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AVALIAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DE SIMULADOR DE REALIDADE VIRTUAL EM
TREINAMENTOS DE SEGURANÇA: CAPACITANDO OPERADORES DE
EMPILHADEIRA
EVALUACIÓN DEL USO DEL SIMULADOR DE LA REALIDAD VIRTUAL EM
ENTRENAMIENTO DE SEGURIDAD: CAPACITAR A LOS OPERADORES DE
APILADORES
EVALUATION OF THE USE OF VIRTUAL REALITY SIMULATOR IN SAFETY:
TRAINING FORKLIFT OPERATORS
Apresentação: Comunicação Oral
Flávia Ataide da Motta1; Augusto Cesar Cabral Santos2; Clarissa Lima de Sá3
DOI: https://doi.org/10.31692/2358-9728.VICOINTERPDVG.2019.0007
Resumo
Este artigo tem o objetivo de avaliar a percepção dos participantes de um treinamento em
segurança quanto às contribuições do uso de um simulador de realidade virtual em um contexto
industrial no Brasil. Para isso, um questionário foi utilizado como instrumento para a avaliação
por parte de operadores de empilhadeiras que pariciparam de um treinamento de reciclagem, e
também do profissional de segurança da empresa. Os resultados mostraram que o treinamento
com o simulador de realidade virtual contribuiu para os conhecimentos dos operadores e que
eles gostariam que o próximo treinamento incluísse o recurso tecnológico. Foi demonstrado
que os resultados se relacionam com os aspectos: atuação do instrutor como facilitador, clareza
nos objetivos do uso do simulador, similaridade com contextos reais. Além desses aspectos, o
profissional de segurança avaliou positivamente os aspectos sobre o projeto pedagógico, o perfil
dos profissionais que conduziram a simulação, e concordou que o recurso pode agregar aos
sistemas de avaliação de aprendizagem. Ao considerar os resultados relatados nesse artigo, fica
evidenciado que o uso de simuladores de realidade virtual pode contribuir ao desenvolvimento
de competências em atividades de riscos na área de segurança, já que desperta o interesse dos
participantes. Adicionalmente, promove-se uma experimentação sem riscos de acidentes, insere
diversificados elementos do contexto real e, como consequência, vem a favorecer o
desenvolvimento das habilidades do treinando para uma conduta mais segura em seus contextos
organizacionais. Conclui-se que iniciativa de utilizar os simuladores de RV em segurança pode
a contribuir à melhoria da eficácia das ações de treinamento e, consequentemente, ao
desenvolvimento de competências dos trabalhadores nos diversos ambientes organizacionais.
1Mestre em Engenharia Mecânica, UFPE, [email protected]
2Especialista em Gestão Empresarial, Máximo SMS, [email protected]
3Mestre em Gestão das Organizações Aprendentes, UFPB, [email protected]
Palavras-Chave: Simulador, Realidade virtual, Segurança, Treinamento.
Resumen
Este artículo tiene como objetivo evaluar la percepción de los participantes en capacitación en
seguridad con respecto a las contribuciones del uso de un simulador de realidad virtual en un
contexto industrial en Brasil. Para este propósito, se utilizó un cuestionario como instrumento
para la evaluación de los operadores de apiladores que participaron en la capacitación de
reciclaje, así como el profesional de seguridad de la compañía. Los resultados mostraron que la
capacitación con el simulador de realidad virtual contribuyó al conocimiento de los operadores
y que les gustaría que la próxima capacitación incluyera el recurso tecnológico. Se demostró
que los resultados están relacionados con los siguientes aspectos: desempeño del instructor
como facilitador, claridad en los objetivos del uso del simulador, similitud con contextos reales.
Además de estos aspectos, el profesional de seguridad evaluó positivamente los aspectos sobre
el proyecto pedagógico, el perfil de los profesionales que realizaron la simulación y acordó que
el recurso puede agregarse a los sistemas de evaluación de aprendizaje. Teniendo en cuenta los
resultados reportados en este artículo, es evidente que el uso de simuladores puede contribuir
al desarrollo de competencias en actividades de riesgo en el área de seguridad, ya que despierta
el interés de los participantes. Además, promueve la experimentación libre de accidentes,
inserta diversos elementos del contexto real y, como consecuencia, favorece el desarrollo de
habilidades de aprendices para una conducta más segura en sus contextos organizacionales. Se
concluye que la iniciativa de usar simuladores de realidad virtual en seguridad puede contribuir
a mejorar la efectividad de las acciones de capacitación y, en consecuencia, al desarrollo de las
competencias de los trabajadores en los diversos entornos organizacionales.
Palabras Clave: Simulator, Realidad virtual, Seguridad, Capacitación.
Abstract This paper aims to evaluate the perception of safety training participants regarding the
contributions of using a virtual reality simulator in an industrial context in Brazil. For this
purpose, a questionnaire was used as an instrument for evaluation by forklift operators who
participated in recycling training, as well as the company's safety professional. The results
showed that the training with the virtual reality simulator contributed to the operators
knowledge and that they would like the next training to include the technological resource. It
was shown that the results are related to the following aspects: instructor performance as
facilitator, clarity in the objectives of the simulator use, similarity with real contexts. In addition
to these aspects, the safety professional positively evaluated the aspects about the pedagogical
plan, the profile of the professionals who conducted the simulation, and agreed that the resource
can add to the learning assessment systems. Considering the results reported in this paper, it is
evident that the use of virtual reality simulators can contribute to the development of
competencies in risk activities in the safety area, since it arouses the interest of the participants.
