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Avaliação da transparência das informações ambientais na Amazônia ANA PAULA VALDIONES E ALICE THUAULT N O 10 • ANO 6 • FEVEREIRO DE 2019 DESTAQUES 1. A transparência das informações ambientais é fundamental para combater as práticas ilegais que ameaçam a Amazônia brasileira. 2. A disponibilização de informações chaves à sociedade potencializa a participação social e permite o controle das atividades públicas e privadas. 3. Contudo, na Amazônia as agendas de relevância ambiental têm um índice geral de transparência ativa de apenas 28%. 4. As solicitações de informação aos órgãos estaduais e federais também não têm o retorno esperado. Apenas 53% dos pedidos de informação realizados são respondidos satisfatoriamente e dentro do prazo. 5. Ações como a abertura de bases de dados de órgãos federais e Portais de Transparência Ambiental de agências estaduais contribuíram para a melhoria da transparência entre os anos de 2016 e 2018 e devem ser replicadas. 6. O diálogo e a cooperação entre os órgãos ambientais e os usuários de informações é necessário para priorizar dados a serem disponibilizados, melhorar a qualidade das informações e ampliar seu uso. Em 2018, o índice médio de transparência ativa na Amazônia Legal foi apenas 28%. O índice de transparência passiva ficou em 53%. FIGURA 1. ÍNDICES DE TRANSPARÊNCIA ATIVA E PASSIVA PARA OS ESTADOS DA AMAZÔNIA LEGAL E ÓRGÃOS FEDERAIS Amazonas Roraima Amapá Pará Acre Maranhão Tocantins Mato Grosso Rondônia parência Ativa Transparência P 0-20% 21-40% 41-60% 61-80% 15% 39% 56% 48% 17% 6% 15% 23% 6% 47% 83% 33% 55% 42% 78% 0% 33% 100% Nível federal 88% 75% Transparência Ativa Transparência Passiva 0-20% 21-40% 41-60% 61-80% 81-100%

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Avaliação da transparência das informações ambientais na Amazônia ANA PAULA VALDIONES E ALICE THUAULT

NO 10 • ANO 6 • FEVEREIRO DE 2019

DESTAQUES

1. A transparência das informações ambientais é fundamental para combater as práticas ilegais que ameaçam a Amazônia brasileira.

2. A disponibilização de informações chaves à sociedade potencializa a participação social e permite o controle das atividades públicas e privadas.

3. Contudo, na Amazônia as agendas de relevância ambiental têm um índice geral de transparência ativa de apenas 28%.

4. As solicitações de informação aos órgãos estaduais e federais também não têm o retorno esperado. Apenas

53% dos pedidos de informação realizados são respondidos satisfatoriamente e dentro do prazo.

5. Ações como a abertura de bases de dados de órgãos federais e Portais de Transparência Ambiental de agências estaduais contribuíram para a melhoria da transparência entre os anos de 2016 e 2018 e devem ser replicadas.

6. O diálogo e a cooperação entre os órgãos ambientais e os usuários de informações é necessário para priorizar dados a serem disponibilizados, melhorar a qualidade das informações e ampliar seu uso.

Em 2018, o índice médio detransparência ativa na Amazônia Legal foi apenas 28%. O índice de transparência passiva fi cou em 53%.

