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AVM PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL RESSOCIALIZAÇÃO DO EX-DETENTO NO BRASIL PAULA SANDRA RIBEIRO DA SILVA Orientador: Francis Rajzman RIO DE JANEIRO 2012

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AVM PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL

RESSOCIALIZAÇÃO DO EX-DETENTO NO BRASIL

PAULA SANDRA RIBEIRO DA SILVA Orientador: Francis Rajzman

RIO DE JANEIRO 2012

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PAULA SANDRA RIBEIRO D SILVA

RESSOCIALIZAÇÃO DO EX-DETENTO NO BRASIL

Trabalho apresentado à diretoria do curso de pós-graduação em Direito Penal e Processo Penal da AVM Pós-graduação, como requisito parcial para a conclusão da referida especialização. Prof.Orientador:.Francis Rajzman

RIO DE JANEIRO

2012

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RESSOCIALIZAÇÃO DO EX-DETENTO NO BRASIL

PAULA SANDRA RIBEIRO DA SILVA

Aprovado em ____/____/_____.

BANCA EXAMINADORA

____________________Francis Rajzman_____________________________ Nome Completo (orientador)

Titulação Instituição

_________________________________________________ Nome Completo

Titulação Instituição

_________________________________________________ Nome Completo

Titulação Instituição

CONCEITO FINAL: _____________________

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pela saúde e disposição. A paciência da minha filha Maira, pelo momentos em que me ajudou, ouviu, opinou mesmo contra vontade. A simpatia e cooperação de alguns professores que me incentivaram até aqui.Em particular a mais nova amizade, que tornou um elo forte e muito me ajudou neste curso, a minha colega Rosana. Por momentos de dor nálma em terminar esta monografia, que fora um misto de realidade neste termino.

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RESUMO

O presente trabalho foi construído como um a solicitação do curso de Pós- graduação em Direito Penal e Processo penal e teve como foco principal a análise da situação vivenciada pelos ex-dententos no Brasil, considerando-se o fato de o sistema prisional brasileiro não oferecer boas condições para que o indivíduo se recupere e retorne ao convívio social, sendo reintegrado às atividades normais exercidas pela maioria dos cidadãos de bem. Como forma de se trabalhar a questão do ex-detento, seguindo os princípios metodológicos previstos para desenvolvimento de trabalhos científicos, foi realizado levantamento bibliográfico com foco na obtenção de documentos que tratassem não só do ex-detento brasileiro e de sua situação, mas também da Constituição Federal, do Código Penal, de leis, decretos, entre outros conteúdos que trouxessem embasamento ao trabalho, permitindo assim a realização de uma análise mais completa e que pudesse, de certa forma, responder de modo conciso e objetivo, qual o papel do Estado e da sociedade na recuperação do ex-detento, de modo que esse deixe de ser um risco e passe a contribuir favoravelmente para o desenvolvimento econômico e social do seu país. Palavras-chave: Ex-detentos; Sistema Prisional Brasileiro; Convívio Social.

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ABSTRACT

This work was built as a request from the Postgraduate course in Criminal Law and Criminal and had as main focus the analysis of the situation experienced by ex-dententos in Brazil, considering the fact that the Brazilian prison system does not offer good conditions for the individual to recover and return to social life, being restored to normal activities carried out by most law-abiding citizens. As a way to work the issue of ex-inmate, following the principles laid down for development of methodological papers, literature was conducted with a focus on obtaining documents that addressed not only the Brazilian and former inmate of his situation, but also the Federal Constitution, the Penal Code, laws, decrees, and other content that bring basement to work, thus making a more complete analysis and could in some way, respond in a concise and objective, the role of the State and society in the recovery of ex-con, so this is no longer a risk and start to contribute favorably to the economic and social development of their country. Keywords: Ex-inmates; Brazilian Prisons, Social Gathering.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Situação dos presídios brasileiros.............................................................. 19

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SUMÁRIO CAPÍTULO 1- SISTEMA PRISIONAL ....................................................................... 12 1.1 Breve histórico ..................................................................................................... 12 1.2 Sistema prisional brasileiro .................................................................................. 15 CAPÍTULO 2 - SAÚDE NO SISTEMA PRISIONAL ................................................... 20 2.1 A saúde dos indivíduos mantidos sob custódia do Estado no sistema prisional 2.1.1 Lei 8.080 ........................................................................................................... 24 CAPÍTULO 3 – DIREITOS HUMANOS ..................................................................... 25 3.1 Direitos humanos do detento ............................................................................... 25 CAPÍTULO 4 – RESSOCIALIZAÇÃO DO EX-DETENTO ......................................... 28 4.1 Predisposição ao crime ....................................................................................... 28 4.2 Procedimentos legais .......................................................................................... 30 4.3 Nova chance ....................................................................................................... 32 4.4 Capacitação para o mercado de trabalho............................................................ 33 4.5 Apoio da família no processo de ressocialização ................................................ 35 4.6 Função ressocializadora da pena ........................................................................ 37 5 APRESENTAÇÃO DOS DADOS ........................................................................... 40 5.1 Descrição dos projetos ........................................................................................ 42 5.1.1 Formação empreendedora ............................................................................... 42 5.1.2 Formação e certificação dos multiplicadores .................................................... 42 5.1.3 Oficina crescendo com cidadania ..................................................................... 42 5.1.4 Ponto de cultura olhar verde ............................................................................ 43 5.1.5 Esportividade ideal ........................................................................................... 43 5.2 Superação: casos de sucesso ............................................................................. 44 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 46 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 48

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INTRODUÇÃO

Na atualidade o sistema prisional brasileiro enfrenta uma série de problemas,

os quais advêm da ausência de investimentos, da superlotação das cadeias, da falta

de preparo dos agentes e, principalmente da carência de políticas públicas que

preparem o ex-detento para uma a vida fora do cárcere, de modo que este possa

viver em harmonia com a sociedade, não mais oferecendo risco à mesma.

De acordo com Assis1 (2007) a situação atual do sistema prisional brasileiro

pode ser compreendida por meio das inúmeras ocorrências de fuga, de rebeliões e

até mesmo pelo retorno do preso ao mundo crime. O autor aponta que em média,

cerca de 90% dos presos retomam as práticas criminosas, voltando assim a delinquir

e, por esses motivos, a ser reencaminhado ao sistema prisional.

Considera-se que o insucesso do sistema prisional brasileiro esteja

relacionado à falta de políticas que tornem o sistema prisional mais humanizado,

fazendo assim cumprir a legislação protetiva e, principalmente fazendo uso de

medidas de ressocialização e de assistência ao preso após o mesmo ser libertado.

Na visão de Assis (2007) os problemas relacionados ao retorno do preso no

mundo do crime, o que culmina em grande parte de reincidência de atos criminosos,

está estritamente relacionado à ausência de apoio efetivo a esse egresso.

Diante da situação prisional no Brasil, pode-se dizer que, em sua grande

maioria, o sistema carcerário encontra-se com suas celas superlotadas, precárias e

até insalubres, o que certamente contribui para proliferação de doenças.

Além dos aspectos citados, pode-se dizer que além dos problemas

estruturais, em muitos casos, os presos são condicionados ao sedentarismo , à falta

de higiene, à má alimentação, entre outros fatores que tornam esses indivíduos mais

propensos ao uso de drogas e ao retorno a práticas de ações criminosas, sendo

que, tais ações, por vezes, ocorrem dentro das próprias celas.

Segundo Assis (2007), em muitos casos os presos são colocados em celas

onde existem detentos portadores de doenças graves como tuberculose, HIV, entre

outras, o que contribui para que os demais presos sejam contaminados. Também há

1 ASSIS, Rafael Damaceno. A realidade atual do sistema penitenciário brasileiro. Revista CEJ, Brasília, Ano XI, n. 39, p. 74-78, out./dez. 2007.

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casos de presos portadores de problemas mentais, de deficiência física, entre outros

males que são colocados em celas comuns, juntamente com outros presos “sadios”.

Considera-se que as situações desumanas a que são submetidos os presos

no sistema carcerário brasileiro pode se assemelhar a uma dupla penalidade, isso,

por que além de cumprir a sua pena, o preso ainda é obrigado a sobreviver em um

local onde há péssimas condições de higiene e onde estará propenso a adquirir toda

sorte de doenças.

Pode-se dizer que na maioria das vezes, o disposto na lei de nº 7.210, de 11

de julho de 1984, a qual institui a lei de execução penal, não é cumprido. Isso, pelo

fato do art. 40 apontar que Art. 40 apontar que todas as autoridades devem primar

pelo respeito à integridade física e moral dos condenados e dos presos provisórios,

o que, geralmente não acontece.

Legalmente, o preso possui uma série de garantias, as quais estão previstas

para cumprimento durante a execução da pena, além dos direitos humanos

previstos em estatutos legais. Nesse âmbito, Assis (2007) salienta que no campo

legislativo, o estatuto executivo-penal brasileiro é tido como um dos mais avançados

e um dos mais democráticos que existe e, isso, por considerar que a execução da

pena deve estar baseada no principio da humanidade e da legalidade.

Entretanto, essas questões dificilmente são seguidas, tendo em vista que, na

prática são comuns os casos em que há violação dos direitos, de modo que o preso

não perde a apenas a sua liberdade, mas também direitos fundamentais a uma vida

com qualidade e respeito.

São inúmeros os casos em que os detentos são castigados, sejam esses

castigos físicos ou psicológicos, mas que certamente degradam a personalidade e a

dignidade do indivíduo. Desta forma, este, ao ser libertado, não terá as mínimas

condições de retornar à sociedade e conviver com os seus pares em harmonia.

