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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG Instituto de Ciências da Natureza Curso de Geografia Licenciatura VINÍCIUS ARCANJO MONTEIRO A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DE CAMPO PARA A GEOGRAFIA E A FORMAÇÃO DO GEÓGRAFO: Uma contribuição para o pensamento Cultural/Humanística Alfenas - MG 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG

Instituto de Ciências da Natureza

Curso de Geografia – Licenciatura

VINÍCIUS ARCANJO MONTEIRO

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DE CAMPO PARA

A GEOGRAFIA E A FORMAÇÃO DO GEÓGRAFO:

Uma contribuição para o pensamento Cultural/Humanística

Alfenas - MG

2014

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VINÍCIUS ARCANJO MONTEIRO

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DE CAMPO NA

GEOGRAFIA E NA FORMAÇÃO DO GEÓGRAFO. Uma

contribuição para o pensamento cultural/ humanístico

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentada como parte dos requisitos

para obtenção do título de Licenciado

em Geografia pelo Instituto de Ciências

da Natureza da Universidade Federal de

Alfenas- MG, sob orientação do Prof.

Dr. Flamarion Dutra Alves.

Alfenas – MG

2014

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VINÍCIUS ARCANJO MONTEIRO

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DE CAMPO NA

GEOGRAFIA E NA FORMAÇÃO DO GEÓGRAFO.

Uma contribuição para o pensamento cultural/humanístico

A Banca examinadora abaixo-assinada, aprova a

Dissertação apresentada como parte dos requisitos para

obtenção do título de Licenciado em Geografia pelo

Instituto de Ciências Naturais da Universidade Federal de

Alfenas, Minas Gerais. Área de Concentração: Geografia

Cultural. Aprovada em: Profº. Dr. FLAMARION DUTRA ALVES Instituição: Universidade Federal De Alfenas Assinatura (UNIFAL/MG) Profª. Drª. SANDRA CASTRO DE AZEVEDO Instituição: Universidade Federal De Alfenas Assinatura (UNIFAL/MG) Profº. Me. ADRIANO CORRÊA MAIA

Instituição: Universidade Estadual Paulista Assinatura

(UNESP/RIO CLARO)

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Aos pontos a representação dos nossos destinos, sonhos, chegadas. Às linhas, os

caminhos que temos que escolher para alcançar os destinos, sonhos ou pontos de

chegada. Mas os caminhos também são destinos e devem ser observados no trajeto.

Entre um ponto e outro, os borrões. São os espaços para possibilidades. No pequeno

príncipe, chegando ao seu sexto país é que explico a poética dos caminhos e os

instantes poéticos dos trajetos. O geógrafo mapeia os rios, os lagos, as montanhas e

depressões. Mas se o geografo não for explorador e deixar-se levar pelos caminhos,

não conseguirá definir as linhas que encontram o próximo ponto.

Expedição. O caminho explorado revela outros caminhos a serem seguidos.

Caminhos, estes, melhores e mais claros. Assim, podemos levar nas linhas os amigos e

a mala de conhecimento de toda a exploração. O ponto de chegada poderá parecer

menos desejável que no início da expedição. A partir daquele ponto, novos pontos e

novas linhas para serem seguidas e para chegar ao ponto. Mas não é que o ponto é

pior do que pensava, é que a expedição, com o olhar atento a todos e a tudo que nos

cerca, traz o conhecimento, as experiências e as pessoas que nos deixaram

“experenciar”.

Na teia de linhas, as pessoas, que nos deixam ir e nos fazem ser o que somos. A

cada um, atribui-se experiência que nos tocam e nos passam e nos modificam. Ter claro

as pessoas, porém, as pessoas que potencializam as experiências e nos ajudem a

crescer mantendo-as conosco. As demais, que sejam experiências válidas para não

repetir erros.

Refletir sobre tudo é algo que acrescentei na minha vida. Afaste todo dia,

inclusive de você, e reflita sobre todos os pontos a que deseja. Quanto às linhas, esteja

atento e observe o caminho. É uma expedição!

Por Vinícius Arcanjo Monteiro.

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RESUMO

Inspirado em estudos da Geografia Cultural, o presente trabalho apresenta

resultados da pesquisa interessada em traçar a importância do Trabalho de Campo na

Geografia, para formação do geógrafo e as circunstâncias que envolvem esta metodologia

no período contemporâneo. Considerando os propósitos deste estudo, foram identificados

os principais dados do Boletim Paulista de Geografia (nº 84), que indicam–nos a refletir

sobre as semelhanças nas discussões que figuram como subsídios teórico-metodológicos

sobre o Trabalho de Campo na/para a Geografia. Os temas e conceitos recolhidos

permitem indicar que, apesar da pluralidade de experiências no Trabalho de Campo,

permanece em constante construção, evoluindo e constituem-se de acordo com a própria

construção da ciência geográfica, permitindo-nos assim, avançar na análise sobre o

Trabalho de Campo na Geografia Cultural, ou seja, a sistematização de ideias

humanísticas e a aplicabilidade no Trabalho de Campo. Para tanto, será proposto o

Projeto “Geografia Postais”, como forma de exposição das experiências em Trabalhos de

Campo na Geografia.

Palavras-chave: Trabalho de Campo; Geografia Humanística-Cultural; História do

Pensamento Geográfico; Expedição/Exposição.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................ 8

OBJETIVOS............................................................................................. 10

Objetivo Geral.................................................................................. 10

Objetivos Específicos....................................................................... 10

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...........................................11

DESENCOLVIMENTO...........................................................................12

CAPÍTULO 1 A evolução do Trabalho de Campo no Pensamento Geográfico.................12

1.2. Considerações do capítulo..........................................................17

CAPÍTULO 2

Boletim Paulista de Geografia número 84: Referência teórico-prática para o

Trabalho de Campo ................................................................................... 20

2.1. Análise do quadro síntese......................................................... 20

2.2. Análise das referências........................................................... 38

2.3. Considerações do capítulo.................................................... 39

CAPÍTULO 3 A importância do Trabalho de Campo na Universidade e na Escola......... 44

3.1. O Trabalho de Campo na Universidade Federal de Alfenas..... 44

3.2. O Trabalho de Campo e o Ensino de Geografia........................ 48

3.3. Considerações do capítulo......................................................... 52

CAPÍTULO 4

O Trabalho de Campo na Geografia Cultural- Humanística..................... 59

4.1. Considerações do capítulo......................................................... 65

CONCLUSÕES.........................................................................................67

REFERÊNCIAS........................................................................................70

APÊNDICE...........................................................................................72

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INTRODUÇÃO

Durante a formação do geógrafo, o Trabalho de Campo se faz presente como um

legado de experiências e constatações que evidenciam, sobretudo, parte da sua atuação e

utilidade na construção de sua ciência. Na atualidade, a transformação do espaço tem-se

constituído de forma mais acelerada e cada vez mais articulada (SERPA, 2006. p. 10),

exigindo, de quem deseja estuda-lo, a tomada de consciência do seu papel e daqueles

que, diretamente ou indiretamente, participam deste processo, e que procuram a

compreensão das dinâmicas, naturais, sociais, econômicas e culturais do espaço.

Através da Geografia Humanística, entende-se que o método discorre sobre os

fenômenos geográficos com o propósito de alcançar um melhor entendimento do

homem e da sua condição, procurando desta forma, “um entendimento do mundo

humano através dos estudos das relações sociais com a natureza do seu comportamento

geográfico, bem como dos seus sentimentos e ideias a respeito do espaço e do lugar”

(TUAN, 1976), sendo que:

As abordagens científicas para o estudo do homem tendem a minimizar o

papel da conscientização e do conhecimento humano. A Geografia

Humanística, em contraste, tenta especificamente entender como as

atividades e os fenômenos geográficos revelam a qualidade de

conscientização humana. (TUAN, 1976 p. 143)1

Com base nesta perspectiva, esta pesquisa tem o objetivo de discutir a

importância do Trabalho de Campo. A partir da publicação clássica do Boletim Paulista

de Geografia (nº. 84, 2006)2 que trata nesta edição especial o tema Trabalho de Campo.

A Revista contém 7 artigos que discorrem sobre o papel do geógrafo no Trabalho de

Campo, o uso dos conceitos e teorias aliados a prática entre outros assuntos.

Convém mencionar os artigos brasileiros analisados como: Ângelo Serpa,

Ricardo Baitz, Paulo Alentejano e Otávio Miguez da Rocha Leão, Luís Antônio Bittar

Venturini e Valéria de Marcos, e geógrafos Franceses como Bernard Kaiser e Yves

Lacoste, que apontaram e se mostraram como fontes primordiais na análise do Trabalho

1 Yi Fu Tuan - Capítulo transcrito dos Annals of the Association Of American Geographers, 66: (2),

julho de 1976. Título original: Humanistic Geography. Tradução de Maria de Queiróz. TUAN, Y. F. A

Geografia Humanística. In: CHRISTOFOLETTI, A. (Org.). Perspectivas da Geografia. São Paulo: Difel,

1982. Cap. 7, p. 143-164

2 Boletim Paulista de Geografia (nº. 84; 2006) que iniciou as atividades em 1949 e circula até hoje,

totalizando 91 edições e que trata, nesta edição especial, o tema Trabalho de Campo. (ALVES, 2010 p.

34)

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de Campo. Em conformidade com Alentejano é da mais significativa relevância,

respaldar:

A contribuição da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) para a

difusão dos Trabalhos de Campo como ferramenta fundamental dos

geógrafos, pois seus primeiros congressos representavam um espaço

privilegiado de produção da Geografia brasileira, com destaque para as

excursões que promovia, as palestras que organizava e os textos que

publicava no âmbito do Boletim Geográfico. (ALENTEJANO, 2002, p. 146

apud ALENTEJANO, 2006. p. 54)

Aliado a esse Boletim foram consultados alguns artigos que exploram a temática

do Trabalho de Campo, mas como é um assunto que não tem muitas obras de referência,

torna-se necessário a nosso estudo com este tema. Primeiramente, será realizado uma

retrospectiva do Trabalho de Campo na geografia partindo das quatro escolas do

pensamento geográfico (geografia clássica-tradicional, geografia quantitativa-teorética,

geografia crítica e geografia humanística) salientando os principais métodos, técnicas e

conceitos empregados em cada momento, partindo do entendimento de que:

As pesquisas acerca da história do pensamento geográfico são de grande

importância para a avaliação do comportamento da ciência, as verificações da

evolução e das tendências dos estudos garantem a mudança de teorias,

conceitos e metodologias na geografia. A ciência geográfica passou, e ainda

passa, por grandes transformações quanto à utilização de métodos, teorias e

conceitos, e o estudo dessas mudanças é necessário para entendermos os

rumos que a geografia está seguindo. (ALVES, 2010)

Posteriormente, foram realizadas entrevistas com professores do Curso de

Geografia do Instituto de Ciências da Natureza - UNIFAL-MG abarcando questões

pertinentes ao tema. Construímos com estas análises, correlações entre a teoria e a

prática acadêmica, além de debater o papel do Trabalho de Campo no ensino de

Geografia em nível escolar, explorando pontos da articulação da universidade-sociedade

e o aprofundamento teórico, sendo de interesse da universidade a formação para a

pesquisa:

Se queremos que a geografia logo não desapareça das Universidades por

causa de seus estudantes é preciso orientar muito mais sua formação para a

pesquisa e desde o começo dos seus estudos. Aqueles que poderão ainda

encontrar um lugar nos ‘Liceus’ e nos colégios serão somente os melhores

professores e serão capazes de iniciar seus alunos na pesquisa prática,

politicamente muito útil, para todos os futuros cidadãos. Para que a relação

pesquisa se modifique pouco a pouco, é preciso que na universidade a grande

maioria dos jovens seja iniciada na pesquisa e no trabalho de campo, a fim

que possa, (...) explicar ás pessoas sua utilidade, porque é preciso conhecer os

resultados e como estes podem ser utilizados. (LACOSTE, 2006, p. 86)3

3 Yves Lacoste, In: Boletim Paulista de Geografia (2006): “A pesquisa e o trabalho de campo: um problema

político para os pesquisadores, estudantes e cidadãos”, é um texto publicado originalmente em francês, em 1977,

pela revista Heródote (nº 8, out./dez. páginas 3 à 20). Título Original: “L’enquête et le terrain: um

ploblème politique por le churchus, les éstudiants at les cittoyens”.

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Apoiado na constatação dos professores que creditam o envolvimento/

desenvolvimento do conhecimento através do Trabalho de Campo e que os Trabalhos

de Campo atingem, de uma maneira geral, os resultados esperados pela disciplina,

entendo que é preciso ir além, outrossim, propor soluções, que ao menos indiquem a

sistematização de ideias humanísticas e a aplicabilidade no Trabalho de Campo, apoiado

no conceito de exposição das experiências em Trabalhos de Campo na Geografia.

O melhor entendimento do conceito de expedição/exposição, até então também

trabalhado pelos autores no Boletim Paulista de Geografia, melhor se organiza nas

palavras de Yves Lacoste, pautado na ramificação dos resultados de Trabalho de

Campo:

A expedição/exposição parece ser um método muito eficaz de formação dos

estudantes para a pesquisa. (...) Os estudantes que participaram destas

expedições/exposições experimentaram em sua maioria um certo entusiasmo

(sobretudo se são militantes) com a ideia de dar conta à população dos

resultados de sua pesquisa. (LACOSTE, 2006, p. 90)

É importante ressaltar que de uma iniciação à pesquisa, o Trabalho de Campo

exposto, a partir da interação dos meios de comunicação na relação universidade-

sociedade ou universidade-escola, sugere a ampliação do espaço educativo, que, através

deste, poderá repercutir em outros níveis de escala de uma maneira mais líquida e

universal, e ser o começo de uma verdadeira expedição.

- Objetivos

Objetivo Geral

Discutir a importância do trabalho de campo na produção do conhecimento

geográfico.

Objetivos Específicos

Analise de conteúdo de teoria e conceitos sobre trabalho de campo na evolução

do pensamento geográfico;

Entender o Trabalho de Campo na prática docente e na formação do geógrafo;

Analisar os procedimentos de sistematização das pesquisas de campo em

geografia, enfatizando a geografia cultural.

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- Procedimento Metodológico

A pesquisa sobre a importância do Trabalho de Campo em geografia parte de

publicação clássica do Boletim Paulista de Geografia (nº. 84, 2006) que trata nesta

edição especial o tema Trabalho de Campo. A Revista contém 7 artigos que discorrem

sobre o papel do geógrafo no trabalho de campo, o uso dos conceitos e teorias aliados a

prática entre outros assuntos.

Aliado a esse Boletim foram consultados alguns artigos que exploram a temática

do Trabalho de Campo, mas como é um assunto que não tem muitas obras de referência,

torna-se necessário a nosso estudo com este tema. Primeiramente, será realizado uma

retrospectiva do Trabalho de Campo na geografia partindo das quatro escolas do

pensamento geográfico (geografia clássica-tradicional, geografia quantitativa-teorética,

geografia crítica e geografia humanística) salientando os principais métodos, técnicas e

conceitos empregados em cada momento.

Isso servirá, entre outros, para correlacionar os avanços técnicos com os tipos de

métodos empregados nos Trabalhos de Campo; relacionar contexto político e histórico

com as técnicas e os métodos empregados pelos geógrafos em cada momento. E

também delimitar nessas escolas qual a importância do Trabalho de Campo na

construção de seus resultados.

Posteriormente, foram realizadas entrevistas com cinco professores do Curso de

Geografia do Instituto de Ciências da Natureza - UNIFAL-MG abarcando questões

pertinentes ao tema. Pretende-se construir com estas análises correlações entre a teoria e

a prática acadêmica, além de debater o papel do Trabalho de Campo no ensino de

Geografia em nível escolar.

Por fim, será realizado uma análise conclusiva sobre a importância do Trabalho

de Campo e a Geografia Cultural, sob enfoque Humanista, ou seja, a sistematização de

ideias humanísticas e a aplicabilidade no Trabalho de Campo.

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DESENVOLVIMENTO

CAPÍTULO 1

A evolução do Trabalho de Campo no pensamento Geográfico

O primeiro capítulo está interessado em construir os momentos do conhecimento

geográfico mediante ao tema. Isso porque a ciência Geográfica surge em meio a reunião

de relatos de viajantes, expedições que visavam a descrição da superfície terrestre, esses

trabalhos deram origem e suspendem a importância dos Trabalhos de Campo. Vamos

analisar os métodos utilizados no Trabalho de Campo desde o início do pensamento

geográfico até o momento geográfico humanístico/cultural.

As expedições dos naturalistas são as “raízes” dos Trabalhos de Campo, ou seja,

concomitantes ao nascimento da ciência geográfica, isso significa que a observação da

paisagem, enquanto manifestação estética da realidade, já participava ativamente da

formação do pensamento geográfico, ao lado dos relatos e das descrições. “Nas

imagens, tanto o ponto de vista como o espaço visto são relativos e subjetivos. Mais do

que tanto a cosmografia como a geografia, a corografia dá espaço para o papel

imaginativo e criativo do individual”, escreveu Denis Cosgrove (1999, p. 107 apud

MARQUES, 2009, p. 71). Assim, quando “[...] faltam palavras para falar das formas do

relevo ou das rochas”, os geógrafos recorrem à expressividade das técnicas do

diagrama, da gravura e da pintura mesclando conhecimento científico e emoção estética

em gravuras ressaltando os fatores físicos (figura 1): (MARQUES, 2009):

Figura 1: Alexander von Humboldt. Planta, topografia e mapa de altitude do Monte Chimborazo. 1807. Fonte: http://www.humbot.org, (apud MARQUES, 2009 p. 73)

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Com a publicação do primeiro volume de Antropogeografia do

alemão Friedrich Ratzel, em 1882, inicia-se uma tentativa de delinear a

relação da ciência geográfica com os homens que escrevem essas grafias.

Neste percurso, o determinismo de Ratzel é seguido pelo pensamento

possibilista do francês Paul Vidal de la Blache, na virada para o século XX.

Responsável pelo legado do pensamento sobre a unidade terrestre, Paul

Vidal de la Blache escreve uma obra na qual a geografia é feita de história

natural, da física da terra. Tal pensamento fundamenta o desenvolvimento da

geografia moderna. As chamadas geografias pós-modernas, em menor escala

do que as ainda predominantes geografias modernas, investigam as relações

da produção histórica do espaço e as suas implicações políticas, econômicas e

culturais, aproximando-se da antropologia, da sociologia, da filosofia, das

artes. (MARQUES, 2009 p. 25)

Para compreender como o Trabalho de Campo se comporta por meio do

método, recordamos Eliseu Sposito quando explica que um método significa: “um

conjunto de procedimentos racionais, baseados em regras, que visam atingir um

objetivo determinado. Então um método científico, apresenta-se tal como leis e

categorias, que estão historicamente relacionados, à procedimentos específicos e teorias

disseminadas pela comunidade científica” (SPOSITO, 2004 p. 25).

