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“Passagem automática é um fiasco” Os Jogos Africanos deixaram o hóquei sem campo(s) Sexta-Feira 26 de Outubro de 2012 Venda Proibida Edição Nº 209 Ano 5 Fundador: Erik Charas Tiragem Certificada pela Destaque PÁGINA 16-17 Desporto PÁGINA 22 Plateia PÁGINA 27 Todos nós (somos homens, por isso) temos direito à dignidade Seja o primeiro a saber. Receba as notícias d´Verdade no seu telemóvel. Envie uma SMS para o nº 8440404 com o texto Siga verdademzDemocracia PÁGINA 12 Quando o homem é o maior perigo Vilankulo FC @ VilankuloFC @ DesportoMZ Entrevista de Yassin Amuji, realmente só vão acordar depois duma tragédia acontecer: http://www.vfc. co.mz/vfcweb/noticias/viagens- terrestres-bloqueiam-nossas- ambicoes-e-pode-terminar- numa-tragedia Bacdafucup @ TheGoonSensei Mozambique is now the world’s fourth largest producer of natural gas - behind Russia, Iran and Qatar, as Lerato Mbele reports.@ verdademz produtor ainda não mas com umas das maiores reservas #gás #Moçambique Dee @bedylicious Até porque fechar os olhos ao sofrimento dos moçambicanos, em nome do amor à Frelimo, é um acto de traição a pátria. in Editorial @ verdademz Chude Mondlane @ chudemondlane SIGA HOJE ultimo EUA PRES DEBATE no tumblr “LIVE STREAM” http://new.livestream. com/tumblr/presidentialdebate @verdademz @DemocraciaMZ Abu @abu_mahmud1 pq e’ que não resolvem assuno destes homens? pic.twitter.com/ tVQ8LJIA GV Lusofonia @ gvlusofonia Confira as abordagens da oficina de cultura livre e mídia cidadã, realizada com @ verdademz em #Moçambique: http://bit.ly/RoNXXv Ahad Samad @Ahad_ Samad @orientmz: Orient Banner Fixing at Mina Camps http://twitpic. com/b6g5iw , Mocambicanos em mecca..... twitter.com/verdademz MURAL DO POVO - Políticos e Go- verno Enquanto a quadrilha política gasta fortunas do erário público em via- gens, casas, quintas, carros de luxo, flats, etc., etc., o povo do “país do pandza” sofre e chora de fome e falta de água (bebe água dos char- cos com os animais e come raízes de árvores de licutse para sobrevi- ver). NB: Desta forma periga a paz que tanto canta nos órgãos de in- formação. MURAL DO POVO - Governo Protesto contra a falta de clareza no que respeita aos recursos mine- rais e a formação nessa área. Quem deve pronunciar-se publicamente sobre o assunto? MURAL DO POVO - Governo Protesto contra o Governo que aposta mais na Selecção Nacional de Futebol (Mambas) que só nos en- vergonha em campo (4-0). Porque é que o mesmo Governo não aposta com a mesma garra noutras modali- dades? Porque é que não procuram novos talentos no futebol? MURAL DO POVO - Corrupção na polícia Protesto contra todos os agentes da polícia que tentam tirar vantagem da sua profissão. Ao invés de exigir o BI, exigem 50 meticais e, caso o cidadão não os tenha arrisca-se a levar com chamboco. Será que te- mos polícia ou agentes encarregues de exigir 50 meticais? MURAL DO POVO - Água turva No bairro Trevo há sensivelmente uma semana que não jorra água nas torneiras. A água que por vezes sai é muito suja, não dá nem para lavar a roupa. Pedimos a interven- ção de quem de direito pois não te- mos condições para comprar água mineral MURAL DO POVO - Mau atendi- mento hospitalar O povo chora e pede socorro na Matola, no bairro Boquisso. Resi- dentes reclamam do mau atendi- mento no centro de saúde e pedem ajuda a quem de direito. Num sim- ples centro de saúde os pacientes ficam mais de 6 horas na fila. Isso é muito lamentável MURAL DO POVO - Subida do pre- ço do chapa Protesto contra a subida do preço do chapa. Será que os transporta- dores vão parar de encurtar rotas? Jornal Gratuito RECICLE A INFORMAÇÃO: PASSE ESTE JORNAL A OUTRO LEITOR MURO DA VERDADE - Av. Mártires da Machava, 905

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“Passagem automática é um fiasco”

Os Jogos Africanos deixaram o hóquei sem campo(s)

Sexta-Feira 26 de Outubro de 2012 • Venda Proibida • Edição Nº 209 • Ano 5 • Fundador: Erik Charas

Tiragem Certifi cada pela

Destaque PÁGINA 16-17

Desporto PÁGINA 22 Plateia PÁGINA 27

Todos nós(somos homens,

por isso)temos direito

à dignidade

Seja o primeiro a saber.Receba as notícias d´Verdadeno seu telemóvel.Envie uma SMS parao nº 8440404 com o texto

“Siga verdademz”Democracia PÁGINA 12

Quando o homem é o maior perigo

Vilankulo FC @VilankuloFC @DesportoMZ

Entrevista de Yassin Amuji, realmente só vão acordar depois duma tragédia acontecer: http://www.vfc.co.mz/vfcweb/noticias/viagens-terrestres-bloqueiam-nossas-ambicoes-e-pode-terminar-numa-tragedia

Bacdafucup @TheGoonSensei Mozambique is now

the world’s fourth largest producer of natural gas - behind Russia, Iran and Qatar, as Lerato Mbele reports.@verdademz produtor ainda não mas com umas das maiores reservas #gás #Moçambique

Dee @bedylicious Até porque fechar os olhos ao sofrimento dos

moçambicanos, em nome do amor à Frelimo, é um acto de traição a pátria. in Editorial @verdademz

Chude Mondlane @chudemondlane SIGA HOJE ultimo EUA PRES

DEBATE no tumblr “LIVE STREAM” http://new.livestream.com/tumblr/presidentialdebate @verdademz @DemocraciaMZ

Abu @abu_mahmud1 pq e’ que não resolvem assuno

destes homens? pic.twitter.com/tVQ8LJIA

GV Lusofonia @gvlusofonia Confira as abordagens da

oficina de cultura livre e mídia cidadã, realizada com @verdademz em #Moçambique: http://bit.ly/RoNXXv

Ahad Samad @Ahad_Samad @orientmz: Orient Banner Fixing

at Mina Camps http://twitpic.com/b6g5iw , Mocambicanos em mecca.....

twitter.com/verdademz

MURAL DO POVO - Políticos e Go-vernoEnquanto a quadrilha política gasta fortunas do erário público em via-gens, casas, quintas, carros de luxo, flats, etc., etc., o povo do “país do pandza” sofre e chora de fome e falta de água (bebe água dos char-cos com os animais e come raízes de árvores de licutse para sobrevi-ver). NB: Desta forma periga a paz que tanto canta nos órgãos de in-formação.

MURAL DO POVO - GovernoProtesto contra a falta de clareza no que respeita aos recursos mine-

rais e a formação nessa área. Quem deve pronunciar-se publicamente sobre o assunto?

MURAL DO POVO - GovernoProtesto contra o Governo que aposta mais na Selecção Nacional de Futebol (Mambas) que só nos en-vergonha em campo (4-0). Porque é que o mesmo Governo não aposta com a mesma garra noutras modali-dades? Porque é que não procuram novos talentos no futebol?

MURAL DO POVO - Corrupção na políciaProtesto contra todos os agentes da

polícia que tentam tirar vantagem da sua profissão. Ao invés de exigir o BI, exigem 50 meticais e, caso o cidadão não os tenha arrisca-se a levar com chamboco. Será que te-mos polícia ou agentes encarregues de exigir 50 meticais?

MURAL DO POVO - Água turvaNo bairro Trevo há sensivelmente uma semana que não jorra água nas torneiras. A água que por vezes sai é muito suja, não dá nem para lavar a roupa. Pedimos a interven-ção de quem de direito pois não te-mos condições para comprar água mineral

MURAL DO POVO - Mau atendi-mento hospitalarO povo chora e pede socorro na Matola, no bairro Boquisso. Resi-dentes reclamam do mau atendi-mento no centro de saúde e pedem ajuda a quem de direito. Num sim-ples centro de saúde os pacientes ficam mais de 6 horas na fila. Isso é muito lamentável

MURAL DO POVO - Subida do pre-ço do chapaProtesto contra a subida do preço do chapa. Será que os transporta-dores vão parar de encurtar rotas?

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CIDADÃO REPORTERReporte @Verdade

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Jornal registado no GABINFO, sob o número 014/GABINFO-DEC/2008; Propriedade: Charas Lda;Director: Erik Charas; Director-Adjunto: Adérito Caldeira; Director de Informação: Rui Lamarques; Chefe de Redacção: Victor Bulande; Redacção: Hélder Xavier (correspondente em Nampula), Hermínio José, David Nhassengo, Inocêncio Albino, Nelson Miguel; Colaboradores: Milton Maluleque (África do Sul), António Almeida; Fotografia: Miguel Mangueze, Istockphoto; Paginação e Grafismo: Nuno Teixeira, Danúbio Mondlane, Hermenegildo Sadoque, Avelino Pedro; Revisor: Mussagy Mussagy; Director de Distribuição: Sérgio Labistour, Carlos Mavume (Sub Chefe); Administração: Sania Tajú; Internet: Francisco Chuquela; Periodicidade: Semanal; Impressão: Lowveld Media, Stinkhoutsingel 12 Nelspruit 1200.

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Ficha Técnica Tiragem Edição 20820.000 Exemplares

Certificado pela

26 • Outubro • 2012

[email protected] Boqueirão da Verdade

“Passam 20 anos da assinatura do AGP, quase tudo o que combinámos, a Frelimo não está a implementar. Por isso achamos melhor mostrar do que somos capazes. A Frelimo não quer a paz, foi isso o que sempre nos provou. Quem quer a paz não ataca o outro sabendo que este pode responder com arma”, Afonso Dhlakama

“O anúncio de que Afonso Dhlaka-ma decidiu reforçar a sua segurança pessoal e de que foi visitar a sua an-tiga base na Casa Banana, ao mesmo tempo que organiza manifestações para Novembro, não me parece de bom augúrio. (...) Defendo, há muito tempo, que ele tem todo o direito de se manifestar nas ruas. Mas em ma-nifestações pacíficas. Nada a ver com reforços de seguranças armados nem com bases de guerrilha”, Machado da Graça

“A intolerância e as ameaças siste-máticas à paz, demonstrações de in-coerência da prática quotidiana são atitudes indignas de quem a história reserva a qualidade de signatário dos Acordos Gerais de Paz. Continuare-mos a defender o diálogo e o debate de ideias como mecanismo privilegiado na busca de consensos sobre questões de interesse nacional”, Margarida Talapa, chefe da Bancada Parla-mentar da Frelimo

“A sociedade civil, de que tanto se pro-pala, não passa de falácia, pois ela não existe. Este é um país onde o Estado se confunde com o partido. Logo, grande parte da dita sociedade civil é membro activo, e com quotas em dia, do parti-do no poder, a Frelimo, e obedece ao seu comando nos processos eleitorais. O X Congresso da Frelimo foi bem elu-cidativo. Vimos desde o presidente da CNE aos seus membros, os ditos da sociedade civil, participando activa-mente como membros e até delegados, envergando o distintivo do partido. Afinal, que sociedade civil é essa?”, Maria Angelina Enoque, chefe da Bancada Parlamentar da Renamo

“Alguns discursos atiçam e criam nos jovens maior frustração e crescen-te raiva de verem gente da sua idade ou até mais jovens com um patrimó-nio sem igual, que até o seu pai não conseguiu e jamais conseguirá obter. Garantamos a próxima década de Paz investindo nos jovens. (...) A nossa riqueza, derivada dos recursos natu-rais, quando mal gerida, poderá trans-formar-se em Megaproblema para as nossas populações”, Idem

“O exercício das actividades políticas de partidos políticos que fazem uma oposição séria e objectiva na nossa pátria está a ser ameaçado. As li-berdades políticas garantidas pela Constituição da República estão a ser violadas de uma forma sistemática e progressiva em todo o país, com vista a silenciar a voz da razão, a crítica e ideias contrárias ao governo do dia.

(...) O silêncio dos tribunais perante os vários factos de violação das liberda-des políticas é grave e um sinal nega-tivo para a construção do Estado de direito”, Lutero Simango, chefe da Bancada Parlamentar do MDM

“A discriminação contra cidadãos que não são membros do partido no poder é endémica e não contribui na construção da tão propalada unidade nacional. (...) O Estado moçambicano, para que seja verdadeiramente um Estado de Direito Democrático, que respeita os direitos e as liberdades fundamentais dos cidadãos, precisa de ser emancipado. Precisa de ser livre”, Idem

“Em países com pouca cultura demo-crática, por exemplo, os intelectuais são vistos como os “invejosos da ci-dade” ou, na linguagem mais corri-queira, os “frustrados”, que conhecem pouco ou nada sobre o que “insistem em tecer comentários ou intervir. Jun-tamente com isto, intelectuais podem ser vistos como sujeitos a instabilida-de mental, com os seus críticos insis-tindo na existência de uma correlação médica entre insanidade e genialida-de”, Egídio Guilherme Vaz Raposo

“Marcelino dos Santos diz que Adelino Guambe, David Mabunda, Gumende e companhia foram expulsos da Frelimo e da Tanzania porque queriam insta-lar o capitalismo, ou seja, queriam “expulsar os brancos portugueses para ficarem a ocupar a sua posição”. As perguntas que Ponguana não fez foram: Porque os socialistas que ex-pulsam os que queriam instalar o ca-pitalismo depois se tornaram capita-listas puros? Porque não são expulsos por terem traído a ideologia do par-tido à semelhança do que aconteceu com Guambe, Mabunda, Gumende? Porque não se retratam publicamen-te? Será que eram mesmo socialistas ou eram capitalistas camuflados de socialistas?”, Lázaro Mabunda

“Para alguns, o facto de os citadinos de Maputo estarem, neste momento, a ser transportados em camionetas de caixa aberta seria o reflexo de que em Moçambique não existe a redistribui-ção da “imensa riqueza” de que o país está abençoado, como é o caso do car-vão e do gás. Pelo caminho, os nossos “intelectuais” esquecem-se de dizer que as reservas imensas de ambos os recursos mal começaram a ser explo-radas e a serem exportadas”, Gabriel Muthisse

“Para muitos outros, o simples facto de haver moçambicanos que passam fome, que não têm casa condigna ou que demonstrem possuir um ou outro tipo de carências seria não só uma demonstração dessa falta de redistri-buição da riqueza. Seria também uma forma de sinalizar quão imoral é o facto de, nestas condições de pobreza, aparecerem alguns compatriotas com sinais exteriores de riqueza”, Idem

O veterano da luta de libertação nacional, Marcelino dos Santos, concedeu uma entrevista à televisão pública do país e deixou vários pontos para reflexão. Disse, entre outras coisas, que os megaprojectos devem pagar impostos. Também revelou que a economia de mercado foi introduzida sem discus-são alguma. Porém, no que diz respeito ao partido que gere os destinos dos moçambicanos, Marcelino confirmou algo que a opinião pública murmurava um pouco por todo o país: “não há democracia na Frelimo”.

Esse pronunciamento, no nosso entender, revela muito daquilo que a Frelimo se tornou. Contudo, não é das idiossincrasias do partido no poder que preten-demos falar. Até porque houve algo muito grave que saiu da boca de alguém que muitas vezes disse que não era fundador da Frelimo, mas a própria Frelimo. Ou seja, Marcelino disse, para quem quis ouvir, que ele era maior do que a Frelimo.

Talvez, por isso, tenha dito que nunca vai apertar a mão a Dlhakama. “Eu não respeito Dlhakama. Nunca vou apertar a mão (...) descer tão baixo não dá”, referiu. Nós, refira-se, defendemos o direito que Marcelino tem de não apertar a mão a quem quer seja. Concordamos plenamente que não o faça. Está coberto de razão. Aliás, nesse aspecto a sua razão é maior do que o país.

Só que a razão que assiste ao Marcelino cidadão não abrange ao fundador da Frelimo. Esse, diga-se, tem outras responsabilidades e não pode, de forma alguma, elevar os seus rancores pessoas acima da construção do país. Portanto, o rancor de Marceli-no não precisa de ser público. Que o guarde para si e que seja responsável nos seus pronunciamentos públicos. O facto de ser libertador não lhe dá, de forma alguma, o direito de se pronunciar de forma irresponsável.

O fundador da Frelimo pode julgar que está acima dos valores da moçambicanidade. Pode acreditar ce-gamente de que é realmente maior do que a Frelimo e como, neste rochedo à beira mar, o partido no po-der confunde-se com o país temos a responsabilida-de lembrar algumas coisas ao cidadão Marcelino dos Santos. Primeiro: o seu partido é maior do que ele. Se não o fosse Marcelino não precisaria de dizer num órgão público que a Frelimo perdeu muito da sua democracia interna. Segundo: Moçambique é maior do que Marcelino e a sua Frelimo. Alguém precisa de lhe avivar a memória e dizer que os homens podem determinar o curso da história, mas não duram para sempre e nem são maiores do que o povo.

Que não perdoe Dlhakama. Que não lhe aperte a mão e que guarde o mais profundo desprezo pelo líder da oposição. Só que nós, como povo, não pre-cisamos de saber. Há tantas coisas a esquecer, para perdermos tempo a cultivar extremismos.

Ninguém é maior do que o país

OBITUÁRIO:João Mendes

1926 – 2012 • 86 anos

A morte, sempre inoportuna, mais uma vez surpreendeu-nos ao devo-rar um dos nossos irmãos. Faleceu, no passado 15 de Outubro de 2012, João Marques de Almeida Mendes, um dos primeiros presos políticos pelo sistema português, pelo seu envolvimento nos movimentos na-cionalistas moçambicanos na luta pela liberdade do nosso povo.

Os seus amigos e familiares – em número muito reduzido – despedi-ram-se dos seus restos mortais, cuja cremação foi realizada no Cemitério Hindu, no dia 18 do mês em curso.

Em nosso poder, presentemente, há muito pouca informação acerca de João Mendes. Sabe-se, porém que, além de autor da obra poética “Ser”, ele foi um dos primeiros presos po-líticos pelo sistema português – na altura em que iniciaram as primeiras reivindicações nacionalistas, através dos movimentos literários, a par de personalidades como Rui Knopfli, Noémia de Sousa, Rui Nogar, o seu irmão Orlando Mendes – por se ter aliado ao referido grupo.

Num artigo intitulado “Uma voz fundadora na literatura moçambica-na: a poética negra pós-colonial de Noémia de Sousa”, Anselmo Peres Alós, doutorado em literatura com-parada, cita o escritor moçambica-no, Nelson Saúte, para considerar que “graças a João Mendes, irmão do poeta moçambicano Orlando Mendes, Noémia passou a conviver com outros escritores da sua gera-ção, tais como Ruy Guerra e Ricardo Rangel. João Mendes não escrevia, mas, em contrapartida, não poupa-va esforços no sentido de congregar a inteligentzia moçambicana que, àquela altura, começava a construir a resistência ao colonialismo lusita-no: devido aos seus esforços, João Mendes conseguiu pôr em diálogo os poetas da Polana �aristocrática� e da empobrecida Mafalala, activi-dade que acabou por lhe render a deportação”.

João Mendes nasceu no dia 07 de Julho de 1926. Paz à sua alma!

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Xiconhoca

XiconhoquicesXiconhoquices

Os nossos leitores nomearam os Xiconhocas da semana. @Verdade traça em breves linhas as motivações.

Por opção editorial, o exercício da liberdade de expressão é total, sem limitações, nesta secção. As escolhas dos leitores podem, por vezes, ter um conteúdo susceptível de ferir o código moral ou ético de algumas pessoas, pelo que o Jornal @Verdade não recomenda a sua leitura a menores ou a pessoas mais sensíveis.

As opiniões, informações, argumentações e linguagem utilizadas pelos participantes nesta secção não reflectem, de algum modo, a linha editorial ou o trabalho jornalístico do @Verdade. Os que se dignarem a colaborar são incentivados a respeitar a honra e o bom nome das pessoas. As injúrias, difamações, o apelo à violência, xenofobia e homofobia não serão tolerados.

Diga-nos quem é o Xiconhoca desta semana. Envie-nos um E-MAIL para [email protected], um SMS para 821111, uma MENSAGEM BLACKBERRY (pin 28B9A117) ou ainda escreva no Mural defronte da nossa sede.

1. Venda de notasÀ medida que se aproxima o fim do ano lectivo, o jornal @Verda-de tem recebido mais – e muitas – denúncias de professores que vendem notas para os alunos transitarem de classe. Esta situa-ção acontece não só nas escolas públicas da capital como também de todas ao longo do país, segun-do apurámos. Os queixosos dizem que este fenómeno não é recente e que tem sido normal nesta altu-ra do ano onde por vezes, nalgu-mas escolas como a Secundária da Polana, o preço por uma nota mínima (10) tem se especulado chegando a custar 2000 meticais.

Por outro lado, alguns docentes exigem favores sexuais em troca de uma nota mínima para que os alunos possam transitar de classe.Na óptica dos nossos leitores, esta é uma Xiconhoquisse muito longe de terminar pelo devia ser legali-zada pelo (vice)ministro da actu-alidade, Itae Meque, já que quem o nomeou pensou que iria regular o sector com alguma arrogância à mistura e também pelo facto de ser do conhecimento do novo Mi-

nistro enquanto vice-ministro.

“Caros professores, abram ban-cas e vendam essas notas mas por favor, mudem o nome desse produto para Médias de Final do Ano para ter mais (des)graça” es-creveu um leitor que sugeriu este facto como uma autêntica Xico-nhoquisse.

2. Exigência de um governo de Unidade Nacional em MoçambiqueO maior partido da oposição do país, a Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO), chamou na terça-feira última a imprensa à sua sede nacional na cidade de Maputo, para ali anunciar que en-quanto o partido no poder, a Freli-mo, não mostrar-se aberta ao diá-logo e a satisfazer as exigências da RENAMO – até então não claras – ela está disponível para qualquer ofensiva, a partir de Gorongosa, local onde se “refugiou o seu lí-der” como uma forma de pressão.

E aquele partido da oposição não ficou só por ai. Disse através do seu porta-voz Issufo Momadi que

o partido Frelimo devia destituir o actual governo, convocar eleições antecipadas e estabelecer um de Governo Unidade Nacional e In-clusivo, onde participam todos os partidos.

Motivos? A mesma canção de sempre: Fraude Eleitoral no úl-timo pleito; Revisão do Acordo Geral de Paz; A despartidarização do aparelho do Estado, das Forças de Defesa e de Segurança, bem como a desestruturação da Força de Intervenção Rápida.

Para os nossos leitores, este as-sunto constitui uma mera Xico-nhoquisse não pelo facto de ser ideia original de um partido que manifesta a priori irreflectido, mas sim porque está como está. Se calhar seja um facto que Moçam-bique está mesmo pior do que Guiné-Bissau, Zimbabwe e o leitor não esteja a ver. Nunca se sabe.

3. Corte de Energias em MaputoA cidade capital do país tem regis-tado, de forma recorrente, cortes

de energia nas últimas semanas. Este cenário, aliado à falta de co-municação e de explicação por parte das autoridades da Electrici-dade de Moçambique (EDM), tem agastado os nossos leitores que nesta semana decidiram eleger este facto como uma Xiconhoqui-ce. É que, aquando do corte que precipitou a exoneração do an-terior Presidente do Conselho de Administração tendo-se estendi-do até aos primeiros dias do novo, aquela instituição socorreu-se da desculpa de se ter tratado de uma avaria grossa, mas que a mesma tinha sido resolvida.

Naquela altura, o jornal @Verdade questionou à EDM sobre que tra-balho tem sido feito para que si-tuações do género sejam evitadas e se as mesmas não derivavam de um erro humano. Sem resposta, os dias passaram e cá está a ver-dade: Ainda é comum na cidade capital ficar-se sem energia e por-que isto já leva tempo, está claro que o problema é mesmo huma-no e não de – inocentes – avarias.

1. Verónica Macamo O povo moçambicano sobretudo o da Matola viveu durante os dias em que decorria o décimo Congresso da Frelimo, uma paz rodoviária perfeita. O congestionamento do tráfego era tão normal e os carros ficavam pouco tempo parados nas filas que partem da Casa Branca até ao Hospital José Macamo nas manhãs e vice-versa nas tardes.

Hoje, a cena regressou e com muito mais agressividade por parte dos polícias da escolta que pontapeiam de forma brutal os vidros dos carros que não cedem às exigências de abrirem as alas.

Motivos: A Presidente da Assembleia da República está de volta no pedaço com o seu poder.

Mas afinal esta elite não tem direito a uma mansão na Julius Nyerere?

2. Salvador NambureteAnda muito sumido este nosso amigo mediático. Aliás, é de todo estranho e preocupante que ele ande assim. Escapou à última vassourada da antiga combatente e devia estar orgulho disso. Porém está calado e agora que explodiu mais uma bomba, a dos combustíveis adulterados, ele insiste em manter-se calado.

Em voz alta: “CAMARADA, HÁ OU NÃO HÁ COMBUSTÍVEL ADULTERADO NO PAÍS?” Se calhar está a espera das 250 “Navarras” da casa do povo sofrerem alguma paragem para se pronunciar. Xiconhoca!

3. Afonso DlhakamaSe estivéssemos no Brasil, até diríamos: “tadinho”. Mas porque estamos em Moçambique, só se pode lamentar. Um político de mão cheia que se deixou levar pela idade e agora está ai, entre matas e devaneios à busca de atenção. Apareceu recentemente numa entrevista onde deixou ficar muita sabedoria que emana no seu cérebro mas, ao que parece, foi uma actividade de um intervalo lúcido.

Mas enfim, porque todo ser humano sabe o que lhe move, só nos resta desejar uma boa estadia a este Xiconhoca nas matas de Gorongosa para apavorar as populações.

26 • Outubro • 2012

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Sociedade

O leitor já estudou à distância? Conte-nos como foi a sua experiência.Envie-nos um SMS para 821115 ou email para [email protected]

26 • Outubro • 2012

Texto: Coutinho Macanandze

Pais e encarregados de educação suspeitam do ensino à distânciaO ensino à distância, que existe há mais de 37 anos, é ainda amplamente desconhecido por parte considerável da população moçambicana. Apesar do crónico problema da falta de vagas que anualmente põe os pais e encarregados de educação com os nervos à fl or da pele, uma vez que os seus educandos fi cam fora da escola, poucos apostam nele. Os que o conhecem não o encaram com seriedade, suspeitam dele e tomam-no como algo sem credibilidade devido à forma como é ministrado, sobretudo por ausência de uma política de popularização.

Em 2012, o Sistema Nacional de Educação absorveu apenas dois milhões de novos ingressos, num cenário em que mais de duzentos mil alunos em idade escolar fi-caram sem vagas. Contudo, muito poucos recorreram ao ensino à distância para prosseguirem os seus estudos.

Diferentemente do ensino convencional ou presencial, o ensino à distância tem a particularidade de os alunos e os profes-sores não precisarem de estar no mesmo espaço para a concretização do processo de ensino e aprendizagem.

Aos alunos é disponibilizado material di-dáctico para cada um estudar onde quer que esteja, à altura que lhe apetecer, e se-gundo critérios próprios.

O contacto com o professor é mantido para a satisfação de eventuais dúvidas e para testes de avaliação do nível de assimilação de conteúdos, segundo um horário previamente estabelecido para o efeito.

Os conteúdos alocados aos alunos deste tipo de ensino são os mesmos dos que fre-quentemente estão presentes na sala de aulas, mas com a característica de serem bastante sintetizados.

Para o director do Instituto Nacional do Ensino à Distância (INED), António Fran-que, este tipo de educação é leccionado nas cidades, distritos e localidades do país em 13 instituições do ensino primá-

rio, médio e superior, apesar de grande parte da população não ter conhecimen-to da sua existência.

Em 2012, matricularam-se nele, em todo o território nacional, cerca de 20 mil alu-nos, contra os mais de duzentos mil que não beneficiaram de vagas no ensino convencional. Não se sabe exactamen-te quantos professores nele leccionam porque, segundo afirmou o director do INED, a contratação do corpo docente está a cargo das instituições que desen-volvem os programas concebidos para a sua efectivação.

Para o interlocutor do @Verdade, este tipo de educação acarreta menos custos em relação ao outro modelo, pois o corpo docente necessário é muito reduzido por causa dos manuais que, de certa forma, substituem o papel do professor.

Ou seja, enquanto no ensino convencio-nal os alunos fazem-se à sala de aulas sem livros, no que é ministrado à dis-tância o instituto disponibiliza-os, obri-gatoriamente, a todos. Não é necessário que se construam infra-estruturas, nem investimentos avultados para a sua fun-cionalidade.

Esta modalidade de ensino existe desde o período colonial, embora tenha sido interrompido durante a luta de liberta-ção nacional e retomado após a indepen-dência com o propósito de intensificar a formação de professores primários de

modo a responder ao défice destes pro-fissionais, que na altura assolava o sector da educação. Segundo António Franque, começou-se com aproximadamente 250 formandos em algumas províncias mo-çambicanas, através da formação do tipo “sexta classe mais um ano” e mais tarde actualizado para a modalidade “sétima mais três anos”.

Ainda no período pós-independência, o ensino em alusão foi introduzido com o objectivo de evitar a fuga de moçambica-nos para outros países, sobretudo os vi-zinhos, com o intuito de obter formação académica. Durante a sua história, reco-nhece Franque, algo falhou na sua divul-gação e, por conseguinte, manteve-se no anonimato e caiu num certo cepticismo e em interrogações a respeito das activida-des que nele são desenvolvidas. Daí que o grande desafio seja mostrar às pessoas que se trata de algo funcional e credível.

Porém, para tal, é preciso melhorar a pla-nificação, administração, gestão e o pro-vimento de material de ensino e apoio ao estudante.

