bacuri agrobiodiversidade

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Características do cultivo do Bacuri

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  • Convnio Embrapa-MA/Governo do Estado do Maranho Universidade Estadual

    do Maranho - UEMA

    Fundao de Amparo Pesquisa e aoDesenvolvimento Cientfico e Tecnolgico do Maranho Programa de Ps-Graduao

    em AgroecologiaUniversidade Estadual do Maranho

  • A publicao deste livro foi viabilizada no mbito do Projeto de Coopera-o Tcnica celebrado entre o Governo do Estado do Maranho, por inter-mdio da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuria e DesenvolvimentoRural (Seagro), o Instituto Interamericano de Cooperao para a Agricultura(IICA) e a Agncia Brasileira de Cooperao do Ministrio das Relaes Ex-teriores (ABC/MRE).

    Todos os direitos reservados. O contedo de responsabilidade dos auto-res de cada captulo. Nenhuma parte desta publicao pode ser reprodu-zida sem a autorizao escrita e prvia dos autores.

    Capa e Editorao Eletrnica: Christian Diniz CarvalhoReviso: Maria da Cruz Chaves Lima

    Impresso no Brasil.1 Edio: 2007

    Ficha catalogrfica preparada pela Biblioteca Central da Universidade Estadualdo Maranho (Uema).

    Universidade Estadual do Maranho (Uema)Cidade Universitria Paulo VI, s/n, Tirical So Lus/MATelefax: (98) 3257 1353

    Bacuri: (Platonia insignis Mart.-Clusiaceae). Agrobiodiversidade /

    Maria da Cruz Lima (organizadora). So Lus: Instituto

    Interamericano de Cooperao para a Agricultura, 2007.

    210 p.

    1. Bacuri. 2. Propagao. 3. Recursos genticos. 4. Biometria.

    5. Marcador molecular (RAPD) 6. Aspectos socioeconmicos. I. Lima, Maria

    da Cruz (Org.). II. Ttulo.

    CDU 634.471

  • BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    SUMRIO

    CAPTULO I

    Aspectos botnicos, origem e distribuio geogrfica do bacurizeiro

    Jos Edmar Urano de Carvalho/Embrapa Amaznia Oriental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17

    CAPTULO II

    Propagao do bacurizeiro

    Jos Edmar Urano de Carvalho

    Carlos Hans Muller/Embrapa Amaznia Oriental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29

    CAPTULO III

    Porta-enxertos para o bacurizeiro: situao e perspectivas

    Jos Ribamar Gusmo Arajo/Uema-MA

    Jos Edmar Urano de Carvalho/ Embrapa Amaznia Oriental

    Moiss Rodrigues Martin/Uema-MA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47

    CAPTULO IV

    Recursos genticos do bacurizeiro no Meio-Norte do Brasil

    Valdomiro Aurlio Barbosa de Souza

    Lcio Flavo Lopes Vasconcelos

    Eugnio Celso Emrito Arajo/Embrapa Meio-Norte/PI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65

  • CAPTULO V

    Utilizao da biometria no melhoramento gentico do bacurizeiro

    Cosme Damio Cruz/UFV-MG

    Maria da Cruz Chaves Lima Moura/Fapema-MA/UENF-RJ

    Adsio Ferreira/UFV-MG

    Karyne Macedo Mascarenhas/Uema-MA

    Jos Ribamar Gusmo Arajo/Uema-MA

    Moiss Rodrigues Martins/Uema-MA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .103

    CAPTULO VI

    Aplicao de marcador molecular (RAPD) para

    estudos da diversidade gentica em bacurizeiro

    Hamilton Jesus Santos Almeida/Uema-MA

    Jos Tarciso Alves Costa/UFC-CE

    Abdellatif K. Benbadis/UFC-CE

    Renato Innvecco/UFC-CE

    Magdi Ahmed Ibraim Alouf/UFRN

    Ana Cristina P. P. de Carvalho/Embrapa Agroindstria Tropical-CE . . . . . . . . . . . . .157

    CAPTULO VII

    Manejando a planta e o homem: os bacurizeiros no nordeste paraense

    Alfredo Kingo Oyama Homma

    Antnio Jos Elias Amorim de Menezes

    Grimoaldo Bandeira de Matos

    Clio Armando Palheta Ferreira/Embrapa Amaznia Oriental . . . . . . . . . . . . . . . . . .171

  • 5BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    AGRADECIMENTOS

    No mutiro montado para a elaborao deste livro, participaram pes-quisadores da Embrapa Amaznia Oriental, Embrapa Meio-Norte,Universidade Estadual do Maranho e Universidade Federal de Viosa.Agradeo, pois, no s aos pesquisadores participantes, mas tambm scitadas instituies envolvidas.

    Os agradecimentos se estendem ao Dr. Afonso Celso Candeira Valois,representante do Ncleo da Embrapa no Maranho; ao Dr. Sofiane Labidi,da Fundao de Amparo Pesquisa e ao Desenvolvimento Cientfico eTecnolgico do Maranho (Fapema); Administrao do Fundo Estadualde Cincia e Tecnologia (Funtec) da Secretaria Executiva de Cincia,Tecnologia e Meio Ambiente do Estado do Par e ao Conselho Nacional deDesenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq).

    A Organizadora

  • 7BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    APRESENTAO

    Na atual conjuntura social e econmica, destaque o avano das pes-quisas destinadas a atender o ideal de sustentabilidade. Promover desen-volvimento econmico, atendendo a premissa de conservao dos recur-sos naturais, alm de pressuposto para uma sociedade que objetiva seconsolidar sobre os pilares do equilbrio, afastando o risco de colapso ,tambm, uma garantia de produtividade para as geraes presentes efuturas.

    Nesse contexto, o livro Bacuri: agrobiodiversidade surge como uma res-posta premente necessidade de novas alternativas econmicas para ouso dos recursos provenientes da biodiversidade amaznica.

    A explorao racional do bacuri, fruto amplamente conhecido e apre-ciado, apresentada como uma opo inteligente e capaz de promover agerao de renda vinculada conservao da biodiversidade.

    A presente obra faz uma abordagem ampla que abrange desde a ori-gem, propagao e recursos genticos do bacuri at o manejo e o plantioracional dos bacurizeiros. As ilustraes, compostas por fotos, grficos etabelas, foram eficazmente utilizadas, complementando e sintetizando otexto. Alm disso, os autores se preocuparam em apresentar a obra emuma linguagem simplificada e objetiva, portanto, de fcil compreenso atodos os leitores.

    indiscutvel a importncia dessa obra para a comunidade cientfica,bem como para a sociedade em geral, uma vez que as informaes e osdados coletados pelos pesquisadores envolvidos, frutos de muito esforoe abnegao, so de valor inestimvel para a consecuo do objetivo dedesenvolvimento sustentvel.

    Em virtude dos inmeros predicados a que faz jus esta publicao, posi-cionando-se na vanguarda da pesquisa cientfica, no h dvidas que vema lume para tornar-se uma notvel referncia tcnico-cientfica.

    Sofiane LabidiDiretor-Presidente da Fapema

  • 9BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    PREFCIO

    Bacuri: agrobiodiversidade uma publicao que aborda no s a histori-cidade do fruto como tambm a retratao do manejo, a propagao (cominformaes sobre matrizes para o plantio e multiplicao de rvores maisprodutivas) e a explanao sobre os mtodos atuais utilizados no melhora-mento gentico do Bacuri, tudo com o explcito objetivo de elaborar, opor-tunizar e aprimorar tcnicas de desenvolvimento sustentvel.

    A satisfao em ofertar esta obra, voltada para um dos frutos da fartadiversidade existente na Regio Meio-Norte do pas, exatamente a impor-tncia da principal idia expressa no pargrafo anterior: oportunizar odesenvolvimento de atividades sustentveis, objetivo recorrente doInstituto Interamericano de Cooperao para a Agricultura (IICA).

    O livro rene artigos assinados por diversos profissionais estudiosos dotema que, em sntese, discorrem sobre como melhor aproveitar os recursosnaturais de forma sustentvel, gerando renda e emprego para a populaolocal, e sobre a importncia do Bacuri na estratgia de sobrevivncia daagricultura familiar. Inegvel, para tanto, o conhecimento tcnico-cientficoe o uso da tecnologia, requisitos tratados com muita propriedade pelosautores nos artigos que aqui assinam.

    A explorao do Bacuri, com sua conseqente agregao a produtosindustriais diversos (ainda que em muitos casos o manejo seja primitivo),mostra ser possvel integrar a sociedade e o meio ambiente em busca dasustentabilidade. Esta vinculao faz-se visvel na patente viabilizao eco-nmica dos produtos oriundos do Bacuri.

    O livro usa a objetividade para expor a relevncia do fruto nas regiesde cultivo e explorao do mesmo. Configura um instrumento essencialaos tericos e prticos que lidam com o tema, sobretudo na seara dodesenvolvimento sustentvel. Colaborar para a efetiva publicao destaobra, , portanto, mais uma contribuio do IICA na construo de umarealidade mais digna para as comunidades mais necessitadas.

    Carlos Amrico BascoRepresentante do IICA no Brasil

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    NOTA DOS AUTORES

    A partir da dcada de 1990, com a ecloso da questo ambiental e daexposio da mdia sobre a Amaznia, vrias frutas regionais que tinhamconsumo local e sazonal ganharam dimenso nacional e internacional,com a extenso do seu consumo durante todo o ano graas ao processode beneficiamento e congelamento.

    Nesse sentido, frutas como o aa, cupuau, pupunha, tucum e bacuri(entre os principais), com aromas, gostos, cores, formato, consistncia e,alguns, at com o som da queda, mexeram com os cinco sentidos da sen-sibilidade humana.

    A simpatia por esses frutos ficou traduzida pela venda de polpa emdiversas cidades brasileiras, marcando presena em novelas televisivas enas exportaes (polpa de cupuau e de aa) a pases europeus e asiti-cos, alm dos Estados Unidos.

    O bacuri, razo deste livro, constitui, sem dvida, na nova fruta que vaiganhar dimenso global, desde que se consiga ampliar a sua capacidadede oferta, totalmente dependente do extrativismo. O crescimento no mer-cado dessa fruta tem originado a disseminao de diversas prticas demanejo desenvolvido pelos prprios agricultores, aproveitando o vigorosorebrotamento da planta por suas prprias razes, como se fosse uma plantaclonada.

    O manejo adequado desses rebrotamentos exige a busca de respostaspara garantir a produtividade, tcnicas de poda e garantia de polinizaode suas flores.

    Outra categoria de desafio proceder domesticao para efetuarplantios racionais. bem provvel que nos prximos anos, bacurizeirosplantados mediante enxertia, com baixa estatura e maior teor de polpa,menor acidez, extrao mecanizada de polpa, aproveitamento de caroose da casca e utilizao do fruto em novos produtos faam efetiva parte desua cadeia produtiva.

