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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
AVANÇOS E RETROCESSOS DA POLÍTICA
BILATERAL BRASIL-BOLÍVIA NA QUESTÃO
MIGRATÓRIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Tarsila Lemus do Nascimento da Silva
Santa Maria, RS, Brasil.
2015
AVANÇOS E RETROCESSOS DA POLÍTICA BILATERAL
BRASIL-BOLÍVIA NA QUESTÃO MIGRATÓRIA
Tarsila Lemus do Nascimento da Silva
Monografia realizada como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel
em Relações Internacionais pelo curso de Relações Internacionais, da
Universidade Federal de Santa Maria.
Orientador: Giuliana Redin
Santa Maria, RS, Brasil.
2015
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Sociais e Humanas
Curso de Relações Internacionais
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Monografia.
AVANÇOS E RETROCESSOS DA POLÍTICA BILATERAL BRASIL-
BOLÍVIA NA QUESTÃO MIGRATÓRIA
elaborada por
Tarsila Lemus do Nascimento da Silva
como requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Relações Internacionais
COMISSÃO EXAMINADORA
Giuliana Redin, Dr.
(Presidente/Orientador)
(UFSM)
José Renato Ferraz da Silveira, Dr.
(UFSM)
Danielle Jacon Ayres Pinto, Me.
(UFSM)
Santa Maria, 29 de junho de 2015.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, minha razão de viver, meu fôlego de vida, se cheguei até aqui é
porque foi o Senhor que me ajudou!
Agradeço ao meu amado esposo, Diego, por sempre estar do meu lado, me
incentivando a conquistar meus sonhos, e por ser tão paciente e compreensivo comigo. Você é
meu porto seguro.
Agradeço aos meus pais, Eduardo e Carmem, que nunca mediram esforços para me
ver feliz, o sonho de me formar na UFSM sempre foi inspirado em vocês, e por isso essa
conquista é nossa. Não existem palavras para agradecer por tudo o que vocês fizeram por
mim!
Agradeço aos meus irmãos, Sara e Jonas, que são meus companheiros e cúmplices.
Agradeço aos meus avós, Vicente e Maria Eloi, por serem meus segundos pais em
Santa Maria.
Agradeço aos meus sogros, Erli e Marilene, por me receberem de como uma filha na
família de vocês.
Agradeço a minha amiga, Mariani, nesses 10 anos de amizade, você se tornou uma
amiga mais chegada que um irmão.
Agradeço as minhas amigas e colegas de curso, Êmily, Leila, Thais, por fazerem desta
jornada mais doce e alegre.
Agradeço a minha orientadora, Giuliana Redin, por me ensinar, me incentivar, e me
mostrar o quão importante é o tema da imigração, a sua dedicação pela causa me fascina e me
incentiva a seguir estudando o tema.
Agradeço aos meus queridos amigos e colegas do MIGRAIDH, nossos ricos debates e
as divertidas viagens de campo marcaram a minha vida acadêmica.
Agradeço aos meus professores que estiveram presentes em toda a minha vida
acadêmica, em especial, o professor José Renato, que sempre se dedicou em melhorar o curso
de Relações Internacionais da UFSM. E também meus agradecimentos a professora Danielle
pelos inquietantes debates na sala de aula, e pelas aulas incentivadoras.
E a todos que fizeram direta e indiretamente parte da minha formação, o meu muito
obrigado.
RESUMO
AVANÇOS E RETROCESSOS DA POLÍTICA BILATERAL BRASIL-
BOLÍVIA NA QUESTÃO MIGRATÓRIA
AUTORA: TARSILA LEMUS DO NASCIMENTO DA SILVA
ORIENTADOR: Prof. Dr. GUILIANA REDIN
Santa Maria, 29 de julho de 2015.
A imigração nos tempos atuais tem sido destaque no cenário internacional, por se
inserir no processo típico das grandes transformações internacionais, caracterizando países
por serem exportadores de mão de obra ou vice-versa. A vista disto, o imigrante econômico
sai de seu país economicamente pobre, para buscar novas oportunidades em um país
industrializado, com uma economia aquecida e também para países menos industrializados,
mas em fase de desenvolvimento. Acontece, sobretudo, para os oriundos de países
explorados, denominados por uma linguagem de exclusão como de “terceiro mundo”,
exportadores de mão de obra barata e clandestina. Este fenômeno também pode ser observado
na América Latina, como é o caso deste estudo. Um dos fluxos migratórios mais intensos da
América Latina, o caso dos imigrantes bolivianos os quais seguidos da Argentina, têm sido
uma presença significativa em crescimento no Brasil e especificamente na cidade de São
Paulo. O tema dos Direitos Humanos é muito importante e recorrente na agenda internacional
brasileira, reflexo do processo de democratização do Brasil e também da sua política externa
baseada nos ideais do multilateralismo. A partir desta conjuntura, o presente trabalho analisou
os avanços e retrocessos da política bilateral Brasil e Bolívia na questão migratória, e
demonstrou a necessidade de uma nova racionalidade a partir dos direitos humanos, e não da
segurança nacional, para tratar da questão migratória. A presente pesquisa utilizou abordagem
dedutiva, a partir da concepção da proteção dos direitos humanos de imigrantes, bem como a
técnica de pesquisa descritiva.
Palavras-chave: Política bilateral Brasil e Bolívia, Imigração, Direitos Humanos.
ABSTRACT
PROGRESS AND SETBACKS BILATERAL POLICY BRAZIL -
BOLIVIA IN MIGRATION ISSUE
AUTHOR: TARSILA LEMUS DO NASCIMENTO DA SILVA
TEACHER: Dr. GIULIANA REDIN
Santa Maria, July 29rd
, 2015.
The immigration on current times has been prominent in international scenario, once
inserted itself in the typical process of the great international transformations, featured
countries in be manpower exporting or importing or vice versa. The view of this, the
economic immigrants leave his economically poor country, to seek new opportunities in a
developed country, with a heated economics and also to less industrialized countries, but in
development phase. Happens, overcoat, to them who coming from exploited countries, named
by the exclusion of language as a "Third World" exporters of cheap and illegal work
manpower. This phenomenon may also be observed in Latin America, such as this study. One
of migratory flows more intense in Latin America, the case of the Bolivian immigrants
followed by argentine, has been a significant presence in growth in Brazil and specifically in
the city of São Paulo. The theme of Human Rights is very important and recurring in the
Brazilian international agenda, reflection of democratization process in Brazil and also of
foreign policy based on the ideals of multilateralism. From that scenario, the migratory
question is analyzed, for this project, through advances and setbacks of bilateral policy Brazil
and Bolivia and demonstrated a need for a new rationality from the Human Rights and not
from the National Security treat to lead to the migratory issue. This search used deductive
approach, from the design of the Immigrant Human Rights Protection conception as well as a
descriptive research technique.
Keywords: Brazil and Bolivia bilateral policy; Immigration; Human Rights.
LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS
ASSEMBOL - Associação de Empreendedores Bolivianos
CadÚnico - Cadastros Único para Programas Sociais
CLT - Consolidação das Leis do Trabalho
CMC - Conselho do Mercado Comum
COMIGRAR - Conferência Nacional sobre Migrações
CPF - Cadastro de Pessoas Físicas
CPMig - Coordenação de Políticas Públicas para Migrantes
CRAI - Centro de Referência e Acolhida para Imigrantes
CREDN - Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional
DUDH - Declaração Universal dos Direitos Humanos
MERCOSUL - Mercado Comum do Sul
MJ - Ministério da Justiça
MPT - Ministério Público do Trabalho
MRE - Ministério das Relações Exteriores
OEA - Organização dos Estados Americanos
OIT - Organização Internacional do Trabalho
ONU - Organização das Nações Unidas
PF - Polícia Federal
PLS - Projeto Lei do Senado
RNE - Registro Nacional de Estrangeiros
SMADS - Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento
SMDHC - Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania
SMRG - Secretaria Municipal de Relações Governamentais
TAC - Termo de Ajuste de Conduta
UNASUL - União das Nações Sul-Americanas
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 8
1 MIGRAÇÃO HUMANA, SEGURANÇA E INTERESSE NACIONAL versus
DIREITOS HUMANOS. ............................................................................................................ 9
2 DESCRIÇÃO DA RELAÇÃO BILATERAL BRASIL E BOLÍVIA NO
TRATAMENTO POLÍTICO E JURÍDICO DO IMIGRANTE BOLIVIANO ....................... 16
2.1 O fluxo imigratório de bolivianos para o Brasil: condicionantes e cenário de violação
de direitos humanos .............................................................................................................. 16
2.2 Normativas, diálogos e ações unilaterais, bilaterais e regionais a respeito da
imigração boliviana para o Brasil ......................................................................................... 25
3 ANÁLISE DOS AVANÇOS E RETROCESSOS DA POLÍTICA BILATERAL BRASIL
E BOLÍVIA EM RELAÇÃO À IMIGRAÇÃO BOLIVIANA PARA O BRASIL ................. 38
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS..................................................................................... 46
8
INTRODUÇÃO
O tema da imigração é cada vez mais recorrente no cotidiano do Brasil, devido ao
intenso fluxo de imigração que tem recebido atualmente, em especial do imigrante boliviano,
decorrente das relações com a América Latina, MERCOSUL.
A imigração boliviana por ser um dos fluxos de imigração mais intensos recentemente
no Brasil torna-se um fator de extrema relevância para a análise deste estudo acadêmico, pois
surgem novos pontos que precisam ser explorados e investigados como a questão de como o
Estado brasileiro está compreendendo a questão migratória e também quais as políticas de
proteção para o imigrante boliviano?
Uma vez que a Bolívia é signatária do Acordo de Residência do MERCOSUL. A
partir deste contexto insere-se o objeto de estudo do presente trabalho: a análise dos avanços e
retrocessos da política bilateral Brasil e Bolívia na questão imigratória atual.
A análise é feita em três capítulos, o primeiro, Migração humana, segurança e
interesse nacional versus Direitos Humanos, aborda inicialmente a fundamentação teórica
sobre o paradoxo da imigração, para assim, se compreender a complexidade do tema da
imigração em ralação como o Estado conduz a política migratória a partir dos seus interesses,
esquecendo o viés dos fundamentos dos Direitos Humanos.
O segundo capítulo, Descrição da relação bilateral Brasil e Bolívia no tratamento
político jurídico do migrante boliviano, inicia com dos condicionantes do fluxo imigratório
boliviano, e a apresentação do cenário de violação de diretos humanos a que são submentidos
os imigrantes bolivianos que vivem na clandestinidade. Em sequência, descreve-se
enfrentamento sobre legislação e política existente para a regulação a respeitos da imigração
boliviana para o Brasil.
No terceiro capítulo, Análise dos avanços e retrocessos da política bilateral Brasil e
Bolívia em relação à imigração boliviana para o Brasil, faz uma conclusão sobre o conteúdo
abordado, avaliando que por mais que existam avanços, ainda não são em total eficazes para
solucionar o problema da falta de documentação.
Destarte, nas considerações finais é realizada uma observação da importância de se
estabelecerem no Brasil, regras efetivas e concretas de políticas públicas que tenham como
base os fundamentos dos Direitos Humanos, em superação à agenda da segurança e do
interesse nacional do Estado.
9
1 MIGRAÇÃO HUMANA, SEGURANÇA E INTERESSE
NACIONAL versus DIREITOS HUMANOS.
A imigração nos tempos atuais tem sido destaque no cenário internacional, por se
inserir no processo típico das grandes transformações internacionais, caracterizando países
por serem exportadores de mão de obra ou vice-versa.
Esta mobilidade humana acentuada é decorrente da globalização mundial, que
estimula o crescimento econômico, a falta de ofertas de emprego, a repulsão e o impulso as
migrações. O fluxo imigratório gera preocupação dos Estados receptores de imigrantes, por
representar um potencial de ameaça à soberania e a identidade nacional. Por outras palavras,
há uma proteção aos empregos e ao bem-estar de seus civis nacionais. O imigrante só é visto
de maneira “desejável”, quando este possui mão de obra especializada, logo, é aceito.
A questão imigratória só se faz ter um sentido e uma razão de ser, se o quadro duplo
erigido com o fim de contabilizar os “custos e os lucros“ apresentar um saldo positivo, por
seguinte, idealmente a imigração deveria comportar apenas “vantagens” e no limite nenhum
“custo” (SAYAD, 1998, p.50).
Por isso que infelizmente, a imigração é conduzida por muitos Estados como uma
questão de segurança e interesse nacional, assim, aplicam-se políticas repressivas de controle
à entrada de imigrantes em seus territórios, violando os direitos humanos e dando margem
para a clandestinidade.
As migrações internacionais, atualmente, constituem um espelho das assimetrias das
relações socioeconômicas vigentes em nível planetário. São termômetros que
apontam as contradições das relações internacionais e da globalização neoliberal.