In addition, it promotes accident-free experimentation, inserts diverse elements of the real
context and, as a consequence, favors the development of trainee skills for safer conduct in their
organizational contexts. It is concluded that the initiative to use VR simulators in safety can
contribute to improve the effectiveness of training actions and, consequently, to the
development of workers' competences in the various organizational environments.
Keywords: Simulator, Virtual Reality, Safety, Training.
Introdução
As organizações estão inseridas em um contexto competitivo e dinâmico que exige um
modelo organizacional que permita o desenvolvimento de competências individuais que reflita
diretamente nas competências organizacionais (DEPRÁ, PEREIRA E DE MARCHI, 2018).
Nesse sentido, Antonello (2005) afirma que as organizações precisam buscar adequações
evolutivas que as façam se adaptarem em ambientes que estão em constante mudança. Nessa
perspectiva, Silva e Santana (2011) colocam que o processo de aprendizagem organizacional
precisa que a organização permita-se aprender.
Dentre as diversas áreas organizacionais que necessitam de desenvolvimento de
competências está a segurança de trabalho (CAMARGO et al., 2018).
A capacitação na área de segurança do trabalho se constitui como uma importante
medida de caráter administrativo para controle de riscos ocupacionais, seja para a implantação
de medidas de proteção coletiva (BRASIL, 1978b) ou em cumprimento de requisitos legais
para a execução de atividades que envolvem determinados riscos no Brasil.
A legislação trabalhista brasileira conta com 37 Normas Regulamentadoras (NR)
relativas à segurança e saúde do trabalho que surgiram com a Portaria N° 3.214/1978, passando
a estar inseridas na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) (BRASIL, 1978c). Parte destas
NRs estabelece a necessidade de treinamento prévio com vistas a promover o desenvolvimento
de competências necessárias à proteção de riscos ocupacionais. Em algumas NRs, encontram-
se o conteúdo programático e carga horária exigida e, em algumas situações, os requisitos são
complementados por Normas Brasileiras (NBR), como é o caso da Brigada de Incêndio, com a
NBR 14276 (ABNT, 2006).
A existência de normas que requerem conteúdo prático obrigatório nos conteúdos
programáticos favorecem o desenvolvimento de habilidades dos participantes, dado que o
“saber fazer” se refere às habilidades motoras e aos conhecimentos dos métodos e das técnicas
de trabalho (GONDIM, BRAIN E CHAVES, 2003). A experimentação prática quando
realizada em contextos próximos àqueles vivenciados pelos participantes poderá contribuir ao
desenvolvimento de vários grupos de habilidades, conforme elencam os referidos autores, as
cognitivas, as técnicas e as atitudinais/comportamentais, que irão compor os perfis dos
profissionais.
Pode-se considerar que o treinamento prático experienciado torna o executante mais
competente ao desempenho de suas atividades, entretanto, pode-se admitir ainda que, também
pode expor os participantes a riscos de acidentes, mesmo que com menor probabilidade. Por
outro lado, nas situações nas quais os treinandos realizam práticas em campos de treinamentos
diferentes daqueles cenários vivenciados em sua rotina, pode-se admitir que a capacitação pode
se mostrar ineficaz e implicará na elevação dos riscos na atividade.
Dessa forma, Camargo et al (2018) atestam que a cada dia formas inovadoras de
treinamento estão surgindo para que proporcione um ambiente seguro aos aprendentes. Nesse
sentido, com o propósito de prover cenários mais próximos aos contextos reais, os simuladores
de realidade virtual (RV) são capazes de proporcionar uma imersão completa em um ambiente
de realidade paralela e, em treinamentos, apresentam vantagens quando comparados àqueles
que utilizam vídeos, material impressos, por exemplo.
Segundo dados do Instituto de Ciências Comportamentais Aplicadas (NTL - Institute
for Applied Behavioral Science), os níveis de fixação do aprendizado com o uso de simuladores
de RV atingem 75%, contra 20% com audiovisual, 10% com leitura e 5% com palestras
expositivas (NORRIS, SPICER E BYRD, 2019).
Em treinamentos de segurança, o uso do simulador de RV não gera riscos de acidentes
já que se desenvolve em um ambiente sem as fontes dos riscos, como equipamentos e máquinas.
Outro ganho importante, é que no ambiente virtual torna-se possível produzir situações de riscos
em diversos níveis, podendo inclusive serem simulados contextos impossíveis de serem
realizados na prática dados os riscos de perdas. A simulação em RV, portanto, promove uma
gama maior de vivências aos participantes que passam a experimentar estas situações.
Com a disponibilidade de recursos tecnológicos e de RV, os simuladores têm sido
utilizados em diversas áreas, como por exemplo em treinamentos na NASA (National
Aeronautics and Space Administration - Administração Nacional da Aeronáutica) (B9, 2017;
NASA, 2018) e na Guarda Costeira americana (360 LAB, 2019); na área industrial, a exemplo
da Boeing que usa RV nas instruções para a produção de fiação de aviões gerando redução no
tempo de produção e aumento da produtividade, e das montadoras de automóveis como a Fiat
cuja experiência recuperou o investimento de R$ 1 milhão de reais em uma sala de RV para
simular uma linha de produção para otimizar o trabalho de montagem (INFOMONEY, 2018);
na Volkswagen, um laboratório de RV instalado para simular a produção de veículos ainda na
fase de concepção do projeto buscou antecipar ajustes e correções, atingindo elevados níveis de
assertividade (AUTOMOTIVE BUSINESS, 2019).
