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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR Engenharia Avaliação experimental de argamassas com agregados leves impregnados com materiais de mudança de fase Vasco Filipe Silva Pereira Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil (2º ciclo de estudos) Orientador: Prof. Doutor Miguel Costa Santos Nepomuceno Coorientador: Prof. Doutor Pedro Nuno Dinho Pinto da Silva Covilhã, outubro de 2013

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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR Engenharia

Avaliao experimental de argamassas com

agregados leves impregnados com materiais de mudana de fase

Vasco Filipe Silva Pereira

Dissertao para obteno do Grau de Mestre em

Engenharia Civil (2 ciclo de estudos)

Orientador: Prof. Doutor Miguel Costa Santos Nepomuceno Coorientador: Prof. Doutor Pedro Nuno Dinho Pinto da Silva

Covilh, outubro de 2013

ii

iii

Aos meus Pais, aos meus amigos e aos meus orientadores

iv

v

Agradecimentos

Aos meus orientadores, Professores Miguel Nepomuceno e Pedro Dinho, pela definio das linhas

a seguir nesta dissertao, nomeadamente atravs da esquematizao, orientao e ajuda no

plano de ensaios. Pelo apoio, esclarecimento, motivao e confiana transmitidas durante o

perodo de realizao deste trabalho. E finalmente, na fase de concluso, pela analise, correo

permitindo melhorar este trabalho .

Paula Barroca, pela ajuda, apoio, motivao e companheirismo criado dentro do laboratrio e

fora dele.

Aos meus amigos, em particular, Rita, Ana e Ftima, Sandrine, Mafalda, Adelaide, Luis, Mara e

Rocky pela amizade, cumplicidade, auxlio e o encorajamento muito importante nesta etapa da

minha vida e s assim foi possvel a concretizao.

Ao funcionrio Sr. Eng. Albino Alves e Sr. Flix, pela ajuda e apoio prestado durante o perodo

de ensaios.

Aos meus pais, pelo suporte demonstrado, tanto no perodo de execuo desta dissertao, como

ao longo de todo o curso.

Universidade da Beira Interior gostaria de agradecer todos os equipamentos e materiais

disponibilizados.

O meu agradecimento a todas as empresas que contriburam gratuitamente com materiais para a

concretizao desta dissertao, em particular, Sika-Portugal S.A. pelo fornecimento do

superplastificante.

vi

vii

Avaliao experimental de argamassas com agregados leves impregnados com materiais de

mudana de fase

Resumo

As redues energticas no sector dos edifcios um cuidado que os projetistas devem ter. Para

aumentar estas redues sugere-se a aplicao de tcnicas de arrefecimento passivo. Esta

dissertao prope desenvolver uma argamassa com o material de mudana de fase. O presente

trabalho descreve uma avaliao experimental de argamassas com materiais de mudana de fase

(PCM) para armazenamento de energia trmica. Em alternativa utilizao de PCM encapsulado,

utilizou-se como veculo o agregado leve de argila expandida impregnado com PCM.

Preconizaram-se dois procedimentos para a incorporao do PCM no agregado leve. Para se

avaliar o efeito da dosagem de PCM, foram produzidos trs grupos de misturas com agregados

leves (LWA) e duas argamassas de referncia com agregados naturais. Cada grupo com LWA

incluiu trs dosagens distintas desse agregado, a saber, 242, 354 e 481 kg/m3, conducentes

incorporao de PCM de 50, 75 e 100 kg/m3, respetivamente. Um desses grupos incluiu o LWA

saturado de gua, outro incluiu o LWA saturado de PCM e com a superfcie seca com ar

comprimido e o ltimo incluiu o LWA saturado de PCM seco em estufa. No total foram produzidas

11 argamassas e avaliadas as suas propriedades mecnicas e termofsicas. Do ponto de vista da

produo das argamassas, os resultados obtidos permitiram concluir que o procedimento de

secagem com ar comprimido consome menos energia, mais econmico, mais fcil e rpido de

executar. Do ponto de vista das propriedades mecnicas, conclui-se que os dois procedimentos

de secagem conduzem a resultados satisfatrios e relativamente equivalentes. Do ponto de vista

das propriedades termofsicas, verificou-se que o efeito do aumento da capacidade de

armazenamento conseguido com a introduo de PCM em parte atenuado pela perda dessa

mesma capacidade em consequncia do aumento do agregado leve. Parece no se justificar o

aumento da dosagem de agregado leve para alm de 354 kg/m3, a que corresponde 75 kg/m3 de

PCM, j que a partir desta dosagem o saldo entre as duas variveis analisadas (dosagem de

agregado leve e dosagem de PCM) inicia a sua tendncia decrescente em termos de capacidade

de armazenamento de energia.

Palavras-chave:

Argamassas com agregados leves, argila expandida, material de mudana de fase, propriedades

trmicas, propriedades fsicas, propriedades mecnicas.

viii

ix

Experimental evaluation of lightweight aggregate mortars impregnated with phase change materials

Abstract

The designers should have attention for energy reductions in the buildings. The passive cooling

techniques can reduce the energy. This dissertation proposes to develop a mortar with the phase

change material. This paper describes an experimental evaluation of mortars with phase change

materials (PCM) for thermal energy storage. As an alternative to the use of encapsulated PCM, it

was used as a vehicle the lightweight aggregate expanded clay impregnated with PCM. Two

procedures were developed for the incorporation of PCM in the lightweight aggregate. To

evaluate the effect of the dosage of PCM, three groups of mixtures were produced with

lightweight aggregate (LWA) and two reference mortars with only natural aggregates. Each group

included three different dosages of LWA, namely 242, 354 and 481 kg/m3, leading to the

incorporation of PCM dosage of 50, 75 and 100 kg/m3, respectively. One of these groups included

the water-saturated LWA, another included the LWA saturated with PCM and surface dry with

compressed air, and the last included the LWA saturated with PCM and with the surface dried in

oven. In total 11 mortars were produced and their mechanical and thermophysical properties

evaluated. From the point of view of production of mortars, the results showed that the drying

procedure with compressed air consumes less energy, is more economical, easy and quick to

perform. From the viewpoint of mechanical properties, it is concluded that both drying

procedures lead to satisfactory results and relatively equivalent. From the point of view of

thermophysical properties, it was found that the effect of increased storage capacity achieved

with the introduction of PCM is partly offset by the loss of this same capacity due to the increase

of the lightweight aggregate. Do not seem to justify the increased dosage of lightweight

aggregate in addition to 354 kg/m3, corresponding to 75 kg/m3 PCM, since from this dosage

balance between the two variables (the dosages of LWA and PCM) starts its downward trend in

terms of energy storage capacity.

Keywords

Lightweight aggregate mortars, expanded clay aggregates, phase change material, thermal

properties, physical properties, mechanical properties.