Numa perspectiva sociológica, as migrações são percebidas sob a ótica estruturalista
como uma das consequências da crise neoliberal contemporânea. No contexto do
sistema econômico atual, verifica-se o crescimento econômico sem o aumento da
oferta de emprego. O desemprego passa a ser uma característica estrutural do
neoliberalismo, e as pessoas, então, migram em busca, fundamentalmente, de
trabalho. E isto se verifica tanto no plano interno como no internacional. Sobre a
lógica do progresso econômico e do desenvolvimento social impera a lógica do
lucro, onde todos os bens, objetos e valores são passíveis de negociação, como as
pessoas e até os seus órgãos, a educação, a sexualidade e, inevitavelmente, os
migrantes. Tomando por base o referencial demográfico, tem-se que os
deslocamentos migratórios fazem parte da natureza humana, mas são estimulados,
quando não forçados, nos dias de hoje, pelo advento da tecnologia e pelo impacto da
problemática econômica, nesta lógica inversa de sua preponderância em relação ao
ser humano. (MARINUCI; MILESI, 2013, [s.p.])
10
Portanto, ao utilizar a expressão de Milton Santos (2012, p. 31) “o espaço que une e
que separa”, demonstra que se compartilha do mesmo espaço físico, mas existe dentro dele a
divisão social, ou uma seleção por parte do Estado, de quem é nacional e de quem tem ou não
autorização de permanecer nele.
Este controle calcado na segurança por parte do Estado é bem retratado por Foucault
(2008, p. 61), ele explica que a segurança tem por essencial função responder a realidade, e a
resposta, que anule, ou limite, ou regule essa realidade a que ela corresponde. Em sua visão, é
nesta regulação no elemento da realidade, que é fundamental nos dispositivos da segurança.
Por conseguinte, Redin (2013, p. 35) destaca que se governa na perspectiva da
economia, e projeta-se medidas de segurança e controle em que o público é pensado a partir
do privado; a razão do Estado está nele próprio; “a governabilidade está pautada na tríade
população-território-produção econômica, portanto o humano é elemento e fator econômico
fundamental”. Redin cita como exemplo, o valor das políticas públicas para justificar direitos
do cidadão, de um lado e de outro a “reserva dos excluídos”, o que intensifica o trabalho de
mão de obra subumana do imigrante clandestino.
Em suma, na intenção do Estado em proporcionar segurança é paradoxal, na medida
em que inclui, também exclui, e a parte de excluídos, consequentemente, está desprovida de
proteção, e encontra-se no oposto, na insegurança.
Situação esta que Redin (2013, p. 22, grifo do autor), ao acolher a expressão
conceitual de Agamben acerca da “vida nua”, é demonstrada pela exclusão do direito do
imigrante a ter direitos, sobretudo de ingresso e permanência. Além disso, diz que a
compreensão do espaço-tempo do imigrante econômico internacional, é aquele de uma
minoria sem voz e sem ação.
Seguindo esta mesma linha de pensamento, é facilmente aceito o discurso de que o
imigrante tem seu lugar durável à margem da sociedade, e se enquadra na parte inferior da
hierarquia social. Portanto, taxando-lhes de parasitas, julgando que não se deva nada ao
imigrante por seu elevado “custo social” (virtude das tradições políticas e sociais que se
denominam humanitárias, liberais, igualitárias, etc.) que sua presença impõe sobre a
sociedade que o recebe. (SAYAD, 1998, p. 51). Assim, é a condição do migrante imbuída em
uma “vida nua”, desprovida de direitos e condições, uma vida despolitizada. (REDIN, 2013,
p.25).
11
Para SAYAD (1998, p. 54) a definição mais próxima do modelo ideal típico do
imigrante e da imigração, explica-se essencialmente por uma força de trabalho, e uma força
de trabalho provisória, temporária em trânsito. A vida e toda a sua estadia no país receptor é
definido e tratado como provisório, revogável em qualquer momento.
A estadia autorizada ao migrante está inteiramente sujeita ao trabalho, única razão
de ser que lhe é reconhecida: ser como imigrante, primeiro, mas também como
homem – sua qualidade de homem estando subordinada a sua condição de
imigrante. Foi o trabalho que fez “nascer o imigrante, que fez existir; é ele, quando
termina, que faz “morrer” o imigrante, que decreta sua negação ou que empurra para
o não-ser. (SAYAD, 1998, p. 55)
È importante ressaltar que, mais que qualquer outro objeto social, não existe outro
discurso sobre o imigrante e a imigração que não seja um discurso imposto; muito mais do
isto, é até mesmo toda a problemática da ciência social da imigração que é uma problemática
imposta. Sendo assim, uma das formas de compreender esta imposição é perceber o
imigrante, defini-lo, pensá-lo, ou mais simplesmente, sempre falar dele como um problema
social (SAYAD, 1998, p. 56).
Problema social, pois não se equipara aos demais, o imigrante econômico é
estigmatizado por vir de um país pobre, com outros costumes, cultura, religião, etc. É
excluído não só pelo Estado, mas também pelos seus nacionais pelo sentimento de xenofobia,
de repulsão ao que lhe é aparentemente diferente.
Realidade esta que é muito bem retratada por Norbert Elias (2000, p. 22) em seu livro
Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder de uma pequena
comunidade. Elias aponta a exclusão e a estigmatização dos outsiders pelo grupo estabelecido
como armas poderosas, para que este último preservasse sua identidade e afirmasse sua
superioridade, mantendo os outros firmemente no seu lugar.
Sobre a realidade do imigrante econômico internacional, ele migra na clandestinidade
do Estado de destino por esperança de melhores condições de vida, logo se cria a partir disso,
uma gama de eventos (econômico, social, cultural) que se inter-relacionam com o impacto no
humano e na sociedade, os quais produzem, infinitamente, novos eventos (REDIN, 2013, p.
22).
A vista disto, o imigrante econômico sai de seu país economicamente pobre, para
buscar novas oportunidades em um país industrializado, com uma economia aquecida, e
12
também para países menos industrializados, mas em fase de desenvolvimento. Acontece,
sobretudo, para os oriundos de países explorados denominados por uma linguagem de
exclusão, como de “terceiro mundo”, exportadores de mão de obra barata e clandestina.
Este fenômeno também pode ser observado na América Latina, como é este caso de
estudo, um dos fluxos migratórios mais intensos da América Latina, o fato dos imigrantes
bolivianos, os quais depois da Argentina têm sido uma presença significativa em crescimento
no Brasil e particularmente na cidade de São Paulo.
Logo, se pode concluir que há um paradoxo na compreensão da mobilidade humana,
pois, de um lado o Estado não trata o imigrante econômico como um sujeito de direitos
humanos, de outro lado, ele detém direitos, medidas de segurança e controle nacional como já
vistas. Segundo Redin (2013, p. 30) “o Estado reconhece que esse estrangeiro é um sujeito de
direitos humanos. No entanto, o impede de participar do espaço público como sujeito do seu
próprio destino”.
No que tange aos diretos dos imigrantes, cabe destacar que a Declaração Universal dos
Direitos Humanos (DUDH), adotada e proclamada pela resolução 217 a (III) da Assembleia
Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948; garante aos indivíduos, no artigo 15, o
direito a ter direitos, deste modo, o direto a ter uma nacionalidade de não perdê-la e de poder
trocar de nacionalidade, no artigo 14 o direito de buscar asilo em situações de perseguição, e
no artigo 13 parágrafo 2 o direito de sair, ou seja, o direito de deixar seu país de origem, e de
voltar quando sentir vontade ou necessidade. (NAÇÕES UNIDAS, 1948, [s.p.]).
Por mais que o imigrante tenha direitos garantidos pela DUDH (Declaração Universal
dos Direitos Humanos), a autonomia decisória do Estado, a respeito de quem tem autorização
para entrar ou residir em seu território continua em seu poder. A prova disso está no artigo 13,
parágrafo 1, onde fica evidente que a liberdade de circulação e de residência é restrita ao
“interior das fronteiras de cada Estado”. Observa-se que não há existência de um “direito de
entrada” que possa ser igualado ao direto de saída do território. Outra prova está no artigo 14,
parágrafo 1, que assegura à “vítima de perseguição o direito de procurar e se beneficiar de
asilo em outros países”, no entanto, nenhum país possui a obrigação de aceitá-la ou de recebê-
la em seu território.
Torna-se imprescindível também citar a Organização Internacional do Trabalho (OIT)
e a Convenção Internacional, sobre a proteção dos Direitos de todos os Trabalhadores
13
Migrantes e dos Membros das suas Famílias de 1990, por serem organismos internacionais
que se preocupam com a questão migratória.
A OIT (Organização Internacional do Trabalho) é uma das agências das Nações
Unidas que possui por objetivo promover oportunidade para que homens e mulheres
consigam ter acesso a um trabalho decente e produtivo, em condições de liberdade, equidade,
segurança e dignidade. A OIT tem a responsabilidade de formular e aplicar as normas
internacionais do trabalho (convenções e recomendações). È importante destacar que, as
convenções quando ratificadas por decisão soberana de um país, passam a fazer parte do seu
ordenamento jurídico. O Brasil é um dos membros da OIT, e mantém uma participação ativa
na Conferência Internacional do Trabalho desde sua primeira reunião.
O Trabalho Decente, conceito formalizado pela OIT em 1999, sintetiza a sua missão
histórica de promover oportunidades para que homens e mulheres possam ter um
trabalho produtivo e de qualidade, em condições de liberdade, equidade, segurança e
dignidade humanas, sendo considerado condição fundamental para a superação da
pobreza, a redução das desigualdades sociais, a garantia da governabilidade
democrática e o desenvolvimento sustentável.
O Trabalho Decente é o ponto de convergência dos quatro objetivos estratégicos da
OIT: o respeito aos direitos no trabalho (em especial aqueles definidos como
fundamentais pela Declaração Relativa aos Direitos e Princípios Fundamentais no
Trabalho e seu seguimento adotada em 1998: (i) liberdade sindical e
reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; (ii) eliminação de todas as
formas de trabalho forçado; (iii) abolição efetiva do trabalho infantil; (iv) eliminação
de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e ocupação), a
promoção do emprego produtivo e de qualidade, a extensão da proteção social e o
fortalecimento do diálogo social. (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO
TRABALHO, [200-?], [s.p.]).
A Convenção Internacional sobre a proteção dos Direitos de todos os Trabalhadores
Migrantes e dos Membros das suas Famílias de 1990, em vigor desde 2003, é um importante
instrumento internacional, pois reconhece e protege a dignidade e os direitos básicos de todos
os trabalhadores migrantes, independentemente de estarem em situação migratória regular ou
não.
O art. 2º da Convenção define que "trabalhador migrante é a pessoa que vai exercer,
exerce ou exerceu uma atividade remunerada num Estado do qual não é nacional".
E, na Parte III, estabelece uma série de direitos que são assegurados a todos os
trabalhadores migrantes e membros de suas famílias, documentados ou não, estejam
ou não em situação regular. Destacam-se, dentre outros: direito à vida, à dignidade
humana, à liberdade, à igualdade entre homens e mulheres, à não discriminação e
submissão ao trabalho desumano, forçado ou degradante, à liberdade de expressão e
de religião, à segurança, à proteção contra prisão arbitrária, à identidade cultural, à
igualdade de direitos perante os tribunais e ao direito inalienável de viver em
14
família. Assegura, ainda, que os trabalhadores migrantes devem beneficiar-se de um
tratamento não menos favorável que aquele concedido aos trabalhadores nacionais
de emprego em matéria de retribuição e outras condições de
trabalho. (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, [200-?], [s.p.]).
Todavia, infelizmente o Brasil ainda não ratificou a Convenção sobre a Proteção dos
Direitos dos Trabalhadores Migrantes e Membros de suas famílias, mesmo que em 1996,
tenha incluído em seu Plano Nacional de Direitos Humanos o compromisso com a ratificação.
Vale ressaltar que, o Brasil é o único país membro do MERCOSUL a não integrar o
instrumento, e das grandes convenções da ONU apenas esta ainda não foi assinada pelo país.
Com efeito, o espaço-tempo identificado nos instrumentos legais nacionais e
internacionais, não é adequado para tratar uma realidade corrompida de uma violência
característica que envolve a imigração internacional econômica. A estrutura da modernidade
esconde, por meio do direito a violência implícita na lógica do sujeito individual, que se
projeta nos chamados direitos subjetivos, os quais o isolam do mundo e retiram-lhe a
subjetividade, a identidade e a capacidade de escolha e ação (REDIN, 2013, p. 29).
É importante destacar que, o tema dos Direitos Humanos é muito importante e
recorrente na agenda internacional brasileira, reflexo do processo de democratização do Brasil
e também da sua política externa de regime multilateral.
A propósito, Milani (2011, p.45-47) aponta que o Brasil desde a publicação da
Constituição de 1988, tem se dedicado em assumir medidas que buscam a incorporação de
tratados internacionais direcionados à proteção dos Diretos Humanos. O autor referencia que,
o Brasil tornou-se signatário dos fundamentais tratados internacionais de Direitos Humanos,
como, por exemplo: o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos; o Pacto Internacional
dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais; a Convenção Contra a Tortura e Outros
Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou degradantes; e a Convenção Americana sobre
Direitos Humanos.
Complementa Milani (2011, p. 45) que o “Brasil é, dessa forma, um dos países em
desenvolvimento que mais ratificaram convenções e tratados internacionais no campo dos
direitos humanos, ao lado de Argentina, Chile, México e Uruguai, que também se destacam”.
