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1 Avaliação dos níveis de ruído e aplicação do método RULA no posto de trabalho do operador de retroescavadeira Samuel Cavassim Raffo (UTFPR) Júlia de Noronha (UTFPR) Prof. M. Eng. Massayuki Mario Hara (UTFPR) Prof. Dr. Rodrigo Eduardo Catai (UTFPR) Resumo: Este artigo tem como objetivo avaliar os níveis de ruído com medições com dosímetro e realizar avaliação ergonômica através do método RULA (Rapid Upper Limb Assessment) em postos de trabalho de operadores de retroescavadeira em uma empresa que atua no ramo do abastecimento de água e saneamento. O trabalho relaciona os níveis de ruído de acordo com o modelo e o ano de fabricação da retroescavadeira, além de analisar o tipo de trabalho realizado e duração da jornada. Discute se os níveis de ruído medidos estão de acordo com os limites de tolerância da NR-15. Foram realizadas medições em três postos de trabalho, compostos por retroescavadeira e operador, durante um dia de jornada cada. Já na análise ergonômica o estudo identifica quatro posições principais praticadas pelos operadores, sendo cada uma separadamente com auxílio do método RULA. Para cada posição o estudo apresenta considerações das causas da posição adotada, o nível de ação a ser tomado e sugere mudanças a serem implementadas. O estudo ainda aplicou uma pesquisa ao fim da jornada de trabalho de cada um dos três operadores analisados, com o auxílio do diagrama de áreas dolorosas. Tal pesquisa relaciona as posições exercidas pelos operadores com os desconfortos sentidos pelos trabalhadores, discutindo-se também a relação desses desconfortos com o tipo de trabalho realizado. Os resultados apresentaram níveis de ruído dentro do nível de tolerância de acordo com a NR-15. Para as posições praticadas foi concluído que três delas necessitam mudanças, sendo uma delas imediata. 1. Introdução Os primeiros estudos de Ergonomia como ciência datam do final da década de 40, quando foi proposto seu neologismo: do grego, ergon que significa trabalho e nomos que significa regras (Murrell, 1965 apud IIDA 2005). Nessa época, seus estudos eram voltados principalmente para aplicações

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Este artigo tem como objetivo avaliar os níveis de ruído com medições com dosímetro e realizar avaliação ergonômica através do método RULA (Rapid Upper Limb Assessment) em postos de trabalho de operadores de retroescavadeira em uma empresa que atua no ramo do abastecimento de água e saneamento. O trabalho relaciona os níveis de ruído de acordo com o modelo e o ano de fabricação da retroescavadeira, além de analisar o tipo de trabalho realizado e duração da jornada. Discute se os níveis de ruído medidos estão de acordo com os limites de tolerância da NR-15.

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Avaliação dos níveis de ruído e aplicação do método RULA no posto de trabalho do operador de retroescavadeira

Samuel Cavassim Raffo (UTFPR)

Júlia de Noronha (UTFPR)

Prof. M. Eng. Massayuki Mario Hara (UTFPR)

Prof. Dr. Rodrigo Eduardo Catai (UTFPR)

Resumo:

Este artigo tem como objetivo avaliar os níveis de ruído com medições com dosímetro e realizar avaliação ergonômica através do método RULA (Rapid Upper Limb Assessment) em postos de trabalho de operadores de retroescavadeira em uma empresa que atua no ramo do abastecimento de água e saneamento. O trabalho relaciona os níveis de ruído de acordo com o modelo e o ano de fabricação da retroescavadeira, além de analisar o tipo de trabalho realizado e duração da jornada. Discute se os níveis de ruído medidos estão de acordo com os limites de tolerância da NR-15. Foram realizadas medições em três postos de trabalho, compostos por retroescavadeira e operador, durante um dia de jornada cada. Já na análise ergonômica o estudo identifica quatro posições principais praticadas pelos operadores, sendo cada uma separadamente com auxílio do método RULA. Para cada posição o estudo apresenta considerações das causas da posição adotada, o nível de ação a ser tomado e sugere mudanças a serem implementadas. O estudo ainda aplicou uma pesquisa ao fim da jornada de trabalho de cada um dos três operadores analisados, com o auxílio do diagrama de áreas dolorosas. Tal pesquisa relaciona as posições exercidas pelos operadores com os desconfortos sentidos pelos trabalhadores, discutindo-se também a relação desses desconfortos com o tipo de trabalho realizado. Os resultados apresentaram níveis de ruído dentro do nível de tolerância de acordo com a NR-15. Para as posições praticadas foi concluído que três delas necessitam mudanças, sendo uma delas imediata.

