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Revista Cerrados www.periodicos.unimontes.br/cerrados Montes Claros, v.15, n.1, p. 312-329, jan/jun-2017. ISSN: 2448-2692 Revista Cerrados, Departamento de Geociências e Programa de Pós-Graduação em Geografia (UNIMONTES) AVALIAÇÃO DO TRABALHO DE CAMPO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA EVALUATION OF FIELD WORK IN THE GEOGRAPHY TEACHING- LEARNING PROCESS EVALUACIÓN TRABAJO DE CAMPO EN PROCESO ENSEÑANZA- APRENDIZAJE EN GEOGRAFÍA Ertz Ramon Teixeira Campos Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES E-mail: <[email protected]>. Humberto Gabriel Rodrigues Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros FIP/MOC E-mail: <[email protected]>. Israelita David Rodrigues Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES E-mail: <[email protected]>. Bráulio De Freitas Brant Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES E-mail:<[email protected]>. Resumo O trabalho de campo é um importante recurso metodológico no processo de ensino- aprendizagem, sendo um dos instrumentos de grande interesse para o ensino das mais diversas ciências nos níveis fundamental e médio. No entanto, são poucos os trabalhos que avaliam de forma quantitativa a importância do trabalho de campo, principalmente no que tange o ensino de geografia para escolares. Diante disso, o objetivo desse estudo é compreender a importância do trabalho de campo como método de pesquisa e de atividades didáticas nas aulas de Geografia, através de um método quantitativo. Para isso, utilizou-se da aplicação de um exercício avaliativo a dois grupos de alunos: o grupo controle (grupo formado por 12 alunos que foram submetidos à avaliação após participarem somente das aulas teóricas) e o grupo teste (grupo formado por 10 alunos que foram submetidos à avaliação após participarem das aulas teóricas e do trabalho de campo). Nossas pesquisas mostraram que

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Revista Cerrados www.periodicos.unimontes.br/cerrados Montes Claros, v.15, n.1, p. 312-329, jan/jun-2017. ISSN: 2448-2692

Revista Cerrados, Departamento de Geociências e

Programa de Pós-Graduação em Geografia (UNIMONTES)

AVALIAÇÃO DO TRABALHO DE CAMPO NO PROCESSO DE

ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA

EVALUATION OF FIELD WORK IN THE GEOGRAPHY TEACHING-

LEARNING PROCESS

EVALUACIÓN TRABAJO DE CAMPO EN PROCESO ENSEÑANZA-

APRENDIZAJE EN GEOGRAFÍA

Ertz Ramon Teixeira Campos

Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES

E-mail: <[email protected]>.

Humberto Gabriel Rodrigues

Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros – FIP/MOC

E-mail: <[email protected]>.

Israelita David Rodrigues

Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES

E-mail: <[email protected]>.

Bráulio De Freitas Brant

Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES

E-mail:<[email protected]>.

Resumo

O trabalho de campo é um importante recurso metodológico no processo de ensino-

aprendizagem, sendo um dos instrumentos de grande interesse para o ensino das mais diversas

ciências nos níveis fundamental e médio. No entanto, são poucos os trabalhos que avaliam de

forma quantitativa a importância do trabalho de campo, principalmente no que tange o ensino

de geografia para escolares. Diante disso, o objetivo desse estudo é compreender a

importância do trabalho de campo como método de pesquisa e de atividades didáticas nas

aulas de Geografia, através de um método quantitativo. Para isso, utilizou-se da aplicação de

um exercício avaliativo a dois grupos de alunos: o grupo controle (grupo formado por 12

alunos que foram submetidos à avaliação após participarem somente das aulas teóricas) e o

grupo teste (grupo formado por 10 alunos que foram submetidos à avaliação após

participarem das aulas teóricas e do trabalho de campo). Nossas pesquisas mostraram que

RODRIGUES, H. G.; CAMPOS, H. R.T.; RODRIGUES, I. D.; BRANT, B. F.

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houve diferença significativa entre os dois grupos. O grupo controle acertou, em média,

43,3% da avaliação, enquanto o grupo teste atingiu índices de acertos próximos a 84% das

questões. Portanto é de extrema relevância que as entidades públicas e instituições de ensino

invistam nessa prática de ensino, já que o trabalho de campo mostra ser uma atividade muito

eficaz para consolidar o aprendizado discente.

Palavras-chave: Geografia; Ensino-aprendizagem; Trabalho de campo.

Abstract

The field work is an important methodological resource in the teaching-learning process,

being one of the great interest instruments for the more several sciences teaching in the

fundamental and average levels. However, there aren't many jobs that evaluate precisely the

importance of field work, mostly in the that tolls the geography teaching for school. Ahead of

this, the goal of this study is to evaluate the field work importance as research method and of

didactic activities in the Geography classes through a quantitative method. For that, it used the

application of an evaluating exercise to two students' groups: The group control (group

formed by 12 students who were submitted to the evaluation only after the theoretical classes)

and the group test (group formed by 10 students who were submitted to the evaluation after

the theoretical classes and the field work). Our researches showed that there was significant

difference between both groups. The group control got right, on an average, 43,3% of the

evaluation while the group test reached indices of near hit to 84% of the matters. Therefore it

is of extreme relevance that the public entities and teaching institutions invest in this teaching

practice since the field work be a very effective activity to consolidate the learning of the

students.

