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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica
AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA E EFICIÊNCIA DO USO DE
CARRAGENAS EM CERVEJAS ARTESANAIS
Rafael Pissuto Pinheiro
Trabalho de Conclusão do Curso de
Farmácia-Bioquímica da Faculdade de
Ciências Farmacêuticas da
Universidade de São Paulo.
Orientador:
Prof. João Carlos Monteiro de Carvalho
São Paulo
2017
2
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................................... 3
RESUMO.................................................................................................................. 4
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 5
2. OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS.................................................................... 8
3. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................... 9
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 14
5. CONCLUSÃO ................................................................................................. 26
6. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 27
3
LISTA DE ABREVIATURAS
a.C.
Akt
ANVISA
FDA
IL-8
kDa
Antes de Cristo
Proteína Quinase B Fosforilada
Agencia Nacional de Vigilância Sanitária
Food and Drug Administration
Interleucina 8
Quilodaltons
min Minutos
mL
nm
Mililitros
Nanômetros
pH Potencial Hidrogeniônico
PIB
RPM
TK
Produto Interno Bruto
Rotações por Minuto
Timina Quinase
4
RESUMO
PISSUTO PINHEIRO, R. Avaliação da Segurança e Eficiência do Uso de
Carragenas em Cervejas Artesanais. 2017. Trabalho de Conclusão de Curso
de Farmácia-Bioquímica – Faculdade de Ciências Farmacêuticas –
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.
Palavras-chave: carragena, segurança, clarificação, cerveja artesanal.
Embora carragenas sejam amplamente utilizadas das mais diversas
formas em alimentos e seu uso seja autorizado por agências regulatórias ao
redor do mundo, ainda é possível observar conflitos de opinião acerca de sua
segurança em humanos. A produção de cervejas artesanais, em plena
ascensão no Brasil, é um dos muitos campos que fazem o uso de carragenas.
Porém, os dados de seus efeitos frente ao produto final ainda são muitos
restritos. Face ao exposto, o objetivo deste trabalho é revisar publicações
científicas relevantes no que tangem a segurança alimentar de modo a
esclarecer sua potencial toxicidade em humanos e avaliar, por meio da
produção de amostras e execução de experimentos, os impactos sobre o
produto acabado. Para a revisão bibliográfica, foram utilizados artigos
científicos, em português e inglês, acessados nas bases de dados Web of
Science e PubMed, além de alguns websites e livros. O primeiro passo foi a
busca pelos artigos, seguido pela seleção dos materiais. Prosseguiu-se, então,
com uma leitura dinâmica e com os artigos e publicações selecionados,
realizou-se a leitura aprofundada e as informações obtidas foram analisadas,
interpretadas e discutidas. Para a avaliação dos efeitos no produto final, foram
produzidas amostras com diferentes concentrações de carragenas e sacarose,
utilizada no primming, seguido da execução de experimentos visando mensurar
a turbidez, formação espuma e produção de etanol. Com os resultados dos
experimentos, fez-se a análise dos dados para correlacionar com o uso de
carragenas. Da revisão bibliográfica, temos como resultado uma série de
artigos publicados que não distinguem carragena de poligenanas, sendo a
segunda comprovadamente nociva à saúde. Outro achado comum é a
negligência à matriz alimentar, condicionando uma maior exposição da
5
carragena às mucosas do trato gastrointestinal. Além disso, pode-se afirmar
que a conversão de carragena à poligenanas não ocorre no sistema biológico.
Com relação à prática, notou-se um padrão associado com a formação de
espuma no sentido de que maiores concentrações de carragena
desestabilizam a espuma 2 minutos após sua formação, contudo, a formação
inicial não é afetada. Notou-se uma pequena variação do teor alcoólico entre
alguns experimentos. Porém, essa variação não foi atribuída à carragena, uma
vez que em experimentos analisados sob mesmas concentrações de sacarose
utilizadas no primming, não foram observadas variações significativas na
concentração de etanol. A turbidez, na faixa de 0,125 g/L a 0,25 g/L de
carragena, demonstra que a mesma auxilia no processo de clarificação da
cerveja artesanal. Porém, em altas concentrações, a própria carragena pode
interferir no produto no sentido de contribuir com sobrenadantes insolúveis e,
consequentemente, prejudicar a clarificação. Conclui-se, portanto, que
atualmente se desconhecem impactos nocivos à saúde atribuídos à carragena
e que seu uso na produção de cervejas artesanais pode contribuir na
clarificação. Contudo, faz-se a ressalva de que o uso exacerbado pode ter
efeitos não desejados à espuma e turbidez.
1. INTRODUÇÃO
Considerada a terceira bebida mais popular do mundo, atrás apenas da
água e do chá, acredita-se que a cerveja tenha sido criada por acidente.
Registros sumérios e mesopotâmios precedentes à escrita tais como desenhos
e símbolos primitivos datados de 6.000 a.C. remetem à produção de uma
bebida derivada da cevada, usada como moeda de troca na região atualmente
conhecida como Oriente Médio (NELSON, 2005).
Contudo, foi somente no século XIX com a descoberta de artefatos
babilônicos, como a Estela de Hamurabi (1760 a.C.), contendo critérios para a
produção e comercialização de cerveja, que se teve acesso aos ingredientes,
processos produtivos e leis primitivas daquela bebida que já foi considerada
pão em estado líquido (MORADO, 2009).
