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AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DO
CARGO DE AUXILIAR DE PRODUÇÃO
DA INDÚSTRIA METALÚRGICA
Flavia Torres (UTFPR )
Antonio Augusto de Paula Xavier (UTFPR )
Paula Eliza Rufino (UTFPR )
Etianne Alves Souza de Oliveira (UTFPR )
Fernando Partica da Silva (UTFPR )
O objetivo do presente estudo foi o de analisar a postura e as
atividades do posto de trabalho do Auxiliar de Produção do setor de
Pintura de uma empresa do ramo metal mecânico de Ponta Grossa,
Paraná. O mesmo apresenta a metodologia, a avaaliação ergonômica
do trabalho e propõe melhorias nos aspectos ergonômicos do trabalho.
A metodologia adotada consistiu em análise documental da empresa,
análise das características gerais da população, realização de
entrevistas e de observações e análises posturais com base em
filmagens, realizados no período de e março de 2013. Acredita-se que
o presente estudo trouxe contribuições no sentido de identificar a
necessidade imediata da implantação das melhorias, onde foram
propostas recomendações importantes quanto à adaptação de
equipamentos e ferramentas e na melhora da postura adotada pelo
trabalhador durante a realização de suas atividades, tendo por
objetivo final a implementação das recomendações e o treinamento dos
trabalhadores.
Palavras-chaves: Avaliação Postural, Ergonomia, Indústria
Metalúrgica.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
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1. Introdução
O setor da indústria metalúrgica representa um importante componente da economia mundial,
considerando sua contribuição no Produto Interno Bruto mundial, empregando cerca de 70
milhões de pessoas em todo o mundo, o que representa quase a metade dos bens produzidos
no setor industrial e mais da metade de todos os bens exportados a nível mundial (FITIM,
2010). No Brasil, em novembro de 2010, o ramo metalúrgico responde por 5,2% do total de
ocupados e por 26,4% do emprego industrial (DIEESE, 2011).
De acordo com uma pesquisa realizada em 2008, que mapeou as principais doenças que
causam afastamento do trabalho no Brasil, 4% dos 32,5 milhões de trabalhadores brasileiros
receberam o auxílio-doença por mais de 15 dias consecutivos. Dentre os principais motivos de
afastamentos estão as doenças osteomusculares (LOPES, 2008).
Segundo Monteiro e Bertagni (1998), as Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho
(DORT) são moléstias que atingem grande parte da população operária, deixando de ser
patrimônio dos digitadores como se pensava, havendo incidência em diversos operários de
outros ramos de atividades, como telefonistas, linha de montagem, metalúrgicos e outros.
Quanto ao trabalho dos metalúrgicos, estes se encaixam perfeitamente como exemplo do que
a divisão do trabalho produziu, pois desempenham suas atividades em sessões, executando as
mesmas atividades todos os dias, e consequentemente com os mesmos esforços repetitivos.
Esse tipo de atividade desencadeia além do cansaço físico, o mental e intelectual (LIMA,
1997).
Nesse contexto, a ergonomia permite investigar aspectos do trabalho que possam causar
desconforto aos trabalhadores e propor modificações nas condições de trabalho para torná-las
confortáveis e saudáveis, utilizando técnicas de análise do trabalho e de conhecimentos
advindos de várias outras ciências, singularizando aquelas condições de trabalho que não
estão em conformidade com o funcionamento fisiológico e psicológico dos seres humanos
(MACIEL, 2000).
As intervenções ergonômicas permitem que conhecimentos sejam gerados com o objetivo de
direcionar o planejamento e a prática de medidas preventivas de acidentes do trabalho e de
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doenças ocupacionais, além de reduzir o desconforto físico do trabalhador, aumentando assim
a eficiência do trabalho (BRASIL, 2011). Cabe ao empregador proporcionar condições
adequadas de trabalho, que resultam na satisfação do trabalhador com reflexos na melhoria do
desempenho, redução de absenteísmo e consequentemente o aumento da produtividade
(POLETTO; RAMPINELLI, 2012).
Estudos encontrados na literatura destacam a importância da Ergonomia e da Segurança do
trabalho nas mais diversas atividades, inclusive na indústria. No Brasil, vários estudos têm
sido desenvolvidos nesta área, entretanto poucos especificamente na indústria do ramo metal
mecânico, menos ainda acerca das condições ergonômicas do operário, evidenciando ainda
mais a necessidade da realização de estudos detalhados acerca da postura e do posto de
trabalho destes trabalhadores, refletindo tanto em sua saúde, com melhores condições de
trabalho e consequentemente em sua produtividade.