Por assim entender um método, constata-se que pelo período vivenciado, os

métodos de análise da geografia nascem para descrição da Terra e para assinalar sua

diversidade. Já avançando no percurso, à atualidade, os geógrafos procuram responder a

essas questões até então consideradas inovadoras: Em que medida o destino dos povos

está ligado ao país onde estão instalados? Há influência deste sobre os homens? Ou

harmonia sutil entre a ordem natural e a ordem social?

As relações sociedade/meio tornam-se centrais para a disciplina.

Antropogeografia designada por Frederich Ratzel e adotada pela maioria

dos jovens pesquisadores. Na França, Vidal de La Blache e o grupo por ele

estimulado, traduzem por geografia humana o termo que se derivava de

análises da evolução humana. O termo Geografia Humana e a nova noção

impõe-se nos últimos anos do século XIX. (CLAVAL, 2007, p. 7)

Então, quando do surgimento da geografia científica, as principais técnicas

utilizadas nos Trabalhos de Campos era observação, elaboração de croquis,

comparação, descrição, ou seja, técnicas simples, sem um grande aparato tecnológico

era suprido pelo tempo de envolvimento no lugar em análise, o que La Blache chama de

Monografia Regional.

Uma monografia regional deveria, na perspectiva lablachiana, conter uma

análise detalhada do meio físico, das formas de ocupação, das atividades

humanas e de como o homem se ajusta a natureza. O olhar sobre a natureza

deveria conter uma perspectiva histórica na análise da relação homem-meio.

Fundamentalmente, a monografia regional deveria estabelecer a integração

dos elementos físicos e sociais e acrescentar uma visão sintética da região.

(LENCIONI, 2003, p.105 Apud ALVES, 2010, p. 37).

Também era apresentado, pela rotina do Geógrafo Tradicional “em observar,

localizar e descrever”, destacando o Trabalho de Campo como um importante território

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da geografia como ciência. “A riqueza de detalhes nas inúmeras monografias regionais

predominou nas décadas de 1940 e 1960, sendo referência e etapa primordial na

metodologia geográfica”. (ALVES, 2010. p. 39)

Os geógrafos, desta época, começaram a desenvolver uma ciência em torno de

diferenciações regionais na superfície terrestre, constituindo-se então a partir da análise

de pesquisas e relatos de campo elaborados pelos viajantes, naturalistas, preocupados na

conquista de territórios, fato que explora os primórdios da Geografia, apontando os

Trabalhos de Campo e o método descritivo em grande parte fundamentais no método de

trabalho dos Geógrafos e constituição da ciência. (ALENTEJANO, 2006, p. 53).

Fortalecido, assim, pelos olhares naturalistas, o Trabalho de Campo acompanhou

as transformações do sistema capitalista, atingindo a Geografia até a contemporaneidade

e, no entanto, apresenta-se como o principal ponto comum entre os geógrafos. De

acordo com Venturi (2006):

[...] o campo é onde a complexidade da realidade é revelada e conduzida à

compreensão do geógrafo, munido de seus principais conceitos, como

paisagem, espaço, região e lugar, por exemplo, os quais materializam na

realidade, dão sentido a ela e dela obtém sentido. É onde as fronteiras

acadêmicas das disciplinas deixam de fazer sentido e são substituídas por

inúmeras conexões entre os fatos observados, num processo de reconstrução

conceitual.

O objeto, no método descritivo da Geografia, havia prevalência sobre o sujeito,

ou seja, o objeto estudado era o “alvo”, observado de cima, influenciando o pesquisador

e seus conhecimentos, inclusive. Ainda que houvesse uma tendência à “neutralidade da

ciência” (um pressuposto) o real era descrito por meio de hipóteses e dedução.

A mudança de paradigma Geografia Tradicional para a Geografia Teorética /

Quantitativa, deve-se pelas dúvidas e falta de precisão de alguns trabalhos descritivos,

no qual se calcavam apenas no “objeto observado”. (ALVES, 2010 p. 139). Afirmando

a revolução, pautava-se na necessidade da geografia de um aporte teórico-metodológico

que a sustente como ciência. Neste sentindo [...] os métodos quantitativos na geografia

representam uma nova e poderosa arma para a análise dos fenômenos geográficos,

capazes de tornar a geografia um ramo do conhecimento humano igual aos outros de

natureza científica, pela sua capacidade de precisar os fenômenos e estabelecer

princípios gerais, segundo os quais os mesmos ocorrem. (GALVÃO & FAISSOL, 1970,

p.5 apud ALVES, 2010. P. 139) e que, segundo Paulo Alentejano:

Todo este acúmulo foi jogado por terra a partir dos anos de 1960, quando no

rastro da hegemonia da Geografia Teorético-Quantitativa os Trabalhos de

Campo passaram a ser execrados e praticamente riscaram do mapa das

práticas dos geógrafos, sob o argumento de que as tecnologias da informação

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e os modelos matemáticos seriam instrumentos mais adequados para a

investigação da realidade.” (ALENTEJANO, 2006, p. 55)

Claval, desperta um enfoque interessante ao revelar “que a geografia ocupa

desde seu nascimento um lugar importante nas realidades culturais, mas as capta numa

ótica reducionista”, segundo CLAVAL (2007): devido a ênfase colocada as técnicas, os

utensílios e as transformações das paisagens.

Já a Geografia Brasileira revela que o segundo momento da história da

geografia, quando o Trabalho de Campo deixa de ser primordial, ou seja, suas análises

centram-se na interpretação de dados secundários, sobretudo o uso dos Censos do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre as técnicas empregadas,

está o uso da estatística, mapas temáticos, modelos espaciais-localização, entre outros.

O Trabalho de Campo ao levantamento de dados estatísticos provenientes de

fontes secundárias, a partir de variáveis compiladas pelos censos ou outras

pesquisas institucionais, ainda sim estas pesquisas apresentam uma unidade

quantificável, (...) base a partir do qual se comparam situações com a

utilização de técnicas quantitativas. (ROCHA, 1999) os dados provenientes

de censos institucionais, o pesquisador não tem o poder de realmente escolher

as variáveis de analisadas, (...) muitas vezes os dados são coletados através de

técnicas e procedimentos que se revelam incompatíveis com as questões de

pesquisa. (apud SERPA, 2006. p. 14)

No entanto, não que dizer que os estudos deste momento não avançaram na

própria constituição da “identidade geográfica”, porém, indica um hiato na concepção

humana, pois muitas das obras eram formatações formais da análise. Muitas

contribuições são avanços técnicos “momentâneos” que se superam em novas

perspectivas.

Assim, a partir da década de 1970, o modelo de pesquisa na geografia, baseado

na estatística, foi duramente questionado, pois deixava de lado as questões sociais,

políticas e culturais. A historicidade ganha espaço no Trabalho de Campo. A abordagem

histórico-dialética representa o intuito de entender e desvendar a realidade social, esta

abordagem permite resgatar a história e fazer o movimento contraditório das ideias e

dos atores e agentes envolvidos. Conforme Alves (2010) sobre a estrutura do

pensamento materialista histórico marxista:

A base do sistema materialista-histórico é dada pelas regras que determinam

o tipo de relação de produção frente ao desenvolvimento das forças

produtivas; estes dois elementos são os termos fundamentais que definem um

modo de produção e, ao mesmo tempo, constituem a causa da transformação

dialética. (GOMES, 2005, p.283). O método dialético tem várias nuances e

distinções, desde a dialética do idealismo de Hegel ao materialismo histórico-

dialético de Marx e Engels. Entretanto, a perspectiva marxista foi

hegemônica nesse pensamento, no Brasil. (apud ALVES, 2010. P. 39/40)

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Deste modo, no método dialético o sujeito se constrói e se transforma frente ao

objeto e vice-versa, os trabalhos que se utilizam deste método se caracterizam por ser

mais críticos da realidade, por sua concretude e pelo fato de mostrarem a contradição

histórica existente no objeto estudado. (SPOSITO, 2004)

Tal como o movimento inicial da Geografia crítica, sob a radicalização crítica ao

empirismo dominante na Geografia Tradicional levou a uma negação da validade do

Trabalho de Campo como instrumento de construção do pensamento geográfico, em

função da ênfase conferida à teoria marxista. (ALENTEJANO, 2006). A difícil aliança

entre a teoria e a prática instrumental tem de ser perseguida e sempre alicerçada na

pesquisa de campo. (RUA, 1997, p. 45 apud ALENTEJANO, 2006. p. 55)

Ângelo Serpa contribui na desmistificação deste processo que, segundo o autor,

se pensarmos na perspectiva dialética estamos no terreno da informação estruturante e

dos dados agregados, com maior tendência a homogeneidade, enquanto que pela

fenomenologia, adentramos no terreno da informação factual e dos dados individuais,

com maior tendência a heterogeneidade. (SERPA, 2006. p. 18)

Consiste em admitir que não há um método privilegiado quando adotamos uma

unidade de observação e atribuímos atributos que estão associados ao conhecimento

geográfico, pois segundo Lacoste, “Nenhum deles é suficiente quando consideramos algum

espaço para observação apreendemos tais fenômenos na mesma proporção que deforma ou

oculta outros e outras estruturas, das quais não se pode prejulgar o papel e, portanto, não pode

negligencia-lo”.

Assim, no início da década de 1980 se insere na geografia brasileira a

perspectiva Humanística, convergindo as Pesquisas de Campo para uma análise do

lugar tal que utiliza, por sua vez, da fenomenologia valorizando a experiência vivida do

sujeito, descrevendo a qualidade da emoção experimentada em casos específicos. No

método fenomenológico, o sujeito quem descreve o objeto e suas relações a partir do

seu ponto de vista, depois de se apropriar intelectualmente. (SPOSITO, 2004). Como

técnicas importantes tem-se: a história oral e pesquisa participativa:

É necessário que o cientista e sua ciência sejam, primeiro, um momento de

compromisso e participação com o trabalho histórico e os projetos de luta do

outro, a quem, mais do que conhecer para explicar, a pesquisa pretende

compreender para servir. A partir daí uma nova coerência de trabalho

científico se instala e permite que, a serviço do método que a constitui,

diferentes técnicas sejam viáveis: o relato de outros observadores, mesmo

quando não cientistas, a leitura de documentos, a aplicação de questionários

(...), a observação da vida e do trabalho. Estava inventada a participação da

pesquisa. (BRANDÃO 1987, p. 12 Apud MARCOS, 2006. p. 108-109)

.

Page 17: A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DE CAMPO PARA A GEOGRAFIA E … - Vinícius... · de Geografia (nº. 84, 2006)2 que trata nesta edição especial o tema Trabalho de Campo. A Revista contém

17

De acordo com Yi-Fu Tuan, o método humanístico representa o pesquisador

cientificamente (e a ciência) porque constrói, de modo crítico e reflexivo, sobre o

conhecimento científico. (...) “O geógrafo Humanísta deve estar agudamente atento aos

empecilhos sobre a liberdade humana; preocupado com a qualidade de conscientização

humana e com o aprendizado” (TUAN, 1976) e colabora em indagações pertinentes à

uma ciência:

De que maneira as pessoas adquirem habilidades e conhecimentos espaciais?

De que maneira as pessoas se tornam emocionalmente envolvidas com um

lugar? Tais indagações mostram que o geógrafo humanista compartilha da

preocupação do psicológico do comportamento. Suas indagações são

semelhantes embora endereçadas aos fenômenos de diferentes complexidades

e escala. Até mesmo suas técnicas de campo têm em comum a observação

detalhada do comportamento individual na vida real. (TUAN, 1976. P 159).

Na fenomenologia de Anne Buttimer, em que sugere a apreensão do

dinamismo do mundo vivido, e sobre o modo como a(s) representação(ções) da

experiência humana formam-se no espaço ela compreende a função dos

“fenomenologistas”, nos ensaios sobre “espaço vivido e existencial”, partem da noção

de que cada pessoa tem seu lugar natural, mas, cercada de “camadas” concêntricas de

espaço vivido:

A fenomenologia convida-nos a explorar algumas das forças unificadoras na

experiência humana do Mundo. Supondo-se (...) que tais condições podem

residir nas facetas rotineiramente pela vida diária, esta noção oferece um bom

diálogo entre fenomenologia e Geografia. (...) “Mundo” para o

fenomenologista, é o contexto dentro do qual a consciência é revelada.

(BUTTIMER, 1976. P. 172)

Com base nestas reflexões da humanística e da fenomenologia, os Trabalhos de

Campo ganham sentido por ser um processo de identificação mediado pelos signos

culturais e sociais, na medida em que transporta ao lugar o valor cientifico da pesquisa

de campo, sendo na Humanística um absoluto método de exploração.

1.2. Considerações do Capítulo: A realidade e a essência dos espaços são capazes de admitir-se a partir

comunicação dos métodos, assim, Ângelo Serpa discute a possibilidade de tanto a

fenomenologia quanto a dialética trabalharem em conjunto no Trabalho de Campo,

funcionando como estratégias complementares, buscando sempre, a construção da

síntese entre sujeito e objeto:

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Afinal não deveria haver incompatibilidade, em termos de procedimento,

entre uma análise individualidade dos fenômenos e o resgate de sua dimensão

histórica, nem mesmo entre a concepção da ciência interessada na história e

na mediação homem-natureza e uma outra voltada para a essência dos

fenômenos” (SERPA, BPG, 2006. P 29)

O Gráfico 1, procura sintetizar as “variáveis” “avanços” e “recessos” na

utilização do Trabalho de Campo sob os momentos da Geografia, sugerindo a evolução

(amadurecimento) dos métodos frente a utilidade dos Trabalhos de Campo. As

expedições naturalistas, são as “raízes” da ciência que fora avançando sua concepção

baseada na relação do homem com o meio e sua completa interação através dos séculos

(XVIII – XXI), sugerindo a análise do gráfico 1.

Entretanto o avanço progressivo do Trabalho de Campo não indica a

superioridade de um método sobre o outro, as análises de campo são parte dos métodos.

Advindos de um método Tradicional, ainda se nota a atualidade da discussão,

pertinentes na construção e em absorver as responsabilidades desta construção no

Trabalho de Campo dada a observação, apreensão e a crítica do objeto que proporciona.

Segundo as fontes podemos refletir que o Trabalho de Campo caracteriza-se

como uma ferramenta do experimental, a serviço dos geógrafos e também um meio

tradicional de fazer Geografia. Assim, após confissões naturais, podemos pensar que o

Trabalho de Campo oferecendo esse contato com a realidade e sendo uma característica

da geografia, seja para a realização de pesquisa científica, (com uso de técnicas,

tecnologias e instrumentalização ou apenas na observação imediata) individuais ou

coletivos, é um projeto essencial para a formação do geógrafo e para a confissão da

realidade nos saberes geográficos da contemporaneidade.

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Gráfico 1:

A EVOLUÇÃO DO TRABALHO DE CAMPO NA CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO

Organização: Vinícius Arcanjo Monteiro, 2014.

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CAPÍTULO 2

Boletim Paulista de Geografia número 84: Referência teórico-prática

para o Trabalho de Campo

A pesquisa sobre a importância do Trabalho de Campo em Geografia parte de

publicação clássica do Boletim Paulista de Geografia* (nº. 84, 2006) que trata nesta

edição especial o tema Trabalho de Campo. Autores acima citados são também parte da

Revista (7 artigos), e que discorrem sobre o papel do geógrafo no Trabalho de Campo, o

uso dos conceitos e teorias aliados a prática entre outros assuntos.

A síntese dos artigos disponíveis no Boletim (em anexo), são fontes preciosas

para a assimilação deste conteúdo, sendo plausível e possível explorar as temáticas

contidas, prevista para análise, de modo a selecionar/organizar os conteúdos em vista da

importância que o tema surge na construção do conhecimento geográfico e no Ensino de

geografia.

Os conteúdos dos artigos de Ângelo Serpa, Ricardo Baitz, Alentejano, Luis

Antônio Bittar Venturi, Yves Lacoste, Bernard Kaiser e Valéria de Marcos, foram

agrupados segundo conceitos, temas e debates e análise do referencial teórico. Propondo

uma análise dos dados agrupados assumindo o resultado de temas geradores para

debate.

2.1. Análise de conteúdo

Este tópico está organizado de acordo com as fontes do Boletim Paulista de

Geografia (nº 84, 2006), são resumos que trazem as principais discussões em cada

artigo analisado. Trata-se de uma análise descritiva sobre o conteúdo do Boletim

Paulista de Geografia, pontuando os conceitos e salientando a importância do Trabalho

de Campo.

No apêndice encontra-se o quadro síntese completo. Organizando os métodos,

conceitos, temas e debates e as referências que cada autor utilizou de modo compactar a

revisão bibliográfica.

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BPG: Conceitos e Temas presentes nos Artigos do Boletim Paulista de Geografia

(NÚMERO 84. SÃO PAULO-SP, JUL.2006 – O Trabalho de Campo)

Análise Síntese: Conceitos, Temas e discussões:

1- Ângelo Serpa

Conceitos:

Espaço; Recorte espacial de conceituação; Paisagem; (Vertical/ Cultural); elementos; totalidade.

Temas para debate:

Reflexão teórico-metodológica sobre a importância do Trabalho de Campo na construção do

conhecimento geográfico na contemporaneidade;

O Trabalho de Campo como especificidade disciplinar da geografia;

Articulação de conceitos, teorias e procedimentos metodológicos na geografia;

O Trabalho de Campo e a possibilidade de recortar, analisar e conceituar o espaço, de acordo

com as questões, metas e objetivos definidos pelo sujeito da pesquisa;

O Trabalho de Campo como instrumento para a superação de dicotomias na ciência geográfica;

Teoria- método.

Ângelo Serpa:

SERPA, A. S. P. O Trabalho de Campo em Geografia: Uma Abordagem Teórico-

Metodológica. Boletim Paulista de Geografia, v. 84, p. 7-24, 2006.

O artigo tem como título: O Trabalho de Campo em Geografia: Uma

abordagem teórico-metodológica. Este artigo procura fazer uma reflexão teórico-

metodológica, sobre a importância do trabalho de campo para a produção do

conhecimento geográfico na contemporaneidade.

O autor se ampara em quatro dos pressupostos que considera principal na

geografia e assim procura conceituar e dar significado ao trabalho de campo para a

geografia:

1º pressuposto: especificidade disciplinar da geografia;

2º pressuposto: o recorte dos espaços de conceituação e a centralidade do

conceito de espaço;

3º pressuposto: o trabalho de campo para a superação das dicotomias e

ambiguidades da geografia;

4º pressuposto: teoria e métodos são inseparáveis no trabalho de campo em

geografia.