Keywords: Geography; School; Teaching-learning; Field work.

Resumen

El trabajo de campo es un recurso metodológico importante en el proceso de enseñanza-

aprendizaje, siendo uno de los instrumentos de gran interés para la enseñanza de las diversas

ciencias en los niveles primario y secundario. Sin embargo, hay pocos estudios que evalúan

cuantitativamente la importancia del trabajo de campo, sobre todo, no respetar enseñanza de

la geografía a la escuela. Por lo tanto, el objetivo de este estudio es comprender la importancia

del trabajo de campo como método de investigación y de actividades de enseñanza en las

clases de geografía a través de un método cuantitativo. Para ello, utilice el grupo de

estudiantes formulario de evaluación: el grupo de control (grupo de 12 estudiantes que se

sometieron a evaluación para asistir sólo a las conferencias) sometidos a evaluación por

participar en las conferencias y trabajo de campo). Nuestra investigación muestra que había

una diferencia significativa entre los dos grupos. El grupo de control consiguió, en promedio,

el 43,3% de la evaluación, mientras que el grupo de prueba alcanzó tasas cercanas al 84% de

las preguntas. Por lo tanto, es extremadamente importante que las entidades gubernamentales

e instituciones educativas invierten en esta práctica de la enseñanza, ya que el trabajo de

campo ha demostrado ser una actividad muy eficaz para consolidar el aprendizaje del

estudiante.

Palavras clave: Geografia; Enseñanza-aprendizaje; El trabajo de campo.

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INTRODUÇÃO

Desde Alexander Von Humboldt (1769-1859) e Karl Ritter (1779-1859),

iniciantes da Geografia moderna, no século XIX, a compreensão espacial vem se

modificando, sobretudo, a partir das quatro últimas décadas, devido à inserção dos satélites,

utilização de computadores e Internet, o que fez com que o ensino da Geografia passasse por

grandes progressos (READER, 2016). Atualmente, a Geografia não se limita apenas a estudar

os aspectos físicos e humanos do mundo, através das descrições de rios, lagos, oceanos,

montanhas, populações e economias, como fez a Geografia Tradicional. Essa nova Geografia

dedica-se ao estudo integrado do espaço geográfico.

Segundo Braun (2007), partir da utilização do trabalho de campo, a Geografia

pode desempenhar vários papéis, no que concerne à configuração in loco da realidade

existente. O professor de Geografia que inserir em suas aulas o trabalho de campo realizará

um trabalho de grande relevância, uma vez que essa atividade constitui um instrumento de

extrema importância para a construção do conhecimento geográfico.

Este artigo tem como objetivo avaliar importância do trabalho de campo para o

processo de ensino-aprendizagem de Geografia, sendo o estudo realizado em duas etapas: na

primeira etapa, foi ministrado a 29 alunos frequentes do primeiro ano do ensino médio da

Escola Estadual Dom Aristides Porto, aulas teóricas referentes à vegetação, clima e solo do

Cerrado, da Caatinga e da região ecótone do Norte de Minas; na segunda etapa, foi realizado

um trabalho de campo na OVIVE (Organização Vida Verde), localizada no município de

Montes Claros-MG, com todos os 29 educandos do primeiro ano do ensino médio. A aula de

campo foi constituída por caminhadas pelos perímetros da ONG até o parque Sapucaia,

localizados na Serra do Mel, mostrando vegetação, clima e solos característicos da região.

Os procedimentos metodológicos foram norteados pelos princípios de pesquisa

empírica, qualitativa e quantitativa. Utilizou-se como instrumento para coleta de dados,

aplicação de um exercício avaliativo a dois grupos de alunos: o grupo controle (grupo

formado por 12 alunos que foram submetidos à avaliação após participarem somente das

aulas teóricas) e o grupo teste (grupo formado por 10 alunos que foram submetidos à

avaliação após participarem das aulas teóricas e do trabalho de campo), ambos sorteados

aleatoriamente.

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Esse trabalho ressalta a necessidade de o docente experimentar situações de

aprendizagem e participar de trabalhos extraclasses, uma vez que essa prática vem permitir

que os alunos obtenham, a partir com o contato com a realidade, uma melhor compreensão.

Nesse processo, ele terá chance de interagir e buscar novas informações que contribuam para

a formação escolar, formando assim, alunos críticos e disseminadores de conhecimento. Desta

maneira, os trabalhos de campo desempenhados na disciplina de Geografia, objetivam a

obtenção de um contato maior com o objeto de estudo desta disciplina.