x

xi

ndice Geral

1. Introduo

1.1. Enquadramento do tema 1

1.2. Objetivos e justificao do tema 2

1.3. Organizao da dissertao 3

2. Materiais de mudana de fase

2.1. Introduo 5

2.2. Histria dos materiais de mudana de fase 5

2.3 Classificao dos materiais de mudana de fase 6

2.3.1. Materiais de mudana de fase orgnicos 8

2.3.2. Materiais de mudana de fase inorgnicos 10

2.3.2. Materiais de mudana de fase eutticos 11

2.2.3. Vantagens e desvantagens dos materiais de mudana de fase 11

2.4. Materiais de mudana de fase comerciais 12

2.5. Reao ao fogo dos materiais de mudana de fase 13

3. Aplicao dos pcms na construo

3.1. Introduo 15

3.2. PCM no beto 18

3.3. PCM na parede 21

3.4. PCM nos pavimentos 26

3.5. PCM nos tectos 28

3.6. PCM nos vidros 30

3.7. PCM nos sistemas de aquecimento base de ar 31

3.8. PCM nos sistemas de ventilao 31

3.9. PCM nos tijolos 32

4. Procedimento experimental

4.1. Introduo 33

4.2. Materiais utilizados

4.2.1. Cimento 33

4.2.2. Agregados 33

4.2.3. Adjuvantes 35

4.2.4. gua de amassadura 36

4.2.5. Material de mudana de fase 36

4.3. Ensaios de caracterizao dos materiais constituintes 37

4.3.1. Baridade seca no compactada 37

4.3.2. Massa volmica 38

xii

4.3.3. Absoro de gua dos agregados 39

4.3.4. Anlise granulomtrica dos agregados 40

4.4. Processo de impregnao do agregado leve com PCM 41

4.4.1. Determinao do tempo mnimo de secagem 41

4.4.2. Determinao do tempo mnimo de imerso em PCM 41

4.4.3. Procedimento e parmetros fsicos a usar na produo das misturas 44

4.5. Processo de impregnao do agregado leve com gua 45

4.6. Misturas realizadas e procedimentos de clculo 45

4.6.1. Misturas realizadas 45

4.6.2. Procedimento de clculo das argamassas 47

4.7. Preparao dos provetes para ensaio 52

4.7.1. Execuo das misturas 52

4.7.2. Provetes moldados 53

4.7.3. Condicionamento dos provetes 55

4.7.4. Preparao de outras amostras complementares 55

4.8. Ensaios das argamassas no estado fresco 56

4.8.1. Consistncia por espalhamento 56

4.9 Ensaios das argamassas no estado endurecido 56

4.9.1. Ensaio flexo 56

4.9.2. Ensaio compresso 58

4.9.3. Ensaio da massa volmica aparente seca 59

4.9.4. Ensaio das propriedades trmicas 59

4.9.4.1. Condutibilidade trmica das argamassas de referncia 60

4.9.4.2. Condutibilidade trmica das argamassas com agregados leves 63

5. Apresentao e discusso dos resultados

5.1. Introduo 67

5.2. Ensaio flexo 67

5.3. Ensaio compresso 69

5.4. Massas volmicas 71

5.5. Propriedades trmicas 73

5.5.1. Condutibilidade trmica das argamassas de referncia 73

5.5.2. Medio do fluxo de calor nas placas 73

5.5.2.1. Calibrao do sistema de medio do fluxo de calor 74

5.5.2.2. Anlise dos ciclos de carga 74

5.5.2.3. Anlise dos ciclos de descarga 74

5.5.2.3.1. Anlise das temperaturas na face inferior 82

5.5.2.3.1. Anlise das temperaturas na face superior 86

xiii

6. Concluses e propostas para trabalhos futuros

6.1. Concluses 89

6.2. Propostas para trabalhos futuros 92

xiv

xv

ndice de Figuras

2.1. Classificao do armazenamento da energia trmica 6

3.1. Diagrama das aplicaes dos PCM 16

3.2. As formas e os efeitos do PCM na envolvente do edifcio 16

3.3. O painel da experiencia de Ahmad et al 24

3.4. Vista esquemtica das solues testada pelo estudo de Ahmad et al 25

3.5. Aquecimento por conveno forada vs piso radiante 27

4.1. Imagens dos agregados 34

4.2. Distribuio granulomtrica dos agregados 35

4.3. Distribuio parcial da entalpia do PCM RT20 36

4.4. Imagens do ensaio de determinao da baridade 37

4.5. Determinao da massa volmica pelo densmetro de Le Chtelier 38

4.6. Imerso da Leca S(4) em gua 39

4.7. Secagem da superfcie da Leca S(4) 39

4.8. Medio da massa volmica Leca S(4) pelo mtodo do balo 39

4.9. Agitador e srie de peneiros EN 933 40

4.10. Tempo de secagem da Leca S(4) 41

4.11. Imerso da Leca S(4) em PCM 42

4.12. Escorrncia do PCM 42

4.13. Secagem da superfcie da Leca S(4) com ar comprimido 42

4.14. Imagem dos agregados aps secagem da superfcie com ar comprimido 42

xvi

4.15. Tempo de imerso versus massa volmica aps secagem com ar comprimido 43

4.16. Massa volmica aps secagem adicional em estufa a 50C por 8 horas 44

4.17. Misturadora de argamassas 52

4.18. Homogeneizao das argamassas de vrias amassaduras 52

4.19. Moldes para a produo dos prismas 53

4.20. Moldes para a produo das lajetas 53

4.21. Mesa de compactao das argamassas 54

4.22. Enchimento dos moldes 54

4.23. Regularizao da superfcie das argamassas aps compactao 54

4.24. Condicionamento dos prismas 55

4.25. Condicionamento das lajetas 55

4.26. Extrao de carotes das argamassas de referncia 55

4.27. Ensaio de consistncia na mesa de espalhamento flow-table 56

4.28. Prensa de compresso e aparelho de aquisio de dados datalogger 57

4.29. Ensaio de resistncia flexo 57

4.30. Imagem da seco transversal dos provetes aps rotura flexo 58

4.31. Mecanismo usado no ensaio compresso 58

4.32. Determinao do volume do provete no sistema hidrosttico 59

4.33. Ensaio da condutibilidade trmica: Imagem geral do dispositivo 60

4.34. Ensaio da condutibilidade trmica: Proteo exterior 60

4.35. Ensaio da condutibilidade trmica: Pormenor do dispositivo 61

4.36. Ensaio da condutibilidade trmica: Representao esquemtica 61

4.37. Representao esquemtica do ensaio 63

xvii

4.38. Modelo 3D do ensaio 63

4.39. Placas de 300x300x30 mm3 usadas nos ensaios trmicos 64

4.40. Placa de aquecimento 64

4.41. Sensores e manta trmica 64

4.42. Proteo exterior do sistema 65

5.1. Ensaios flexo das argamassas aos 28 dias 68

5.2. Ensaios compresso aos 3 dias das argamassas com PCM 69

5.3. Ensaios compresso das argamassas aos 28 dias 70

5.4. Massa volmica saturada com a superfcie seca aos 28 dias 71

5.5. Massa volmica seca aos 28 dias 72

5.6. Valores obtidos no primeiro ciclo de carga 75

5.7. Valores obtidos no segundo ciclo de carga 77

5.8. Valores obtidos no ciclo de descarga 80

5.9. Temperatura na face inferior (fria) no ciclo de descarga 82

5.10. Curvas tempo versus temperatura no ciclo de descarga 83

5.11. Tempo para obteno de Ti=16,5 oC no ciclo de descarga 83

5.12. Atraso no ciclo de descarga 84

5.13. Variao da resistncia trmica 85

5.14. Variao da massa volmica 85

5.15. Temperatura na face superior no ciclo de descarga 86

5.16. Temperatura na face superior das placas no ciclo de descarga 87

xviii

xix

ndice de Tabelas

2.1. Caractersticas dos PCM orgnicos 8

2.2. Caractersticas das misturas de PCM orgnicos 9

2.3. Eutticos orgnicos e inorgnicos com potencial utilizao como PCMs 11

2.4. Comparao entre os PCMs para armazenamento de calor 12

2.5. PCMs comerciais disponveis no mercado 13

4.1. Caractersticas fsicas dos agregados 34

4.2. Distribuio granulomtrica dos agregados 35

4.3. Parmetros mais relevantes do PCM RT20 36

4.4. Baridade no compactada do agregado saturado com a superfcie seca 46

4.5. Traos volumtricos das argamassas 46

4.6. Dosagens efetivas em quilogramas por metro cbico das argamassas 47

4.7. Exemplo da resposta fornecida pela folha de clculo Excel 51

5.1. Ensaios flexo das argamassas aos 28 dias 68

5.2. Ensaios compresso aos 3 dias das argamassas com PCM 69

5.3. Ensaios compresso das argamassas aos 28 dias 70

5.4. Massa volmica saturada com a superfcie seca aos 28 dias 71

5.5. Massa volmica seca aos 28 dias 72

5.6. Condutibilidade trmica das argamassas de referncia 73

5.7. Fluxo de calor calculado nas argamassas de referncia 74

5.8. Valores em regime permanente no 1 ciclo de carga 79

5.9. Valores em regime permanente no 2 ciclo de carga 79

5.10. Mdia dos valores do 1 e 2 ciclo de carga 79

5.11. Valores obtidos no final do ciclo de descarga 82

5.12. Percentagem da espessura que no mudou de fase 87

xx

xxi

Siglas

ACI American Concrete Institute

DECA Departamento de Engenharia Civil e Arquitetura

LNEC Laboratrio Nacional de Engenharia Civil

UBI Universidade da Beira Interior

UNISA Universidade da Austrlia do Sul

xxii

xxiii

Abreviaturas

A.H2O.100 Argamassa com os agregados leves impregnados em gua com 100 kg de gua

por m3

A.H2O.50 Argamassa com os agregados leves impregnados em gua com 50 Kg de gua

por m3

A.H2O.74 Argamassa com os agregados leves impregnados em gua com 75 kg de gua

por m3

A.PCM.100.ar Argamassa com agregados leves impregnados em gua com 100 kg de PCM

gua por m3 e seco com ar comprimido

A.PCM.100.est Argamassa com os agregados impregnados em gua com 100 kg de PCM gua

por m3 e seco na estufa

A.PCM.50.ar Argamassa com agregados leves impregnados em gua com 50 kg de PCM gua

por m3 e seco com ar comprimido

A.PCM.50.est Argamassa com agregados leves impregnados em gua com 50 kg de PCM gua

por m3 e seco na estufa

A.PCM.75.ar Argamassa com agregados leves impregnados em gua com 75 kg de PCM gua

por m3 e seco com ar comprimido

A.PCM.75.est Argamassa com os agregados leves impregnados em gua com 75 kg de PCM

gua por m3 e seco na estufa

A.REF.14 Argamassa com agregados naturais com 14% de gua

A.REF.16 Argamassa com agregados naturais com 16% de gua

Areia 0/5(4) Areia 0/5 crivada no peneiro 4 mm

Areia 0/5(4) Areia 0/5 crivada no peneiro de 4 mm

C2 Cimento CEM II/B-L32,5N no estado seco

CA cido cprico

DSC Calorimetria diferencial exploratria

ITZ Zona de interface de transio

LA cido lurico

Leca S(4) Leca S crivada no peneiro 4 mm

Leca S(4) Leca S crivada no peneiro 4 mm

Leca S(4)-H2O Agregados leves saturados de gua

Leca S(4)-PCM Agregado leve saturado de PCM

LSH2O Leca S(4) saturada de gua com a superfcie seca

LSPCM Leca S(4) saturada de PCM com a superfcie seca

LWA Agregados leves

PCM Materiais de mudana de fase

PVC Cloreto de polivinila

S2 Areia 0/2 saturada de gua com a superfcie seca

xxiv

S5 Areia 0/5(4) saturada de gua com a superfcie seca

SP Superplastificante no estado lquido

U Coeficiente global de transferncia de calor

VIP Painel de isolamento a vcuo

W gua de amassadura

W% Percentagem de gua na amassadura

xxv

Simbologia

Alfabeto Latino

A rea da seco transversal do provete (m2)

A (%) Absoro de gua dos agregados (%)

B Baridade (kg/m3)

BX Baridade no compactada do material X (kg/m3)

Cp Calor especfico (J/kg K)

Cv Coeficiente de variao (%)

d Espessura da placa (m)

d Espessura que no mudou de fase (m)

d% Espessura em percentagem que no mudou de fase (%)

f Resistncia flexo (N/mm2)

f,28 Valor mdio da resistncia flexo (MPa)

Fli Valores do sensores de fluxo instalados na face inferior (mV)

Flm Valor mdio dos sensores de fluxo instalados (W/m2)

Fls Valores do sensores de fluxo instalados na face superior (mV)

fm,28 Valor mdio da valor mdio da resistncia compresso aos 28 dias (MPa)

fm,3 Valor mdio da valor mdio da resistncia compresso aos 3 dias (MPa)

fX Frao unitria do agregado X relativa ao volume absoluto total de agregados

(Adimensional)

Caudal mssico (kg/s)

M F Mdulo de finura (m)

MC2 Massa do cimento CEM II/B-L32,5N no estado seco (kg)

MLSH2O Massa da Leca S(4) saturada de gua com a superfcie seca (kg)

MLSPCM Massa da Leca S(4) saturada de PCM com a superfcie seca (kg)

ms,dry Massa do provete seco (kg)

MS2 Massa da Areia 0/5(4) saturada de gua com a superfcie seca (kg)

MS5 Massa da Leca S(4) saturada de gua com a superfcie seca (???)

MSP Massa do superplastificante lquido (kg)

MW Massa da gua (kg)

q Fluxo de calor (W/m2)

q Mesmo significado que o q (W/m2)

R Frao do agregado retido em cada peneiros (%)

RAr Resduo acumulado retido em todos os peneiros (%).

RSP Razo em massa do superplastificante (Adimensional)

Rt Resistncia trmica (m2.K/W)

Rx Razo em massa do material (Adimensional)

xxvi

Sd Desvio padro

Ti Temperatura na face inferior da amostra (C)

Tin Temperatura mdia do fluido sada (C)

Tout Temperatura mdia do fluido entrada (C)

Ts Temperatura na face superior da amostra (C)

tX Trao do material X (volume aparente no compactado)

Caudal volmico (m3/s)

Vs Volume do provete (m3)

VX Volume absoluto do material X (m3)

W/C Razo em massa entre as quantidades de gua e de cimento da mistura (Adimensional)

Vv Volume de vazios (m3)

Alfabeto grego

Massa volmica do agregado saturado com a superfcie seca (kg/m3)

,28 Valor mdio da massa volmica saturada com a superfcie seca aos 28 dias (kg/m3)

S,28 Valor mdio da massa volmica seca aos 28 dias (kg/m3)

T Variao da temperatura (C)

X Massa volmica do material X (kg/m3)

Coeficiente de condutibilidade trmica do material do provete [W/(mC) ou W/(mK)]

Massa volmica (kg/m3)

1

1. Introduo

1.1. Enquadramento

Desde o sculo V e VI a.c, que o homem construa as suas habitaes com o papel principal de se

proteger e resguardar das adversidades climatricas [76]. Nessa poca, o ser humano construa

muitas das suas habitaes por sem qualquer conhecimento tcnico de construo, usando os

materiais que estavam disponveis nas proximidades, resultando assim em abrigos compostos por

uma nica diviso, com uma lareira central e os bancos encostados s paredes [74].

