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AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO CAFÉ NO CAMPUS DA UESB DE VITORIA DA CONQUISTA - BAHIA MARILANDA JESUS DE LIMA 2011 MARILANDA JESUS DE LIMA

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AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO CAFÉ NO CAMPUS DA UESB DE VITORIA DA

CONQUISTA - BAHIA

MARILANDA JESUS DE LIMA

2011

MARILANDA JESUS DE LIMA

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AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO CAFÉ NO CAMPUS DA UESB DE VITORIA DA

CONQUISTA - BAHIA

Monografia apresentada à UniversidadeEstadual do Sudoeste da Bahia, como parte das exigêncigias do programa de Pós-Graduação Latu sensu Gestão da Cadeia Produtiva do Café com Ênfase em Sustentabilidade, para obtenção de título de “especialista”

Orientadora Prof. D.Sc. Sylvana Naomi Matsumoto

VITÓRIA DA CONQUISTA - BA 2011

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Quanto mais eu estou fraco e que estou forte “Paulo” Salmo 91

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RESUMO

O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência dos diferentes espaçamentos da arborização com grevílea (Grevillea robusta) na qualidade de produção café e na ocorrência de plantas daninhas em lavouras de café (Coffea arabica L.) no município de Vitória da Conquista – Bahia, por meio de metodologias simples. Através da utilização da metodologia da “ponta do sapato” e da classificação sensorial pela prova de xícara, pode-se afirmar que nas condições estudadas, a densidade de grevíleas não afetou as características físicas e organolépticas da bebida dos cafés arborizados; os cafezais arborizados apresentaram relação inversa entre freqüência de serapilheira e freqüência de plantas daninhas, sendo a maior densidade de grevíleas relacionada à maior porcentagem de pontos com a presença de serapilheira, e quanto menor a densidade de grevíleas, maior porcentagem de pontos com a presença de plantas daninhas foi verificada, sendo assim, a metodologia “ponta de sapato” um bom parâmetro para avaliar as características da cobertura morta e viva de cafezais arborizados.

Palavras-chave: Coffea arabica L., Grevillea robusta, Plantas daninhas.

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SUMÁRIO

RESUMO ......................................................................................................................... 4 

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 6 

2. REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................. 8 

2.1. Cafeicultura em Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. ........................................... 8 

2.2. Arborização em cafezais X incidência de plantas daninhas ................................. 9 

2.3. Grevílea como componente arbóreo ................................................................... 10 

3. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 11 

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 14 

4.1 Caracterização da cobertura viva e morta dos cafezais arborizados .................... 14 

4.2 Qualidade da produção ........................................................................................ 18 

5. CONCLUSÕES ......................................................................................................... 21 

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 22 

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1. INTRODUÇÃO

Muitos estudos específicos têm sido realizados para avaliar as questões que se

referem à arborização de cafezais. Entre os temas de maior interesse encontram-se, a

elevação da qualidade dos frutos e da bebida e a relação entre árvore, plantas

espontâneas com a cultura do café. Devida as atenuações climáticas promovidas pela

arborização (redução de extremos de temperatura, luminosidade e incidência de ventos

amenizadas), há um alongamento do tempo de formação e maturação dos frutos,

tornando a bebida mais doce e agradável ao paladar. A avaliação da qualidade da bebida

é realizada oficialmente desde 1917, através de análises sensoriais, como a “provas de

xícara”, na qual os degustadores aspiram e degustam a bebida. Atualmente esta

regularmentada pela instrução normativa nº 16 do mapa (BRASIL, 2010).

Segundo Carvalho et al. (1994), a qualidade comercial do café é baseada em

características como aspecto, cor, tipo e prova de xícara, que podem ser

complementadas com a utilização de análises físicas e químicas, permitindo, assim, uma

avaliação mais segura desse.

No Estado da Bahia a safra 2009/10, produziu 2.292,7 mil sacas em uma área

produtiva de 139.550 hectares. As variedades cultivadas no Estado são: arábica e

conilon. Nesta safra, o Estado é o quarto produtor nacional. A região do Planalto cultiva

a espécie arábica, onde prevalece a pouca tecnologia e sofreu com os baixos índices

pluviométricos (CONAB, 2010).

