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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA Jader dos Santos Miranda Avaliação Numérica do Desempenho Mecânico de um Compósito Vitrocerâmico São João Del-Rei, 2011

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

Jader dos Santos Miranda

Avaliação Numérica do Desempenho Mecânico de um Compósito

Vitrocerâmico

São João Del-Rei, 2011

I

Jader dos Santos Miranda

Avaliação Numérica do Desempenho Mecânico de um Compósito

Vitrocerâmico

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da Universidade Federal de São João Del-Rei, como requisito para a obtenção do titulo de Mestre em Engenharia Mecânica

Área de Concentração: Materiais e processos de Fabricação Orientador: Prof. Dr. Avelino Manuel da Silva Dias Co-orientador: Prof. Dr. André Luis Cristóforo

São João Del-Rei, 2011

II

F64p

Miranda, Jader dos Santos

Título: Avaliação Numérica do Desempenho Mecânico de um Compósito Vitrocerâmico / Jader dos Santos Miranda - São João Del-Rei, MG: [s.n.], 2011.

Orientador: Prof. Dr. Avelino Manuel da Silva Dias.

Dissertação/Tese - Universidade Federal de São João Del-Rei.

1. 2. 3. 4. I. . II. Universidade Federal de São João Del-Rei. III. Título.

III

IV

Dedico este trabalho de maneira muito especial ao meu pai Francisco, minha mãe Cleonice e minha avó Maria Rosa.

V

Agradecimentos Agradeço a DEUS por guiar-me em mais esta fase de minha vida;

Aos meus pais pelo incentivo em todos os momentos;

A minha avó Maria Rosa pela bondade, carinho e amor (saudade eterna);

Aos meus irmãos pela força, companheirismo e união;

Aos amigos pela presença;

A minha namorada pela paciência e amor;

Ao meu orientador Professor Avelino Manuel da Silva Dias, pelo conhecimento

compartilhado e apoio;

Ao meu co-orientador Professor André Luis Christóforo;

A todos os professores e colegas, que ajudaram de forma direta e indireta;

A John Hough e a MSC. Software do Brasil pelo apoio;

Ao Departamento de Engenharia Mecânica da UFSJ e ao Departamento de

Engenharia Metalúrgica e de Minas da UFMG, pelo apoio para execução deste

trabalho.

VI

“Uma mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original.” Albert Einstein

VII

Resumo

Os constantes avanços na indústria originam-se da necessidade de

desenvolvimento de soluções para as mais variadas aplicações. A engenharia

mecânica tem apresentado inovações no que tange à ciência dos materiais

submetidos a esforços diversos. Estudos recentes demonstram o potencial de

algumas classes de materiais, destaque especial para os cerâmicos. Neste trabalho

estudou-se fundamentalmente a sub-classe vitrocerâmica através da análise do

Zerodur. Zerodur é nome comercial dado a um material inorgânico de baixa

expansão térmica, largamente utilizado em equipamentos submetidos a grandes

variações de temperatura, onde é necessário manter boa precisão de forma e

geometria. Possui elevada dureza superficial e conseqüentemente certa fragilidade

quando submetido à tração. No intuito de potencializar as características mecânicas

do Zerodur propõe-se a junção do mesmo com outros materiais (material

compósito). Com auxílio do método dos elementos finitos torna-se possível analisar

o comportamento global do compósito quando submetido a forças externas. Neste

trabalho utilizou-se o solver comercial de elementos finitos Marc™ na análise

numérica computacional de estruturas Zerodur - Aço. O objetivo deste trabalho é

simular o comportamento do compósito quando submetido ao ensaio de flexão em

três pontos através da análise da rigidez mecânica, campos de tensão na interface

Zerodur®/Aço, influência da força cortante nas vigas segundo modelos de Euler

Bernoulli e Timoshenko e implementação de modelos com trinca difusa.

Palavras-chaves: Compósitos, Elementos Finitos, Simulação Numérica, Zerodur®,

Trinca Difusa.

VIII

Abstract

The constant advances in the industry come from the need to develop solutions

for a variety of applications. Mechanical Engineering has presented innovations

regarding the science of materials subjected to various efforts. Recent studies

demonstrate the potential of some classes of materials, special emphasis on

ceramics. In this paper we study primarily the sub-class by examining the Zerodur®

ceramic glass. Zerodur is the commercial name given to an inorganic material with

low thermal expansion, widely used in equipment subjected to large temperature

variations, where it is necessary to maintain good precision of form and geometry. It

has high surface hardness and hence fragility when subjected to tension. In order to

enhance the mechanical characteristics of Zerodur proposes to merge the same

with other materials (composite). With use of the finite element method is possible to

analyze the overall behavior of the composite when subjected to external loads. In

this work we used the commercial finite element solver Marc™ on numerical analysis

of computational structures Zerodur - Steel. The main objective of this work is to

simulate the behavior of the composite when subjected to the bending test of three

points through the analysis of mechanical stiffness, stress fields at the interface

Zerodur®/Steel, influence of shear force on the second Euler Bernoulli and

Timoshenko beam models and implementation of crack strain models.

Keywords: Composite, Finite Elements, Numeric Simulation, Zerodur®, Crack

Strain.

IX

Lista de Ilustrações

Página

Figura 2.1 - Padrões de medida fabricados com Zerodur 7

Figura 2.2 - Modelamento de uma calota esférica com 1/8 de simetria 10

Figura 2.3 - Ensaio de flexão em três pontos de viga bi apoiada 12

Figura 2.4 - Ilustração do Ensaio de Flexão Estática a Três Pontos 13

Figura 2.5 - Convenção de sinais positiva para os esforços 15

Figura 2.6 - Diagrama uniaxial de tensão versus deformação para modelo

de trinca difusa 17

Figura 2.7 - Desenvolvimento de trinca perpendicular à direção da tensão

principal 1 19

Figura 3.1 - Corpo de prova para ensaio de flexão de três pontos 21

Figura 3.2 - Modelo bidimensional do ensaio de flexão para o vitrocerâmico

(Zerodur) 23

Figura 3.3 - Modelo Numérico da viga feita de Zerodur, 24

Figura 3.4.- Compósito Zerodur/Aço com duas barras 25

Figura 3.5 - Compósito Zerodur/Aço com três barras 25

Figura 3.6 - Compósito Zerodur/Aço com quatro barras 26

Figura 3.7 - Parâmetros de entrada de uma simulação numérica do

compósito Zerodur®/Aço (Carga de 65 KN distribuída ao longo de 50

incrementos - steps)

27

Figura 4.1 - Condições de contorno do ensaio numérico 31

Figura 4.2 - Distribuição dos campos de tensão na seção central de viga

Zerodur® em três pontos (compósito Zerodur®/Aço - duas barras) 33

Figura 4.3 - Distribuição dos campos de tensão na seção central de viga

Zerodur® em três pontos (compósito Zerodur®/Aço - três barras) 33

Figura 4.4 - Distribuição dos campos de tensão na seção central de viga

Zerodur® em três pontos (compósito Zerodur®/Aço - quatro barras) 34

Figura 4.5 - Avaliação da deformação de trincamento em uma viga do 35

X

compósito Zerodur®/Aço submetida a um carregamento de 65 KN

Figura 4.6 - Nós escolhidos para análise de deformação de trincamento 36

Página

Figura 4.7 - Deformação equivalente de trincamento avaliada por nó na

interface 37

XI

Lista de Tabelas

Página

Tabela 3.1 - Propriedades mecânicas dos materiais 22

Tabela 3.2 - Parâmetros para o modelo de trinca difusa no vitrocerâmico 28

Tabela 4.1 - Valores de deflexão obtidos através dos modelos numéricos

em comparação com a deflexão calculada através da equação analítica de

Euler Bernoulli

29

Tabela 4.2 - Comparação dos valores de deflexão da viga a partir do

ensaio de flexão em três pontos, em função de seu comprimento para uma

mesma seção transversal

30

Tabela 4.3 - Valores de deflexão (Ymax) obtidos através do modelo

numérico e deflexão calculada através da Equação analítica de Euler

Bernoulli

31

Tabela 4.4 - Valores de Ymax obtidos numericamente para diferentes

configurações de vigas Zerodur®/Aço comparados com o valor de Ymax de

um modelo numérico Cem por cento Zerodur®

32

XII

Lista de Abreviaturas e Siglas

MEF - Método dos Elementos Finitos

a.C. - antes de Cristo

MFV - Método das Forças Virtuais

PTV - Princípio dos Trabalhos Virtuais

XIII

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 - Introdução .........................................................................................1

CAPÍTULO 2 - Revisão da Literatura.........................................................................3

2.1 Materiais cerâmicos........................................................................................3

2.2 Vitrocerâmicos................................................................................................4

2.3 Zerodur® ........................................................................................................5

2.4 Materiais compósitos ......................................................................................7

2.5 Método dos Elementos Finitos........................................................................9

2.5.1 Análise Estrutural ......................................................................................11

2.6 Ensaio de flexão em três pontos...................................................................11

2.7 Teoria de vigas .............................................................................................13

2.8 Modelo de Bimodularidade ...........................................................................16

CAPÍTULO 3 - Metodologia.....................................................................................20

3.1 Modelagem numérica ...................................................................................22

CAPÍTULO 4 - Resultados e Discussões ................................................................29

CAPÍTULO 5 - Conclusões......................................................................................38

CAPÍTULO 6 - Referências Bibliográficas ...............................................................40

ANEXOS .................................................................................................................43

1

CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO

Desde a antiguidade o homem busca desenvolver materiais que sejam

adequados para as variadas necessidades e aplicações. Nos dias atuais é notável o

surgimento de estruturas de elevada complexidade oriundas da junção das mais

diversas classes de materiais. Mesmo com o grande progresso no entendimento da

engenharia dos materiais nos últimos anos, remanescem grandes desafios para a

compreensão dos diversos ramos dessa ciência.