Neste sentido, os resultados obtidos durante o trabalho de campo mostram uma

maneira de instigar a aprendizagem em Geografia, e, assim, reconhecer a necessidade do

trabalho de campo, que pode envolver não somente os estudos da disciplina, como também de

outras, em torno de uma melhor aprendizagem (SILVA, 2000).

TRABALHO DE CAMPO EM GEOGRAFIA

A Geografia Crítica enfatiza a importância do trabalho de campo para que seja

possível propiciar ao aluno um interesse pela disciplina e pelo lugar em que vive, além de um

melhor entrosamento com o espaço. Vale ressaltar que o trabalho de campo se baseia,

também, na observação, o que permite aos alunos um olhar especialmente sensível sobre os

elementos da paisagem, aguçando um senso crítico e investigador sobre o espaço (SILVA;

MELO, 2008).

Desse modo, o trabalho de campo é uma prática de ensino que contém todos os

pré-requisitos desse novo processo de ensino-aprendizagem, uma vez que faz interagir

educando e professores da disciplina de Geografia com outras áreas afins. De acordo com

Nunes (2000, p. 96), “o trabalho de campo é uma alternativa para exercitar a leitura da

realidade, contribuindo para a compreensão desta, (...) envolve também um planejamento

(projeto) e exploração de resultados”.

Trata-se, também, de uma ferramenta de apreciação geográfica, pois admite o

reconhecimento do local, e faz parte de artifício de investigação, pois, permite a inserção do

estudante no próprio objeto a ser estudado. Entretanto, é sempre bom pensar no uso de novas

tecnologias, a fim de sempre usá-las ao nosso serviço (SUERTEGARAY, 2002).

É de extrema relevância que os educadores insiram na vida escolar dos educandos

não somente trabalhos de campo, mas, também, trabalhos transdisciplinares, como multi e/ou

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pluridisciplinares, visando a um melhor aproveitamento do aprendizado nos estudos de

Geografia. Como afirma Candiotto (2001, p. 35) “A atuação dos profissionais é crucial para o

êxito de projeto interdisciplinar, pois, devem associar teoria e prática, avaliando

constantemente o trabalho interdisciplinar tanto no nível da pesquisa quanto no ensino”.

Deste modo, o estudo do trabalho de campo é uma atividade extraclasse muito

utilizada na Geografia, e pode obter resultados excelentes. Em uma visita ao campo, o aluno

depara-se com diversas situações vivenciadas no seu cotidiano, porém, pouco entendidas e

exploradas didaticamente. Sabe-se também que o trabalho de campo é uma atividade que

pode ser utilizada em qualquer disciplina escolar, modificando o objeto a ser estudado.

Nos estudos de Geografia, os educadores não devem considerar o trabalho de

campo apenas como estudo do meio, mas como “uma alternativa concreta de se viabilizar

teoricamente o propósito de ultrapassar a reflexão da sala de aula, como forma de praticar a

leitura do real, sendo assim, um momento ímpar da práxis teórica” (NUNES, 2000, p. 97).

Nesta perspectiva, o trabalho de campo não deve ser avaliado como uma perda de

tempo, mas sim, como uma condição na qual o aluno é visto como agente ativo no processo

ensino-aprendizagem, estreitando a relação aluno-professor, ou seja, é uma oportunidade de

trabalhar conteúdos universais e específicos, usando um instrumento que detém a atenção do

discente, além de ser uma forma de levar a uma modificação de atitude do educando.

O professor frente à nova realidade e Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs

É notória a necessidade dos professores de todos os estados brasileiros por

metodologias que facilitem a compreensão da disciplina por seus alunos e novas abordagens

teóricas, como ficou evidenciado no Primeiro Encontro Nacional de Ensino de Geografia

(ENEG), ocorrido em Brasília em 1987. Na atualidade, o trabalho de campo tem sido visto

como um importante recurso metodológico no processo de ensino-aprendizagem, sendo um

dos instrumentos de grande interesse para o ensino dessa ciência no ensino fundamental e

médio (PONTUSCHKA, PAGANELLI e CACETE, 2007).

Desta maneira, o atual ensino de Geografia no Brasil vive um momento

complexo, em virtude das profundas e numerosas mudanças, tanto geográfico quanto

políticas, e, segundo Zuba (2006, p. 112), “em matéria tecnológica e transformações sociais,

torna-se necessário que os professores reflitam como mediar tal diversidade no ensino”. Com

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a chegada desses recursos tecnológicos, instiga-se uma série de mudanças no sistema

educacional público, principalmente no que se refere ao papel dos educadores no processo de

ensino-aprendizagem. Como ressalta Teixeira (2000, p. 88) “a Geografia que surge tem um

novo papel ideológico, sendo preciso buscar novas técnicas e nova linguagem, que deem

conta das novas tarefas impostas pelas transformações ocorridas”.

Percebe-se que o sistema educacional está cada vez mais em consonância com as

novas tecnologias, exigindo dos educadores e educandos das escolas públicas e particulares

uma postura diferente frente a essas novas tecnologias (computadores, satélites, internet), em

especial, no ensino de Geografia (VISENTINI, 1995), em que as exigências de apoio técnico

tendem a serem maiores.