Assis (2007) enfatiza que dentro do sistema prisional, o preso, por vezes, é

submetido a uma série de torturas e também agressões físicas, sejam essas

provenientes dos próprios colegas de cela ou dos responsáveis pela vigilância dos

cárceres, como agentes do sistema prisional.

Situações como essas se agravam ainda mais quando há ocorrência de

rebeliões, já que, como castigo, os detentos passam a sofrer agressões mais

acentuadas e até abusos, os quais partem também dos policiais, já que, esses são

designados para conter o caos gerado pelas ditas rebeliões.

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Na visão de Assis (2007) muitos dos castigos terminam em execução, as

quais nem sempre são noticiadas. Como exemplo, o autor cita o massacre do

Carandiru ocorrido no ano de 1992, situação em que 111 presos foram executados.

O fato dos presos que se encontram no sistema carcerário estarem nessa

situação por terem cometido algum tipo de crime, o qual em alguns casos causa

comoção nacional, contribui para que a sociedade seja de certa forma, conivente

com as situações desumanas vivenciadas nos presídios.

Grande parte das pessoas discorda do fato de o Estado custear a

permanência dos no sistema prisional e, isso, pelo fato dessa permanência consumir

boa parte dos recursos públicos, os quais poderiam ser empregados em áreas

cruciais como saúde e educação.

Contudo, há que se considerar que os desvios de conduta devem ser

compreendidos como um problema social, problema este que deve ser tratado, de

modo que o indivíduo se recupere, podendo assim retornar ao convívio social, não

oferecendo mais risco à população.

Dessa forma, entende-se que o indivíduo não terá condições de se recuperar

em um ambiente onde é torturado e tratado de forma cruel e desumana, onde a

violência é tida como um meio de castigo e disciplina.

Geralmente, a situação vivenciada pelo preso dentro do sistema prisional é

praticada quando o mesmo retorna à vida em sociedade. Ou seja, se dentro dos

cárceres os mesmos cometem e são acometidos por práticas de espancamento,

extorsão, abusos sexuais, entre outras, a tendência é que ao se tornarem egressos,

tais práticas voltem a ser cometidas e, isso, pelo fato desses indivíduos, ao

vivenciarem situações como as citadas acima, passarem a tê-las como modelo de

conduta.

Diante se tais apontamentos é possível dizer que a mudança do cenário

prisional atual, só ocorrer quando a sociedade e as autoridades se conscientizarem

quanto à necessidade de adoção de políticas capazes de reverter a situação

vivenciada dentro do sistema prisional, sejam as situações vivenciadas pelos presos,

sejam as vivenciadas pelos profissionais que atuam no sistema prisional. Além

disso, há que se considerar que a melhor solução para os casos de reincidência de

crimes só poderá ser mudada por meio da adoção de políticas de apoio ao egresso,

além da fiscalização para haja cumprimento de fato do disposto na lei 7.210 que

trata da execução penal.

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Salienta-se que o presente trabalho, o qual foi uma solicitação do curso de

pós-graduação em Direito Penal e Processo Penal, teve por objetivo descrever o

modo como a sociedade e Governo têm trabalhado em prol dos ex-detentos,

contribuindo para que esses possam regressar ao convívio social.

Nesse âmbito, houve a necessidade de realização de pesquisa teórico-

bibliográfica em livros, artigos, leis, decretos, portarias, entre outros, com o intuito de

obter embasamentos que garantissem credibilidade e confiabilidade ao trabalho.

Para responder ao objetivo geral, foram feitos levantamentos acerca de temas

que tratassem do sistema carcerário brasileiro, considerando um breve histórico e

literaturas que apontassem sobre o seu funcionamento.

Também foram feitas pesquisas acerca das leis que amparam os detentos,

além da realização de abordagens sobre a existência e funcionamento de medidas

de assistência ao egresso.

Além disso, também houve o interesse em analisar o modo como a sociedade

pensa e trata o ex-detento, se lhe concede confiança, se as empresas dão

oportunidade e, principalmente, se o indivíduo faz bom uso dessas oportunidades.

Assim, é possível dizer que o trabalho, o qual foi embasado principalmente

em referenciais teóricos, teve sua construção motivada por certa curiosidade com

relação ao tema, o qual teve como foco a ressocialização do preso.

Diante de tais apontamentos, pode-se dizer que, o trabalho, o qual foi

construído de acordo com os parâmetros científicos acadêmicos, teve por interesse

apresentar análises por meio de uma pesquisa de abordagem qualitativa de modo a

interpretar os fenômenos e atribuir significado à pesquisa, a qual teve como base,

além dos referenciais bibliográficos que tratam do tema já mencionado, o Informativo

Uma Chance, o qual se constitui em uma publicação do projeto Incubadora de

Empreendimentos para Egressos (IEE), apresenta, além de conceituações acerca

dos aspectos que compreendem a ressocialização, uma série de exemplos de

oficinas, projetos, cursos de capacitação, entre outras medidas que obtiveram e que

obtêm sucesso na preparação e reintegração do ex-detento.

Assim, é possível dizer que, por meio da referida pesquisa, objetivou-se

apontar, de modo objetivo, medidas já utilizadas e também a serem adotadas como

forma de reverter a situação prisional atual, ressociabilizando os ex-detentos e

garantindo aos mesmos, aos seus familiares e à sociedade em geral, uma vida com

mais qualidade e segurança.

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CAPÍTULO 1- SISTEMA PRISIONAL

1.1 Breve histórico De acordo com Batistela (2009) o sistema punitivo teve início na antiguidade

clássica. Dessa forma, considera-se que na Grécia a punição decorria do crime e

era tida como uma fatalidade. Platão (cuja obra Gerogias, mostrava que o castigo

por meio da pena era aplicado como retribuição ao mal cometido), e Aristóteles (cuja

obra Política, apontava a pena como caráter intimidatório e, além intimidar o infrator,

de modo que o mesmo não cometesse mais delitos, deveria servir com exemplo aos

demais) são apontados como embasamento para a construção do Direito Penal

Grego. Considera-se que Aristóteles, por meio de suas construções éticas e

jurídicas, tenha influenciado grandemente o Direito Penal adotado no ocidente.

Pode-se dizer que a pena tornou-se civil e pública, sendo que, em Atenas,

passou a ser distinta a defesa do bem do Estado, o qual era tratado com maior rigor;

da religião e também do particular.

Considera-se que a contribuição dos gregos no que concerne aos

fundamentos do direito culminou na efetividade da punição e, principalmente, na

determinação da finalidade da pena.

Em se tratando de Roma, pode-se dizer que o direito Penal Romano deu

origem a inúmeros institutos jurídicos, além de ter deixado grande quantidade de

documentos jurídicos que passaram a servir de embasamento. Vale ressaltar que

Roma foi uma região onde houve rápida separação entre o direito e a religião.

Dessa forma, de acordo com Batistela (2009) no ano de 509 a.C. houve a

efetiva separação entre a religião e o Estado em Roma, culminando assim na

implantação da República. Pode-se dizer que a principal característica do direito

penal romano consistia em:

• Afirmar o caráter público e social do Direito Penal;

• Ampliar o desenvolvimento alcançado pela doutrina da imputibilidade,

culpabilidade, bem como suas excludentes;

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• Diferenciar o elemento doloso (advindo da vontade delituosa e da consciência

da injustiça);

• Ampliar a teoria da tentativa, a qual não se desenvolveu por completo;

• Reconhecer as causas de justificação (legítima defesa, entre outros);

• Enfatizar que a pena era uma reação pública e que o Estado era o

responsável por sua aplicação;

• Enfatizar sobre a existência de uma distinção entre crimina pública, delicta

privata, além de prever a delicta extraordinária;

• Mostrar a diferenciação entre autoria e participação.

No período medieval, pode-se dizer que o direito penal tinha a característica

de ser cruel, sendo que, o juiz poderia aplicar penas mesmo que essas não

estivessem previstas na lei. Dessa forma, também não havia garantia de respeito à

integridade física do condenado e do investigado.

Já na idade moderna, houve a criação de prisões para correção dos

condenados, sendo que, o sucesso das primeiras prisões criadas na Inglaterra e em

Amsterdã contribuiu para que mais unidades fossem construídas ao longo do

território europeu.

De acordo com Batistela (2009) a mudança da prisão-custódia para prisão-

pena ocorreu por motivação econômica, já que, o Estado necessitava de um

instrumento que sujeitasse o infrator ao capitalismo. Dessa forma, considera-se que

o fato de o indivíduo ser privado de sua liberdade, contribuiu para o surgimento das

casas de detenção e também das penitenciárias.

Em se tratando do Brasil, Batistela (2009) aponta que no período colonial era

extremamente difícil realizar ajustamento das leis às leis da metrópole, isso, pelo

fato das pessoas que vinham para o Brasil não se preocuparem com o que era certo

ou errado e, tampouco com o que estava prescrito judicialmente.

Considera-se que no regime das capitanias, o poder se concentrava nas

mãos do donatário, o qual era representado por um direito informal e que tinha o

intuito de manter a ordem social e também jurídica.

Pode-se dizer que o império da lei tornou-se um pouco mais efetivo no

período dos governos gerais, já que, na referida época havia um quadro de

funcionários destinados à aplicação e também à execução de medidas penais.

