa de disseminar Seu amor a Bahá’u’lláh por todo Oriente eOcidente. Ele acendera em inúmeras almas a vela da fé, treinando-as e guiando-as nos atributos da vida espiritual pessoal. Em vista damomentosa importância da Última Vontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahá, da gravidade das questões que apresenta e da sabedoriaprofunda que fundamenta suas cláusulas, damos aqui alguns extratosque revelam vividamente o espírito e os princípios norteadores queanimaram e guiaram ‘Abdu’l-Bahá e que são transmitidos como ricaherança a Seus fiéis seguidores:

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“Ó vós amados do Senhor! Nesta sagrada Dispensação, o conflito e acontenda de modo algum são permitidos. Todo agressor priva-se dasgraças de Deus. Incumbe a cada um demonstrar o máximo grau deamor, retidão de conduta, sinceridade e verdadeira benevolência paracom todos os povos e raças da Terra, quer amigos, quer estranhos.Tão intenso deve ser o espírito de amor e bondade, que o estranhosinta-se um amigo e o inimigo, um verdadeiro irmão, não existindoentre eles qualquer diferença. Pois a universalidade é Divina e todalimitação, terrena...

Deveis, pois, ó meus amorosos amigos, associar-vos a todos ospovos, a todas as raças e religiões do mundo, com a maior sinceridade,retidão, fidelidade, benevolência, boa vontade e amizade, para quetodo o mundo existente receba, copiosamente o santo êxtase das graçasde Bahá, e assim, desvaneçam do mundo a ignorância, a inimizade, oódio e o rancor, e a escuridão da desconfiança entre as nações e raçasceda lugar à Luz da Unidade. Se membros de outros povos e naçõesvos forem infiéis, mostrai-lhes vossa fidelidade; se vos forem injustos,tratai-os com justiça; se afastarem-se de vós, procurai atraí-los; se vosmostrarem inimizade, sede amigos para com eles; se envenenaremvossas vidas, adoçai suas almas; se vos ferirem, sede um bálsamo parasuas feridas. Tais são os atributos dos sinceros! Tais são os atributosdaqueles que dizem a verdade.” (pp. 15-16)

“Ó vós, amados do Senhor! Incumbe-vos ser submissos a todos osmonarcas que sejam justos e mostrar fidelidade a todo rei virtuoso.Servi aos soberanos do mundo com a máxima sinceridade e lealdade.Prestai-lhe obediência e desejai o seu bem. Sem sua licença epermissão, não vos intrometais em assuntos políticos, porque adeslealdade ao soberano justo é deslealdade ao próprio Deus.

É esse meu conselho e é o que Deus vos ordena. Bem-aventuradosaqueles que assim agem!” (p. 18)

“Senhor! Tu vês todas as coisas lamentarem-se por mim, enquantoparentes meus rejubilam-se com minhas tribulações. Por Tua Glória,ó meu Deus! Até mesmo entre meus inimigos houve quemlamentasse as minhas provações e angústias e, entre os invejosos, alguns

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verteram lágrimas por causa da minha angústia, do meu exílio e dasminhas aflições. E isso fizeram por nada haverem encontrado emmim senão afeto e dedicação, nada testemunhado senão bondade emisericórdia. Quando viram-me levado pela correnteza das tribulaçõese adversidades, e exposto como alvo às setas do destino, seus coraçõesforam tocados pela compaixão, seus olhos encheram-se de lágrimas eeles deram testemunho, declarando: “O Senhor é nossa testemunha;nada vimos nele a não ser fidelidade, generosidade e compaixãoextrema.” Os rompedores do Convênio, contudo, pressagiadores domal, cresceram mais ferozmente em seu rancor, regozijaram-se quandocaí vítima das mais penosas provações, tramaram contra mim e sedivertiram com os dolorosos acontecimentos que me envolveram.

Ó Senhor meu Deus! Invoco-Te com minha língua e de todocoração, não os castigueis por sua crueldade e más ações, por suasmalícias e perversidades, pois eles são insensatos e ignóbeis, e nãosabem o que fazem. Não discernem o bem do mal, nem distinguemo certo do errado, nem a justiça da injustiça. Seguem seus própriosdesejos e andam nas pegadas dos mais imperfeitos e insensatos emseu meio. Ó meu Senhor! Tem piedade deles, protege-os de qualqueraflição, nesses tempos de dificuldades, e permite que todas as provaçõese dificuldades sejam destinadas a este Teu servo, caído nesta covatenebrosa. Torna-me alvo de todas as penas, e faze de mim um sacrifíciopor todos os Teus amados! Ó Senhor, Altíssimo! Seja minh’alma,minha vida, meu ser, meu espírito – tudo, oferecido em holocaustopor eles! Ó Deus, meu Deus! Humilde, suplicante e prostrado diantede Ti, imploro-Te, com todo o ardor de minha invocação, que perdoesa quem quer que me tenha injuriado, que absolva aquele que conspiroucontra mim e me ofendeu, e apagues as más ações daqueles que foraminjustos para comigo. Concede-lhes Tuas boas dádivas, torna-os alegres,alivia-os de sua dor, concede-lhes paz e prosperidade, dá-lhes Tuabênção e derrama sobre eles Tua generosidade! Tu és o Poderoso, oBenévolo, o Amparo no Perigo, O que subsiste por Si próprio!” (pp. 21-22)

“Os discípulos de Cristo esqueceram-se de si mesmos e de todas ascoisas terrenas, abandonaram toda preocupação e tudo o que lhespertencia, purificaram-se do egoísmo e da paixão e, com

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desprendimento absoluto, espalharam-se por toda parte, ocupando-se em chamar os povos do mundo para a Guia Divina, até que,finalmente, conseguiram transformar o mundo em outro mundo,iluminando a face da Terra. Até sua última hora, deram provas desua abnegação no caminho dAquele Amado de Deus e, por fim, emdiversas terras, sofreram martírio glorioso. Que os homens de açãosigam suas pegadas!” (p. 12)

“Ó Deus, meu Deus! Invoco a Ti, Teus Profetas e Teus Mensageiros, TeusSantos e a todos os Teus Santificados para que dêem testemunho dehaver eu declarado Tuas provas concludentemente aos Teus amados elhes exposto com clareza todas as coisas, a fim de que vigiassem pela TuaFé, guardassem Teu Caminho reto e protegessem Tua Lei resplandecente.Tu és, em verdade, Onisciente, o Sapientíssimo!” (pp. 25-26)

Com o passamento de ‘Abdu’l-Bahá chegara o tempo de seestabelecer a Ordem Administrativa que tem sido considerada opadrão e o núcleo da Ordem Mundial cujo estabelecimento é amissão especial da religião de Bahá’u’lláh. A Vontade e Testamentode ‘Abdu’l-Bahá marca, pois, um momento decisivo na históriabahá’í, a divisão entre a era da imaturidade e irresponsabilidade e aera em que os próprios bahá’ís são destinados a alcançar suaespiritualidade, alargando seu escopo do campo da experiênciapessoal para aquele da cooperação e unidade sociais. Os trêsprincipais elementos deste plano administrativo deixado por ‘Abdu’l-Bahá são:

1. “O Guardião da Causa de Deus”,2. “As Mãos da Causa de Deus”, e3. “As Casas de Justiça, Locais, Nacionais e Internacional”*.

