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HPORTO FACULDADE DE CIÊNCIAS DA NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO UNIVERSIDADE DO PORTO
Avaliação nutricional, padrão alimentar e
conhecimentos de nutrição e alimentação
de jovens atletas de Voleibol
Dinora Bastos
Orientado por: Dra. Isabel Albuquerque
Co-orientado por: Mestre Vítor Hugo Teixeira
Trabalho de Investigação
®
Porto, 2006
a-397 i
Agradecimentos
Ao Mestre Vítor Hugo Teixeira, os meus sinceros agradecimentos pela orientação
neste trabalho em Nutrição Desportiva.
j
Agradecimentos
Lista de Abreviaturas
1. Resumo
2. Introdução
3. Objectivos
4. Material e Métodos
5. Resultados
6. Discussão
7. Conclusões
Referências Bibliográficas
índice de Anexos
Lista de Abreviaturas
A - Almoço;
AGM - Ácidos gordos monoinsaturados;
AGP - Ácidos gordos polinsaturados;
AGS - Ácidos gordos saturados;
Al - Adequate Intakes;
C - Ceia;
DRI - Dietary Reference Intakes;
EAR - Estimated average requirements;
EF - Exercício Físico;
FNB - Food Nutrition Board;
GM - Glicogénio muscular
HC - Glícidos
IA - Ingestão Alimentar;
lEN - Ingestão energética e nutricional;
IMC - índice de massa corporal;
J - Jantar;
MM - Merenda da manhã;
MT - Merenda da tarde;
OMS - Organização Mundial de Saúde;
PA - Pequeno-almoço;
PC - Peso corporal;
RA - Registo Alimentar;
UL - Upper limit;
VET - Valor energético total.
1
1. Resumo
Este estudo teve como objectivos avaliar a ingestão energética e nutricional (IEN)
e a sua adequação para atletas adolescentes masculinos de acordo com o ciclo
de actividade física, estudar o seu padrão alimentar e avaliar os conhecimentos
de nutrição e alimentação.
A amostra englobou 18 atletas da Selecção Nacional de Voleibol, do sexo
masculino, com idades compreendidas entre os 14 e os 17 anos.
Foi feita uma avaliação antropométrica que consistiu na determinação do peso,
altura, a partir do quais se calcula o IMC e pregas cutâneas.
Cada atleta preencheu um registo alimentar (RA) de 5 dias consecutivos (3 dias
da semana e 2 dias de fim de semana), para análise da IEN, e um questionário
adaptado de outro estudo para avaliação dos conhecimentos da nutrição e
alimentação. O tratamento de dados do RA foi realizado no Food Processor Plus
versão 8.0, permitindo determinar a ingestão média de energia e nutrimentos.
A amostra do presente estudo apresentou uma ingestão energética média de
3024 ± 503 kcal/dia, correspondendo a 41,1 ± 9,2 kcal/kg de peso corporal (PC)
por dia. O contributo percentual de glícidos (HC), proteínas e lípidos, para o valor
energético total, foi de 50,1 ± 3,8%, 17,2 ± 1,6% e 33,11 ± 3,2%, respectivamente.
A ingestão média diária de proteínas (1,8 g/kg de peso corporal), de lípidos (33%
do VET), colesterol (462mg) e AGS (11,8% do VET) encontrava-se acima das
recomendações; e, a ingestão de HC (5,2 g/kg) e fibra (20,8 g) não satisfez as
recomendações para a população em estudo. Relativamente aos
micronutrimentos, registou-se uma elevada prevalência de inadequação para as
2
vitaminas A, C e E, e para o folato, magnésio, cálcio e potássio. A ingestão de
água não era suficiente e não foi registado consumo de bebidas alcoólicas.
Analisando o padrão alimentar dos atletas, constatou-se que estes faziam cerca
de 4,5 episódios alimentares diários. O almoço (4,8 episódios) e a merenda da
tarde (4,3 episódios) foram as refeições com maior frequência durante os dias de
registo. O almoço e jantar são os maiores contribuintes para o VET diário são o
(22,8% e 21,1%, respectivamente) e, a merenda da manhã e a merenda da tarde
são os maiores fornecedores de açúcares (23,4% e 26,6%, respectivamente).
Neste estudo, os atletas apresentavam uma IEN desajustada aos períodos pré-
competitivos, pós-competitivos e, principalmente, durante a competição,
nomeadamente na ingestão de HC e água.
A pontuação média do questionário de conhecimentos sobre nutrição e
alimentação foi baixa (13,3 valores - 66,5%). Em 6 perguntas (4, 6, 13, 14, 15 e
17) de 20 possíveis, cerca de 50% ou mais dos atletas não deu a resposta certa.
Os resultados deste estudo indicam uma IEN e hídrica com algumas falhas, onde
seria benéfico, para o atleta, um aumento da ingestão de glícidos, fibra e água, e
uma diminuição na ingestão de proteínas, lípidos, açúcar e sódio.
Concluindo, seria indispensável a educação alimentar (com promoção de hábitos
alimentares saudáveis a longo prazo) quer aos atletas, quer ao meio onde estão
inseridos. Com esta medida os atletas iriam melhorar tanto o seu estado de
saúde, como provavelmente a sua performance.
3
2. Introdução
A adolescência é uma fase caracterizada por um crescimento e desenvolvimento
galopantes (1-3), o que faz com que os adolescentes sejam considerados
vulneráveis nutricionalmente. Ou seja, o conjunto de mudanças que ocorrem com
o crescimento e desenvolvimento físico, as alterações no estilo de vida e nos
hábitos alimentares, tão características desta fase, irão interferir na ingestão e
necessidades nutricionais dos adolescentes (3).
A ingestão nutricional adequada, sendo essencial para crianças e adolescentes,
é-o ainda de forma mais veemente para aqueles que são praticantes de exercício
físico estruturado e regular (1, 4, 5).
A literatura científica documenta claramente efeitos benéficos da nutrição sob a
performance atlética. A saúde, o peso e composição corporal, a actividade física,
bem como a recuperação após o exercício físico beneficiam com um estado de
nutrição (e hidratação) óptimo. (6-9)
Uma actividade física define-se pela organização, contemplação de regras,
treinos estruturados e eventos de competição e caracteriza-se pela frequência,
duração e intensidade (10).
No concernente à modalidade de voleibol, objecto do presente estudo, trata-se de
um desporto que alterna as actividades aeróbia e anaeróbia, requerendo, por
isso, força muscular e capacidade de trabalho. Os atletas de voleibol deverão
possuir flexibilidade, força, potência, agilidade e condição aeróbia, e deverão
apresentar uma baixa proporção de gordura corporal para atingirem um nível mais
elevado de performance (2).
4
Os desportos de equipa são caracterizados por esforços intermitentes de elevada
intensidade que são repetidos durante a duração do jogo, que ronda os 30 a 90
minutos, dependendo da modalidade e do escalão do atleta. A combinação da
intensidade elevada e dos esforços intermitentes requerem força, potência e
endurance para manter os níveis elevados de performance durante todo o jogo.
Como consequência, as necessidades nutricionais incluem a reposição das
reservas hídricas e a ingestão adequada de macronutrientes para: prevenir a
fadiga, promover a recuperação e manter a massa magra que é crítica para a
produção de potência, velocidade e força (11). Durante exercícios de endurance
contínuos e de longa duração o recurso metabólico realça a maior utilização de
HC e proporcionalmente menos lípidos. Isto é necessário, uma vez que os HC
podem fornecer energia para o músculo a uma taxa mais rápida do que os lípidos
(12). A utilização de lípidos como energia requer um estímulo contínuo de
enfraquecimento da glicose. Todos os atletas que negligenciam a intensidade do
exercício, irão sentir os efeitos da depleção das reservas de glicogéneo, isto se o
evento desportivo for longo e não tiver sido consumido HC durante o exercício
físico (EF) (13). O contributo da oxidação de hidratos de carbono e gorduras
torna-se uma fonte essencial de energia (10, 14). Os hidratos de carbono são
mobilizados da glicose sérica ou do glicogénio muscular e hepático (6, 10). Deste
modo, o aumento destas reservas e diminuição da produção de ácido láctico é
fulcral na nutrição desportiva (10, 15). Caso contrário, há o risco de fadiga
muscular (10, 15, 16) (que em última instância levará o atleta a interromper o
exercício originada por uma acidose) (10, 15), bem como a diminuição do
desempenho, da coordenação motora e concentração do atleta (16).
5
Um assunto extremamente controverso prende-se com a possível necessidade de
ingestão extra de proteína por parte dos atletas (17). Embora seja sugerido (18)
que muitos atletas possam ter as necessidades proteicas mais elevadas do que
os não atletas, é de salientar que a sua ingestão habitual é frequentemente
excessiva (15).
Tendo em conta que os atletas jovens, quando sujeitos a temperaturas elevadas,
absorvem o calor mais rapidamente do que os adultos, toma-se fundamental
compensar as perdas de fluidos de forma a regular a temperatura corporal (10,
19,20).
Além das necessidades nutricionais é fundamental conhecer os factores que
influenciam o comportamento e as escolhas alimentares dos atletas adolescentes
(21). As maiores fontes de informação alimentar de crianças e jovens são: os
pais, a televisão e o próprio ambiente familiar (2, 22); no entanto, muitas destas
informações são erróneas (2).
Todos os atletas beneficiam de uma ingestão adequada de fluidos e nutrimentos,
e é papel dos profissionais de saúde (nutrição) o aconselhamento dos atletas da
necessidade de uma nutrição apropriada antes, durante e após EF. Estes
profissionais devem trabalhar juntamente com atletas, treinadores e familiares
para construir o melhor ambiente possível para o atleta atingir os objectivos
nutricionais (6).
3. Objectivos
- Avaliar a ingestão energética e nutricional (IEN) e a sua adequação para atletas
adolescentes masculinos da modalidade de voleibol;
6
- Estudar o contributo das refeições e merendas para IEN diária;
- Conhecer a IEN e ingestão hídrica nos períodos de preparação, recuperação e
durante a competição;
- Avaliar os conhecimentos sobre nutrição e alimentação.
4. Material e Métodos
4.1 Amostra
Neste estudo participaram 18 jogadores de voleibol, do sexo masculino, com
idades compreendidas entre os 14 e 17 anos (15,3±0,9 anos), pertencentes ao
escalão de Cadetes da Selecção Nacional de Voleibol. Foram explicados
previamente os objectivos do estudo e garantido o anonimato a todos os atletas.
A amostra englobava 8 atletas que não eram residentes na área metropolitana do
Porto e, deste modo, faziam a maioria das refeições (pelo menos o pequeno
almoço, almoço e jantar) no lar de acolhimento da Selecção de Voleibol. Os
restantes 10 atletas realizavam parte das suas refeições, pelo menos o pequeno-
almoço e jantar, em casa dos pais/familiares.
