avifauna do parque natural municipal rio do peixe, santa ... · a região de joaçaba encontra-se...

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Mario Arthur Favretto¹ Tiago Zago² Anderson Guzzi³ Resumo: O presente estudo foi realizado em um fragmento florestal considerado zona de ecótono entre a floresta ombrófila mista e a floresta estacional semidecidual, localizado no município de Joaçaba, centro-oeste de San- ta Catarina, Brasil, denominado Parque Natu- ral Municipal Rio do Peixe (27º10’22”S, 51º30’23”W). O estudo foi conduzido duran- te o segundo semestre do ano de 2006, tendo como principal objetivo o levantamento qua- litativo da avifauna, utilizando o método de transectos lineares e amostragens periódicas. Foram registradas 129 espécies, distribuídas entre 41 famílias, sendo a família Tyrannidae a mais representativa. A guilda trófica mais re- presentativa foi a dos insetívoros (37%), se- guida pela dos onívoros (18%) e dos frugívo- ros (13%). Das espécies de aves encontradas, 72% interagem de alguma forma com a flo- ras das condições de ecossistemas, já que ca- cipal do Rio do Peixe, no centro-oeste de resta e destas, 42% são exclusivamente flo- da espécie possui seu próprio requisito de Santa Catarina, conservando uma área bas- restais. Foram realizadas 66 h de observação, território e hábitat (Robbins, 1979; Daniels tante representativa da vegetação regional distribuídas em seis meses, não completando et al., 1991, apud Toledo, 1993). por meio da manutenção de matas residuais um ciclo sazonal. Assim o número de espéci- A fragmentação e o processo de destrui- nativas e regeneradas, colaborando para a es registradas ainda pode estar subestimado. ção da Mata Atlântica existente ao longo de preservação ambiental (Raimundo, 2003). Palavras-chave: aves, levantamento, avi- quase cinco séculos de exploração humana Um levantamento preliminar da avifauna fauna, Santa Catarina continua acontecendo nos dia atuais, princi- já havia sido realizado por Carlos E. Zim- palmente devido ao crescimento urbano em mermann para o processo de criação do par- Introdução substituição às áreas nativas (Cestari, que conforme apresentado por em Raimun- No Brasil ocorrem 1801 espécies de aves 2006). Os efeitos da pressão antrópica e da do (2003), porém, haviam sido registradas (CBRO, 2007). O estado de Santa Catarina fragmentação florestal sobre as aves são em torno de 70 espécies de aves. apresentava, segundo Rosário (1996), 596 alarmantes: as populações ficam isoladas O presente trabalho tem por objetivo apre- espécies de aves. Entretanto esse número de nos fragmentos florestais, que podem ser de- sentar os resultados do levantamento quali- espécies vem aumentando nos últimos anos nominados “ilhas de vegetação”; as áreas tativo realizado no Parque Natural Munici- em decorrência do refinamento das pesqui- desmatadas entre essas “ilhas” não permite pal Rio do Peixe e, assim, contribuir com ma- sas e maior número de pesquisadores, como o fluxo gênico entre os indivíduos das espé- is informações sobre sua avifauna. pode ser observado nos seguintes estudos: cies de aves, interferindo na migração, na Ghizoni-Jr (2004), Azevedo & Ghizoni-Jr busca por alimento e território. Esses fato- Área de estudo (2005), Ghizoni-Jr & Silva (2006) e Amo- res, muitas vezes, influenciam em uma que- O Parque Natural Municipal Rio do Peixe rim & Piacentini (2006, 2007). da da biodiversidade podendo até propiciar (27°10'22"S, 51°30'23"W) está inserido no A comunidade de aves é utilizada como a extinção local de várias espécies de aves município de Joaçaba, localizado no centro- boa ferramenta de trabalho para avaliação (Brooks et al., 1999; Soares & Anjos, 1999; oeste de Santa Catarina, sul do Brasil e pos- de ambientes. Isso porque a maioria das es- Gimenes & Anjos, 2003; Anjos, 2006). sui uma área de aproximadamente 300 ha, a pécies tem hábitos diurnos, sendo as aves Tendo em vista esses fatores antrópicos 10 km da área urbana de Joaçaba (Figs. 1 e um grupo taxonomicamente bem estudado. mencionados, é de especial importância a 2). As altitudes variam entre 700 e 839 m Além disso, as aves são sensíveis indicado- função exercida pelo Parque Natural Muni- (Crestani, 2001). 87 Atualidades Ornitológicas On-line Nº 141 - Janeiro/Fevereiro 2008 - www.ao.com.br 9 771981 887003 1 4 1 0 0 ISSN 1981-8874 Avifauna do Parque Natural Municipal Rio do Peixe, Santa Catarina, Brasil Figura 1 – Vista da área do Parque Natural Municipal Rio do Peixe na parte central da imagem. Fonte da imagem: Google Earth (2007)