No entanto, com o passar dos anos, o homem evoluiu, juntamente com as suas tecnologias. E ao

longo do tempo observa-se o esforo incessante da raa humana em encontrar projetos de

construo adequados para se adaptar melhor. Foram construdos edifcios tradicionais, tomando

em considerao as condies climticas, com o intuito de tornar o interior num espao fresco

no vero e quente no inverno, atravs da utilizao de materiais adequados a preservar o bem

estar do homem dentro de casa sem a necessidade de recorrer a qualqueri tipo de tecnologia ou

gasto energtico. Estes aspectos referentes ao modo de contruo e materiais utilizados foram

esquecidos na arquitetura moderna, em detrimento de outros valores (esttica e design) onde se

acentua a utilizao de mtodos mecnicos de aquecimento e arrefecimento, envolvendo grande

quantidade de gastos de energia [74].

Entre os vrios mtodos mecnicos, o mais utilizado em Portugal, o ar condicionado, que

aumenta o conforto trmico, a eficincia energtica e fez com que o pas se tornasse num dos

maiores consumidores de eletricidade. Segundo fontes relacionadas com a construo civil, at

2007 foram instalados aproximadamente cem mil novos equipamentos de ar condicionado por

ano [14,32].

Devido ao aumento do consumo de energia, proveniente de fontes no renovveis, aumentaram

as preocupaes da sociedade relativamente ao meio ambiente com a emisso de CO2, o que

resultou em profundas alteraes climticas. O efeito excessivo deste consumo de combustveis

fosseis o aquecimento global, pois estes combustveis lanam, na sua extrao, grandes

quantidades de gases para a atmosfera, que so responsveis pelo efeito de estufa.

Como 88% da energia consumida em Portugal importada, a sua utilizao um fator

competitivo e muito importante. Em 2007, os principais setores da atividade econmica do pas

tiveram um consumo final de energia de 29,2% na indstria, 36,4% nos transportes, 17,1% no

domstico, 12,2% nos servios e 5,1% noutros sectores ( onde se inclui pescas, agricultura e obras

pblicas) [24]. Desta energia, uma grande quantidade utilizada para a climatizao, no inverno

para aquecer as divises e no vero para as arrefecer.

Numa casa comum, metade da energia usada em climatizao, o que representa quase 9% da

2

energia total consumida em Portugal [24]. Esta situao obriga-nos ao cuidado de reduzir o mais

possvel estes custos no modo de utilizao destes recursos de maneira mais eficiente e tendo

em conta o conforto dos utilizadores. Neste sentido podem utilizar-se termstatos programveis,

calafetagem de janelas e portas, manuteno dos equipamentos, e mais importante ainda seja

talvez o devido isolamento dos edifcios, visto que a maior parte do calor que entra, escapa-se

pelo tecto e pelas paredes de uma habitao. Um isolamento adequado muito importante para

reduzir essas perdas de calor [24]. Estas alteraes de construo devem ser exigidas aos

projetistas na conceo das construes, minimizando assim a utilizao dos sistemas

convencionais de energia e aos responsveis da construo pelo cumprimento integral do

projeto. Deste modo, dever ser levada em conta uma escolha adequada dos materiais, dos

equipamentos auxiliares, diminuindo assim o consumo energtico, pois esta alterao de hbitos

leva a uma escolha mais racional dos equipamentos domsticos e mtodos de iluminao de

forma mais informada e responsvel. [72]

O isolamento trmico contribui diretamente para uma diminuio do consumo energtico no

interior do edifcios. O desenvolvimento dos materiais usados como isolamento tem vindo a ser

estudado em todo o mundo, usando materiais com propriedades de armazenamento de energia

tais como os materiais de mudana de fase (PCMs).

A utilizao dos PCMs na estrutura e/ou revestimento do edifcio tm a capacidade de absorver

ou libertar a energia a uma temperatura constante e assim apresentam o efeito termoregulador.

Assim, este trabalho, pretende estudar o comportamento dos PCMs parafnicos como materiais

de isolamento em argamassas.

1.2. Objetivos e justificao do tema

O principal objectivo compreender a influncia dos materiais de mudana de fase na

construo. Em particular, o efeito de incorporao de materiais de mudana de fase numa

argamassa para revestimento interior de uma parede.

O objectivo geral do trabalho ser desenvolver uma argamassa com agregados leves que

incorporem parafina, um material de mudana de fase, com o intuito de melhorar o conforto

trmico que permita a diminuio do consumo de energia e a sua quantificao.

Os objectivos especficos deste estudo consistiram na avaliao do comportamento trmico da

argamassa descrita atrs por comparao com as argamassas convencionais e argamassas com

agregados leves impregnados em gua: verificao da maneira como a incorporao do PCM

altera as propriedades trmicas e avaliao do potencial trmico do material.

3

1.3. Organizao da dissertao

A metodologia da dissertao ser apresentada em seis captulos distintos, sendo organizados da

seguinte forma:

No Captulo 1 introduz-se e enquadra-se o tema em estudo, em traos muito gerais,

apresentando-se assim as principais motivaes e objectivos, bem como a estrutura de todo o

trabalho.

No Captulo 2 apresenta-se um conjunto de informao relacionada com os materiais de

mudana de fase, onde se explora a histria deste tipo de materiais. Existe ainda uma

abordagem sobre a classificao dos materiais de mudana de fase, explorando as propriedades

termofsicas, cinticas e fsicas. A diferena entre estas classificaes explicada atravs de

uma descrio personalizada de cada um bem como as vantagens e desvantagens que possuem. O

captulo finalizado com uma abordagem sobre reao ao fogo, como est se d e a melhor

forma de resolver esta desvantagem.

No Captulo 3 apresenta-se uma anlise bibliogrfica recolhida de outros trabalhos de

investigao, de forma a transmitir as aplicaes deste tipo de materiais na construo.

Abordando em especficos a aplicao dos materiais de mudana de fase no beto, nas paredes,

nos pavimentos, nos tetos, nos vidros, nos tijolos e nos sistemas de aquecimento base de ar

bem como nos sistemas de ventilao.

No Captulo 4 apresenta-se o procedimento experimental adotado no presente estudo.

Descrevendo todas a propriedades dos materiais que constituem as argamassas. Existe uma

abordagem dos ensaios de caracterizao destes materiais. Explica-se tambm o procedimentos

de impregnao do agregados leve com materiais de mudana de fase e com gua,

procedimentos de clculo e as misturas, assim como a preparao dos provetes para os ensaios.

Estes ensaios sero feitos no estado fresco e no estado endurecido para caracterizar as

argamassas bem como o seu comportamento e propriedades trmicas.

No Captulo 5 sero apresentados os resultados obtidos no trabalho experimental e analis-los de

forma crtica.

No Captulo 6 apresenta-se as concluses da campanha experimental, mostrando a viabilidade

trmica da aplicao deste tipo de materiais na construo, respondendo assim aos objectivos

propostos no incio do trabalho. Termina-se este capitulo com algumas sugestes para trabalhos

que se venham a desenvolver no futuro.

No final do trabalho apresentam-se as referncias bibliogrficas.

4

5

2. Materiais de mudana de fase

2.1. Introduo

Os Materiais de mudana de fase (PCM) so substncias com elevada entalpia de fuso. medida

que o material muda de fase e solidifica ocorre um processo exotrmico e na fuso ocorre um

processo endotrmico. Explorando as suas reaes exotrmica e endotrmica, possvel usar o

calor latente de fuso para armazenar e libertar grandes quantidades de energia a uma dada

temperatura, quer por fuso, quer solidificao, mantendo o ambiente envolvente a uma

temperatura prxima da temperatura de mudana de fase do PCM.

A transferncia de energia trmica ocorre quando os materiais sofrem alteraes de estado, ou

fase (do lquido ao slido ou slido para lquido). Os PCMs usam a energia armazenada quando a

temperatura ambiente est abaixo da sua temperatura de fuso. Nos edifcios correntes este

efeito explorado atravs da inrcia trmica, utilizando componentes de elevada massa

superficial em contacto com o ambiente interior. Nesta medida, os PCMs podem ser vistos como

uma maneira de aumentar a inrcia trmica sem a necessria massa elevada, permitindo o

recurso a elementos de compartimentao mais ligeiros.

Os PCMs com uma temperatura de fuso entre 19 e 24 C so os mais utilizados em ambientes

interiores dos edifcios, visto que com esta gama de temperaturas fica-se relativamente perto do

nvel de conforto humano. Os PCM so capazes de estar continuamente em ciclos de mudanas

de fase sem perder de seus atributos. Estes so usados quase sempre microencapsulados ou

encapsulados com o intuito de impedir a perda de massa atravs de evaporao. As parafinas

especficas que coincidem com a faixa da temperatura entre 19 e 24 C so menos investigadas

quando comparadas com PCMs petroqumicos (tais como cidos graxos que provm de fontes

orgnica) devido ao custo e origem no sustentveis.

Os desenvolvimentos atuais da indstria de construo em grande parte so baseados em PCMs

de parafina com base encapsulado. O microencapsulado tem sido incorporado em materiais de

construo tais como as placas de gesso. Estes produtos tm sido aplicados em residncias na

Nova Zelndia devido sua capacidade de substituir a massa por um armazenamento de calor

passivo com as mesmas caractersticas.

2.2. Histria dos materiais de mudana de fase

A primeira utilizao documentada de um PCM para aquecimento passivo foi apresentada por

Maria Telkes, o Sol Queen, em 1948. A cientista americano nascido na Hungria era fascinado

pelas possibilidades do aquecimento solar desde 1920. Incapaz de convencer uma instituio de

ensino superior, Telkes colaborou com o escultor Amelia Peabody e o arquiteto Eleanor

Raymond, que financiaram o projeto [18]. A Casa em Dover, Massachusetts, continha

6

aproximadamente 4 m3 de sais de Glauber, um material de mudana de fase que se encontrava

em tambores alojados nas assoalhadas principais, as quais dispunham de ventiladores para mover

o ar quente para as respetivas assolhadas no inverno. No vero, o sistema mandava ar fresco

para os quartos. Mas este sistema s poderia manter a casa quente durante aproximadamente 11

dias sem sol. Infelizmente o ciclo de vida de sais de Glauber expirou no terceiro inverno e

tornou-se necessrio o aquecimento convencional. Telkes conhecido por ter dito "Quem pode

esperar que o primeiro aquecimento deste gnero seja 100 por cento eficaz?" e, na verdade, 60

anos mais tarde, a forma de aquecimento ainda tem de ser aperfeioada. Em 1951 Telkes

escreveu A luz solar ser usada como uma fonte de energia mais cedo ou mais tarde. Porqu

esperar? [27].