O tema o trabalho de campo como especificidade disciplinar da geografia, o

autor evidencia que ”um recorte espacial significante conceitua o geógrafo em seu

objetivo para a análise espacial consonante ao próximo pressuposto”. Através do

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trabalho de campo diversas possibilidades de recortar, analisar e conceituar o espaço, de

acordo com as questões, metas, objetivos definidos pelo sujeito da pesquisa.

Ângelo Serpa sugere a geografia como ciência do espaço, ressaltando a

especificidade nas produções científicas da geografia. De forma a valorizar o recorte do

espaço, tornando-o como questão central de operacionalização do trabalho de campo

para conceituação da realidade em coerência com os fenômenos que se deseja estudar.

A possibilidade de divisão do espaço é assumido em conjunção ao método e de forma

interdisciplinar.

Ainda que observado as relações do espaço, o autor indica o conceito de escala

como mediadora, sendo então formada a relação: pesquisador – escala – unidade de

observação e atributos; suspendendo a escala como problema fundamental do trabalho

de campo, pois há uma tendência a homogeneizar atributos importantes na análise.

Desta maneira podemos concluir que os recortes mais abstratos vão favorecer e

dar visibilidade a uma informação estruturante, aos dados agregados, aos

fenômenos latentes e a tendência a homogeneidade e ao modelo, enquanto os

recortes mais concretos vão valorizar a informação factual os dados individuais

ou desagregados, os fenômenos manifestos e a tendência a heterogeneidade.

Há uma tendência a homogeneidade com a diminuição progressiva da escala,

enquanto a heterogeneidade aumenta proporcionalmente à medida que os

recortes tornam-se mais concretos e a escala aumenta. (SERPA, 2006 p. 13)

O autor aponta também a relação do pesquisador com os dados do trabalho de

campo. Desta forma, a variável de pesquisa deve suprir o objetivo da pesquisa, ou seja,

a segurança de trabalhar com a variável desejada, entendendo as fontes de dados

primários como de “posse” do pesquisador.

Outro pressuposto apontado por Ângelo Serpa são as ambiguidades que a

geografia ainda “carrega” como marca da sua história. O autor afirma que para a

superação das dicotomias, o trabalho de campo ganha importância quando não favorece

a análise somente dos fatores humanos ou naturais, em suas palavras: “O Trabalho de

Campo deve se basear na totalidade do espaço, sem esquecer dos arranjos específicos que

tornam cada lugar, cidade, bairro, ou região uma articulação particular de fatores físicos e

humanos em um mundo fragmentado, porém (cada vez mais) articulado”.

Neste sentido, cabe-nos observar a afirmativa que coloca o Trabalho de Campo

como uma “análise do particular na totalidade”. Observada a partir da impulsão que o

autor sugere aos novos geógrafos pela “busca não somente pelas semelhanças como as

diferenciações entre os lugares, regiões, paisagens e territórios que expressam a

totalidade do espaço”, pensando o espaço como algo dinâmico e mutável.

A paisagem é pontuada como um elemento importante na contemporaneidade e

trabalhada como a chave para a superação destas ambiguidades, pois o autor trabalha

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com o conceito de paisagem vertical considerando as visões de mundo privilegiadas na

geografia através das análises espaciais e utiliza a paisagem cultural também como

contribuição ao olho do geógrafo, sendo ela ao mesmo tempo portadora de símbolos

próprios que intercambiam com símbolos e sentidos estrangeiros:

As paisagens e os mapas podem “mentir”, se não admitirmos que não é

somente a “realidade objetiva” que deve reter nossas atenções , mas também

como esta realidade fala aos sentidos do sujeito que observa e pesquisa. É

preciso reconhecer a paisagem enquanto conivência, “explorando seus fios

cruzados e trocas recíprocas”. Vendo assim, a paisagem é ao mesmo tempo

marca e matriz, já que ao que parece, “as sociedades organizam seus

ambientes em função da percepção que elas têm deles, e, reciprocamente,

parece que elas se percebem em função da organização que dão a eles”.

(SERPA, 2006, p. 12 )

Assim, podemos constatar a soma de um olhar de visitante, quando falamos do

trabalho de campo, a um olhar que disponha de mapas, fotografias aéreas e pesquisas

sobre (...) este aparato demanda um olhar geográfico em relação ao espaço.

Umas das partes que soou mais fundamental deste artigo, Ângelo Serpa traz o

seguinte pressuposto: teoria e método são inseparáveis no trabalho de campo. Consiste

em admitir que não há um método privilegiado quando adotamos uma unidade de

observação e atribuímos atributos que estão associados ao conhecimento geográfico,

pois segundo Lacoste, “Nenhum deles é suficiente quando consideramos algum espaço para

observação apreendemos tais fenômenos na mesma proporção que deforma ou oculta outros e

outras estruturas, das quais não se pode prejulgar o papel e, portanto, não pode negligencia-lo.”

A realidade e a essência dos espaços são capazes de admitir-se a partir

comunicação dos métodos. Em que o autor possibilita uma nova metodologia e

ferramentas ao geógrafo, quando discute a possibilidade de tanto a fenomenologia

quanto a dialética marxista de trabalharem em conjunto no trabalho de campo,

funcionando como estratégias complementares, buscando sempre, a construção da

síntese entre sujeito e objeto.

A título de conclusão, o autor reafirma o trabalho de campo na geografia como a

como a base da pesquisa e da produção do conhecimento geográfico. Reafirmando a

posição central do conceito de espaço. Aproximando os conceitos, teorias e

procedimentos metodológicos como uma análise orgânica e coerente nos trabalhos de

campo/pesquisa desenvolvidos pelos geógrafos.

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Ricardo Baitz:

BAITZ, Ricardo. A implicação: um novo sedimento a se explorar na Geografia?

Boletim Paulista de Geografia, v. 84, p. 25-50, 2006.

Com o título: A implicação um novo sedimento a se explorar na geografia,

Ricardo Baitz procura introduzir as aplicações da “implicação” no Trabalho de Campo.

Apresentando o pesquisador implicado, implicação sem limites/ sobreimplicação;

implicação e pedagogia; implicação e foco na pesquisa; (im)possibilidade da

implicação, o autor sugere este, como o conceito central das discussões deste artigo

baseado na sociologia e pedagogia. “A implicação significa reunião e seu pressuposto é

a divisão que deve ser trabalhada de modo a remontar a unidade cindida, agora em

outro patamar, de forma complexa, com as partes costuradas pelo seu interior”.

(BAITZ, 2006, p. 32)

A exceção de alguns trabalhos, a pesquisa de campo é um pressuposto na

geografia. Transcrição (descrição), representação (cartografia) e modificação

(planejamento) são atividades desempenhadas pelos geógrafos que se remetem, em

algum momento, ao trabalho no terreno.

A apropriação da ciência para esta e técnica, aponta incialmente uma discussão

do “esquartejamento” do mundo em partes, que apontou “progresso” na medida em que

saía do estágio primitivo da separação e adentra à articulação, que foi inicialmente

externa e posteriormente interna, chegando a dialética.

Ainda sim observa que ao sair do gabinete e ir a campo, os cientistas (etnólogos)

romperam a ética instituída até então, que foi na época considerado como uma audácia,

nos revela Baitz. Esta prática, revelou uma nova objetividade a ciência, como se segue:

“Ir a campo e senti-lo tornava mais completa e complexa a pesquisa, além de suscitar

questões até então ofuscadas”. (BAITZ, 2006. p. 29)

2 - Ricardo Baitz

Conceitos:

Implicação; instituições, exposição.

Temas para debate:

A implicação como metodologia para o Trabalho de Campo

A relação sujeito implicado x objeto implicado; (sujeito-objeto)

A aproximação com o objeto/pesquisador sujeito ativo

A não neutralidade da ciência

Implicação e pedagogia

Implicação e participação

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O processo de conhecimento é aliada a junção do sujeito e objeto, ou seja, sem

hierarquização das relação de ensino e além disso, relação de conhecimento. Desta

maneira, o autor adverte e observa a ética na pesquisa sobre uma possível interferência

do sujeito (pesquisador) em relação ao objeto: A ética nos obriga a tomar distância e a

nos afastar desse “contato”, pois estaríamos “contaminados” por emoções e outros

sentimentos que ofuscariam a objetividade da ciência.

A auto-análise é tratada como um “testemunho” para a “descontaminação”.

Baitz, ironiza que ninguém gosta de ser objeto de análise, nem mesmo a ciência e os

cientistas. O autor cita o dito popular “em casa de ferreiro o espeto é de pau”

comparando o mundo científico atual, observando que “nem todos estão dispostos a

arcar com o peso de suas próprias verdades”. Ou ainda assim, quando o objeto é seu

próprio habitat, é aconselhável que outros também venham a contribuir de modo a

manter o rigor científico, quando também implica em deixar-se analisar, analisar os

motivos mais íntimos de uma pesquisa. As relações do sujeito objeto e demais

pertencimentos institucionais de uma pessoa, lembrando o mandato social do

pesquisador.

Todos estes são pressupostos da implicação, vão dar a “unicidade” e montar um

quadro complexo. Baitz recorre a Morin4:

O problema chave não é reduzir nem separar, mas diferenciar e juntar.

O problema-chave é o de um pensamento que uma, por isso, a palavra

complexidade, (...) é tão importante, já que complexus significa “o que

é tecido junto”. O pensamento complexo, é o pensamento que se

esforça em unir, não na confusão, mas operando diferenciações.

(MORIN, 1999 apud BAITZ, 2006 p. 32)

No subtema “sobreimplicação” ou implicação sem limites, o autor posiciona-se a

favor de uma avaliação, objetivando uma qualidade significativa do aluno. Na análise

sobreimplicação, o autor coloca que a implicação não é neutra, ela é participativa,

dialética e remete a um pesquisador enquanto um sujeito ativo no campo e é sempre

presidida por mais de uma pessoa, que nem sempre está na academia, explorando o

movimento de participação e comunhão do conhecimento.

Também é anunciado nos debates sobre o sujeito e objeto neste tipo de pesquisa

no campo, a referência sobretudo nas ciências sociais por ter uma relação muito íntima

com o objeto. Soma-se a este, o olhar sociológico, que então, o autor resume a

implicação como um “estado da arte”, em suas palavras parece que é algo que abarca

4 MORIN, Edgar. Por uma reforma do pensamento in PENAVEGA, Alfredo e NASCIMENTO, Edgar

Pinheiro do. O Pensar complexo: Edgar Morin e a crise da modernidade. Garamond, Rio de Janeiro,

1999, p. 33.

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todas as “atmosferas”. E organiza o objeto como o atravessador do sujeito. “Por

definição a escolha do ofício implica em tempo integral”.

Nas práticas pedagógicas por um esforço ao conhecimento, quando cita Paulo

Freire, em que coloca a relação educador – educando – conteúdo, o Trabalho de Campo

é como um meio para a implicação. Também faz parte da prática a apresentação da

análise, o autor indica na obra de Lefrebvre quando ele cita a respeito do que Baitz diz

ser o método mais clássico: “após a análise, vem a exposição. Se esta se realiza com

êxito, a vida do objeto considerado e o movimento da matéria estudada reflete-se nas

ideias expostas. A tal ponto que os leitores imaginam, por vezes, encontra-se perante

uma construção a priori do objeto”.

A relação entre o pesquisador e o objeto, entre pesquisador e instituição, entre o

pesquisador e a ciência (...). A aproximação se faz como combate à propensa

(inexistente) neutralidade revelada como forma de obter maior objetividade. (BAITZ,

2006. p. 43)

O autor convida-nos a refletir sobre a hierarquia, a dialética como uma

apontamento de um progresso no modo de se pensar e compreender o mundo não

significa que haja uma hierarquia entre os pensamentos. “A história demonstra o

contrário, pois o movimento de progresso admitiu também o retrocesso, especialmente

quanto a adoção de formas dogmáticas de entendimento (...). Deste modo a implicação

projeta-se contra as formas hierarquizadas, na questão de que os fragmentos

demonstram o todo, e o que é banal e latente aos olhos, conduz complexidade,

lentamente e ruma ao essencial”.

Por fim, o autor convida a implicar-se, a refletir sobre as suas próprias

implicações e a pratica-las. Parece convidar a uma metodologia de questionamentos e

apontamentos no trabalho de campo. Como um diálogo entre o sujeito e além dos

campos de visão que o norteiam. Ainda que exaustivo, o conceito de implicação é

interessante porque aponta e evidencia a necessidade de busca em outras ciências.

Mostra também o trabalho de campo como uma metodologia de pesquisa, participativa,

sugerindo uma relação interessante de mundo, oportunizando a busca e compreensão

através da implicação.

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3 - Alentejano, Paulo R.R & Rocha-Leão, Otávio M

Conceitos:

Modelos de evolução da paisagem; Monitoramento de campo; escala,

expedição/exposição

Temas para debate:

Trabalho de Campo e teorias geográficas; articulação entre teoria e prática

Importância do Trabalho de Campo para a pesquisa e o ensino de geografia

O Trabalho de Campo como ferramenta à serviço do geógrafo

A AGB como difusor da ciência a partir das práticas com Trabalho de Campo

Perigos que rondam a banalização do Trabalho de Campo

Teoria e método

Dicotomias na Geografia

Ação transformadora

Tecnologias da Informação

Alentejano, Paulo R. R. e Otávio Miguez da Rocha Leão

(Rocha-Leão, Otávio M. )

ALENTEJANO, Paulo Roberto Raposo; Otávio M. ROCHA-LEÃO. Trabalho de

Campo: uma ferramenta essencial para os geógrafos ou um instrumento banalizado?

Boletim Paulista de Geografia, v. 84, p. 51-67, 2006.

Neste artigo: “Trabalho de campo: uma ferramenta essencial para os geógrafos

ou um instrumento banalizado?”, os professores geógrafos da Universidade Estadual do

Rio de Janeiro (UERJ), trabalham a importância do Trabalho de Campo para os

geógrafos, bem como os problemas que envolvem esta ferramenta.

Com um conteúdo emblemático sobre geografia, o artigo é construído a partir de

um “diálogo” entre os professores. Um geógrafo geomorfológico, já o outro geógrafo

humano, tendencioso no campo da sociologia, sugerem assuntos como: o Trabalho de

Campo e a teoria; a importância do trabalho de campo para a pesquisa e para o ensino

de geografia, e; sobre os perigos que rondam a banalização do Trabalho de Campo.

Iniciam com uma formulação da geografia como ciência e a função do Trabalho

de Campo desde os primórdios e comentam sobre o legado empirista que da geografia,

entretanto, que:

(...) se o legado foi fundamental para a consolidação da Geografia como

ciência, deixou também uma forte marca empirista. Assim, nos primórdios, o

trabalho de campo que era parte fundamental do método, aos poucos vai se

transformando no próprio método, isto é, de parte do método, torna-se o

método, fruto do predomínio de uma concepção empirista que despreza a

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teoria e atribui à descrição da realidade a condição de critério de verdade.

(ALENTEJANO & ROCHA-LEÃO, 2006 p. 53)

Ressaltando esta dimensão do empirismo presente na Geografia, (THOMAZ Jr.

2005 apud ALENTEJANO & ROCHA-LEÃO, 2006 p. 53) sustenta que as principais

concepções formuladas a respeito do Trabalho de Campo são: (1) “sem pesquisa de

campo ninguém tem direito a falar” Mao Tsé Tung; (2) “chega de teoria, o importante é

fazer”; (3) primado da descrição sobre a reflexão teórica; (4) espaço da síntese entre os

– mantidos separados – elementos físicos e humanos.

Tais concepções revelam não apenas o empirismo dominante na Geografia, mas

também a separação entre uma Geografia dos homens e uma Geografia da natureza,

como se fossem realidades absolutamente distintas. Neste sentido, revela o caso da

geografia brasileira e a permanência dos paradigmas da geografia.

É da mais significativa relevância, respaldar a teoria que tenho às mãos, neste

sentido, Alentejano destaca “a contribuição da Associação dos Geógrafos

Brasileiros (AGB) para a difusão dos trabalhos de campo como ferramenta

fundamental dos geógrafos, pois seus primeiros congressos representavam

um espaço privilegiado de produção da Geografia brasileira, com destaque

para as excursões que promovia, as palestras que organizava e os textos que

publicava no âmbito do Boletim Geográfico.” (ALENTEJANO, 2002, p. 146

apud ALENTEJANO 2006, p. 54)

Todo este acúmulo foi jogado por terra a partir dos anos de 1970, quando no

rastro da hegemonia da Geografia Teorético-Quantitativa os trabalhos de campo

passaram a ser execrados e praticamente riscados do mapa das práticas dos geógrafos,

sob o argumento de que as tecnologias da informação e os modelos matemáticos seriam

instrumentos mais adequados para a investigação da realidade. (ALENTEJANO &

ROCHA-LEÃO, 2006)

Também no movimento inicial da Geografia crítica, a radicalização crítica ao

empirismo dominante na Geografia tradicional levou a uma negação da validade do

trabalho de campo como instrumento de construção do pensamento geográfico, em

função da ênfase conferida à teoria. (ALENTEJANO & ROCHA-LEÃO, 2006)

(...) chegou-se ao exagero de somente valorizar as contribuições teóricas de

fundamentação marxista (...) e negligenciaram-se as contribuições anteriores

e, principalmente, o conhecimento empírico produzido com base em

trabalhos de campo. Quando hoje se volta a valorizar a técnica, com apoio

nos novos instrumentais (sensoriamento remoto, SIGs), deve ser ressaltado

que são, somente, instrumentos e não fundamentos. A difícil aliança entre a

teoria e a prática instrumental tem de ser perseguida e sempre alicerçada na

pesquisa de campo.” (RUA, 1997, p. 45 apud ALENTEJANO & ROCHA-

LEÂO, 2006. p. 55)

As dificuldades de articulação entre teoria e prática se entrecruzam com o

problema da dicotomia entre Geografia Física e Humana, pois, apesar dos discursos que

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pregam uma visão integradora da Geografia, no sentido de não se isolarem as variáveis

físicas e sociais responsáveis pela produção do espaço geográfico, o olhar do

pesquisador, historicamente já impregnado da dicotomia físico-humana, acaba por

produzir, na maioria das vezes, uma abordagem eminentemente social ou natural sobre

os fenômenos manifestados na superfície terrestre. (ALENTEJANO & ROCHA-LEÃO,

2006, p.55)

Nesse sentido, com exceção da Geografia Regional francesa do início do século

XX, as pesquisas de campo em Geografia trilharam o caminho da especialização em

fenômenos da natureza ou da sociedade, sendo portanto necessária, embora dolorosa,

uma separação entre Geografia Física e Humana, pelo menos para uma avaliação de

como os procedimentos de campo evoluíram até aqui, e como refletiram na produção de

um conhecimento fragmentado da realidade, via fortalecimento das especialidades.