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Mario Arthur Favretto¹Tiago Zago²

Anderson Guzzi³

Resumo: O presente estudo foi realizado em um fragmento florestal considerado zona de ecótono entre a floresta ombrófila mista e a floresta estacional semidecidual, localizado no município de Joaçaba, centro-oeste de San-ta Catarina, Brasil, denominado Parque Natu-ral Municipal Rio do Peixe (27º10’22”S, 51º30’23”W). O estudo foi conduzido duran-te o segundo semestre do ano de 2006, tendo como principal objetivo o levantamento qua-litativo da avifauna, utilizando o método de transectos lineares e amostragens periódicas. Foram registradas 129 espécies, distribuídas entre 41 famílias, sendo a família Tyrannidae a mais representativa. A guilda trófica mais re-presentativa foi a dos insetívoros (37%), se-guida pela dos onívoros (18%) e dos frugívo-ros (13%). Das espécies de aves encontradas, 72% interagem de alguma forma com a flo- ras das condições de ecossistemas, já que ca- cipal do Rio do Peixe, no centro-oeste de resta e destas, 42% são exclusivamente flo- da espécie possui seu próprio requisito de Santa Catarina, conservando uma área bas-restais. Foram realizadas 66 h de observação, território e hábitat (Robbins, 1979; Daniels tante representativa da vegetação regional distribuídas em seis meses, não completando et al., 1991, apud Toledo, 1993). por meio da manutenção de matas residuais um ciclo sazonal. Assim o número de espéci- A fragmentação e o processo de destrui- nativas e regeneradas, colaborando para a es registradas ainda pode estar subestimado. ção da Mata Atlântica existente ao longo de preservação ambiental (Raimundo, 2003).

Palavras-chave: aves, levantamento, avi- quase cinco séculos de exploração humana Um levantamento preliminar da avifauna fauna, Santa Catarina continua acontecendo nos dia atuais, princi- já havia sido realizado por Carlos E. Zim-

palmente devido ao crescimento urbano em mermann para o processo de criação do par-Introdução substituição às áreas nativas (Cestari, que conforme apresentado por em Raimun-

No Brasil ocorrem 1801 espécies de aves 2006). Os efeitos da pressão antrópica e da do (2003), porém, haviam sido registradas (CBRO, 2007). O estado de Santa Catarina fragmentação florestal sobre as aves são em torno de 70 espécies de aves. apresentava, segundo Rosário (1996), 596 alarmantes: as populações ficam isoladas O presente trabalho tem por objetivo apre-espécies de aves. Entretanto esse número de nos fragmentos florestais, que podem ser de- sentar os resultados do levantamento quali-espécies vem aumentando nos últimos anos nominados “ilhas de vegetação”; as áreas tativo realizado no Parque Natural Munici-em decorrência do refinamento das pesqui- desmatadas entre essas “ilhas” não permite pal Rio do Peixe e, assim, contribuir com ma-sas e maior número de pesquisadores, como o fluxo gênico entre os indivíduos das espé- is informações sobre sua avifauna.pode ser observado nos seguintes estudos: cies de aves, interferindo na migração, na Ghizoni-Jr (2004), Azevedo & Ghizoni-Jr busca por alimento e território. Esses fato- Área de estudo(2005), Ghizoni-Jr & Silva (2006) e Amo- res, muitas vezes, influenciam em uma que- O Parque Natural Municipal Rio do Peixe rim & Piacentini (2006, 2007). da da biodiversidade podendo até propiciar (27°10'22"S, 51°30'23"W) está inserido no