Desde 1948, mais recursos tm vindo a ser investigados e extensivamente estudados ao longo de

dcadas, no desenvolvimento dos PCMs, nomeadamente nos anos 1990 por Peippo [27]. No

entanto, apesar das suas descobertas e das dificuldades de conceo de um PCM com uma

temperatura de fuso adequada [27], o impulso para estas aplicaes foi lento e at mesmo

Peippo perdeu as esperanas. Ele no menciona, no seu artigo de 1998, a otimizao dos PCMs

em projeto de edifcios com baixa energia solar [27]. A omisso poderia dever-se ao facto de os

custos-benefcios serem demasiado elevados no projeto.

2.3. Classificao dos materiais de mudana de fase

Em 1983, Abhat [1] props uma classificao das substncias utilizadas para o armazenamento de

energia trmica, que se apresenta na Figura 2.1.

Figura 2.1. Classificao do armazenamento da energia trmica [1,50,80]

Materiais

Energia quimica

Calor sensvel Calor latente

gs-liquido solido-gs solido-solido solido-lquido

Orgnico

Euteticas Temperaturas

individuais

Misturas Intervalo de

temperaturas

Parafinas

Grau comercial

Grau analitico

cidos gordurosos

Inrganico

Euteticas Temperaturas

individuais

Misturas Intervalos de temperaturas

Sais hidratados

7

Entre as referncias mais completas, relacionadas com materiais de mudana de fase, pode

citar-se Abhat [1], Lane [49,43] e Dincer e Rosen [17]. Estes contm uma reviso completa dos

tipos de materiais utilizados, sua classificao, caractersticas, vantagens e desvantagens e as

vrias tcnicas experimentais utilizadas para determinar o comportamento destes materiais.

Para serem usados como sistemas de armazenamento trmico, os Pcms devem possuir:

propriedades termofsicas, cinticas, fsica e qumicas adequadas.

As propriedades termofsicas que o PCM deve ter [38,50,72,74]:

(i) Uma temperatura de fuso para a gama de temperaturas desejadas;

(ii) Elevado calor latente de fuso por unidade de volume, de modo a reduzir o volume

necessrio para armazenar uma determinada quantidade de energia;

(iii) Alto calor especfico que armazene o calor adicional;

(iv) Uma condutividade trmica elevada de ambas as fases slida e lquida para auxiliar no

carregamento e descarga de energia do sistema de armazenamento;

(v) Pequenas mudanas de volume, na transio de slido para lquido, para reduzirem os

problemas de conteno;

(vi) Fuso congruente do material de mudana de fase para uma capacidade de

armazenamento constante do material.

Do ponto de vista cintico, o PCM deve ter [50,60,72,74]:

(i) Uma alta taxa de nucleao para evitar o rpido arrefecimento na sua fase lquida;

(ii) Uma alta taxa de cristais, de modo a que o sistema possa satisfazer a recuperao do

calor a partir do meio envolvente.

Sob ponto de vista fsico, dever ter [50,60,72,74]:

(i) Uma densidade elevada;

(ii) Pequena variao de volume na mudana de fase;

(iii) Baixa presso de vapor;

(iv) No sofrer sobrearrefecimento.

Sob ponto de vista qumico, dever [50,60,72,74]:

(i) Contemplar ciclo reversvel de solidificao/fuso;

(ii) No degradar-se aps os vrios ciclos de solidificao/fuso;

(iii) No corroer os materiais de construo;

(iv) Ser um material no txico, no inflamvel (no caso das parafinas dever usar-se, por

exemplo um suporte) e no explosivo.

8

2.3.1. Materiais de mudana de fase orgnicos

Os materiais de mudana de fase orgnicos so geralmente compostos por parafina, visto ser at

agora o material mais estudado. A maioria da parafina composta por misturas de carbonos e

hidrognio com uma cadeia linear CH3-(CH2)n-CH3, o seu calor latente de fuso e,

consequentemente, o seu ponto de fuso, aumenta em funo do comprimento da cadeia de

carbonos, isto , em funo do nmero de tomos de carbono que a constitui. As parafinas puras

so constitudas geralmente por 14 a 40 tomos e as parafinas de cera possuem entre 8 e 15

tomos. O nome de cada parafina deriva do nmero de carbonos que contm.

As gamas da temperatura de mudana de fase para as parafinas situam-se entre 0 e 130 C, com

entalpias de fuso entre 150 e 220 MJ/m3. A temperatura dos compostos da parafina est

diretamente relacionada com o tamanho da cadeia de tomos de carbono, isto , quanto maior o

nmero de tomos de carbono maior a temperatura [33,50,69,72].

As parafinas so materiais no corrosivos, no txicos, quimicamente inertes, estveis abaixo dos

500 C durante um largo perodo de utilizao, tm pequenas variaes do volume na fuso e

baixa presso do vapor. Em mdia as parafinas possuem capacidades de armazenamento trmico

de aproximadamente 200 kJ/kg de energia durante o seu processo de fuso. Na Tabela 2.2

resumem-se as principais caractersticas dos PCMs orgnicos.

Tabela 2.1. Caractersticas dos PCM orgnicos [10,51,72,74]

Componentes Temperatura de

mudana de fase (C) Entalpia de mudana

de fase (kJ/kg)

Estearato de butilo 19 140

Parafina C16-C18 20-22 152

cido Caprilco-Lurico 21 143

Poligicol E600 24 127,2

34% cido mirstico+ 66% cido Caprilco

24 147,7

Parafina C13-C24 22-24 189

1- Dodecanol 26 200

Parafina C18 (45-55%) 28 244

Estearato de vinilo 27-29 122

cido Caprilco 32 152,7

Palmitato de propilo 19 186

Tetradecanol 38 205

Poliglicol E6000 66 190

Parafinas C21-C50 66-68 189

Parafinas C22-C45 58-60 189

Parafinas C20-C33 48-50 189

cido Miristico 49-51 204,5

cido Esterico 69 202,5

9

Podem misturar-se diferentes parafinas para obter novas gamas de temperatura de transio. Os

tipos mais utilizados como PCM so: o hexadecano, o octadecano e o eicosano, estes encontram-

se descritos na Tabela 2.3, por serem economicamente mais viveis.

Tabela 2.2. Caractersticas das misturas de PCM orgnicos [72]

PCM N de tomos de

carbono Temperatura de

mudana de fase (C) Entalpia de mudana

de fase (kJ/kg)

Hexadecano 16 18.5 237

Heptadecano 17 22.5 213

Octadecano 18 28.2 244

Nonadecano 19 32.1 222

Eicosano 20 36.1 247

Heneicosano 21 40.5 213

Existem outros materiais de mudana de fase orgnicos sem ser as parafinas, so os no

parafnicos. Estes possuem propriedades muito variadas. Um exemplo de materiais no

parafnicos so os cidos gordos, lcoois, glicis, entre outros. Na Tabela 2.4 apresentam-se

algumas das caractersticas destes materiais. Os cidos gordos possuem uma entalpia de fuso

superior quando comparados com as parafinas. Estes cidos, so considerados como bons PCM,

devido ao facto de apresentarem uma reprodutibilidade na fuso, uma solidificao e no

sofrerem sobrearrefecimento. O nico inconveniente da sua utilizao est no seu custo que de

2 a 2,5 vezes superior aos materiais parafnicos.

As parafinas apresentam algumas propriedades indesejveis tais como: baixa condutibilidade

trmica e so inflamveis. Estes efeitos indesejveis podem ser eliminados atravs da

modificao das misturas [50].

Uma das razes pelas quais os materiais de mudana de fase orgnicos tm uma baixa

condutibilidade trmica resulta do fato de estes possurem uma baixa taxa de transferncia de

calor. Um das solues para melhorar a transferncia de calor entre o PCM e o ambiente

atravs do microencapsulamento que aumenta a razo entre a superfcie e o volume do PCM.

O microencapsulamento do PCM um conjunto liquido ou slido de pequenas partculas ou gotas

de PCM, ao qual se denomina ncleo, dentro de um filme fino de polmeros (por exemplo

polimetilmetacrilato, o qual se denomina por cpsula). Nos ltimos tempos tm-se integrado em

materiais de construo, aumentando assim a massa de armazenamento. Se a matriz de

encapsulamento no tiver uma condutibilidade trmica elevada, ento o sistema de

microencapsulamento ter uma baixa taxa de transferncia de calor.

As microcpsulas de PCM podem ser colocadas dentro de num fluido de transporte (por exemplo

a gua) que se dispersa ao longo do fluido. Ao utilizar materiais hidrfilos (como por exemplo

resina de melamina), alcana-se uma homogeneidade das cpsulas em suspenso quando estas se

encontram dispersas em gua. Os materiais de PCM microencapsulados em suspenso mais

10

utilizados so as parafinas [50].

2.3.2. Materiais de mudana de fase inorgnicos

Os PCM inorgnicos mais estudados na aplicao em sistemas de armazenamento de energia

trmica so os sais hidratados [50]. Estes sais inorgnicos originam um slido cristalino, e quando

ligados com a gua formam uma equao AB.nH2O [2.1], isto , um sal hidratado com menos

uma molcula de gua.

. 2 .2+ ( )2 [2.2]

Ou ento, do origem sua forma anidra

. 2 + 2 [2.3]

Existem trs tipos de comportamentos de fuso nos sais: a fuso congruente que acontece

quando o sal anidro se dissolve completamente na gua hidratada, a fuso semi-hidratada que

tem uma composio diferente na fuso, devido converso do hidrato num material menos

hidratado devido a perda de gua, isto se, na fase de transio as fases slida e lquida

estiverem em equilbrio, e por ltimo, a fuso incongruente que se d quando o sal no

totalmente solvel na gua hidratada temperatura de fuso.

As propriedades atrativas deste tipo de materiais de mudana de fase so: elevado calor latente

de fuso por unidade de volume; condutibilidade trmica relativamente elevada (comparando

com a parafina o dobro); uma pequena variao do volume de fuso; no so muito corrosivos;

no so muito inflamveis; so compatveis com os plsticos; so ligeiramente txico; so mais

baratos e de fcil acesso.

Um dos inconvenientes na utilizao dos materiais de mudana de fase inorgnicos prende-se

com o facto de estes se fundirem de um modo incongruente, isto porque o nmero de moles de

gua so insuficientes para dissolver uma mole de sal, logo resulta numa soluo sobrenadante

temperatura de fuso. Um exemplo o sal que possui uma maior densidade que gua, e quando

se junta a gua a este, deposita-se no fundo e fica impedido para se recombinar com a gua. Isto

resulta num processo cada vez menos reversvel de fuso-solidificao do sal hidratado em cada

ciclo de carga-descarga de energia.