6
Atualmente, a cerveja tal qual conhecemos difere muito daquela bebida
original. Com o advindo do processo industrial e aditivos alimentares, que
melhoram não apenas os aspectos sensoriais, mas também prolongam a vida
de prateleira dos produtos, a cerveja tornou-se um amplo campo de estudo e
uma atividade comercial que movimenta internamente R$ 70 bilhões,
respondendo por 1,6% do PIB do Brasil e 14% da indústria nacional de
transformação (CERVBRASIL, 2015).
Embora alguns estilos de cerveja requeiram um aspecto turvo, com
sobrenadantes em seu corpo, pode-se dizer que em uma ampla gama de
estilos é desejado um aspecto translúcido. Além da recirculação em cama de
malte, resfriamento e a execução de whirpool (método físico que consiste na
execução de um rodamoinho para concentrar o material particulado no meio e
ao fundo da panela de brassagem), cervejeiros artesanais buscam clarificar as
cervejas através de métodos que fazem uso de aditivos alimentares, tais como:
ictiocola, gelatina sem cor/sabor, alginatos e pastilhas whirfloc (carragenas),
sendo este último provavelmente o método mais comum pelo fato das pastilhas
serem facilmente encontradas em casas especializadas e por estarem
presentes em kits de fabricação de cervejas artesanais.
Carragenas são extraídas de algas marinhas vermelhas das espécies
Gigartina, Hypnea, Eucheuma, Chondrus e Iridaea, da classe Rodophyta e
utilizadas na indústria alimentícia como espessantes, gelificantes e
estabilizantes. Descobertas em 1785 na cidade irlandesa de Carragheen, algas
Chondrus crispus eram utilizadas para aumentar a viscosidade do leite.
Somente em 1837 foi feita a primeira extração de carragena e em 1871, foi
patenteado, por Bourgade, um processo de purificação. Apenas em 1930, nos
Estados Unidos, foram construídas as primeiras instalações industriais para a
extração de grandes volumes para fins comerciais. Atualmente, a carragena é
extraída de algas produzidas em diversas regiões, como Marrocos, França,
Irlanda, Brasil, Chile, China e Japão (ADITIVOS & INGREDIENTES, 2016;
PEREIRA, 2012; UBM BRAZIL, 2016).
Existem três tipos de carragenas: kappa, iota e lambda; a composição
da carragena encontrada na alga está ligada à espécie e a quantidade varia
conforme luminosidade, nutrientes, oxigenação e temperatura. Trata-se de um
coloide hidrófilo, polissacarídeo de alto peso molecular, que contém entre 15%
7
e 40% de ésteres sulfato de potássio, sódio, cálcio, magnésio e amônio, e
copolímeros de D-galactose e 3,6-anidro-galactose, unidas por ligações α-(1-3)
e β-(1-4) glicosídica. As diferenças entre os tipos de carragenas são
determinadas pela posição e número de grupos éster sulfato e pela presença
ou não de 3,6-anidro-galactose. Na clarificação de cervejas, é utilizada a
kappa-carragena (Figura 1), a qual contém entre 25% e 30% de éster sulfato e
entre 28% e 35% de 3,6-anidro-galactose (ADITIVOS & INGREDIENTES,
2016; ANVISA, 2010; UBM BRAZIL, 2016; WHO, 2014).
Figura 1. Estrutura molecular da kappa-carragenana
A clarificação pelo uso de pastilhas de whirfloc é possível devido à
interação das proteínas de alta massa molar da cerveja, as quais possuem
carga parcial positiva, com resíduos de radicalares OSO3- (portanto, negativo)
presentes nos monômeros de galactose dos carragenas, fazendo assim com
que ocorra a precipitação de sobrenadantes e proteínas de alto peso molecular
(PEREIRA, 2012; UBM BRAZIL, 2016).
Contudo, acredita-se o uso exacerbado de tais aditivos pode trazer
problemas à produção, uma vez que a formação da espuma da cerveja estaria
condicionada à presença de proteínas de alto peso molecular, ou seja, uma
maior quantidade de aditivos capazes de precipitar tais proteínas ou
tratamentos excessivos com enzimas proteolíticas poderia prejudicar a
formação de espuma (SILVA, FERREIRA, TEIXEIRA, 2006).
Outro aspecto relevante ao uso de aditivos é a segurança alimentar,
pois se especula que o uso excessivo de tais substâncias, sobretudo as
carragenas, podem trazer malefícios à saúde, tais como doenças inflamatórias
intestinais e cânceres do trato gastrointestinal (MCKIM, 2014; WEINER, 2014).
A situação se torna ainda mais grave pela baixa ou inexistente fiscalização da
quantidade de aditivos usados nos meios produtivos das cervejas artesanais,
pois cervejeiros caseiros geralmente produzem para consumo próprio,
8
amigos/familiares ou então para um pequeno comércio local, sem a
necessidade de aprovação sanitária e/ou regulatória. A ANVISA publicou em
02 de dezembro de 2011 a primeira resolução aprovando o uso de carragenas
como adjuvante no processo de fabricação de cervejas (ANVISA, 2011).
Porém, não há referências de valores, mínimos máximos, para seu uso. O
FDA, por sua vez, regulamenta este uso através da CFR Title 21, de 01 de abril
de 2012 (FDA, 2012) também sem referências a valores.
2. OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS
O presente Trabalho de Conclusão de Curso tem como principais
objetivos: (1) revisar a segurança alimentar do uso de carragenas como
aditivos, (2) avaliar, em termos de eficiência, o uso de diferentes concentrações
de carragenas na clarificação de cervejas artesanais do tipo American India
Pale Ale e (3) relacionar tais concentrações com a formação de espuma,
avaliando também seus impactos.