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Segundo Batislela (2009) as Ordenações Filipinas,consideradas como as

mais longas ordenações , impunham penas rigorosas, com penalidades que

compreendiam amputação de braços ou mãos, destinação à força ou a fogueira,

entre outros. Vale ressaltar que as penas mais severas eram destinadas aos crimes

homicídio, latrocínio, entre outros.

No caso da permanência da Coroa portuguesa no Brasil, considera-se que

essa não trouxe mudanças significativas que ocasionasse mudança na legislação

penal, de modo que a evolução ocorreu ao longo dos anos.

Batistela (2009) afirma que adventos como a Independência do Brasil e a

promulgação da Carta Constitucional no ano de 1824 fizeram com que a

necessidade de substituição da legislação do reino se tornasse visivelmente

necessária.

Dessa forma, foi criado o Código Criminal do Império, o qual estabelecia três

tipos de crimes, dentre esses, os públicos, os particulares e os policiais. Nesse

âmbito, o governo imperial enquanto poder soberano poderia aplicar as penalidades

contidas no Código, dentre essas, a de prisão perpétua e até a condenação à morte.

Vale ressaltar que o referido Código, mais tarde, ou seja, no ano de 1830,

veio a se tornar no primeiro Código Penal autônomo da América Latina. Dentre as

disposições, o inc. VIII do art. 179 considerava que as cadeias deveriam ser

seguras, limpas e arejadas, devendo haver casas para que os réus pudessem ser

separados de acordo com as circunstâncias e também natureza de seus crimes.

Batistela (2009) aponta que após promulgação do Código Criminal do

Império, houve a promulgação do Código de Processo ocorrida em 1832, o qual

constituiu até o final do ano de 1941 a lei processual.

A promulgação da República ocorrida no ano de 1889 fez com que houvesse

a necessidade de reformas na legislação criminal. Assim, o decreto de 11 de outubro

de 1890determinou que o Brasil teria um novo Código Penal, mas devido a inúmeras

criticas, em 1942 entrou em vigor o projeto par o nono Código, o qual fora criado em

1940.É possível dizer que o Código de 1940 unificou as bases do direito punitivo

democrático e liberal.

Dentre as mudanças do Código Penal de 1940 estava a retirada de punições

como pena de morte e prisão perpétua, já que, a penalidade máxima passou a ser

de 30 anos.

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A decisão do governo em fazer uma reforma na legislação criminal no ano de

1961 culminou na promulgação em 1984 da lei de execução penal de número 7.210,

o qual está vigente na atualidade.

1.2 Sistema prisional brasileiro

Hodiernamente, a imprensa noticia casos que demonstram o modo extremo

em que tem funcionado o sistema prisional brasileiro. São casos que vão desde a

falta de vagas até a precariedade dos serviços, os quais comprometem a

recuperação dos detentos.

De acordo com Diniz (1996) grande parte dos problemas vivenciados pelos

diretores, agente de demais profissionais do sistema carcerário e, principalmente,

pelos detentos, deve-se a carência de recursos, uma vez que a criação e a

manutenção dos sistemas prisionais requerem altos investimentos.

Diniz2 (1996) aponta que no referido ano (1996) o Brasil possuía 511

estabelecimentos carcerários, os quais tinham capacidade para abrigo de 60 mil

presos, mas que até então armazenavam cerca de 130 mil, ou seja, mais que o

dobro da sua capacidade. Além disso, no período, havia aproximadamente 275 mil

mandados de prisão expedidos e que precisavam ser cumpridos.Ainda de acordo

com o autor, os presos custavam ao governo cerca de 4,5 salários mínimos ao mês,

totalizando o valor total de 60 milhões ao mês.

Fatores como esses tem feito com que sejam estudadas outras medidas, as

quais, segundo Diniz (1996) podem ser encontradas na própria legislação criminal.

Dentre essas medidas está a adoção de penas alternativas, as quais seriam

estipuladas de acordo com a gravidade dos crimes.

Nesse âmbito, a lei 7.209, de 11 de julho de 1984, a qual altera os

2 DINIZ, Eduardo Albuquerque Rodrigues. Realidade do sistema penitenciário brasileiro. Jus Navigandi,Teresina, ano1, n.1, nov. 1996 . Disponível em:< http://jus.com.br/revista/texto/1008/realidade-do-sistema-penitenciario-brasileiro>. Acesso em: jul. 2012.

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dispositivos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal,

aponta em seu art. 32 que as penas podem ser privativas de liberdade, restritivas de

direito e de multa (BRASIL, 1984, art. 32, inc. I – III).

O art. 42 da lei 7.209 salienta que:

“Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em qualquer dos estabelecimentos referidos no artigo anterior” (BRASIL, 1984, art.42).

Já o art. 43 da mesma lei relata sobre as penas restritivas de direito, as quais

são prestação de serviços; interdição temporária de direitos; limitação de fim de

semana (BRASIL. 1984, art. 43, inc. I - III).

No que diz respeito à limitação de fim de semana, o art. 48 da lei 7.209

aponta que:

A limitação de fim de semana consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por cinco horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado (BRASIL, 1984, art. 48, caput ).

O parágrafo único também do art. 48 aponta que “Durante a permanência

poderão ser ministrados ao condenado cursos e palestras ou atribuídas atividades

educativas” (BRASIL, 1984, art. 48, parágrafo único).

Desta forma, Diniz (1996) enfatiza que uma das alternativas para desafogar o

sistema carcerário brasileiro seria a aplicação das penas alternativas, contudo, há

necessidade de verificação e análise minuciosa dos crimes cometidos e da situação

do infrator, de modo que a pena seja condizente com o crime e/ou delito cometido,

uma vez que os crimes são diferentes.

Nesse âmbito, as penas alternativas poderiam sim ser uma solução para o

sistema penitenciário e, isso, por reduzir os custos do Estado e por “trazer” retorno

social e também educacional para a sociedade.

Nesse âmbito, o Portal do Ministério da Justiça3 (2012) descreveu sobre as

novas regras para criação de núcleos de penas alternativas, apontando que os

3 PORTAL Ministério da Justiça. Novas regras para criação de núcleos de penas alternativas, 2012. Disponível em:<

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Tribunais Estaduais, os Ministérios Públicos e as Defensorias Públicas Estaduais já

podiam receber recursos do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) com a

finalidade de se criar núcleos para acompanhamento das penas e das medidas

alternativas e também para criação de núcleos de defesa dos presos provisórios.

Vale ressaltar que os recursos destinados eram da ordem de 4,2 milhões e

que o valor mínimo por projeto era da ordem de 100 mil; tudo, com o intuito de

contribuir para que as instituições contempladas pudessem implantar seus núcleos

em até 02 anos.

De acordo com o Portal do Ministério da Justiça (2012), os núcleos de

acompanhamento das penas , amparado por assistentes sociais, pedagogos, entre

outros profissionais, estaria apto a fornecer atendimento psicossocial ao detento, de

modo a assegurar o cumprimento da sentença, avaliando também se a punição

estaria proporcionando os resultados almejados. Considera-se também como

objetivo dos núcleos de acompanhamento, a ressocialização do preso, de modo que

este também pudesse refletir sobre a sua infração. É importante dizer que apenas as

infrações cuja punição resulte em penas inferiores a 4 anos podem receber as penas

alternativas.

Em se tratando dos presos provisórios, o Portal do Ministério da Justiça

(2012), salienta que o Núcleo de Defesa dos Presos Provisórios era responsável

pelo atendimento do indivíduo ainda não condenado desde a prisão. Nesse âmbito,

o acusado pode ser assistido por psicólogos, pedagogos, assistentes sociais, entre

outros profissionais, dentre esses, os defensores públicos, como forma de reinserir o

indivíduo social e profissionalmente.

O Portal ainda afirma que algumas regiões, dentre essas, as de São Paulo,

Bahia, Minas Gerais, Pernambuco e Piauí, já possuem estruturas próprias e não

mais dependiam de verbas do Ministério da Justiça.

A importância do núcleo de penas alternativas está, principalmente, no

crescimento da aplicação dessa penalidade, pois de acordo com o Portal do

Ministério da Justiça (2012), o número de presos provisórios no sistema prisional

chegava a praticamente 40%, tendo como referência a quantidade de presos no

http://portal.mj.gov.br/depen/data/Pages/MJ8F939E3DITEMIDDB8F6E83039F46B19D05026B5D9CA6D5PTBRNN.htm>. Acesso em: jul. 2012.

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país, a qual atingia em abril de 2012 a Marca de 514 mil. Considera-se que a maioria

dos presos tenham cometido crimes cuja penalidade a ser aplicada poderia se a de

medidas alternativas.

O Portal enfatiza que o Sistema Brasileiro de Penas e Medidas Alternativas foi

reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), sendo considerado como

umas das melhores práticas para redução e contenção da superlotação dos

presídios em todo o mundo.

Sob esse enfoque, considera-se que o Depen está empenhado em apoiar e

divulgar as medidas de prisão alternativa, considerando-se, para tanto, apenas os

criminosos que cometeram delitos de menor gravidade. Além disso, pode-se dizer

que a criação da Estratégia Nacional de Alternativas Penais (Enape) criada em

dezembro do ano de 2011 sob proteção do Ministério da Justiça objetivou apoiar a

política e também a criação de estruturas capazes de acompanhar a execução das

penas alternativas aplicadas nos estados e municípios, salientando que, a Enape

fora criada a partir da Portaria de nº 2.594, de 24 de novembro de 2011, a qual cria a

estratégia nacional de alternativas penais, sendo coordenada pelo Depen, de modo

que seu art. 1º enfatiza que:

Fica criada, no âmbito do Ministério da Justiça, a Estratégia Nacional deAlternativas Penais - ENAPE, com o objetivo de fomentar a política e a criação de estruturas de acompanhamento à execução das alternativas penais nos Estados e Municípios. Art. 2º A ENAPE será coordenada pelo Departamento Penitenciário Nacional - DEPEN, garantida a intersetorialidade (BRASIL, 2011, art. 1º).