1. Introdução

Os primeiros estudos de Ergonomia como ciência datam do final da década de 40, quando foi proposto seu neologismo: do grego, ergon que significa trabalho e nomos que significa regras (Murrell, 1965 apud IIDA 2005). Nessa época, seus estudos eram voltados principalmente para aplicações militares. Com a fundação da Ergonomics Research Society, na Inglaterra, a ergonomia ganhou status de disciplina formal, sendo estudada por diversos pesquisadores também na área industrial.

Dentre os aspectos estudados pela ergonomia, a exposição ao ruído pode ser considerada um dos fatores mais comuns e risco ocupacional, podendo ocasionar desde gradual perda auditiva até, segundo estudos mais recentes, distúrbios cardiovasculares (SOUZA et al., 2001).

No Brasil, os órgãos responsáveis pela regulamentação de exposição ao ruído ocupacional em trabalhadores é o MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) e o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) (ANJOS, 2013). O MTE é responsável pela publicação das normas regulamentadoras de segurança (NR). Dentre elas, vale ressaltar a NR-01 que determina que é de responsabilidade do empregador o cumprimento, por ele e pelos seus empregados, das normas referentes à segurança do trabalho.

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O objetivo principal deste estudo foi avaliar e comparar os níveis de ruído que um operador de retroescavadeira está exposto, de acordo com o tipo de trabalho realizado, o modelo e ano da máquina operada, dentro do que preconiza a NR-15. Além disso, também foi aplicado o método RULA (Rapid Upper Limb Assessment), com auxílio do software Ergolândia 4.0, para verificação das posturas adotadas pelos operadores durante a jornada de trabalho. Por fim, foi aplicado um pequeno questionário com os operadores, a fim de verificar a percepção de áreas dolorosas possivelmente causadas por posições não ergonômicas.

2. Revisão Bibliográfica

2.1. Higiene OcupacionalDentre os principais conceitos aplicados à ergonomia está o conceito de higiene

ocupacional, que pode ser definido como “a ciência que trata da antecipação, reconhecimento, avaliação e controle dos riscos originados nos locais de trabalho e que podem prejudicar a saúde e o bem-estar dos trabalhadores, tendo em vista também o possível impacto nas comunidades vizinhas e no meio ambiente” (SALIBA, 2004). Assim, a higiene ocupacional tem como objetivo reconhecer e avaliar os riscos do local de trabalho e seus impactos nos trabalhadores e comunidade em geral.

No Brasil a NR-09 define risco ambiental quaisquer agentes físicos, químicos e biológicos existentes no espaço de trabalho que, por sua natureza, intensidade, tempo de exposição ou concentração possam causar danos à saúde do trabalhador. Dentre estes agente pode-se citar os agentes físicos ruído e posição no posto de trabalho (ergonomia), objetos de estudo no presente trabalho.

2.1. RuídoO som pode ser definido como proveniente de uma vibração mecânica de um corpo,

que produz oscilações de partículas do meio, que chegam até os ouvidos estimulando os tímpanos e nervos auditivos, propiciando a sensação percebida como som (CALIXTO, 2014). Há, porém, diferenciações entre som e ruído.

Embora existam definições científicas mais precisas, pode-se distinguir simplificadamente som de ruído analisando o aspecto operacional de ambos: o ruído não possui informações úteis para a tarefa em execução, já o som sim (IIDA, 2005). Um exemplo bem prático é o som de alerta de marcha ré de alguns ônibus e caminhões: este som serve para alertar tanto o motorista quando os transeuntes de que um grande veículo se desloca para trás. Para um observador de um prédio que escuta o mesmo som e tenta concentrar-se na leitura de um livro, este é somente ruído.