A necessidade de desenvolver materiais eficientes para as mais variadas

aplicações tem estimulado a pesquisa por novos compostos que sejam resistentes a

condições adversas. No entanto, a caracterização mecânica destes compostos tem

sido difícil e onerosa, principalmente, por haver uma diferença das propriedades

mecânicas das fases constituintes e do compósito resultante.

Na atualidade alguns materiais tem tido destaque especial em função de suas

propriedades tribológicas. Estudos recentes demonstram o grande potencial dos

materiais cerâmicos, principalmente em condições em que se exige do material

simultaneamente boa resistência ao desgaste, ataque químico e impacto em

temperaturas elevadas.

Os cerâmicos são constituídos basicamente por diferentes elementos químicos,

metálicos e não metálicos, através de ligações iônicas e/ou covalentes. Podem ser

classificados como cristalinos, amorfos ou vitrocerâmicos. (Braun, 2008).

Os vitrocerâmicos possuem características diferenciadas resultantes do

processo de cristalização controlada a que são submetidos durante formação. Estas

características especiais são descritas ao longo do texto, servindo como motivação

para o desenvolvimento desta pesquisa.

2

Neste trabalho estudou-se o comportamento mecânico de um vitrocerâmico

denominado comercialmente de Zerodur, assim como de um compósito tendo com

fase matriz o vitrocerâmico. Neste estudo, simulou-se o comportamento destes

materiais quando submetido ao ensaio mecânico de flexão em três pontos. A

metodologia numérica adotada foi baseada no Método dos Elementos Finitos (MEF).

Analisaram-se estruturas com cem por cento Zerodur e compósitos tendo como

fase matriz o Zerodur e fase dispersa pequenas barras longitudinais de aço. Este

arranjo teve como objetivo melhorar o comportamento mecânico deste vitrocerâmico

quando submetido à esforços de flexão. O deslocamento transversal dos corpos de

provas simulados foi avaliado com o objetivo de comparar a rigidez mecânica quanto

à flexão entre os diferentes materiais e suas configurações.

Em etapa complementar introduziu-se um modelo de trinca difusa para avaliar

possível trincamento (fratura frágil) nos modelos numéricos do compósito em estudo.

Também, avaliou-se o comportamento da força cortante nestes mesmos compósitos

através da comparação dos resultados numéricos com os obtidos pelas teorias de

vigas de Timoshenko e Euler Bernoulli (Gere, 2003).

As simulações propostas neste trabalho utilizaram modelos discretos através

do MEF, o qual é uma técnica numérica confiável para análise de tensões e

deformações e na simulação de diferentes problemas de engenharia. Este método

tem sido utilizado para simular e resolver inúmeros problemas não lineares nas

áreas de instabilidade estrutural, de sistemas dinâmicos e termo-fluidodinâmicos,

sistemas eletromagnéticos e de conformação mecânica. As simulações numéricas

foram executadas no solver comercial de elementos finitos MARC (2010).

3

CAPÍTULO 2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Materiais cerâmicos

Este trabalho tem como base de estudo um material da sub-classe dos

vitrocerâmicos comercialmente denominado Zerodur®, largamente empregado na

indústria moderna. Antes de dissertar sobre aspectos gerais do trabalho é

interessante fazer uma pequena menção ao desenvolvimento dos cerâmicos ao

longo do tempo.

Os materiais cerâmicos são largamente utilizados na fabricação de utensílios

domésticos, isolantes, revestimentos, etc. O aperfeiçoamento da ciência dos

materiais teve grande destaque na revolução industrial, na Primeira e Segunda

Guerra Mundial. No entanto, existem diversos marcos de interesse ao longo dos

tempos.

Há vestígios de cerâmicos que datam desde o período neolítico (10000 a 6000

anos a.C) na forma de potes que eram usados para armazenamento de grãos.

Relacionado com a construção das civilizações, os cerâmicos são utilizados desde

períodos remotos com evidência de grandes blocos, estruturas de sustentação e

revestimentos. A idade da Pedra (10000 a 5000 a.C) foi marcada pela utilização de

artefatos desenvolvidos através de cerâmicas primitivas (Rosa, et. al., 2003).

Durante a revolução industrial (meados do século XVII) os cerâmicos eram

usados em larga escala como revestimento de utensílios. Tal técnica contribuía para

maior durabilidade dos produtos (www.abceram.org.br, acessado em Março/2011).

Como marco recente, tem-se a fase da cerâmica industrial caracterizada pelo

desenvolvimento da indústria mecânica. Nesta fase temos o desenvolvimento dos

materiais modernos, onde se inclui o Zerodur®, aplicações aeroespaciais e

4

tecnologias de ponta, como blindagem térmica de ônibus espaciais, produção de

nanofilmes, sensores, etc.

Os materiais cerâmicos são oriundos do processo de fusão da argila. Possuem

propriedades bem definidas tais como resistência ao ataque de produtos químicos,

resistência a compressão, refratividade, boa dureza superficial. São constituídos

basicamente por elementos metálicos e não metálicos através de ligações iônicas

e/ou covalentes, cuja estrutura após processo de queima em altas temperaturas

apresenta-se inteiramente ou parcialmente cristalizada. Possuem a característica de

serem produtos de cristalização. São classificados em cristalinos, amorfos ou

vitrocerâmicos (Callister Jr., 2000). É interessante fazer uma distinção em sub-

classes, uma vez que neste trabalho restringiu-se os estudos na sub-classe

vitrocerâmica.

A indução da argila sob altas temperaturas tem como resultado a formação de

estruturas cristalinas amorfas e inorgânicas. Ao nível microscópico é facilmente

perceptível a organização da estrutura atômica da cerâmica, de maneira seqüencial

e simétrica, com forma bem definida, apresentando pequenos cristais um do lado do

outro.

2.2 Vitrocerâmicos

Os materiais vitrocerâmicos foram criados a aproximadamente quarenta anos

produzidos à partir da cristalização de materiais vítreos. A cristalização é feita de

maneira controlada, marcada por fenômenos relacionados a reação do vidro com

agentes nucleantes (http://www.redetec.org.br/inventabrasil/zvitcer.htm, acessado

em Março/2011).

Os nucleantes são geralmente óxido de titânio, óxido de fósforo e óxido de

tântalo submetidos a temperaturas que variam de 500° C a 1100° C.

(http://www.redetec.org.br/inventabrasil/zvitcer.htm, acessado em Março/2011).

O processo de fusão é feito de maneira monitorada e contribui diretamente nos

aspectos físicos e químicos destes materiais. Estudos na área da metalurgia do pó

5

contribuíram para produção de vitrocerâmicos cada vez mais homogêneos. O vidro é

fragmentado e a inclusão do agente nucleante é feita de maneira controlada.

2.3 Zerodur®

Em 1968, a Schott Glass Technologies Inc., desenvolveu o Zerodur. Este

novo material foi concebido para aplicações onde mudanças de temperatura são

inevitáveis e podem influenciar negativamente o tamanho e as exatidões de

dimensões. É um material vitrocerâmico usinável de baixa expansão térmica, não

poroso, isotrópico e muito utilizado em aplicações onde ocorrem variações de

temperatura. É caracterizado por uma fase de nanocristais uniformemente

distribuídos dentro de uma fase de vidroresidual, contendo importantes

propriedades.

