aventuras intergalÁcticas - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se...

45
AVENTURAS INTERGALÁCTICAS Autor STEVEN CALDWELL Tradução de NELSON PUJOL YAMAMOTO Digitalização GANDALF01 http://br.groups.yahoo.com/group/digital_source/

Upload: duongthu

Post on 19-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

AVENTURAS INTERGALÁCTICAS

Autor STEVEN CALDWELL

Tradução de

NELSON PUJOL YAMAMOTO

Digitalização GANDALF01

http://br.groups.yahoo.com/group/digital_source/

Page 2: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 2

Índice

Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 Visitantes do além-espaço. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 Viagem ao desconhecido. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 O primeiro contato. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..12 O planeta da morte. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..19 A rainha guerreira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 23 O Império Palita. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 A situação se inverte. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 De volta à Terra. . . . , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Epílogo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

Créditos das ilustrações Jim Burns, pp. 8/9, 18/19 & 41; Peter E/son, pp. 5, 6/7, 12/13,

15, 22/23, 28/29, 35, 43>44/45, 46/47, 49 & 59; Bob Fowkes, pp. 36/37; Fred Gambino, página de rosto & pp. 11 & 57; Colin Hay, pp. 21, 31, 32/33 & 38/39; Robin Hiddon,

capa; Dtivid Jackson,pp. 24/25 & 64; Bob Layzell, p. 27; Chris Moore, pp. 52/53, 54/55 & 60/61;

Cesare Reggiani, p. 17;, Tony Roberts, pp. 50/51 & 62/63..

Page 3: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 3

Introducão

No .século XXIII, a Federação Galáctica já ocupava um espaço calculado em quase 500 anos-luz de diâmetro. Dentro de seu raio de influência encontravam-se, milhares de planetas; embora a grande maioria fosse, desabitada, muitos abrigavam espécies nativas ou transformavam-se em colônias de exploradores siderais. Em boa parte de tais astros desenvolviam-se atividades de processamento industrial de minérios, via de regra através de métodos totalmente automatizados: centenas de milhares de naves, dos mais variados tipos, cruzavam o espaço percorrendo as rotas mercantis que interligavam os quatro cantos da Federação.

Nos primórdios da história da Federação, a expansão galáctica processou-se de maneira relativamen-te rápida e desenfreada, na medida em que os exploradores siderais, motivados tanto por interesses comerciais como por amor à aventura, adentravam o desconhecido em ávida busca de riquezas e terras virgens.

Porém, quando esses pioneiros grupos de intrépidos exploradores começaram a ser dizimados por trágicos acidentes fatais, a Federação houve por bem impor leis de navegação cada vez mais rígidas, objetivando instituir programas de expansão planificados.

Logo se fizeram sentir os reflexos de tais medidas: o índice de expansão diminuiu acentuadamente, dando-se maior prioridade à união de esforços e ao aproveitamento racional dos recursos existentes.

Todavia, a expansão galáctica não cessou por completo: naves de reconhecimento financiadas pelo governo federativo continuavam a sondar o infinito, além das fronteiras oficiais, em expedições de mapeamento e coleta de dados. Além disso, procurava-se tomar os planetas recém-colonizados bases de produção mais seguras e melhor controladas, criando-se novas oportunidades de comércio e navegação interestelar.

Apesar do crescente e bem planejado progresso da expansão galáctica, as autoridades jamais deixaram de estar conscientes de que, embora a Federação tivesse se

ampliado extraordinariamente - bem mais do que os homens de duzentos ou trezentos anos antes jamais poderiam ter imaginado - o volume cósmico por ela conquistado representava apenas uma ínfima partícula da área total da galáxia. Tendo-se como base o número de planetas habitados dentro das ftonteiras federativas, considerava-se como certa a existência de centenas, se não milhares, de outras formas inteligentes de vida nos incontáveis sistemas solares do espaço sideral. Mais dia, menos dia, seria travado contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as ultrapassaria em nível de desenvolvimento.

No entanto, a óbvia vantagem de se procurarem e identificarem tais espécies, antes de elas tomarem iniciativa semelhante, era de pouca importância devido às dificuldades econômicas implícitas na procura de minúsculas agulhas no imenso palheiro do espaço cósmico, as quais, por outro lado, poderiam nem mesmo existir. Desse modo, tais expedições só seriam justificadas diante de provas irrefutáveis da existência de seres alienígenas fora dos limites da Federação Galáctica.

Tais provas surgiram quando uma nave da Patrulha de Segurança, em missão rotineira na região periférica, detectou a existência de um objeto voador alienígena de procedência desconhecida.

Esse breve contato marcou o início de uma fascinante aventura expedicionária: a viagem do Venturer figura entre os mais impressionantes episódios já registrados nos anais da navegàção espacial. A bravura de sua abnegada tripulação face às incertezas de semelhante missão toma-se ainda mais notável ante o conhecimento, por parte de todos os membros da equipe, de que, devido aos efeitos temporais relativos acarretados por permanência prolongada no hiperespaço, alguns dias no cosmos equivaleriam a um ano em seu planeta de origem. Quando regressassem, todos os seus entes queridos já estariam mortos e os mundos da Federação apresentar-se-iam quase irreconhecíveis.

Eis, então, a sua história.

Page 4: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 4

CAPÍTULO UM Visitantes do além-espaço

Registro do diário de bordo: Resumo retrospectivo. Oficial de bordo: Comandante Mor Mikiss. Modo de propulsão: Sem registro. Condições de acionamento: Prontidão pré-vôo. Condições do sistema: Prontidão pré-vôo. Condições da equipe: Rotina de treinamento avançado - Diretriz n.OSFSM 447.

Nas primeiras décadas do século

XXIII, naves de reconhecimento e exploração da Federação Galáctica percorriam o longínquo perímetro estelar, patrulhando as fronfeiras que limitavam o espaço oficial. Afora as castigadas e carcomidas naus aventureiras que vagavam o espaço sem destino, as únicas naves que cruzavam o vácuo desses desertos confins eram as patrulhas de reconhecimento e os laboratórios espaciais do Instituto de Pesquisa Federativo.

Em alguns dos planetas dessa região foram fundadas colônias que não podiam oferecer os mínimos requisitos de segurança para que pudessem ser incorporadas à rede mercantil federativa e participar de operações comerciais com os principais centros da galáxia. Seu único contato com o universo exterior era feito através das patrulhas espaciais, em suas periódicas expedições de inspeção. O espaço cruzador Arko encontrava-se em uma dessas missões, quando, subitamente, seu radar registrou um contato, que daria início a uma das mais extraordinárias expedições da história da navegação espacial.

Momentos após uma mudança de guarda, o painel de controle começou a calcular o curso, a velocidade e a massa de um objeto que cruzava o cosmos a menos de 2 milhões de quilômetros de distância. O oficial da nave, obedecendo aos procedimentos de praxe, anotou a ocorrência no diário de bordo e, como se nada de especial houvesse acontecido, refestelou-se em sua poltrona de comando: o espaço interestelar contém inúmeros corpos celestes errantes, desde partículas de pó a

volumosos asteróides. No entanto, tais corpos só se movimentam em linha reta; todo e qualquer desvio de curso tem como causa a atração exercida por algum campo gravitacional.

Assim, quando os computadores detectaram um deslocamento, o capitão saltou da poltrona. Visto que nenhuma nave havia solicitado licença de navegação para aquela zona, o oficial, criando imagens de contrabandistas ou exploradores ilegais de minérios e vendo ali uma ótima oportunidade de quebrar a interminável rotina de uma longa viagem interestelar, acionou prontamente o alarme. Todavia, no momento em que a tripulação se colocava de prontidão, o radar registrou a imagem de uma espaçonave que não se assemelhava a nenhum dos tipos de objetos voadores armazenados na memória do computador, obrigando o capitão a ordenar alerta de combate. À medida que a nave de patrulha se acercava da nave alienígena, o oficial procurava regular o periscópio para sua máxima ampliação; quando a imagem se tornou mais nítida, deixou escapar um grito de surpresa.

A nave alienígena, vista do Arko.

Estampada na tela do periscópio

encontrava-se a imagem de uma das mais estranhas espaçonaves que jamais havia visto em todos os seus anos de serviço.

Enquanto acionava as teclas do controle do registro de imagem com gestos bruscos e nervosos, a imensa e arqueada nave alienígena, qual gigantesco inseto, diminuía sua

velocidade e contornava o flanco de seu observador. O capitão reduziu ligeiramente a velocidade de sua nave e, fazendo um sinal para seu oficial de telecomunicações, ordenou a transmissão do código padrão de identificação galáctica. No entanto, não se obteve qualquer resposta à mensagem, nem tampouco aos demais sinais de emergência posteriormente emitidos.

Quando a tripulação se encontrava a poucos quilômetros de distância do objeto alienígena, sua popa globular começou a brilhar; segundos mais tarde, a nave aumentou extraordina-riamente sua potência de desloca-mento e, a uma velocidade inacreditável, desapareceu no espaço.

Relegando o contato com os colonizadores do planeta periférico a um plano secundário, a nave de patrulha alterou seu curso e partiu a toda a velocidade rumo à base.

Minutos após o recebimento da mensagem de alerta pelo Quartel-General do Departamento de Segurança da Terra, as estações locais foram instadas a localizar o paradeiro de todas as naves registradas que se assemelhassem ao estranho objeto voador detectado pelo Arko e que tivessem condições de realizar incursões no hiperespaço; dois dias depois, todas as possíveis naves que se enquadravam naquela descrição se apresentaram, sem ter, no entanto, qualquer relação com o estranho objeto voador. A possibilidade de, dentro do alcance do domínio federativo e em algum lugar além das fronteiras periféricas, existir uma raça de seres inteligentes, de nível tecnológico no mínimo semelhante ao da Federação, parecia ser a única explicação possível para o fenômeno. Se tais seres sabiam de antemão da nossa existência, ou se o contato ocorreu por mero acaso - e, nesse caso, quais as intenções dos alienígenas - eram dúvidas eminentemente sérias e de extrema importância. Convocou-se, então, uma assembléia do mais alto nível.

Nos dias que sucederam à convocação, chegaram à Terra representantes de todos os planetas membros da Federação, que se dirigiam prontamente à gigantesca torre do Quartel-General do Departamento de Segurança, localizada em um atol do oceano Pacífico.