Entretanto, nem tudo é negativo neste ensino. Um dos ganhos, nas palavras do nosso entrevistado, foi ter dado a possibi-lidade de continuar os estudos às pessoas que por razões de localização geográfica e laboral, principalmente nos distritos, eram obrigados a interromper a sua for-mação.

Conferiu facilidades ao acesso à educa-ção a muitos estudantes que anualmente ficavam sem afectação no ensino con-vencional por causa da limitação de va-gas, em particular aos graduados de um ciclo para o outro. Fez das pessoas donas e responsáveis dos seus próprios estudos, permitiu o rápido desenvolvimento do intelecto e trouxe qualidade à educação.

Nesse contexto, António Franque aponta para o facto de que numa situação em que o sector da Educação se debate com falta de professores, um das vantagens do ensino à distância foi ter aberto espaço para que um único docente pudesse en-sinar a dezenas de alunos sem que isso significasse uma sobrecarga. Racionali-zou dinheiro, recursos humanos, chega onde o ensino convencional não pode, e é exclusivamente adequado a pessoas dis-persas.

A expectativa do director do Instituto Na-cional de Educação é ver mais moçambi-canos, fundamentalmente os que depois de concluir um ciclo de formação não têm hipóteses de continuar os estudos, a beneficiarem do ensino à distância.

Este só pode cumprir este desiderato se abranger o maior número possível de escolas e comunidades dos distritos mais recônditos do território nacional, e as pessoas o vejam como uma modalidade complementar do ensino presencial e não como uma alternativa à falta de integra-ção noutro tipo de ensino.

A mulher que quer melhorar a vida dos vizinhosAbandonada pelo marido por deixar de conceber, Emília Napitela, de 48 anos de idade, mãe de uma fi lha e funcionária do Conselho Municipal de Mocuba na área de limpeza, tem o sonho de disponibilizar água potável aos vizinhos num município onde o precioso líquido continua a ser uma miragem para grande parte da população. Com o parco salário de 2500 meticais que aufere mensalmente, abriu um poço no seu quintal, mas precisa do apoio das autoridades locais para a construção de um furo.

A vida de Emília Napitela nunca foi fácil. Foi abandonada pelo marido com quem viveu mais de 10 anos porque ela deixou de conceber, logo após o casal ter uma filha. Mas nem por isso se sente triste, até porque, diz, “a minha filha deu--me três netos, que hoje são a minha maior ale-gria”. Além disso, Emília não guarda mágoas do seu ex-esposo. “Ele agora vive com uma senhora de Inhambane e já tem muitos filhos”, afirma.

Emília conta que a cada dia que passa a sociedade moçambicana está a perder os seus valores mo-rais e deixa um conselho a outras senhoras: “A mulher é a chave da casa, não deve ficar sentada e deixar tudo nas mãos de empregados. Ela deve cuidar e respeitar o marido, independentemente da situação. Acima de tudo, tem de ter muita pa-ciência, a mesma paciência que tem ao longo dos nove meses de gravidez”.

Natural do distrito de Ile, província da Zambézia, Emília Maria Napitela nasceu a 12 de Outubro de 1964, tendo posteriormente abandonado a sua terra natal na

companhia do seu ex-marido devido à guerra civil. Além de ter a quarta classe do antigo sistema e o quinto ano de

Texto & Foto: Redacção

alfabetização, em 1986 fez o curso de econo-mia doméstica ministrado pela Organização da Mulher Moçambicana (OMM) em Niassa, e lamenta o facto de não se dar mais impor-tância a essa questão. “Aprendíamos a rea-proveitar as sobras de comida, as capulanas rotas, a cuidar da família e a organizar a casa. Aprendemos que não é preciso ter muito di-nheiro para constituir um lar feliz. Sincera-mente, não sei o que se aprende na OMM hoje em dia”, afirma.

Ela vive em Mocuba desde 1994 e trabalha no Conselho Municipal local há 10 anos. Come-çou primeiro por varrer as estradas da autar-quia e, presentemente, faz a limpeza nos es-critórios da instituição. Antigamente, auferia 750 meticais mensalmente e hoje ganha 2500. “Não é grande coisa, mas com o valor consigo pagar algumas despesas”, garante.

Num município onde a população consome água imprópria (grande parte vê-se obrigada a caminhar pelo menos cinco quilómetros até ao rio), Napitela decidiu aliviar o sofrimento de um pequeno grupo de pessoas residentes no bairro Samora Machel.

Com o seu próprio dinheiro, abriu um poço no seu quintal, que fornece água gratuita-mente a pelo menos 50 famílias que moram ao seu redor. “Gostaria que o Governo me apoiasse na montagem de um furo metálico

de água, o que iria permitir que mais pessoas passassem a consumir água potável”, afirma.

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Sociedadewww.verdade.co.mz 05

O leitor pratica algum tipo de agricultura? Conte-nos como foi a ultima campanha agrícola.Envie-nos um SMS para 821115 ou email para [email protected]

26 • Outubro • 2012

Texto & Foto: Sérgio Fernando

O clamor dos agricultores e da comunidadeOs produtores de hortícolas que abastecem os principais mercados de Nampula estão na iminência de perder a sua produção devido às águas residuais evacuadas por algumas unidades fabris instaladas nas proximidades da cintura verde da cidade. Pelo menos dois agricultores já têm quase metade das suas hortas de couve destruídas. A situação também preocupa as comunidades circunvizinhas, que são obrigadas a conviver com o mau cheiro.

Os residentes do bairro de Muthita, arredores da ci-dade de Nampula, partilham o mesmo espaço com os resíduos sólidos que são libertados pela fábrica per-tencente à empresa Cervejas de Moçambique (CDM). Eles afirmam que a situação é preocupante, uma vez que se trata de um autêntico atentado à saúde.

De acordo com a população, o cenário torna-se mais grave quando aquela unidade fabril faz a evacuação dos resíduos sólidos resultantes dos trabalhos de pro-dução da cerveja.

António Timóteo, um dos moradores agastado com a nova realidade, disse que as águas residuais que são evacuadas da fábrica já provocaram o surgimento de um pequeno riacho que atravessa os quintais dos re-sidentes, situação que não é bem acolhida devido ao cheiro nauseabundo que as mesmas provocam. Aque-le munícipe explicou que, se o cenário prevalecer, a população corre riscos de contrair doenças. Nos últi-mos dias, já começam a registar-se casos de doenças.

Aurélio Sitoi, outro morador, referiu que, além do mau cheiro que é provocado pelas águas residuais, regista-se, igualmente, um enorme prejuízo na reali-zação de actividades agrícolas por causa da qualidade das águas que não contribuem para a prática de cul-turas alimentares praticadas ao longo do rio Muepe-lume, como a cana-de-açúcar e hortícolas, que estão a ficar danificadas devido às águas residuais.

Os produtores de couve, repolho, tomate e cebola uti-lizam água poluída para irrigar os campos. Jossias Anibal, agricultor há mais de cinco anos, afirmou que está prestes a perder a sua produção devido à contaminação da água e do solo. À semelhança dele, Amílcar Celestino já perdeu quase metade da horta e receia que este ano não consiga colher nada. “Vou perder quase tudo. Foram pouco mais de 50 mil meti-

cais que investi nesta machamba”, disse. João Fernando Mesa, um dos moradores do bairro de Muthita, disse que o problema relacionado com a poluição do rio e do meio ambiente naquela zona residencial começou a verificar-se quando a empresa Cervejas de Moçambique iniciou a sua produção. Contudo, apelou às entidades responsáveis pela gestão da fábrica para que instalem um tubo que transporta as águas escuras para escorrê-las até ao pequeno rio sem, no entanto, passar pelas residências.

Uma fonte da Direcção Provincial da Acção Ambiental de Nampula explicou à nossa reportagem que há necessidade de se resolver o problema envolvendo a edilidade, através do Pelouro do Saneamento e Meio Ambiente.

Reacção da direcção da empresa CDM

O chefe do Departamento de Saúde, Segurança e Ambiente da empresa Cervejas de Moçambique (CDM), Lourenço Damião Ribáuè, explicou que o problema de evacuação das águas residuais derivou da saturação da lagoa onde são deposita-das as águas negras oriundas da fábrica. Reconheceu, entretanto, a falha cometi-da pela equipa técnica na reparação do problema na altura em que foi registado, de modo a evitar o descontentamento, provavelmente, que causaria à população que reside nas imediações daquela firma.

Ribáuè deu a conhecer que a empresa CDM de Nampula possui políticas de trata-mento dos resíduos sólidos que consiste na aplicação de hidratantes para a elimi-nação do mau cheiro que causa problemas de saúde aos seres humanos.

Depois de ser tratada, a água é armazenada num tanque que foi construído para o efeito e, de seguida, é usada para a realização de outros trabalhos como é o caso da irrigação dos campos de relva e lavagem de materiais ligados à sua actividade. Mas quando o recipiente de tratamento da água residual regista alguns proble-mas de ordem técnica, o líquido é desviado para a lagoa, onde foi aberto um canal de evacuação das águas negras para o rio Muepelume, o que provoca o referido mau cheiro que afecta as comunidades circunvizinhas.

@Verdade constatou que, depois de apresentarmos o problema, o colectivo de direcção decidiu contratar uma empresa no sentido de fazer os possíveis arranjos visando reduzir a quantidade das águas escuras que são evacuadas para as comu-nidades. “Admitimos que haja esse problema, mas queremos assegurar que esta-mos já a empreender esforços de modo a resolvê-lo porque isso aconteceu devido à saturação provocada pela acumulação das águas negras que ficaram na lagoa durante um ano sem ser evacuadas”, disse aquele responsável precisando que a fábrica funciona 24 horas e sempre são feitos trabalhos de limpeza e de drenagem para a lagoa, daí que a água não seja apenas resultante da produção de cerveja.

Outras indústrias que poluem o meio ambiente

No bairro de Napipine, sobretudo na zona da Barragem, em Nampula, alguns residentes queixam-se da poluição ambiental que a fábrica de capulanas, a Te-xmoque, está a provocar como resultado dos despejos de resíduos industriais. A situação verifica-se porque aquela unidade fabril não construiu nenhuma vala de drenagem para a evacuação das águas residuais e todos os resíduos sólidos são encaminhados para as comunidades circunvizinhas, provocando um ambiente insuportável.

Um dos moradores explicou que a fábrica de capulanas utiliza combustível lenho-

so para as suas activida-des e, no final dos tra-balhos, os resíduos são depositados em locais de concentração humana. Acrescentou que, além de provocar um mau cheiro, os resíduos sóli-dos estão a formar uma lixeira, e a edilidade não recolhe o lixo para um local adequado.

O morador Malte Faz-bem afirmou que as au-toridades comunitárias nunca quiseram abordar o colectivo de direcção da empresa Texmoque para exigir a resolução do problema, mesmo estando a prejudicar os moradores daquela zona residencial. “Acho que os dirigentes locais não estão preocupados em resolver o problema que constitui uma preocupa-ção da população, uma vez que se trata de um atentado à saúde públi-ca”, disse.

O outro problema que está relacionado com a poluição ambiental ve-rifica-se nas redondezas da fábrica de bolachas que se encontra locali-zada no meio de diver-sas famílias no bairro da Faina.

Segundo os nossos entre-vistados, todas as águas residuais que são evacu-adas do interior do em-preendimento passam pelos quintais de algu-mas famílias que se sen-tem desapontadas com a direcção da empresa que nada faz para poder re-solver a situação.

Alfredo, um morador que falou à nossa repor-tagem, disse que várias vezes foram apresentar o problema à direcção, mas até hoje nada foi fei-to.

Entretanto, pedem a quem de direito no senti-do de ajudar os residen-tes daquele bairro que afirmam que a solução do problema está fora das suas capacidades. “Esta situação deve-se à falta de valas de drena-gem”, disse.

No geral, as indústrias que foram instaladas na cidade de Nampu-la não estão a oferecer condições aceitáveis de preservação do meio ambiente, uma vez que fazem a evacuação de re-síduos sólidos em direc-ção às comunidades que residem nas imediações do local onde foram im-plantadas.

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Sociedadewww.verdade.co.mz06 26 • Outubro • 2012

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Pescadores nas horas vagas

Quando não estão na sala de aulas, Nelson e Jossias, residentes na cidade da Beira, dedicam-se à pesca. Ambos trabalham para um cidadão estrangeiro e ganham um baldinho de pescado no valor de 600 meticais. Além das despesas com os estudos, o dinheiro é usado para o sustento diário das suas respectivas famílias. Mas, diga-se de passagem, diante da imperiosa necessidade de ganhar a vida, a escola é colocada, frequentemente, no último plano.

Natural do distrito de Búzi, província de Sofala, Nelson Boaven-tura, de 21 anos de idade, frequenta a oitava classe. Mora com a mãe e dois irmãos mais novos. O seu pai faleceu há quatro anos, tornando-se, assim, o chefe da família. “O meu pai era a única pessoa que garantia o sustento da família. Quando ele morreu, vi-me obrigado a fazer algo para ajudar a minha mãe e os meus irmãos”, conta.

Com apenas 17 anos de idade e a sexta classe por concluir, Nel-son começou a bater portas, porém, nenhuma se abriu. Primei-ramente, pensou em começar um pequeno negócio de venda de produtos de primeira necessidade, mas faltou dinheiro para materializar o desejo. Mais tarde, conseguiu um trabalho como empregado doméstico, mas, duas semanas depois, perdeu o emprego por não saber engomar e cozinhar. “Fiquei sem sa-ber o que fazer. Além disso, era cada vez mais difícil conciliar o trabalho e a escola”, diz. Mas num belo dia, quando passava pela zona da Praia Nova, arredores da cidade da Beira, ouviu fa-lar de que um cidadão de nacionalidade congolesa precisava de um pescador. O jovem não se fez de rogado, tendo aceitado o desafio, apesar de não dispor de nenhuma experiência no to-cante à actividade pesqueira. “Com a ajuda de Jossias, que já era pescador há um ano, conseguiu adaptar-me ao novo emprego”, explica. Ao contrário de Nelson, Jossias Teixeira, de 20 anos de idade, natural da cidade da Beira, é mais experimente na activi-dade. O jovem começou como ajudante do seu tio e, presente-mente, já se sente um grande pescador. “De vez em quando, eu saía com o meu tio para o mar. Além de ajudá-lo a lançar, puxar e costurar a rede, também vendia o pescado. Em troca, ele da-va-me algum dinheiro para comprar os meus cadernos”, conta. Jossias frequenta a nona classe e mora com os seus pais e cinco

Texto & Foto: Hélder Xavier

irmãos no bairro da Munhava. “O meu pai é desempregado, vende peixe seco aqui no mercado da Praia Nova. Senti a necessidade de contribuir na renda da casa, uma vez que o que ele amealha diariamente não é suficiente para garantir o sustento da família”, explica.

Os estudos em último plano

Nelson e Jossias não pensam em desistir da escola. Eles estudam no período da tarde e, durante as manhãs (e madrugadas), os jovens dedicam-se à pesca. Porém, nos últimos tempos, essa actividade tem vindo a ocupá-los demais e, consequentemente, os estudos são relegados para segundo plano. Devido à ocupação, Nelson reprovou a sétima classe por duas vezes, e Jossias uma vez. Cada um deles ganha um baldinho do pescado (o equi-valente a 600 meticais) que conseguem capturar por dia. “Às vezes, quando apanhámos bons peixes, conseguimos mil a 1200 meticais”, diz Jossias. Porém, há dias em que a si-tuação se torna difícil tanto para os pescadores assim como para o proprietário do barco.

“Há vezes em que o nosso patrão investe quatro mil meticais por dia em combustível e nós regressamos do mar sem nenhum pescado. Essa é uma situação complicada para todos nós, mas a culpa não é nossa”, afirma Nelson.

O caso ocorreu na residência familiar do malogrado e chocou sobremaneira as au-toridades comunitárias locais. Segundo relatos das pessoas que acompanharam o suicídio, Mustafá Rafael posto termo à sua própria vida por volta do meio-dia daquele sábado, momentos depois de ter regressado da Escola Primária de Namina, onde teria ido fazer uma prova.

Os familiares contam que naquele dia, à hora do almoço, o menor teria pedido aos seus irmãos que repartissem entre eles o seu prato de comida porque a partir daque-le dia jamais o tornariam a ver.

“A advertência não comoveu a ninguém. As outras crianças continuaram a brin-car até que, instantes depois, ouviram-se gritos de alerta anunciando que o petiz se encontrava pendurado pelo pescoço, atra-vés de atadores de sapatos, amarrados aos paus do tecto da cozinha”, disse Agostinho Leite, uma das pessoas que acorreram ao local para prestar socorro.

A chefe do posto administrativo de Na-mina, Ana Sabonete, esteve no local do suicídio e disse que a investigação da Polícia de Investigação Criminal (PIC) e da equipa da Saúde descartam qualquer hipótese de envolvimento de uma outra pessoa no enforcamento. Entretanto, os líderes tradicionais daquele posto convo-caram um encontro para analisar o caso porque suspeitam de que este esteja re-lacionado com superstição.

No local, o @Verdade soube que na mesma família, um outro menor de cinco anos de idade perdeu a vida, no ano passado, por afogamento numa bacia com capacidade para 20 litros de água. Ele estava a brincar e os progenitores estavam na machamba.

“Sempre que se está na época da colheita e de escoamento da produção agrícola, esta família regista casos do género. É possível que se trate de uma prática supersticiosa para obter benefícios na colheita e comer-cialização agrícola. Suspeitamos de que a família Hilário Rafael esteja a fazer magia negra, mas vamos desmistificar este caso e traremos os seus resultados”, assegurou o régulo Canhaua. /Redacção

Uma criança de oito anos de idade, que em vida se chamava Mustafá Hilário Rafael, suicidou-se, no último sábado (20), no posto administrativo de Namina, distrito de Mecuburi, na província de Nampula, com recurso a atadores de sapatos.

Criança de oitos anos enforca-se em Nampula

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Sociedadewww.verdade.co.mz 0726 • Outubro • 2012

Pergunta à Tina... Não consigo satisfazer a minha parceira

Oi pessoal! Mais uma vez cá estou para poder responder a algumas das vossas questões interessantes e preocupantes. Pessoal, temos que ter em conta que qualquer que seja a infecção de transmissão sexual, só iremos apanhá-la se mantivermos relações sexuais desprotegidas, ou seja, sem usar o preservativo. Portanto, volto a pedir, principalmente aos adolescentes e jovens, para que pratiquem a abstinên-cia e, quando acharem que o momento de manter relações sexuais com alguém especial chegou, não se esqueçam de usar o preservativo de forma a evitar a gravidez indesejada e o contágio das doenças de transmissão sexual, incluindo o HIV. Aguardo por mais dúvidas e comentários vossos, que podem enviar por SMS.

Envie-me uma mensagem através de um sms para 821115 E-mail: [email protected]

Oi Tina. Tenho 19 anos. Venho desabafar e pedir ajuda, pois nunca fiquei seis meses com uma namorada. O motivo é que não consigo satisfazer a minha parceira, porque ejaculo em menos de um minuto.

Caro jovem desconhecido. O teu corpo ainda está a atravessar algumas mudanças e a preparar-se para entrar na fase adulta, por esse motivo podem surgir alguns comportamentos físicos e psicológicos que às vezes são considerados normais, mas podem ser assustadores e difíceis de entender para quem está a passar por eles. Esses comportamentos variam de pessoa para pessoa, e este que tu estás a descrever pode ser um de-les. Porém, não podemos descartar a possibilidade de ser um pequeno problema físico ou mesmo algum problema na rela-ção, como a falta de estímulo, desejo e satisfação sexual. É im-portante encontrar a causa específica que está a provocar esse comportamento. Deves ir ao hospital e marcar uma consulta com um Urologista. Este cuida do sistema reprodutor masculi-no e do trato urinário dos homens e das mulheres. O Urologis-ta vai ajudar-te a resolver a tua situação ou a encontrar outras alternativas para solucionar o teu problema. O que não podes fazer é ficar sem saber o que está acontecer contigo enquanto ainda é cedo. Cuida-te e usa sempre o preservativo para ficares calmo de espírito e longe das doenças! Beijos.

Olá Tina. Tudo bem? Eu estou mas tenho uma preocupa-ção. Sou uma jovem de 19 anos e tive a minha primeira rela-ção sexual recentemente, só que não senti dor nem sangrei. É normal?

Eu também estou bem! Minha querida, pensar que toda mu-lher sangra na primeira vez é um mito e faz com que muita das vezes o parceiro só acredite que é a primeira vez dela se tiver sangramento. Isso não é verdade. O que leva ao sangramento é uma pequena pele na entrada da vagina, denominada hímen. Em vários casos, essa camada rompe-se na primeira vez, mas há casos em que pode romper-se algum tempo depois. Por di-ferentes motivos, o hímen pode romper-se durante a infância ou na adolescência mesmo antes de se ter a primeira relação sexual. As características dessa pequena camada de pele, como a elasticidade o formato e a lubrificação, são variáveis de pes-soa para pessoa, podendo o seu rompimento causar ou não a dor e o sangramento. Quanto mais estimulada a vagina estiver, menores são as possibilidades de haver dor e sangramento. Por isso, a primeira vez deve acontecer quando a mulher estiver se-gura e preparada. Espero que te tenhas lembrado de usar a camisinha e fá-lo sempre que fores ter uma relação sexual. A prevenção é a for-ma mais segura para termos uma vida saudável. Bom fim-de--semana.

Caro leitor

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Texto: Countinho Macanandze

O sociólogo Hélder Jawana entende que se está perante um fenómeno que deve, urgentemente, ser analisado e discutido em dois campos de conhecimento, o sociológi-co e o psicológico porque a sociedade, para além de to-mar a violação sexual como uma acção normal, não está suficientemente preparada para combatê-la.

José Jeque, outro sociólogo, considera que este é um pro-blema que tem trazido traumas, às vezes, irreparáveis para as suas vítimas. Trata-se de um acto próprio de uma sociedade que leva uma vida sem regras, repleta de ile-galidades, especialmente porque ninguém sabe qual é o seu papel, sem descurar a falta de interacção social entre os diversos actores desta mesma sociedade.

Jeque diz notar, com preocupação, que o Homem ten-de a escamotear as normas de convivência social, toma condutas socialmente cada vez menos aceites e pau-ta pela falta de respeito mútuo e de diálogo. “Como é possível que uma pessoa considerada idónea e maior de idade tenha a coragem de violar a sua própria filha?”, questiona e conclui que isto reflecte uma perda acentu-ada de valores morais, éticos e de humanismo.

Em relação aos problemas de fórum psíquico, Hélder Jawana explica que em casos de violação sexual é pre-ciso que os protagonistas destes actos repugnantes, especialmente aqueles que violam pessoas indefesas como crianças, tenham um acompanhamento clínico. A alteração psíquica do indivíduo leva a que ele manifeste atitudes desumanas, tais como violar sexualmente ou intentar uma agressão física contra alguém sem no en-tanto medir as consequências. Este acto pode ocorrer, para além do uso da força física, com o auxílio das dro-gas ou de objectos contundentes, pois nesse memento a pessoa não goza, integralmente, das suas faculdades mentais.

Para Jawana, a evolução do conceito da sexualidade le-vou, em parte, à crise de valores morais. Banalizou-se o sexo. Temos pais que violam as próprias filhas, irmãos que violam as suas irmãs, numa clara promiscuidade apavorante. Aliás, o sociólogo refere que se todos os casos de violações sexuais fossem comunicados à Polí-cia, a situação seria deveras dramática. Algumas pesso-as, não poucas, mantêm-se caladas perante a situação porque ainda têm vergonha, preservam as suas imagens e, às vezes, protegem os violadores por causa dos laços de parentesco.

Ele suspeita que algo esteja a falhar nas relações sociais dentro das comunidades, o que contribui para que cer-tos indivíduos forcem os outros a consumarem um acto sexual não consentido.

Os jovens, de acordo com Hélder Jawana, nascem numa altura em que há um novo paradigma do conceito se-xualidade e eles encaram o sexo como algo não afec-tivo entre dois seres opostos, mas sim como um sim-ples prazer que deve ser satisfeito sempre que acharem conveniente. Devem ser educados no sentido contrário.

“Estamos hoje numa sociedade em que o sexo virou uma acção de prazer carnal e está a ser consumado sem nenhum compromisso entre as partes. Estamos perante um rompimento do amor partilhado e mútuo que no passado norteava as nossas sociedades”, refere Jawana, para quem o outro facto pode estar relaciona-do com a importação, por parte dos jovens, de novas referências sexuais em detrimento das orientações culturais nativas, colocando, desta maneira, toda uma sociedade em crise e com os seus valores a degrada-rem-se de forma paulatina.

O sociólogo conta que a mini-saia, por exemplo, que tem sido criticada, já era usada na década de 80, mas não ti-nha as várias conotações a ela impingidas actualmente, dentre elas a de “prostituta” a quem veste. A globalização também tem feito com que os moçambicanos encarem a sexualidade de uma outra maneira. Aliás, “Os madjer-manes regressaram da Alemanha com os vídeos porno-gráficos e, consequentemente, trouxeram consigo novas experiências sexuais que afectaram e permitiram uma mudança cognitiva”.

Enquanto nenhum método é encontrado para desenco-rajar o fenómeno, Hélder Jawana apela à família, como instituição social básica, para que intervenha e assuma o papel de sensibilizar as comunidades a encontrar uma outra maneira de educar e incutir nos filhos valores úteis. Eles devem também ser educados no sentido de se abdi-car ou reduzir o materialismo a qualquer preço.

Por sua vez, José Jeque desafia as famílias, escolas e con-fissões religiosas a empenharem-se no restabelecimento das regras de convivência social e de valores morais que tendem a perder-se. A maior aposta deve ser a restitui-ção da conduta humana porque, por exemplo, aqueles que violam sexualmente as suas filhas e depois alegam razões obscurantistas, sempre vão existir, mas devem ser contrariados com medidas audazes no sentido de não continuarem a manchar a honra das suas vítimas.

Em relação ao obscurantismo, Jawana diz que é um dos factores que concorrem para a ocorrência de violações sexuais, devido a crenças e vivências centradas na cons-tante relação com os curandeiros. Há que estudar a his-tória de vida dos violadores para encontrar as reais causas do fenómeno porque alguns violam para cerrar pactos com os curandeiros. “As crenças existirão sempre nas comunidades e fazem parte da nossa identidade, mas é necessário um trabalho de desmistificação dos mitos e encontrar soluções para o resgate de valores morais”.

O país, de acordo com aquele sociólogo, precisa de ins-trumentos eficientes e arrojados para combater este mal, sem com isso dizer que a legislação existente sobre a matéria seja inadequada, mas deve, de forma incompla-cente, ser posta em prática.

“Não existe perda de valores”, Carlos Bavo

O sociólogo Carlos Bavo nega qualquer relação entre a onda de violações sexuais e a crise de valores morais. Na sua opinião, trata-se de um fenómeno que decorre de vários outros factores, entre eles o desvio de normas de conduta social e o obscurantismo, este com o propósito de curar certas doenças e salvar o próprio praticante e a sua família de alguns problemas que o afligem, tais como a pobreza.

De acordo com Bavo, cada época tem os seus valores éticos e morais e o Homem ganha uma nova consciência e acompanha a dinâmica da evolução social na qual está inserida. Todavia, ele subscreve a opinião de Hélder Ja-wana, segundo a qual as violações sexuais estão, de certa forma, ligadas aos novos paradigmas sexuais e podem também contribuir para a existência de seres que bus-cam, a qualquer preço, satisfazer os seus desejos. O gran-de desafio para as instituições sociais, na óptica daquele sociólogo, é adaptarem-se às novas circunstâncias.

A finalizar, recomenda que os diferentes actores da so-ciedade reflictam em conjunto e encontrem um antídoto para combater o problema que nos últimos tempos está a ser muito mediatizado.

Sociólogos recomendam estudo exaustivo das causas das violações sexuaisAs violações sexuais que têm assolado as comunidades do vasto território nacional, principalmente os menores de idade, resultam de vários problemas sociais, dentre eles os desequilíbrios psicológicos, o obscurantismo, e o assédio associado a novas experiências sexuais suscitadas pela dinâmica da própria sociedade, principalmente de uma crise de valores morais e éticos, segundo defendem alguns sociólogos moçambicanos. Estes apelam a quem de direito para que estude e encontre explicações sobre a persistência desta prática e formas de desencorajá-la, supostamente porque tende a ser costumeira.

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Sociedadewww.verdade.co.mz 0926 • Outubro • 2012

Duas escolas acolheram o “Dia Mundial da Dignidade Global”

Celebrou-se, nesta quarta-feira, 24 de Outubro, o “Dia Mundial da Dignidade Global”. Diferentemente dos anos transactos, em 2012, o evento, marcado para reflectir sobre os valores da dig-nidade, aconteceu em duas instituições de ensino, designada-mente as escolas secundárias Josina Machel e Estrela Vermelha.

Gilberto Mendes liderou o grupo de palestrantes da “Estrela Vermelha”, enquanto Erik Charas, mentor da iniciativa em Mo-çambique, foi quem dirigiu a equipa que se fez presente na Es-cola Secundária Josina Machel.

Na “Josina Machel” marcaram presença, para além de Erik Cha-ras, o apresentador Jorge Ribeiro, a poetisa e cantora Tânia Tomé, José Castro, o cantor Valdemiro José, Alfredo Musse, da G4S, e Ivandro Mangove e Tamires Cabral, da AIESEC (agremia-ção mundial de estudantes).

Na Escola Secundária Estrela Vermelha estiveram Azagaia (can-

tor de intervenção social), Omar Daúdo e Francisco Maibasse, da AIESEC, Caetano Lucas, do Projecto Casa Jovem, Amélia Tin-ga, da Right to Play, e os jornalistas Rui Lamarques e Frederico Jamisse. Princípios da Dignidade1. Todo o ser humano tem direito a uma vida digna.

2. Uma vida digna significa poder ter a oportunidade de realizar o seu potencial como ser humano, que se baseia na condição de poder ter acesso a um nível humano e aceitável de cuidados de saúde, educação, rendimento e segurança.

