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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE CORTES CÁRNEOS BOVINOS DESOSSADOS SOB DIFERENTES TEMPERATURAS Autora: Melissa Cássia Favaro Boldrin Freire Orientador: Prof. Dr. Albenones José de Mesquita GOIÂNIA 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE CORTES

CÁRNEOS BOVINOS DESOSSADOS SOB DIFERENTES

TEMPERATURAS

Autora: Melissa Cássia Favaro Boldrin Freire Orientador: Prof. Dr. Albenones José de Mesquita

GOIÂNIA

2014

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MELISSA CÁSSIA FAVARO BOLDRIN FREIRE

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE CORTES

CÁRNEOS BOVINOS DESOSSADOS SOB DIFERENTES

TEMPERATURAS

Tese apresentada para a obtenção do grau de Doutor em Ciência Animal junto à Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás

Área de concentração: Sanidade Animal, Higiene e Tecnologia de Alimentos

Orientador:

Prof. Dr. Albenones José de Mesquita - UFG Comitê de Orientação:

Prof . Dr. Cristiano Sales Prado - UFG Prof. Dr. Marco Antônio Pereira da Silva – IFGOIANO

– Câmpus Rio Verde/GO

GOIÂNIA 2014

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Ao meu filho, amor maior do mundo, meu

Anjo Rafael. Com amor,

Dedico e ofereço

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“Se Deus é por nós, quem será contra nós?”

Romanos, 8: 31

"Ninguém é tão pequeno que não tenha algo a ensinar, e nem tão grande que não tenha algo a aprender"

Blaise Pascal

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Ademir e Leila, pela minha educação, pela oportunidade de

ser sua filha e pelo amor infinito.

As minhas irmãs, pedaços de mim, pedaços de verdadeiro amor, carinho,

amizade. Pra sempre minhas companheiras!

Ao meu marido Thiago, pelo amor, amizade e companheirismo, por colocar

aos meus cuidados nosso filho amado Rafael, que me faz lembrar todos os dias

que os anjos existem.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Albenones José de Mesquita, que com apenas

uma palavra, conseguia me deixar mais calma.

Ao Dr. Rolando Alfredo Mazzoni Romero, que foi um amigo querido, que

me incentivou e me apoiou para que fosse possível escrever esta tese.

Ao Prof. Dr. Cristiano Sales Prado, pela co-orientação, pelas palavras de

amizade, e pela tranqüilidade que sempre demonstrou.

Ao Prof. Dr. Marco Antônio Pereira da Silva, pelas correções, e pela

dedicação que sempre teve como professor.

A CAPES por financiar o programa DINTER UFG/IFGoiano e acreditar na

capacitação dos docentes.

A diretoria do IFGoiano - Campus Rio Verde pelo apoio aos docentes.

A todos os professores da Universidade Federal de Goiás (UFG) pela

contribuição na minha formação.

Expresso meus agradecimentos, a todos que me auxiliaram, de alguma

forma, à realização e conclusão deste trabalho.

E, a Deus que nunca me deixou desistir e jamais me abandona. Não

importa o tamanho de nosso problema e sim o tamanho que é nosso Deus!!!

“... não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-me de vós nas minhas

orações.” Efésios, 1:16.

Muito obrigada!!!

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS .......................................................... 1

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1

2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 2

2.1 Qualidade da carne ........................................................................................... 2

2.2 Contaminação dos animais ............................................................................... 3

2.2.1 Contaminação das carcaças durante a matança ........................................... 4

2.3 Normatizações relativas à temperatura ambiente.............................................. 6

2.4 Microbiologia de alimentos ................................................................................ 9

2.4.1 Indicadores microbiológicos de qualidade e segurança de alimentos .......... 10

2.4.2 Microbiologia preditiva .................................................................................. 12

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 15

CAPÍTULO 2 - AVALIAÇÃO DA ELEVAÇÃO TÉRMICA DE CORTES CÁRNEOS

BOVINOS DESOSSADOS SOB DIFERENTES TEMPERATURAS...................... 21

RESUMO ............................................................................................................... 23

ABSTRACT ........................................................................................................... 23

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 23

2 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 24

2.1 Avaliação da temperatura ambiente da sala de desossa ................................ 24

2.2 Avaliação da temperatura dos cortes cárneos ................................................. 25

2.3 Curvas de elevação de temperatura profunda e tempo de permanência dos

cortes..................................................................................................................... 26

2.4 Análise estatística ............................................................................................ 27

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 27

4 CONCLUSÕES .................................................................................................. 39

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 40

CAPÍTULO 3 - AVALIAÇÃO DA QUALIDADE BACTERIOLÓGICA E PREDITIVA

DE CORTES CÁRNEOS BOVINOS DESOSSADOS SOB DIFERENTES

TEMPERATURAS ................................................................................................. 42

RESUMO ............................................................................................................... 42

ABSTRACT ........................................................................................................... 43

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 44

2 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 45

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2.1 Controle da temperatura ambiente da sala de desossa .................................. 46

2.2 Avaliação bacteriológica .................................................................................. 46

2.2.1 Análise dos resultados pela microbiologia preditiva ..................................... 48

2.3 Análise estatística ........................................................................................... 48

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 48

4 CONCLUSÕES .................................................................................................. 55

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 56

CAPÍTULO 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................... 58

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Curva da elevação de temperatura profunda da picanha para as

temperaturas ambiente 10 °C, 12 °C e 14°C. ........................................................ 36

FIGURA 2 - Curvas de regressão apresentando a temperatura profunda da

picanha na entrada da sala de desossa, com o tempo máximo de permanência e

saída da picanha com temperatura máxima de 7 °C. ............................................ 38

FIGURA 3 - Crescimento dos patógenos Escherichia coli O157, Salmonella spp. e

Staphylococcus aureus em carne bovina, no tempo de permanência na sala de

desossa de 30 minutos, segundo a microbiologia preditiva, nas temperaturas

ambiente de 10 °C, 12 °C e 14 °C. ........................................................................ 53

FIGURA 4 - Crescimento dos patógenos Escherichia coli O157, Salmonella spp. e

Staphylococcus aureus em carne bovina, no tempo de permanência na sala de

desossa de 4 horas, segundo a microbiologia preditiva, nas temperaturas

ambiente de 10 °C, 12 °C e 14 °C. ........................................................................ 54

FIGURA 5 - Crescimento dos patógenos Escherichia coli O157, Salmonella spp. e

Staphylococcus aureus em carne bovina, no tempo de permanência na sala de

desossa de 9 horas, segundo a microbiologia preditiva, nas temperaturas

ambiente de 10 °C, 12 °C e 14 °C. ........................................................................ 54

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Valores médios e desvio-padrão das temperaturas superficiais e

profundas de entrada e saída dos cortes cárneos bovinos (coxão mole e picanha)

da sala de desossa no matadouro-frigorífico 1. ..................................................... 28

TABELA 2 - Valores médios e desvio-padrão das temperaturas profundas de

entrada e saída dos cortes cárneos bovinos (picanha e filé mignon) da sala de

desossa no matadouro-frigorífico 2. ...................................................................... 35

TABELA 3 - Tempo de permanência da picanha na sala de desossa, para cada

temperatura ambiente relacionada à temperatura profunda. ................................. 37

TABELA 4 - Valores médios e desvio-padrão de contaminação superficial da

picanha por mesófilos, à entrada e à saída da sala de desossa, para as três

temperaturas ambiente (10 °C, 12 °C e 14 °C), expressos como log10 UFC/cm2.. 50

TABELA 5 - Valores médios e desvio-padrão de contaminação superficial por

mesófilos em filé, à entrada e à saída da sala de desossa, para as três

temperaturas ambiente (10ºC, 12ºC e 14ºC), expressos como log10 UFC/cm2. .... 52

TABELA 6 - Valores médios e desvio-padrão de contaminação superficial por

mesófilos em picanha, à entrada e à saída da sala de desossa, para as três

temperaturas ambiente (10 °C, 12 °C e 14 °C), expressos como log10 UFC/cm2.. 52

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RESUMO

Foram realizados dois experimentos para avaliar as características físico-químicas e microbiológicas da carne bovina, que foi submetida ao processo de desossa em diferentes temperaturas ambiente. Foram comparadas a temperatura de entrada dos cortes cárneos (picanha e coxão mole no matadouro-frigorífico 1; picanha e filé mignon no matadouro-frigorífico 2), e temperaturas dos mesmos na saída da sala de desossa, para elaborar planilhas e calcular a diferença entre as temperaturas de entrada e saída, além da elevação de temperatura durante o tempo de desossa, em relação à três diferentes temperaturas ambiente, de 10 °C, 12 °C e 14 °C. Os dados foram submetidos à análise de variância e teste de Tukey para comparar o efeito das três temperaturas da sala de desossa nas variáveis temperatura, pH e análise bacteriológica. Também utilizou-se Teste “t” para dados pareados para comparar as variáveis temperaturas e pH para cada tratamento na entrada e na saída da sala de desossa. Após análise dos resultados, observou-se que no matadouro-frigorífico 1 as temperaturas de entrada e saída dos cortes apresentaram-se diferentes, menos 10 °C, na temperatura profunda do coxão mole. No matadouro-frigorífico 2, todas as temperaturas de entrada e saída, entre os tratamentos estudados foram estatisticamente diferentes. Foi observado que mesmo havendo diferenças entre as temperaturas de entrada e saída, e entre as temperaturas dos cortes, foi possível verificar que apenas um tratamento (12 °C, picanha, matadouro-frigorífico), a temperatura superficial de saída foi maior que 7 °C. É possível, a partir de redução no tempo de permanência desse corte na sala de desossa, fazer com que a temperatura dos cortes não ultrapasse o limite exigido pela legislação brasileira ou internacional. As diferenças de temperaturas não fizeram com que o pH da picanha variasse, permanecendo em torno de 5,7-5,9. Quanto às contagens de psicrotróficos, não apresentou diferença significativa, em relação às temperaturas avaliadas. Houve aumento na contagem de mésofilos, na temperatura de 10 °C, mas não nas temperaturas 12 °C e 14 °C. A partir dos resultados deste estudo, pode-se concluir que é possível aumentar para 12 °C ou ainda para 14 °C a temperatura, sem que haja extrapolação da temperatura dos cortes acima de 7 °C, nem modificações de importância no crescimento bacteriano.

Palavras chave: Carne bovina, temperatura ambiente, sala de desossa,

microbiologia de carnes, microbiologia preditiva

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CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS

1 INTRODUÇÃO

O agronegócio apresenta relevância sócio-econômica para o Brasil, que se

destaca como grande produtor de alimentos, com evidência para o setor de carnes e

derivados. O uso e o desenvolvimento de tecnologias avançadas aliadas às

pesquisas nesta área, e a busca constante pela qualidade, impulsionam o progresso

das diferentes atividades deste setor.

Este progresso pode ser observado pelos dados do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística – IBGE, mostrando que o abate de bovinos no Brasil atingiu

recorde histórico no segundo semestre de 2013, com 8,5 milhões de bovinos

abatidos. A produção de carcaças bovinas também alcançou marca recorde (2,0

milhões de toneladas), com aumento de 6,1% em relação ao trimestre anterior

(IBGE, 2014).

Além disso, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, à

partir de dados quantitativos de abate sob a responsabilidade do Serviço de

Inspeção de Produtos de Origem Animal – SIPOA mostrou que no mês de Fevereiro

de 2014, foram abatidos 247.635 somente no Estado de Goiás (MAPA, 2014).

Devido a esta extensa produção, houve uma intensificação dos programas de

qualidade higiênico-sanitária no Brasil e no mundo, como melhorias no trato com os

animais para redução da contaminação no campo, implantação de Boas Práticas de

Fabricação – BPF, Procedimentos Padronizados de Higiene Operacional – PPHO e

sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle – APPCC, as carcaças

bovinas ainda podem apresentar contaminações por microrganismos deteriorantes e

patogênicos, originários de diversas fontes.

As contaminações podem ocorrer pelo contato entre os animais, conteúdo

gastrintestinal e ambiente, em diferentes etapas da produção, e posteriormente

podem causar contaminação microbiológica das carcaças, principalmente durante a

esfola (NØRRUNG & BUNCIC, 2008).

Mesmo havendo controle para evitar a perda de qualidade da carne em todas

as etapas do processo, segundo a legislação brasileira, é preciso atentar-se para a

temperatura da sala de desossa, e ainda a temperatura das carcaças e da carne.

Assim, a temperatura máxima na sala de desossa deve ser de 10 °C, a fim de que

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as carcaças e as carnes sejam mantidas em temperatura ≤ 7 °C (BRASIL, 1996;

BRASIL, 2004).

No Brasil, podem ser aplicadas medidas corretivas caso a temperatura

ambiente atinja 12 C durante 1 hora e se a temperatura da carne não ultrapassar os

7 C. Consiste apenas na redução da temperatura da sala, desde que, a partir de

análise microbiológica seja observada que os microrganismos eventualmente

presentes permaneceram na fase lag (BRASIL, 2004). Diferentemente da

normatização brasileira, de acordo com a União Européia, a temperatura ambiente

máxima permitida da sala de desossa é de 12 °C (UE, 2004).

Considerando o exposto e a relevância do tema, propôs-se com o estudo,

avaliar a elevação de temperatura e a qualidade microbiológica de cortes cárneos

bovinos desossados em diferentes temperaturas.

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Qualidade da carne

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação,

a qualidade da carne é normalmente definida pela qualidade composicional

(dependente da proporção de gordura) e pelos fatores de palatabilidade, como a

aparência visual, odor, consistência, suculência, maciez e sabor (Food and

Agriculture Organization – FAO, 2014).

THU (2006) afirmou que a venda de carnes é influenciada pela atratividade da

carne para o consumidor, e esta pode ser descrita como qualidade. BECKER (2002)

revelou que muitos fatores determinam a qualidade, incluindo os requisitos de bem

estar animal e da segurança alimentar. Também pode ser incluída nesta definição a

forma que o produto foi elaborado, além do impacto ao meio ambiente, composição

e os ingredientes utilizados. Dessa maneira, a qualidade é definida pela preferência

própria de cada consumidor.

As características intrínsecas das carnes, particularmente a composição

química, elevada disponibilidade de água e pH próximo à neutralidade, são fatores

que favorecem o desenvolvimento de uma microbiota extremamente variada. Além

disso, ao longo do processamento industrial, inúmeros fatores contribuem para o

aumento e diversificação da microbiota contaminante. É evidente que, devido ao

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3

número elevado de operações inerentes ao processamento, e a intensidade de

manuseio ao longo do processo, normalmente as carnes apresentam elevados

números de contaminantes microbianos, potencialmente patogênicos ou não

(LEITÃO, 2003).