O Guardião da Causa de Deus

‘Abdu’l-Bahá apontou Seu neto mais velho, Shoghi Effendi,para a posição de responsabilidade de “Guardião da Causa” (Valíyy-

*As Casas de Justiça Locais e Nacionais são designadas, presentemente, AssembléiasEspirituais Locais e Nacionais, e a Casa de Justiça a nível internacional é denominadaCasa Universal de Justiça.

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i-Amru’lláh). Shoghi Effendi é o filho mais velho de Díyá’íyyihKhánum, filha mais velha de ‘Abdu’l-Bahá. O seu pai, Mírzá Hádí,é parente do Báb (embora não um descendente direto, pois o únicofilho do Báb morreu quando criança). Shoghi Effendi tinha vinte ecinco anos de idade e estava estudando no Balliol College, Oxford,por ocasião do falecimento de seu avô. A notícia da sua nomeaçãofoi dada na Última Vontade e Testamento de ‘Abdu’l Bahá nas seguintespalavras:

“Ó meus amados amigos! Após o passamento deste injustiçado, deverãoos Aghsán [Ramos], os Afnán [Brotos] do Sagrado Loto, as Mãos[pilares] da Causa de Deus e os amados da Beleza de Abhá voltar-separa Shoghi Effendi – o jovem ramo que brotou dos Dois Lotossagrados e santificados, o fruto da união dos Dois rebentos da Árvoreda Santidade – pois ele é o sinal de Deus, o ramo escolhido, oGuardião da Causa de Deus, aquele para quem devem se voltar todosos Aghsán, Afnán, Mãos da Causa de Deus e Seus amados. É oexpositor das palavras de Deus e a ele sucederão os primogênitos deseus descendentes diretos.

O sagrado e jovem ramo, o Guardião da Causa de Deus, assimcomo a Casa Universal de Justiça a ser eleita e estabelecidauniversalmente, estão ambos sob o amparo e a proteção da Beleza deAbhá [Bahá’u’lláh], sendo abrigados e guiados infalivelmente peloExcelso [O Báb] (seja minha vida sacrificada por ambos!). O quequer que decidam, provém de Deus...

Ó vós, amados do Senhor! Cumpre ao Guardião da Causa deDeus designar durante sua vida quem deve ser seu sucessor, para quenão surjam divergências após seu passamento. O designado devemanifestar em seu caráter desprendimento de todas as coisas destemundo, deve ser a essência da pureza e dar provas de possuir temor aDeus, conhecimento, sabedoria e erudição. Se, portanto, oprimogênito do Guardião da Causa de Deus não manifestar em suapessoa a verdade das palavras: “A criança é da essência secreta do pai”,isto é, se não herdar a espiritualidade inerente (ao Guardião da Causade Deus), não corresponder à sua gloriosa linhagem com um caráter

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digno, então ele (o Guardião da Causa de Deus) deverá escolheroutro ramo para ser seu sucessor.

As Mãos da Causa de Deus devem eleger nove pessoas de seupróprio seio, as quais se ocuparão continuamente com os importantesserviços a cargo do Guardião da Causa de Deus. A eleição destas novepessoas deve ser feita unanimente ou por maioria, dentre as Mãos daCausa de Deus, e estas, quer seja por unanimidade quer por maioria,devem aprovar a escolha daquele a quem o Guardião da Causa deDeus tenha escolhido para ser seu sucessor. Essa aprovação deve serdada de tal modo que os votos prós e contra não se distingam (isto é,por voto secreto).” (pp. 12-14)

As Mãos da Causa de Deus

Durante Sua própria vida Bahá’u’lláh nomeou alguns amigosexperientes e de confiança para auxiliá-Lo na direção e promoção dotrabalho da Fé, e conferiu-lhes o título de Ayádíyi-Amru’lláh(literalmente “Mãos da Causa de Deus”). ‘Abdu’l Bahá, em SuaÚltima Vontade e Testamento, determina o estabelecimento de umcorpo permanente de pessoas para servir à Causa e auxiliar o Guardiãoda Causa. Ele escreve:

“Ó amigos! As Mãos da Causa de Deus devem ser nomeadas eapontadas pelo Guardião da Causa de Deus...

As obrigações das Mãos da Causa de Deus consistem em difundiras Fragrâncias Divinas, elevar as almas dos homens, promover aeducação, aperfeiçoar o caráter de todos os homens e ser, em todosos tempos e sob quaisquer condições, santificadas e desprendidasdas coisas terrenas. Pela sua conduta, pelas suas maneiras, suaspalavras e suas ações, devem elas manifestar temor a Deus.

Esse corpo das Mãos da Causa de Deus está sob a direção do Guardiãoda Causa de Deus. Ele deve continuamente exortá-las a se esforçarem omáximo que lhes for possível para difundir as doces fragrâncias Divinas eguiar todos os povos do mundo, pois é a luz da Guia Divina que faz comque todo o universo seja iluminado*.” (pp. 14-15)

*Das Mãos da Causa designadas por Shoghi Effendi durante seu ministério de 36anos, 27 eram vivas quando de seu passamento. Ele também instituiu, em 1954, osCorpos Auxiliares, a serem nomeados pelas Mãos e para agirem como seusrepresentantes, assistentes e conselheiros.

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A Ordem Administrativa*

Tem sido a característica geral das religiões que a suaorganização assinala a interrupção da verdadeira influência espirituale impede o impulso original de ser levado para o mundo. Aorganização tem invariavelmente se tornado um substituto para areligião em vez de um método ou instrumento para tornar a religiãoeficaz. A separação dos povos em diferentes tradições, sem umintercâmbio pacífico ou construtivo, tornou isto inevitável. Até opresente, de fato, nenhum Fundador de uma religião reveladadeterminou explicitamente os princípios que deveriam guiar omecanismo administrativo da Fé que Ele estabeleceu.

Na Causa Bahá’í, os princípios da administração mundial foramexpressos por Bahá’u’lláh e desenvolvidos nos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, mais especificamente em Sua Última Vontade e Testamento.

O propósito dessa organização é tornar possível uma uniãoverdadeira e permanente entre pessoas de diferentes raças, classes,interesses, caracteres e credos herdados. Um estudo cuidadoso ecompreensivo deste aspecto da Causa Bahá’í mostrará que opropósito e o método da administração bahá’í estão adaptados tãoperfeitamente ao espírito fundamental da Revelação, quanto a relaçãoque o corpo tem com a alma. Os princípios da administração bahá’írepresentam, em caráter, a ciência da cooperação; em aplicação,provêem um novo e mais elevado tipo de moralidade, universal emâmbito....

Uma comunidade bahá’í difere de outros grupos voluntáriospor ser a sua base tão profundamente estabelecida e amplamenteestendida que pode incluir em seu seio qualquer pessoa sincera.Enquanto outras associações são exclusivistas – em efeito se não emintenção, e por método se não por ideal – a associação bahá’í éabrangente, não fechando as portas da fraternidade para nenhumaalma sincera. Em outros agrupamentos existe alguma base de seleção,latente ou desenvolvida. Na religião esta base é um credo limitadopela natureza histórica da sua origem; na política, é um partido ou*Esta parte da Ordem Administrativa foi tirada do artigo The Present-DayAdministration of the Bahá’í Faith, de autoria de Horace Holley, publicado em 1933no The Bahá’í World, volume V, p. 191 e seguintes.