3. Dignidade significa ter a liberdade de tomar decisões sobre a sua vida, e ter esse direito respeitado.

4. Dignidade deve ser o princípio básico de todas as nossas ac-ções.

5. A nossa dignidade é interdependente da dignidade dos ou-tros.

Texto: Redacção • Foto: Miguel Mangueze / Nuno Teixeira Mamparraof the week

MARCELINO DOS SANTOS

[email protected]ís Nhachote

Senhoras e senhores, avós e avôs, meninas e meninosO Mamparra desta semana é o senhor Marcelino dos San-tos, que em entrevista à Televisão de Moçambique (TVM), na quarta-feira da semana passada, disse que jamais apertaria a mão a Afonso Dhlkama, o líder da Renamo, alegadamente por ele ter dirigido a guerra dos 16 anos.

Dos Santos sobe ao podium pela primeira vez e de forma intemporal, em virtude de as suas mamparrices continuarem a ecoar em nome do partido (de que é membro) que assinou o Acordo Geral de Paz para pôr termo a uma guerra entre irmãos e que teve como saldo milhares de mortos e feridos.

Marcelino dos Santos, como pessoa, pode apertar ou não a mão de quem quiser, mas sendo ele uma figura pública e que se apelida de “a própria Frelimo”, não pode gozar da prerro-gativa de em nome daquele partido andar a dizer a torto e a direito as mamparrices que lhe vão à cachola.

Para que outras gerações saibam, Marcelino dos Santos é dos pioneiros do nacionalismo moçambicano, que pela mão de Adelino Guambe, um rapaz muito mais jovem do que ele, fundou a União Democrática de Moçambique (UDENAMO), o primeiro movimento nacionalista a exigir a independência do pais, antes da junção da UNAMI e do MANU.

Logo, dos Santos, o Marcelino, não pode ser a “própria Fre-limo”, para contemplar aos demais moçambicanos com mamparrices que não lembram o diabo. Será que é da idade que tais verborreias lhe vêm em catadupas? Têm o bene-plácito do partido as baboseiras que tem, amiúde, proferido sem recurso à defesa que o justifique na praça pública?

O que pensam os seus camaradas mais antigos do partido sobre estas mamparrices de cariz intemporal?

O país ainda está na ressaca dos 20 anos de paz, e o discurso de concórdia e reconciliação tem sido a tónica dominante de todos os quadrantes e Dos Santos, o Marcelino, continua a dizer baboseiras para gáudio de uma plateia apenas ao seu alcance, que infelizmente nos entra casa adentro com a cortesia do canal público, dos nossos impostos e dos contri-buintes do erário publico, os parceiros de cooperação.

Na verdade a quem interessam aquele tipo de asneiras, di-tas “ mamparralmente” de forma desenfreada? Que tipo de lições, moral e ética ele quer emprestar aos seus concida-dãos?

Quer instigar o ódio, a arrogância e o insulto?

É este tipo de legado Mamparra que ele pretende emprestar às gerações dos mais novos da Frelimo e de Moçambique?

Temo referido, várias vezes, aqui que basta de mamparrices, mas, para o caso em concreto, parece que os seus pares no partido devem puxar-lhe as orelhas e tentarem a todo o cus-to chamar-lhe à consciência sob pena de caírem no ridículo colectivo. Muito mais do que Marcelino dos Santos, a Freli-mo é um projecto colectivo para o qual ele aderiu pela mão de um jovem que tinha 20 anos de idade e ele tinha 33. Sim, essa é a verdade que as novas gerações devem saber para que a esfreguem na cara e ele recupere a lucidez que parece estar a apartar-se para o longínquo.

Agradece-se desde já a todos que o encontrarem que lhe di-gam, sem receios: o senhor foi convidado para a UDENAMO pela mão de Adelino Guambe. Não podemos continuar a as-sistir serena e impavidamente a este tipo de mamparrices.

Mamparra, Mamparra, Mamparra

Até para a semana.

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Cidadania26 • Outubro • 2012

.com/JornalVerdadegoste de nós no

.com/JornalVerdadegoste de nós no

CIDADÃO Mustafa REPORTA:Maldita gasolina. Malditos sejam os que importaram essa gasolina. Oxalá eles paguem mil vezes pelos trans-tornos e prejuízos causados pela gasolina contaminada. Lugar de caloteiro é na cadeia. Foi um desabafo. Essa gasolina lixou a bomba do meu carro. Malditos comer-ciantes sem escrúpulos. Affff Bombas da Shell foi onde abasteci o meu carro e lixou a bomba de gasolina. Tam-bém vi carros avariados depois de abastecer nas bom-bas da Total. Se vocês gostam dos vossos carros evitem estas gasolineiras.

CIDADÃO @Foto Mangueze REPORTA:O “chapa 100” vai aumentar de preço em Maputo, mas será que continuaremos a ser transportados como bois?

CIDADÃO Gabriel REPORTA:Na Cadeia Distrital de Caia, em Sofala, mais de 7 reclu-sos evadiram-se ontem por volta das 15 horas.

CIDADÃO Lenio REPORTA:Na Cidade de Inhambane, concretamente na Primeira Esquadra da PRM, agentes da Polícia de Protecção afec-tos à mesma trabalham a tomar um Rum com alto teor alcoólico! O que esperar da sua actuação?

CIDADÃO EDDY REPORTA: População na esquadra da Polícia no Bairro Triunfo a pedir satisfações por a Polícia ter soltado um suposto criminoso.

CIDADÃO Lameque REPORTA: Para os habitantes desta zona (Bairro Ferroviário) a chuva é o símbolo de angústia! Sempre que ela cai eles são obrigados a passar a noite em pé!

CIDADÃO César REPORTAPassam a vida a fazer promessas... Mas o resultado é que não é nada bom!!! Chapa a subir, tudo a subir. Mais salário que é bom, nada... Até aonde vamos?

CIDADÃO João REPORTANo nosso país a marginalidade está a agravar-se, tenho pena de mim que estudo à noite. Na minha escola, ao sair do portão, os malfeitores aparecem e por vezes arrancam--nos os telemóveis e espancam-nos violentamente.

Jornal @Verdade. O trabalhador moçambicano que recebe o salário mínimo, em diferentes ramos de actividades labo-rais, é completamente incapaz de assegurar a subsistência de um agregado familiar composto por cinco membros, durante 30 dias, enquanto espera pelo próximo vencimento. Na re-alidade, este operário, cujo ordenado não compra tão-pouco um cabaz completo, é mensalmente confrontado com a mesma situação: encontrar fórmulas matemáticas que, ape-sar do exíguo ordenado, garantam pelo menos uma refeição por dia aos seus dependentes.

22 pessoas gostam disto.

Jornal @Verdade. partilhou a foto de da Saugineta Marido.

Segunda-feira

CIDADÃO REPORTA: Quando se fala em agravamento do preco de transporte publico e semi-colectivo... so posso partilhar esta imagem: irmaos pendurados e num autocarro sujo!!! Maputo, Avenida de Mocambique em frente ao Cemiterio de Lhanguene, Hoje às 07h30!!!

Veja todos reportes em verdade.co.mz/cidadaoreporter/

Por SMSpara 82 11 11

Por email [email protected]

Por twitte para@verdademz

Por mensagem viaBlackberry pin 28B9A117

Ayesha Nicole Nazir E triste ! Segunda-feira às 20:02

Abrao Paulo Munguambe mesmo pra 4 o

dinheiro ñ cabe. Segunda-feira às 20:03

Augusto Magaia E mto lamentavel!!!! Segunda-feira às 20:06

Imtiaz Vala Vamos procurar solucoes para o

salario minimo subir,sao varias familias dependentes deste salario.Lamentar so por lamentar nao vale a pena.A vamos enriquecer e tornar pratico a nossa cultura de trabalho sem olhar para as escolhas,vamos,trabalhar em todas actividades. Segunda-feira às 20:07

Luís Chagaca E as coisas só tendem a piorar, muitos

não têm noção das dificuldades por que passa grande parte dos cidadãos, principalmente na capital, Maputo. Não me vou ater a acusações e lamentaçöes, só acho que alguns pronunciamentos (e atitudes) politicas são duma hipocrisia sem medida para com as classes mais desfavorecidas. O pacato cidadão continua a sofrer, enquanto os da classe mais favorecida vão enriquecendo cada vez mais. Segunda-feira às 20:14 · Gosto · 2

Joao Canda E ja ovi falar k na ultima semana do

mes o preço do chapa sobe! Segunda-feira às 20:15

Narciso A. Machava Lamen-tavelmente, O

“anémico” Salario obriga o trabalhador á fazer uma Matématica quase Impossivel pra alegrar a bariga dos seus dependentes...” O povo M’bicano é totalmente Economista por nascencia”.Segunda-feira às 20:17

Pedro Rafael Tomas Verdde! Segunda-feira às 20:21

Naterio Nhadilo Xapa brevement tera nova tarifa.

Segunda-feira às 20:25

Valdez Estevao Bubutela 95 por cento das familias

vivem desses trocados dx deputados, enquanto eles tem subsidio d 20 mil para o final d semana, outros levam 8 meses para ter essa quantia! Segunda-feira às 20:28

Pedro Rafael Tomas O salario mínimo em moz

nem p uma pexoa n cnsegue se sustentar tendo em conta os caprixo pexoais. É triste mesmo. Segunda-feira às 20:30

Vanilton Xavier Fardo É uma situaxao triste.ha

pexoas que sobrevivem com apenas 1 dollar por dia. È dificil um pai d familia gerir tudo durant 30 dias com apenas 2.500 meticais que é o salario estipulado pelos orgâos competentes como minimo.p pagar agua, luz, escola dos filhos, arrendamento se calhar, alimentaxao e diverxos.n é nada facil e com o agravamento do prexo d xapa k subiu p 7 e 9 meticais sera aind dificil. Segunda-feira às 20:31 · Gosto · 1

Antonio Bernardo O mais lamentavel ainda é algumas

pessoas virem fazer comentarios infelizes, poxa sejam solidarios com esta situação e vamos deixar de ser hipocritas, não ha auto estima que resolva situações como esta. Segunda-feira às 20:38 · Gosto · 1

Odorico Cumbene Por se falar da habitual

pobreza (que reside na boca do carente), a qual vai avante diariamente com as dificuldades que o próprio governo espões e ainda mais com subida do preço dos chapas, ainda mais com o encurtamento absurdo de rotas, a que luta contra a pobreza absoluta, durante os 50 anos no poder o governo se refere, a do povo ou deles? Segunda-feira às 20:57 · Gosto · 1

Camilo António Laisse. O salario minimo é pouco

demais para sustentar pelo menos 3 pessoas ak em moç, e por cima, a mesma é obrigada a pagar por ex: QUOTA MENSAL, AMM, IRPS, e mas outras coisas so para lhes devolver o cash deles...QUE PENA!!! Segunda-feira às 21:09

Antonio Simbine Triste realidade. Segunda-feira às 21:17

Tomas Pedro Carvalho Por isso o indice d

corrupção tem crescido. Segunda-feira às 21:25

Osvaldo Francisco É duro dizer isso mais essa e a

realidade dos mocanbicanos, trabalhar dura para receber megalhas e muito lamentavel. Segunda-feira às 22:18

Mario Nhazua Sande É triste essa situação, nao é

possivel fazer algo com o magro salario a que estamos exposto, apenas consigue-se viver atravez das dividas que se comete nos contetores que nem mesmo ao receber pagas as dividas e ainda fica-se a dever mais outro valor. Ontem às 6:44

Nelson Raimundo Mussane. Pra mim esta politica

salarial obriga o trabalhador a praticar roubos na empreza onde trabalha pra conseguir asegurar o mes, e um dado importante o patrotano muitas vezes numca para pra pensar como o meu trabalhador numca faltou ao servico por falta de 5mt de xapa se pago baixo salario, resultado trabalhadores sem motivacao. Ontem às 7:25

Dani Lara Infelizmente os empregadores

neste país pagam “salariozitos”, o caricato é o tão propalado crescimento económico. Como vamos tirar o país da pobreza com empregadores e dirigentes insensíveis e alheios ao calvário a que estão sujeitos os trabalhadores (geradores da riqueza)? A pobreza está na mente dos nossos gestores. Ontem às 10:11

Narciso Francisco Triste situacao deste pais q esta

aos pedacos. Segunda-feira às 14:08 · Gosto · 1

António Mufambira É uma lástima

sinceramente Segunda-feira às 14:10

Arsènio Luis Chembene Ya.o que faser è o

temos cmu condiçao se dislocar. Segunda-feira às 14:10

Milton Antonio Macamo Esse pais ja foi vendido para

os estrangeiros e para nos os donos eles dizem combatem a pobreza apenas e o estrangeiro a te tem ret-car. Segunda-feira às 14:12

Euclides Cumbe Agrava-se a taxa, mas continu-

aremos sofrendo porque o encuratamento ira continuar, o governo nao vai incrementar o nro de autocarros, em fim o povo nao tem representantes no parlamento. Segunda-feira às 14:14

Aluisio Armando Mauaie. O mais agravante ek o

preco do transporte sofre sempre mexidas mas o salario mantem...ESTAMOS EM MOZ E CAMINHANDO PRO COMBATE A POBREZA... Segunda-feira às 14:18 · Gosto · 1

Benjamim Jose Mas sera k isso um dia vai ficar

melhor? Ou pelo menos sufciennte??? Em tdos ministerios sta mal. Onde e k vamos meu Deus!!!!!!! Segunda-feira às 14:22

Eugenio Silva Mazive Vidas penduradas

pexoal.ist è muitot critico. Segunda-feira às 14:23

Aluisio Armando Mauaie O meu pais tem riquezas de causar inveja

mas o seu povo vive desarascando...Segunda-feira às 14:24 · Gosto · 2

Fernando Amisse Abacar K vergonha!!! Segunda-feira às

14:24

Orlando Settimelli Quem podia

resolver o problema anda de carro por isso não lhe incomoda se as outras pessoas andam em chapas sujos e lotados ou nao! Segunda-feira às 14:24 · Gosto · 1

Rafik Abdala blá blá blá blá,mas quando xega a

hora da verdade votam nos mesmos fulanos.bem feito Segunda-feira às 14:31 · Gosto · 3

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Cidadaniawww.verdade.co.mz 1126 • Outubro • 2012

A podridão do edifício e a (in)competência do mestre de obras

O futebol, no meu entender, é uma espécie de edifício e a FMF é quem zela pela saúde desta grande infra-estru-tura. Sendo assim, o papel do seu presidente é cuidar ze-losamente da viga mestra e da verticalidade do prédio.

Faizal Sidat foi eleito para tal e não trouxe nada de novo. A qualificação dos Mambas para o CAN de Angola foi fruto do acaso e não da saúde da infra-estrutura.

Nem sequer as participações no CAN da África do Sul e depois no Egipto, no passado, foram fruto de trabalho. Nada foi feito nesse sentido. Fomos ao CAN simplesmen-te porque o acaso determinou que tivéssemos belíssi-mos executantes naquele momento específico.

Foram, portanto, feitos soporíficos e que não resultaram da restauração das paredes podres do edifício. Resisti-mos aos abalos pela fraqueza dos sismos e não pela na-tureza dos pilares.

Todas as vicissitudes do descalabro do futebol moçam-bicano radicam da natureza do edifício e não exclusiva-mente de um indivíduo.

Ou seja, líderes medíocres tornam-se célebres numa estrutura forte. Até recebem honoris causa. São enalte-cidos até à exaustão e meio mundo gaba-lhes a compe-tência.

Porém, quando a estrutura é tremendamente fraca e o edifício continua em pé apenas por um frágil fio, a in-competência vive exposta e, muitas vezes, as pessoas canalizam os problemas estruturais no rosto visível do edifício.

Obviamente, a incompetência do Faizal Sidat salta aos olhos por causa da podridão do edifício ao longo de anos. Podridão da qual ele faz parte e tem a sua quota de culpa.

Portanto, o futebol moçambicano, vergado ao peso da tradição, em vez de se modificar estruturalmente, optou por tentar contornar a incompetência com qualificações soporíficas.

Eu disse, quando fomos ao CAN e meio mundo enalte-cia os feitos do senhor acaso, que a nossa estrutura des-portiva caminhava moribunda e obsoleta há mais de 15 anos.

Ou seja, para mascarar as lacunas de tal filosofia de enaltecimento do caos glorificámos o feito de uma gera-ção de jogadores que atravessava a melhor fase da sua carreira.

Portanto, os nossos maus resultados não são, de todo, culpa de Faizal Sidat. Ou seja, Faizal pode ser condena-do pelo facto de não ter cumprido uma única linha do manifesto e, também, por não ter, até hoje, apresentado uma proposta de reestruturação do futebol nacional.

Efectivamente, Faizal não deve dizer que vai qualificar os Mambas para isto e mais aquilo. Faizal tem (ou tinha) de mostrar com que linhas vamos restaurar o edifício do futebol. No meu entender, Faizal não é um mau diri-gente por causa do descalabro de Marrocos. É um mau dirigente porque nunca apresentou ideias. Nunca disse quais são os seus planos para o futebol moçambicano. Não se rodeou de pessoas que pudessem harmonizar e potenciar o futebol de formação.

No futebol só vencem as ideias e Faizal não fez patavina para impor uma ideia. Lutou pela qualificação ao CAN, mas desprezou a construção de uma filosofia ganhado-ra. Não de jogadores que os Mambas precisam, mas de ideias para construirmos o amanhã. Por essa manifesta incompetência, Faizal não é a pessoa certa para estar na FMF.

Concordo plenamente com quem pensa desse modo, discordo apenas do conteúdo do pensamento. Até por-que ao afastar Faizal Sidat o edifício livra-se de um mau mestre-de-obras, mas continua irremediavelmente po-dre.

Por: Rui Lamarques

Significado do Patriotismo na Juventude Actual: Seu Papel e Valores

Actualmente há um despertar surpreendente de jovens para o nacionalismo e para a participação política do que há anos atrás. Pessoalmente entendo este boom como resultado de a juventude ter conquistado uma consciência crítica, fruto das facilidades educacionais que actualmente existem e da sua entrega À investiga-ção científica, que dá ferramentas comparativas entre a realidade e o dever ser.

Assim, os jovens tem tido um protagonismo, senão visí-vel a olho nu, pelo menos é visível nos seus respectivos fóruns, criados por eles mesmos, onde o respeito se ga-nha com coerência e não pela posição defendida. Com isto quero dizer que o dogmatismo, a emoção e a falta de clareza tendem a afastar-se de muitas visões que os jovens lançam cá para fora, e com isso têm conseguido fazer um mundo à parte, que possivelmente será o que substituirá o da geração que está em voga actualmente. E isso é de salutar, aliás, é natural.

Por outro lado, a juventude tem ficado órfã de uma di-recção forte no aspecto do patriotismo. Quando falo de direcção não falo do líder ou de uma bitola ou farol que possa guiá-los a um caminho certo, mas de uma ideia genuína e aglutinadora, que possa casar a parte positiva de capacidade de análise e o défice assustador de patrio-tismo que grassa nos jovens.

Quando falo da “falta de direcção”, refiro-me à falta de funcionamento do volante do ego dos jovens, que se dei-xa arrastar pela informação que nos chega (facilmente), e tentam a todo custo implantar numa realidade total-mente diferente da fonte da mesma, sem querer enten-der a sua exequibilidade, tendo como meta o bem e a harmonia social a longo prazo.

Aqui falo do patriotismo como aquele em que os indiví-duos de um certo território estão unidos por tradições, língua, cultura, religião ou interesses comuns, e que constituem uma individualidade política com direito de se auto-determinar e de decidir sobre o seu próprio des-tino. Aqui a territorialidade é que vinca, pois parto do princípio de que um nascituro de um território ou um cidadão que foi adoptado por essa pátria-território deve toda a lealdade a essa mesma pátria.

Socorro-me de Rosseau para me cingir à territorialida-de do patriotismo, através do seu conceito de soberania, no seu Do Contrato Social, uma vez que no centro des-ta teoria jaz o carácter civilizador da construção de um Estado. “O tratado social tem como fim a conservação dos contratantes. Quem deseja os fins, também deseja os meios, e tais meios são inseparáveis de alguns riscos e, até, de algumas perdas.

Quem deseja conservar a sua vida à custa dos outros, também deve dá-la por eles quando necessário. Ora o cidadão não é mais juiz do perigo a qual a lei quer que se exponha e, quando o princípio lhe diz É útil ao Esta-do que morras, deve morrer, pois foi exactamente por essa condição que até então viveu em segurança e que a sua vida não é mais mera dádiva da natureza, porém um dom condicionável pelo Estado” (Rosseau, 1987, Pag 51-52).

Aqui, não entendo este escrito de Rosseau como dirigido a pessoas individualmente, mas a um conjunto de pesso-as que tem sentimentos comuns, e que professa a mes-ma fé na durabilidade, justeza e invencibilidade dessa sua coesão.

Este exemplo do escrito de Rosseau vem mostrar que o patriotismo é algo que condiciona a coesão de um certo grupo de cidadãos com interesses de sobrevivência co-muns, e que a necessidade de sobreviver sobrepõe-se a quaisquer visões externas a esses interesses de sobrevi-vência a TODO O CUSTO.

É esta parte que penso que falta na juventude actual-mente, o que faz com que o desenvolvimento do seu lado visionário, crítico e de construção de uma sociedade do futuro seja coxo, porque falta a parte da coesão e do sa-crifício pelo todo. O jovem actualmente está alienado, não só pela “superioridade” que ele assume que a virtu-

de estrangeira tenha, mas também pelas vicissitudes e condicionalismos internos, cujos interesses muitas das vezes chocam com qualquer esforço de coesão.

Sendo assim, o seu contributo (juventude como um todo) é facilmente manipulável, e usado como um escudo con-tra ele mesmo, fazendo-o refém das suas próprias ideias. Isto é possível porque os jovens levam em primeiro lu-gar os seus interesses individuais, levando os interesses comunitários para mais tarde. Assim, auto-divididos, os jovens são manipuláveis e facilmente controláveis, pois estão a granel.

A sua união não se mostra possível a curto prazo, pois o jovem actualmente não tem o espírito patriótico, o espí-rito comunal, onde o bem comum é mais importante que o bem individual, e está à mercê de interesses alheios que se aproveitam desta fragilidade, e isto conduz a um beco sem saída. É por isso que os jovens estão divididos em grupinhos cuja principal diferença é exactamente o acesso que têm, não aos recursos, mas aos que exploram esses recursos.

Eles estão assim porque não estão em comunhão, e os caminhos que seguem conduzem a uma necessidade in-dividual, onde a competição selvagem e animal é que serve, de modo a serem visíveis para os que detêm o po-der, para que lhes facilitem a vida individualmente.

Se os jovens tivessem uma visão patriótica dos seus di-reitos, se fossem capazes de aliar esta sua capacidade de análise de chegar à conclusão, mas de uma forma pa-triótica e comunal, então aí seriam uma força viva da sociedade, e seria obrigatória a sua consulta em caso de formulação e implementação de políticas públicas, já que são a maioria da população.

Se tivessem uma visão ampla da sua capacidade em construir a pátria como identidade, se tivessem uma vi-são a longo prazo desta pátria, então os jovens reclama-riam menos e sentir-se-iam donos dos seus próprios des-tinos e como parte da solução e não do problema como se vê hoje em dia.

Portanto, o défice do patriotismo é que condiciona este grupo etário, pois ele não tem identidade de coesão, e cada um tem os seus objectivos pessoais que se sobre-põem aos objectivos da juventude como uma comunida-de com necessidades e interesses comuns, fazendo com que os seus anseios não tenham a força que a sua união pode oferecer, uma vez que as brechas criadas ao longo da sua muralha são facilmente penetráveis.

Exige-se uma juventude não só crítica, mas actuante, e engajada nos objectivos comuns de uma pátria que tem identidade própria, e se mostra ao mundo com um objectivo a longo prazo, onde os que tentam desviá-la a granel para a sua autodestruição, não tenham espaço para tal.

Exige-se uma juventude responsável, e que se preserva para as tarefas de continuidade e não para as tarefas momentâneas e de correcção de posições; uma juventu-de solidária entre si; uma juventude, não só reprodutora de ideias, mas implementadora das mesmas, mostrando que tem responsabilidade, sociabilidade e capacidade de conhecer os seus objectivos que, invariavelmente, devem estar de acordo com os supremos objectivos da nação.

Enquanto a juventude se guiar pelos ganhos momentâ-neos, então que continue a reclamar, a insultar e a bara-fustar, mas os resultados tangíveis, esses estão à espera de uma juventude unida e que se guia pelos sentimentos patrióticos como sua principal bitola, tanto para o seu pensamento, assim como para as suas acções.

Usando o ditado da introdução, diria que se a juventude soubesse a força que o patriotismo militante pode ofe-recer...

Juventude, surge et ambula...

Por: Américo Matavele

“Se o boi conhecesse a sua força, jamais o homem o domaria.” Ditado popular

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Democracia26 • Outubro • 2012

“Passagem automática é um fiasco”A passagem automática, no entender da Associação Moçambicana para a Promoção da Cidadania (AMOPROC), “é uma cabala para a manutenção do poder”. @Verdade conversou com Fernando Augusto, director executivo da AMOPROC, que, entre outras coisas, afi rmou que “o Estado não cria condições para que as pessoas gozem do exercício de cidadania”. Pelo meio apontou o dedo ao debate em torno do Novo Código Penal, e passou ao lado do “cidadão pacato” ao centrar a discussão “nos grandes centros urbanos”. Os que não falam a língua portuguesa, a maioria da população moçambicana, diz, vão viver condicionados por algo que foi “discutido por académicos”...

(@Verdade) - O que é AMOPROC?

(Fernando Augusto) – Associação Moçambicana para a Promoção da Cidadania. Foi fundada juridicamente em 2006. Porém, antes era Associação Moçambicana para a Reintegração Social e foi fun-dada em 1993 depois da guerra civil. Em 2000, quando as condi-ções para a reintegração social dos desmobilizados de guerra e ou-tros grupos foram criadas, achou-se melhor mudar de foco. Com o actual cenário, criámos a AMOPROC para que os cidadãos tenham a oportunidade de conhecer os seus direitos e deveres.

(@V) – Desde que surgiu até aos dias de hoje que ideia a AMO-PROC tem da percepção dos moçambicanos em relação aos seus direitos e deveres de cidadania?

(FA) – A sociedade moçambicana sabe que tem direitos, mas em contrapartida é preciso que os direitos sejam estabelecidos a par-tir dos seus deveres. O Estado cobra mais deveres e não concede direitos aos cidadãos. Por essa razão, nos dias de hoje, discute-se a questão do Orçamento do Estado. O moçambicano não sabe com quanto é que contribui para o Orçamento. Portanto, existe uma discrepância entre direitos e deveres. Temos direitos em Moçam-bique que ainda continuam a não ser respeitados.

(@V) – Pode explicar melhor que direitos é que não são respeita-dos pelo Estado?

(FA) – O Estado cobra impostos aos cidadãos, mas não sabemos para onde é que os mesmos são canalizados. Dei exemplo do Orçamento do Estado. Ou seja, desses impostos cobrados par o funcionamento do Aparelho do Estado o cidadão não sabe qual é o valor da sua contribuição. Todos pagamos IVA, mas quantas escolas no país têm carteiras? O nosso contributo, mesmo que seja ínfimo, tem de ser público. Estamos a transformar-nos num país cada vez mais endividado e não sabemos para onde é que o nosso dinheiro vai.

(@V) – O que a AMOPROC faz em relação a esse aspecto?

(FA) – No nosso plano estratégico foram estabelecidos três objec-tivos: fortalecer a sociedade civil a participar activamente no pro-cesso democrático a nível local, principalmente no concerne à boa governação, contribuir para o combate à corrupção e melhorar o acesso à justiça em Moçambique.

Temos dado treinamento a nível local. Criámos grupos de advoca-cia e estamos estabelecidos em todo o país através de delegações provinciais. Temos agora a delegação do Niassa que está a traba-lhar no fortalecimento da participação da juventude nos distritos. Estamos a trabalhar em Namaacha, Marracuene, Jangamo, Inharri-me e Chibuto na capacitação para que a sociedade civil esteja mais vigilante no que diz respeito às políticas públicas.

(@V) – Há um fosso grande em relação ao nível de cidadania en-tre o meio urbano e o rural?

(FA) – Existe. Primeiro, porque a informação no distrito é escassa. Temos, por exemplo, o jornal notícias que é o de maior circulação a nível nacional, mas nem todos distritos têm acesso ao jornal no mesmo dia. Trabalhamos em Nangade onde o jornal chega três ou quatro dias depois de sair. Às vezes nem chega. O nível de cida-dania, de facto, é fraco. Porém, para termos uma melhor cidadania devemos melhor o acesso à informação. Por exemplo, se um jor-nal chega ao distrito é lido por que número de pessoas? Quantas pessoas percebem português? Esse é outro entrave para as pesso-as. Todos jornais estão escritos em língua portuguesa e nós temos acima de 52 porcento da população analfabeta.

(@V) – Qual é o papel das rádios nesse trabalho? O país conta com uma grande número de rádios comunitárias...

(FA) – A nível das rádios comunitárias a informação é divulgada. Porém, algumas rádios para funcionar devem obedecer a uma linhagem. Na semana passada a Rádio Maceque foi vítima de censura por questões políticas. Ou seja, temos rádios, mas poucas conseguem ser independentes.

(@V) – O Governo é um entrave para a própria cidadania e para liberdade de alguns meios de co-municação de massas no sentido de definirem uma linha editorial independente?

(FA) – O próprio Estado é que ainda não criou condições para que todo moçambicano goze do exer-cício da cidadania.

(@V) – Não há interesse por parte do Estado em relação ao exercício de cidadania?

(FA) – Penso que não. Há um anteprojecto de lei de acesso à informação depositado há cinco anos e até hoje não foi aprovado. Nem agendado. Quer dizer que o Estado moçambicano não está inte-ressado.

(@V) – O vosso estudo, lançado recentemente, refere que há uma escassa participação dos jovens nos órgãos de tomada de decisão a nível distrital. O mesmo estudo argumenta dizendo que tal se deve à marginalização das políticas sociais que poderiam favorecer os jovens. Que políticas são essas?