Page 5: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 5

De algum lugar além das fronteiras federativas, surgiu esta estranha nave. Qual o planeta de origem e o que aconteceria após tomarem conhecimento de nossa existência eram perguntas que não poderiam mais permanecer sem resposta.

Page 6: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 6

Depois de localizar a nave alienígena, o Arko regressou à base a toda velocidade para divulgar a notícia de que existia uma desconhecida e avançada civilização no além-espaço.

Page 7: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 7

De imediato, todos os membros da assembléia foram unânimes em concordar com a urgência de se determinar o significado da aparição da nave alienígena, bem como seu lugar de origem; no entanto, discutiu-se horas a fio sobre a melhor atitude a ser tomada frente ao problema.

Finalmente, o plenário chegou a um consenso. A única maneira de se investigar a origem do objeto alienígena seria explorar a área espacial localizada além dos Mundos Periféricos. Dever-se-ia formar uma

equipe, escolhida a dedo, que estivesse disposta a partir em uma viagem rumo ao desconhecido, talvez para nunca mais voltar.

Deu-se início, pois, à tarefa de se formar tal equipe. Os computadores de todas as subdivisões do sistema federativo vasculharam as memórias de arquiv até compilarem uma lista de possíveis elementos para a missão e enviarem-na ao alto comando para a etapa de seleção.

Indivíduos de todos os recantos da Federação viram-se misteriosamente

convocados para se submeterem a inexplicáveis e exaustivos testes; finalmente, reuniu-se um grupo de homens e mulheres, a quem foram comunicados a natureza e os objetivos da viagem. O passo seguinte foi selecionar, a partir dos elementos que se apresentaram como voluntários, um pequeno grupo que, embora recebesse os mais completos treinamentos, teria que contar apenas com seu espírito empreendedor e talento profissional para sobreviver no espaço, longe de tudo e de todos.

Depois que as notícias sobre a nave alienígena chegaram à Federação, representantes de todos os seus planetas membros se reuniram no Quartel-General de Segurança para decidir a melhor medida a ser adotada.

Page 8: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 8

CAPÍTULO DOIS

Viagem ao desconhecido Registro do diário de bordo: Estágio da programação de pré-vôo 03626. Oficial de bordo: Comandante Mor Mikiss. Condições de acionamento: A1. Prontidão operacional. Condições do sistema: A 1. Prontidão operacional. Condições da equipe: Prontidão operacional. Moral alto.

Por ocasião da escolha definitiva

dos voluntários que haviam concluído com êxito todas, as etapas do rigoroso exame de seleção, nenhum deles nutria qualquer dúvida a respeito dos verdadeiros objetivos da missão que haveriam de realizar; todos aguardavam o momento da especificação preliminar dos fatos com um misto de excitação e ansiedade. O rigor dos testes a que foram submetidos havia demonstrado com bastante clareza que apenas os que possuíssem dons e qualidades excepcionais sobreviveriam à missão; assim, foi com certa dose de apreensão que os doze tripulantes da nave pioneira atenderam ao chamado da primeira reunião de trabalho, que seria efetuada em uma sala secreta do Quartel-General do Departamento de Segurança.

Ao se reunirem, houve o reconhecimento entre os companhei-ros de viagem de muitos rostos familiares; depois que todos se concentraram na arena central, uma porta se abriu com suavidade, para dar passagem às mais. importantes personalidades civis e militares da Federação. Dentre estas destacava-se a importante figura de Mor Mikiss, um dos legendários membros da Patrulha do Espaço, cuja reputação como oficial de operações militares não possuía paralelo em nenhuma parte da Federação.

Assim que os voluntários acomodaram-se em seus lugares e um respeitoso silêncio fez-se impor no recinto, todos puderam sentir o frio olhar com que o futuro comandante da expedição percorria lentamente os semblantes carregados de expectativa dos presentes. Nisso, todas as atenções se voltaram para o diretor-geral do Comando Galáctico de Segurança, que se levantava e

desejava boas-vindas a todos os reunidos. Feito isso, procedeu às apresentações através de concisos resumos das qualidades profissionais e individuais de cada voluntário e sobre os papéis que estes desem-penhariam na equipe.À medida que o diretor-geral expunha tais informa-ções, uma imensa vídeo-tela exibia imagens dos rostos e breves currículos de cada tripulante:

Richard Pontine, oficial-chefe de navegação espacial, especialista em orientação de vôo no espaço exterior e em análise espectral do hiperespaço.

Dor Hewett, engenheiro de sistemas, técnico em computação e inventor do Sistema de Entrada de Dados Intuitivo.

Dick Frost, engenheiro espaço-náutico e responsável pelo aperfeiçoamento do sistema AETAC (Acelerador Espaço-Temporal de Atenuação de Campo), processo intensificador do efeito de hiper-propulsão, hoje utilizado como método padrão em quase todas as espaçonaves federativas.

Graham Frankeve, astrofísico e perito em espaço paralelo.

Mas Rahzell, oficial de telecomu-nicações e especialista em remissão codificada subespacial.

Lorac Reab, nutricionista e perito em hidroponia, responsável pelo isolamento do composto protéico hidroxissiriteína B.

Nibor Max, biólogo ambiental, célebre por pesquisas de campo nos Mundos Periféricos.

Mary Mogab, psicóloga especiali-zada em tensão claustrofóbica.

Jancis Joh, psicóloga cultural e antropóloga com considerável experiência em contatos com espécies alienígenas.

Tik Rednop, especialista em lingüística e um dos responsáveis pelo aperfeiçoamento de programas interpretativos para computadores multifuncionais.

Coral Dee, estrategista prática e analista de funções.

Art West, oficial das Forças Armadas e estrategista destacado do Centro de Treinamento de Ação Bélica da Força de Segurança Galáctica.

Em seguida, o diretor-geral descreveu o contato travado com a nave alienígena pelo Arko , e salientou a urgência de se investigar a origem daquele estranho objeto

voador. Não houve a mínima necessidade de se tecerem comentários sobre as dificuldades e riscos envolvidos em uma viagem aos desconhecidos confins do espaço exterior, pois todos os experientes espaçonautas ali presentes tinham plena consciência dos perigos que os aguardavam. Havendo explanado em linhas gerais o objetivo da missão, o diretor-geral passou a palavra ao oficial técnico responsável pela equipagem da tripulação, o qual procedeu imediatamente a uma rápida apresentação das diversas peças que comporiam o instrumental de bordo.

Apagaram-se as luzes da sala e o oficial técnico aproximou-se do painel de controle. Segundos após, enquanto surgia no centro do plenário a imagem holográfica tridimensional de uma espaçonave bélica Venturer em miniatura, o conferencista inicia-va. sua exposição sobre o porquê da escolha da nave e suas especificações técnicas. Embora as naus Venturer fossem obsoletas em muitos aspectos, suas incontestáveis robustez e durabilidade as tornavam elementos-chave nas linhas de frente militares. Evidentemente, deveriam ser efetua-das várias modificações técnicas para tornar o Venturer uma nave mais adequada para viagens hiperespaciais prolongadas; no entanto, sua estrutura básica se equiparava em eficiência a qualquer outra nau de construção. mais recente além de suas especifica-ções militares garantirem uma margem adicional de segurança.

A espaçonave bélica Venturer foi

escolhida para a missão. Após um período reservado à livre

troca de idéias entre os participantes da reunião, o grupo foi dissolvido para que se desse início ao treinamento específico de cada tripulante, atividade que consumiu vários dias. Posteriormente, todos foram conduzi-dos ao local de lançamento da espaçonave, que se encontrava em processo de readaptação instrumental. Os dias seguintes foram consumidos em uma interminável seqüência de sessões de

Page 9: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 9

O legendário Comandante Mor Mikiss, um dos mais experientes e respeitados oficiais estrategistas do Serviço de Segurança, foi escolhido por unanimidade para a chefia da equipe pioneira.

Page 10: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 10

Após várias semanas de treinamento intensivo, finalmente chegou o dia em que os módulos de traslado levariam a tripulação ao espaçoporto, de onde partiriam rumo à épica

expedição.

Page 11: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 11

treinamento e convivência, tão desgastante que, a seu final, toda a tripulação estava à beira da estafa e o projeto principiava a adquirir traços de irrealidade.

Finalmente, o Venturer foi liberado para os testes iniciais e a tripulação pôde realizar o primeiro de uma série de vôos experimentais rumo ao Perímetro Galáctico. Como já se previa, não foram poucos os obstáculos enfrentados. No entanto, todos os membros tornavam-se progressivamente mais familiarizados com sua função. Em um dado momento, porém, parecia se apoderar do grupo uma crescente sensação de impaciência.

As sessões de treinamento tornaram-se repetitivas e tediosas, enquanto se esperava a data definitiva para o início da viagem. Visto que, após o prolongado período de testes, o Venturer ainda necessitava passar por alguns retoques de última hora, e

dado que o programa de treinamento havia chegado ao seu término, concederam-se alguns dias de licença aos tripulantes, a fim de poderem descansar e se despedir de seus amigos e familiares antes de serem conduzidos à Estação Orbital.

Três semanas mais tarde, todos os membros do grupo foram convocados para comparecer ao Quartel-General do Departamento de Segurança. Nessa oportunidade, foram efetuados os últimos exames médicos e as formalidades de despedida com a equipe do centro de treinamento. O diretor-geral e outras altas patentes civis e militares da Federação já se encontravam na estação, quando os treze tripulantes do Venturer - homens e mulheres que, talvez, passassem o restante de suas vidas juntos - entraram no módulo de traslado que .os levaria à nave estacionada no costado do espaçoporto circular.

Os discursos foram breves e informais, isentos da publicidade que um acontecimento daquela grandeza normalmente poderia despertar. Minutos mais tarde, a tripulação embarcava na imensa nave carmesim, empenhando-se de imediato nas atividades preliminares de praxe. Assim que todos os relatórios técnicos foram recebidos pelo Comandante Mikiss, as unidades de propulsão foram colocadas em linha; nesse instante, o tradicional sinal luminoso de boa viagem era emitido da estação.

Escoltado, Pelas naves interceptadoras, o Venturer,

com as suas cores características, carmesim e

preto, partia para .o primeiro trecho de sua

longa jornada ao desconhecido.

Page 12: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 12

CAPÍTULO TRÊS O Primeiro Contato

Registro do diário de bordo: Ret. 1272. Imediações de Épsilon do Cão Maior. Oficial de bordo: Comandante-Oficial Mas Rahzell . Modo de propulsão: Primário. Condições de acionamento: A1. Condições do sistema: A1. Variações de somenos importância no gerador secundário. Potência de saída monitorada. Condições da equipe: Moral alto.