Dados os benefícios de seu uso, os simuladores de RV podem ainda ser inseridos como
ferramenta de avaliação dos treinamentos já que, embora não garanta o completo domínio das
habilidades desejadas no curto espaço de tempo, podem vir a complementar critérios de
aprovação do aluno e ainda identificar nos treinandos limitações sérias e condutas de alto risco
que contraindicariam a emissão de certificados de aprovação.
Neste artigo, apresentamos uma aplicação de treinamento em segurança com uso de
simulador de RV em um contexto industrial. O presente estudo tem o objetivo de avaliar a
percepção dos participantes quanto às contribuições do uso do recurso na qualidade no
treinamento e aos conhecimentos dos treinandos. Pretendeu-se ainda obter uma avaliação do
ponto de vista do profissional de segurança do trabalho.
Dado o propósito do estudo, buscou-se verificar as condições nas quais a simulação de
RV foi vivenciada e sobretudo avaliar do interesse dos participantes diante do novo recurso.
Foi conduzido um estudo de campo em uma indústria de fabricação de tintas brasileira
cuja reciclagem dos operadores de empilhadeiras foi realizada com a utilização do simulador
de RV.
Este artigo está organizado da seguinte forma: a seção 1 introduz o tema e apresenta os
objetivos do estudo, a seção 2 discorre sobre a questão da capacitação em segurança do trabalho
e destaca aspectos importantes dos requisitos da legislação do Brasil e das especificidades das
estratégias de aprendizagem, a Seção 3 se dedica à metodologia utilizada apresentando a
configuração da investigação, os instrumentos de coleta de dados utilizados e a caracterização
do estudo, a Seção 4 discute os resultados obtidos por meio de uma análise dos aspectos
avaliados e a verificação dos propósitos do estudo, e finalmente, a Seção 5 apresenta as
considerações conclusivas.
Fundamentação Teórica
O desenvolvimento de pessoas é compreendido como o impulso sistematizado de
transformação de competências individuais para o melhoramento do desempenho coletivo com
o objetivo de alcançar as metas organizacionais. Para isso, existem três etapas de ações: i)
treinamento; ii) desenvolvimento pessoal; e iii) desenvolvimento organizacional (SOBRAL E
PECI, 2008). Dados os objetivos do estudo, esse artigo irá se ater às ações de treinamento.
Para Milkovich e Bourdreau (2010), treinamento resulta na melhor adequação das
características dos empregados para o exercício de suas funções. Já para Sobral e Peci (2008),
treinamento é o processo educacional de curto prazo que visa dotar trabalhadores antigos e/ou
novos de habilidades, conhecimentos e competências para que estes desempenhem melhor suas
atribuições. O principal objetivo da ação de treinamento é munir o indivíduo de habilidades
para a execução de suas funções.
Assim, os treinamentos realizados no âmbito organizacional realizados a partir de
diagnóstico de necessidade de capacitação promovem o desenvolvimento de competências
individuais. Segundo Sveiby (1998), as competências são compostas pelo: i) conhecimento
explícito, ou seja, aquele adquirido por meio de programas de educação formal; ii) habilidades,
que é o saber fazer; iii) experiências, que são obtidas ao longo da vida; iv) julgamentos de valor,
percepções próprias de cada indivíduo daquilo que é certo ou errado e que colaboram com o
processo de formação das pessoas; e v) rede social, que são as relações estabelecidas entre os
indivíduos.
Para Fleury e Fleury (2004) competência deve agregar valor econômico para a
organização e, para o indivíduo, deve agregar valor social, não apenas como conhecimento e
habilidades, mas como conhecimento e habilidades postas em ação. Os autores inferem ainda
que a noção de competência está intimamente relacionada a verbos como: saber agir, saber
aprender, saber engajar-se, integrar saberes e assumir responsabilidades.
Na tabela 1, é possível verificar o sentido dos verbos colocados pelos autores:
Tabela 1: Competências para o indivíduo
Saber agir Saber o que, e por que faz; saber julgar, escolher, decidir
Saber mobilizar recursos Criar sinergia e mobilizar recursos
Saber aprender Trabalhar o conhecimento e a experiências
Saber engajar-se e
comprometer-se
Saber comprometer-se
Saber assumir
responsabilidades
Ser responsável assumindo consequências de suas ações
e sendo reconhecido por isso Fonte: Fleury e Fleury (2004)
A legislação brasileira requer capacitação em segurança do trabalho em alguns temas
comuns, como a NR 6 – Equipamento de Proteção Individual (EPI), a NR 10 – Segurança em
instalações e serviços em eletricidade e a NR 23 – Proteção contra incêndios; e outras de acordo
com as atividades de risco, a exemplo da NR 11 – Transporte, movimentação, armazenagem e
manuseio de materiais aplicável para a operação de empilhadeiras.