    O bacuri a fruta que chamou a ateno do Baro do Rio Branco, quea oferecia ao corpo diplomtico, sediado na cidade do Rio de Janeiro, no

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    incio do Sculo XX. As delcias do sorvete do bacuri fizeram, em 1968, aRainha Elizabeth II, durante visita ao Brasil, se curvar ante essa fruta. O bacuriapresenta todas as caractersticas para se tornar uma nova fruta universal,tal qual o guaran, o cacau, a castanha-do-par, o aa e o cupuau. A natu-reza de ser um produto invisvel nas estatsticas oficiais dever ser mudadanos prximos anos.

    Diante desse contexto, os autores, com imensa satisfao, atenderam aoconvite da Professora Maria da Cruz Chaves Lima Moura, da UniversidadeEstadual do Maranho, para escrever o primeiro livro tcnico-cientficosobre o assunto no Pas. Sem dvida, vai ser um marco de referncia paraos anos futuros, como indicador do progresso alcanado.

    A elaborao deste livro mostrou a capacidade de integrao de pes-quisadores e das diversas instituies em que os bacurizeiros fazem partedos ecossistemas, nos estados do Par, Maranho e Piau, antes dominante,que foram substitudos para a extrao madeireira, por outras atividadesagrcolas, antes de sua valorizao como fruto.

    A obra, constituda de sete captulos, traz informaes sobre origem,aspectos botnicos e distribuio geogrfica; propagao e potencial deuso de portas-enxerto; emprego de recursos genticos e utilizao da bio-metria no melhoramento gentico; utilizao de marcador molecular paraestudos da diversidade gentica e necessidade de manejo da planta paragarantir a sobrevivncia humana.

    A reduo dos desmatamentos e queimadas na Amaznia vai depen-der da contnua descoberta de novas alternativas econmicas para osrecursos da biodiversidade nela existente. O manejo e o plantio racional debacurizeiros representam uma oportunidade mpar de ocupar as reasdesmatadas e promover a gerao de renda e emprego. Uma aposta emfavor do meio ambiente e do desenvolvimento sustentvel.

    Os Autores

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    AUTORES

    ALFREDO KINGO OYAMA HOMMAAmazonense, agrnomo (1970) com Doutorado em Economia Rural

    (1989), ambos os ttulos da Universidade Federal de Viosa (UFV). Servidorda Embrapa Amaznia Oriental, desenvolve pesquisas sobre extrativismovegetal, desenvolvimento agrcola e questo ambiental na Amaznia.Recebeu o Prmio Nacional de Ecologia (1989), o Prmio Professor EdsonPotsch Magalhes (1989), o Prmio Frederico de Menezes Veiga (1997), oPrmio Jabuti (1999) e o Prmio Professor Samuel Benchimol (2004). Temcinco livros publicados: Amaznia: meio ambiente e tecnologia agrcola,Extrativismo vegetal na Amaznia: limites e possibilidades, Amaznia: meioambiente e desenvolvimento agrcola, Cronologia da ocupao e destruiodos castanhais no sudeste paraense e Histria da agricultura na Amaznia: daera pr-colombiana ao terceiro milnio.

    ANTNIO JOS ELIAS AMORIM DE MENEZESAgrnomo, com mestrado em Agriculturas Amaznicas. rea de atua-

    o: Agricultura Familiar e Desenvolvimento Sustentvel.

    ANA CRISTINA P. P. DE CARVALHOPesquisadora da Embrapa Tropical/CE.

    ADSIO FERREIRAEngenheiro Agrnomo (Ufes), 2002. Mestre em Gentica e Melhora-

    mento (UFV), 2003. Doutorando em Gentica e Melhoramento (UFV), 2005.rea de atuao: Biometria, Genmica e Bioinformtica.

    ABDELLATIF K. BENBADIS Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

    CARLOS HANS MULLEREngenheiro Agrnomo graduado pela Faculdade de Cincias Agrrias

    do Par, 1972. Mestre em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viosa,1977. Pesquisador da Embrapa Amaznia Oriental desde 1973.

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    CLIO ARMANDO PALHETA FERREIRAEconomista Florestal, pesquisador da Embrapa Amaznia Oriental.

    COSME DAMIO CRUZEngenheiro Agrnomo (UFV), 1980. Mestre em Gentica e Melhora-

    mento (UFV), 1983. Doutor em Agronomia (ESALQ/USP), 1990. Professor Ti-tular do Departamento de Biologia Geral da Universidade Federal de Vio-sa. rea de atuao: Biometria, Genmica e Bioinformtica.

    EUGNIO CELSO EMRITO ARAJOEngenheiro Agrnomo. Doutorando em Ecologia e Recursos Naturais

    (UFSC). Pesquisador da Embrapa Meio-Norte.

    GRIMOALDO BANDEIRA DE MATOSSocilogo. Embrapa Amaznia Oriental.

    HAMILTON DE JESUS ALMEIDAProfessor Doutor da Universidade Estadual do Maranho. Diretor do Cur-

    so de Agronomia/Uema. rea de atuao: coordena o programa Biodiesel,no Maranho.

    JOS EDMAR URANO DE CARVALHOEngenheiro Agrnomo, graduado pelo Centro de Cincias Agrrias da

    Universidade Federal do Par, em 1974. Mestre em Produo Vegetal pelaFaculdade de Cincias Agrrias e Veterinrias de Jaboticabal (UniversidadeEstadual Paulista). Pesquisador da Embrapa Amaznia Oriental desde 1976.

    JOS TARCSIO ALVES COSTAProfessor da Universidade Federal do Cear.

    JOS RIBAMAR GUSMO ARAJONatural do Maranho. Nasceu no povoado de Quindua, municpio de

    Bequimo, em 27 de agosto de 1964. Graduou-se em Agronomia na Univer-sidade Estadual do Maranho, 1987. Em 1988, ingressou na carreira de pes-quisador, rea de fruticultura, na Empresa Maranhense de Pesquisa Agro-pecuria (Emapa), na Unidade de Pesquisa de mbito Regional do Alto Turi,e permaneceu at 1991. Realizou seus estudos de ps-graduao na Uni-versidade Estadual Paulista (Unesp), Campus de Botucatu, estado de SoPaulo, onde concluiu o Curso de Mestrado em Agronomia/Horticultura(1995) e o de Doutorado, na mesma rea (1998). Ingressou na carreira domagistrio superior em 2001, no Departamento de Fitotecnia e Fitossani-dade do Curso de Agronomia oferecido pela Universidade Estadual do Ma-ranho, exercendo a funo de professor-adjunto. No perodo de 2003 a

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    2004, exerceu o cargo de coordenador do Programa de Ps-Graduao emAgroecologia, onde tambm atua como professor e orientador. Alm decoordenar, participa de vrios projetos de pesquisa nas reas de fruticultu-ra e agroecologia; orienta monografias e dissertaes de alunos em cursosda Universidade Estadual do Maranho (Uema). At o presente, a produointelectual contempla 11 artigos publicados, 1 captulo de livro publicado,3 dezenas de monografias de graduao concludas, 4 dissertaes de mes-trado concludas, vrios trabalhos apresentados e resumos publicados emeventos cientficos.

    KARYNE MACEDO MASCARENHASAcadmica do Curso de Agronomia da Universidade Estadual do Ma-

    ranho (Uema).

    LCIO FLAVO LOPES VASCONCELOSEngenheiro Agrnomo. Doutorando em Fisiologia Vegetal (ESALQ). Pes-

    quisador da Embrapa Meio-Norte.

    MARIA DA CRUZ CHAVES LIMAEngenheira Agrnoma, graduada pela Universidade Estadual do Ma-

    ranho (Uema), 1988. Mestrado em Horticultura pela Universidade EstadualPaulista (Unesp), Campus Botucatu, So Paulo,1994. Doutorado em Agro-nomia (UFV/Viosa, MG), 2003. Ps-doutoranda da Universidade EstadualNorte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF/RJ) e Bolsista da Fapema. rea deatuao: Recursos Genticos de Hortalias e Bacuri.

    MAGDI AHMED IBRAIM ALOUFAProfessor da Universidade Federal do Cear.

    MOISS RODRIGUES MARTINSEngenheiro Agrnomo, graduado pela Universidade Estadual do Ma-

    ranho (Uema). Mestrado e Doutorado em Gentica e Melhoramento Vegetalpela Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus Jaboticabal, So Paulo.Professor da Universidade Estadual do Maranho. rea de atuao: Melho-ramento de Plantas.

    RENATO INNVECCOProfessor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

    VALDOMIRO AURLIO BARBOSA DE SOUZAEngenheiro Agrnomo. Doutorado em Plant Breeding pela Texas A&M

    University System, Texas, Estados Unidos. rea de atuao: MelhoramentoGentico Vegetal. Pesquisador da Embrapa Meio-Norte,Teresina, PI.

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    ASPECTOS BOTNICOS, ORIGEM E DISTRIBUIOGEOGRFICA DO BACURIZEIRO

    Jos Edmar Urano de Carvalho1

    1. NOMES VERNACULARES

    O bacurizeiro, nas reas de ocorrncia natural, recebe diferentes deno-minaes comuns. Loureiro et al. (1979) compilou 28 sinonmias populares.Essa multiplicidade de nomes comuns indica que no se trata de umaespcie muito abundante ou de importncia econmica reconhecida emtodos os locais onde ocorre de forma espontnea (Marchiori, 1995).

    A propsito, nas reas de ocorrncia natural da espcie, o extrativismodos frutos e secundariamente da madeira s tem alguma importncia eco-nmica no Par, Maranho e Piau. Nesses estados, o nome de uso mais cor-rente bacuri, palavra de origem tupi que significa o que cai logo queamadurece (Fonseca, 1954), em aluso ao fato de que o fruto normal-mente coletado, no colhido, em decorrncia do porte elevado das plan-tas e, de certa forma, por ser difcil a identificao do ponto de maturaoadequado para a colheita.

    Trs outras espcies da mesma famlia do bacurizeiro (Symphonia glo-bulifera L., Moronobea pulchra Ducke e Moronobea coccinea Aubl.), umaSapotaceae (Ecclinusa bacuri Aubrv. & Pellegr.) e, ainda, uma Arecaceae(Attalea phalerata Mart. ex. Spreng), so tambm conhecidas na Amazniacomo bacuri (Maineri & Loureiro, 1964; Lorenzi et al., 1996). Ressalta-se,porm, que todas elas recebem outras denominaes comuns de usomais generalizado na regio, sendo a denominao de bacuri usada, nasquatro primeiras espcies, em decorrncia da semelhana de suas madei-ras com a do bacurizeiro. Em relao Arecaceae, a denominao umavariao do nome comum acuri, pelo qual mais conhecida tanto naAmaznia como no Pantanal Mato-Grossense.