(FA) – A primeira coisa é que o próprio jovem é discriminado pela idade. Ou seja, por ser jovem.

(@V) – Compreendemos, mas o que pretendemos é saber que políticas poderiam favorecer os jovens e são marginalizadas?

(FA) – Nós pensamos que deve haver um consentimento naquilo que é a participação obrigatória. Devem ser elaborados instrumentos legais que permitam a participação obrigatória da juventude em termos de interesses sociais. Falta aqui o enquadramento das políticas de interesse social deste grupo.

(@V) – Quais seriam esses interesses?

(FA) – O estudo revela que a maior parte dos jovens que está nos órgãos de tomada de decisão, em termos colectivos, provém da OJM. Há um interesse político que visa responder a outras questões. Em termos singulares, temos professores, mas estes não podem expressar os seus reias anseios por temerem represálias. Portanto, existe este caos que não permite que a participação da juventude seja reflectida e activa na defesa dos seus interesses.

(@V) – A presença dos membros da OJM, no vosso entender, é nefasta aos interesses da juventude?

(FA) – É, porque eles têm uma agenda política, a qual deve ser concretizada através desses órgãos. Por exemplo, se o partido define que a juventude da OJM deve ter uma sede distrital, eles vão levantar e construir a sede, em detrimento de espaços de lazer ou de encontro de jovens.

(@V) – O que os jovens no distrito fazem para mudar tal situação?

(FA) – Os jovens não têm espaço. O único espaço que deveriam ter é esse. Mas há muitas associação juvenis que são impedidas de participar.

(@V) – O espaço conquista-se...

(FA) – Conquista-se, mas que bases nós temos para a conquistar?

(@V) – Mas eles lutam pelo espaço?

(FA) – Lutam, mas chega uma altura em que são intimidados. Temos visto nas presidências abertas.

Quando um cidadão levanta--se é um problema. Há uma senhora que até hoje é perse-guida por ter denunciado um caso que se deu na Direcção Provincial dos Antigos Com-batentes. São casos que in-timidam. Tivemos o caso de um jovem em Boane que disse que não conhecia o adminis-trador e que era um dirigente de gabinete. Este jovem foi alvo de chantagem. Foi levado à esquadra.

(@V) – Que prejuízos são cau-sados às comunidades face a esta participação deficitária dos jovens no processo de to-mada de decisões?

(FA) – Não há desenvolvi-mento. Ou seja, o jovem deve livrar-se das drogas e da pros-tituição e sem esses centros juvenis de recreação e entre-tenimento o que os jovens fazem? Aliam-se às quadrilhas de assaltantes e por aí fora. Se formos a ver as percentagens dos presos, notaremos que a maior parte é constituída por jovens. Porquê? Porque foi encontrado com um pato, es-faqueou alguém. Em suma: a força activa está encarcerada nas cadeias.

(@V) – Que programas desen-volve a AMOPROC actual-mente?

(FA) – Temos o programa de fortalecimento da sociedade civil, com enfoque para os jo-vens. Acreditamos que os jo-vens são os que mais sofrem pela corrupção, injustiça e falta de oportunidades.

(@V) – Qual é o papel da Rá-dio da AMOPROC no vosso trabalho?

(FA) – Promover a cidadania. Porém, neste momento esta-mos a tentar transferir a rádio para o distrito, de modo a que se faça sentir mais na vida das pessoas.

(@V) – Que programas passa?

(FA) – Em termos de linha edi-torial, a rádio AMOPROC de-veria estar a emitir programas ligados ao exercício da cidada-nia, mas, por questões orga-nizacionais, não está a emitir estes programas. Agora passa-mos mais informação. Porém, agora temos uma assessora que nos veio apoiar no dese-nho do perfil da própria rádio para servir a comunidade. Não somos uma rádio comercial.

(@V) – Vocês têm um progra-ma designado “Mulheres Ci-dadãs”. Qual é o espírito do programa?

(FA) – Visa dar mais espaço às mulheres. Se olharmos para o país fora percebe-se que as nossas mulheres sofrem por causa de ausência de cuida-dos médicos, principalmente no momento de gestação. Os hospitais ficam muito dis-tantes das comunidades e os poucos que existem não têm

Texto: Rui Lamarques • Foto: Nuno Teixeira

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Democraciawww.verdade.co.mz 1326 • Outubro • 2012

material médico adequado. Nem sequer possuem recursos huma-nos qualificados. Portanto, nós estamos a criar esse tipo de núcleos para que sejam capacidades em saúde sexual e reprodutiva, para além de que elas precisam de ter fundos para o desenvolvimento das suas iniciativas a nível local. Pensamos que eles devem mo-nitorar as políticas públicas, sobretudo na óptica do género. No trabalho que estamos a fazer detectamos que ao nível dos FDD existe uma grande discrepância entre os valores que os homens e as mulheres recebem. Ou seja, podemos ter 1000 mulheres com igual número de projectos aprovados, mas o volume de recursos destinado é inferior a dois projectos de pessoas do sexo masculino. Para colmatar este fosso estamos a tentar que elas sejam contem-pladas no processo de desenvolvimento da mulher a nível distrital.

(@V) – Com que instituições desenvolvem o programa de combate à corrupção?

(FA) – Ao nível do Governo trabalhamos com o Gabinete Central de Combate à Corrupção. No que diz respeito às organizações da sociedade civil trabalhamos com a ActionAid.

(@V) – O que fazem concretamente nesse programa?

(FA) – Ao nível das comunidades treinamos as organizações de base comunitária em ferramentas de combate à corrupção. Leva-mos avante acções com palestras e pequenas marchas.

Frustrações da AMOPROC

(@V) – Quais são as frustrações da AMOPROC no trabalho que desenvolve?

(FA) – Falta de abertura política ao nível dos distritos. Uma das grandes, e talvez a maior frustração é a não aprovação da lei de acesso à informação. Nós participámos na elaboração da proposta, e vermos que esse dispositivo legal não é aprovado é revoltante.

(@V) -Que pontos a AMOPROC colocou na proposta de lei?

(FA) – Não vou dizer a AMOPROC, mas o colectivo que esteve em frente desse processo. Não posso mencionar a AMOPROC so-mente porque estivemos a ser coordenados pelo MISA. Porém, as nossas propostas foram todas seleccionadas e colocadas na lei. Não sabemos qual é a informação que deve ser pública. O que é segredo de Estado? É não facultarem ao público o relatório de exe-cução do orçamento ao nível dos distritos.

(@V) – Que benefícios a AMOPROC retiraria da aprovação da lei?

(FA) – Não só beneficiaria a AMOPROC. Os órgãos de informação também sairiam beneficiados. Não temos um instrumento jurídico que obrigue o Estado a fornecer tal informação, embora a Consti-tuição da República diga que temos direito ao acesso à informação.

(@V) – Falo do vosso trabalho em concreto…

(FA) – Teríamos aquilo que são os planos de desenvolvimento do distrito a qualquer momento. Para ter um PESOD (Plano Econó-mico e Social e Orçamento Distrital) é complicado. Há muitos que não facultam. Às vezes vamos aos distritos e dizem que os planos que têm ainda são uma espécie de esboço. Esboço de Janeiro até Dezembro? Isso não contribui para aquilo que são algumas acções da AMOPROC.

(@V) – Olhando especificamente para o trabalho da AMOPROC, como interpreta o acesso à justiça no país?

(FA) – Está mal, razão pela qual agora temos a tenda da justiça. Se for a ver quantas pessoas vão à tenda da justiça… É um número monstruoso. Nas zonas rurais as pessoas têm de ir até as vilas para encontrar juízos. A justiça é o grande calcanhar de Aquiles do nosso país, sobretudo nos distritos. Os tribunais comunitários poderiam ser uma alavanca para a sociedade civil, mas não funcionam por-que não têm meios. As pessoas que lá estão não reúnem capacida-de para interpretar as leis porque estas vêm escritas em português. Nesses lugares as pessoas falam as línguas locais. Isso dificulta a interpretação das mesmas, para além de que estes membros não reúnem consenso. As comunidades locais não os assumem como pessoas da justiça informal, se assim quisermos chamar.

(@V) – Quantas pessoas a AMOPROC formou em conteúdos rela-cionados com a cidadania?

(FA) – Nós já formámos aproximadamente 300 jovens, entre mulhe-res e homens, para além dos membros dos Conselhos Consultivos.

(@V) – Em que distritos se encontram estes jovens?

(FA) – Nos distritos de Namaacha, Marracuene, Chibuto, Macia, Jangamo, Inharrime, Moeda e Nangade, para além de toda a pro-víncia de Niassa onde temos uma delegação.

(@V) – Quanto custa uma capacitação dessa natureza?

(FA) – Uma capacitação de cinco dias custa entre 250 e 300 mil meticais.

(@V) – Onde é que a AMOPROC vai buscar fundos para custear tamanhas despesas?

(FA) – Nos parceiros. Temos parceiros que trabalham connosco em programas específicos. Não são programas permanentes.

(@V) – A AMOPROC é uma organização que depende de doações. Portanto, não gera recursos. Tal situação, de alguma forma, não condiciona a agenda da AMOPROC em função dos interesses de quem apoia financeiramente?

(FA) – Não. Os doadores não interferem no trabalho. Até porque nós é que elaboramos a nossa proposta e submetemos a eles. Quando não vai ao encontro dos objectivos que eles pretendem a proposta não é aprovada.

(@V) – Mas pode-se dar o caso de um doador impor a sua agenda...

(FA) - Nunca tivemos um caso do género.

(@V) – Diante de tal hipótese, a AMOPROC estaria em condições de não se sujeitar aos interesses de quem detém o dinheiro?

(FA) – Não estamos em condições de ser influenciados. Não abri-mos essa possibilidade.

Vitórias da AMOPROC

(@V) – Falámos em frustrações, mas também é importante abor-dar as vossas vitórias. Existem?

(FA) – Sim. Nos distritos há uma participação activa dos jovens. Não como membros dos Conselhos Consultivos, mas como cidadãos que assistem às sessões e levantam questões pertinentes. Temos, ao nível dos distritos, mulheres que sabem que também têm o di-reito de receber grandes valores nos projectos que apresentam. Temos mulheres que submetem projectos e discutem quando es-tes não são aprovados. No seio da juventude há, agora, uma per-cepção generalizada de que deve participar no desenvolvimento da comunidade. Já existe um cometimento dos próprios governos distritais. Um dos grandes problemas que existe, mesmo no seio dos nossos governantes, é que eles são pouco dados à leitura das leis e isso condiciona a participação da juventude. Passaram a ler porque passaram a ser questionados.

Desafios

(@V) – Quais são os desafios para os próximos anos?

(FA) –Trabalhar para que os jovens sejam actores chave da elabo-ração do plano de desenvolvimento dos distritos. Queremos que os jovens participem activamente no combate à corrupção e que lutem pela melhoria da justiça.

(@V) – O que a AMOPROC pensa da revisão do Código Penal?

(FA) – Para nós o Código Penal é um documento muito extenso e eu acho que a discussão devia ser feita em pacotes. Não só porque não gostamos da leitura, mas porque o próprio volume de infor-mação assim determina.

(@V) – Mas o que pensam da discussão em torno do corpo do Novo Código Penal e do envolvimento da sociedade civil?

(FA) – Quem é a sociedade civil? Porque o importante é perceber quem é essa sociedade civil que é tida em conta para ser ouvida. Para nós envolver a sociedade civil não é vir ter com a AMOPROC e falar do Código Penal para depois dizerem que foi ouvida a so-ciedade civil. As coisas não podem partir daí. Todos nós devemos ser envolvidos no processo. A auscultação não pode ocorrer so-mente nas cidades ou nos grandes centros urbanos. Os locais onde foi ouvida a sociedade civil foram as grandes cidades, mas a sociedade civil que de facto está a trabalhar e precisa deste Có-digo Penal não se circunscreve às cidades. Aquela que está nas zonas recônditas precisa deste dispositivo porque é a que mais sofre. Há muita coisa que se diz em nome da sociedade civil neste país, mas se nós formos a ver a sociedade civil percebemos que procuram académicos.

O académico fala em termos académicos. É preciso ouvir o cida-dão pacato. Qual foi a língua usada para ouvir essa sociedade civil? A língua também é importante. Não é todo cidadão moçambicano que fala perfeitamente português. Estamos num país em que a lín-gua é o grande entrave para a participação do cidadão nos proces-sos democráticos e de transparência em Moçambique. Se formos a pedir o número da sociedade civil auscultada para a revisão do Código Penal vamos ver que nem 200 associações foram con-

templadas. Em Moçambique há mais de 5000 associações.

(@V) – Mas em cada província as organizações da sociedade ci-vil tiveram três horas para colocar as suas propostas e discutir o corpo da proposta do Novo Código Penal.

(FA) – Três horas é tempo suficiente para um bairro.

(@V) – Durante o vosso trabalho têm testemunhado muitas in-justiças?

(FA) – Várias. Quando presenciamos situações do género ou quan-do as pessoas vêm ter connosco encaminhamo-las para a Liga Moçambicana de Direitos Humanos. Há senhoras que vêm porque foram expulsas de casa, ora porque os familiares dos maridos fica-ram com a herança dos filhos. Aparecem jovens que foram expul-sos porque reclamaram de alguma injustiça.

(@V) – Jovens expulsos da Função Pública por não pertencerem ao partido no poder?

(FA) – Não, mas por terem reclamado pelos seus direitos. Não só no Aparelho do Estado, mas também no sector privado. Há mui-tas injustiças neste país no sector privado. Por exemplo, a Lei de Combate à Corrupção não engloba o sector privado. O último Có-digo de Conduta não engloba o sector privado, mas hoje em dia o sector privado também é um grande empregador. É preciso que isso seja revisto.

(@V) – No que diz respeito ao estudo, que medidas serão tomadas?

(FA) – Vamos avançar com as recomendações propostas pelo es-tudo. Por exemplo, em termos daquilo que é o nosso plano para o próximo ano é tentar advogar para a criação de um regulamento que obrigue à participação dos líderes comunitários e da própria juventude nos Conselhos Consultivos. Temos a Lei 67/2009 que prevê a participação da juventude nesses órgãos na ordem dos 20 porcento. Porém, tendo em conta que a maior parte da popula-ção do país é jovem nós achamos que 20 porcento é pouco. Que-remos que a cifra suba para 30 ou 40 porcento. Esse é o nosso grande desafio para o próximo ano. Também pretendemos treinar jovens no distrito para a monitoria das políticas públicas.

(@V) - É confortável para o Governo que as organizações da so-ciedade civil não sejam geradoras de rendimento?

(FA) – Sim. Nós temos fundos limitados e não podemos ir para além desses fundos. Portanto, se não temos fundos não consegui-mos trabalhar e o Governo pode dormir descansado.

(@V) – Neste contexto qual é o futuro da cidadania em Moçam-bique?

(FA) – É um processo. Vai levar tempo, mas com mais 50, 100 anos chegaremos onde queremos.

(@V) – Fala de 50, 100 anos para elevarmos o nível de percepção e participação do cidadão?

(FA) – O próprio Estado ainda não criou condições para que o ci-dadão tenha, por exemplo, uma educação de qualidade. Esse é o primeiro aspecto. A responsabilidade de educação devia ser in-cumbida ao próprio Estado. Há distritos cujas escolas secundárias estão apenas nas vilas. Estou a falar de Namaacha, Nangade, Moe-da e Sussundenga onde as pessoas só podem frequentar o ensino secundário na vila-sede. Quantas pessoas têm condições para per-correr quilómetros para estudar? Quem pode transportar os filhos diariamente para as vilas-sede? Sem estradas em condições, sem transporte. Quantas pessoas ficam sem estudar?

(@V) – O que pensam das passagens automáticas?

(FA) – Um fiasco. Um autêntico fiasco. Se formos a ver, a passagem automática está virada para os pobres. O filho do ministro não está a estudar nessa escola onde vigora a passagem automática. O fi-lho do ministro estuda numa escola onde numa sala só há 25 ou 30 alunos. Os nossos filhos estudam numa sala onde há cerca de 60 ou 70 alunos. Quais são as condições que as próprias escolas oferecem? Só por causa da chuva que caiu nos últimos dias encon-tramos alunos que não estão a ter aulas. O sítio onde se sentavam está cheio de água e não podem ter aulas.

(@V) – Na vossa percepção, a passagem automática é, por um lado, um mecanismo para perpetuar a ignorância e, por outro, de manutenção do poder nas mãos dos mesmos actores?

(FA) – Sim. Também é uma forma de prejudicar o crescimento da qualidade da cidadania em Moçambique. Isto porque quem vai continuar à frente dos órgãos de tomada de decisão são os filhos dos actuais dirigentes. É uma cabala para a manutenção de poder. O meu filho não vai disputar o poder com outro miúdo que teve uma educação de qualidade.

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Democraciawww.verdade.co.mz14 26 • Outubro • 2012

Texto: Redacção • Foto: Miguel Maguenze

Moçambique: subalternidade da mulher constitui um obstáculo para a construção e consolidação da paz

Vinte anos depois da assinatura do Acordo Geral da Paz, a pobreza extrema continua a ser o espelho de mais de metade da população total de Moçambique e uma das principais ameaças à sua paz e estabili-dade política e económica. Esta constatação ganha contornos interessantes quando se sabe que o gros-so modo dessa população é constituído por mulhe-res. Desde a assinatura do acordo, Moçambique tem vindo a viver um ambiente de relativa estabilidade política e notável crescimento económico. Um dos principais desafios do país continua a ser como ma-terializar tais avanços, em termos de índices de de-senvolvimento humano, que se reflictam de modo efectivo na vida do povo.

Este artigo pretende problematizar o papel da mu-lher na construção e consolidação da paz em Mo-çambique, num ambiente em que ela ainda vive como uma das principais vítimas da pobreza e da es-tigmatização social em termos de participação polí-tica, acesso a recursos e redistribuição da renda na-cional. Em termos de participação política, a acção das mulheres, em termos individuais ou colectivos e com a finalidade de influenciar o processo político, é ainda incipiente em Moçambique. Normalmente, tal acção esgota-se na mera participação em processos eleitorais (campanhas eleitorais, educação cívica e votação). Grande parte dessas mulheres encontra--se incapaz de atender às suas necessidades básicas e a distribuição de renda é-lhes também desigual (as taxas de desemprego são maiores entre as mulhe-res e estas são tradicionalmente dependentes dos homens). Com efeito, a mulher jogou sempre um

papel secundário na vida política, económica e so-cial em Moçambique. Durante a luta de libertação colonial, as mulheres cuidavam mais de aspectos lo-gísticos e sociais (transporte de armamento e man-timentos, cultivo agrícola, assistência social, campa-nhas de alfabetização, etc.).

Durante a guerra civil, esta era conduzida e prota-gonizada quase que exclusivamente pelos homens. O processo de pacificação e a própria consolidação da paz parece ter tido sempre essa disparidade em termos de género. Quase que não se vêem mulhe-res, a todos os níveis da estratificação social, a apre-sentar publicamente as suas opiniões sobre a paz e estabilidade nacional. Invariavelmente, são sempre os homens que aparecem a falar da paz e da neces-sidade da sua contínua promoção e cultivo (maiori-tariamente, líderes políticos e religiosos).

Este facto mostra-se extremamente curioso nos nossos dias, uma vez que também temos mulhe-res em posições de liderança política e religiosa (dirigentes superiores do Estado, líderes de orga-nizações da sociedade civil, freiras, etc.). Há certas correntes de opinião que dizem que os meios de comunicação social priorizam os homens nas suas reportagens porque esses assuntos são mais de ho-mens do que de mulheres... Segundo eles, quem faz a guerra e quem a resolve são os homens, his-toricamente. Derivada dessa “inferioridade tradicio-nal”, as mulheres surgem apenas na assistência às vítimas e, no pós-guerra, desempenham um papel fundamental na reconstituição do tecido familiar, na

reinserção social das vítimas e em programas de de-senvolvimento comunitário, uma frente “low pro-file” para alcançar e preservar a estabilidade social. Por essa via, cabe aos homens fazer a guerra e a paz (e o direito exclusivo de sobre elas falar), enquanto as mulheres lidam com os aspectos secundários e os “efeitos colaterais” de um e de outro estado. O que avançámos acima pode, parcialmente, ajudar-nos a perceber o aparente não envolvimento da mulher, de modo activo, notório e público, na reflexão social ou na disseminação da paz e de valores a ela asso-ciados. Parece ser um dado adquirido que a mulher é uma espécie de vítima passiva desse isolamento, estigma ou exclusão, na construção e consolidação da paz e estabilidade social.

Entretanto, sabemos que a paz não significa ape-nas a ausência de guerra e que a estabilidade social é, hoje em dia, condicionada por factores vários e transversais. Um deles é a pobreza. Com o fim da guerra civil, o combate à pobreza absoluta tornou--se a principal agenda de desenvolvimento de Mo-çambique. Mais de 20 anos depois, acima de me-tade da população continua ainda a viver abaixo do limiar da pobreza e a maior parte dela é constituída por mulheres. A grande maioria dessas mulheres vive nas zonas rurais e é lá onde elas se encontram ainda num contexto de efectiva subjugação ao ho-mem, em termos sociais e económicos. Tal facto não é muito diferente do que se tem vivido nas zo-nas urbanas.

Com efeito, ser pobre não é só não deter bens

materiais ou financeiros, é também não gozar de relações mais estáveis e libertárias que garantam acesso a oportunidades e à provisão de condições económicas e sociais favoráveis à sua emancipação. Os homens detêm, tanto no meio rural como no ur-bano, a hegemonia no acesso a oportunidades de educação, emprego e financiamento. Os grandes negócios são geridos quase que exclusivamente por homens e, quando muito, as mulheres estão invariavelmente no sector informal de pequena di-mensão. A condição de pobreza constitui, por con-seguinte, um factor determinante para a presença ou ausência da mulher em todas as esferas da vida pública. Uma mulher pobre, socialmente subalterna e tradicionalmente inferiorizada, está em condições muito improváveis de tomar conta do seu próprio destino, de expressar a sua voz opinativa de modo público e aberto, bem como de influenciar as gran-des decisões das políticas públicas do seu país que se repercutam de modo efectivo no seu próprio de-senvolvimento.

Enquanto a mulher estiver na periferia do acesso à educação, à participação política activa, aos recursos produtivos e ao capital financeiro, o seu papel na vida pública nacional estará condicionado e, obvia-mente, tal inferiorização socioeconómica continuará a influenciar grandemente o seu “silêncio” nos gran-des assuntos da nação. Empoderar a mulher é tam-bém combater a pobreza e só se poderá construir e consolidar a paz e a estabilidade em Moçambique se se ouvir e incluir, de modo efectivo e representativo, a principal vítima dessa pobreza: a mulher.

“Estado não vai distribuir dinheiro”, Alberto Vaquina

O Primeiro-Ministro, Alberto Vaquina, diz que os benefícios provenientes da exploração dos recursos naturais não devem ser distribuídos, na forma de dinheiro, directamente às pessoas e famílias, pois esta ideia pode levar a que elas venham a reduzir a sua entrega ao trabalho, transferindo o dever de lutar pela melhoria das suas próprias condições de vida para o Governo e para as empresas.

Mas isso não significa que os moçambicanos não tenham direito ou não estejam a ser contemplados pelos ganhos das empresas exploradoras daqueles recursos pois “a distribui-ção do rendimento nacional é feita através do investimento em infra-estruturas e serviços públicos, tais como hospitais, escolas, abastecimento de água potável, estradas, electrici-dade, pontes, linhas férreas, entre outras”.

Para Vaquina, que falava na última quarta-feira na Assem-bleia da República na sessão de apresentação da informa-ção do Governo, os ganhos devem advir do engajamento das pessoas e famílias no trabalho, o qual pode ser através do emprego nas grandes empresas, ou pelo desenvolvimen-to de negócios cujas oportunidades aumentam com a pre-sença das grandes empresas.

Ainda em relação aos recursos naturais, o chefe do Executi-vo moçambicano afirma que da descoberta destes ao início da sua exploração e do início da exploração à geração de lucros vai muito tempo, daí que a ideia de redistribuição imediata da riqueza é enganosa, mas reconhece que tal dis-cussão tenha por objectivo chamar a atenção para a neces-sidade de se pautar por uma política de inclusão e de expan-são dos serviços públicos, de modo que mais moçambicanos sejam beneficiados.

“Por exemplo, o processo de exploração do carvão mineral ainda não teve tempo suficiente para produzir retorno do capital investido, e muito menos lucro”.

Indústria mineira não vai resolver todos os nossos problemas

Ainda na sessão de apresentação da informação do Gover-no, Alberto Vaquina disse que a indústria mineira não pode resolver todos os problemas do país, devendo, sim, ser olha-da como uma oportunidade de aceleração do desenvolvi-mento e não como uma única via de desenvolvimento.

Por se tratar de recursos minerais não renováveis, deve-se começar a construir uma economia robusta, baseada no desenvolvimento integrado dos diversos sectores de activi-dade.

Não transformar as comunidades em campos de batalha

No que diz respeito às perseguições aos membros e parti-dos da oposição, um assunto levado pelo Governo à Casa do Povo sob solicitação da bancada parlamentar do MDM, Al-berto Vaquina foi lacónico, tendo afirmado que o país esco-lheu o caminho de debate de ideias num clima de tolerância

política e convívio salutar entre as pessoas.

Mais adiante, Vaquina insinuou que por vezes o debate político é transformado em argumentos que, por um lado, procuram encaminhar a população para uma situação de desobediência à lei e, por outro, para situações em que questões de conflito de carácter pessoal são transformadas em conflitos político-partidários. “Não seria desejável que as nossas comunidades fossem transformadas em campos de batalha”.

Face a estas constatações, o Primeiro-Ministro diz que se alguém infringe a lei ou põe em causa a ordem pública, o assunto deve tratado como uma infracção à lei. “E a acção das autoridades não é contra os partidos a que o indivíduo se encontra filiado, nem contra as suas ideias políticas. As autoridades agem e devem agir para manter ou repor a or-dem pública, e estas acções devem ser aplicadas a todos os cidadãos, independentemente da sua filiação política”.

Na opinião de Vaquina, alguns cidadãos aderem a partidos políticos para se furtarem das suas responsabilidades, daí que ninguém deixará de responder pelos seus actos pesso-ais por serem membros deste ou daquele partido, e reco-menda às forças da lei e ordem a agirem de forma impar-cial, consoante a lei.

O que as bancadas pretendiam saber:

No âmbito da expansão da actividade mineira e de hidro-carbonetos, a bancada parlamentar da Frelimo pretendia saber que estratégia o Governo adoptou para assegurar os benefícios dos moçambicanos nos programas de formação, emprego e prestação de serviços às empresas envolvidas na sua prospecção e exploração, bem como na melhoria de vida das comunidades, relativamente à ocupação dos espa-ços circundantes aos empreendimentos.

Por seu turno, a bancada parlamentar da Renamo solicitou ao Governo informações sobre como é que são feitos os con-tratos de concessão com vista à exploração e comercializa-ção dos recursos naturais; de que modo é que é feita a sua exploração; quais foram as empresas vencedoras dos con-cursos lançados, e que benefícios têm as comunidades, bem como as respectivas regiões onde a exploração dos recursos em referência ocorre. Já a bancada do MDM queria saber do Governo que instruções são dadas às autoridades locais para que, em quase todos os distritos onde os partidos da oposição, devidamente constituídos, reconhecidos e regis-tados, pretendem implantar-se, estruturar-se e publicar os seus símbolos, em obediência à Constituição da República, vejam os seus membros, quadros e militantes perseguidos.

Voz da Sociedade Civil

Texto: Serviço Lusófono da Gender Links

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Democraciawww.verdade.co.mz 1526 • Outubro • 2012

Texto: jornal Público, de Lisboa

Eleições EUA: no último debate entre Obama e Romney, poucas diferenças em política externaA poucos dias das eleições presidenciais americanas, Barack Obama e Mitt Romney encontraram-se na segunda-feira (22) à noite para um último debate televisivo dominado por questões sobre o Médio Oriente em que os dois rivais raramente discordaram. A diferença que os americanos viram foi na estratégia que os candidatos seguiram durante o frente a frente de hora e meia: como James Carville, um famoso estratega da campanha presidencial de Bill Clinton, disse na CNN no final, “o Presidente veio pronto para atacar, o governador Romney veio para concordar”.

Um Presidente em funções parte normalmente para um debate sobre política externa em vantagem porque, ao contrário do outro candidato, os americanos não preci-sam de imaginar como é que ele será enquanto coman-dante militar – Obama tem um historial de quase quatro anos e esse historial é uma das áreas mais fortes da sua presidência, graças à eliminação de Osama Bin Laden, ao fim da guerra no Iraque e à retirada do Afeganistão.

Se alguém estava a ser testado era Romney, um ex-ho-mem de negócios e governador do Massachusetts sem experiência em relações internacionais. O candidato republicano parece ter ido para o debate com a missão de transparecer sobriedade e moderação – dito de outro modo, com a missão de parecer “presidenciável” – e evi-tou confrontar Obama.

Obama combativo

O Presidente americano dominou o debate, revelando maior confiança e conhecimento dos assuntos perante um Romney frequentemente titubeante que defendeu as mesmas posições que Obama – em relação a Israel, à prevenção de um Irão com armamento nuclear, ao pra-zo de retirada do Afeganistão, à não intervenção ameri-cana na Síria ou o uso de drones (aviões de ataque não tripulados).

Quando o moderador perguntou a Romney se ele con-cordava com a saída das tropas americanas do Afega-nistão em 2014, a mesma resposta podia ter sido dada por Obama:

o incremento das tropas ordenado pelo Presidente foi “um sucesso” e os Estados Unidos “vão ser capazes de fazer a transição” para forças de segurança afegãs em 2014.

Até há poucos meses, no entanto, o candidato republi-cano costumava criticar Obama por ter estabelecido um prazo fixo para retirar do Afeganistão, dizendo que pre-feria tomar uma decisão baseada na opinião dos gene-rais no terreno. Mas esse não foi o Romney que esteve no debate desta vez.