FIGURA 1. ÍNDICES DE TRANSPARÊNCIA ATIVA E PASSIVA PARA OS ESTADOS DA AMAZÔNIA LEGAL E ÓRGÃOS FEDERAIS

Amazonas

Roraima Amapá

Pará

Acre

Maranhão

Tocantins

Mato Grosso

Rondônia

Amazonas

Roraima Amapá

Pará

Acre

Maranhão

Tocantins

Mato Grosso

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Transparência Passiva

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61-80%

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até 10%

de 11 a 20%

de 21 a 30%

de 31 a 40%

de 41 a 50%

de 51 a 60%

de 61 a 70%

de 71 a 80%

de 81 a 90%

de 91 a 100%

15%

39%

56%

48%

17%

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15%23%

6%

47%

83%

33%

55%

42%

78%

0%33%

100%

Nível federal

88% 75%

Amazonas

Roraima Amapá

Pará

Acre

Maranhão

Tocantins

Mato Grosso

Rondônia

Amazonas

Roraima Amapá

Pará

Acre

Maranhão

Tocantins

Mato Grosso

Rondônia

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Transparência Passiva

0-20%

21-40%

41-60%

61-80%

81-100%

até 10%

de 11 a 20%

de 21 a 30%

de 31 a 40%

de 41 a 50%

de 51 a 60%

de 61 a 70%

de 71 a 80%

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de 91 a 100%

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1. Borges, E. B. P. Transparência da governança fl orestal na Amazônia: uma análise de cumprimento da lei de acesso à informação nos Estados. 2015.

2. Valdiones, A.; Thuaut, A. Transparência das informações ambientais na Amazônia Legal. Disponível em: https://www.icv.org.br/wp-content/uploads/2017/04/transpar%C3%AAncia-ambiental-na-Amaz%C3%B4nia.pdf

3. https://www.oeco.org.br/blogs/salada-verde/governo-quer-diferenciar-desmatamento-legal-do-ilegal/.

Introdução

A transparência das informações ambientais é essencial para alcançar uma boa go-vernança dos recursos naturais e combater as práticas ilegais que ameaçam a ma-nutenção das fl orestas brasileiras. Na esfera pública, ela permite a comunicação

e colaboração entre os órgãos do executivo que autorizam e monitoram as atividades produtivas e proporciona aos órgãos de controle e fi scalização uma maior agilidade no cruzamento de informações. Além disso, a transparência é condição para o controle so-cial das políticas ambientais e garante não só a integridade da gestão pública, mas tam-bém reafi rma o caráter democrático e participativo dos espaços decisórios governamen-tais. O livre acesso às informações ambientais também é fundamental para a atividade privada pois viabiliza o controle da cadeia, do fi nanciador e fornecedor primário até o consumidor fi nal, assegurando a regularidade ambiental dos produtos comercializados.

No Brasil, a transparência é garantida por um extenso arcabouço legal que vai desde a Política Nacional de Meio Ambiente (Lei n° 6.938/1981) e o estabelecimento da Lei de Acesso à Informação (LAI) em 2011 até atos regulamentários, como decretos, portarias e instruções normativas. Esses instrumentos legais proporcionam ao cidadão o direito de acesso a qualquer documento ou informação produzidos ou custodiados pelo Esta-do, desde que não estejam protegidos por sigilo.

Apesar do arcabouço legal existente, alguns estudos indicam a baixa implementação da LAI em Estados da Amazônia1 e a insufi ciente disponibilização de informações ambientais no âmbito estadual e federal2. Esses resultados retratam, por exemplo, a difi culdade em se acompanhar metas governamentais, como o compromisso de eliminar o desmatamento ilegal assumido pelo Brasil em 2015, uma vez que os dados das autorizações de desmata-mento ainda não são devidamente sistematizados e disponibilizados por todos os órgãos ambientais responsáveis3. A disponibilização parcial de bases de dados como o Cadastro Ambiental Rural e as Guias de Transito Animal impactam negativamente o desempenho dos órgãos competentes e impossibilitam qualquer checagem mais detalhada quanto à regu-laridade ambiental da cadeia da pecuária e possíveis ilícitos ambientais praticados. Assim, os levantamentos sobre transparência de informações pelos órgãos de meio ambiente e fundiários são fundamentais para visualizar os progressos necessários e auxiliar os Estados, União e sociedade como um todo na resolução dos desafi os para uma maior transparência.