A revisão sobre o uso de carragenas como aditivos alimentares é
justificada pelo fato de que muito frequentemente é possível observar conflitos
de opinião acerca de sua segurança em humanos, sendo que alguns estudos
recentes de pesquisadores ligados a relevantes institutos de pesquisa sugerem
a associação de carragenas com inflamações gástricas, câncer e até mesmo
diabetes (CORNUCOPIA INSTITUTE, 2016).
Com relação à eficiência e impacto à formação de espuma, além da
preocupação com o aspecto sensorial gerado condicionado pela espuma e
translucidez, faz-se necessária a avaliação da necessidade de utilizar insumos
que geram um maior custo ao processo produtivo de microcervejarias, as quais
frequentemente sofrem forte pressão de grandes empresas, mas ainda assim
possuem um mercado em plena ascensão de cerca de 20% ao ano,
impulsionado sobretudo pelo consumo que atinge principalmente as classes
sociais mais abastadas e exigentes do mercado (SEBRAE, 2017).
9
3. MATERIAL E MÉTODOS
Para avaliar a segurança do uso de carragenas, foi realizada uma
revisão bibliográfica, através da busca de artigos científicos, seguido de
avaliação crítica destas publicações. Foram utilizados artigos em línguas
inglesa e portuguesa, acessados nas bases de dados PubMed, SciELO,
SciFinder e Web of Science. Alguns websites e revistas online especializadas
na área também foram consultadas.
Unitermos incluindo, mas não limitando, carragena, carragenana,
clarificação, cerveja artesanal, segurança, saúde, toxicidade, polissacarídeos,
algas vermelhas, bem como suas respectivas traduções para o inglês, foram
associadas a operadores booleanos (or, and, and not, etc.) durante as buscas.
Preferencialmente, foram usados artigos publicados do ano de 2007 até a
atualidade. Contudo, exceções foram feitas dependendo do conteúdo e
impacto das publicações anteriores a este período, visto que existem diversas
publicações citam e referenciam artigos que datam do início dos anos 90.
Realizou-se a primeira seleção dos artigos e publicações através da
leitura do título e seu abstract, ou resumo, se aplicável. Em um segundo
momento, prosseguiu-se com uma leitura dinâmica, a fim de selecionar aqueles
materiais de interesse para o trabalho. Ao todo, foram selecionados 35 artigos,
publicações e websites, os quais estão aqui referenciados na bibliografia. Com
os artigos e publicações escolhidos, prosseguiu-se com a leitura aprofundada e
registro das informações extraídas. Por fim, as informações obtidas foram
analisadas, interpretadas e discutidas através de uma leitura analítica e
readequação do texto.
Na parte prática, fez-se o uso do software BeerSmith para o cálculo
das quantidades de insumos e de temperaturas utilizadas para a produção da
cerveja, as quais estão resumidamente retratadas na Tabela 1 a seguir. Trata-
se de um software americano muito popular entre os cervejeiros artesanais
devido à facilidade operacional, uma vez que lhe fornece detalhadamente como
proceder conforme o setup do equipamento disponível para fabricação e a
escolha do estilo de cerveja.
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Tabela 1. Resumo dos dados fornecidos pelo software BeerSmith.
Item Especificação Volume de Água Inicial 18 L
Fermento Mangroove Jack's M44 10 g Lúpulo Cáscade em t=100 min 15 g Lúpulo Cáscade em t=155 min 25 g
Malte Muntons Crystal 150 150 g Malte Muntons Pale Ale Propino 4200 g
Temperatura de Mosturação 72 ºC Tempo de Mosturação 60 min
Embora o processo produtivo das amostras como um todo não seja foco
principal deste trabalho, cabe descrever ser resumidamente para a melhor
compreensão os principais passos realizados através do fluxograma da Figura
2 a seguir:
Figura 2. Fluxograma de produção.
11
Iniciou-se a mosturação, com o malte moído, em água a 72ºC (t=0) para
a extração dos açúcares que proporcionaram a fermentação e produção de
álcool. Decorridos 60 minutos de mosturação com temperatura igual a 72ºC
(t=60 min), fez-se a recirculação em cama de malte durante 40 minutos,
seguido do descarte de cascas de malte. A recirculação em cama de malte
consiste em um método físico de clarificação, no qual o mosto é retirado por
um registro ao fundo da panela de mosturação e depositado encima do malte
com o uso de uma escumadeira para “quebrar” o fluxo e impedir a formação de
caminhos preferenciais. Ao fim da recirculação, foi iniciada a fervura (t=100min)
juntamente com a primeira adição de lúpulos segundo o estilo desejado. Em
t=145 min o mosto fervente foi fracionado em 3 volumes iguais de 5 litros cada
para que as diferentes concentrações de carragenas fossem adicionadas a
cada uma das partes. Seguiu-se então com uma segunda lupulagem em t=155
min, apenas 5 minutos antes do fim da fervura.
Em t=160 min foi feito o whirpool e dado início ao processo de
resfriamento, o qual levou 30 minutos até atingir a temperatura ideal para se
inocular a levedura (28ºC) e resultou no descarte do trub grosso, que decantou
ao fundo da panela, composto basicamente por proteínas coaguladas,
sobrenadantes insolúveis derivados do malte e restos de lúpulos.
Com a inoculação da levedura hidratada em t=190 min, foi iniciado o
processo de fermentação em temperatura ambiente (cerca de 26ºC) que,
depois de decorridos 7 dias, chegou ao fim. Fez-se então o descarte do trub
fino, composto em sua grande maioria por leveduras mortas e foi dado início da
maturação em geladeira (4ºC) por mais 7 dias. Após este período a cerveja foi
envasada em garrafas com primming de sacarose para que a segunda
fermentação ocorresse dentro da garrafa e o gás carbônico ficasse dissolvido
no líquido, necessitando pelo menos mais 10 dias, e finalizando o processo.