Os anos 80 ao telefone

Barack Obama esteve particularmente combativo no frente a frente, passando mais tempo a criticar o seu ri-val e notando em várias ocasiões a falta de experiência do homem que pretende substitui-lo.

Quando Romney criticou o Presidente por querer fazer cortes no orçamento da defesa, sugerindo que a marinha americana foi diminuída durante a sua administração, Obama respondeu: “Julgo que o governador Romney tal-vez não tenha passado tempo suficiente a ver como é que as nossas forças militares funcionam.” Referiu-se à marinha, e ao facto de os EUA terem “menos navios do que em 1916”. “Também temos menos cavalos e baio-netas.” Obama notou que não é o mesmo que um jogo de Batalha Naval (um jogo de tabuleiro em que os jo-gadores afundam os navios de guerra um do outro ten-tando adivinhar onde é que eles estão situados). Obama também notou que o candidato mudou de posição sobre vários assuntos e que a sua política externa é anacróni-ca, lembrando que há uns meses Romney afirmara que a Rússia era a principal ameaça geoestratégica para os Estados Unidos. “Os anos 80 estão ao telefone e querem a sua política externa de volta”, ironizou o Presidente.Romney também criticou Obama, acusando-o de dimi-

Há quatro anos o mundo olhava para Obama com esperança de mudanças. O leitor acha que o Presidente norte-americano correspondeu ou não às expectativas?

Diga-nos onde acha que ele falhou, enviando-nos um SMS para o 82 1115 ou um email para [email protected].

nuir a influência da América no mundo e de não ser su-ficientemente assertivo em relação ao regime de Bashar Assad na Síria e ao Irão, mas não foi claro em delinear o que faria de diferente no seu lugar.

África ausente

Mas Romney evitou atacar o Presidente como fizera no debate da semana passada, porque os eleitores reagem negativamente ou de forma ambivalente quando um candidato é demasiado belicoso, e o republicano deixou esse papel para o Presidente, notando num ou noutro momento que estava a ser atacado. “Atacar-me não vai ajudar o Médio Oriente”, disse, a certa altura.

Por isso, apesar de Obama evidenciar um domínio dos temas que Romney claramente não demonstrou, ter ga-nho o debate talvez não venha a ajudá-lo muito junto dos eleitores indecisos, sobretudo se eles chegaram ao fim pensando que o Presidente foi demasiado agressivo. Houve momentos em que os dois candidatos desviaram a discussão para a política interna e falaram da econo-mia americana, de reforma da educação e da indústria automóvel – ou porque a política externa não é um fac-tor decisivo neste ciclo eleitoral, ou porque não existem assim tantas diferenças entre os dois nessa área. Apesar de ser o único debate sobre política externa, a política norte americana para África esteve ausente, bem como Guantánamo, a América Latina e a Europa.

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www.verdade.co.mz16

Destaque26 • Outubro • 2012

A face amarga daReserva de Mareja

O destino das pontas de marfim

Com apenas duas armas de fogo manuais e seis

munições, um grupo de 10 guardas fl orestais

vive uma cruzada solitária para proteger os

elefantes de um massacre sem precedentes,

protagonizado por caçadores furtivos forte

e sofi sticadamente armados na Reserva de

Mareja, no Parque Nacional das Quirimbas,

em Cabo Delgado. Todas as semanas, pelo

menos, dois animais são abatidos, dos quais

são retiradas as pontas de marfi m, que são

posteriormente vendidas no mercado negro.

A batalha acontece aos olhos das autoridades

governamentais e policiais locais que, por

conforto e cumplicidade, não agem.

A sensivelmente duas horas e meia da capital provincial de Cabo Delgado, cidade de Pemba, localiza-se Mareja, um projecto ecoturístico de conservação e gestão de re-cursos naturais dentro do Parque Nacional das Quirim-bas (PNQ) desenvolvido pelo alemão Dominik Beissel e abraçado pela comunidade local. A região é isolada, so-bretudo na época chuvosa, e a população leva uma vida recatada. O quotidiano é monótono, até porque a energia eléctrica e a água canalizada ainda não chegaram àquela localidade. Apesar disso, os habitantes, que sobrevivem exclusivamente da agricultura, continuam a viver nor-malmente, além de se mostrarem hospitaleiros em rela-ção aos visitantes.

Quando se caminha pela mata adentro, por momentos, temos a sensação de estarmos a entrar numa outra di-mensão, por assim dizer. Porém, esporadicamente, o si-lêncio é interrompido pelos macacos que pulam de galho em galho. A zona é uma reserva e nela é possível encon-trar quatro dos “big five”, nomeadamente leões, leopar-dos, búfalos e elefantes.

O lugar é (aparentemente) tranquilo e bonito. Mas a tran-quilidade e a exuberância do local não escondem uma actividade que tem vindo a ganhar proporções gigantes-cas nos últimos dias no interior daquela reserva, em par-ticular, e do parque, em geral: o massacre de elefantes. Os ossos espalhados ao longo do caminho que leva até a Mareja denunciam a prática da caça ilegal.

Quase todas as semanas, pelo menos dois animais são abatidos pelos caçadores furtivos fortemente armados. No passado mês de Agosto, dois elefantes foram mortos e, em Setembro, quatro. “Nestes dois meses, foram abati-dos oito elefantes nesta reserva e o número tem vindo a crescer. Em 2011, no mesmo período, registámos mais de 10 casos”, informou um dos guardas florestais do parque.

O pior massacre de elefantes aconteceu no mês de Outu-bro do ano passado (2011), em que apenas numa sema-na foram mortos pouco mais de 10 animais. Os furtivos atiram indiscriminadamente, até porque o que interessa

Texto: Hélder Xavier • Foto: Hélder Xavier / PQN - Parque Nacional das Quirimbas

são as pontas de marfim, não importando a idade do animal. Eles usam armas de fogo automáticas do tipo AKM, calibre 365, rádios de comunicação e mate-riais de caça sofisticados, além disso, possuem helicópteros. Os guardas flores-tais, tanto os que são apoiados pelo projecto de Mareja assim como os do PNQ, não dispõem de meios à altura para parar a acção do grupo naquela região, onde, no melhor estilo dos cowboys norte-americanos, fala mais alto quem tem o argumento de uma arma de fogo.

Ao contrário dos caçadores furtivos, o grupo de 10 guardas florestais apoiado pelo projecto de protecção de elefantes do alemão Dominik tem apenas duas armas de fogo manuais, meia dúzia de munições e algumas facas e catanas. Mensalmente, ganham menos de dois mil meticais pelo trabalho de fiscaliza-ção. Durante os três dias (e noites) de patrulha, cada pessoa tem direito a menos de 200 gramas de arroz e uma lata de sardinha.

“Não conheço os caçadores furtivos, mas sei que eles andam armados”, afirmou Amade Cause, guarda florestal há três anos na Reserva de Mareja, e acrescen-tou: “nós só andamos com uma faca e não podemos fazer nada”. O Parque Na-cional das Quirimbas conta com uma brigada de fiscalização constituída por apenas quatro guardas florestais armados e dois comunitários, apesar de o local ocupar uma área de 7.500 quilómetros quadrados, abrangendo ecossiste-mas marinhos e terrestres.

As autoridades fazem vista grossa

Semanalmente, o número de elefantes mortos cresce de forma alarmante. Ou seja, a cada semana que passa a acção dos caçadores furtivos tende a inten-sificar-se, colocando a nu a incapacidade de reacção das equipas de guardas florestais. As zonas mais críticas são Mareja e Meloco.

Nos dias 6 e 9 de Setembro último, na Reserva de Mareja, por volta das 6h30 da manhã, ouviu-se o ruído de um tiro e, de seguida, uma rajada de metralha-dora. Os guardas florestais foram atrás para controlar a situação e, quando chegaram às proximidades do local do massacre, limitaram-se a assistir aos ca-

Este produto, que tem um valor comercial bas-tante alto (atinge preços exorbitantes no mercado negro), é traficado para os países asiáticos como China, Coreia do Norte, Tailândia e Filipinas.

çadores furtivos a retirarem as pontas de marfim. “Não tivemos como agir porque eles estavam muito bem armados e qualquer reacção nossa seria fatal para todos nós”, disse Amade Cause, um dos fiscais que presenciou o acontecimento, tendo de ime-diato sido informadas as estru-turas policiais e do PNQ. Tem sido assim todas as semanas.

As autoridades, tanto policiais como do parque, encarregadas de combater essa prática que coloca as espécies de elefantes em perigo de extinção, acham que a melhor coisa a fazer é fin-gir que o problema não lhes diz respeito. Na verdade, a Polícia recusa-se a intervir nesse assun-to. “Sinto-me em pânico vendo isso acontecer e, o pior de tudo, é que a reacção da Polícia não é imediata. Ou seja, ela age como se não tivesse nada a ver com o assunto”, disse uma fonte ligada ao Parque Nacional das Quirim-bas que não quis ser identifica-da, tendo acrescentado que se poderia parar esta situação caso houvesse força de vontade por parte do Governo.

Sensivelmente uma hora depois,

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Destaque

um helicóptero sobrevoava a zona tendo pousado nas proximidades de um riacho, e levado as pontas de mar-fim. Duas semanas mais tarde, os guardas florestais do projecto Mareja decidiram voltar para o local. Pelo ca-minho uma enorme árvore derrubada (supostamente por um elefante em fuga) impedia o trânsito da viatu-ra “pick up” na qual nos fazíamos transportar. Foram necessários pouco mais de 30 minutos para remover o obstáculo e deixar a estrada livre. No local, os fiscais encontraram quatro elefantes mortos (três fêmeas e um macho). Os furtivos não retiraram as pontas de marfim de um dos animais porque as dimensões não ultrapas-savam 50cm, uma vez que ainda era um elefante bebé.

Há vários relatos de aeronaves sobrevoando o espaço logo após o abate de elefantes. A título de exemplo, no ano passado, concretamente no dia 23 de Novembro, pelas 15h45, foi identificada uma aeronave de cor azul escura com a referência EC-120. O facto foi comunicado às autoridades locais que se limitaram a sacudir a água do capote fazendo um comentário tranquilizador para si próprios: “Este é um problema que nos ultrapassa, pois não temos meios para colocar freio a esta situação”. A Polícia da República de Moçambique (PRM) a nível da província de Cabo Delgado recebeu dos fiscais do Par-que Nacional das Quirimbas uma fotografia do helicóp-tero que sobrevoou aquela região para averiguação, po-rém, nenhuma investigação foi levada a acabo.

Os guardas florestais acreditam que haja gente graúda interessada no massacre de elefantes no Parque Nacio-nal das Quirimbas, protegendo os caçadores ilegais, uma vez que quando capturam os furtivos e os levam às auto-ridades policiais, eles são soltos no dia seguinte. E o pior de tudo é o facto de a lei não defender os fiscais quan-do estes os alvejam. Amade Cause contou que, nos anos transactos, um dos seus colegas foi condenado à prisão, além de pagar uma indemnização por ter alvejado a tiro um caçador furtivo. “As autoridades governamentais e a Polícia não agem em grande parte por conforto e, arris-

co-me a dizer, também por cumplicidade”, disse.

Em meados do ano passado, os guardas florestais en-contraram no interior do acampamento construído na machamba do líder comunitário local mais de 100 mu-nições e 100 mil meticais em dinheiro. Já havia suspeitas de que ele encobria os caçadores furtivos. Porém, ape-sar de ter sido encontrado em flagrante, não foi preso.

O que está em curso, na realidade, no PNQ, é o proces-so sem paralelo de consolidação do tráfico de pontas de marfim no território moçambicano. Crescendo aos sal-tos, diga-se de passagem, a questão que se coloca é como pôr cobro a isso.

As autoridades do PNQ reconhecem a sua incapacida-de para travar a acção dos caçadores furtivos, razão pela qual têm vindo a solicitar o apoio da PRM quando ouvem o ruído dos disparos. Mas a resposta por parte da Polícia aparece, no mínimo, 10 dias depois. Falta de viaturas e homens são as desculpas mais evocadas. A si-tuação é mais crítica quando o facto acontece nos fins--de-semana. “Geralmente, os casos de massacre aconte-cem simultaneamente em lugares diferentes, facto que também dificulta a nossa reacção, uma vez que o parque não dispõe de meios materiais e humanos”, disse a fonte do PNQ que temos vindo a citar.

A comunidade “protege” os caçadores furtivos

Na Reserva de Mareja, assim como em todo Parque Nacional das Quirimbas, o que há de peculiar não é so-mente a acção rápida, ousada e o facto de os caçadores furtivos possuírem meios materiais para a actividade, mas também o silêncio cúmplice de algumas pessoas in-tegrantes das comunidades locais.

Nas vizinhanças, existem moradores que encobrem esse grupo de pessoas que se dedica à caça clandestina de ele-fantes para retirar as pontas de marfim. Regularmente, tem havido campanhas de sensibilização da população no sentido de denunciar os envolvidos nessa actividade que em dois anos já dizimou mais de 50 animais. Como resultado disso, foram formados guardas florestais co-munitários. Mas nem tudo tem sido um mar de rosas.

Este ano, alguns dos fiscais comunitários tiveram de ser expulsos da equipa de guardas florestais por facilitarem a vida dos caçadores furtivos, informando-os dos locais de maior concentração de elefantes, além dos passos da equipa de fiscalização.

No mês em curso (Outubro), um cidadão norte-co-reano foi surpreendido pela Autoridade Tributária (AT) na posse 130 unidades de pontas de marfim – equivalente a três quilogramas – no Aeroporto In-ternacional de Mavalane, em Maputo.

Em Setembro, um grupo de seis caçadores furtivos foi neutralizado no Posto Administrativo de Chin-thopo, no distrito de Mágoè, em Tete, na posse de quantidades consideráveis de marfim retirado de elefantes abatidos clandestinamente. A quadrilha era constituída por três moçambicanos e igual nú-mero de zimbabweanos.

Em Maputo, seis toneladas de marfim apreendido a caçadores furtivos e proveniente de elefantes aba-tidos foram roubadas de um armazém do Ministé-rio da Agricultura. Em Agosto do mesmo ano, dois funcionários públicos afectos ao Serviço Distrital de Actividades Económicas (SDAE), no Guro, na pro-víncia de Manica, foram detidos sob a acusação de roubo de marfim das instalações do serviço para ser comercializado no mercado negro. As presas teriam como destino o continente asiático.

Em Fevereiro, a Polícia da República de Moçam-bique (PRM) no Niassa, em coordenação com os guardas florestais da Reserva do Niassa, deteve um indivíduo indiciado de ser caçador furtivo.

Em 2011, as autoridades encontraram 126 pontas de marfim num contentor apreendido no porto de Pemba, que equivaliam a 63 elefantes abatidos de forma ilegal, num contentor de uma empresa que opera na área da exploração de madeira.

Casos de apreensão de pontas de marfim

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Mundo26 • Outubro • 2012

África: Sonhar com a ONU não custa nadaApós 20 anos de negociações sobre a ampliação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), mandatários africanos questionaram pelo facto de que não se ter respon-dido à sua intenção com dois assentos permanen-tes nesse organismo do poder mundial.

Há 35 anos que não se executa ninguém na ilha do Sul da Ásia. Mas uma vaga de crimes levou o Governo a reabilitar a pena de morte, mas com um pequeno problema: não há quem enforque os condenados.

Quando os mais de 40 governantes africanos subiram, em Se-tembro, ao pódio nas sessões da Assembleia Geral da ONU, uma esmagadora maioria deles criticou o facto de os postos permanentes do Conselho de Segurança continuarem apenas nas mãos de China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia.

A demanda africana de contar com pelo menos duas cadeiras permanentes com poder de veto e cinco não permanentes, acordada pelos seus líderes em Março de 2005, é um sonho ainda mais distante da realidade. “A formação e as relações de poder do Conselho de Segurança são anacrónicas e desiguais”, disse à IPS Kwame Akonor, professor adjunto de ciência política na Seton Hall University, dos Estados Unidos, que escreve so-bre a política e a economia do continente africano.

Qualquer reforma significativa que aspire a mudar a constitui-ção do Conselho ou os seus procedimentos enfrentará feroz resistência dos cinco membros permanentes, que têm poder de veto, advertiu Akonor, também director do Centro para os Estu-dos Africanos e do Instituto para o Desenvolvimento Africano, com sede em Nova York.

Ao falar na Assembleia Geral, a Presidente de Malawi, Joyce Banda, lembrou que África constitui a maior região dentro da ONU e que uma proporção muito significativa dos assuntos de-batidos no Conselho de Segurança lhe diz respeito. Mas a histó-rica demanda de África ainda está no limbo, acrescentou.

O Presidente do Zimbábwè, Robert Mugabe, foi um dos mais enfáticos ao reclamar a representação no Conselho de Segu-rança. “Por quanto tempo mais a comunidade internacional continuará a ignorar as aspirações de todo um continente de 54 países?”, perguntou. “Isto é boa governação? Isto é democracia? Isto é justiça? Não nos subornarão com promessas vazias, nem aceitaremos alguns ajustes cosméticos do Conselho de Segu-

rança disfarçados como reforma”, questionou.

O Presidente da Gâmbia, Yahya Jammeh, declarou: “A nossa segurança colectiva conti-nuará a ser prejudicada por considerações geopolíticas até encontrarmos a coragem para reformar o Conselho de Segurança”. A reclamação por uma representação permanente no Conselho também constou do discurso de outros líderes de África, como os da Guiné Equatorial, República Centro-Africana e Tanzânia.

Em reunião realizada em Março de 2005 na Etiópia, a União Africana (UA), que repre-senta praticamente todos os Estados do continente, adoptou uma resolução reclamando duas cadeiras permanentes e cinco não permanentes no Conselho. Mas a UA não iden-tificou os dois países que ocupariam os postos permanentes porque esse era, e continua a ser, um assunto controverso. Essas cadeiras são reclamadas por África do Sul, Nigéria e Egipto, entre outros Estados.

A resolução apresentou as seguintes condições: apesar de África ser contra, em princípio, o veto, considera que, mesmo com ele existindo e por uma questão de justiça comum, deveria estar disponível para todos os membros permanentes do Conselho de Segurança. Em segundo lugar, a UA deveria ser responsável pela escolha de representantes africa-nos no Conselho de Segurança. E, o mais importante, os critérios para a selecção desses delegados deveriam ser determinados pela UA, considerando a representatividade e a capacidade dos escolhidos.

Akonor explicou à IPS que, para África, o assunto é mais tenso porque parece não se chegar a um acordo sobre que país, ou países, deveria representá-la no Conselho de Se-gurança. “A paralisia entre os dirigentes africanos no tocante a como o continente será representando contribui para marginalizá-lo dos debates sobre qualquer medida plausí-vel de reforma”, destacou. Uma solução, prosseguiu, é que os Estados africanos tomem a sério o conceito de pax africana e dependem de si mesmos na hora de estabelecer, aplicar e consolidar sua própria paz e segurança.

Segundo as negociações actuais, há quatro países, do G-4, que estão na primeira linha para as cadeiras permanentes: Brasil, Índia, Alemanha e Japão. Um observador político de longa data, que acompanha as negociações, afirmou à IPS que a resposta simples é que o G-4 nunca assumiu com os países africanos um compromisso firme de que haveria duas cadeiras africanas (com poder de veto). Posteriormente, o G-4 abandonou a sua apos-

ta no poder de veto, tendo acesso a uma nova categoria de “cadeiras permanentes sem poder de veto”. Mas isto não é aceitável para o gru-po africano.

Se os africanos se tivessem coloca-do ao lado do G-4, teriam obtido a maioria necessária, de dois terços na Assembleia Geral, para impulsionar a sua exigência por duas vagas per-manentes, observou Akonor. Ga-briel Odima, presidente do Centro da África para a Paz e a Democracia, afirmou à IPS que, sem dúvida, o Ocidente marginaliza o continente africano. E também culpou os líderes africanos pelo statu quo. A pobreza e os conflitos são as ferramentas básicas e as forças económicas que sepultam África há anos, opinou.

“A corrupção em países como Uganda, Nigéria e Quénia são uma oportunidade para que os principais actores no Conselho de Segurança impeçam África de ocupar as duas vagas permanentes”, ressaltou Odi-ma. “A falta de democracia, os abu-sos contra os direitos humanos e a má governação continuam a preju-dicar os esforços de África visando ter um papel importante no cenário mundial”, reitera.

“Como seria possível garantir (as vagas permanentes no Conselho) quando o continente não conseguiu impedir o massacre na República Democrática do Congo, as violações dos direitos humanos em Uganda e a crise que se avizinha no Quénia? Como isto seria possível, quando os líderes africanos não conseguem lidar com os seus próprios assuntos dentro dos seus países?”, questio-nou.

“A comunidade internacional de-veria ajudar África a deixar de lado o estigma do legado colonial para passar a ser uma sociedade viável onde a fome já não seja uma amea-ça à existência humana, onde as lis-tas de votação substituam as armas e onde os ditadores sejam levados à justiça e condenados pelas atrocida-des que cometeram contra os seus povos”, enfatizou Odima.

No Sri Lanka procura-se carrasco

O Sri Lanka admite a pena capital para ho-micídios e até há duas forcas na ilha: uma na prisão de Bogambara e outra na de We-likade. Mas devem estar cobertas de teias de aranha – há 35 anos que ninguém é executa-do. É verdade que os tribunais continuam a condenar reclusos à pena máxima –369 estão no corredor da morte e 471 aguardam a con-clusão dos recursos –, mas o Presidente do país precisa de ratificar as sentenças. E des-de 1977 que todas têm sido comutadas para prisão perpétua.

No entanto, isso parece prestes a mudar, de-pois de uma vaga de crimes, sobretudo con-tra crianças, ter desencadeado protestos in-dignados. Após a violação e a morte de uma rapariga de 7 anos, o ministro do Desenvol-vimento da infância pediu que a pena fosse aplicada a traficantes de droga e a violadores de crianças.

Quando o Governo deu o seu acordo à pro-posta, o Departamento de Prisões foi apa-nhado de surpresa. Há um ano que as duas forças estavam efectivamente sem carrasco:

um fora promo-vido a guarda prisional e o ou-tro reformara--se. Foi aberto um concurso público para o lugar e respon-deram 178 can-didatos, entre motoristas de ri-quexó, militares reformados e até um estudan-te universitário. Os requisitos eram simples: mínimo de 1,64 metros de altu-

ra e 81 centímetros de cintura, pelo menos o oitavo ano de escolaridade e não mais de 45 anos.

Mas metade dos candidatos desistiu a meio. Cegos pela oferta de emprego na função

pública e pelos 77 euros mensais de venci-mento, não perceberam imediatamente que o cargo implicava matar pessoas. E, como são budistas, acreditam que é pecado tirar a vida a outro budista.

Mas mesmo assim há quem queira arriscar. Por exemplo, Malinda Abeysundara, desem-pregado de 25 anos: “O último carrasco foi promovido a guarda prisional e eu espero conseguir fazer o mesmo. Não quero ser carrasco o resto da minha vida.”

Shaminda Kumara, de 24 anos, quer trocar o talho onde trabalha por um emprego que acredita ser administrativo. “Disseram-me que a última execução aconteceu nos anos 70 e acho que nunca vou ter de matar nin-guém”, disse ao jornal The Sunday Leader. Até pode ser que assim aconteça. Depois da indignação inicial, a opinião pública não pa-rece unânime no apoio à medida. E há outro problema sério a resolver: quem irá treinar os futuros carrascos? É que os últimos deten-tores do cargo, na verdade, nunca chegaram a executar ninguém.

Texto & Foto: revista Sábado

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Texto: Thalif Deen/IPS • Foto: LUSA

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Mundowww.verdade.co.mz 1926 • Outubro • 2012

Raptem-me, por favorUsam turistas estrangeiros como reféns para exigirem ao Governo a libertação dos seus companheiros. Mas não é um rapto tradicional: servem-lhes chá e frutos secos e mostram--lhes o deserto no que chamam um “safari turístico”.

Os raptores ofereceram-lhes chá, pão pita e frutos secos e falaram--lhes sobre os direitos do seu povo. Guiaram durante horas pelas mon-tanhas do Sinai até pararem para acender uma fogueira. Queriam que as suas vítimas ficassem quentes e confortáveis. “Foi uma experiência inesquecível”, disse Norma Supe, uma enfermeira californiana de 63 anos, à Associated Press. Não pare-ce, mas as duas turistas americanas, Norma Supe e a amiga, Patti Espe-ranza, foram raptadas. Por quem? Pelos sequestradores mais amigá-veis do mundo: os beduínos.

A tribo árabe está irritada com o ac-tual Governo provisório do Egipto. Os beduínos ajudaram na rebelião que derrubou a ditadura de Hosni Mubarak, em Fevereiro de 2011, mas consideram que não foram reconhe-cidos por isso. Também se queixam porque a polícia prendeu dezenas de membros da sua tribo (sem julga-mento) por, alegadamente, estarem envolvidos nos atentados terroris-tas que aconteceram entre 2004 e

2006 e que mataram mais de 100 pessoas. A forma de protesto para reclamarem a libertação dos seus companheiros não podia ser mais exótica: raptar turistas e usá-los como moeda de troca. Mas nunca lhes fazem mal, garantem. “Não é um rapto, mas um safari turístico”, diz o líder xeque Ahmed Hashem.

Supe e Esperanza foram surpreen-didas por um grupo de homens ves-tidos com túnicas brancas, lenços xadrez na cabeça e kalashnikov em punho, à saída de um mosteiro perto do Monte Sinai. Os raptores não lhes apontaram as armas e asseguraram que não corriam nenhum perigo. Até levaram o guia turístico, Hisham Zaki, para servir de tradutor. “Foi útil para as acalmar e explicar-lhes que aquela era a única maneira de ser-mos ouvidos”, explica Attwa, outro líder beduíno. Attwa tem dois filhos presos por causa de uma discussão com a polícia. Horas depois de ter capturado as americanas, o governo prometeu libertá-los e ele soltou de imediato as reféns. Sete meses de-

pois (o rapto foi em Fevereiro), os seus filhos continuam na prisão.

Os beduínos do Egipto (tribo nóma-da que vive na península de Sinai) têm problemas com o governo há 30 anos. Depois de Israel ter de-volvido a península ao Egipto, em 1982, ao fim de 15 anos de ocupa-ção, o governo acusou os beduínos

de terem colaborado com os judeus. Desde então, a tribo tem sido dis-criminada: as aldeias têm menos infra-estruturas, cuidados de saúde e educação do que o resto do país.

Entre Fevereiro e Julho, a tribo rap-tou três casais americanos, três sul--coreanos, duas brasileiras e um turista de Singapura. Mas nunca os

retiveram mais de quatro dias. Só sequestram um ou dois turistas de cada vez. “Quando raptamos pesso-as somos responsáveis por elas, te-mos de assegurar a sua alimentação, higiene e também um alojamento”, explica o xeque Hashem. Até agora esta estratégia não resultou: ne-nhum dos beduínos presos foi liber-tado.

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Texto & Foto: revista Sábado

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Mundowww.verdade.co.mz20 26 • Outubro • 2012

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Chumbado plano do Presidente Jacob Zuma para a restauração da economia sul-africanaEconomistas e políticos sul-africanos chumbaram a proposta do Presidente Jacob Zuma que tinha como objectivo a restauração da economia do país, fragilizada pelas constantes greves. Os mes-mos alegam que o dossier presidencial peca por não apresentar detalhes da sua implementação.

Elaborado em resposta a várias semanas de greve dos traba-lhadores dos diferentes ramos de actividade do país, a pro-posta de Zuma tinha como finalidade resgatar a confiança da economia sul-africana, ao revelar as responsabilidades do Governo, do empresariado e das uniões sindicais. Mas este documento não alterou o estado de alerta dos investidores, especialmente os estrangeiros.

No dia do lançamento da proposta de Zuma, na última sexta--feira, a bolsa de valores “JSE Share Index” indicava uma que-da de 37 274.68 no valor das trocas comerciais, uma baixa na ordem dos 0.81% em relação ao dia anterior.

O rand continuava em queda livre em relação ao dólar norte--americano, tendo uma cotação de 8.58 rands por dólar, uma baixa de 1.11% em relação ao dia anterior.

A proposta presidencial de restauração da economia fragiliza-da pelas 11 semanas de greve do sector das minas e dos trans-portes destaca a normalização das actividades, especialmente no ramo mineiro, como medida urgente.

“Informámos os trabalhadores que reconhecemos as suas frustrações e desafios, que ficaram patentes ao longo dos seus protestos, e queremos assegurar que as suas reivindicações serão atendidas,” defende Zuma no documento.

Na esperança de se normalizar o sector económico do país, uma especial atenção será prestada concretamente no que concerne à habitação para a comunidade mineira, pressão causada pelas disparidades nos aumentos salariais desta clas-se. “Enquanto muitos acordos sociais foram assegurados no passado, nós queremos que este caso seja diferente no que tange à cobertura e implementação,” destaca a proposta.

O documento apresenta os três pontos considerados priori-tários para se ultrapassar a crise social, manifestada pela cres-

cente onda de greves no território sul-africano, nomeadamente:

• Acelerar o crescimento económico por meio do desenvolvimento das infra-estruturas;• Providenciar a assistência aos trabalhadores e às companhias afectadas pela actual crise

económica mundial; e• Criar mais postos de trabalho através dos programas existentes no Ministério do Trabalho.

Adicionalmente, e para criar vários estímulos à economia, Zuma defende que todas as partes envolvidas nas negociações dos aumentos salariais deveriam obrigar os presidentes dos con-selhos de administração e os seus respectivos executivos, tanto do sector público como do privado, a observarem 12 meses de congelamento de salários, isto é, um ano de trabalho sem direito a salários para esta classe.

O presidente descreveu esta medida como um forte indicativo da vontade de se edificar uma economia equitativa e que uma comissão será instaurada nos próximos seis meses para apre-sentar um relatório acerca das disparidades salariais.