Há várias medidas que podem ser utilizadas quando lida-se com questões de

qualidade e segurança de carnes e produtos cárneos, que devem ser aplicadas ao

longo de toda a cadeia de produção, desde a transformação do alimento, até o

consumidor, devendo ser aplicadas o quanto antes na cadeia de produção (BORCH

& ARINDER, 2002).

Em relação à segurança alimentar, a temperatura é provavelmente o fator

ambiental mais importante que influencia o crescimento bacteriano em carnes,

consequentemente, a qualidade (LAMBERT et al., 1991).

2.2 Contaminação dos animais

Segundo BRASIL (1997), contaminação é a presença de substâncias ou

agentes estranhos, de origem biológica, química ou física que sejam considerados

nocivos ou não para saúde humana.

Antes do abate e no momento do abate as superfícies externas dos animais

estão contaminadas com pó, sujeira e matéria fecal. Embora, a maioria não

apresente nenhum risco, alguns podem ser patogênicos (GUN et al., 2003; JAY,

2005). Assim, é inevitável que alguns microrganismos estejam presentes nas

carcaças dos animais abatidos (RAFTARI et al., 2009 ).

A produção primária é uma excelente fonte de perigos relacionados com a

carne dos animas de matança, por exemplo, Escherichia coli O157:H7, Salmonella

sp., Campylobacter spp., Listeria monocytogenes e diversos perigos químicos e

físicos, e controlá-los é muito difícil (CODEX ALIMENTARIUS COMISSION , 2005).

As fontes de contaminação da pele dos animais podem ser o solo, a água, os

alimentos para os animais, e também as fezes, que podem, mais tarde, inserir

enteropatógenos aos seres humanos que consumirem carnes desses animais

(BEACH et al., 2002). Dependendo do local da amostragem, a taxa de contaminação

microbiana da pele pode variar de 104 a 109 UFC/cm2 (SERRAINO et al., 2012).

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O manejo dos animais e o subsequente processamento de derivados

produzirão alimentos seguros para o consumidor, desde que a carne seja

manuseada com segurança e receba tratamento térmico adequado antes do

consumo. No entanto, a história mostra que bactérias patogênicas podem proliferar,

mesmo com os melhores esforços para eliminá-las, sendo um perigo potencial para

a saúde dos consumidores (HUFFMAN, 2002).

Estratégias que visam eliminar especificamente as bactérias patogênicas

veiculadas pelos alimentos, animais, fazendas ou confinamentos devem ser

utilizadas e possuem grande potencial para eliminar os perigos referentes a estes

microrganimos. Em geral, o uso concomitante de procedimentos de intervenção pré-

abate poderia diminuir excessivamente o risco de doenças através do

estabelecimento de barreiras adicionais, constituindo múltiplos obstáculos, o que

melhoraria a segurança alimentar. Além disso, deve-se incluir nessas estratégias

outros procedimentos que visam a higiene, como as Boas Práticas de Fabricação

(CAC, 2005), e o Sistema APPCC (CALLAWAY et al., 2004).

Atualmente, a teoria dos obstáculos é utilizada na indústria para a

conservação efetiva dos alimentos. Antigamente, esta teoria já era utilizada de forma

empírica, mas com o uso de uma combinação de métodos de preservação. Há mais

de 20 anos da aplicação desta teoria, os princípios para a preservação, como

temperatura, pH, microbiota competitiva, potencial de óxido-redução e suas

interações tem sido efetivamente utilizados (LEISTNER, 2000).

2.2.1 Contaminação das carcaças durante a matança

A carne é rica em nutrientes, e fornece ambiente adequado para a

proliferação de microrganismos deteriorantes e patógenos comuns que veiculam

doenças, portanto, tecnologias de preservação devem ser aplicadas de forma que

preserve a segurança e a qualidade (AYMERICH et al., 2008).

O músculo de animais sadios é considerado isento de contaminantes, isto

significa que toda a contaminação biológica, tanto por bactérias patogênicas quanto

a microbiota deteriorante acontece pela tecnologia de abate envolvida e também por

falhas de procedimentos operacionais (SCHWACH, 2007).

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As fontes primárias de contaminação microbiana de ambos, ambiente do

abate e processamento da carne são pêlo/pele/penas de animais, trato gastro-

intestinal (ou seja, o conteúdo intestinal; fezes), as cavidades nasofaríngeas e da

porção externa do trato urogenital (NØRRUNG & BUNCIC, 2008).

Dessa maneira, os microrganismos podem contaminar a carne durante a

remoção da pele do animal (BAIRD et al., 2006), no contato entre a pele e a

carcaça, através dos operadores/equipamentos contaminados a partir de peles e

posterior manuseio da carne, além da possível contaminação pelo ar (BELL, 1997).

Alguns dos surtos que ocorreram nos Estados Unidos pelo consumo de

alimentos contaminados com bactérias patogênicas, estão relacionados com o

contato com o animal e/ou resíduos, ou pelo consumo de produtos cárneos

contaminados (CALLAWAY et al., 2004). Essas bactérias representam causa

potencial para a resistência às drogas de agentes patogênicos para o homem

(SCHLEGELOVA et al., 2004), e são causadas por bactérias como Escherichia coli

O157: H7 e Listeria monocytogenes (SOFOS, 2008).

A contaminação da carcaça por E. coli O157 pode ocorrer durante as

primeiras etapas do processo de abate, principalmente durante a esfola, mas

também durante a fase de evisceração (NASTASIJEVIC et al., 2009). Isto pode

ocorrer, pois a pele dos animais pode ser fonte de Escherichia coli O157: H7

(BOSILEVAC et al., 2005).

Escherichia coli O157: H7 produz toxina Shiga o que pode resultar em colite

hemorrágica e síndrome urêmica hemolítica nos seres humanos. Estas infecções

são frequentemente veiculadas por alimentos, e animais saudáveis portadores são

importantes reservatórios de E. coli O157: H7 (PRUIMBOOM-BREES et al., 2000).

Entretanto, RIGOBELO et al. (2006) avaliaram carcaças bovinas no período de 2003

a 2005 e verificaram que dentre as 80 carcaças testadas, apenas uma carcaça

apresentou a toxina.

Uma vez que o ambiente de abate torna-se contaminado, outras fontes

secundárias, além das carcaças, podem se contaminar como as superfícies de

equipamentos/utensílios, câmaras de pré-resfriamento e a área de desossa,

comprometendo a qualidade microbiológica de todo o processo. Além disso, os

manipuladores podem servir como fonte de contaminação (NØRRUNG & BUNCIC,

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2008), como exemplo veiculando Staphylococcus aureus e o vírus da hepatite (CAC,

2005).

O diagnóstico da infecção dos bovinos na fazenda ou no confinamento por

bactérias patogênicas não é fácil, pois esses patógenos frequentemente têm pouco

ou nenhum efeito sobre a saúde dos animais. No caso de E. coli O157: H7, verificou-

se que o gado é insensível aos efeitos deletérios das toxinas produzidas por E. coli

O157: H7 e outras serovares enterohemorrágicas (PRUIMBOOM-BREES et al.,

2000).

O layout dos abatedouros pode afetar a distribuição da contaminação

causada pelo ar. Mais especificamente, a separação da área “suja” e “limpa” na linha

de abate é importante nos termos de redução na contaminação causada pelo ar e

consequentemente reduzindo a contaminação de patógenos das carcaças

(PRENDERGAST et al., 2004).

Assim, intervenções efetivas que reduzam a contaminação da pele, devem

reduzir a contaminação posterior da carcaça. Porém, falhas ocasionais no processo

devem resultar em níveis mais elevados de contaminação que não podem ser

eficazmente removidos com atuais métodos de intervenção na carcaça

(BOSILEVAC et al., 2005).

Para reduzir a contaminação na linha de abate é importante que os animais

sejam transportados livres de patógenos, antes de chegarem ao abatedouro

(SWANENBURG et al., 2001). Dessa forma, um método eficaz de eliminar a

contaminação das carcaças bovinas seria impedir que esses animais sejam abatidos

sem que haja uma limpeza correta da pele dos animais (BAIRD et al., 2006). ELDER

et al. (2000) corroboram dizendo que tratamentos antimicrobianos pós-abate, e as

políticas do sistema APPCC em plantas de abate têm reduzido significativamente as

contaminações das carcaças. Entretanto, estes planos requerem dados

microbiológicos adequados para permitir tirar conclusões confiáveis sobre a eficácia

de programas de controle de patógenos causadores de doenças.

2.3 Normatizações relativas à temperatura ambiente

Tratando-se de temperatura de carnes, a Portaria n° 304, de 22 de abril de

1996, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, instituiu que

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os estabelecimentos de abate de bovinos, bubalinos e suínos, somente poderão

entregar carnes e miúdos, para comercialização com temperatura de até 7 °C e

ainda a estocagem e a entrega nos entrepostos e nos estabelecimentos varejistas

devem observar condições tais que garantam a manutenção em temperatura não

superior a 7 °C, no centro da musculatura da peça (BRASIL, 1996).

A Divisão de Controle do Comércio Internacional – DCI, do MAPA, pela

Circular n° 463 de 05 de agosto de 2004, estabeleceu que independente de qual

seja o procedimento escolhido pela indústria para controlar perigos decorrentes da

etapa do processo de desossa, que é representado pelo crescimento de

Enterobacteriaceae e Staphylococcus aureus, alguns parâmetros devem ser

controlados: (a) temperatura ambiente da sala de desossa (limite de 10 C) e, (b)

temperatura das carnes na saída da desossa (limite de 7 C, assim como a Portaria

n° 304 já citada). Neste ponto, a frequência do monitoramento não deve ser superior

a 1 hora para que as medidas corretivas possam ser desenhadas e aplicadas com

base em parâmetros técnicos (BRASIL, 2004).

Várias medidas corretivas baseadas no tempo em que as carnes

permanecem em temperatura fora do limite previsto podem ser planejadas, se a

temperatura ambiente atingir 12 C, durante 1 hora, mas se a temperatura da carne

não ultrapassar os 7 C, a medida corretiva pode consistir, apenas, na redução da

temperatura da sala, desde que os microrganismos eventualmente presentes

permaneçam na fase lag (BRASIL, 2004).

A regulamentação dos Estados Unidos da América – EUA, através do

Ministério de Alimentos e Medicamentos (Food and Drug Administration - FDA),

indica que alimentos que podem suportar o rápido crescimento de microrganismos

indesejáveis, particularmente àqueles de significância para saúde pública, devem

ser mantidos sob armazenamento de forma que impeça que o alimento torne-se

adulterado, de maneira que os alimentos refrigerados permaneçam com temperatura

até 45 °F (7 °C) ou abaixo desse valor (FDA, 2005).

O Regulamento n° 853/2004 (Comunidade Européia - CE) do Parlamento

Europeu e do Conselho, exige que as carcaças bovinas sejam imediatamente

refrigeradas após a inspeção post-mortem para garantir uma temperatura não

superior a 7 °C das carnes. No Brasil e nos Estados Unidos da America, durante a

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desmancha, desossa, aparagem, corte em fatias, corte em cubos, acondicionamento

e embalagem, a carne deve ser mantida a uma temperatura não superior a 7 °C, e a

temperatura ambiente deve ser no máximo de 10 °C (BRASIL, 1996; BRASIL, 2004.

Segundo UE (2004) e EFSA (2014) a temperatura ambiente máxima, nos países da

União Européia, é de 12 °C, sendo que esta temperatura deve ser mantida durante o

corte, desossa, porcionamento, corte em cubos, acondicionamento e embalagem da

carne.

Segundo a Agência Européia para Segurança de Alimentos (European Food

Safety Authority – EFSA), na prática, portanto, a temperatura profunda da carcaça

deve alcançar um mínimo de 7 °C. Porém não está claro o motivo desta temperatura

ser escolhida, já que patógenos como Listeria monocytogenes e Yersinia

enterocolitica crescem a 7 °C (EFSA, 2014).

Segundo o padrão Australiano, aprovado pelo Regulamento do Conselho

Ministerial da Austrália e Nova Zelândia (Australia and New Zealand Food

Regulation Ministerial Council – ANZFRMC), a refrigeração e a congelação

aplicados às carcaças e partes de carcaças devem alcançar: (a) refrigeração com

redução de temperatura contínua dentro de 24 horas após o

atordoamento/insensibilização, onde a carcaça ou parte dela atinja temperatura de

no máximo 7 °C em todas as superfícies e para qualquer parte da carcaça, uma

temperatura de não mais que 5 °C no local de preocupação microbiológica e o

processamento deve ocorrer em um ambiente com temperatura controlada de até 10

°C (ANZFRMC, 2007).

Pela Circular n° 175, os estabelecimentos devem dispor de registros de

temperaturas, preferencialmente, na forma de cartas contínuas ou, em formulários

com anotações registradas no menor intervalo de tempo possível. Nas câmaras

frigoríficas em geral, os intervalos de registros não devem ser superiores a 1 hora. O

registro da variação em tempo reduzido permite identificar a tendência de eventuais

desvios e conduzir as medidas de controle que evitem o crescimento exponencial de

patógenos. Esta é a razão pela qual os registros contínuos (termógrafos) são

preferidos. A mensuração da temperatura dos ambientes deverá ser realizada de

duas a quatro vezes por dia pela Inspeção Federal (BRASIL, 2005).

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A mesma Circular nº 175/2005 elucida que tradicionalmente, optou-se por um

modelo de inspeção sanitária baseado no controle de processo. Em síntese, esse

procedimento fundamenta-se na inspeção contínua e sistemática de todos os fatores

que, de alguma forma, podem interferir na qualidade higiênico-sanitária dos produtos

expostos ao consumo da população. No Departamento de Inspeção de Produtos de

Origem Animal - DIPOA, estes Programas incluem o Programa de Procedimentos

Padrões de Higiene Operacional – PPHO o Programa de Análise de Perigos e

Pontos Críticos de Controle – APPCC e, em contexto mais amplo, as Boas Práticas

de Fabricação – BPFs (Good Manufacturing Practices – GMP) (BRASIL, 2005)

2.4 Microbiologia de alimentos

A microbiologia está associada ao estudo das células vivas e ao seu

funcionamento, bem como aos microrganismos, especialmente as bactérias, que

correspondem a um grande grupo. Em relação à indústria de alimentos,

desempenham importante função na indústria alimentícia, por exemplo a

decomposição de alimentos, que resulta em perdas econômicas anuais; também

são importantes nas doenças veiculadas por alimentos, mas podem ser benéficas,

em alguns casos (MADIGAN et al., 2004).