4.2 Material
Registo Alimentar (RA) de 5 dias (anexo 1);
Questionário de conhecimentos sobre nutrição e alimentação (anexo 2);
Balança (Tanita, TBF-300, Tóquio);
Estadiometro (Seca, Modelo 701, Alemanha);
Lipocalibrador (Harpender, John Buli, Inglaterra);
Food Processor Plus versão 8.0 (ESHA Research, USA);
7
Statistical Package for the Social Science (SPSS) versão 14.0 (para Windows);
(Chicago, IL, 2005).
4.3 Avaliação Antropométrica
A avaliação antropométrica consistiu no registo do peso em quilogramas (kg), e
altura em centímetros (cm), de acordo com os métodos de referência (23).
Calculou-se a partir destes o índice de massa corporal (IMC) (24), dividindo o
peso (kg), pela altura (m) ao quadrado (kg/m2).
Foram medida 4 pregas cutâneas: cutânea tricipital (PCT), bicipital (PCB), sub-
escapular (PCSE) e da crista-ilíaca (PCCI). Todas as medidas foram realizadas
no mesmo dia e antes do treino. A densidade corporal foi calculada de acordo
com a equação de Durnim e Womersley (25, 26) e a proporção de massa gorda
foi determinada de acordo com a equação de Brozek (27).
4.4 Avaliação da ingestão alimentar (IA)
A IA foi avaliada recorrendo a um RA de 5 dias consecutivos (3 dias da semana e
2 dias de fim-de-semana) de administração directa. Este questionário foi entregue
a 18 de Janeiro de 2006 e o registo foi efectuado entre 19 e 23 de Janeiro do
2006.
No momento da entrega do RA, foi feita a leitura das instruções do procedimento,
dada uma explicação breve da forma de preenchimento e fornecido um folheto
com indicações do modo correcto de quantificação dos alimentos em medidas
caseiras. Todos os atletas foram alertados para descreverem de forma
pormenorizada todos os alimentos e bebidas consumidos, nomeadamente açúcar
adicionado, água, refrigerantes, condimentos e gordura de adição, que são muitas
8
vezes negligenciados. Foi também solicitado, o registo do tipo e marca comercial,
o método culinário e o local e hora do consumo. A quantificação foi feita através
de medidas caseiras, da descrição da porção que cada alimento ocupa no prato,
do número de unidades e, em alguns casos específicos, da quantidade líquida ou
peso total/escorrido quando descritos nas embalagens de alimentos comerciais.
De modo a obter uma informação, o mais próximo possível da realidade, os
atletas foram alertados para não alterarem os seus hábitos alimentares, não
omitindo nem acrescentando alimentos, na tentativa de descreveram uma
alimentação saudável. Por fim, foram explicados os objectivos do estudo e dado
motivação extra para a sua participação, referindo-lhes que posteriormente
poderiam receber informação/acompanhamento nutricional.
4.5 Análise da ingestão alimentar
Para a conversão de medidas caseiras em peso do RA de 5 dias usou-se material
bibliográfico (28) e, caso a informação fosse insuficiente, recorria-se ao Manual de
Quantificação de Alimentos (29). Posteriormente, para obter a ingestão nutricional
a partir dos dados de consumo alimentar foi utilizado o programa Food Processor
Plus versão 8.0. A esta base de dados nutricional informatizada, foi necessário
acrescentar algumas refeições que não constavam. Assim, pesquisaram-se as
respectivas receitas e introduziram-se os seus ingredientes nas quantidades
respectivas.
4.6 Análise do padrão alimentar
Para a caracterização do padrão alimentar desta amostra, considerou-se um
episódio alimentar como a ingestão de alimento ou bebida com energia superior a
9
200kj, sensivelmente 48kcal, num mesmo local e com um intervalo máximo de 60
minutos (30). Deste modo, não foi considerado episódio alimentar a ingestão de
água isolada, café ou chá sem açúcar, bem como alimentos com energia inferior a
48 kcal e ingeridos num período superior a 60 minutos desde a última refeição.
Para classificação das refeições, teve-se em conta o horário proposto por Burke e
colaboradores (30) modificando-o de acordo com os hábitos alimentares e socio
económicos dos portugueses; assim: pequeno-almoço (PA) 5:00-9:59, merenda
da manhã (MM) 10:00-11:59, almoço (A), 12:-14:59, merenda da tarde (MT)
15:00-18:59, jantar (J) 19:00-21:59 e ceia (C) 22:00-4:59.
4.7 Caracterização e análise IEN dos períodos pré e pós-competitivo e
durante a competição.
Foi avaliada a adequação da IEN dos atletas ao seu EF, sendo considerados 3
períodos alimentares (preparação, durante e recuperação). A preparação era o
período alimentar que ocorria até 4 horas antes do EF e a recuperação era o
período desde o término do EF até 4h depois.
4.8 Questionário de conhecimentos sobre nutrição e alimentação
Para avaliação dos conhecimentos de nutrição e alimentação foi utilizado um
questionário adoptado de outro estudo (31). Este questionário é composto por 20
questões básicas sobre controlo de peso, suplementos alimentares, hidratação do
atleta e nutrimentos (lípidos, HC, proteínas, vitaminas, minerais). Foi pedido aos
atletas para seleccionarem a resposta correcta, das três opções possíveis, em
todas as perguntas. Para a quantificação do nível de conhecimento foi atribuído
um ponto a cada resposta certa, sem penalização das respostas incorrectas. A
10
soma de todas as respostas certas correspondia à pontuação total de cada atleta.
Este questionário, de administração indirecta, foi aplicado depois da realização
dos RA de 5 dias.
4.9. Análise Estatística
O tratamento estatístico dos dados foi realizado recorrendo ao programa SPSS
versão 14.0 (para Windows) e consistiu no cálculo de médias e desvios-padrão ou
de frequências.
5. Resultados
5.1 Características da amostra
Os 18 atletas da amostra, representando a totalidade de jogadores da Selecção
Nacional de Voleibol de Cadetes, tinham idades compreendidas entre 14 e 17
anos de idade, sendo a média de 15,4 ± 0,9 anos.
Os dados antropométricos dos jogadores estão descritos na Tabela 1.
Características Média ± Desvio padrão Mínimo - Máximo
Idade (anos) 15,4 ± 0,9 14,0 - 17,0
Peso (kg) 74,7 ± 7,6 62,7-94,3
Altura (m) 1,90 ±0,1 1,77-2,0
IMC(kg/m2) 21,3 ±1,4 19,3-24,8
MG(%) 15,3 ±3,2 10,2-20,6
Tabela 1 Dados antropométricos (média ± desvio padrão) dos participantes.
11
Os atletas tinham um peso corporal que variava entre os 62,7 e os 94,3 kg, sendo
a média 74,7 ± 7,6 kg. A altura mínima encontrada foi de 1,77 m e a máxima 2,0
m, apresentando uma média de 1,90 ± 0,1 m. O IMC da amostra em estudo era
em média de 21,3 ± 1,4 kg/m2 e a proporção média de massa gorda de 15,3 ±
3,2%.
5.2. Ingestão energética e nutricional
A ingestão média de energia e macronutrientes dos jogadores de voleibol está
descrita na Tabela 2. Na amostra estudada, a média de IE diária foi de 3024± 504
kcal, correspondendo a cerca de 41,1 ± 9,2 kcal/kg de peso corporal (PC) por dia.
Os hidratos de carbono (HC) contribuíram com 50,1 ± 3,8% do valor energético
total diário (VET), em que apenas 11,1% dos atletas apresentavam ingestão
dentro das recomendações (55-75% do VET) (24). Sendo em média, o aporte
diário de HC por kg de peso corporal (PC) de 5,2 ± 1,2g, situava-se abaixo do
pretendido para um atleta (7-10 g/ kg PC/dia) (6, 32).
Ingestão Recomendações
Energia
Kcal 3023,8 ± 503,7
Kcal/kg 41,1 ±9,2 40-50
Glícidos
g/kg PC 5,2 ±1,2 7,0-10,0(6,32)
%VET 50,1 ±3,8 55,0-75,0(24)
Proteína
12
g/kg PC 1,8 ±0,4 1,2-1,7(33)
% VET 17,2 ±1,6 10-15(24)
Açúcares (%VET) 18,8 ±6,2 < 10,0 (24)
Lipidos
% VET 33,1 ±3,2 20,0-25,0(6)
15,0-30,0(24)
Ácidos gordos
AGS (% VET) 11,8 ±1,9 < 10,0 (24)
AGP (%VET) 4,9 ±0,5 6,0-10,0(24)
AG M (% VET) 12,5 ±1,5 Por diferença (24)
Colesterol (mg) 462 ±133,8 < 300,0 (24)
Fibra (g) 20,8 ±4,9 38,0 (34)
Tabela 2 Ingestão energética e nutricional diária (média ± desvio padrão) e
colesterol.
As proteínas contribuíram com 17,2 ±1,6 % do VET, em que 88,9 % dos atletas
apresentava valores acima do recomendado (10-15 % VET) (24) e nenhum deles
tinham valores abaixo das recomendações. Ajustando a ingestão proteica para o
peso, que é a forma mais correcta de análise em desportistas, pode-se observar
que metade da amostra tinha ingestão proteica média dentro das recomendações
(1,2-1,7 g/kg de PC) (33) e os outros 50% encontrava-se com uma ingestão acima
do valor máximo recomendado (1,7 g/kg PC). Assim, podemos considerar
excessiva a ingestão proteica desta população - pelo menos para metade dos
atletas. Os lípidos contribuíram com 33,1 ±3,2 % do VET, estando a totalidade dos
13
atletas com valores acima do recomendado pela Americam Dietectic Association
(ADA) (20 a 25% do VET) (6) e apenas 22,2% dos atletas tinham valor dentro do
recomendado pela FAO/OMS (25-30%) (24). Verificou-se também uma ingestão
média diária acima das recomendações para AGS e colesterol, com 11,8 ± 1,9%
do VET e 461,6 ± 0,5 mg, respectivamente (24).
Na Tabela 3 está representada a ingestão média de vitaminas e minerais. Apenas
para as vitaminas B6 e B12 todos os participantes apresentavam ingestões
médias acima das EAR, com 1,1 mg/dia e 2,0 ug/dia respectivamente. Quanto
aos minerais e oligoelementos salienta-se o ferro, zinco, potássio e sódio com a
totalidade dos atletas com ingestões acima das recomendações.