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plataforma; na economia, é uma desventura mútua ou um podermútuo; nas artes e ciências esta base consiste no treino ou atividadeou interesse especial. Em todos estes campos, quanto maisexclusivista a base de seleção, mais forte o movimento – condiçãoesta diametralmente oposta àquela existente na Causa Bahá’í.Conseqüentemente, apesar de todo o seu espírito de crescimento eprogresso, a Causa desenvolve-se lentamente quanto ao número deseus adeptos ativos. Pois estamos acostumados a exclusivismo edivisão em todas as atividades. As importantes sanções têm sidosempre garantias e justificativas de divisão. Entrar na Causa Bahá’íquer dizer deixar para trás estas sanções – uma experiência que aprincípio nos expõe invariavelmente a provações e sofrimentos novos,enquanto o ego humano se revolta contra a suprema sanção do amoruniversal. O cientista deve associar-se ao simples e inculto, o rico aopobre, o branco ao negro, o místico ao literato, o cristão ao judeu, omuçulmano ao zoroastriano; e em condições que removam avantagem de presunções e privilégios há muito estabelecidos.

Mas para esta experiência difícil há gloriosas compensações.Lembremo-nos de que a arte torna-se estéril ao afastar-se dahumanidade comum, que a filosofia igualmente perde sua visãoquando é desenvolvida em isolamento, e que a política e a religiãonunca prosperam alienadas das necessidades gerais da humanidade.A natureza humana não é conhecida ainda porque todos nós temosvivido num estado de defesa mental, moral, emocional ou social, ea psicologia da defesa é a psicologia da inibição. Mas o amor deDeus remove o medo; a eliminação do medo estabelece os podereslatentes, e a associação com outros em amor espiritual traz estespoderes à expressão vital, positiva. Uma comunidade bahá’í é umgrupo em que este processo pode ter lugar nesta era, primeirolentamente, enquanto o novo ímpeto reúne força, e maisrapidamente à medida que os membros tornam-se conscientes dospoderes que fazem desabrochar entre os homens a flor da unidade....

A responsabilidade e a supervisão das atividades bahá’ís deum local cabem a uma entidade chamada Assembléia Espiritual.

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Esta entidade (composta de nove membros) é eleita anualmente nodia 21de abril, o primeiro dia de Ridván (a Festa comemorativa daDeclaração de Bahá’u’lláh) pelos crentes adultos declarados dacomunidade, sendo a lista de eleitores compilada pela AssembléiaEspiritual cujo período de serviço estiver terminando. A respeito docaráter e das funções desta entidade, ‘Abdu’l-Bahá escreveu oseguinte:

“Incumbe a cada um [cada bahá’í] não dar qualquer passo [naatividade bahá’í] sem consultar a Assembléia Espiritual, à qual deveasseguradamente obedecer de coração e alma e ser submisso, a fimde que as coisas sejam devidamente ordenadas e bem organizadas.De modo contrário, cada pessoa agirá independentemente e deacordo com seu próprio juízo, seguirá sua própria vontade e causarádano à Causa.

Os primeiros requisitos para aqueles que se reúnem para consultasão: pureza de motivos, espírito radiante, desprendimento de tudoa não ser Deus, atração às Suas Divinas Fragrâncias, humildade emodéstia entre Seus amados, paciência e resignação em dificuldades,e servitude ao Seu glorificado Limiar. Se forem graciosamenteauxiliados a adquirir estes atributos a vitória lhes será concedida doReino invisível de Bahá. Nesta era, assembléias consultivas são damáxima importância e de uma necessidade vital. Obediência a elasé essencial e obrigatória. Seus membros devem consultarconjuntamente de tal modo que nenhuma ocasião para mal-entendidos ou discórdia possa surgir. Isto pode ser atingido quandocada membro expressa com absoluta liberdade sua própria opiniãoe expõe seu argumento. Se alguém se opuser, ele não deve de formaalguma sentir-se ofendido, pois o caminho certo não pode serrevelado antes que as questões sejam plenamente consideradas. Abrilhante fagulha da verdade só aparece com o choque das opiniõesdivergentes. Se, após a consideração do assunto, chegar-se a umadecisão unânime, será muito bom; mas se, Deus o proíba, surgiremdiferenças de opinião, a maioria das vozes deverá predominar....

A primeira condição é absoluto amor e harmonia entre osmembros da Assembléia. Eles devem estar completamente livres da

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alienação e manifestar em si mesmos a Unidade de Deus, pois sãoas ondas do mesmo mar, as gotas do mesmo rio, as estrelas de umúnico céu, os raios do mesmo sol, as árvores de um só pomar, asflores do mesmo jardim. Caso não existam harmonia de pensamentoe absoluta unidade, esse grupo será disperso e essa Assembléia serálevada à inexistência.

A segunda condição: eles devem, ao reunir-se, dirigir suas facesao Reino no Alto e pedir auxílio do Reino da Glória.... As questõestratadas devem limitar-se a assuntos espirituais, pertinentes aotreinamento das almas, à educação das crianças, ao alívio dos pobres,ao auxílio dos fracos entre todas as classes do mundo, à bondadepara com todos os povos, à difusão das fragrâncias de Deus e aoenaltecimento de Sua Santa Palavra. Se eles esforçarem-se por cumprirestas condições, a Graça do Espírito Santo ser-lhes-á concedida eessa Assembléia tornar-se-á o centro das bênçãos Divinas, as hostesda confirmação Divina virão em seu auxílio, e dia a dia receberáuma nova efusão do Espírito.”

Expondo este assunto, Shoghi Effendi escreve:

“...nada, absolutamente, deve ser dado ao público por qualquerindivíduo entre os amigos antes de ser cuidadosamente consideradoe aprovado pela Assembléia Espiritual da sua localidade; se este éum assunto (como, sem dúvida, é o caso) que diz respeito aosinteresses gerais da Causa nesse país, então incumbe à Assembléiasubmetê-lo à consideração e aprovação do corpo nacional, querepresenta todas as várias Assembléias Locais. Não somente a questãoda publicação, mas todos os assuntos, sem qualquer exceção, relativosaos interesses da Causa naquela localidade, individual oucoletivamente, devem ser submetidos exclusivamente à AssembléiaEspiritual daquele lugar, a qual decidirá sobre eles, a não ser queseja um assunto de interesse nacional, e neste caso deve ser submetidoao corpo (bahá’í) nacional. A este também caberá decidir se umadada questão é de interesse local ou nacional. (Por questões nacionaisnão se quer dizer assuntos que sejam de caráter político, pois éexpressamente proibido aos amigos de Deus no mundo inteiro,

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envolverem-se de qualquer forma com assuntos políticos, mas simassuntos que afetam as atividades espirituais do conjunto dos amigosnaquele país.)

São de máxima importância, entretanto, a completa harmonia ea cooperação entre as várias Assembléias Locais como também entreos seus membros individuais, e especialmente entre cada Assembléiae o corpo nacional, pois disso dependem a unidade da Causa deDeus, a solidariedade dos amigos, a execução plena, rápida e eficientedas atividades espirituais de Seus amados....

As várias Assembléias, locais e nacionais, constituem hoje oalicerce sobre cuja solidez a Casa Universal [de Justiça] será no futurofirmemente erigida e estabelecida. Só quando estas funcionaremvigorosa e harmoniosamente pode ser realizada a esperança de findar-se este período de transição....