Apresentamos a seguir a metodologia e os resultados da avaliação da transparência das informações ambientais na Amazônia Legal, conduzida pelo Instituto Centro de Vida (ICV) desde 2014. Destacamos um diagnóstico das defi nições legais para as informações ambientais e fundiárias selecionadas, a avaliação das práticas de transparência passiva (disponibilização a partir de pedidos específi cos) e ativa (disponibilização online), além de recomendações específi cas para a melhoria da disponibilização das informações.

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Metodologia

Os três passos metodológicos adotados (Figura 2) visam construir uma aborda-gem replicável centrada nas necessidades dos usuários. Essa metodologia permi-te medir a transparência passiva e ativa e indicar necessidades de melhoria para

os gestores públicos responsáveis. A primeira etapa teve como objetivo identifi car listas de informações-chave a serem disponibilizadas. Essas listas foram desenvolvidas levan-do em consideração as necessidades de cinco tipos de usuários de informação relevan-tes para o controle ambiental (sociedade civil, órgãos do executivo, órgãos de controle, fi nanciadores e setor privado) em seis agendas ambientais prioritárias para a Amazônia. Em seguida, 41 informações-chave foram validadas por 211 usuários em uma pesquisa online realizada entre agosto e outubro de 20144.

A partir das informações validadas na pesquisa realizada em 2014, levantamos, entre abril e novembro de 2018, a legislação existente e a disponibilização dessas informa-ções pelos órgãos de meio ambiente e institutos de terras dos nove estados da Amazô-nia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) e pelos órgãos federais atuantes nos mesmos estados. Para isso, foi feita uma análise dos websites de 35 órgãos estaduais e de 12 órgãos federais. Na sequência, foram protocoladas 101 solicitações via sistemas eletrônicos de informação ao cidadão.

A última etapa do estudo consistiu em uma consolidação de índices de transparência ativa e passiva para retratar a situação das práticas de disponibilização das informações

4. O resultado detalhado da pesquisa online está disponível no http://www.icv.org.br/site/2014/11/17/transparencia-dasinformacoes-ambientais-na-amazonia-episodio-1/

FIGURA 2 . FLUXOGRAMA DA AVALIAÇÃO DA TRANSPARÊNCIA

Consolidação de índices de transparência

Disponibilização Passiva

Disponibilização Ativa• por estados• por agenda

Identi� cação das informações necessárias

Identifi cação de agendas prioritárias de controle ambiental

Mapeamento dos usuários de informações

Validação com usuários das informações necessárias ao controle ambiental

Levantamentodas práticas

Análise da legislação

Teste dos canais de pedidos de informação

Análise da informação disponibilizada on-line

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Etapas realizadas entre abril e novembro de 2018Etapa realizada em 2014

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por estado e por agenda. O índice de transparência passiva corresponde ao percentual de pedidos de informações atendidos dentro do prazo estabelecido por lei em relação aos pedidos de informação protocolados.

Já o índice de transparência ativa é o produto entre o percentual de informações dis-ponibilizadas de forma rotineira e a qualidade da disponibilização das informações. O primeiro percentual é calculado a partir das listas de informações validadas pelos usuá-rios, enquanto o segundo é fruto de uma avaliação da periodicidade de atualização, do detalhamento e do formato de disponibilização.

TABELA 1. CÁLCULO DOS ÍNDICES DE TRANSPARÊNCIA PASSIVA E ATIVA

ÍNDICE DE TRANSPARÊNCIA PASSIVA

ÍNDICE DE TRANSPARÊNCIA ATIVA

Percentual de pedidos de informação

atendidos / protocolados

Disponibilização ativa das informações

Qualidade da disponibilização das informações

Percentual de informações disponibilizadas / informações

necessárias para o controle ambiental

Percentual de informações bem disponibilizadas/ informações

disponibilizadas

X

ResultadosLEVANTAMENTO DA LEGISLAÇÃO SOBRE TRANSPARÊNCIA PASSIVA E ATIVA NOS NOVE ESTADOS AVALIADOS

A análise da legislação relacionada à transparência ambiental nos nove estados permi-tiu averiguar que a Lei de Acesso à Informação (LAI) já foi regulamentada em todos os Estados da Amazônia. Também verifi camos que se aplicam, nesses nove Estados, 28 normas federais e 41 normas estaduais que trazem pontos sobre a disponibilização de uma ou mais informações validadas pelos usuários.