    CAPTULO I

    1 Engenheiro agrnomo, MSc., pesquisador da Embrapa Amaznia Oriental.E-mail: [email protected].

    LeandroRealce

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    Outras denominaes, de uso mais restrito na Amaznia Brasileira, taiscomo bacuri-grande e bacuri-au, enfatizam o tamanho do fruto (o maiordentro das diferentes espcies amaznicas da famlia Clusiaceae, conheci-das como bacuri). Para ilustrar, o sufixo au, na linguagem indgena, signifi-ca grande.

    No Suriname, de uso mais generalizado a denominao pakoeli. NaGuiana Francesa denominado de parcouri, parcori e manil; na Guiana conhecido como pakuri, pakoori, pakoeli, geelhart, gerati, makasoe, mongo-mataaki e wild mammee apple.No Equador, recebe a denominao nica dematazama. Na lngua inglesa mais comumente grafado como bakuri(Record & Mell, 1924; Loureiro et al., 1979; Roosmalen, 1985; Cavalcante, 1996).

    2. TAXONOMIA

    O bacurizeiro pertence famlia Clusiaceae, subfamlia Clusioideae e aognero Platonia, que monotipo. A famlia botnica Clusiaceae englobaaproximadamente 1000 espcies subordinadas a 47 gneros, dispersos emregies tropicais e subtropicais do mundo (Barroso et al., 2002, 1978;Brummit, 1992; Cronquist, 1981), e um gnero que alcana as regies tem-peradas (Joly, 1993). Em nove desses gneros, cerca de 90 espcies so deplantas cujos frutos so comestveis (Yaacob & Tindall, 1995).

    No Brasil, essa famlia est representada por cerca de 20 gneros e 183espcies, distribudas nas diferentes regies do Pas (Barroso, 2002). NaAmaznia, a famlia representada por aproximados 17 gneros e nme-ro de espcies superior a 50.

    Entre as espcies frutferas nativas da Amaznia Brasileira, so encontra-dos cinco representantes dessa famlia, sendo a mais importante, do pontode vista econmico, o bacurizeiro (Platonia insignis Mart.). As outras perten-cem ao gnero Rheedia e so conhecidas como bacuri-mirim (R. gardneria-na Miers. ex. Pl. et.Tr.), bacuripari liso (R. brasiliensis (Mart.) Pl. et.Tr.), bacurizinho(R. acuminata (R. et. P.) Pl. et. Tr.) e bacuripari (R. macrophylla (Mart.) Pl. et. Tr.),todas de porte e frutos bem menores, e de qualidade inferior, que o bacuri-zeiro (Platonia insignis Mart.). Alm disso, essas espcies levam, na termino-logia vulgar, aluso espcie mais conhecida.

    O bacurizeiro foi primeiramente descrito pelo botnico brasileiroManuel Arruda da Cmara, em 1816, que o enquadrou no txon genricoMoronobea e o denominou de Moronobea esculenta Arruda da Cmara. Em1832, o botnico alemo Karl Friedrich Phillip von Martius, reconhecendo a

    LeandroRealce

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    impropriedade da incluso do bacurizeiro no gnero Moronobea, criou ognero Platonia e o denominou de Platonia insignis Mart. Essa designao,de uso generalizado no Brasil, pois como a espcie est grafada na FloraBrasiliensis (Engler, 1888), foi considerada como ilegtima, em meados doSculo XX, pelos botnicos H. W. Rickett e F. A. Stafleu, pelo no-reconheci-mento do epteto especfico bsico, que deve ser respeitado por direito depropriedade quando uma espcie transferida para outro txon genrico,conforme assinala Fernandes (1996).

    Diante desse fato, Rickett & Stafleu (1959) propuseram uma nova combi-nao Platonia esculenta (Arruda da Cmara) Rickett et Stafleu , reconhe-cendo, nesse caso, o basnimo. No entanto, essa nova combinao, desde asua proposio, foi de uso bastante limitado, pois persistia a dvida se o tipodescrito por Manuel Arruda da Cmara correspondia, efetivamente, aPlatonia insignis Mart. A dvida era decorrente do fato de que algumas ca-ractersticas descritas para Platonia esculenta (Arruda da Cmara) divergiamcompletamente de Platonia insignis Mart.

    Recentemente, Rijckevorsel (2002), aps anlise criteriosa e detalhadadas monografias publicadas sobre o bacurizeiro no Sculo XIX, concluiupela validade do nome Platonia insignis Mart. Essa concluso foi baseadano fato de que o nome Moronobea esculenta est associado a uma publi-cao duvidosa, com descrio precria, sem diagnose e com somenteuma ilustrao servindo como tipo, enquanto que o nome Platonia insignisest suportado por descrio e diagnose precisas, com ilustraes e bommaterial de herbrio.

    O nome genrico Platonia uma homenagem ao filsofo grego Plato(Barroso, 2002). O epteto especfico insignis significa notvel, insigne, im-portante, grande, aquele que chama a ateno (Rizzini & Rizzini, 1983; Fer-reira, 1998), isso em aluso ao porte e utilidade da planta, e tambm aotamanho, sabor e aroma do fruto.

    3. CENTRO DE ORIGEM

    Na concepo de Huber (1904), no existem dvidas sobre a origemamaznica do bacurizeiro, assinalando, ainda, que no incio do Sculo XX eraencontrado tanto na margem esquerda quanto na margem direita do RioPar, e abundante na costa sudeste da Ilha de Maraj, onde se constituiu emrvore caracterstica das matas marginais e dos tesos e campos altos.

    Cavalcante (1996) postula origem paraense pelo fato de que, em toda aAmaznia, a rea de maior concentrao da espcie localiza-se no esturio

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    do Rio Amazonas, com ocorrncia mais acentuada na microrregio Sal-gado e na Ilha de Maraj, principalmente na microrregio Arari.

    Na mesorregio Nordeste Paraense, que engloba as microrregiesSalgado, Bragantina, Camet, Tom-Au e Guam, considerveis fragmen-tos de floresta secundria so do tipo oligrquico, tendo como espciedominante o bacurizeiro. Nessas microrregies, em particular nas trs pri-meiras, o bacurizeiro prolifera em multiplicidade de tipos que se distin-guem entre si pela colorao das flores, tamanho, cor e formato do fruto;espessura da casca, tamanho das sementes, nmero de sementes por frutoe rendimentos porcentuais de casca, polpa e sementes, entre outras carac-tersticas. Na microrregio Arari, na Ilha de Maraj, a espcie ocorre predo-minantemente em reas abertas e mais raramente em floresta primria.

    O carter oligrquico desses fragmentos de floresta determinado pelanotvel capacidade de regenerao natural do bacurizeiro, que se proces-sa tanto por sementes e, principalmente, por brotaes oriundas de razesde plantas adultas, mesmo aps a derrubada da planta-me. Essa caracters-tica da espcie permite a transformao de fragmentos de floresta secun-dria em pomares homogneos de bacurizeiro (Figura 1). Essa prtica vemsendo efetuada, empiricamente, ao longo dos tempos, por agricultoresextrativistas, e consiste na remo-o da vegetao concorrente ena reduo do nmero de bacuri-zeiros por hectare.

    Em ecossistemas de vegeta-o primria, o bacurizeiro ocorreem agrupamentos de cinco a seteplantas. Porm, quando se consi-dera toda a rea de ocorrncia, adensidade de bacurizeiros porhectare muito baixa (bastanteinferior a um indivduo por hecta-re), a exemplo do que ocorre coma maioria das espcies arbreasda floresta amaznica.

    Considerando-se os dez cen-tros de diversidade gentica, pro-postos por Giacometti (1993) paraas espcies frutferas nativas doBrasil, o bacurizeiro originrio doCentro 2, que corresponde Cos-

    Figura 1 rea de vegetao secundria no municpio de Maracan, transfor-mada em pomar de bacurizeiro.

    LeandroRealce

    LeandroRealce

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    ta Atlntica e ao Baixo Amazonas. Essa rea envolve o delta do Rio Orinoco,na Venezuela, e se estende do Oiapoque, no Amap, aos limites leste daAmaznia no Maranho, incluindo a Ilha de Maraj, e oeste do Rio Tapajs(latitude entre 5 N e 4 S e longitude entre 45 W e 55 W).

    4. DISTRIBUIO GEOGRFICA

    Do Estado do Par, o bacurizeiro se dispersou em direo ao Nordestedo Brasil, alcanando os cerrados e os chapades dos estados doMaranho e do Piau, onde forma povoamentos densos em reas de vege-tao secundria. Na direo sul, a disperso atingiu os estados doTocantins e do Mato Grosso, chegando a romper as fronteiras do Brasil aoatingir o Paraguai (Cavalcante, 1996).

    Na distribuio geogrfica do bacurizeiro, proposta por Cavalcante(1996), alguns pontos merecem considerao especial, como a presenada espcie no Paraguai e a no-considerao de reas em locais em queno encontrado em estado nativo.

    Estudos efetuados por Mller et al. (2000), conforme consta das cartaselaboradas pelo Projeto RADAMBRASIL, em herbrios, em levantamentosflorsticos e em inventrios florestais, indicaram disperso bem mais amplana Amaznia Brasileira, chegando a atingir os estados de Roraima e Acre, eno to expressiva no Estado do Amazonas. Nesses locais, o bacurizeiro encontrado em ecossistemas de floresta primria, com densidade muitoinferior a um indivduo por hectare, o que comum quando a espcieocorre nessa situao.

    Segundo Mller et al. (2000), o bacurizeiro, no Estado do Par, predomi-na na mesorregio Nordeste Paraense com grande freqncia e abundn-cia nas microrregies Salgado, Bragantina e Camet; e com menor freqn-cia e abundncia nas microrregies Tom-au e Guam. Na mesorregioMaraj, s encontrado na microrregio Arari. Na primeira mesorregiocitada, encontrado formando populaes densas em alguns stios comnmero de indivduos adultos por hectare superior a 400. Na segunda,embora ocorrendo em abundncia, as plantas encontram-se mais disper-sas, com densidade de 50 a 70 indivduos adultos por hectare.

    A disperso natural, na Amaznia brasileira, atingiu os estados do Acre,Amap, Amazonas, Roraima e Tocantins. Nos quatro primeiros estados, aocorrncia sempre em reas de floresta primria e com reduzido nme-ro de indivduos por hectare, enquanto no Estado do Tocantins encon-trado tanto em reas de floresta primria como de floresta secundria.

    LeandroRealce

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    Nesse ltimo caso, ocorre em aglomerados, particularmente nos munic-pios de Araguatins, Cachoeirinha, Darcinpolis, Luzinpolis, Maurilndia,Palmeiras do Tocantins e Tocantinpolis, todos no norte do Estado.

    Conquanto no haja registros de ocorrncia da espcie em Rondnia, provvel que a disperso tambm tenha atingido esse Estado, pois noexistem barreiras fsicas, climticas e edficas que impossibilitem a presen-a da espcie na localidade. Alm disso, Rondnia limita-se ao norte como Estado do Amazonas, ao leste com o Mato Grosso e ao oeste e ao sulcom a Bolvia, locais em que a espcie j foi assinalada em estado espont-neo.