A transição para o modo de

propulsão hiperveloz quase não foi sentida pela tripulação do Venturer, que se preparava para o longo período de hibernação criogênica em plena arrancada rumo aos Mundos Periféricos - planetas que demarcavam as fronteiras do espaço federativo. Todos os membros da equipe permaneceriam congelados durante a primeira etapa da viagem, só despertando de seu sono hibernal quando ultrapassassem as regiões siderais já exploradas por sondas não-tripuladas, ou quando fossem reavivados pelos sistemas automá-ticos que conduziam a nave pelo caleidoscópico vácuo subespacial.

Semanas mais tarde - ou segundos, em termos de tempo corporal relativo - os mecanismos automáticos do Venturer identificaram a nave à última baliza espacial da Federação e registraram sua entrada em locais nunca dantes visitados pelo homem. No vácuo, o fantástico jogo de cores e luzes do hiperespaço brilhava em tremeluzente inquietude. Na nave, por outro lado, havia apenas o contrastante e o quase inaudível zunir dos monitores de bordo e dos instrumentos que guardavam vigília aos tripulantes, suspensos no tempo em suas cabines de hibernação. Nenhum dos membros da equipe sabia o quanto duraria aquela longa noite sem sonhos, nem tampouco o que poderia acontecer quando despertassem e se instalassem nas vazias e ressoantes salas de controle.

Na oportunidade em que o misterioso objeto voador alienígena havia desaparecido das vistas da tripulação do Arko, sua rota acusava como destino a constelação do Cão Maior. O Venturer encontrava-se a

caminho de Gama do Cão Maior, a estrela mais próxima, que se situava a 325 anos-luz da Terra, bem além das fronteiras federativas. Assim que a nave começou a se aproximar daquela alva estrela de hélio, acenderam-se as luzes dos desertos corredores e salas de controle, elevou-se a temperatura ambiente e os respiradouros começaram a introduzir ar nos compartimentos: o Venturer voltava à vida. À medida que seus corpos reagiam aos estímulos dos circuitos revitalizadores, os espaçonautas despertavam de seu profundo sono hibernal e começavam a se remexer em suas cabines.

A constelação do Cão Maior.

Momentos mais tarde, a tripulação se encontrava em plena atividade; enquanto uns se reuniam na sala de controle principal, outros verificavam as leituras do computador central, que já registrava e analisava os primeiros dados sobre o sistema solar que se avizinhava. Mor Mikiss e seus suboficiais de bordo procederam à transferência da nave para o espaço real; poucos segundos depois, o Venturer recuperava sua forma sólida e, imóvel, captava em suas telas a brilhante luminosidade de Gamado Cão Maior. Toda a equipe se mobilizou para efetuar os trabalhos rotineiros de programação dos sofisticados equipamentos de bordo, de modo a poderem conduzir uma primeira viagem de reconhecimento às imediações da estrela; contudo, logo se descobriu que não havia quaisquer planetas em órbita ao redor daquele sol solitário. Portanto, foi realizada uma reunião para que se decidisse a etapa seguinte da missão.

A estrela mais próxima do ponto onde se encontravam era Épsilon do Cão Maior, ou Adara, localizada a 470 anos-luz da Terra. A tripulação, havendo programado a rota do Venturer na direção desse astro e

decidindo-se pela desnecessidade de um novo período de hibernação, dada a relativa brevidade da viagem, suspendeu temporariamente suas atividades e tratou de ocupar da maneira mais agradável as semanas que se seguiram. Quase todos os integrantes do grupo dormiam quando os radares registraram a proximidade de uma estrela Bl supergigante. Enquanto todos se atropelavam na sala de controle, Mor Mikiss já realizava a transferência do Venturer para o espaço real. Embora a nave ainda estivesse a mais de 4 bilhões de quilômetros da estrela, a imagem do alvo e brilhante corpo celeste tomava por inteiro as telas do radar.

Os tripulantes, colocados a postos para o reconhecimento da área, puderam verificar que o Venturer já havia penetrado em um sistema planetário, encontrando-se dentro da órbita do quinto e último satélite de um dos astros que giravam ao redor de Adara.

Os três planetas centrais de Adara.

Deu-se início, então, à difícil tarefa de se analisar individualmente cada corpo celeste daquele sistema; logo se chegou à conclusão de que apenas um planeta apresentava condições mínimas para abrigar formas de vida. À medida que o Venturer se acercava lentamente do pequeno astro rodeado por seu séquito de cinco satélites, os radares analisavam sua massa, espectro e albedo e traçavam seu perfil estrutural. Foram identificadas de imediato pequenas concentrações urbanas e áreas de cultivo, embora as leituras em infravermelho não houvessem conseguido isolar nenhuma região que pudesse caracterizar a existência de uma tecnologia industrial, quanto menos espaçonáutica.

Page 13: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 13

Decidiu-se que Nibor Max, Jancis Joh e Tik Rednop fariam uma cautelosa tentativa de travar contato com os habitantes do planeta.

O Venturer se aproxima de Adara III.

Os três emissários passaram toda uma semana trocando informações com os habitantes humanóides do planeta, que ainda se encontravam em um estágio de desenvolvimento quase medieval. Os diversos mitos e lendas dessa sociedade agrária e humilde simplificaram em muito a tarefa analítica dos pesquisadores, que logo concluíram pela impossibilidade de a nave alienígena haver partido daquele lugar. No entanto, assim que se preparavam para voltar ao Venturer, aconteceu um funesto imprevisto: Jancis Joh não retomara de sua última expedição aos pequenos vilarejos existentes nos arrabaldes da cidade.

Seus dois companheiros rumaram imediatamente para o último local onde Joh fora vista, e descobriram que ela havia sido seqüestrada por membros de uma das misteriosas tribos do norte e levada por esses temíveis guerreiros em um carro a vela - veículo que se movia através dos cabos teleféricos espalhados por toda a superfície do planeta. A ingênua simplicidade do povo da cidade imbuíra os emissários de uma falsa sensação de segurança, a ponto de, indefesos, não mais portarem qualquer tipo de arma. Como se não bastasse, foi descoberto o sinalizador de localização da Dra. Joh nas proximidades da plataforma de embarque do teleférico, o que tornaria muito mais difícil os trabalhos de resgate.

Os métodos de investigação utilizados por um detetive pareciam ser a única solução possível para o descobrimento de seu paradeiro. A primeira pista foi dada pelos próprios aldeães; segundo eles, os atacantes procediam de uma sinistra cidade-castelo localizada em um dos brumosos lagos do extremo norte do planeta.

Nibor Max e Tik Rednop regressaram ao Venturer para discutir a situação com seus companheiros. Um ataque em massa ao forte estava totalmente fora de cogitação, pois tal medida colocaria em perigo a vida de Joh; assim, a única saída seria interceptar os seqüestradores antes de estes chegarem ao seu destino. Permanecendo na nave apenas o número indispensável de tripulantes; os demais se dividiram em equipes e, utilizando todos os módulos disponíveis do Venturer, partiram rumo à superfície do planeta. Lá chegando, as unidades de vôo procederam à investigação dos teleféricos que serviam as regiões setentrionais; em dado momento, uma das equipes identificou um barco a vela em um dos oceanos do planeta. A embarcação dirigia-se para os bancos de neblina dos mares polares, região em que, de acordo com os exames de reconhecimento realizados, inexistiam locais de pouso. A equipe, composta por Richard Pontine e Dor Hewett, manobrou o módulo de vôo até que este se encontrasse diretamente acima do barco, fora do alcance de visão de seus tripulantes. Naquele momento, o grande problema consistia em saber como resgatar a Dra. Joh sem colocar em risco sua vida. O módulo não estava equipado com as unidades de resistência à gravidade Berger, adaptadas às naves especialmente projetadas para freqüentes incursões atmosféricas. Assim, Pontine e Hewett podiam contar apenas com propulsores de empuxo convencionais para permane-cerem suspensos no espaço, com as reservas de combustível se esgotando rapidamente. Em um dado instante, sua atenção foi desviada para um gigantesco vulto escuro, que, logo abaixo da superfície do mar, se aproximava célere do barco de madeira.

Em questão de segundos, as duas massas colidiram, provocando a virada de querena da nau. De repente, elevou-se do mar uma gigantesca serpente marinha, cujas duas cabeças, ameaçadoras, projetaram-se por sobre o convés. O pânico parecia tomar conta de toda a tripulação: do módulo, os dois espaçonautas podiam distinguir minúsculas figuras lutando desesperadamente para fugir do alcance da imensa criatura, enquanto

outras se precipitavam no mar. Nisso, a serpente principiou a desferir terríveis golpes contra o frágil casco do navio.

Pontine e Hewett, temendo que Jancis Joh também estivesse a bordo do barco, partiram velozmente para o local onde o temível e horrendo monstro estava destruindo tudo. Lá chegando, puseram-se a procurar alucinadamente por sua companheira em meio ao caótico pandemônio em que se transformara o convés da soçobrante embarcação. Finalmente, conseguiram localizá-la no mar, onde, nadando com todas as suas forças, procurava fugir do diabólico espetáculo; entrementes, seus seqüestradores lutavam para salvar o barco e afugentar a serpente com lanças e flechas. Enquanto Pontine pilotava o módulo em direção ao mar, Hewett esmiuçava o almoxarifado em busca de apetrechos de salvamento, já que lhes seria impossível pousar a nave na água. Foi encontrado, em um dos compartimentos desse depósito, um pequeno módulo para vôos rasantes, que Hewett arrastou até uma das comportas de saída. Embora essa minúscula nave se destinasse apenas a operações em terra, sua cabine, hermeticamente fechada, possuía tanques de oxigênio e uma unidade de empuxo atmosférico por ondas.

Aos berros, Hewett deu algumas instruções a Pontine pelo interfone de bordo e, assim que acomporta se abriu, fez um último esforço para jogar no oceano o pequeno módulo, que afundou para logo assomar à superfície. A Dra. Joh nadou incontinenti para o objeto flutuante, ao passo que a nave se afastava para livrar a área de detritos de empuxo. Tão logo ela conseguiu subir no módulo, sua primeira atitude foi entrar em contato radiofônico com seus companheiros, que decidiram se dirigir para a costa, onde todos se encontrariam mais tarde.