O plano não passa de meras palavras

Para Mike Schussler, fundador e director da economists.co.za, uma organização independen-te vocacionada para a pesquisa económica, defendeu que a proposta apresentada pelo Pre-sidente Jacob Zuma peca por não contar com um procedimento concreto de acção para a restauração da economia e não passa de meras palavras.

“O Presidente Zuma, ao apresentar um documento que apela aos trabalhadores para regres-sarem aos seus postos de trabalho e faz um convite à união como povo sul-africano, não irá, magicamente, curar a enfermidade da nossa economia”, destacou Schussler.

Mike Schussler adiantou ainda que o actual curso da política sul-africana não deu espaço para a tomada de importantes medidas económicas, mas sim para as mais difíceis. “ Não acredito que estejamos em condições de ver os nossos líderes políticos a tomarem decisões difíceis como forma de resolver os problemas da nossa economia” defendeu.

Schussler afirma que se não forem tomadas medidas urgentes como forma de resgatar a débil economia os problemas poderão agravar-se rapidamente. “A economia da África do Sul nunca antes foi abalada por este tipo de problemas por muito tempo e, pelo que estamos

a ver, a duração das greves no futuro irá alongar-se por mais tempo”.

“O plano é pobre em detalhes”, Aliança

Democrática

O plano de contingência do Presidente Zuma ganhou duras críticas por parte da maior força da oposição par-lamentar, a Aliança Demo-crática, DA, que considera o documento de ”resumo, e pobre em detalhes”.

“Que passos o Governo irá tomar como forma de res-taurar a robustez da econo-mia seguindo as bolsas de valores Moody`s e a S&P ?”, questionou a líder parlamen-tar da DA, Lindiwe Mazibuko.

Mazibuko defende que a economia necessita de pla-nos concretos com vista a devolver a confiança perante os investidores que gradu-almente receiam perder os seus capitais. “A economia da África do Sul necessita de mais respostas, e não de muitas perguntas. O Presi-dente Zuma tem muito que nos explicar”.

Entretanto, o plano pre-sidencial não trouxe uma inspiração positiva ao mer-cado, à classe operária, em particular a mineira, ao longo do país, dado que as greves continuam.

Os trabalhadores da mina da AngloGold Ashanti, em Carletonville, recusam-se a retornar aos seus postos de trabalho sem que sejam res-pondidas as suas reivindica-ções de aumento salarial.

O prazo estabelecido de quinta-feira da semana pas-sada, pela administração da mina de Gold Fields, como dia da apresentação ao tra-balho dos cerca de 15 mil mineiros não foi cumprido. Segundo a administração daquela mina, os trabalha-dores correm o risco de ser despedidos.

Texto: Milton Maluleque • Foto: LUSA

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Mundowww.verdade.co.mz 2126 • Outubro • 2012

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Fim de alusão a Mao sinaliza reformas na China Empresa sul-africana despede 8500 mineiros em greveO Partido Comunista chinês removeu dos seus comunicados uma alusão habitual ao falecido líder Mao

Tse-tung, num forte sinal de tendência reformista antes de uma transição na cúpula do poder do país. Mao era sempre apresentado como o grande ideólogo do regime chinês nos comunicados do partido.

A empresa sul-africana Gold Fields enviou cartas de despedimento a cerca de 8500 mineiros que se encontravam em greve depois de estes terem recusado voltar ao trabalho.

Os textos também costumam citar Karl Marx, Vladimir Lénin, o faleci-do líder Deng Xiaoping, o presidente Hu Jintao e o antecessor dele, Jiang Zemin.

O Politburo, importante instância de decisões partidárias com 24 mem-bros activos, informou, na Segunda--feira (21), que o congresso do partido vai discutir, em Novembro, emendas à Constituição do Partido Comunista.

Alterações anteriores, inclusive uma que implicitamente autoriza a fi-liação de capitalistas ao Partido Co-munista, formaram as bases para importantes reformas políticas e eco-nómicas no mais populoso país do mundo.

Mas, num facto significativo, o comu-nicado do Politburo sobre as emendas regimentais deixa de lado o palavre-ado habitual a respeito do marxismo--leninismo e do Pensamento de Mao Tse-tung, que adaptava as teorias originais do marxismo, criadas na Europa industrial, para as condições predominantemente rurais da China de 1949, época em que Mao venceu a guerra civil chinesa e implantou o comunismo.

“É muito significativo”, disse Zheng Yongnian, director do Instituto da Ásia Oriental, da Universidade Nacio-nal de Singapura. “Antes da queda de Bo Xilai, essa direcção (das reformas) não estava tão clara. Mas agora ficou bastante clara. Quero dizer: menos maoísmo, mais denguismo.”

Bo, dirigente regional que era consi-derado um expoente da “esquerda” chinesa, foi deposto, este ano, depois de ser envolvido no maior escândalo político da China nas últimas duas décadas.

Ao retirar o Pensamento de Mao dos comunicados, a liderança chinesa sinaliza um ímpeto reformista, dis-se Zheng, da mesma forma como o líder Deng introduziu no final da década de 1970 as reformas de mer-cado que levariam a então atrasada China a tornar-se uma potência eco-

nómica global.

Um comunicado partidário anterior, que marcava a data do congresso comunista, já deixara de citar o pen-samento maoísta. As diferenças dou-trinárias entre facções reformistas e esquerdistas reflectem um debate interno sobre os rumos da nova lide-rança chinesa, que começa a assumir as rédeas do país no congresso do PC chinês a partir do próximo dia 8 em Pequim.

O debate desperta atenções desde a ascensão e subsequente queda de Bo, que, como chefe do partido em Chon-gqing (sudoeste), recebia apoio de esquerdistas insatisfeitos com alguns aspectos das reformas de mercado.

A China chega ao congresso com a sua economia prenunciando o menor ritmo anual de crescimento em pelo menos 13 anos, enquanto inquieta-ções sociais, por causa de corrupção, confiscos fundiários e reivindicações de mais benefícios, geram protestos.

“Impossível”

A imprensa estatal e os especialistas próximos ao governo têm feito apelos cada vez mais estridentes por refor-mas ousadas que evitem uma crise, embora ninguém preveja seriamente a adopção de uma democracia plena.

Esta semana, por exemplo, o jornal Tempos de Estudo, publicado pela Escola Central do Partido, elogiou Singapura pela sua democracia com forte controlo estatal. “Se desejas conquistar o coração das pessoas e o seu apoio, precisas de ter um governo que sirva o povo”, escreveu o jornal.

No período em que governou a Chi-na, Mao adoptou políticas cruéis, que resultaram na morte de dezenas de milhões de pessoas. Mas o retra-to do “Grande Timoneiro” continua a dominar a praça da Paz Celestial, a principal de Pequim, e ele ainda é visto como um governante carismáti-co, que se contrapôs aos estrangeiros e unificou o país.

O legado de Mao na China continua a ser avidamente preservado por lí-deres comunistas que vêem nisso um reforço à sua própria legitimidade, uma vez que a actual cúpula é de uma geração que não foi forjada na guerra.

Em 2003, na celebração dos 110 anos de Mao, Hu declarou que “o estan-darte do Pensamento de Mao Tse--tung será sempre erguido no alto, em todos os momentos e em todas as circunstâncias”. Na fachada da sede da liderança máxima, no centro de Pequim, um enorme slogan decla-ra de forma ousada: “Longa vida ao invencível Pensamento de Mao Tse--tung”.

Alguns alertaram para o facto de que pode ser cedo demais para descartar o legado de Mao. “Isso é simplesmen-te impossível”, disse Wang Zhengxu, pesquisador da Escola de Estudos Contemporâneos Chineses da Uni-versidade de Nottingham, na Grã--Bretanha, comentando especulações de que as alusões ao maoísmo e ao marxismo-leninismo poderiam ser eliminadas do estatuto partidário.

Apesar da censura na Internet chi-nesa, as expressões “Mao Tse-tung” e “Pensamento de Mao Tse-tung” estão bloqueadas nas buscas nos microblo-gs, mas alguns usuários conseguiram discutir a questão, e as opiniões sobre a retirada das alusões a Mao dividi-ram opiniões.

“O pensamento de Mao Tse-tung é a alma da República Popular da Chi-na..., e é uma luz que leva as pessoas à justiça”, escreveu um usuário. Mas Zheng, de Singapura, acha que as vi-sões de Mao tornaram-se irrelevan-tes, e que muitos chineses mostram--se apáticos em relação a ele.

Para o estudioso, a doutrina maoísta pode ser menos enfatizada na nova versão do estatuto partidário a ser aprovada no congresso. “Só a esquer-da liga a isso”, afirmou. “Para a maio-ria das pessoas, para a nova geração, eles não ligam a isso. A lembrança foi-se embora.”

Os mineiros encontravam-se em greve desde Setembro para reivindicar melhores salários e a paralisação já gerou diversos confrontos, como o que ocorreu na mina de Marikana, em Agos-to, em que 44 pessoas morreram, das quais 34 foram alvejadas pela polícia, naquele que foi o mais violento confronto na África do Sul após o fim do regime de segregação racial em 1994.

Os 8500 mineiros da Gold Fiels tinham sido avisados pela em-presa de que seriam despedidos caso se recusassem a regressar ao trabalho até 22 de Outubro.

“Os 8.500 mineiros que estão em greve e não voltaram ao tra-balho foram informados por carta de que foram despedidos”, confirmou nesta terça-feira Sven Lunsche, porta-voz da Gold Fields. “Eles não voltaram ao trabalho, por isso enviámos as car-tas de despedimento”, adiantou.

Lunsche disse ainda que “foi atingido um ponto de não retorno”. Após ter sido anunciada a decisão, a situação manteve-se calma mas a polícia foi enviada para o local.

O Presidente sul-africano, Jacob Zuma, já tinha apelado aos mineiros para que regressassem ao trabalho, mas isso não de-moveu milhares de trabalhadores que exigem um aumento dos seus salários para o equivalente a cerca de 1200 euros, mais do dobro do que ganham actualmente.

Ao longo da semana milhares de outros mineiros de várias ins-talações da empresa regressaram gradualmente aos seus pos-tos de trabalho, permitindo a reactivação de algumas minas, que estiveram completamente paralisadas pela greve.

Segundo a empresa, os prejuízos acumulados durante a greve ultrapassaram 1,2 mil milhões de rands (109 milhões de euros), correspondentes a uma produção perdida de mais de 65.000 onças de ouro.

Muitos dos trabalhadores das minas Goodyear Tire e Eastern Cape regressaram ao trabalho antes do final do ultimato. Desde Agosto, cerca de 100.000 mineiros entraram em greve para exigir melhores salários.

Texto: Redacção/Agências • Foto: LUSA

Texto: Redacção/Agências

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Desporto26 • Outubro • 2012

Futsal:Chuva volta ainterromper a competição na cidade

Mais uma vez, a chuva que caiu na capital do país, neste fi m-de-semana, voltou a estragar a festa do futsal da cidade de Maputo. Das partidas programadas, foi disputada apenas a que opôs a Autoridade Tributária ao Incompal.

Embora seja uma situação que só à natureza diz respeito, é mais um trabalho de casa que fica por ser feito, não só pelos gestores do pavilhão da Co-munidade Maometana, como também por todos os gestores das infra-estruturas desportivas do país.

Neste fim-de-semana, o públi-co da cidade de Maputo voltou a ficar sem (todas) as emoções daquele desporto, tudo porque se assistiu novamente a um caso de infiltração de água no pavilhão, que, por sua vez, con-dicionou a sua iluminação.

A partida entre as equipas dos Transportes Lalgy e da Auto--Avenida foi a maior vitima des-ta situação, visto que até esteve a ser disputada com muita in-tensidade, porém, foi interrom-pida quando o marcador estava em um golo para cada lado.

No único jogo disputado nes-te fim-de-semana e referente à oitava jornada, a Autoridade Tributária não se fez de rogada e derrotou o Incopal.

A partida até começou bastante equilibrada e viu-se um Incopal disposto a sair daquele pavilhão com os três pontos. Contudo, foi a equipa da Autoridade Tri-butária que se impôs, tendo saí-do ao intervalo a vencer por três a zero.

No segundo tempo, o Incopal entrou melhor e cedo reduziu a desvantagem assustando até o adversário, que se mostrou tré-mulo, com a garra com que se fez na etapa complementar da partida. Todavia, porque os er-ros na alta competição pagam--se caro, a Autoridade Tributária ganhou atitude e dilatou o mar-cador para oito a um.

Mas o Incopal não desistiu e no-tou algum condicionalismo físi-co do adversário para dominar a partida, bem como criando al-gumas situações de livres direc-tos que ajudaram bastante esta equipa na redução da diferença de golos.

Texto: Redacção

Hóquei: a modalidade de topo que chora por um pavilhãoEm Setembro de 2011, o país fez história e espan-tou tudo e todos ao chegar pela primeira vez às meias-fi nais de um campeonato mundial de hóquei em patins do grupo A. Embora não tenha logrado estar na fi nal, ao país coube a honra de ser consa-grada como a quarta melhor selecção do planeta nesta modalidade. Apesar desse feito, no regresso de San Juan, na Argentina, local onde decorreu o evento, o hóquei debateu-se com a falta de infra-estruturas para a sua prática, o que, de certa forma, cobriu o país de vergonha. Os problemas de falta de infra-es-truturas estendem-se até ao presente, para além de que esta é uma modalidade que é praticada somente na cidade de Maputo.Nesta edição, o nosso entrevistado é Nicolau Man-jate, presidente da Federação Moçambicana de Hóquei em Patins, que nos fala da saúde do hóquei no país e da federação. Aquele dirigente afi rma que o organismo que comanda foi reestruturado. Por via disso, colocou o país no topo do hóquei a nível mundial, estando em curso projectos ambiciosos que visam tornar sustentável a modalidade.

@Verdade – Como é que está o edifício da federa-ção?Nicolau Manjate – Está bem e goza de boa saúde. Digo isso porque há articulação e coordenação entre os seus membros.

@V – São estes dois itens que o levam a essa con-clusão?NM – São estes elementos que nos colocam num bom caminho. Com esses dois pontos conseguimos levar a cabo o nosso plano estratégico, que é o fundamental.

@V – E o que preconiza o tal plano estratégico?NM – Desenvolver a modalidade, sobretudo na compo-nente da formação e massificação do hóquei.

@V – Significa que tem havido cumprimento dos objectivos?NM – Claramente, de acordo com o plano traçado.

@V – Quando fala de cumprimento, há uma percep-ção de que na federação de hóquei não se há falta de meios financeiros, tal como nas outras?NM – Não se pode dizer que a federação tem dinheiro. Até porque temos recebido apoio, sobretudo do Gover-no, através do Fundo de Promoção Desportiva, para a execução dos nossos planos.

@V – E é suficiente?NM – Não.

@V – Se não é suficiente, como é que se explica que a federação esteja bem?NM – A federação traça um plano, porém, dependendo dos fundos disponíveis, é obrigada a reajustá-lo. É o que acontece com a nossa agremiação.

@V – Quanto recebe do fundo?NM – O valor tem variado de ano para ano. Este ano recebemos um milhão e meio de meticais.

@V – Cobre as actividades desenhadas pela fede-ração?NM – Não posso responder taxativamente a essa ques-

tão porque, mediante a disponibilização desses fundos, reajustamos o nosso plano. O que posso dizer é que para a materialização de algumas actividades temos recorrido a patrocinadores.

@V – E o que deu para fazer até agora com o fundo?NM – Ainda estamos a trabalhar. Temos investido na aquisição do equipa-mento, na preparação física dos atletas que compõem a selecção e na orga-nização dos eventos internos. Participámos na Taça Internacional Zedú, que decorreu recentemente em Angola.

@V – Então reconhece que há um défice de fundos na federação?NM – Défice sempre houve. Por exemplo, quando se trata de um campeonato mundial em que temos de lá estar, somos obrigados a recorrer aos nossos parceiros internos.

@V – A federação tem patrocinadores?NM – Tem, e tenho de sublinhar isso. Eles têm-nos apoiado muito, principal-mente quando se trata de uma participação internacional.

@V – E quem são?NM – São maioritariamente empresas públicas. Só para citar alguns nomes, temos a Mcel, a Electricidade de Moçambique e a Hidroeléctrica de Cabora Bassa. Com estes não temos razões de queixa.

@V – No que toca às competições internas, qual é o ponto de situação do hóquei?NM – Até à nossa ida ao campeonato do mundo que decorreu no ano passado na Argentina, nós nunca tínhamos tido problemas nas competições internas. Porém, quando regressámos, encontrámos um obstáculo: o da falta de pavi-lhões para acolherem os nossos eventos, ou seja, interrompemos as compe-tições internas porque o pavilhão do Estrela Vermelha não estava em con-dições. Aliado a isto, está o facto de outros pavilhões estarem indisponíveis.

@V – Significa que neste momento não há nenhuma competição inter-na?NM – Não necessariamente. Apenas debatemo-nos com a falta de campo, mas em termos de competições internas penso que estamos num bom caminho.

@V – Desde quando o problema da falta de pavilhões existe?NM – Desde Agosto do ano passado.

@V – Não existem alternativas?NM – É Lógico que existem. Neste momento está a decorrer um torneio deno-minado Taça da Paz no pavilhão da Escola Portuguesa.

Texto: David Nhassengo • Foto: Miguel Mangueze

continua Pag. 24

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www.verdade.co.mz 2326 • Outubro • 2012

Poule: Matchedje cada vez mais próximo do MoçambolaDecorreu, no último fi m-de--semana, a segunda jornada das fases regionais de apu-ramento ao Moçambola, pro-vas das quais irão sair as três equipas que militarão no campeonato nacional da primeira divisão, o Moçam-bola, edição 2013. Na região Sul, destaque vai para o Matchedje da capital do país que somou a sua segunda vitória, o mesmo cenário que se verifi cou com o Desporti-vo de Nacala na zona Norte.

A equipa militar da capital do país voltou a somar uma vitória na fase regional Sul da poule de apuramen-to ao Moçambola, edição 2013. De-pois do triunfo da primeira jornada diante do Djuba FC de Beleluane por 1 a 0, o Matchedje, com mais experi-ência nesta fase, voltou a impor-se, desta feita contra a Associação Ad-ministrativa da Maxixe (ADM).

Os dois golos do Matchedje (sem nenhuma resposta do adversário) foram marcados ainda no decurso da primeira parte, ambos por inter-médio de Kikito, nos minutos seis e quarenta.

Noutra partida, o Ferroviário de Gaza e o Djuba FC não foram para além de um empate sem abertura de contagem, no jogo que decorreu no campo da primeira equipa.

Importa referir que, nesta fase, os militares da capital comandam com seis pontos a tabela classificativa, mais quatro que a locomotiva de Gaza, o seu próximo adversário. A ADM e o Djuba FC repartem a cauda da tabela com um ponto cada.

Desportivo de Nacala “comanda”o Norte

Na zona Norte do país, o Desportivo de Nacala deu mais um passo rumo ao Moçambola depois de vencer no seu próprio reduto, e sem nenhuma dificuldade, o Sporting de Monapo por 3 a 0. Já o Desportivo de Ibo, que perdeu na jornada inaugural diante dos nacalenses, conquistou os primeiros três pontos e subiu para a segunda posição da tabela classificativa ao derrotar o Atlético de Mecanhelas, lanterna vermelha, por 2 a 1.

Situação complicada, mas também interessante, ocorre na zona Centro do país onde as equipas do Estrela Vermelha e do Palmeiras de Que-limane dividem a liderança, ambas com quatro pontos.

Os coqueiros venceram na deslo-cação a Tete por uma bola sem res-posta o Desportivo local, enquanto o Estrela Vermelha empatou sem abertura de contagem com o Textá-frica, que ainda não experimentou o sabor da vitória apesar de ser a equi-pa com mais hipóteses de ascender ao Moçambola.

Texto: David Nhassengo

Moçambola: A locomotiva da capital apitou e assustouo MaxaqueneQuanto mais se aproxima o fi m da competição, mais difícil torna-se descobrir quem será o cam-peão na presente época. O líder Maxaquene con-sentiu um empate caseiro e permitiu que o Ferrovi-ário de Maputo reduzisse a diferença para apenas quatro pontos, a quatro jornadas do término do Moçambola. O mesmo não se pode dizer da zona da despromoção onde estão quase defi nidas as equipas que descem de divisão.

Resultados da 22ª JornadaDesporti vo de Maputo 1 x 2 Ferroviário de Maputo

Têxti l de Púnguè 1 x 1 Costa do SolMaxaquene 0 x 0 Chingale de TeteVilankulo FC 1 x 0 Incomáti

Ferroviário de Pemba 0 x 1 Ferroviário de NampulaHCB de Songo 1 x 0 Ferroviário da Beira

Clube de Chibuto 1 x 0 Liga Muçulmana

Próxima JornadaLiga Muçulmana x Têxti l de Púnguè

Costa do Sol x MaxaqueneIncomáti x Ferroviário de Pemba

Chingale de Tete x Vilankulo FCFerroviário de Nampula x Desporti vo de MaputoFerroviário de Maputo x HCB de Songo

Ferroviário da Beira x Clube de Chibuto

CLASSIFICAÇÃO

L EQUIPA J V E D GM GS DG P1º Maxaquene 22 12 8 2 25 11 14 442º Ferroviário de Maputo 22 12 4 6 25 18 5 403º Vilankulo FC 22 10 7 5 17 8 9 374º Ferroviário da Beira 22 8 11 3 23 16 7 355º Costa do Sol 22 8 10 4 32 23 9 346º Liga Muçulmana 22 8 7 7 25 17 8 317º HCB de Songo 22 9 4 9 15 14 1 318º Clube de Chibuto 22 8 6 8 20 18 2 309º Ferroviário de Nampula 22 8 5 9 17 19 -2 29

10º Têxti l de Púnguè 22 8 5 9 16 22 -6 2911º Chingale de Tete 22 4 11 7 14 22 -8 2312º Incomáti 22 5 7 10 15 18 -3 2213º Desporti vo de Maputo 22 5 7 10 16 25 -9 2214º Ferroviário Pemba 22 1 4 17 8 37 -29 7

Muito público que manifestou do primeiro ao último minuto o seu apoio às duas equipas foi o que caracteri-zou o jogo de abertura da jornada 22, num clássico que colocou frente a frente o Desportivo e o Ferroviário de Maputo, no campo do 1º de Maio.

Pelos objectivos contrários das duas equipas, mas que passavam necessariamente por conquistar os três pon-tos para garantir a manutenção, no caso do Desportivo, e para continuar na corrida pelo título, no caso do Ferro-viário de Maputo, previa-se uma tarde de bom futebol.

E foi o que aconteceu. Volvidos dez minutos e com o Des-portivo a assumir o comando do jogo, foram desperdiça-das duas situações flagrantes de golo, primeiro por Sidik que, aproveitando uma deixa do guarda-redes locomo-tiva Mahomed, atirou o esférico para cima da baliza. Na resposta, o médio do Ferroviário de Maputo, Diogo, ge-rou confusão na grande área contrária, mas com alguma sorte a bola foi parar às mãos de José.

O Desportivo não cruzou os braços e, com o seu futebol vistoso, e convincente, foi criando calafrios ao Ferrovi-ário de Maputo, como aconteceu no minuto 15 quando Nando isolou Lanito e este, por sua vez, na cara do guar-da-redes, atirou o esférico para o lado.

Faltaram argumentos para Nacir Armando contrapor a atitude alvinegra senão as saídas rápidas de contra-ata-que, aproveitando algum desequilíbrio causado pelas su-bidas de linhas do adversário que ia até à zona do meio--campo sempre que fosse ao ataque. Porque quem corre muito se sujeita ao cansaço, a equipa de Artur Semedo abrandou e viu o Ferroviário crescer em campo, isto a partir do minuto 24.

Bastaram 13 minutos para que, na sequência de um pon-tapé de canto muito bem cobrado por Diogo, Kalton vo-asse mais alto que os centrais alvinegros, inaugurando o marcador. O técnico Artur Semedo não gostou e operou substituições para dar mais vida à zona intermediária, contudo, apenas conseguiu manter o resultado que as duas equipas levaram ao intervalo.

No reatamento da partida, o Ferroviário entrou tal como foi ao descanso: a dominar e a remeter o Desportivo ao seu próprio meio-campo. Porém, porque diz o adágio desportivo que “quem não marca arrisca-se a sofrer”, à passagem do minuto 69, Nando ganhou a bola na linha do fundo da direita do ataque e centrou para o segundo poste onde estava Maninho, que de cabeça restabeleceu a igualdade.

Bastantes motivados com o tento, os alvinegros voltaram a dominar a partida mas não tiveram atitude suficiente para bater Mahomed e, por via disso, mesmo contra a corrente do jogo, viram Diogo colocar o Ferroviário de Maputo de novo em vantagem, para o silêncio dos batu-ques da raça alvinegra.

Dois a um foi o resultado final para desgraça do Desportivo que vê as contas da manutenção cada vez mais complicadas.

Tarde e prestação cinzentas do líder

Depois do triunfo do Ferroviário de Maputo, o Maxaque-

ne estava bastante pressionado e obrigado a vencer para continuar na luta pela conquista do título. Porém, não aguentou com a pressão e permitiu que lhe fos-sem roubados pontos pelos canarinhos de Tete.

De um modo geral, foi uma partida fraca em termos de construção de jogo e oportunidades de golo. Nem o Maxaquene nem o Chingale se comportaram como duas equipas que mereciam conquistar os três pontos.

Nos primeiros 45 minutos, os tricolores levaram a melhor ao privilegiar a posse de bola, todavia, perderam-se na etapa complementar quando permitiram que a ansiedade tomasse conta deles.

A equipa da casa, nesse caso o Maxaquene, ainda beneficiou, ao minuto 65, de uma grande penalidade, que Gabito desperdiçou atirando o esférico para as nu-vens.

Com este empate, o líder reacende a luta pelo título com apenas quatro pontos de avanço sobre o Ferroviário de Maputo e tem na próxima semana uma deslo-cação de cortar a aspiração. Vai ao campo sintético do Matchiki-txiki defrontar o Costa do Sol em mais um clássico que promete muita emoção.

Texto: David Nhassengo • Foto: Miguel Mangueze

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Desportowww.verdade.co.mz24

Depois da vitórias que o Hóquei conquistou para Moçambique o que o leitor acha que o Governo deveria fazer pela modalidade?

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26 • Outubro • 2012

@V – Por ano quantas competições têm organizado?NM – Cerca de cinco, mais o campeonato.

@V – Ainda nesta componente de competições in-ternas, há quem diga que só decorrem na cidade de Maputo. Há alguma razão?NM – O hóquei federado só existe na cidade de Ma-puto. Ainda que tenhamos núcleos em Nampula e na Zambézia, é preciso haver clubes e tudo depende da extensão desses mesmos organismos.

@V – E porque é que o hóquei não é extensivo?NM – É necessário organizar e planificar o hóquei. Neste momento estamos a envidar esforços no sen-tido de levar a modalidade a todas as províncias do país.

@V – Como é que se explica que a modalidade não seja praticada nos restantes pontos do país se existe uma federação?NM – Historicamente, o hóquei sempre existiu em Maputo, embora existam núcleos noutros pontos.

@V – E o que falta para que exista noutras pro-víncias?NM – Estamos a subir gradualmente. A iniciativa para que se pratique o hóquei noutras regiões do país tem de partir localmente. Os núcleos e os patrocinadores locais é que devem promover a modalidade.

@V – E qual é ou será o papel da federação?NM – Dar o suporte. Neste momento estamos a estu-dar uma melhor plataforma para os mecanismos de apoio.

@V – Concretamente... NM – Condições objectivas. Estender o hóquei para o resto do país implica meios e fundos.

@V – E não existem? NM – Esta direcção só tem apenas um ano a traba-lhar. Insisto: noutros pontos do país é preciso que haja vontade, que haja um núcleo para que nós pos-samos ir trabalhar.

@V – E no que diz respeito às competições inter-nacionais?NM – A nossa participação tem sido triunfante. Aqui não temos razões de queixa. Recentemente, estive-mos em Angola na Taça Zedú onde conquistámos a segunda posição porque perdemos com a própria An-gola. Participámos, no ano passado, no campeonato do mundo e ficámos na quarta posição.

@V – Apenas?NM – É preciso entender que o calendário das compe-tições internacionais é limitado. Temos apenas a Taça Montreux, o Campeonato do Mundo, a Taça Zedú e o Campeonato Africano de Clubes.

@V - Para quando a Taça Montreux e o Campeo-nato Africano de Clubes?NM – Estava previsto que ele decorresse em Moçam-bique, mas a falta de infra-estruturas embaraçou-nos. A Taça Montreux vai decorrer em Abril do próximo ano em Paris, França, e faremos parte do evento por-que somos os quartos melhores do mundo, por mé-rito.

@V – E o campeonato do mundo?NM – Vai ter lugar em Setembro de 2013 em Angola.

@V – Em que pé estamos a nível de formação?NM – Nós estaríamos muito avançados. Tivemos o problema dos campos, tais como os pavilhões do Des-portivo e do Maxaquene, que ficaram indisponíveis aquando das obras para acolher os X Jogos Africanos, como também o do Estrela Vermelha que ficou sem condições recentemente. Mas estamos a trabalhar.

É só ver agora que as partidas das equipas seniores são sempre precedidas dos do escalão dos iniciados, que é uma forma também de garantir a sustentabili-dade da modalidade.

@V – Essa formação é feita a que nível?NM – Dos clubes.

@V – Ainda na questão das infra-estruturas. A quantas anda a federação? NM – Neste momento não temos nenhuma infra-estru-tura pertença da federação. Temos os pavilhões do Des-portivo, do Maxaquene e do Estrela Vermelha que são dos clubes e que estão indis-poníveis. Nós não nos pode-mos meter porque é preciso perceber que os clubes são autónomos. Neste momento todas as nossas competições são organizadas no pavilhão da Escola Portuguesa.

@V – Ao que tudo indica, estamos perante uma fede-ração sem infra-estrutu-ras e dependente dos clu-bes. Como é que tem sido a relação entre as institui-ções?NM – Os clubes são donos dos campos e estes clubes es-tão sob tutela da Associação de Hóquei da Cidade de Maputo que, por sua vez, é tutelada pela federação. É preciso entender esta pi-râmide e saber-se que a federação está apenas para o diálogo e levar avante a modalidade.