    Na direo da Regio Nordeste do Brasil, a disperso alcanou os esta-dos do Maranho e do Piau. No primeiro estado, ocorre em reas limtro-fes com o Tocantins e o Par, acompanhando, respectivamente, os cursosdos rios Tocantins e Gurupi. abundante no municpio de Carutapera,onde, em algumas reas, possvel encontrar nmero superior a 200 indi-vduos adultos por hectare. Tambm encontrado em So Lus doMaranho e na regio mais ao leste desse estado, sobretudo nos munic-pios Mirador, Mates, Timon, Caxias, Aldeias Altas e Coelho Neto, entreoutros. No Piau, a distribuio da espcie est limitada s microrregies doBaixo Parnaba Piauiense, Campo Maior,Teresina, Mdio Parnaba Piauiense,Valena do Piau e Floriano, concentrando-se, segundo Souza et al. (2000),em rea delimitada ao norte pelo municpio de Buriti dos Portelas (319' delatitude Sul); ao sul, pelo municpio de Amarante (615' de latitude Sul); e aleste e a oeste pelos municpios de Barras (4218' de longitude Oeste) ePalmeirais (434' de longitude Oeste), respectivamente.

    Em muitos locais de ocorrncia espontnea do bacurizeiro, no Piau e,em especial, no Maranho, so encontradas outras espcies da HiliaAmaznica (Cecropia, Cedrela, Copaifera, Dipteryx, Genipa, Lecythis, Parkia eSchizolobium).

    No Estado do Cear, na serra da Ibiapaba, so encontrados algunsexemplares isolados em chcaras e quintais. A presena da espcie nesselocal, no obstante situar-se prximo de alguns municpios piauienses,onde o surgimento do bacurizeiro espontneo, no se trata de produtode disperso natural, mas de introdues efetuadas por cearenses quedurante o ciclo da borracha dirigiram-se para a Amaznia e, ao retornarem,trouxeram consigo sementes e mudas de algumas espcies da Amaznia.

    O relato tem fundamento no fato de que os bacurizeiros presentesnessa rea so bastante raros e encontrados em reas com forte aoantrpica, convivendo com outras espcies nativas da Amaznia brasileiracomo o aaizeiro (Euterpe oleracea Mart.), o cacaueiro (Theobroma cacao L.),

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    a pupunheira (Bactris gasipaes Kunth) e a seringueira (Hevea brasiliensisesMuell. Arg.), alm de espcies de outros continentes cultivadas naAmaznia (Piper nigrum L., conhecida como pimenteira-do-reino).

    Os exemplares presentes em Pernambuco tambm so produtos deintrodues efetuadas por nordestinos durante o ciclo da borracha, tesediferente ao que afirmam Guimares et al. (1993), que incluem esse estadona rea de ocorrncia natural da espcie.

    A ocorrncia espontnea fora do territrio brasileiro registrada noSuriname (Roosmalem, 1985), Guiana (Steege & Persaud, 1993), GuianaFrancesa (Fouque, 1989) e, de forma mais rara, na Amaznia Peruana,Equatoriana, Colombiana (Brako & Zaruchi, 1993; Villachica et al.,1996) eVenezuelana (Kearns et al., 1998). Em todos esses pases, a espcie ocorrede forma rara e sempre em reas de floresta primria, no tendo expressoeconmica frutfera ou madeireira.

    Com relao ocorrncia no Paraguai, no h registros que comprovemsua presena nesse pas, seja em estado nativo, seja cultivado, podendo-seadmitir que, na direo sul, a disperso atingiu somente o Estado do MatoGrosso, com a localizao de diminuto nmero de indivduos nas margensdo rio Guapor, conforme constatou Macedo (1995). H tambm o registroem herbrio de coleta de material botnico no municpio de Pocon.

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    PROPAGAO DO BACURIZEIROJos Edmar Urano de Carvalho1

    Carlos Hans Mller2

    1. INTRODUO

    O bacurizeiro apresenta estratgias de reproduo sexuada (sementes)e assexuada (brotaes oriundas de razes), o que facilita a regeneraonatural. Em reas de vegetao secundria, a regenerao, predominante-mente, se processa a partir de brotaes de razes. Por outro lado, em reasde vegetao primria, a quase totalidade das plantas oriunda da germi-nao de sementes. Nesse ecossistema, a regenerao por brotaesoriundas de razes s se verifica quando clareiras so abertas, seja por aoantrpica ou pelo tombamento natural dos prprios bacurizeiros ou dervores prximas a esses, haja vista que a emisso dessas brotaes s severifica na presena de certo nvel de luminosidade.

    Em alguns casos, recoloniza com agressividade reas recm-desmata-das e ocupadas com culturas anuais, semiperenes ou pastagens, tornando-se invasora de difcil erradicao (Cavalcante, 1996). Nessa situao, onmero de plntulas oriundas de brotaes de razes to abundante quepode cobrir totalmente a superfcie do terreno. Um bacurizeiro com alturasuperior a 25 metros e dimetro de copa em torno de 15 metros capazde emitir, anualmente, mais de setecentas brotaes oriundas de razes.

    Essa caracterstica da espcie permite que reas de vegetao secund-ria, densamente povoadas por essas brotaes, possam ser manejadas etransformadas em pomares de bacurizeiro, contendo 100 a 120 plantas porhectare.

    A produo de mudas de bacurizeiro pode ser efetuada tanto por viasexuada como por processos assexuados (enxertia) ou pela retirada debrotaes que surgem, espontaneamente, das razes da planta-me

    1 Engenheiro agrnomo, MSc., pesquisador da Embrapa Amaznia Oriental.E-mail: [email protected] Engenheiro agrnomo, mestre em Fitotecnia, pesquisador da Embrapa Amaznia Oriental.E-mail: [email protected].

    CAPTULO II

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    (Calzavara, 1970;Villachica et al., 1996). Alm desses processos, foram desen-volvidos dois sistemas alternativos de propagao baseados na alta capa-cidade de regenerao da raiz primria (Carvalho et al., 1999).

    Com relao propagao por alporquia e por estacas de ramos e derazes, os resultados at ento disponveis so bastante incipientes. No pri-meiro mtodo, no obstante obter-se boa porcentagem de enraizamento,a sobrevivncia, aps a separao do alporque da planta-me bastantebaixa. A propagao por estacas de ramos raramente possibilita porcenta-gem de estacas enraizadas superior a 5%, mesmo com a utilizao de subs-tncias indutoras do enraizamento e com a manuteno das estacas empropagador com sistema de nebulizao intermitente.

    No que se refere propagao por estacas de razes de plantas adultas,pesquisas evidenciaram que a grande maioria das estacas expe a partearea entre 90 e 150 dias depois de colocadas no propagador. As razes sedesenvolvem posteriormente e originam-se na base do caule. Nesse mtodode propagao, o principal problema a baixa sobrevivncia no viveiro.Em geral, apenas 20% das plntulas atingem o estdio de muda apta paraplantio.

    J a micropropagao no dispe, ainda, de protocolos que permitam aobteno de seedlings a partir da cultura de tecidos.

    2. PROPAGAO POR SEMENTES

    O principal obstculo para a formao de mudas de bacurizeiro por viasexuada o tempo demasiado longo (mdia de 589,6 dias) para que assementes completem o processo de germinao (Carvalho et al., 1998a).Alm disso, a germinao bastante desuniforme, com algumas sementesgerminando 180 dias aps a semeadura e outras, 900 dias (Carvalho et al.,1998b).

    A demora na germinao decorrente do fato de que as sementes exi-bem um tipo particular de dormncia, cujo stio de ao est localizado naplmula. A desuniformidade ocorre em funo da variao no grau de dor-mncia entre sementes. Ressalta-se que essas caractersticas tm fortecomponente gentico, existindo gentipos cujas sementes apresentam,120 dias aps a semeadura, porcentagem de germinao superior a 30%.

    Outros fatores que limitam implantao de pomares com mudasoriundas de sementes o fato de o bacurizeiro ser uma espcie algama(Maus & Venturieri, 1996) e apresentar longa fase juvenil (Calzavara, 1970;Villachica et al., 1996). O primeiro fator condiciona grandes variaes entre

    LeandroRealceApesar de...

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    plantas de um pomar, devido segregao e recombinao gnica,mesmo quando as sementes so provenientes de um s indivduo. Alonga fase jovem de plantas propagadas pela via sexuada faz com que asmesmas s entrem em fase reprodutiva dez a doze anos aps o plantio.

    2.1. Caractersticas Morfolgicas e Anatmicas das Sementes

    As sementes de bacuri so oblongas e angulosas, grandes, com pesomdio de 24,4g (Carvalho et al., 1998a) e 15,1g (Mouro & Beltrati, 1995),respectivamente, para frutos provenientes dos estados do Par eMaranho. A intensidade das angulosidades depende do nmero desementes que se formam no fruto. Em geral, a face onde se situa a linhada rafe ligeiramente cncava e o lado oposto convexo. No caso desementes oriundas de um mesmo lculo do ovrio, o formato bastanteirregular e dependente do nmero de sementes que se formam no lcu-lo (Mouro & Beltrati, 1995). comum encontrar sementes (originadas devulos situados em um mesmo lculo) levemente soldadas entre si e coma face de contato plana.

    Normalmente, em cada lculo do ovrio, somente um vulo fecunda-do e convertido em semente. Em funo dessa caracterstica, o nmero desementes por fruto varia de um a cinco, sendo mais freqente frutos comduas sementes (Tabela 1). Excepcionalmente, so encontrados frutos comseis ou mais sementes (Santos, 1982; Mouro, 1992) ou, ainda, desprovidosde sementes (Calzavara, 1970; Souza et al. 2000; Carvalho et al., 2002a).

    Tabela 1 Freqncia do nmero de sementes em frutos de bacuri procedentes dos estados do Maranho e do Par

    1 14,5 14,0

    2 48,5 45,0

    3 25,0 27,0

    4 10,0 12,5

    5 1,5 1,5

    6 0,5 0,0

    Fonte: (*) Adaptado de Mouro (1992); (**). Carvalho, J. E. U de. (Dados no publicados.)

    Sementes/Fruto Freqncia (%)

    (nmero) Maranho(*) Par(**)

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    O tegumento de colorao amarronzada, com vrios feixes vascularesde fcil visualizao devido colorao mais clara, sobretudo o que acom-panha a linha da rafe, devido a sua robustez. O hilo de colorao maisescura que o tegumento, com pequena poro central mais clara e forma-to arredondado. A micrpila est situada prxima ao hilo sobre umapequena protuberncia triangular. O embrio constitudo pelo eixo hipo-ctilo-radcula com cotildones vestigiais. Os tecidos de reserva estoarmazenados no longo e espesso eixo hipoctilo-radcula (Mouro &Beltrati, 1995).