Portanto, o presente estudo analisou a postura e as atividades do posto de trabalho do Auxiliar
de Produção do setor de Pintura de uma empresa do ramo metal mecânico, localizada na
cidade de Ponta Grossa, Paraná, e propõe melhorias nos aspectos posturais e ergonômicos do
trabalho para a referida função, apresentar a metodologia e a avaliação ergonômica do
trabalho.
2. Metodologia da Pesquisa
2.1 Caracterização da empresa
O presente estudo foi realizado em uma Indústria do ramo metal-mecânico, escolhida por sua
acessibilidade e interesse no desenvolvimento da pesquisa.
A referida empresa iniciou suas atividades em 1973 fabricando cofres e armários de aço e
atualmente é especializada na fabricação de estruturas de aço para movimentação e
armazenagem de cargas, representando um faturamento mensal de mais de 20 milhões de
reais. Composta por aproximadamente 1076 funcionários, distribuídos em 29 setores, dentre
eles, o setor de Pintura, objeto do presente estudo devido a uma demanda interna apresentada
inicialmente pela empresa. A função de Auxiliar de Produção foi escolhida de acordo com
uma pesquisa inicial, que representou a análise da demanda, como será apresentado adiante,
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onde foi aplicado o Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO), sendo seus
resultados relacionados com a função exercida pelos funcionários na empresa.
2.2 Caracterização da Amostra
A amostra foi composta de todos os 38 profissionais do setor de pintura que exercem a função
de Auxiliar de Produção. Considerando a faixa etária dos funcionários, a média de idade é de
29 anos, e o desvio padrão de 11,2 anos.
O Auxiliar de Produção executa basicamente as tarefas de transportar as peças na área de
pintura para serem pintadas; pendurar ganchos na barra de pintura; pendurar as peças nos
ganchos; descarregar as peças já pintadas da correia de pintura; separar os ganchos e peças e
colocar em caixas; e separar as peças com problemas de solda.
2.3 Coleta de Dados
Inicialmente o propósito da pesquisa foi explicado para todos os entrevistados, sendo que os
mesmos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Contou-se com a
colaboração da totalidade dos funcionários do setor de pintura (90 funcionários) distribuídos
entre as seguintes funções: Auxiliar de Produção, Operador Industrial, Pintor, Operador de
Empilhadeira, Operador de ETE (Estações de Trabalho e Efluentes), Conferente, Especialista
em Carregamento de Pintura, Líder Industrial e Supervisor Industrial. De onde foi retirada a
amostra, onde optou-se por analisar a postura apenas dos Auxiliares de Produção.
Para a coleta dos dados refrentes à análise de demanda, foram realizadas visitas agendadas,
nos meses de setembro e outubro de 2012, de acordo com a disponibilidade da empresa.
Para o desenvolvimento do trabalho foi utilizada a metodologia Rapid Upper Limb
Assessment (RULA), com a qual foi realizado um diagnóstico ergonômico dos movimentos e
posturas adotadas pelos trabalhadores, de forma a propor melhorias e adaptações para as
atividades realizadas.
A análise da atividade de trabalho da população estudada consistiu na coleta de informações
no momento do exercício efetivo de trabalho dos funcionários do setor de Pintura, por meio
da análise documental da empresa, da análise das características gerais da população, da
realização de entrevistas e de observações e análises de filmagens, realizados no período de e
março de 2013.
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Para a gravação em vídeo utilizou-se uma câmera Sony Cyber-Shot modelo DSCW630 de
16.1 Megapixels. Foi utilizado o software Windows Media Player para a captura e verificação
do tempo de permanência de cada postura. Para transformar os vídeos em fotos das principais
posturas foi usado o software Kinovea, que possui vários recursos de edição de imagens.
Através das fotografias das diversas posturas observadas e após verificação dos ângulos entre
os segmentos do corpo, utilizou-se o software Ergolândia para a obtenção dos escores do
método de análise postural RULA, os quais definiram as necessidades de intervenção nas
condições de trabalho analisadas.
3. Desenvolvimento
A pesquisa foi desenvolvida com base na metodologia de Análise Ergonômica do Trabalho,
composta pelas etapas de análise de demanda, tarefa e atividade, diagnóstico e
recomendações, como será apresentado após a avaliação ergonômica (IIDA, 2005).