...lembrem-se de que a nota predominante da Causa de Deusnão é a autoridade ditatorial, e sim o companheirismo humilde;não o poder arbitrário, e sim o espírito de consulta franca e afetuosa.Nada menos que o espírito de um verdadeiro bahá’í pode esperarreconciliar os princípios de misericórdia com os de justiça; deliberdade com os de submissão; de consagração do direito doindivíduo com os de sujeição, de vigilância, discrição e prudênciapor um lado e, por outro, os de fraternidade, franqueza e coragem.”

As Assembléias Espirituais Locais de um país são ligadas ecoordenadas por um outro corpo eleito de nove membros, aAssembléia Espiritual Nacional. Este corpo é formado por meio deuma eleição anual realizada pelos delegados eleitos nas comunidadesbahá’ís locais que representam.... A Convenção Nacional em que osdelegados reúnem-se, é composta de um corpo eletivo baseado noprincípio da representação proporcional.... Essas ConvençõesNacionais realizam-se preferivelmente no período de Ridván, os dozedias iniciados a 21 de abril que comemoram a Declaração feita porBahá’u’lláh no Jardim de Ridván, perto de Bagdá. O reconhecimentodos delegados cabe à Assembléia Espiritual Nacional do anoadministrativo que se encerra.

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Uma Convenção Nacional é uma ocasião para aprofundar-sena compreensão das atividades bahá’ís e de compartilhar relatóriossobre as atividades nacionais e locais durante o ano findo.... A funçãode um delegado bahá’í limita-se à duração da Convenção Nacionale participação na eleição da nova Assembléia Espiritual Nacional.Enquanto reunidos, os delegados são um corpo de consulta e conselhocujas recomendações devem ser cuidadosamente consideradas pelosmembros da Assembléia Espiritual Nacional eleita....

A relação da Assembléia Espiritual Nacional com asAssembléias Espirituais Locais e com o corpo dos bahá’ís do país, éassim definida nas cartas do Guardião da Causa:

“Referente ao estabelecimento de ‘Assembléias Nacionais’, é de vitalimportância que em todo país, onde as condições são favoráveis e onúmero de amigos tenha crescido e atingido um tamanhoconsiderável... que uma ‘Assembléia Espiritual Nacional’ sejaimediatamente estabelecida, representativa dos amigos daquele país.

Seu propósito imediato é estimular, unificar e coordenar atravésde freqüentes consultas pessoais, as múltiplas atividades dos amigos,bem como, das Assembléias Locais; e, mantendo íntimo e constantecontato com a Terra Santa, iniciar medidas e dirigir, de um modogeral, os assuntos da Causa naquele país.

Serve também ainda para outro propósito, não menos essencialque o primeiro, de que no decorrer do tempo evoluirá em CasaNacional de Justiça (referência feita no Testamento de ‘Abdu’l-Bahácomo ‘Casa de Justiça Secundária’), a qual, de acordo com o textoexplícito do Testamento, terá que, juntamente com outrasAssembléias Nacionais através do mundo bahá’í, eleger diretamenteos membros da Casa Internacional de Justiça, aquele ConselhoSupremo que guiará, organizará e unificará os assuntos doMovimento em todo o mundo.

Esta Assembléia Espiritual Nacional, da qual, depende oestabelecimento da Casa Universal de Justiça, terá que ser reeleitauma vez a cada ano, obviamente assume sérias responsabilidades,pois deve exercer completa autoridade sobre todas as Assembléias

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Locais em seu país, e terá que conduzir as atividades dos amigos,proteger vigilantemente a Causa de Deus, e controlar e supervisionaros assuntos do Movimento em geral.

Assuntos vitais, que afetam os interesses da Causa naquele paístais como a questão da tradução e publicação, o Mashriqu’l-Adhkár,o trabalho do Ensino e outras questões similares que se distinguemdos assuntos estritamente locais, devem ficar sob a integral jurisdiçãoda Assembléia Nacional.

Deve delegar cada uma dessas questões, mesmo as dasAssembléias Locais, a um Comitê especial, a ser nomeado pelosmembros da Assembléia Espiritual Nacional, dentre todos os amigosnaquele país, os quais terão idêntica relação àquela dos comitês comsuas respectivas Assembléias Locais.

Com ela, também, repousa a decisão de que até que ponto umdeterminado problema é estritamente local em sua natureza, e deveser reservado para a consideração e decisão da Assembléia local, ouse deve recair sobre sua própria província e ser visto como umaquestão que deve receber sua especial atenção...”

“...no interesse da Causa que todos nós amamos e servimos, dosmembros da recém formada Assembléia Nacional, uma vez eleitospelos delegados durante a Convenção, de procurar e ter a máximaconsideração, individual bem como coletivamente, pelo conselho,pela estimada opinião e os verdadeiros sentimentos dos delegadoscongregados. Banindo quaisquer vestígios de segredo, de indevidareticência, de afastamento ditatorial, do meio deles, eles devemradiante e abundantemente desdobrar aos olhos dos delegados, porquem eles são eleitos, seus planos, suas esperanças e suaspreocupações. Devem familiarizar os delegados com os diversosassuntos que deverão ser considerados no ano corrente, e tranqüilae conscienciosamente estudar e pesar as opiniões e julgamentos dosdelegados. A recém-eleita Assembléia Nacional, durante os poucosdias em que a Convenção está em sessão e após a dispersão dosdelegados, devem buscar caminhos e meios para cultivar oentendimento, facilitar e manter o intercâmbio de visões, aprofundar

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a confiança e reivindicar através de cada evidência tangível seu desejoúnico de servir e fomentar o bem-estar comum....

A Assembléia Espiritual Nacional, contudo, em vista deinevitáveis limitações impostas sobre a convocação das freqüentes edemoradas sessões da Convenção, terá que reter em suas mãos adecisão final sobre todas as questões que afetam os interesses daCausa na América, tais como o direito de decidir se uma Assembléialocal está funcionando de acordo com os princípios estabelecidospara a condução e o avanço da Causa.”

Shoghi Effendi. Administração Bahá’í, pp. 51-3 e pp. 104-5.

Quanto à questão da elaboração da lista de eleitores a serusada nas eleições anuais bahá’ís de qualquer localidade, aresponsabilidade disto cabe a cada Assembléia Espiritual Local e,para sua orientação, o Guardião escreveu o seguinte:

“Apenas arriscaria declarar, muito brevemente e tão adequadamentequanto as atuais circunstâncias permitem, os principais fatores quedevem ser levados em consideração antes de decidir se a pessoapode ser vista como um verdadeiro crente ou não. Completoreconhecimento do grau do Precursor, do Autor e do VerdadeiroExemplar da Causa bahá’í, assim como está determinado noTestamento de ‘Abdu’l-Bahá; aceitação irrestrita de, e submissão a,o que quer que tenha sido revelado por Suas Penas; leal e firmeadesão à cada cláusula da sagrada Última Vontade do nosso Amado;e, íntima associação com o espírito, bem como, com a forma da atualadministração no mundo – estas, concebo como sendo asfundamentais e primordiais considerações que devem justa, discretae refletidamente ser examinadas antes de se chegar a esta vital decisão.”

Shoghi Effendi. Administração Bahá’í, pp. 119-120.

