avaliaÇÃo - historia e historiografia africana e afro-brasileira

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA – PARFOR COLEGIADO DE HISTÓRIA GENILSON LIMA ALBUQUERQUE HISTORIA E HISTORIOGRAFIA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA (Avaliação Final)

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Page 1: AVALIAÇÃO - HISTORIA E HISTORIOGRAFIA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ

PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DAEDUCAÇÃO BÁSICA – PARFOR

COLEGIADO DE HISTÓRIA

GENILSON LIMA ALBUQUERQUE

HISTORIA E HISTORIOGRAFIA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA

(Avaliação Final)

MACAPÁ

2011

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1 – Os objetivos da Lei 10.639/03, assim, as Diretrizes Curriculares estabelecidas pela Resolução de Junho de 2004 pressupõem a divulgação e produção de conhecimentos, bem como de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos quanto à pluralidade étnicorracial, tornando-os capazes de interagir e de negociar objetivos comuns que garantam, a todos, respeito aos direitos legais e valorização de identidade, na busca da consolidação da democracia brasileira

A partir do pressuposto acima, faça, o que se pede:

a) Justifique a necessidade de, no Brasil, atualmente vivermos um processo de implementação de Ações Afirmativas.

Com o inicio da expansão colonialista europeia em meados do século XIX, iniciou-se o advento das relações raciais, onde, sob uma pretensa superioridade biológica e intelectual os europeus disseminaram o mito da “missão civilizadora do homem branco” para dar sustentáculo a politica das metrópoles europeias e a escravização desses povos colonizados, durante as Idades moderna e Contemporânea. O escravismo passou, então, a ser legitimado não só pela afirmativa de ser indispensável à prosperidade econômica das nações europeias, mas pela formulação de teorias que apresentavam os negros e outros povos de cor como seres inferiores, incapazes de sentimentos morais, o que desobrigava os brancos de trata-los como homens comuns.

No Brasil, o sistema escravista foi implantado pelos portugueses e, por mais de trezentos anos vigorou, deixando sequelas sociais e psicológicas, estruturando um racismo apoiado em praticas sistemáticas de descriminação econômica, social, ideológica, cultural e religiosa, criando uma segregação real, como atesta Santo (2005):

A escravidão foi “a mais extrema das formas de opressão racial na história brasileira”. A profunda desigualdade racial entre negros e brancos em praticamente todas as esferas sociais brasileiras é fruto de mais de quinhentos anos de opressão e/ou discriminação racial contra os negros, algo que não somente os conservadores brasileiros, mas uma parte significativa dos progressistas recusam-se a admitir (...). (SANTOS, 2005, p. 13)

Neste sentido, cobra-se do Estado brasileiro politicas públicas para reparar as perdas provocadas pelos danos sofridos pelos negros no passado e estabelecer uma sociedade mais igualitária, multicultural e democrática, onde, as Ações Afirmativas se fazem necessárias para equalizar as oportunidades e, portanto, de combater à desigualdade social, rompendo “o legado de exclusão étnico-racial, que compromete não só a plena vigência dos direitos humanos, mas a própria democracia no país - sob pena de termos democracia sem cidadania”. (PIOVESAN, 2005, P. 42)

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b) Que tipo de questões são analisadas, pelos autores, sobre a Escola e seu aparato didático-pedagógico que necessitam de reformulação para uma real Educação das Relações Étnicorraciais?

Os autores reconhecem que a educação é relevante para reforçar e ampliar as ações desenvolvidas pelos setores comprometidos com a transformação da sociedade e com a inclusão social, porem, enfatizam que as práticas educativas, nas escolas, continuam excluindo o negro da “história (ou incluído de maneira estereotipada) e da cultura deste país” (SILVA & SILVA, 2009, P. 10). Para eles, a Lei 10.639/03, por si só, não é o suficiente pra mudar práticas historicamente constituídas de desvalorização da história e da cultura do povo negro nas salas de aula, mesmo porque a maioria dos professores desconhecem a Lei, e por consequência não abordam a temática, “o enfoque dado pelos professores pode até reforçar ainda mais a situação de exclusão do povo negro do sistema oficial de ensino” (idem, p. 11). É necessário sensibilizar os professores sobre a importância de trabalhar o tema das questões étnicorraciais na sala de aula construindo estratégias e instrumentos para essa ação.

2 - O Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana tem por objetivo o reconhecimento e valorização da identidade, história e cultura dos afro-brasileiros, bem como a garantia de reconhecimento e igualdade de valorização das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das indígenas, europeias e asiáticas.

Analisando o enunciado acima, responda:

a) Conceitue identidade, diversidade e discriminação racial em sua relação com os objetivos do Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.