Os sons ou ruídos possuem vários aspectos importantes para análise, dentre eles: a frequência (número de vibrações por unidade de tempo, usualmente medida em hertz), a duração (medida em tempo), a intensidade (relacionada à energia das oscilações, medida em decibel) e o tipo de ruído (contínuo, flutuante ou impulsivo) (SALIBA, 2004; IIDA, 2005; SANTOS & SANTOS; 2009). Neste trabalho, o aspecto mais importante a ser analisado será a intensidade.

Segundo Iida (2005), a intensidade de um som depende da energia das oscilações, medida em potência por unidade de área. A unidade utilizada é o decibel (dB). O ouvido humano é capaz de ouvir sons de intensidade entre aproximadamente 20 e 140 dB. A Figura 1 a seguir relaciona as intensidades sonoras com suas medidas em decibel e exemplos mais comuns.

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Figura 1. Limites de Audibilidade. Fonte: IIDA, 2005.

Quanto se tratam de limites de tolerância à ruídos, a NR-15 (BRASIL, 2012) considera que, em atividades insalubre este limite é definido pela concentração (ou intensidade) relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente de maneira que não venha a causar danos à saúde do trabalhador durante sua vida laboral. O máximo tolerável determinado pela NR-15 nesse caso é de 85 dB para uma jornada de 8 horas de trabalho. No entanto, estudo recentes indicam que ruídos acima de 80 dB podem causar danos. Acima desses níveis, a jornada de trabalho deve ser reduzida (IIDA, 2005). A Figura 2 a seguir apresenta os níveis de tolerância de ruído relacionados ao tempo máximo de exposição de acordo com a NR-15.

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Figura 2. Limites de tolerância para ruídos contínuos ou intermitentes. Fonte: Brasil, 2012.

Além do nível de ruído e do tempo de exposição, outros fatores importantes a serem analisados são a combinação de um ou mais ruídos a que o trabalhador pode estar exposto e a dose equivalente de ruído. Saliba (2004) apresenta uma fórmula para calcular a combinação ou soma de ruídos e a Norma de Higiene Ocupacional 01 (NHO-01) da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO, 2001) define dose equivalente de ruído, que é a porcentagem de energia sonora a que um trabalhador está exposto, considerando o máximo (100%) como sendo o máximo de decibel admitido. De uma forma mais simples, podemos dizer que se a dose representa o quanto o sistema auditivo de um trabalhador é exigido: se ele trabalha 8h por dia com um nível de ruídos de 85 dB, então está sendo exigido 100% da dose diária. (ANJOS, 2013)

No que se refere aos efeitos de uma exposição prolongada ou inapropriada ao ruído, estes podem ser classificados de duas formas: efeitos diretos sobre o sistema auditivo e efeitos extra-otológicos, gerais ou não-auditivos (CARMO, 1999). Os efeitos auditivos são: trauma sonoro e mudança temporária no limiar (TTS), perda auditiva induzida por ruído (PAIR) ou mudança permanente no limiar (PTS) (CARMO, 1999). Já os efeitos não auditivos são mais sutis, mas não menos importantes, tais como: distúrbios de comunicação, distúrbios do sono, distúrbios vestibulares (vertigens ou náuseas), distúrbios comportamentais, distúrbios digestivos, distúrbios neurológicos e, em alguns estudos, até distúrbios cardiovasculares. (MEDEIROS, 1999)

2.3. ErgonomiaA NR-17 (BRASIL, 2012) dispõe sobre ergonomia e visa regulamentar e “estabelecer

parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características

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psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar o máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente”. Ou seja, a NR-17 estabelece critérios básicos para adaptar o trabalho ao homem, observando também as particularidades de cada trabalhador, projetando om seguida o que ele consegue executar e seu desempenho. (IIDA, 2005)

Ainda segundo a NR-17, é necessária ser realizada a Análise Ergonômica do Trabalho (AET), sendo esta uma das responsabilidades do empregador. A AET divide-se em cinco etapas de análise: demanda, tarefa, diagnóstico e recomendações. (IIDA, 2005). As cinco fases serão resumidamente comentadas a seguir.