Ingestão Referência de Ingestão
EAR/AI (35-37)
Vitamina A (ug RAE)a 1384,28 ±1346,56 630
Vitamina E (mg a-tocoferol)b 9,50 ±2,67 12
Vitamina C (mg) 89,84 ± 42,68 63
Tiamina (mg) 2,5 ±0,5 1,0
Riboflavina (mg) 2,8 ±0,6 1,1
Niacina (mg EN)C 12
Vitamina B6 (mg) 2,57 ±0,75 1,1
Vitamina B12 (ug) 10,10 ±6,52 2,0
Folato (ug DFE)d 367,74 ±254,14 330
Cálcio (mg) 1057,41 ±307,59 1300
Ferro (mg) 21,05 ±5,07 7,7
14
Sódio (mg)
Potássio (mg)
Magnésio (mg)
Fósforo (mg))
Zinco (mg)
Selénio (|jg)
3406,55 ±751,59 1500
3953,81 ±1037,76 4700
338,43 ± 56,47 340
1719,28 ±332,35 1055
16,90 ±3,31 8,5
122,31 ±36,70 45
Tabela 3 Ingestões diárias (média ± desvio padrão) de vitaminas, minerais e
oligoelementos. a como actividade de equivalentes de retinol (RAE). b como a-
tocoferol. c como equivalentes de niacina. d como equivalentes alimentares de
folato (DFE). A tabela apresenta Adequate intakes (Al) a sublinhado e Estimated
average requirements (EAR) em texto normal.
A Figura 1 apresenta as prevalências de inadequação de vitaminas e minerais
(percentagens de participantes que tiveram ingestões inferiores às EAR do FNB).
Como não possuem EAR, a ingestão de cálcio e potássio foi comparada com as
Al (Figura 2). A ingestão média das vitaminas e minerais não apresentadas nesta
figura registou valores superiores às recomendações na totalidade dos indivíduos.
Pela análise da Figura 1 verifica-se que nesta amostra existe uma prevalência de
ingestão inadequada de aproximadamente de 22,2%, 33,3% e 89,9% de
indivíduos para a vitamina C, A e E, respectivamente. A prevalência de ingestão
inadequada para o magnésio e folato é de aproximadamente de 50% e 55,6%,
respectivamente.
15
Quando analisados os minerais cálcio e potássio notou-se que, na amostra em
estudo existe uma baixa prevalência de adequação (22% e 11%,
respectivamente).
.^- F C N A U P % 100 -90
J
33,3
88,9 1 S BIBLIOTECA ^ \
i ^ Jf f i^t 0-' 1
80 -70 -60 -
% 50-
40 -30 -
33,3
;S;
: ?:':ítOSl
■ ■ ■ . ■ , ■ :
55,6 50
80 -70 -60 -
% 50-
40 -30 -
33,3
;S;
: ?:':ítOSl
■ ■ ■ . ■ , ■ :
22,2
i
20 -10 -0 -
33,3
;S;
: ?:':ítOSl
■ ■ ■ . ■ , ■ :
1
■ ■ ■
1 i i
Vitamina A Vitamina E Vitamina C Folato Magnésio
Figura 1. Percentagem de participantes que não atingiram as EAR para as
vitaminas e minerais.
%
25
20
15
10 H
5
0
22,2
:"*?%:;-■':
■ ; - . . ;
Cálcio Potássio
Figura 2. Percentagem de participantes que tiveram ingestão acima das Al
para os minerais cálcio e potássio.
16
A média de ingestão hídrica dos participantes deste estudo foi de 2227±388
mL/dia, englobando a água proveniente dos alimentos. Sendo a recomendação
de 3300 mL/dia para não atletas (36), constatou-se que nenhum dos atletas
registou ingestões hídricas dentro da recomendação, mesmo tendo em conta as
menores necessidades.
Não foi registado o consumo de bebidas alcoólicas.
5.3 Padrão Alimentar
Relativamente ao padrão alimentar, os atletas apresentavam uma média de
4,5±0,6 episódios alimentares diários. A Tabela 4 representa a frequência média
de cada episódio alimentar durante os 5 dias de registo, e a figura 3 a informação
detalhada de cada episódio alimentar separadamente.
PA MM A MT J C
Frequência 3,6±0,8 2,7±1,5 4,8±0,4 4,3±0,9 3,4±0,6 2,8±1,2
Tabela 4. Frequência (média ± desvio padrão) de cada episódio alimentar nos 5
dias de registo.
17
%
60
40 H
20
0
Pequeno-Almoço
55,6
27,8 16,7
Merenda da manhã
%
60 40 H 20 0
44,4
11,1 u 1 16,7 16,7
0
100 i
% 50
0
Almoço
22,2
77,8 ' ■ '
:: í : l | |
Merenda da tarde
%
60 i
40 20 0
27,8 16,7
"™| | i
55,6
%
Jantar
60 - 44,4 50 40 - 1 1 20 -0 -
5,6 | | up . j
. . . . 1 . . . . . - . ^ ,
2 3 4
%
60 40 H 20
0
Ceia
38,9
16,7 16,7
n r
22,2 5,6
n i
1
Figura 3. Frequência de cada episódio alimentar separadamente, durante os 5
dias de registo.
18
Em 5 dias de registo observou-se que a refeição mais efectuada foi o almoço (A)
com uma média de 4,8±0,4 episódios durante o período analisado, seguido da
merenda da tarde (MT) (4,3±0,9 episódios) e do pequeno-almoço (PA) com uma
média de 3,6±0,8 episódios. A ceia e o meio da manhã (MM) foram as refeições
com menor frequência (2,8±1,2 e 2,7±1,5 episódios/5 dias, respectivamente). A
partir de análise dos gráficos verificou-se que apenas 16,7% dos atletas
consumiam PA e MM todos os dias (nos 5 dias de registo); o almoço foi a refeição
que um maior número de atletas efectuou nos 5 dias (77,8%), seguindo-se a MT
com 55,6%. A ceia foi a refeição com uma menor frequência de consumo diário,
5,6%. De salientar que, o MM foi a única refeição em que houve atletas que não
ingeriram em nenhum dos dias de registos (11,1%).
A Tabela 5 expressa a contribuição percentual das refeições e merendas para o
VET diário.
PA MM A MT J C
Energia 8,2±3,7 12,9±7,1 22,8±4,5 17,8±4,5 21,1±5,7 17,1±8,9
Tabela 5. Proporção de energia diária (média ± desvio padrão) por refeição.
Através da sua análise, verificou-se que as refeições que mais contribuíram para
o VET foram o A (22,8±4,5%) e o jantar (J) (21,1±5,7%). Com valores
ligeiramente inferiores encontra-se a MT e a ceia (17,8±4,5% e 17,1±8,9%,
respectivamente). O PA, que forneceu cerca de 8,2±3,7% do VET, foi a refeição
que menos contribui para o VET.
19
A Tabela 6 representa a distribuição da ingestão de macronutrimentos por
refeições.
PA MM A MT J C
Macronutrimentos e micronutrimentos (% da sua ingestão diária)
HC 10,0±5,0 13,6±6,9 19,8±3,9 21,4±6,9 18,714,8 16,518,8
Açúcares 11,9±4,7 15,0±7,2 15,0±6,8 25,3±11,6 17,216,1 15,519,5
Proteína 7,3±3,5 10,5±7,4 25,5±5,5 11,813,0 26,418,2 18,6110,2
Lípidos 6,0±2,9 13,3±8,7 26,3±8,6 15,514,5 21,817,9 17,1110,9
Colesterol 4,7±2,3 12,5±8,5 27,5±9,0 10,216,6 27,3110,4 17,8111,9
Fibra 7,1±3,8 10,5±6,1 25,2±8,1 16,016,5 21,517,2 19,7110,4
Folato 10,2±9,0 15,0±9,2 23,8±10,9 19,4112,0 15,817,3 15,7110,2
Cálcio 18,8±6,3 20,3±11,8 13,7±4,7 21,418,5 13,217,7 12,619,2
Ferro 10,6±8,0 13,1±7,1 23,6±5,4 17,218,6 19,217,2 16,219,2
Tabela 6. Distribuição da ingestão diária de nutrimentos por refeição.
No que concerne à percentagem de ingestão diária de macronutrimentos,
constatou-se que a ingestão de proteínas e lípidos era maior às refeições
principais (A e J). Quanto aos HC, o seu consumo mais elevado ocorreu na MT
(21,4 í 6,9%), que serão na sua maioria açúcares, uma vez que um quarto do
total diário era ingerida neste episódio alimentar (ingestão máxima de 25,3111,6
% na MT). A distribuição do colesterol tende a acompanhar a dos lipidos; ou seja,
ao longo do dia as refeições que mais contribuem para o valor dos lipidos também
20
o são para o colesterol. O mesmo se verifica entre o ferro e as proteínas. A
percentagem diária de ingestão de fibra é maior no A e J, já os maiores
fornecedores de cálcio foram as merendas (MM e MT).
A Tabela 7 representa a proporção da contribuição dos macronutrimentos para o
valor energético de cada refeição.
PA MM A MT J C
Macronutrimentos (%VE da refeição ou merenda)
HC 60,0±11 53,4±10,1 43,8±6,1 59,8±8,3 45,0±6,7 49,6±12
Açúcares 30,6±12 23,4±12 13,0±7,7 26,6±11 17,4±10 21,3±15
Proteína 15,2±4,9 13,7±4,5 19,3±3,1 11,6±2,6 21,7±5,0 17,56±6
Lípidos 25,0±8,3 33,5±8,3 37,0±4,4 29,2±6,6 33,8±6,5 33,0±10
Tabela 7. Contribuição dos macronutrimentos para a ingestão energética de cada
refeição.
Registou-se, em todas as refeições, uma maior proporção de ingestão de HC
(sendo o mínimo de 43,8 ± 6,1% ao A e o máximo de 60,0 ± 1 1 % ao PA do VET).
O PA foi a refeição em que os atletas apresentavam a menor ingestão de lipidos
(25,0 ± 8,3% do VET), sendo ao A onde se registou uma maior ingestão lipidica
(37,0 ± 4,4).
As proteínas, como era de esperar, são o macronutrimento com menor
representatividade no VET de todas as refeições, com valores que variavam entre
11,6 ± 2,6% do VET na MT, e 21,7 ± 5,0% do VET ao J, do VET. É importante
21
destacar a contribuição do açúcar no VET, atingindo valores na ordem dos 30%
(30,6 ± 12% no PA e 26,6 ± 1 1 % na MT).