O Portal de notícias Tribuna do Norte4 apresentou uma imagem da situação

vivenciada pela maioria dos presos e dos sistemas penitenciários brasileiros,

ilustrando o que tem sido tratado ao longo do trabalho e que diz respeito às más

condições do sistema carcerário brasileiro.

4 PORTAL Tribuna do Norte. CPI deverá propor padronização de procedimentos nos presídios, abr. 2008. Disponível em:< http://tribunadonorte.com.br/noticia/cpi-devera-propor-padronizacao-de-procedimentos-nos-presidios/72322>. Acesso em: jul. 2012.

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Figura 1: Situação dos presídios brasileiros. (Fonte: Portal Tribuna do Norte).

O portal ainda salienta sobre a proposta de mudanças advindas da Comissão

Parlamentar do inquérito (CPI) do sistema carcerário como forma de alterar a lei de

Execução Penal e também de realizar mudanças na administração dos presídios.

Dentre os objetivos da proposta, estava o de padronização, uniformidade, normas e

procedimentos nos presídios, tendo em vista que no período em que tais fatos foram

observados, foi possível identificar que nas unidades prisionais, cada diretor

administrava a seu modo, mesmo diante da existência de uma lei nacional.

Vale ressaltar que tal proposta ocorreu no ano de 2008, contudo, na

atualidade, apesar de terem se passado mais de 4 anos, o que se observa é uma

situação praticamente igual, senão pior, a relatada pelo Portal Tribuna do Norte.

Nesse âmbito, pode-se inferir que o sistema prisional brasileiro apresenta sim

uma série de carências, mas que a mobilização do poder público, da sociedade e a

adoção consciente das penas alternativas, pode contribuir de modo considerável

para a diminuição dos problemas carcerários, além de auxiliar na aplicação de

medidas benéficas para a ressocialização daqueles que, por terem se desviado da

boa conduta, acabaram por cometer crimes, colocando em risco o bem-estar social.

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CAPÍTULO 2 - SAÚDE NO SISTEMA PRISIONAL

2.1 A saúde dos indivíduos mantidos sob custódia do Estado no sistema prisional

Conforme citado anteriormente, a superlotação das celas facilita a

transmissão de doenças entre os detentos. De acordo com Assis (2007) a

precariedade e a insalubridade dos sistemas prisionais tem feito com que o

ambiente torne-se propício à proliferação de endemias.

Outra questão abordada diz respeito a má alimentação do presos,

considerando-se também os casos em que esses se recusam a ingerir alimentos

como forma de protesto. Há também problemas relacionados ao sedentarismo, à

dependência de álcool e drogas, a ausência de higiene, entre outros fatores que são

vivenciados cotidianamente por aqueles que se encontram encarcerados.

De acordo com Assis (2007) por viverem por um longo período nessas

condições, o preso tende a ter sua resistência física diminuída e sua saúde

fragilizada, sendo que, se não forem acometidos por um doença dentro do sistema

carcerário, estarão mais propensos a serem contaminados também fora do cárcere

e, isso, por terem seu sistema imunológico debilitado.

Considera-se que as doenças mais comuns a que os presos estão sujeitos

são a tuberculose, a pneumonia, a hepatite, além de doenças venéreas em geral,

considerando-se também a Aids. Assis (2007) enfatiza que cerca de 20% dos

detentos brasileiros sejam portadores de HIV, sendo que, grande parte desses

casos deve-se a relações homossexuais, as quais ocorrem majoritariamente por

meio da violência sexual ocorrida dentro do próprio sistema carcerário e também

devido ao uso compartilhado de seringas, as quais são utilizadas para injeção de

drogas.

Além das doenças transmissíveis, há também casos de presos portadores de

doenças mentais, detentos portadores de câncer, portadores de deficiência física e

até de doenças contagiosas como a hanseníase.

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De acordo com Assis (2007) o atendimento de saúde é precário e, em se

tratando da saúde bucal, o atendimento prestado pode ser resumido em extrações

de dentes e não de tratamento dentário.

Quando assunto é tratamento médico mais específico, por esse não existir

dentro do sistema carcerário, o detento necessita ser removido para unidades de

atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Contudo, a remoção para os

hospitais requer escolta da Polícia Militar (PM), escolta essa que é demorada e

depende de profissionais disponíveis no momento. Ao ser removido, o preso, assim

como grande parte da população brasileira que depende do SUS, pode não

encontrar vagas para ser atendido.

Na visão de Assis (2007) questões como essas contribuem para que os

presos sejam penalizados duplamente; ora pelo cumprimento de uma pena

decorrente de uma ação que fere o disposto nas leis e que coloca em risco o bem

estar social e, ora por estar sujeito à precariedade, tanto do sistema prisional quanto

dos recursos públicos.

Pode-se dizer que a situação críticos a que os presos são submetidos quando

o assunto é saúde, fere o disposto no inc. VII do art. 40 da lei 7.210 (Brasil, 1984)

que trata da Lei de Execução Penal, a qual afirma ser de responsabilidade do

Governo garantir “assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e

religiosa” dos condenados e também dos presos provisórios.

Assis (2007) atenta para outra questão também relacionada à garantia de

saúde do detento e aponta o inc. II do art. 117 da lei 7.210 (Brasil, 1984), o qual

dispõe que o preso condenado acometido por doença grave poderá ser

recolhimento do regime aberto para residência particular. Dessa foram, o preso na

situação descrita acima não precisará ser mantido em cárcere, poupando assim a

saúde e a dos demais detentos.

Ainda em se tratando do recolhimento do detento enfermo em regime aberto,

considera-se que tal questão também está relacionada ao fato de o Brasil não fazer

uso da pena de morte. Assim, se o sistema prisional é incapaz de fornecer os

devidos cuidados como forma de manter a boa saúde do preso portador de doença

grave, o mesmo, se não for removido para tratamento domiciliar, terá grandes

chances de chegar ao óbito dentro do regime prisional.

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De acordo com Assis (2007) ao manter um preso em estado deplorável dentro

do sistema carcerário faz com que a pena deixe de ser uma medida ressocializadora

e ainda fere o disposto no art. 1º da lei 7.210, a qual institui a lei de execução penal

e que considera que “A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de

sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração

social do condenado e do internado” (BRASIL, 1984, art. 1º).

O Ministério5 da Saúde (MS / 2010) publicou a Legislação da Saúde no

Sistema Penitenciário, afirmando que a referida publicação teve por objetivo

socializar algumas normativas ao conjunto de parcerias que objetivam atender às

pessoas privadas da sua liberdade, além de auxiliar os gestores estaduais e

municipais dos Planos Operativos de Saúde no Sistema Penitenciário (POE).

De acordo com o MS (2010) a referida publicação teve por meta servir como

instrumento de decisão, a qual está pautada em bases legais, salientando que boa

parte das questões que dizem respeito ao sistema penitenciário não está prevista

em leis específicas.

Diante desses aspectos, considera-se que o Plano Nacional de Saúde no

Sistema Penitenciário (PNSSP) foi criado visando contribuir para que as ações e

serviços de saúde no sistema penitenciário pudessem ser organizados tendo como

base os princípios do SUS, garantindo assim a descentralização da gestão, a

atenção integral e a participação da comunidade.

Sob esse aspecto, é possível dizer que a Legislação tem por intuito servir de

instrução para consolidação dos princípios que parametrizam a saúde no sistema

penitenciário, sendo que, dentre esses princípios está a universalidade, a equidade

e intersetorialidade.

De acordo com o MS (Brasil, 2010), o PNSSP entende a saúde não só em

seu aspecto físico, mas também psicológico e emocional. Por esse motivo, traz

discussões e apontamentos acerca das unidades para reclusão de mulheres,

tratando das questões referentes às detentas mães, sobre o processo que

compreende a permanência da mãe com o bebê, além de considerações, todas

embasadas juridicamente, acerca do(a) detento(a) idosa, das visitas íntimas, dos

5 BRASIL. Ministério da Saúde. Legislação: saúde no sistema penitenciário. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.

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detentos(as) com deficiência ou portadores de doença mental, dos alcoólatras e

viciados em drogas, entre outras situações que por afetarem o aspecto físico e

emocional, passam a ser considerados como caso de saúde pública.

Entretanto, é importante reiterar que, apesar de todos os aparatos existentes,

os quais são garantidos por lei, o tratamento que o detento recebe (atentando-se

para a saúde) deixa muito a desejar e, isso, por não ser realizado como deveria.,

Nesse âmbito, pode-se dizer que as questões apontadas podem ser

exemplificadas pela forma como os detentos são tratados (em nível prevenção de

doenças e atendimento à saúde) e como retornam à sociedade, já que, em muitos

casos, os detentos adquirem doenças, até mesmo graves, dentro dos sistemas

prisionais que não seguem de modo efetivo as indicações dos órgãos de saúde

pública, das leis e das portarias no que condiz à proteção da saúde do detento, o

qual antes de ser detento, deve ser considerado como um cidadão.

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2.1.1 Lei 8.080

A lei de nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, dispõe sobre as condições para

promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos

serviços correspondentes e dá outras providências.