Segundo FRANCO (2008), a capacidade de sobrevivência ou de multiplicação

de microrganismos que estão presentes em um alimento depende de uma série de

fatores. Entre esses fatores, estao aqueles relacionados com as características

próprias dos alimentos, denominados fatores intrínsecos, como a atividade de água,

e os relacionados com o ambiente em que o alimento se encontra, denominados

fatores extrínsecos, como a temperatura ambiente. O fator ambiental mais

importante que afeta a multiplicação dos microrganismos é a temperatura, e sobre

esta, há muito controvérsia sobre a classificação dos microrganismos de acordo com

a temperatura ideal de multiplicação.

Os tipos mais comuns de bactérias encontradas em carnes frescas são as

pseudomonas, estafilococos, micrococos, enterococos e coliformes. As

temperaturas baixas, nas quais as carnes frescas são armazenadas, favorecem o

crescimento de microrganismos psicrófilos (PELCZAR JÚNIOR et al., 1997).

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O controle de patógenos de origem alimentar na fonte nem sempre é fácil.

Muitos patógenos sobrevivem no ambiente por longos períodos de tempo e podem

ser transmitidos aos seres humanos de várias maneiras. Muitos fatores podem

propiciar, prevenir ou limitar o crescimento de microrganismos em alimentos, sendo

que os mais importantes são: atividade de água, pH, temperatura, atmosfera e a

presença de certos ácidos orgânicos (FORSYTHE, 2013).

Como os vírus e parasitas dificilmente crescem em carnes, os patógenos

mais relevantes são de origem bacteriana, como Salmonella spp. e Escherichia coli

produtores de verotoxinas (VTEC) identificados como os principais patógenos em

carnes. Mais recentemente, L. monocytogenes e Y. enterocolitica foram também

incluídos devido à capacidade para crescer em temperaturas frias. A partir da

literatura científica, foi estabelecido que os principais determinantes do crescimento

de microrganismos na carne são temperatura, pH e atividade de atividade de água,

embora outros fatores, como a concorrência com outros microrganismos (EFSA,

2014).

Pode ser considerada toda a sala de desossa como um Ponto Crítico de

Controle, levando-se em consideração que outros perigos biológicos relacionados

com os manipuladores e higiene deficiente de equipamentos e instrumentos de

processo são controlados através de BPF, nesta fase, a principal fonte de

contaminação é a superfície da própria carne. Portanto, o perigo é representado pelo

eventual crescimento de patógenos durante a exposição das carnes em toda sala de

desossa (EFSA, 2014).

Estudos realizados pela agência de saúde da União Européia sugerem que é

possível aplicar temperaturas na carcaça dentro dos frigoríficos maior do que 7 ° C,

que atualmente é o recomendado, em combinação com diferentes durações de

transporte, sem a obtenção de crescimento bacteriano adicional (EFSA, 2014).

2.4.1 Indicadores microbiológicos de qualidade e segurança de alimentos

Microrganismos indicadores são grupos ou espécies de microrganismos que,

quando presentes no alimento, podem fornecer informações sobre a ocorrência de

contaminação de origem fecal, sobre a provável presença de patógenos ou sobre a

deterioração potencial do alimento, além de indicar condições sanitárias

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inadequadas durante o processamento, produção e armazenamento (LANDGRAF,

2008).

Os organismos indicadores têm sido utilizados por quase um século para

avaliar o estado microbiológico da água e alimentos. Começando com a utilização

em programas de sanitização da água, as aplicações foram estendidas ao longo dos

anos para outros produtos, e estes tornaram-se componentes importantes dos

programas de testes microbiológicos da indústria e órgãos reguladores.

Funcionalmente, podem ser vistos como indicadores de segurança ou de qualidade.

Os indicadores de segurança sugerem a presença de condições associadas com o

aumento do risco de exposição a um agente patogênico. Os indicadores de

qualidade avaliam as condições de importância para a fabricação do produto ou

aceitação pelos consumidores (TORTORELLO, 2003).

Microrganismos indicadores são usados por uma variedade de propósitos em

sistemas alimentares, incluindo a avaliação da qualidade ou segurança dos produtos

crus ou processados e validação eficiente das medidas de controle microbiano.

Embora frequentemente aplicado de maneira informal dentro de uma empresa, a

utilização de indicadores é altamente dependente dos critérios microbiológicos que

estão em vigor para um produto alimentício. Ao usar microrganismos indicadores,

uma série de problemas e questões precisam ser abordadas, dos quais podem não

ter respostas simples. Antes de tentar selecionar os melhores sistemas disponíveis,

é preciso identificar a função dos indicadores específicos no controle dos perigos

microbianos (FAO, 2013).

A presença ou ausência de microrganismos indicadores serve para predizer a

segurança de um alimento. Se o indicador de segurança estiver ausente, o produto é

considerado seguro em relação ao perigo para o qual o indicador foi utilizado. Por

outro lado, um produto pode apresentar números extremamente baixos de

indicadores e não apresentar características de perigo. Este último fato é verdadeiro

para muitos patógenos de origem alimentar, como os estafilococos

enterotoxigênicos. É importante conhecer como esses microrganismos se

comportam no alimento ao longo do tempo. Tal comportamento salienta os múltiplos

parâmetros que afetam o crescimento e a atividade dos microrganismos em um

alimento (JAY, 2005).

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Os testes microbiológicos para vários microrganismos indicadores são

amplamente utilizados como meio de verificar a eficácia dos esforços para garantir a

qualidade microbiológica e a segurança de uma grande variedade de alimentos

(BUCHANAN & ONI, 2012).

2.4.2 Microbiologia preditiva

A modelagem microbiana ou microbiologia preditiva descreve os estudos de

modelagem matemática, combinados com dados experimentais, sobre os fatores

que influenciam no crescimento de microrganismos, para predizer o crescimento

e/ou atividade de um microrganismo em um alimento ao longo do tempo (MILER et

al., 2004; JAY, 2005). Uma vez que os dados experimentais são geralmente

derivados de estudos utilizando dados laboratoriais, os modelos devem ser

validados com dados coletados sob condições em que os produtos alimentares são

habitualmente armazenados (TIENUNGOON et al., 2000).

Dessa maneira, os modelos preditivos permitem estimar a vida útil de

alimentos, isolar os pontos críticos no processo de produção e distribuição e podem

mostrar como as variáveis ambientais afetam o comportamento de bactérias,

fornecendo estimativas sob o crescimento microbiano sob uma variedade de

condições. O comportamento das populações microbianas em alimentos

(crescimento, sobrevivência ou morte) é determinada pelas propriedades dos

alimentos (atividade de água e pH) e as condições de armazenamento (temperatura,

umidade relativa e atmosfera) (FAKRUDDIN et al., 2011).

Modelos de microbiologia preditiva podem ser divididos em cinéticos e de

probabilidade ou probabilísticos. Com o primeiro tipo, calcula-se a vida

microbiológica dos produtos alimentares, ou seja, o período de tempo durante o qual

o número de microrganismos em alimentos é menor do que um valor especificado. O

último tipo determina se um microrganismo pode crescer e identifica as condições de

armazenamento com uma probabilidade baixa ou nula de crescimento

(TIENUNGOON et al., 2000).

Modelos cinéticos são expressões matemáticas que relacionam uma resposta

particular medida no tempo, sob circunstâncias ambientais específicas. Os

parâmetros cinéticos são diretamente dependentes dos fatores ambientais, tais

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como temperatura, pH e atividade da água. Estes fatores são os mais importantes

para as cinéticas de crescimento/inativação de microrganismos. Os modelos

matemáticos deverão incluir o efeito de todas as variáveis do processo, de forma

que um eficaz controle de qualidade possa ser assegurado, com subsequentes

garantias de distribuição e comercialização de alimentos seguros para o consumidor

(MILER et al., 2004).

A microbiologia preditiva pode dizer respeito tanto à bactérias patogênicas em

alimentos quanto microrganismos deteriorantes: no primeiro caso, diz respeito à

saúde dos consumidores enquanto que no segundo, está relacionada ao valor

nutricional e aceitabilidade dos alimentos. Em ambos os casos, os modelos

supostamente permitem dar respostas a dois tipos de perguntas: a primeira gira em

torno da avaliação do risco, e o segundo está relacionado com a otimização da

formulação e processamento de alimentos (LEGUERINEL & MAFART, 2008).

O início da história da microbiologia preditiva de alimentos remete aos

alimentos enlatados, quando foram realizadas as primeiras avaliações de risco em

alimentos. Esta ciência nasceu já nos anos 1920, quando a destruição de esporos

pelo calor foi reconhecida seguindo uma cinética de primeira ordem, e quando o

efeito da temperatura sobre a resistência de microrganismos ao calor foi descrita

pela famosa equação de Arrhenius ou o modelo de BIGELOW (1921).

Os modelos preditivos só receberam a devida atenção por volta da década de

1970, ocasião em que se verificou um grande aumento dos casos de doenças de

origem alimentar. Houve, nesta época, aumento da exigência pela qualidade, por

parte dos consumidores e isto fez surgir nas indústrias uma nova e positiva

preocupação com os alimentos oferecidos à população. Os microbiologistas que

estudavam o desenvolvimento microbiano nos alimentos depararam-se com o fato

de que os métodos de microbiologia tradicionais para determinarem a qualidade e a

segurança de determinado gênero alimentício, estavam limitados pelo tempo

necessário para a obtenção de resultados e pela pouca previsibilidade que estes

permitiam (DUARTE, 2011).

No início da década de 1980, o desenvolvimento do mercado de produtos

frescos, levou a microbiologia preditiva à modelagem de crescimento microbiano em

alimentos, e análise e controle de riscos. Esta tendência foi amplamente reforçada

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pela disponibilidade de poderosos microcomputadores em todos os possíveis locais

(LEGUERINEL & MAFART, 2008).

Podem-se considerar dois possíveis cenários distintos para o surgimento da

Microbiologia Preditiva. No Reino Unido, o Ministério da Agricultura, Pesca e

Alimentos (MAFF - Ministry of Agriculture, Fisheries, and Food) lançou, na década

de 1980, um software denominado “Food Micromodel”, que descreve a resposta de

crescimento, morte e sobrevivência de patógenos de origem alimentar, em relação a

vários fatores ambientais, tais como temperatura, pH, atividade de água, atmosfera,

concentração de ácidos orgânicos, cloreto de sódio e conservantes. Nos Estados

Unidos, pesquisas no campo da microbiologia preditiva de alimentos resultaram na

preparação e lançamento, no final dos anos 1980, do software denominado

“Pathogen Modeling Program” - PMP (NAKASHIMA et al., 2000).

Na Universidade da Califórnia, um grupo de investigadores combinou

diversos fatores de forma a prevenir o crescimento dos microrganismos patogênicos

e a formação de toxinas. Os modelos daí resultantes teriam sido os primeiros a

relacionar fatores intrínsecos e extrínsecos com o crescimento microbiano, fatores

como temperatura, pH e concentração salina. Este poderá ter sido o segundo

cenário da origem da microbiologia atual, que foi a investigação sobre prevenção e

combate ao botulismo e outras intoxicações microbianas (ROSS & MCMEEKIN,

1994).

Desde então a Microbiologia Preditiva evoluiu e relaciona novos fatores ao

crescimento microbiano (atividade da água, por exemplo) graças a um grande

número de investigações e artigos publicados. No entanto, a aceitação desta nova

ciência não foi imediata. Foram necessários entre 30 e 40 anos, como uma atividade

exclusiva dos investigadores, até aos dias de hoje, onde as suas ferramentas já são

consideradas por muitas como peças importantes em diversas atividades,

essencialmente na indústria alimentar, auxiliando na avaliação de riscos,

implementação do sistema APPCC e determinações de vida útil (MCMEEKIN &

ROSS, 2002).

Uma importante dificuldade dos modelos preditivos é a seleção das espécies

microbianas e da linhagem, e as características as quais devem ser introduzidas no

modelo. No quadro de problemas de saúde e de produtos alimentícios frescos, e a

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linhagem mais tóxica ou patogênica deveria ser selecionada como referência. Se é

um alimento enlatado , o esporo mais resistente ao calor e mais toxicogênico deve

ser considerada. A partir dos trabalhos de ESTY & MEYER, em 1922, o Clostridium

botulinum foi escolhido como o esporo de referência para o cálculo dos processos

de esterilização desse tipo de alimento. Em qualquer caso, mesmo quando uma

linhagem determinada de microorganismo pode ser utilizada como uma referência

para os cálculos é muito difícil associar parâmetro com valores fixos (LEGUERINEL

& MAFART, 2008).

O crescimento preditivo de um microrganismo para um único parâmetro não é

tão difícil. Dificuldades surgem quando múltiplos parâmetros são envolvidos e

poucos estudos conduziram à interação entre esses parâmetros e os

microrganismos (JAY, 2005).

As premissas de que os microrganismos não conseguem "pensar", que

respondem aos estímulos ambientais para crescerem e se desenvolverem, e que,

conhecendo os fatores em que determinado microrganismo se encontra, se torna

possível prever o seu comportamento e a velocidade de crescimento. Esses

resultados são a base que sustenta a microbiologia preditiva (DUARTE, 2011).

Observa-se, portanto, que a microbiologia preditiva avalia rapidamente as

condições de crescimento de microrganismos, permitindo estimar a vida útil de

carnes, no caso de microrganismos deteriorantes e garantir a saúde dos

consumidores, por meio do estudo da estimativa de crescimento de microrganismos

patogênicos.