A abordagem dos Direitos Humanos fica explícita no artigo 4º da Constituição Federal
brasileira de 1988, onde são regidas as suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
independência nacional, prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, não
intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio
15
ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade,
concessão de asilo político (BRASIL, 1988, [s.p.]).
Dessa forma, o artigo 4º da Constituição brasileira, como um todo representa a
relevância do tema tanto nos assuntos domésticos, como nos internacionais, por evidenciar o
comprometimento brasileiro em respeitar e contribuir na promoção dos Direitos Humanos de
todos os povos, sem exceções independente de suas nacionalidades.
Os avanços na proteção dos direitos humanos no Brasil permitiram ao País
consolidar posição de interlocutor coerente e equilibrado no sistema multilateral,
com capacidade de influenciar o debate sobre direitos humanos e colaborar para
melhorias efetivas no respeito a esses direitos em outros países. Temos priorizado o
desenvolvimento de agenda positiva de proteção dos direitos humanos, que rompa
com a tradição de debates estéreis sobre o assunto baseados mais na conveniência
política dos países do que nas reais necessidades das pessoas que sofrem os efeitos
de violações. Uma militância construtiva em favor dos direitos humanos leva em
conta as peculiaridades de cada situação e as verdadeiras necessidades das vítimas
das violações. Em reação a crises humanitárias, a comunidade internacional deve
buscar o difícil equilíbrio entre o fortalecimento dos esforços pela paz e a
necessidade de resposta condenatória às violações dos direitos humanos. A mera
condenação leva ao isolamento. O diálogo e a persuasão são muitas vezes mais
eficazes para a melhoria da situação no terreno ao trazer à cooperação as partes
responsáveis pelo cumprimento das decisões dos fóruns multilaterais. (AMORIN,
2009, [s.p.]).
Portanto, com a ampliação da projeção do Brasil no cenário internacional, por meio de
uma agenda internacional fundamentada nos princípios dos Direitos Humanos, tem
conquistado respeito e credibilidade, não só em âmbito regional como internacional. Assim,
destacando-o como um potencial de liderança regional na América Latina.
O padrão qualitativo de adesão do Brasil ao regime multilateral pode ser comparado
ao de algumas superpotências e outras potências médias do sistema internacional. (MILANI, 2011, P.45)
É dentro deste contexto, que se insere a perspectiva brasileira quanto à pauta dos
direitos humanos e a imigração, neste caso de estudo a imigração boliviana para o Brasil, e
enfrentamento sobre legislação e política existente para a regulação do tema, sendo o
imigrante boliviano, uma vez que a Bolívia é signatária do Acordo de Residência do
MERCOSUL.
16
2 DESCRIÇÃO DA RELAÇÃO BILATERAL BRASIL E BOLÍVIA
NO TRATAMENTO POLÍTICO E JURÍDICO DO IMIGRANTE
BOLIVIANO
2.1 O fluxo imigratório de bolivianos para o Brasil: condicionantes e cenário de
violação de direitos humanos
A imigração boliviana no Brasil não é um fenômeno novo, é registrada já na década de
1950, por estudantes que vinham com a intenção de estudar em nosso país, em decorrência de
estímulos por convênios de intercâmbios científico e cultural entre ambos os países. Outros
vieram não por escolha, mas por motivos econômicos ou políticos, pois naquele momento a
Bolívia não lhes proporcionava oportunidades de emprego ou de exercício da liberdade de
expressão (SILVA, 1997, p. 83).
Nos anos 80, foi se arquitetando um perfil característico desses migrantes, singular por
abranger em suas maiorias jovens dos gêneros feminino e masculino, solteiros, com
escolaridade média, atraídos substancialmente por promessas de uma melhor qualidade de
vida, atribuída pelos bons salários oferecidos pelos empregadores coreanos, brasileiros e até
mesmo por seus próprios conterrâneos donos das oficinas de costura pertencentes â cidade de
São Paulo (SILVA, 1997, p. 85).
Segundo o último Censo (2010), os bolivianos tornaram-se a segunda maior colônia de
imigrantes na cidade de São Paulo, ficando atrás dos imigrantes portugueses. Pelo registro
oficial entre os anos de 2000 e 2010, o número de bolivianos registrados em São Paulo
aumentou em 173%, e deu um salto de 6.578 para 17. 960 o número de imigrantes bolivianos
registrados. De acordo com o Consulado da Bolívia em São Paulo, o número pode ser cinco
vezes maior quando incluirmos os imigrantes bolivianos que vivem em situação clandestina
estima-se que pode ultrapassar 100 mil. (Folha de São Paulo, 16 de junho de 2013).
17
Devido à facilidade de entrar no Brasil pela rota da clandestinidade, vários imigrantes
contam com a ajuda de aliciadores para chegar ao Brasil clandestinamente, por meio das
fronteiras de Cáceres1, Corumbá
2, e Guarajá-Mirim
3 (Silva, 2008, p.24).
A rota de entrada no país mais conhecida é a que liga Santa Cruz de La Sierra na
Bolívia e Corumbá (MS), no Brasil. Quem optar por esta rota terá que enfrentar uma
longa viagem de trem até Puerto Quijaro, próximo à fronteira brasileira, e depois
seguir em ônibus até Campo Grande, e daí, até São Paulo. Entretanto com o
aumento da fiscalização neste posto de fronteira, uma outra rota foi criada, a que tem
início em Santa Cruz de La Sierra, passando pelo Chaco paraguaio, até chegar a
Ciudad Del Leste, fronteira com o Brasil. Depois de cruzarem a Ponte da Amizade,
sem muita dificuldade, os bolivianos seguem rumo à capital paulista, partindo de
Foz do Iguaçu em ônibus, em geral aqueles utilizados pelos sacoleiros, que vão ao
Paraguai fazer compras. Quando a fiscalização aperta o cerco, os coiotes orientam os
bolivianos para seguirem até cidades mais próximas, como Medianeira ou até
Cascavel, e de lá pegar um Ônibus de linha até o destino final. O custo da viagem
até São Paulo é de aproximadamente U$160 dólares. (SILVA, 2008, p. 25).
A via de entrada no Brasil se dá na maioria das vezes por transporte terrestre, já que
por via aérea o custo da viagem se torna mais dispendioso. Um dos principais destinos de
imigrantes bolivianos no Brasil é a cidade de São Paulo, por esta representar para eles a
possibilidade de uma mobilidade social, tanto para aqueles com menor qualificação
profissional, os quais estão incorporados no setor da costura, quanto para os com maior grau
de escolaridade, como por exemplo, os profissionais liberais entre eles médicos, dentistas,
engenheiros, técnicos, e etc. (SILVA, 1997, p. 84).
Esta força de trabalho que condiciona toda a existência do imigrante, não pode ser
encontrada em qualquer lugar e não é qualquer tipo de trabalho, é o trabalho que o “mercado
de trabalho para imigrantes” proporciona, portanto imigrantes para trabalhos que se tornam
desta forma, trabalhos para imigrantes (SAYAD, 1998, p. 55).
Em relação a origem destes imigrantes bolivianos, destaca-se em sua maioria:
pacenhos, cochabambinos, orurenhos, potossinos, cruzenhos, entre outros (SILVA, 1997, p.
93).
A verdade é que muitos deles escondem sua procedência, dizendo que são naturais
da cidade grande, talvez pelo fato de que se identificar-se como camponês implica
1 Cáceres: município do estado brasileiro de Mato Grosso
2 Corumbá: município do estado brasileiro de Mato Grosso do Sul
3 Guajará-Mirim: município brasileiro do estado de Rondônia
18
assumir a identidade indígena, a qual é carregada de preconceitos tanto na Bolívia
quanto no Brasil. (SILVA, 1997, p. 89).
No quesito convivência entre migrantes bolivianos e brasileiros, segundo Dominique
Vidal (2012) pode se caracterizar como uma convivência pacífica de fluidez, harmonia e
poucas tensões, devido ao comportamento de sociabilidade mais recatado e contido do
migrante boliviano, e também por não apresentarem ameaças aos empregos dos brasileiros, já
que estes consideram como um trabalho análogo à escravidão. [...] ”Como se nota, a palavra
«escravo» é do ponto de vista dos brasileiros, um estigma que separa radicalmente dois
mundos, muito além da separação entre «nacionais» e «estrangeiros»” (VIDAL, 2012, p.
102).
Trata-se das poucas reações de hostilidade que provocam dentro da população
brasileira morando nesse mesmo espaço urbano. Embora a literatura sobre as
migrações internacionais tenha amplamente analisado a emergência de
manifestações de xenofobia ligadas à instalação de estrangeiros; não se observa nada
semelhante no caso dos bolivianos. Pelo contrário, as relações sociais entre
migrantes internacionais e brasileiros se caracterizam por um certo grau de fluidez e
convivência tanto no Brás e no Pari como no Bom Retiro e na Mooca. Aqui vale até
salientar que, exceto alguns casos, a maioria dos bolivianos e brasileiros encontrados
durante a pesquisa de campo não fazem comentários negativos a respeito uns dos
outros. (VIDAL, 2012, p. 94).
Vidal (2012) também analisa em sua pesquisa três caracteres de percepção dos
migrantes bolivianos a “indianidade”, a “cultura” e a “metáfora do trabalho escravo”, que por
sua vez, os fazem considerar diferentes e os essencializam.
Por relativamente bem aceitos que sejam pelos moradores brasileiros dos bairros
centrais de São Paulo, os migrantes bolivianos não deixam de ser vistos como
formando um grupo à parte definidos por três características principais: ser uma
população de «índios», ter «outra cultura» e trabalhar como «escravos». Para
entender a vida dos bolivianos do setor da confecção é preciso levar em conta os
efeitos dessas três representações (ou categorizações) que muitas vezes se cruzam na
prática, mas podem ser analiticamente distinguidas. Com efeito, o uso permanente
dessas categorizações para definir os bolivianos contribui à homogeneização e à
essencialização de uma população migrante diferenciada em termos de origens,
trajetórias e posições ocupadas. Também participa do processo de construção da
etnicidade dos bolivianos em São Paulo a partir de fronteiras sociais traçadas entre o
grupo definido pelas categorizações e a interação entre os membros desse grupo e o
resto da sociedade num determinado contexto sócio-histórico. (VIDAL, 2012, p. 99)
Destarte, no que se refere à condição social dos mesmos, Silva (1997, p. 93) em sua
pesquisa verificou que, grande parte são pobres, por habitarem nos bairros localizados em
regiões periféricas ou serem provenientes da zona rural em seu país de origem. O autor diz
19
que é importante ressaltar, “que em alguns casos, principalmente de famílias, foi constatado a
existência de algum bem durável, como casas, terras, porém dentro do padrão de pequenas
propriedades”.
Em relação a distribuição espacial dos migrantes bolivianos na cidade de São Paulo,
pode-se destacar os bairros centrais, por sua vez, mais concentrados por ordem decrescente
nos bairros: Bom Retiro, Belém, Brás, Pari, República e Santa Cecília. Que por sua vez
possuem um marco histórico da presença de imigrantes internacionais por décadas. Por
conseguinte, reforça não só a presença histórica de diferentes ondas migratórias
internacionais, mas também internas, e que encontram nesses espaços condições importantes
para sua concentração na cidade. Iara Rolnik Xavier conclui que “aparentemente, existem nos
bairros centrais determinados atributos que parecem servir tanto aos migrantes do passado
quanto aos mais recentes” (XAVIER, 2012 p.131).
Embora cada um dos bairros centrais citados possua uma história particular,
podemos dizer que são distritos historicamente industriais e operários, sendo que, do
ponto de vista de sua constituição e crescimento, como dito, estiveram muito
associados ao período de imigração internacional em massa. A atividade industrial
principal nesses espaços (sobretudo Brás, Bom Retiro e Belém) girou em torno do
setor de confecção de roupas, que contribuiu para a sua estruturação espacial e
produtiva, formando o que Becattini denominou como distrito industrial
especializado – o que remete à lógica de concentração espacial de uma atividade
produtiva específica. A participação dos diversos grupos migrantes nessa indústria e
nesse espaço parece ir além, no entanto, de uma simples associação entre grupos,
atividades e espaço, criando uma lógica que alia imigração e especialização laboral
que caracterizou a indústria do vestuário também em outros contextos, como na
França (XAVIER, 2012, p. 131).
É importante lembrar que, além dos bairros centrais tradicionais já citados, bolivianos
e outros migrantes hispanos americanos4 encontram-se também concentrados na Zona Leste,
Norte, e Oeste da cidade de São Paulo. Todavia, existem outros lugares que podem ser
encontrados, como também na Zona Sul da cidade e em municípios da Grande São Paulo
como: Diadema, Santo André, Ribeirão Pires, Osasco, Barueri, São Roque, Guarulhos e
outros mais afastados, como Francisco Morato, Jundiaí, Campinas, Sumaré, Americana,
Araçatuba, São Carlos, Ribeirão Preto, Ourinhos e tec. (SILVA, 2008, p.20).