Identidade é um conceito que não comporta uma definição única, ou seja, ele é múltiplo, fala-se em identidades de gênero, identidades etárias, identidades raciais, entre outras. Portanto, há diversas definições, conforme o enfoque que se lhe dê, podendo ainda haver uma identidade individual ou coletiva, falsa ou verdadeira, presumida ou ideal, perdida ou resgatada.

O termo diversidade diz respeito à variedade e convivência de ideias, características ou elementos diferentes entre si, em determinado assunto, situação ou ambiente. A ideia de diversidade está ligada aos conceitos de pluralidade, multiplicidade, diferentes ângulos de visão ou de abordagem, heterogeneidade e variedade. Geralmente empregamos o termo em relação a cultura, porem, a diversidade cultural não diz respeito apenas ao reconhecimento do outro. Significa pensar a relação entre o eu e o outro, ou seja, falamos o tempo inteiro em semelhanças e diferenças.

Discriminação é a prática que consiste em negar iguais oportunidades, é uma atitude injusta e negativa em relação a um grupo ou a uma pessoa, é tratar alguém de uma forma diferente, exprimindo-se através da adoção de padrões de preferência em relação aos membros do próprio grupo e/ou de rejeição em relação aos membros dos grupos externos.

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b) Analise uma experiência realizada no universo escolar que relaciona identidade étnicorracial e práticas didático-pedagógicas na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e/ou na educação quilombola.

Aplicação de atividades

A atividade desenvolvida para incitar os alunos a analisarem e criticarem as referências culturais e étnicas do local e de sua memória afetiva1.

1 Primeiro Olhar

A atividade consistiu em evidenciar o nível de identificação do aluno com os diferentes fenótipos, para isso, foram apresentadas doze fotografias diversificadas para que eles as ordenassem. Tratou-se de uma atividade de curta duração, pois o objetivo era apreender os sentimentos de impacto, então eles não puderam analisar com critério as ilustrações, deveriam olhar e rapidamente compor a lista. Obtivemos como resultado, com o mesmo percentual de indicação, 27%, as fotografias de uma jovem, com fortes características etnicorraciais negras da raça e da cultura, uma jovem branca e a fotografia de um casal interétnico. Analisando a disposição das fotografias na lousa, foto 1, foto 3 e foto 6, podemos inferir que a escolha foi impregnada de identificação estética, ou seja, aquilo que se tinham por beleza. (localização da figura1, figura 2 e figura 3)

Figura 1 Figura 2 Figura 3

Na aplicação da atividade, denominada Primeiro Olhar, ao elegerem a fotografia de uma mulher negra, com traços marcantes de sua raça, ao lado de uma de fenótipo europeu, constatamos que diferentemente da hipótese inicial, ocorreu a identificação dos alunos com os traços fenotípicos da raça negra. Nossa tese inicial de que havia invisibilidade da influência da cultura negra foi refutada, pelo menos, em referência à identificação individual sem associação ao espaço escolar. A eleição da fotografia de um casal interracial em terceiro lugar, possibilita-nos inferir que a questão da mistura de raça é algo naturalizado e de valor positivo para os alunos.

1 Disponível no site: http://www.abpn.org.br/Revista/index.php/edicoes/article/downloadSuppFile/96/35

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c) Discuta a noção construída de que a África e os africanos não têm história.

A versão construída sobre a história da África e dos africanos advém do desconhecimento e principalmente da falta de incentivo e interesse em saber a história que eles construíram, como era sua cultura, como era o desenvolvimento social, político e econômico antes do contato com o europeu, “a sua história não passava de um mero apêndice, e acrescento à história do país colonizador” (KI-ZERBO, 1972, p. 09). Por um longo período de tempo, essa construção se alicerçou em teorias como as de Hegel em sua obra “Curso sobre a Filosofia da História”, dizia que a África não é uma parte Histórica do mundo, Livingstone dizia que os africanos permaneceram ,por tempos imemoriais, mergulhados na barbárie, não avançaram ou recuaram, permanecendo estagnados.

E isso por conta de teorias que classificavam os seres humanos segundo as “raças” a que pertenciam, estabelecendo, entre elas, gradações que, em escala descendente, iam daquelas mais capacitadas, por razoes biológicas, para o progresso e a “civilização”, até as consideradas como totalmente incapacitadas para qualquer tipo de avanço. Assim era, para esse racismo então visto como “ciência”, o caso dos povos negros da África. (LOPES, 2008, p. 11)

O povo africano tem uma historia riquíssima, começando por ser o berço da humanidade e de grandes civilizações, sendo o palco de muitas expressões culturais que se espalharam pelo mundo. Porem, as fontes documentais são raras dentro do continente africano. Segundo Ki-Zerbo (1972), há um grande numero de documentação sobre a África fora de suas fronteiras, são fontes europeias ou soviéticas, árabes, asiáticas ou americanas. O autor questiona o uso da uso da ilíada de Homero como fonte básica para conhecimento da historia grega e o não reconhecimento da oralidade dos gritos africanos como Bala Faseké. Porem não há nenhuma duvida que a África tenha história e os africanos não são selvagens e sem cultura.