(ALENTEJANO & ROCHA-LEÃO, 2006. p.56)

Por tratar-se de um diálogo entre os geógrafos Físicos e Humanos, era esperado

que tais conclusões levassem para este caminho mesmo. Mas é relevante observar, o

percurso do pensamento geográfico, a importância da AGB para a difusão dos

resultados dos trabalhos de campo desenvolvidos, apesar de ter sido interrompida, a

corrente do pensamento geográfico baseado na ferramenta de campo, volta as páginas

da AGB, embora sem a centralidade que era lhe dada. As Além de outras ferramentas

advindas do movimento de avanço tecnológico que dão suporte à geografia.

Observa-se neste sentido uma bifurcação na história do pensamento geográfico,

pois, tanto a Geografia Humana quanto a Geografia Física trilharam o caminho do

positivismo e do neopositivismo, porém, o mesmo não se verificou em relação ao

materialismo dialético e à fenomenologia, que se desenvolveram na Geografia Humana,

mas praticamente não tiveram penetração no âmbito da Geografia Física, na qual, por

sua vez, desenvolveu-se a teoria geral dos sistemas – que teve menos expressão no

âmbito da Geociências.

Outro subtema que o autor se preocupa em responder é sobre a relação teoria e o

método. Salienta que o Trabalho de Campo é o momento de articulação entre a teoria e

o método e não somente reduzido ao mundo empírico. Neste sentido, o autor cita a

prática-teórica, ou seja, o Trabalho de Campo como um processo de construção do

conhecimento, que, aliado a teoria vão revelar a essência dos fenômenos geográficos.

Deste modo, a observação da paisagem apenas torna-se inviável, pois não se

pode reduzir a este exercício apenas. Para isso a relevância dos conceitos geográficos de

mediar as dinâmicas ocorridas no espaço. Neste artigo também, evidenciamos a

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centralidade do conceito de espaço, assim como os conceitos que vão mediar, como por

exemplo, a articulação das escalas.

Bernard Kaiser é citado por compreender o Trabalho de Campo como uma

ferramenta a serviço do geógrafo, desde que seja articulada com a teoria, capaz

possibilitar uma conexão da empiria com a teoria, ou seja, o Trabalho de Campo é um

meio para o geógrafo e não um objetivo em si mesmo.

Deve-se acrescentar ainda a este artigo, o Trabalho de Campo e sua utilização

para fins de pesquisa, ressaltando o método e a teoria, a utilização de tecnologias como

instrumentos para o método.

Ademais, apesar dos entraves e dos paradigmas da geografia, o autor sustenta a

utilização do Trabalho de Campo como instrumento de pesquisa, como vimos acima e

para fins didáticos para o Ensino de Geografia, ressaltando principalmente os problemas

que professores se envolvem ao optar por esta ferramenta. “Os professores nas

diferentes paradas que previam no percurso, fazem um discurso diante dos estudantes

passivos”, sabiamente colocado por Lacoste (LACOSTE, 1985. p 13 apud

ALENTEJANO & ROCHA-LEÃO, 2006 p. 63)

Talvez, seja interessante retratar este momento, porém outros aspectos devem

ser considerados ao sair à campo com os alunos de ensino médio e fundamental. Estas

excursões, como são chamadas, se forem previamente preparadas, podem efetivar um

olhar problematizador do aluno e preparar para o que vão observar. Muito embora, que

é no campo que a realidade social e naturais se entrecruzam. Nesse sentido:

(...) a elaboração de roteiros de campo com a preocupação de evidenciar os

fenômenos naturais e sociais (e principalmente a integração entre eles) que

modelam a superfície terrestre pode se tornar um importante instrumento

integrador, na formação de novas gerações de geógrafos mais atentos a

relação físico-humana, sem necessariamente negligenciar o avanço-

verticalização das espacialidades. (ALENTEJANO & ROCHA-LEÃO, 2006

p. 64)

Ou seja, no ensino também constata-se a articulação de escalas de análise,

cuidados para não fragmentar a realidade, ficando preso ao terreno humano e/ou físico,

além de implementação de atividades de monitoramento, ligadas diretamente à

geografia física.

Para além destas questões sobre pesquisa e o ensino, o Trabalho de Campo

ganha espaço novamente no cenário geográfico. Advertiu-se durante o artigo, a opção

pela escolha do Trabalhos de Campo com objetivo de servir a acumulação privada,

porém, diga-se de passagem, isto é opcional. Um trabalho de campo elaborado com

rigor, que fuja da crise de instrumento banalizado, precisa estar comprometido em

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desvendar os mecanismos de construção de dominação e exploração, comprometido,

sobretudo, com a transformação da realidade. Paralelamente a isto:

É interessante para estes resultados de pesquisa de campo que sejam

transmitidos para o povo, deste modo, o trabalho de campo deve vim

associado a duas faces: a articulação entre teoria e prática; e olhar crítico da

realidade associada à ação transformadora. (ALENTEJANO & ROCHA-

LEÃO, 2006 p. 64)

Algumas observações sobre este capítulo, podemos perceber que ao iniciar um

diálogo entre os autores, procura-se uma (re)aproximação dos campos da geografia,

desde que, contudo, estejam dispostos em revisar a teoria e a prática para a construção

de conhecimento.

4 - Luis Antônio Bittar Venturi

Conceitos:

“Pensar e Fazer”, trabalho científico, Instrumentos tecnológicos – “sedução da tecnologia”, Laboratório,

Trabalho de Campo, “gabinete”.

Temas para debate:

Método e técnica são complementares;

Trabalho técnico x trabalho científico;

As técnicas evoluem segundo a necessidade do homem;

Domínio da técnica = complexidade das novas tecnologias x opção de utilização de instrumentos

mais simples.

Técnicas de laboratório

Técnicas de trabalho de campo = planejamento flexível.

Objetos de estudo específicos para técnicas específicas;

Luis Antônio Bittar Venturi

VENTURI, Luis Antônio. O papel da técnica no processo de produção científica. In:

Boletim Paulista de Geografia, v. 84, p. 69-76, 2006.

Iniciaremos a análise do texto de Venturi, observando o papel da técnica no

processo de construção do conhecimento, pois “as ciências que trabalham os mais

diferentes aspectos do mundo real, (...) as técnicas exercem um importante papel no

processo de produção científica”, observando que o método e a técnica e instrumentos

são complementares, ou ainda que o uso da técnica possibilita obter dados sobre a

realidade que embasarão os caminhos percorridos pelo método.

A essas afirmações o autor comenta sobre a técnica utilizada no trabalho

científico (diferenciando o trabalho técnico x trabalho científico), garantindo ao método

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lugar privilegiado na problematização da pesquisa. Para o pesquisador, Venturini alerta

sobre a consciência do significado da técnica e de seu papel no processo de produção

científica, para isso, deve prescindir um verdadeiro domínio da técnica.

Impulsionados pelo mercado, o avanço tecnológico, possibilita e cria

possibilidades para as técnicas evoluírem. Estas são impulsionadas de acordo com as

necessidades de seu tempo e ganham complexidade à medida que desvenda outras. Vale

admitir que o homem que cria suas técnicas para suas próprias necessidades e se

colocam diante de um jogo de sedução tecnológica (ainda que inconscientemente).

Na lógica do mercado, muitos instrumentos (como variados softwares e

satélites) e técnicas a eles associadas desenvolvem-se com espantosa rapidez.

A tecnologia desenvolvida para atentar as necessidades de produtividade e

lucro, inegavelmente traz muitos benefícios para a humanidade em diversas

áreas (...). Novas descobertas tecnológicas podem tanto atender as

necessidades reais quanto aquelas criadas artificialmente para manter a

dinâmica de mercado (telefones celulares com jogos, câmeras fotográficas

digitais cada vez mais potentes, etc...). Entretanto se seu acesso é restrito pelo

pode aquisitivo iníquo. Ainda que haja o discurso da massificação da

tecnologia, paradoxalmente, o acesso a ela não é universal. (VENTURI,

2006, p. 71)

Ademais, o processo de produção científica corresponde por três etapas: 1.

Escolha da técnica; 2. Custo benefício; 3. Viabilidade. Isso significa, que a utilização de

uma técnica atual requer complexidade de manuseio, coisa que, se optar por uma

técnica mais simples acaba dando o mesmo resultado em menos utilização de

complexidade. Solução das técnicas, é a escolha de técnicas simples para um processo

que supra os itens 2 e 3.

Ao fim ao cabo, o autor diferencia o laboratório das práticas de campo,

resolvendo a equação de produzir ciência da seguinte maneira: No trabalho de campo o

planejamento deve ser flexível, já no laboratório a previsão é mais estática. De qualquer

maneira, o uso da técnica específica para o objeto específico se faz tanto nos trabalhos

de campo, quanto nos laboratórios.

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5 - Yves Lacoste

Conceitos:

Responsabilidade do pesquisador; resultados de pesquisa; expedição/exposição; sujeito-objeto de

pesquisa; paisagem; evocação da paisagem; relação homem-natureza;

Temas para debate:

A pesquisa e o Trabalho de Campo: problemas de ordem política;

O papel da universidade; - pesquisa coletiva x pesquisa individual;

O papel social do pesquisador; - propor soluções/comunicar os resultados, o que provocará no

grupo estudado?

Compromisso com a organização;

Formação teórica + prática + articulação de escala;

O “poder” da pesquisa;

O papel do Estado e das grandes empresas;

O monopólio das tecnologias;

Dificuldades orçamentárias;

Expedição/Exposição

Yves Lacoste:

LACOSTE, Yves. A pesquisa e o trabalho de campo: um problema político para os

pesquisadores, estudantes e cidadãos. Revista Heródote nº 8, out./dez. páginas 3 à 20,

1977. In: Boletim Paulista de Geografia, v. 84, p. 77-92, 2006.

“A pesquisa e o trabalho de campo: um problema político para os

pesquisadores, estudantes e cidadãos”, é um texto publicado originalmente em francês,

em 1977, pela revista Heródote (nº 8, out./dez. páginas 3 à 20) em que Yves Lacoste

argumenta sobre problemas da pesquisa de campo que são raramente evocados, talvez

porque sejam fundamentais.

É preciso uma estruturação para a operação de construção do saber, onde

reconhecer e denominar os elementos em função de uma problemática e pressupostos

inerentes. “Sobretudo, colocar problemas políticos, e primeiramente a

responsabilidade do pesquisador face aos homens e mulheres que estuda e cujo território

analisa”. Ainda sim, o que se torna evidente é a multiplicação de pesquisas de toda

ordem, fator este que implica em inumeráveis publicações científicas, que privilegiam o

Estado e os grupos privados de grande ordem para elaborar e executar projetos que por

razões de impossibilidade de revisão de todo o material, tornam vãos.

Ao ilustrar tal situação, Lacoste induz a uma reflexão sobre os paradigmas da

geografia, “que mesmo uma pesquisa que recaem sobre as características físicas de um

território, não deixam por isso, de dizer menos a respeito da população que ali vive, na

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medida em que seus resultados tornam mais eficazes uma intervenção ali”. (LACOSTE,

2006, p.77)

A propósito de Pierre Gorou e das belezas do Delta, Lacoste procura elucidar

questões que foram criticadas em relação á “evocação da paisagem” do Delta, que

tratavam de descrições longas da paisagem. As respostas às críticas vieram da

organização dos fatos e o fator de esconder a miséria e posteriormente as guerras que

aconteceram nesta localidade.

A Respeito do conceito de paisagem, Lacoste colocou as belezas do Delta

(texto) foi um meio, inconsciente, para Pierre Gorou afastar-se do problema da miséria e

escamoteá-la, pois também não comentara no texto sobre a repressão e a terrível fome

que a população passara. Ainda sim, havia escrito que o Delta era um exemplo da

harmonia perfeita entre homem e natureza, também, chamada de “harmonia das

paisagens”.

Outrossim, com mais forte razão, a população ignorará todo o resultado que

fora lhe inscrito. Por esta razão, Lacoste insiste que é preciso a responsabilidade frente a

população que estudou também “no esforço em comunicar os resultados aos homens e

mulheres que foram objetos de pesquisa, pois estes resultados conferem poder a quem

os detém.”

Quanto ao problema da responsabilidade do pesquisador e ao das relações

que deveriam estabelecer-se entre o intelectual e a população que é seu centro científico.

Como Lacoste diz: são homens e mulheres que tomamos partidos, traduzido como

objeto de pesquisa. Por isso, é preciso estabelecer uma relação pesquisador-pesquisado,

de quem é importado problemas políticos, para que possibilite o confronto de

experiências.

Também é colocado quando a lógica do poder, o monopólio em relação as

novas tecnologias de informação e arquivamento de dados por meio de computadores,

sendo o Estado o financiador de investimentos para estas pesquisas. No tocante à

universidade, críticas rebatedoras quanto a dificuldade orçamentária para o fomento de

produção de tecnologias e organização de pesquisas de campo.

Outro problema instaurado na universidade é a experiência do estudante em

pesquisas, limitando-se como objeto de reprodução. O que é importante, segundo

Lacoste, é a organização da pesquisa e o compromisso com a responsabilidade na

relação sujeito –objeto. Tanto numa pesquisa coletiva (geralmente associada a uma

pesquisa da gradação) quanto numa pesquisa individual (mestrado).

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Para isso Lacoste propõe uma renovação do pensamento para uma

transformação democrática da relação da pesquisa de campo, organizando a relação

“expedição/exposição”. Trata-se de compartilhar a formação teórica, as práticas, que

são insuficientes se não trabalhadas em harmonia, e articulação da escala sob a questão

e o que este estudo provocará no grupo estudado. Desta maneira, são colocados

problemas que lhe dizem diretamente e para Lacoste, os resultados obtidos, tem poder

na mão de quem os detém por isso a importância de apresentação os resultados.

6- Bernard Kaiser

Conceitos:

Sub-sistema; análise de situação, análise local, análise histórica; local/global

Temas para debate:

A importância da pesquisa de campo;

Pesquisador = cidadão;

Tipologia do trabalho de campo para o levantamento social;

Pesquisa geográfica de campo específica?;

Proposta de metodologia: referências bibliográficas do local + formação teórica + repercussão

da hipótese;

Proposta social: conflitos e problemas; lutas de classes;

O cotidiano = o indecifrável;

Justificativa da pesquisa e a responsabilidade do pesquisador;

Valorização da utilização do saber da população local;

Bernard Kaiser:

KAISER, Bernard. A implicação: um novo sedimento a se explorar na Geografia? In:

Boletim Paulista de Geografia, v. 84, p. 25-50, 2006.

Em O geógrafo e a pesquisa de campo, Bernard Kaiser propõem uma releitura

do artigo publicado pelo autor na revista na Revista HERODOTE nº IX, sob o título:

Sans Enquête, pas de iroit à la parole. Traduzido do original em francês por Antonia D.

Erdens e publicado no Seleção de Textos nº 11.

O artigo procura trabalhar os fundamentos, métodos e práticas para as pesquisas

de levantamentos sociais. Inicialmente a questão do Trabalho de Campo como

instrumento obrigatório para o cidadão, guiado pelos pensamentos de que pesquisador

não se destaca do homem, do cidadão, frequentemente, ele é ao mesmo tempo um

professor, o que multiplica suas responsabilidades.

Existirá realmente uma pesquisa geográfica de campo específica? Em resposta

pode-se recortar do texto que: “na verdade os objetivos são bem mais amplos, (...) pois

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trata-se de descobrir, dentro da sua complexidade e globalidade, a realidade de um sub-

sistema social localizado”. E ainda que “Se o levantamento, deseja atingir o cerne da

realidade para coletar elementos necessários á análise e à explicação , ele deverá

penetrar nas forças e nas relações de produção, explorar os níveis ideológicos e cultural

da dinâmica social.”

Não se trata pois, de uma receita metodológica. A análise da situação, é um

projeto, sendo o método fundamental para se conhecer uma situação. Sendo a situação,

na ótica social, complexa, condicionada a processos e mecanismos interpenetrados cujo

estudo aprofundado necessita da exploração de todos os aspectos econômicos, culturais,

políticos e ideológicos, tanto no presente, quanto no passado.

Como fazer esta análise. Segundo Kaiser, o quadro de referencias de análise

local. É a pesquisa indispensável à análise da situação social, vendo como uma

justificativa a pesquisa de campo a serviço do povo. A situação social é antes de mais

nada um produto da história, das lutas das classes e do modo como ela traduz-se no

terreno. Estes processos intervém os mais diversos atores: grupos sociais, aparelhos do

Estado, instituições, mídias e ideologias.

Por fim, para Kaiser, a visão é social e não espacial. O espaço, segundo ele, não

pode ser estudado pelos geógrafos como uma categoria independente e sim como

estratégia, somando-se a articulação local/global.

7- Valéria de Marcos

Conceitos:

Pesquisa-participante; produção-comunitária; processo ensino-aprendizagem, ação educativa, totalidade.

Temas para debate:

Discute a importância do Trabalho de Campo na geografia;

A pesquisa participativa como metodologia e experiência;

A forma de realização da pesquisa participante;

A finalidade da pesquisa e os resultados que poderia deixar às comunidades estudadas;

A postura do pesquisador durante sua aproximação com a comunidade - “A chegada e a

permanência do estranho” - ;

A diferença da compreensão temporal para o pesquisador e a comunidade que estuda; visão

local;

A importância do olhar na realização da pesquisa;

Valéria de Marcos:

MARCOS, V. Trabalho de campo em Geografia: reflexões sobre uma experiência de

pesquisa participante. Boletim Paulista de Geografia, v. 1 n 84, p. 105-136, 2006.

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Este artigo discute a importância do trabalho de campo na geografia, a partir de

uma experiência na comunidade Japonesa (localizada em São Paulo). Trata-se de uma

discussão do Trabalho de Campo participativo na geografia, principalmente as formas

de realização de uma pesquisa participante, envolvendo o compromisso do pesquisador

com a comunidade e a postura do pesquisador durante a aproximação e permanência na

comunidade. “Pensar o trabalho de campo enquanto técnica e trazer para a reflexão

questões que devem nortear nossa prática e postura enquanto pesquisadores”.

A chagada a área de estudo é um momento delicado no artigo, em que a autora

procura elucidar sua experiência em relação a apresentação e sua (com)postura para que

haja um elo de ligação entre o pesquisador e a comunidade. O momento da aceitação da

comunidade torna-se algo fundamental no início da pesquisa, pois é assim que conquista

detalhes que parecem funcionais na análise final. Desde sempre, o pesquisador deve

então, manter o olhar estrangeiro, aceitando as dinâmicas e de certo modo deixando

participar, a fim de contribuir com a realização de seu estudo.