Este afastamento ou espalhamento espacial na cidade de São Paulo se dá por causa da
preocupação em serem descobertos pela fiscalização do Ministério do Trabalho e da Polícia
4 Imigrantes paraguaios e peruanos.
20
Federal, por serem indocumentados no Brasil e por trabalharem em fábricas clandestinas,
submetendo-se a condições insalubres e exploratórias de mão de obra.
Para escapar da fiscalização do Ministério do Trabalho e da Polícia Federal, que às
vezes atuam juntos nas investigações, os imigrantes indocumentados adotam a
estratégia do afastamento de bairros onde há uma grande concentração de hispano-
americanos, como é o caso do Brás, Pari e Bom Retiro, lugares estes outrora
habitados por italianos, judeus entre outros. Tal estratégia, conjugada com outros
fatores econômicos, como, por exemplo, o preço dos aluguéis, tem fomentado uma
desconcentração espacial, articularmente daqueles que trabalham no ramo da
costura. (SILVA, 2008, p. 20)
Em suma, o texto acima nos deixa claro que a localização espacial dos migrantes
bolivianos na cidade de São Paulo, possui uma correspondência direta com o modelo de
atividade produzida por eles na cidade, que é neste caso o ramo da costura.
Sidney Antônio da Silva (2008, p.24) ressalta que, primeiramente importa ter o
conhecimento no qual em sua maioria a mão de obra boliviana apresenta-se para preencher
demandas já existentes dos setores do mercado de trabalho, que não requisitam uma
qualificação prévia. Em segundo, não possuem o respeito dos direitos dos trabalhadores
agraciados na Convenção Geral das Leis brasileiras do Trabalho (CLT), em terceiro, onde
ocorre uma intensa circulação de trabalhadores.
Silva (2008, p.25) conclui [...] ”Sendo assim, não se sustenta a percepção do senso
comum de que eles estariam “roubando” empregos dos brasileiros, até porque seria difícil
encontrar algum brasileiro disposto a aceitar as condições de trabalho impostas a estes
imigrantes, em razão da sua frágil condição de indocumentação no país”.
Situação esta que Sayad (1998, p.55) interpreta como o “mercado de trabalho para
imigrantes”, portanto, uma força de trabalho condicionada a situação que lhe é submetida ou
mesmo exposta. A grande ampliação da economia, um dos principais fatores que estimulam a
imigração por ser a maior consumidora de fato da imigração, necessita de mão de obra
imigrante permanente e sempre mais numerosa. Assim, contribui para assentar e fazer com
que todos dividissem a ilusão coletiva que se encontra a base da imigração.
Ainda é difícil avaliar com relativa exatidão o número de imigrantes latino-
americanos que trabalham na confecção, sendo que a grande maioria são
informalmente ocupados. No entanto, podemos supor que o número de empregos na
confecção em São Paulo não tenha diminuído de forma drástica, dado que, se fosse
confirmado, colocaria o setor numa situação de exceção no conjunto das atividades
industriais em São Paulo, as quais sofreram importantes reduções de suas atividades
21
e efetivos de mão de obra. Sem embargo, a organização econômica e sociologia dos
ocupados do setor na metrópole evoluíram com a participação crescente dos
estrangeiros e recuo progressivo da mão de obra nacional. (SOUCHAUD, 2012,
p.83)
Devido à falta de documentação, os migrantes bolivianos clandestinos por não terem
outras opções, acabam se submetendo ao que lhes é oferecido, na grande maioria das vezes
ainda no seu país de origem. Situação resultante das redes familiares e de agenciamento de
trabalhadores ilegais já fixados na Bolívia, deste modo, direcionando a mão de obra para o
setor específico do mercado de trabalho, como é o caso da costura. (SILVA, 2008, p. 25).
Por conseguinte, os salários de uma jornada de trabalho nem sempre são miseráveis,
e os casos de mão de obra cativa acontecem geralmente com os migrantes recém-
chegados que ainda não perceberam as regras e possibilidades do mercado.
(SOUCHAUD, 2012, p. 86)
Os imigrantes bolivianos encaram a atividade da costura como algo temporário, pois a
maioria não teve o desempenho desta profissão em seu país de origem. Em geral, muitos se
dedicavam a atividades completamente distintas com as que exercem aqui no Brasil, como
por exemplo: atividades na agricultura, no comércio, no setor de prestação de serviços, e
também aos estudos, caso mais específico dos jovens. Portanto, evidencia-se que para muitos
o processo de aprendizado na costura se torna um extremo sofrimento e trauma, como
também representar de certa forma, uma modificação no seu status profissional de origem.
(SILVA, 2008, p. 26).
O sentimento de temporariedade vivido pelo imigrante (neste caso o imigrante
boliviano) é muito bem traduzido por Abdelmalek Sayad (1998, p.45) em seu livro: A
Imigração ou os Paradoxos da Alteridade, defende a ideia que uma das características
principais da imigração, exceto algumas situações, é o sentimento do imigrante dissimular a
sua própria verdade da sua realidade. Assim, colocando-o em uma dupla contradição:
sentimento de estado provisório, ou sentimento de um estado provisório que pode prolongar-
se por mais um pouco. Tudo se explica por não se conseguir pôr em conformidade, o direito e
o fato, portanto condena-se a criar uma situação de dupla contradição citada anteriormente.
Contudo, fica evidente que adaptar-se às normas e condições insalubres de trabalhos
em setores, onde a regulamentação é nula, é uma etapa extremamente difícil para os
22
imigrantes bolivianos residentes na cidade de São Paulo. Condições estas que expõem um
cenário de violação dos Direitos Humanos e das leis do Ministério do Trabalho brasileiro.
Ambientes de trabalho pouco ventilados propiciam uma série de doenças aos
costureiros (as), afetando-lhes os olhos, como é o caso da conjuntivite, ou ainda os
pulmões, em razão do pó aspirado durante o período de trabalho. Outras doenças
comuns são as que afetam as pernas e pés, causando-lhes inchaço, por falta de
circulação, ou a anemia, consequência de uma alimentação pobre em proteínas e
vitaminas, já que uma das fontes de proteínas, o feijão, é pouco consumida por eles,
em razão de hábitos culturais. Tais condições de vida propiciam o reaparecimento de
uma doença já pouco falada no contexto brasileiro, que é a tuberculose. (SILVA,
2008, p. 26)
Segundo Dominique Vidal, o discurso da Organização Internacional do Trabalho
(OIT) a respeito da luta contra a escravidão moderna, baseia-se [...] no fato de que muitos
migrantes bolivianos clandestinos vivem em oficinas de costura em que trabalham até
dezessete horas por dia, seis dias por semana. (VIDAL, 2012, p.100).
Salienta-se que os mesmo estão sujeitos às instabilidades do mercado, que por sua vez
impõem os preços a serem pagos por peça costurada, da mesma maneira que também
subjugados aos domínios e vontades de seus empregadores que lhes cobram uma farta
produção, não obstante, efetuando o pagamento da maneira que lhes convém, podendo reter o
salários deles por vários meses. (SILVA, 2008, p.26).
No preço pago a cada peça costurada estão incluídos os gastos que o oficinista tem
com a alimentação e residência dos seus costureiros (as). Assim, os “salários”
variam de acordo com o tipo de roupa costurada, ou seja, masculina ou feminina,
mais complexa ou mais simples, e depende também da habilidade do trabalhador (a)
em aprender rapidamente os macetes da costura. Dessa forma, os homens podem
ganhar mais que as mulheres, em razão da sua agilidade, resultante do seu vigor
físico. Na fase inicial, um aprendiz pode ganhar cerca de R$150,00 a R$200,00. Já
numa fase posterior, os seus rendimentos giram em torno de R$350,00 a R$400,00,
longe de atingir o piso salarial da categoria que é de R$659,00. (SILVA, 2008, p.
26)
É importante ressaltar que, neste setor da costura existem outras especificidades, tais
como: passadores de roupa, cortadores ou modelistas que por apresentarem um grau de
experiência e técnica, ganham mais do que um simples trabalhador costureiro. Também não
se pode esquecer que com a alta demanda do mercado de trabalho normalmente ocorrida no
final do ano, os momentos de alta produção proporcionam um acréscimo no salário, contudo,
à custa de muito trabalho (SILVA, 2008, p. 27).
23
A total desregulamentação desta forma de produção terceirizada, que em grande
parte, inclui os membros da família nuclear e ampliada, como é o caso de parentes e
conhecidos do lugar de origem, abre espaço para relações de trabalho
superexploradas e, em alguns casos, de trabalho escravo. Isto se torna possível em
razão da condição de indocumentação dos imigrantes e pelas relações de favor que
se criam entre empregados e empregadores, uma vez que estes bancaram a vinda
daqueles e lhes forneceram casa e alimentação (SILVA, 1997, p. 121)
Não obstante, estas relações de dependência são suspensas com regularidade, e muitas
vezes com o auxílio de algum conterrâneo, colega ou amigo são capazes de escapar do
cativeiro. Já para as mulheres a fuga torna-se muito mais complicada, por sentirem-se mais
frágeis com a falta de conhecimento da língua portuguesa e também a falta de referências na
cidade, a grande maioria desconhece até mesmo o endereço que moram. (SILVA, 2008, p.
27).
Estas formas de relações de trabalho, tidas como “arcaicas” para os padrões
“modernos” do século XXI, nos remete ao contexto da Revolução Industrial do
século XVIII, quando mulheres e crianças eram incorporadas à produção fabril em
condições insalubres e ganhando menos do que os homens. Neste contexto, o
trabalho a domicílio, como constatou Marx, era ‘uma seção externa da fábrica, da
manufatura ou do estabelecimento comercial’ (MARX, 1985, p. 529-530). A
verdade é que a modernidade convive com formas anacrônicas de produção, pois o
que está em jogo é a reprodução ampliada do capital, sem nenhuma responsabilidade
social. Um exemplo disso é a prática adotada por algumas redes de lojas no Brasil,
entre elas a C&A, que em nome da competitividade, tem se utilizado de mão de obra
indocumentada para confeccionar os seus produtos. Segundo um oficinista que
prestava serviços para uma empresa coreana, a mediadora entre os bolivianos e a
referida loja, havia pelo menos sessenta oficinas de costuras envolvidas em tal
processo de produção. (SILVA, 2008, p. 28)
É importante notar que, outras empresas além da C&A foram investigadas pelo
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), como por exemplo: a Zara, Marisa,
Pernambucanas, Riachuelo, Renner, Hering, Gregory, Bo.Bô, Le Lis Blanc, Talita Kume,
Cori, M. Officer.
Reportagem da revista Brasil de Fato sobre a questão do trabalho escravo no setor
têxtil:
Nos últimos quatro anos, fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)
flagraram trabalhadores bolivianos em condições degradantes em oficinas de costura
fornecedoras de marcas populares e caras. Autuada 48 vezes em 2010 e multada, a
Marisa assinou um TAC e afirma fiscalizar, mas não divulga os resultados.
Absolvida em primeira instância, questiona o governo na Justiça por publicar a “lista
24
suja” do trabalho escravo. O MTE recorre da absolvição. A C&A não chegou a
receber autuação formal, mas passou a fazer auditorias surpresa e divulga na internet
casos de trabalho infantil e pagamento abaixo do salário mínimo. A Collins assinou
TAC e passou a fiscalizar os parceiros. Já a 775 não fiscaliza nem informa as ações
para evitar o trabalho escravo na produção. Com oficinas flagradas em 2011, as
Pernambucanas se recusaram a assinar acordo para sanar os problemas e não
publicam dados das auditorias que garantem fazer. A Gregory que, em 2012,
recebeu 25 autos de infração, não assinou TAC e não diz o que faz para combater o
trabalho escravo. No ano passado, foi a vez de oficinas da Bo.Bô, Le Lis Blanc e
John John, e da Cori, do mesmo grupo de Emme e Luigi Bertolli. As marcas não
declaram ações contra trabalho escravo ou se descartam fornecedores. Em maio
passado, fiscais encontraram bolivianos costurando para a M. Offi cer – o que já
tinha acontecido em novembro de 2013. Em julho, o MPT pediu à Justiça que
responsabilize a marca por trabalho escravo, além de multa de R$10 milhões por
danos morais e que seja proibida de atuar no estado de São Paulo. (BRASIL DE
FATO, 19 de ago. 2014).
Portanto, evidencia-se que existe uma rede de beneficiados com a exploração de mão
de obra exploratória, e muitas vezes, passa despercebida aos seus consumidores finais. O que
se necessita é a consciência de qual é a procedência dos produtos que são adquiridos, para
combater o trabalho escravo ”contemporâneo”.
O Ministério Público do Trabalho (MPT) tem feito investigações e autuando empresas
que participam de práticas exploratórias ligadas direta e indiretamente ao trabalho escravo,
vários trabalhadores bolivianos já foram libertos dos seus cativeiros pela Polícia Federal (PF)
e o MPT. (LOPES, 2015, p.228)
Destarte, mesmo com as medidas tomadas pelo MPT, o imigrante boliviano encontra-
se em uma situação de vulnerabilidade, por estar submetido a um sistema de privação e
violação de direitos humanos.