A análise de demanda é a identificação e descrição de um problema que necessite de uma ação ergonômica. Ela pode ser solicitada tanto pela direção da empresa como relatada por trabalhadores. (Santos e Fialho, 1997 apud. IIDA, 2005)

A análise de tarefa é a verificação entre o que o trabalhador deve realizar (tarefa – incluindo aí as instruções de método para execução) e como de fato o trabalhador está realizando a mesma. (IIDA, 2005)

A análise de atividade, segundo Malinowski (2010) é a análise do comportamento do homem no trabalho.

O diagnóstico ergonômico define as causas que provocam o problema ergonômico relatado na análise de demanda. (IIDA, 2005)

Por fim, as recomendações ergonômicas têm intenção de resolver o problema diagnosticado, devem ser claras e detalhadas, enumerando etapas para a resolução do problema, bem como os responsáveis pelas mesmas. (IIDA, 2005)

Um dos métodos mais utilizados para AET é o método RULA, que tem enfoque nos membros superiores e por isso é muito utilizado para postos de trabalho mais sedentários (sentados), onde os membros superiores são mais exigidos, avaliando postura, força e movimentos repetitivos (Stanton, 2005 apud. MOTTA, 2009).

As etapas do método consistem na seleção da postura, que em seguida é pontuada de acordo com os diagramas das posições das diferentes partes do corpo, determinando um valor resultante que se enquadra em um dos quatro níveis de ação pré-determinados. (MOTTA, 2009). No sentido de tornar a avaliação mais rápida, o método RULA divide o corpo em dois grandes grupos: grupo A, que contém braço, antebraço e pulso; e grupo B, que contém pescoço, tronco e pernas. (Silva, 2001 apud MOTTA, 2009). A Figura 3 e Figura 4 a seguir apresentam algumas posições identificadas pelo método RULA e suas pontuações para enquadramento nos níveis de ação.

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Figura 3. Grupo A do método RULA. Posições e pontuações. Fonte: MOTTA, 2009.

Figura 4. Grupo B do método RULA. Posições e pontuações. Fonte: MOTTA, 2009.

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Enquadrando-se cada postura e dos diagramas acima e somando-se as pontuações, o valor resultante deve ser comparado com o quadro de escore final do método RULA, obtendo-se assim recomendações sobre qual intervenção deve ser adotada. A Figura 5 a seguir relaciona as pontuações finais do método com os níveis de ação esperados.

Figura 5. Escore final do método RULA.Fonte: Sofware Ergolândia 4.0

Além do método RULA, outra forma de se avaliar a postura de um trabalhador é através de questionamentos de áreas dolorosas, a fim de identificar, ao final da jornada de trabalho, possíveis locais de desconforto relacionados ao posto de trabalho (IIDA, 2005). O diagrama proposto por Corlett e Manenica (1980, apud IIDA, 2005) divide o corpo humano em vinte e quatro segmentos e propõe uma escala de desconforto crescente de zero a sete. Assim, o trabalhador identifica a região dolorosa e classifica o desconforto. A Figura 6 a seguir apresenta os segmentos do corpo e suas escalas de desconforto.

Figura 6. Diagrama de áreas dolorosas. Corlett e Manenica, 1980 apud IIDA, 2005.

3. Metodologia

O posto de trabalho estudado é o de operador de retroescavadeira numa empresa de abastecimento de água. Este posto pode desempenhar duas tarefas distintas: a escavação para ampliação de redes e a escavação para manutenção de redes. Estas diferenciam-se principalmente pelo trajeto percorrido: enquanto a atividade de ampliação é praticamente realizada em um só local durante a jornada de trabalho, a tarefa de manutenção de redes pode

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requerer que o operador se desloque grandes distâncias até os locais que necessitam de reparos urgentes num mesmo dia.