Os outros emissários regressaram minutos mais tarde; após darem as boas-vindas à Dra. Joh, todos se reuniram para discutir o andamento da missão na sala de controle central. Adara III certamente não era o lugar de origem da nave alienígena; portanto, fazia-se necessário decidir qual a próxima região sideral a ser investigada.

Page 14: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 14

Os três emissários do Venturer partiram céleres para travar o primeiro contato com a atrasada civilização de Adara III.

Page 15: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 15

Quando se encontrava em viagem de estudos a um vilarejo, a Dra. Jancis Joh foi capturada por membros de uma das ferozes tribos guerreiras do norte, sendo levada para longe de seus companheiros através dos fantásticos teleféricos que

cruzavam a superfície do planeta.

Page 16: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 16

Elevando-se sobre as rasas e brumosas águas do mar do Norte, achava-se o forte dos sinistros guerreiros que costumavam atacar as comunidades agrícolas do interior do planeta.

Page 17: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 17

Durante o rastreamento do barco que conduzia a Dra. Joh, uma horrenda criatura irrompeu do mar e se elevou, ameaçadora, sobre a frágil embarcação.

Page 18: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 18

Haveria tempo de sobra para repouso, já que logo todos partiriam para uma nova e longa viagem. Os radares de longo alcance registraram a existência de uma diminuta estrela G5 a 130 anos-luz do local onde a nave se encontrava. Chegou-se à conclusão de que o Venturer deveria

ser imediatamente programado para tal destino.

A considerável quantidade de dados acumulada no decorrer da breve estadia do Venturer em Gama do Cão Maior deixaria a tripulação ocupada durante toda a etapa seguinte da missão. Enquanto isso, a pequena

estrela amarela tornava-se cada vez maior nas telas do radar, até o momento em que o sinal de proximidade deu o alerta ao comandante, indicando a necessidade de nova transferência em direção ao espaço real.

Com suas reservas de combustível quase esgotadas, o módulo alçou vôo à potência máxima, levando consigo, sãos e salvos, todos os seus tripulantes.

Page 19: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 19

CAPÍTULO QUATRO O Planeta da Morte

Registro do diário de bordo: Ref. 1403. Proximidade de estrela não identificada, código VenX. Oficial de bordo: Oficial-Biólogo Nibor Max. Modo de propulsão: Velocidade total paralela. Condições de acionamento: A1. Condições do sistema: A2. Oscilação no gerador secundário. Mecanismo de alimentação de potência substituído. Condições da equipe: Moral alto.

Tão logo o Venturer se transferiu

para o espaço real, os radares e coletores de dados principiaram a acumular informações sobre a estrela G5 e seu minúsculo sistema solar. Havia uma imensa quantidade de corpos celestes que descreviam órbita ao redor do pequeno sol, embora apenas dois pudessem ser classi-ficados como planetas. Os demais eram asteróides dos mais variados tamanhos, ainda que um dos planetas não passasse de uma esfera rochosa pouco maior que o satélite da Terra. O outro planeta, todavia, parecia habitável; sua atmosfera era rica em oxigênio e seu campo gravitacional apresentava uma força ligeiramente superior à da Terra. Possuía uma superfície líquida proporcional à sólida e acusava uma variação de temperatura que, embora bastante baixa, mantinha-se dentro dos níveis de tolerância humana. Após porme-norizado estudo do espaço local, o Venturer deslocou-se para a posição de órbita estática alta e iniciou os trabalhos de investigação da super-fície. Logo. tomou-se patente a existência de imensas estruturas artificiais espalhadas pela quase totalidade da área sólida do planeta, coberta de descampados e vegetação rala. Embora a maior parte desses complexos estruturais sugerisse a presença de atividades industriais, os mapas em infravermelho indicativos de geração de calor não acusaram quaisquer concentrações de energia ergométrica. Não obstante, o feio planeta parecia envolto por uma aura de mistério, levando o Comandante Mikiss a conduzir cautelosamente a nave para uma vistoria geral de seu

aspecto antes de proceder a uma abordagem mais minuciosa.

Alguns segundos mais tarde, o oficial de telecomunicações captou débeis sinais provenientes de uma região próxima ao círculo de iluminação do planeta, a um nível orbital ligeiramente mais baixo que o do Venturer. A tripulação colocou-se em posição de alerta, ao mesmo tempo que se projetavam ondas de luz sensoriais entre a superfície e a ionosfera. A intervalos regulares, as pulsações de luz de alta freqüência cruzavam a ionosfera . até serem interceptadas por um feixe luminoso receptor em uma cortina de pontos de luz ao redor da curva orbital. Uma interrupção ocorrida nesse padrão indicou a presença de um objeto metálico localizado pouco abaixo do nível do feixe de luz receptor; Art West, o oficial de armamentos, programou no computador o acionamento das telas de absorção de energia e os sistemas de controle de armas. Segundos após, reluziu nos visores a imagem de uma nave alienígena, levando o oficial de bordo a ordenar a parada do Venturer. Passaram-se vários minutos sem que se observasse qualquer reação daquele objeto voador à presença dos exploradores; assim, foi enviado um sinal de multifreqüência à silenciosa espaçonave, embora tal medida não surtisse qualquer efeito. Depois de se haver tentado emitir, também sem êxito, sinais de raio laser, o Venturer transferiu-se para uma órbita paralela e principiou a se aproximar do costado da estranha espaçonave. Logo tomou-se patente que aquele objeto estivera à deriva no espaço por muito tempo, encontrando-se em processo de gradativa descida em espiral rumo à superfície do planeta. Suas paredes laterais, além de esburacadas, acusavam diversas e minúsculas marcas indicativas de colisões com partículas menos contundentes. A inexistência de vida em seu interior era confirmada por um rombo perto de sua comporta principal, onde diversos fragmentos flutuavam no vácuo. De qualquer modo, essa sentinela espacial errante só serviu para aumentar a tensão que principiava a se apoderar do Venturer, que alterou seu curso de modo a proceder a uma investigação mais atenta do planeta. Muito embora aquele objeto fosse fruto de uma

tecnologia bastante avançada, não se detectaram quaisquer sinais de vida durante a aproximação do Venturer das nebulosas camadas atmosféricas do planeta. Foram formadas duas equipes de emissários, todos vestidos com macacões anti-radiação, devido às áreas de alta periculosidade radioativa identificadas na superfície daquele astro. Os grupos de exploração se dividiram, embarcaram em dois módulos e partiram da plataforma de lançamento adotando a técnica de cobertura de vôo.

Havendo sido escolhido como local de pouso um determinado complexo industrial, um dos módulos procurava descer ao nível do solo enquanto o outro sobrevoava a área cobrindo sua posição; todavia, logo ficou claro que tais precauções eram desnecessárias. Os radares registravam, em todas as direções, imagens de devastação e ruína. Após verificarem as condições ambientais do local e concluírem quê os níveis de radiação, embora altos, encontravam-se dentro dos limites de tolerância garantidos pelos trajes de proteção, três elementos da equipe desceram de sua nave e pisaram no arenoso e estéril solo do planeta, caminhando entre destroços até um monotrilho carcomido e enferrujado que jazia logo adiante. O absoluto e enervante silêncio que reinava no lugar era insuportável; após uma ligeira inspeção do veículo abandonado, todos retomaram ao módulo visivelmente aliviados. Inspeções posteriores confirmaram as suspeitas de que toda aquela região estava há muito abandonada; assim, decidiu-se que o passo seguinte seria investigar uma das áreas de radioatividade vizinhas. Quanto mais se aproximavam do foco de radiação, mais carcomidos e escassos se tornavam os destroços e mais duro e liso se apresentasa o solo, a ponto de adquirir um aspecto quase vítreo. Finalmente, uma imensa cratera acabou por ratificar outra suspeita dos emissários: aquele complexo industrial fora destruído por uma violenta catástrofe nuclear. As demais expedições a outras partes daquele mundo em ruínas comprovaram que ele sofrera um holocausto, provavelmente provocado por forças externas. A tragédia havia se abatido sobre toda a extensão do planeta, tornando-o completamente estéril.

Page 20: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 20

Esta nave abandonada, em perpétua órbita, foi o primeiro indício do estado em que se encontrava o triste planeta.

Page 21: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 21

Explorando os destroços, a equipe de reconhecimento pôde imaginar a terrível tragédia que se abatera sobre o planeta. Por todos os lados observavam.se as desertas ruínas de uma avançada tecnologia.

Page 22: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 22

Apesar da milagrosa sobrevivência de formas rudimentares de vegetação, a possibilidade de se encontrar qualquer espécie de vida inteligente foi considerada nula. Naquele momento, a grande dúvida consistia em saber se o planeta em ruínas poderia ter sido o lugar de origem dos insidiosos visitantes alienígenas. Em caso de resposta afirmativa, era bastante improvável que tais criaturas constituíssem uma ameaça, na medida em que representariam apenas perplexos fugitivos de uma secular e colossal guerra nuclear. Contudo, o fato de o objeto voador alienígena não apresentar quaisquer sinais de desgaste condizente com sua idade contrariava frontalmente tal hipótese. Ademais, tudo levava a crer que o inclemente holocausto que se abatera sobre o planeta inspecionado fora absoluto e fulminante, embora a maior parte dos conflitos interplane-

tários, não importa quão intensos ou catastróficos, geralmente poupasse alguns sobreviventes.

O agressor devia ser proveniente de algum outro ponto do espaço, podendo, inclusive, ser a espécie que construiu a nave alienígena identificada nas imediações dos Mundos Periféricos. Se essa conjetura se provasse correta, a missão do Venturer se revestiria de importância ainda maior para o futuro tanto da Federação Galáctica como também de seus planetas membros. Concluiu-se, então, que o povo responsável pelo aniquilamento do planeta provável-mente habitava um mundo localizado naquela mesma região da galáxia, a menos que a destruição tivesse sido causada por um ataque fortuito. Assim, a tripulação do Venturer pôs-se a deliberar sobre a rota a seguir. A estrela mais próxima do planeta da morte era Delta do CãoMaior, tam-

bém denominada Wezen, situada a mais de 500 anos-luz de distância. Determinado o curso, a tripulação acomodou-se, a contragosto, nas cabines de hibernação, preparando-se para enfrentar o mais longo trecho de sua viagem.

Um fragmento da civilização

desaparecida encontrado pela tripulação.

O imenso e compacto edifício representado nesta ilustração era uma das poucas estruturas que ainda se encontravam relativamente intactas. Parte de um enorme complexo industrial, sua construção monolítica fora incapaz de abrigar

quaisquer sobreviventes da terrível catástrofe.