Os professores, especialmente de Geografia do ensino médio, entendem que esse

recurso tem grande contribuição, entretanto, eles necessitam encontrar outros recursos, que

chamem a atenção dos alunos, modificando suas aulas tradicionais, em que os estudantes,

para conseguirem-se sobressair numa prova de Geografia, eram obrigados a decorar uma série

de nomes (países, estados, clima), ou seja, aquele maçante processo de memorização de

conteúdo (TEIXEIRA, 2000).

Há de se ressaltar a responsabilidade das escolas e dos educadores, que devem

contribuir na formação de alunos críticos, que vivem em um mundo que se transforma e se

renova a cada dia. Junqueira (2001, p. 75) ressalta que “o mundo se transforma

constantemente, a informação e a tecnologia possuem relação direta com a construção do

conhecimento, e o educador passa por um momento de mudanças na maneira de ensinar”.

No que tange aos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNS –nota-se também,

que não há um debate sobre o trabalho de campo no ensino de Geografia para os alunos do

Ensino Fundamental e Médio. Percebe-se que existem somente algumas sugestões didáticas

relacionadas ao estudo do meio (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 1997).

Percebe-se que no contexto atual, não há uma discussão sobre o trabalho de

campo na disciplina de Geografia, principalmente no que tange aos PCNS - Parâmetros

Curriculares Nacionais, e, de acordo Nunes (2000), nos PCNS:

Há apenas algumas propostas didáticas colocando o Estudo do Meio como recurso

didático interessante, por meio do qual os alunos podem construir e reconstruir

imagens e percepções que têm da paisagem local. Também aparecem os termos

excursões ou passeios didáticos como recursos para exercitar a observação da

paisagem. Chega-se a utilizar o termo estudo de campo como sinônimo de Estudo do

Meio. (NUNES, 2000, p. 97).

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Com relação ao método, observa-se que há uma maneira de trabalhar os

conteúdos a partir do espaço adjacente da escola, da vivência e do cotidiano do aluno.

Ressalta-se que o estudo da Geografia deverá promover a interação de “fatores naturais,

sociais, econômicos e políticos” a partir de uma análise do lugar (MINISTÉRIO DA

EDUCAÇÃO, 1997). Deste modo sugere-se ir além da informação e descrição do espaço

geográfico, dos conceitos (lugar, paisagem, região e território).

Segundo o Ministério Da Educação (1997), nos Parâmetros Curriculares

Nacionais, referente ao Meio Ambiente e à Saúde, o professor tem o dever de:

Oferecer aos alunos a maior diversidade possível de experiências, uma visão

abrangente que englobe diversas realidades e, ao mesmo tempo, uma visão

contextualizada da realidade ambiental, o que inclui, além do ambiente físico, as

suas condições sociais e culturais. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 1997, p. 48).

No que concerne a tais procedimentos, observa-se uma hipótese mais eficaz e

diferente em que o aluno aprende através de sua vivência, pois uma saída ao campo ajuda a

estimulá-lo a pensar sobre fatos do dia a dia, adequando os conteúdos ao cotidiano do aluno.

Assim, este apreenderá com mais facilidade sobre as circunstâncias relacionadas ao ambiente

afetam a qualidade de vida tanto local como global.

Desta maneira, nas aulas de Geografia, os alunos do Ensino Fundamental e Médio

deveriam associar a teoria com a prática. No entanto, os professores de Geografia sabem que

o trabalho de campo é essencial no processo de ensino-aprendizagem, pois percebem que é

através do contato com a realidade que o aluno consegue assimilar a teoria vista em sala de

aula, proporcionando a ele, em muitos casos, um melhor aprendizado nos diversos temas

debatidos em classe.

Há de ressaltar, que a Geografia desempenha também outras funções. Uma delas é

a de grafar o território através da construção de novas territorialidades, sendo que o trabalho

de campo constitui para os geógrafos uma maneira de observar empiricamente a realidade do

outro.

Nessa perspectiva, entende-se que o geógrafo é visto como o sujeito e o campo

como objeto de estudo do sujeito. Portanto, ir ao campo significa analisar o espaço vivido

pelo sujeito, para uma posterior formação do conhecimento. Segundo Braun (2007, p. 256):

“O trabalho de campo significa observar. (…) permite tanto a observação íntima de certos

aspectos de comportamento do espaço, como descrevê-los de forma útil”.

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Assim, o trabalho de campo é um recurso metodológico do ensino-aprendizagem

que vem sendo apreciado na Geografia como um dos instrumentos de maior interesse ao

lecionar essa disciplina. No entanto, muitos professores consideram o trabalho de campo

como uma atividade cansativa, preferindo o discurso desgastado das salas de aula. Desse

modo, no decorrer desse processo, encontram-se diversas dificuldades como, por exemplo, o

problema em deslocar os alunos até um local apropriado para a aula de campo. Esses

professores, assim, acabam reproduzindo uma Geografia tradicional, baseada na transmissão

dos conteúdos, sem se preocuparem com a real aprendizagem dos discentes.