Em se tratando da saúde dos indivíduos, a lei 8.080 (Brasil, 1990) aponta em

seu art. 2º, caput, que “A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o

Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”.

Em se tratando das doenças, o § 1° do art. 2º dispõe que:

O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1990).

Nesse âmbito, subentende-se que o Estado deve garantir a redução dos

riscos de doenças e também de outros agravos, abrangendo também as pessoas

que estão, temporariamente, privadas de sua liberdade.

O parágrafo único ainda do art. 2º salienta que, assim como apontado no

tópico anterior, as ações de saúde compreende o bem-estar físico, mental e também

social (BRASIL, 1990).

Outro ponto considerado como necessário a ser apresentado diz respeito a

universalidade de acesso aos serviços de saúde, uma vez que, o art. 7º aponta que :

As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal (BRASIL, 1990) [...].

Seguindo o disposto no art. 7°, o inc. I garanti “universalidade de acesso aos

serviços de saúde em todos os níveis de assistência”. Dessa forma, subentende-se

também a assistência a ser fornecida aos detentos.

Assim, é possível dizer que apesar de estar privado de sua liberdade por ter

cometido algum ato que infringiu a lei, desviando-se dos padrões sociais e/ou

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colocando em risco a sociedade, o detento tem os mesmos direitos de acesso à

saúde , respeitando-se as normas e regras das casas de detenção.

CAPÍTULO 3 – DIREITOS HUMANOS 3.1 Direitos humanos do detento

As leis garantem uma série de direitos aos detentos, garantias essas que

estão previstas em estatutos legais. Dentre essas medidas protetivas estão algumas

declarações como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela ONU

em dezembro de 1948 e a Declaração America de Direitos e Deveres do Homem,

aprovada no ano de 1948 na IX Conferência Internacional Americana realizada na

cidade de Bogotá, capital da Colômbia.

O art. V da Declaração Universal dos Direitos humanos (ONU, 1948) aponta

que “ Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel,

desumano ou degradante”. Desta forma, subentende-se que o preso também deva

ser privado de tais situações, pois assim como disposto no art. VI, o qual referencia

que “Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como

pessoa perante a lei (ONU, 1948), o preso, mesmo privado de sua liberdade deve

ser reconhecido como pessoa.

Além disso, a detenção ou privação do direito de liberdade deve ser aplicada

seguindo os princípios da legislação brasileira. Sob esse enfoque, o art. IX da

Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU,1948) enfatiza que “Ninguém

será arbitrariamente preso, detido ou exilado” ,salientando que a prisão deve ser

cumprida de acordo com o disposto nas leis, as quais apontam a necessidade de

tratamento humanizado para os detentos.

O §2 do artigo XIV referencia que :

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No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática (ONU, 1948).

Dessa forma, subentende-se que todas as pessoas têm seus direitos e

deveres e que os direitos do outro deve ser respeitado. Diante dessa questão, é

possível dizer que a privação da liberdade, sob forma de prisão, ocorre

principalmente quando há desvio da conduta moral, da ordem pública e do bem-

estar da sociedade.

Contudo, assim como disposto na Declaração Universal dos Direitos

Humanos (ONU, 1948) art. XIII “ Toda pessoa tem direito a uma ordem social e

internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração

possam ser plenamente realizados”.

Assis (2007) enfatiza que na prática o que se vê é a violação dos direitos

humanos , a não observação e descumprimento das leis, as quais se constituem em

uma garantia legal prevista para execução de penas privativas quanto ao direito de

liberdade do indivíduo.

Por esse motivo, o autor considera que, ao passar para a plena tutela do

Estado, o indivíduo acaba por perder todos os direitos fundamentais, sofrendo assim

com os mais variados e cruéis castigos. Fatores como esses, fazem com que ao

longo dos anos, o indivíduo tenha a sua personalidade degradada, acabando

também por perder a sua dignidade.

Dessa forma, as condições de o preso retornar para um convívio harmônico

com a sociedade são reduzidas, sendo que, Assis (2007) traduz tal situação dizendo

que, ao ter a sua personalidade degradada e ao perder a sua dignidade, o ex-

detento passa a não mais oferecer qualquer condição que não oferece quaisquer

condições de ter um retorno útil à sociedade.

Nesse âmbito, Assis (2007) reitera que ao defender o cumprimento das

garantias estendidas aos presos, garantias essas previstas pela lei, o intuito é que a

prisão se torne em um ambiente mais humanizado e de fácil convívio, pois o fato de

os presídios serem um local inadequado e desumano contribui para que ao sair, o

ex-detento tenha a grandes chances de agir sob forma retributiva.

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Assim, acredita-se que o Estado e a sociedade não devem ser omissos a

essas questões, pois o problema que envolve a situação carcerária no Brasil vai

muito além das más condições de tratamento a que os detentos são submetidos, ou

seja, o que ocorre na maioria das casas de detenção brasileira pode ser considerado

como um problema de segurança pública, uma vez que, diante desses fatores, a

criminalidade tende a aumentar.

Por esse motivo, enfatiza-se que a efetivação bem como a aplicação das

garantias legais e constitucionais devem ser adotadas e seguidas, devendo estar

atreladas às questões que dizem respeito ao direito do preso, direito esse, que

também deve ser respeitado e cumprido, uma vez que o Estado democrático de

direito deve ter como função primordial ter a pena privativa de liberdade como um

meio de ressocializar o preso e prepará-lo para reintegrar ao meio social, já que,

somente assim, atender ao objetivo maior do Direito Penal que é o de reintegrar o

infrator ao meio social.

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CAPÍTULO 4 – RESSOCIALIZAÇÃO DO EX-DETENTO 4.1 Predisposição ao crime

Em um país onde impera a desigualdade socioeconômica, são inúmeros os

casos em que a população menos provida de recursos sofre não só devido às suas

más condições, mas também em relação ao preconceito. Em se tratando dos ex-

detentos questões como essas tornam-se ainda mais marcantes e chegam a ser

consideradas em pesquisas, entre outros, como fatores que os tornam mais

propensos a cometer crimes.

Assis (2007) infere que aproximadamente 95% da população carcerária

advém de classes menos favorecidas, sendo estas, compostas por excluídos

sociais, por pobres, por desempregados e também por analfabetos. Por esse motivo,

na visão do autor, tais pessoas estão mais propensas a se desviarem das condutas

tidas como corretas, vendo no crime uma forma de subterfúgio.

Fernandes e Fernandes (2010) ao tentarem explicar a propensão do indivíduo

ao crime passam a considerar a personalidade e também os fatores que estão

relacionados intrinsecamente ao comportamento humano e, para tentar explicar tais

questões, utilizaram como embasamento áreas do conhecimento como antropologia,

sociologia, psicologia, psiquiatria, entre outras, como forma de compreender o ser

humano em sua totalidade.

Para os autores, em muitos casos, a agressividade humana advém de fatores

biológicos e até raciais, questões que podem ser exemplificadas e explicadas a

partir do próprio desenvolvimento humano, tendo em vista que esse pode ter a

agressividade atrelada à sua própria natureza.

Nesse âmbito, considera-se que a prevenção do crime, bem como a

regeneração dos criminosos deve levar em conta a origem do indivíduo e as

questões socioeconômicas que permeiam a vivência deste.

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Dentre os aspectos que podem ser considerados como fatores sociais de

criminalidade, Fernandes e Fernandes (2010) citam as questões econômicas como

a industrialização, as desigualdades sociais advindas da pobreza, da miséria, da

malvivência, do desemprego, além de questões como a política, a degradação

ambiental e, principalmente o modelo existente de sistema prisional.Dessa forma, há

que se considerar a influência marcante dos fatores sociais sobre as práticas de

infrações penais.

De acordo com Fernandes e Fernandes (2010) o ato delinquente pode ser

prevenido por meio de orientação e que o ato criminoso ocorre quando há

rompimento do equilíbrio das forças que integram o ser humano.

Pode-se dizer que todo o levantamento histórico realizado pelos autores, os

quais foram feitos tendo como base a existência humana e todas as questões

históricas que fazem parte dessa existência, tiveram por intuito uma tentativa de

compreender o por quê de o indivíduo agir de forma agressiva e criminosa.

Contudo, enquanto um desvio de padrão, o crime pode ser prevenido e,

Fernandes e Fernandes (2010) salientam que “o ato criminoso é mais que um

simples acontecimento ilícito do indivíduo”. Por esse motivo, deve-se entender que

ao cuidar das relações sociais do indivíduo torna-se possível também preveni-lo

quanto a adoção de práticas criminosas.

Diante desses apontamentos há que se considerar que, assim como

apontado por Fernandes e Fernandes (2010) “o delinquente se faz no meio social” e,

para tanto as pesquisas a respeito do mesmo devem levar em consideração o seu

modo de vida e ao seu meio ambiente.

A partir daí, torna-se possível inferir que as medidas de ressocialização

também devem levar em conta tais questões, pois somente desta forma haverá

condições de recuperação do delinquente de modo que o mesmo seja reintegrado à

comunhão social junto com os cidadãos considerados decentes.

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4.2 Procedimentos legais

Assim como apontado ao longo do trabalho, o indivíduo mesmo que privado

de sua liberdade deve ter a sua integridade física resguardada e, isso, não só por

estar sob a tutela do Estado, mas principalmente por ser um indivíduo, o qual além

de possuir deveres, deve gozar de seus direitos.

Há que se enfatizar o disposto no art. 5º da Constituição Federal (Brasil,

1988), a qual considera que :

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]”.