Page 23: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 23

CAPÍTULO CINCO A Rainha Guerreira

Registro do diário de bordo: Ref. 1843. Proximidade de estrela não-identificada, código VenX2. Oficial de bordo: Oficial de armamentos Art West. Modo de propulsão: Velocidade paralela. Condições de acionamento: A1. Condições do sistema: A1. Condições da equipe: Sete passageiros adicionais.

Os dias transcorriam na monotonia

de uma longa viagem através do universo paralelo do hiperespaço. Quando a meta da expedição, a estrela Delta do Cão Maior, já se encontrava relativamente próxima, os mecanismos de identificação de longo alcance detectaram a presença de uma imensa massa nebulosa de minúsculas partículas de poeira e fragmentos de matéria. Os equipamentos sensoriais passaram então a coletar dados sobre aquela vasta névoa interestelar, sondando e analisando suas caracte-rísticas; em um dado momento, os computadores determinaram que tal formação cósmica escondia sob seu manto uma misteriosa estrela.

Embora Delta do Cão Maior ainda estivesse a cerca de 180 anos-luz de distância, o Sistema de Coleta de Dados Intuitivo de Dor Hewett decidiu despertar a tripulação imediatamente. Assim que todos os membros da equipe se reuniram na sala de controle central, o Venturer foi transferido do subespaço, permanecendo imóvel no vácuo e acusando em suas telas a imagem do pequeno sol. O grupo iniciou prontamente os trabalhos de inspeção rotineiros, chegando à conclusão de que aquele sistema solar possuía apenas dois planetas, dos quais um oferecia condições para o desenvolvi-mento de formas de vida. Pouco tempo depois, descobriu-se que o planeta era habitado, apresentando grande número de núcleos urbanos e áreas industriais; todavia, não se obteve qualquer indício sobre a existência de uma tecnologia espacial avançada. Parecia bastante improvável que aquele fosse o lugar procurado, mas, mesmo assim, a tripulação decidiu investigar mais atentamente a região, de modo a não

deixar margem a dúvidas. Havendo escolhido como local de inspeção um dos centros industriais de maior porte, uma equipe de reconhecimento desceu à superfície do planeta em um módnlo de vôo. Lá chegando, todos permaneceram a bordo, aguardando as primeiras reações do povo nativo.

Nas imediações do local de pouso, podiam se divisar ferragens retorcidas de um aparelho bastame semelhante a uma espaçonave de consideráveis dimensões.

Depois de três monótonas horas de espera, Nibor Max decidiu se aventurar. Sob o vigilante olhar de seus companheiros, caminhou até os destroços, quase tropeçando em um estranho esqueleto semi-enterrado no arenoso solo local. Observando que junto aos ossos havia um objeto parecido com uma clava, abaixou-se para apanhá-lo. Subitamente, enquanto examinava aquela arma primitiva, um bando de seres montados sobre estranhas criaturas eqüinas irrompeu a galope por trás dos destroços, emitindo estridentes e horripilantes ruídos. Max, valendo-se de seu interfone, deu rápidas instruções aos tripulantes do módulo, que prontamente acionaram os raios aceleradores de partículas, transfor-mando em gás o espaço que se interpunha entre seu companheiro e os agressores. Estes, assustados, deram meia-volta e se retiraram.

Max voltou correndo ao módulo, cujas portas se fecharam atrás de si. Ansiosa por presenciar o que ocorreria em seguida, a equipe decidiu, por votação, permanecer no planeta. A curiosidade foi logo satisfeita pela ressabiada chegada de outro grupo de criaturas humanóides, desta vez acompanhadas por uma estranha charrete que, puxada por uma espécie de tigre, parecia coriduzir um líder. Os cavaleiros formaram duas filas, uma de cada lado do coche, desceram de suas montarias e depuseram suas armas no chão. Tudo levava a crer que os nativos agora desejavam um contato amigável; assim, dois elementos da tripulação saíram da nave, com as mãos estendidas em sinal de amizade. Após prolongado entreato de gestos e mímicas, um dos guerreiros condescendeu, hesitante, em ser ligado aos terminais do equipamento lingüístico de Tik Rednop; em menos de uma hora, conseguiu-se

estabelecer um vocabulário básico de intercomunicação. Soube-se então que os cavaleiros da patrulha, testemunhas da exibição de força dos emissários da Federação, haviam retornado a sua base e comunicado a ocorrência. Seu relatório incitou a "rainha" – a mulher da charrete - a vir pessoalmente solicitar a ajuda dos misteriosos visitantes em uma guerra que estava sendo travada com uma nação vizinha. Segundo ela, o tráfego aéreo era bastante intenso em seu planeta, embora nenhuma nave pudesse se comparar em velocidade, ou em potencial bélico, ao objeto voador dos visitantes.

Em represália à relutância dos "homens do céu" em se envolverem no conflito, a rainha se recusava a responder às perguntas formuladas pela tripulação; cada vez mais impaciente, comportava-se como se estivesse imaginando um meio de tomar de assalto a tão cobiçada nave. Após discutirem a situação com Mor Mikiss, que se encontrava no Venturer, os tripulantes do módulo decidiram tomar a única atitude possível naquele momento: enquanto Art West neutralizava a guarda com sua pistola de raios entorpecedores, os demais capturavam a rainha e levaram-na para o módulo, que, minutos mais. tarde; partia em direção ao Venturer.

A medida provocou o efeito desejado: a aterrorizante experiência de ver seu planeta diminuir de tamanho e de se encontrar ela própria. em pleno espaço sideral levou a rainha a desistir de suas primeiras intenções e a se colocar à disposição dos tripulantes do Venturer para ajuda-los como pudesse. Assim, os tripulantes passaram a interrogá-la cautelosamente :-embora com certa dose de insistência -, para obter informações que o auxiliassem na procura da nave alienígena. Logo surgiram as primeiras pistas. A rainha confessou ser de seu conhecimento que espaçonaves dotadas de estranhos e temíveis poderes haviam chegado de muito longe e descido em seu planeta. Sentada junto a uma das imensas janelas panorâmicas do Venturer e presenciando a imagem de seu mundo sendo engolido pela escuridão do cosmos, a soberana despejava informações no aparelho de tradução a uma velocidade cada vez maior.

Page 24: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 24

A ingênua excursão de Nibor Max em território nativo por pouco não terminou em tragédia, visto que um bando de guerreiros do misterioso planeta irrompeu em súbito ataque.

Page 25: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 25

Atraída pelo potencial militar do módulo, a impetuosa rainha de uma nação em guerra só se disporia a prestar informações em troca de auxílio. Uma viagem forçada até o espaço orbital fê-la mudar de idéia e

fornecer a seus captores uma importante pista.

Page 26: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 26

A história que contava surtia estranho efeito sobre o grupo reunido ao seu redor, tornando-o pensativo e preocupado.

As espaçonaves haviam surgido em meio a uma feérica explosão de calor e chamas, cerca de dez meses antes (treze meses terráqueos), ocasião em que ofereceram auxílio e armas à. rainha, cujo povo encontrava-se em guerra com um país vizinho. Quando o conflito estava em seu apogeu, os visitantes partiram, deixando no planeta um de seus companheiros, que passaria a ser o mentor bélico da nação. Era esse indivíduo quem, naquele exato momento, ocupava o cargo de chefe do Conselho de Guerra e dirigia as estratégias marciais dos quartéis-generais militares. Em troca do auxílio, a rainha concordara em ermitir a posse, pelos visitantes, das terras pertencentes ao povo adversário, embora não pudesse compreender o que os alienígenas desejariam fazer em seu planeta, uma vez que a guerra já tivesse terminado. Posteriormente, com a chegada do módulo do Venturer, os visitantes da Federação foram tomados por novos emissários daquela poderosa civilização.

Explicou-se à rainha que todos estavam muito desejosos de conhecer o indivíduo que dirigia as operações de guerra de sua nação; assim, uma brigada de combate acompanhou-a

até módulo que os levaria de volta à superfície do planeta. Minutos após o pouso, dois guerreiros surgiram no horizonte, para logo desaparecerem, dirigindo-se para o núcleo urbano de onde provinham. Quando a brigada se preparava para escoltar a rainha até o quartel-general, uma nuvem de poeira ao longe alertou a tripulação para a vinda de um destacamento militar de grande porte; preocupados com as intenções daquele grupo de recepção, todos decidiram permanecer no interior do módulo. Os guerreiros, havendo vencido o último declive que os separava da nave federativa, estacaram. À medida que o pó levantado por sua cavalgada assen-tava; abriam caminho para dar passagem a uma pequena criatura que pilotava uma espécie de veículo flutuante. O estranho ser aproximou-se lentamente do módulo, detendo-se a uns 50 metros de sua comporta de acesso.Descendo de sua viatura, ali permaneceu com as mãos apoiadas contra as têmporas de sua descomunal cabeça, olhando fixamente o objeto voador.

Decorreram alguns minutos, de total silêncio e imobilidade; súbita-mente, a rainha indicou com grande alvoroço a bizarra criatura, dando a entender que aquele era o ser a quem aludira. Sua voz quebrara o encanta-mento que parecia ter tomado conta de tudo e de todos. A tripulação abriu

a comporta de acesso e desceu do módulo juntamente com a rainha; no entanto, tão logo o grupo pisou em terra firme, o ser alienígena, estampando no rosto um esgar de agonia, ajoelhou-se bruscamente, ainda mantendo as mãos comprimidas contra a cabeça. A criatura permaneceu imóvel durante um longo período; em um dado momento, todos os que o rodeavam começaram a se agitar, tornando-se apreensivos e inquietos. Os tripulantes do módulo acercaram-se, perplexos, da figura ajoelhada, embora não conseguissem fazer com que a criatura esboçasse qualquer reação à sua proxlmidade, tal o estado de transe em que parecia se encontrar.

Por outro lado, os habitantes nativos fitavam o céu como se esperassem algo vindo do infinito. De repente, começou a se avolumar sobre a linha do horizonte o sombrio contorno de uma imensa nave abobadada, de onde saíram quatro jatos que, a toda a velocidade, rumavam para o ponto de encontro. Nesse ínterim, a criatura levantou-se e pôs-se a fitar com indiferença a tripulação do módulo. Enquanto a gigantesca nave permanecia suspensa no espaço, os jatos pousavam em meio a uma cortina de poeira, deles desembarcando vários seres semelhantes ao líder bélico da nação.