METODOLOGIA

Caracterização da área de estudo

O presente trabalho foi realizado na Escola Estadual Dom Aristides Porto,

localizada no bairro Morrinhos, região central do município de Montes Claros, Norte de

Minas, Latitude sul: 16° 43’ 41”; longitude oeste: 43° 52’ 54”, altitude: 638m. O município

está inserido na área mineira do polígono da seca ou RMNE (Região Mineira do Nordeste)

(MAPA 01).

A cidade de Montes Claros abrange uma área de 3.576,76Km2, concentrando uma

população que está em torno de 342.586 habitantes (IBGE 2006). Sua vegetação é mista,

entre campos, cerrados, chapadas, matas (primeira classe) e caatingas (segunda).

O clima apresenta-se quente e seco, com temperatura mínima anual de 16ºC e

máxima anual de 29ºC. O período chuvoso ocorre entre os meses de setembro a dezembro,

com maior incidência no mês de dezembro, o relevo apresenta-se em forma de morros

ondulados, a exemplo temos o morro Dois Irmãos, um dos cartões-postais do município. A

fauna e flora são bastante variadas, apresentando quase todas as espécies da região.

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Mapa 01. Localização do Município de Montes Claros - MG.

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-20

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-18

-18

-16

-16

60 0 60 120 KilometersKm

Localização do Município

de Montes Claros /MG

Geo Minas, 1996Org: RODRIGUES, 2008

N

Montes Claros

Minas Gerais

Fonte: IBGE, 2014. Org. RODRIGUES, 2014.

Caracterização da escola

A escola está localizada à Rua Capitão Enéas, 170, Morrinhos, na cidade Montes

Claros-MG. Possui um espaço físico composto de amplo pátio, quadra de esporte, auditório

coberto para comemorações, cantina, biblioteca, salas para a diretoria, para a supervisora

pedagógica, vice-diretora, secretaria, recursos humanos, banheiro para funcionários, sala de

professores, banheiro masculino e feminino para os educandos, 16 salas de aula, com turmas,

desde a fase introdutória até o ensino médio. Dispõe ainda de um corpo administrativo e

técnico -pedagógico com qualificação desde o ensino médio até o ensino superior de

educação.

Sua prática pedagógica está voltada para a realidade dos educandos e a

valorização dos seus conhecimentos prévios. Os critérios de avaliação são feitos através de

notas e conceitos, com a participação de todo corpo docente, sendo que a escola emprega no

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seu processo de ensino-aprendizagem vários projetos de leitura, poesias, trabalhos, exploração

das datas comemorativas com o emprego de atividades diversificadas.

A dificuldade da escola em desenvolver seu trabalho se dá por vários fatores,

como falta de ajuda dos pais, baixo nível de escolaridade dos mesmos, dentre outros, frutos de

grande desestruturação familiar, segundo os próprios professores. Observando os educandos e

educadores, percebeu-se que as aulas são bastante interativas e dialogadas, sobre assuntos

diversos da vida coloquial e revisão dos conteúdos trabalhados antes, para posteriormente

iniciar as matérias do dia. A participação e assiduidade da turma são bastante satisfatórias.

Organização Vida Verde1 - Área de estudo do Trabalho de Campo

A Organização Vida Verde - OVIVE, é uma ONG que foi criada pelo

ambientalista e funcionário da COPASA – Soter Magno Carmo, em dezembro de 2003, com o

objetivo recuperar a serra da Sapucaia (localizada na Serra do Mel), uma das principais áreas

de preservação do cerrado do município da cidade de Montes Claros, devido às queimadas

provocadas pela ação antrópica e fatores naturais (fogo).

Averiguando a ausência de ações de preservação no local, o atual presidente Soter

Magno Carmo, juntamente, com um grupo de voluntários fundou a OVIVE – Organização

Vida Verde, com o objetivo de educar, conscientizar e preservar o meio ambiente, e,

sobretudo, proteger a área da Serra da Sapucaia.

Em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, desenvolve um projeto de

Educação Ambiental denominado “Sala Verde”, sendo que, em parceria com o Corpo de

Bombeiros Militar, possui uma Brigada de Combate a Incêndios Florestais.

A ONG atua junto às comunidades locais por meio de visitas às escolas estaduais,

municipais e particulares, nas quais realiza palestras educativas, promove passeios e

excursões ecológicas, estimulando crianças a manter contato com o meio ambiente, visando

formar cidadãos sensíveis à causa da preservação e à viabilidade de que é possível “agir

localmente e pensar globalmente”.

1 OVIVE (Organização Vida Verde) – informações retiradas do site da COPASA. Disponível em:

<http://www.copasa.com.br/wps/portal/internet/imprensa/noticias/releases/2008/maio/noticias-20080506-

ie1197/!ut/p/a0/04_Sj9CPykssy0xPLMnMz0vMAfGjzOJ9DLwdPby9Dbz8gzzdDBy9g_zd_T2dgvx8zfULsh0V

Afwq3lw!/> Acesso em: 28 dez. 2016.