Este problema da fuso de modo incongruente pode ser resolvido de uma das seguintes formas:

agitao mecnica; encapsulamento do PCM para reduzir a separao de fases; adio de um

agente espessante que impea a deposio do sal slido mantendo-o em suspenso, e por ltimo,

pela modificao da composio qumica do sistema tornando a fuso congruente [50].

Um outro problema prende-se com o sobrearrefecimento sofrido pelos sais hidratados. Isto

acontece porque temperatura de fuso, a taxa de nucleao muito baixa. Ao sobrearrefecer,

a soluo atinge uma taxa de nucleao razovel e a energia ser descarregada a uma

11

temperatura inferior da fuso. Existem duas solues para resolver este problema: uma delas

atravs da adio de um aguente que ajude a formar ncleos de cristalizao, a outra manter

alguns cristais numa pequena zona fria que servem como ncleos de cristalizao.

Outro inconveniente d-se no processo de descarga, onde se formam espontaneamente sais

menos hidratados. Uma soluo para prevenir este problema passa por uma adio qumica que

aumente a solubilidade dos sais hidratados comparativamente com os sais mais hidratados, isto

, maior nmero de moles de gua.

2.3.3. Materiais de mudana de fase eutticos

Este tipo de materiais de mudana de fase uma composio de pelo menos dois ou mais

compostos de natureza orgnica, inorgnica ou ambas, em que cada um se funde e solidifica de

forma congruente, formando assim uma mistura de cristais. Os Eutticos fundem e solidificam

quase sempre sem segregao. O comportamento deste tipo de material parecido com o dos

sais hidratados, no entanto, apresentam temperaturas de transio muito mais prximas das

necessidades do que os componentes individuais. A principal desvantagem deste tipo de misturas

o seu preo, que cerca de duas ou trs vezes mais elevado que os compostos individuais. Na

Tabela 2.4 so apresentados exemplos de eutticos orgnicos e inorgnicos usados como PCMs.

Tabela 2.3. Eutticos orgnicos e inorgnicos com potencial utilizao como PCMs [50]

Eutticos Compostos Temperatura de

fuso (C) Calor de fuso

(kJ/kg)

Orgnicos

37,5% Ureia + 63,5% Acetamida

53 Informao no

disponvel

67,1% Nafltaleno + 32,9% cido Benzoico

67 123,4

Inorgnicos

51-55% Cu(NO3)3.6H2O + 45-49% LiNO3.3H2O

16,5 250

45-52% LiNO3.3H2O + 48-55% Zn(NO3)3.6H2O

17,2 220

2.3.4 Vantagens e desvantagens dos materiais de mudana de fase

Os PCMs orgnicos, inorgnicos e eutticos podem apresentar algumas vantagens e desvantagens.

Uma comparao entre estes tipos de materiais tendo em vista a capacidade de armazenamento

de calor apresentada na Tabela 2.1.

12

Tabela 2.4. Comparao entre os PCMs para armazenamento de calor [9,11,58,60,50]

Vantagens: Desvantagens: PCM Orgnico No so corrosivos

No sofrem sobrearrefecimento

Estabilidade trmica e qumica

Disponibilidade de uma grande

srie de temperaturas

Propriedade de nucleao

Compatibilidade com materiais de

construo convencional

Sem segregao

Seguro e no reativa

Reciclvel

Alto calor de fuso

Baixa condutividade trmica no

seu estado slido

Entalpia de mudana de fase

baixa Inflamveis

Altas taxas de transferncia de

calor durante o ciclo

congelamento

A capacidade de armazenamento

do calor latente baixa

Devido ao custo excessivo apenas

as parafinas so utilizadas.

PCM Inorgnico Entalpia de mudana de fase

elevada

Baixo custo e fcil disponibilidade

Ponto de fuso ntido

Condutividade trmica elevada

Alto calor de fuso

No inflamvel

Sobrearrefecimento

Corroso

Separao de fases

Segregao de fases

Falta de estabilidade trmica

Mudana de volume muito

elevada

A alta refrigerao o maior

problema na transio slido-

liquido

Os agentes de nucleao so

necessrios e tornam-se

imperativos aps repetidos ciclos.

PCM Eutticos Ponto de fuso acentuado e

semelhante ao da substncia pura

Densidade de armazenamento

volumtrico ligeiramente acima

ao dos PCMs orgnicos

Os dados disponveis so muito

limitados nas aplicaes de

armazenamento trmico

2.4. Materiais de mudana de fase comerciais

Na Tabela 2.5 so apresentados os diversos PCMs orgnicos e inorgnicos mais comerciais

disponveis no mercado com as diferentes gamas de temperatura.

13

Tabela 2.5. PCMs comerciais disponveis no mercado [50,72]

Fabricante Designao comercial

Tipo de produto

Temperatura de mudana de fase

(C)

Entalpia de mudana de fase

(kJ/kg)

Rubitherm GmBH

RT20

Parafina

22 172

RT25 26 232

RT26 25 131

RT27 28 179

RT30 28 206

RT32 31 130

RT54 55 179

RT65 64 173

Climator

Climsel C23

Sal hidratado

23 148

Climsel C24 24 216

Climsel C32 32 212

Climsel C48 48 227

Climsel C70 70 194

TEAP TH29 Sal hidratado 29 188

Mitsubishi Chermical

STL27

Sal hidratado

27 213

STL47 47 221

STL55 55 242

Cristopia S27 ou AC27 Sal hidratado 27 207

BASF Micronal DS 5008

Parafina 23

110 Micronal DS 5001 26

2.5. Reao ao fogo dos materiais de mudana de fase

Uma das desvantagens da utilizao dos materiais de mudana de fase parafnicos a reao ao

fogo. Esta reao importante, porque na maioria das suas aplicaes esta condio

inaceitvel. Esta inflamabilidade dos PCM deve-se temperatura mnima na qual o material

comea a libertar uma mistura inflamvel para o ar, em quantidade suficiente para iniciar uma

combusto, em condies atmosfricas normais. A temperatura mnima dos PCM afetada pelo

ponto de ebulio, pelo peso molecular e pela temperatura mnima das molculas.

Nas parafinas, a sua combusto produz dixido de carbono, gua e calor. Esta reao muito

exotrmica e leva formao de produtos intermedirios. Com o aumento do nmero de tomos

de carbono existe um aumento das reaes incompletas e formam-se outros sub-produtos como o

monxido de carbono e outros compostos como os xidos de azoto. Isto leva a um aumento do

tamanho das molculas, que faz com que os hidrocarbonetos se tornem mais difceis de inflamar.

Esta reao ao fogo dos materiais de mudana de fase importante para contornar esta

desvantagem e conseguir melhorar o comportamento. Uma das hipteses para contornar esta

desvantagem a incorporao ou aplicao posterior de revestimentos retardadores de chama.

14

15

3. Aplicao dos PCMs na construo

3.1. Introduo

Este terceiro captulo ir ser dedicado ao estado de arte dos materiais de mudana de fase

utilizados na construo, bem como s solues que tm vindo a ser investigadas e

implementadas, no sentido de explorar este tipo de armazenamento trmico de energia.

Algumas aplicaes possveis com a utilizao deste tipo de materiais so listadas em seguida:

Armazenamento solar de energia trmica;

Sistemas passivos de armazenamento de energia em edifcios;

Sistemas de arrefecimento/aquecimento e guas quentes sanitrias;

Proteo trmica de: equipamentos electrnicos (sistemas de refrigerao); aplicaes

mdicas (transporte de sangue ou medicamentos) e motores;

Aumento do conforto trmico no interior de veculos;

Sistemas de arrefecimento em centrais solares.

Os fatores que influenciam a temperatura no interior dos edifcios so:

As condies climatricas (temperatura exterior, velocidade do vento, radiao solar);

A estrutura do edifcio;

As caractersticas da construo e dos materiais utilizados (espessuras das paredes,

dimenso dos vos envidraados, condutibilidade trmica e calor especfico dos materiais);

Fontes de calor internas;

Nmero de renovaes de ar;

Equipamentos auxiliares de aquecimento ou arrefecimento.

Os factores acima enumerados provocam oscilaes da temperatura no edifcio, que podem ser

reduzidas com a massa trmica. Edifcios grandes, vos envidraados ou construes solares

passivas tornam-se desconfortveis nas estaes de aquecimento, visto que estes utilizam a luz

solar como iluminao natural e o fato de terem envidraados provoca um aquecimento interior,

porque os coeficientes de transmisso trmica superficial mdio so superiores ao de uma

parede exterior. Um dos mtodos para uma eficiente utilizao dos ganhos solares depende em

grande parte do mtodo de armazenamento da energia solar.

Consegue-se regular a energia interior do edifcio com um sistema de armazenamento de

energia, onde atravs de uma solicitao da energia da rede constante se a utilizao dos

sistemas de fornecimento de energia, o que leva, por sua vez, a uma diminuio dos gastos na

fatura da eletricidade. Outra vantagem est no aumento do conforto trmico no interior do

edifcio. Um armazenamento de calor associado energia solar, aquece-se o interior no inverno,

e no vero usa-se a energia armazenada para aquecer as guas sanitrias, ou para os

equipamentos de arrefecimento, ou na ventilao natural noturna.

16

Uma das aplicaes que tem vindo a ser estudada para o armazenamento trmico a utilizao

de materiais de mudana de fase (PCMs). Estes sistemas de armazenamento de energia latente

so preferveis quando comparados com o armazenamento da energia sensvel. O sistema de

armazenamento de energia latente aplicado em amplitudes trmicas menores. Estes sistemas

tm uma elevada capacidade de armazenamento que ocorre de uma forma quase isotrmica. A

impregnao dos PCM em materiais de construo porosos, como o gesso ou o beto, uma

possibilidade interessante e consegue-se desta maneira modificar as propriedades trmicas

destes materiais.

Os fatores que afetam o sucesso da utilizao do armazenamento do calor latente trmico so: a

localizao; conteno ou impregnao; tipo de PCM usado e a sua temperatura de fuso, como

mostrado na Figura 3.1. A aplicao do PCM pode ser passiva ou ativa, ou atravs de um

arrefecimento noturno. Na Figura 3.2 apresentam-se aplicaes possveis para cada envolvente.