Os postos de trabalho analisados se localizavam em três equipamentos distintos: duas retroescavadeiras da marca Caterpillar modelo 416E (anos 2011 e 2012) e uma retroescavadeira da marca New Holland modelo LB90 (ano 2009).

Os materiais utilizados para as análises foram: um dosímetro da marca Instrutherm, modelo DOS-500 e um smartphone com GPS. Foi utilizado o soft

3.1. Análise do ruídoO dosímetro foi configurado de acordo com os parâmetros da NR-09 e NR-15, sendo o

nível de critério máximo definido em 85 dB. O aparelho de microfone foi posicionado na lapela dos funcionários no início do dia e retirado ao final do mesmo, sendo pausado nos intervalos de almoço ou quando a retroescavadeira permanecia desligada.

Foram realizadas três medições com os três modelos de retroescavadeiras já mencionados. As medições foram nomeadas como eventos 1, 2 e 3 (E1, E2 e E3, respectivamente).

O E1 foi medido na retroescavadeira Caterpillar ano 2011 (CAT-2011), que opera na manutenção de redes. Com o auxílio do GPS constatou-se que este posto de trabalho deslocou-se, num único dia, quarenta e sete quilômetros.

O E2 foi medido na retroescavadeira Caterpillar ano 2012 (CAT-2012), que também opera na manutenção de redes. Com o auxílio do GPS constatou-se que este posto de trabalho deslocou-se, num único dia, vinte e quatro quilômetros.

O E3 foi medido na retroescavadeira New Holland ano 2009 (NH-09), que opera na ampliação de redes, não tendo deslocamento durante sua jornada de trabalho.

3.2. Análise ergonômicaForam identificadas quatro posições principais (nomeadas como P1, P2, P3 e P4)

adotadas pelos operadores durante a jornada de trabalho. A posição P1 é aquela em que o operador está dirigindo a retroescavadeira no período de deslocamento (de costas para a pá). A posição P2 é aquela em que o trabalhador está operando a retroescavadeira (de frente para a pá). A posição P3 ocorre quando o operador realiza uma escavação muito profunda e não tem visibilidade suficiente sentado. Assim, o operador levanta-se e projeta-se a frente a fim de verificar o local escavado. A posição P4 ocorre quando o trabalhado movimenta as sapatas da retroescavadeira, levando seu braço e tronco para trás sem girar o assento. As quatro posições foram analisadas com ajuda do software Ergolândia 4.0. A Figura 7 a seguir apresenta as posições analisadas.

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Figura 7. Posições analisadas. Fonte: os Autores.

No final da jornada de trabalho de cada um dos operadores foi aplicado um questionário acerca das áreas doloridas. As perguntas foram acerca da idade do operador, tempo atuação no posto de trabalho (em anos) e áreas dolorosas de acordo com a Figura 6.

4. Resultados

4.1. Dosimetria de ruídoO evento E1, realizado com a retroescavadeira CAT-2011 no segmento de manutenção

de redes teve duração de sete horas e vinte minutos e dose de exposição de 50,24%. Durante os deslocamentos necessários na jornada de trabalho os níveis de ruído permanecerem quase sempre próximos ou acima de 80 dB, com picos de mais de 90 dB. O nível equivalente de ruído (Leq) foi de 80 dB.

O evento E2, realizado com a retroescavadeira CAT-2012 no segmento de manutenção de redes teve duração de duração de sete horas e quarenta e três minutos e dose de exposição de 45,14%. Durante os deslocamentos necessários na jornada de trabalho os níveis de ruído permanecerem quase sempre próximos ou acima de 80 dB, com picos de mais de 90 dB. O nível equivalente de ruído (Leq) foi de 79,20 dB.

O evento E3, realizado com a retroescavadeira NH-09 no segmento de ampliação de redes teve duração de duração de oito horas e trinta e três minutos, e dose de exposição de 73,82%. Como este posto opera na ampliação de redes, não houve deslocamentos. O nível equivalente de ruído (Leq) foi de 82,80 dB.

A Figura 8 apresenta os resultados das medições realizadas.

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Figura 8. Resultados das medições realizadas. Fonte: os Autores.