A eficiência da técnica de clarificação foi avaliada através do preparo de
12 experimentos com a adição de diferentes concentrações de carragenas,
variando também a concentração de sacarose utilizada no primming, conforme
Tabela 2 a seguir:
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Tabela 2. Experimentos realizados
Experimento Sacarose (g/L) Carragena (g/L)
1 0,007 0
2 0,007 0,125 3 0,007 0,25 4 0,007 0,5
5 0,01 0 6 0,01 0,125
7 0,01 0,25 8 0,01 0,5 9 0,015 0
10 0,015 0,125 11 0,015 0,25
12 0,015 0,5
A espuma foi avaliada construindo um simples aparato laboratorial
composto por suporte universal, garras e braçadeiras para o escoamento da
amostra (similar à Figura 3, a seguir), permitindo quantificar a formação de
espuma gerada pelo choque do líquido e uma proveta graduada, com o ângulo
de queda passível de reprodução com todas as amostras (CONSTANT, 1992).
Foram observados o volume de líquido e de espuma no momento seguinte ao
escoamento (inicial) e após decorridos 2 minutos, visando avaliar a estabilidade
da espuma formada.
Figura 3. Aparato para escoamento da amostra.
Também foi determinada a concentração de etanol produzido para se
verificar um possível impacto sobre sua produção quando carragenas são
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utilizadas. Essa determinação foi feita pela adaptação do método do
microdicromato (JOSLYN, 1970), onde uma amostra de 1 mL é destilada em
um microdestilador, recolhendo aproximadamente 30 mL em um erlenmeyer
contendo 10mL de solução de dicromato de potássio de concentração
rigorosamente conhecida e em excesso. A seguir, tampa-se o erlenmeyer, que
é colocado em banho maria a 70ºC por 20 minutos para que se tenha a
completa oxidação do etanol. Após esse período e depois de seu resfriamento,
seguiu-se com a titulação com sulfato ferroso amoniacal, utilizando
ortofenantrolina como indicador.
A concentração de etanol na amostra foi obtida a partir da expressão:
E(g/L) = 11,5 x Vd x Nd x (1-Va/Vb) ; onde:
• Vb = Volume da solução de sulfato ferroso amoniacal (mL) gasto para
titular o volume Vd de normalidade Nd (19,15 mL).
• Nd = Normalidade do dicromato de potássio (0,687mol/L).
• Va = Volume da solução de sulfato ferroso amoniacal gasto para titular o
dicromato de potássio que sobrou da reação com a amostra (mL).
• Vd = Volume de dicromato utilizado para recebimento do etanol
destilado (10 mL).
• 11,5 = Equivalente grama de etanol na reação com dicromato de
potássio.
A turbidez foi avaliada através do material orgânico particulado presente
nas cervejas obtidas. Para tal, fez-se o uso de um espectrofotômetro Femto,
modelo 700 Plus, realizando leituras em 254nm em cubetas de quartzo após a
centrifugação a 8.000 RPM por 20 minutos em uma centrífuga Sorvall, modelo
RC 5C Pluse, e ressuspensão do precipitado em água deionizada para o
mesmo volume inicial. A centrifugação e ressuspensão se fez necessária para
eliminar outros pigmentos que estariam presentes e poderiam interferir na
leitura das amostras. Dessa forma, é possível inferir que as absorbâncias
obtidas das amostras se devem exclusivamente ao material sobrenadante,
sendo que, quanto maior o valor de absorbância, maior é a quantidade de
material particulado, ou seja, mais turva é a amostra.
14
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As carragenas comerciais compreendem moléculas que podem variar
de 200 a 800 kDa, mas existem também fragmentos naturais de carragenas
que variam entre 20 e 50 kDa. Elas são produzidas no interior das células das
algas vermelhas a partir de enzimas e moléculas de galactose, contudo, ao se
realizar a extração, temos moléculas de diversos tamanhos. Sob condições
específicas, a maioria das moléculas é reduzida a fragmentos que possuem
massas molares abaixo de 20 kDa, denominados poligenanas, as quais podem
ser usadas para induzir inflamação em animais de experimentação. Elas são
produzidas laboratorialmente submetendo as carragenas à hidrólise ácida (pH
0,9 a 1,3) e altas temperaturas (480 ºC) por longos períodos de tempo
(PANARAS & MARTIN, 1985). Com base no pH do estômago, nas enzimas
intestinais, nas propriedades das carragenas e no veículo utilizado, seria
possível que uma pequena parte das carragenas sofresse hidrólise à
poligenanas no trato gastrointestinal. No entanto, não foi demonstrado em nível
do trato gastrointestinal a hidrólise das carragenas à poligenanas, seja por
hidrólise ácida ou por microflora, conforme será discutido adiante.
O reconhecimento de polissacarídeos por enzimas de digestão baseia-
se principalmente no tipo de ligação glicosídica. A carragena é considerada um
polissacarídeo estrutural, que consiste em ligações glicosídicas peculiares que
não são reconhecidas por amilases ou pelas enzimas da microflora intestinal.