Portanto, depois de analisar o fluxo imigratório de bolivianos para o Brasil e de
descrever os condicionantes e o cenário de violação de direitos humanos, torna-se claro que a
imigração boliviana é um dos fluxos de imigração mais intensos no nosso país, e que ainda
assim, vive em sua maioria na clandestinidade. Em sequência se presentará a questão de como
o Estado brasileiro está compreendendo a questão migratória e também quais as políticas de
proteção para o imigrante boliviano, uma vez que a Bolívia é signatária do Acordo de
Residência do MERCOSUL.
25
2.2 Normativas, diálogos e ações unilaterais, bilaterais e regionais a respeito da
imigração boliviana para o Brasil
Segundo o Ministério das Relações Exteriores (MRE), as relações bilaterais com a
Bolívia são prioritárias para o Brasil, e abrangem iniciativas em áreas como: cooperação
energética, cooperação fronteiriça e combate a ilícitos transnacionais, da mesma maneira que,
a articulação em foros regionais e globais.
Por compartilhar a maior parte da sua fronteira com o Brasil, torna-se de grande
importância geoestratégica as relações entre Brasil e Bolívia, (ao todo são 3.423 km de
extensão fronteiriça), devido a sua posição geográfica localizada no centro da América do Sul,
a Bolívia torna-se um parceiro favorecido para o aperfeiçoamento de integração física e
regional. (Ministério das Relações Exteriores, [200-?], [s.p.]).
O Brasil é, historicamente, o principal parceiro comercial da Bolívia. É o primeiro
destino das exportações bolivianas – equivalendo a cerca de 40% do total – em
função da venda do gás natural, e segunda origem das importações, atrás apenas do
Chile. As relações econômicas com o Brasil têm impulsionado o desenvolvimento
boliviano. A presença econômica brasileira o país, em termos de superávit
comercial, investimentos e remessas de imigrantes, alcança a ordem de US$ 1,6
bilhão anuais. Brasil e Bolívia têm desenvolvido importante política de integração
fronteiriça, a fim de tornar a fronteira um espaço de paz, cooperação e
desenvolvimento econômico e social. Em 2011, foram criados os "Comitês de
Integração Fronteiriça", com o objetivo de buscar soluções para questões específicas
das zonas de fronteira. Foram realizadas as reuniões dos Comitês que operam em
Corumbá/Puerto Suárez (2011), Brasileia-Epitaciolândia/Cobija (2012), Cáceres/San
Matías (2013) e Guajará-Mirim/Guayaramerín (2013). Essa nova política de
integração fronteiriça busca dar novo ímpeto à cooperação e trazer efetivas
melhorias à população local. (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES,
[200-?], [s.p.]).
As relações bilaterais entre Brasil e Bolívia, sobre a imigração, resultaram dois
acordos: o Acordo Brasil-Bolívia de Facilitação para o Ingresso e Trânsito de seus Nacionais
em seus territórios, assinado em 08 de julho de 2004, e o Acordo, por troca de Notas, sobre
regularização Migratória, assinado em 15 de agosto de 2005.
O Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da
República da Bolívia sobre Facilitação para o Ingresso e Trânsito de seus Nacionais em seus
Territórios, foi firmado em Santa Cruz da Serra, em 08 de julho de 2004, e entrou em vigor
internacionalmente em 16 de setembro de 2005, pelo Decreto de Lei nº 5.541. Tem como
26
propósito acordar um regime simplificado que estimule e facilite o trânsito de pessoas com
fins oficiais, de turismo, ou negócios, entre os territórios de ambos os países, assim, ressalta-
se a importância do turismo como fator de incentivo econômico e da geração de empregos.
(BRASIL, 2005).
O Acordo Brasil-Bolívia de Facilitação para o Ingresso e Trânsito de seus Nacionais
em seus territórios mostra no Artigo 02 que é permitido aos seus nacionais ingressar, transitar
e sair do território da outra parte, mediante a apresentação de seu documento nacional de
identificação vigente e o cartão imigratório correspondente, sem necessidade de visto, com a
condição de permanecer no território da outra parte para realizar atividades oficiais de turismo
ou negócios, por um período de até noventa dias prorrogáveis por outros noventa dias em um
ano.
Portanto, o Acordo presente não visa resolver a situação dos imigrantes bolivianos
sem documentação que já residem no Brasil, no Artigo 07, fica evidente a intenção de não
permitir ao imigrante de fixar residência e de trabalhar de forma regular, assim, coloca o
imigrante boliviano indocumentado em condição de vulnerabilidade.
O presente Acordo não autoriza aos nacionais de uma Parte exercer qualquer
atividade, profissão ou ocupação que tenha caráter remunerado ou fins de lucro,
fixar residência no território da outra Parte nem trocar de status migratório dentro do
território da outra Parte. (BRASIL, 2005, [s.p.])
A seguir com a visita do Ministro Celso Amorin, a capital da Bolívia, La Paz,
estabeleceu-se mais uma relação bilateral entre Brasil e Bolívia na questão migratória, foi
assinado o Acordo por troca de Notas sobre regularização Migratória, firmado em 15 de
agosto de 2005, com ressalva o referido Acordo posteriormente sofreu um Ajuste
Complementar firmado por Notas Reversais de 06 de setembro de 2006. (BRASIL, 2005)
O Acordo por troca de Notas sobre regularização Migratória tem como principal
objetivo, prosseguir e promover a integração socioeconômica dos nacionais dos dois países,
que se encontra em situação imigratória irregular. Deste modo, um marco apropriado às
condições dos imigrantes dos dois países, viabiliza de maneira efetiva sua inserção na
sociedade do país receptor.
O presente Acordo visa alcançar nacionais de uma das partes que ingressaram no
território da outra parte até 15 de agosto de 2005, e que se encontra em situação imigratória
27
irregular, o registro e a autorização de permanência também é extensivo ao grupo familiar que
também se encontra no território da parte receptora.
È importante ressaltar que o Acordo por troca de Notas, sobre regularização
Migratória, foi substituído pelo Acordo sobre Residência para Nacionais dos Estados Partes
do Mercado Comum do Sul, mais Bolívia e Chile, em 08 de outubro de 2009, acordo este que
disciplina as questões migratórias e de residência entre os Estados Partes e associados.
Este Acordo em Âmbito MERCOSUL ampliado foi incorporado pelo Brasil, por meio
do Decreto nº 6.975, e entrou em vigor desde a data de sua publicação em 07 de outubro de
2009. (MERCOSUL, 2009).
O Acordo sobre residência para nacionais dos Estados Partes do MERCOSUL, Bolívia
e Chile, aprovado por decisão do Conselho do Mercado Comum N.º 28/02, é fruto do
MERCOSUL, criado como instrumento de política regional fundamental para o tema da
imigração. (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2010).
O presente acordo proporciona a garantia aos nacionais dos países membros, o direito
à residência temporária de dois anos, sujeito a alteração para residência permanente após os
noventa dias do referente vencimento. Acordo de Residência:
O Acordo, aprovado pela Decisão CMC Nº 28/02, concede o direito à residência e
ao trabalho para os cidadãos sem outro requisito que não a nacionalidade. Cidadãos
dos Estados Partes e dos Estados Associados que integram o acordo gozam de
trâmite facilitado para a solicitação de visto de residência, desde que tenham
passaporte válido, certidão de nascimento e certidão negativa de antecedentes
penais. É possível requerer a concessão de “residência temporária” de até dois anos
em outro país do bloco. Antes de expirar o prazo da “residência temporária”, os
interessados podem requerer sua transformação em residência permanente. (MERCOSUL, 2009, [s.p.])
Na evolução do processo de integração Brasil e Bolívia, e também sul-americana, o
Acordo de Residência do MERCOSUL mostra-se como um marco na questão migratória, sem
dúvidas um grande avanço, pois simplifica a regularização dos imigrantes dos Estados
membros por meio de visto temporário e permanente.
O Acordo de Residência do MERCOSUL tem como principais benefícios:
Direito de exercer qualquer atividade: Por conta própria ou por conta de terceiros,
nas mesmas condições que os nacionais do país de recepção, particularmente o
direito a trabalhar e exercer toda atividade lícita nas condições que dispõem as leis;
peticionar às autoridades; ingressar, permanecer, transitar e sair do território das
28
Partes; associar-se com fins lícitos e professar livremente sua religião, em
conformidade com as leis que regulamentem seu exercício;
Direito à reunificação familiar: Os membros da família que não possuam a
nacionalidade de um dos Estados Partes poderão solicitar uma residência de idêntica
vigência daquela que possua a pessoa da qual dependam, desde que apresentem a
documentação que se estabelece como requisito para a comprovação da relação
familiar e não possuam impedimentos;
Direito à igualdade de tratamento: Os imigrantes gozarão, no território das Partes, de
um tratamento não menos favorável daquele que recebem os nacionais do país de
recepção, no que se refere à aplicação da legislação trabalhista, especialmente em
matéria de remunerações, condições de trabalho e seguros sociais;
Direito a transferir remessas: direito a transferir livremente ao seu país de origem
sua renda e economias pessoais, particularmente os fundos necessários para o
sustento dos seus familiares, em conformidade com a normativa e a legislação
interna de cada uma das Partes;
Direitos dos filhos dos migrantes: os filhos dos imigrantes que tenham nascido no
território de uma das Partes terão direito a ter um nome, um registro de nascimento e
uma nacionalidade, em conformidade comas respectivas legislações internas. Os
filhos dos imigrantes gozarão, no território das Partes, do direito fundamental de
acesso à educação em condição de igualdade com os nacionais do país de recepção.
O acesso às instituições de ensino pré-escolar ou às escolas públicas não poderá ser
negado ou limitado devido à circunstancial situação irregular da estada dos pais.
(MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2010, p.19).
Como visto anteriormente, os imigrantes favorecidos pelo Acordo de Residência do
MERCOSUL dispõem de igualdade de direitos civis e também de deveres e responsabilidades
trabalhistas e previdenciárias.
A propósito vale lembrar que, no quesito da Previdência Social para o imigrante
residente no Brasil, não se aplica o Acordo do MERCOSUL, mas o Acordo Internacional de
Direitos Previdenciários5, assinado em 12 de abril de 2007, os quais fazem parte: Brasil,
Argentina, Cabo Verde, Chile, Espanha, Grécia, Itália, Luxembrugo, Paraguai, Portugal e
Uruguai. (Zamberlam et al, 2013, p. 50).
Mas em específico Brasil e Bolívia na questão da Previdência Social, é vigente o
Acordo e Assinatura do Acordo de Aplicação da Convenção Multilateral Ibero-Americana de
Seguridade Social. Acordo este que proporciona aos trabalhadores regras iguais para países
membros assim, facilita-se a obtenção de benefícios previdenciários. A Convenção já está em
vigor desde 19 de maio de 2011 para os seguintes países: Bolívia, Brasil, Chile, El Salvador,
5 Os Acordos Internacionais têm por objetivo principal garantir os direitos de seguridade social previstos nas
legislações dos dois países aos respectivos trabalhadores e dependentes legais, residentes ou em trânsito no país.
Os Acordos Internacionais de Previdência Social estabelecem uma relação de prestação de benefícios
previdenciários, não implicando na modificação da legislação vigente no país, cumprindo a cada Estado
contratante analisar os pedidos de benefícios apresentados e decidir quanto ao direito e condições, conforme sua
própria legislação aplicável, e o respectivo Acordo. Disponível em: < http://www.previdencia.gov.br/a-
previdencia/assuntos-internacionais/assuntos-internacionais-acordos-internacionais-portugues/> Acesso em: 17
de maio de 2015.
29
Equador, Espanha, Paraguai, Portugal e Uruguai. (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA
SOCIAL, [200-?], [s.p.]).
È importante ressaltar que em dezembro de 2012, a Bolívia assinou o Protocolo de
Adesão ao MERCOSUL o que estreitou ainda mais as relações regionais Brasil e Bolívia.
O Acordo de Residência de Nacionais obteve inspiração na Convenção Internacional
sobre Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes, e dos Membros das suas
Famílias desde 1990. (REDIN, 2013, p.131). Vale lembrar que o Brasil ainda não ratificou a
Convenção, mesmo que em 1996, tenha incluído em seu Plano Nacional de Direitos Humanos
o compromisso com a ratificação.
Conforme o Acordo sobre Residência para nacionais dos Estados partes do
MERCOSUL, Bolívia e Chile, em seu preâmbulo deixa explícito a intenção de solucionar a
questão migratória dos Estados partes, e os países associados. A fim de combater o tráfico
humano para exploração de mão de obra entre outros.
VISANDO a solucionar a situação migratória dos nacionais dos Estados Partes e
Países Associados na região, a fim de fortalecer os laços que unem a comunidade
regional; CONVENCIDOS da importância de combater o tráfico de pessoas para
fins exploração de mão de obra e aquelas situações que impliquem degradação da
dignidade humana, buscando soluções conjuntas e conciliadoras aos graves
problemas que assolam os Estados Partes, os Países Associados e a comunidade
como um todo, consoante compromisso firmado no Plano Geral de Cooperação e
Coordenação de Segurança Regional (MERCOSUL, 2009, [s.p.])