A produção do Zerodur advém de métodos modernos da tecnologia de

cristais e ópticos. Os cristais são fundidos, refinados, homogeneizados e finalmente

conformados. Após o subseqüente cozimento, diminui-se a pressão, para realização

do tratamento do centro cristalino. Este processo é acompanhado de uma

ceramização precisa, durante a qual os cristais são transformados em vitrocerâmicos

através de uma cristalização de volume controlado (Hartmann, et al., 2008). Durante

este tratamento formam-se núcleos dentro do vidro, e, ocorre o surgimento de

cristais em altas temperaturas. O material resultante é transparente e claro, com as

seguintes propriedades (Döhring, et. al., 2005):

• Coeficiente de expansão térmico extremamente baixo;

• Boa homogeneidade;

• Qualidade interna elevada;

• Bom acabamento superficial;

• Grande estabilidade química.

Basicamente, este vitrocerâmico é formado por óxidos (Li2O, SiO2, Al2O3), com

densidade de 2,53 g/cm³, condutividade térmica de 1,6 W/m.K e coeficiente de

expansão térmica menor 0,10x10-6 m/K (Mirkarimi, et. al., 2000).

6

Ele também possui uma boa processabilidade, ou seja, é de fácil manuseio

durante a sua fabricação, apesar de apresentar uma faixa de temperatura de

sintetização que vai de 700° C a 1000° C (Berezhinsky, et. al., 2004).

A principal característica do Zerodur é a presença de uma fase amorfa que

tem dilatação térmica positiva (expansão) e uma fase cristalina que apresenta uma

expansão térmica negativa (contração), o que lhe proporciona um baixo índice de

variação de tamanho quando submetido a grandes variações de temperatura. Esta

característica é obtida pela nucleação bem definida e condições adequadas de

cristalização, o que torna o Zerodur um material com baixa expansão térmica. Em

determinadas faixas de temperatura seu coeficiente de expansão térmica pode ser

aproximadamente zero ou, até, ligeiramente negativo, dependendo do processo de

ceramização utilizado (Schmitz, et. al., 2002).

Quantitativamente é composto de 70% a 78% de fase cristalina, com alta

solução de quartzo, que dá a sua superfície transparência e o torna mais robusto.

Esta fase apresenta cerca de 11 nm de diâmetro, o que a torna muito dura, de difícil

penetração e com baixa reflexão. Por outro lado, se a parte desta fase ainda receber

uma matriz de sílica fundida é transmitido uma maior proteção (Soufli, et. al., 2007).

Quando nos referimos à transparência do Zerodur é indicado um grau de

transparência para o mesmo, que é definido através da litografia ultravioleta. É uma

técnica que analisa o quanto a fase amorfa interfere nessa transparência, sendo

possível a partir desta análise aperfeiçoar a porcentagem das duas fases para

estabelecer uma maior precisão do grau de pureza desejado (Mirkarimi et. al., 2001).

O Zerodur® possui uma estrutura isotrópica não-direcional tendo superfície não

porosa. As fases cristalinas e vítrea têm características químicas e durezas similares

àquelas de cristais ópticos, podendo ser processado usando máquinas e

ferramentas idênticas com técnicas de cristais e ópticos (por exemplo, corte

trituração e polimento) (Mitra et. al., 2004).

7

Segundo Dohring, et. al. (2006), a capacidade cerâmica do Zerodur®

acompanha por aproveitamento de suas qualidades o processo de tecnologia das

indústrias modernas. Outra peculiaridade deste material é geometria dimensional

(circular ou hexagonal) em conjunto com a qualidade interna e as propriedades do

material.

Devido a sua grande qualidade e desempenho, este material tem sido utilizado

em diversos ramos da indústria moderna como, em elementos óticos para

equipamentos de litografia, peças mecânicas para equipamentos de metrologia de

elevada precisão, espelhos para grandes telescópios astronômicos e padrões para a

tecnologia da medida de precisão, Figura 2.1.

Entretanto, este vitrocerâmico apresenta um baixo módulo de elasticidade,

conseqüentemente, baixa rigidez estrutural, e um comportamento frágil típico de

materiais cerâmicos, limitando seu uso principalmente na aplicação estrutural.

Figura 2.1 - Padrões de medida fabricados com Zerodur

2.4 Materiais compósitos

As inúmeras possibilidades de combinações dos componentes bem como o

desenvolvimento de novos materiais e de novas tecnologias de fabricação, têm

contribuído para o aumento crescente do emprego dos materiais compósitos. Como

conseqüência natural de aplicações cada vez mais numerosas, pode-se notar um

8

crescente avanço nas pesquisas voltadas para a modelagem matemática e

simulações computacionais do comportamento estático e dinâmico de materiais

compósitos. Confeccionados de acordo com as necessidades mecânicas de projeto,

os materiais compósitos são a solução mais adequada quando se necessita de

estruturas mais leves e resistentes, ou combinações de propriedades mecânicas

difíceis de serem obtidas nos materiais convencionais (Pinheiro, et. al., 2006).

Segundo Daniel, et. al. (1994) um compósito estruturado pode ser definido

como um sistema de materiais composto de duas ou mais fases numa escala

macroscópica, cujo desempenho mecânico e propriedades são projetados para

serem superiores as de seus constituintes atuando independentemente. Uma das

fases é geralmente descontínua, mais forte e resistente, sendo denominada dispersa

ou reforçador; enquanto que a fase menos resistente é contínua e denominada

matriz.

A aplicação de materiais compósitos em diversos ramos da engenharia tem

crescido significativamente nos últimos anos, destacando-se as aplicações nas

indústrias aeroespaciais, automobilística, civil, petrolífera, dentre outras.

Diante da motivação pela busca do aumento da resistência mecânica do

Zerodur® propõe-se neste trabalho a adição de barras de aço ordenadas de forma a

trazer uma maior rigidez para a estrutura formada. A opção de utilizar aço como

reforço surgiu da grande difusão do mesmo industrialmente, além de possuir alto

módulo de elasticidade. Cogita-se a possibilidade de usar fibra de carbono mas no

entanto têm-se limitações referentes a construção do compósito e por também

apresentar um comportamento frágil.

No momento atual, o foco é analisar formas de se fabricar o compósito

Zerodur®/Aço. Uma alternativa interessante é a utilização de métodos de fundição,

vazando o Zerodur® ainda em estado líquido sobre as barras de aço. Este método

envolveria altas temperaturas e poderia ter como conseqüências transformações

estruturais do aço. Outra hipótese seria a utilização de processos de fabricação por

meio de usinagem de alta precisão. Tal procedimento consistiria em fazer entalhes

no Zerodur® para adicionar as barras de aço.

9

Estas discussões são escopo de propostas para trabalhos futuros. O que se

pretende neste trabalho é estudar através de modelos numéricos qual seria a

interação do Zerodur® com o Aço e avaliar qual é a relevância deste tipo de

compósito para aplicações industriais onde a variação de temperatura é fator crítico.

2.5 Método dos Elementos Finitos

Segundo Azevedo (2003) o desenvolvimento do método dos elementos finitos

e sua utilização para resolução de problemas de engenharia apresentam alguns

marcos importantes, que datam da década de 60, com a impossibilidade de

resolução de problemas complexos e início da adoção de aproximações e hipóteses

simplificadoras para determinação dos esforços nas estruturas (geometria simples e

aplicação de séries de Fourier). Já na década de 70, houve um avanço no uso desta

metodologia com adoção do uso de elementos finitos triangulares e os tetraédricos,

passando-se, em seguida, a dar preferência aos elementos tridimensionais

quadriláteros e aos hexaedros, na simulação de problemas tridimensionais. A partir

da década de 80, com a difusão do uso de computadores pessoais, houve um

incremento na implementação de problemas complexos e não lineares (geometrias

variadas, múltiplos carregamentos e múltiplos materiais).

Atualmente, o método dos elementos finitos tem sido uma ferramenta numérica

eficiente na área de projeto estrutural que envolve a determinação de forças

internas, deformações e deslocamentos da estrutura. Também é um método

numérico muito utilizado na análise de diferentes problemas físicos em meios

contínuos.

Na solução destes problemas contínuos, utiliza-se de equações diferenciais e

integrais para simular o comportamento de estruturas submetidas a carregamentos

através de análise matriciais e de convergência. Discretiza o problema dividindo o

domínio de integração em um número finito de pequenas regiões denominadas de

elementos, transformando o problema contínuo em um discreto, conforme ilustrado

na Figura 2.2. Calculam-se os deslocamentos, as deformações e as tensões através

de funções de interpolação dentro dos elementos e, em seguida, efetua o somatório

10

destas contribuições ao longo de toda a geometria. Através de equações de

compatibilidade garante-se a continuidade entre os elementos.

No presente trabalho, usou-se o MEF, através do solver comercial de

elementos finitos MARC™(2010), com o objetivo de determinar os campos de

tensões e de deformações de um sólido capaz de representar o comportamento de

corpo de prova do ensaio de flexão feito de diferentes materiais (cerâmico e

compósito).