As convicções de Ki-Zerbo, passaram a fazer parte, recentemente, universo educacional brasileiro, por conta da Lei 10.639/03, esse atraso deveu-se a, principalmente, pela ausência da história da África na sala de aula, o que reforçou o preconceito em relação à cultura do povo africano, prolongando a discriminação racial presente no convívio da sociedade brasileira que se reflete em graves problemas enfrentado por crianças, jovens, adolescentes e adultos no cotidiano escolar e no âmbito onde vivenciam.

3 - Os estereótipos raciais sobre os africanos e seus descendentes espalhados pelo mundo foram construídos a partir de uma ideia de hierarquização entre as raças. Utilizando esse pressuposto, responda:

a) O que é raça e o que é racismo?

As questões raciais vêm servindo como pano de fundo para situações conflituosas entre os povos. O conceito de raça tem múltiplos significados, que são manipulados como instrumento capaz de gerar confrontos ou dominação politica

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entre os homens.Raça refere-se a uma subdivisão das espécies conhecidas, membros de uma

herança física, a qual visa distinguir-se de outras populações da mesma espécie, ou seja, as pessoas que possuem os mesmos ancestrais, ou compartilham com as mesmas crenças ou valores, mesma linguagem ou qualquer outro traço social ou cultural são considerados como uma raça. Geralmente o termo raça e utilizado para caracterizar preconceito e discriminação.

O racismo, teoricamente é uma ideologia que postula a divisão da humanidade em grandes grupos chamados raças que têm características físicas hereditárias comuns, ou seja, é uma crença na existência das raças naturalmente hierarquizadas pela relação entre o físico, o intelecto e o cultural, sendo esses elementos considerados naturalmente inferiores ao grupo a qual se pertença.

b) Utilizando um conteúdo do seu Programa de Curso – o que você ministra em sua sala de aula – analise como os estereótipos se manifestam em práticas didático-pedagógicas que desconhecem as questões étnicorraciais existentes em nossa sociedade.

Tive a experiência de ministrar uma aula sobre a colonização das américas, onde o objetivo primordial era desconstruir a historiografia cria da pelo europeu, onde a existência dos povos da américa pré-colombiana estão desprovidos de historia, assim como aconteceu com a África. Essa historia passa a existir, a partir da chegada do colonizador e vista sobre a ótica do mesmo.

Neste sentido, temos uma visão estereotipada dos nativos que aos olhos do europeu eram desprovidos de civilidade, não tinham uma cultura relevante e, pela resistência imposta ao colonizador mediante sua escravização, passaram a ter uma imagem de “fracos, amigos do ócio, da bebida e da luxuria” (FIGUEIRA, 2005, p. 46). O mesmo ocorreu com os negros quando se iniciou o trafico deles para a América. Também tiveram sua imagem associada a malandragem e outros estereótipos que, em uma aula de 50 minutos não foi possível desmitificar essa ideia, pois inconscientemente, não falei uma virgula sobre a resistência indígena e negra nas américas e, segundo as pessoas que assistiram, disseram que repassei o que estava no livro didático, ou seja, explanei a conquista dos europeus e as dificuldades que eles encontraram para se fixar nas américas.

Neste contexto, fica evidente que a falta de uma abordagem acerca da História negra e sua continua presença na sala de aula, desde o ensino infantil até o ensino superior, é relevante para que se vença essa ideologia que nos venda a séculos e nos impede de viver em uma harmonia num país pluriétnico como é o Brasil, acabando com o mito da peseudo democracia racial brasileira.

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REFERENCIAS

SILVÉRIO, Valter Roberto. Ações Afirmativas e Diversidade Étnico-Racial. In: SANTOS, Sales Augusto dos. Org. Ações afirmativas e combate ao racismo nas Américas. Brasília: MEC, 2005. ARANTES, Adiene Silva, SILVA, Fabiana Cristina. História e cultura africana e afro-brasileira: repercussão da Lei 10.639 nas escolas municipais da cidade de Petrolina – PE. In: AGUIAR, MarciaAngela da S. (org.). Recife: Vasconcelos Editora, 2009.

FIGUEIRA, Divalte Garcia. História: volume único. 1ª ed. São Paulo: Ática, 2005.