Isso reduz a degradação enzimática da carragena no intestino de humanos e
roedores. Em ratos e camundongos, o pH das regiões do estômago varia de 3
a 5. Em contraste, o estômago humano possui um pH que é mais ácido,
variando de 1 a 2 em jejum e de 4 a 5 na presença de alimentos, sendo o
tempo para uma refeição passar pelo estômago de cerca de 3 a 4 horas, tanto
em ratos quanto em humanos (KARARLI, 1995). Assim, logo de início já deve
se levar em conta que os estudos usando ratos e camundongos podem
apresentar desfechos diferentes se realizados em humanos. Embora tenha
sido relatado em estudos animais com ratos que a carragena administrada via
água pode ser absorvida pelo trato gastrointestinal, a quantidade foi
considerada extremamente baixa e não há evidência de absorção em seres
humanos. Além disso, em pelo menos dois estudos de Nicklin & Miller (1984,
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1983) em que carragena foi fornecida em água, não foram observadas lesões
intestinais.
Em outro estudo, a k-carragenana foi adicionada à dieta e não houve
efeitos mensuráveis observados, incluindo nenhum achado histopatológico
(WEINER et al., 2007). Alguns estudos usando ratos em que carragena foi
fornecida em água resultaram em um aumento na atividade de um indicador de
proliferação celular no trato gastrointestinal, a timidina quinase (TK) (CALVERT
e REICKS, 1988; CALVERT & SATCHITHANANDAM, 1992; WILCOX et al.,
1992). Em um desses estudos, a carragena na dieta aumentou a proliferação
celular do cólon em cinco vezes, mas ainda assim não houve alterações
histológicas observadas (CALVERT & REICKS, 1988). Em um estudo posterior
de Calvert & Satchithanandam (1992), um aumento na proliferação celular só
foi observado na dosagem mais alta administrada, estimada em 100 vezes a
ingestão humana máxima e, ainda assim, não houve anormalidades
histológicas observadas em nenhuma das dosagens. Uma explicação plausível
para diferentes efeitos com formulações de carragena (água versus dieta com
alimentos) é que a carragena utilizada em alimento estaria menos disponível
para interação com os epitélios intestinais devido à estreita associação com
proteínas da matriz dos alimentos e a um menor tempo de trânsito no trato
gastrointestinal, ambos contribuindo para a redução à exposição às células
intestinais.
Geralmente, a comunidade científica reconhece que a carragena
intacta não é degradada à poligenanas porque as enzimas intestinais não
reconhecem as ligações glicosídicas α-(1-3) e β-(1-4) alternadas da carragena,
e carragenases não estão presentes no trato gastrointestinal humano ou
microflora. Nos seres humanos duas enzimas intestinais têm atividade em
dissacarídeos de glicose-galactose (lactose), sendo que esse dissacarídeo
possui uma ligação glicosídica β-(1-4). Embora esta enzima tenha uma
afinidade pela lactose, acredita-se também que seja capaz de reconhecer e
clivar outras moléculas com ligações β-(1-4), tal como a carragena, que possui
uma ligação α-(1-3) que se alterna com a ligação β-(1-4). Portanto, enquanto a
clivagem da carragena na ligação α-(1-3) não ocorreria, poderia ser possível na
ligação β(1-4), desde que a conformação espacial da carragena permita o
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reconhecimento pela enzima e que se tenha um ambiente reacional adequado.
Porém, isso só foi demonstrado em condições in vitro com enzimas purificadas.
Os produtos de degradação da incubação in vitro de carragena com
galactosidases de diferentes tipos tiveram efeitos na liberação de uma citocina
pró-inflamatória, a interleucina-8 (IL-8), no epitélio do cólon humano
(BHATTACHARYYA et al., 2010; MOYER et al., 1996). No entanto, cabe
destacar que se desconhecem estes produtos de degradação in vivo e muitas
das enzimas utilizadas neste estudo não estão presentes ou são encontradas
em pequenas quantidades no trato gastrointestinal humano. Neste estudo de
Calvert & Satchithanandam (1992), as enzimas utilizadas para experiências in
vitro incluíram várias α-galactosidases recombinantes preparadas a partir de
Escherichia coli. Estas enzimas reconhecem e clivam as porções de α-
galactosil de glicolipídeos e glicoproteínas. As α-galactosidases ajudam na
digestão de moléculas derivadas de plantas presentes na dieta humana. Os
seres humanos e os animais monogástricos não possuem a enzima α-
galactosidases. Sendo assim, a degradação de galactosidases requer
suplementação dietética. Por conseguinte, estas enzimas deverão ter pouca
relevância para a degradação intestinal da carragena porque estão ausentes
ou então em concentrações muito baixas.
É quimicamente improvável ter qualquer hidrólise ácida significativa
com base nos maiores valores de pH (3-5) estomacais, temperatura do corpo
(37 ºC) e o curto período de tempo de residência no estômago (3-4h). Contudo,
estudos in vitro (EKSTROM, 1985; EKSTROM et al., 1983) são frequentemente
citados como evidências para hidrólise ácida da carragenas em poligenanas.
Estes estudos relataram que a k-carragenana era mais suscetível à
degradação do que a i-carragenana no suco gástrico simulado de pH entre 1,2
e 1,9, com degradação considerável de k-carragenana após uma incubação de
apenas 4 horas. À primeira vista essas descobertas parecem contraditórias
com os demais estudos. No entanto, há quatro advertências importantes que
devemos considerar: (1) os experimentos in vitro foram realizados na ausência
de proteína ou matriz de alimentos. A ausência de proteína aumentaria a
porção de carragena livre disponível para hidrólise. Em comparação, na
presença de proteínas alimentares a carragena estaria passível de interação
com a matriz alimentar, tornando-se significativamente menos disponível para a
17
hidrólise e reduzindo a exposição celular. (2) LiCl foi adicionado à preparação
da carragena, o que desconformaria sua estrutura e aumentaria a eficiência da
hidrólise, condição não encontrada em animais ou seres humanos. (3) O pH do
estômago dos ratos é mantido na faixa entre 3 e 5 e o pH no estômago
humano após uma refeição está entre 4 e 5 e depois diminui à medida que o
alimento sai do estômago. E (4) os estudos in vivo em que carragenas ou
poligenanas foram administrados em água devem ser vistos de forma diferente,
uma vez que a carragena na água tem ligação limitada com proteína e,
portanto, estará mais disponível para a hidrólise, assim como ocorre nos
experimentos in vitro. Além disso, a maioria dos produtos comerciais contendo
carragena destinados à exposição humana são formulados em matrizes onde
há ligação com proteínas.