Figura 2.2 - Modelamento de uma calota esférica com 1/8 de simetria (Fonte:

MSC. MARC™, 2010)

As Equações 2.1 e 2.2 mostram as integrais de domínio base do método dos

elementos finitos. No Anexo I encontra-se uma breve descrição do desenvolvimento

do MEF.

n

i ViV fdVfdV

1 (2.1)

n

iiVV

1 (2.2)

11

2.5.1 Análise Estrutural

O objetivo da análise estrutural é determinar os efeitos das ações em uma

estrutura auxiliando no cálculo das tensões, deslocamentos e deformações

decorrentes de esforços diversos em uma parte ou em toda a estrutura. A análise

deve ser feita com um modelo estrutural realista, que permita representar de

maneira clara todos os caminhos percorridos pelas ações até os apoios da estrutura.

Tal afirmação confirma a necessidade de modelar com perfeição as condições de

contorno da estrutura real a ser simulada via método dos elementos finitos. O bom

entendimento do ensaio real é crucial para o modelamento adequado. A idealização

estrutural é a formulação de um modelo matemático de elementos discretos

equivalente à estrutura contínua real.

Os métodos numéricos de análise estrutural podem ser subdivididos em dois

tipos: soluções numéricas de equações diferenciais para deslocamentos ou tensões,

e métodos matriciais baseados na idealização discreta em elementos estruturais. No

primeiro tipo a análise é baseada na aproximação matemática de equações

diferenciais. As equações de elasticidade são resolvidas para uma configuração

estrutural, tanto por técnicas de diferenças finitas quanto pela integração numérica

direta. (Azevedo, 2003)

No segundo tipo a teoria é desenvolvida na álgebra matricial. A estrutura é

inicialmente idealizada com uma montagem de elementos estruturais discretos com

formas da distribuição de deslocamentos e tensões, e a solução completa é então

obtida pela combinação dessa distribuição de maneira que se satisfaça o equilíbrio

de forças e a compatibilidade de deslocamentos nas junções desses elementos.

(Azevedo, 2003)

2.6 Ensaio de flexão em três pontos

Os ensaios de flexão em três pontos têm sido largamente utilizados na

caracterização de materiais frágeis para determinação da tensão e flexa de ruptura

12

permitindo avaliar propriedades mecânicas tais como módulo de elasticidade à

flexão, fator de intensidade de tensão crítico (KIC), entre outros.

O ensaio consiste em aplicar uma carga concentrada vertical, mono

tonicamente crescente, no meio do vão de uma viga simplesmente biapoiada,

conforme Figura 2.3.

Figura 2.3 - Ensaio de flexão em três pontos de viga biapoiada

A força F causa a contração das fibras na região superior (acima da linha

neutra) devido compressão, enquanto que as fibras da região inferior (abaixo da

linha neutra) são alongadas devido tração. Entre a região que se contrai e a que se

alonga fica uma linha que mantém sua dimensão inalterada - a chamada linha

neutra. Em corpos de prova feitos de materiais homogêneos e com seção

transversal simétrica, costuma-se considerar que a linha neutra fica a igual distância

das superfícies inferior e superior do corpo de prova ensaiado.

O ensaio de flexão em três pontos apresenta peculiaridades do ponto de vista

da mecânica da fratura sendo apropriado para avaliação do comportamento de

materiais frágeis. Neste trabalho, optou-se pela utilização deste tipo de ensaio em

detrimento da necessidade de estudar soluções que contribuam para o aumento da

resistência mecânica do Zerodur® quando submetido à flexão, sendo possível

avaliar conjuntamente o comportamento da estrutura diante de esforços de

compressão e tração. Na fase inicial de pesquisas surgiram algumas opções de

reforço tais como fibra de carbono, fibra de vidro. No entanto, a escolha em se

utilizar o aço carbono como reforço foi motivada por análise de compatibilidade das

fases matriz e fibra (Zerodur®/Aço) em relação a aspectos relativos a fabricação do

compósito estrutural proposto.

13

2.7 Teoria de vigas

De forma analítica, o estudo da relação entre comprimento (L) da viga e altura

da seção transversal (h) para o qual o efeito das forças cisalhantes se torna

desprezível no cálculo das deflexões é aqui desenvolvido segundo o Método das

Forças Virtuais (MFV), sendo este uma versão do Princípio dos Trabalhos Virtuais

(PTV). Maiores informações sobre o PTV e MFV podem ser encontradas em

literatura referente à área da mecânica dos materiais, tais como as obras de

Crandall, et. al. (1978), Popov, (1978), Higdon, et. al. (1981), Beer, et. al. (1995),

Gere (2003), Hibbeler (2010), entre outros.

O MFV é empregado sobre o modelo estrutural de flexão estática a três pontos

(Figura 2.4), objetivando-se encontrar a expressão para o cálculo do deslocamento

abaixo do ponto de aplicação da força, considerando-se para tanto, a parcela dos

esforços momento fletor e cortante.

Figura 2.4 - Ilustração do Ensaio de Flexão Estática a Três Pontos

De forma genérica, considerando-se apenas os esforços fletores e cisalhantes,

o deslocamento em um ponto de interesse para uma estrutura constituída por

elementos de barra é expresso pela Equação 2.3.

n

i

s dxAG

xqxQfdxIE

xmxMY1 *

)(*)(**

)(*)(*1 (2.3)

Nesta expressão,

14

Y - deslocamento linear ou rotação a ser calculado mediante o emprego da

força ou momento virtual de módulo um;

F - carga aplicada;

M(x) - variação do momento fletor para um trecho da estrutura segundo o real

histórico de cargas;

m(x) - variação do momento fletor para um trecho da estrutura segundo o

emprego de uma força ou momento unitário aplicado em um ponto de interesse;

Q(x) - variação do esforço cortante para um trecho da estrutura segundo o real

histórico de cargas;

q(x) - variação do esforço cortante para um trecho da estrutura segundo o

emprego de uma força ou momento unitário aplicado em um ponto de interesse;

fs - fator de forma da seção transversal (dependente da geometria das seções

transversais);

E - módulo de elasticidade longitudinal ou módulo de Young;

I - momento de inércia da seção transversal;

G - módulo de elasticidade transversal;

A - área da seção transversal;

L - comprimento da viga;

b - medida da base da seção transversal;

h - medida da altura da seção transversal.

Os esforços solicitantes determinados entre os trechos AB e BC da Figura 2.4

são expressos respectivamente pelas Equações 2.4, 2.5, 2.6 e 2.7, segundo a

convenção de sinais ilustrada na Figura 2.5.

15

Figura 2.5. Convenção de sinais positiva para os esforços

xFxM AB *2

)( xxm AB *21)( (2.4)

)*2(*4

)( LxFxM BC )*2(*41)( Lxxm BC

(2.5)

( ) ; ( )2 2AB ABF 1Q x q x

(2.6)

( ) ; ( )2 2BC BCF 1Q x q x

(2.7)

Explicitando-se a Equação 2.3 para o caso do ensaio de flexão estática a três

pontos (Figura 2.4), chega-se a expressão do cálculo do deslocamento (YB) abaixo

do ponto de aplicação da força, assim como expressa a Equação 2.8.

L

L

BCBCSL

ABABSL

L Z

BCBCL

Z

ABAB dxAG

xqxQfdxAG

xqxQfdxIE

xmxMdxIE

xmxMY2/

2/

02/

2/

0 *)(*)(*

*)(*)(*

*)(*)(

*)(*)(

*1 (2.8)

O fator de forma (fs) para seções retangulares é igual a 6/5 (Beer, et. al., 1995).

Substituindo este valor assim como os das Equações 2.4 a 2.7 na Equação 2.8 e

fazendo-se algumas manipulações algébricas chega-se a Equação 2.9, que permite

determinar o deslocamento vertical no ponto central B da viga (Figura 2.4).

AGLF

IELFY

ZB **10

**3**48

* 3

(2.9)

O primeiro termo do lado direito da igualdade apresentada na Equação 2.9

contabiliza a parcela de deslocamento referente ao esforço de momento fletor e, a

segunda, o esforço da força cortante. Utilizando-se da relação entre módulo de

elasticidade longitudinal e transversal para materiais isotrópicos juntamente com a

substituição do momento de inércia da seção retangular e da área de seção

transversal, de medidas b e h, chega-se a expressão analítica final (Equação 2.10)

utilizada para o cálculo do deslocamento vertical do ponto central da viga (ponto B).

16

hbELF

hBELFYB ***5

**)1(*3***4

*3

3 (2.10)

Estes raciocínios são a base para as teorias de vigas desenvolvidas por Euller-

Bernoulli e Timoshenko.

Designa-se por viga de Euler-Bernoulli (Equação 2.11) a formulação do

elemento finito de viga em que se considera que as seções se mantêm planas e

normais ao eixo da barra após a deformação. Neste modelo não é considerada a

parcela da deformação devida ao esforço cortante. (Azevedo, 2003). Este modelo é

também conhecido como modelo de viga longa.