A importância do Trabalho de Campo na visão de Valéria de Marcos já vem

comunicada como um instrumento didático e de pesquisa de fundamental importância

para o ensino e pesquisa em geografia.

Enquanto recurso didático: é o momento em que o aluno visualiza tudo

aquilo que foi visto em sala de aula, em que a teoria se torna realidade, se

“materializa”. Ainda comento que assim o planejamento é um momento de

importar-se pela produção do conhecimento, ou seja, a relação ensino-

aprendizagem. Enquanto instrumento de pesquisa: é um dos mais importantes

para a construção do conhecimento geográfico, momento em que o tema se

torna realidade, exercitando o olhar com profundidade e observação para

além daquilo que havia sido considerado. (MARCOS, 2006, p. 106)

A discussão também é feita a partir de uma análise da dimensão temporal do

pesquisador em relação à comunidade que estuda, o olhar na realização da pesquisa, a

escolha da finalidade da pesquisa e os resultados previstos. Estes fatores são os atributos

que caracteriza a pesquisa participante. Além disso, o papel do pesquisador é uma das

reflexões que são cabíveis na preparação para a ida a campo.

A ida a campo significa a participação na pesquisa (conhecer melhor os

pesquisados) por isso, apesar do planejamento, a abordagem deve ser flexível, podendo

haver a soma ou extração de conteúdo.

Ainda sim, é colocado a questão da ética na pesquisa, sob a indagação: O que

fazer com os dados coletados? Como forma de resposta podemos recortar o seguinte

conceito: ação educativa, que Valéria de Marcos assimila com o conhecimento

produzido na pesquisa deve ser restituído a comunidade, de modo a permitir, a um só

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tempo, o aumento da consciência que possuem de si próprios e de sua capacidade de

iniciativa transformadora.

Neste artigo, também são colocadas questões relativas a teoria e a prática e sobre

o método. Chama a atenção a problemática que é dada na experiência em uma

comunidade de camponeses, extraindo a possibilidade da visualização de um outro

conceito geográfico, a relação campo/cidade, mostrando-se como um “passaporte” para

pesquisas culturais.

2.2. Análise das referências

- Tabela de Referências:

Referência citadas nos artigos Ocorrências YVES LACOSTE (1,2,3,4,5,6) 6 MAO TSÉ TUNG (3,6,7) 3 BERNARD KAISER (3,4,6) 3 MILTON SANTOS (1;4) 2 HENRI LEFBVRE (1,2) 2

PAULO FREIRE (2) 1 ANTÔNIO CHRISTOFOLETTI 1 PAUL CLAVAL (1) 1

Obs.: As referências estão organizadas dos mais referenciados e na sequencia oferecida pela BPG.

Diante desta tabela, devemos considerar as citações em Yves Lacoste,

privilegiando um debate a cerca da reponsabilidade política do pesquisador, “É preciso

sobretudo colocar problemas políticos, e primeiramente, a responsabilidade do

pesquisador face aos homens e mulheres que estuda e cujo território analisa”

(LACOSTE, 2006, p. 77); o poder da pesquisa:

“É normal que o pesquisador se desinteresse da sorte da população

que estudou? É normal que esta permaneça na ignorância das

pesquisas das quais foi objeto? Este problema, da responsabilidade do

pesquisador face aos homens e às mulheres que estuda e cujo território

analisa, Hérodote colocou em seu primeiro número, e pelo menos em

meu conhecimento, somos ainda quase os únicos a afirmar que é

preciso não parar a pesquisa, atitude negativa e perfeitamente

irrealista, mas esforçar-se em comunicar os resultados aos homens e às

mulheres que foram objetos delas, pois estes resultados conferem

poder a quem os detém. (LACOSTE, 2006, p. 78)

Também, questiona o papel da universidade, contemplando a discussão de

pesquisa coletiva x pesquisa individual; O papel social do pesquisador; propondo

soluções/comunicar os resultados, sob o questionamento: “o que provocará no grupo

estudado?”; O trabalho de Campo deve haver compromisso com a organização; além

da formação teórica + prática + articulação de escala; Lacoste comenta também sobre

o papel do estado e das grandes empresas e o monopólio das tecnologias.

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Isso acaba oportunizando um debate sobre Trabalho de Campo com base na

publicação original de Yves Lacoste e são diversos os autores optam por utiliza-lo como

referência para pesquisa quanto o assunto é Trabalho de Campo em Geografia.

Milton Santos, as citações ficaram por conta da relação do espaço na formatação

do Trabalho de Campo. Este é uma das “faces” em que o geógrafo se detém a ser

referenciado constantemente, entre outros, quanto à compreensão da relação e interação

dos “elementos” do espaço, a noção de “causa-efeito”, “espacialização funcional” e

“totalidade verdadeira”, este contidos em Henri Lefbvre, citado também como

referência para o ensino de geografia.

Bernard Kaiser também é referência, quando os autores se apoiam na ação do

sujeito da pesquisa e a valorização do saber local na pesquisa. Mao Tsé Tung marcou

presença com a frase: “sem Trabalho de Campo ninguém tem direito a falar.” Outras

discussões presentes, serão requisitadas durante o texto, como o caso de Antônio

Christofoletti (ver livro: Perspectivas da Geografia, DIFEL, 1985 – Capítulo 2. Paul

Vidal de La Blache As características próprias da Geografia; Capítulo 7. Yi-Fu Tuan,

Geografia Humanística e Capítulo 8. Apreendendo o Dinamismo do Mundo Vivido –

Anne Buttimer), Paul Claval (A Geografia Cultural) e Paulo Freire (Trabalho de Campo

e Pedagogia – métodos de síntese na relação sujeito-objeto), pois tratam-se de leituras

complementares.

2.3. Considerações do Capítulo:

O conteúdo do Boletim revela a reflexão teórico-metodológica, introduzida

pelos autores com nomenclaturas diferenciadas na análise, mas que tencionam a mesma

leitura tais como: teoria e metodologia, teoria e método, Trabalho de Campo e teorias

geográficas (remete-se a história do pensamento geográfico),estes termos comportam-se

como a “tradução” do Trabalho de Campo:

Aos poucos tal prática foi assimilada, especialmente porque – e isso é

por demais importante – descobriu-se que ela não rompia com a

ciência, mas trazia à tona uma nova objetividade; ir ao campo e “senti-

lo” tornava mais complexa e completa a pesquisa, além de suscitar

questões ofuscadas até então. Tratava-se, enfim, de um magnífico

avanço, uma atualização da ciência! (BAITZ, 2006, p. 29)

Entre os artigos, as constatações a respeito do Trabalho de Campo e sua

importância para a geografia, transitam ora como fator de relevância para construção do

conhecimento geográfico e para o ensino de geografia, mas também quanto a

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responsabilidade do pesquisador e revelação do objeto através de métodos, experiências

metodologias e visões de mundo diferenciadas.

Podemos então selecionar seis subconjuntos de análise que vão mediar e

construir a importância do Trabalho de Campo na Geografia (incluindo-se como

subconjunto), a partir da revisão dos conceitos e temas presentes nos Artigos do

Boletim Paulista de Geografia (BPG, NÚMERO 84. SP, JUL.2006 – O Trabalho de

Campo) e a partir da análise do quadro síntese (apêndice 1 – Quadro Síntese -

Completo):

A importância do Trabalho de Campo para a Geografia;

Trabalho de Campo e a construção do conhecimento geográfico;

A relação sujeito-objeto;

O “lugar” na realização do Trabalho de Campo e a “escala”;

A inserção de tecnologia na Pesquisa de Campo.

Teoria e Prática

Ângelo Serpa o primeiro artigo do BPG, traz o tema Trabalho de Campo como

uma especificidade disciplinar da Geografia, o autor evidencia que ”um recorte espacial

significante conceitua o geógrafo em seu objetivo para a análise espacial”. (...) É através

do Trabalho de Campo que o geógrafo organiza “as diversas possibilidades de recortar,

analisar e conceituar o espaço, de acordo com as questões, metas, objetivos definidos

pelo sujeito da pesquisa” e que Bernard Kaiser contribui com diferenciações:

A pesquisa de campo é um meio e não um objetivo em si mesma. É a

pesquisa indispensável à análise da situação social. Trata-se, repetimos, de

situação social e não de situação espacial. O espaço não pode ser estudado

pelos geógrafos como uma categoria independente de vez que ele nada mais é

que um dos elementos do sistema social. (KAISER, 2006, p. 58)

A importância do Trabalho de Campo, na visão de Valéria de Marcos já vem

comunicada como um instrumento didático e de pesquisa de fundamental importância

para o ensino e pesquisa em geografia. Nos artigos do Boletim Paulista os autores,

convergem a esse pensamento. O Trabalho de Campo é um instrumento que torna

“eficiente” e presente em todos os objetos que se propõem a analisar da Geografia, e

que:

Embora contestada, a prática da separação sujeito-objeto infelizmente

enraizou-se profundamente. Paulo Freire, para citar apenas o campo da

Educação, suplicou pela extinção da educação bancária; ou seja, O

apontamento de um progresso no modo de pensar e compreender o mundo

não significa que haja uma hierarquia entre os pensamentos. A história

demonstra o contrário, pois o movimento de progresso admitiu também o

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retrocesso. (...) Ele intensamente declarou que o professor e/ou o

conhecimento não são sujeitos face aos alunos (que por sua vez não são

objetos), mas que ambos estão em relação, indo para além do método

analítico na Educação. Embora isso, o professor que se declara aprendiz na

sala de aula nos dias de hoje continua a ser visto com suspeição de

incompetência e incapacidade tanto pelos alunos quanto pelos pais de alunos

ou pelos colegas de profissão... “Professor e aluno não se confundem”, é o

que eles dizem, hierarquizando as relações e o próprio conhecimento,

respaldando-se e dando um uso à teoria de Piaget que o entristeceria

(BAITZ, 2006, p. 27)

Em se tratando do sujeito pesquisador é nítido o debate em torno da

problematização do sujeito e do objeto, que evolui a “não” neutralidade da ciência:

Outra questão que havia também ficado clara era aquela relativa à discussão

sobre a neutralidade da ciência. Concluí o curso convencida de que não existe

ciência neutra, porque não existe ciência sem compromisso. De fato, a opção

do tema de pesquisa e de quem nos auxiliará a trilhar esta estrada revela, a

um só tempo, o compromisso e a ciência que pretendemos fazer. (MARCOS,

2006 p. 107)

Por exemplo, “a chegada e a permanência na área de estudo”, é no artigo de

Valéria de Marcos, a maneira pela qual a autora procurou elucidar sua experiência em

relação a apresentação e sua (com)postura mostrando a relação sujeito-objeto. Afirma

ainda, que deve procurar o “elo de ligação” entre o pesquisador e a comunidade. Sendo

o momento da aceitação da comunidade, algo fundamental no início da pesquisa, pois é

assim que conquista detalhes que parecem funcionais na análise final. Desde sempre, o

pesquisador deve então, manter o “olhar estrangeiro”, aceitando as dinâmicas e de certo

modo deixando participar, a fim de contribuir com a realização de seu estudo.

Anteriormente as idas a campo é importante ressaltar como o método é

importante para a análise da importância do Trabalho de Campo e na suspensão da

síntese entre sujeito e objeto e que se segue nas conclusões de Serpa:

Enquanto métodos (falando da dialética e da fenomenologia) podem

funcionar como estratégias complementares, buscando-se sempre a

construção da síntese sujeito-objeto, própria ao ato de conhecer, ora

utilizando-se da história enquanto categoria de análise, ora buscando-se

intencionalmente abstrair a historicidade dos fenômenos, visando à

explicitação de sua “essência”. (SERPA, 2006, p. 20)

Um conceito pertinente a discussão para conhecimento geográfico são as

diversificadas relações sujeito-objeto, notado uso de técnicas específicas para objetos

específicos. (VENTURI, 2006, p.76). Este tema abre um debate para as dicotomias

entre Geografia Física e Geografia Humana e os métodos que deles provém. Ainda que

haja os objetivos diferenciados cabe-nos refletir sobre a unificação ou um melhor

aproveitamento de situações gerais do Trabalho de Campo num âmbito da pesquisa

para, e somente para, o conhecimento geográfico.

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O Trabalho de Campo deve se basear na totalidade do espaço, sem esquecer

os arranjos específicos que tornam cada lugar, cidade, bairro ou região uma

articulação particular de fatores físicos e humanos em um mundo

fragmentado, porém (cada vez mais) articulado. O trabalho de campo em

Geografia deve perseguir, portanto, a ideia de particularidade na totalidade,

abandonando de modo enfático a ideia de singularidade de lugares, cidades,

bairros ou regiões. (SERPA, 2006, p.10)

Valéria de Marcos cita algumas preocupações iniciais quanto a realização do

Trabalho de Campo. Chama a atenção a relação com o “lugar”:

Como “chegar” ao local? Como nos aproximarmos das pessoas? Como

conquistar a confiança delas? Como garantir a cientificidade exigida pela

academia? Essas, e tantas outras dúvidas que nos norteiam durante a

pesquisa, fazem com que muitas vezes o tema propriamente dito assuma um

segundo plano neste momento inicial. A escolha do modo de realização da

pesquisa irá depender do tema e dos objetivos da pesquisa que devemos

desenvolver. (MARCOS, 2006, p. 106)

Devemos apreender deste conhecimento, que a escala é um conceito pertinente

na análise pois estaremos diante de um conjunto de “sub-sistema” (KAISER, 2006) ou

também por Ângelo Serpa que propõem a escala como mediadora da análise do espaço,

e que aproximam-se ao conceitos geográficos até a ampliação aos lugares.

De acordo com este conceito de “sub-sistema”, podemos nos aproximar do

conceito de “sub-cultura” emergentes nas discussões de Geografia Cultural e

principalmente no cenário social contemporâneo. Na análise de Bernard Kaiser, isto se

revela através do conceito de análise da situação:

A análise da situação deve levar tudo em conta: no fundo, é o que se chama

hoje uma análise de sistema. A situação local é, na realidade, um sub-sistema,

de meta sistema representando a formação social. É preciso, pois, o apreender

em termos sistêmicos, recusando o inventário das determinantes – o trabalho

geográfico comum – e o estudo cartesiano das estruturas para ir direto ao

funcionamento, aos processos. (KAISER, 2006)

Lacoste por sua vez, define o Trabalho de Campo como pesquisa em grande

escala que precisa, necessariamente, ser articulada com outras escalas: “O trabalho de

campo para não ser somente um empirismo, deve articular-se à formação teórica que é,

ela também, indispensável. Saber pensar o espaço não é colocar somente os problemas

no quadro local; é também articulá-los eficazmente aos fenômenos que se desenvolvem

sobre extensões muito mais amplas.” (apud ALENTEJANO, 2006, p. 58)

Para este autor, portanto, o campo só é válido se articulado com sistemas globais

de interpretação da realidade. É através da articulação das escalas que podemos

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efetivamente construir uma interpretação geográfica da realidade, indo do particular ao

geral, e retornando a este, assim como da prática à teoria e vice-versa.

Outro ponto que sustenta as discussões é sobre a introdução das novas

tecnologias na formatação do Trabalho de Campo, outros autores indicaram como

“sedução da tecnologia” (VENTURI, 2006) e a duvidosa universalidade das tecnologias

aplicadas á geografia:

À exceção de alguns trabalhos, a pesquisa de campo é um pressuposto na

Geografia. Transcrição (descrição), representação (Cartografia) e

modificação (planejamento) são atividades desempenhadas pelos geógrafos

que se remetem, em algum momento, ao trabalho no terreno. Por isto é

possível dizer que desenvolvemos, em nossa formação, uma intimidade quase

tátil com o campo, sendo-nos um grande prazer a ida ao campo. Essa

intimidade, entretanto, não nos torna totalmente livres nas atividades de

pesquisa, pois não vamos, simplesmente, ao campo. A “ida” é precedida de

muitas técnicas e tecnologias. Carregamos certos instrumentos, como o diário

de pesquisa, e sempre o conhecimento das técnicas e procedimentos da

análise. (BAITZ, 2006, p. 26)

Na lógica do mercado, muitos instrumentos (como variados softwares e

satélites) e técnicas a eles associadas desenvolvem-se com espantosa rapidez.

A tecnologia desenvolvida para atender a necessidades de produtividade e

lucro, inegavelmente traz muitos benefícios para a humanidade em diversas

áreas, entre as quais podem ser citadas a Medicina, as Comunicações etc.

Novas descobertas tecnológicas podem tanto atender a necessidades reais

quanto àquelas criadas artificialmente para manter a dinâmica do mercado

(telefones celulares com jogos, câmeras fotográficas digitais cada vez mais

potentes etc.). Entretanto, seu acesso é restrito pelo poder aquisitivo iníquo.

Ainda que haja o discurso da massificação da tecnologia, paradoxalmente, o

acesso a ela não é universal. (VENTURI, 2006, p 71)

Contudo, é preciso entender o avanço tecnológico como tendência e

possibilidade, o desenvolvimento de novas tecnologias de informação não tornará

desnecessária a realização de Trabalhos de Campo, principalmente para a obtenção de

dados que dialoga com a realidade e de acordo com a necessidade do geógrafo:

As novas tecnologias facilitam o campo, mas sem método não há produção

de conhecimento, afinal instrumentos são meios de trabalho. De acordo com

esta autora, pesquisar é buscar respostas para perguntas instigantes, num

processo em que sujeito e objeto interagem, o sujeito construindo o objeto e o

objeto reconstruindo o sujeito. (SUERTEGARAY 2002, apud

ALENTEJANO, 2006, P. 59)

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CAPÍTULO 3

O Trabalho de Campo na Universidade e na Escola

Devemos ressaltar inicialmente os objetivos diferentes da academia e da escola:

a primeira tem como pretensão a formação profissional de nível superior, e a segunda

pretende uma formação cidadã com base em conhecimentos específicos da disciplina. A

disciplina de geografia escolar não se constitui, no entanto, do resultado de uma simples

transposição didática, simplificação de um saber acadêmico para o escolar,

(PONTUSCKA 2009), mas apoia-se na ciência de referência, para que elas próprias se

tornem meios de construir conhecimento.

3.1. O Trabalho de Campo na UNIVERSIDADE FEDERAL DE

ALFENAS

Por assim entender esses dois campos de ensino, a Universidade Federal de

Alfenas, propõem para formação do docente na UNIFAL, competências e habilidades, e

que, entre elas, está o “Planejar e executar atividades de campo referentes à investigação

geográfica e ambiental”5; sendo assim, para nós futuros professores, uma atividade

formativa essencial.