RODRIGUES, H. G.; CAMPOS, H. R.T.; RODRIGUES, I. D.; BRANT, B. F.

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Uma das ações já praticada pela ONG é o plantio de mais de 5.000 mudas de

árvores na região. O projeto conta atualmente com mais de 250 associados voluntários,

incluindo vários empregados da COPASA em Montes Claros.

Coleta e Análise estatística dos dados

O presente estudo refere-se a uma pesquisa de levantamento, com caráter

quantitativo descritivo, de delineamento transversal, com abordagem exploratória. Realizada

nos meses de Outubro e Novembro de 2014.

Estudo transversal é o estudo no qual se acompanha o comportamento de uma ou

mais variáveis em grupos de sujeitos que se encontram em momentos diferentes e estudo

descritivo é uma pesquisa na qual o pesquisador restringe-se a descrever o fenômeno

observado, sem inferir relações de causalidade entre variáveis estudadas (APPOLINÁRIO,

2004).

O universo da pesquisa foi constituído por 29 alunos do primeiro ano do ensino

médio, frequentes à escola nos meses da pesquisa. Os critérios de inclusão eram: ser discente

regularmente matriculado na Escola Estadual Dom Aristides Porto e ser encontrado em sala

de aula no momento da pesquisa. Já os critérios de exclusão eram: não estar matriculado na

referida escola, recusar a participar da pesquisa e não ser encontrado no local, no momento da

realização da pesquisa.

Os discentes foram informados sobre a pesquisa, sendo solicitada a assinatura do

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido por seus pais. Aos 29 alunos foram ministradas

aulas teóricas referentes à vegetação, clima e solo do Cerrado e Caatinga e da região ecótone

do Norte de Minas.

Posteriormente, foram selecionados, aleatoriamente, 12 escolares para

responderem ao questionário constituído por 10 questões objetivas, que contemplassem os

temas estudados, de provas utilizadas no PAES (Programa de Avaliação seriada para acesso

ao Ensino Superior) e do vestibular Tradicional da Universidade Estadual de Montes Claros-

UNIMONTES. Esse grupo constituirá o grupo controle de nossa pesquisa.

Em um segundo momento, foi realizado um trabalho de campo na OVIVE

(Organização Vida Verde), localizada no município de Montes Claros-MG, com todos os 29

educandos do primeiro ano do ensino médio. Nessa ocasião foram ministradas aulas de campo

RODRIGUES, H. G.; CAMPOS, H. R.T.; RODRIGUES, I. D.; BRANT, B. F.

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pela bióloga Larissa Maia Marinho e pelo ambientalista e presidente da ONG Soter Magno

Carmo. A aula de campo foi constituída por caminhadas pelos perímetros da ONG e parque

Sapucaia, localizados na Serra do Mel, mostrando a vegetação e solos característicos da

região e, explanações sobre o clima e desequilíbrios ambientais causados pelas ações fatores

naturais e antrópicas como queimadas e desmatamento.

Posteriormente, foram selecionados, aleatoriamente, 10 escolares para

responderem ao mesmo questionário constituído por 10 questões objetivas. Esses estudantes

não haviam respondido ao questionário no primeiro momento da pesquisa, ou seja, após o

término da aula teórica e, portanto, esse grupo constituirá o grupo teste de nossa pesquisa.

Ao fim das atividades teóricas e de campo, foram recolhidos dos alunos, um

relatório analítico das aulas realizadas durante a pesquisa.

Foram analisados dados como a percentagem de acertos entre o grupo controle e

teste distribuídas por gênero e comparados por análise de variância (ANOVA), com um valor

de p < 0.01 utilizando o programa Origin 6.0 (Microcal Software Inc.).

O estudo seguiu os aspectos éticos recomendados pela Resolução 196/96 sobre

Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, bem como os princípios éticos contidos na Declaração

de Helsinki (1964, reformulada em 1975, 1983, 1989, 1996 e 2000).

RESULTADOS

Nossas pesquisas mostram que houve diferença significativa entre o grupo

controle (Grupo formado por alunos que foram submetidos à avaliação, após participarem

somente das aulas teóricas) e o grupo teste (grupo formado por alunos que foram submetidos

à avaliação após a participarem das aulas teóricas e do trabalho de campo. O grupo controle

acertou, em média, 43,3% da avaliação, enquanto o grupo teste ultrapassou a média de 84%

de acerto das questões.

Quando comparados os gêneros, não se percebeu diferença significativa em

nenhum dos grupos avaliados. Entre os alunos pertencentes aos grupos controles houve uma

média de 42,5 % para ambos os gêneros. Já no grupo teste, a média ficou em torno de 83%

(gráfico 1).

RODRIGUES, H. G.; CAMPOS, H. R.T.; RODRIGUES, I. D.; BRANT, B. F.