O conteúdo programático e suas partes teórica e prática e respectivas cargas horárias
são definidos por algumas NRs. Em recente posicionamento do então Ministério do Trabalho,
passou-se a permitir a utilização da modalidade de ensino a distância (EAD) e semipresencial;
em Nota Técnica (NT) 54/2018, o Ministério estabeleceu parâmetros adicionais para a adoção
deste modo de treinamento em saúde e segurança do trabalho (BRASIL, 2018).
No Brasil, não existe regulamentação para uso de simuladores RV em treinamentos de
segurança do trabalho. Na ausência de requisitos específicos para a utilização deste recurso, os
parâmetros especificados para a EAD em SST podem ser admitidos como conservadores para
avaliar a sua aplicação nos contextos simulados.
Mazuryk e Gervautz (1999) colocam que as pessoas desejaram adentrar em cenários
imaginativos, em vez de apenas assistirem a imagens em um monitor, o que veio a ser possível
com a realidade virtual (RV). Segundo os autores esta ideia teria sido apresentada por Ivan
Sutherland em 1965, e vem recebendo outras denominações, tais como: experiência sintét ica,
mundos virtuais, mundos artificiais ou realidade artificial.
De acordo com Von Schweber e Von Schweber (1995), a RV veio a possibilitar
navegação e visualização do mundo de três dimensões em tempo real, com seis graus de
liberdade – mover-se, e olhar para frente e para trás, para a esquerda e para a direita ou para
cima e para baixo. Os autores colocam que na RV, um indivíduo pode interagir com objetos em
um mundo virtual, afetando a resposta destes objetos com suas ações, sendo desta forma, a
interatividade a questão chave.
Na área de capacitação profissional, Georgopoulos et al. (2018), analisaram como a RV
está inserida em unidades de ensino e colocam que a melhoria do ensino com uso da tecnologia
vem a oferecer conteúdo de forma prática e dinâmica, despertando assim maior curiosidade
entre os diversos alunos, principalmente junto aos jovens. Em seu estudo, mencionam
aplicações na área de saúde, como o exemplo de uma clínica médica trabalhou com a tecnologia
para tratamento da fobia de aviões, evitando o estresse real, e em outro caso com aplicação de
vacinação infantil com a tentativa de redução do medo e de desconforto das agulhas.
Envolvendo segurança em eventos de incêndio, Çakiroğlu e Gökoğlu (2019) relataram
a utilização de treinamento em segurança contra incêndio baseado em RV com alunos da escola
primária cujos resultados indicaram que este ambiente de aprendizagem contribuiu
positivamente para o desenvolvimento de habilidades comportamentais das crianças.
No estudo de Cao, Lin e Li (2019), a RV foi utilizada para comparar a exploração do
espaço pelas pessoas em cenários situações de emergência de incêndio virtual e, a partir dos
resultados do estudo, os autores apresentaram recomendações sobre a sinalização e a respeito
de modelos de engenharia que simulam evacuação de multidões.
Metodologia
O presente estudo se caracteriza por ser uma pesquisa qualitativa do tipo exploratória,
que promove uma visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato (GIL, 2017;
2019). Segundo o mesmo autor, esta pesquisa é adotada especialmente quando o tema é pouco
explorado e torna-se difícil formular hipóteses exatas, o que se assemelha ao estudo em razão
das diversas variáveis envolvidas na aplicação da RV, de caráter subjetivo, pois parte da
percepção dos indivíduos. Acrescenta-se ao fato que, embora se encontrem relatos de aplicações
em RV, o seu uso na segurança do trabalho ainda se mostra incipiente.
A pesquisa foi adotada como estudo de campo, com fins de se estudar o público-alvo de
participantes do treinamento com uso da RV. Tal delineamento se configura como adequado
aos objetivos do estudo por se dar por meio da condução de entrevistas junto aos respondentes,
capaz de possibilitar respostas mais fidedignas (GIL, 2017; 2019).
O estudo foi realizado em uma indústria de fabricação de tintas, de porte médio com
grau de risco 3 (em uma escala que varia entre 1 e 4, o risco 4 é atribuído a empresas com risco
mais elevado) (BRASIL 1978a). A empresa conta com empilhadeiras a gás para a
movimentação de matéria-prima e de produto acabado nos processos de estocagem e de
carregamento de veículos para a expedição de produto acabado.
Para avaliação da percepção sobre a utilização do simulador de RV, os parâmetros
estabelecidos para aplicação de conteúdo em EAD foram adotados integralmente para avaliar a
inserção da RV no treinamento de operadores de empilhadeira, sendo admitidos como critérios
conservadores, ao considerar que a utilização de RV ainda não é regulamentada por legislação.
Com base nestes requisitos, um questionário foi utilizado como instrumento de coleta
de dados, sendo um para os operadores de empilhadeira e outro para o profissional de segurança
do trabalho. Ambos foram elaborados contendo questões objetivas cujas alternativas obedecem
a uma escala Likert (DOANE E SEWARD, 2015) com 5 pontos: 1 - discordo totalmente, 2 –
discordo, 3 - nem concordo, nem discordo (indiferente), 4 – concordo e 5 - concordo totalmente.
A escala de 5 pontos possui nível de confiabilidade adequado e é capaz de se ajustar aos
respondentes com diferentes níveis de habilidade (DALMORO E VIEIRA, 2013). Os autores
afirmam que as escalas de 5 e 7 pontos são muito semelhantes em termos de resultados médios.