A Figura 3 ilustra o resultado desse levantamento, evidenciando que as 41 informações validadas pelos usuários estão sujeitas à disponibilização via pedidos de informação, uma vez que nenhuma está expressamente denominada como sigilosa na sua integrali-dade. O levantamento mostra também que 28 dessas 41 informações estão claramente denominadas quando se trata de obrigação de disponibilização ativa. Da mesma forma, a legislação detalha apenas em 18 casos qual deve ser o formato de disponibilização, em 16 casos a periodicidade de disponibilização, e em 15 casos o detalhamento neces-sário. Apenas em 9 informações todos esses aspectos estão especifi cados em regula-mentações federais ou estaduais.

A ausência de definições na legislação sobre a disponibilização de informações dei-xa para o gestor a responsabilidade de escolher qual informação, qual tipo de dis-ponibilização (ativa ou passiva) e com qual nível de qualidade a informação será disponibilizada. Para não gerar incertezas, é necessário que os órgãos estaduais e federais estabeleçam regulamentações (decretos, instruções normativas ou porta-rias) que citem, especificamente, as informações a serem disponibilizadas e descre-

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FIGURA 3 . LEVANTAMENTO DAS DEFINIÇÕES LEGAIS REFERENTES À DISPONIBILIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES AMBIENTAIS E FUNDIÁRIAS PESQUISADAS

Autos de infração

Monitoramento de TAC/TC

Embargos

Julgamentos

Programas e projetos de regularização fundiária

Requerimentos de regularização fundiária

Situação dos processos de regularização fundiária

Imóveis rurais titulados pelo Estado

Alienação de terras públicas do Estado

Assentamentos federais e estaduais

Terras devolutas e terras arrecadadas e matriculadas

Conflitos pela posse da terra

Unidades de Conservação Estaduais

Termo de Referência para a elaboração do Estudo de Impactos Ambientais (EIA)

EIA / Relatório de Impactos Ambientais (Rima)

Relatório da Audiência Pública

Licença – LP, LI, LO

Pareceres Técnicos de Licenças LP/LI/LO

Projeto Básico Ambiental – PBA

Parecer Técnico de Avaliação do PBA

Relatórios Semestrais de implementação do PBA

Outorga d’Água

Guia de transporte animal

Plano Anual de Outorga Florestal

Edital da Concessão Florestal

Contrato da Concessão

Monitoramento Público

Territórios Quilombolas

Terras Indígenas

Ocorrência Trabalho Escravo

CAR

0 1 2 3 4 5

LAR/LAU

Autorização de Desmatamento

Autex/PMF

Guia Florestal/DOF

Monitoramento da Exploração Florestal

Desmatamento

Degradação

TAC/TC

PRADA

Multas

Obrigação de disponibilizar a informação via pedido de informação

Obrigação expressade publicara informação

Definições sobreatualização

Definições sobredetalhamento

Definições sobreformato

Definições legaiscomplementares neste estado

*

PA, MT,MA*

PA*

AM*

PA*

PA*

AP*

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vam, de forma precisa, a frequência de atualização, o detalhamento e o formato de disponibilização. Para os órgãos federais, a Política de Dados Abertos, instituída em 20165, reforça princípios da LAI de garantia de acesso à informação, e estabelece que os dados custodiados pela administração pública federal sejam publicados em formato aberto, completo e atualizado. Ela também exige que os órgãos elaborem e implementem seus planos para abertura de bases de dados levando em considera-ção o interesse público das informações a serem disponibilizadas.