5.4 Adaptação da ingestão nutricional ao ciclo de actividade do atleta
Os atletas desta amostra realizaram, em média, cerca de 2,7 ± 0,7 treinos durante
os 5 dias de registo e 1,4 ± 0,5 jogos. É de salientar que todos os participantes
apresentaram episódios alimentares no período de preparação (até 4h anteriores)
e de recuperação (4h seguintes) do EF. Contudo, nenhum atleta referiu ingestão
alimentar durante o EF, nem mesmo de bebidas. A Tabela 8 representa as
ingestões médias nos períodos de preparação e recuperação do EF.
Período pré-competitivo Período pós-competitivo
Energia
kcal 797 ±219,2 937,6 ± 340,2
Kcal/kg 10,8 ±3,3 12,7 ±4,9
Glícidos
g 110,3141,0 110,8151,9
g/kg PC 1,510,6 1,5 10,8
Lipidos
g 27,3110,0
Fibra
g 5,312,0
Água
ml_ 525,61131,5 804,31263,9
22
Tabela 8. Ingestão diárias (média ± desvio padrão) de energia, macronutrimentos
(glícidos e lipidos), fibra e água, nos períodos pré e pós competitivos.
5.5. Análise dos conhecimentos sobre Nutrição e Alimentação
O questionário de conhecimentos sobre nutrição e alimentação foi realizado pelos
18 atletas. A pontuação média foi de 13,3±2,3 pontos num total de 20 pontos
possíveis. Na tabela 9 está representada a percentagem de atletas que obtiveram
respostas certas nas diferentes perguntas do questionário.
Nas questões 4, 6, 13, 14, 15 e 17, pelos menos metade dos participantes deram
respostas erradas. Estas questões englobam vários temas, tais como: a
quantidade de proteína, gordura e energia de alguns alimentos; "a água
engorda?"; necessidades extras de um atleta; e, relação entre a carne e o
aumento da massa muscular. Todos os atletas tinham conhecimento que os
hortícolas, cereais e fruta são bons fornecedores de fibra.
Número da Questão Resposta Certa (%)
1 72,2
2 94,4
3 94,4
4 33,3
5 83,3
6 2L8
7 61,1
8 100
23
9 94,4
10 77,8
11 88,9
12 83,3
13 38,9
14 27,8
15 33,3
16 61,1
17 50 18 61,1
19 61,1
20 94,4
Tabela 9. Percentagem de atletas que responderam correctamente ás questões.
6. Discussão
A escolha deste tema para a realização do presente estudo deveu-se em parte à
escassez e controvérsia de dados, o que por outro lado limita a comparação de
alguns resultados com outros trabalhos.
A elaboração deste estudo teve várias limitações, nomeadamente o pequeno
tamanho amostrai, a utilização de um questionário de conhecimentos sobre
nutrição não validado para a população Portuguesa, o método de recolha de
dados de ingestão alimentar, a quantificação e codificação destes dados (38, 39).
24
O RA é um método de referência, prático (40) e frequentemente utilizado em
atletas para avaliar a IA (2, 7, 8, 41, 42). A escolha de 5 dias foi feita de acordo
com o ciclo de actividade física dos atletas e de modo a englobar dias da semana
e de fim-de-semana (40, 43), uma vez que a alimentação da população em geral
difere substancialmente em ambos os períodos (43, 44). Contudo, para atletas é
mais relevante o estudo da periodicidade associada ao ciclo de actividade física,
tais como: fases pré ou pós-competição. Deste modo, apenas foi feita análise da
adequação da IA ao ciclo de actividade do atleta, considerando que alterações
entre dias da semana e fim-de-semana destacam-se apenas na população geral.
Um RA de 7 dias proporciona maior fiabilidade, contudo após 4 dias de registo
ocorre um decréscimo na adesão por parte dos atletas e verifica-se uma menor
qualidade dos registos nos últimos dias (43). Expressar em medidas caseiras ao
invés de pesar todos alimentos é método com mais adesão e permite recolher
informação acerca da IA e hábitos alimentares dos participantes. Todavia só é
representativo de uma alimentação habitual se for efectuado várias vezes e
mesmo assim pode subestimar a ingestão energética em 20-50% (40, 44). Deste
modo, e analisando todos os aspectos referentes a esta questão, decidiu-se
utilizar um RA de 5 dias consecutivos expresso em medidas caseiras, já utilizado
em estudos com atletas adolescentes (7).
6.1. Características da amostra
O IMC médio da amostra de jogadores de voleibol foi de 21,3 kg/m2, ou seja
dentro dos limites da normalidade (18,5 a 24,9 kg/m2) de acordo com a OMS (24).
Contudo, o IMC não permite tirar informações verdadeiras e reprodutíveis para
atletas (45), uma vez que elevados valores de massa muscular podem disfarçar o
25
verdadeiro valor da percentagem de massa gorda (46, 47). A proporção de massa
gorda encontrada na amostra em estudo foi de 15,3%, contudo não há estudos
em jogadores masculinos de voleibol o que impede a discussão dos resultados
obtidos. Comparando com jogadoras femininas da mesma modalidade a média da
massa gorda encontrado no presente estudo é inferior (2, 25, 42, 46) o que de
certo modo era esperado uma vez que a percentagem de MG varia de acordo
com o sexo (6). No entanto, tendo em conta os resultados obtidos (7,6% e 10%
de MG) em estudos realizados com jogadores masculinos de outros desportos
colectivos (futebol), os resultados de massas gorda encontrados no presente
estudo foram superiores (41, 45).
6.2. Ingestão energética e nutricional
Uma IEN adequada é fundamental para crescimento, desenvolvimento e melhoria
da performance do jovem atleta (7, 22, 41, 48). É importante o encorajamento dos
adolescentes para adoptarem hábitos alimentares saudáveis, de modo atingirem
a IEN recomendada e consequentemente o sucesso desportivo (7, 22, 41).
Reconhecer as necessidades energéticas deve ser a principal prioridade do
atleta, uma vez que o balanço energético satisfatório é essencial para alcançar e
manter uma composição corporal adequada (6, 7), optimizar os efeitos do treino e
atingir um bom estado de saúde (6). Define-se balanço energético como a
igualdade entre a ingestão e o gasto energéticos (6). A IE média encontrada neste
estudo foi de 3023,8 ± 503,7 kcal por dia, correspondendo a 41,1 ± 9,2 kcal/ kg de
PC/ dia. Segundo a ADA, a recomendação da IE para atletas é baseada no tipo
de exercício, a sua intensidade, duração e frequência, posteriormente adiciona-se
este incremento a actividade física diária normal (6).
26
Rico-Sanz et al (41), num estudo com atletas com idades semelhantes às do
presente estudo, registaram valores ligeiramente superiores de energia ingerida
(3952 kcal/dia e cerca de 62 kcal/kg/PC). Já Boisseau et ai (1) observaram,
também em jogadores de futebol adolescentes, que a ingestão diária de energia
(2345 kcal/dia) foi menor quer no presente estudo, quer no estudo mencionado
anteriormente. Num trabalho (2) com atletas femininas de voleibol constatou-se
que apesar da ingestão média diária de energia ser superior (3945 kcal) à
registada nos atletas deste estudo, quando expressa por kcal por kg de PC é
inferior (37 kg/kg/ dia) à observada.
A distribuição de macronutrimentos em relação ao valor da IE total foi de 50,1 ±
3,8% para HC, 33,1 ± 3,2% para os lipidos e 17,2 ± 1,6 % para as proteínas,
valores que não se encontram dentro das recomendações (55-75%, 20-25% e 10-
15%, respectivamente). Esta tendência, de uma ingestão elevada de proteínas e
lipidos e baixa de HC, está de acordo com os resultados de outros estudos
realizados com atletas (1, 7, 41, 45, 49). Consumos de HC na ordem dos 50% do
VET estão no limiar das necessidades para maximizar as reservas glicogénicas
(1). Sendo o glicogénio muscular uma importante fonte de energia durante o
exercício (50-53), a ingestão adequada de HC é fundamental para reduzir a
depleção das reservas de glicogénio que decorrem durante a AF (16, 41, 43, 52-
54). Esta depleção traduz-se num aumento da fadiga muscular durante as
sessões de treino e diminuição da performance do atleta, principalmente no final
do exercício (16, 41, 43, 52-54). Rico-Sanz afirma que a quantidade de HC da
alimentação não é o único factor que interfere na ressíntese de glicogénio
muscular em atletas (45). Um dos estudos realizado em jogadores de futebol com
idades semelhantes aos atletas deste estudo, mostrava uma distribuição de
27
macronutrimentos idêntica à aqui observada, mas realça o facto de a contribuição
dos açúcares simples (27% do VET) ser muito superior ao recomendado pela
FAO/OMS (menor que 10% do VET) e à encontrada no presente estudo (18, 9 ±
6,2 %). Sugere-se, que o atleta provavelmente use os açúcares simples como
fonte para o trabalho muscular (1). Uma ingestão elevada de açúcares simples,
durante longos períodos, pode ser prejudicial para os atletas, devido há maior
propensão para o aumento de MG e consequentemente do peso corporal (55).
Uma vez que a composição corporal e a própria IEN podem variar consoante o
atleta (5), a recomendação para HC expressa em g/kg de PC parece ser a
maneira mais correcta (5, 50). A ingestão média diária de HC, neste estudo, foi de
5,2±1,2 g/kg de PC, valor abaixo das recomendações (7-10 g/kg/PC). Uma
ingestão insuficiente de HC é relatada em vários estudos com jovens atletas (2,
42, 45, 56-58). Rico Sanz e colaboradores (41), num estudo com jovens
jogadores de futebol, constataram que apesar de a ingestão média de HC ser de
53% do VET, logo inferior às recomendações, como estes atletas tinham uma IE
diária bastante elevada, a quantidade absoluta de HC encontrava-se dentro das
recomendações (8,3 g/kg de PC). Gueye et ai (49) referem que a ingestão
deficitária de HC pode ser consequência de elevadas ingestões de proteínas e
lípidos. Revendo os resultados do presente estudo, constatou-se que a ingestão
média diária de proteínas foi de 1,8 ± 0,4 g/kg de PC e a de lípidos de 33,1 ± 3,2
% do VET, resultados acima das recomendações (1,2-1,7 g/kg de PC) (33) e 20-
25 % do VET (6), respectivamente. Estes valores reflectem que a ingestão de HC,
na população em estudo, pode também estar comprometida devido a altas
ingestões destes macronutrimentos (proteína e lípidos).