Para mensurar a confiabilidade interna do questionário, foi calculado o Alfa de
Cronbach, que varia entre 0 e 1, sendo o valor aceitável do referido coeficiente quando superior
a 0,7 (KLINE, 2000; HAIR et al., 2005; HORA, MONTEIRO E ARICA, 2010; DALMORO E
VIEIRA, 2013).
O número de amostras 𝑛 , admitido como o número mínimo de respondentes para
compor uma amostragem representativa da população finita de operadores de empilhadeira com
base na estimativa da proporção populacional, obedece à equação (DOANE E SEWARD, 2015):
𝑛 =𝑁. 𝑍2. 𝑝. (1 − 𝑝)
(𝑁 − 1). 𝑒2 + 𝑍2. 𝑝. (1 − 𝑝)
Onde:
𝑁: tamanho do universo
𝑍: valor crítico correspondente ao nível de confiança adotado
𝑒: margem de erro máximo admissível
𝑝: proporção que se espera encontrar
Para análise dos apontamentos na escala Likert, foram adotados os procedimentos: i)
cálculo da média, e ii) onde se observaram possíveis associações entre as respostas, foi
verificada a existência de correlação. Esta correlação foi avaliada por meio do cálculo do
coeficiente de correlação de Pearson (𝜌), adequado para avaliar o grau de correlação entre
variáveis de escala métrica intervalar. Os graus de correlação foram avaliados segundo as faixas
apresentadas por Hinkle, Wiersma e Jurs (2003): 0,9 ou mais - muito forte, 0,7 a 0,9 – forte, 0,5
a 0,7 – moderada, 0,3 a 0,5 – fraca, e de 0 a 0,3 - indica uma correlação desprezível.
Para o profissional de segurança, foram avaliados os itens: i) projeto pedagógico para
avaliação dos objetivos e da distribuição do conteúdo programático e definição de carga horária
prática e teórica; ii) profissionais ministrantes; iii) sistemas de avaliação, como uma avaliação
da aprendizagem de forma a verificar o desenvolvimento das habilidades e o real aprendizado,
assim também no pós-treinamento; cumprindo com parte dos critérios da NT 54/2018.
Junto aos operadores de empilhadeira, foram verificados os aspectos: i) duração, indo
além do cumprimento estrito da norma, com a intenção de analisar sua adequação aos
propósitos; ii) local e horário; iii) interação: dada a subjetividade deste item, buscou-se
identificar se o ministrante atuou como facilitador e declarou com clareza os objetivos do uso
do recurso; iv) tecnologias: com a finalidade de checar sobre o aspecto visual da simulação, da
facilidade de compreensão e se proporcionou mais confiança na operação e v) público alvo:
sobre a percepção do usuário no que se refere ao conteúdo agregado e de seu interesse no
primeiro contato com o recurso e também em uma próxima oportunidade.
Resultados e Discussão
O treinamento de operação de empilhadeiras foi realizado como reciclagem conforme
com carga horária total de 8 horas, sendo 4 horas teóricas e 4 horas práticas. O uso do simulador
foi considerado como conteúdo teórico. O treinamento contou com 23 operadores de
empilhadeira, e com um 1 profissional de segurança do trabalho. Previamente, o consultor que
detém o uso do simulador de RV, apresentou os objetivos e procedimentos da experimentação.
Os procedimentos adotados na simulação buscou agregar conhecimento e habilidades
nos tópicos do treinamento ligados à operação do empilhadeira: i) estabilidade
frontal/estabilidade lateral; ii) Princípios básicos de operação com empilhadeira; e iii)
procedimentos básicos de segurança com empilhadeira.
O simulador utilizado é composto por um volante, seletor de marcha e por pedais de
aceleração e de frenagem, além de um óculos de simulação, similares às Fotos 1 e 2:
Foto 1: Acessórios do simulador de RV
Fonte: WAZ (2019)
Foto 2: Acessórios do simulador em RV
Fonte: Própria (2019)
O software em 3D possibilitou a operação em um cenário virtual com 6 (seis) graus de
liberdade, conforme telas na Imagem 1:
Imagem 1: Imagem da movimentação em 3D
Fonte: Própria (2019)
Ao considerar que se tratou de um treinamento de reciclagem e não de formação, a
ênfase foi dada à operação adequada em termos de bom uso da máquina e da segurança.
Os exercícios contaram com a simulação de controles básicos, iniciação à
movimentação, estacionamento da empilhadeira, e com tarefas usuais da operação no galpão
logístico, e incluíram a movimentação da carga, aproximação às longarinas, elevação para
deposição de pallets nas estantes do tipo drive-in e a retirada/descida da carga.
Foram conduzidos os seguintes procedimentos: o primeiro participante selecionado foi
o operador mais experiente e aos demais, foi-lhes solicitado que pontuassem condutas de risco
ao longo da operação simulada, como por exemplo, trafegar com os garfos elevados e a
realização de movimentos simultâneos de elevação/rotação dos garfos. Em seguida, cada um
dos treinandos experimentou o simulador de RV por 20 minutos. Percebeu-se que, com o
avanço das práticas, o usuário imerso no ambiente de RV passara a realizar as tarefas com
destreza e de forma mais segura, sem mais atitudes negligentes ou imprudentes.