Apesar dos avanços, o governo federal mantém atos normativos contrários à transparência ou que podem limitar o acesso à informação. É o caso da Instrução Normativa 03/2014 do Ministério do Meio Ambiente, que limita o acesso aos dados completos do CAR, e do De-creto 9.690/2019, que amplia o número de pessoas que podem classifi car informações como secretas ou ultrassecretas.

AVALIAÇÃO DA TRANSPARÊNCIA PASSIVA

De abril a novembro de 2018, testamos os Serviços Eletrônicos de Informação ao Cida-dão dos Estados da Amazônia (E-SICs) para obter acesso às informações ambientais e fundiárias. Os canais de atendimento digital funcionaram razoavelmente bem tanto em nível federal quanto estadual. Recebemos respostas de grande parte dos pedidos com um índice de retorno de 76% (Figura 4), o que signifi cou aumento de 1% em relação à avaliação de 2016. No entanto, quando consideramos apenas os pedidos atendidos dentro dos prazos estabelecidos pela lei6, esse índice cai para 53%, sendo 12% menor que o índice da avaliação anterior. Para esses pedidos, a média do prazo de resposta foi de 11 dias. Para as solicitações que foram respondidas fora do prazo legal – 23% do total enviado – o prazo médio para resposta foi de 42 dias.

5. Decreto Federal no 8.777/2016.

6. Segundo o Art. 11 da Lei 12.257/2011, caso o órgão ou entidade não consiga conceder o acesso imediato à informação, ele tem até 20 (vinte) dias para atender ao pedido, prazo que pode ser prorrogado por mais 10 (dez) dias, se houver justifi cativa expressa.

100%

76%

53%

Pedidos enviados: 101Pedidos respondidos: 77

Pedidos respondidos dentro do prazo: 54

FIGURA 4. PEDIDOS DE INFORMAÇÃO E RESPOSTAS

Em 13% dos casos a resposta do órgão não se relacionava à pergunta enviada. Dentre as respostas tidas como insatisfatórias, houve cinco pedidos negados sob argumento de sigilo da informação solicitada, ainda que nenhum pedido solicitasse informações clas-sifi cadas. O Estado com melhor retorno foi Rondônia, que respondeu a todos os pedidos de informação dentro do prazo (Figura 5). O Amapá, apesar de ter respondido 70% dos pedidos de informação, não atendeu aos prazos estabelecidos por lei, com média de 36 dias para atendimento das solicitações. Não houve resposta para 11% das solicitações.

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AVALIAÇÃO DA TRANSPARÊNCIA ATIVA

A análise dos websites dos órgãos estaduais e federais responsáveis pelo controle ambien-tal e pela regularização fundiária demonstrou níveis variáveis de disponibilização e de qua-lidade das informações ambientais. Isto resultou em um índice médio de transparência de 28%, representando um aumento tímido em relação ao índice de 24% aferido em 2016. O índice de transparência dos órgãos federais continua o mais elevado (88%). Com uma variação signifi cativa do índice no último biênio (19%), os órgãos federais aumentaram o número e a qualidade de informações disponibilizadas ativamente. Os Planos de Dados Abertos desses órgãos foram instrumentos importantes para orientar a abertura de bases dados chaves para o controle ambiental. Esse esforço foi realizado ao longo de 2018, prio-rizando o interesse público para a disponibilização de informação e permitindo assim a disponibilização de bases como a dos Documentos de Origem Florestal, gerida pelo Ibama.

Entre os nove estados, o Mato Grosso passou a liderar o ranking de transparência ativa com índice de 56% (Figura 6). Essa liderança se deve ao lançamento de um Portal de Transparência pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, que disponibiliza um con-junto de informações-chave para o controle ambiental com detalhamento e atualizações adequados, bem como diferentes opções de formato, incluindo informações georrefe-renciadas. É o caso, por exemplo, das informações do Cadastro Ambiental Rural (CAR), disponibilizadas inclusive com as informações dos requerentes, assim como já era feito no portal do Estado do Pará. Em contraposição, Rondônia foi o único estado que teve queda na transparência ao longo do biênio, com uma redução de 9% em relação ao índi-ce aferido em 2016. Isso porque as informações de licenças e autorizações ambientais deixaram de estar disponíveis no site do órgão estadual de meio ambiente (Oema).