As plantas daninhas constituem um importante subsistema da cultura do café e,

quando bem manejadas podem contribuir de modo benéfico, constituindo-se em

elemento de proteção ao solo, evitando a erosão, promovendo a ciclagem de nutrientes,

como fonte de matéria orgânica e nitrogênio. Porém, nas regiões tropicais, os surtos

populacionais das plantas daninhas resultam em elevada concorrência com a cultura,

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principalmente durante as estiagens, quando a disponibilidade de água, energia e

nutrientes são restringidas, podendo ocasionar perdas de 60 a 80% da produção (SILVA

et al, 2006).

O tempo e a complexidade de avaliação das populações de plantas espontâneas

restringem a utilização desta ferramenta de forma cotidiana pelos cafeicultores. A partir

desta necessidade Staver (2001) idealizou a “metodologia da ponta do sapato’ que

permite a avaliação de ocorrência de plantas espontâneas e serrapilheira de modo

simples, rápido e bastante representativa. Ricci et al. (2008) utilizaram com sucesso esta

metodologia para caracterizar a diversidade de plantas invasoras em Turrialba, na Costa

Rica.

Em Vitória da Conquista e região a prática de associação entre a cultura do café

e um componente arbóreo é bastante comum, e se torna uma forma associada para o

controle de plantas daninhas, ale de inúmeros benefícios para a cultura.

Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar a influência dos diferentes

espaçamentos da arborização com grevílea (Grevillea robusta) na qualidade de

produção café, como também a cobertura do solo em lavouras de café (Coffea arabica

L.) no campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia em Vitória da Conquista.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Cafeicultura em Vitória da Conquista, Bahia, Brasil.

No Brasil a cafeicultura é uma das principais atividades agrícolas, com destaque

no mercado externo e interno (BACHA, 1998), já na Bahia a produção da safra 2011 foi

superior em 8,0% à obtida na safra 2010, passando de 2.292,7 mil sacas, para 2.475,7

mil sacas (CONAB, 2011).

A da cafeicultura na Bahia, esta distribuída nas seguintes regiões: Planalto tendo

uma área de 102.338 com 199.559 plantas de café e 12,37 sacas/ha um total de 1.265,9

mil sacas (Vitória da Conquista, Chapada Diamantina, Jequié, Itiruçu, Brejões, Santa

Inês), Cerrado (Oeste da Bahia) 12.606ha e 69.330 cafeeiros, produção de 38,38

sacas/há, 483,8 mil sacas. Faixa Litorânea (Sul, Baixo Sul e Extremo Sul) (BAHIA &

CONAB 2011).

A região sudoeste do Estado da Bahia está localizada no do Planalto de Vitória

da Conquista,com área plantada de 3.019 ha, 1 0.341 covas. Com temperatura média

anual de 21 ºC uma altitude acima de 700 onde se encontram os municípios produtores

de café: Vitória da Conquista, Barra do Choça, Poções, Planalto, Ribeirão do Largo,

Encruzilhada, Itambé, Nova Canaã, Caatiba, Iguaí Boa Nova e Ibicuí. O total das áreas

cultivadas com C. arabica nessa região é de aproximadamente 50 mil hectares, sendo o

município de Barra do Choça o maior produtor da Bahia e do Norte Nordeste do Brasil

(DUTRA NETO, 2004). Ainda segundo Dutra Neto (2009), a região sudoeste da Bahia

é produtora de cafés de alta qualidade e parte dessa produção é direcionada à exportação

para diversos países consumidores.

A altitude média de 900m e a temperatura média anual de 21°C (INMET/UESB, 2004)

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características do município de Vitória da Conquista proporcionam condições

favoráveis ao cultivo de cafeeiros. De acordo com Barreto et al. (1998) e Matsumoto e

Viana, 2004, no município de Vitória da Conquista há uma grande variabilidade

temporal da precipitação, tanto dentro de um mesmo ano como de um ano para o outro.