    2.2. Germinao das Sementes

    O processo germinativo dasemente do bacurizeiro apresentacaractersticas peculiares e envolvequatro eventos morfolgicos bemdefinidos no tempo, conformeconstataram Carvalho et al. (1998b):

    a) O primeiro evento caracteriza-se pela ruptura do delgado tegu-mento pela raiz primria (Figura 1).Esse evento rpido e uniforme,manifestando-se, em pequena pro-poro de sementes, 12 dias aps a

    Figura 1 Fase inicial da germinao da semente de bacuri.

    Figura 2 Emergncia da raiz primria de sementes de bacuri em funo do tempo (Fonte:Carvalho et al., 1998b).

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    semeadura. No 17 dia, em mais de 50% das sementes, a raiz primria rompeo tegumento. No 35 dia, desde que as sementes sejam oriundas de frutosem completo estdio de maturao e semeadas imediatamente aps aremoo da polpa, em ambiente com temperatura em torno de 25C, todasas sementes j evidenciaram esse evento (Figura 2).

    b) O segundo evento morfolgico representado pelo crescimento vigo-roso da raiz primria. Essa estrutura cresce continuamente at 210 diasaps a semeadura, quando apresenta, ento, comprimento prximo a180cm (Tabela 2). A taxa de crescimento da raiz primria, nos primeiros60 dias, igual ou inferior a 0,8cm/dia. Aumenta, nos perodos subse-qentes, at 120 dias, ocasio em que apresenta taxa de crescimento de1,4cm/dia. A partir de ento, decresce bastante, aps atingir 175cm eat o momento do incio da emergncia do epictilo, ocasio em queapresenta comprimento em torno de 185cm e dimetro (poro basal)de 0,71cm.

    As razes secundrias so numerosas em toda a extenso da raiz prim-ria, com exceo da poro terminal. Essas razes, porm, so de tamanhodiminuto, raramente apresentando comprimento superior a 3cm.

    c) O terceiro evento morfolgico o mais lento e desuniforme. Consistena emergncia do epictilo. Em algumas sementes, esse evento mani-festa-se 180 dias aps a semeadura. Na grande maioria, somente aps480 dias. Considerando pequena proporo de sementes, a emergn-cia do epictilo bem lenta, podendo requerer perodos superiores a900 dias (Figura 3).

    Tabela 2 Comprimento da raiz primria de sementes de bacuri aps diferentes perodos de semeadura

    30 4,2

    60 29,9

    90 67,4

    120 109,9

    150 133,7

    180 160,2

    210 177,5

    Fonte: Carvalho et al. (1998b).

    Dias Aps a Semeadura Comprimento (cm)

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    (Fonte: Carvalho et al., 1998b).

    d) No ltimo evento, ocorre a abertura do primeiro par de metfilos, e a pln-tula, com todas as suas estruturas essenciais, aparece bem definida.Ressalta-se que depois da abertura do primeiro par de metfilos o epic-tilo cresce cerca de 3cm a 5cm,desenvolvendo dois a cinco pares de cat-filos opostos (Mouro, 1992).

    Aps a emisso do epictilo, sucede-se a formao de razes adventcias nabase do caulculo.O desenvolvimento dessas razes fator de grande peso pa-ra a elevada porcentagem de sobrevivncia aps o plantio no local definitivo.

    2.3. Produo de Mudas ou Porta-Enxertos por Via Sexuada

    Para a formao de mudas por esse processo, recomenda-se a semeaduradireta em sacos de plstico com dimenses mnimas de 18cm de largura,35cm de altura e espessura de 200 , contendo como substrato a misturaconstituda de solo, esterco fermentado e p de serragem na proporo volu-mtrica de 3:1:1.

    Caso se utilize da cama de avirio, a proporo recomendada de 3 par-tes de solo e 2 de cama de avirio, no sendo necessria a adio de p deserragem, haja vista que esse produto ou outro similar componente dacama de avirio.

    Figura 3 Emergncia do epictilo em sementes de bacuri, em funo do tempo.

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    Como as sementes apresentam comportamento recalcitrante no armaze-namento, com perda rpida da capacidade de germinao, em particularquando expostas em condies que favoream a perda de gua (Carvalho etal., 1998b), a semeadura deve ser efetuada logo aps a remoo da polpa.

    A semeadura em sementeiras, com posterior repicagem para sacos deplstico, no aconselhvel pela dificuldade que se tem na retirada das pln-tulas do substrato em funo do comprimento da raiz primria. Em umaeventualidade, esse procedimento pode ser adotado, mas a repicagem deveser processada logo aps a emergncia da raiz primria.

    Em sementes que completam a germinao em sementeiras, durante aoperao de repicagem, a plntula deve ser retirada do substrato de semea-dura com segmento de raiz primria nunca inferior a 20cm de comprimento.Nessa situao, necessrio o corte das folhas pela metade para reduzir aperda de gua. As plntulas, aps a repicagem, devem ser mantidas emambiente com bastante sombra (70% a 80% de interceptao de luz) at olanamento de novas folhas, oportunidade em que podero ser levadas paraviveiro com 50% de interceptao de luz.

    Mesmo com essas medidas, a sobrevivncia inferior a 60%, e o cresci-mento das mudas retardado, pois haver necessidade de certo perodopara o lanamento de novas folhas e para a regenerao do sistema radicularque foi cortado durante a operao de repicagem.Enquanto uma muda obtidapela semeadura direta est em condio de ser plantada,no local definitivo,qua-tro a seis meses aps a emergncia do epictilo;mudas obtidas pela repicagemde plntulas somente estaro formadas oito a dez meses aps a repicagem.Sobrevivncia superior a 80% obtida quando a repicagem efetuada no in-cio da emergncia do caulculo.

    A disposio dos sacos de plstico no viveiro, at que 50% das sementesgerminem, pode ser justaposta em blocos contendo dez fileiras de sacos. Osblocos devem ficar distanciados entre si cerca de meio metro. A disposiodas mudas nesses moldes facilita sobremaneira os tratos culturais no viveiro,principalmente o controle de plantas daninhas e pragas e das adubaes.Com o aumento da percentagem de germinao, e com o crescimento dasplntulas, h necessidade de dispor os sacos em fileiras duplas, distanciadasentre si em 40cm. O arranjo em fileiras duplas tem por objetivo evitar o estio-lamento das mudas.

    O ordenamento dos sacos em fileiras duplas exige poda da raiz primria,pois, nessa ocasio, a estrutura apresenta comprimento muito superior altu-ra do recipiente e maior extenso abaixo da superfcie do solo. Para essa ope-rao, necessrio que cada recipiente seja inclinado em 45. Efetua-se,

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    ento, com um canivete ou faca, a poda da raiz primria, no nvel do solo.Em muitos casos, a simples inclinao do recipiente j provoca o secciona-mento da raiz.

    A poda da raiz primria tambm necessria quando a muda estiverformada (altura entre 40cm e 45cm, dimetro basal entre 0,8cm e 1,0cm ecom 20 a 22 folhas) e for retirada do viveiro para ser levada para o local deplantio, pois a raiz primria j ter rompido a superfcie inferior do saco deplstico, estando com considervel poro sob o solo. recomendvel queessa segunda poda seja efetuada 15 a 20 dias antes da muda ser retiradado viveiro.

    Para facilitar a adubao das mudas, importante, no ordenamento dossacos em fileiras duplas, colocar dentro de um mesmo conjunto de fileiraplantas em estgio de crescimento semelhante (fileiras de sacos contendosementes onde o epictilo ainda no emergiu; fileiras de sacos contendoplantas com um ou dois pares de folhas; fileiras de sacos com plantas con-tendo dois a trs pares de folhas).

    A adubao orgnica ser efetuada por ocasio da disposio dossacos em fileiras duplas, completando-se o volume do saco com solo eesterco curtido, misturados na proporo volumtrica de 1:1.Normalmente, para completar o volume dos sacos, so necessrios 0,2litros a 0,3 litros dessa mistura, que deve ser colocada somente nos reci-pientes cujas mudas j apresentam, pelo menos, o primeiro par de folhas.

    Nos demais recipientes, a adubao orgnica ser efetuada medidaque ocorrer a abertura do primeiro par de folhas. A primeira adubaomineral dever ser realizada uma semana depois da adubao orgnica erepetida a cada sete dias, at que as mudas estejam completamente for-madas. Para minimizar os custos com mo-de-obra, as adubaes mineraispodero ser efetuadas irrigando-se as plantas com adubo lquido.

    Resultados satisfatrios tm sido obtidos com produtos comerciais queapresentam 6% de nitrognio, 6% de P2O5, 8% de K2O, 0,5% de magnsio,0,5% de enxofre e micronutrientes. O produto comercial previamentediludo em gua na proporo de dois mililitros por litro de gua, irrigando-se cada muda com aproximados 100 mililitros do produto diludo.

    2.4. Propagao por Regenerao deSegmentos Raiz Primria

    Nesse mtodo de propagao, pode-se fazer uso de sementes que notenham completado o processo de germinao. As mudas (porta-enxertos)

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    podem ser obtidas pela regenerao de estacas de raiz primria com com-primento entre 7cm e 8cm, oriundas de sementes semeadas em semen-teira ou por meio da regenerao do segmento de raiz primria de semen-tes semeadas em sacos de plstico.

    Em sementeira, as sementes so semeadas a uma profundidade de1,20m, contendo como substrato mistura de areia e serragem na propor-o volumtrica de 1:1. Decorridos 120 a 150 dias da semeadura, a maioriadas sementes j apresenta raiz primria com comprimento igual ou supe-rior a 1,10m e podem ser removidas, com cuidado, do substrato de semea-dura. A raiz primria , em seguida, dividida em segmentos com compri-mento entre 7cm e 8cm, desprezando-se o tero inferior da mesma queapresenta dimetro reduzido de difcil regenerao. De cada raiz primria possvel obter, mais ou menos, dez estacas.

    As sementes de onde a raiz primria foi destacada podem ser semea-das novamente, o que possibilita a obteno de novos segmentos de raizprimria. Nesse caso, o tempo requerido para que a raiz primria atinjacomprimento igual ou superior a 1,10m um pouco maior, sendo reque-ridos, em mdia, 180 dias, pois sero necessrias a cicatrizao e a regene-rao dessa raiz em funo do pequeno segmento que permaneceu liga-do semente.

    Aps a obteno das estacas, deve-se disp-las, na posio vertical, emsacos de plstico com dimenses iguais aos usados no sistema de propa-gao por sementes e contendo o mesmo substrato. Durante o plantio, de grande importncia que a poro proximal da estaca seja orientadapara cima e a poro distal para baixo, do contrrio, a plntula obtida apre-sentar conformao anormal, ou seja, a raiz emergir da parte distal daestaca e dirigir-se- para baixo, devido ao geotropismo positivo. A partearea a originar-se na poro proximal dirigir-se- para cima, em funo dogeotropismo negativo (Carvalho et al., 2002b).