3.1 Avaliação dos aspectos ergonômicos do trabalho
Foi realizada uma avaliação ergonômica dos postos de trabalho dos Auxiliares de Produção
do setor de Pintura de uma indústria do ramo metal-mecânico, e propostas soluções baseadas
nos resultados dessa avaliação e no conteúdo teórico pesquisado na literatura sobre
ergonomia.
As etapas desta avaliação foram desenvolvidas por meio de várias técnicas: observações,
entrevistas estruturadas e semi-estruturadas, filmagens, gravações de áudio, fotografias,
questionários e verbalização dos trabalhadores. As observações foram baseadas nas atividades
dos trabalhadores do posto estudado e das pessoas envolvidas como referido setor
(engenheiros, técnicos e supervisores).
3.2 Análise de Demanda
Com a finalidade de identificar a demanda ergonômica da empresa, foi aplicado o QNSO
adaptado, em todos trabalhadores do setor de Pintura, com a finalidade de verificar a
ocorrência de sintomas osteomusculares e relacioná-la com a função exercida na empresa.
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Os 91 entrevistados (de todo o setor de pintura) relataram a ocorrência de dor, desconforto ou
formigamento, considerando os 12 últimos meses precedentes à entrevista, indicando ainda, a
região afetada e a frequência da sintomatologia dolorosa.
Como resultados encontrados, no que tange à ocorrência de sintomas osteomusculares nos
trabalhadores estudados, identificaram-se por meio do QNSO que: 95% dos trabalhadores do
setor sentem algum tipo de dor; e apenas 5% não referem nenhum tipo de dor (figura 1).
Figura 1- Ocorrência de dor de acordo com sua frequência
Fonte primária (2013)
Quando relacionados os sintomas osteomusculares relativos à dor com a função exercida na
empresa, verificou-se que na função de Pintor, 77% referiram sentir dor em alguma região do
corpo, seguida pela função de Auxiliar de produção onde o percentual foi de 63%; (figura 2).
Figura 2 - Funções mais acometidas pela ocorrência de dor
Fonte primária (2013)
Ao relacionar a função do trabalhador na empresa, com a região corporal em que mais
aparecem relatos de dor, a figura 3 apresenta as regiões mais acometidas para cada função.
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Figura 3 – Regiões de maior ocorrência de dor de acordo com a função
Fonte primária (2013)
Com base nos dados encontrados, optou-se por realizar primariamente uma avaliação
ergonômica do posto de trabalho do Auxiliar de Produção por ter sido a segunda função com
maior relato de dor de acordo com a Análise de Demanda e por se tratar da função que conta
com maior número de trabalhadores do setor de Pintura.
3.3 Análise da Tarefa
- Condições Ambientais:
a) Espaço físico: Construção em alvenaria e vedação em chapas de aço galvanizado, com piso
em cimento alisado e pintado com tinta epóxi, cobertura-forro em chapas de aço galvanizado
intercaladas com telhas translúcidas, iluminação natural e artificial através lâmpadas de vapor
metálico, ventilação natural.
b) Luminosidade: ambiente de trabalho linha 1= 600 lux; ambiente de trabalho linha 2= 750
lux; ambiente de trabalho linha 3= 850 lux.
c) Temperatura: Sistema de ventilação local com neblina, para conforto térmico;
d) Ruído: 80,8 dB(A); fonte geradora: ambiente de trabalho; tempo de exposição: 8,45 horas
diárias.
- Condições técnicas (materiais e acessórios):
Carrinho manual para transporte de peças, paleteira hidráulica, pistola de ar comprimido.
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- Condições organizacionais e sociais:
As condições organizacionais do trabalho se dão de forma direta, por meio de dois turnos de
trabalho: das 07:10 às 17:10 (primeiro turno) e das 17:10 às 2:45 (segundo turno).
3.4 Análise das Atividades
As tarefas dos Auxiliares de Produção no setor de Pintura da empresa podem ser definidas
pela execução de diversas etapas que iniciam-se com o recebimento e o transporte da peça a
ser pintada na área de pintura, e de acordo com as dimensões das peças recebidas os
trabalhadores realizam coletiva ou individualmente o levantamento, transporte e deposição da
carga no local de estocagem de forma manual ou mecanizada. Na forma manual, inicialmente
os funcionários penduram os ganchos de metal na barra de pintura, para posteriormente
carregar e pendurar a peça nos mesmos. Após a peça ter sido pintada, os mesmo também
realizam a tarefa de descarregar as peças já pintadas da correia de pintura e separar os
ganchos e as peças e colocá-los em caixas, além disso, faz parte de suas tarefas separar as
peças com problemas de solda.