Os Trabalhos de Campo na UNIFAL são organizados de maneira individual,

como o Trabalho de Campo de Geomorfologia – para Nazareno – SP e também a

Campos do Jordão – SP (Professora Responsável pela disciplina: Marta Felícia Marujo

Ferreira) e também com a mesma professora para Ubatuba – SP com a disciplina de

Geomorfologia Litorânea. Ao triângulo Mineiro, com a disciplina de Geografia

Regional (Professora Responsável pela disciplina: Ana Rute do Vale) e São João Del

Rey e Tiradentes com a disciplina de Formação do Território Brasileiro (Professora

Responsável pela disciplina: Ana Rute do Vale) e para São Paulo com a disciplina de

Planejamento Urbano e Geografia Urbana (Professor Responsável pela disciplina:

Evânio dos Santos Branquinho). Bem como outras disciplinas que aplicam o Trabalho

de Campo na própria região de Alfenas - MG, de modo a explorar esta a região e os

fenômenos geográficos que a caracterizam.

5 Disponível em PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO CURSO DE GEOGRAFIA – licenciatura

2011. <http://www.unifal-mg.edu.br/graduacao/?q=geolic> e no sítio da Geografia UNIFAL-MG que se

segue:< http://www.unifal-mg.edu.br/geografia/?q=node/3>

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Mas também aconteceram, com uma maior frequência nos últimos anos, o

Trabalho de Campo Integrado. O último aconteceu com as disciplinas de Geografia

Urbana (Professor responsável pela disciplina: Evânio dos Santos Branquinho) e

Geografia Econômica. (Professor Responsável pela disciplina: Flamarion Dutra Alves).

E também o Trabalho de Campo para Prado – BA, em que foi organizado um debate em

torno de Geografia Regional (Professora Responsável pela disciplina: Ana Rute do

Vale) e Recursos Naturais do Brasil (Professor Responsável pela disciplina: Clibson

Alves dos Santos) (esta prática é enriquecedora, complementa Ana Rute), além de

outras práticas como o Trabalho de Campo, que demonstram assim a presença do

geógrafo da UNIFAL em diversas locais do Brasil.

Deste modo, pretende-se verificar através dos questionários aplicados, as

relações entre a teoria e práticas acadêmicas realizadas pelos Professores do Instituto de

Ciências Naturais – ICN – Geografia da Universidade Federal de Alfenas. A se saber,

foram questionados sobre os lugares que são pesquisados e para qual disciplina? Já

trabalhou alguma dinâmica integradora no Trabalho de Campo, com disciplinas de

outras áreas? (acima descritos) Em seu Trabalho de Campo há intensão de explorar a

realidade sociocultural do lugar? Quais os pontos de êxito e os limites para a realização

do(s) trabalho(s) de campo?

Dentre as questões, podemos agrupá-los nos seguintes tópicos:

Prática acadêmica e aprofundamento teórico:

Neste primeiro tópico, podemos verificar a pertinência do Trabalho de Campo

como objetivo (disciplinar) da Geografia na UNIFAL. Muito se discute sobre estas

práticas (integradoras ou não), e que na Geografia, há debates ainda conflituosos na

constituição da própria ciência, mas é inegável, que esta seja uma necessidade da

disciplina já que fazem parte da visualização da prática acadêmica:

Em primeiro lugar, defendemos a ideia de que há uma especificidade

disciplinar na discussão aqui proposta, própria à Geografia e à produção do

conhecimento geográfico. Uma reflexão sobre a importância do trabalho de

campo nesta disciplina requer a compreensão de sua especificidade frente às

outras disciplinas, sobre seus trunfos e seus handcaps frente às outras ciências

naturais e sociais. Afinal, o que há de epistemologicamente diferente na

produção do conhecimento geográfico? (SERPA, 2006. p. 9)

Apesar deste pressuposto, na Geografia UNIFAL cada grupo de pesquisa

formaliza-se na expressão de resultados cada vez menos articulados com a realidade do

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Geógrafo Bacharel e Licenciado, sendo este, um ponto a ser mencionado. Observando a

fala de Ana Rute do Vale, em que cita que “durante a graduação, muitos alunos da

licenciatura não participam das práticas”, implicando no descompasso entre a teoria e a

prática na formação destes profissionais.

O Trabalho de Campo na Geografia, segundo Marta Ferreira: “deve ser o

momento de se fazer estudo, dentro de uma sequência que o professor propôs para

aquela disciplina para que o aluno possa atingir a totalidade, o todo”.

Professora Marta, comenta que o Trabalho de Campo em sua disciplina

(geomorfologia), pretende construir uma noção de “trascecto” de Alfenas ao ponto

escolhido, buscando assim, um entendimento das dinâmicas ao longo do trajeto.

Professor Evânio Branquinho compreende que para estar nos lugares é preciso

conhece-los antecipadamente, por isso, acontece na sua prática a presença de

convidados e/ou próprios moradores, ou os próprios alunos que vivenciaram as

experiências do local visitado, a fim de proporcionar noções “mais abertas” ao Trabalho

de Campo.

Êxitos e limites:

1. Teoria e Prática:

Os professores questionados exaltaram a possibilidade da visualização da teoria

na prática. Isto porque ao organizar o Trabalho de Campo para a sua disciplina, ou

quando opta por faze-la integrada, o professor já está diante de uma das faces desta

metodologia, a teoria em sala de aula. A prática, sendo obrigatória das disciplinas,

“carregam” um sentido de observação dos fenômenos e é, na realização dos relatórios

de campo, que a junção da teoria e da prática se fazem, de um modo mais claro.

Em diversas situações, “o uso sem critério do rótulo impede” faz com o

aprofundamento teórico desta prática pedagógica que, se reduzida a uma visita, a um

passeio, a uma aula de campo, perde, na perspectiva que aqui defendemos, grande parte

de seu valor formativo e educativo (KAISER, 2006).

2. Dificuldades orçamentárias e burocráticas;

Os professores da UNIFAL-MG apontaram, também de forma unanime, como

um dos grandes “vilãos” para a realização dos Trabalhos de Campo: dificuldades

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orçamentárias. Semelhante ao que Lacoste aponta: “Mas mesmo estas excursões

tornam-se cada vez mais raras na maioria das universidades, em razão, seguramente, das

graves dificuldades orçamentárias (...)” (LACOSTE, 2006) de acordo com os

professores, ainda se torna maior essa questão, quando a universidade (reitoria)

negligencia a experiência de campo como fonte principal de pesquisa para a Geografia:

Para a maioria dos estudantes, a experiência da pesquisa se limita a isto; a

este exercício suplementar de reprodução de conhecimentos já elaborados

sem que tenham tomado consciência das possibilidades que teriam de

produzir, por si mesmos, elementos de um saber novo. Todavia, a

aprendizagem do trabalho de campo, a iniciação à pesquisa, começa a se

tornar uma das reivindicações principais dos estudantes de Geografia.

(LACOSTE, 2006, p. )

A preocupação latente pela questão financeira, é orquestrado pelo tempo de

envolvimento no lugar, sendo assim, os Trabalhos de campo da Geografia UNIFAL-

MG, não passam de 4 dias, exceto os Trabalhos de campo à Prado na Bahia e ao

Pantanal com a disciplina de Biogeografia. Essa evidencia contribui para a solicitação

de gastos e viabilidade de técnicas visando a relação custo-benefício. Muito embora, a

Universidade preste o serviço de transporte, ainda é necessária reinvindicações, de

carácter exclusivos da geografia, que possibilitem uma melhora significativa na

condição dos Trabalhos de Campo.

Realidade sociocultural como “plano de fundo”?

Entende-se que a realidade sociocultural do lugar visitado é preeminente ao

Trabalho de Campo, ou seja, “está lá” mesmo que isto não seja evocado. Nas diversas

disciplinas que acontecem os Trabalhos de Campo na UNIFAL, por exemplo, a

Professora Marta Felício, comenta que “os objetivos dos Trabalhos de Campo são

direcionados à disciplina, mas que não se pode fechar os olhos para tal realidade”. E

Ana Rute, responde que “mesmo que em ‘plano de fundo’ a realidade sociocultural

surge”. Para Evânio: No Trabalho de Campo o aluno tem a opção de ter as diversas

visões diferentes, para construir uma visão, mesmo que rápida (porque o Trabalho de

Campo é rápido) e genérica (...), uma visão daquele lugar, dos problemas daquele lugar,

porque senão ficaria um trabalho com lacunas, somente a visualização do material e da

paisagem sem entrar nas relações sociais.

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3.2. O Trabalho de Campo e o ensino de geografia

Princípio de que “escola é vida”: O problema das relações ESCOLA

e VIDA tem sido colocado, não de hoje, pelos educadores, tanto na

Europa quanto na América. Mais de uma vez afirmou-se como

verdade pacífica, neste plenário mesmo, o princípio de que ESCOLA

É VIDA e não pode fechar-se, portanto, em relação àquilo que

constitui, em cada momento, o próprio contexto em que o homem faz

sentido, não pode continuar a ser um compartimento fechado, pseudo-

preparando para a vida, fora da vida. O Estudo do Meio seria um

“recurso por excelência” para que se pudessem “[...] suprimir as

fronteiras entre a escola e a vida” (MAGALDI, 1965, p. 69 e 70 apud

PONTUSCHKA, Nídia N. 2009. p 5).

Uma questão que se mostrou inspiradora no BPG, ainda que vamos resgatar

aqui: a utilização do Trabalho de Campo no ensino de Geografia. Devida sua

pertinência e significados frente à formação dos professores nesta época, os artigos

apontaram: 1. A construção do conhecimento geográfico a partir do Trabalho de

Campo; 2. A superação na relação ensino-aprendizagem; 3. A escolha do tema

significativo à comunidade, como formas de melhor aproveitamento desta prática.

Enquanto recurso didático, o trabalho de campo é o momento em que

podemos visualizar tudo o que foi discutido em sala de aula, em que a teoria

se torna realidade, se “materializa” diante dos olhos estarrecidos dos

estudantes, daí a importância de planejá-lo o máximo possível, de modo a

que ele não se transforme numa “excursão recreativa” sobre o território, e

possa ser um momento a mais no processo ensino/aprendizagem/produção do

conhecimento. MARCOS

De certa forma, os Estudos de Claudivan S. LOPES e Nídia N

PONTUSCHKA: Estudo do meio: teoria e prática, serviram em quase sua totalidade,

para a reflexão e compreensão dos momentos históricos da Escola Brasileira e assim

para análise do tema o Trabalho de Campo no Ensino (e sua interpretação curricular no

ensino) de Geografia. Segundo os autores o “estudo do meio” não é uma prática

pedagógica nova no universo educacional brasileiro:

Faz parte, na verdade, de uma “tradição escolar” e cota inspirada em

educadores tais como Francisco Ferrer y Guardia (1859-1909) e Célestin

Freinet (1896-1966),tem por objetivo proporcionar aos estudantes uma

aprendizagem “mais perto da vida”, ou seja, um contato mais direto com a

realidade estudada, seja ela, natural ou social. (LOPES, PONTUSCHKA,

2009)

Uma das etapas fundamentais dos Estudos do Meio é o Trabalho de Campo. O

roteiro e o cronograma das atividades a serem desenvolvidas durante a pesquisa de

campo deve conter textos e mapas de apoio, roteiro para pesquisa, espaço para

anotações, textos e croquis, sem que se chegar ao exagero de tornar isso uma receita,

pois:

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A pesquisa de campo é reveladora da vida, ou seja, por meio dela pretende-se

conhecer mais sistematicamente a maneira como os homens e as mulheres de

um determinado espaço e tempo organizam sua existência, compreender suas

necessidades, seus desejos, suas lutas com vitórias e fracassos. Assim,

durante o trabalho de campo, educadores e educandos devem submergir no

cotidiano do espaço a ser pesquisado, buscando estabelecer um rico diálogo

com o espaço e, na condição de pesquisadores, com eles mesmos. É o

momento de descobrir que o meio ou o espaço, na inter-relação de processos

naturais e sociais, é uma Geografia viva (PONTUSCHKA, 2006 apud 2009.

P 14).

Segundo os autores ainda é preciso ir a campo:

[...] sem pré-julgamentos ou preconceitos: liberar o olhar, o cheirar, o ouvir, o

tatear, o degustar. Enfim, liberar o sentir mecanizado pela vida em sociedade,

para a leitura afetiva que se realiza em dois movimentos contrários – negar a

alienação, o esquema a rotina, o sistema, o preconceito – e afirmar o afeto da

comunidade e da personalidade (PONTUSCHKA, 2006, p. 12). Ao romper as

fronteiras dos territórios institucionalizados de aprendizagem – a sala de aula

e a escola –, a pesquisa de campo permite a ampliação desse território

levando, ao mesmo tempo, a “a sala de aula e a escola” para o mundo – um

lugar ou situação mais específica ou particular deste mundo para ser

pesquisado e estudado –, e o mundo – mais real ou concreto –, para dentro da

sala de aula e da escola. Trata-se, portanto, de uma oportunidade, como

afirma Thompson (1998) falando mais especificamente do trabalho de campo

na realização da História Oral, de gerar ocasiões de aprendizagem para além

de seus tradicionais abrigos institucionais. (PONTUSCHKA, 2009. p. 15).

Neste sentido podemos fazer uma coesão com aquilo que se produz no Trabalho

de Campo Participativo ou pesquisa participativa, apresentado por Valéria de Marcos

em que importância do Trabalho de Campo, já vem comunicada como um instrumento

didático e de pesquisa de fundamental importância para o ensino porque enquanto

recurso didático é o momento em que o aluno visualiza tudo aquilo que foi visto em sala

de aula, em que a teoria se torna realidade, se “materializa”. Ainda sim, o planejamento

do Trabalho de Campo “sustenta” a produção do conhecimento, ou seja, a relação

ensino-aprendizagem torna-se mais palpável e flexível.

Apesar de haver um procedimento metodológico o Trabalho de Campo se

comporta como uma prática flexível, (MARCOS, 2006) sendo o êxito dependente de

um trabalho de planejamento flexível (mas, certamente rigoroso pelo menos nas etapas

ou momentos). Os autores apontam que este roteiro a seguir não deve ser visto como

negação de outras possibilidades de organização e, sim, como um determinado

“esquema estratégico”, baseado na experiência acumulada pelos autores a respeito do

tema.

Todas as etapas e respectivas ações que o estruturam são realizadas na busca

de acordos e contratos pedagógicos possíveis que, sem negar os conflitos

consubstanciais a qualquer relação social, têm, como ponto de partida e

chegada, a realidade vivida pelas pessoas envolvidas na construção de um

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projeto educativo em uma determinada unidade escolar. (LOPES,

PONTUSCHKA, 2009. P. 7)

Iniciando um processo de modificações desta prática em momentos específicos

da história política e educacional Brasileira, o Estudo do Meio (levando em

consideração o Trabalho de Campo como parte fundamental desta metodologia) se

disseminou e se popularizou nos anos 1960 no interior do movimento da Escola Nova e

dos educadores preocupados com a constituição de um ensino atraente e uma

aprendizagem significativa.

Ainda sim, há registros que mostram sua realização em escolas fundadas por

grupos de imigrantes europeus (início do séc. XX). A vinda demonstra a crescente

industrialização que abria postos de trabalho na época, e que, inspirados nas ideias

pedagógicas de Ferrer, as escolas criadas pelos militantes do movimento anarquista

tinham como princípio oferecer um ensino racional, fundamentado em observações de

campo, em discussões e na formação do espírito crítico sobre o meio circundante. (XX)

Avanço na compreensão, o acirramento da censura e a repressão política

promovidas pelo governo militar por meio do Ato Institucional n. 5 (AI-5), os Estudos

do Meio ficaram proibidos e com a crise do governo militar, a partir de 1978-1979, e o

consequente processo de redemocratização do país, os “Estudos do Meio” retornaram à

agenda dos educadores. (LOPES , PONTUSCHKA, 2009)

Segundo a autora o retorno às agendas foi inspirados pela pedagogia de Paulo

Freire e na sua experiência enquanto Secretário da Educação (1989-1990) em que o

Estudo do Meio desempenhou a função de elo integrador de práticas interdisciplinares

no âmbito da escola básica com resultados muito positivos, (PONTUSCHKA 2004, p.

260-268 apud LOPES, PONTUSCKA, 2009).

As pesquisas mais recentes sobre o Estudo do Meio têm mostrado sua

significância e atualidade. Contudo, é preciso acrescentar que a utilização

indiscriminada das experiências fora do ambiente escolar, ainda que possuam valor

pedagógico e lúdico, pode constituir-se em empecilho ao aprofundamento do tema e

ampliação de seu significado e potencial na elaboração do currículo escolar. Avaliemos

o Gráfico:

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Na atualidade e de acordo com as pesquisas que foram salientadas pela autora,

o Estudo do Meio” têm contribuído para o fortalecimento da autonomia da instituição

escolar e dos professores de maneira geral, em que se segue nas palavras de Pontuschka

(2009):

Da instituição escolar porque é uma alternativa às políticas e propostas

vindas das secretarias de educação e dos professores porque podem

desenvolver seus saberes profissionais sem serem teleguiados pelos materiais

didáticos oficiais. Podem corroborar, sem dúvida, o processo de

desenvolvimento da profissionalidade docente. Dimensão pública da

educação: Trata-se da organização de fóruns de discussão para os problemas

vividos coletivamente pela comunidade onde a escola está inserida. Ao

desvelar as injustiças sociais e outras questões que afetam o bem-estar de

uma determinada comunidade escolar, os Estudos do Meio podem ser

valiosos instrumentos para a compreensão e superação daquelas injustiças

que, de acordo com Santos (1993 apud PONTUSCHKA, 2009. P.6), “[...]

devem ser corrigidas em nome da cidadania” (p. 112). Podemos falar, assim,

de uma escola que “enraizada no lugar”, se alimenta de sua potencialidade e

de sua força.

Entre as propostas para este tipo de atividade, o Trabalho de Campo, pode ser

compreendido na formação docente através de propósitos de habilidades oferecidos na

UNIFAL-MG, e que através dos quais, estes profissionais formados estarão

“capacitados” para desenvolver pesquisas e alternativas para o ensino da Geografia.