    A brotao da parte area desuniforme (ocorre entre 35 e 145 dias).Ao final de 150 dias, cerca de 70% das estacas j apresentam, no mnimo, oprimeiro par de folhas desenvolvido e o sistema radicular regenerado(Figura 4). Nessa ocasio, os sacos contendo as plntulas ou as estacasonde a regenerao da parte area ainda no se processou devem ser dis-postos em fileiras duplas. As mudas de estacas de raiz primria esto aptaspara serem plantadas no local definitivo cerca de seis a oito meses aps acolocao das estacas no substrato.

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    Os procedimentos de aduba-o das plntulas devem ser inicia-dos do momento em que os sacosso ordenados em fileiras duplas,quando, ento, devero ser adicio-nados 200ml a 300ml da mistura desolo com esterco (proporo volu-mtrica de 1:1). Semanalmente, asplantas devem ser irrigadas com amesma formulao e dose deadubo mineral indicada para o sis-tema de formao de mudas porsementes.

    A utilizao desse mtodo depropagao somente indicadaquando se dispe de pequenaquantidade de sementes e se dese-ja obter o maior nmero possvelde mudas (porta-enxertos), pois asmudas assim obtidas apresentamcrescimento mais lento que asmudas oriundas de sementes. Sotambm menos vigorosas, com dimetro do caule bem menor, o que exige,na maioria dos casos, tutoramento tanto na fase de viveiro como aps o plan-tio no local definitivo.

    Ressalta-se que esse sistema no contorna os problemas concernentes aolongo perodo de juvenilidade das plantas e os decorrentes da segregao.

    O mtodo de semeadura direta em sacos de plstico, com posterior sepa-rao da raiz primria da semente que a originou, mais eficiente que o ante-rior e mais fcil de ser executado.A utilizao desse mtodo permite a obten-o de plantas mais vigorosas e a porcentagem de regenerao maior.

    Os procedimentos para obteno de mudas por esse mtodo obedecems seguintes etapas:

    a) A semeadura deve ser efetuada em sacos de plstico com dimensesmnimas de 18cm de largura,35cm de altura e espessura de 200 , con-tendo, como substrato, a mistura de 60% de solo, 20% de p de serra-gem e 20% de esterco curtido ou 60% de solo e 40% de cama de avi-rio.Os sacos devero ser cheios com essa mistura e a semente deve sercolocada sobre o substrato de tal forma que o ponto de onde emergi-

    Figura 4 Plntula oriunda de estaca de raiz primria com todas suas estruturas essenciais.

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    r a raiz primria coincida, aproximadamente, com o centro do reci-piente. Em seguida, coloca-se um anel protetor de plstico rgido oualumnio, com altura entre 7cm e 8cm e dimetro entre 10cm e 11cm.Esse anel preenchido com p de serragem, recobrindo totalmente asemente. Garrafas de refrigerantes (tipo PET), com capacidade paradois litros, podem ser usadas para a confeco desses anis.

    b) Depois de 70 a 100 dias da semeadura, quando a raiz primria daquase totalidade das sementes j tiver atingido a parte inferior dorecipiente, o anel retirado e remove-se o substrato de tal forma aexpor a semente e a poro basal da raiz primria que estava prote-gida pelo anel. Aps essa operao, a raiz primria separada dasemente que a originou com um corte transversal efetuado comcanivete a uma distncia de 0,5cm a 1,0cm da semente (Figura 5). Osubstrato em volta do segmento da raiz primria que tiver permane-cido no saco plstico deve sercomprimido com os dedos paradeix-lo com a extenso de1,0cm exposta luz. A funo doanel unicamente facilitar a ope-rao de separao do segmen-to de raiz primria da sementeque a originou, pois a sua no-utilizao implicaria remoo departe do substrato do interior dosaco plstico, o que bem maisdifcil e demorado.

    Convm ressaltar que a sementedestacada da raiz pode ser reaproveita-da desde que semeada logo aps ocorte. Assim sendo, o processo pode serrepetido por at trs vezes. Nesse caso, requerido tempo maior para se efe-tuar o novo corte da raiz primria, poish necessidade de regenerao tantoda raiz primria quanto da parte area.Com uma s semente possvel obter trs a quatro mudas; na terceira ouquarta, o epictilo de origem embrionria (Carvalho et al., 1999).

    Os sacos de plstico devem ser mantidos em viveiro com cobertura detela de plstico que permita 50% de interceptao de luz e justapostos porat 100 a 130 dias aps se ter efetuado o corte da raiz primria. A partir de

    Figura 5 Separao da raiz primria da semente que a originou.

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    ento, devem ser dispostos em fileiras duplas, pois a quase totalidade dossegmentos de raiz j ter apresentado epictilo regenerado e com folhas.

    O incio da regenerao da parte area torna-se visvel, em alguns seg-mentos de raiz, 35 dias aps o corte. Por volta de 105 dias, a percentagemde segmentos de raiz com incio de regenerao do epictilo atinge valorsuperior a 90%. Uma pequena proporo de segmentos, inferior a 5%,demanda maior tempo para que ocorra a regenerao, requerendo pero-dos superiores a 180 dias. Aps o incio da regenerao, so necessrios,aproximadamente, 18 dias para que ocorra a abertura do primeiro par defolhas, e quatro a cinco meses para que a muda (porta-enxerto) estejacompletamente formada, ou seja, com altura entre 40cm e 45cm, dimetrobasal entre 0,8cm e 1,0cm e com 20 a 22 folhas.

    A utilizao desse mtodo de propagao permite a formao demudas (porta-enxertos) de bacurizeiro no prazo de 12 meses. Para que asmudas atinjam o completo desenvolvimento, nesse prazo, necessrioque sejam submetidas aos seguintes procedimentos de adubao:

    a) Logo aps a abertura do primeiro par de folhas, deve-se efetuar aadubao orgnica e adicionar, em cada recipiente, 200ml a 300ml damistura de terra preta com esterco de galinha na proporo volu-mtrica de 1:1.

    b) Irrigar, uma vez por semana, as mudas com adubo foliar, contendo6% de nitrognio, 6% de P2O5, 8% de K2O, 0,5% de magnsio, 0,5% deenxofre e micronutrientes. Essa formulao dever ser previamentediluda em gua na proporo de dois mililitros do produto comer-cial por litro de gua, adicionando-se 100ml do produto diludo porplanta.

    3. PROPAGAO ASSEXUADA

    3.1. Propagao por Brotaes Naturais de Razesde Plantas Adultas

    O bacurizeiro exibe a capacidade de emitir abundantes brotaes derazes da planta-me. A emisso de rebentos ocorre mesmo aps a derru-bada da planta-me. Dependendo da abundncia e da distribuio espa-cial dos bacurizeiros, aps a derrubada desses, o nmero de brotaesoriundas de razes to grande que pode cobrir totalmente a superfciedo terreno (Figura 6).

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    A obteno de mudas oriundasde rebentos de razes muito dif-cil, pois a quase totalidade dessasestruturas no apresenta sistemaradicular independente e, quandoda retirada da brotao com partedo segmento de raiz que a origi-nou, a sobrevivncia baixa, pois oenraizamento das brotaes pouco provvel.

    O sucesso na formao de mu-das por esse processo depende daformao de razes na poro basaldo rebento. Melhores resultados so obtidos quando se utilizam rebentoscom altura inferior a 20cm e esses so retirados no perodo de chuvas, mas,mesmo nessa situao, a sobrevivncia no viveiro baixa, geralmente, infe-rior a 25% (Lima, 2000).

    Observaes de natureza prtica tm indicado que a prvia separaoda brotao da planta-me que a originou favorece o enraizamento damesma. Essa operao deve ser efetuada no perodo de chuvas, cortando-se transversalmente a raiz a uma distncia de 5cm da brotao sem retir-la do solo. Como em um metro linear de raiz podem ser encontrados dezou mais rebentos, aconselhvel o seccionamento no lado oposto de talforma a separar o rebento de outros originados da mesma raiz.

    A remoo do rebento do solo s deve ser efetuada 40 a 50 dias apsa separao da planta-me. Nessa ocasio, j se observa a formao de ra-zes adventcias, o que melhora a sobrevivncia das mudas. Para que as ra-zes no sejam danificadas, o rebento deve ser removido do solo com tor-ro e transplantado para sacos de plstico com dimenses de 25cm de lar-gura, 35cm de altura e 200 de espessura, contendo, como substrato, amesma mistura indicada para o sistema, j descrito, de formao de mudas.Para esse sistema, ideal que os rebentos, no momento do transplante,apresentem, no mximo, dois pares de folhas e que essas estejam comple-tamente maduras.

    As mudas, logo aps o transplantio, devem ser mantidas em ambienteprotegido com tela de plstico que permita, no mnimo, 70% de intercep-tao de luz. Essa condio dever ser mantida at o desenvolvimento denovas folhas, quando ento podero ser levadas para viveiro com 50% de

    Figura 6 rea totalmente coberta por bacurizeiros oriundos debrotaes de razes.

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    interceptao de luz. Depois do trans-plantio, so requeridos cerca de cinco aseis meses para que a muda estejacompletamente formada. Mesmo comesse procedimento, raro alcanartaxa de sobrevivncia superior a 40%.

    Na Embrapa Amaznia Orientalesto sendo desenvolvidas pesquisaspara otimizar esse mtodo de propaga-o.Recentemente, resultados bastantesatisfatrios foram obtidos com reben-tos separados da planta-me na pocachuvas e colocados para enraizar emsubstrato de areia e serragem (1v:1v),em propagador com sistema de nebu-lizao intermitente. Com esses proce-dimentos, obteve-se at 70% de rege-nerao, com o enraizamento dosrebentos ocorrendo 120 dias aps suacolocao no propagador (Figura 7).

    3.2. Propagao por Enxertia

    O mtodo de enxertia convencional do bacurizeiro envolve a formaodo porta-enxerto que o prprio bacurizeiro obtido por sementes ou porqualquer dos mtodos anteriormente descritos.

    A enxertia por garfagem no topo, em fenda cheia, alm de ser um mto-do de mais fcil execuo e com maior rendimento de mo-de-obra, pro-porciona maior percentagem de enxertos pegos que a garfagem lateral noalburno. Em ambos os mtodos, a brotao dos enxertos inicia-se 20 diasaps a enxertia, podendo, no entanto, prolongar-se por at 80 dias, ocasioem que a percentagem de enxertos brotados atinge valor em torno de80% e 42%, respectivamente, para os mtodos de garfagem no topo e gar-fagem lateral no alburno (Carvalho et al., 2002b).

    O sucesso da enxertia depende, entre outros fatores, da poca de reti-rada das ponteiras e do dimetro dessas. Obtm-se maior percentagem deenxertos pegos quando as ponteiras so retiradas antes da troca total dasfolhas da matriz que se deseja propagar. Geralmente, no perodo com-preendido entre os meses de novembro a maio, as ponteiras esto em

    Figura 7 Rebento de bacurizeiro com razes bem desenvol-vidas, 120 dias aps ser colocado no propagador.