Por meio da análise da atividade foi possível identificar e diagnosticar e recomendar soluções
para os problemas ergonômicos que serão descritos a seguir.
3.5 Avaliação Postural
Para aplicação do método ergonômico de análise postural RULA (Avaliação Rápida dos
Membros Superiores), o processo correspondente às etapas de carregamento e
descarregamento das peças a serem pintadas foram divididas em 5 atividades para melhor
entendimento. Essas atividades são demonstradas nas figuras 04 a 08.
Foram escolhidas para a realização da avaliação por meio do método RULA, a etapa de
carregamento e descarregamento de dois tipos de peças metálicas: a peça transportada na
figura 5, referente à atividade 02 consiste em uma peça denominada ‘reforço cartola’ cujo
peso é 10,7kg medindo 2185mm; já a peça exibida nas figuras 6 e 7, referentes às atividades
03 e 04 denomina-se ‘diagonal U’ e possui peso de 2,20kg medindo 1152mm . Esta escolha se
deu pela elevada frequência na qual esse produto é transportado pelos trabalhadores do setor.
Na atividade 01 quando o trabalhador pendura os ganchos na barra de pintura (figura 4), a
observação direta demonstrou ter demanda acentuada nos membros superiores, uma vez que o
trabalhador precisa realizar uma flexão de braço à 180º, ao mesmo tempo em que tem o fator
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agravante de elevação do ombro. Além disso, notou-se que essa atividade necessita de flexões
de punho para encaixar o gancho, fato que intensifica a demanda muscular e origina
movimentos compensatórios das articulações vizinhas. A coluna cervical encontra-se
hiperextendida, o que pode estar ocasionando dores nessa região. Além disso, o trabalhador
executa essa atividade com os membros inferiores mal apoiados, já que a barra de pintura
encontra-se muito alta, aumentando o risco de alguma lesão por torção de tornozelo por
exemplo.
Figura 4- Atividade de pendurar os ganchos na barra de pintura
Fonte primária (2013)
A atividade 02 compreende a atividade de pendurar as peças a serem pintadas nos ganchos
presentes na barra de pintura. Esta atividade necessita levantamento manual de peso (10,7kg),
onde dois trabalhadores dividem a carga durante o movimento de pendurar a peça na barra de
pintura. Neste momento os mesmo realizam flexão de ombro acima de 90º com flexão de
punho para encaixar a peça nos ganchos e extensão do pescoço. Os mesmos executam essa
tarefa diversas vezes, uma vez que o número de peças a serem pintadas é bastante elevado.
Figura 5- Atividade de pendurar as peças nos ganchos da barra de pintura
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Fonte primária (2013)
Na atividade 3 o trabalhador recolhe as peças já pintadas da barra de pintura. Durante essa
atividade o funcionário carrega aproximadamente 12kg (6 peças), segurando as mesmas até
levá-las até a caixa de armazenamento, realizando flexão e abdução de ombro entre 45º e 90º
e extensão de pescoço.
Figura 6- Atividade de descarregamento das peças pintadas
Fonte primária (2013)
Na atividade 4, o trabalhador deposita as peças dentro de caixas de armazenamento para
posterior transporte. Nesta atividade é realizada uma flexão de tronco maior que 60º, com
agravante de uma carga de aproximadamente 12kg (6 peças).
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Figura 7- Atividade de armazenamento das peças pintadas
Fonte primária (2013)
Na atividade 5 os trabalhadores separam e armazenam os ganchos utilizados para pendurar as
peças, em caixas próprias para isso. Observou-se que os trabalhadores permanecem por um
período prolongado em postura de flexão de tronco maior que 60º fazendo a separação desses
ganchos, além de permanecer com flexão de pescoço maior que 20º.
Figura 8- Atividade de separar e armazenar os ganchos em caixas
Fonte primária (2013)
3.6 Diagnóstico
Pode ser observado na avaliação postural que os trabalhadores realizam flexão de tronco;
flexão e extensão de punho; saltos; flexão e extensão de cervical; flexão de braço com
elevação de ombro, dentre outras posturas que podem estar ocasionando dor e possivelmente
evoluir para lesões. Portanto, a seguir foram analisadas as posturas dos trabalhadores durantes
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as atividades utilizando a ferramenta de avaliação em ergonomia RULA a fim de identificar
as posturas que devem ser evitadas ou corrigidas.