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Gráfico 1 – Percentagem de acerto entre os alunos do grupo controle e do grupo teste,

separados por gênero. Para p< 0,05 não houve diferença significativa entre as amostras

masculinas e femininas nos dois grupos testados.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Controle

feminino

Controle

masculino

Teste

feminino

Teste

masculino

Perc

en

tag

em

de a

cert

o (

%)

Fonte: Pesquisa Empírica, 2008. Org. RODRIGUES, 2008.

Quando comparados a percentagens de acerto de cada questão utilizada na

avaliação, percebeu-se que as questões 1, 3, 9 e 10 obtiveram, respectivamente, maiores

discrepâncias entre os alunos do grupo controle e teste.

Gráfico 2 – Percentagem de acerto entre os alunos do grupo controle (barras claras) e

grupo teste (barras escuras) separados por questão.

0

20

40

60

80

100

120

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Nº da questão

Perc

en

tag

em

de a

cert

o (

%)

Fonte: Pesquisa Empírica, 2008. Org. RODRIGUES, 2008.

RODRIGUES, H. G.; CAMPOS, H. R.T.; RODRIGUES, I. D.; BRANT, B. F.

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A partir da análise dos relatórios entregues posteriormente às atividades teóricas e

de campo, percebeu-se através dos textos, satisfação e conscientização dos alunos. O quadro

abaixo mostra 04 frases que mais se destacaram e que, em essência, se repetiram nos

relatórios.

SATISFAÇÃO

CONSCIENTIZAÇÃO

“(...) A partir do passeio ao parque aprendemos

muitas coisas que não sabíamos antes (...)”.

“(...) e lá na ONG OVIVE, amei tudo que eu vi. Até o

suporte de jogar lixo é interessante (...)”.

“(...) Me encantei com tudo que vi na ONG, não há

maravilha melhor para vermos e sentirmos a natureza

mais de perto. (...)”

“(...) Agradeço a professora por essa magnífica

experiência, que me proporcionou nesse dia, isso

ficará marcado em minha vida para sempre. (...)”.

“(...) Aprendi que devemos conservar não só o parque,

mas sim todo o meio ambiente (...)”.

“(...) Aprendi que não devemos colocar fogo nas matas

(...)”.

“(...) Eu não achava que era tão importante à preservação

do meio ambiente (...)”.

“(...) Lá eu aprendi que não podemos jogar lixo no chão,

não conversar alto pra vermos e ouvir o cantar dos

pássaros, e sentir a natureza mais de perto (...)”.

DISCUSSÃO

Muito se discute sobre a importância do trabalho de campo para o ensino-

aprendizagem. No entanto, a grande maioria dos trabalhos está voltada para o segmento

universitário, são subjetivos e com generalizações argumentativas (MAYRING, 2002). Como

corrobora Nunes (2000, p. 97), “o Trabalho de Campo aparece ligado ao nível acadêmico, não

havendo nenhuma referência a ele no ensino fundamental e médio”.

Geralmente, esses estudos são feitos através da observação qualitativa das

contribuições do trabalho de campo para o ensino da Geografia, como afirma, Candiotto

(2001); Junqueira (2001); Nunes (2000). Entretanto, são escassos na literatura estudos que

RODRIGUES, H. G.; CAMPOS, H. R.T.; RODRIGUES, I. D.; BRANT, B. F.

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abordem esse tema de forma quantitativa, ou seja, que estabeleçam padrões de

comportamento que possam ser mensurados.

Com a aplicação de uma avaliação padronizada a um grupo de alunos submetidos

ao trabalho de campo e a outro grupo submetido apenas a ministrações, acreditamos mensurar

a real contribuição do trabalho de campo para o ensino e aprendizagem de Geografia. Sendo

assim, nosso estudo, possui um caráter pioneiro, já que abordamos o trabalho de campo em

escolares e agregamos às metodologias qualitativas, dados quantitativos.

Em nossa análise qualitativa, percebemos que durante a realização do presente

trabalho, os alunos mostraram-se motivados a perguntar e a questionar as informações do

espaço geográfico onde estavam inseridos e que, atentamente, eram observados. O aluno

deparou-se com diversas situações vivenciadas no seu cotidiano, porém pouco entendidas e

exploradas didaticamente. Adquiriram olhar especialmente diferente sobre os elementos da

paisagem, aguçando um senso crítico e investigador sobre o espaço.

A partir da análise dos relatórios entregues posteriormente às atividades teóricas e

de campo, percebeu-se, através dos textos, que mostravam satisfação e conscientização dos

alunos. Frases - I.E.; “(...) A partir do passeio ao parque, aprendemos muitas coisas que não

sabíamos antes (...)” e “(...) Eu não achava que era tão importante a preservação do meio

ambiente (...)” - foram bastante frequentes.

Quantitativamente, com a inserção do trabalho de campo, percebeu-se, uma

melhora substancial nos resultados das avaliações aplicadas aos estudantes do primeiro ano de

uma escola pública de Montes Claros-MG, após terem participado de uma aula expositiva.