Há alguns estudos em que a carragena administrada em roedores
relataram respostas proliferativas no trato gastrointestinal, que incluíram
hiperplasia e hipertrofia do intestino delgado. Esses efeitos foram mais
pronunciados e duraram mais tempo após a cessação do tratamento quando
poligenanas foram administradas (CALVERT & REICKS, 1988; CALVERT &
SATCHITHANANDAM, 1992; WILCOX et al., 1992). Ikegami et al. (1990)
compararam os efeitos de vários polissacarídeos indigestíveis, que incluíram
pectinas, carragenas, goma alfarroba, goma xantana e goma guar na dieta de
ratos em altas doses. Os resultados mostraram um aumento na espessura do
intestino delgado, ceco e intestino grosso, sendo que esses efeitos foram vistos
pelos autores como mecanismos adaptativos em resposta a agentes viscosos
indigestíveis no trato gastrointestinal. Como a presença destes agentes reduziu
a absorção de alimentos, provocando um aumento na atividade da função biliar
e pancreática, o corpo tentou melhorar a eficiência da digestão levando à
hiperplasia e hipertrofia dos órgãos digestivos, com aumento da secreção de
sucos digestivos. Dessa forma, pode-se dizer que esses efeitos fisiológicos
indiretos foram tidos como de natureza compensatória.
Em dois estudos do FDA (CALVERT & REICKS, 1988; CALVERT &
SATCHITHANANDAM, 1992), constatou-se um aumento significativo na
atividade de TK após a administração de carragenas em altas dosagens. No
entanto, não houve alterações histológicas em nenhuma das dosagens do
estudo e também não foram relatadas alterações histoquímicas. No entanto,
18
após um período de recuperação, a atividade de TK dos animais tratados com
carragenas retornou aos níveis basais, mas os animais tratados com
poligenanas tiveram níveis de atividade que permaneceram elevados,
equivalente a duas vezes em relação ao grupo controle. Em conclusão, temos
que a carragena não resultou em alterações histopatológicas em qualquer
dosagem. Embora a atividade de TK possa ser um indicador de proliferação
celular relacionada com o câncer de cólon, ela não nos fornece uma medida
direta de uma proporção aumentada de células na fase S, que poderia
relacionar a um possível mecanismo neoplásico. (IKEGAMI et al., 1990;
POKSAY & SCHNEEMAN, 1983).
Bhattacharyya et al. (2012) relataram que os camundongos expostos à
mistura λ-k-carragenanas em água tiveram um menor metabolismo de glicose,
conforme determinado por um teste de tolerância à glicose. Como a resistência
à insulina pode causar intolerância à glicose, o estudo avaliou os efeitos da
carragena em vários componentes das vias de sinalização da insulina. Essas
experiências mostraram que no fígado de camundongos expostos a carragenas
em água houve uma redução na atividade de proteína quinase B fosforilada
(Akt), sem redução na quantidade absoluta de proteína Akt . Os autores
apresentaram um mecanismo proposto para explicar esses achados em que a
carragena administrada por via oral seria absorvida a partir do intestino, entra
no fígado, se liga especificamente e ativa uma cascata de sinalização que
culminaria na redução da absorção de glicose pelo fígado. Porém, embora os
camundongos expostos a carragenas tenham mostrado uma taxa reduzida de
absorção de glicose hepática, sob as mesmas condições, os níveis globais de
glicose parecem cair dentro dos intervalos normais quando relatados por outros
pesquisadores (ANDRIKOPOULOS et al., 2008).
Além disso, acredita-se que quando administrada oralmente, a
carragena permaneça intacta à medida que passa através do intestino, uma
vez que a molécula possui um alto peso molecular e pode ser recuperada
quantitativamente nas fezes (ARAKAWA et al., 1988; UNO et al., 2001).
Com relação aos resultados experimentais do presente trabalho, os
resultados obtidos nas análises de espuma foram apresentados na Tabela 3 a
19
seguir, sendo volumes iniciais quando a amostra foi escoada para a proveta
(t=0) e volumes finais após decorridos 2 minutos do escoamento.
Tabela 3. Volumes obtidos nas análises de espuma das cervejas obtidas sob
diferentes concentrações de sacarose no primming e concentrações de carragena.
Experimento Sacarose
(g/L) Carragena
(g/L)
Volume Inicial da Fase Líquida
(mL)
Volume Final da Fase Líquida
(mL)
Volume Total Inicial (mL)
Volume Total Final (mL)
1 0,007 0 140 210 520 490 2 0,007 0,125 130 230 520 480 3 0,007 0,25 150 250 540 480
4 0,007 0,5 140 260 540 460 5 0,01 0 110 195 560 490
6 0,01 0,125 110 205 560 480 7 0,01 0,25 110 205 560 470 8 0,01 0,5 105 220 575 465
9 0,015 0 110 130 620 540 10 0,015 0,125 100 150 620 530
11 0,015 0,25 110 160 630 530 12 0,015 0,5 100 180 620 500
Visando o melhor entendimento e interpretação dos dados, calculou-se
as porcentagens de cada fração (líquido/espuma) em relação nos momentos
t=0 e t=2 min (Tabela 4), seguido da construção de gráficos comparativos
(Gráficos 1 a 6):
Tabela 4. Porcentagens correspondentes às fases nos experimentos realizados.