Em relação ao Acordo de Residência de Nacionais, Redin (2013, p. 131) caracteriza
que se trata de um importante progresso, especificamente, “o principal avanço mercosulino
para uma livre circulação de pessoas e que realiza um esforço de incluir de forma significativa
o estrangeiro, para dentro de sistema que compreende como objeto produtivo (esquema do
Estado Nação)”.
Com efeito, ao Acordo de Residência, junto com o Acordo de Isenção de Visto e do
Tráfico Ilícito de Migrantes, são iniciativas essencialmente importantes, porém não
representam uma reorientação, pelo menos do ponto de vista regional, dos estigmas que
recaem sobre a pessoa do estrangeiro, dentre os quais o de “não sujeito”. (REDIN, 2013,
p.133).
Dentro da estrutura institucional do MERCOSUL, o tema da imigração foi remetido
ao subgrupo de trabalho nº12, vinculado ao Grupo Mercado Comum, nomeado
30
Assuntos de Trabalho, Emprego e Seguridade Social. No Parlamento do
MERCOSUL, o tema está destinado à Comissão de Assuntos Interiores, Segurança e
Defesa, com as pautas “assuntos migratórios” e “integração fronteiriça”. Ou seja, a
imigração é antes e tudo uma questão econômica. (REDIN, 2013, p. 134)
Em relação às ações unilaterais entre Brasil e Bolívia, é importante destacar as anistias
dadas pelo Brasil aos imigrantes que se encontravam em condições irregulares. Ao total
foram quatro anistias concedidas pelo governo brasileiro aos estrangeiros ilegais, a primeira
foi no ano de 1980, a segunda no ano de 1988, a terceira no ano de 1998, e a última concedida
no ano de 2009. Vale lembrar que, esta última anistia foi decorrente do Acordo sobre
Residência para Nacionais dos Estados Partes do Mercado Comum do Sul, Bolívia e Chile de
2009.
A última anistia foi aprovada pelo Congresso brasileiro por meio do Projeto de Lei nº
1664 em junho de 2009, e sancionada em julho de 2009, pelo presidente da época, Luiz Inácio
Lula da Silva. Assim, beneficiou os imigrantes que entraram no território brasileiro
clandestinamente até fevereiro de 2009, e valeu também para quem entrou de forma regular
mas excedeu o período concedido pelo visto de entrada.
Segundo o Ministério da Justiça (MJ) a comunidade de imigrantes bolivianos foi a
que alcançou o maior número de beneficiados com a Anistia em 2009, com mais de 17 mil
imigrantes bolivianos contemplados. A maioria absoluta deles com 16,3 mil se apresentaram
no Estado de São Paulo, dos 43 mil imigrantes beneficiados destacaram-se também o número
de chineses (5,5 mil), peruanos (4,6 mil), paraguaios (4,1 mil), coreanos (1,1 mil) e também
aproximadamente 2,4 mil europeus que procuraram a Polícia Federal (MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA, 2009, [s.p.]).
Em suma, a Anistia de 2009, contribuiu para que os imigrantes residentes no Brasil
obtivessem acesso ao mercado de trabalho com as mesmas garantias legais dos nacionais
como, por exemplo: a garantia da carteira de trabalho assinada, saúde pública, educação
gratuita, permissão de acesso ao sistema bancário e ao crédito, e também o direito de ir e vir
dentro do território. Portanto, é evidente que o principal objetivo da medida estava na
intenção de conseguir retirar os imigrantes de situações de trabalho abusivas, análogas à
escravidão e de violação aos Direitos Humanos.
Redin (2013, p.158), cita que “a residência regular no Brasil garante todos os direitos
inerente ao brasileiro, exceto os políticos, e tem sido compreendida no âmbito do Poder
Executivo como uma “ação humanitária” brasileira”.
31
Muitas foram as dificuldades enfrentadas pelos imigrantes bolivianos para se obter a
anistia, tais como: falta de informação, antecedentes criminais, ausência de comprovante da
data de entrada no território brasileiro, falta de comprovação de renda, medo da deportação e
de ser punido, taxas onerosas dificultando o registro para quem precisa registrar a família.
É importante lembrar que, está em andamento no Congresso Nacional um Projeto de
Lei (Lei 6300/13) que atualiza a lei de Anistia de 2009, destinado aos imigrantes clandestinos
que ingressaram no Brasil até o dia 30 de junho de 2013 (CÂMARA DOS DEPUTADOS,
2013, [s.p.]).
A proposta modifica a atual Lei de nº. 11. 961/09, a norma criou um trâmite mais
rápido para os processos de regularização imigratória. O Projeto tem como objetivo principal
beneficiar os estrangeiros que entraram de forma clandestina no território brasileiro, bem
como os que entraram de maneira regular, porém estão com o prazo de seus vistos vencidos.
Segundo a Agência Câmara Notícias o Projeto da Lei 6300/13, tramita em caráter
conclusivo nas comissões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional e Constituição e
Justiça e de Cidadania. È lamentável que tramitação da Lei 6300/13, está demorada demais e
avançando aos poucos.
Nas ações unilaterais entre Brasil e Bolívia, é também importante lembrar as políticas
municipais para migrantes feitas pela prefeitura da capital do Estado de São Paulo.
Pode-se citar como exemplo: o primeiro Centro de Referência e Acolhida para
Imigrantes da Prefeitura de São Paulo, a regularização da feria de bolivianos na Rua Coimbra
na cidade São Paulo, criação dos Conselhos Participativos, onde imigrantes residentes na
cidade obtiveram a chance de concorrer às cadeiras de conselheiros extraordinários por meio
de eleição, realização de diálogo aberto com a comunidade para discutir sobre as políticas
municipais para migrantes.
No dia 29 de agosto de 2014, foi inaugurado o primeiro Centro de Referência e
Acolhida para Imigrantes da Prefeitura de São Paulo:
O primeiro Centro de Referência e Acolhida para Imigrantes (CRAI) da Prefeitura de
São Paulo foi aberto nesta sexta-feira, dia 29, com 110 leitos e oferecerá serviços
complementares ao abrigamento como suporte jurídico, apoio para documentação e
aulas de português. Com abertura do CRAI, a administração desativou o abrigo
emergencial aberto em maio para o atendimento de imigrantes haitianos. O novo
abrigo funciona em um prédio reformado na Bela Vista, região central, e dará
prioridade aos imigrantes mais vulneráveis e recém-chegados ao País. O objetivo é
oferecer a estrutura de uma “casa de passagem” e auxiliar os imigrantes na adaptação
32
à vida em São Paulo e dar condições para a autonomia. O atendimento será realizado
em parceria entre as secretarias municipais de Assistência e Desenvolvimento Social
(SMADS) e de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC). Uma equipe
multidisciplinar acolherá e dará suporte a imigrantes em trânsito, independentemente
da nacionalidade, gênero, do status migratório ou do amparo legal para a sua estada
em território nacional. (Prefeitura de São Paulo Direitos Humanos e Cidadania, 2014,
[s.p.]).
Sobre a regularização da feira de bolivianos na Rua Coimbra da cidade de São Paulo,
foi legitimada no dia 18 de novembro de 2014, pela Secretaria Municipal de Direitos
Humanos e Cidadania, junto ao subprefeito da Mooca, a feira existe desde o ano de 2003, e ao
longo desses 11 anos, foi crescendo e se popularizando pelos moradores, por ser uma espécie
de centro comercial dos alimentos e produtos típicos bolivianos. Onde se encontra também
um posto avançado do Consulado da Bolívia, agências de remessas de dinheiro para o exterior
e compras de passagens aéreas, cabines telefônicas, entre outros serviços (Prefeitura de São
Paulo Direitos Humanos e Cidadania, 2014, [s.p.]).
Hoje é um dia histórico. Os imigrantes são parte importante da cultura e do
desenvolvimento da nossa cidade e sempre foram vistos com desconfiança, a menos
que alcançassem as esferas mais altas da sociedade. Quero ver a feira da rua
Coimbra ser reconhecida daqui a alguns anos como um local de turismo, como hoje
é o bairro da Liberdade”, disse Rogério Sottili, secretário de Direitos Humanos e
Cidadania da Prefeitura de São Paulo. Sottili lembrou que a regularização da feira é
uma demanda antiga da comunidade boliviana que vive em São Paulo e é obrigação
da Prefeitura criar políticas públicas para que a população e os imigrantes possam
desenvolver sua economia e cultura. (Prefeitura de São Paulo Direitos Humanos e
Cidadania, 2014, [s.p.])
Ainda nos programas e projetos da Prefeitura de São Paulo, é importante relatar a
criação dos Conselhos Participativos, onde imigrantes residentes na cidade obtiveram a
chance de concorrer às cadeiras de conselheiros extraordinários por meio de eleição, os
demais imigrantes foram às urnas votar em eleger seus candidatos representantes de suas
causas.
A criação dos Conselhos Participativos pela atual gestão municipal foi um marco na
luta pela ampliação da participação social no poder público. O Decreto nº 54.156, de
1º de agosto de 2013, definiu o escopo de atuação destes órgãos: “O Conselho
Participativo Municipal (...) é um organismo autônomo da sociedade civil,
reconhecido pelo Poder Público Municipal como instância de representação da
população de cada região da Cidade para exercer o direito dos cidadãos ao controle
social, por meio da fiscalização de ações e gastos públicos, bem como da
apresentação de demandas, necessidades e prioridades (...)”. A Secretaria Municipal
de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), por meio das coordenações de
Políticas para Migrantes e da Política de Participação Social, buscou desde o
33
princípio, em parceria com outros órgãos da Prefeitura, como subprefeituras, a
Secretaria Municipal de Relações Governamentais (SMRG) e a Secretaria Municipal
dos Negócios Jurídicos (SNJ), inserir a população de imigrantes nesse processo, o
que foi alcançado na assinatura do Decreto nº 54.645, de 29 de novembro de 2013.
Este decreto prevê a criação da cadeira de conselheiro extraordinário nos Conselhos
Participativos, “visando garantir a participação dos imigrantes moradores da
Cidade”, complementando, assim, o decreto anteriormente citado. (Prefeitura de São
Paulo Direitos Humanos e Cidadania, 2014, [s.p.]).
Também é importante lembrar, a realização do encontro “Direitos Humanos e
Migrações: Diálogo sobre as políticas municipais para migrantes”, aberto a comunidade, para
discutir sobre as políticas municipais para migrantes, ocorrido no dia 06 de maio de 2015.
Onde foi executada a discussão de metas para os próximos dois anos de gestão
da Coordenação de Políticas para Migrantes (CPMig) da Secretaria Municipal de Direitos
Humanos e Cidadania (SMDHC). O encontro teve por objetivo apresentar um balanço das
ações realizadas nos dois primeiros anos da gestão, e ouvir diretamente dos imigrantes suas
histórias, necessidades e anseios, esta foi a terceira reunião de diálogo aberta criado pela
Coordenação, e contou com presença do secretário municipal de Direitos Humanos e
cidadania, Eduardo Suplicy.
“Partimos do pressuposto de que não faremos políticas públicas eficazes sem a
participação social”, disse, logo no início do encontro, Rogério Sottili, secretário-
adjunto da SMDHC. [...] Começamos a fazer um trabalho para que São Paulo veja o
imigrante com a importância que ele merece. São Paulo é uma cidade feita por
imigrantes mas, contraditoriamente, o imigrante hoje não é valorizado, é invisível”,
ponderou Sottili.” (Prefeitura de São Paulo Direitos Humanos e Cidadania, 2015,
[s.p.])
As políticas públicas da Prefeitura de São Paulo visam criar e implementar a política
municipal para imigrantes, combate a xenofobia, promover uma cultura de cidadania e
valorização da diversidade para, assim, reduzir as manifestações de discriminação de todas as
naturezas políticas estas que ajudam a garantir a efetividade dos direitos dos imigrantes e a
sua integração social e cultural na cidade de São Paulo.
Não obstante, é imprescindível falar sobre o que rege as leis de imigração no Brasil, o
Estatuto do Estrangeiro foi criado no período da ditadura militar, Decreto-lei nº 941, e depois
reformulado em 19 de agosto de 1980, em Lei 6.815/80, calcado no conceito da ideologia de
segurança nacional, adota a política de controle favorecendo a mão de obra qualificada para
entrada no Brasil, ou seja, como se fosse uma moeda de troca. Portanto, a imigração é
34
condicionada por legislação ordinária, assim, forma barreiras para a entrada no território
brasileiro de imigrantes, em consequência, provoca a entrada clandestina. Por outras palavras,
dá margem ao “utilitarismo econômico”.
Logo, além da Lei 6.815/80 ser baseada na doutrina da segurança nacional, inspira-se
também no atendimento à organização institucional e nos interesses políticos,
socioeconômicos e culturais do Brasil.