Segundo Matiello e Coelho (1995), veranicos freqüentes reduzem a formação de folhas

e a frutificação dos cafeeiros. Portanto, essa instabilidade pluviométrica promove

grandes prejuízos para a cafeicultura local.

2.2. Arborização em cafezais X incidência de plantas daninhas

Embora no Brasil predomine o cultivo a pleno sol, a utilização de sistemas

agroflorestais na cafeicultura é uma técnica antiga e muito difundida em diversos países

com grande potencial para o estabelecimento de sistemas de produção mais sustentáveis

(MATIELLO, 1995; SEVERINO; OLIVEIRA, 1999).

Na região Sudoeste das Bahia, a arborização em cafezais tem sido empregada

como anteparo físico, reduzindo a velocidade dos ventos e a perda de água por

evapotranspiração, amenizando os efeitos de limitações hídricas, uma das principais

restrições à produtividade.

O acúmulo da serrapilheira é um aspecto importante da associação entre árvores

e cafezais. Por meio da queda de folhas, ocorre a formação de espessa camada de

material orgânico que, aliada ao sombreamento, controla naturalmente a incidência de

plantas daninhas (MATIELLO e FERNANDES, 1989). De acordo com Clowes &

Logan (1985) a cobertura morta reduz a evaporação das camadas superficiais do solo e

aumenta a infiltração da água, sendo importante principalmente para cafeeiros jovens.

No Quênia, Huxley (1999) verificou que as árvores são associadas aos cafezais para

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reduzir a competição entre cafeeiros e plantas daninhas, sendo esse uma importante

técnica de conservação hídrica.

A competição por água, luz, CO2 e nutrientes entre plantas invasoras e cafeeiros

é uma das principais limitações da exploração cafeeira (LORENZI,1990). Em um

sistema de produção sem o controle de plantas daninhas, a redução da produção nos

cafezais pode atingir até 60% (BLANCO et al., 1978). As plantas daninhas podem

ainda interferir indiretamente em certas culturas agrícolas por hospedarem pragas e

doenças antes de infestarem a própria cultura.

2.3. Grevílea como componente arbóreo

Uma das principais espécies utilizadas na arborização de cafezais é a grevílea

(Grevillea robusta A. Cunn.). Essa espécie arbórea é originária da Austrália e foi

introduzida inicialmente na região Sul do Brasil no início da década de 1970. O objetivo

principal da importação dessa espécie foi atenuar a incidência de ventos fortes e

amenizar os efeitos das alterações bruscas de temperatura, que em muitas situações

induz a ocorrência de fortes geadas. Devido às características de crescimento rápido,

sistema radicular profundo e copa que permite sombreamento gradual a grevílea foi

incorporada com grande sucesso aos cafezais arborizados, sendo introduzido também

nas regiões Sudeste e Nordeste do Brasil.

Além dos atributos acima descritos, a grevílea apresenta um tipo de variação

anatômica em seu sistema radicular denominada de raízes proteóides (WATT &

EVANS, 1999), favorecidas por condições de baixa disponibilidade de fósforo (P),

estresse hídrico e elevadas concentrações de alumínio.

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A estratégia de fixação dessas espécies em ambientes pouco favoráveis ao

crescimento vegetal está relacionada à exsudação radicular de ácidos orgânicos e

enzimas que envolvem a absorção de P.

Devaraj et al. (1999) descreveram a ocorrência do efeito autoalelopata entre

plantas de grevíleas. Extratos de raízes promoveram redução de crescimento e morte de

plântulas de grevíleas.

3. MATERIAL E MÉTODOS

As avaliações foram realizadas em agosto de 2010 na área experimental do

Campus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), no município de

Vitória da Conquista, região Sudoeste da Bahia. A área experimental foi instalada em

janeiro de 2002, sendo constituída por seis campos de observação, dispostos em uma

área de 3,3 hectares. Cada campo de observação foi definido por cafeeiros, cultivar

Catuaí Vermelho 144, dispostos em espaçamento de 3x1m sempre associados a mesma

população de 16 grevíleas, cuja disposição foi diferenciada pelos espaçamentos.