Quando analisamos a transparência ativa por agenda de uso dos recursos naturais, verifi ca-mos que o índice médio máximo é 40%, referente a agenda de soja. Esse resultado ainda é insufi ciente para auxiliar mecanismos de monitoramento e rastreabilidade na cadeia produ-tiva. A agenda com o menor índice de transparência continua sendo a de regularização fun-diária (16%). A ausência de informações nos websites dos órgãos de terras, sobretudo dos estaduais, impossibilitam o acompanhamento das políticas fundiárias pela sociedade, como é reforçado em outros estudos7, limitando o controle social, a cooperação entre os diferentes órgãos do Executivo e a atuação das agências de controle.

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20%

40%

60%

80%

100%

AcreAmapá

Amazonas

Nível Federal

Maranhão

Mato Grosso ParáRondônia

TocantinsRoraima

Total Geral

47%

0%

83%75% 78%

33%

55%42%

33%

53%

100%

FIGURA 5. ÍNDICE DE TRANSPARÊNCIA PASSIVA NOS ESTADOS DA AMAZÔNIA LEGAL E NOS ÓRGÃOS FEDERAIS

7. Transparência de órgãos fundiários estaduais na Amazônia Legal. Dário Cardoso Jr., Rodrigo Oliveira, Brenda Brito. – Belém, PA: Imazon, 2018.

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FIGURA 6. ÍNDICE DE TRANSPARÊNCIA ATIVA DAS INFORMAÇÕES AMBIENTAIS POR ESTADO E AGENDA PRIORITÁRIA