As instruções de ‘Abdu’l-Bahá provêem ainda maiordesenvolvimento da organização bahá’í:

“E agora, com referência à Casa da Justiça que Deus ordenou comoa fonte de todo o bem e isenta de todo o erro, esta deve ser eleita

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por sufrágio universal, isto é, pelos crentes. Seus membros devemser manifestações do temor a Deus e auroras do conhecimento e dacompreensão; devem ser constantes na Fé Divina e benévolos paracom toda a humanidade. Entende-se por esta Casa, a Casa Universalde Justiça, isto é, em todos os países deve ser instituída uma Casade Justiça secundária, e estas Casas de Justiça secundárias devemeleger os membros da Casa Universal*. A esta devem-se submetertodas as questões. Esta Casa fará todas as leis e todos os regulamentosque não foram previstos explicitamente no Texto Sagrado. Resolverátodos os problemas difíceis, e o Guardião da Causa de Deus seráseu sagrado dirigente e distinto membro perpétuo. Caso não estejapessoalmente em todas as deliberações, ele deve nomear alguémpara representá-lo... A esta devem-se submeter todas as questões.Esta Casa fará todas as leis e todos os regulamentos que não foramprevistos explicitamente no Texto Sagrado. Resolverá todos osproblemas difíceis, e o Guardião da Causa de Deus será seu sagradodirigente e distinto membro perpétuo. Caso não esteja pessoalmenteem todas as deliberações, ele deve nomear alguém para representá-lo. Se qualquer membro cometer um erro prejudicial ao bem comum,ficará a critério do Guardião da Causa de Deus a expulsão dessemembro, para cujo lugar, neste caso, as pessoas deverão eleger outro.Esta Casa de Justiça decreta as leis, e o governo tem a seu cargofazer cumpri-las. O corpo legislativo deve reforçar o executivo, e oexecutivo, por sua vez, deve apoiar e auxiliar o legislativo, de modoque, pela estreita união e harmonia dessas duas forças, as bases daretidão e justiça tornem-se fortes e firmes, e assim todas as regiõesdo mundo se transformem no próprio Paraíso...

Ao Sacratíssimo Livro, todos devem se voltar, e qualquer coisaque nele não esteja expressamente tratada, deve ser referida à CasaUniversal de Justiça. O que essa Casa resolver, seja por unanimi-dade ou por maioria, será realmente a Verdade e a expressão daprópria Vontade Divina. Qualquer um que divirja dessa resoluçãoé, em verdade, dos que amam a discórdia, demonstra malícia e seafasta do Senhor do Convênio.”

‘Abdu’l-Bahá. A Última Vontade e Testamento, pp. 16-17; 22-23.

*A Casa Universal de Justiça foi eleita pela primeira vez em abril de 1963 pelosmembros de cinqüenta e seis Assembléias Espirituais Nacionais.

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Mesmo agora, os bahá’ís em todas as partes do mundomantêm uma associação íntima e cordial por meio decorrespondência regular e visitas individuais. Tal contato entre osmembros das diferentes raças, nacionalidades e tradições religiosasé uma prova concreta de que o obstáculo do preconceito e os fatoreshistóricos de divisão podem ser inteiramente superados através doespírito de unidade estabelecido por Bahá’u’lláh.

A Ordem Mundial de Bahá’u’lláh

As maiores implicações desta Ordem são explicadas por ShoghiEffendi em sucessivas comunicações dirigidas à comunidade bahá’ídesde fevereiro de 1929:

“Não posso me abster de apelar aos que se identificam com a Fé adesconsiderarem as idéias predominantes e as formas transitóriasda época, e a darem-se conta, como jamais antes, que as teoriasdesacreditadas e as instituições cambaleantes da civilização daatualidade devem necessariamente aparecer em contraste penetrantecom aquelas instituições divinamente ordenadas que estão destinadasa se erguer sobre suas ruínas...

Pois Bahá’u’lláh, devemos prontamente reconhecer, não somenteimbuiu a humanidade de um Espírito novo e regenerador. Ele nãoapenas enunciou certos princípios universais e propôs uma bemdefinida filosofia, não importa quão potentes, sãos e universais elessejam. Além disso, Ele, como também ‘Abdu’l-Bahá depois dEle,diferentemente das eras religiosas do passado, estabeleceram clara eespecificamente um código de Leis e instituições bem definidas, eproveram os princípios essenciais de uma Economia Divina. Essesprincípios estão destinados a servir de modelo para a sociedadefutura, constituem um instrumento supremo para a inauguraçãoda Paz Máxima e são o único meio de unificar o mundo e proclamaro reino de retidão e justiça na terra...

Ao contrário da Dispensação de Cristo, ao contrário daDispensação de Muhammad, ao contrário de todas as Dispensações

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do passado, os apóstolos de Bahá’u’lláh em todas as partes, ondequer que trabalhem e labutem, têm perante si em linguagem clara,inequívoca e enfática, todas as leis, regulamentos, princípios,instituições e orientação que necessitam para o prosseguimento erealização de sua tarefa... Nisso reside a característica distintiva daRevelação Bahá’í. Nisso reside a força da unidade da Fé, da validadeda Revelação que reivindica não destruir ou diminuir Revelaçõesanteriores, mas sim ligar, unificar e consumá-las...”

Shoghi Effendi. A Ordem Mundial de Bahá’u’lláh, pp. 19, 23-26.

“Por mais frágil que se possa afigurar nossa Fé atualmente aos olhosdos homens, os quais a denunciam como um ramo do Islã ouignoram-na desdenhosamente, como se fosse mais uma daquelasobscuras seitas que proliferam no Ocidente, não obstante, a jóiainestimável desta Revelação Divina, ainda em estado embrionário,evoluirá dentro do arcabouço de Sua lei e avançará rapidamente,sem divisão e incólume, até abranger toda a humanidade. Somenteaqueles que já reconheceram a posição suprema de Bahá’u’lláh,somente aqueles cujos corações foram tocados pelo Seu amor e queperceberam a potência do Seu espírito, podem apreciaradequadamente o valor desta Economia Divina – Sua inestimáveldádiva ao gênero humano.”

21 de março de 1930.

“É para essa meta – a meta de uma Nova Ordem Mundial, divinaem origem, de âmbito irrestrito, eqüitativa em seus princípios, e decaracterísticas desafiadoras – que a humanidade atribulada devedirigir seus esforços.”

Shoghi Effendi. A Ordem Mundial de Bahá’u’lláh, p. 43.

“Dignos de lástima são, de fato, os esforços daqueles líderes dasinstituições humanas que, não levando em consideração o espíritoda época, lutam para aplicar processos nacionais, próprios dos temposantigos em que cada nação era auto-suficiente, a uma época quetem de atingir a unidade do mundo, conforme prenunciada porBahá’u’lláh, ou perecer. Numa hora tão crítica na história da

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civilização, cumpre aos líderes de todas as nações do mundo, tantopequenas como grandes, orientais como ocidentais, quer vencedorasou vencidas, atenderem ao chamado de clarim que Bahá’u’lláh fezsoar e, inteiramente imbuídos de um senso de solidariedademundial, o “sine qua non” de lealdade à Sua Causa, levantarem-secorajosamente para pôr em prática integralmente o remédio únicoque Ele, o Médico Divino, prescreveu para uma humanidadeenferma. Que afastem de si, definitivamente, toda idéiapreconcebida, todo preconceito nacional, e atendam ao conselhosublime de ‘Abdu’l-Bahá, o autorizado Expositor de Seusensinamentos. A um alto oficial no serviço do governo federal dosEstados Unidos da América, que Lhe havia interrogado a respeitoda melhor maneira de promover os interesses de seu governo e dopovo, ‘Abdu’l-Bahá respondeu: ‘Podeis melhor servir a vosso país*se, em vossa capacidade de cidadão do mundo, envidardes esforçospara facilitar a aplicação final do princípio do federalismo, no qualse baseia o governo de vosso próprio país, às relações que atualmenteexistem entre os povos e nações do mundo.’” (ibid pp. 45-46.)