@V – Quais são os projectos da federação?NM – Neste momento estamos preocupados em levar avante a criação de uma escola de formação de modo a garantir a sustentabilidade do hóquei no país. Este é para já o nosso grande projecto.

@V – Pode falar um pouco desse projecto?NM – Temos uma parceria com a Escola Superior dos Desportos da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) para a criação da escola. Numa primeira fase, vamos fazer a inscrição dos interessados e vamos dividi-los em grupos em função da idade.

De seguida, vamos ensinar-lhes a patinar para que se-jam as estrelas do amanhã.

@V – Falou de idades...NM – Será em grupos dos 4 aos 16 anos.

@V – E quem vai leccionar a patinagem? NM – Na verdade, o que vai acontecer é que, com aju-da de parceiros internacionais, teremos no país técni-cos de patinagem que, por sua vez, vão capacitar os nossos monitores em matérias de formação.

@V – Os monitores serão nacionais?NM – Obviamente.

@V – E quem serão esses monitores?NM – Antigos atletas, treinadores nacionais...

@V – Para quando esta escola e onde estará loca-lizada?NM – Ainda neste ano no pavilhão da Académica como ficou acordado na parceria com a UEM. Mas por enquanto vamos convidar a Imprensa para di-vulgar e criar incentivos no sentido de persuadir os novos talentos a aderirem ao evento.

@V – Há quanto tempo está no comando da fede-ração?NM – Este é o segundo ano do nosso mandato.

@V – Reclama algum ganho?NM – Nós reorganizámos a selecção nacional de hó-quei em patins, estruturámos a federação, melhorá-mos a nossa prestação nos campeonatos mundiais e melhorámos as competições internas.

@V – E o que está ainda por ser feito?NM – Até 2015 teremos materializado o nosso pro-jecto de massificação e desenvolvimento do hóquei. Mas neste momento estamos a trabalhar no nosso programa de acção que passa necessariamente por ter uma escola e melhorarmos a nossa prestação nos “Mundiais”, ou seja, conquistar o pódio.

@V – Qual é o segredo para conquistar o pódio, tendo como exemplo a nossa prestação no cam-peonato do mundo da Argentina e recentemente na Taça Zedú?NM – Atitude e muita responsabilidade. Cada um, desde o atleta à própria direcção da federação, deve dar de si e, acima de tudo, reinar o espírito de equipa. É importante que cada um saiba o que fazer, sobre-tudo na componente da coordenação das acções para alcançar os nossos objectivos.

@V – Em termos concretos?NM – Um treinador competente e formar uma equipa comprometida com a causa.

@V – Podemos dizer que o hóquei como modalida-de está em bom estado?NM – Como modalidade é preciso enquadrá-lo como uma componente do desporto no geral, onde se exige maior trabalho e compromisso. O hóquei no país está a notabilizar-se pela sua própria dedicação mas tam-bém devido ao apoio do Governo e dos seus parceiros.

É necessário saber usar os poucos recursos que exis-tem para fazer algo visível.

@V – É sabido que a nossa selecção é mista, ou seja, composta por jogadores internos e outros que militam no estrangeiro. Fala-se neste contex-to da existência de tratamento diferenciado. O que tem a dizer?NM – Não constitui verdade. Todos na selecção têm tratamento igual e não olhamos para essa vertente. Todos estão unidos e abraçados por uma causa, que é elevar o nome do país e é esse o espírito que reina do grupo.

@V – Temos uma selecção adulta em que a maior parte dos jogadores está no fim de carreira. Qual é o projecto da federação para que estes atletas transmitam a sua experiência aos mais novos?NM – Há jogadores jovens na selecção que a pouco e pouco vão ganhando experiência. Nós temos olhado para essa vertente e estamos certos do caminho que estamos a seguir.

continuação

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Desportowww.verdade.co.mz 2526 • Outubro • 2012

Moto GP: Pedrosa mais perto do título após correr debaixo da chuva na Malásia

Moto2: De Angelis assina primeira vitória da época no molhado em Sepang

Numa corrida declarada molhada desde o início, por causa da chuva intensa que caía, foi Lorenzo, da Yamaha Factory Racing, quem partiu melhor para se colocar à frente de Pedrosa. Valentino Rossi (Ducati Team) fez boa partida desde o 11º lugar para saltar para quarto na primeira volta. Andrea Dovizoso (Monster Yamaha Tech 3), que fez uma má partida, recuperou pelo pelotão e não tardou a ultrapassar Rossi para chegar à quarta posição e correr atrás de Casey Stoner (Repsol Honda), na terceira, no espectáculo da Moto Grande Prémio (GP).

A corrida teve início sob calor intenso, com Zulfahmi Khairuddin, da AirAsia-SIC-Ajo, a levar a melhor na partida e a passar pela traiçoeira Curva 1 em primeiro. Contudo, Jonas Folger (Mapfre Aspar Team Moto3) assumiu a liderança poucas curvas depois. Efrén Vázquez (JHK t-shirt Laglisse) entrava na disputa em terceiro, com Cortese a lutar com ele por uma posição no pódio.

Após uma chuvada torrencial antes da partida, a corrida foi atrasada meia hora e declarada molhada pela Direcção de Corrida. A primeira curva provocou logo a primeira baixa com Takaaki Nakagami (Italtrans Racing Team) a cair quando liderava. Algumas curvas mais tarde, era a vez de Johann Zarco (JiR Moto2) e Xavier Simón (Tech 3 Racing) sofrerem quedas, obrigando Mika Kallio (Marc VDS Racing Team) a sair de pista.

Lorenzo optou por um pneu traseiro mais macio, propício para aquela chuva, pois tinha pequena margem sobre Pedrosa a 18 voltas do fim da par-tida, com este último a competir com um pneu da parte da trás mais duro. Todas as Yamahas da gre-lha, bem como Karel Abraham (Cardion AB Racing) optaram pela combinação pneu traseiro macio e frontal duro, com os restantes a escolherem borra-chas duras para a frente e atrás. Contudo, uma vol-ta mais tarde, Pedrosa já estava colado a Lorenzo.

Mais atrás, Stoner liderava um grupo, a cerca de cinco segundos da frente, com Dovizioso, Rossi, Stefan Bradl (LCR Honda MotoGP), Nicky Hayden (Ducati Team), Álvaro Bautista (San Carlo Honda Gresini) e Cal Crutchlow (Tech 3). A 12 voltas do final, Pedrosa continuava colado a Lorenzo. Atrás, na mesma volta, Ben Spies (Yamaha) sofreu forte uma queda quando rodava em décimo lugar, ter-minando a corrida mais cedo. Ele foi levado para o centro médico para avaliação de lesão no ombro.

Rossi quedou-se na nona posição ao deixar Dovi-zioso assumir as rédeas da corrida, enquanto o seu companheiro de equipa Hayden subia para o quin-to lugar. Mais uma passagem pela linha de meta e era o drama para Dovizioso, que também caiu e

Os momentos iniciais da corrida foram liderados por Julián Simón (Blusens Avin-tia), De Angelis e Gino Rea (Federal Oil Gresini Moto2), com o britânico a brilhar na fase inicial. Nakagami, que tinha regressado à corrida, voltou a sofrer uma queda depois de colisão com Eric Granado (JiR Moto2). An-thony West (QMMF Racing Team) chegava à quarta po-sição e o companheiro de equipa de Kallio, Redding, era quinto a 17 voltas do fim, com Simone Corsi (Came IodaRacing Project) a ser penali-zado com uma passagem pela via das boxes por falsa partida.

Uma volta mais tarde, o compa-nheiro de equipa de Rea, Rattha-park Wilairot, perdeu a parte de frente da moto com Marc Már-quez (Team CatalunyaCaixa Rep-sol) a manter-se forte em sexto, à frente do rival ao título Pol Espar-garó (Tuenti Movil HP 40), que lu-tava em 12º lugar. O tempo voltou a trocar as voltas de forma cruel,

com o sol a começar a secar a pis-ta rapidamente e com a formação de uma linha seca. Márquez não estava a correr qualquer risco e o wild card da Petronas Raceline Malaysia, Hafizh Syahrin, atacou para alegria dos fãs da casa.

A 13 voltas do final, De Angelis liderava a corrida, mas Rea esta-va a fazer uma grande prova e a pressionar o piloto de São Marino, enquanto West chegava ao ter-ceiro lugar depois de ultrapassar Tom Lüthi (Interwetten-Paddock).

Uma volta mais tar-de, Syahrin passou também pelo suíço, com Rea a assumir a liderança. O wild car malaio não tardou a ultrapassar West para ocupar o tercei-ro posto e depois por De Angelis para em seguida travar mais tarde que Rea e assu-mir a primeira posi-ção. A nove voltas do final, a chuva voltou a cair fortemente e Rea começou a recuperar

com Syahrin ainda a defender-se, mas depois De Angelis e West en-traram também na luta pela lide-rança.

Contudo, o drama surgiu a sete voltas do fim com Márquez a per-der a frente da moto e a cair, en-quanto Espargaró conseguiu levar a luta pelo ceptro até Phillip Island. Na mesma volta, registaram-se ainda as quedas de Mike Di Me-glio (Kiefer Racing) e da dupla da Mapfre Aspar Moto2, Nico Terol

e Jordi Torres. Uma volta depois, Lüthi também foi parar à gravilha.

A quatro voltas do final, De Ange-lis construía uma pequena vanta-gem na frente, com West atrás, mas Rea a dar também muita luta. Mas este embate foi encurtado com a apresentação da bandeira vermelha a duas voltas do final devido à chuva excessiva que se fazia sentir na pista. Rea era o líder quando a bandeira foi mostrada, mas a classificação foi a da volta anterior, dando a De Angelis o pri-meiro triunfo da época, com West em segundo e Rea em terceiro, ambos a estrearem-se no pódio da Moto2™. Com o rival de Már-quez na corrida ao título a termi-nar em 11º, o líder da classificação não conseguiu garantir o ceptro e vai para Phillip Island para nova tentativa com 48 pontos de van-tagem. O quarto lugar ficou a car-go de Syahrin, seguido de Simón, Andrea Iannone (Speed Master), Kallio, Smith, Dominique Aeger-ter (Technomag-CIP) e do com-panheiro de equipa de Espargaró, Esteve Rabat.

desistiu da corrida que continuava a ser assolada pela forte chuva. Foi na última curva desta volta que Pedro-sa ultrapassou Lorenzo e assumiu a liderança pouco depois do meio da corrida e o piloto da Repsol mos-trou-se desde logo mais confortável ao conseguir um ligeira vantagem. Entretanto, Colin Edwards, da NGM Mobile Forward Racing, desistia por causa de um problema mecânico no seu veículo.

Ao longo da prova foram várias as quedas: Crutchlow foi ao chão na última curva, seguido quase instan-taneamente por Randy de Puniet (Power Electronics Aspar). Depois, e na mesma volta, assistiu-se ainda a Brald a perder a frente da sua Hon-da satélite, assim como à desistência de Iván Silva (Avintia Blusens) por queda. Enquanto isso, na pista, Ros-si mostrava-se no seu meio e tinha ultrapassado Bautista com vista a chegar à quinta posição. As emoções

estavam a tornar-se fortes na frente, com Lorenzo que começava a per-der terreno para Stoner depois de já ter cedido a liderança a Pedrosa.

A chuva continuou a cair com inten-sidade e, a 15 voltas do fim, Lorenzo apanhou um susto, evitando uma queda segundos antes da apresen-tação da Bandeira Vermelha por motivos de segurança. Após muita deliberação sobre o reatar, ou não, da prova, as condições deteriora-ram-se ainda mais e Pedrosa aca-bou por ser declarado o vencedor, com Lorenzo e Stoner a completa-rem o pódio. Pedrosa está agora a 23 pontos de Lorenzo, menos que uma vitória, quando faltam dispu-tar 50 pontos nas duas últimas cor-ridas. Hayden assinou um fantásti-co quarto lugar, à frente de Rossi, Bautista, Barberá, do companheiro de equipa de De Puniet, Espargaró, James Ellison (Paul Bird Motors-port) e Abraham.

Moto3: Cortese Campeão do Mundo de Moto3 com vitória em Sepang

Ricardo Moretti (Mahindra Racing) caiu e desistiu ao cabo de poucas voltas, mas feliz-mente não sofreu qualquer lesão. Louis Ros-si (Racing Team Germany) chegou ao quarto posto a 16 voltas do final, atacando Cortese que nessa altura estava já em terceiro. Atrás dele, Luis Salom (RW Racing GP) tinha che-gado a quinto, enquanto o grupo dos cinco primeiros começava a isolar-se a 13 voltas do final.

Na mesma volta deu-se o drama para o gau-lês Rossi, que sofreu uma queda e desistiu; por sorte sem levar consigo outros pilotos. Isto deu à dupla da Estrella Galicia um zero a zero, Miguel Oliveira e Alex Rins, assim como a Danny Kent (Red Bull) a possibilidade de se aproximarem do grupo. A dez voltas do fim, Salom passou por Cortese na recta da meta, mas com o espanhol a dar ares de que iria manter acesa a luta pelo título.

Uma volta volvida, Danny Kent (Mahindra) terminava a corrida mais cedo com um pro-blema mecânico, enquanto Cortese ultra-passava Salom, que apanhava um susto em pista. A oito voltas do final, outra reviravolta com a chuva a chegar a algumas curvas da pista. E isto levou Khairuddin a atacar Folger para assumir a liderança para grande alegria do público da casa. Mas Folger respondeu com garra e com mais velocidade na recta da meta.

Os dois primeiros continuaram a tocar care-nagens na luta pela liderança, enquanto Cor-tese seguia a dupla logo atrás. Salom, que tinha ficado para trás, lutava afincadamente com Oliveira pelo quarto posto. Contudo, Cortese não estava contente e passou Fol-ger para segundo para ir atrás de Khairuddin. E a verdade é que a corrida de Moto3 acabou com uma tradicional última volta de cortar a respiração, com Cortese a ultrapassar o ma-laio na última curva para lhe negar o triunfo em casa.

A vitória de Cortese fez dele o primeiro homem da história a conquistar o título de Moto3™, enquanto Khairuddin estreou-se no pódio num GP. Folger completou a lista dos três primeiros logo atrás. Cortese é agora o mais jovem germânico de sempre a vencer a categoria mais baixa e apenas o quarto a fazê-lo. É também a primeira vez que uma categoria do MotoGP é ganha por uma má-quina KTM.

O quarto lugar foi para Salom, à frente de Oliveira, Kent, Rins, Vázquez, Niklas Ajo (TT Motion Events Racing) e o companheiro de equipa de Vázquez, Adrian Martín.

Texto: Redacção/Agências • Foto: Lusa

Texto: Redacção/Agências • Foto: Lusa

Texto: Redacção/Agências • Foto: Lusa

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Plateia26 • Outubro • 2012

A dúvida está a corromper-se. O receio é saber o que será de todos os moçambicanos no dia em que tiverem a certeza das suas desconfianças. Eles, os “morgueiros”, fazem ou não (...) com os cadáveres?

O assunto é colocado quase de forma coloquial porque é assim que em muitas conversas, no “chapa”, no mer-cado, ou em qualquer outro lugar frequentado por po-pulares, é tratado. Caso contrário, esta ideia do célebre dramaturgo moçambicano, Dadivo José – o mesmo que escreveu a peça teatral Lá Na Morgue – além de não fa-zer sentido, seria uma pura mentira.

Em certa ocasião, “eu, Dadivo José, estando num meio de transporte público em Maputo, escutei duas senhoras a conversar. Na verdade, elas reclamavam do comporta-mento das pessoas que trabalham na morgue. Uma das senhoras insistia dizendo que se o cadáver for de uma mulher bonita, os “morgueiros” – sem receio nenhum – “faziam”, ao mesmo tempo que a outra, retrucando, considerava que não podia ser verdade”, recorda-se o artista. Facto, porém, é que ainda que não se tenham feito referência ao nome do acto – abuso sexual do cadá-ver – o dramaturgo percebeu que aquelas mulheres se referiam ao dito acto profano.

Em resultado disso, o artista – que também é um agu-çado pesquisador – fez um inquérito dirigido a alguém que trabalha na morgue, em Maputo, sobre o assunto. Chegou a uma constatação com base na qual criou uma história em que se explica que os eventos ocorridos no passado de Joaquim da Silva – uma representação social da figura do “morgueiro” – podem ter sido responsáveis pelo seu comportamento actual.

Foi desta forma que nasceu uma das mais arrepiantes peças teatrais – a que hoje, sexta-feira, 26 de Outubro, os moçambicanos terão a ímpar oportunidade de assis-tir em estreia no Cine Teatro África – produzidas neste começo do século XXI.

Com apenas duas personagens, Dadivo José e Milsa Us-sene, a obra está repleta de cenas horripilantes, políti-cas, revolucionárias, críticas, delicadas – como sempre foi o apanágio da produção artística dos moçambicanos, antes de a nação se formar, para edificar o sentido de ser moçambicano.

Infelizmente, nem todos os moçambicanos têm a pos-sibilidade de conhecer a morgue. Afinal, geralmente, o seu primeiro e último contacto é estabelecido pela mor-te – altura em que voltam para o local onde se encon-travam antes de nascerem. A verdade, porém, é que a morgue é um dos grandes mistérios que – em resultado da morte – se instalou na sociedade.

Muito se pode dizer sobre os eventos, na verdade, peri-pécias que ocorrem naquele espaço que estão a ganhar uma dimensão ignóbil. Por exemplo, considera-se que o líquido em que o corpo humano, inerte, sem vida, é lavado é dotado de poderes sobrenaturais incalculáveis: “causa uma profunda sonolência nas pessoas”.

O nosso repórter sociocultural teve a oportunidade de ver a peça – ainda em processo de “cozedura”. Como

qualquer obra de teatro feito por artistas moçambicanos, Lá Na Morgue é algo hilariante, causando, invariavelmente, melancolias. É triste o rumo que os ho-mens da nossa terra estão a trilhar.

Denunciando um problema social – talvez um dos mais grotescos – na narra-ção dramática, o “morgueiro”, Joaquim da Silva, fica frustrado porque a polícia (que descobriu o suposto poder de causar sonolência nas pessoas) passou a con-trolar o líquido que ele vendia aos ladrões. O pior, em tudo isto, é que na sua in-terpretação as autoridades só se envolvem no seu “business” porque (também) já não conseguem alugar as suas armas. “Corruptos! Todos são corruptos, cada um à sua maneira”.

De qualquer forma, “se isso é verdade eu não sei, o meu problema é a existência de tantas armas em mãos erradas. De onde é que vêm os instrumentos bélicos que propiciam a criminalidade no país?”, interroga Dadivo José que gera um questionamento sério e, enquanto o fenómeno perdurar, sempre oportuno.

Como o estimado leitor deve ter percebido, o dito líquido é literal mas igual-mente pode ser a metáfora de algo que devia ser controlado pelo Governo, mas que – denunciando todos os tipos de inoperância do sistema – se encontra sob o poder de patifes.

Se o líquido possui o referido poder ou não, pouco interessa. Afinal, está-se diante de um boato que apesar disso (também) possui a sua origem e, talvez, alguma fundamentação.

Refira-se que, como se pode perceber, estas questões não estão a ser colocadas no espaço público de forma barata. Existe uma compreensão quase comum – entre os moçambicanos – em relação ao papel do Estado na garantia da segu-rança dos seus cidadãos: “O Governo, através do Ministério do Interior, é a úni-ca instituição que tem poder para controlar as armas e, em dado momento, não o faz. Como (e porque) é que tais instrumentos mortais são disponibilizados a qualquer pessoa? Se eles foram adquiridos no estrangeiro, como é que entram no país? Qual é o papel do Estado moçambicano no controlo deste fenómeno?”

No seio do elenco que protagoniza Lá Na Morgue (Maria Atália, a directora artística, Dadivo José, actor e dramaturgo, e Milsa Ussene, actriz) encontra-se o músico Renaldo Jaime Cardoso, ou simplesmente Mole. Com a música deste ar-tista, a obra revela outro tipo de motivações, atraindo a atenção do espectador do princípio até o fim do espectáculo.

É que para “o tipo de espectáculos que promovemos, a música possui um pa-pel muito importante. Ou seja, não se trata somente de música, mas também dos movimentos dos actores – que não devem ser confundidos com dança –, incluindo a acção das suas vozes”, explica Maria Atália que fala sobre Mole, um artista que no seu repertório de acção está rodeado de vários instrumentos, dentre os quais cada um é tocado num momento apropriado criando nuances de sonoridades que agradam o espectador. Para nós, que já vimos a peça, a sua música gera motivos cinematográficos na obra teatral. Atiça os momentos de avanços e recuos da narrativa dramática. Produz outro espectáculo dentro do grande concerto.

Entretanto, provavelmente, não exista outra questão importante a que os ar-tistas – em cena Lá Na Morgue – se propõem responder diferente desta: Que consideração os moçambicanos – incluindo os governantes – têm pelo “mor-gueiro”? Descubra!

Que consideração (os moçambicanos) têm pelo “morgueiro”...

“Tem-se dito muito que é de pequeno que se torce o pepino e que é desde mais novo que se deve começar a ler, mas colocamos as crianças a lerem livros com palavras gramati-calmente complicadas e ainda com um número de páginas assustador. A consequência é que elas assustam-se. Ao invés de nascer nelas o gosto pela leitura, morre um provável leitor voraz” considerou.

Por sua vez, Lurdes Breda, experiente na escrita para crianças, com 20 livros publi-cados em Portugal, defende que a função de escrever para o mais novo não se pode confundir como o simples acto de escrever em prosa ou em poesia simplesmente.

“Um livro para crianças deve ter ilustrações, deve ter a função didáctica. Portanto, no processo de aprendizagem, a sequência dos acontecimentos narrados deve ser acompanha-da de animosidade e alguma prudência. Não podemos já falar de armas, por exemplo, logo elas se assustam porque uma arma fere. Há uma série de coisas que se exige na lite-ratura infantil e que acaba por exigir muito mais do autor.”

Tais são exigências que os escritores moçambicanos con-tornam ao preferirem escrever sempre para os adultos mes-mo com algum potencial para escrever livros infantis.

Lurdes Breda considerou que sem uma política de livro que abranja a literatura infantil como um género específico, pouca coisa vai mudar nesta área. “Só assim se pode ter crianças a ler, a gostar de livros, e se pode exigir que do ensino primário saiam crianças que já leram um livro integralmente”, concluiu.

Literatura infantil tem pouca expressão em MoçambiqueA literatura infantil em Moçambique é ainda incipiente e encarada como de pouco valor, de tal sorte que muitos escritores enveredam pela literatura adulta. Neste contexto, Óscar Fumo, docente da Universidade Eduardo Mondlane, considera que este facto leva a que as crianças sejam confrontadas com leituras de livros inadequados à sua idade e feitos não necessariamente tendo em conta a capacidade de compreensão dos petizes.

Texto & Foto: Inocêncio Albino

Texto: Redacção

Dois “morgueiros” – pessoas que na morgue cuidam de cadáveres – profanaram sexualmente igual número de cadáveres de cidadãs de raça branca. Quando descobertos, os indivíduos foram despromovidos. Actualmente, trabalham como jardineiros. Mas antes, Joaquim da Silva (a personagem que anima as acções da obra teatral Lá Na Morgue) havia sido despromovido do cargo de chefe do armazém de medicamentos, no Ministério da Saúde, para as funções de administrador da morgue. No nosso país, ao que tudo indica, o necrotério está a tornar-se um lugar privilegiado dos malfeitores profi ssionais.

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Plateiawww.verdade.co.mz 2726 • Outubro • 2012

Texto: Inocêncio Albino • Foto: A mundzuku ka hina

Desengane-se quem assim pensa. Eles não são cães, bestas, feras, crias, bichos muito menos vândalos – como muitos cidadãos mal-entendidos e metidos à besta os consideram – mas, iguais a si, são homens. Em resultado disso, eles têm o direito à dignidade.

Não! Diante das imagens que se nos apresentam – o autor destas linhas não pode/deve querer provar-nos o contrário, a verdade é que – eles são nojentos, horripilantes, alimentam-se de lixo, são imprestáveis, marginais, talvez, na pior das hipóteses, criminosos e assassinos. Nenhuma pessoa, apresentando-se neste estado, como aquelas, pode ser honesta.

Ambos os julgamentos acima apresentados podem ter os seus fundamentos, mas se cada um deles tiver sido tomado à base de pequenos dados de natureza generalista, então, não diferem de preconceitos infundados. Os adultos, por causa da sua experiência de vida, são donos de culpas várias. Por isso, não são um bom ponto de partida para uma análise sobre como a indiferença da sociedade – em relação às pessoas necessitadas – é cúmplice da formação e do estabelecimento de comportamentos fúteis.

Falemos do Ernesto e da Júlia* – nas primeiras duas fotos – pessoas que, se Samora Machel estivesse entre nós, as dúvidas de que são as flores que nunca murcham seriam diminutas. A Júlia, por exemplo, pelo facto de estar num habitat em que se encontra, o qual pelas características que ostenta – além de todas as implicações possíveis e imagináveis que possui em relação ao seu processo de formação como ser humano – se responsabilizou em apagar personalidades como bonecas, creche, neca, mathakuzana, travando de forma totalmente insegura – em todos os sentidos – uma infância ancorada à mendicidade infantil. A sua vida começou completamente precária.

Sobre esta imagem, na sua visão poética, o escritor moçambicano, João Mendes, recentemente perecido, considera que “criança queria repor-te no olhar a luz da pureza no antro da crueldade, mas a palavra não o consegue”.

De qualquer modo, a pureza da incerteza do futuro das flores que nunca deviam murchar é imensa. No caso de Ernesto, o mocinho sentado em volta do lixo de que se alimenta, o nosso escritor considera que “A mãe se contorce no morrer do filho sem medicamentos”.

Por incrível que pareça, a verdade é que o Ernesto leva uma vida condenada desde a infância. Estamos diante de uma pessoa cujos primeiros dias de vida não conseguiram fecundar em si as possibilidades de a sua imaginação fértil – utilizar de determinados recursos para – transformar cubos em comboios, aviões, navios, ou mesmo latas em violas, restos de tecidos em farrapos para jogar futebol, moldando, desse modo, o homem do amanhã.

Em resultado disso, do Ernesto (não haja ilusões) não se deve esperar, no futuro, nenhum operário, maquinista, jornalista, enfermeiro, atleta, advogado, muito menos professor. A génese mostra-nos que se está a formar um homem com base em alicerces inseguros, o que irá gerar insegurança social.

As fotos que se alinham narram o percurso que a vida destes cidadãos – em condições normais, se não houver nenhuma intervenção de quem de direito – tomou até à terminação do sistema de coisas.

É por essa razão que a questão é “Que futuro é o nosso?”. Nosso porque nós é que permitimos que a vida desses compatriotas desabroche da maneira expressa. Que futuro sustentável esta realidade nos garante? Que sociedade queremos edificar quando – numa altura em que a nossa capital celebra 125 anos de existência –, indiferentes, permitimos a edificação de bairros precários?

Até quando é que nós, os moçambi-canos, iremos depender de pessoas de nacionalidade estrangeira – como o italiano Roberto Galante – para resol-ver os problemas das nossas gentes?

E, recordemo-nos, há bastante tempo que sabemos, porque nas suas obras, desde o princípio, o escritor-mor, José Craveirinha, nos alertou para o facto de que “bichos espreitam as cercas do arame farpado. Curvam cansados dorsos ao peso das cangas e também não são bichos, mas gente humilhada”. Todos os dias, “corre-se a pontapés os cães na fome dos ossos e não são cães, são seres humanos”.

A mostra integral destas fotos está parente no Instituto Camões, em Maputo, e é protagonizada pelos agentes de um laboratório de alfabetização audiovisual denominada A Mundzuku Ka Hina que está a recuperar seres humanos – cujas vidas em princípio estavam perdidas – dando-lhes oportunidades de olhar para o futuro com optimismo.

*Os nomes são fictícios

Se o facto de uns terem nascido pretos, pobres, em condições sociais precárias, num lugar incerto da terra, ao passo que os outros surgiram brancos, possivelmente, ricos, em melhores condições sociais – isso, no mínimo, apenas lhes torna diferentes. No entanto, porque se nos recordarmos de que, apesar das referidas diferenças, com base nas quais nem a ciência consegue provar o contrário, desprovendo uns em relação aos outros da dita dimensão , então, que se assuma que todos são homens.

Que futuroé o nosso?

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Plateiawww.verdade.co.mz28 26 • Outubro • 2012

Será que os moçambicanos (já) aprenderam a valorizar a sua música?

No pretérito fi m-de-semana, 20 de Outubro, o palco do Cine Teatro África, em Maputo, “experimentou” um movimento incomum. A noite prometia muita chuva – como mais adiante aconteceu. No entanto, os moçambicanos desejosos de assistir (e, em certo sentido, apoiar a concorrente nacional aos prémios da estação televisiva Channel O Music Awards) não se deixaram intimidar pelos 500 meticais que tiveram de pagar pelo acesso ao show.

Fazendo jus à adrenalina que se produziu no local, pularam, cantaram, gritaram, aconselharam-se, con-correndo dessa fora para que o concerto fosse um sucesso. Na verdade, os artistas foram vários e quase todos – com excepção de apenas dois, Anselmo Ralph e Laverna que são, respectivamente angolano e sul--africana – são da nossa terra.

Nos dias anteriores, tinha sido realizado um concerto – nas cidades de Maputo e da Matola cujos ingressos custavam entre mil e mil e quinhentos meticais. A can-tora era a conceituada jovem sul-africana Lira. O pri-meiro espectáculo, que foi realizado na quinta-feira, aconteceu na capital do país e tinha tido uma partici-pação razoável do público.

Em resultado disso, a opinião de alguns jornalistas – em relação à adesão do público no concerto-campanha de Lizha James – era de receio. E não faltavam argumen-tos. O dinheiro – para comprar os ingressos – havia sido gasto nos dois primeiros eventos.