Experimento Sacarose
(g/L) Carragena
(g/L)
% Fase Líquida Inicial
% Espuma Inicial
% Fase Líquida Final
% Espuma Final
1 0,007 0 26,92% 73,08% 42,86% 57,14% 2 0,007 0,125 25,00% 75,00% 47,92% 52,08%
3 0,007 0,25 27,78% 72,22% 52,08% 47,92% 4 0,007 0,5 25,93% 74,07% 56,52% 43,48%
5 0,01 0 19,64% 80,36% 39,80% 60,20% 6 0,01 0,125 19,64% 80,36% 42,71% 57,29% 7 0,01 0,25 19,64% 80,36% 43,62% 56,38%
8 0,01 0,5 18,26% 81,74% 47,31% 52,69% 9 0,015 0 17,74% 82,26% 24,07% 75,93%
10 0,015 0,125 16,13% 83,87% 28,30% 71,70% 11 0,015 0,25 17,46% 82,54% 30,19% 69,81%
12 0,015 0,5 16,13% 83,87% 36,00% 64,00%
20
Gráfico 1 (esq.): Fases líquida e de espuma dos experimentos em t=0 com primming
de 0,007g/L sacarose.
Gráfico 2 (dir.): Fases líquida e de espuma dos experimentos em t=2 min com
primming de 0,007g/L sacarose.
Gráfico 3 (esq.): Fases líquida e de espuma dos experimentos em t=0 com primming
de 0,01 g/L sacarose.
Gráfico 4 (dir.): Fases líquida e de espuma dos experimentos em t=2 min com
primming de 0,01 g/L sacarose.
21
Gráfico 5 (esq.): Fases líquida e de espuma dos experimentos em t=0 com primming
de 0,015 g/L sacarose.
Gráfico 6 (dir.): Fases líquida e de espuma dos experimentos em t=2 min com
primming de 0,015 g/L sacarose.
Analisando os gráficos, temos uma melhor visualização dos dados
apresentados na Tabela 4 com o claro reconhecimento de um padrão
associado com o aumento da fase líquida em t=2 min à medida em que temos
maiores concentrações de carragena. Tal fato pode ser explicado devido à
menor estabilidade da espuma quando em maiores concentrações de
carragena, uma vez que a mesma teria proporcionado uma maior precipitação
de proteínas de alto peso molecular no processo produtivo. Além disso,
analisando as amostras em t=0 sob a mesma concentração de sacarose
(gráficos 1, 3 e 5), pode-se fazer a restrição de que a carragena impacta
apenas na estabilidade da espuma, visto que praticamente não houve variação
no valor percentual de formação de espuma, apenas uma oscilação que pode
ser decorrente da aferição operacional.
Além disso, como já era esperado, pode-se notar que houve maior
percentual de formação de espuma nos experimentos de acordo com o
aumento da concentração de sacarose adicionada como primming, resultando
em uma maior produção de gás carbônico. Assim, pode-se mais uma vez dizer
22
que a carragena não teve impactos sob a formação de espuma em si, apenas
de sua estabilidade, uma vez que maiores concentrações de sacarose
resultaram em uma maior espuma formada.
Com relação à quantificação de etanol nas cervejas obtidas sob as
diferentes condições experimentais, foram necessários volumes Va (mL) de
solução de sulfato ferroso amoniacal gastos para titular o dicromato que restou
da reação com a amostra.
Assim, aplicando a equação E(g/L) = 11,5 x Vd x Nd x (1-Va/Vb), temos
conforme a Tabela 5 a seguir:
Tabela 5. Concentrações de etanol nas cervejas obtidas sob diferentes condições
experimentais.
Experimento Sacarose (g/L) Carragena (g/L) Va (mL) Etanol (g/L) 1 0,007 0 7,40 48,48
2 0,007 0,125 7,45 48,27 3 0,007 0,25 7,30 48,89
4 0,007 0,5 7,40 48,48 5 0,01 0 7,15 49,51 6 0,01 0,125 7,20 49,30
7 0,01 0,25 7,25 49,09 8 0,01 0,5 7,20 49,30
9 0,015 0 6,80 50,95 10 0,015 0,125 6,80 50,95 11 0,015 0,25 6,90 50,54
12 0,015 0,5 6,70 51,36
Para melhor visualização dos dados, optou-se por construir o Gráfico 7 a
seguir, de concentração de primming utilizado versus a concentração de etanol.
Essa escolha foi feita uma vez que, sabidamente, os experimentos com
maiores concentrações de sacarose utilizadas como primming estariam
condicionados a uma maior formação de etanol.
Assim, para efeito de vislumbrar um possível impacto na formação de
etanol por conta da carragena, levou-se em conta a comparação de grupos
com a mesma concentração de sacarose (amostras 1-4, 5-8 e 9-12).
23
Gráfico 7. Concentração de Etanol x Primming de Sacarose.