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CAPÍTULO 2 - AVALIAÇÃO DA ELEVAÇÃO TÉRMICA DE CORTES CÁRNEOS

BOVINOS DESOSSADOS SOB DIFERENTES TEMPERATURAS

RESUMO

Foram realizados experimentos em dois matadouros-frigoríficos, com o objetivo de avaliar a elevação da temperatura de cortes cárneos bovinos submetidos ao processo de desossa em diferentes temperaturas ambiente pré estabelecidas, de 10 °C, 12 °C e 14 °C (tratamentos 1, 2 e 3 respectivamente). No matadouro-frigorífico 1 foram utilizadas 50 peças de coxão mole e 50 peças de picanha, selecionadas aleatoriamente, para cada temperatura ambiente. O mesmo teste foi realizado em triplicata, constituindo-se em 150 repetições por corte durante o período experimental. No matadouro-frigorífico 2 foram utilizadas 50 peças de picanha e 50 peças de filé mignon, selecionadas aleatoriamente, para cada temperatura ambiente. O mesmo teste foi realizado em triplicata, constituindo-se em 150 repetições por corte durante o período. Antes de iniciar o estudo, a temperatura do coxão mole era aferida, para garantir que a desossa seria realizada em cortes com temperatura ≤ 7 ° . Na entrada da sala de desossa era obtida a temperatura de entrada do corte. Os cortes amostrados eram etiquetados, e continuavam no processo até a entrada da sala de embalagem secundária, para que fosse registrada a temperatura de saída da sala de desossa. Os dados foram submetidos à análise de variância e teste de Tukey para comparar o efeito das três temperaturas na sala de desossa. Utilizou-se Teste “t” para comparar a variável temperatura ambiente na entrada e na saída da sala de desossa. Foram elaboradas planilhas para calcular a diferença entre as temperaturas de entrada e saída, além da elevação de temperatura durante o tempo de desossa, em relação às diferentes temperaturas ambiente. Após análise dos resultados, observou-se mesmo havendo diferenças entre as temperaturas de entrada e saída, e entre as temperaturas dos cortes em cada tratamento, foi possível verificar que temperatura dos cortes de carne estudados não ultrapassou o limite de 7 °C exigido pela legislação brasileira. É possível aumentar a temperatura da sala de desossa para 12 °C ou 14 °C, sem que os cortes de carne atinjam temperaturas acima de 7 °C, reduzindo-se a temperatura de entrada dos cortes na sala de desossa. Palavras chave: Temperatura de trabalho, sala de desossa, carne bovina, elevação de temperatura, temperatura dos cortes.

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CHAPTER 2 - ASSESMENT OF THERMAL INCREASE IN MEAT PIECES

DEBONED UNDER DIFFERENT TEMPERATURES

ABSTRACT

We conducted at two slaughter plants in order to assess the temperature rise of meat

cuts submitted to deboning process at different pre established environmental

temperatures of 10 °C, 12 °C and 14 °C (treatments 1, 2 and 3 respectively). At the

slaughter plant 1, 50 pieces of topside and 50 pieces of sirloin were randomly

selected for each temperature. The same test was performed in triplicate, comprising

150 repetitions per cut during the trial period. At the slaughter plant 2, 50 pieces of

sirloin and 50 pieces of tenderloin were randomly selected for each temperature. The

same test was performed in triplicate, comprising 150 repetitions per cut during the

experimental period. Before starting the study, the temperature of the topside was

measured to ensure that deboning would be carried out in cuts at temperature ≤ 7

°C. Temperature was assessed at the entrance to the deboning room. The sampled

cuts were labeled, and the process continued until the entry of secondary packaging

room, where the exit temperature was recorded. Data were submitted to ANOVA and

Tukey's test to compare the effect of three temperatures at the deboning room. We

used "t" Test to compare the variable environmental temperature at the inlet and exit

of the deboning room. Spreadsheets were developed to calculate the difference

between the entrance and exit temperatures, as well as the temperature rise during

the time of deboning, in relation to different environmental temperatures. After

analyzing the results, we observed that even though there are differences between

the entrance and exit temperatures, and among the temperatures of the cuts in each

treatment, we found that exit temperature did not exceed the 7 °C limit required by

Brazilian law. It is possible to increase the deboning room temperature to 12 °C or 14

°C, without exceeding 7 °C in the meet cuts at the exit this room, reducing meat

temperature at the entrance and the deboning time.

Keywords: Work temperature, bone processing, beef, temperature elevation,

temperature of the cuts

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1 INTRODUÇÃO

No primeiro trimestre de 2014, foram abatidos aproximadamente 8,4 milhões

de bovinos sob serviço de inspeção sanitária, sendo o décimo trimestre consecutivo

em que se tem observado aumento da quantidade de bovinos abatidos, registrando

também recorde entre os primeiros trimestres avaliados. Esse valor é 2,9% superior

ao valor registrado no primeiro trimestre de 2013. Foi produzido nos matadouros e

frigoríficos fiscalizados do Brasil aproximadamente 1,9 milhões de toneladas de

carcaças bovinas (IBGE, 2014).

Diante desses números, a qualidade da carne torna-se parâmetro essencial a

ser avaliado. De acordo com LONERGAN et al. (2010) a qualidade final da carne é

resultante das variações de temperatura e pH, os quais podem inflluenciar na

maciez, capacidade de retenção de água e cor. Portanto, o efeito do pH sobre a

qualidade da carne é um assunto que tem sido investigado extensivamente

(HAMOEN et al., 2013), e a temperatura é provavelmente o fator ambiente mais

importante para o crescimento microbiano (LAMBERT et al., 1991).

A legislação brasileira prevê temperatura da carne ≤ 7 ° , e temperatura

ambiente na sala de desossa de no máximo 10 °C. Se a temperatura da sala atingir

12 °C, medida corretiva pode ser aplicada, consistindo apenas na redução da

temperatura da sala, desde que, a partir de análise microbiológica seja observada

que os microrganismos eventualmente presentes permaneceram na fase lag

(BRASIL, 1996; BRASIL, 2004).

Atualmente, as empresas buscam a competitividade frente ao mercado

externo, e para isso, estratégias para aumentar a produtividade são essenciais.

Vinculada à essa competitividade, novos conceitos sobre integridade ambiental, bem

estar animal, ambiente de trabalho e à saúde e segurança dos trabalhadores

tornam-se questões indispensáveis, principalmente pelas indústrias exportadoras de

carnes.

Na Austrália, as carcaças e partes de carcaças devem ser considerados: (a)

refrigeração com redução de temperatura contínua dentro de 24 horas após o

atordoamento/insensibilização em que a carcaça ou parte dela atinja temperatura de

no máximo 7 °C em todas as suas superfícies e para qualquer parte da carcaça, e o

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processamento deve ocorrer em um ambiente com temperatura controlada de até 10

°C (ANZFRMC, 2007).

Na União Européia, a temperatura ambiente máxima permitida da sala de

desossa é de 12°C, e a temperatura dos cortes cárneos deve ser ≤ 7 ° (UE, 2004)

e nos Estados Unidos da América – EUA, por meio do Ministério de Alimentos e

Medicamentos (Food and Drug Administration - FDA), os alimentos devem ser

mantidos sob armazenamento refrigerado com temperatura até 7°C (FDA, 2005).

Com este trabalho objetivou-se avaliar a elevação de temperatura de cortes

cárneos, observando o efeito de diferentes temperaturas ambiente da sala de

desossa na temperatura individual de cortes cárneos específicos, além do tempo de

permanência máximo dos cortes nesta sala.

2 MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado em dois matadouros-frigoríficos, sob Inspeção

Federal, situados em Goiânia (matadouro-frigorífico 1) e em Mineiros (matadouro-

frigorífico 2), respectivamente, no Estado de Goiás. Foi realizado em épocas

distintas, em 2012 e 2013, seguindo normas do Regulamento de Inspeção Industrial

e Sanitária de Produtos de Origem Animal – RIISPOA (BRASIL, 1997).

Os abates foram realizados conforme rotina do estabelecimento, e as meias-

carcaças foram encaminhadas para as câmaras de resfriamento, onde

permaneceram por 24 a 48 horas antes da desossa, para atingirem temperatura < 7

°C, conforme Portaria n° 304/1996 e Circular n° 463/2004 (BRASIL, 1996, BRASIL,

2004).

No matadouro-frigorífico 1, as análises foram realizadas nos cortes picanha

(Glúteos biceps) e coxão-mole (Semimembranosus) e no matadouro-frigorífico 2,

nos cortes picanha (Glúteos biceps) e filé mignon (Psoas major).

2.1 Avaliação da temperatura ambiente da sala de desossa

Foram consideradas, nos dois matadouros-frigoríficos, três temperaturas de

trabalho para realização do estudo no ambiente da sala de desossa, sendo 10 °C,

que é o valor de temperatura estabelecida pela legislação vigente no Brasil (BRASIL,

1996; BRASIL, 2004), denominado tratamento controle; 12 °C, como temperatura

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proposta pelas indústrias como novo valor a ser aplicado, e ainda margem de

segurança da temperatura de 10 °C, e 14 °C, temperatura utilizada como margem de

segurança para a temperatura proposta.

As temperaturas foram monitoradas em três termômetros digitais localizados

em diferentes regiões da sala de desossa. O termômetro 1 estava posicionado à um

pé-direito de 5 m no teto da sala de desossa, no centro da mesma. O termômetro 2

estava posicionado na parede lateral direita à 2,5 m do piso, no centro da parede, e

o termômetro 3 estava posicionado na mesa de desossa, alocado para registrar a

temperatura do ambiente de manipulação.

Quando as temperaturas da sala (do teto e da parede) apresentaram-se

diferentes da temperatura da mesa de desossa, foi considerada esta última como

temperatura real de trabalho, pois estava mais próxima dos cortes cárneos.

2.2 Avaliação da temperatura dos cortes cárneos

Em cada matadouro-frigorífico, para cada corte bovino, foram amostrados 50

quartos, em três dias de abate, totalizando 150 quartos para cada uma das

temperaturas de trabalho.

Para tanto, utilizou-se termômetro digital do tipo espeto (marca Minipa, modelo

MV-363), com escala de -10 °C até 200 °C, com precisão de 3 °C. Para higienização

do termômetro, entre um corte e outro, utilizou-se papel toalha e álcool a 70%.

Os quartos foram escolhidos aleatoriamente na entrada da sala de desossa,

com aferição e registro da temperatura superficial (temperatura obtida quando o

sensor foi inserido à 0,5 cm da superfície do corte) e temperatura profunda

(temperatura obtida quando o sensor foi inserido na porção central do corte) do

coxão mole e da picanha, no matadouro-frigorífico 1 e temperatura profunda na

picanha e no filé mignon, no matadouro-frigorífico 2, com termômetro digital

calibrado. Os cortes foram identificados com uma etiqueta, para a aferição da

temperatura na saída da sala de desossa no mesmo corte.

Seguidamente, todos os 50 cortes amostrados, continuavam no processo de

rotina até a saída da sala de desossa. Na saída dos cortes da sala de desossa, os

mesmos eram recolhidos e novamente realizava-se aferição da temperatura e do

pH, registrando-se esses dados em planilhas específicas, para posteriormente

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realizar-se a comparação das temperaturas dos cortes, no momento de entrada e de

saída da sala de desossa, para cada temperatura de trabalho utilizada.

Dentre os 50 quartos escolhidos para a verificação da temperatura do coxão

mole, dez quartos foram selecionados aleatoriamente, e nestes foram aferidos o pH

da picanha, com pHmetro portátil aferido, da marca HANNA HI 99163, inserindo-se

o eletrodo na profundidade do corte.

2.3 Curvas de elevação de temperatura profunda e tempo de permanência dos

cortes

Para determinação das curvas de elevação de temperatura, para cada uma

das temperaturas determinadas da sala de desossa, foi monitorado a temperatura

de dez picanhas, no matadouro-frigorífico 1 e 2, em cada um dos dias de abate,

totalizando 30 picanhas para cada uma das temperaturas estudadas.

As temperaturas foram determinadas em intervalos de um minuto desde a

entrada na sala de desossa até atingir a temperatura máxima permitida pela

legislação brasileira (7 °C). Desta forma foi determinado o tempo máximo de

permanência do corte dentro da sala de desossa em função da temperatura de

entrada do traseiro e da temperatura ambiente.

Foram construídas curvas de elevação de temperatura profunda da picanha

para as temperaturas de trabalho da sala de desossa a 10 °C, 12 °C e 14 °C,

conforme as temperaturas ambiente da sala de desossa no momento do estudo.

Foi avaliada a curva que melhor representasse os resultados obtidos. Dessa

maneira, os valores do coeficiente de determinação (R2) apresentaram-se acima de

90%, para a equação linear “y = a + b x” e para a equação geométrica “y = a xb”.

Devido ao fato de haver três pontos para construção da curva, mais facilmente o

modelo se ajustou à equação linear. Considerando então os maiores valores de

ajuste para a função linear, e a facilidade para interpretação dos dados, esta foi a

equação escolhida para apresentação dos resultados.

Portanto, os cálculos de estimativa de tempos de permanência dos cortes na

sala de desossa basearam-se em equação linear de elevação de temperatura

dependente do tempo de permanência na sala.

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2.4 Análise estatística

O Delineamento foi inteiramente casualizado, e a unidade experimental foi

cada um dos 50 quartos utilizados em cada um dos três abates, para cada

temperatura da sala de desossa testada.

Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e teste de Tukey

para comparar o efeito das três temperaturas da sala de desossa nas variáveis

temperatura e pH. Também utilizou-se o Teste “t” para comparar as variáveis

temperatura e pH para cada tratamento na entrada e na saída da sala de desossa.

Para a análise estatística dos resultados, utilizou-se o programa BioEstat 5.0

(AYRES et al., 2007).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados demonstraram que não houve diferença significativa (p≥0,05)

entre as temperaturas de entrada do coxão mole, nas temperaturas ambiente

estudadas, 10 °C, 12 °C e 14 °C, conforme descrito na Tabela 1.

Todas as médias das temperaturas de entrada dos cortes analisados

apresentaram temperatura abaixo do limite estabelecido pela legislação, conforme

prevê a Portaria 304/1996 (BRASIL, 1996) e as carcaças bovinas devem ser

encaminhadas para quaisquer outros procedimentos, desde que apresentem

temperatura ≤ 7 ° .

Houve diferença significativa (p≤0,05) entre a temperatura superficial de saída

do coxão mole a 10 °C, quando comparadas com as temperaturas de 12 °C e 14 °C

(Tabela 1).

Foi observado aumento de temperatura do coxão mole quando comparadas

as médias de temperatura de entrada e de saída dos cortes da sala de desossa,

para os três tratamentos. Porém, é natural que haja aumento de temperatura dos

cortes no momento de desossa, já que há troca de calor do ambiente com os cortes,

pois as carcaças eram encaminhadas para a sala de desossa com uma temperatura

inferior (≤ 7 ° ) em relação às temperaturas experimentais do ambiente. lém disso,

o próprio processo de manipulação faz com que ocorra elevação da temperatura.

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TABELA 1 - Valores médios e desvio-padrão das temperaturas superficiais e

profundas de entrada e saída dos cortes cárneos bovinos (coxão

mole, picanha) da sala de desossa no matadouro-frigorífico 1.