28
Apesar de ainda serem um pouco controversas as recomendações de proteínas
para jovens atletas (22), parece apropriado recomendar ingestões mais elevadas
comparativamente com a população em geral (22, 33). Lemon (59) refere que
atletas de endurance necessitam de cerca de 1,2-1,7 g/kg PC de proteína por dia,
no entanto para atletas de resistência o valor mínimo sobe para 1,6-1,7 g/kg de
PC/dia. Segundo Shephard (60), a ingestão diária de proteína deve rondar os 1,5
g/kg PC, enquanto que Boisseau et a/já referem um valor de 1,6 g/kg PC/dia de
proteína para adolescentes com ou sem AF, de modo a garantir um balanço
azotado positivo (1). Tipton e Wolfe apontam 1,2-1,7 g/kg PC dia como
recomendação proteica para atletas (33). Embora as necessidades proteicas
estejam aumentadas nesta população, os valores recomendados são facilmente
atingidos pelos atletas não sendo preciso suplementar (33), obviamente caso a IE
seja adequada para manter o peso corporal óptimo (6, 11). Neste estudo, a
ingestão diária de proteína foi de 1,8 ± 0,4 g/kg PC, ou seja ingestões médias no
limiar máximo da recomendação. De referir ainda que todos os atletas
apresentavam ingestão proteica acima do valor mínimo (1,2 g/kg PC/dia) e que
metade da população em estudo tinha ingestões acima do limite máximo (1,7 g/kg
PC/dia). Resultados semelhantes foram encontrados noutros estudos: Leblanc et
ai (7) registaram valores entre 1,4 ± 0,4 g/kg PC e 2,3 ± 0,5 g/kg PC; Rico-Sanz et
a/(41) encontraram valores médios de ingestão proteica de 2,3 g/kg PC.
Alimentos ricos em proteínas não aumenta necessariamente a massa muscular, e
até podem desempenhar um papel aterogénico quando associada a gordura
saturada, provocar perdas urinárias de cálcio e aumentar as perdas de fluidos
urinárias acrescidas para eliminar o azoto adicional encontrado neste tipo de
29
alimentação (61). A reposição de fluidos deve ser cuidadosamente monitorizada
quando a ingestão proteica é elevada (2).
Os lípidos são componentes necessários da alimentação normal, fornecendo
energia e elementos essências às membranas celulares (6) e permitem uma
melhor absorção de nutrimentos, tais como a vitamina E, A, K e D (6, 62). No EF,
os lípidos desempenham um excelente papel enquanto substrato energético
sendo que, os atletas jovens têm, comparativamente com adultos, uma maior
capacidade de utilizar a gordura como combustível (22). Contudo, não há
evidências científicas que sugiram a necessidade de aumentar as recomendações
deste macronutrimento para os adolescentes (1, 19, 22, 63). Em contraste com as
reservas de HC no organismo, as de gordura são bastante elevadas, não
parecendo constituir um factor limitativo para a performance do atleta (32).
Todavia, a restrição de ingestão de lípidos para um valor abaixo dos 15% do VET
não é aconselhado, uma vez que pode limitar a performance do atleta,
eventualmente por reduzir o armazenamento intramuscular de triacilglicerois (os
quais são uma fonte significativa de energia durante exercícios de todas as
intensidades) e por afectar importantes funções fisiológicas no organismo (63).
Apesar de diferentes organizações citarem recomendações divergentes para a
ingestão de lípidos, em caso algum estes ultrapassam os 30% de VET.
Adoptando a recomendação da American Dietetic Association, Dietitians of
Canada e American College of Sport Medicine (20-25% do VET) (6) nenhum
atleta do presente estudo respeita o intervalo proposto. Ao se considerar as
recomendações da OMS (15-30% do VET) (24) verificou-se que a ingestão média
de lipidos da população em estudo era ligeiramente superior ao preconizado (33,1
± 3,2% do VET), sendo que cerca de 78% estava acima do valor máximo (30% do
30
VET). Almeida et al (2) referiram resultados semelhantes de ingestão lípidica
(32%do VET) em atletas femininos de voleibol. A ingestão adequada de lípidos
tem sido recomendada quer para não comprometer a ingestão de HC, quer para
assegurar a manutenção do peso corporal e deverá fornecer os ácidos gordos
essenciais na proporção correcta (6). Segundo a OMS, o contributo dos AGS
deverá ser inferior a 10% do VET e entre 6-10 % do VET para AGP e os AGM
devem ser calculados por diferença (24). Na amostra em estudo registaram-se
ingestões de AGS superiores ao recomendado (11,8 ± 2,0 do VET) e inferiores de
AGP (4,9 ± 0,5) e AGM (12,5 ± 1,5). A sua ingestão de colesterol não deve
ultrapassar os 300 mg preconizados pela OMS para a população em geral. A
amostra em estudo apresentou uma ingestão média diária de 462 ± 134 mg de
colesterol, valor muito superior ao recomendado. O atleta deverá ter o
conhecimento de que uma ingestão elevada de lípidos, principalmente de AGS
impede a obtenção de uma performance óptima e dificulta a recuperação após
EF. A longo prazo conduz a problemas de saúde, tais como problemas cardíacos
(22).
A ingestão média de fibra foi de 20,8 g/dia, resultado que ficou aquém das
recomendações (38 g/dia) (34).
As necessidades de micronutrimentos podem estar ligeiramente aumentadas em
indivíduos com AF (6, 35, 40, 45, 64), e caso não sejam satisfeitas o desempenho
desportivo dos atletas pode estar comprometido. Este incremento está associado
a possíveis perdas aumentadas destes micronutrimentos através do suor, urina e
fezes e pela elevada produção de radicais livres (64). Deve-se salientar que a
melhor maneira de obter estes nutrimentos biodisponiveis é através de uma
alimentação variada em detrimento ao uso de suplementos (22). O recurso à
31
suplementação pode justificar-se quando: alimentação seja insuficiente; que
restrinjam um ou mais grupos de alimentos; vegetarianos ou macrobiótico; com
alimentação de aporte energético inferior a 2000 kcal ou superior a 4800 kcal; e
com alimentos de baixa densidade nutricional (6, 22, 50). As vitaminas e minerais
têm um papel relevante no metabolismo de macronutrimentos (2) e
desempenham funções importantes na fisiologia e bioquímica do EF (64). As
vitaminas do complexo B têm duas grandes funções directamente associadas
com o EF: a produção de energia durante o exercício (6, 64) - actuam como co-
factores na glicólise, ciclo do ácido cítrico, fosforilação oxidativa, íl-oxidação dos
AG e na degradação de aminoácidos (aa) (64) (tiamina, riboflavina, vitamina B6,
niacina, ácido pantoténico e biotina) e a produção do heme, síntese proteica e
manutenção/reparação de tecidos (folato e vitamina B12). Os nutrimentos
antioxidantes, tais como a vitamina C e E, beta caroteno, selénio (2, 6, 41, 64),
zinco, cobre, ferro e magnésio (65) actuam na protecção contra o stress oxidative
aumentado durante EF (6). A vitamina C está envolvida em inúmeras reacções
metabólicas, actuando na síntese de colagéneo, intervindo na função
imunológica, na cicatrização e auxilia a absorção do ferro não-heme (prevenindo
a anemia por carência de ferro) (2). Em atletas jovens, as carências minerais
principais são de cálcio, ferro e zinco (6, 66). Durante a adolescência, as
recomendações destes minerais estão substancialmente aumentadas de modo a
assegurar o normal crescimento e desenvolvimento (1, 6). O cálcio é um
nutrimento de extrema importância para atletas jovens, particularmente durante o
crescimento (2, 6, 19, 55), uma vez que é nesta fase que cerca de 50% da massa
óssea é adquirida (2). Adicionalmente, carências de cálcio podem comprometer a
activação de inúmeras enzimas, a regulação da contracção/relaxamento muscular
32
(41 ) e aumentar o risco de fracturas (6, 7). Apesar de o EF favorecer a formação
óssea, a ingestão adequada deste mineral é fundamental (67). O cálcio é
sobejamente conhecido por interferir na absorção das formas heme e não-hene
de ferro (37). O ferro é um mineral directamente relacionado com a performance
do atleta (2, 48, 68), pela sua actuação no metabolismo energético (48),
transporte de oxigénio e metabolismo aeróbio (7). Um estado nutricional óptimo
de zinco é essencial para crianças e adolescentes devido ao seu papel no
crescimento e desenvolvimento, na construção e reparação muscular e na
produção de energia (6, 22). O magnésio é fundamental para uma enorme
variedade de processos celulares que suportam diversas funções fisiológicas, tais
funções imunológicas, hormonais, também regula a estabilidade membranar e
neuromuscular (69). Além do mais, o magnésio é um mineral importante para um
bom desempenho desportivo em jovens atletas (69, 70), em que baixas ingestões
deste nutrimento leva à fadiga, fraqueza muscular, tremores, cãibras e lesões
ósseas, bem como défices de memória e concentração e diminuição do apetite
(70). O sódio ajuda na manutenção do equilíbrio ácido-base e da pressão
osmótica do líquido extracelular (70). As Dietary Reference Intakes (DRI) para
vitaminas e minerais parecem ser apropriadas para atletas, uma vez que
apresentam uma boa margem de segurança (6, 22), sendo que se a ingestão de
proteínas e energia for adequada, provavelmente a destes micronutrimentos
também estará assegurada (2). No presente estudo, a prevalência de ingestão
inadequada é de aproximadamente 89% para a vitamina E, 78% para o cálcio e
vitamina D e cerca de 50% para o magnésio. Vários estudos, com jovens atletas,
relatam ingestão deficitárias nos mesmos micronutrimentos (1, 2, 41, 45). A
ingestão média de vitamina E (9,5±2,7mg) encontrava-se abaixo da EAR (12
33
mg/dia), de forma similar ao encontrado noutros estudos (2, 45). Normalmente,
atletas com alimentação de valor energético restritivo, ou com baixas ingestões de
hortofruticolas, apresentam défices de vitaminas anti-oxidantes (6). Deste modo,
teria sido proveitoso neste estudo analisar a frequência de consumo destes
alimentos.
A ingestão inadequada de cálcio (média de 1057 ± 307,59 mg/ dia) pode ser
preocupante em atletas, principalmente da modalidade em estudo. O voleibol é
um desporto de impacto, tendo em conta que, através do embate no solo, se
produz uma reacção de força 3 a 6 vezes superior à massa corporal (2).
Consequentemente, os jogadores desta modalidade apresentam uma maior
densidade óssea relativamente a indivíduos sedentários da mesma faixa etária
(71). Almeida et ai (2) sugerem que estes atletas têm necessidades aumentadas
deste mineral, sendo importante alertá-los para os possíveis efeitos negativos de
uma ingestão deficitária de cálcio a longo termo (41 ). Deste modo, é gratificante
para os atletas o incentivo para o aumentar do consumo de alimentos com boas
fontes de cálcio, nomeadamente produtos lácteos (6, 55). Além disso, a ingestão
adequada de Vitamina D é fundamental para a absorção e regulação dos níveis
de cálcio e promoção da saúde óssea (6). Os resultados obtidos nesta amostra
demonstram uma ingestão média diária de vitamina D (3,6 ± 1,9 ug) abaixo das
recomendações (5 ug), facto que pode agravar a absorção de cálcio a nível
intestinal. Por outro lado, não se pode esquecer da produção de vitamina D na
pele (6). Outra medida favorável para promoção de uma melhor absorção de
cálcio seria diminuir a ingestão proteica, uma vez que, ingestões elevadas de
proteína comprometem a absorção deste mineral (20).