Entretanto, o que sucedeu naquela noite chuvosa de sábado último é que nenhum desses argumentos ser-viu para limitar a boa vontade dos espectadores. Eles lotaram o Cine Teatro África, como antes acontecia em Maputo, sobretudo nos espectáculos populares rea-

lizados em locais desportivos, como alguns campos de fute-bol. Quase que o Cine África não “respirou”. Ficou abafado.

Além de Lizha James e Anselmo Ralph, os outros argumentos que cativaram o público foram a participação de artistas como G2, Ace Nells, Sweet Boys, Ri-chard Suleimane e Laverna.

Naquele dia, alguns moçam-bicanos que se deslocaram ao “África” decidiram não entrar na sala do evento. Talvez, acredita--se, em reconhecimento da falta de espaço. Mas do lado de fora, onde se encontravam, manifes-tavam o seu interesse em apoiar a promoção, divulgação e valo-rização da música moçambica-na. Como se viu – para quem assistiu ao espectáculo – eles, os moçambicanos, vibram com a música alheia, mas, decidida-mente (já) apoiam os cantores nacionais.

Tratou-se de uma manifestação perante a qual se pode deduzir que, os nossos cidadãos se com-portaram, como se tivessem a consciência de que – diante da dura derrota que a nossa selec-ção nacional de futebol sofreu, recentemente, a qual lhe valeu a eliminação do apuramento ao Campeonato Africano das Na-ções – nada mais lhes resta do que apoiar a cultura. Temos de trazer os troféus da Channel O Music Awards a Moçambique, o que só é possível se os nossos compatriotas – como o fizeram no sábado – votarem na sua concorrente.

Músicas acompanhadas de mensagens sadias – como, por exemplo, a sublimação de sen-timentos como amor, amizade, solidariedade, faculdade de sa-ber perdoar – foram expostas do princípio até ao fim do evento. Os artistas, cada um à sua ma-neira, empenharam-se para ca-tivar o público que em nenhum momento adormeceu.

Por fim, reconhecendo que é um dos artistas que está a ser bem-sucedido em Moçambi-que, Anselmo Ralph apelou aos presentes para a necessidade de valorizarem cada vez mais a música e a cultura moçambica-nas. “Quero congratular a Lizha pelo belíssimo concerto. Mas é preciso que os moçambicanos a apoiem para que possa ganhar no concurso em que participa”.

Uma vida que evolui nas entrelinhas!

Se antes, o tema da traição entre os cônjuges incluindo a catarse que daí se produz entre ambos podia fecundar uma ficção cinematográfica, fosse uma dúvida para algumas pessoas, então, as mesmas foram esclarecidas.

Na narração cinematográfica cujo trailer tivemos oportunidade de ver encontram-se duas pessoas, na verdade, artistas não menos conhecidas no país – Tela Chicane, que é poetisa e actriz, e Mr. Bow, que é músico e agora actor. Ambos formaram um lar e – porque Natty Chicane, a realizadora que também participa no filme como actriz, se mostra sensível às peripécias da vida marital – decidiram colocar na película as idiossincrasias da vida amorosa numa sociedade cada vez mais materialista e materializante.

Na verdade, nas entrelinhas da vida, como se chama o filme, com uma duração de uma hora, a ganância, a depressão, o materialismo, o amor, o sexo, a fama, o glamour, entre outros, são alguns aspectos da vivência social que se desenvolvem num país – Moçambique – que não quer passar ao lado da globalização.

Para as pessoas mais atentas aos movimentos artísticos nacionais, como casal, em certo sentido, Tela Chicane e Mr. Bow – analisando-se a sua produção de arte – não diferem de duas forças opostas as quais, não obstante as suas personalidades fortes, são unidas pelo amor.

Conhecemos Tela Chicane em outros fóruns – com destaque para a produção da literatura, sector onde é conhecida como “aquela que fala mal dos homens” em resultado das críticas que faz ao seu comportamento – como, por exemplo, o teatro e a produção de eventos. Mas, por outro lado, Mr. Bow – que presentemente faz do “Sinal de Vitória”, não somente o mote do seu mais recente trabalho discográfico, como também um “slogan”, uma orientação para a vida – já demonstrou em trabalhos artísticos anteriores o seu repúdio aos comportamentos desviantes da mulher. Aliás, refira-se que como uma pessoa que se rende à situação por que passou – perpetrada pela mulher, numa das suas canções – o artista acabou prometendo suicidar-se.

Em certa ocasião, recorde-se, explicando as motivações de muitos suicídios que decorrem no país Mr. Bow considerou que são resultados fatais das reacções aos temperamentos da mulher.

Ou seja, trata-se de uma acção contra o comportamento interesseiro da figura feminina que passa a vida a realizar petições exageradas ao seu marido. Em resultado disso, quando o homem labuta arduamente para satisfazê-la, ela simplesmente desvaloriza o seu esforço – pelo simples facto de a resposta por diversos factores ter sido emitida tardiamente – dizendo que “já não quero”.

Talvez o filme de Natty tenha o mérito de associar duas pessoas que, em certo sentido, na nossa sociedade podem ser vistas como tendo temperamentos volúveis, algo que, no caso de Tela Chicane, a sua revolta contra os homens não aparece como um simples comportamento feminista e barato. É que admitindo que “Sou o que não queria/ Queria ser a tua casa/ para regressares a cada partida”, esta poetisa rebela-se ao reconhecer que “infelizmente sou o teu sapato/ o qual tu pisas, de dia, de noite, sem dó”.

Tomando em conta que a produção artística, designadamente a cinematográfica, não é excepção, mas um instrumento a partir do qual os artistas emitem mensagens para alertar a sociedade sobre os perigos que determinados procederes implicam ao mesmo tempo que se louvam as boas acções, em certa ocasião, Tela Chicane quis expressar o seu sentimento em relação ao rumo da nossa sociedade.

A actriz comentou sobre Maputo – uma cidade que celebra, no próximo dia 10 de Novembro, 125 anos – afirmando que, sob o ponto de vista de estruturação municipal, a capital melhorou muito, não obstante haja aspectos por retocar. Que dizer, então, do aspecto social e humano? “Há muito por ser aproveitado, sobretudo porque existem pessoas com vontade de trabalhar, de fazer algo pelo país que podiam ser capitalizadas. Sucede, porém, que as oportunidades são sempre direccionadas para as mesmas pessoas, em detrimento dos novos talentos que procuram oportunidades para se afirmarem”.

“Nas entrelinhas da vida” é, assim, uma obra cinematográfica a ser apreciada, analisada a fim de se tirar alguma ilação em relação à forma como os moçambicanos – aproveitando-se do desenvolvimento material que possuem – conduzem as suas vidas, incluindo o modo como isso afecta os outros.

Cidadãos moçambicanos, e não só, testemunharam ontem, quinta-feira, 25 de Outubro, a cerimónia de apresentação da nova produção cinematográfi ca da realizadora moçambicana, Natércia Chicane, no Teatro Avenida em Maputo.

Texto: Redacção • Foto: Miguel Mangueze

Texto: Redacção/Delfina Cupensar • Foto: Inocêncio Albino

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Domingo Espetacular é um programa moderno, exibido ao vivo, onde a informação e o entretenimento garantem o interesse do telespectador. Com Paulo Henrique Amorim, Janine Borba e Fabiana Scaranzi. Não perca este fi m de semana mais uma reportagem exclusiva!

TODOS OS DOMINGOS, 00:30, TV RECORD

OS DESTAQUES

A PROGRAMAÇÃOSEMANA DStv

SÁBADO DOMINGOTVC3 21:20 Quem É Aquela Garota? 21:50 Olha quem Fala agora!23:30 Verão com Zachary Beaver, Um SS2 MÁXIMO 13:45 Mundial de Futsal - Rep. Checa x Kuwait16:20 Bor. Dortmund x Estugarda19:20 Hamburgo x Bayern Munique21:40 Juventus x Inter Milão SS1 MÁXIMO 11:45 Futsal: Guatemala x Colômbia14:30 Man Utd x Arsenal16:45 Swansea City x Chelsea

SIC INTERNACIONAL 20:00 Quadratura do Círculo - Série 420:45 Alta Defi nição21:15 Gosto Disto - 5ª Série22:00 Jornal da Noite SS1 MÁXIMO 11:45 Mundial de Futsal - Paraguai x Costa Rica15:15 Queens Park Rangers x Reading17:45 Liverpool x Newcastle Utd

SS2 MÁXIMO 14:30 GP de Abu Dabi: Corrida21:10 Interclube de Luanda Magazine21:40 Liga Italiana: Roma x Palermo23:45 Liga Italiana: Pescara x Parma

SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTAÇÇGLOBO 19:55 Malhação20:20 Lado a Lado21:10 Guerra dos Sexos22:10 Salve Jorge22:20 Fantástico DISCOVERY 19:55 Chasing Classic Cars - O Tempo Adora Heróis!20:20 Ultimate Journeys - Vietname22:10 Out of the Wild: Venezuela - O Mundo Perdido22:00 Factory Line

TV RECORD 21:30 Fala Portugal22:00 Rei Davi23:00 Balacobaco00:00 Legendários01:00 Esporte Record News

GLOBO 19:55 Malhação 20:20 Lado a Lado21:10 Guerra dos Sexos22:10 Salve Jorge22:20 Tapas e Beijos TV RECORD 21:30 Fala Portugal22:00 Rei Davi23:00 Balacobaco00:00 Receita Pra Dois01:00 Esporte Record News SS1 MÁXIMO 20:30 Diego Armando Maradona - Dios21:00 Diego Armando Maradona - Dios21:30 Destaques de Futebol21:40 Liga Italiana:Palermo x Ac Milão

GLOBO 19:55 Malhação 20:20 Lado a Lado21:10 Guerra dos Sexos22:10 Salve Jorge22:20 A Grande Família TVC1 20:30 Chefes Intragáveis22:05 Glee: O Filme Concerto23:30 Puro Aço

SS1 MÁXIMO 21:00 Interclube de Luanda Magazine21:30 Destaques de Futebol21:40 Taça Liga Inglesa: Chelsea x Man Utd23:45 Norwich City x Tottenham Hotspur

GLOBO 19:55 Malhação20:20 Lado a Lado21:10 Guerra dos Sexos22:10 Salve Jorge22:20 Som Brasil AXN 20:42 Castle21:36 Jogo de Audazes 22:28 Os Bórgia23:30 Mentes Criminosas00:26 Mentes Criminosas SS1 MÁXIMO 11:45 Mundial de Futsal: Ucrânia x Paraguai13:45 Mundial de Futsal: Líbia x Portugal15:45 Mundial de Futsal: Brasil x Japão

GLOBO 19:55 Malhação20:20 Lado a Lado21:10 Guerra dos Sexos22:10 Salve Jorge2:55 Globo Repórter SS1 MÁXIMO 11:45 Mundial de Futsal: Itália x Austrália13:45 Mundial de Futsal: Argentina x México15:45 Mundial de Futsal: Espanha x Irão

SS1 MÁXIMO 2 10:50 GP de Abu Dabi - Treinos12:40 Taça Liga Inglesa: Norwich x Tottenham14:30 Destaques de Futebol

COMO APROVEITAR O FIM DO MUNDOQuando estiver a ler este texto faltarão sensivelmente dois meses para o fi m do mundo. Pelo menos é o que diz a profecia maia e no que acreditam piamente os nossos protagonistas, Kátia (Alinne Moraes) e Ernani (Danton Mello). Quer dizer, apenas Kátia. Mas isso não importa. Ela vai arranjar maneira de o convencer de que não há tempo a perder: 21 de Dezembro chegará num piscar de olhos. Este contabilista e uma jovem meio doida encontram-se no escritório e formam um casal improvável. Tudo numa divertida história de amor, é claro, com dia e hora para acabar. ‘Como Aproveitar o Fim do Mundo’ é uma série de Alexandre Machado e Fernanda Young, com direcção de núcleo e geral de José Alvarenga Jr.

ESTREIA EM NOVEMBRO, TV GLOBO

JUSTIÇADepois de sua mulher ser vítima de um assalto e violação, Nick recorre a um grupo de vigilantes em busca de justiça. DIA 3 DE NOVEMBRO, 23:30, TVC1

GP DE ABU DABIAcompanhe mais uma etapa do campeonato do mundo de Fórmula 1. Alonso e Vettel vão certamente disputar este campeonato até ao fi nal e só se saberá quem ganhará o troféu mesmo na última corrida, em São Paulo, no Brasil.

DIA 4 DE NOVEMBRO, 14:30, CORRIDA, SS2 MÁXIMO

TARTARUGAS NINJAIncrível mas certo. As Tartarugas Ninja voltam à televisão graças ao Nickelodeon! Leonardo, Rafael, Donatelo e Miguel Ângelo regressam às nossas casas, dispostos a repetir as suas façanhas de verdadeiros heróis para os miúdos e também para os graúdos.

DIA 1 DE NOVEMBRO, 11:25, NICKELODEON

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Cartaz26 • Outubro • 2012

Programação daProgramação da

Edgar recebe um telegrama de Portugal. Isabel conversa com Ju-rema sobre a parteira. Edgar comunica a Laura que vai para Portu-gal. Diva fala para Mário e Frederico que tem os doiscomo irmãos. Constância pede para Albertinho contar para a irmã que ela se ofereceu para ajudar Isabel. Isabel sente-se mal e Diva a socorre. Laura reclama por Edgar não deixá-la ir a Portugalcom ele. Mário avisa a Afonso que Isabel dará à luz. Frederico dei-xa Diva e Isabel na casa da parteira. Teresa questiona Praxedes sobre o passado de Eulália. O bebê de Isabel nasce.Praxedes encontra um antigo livro escondido e se espanta com a possibilidade dele ser de Eulália. Laura é avisada sobre o filho de Isabel. Berenice leva Zenaide para o Morro da Providência. Cons-tância consola Albertinho. Assunção volta de viagem. Eulália pen-sa em onde esconder seu livro. Laura implora que Edgar desista de sua viagem.

Ciro e Drago separam a briga dos oficiais. Érica man-da flores para Áurea. Isaurinha recebe um cheque de Leonor. Raquel mostra para Aída uma foto de Lívia e Haroldo em um evento. Jéssica pede ajuda para um homem, que não entende o que ela fala. Morena avan-ça para falar com Beto e Théo a repreende. Áurea é fria com a namorada do filho. Jéssica finge passar mal para não sair com um estrangeiro. Ayla fica encantada com Zyah. Kemal e Esma falam que Zyah precisa se casar novamente. Sarila sinaliza que suas filhas estão à procura de casamento. Creuza questiona Helô ao vê--la chegar de viagem com muitas malas. Haroldo conta para Lívia que o tráfico de mulheres está sendo investi-gado no Brasil. Arturo convence Celso a deixar Antônia

Segunda a Sábado 21h35 GUERRA DOS SEXOS

Segunda a Sábado 20h35 LADO A LADO

NOVELAS

Segunda a Sábado 22h15 SALVE JORGE

Vânia enfrenta Carolina, que se faz de vítima. Dino implora que Nieta o deixe entrar em casa. Analú percebe o interesse de Nando em Juliana. Roberta reage às reclamações de Kiko contra Nando. Montanha fala para Nenê que Ulisses deveria desistir de lutar. Nando confessa estar apaixonado por Juliana. Charlô e Olívia choram por causa de Roberta. Otávio vê Vânia e Felipe se beijando. Zenon escreve uma carta para a família, e Carolina chora por ele não ter mencionado seu nome. Felipe decide levar o carro de Charlô e Otávio para a oficina. Veruska conta para Otávio o que Roberta pretende fazer com o con-trato de exclusividade. Fábio pede a separação para Manoela. Otávio mostra a Roberta a multa que terá de pagar pela quebra de contrato.Roberta chora, e Otávio fica furioso. Manoela implora que Fá-bio não se separe dela. Carolina vê Zenon no lugar de Ulisses e se declara. Semíramis fica apavorada ao saber que Dino e Nieta foram para a delegacia por causa dos pacotes de Nenê. Rober-ta informa que entregará suas ações da Positano para Otávio. Nando chega à oficina no momento em que Felipe está pres-tes a abrir o porta-malas. Fábio não consegue se entender com Manoela. Nando vê um desconto em seu salário e fica revolta-do com a explicação que recebe de Otávio. Nenê aparece na casa de Semíramis. Fábio avisa a Juliana que pediu o divórcio a Manoela. Juliana conta para Vânia que tem um caso com Fá-bio. As ex-mulheres de Felipe invadem o escritório da Charlo’s. Roberta vê os tacos falsos no porta-malas do carro, e Nando se desespera.

trabalhar com Lívia. Élcio sabota a ração do cavalo de Théo.Morena sente-se mal e vai para o posto de saúde. Nilceia deixa Ju-nior com Diva. Lucimar leva Morena a outro posto de saúde. Aisha tenta encontrar os documentos de sua adoção. Deborah fala para Berna que está pensando em aceitar a proposta de Stenio.Érica constata que o cavalo de Théo não tem condições de con-correr. Mustafá se surpreende ao encontrar Aisha em seu escritó-rio. Morena decide trabalhar mesmo não se sentindo bem. An-tônia assina o contrato com a firma de Lívia. Jéssica acredita que Lívia não sabe que seu nome está vinculado ao tráfico de mulhe-res. Théo acusa Érica de ter adulterado a ração de seu cavalo. Ste-nio convida Helô para jantar. Morena desmaia na frente de Lena. Tartan negocia com Sarila. O coronel pede para falar com Érica depois de saber que a ração do cavalo de Théo foi adulterada.

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Lazer

Na China chamam às mulheres tris-tes “leques de Outono”. Esta deno-minação tem a sua origem nuns ver-sos escritos pela Princesa Pan, no ano 350 a. C.

As chaves da Bastilha, depois da sua queda a 14 de Julho de 1780, foram presenteadas pelo Marquês de Lafayet-te a George Washington, na altura recém-eleito Presi-dente dos Estados Unidos da América.

O chifre do rinoceronte, contra o que muitos podem pensar, não faz parte do esqueleto do anima, pois é apenas uma excrescência pilosa.

Em muitos países, há o costume de atirar punhados de arroz aos noivos, principalmente às noivas.

O hábito parece ter nascido entre os índios da América do Norte e do Sul. O arroz era para eles – e ainda é – um símbolo de fecundidade. O gesto de lançá-lo sobre os recém-casados era, entre os índios, uma espécie de ritual invocando a bênção dos deuses para que o casal tivesse descendência.

Primeiro o noivo lançava sobre a noiva um punhado de arroz. Depois, os amigos ofereciam aos dois certas quantidades deste e de outros cereais.

A célebre Universidade de Bolonha, a mais velha de toda a Europa, foi criada em 1158 por estudantes que apenas pretendiam proteger-se dos negociantes da ci-dade que, cada vez mais, subiam os preços da alimen-tação e da habitação.

A estátua da Liberdade, que se encontra à entrada do porto de Nova Iorque, e considerada na altura a maior do mundo construída em bronze, foi oferecida à Amé-rica pela França.

26 • Outubro • 2012

HORÓSCOPO - Previsão de 26.10 a 01.11ENTERTENIMENTO

Finanças: Alguma estabili-dade, na área financeira, po-derá dar-lhe o equilíbrio que permitirá concluir algumas tarefas pendentes. Apesar das boas perspectivas, não gaste mais do que pode.

Sentimental; Alguma tenta-ção para criar obstáculos rela-cionados com ciúmes deverá ser evitada, por si, a todo o custo. Não faça juízos sem fundamento, tente ser amável e gentil com o seu par; acima de tudo, seja tolerante. Não se esqueça que as questões nem sempre são o que parecem.

21 de Abril a 20 de Maio

touro

Finanças: As finanças pare-cem querer estabilizar. O seu maior adversário nesta ques-tão, poderá ser o próprio na-tivo deste signo, por excesso de gastos em matérias su-pérfluas; seja muito prudente no que se relaciona com este aspeto.

Sentimental; O relaciona-mento amoroso será perfeito e, se bem gerido pelo casal, poderá trazer momentos bem agradáveis. Para os que não têm par esta semana não será muito favorecida a novos romances.

21 de Maio a 20 de Junho

gémeos

Finanças: O aspeto financeiro poderá, durante esta sema-na, dar-lhe uma trégua; assim, será a semana ideal para que descanse e se descontraia, um pouco. Para o fim deste perío-do poderão surgir-lhe algumas preocupações em relação a um problema do passado, que ficou por esclarecer e resolver.

Sentimental; Alguma tendên-cia para o ciúme, vindo da parte feminina, só contribuirá de uma forma positiva, para tornar mais agradável este período; saiba tirar deste aspeto o maior e melhor resultado possível. Para os que não pare, esta não será a altura mais favorecida para mudanças.

21 de Junho a 21 de Julho

caranguejo

Finanças: Não se deverão veri-ficar grandes alterações a nível financeiro. Será aconselhável que evite gastos desnecessá-rios. Poderá ser confrontado, para o fim da semana, com uma situação que exigirá, de si, uma atitude firme. Recomenda-se a prudência que os tempos, que atravessamos, aconselham.

Sentimental: Não seja dema-siado exigente com o seu par. Poderá ser confrontado, duran-te este período, com algumas questões em que poderá andar a reboque de terceiros. Seja re-alista e não se deixe levar por situações que poderá ser moti-vado por invejas, ou ciúme.

22 de Julho a 22 de Agosto

leão

Finanças: As questões que envolvam dinheiro estarão muito relacionadas com as suas próprias opções. Não gaste demasiado; tenha a noção exata das suas possibi-lidades. Por outro lado, a crise económica poderá criar-lhe um problema inesperado, para o qual não encontrará resposta imediata.

Sentimental; Grande aproxi-mação do casal, ternura e ma-nifestações amorosas con-tribuirão, largamente, para uma semana feliz. O diálogo aberto será a opção aconse-lhável, por forma a esclarecer pequenos problemas antigos.

23 de Agosto a 22 de Setembro

virgem

Finanças: Poderá verificar-se, durante esta fase, uma ten-dência para que as suas finan-ças comecem a melhorar; caso essa situação se concretize, aproveite-a bem. Contudo, o eterno conselho é mais per-tinente que nunca: Seja pru-dente com as suas despesas. Atravessa-se um período de crise e todos os cuidados serão poucos.

Sentimental: Deverá ser um período caracterizado por grande atração física. Saiba tirar partido deste aspeto e poderá ter momentos muito gratificantes.

23 de Setembro a 22 de Outubro

balança

Finanças: Poderá entrar numa fase francamente favorável em matéria de dinheiro. Aproveite este período para investimen-tos moderados; no entanto, não gaste o que não pode, os tem-pos aconselham a prudência.

Sentimental; O amor é para si uma necessidade fundamental; aproxime-se do seu par sem desconfiança nem receio. Os astros favorecem as ligações amorosas baseadas na sinceri-dade e na abertura. Esteja par-ticularmente atento a tentativas de dividirem a sua relação e cria-rem alguma instabilidade no seu relacionamento afetivo.

23 de Outubro a 21 de Novembro

escorpião

Finanças: Seja prudente em tudo o que se relacionar com questões que envolvam dinhei-ro. Algumas dificuldades que possam surgir terão de ter, da sua parte, uma atitude de força e firmeza pessoais que, lhe permita vencer os obstáculos que surjam.

Sentimental: Opiniões que nada têm a ver com as suas re-alidades poderão criar-lhe uma situação de alguma dificuldade. Deixe-se conduzir pelos seus dons e capacidade de análise. O seu par deverá ser considerado, por si, segundo as suas próprias avaliações e nunca por palpites de terceiros.

22 de Novembro a 21 de Dezembro

sagitário

Finanças: Haverá possibilida-de de sentir algumas dificul-dades de carácter financeiro. Não se deixe abalar, negati-vamente, por essa situação e tenha fé em melhores dia. Alguma tentação para o lucro fácil deverá ser evitada, a todo o custo.

Sentimental; Este aspeto será caracterizado por um grande entendimento e uma perfei-ta sintonia entre pessoas que se compatibilizem com o seu signo; no entanto, mantenha bem presente que uma rela-ção é construída a dois .

21 de Janeiro a 19 de Fevereiro

aquário

Finanças: Evite despesas desne-cessárias, caso contrário ,poderá sentir algumas dificuldades. Para o fim da semana, será de esperar uma ligeira melhoria que, poderá estar relacionada com uma entra-da de dinheiro, a qual será a paga de trabalhos passados.

Sentimental; O seu par está ao seu lado, embora compreendendo as suas tarefas e os seus objetivos, necessita mais da sua atenção ,para que em sintonia a entreajuda se concretize de forma satisfatória. Por outro lado, este período ca-racteriza-se por uma sexualidade bastante desenvolvida.

20 de Fevereiro a 20 de Março

peixes

Finanças: Os astros indicam que este poderá ser um perí-odo de viragem, com algumas entradas, inesperadas, de di-nheiro; aproveite este aspeto para tirar dele o maior par-tido. No entanto, porque as dificuldades são muitas, seja moderado nas suas despesas, muito principalmente, nas su-pérfluas.

Sentimental; Uma grande aproximação do seu par, a divisão das coisa boas e das desagradáveis, servirão para consolidar e fortalecer a re-lação.

22 de Dezembro a 20 de Janeiro

capricórnio

Finanças: Poderá acontecer, porque os astros o favorecem, que durante este período se inicie uma fase que o condu-zirá a uma maior tranquilidade financeira. Caso se verifique, aproveite bem, pois os tempos assim o exigem; no entanto, porque de uma forma geral as dificuldades batem à porta de todos, seja prudente em tudo o que se relacionar com dinheiro.

Sentimental; Não hesite em demonstrar o que sente pelo seu par, verificará que uma boa e saudável união contribui, de uma forma marcante.

21 de Março a 20 de Abril

carneiro

Lucius Veratius, romano muito rico, não saía à rua sem ser acompanhado por um escravo, que levava uma bolsa cheia de dinheiro.

Assim que Veratius encontrava uma pessoa de quem lhe parecesse não dever recear vingança, dava-lhe uma tre-menda bofetada, e logo de seguida 25 moedas de prata que tirava da sua bolsa, e que era a soma estipulada pela lei para a reparação daquela ofensa.

O professor Virchow, alemão afamado como homem de ciência mas fraco atirador, foi desafiado para um duelo pelo grande Bismarck, “Chanceler de ferro” da Alemanha na época, e convidado a escolher as armas.

Depois de pensar um instante, Virchow entrou no seu la-boratório e trouxe de lá dois chouriços de porco.

– São estas as minhas armas – disse ele aos padrinhos de Bismarck.– Parecem iguais, mas um deles está infectado com triquinas, cujos germes produzem, a triquiníase, que tem por consequência a morte inevitável; o outro está perfeitamente são. Levem-nos, com os meus cumpri-mentos, ao Sr. Bismarck. Peçam-lhe que coma um e eu comerei o outro. Um de nós morrerá, com certeza. As pro-babilidades são iguais.

Daí a menos de uma hora, o “Chanceler de ferro” resolve-ra desistir do duelo.

Mitridates, soberano de 22 nações diferentes, falava em cada uma delas na sua língua, sem precisar de intérprete.

Júlio César podia ditar, ao mesmo tempo, até dez cartas aos seus secretários.

Séneca retinha até 2.000 vozes consecutivas, recitava-as pela ordem pelas quais as tivesse ouvido, e podia ainda repetir na ordem inversa mais de 200 versos que lhe aca-bassem de ler.

Acontece com as pessoas de espírito apertado o mesmo que sucede com as gar-rafas de pescoço estreito: quanto menos têm dentro de si, mais barulho fazem para pô-lo cá fora.

Um homem nunca está demasiado ocupado para di-zer quão ocupado está.

É mais difícil empregar utilmente o tempo que o di-nheiro.

Para muitos, nos tempos que decorrem, a música, para ser música, não deve parecer música.

Se nos víssemos como os outros nos vêem, não acre-ditaríamos nos nossos olhos.

Depois de tudo dito e feito, usualmente fica mais dito que feito.

A esperança é o sonho do homem desperto.

O seguro do êxito consiste, muitas vezes, em fingir que se ignora o que se sabe, e que se sabe o que se ignora.

Não há no mundo pior bancarrota que o homem que perdeu o entusiasmo.

A juventude é um costume que se deve conservar.

A moda é o resultado da eterna luta entre o confessável desejo de vestir-se e o inconfessável desejo de despir-se.

– Que tal achaste o vinho que te mandei há dias?– Era da qualidade exacta.– Qualidade exacta? Que queres com isso dizer?– Quero dizer que, se fosse pior, não se podia beber; e se fosse melhor não mo terias oferecido!

Um carrasco, levando à forca um pobre diabo, diz-lhe:– Oiça: vou fazer como puder, mas devo confessar-lhe que nunca enforquei.– Eu, por minha vez, devo confessar-lhe que nunca fui enforcado. Cada um de nós fará o que puder e espero que nos sairemos bem.

O marido regressa depois de longa viagem e aparece me casa sem ser esperado.Depois de jantar, vai ao café encontrar-se com os ami-gos.– Voltaste com um lindo chapéu – diz-lhe um deles.– É um presente da minha mulher. Ela queria fazer-me uma surpresa, mas como cheguei sem ser esperado, encontrei-o em cima do piano…

Bernard Shaw não tinha por Winston Churchill uma grande estima. Compreende-se: o primeiro era irlan-dês e o segundo inglês. Todavia, nutria por ele a con-sideração que a forte personalidade do vencedor da guerra merecia.Num dia de estreia de certo drama seu, o grande G.B.S. enviou a Churchill dois camarotes com os seguintes dizeres:– “Para V. Exa. e para um amigo, se é que tem algum”.Churchill respondeu:– “Muito obrigado por me haver enviado os bilhetes. Não me será possível ir à primeira apresentação, mas irei à segunda, se houver mais que a primeira”.

Um turista dirige-se ao jardineiro municipal:– Sabe por acaso a que família pertence aquela planta?– Por acaso sei que não pertence a família nenhuma. É do Conselho Municipal.

Car

toon

PENSAMENTOS. . .

PARECE MENTIRA…

RIR É SAÚDE

SAIBA QUE…

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