Variáveis Temperaturas ambiente

10 °C 12 °C 14 °C

Matadouro-frigorífico 1 Coxão mole – temperatura superficial

Entrada 4,89 ±1,04 ªA 5,21 ± 1,25 ªA 4,82 ± 1,66 ªA Saída 6,20 ± 0,97 ªA 6,83 ± 1,35 bB 6,66 ± 1,61 bB Diferença 1,31 1,62 1,84 Elevação (%) 26,79 31,09 38,17

Coxão mole - temperatura profunda

Entrada 2,92 ± 1,05 aA 3,91 ± 1,66 bA 1,94 ± 1,25 cA Saída 3,34 ± 1,18 aA 4,33 ± 1,66 bB 2,52 ± 1,41 cB Diferença 0,42 0,42 0,58 Elevação (%) 14,38 10,74 29,90

Picanha - temperatura superficial

Entrada 4,34 ± 1,15 ªA 5,77 ± 1,40 bA 4,72 ± 1,09 aA Saída 5,74 ± 1,16 aB 7,52 ± 1,81 bB 5,98 ± 1,12 aB Diferença 1,40 1,75 1,26 Elevação (%) 32,26 30,33 26,70

Picanha - temperatura profunda

Entrada 2,58 ± 1,27 ªA 4,52 ± 1,94 bA 2,31 ± 1,26 ªA Saída 3,31 ± 1,39 ªB 4,83 ± 2,10 bB 2,54 ± 1,14 cB Diferença 0,73 0,31 0,23 Elevação (%) 28,29 6,86 9,96 a, b Médias seguidas de letras minúsculas distintas nas linhas, diferem entre si pelo Teste de ukey (p≤0,05) A, B Médias seguidas de letras maiúsculas distintas nas colunas, diferem entre si pelo Teste “t” (p≤0,05)

Porém, foi observado que mesmo havendo elevação da temperatura dos

cortes, não foi registrada temperatura maior que 7 °C no coxão mole. Isso quer dizer

que, mesmo havendo intensa manipulação, os cortes iriam manter baixas suas

temperaturas.

Observações relacionadas à temperatura devem ser feitas desde o momento

de início do abate, já que a temperatura influencia no crescimento de diferentes

microrganismos, na taxa de queda de pH e na textura e maciez da carne. Porém,

após o tempo necessário para que ocorra a fase pós-rigor, a temperatura baixa

apresenta-se necessária para manter a qualidade da carne, e para sua conservação.

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ZHOU et al. (2010), explicaram que a temperatura baixa é necessária para manter a

qualidade e conservar a vida útil.

Segundo DRUMM et al (1992), a principal razão para a refrigeração é

minimizar o crescimento bacteriano e, portanto, prolongar a vida útil da carne. Por

isso, faz-se necessário a manutenção da temperatura abaixo de 7 °C, conforme

recomenda a legislação brasileira (BRASIL, 1996).

É importante observar que o aumento a temperatura da sala de desossa, para

14 °C, não interferiu para elevação da temperatura prejudicial do coxão mole. Isto

quer dizer que poderia ser aumentada a temperatura da sala, sem que ocorresse

aumento de temperatura da carne acima do limite estabelecido pela legislação, e

melhorando o bem estar dos funcionários deste setor do matadouro-frigorífico.

Os resultados de temperatura do coxão mole abaixo de 7 °C são importantes,

pois é necessário que a cadeia do frio seja mantida, respeitando-se os limites

máximos de temperatura em todos os pontos da cadeia, inclusive até o consumidor

final, para que seja retardado o início do processo de deterioração.

Observou-se diferença significativa (p≤0,05) entre os valores médios de

temperatura profunda de entrada do coxão mole para as três temperaturas ambiente

estudadas, sendo que a temperatura média mais baixa encontrada foi nas amostras

do tratamento a 14 °C (1,9 °C), seguida pelas amostras dos tratamentos a 10 °C

(2,92 °C) e a 12 °C (3,91 °C), conforme Tabela 1.

Apesar da diferença significativa (p≤0,05), não é possível afirmar que esta

diferença foi devido à diferença nas temperaturas ambiente, já que estas

temperaturas foram aferidas assim que os cortes ingressavam na sala de desossa.

Dessa maneira, o registro da temperatura profunda de saída foi necessário para

averiguar possíveis mudanças na temperatura dos cortes, em relação à temperatura

da sala.

Houve diferença significativa (p≤0,05) entre os valores médios de temperatura

profunda de saída do coxão mole para as três temperaturas analisadas da sala de

desossa (Tabela 1), assim como foi observado na temperatura de entrada. Essas

diferenças não devem ser somente atribuídas às diferentes temperaturas ambiente

da sala, mas sim às diferenças na temperatura de entrada dos quartos na sala de

desossa. Por outro lado, a elevação de temperatura, em valores absolutos, foi

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30

semelhante sendo que a elevação de temperatura no caso da temperatura ambiente

a 14 °C foi percentualmente maior, 29,90% - enquanto que para 10 °C foi de 14,38%

e para 12 °C foi de 10,74%.

egundo a “ ei zero da ermodinâmica”, os corpos tendem ao equilíbrio

térmico, em contato um com o outro, e o fluxo de calor diminui quando estes corpos

estão com temperaturas próximas à temperatura de equilíbrio (JEWETT JR et al.,

2011; TIPLER & MOSCA, 2012). Isto explica por que a elevação de temperatura

média no Tratamento a 14 °C foi mais alta que nos outros dois tratamentos (10 °C e

12 °C).

Não foi observado diferença significativa (p≤0,05) entre a temperatura de

entrada e saída do coxão mole para 10 °C, somente para 12 °C e 14 °C. Mesmo

havendo diferença significativa nas temperaturas de 12 °C e 14 °C, todos os valores

médios de temperaturas na entrada e saída dos cortes foram mantidos abaixo do

valor estabelecido tanto pela legislação brasileira (BRASIL, 2004), como pela

legislação européia, pelo Regulamento (CE) N.º 853/2004 do Parlamento Europeu e

do Conselho de 29 de Abril de 2004 (UE, 2004), os quais estabelecem limite máximo

de 7 °C para as carnes.

Observou-se diferença significativa (p≤0,05) entre as temperaturas

superficiais de entrada da picanha para o tratamento a 12 °C quando comparada

com os tratamentos a 10 °C e 14 °C.

Devido ao menor tamanho da picanha, em relação ao coxão mole, as análises

das diferenças nas temperaturas eram mais facilmente encontradas, e poderiam

mostrar melhor a realidade da mudança de temperatura no corte.

O que pode ser observado por esta diferença é que, como esta é a

temperatura de entrada dos cortes, provavelmente a maior temperatura média das

amostras do tratamento a 12 °C se deve à maior temperatura das carcaças durante

o período de pós abate, dentro da câmara fria, e assim que foram encaminhadas

para a sala de desossa, e não a um aumento de temperatura devido à troca de calor

com o ambiente.

Foi observado diferença significativa (p≤0,05) entre os valores médios da

temperatura superficial de saída da picanha para temperatura ambiente a 12 °C

quando comparada com 10 °C e 14 °C (Tabela 1).

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A partir das temperaturas aferidas, observou-se que apenas o tratamento a 12

°C, apresentou temperatura média acima (7,5 °C) da temperatura máxima estipulada

pela legislação (≤ 7 ° ). orém, é possível reduzir o tempo de permanência desses

cortes durante a desossa, para que a temperatura não ultrapasse os limites

referenciados pela legislação brasileira, e para que seja mantida a cadeia do frio em

temperaturas abaixo de 7 °C. Além disso, essa diferença de temperatura pode ser

atingida se a temperatura da carcaça estiver mais baixa, antes de ingressar na sala

de desossa.

Assim como indica a legislação européia, a refrigeração geralmente não está

inclusa como um processo de intervenção para descontaminação de carcaças, mas

sim como um ponto crítico de controle dentro do sistema de Análises de Perigos e

Pontos Críticos de Controle - APPCC, ou seja, esta deve ser realizada de acordo

com as práticas de higiene, para manutenção e conservação das carnes, por isso

segundo a Diretiva 64/433 da Comunidade Européia - CE, as carcaças devem ser

imediatamente resfriadas após lavagem, e a temperatura deve ser mantida a 7 °C ou

menos (CEE, 1964), e a mesma indicação de temperatura está descrita na Portaria

n°304 (BRASIL, 1996).

Pelas temperaturas médias encontradas nos tratamentos, é possível verificar

que quanto menor a temperatura de entrada dos cortes na sala de desossa, menor

será a temperatura de saída dos mesmos. Por isso, mesmo que haja influência da

temperatura ambiente para elevação da temperatura dos cortes no momento da

desossa, a temperatura de entrada dos cortes na sala de desossa deve ser mais

baixa possível, de forma que até o final da desossa, a mesma seja mantida baixa.

Para reduzir a diferença de temperatura de entrada e saída,

independentemente da temperatura ambiente, se fosse possível acelerar a desossa,

diminuiria o tempo de permanência dos cortes nessa etapa do processo, assim

poderia diminuir a diferença de temperatura de entrada e saída desses cortes.

Houve percentualmente maior elevação de temperatura no tratamento a 10

°C, com 32,26% de elevação, seguido por 12 °C, com 30,33% e 14 °C, com

aumento de 26,70% (Tabela 1).

Na Tabela 1 foram apresentados os valores médios de temperatura

registrados para a temperatura profunda de entrada e saída da picanha.

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Foi observado diferença significativa (p < 0,05) entre as temperaturas

profunda de entrada da picanha para 12 °C quando comparado com 10 °C e 14 °C.

Assim como foi apresentada pela temperatura superficial, a temperatura

profunda média no tratamento 12 °C (4,52 °C) apresentou-se maior na entrada da

sala de desossa, que os outros dois tratamentos (10 °C = 2,58 °C; 14 °C = 2,31 °C).

Apesar disso, não foi apresentado temperaturas médias acima da temperatura

permitida pela legislação, como já explicado anteriormente.

Apresentou-se diferença significativa (p≤0,05) entre as temperaturas profunda

de saída da picanha para 12 °C quando comparadas com 10 °C e com 14 °C.

Também foi verificado que as temperaturas de entrada e saída diferiram

significativamente (p≤0,05) para todos os tratamentos analisados.

Quando analisados os valores das médias de temperaturas profundas, nota-

se que os resultados da temperatura de entrada decorrem da temperatura mais

elevada da carne durante as amostragens realizadas para 12 °C. As diferenças na

temperatura de saída se devem à temperatura mais elevada das carnes, quando do

ingresso na sala de desossa, para o caso de 12 °C, e uma maior elevação de

temperatura, no caso de 10 °C.

Estes resultados indicaram que o tratamento a 12 °C teve maior variação nas

diferenças de temperatura profunda da picanha entre a entrada e a saída do corte

da sala de desossa, quando comparado com os outros grupos de temperatura

ambiente (10 °C e 14 °C). Quanto aos resultados obtidos para a diferença de

temperatura profunda, pode-se constatar pela análise de dados que o grupo

diferente é o 10 °C, com uma maior elevação de temperatura que os grupos 12 °C e

14 °C.

Mais uma vez pode-se verificar que é possível aumentar a temperatura da

sala de desossa, uma vez que, neste estudo, em nenhum dos tratamentos

observou-se temperaturas acima do limite máximo estabelecido pela legislação para

o corte picanha.

Quando foi realizado o experimento no matadouro-frigorífico 2, algumas

modificações foram realizadas. Não foram aferidas as temperaturas superficiais nos

cortes cárneos bovinos (filé mignon e picanha), assim como realizado no matadouro-

frigorífico 1, pois foi observado que variavam muito as temperaturas superficiais em

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um mesmo corte, uma vez que trata-se da área externa que está em contato direto

com o ambiente. Portanto, realizou-se apenas temperatura profunda em peças de

picanha e filé mignon.

Na Tabela 2 estão apresentados os valores médios de temperatura profunda

encontrados para os tratamentos 10 °C, 12 °C e 14 °C, na entrada e na saída dos

cortes na sala de desossa. Não houve diferença significativa (p≤0,05) entre os

valores médios das temperaturas dos cortes analisadas nas temperaturas ambiente

a 10 °C e 12 °C, mas houve entre esses dois tratamentos para 14 °C.

TABELA 2 - Valores médios e desvio-padrão das temperaturas profundas de entrada

e saída dos cortes cárneos bovinos (picanha e filé mignon) da sala de

desossa no matadouro-frigorífico 2.

Variáveis Temperaturas ambiente

10 °C 12 °C 14 °C

Matadouro-frigorífico 2 Filé mignon - temperatura profunda

Entrada 2,8 ± 1,36 ªA 2,5 ± 1,44 aA 4,8 ± 1,52 bA Saída 4,2 ± 1,59 ªB 4,1 ± 1,26 aB 6,5 ± 1,37 bB Diferença 1,4 1,6 1,7 Elevação (%) 50,0 64,0 35,4

Picanha - temperatura profunda

Entrada 3,4 ± 1,61 ªA 4,2 ± 1,18 bA 4,1 ± 0,77 bA Saída 4,4 ± 1,16 ªB 5,1 ± 1,49 BB 4,8 ± 0,71 bB Diferença 1,0 0,9 0,7 Elevação (%) 29,4 21,4 17,1 a, b Médias seguidas de letras minúsculas distintas nas linhas, diferem entre si pelo Teste de ukey (p≤0,05) A, B Médias seguidas de letras maiúsculas distintas nas colunas, diferem entre si pelo Teste “t” (p≤0,05)

Mesmo havendo diferença significativa (p≤0,05), notou-se que em todos os

tratamentos, as temperaturas médias foram abaixo de 7°C, o que é preciso para se

manter a qualidade da carne, e o que é estabelecido pela legislação vigente

(BRASIL, 2005), como já explicado neste trabalho.

Foi observado diferença significativa (p≤0,05) entre os valores médios das

temperaturas profundas de saída do filé da sala de desossa no tratamento 14 °C,

apresentando o maior valor médio (6,5 °C), quando comparados com os tratamentos

10 °C, com valor médio de 4,2 °C e 12 °C com valor médio de 4,1 °C.

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Houve diferença significativa (p≤0,05) entre as temperaturas de entrada e

saída para todos os tratamentos, apesar disso, mais uma vez, os valores médios de

temperaturas não ultrapassaram àqueles permitidos pela legislação. Apesar da

maior média no tratamento 14 °C, para as temperaturas médias de saída, a

elevação de temperatura (35,4%), foi menor que 10 °C (50%) e que 12 °C (64%).

Como não houve diferença significativa (p≥0,05) entre as temperaturas de

entrada nos tratamentos a 10 °C e 12 °C, também não houve diferença significativa

(p≥0,05) entre os mesmos tratamentos para os cortes na saída da sala de desossa.