Com 8 anos de experiência, o técnico de segurança participou de todas as etapas do
treinamento. Avaliou positivamente os aspectos projeto pedagógico, perfil dos profissionais e
sistemas de avaliação. Aqueles mais bem avaliados, no qual o respondente concordou
totalmente com as afirmações foram sobre a clareza na definição dos objetivos, facilidade de
compreensão da linguagem utilizada na apresentação do simulador e sobre o perfil de formação
do profissional que aplicou o simulador. Nos demais itens, relacionados às estratégias
pedagógicas aplicadas, à infraestrutura física na qual houve as simulações, além da contribuição
do uso do simulador ao sistema de avaliação do treinamento, o profissional respondeu que
concorda parcialmente.
Dos 23 operadores de empilhadeira, 9 responderam à pesquisa.
O Alfa de Cronbach, que indica o coeficiente de confiabilidade interna do questionário
(KLINE, 2000) resultou em 0,918, e pode ser considerado satisfatório.
Fez-se necessário determinar qual o número mínimo de respondentes ao questionário,
ao considerar: 𝑁 =23, 𝑍=1,645 (Nível e confiança 90%), 𝑒= 5% e 0.7 de proporção estimada
dos respondentes que avaliariam positivamente o uso do simulador de RV. O resultado foi 8,15
respondentes, o que demonstra que os 9 indivíduos podem representar a população que
experenciou o uso do simulador de RV.
Os resultados obtidos foram submetidos a uma análise que avaliou a média por
indivíduo por pergunta, e foi verificado quais fatores potencialmente teriam correlação com a
percepção de que o treinamento teria contribuído aos seus conhecimentos e ainda se gostariam
de vivenciar uma nova experiência com a RV na próxima reciclagem.
i) Perfil dos respondentes: A faixa etária dos participantes se distribuiu igualmente com
33,33% nas faixa de 26 a 35 anos, de 36 a 45 anos, e na faixa superior a 41 anos. A idade média
dos operadores ficou em torno de 37 anos e 2 meses. Quanto ao tempo de experiência na função,
a média se colocou em 8 anos. Nenhum possui menos de 1 ano na função. Verificou-se que
22,22% têm de 2 a 5 anos de experiência, 55,56% de 6 a 10 anos, 22,22% de 11 a 15 anos e
11,11% possui mais de 16 anos. Em relação ao tempo em que trabalha na empresa, 22,22% têm
menos de 1 ano, 44,44% de 2 a 5 anos, 11,11% de 6 a 10 anos, e 22,22% de 11 a 15 anos.
ii) Avaliação das médias: As médias obtidas se comportaram conforme a Tabela 2:
Tabela 2: Itens da NT 54/2018 versus Perguntas do questionário versus Médias obtidas
NT 54/2018 Pergunta Média
Projeto
pedagógico
P-1: O LOCAL utilizado foi confortável às atividades de simulação –
temperatura, interferências externas, barulho etc.? 4.333
Interação P-2: O instrutor foi um FACILITADOR para sua aprendizagem? 4.444
Interação P-3: Para você, ficaram claros os OBJETIVOS do uso do simulador? 4.222
Público-alvo P-4: Quando apresentado o simulador, ficou mais INTERESSADO pelo
treinamento? 4.111
Tecnologia P-5: O VISUAL do simulador é de fácil compreensão? 3.889
Tecnologia P-6: As atividades de simulação foram PARECIDAS com aquelas de seu trabalho?
4.111
Público-alvo P-7: No uso do simulador, percebeu que realizava alguma
atividade/operação de forma INCORRETA passando a perceber uma forma
de operação correta?
3.444
Público-alvo P-8: Sentiu FACILIDADE em utilizar o simulador no INÍCIO da prática? 3.667
Público-alvo P9: Sentiu FACILIDADE em utilizar o simulador ao FINAL da prática? 4.000
(Continua...)
(Continuação - Tabela 2)
NT 54/2018 Pergunta Média
Duração P-10: A DURAÇÃO do treinamento com uso do simulador foi suficiente? 3.333
Público-alvo P-11: Sentiu mais CONFIANÇA em desempenhar a OPERAÇÃO da
empilhadeira com o treinamento no SIMULADOR se comparado a outros
treinamentos em que já participou?
3.778
Público-alvo P12: O treinamento com o simulador de RV CONTRIBUIU para seus
conhecimentos? 4.111
Público-alvo P-13: Gostaria que a próxima RECICLAGEM incluísse atividades com
simulador? 4.333
Fonte: Própria (2019)
Conforme se pode verificar, as maiores médias foram obtidas nas questões relacionadas
ao instrutor, seguido pelos itens empatados: interesse em fazer uso do simulador nos próximos
treinamentos de reciclagem e a adequação do local; e em seguida, pela clareza dos objetivos do
uso da ferramenta em RV. Observa-se ainda que os itens associados ao interesse pelo
treinamento quando a ferramenta foi lhes apresentada, à similaridade dos cenários aos contextos
reais e às contribuições da prática aos conhecimentos dos participantes tiveram suas médias
empatadas. A média mais baixa se mostrou no questionamento sobre o tempo dedicado ao uso,
e em seguida, aparece a revisão de condutas operacionais motivada pela simulação.