A seguir os diagnósticos apresentados pelo RULA para cada atividade realizada:
Figura 9- Diagnóstico da atividade de pendurar os ganchos na barra de pintura
Fonte primária (2013)
Figura 10- Diagnóstico da atividade de pendurar as peças nos ganchos da barra de pintura
Fonte primária (2013)
Figura 11- Diagnóstico da atividade de descarregamento das peças pintadas
Fonte primária (2013)
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Figura 12- Diagnóstico da atividade de armazenamento das peças pintadas
Fonte primária (2013)
Figura 14 - Diagnóstico da atividade de separar e armazenar os ganchos em caixas
Fonte primária (2013)
Avaliando os resultados por meio da ferramenta de avaliação em ergonomia RULA
percebemos que todas as posturas foram consideradas inadequadas e requerem mudanças
imediatas na forma como estão sendo desempenhadas.
3.7 Recomendações
As recomendações foram propostas com base nos conhecimentos ergonômicos dos
pesquisadores, tomando por base estudos da literatura de ergonomia prática e manuais de
ergonomia (WEERDMEESTER, 2004; KROEMER, GRANDJEAN, 2005; ROCHA, 2008;
FIGUEIREDO, FIGUEIREDO, LIMA, 2012).
a) Atividade 01 (pendurar os ganchos na barra de pintura):
Na atividade 01 pôde-se verificar que o trabalhador algumas vezes necessita realizar pequenos
saltos para pendurar os ganchos na barra de pintura, uma vez que esta se encontra em uma
altura maior que a do trabalhador.
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Uma das possíveis adaptações e a mais correta, para essa atividade seria o desenvolvimento
de um dispositivo de regulagem de altura para a correia de pintura (barra de pintura) que
permita uma adaptação em função da altura da peça a ser pintada e a altura do trabalhador.
Outra alternativa seria o remanejamento dos trabalhadores do setor com maior estatura para
essa tarefa.
b) Atividade 02 (pendurar as peças nos ganchos da barra de pintura):
Nesta atividade o levantamento manual de pesos é necessário, sendo uma das maiores causas
de dores nas costas, já que muitos trabalhos envolvendo levantamentos de pesos não
satisfazem os requisitos ergonômicos.
Recomendou-se para esta atividade a mesma medida da atividade anterior que seria o
desenvolvimento de um dispositivo de regulagem de altura para a correia de pintura (barra de
pintura) que permita uma adaptação em função da altura da peça a ser pintada e a altura do
trabalhador. Além de pausas programadas de 30 minutos a cada 2 horas de trabalho, que
consiste em uma recomendação importante para trabalhos que exigem esforço ao limite do
operário.
c) Atividade 03 (descarregamento das peças pintadas):
Para esta atividade recomenda-se a padronização do número máximo de peças a serem
carregadas por vez, em apenas 4 peças, representando um peso de aproximadamente 8kg (o
mesmo deve ser calculado para o transporte de outros tipos de peças), com a finalidade de
evitar o excesso de carregamento de peso, já que trata-se de uma tarefa repetitiva. Portanto,
nesta tarefa também é necessária a adoção de pausas programadas de 30 minutos a cada 2
horas, já que o trabalhador permanece por um longo período recolhendo tal material.
d) Atividade 04 (descarregamento das peças pintadas):
Os períodos prolongados em que o trabalhador permanece com o corpo inclinado devem ser
evitados sempre que possível, devido à contração dos músculos e dos ligamentos das costas
para manter essa posição, fazendo com que a tensão na parte inferior do tronco seja maior,
ocasionando as dores.
Portanto para essa atividade recomenda-se que sejam feitas orientações ao trabalhador, quanto
a forma correta de abaixar-se para depositar as peças nas caixas de armazenamento. Orienta-
se que o mesmo faça flexão de joelho sempre, para que a coluna mantenha-se ereta,
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conservando a carga o mais próxima do corpo possível, o que permitirá o uso da musculatura
das pernas, que é uma musculatura mais potente que a da coluna. Deve-se dar atenção
especial a recomendação de que o trabalhador jamais deve inclinar e girar o corpo ao mesmo
tempo, como forma de evitar lesões, deve-se então posicionar-se sempre a frente da caixa de
armazenamento, onde serão depositadas as peças. Além disso, se a caixa de armazenamento
for de aproximadamente 40 cm acima do que é atualmente, permitiria uma menor flexão do
tronco do operário (Figura 14).