Deverá ainda “ter sólida formação interdisciplinar, capacidade de liderança e de gestão

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democrática, bem como de busca permanente do conhecimento, com capacidade de

construção de conhecimentos que lhe permita atuar como docente, pesquisador e

participante na gestão de espaços educativos”. Muito condizente com a proposta de

Estudo do Meio apresentada por Nídia Pontuschka e que La Blache explicita que:

A ideia de meio, nas diversas expressões da geografia, se precisa como

correlativo e sinônimo de adaptação. Ela manisfesta-se através das séries de

fenômenos que encadeia entre si e são postas em movimento por causas

gerais. É por essas causas que incessantemente retornamos as causas do

clima, de estrutura, de concorrência vital, que impulsionam muitas atividades

especiais das formas e dos seres. (LA BLACHE, 1982 p. 43)

Parte fundamental afirmada é uma proposta interdisciplinar “fortalece o ensino

interdisciplinar”, enquanto também, visa proporcionar para alunos e professores contato

direto com uma determinada realidade, um meio qualquer, rural ou urbano, que se

decida estudar (PONTUSCHKA, 2009). Também apontado por Ângelo Serpa: “A

possibilidade de divisão do espaço é assumido em conjunção ao método e de forma

interdisciplinar”. (SERPA, 2006)

Há uma questão particular sobre a seleção do lugar a ser visitado, bem como a

formulação das principais questões a serem respondidas na pesquisa de campo, todas as

etapas de sua realização, o planejamento, a execução e a avaliação, são orientadas, por

um lado, pela “dialogicidade” e, por outro, pelo despertar da “curiosidade” de todos os

membros da comunidade escolar (FREIRE, 2000 apud PONTUSCHKA, Nídia N. 2009.

P 3).

3.3. Considerações do capítulo

Como é de se esperar na relação UNIVERSIDADE – ESCOLA, não se pode

negligenciar a participação dos alunos, direto ou indiretamente, nas diversas etapas do

Trabalho de Campo, porque é o momento em fazem destes, próximos a uma experiência

completa e curiosa.

Na universidade a possibilidade para a formação neste período é sugerido

justamente pelo visualização da teoria na prática, apoiado na sistematização do

professor no Trabalho de Campo através dos objetivos da pesquisa e na

responsabilidade na relação ensino-aprendizagem e com o objeto de sua disciplina.

Os registros do campo tornam-se uma verdadeira busca, presença e

participação com os objetos (disciplinares) de pesquisa e a teoria compartilhada em

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dialogo com o conhecimento novo. Por isso, pode ser uma ressalva interessante, a

organização de uma disciplina que contemple o Trabalho de Campo na Geografia

UNIFAL-MG, ou mesmo a portabilidade de experiências de campo nas aulas inaugurais

do curso ou nas disciplinas de métodos de pesquisa em geografia ou metodologia de

pesquisas.

Apenas é válido ressaltar que as habilidades e competências previstas (Plano

Político Pedagógico Geografia licenciatura - UNIFAL-MG) na formação do profissional

geógrafo (ao passo que são conquistadas pelo discente), são percebidas mais facilmente

pelos professores como envolvimento/ desenvolvimento na compreensão do

conhecimento através do Trabalho de Campo, atingindo de uma maneira geral os

resultados esperados.

Contudo é preciso ir além. Em consonância com os objetivos específicos da

minha pesquisa, proponho discorrer através do melhor entendimento do conceito de

expedição/exposição, até então também trabalhado pelos autores no Boletim Paulista de

Geografia, mas que se melhor organiza nas palavras de Yves Lacoste:

A expedição/exposição parece ser um método muito eficaz de formação dos

estudantes para a pesquisa. (...) Os estudantes que participaram destas

expedições/exposições experimentaram em sua maioria um certo entusiasmo

(sobretudo se são militantes) com a ideia de dar conta à população dos

resultados de sua pesquisa. (LACOSTE, 2006)

Portanto, os Trabalhos de Campo são indispensáveis, mas não suficientes, pois,

ao pesquisar lugares significa, sobretudo, que o pesquisador é responsável pelo

resultado, sendo a comunicação parte indispensável nesta concepção de exposição dos

resultados à comunidade e continuidade a pesquisa:

Seria pueril imaginar que a população que é objeto da pesquisa é social e

politicamente homogênea: os documentos apresentados na exposição não

agradam a todo mundo, e mesmo aqueles que consideram com simpatia o

projeto dos estudantes ficam um pouco embaraçados, de ver que estrangeiros

exponham em esquemas, planos e gráficos a vida e o cotidiano desta

coletividade. Este embaraço em se vê assim exposto, mesmo quando nada de

escandaloso é revelado, manifesta-se particularmente diante do painel onde

se encontra esboçada a imagem e hipótese que teria o grupo em um ou dois

decênios, no caso onde se realizaria o cenário negativo e imaginado.

(LACOSTE, 2006. P. 92)

. Os Trabalhos de Campo de uma maneira geral produzem uma diversidade de

experiências que quase nunca são valorizados. Expor os resultados é também expor

fotos, poemas, croquis, e toda uma produção que se inicia naquele lugar e sobre aquele

lugar:

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Alguns professores já podem tirar destas algumas experiências.

Primeiramente, que os estudantes de Geografia, mesmo iniciantes em boa

parte, podem apresentar após uma dezena de dias de trabalho intensivo – este

tempo não é, alias, suficiente – um conjunto coerente de informações em

grande proporção inéditas. Elas contribuíram para a tomada de consciência

por uma parte da população estudada (mas não somente os notáveis e os

intelectuais) de um certo número de problemas que, até então, ela não se

colocava, e cujas soluções determinarão seu futuro. Seguramente, só se trata

de uma iniciação à pesquisa, mas é o começo de uma verdadeira pesquisa.

(LACOSTE, 2006)

Este é o objetivo de uma proposta de PROJETO chamado “GEOGRAFIA

POSTAIS”, de uma iniciação à pesquisa, o Trabalho de Campo exposto através de um

website (ampliação do espaço educativo: através da junção das experiências de Campo e

os meios de comunicação), poderá refletir em uma escala local-regional-global de uma

maneira mais líquida e universal, (ainda restam dúvidas desta “universalidade”), e ser o

começo de uma verdadeira pesquisa. Há alguns objetivos específicos que devem ser

regidos ao aplicar o projeto no contexto do ensino:

Compartilhamento dos diferentes olhares presentes no Trabalho de Campo

mediante as visões diferenciadas dos sujeitos sociais envolvidos no projeto;

Coleta de dados e informações específicas do lugar, de seus frequentadores e

das relações que mantêm com outros espaços; Emersão de conteúdos

curriculares disciplinares e interdisciplinares a ser contemplados na

programação; Criação de recursos didáticos baseados nos registros;

Divulgação dos processos e do resultado. (LOPES, PONTUSCKA, 2009)

O Projeto “Geografia Postais” compreende também como uma prática que

assume a produção do espaço de forma autorreflexiva, que reconhecem que a produção

cultural e a produção do espaço não podem estar separadas e que a produção cultural e

intelectual é uma prática espacial (MARQUES, 2009):

Trata-se de um movimento de exteriorização da subjetividade, entendendo-a

não como um traço interior e construído subcutaneamente, mas antes a

subjetividade como uma espacialização, uma prática espacial. Em vez de

associar à subjetividade noções de introspecção e isolamento, incorpora-se a

ela a prática do deslocamento e do trânsito. (MARQUES, 2009)

“GEOGRAFIA POSTAIS” NA UNIVERSIDADE

O site da Geografia- UNIFAL/MG é o meio ao qual podemos visualizar desde o

histórico do curso até notícias, links úteis e atualidades. Por meio deste site, a Geografia

expõem fotos e os locais onde os Trabalhos de Campo são realizados. Através deste

portal pretende-se criar um novo: “Geografia Postais”, e que também tem o propósito de

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criar uma reunião de dados sobre Trabalho de Campo na Geografia, compartilhando os

diferentes olhares presentes no Trabalho de Campo mediante as visões diferenciadas

dos discentes e docentes envolvidos.

O “Geografia Postais” deve ser compreendida, como um meio exposição dos

dados e informações específicas dos lugares visitados (que são verdadeiros cartões

postais), de seus frequentadores (moradores) e das relações que mantêm com outros

espaços. No site, por meio de um aplicativo (exemplo 1 e 2), o aluno traduzirá seu

mapa, desenhos, croquis, fotografias do Trabalho de Campo em cartão postal, que será

“gravado” no mapa do aplicativo. Esta é uma prática antiga de trocas de cartão postais,

desta vez, será trocado com outras pessoas do mundo, por meio do site e que formarão

uma significativa “troca cultural”, a partir da “troca dos postais”.

Figura 2. Exemplo (modelo) Geografia Postais no site.

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Figura 3. Exemplo (modelo) Geografia Postais no site da geografia (UNIFAL-MG)

Este movimento que o Projeto Geografia Postais produzirá, são materiais de

interessante para a Geografia Cultural, trabalhando o website como um passaporte de

trocas de experiências de campo. Além de ressaltar que a universidade não é o único

espaço para ficar “retido” essas trocas.

Para o fortalecimento deste Projeto, o curso de Ciências da Computação poderá

atuar na execução deste website. Tratar-se de pensar a “geografia portátil”, pontuando a

interdisciplinaridade e fortalecendo a junção de áreas de saberes que estão localizadas

num mesmo Campus da UNIFAL em Alfenas, (Campus II - Bairro Santa Clara). Pensar

a “Geografia Postais” é sobrepor, num mesmo site, “o sujeito e paisagem, experiência e

conhecimento, espaço e prática espacial”:

A condição portátil desencadeia a autonomia de ação e a liberdade de criação

de novas ficções vitais, praticando uma micropolítica – “[…] uma analítica

das formações do desejo no campo social […]” – de entendimento e de

proposição de formas de coexistência. O portátil é aquilo que se pode

transportar com facilidade. E se pode ser transportado, algo portátil pode ser

também compartilhado, distribuído, disponibilizado. Por isso, as geografias

portáteis são uma espécie de produção cultural e intelectual que se encaixa na

categoria de geografia experimental, como a definiu Trevor Paglen: os

geógrafos, ao invés de simplesmente estudar a geografia, criam geografias

que são, por sua vez, geografias compartilháveis. As geografias portáteis

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comportam uma produção de espaço que reflete criticamente sobre os

mecanismos da própria produção do espaço. (MARQUES, 2009)

GEOGRAFIA POSTAIS NA COMUNIDADE E PARA A ESCOLA

Um dos pontos a se destacar no projeto é a observação da demanda da

comunidade onde deverá ser efetivado a ampliação do espaço educativo dos Trabalhos

de Campo na Geografia (UNIFAL-MG), sendo esta, uma premissa do conceito

expedição/exposição, considerando os problemas encontrados e propor soluções que, ao

menos, modifiquem o olhar dos alunos.

Portanto, conservo o pensamento de que o Projeto Geografia Postais poderia

adentar em um terreno social, de extensão e pesquisa - identificando as demandas das

escolas e da sociedade -. No caso de Alfenas, pude observar que a casa da Cultura e

Eventos, encontra-se parada. Nenhuma exposição. Seria um destino interessante para

abrigar, inicialmente, algumas das nossas reflexões a respeito da Geografia Postais.

O lugar escolhido para leva-los é a Casa da Cultura de Alfenas, poderia também

ser a própria Universidade, realizando assim a relação UNIVERSIDADE –

COMUNIDADE – ESCOLA. A partir do espaço educativo que se encontra na Casa da

Cultura, pretende-se convidar as escolas para participar desta “exposição”:

“GEOGRAFIA POSTAIS”. As práticas de campo serão expostas por meio de textos,

fotos, mapas, desenhos, croquis, ou seja, ramificar as experiências de campo através da

exposição dos resultados em outros ambientes.

A “Geografia Postais” na comunidade e para a escola, deve ser compreendida

como um modo de exposição dos dados e informações específicas dos lugares visitados

nos Trabalhos de Campo. Os frequentadores (escola e sociedade) da Casa da Cultura,

manterão o propósito do projeto que são as trocas de relações que o sujeito mantêm com

outros espaços, através da troca dos postais. Na Casa da Cultura, por meio de um

datashow, o aluno poderá escolher uma imagem dos Trabalhos de Campo e tirar uma

foto em forma de cartão postal, que será enviado para o destino que ela solicitou. Esta é

uma prática antiga de trocas de cartões postais, desta vez, será trocado com outras

pessoas e que formarão uma significativa “troca cultural”, a partir da “troca dos

postais”, ampliando o espaço para a pesquisa.

Este movimento do Projeto, produzirá também, materiais de interessante para a

Geografia Cultural-Humanística, trabalhando cada um dos envolvidos, como um

“passaporte” de trocas de experiências, de vida e da ciência.

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Para inspirá-los, as ideias contidas no Projeto Geografia Postais, servem como

ponto de partida para os professores da escola, pensarem e, através da reunião deste

material, poderão encontrar material teórico que os auxilie a construir este tipo de

metodologia também com seus alunos.

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CAPÍTULO 4

O Trabalho de Campo na Geografia Cultural - Humanística

“Do Lugar onde estou, já fui embora”

Manoel de Barros

Para referenciar a proposta anterior, neste Capítulo, vamos verificar o Trabalho

de Campo na Geografia Cultural, propondo discorrer principalmente sobre o método

humanístico-fenomenológico no Trabalho de Campo. Este movimento é importante

porque vamos estudar uma prática que está associada a uma visão de mundo. (BPG,

2006). Será este um marco definidor nos Trabalhos de Campo em Geografia e para as

respostas fixadas no “Projeto Geografia Postais”?

A linha histórica da Geografia Cultural apresenta-se como tal a partir da

diversidade de gêneros de vida e das paisagens. Estes contrastes, segundo Paul Claval,

origina-se da disparidade de “fome x riquezas” em alguns países e que seguem uma

organização. Primeiramente seria explicada pela natureza (1) que impõem aos povos a

maneira de se alimentar, vestir de construir suas casas (“tornando-os em sedentários

pacíficos ou nômades agressivos”). Outro ponto a ser considerado é a raça (2), que

equivale-se a diferenças biológicas de ordem física (força ou aptidão ao trabalho) e

sobretudo intelectuais, que provocam as diferenças culturais maiores. A história (3),

outro ponto colocado pelo autor, é comentado como se fosse uma justificativa cômoda

da colonização. A diversidade de cultura e das situações as quais ela é colocada,

relacionam-se então, com os “atrasos” na evolução dos grupos. A realidade superior (4)

explicada como imposições que condicionam os grupos. (5) a unificação e

esfacelamento de culturas, aparentemente condenada ao declínio pela uniformização da

técnica, reencontra seu dinamismo, ligando-se as representações e aos sentimentos de

identidade que lhe estão vinculados. (CLAVAL, 2007, p. 10/11/12) Nesta análise

inicial, o autor observa a diferença no arsenal de ferramentas de um grupos e de técnicas

que fabricam para proteger-se dos excessos do clima e explorarem os recursos naturais.

Os primórdios da Geografia Cultural foi Alemão. (CLAVAL, 2007, p. 20)

Frederich Ratzel introduz o conceito de cultura como fator –chave da geografia humana.

Ratzel elabora nos meados destes mesmos anos uma nova concepção da geografia. Ele

observa as lições dos grandes mestres alemãos da disciplina, Alexandre de Humbolt e

Carl Ritter, e retira de sua formação naturalista a ideia de que a repartição dos homens e

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das civilizações merece atenção particular: propõe o nome de antropogeografia (1881-

1891) para qualificar o novo capítulo três princípios guiam: 1) a antropogeografia

descreve as áreas onde vivem os homens, e as mapeia; 2) procura estabelecer as causas

geográficas da repartição dos homens na superfície terrestre; 3) propõe-se definir a

influência da natureza sobre os corpos e os espíritos dos homens (BUTTMAN, 1997, p

63).

Ratzel dedica os anos de 1880 ao estudo dos fundamentos culturais da

diferenciação regional da Terra, em três obras, em que Ratzel reconhece nos povos um

atributo que pertence à sua essência, a mobilidade. Eles dominam as técnicas que

asseguram sua adaptação ao e meio próximo e dependem da história e do nível de

desenvolvimento (espaço vital). A geografia concebida por Ratzel atribui um lugar

importante aos fatos de cultura. Mas esta cultura é sobretudo analisada sob os aspectos

materiais, como um conjunto de artefatos utilizado pelos homens em sua relação com o

espaço. As ideias que subentendem e a linguagem que a exprimem não são mais

evocadas. (CLAVAL, 2007)

Muitos geógrafos alemães estavam à procura de uma definição que oferecesse a

vantagem de circunscrever um objeto claro e de explica-lo, evitando as querelas de

fronteiras com as disciplinas vizinhas. Otto Schlüter (1872-1959), estabeleceu a

paisagem como objeto da geografia humana, porém vale definí-los:

Numa distinção inicial da escola alemã sugere que para Ratzel, o estudo

geográfico da cultura confundia-se com o dos artefatos utilizados pelos

homens para dominar o espaço; para Shlüter e para a maioria dos geógrafos

alemães das primeiras décadas do século XX, é a marca que os homens

impõem à paisagem que constitui o objeto da geografia é de apreender esta

organização, de descrever aquilo que se qualifica desde então de morfologia

da paisagem cultural e de compreender sua gênese. (CLAVAL, 2007, p. 24)

A geografia cultural americana (Carl Ortwin Sauer – 1889 - 1975) trabalha em

cima da lógica alemã, até então interessada em estudos sobre as paisagens, pelas

relações de cultura e espaço. Nos Estados Unidos, a escola dominante de 1910 até a

Segunda Guerra Mundial, ignorava-as totalmente. Muito preocupada com o rigor,

dedicava muito atenção á coleta de dados e às representações, geralmente confundida

geografia cultural com Geografia Humana. A geografia limita-se, entretanto, para ele

àquilo que é legível na superfície da Terra e como os geógrafos alemães, ignora as

dimensões sócias e psicológicas da cultura, (CLAVAL, 2007) e que define geografia:

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Nossa seção ingenuamente selecionada da realidade, a paisagem, submete-se

a múltiplas alterações. Este contato do homem com seu domicílio, mutante,

tal como se exprime através da paisagem cultural, é nosso campo de estudo.

Concerne a nós a importância que tem o sítio para o homem, e também as

transformações que impõem ao sítio. Em síntese tratamos das interrelações

do grupo, ou das culturas, com o sítio, tal que exprime através das diversas

paisagens da Terra. (Sauer, 1974, 1 ed. 1925. “The morphology of

landscape” University of California Publications in Geography apud

CLAVAL, 2007)

Como seus contemporâneos, Sauer vê a cultura, primeiramente como o conjunto

de instrumentos e de artefatos que permitem ao homem agir sobre o mundo exterior,

mas vai mais longe que eles: a cultura também é composta de associações de plantas e

de animais que as sociedades aprenderam a utilizar para modificar o ambiente natural e

torna-lo mais produtivo, sendo este um dos traços maiores que as culturas devem ser

julgadas. Por isso, Claval adverte, que para fazer uso das teorias de Sauer, o geógrafo

deve ter uma sólida formação naturalista (CLAVAL, 2007, p.31)

A dimensão cultural da geografia francesa, sobresaem o gênero de vida e

paisagens, apoiados no legados de Alexandre de Humbolt, Carl Ritter e Friedrich

Ratzel: é o caso de paul Vidal de La Blache. La Blache, parte da concepção da

geografia Humana proposta por Ratzel (estudo das influências do meio sobre as

sociedades humanas). Para analisa-la, interessa-se também, pelo conjunto de técnicas e

utensílios que os homens fabricam para transformar o contexto onde vivem e que esses

elementos não ganham sentido se não são compreendidos como componentes do gênero

de vida, sendo esta uma especificidade a geografia: os estudos dos lugares, mas a

análise dos gêneros de vida mostra como a elaboração das paisagens reflete a

organização social do trabalho, ganhando na versão de La Blache uma dimensão social

e ideológica que estão ligadas a seu aspecto ecológico.