A comunidade de aves é utilizada como a extinção local de várias espécies de aves município de Joaçaba, localizado no centro-boa ferramenta de trabalho para avaliação (Brooks et al., 1999; Soares & Anjos, 1999; oeste de Santa Catarina, sul do Brasil e pos-de ambientes. Isso porque a maioria das es- Gimenes & Anjos, 2003; Anjos, 2006). sui uma área de aproximadamente 300 ha, a pécies tem hábitos diurnos, sendo as aves Tendo em vista esses fatores antrópicos 10 km da área urbana de Joaçaba (Figs. 1 e um grupo taxonomicamente bem estudado. mencionados, é de especial importância a 2). As altitudes variam entre 700 e 839 m Além disso, as aves são sensíveis indicado- função exercida pelo Parque Natural Muni- (Crestani, 2001).

87Atualidades Ornitológicas On-line Nº 141 - Janeiro/Fevereiro 2008 - www.ao.com.br

9 771981 887003 14100

ISSN 1981-8874

Avifauna do Parque Natural Municipal Rio do Peixe, Santa Catarina, Brasil

Figura 1 – Vista da área do Parque Natural Municipal Rio do Peixe na parte central da imagem. Fonte da imagem: Google Earth (2007)

A região de Joaçaba encontra-se em zona de ecótono (transição entre floresta ombró-fila mista e floresta estacional semidecidu-al, ambas formações da Mata Atlântica). A conjugação parcial de floras de diferentes origens define ali padrões fitofisionômicos típicos. Atualmente, a vegetação que cobre esta área caracteriza-se por um mosaico mui-to variado em seu estado de conservação, ar-quitetura, densidade, diversidade e usos. Na principal área em que foram feitas as amos-tragens, a altura mínima da mata é de 20 a 30 m, sendo encontrados no estrato superior e emergente a Araucaria angustifolia (pinhe-iro-do-Paraná), acompanhada das espécies que compõem o estrato médio: Cedrela fis-silis (cedro), Diatenopterix sorbifolia (ma-ria-preta), Ocotea puberula (canela-guaica), Cryptocarya moschata (canela-fogo), Ocotea pulchella (canela-lajeana), Matayba elaeagnoides (camboatá-branco), Lonchocarpus muehlbergianus (rabo-de-

com a utilização de binóculos, ou por meio dos e necrófagos (NC), alimentação com-bugio), Campomanesia guazumifolia (sete-de suas vocalizações. Para o registro dos posta principalmente por animais mortos.capotes), Luehea divaricata (açoita-contatos visuais foram utilizados binóculos cavalo), Myrocarpus frondosus (cabreúva), de marca Opteck, modelo OPB-NZ, 8-24 x HábitatNectandra megapotamica (canela-imbuia), 50 mm. Além disso, as seguintes referências Por meio da análise de hábitat, ou seja, o ti-Prunus myrtifolia (pessegueiro-bravo), Eu-foram utilizadas para assegurar a correta po de ambiente onde a espécie ocorre, foi genia pyriformis (uvaia), Vitex megapota-identificação das espécies: Sick (1997), possível inferir em que estado de conserva-mica (tarumã) e Ilex paraguariensis (erva-Frisch (2005) e Narosky & Yzurieta (2006). ção o fragmento florestal se encontra. Utili-mate) dentre as principais espécies vegetais