4.2. Aplicação do método RULA

Foram analisas as quatro posições exemplificadas na Figura 7 com auxílio do sofware Ergolândia 4.0.

A posição P1 é a mais usual e similar a postura adotada por um motorista de automóvel. Foram inseridos dados no sofware de acordo com as posições de braços, antebraço, punho, pescoço, tronco, pernas, entre outras. Após a inserção de dados, o programa gera a pontuação final e indica o nível de ação de acordo com a Figura 5 já apresentada. Na posição P1 o escore final indica nível de ação 2 (devem ser feitas observações e mudanças podem ser necessárias).

A posição P2 é aquela adotada quando o operações está utilizando a pá para escavação. Nesse caso é bom ressaltar que, por dificuldades do terreno e/ou do equipamento, a pá da retroescavadeira não fica exatamente em frente ao operador, mas na sua diagonal, obrigando o mesmo a inclinar a cabeça a fim de visualizar o terreno que está sendo escavado. Até mesmo nos casos que que a pá fica posicionada na frente do operador, muitas vezes esse necessita inclinar o pescoço para uma melhor visão da área de trabalho.

Após inserir os dados referentes à posição P2 no software obteve-se o escore final 5, indicando nível de ação 3 (dever ser feitas investigações e introduzidas mudanças).

A posição P3, devido principalmente à projeção do corpo à frente, obteve pontuação final 6, indicando também nível de ação 3 no método RULA.

Por fim, a posição P4, com rotação de tronco e pescoço para movimentação das sapatas da retroescavadeira, obteve escore final 7, o mais alto da escala, indicando nível de ação 4 no método RULA (mudanças imediatas são necessárias).

4.3. Diagrama de áreas dolorosas

No final da jornada de trabalho foi aplicada um breve pesquisa com os operadores dos três eventos analisados, para que estes identificassem áreas doloridas e pontuassem seu desconforto numa escala de 0 a 7, conforme Figura 6.

Todos os entrevistados possuem mais de 30 anos de idade, com mais de 10 anos de serviço. As áreas mais apontadas como dolorosas foram pescoço (ambos os lados), dorso

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(médio e inferior, ambos os lados) e ombros (lado direito). Os operadores dos eventos E2 e E3 relataram maior desconforto no lado esquerdo do dorso médio e inferior, enquanto o operador do evento E1 destacou maior desconforto no dorso médio e inferior direito. Para melhor visualização das respostas dadas pelos trabalhadores entrevistados foi elaborada uma escala de cores e diagramas, apresentados na Figura 9 a seguir.

Figura 9. Diagrama de áreas dolorosas dos três operadores analisados. Fonte: os Autores.

5. Conclusões

5.1. RuídoEmbora todos os níveis de ruído medidos apresentem-se abaixo do limite da NR-15

(85 dB), percebe-se que as retroescavadeiras da marca Caterpillar obtiveram nível equivalentes de ruído próximos aos ideais (80 dB) e doses de exposição próximas de 50%. Já o equipamento da New Holland apresentou níveis equivalentes de ruído maiores (82,33 dB) e dose de exposição de mais de 70%. Durante a análise de campo verificou-se que o equipamento da New Holland era notadamente mais ruidoso que os outros analisados, possivelmente por ser mais antigo ou simplesmente pela diferença de fabricante.

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É importante ressaltar que nas medições nenhum dos operadores utilizada qualquer tipo de EPI para os ouvidos. Apesar dos níveis se encontrarem ainda baixo dos limites da NR-15, estão muito próximos de seu limiar e podem gerar incômodos, devendo ser observados com cuidado a fim de prevenir que sejam ultrapassados e venham a prejudicar os trabalhadores. A implantação do uso de EPIs específicas é uma medida simples e reduziria muito a exposição dos trabalhadores.

5.2. ErgonomiaNa análise das posições pelo método RULA, a posição P1 obteve a menor pontuação,

sendo a menos preocupante. Ela é adotada somente enquanto a retroescavadeira está se deslocando de um local a outro e, como já dito, é muito similar ao dirigir de um automóvel.