Portanto, a dimensão dos campos de observação assim como a densidade de cafeeiros

foram alternadas em função dos diferentes espaçamentos das grevíleas, constituídos

pelos seguintes valores:

Tratamento 1: densidade de 277 grevíleas ha-1, com espaçamento de 6x6m

Tratamento 2: densidade de 138 grevíleas ha-1, com espaçamento de 6x12m

Tratamento 3: densidade de 123 grevíleas ha-1, com espaçamento de 9x9m

Tratamento 4: densidade de 69 grevíleas ha-1, com espaçamento de 12x12m

Tratamento 5: densidade de 62 grevíleas ha-1, com espaçamento de 18x9m

Tratamento 6: densidade de 31 grevíleas ha-1, com espaçamento de 18x18m

Ensaio1: Avaliação da ocorrência de plantas espontâneas

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Para a coleta dos dados, aplicou-se a metodologia da “ponta do sapato”,

idealizada por Staver (2001). Nas entrelinhas dos cafeeiros O avaliador caminhou em

linha reta, na direção paralelas às ruas, por uma distância de dez passos, definindo um

ponto de observação. Neste ponto, em frente ao calçado do avaliador, em uma área de

abrangência de aproximadamente um lápis de diâmetro, foi verificada a ocorrência dos

seguintes materiais:

- solo nu

- serapilheira

- planta daninha de folha larga

- planta daninha de folha estreita

Para cada campo de observação, foram definidos a partir da análise de variância

da regressão (significativo a 10% pelo teste F), coeficiente de determinação superior a

50% e significado biológico.

Ensaio2: Avaliação da qualidade de grãos

Após a colheita manual de frutos cereja, em diferentes cafeeiros, distribuídos ao

longo da área experimental, estes foram submetidos à secagem em terreiro de cimento

protegido por estrutura de material plástico transparente. Amostras simples foram

retiradas de toda a extensão do terreiro, formando então amostras compostas de cada

uma das parcelas dos cafés colhidos em cada um dos campos de observação, sendo estes

acondicionadas em sacos de papel, mantendo a umidade em 12%, sendo armazenadas

no Laboratório de Fisiologia Vegetal.

Posteriormente as amostras foram encaminhadas para a Cooperativa Mista

Agropecuária Conquistense (COOPMAC) e submetidas a beneficiamento e

classificação.

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Amostras de 100g de cada parcela do experimento foram classificadas de acordo com os

atributos físicos, como a presença de defeitos intrínsecos (grãos conchas, marinheiro,

ardido, entre outros) e extrínsecos (presença de paus, pedras, cascas, etc.), e a peneira,

através de um jogo de peneiras que permite a passagem de grãos, até que grande parte

da amostra seja retida, determinando assim o tamanho do grão do café, e organolépticos

no Laboratório de Classificação de Qualidade do Café da referida Cooperativa.

Para os atributos físicos foram separadas 300g da amostra, feita a separação de

todos os definidos do café, e realizada equivalência de notas, classificando assim a

amostra por tipo, principalmente pelas características de porcentagem de frutos mal

granados e rendimento.

Para a avaliação organoléptica foi realizada a classificação sensorial através de

prova de xícara realizada por um profissional habilitado e credenciado pelo Ministério

da Agricultura. De maneira uniforme, 100g de café foram torrados de forma lenta,

uniforme e clara, característica da torra americana e, em seguida foram moídas para

serem degustadas. Utilizou-se oito xícara s com 30 g de café moído sendo diluídos em

300 ml de água a 90°C. Após realizada a degustação, foi atribuída uma nota, definida

pela adstringência, doçura, corpo e acidez.