IELFYmáx **48

* 3

(2.11)

Na formulação do elemento de viga de Timoshenko (Equação 2.12) é

considerado que as seções planas se mantêm planas. Contudo, supõe-se que uma

seção normal ao eixo da viga não mantém essa característica após a deformação.

Deste modo é possível considerar a deformação devida ao corte.

hbELF

IELFYmáx ***4

)1(**2**48

* 3 (2.12)

2.8 Modelo de Bimodularidade

Para incorporar ao modelo numérico alguns mecanismos de processos de

fratura tem sido utilizada em diversos trabalhos uma relação constitutiva baseada

nos modelos clássicos da mecânica dos meios contínuos, conhecida como modelo

de bimodularidade ou trinca difusa (Oller, 2001). Este modelo constitutivo considera

que o material analisado teria um comportamento quando solicitado à tração

diferente de quando estivesse sob compressão. Ou seja, o material apresenta uma

17

baixa resistência à tração, porém possui boa resistência à compressão, podendo,

inclusive sofrer deformações plásticas, com ou sem endurecimento, sob compressão

(Figura 2.6).

Figura 2.6 − Diagrama uniaxial de tensão versus deformação para modelo de

trinca difusa

Para esforços de tração, o modelo de trinca difusa permite um comportamento

elástico até o limite de ruptura (cr). Alcançando este limite, admite-se o trincamento

(caracterizado pela deformação de trincamento) do material na direção normal à

máxima tensão principal (teoria de Rankine). Após a formação desta primeira trinca,

o modelo passa a ter um comportamento ortotrópico permitindo a formação de, no

máximo, três trincas perpendiculares entre si, caso as três tensões principais

excedam o limite de ruptura do material. Desta forma, quando o valor da tensão

principal máxima (1) em um ponto excede um valor predefinido para a tensão de

ruptura, uma trinca perpendicular à direção principal seria formada. Neste mesmo

ponto, uma outra trinca também poderia ser formada, mas somente no caso da

segunda tensão principal (2) exceder o valor da resistência à ruptura, Figura 2.7.

Em um caso extremo, neste mesmo ponto, uma terceira trinca, perpendicular às

18

anteriores, poderia acontecer somente se a tensão normal a ela (3) também

ultrapassasse a resistência à fratura do material.

O modelo também permite a incorporação de um comportamento de

decréscimo na resistência da estrutura após a formação das primeiras trincas

descritas através de um parâmetro de amolecimento do módulo de elasticidade (ES).

Este parâmetro, o qual pode ser determinado a partir das características do material

e da geometria da malha utilizada, impede que a tensão de tração do modelo

numérico num ponto trincado tenda rapidamente a zero, após a tensão normal

máxima ter ultrapassado seu limite de resistência (Oller, 2001).

O Zerodur apresenta um comportamento que se assemelha a este modelo de

bimodularidade, ou seja, este material apresenta uma baixa resistência à tração,

porém possui boa resistência à compressão, podendo, inclusive sofrer grandes

deformações plásticas, com endurecimento sob compressão (Trent, 1984).

Pode-se verificar que a correta incorporação de aspectos mecânicos e

fenomenológicos inerentes à fratura em materiais é um fator chave para o sucesso e

eficácia das metodologias aplicáveis à análise numérica de integridade mecânica.

Por exemplo, a implementação da teoria de Rankine como critério de falha ainda

deixa alguma imprecisão, pois não leva em consideração o histórico do

carregamento nem a triaxialidade do campo de tensões que ocorre em problemas

estruturais complexos (Oller, 2001).

Entretanto, este critério de falha tem sido utilizado para avaliação do

comportamento de materiais frágeis e pode apresentar bons resultados quando

associado a uma análise numérica incremental do problema. Nos ensaios de

indentação em materiais frágeis, o fato relacionado à ocorrência de fissuras

localizadas nas proximidades da região de indentação e a manutenção do

comportamento linear elástico da estrutura longe desta região, podem validar a

utilização da teoria de Rankine como critério de falha nestas simulações numéricas.

Isto talvez explique porque estes trabalhos de modelagem dos ensaios de

19

indentação têm utilizado como critério de falha a teoria de Rankine na análise dos

processos de falhas em ensaios de indentação em materiais frágeis.

Figura 2.7 − Desenvolvimento de trinca perpendicular à direção da tensão

principal σ1 (Fonte: MSC. MARC, 2010)

A evolução de trincas na estrutura resulta em uma diminuição de sua

capacidade de resistência à carga, assim o campo das tensões internas deve ser

redistribuída para regiões onde não ocorrem falhas, tornando esta simulação

numérica uma análise extremamente não linear. Este modelo de fissura distribuída

apresenta bons resultados globais quando a zona de fissura está restrita a pequenas

dimensões em comparação com o tamanho da estrutura (Lemaitre, et. al., 1994;

Oller, 2001).

Um modelo similar de bimodularidade foi testado por Zhang e Subhash (2001)

em um trabalho de análise numérica do ciclo de indentação em materiais frágeis.

Entretanto, estes autores não estudaram um material específico, mas trabalharam

com valores de dureza, módulo de elasticidade e resistência dentro da faixa de

valores encontrados para materiais frágeis (Zhang, et. al., 2001).

Para ilustrar o gasto computacional, informaram que este modelo numérico

demandou 10h na execução desta análise, utilizando um computador de última

geração para a época (Zhang, et. al., 2001).

20

Dentre as limitações apresentadas por diversos autores na utilização do

modelo de trinca difusa, a principal seria no modelamento da nucleação de trincas

uma vez que o modelo não permite o aparecimento de trincas que não estejam

orientadas segundo as direções ortogonais principais (Zhang, et. al., 2001).

No presente trabalho utilizou-se o modelo de bimodularidade para simular o

comportamento do Zerodur durante ensaios de flexão em três pontos

implementados no software comercial de elementos finitos MARC™.

O solver comercial MARC™ tem sido uma ferramenta eficaz no estudo de

processos de fratura originados dos conceitos da mecânica clássica.

CAPÍTULO 3 METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste trabalho tem como preceito o ensaio de flexão

em três pontos. Este ensaio tem sido largamente utilizado na avaliação da

resistência mecânica de materiais frágeis como, por exemplo, os cerâmicos e,

recentemente, em compósitos estruturados.

21

O ensaio consiste em aplicar uma carga concentrada vertical, mono

tonicamente crescente, no meio do vão de uma viga simplesmente biapoiada,

conforme Figura 3.1. Tendo em vistas as particularidades do Zerodur® e do

compósito a ser estudado partiu-se do pressuposto que este tipo de análise teria um

grande potencial na resolução do problema proposto.

Figura 3.1 - Corpo de prova para ensaio de flexão de três pontos

A boa interface gráfica do software de elementos finitos Marc™(2010) e outros

fatores como, conhecimento prévio no uso deste programa na simulação de ensaios

de indentação e disponibilidade de sua licença no Laboratório de Mecânica

Computacional do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal

de São João Del-Rei - MG, contribuíram na decisão de se usar este solver na

análise dos modelos a serem estudados.

As dimensões iniciais dos corpos de prova do ensaio de flexão foram definidas

com base nas referências técnicas da norma ASTM E399 (1996). As relações

descritas na norma estão ilustradas na Figura 3.1, onde L é a distância entre apoios,

W é a altura, B a largura e P é a carga aplicada. Esta norma exibe os parâmetros

básicos do ensaio de flexão em três pontos utilizado na mecânica da fratura linear

elástica para determinação do fator crítico de tensões KIC. Ao longo das várias

análises foi mantida constante a área da seção transversal (área = W*B) variando

apenas o comprimento do corpo de prova.

22

Os materiais usados neste trabalho foram considerados isotrópicos e

homogêneos. As principais propriedades mecânicas utilizadas estão mostradas na

Tabela 3.1.

Tabela 3.1 - Propriedades mecânicas dos materiais (Matweb, 2011)

Material Módulo de elasticidade (E) Coeficiente de Poisson ()

Zerodur 91 GPa 0,24

Aço 210 GPa 0,30

Os detalhes do modelo numérico proposto, arranjos e configurações

analisados, validação dos modelos e metodologia de análise estão descritas no item

subsequente.

3.1 Modelagem numérica

Um modelo numérico deve representar de maneira satisfatória o ensaio

experimental correspondente. Tal ação pode ser conseguida através da análise

precisa dos fenômenos relacionados com o ensaio real, escolha de condições de

contornos adequadas e que não gerem grande imprecisão ao modelo numérico.