Embora os habitantes desse planeta isolado não possuíssem uma tecnologia avançada, seu arsenal bélico era desenvolvido o bastante para provocar destruição em grande escala, como se podia constatar nas frentes de batalha.

Page 27: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 27

De repente, a criatura alienígena ajoelhou.se e, com as mãos comprimidas contra as têmporas de sua descomunal cabeça, entrou em transe telepático. Logo após, surgia no horizonte um enorme objeto voador, do qual saíram

quatro turbonaves rumo ao módulo do Venturer. Fora feito o primeiro contato com os falitas.

Page 28: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 28

Aproximando-se dos emissários, uma das criaturas alienígenas lhes exibiu um dispositivo lingüístico de formato côncavo. Jancis Joh, a antropóloga, começou então a entabular um diálogo com as criaturas; ao lhes perguntar quem eram, um dos seres deteve-se diante de outro aparelho e proferiu algumas palavras. Com voz neutra e cavernosa, explicou que eram falitas, os novos donos daquele planeta; em seguida, perguntou quem eram os tripulantes do Venturer. A equipe fe-

derativa apresentou o motivo de sua presença naquele lugar e convidou os falitas a visitarem sua nave. Como estes concordaram imediatamente com a proposta, comunicou-se o fato ao Venturer, e todos partiram para o encontro. Lá, após longa troca de idéias, os falitas fizeram questão de escoltar o Venturer até seu mundo nativo, no sistema estelar de Delta do Cão Maior. Além de os alienígenas darem a entender que a tripulação federativa não tinha outra escolha, parecia não haver motivos para recu-

sar tal oportunidade, já que o objetivo da missão era localizar e coletar dados sobre o planeta de origem dos visitantes de além-espaço.

Quando as duas naves iniciaram a viagem para a longínqua estrela, permaneceram no Venturer alguns falitas, que, todavia, se recusaram a emitir quaisquer informações durante todo o trajeto. Duas semanas mais tarde, os computadores transferiram o Venturer para o espaço real, deixando-o no vácuo ante a amarelada luminosidade de Wezen.

O aparelho de tradução utilizado pelos alienígenas

Page 29: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 29

CAPÍTULO SEIS O ImpérioFalita

Registro do diário de bordo: Ref. 2215. Imediações de Wezen. Oficial de bordo: Oficial espaçonáutico Richard Pontine. Modo de propulsão: Sem registro. Condições de acionamento: Sem registro. Condições do sistema: Sem registro. Condições da equipe: Moral regular. Toda a tripulação transferida do Venturer. Fim do diário de bordo.

Tão logo as naves chegaram ao

sistema solar de Wezen, os alienígenas, que até aquele momento haviam sido confinados à sala de controle central, apesar de toda a sua curiosidade em conhecer o restante do Venturer, aproximaram-se do painel de navegação e analisaram o mapa sideral reproduzido na tela de comando. Passados alguns minutos, indicaram um dos planetas de maior porte representados no mapa e asseguraram ser aquele o lugar onde a nave deveria entrar em órbita. À medida que se aproximavam do volumoso planeta, tomava-se cada vez mais evidente o avançado grau tecnológico de seu povo, visto o ininterrupto fluxo de naves que entravam e saíam de sua atmosfera. Aos olhos da tripulação do Venturer, era como se estivessem chegando ao coração de um movimentado centro mercantil interplanetário, talvez tão grande quanto o da própria Federação, e perfeitamente capaz de estender seu raio de influência até a região periférica desta.

No instante em que os computadores do Venturer se empenhavam freneticamente na difícil tarefa de calcular as rotas das diversas naves que deixavam o planeta, de modo a determinar seus destinos, os falitas manifestaram sua intenção de pousar o Venturer na superfície do seu mundo. A tripulação protestou, indesejosa de ver sua nave em um ambiente desconhecido; como desculpa, alegou-se a impossibilidade de. uma nave tão grande como aquela pousar sob aquelas condições gravitacionais.

Surpreendentemente, um dos falitas dirigiu-se incontinenti ao painel de controle do sistema de resistência gravitacional Berger e apontou-o.

Mor Mikiss encolheu os ombros, dando-se por vencido, e a tripulação colocou-se a postos para a entrada na atmosfera, sentindo-se cada vez mais inquieta à medida que os vastos complexos industriais espalhados pela superfície do planeta começavam a se projetar em toda a sua magnitude nas telas do radar.

Lá chegando, uma série de pequenos veículos flutuantes conduziu toda a tripulação até um terminal de tubos expressos, de onde partiram a grande velocidade até um imenso e imponente edifício localizado no coração da maior metrópole do planeta. Ali, foram transferidos para um amplo recinto, provavelmente um centro de operações, cujas paredes encontra-vam-se repletas de gráficos e mapas estelares. Sentados ao longo de uma plataforma suspensa estavam vinte falitas, cuja aparência e comporta-mento indicavam sua importância como figuras públicas. O grupo do Venturer foi então convidado a se acomodar em poltronas individuais, todas equipadas com dispositivos de tradução. Subitamente, surgiu do nada um tremeluzente campo de força, aprisionando a tripulação em um casulo energético, do qual era impossível qualquer tentativa de fuga.

Teve início, então, um longo e exaustivo interrogatório, em que os emissários federativos viram-se instados a responder sobre a procedência do Venturer, o objetivo de sua viagem e se havia outras naves a caminho. Eles confessaram apenas sua condição de representantes de uma grande associação de planetas e raças, que haviam cruzado sozinhos a imensidão do espaço intergaláctico à procura do lugar de origem de uma estranha nave surgida na região periférica de sua Federação. Disseram ainda que sua rota estava sob o controle da base e que muitas naves, federativas encontravam-se de pronti-

dão para agir em qualquer emergência. Em troca, começaram a interpelar os falitas a respeito da identidade da nave invasora e de seus objetivos ao se empenhar, sozinha, em tão longa viagem; contudo, não conseguiram qualquer resposta de seus interrogadores.

Os falitas pareciam indecisos quanto à maneira como deveriam tratar a tripulação do Venturer, pondo-se a debater o assunto entre si. Finalmente, chegaram a uma conclusão. O campo de força desapareceu repentinamente, com a equipe da Federação sendo transferida para outra sala, aparelhada com sofás e murais holográficos, onde receberam instruções para ali permanecerem. A porta cerrada e a total ausência de controles internos dentro do recinto eram nítidos indícios de que não havia qualquer possibilidade de uma fuga bem-sucedida. Assim, o grupo se reuniu e pôs-se a analisar sua delicada situação.

O fato de os falitas estarem empenhados em algum tipo de atividade militar, era ponto pacífico. Todos os alienígenas portavam armas e vestiam trajes padronizados, cujas variações pareciam designar diferentes cargos hierárquicos. Ademais, ficou bastante claro que grande parcela das naves observadas não possuía fins comerciais; por outro lado, os objetos voadores semelhantes a espaçonaves cargueiras se deslocavam em grupos, indicando que um considerável volume de provisões ou equipamentos estava sendo transportado. Tais constatações, juntamente com as impressões colhidas sobre a cidade durante a viagem através daquele complexo industrial de baixa densidade demográfica, levaram os tripulantes a concluir que foram feitos prisioneiros de um povo envolvido em uma guerra de grandes proporções.

Um interceptador falita, parte de seu impressionante arsenal de guerra.

Page 30: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 30

A primeira imagem do mundo falita captada pela tripulação não deixava margem a dúvidas: eles eram, contra sua vontade, hóspedes de uma civilização tão avançada quanto a própria Federação Galáctica.

Page 31: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 31

Das inúmeras naves em ação observadas nas imediações do planeta, a grande maioria se destinava a fins estritamente militares. Logo ficou claro que a tripulação do Venturer estava nas mãos de um mundo em guerra.

Page 32: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 32

Uma turbonave cruzou velozmente a metrópole falita para levar a equipe federativa ao sinistro quartel-general de seus captores. Todos tinham a impressão de que haviam deixado o Venturer para nunca mais vê-lo.

Page 33: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 33

Os falitas, tendo-se mostrado indiferentes às perguntas da equipe federativa sobre a nave invasora, não acusando a mínima curiosidade pelo fato, praticamente confirmaram a suspeita de que aquele objeto voador efetivamente provinha de seu planeta. Portanto, os reais objetivos daquela nave teriam que ser descobertos sem demora; se sua finalidade fosse contrária aos interesses da Federação, a Força de Segurança Galáctica. deveria ser informada o mais cedo possível. De qualquer modo, o conhecimento da existência dos falitas pelas bases federativas era questão de vital importância, embora a transmissão dessa notícia fosse tarefa das mais difíceis. Os movimentos da tripulação estavam sendo estreitamente vigiados, e sua nave estava nas mãos de seus captores; assim, tudo o que lhes restava fazer era dar tempo ao tempo e esperar pelo surgimento de uma boa oportunidade de fuga, pois, ao que parecia, os falitas mostravam-se relutantes em executá-los.

Após várias horas de espera, a porta da prisão abriu-se e um grupo de nativos adentrou o recinto, fazendo-lhes sinal para acompanhá-los pelos luzidios corredores do edifício. Atravessando uma comporta, viram-se numa pequena plataforma próxima a uma turbonave. Depois de subirem a bordo, foram presos com cintos de segurança em uma fila dupla de assentos, juntamente com suas escoltas. Acionados os motores; a nave partiu a toda a velocidade rumo aos arredores da cidade. Passado algum tempo, a imagem da periferia urbana deu lugar a uma paisagem de luxuriante vegetação, logo interrom-pida pela visão de um imenso espaçoporto.

Minutos mais tarde, a turbonave desceu rapidamente em direção a uma das plataformas de pouso e, com um solavanco, quedou-se imóvel. Os falitas ordenaram aos tripulantes que saíssem da nave e os acompanhassem até um enorme objeto voador prateado suspenso no ar, de cuja fuselagem surgiu uma rampa rolante

de acesso. Depois de subirem na esteira e serem transportados para o interior da nave, todos foram conduzidos para uma espaçosa cabine equipada com poltronas neutraliza-doras de choque, onde receberam instruções para se acomodarem e apertarem os cintos de segurança. Logo após, a tripulação viu-se violentamente arremetida contra as almofadas amortecedoras, enquanto a possante nave estremecia e alçava vôo. Naquele instante, o Venturer encontrava-se mais inacessível do que nunca, o que provocou em seus desgarrados tripulantes a súbita sensação de que jamais o veriam novamente. O único consolo era saber que os falitas dificilmente se dariam a tanto trabalho só para matá-los. Na pior das hipóteses, poderiam tentar descobrir para onde estavam sendo levados, e por quê.