A nomenclatura das espécies de aves se- zou-se a literatura (Sick, 1997) e observa-(Crestani, 2001).gue a lista das aves do Brasil, versão de ju- ções de campo para se determinar as catego-O parque também possui alguns banha-lho de 2006 do Comitê Brasileiro de Regis- rias de hábitat de cada espécie. Tais catego-dos, locais onde água fica acumulada man-tros Ornitológicos. rias são: espécie florestal (FLO), na maior tendo uma vegetação rasteira ou de pequeno

parte dos dias foi observada no interior da porte. Tais ambientes podem ser temporári-Estrutura Trófica mata, evitando habitar locais desmatados e os ou perenes. Em uma parte da área do par-A estrutura trófica foi determinada con- abertos; espécie campestre (CA), espécie ge-que passa o Rio Santa Clara, que possui, em

forme as observações de campo e com o au- neralista que foi observada em locais onde a média, de 2 a 3 m de largura.xílio de revisão bibliográfica (Motta-Júnior, mata foi derrubada em sua grande maioria; 1990; Sick, 1997; Krügel & Anjos, 2000; espécie florestal/campestre (FLO/CA), que Material e MétodosScherer et al., 2005). A divisão de categorias foi observada principalmente na borda, mas Levantamento Qualitativotróficas foi baseada em Krügel & Anjos também no interior da mata; espécie cam-O levantamento qualitativo foi conduzido (2000) e Scherer et al. (2005), sendo elas: pestre/florestal (CA/FLO), observada na em um período de seis meses, no segundo se-nectarívoros (NEC), alimentação composta borda da mata e em locais com árvores es-mestre de 2006. Foram feitas visitas quinze-em sua maior parte por néctar; granívoros parsas; além de espécies que foram observa-nais ao local de amostragem, sendo destina-(GRA), alimentação composta por grãos em das em lagos, rios ou banhados (LRB).das, em média, 5 h de observação em cada sa-sua maior parte; frugívoros (FRU), alimen-ída de campo. As observações foram reali-tação composta principalmente por frutos; Resultados e Discussãozadas em horários que tiveram início entre frugívoros/insetívoros (FRU/INS), uma die- Avifauna05h00min e 07h00min, estendendo-se até ta mista de frutas e insetos, porém com uma Foram encontradas 129 espécies de aves 11h00min h, já que este foi o horário em que maior proporção de frutas; insetívo- no parque, distribuídas em 18 ordens e 41 fa-as aves apresentaram atividades mais inten-ros/frugívoros (INS/FRU), uma dieta mista mílias. A família Tyrannidae foi a mais re-sas. Também foram realizadas algumas visi-de insetos e frutas, composta por uma maior presentativa com 16 espécies, seguida famí-tas ao local ao entardecer com duração mé-proporção de insetos; insetívoros (INS), ali- lia Emberizidae com 9 espécies, padrão tam-dia de 2 h de amostragem, visando à obser-mentação composta por insetos; onívoros bém observado por Azevedo (2006), em se-vação de espécies de aves com hábitos cre-(ONI), dieta mista que pode incluir semen- te inventários realizados em Santa Catarina, pusculares e noturnos. O trabalho todo re-tes, frutas, folhas, flores, brotos, néctar, in- onde essas duas famílias também apresenta-sultando em 66 h de observações. As trilhas vertebrados e pequenos vertebrados; insetí- ram o maior número de espécies. A lista de já existentes no parque foram utilizadas co-voros/carnívoros (INS/CAR), dieta mista espécies e suas respectivas preferências por mo transectos lineares, tendo em vista que com maior proporção de insetos; carnívo- hábitat, nomes populares e guildas tróficas estas passam pelas mais diversas áreas da re-ros/insetívoros (CAR/INS), dieta mista com- encontram-se no Apêndice 1.serva, permitindo, desta forma, uma amos-posta principalmente por pequenos verte- Merece destaque a presença do grimpeiro tragem realista da avifauna de todos os ambi-brados; carnívoros (CAR), alimentação (Leptasthenura setaria), atentando para o fa-entes ali representados. As aves foram iden-composta por pequenos e grandes vertebra- to de que esta ave tem sua distribuição liga-tificadas pelo método visual, quase sempre

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Figura 2 - Vista da área do Parque Natural Municipal Rio do Peixe (ponto vermelho) e da cidade de Joaçaba (ponto verde). Fonte da imagem: Google Earth (2007).