Sob esse mesmo enfoque o inc. LIV afirma que “ninguém será privado da

liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Esse é um dos motivos

pelos quais Rangel (2008) considera que todas as formalidades previstas em lei

devem ser respeitadas e, isso, mesmo quando o indivíduo está cercado de sua

liberdade.

O autor ainda considera que para que haja tramitação legal e também regular

de um processo, o cidadão deve ter garantido e também respeitados os seus

direitos, os quais por lei não podem ser restringidos.

Rangel (2008) considera que a liberdade é uma regra e que o cercamento

dessa liberdade é uma exceção e que, mesmo a Constituição (Brasil, 1988) não

tendo definido e/ou caracterizado o tipo de liberdade, o intérprete da mesma não

pode restringir ao alcance do dispositivo legal constitucional.

Em se tratando do processo penal, o autor considera que o mesmo tem como

fim a solução do caso penal. Contudo, salienta que a descoberta da verdade

processual requer a colheita de elementos probatórios necessários, ciente de que a

verdade pode ser relativa. Sob esse enfoque, torna-se claro a necessidade de

apresentação de dados necessários e /ou provas que auxiliem o juiz na tomada de

decisão.

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Diante desses aspectos há que se considerar que as abordagens de Rangel

(2008) tiveram por intuito enfatizar os aspectos doutrinários e jurisprudenciais como

forma de se compreender as questões processuais penais, às quais são submetidos

àqueles que infringem as leis e que, como forma de reabilitação e/ou ressocialização

são submetidos aos rigores da lei.

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4.3 Nova chance

Conforme citado ao longo do trabalho, o qual teve como foco a

ressocialização do ex-detento, há que considerar o fato desse precisar de amparo e

de auxílio de modo que tenha condições de retornar ao convívio social e, isso,

principalmente pelo fato de as casas de detenção deixarem mais marcas negativas

que positivas, contribuindo, de certa forma, para que o preso queira “descontar” na

sociedade todo o sofrimento vivenciado no sistema prisional.

De acordo com o Informativo IEE Uma Chance (dez. 2011), o sistema

penitenciário tem emergido aos olhos da sociedade e, isso, pode ser comprovado

por meio das ações destinadas á ressocialização dos ex-detentos.

Segundo o Informativo, as ações desenvolvidas pelo Centro de Integração

Social e Cultural (CISC) têm se consolidado a cada dia. Além disso, é notório o fato

do aumento do número de pessoas e instituições interessadas em participar de

ações que tem como propósito de mudar o cenário de desesperança vivenciado por

grande parte dos detentos.

Pode-se enfatizar que assim como os demais indivíduos, os ex-detentos

merecem uma nova chance. Uma chance rever seus erros, aprender como os

mesmos e não cometê-los novamente.

É notável o fato de as unidades prisionais não disporem de ações e medidas

a serem empregadas antes mesmo que o preso egresse do sistema prisional e, de

certa forma, a adoção dessas medidas contribui para que ao sair, o preso, ou

melhor, ex-preso, tenha noção do que poderá fazer para se reintegrar ao bom

convívio social.

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4.4 Capacitação para o mercado de trabalho

O CISC (IEE/Uma Chance, 2011) trabalha com o intuito de capacitar ex-

detentos de modo que os mesmos, além de adquirir nova profissão, possam se

sentir mais seguros ao saírem do sistema prisional.

Dentre os participantes das ações, também econtram-se jovens cumpridores

de medidas socioeducacionais em unidades do novo Departamento Geral de Ações

Socioeducativas (DEGASE).

O CISC (IEE/Uma Chance, 2011) também se mostra preocupado com a

formação de multiplicadores e, para isso, concluiu no mês de junho de 2011 a

formação de 30 pessoas, as quais tinham por intuito ministrar cursos aos detentos.

Considera-se o fato de os multiplicadores estarem aptos a atuar em áreas

como justiça, segurança pública e educação, de modo que essas atuações Bahia,

São Paulo,mais precisamente Campinas e Botucatu), Espírito Santo, Mato Grosso,

Alagoas, Minas Gerais, Distrito Federal,Campos dos Goytacazes e região norte do

estado do Rio de Janeiro.

Dentre os casos de sucesso, o CISC (IEE/Uma Chance, 2011) aponta a

concretização de sonhos de ex-detentos que após serem atendidos pelo programa

do IEE, tiveram a chance de abrir o próprio negócio, tornando-se assim

empreendedores. Os agora, empreendedores passaram a pensar também na

formação de multiplicadores como forma de expansão do seu negócio.

Há que se considerar que a participação no curso requer seleção prévia e, ao

longo do curso, passam a receber orientações capazes de consolidar o seu

empreendimento.

O fato dos referidos empreendimentos serem chefiados por ex-dententos,

conforme entrevista presente no CISC (IEE/Uma Chance, 2011) ,faz com que esses,

agora empreendedores, deem oportunidade para outros ex-dententos, firmando

assim, a existência de um ciclo, onde a desvinculação com o crime passa a ocorrer

de modo natural.

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Há que se ressaltar que a seleção de empreendedores realizada pela IEE tem

como principal requisito para seleção a escolha de candidatos com perfil

empreendedor, considerando-se aqueles que possuem alguma habilidade

economicamente viável e que tenha interesse de fazer do ofício de empreendedor

um meio para sua sobrevivência.

Ainda de acordo com a IEE (Uma Chance, 2011) grande parte dos ex-

detentos que se tornaram empreendedores , disseram que ao saírem da

penitenciaria, ficaram anos sem receber qualquer proposta de trabalho.

A partir daí torna-se possível salientar sobre a importância da preparação do

preso não só para que o mesmo tenha condições de conviver em sociedade ao se

tornar um ex-detento, mas também para que torne-se um profissional liberal, capaz

de explorar a sua liberdade e de conquistar seus sonhos.

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4.5 Apoio da família no processo de ressocialização

Salienta-se para o fato de a família ser uma instituição de grande importância

para os indivíduos em geral, já que, é por meio dela que as pessoas aprendem a

conviver com os pares, adquirindo valores que chegam a se tornar em uma tradição.

De acordo com Viana (2011) na prisão também ocorre um processo de

socialização, o qual pode ser denominado prisionalização. O fato é que a

prisionalização constitui-se em uma série de costumes a serem adotados pelos

presos.

Viana (2011) enfatiza que ao ser preso, o indivíduo também compromete a

sua família e, isso, contribui para que essa, além dos problemas a serem enfretados

no que condiz a busca de meios legais para retirá-lo do cárcere e dos transtornos

gerados devido à preocupação com a assistência a ser fornecida a esse indivíduo,

passa a também sofrer preconceito. Fatores como esses mostram que a partir desse

momento, família também passa a ser vítima da prisão.

No que diz respeito às visitas, considera-se o fato dessas estarem regidas por

normas e ainda serem limitadas, tornando ainda maior o sofrimento da família e

também do detento,o qual também é acometido pelos problemas do sistema

carcerário brasileiro, sendo que, dentre esses problemas, assim como relatado

anteriormente, está a sujeição às drogas, às bebidas e à lei do mas forte,

constituindo-se em uma espécie de lei oculta que impera nos presídios brasileiros.

Viana (2011) afirma que o sentido de ressocialização da pena é

comprometido quando a punição é aplicada e quando o social não é tratado. Nesse

âmbito, há que se considerar a importância da família como fator fundamental na

participação do processo de ressocialização do detento.

A autora ainda considera que a família do detento também deve ser estudada,

de modo que esse estudo ocorra englobando todos os membros, como forma de

tornar possível uma reflexão acerca do planejamento e da estrutura dessa família,

uma vez que sem esses procedimentos de nada adiantará a intervenção do sistema

carcerário.

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Diante desses aspectos torna-se notória a necessidade de os indivíduos em

geral serem compreendidos a partir do contexto familiar , pois na visão de Viana

(2011) “A noção de que a família e a cultura são essenciais para a compreensão do

indivíduo em sua singularidade”.Além disso,é importante salientar que a

recuperação do detento também está relacionada com a referência que este tem

acerca do mundo exterior e, tal fato compreende a família, a área profissional por

meio do trabalho,questões sociais como o bairro onde o indivíduo reside, as pessoas

(vizinhos) com quem convivia, entre outros.

Entretanto é possível dizer que apesar de toda essa referência, a qual nem

sempre é positiva, a ressocialização torna-se muito mais difícil, pois o preso, de

certa forma, necessita reaprender a viver em sociedade. De acordo com a autora,

pode ser que após um longo período o preso volte a se adaptar e a agir como um

indivíduo consciente da importância da sua liberdade.

Sob esse enfoque, considera-se que a família seja uma instituição

indispensável pela garantia de sobrevivência e proteção e, isso, independente do

arranjo ou mesmo de sua estrutura. Além disso, considera-se que a família é,e,

quando não, deveria ser, a responsável pelo fornecimento de aportes afetivos e,

também materiais aos seus membros, pois esses aportes são extremamente

necessários ao pleno desenvolvimento e bem estar dos componentes.

Diante dessas questões, torna-se possível inferir que a família desempenha

um papel decisivo na educação tanto formal, quanto informal dos indivíduos,pois é

por meio dela que são adquiridos os valores éticos e também humanitários. Também

é na família e por meio dela que os laços de solidariedade são aprofundados.

Na visão de Viana (2011) é no seio familiar que são construídas as marcas

entre as gerações e onde são observados valores culturais Por esse motivo,

considera-se que a família deve ser compreendida como uma estrutura que sofre

modificação no contexto social, cultural e também histórico, mas que a sua

importância para o pleno desenvolvimento humano continua a ser a mesma.