Tal legislação, aprovada em plena vigência do regime militar no país, vem
estabelecer normas restritivas à entrada de estrangeiros no Brasil, penalizando
principalmente aqueles que eram oriundos de países latino-americanos, e provinham
de outras ditaduras militares, como é o caso dos chilenos, argentinos e uruguaios, e
que eram também trabalhadores em busca de uma melhor oportunidade de emprego
no Brasil. Portanto a questão do estrangeiro passa a ser uma questão de segurança
nacional, o qual era visto como possível ameaça à mesma. (SILVA, 1997, p. 104)
O autor Echeverry apud Zamberlam et al, (2013, p. 43) faz uma referência critica
sobre o Estatuto, pois permanece praticamente inalterado desde sua criação na ditadura
militar, apesar que algumas normativas do Conselho Nacional de Imigração, foram
introduzidas a pouco tempo, exprimindo a atenção do governo brasileiro ao inserir normas
internacionais do qual o Brasil é signatário e que referem a à execução dos direitos humanos
para imigrantes.
Ao saber que o Estatuto adotou a concepção filosófica de segurança nacional, pode-se
verificar que interpreta o imigrante como um potencial subversivo, por isso a adoção da
política de controle, com relativa abertura para a mão de obra qualificada. “Apesar da
Constituição do ano de 1988 transpirar um clima de direitos humanos, estendidos ao
imigrante, o avanço da lei ordinária, das políticas e programas está sendo lento e penoso”.
Zamberlam et al, (2013, p. 44)
O Estatuto do Estrangeiro estabelece para se obter os vistos no Brasil somente sete
variedades de vistos para a entrada de estrangeiros:
Visto de Trânsito
Visto de Turista
Visto temporário
Visto Permanente
Visto de Cortesia
Visto oficial
35
Visto Diplomático
É importante frisar, que o Estatuto do Estrangeiro obstaculiza a mudança de um tipo
de visto para outro, isto é, um migrante que se encontre no território brasileiro com o visto de
turista, não consegue requerer um visto de permanência e nem de estudante. (ZAMBERLAM,
et al, 2013, p. 45)
Em síntese, as restrições da Lei dos Estrangeiros tornaram-se anacrônicas, uma vez
que acabou criando a figura do imigrante indocumentado e a do clandestino, o qual é
duramente penalizado com pesadas multas por tal “crime”, sendo convidado a
retirar-se do país num prazo de oito dias. Caso isso não aconteça, o Estatuto do
Estrangeiro no art.125, inciso ɪ, prevê a deportação do mesmo. ( SILVA, 1997, p.
105)
Ou seja, tal questão proporciona o aumento da clandestinidade no território brasileiro,
torna o imigrante mais vulnerável e exposto a violações de seus direitos humanos e por não
ter uma definição clara dos direitos dos imigrantes no Brasil.
Ressalta-se que, o Estatuto do Estrangeiro não se aplica para o imigrante boliviano,
pois para ele é válido o Acordo sobre Residência para Nacionais dos Estados Partes do
Mercado Comum do Sul, Bolívia e Chile, em 07 de outubro de 2009, previsto pelo Decreto de
Lei nº. 6.975 de 7/10/2009.
Por isso, que surge um novo debate com propostas para se criar um novo Estatuto do
Estrangeiro, em decorrência da necessidade de modernizar a legislação relativa à imigração.
Em 21 de maio de 2015, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDN)
aprovou o Projeto de Lei do Senado nº. 288 de 2013 (PLS 288), que institui a Lei da
Imigração e regula a entrada e estada de imigrantes no Brasil, e define normas de proteção
para o emigrante brasileiro. Pelo PLS 288/2013, a política migratória brasileira passa a ter
explicitamente entre os princípios a "não criminalização da imigração" e a "acolhida
humanitária", entre outros (SENADO FEDERAL, 2015, [s.p.]).
Explicação da ementa: Dispõe sobre os direitos e deveres do migrante e regula e
entrada e saída de estrangeiros no Brasil, revogando, em parte, o Estatuto do
Estrangeiro (Lei 6.815/80). Regula os tipos de vistos necessários para ingresso de
estrangeiros no país. Estabelece os casos e os procedimentos de repatriação,
deportação e expulsão. Dispõe sobre a naturalização, suas condições e espécies e os
casos de perda de nacionalidade. Trata da situação do emigrante brasileiro no
exterior. Tipifica o tráfico internacional de pessoas para fins de migração e infrações
administrativas relativas à entrada irregular no país. Altera a Lei nº 8.213/91
(Previdência Social), para facilitar contribuição à Previdência do trabalhador
36
brasileiro referente ao período em que tenha trabalhado em país estrangeiro.
(SENADO FEDERAL, 2013, [s.p.])
Fica notório no desfecho do texto do PLS 288, o repúdio à xenofobia, a não
criminalização da imigração, a acolhida humanitária e a garantia à reunião familiar que
passam a figurar como princípios da política migratória do Brasil. Além disso, o PLS 288
também prevê uma série de direitos e garantias para os imigrantes, como o amplo acesso à
justiça e medidas destinadas a promover a integração social.
È importante lembrar que, também existe o Anteprojeto de Lei de Migrações,
apresentado em agosto de 2014, ao Ministério da Justiça, com o objetivo de substituir o
retrógrado Estatuto do Estrangeiro, herança da ditadura militar.
No ano de 2013, o Ministério da Justiça, através da Portaria nº 2.162/2013, organizou
e elaborou uma Comissão de Especialistas com o objetivo de expor uma proposta de
Anteprojeto de Lei de Migrações e promoção dos Direitos dos Migrantes no Brasil.
O Anteprojeto de Lei foi elaborado primeiramente, por versões antecedentes do texto
que foram submetidas a críticas em duas audiências públicas. Os onze integrantes da
comissão formada por acadêmicos e servidores públicos, ouviram por cerca de um ano,
órgãos de governo, instituições internacionais, parlamentares, outros acadêmicos, entidades
que lidam com migrantes e os próprios migrantes, como ocorreu durante a 1ª Conferência
Nacional sobre Migrações e Refúgio (Comigrar). (PORTAL BRASIL, 2014, [s.p.]).
O Anteprojeto tem como proposta a desburocratização da regularização migratória, e
permite permanecer regularmente no território brasileiro quando se está para a procura de
emprego, deixar a expressão “estrangeiro” em favor do termo “migrante”, e também nos
limites da Constituição Federal, admite por reconhecimento os direitos dos migrantes.
As cinco principais características do Anteprojeto de Lei de Migrações são: a
compatibilidade com a Constituição e os tratados internacionais de Direitos Humanos já
vigentes no Brasil, a mudança de paradigma (deixa de considerar as migrações no viés da
segurança nacional), a unificação de numerosas normas esparsas vigentes, a longa escuta e
ampla participação da sociedade brasileira, e a preparação do Brasil para enfrentar o novo
ciclo de migrações internacionais.
A 1ª Conferência Nacional sobre Migrações e Refúgio (Comigrar) foi um marco
histórico na questão migratória no Brasil, pois foi o primeiro projeto que foram consultados
37
diretamente os imigrantes residentes no Brasil, deu voz a comunidade resignada ao “silêncio”,
para ajudar na formulação de políticas públicas voltadas aos seus direitos e necessidades.
Um comitê de migrantes entregou ao ministro o Plano de Atenção aos Migrantes, que
sistematiza as 2.840 propostas coletadas e debatidas durantes os seis meses, além de mais de
200 etapas preparatórias da conferência que reuniu, em sua etapa nacional, quase 800
migrantes, acadêmicos e militantes de 30 nacionalidades distintas (PORTAL BRASIL, 2014,
[s.p.]).
Portanto, através do Anteprojeto e da 1ª Comigrar, pode-se ver que se inicia no Brasil
o reconhecimento do imigrante como um ser de direitos, e que deve ser tratado sob a óptica da
cidadania e dos direitos humanos, e não de segurança e interesse nacional.
Como visto no decorrer deste capítulo, normativas, diálogos e ações unilaterais,
bilaterais e regionais a respeito da imigração são muitas, porém mesmo assim, o imigrante (no
nosso estudo o imigrante boliviano) continua vulnerável e exposto a violações de direitos
humanos, portanto, vítima do abuso do poder econômico. No próximo capítulo, será analisado
os avanços e retrocessos dessas relações da política bilateral Brasil e Bolívia em relação à
migração boliviana para o Brasil.
38
3 ANÁLISE DOS AVANÇOS E RETROCESSOS DA POLÍTICA
BILATERAL BRASIL E BOLÍVIA EM RELAÇÃO À IMIGRAÇÃO
BOLIVIANA PARA O BRASIL
Sobre os avanços da política bilateral Brasil e Bolívia em relação à imigração
boliviana para o Brasil, o avanço que tem maior destaque é, sem dúvidas, o Acordo sobre
Residência para Nacionais dos Estados Partes do Mercado Comum do Sul, Bolívia e Chile, de
07 de outubro de 2009, pois de todos os acordos criados até então, não tinham a amplitude
política regional para o tema da imigração que o Acordo de Residência possui.
Na evolução do processo de integração Brasil e Bolívia, e também sul-americana, o
Acordo de Residência do MERCOSUL mostra-se como um expressivo marco na questão
migratória, certamente um grande avanço, pois simplifica a regularização dos imigrantes dos
Estados membros por meio de visto temporário e permanente, por estabelecer regras comuns
para a tramitação da autorização de residências aos nacionais dos Estados partes e seus
associados.
Redin (2013, p.131), relata como “o principal avanço mercosulino para uma livre
circulação de pessoas, e que realiza um esforço de incluir de forma significativa o estrangeiro,
para dentro de sistema que compreende como objeto produtivo (esquema do Estado Nação)”.
O problema é que mesmo que o imigrante boliviano tenha a possibilidade facilitada de
admissão e trabalho no território brasileiro, ainda estão submetidos às redes de exploração
econômica no setor têxtil. Isso se dá, por serem pessoas que sofrem de uma situação de
pobreza em seu país de origem, a Bolívia, em sua maioria são pessoas da zona rural que não
possuem muita informação em relação aos benefícios do Acordo de Residência, ou até mesmo
nem possuem o conhecimento do mesmo, por isso são vítimas fáceis de “coiotes”, e quando
chegam ao Brasil são ameaçados por seus patrões de serem denunciados e sofrerem
deportação.
Os que já possuem o conhecimento do Acordo por estarem em uma situação de
vulnerabilidade e de pouco poder aquisitivo, não conseguem pagar o valor das taxas previstas
no Acordo de Residência, por isso continuam na condição de indocumentados ou
clandestinos.
39
O Acordo de Residência é com certeza um grande avanço, porém não resolve por
completo a questão da informalidade, pois depois de ultrapassar o período de dois anos de
residência provisória, o imigrante boliviano precisa comprovar renda para conseguir o visto
permanente, a grande maioria não consegue comprovar sua renda, assim, coloca o imigrante
boliviano à margem da clandestinidade. Neste ponto de fissura que se encontra o retrocesso
do Acordo de Residência.
Segundo a orientadora jurídica da Pastoral do Imigrante em São Paulo, a advogada Ruth
Camacho, estima-se que cerca de 70% dos imigrantes bolivianos trabalham na informalidade.
"Para eles, comprovar a renda é muito difícil (...). São pessoas oriundas de zonas mais rurais
da Bolívia e não têm noção que têm que formalizar a situação de onde recebem dinheiro."
(G1, 21/08/2012) 6
Quanto à regularização dos que já vivem no Brasil de forma clandestina, é necessário
uma nova lei de anistia ampla, a última anistia realizada foi no ano de 2009, pelo Decreto de
Lei nº. 1664, para contemplar os imigrantes que se encontram em situação irregular e
clandestina, com taxas reduzidas, assim, o imigrante que possui família poderá regularizar a
situação sua e de cada um dos seus integrantes. A anistia concedida aos imigrantes gera o
reconhecimento e a valorização do imigrante irregular, como um ser humano que precisa de
solidariedade e de cidadania, para poder exercitar os seus essenciais direitos.
Outro avanço a ser comentado, são as políticas municipais para migrantes feitas pela
prefeitura da capital do Estado de São Paulo, como por exemplo: o primeiro Centro de
Referência e Acolhida para Imigrantes da Prefeitura de São Paulo, a regularização da feira de
bolivianos na Rua Coimbra na cidade São Paulo, criação dos Conselhos Participativos, onde
imigrantes residentes na cidade obtiveram a chance de concorrer às cadeiras de conselheiros
extraordinários por meio de eleição e realização de diálogo aberto com a comunidade para
discutir sobre as políticas municipais para migrantes, já citados no capítulo 2.2.
As políticas públicas da Prefeitura de São Paulo visam criar e implementar a política
municipal para migrantes, combate a xenofobia, promover uma cultura de cidadania e
valorização da diversidade para, assim, reduzir as manifestações de discriminação de todas as
naturezas. Políticas estas que ajudam a garantir a efetividade dos direitos dos imigrantes e a
6 Fontes utilizadas pelo jornal G1: Ministério da Justiça, Ministério Público do Trabalho, Receita Federal, Polícia
Federal, SEBRAE.
40
sua integração social e cultural na cidade de São Paulo, com efeito um grande avanço para o
tratamento e o reconhecimento do imigrante boliviano.
Como acrescenta Gonçalves (2011, p.110) “as políticas públicas, de modo particular
as políticas sociais, desempenham um papel importante na superação das vulnerabilidades
sociais a que ficam sujeitos certos indivíduos e grupos que migram”.