“Alguma forma de super-Estado mundial há de ser desenvolvida,em cujo favor todas as nações do mundo de boa vontade cederãotodo e qualquer direito de fazer guerra, certos direitos de cobrarimpostos e todos os direitos de ter armamentos além do necessáriopara a manutenção da ordem interna em seus respectivos domínios.Tal estado terá que incluir dentro de seu campo de ação umExecutivo Internacional capaz de exercer autoridade suprema einquestionável sobre qualquer membro recalcitrante da comunidademundial; um Parlamento Mundial, cujos membros serão eleitospelos povos de seus respectivos países, e cuja eleição será confirmadapelos respectivos governos; e um Supremo Tribunal cuja decisãoterá autoridade mesmo nos casos em que os envolvidos nãoconsintam voluntariamente em submeter seu caso à suaconsideração. Uma comunidade mundial em que todas as barreiraseconômicas tenham sido permanentemente demolidas, em que sehaja reconhecido definitivamente a interdependência entre Capital

*No ano de 1912.

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e Trabalho; em que o clamor do fanatismo e da contenda religiosatenha cessado para sempre; em que a chama da animosidade deraça esteja finalmente apagada; em que um só código de leiinternacional – o resultado do juízo ponderado dos representantesfederados do mundo – tenha como sua sanção a intervençãoinstantânea e coerciva das forças combinadas das unidades federadas;e finalmente, uma comunidade mundial em que a fúria de umnacionalismo caprichoso e militante tenha sido transmutada emuma consciência duradoura de cidadania mundial – isto de fatoparece ser, em seu esboço mais abrangente, a Ordem prenunciadapor Bahá’u’lláh, uma Ordem que virá a ser considerada como ofruto mais belo de uma era em lento amadurecimento.

Que não haja dúvida quanto ao propósito animador da LeiUniversal de Bahá’u’lláh. Longe de mirar à subversão dos alicercesexistentes da sociedade, ela visa lhe alargar a base, remodelar asinstituições de maneira consoante com as necessidades de um mundosempre em transformação. Não pode estar em conflito com nenhumafidelidade legítima, nem pode minar lealdades essenciais. Suafinalidade não é abafar a chama de um patriotismo são e inteligenteno coração do homem, nem abolir o sistema de autonomia nacionaltão indispensável para evitar os males da centralização excessiva.Não deixa de levar em consideração, nem tenta suprimir, adiversidade de origem étnica, de clima, de história, de idioma etradição, de pensamento e hábito, que diferencia os povos e as naçõesdo mundo. Clama por uma lealdade mais ampla, uma aspiraçãomaior que qualquer outra que já tenha animado a raça humana...

...O chamado de Bahá’u’lláh é dirigido primariamente contratodas as formas de provincialismo, toda estreiteza mental epreconceitos... Pois o fim único das normas legais, das teoriaspolíticas e econômicas, é a proteção dos interesses da humanidadeinteira e não que a humanidade deva ser crucificada a fim de sepreservar a integridade de qualquer lei ou doutrina...

Este princípio representa a consumação da evolução humana...Torna-se, infelizmente, cada vez mais claro, que só as forças de

uma catástrofe mundial podem precipitar essa nova fase dopensamento humano...

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Nada a não ser uma provação flamejante, da qual a humanidadeemergirá, purificada e preparada, conseguirá implantar aquele sensode responsabilidade que os líderes de uma era recém-nascida deverãoerguer sobre seus ombros...

Não afirmou o próprio ‘Abdu’l-Bahá em linguagem inequívocaque “outra guerra, mais feroz que a última, seguramenteirromperá”?”(ibid, pp. 52-60.)

“Assim que suas partes componentes, suas instituições orgânicas,entrem em funcionamento com eficiência e vigor, essa Ordemreivindicará sua pretensão e demonstrará sua capacidade de serconsiderada não somente o núcleo, mas o verdadeiro padrão daNova Ordem Mundial destinada a abranger, na plenitude dostempos, a humanidade inteira.” (ibid, p. 187.)

“Dentre todas as Revelações, até a época atual, somente esta Fé...conseguiu erigir uma estrutura da qual os adeptos de credos falidos equebrados bem poderiam se aproximar em sua perplexidade, a fimde examiná-la com atenção e procurar, antes que seja tarde demais, asegurança invulnerável de seu refúgio mundial.” (ibid, p. 189.)

“A que mais, senão ao poder e majestade que esta Ordem Administrativa– base da futura Comunidade Bahá’í universal – é destinada a manifestar,podem aludir estas palavras de Bahá’u’lláh: ‘O equilíbrio do mundofoi alterado pela vibrante influência desta nova e mais grandiosa OrdemMundial. A vida ordenada do gênero humano foi revolucionada pelaação deste Sistema maravilhoso, incomparável, cujo igual jamais foivisto por olhos mortais.’” (ibid, p. 210.)

“A comunidade bahá’í do futuro, alicerçada unicamente sobre estavasta Ordem Administrativa, não só desafia qualquer comparaçãoem toda a história das instituições políticas, mas também nãoencontra paralelo nos anais de qualquer um dos reconhecidossistemas religiosos do mundo, quer seja em teoria quer na prática.Forma alguma de governo democrático; sistema algum de autocraciaou de ditadura, quer monárquico, quer republicano; nenhum

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esquema de ordem puramente aristocrático; nem mesmo qualquerdos reconhecidos tipos de teocracia – seja da comunidade hebraica,ou das várias organizações eclesiásticas cristãs, ou da dos imames oudo califado no islã – nenhum destes pode ser considerado idênticoou conforme a Ordem Administrativa moldada pela mão mestra deseu Arquiteto perfeito.” (ibid, p. 199.)

“Que ninguém – enquanto este Sistema estiver ainda na infância –forme um conceito errôneo de seu caráter, lhe diminua a significaçãoou lhe atribua um objetivo falso. A rocha que alicerça esta OrdemAdministrativa é o Propósito imutável de Deus para a humanidadede hoje. A Fonte de que deriva sua inspiração não é outra senão opróprio Bahá’u’lláh... O intuito central que a baseia e anima é oestabelecimento da Nova Ordem Mundial, segundo esboçada porBahá’u’lláh. Os métodos que emprega, o padrão que ela inculca,não inclinam nem para Oriente nem Ocidente, judeu ou gentio,nem para rico ou pobre, branco ou preto. Sua divisa é a unificaçãoda espécie humana; seu estandarte, a ‘Maior Paz’...” (ibid, p. 205.)