A partir daí, cabe salientar que a família é de extrema importância para a

ressocialização do ex-detento, de modo que, por ver na referida instituição uma

forma de amparo, esse indivíduo terá maiores chances de se reabilitar e de se

conscientizar que o retorno ás práticas e ações criminosas ferirá o elo existente

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entre os integrantes da sua família, expondo-o ao sofrimento e, principalmente ao

preconceito.

4.6 Função ressocializadora da pena

Muito se questiona sobre as ações da pena sobre o indivíduo que cometeu

ato infracional e, isso, como forma de verificar se a penalidade recebida, a qual é

concretizada pela reclusão do indivíduo em um sistema prisional, tem surtido ou

surtiu o efeito esperado que pode ser entendido como a ressocialização do

indivíduo, de modo que este, após cumprimento da pena, tenha condições de

retornar ao convívio social.

Bitencout (2008) considera o fato de a prisão ter se convertido em uma das

principais respostas para a reforma do delinquente no século XIX, sendo que, no

período acreditava-se que seria possível que esse indivíduo, a qual havia cometido

atos delinquetes, viesse a se recuperar por meio da prisão, a qual por muitos anos

foi vista como idônea para o cumprimento das finalidades da pena.

Contudo, para o autor o otimismo inicial que era embasado em esperanças

acerca dos resultados veio a diminuir drasticamente, chegando ao ponto de

considerar que o sistema prisional encontra-se em crise; crise essa que também

atinge o objetivo de ressocialização da pena, a qual tem o caráter privativo da

liberdade.

Dessa forma, não são poucos os que chegam a considerar que a pena de

reclusão onde o indivíduo passa a estar sob a tutela do Estado em uma unidade

prisional não possui efeito positivo para o apenado e, tampouco para a sociedade.

Segundo Bitencourt (2008) a prisão é vista como um mal necessário, mas

guarda em sua essência uma série de contradições. O autor ainda cita o projeto

alternativo alemão, o qual se orientou no sentido de afirmar que a pena constitui-se

em uma necessidade amarga de seres imperfeitos como os homens.

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Para o autor os princípios de humanização do sistema carcerário estão em

permanente reforma, constituindo-se em um caminho intermediário entre o

conservadorismo e a convulsão abolicionista.

Bitencout (2008) salienta que grande parte dos sentimentos de injustiça no

que diz respeito à aplicabilidade das leis penais, deve-se ao fato de que o

encarceramento consiste em um ato injusto, isso, pelo fato de os delinquentes de

renome na sociedade,como os ditos “colarinhos brancos” não passam pelos

mesmos processos que os demais apenados.

Esse é um dos motivos pelos quais a pena privativa de liberdade, a qual teve

seu apogeu na metade do século XIX, estar em constante decadência

(BITENCOURT, 2008).

Para o autor há extrema necessidade de que sejam repensadas e adotadas

novas penas, as quais devem ser compatíveis com os novos tempos, mas que não

percam a função para a qual foram designadas, que consiste na ressocialização do

indivíduo delinquente.

Segundo Bitencurt (2008), as penas privativas de liberdade deveriam ser

plicadas apenas às condenações de longa duração, tendo como foco os

condenados que realmente fossem perigosos e de difícil recuperação.

Nesse âmbito,pode-se dizer que há um intenso questionamento acerca da

pena privativa de liberdade e, isso, pelo fato de se considerar que o problema da

prisão tem sido a própria prisão, a qual, em se tratando do Brasil tem por

característica a desmoralização, sido conhecida principalmente pelo fato denegrir a

imagem do apenado.

Salienta-se para o fato de o réu ter um código de valores distinto do restante

da sociedade e, em contrapartida, a prisão é vista como um meio que reforça ainda

mais os valores negativos do condenado.

E esse é um dos motivos pelos quais Bitencourt (2008) reforça a ideia de que

a prisão deve ser utilizada somente em situações de extrema necessidade e, isso,

como meio de impedir a sua ação criminógena, a qual tem se tornado cada vez mais

forte.

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Ainda para Bitencourt(2008) os substituivos penais se constituem em medidas

mais ou menos eficazes e são uma tentativa de desprisionalizar e que o Direito

Penal tem se constituído em um modelo arcaico, o qual afirma que a pena se

justifica por sua necessidade.

O autor ainda reforça que a prisão, ao invés de conter a delinquência e ato

delinquente, tem servido como estímulo e, isso, pelo fato de criar oportunidades para

uma série de atos desumanos, não trazendo assim benefícios ao apenado, mas pelo

contrário, contribuindo para que o mesmo seja entregue a uma sorte de vícios e

degradações.

É importante salientar o fato de Bitencourt (2008) considerar que, devido a

decadência do sistema prisional, o preso não tem condições de ser totalmente

culpado pela reincidencia, já que, ao ingressar no sistema carcerário o mesmo tem

grandes chances de sair do mesmo em estado pior que o anterior.

Diante desses apontamentos, é possível inferir que, assim como apontado por

Bintencourt (2008) é notória a situação degradante do sistema prisional e, isso, pelo

fato do mesmo não apresentar condições para que o preso se ressocialize.

Bitencourt (2008) chega a apontar sobre a carência de estudos acerca dos

fatores que influenciam a reincidência do delinquente, e que esta reincidência está

intrinsecamente relacionada à falência do sistema prisional, além de outros fatores

de ordem social que contribuem para que o ex-detento não seja aceito pelos demais

membros da comunidade e também para que não consiga encontrar trabalho, o qual

pode ser entendido não somente como uma forma de subsistência, mas também

como uma atividade dignificadora e que é responsável pelo sentimento de utilidade e

participação de fato no meio social.

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5 APRESENTAÇÃO DOS DADOS

O Informativo Uma Chance consiste em uma publicação do Projeto

Incubadora de Empreendimento para Egressos (IEE) e constitui-se em uma iniciativa

do Centro de Integração Social e Cultural (CISC).

O IEE apresenta como missão o fomento, tanto no Brasil como no exterior, de

ações inovadoras em desenvolvimento humano de reeducandos, egressos do

Sistema Penitenciário, jovens em conflitos com a lei e também de qualquer

cidadão,como forma de criar oportunidades por meio da qualificação e da formação

empreendedora, despertando assim, o apoderamento e também a reconstrução de

identidades.

Como o foco do trabalho consiste na ressocialização do ex-detento, serão

analisadas basicamente as ações direcionadas a esses, e isso, como forma de

enfatizar que o indivíduo, mesmo tendo cometido atos infrações e passado pelo

sistema prisional, considerando-se o fato desse apresentar uma característica pouco

favorável à recuperação do indívíduo, pode recuperar a sua autoestima, se inserir no

mercado de trabalho, se sentir útil e, principalmente, um cidadão de fato.

Em se tratando das ações desenvolvidas pelo CISC, pode-se dizer que as

mesmas têm se consolidado ao longo dos anos, contribuindo assim para que

pessoas e instituições de renome passem a integrar o projeto.

De acordo com o IEE (Uma Chance, dez. 2011), as primeiras atividades

começaram a ser desenvolvidas na década de 1990 e, nesse período, restringia-se

ao atendimento a filhos de presos, os quais sofriam com à ausência de seus pais.

Com o desenvolvimento do projeto ao longo dos anos, o mesmo foi ganhando

parceiros de renome, dentre esses a Petrobrás. Contudo, há também que se

considerar parceiros importantes como a Central Única das Favelas (CUFA), o

AfrooRegaee, a Pastoral Carcerária, o Conselho Nacional de Justica (CNJ), A Rede

de Apoio ao Egresso do Sistema Penitenciário (Raesp), entre outros.

O IEE ainda considera que o esforço de todos os envolvidos no projeto faz

com que o surgimento de novas políticas públicas torne-se ainda mais aclamado.

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Nesse âmbito, considera-se que o CISC tenha como meta sensibilizar a

sociedade,uma vez que tal questão pode ser vista como um meio essencial para

redução da reincidência criminal e também da violência.

Pode-se dizer que ao se optar pela apresentação dos casos de sucesso e,

principalmente do trabalho exercido pela IEE, houve um grande interesse em

demonstrar que medidas sociais bem planejadas e exercida por cidadãos

conscientes e comprometidos como o bem-estar social, podem surtir efeitos

extremamente benéficos.

Devido aos casos de violência vivenciados diariamente pela população, a

maioria desta passa a ser o delinquente como um ser que deve pagar pelos seus

atos e da forma mais dura e sofrível.

Contudo, há que se considerar que o fato desse indivíduo ser tratado de

modo desumano e cruel dentro do sistema carcerário, certamente contribui para que

o mesmo, ao retornar ao convívio social, queira reagir de modo a externar tudo o

que sofreu enquanto esteve recluso.

E nesse ponto que a ressocialização torna-se extremamente importante, pois

um dia o detento será libertado e retornará ao convívio social e, se o mesmo não

estiver totalmente recuperado,terá grandes, senão todas as chances de se tornar

reincidente.

Sob enfoque, considera-se de grande importância o trabalho realizado pelo

IEE e também pelos seus parceiros no sentido de oferecer ao ex-detento uma nova

oportunidade, fazendo-os se sentir importantes para a família e para a sociedade.

Os casos apresentados deixam claro que não foi só o fato de terem se

tornado empreendedores ou de terem se qualificado para o mercado de trabalho que

fez com que os ex-dententos se recuperassem, mas sim o fato de terem readquirido

a sua dignidade, de passarem a ser tratados com respeito e de terem de volta o

apreço dos familiares e amigos.