34
Embora a ingestão média de magnésio (338 ± 56,5 mg) no presente estudo seja
ligeiramente inferior à EAR (340 mg/dia), cerca de metade da amostra
encontrava-se abaixo do valor recomendado.
Todos os participantes tinham ingestões médias acima das EAR para as
vitaminas do complexo B.
Boisseau et ai (1) referem que carências de micronutrimentos podem ser
problemáticas para jovens sedentários, mas agrava-se quando se trata de jovens
atletas.
É de destacar que a totalidade da população em estudo apresentava uma
ingestão média de sódio (3407 ± 751,6 mg) acima da recomendação (1500
mg/dia - Al) e apenas dois atletas tinham ingestão média diária abaixo do
tolerable upper intake level (2300 mg). Apesar de uma ingestão excessiva de
sódio pode ser considerada preocupante, devem ter-se em atenção as perdas
acrescidas que ocorrem durante o exercício (72, 73).
O estado de hidratação corporal é determinado pelo balanço entre a água
ingerida e as perdas corporais de fluidos (73). Aquando de um EF contínuo e
vigoroso há produção de calor que conduz a um aumento da temperatura corporal
do atleta (74). O suor é a resposta fisiológica normal que limita esta subida de
temperatura (73). Contudo, perdas significativas de suor, se não forem
correctamente compensadas, levam a um estado de desidratação, que por sua
vez conduz a diminuição da performance desportiva, aumento de lesões
musculares e, em casos mais extremos, pode por em risco a saúde do atleta (6,
11,45,73,75,76).
A ingestão média diária de água (2227 ± 387,9 ml - incluindo a água presente nos
alimentos e bebidas) neste estudo foi bastante menor que o recomendado para
35
sedentários (3300 ml/dia) (36), referindo ainda, que nenhum atleta registou
ingestões médias dentro da recomendação. Atendendo ao facto que se trata de
uma população jovem e activa, ainda mais destaque merece esta questão, uma
vez que a termoregulação nesta faixa etária é menos eficaz (73). A taxa de
sudação pode variar consoante: a área da superfície corporal, intensidade do
exercício, temperatura e humidade do ambiente e aclimatização (6, 73, 75). A
performance óptima de um atleta só é alcançada quando este atinge o equilíbrio
hídrico durante o exercício (6, 77, 78). Idealmente, todos os atletas deviam ingerir,
durante a competição, fluidos, electrólitos e HC suficientes para satisfazer
completamente as necessidades, bem como compensar as perdas de fluidos de
forma a manter o equilibro hídrico (estado de eu-hidratação) (79). Perdas
próximas dos 2% do peso corporal, por desidratação, diminuem o desempenho
desportivo do atleta e quando estas perdas atingem os 5% a performance fica
reduzida a cerca de 1/4 (30, 80). Na verdade, muitos atletas começam
frequentemente o EF já com um grau de desidratação (79, 81), pelo que o défice
de água corporal no pós-execicio ainda é mais grave do que é indicado somente
na diferença pelo peso corporal no pré e pós-exercicio (82). Uma adequada
quantidade de água corporal é fundamental em todo o ciclo do EF (pré, durante e
pós exercício) (6). A sede é um indicador tardio de défices água corporal (22),
pois quando o atleta sente sede já se encontra num estado avançado de
desidratação (22). Deste modo, a sede pode não ser um estímulo suficiente para
permitir a ingestão adequada de água, quer durante, quer depois do EF (82). Já a
coloração da urina pode ser interpretada como um bom indicador do estado de
hidratação do atleta, sendo que deve ser clara e límpida (83). Algumas bebidas
36
devem ser ingeridas com precaução, pois podem acelerar a perda de fluidos,
como por exemplo: chá, café e outras bebidas com cafeína (84).
A cafeína é uma substância ergogénica que tem sido relacionada com o
melhoramento da performance do atleta, dada a sua capacidade de aumentar a
oxidação lipídica e consequentemente a manutenção das reservas glicogénicas, e
por actuar a nível da contracção muscular, (85-87). Contudo, apesar das
características desta substância, o seu consumo não está aconselhado a jovens
(22). Para ter efeito ergogénico, durante as fases terminais de exercício
prolongados, a ingestão de cafeína deve rondar as 3-9 mg/kg PC antes ou
durante o exercício, ou em pequenas doses (1,5 mg/kg PC) durante os últimos 40
minutos (88).
A ingestão média de cafeína, nesta amostra, foi de 34,9 ± 42,5 mg por dia, o que
perfaz 0,5 mg/kg PC, portanto sem efeito ergogénico.
No presente estudo não foi registado nenhum consumo de bebidas alcoólicas.
Este resultado é favorável aos participantes, na medida em que o álcool pode
diminuir o desempenho desportivo, nomeadamente a performance aeróbia (8).
6.3 Padrão alimentar
Na educação e aconselhamento alimentar de jovens é fulcral conhecer os seus
hábitos, atitudes e factores que influenciam as suas escolhas alimentares (22). Ou
seja, a avaliação do padrão alimentar facilita a desenvolvimento de programas de
promoção da saúde e fornece informação acerca de comportamentos alimentares
essências para a realização de um aconselhamento nutricional adequado (89).
Contudo, a avaliação do padrão alimentar baseado em RA tem enumeras
limitações, tais como: alterações do comportamento do atleta durante o período
37
de avaliação; diminuição do registo e ingestão alimentar, principalmente por
atletas conhecedores do seu peso ou insatisfeitos com a sua imagem corporal
(30, 89); e sub ou sobre-estimação da ingestão por parte do atleta ou do avaliador
(89). No presente estudo, foi utilizada uma variedade de medidas intencionais
cujo objectivo era diminuir possíveis fontes de erro. Assim, os atletas foram
motivados a aprender acerca da sua alimentação e como a melhorar (30, 89), foi-
Ihes informado que teriam o feedback da avaliação da sua ingestão (30); e
fornecidas instruções verbais e escritas para o preenchimento dos RA. A
caracterização do padrão alimentar está, também, limitada pela ausência de uma
definição padronizada de refeição e episódio alimentar. O conceito adoptado para
este estudo (30) pareceu-nos o mais adequado para esta amostra, dada as suas
características sócio-culturais.
O número e a composição dos episódios alimentares ajustados ao atleta são
fundamentais para atingirem as necessidades energéticas e nutricionais (30, 90) e
diminuir o desconforto gástrico associado a refeições muito pesadas (30). Neste
estudo, foi verificada uma média de 4,5 ± 0,6 episódios alimentares diários,
resultado semelhante ao de outras investigações (30, 34, 90). O A foi a refeição
mais consumida (4,8 ± 0,4/ 5 dias de registo), seguido da MT (4,3 ± 0,9 episódios
em média) e PA (3,6 ± 0,8 episódios). Contrariamente, Siega et ai (91)
verificaram que o jantar era a refeição mais comummente efectuada, seguida do
PA e merendas. A menor frequência de jantar, observada neste estudo, pode ser
explicada pela ausência de horários fixos dos treinos. Deste modo, em alguns
dias, o término do treino coincidia com o horário habitual do jantar, e
consequentemente os atletas não efectuavam jantar, ou melhor, a ingestão
posterior ao treino não era assim classificada pelos critérios usados.
38
O A e J são os maiores contribuintes da ingestão energética dos atletas,
fornecendo 22,8 ± 4,5% e 21,1 ± 5,7% do VET, respectivamente. Estes valores
são inferiores aos observados em outros estudos, onde o J era o maior
contribuidor para VET (31-32%) seguido do A (27%) (89). Este facto pode ser
explicado pelo anteriormente descrito. Burke et ai, (30) relataram que o A e o J
foram os fornecedores mais relevantes do VET (24% e 34%, respectivamente), e
o PA que menos contribui, com 19% do VET. Estes dados estão de acordo com
os resultados do presente estudo, sendo de notar ainda que a percentagem do
VET para o PA é bastante inferior (8,2%). Butterworth et ai (92), que efectuaram
um estudo com atletas de endurance, referiram que a energia fornecida
conjuntamente pelo PA, A e J era cerca de 71,5% do VET, valor muito superior ao
observado no presente estudo (52,1% do VET). Nesse mesmo estudo (92), foi
registado que 28,5% do VET provinha das merendas, valor muito inferior ao
obtido com esta amostra (47,8% do VET). Van Erp-Baart et ai (93) que estudaram
o padrão alimentar de atletas de modalidades colectivas, constataram que as
merendas contribuíam com 32%-37% do VET, resultados mais aproximados aos
encontrados neste estudo (89). Ambos os estudos, enumerados anteriormente,
referem que o PA era a refeição que menos contribuía para o VET (13,7% e
<20%, respectivamente), o que é concordante com o observado nesta amostra
(8,2%, menor proporção do VET).
As merendas são caracterizadas por apresentarem um maior consumo de
alimentos ricos em HC, destacando-se os açúcares simples, e pobres em
proteínas e lípidos, comparativamente às refeições (30). No presente estudo, o
PA e as merendas são, de facto, as refeições que apresentam maior quantidade
de HC (60,0 ± 11%, 59,8 ± 8,3% e 53,4 ± 10,1%) e de açúcares (30,6 ± 12 %,
39
26,6 ± 11%, 23,4 ± 12%, quando comparadas com A e J (43,8 ± 6,1 % e 45,0 ±
6,7% de HC, e 13,0 ± 7,7% e 17,4 ± 10% de açucares, respectivamente). A MM e
a MT são os episódios alimentares que contem a menor quantidade de proteínas
(13,7 ± 4,5% e 11,6 ± 2,6% do VET, respectivamente). O J apresenta-se como a
refeição com a maior ingestão de proteínas (26,4 ± 8,2% do VET), seguido do A
(25,5 ± 5,5%). Estas refeições (A e J) são, igualmente, as fornecedoras
maioritárias de lipidos (26,3 ± 8,6% e 21,8 ± 7,9% da ingestão diária total),
colesterol (27,5 ± 9,0% e 27,3 ± 10,4%) e fibra (25,2 ± 8,1% e 21,5 ± 7,2%)
resultados coincidente a um estudo desenvolvido por Ziegler et ai (89).