Page 34: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 34

CAPÍTULO SETE

A Situacão se Inverte

Registro no diário de bordo: Registro 4. Imediações de Xi Puppis. Oficial de bordo: Comandante Mor Mikiss. Condições da equipe: Regulares. Moral variável. Estágio da missão: Objetivo alcançado. Situação, perigosa, mas sob controle no momento.

Depois de passar uma hora na

cabine, os prisioneiros receberam permissão para entrar em um dos setores vivenciais secundários, a fim de poderem esticar suas pernas. Richard Pontine, o oficial de navegação, aproximou-se de um dos visores e fitou a estranha imagem reproduzida na tela. Tanto quanto lhe era dado conhecer, a nave se dirigia para a estrela Xi Puppis, também conhecida como Azmidiske, situada a 1100 anos-luz da Terra. Enquanto contemplavam o espaço, a paisagem começou a tremeluzir e a se dissolver nas velhas e conhecidas cores mutantes do hiperespaço. Isto significava que os falitas eram capazes de acionar a transferência com a nave em movimento, ao passo que as naus federativas eram obrigadas a parar antes de adentrar o espaço/tempo paralelo.

Segundo os cálculos da tripulação, haviam transcorrido três dias de viagem quando a nave adotou o modo de .propulsão normal e principiou a descrever órbitas baixas ao redor de um sombrio e lúgubre planeta. Assim que puderam vê-lo mais de perto, observaram que sua superfície, marcada por crateras e fendas, apresentava trechos sendo destruídos por um grande número .de incêndios. Sem sombra de dúvida, estavam presenciando o desenlace de um devastador ataque bélico, semelhante ao que se abatera sobre o mundo em ruínas encontrado na primeira etapa da viagem do Venturer. Logo abaixo, podiam se divisar naves falitas cruzando a atmosfera; nas imediações do círculo de iluminação, clarões e cogumelos nucleares indicavam que a batalha ainda não havia terminado, e que os falitas eram os agressores nesse terrível conflito interplanetário.

Momentos mais tarde, a nave pairou sobre as ruínas de uma cidade

destruída pela guerra. Uma pequena turbonave encouraçada atravessou velozmente a cortina de fumaça e neblina que emanava dos destroços e dirigiu-se para a nau prateada; logo.ouviu-se o ruído de sua entrada em uma das comportas da parte inferior do veículo. Segundos depois, a nave deslocou-se para as camadas limítrofes da atmosfera e penetrou novamente na escuridão do infinito. A essa altura, Mor Mikiss e sua equipe já podiam definitivamente se considerar prisioneiros, e não hóspedes, dos temíveis falitas. Tudo o que haviam observado até aquele momento demonstrava que o povo de Wezen defendia uma política de expansão por meio de conquistas militares, estando preparado para destruir literalmente todo e qualquer planeta que contrariasse suas intepções. Se o visitante alienígena identificado nos Mundos Periféricos realmente pertencesse à esquadra falita, era bastante provável que seus estrategistas passassem a considerar a Federação como um adversário em potencial, decidindo atacá-la antes que pudessem ser tomadas medidas defensivas. A notícia da. existência dessa perigosa civilização deveria ser levada a qualquer custo ao conhecimento do Conselho de Segurança. O Venturer estava bem longe, no coração do Império Falita. A única saída de sua tripulação era capturar outra nave capaz de realizar a viagem de regresso.

Enquanto a equipe analisava essa desesperada linha de ação, as telas escureceram, devido a uma nova transferência para o espaço real, para nelas logo.surgir a imagem de um estranho aglomerado de minúsculos

planetas e satélites. Enquanto eram efetuadas as

manobras de pouso, um destacamento de falitas entrou na cabine e conduziu os prisioneiros de volta às poltronas amortecedoras. Nesse instante, a nave alterou seu modo de propulsão e começou a descer sobre a superfície do maior planeta daquele sistema estelar. Um baque anunciou o pouso da nave; assim que os tripulantes se levantaram das poltronas, seus captores entraram novamente no recinto e os levaram até uma comporta de saída, de onde foram transferidos, por meio de uma esteira rolante, para o veículo que os aguardava.

Depois de todos se acomodarem em seus respectivos lugares, os sistemas energéticos da viatura blindada produziram um estridente ruído e deram partida, levando-os até um longínquo conjunto de edifícios. Lá chegando, os prisioneiros foram escoltados através de uma série de corredores até uma ampla sala secreta, onde os guardas os dispuseram em fila ante um pódio e uma imensa tela. O silêncio tomou conta de toda a equipe quando uma forma irrompeu subitamente do nada. A imagem de uma enorme cabeça metálica os fitou, impassível, durante vários segundos; nisso, a indefinida inflexão de voz de um sintetizador de línguas fez-se ouvir do tablado. As perguntas, em sua maioria sobre o potencial militar da Federação, eram as mesmas que lhes foram formuladas inúmeras vezes desde sua captura. Novamente, nenhuma resposta foi dada. Por fim, a voz calou-se, para logo dirigir algumas palavras no idioma falita às sentinelas.

Uma poderosa nave de caça falita.

Page 35: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 35

Uma turbonave blindada falita partiu velozmente do planeta em ruínas e. entrou em contato com a nave que transportava os prisioneiros. Haviam chegado os guias da etapa seguinte da viagem.

Page 36: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 36

A nave transferiu-se do hiperespaço para surgir em meio a um fantástico conglomerado de pequenos planetas e satélites; dirigindo-se para a superfície do astro de maior porte,

fez-se anunciar a um detetor-sentinela suspenso no espaço.

Page 37: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 37

Dando um solavanco, a nave falita desceu lentamente até a rochosa superficie do planeta. Momentos mais tarde, uma viatura conduzia os tripulantes a uma base avançada de comando.

Page 38: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 38

O intocável líder dos falitas instruiu os guardas a adotarem técnicas de interrogatório mais severas.

Page 39: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 39

Os guardas mudaram imediatamente de atitude, tornando-se visivelmente mais agressivos ao conduzirem os prisioneiros de volta à viatura. Podia-se deduzir que os falitas passariam a adotar métodos mais drásticos para arrancar dos tripulantes as informações desejadas. Assim, a equipe deveria preparar seu contragolpe o mais rápido possível. Aproveitando a ausência de equipamentos lingüísticos, todos começaram a sussurrar entre si palpites de fuga enquanto caminhavam até o veículo de translado.

Havia dez falitas escoltando-os; no momento em que saíam do edifício e se dirigiam para o pequeno interceptador militar estacionado ao

lado da viatura que os havia transportado até aquele lugar, os prisioneiros aproximaram-se sorrateiramente dos guardas. Dick Frost, o engenheiro-chefe, examinou atentamente a nave e chegou à conclusão de que seu propulsor principal constituía um sistema padrão de empuxo que poderia ser acionado com relativa facilidade desde que os controles fossem identificados. Tudo de que precisavam era tempo bastante para analisar, juntamente com Dor Hewett, o oficial de sistemas, os códigos do computador e o diagrama de conexões. O veículo de traslado encontrava-se bem à frente da tropa; após nova troca de idéias, todos se colocaram a postos. A um sinal de

cabeça de Mor Mikiss, o grupo pôs-se em ação, investindo violentamente contra os pequeninos guardas; enquanto Mor, que estivera sentado perto do piloto da viatura durante a viagem e havia observado todos os seus movimentos, corria para a nave, Frost e Hewett disparavam rumo ao robusto interceptador.

Viatura utilizada na fuga da tripulação

Page 40: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 40

CAPÍTULO OITO

De Volta à Terra

Registro no diário de bordo: Registro 5. Imediações de Xi Puppis. Oficial de bordo: Comandante Mor Mikiss. Condições da equipe: Boas. Moral estável. Estágio da missão: Situação boa. Regresso com escolta.

Os guardas foram pegos totalmente

desprevenidos pela drástica mudança no comportamento dos pacíficos prisioneiros; em um piscar de olhos, todos, com exceção de duas sentinelas, jaziam inconscientes ou mortos sobre a lisa superfície da área de pouso, com suas armas em poder da equipe federativa. Mor Mikiss, que já se encontrava na cabine da viatura blindada, inspecionou rapidamente o simples painel de controle e colocou o veículo em movimento. Regulando o reostato para sua potência máxima, atirou-se para fora da nave antes de esta arremeter velozmente na direção do edifício principal e dos diversos veículos ali estacionados. A uma onda de choques contundentes seguiu-se um ensurdecedor estampido: a nave se arremessara contra o costado de uma pequena nau cargueira e explodira violentamente. Chamas irromperam das ferragens retorcidas dos destroços, atingindo a viatura mais próxima, enquanto uma densa cortina de fumaça cobria toda a região.

Levantando-se do chão, Mikiss correu para o local onde seus companheiros arrastavam os dois prisioneiros para o interceptador, onde os oficiais técnicos tentavam desesperadamente identificar os sistemas de direção. Enquanto Dor Hewett compunha às pressas programas básicos de resposta e entrada de dados para os computadores de controle principais, Dick Frost improvisava sistemas de desvio manuais para as funções primárias. Quando os demais tripulantes finalmente conseguiram subir a bordo, os dois perplexos e alquebrados falitas foram facilmente forçados a auxiliar a equipe na interpretação de alguns dos sistemas especializados e suas conexões com o painel principal. Em poucos minutos, Hewett havia ligado quase todos os

computadores, tornando bem mais rápida a tarefa de acionamento dos controles.

Um dos tripulantes deu um grito de alerta quando percebeu que legiões de falitas começavam a sair dos edifícios ao longe. Coral Dee e Art West desceram à superfície pela comporta de saída, cada qual carregando uma das armas capturadas dos guardas falitas. Embora se assemelhassem a emissores de ondas de laser miniaturizados, eram de fácil manejo; assim, ambos começaram a disparar contra o inimigo enquanto corriam para a beira da plataforma, na tentativa de manter o máximo de distância de seus perseguidores.No momento em que alcançavam o terreno rochoso que demarcava o fim da pista, era acionado o último dos controles de emergência do interceptador. Enquanto Mor Mikiss esgueirava-se para trás do painel principal, os demais tripulantes procuravam se proteger da melhor forma possível.