Do gráfico 7, temos que a variação de concentração de etanol nas
cervejas entre os 3 grupos de experimentos (1-4, 5-8 e 9-12) pouco variaram,
sendo que dentro de cada grupo as concentrações possuem valores próximos,
embora a real expectativa seria de valores iguais. Assim, pode-se dizer que
essas pequenas variações possam decorrer da variabilidade experimental do
método analítico, uma vez que se acredita não ter ocorrido falha na adição de
primming de sacarose por conta das concentrações de etanol do grupo 1-4
estarem mais próximas do grupo 5-8, em comparação do grupo 5-8 com o
grupo 10-12.
Visando avaliar a turbidez das cervejas, foram obtidas absorbâncias a
254nm em duplicata para a avaliação da turbidez, seguido do cálculo das
médias, conforme disposto na Tabela 6 e Gráfico 8, apresentados a seguir.
24
Tabela 6. Absorbâncias a 254nm.
Amostra Sacarose (g/L) Carragena (g/L) Abs. 1 Abs. 2 Média Abs.
1 0,007 0 0,867 0,858 0,863
2 0,007 0,125 0,842 0,855 0,849
3 0,007 0,25 0,810 0,798 0,804
4 0,007 0,5 0,886 0,889 0,888
5 0,01 0 0,726 0,741 0,734
6 0,01 0,125 0,781 0,716 0,749
7 0,01 0,25 0,599 0,719 0,659
8 0,01 0,5 0,623 0,611 0,618
9 0,015 0 0,699 0,690 0,695
10 0,015 0,125 0,710 0,710 0,710
11 0,015 0,25 0,590 0,588 0,589
12 0,015 0,5 0,656 0,654 0,655
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
Ab
sorb
ânci
a
Concentração de carragena (g/L)
0,007 g/L Sacarose
0,01 g/L Sacarose
0,015 g/L Sacarose
Gráfico 8. Absorbâncias a 254 nm correspondentes ao material suspenso nas cervejas
obtidas com uso de diferentes concentrações de carragena, sob diferentes
concentrações de sacarose no primming.
Esperava-se obter um padrão de absorbância no sentido de que, quanto
maior a concentração de carragena em amostras de mesma concentração de
25
sacarose, menor seria a absorbância, uma vez que teria ocorrido uma maior
precipitação de proteínas e material sobrenadante.
Observando-se o Gráfico 8, nota-se, que houve uma redução da
absorbância na passagem de concentração de carragena de 0,125 g/L a 0,25
g/L, independentemente da concentração de sacarose utilizada no primming.
Isso indica que a concentração de carragena de 0,125 g/L não foi suficiente
para a remoção de material particulado insolúvel da cerveja. Por outro lado, o
aumento da concentração de carragena para 0,5 g/L levou a um aumento da
absorbância, com exceção do emprego de concentração de 0,01 g/L de
sacarose no primming, o que pode ter ocorrido devido à variabilidade da
metodologia utilizada para a medida de material suspenso nas cervejas. O
aumento de absorbância decorrente do aumento de carragena no processo de
produção da cerveja se deve ao fato de que em altas concentrações de
carragena, ocorreria uma interferência na leitura da absorbância por conta da
detecção da própria carragena insolúvel, que ficaria como material residual na
cerveja.
Cabe destacar que o método clássico para quantificação de turbidez
seria com uso de um turbidímero, juntamente com a construção de uma curva
padrão de acordo com a Nota Técnica Interna NTS 008 da Companhia de
Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP). Essa técnica vem
sendo a escolhida, pois mede a luz dispersa pela partícula, uma vez que o
detector de luz fica a 90º em relação à emissão de luz. Porém, com uso de
espectrofotômetro, cujo detector de luz está situado a 180º em relação o ponto
de emissão de luz, a técnica proposta no presente trabalho mostra-se como
uma alternativa para detecção de material insolúvel em líquidos, os quais
provocam turbidez, pois permite retirar os pigmentos e outros materiais
solúveis que interferem na medida direta de absorbância nestes aparelhos. No
entanto, estudo mais aprofundados com padrões devem ser realizados para a
comprovação desta hipótese.
26
5. CONCLUSÃO
Considerando os artigos utilizados na revisão bibliográfica acerca da
segurança do uso de carragenas como aditivos alimentares, pode-se dizer que
muito do que se afirma ser potencialmente prejudicial à saúde é decorrente de
não se fazer uma distinção entre carragena e poligenanas, sendo que a
conversão da primeira à segunda em nosso organismo não ocorre ou ocorreria
em uma extensão tão baixa que não seria nociva. Além disso, cabe destacar
que em muitos testes laboratoriais in vitro ou in vivo a matriz alimentar é
negligenciada, resultando em dados que não correspondem ao que ocorre
normalmente no processo digestivo de produtos alimentícios.
Com relação à parte prática, é possível assegurar que o uso de
carragena tem impacto direto na estabilidade da espuma no sentido de
desestabilizá-la, possibilitando verificar um claro padrão associado com a
concentração de carragena utilizada. Contudo, pode-se restringir o impacto à
manutenção da espuma formada, pois a formação inicial não foi
significativamente afetada. Outro parâmetro que não se verificou alteração
notável pelo uso de diferentes concentrações de carragena foi a produção de
etanol, variando muito pouco de acordo com a concentração de sacarose
usada como primming, fato esperado devido aos diferentes aportes de fonte de
carbono disponíveis para a conversão do açúcar em álcool.
Recomenda-se então o uso de 0,25 g/L de carragena na produção de
cervejas artesanais, metade do indicado em kits de produção comercializados
no mercado, uma vez que nesta concentração temos uma maior precipitação
de materiais insolúveis e uma estabilidade de espuma intermediária, conferindo
aspectos sensoriais desejáveis à degustação.
27
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