Sob esses enfoque, há que se considerar que a escolha da IEE como forma

de apresentação qualitativa de dados e das informação acerca da recuperação de

ex-detentos, deve-se a seriedade e comprometimento desta não só com o ex-

detento, mas com a sociedade.

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5.1 Descrição dos projetos 5.1.1 Formação empreendedora

De acordo com o CISC / IEE (2011) 110 empreendedores formam formados

em seis unidades prisionais do Rio de Janeiro, destes:

• 25 foram formados na sede do Centro de Integração Social e Cultural

(CISC) – Uma Chance – em São Gonçalo;

• 21 foram formados no Centro do Rio de Janeiro.

Vale ressaltar que a certificação foi reconhecida pelo Ministério do Trabalho

em data pré-agendada e que os empreendedores concluíram a incubação de

negócios.

5.1.2 Formação e certificação dos multiplicadores

O IEE (2011) aponta sobre a ocorrência da ação direcionada à formação e

certificação dos multiplicadores ocorrida no ano de 2011.

5.1.3 Oficina crescendo com cidadania

A oficina Crescendo com Cidadania (OCC) é apontada como uma ação social

desenvolvida pelo CISC em parceria com o órgão responsável pelo cumprimento de

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medidas socioeducativas , com o intuito de atender a 550 participantes,

considerando-se os jovens e seus familiares.

5.1.4 Ponto de cultura olhar verde

Funcionou sob o tema Identidade, Protagonismo e Ações Locais: Descobrindo

Tribobó , sendo realizada em São Gonçalo e constitui-se em um encontro de

capacitação e gestão e teve como foco a formulação de ações para os anos de 2012

e 2013.

5.1.5 Esportividade ideal

Constitui-se em uma parceira do CISC (2011) e do Departamento Geral de

Ações Socioeducativas (Novo Degase), sendo direcionada a jovens em

cumprimento de medidas socioeducativa e também a seus familiares, tendo como

foco a busca pela promoção da elevação da autoestima, bem como o ensinamento

de valores, dentre esses, o de liderança, disciplina e confiança.

De acordo com o IEE (2011) a previsão era de que 600 jovens pudessem ser

beneficiados por meio da prática de atividades esportivas e também culturais.

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5.2 Superação: casos de sucesso

De acordo com o IEE (Uma Chance, 2009) os ex-detentos podem sim, ser

homens de negócio bem-sucedidos e, isso, pelo fato de, além de ex-detentos,

estarem na condição de ser humano, o qual apesar do preconceito, da discriminação

e das marcas deixadas pelo cárcere, tiveram apoio e se dedicaram com o intuito de

viver uma nova vida.

A edição de n.6, ano III, maio de 2009 (IEE/Uma Chance, 2009) traz o relato

de A.S, ex-detento e que possui uma oficina mecânica na Zona Norte do Rio. Para o

ex-detento e agora, atual empreendedor, apesar de ter sofrido e ainda continuar a

sofrer discriminação, diz se empenhar , adotando valores como seriedade,

responsabilidade, profissionalismo e ainda apresentar preços mais atraentes, tudo

isso, como um estratégia para garantir o seu espaço.

No caso do ex-detento e agora, também empreendedor, L.S., a sua meta

atual é ser feliz e se empenhar para melhoria contínua de seu negócio, que consiste

em dois postos de gasolina. Para o mesmo, além dos auxílios em forma de apoio e

instrução fornecidos pelo IEE, o apoio da família foi fundamental, pois esta lhe deu

forças para retomada ao estudos logo após a saída do cárcere. L.S. ainda garanti

que o que lhe mantém firme, além do apoio familiar da instrução recebida, está no

fato de o mesmo ser o seu próprio patrão.

No caso do ex-detento J.O,este, justifica o seu sucesso, que consiste, além

da recuperação e retorno ao convívio social, na atuação em seu empreendimento

que é o ramo de refrigeração, no qual atua há 15 anos. Para o mesmo a capacitação

obtida por meio da formação no IEE, contribui para aumento da clientela, para o

fornecimento de emprego a outras pessoas e, principalmente, pela retomada ao

mercado de trabalho e à vida pessoal.J.O, como demonstração de crédito à

recuperação de ex-detentos, disse já ter contratado um, mas que, por motivos

pessoais não se encontra mais na empresa; contudo, diz que a porta está aberta a

pessoas nessa situação e que estejam empenhadas em mudar de vida.

O ex-detento Carlos Roberto da Silva, afirma na edição da IEE (Uma Chance,

dez.2008) ter conseguido abrir a sua loja de lanches rápidos devido à proposta de

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gestão de negócios e às expectativas geradas nas unidades prisionais quanto à

participação no programa.

Vale ressaltar, que os casos de sucesso não se referem apenas à formação

de empreendedores, mas também à reciclagem e ajuste para o mercado de

trabalho, como é o caso de Hiram Cabral de Mello, que atua na área de arquitetura.

De acordo com o mesmo, a IEE (Uma Chance, 2008), por meio de seu projeto o

tornou em uma nova pessoa.

Para o atual representante comercial, José Luiz Pinto Vieira, os

conhecimentos acerca de tópicos de venda e administração ministrados pelo IEE

(Uma Chance, 2008),, contribuíram para que o mesmo atingisse a marca de 100%no

que condiz à preparação profissional.

Nesse âmbito, há que se considerar que são muitos os casos de sucesso

relatos por ex-detentos, os quais , a partir de uma oportunidade e das instruções

fornecidas pelo IEE, tiveram chance de retornar ao mercado de trabalho ou mesmo

de se tornarem empreendedores de sucesso.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a construção do trabalho, o qual exigiu que fosse colocado em prática

todo o aprendizado adquirido durante o curso de pós-graduação em Direito Penal e

Processo Penal, tornou-se possível dizer que o mesmo também possibilitou a

aquisição de conhecimento, sendo que, esse conhecimento não se refere apenas ao

aprendizado teórico, mas também a certa sensibilização quanto a situação

carcerário do país.

Em se tratando do Brasil, pode-se dizer que este, apesar dos inúmeros

fatores positivos, é marcado pela desigualdade social, racial, política, econômica,

entre outros.

No que condiz à situação carcerária, assim como apontado ao longo do

trabaljo, a mesma encontra-se em situação crítica e, ao invés de atuarem como uma

medida de ressocialização de recuperação tem contribuído para que o os ex-

detentos estejam ainda mais propensos a se tornarem reincidentes.

Esse é um dos motivos, pelos quais Bitencourt (2008) passou a considerar o

sistema carcerário como ineficaz, enfatizando que o mesmo encontra-se em crise,

uma vez que o delinquente, ao ser colocado em um ambiente marcado pelas más

condições estruturais e , principalmente de convívio, não terá as mínimas condições

de se recuperar e retornar regenerado ao convívio social.

Além disso, Bitencourt (2008) associa as condições dos presídios ao modelo

segregador capitalista, uma vez que esse contribui para que a aplicação das

penalidades seja injusta e seja aplicado majoritariamente aos indivíduos

marginalizados.

Também impera o fato de a ressocialização do preso ocorrer de forma

repressiva, desumana e ainda adotar medidas que tem por meta denegrir ainda mais

a imagem do delinquente, o qual, devido a essas situações, às quais são expostos,

passam a não serem vistos e, tampouco tratados como cidadãos, gozadores de

seus direitos e deveres.

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Bitencourt (2008) afirma que a ressocialização do delinquente requer muito

mais que fórmulas simplistas, uma vez que ao adotá-las os resultados serão sempre

insatisfatórios.

E foi sob esse enfoque que o trabalho foi construído, ou seja, como forma de

mostrar que a ressocialização vai muito além da estadia em casas de detenção,

onde, na maioria das vezes, os detentos são mantidos de forma desumana e cruel,

além de serem largados à própria sorte, não realizando ao menos atividades que

são capazes de lhe garantir a ocupação do tempo ocioso, possibilitando também o

aperfeiçoamento ou a aquisição de um ofício.

Desta forma, além de apresentar teoricamente algumas conceituações e

considerações acerca dos fatores que regem o sistema prisional, todos embasados

pela jurisdição vigente, o trabalho teve por meta apresentar modelos, os quais foram

adotados pelo IEE, como forma de mostrar que a ressocialização pode sim

acontecer, e que o resultado está em um indivíduo transformado e recuperado.

É importante salientar que tais medidas exige empenho de seus idealizadores

e, principalmente dos atendidos. Além disso, deixa claro que o papel a ser exercido

tanto pela família quanto pela sociedade, sendo que essas, devem estar envolvidas

nas questões que dizem respeito à ressocialização do ex-dentento, mesmo por que,

recuperados ou não, eles irão retornar ao convívio social.

Diante do exposto, considera-se que o trabalho atingiu ao seu objetivo

principal que foi o de apresentar sob a forma de uma pesquisa de abordagem

qualitativa, a interpretação de fenômenos que tiveram como base a análise de

referenciais teóricos acerca do tema ressocialização do ex-detento no Brasil,

demonstrando, para tanto, os fatores negativos que estão em torno de grande parte

do trabalho desenvolvido no sistema carcerário e também os fatores positivos,

advindos muitas vezes de instituições como a IEE que funcionam movidas por ações

de responsabilidade social e mantidas por organizações, em muitos casos e, na

maioria desses, privadas, as quais se preocupam com o bem-estar da sociedade.

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REFERÊNCIAS

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