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Figura 1. Metodologia “ponta do sapato”. Vitória da Conquista, Bahia, 2010.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Caracterização da cobertura viva e morta dos cafezais arborizados

Foi verificada tendência de elevação da porcentagem de serapilheira em função

da elevação da densidade de grevíleas, definida pelo modelo raiz quadrada (Figura 1).

Para a maior densidade de grevíleas (277 árvores ha-1), em todos os pontos avaliados da

superfície do solo foi verificada a presença de serapilheira.

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Ŷ*= 7,40964+4,37838X0,5+0,0772062X (R2=0,8294) *significativo a 5%, pelo teste F

Figura 1. Porcentagem de ocorrência de serapilheira em cafezais arábica associados a

diferentes densidades de grevíleas. Vitória da Conquista, Bahia, 2010.

Comportamento divergente foi verificado para a ocorrência de plantas

espontâneas, sendo caracterizada por uma relação negativa com o aumento do número

de grevíleas, até atingir o valor mínimo de 5,85% para a densidade de 123 árvores por

hectare (Figura 2). A partir deste ponto, os decréscimos foram mantidos, entretanto,

com menor intensidade, até atingir a ausência de plantas daninhas, em áreas com a

densidade de 277 grevíleas ha-1. As áreas com sombreamento reduziram e chegaram até

a impedir o aparecimento de plantas daninhas (de folha larga e folha estreita) nas

entrelinhas do cafeeiro.

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Para 0 ≤ X ≤ 123: Ŷ**= 79,9448 - 0,602436X (r2=0,964216) Para 123 < X ≤ 277: Ŷ* = 9,713 - 0,035X (r² = 1) * e **significativo a 5 e 1%, pelo teste F

Figura 2. Porcentagem de ocorrência de plantas espontâneas em cafezais arábica

associados a diferentes densidades de grevíleas. Vitória da Conquista, Bahia, 2010.

Considerando a morfologia de plantas daninhas, essas podem ser divididas

basicamente em plantas de folhas largas e plantas de folhas estreitas. A quase totalidade

das plantas de folhas estreitas pertencem ao grupo de plantas com metabolismo C4 e as

plantas de folhas largas são classificadas como plantas do grupo C3.

A ocorrência de plantas espontâneas de folhas estreitas manteve comportamento

decrescente em função da densidade de árvores (Figura 3). Entretanto, para plantas de

folhas largas foi verificada elevação inicial até 105 árvores ha-1, seguida por

decréscimos até 277 plantas ha-1 (Figura 4). Devido às plantas C4 responderem bem a

condição de elevada luminosidade, houve elevado vigor nos tratamentos a pleno sol,

resultando em elevado potencial de competição com outras plantas espontâneas (TAIZ &

ZEIGER, 2004). Para as plantas C3, a condição ideal foi estabelecida com intensidade de

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sombreamento intermediário, ocorrendo decréscimos até atingir a nulidade de valores

para o tratamento com 277 grevíleas ha-1.

Ŷ* = 46,32 - 0,307x + 0,000x2 (R² = 0,906) *Significativo a 5%, pelo teste F Figura 3. Porcentagem de ocorrência de plantas espontâneas de folhas estreitas em

cafezais arábica associados a diferentes densidades de grevíleas. Vitória da Conquista,

Bahia, 2010. 

A predominância de plantas espontâneas monocotiledôneas nas áreas com maior

incidência de radiação solar também foi observada por Souza et al. (2003) em estudos

de composição florística de plantas daninhas em sistema agroflorestal composto por

cupuaçuzeiros e pupunheira. Em Chiapas, México, Soto-Pinto et al. (2002) observaram

em cafezais arborizados com diferentes espécies arbóreas e arbustivas, predominância

de ervas de folhas largas em relação às plantas daninhas classificadas como poáceas.

Nesse caso, Soto-Pinto et al. (2002) verificaram que, além da restrição de incidência

luminosa promovida pela estrutura de cultivo em multi-estrato, realização de duas

capinas anuais e o uso das ervas espontâneas para fins medicinais e forragem para

alimentação animal interferiram na elevação da heterogeneidade ambiental.