Além destes, a facilidade no início da prática obteve a nota mais baixa, ainda assim, se
colocou acima do patamar “indiferente”. Para avaliar se esta dificuldade inicial teve relação
com os aspectos ligados às etapas que antecederam a aplicação, foi verificada a correlação entre
as variáveis: clareza nos objetivos, cujos resultados indicam uma correlação forte (𝜌 =0.827), e
para a atuação do instrutor como facilitador, uma correlação moderada (𝜌=0.668). Na primeira
situação, pode-se buscar uma reflexão acerca da declaração dos objetivos que introduz da
atividade, tornando o participante informado de que, nas situações nas quais os profissionais
mantém um primeiro contato, é compreensível que sinta uma dificuldade inicial mas que, ao
longo do exercício poderá sentir-me mais familiarizado com o seu uso e, assim mais confiante.
Ao serem questionados se o local utilizado para foi confortável às atividades de
simulação, 4 respondentes concordaram integralmente, 4 concordaram parcialmente e 1 se
colocou indiferente.
No que refere à interação, perguntados se o instrutor teria atuado como um facilitador
na aprendizagem, 5 responderam que parcialmente, enquanto 4 responderam que totalmente.
Sobre o quesito clareza nos objetivos, 1 se mostrou indiferente, 5 afirmaram que concordam
parcialmente e 3 concordam integralmente.
Quanto à adequação do tempo dedicado à simulação, 1 participante afirmou que
discorda totalmente, 3 se colocaram como indiferentes e 5 afirmaram que concordam em parte.
A alegação comum a todos os respondentes foi que consideram que o tempo destinado poderia
ser ampliado.
Sobre o interesse pelo treinamento de reciclagem ao ser apresentado o simulador, 1
participante se colocou como indiferente, 6 concordaram parcialmente e 2 concordaram
totalmente. Ainda sobre o início das atividades, a respeito da facilidade de utilizar a ferramenta,
1 respondente apontou que discorda parcialmente, 2 se colocaram como indiferentes, 5
concordam parcialmente e 1 concordou totalmente.
Ao considerar que o visual do simulador pode influenciar na qualidade do treinamento,
os respondentes afirmaram em sua maioria, 78%, que o recurso é de fácil compreensão, ao
menos parcialmente, e 22% se declararam indiferentes.
No que se refere à similaridade das práticas ao contexto real, 1 respondente afirmou que
discorda parcialmente, enquanto os demais ratificaram esta característica do exercício em RV.
Sobre a possibilidade de as simulações terem provocado a revisão de condutas
anteriormente incorretas, os respondentes se colocaram de forma bastante distribuída, da
seguinte forma: 1 – 11,11%, 2-11,11%, 3 – 22,22%, 4 – 33,33% e 5 - 22,22 %. Não se verifica
relação direta com a faixa etária ou com o tempo na função de operador de empilhadeira.
Após os treinamentos, a confiança dos operadores teria melhorado, conforme o relato
de 6 (66,67%) deles, enquanto 3 (33,33%) apontaram indiferença. Ao avaliar as respostas
individuais, não se observa que houve relação com a duração do treinamento ou às práticas
pedagógicas. Destaca-se apenas que em uma das situações, o treinando declarou ter sentido
dificuldade nas etapas inicial e final. Em uma primeira análise, poderia se atribuir tal
desempenho ao pouco tempo na empresa – menos de 1(ano), por outro lado, tal associação
somente seria recomendada em uma entrevista menos objetiva, já que o respondente declarou
8 anos de experiência prévia como operador de empilhadeira.
Quanto ao item relacionado à percepção de que o uso da RV de que “O treinamento com
o simulador de RV contribuiu para seus conhecimentos?” (pergunta P-12), houve
predominância de respondentes que concordaram parcial (55,56%) e totalmente (33,33%),
sendo que 11,11% discordou parcialmente, conforme mostra o gráfico 1 a seguir:
Gráfico 1: O treinamento com o simulador de RV contribuiu para seus conhecimentos (P-12)
Fonte: Própria (2019)
Com fins de verificar a relação entre o resultado e possíveis fatores causais, foi analisada
a correlação com as variáveis: duração do treinamento (P-10), instrutor (P-2), clareza nos
objetivos (P-3), visual do simulador (P-5) e similaridade com contextos reais (P-6). para isso,
foram calculados os coeficientes de Pearson (𝜌), cujos resultados são apresentados na Tabela
3:
Tabela 3: Correlação de Pearson entre P-12 e variáveis causais
Pergunta 𝝆 Grau de correlação
P-12
P-10 0.468 Fraca
P-2 0.963 Muito forte
P-3 0.947 Muito forte
P-5 0.778 Forte
P-6 1.000 Muito forte
Fonte: Própria (2019)
Os resultados indicam que, com exceção da duração do treinamento (P-10), todas as
demais variáveis se relacionam com forte ou fortemente à percepção dos operadores de que o
treinamento com o simulador de RV contribuiu para seus conhecimentos. Destaca-se que, no
caso da variável “Similaridade com contextos reais” (P-6), a correlação pode ser admitida como
perfeita positiva entre as duas variáveis, com 𝜌 = 1.
Ao analisar os resultados da pergunta P-13 - “Gostaria que a próxima RECICLAGEM
incluísse atividades com um simulador de RV?”, pôde-se constatar que de forma similar aos
resultados da questão P-12, a maior parte dos participantes, 88,88%, apontou que concorda com
a afirmação, sendo metade dos respondentes para cada uma das alternativas: concorda
parcialmente e concorda. Um dos operadores de empilhadeira declarou-se indiferente à questão.