Sendo assim, notou-se que a elevação de temperatura para estas duas

temperaturas ambiente foi muito próxima, o que indica que mesmo a temperatura da

sala sendo maior em 2 °C, pelo que é permitido pela legislação brasileira, se houver

agilidade na desossa e se as carcaças entrarem na sala de desossa com uma

temperatura mais baixa é possível aumentar a temperatura da sala.

Na Tabela 2 são apresentados os valores médios de temperatura registrados

para a temperatura profunda de entrada da picanha na sala de desossa. Houve

diferença significativa (p≤0,05) entre as temperaturas profundas de entrada da

picanha para 10 °C quando comparadas com 12 °C e 14 °C, não sendo verificada

diferença significativa (p≥0,05) entre as temperaturas do corte para as duas últimas

temperaturas mencionadas.

Mais uma vez, a porcentagem de elevação do tratamento a 10 °C foi maior

que os tratamentos a 12 °C e 14 °C, porém a temperatura foi mais baixa tanto na

entrada quanto na saída deste corte da sala de desossa. Também não foram

verificadas temperaturas acima do limite estabelecido pela legislação brasileira (≤ 7

°C).

Houve diferença significativa (p≤0,05) entre a temperatura profunda de saída

da picanha para o tratamento a 10 °C quando comparadas com 12 °C e com 14 °C.

Não foi detectada diferença significativa (p≥0,05) entre as temperaturas profundas

de saída de 12 °C e 14 °C.

As elevações de temperatura para cada um dos tratamentos, em valores

absolutos, não mostraram diferenças significativas (p≥0,05). o entanto, a elevação

de temperatura foi percentualmente menor nas temperaturas mais elevadas da sala

de desossa (29,4% para 10 °C; 21,4% para 12 °C; e 17,1% para 14 °C).

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A partir dos valores encontrados nas amostras, para todas as temperaturas

da sala de desossa, não houve extrapolação de temperatura, e nem foi observado

aumento de temperatura acima daquele permitido pela legislação (≤ 7 ° ). Dessa

maneira, e com os resultados desse estudo, observou-se que pode sim ser elevada

para 12 °C ou ainda para 14 °C a temperatura da sala, sem ter prejuízos quanto à

elevação de temperatura.

As curvas de elevação de temperatura profunda dos cortes foram construídas

para a picanha, e para a temperatura profunda dos cortes. As aferições realizadas

no coxão mole foram consideradas de pouca utilidade, tendo em vista que a grande

massa muscular deste corte demanda muito tempo para evidenciar mudanças de

temperatura no interior dos tecidos. A picanha, ao contrário, é considerada um corte

de tamanho pequeno, de grande relação superfície/volume e que, portanto, favorece

uma grande troca de calor com o ambiente. Quanto maior a superfície externa de

contato com o ambiente, maior é a troca de calor.

Foram construídas curvas de elevação de temperatura profunda da picanha

para as temperaturas de trabalho da sala de desossa de 10 °C, 12 °C e 14 °C.

A partir da análise dos resultados, verificou-se que a equação que melhor

representou os valores obtidos foi a linear (y = a + b x), que apresentou valores do

coeficiente de determinação (R2) superior a 90%. Os valores dos coeficientes de

determinação (R2) para o tratamento 10 °C foi de 98,72; para o tratamento 12 °C foi

de 97,26; e para o tratamento 14 °C foi de 99,57. Enquanto que os valores dos

coeficientes de regressão (b) para o tratamento 10 °C foi de 0,046; para o

tratamento 12 °C foi de 0,074; e para 14 °C foi de 0,123. Estes valores justificam o

uso da equação linear.

Observou-se que os valores do coeficiente de regressão são crescentes,

confirmando que a elevação de temperatura dos cortes é proporcional à temperatura

da sala, conforme Figura 1.

Portanto, as equações calculadas, que melhor representam a elevação de

temperatura dentro da sala de desossa para as diferentes temperaturas ambiente

são as seguintes: tratamento 10 °C: y = a + 0,046*x; tratamento 12 °C: y = a +

0,074*x; tratamento 14 °C: y = a + 0,123*x (Figura 1).

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-1

0

1

2

3

4

5

6

7

8

5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60

Tempo de processo (minutos)

Tem

pera

tura

pro

fun

da (

°C)

10 °C 12 °C 14 °C

FIGURA 1 - Curva da elevação de temperatura profunda da picanha para as

temperaturas ambiente 10 °C, 12 °C e 14°C.

Nas equações apresentadas, “y” representa a temperatura profunda, “a”

representa a temperatura profunda de entrada dos cortes na sala, e “x” o tempo de

permanência dentro da sala.

Na construção das curvas teóricas, para cada temperatura ambiente e para

fazer os cálculos das velocidades de elevação de temperatura profunda, sendo a

última, uma variável dependente da temperatura ambiente, empregou-se as

equações estabelecidas anteriormente. Foram estabelecidos também, os tempos

máximos de permanência dos cortes dentro da sala de desossa - conforme a

temperatura profunda de entrada - para cada temperatura ambiente (Tabela 3 e

Figura 1), de modo a garantir a saída do corte cárneo da sala de desossa a uma

temperatura máxima de 7 °C.

Na Tabela 3 verifica-se que quando a temperatura ambiente da sala de

desossa for de 10 °C, os cortes podem entrar com no máximo 6,77 °C, se o tempo

de permanência for de 5 minutos, e 4,24 °C se o tempo for de 60 minutos.

Igualmente, quando a temperatura ambiente for de 14 °C, os cortes podem entrar no

máximo a 6,38 °C, se o tempo de permanência for de 5 minutos, e - 0,38 °C se o

tempo for de 60 minutos.

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TABELA 3 - Tempo de permanência da picanha na sala de desossa, para cada

temperatura ambiente relacionado à temperatura profunda.

Tempo de permanência (minutos)

Temperaturas ambiente (°C)

10 °C 1 12 °C 1 14 °C 1

5 6,77 6,63 6,38 10 6,54 6,26 5,77 15 6,31 5,89 5,16 20 6,08 5,52 4,54 25 5,85 5,15 3,92 30 5,62 4,78 3,31 35 5,39 4,41 2,70 40 5,16 4,04 2,08 45 4,93 3,67 1,46 50 4,70 3,30 0,85 55 4,47 2,93 0,24 60 4,24 2,56 - 0,38 1 Temperatura profunda dos cortes à entrada da sala de desossa

Atualmente, no estabelecimento de abate no qual o trabalho foi realizado, a

média da produção por lote de desossa é de 14 quartos por hora. Assim, a desossa

de um quarto demora, em média, menos de cinco minutos e o tempo de

permanência do corte na sala de desossa varia de 15 minutos até, no máximo, 20

minutos.

Partindo dos dados de produção da unidade de abate onde o estudo foi

realizado, foram feitos os cálculos para tempos de permanência e temperaturas

máximas da carne atendendo o Regulamento (CE) n.o 853/2004, que estabelece

que durante a desmancha, desossa, aparagem, corte em fatias, corte em cubos,

acondicionamento e embalagem, a carne seja mantida a uma temperatura não

superior a 3 °C no caso das miudezas e a 7 °C no caso do restante da carne,

através de uma temperatura ambiente máxima de 12 °C ou de um sistema

alternativo de efeito equivalente.

Observou-se também que, para um tempo de permanência médio do corte na

sala de desossa de 30 minutos e em temperatura ambiente da sala de desossa de

12 °C, o traseiro deve entrar na sala de desossa com temperatura de 4,78 °C, como

máximo. Esta condição deve nortear o sistema de produção na maioria dos

estabelecimentos de abate brasileiros.

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Analisando as curvas de regressão construídas, verifica-se que para um

tempo de permanência dos cortes dentro da sala de desossa de 20 minutos, e

considerando uma temperatura máxima de saída de 7 °C, as temperaturas de

entrada dos quartos traseiros não podem superar os 6,0 °C; 5,5 °C; 5,3 °C; e 4,5 °C

para temperaturas da sala de 10 °C, 12 °C, e 14 °C, respectivamente. Portanto, para

se ter uma margem de segurança confiável no caso de trabalhar com uma

temperatura de 12 °C, os quartos traseiros deveriam entrar na sala de desossa no

máximo a 5 °C.

Na Figura 2, são apresentados os dados da Tabela 3, em forma de gráfico,

podendo verificar que as curvas de regressão foram decrescentes, e, portanto os

coeficientes de regressão foram negativos.

-1

0

1

2

3

4

5

6

7

8

5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60

Tempo de permanência na sala de desossa (minutos)

Tem

pera

tura

pro

fun

da (

°C)

10 °C 12 °C 14 °C

FIGURA 2 - Curvas de regressão apresentando a temperatura profunda da picanha

na entrada da sala de desossa, com o tempo máximo de permanência e

saída da picanha com temperatura máxima de 7 °C.

Em relação ao pH , não foi constatada diferença significativa (p≥0,05) entre os

valores da picanha no matadouro-frigorífico 1 e no matadouro-frigorífico 2 à entrada

e à saída da sala de desossa. Os valores de pH mantiveram-se na faixa de 5,7 a

5,9. Dessa maneira, observou-se que a elevação de temperatura dos cortes, entre a

entrada e saída da sala de desossa, não permitiu a modificação do pH dos cortes

estudados.

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Segundo a legislação brasileira (BRASIL, 1981), o pH ideal para o

consumo da carne é entre 5,8 e 6,2. As carnes com o pH até 6,4 devem ser

consumidas imediatamente, e acima de 6,4 são classificadas como “ início de

decomposição.

De forma geral, observou-se que variações na temperatura de entrada e

de saída irão ocorrer, pois trata-se de elevação de temperatura devido à própria

diferença de temperatura dos cortes em relação à temperatura ambiente. Porém,

é possível controlar esta elevação, para que seja mantido o valor de temperatura

estipulado pela legislação (7 °C). Dessa maneira, deve-se reduzir a temperatura

de entrada dos cortes na sala de desossa, ou ainda controlar o tempo de

permanência desses cortes dentro da sala de desossa, como foi observado neste

estudo.

4 CONCLUSÕES

Independentemente do corte analisado, as temperaturas superficiais e

profundas terão elevação de temperatura enquanto a carcaça é desossada. Isso

ocorre naturalmente devido à diferença de temperatura do corte em relação à

temperatura ambiente da sala de desossa.

Porém esta elevação não será significativa a ponto de extrapolar a

temperatura aceitável do corte, desde de que sejam encaminhados para a sala de

desossa com temperatura inferiores a 7 °C, e ainda controlando-se o tempo de

permanência dos cortes na sala de desossa. Assim, será respeitado a temperatura

dos cortes, como estabelecida pela legislação brasileira, além das normas européia,

norte-americana e australiana,

Sugere-se que é possível aumentar a temperatura da sala de desossa para

12 °C ou ainda para 14 °C, desde que não seja ultrapassada a temperatura de 7 °C,

que é a limite para os cortes após ser realizada a refrigeração.

Evidentemente, seria necessário uma melhor investigação quanto ao uso de

temperatura acima da que é permitida, para responder com maior fidelidade à essa

suposição. Porém, como observado, é possível aumentar a temperatura da sala de

desossa controlando-se duas variáveis, que são temperatura do corte na entrada da

sala de desossa, e tempo de permanência do corte, enquanto desossado.

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86, n. 1, p. 184-195, 2010. 14. TIPLER, P. A.; MOSCA, G. Física para cientistas e engenheiros, 6. ed. vol 1. Rio de Janeiro: Editora Gen/LTC. 2012. 759 p. 15. UNIÃO EUROPÉIA – UE. Leis etc. Regulamento (CE) N.º 853/2004 do Parlamento Europeu e do Conselho de 29 de abril de 2004. Estabelece as regras básicas de higiene a respeitar pelos operadores do setor alimentar. Jornal Oficial da União Européia, 30 abr. 2004. 16. ZHOU, G. H.; XU, X. L.; LIU, Y. Preservation Technologies for fresh meat – a review. Meat Science, Essex, v. 86, n. 1, p. 119-128, sep. 2010.

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CAPÍTULO 3 - AVALIAÇÃO DA QUALIDADE BACTERIOLÓGICA E PREDITIVA

DE CORTES CÁRNEOS BOVINOS DESOSSADOS A DIFERENTES

TEMPERATURAS AMBIENTE

RESUMO

Foram realizados dois experimentos com o objetivo de avaliar características microbiológicas de carne bovina submetida ao processo de desossa sob diferentes temperaturas ambiente. A partir de três diferentes temperaturas ambiente, denominadas 10 °C (determinada pela legislação brasileira vigente), 12 °C (utilizada como uma temperatura proposta pelas indústrias como novo valor a ser aplicado) e 14 °C (temperatura ambiente de 14 °C, utilizada como margem se segurança para a temperatura proposta), realizou-se análise bacteriológica em dez peças de picanha, no matadouro-frigorífico 1, e em dez peças de filé mignon e dez peças de picanha no matadouro-frigorífico 2. O mesmo teste foi realizado em triplicata, constituindo-se em 30 repetições por corte durante o período. Avaliou-se a qualidade microbiológica, pelas análises de contagem padrão em placas para microrganismos mesófilos aeróbios estritos e facultativos viáveis e contagem padrão de microrganismos psicrotróficos, na entrada e na saída dos cortes da sala de desossa, para cada temperatura ambiente especificada. Os dados foram submetidos à análise de variância e teste de Tukey para comparar o efeito das três temperaturas da sala de desossa na variável análise bacteriológica, e também para comparar o efeito das temperaturas ambiente no crescimento microbiano dos cortes, na entrada e na saída da sala de desossa. Após análise dos resultados, observou-se que as contagens de psicrotróficos não apresentaram diferença significativa (p>0,05), em relação às temperaturas avaliadas, nem na picanha, nem no filé. Quanto às contagens de mesófilos, houve aumento na contagem de mesófilos na picanha, entre entrada e saída, no matadouro-frigorífico 1, nos tratamentos 12 °C e 14 °C (p<0,05). No matadouro-frigorífico 2, não houve registro de aumento significativo (p>0,05) na contagem de mesófilos, no filé e na picanha. Concluiu-se que apesar do crescimento de mesófilos, o aumento não foi acima dos limites padronizados pela União Européia que é 3,5 log10 UFC/cm2. Pelo uso da microbiologia preditiva, concluiu-se que é possível aumentar a temperatura da sala de desossa para 12 °C, sem que a qualidade microbiológica da carne seja afetada, pois para os microrganismos Escherichia coli O157, Salmonella spp. e Staphylococcus aureus, não foi observado crescimento tal que pudesse atingir a fase log de crescimento. Palavras chave: Cortes cárneos, contagem bacteriológica, temperatura ambiente,