da á ocorrência do pinheiro-do-paraná (Ara- apresentou pouca ocorrência, sendo seus re-ucaria angustifolia) (Sick, 1997). Também presentantes observados apenas duas vezes. foi registrado o beija-flor conhecido por ra- Na área de estudo, a família Ramphastidae é bo-branco-da-mata (Phaethornis euryno- representada por uma espécie, sendo ela o tu-me) que, em alguns estudos como o de Kaeh- cano-de-bico-verde (Ramphastos dicolo-ler et al. (2005), foi considerada uma “espé- rus), com base em observações pessoais dos cie-chave” na polinização de bromélias, ou autores em períodos anteriores ao levanta-seja, várias espécies de bromélias depen- mento o auge de sua presença na região se dem deste beija-flor para sua polinização. O dá na primavera, costumando estar freqüen-papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea) temente se deslocando entre os fragmentos é uma espécie ameaçada de extinção da região em busca de alimento, o que pode-(IUCN, 2007). Além destas, a área também ria explicar sua baixa representatividade na apresenta 22 espécies de aves endêmicas da região. Já os representantes da família Psit-Mata Atlântica, segundo a lista apresentada tacidae apresentaram alta freqüência no frag-por Brooks et al. (1999). mento, estando presentes em praticamente

todas as amostragens. A falta de alimento pa-Guildas Tróficas ra os psitacídeos decorrente da eliminação A guilda trófica mais representativa foi a das espécies arbóreas frutíferas pode tornar- Considerações Finais

dos insetívoros (37% das espécies) seguida se um problema para essas aves (Sick, O número de espécies encontradas pode pelas guildas dos onívoros (18% do total) e 1997). ser considerado baixo e está relacionado ao dos frugívoros (13% das espécies), confor- Os passeriformes frugívoros que foram pequeno esforço amostral, pois o levanta-me pode ser observado na Fig 3. Essa predo- encontrados na área não se mostraram fre- mento foi realizado apenas durante seis me-minância de insetívoros e onívoros também qüentes, de modo que cada espécie foi ob- ses, não completando um ciclo sazonal. Pe-foi observado por Motta-Junior (1990), servada em um ou dois dias amostrais. rante isso se pode afirmar que com um mai-D'Angelo-Neto et al. (1998) e Krügel & or período de observação, mais espécies po-Anjos (2000). As porcentagens do número deriam ser encontradas.de espécies insetívoras nesses estudos fo- Reconhecendo que o maior número das es-ram, respectivamente: 37-51%, 41,6-52 % e pécies apresentou preferência pelo hábitat 35,4-40,7%. florestal, tornam-se preocupante as pres-

É importante mencionar a ocorrência de sões antrópicas que vêm ocorrendo na re-insetívoros florestais especializados, que gião, como o desmatamento e a caça, já que procuram alimento nos troncos e sob as cas- estas podem ocasionar o empobrecimento cas das árvores, como as espécies da família de sua avifauna, causando extinções locais Dendrocolaptidae (Sick, 2001). Que no pre- de espécies sensíveis a alterações ambienta-sente estudo foram representados por qua- is e permitindo um aumento no número de in-tro espécies, sendo elas: Sittasomus grisei- divíduos das espécies oportunistas. capillus, Xiphocolaptes albicollis, Dendro- Assim tornam-se necessárias medidas colaptes platyrostris e Lepidocolaptes falci- que visem à conservação dessas espécies, nellus. que no momento seriam relacionadas, prin-

Espécies nectarívoras, como os membros cipalmente, com a educação ambiental da da família Trochilidae, apresentaram um pe- população regional e com a implementação queno número de espécies, a saber: Phaet- de corredores florestais que conectem os ou-hornis eurynome, Florisuga fusca, Stepha- tros fragmentos da região ao parque natural.noxis lalandi, Chlorostilbon lucidus e Leu-cochloris albicollis. Agradecimentos

A polinização tem grande importância pa- Os autores são gratos às seguintes pessoas ra a reprodução das plantas e é desempenha- por todas as formas de ajuda prestadas ao da em muitas angiospermas (plantas com longo da realização deste projeto: Ana Paula flores) pelas aves nectarívoras. Entre os re- Giorgi, Carlos Alberto Borchardt Jr., Carlos presentantes destas aves temos a família Tro- Eduardo Zimmermann, Claudenice Faxina chilidae (beija-flores) (Raven et al., 1996). Hábitat Zucca, Elisiário Soares, Ernesto R. Krauc-