As respostas obtidas por alternativa estão ilustradas no Gráfico 2 a seguir:
1;
11%
5;
56%
3;
33%
1
2
3
4
5
Gráfico 2: Gostaria que a próxima RECICLAGEM incluísse atividades com um simulador de RV? (P-13)
Fonte: Própria (2019)
Ao seguir os mesmos procedimentos adotados para P-12, foram calculadas as
correlações entre as variáveis que pudessem ter afetado as respostas dos participantes e obtidos
os coeficientes de Pearson constantes na Tabela 4:
Tabela 4: Gostaria que a próxima RECICLAGEM incluísse atividades com simulador de RV? (P-13)
Pergunta 𝝆 Grau de correlação
P-13
P-10 0.383 Fraca
P-2 0.970 Muito forte
P-3 0.945 Muito forte
P-5 0.676 Moderada
P-6 0.889 Forte
Fonte: Própria (2019)
Pode-se verificar que, assim como ocorreu com P-12, as variáveis P-2, P-3 e P-6
possuem correlação com o desempenho de P-13. No caso de P-3 (clareza nos objetivos), a
relação se caracteriza como moderada 𝜌 tenha moderada. Conforme os resultados entre P-10 e
P-13, a duração do treinamento não se relaciona com os resultados de P-13.
Em uma primeira análise, as respostas de P-12 e P-13 sugerem que pode haver uma
correlação entre elas. Por esta razão, buscou-se testar a hipótese de que a percepção de que o
treinamento agregou aos conhecimentos dos operadores se correlaciona à vontade de que o
simulador de RV seja novamente aplicado em um próximo treinamento, foi do mesmo modo,
calculado o coeficiente de Pearson (𝜌). Com um resultado 𝜌=0.857, ratifica-se esse pressuposto,
o que indica para uma correlação forte.
Conclusões
A partir dos resultados e discussões realizadas, pode-se concluir que o estudo de campo
com uso de simulador de realidade virtual em um contexto industrial demonstrou que as
percepções dos participantes e do profissional de segurança do trabalho apontam para uma boa
1;
11%
4;
45%
4;
44%
1
2
3
4
5
aceitação, sendo os aspectos de níveis de contribuição e do interesse em experienciar novamente
a RV avaliados como satisfatórios os fatores que ratificam os relatos da literatura e com o que
prometem as soluções tecnológicas.
Essas questões foram confrontadas àquelas associadas àquelas condições nas quais o
treinamento foi realizado por meio da verificação da correlação entre as variáveis que mostram
os resultados percebidos e aquelas potencialmente causais. Esta correlação se mostrou em graus
de moderado a muito forte em todas as questões, exceto às respostas que tratam da duração do
treinamento em RV.
No que se refere à concepção da RV enquanto recurso de aprendizagem, constatou-se
que os critérios legais para a educação a distância foram contemplados no instrumento de coleta
de dados e este foi considerado válido para este fim. A utilização dos procedimentos para essa
avaliação indicam que tais requisitos podem ser estendidos ao uso de treinamentos com RV,
até que sejam estabelecidos critérios específicos para o uso dessa tecnologia. Os tópicos do
questionário podem ser adotados na íntegra ou mesmo aperfeiçoados. Uma oportunidade de
ampliação dos requisitos seria, por exemplo, contemplar itens para verificar eventuais
repercussões do uso da tecnologia aos usuários, do ponto de vista da saúde, ou a avaliação do
aumento da percepção de riscos de acidentes pelos usuários.
Constatou-se que, além dos benefícios potenciais do novo recurso terem sido percebidos
pelos participantes, destacam-se as impressões do profissional de segurança, cuja avaliação se
fundamenta em conhecimento técnico especializado constituindo-se dessa forma, como
igualmente relevante no processo avaliativo da ferramenta para fins de capacitação em
segurança do trabalho.
Ao considerar os resultados relatados nesse artigo, fica evidenciado que o uso de
simuladores de RV pode contribuir ao desenvolvimento de competências em atividades de
riscos na área de segurança, já que desperta o interesse dos participantes e que, ainda que possa
enfrentar alguma dificuldade no primeiro contato, os mantém focados nos exercícios em RV,
dada a completa imersão que o simulador proporciona. Adicionalmente, promove-se uma
experimentação sem riscos de acidentes, insere diversificados elementos do contexto real e,
como consequência, vem a favorecer o desenvolvimento das habilidades do treinando para uma
conduta mais segura em seus contextos organizacionais.
Embora se trate de um estudo de campo, com alcance limitado, os resultados apontam
na mesma direção de relatos com experiências em RV, e permite vislumbrar a aplicação em
diversas áreas da segurança do trabalho, sobretudo se for levado em conta que os recursos
tecnológicos avançam velozmente fazendo as simulações se aproximarem cada vez mais aos
cenários reais.
Na área de segurança do trabalho, há um grande potencial de utilização dos simuladores
dadas as vantagens já mencionadas, destacando-se a possibilidade de treinar sem colocar o
trabalhador em risco. Ambientes virtuais com a ocorrência de incêndio, medição de tempo de
resposta e de resgate envolvendo brigadistas de emergência, percepção de riscos, operação de
máquinas e equipamentos, trabalho em altura são alguns exemplos de situações nas quais a
simulação de RV poderia preceder as práticas em treinamento e desta forma, contribuir à
melhoria da eficácia das ações de treinamento, permitindo às organizações avançar para
patamares mais elevados em saúde e segurança ocupacional.
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