sala de desossa, microbiologia preditiva

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CHAPTER 3 - BACTERIOLOGICAL QUALITY EVALUATION AND PREDICTIVE

MICROBIOLOGY OF BONELESS BEEF UNDER DIFFERENT TEMPERATURES

ABSTRACT

We carried out two experiments to evaluate microbiologic patterns of beef cuts deboned under different room temperatures. From three different room temperatures, being 10 °C (room temperature equal 10 °C, according to the latest Brazilian law), 12 °C (room temperature equal 12 °C purposed by the industry to be the new value applied) and 14 °C (room temperature equal 14 °C used as safety parameter to the purposed temperature), we carried out microbiological analysis in cap of rump at the slaughter plant 1 and in tenderloin and cap of rump at the slaughter plant 2. The same test was performed in triplicate, comprising 30 repetitions per cut during the trial period. We evaluated the microbiological quality by using the Standard Plate Count to strictly or facultatively aerobic mesophilic microorganisms and the Standard Count to psychrotrophic microorganisms at the entrance and exit of the bone processing room to each specific room temperature. We used analysis of variance and ukey’s test to compare the effect of the three temperatures in the bone processing room on the variable bacteriological analysis, and to compare the effect of room temperature on microorganism growth in beef cuts, at the entrance and exit of the bone processing room. After analyzing the results, we observed that the number of psychrotrophic microorganisms did not show significantly difference (p≤0.05). in relation to the evaluated temperatures, neither in cap of rump (slaughter plant 1) nor in tenderloin and cap of rump (slaughter plant 2). Regarding the mesophilic count, there was a count increase in cap of rump of slaughter plant 1, in treatment 12 °C and 14 °C (p≤0.05). At slaughter plant 2, there was no significant difference on mesophilic count, neither in cap of rump nor in tenderloin. We concluded that although there was microorganisms growth, it was not higher than the established by the European Union, and just four samples showed microbial load higher than 3,5 log10 CFU/cm2. By using predictive microbiology, it was we concluded that it is possible to increase room temperature of the bone processing room to 12 ºC, without affecting the microbiological quality of the meet because we did not observe the log phase for microorganisms Escherichia coli O157, Salmonella spp. and Staphylococcus aureus. Keywords: Beef cuts, bacteriological count, room temperature, bone processing room, predictive microbiology

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1 INTRODUÇÃO

A participação brasileira no mercado internacional de carnes vem crescendo

significativamente, e o Brasil apresenta perspectivas de crescimento em várias áreas

do mercado. As carnes representam uma parte substancial do total das exportações

do agronegócio brasileiro. O consumo brasileiro de carne bovina previsto atingirá 9

milhões de toneladas em 2020 (SOUZA et al., 2011).

DESMARCHELIER et al. (2007) sugerem que para gerenciar com sucesso a

segurança alimentar e a qualidade em relação aos riscos na produção de carne,

uma abordagem total do processo seria necessária. O ideal seria um sistema de

garantia totalmente integrado, com controles eficazes aplicados em todas as etapas

do processo. BAIRD et al. (2006) completam que as indústrias processadoras

devem investigar procedimentos preventivos que possam reduzir os níveis de

bactérias patogênicas, antes que estas possuam a chance de contaminar a

superfície de carcaças.

A carne, por suas características intrínsecas, como composição química,

elevada atividade de água e pH próximo à neutralidade, é um ótimo meio para a

multiplicação de microrganismos (WORCMAN-BARNINKA & LANDGRAF, 2006).

Por isso, conhecer e prevenir a presença de microrganismos que encontram na

carne um ambiente propício para a proliferação constitui fatores determinantes para

a preservação de sua qualidade (MATARAGAS et al., 2003; FONTOURA et al.,

2010).

A contaminação pode ser a principal responsável tanto por perdas

econômicas, provocadas pela deterioração da carne, como também pelos problemas

ligados à saúde do consumidor, em função da ingestão de bactérias patogênicas ou

das toxinas produzidas (SILVA et al., 2001).

Os desafios associados à segurança da carne estão relacionados aos

patógenos e podem ser divididos entre aqueles que lidam com problemas causados

por patógenos de interesse atual, patógenos de preocupação potencial no futuro, as

possíveis adaptações de patógenos, bem como a participação do ambiente para seu

desenvolvimento (SOFOS, 2008).

Muitos são os padrões bacteriológicos adotados pelos países importadores

com o intuito de verificar a qualidade da carne bovina importada. Dentre esses

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padrões, em boa parte desses países, estão incluídas análises bacteriológicas, tais

como contagens e determinações do número mais provável (NMP) dos

microrganismos indicadores, além de contagens de patógenos (FRANÇA FILHO et

al., 2006).

Em alimentos perecíveis, a contagem em placas de bactérias aeróbias

mesófilas pode indicar abuso durante o armazenamento em relação ao binômio

tempo/temperatura. A contagem é comumente empregada para indicar a qualidade

sanitária dos alimentos. Mesmo que patógenos estejam ausentes e que não tenham

ocorrido alterações nas condições sensoriais do alimento, um número elevado de

microrganismos indica que o alimento é insalubre. Assim, a maioria dos alimentos

apresenta, quando essas alterações são detectáveis, números superiores a 106

UFC/g do alimento. Entretanto, há aqueles em que são necessários 107 ou até

mesmo 108 UFC/g do alimento (LANDGRAF, 2008).

Para prever o crescimento de microrganismos, a microbiologia preditiva tem

sido utilizada como ferramenta que possa favorecer a qualidade microbiológica de

carnes. A partir de seu uso, é possível predizer, para estudos específicos, a resposta

de microrganismos determinados quando são variados os fatores para seu

crescimento, como temperatura. Dessa maneira, torna-se viável a aplicação rápida

de modificações e melhoramento nas análises de perigos e pontos críticos de

controle, dentro da indústria de alimentos.

Com o presente estudo, objetivou-se realizar contagens de microrganismos

psicrotróficos e mesófilos em carne bovina para verificar se mudanças na

temperatura ambiente pode influenciar o crescimento desses microrganismos e,

predizer por meio da microbiologia preditiva possíveis aumentos na população de

patógenos na carne.

2 MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado em dois matadouros-frigoríficos, sob Inspeção

Federal, situados em Goiânia (matadouro-frigorífico 1) e em Mineiros (matadouro-

frigorífico 2), respectivamente, no Estado de Goiás. Foi realizado em épocas

distintas, em 2012 e 2013, seguindo normas do Regulamento de Inspeção Industrial

e Sanitária de Produtos de Origem Animal – RIISPOA (BRASIL, 1997).

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Os abates foram realizados conforme rotina do estabelecimento, e as meias-

carcaças foram encaminhadas para as câmaras de resfriamento, onde

permaneceram por 24 a 48 horas antes da desossa, para atingirem temperatura < 7

°C, conforme Portaria n° 304/1996 e Circular n° 463/2004 (BRASIL, 1996, BRASIL,

2004).

No matadouro-frigorífico 1, as análises foram realizadas nos cortes picanha

(Glúteos biceps) e coxão-mole (Semimembranosus) e no matadouro-frigorífico 2,

nos cortes picanha (Glúteos biceps) e filé mignon (Psoas major).

2.1 Controle da temperatura ambiente da sala de desossa

Foram consideradas, nos dois matadouros-frigoríficos, três temperaturas de

trabalho para realização do estudo no ambiente da sala de desossa, sendo 10 °C,

que é o valor de temperatura estabelecida pela legislação vigente no Brasil (BRASIL,

1996; BRASIL, 2004), denominado tratamento controle; 12 °C, como temperatura

proposta pelas indústrias como novo valor a ser aplicado, e ainda margem de

segurança da temperatura de 10 °C, e 14 °C, temperatura utilizada como margem de

segurança para a temperatura proposta.

As temperaturas foram monitoradas em três termômetros digitais localizados

em diferentes regiões da sala de desossa. O termômetro 1 estava posicionado à um

pé-direito de 5 m no teto da sala de desossa, no centro da mesma. O termômetro 2

estava posicionado na parede lateral direita à 2,5 m do piso, no centro da parede, e

o termômetro 3 estava posicionado na mesa de desossa, alocado para registrar a

temperatura do ambiente de manipulação.

Quando as temperaturas da sala (do teto e da parede) apresentaram-se

diferentes da temperatura da mesa de desossa, foi considerada esta última como

temperatura real de trabalho, pois estava mais próxima dos cortes cárneos.

2.2 Avaliação bacteriológica

Em cada matadouro-frigorífico, para cada corte cárneo bovino, foram

amostrados dez peças de picanha, no matadouro-frigorífico 1, dez peças de picanha

e dez peças de filé mignon, no matadouro-frigorífico 2, escolhidos aleatoriamente

em três dias de abate, totalizando 30 peças para cada uma das temperaturas de

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trabalho. Nestes cortes, foram realizadas as análises bacteriológicas, por meio de

avaliação da superfície (“swab”).

No preparo da amostra e das diluições decimais seriadas, foram adotadas as

recomendações contidas na Instrução Normativa n° 62 de 2003 do MAPA (BRASIL,

2003).

Seguidamente, todos os 10 cortes amostrados, continuavam com o processo

de rotina até a entrada da sala de embalagem secundária. Neste ponto, os cortes

eram recolhidos e novamente realizava-se “swab”, nos mesmos cortes amostrados

na entrada, para realizar a comparação destas variáveis entre o momento de

entrada e a saída da sala de desossa, para cada temperatura de trabalho utilizada.

Para cada uma das temperaturas selecionadas, foi realizada uma colheita de

amostras em 10 picanhas em três dias alternados, perfazendo um total de 30

amostras de cortes comerciais (picanha no matadouro-frigorífico 1, e filé e picanha

no matadouro-frigorífico 2) por faixa de temperatura.

Foram obtidas amostras para análises bacteriológicas a partir da superfície

dos traseiros (picanha) no momento de ingresso à desossa e dos mesmos cortes à

saída da sala. No caso da picanha, foi amostrada uma área de 100 cm2, e no filé

uma área de 20 cm2 por meio de gabarito e “swab” umedecido com 5 m de solução

salina peptonada a 0,1%, esterilizados.

Na saída da sala de desossa, os cortes foram retirados da embalagem

primária para realizar a amostragem. As amostras foram identificadas e

acondicionadas em caixas isotérmicas, e imediatamente transportadas para o

Centro de Pesquisa em Alimentos – CPA, da Universidade Federal de Goiás – UFG,

onde foram processadas dentro de 24 horas.

Foram realizadas as seguintes análises:

- Contagem de microrganismos psicrotróficos: as amostras foram submetidas

à contagem padrão de microrganismos psicrotróficos aeróbios estritos e facultativos

viáveis;

- Contagem de microrganismos mesófilos: as amostras foram submetidas à

análise de contagem padrão em placas de microrganismos mesófilos aeróbios

estritos e facultativos viáveis (BRASIL, 2003).

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2.2.1 Análise dos resultados pela microbiologia preditiva

Para consideração do eventual risco de crescimento de bactérias patogênicas

nos cortes devido à maior temperatura ambiente, foi realizado um cálculo teórico

com base nas informações disponíveis sobre microbiologia preditiva. Para estes

estudos foram consideradas as bactérias do gênero Salmonella, Escherichia coli

O157 e Staphylococcus aureus.

s cálculos foram realizados utilizando o programa específico para “cálculo

da fase lag de microrganismos patógenos em carnes” disponibilizado pela página

eletrônica da Universidade de WISCONSIN, nos Estados Unidos da América (THE

UNIVERSITY OF WISCONSIN, 2010), considerando que as bactérias encontram-se

na fase lag e considerado o tempo de permanência do corte dentro da sala por 30

minutos. Também foi considerada a possibilidade da bactéria permanecer nas

instalações e equipamentos por um tempo máximo de 4 h, tempo estimado entre o

início das atividades e a limpeza durante o descanso, e 9 h, considerado como

tempo total do funcionamento da sala de desossa em um dia de trabalho.

2.3 Análise estatística

O delineamento foi inteiramente casualizado, e a unidade experimental foi

uma das amostras, utilizadas em cada um dos três abates, para cada temperatura

da sala de desossa testada.

Os dados foram submetidos à análise de variância e teste de Tukey para

comparar o efeito das três temperaturas da sala de desossa, e o efeito de cada

temperatura na entrada e na saída do corte da sala de desossa, na variável análise

bacteriológica (AYRES et al., 2007).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados das análises microbiológicas para as contagens de

microrganismos aeróbios psicrotróficos, nas amostras de picanha evidenciaram

média geral < 1,0 UFC/cm2, tanto na entrada como na saída dos cortes. Esta baixa

contagem indica que esses microrganismos não são bons indicadores de

contaminação nas carnes, ou em seus cortes, nesta etapa do processo. Por esse

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motivo, estes microrganismos não serão considerados dentro da análise dos

resultados.

Pela análise de variância, não houve diferença significativa (p≥0,05) nas

contagens de microrganismos aeróbios psicrotróficos, na entrada e saída da sala de

desossa, entre todas as temperaturas ambiente (10 °C, 12 °C e 14 °C) uma vez que

não foi constatado crescimento dos mesmos nas amostras. Por ser uma etapa

rápida, não atingiu o tempo para a multiplicação dessa população microbiana.

ambém, não foi observada diferença significativa (p≤0,05) na entrada e

saída da picanha, na sala de desossa, para cada temperatura ambiente estudada.

Neste trabalho, observou-se que a agilidade no tempo de desossa, foi

suficiente para que não aumentasse, a níveis significativos o desenvolvimento das

contagens de psicrotróficos.

Verificou-se que na temperatura ambiente estabelecida pela legislação (10

°C), na temperatura proposta pelas indústrias como novo valor a ser aplicado (12

°C), e na temperatura ambiente de 14 °C, não houve crescimento de

microrganismos psicrotróficos.

Dessa maneira, a partir desses dados, a temperatura ambiente pode ser

aumentada, sem que ocorra perdas de qualidade devido ao crescimento microbiano.

Os resultados comprovaram que não existe diferença significativa entre as

contagens de mesófilos à entrada da sala de desossa entre as temperaturas

ambiente de 10 °C, 12 °C e 14 ° (p≥0,05), ou seja, a contaminação inicial foi

estatisticamente semelhante no início do processo para as três temperaturas de

trabalho, conforme a Tabela 4.

Foi realizada a comparação entre os valores obtidos na contaminação final

para as três temperaturas da sala (10 °C, 12 °C e14 °C). Esta comparação teve por

finalidade verificar se existia diferença significativa entre as temperaturas de saída

dos cortes, determinadas pelas diferenças na temperatura da sala de desossa.