Houve uma diferença estatística significativa de quase 100% no aproveitamento da avaliação

do grupo teste em relação grupo controle. O índice de acertos dos alunos pertencentes ao

grupo controle foi de 43,3% das questões e do grupo teste de 84,0% das questões. Isso mostra

o quão relevante é essa metodologia, visto que os dois grupos foram submetidos às mesmas

questões, constituindo diferença entre eles, apenas a participação nas atividades do trabalho

de campo. Corroborando, quantitativamente, análises qualitativas já previstas por Candiotto:

(...) Os Estudos do Meio e Trabalhos de Campo são duas atividades extra-sala de

aula muito utilizadas em geografia e que podem ter resultados bastante satisfatórios.

(...) os alunos têm a oportunidade de associar a observação ao que é trabalhado em

sala de aula. (CANDIOTO, 2001, p. 40)

Quando analisados, segundo ao gênero dos estudantes, os dados mostram que não

houve diferença significativa entre homens e mulheres tanto no grupo controle quanto no

RODRIGUES, H. G.; CAMPOS, H. R.T.; RODRIGUES, I. D.; BRANT, B. F.

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grupo teste (Gráfico 1). No entanto, através de nossos resultados, percebeu-se ainda que

questões essencialmente ilustrativas fossem 100% aproveitadas pelo grupo que participou do

Trabalho de Campo. Acreditamos que a aprendizagem a partir do contato visual com o solo,

vegetação e outros elementos naturais, favoreceram a resolução desse tipo de questão.

Nessa perspectiva, acreditamos ser de extrema relevância que as entidades

públicas e os meios escolares invistam nessa prática de ensino por saber que o trabalho de

campo é uma atividade eficaz, sendo que este deveria ser sempre usado como recurso

didático, mesmo porque, estudos de tais naturezas, podem ser realizados em qualquer

ambiente. No entanto, algumas áreas como parques, praças e espaços públicos disponíveis,

são mais adequadas à criança, jovens e adolescentes por possuírem maior segurança

(CANDIOTTO, 2001).

Dessa forma, os discentes do ensino médio terão uma melhor compreensão do

espaço geográfico, bem como de conceitos geográficos fundamentais, além de interagir e

buscar novas informações que contribuam para formação escolar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através de nossos estudos com escolares do primeiro ano do ensino médio de uma

escola pública da cidade de Montes Claros/MG, percebe-se que a utilização do trabalho de

campo como uma prática no processo ensino-aprendizagem é uma ferramenta que promove a

construção do conhecimento das ciências geográficas.

O trabalho de campo aumentou, consideravelmente, o rendimento dos alunos em

provas de vestibulares e foi visto como um forte aliado na compreensão desta disciplina.

Acreditamos que a aprendizagem, a partir do contato visual do solo, vegetação e outros

elementos naturais, favoreceram a resolução desse tipo de questão. O aluno se depara com

diversas situações vivenciadas no seu cotidiano, porém pouco entendidas e exploradas

didaticamente.

Desta maneira, o presente estudo mostrou uma maneira de o docente sair de uma

metodologia tradicional, tornando o processo ensino-aprendizagem mais dinâmico e atrativo

aos discentes. Portanto, é de extrema relevância que as entidades públicas e instituições de

ensino invistam nessa prática de ensino, uma vez que, o trabalho de campo se mostra uma

atividade eficaz e deveria ser sempre ser usado como recurso didático.

RODRIGUES, H. G.; CAMPOS, H. R.T.; RODRIGUES, I. D.; BRANT, B. F.

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Autores

Ertz Ramon Teixeira Campos – Possui Graduação em História pela Universidade Estadual

de Montes Claros (UNIMONTES). Atualmente é mestrando do Programa de Pós-Graduação

em História Social pela Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES) e trabalha

na Polícia Militar do Estado de Minas Gerais (PMMG).

Humberto Gabriel Rodrigues – Possui Graduação em Ciências Biológicas pela

Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), Mestrado em Genética e

Bioquímica pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e Doutorado em Ciências da

Saúde pela Universidade de Brasília (UnB). Atualmente é professor da Universidade Estadual

de Montes Claros (UNIMONTES) e das Faculdades Integradas Pitágoras (FIP/MOC).

Israelita David Rodrigues - Possui Graduação em Geografia pela Universidade Estadual de

Montes Claros (UNIMONTES). Atualmente é professora da Secretaria de Estado da

Educação de Minas Gerais.

Bráulio De Freitas Brant – Possui Graduado em Geografia pela Universidade Estadual de

Montes Claros (UNIMONTES). Atualmente é professor da Secretaria de Estado da Educação

de Minas Gerais.

Artigo recebido em: 17 de outubro de 2016.

Artigo aceito em: 21 de janeiro de 2017.

RODRIGUES, H. G.; CAMPOS, H. R.T.; RODRIGUES, I. D.; BRANT, B. F.

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