Figura 3.1. Diagrama das aplicaes dos PCM [63]

Paredes Cobertura Piso

Aquecim

ento

sola

r pass

ivo

com radicao solar

com radicao solar

com radicao solar

Aquecim

ento

ati

vo

com coletor solar com eletricidade noturna com eletricidade noturna

Arr

efe

cim

ento

notu

rno

com ventilao noturna

com ventilao noturna

com ventilao noturna

Figura 3.2. As formas e os efeitos do PCM na envolvente do edifcio [81]

Aplicao dos PCMs

Aplicao activa

PCM como componentes

PCM impregnados com os materiais

de construo

Aplicao passiva

PCM como componentes

Circulao de ar

Circulao de gua

PCM impregnados com os materiais

de construo

Circulao de ar

Circulao de gua

Armazenamento unitrio dos

PCM

Circulao de ar

Circulao de gua

Circulao de gua e de ar

17

A incorporao dos PCMs na envolvente dos edifcios (paredes, cobertura, piso, etc.) utilizada

para aquecimentos solares passivos no inverno, o que aumenta a capacidade trmica da

envolvente do edifcio, reduzindo e retardando a carga trmica mxima, e reduz tambm as

flutuaes da temperatura ambiente.

Se o edifcio possuir um sistema de coletor solar com PCM, este pode armazenar a energia solar

trmica durante o dia e descarregar o calor durante a noite, mantendo assim o conforto trmico

em boa parte da casa. Com uma bomba de calor ou com um piso radiante com PCM, pode

armazenar-se calor com um gasto mnimo de energia durante a noite e descarregar esse calor

durante o dia, diminuindo o consumo de eletricidade, o que resulta num benefcio econmico

significativo. Outra aplicao o sistema de ventilao noturna com PCM para o armazenamento

de frio. Isto , quando a temperatura do ar exterior inferior temperatura do ar interior, a

ventilao iniciada e o PCM armazena o calor da parte interior do edifcio, sendo libertado

durante o dia, o que faz diminuir a utilizao dos sistemas de ar condicionado.

Uma das vantagens de um edifcio ter incorporado PCM na sua estrutura prende-se com a

possibilidade de existirem grandes reas de armazenamento trmico, o que permite

transferncias de calor entre todas as zonas do edifcio, bem como a oportunidade de criar uma

zona especfica com um sistema de ventilao para o arrefecimento. A segunda vantagem

prende-se com o fato do PCM representar pouco ou quase nenhum custo adicional [81].

Na fase de projeto, a aplicao dos PCMs deve ter em conta: o efeito pretendido; a percentagem

de material a usar; temperatura de transio; natureza; forma de incorporao; localizao e as

caractersticas arquitetnicas do edifcio. O sucesso do uso dos PCM na construo s verificado

se existir uma otimizao dos parmetros acima citados e se for corretamente aplicado.

A desvantagem no uso de PCMs resulta do fato destes apresentarem uma baixa condutibilidade

trmica, de 0,1 a 0,2 W/(m.C) no caso das parafinas, porque apesar de armazenarem uma

quantidade de energia significativa, a velocidade com que a mesma retirada ou fornecida pode

no ser suficiente para tornar-se rentvel. Para tirar mais vantagem dos PCMs, pode proceder-se

ao processo de microencapsulamento e sua incorporao em materiais porosos, permitindo

assim um aumento da rea especfica da transferncia de calor e maior eficincia do processo.

Com as normas de segurana ao fogo impostas aos materiais, o uso de PCM em edifcios exige

alguma prudncia, visto que este inflamvel, mais especificamente nas parafinas ou na

utilizao de placas de gesso cartonado impregnadas de PCM, ou ainda, na utilizao de PCM que

contm derivados de bromo. Vrias solues foram estudadas com o intuito de minorar esta

desvantagem, como por exemplo o revestimento da superfcie com materiais no inflamveis

(folha de alumnio, pelculas rgidas de PVC ou partculas de agregados leves).

18

3.2. PCM no beto

O beto um dos materiais mais usados em todo o mundo, quer em edifcios de habitao, quer

de comrcio. Em climas moderados, a massa trmica do beto nas paredes relativamente

grande, e isso pode ser uma vantagem, uma vez que armazena energia durante o dia e liberta-a

noite, reduzindo assim a necessidade de refrigerao/aquecimento auxiliar. No entanto, a

capacidade de armazenamento de energia do beto pode ser modificada com a incorporao de

materiais de mudana de fase na mistura. Park et al. [73] desenvolveram microcpsulas biocidal

anti-fngicas que utilizaram no beto e nas argamassas. Os ensaios experimentais tiveram como

objetivo verificar a aplicabilidade e a resistncia fngica da argamassa e do beto com essas

microcpsulas. Neste estudo, o d-limoneno foi selecionado como material antifngico e o Zeolite

Zeocarbon foi utilizado para reforar as membranas da cpsula. O Zeolite Zeocarbon tem a

capacidade de resistir a alta frico ou impacto que pode ocorrer durante o processo de mistura

ou no vazamento da argamassa ou beto.

Lee et al. [46,73] e Hawes et al. [30,73] apresentaram o desempenho trmico dos PCMs em

diferentes tipos de blocos de beto numa laje. Eles estudaram e apresentaram os efeitos da

alcalinidade dos PCMs, da temperatura, tempo de imerso, diluio do PCM e da absoro

durante o processo de impregnao para as lajes de beto [31,45,74]. Para isso, misturaram o

beto com aparas de madeira ou serradura, que no excedeu 15% de massa de gua. Deste

trabalho projetaram e construram uma instalao experimental para estudar PCMs que tinham

uma temperatura de fuso entre 20 e 25 C.

Zhang et al. [73] estudaram o armazenamento de energia trmica no beto. Nesse trabalho, foi

proposto um procedimento para a incorporao dos PCMs nos materiais de construo em dois

passos. No primeiro passo, o armazenamento da energia trmica dos agregados foi feito a partir

de agregados porosos e com PCM lquido, por impregnao a vcuo. O beto foi produzido usando

os agregados porosos, cimento Portland e outras matrias-primas do beto normal. No segundo

passo, utilizaram a elevada porosidade dos agregados para conseguir um armazenamento de

energia do beto com PCMs suficientes e envolveram os agregados porosos com a pasta de

cimento, evitando assim a fuga e poluio do PCM. A viabilidade do mtodo dos dois passos, o

efeito poroso dos agregados, a sua capacidade de absoro e o comportamento trmico tm sido

investigados. A comparao da capacidade de armazenamento de energia trmica do beto com

PCM, indica que o armazenamento da energia trmica tem um bom potencial na conservao de

energia. Neste trabalho, concluiu-se ainda que a capacidade de absoro de PCM com os

agregados porosos comparvel com a sua capacidade de absoro de gua por vcuo. A

absoro verificada foi na ordem dos 94%, 45% e 35%.

Mihashi et al. [73] produziram um beto com PCM de estearato de butilo com agregados porosos

que funde com sucesso por volta dos 18 C. Tal beto poderia ser usado na construo de

edifcios para manter a temperatura interior prxima dos 18 C.

19

Bentz e Turpin [73] trabalharam sobre as potenciais aplicaes dos materiais de mudana de fase

no beto. Eles apresentaram trs aplicaes dos PCMs com agregados porosos leves, e concluram

que os materiais de mudana de fase melhoraram o desempenho do beto nas vrias aplicaes.

Os PCMs podem ser adicionados diretamente ou em microcpsulas no beto. Alm disso, os

agregados porosos leves podem tambm ser utilizados como o "transportador" do PCM. Por

exemplo, agregados leves preenchidos com PCM com uma capacidade de absoro de cerca de

20% da massa, poder proporcionar uma massa de 350 kg/m3 de PCM num beto tpico.

Schossig et al. [73] trabalharam na microencapsulao do PCM. A microencapsulao das

parafinas permite que facilmente estas sejam usadas nos materiais de construo convencionais.

Estas cpsulas, com dimetros de alguns micrmetros, optimizam os materiais de construo,

independentemente da fase do PCM. A microencapsulao resolve os seguintes problemas: o

revestimento da cpsula impede qualquer interao entre o PCM e os outros materiais de

construo; no existe trabalho extra na construo na incorporao do PCM e as cpsulas so

suficientemente pequenas, portanto, no h necessidade de proteg-las contra a destruio.

Fome et al. [73] apresentaram um conjunto de experincias, utilizando diferentes quantidades

de PCM em misturas de beto autocompactvel. O estudo incidiu com uma mistura direta de PCM

microencapsulado com o beto. As propriedades do beto fresco, as propriedades endurecidas e

propriedades trmicas foram investigadas. A experincia mostrou que o pico da temperatura de

hidratao pode ser reduzido at 28,1% se aumentar 5% o teor de PCM. No entanto, a velocidade

de aquecimento no pode ser alterada pelo PCM, apenas o pico da temperatura absoluta

reduzido pela quantidade de energia armazenada temporariamente no PCM.

Lee et al. [45], apresentaram o desempenho trmico de blocos de beto impregnados com dois

tipos de PCM distintos, butilestereato e parafina. Neste trabalho, os blocos foram alinhados de

maneira a formarem um tnel no qual se fez passar o ar. Os resultados obtidos na experincia

apresentaram temperaturas distintas para cada um dos de PCM, enquanto o butilestereato teve

temperaturas entre 17 e 22 C, a parafina teve resultados entre 47 e 55 C. Entre 4 e 9% em

massa de PCM foi incorporado nos blocos. Outro resultado desta experincia foi os blocos

impregnados com butilestereato terem temperaturas acima dos 15 C por mais de 6 horas do que

os blocos convencionais e os blocos de parafina levarem 5 horas para atingirem temperaturas de

60 C, mas com uma temperatura de descarga superior a 22 C durante mais tempo (5 horas).

Cabeza et al. [8] estudaram betes tpicos e betes com impregnao de 5% da massa de

microcpsulas de PCM com uma temperatura de transio de 26 C e um calor latente de 110

kJ/kg, construindo clulas teste e monitorizando-as. O beto impregnado com os PCM foi usado

na cobertura e nas paredes a Sul e a Oeste. Os resultados obtidos para a parede do Sul foram

menos de 3 C da temperatura superficial mxima quando comparados com a parede do Oeste. A

resistncia do beto foi de 25 MPa compresso, ao final de 28 dias. O estudo demonstrou que o

aumento da quantidade de PCM leva a uma baixa condutividade trmica e a um aumento da

20

capacidade de armazenar calor, melhorando significativamente o desempenho trmico do beto,

reduzido o consumo de energia.

Podero ainda usar-se as microcpsulas de PCM com um retardador de presa, controlando a

temperatura durante o processo de cura do beto. A temperatura de hidratao inicial do

cimento d-se a uma alta temperatura, esta poder ser diminuda atravs da absoro da energia

durante a fuso do PCM, e com o retardador de presa diminui-se a velocidade de hidratao e

com isso diminui-se a libertao do calor da mistura. Uma das desvantagens de se usar esta

mistura prende-se com a resistncia que tende a ser menor ao longo do prazo, o que favorvel

a curto prazo e desfavorvel a longo prazo.