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Marchante et al. (2006) verificaram que a ocorrência de um número elevado de

plantas daninhas monocotiledôneas em dunas arborizadas com acácias, foi um dos

fatores que promoveu a redução da diversidade de espécies em relação à dunas mantidas

a pleno sol.

Ŷ* = 50,00 + 0,554x - 0,002x2 (R² = 0,9780) *Significativo a 5%, pelo teste F Figura 4. Porcentagem de ocorrência de plantas espontâneas de folhas largas em

cafezais arábica associados a diferentes densidades de grevíleas. Vitória da Conquista,

Bahia, 2010.

4.2 Qualidade da produção

Quando foram avaliadas as características físicas relativas à porcentagem de

frutos mal granados e rendimento, foi verificada homogeneidade de valores entre os

tratamentos, não ocorrendo diferenças entre eles (Figura 5 e 6). Souza (2010) verificou

que a arborização de cafezais arábica com grevíleas reduziu o rendimento quando

comparado aos mantidos a pleno sol. Entretanto, os valores de rendimento dos café

arborizados foram inferiores aos observados no presente estudo.

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Embora não tenha sido detectada diferença entre os tratamentos, foi observada

tendência de decréscimos com aumento da densidade de grevíleas para a porcentagem

de frutos mal granados. Indicações de que tal gradiente tenha efeito de redução da

ocorrência de frutos mal granados foi observado por Souza (2010) que verificou menor

porcentagem de grãos brocados e chocos e menor número de defeitos para cafés

arborizados em relação aos provenientes de café a pleno sol.

*Letras semelhantes indicam ausência de diferenças significativas a 5%, pelo teste de Tukey

Figura 5. Porcentagem de frutos mal granados provenientes de cafezais arábica

associados a diferentes densidades de grevíleas. Vitória da Conquista, Bahia, 2010.

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*Letras semelhantes indicam ausência de diferenças significativas a 5%, pelo teste de Tukey

Figura 6. Rendimento de grãos provenientes de cafezais arábica associados a diferentes

densidades de grevíleas. Vitória da Conquista, Bahia, 2010.

As maiores notas relativas às características organolépticas da bebida foram

atribuídas aos cafés cultivados sob densidades de 30, 123 e 277 grevíleas ha-1 (75, 76,7

e 76, respectivamente) (Figura 7). Assim, significa dizer que a possibilidade de bebidas

de melhor qualidade, de dura para melhor, é superior, sendo essa probabilidade nos

demais casos, de ocorrer bebidas de menor qualidade, como riada, rio e riozona. Estes

valores foram superiores aos verificados para a densidade de 138 árvores ha-1 (63,3).

Entretanto, a diferença entre a maior e a menor nota foi de 13,4, não sendo possível

distinguir, no presente momento, as causas de tais variações.

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*Letras distintas indicam diferenças significativas a 5%, pelo teste de Tukey

Figura 7. Nota referente à qualidade de bebida de cafezais arábica associados a

diferentes densidades de grevíleas. Vitória da Conquista, Bahia, 2010.

5. CONCLUSÕES

A densidade de grevíleas não afetou as características físicas e organolépticas da

bebida dos cafés arborizados.

Para os cafezais arborizados foi verificada relação inversa entre freqüência de

serapilheira e freqüência de plantas daninhas.

Maior densidade de grevíleas foi relacionada à maior porcentagem de pontos com

a presença de serapilheira

Quanto menor foi a densidade de grevíleas, maior porcentagem de pontos com a

presença de plantas daninhas foi verificada, principalmente para plantas C3

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A metodologia “ponta de sapato” aparenta ser um bom parâmetro para avaliar as

características da cobertura morta e viva de cafezais arborizados.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BACHA, C.J.C. A cafeicultura brasileira nas décadas de 80 e 90 e suas

perspectivas. Preços Agrícolas, v.7, n.142, p.14-22, ago. 1998.

BAHIA, Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária. Diagnóstico e

propostas para a cadeia produtiva do café da Bahia. Salvador: SEAGRI,2011.

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