“O contraste das evidências cada vez maiores entre a sólidaconsolidação que acompanha o crescimento da OrdemAdministrativa da Fé de Deus e as forças de desintegração que estãodemolindo as estruturas de uma sociedade angustiada, é muito claroe impressionante. Tanto dentro como fora do mundo bahá’í, ossinais e as evidências que, de uma forma misteriosa, estão anunciandoo nascimento daquela Ordem Mundial cujo estabelecimento sinalizaa Idade Áurea da Causa de Deus...” (ibid, p. 209.)

“As próprias palavras de Bahá’u’lláh proclamam: ‘Breve será apresente ordem posta de lado, e uma nova se estenderá em seulugar.’” (ibid, p. 210.)

“A Revelação de Bahá’u’lláh... deve ser considerada, se formos fiéisàs suas implicações, como sinalizando, com seu advento, a idade dematuridade da inteira raça humana. Ela deve ser vista não apenascomo mais uma renovação espiritual nos destinos sempre em

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transformação da humanidade, nem apenas como um estágio superiorem uma corrente de Revelações progressivas, nem mesmo como aculminação de uma série de renovados ciclos proféticos, mas como acerteza do último e mais elevado estágio na estupenda evolução davida coletiva do ser humano neste planeta. A emergência de umacomunidade mundial, a consciência da cidadania mundial, a fundaçãode uma civilização e de uma cultura mundiais... devendo, em virtudede sua natureza, ser considerada, no que concerne a esta vida planetária,como as fronteiras mais avançadas na organização da sociedade humana,embora o homem, como indivíduo, continue, e até mesmo comoresultado desta consumação...” (ibid, p. 213.)

“A unidade do gênero humano, assim como Bahá’u’lláh a concebeu,compreende o estabelecimento de uma comunidade mundial emque todas as nações, raças, crenças e classes estejam estreita epermanentemente unidas, e em que a autonomia dos estados que acompõem, e a liberdade e iniciativa pessoal dos seus membrosindividuais, sejam garantidas de um modo definitivo e completo.Tal comunidade mundial deve abranger, segundo nosso conceito,uma legislatura mundial, cujos membros, os representantes de todoo gênero humano, virão a controlar todos os recursos das respectivasnações componentes e criar as leis que forem necessárias para regulara vida, satisfazer as necessidades e ajustar as relações de todas asraças e povos entre si. Um executivo mundial, apoiado por umaforça internacional, executará as decisões dessa legislatura mundial,aplicará as leis por ela criadas, e protegerá a unidade orgânica dainteira comunidade mundial. Um tribunal mundial deveráadjudicar toda e qualquer disputa que surja entre os vários elementosque constituem esse sistema universal, sendo irrevogável a suadecisão. Um sistema de intercomunicação mundial será adotadoque abranja todo o planeta, e, livre de qualquer embaraço ou restriçãonacional, funcionará com admirável rapidez e perfeita regularidade.Uma metrópole mundial será o centro de uma civilização mundial,o foco para onde convergirão as forças unificadoras da vida e da qualhão de irradiar as suas influências vigorantes. Um idioma mundialserá criado ou escolhido dentre as línguas existentes e será ensinado

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em todas as escolas de todas as nações federadas como auxiliar àlíngua nativa. Uma escrita mundial, uma literatura mundial, umsistema uniforme de moeda, de pesos e medidas simplificarão efacilitarão o intercâmbio e entendimento entre as nações e raças dahumanidade. Em tal sociedade mundial, a ciência e a religião, asduas forças mais potentes da vida humana, serão reconciliadas, assimcooperando e desenvolvendo-se harmoniosamente. Não mais será aimprensa, sob tal sistema, perniciosamente dominada por interesses,quer particulares, quer públicos, embora dê plena expressão às váriasopiniões e convicções do gênero humano; e será livrada da influênciade governos e povos querelantes. Os recursos econômicos do mundoserão organizados, suas fontes de matérias-primas serão exploradase completamente utilizadas, seus mercados serão coordenados edesenvolvidos e a distribuição de seus produtos será regulada deum modo eqüitativo.

As rivalidades entre as nações, os ódios e as intrigas cessarão, e ospreconceitos e animosidades de raça serão substituídos por amizade,entendimento mútuo e cooperação. Não mais existirão os motivosde contenda religiosa; abolir-se-ão as barreiras e restrições econômicase a desmedida distinção entre as classes será eliminada. Desapareceráa pobreza extrema, por um lado e, por outro, a excessiva acumulaçãode bens. A quantidade enorme de energia que se desperdiça com aguerra, quer econômica ou política, será dedicada a fins como estes:a extensão do alcance das invenções humanas e do desenvolvimentotécnico, o aumento da capacidade produtiva da humanidade, oextermínio das moléstias, a ampliação das pesquisas científicas, aadoção de mais altos padrões de saúde física, a refinação do cérebrohumano, a exploração dos recursos do planeta que ainda não foramutilizados ou descobertos, o prolongamento da vida do homem, apromoção de qualquer outro meio de estimular a vida intelectual,moral e espiritual da humanidade inteira.

A meta para qual a força unificadora da vida impele a humanidadeé um sistema federal mundial que regerá a Terra, exercendo umaautoridade inquestionável sobre seus recursos inimaginavelmentevastos, harmonizando e incorporando os ideais de Leste e Oeste,liberto do flagelo da guerra e suas tristes conseqüências, esforçando-

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se por aproveitar todas as fontes de energia existentes na superfíciedo planeta – um sistema em que a Força se subordina à Justiça, ecuja vida é sustentada por seu reconhecimento universal de um sóDeus e sua lealdade a uma Revelação comum.” (ibid, pp. 273-275.)

“A humanidade inteira está se lamentando, desejando ardentementeser levada À unidade e terminar seu martírio e longa data. E apesardisso teimosamente recusa abraçar a luz e reconhecer a autoridadesoberana do único Poder que poderá tirá-la de seus embaraços e evitara terrível calamidade que ameaça engolfá-la.” (ibid, pp. 270-271.)

“A unificação da humanidade inteira é o distintivo da etapa da qual asociedade humana atualmente se aproxima. A unidade de família, ade tribo, a de cidade-estado e a de nação, foram sucessivamentetentadas e completamente estabelecidas. A unidade do mundo é agoraa meta à qual a humanidade, em sua aflição, dirige seus esforços. Oprocesso de formar nações já chegou ao fim. A anarquia inerente àsoberania estatal aproxima-se de um clímax. Um mundo marchandopara a maturidade deve abandonar esse ídolo, reconhecer a unicidadee a integridade das relações humanas e estabelecer, de uma vez portodas, os instrumentos que melhor possam concretizar este princípiofundamental de sua vida.” (ibid, p. 272.)

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EPÍLOGO

Sob a inspirada orientação de Shoghi Effendi, a Causa Bahá’ícrescia constantemente em tamanho e no estabelecimento de suaOrdem Administrativa, de modo que em 1951 havia onzeAssembléias Espirituais Nacionais em funcionamento. A essa altura,o Guardião voltou-se para o desenvolvimento das instituições da Féem seu nível internacional, nomeando o Conselho Bahá’íInternacional, precursor da Casa Universal de Justiça, e, poucodepois, o primeiro contingente de Mãos da Causa de Deus. Atéentão Shoghi Effendi havia elevado certos bahá’ís eminentes ao graude Mãos da Causa postumamente, sendo um deles o Dr. John E.Esslemont [autor desta obra], mas foi só em 1951 que ele julgouhaver chegado o tempo para começar o pleno desenvolvimento destaimportante instituição. Em rápida sucessão, entre 1951 e 1957,nomeou trinta e duas Mãos da Causa e estendeu o âmbito de suasatividades, instituindo em cada continente Corpos Auxiliarescompostos por crentes que as Mãos nomearam para serem seusdeputados, ajudantes e conselheiros. Vinte e sete destas Mãosestavam vivas na ocasião de seu falecimento.