Quando se compara um beto impregnado com PCM com um beto tradicional apercebe-se que o

beto tradicional possui uma dosagem de cimento Portland CEM I na ordem dos 400 kg/m3 (que

normalmente apresenta um calor de hidratao por volta dos 500 kJ/kg, uma capacidade

calorfica de 1000 J/(kg.C) e uma massa volmica de 2350 kg/m3) e contm cerca de 1750

kg/m3 de agregados. Deste modo, o aumento da temperatura esperado seria de 85 C durante o

processo de hidratao em condies adiabticas e com uma temperatura constante de 25 C,

segundo o American Concrete Institute (ACI), enquanto um beto semelhante com impregnao

de PCM parafnicos, teria menos 20% da massa dos agregados, dispunha de 350 kg/m3 de PCM

com capacidade de armazenamento de energia e, assumindo que este beto detm uma entalpia

de 150kJ/kg, este teria um aumento esperado da temperatura de 63 C, durante o processo de

hidratao. Assim, conclui-se que um beto com impregnao de PCM tem uma reduo da

temperatura superior a 25% em relao a um beto tpico [74].

Os materiais de mudana de fase (PCM) tambm podero ser utilizados como redutores do

nmero ou da intensidade dos ciclos gelo-degelo a que o beto est sujeito no Inverno. Este PCM

dever possuir uma temperatura de transio por volta dos 5 C, o que conduzir a assim a um

aumento da durabilidade. A.R. Sakulich et al. [66] estudaram uma nova tcnica para prolongar a

vida dos tabuleiros das pontes atravs da reduo do estrago causado nos ciclos de

congelamento/descongelamento. Esta tcnica incorporava materiais de mudana de fase (PCMs).

Os autores estudaram dois agregados leves impregnados com quatro PCMs diferentes. A

resistncia compresso e o calor especfico foram utilizadas para avaliar os efeitos da

incorporao dos PCMs nas propriedades fsicas da fase argamassa dos betes. Os resultados do

modelo mostraram que a transferncia de calor atravs do material mais lenta e mais eficaz.

Para equilibrar a transferncia do calor e tamanho dos agregados, tem de se determinar o calor

necessrio para manter todo o tabuleiro da ponte quente. Em 104 de 237 locais investigados nos

Estados Unidos da Amrica, uma dosagem de 50 kg/m3 de PCM foi considerada conservadora,

visto que s aumentaria a vida til do tabuleiro por pelo menos um ano. Estes autores propem

que se estudem dosagens superiores de PCM.

21

Hadjieva et al. [25] investigaram a capacidade de armazenamento de calor e a estabilidade

estrutural dos ciclos trmicos do sistema de beto com sdio pentahidrato de tiossulfato (PCM).

Eles concluram que a grande absoro do beto serve como uma boa matriz de suporte,

derretendo o Na2S2O3.5H2O (com um ponto de fuso de 48 C) e melhorando a sua estabilidade

estrutural durante os ciclos trmicos. A capacidade de calor do sistema de beto com PCM

permaneceu elevada. A temperatura da fase de transio foi de cerca de 10 C para o PCM.

Farid e Kong [74] estudaram as lajes construdas com PCM, CaCl2.6H2O (com um ponto de fuso

de 29 C) encapsulado em mdulos esfricos de plstico. As esferas de plstico continham cerca

de 10% do espao vazio para acomodar a expanso do volume do PCM quando este muda de fase.

3.3. PCM na parede

As paredes so elementos construtivos presentes na envolvente vertical exterior ou nas paredes

de compartimentao interior de qualquer edifcio. Estes elementos tornam-se assim

preferenciais na explorao das suas potencialidades, em particular nos revestimentos

interiores.

Numa construo tradicional, as paredes divisrias tm uma baixa massa trmica. Se estes tipos

de paredes forem impregnados com PCM, este ir proporcionar um armazenamento trmico que

ser distribudo por todo o edifcio. O desempenho destas paredes com PCM depende dos

seguintes fatores: a temperatura de fuso da PCM; o intervalo de temperaturas de fuso; a

capacidade de calor latente por unidade de superfcie da parede e as condies climticas. Os

estudos realizados com paredes impregnadas de PCM tm vindo a melhorar com a escolha do

material de mudana de fase, o mtodo de fabricao e o modo de avaliao do desempenho.

Liu e Awbi [48] estudaram o desempenho de placas com materiais de mudana de fase em

conveco natural. Neste trabalho, foi investigado o desempenho trmico das placas de mudana

de fase numa cmara ambiental com ciclos de carga-descarga. Nesse estudo concluram que

durante o processo de carga, as placas de PCM reduzem a temperatura da superfcie interior da

parede. No processo de libertao de calor, a temperatura da superfcie da parede com PCM

mais elevada do que a das outras paredes. Verificaram ainda que a densidade do fluxo de calor

na parede com PCM, na zona de fuso, quase o dobro da registada na parede normal. Alm

disso, o desempenho do isolamento trmico de uma parede com PCM melhor durante o

processo de carga e de descarga. O coeficiente da transferncia de calor por conveco de uma

parede com PCM calculado atravs da comparao entre uma parede normal e a parede com

PCM. O elevado valor do coeficiente de transferncia de uma parede com PCM devido ao

aumento da energia que se d quando existe a troca de calor entre a parede e o ar interior.

Zhou et al. [82] desenvolveram uma comparao entre o desempenho trmico de placas com

materiais de mudana de fase usando dois compsitos (o PCM e o gesso) e placas com PCM. Estes

22

materiais foram avaliados numericamente num sistema solar passivo, numa construo em

Pequim, com um modelo de entalpia. Os resultados mostraram que: (1) para as condies da

experincia, a temperatura ideal de fuso de cerca de 21 C; (2) os compostos com PCM

proporcionam melhor desempenho trmico num curto espao de tempo; (3) as placas com os dois

compsitos e as placas de PCM tiveram um balano na temperatura interna de 46 e 56%,

respetivamente; (4) as placas de PCM respondem mais rapidamente do que as placas com os dois

compsitos, o que prova que so termicamente mais eficazes na utilizao do calor latente.

Castelln et al. [12] focaram-se nos materiais de mudana de fase microencapsulados usando-os

em painis sanduche. O objetivo deste estudo foi demonstrar a viabilidade do uso do PCM

microencapsulado (Micronal BASF) em painis sanduche para aumentar a sua inrcia trmica e

reduzir a energia dos edifcios. Neste trabalho, o painel sanduche com PCM microencapsulado

foi testado por trs mtodos diferentes. No primeiro caso adicionou-se mistura de PCM

microencapsulado um dos componentes do poliuretano. Nos outros dois casos, o PCM foi

adicionado ou no passo antes (caso 2) ou no passo depois (caso 3) da adio do poliuretano sobre

as folhas de metal. Os resultados mostram que, no caso 1, o efeito do PCM foi sobreposto por um

possvel aumento da condutividade trmica. Mas um aumento da inrcia trmica foi encontrado

no caso 3. No caso 2, os resultados obtidos foram diferentes devido m distribuio do PCM,

sendo que, algumas amostras mostraram o efeito do PCM (maior inrcia trmica), e outras

amostras mostraram resultados semelhantes ao painel sanduche convencional. Em ambos os

casos (2 e 3), mostraram que necessrio um processo de industrializao para melhorar os

resultados.

Lee et al. [44,73] alteraram o material microencapsulado para materiais de construo. O Micro-

PCM foi preparado utilizando a polimerizao in situ dos materiais de construo. O tamanho

mdio das partculas Micro-PCM situou-se entre 5 e 20 m. O calor latente das amostras de

Micro-PCM mostrou ser de 210 J/g (23C), 200 J/g (24C) e 150 J/g (28C). A condutibilidade

trmica do gesso sem PCM foi de 0,144 W/mK, mas a da parede de gesso com PCM situou-se

entre 0,128 e 0,163 W/mK. Eles [74] concluram que a espessura da pelcula de olefina com PCM

aumenta a capacidade de armazenamento trmico.

Rozanna et al. [64] estudaram as caractersticas trmicas do material de mudana de fase (PCM)

em placas de gesso aplicando-as na da construo. A mistura euttica de cidos lurico-esterico

com um ponto de fuso de 34,1 C e calor de fuso de 171,1 g/J foi utilizada na placa da parede.

Quando impregnadas em placas de gesso, as caractersticas trmicas da mistura foram

praticamente inalteradas, com um pico trmico agudo e nenhum pico adicional ou curvatura.

Com este pico, a imerso no afetou as caractersticas fsicas do gesso das placas. Os autores

recomendam o uso de um isolante apropriado que ligue o PCM ao gesso e um teste trmico de

ciclo acelerado, que necessrio para detetar qualquer alterao no comportamento trmico

aps o uso a longo prazo.

23

Kuznik e Virgone [41] trabalharam na fase experimental, alterando os materiais usados numa

parede. O desempenho trmico de um copolmero de gesso com um compsito de PCM foi

experimentalmente investigado numa sala cheia de clulas. A clula de teste totalmente

controlada, de modo que, num dia tpico de temperatura e radiao solar, o fluxo pode ser

repetido. Este um dos poucos estudos que permite uma anlise diferencial das paredes com e

sem material de PCM, sobre condies de efeitos trmicos e radiao controladas. Eles tiveram

em conta o comportamento da clula de teste, para o vero, para o meio da temporada e para

inverno. Em todas as estaes, as paredes de PCM reduzem as flutuaes da temperatura na

sala. Os autores concluram que o compsito de PCM interessante para aumentar o conforto

trmico humano, principalmente devido a trs razes:

O material de PCM includo nas paredes reduz fortemente o efeito de sobreaquecimento

e a energia armazenada libertada na sala quando a temperatura est abaixo da

temperatura de referncia;

A temperatura da superfcie da parede menor quando se utiliza gesso com PCM, isto

faz com que o conforto trmico aumente atravs da transferncia de calor;

A mistura do ar por conveco natural mais homognea com o uso dos materiais com

PCM, evitando assim estratificaes trmicas desconfortveis.

Shilei et al. [70] aplicaram misturas eutticas de cido cprico (CA) e cido lurico (LA) na

construo de paredes com o intuito de armazenar energia trmica. A temperatura de transio

de fase e os valores do calor latente das misturas eutticas de CA e LA so considerados

adequados para a incorporao nos materiais de construo. Foram efetuados testes com ciclos

acelerados para estudar as mudanas do calor latente e a temperatura de fuso nas paredes com

as misturas eutticas de CA e LA. A calorimetria diferencial exploratria (DSC) testou a transio

da temperatura e do calor latente. Os resultados mostraram que a temperatura de fuso e do

calor latente destas paredes com misturas eutticas tm variaes bvias depois de repetir 360

ciclos trmicos, o que provou que estas paredes com PCM tm uma boa estabilidade trmica para

a temperatura de fuso e o calor latente em aplicao de longo prazo. Portanto, eles podem ser

utilizados para armazenar o calor latente num edifcio.