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    estgio ideal para serem enxertadas, com folhas maduras, tecidos lenhosose gema apical em fase de dormncia. Quando so utilizadas ponteirasoriundas de plantas que estejam em fase de renovao de folhas ou muitoprximas dessa fase, a brotao dos enxertos se verifica em curto perodode tempo, antes mesmo de ocorrer a soldadura com o porta-enxerto, e aquase totalidade dos enxertos morre.

    O dimetro da ponteira, em sua poro basal, deve ser igual ao dime-tro do porta-enxerto (no ponto onde ser efetuada a enxertia). Esse dime-tro varia entre 0,5cm e 1,0cm. O comprimento das ponteiras deve se situarentre 10cm e 15cm.

    As ponteiras devem ser retiradas de ramos guias da matriz que se dese-ja propagar e submetidas toalete, eliminando-se todas as folhas comexceo das duas situadas na extremidade apical do garfo (cortadas trans-versalmente), de tal forma que permaneam com comprimento do limbode apenas 5cm. Na impossibilidade de realizao da enxertia, no mesmodia de retirada dos garfos, devem-se acondicion-los entre folhas de jornalumedecidas (com gua) e embal-los em sacos plsticos perfurados.

    Durante a operao de enxertia, no caso de garfagem no topo emfenda cheia, a primeira etapa consiste na decapitao do porta-enxerto,com um corte transversal, e deve ser executada em altura cujo dimetroseja semelhante ao dimetro basal do garfo a ser enxertado. Em seguida,efetuam-se cortes na parte basal do garfo, em bisel duplo, em forma decunha, inserindo-o em inciso vertical de 4cm a 5cm, aberta na parte cen-tral do pice do porta-enxerto.

    Depois da insero da ponteira na fenda do porta-enxerto, efetua-se oamarrio com fita de plstico e o enxerto envolvido com saco de polieti-leno transparente umedecido com gua em sua parte interna, com o obje-tivo de evitar o ressecamento da ponteira. As mudas recm-enxertadasdevem permanecer em ambiente protegido da radiao solar direta.

    Quando as duas primeiras folhas oriundas do enxerto estiverem com-pletamente desenvolvidas, retira-se a cmara mida, permanecendo asmudas no mesmo local durante 10 dias, quando podero ser levadas paraviveiro com 50% de interceptao de luz at atingirem tamanho adequa-do para serem plantadas no local definitivo. Em geral, as mudas esto aptaspara o plantio trs a quatro meses aps a brotao do enxerto.

    Uma alternativa para obteno de mudas enxertadas envolve a enxer-tia na raiz primria (Figura 8). A enxertia efetuada por garfagem no topoda raiz primria, em fenda cheia. Para facilitar a operao de enxertia, asemeadura deve ser efetuada de maneira anloga ao descrito para o pro-

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    cesso de formao de mudas por regenerao da raiz primria, excetuan-do-se o fato de que as sementes devem ser semeadas em plano ligeira-mente superior ao da superfcie superior do saco de plstico. Entre 100 e120 dias depois da semeadura, a raiz primria j apresenta dimetro com-patvel com o dimetro das ponteiras e, ento, pode-se efetuar a separaoda raiz primria da semente que a originou (Figura 5) com um corte trans-versal. Em seguida, abre-se uma fenda longitudinal de cerca de quatro acinco centmetros no topo da raiz, introduz-se o enxerto, efetua-se o amarrio e a proteocom cmara mida.

    A brotao dos enxertos ocorre entre 20 e80 dias aps a enxertia. A muda enxertadaest em condio de ser plantada, no localdefinitivo, seis meses aps a enxertia. A gran-de vantagem desse mtodo possibilitar aformao de mudas enxertadas no prazo dedoze meses.

    No caso de mudas enxertadas, as aduba-es orgnica e mineral devem ser inicia-das dois meses aps a brotao do enxerto,obedecendo-se aos mesmos procedimentosindicados para os processos de formao demudas, j mencionados.

    Figura 8 Enxertia sobre a raiz primria desementes em inciode germinao.

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    PORTA-ENXERTOS PARA O BACURIZEIRO:SITUAO E PERSPECTIVAS

    Jos Ribamar Gusmo Arajo1

    Jos Edmar Urano de Carvalho2

    Moiss Rodrigues Martins3

    1. INTRODUO

    A grande famlia Clusiaceae (Guttiferae) inclui 35 gneros e 1.350 esp-cies. Cerca de nove gneros incluem 86 espcies de rvores frutferas,vrias delas com frutos comestveis e aromticos (Yaacob & Tindall, 1995;Campbell, 1996).

    Popenoe (1920), citado por Campbell (1996), elegeu um membro destafamlia como a espcie que produz o fruto mais saboroso do mundo: omangosto (Garcinia mangostana L.), originrio do Sudeste Asitico.

    Referindo-se s fruteiras da Amrica do Sul, que merecem mais atenodos agricultores e pesquisadores, Campbell (1996) destaca, na famliaClusiaceae, o bacuri (Platonia insignis Mart.) e o bacuripari (Rheedia macrop-hylla Mart. Pl. et. Tr.).

    O bacuri uma espcie monotpica do gnero Platonia, enquanto obacuripari tem vrias espcies relacionadas do gnero Rheedia compostode 45 espcies que produzem frutos coloridos e aromticos, com desta-que para o bacurizinho (R. acuminata (R. et. P.) Pl. et. Tr.), o bacuripari liso (R.brasiliensis (Mart.) Pl. et.Tr.) e o bacuri-mirim (R. gardneriana Miers. ex. Pl. et.Tr.).

    Morton (1987) cita outras duas espcies relacionadas ao bacuripari: omameito (R. edulis Pl. et. Tr.) e o madrono (R. madruno Pl. et. Tr.), nativas daAmrica Central e do Norte da Amrica do Sul.

    1 Engenheiro Agrnomo, DS, professor do Departamento de Fitotecnia e Fitossanidade/CCAda Universidade Estadual do Maranho.2 Engenheiro Agrnomo, MSc., pesquisador da Embrapa Amaznia Oriental.E-mail: [email protected] Engenheiro Agrnomo, DS, pesquisador/bolsista da Universidade Estadual do Maranho/Fapema.

    CAPTULO III

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    BACURI: AGROBIODIVERSIDADE

    Na Amaznia Brasileira, dentro da famlia Clusiaceae, so encontradasquatro espcies frutferas pertencentes ao txon genrico Rheedia queapresentam potencial para serem utilizadas como porta-enxertos alterna-tivos para o bacurizeiro (bacuriparizeiro verdadeiro, bacuri-mirim, bacuripariliso e bacurizinho). Com exceo do bacuriparizeiro, que cultivado empequena escala em chcaras e quintais agroflorestais (Berg, 1979), e cujosfrutos so comercializados em feiras-livres, as demais espcies represen-tam apenas recurso de sobrevivncia na floresta (Cavalcante, 1996).

    2. IMPORTNCIA DO PORTA-ENXERTO PARA A FRUTICULTURA

    A fruticultura comercial tem assentado as bases no emprego de mudas,de elevada qualidade gentica, fsica e sanitria, produzidas com a adooprogressiva de tecnologias. As plantas frutferas enxertadas resultam daassociao ou combinao de duas espcies ou variedades diferentes oporta-enxerto (cavalo) e a variedade copa (enxerto). Em um pomar adultoe bem formado, o porta-enxerto, aps 10 ou 20 anos de cultivo, ficar res-trito ao sistema radicular da combinao de plantas.

    Para um grupo grande de espcies, o emprego de porta-enxerto pra-ticamente obrigatrio, embora haja a possibilidade de se utilizar outrosprocessos de propagao vegetativa, alm da prpria enxertia. A expan-so de uso de porta-enxertos nos pomares se sustenta, em grande parte,pelas vantagens decorrentes da combinao bem-sucedida com as varie-dades-copa: adaptao das plantas s condies climticas e edficaslocais, resistncia a doenas e pragas, maior produtividade, precocidade equalidade dos frutos (Simo, 1998).

    A domesticao de vrias espcies, como as fruteiras nativas dasregies Norte e Meio-Norte do Brasil, considera os estudos e as estratgiasmais eficientes de propagao, ao lado do conhecimento da biologia flo-ral e reprodutiva, o nvel de variabilidade gentica da espcie, bem comosua adaptao, e a resposta ecofisiolgica ao sistema produtivo. Definido oprocesso mais adequado de multiplicao da planta, a propagao podecumprir suas duas funes primordiais: aumentar o nmero de indivduose preservar suas caractersticas essenciais (Hartmann et al., 1997). Esta lti-ma obtida, de forma controlada, pela propagao vegetativa.

    Diversas so as influncias positivas ou vantajosas dos porta-enxertossobre a variedade copa, destacando-se: desenvolvimento e porte; produti-vidade; poca de maturao; permanncia do fruto maduro na planta;comportamento em relao s doenas de solo e parte area; melhoria da

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    nutrio; comportamento s baixas temperaturas e aspectos da qualidadedos frutos (Wutscher, 1979; Arajo, 1993; Simo, 1998; Meletti, 2000).

    Em relao ao bacurizeiro, a enxertia de porta-enxertos alternativos(espcies de outros gneros da famlia Clusiaceae) alm da seleo de clo-nes da prpria espcie P. insignis Mart., permite inicialmente a reduo doporte e o aumento da precocidade de florescimento e frutificao, tendoem vista que a planta pode atingir at 30 metros de altura e o perodo dejuvenilidade pode durar de 10 a 12 anos (Calzavara, 1970; Moraes et al.,1994; Cavalcante, 1996; Souza et al., 2000).

    Outra possibilidade decorrente refere-se fixao e produo de clo-nes selecionados via enxertia, uma vez que P. insignis apresenta alogamiaacentuada e auto-incompatibilidade do tipo esporoftica, sendo a poliniza-o realizada especialmente por Psitacdeos (papagaios e curicas), confor-me relatam Maus & Venturieri (1997). Da resulta que plantas originadas desementes geram populaes formadas de indivduos muito heterogneos.

    A superao de condies adversas de solo por limitaes fsicas e qu-micas, comuns em reas degradadas, marginais ou sujeitas a encharca-mentos, aponta para estudos com espcies adaptadas. Um tipo de bacuri-pari (do campo inundado) coletado em 2002, na regio da BaixadaMaranhense (Arajo, 2004), poder constituir-se num p que atenda sexigncias ecolgicas acima. Isso no significa dizer que se deva limitar ocultivo de bacuri s reas marginais, aps a derrubada das florestas e matas da Amaznia e do Cerrado para outras atividades agrcolas e pecurias.Ao contrrio, os governos, instituies de pesquisa, organizaes de agri-cultores e ONGs devem envidar esforos para preservar a espcie Platoniainsignis nas reas de ocorrncia natural.