Na realização deste trabalho deparou-se com alguns problemas na modelagem

devido à necessidade de simular com precisão os apoios e verificar a maneira

adequada para modelar a aplicação da carga total do ensaio. A identificação destas

condições tornou-se possível após análises de modelos bidimensionais e

tridimensionais de vigas feitas com Zerodur®.

O corpo de prova bidimensional foi modelado por elementos isoparamétricos

de 4 nós com restrição de movimento nas direções x e y, Figura 3.2. A malha

adotada para o modelo tem distância entre apoios L = 2 m e altura W = 0,2 m. Neste

modelo aplicou-se uma carga central de F = 500 N, considerando estado plano de

tensões.

23

Figura 3.2 - Modelo bidimensional do ensaio de flexão para o vitrocerâmico

(Zerodur)

Em seguida, as condições modeladas para o estado plano de tensões foram

extrapoladas para um modelo tridimensional (3D), Figura 3.3. O modelo foi

elaborado com elementos tridimensionais hexagonais de oito nós. A configuração

geométrica 3D apresentou resultado de deflexão máxima que destoava dos

resultados esperados segundo o modelo analítico de Euller-Bernoulii (Equação

2.11). A busca por respostas para este resultado inesperado serviu de motivação

para estudos quanto ao efeito da força cortante em vigas curtas e longas.

24

Figura 3.3 - Modelo Numérico da viga feita de Zerodur

Foram criados diversos modelos 3D mantendo a seção transversal da viga

constante (área = W*B) e alterando o seu comprimento. Observou-se que à medida

que se aumentava o comprimento das vigas os resultados de deflexão máxima

convergiam para os valores esperados segundo a equação analítica de Euler

Bernoulli (Equação 2.11). Para melhor entendimento desta situação, comparou-se

também estes resultados numéricos com os valores obtidos através da equação

analítica de Timoshenko (Equação 2.12).

A validação do modelo tridimensional foi conseguida mediante a determinação

de um comprimento de viga que propiciou uma equalização dos resultados de

deflexão (Ymax) obtidos no modelo numérico com os resultados obtidos através das

equação analítica de Euller-Bernoulli (Equação 2.11).

Procedeu-se os estudos com simulações de compósitos. Foi representado

numericamente o ensaio de flexão para avaliar estes materiais, que têm como fase

matriz o Zerodur e como fase dispersa barras de aço carbono, dispostas conforme

arranjos mostrados nas Figuras 3.4, 4.5 e 3.6. As barras de aço carbono totalizam

uma área superficial de 0,00142 m² em cada viga. Espera-se que estas

configurações para fase dispersa melhorem a rigidez mecânica do compósito quanto

25

a flexão, quando comparada com o comportamento de uma viga de mesmas

dimensões feitas apenas com o material vitrocerâmico (Figura 3.3). Também se

espera que as barras metálicas apresentem uma maior contribuição para resistir aos

esforços de tração proveniente da flexão da viga (Miranda, et. al., 2011).

Figura 3.4.- Compósito Zerodur/Aço com duas barras

Figura 3.5 - Compósito Zerodur/Aço com três barras

26

Figura 3.6 - Compósito Zerodur/Aço com quatro barras

Na formação do compósito Zerodur®/Aço há uma região de interface entre os

dois constituintes. Esta região tende ser crítica do ponto de vista da mecânica da

fratura devido a concentração de tensões podendo acarretar uma fratura frágil na

matriz do compósito. No intuito de incorporar ao modelo numérico esta

particularidade utilizou-se o modelo de trinca difusa para avaliar o dano na interface.

Para estudar o fenômeno de nucleação e propagação de trincas utilizou-se

carregamento por incrementos. Isto se fez necessário uma vez que no modelo de

trinca difusa as tensões internas devem ser redistribuídas para regiões onde não

ocorrem falhas, tornando esta simulação numérica uma análise extremamente não

linear. A análise incremental do modelo de trinca de difusa foi configurada com carga

F=65 KN distribuída ao longo de 50 incrementos, conforme Figura 3.7.

27

Figura 3.7 - Parâmetros de entrada de uma simulação numérica do compósito

Zerodur®/Aço (Carga de 65 KN distribuída ao longo de 50 incrementos - steps)

A última etapa do presente trabalho consistiu em avaliar o campo de tensões

no compósito e utilizar os principios da mecânica da fratura através do modelo de

dano de trinca difusa para avaliar uma possivel nucleação de trincas, principalmente,

na interface Zerodur®/Aço.

Esta motivação decorre dos inconvenientes relativos a fratura frágil que podem

acarretar o colapso total da estrutura sem uma propagação visível das trincas. É

comumente definida como fratura silenciosa, pois nem sempre é precedida por uma

trinca mensurável.

As principais propriedades mecânicas usados nos modelos dos compósito

estão ilustradas na Tabela 3.1. Os parâmetros para o modelo de trinca difusa

adotado neste trabalho estão apresentados na Tabela 3.2. Através de sucessivas

análises numéricas para validação do módulo de amolecimento, verificou-se que o

28

mesmo pode ser estimado como sendo um centésimo do valor do módulo de

elasticidade do Zerodur (Dias, et. al., 2010).

Tabela 3.2 - Parâmetros para o modelo de trinca difusa no vitrocerâmico

E Es cr crush

91 GPa 9,1 GPa 98 MPa 1000

Para avaliar a formação de trincas nos modelos numéricos do compósito

Zerodur®/Aço calculou-se a carga crítica a ser aplicada nas vigas. A Equação 3.1

foi desenvolvida a partir do cálculo da tensão normal devido a flexão em vigas

prismáticas.

Lbh

F crcr 3

2 2 (3.1)

Onde Fcr é a carga crítica a ser aplicada no meio do vão capaz de nuclear

trincas, cr é tensão crítica do material, b é a largura da viga, h é a altura e L o

comprimento.

29

CAPÍTULO 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para modelar as vigas submetidas à flexão, restringiu-se o deslocamento nos

apoios nas direções x, y e z. Aplicou-se uma carga total de 500 N no meio do vão

das amostras. Na simulação numérica desta barra biapoiada, adotaram-se os

seguintes valores: distância entre apoios, L = 2 m; altura de 0,2 m e largura de

0,1 m.

A comparação entre os valores de deflexão dos modelos numéricos cem por

cento Zerodur® (bidimensional e tridimensional) e analítico estão apresentadas na

Tabela 4.1. Os resultados numéricos se mostraram compatíveis com o valores de

deflexão máxima esperados em uma barra biapoiada segundo Equação 2.11

(Modelo Analítico de Euler Bernoulli).

Tabela 4.1 - Valores de deflexão obtidos através dos modelos numéricos em

comparação com a deflexão calculada através da equação analítica de Euler

Bernoulli

MODELO Ymáx (m) DIFERENÇA (%) Euler Bernoulli 1,389E-05 -

Zerodur bidimensional 1,399E-05 0,72 Zerodur tridimensional 1,419E-05 2,16

Na etapa inicial do trabalho tinha-se como foco limitações das vigas quanto ao

tamanho e metodologia a ser aplicada. A premissa inicial era desenvolver o modelo

numérico e comparar os resultados com a equação analítica proposta por Euler-

Bernoulli (Equação. 2.11). Com o desenvolvimento do presente trabalho,

apareceram algumas situações interessantes que conduziram o estudo para

abordagens a respeito de quanto o efeito da força cortante sobre o deslocamento

transversal da viga era relevante.

Por isso, manteve-se constante a carga aplicada (F=500N), a área da seção

transversal da viga (0,2 x 0,1 m) para, em seguida, variar o seu comprimento. Esta

30

ação apontou oportunidades de estimar o que seria efetivamente uma viga longa e

uma viga curta.

A Tabela 4.2 traz resultados das simulações numéricas feitas comparando as

diferentes configurações de vigas com os modelos analíticos de Euler- Bernoulli e

Timoshenko.

Tabela 4.2 - Comparação dos valores de deflexão da viga a partir do ensaio de

flexão em três pontos, em função de seu comprimento para uma mesma seção

transversal

ANALÍTICA NUMÉRICA (Zerodur®) L (m) Y (m) Euler Bernoulli Y (m) Timoshenko Viga Y (m) 0,96 1,54E-06 1,73E-06 0,2 x 0,1 x 0,96 1,86E-06 1,20 3,00E-06 3,25E-06 0,2 x 0,1 x 1,4 3,34E-06 2,00 1,39E-05 1,43E-05 0,2 x 0,1 x 2 1,419E-05 2,40 2,40E-05 2,45E-05 0,2 x 0,1 x2,4 2,61E-05 2,80 3,81E-05 3,87E-05 0,2 x 0,1 x 2,8 3,89E-05 3,20 5,69E-05 5,76E-05 0,2 x 0,1 x 3,20 5,67E-05 4,80 1,92E-04 1,93E-04 0,2 x 0,1 x 4,80 1,92E-04 8,00 8,89E-04 8,91E-04 0,2 x 0,1 x 8,0 8,76E-04

Estes resultados indicaram que em vigas de comprimento inferior a L= 3,20 m,

a existência da força cortante exerce influência significativa sobre deslocamento

transversal da viga. Deste modo, para vigas chamadas de curtas, os valores de

deflexão da Equação analítica de Timoshenko traz resultados com maior exatidão

quando comparados com os resultados obtidos pela Equação analítica de Euller-

Bernoulli.