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MTNívelFederal

AP PARR AC TO MA AM

Variação dos índices de transparênciaativa entre 2016 e 2018

19%19%

12%

6%

2% 1% 1% 1% 0%

-9%

RO

+2%16%

+1%

+5%

+4%

+7%

+2%

26%

33%

33%

34%

40%

Variação 2016-2018Índice de transparência ativapor agenda em 2018

Índices de transparência ativapor agenda em 2018

TOCANTINS

57% 42% 24%

21% 67% 14%

50% 33% 17%

40% 27% 11%

38% 33% 13%

60% 33% 20%

Total 44% 39% 17%

NÍVELFEDERAL

100% 93% 93%

88% 100% 88%

100% 89% 89%

100% 95% 95%

100% 71% 71%

100% 93% 93%

Total 98% 90% 88%

AMAZONAS

86% 72% 62%

83% 60% 50%

80% 67% 53%

33% 22% 7%

Total 71% 55% 39%

AMAPÁ

36% 75% 27%

33% 0% 0%

20% 0% 0%

20% 33% 7%

Total 27% 54% 15%

ACRE

50% 42% 21%

43% 42% 18%

27% 44% 12%

33% 33% 11%

Total 38% 40% 15%

MATOGROSSO

100% 63% 63%

43% 94% 40%

100% 81% 81%

82% 74% 61%

44% 33% 15%

100% 83% 83%

Total 78% 72% 56%

RORAIMA

57% 50% 29%

60% 50% 30%

33% 56% 19%

56% 27% 15%

Total 52% 46% 23%

PARÁ

77% 63% 49%

43% 100% 43%

86% 72% 62%

55% 67% 36%

60% 50% 30%

83% 80% 67%

Total 67% 72% 48%

MARANHÃO

14% 33% 5%

20% 33% 7%

13% 33% 4%

20% 17% 3%

25% 33% 8%

Total 18% 30% 6%

Regularização ambiental

Exploração Florestal

Pecuária

Regularização fundiária

Soja

Hidrelétrica

Disponibilização ativa das informações

Qualidade da disponibilização das informações

Índice de transparência ativa

LEGENDA

RONDÔNIA

13% 44% 6%

0% 67% 0%

17% 44% 7%

10% 50% 5%

20% 50% 10%

Total 12% 51% 6%

Amazonas

Roraima Amapá

Pará

Acre

Maranhão

Tocantins

Mato Grosso

Rondônia

Amazonas

Roraima Amapá

Pará

Acre

Maranhão

Tocantins

Mato Grosso

Rondônia

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Transparência Passiva

0-20%

21-40%

41-60%

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Nível federal

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Roraima Amapá

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Maranhão

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Rondônia

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Tocantins

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Rondônia

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Transparência Passiva

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Page 9: Avaliação da transparência das informações ambientais na … · 2020-03-11 · ponibilizadas de forma rotineira e a qualidade da disponibilização das informações. O primeiro

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Recomendações

A avaliação mostrou um nível baixo de transparência das informações ambientais na Amazônia tanto nas modalidades passiva quanto ativa. Isso difi culta o controle ambien-tal e impõe limitações para a comprovação de legalidade para as cadeias de suprimento do agronegócio e demais atividades econômicas.

Para sanar as falhas detectadas, é fundamental que os governos federal e estaduais priori-zem iniciativas para ampliar a transparência, com atenção às seguintes ações prioritárias:

• Aprimorar a aplicação da LAI pelos Estados, através do estabelecimento de pro-cedimentos efetivos de respostas aos SIC eletrônicos que cumpram os prazos de atendimento previstos na legislação;

• Implementar processos que viabilizem o diálogo e a cooperação entre os órgãos am-bientais e os diferentes usuários de informações ambientais e fundiárias, deixando claro o interesse público na disponibilização de informações e priorizando a dispo-nibilização das bases com maior potencial de uso pela sociedade como um todo;

• Estabelecer regulamentações que tragam expressamente a obrigação de dispo-nibilizar as informações ambientais de interesse público, com defi nições sobre a frequência de atualização, detalhamento e formato, bem como revogar atos normativos contrários à transparência ou que possam limitar o acesso à infor-mação, como a Instrução Normativa 03/2014 do Ministério do Meio Ambiente e o Decreto 9.690/2019;

• Replicar abordagens exitosas de disponibilização de informações ambientais, como os portais de transparência das Oemas do Pará e de Mato Grosso, com dis-ponibilização inclusive das bases georreferenciadas e completas, e como os es-forços dos órgãos federais de implementação de seus Planos de Dados Abertos.

Finalmente, para destravar o acesso às informações ambientais é essencial que haja o reconhecimento claro por parte do poder público do papel da transparência no controle ambiental e combate à ilegalidade. O entendimento claro das limitações do sigilo quan-to às informações pessoais e de uso comercial da terra e dos recursos naturais permitiria garantir o interesse coletivo de preservação do meio ambiente. Assim, em nome coletivi-dade, é necessário que bases como Cadastro Ambiental Rural e Guias de Trânsito Animal sejam disponibilizadas na sua integralidade, possibilitando o uso desses dados para expor e inibir as práticas ilegais na Amazônia e nos demais biomas.

Transparência Florestal Mato Grosso : avaliação da transparência das informações ambientais na Amazônia / Ana Paula Valdiones, Alice Thuault. Ano 6, n. 10 (fev. 2019). – Cuiabá: Instituto Centro de Vida, 2019. v. : il. ; 27 cm.

SemestralISSN 1984-9826

1. Direito à informação. 2. Gestão florestal - Amazônia. I. Valdiones, Ana Paula. II. Thuault, Alice.

CDU 504

Agradecimentos: Agradecemos a Paula Bernasconi pelas contribuições e a Gisele Neuls pela revisão editorial.

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