    Para ilustrar, na regio do Baixo Parnaba, no mbito dos municpios deSanta Quitria, Brejo e Chapadinha, Maranho, estima-se que seja de 20 milhectares a rea ocupada com a lavoura da soja (2005) a avanar sobreextensas reas de cerrados onde se supunha encontrar a maior variabilidadede bacuri no Estado, alm do pequi (Caryocar brasiliensis Camb.). Nesse sen-tido, Arajo et al. (2004) alertaram para os riscos do avano da fronteira agr-cola da soja para latitudes mais baixas, trazendo, como conseqncias, aeroso gentica desses e de outros recursos e impondo barreiras para seinvestigar a rica biodiversidade.

    Em relao s ofertas de mudas frutferas enxertadas de espcies nati-vas, exceo do cupuauzeiro (Theobroma grandiflorum Schum.) nativodo Par e do Maranho, as Normas Oficiais de Produo e Comercializaocobrem os requerimentos das espcies tropicais tpicas. Da presumir-seque a quase totalidade de mudas frutferas nativas produzidas serem ps-

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    francos (obtidas de sementes), com as desvantagens conhecidas propor-cionadas por esse processo de propagao (Arajo et al., 2004). Esses auto-res destacam que a baixa freqncia de mudas enxertadas de espciesnativas nos viveiros comerciais est relacionada aos seguintes aspectos: (i)desconhecimento do processo de propagao mais adequado; (ii) ausn-cia de variedades/clones selecionados para fornecimento de propgulos;(iii) pequena demanda de mudas por parte dos fruticultores que desco-nhecem o comportamento produtivo das fruteiras nativas em plantiosracionais; e (iv) falta de normas especficas de produo das mudas.

    3. PROPAGAO DO BACURIZEIRO

    O bacurizeiro pode ser propagado de forma sexual (sementes) e deforma assexual, via processos vegetativos como enxertia, obteno derebentos ou brotaes de plantas adultas, estabelecimento de estacas deraiz primria, alm da micropropagao.

    Conforme Carvalho et al. (1998), a expanso da cultura do bacuri temcomo um dos principais fatores limitantes a relativa dificuldade apresenta-da pela espcie para obteno de mudas de sementes (p-franco), fatorelacionado germinao lenta e desuniforme, carter recalcitrante dassementes, impondo dificuldades na conservao e lento crescimento daparte area.

    A propagao por sementes deve ficar limitada em dois casos: traba-lhos de melhoramento gentico e produo de porta-enxertos (Souza etal., 2000), sobre os quais possvel propagar clones genticos e agronomi-camente superiores.

    A propagao feita por sementes, ocorrendo a emergncia da radculaentre 15 e 50 dias aps a semeadura. A emergncia do caulculo, porm,pode prolongar-se por mais de um ano (Souza et al., 1996). O perodo dejuvenilidade das plantas, obtidas por sementes (ps-francos), dura, pelomenos, 10 anos, enquanto que as plantas enxertadas comeam a produzirentre 3 e 5 anos (Calzavara, 1970).

    Mouro & Beltrati (1995) verificaram que a germinao da semente hipgea e inicia-se cerca de um ms aps a semeadura, quando emerge araiz primria que apresenta grande crescimento. Com 5 a 6 meses, surge oepictilo no lado oposto ao que teve origem a radcula. Foi obtida umataxa de 95% de germinao em condies de canteiro convencional, con-tendo substrato base de terra e esterco de curral (3:1).

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    O rpido crescimento da raiz primria e seu longo crescimento, alcan-ado 90 dias aps a germinao da semente, deve ser um comportamen-to adaptativo da espcie como forma de assegurar a sobrevivncia daparte area na estao seca, onde a umidade do solo baixa. O estabele-cimento de mudas de brotaes naturais das razes da separao (desma-me) da planta-me adulta, no tem se mostrado vantajoso (Carvalho et al.,1999). Da mesma forma, a utilizao de estacas de razes (1,0 a 1,5cm de di-metro), obtidas da planta-me, tratadas com cido indolbutrico, no pro-porcionou boa taxa de enraizamento e brotao, conforme verificado porSousa (2000).

    Para Campbell (1996), embora o bacurizeiro seja propagado usualmen-te por sementes, o mesmo apresenta compatibilidade de enxertia comoutras espcies da famlia Clusiaceae, como os gneros Rheedia e Garcinia.Alm desses dois gneros, Souza (informao pessoal, 2005)4 observa a pos-sibilidade de se investigar a utilizao de espcies de gneros relacionadoscomo Mammea, Clusia, Symphonia, Hypericum, Allanblackia, Kielmeyera,Calophyllum e Pentadesma.

    Morton (1987) relata que o gnero Rheedia composto de aproxima-das 45 espcies, vrias produzindo frutos comestveis. Essa variabilidade foisomente parcial em relao a testes como porta-enxertos para bacuri.

    4. PERSPECTIVAS DE USO DE PORTA-ENXERTOS DE ESPCIES DA FAMLIA CLUSIACEAE

    4.1. Bacuripari (Rheedia macrophylla (Mart.) Pl. et. Tr.)

    O bacuriparizeiro ou bacuripari verdadeiro uma espcie de provvelorigem da Amaznia, dispersa por todo o Norte da Amrica do Sul.Apresenta ampla faixa de adaptao e encontrado em reas de terrafirme, vrzea ou igaps (Cavalcante, 1996). A produo de bacuripari seconcentra no perodo de outubro a janeiro no Estado do Par.

    Quando utilizado como porta-enxerto para o bacurizeiro, possibilita o culti-vo deste em reas periodicamente inundadas pelo fluxo e refluxo das mars, oque no possvel quando o bacurizeiro o prprio porta-enxerto.

    O bacuripari um fruto do tipo bacide, com peso mdio de 49,8g, con-tendo, em seu interior, de uma a cinco sementes que representam 30,4% do

    4 Souza, V. A. B. Pesquisador da Embrapa Meio-Norte, Teresina, PI.

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    peso do fruto (Silva et al., 2004). O fruto tem casca com colorao amarelo-alaranjada e pice acuminado (Figura 1). Conforme j relatado, Arajo (2004)informa a ocorrncia de um tipo de bacuripari-do-campo(inundado), cole-tado em 2002, na regio da Baixada Maranhense, de dimenses menoresque o bacuripari verdadeiro, formato esfrico, casca espessa, epicarpo liso efortemente amarelo (Figura 2A). Se utilizado como porta-enxerto, devercomunicar essa caracterstica aobacuri, ou seja, induzir adaptao areas mais baixas e/ou a solos maldrenados, comuns nessa regio doestado. Exemplares desse material,obtidos de sementes, esto sendocultivados na Fazenda Experimentalda Universidade Estadual do Ma-ranho (Figura 2B). O crescimentoem terra firme lento, e algumasplantas exibem queima de bordosda folha devido radiao solar,sugerindo a necessidade de som-breamento.

    Com maior freqncia os frutos apresentam trs sementes e, muitoraramente, cinco sementes (Tabela 1). As sementes apresentam, em mdia,5,7g, quando os frutos esto maduros, com teor de umidade de 43,6%(Carvalho et al., 1998).

    Figura 1 Frutos de bacuripari (Rheedia macrophylla (Mart.) Pl. et .Tr.(Carvalho, J. E. U.).

    Figura 2A Frutos de bacuripari-do campoda Baixada Maranhense (Arajo, J. R. G.).

    Figura 2B Planta jovem (B) (Arajo, J. R. G.).

    A B

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    As sementes de bacuripari no suportam secagem, enquadrando-se,portanto, no grupo das recalcitrantes (Carvalho et al., 2001). Tambm apre-sentam sensibilidade baixa temperatura, perdendo a viabilidade quandoarmazenadas em ambientes com temperaturas inferiores 15C. Diante des-sas caractersticas, devem ser semeadas logo aps serem retiradas dos fru-tos. Na impossibilidade de serem semeadas logo aps a extrao, devemser estratificadas em p de serragem ou vermiculita umedecido com gua.A estratificao pode ser efetuada em sacos de plstico ou caixas de iso-por. Nesse mtodo, as sementes podem ser mantidas por at 80 dias.

    A utilizao do bacuriparizeiro como porta-enxerto alternativo para obacurizeiro tem como principal bice a germinao lenta e desuniforme.Em mdia, as sementes requerem 273,4 dias para germinarem. Esse tempo bem inferior ao requerido pelas sementes de bacuri, que, em mdia, ger-minam 589,6 dias aps a semeadura. A germinao da semente de bacuri-pari hipogeal e a plntula do tipo criptocotiledonar (Carvalho et al., 1998).Para sementes recm-extradas dos frutos e com umidade de 43,6%, a ger-minao se inicia 60 dias aps a semeadura (mdia) e se prolonga por at450 dias, ocasio em que a porcentagem de germinao atinge valor emtorno de 85,0% (Figura 3).

    Tabela 1 Freqncia do nmero de sementes em frutos de bacuripari

    1 5,0

    2 17,5

    3 40,5

    4 35,0

    5 2,0

    Fonte: Carvalho et al. (1998b).

    Nmero de sementes Freqncia (%)

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    Os porta-enxertos devem ser produzidos em sacos de plstico comdimenses mnimas de 18cm de largura, 35cm de altura e espessura de200 , contendo como substrato a mistura de 60% de solo, 20% de p deserragem e 20% de esterco ou 60% de solo e 40% de cama avirio. imprescindvel que o esterco e o p de serragem estejam devidamentecurtidos. A produo dos porta-enxertos deve ser efetuada em viveiro comcobertura de tela sombrite que permita a interceptao de 50% da radia-o solar.

    Em geral, porta-enxertos de bacuripazeiro esto aptos para seremenxertados dez a doze meses aps a emergncia das plntulas, ocasio emque apresentam altura entre 40cm e 45cm, dimetro basal entre 0,8cm e1,0cm e nmero de folhas entre 24 e 30.

    Na Fazenda Experimental da Universidade Estadual do Maranho(Uema) so mantidas em observao cinco plantas de bacuri de cerca detrs anos de idade e 2,5m de altura, enxertadas em bacuripari verdadeiro,apresentando bom vigor e desenvolvimento (Figura 4). At o presente, acombinao tem mostrado afinidade morfofisiolgica, no exibindo sinto-mas aparentes de incompatibilidade, conforme pode ser observado pelaausncia de crescimento radial desigual dos respectivos caules, abaixo eacima do ponto de enxertia (Figura 5).

    Figura 3 Curso da germinao de sementes de bacuripari (Rheedia macrophylla (Mart.) Pl. et.Tr.), em funo do tempo (Carvalho, J. E. U.).

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    Na regio de enxertia, aps a retirada de uma poro de casca de 5,0cmde largura por 12cm de altura, verificou-se uma perfeita regenerao ecicatrizao dos tecidos e de colorao n