Shilei et al. [71] estudaram, no inverno, a temperatura superficial e o fluxo de energia de placas

de gesso cartonado com PCM, usando clulas de teste equipadas com um aquecimento de teto

radiante com 2040 W. Estas placas apresentavam uma espessura de 9,5 mm, uma impregnao

de 26% de PCM e uma temperatura de transio de 17,9 a 20,3 C. Os resultados no demostram

uma grande diferena nas temperaturas mdias (apenas 0,8 C), mas a oscilao mxima de

referncia foi de 3,7 C num lado e no outro lado com PCM foi de 2,6 C. Por outro lado,

verificou-se o efeito de conservao de energia, registando uma diferena de cerca de 8 W/m2

no fluxo mximo.

Ahmad et al. [3] testaram uma clula de teste com painis de isolamento a vcuo e material de

24

mudana de fase. O desempenho foi comparado com uma clula teste sem PCMs. Para melhorar

a eficincia da parede, o painel de isolamento a vcuo (VIP) foi associado ao painel de PCM

(Figura 3.3). Esta nova estrutura permite que a capacidade calorfica aparente da construo

aumente. A energia solar transmitida e armazenada pelas janelas no aumenta a temperatura

interior das clulas, e a espessura do gesso menor em comparao com a parede tradicional.

Figura 3.3. O painel da experiencia de Ahmad et al. [73]

Ahmad et al. [2] sugeriram outro novo tipo de painis em PVC, com 25 mm de espessura,

temperatura de transio entre 21 e 25 C e incorporando 20 kg de PCM. Uma clula de teste foi

construda com este tipo de painis e o seu comportamento foi comparado com o de uma clula

de referncia. Os resultados obtidos no vero para a clula com PCM foram de 40 C para as

temperaturas mximas de 23 C para as temperaturas mnimas, enquanto na clula de referncia

se verificou uma temperatura mxima de 60 C e a mnima de 12 C.

Borreguero et al. [7] estudaram a viabilidade da incorporao de microcpsulas com materiais de

mudana de fase (PCM) em paredes de gesso para aumentar a capacidade de armazenamento de

energia da parede por um processo de polimerizao. Em primeiro lugar, o armazenamento da

capacidade de energia das microcpsulas resultantes e a eficincia da microencapsulao podem

ser maximizadas por um estudo da influncia entre a massa do ncleo e o processo de

revestimento da polimerizao. Os resultados indicam que as microcpsulas com maior

capacidade de armazenamento de energia tm uma melhor eficincia na microencapsulao.

Observou-se tambm que a capacidade de armazenamento de energia dependente do tamanho

da partcula e da capacidade mxima do valor obtido para o tamanho da partcula de 500 m.

Scalat et al. [67] estudaram duas clulas que estavam revestidas no teto e nas paredes por

placas de gesso cartonado, umas impregnadas com PCMs e outras sem PCM. Estas clulas

possuam um equipamento de ar condicionado e foram colocadas numa cmara climtica. As

placas de gesso incorporaram PCM com uma temperatura de transio entre 17 e 21 C e

impregnao da ordem de 26% em massa. Alcanaram-se dois grupos de resultados distintos para

as placas de gesso impregnadas com PCM: no primeiro grupo houve um acrscimo de 121% (de

8,5 para 18,8 horas) no tempo de arrefecimento entre os 24 C e os 18 C; no outro grupo

obteve-se um acrscimo de 89% (de 24,1 para 45,6 horas) no tempo de aquecimento entre os 18

C e os 24 C.

25

Athienitis et al. [5] investigaram o comportamento de uma clula teste durante o inverno,

revestida interiormente com placas de gesso cartonado impregnadas de PCM com cerca de 25%

em massa e com uma temperatura de transio entre 17 e 21 C. Esta clula possua uma rea

revestida de 20 m2, o que cerca de 7,5 KgPCM/m2 de pavimento. A clula foi conservada a 23 C

durante o dia e 16 C durante a noite. Nesta clula obteve-se uma reduo da temperatura

mxima de 4 C (30 C versus 26 C). Conclui-se que uma soluo de PCM permite uma reduo

de 15% do consumo de energia para aquecimento.

Darkwa et al. [16] estudaram o comportamento de duas solues distintas com a incorporao de

PCM. Uma destas solues continha placas de gesso cartonado de 10 mm de espessura e

revestida por lminas de PCM com 2 mm, a outra, uma placa de gesso cartonado com 12 mm de

espessura com impregnao de PCM. Em ambas as solues foi utilizada uma quantidade de PCM

de 17% em massa. A concluso deste estudo evidenciou que a soluo com a PCM laminado

mais eficaz no que respeita energia latente e contribui para um amento de 17% da temperatura

interior mnima.

Chen et al. [13] construram uma clula de teste que incorporava PCM em placas de gesso

cartonado no interior, disposta na fachada voltada a norte. Os resultados foram de uma

temperatura mxima de 24 C no lado do PCM e de 25,5 C no lado de referncia. Com esta

soluo, no inverno, com placas de 30 mm de espessura e PCM com uma temperatura de

transio de 23 C alcanou-se um potencial de poupana energtica de 17% com base numa

temperatura de conforto de 20 C.

Kuznik et al. [40] construram uma parede que tinha um painel com 60% de incorporao de PCM

microencapsulado, com 5 mm de espessura e uma temperatura de transio de 22 C, madeira

com 50 mm de espessura, gesso com 10 mm de espessura, poliestireno com 50 mm de espessura

e gesso com 13 mm de espessura, como se pode visualizar na Figura 3.4. Outra parede foi

construda mas sem o painel de PCM, e as duas solues foram colocadas numa cmara climtica

onde se variou a temperatura interior entre os 15 e 30 C. Para simular a radiao solar,

instalaram-se 12 lmpadas com 1000 W cada. Enquanto a temperatura da clula com PCM variou

entre 19,8 e 32,8 C a de referncia oscilou entre os 18,9 e 36,6 C. Na clula de referncia

verificou-se uma estratificao das temperaturas em cerca de 1 C entre os 0,85 e 1,7 m acima

do cho, o que um efeito indesejvel no que diz respeito ao conforto trmico.

Figura 3.4. Vista esquemtica das solues testadas pelo estudo de Ahmad et al. [72]

26

Schossig et al. [68] investigaram duas clulas revestidas internamente com gesso projetado, uma

com e outra sem PCM. Foram investigadas duas solues distintas na clula com PCM: uma com

40% de PCM incorporado e uma espessura de 6 mm, e outra com uma incorporao de 20% de

PCM e uma espessura de 15 mm. Em ambos os casos o PCM ostentava uma temperatura de

transio entre 24 e 27 C. A clula de PCM com espessura de 6 mm verificou uma temperatura

interior mxima cerca de 4 C mais baixa do que a outra. Colocaram-se estores interiores com o

intuito de sombreamento e as diferenas registadas foram de 2 C. Concluiu-se que o contributo

do PCM para o conforto trmico muito significativo, visto que, durante 3 semanas do tempo de

investigao, a clula com PCM teve cerca de 5 horas com temperaturas acima dos 28 C

enquanto a clula de referncia teve cerca de 50 horas acima dessa temperatura.

Alawadhi et al. [4] aplicou e comparou trs tubos na parede, que continham trs PCMs diferentes

de origem parafnica (octadecano, eicosano e P116 com temperaturas de transio de 27 C, 37

C e 47 C, respetivamente). Nas temperaturas registadas (25,7 a 55,6 C), verificou-se que

apenas o eicosano funcionou, reduzindo assim o fluxo de energia do exterior para o interior em

cerca de 24% (as temperaturas de transio inadequadas, mantiveram o octadecano no estado

lquido e o P116 no estado slido). Houve uma reduo de 17,5% do fluxo total de energia.

3.4. PCM nos pavimentos

Os pavimentos so uma parte bastante importante num edifcio, pois eles transferem muita da

sua capacidade trmica para o piso. Athienities e Chen [74] investigaram a transferncia de calor

de um sistema de aquecimento no pavimento. O estudo centrou-se na influncia do revestimento

final, da radiao solar na distribuio da temperatura no piso e no consumo de energia. Foram

considerados para este estudo os tapetes, bem como, o revestimento de madeira sobre o beto

ou o gesso. Os resultados experimentais e a simulao para uma sala teste revelaram que a

radiao solar pode causar no piso local um aumento de 8 C quando se compara com a mesma

rea sombreada. Cobrindo toda a rea com um tapete, e depois da energia solar ser absorvida,

obtiveram uma diferena da temperatura de 15 C superfcie. O armazenamento de energia

trmica no pavimento devido radiao solar trmica reduziu o consumo de energia de

aquecimento de forma significativa (30% ou mais). Eles concluram que a espessura do piso

aumentar de 5 a 10 cm, isto , se a massa trmica aumentar, isto no conduz a uma maior

poupana da energia.

Uma forma eficaz de aquecer um espao interior atravs de um piso radiante, visto que este

consegue manter uma temperatura de conforto com menos flutuaes como se ilustra na Figura

3.5. Este mais saudvel quando comparado com os outros sistemas de aquecimento e consegue

diminuir as condensaes nas paredes devido s menores diferenas entre as temperaturas. Ao

incorporar materiais de mudana de fase a uma soluo deste tipo aumenta-se a sua eficincia,

pela capacidade de armazenar energia e diminuir o nmero de horas que o sistema est ligado.

27

Figura 3.5. Aquecimento por conveno forada vs piso radiante [72]

Farid e Chen [77,81] investigaram numericamente o aquecimento de um piso radiante com uma

camada de PCM. Verificaram que uma camada de 30 mm de PCM com um ponto de fuso de 40

C suficiente para proporcionar o armazenamento do calor para um dia sob as condies

ambientais investigadas. O aquecimento atravs de um sistema de ventilao s pode ser

utilizado durante 8 h, fora do perodo de pico, enquanto que o calor armazenado no material de

mudana de fase fornece, razoavelmente, um aquecimento suficientemente uniforme durante

todo o dia, de modo que o armazenamento de calor pode ser feito fora do perodo de pico de

eletricidade. A experincia mostrou que o armazenamento do PCM consegue um aumento

significativo do aquecimento do piso de 30 para 75 W/m2.

Farid e Hong [81] compararam duas lajes de beto, uma contendo PCM-CaCl2.6H2O e outra

simples. Ao contrrio da laje de beto simples, a laje de beto-PCM mostrou uma temperatura

de superfcie com menor flutuao e manteve uma temperatura de superfcie aceitvel durante

todo o dia, com um processo de aquecimento de apenas 8 h.

Amir et al. [81] examinaram o comportamento trmico de dois pavimentos radiantes em que um

continha gua e o outro parafina n-octadecano que foi usada para armazenar a energia trmica

durante o horrio fora do pico, descarregando-a durante o horrio de pico. Este estudo revelou

que o painel de parafina mais compacto quando comparado com a gua (134 contra 152 mm de

espessura), armazena mais energia (2880 contra 2415 kJ/m2) e propor