Relativamente a composição das refeições/merendas, em macronutrimentos
verificou-se que o PA era a refeição em que os atletas apresentavam a maior
ingestão de HC (60,0 %), salientado que 30% correspondia a açúcares, e, a
menor ingestão lipídica. A maior ingestão proteica foi ao J (21,7 ± 5,0 %); estes
resultados coincidem com outro estudo realizado com adolescentes (89). De
referir ainda que, no presente estudo, nenhuma das refeição/merendas
apresentada o valor lípidico inferior a 25%, valor muito superior ao encontrado por
Ziegler et ai (máximo de 17,6% de lipidos ao A) (89).
6.4 Caracterização da IEN dos períodos pré-competitivo, pós-competitivo e
competitivo
Os atletas em estudo, como representavam diferentes clubes, não tiveram o
mesmo número de competições durante o período de análise. Assim, a média de
dias de treino dos participantes foi de 2,7 ± 0,7, em que o mínimo observado foi
de 1 dia e o máximo de 4 dias de treino. Estes realizaram uma média de 1,4 ± 0,5
jogos, havendo atletas que participaram em 2 competições e outros em apenas
40
uma (todos durante o fim de semana). Por diversos motivos (doença, lesão, etc.),
cerca de 8 atletas não efectuaram EF num dos dias de registo.
O estado nutricional do atleta no período pré-competivo pode ter um impacto
significativo na sua performance (94). Devem ser criadas muitas estratégias
nutricionais pré, pós e durante a competição para garantir uma adequada
hidratação e assegurar a ingestão apropriada de macronutrimentos (5).
Idealmente, antes da competição começar as reservas de HC (GM e hepático)
devem estar completamente preenchidas. Além do mais, um aumento progressivo
nos últimos dias antes de um evento de endurance na ingestão de HC, e
concomitante diminuição na duração e intensidade do treino, pode optimizar as
reservas de glicogénio do atleta (95). É recomendada uma ingestão de cerca de
200-300g (1-4g/kg de PC) na refeição pré-competitiva (3 a 4 horas precedentes
do exercício de endurance), de modo a permitir o aumento desejado das reservas
de GM e hepático, e consequentemente melhorar a performance do atleta (6, 96).
Neste estudo, a ingestão média de HC nas 4 horas que antecedem o EF foi de
110 ± 41 g (1,5 g/kg/PC ± 0,6), valores claramente inferiores às recomendações.
Além de optimizar os níveis de ingestão de macronutrimentos, principalmente HC,
deve ser objectivo do atleta atingir níveis ideais de ingestão hídrica de modo a
não comprometer a sua performance (6). Como recomendação o ACSM sugere
uma ingestão de 400-600ml_ de água 2 horas antes (6), ou cerca de 5ml/kg PC
imediatamente antes do EF (97); tendo sempre em atenção o possível
desconforto abdominal por parte do atleta (98).
No presente estudo a ingestão média de água no período pré-competição foi de
525,6±132 ml, aparentemente dentro da recomendação. Contudo, é de frisar que
esta média corresponde às 4 horas que precedem a competição, pelo que se
41
pode supor que a ingestão hídrica encontra-se abaixo do ideal, apesar de poder
ser especulativa esta leitura.
Na tentativa de diminuir o desconforto abdominal durante o jogo, a alimentação
neste período (pré-competitivo) convém ser pobre em lípidos e fibra (6).
Durante a competição não se observou qualquer registo de ingestão de alimentos
ou bebidas. Esta ausência de registo pode-se dever ao facto do RA aplicado não
citar especificamente ingestões alimentares durante este período, embora tenha
sido minuciosamente explicado no momento da sua entrega. Burke et ai (30) num
estudo com atletas Olímpicos, registaram que apenas 27% de todas as sessões
treino/competição não apresentavam qualquer tipo de ingestão.
Dada esta ausência de ingestão durante o EF, ainda é mais relevante que a
ingestão de HC no período pré-competitivo se encontre dentro das
recomendações (99). Assim, na hora que antecede o exercício é fundamental que
o atleta ingira uma quantidade razoável de HC (até 100g) de modo a compensar a
maior oxidação de HC e a supressão de lipidos, disponibilizando HC para a fase
final do EF (100). Contudo, é importante não esquecer o possível desconforto
abdominal (100).
O período de recuperação, tantas vezes negligenciado pelos atletas, é uma fase
relevante a nível nutricional, e deve ser encarado como o momento mais precoce
para uma nova competição (97). Após o EF, o interesse primário do atleta deve
ser a reposição dos fluidos e electrólitos perdidos através do suor, e o restauro
das reservas de GM e hepático (97). Deste modo, o atleta deve começar a ingerir
HC imediatamente a seguir ao EF (6), logo que seja possível, principalmente se o
intervalo de tempo para o próximo evento for pequeno (4-8h horas). Nas primeiras
4 horas é aconselhado 1-1,2 g/kg PC/ hora em intervalos regulares, e o atleta
42
deve optar por HC de moderado a alto índice Glicémico que resultam num maior
nível de glicogéneo nas 24 horas depois do EF (6, 32).
Os participantes deste estudo apresentavam uma média de 1,5 ± 0,8 g/kg PC nas
4 horas procedentes ao EF, ou seja valores que não atingem as recomendações.
Através destes resultados pode-se inferir que não existe uma preocupação por
parte dos atletas em todo o ciclo de EF. Contrariamente, Schokman et ai (5)
realizaram um estudo em jogadores de futebol, em que avaliaram a ingestão de
macronutrimentos e concluíram que a ingestão de HC no período pré-competição
era mais ajustado às necessidades do que a ingestão posterior a evento.
Havendo mesmo jogadores que admitiam menos disciplinas nos hábitos
alimentares na fase posterior ao EF, relatando maior consumo de comidas com
maior palatibilidade, caracterizadas pela sua riqueza em gordura e proteína, como
exemplo a comida tipo "fast food" (5). De salientar, no entanto que estes períodos
eram definidos como: 2 dias que antecederam o jogo e dois dias posteriores a
competição, respectivamente (5).
Habitualmente, e este estudo é um bom exemplo disso, a maioria dos atletas não
consome líquidos suficientes durante o EF para assegurar o equilíbrio hídrico,
terminando a sessão bastante desidratados (6). Shirrefs (101) verificou que é
necessária uma ingestão de pelo menos 150% das perdas de peso que ocorrem
durante o exercício para se garantir o balanço hídrico. Neste estudo não se
calculou a perda de peso dos atletas durante o jogo, o que impede avaliar a sua
adequação na ingestão hídrica.
É importante referir que alguns factores, tais com: a fadiga, a perda de apetite
depois do EF intenso, o acesso restrito a alimentos adequados, entre outros,
podem alterar a propensão de ingestão após o EF (97).
43
Em suma, o consumo adequado de alimentos e bebidas antes, durante e após o
EF pode ajudar a manter a glicose sanguínea durante o EF, maximizar a
performance e melhorara recuperação (102).
6.5 Conhecimentos sobre Nutrição e Alimentação
Os atletas são bombardeados com informação nutricional a partir de diversas
fontes, como treinadores, preparadores físicos, os próprios companheiros de
equipa, os familiares e os media. E, embora pareça existir um aumento crescente
no interesse e disponibilidade na informação nutricional, não é muito claro que os
atletas estejam mais bem informados sobre o papel da nutrição na performance
desportiva (103). Os atletas deste estudo tiveram em média 13,3 ± 2,3 pontos
num total de 20 pontos possíveis, cerca de 66,5%. Este resultado é ligeiramente
inferior a outro estudo (31) (77,6%) em que foi utilizado o mesmo questionário. No
entanto, quando comparado com resultados (52,1%) de um trabalho elaborado
em Portugal (104) a pontuação é superior. Vários estudos (103, 105) em que
foram avaliados os conhecimentos de nutrição em jovens atletas, também
revelaram falta de conhecimentos de nutrição, apesar de
instrumentos/questionários ser diferente ao utilizado neste trabalho. Analisando
pormenorizadamente as questões, constatou-se que os atletas ainda tinham
conceitos errados. Nas questões 4, 6, 13, 14, 15 e 17 pelo menos metade dos
atletas não respondeu acertadamente. As questões 4 e 6 eram relacionadas com
a composição (em macronutrimentos) de alguns alimentos, o que revela falta de
conhecimentos básicos essencialmente a nível da alimentação. Ou seja, a maioria
dos atletas desconhecia a riqueza das leguminosas em proteína, atribuindo o
maior valor proteico ao leite. E, também não era do seu conhecimento que o
44
queijo Mozzarella era o alimento, dentro das 3 hipóteses, com maior teor de
gordura. Dado a ingestão quer de proteínas, quer de gordura, dos atletas deste
estudo estarem fora das recomendações para esta população, seria benéfico e
bastante útil a educação alimentar, fornecendo informação que permitisse
melhorar as escolhas alimentares a longo termo.
As questões 13 e 14 eram relacionadas com o valor energético de algumas
bebidas. Analisando as respostas dos atletas verificou-se que a maioria pensava
que a água mineral com gás engorda e que fornece calorias. A maioria atribuía a
menor energia à cerveja. Estes resultados não coincidem na totalidade com o
estudo realizado por Cuspiti et ai (31 ), em que a maioria dos atletas desconhecia
que a água não engordava, contudo todos reconheciam que esta bebida não
fornece energia. É importante desmistificar estes conceitos e explicar aos atletas
a importância da ingestão de fluidos para o seu rendimento desportivo,
promovendo a ingestão de água em todos os momentos do ciclo de EF (pré, pos
e durante EF).
Os atletas também não estavam cientes das necessidades acrescidas que esta
população precisa, sendo que apenas cerca de 30% da amostra reconheceu que
os atletas necessitavam de porção extra de alimentos. A maioria considerava que
apenas seria preciso este aumento quando a prova começa 3 ou mais horas após
a última refeição.
Metade dos atletas respondeu que comer muita carne aumenta a massa muscular
(questão 17), valor muito superior ao resultado encontrado noutro estudo (103),
em que apenas 13% dos atletas acreditavam que as proteínas aumentam a
massa muscular. Os resultados encontrados nas questões 13, 14 e 17 vão de
encontro aos obtidos num estudo com jovens jogadores de futebol. De notar que
45
quase a totalidade dos participantes (94%) deste estudo tinham presente que a
carne era importante fornecedor de proteínas (questão 3). Neste estudo, tal como
referido noutro estudo (103), seria benéfico fornecer aos atletas informação
acerca do papel das proteínas como fonte de energia e no melhoramento da
massa muscular.