As posições P2 e P3 resultaram no terceiro nível de ação, ou seja: requer investigação e mudanças. Mudanças na posição P2 são limitadas pelo tipo de equipamento utilizado, uma vez que os modelos de retroescavadeira, por concepção, dificultam muitas vezes a visão da área a ser escavada. Já a posição P3 é preocupante não só do ponto de vista ergonômico como da segurança, uma vez que a cabine da retroescavadeira não é apropriada para operação da mesma em pé. Nesses casos, o ideal seria utilizar outro tipo de equipamento, como escavadeiras hidráulicas, onde a cabine fica projetada no extremo da máquina, proporcionando melhor visão da área de escavação.

A posição P4 obteve a maior pontuação, resultando no mais alto nível de ação do método RULA, que exige medidas imediatas. Nesse aspecto, é interessante ressaltar que a posição não deveria ser adotada pelos operadores, uma vez que a movimentação das sapatas das retroescavadeiras deveriam ser movimentadas com o assento voltado de costas para a pá (retornando à posição P1). Esse procedimento não é adotado pelos trabalhadores por sua demora, que preferem girar o corpo e braços para operar a movimentação de sapatas ainda voltados de frente para a pá. Nesse caso, sugere-se uma maior campanha de instrução dos operadores, alertando-os para os riscos ergonômicos de posturas inadequadas ao longo do tempo.

Nos diagramas das áreas dolorosas, percebe-se que os operadores que atuam no segmento de manutenção de redes (E1 e E2) têm mais dores no ombro direito, enquanto o operador que atua na ampliação de redes apresenta dores em ambos os ombros. Isso talvez se deva ao fato de os operadores E1 e E2 terem parte de sua jornada composta de deslocamentos do veículo (e portanto na posição P1), enquanto o operador E3 para praticamente toda tua jornada parado realizando somente escavações (posições P2, P3 e P4). Vale ressaltar aqui que não foram perguntados aos operadores se estes eram destros ou canhotos. Esta seria uma sugestão de complemento a fim de verificar se há mais dores em algum dos lados em função da mão predominante dos operadores.

Pelos diagramas de áreas dolorosas nota-se ainda que o dorso inferior é uma das áreas mais reclamadas, com notas 6 e 7 entre os operadores E1 e E3. O operador E2 era o mais novo dentre os entrevistados (33 anos, versus 47 e 45 anos dos operadores E1 e E3, respectivamente) e talvez por isso tenha apresentado notas inferiores de desconforto para as mesmas regiões. Importante ressaltar aqui também que o lado mais doloroso se relaciona diretamente com o dia e a atividade, pois o lado que é posicionada a retroescavadeira varia de acordo com as limitações do terreno e interferências. Por fim, nota-se que o operador E3 que passa a maior parte do tempo apenas na função de escavação (sem deslocamentos) apresentou também desconforto nas pernas, o qual não foi indicado pelos outros entrevistados. Isso se deve ao fato da execução de escavações profundas, obrigado o operador E3 a adotar a posição P3 em diversos momentos da jornada.

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Referências

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_____. Ministério do Trabalho e Emprego. NR-15 – Atividades e operações insalubres. 70ª ed. São Paulo: Atlas, 2012.

_____. Ministério do Trabalho e Emprego. NR-17 – Ergonomia. 70ª ed. São Paulo: Atlas, 2012.

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IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. 2ª ed. rev. e ampl. São Paulo: Blucher, 2005. 614p.

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MEDEIROS, Luana Bernardines. Ruído: efeitos extra-auditivos no corpo humano. Porto Alegre: 1999. 36p. Disponível em: <www.segurancaetrabalho.com.br/download/ruido-luana-medeiros.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2014.

MOTTA, Fabrício Valentim. Avaliação ergonômica de postos de trabalho no setor de pré-impressão de uma indústria gráfica. Juiz de Fora: 2009. 60 f. Disponível em: <http://www.ufjf.br/ep/files/2009/08/tcc_jul2009_fabriciomotta.pdf>. Acesso em: 19 dez. 2013.

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