Por ora, é nítido que a imigração boliviana na cidade de São Paulo é considerada como
uma presença reconhecida (admitida) na cidade, prova disto são as políticas públicas adotadas
pela prefeitura da cidade já citadas anteriormente, e também é importante relatar sobre as
políticas adotadas recentemente como a divulgação da inclusão de imigrantes no programa do
Governo Federal o Bolsa Família, e a incorporação no calendário oficial da cidade em 2014
da Feira da Alasita.
A inclusão de imigrantes no Bolsa Família na cidade de São Paulo, com certeza é um
grande avanço, pois é a primeira vez que imigrantes poderão ter acesso ao programa social
Bolsa Família no Brasil.
Poderá ter acesso ao benefício o imigrante residente na capital paulista que vive em
situação de vulnerabilidade e extrema pobreza, por meio da inscrição no Cadastro Único do
governo federal (CadÚnico).
No ato da inscrição o imigrante terá que apresentar o protocolo do pedido de refúgio
ou do Registro Nacional de Estrangeiros (RNE), além de CPF (Cadastro de Pessoas Físicas),
comprovar renda per capta de até R$140,00, e também terá de cumprir as mesmas obrigações
dos brasileiros que recebem o Bolsa Família, como manter os filhos na escola e seguir o
calendário de vacinação. O registro no (CadÚnico) abre margem para se ter acesso à outros
programas do governo federal como o programa Minha Casa Minha Vida.7 (O GLOBO,
04/12/2014)
É importante ressaltar que, a medida só foi possível através da interpretação e
consequente entendimento do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) sobre o Estatuto
do Estrangeiro, Lei nº. 6.815 de 1980, cujo artigo 95 assegura que: “o estrangeiro residente no
Brasil goza de todos os direitos reconhecidos aos brasileiros, nos termos da Constituição e das
leis”.
7 Fontes utilizadas pelo jornal O Globo: Ministério do Desenvolvimento Social, Secretaria Municipal de Direitos
Humanos da cidade São Paulo, Coordenação de Políticas para Migrantes da Secretaria Municipal de Direitos
Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo.
41
Segundo dados oficiais da prefeitura de São Paulo apontam que, pela cidade de São
Paulo, circulam 360 mil imigrantes, mas a secretaria admite que o número está subestimado e
pode chegar até um milhão. (O GLOBO, 04/12/2014)
Não conhecemos o perfil de todos esses estrangeiros, por isso é difícil saber quantos
podem se beneficiar dos programas sociais. O cadastro deve servir como estímulo
para os que não têm documentos regularizarem a situação e, assim, vamos conhecê-
los melhor — disse Camila Baraldi, coordenadora adjunta de políticas para
migrantes de São Paulo. (O GLOBO, 04/12/2014)
O acesso dos imigrantes de São Paulo ao Bolsa Família, é uma medida que visualiza o
imigrante como um ser humano digno de solidariedade e cidadania, assim, inserindo-o como
pessoa reconhecida no espaço-tempo da cidade por tê-lo incluído em uma garantia social, que
torna-se uma porta de entrada para outras políticas públicas.
Sobre a Feira da Alasita, foi incorporada no calendário oficial da cidade em 2014, é
comemorada na cidade de São Paulo dede 1999, e sempre ocorre no dia 24 de janeiro. A Feira
da Alasita é uma festividade da cultura boliviana, é uma festa tradicional da capital da
Bolívia, La Paz, e celebra o “Ekeko”, o deus da abundância. A oficialização da Feira no
calendário oficial da cidade mostra a nova política municipal em relação aos migrantes.
Este ano a Feria da Alasita organizada pela Associação de Empreendedores Bolivianos
da Rua Coimbra (ASSEMPBOL), localizada no Parque Dom Pedro, reuniu mais de 30 mil
pessoas, que vieram apreciar a cultura boliviana. A Feira contou com a presença do ex-
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que causou grande alvoroço na plateia. (ESTADÃO,
24/01/2015).
Lula em seu discurso enfatizou a importância da presença dos imigrantes para o
desenvolvimento do Brasil, e também ressaltou a grande relevância do fortalecimento da
integração Brasil com a Bolívia e países latinos americanos em âmbito do MERCOSUL e
UNASUL, como forma de desenvolvimento conjunto da América Latina.
Enquanto PT governar São Paulo e o País, boliviano será tratado como brasileiro.
[...] A integração é um sonho que ainda não é fácil de realizar, porque tem muitos
obstáculos. A relação da Bolívia com o Brasil tem que ser cada vez mais fortalecida.
A relação do Brasil e MERCOSUL e com a UNASUL também. E aí nós vamos
construir uma nação latino-americana forte, com um povo vivendo em harmonia,
trabalhando, estudando e tendo acesso à cultura. (ESTADÃO, 24/01/2015)
42
O discurso do ex-presidente Lula durante a Feira Alasita pode ser comparado com o
seu discurso realizado durante a cerimônia de sanção da lei que anistia dos estrangeiros em
situação irregular no Brasil em 02 de julho de 2009, pois em sua fala nota-se traços
humanitários sensíveis à imigração, e de identidade para com os imigrantes latino-americanos
e africanos.
[..] Esta terra é generosa, e sempre recebeu de braços abertos todos os que vêm para
trabalhar, criar seus filhos e construir uma vida nova. [...] Ao longo de muitas
décadas, o Brasil sempre acolheu europeus, asiáticos, árabes, judeus, africanos e,
mais recentemente, temos recebido fortes correntes migratórias de nossos irmãos da
América do Sul, países africanos e da América Latina [...] Defendemos que a
questão da migração irregular tem aspectos humanitários e não pode ser confundida
com criminalidade. [...] para muitos dos nossos vizinhos, o Brasil é visto como uma
chance real de melhorar a sua vida. Aqui, esses estrangeiros têm direito à saúde
pública e, seus filhos, à educação gratuita, o que, infelizmente, não ocorre em muitos
dos países que recebem imigrantes brasileiros. [...] Eu tenho dito aos presidentes dos
países: o Brasil não quer mais e nem menos. Nós não queremos nenhum privilégio a
nenhum brasileiro, em nenhuma parte do mundo. Nós queremos apenas que vocês
tratem os brasileiros no exterior como nós tratamos os estrangeiros aqui no Brasil:
como irmãos, como parceiros e como brasileiros. (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA,
2009, p. 1-5) 8
Observa-se no discurso do ex-presidente Lula, que se alinha a política externa
brasileira na questão migratória, pois mostra a postura oficial do Brasil diante dos
movimentos migratórios atuais e às políticas migratórias adotadas. Deste modo, é reforçada a
valorização dos ideais do multilateralismo, da cooperação e da promoção da paz entre os
povos.
Logo se conclui que, do ano de 2009, para os dias atuais o contexto em relação à
imigração continua o mesmo, há avanços em políticas públicas através de ações unilaterais
entre Brasil e Bolívia, como já citados anteriormente, mas estagnação no que se refere às
ações bilaterais do Brasil e Bolívia, e MERCOSUL.
8 Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de sanção da lei que anistia
estrangeiros em situação irregular no Brasil - Ministério da Justiça – Brasília-DF, 02/07/2009.
43
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho de conclusão de curso (TCC), foi possível analisar os avanços e
retrocessos da política bilateral Brasil e Bolívia na questão migratória, evidenciou-se que a
intensa mobilidade humana na atualidade, é fruto da globalização mundial, assim, acarreta o
estímulo do crescimento econômico, a diminuição de oferta de emprego, a recusa e o impulso
às migrações.
Consequentemente, cria-se uma tensão nos Estados receptores de fluxos migratórios,
por se ter o entendimento que a soberania e a identidade nacional estão potencialmente
ameaçadas diante o recebimento de imigrantes. Ressalta-se que o imigrante só é “bem visto”
pelo Estado, quando este é portador de mão de obra especializada, como consequência, é
aceito e bem recebido em seu território.
Logo, entende-se que é por isso, que a imigração é conduzida por muitos Estados
como uma questão de segurança e interesse nacional, e com tal característica, aplicam-se
políticas repressivas com o objetivo de controlar a entrada de imigrantes em seus territórios,
deste modo, trespassando os Direitos Humanos e abrindo margem para a irregularidade e a
clandestinidade. Então, surge o que muitos consideram como “problema social”, o imigrante
econômico, este é estigmatizado por vir de um país pobre e por ser diferente. Em vista disso,
o imigrante econômico sai de seu país de origem economicamente pobre, em busca de
melhores condições de vida em países industrializados, ou em países em fase de
desenvolvimento.
É nesta conjuntura, que se observou a ocorrência deste fenômeno na América Latina,
como por exemplo, o presente caso de estudo, um dos fluxos migratórios mais acentuados na
América Latina, o caso dos imigrantes bolivianos, os quais seguidamente da Argentina, tem
marcado presença de maneira significativa em aumento no Brasil e especialmente na cidade
de São Paulo.
O imigrante boliviano vem para o Brasil com a aspiração de melhores condições de
vida, ele é atraído por promessas de bons salários pelos empregadores do ramo da costura,
coreanos, brasileiros e por seus conterrâneos, donos das oficinas de costura, localizadas na
cidade de São Paulo. Devido o Brasil compartilhar uma grande extensão de fronteira com a
44
Bolívia, torna-se fácil o acesso ao território brasileiro, assim, vários imigrantes bolivianos
contam a ajuda de coiotes para fazer a travessia. O imigrante boliviano quando chega em
território brasileiro, é submetido à longas jornadas de trabalho nas oficinas de costura,
análogas à escravidão, portanto, imbuído em um cenário de violação de direitos humanos.
Este cenário proporcionou a relação bilateral Brasil e Bolívia para o tratamento
político jurídico do migrante boliviano. Dessas relações bilaterais resultaram dois acordos: o
Acordo de Facilitação para o Ingresso e Trânsito de seus Nacionais em seus Territórios de 08
de junho de 2004, e o Acordo, por troca de Notas, sobre Regularização Migratória de 15 de
agosto de 2005.
Todavia está em vigor o Acordo de Residência para Nacionais dos Estados partes do
Mercado Comum do Sul – MERCOSUL, Bolívia, Chile de 07 de outubro de 2009, pelo
Decreto de Lei nº 6.974. Este por ter uma maior amplitude sobre o tema da imigração é o que
tem prevalecido atualmente no tratamento político jurídico do imigrante boliviano no Brasil.
Sem dúvidas, o Acordo de Residência é um grande avanço das mercosulino na questão
migratória. O presente Acordo é um expressivo marco no processo de integração Brasil e
Bolívia, e também sul-americana, pois visa de uma maneira simplificada resolver os
problemas que se referem à regularização dos imigrantes dos Estados membros e signatários
do MERCOSUL. Esta facilitação se dá por meio de visto temporário e permanente, através de
regras comuns para a tramitação da autorização de residências aos nacionais dos Estados
partes e seus associados.
O ponto de fissura do Acordo de Residência se encontra ao passar de dois anos do
visto temporário, é necessário comprovar renda para conseguir o visto permanente, e a grande
maioria dos imigrantes bolivianos não conseguem comprovar sua renda, assim, ficando na
informalidade. Diante desta situação, torna-se imprescindível uma nova lei de anistia ampla,
visto que a última foi realizada pelo Brasil há seis anos atrás, no ano de 2009, pelo decreto de
Lei nº1664. A demora de uma nova lei de anistia é um retrocesso, pois a anistia concedida a
imigrantes é uma forma de eliminar o tráfico de pessoas e os abusos cometidos aos
imigrantes.
Ficou evidente outro grande avanço nas ações unilaterais Brasil para com a Bolívia, as
políticas municipais para imigrantes feitas pela prefeitura da cidade de São Paulo, por
reconhecer a presença da imigração boliviana, e por haver um interesse por parte do
Executivo local, de integrar o imigrante no espaço-tempo da cidade, para que assim, ele
45
consiga se desenvolver, e ter uma vida digna com direitos civis garantidos e sua cultura
respeitada. Um dos exemplos citados no presente trabalho, é a concessão ao imigrante do
direito de acesso ao benefício social, o Bolsa Família, com a finalidade de incentivar a
regularização da documentação, combater o tráfico de pessoas e o trabalho análogo à
escravidão.
Após ter analisado os fatores que desencadeiam o processo de imigração de bolivianos
para o Brasil, e de ter verificado a descrição da relação bilateral Brasil e Bolívia no tratamento
político e jurídico do migrante boliviano no território brasileiro, observou-se a complexidade
do tema, por se ter a dificuldade na fixação de sólidos parâmetros normativos e de definir
políticas públicas da função do Estado e de cada organismo envolvido com a questão da
imigração.
Portanto, tornou-se evidente a importância de se estabelecerem no Brasil, regras
efetivas e concretas políticas públicas que tenham como base os fundamentos dos Direitos
Humanos, sem serem conduzidas como uma questão de segurança e interesse nacional do
Estado, para que assim, o imigrante venha ser tratado e acolhido com respeito e dignidade.
Pela relevância social desta temática, deixa-se em aberto esse estudo, para que outros
acadêmicos possam se interessar e dar continuidade a essa pesquisa, vindo a contribuir com
mais ideias para se formularem regras e políticas públicas calcadas nos ideais dos Direitos
Humanos, para a questão da imigração.
46
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