Com base em observações realizadas em Houve um predomínio das espécies con- zuk, Fernando Costa Straube, James Faraco conjunto com o levantamento, as plantas ma- sideradas neste estudo como florestais (42% Amorim, Luiz Fernando Figueiredo, Maria is visitadas por beija-flores foram as brome- do total de espécies), ou seja, em quase to- Antonieta Pivatto, Rodrigo Noetzold, Vitor liáceas, estas visitadas por diferentes espé- dos os dias amostrais essas espécies foram de Queiroz Piacentini e aos revisores por to-cie, e a alfavaca (Justicia brasiliana), uma observadas ou ouvidas no interior da mata. das as correções e sugestões.planta arbustiva, visitada pelo besourinho- Conforme pode ser observado na Fig. 4.verde (Chlorostilbon lucidus) e pelo beija- A presença de um grande número de espé- Referências Bibliográficas

Amorim, J.F. & Piacentini, V.Q. 2007. Novas áreas de flor-de-topete (Stephanoxis lalandi loddi- cies florestais é um bom indicativo de que o ocorrências de três Passeriformes no sul do Bra-gesi). parque esteja em bom estado de conserva-sil. Lundiana. v. 8. n. 1. p. 69-73.

Os frugívoros representaram a terceira ção, oferecendo diversas fontes de recursos Amorim, J.F. & Piacentini, V.Q. 2006. Novos registros guilda mais representativa, com 13% das es- no que diz respeito a abrigo e alimentação de aves raras em Santa Catarina, Sul do Brasil, in-

cluindo os primeiros registros documentados de pécies. Houve a presença de frugívoros de para muitas espécies de aves que habitam algumas espécies para o Estado. Revista Brasilei-grande porte, onde a família Ramphastidae seu interior e arredor.ra de Ornitologia. v. 14. n. 2. p. 145-149.

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Figura 3 - Distribuição da avifauna do Parque Natural Municipal Rio do Peixe

conforme o tipo de guilda trófica. Legenda: FRU, frugívoros; ONI, onívoros; CAR,

carnívoros; NC, necrófagos; INS, insetívoros; INS/CAR, insetívoros/carnívoros;

GRA, granívoros; NEC, nectarívoros; INS/FRU, insetívoros/frugivoros; FRU/INS, frugívoros/insetívoros;

INS/NEC, insetívoros/nectarívoros

Figura 4 - Distribuição da avifauna do Parque Natural Municipal Rio do Peixe por tipo de hábitats. Legenda:

FLO, floresta; LRB, lagos, rios e banhados; Ca, campo; CA/FLO, campo/floresta;

FLO/CA, floresta/campo

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Professor de Zoologia do Curso de Ciências do Rio do Peixe, SC. Blumenau, 79p. Disserta-canário Thlypopsis sordida (d´Orbigny & Lafres-ção (Mestrado em Engenharia Ambiental). Cen-naye, 1837) (Aves, Thraupidae) no Estado de San- Biológicas/UNOESC-Joaçaba

Atualidades Ornitológicas On-line Nº 141 - Janeiro/Fevereiro 2008 - www.ao.com.br90

Apêndice 1 – Lista das espécies de aves registradas no Parque Natural Municipal Rio do Peixe.

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93Atualidades Ornitológicas On-line Nº 141 - Janeiro/Fevereiro 2008 - www.ao.com.br

Guilda Trófica: NEC - nectarívoro; GRA - granívoro; FRU - frugívoro; FRU/INS - frugívoro/insetívoro; INS/FRU - insetívoro/frugívoro; INS - insetívoro; ONI - onívoro; INS/CAR - insetívoro/carnívoro; CAR/INS - carnívoro/insetívoro; CAR - carnívoro; NC - necrófago

Hábitat: FLO - florestal; CA - campo; FLO/CA - floresta/campo; CA/FLO - campo/floresta; LRB - lagos, rios e banhados.