Após essas comparações e análises entre vigas longas e curtas, optou-se por

estudar o compósito com as seguintes dimensões : L = 4,8 m; h = 0,2 m e b = 0,1 m

e carga F = 500N. Conforme Tabela 4.2, este comprimento garante que as vigas a

serem analisadas tenham um comportamento de viga longa, podendo comparar os

resultados de deflexão com o resultado analítico, obtido através da equação de

deflexão da linha elástica de uma barra biapoiada com uma carga aplicada no meio

do vão, Equação 2.11.

31

A Figura 4.1 ilustra a malha do modelo numérico tridimensional para avaliar seu

comportamento durante o ensaio de flexão. A comparação entre os valores de

deflexão deste modelo numérico e o analítico estão apresentados na Tabela 4.3.

Tabela 4.3 - Valores de deflexão (Ymax) obtidos através do modelo numérico e

deflexão calculada através da Equação analítica de Euler Bernoulli

Modelo Ymax (m) Euler Bernoulli (analítico) 1,92E-04

Cem por cento Zerodur (numérico) 1,92E-04

Figura 4.1 - Condições de contorno do ensaio numérico

Este resultado numérico para o modelo 3D se mostrou compatível com o

analítico. Desta forma, foi possível concluir que este modelo se encontra calibrado. A

validação do modelo foi uma etapa muito importante da análise pois indica o quanto

o grau de influência de certas considerações e condições de contorno assumidos

nos modelos numéricos.

Posteriormente, comparou-se a Ymax do modelo numérico cem por cento

Zerodur® com Ymax dos compósitos Zerodur/Aço nas diferentes configurações

apresentadas. Os resultados estão expressos na Tabela 4.4.

32

Tabela 4.4 - Valores de Ymax obtidos numericamente para diferentes

configurações de vigas Zerodur®/Aço comparados com o valor de Ymax de um

modelo numérico Cem por cento Zerodur®

Configuração Ymáx (m)

Cem por cento Zerodur® 1,92E-04

Compósito com duas barras de aço 1,69E-04

Compósito com três barras de aço 1,75E-04

Compósito com quatro barras de aço 1,75E-04

A diminuição na deflexão indica um aumento da rigidez mecânica do

compósito, potencializando a resistência da viga, o que traz boas perspectivas de

utilização do compósito Zerodur/Aço em diversas estruturas. Percebeu-se que a

configuração com duas barras de Aço é a opção mais indicada quando se pretende

utilizar um compósito sujeito a solicitações majoritariamente de flexão. O valor da

máxima deflexão para esta configuração representou uma diminuição no

deslocamento da barra de aproximadamente 12% quando comparado com o modelo

3D do vitrocerâmico. Esta diminuição na deflexão indica um aumento da rigidez do

compósito melhorando suas perspectivas de utilização em diversas estruturas.

A distribuição numérica dos campos de tensão dos compósitos segundo critério

de falha de Rankine está representada na Figuras. 4.2, 4.3 e 4.4.

33

Figura 4.2 - Distribuição dos campos de tensão na seção central de viga

Zerodur® em três pontos (compósito Zerodur®/Aço - duas barras)

Figura 4.3 - Distribuição dos campos de tensão na seção central de viga

Zerodur® em três pontos (compósito Zerodur®/Aço - três barras)

34

Figura 4.4 - Distribuição dos campos de tensão na seção central de viga

Zerodur® em três pontos (compósito Zerodur®/Aço - quatro barras)

Para análise, escolheu-se uma seção transversal do meio do vão ao final do

ensaio uma vez que esta seção apresenta a maior deflexão e consequentemente, o

maior gradiente de tensões devido a flexão da viga. Pode-se verificar que a região

inferior central é a porção crítica da barra, com grande nível de solicitação à tração.

As fibras superiores estão sujeitas apenas aos esforços de compressão.

Avaliando a distribuição de tensões nestas seções, verifica-se que em todas as

configurações as barras de aço estão submetidas a maiores tensões. Isto mostra

que o posicionamento das barras foi correto, pois elas tendem a suportar bem as

tensões de tração. Dessa forma, funcionam como reforço estrutural do compósito

impedindo o carregamento trativo direto sobre as fibras inferiores do vitrocerâmico.

No arranjo com duas barras de aço, a tensão principal máxima foi da ordem de

1,24 MPa, no arranjo com três barras de aço foi 1,18 MPa e no arranjo com quatro

barras 1,28 MPa.

35

Para efeito de análise das regiões sujeitas a propagação das trincas e possível

falha analisou-se os campos de deformação de trincamento no arranjo com três

barras de Aço. Aplicou-se carga de 65 KN, carga superior a Fcrit (54,44 KN),

propiciando a avaliação dos danos após a nucleação das trincas.

A Figura 4.5 mostra a criticidade de tais regiões segundo critério de dano de

trinca difusa.

.

Figura 4.5 - Avaliação da deformação de trincamento em uma viga do compósito

Zerodur®/Aço submetida a um carregamento de 65 KN

Escolheu-se nós dispostos em regiões críticas da viga para avaliar a

deformação de trincamento no decorrer da análise (incrementos). A Figura 4.6

representa a locação e nomenclatura dos nós analisados e a Figura 4.7 o campo de

deformações na viga.

Os nós, localizados na interface Zerodur®/Aço (7805, 9257 e 10709) assim

como, na fibras inferiores da viga (2844, 3086 e 3449) foram escolhidos levando-se

36

em consideração os resultados anteriores de Tensão Principal Máxima. Para uma

melhor intrepretação da criticidade desta região, também foi escolhido um nó fora da

interface e a uma certa distância das fibras inferiores (12403).

Figura 4.6 - Nós escolhidos para análise de deformação de trincamento

A região das fibras inferiores do compósito se mostrou mais crítica do que a

região de interface Zerodur®/Aço. Ocorreu dano nos nós das fibras inferiores (2844,

3086 e 3449) a partir do trigésimo quinto incremento, conforme o comportamento da

deformação de trincamento nesta região. Já na região da interface, o dano a

estrutura começou a surgir entre o trigésimo quinto e o quadragésimo incremento.

Além disso, o dano nas fibras inferiores foi muito mais intenso do que em qualquer

outra região da seção transversal.

No nó 12403, situado entre as duas barras de aço, mas fora da interface e a

uma certa distância das fibras inferiores, ocorreu dano semelhante aos da região de

37

interface. Este ponto sofreu influência da criticidade que aparece na interface entre a

matriz (Zerodur®) e o laminado (Aço).

Figura 4.7 - Deformação equivalente de trincamento avaliada por nó na interface

A fim de melhor detalhar o ensaio fica proposto para trabalhos futuros a

utilização de um fator de atrito estático entre as fases matriz (Zerodur®) e dispersa

(Aço). Esta proposta constitui uma tentativa de simular uma possível falha adesiva

entre as fases matriz e dispersa do compósito. Fica proposto também o estudo de

situações com variação de coeficiente térmico, onde pretende-se manter o aço livre

para sofrer dilatação enquanto o Zerodur® tenderá a se manter com geometria

constante.

38

CAPÍTULO 5 CONCLUSÕES

Este trabalho apresentou fundamentação teórica e numérica dos fenômenos

envolvidos para desenvolvimento de compósitos de fase matriz Zerodur® no intuito

de impulsionar a utilização do mesmo para variadas aplicações industriais e de

pesquisa. É fase constituinte do desenvolvimento de materiais a análise consistente

dos campos de tensão e deformação quando submetidos a condições de trabalho.

As diversas hipóteses levantadas ao longo das pesquisa foram analisadas

como desafios inerentes ao processo científico e constituiram-se como grandes

oportunidades de entendimento dos mecanismos de flexão das vigas analisadas

(vigas longas e curtas).

Diante das situações abordadas e resultados obtidos neste estudo, conclui-se

que o aumento da resistência mecânica do vitrocerâmico Zerodur® pode ser obtido

através da inserção de barras de aço. Esta conclusão foi obtida através da análise

da deflexão máxima de vigas com cem por cento de Zerodur® e vigas do compósito

Zerodur®/Aço. A inserção de barras de aço nas vigas simuladas propiciou o

aumento da rigidez mecânica do vitrocerâmico (12%). A deflexão numérica das

vigas de Zerodur® e do compósito foi analisada segundo as equações analíticas de

Euler Bernoulli e Timoshenko. A manutenção da área da seção transversal

constante (0,2 x 0,1 m) e variações no comprimento da viga mostraram a relevância

do efeito da força cortante sobre vigas longas e curtas do vitrocerâmico. Percebeu-

se que em vigas com comprimento menor que 3,20 m a influência do cortante deve

ser considerada exercendo influência significativa sobre o deslocamento transversal.