Apesar de a ingestão média de HC, dos atletas deste estudo, estar muito aquém
das recomendações, cerca de 72% admitiu que a principal fonte de energia para
os atletas provém dos HC, e têm noção que o pão e a massa são boas fontes de
HC. Provavelmente a ingestão deficitária deste macronutrimento se deva ao
pensamento erróneo de que os HC provoquem um aumento da massa gorda e
que para atingirem uma composição corporal óptima seja necessário evitar a sua
ingestão (103). Novamente, e dada a importância desta questão, seria
importantíssimo a educação alimentar nesta população. Clark (51) sugeriu que o
fornecimento de listas de alimentos ricos em HC, estratégias simples e rápidas de
educação alimentar baseadas na classificação de alimentos seria um gratificante
guia no melhoramento da selecção dos alimentos por parte dos atletas.
Perante os resultados deste questionário não há duvidas que os nutricionistas
devem actuar na educação alimentar dos atletas, contudo também há estudos
(51, 103, 106, 107) que demonstram que os treinadores, os quais contactam
directamente com os atletas, deveriam receber informação nutricional. Uma vez
que muitos treinadores podem se deparar com distúrbios alimentar nos seus
atletas, ou serem os próprios que inadvertidamente aumentam o risco destas
patologias (108).
Em suma, o nutricionista tem um rol de funções face a um atleta, em que não é
apenas objectivo o desempenho desportivo óptimo, mas também a
46
promoção/implementação de praticas alimentares saudáveis que deverão
permanecer ao longo da vida (109). Assim, um nutricionista qualificado deve
actuar somente depois de cuidadosamente revista e analisada a saúde do atleta,
a sua alimentação, suplementos e medicamentos utilizados e necessidades
energéticas individuais (102).
Hábitos alimentares saudáveis devem ser incutidos desde cedo, uma vez que
quando adquiridos e estabelecidos na infância são mais fáceis de persistir na vida
adulta (22), daí a importância do aconselhamento nutricional nesta população.
7. Conclusões
O grupo de atletas deste estudo, apresentava uma ingestão de macronutrimentos
desajustada, em virtude de uma ingestão elevada de proteínas, lípidos
(nomeadamente os saturados) e açúcares, e, por outro lado, um défice na
ingestão de HC. Ainda se pode referir que o consumo de colesterol e sódio foram
muito superiores ao preconizado para a população em estudo. Relativamente aos
micronutrimentos, destacou-se a ingestão insuficiente de vitaminas A, C e D e
cálcio, potássio e magnésio. A ingestão de fibra foi também insuficiente. A
reduzida ingestão de fibra pode traduzir escolhas alimentares menos adequadas,
tais como: alimentos de alta densidade energética e baixa densidade nutricional.
Todos estes factores podem por em risco o normal crescimento e
desenvolvimento destes atletas adolescentes.
A ingestão hídrica, uma vez que foi bastante insuficiente, não permitirá ao atleta
um desempenho máximo.
47
Depois da análise do padrão alimentar é indispensável alertar o atleta para a
necessidade de aumentar a frequência de refeições e distribuir, de um modo mais
homogéneo, a energia pelas diferentes refeições. Deste modo, as necessidades
energéticas e nutricionais diárias eram mais facilmente atingidas, havia menor
propensão a desconfortos gastrointestinais e o aparecimento de fadiga mais
tardiamente.
Existe uma inadequação da ingestão alimentar e hídrica em todo o ciclo de EF,
salientando a negligência total durante a competição.
A pontuação média do questionário de conhecimentos de alimentação e nutrição
foi baixa, revelando ausência de conhecimentos nesta área. As repostas com pior
pontuação abrangem vários temas de extrema importância para os atletas e seu
rendimento desportivo.
Este trabalho é um claro testemunho que os atletas não apresentam uma
ingestão alimentar e hídrica que lhes permita alcançar uma performance óptima.
Deste modo, um acompanhamento nutricional seria fundamental para uma
melhoria quer a nível desportivo, quer a nível de saúde. A educação alimentar
deve fazer parte da formação destes atletas, e deve ser constituída por
informações úteis e fidedignas, simples e de fácil compreensão que permita que o
atleta compreenda a verdadeira importância de uma ingestão dentro das
recomendações tabeladas para indivíduos com as suas características. O
nutricionista, também deve ter presente que o atleta não é um ser isolado e que a
educação alimentar deve englobar todo o seu meio envolvente (pais, familiares e
treinadores). É urgente que haja uma intervenção nutricional nesta população.
48
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INSTRUÇÕES PARA O PREENCHIMENTO DO DIÁRIO ALIMENTAR DE 5 DIAS
Por favor anote tudo o que comer ou beber durante 5 dias seguidos, a começar no próxima quinta-feira. Faça descrições pormenorizadas de alimentos e bebidas como, por exemplo, tipo de pão (trigo, mistura, integral, etc.) ou tipo de leite (magro, meio-gordo ou gordo). Mencione também o tipo de confecção culinária como, por exemplo, carne de vaca guisada, ovos estrelados, costeleta de porco frita em margarina, etc..
Quando comer fora de casa, por favor anote tudo o que comer ou beber, imediatamente após o consumo. Não se esqueça de apontar tudo o que for comido ou bebido no intervalo das refeições como, por exemplo, cachorros, bolachas, café, açúcar, etc.
Como fazer o registo:
Inicie o registo com a página correspondente a esse dia; por favor assegure-se que preencheu as partes correspondentes a: HORA, LOCAL, ALIMENTOS E BEBIDAS CONSUMIDOS, TAMANHO DAS PORÇÕES.
Quanto às quantidades e aos tamanhos das porções:
Mencione o tamanho dos alimentos e a quantidade das bebidas. Para tal, use medidas caseiras como, por exemplo, 1 colher de chá de manteiga, 9 colheres de sopa cheias de arroz, 3 conchas de massa, 1 tigela de sopa, 1/2 chávena almoçadeira de leite (ou 1/2 chávena de chá, se for mais pequena), 1 copo de cerveja, etc. Seguem-se alguns exemplos:
Bebidas Use copos ou chávenas e refira o tipo como, por exemplo, chávena almoçadeira, de
chá ou de café. Quando misturar leite com café, mencione as quantidades de cada uma das bebidas (por exemplo, 1/4 de chávena almoçadeira com leite magro e o restante com café).
Sopas Use tigelas (semelhantes à da cantina), número de conchas ou pratos (cheio, meio
prato).
Molhos Para cada molho (de fritos, guisados, maionese, etc.) use colheres de sopa ou de chá.
Carne, pescado, aves e pizza Indique as quantidades consumidas especificando os alimentos e classificando as
porções em pequenas, médias, grandes, fatias, unidades, cubos de carne, latas (de atum, por exemplo), ou medidas caseiras (colheres de sopa, chávena almoçadeira, etc.).
Hortaliças e legumes Use rodelas (por exemplo, tomate, cebola, pepino), parte do prato (meio prato, um
quarto de prato) ou chávenas almoçadeiras (meia chávena de alface, por exemplo).
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Arroz, massa, feijão, ervilhas ou grão Indique o número de colheres de sopa.
Batatas Se forem cozidas, indique o número de batatas do tamanho de um ovo; em puré,
diga o número de colheres de sopa. Se forem fritas, indique a que parte do prato corresponde (meio prato, um quarto de prato); em pacote, diga se é pequeno, médio ou grande.
Óleos, manteiga e margarina Use colheres de sopa ou de chá
Açúcar, cacau, chocolate, mel Use pacotes de açúcar ou colheres de chá
Pão, pastelaria e doces Use o número de pães ou fatias e mencione o tipo de pão se não for corrente (de
trigo). Bolos: 1 unidade ou 1 fatia
Fruta Refira o nome da fruta e indique o número de porções médias; se forem uvas, a
unidade é 1 cacho.
NOTA: Se tiver balança ou conhecer o peso do alimento pode referi-lo
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Questionário de nutrição e alimentação para jovens atletas
1. A principal fonte de energia para os atletas provém dos (as):
a) Hidratos de carbono; b) Proteínas; c) Gorduras.
2. O pão e a massa são importantes porque fornecem:
a) Vitaminas; b) Proteínas; c) Hidratos de carbono.
3. A carne é importante porque fornece:
a) Vitaminas; b) Proteínas; c) Hidratos de carbono.
4. Em que alimentos a quantidade de proteína por 100g de alimentos é maior:
a) Leguminosas; b) Leite; c) Hortícolas.
5. A gordura "mais saudável" provém da(o):
a) Manteiga; b) Margarina; c) Azeite.
6. Em que alimentos a quantidade de energia (e gordura) por 100g de alimento é maior:
a) Frango; b) Mozzarella; c) Beringela.
7. Os ovos contêm colesterol?
a) Sim, na gema; b) Sim, na clara; c) Não.
8. Hortícolas, cereais e fruta são importantes porque fornecem:
a) Gordura; b) Fibras; c) Hidratos de carbono.
9. A fruta é importante porque fornece:
a) Gordura; b) Vitaminas; c) Proteínas.
10. Qual é a fonte mais importante de cálcio?
a) Leite e queijo; b) Alface; c) Carne de vaca.
11. Qual a fonte mais importante de ferro?
a) Carne; b) Espinafres; c) Pão.
12. Em caso de transpiração abundante, é aconselhado:
a) Beber pequena quantidade de água fresca, em intervalos regulares; b) Beber grande quantidade de bebidas salinas, antes da prova; c) Beber abundantemente apenas depois do fim da actividade física.
13. Achas que a água mineral com gás engorda?
a) Sim; b) Não; cj Não sei.
14. Qual das seguintes bebidas fornece menos energia?
a) Coca-cola; b) Cerveja; c) Água mineral com gás.
15. Quando é que os atletas precisam de uma porção extra de alimentos?
a) Sempre; b) Nunca; c) Quando a prova começa 3 ou mais horas após a ultima refeição.
16. Qual dos snacks é melhor para os atletas?
a) Gelado; b) "Big Mac"; c) Batatas fritas.
17. Comer muita carne aumenta a massa muscular?
a) Sim; b) Não; c) Não sei.
18. Em que casos são úteis os suplementos dietéticos:
a) Dieta desequilibrada; b) Dieta equilibrada; c) Fome.
19. Qual a forma mais correcta de corrigir o excesso de peso?
a) Transpirar muito; b) Correr todo o dia; c) Reduzir a ingestão às refeições.
20. Qual o primeiro passo para perder peso?
a) Parar de beber água; b) Saltar refeições; c) Diminuir o consumo de produtos de pastelaria, açúcares e
gordura.1
1 Cupisti A, D' Alessandra C, Castrogiovanni S, Barale A, Morelli E. Nutrtion knowledge and dietary composition in Italian adolescent female athletes and non-athletes. International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism 2002; 12:207-19.