Figura 14 – Proposta de suporte para a caixa de armazenamento das peças pintadas
Fonte primária (2013)
e) Atividade 05 (separar e armazenar os ganchos em caixas):
De acordo com a literatura revisada, recomenda-se não permanecer em pé o dia todo, uma vez
que essa postura provoca fadiga nas costas e pernas, sendo esta ainda maior se somada à uma
inclinação da cabeça e tronco, provocando dores nos pescoço e nas costas. Recomenda-se
então, que esta tarefa seja intercalada com tarefas na posição sentada ou andando. Além disso,
na atividade analisada é importante que os ganchos a serem separados estejam mais próximos,
ao alcance do trabalhador. Foi proposta a fabricação de uma nova caixa de armazenamento
dos ganchos, cujas medidas permitem que os ganchos encontrem-se baixo da altura do ombro
e acima da altura dos joelhos em frente ou imediatamente ao lado do trabalhador (figura 15).
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Figura 15 - Proposta de caixa de armazenamento dos ganchos
Fonte primária (2013)
Com a fabricação desta nova caixa para separar e armazenas os ganchos, também se estará
evitando que o trabalhador realize a inclinação da cabeça no momento em que separa os
ganchos no fundo da caixa, com isso diminuirá a tensão dos músculos do pescoço que
provocam dores na nuca e ombros.
Deve-se lembrar que nenhuma postura ou movimento repetitivo deve ser mantido por um
longo tempo, já que são posturas extremamente fatigantes, podendo ocasionar a longo prazo
lesões nos músculos e articulações. Portanto, recomenda-se para todas as atividades avaliadas
que as posturas estáticas devem ser alternadas com atividades andando, por meio de rodízios
periódicos de uma atividade para outra entre os auxiliares de produção, uma vez que os
mesmos executam diversas atividades.
Como forma de reduzir o risco de fadiga muscular, recomenda-se também para todas as
atividades avaliadas que sejam feitas diversas pausas curtas distribuídas ao longo da jornada
de trabalho. Portanto, recomendou-se a adoção de pausas de trinta minutos a cada duas horas
de atividade. Nessa pausa deve ser orientada a realização de alongamentos individuais dos
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braços e pernas, com o objetivo de aumentar a mobilidade destes segmentos corporais,
diminuindo a tensão nos tendões e refletindo na realização das tarefas com maior qualidade e
segurança.
Sugere-se também para todos os trabalhadores avaliados que seja elaborado, com base na
avaliação ergonômica do trabalho, um manual de procedimentos para o posto de trabalho dos
auxiliares de produção, contemplando cada atividade e as recomendações posturais pra a sua
realização bem como o treinamento dos alongamentos a serem realizados na recomendação
anterior.
4. Considerações Finais
Com os achados da pesquisa, foi possível identificar que nenhuma das posturas adotadas pelo
auxiliar de produção assumida nas atividades estudadas é considerada aceitável, merecendo
investigações. Uma vez que, confrontando as informações adquiridas por meio de
observações, filmagens e diagnóstico ergonômico com recomendações ergonômicas da
literatura, identificaram-se as posturas prejudiciais realizadas em cada atividade e foram feitas
recomendações ergonômicas primando pela saúde do trabalhador.
O presente estudo trouxe contribuições no sentido de que identificou-se a necessidade
imediata da implantação de melhorias, onde foram propostas recomendações importantes
quanto à adaptação de equipamentos e ferramentas, na melhora da postura adotada pelo
trabalhador durante a realização de suas atividades, tendo por objetivo final a implementação
das recomendações e o treinamento dos trabalhadores.
Cabe ressaltar que a avaliação das atividades da referida função, foi importante para
identificar possíveis problemas relacionados à execução de apenas uma das funções do setor
de Pintura, sendo este apenas um dos 28 setores da empresa. Assim, sugere-se o seguimento
dos trabalhos acadêmicos não apenas em outras funções deste setor, mas também nos demais
setores da empresa.
REFERÊNCIAS
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Acesso em: 28 ago. 2011.
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Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
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DIEESE. Mapeamento do Emprego e Desempenho da Indústria Metalúrgica do Brasil. 2011. Disponível
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