Dirigindo uma prece aos céus, Mor ativou os controles e empurrou a alavanca de ligação. Com um tonitruante estrépito, o sistema nuclear foi detonado e a nave, dando uma guinada, alçou vôo e ganhou velocidade, cruzando como um raio a pista de pouso. O comandante, sentindo dificuldades em manejar os controles, tentava. Descrever uma curva de reconhecimento até as formações rochosas onde estavam entrincheirados os dois membros restantes da equipe; porém, antes que pudesse trazer o interceptador ao nível do solo, uma pequena nave riscou o espaço e pousou ao lado de Coral Dee e Art West. Nisso, sua comporta frontal se abriu, dela saindo uma esguia criatura; aproximando-se dos fugitivos, agarrau-os pelos braços e puxou-os para seu veículo. Havia algo no modo de ser daquele humanóide que os fez entrar na nave sem hesitação alguma, observando-o fechar o anteparo transparente e dar a partida. A criatura manobrou habilmente seu minúsculo veículo em direção às escotilhas do interceptador e, fazendo sinal para que Mor Mikiss a acompanhasse, acelerou e distanciou-se rapidamente.

Mikiss lutava para manter sob controle a: rota de sua nave, que estava em veloz arrancada rumo ao vácuo do infinito. Em dado momento,

observaram o longínquo reluzir de uma enorme nave suspensa no espaço, para onde se dirigia o módulo com os tripulantes resgatados. Aproximando-se da comporta onde a pequena viatura havia entrado, o interceptador viu-se unido, através de suas comportas, a um tubo de baldeação que se projetara da fuselagem da nave alienígena. Um dos membros do grupo federativo abriu a porta interna do compartimento de acesso e, depois de vacilar por alguns momentos, entrou na câmara de ligação, para logo depois regressar com a notícia de que os demais deviam segui-lo imediatamente. Todos obedeceram a suas instruções e, uma vez a bordo, foram recepcionados por Coral Dee, Art West e sua salvadora e conduzidos à sala de comando central. Nesse momento, a nave desligou-se do interceptador vazio e prosseguiu viagem. Alarmantes trilhas de luz deixadas pelas naves de perseguição falitas cruzavam a camada nebulosa do planeta, quando a imagem do cosmos tremeluziu e foi substituída pelos bruxuleantes matizes do subespaço. Estavam todos a salvo, pelo menos até que se transferissem para o espaço real.

A tripulação voltou-se então para seus resgatadores, que naquele momento se encontravam reunidos ao seu redor . Uma das esguias criaturas indicou uma poltrona equipada com impressionante parafernália de instrumentos, fazendo sinal para que um dos humanos lá se sentasse. Reconhecendo no aparelho uma espécie de unidade interpretativa, Tik Rednop, o lingüista, apresentou-se como voluntário. Enquanto se acomodava no resiliente assento, os alienígenas adaptavam a sua cabeça uma série de eletrodos, com bastante delicadeza. Decorreram quase três horas antes que se estabelecesse um vocabulário básico e as duas espécies pudessem trocar informações. À medida que os fatos iam sendo expostos, principiava a tomar forma um inquietante quadro dos falitas e suas atividades. Os salvadores da tripulação do Venturer eram membros da raça que um dia habitara o planeta de onde se dera a fuga. Seu mundo fazia parte de uma associação de livre comércio interplanetário que, através da cooperação mútua, havia desenvolvido uma tecnologia tão

Page 41: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 41

sofisticada quanto a dos falitas. Embora essa aliança houvesse dirigido seus esforços para fins pacíficos, os falitas incrementavam seu potencial militar visando a conquistar todos os planetas vizinhos e seus recursos. Após a primeira investida falita, o povo atacado levantou uma tela orbital para proteger seu mundo de bombardeios espaciais. Originalmente concebida para desviar névoas incandescentes e meteoros, a tela necessitava de constantes reparos, o que acabaria por esgotar todos os recursos minerais do planeta. Durante a etapa inicial do cerco militar, a civilização ameaçada, reconhecendo a difícil situação em que se encontrava, enviou secreta-mente ao espaço seis de suas naves,

sua missão era vasculhar o cosmos em busca de um abrigo para seu povo. O objeto voador que, transferido do hiperespaço, havia aparecido nas imediações dos Mundos Periféricos da Federação Galáctica era uma dessas naves. Tão logo detectara a existência de vida naquela região, sua tripulação penetrou novamente no espaço paralelo para a viagem de regresso, na esperança de encontrar sobreviventes do holocausto provocado pelos ataques bélicos falitas. Quando a nave exploradora retomou, já se haviam passado duzentos anos em seu planeta de origem. A tela orbital fora irremediá-velmente destruída pelos falitas e a maior parte da população havia sido exterminada em quatro

sucessivos ataques em massa; os poucos sobreviventes embarcaram nas naves restantes e fugiram para as profundezas do espaço. Felizmente, as notícias sobre a Federação lhes chegaram bem a tempo: naquele exato momento, várias naves de fuga para lá rumavam em busca de segurança. Um dos veículos que permaneceram na retaguarda para recolher fugitivos extraviados detec-tou o Venturer e monitorou seu trajeto, evitando travar contato até que seus objetivos estivessem mais definidos. Tendo certeza que não havia mais sobreviventes de sua raça para serem recolhidos, os alienígenas ofereceram-se para levar os humanos de volta à Federação, em troca de refúgio.

Enquanto dois membros de sua equipe fugiam da plataforma de pouso destruída, Mor Mikiss fazia o impossível para manter sob controle o interceptador falita em sua desesperada fuga.

Page 42: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 42

Os últimos sobreviventes de uma civilização arrasada pela ofensiva falita forneceram à tripulação do Venturer os meios de fuga. O pequeno módulo que recolheu os emissários deixados no planeta em ruínas conduziu-os a um lugar

seguro e lhes ofereceu transporte para a Federação.

Page 43: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 43

Embora completamente despreparado para o ataque falita, o povo ameaçado lutou com indômita bravura para defender sua civilização. Aqui, uma nave bélica falita estremece ante o impacto de tiros certeiros disparados por

uma das poucas naves de guerra que lhes ofereciam resistência.

Page 44: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 44

A rota em curva estabelecida para a viagem de regresso contornava os limites da galáxia, na tentativa de despistar qualquer perseguição falita.

Page 45: AVENTURAS INTERGALÁCTICAS - … · contato com uma espécie, ou grupo de espécies, que se equipararia em poder tecnológico às civilizações da Federação ou, talvez, que as

Aventuras Intergalácticas – Steven Caldwell 45

Epílogo A viagem de regresso à Federação

foi realizada através de uma rota em curva, de modo a frustrar qualquer tentativa falita de detectar seu rumo e destino. O trajeto descrevia uma curva a grande distância do Perímetro Galáctico, a qual se dobrava na borda exterior do braço em espiral em que se definia. Embora os tripulantes do desditoso Venturer houvessem envelhecido menos de um ano durante sua épica viagem, todos sabiam que haveria pouca coisa familiar a eles nos planetas da Federação, pois haveriam decorrido centenas de anos de tempo real. A única esperança era que seus novos governantes se lembrassem deles e do objetivo de sua missão. Assim, foi com grande apreensão que a equipe se reuniu na sala de controle principal, enquanto os monitores da nave detectavam alguns débeis sinais de uma baliza federativa na região limítrofe do perímetro.

Observando em silêncio a transferência para o espaço real, todos remoíam a certeza da morte de seus

entes queridos e a total mudança por que passaram seus mundos nativos, naquele momento tão estranhos quanto os planetas que haviam visitado, em sua viagem pelo espaço desconhecido. Uma vez concluída a transferência, Mor Mikiss e Mas Rahzell, o oficial de telecomuni-cações, apresentaram ao comandante da nave de fuga o código padrão de identificação federativa. O sinal foi logo emitido em difusão aleatória: "Emissor não registrado - Favor fornecer código tráfego -, Destino Terra - Responder código Venturer Dois - Esperar liberação". Os sinais continuaram a ser emitidos ininterruptamente por quase uma hora; em dado instante, ouviram-se estalidos nos receptores anunciando a resposta: "Venturer Dois - Seu código UBX 9443in - Sua referência baliza reentrada PC 114 - Fornecer ETA e aguardar confirmação - Favor referir objetivo e local de origem - Nossos registros incompletos".

Mor Mikiss comunicou o tempo previsto de chegada da nave à baliza de Próxima do Centauro e informou quem eram e o porquê de sua não-

inclusão nos registros de tráfego correntes. A resposta veio logo em seguida: "Para UBX 9443in – Liberado para trânsito interno Venturer Dois - Bem-vindos".

Quando chegaram à baliza, havia uma nave de escolta e uma frota de aparelhos civis à espera. Após as comemorações e o período de repouso e readaptação, teve início a exposição dos fatos. Havia muito para ser contado e ainda mais para ser apreendido nos dias que se seguiriam. Visto os primeiros refugiados do imperialismo falita terem começado a chegar à Federação algum tempo antes, boa parte da história já era de conhecimento das autoridades, tendo-se estabelecido planos de contingência para a eventualidade de os falitas obterem êxito em sua perseguição às naves fugitivas. A maioria dos alienígenas sem lar encontrara a oportunidade de começar nova vida em um dos planetas recém-colonizados do perímetro; os salvadores da tripulação ficaram muito entusiasmados com a notícia, e mostravam-se bastante ansiosos para unirem-se a seus semelhantes.

Após a conclusão da exposição de fatos, alguns dos tripulantes do Venturer decidiram-se por continuar a serviço da Força de Segurança, enquanto outros optaram entre o exercício civil de sua profissão e a prestação de serviços nas novas colônias do perímetro. Todavia, todos se sentiam unidos por um elo comum: durante muito tempo, nenhum de seus compatriotas haveria de se aproximar dos confins do espaço, onde os tripulantes do Venturer um dia haviam estado, e de onde não tinham trazido boas recordações.

CÍRCULO DO LIVRO S.A. Caixa postal 7413 São Paulo, Brasil Edição integral Título do original: ''Star Quest" Copyright @ 1979 Intercontinental Book Productions Tradução: Nelson Pujol Yamamoto Layout da capa: Yae Takeda

Licença editorial para o Círculo do Livro por cortesia da Intercontinental Book Productions Composto pela Linoart Ltda. Impresso pela Impres

10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 84 83 82 81 80

Embora os falitas dificilmente empreendessem a longa viagem à Federação, redobraram-se os cuidados de defesa no perímetro, com periódicos vôos de patrulhamento.