Foi constatada diferença significativa (p≤0,05) entre os valores médios de

log10 UFC/cm2 para a contaminação superficial da picanha, nas contagens de

mesófilos, para 10 °C, quando comparada com 12 °C e 14 °C (Tabela 4), não sendo

verificada diferença significativa (p≥0,05) entre as contaminações superficiais da

picanha para as duas últimas temperaturas de trabalho.

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TABELA 4 - Valores médios e desvio-padrão de contaminação superficial da

picanha por mesófilos, à entrada e à saída da sala de desossa, para

as três temperaturas ambiente (10 °C, 12 °C e 14 °C), expressos

como log10 UFC/cm2.

Contaminação superficial (log10 UFC/cm2)*

Temperatura ambiente (°C)

10 °C 12 °C 14 °C

Entrada 0,75 ± 0,65 aA 1,10 ± 0,78 aA 1,18 ± 0,80 aA Saída 0,78 ± 0,50 aA 1,83 ± 0,83 bB 1,61 ± 0,64 bB Diferença 0,05 a 0,7 b 0,6 b a, b Médias seguidas de letras minúsculas distintas na linha, diferem entre si pelo Teste de Tukey (p < 0,01) A, B Médias seguidas de letras maiúsculas distintas na coluna, diferem entre si pelo Teste de Tukey (p < 0,05)

Pelos resultados contidos na Tabela 4, verifica-se que quando as amostras

foram colhidas em temperatura ambiente de 10 °C, houve aumento mínimo nas

contagens de microrganismos mesófilos. Porém, quando a desossa foi realizada nas

temperaturas de 12 °C e 14 °C houve aumento significativo nas contagens desse

indicador (p≤0,05). Embora este aumento seja significativo, as contagens

mantiveram-se, na maioria das amostras, abaixo dos valores máximos permitidos

pela Decisão da Comissão Européia 2004/379/CE. Para que os valores das

contagens totais viáveis se mantenham a nível aceitável, para bovinos, a média

diária não deve apresentar valores superiores a 3,5 log10 UFC/cm2. O nível marginal

é de 3,5 a 5,0 e nível inaceitável é > 5,0 (UE, 2004).

Fez-se a comparação entre os valores obtidos na contagem inicial nas

amostras a 10 °C, ou seja, na entrada da sala e os valores obtidos na contagem

final, ou seja, na saída da sala.

Os resultados analisados confirmaram a hipótese nula, comprovando que não

existe diferença significativa (p≥0,05) entre as contagens de mesófilos realizadas à

entrada e à saída da sala de desossa para o grupo 10 °C.

Fez-se a comparação entre os valores obtidos na contagem inicial nas

amostras de 12 °C, ou seja, à entrada da sala e os valores obtidos na contagem final

à saída da sala.

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Houve diferença significativa (p≤0,05) entre a contagem de mesófilos à

entrada e à saída da sala de desossa para 12 °C sendo rejeitada a H0 e revelando

aumento significativo destes indicadores durante o processo de desossa.

Fez-se a comparação entre os valores obtidos na contagem inicial e final para

tratamento 14 °C. Foi observado diferença significativa (p≤0,05) entre a contagem de

mesófilos à entrada e à saída para 14 °C revelando aumento significativo destes

indicadores durante o processo de desossa.

Fez-se a comparação das diferenças entre as contagens inicial e final de

mesófilos, para cada amostra individual, e para cada uma das temperaturas (10 °C,

12 °C e 14 °C) da sala de desossa.

Quando calculadas as diferenças entre as contagens de mesófilos à entrada e

à saída da picanha da sala de desossa, para cada uma das amostras

individualmente, observou-se diferença significativa entre 10 °C e 12 ° (p≤0,05),

não sendo constatada diferença significativa (p≥0,05) com 14 °C, nem entre este

último e 12 °C.

Não foi encontrado valores significativos (p≥0,05) nas contagens de

microrganismos psicrotróficos, indicando que esse grupo de microrganismos não

constitui um indicador ideal na avaliação das temperaturas da sala de desossa,

tendo em vista que o tempo de permanência dos cortes é curto na mesma.

A presença de bactérias nos alimentos é natural e inevitável

(MANDAL et al., 2011). Enquanto algumas destas bactérias são envolvidas nos

processos de deterioração, tais como as Pseudomonas spp. (DOULGERAKI et al,

2012.; GRAM et al, 2002), outras bactérias são prejudiciais para

seres humanos.

Segundo DOULGERAKI et al. (2012) o tipo de bactérias e a carga microbiana

inicial, inlfuenciarão no desenvolvimento de diferentes populações microbianas

relacionadas com a deterioração da carne, afetando assim o tipo e taxa de processo

de deterioração. Por isso é necessário realizar as análises microbiológicas,

garantindo assim a segurança das carnes e dos consumidores.

Os resultados expressos nas Tabelas 5 e 6, quando submetidos à análise de

variância indicaram que não houve diferença significativa (p≥0,05) entre a

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contaminação na entrada e na saída, para o filé e para a picanha, em todas as

temperaturas de trabalho.

TABELA 5 - Valores médios e desvio-padrão de contaminação superficial por

mesófilos em filé, à entrada e à saída da sala de desossa, para as

três temperaturas ambiente (10ºC, 12ºC e 14ºC), expressos como

log10 UFC/cm2.

Contaminação superficial (log10 UFC/cm2)*

Temperatura ambiente (°C)

10 °C 12 °C 14 °C

Entrada 0,87 ± 1,24 ªA 0,67 ± 1,01 ªA 1,61 ± 0,86 aA Saída 1,49 ± 0,48 ªA 1,15 ± 0,75 ªA 1,50 ± 0,48 ªA Diferença 0,62 ª 0,48 ª -0,1 ª a, b Médias seguidas de letras minúsculas distintas na linha diferem entre si pelo Teste de Tukey (p < 0,05) A Médias seguidas de letras maiúsculas distintas na coluna diferem entre si pelo Teste de Tukey (p < 0,05)

Foram comparadas as diferenças na contaminação de cada amostra

individual (contagens de mesófilos na saída, menos a contagem de mesófilos na

entrada) entre as três temperaturas de trabalho, porém não foi observada diferença

significativa (p≥0,05), confirmando que as mudanças nas contagens de mesófilos

não foram influenciadas pelos tratamentos aplicados (Tabela 5 e 6).

TABELA 6 - Valores médios e desvio-padrão de contaminação superficial por

mesófilos em picanha, à entrada e à saída da sala de desossa, para

as três temperaturas ambiente (10 °C, 12 °C e 14 °C), expressos

como log10 UFC/cm2.

Contaminação superficial (log10 UFC/cm2)*

Temperatura ambiente (°C)

10 °C 12 °C 14 °C

Entrada 1,10 ± 0,69 aA 2,09 ± 1,60 aA 1,90 ± 1,08 aA Saída 1,12 ± 0,82 aA 1,61 ± 0,80 aA 1,90 ± 0,67 aA Diferença 0,02 ª - 0,48 ª 0,00 a a, b Médias seguidas de letras minúsculas distintas na linha, diferem entre si pelo Teste de Tukey (p < 0,05) A, B Médias seguidas de letras maiúsculas distintas na coluna, diferem entre si pelo Teste de Tukey (p < 0,05)

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53

Os resultados da análise teórica realizada com base na microbiologia

preditiva mostraram que nenhum dos microrganismos patógenos estudados

conseguiu atingir a fase log de crescimento nas temperaturas de 10 °C e 12 °C

incluindo quando foi considerada uma permanência dentro da sala de desossa de

até 9 h (Figuras 1 a 3). Para a temperatura de 14 °C os resultados foram os mesmos

exceto para o caso de Escherichia coli O157 que permanecendo por 9 h dentro da

sala de desossa poderia atingir 0,078 log de crescimento (Figuras 3 a 5).

Estes resultados demonstraram que não existe risco de crescimento de

patógenos pelo aumento da temperatura da sala de desossa até 12 °C.

O crescimento de microrganismos é um processo dependente da

temperatura. Para evitar isso, é absolutamente essencial reduzir a temperatura da

carne, especialmente sobre a sua superfície, imediatamente após o processo de

obtenção, ainda no matadouro-frigorífico (CANO-MUÑOZ, 1991).

0

10

20

30

40

50

60

70

80

10 °C 12 °C 14 °C

Temperatura ambeinte

Porc

enta

gem

(%

)

Escherichia coli O157 Salmonella spp. Staphylococcus aureus

FIGURA 3 - Crescimento dos patógenos Escherichia coli O157, Salmonella spp. e

Staphylococcus aureus em carne bovina, no tempo de permanência na

sala de desossa de 30 minutos, segundo a microbiologia preditiva, nas

temperaturas ambiente de 10 °C, 12 °C e 14 °C.

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0

10

20

30

40

50

60

10 °C 12 °C 14 °C

Temperatura ambiente

Porc

enta

gem

(%

)

Escherichia coli O157 Salmonella spp. Staphylococcus aureus

FIGURA 4 - Crescimento dos patógenos Escherichia coli O157, Salmonella spp. e

Staphylococcus aureus em carne bovina, no tempo de permanência na

sala de desossa de 4 horas, segundo a microbiologia preditiva, nas

temperaturas ambiente de 10 °C, 12 °C e 14 °C.

0

20

40

60

80

100

10 °C 12 °C 14 °C

Temperatura ambiente

Porc

enta

gem

(%

)

Escherichia coli O157 Salmonella spp. Staphylococcus aureus

FIGURA 5 - Crescimento dos patógenos Escherichia coli O157, Salmonella spp. e

Staphylococcus aureus em carne bovina, no tempo de permanência na

sala de desossa de 9 horas, segundo a microbiologia preditiva, nas

temperaturas ambiente de 10 °C, 12 °C e 14 °C.

A partir desses resultados, verificou-se que é possível elevar a temperatura

da sala de desossa para 12 °C, sem que haja crescimento de microrganismos

patogênicos na carne bovina. A microbiologia preditiva pode ser utilizada como uma

ferramenta rápida em uma linha de abate, podendo garantir, a partir dos dados

utilizados para a obtenção dos resultados, que não haverá crescimento de

microrganismos que podem causar danos à saúde dos consumidores.

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4 CONCLUSÕES

Verificou-se que microrganismos psicrotróficos não constituem-se bons

indicadores de contaminação para cortes cárneos, quando a avaliação é realizada

na sala de desossa; visto que o tempo de permanência dos cortes nessa etapa do

processo é rápida o suficiente para não permitir que esses microrganismos de

desenvolvam.

Mesmo havendo crescimento na carga microbiana nas contagens de

mesófilos, esta multiplicação não foi significativa a ponto de reduzir a qualidade

microbiológica dos cortes analisados. Somente quatro amostras apresentaram

valores acima do valor estabelecido pela União Européia, que é 3,5 log10 UFC/cm2.

É possível, por melhores práticas de higiene, conseguir reduzir a carga microbiana

inicial, e com isso manter a boa qualidade microbiológica dos cortes cárneos.

Com relação à microbiologia preditiva, nenhum dos microrganismos

patógênicos estudados, Escherichia coli O157, Salmonella spp. e Staphylococcus

aureus, conseguiu atingir a fase log de crescimento nas temperaturas de 10 °C e 12

°C incluindo quando foi considerado um tempo de permanência dentro da sala de

desossa de até 9 horas.

Dessa maneira, segundo os resultados das contagens microbiológicas e da

microbiologia preditiva, se for controlado o tempo de permanência do corte na sala

de desossa, é possível elevar a temperatura da sala de desossa de 10 °C para 12

°C ou ainda para 14 °C, assegurando qualidade microbiológica de cortes cárneos

bovinos, em relação aos microrganismos patogênicos que foram estudados.

REFERÊNCIAS

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20, n. 2, p. 259-265, 2003. 15. SILVA, J.A. Sanitização da carne bovina com ácidos orgânicos. Parte 1. Higiene Alimentar, São Paulo, v.13, n.60, p.55-62, mar.1999.

16. SOFOS, J.N. Challenges to meat safety in the 21st century, Meat Science,

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lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2004:199:0001:0002:PT:PDF. Acesso em: 20 mar. 2014. 20. WORCMAN-BARNINKA, D.; LANDGRAF, M. Microbiologia de carne irradiada. In: SHIMOKOMAKI, M.; OLIVO, R.; TERRA, N. N.; FRANCO, B. D. G. M. Atualidades em Ciência e Tecnologia de Carnes. São Paulo: Varela, 2006. cap.

14, p. 147-152.

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CAPÍTULO 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elevação de temperatura das carcaças e dos cortes cárneos é inevitável,

devido à diferença de temperatura dos cortes em relação à temperatura ambiente.

Apesar disso, a elevação não será significativa, a ponto de extrapolar a temperatura

a níveis acima do que é preconizado pela legislação brasileira, européia, norte-

americana e australiana (7 °C), desde que seja controlada a temperatura de entrada

dos quartos na sala de desossa e o tempo de permanência dos cortes na mesma.

A partir dos resultados obtidos, há a possibilidade de aumentar a temperatura

ambiente da sala de desossa para 12 °C, e utilizar a temperatura de 14 °C como

margem de segurança, desde que seja não seja ultrapassada a temperatura de 7 °C

nos cortes, utilizando medidas corretivas para redução da temperatura.

Atualmente, a saúde dos funcionários é questão primordial em uma

indústria/matadouro-frigorífico. Dessa maneira, possivelmente a elevação em alguns

graus da temperatura da sala de desossa, poderia melhorar o conforto térmico dos

funcionários. Trata-se de uma hipótese, pois para obterem-se respostas quanto ao

conforto térmico, deveria ser estudado a questão do bem estar dos funcionários de

forma individual, observando se há realmente melhoria do conforto térmico quanto

ao aumento da temperatura no ambiente da sala de desossa.

Para obtenção de resultados na sala de desossa, os microrganismos

psicrotróficos não constituem-se bons indicadores de contaminação, visto que o

tempo de permanência dos cortes nessa etapa do processo é rápida o suficiente

para não permitir que esses microrganismos de desenvolvam. Vale ressaltar que o

aumento da temperatura da sala de desossa em 2 °C, não prejudicou a qualidade

microbiológica das carnes, tendo obtido baixa contagem de microrganismos

psicrotróficos e mesófilos .

Mesmo havendo crescimento na carga microbiana nas contagens de

mesófilos, esta multiplicação não foi significativa a ponto de reduzir a qualidade

microbiológica dos cortes analisados. Somente quatro amostras apresentaram

valores acima do valor estabelecido pela União Européia, que é 3,5 log10 UFC/cm2.