Deste modo, para vigas chamadas de curtas, os valores de deflexão da Equação

analítica de Timoshenko traz resultados com maior exatidão quando comparados

com os resultados obtidos pela Equação analítica de Euller-Bernoulli.

Estudos complementares do compósito, com arranjos de duas, três e quatro

barras de aço, permitiram a identificação de regiões críticas do ponto de vista da

39

mecânica da fratura. A região de interface Zerodur®/Aço apresentou os maiores

campos de tensão da amostra segundo o critério de falha de Rankine (máxima

tensão principal). O estudo da deformação de trincamento confirmou a afirmação

acima e permitiu a avaliação da região de nucleação de trincas.

Será necessário fazer estudos adicionais para termos uma afirmação

consistente sobre qual é a melhor configuração do compósito Zerodur®/Aço. Os

arranjos descritos neste trabalho indicam que o arranjo com duas barras de Aço

apresenta vantagens em relação aos demais, proporciando maior rigidez e menores

campos de tensão na interface.

Fica proposto para trabalhos futuros a incorporação de um coeficiente de atrito

para melhor modelar o comportamento da interface do compósito Zerodur®/Aço.

Também se propõe que no futuro sejam avaliadas os campos de tensões nestas

estruturas de compósito Zerodur®/Aço atavés de uma análise com variação de

temperatura, introduzindo no modelo numérico os coeficientes térmicos dos

materiais constituintes.

40

CAPÍTULO 6

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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43

ANEXOS

Anexo I - Descrição sobre o desenvolvimento do Método dos Elementos Finitos

ANEXO I INTRODUÇÃO À METODOLOGIA DOS ELEMENTOS FINITOS (DIAS, 2004)

44

Este anexo tem por objetivo descrever uma introdução ao MEF. Um estudo

mais profundo e detalhado pode ser feito em uma literatura especifica como, por

exemplo, no livro de Finite Element in procedures Engineering Analysis.a O MEF,

baseado nos deslocamentos, considera as equações de equilíbrio de cada

elemento, Figura A.1, e a posterior solução do sistema de equações resultante. A

determinação da energia potencial total da estrutura é obtida através de um

processo de discretização que consiste em utilizar funções de interpolação do

campo de deslocamentos no domínio do elemento e impor as condições de

equilíbrio no domínio da estrutura e de compatibilidade geométrica entre os

elementos e as condições de contorno, através da minimização do potencial total da

estrutura (Bathe, 1982).

Figura A.1 - Corpo tridimensional genérico (Bathe, 1982)

Considerando o equilíbrio do corpo tridimensional mostrado na Figura A.1, o

carregamento externo aplicado sobre este corpo é dividido em forças de superfície,

forças de corpo e cargas concentradas. Estas forças também incluem as reações de

apoio do corpo e possuem componentes correspondentes ao sistema de

coordenadas globais (X, Y, Z). O equilíbrio do corpo e as correspondentes condições

de contorno são estabelecidas através da minimização da energia do sistema.

45

A formulação do MEF consiste em calcular o potencial total do corpo, funcional

, Equações (A.1) a (A.5), determinando seu variacional () e igualando-o a zero

(Bathe, 1982).

WU (A.1)

Onde,

dVCUV

T

21 Energia potencial de deformação de um corpo (A.2)

ii

iTs

V

sTb

V

T fudVfudVfuW (A.3)

XZYZXYZYXT (tensor de deformações) (A.4)

ZYXT uuuu (vetor de deslocamento do ponto) (A.5)

Considerando as forças de corpo e de superfície iguais a zero, Equação (A.3),

e minimizando o variacional Equação (A.1), tem-se a Equação (A.6)

ii

iT

V

T fudVC (A.6)

Discretiza-se, como esquematizado na Figura A.2, o domínio (estrutura) em

subdomínios (elementos) que estão limitados por pontos nodais. Defini-se o campo

de deslocamentos de um ponto no interior do elemento como u2, Equação A.7, onde

o índice m refere-se a um elemento genérico analisado.

mmm ûzyxHzyxu

(A.7)

46

Figura A.2 − Discretização de uma estrutura através de elementos finitos (Cook,

et. al., 1989)

A definição dos deslocamentos dos pontos nodais ûm do elemento é

determinada através de uma função forma Hm para o campo de deslocamento no

interior do elemento. Esta função forma depende, entre outros parâmetros, do

número de nós do elemento, Figura A.3. Para o elemento de barra constituído de

dois nós a função de forma é linear, Figura A.3a e, para o elemento com três nós,

esta função é de segunda ordem (parabólica), Figura A.3b.

Para elementos bidimensionais como, por exemplo, com quatro ou oito nós,

Figura A.4, a função de forma possui componentes em relação às coordenadas

planares.

Analogamente, para elementos tridimensionais a função de forma tem

componentes em relação aos três eixos coordenados.

47

Figura A.3 − Função de forma para elementos de barra com dois e três nós

(Fonte: Cook, et. al., 1989)

A partir do campo de deslocamento definido pela Equação A.7, considerando o

modelo de elemento especificado, a expressão de deformação associada é obtida

através da Equação A.8, onde Bm é a matriz transformação deformação versus

deslocamento para o elemento.

mmm uzyxBzyx (A.8)

Substituindo-se o campo de deformações obtido para os pontos nodais do

elemento, Equação A.8, na expressão de estacionaridade do potencial total do

corpo, Equação A.6, obtém-se a expressão que representa as condições de

equilíbrio estático para cada elemento, Equação A.9.

V

iimT

i

mmmTmT fûdVûCBBû

(A.9)

O sistema linear de equações que governa o comportamento do corpo sob

ação de cargas externas é obtido pelo somatório das contribuições de todos os

elementos do corpo, conforme Equação A.10.

48

i

i

mmmTm

V

fdVûCBB

(A.10)

Figura A.4 − Represetanção nodal de um elemento isoparamétrico plano com:

(a) quatro; e (b) oitos nós (Fonte: Cook, et. al.., 1989)

A matriz de rigidez do corpo será definida pela Equação A.11.

m

V

mmT dVCBBK

(A.11)

Por fim, encontra-se a seguinte Equação (A.12) para o equilíbrio estático do

corpo, sendo F o vetor de carregamento nodal:

FKû m (A.12)

A formulação até aqui apresentada se refere ao comportamento linear elástico

do material e considerando a hipótese de pequenos deslocamentos e deformações.

Uma metodologia muito utilizada é a formulação através de elementos finitos

49

isoparamétricos, Figura A.4. A principal idéia desta formulação é a de determinar

uma relação entre os deslocamentos nodais e demais pontos no elemento através

de um função de interpolação linear ou de ordem superior.

Um outro importante aspecto desta formulação isoparamétrica é a avaliação

através da integração numérica. Ou seja, a integração da Equação (A.11) é

realizada através do cálculo numérico desta integral volumétrica utilizando pontos de

integração distribuídos ao longo dos elementos.

Para uma análise linear de um problema através da consideração de estado

plano de tensões, a matriz constitutiva elástica seria representada pela Equação

(A.13).

(A.13)

Uma alternativa para utilizar este método para análises nas quais o material

apresenta um comportamento não linear, mantendo-se a hipótese de pequenas

deformações e pequenos deslocamentos, é modificar as relações constitutivas do

material, por exemplo, conforme Equação (A.14).

(A.14)

Nesta expressão, os termos tq e tp representam os vetores dos incrementos da

tensão e da deformação plástica, respectivamente, ao longo do tempo. A função tF

depende do critério de escoamento adotado no modelo, da curva de fluxo do

comportamento não linear do material e , também, do incremento ao longo do

tempo.

50

Para análises com pequenos deslocamentos e grandes deformações pode-se

utilizar a relação tensão versus deformação da formulação de Jaumann adaptada,

conforme pode ser encontrada na literatura e que foi demonstrada no trabalho de

análise dos ensaios de indentação através do MEF dos autores Larsson e

Giannakopoulos (1998).

Diversos solvers comerciais de Elementos Finitos são capazes de realizar

análises complexas, de não linearidade da material e para análises com grandes

deslocamentos e grandes deformações. A utilização destes pacotes comerciais

resulta em um esforço menor na implementação de um modelo numérico, entretanto

estes solvers apresentam limitações na resolução de problemas específicos como,

por exemplo, análise de fratura em materiais compósitos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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