Através de uma série de cartas, algumas dirigidas aos bahá’ísem toda parte do mundo e outras àqueles em países específicos, oGuardião aprofundou-lhes a compreensão dos ensinamentos,edificou as instituições administrativas da Fé, treinando os crentesem seu uso correto e efetivo, e em 1937 conduziu a ComunidadeBahá’í Americana à implementação do Plano Divino para a difusãoda Mensagem de Bahá’u’lláh. Este Plano Divino fora revelado por

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‘Abdu’l-Bahá em várias Epístolas escritas durante os anos da PrimeiraGuerra Mundial e constitui a carta magna para a propagação da Fé.

Dentro da estrutura desta carta diversos planos de ensinoforam levados a cabo, primeiro no Hemisfério Ocidental, entãotambém na Europa, na Ásia, na Australásia e na África, até que em1953 o Guardião solicitou uma “cruzada espiritual de uma décadaem duração e de âmbito mundial”, para levar a Fé a todos os restantesestados independentes e principais dependências do mundo.

Em 1957, quando a cruzada aproximava-se do meio caminho,o Guardião, exausto por trinta e seis anos de incessante labuta,faleceu enquanto numa visita a Londres.

Como Shoghi Effendi não tinha herdeiro, o trabalho da Fédepois de novembro de 1957 foi coordenado e dirigido pelas vintee sete Mãos da Causa até a vitoriosa consumação da cruzada emabril de 1963, quando a primeira Casa Universal de Justiça foi eleitapelos membros de cinqüenta e seis Assembléias Espirituais Nacionaisconvocados ao Centro Mundial Bahá’í em Haifa pelas Mãos da Causa.

Imediatamente após esta histórica eleição, bahá’ís de todasas partes do globo reuniram-se em Londres, no primeiro CongressoMundial da Fé, para celebrar o Centenário da Declaração deBahá’u’lláh e rejubilar-se com a difusão de Sua Fé pelo mundo todo.

A suprema instituição da Fé hoje é a Casa Universal de Justiça,criada por Bahá’u’lláh em Seu Mais Sagrado Livro, investida deautoridade para legislar sobre todos os assuntos não tratados nosEscritos Bahá’ís, sendo-lhe assegurada, no próprio Texto Sagrado, aguia divina. ‘Abdu’l-Bahá, em Sua Vontade e Testamento, estabeleceo método de eleição da Casa Universal de Justiça, define-lhe maisclaramente sua posição e deveres, e afirma que está sob guia diretado Báb e de Bahá’u’lláh e é a entidade à qual todos se devem dirigir.

A característica singular e distintiva da Fé Bahá’í é o Convêniode Bahá’u’lláh, a base sólida sobre a qual a Fé ergue todas as suasestruturas e alicerça seu desenvolvimento. Sua singularidade estáno fato de que, pela primeira vez na história religiosa, o Manifestantede Deus, em linguagem clara e inequívoca, provê a interpretação

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EPÍLOGO

autorizada de Sua Palavra e assegura a continuidade da autoridadedivinamente designada que emana da Fonte da Fé.

A interpretação da Escritura tem sido sempre, nas religiõesanteriores, uma fonte muito fértil de divisão. Bahá’u’lláh, no Livrode Seu Convênio, investiu Seu filho mais velho, ‘Abdu’l Bahá, deplenos poderes para a interpretação de Suas Escrituras e para a direçãode Sua Causa. ‘Abdu’l-Bahá, em Sua Vontade e Testamento, designouSeu neto mais velho, Shoghi Effendi, Guardião da Fé e únicointérprete das Escrituras. Não há clero na Fé e nenhum indivíduopode arrogar a si uma posição ou guia especial; autoridade éconcedida às instituições criadas dentro das Escrituras Bahá’ís.

Em virtude destas incomparáveis provisões, a Fé deBahá’u’lláh tem sido preservada de divisão, das depredações daliderança não autorizada e acima de tudo, da infiltração das doutrinase teorias oriundas do homem, as quais destruíram a unidade dasreligiões no passado. Pura e inviolada, a Palavra revelada deBahá’u’lláh, com sua interpretação autorizada, permanece por todaa Dispensação a incorrupta e incorruptível fonte de vida espiritualpara os homens.

Em 1968 a Casa Universal de Justiça tomou providênciaspara a futura execução das funções específicas de proteção epropagação das quais as Mãos da Causa são incumbidas, através doestabelecimento de Corpos Continentais de Conselheiros. CadaCorpo consiste de vários Conselheiros nomeados pela Casa Universalde Justiça, e eles trabalham em estreita colaboração com as Mãos daCausa de Deus. A nomeação e direção de Corpos Auxiliares é agorao dever dos Corpos de Conselheiros, e as atividades das Mãos, dasquais três estão ainda vivas, foram estendidas, tornando-se mundiais.Em junho de 1973 a Casa Universal de Justiça estabeleceu na TerraSanta um Centro Internacional de Ensino e atribuiu-lhe os deveresprincipais de coordenar, estimular e dirigir as atividades do CorpoContinental de Conselheiros e agir como ligação entre eles e a CasaUniversal de Justiça.

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O Guardião havia escrito sobre futuros planos globais deensino a serem realizados sob a direção da Casa Universal de Justiça,e o primeiro destes, um Plano de Nove Anos, foi lançado em 1964.Os detalhes das realizações dos Planos estão delineados em Bahá’íStatistical Report. No começo do século XXI, em 2001, foi anunciadoo Plano de Vinte Anos, dividido em quatro fases de cinco anos cadaum. Neste novo século que se iniciou, a Fé Bahá’í se acha estabelecidaem mais de 200 estados independentes e territórios dependentesou departamentos além-mar. Bahá’ís residem em mais de 120.000localidades em todo o mundo; a literatura bahá’í foi traduzida paramais de 800 idiomas; o oitavo templo bahá’í será no Chile; terrenospara mais 130 templos foram adquiridos; há 183 AssembléiasEspirituais Nacionais, mais de 9.631 Assembléias Espirituais Locaise aproximadamente mais de 6 milhões de bahá’ís no mundo. Osbahá’ís estão sempre dedicando-se energicamente aos Plano deEnsino da Casa Universal de Justiça com o propósito de expandirmais e consolidar o crescimento da Fé em todo o mundo.

O mais animador de tudo tem sido o despertar das massasem tais lugares como a África, a Índia, o Sudeste da Ásia e a AméricaLatina, onde grandes números começaram a entrar para a Causa,levando assim a efeito uma nova etapa no desenvolvimento dasatividades administrativas e sociais da comunidade bahá’í mundial*.

*Em seu livro anuário de 2003, a Encyclopedia Britannica – esta pródiga fonte dedocumentação mundial – incluiu em seu tópico sobre religião um informe sobre aestatística das religiões do mundo. Neste, a Fé Bahá’í está catalogada como a segundareligião mais difundida geograficamente do planeta.

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