A noção de gênero de vida introduz, assim, na geografia humana francesa, uma

lógica, que estimula a integração, em seu campo, de aspectos comportamentais cada vez

mais variados e complexos. Naturalista pela sua origem e suas justificações, ela deriva

rapidamente para posições mais humanistas.

Na primeira metade da década de 70 podemos destacar os nomes de Tuan e

de Butttimer como os que mais contribuíram na busca por uma identidade

própria para a geografia humanista. Esses autores foram pioneiros na

utilização dos conceitos de lugar e de mundo vivido, ambos associados a uma

base teórica fenomenológico existencialista, aporte que mais tarde permitiria

a identificação de seus trabalhos como humanistas. (HOLZER, 2003)

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Através da humanística, Yi-Fu Tuan*, um dos expoentes na elaboração e a

sistematização da Geografia Cultural - Humanística no séc. XIX, aponta que “este

método reflete sobre os fenômenos geográficos com o propósito de alcançar melhor

entendimento do homem e da sua condição, procurando desta forma, um entendimento

do mundo humano através dos estudos das relações sociais com a natureza do seu

comportamento geográfico bem como dos seus sentimentos e ideias a respeito do

espaço e do lugar” e ainda formaliza a apresentação através da crítica as abordagens

científicas para o estudo do homem tendência em minimizar o papel da conscientização e do

conhecimento humano. A Geografia Humanística, em contraste, tenta especificamente entender

como as atividades e os fenômenos geográficos revelam a qualidade de conscientização

humana.” (TUAN, 1976, p. 143)

Os temas para a análise científica da Geografia Humanística, estão disponíveis

na obra (páginas 147-155), de modo a oferecer um novo modo de enxergar os

fenômenos geográficos, deste modo Tuan apresenta como temas de interesse geral para

os geógrafos:

1. Conhecimento geográfico que é um “instinto animal”, necessário à

sobrevivência. Em contraste o conhecimento geográfico cultuado no âmbito dos

departamentos acadêmico que é altamente cônscio e especializado. Sabemos pouco

sobre como as “habilidades espaciais” se desenvolvem de grupo para grupo, e a

diferenciação de mais primitivo e mais evoluído na habilidade cartográfica, por

exemplo, quando outro grupo mais especializado com o grau de apreensão do

conhecimento geográfico menor;

2. Território e Lugar: Território é uma ideia de área que comunica-se por

caminhos e lugares. “Os lugares humanos variam grandemente de tamanho e indica-nos

a refletir sobre as emoções e pensamentos ligados ao lugar. (...) Como um mero espaço

se torna um lugar intensamente humano é uma tarefa para o geógrafo humanístico, para

tanto, ele apela a interesses distintamente humanísticos, como a natureza da experiência,

a qualidade da ligação emocional aos objetos físicos, as funções dos conceitos e

símbolos na criação da identidade do lugar”;

3. Aglomeração Humana e privacidade: O impacto da alta densidade da

população na qualidade de vida tem chamado a atenção dos cientistas e planejadores

sociais. As aglomerações podem produzir tensões, levando a doenças e comportamentos

anti-sociais? Segundo a teoria humanística a cultura é medianeira entre a densidade e o

comportamento, porém o grau de como isto ocorre é um grande desafio. O enfoque

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humanista distintivo está em descrever as qualidades da emoção experimentada em

casos específicos;

4. Modo de vida e economia: Todas as atividades humanas, parecem ser

econômicas e funcionais, no sentido de que suportam o sistema social, sem o qual as

pessoas não poderiam viver. A perspectiva humanística sobre a vida econômica pode

ser apresentada como uma resposta para duas questões. Primeiramente na resposta ao

significado dos termos “atividade de sustentação de vida” e “modo de vida”, sugerindo

um momento de reflexão na necessidade de adaptação ao meio ambiente. Esse processo,

que atinge com intensidades diferentes os comportamentos da vida. No mundo

moderno, a nitidez como que o comportamento da vida do homem é identificado como

econômico, principalmente na observação de sua produção e intercâmbio de bens

materiais, variando amplamente de sociedade para sociedade e dentro de cada

sociedade.

5. Religião: A religião também está presente em vários graus em todas as

culturas. Um geógrafo humanista busca considerar que uma pessoa religiosa é aquela

que busca coerência e significado no seu mundo, e uma cultura religiosa é aquela que

tem uma visão do mundo claramente estruturada. Uma abordagem humanística à

religião iria requerer que tivéssemos consciência das diferenciações por desejo humano

por coerência, e que notássemos como estas diferenças então manifestadas na

organização do espaço e do tempo e nas atitudes para com a natureza.

Ainda em diálogo com a teoria de Tuan (1976), os temas são sugeridos para uma

dimensão local que consolida a ramificação na análise regional e ainda apoiam-se no

entendimento da história para a Geografia Humanística:

A história, não é somente a passagem dos acontecimentos, mas a sua

reconstrução consciente na memória do grupo para as necessidades correntes.

Ainda sim, definida, a história exerce um papel essencial no sentido humano

de territorialidade e lugar. O humanista deve conhecer o passado factual do

lugar, mas compreender que o passado não determina a atual identidade do

lugar. Sua atual identidade está sendo criada (...) através do uso seletivo de

seu passado. (TUAN, 1976, p 155)

Sendo assim a “descrição vivida” pode ter sido uma das grandes conquistas da

Geografia Regional. Entendendo as definições da Geografia Humanística, coloca a

geografia regional como um estudo do tipo: “estudo de arte”, pois segundo o autor, a

percepção humanística tem êxito em capturar a essência de lugar (a região é o resultado

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da arte de uma pessoa multiplicada várias vezes). Que é um trabalho de arte. (TUAN,

1976, 156).

Em busca da arte de fazer geografia, o geógrafo humanista segundo Tuan, inicia-

se nas habilidades linguísticas (e não somente no sentido de escrever bem), dentro desta

fazer uso das habilidade de reconhecer as nuanças da linguagem e o significado

ambíguo das palavras-chave. Deve desenvolver uma sensibilidade para com a

linguagem (..) “ler as entrelinhas e ouvir o que não foi dito.” Ou ainda, segundo Claval,

a cultura é herança e resultado do jogo da comunicação, e em grande medida feita de

palavras, articula-se no discurso e realiza-se na representação. Mas ainda é válido

ressaltar o modo de chegada e a abordagem que segundo Valéria de Marcos:

(...) a principal fonte de dados o depoimento das pessoas envolvidas e que a

única maneira de garantir que este depoimento seja verdadeiro é

conquistando a confiança dos sujeitos da pesquisa. Infelizmente, muitas

pesquisas são feitas desconsiderando estas questões. Ainda é uma prática

entre tantos pesquisadores chegar à área de estudo com questionários

longuíssimos construídos em gabinete, “metralhar” os “objetos de estudo”

com suas perguntas muitas vezes incompreensíveis e ir embora. Do

pesquisador, e do estudo que ele realizou, muitas vezes a comunidade não

tem mais notícias. Ora, diante da repetição destas situações a comunidade

aprende a não mais confiar em estranhos e, aos poucos, vai construindo suas

próprias defesas: ora se fecha aos próximos pesquisadores e impede a

realização de novas pesquisas, ora prepara um discurso “pronto”,

“empacotado” como os questionários aplicados, para ser “respondido” ao

próximo pesquisador que ali chegar. (MARCOS, 2006. p. 114)

Ao que se prese, a geografia na perspectiva humanística utiliza-se da

fenomenologia, convergindo as pesquisas de campo para esclarecer o significado dos

conceitos, dos símbolos e das aspirações, a medida que dizem respeito ao espaço e ao

lugar, que por sua vez, repousa na interpretação da experiência humana em sua

ambiguidade, ambivalência e complexidade (TUAN, 1976, p 162). Como técnica

importante tem-se a história oral:

Esta reflexão teórica iria se sofisticando ao longo das décadas seguintes na

medida em que a "Geografia Cultural", enquanto produto acadêmico desta

reflexão, se tomava a disciplina mais lecionada nos cursos de geografia norte-

americanos e a que mais gerava pesquisas de campo. Neste contexto não se

discutia mais o aporte teórico, mas manteve-se seus fundamentos de se

observar o fator em suas relações (espaço vivido). (HOLZER, 2003)

Tuan afirmava que "espaço" e "lugar" são os conceitos que definem a natureza

da geografia. Introduzia também o tempo como conceito em constante interação com o

espaço. O autor defendia a importância de sua investigação: "Todo trabalho acadêmico

aumenta o campo da consciência. Os estudos humanistas contribuem, ademais, para a

auto-consciência, para o crescente conhecimento que o homem tem das fontes do seu

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saber. Em cada grande disciplina existe um subcampo humanista que é a filosofia e a

história daquela disciplina. Através do subcampo, por exemplo, a geografia ou a física

conhecem a si próprias, isto é, as origens de seus conceitos, pressuposições e viés nas

experiências de seus sábios e cientistas pioneiros." (TUAN, 1979 apud HOLZER, 2003)

O espaço na perspectiva humanista referenciar-se-ão aos sentimentos espaciais e

à experiência. Experiência definida como: "a totalidade de meios pelos quais nós

chegamos a compreensão do mundo: nós conhecemos o mundo através da sensação

(sentimento), percepção e concepção. (TUAN, 1979 apud HOLZER, 2003). Para Tuan

"A importância do ‘lugar’ para a geografia cultural e humanista, deveria ser, óbvia:

Como nós funcionais no espaço, os lugares sujeitam-se as técnicas da anfilise

espacial. Mas como um único e complexo conjunto - enraizado no passado e

crescendo no futuro - e como símbolo, o lugar clama pelo entendimento

humanista. Na tradição humanista os lugares tem sido estudados a partir das

perspectivas histórica e literário-artística. (HOLZER, 2003)

Os trabalhos de Geografia Cultural contemporâneos indicam-nos a refletir, a

cerca das várias estratégias de resistência desenvolvidas por grupos subordinados para

contestar a hegemonia daqueles que detêm o poder. Rejeitando aquilo que rotulam de

preferências elitistas e antiquadas dos estudos culturais tradicionais, e exploram uma

vasta gama de subculturas. Para uma reflexão final:

Como prática cultural crítica, a geografia se dispersa permitindo-nos pensar

outras formas de conhecimento do espaço através de um conjunto de

artesanias de práticas, termo proposto por Boaventura de Sousa Santos. O

imaginário da artesania incorpora a portatibilidade do saber, a pequena escala

da produção e a interseção obrigatória com um ponto de vista e um modo de

fazer personalizados. Assim, a artesania é capaz de aproximar a ciência e a

arte interessadas no estudo do espaço e discutir os seus mecanismos de

expressão e disseminação. Boaventura de Sousa Santos emprega o termo

artesania das práticas para designar os saberes que podem ser detectados

através da sociologia das ausências e da sociologia das emergências, ou seja:

aqueles saberes que não fazem parte do conhecimento hegemônico exalado

pelos centros mundiais de poder – poder científico excludente, poder de

dominação econômica, poder de colonização cultural. A artesania das

práticas localiza-se em campos não epistemológicos no sentido convencional

do termo, ou seja, em lugares distintos daqueles tais como universidades e

centros de pesquisa científica. (MARQUES, 2009)

4.1. Considerações do Capítulo

Com base nestas reflexões da humanística e da fenomenologia, os Trabalhos de

Campo ganham sentido por ser um processo de identificação mediado pelos signos

culturais e sociais, na medida em que transporta ao lugar o valor cientifico da pesquisa

de campo, sendo na Humanística um absoluto método de exploração.

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No Brasil, devemos ressaltar que a riqueza na diversidade cultural e sua

participação na produção do espaço contemporâneo são alvo de diversas publicações.

Para tanto, além de apontar a diversidade cultural é preciso valorizar traços culturais

retidos. Pontos importantes que Geógrafos Brasileiros, como Roberto Lobato Corrêa,

Zeny Rosendahl, Welther Holzer e outros nomes da Geografia Acadêmica Cultural

Brasileira se dedicam a investigar.

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CONCLUSÕES

Como é de se esperar neste tipo de pesquisa ocupo grande parte do texto na

reflexão do pensamento teórico, procurando evidenciar a metodologia prevista, o

método de análise e, de certo modo, contribuir em alternativas práticas para as

experiências nos Trabalhos de Campo da Geografia.

A percepção inicial sobre a importância do Trabalho de Campo é assim

compreendida como uma prática fundamental na formação da ciência geográfica, uma

parte devido às observações e aos relatos de campo – evocação da paisagem e o homem

nos significados diversos de adaptação ao meio -, outra justaposta pela preocupação em

suspender a dialética (im)perfeita entre homem-natureza e explorar, na realidade

verdadeira, os conhecimento geográficos, atribuindo-lhes qualidades.

Contudo, o Trabalho de Campo por si só, não “salvará” as discussões próprias da

Geografia. Especialmente no âmbito da Universidade, ainda que se tratando do

“específico” na Geografia, é preciso, se queremos alcançar o designo da ciência

geográfica, uma prática responsável com os objetos de estudo e valorizando, sobretudo,

as experiências dos sujeitos em Trabalho de Campo.

Tenciona-se a creditar na valorização dos estudantes, que muitas vezes, não se

sentem preparados para atuação profissional (pois ainda estão em formação) fato este

que acaba impedindo o desenvolvimento pleno a partir do Trabalho de Campo. Acredito

que deva ser esta, uma atividade organizada a partir de um desenho curricular fundado

para “funcionar” em equipes, contribuindo para a aplicação do conhecimento em

pesquisas inicialmente coletivas, destacando a exposição dos grupos e a síntese dos

grupos, bem como a exposição das consequentes conclusões a respeito do Trabalho de

Campo, como o início de uma verdadeira pesquisa!

As questões de formação docente, contudo, remetem a “transpor” a própria

trajetória do sujeito porque ele carrega consigo uma “bagagem”, uma concepção

espontânea. Deste modo, tentar trabalhar o potencial individual para transpor limites,

entre mitos, hábitos e tentar investir em criatividade e sabedoria para organizarmos de

forma crítica os diversos campos de atuação do geógrafo em um mundo cada vez mais

dinâmico...

Fica evidente que deve haver uma preparação não só para relacionar a teoria e a

prática, mais sobretudo são muitos os fatores que influenciam uma boa prática tanto na

Page 68: A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DE CAMPO PARA A GEOGRAFIA E … - Vinícius... · de Geografia (nº. 84, 2006)2 que trata nesta edição especial o tema Trabalho de Campo. A Revista contém

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Universidade quanto na escola, isso quer dizer que a valorização do rigor científico

(teoria e prática) quer queira, quer não, apoia-se além do aporte teórico, na experiência

de campo responsável.

A importância voltada para a sistematização do método humanístico nos

Trabalhos de Campos, mostra-se, tanto na Universidade quanto na escola como um

prática que vem comprovar a própria identidade – a ideia de patrimônio da identidade.

Por isso, a importância do Trabalho de Campo surge numa ambiência de novas

comunicações e tecnologias que podem potencializar a atuação dos professores num

pensar localmente e atuar globalmente. As experiências, tornando-se compartilháveis

por meio da exposição, projetam significado a realidade, cujas circunstâncias

apresentam-se na vida e como ela é em seu cotidiano.

Então, pensar nas preposições do Projeto Geografia Postais, significa sobretudo

a reunião desses relatos de Campo, para que eles não se percam. Foi a forma a qual

invisto para promover uma experiência significativa (experiências próprias) com o

contato direto com os saberes, constituindo-se por meio de conhecimentos e vivências

que se entrelaçam. Esta metodologia da geografia é a potencialidade no processo da

experiência e não pode ficar “retida” apenas aos universitários, a extensão é primordial

quando falamos da necessidade de construir algo em Alfenas a partir das nossas

experiências de campo.

Assim sendo, o Trabalho de Campo e o Projeto Geografias Postais passam a ser

um convite a não aceitação da atuação profissional submissa à institucionalização, seja

ela, particular ou pública. Inquietante, é pensar em uma formação, em que as

concepções parecem estar “enterradas” em uma visão limitada, e que, pensando em

minha própria “função” profissional, preconizo o “vestir o uniforme da instituição”, no

sentido de que impeça a inovação e desenvolvimento de novas ações.

Por fim, ressalto que a metodologia utilizada nesta pesquisa, através do Boletim

Paulista de Geografia e de todos os “caminhos” (aproveito a oportunidade de orientação

do Professor Flamarion Dutra Alves, que me apoiou em momentos até então duvidosos

bem como os Professores responsáveis pelos Trabalhos de Campo que realizaram uma

experiência incrível na minha formação) designados ao estudo do Trabalho de Campo,

são fontes primordiais para a análise do Tema proposto. Apesar de analisa-las como tal,

compreendo que não é suficiente, devido a complexidade que cada Trabalho de Campo

está organizado dentro da Geografia, gerando experiências diversas que refletem no

potencial “construtor de conhecimento” que este tipo de atividade assume.

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Enquanto estudante de geografia (licenciatura) e portanto, futuro professor,

dediquei-me na (re)construção do pensamento geográfico enquanto possibilidade de

entender a “arte de fazer geografia” através da importância do Trabalho de Campo.

Indico a relevância, contemporaneidade e eficácia, compreendo-o como:

aprofundamento e construção teórica na geografia e a exposição, como o novo olhar da

realidade, atento as ingenuidades dos estudantes e convicto de que o expedição ainda

está só começando...

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REFERÊNCIAS

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brasileira: a produção em periódicos científicos de 1939 – 2009. Tese (Doutorado)

Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista – Campus

Rio Claro. 2010.

BPG. Boletim Paulista de Geografia / Seção São Paulo - Associação dos Geógrafos

Brasileiros. - nº 1 (1949) - São Paulo: AGB, 138 p, 2006.

_____SERPA, A. S. P. O Trabalho de Campo em Geografia: Uma Abordagem Teórico-

Metodológica. In: Boletim Paulista de Geografia, v. 84, p. 7-24, 2006.

_____BAITZ, Ricardo. A implicação: um novo sedimento a se explorar na Geografia?

In: Boletim Paulista de Geografia, v. 84, p. 25-50, 2006.

_____ALENTEJANO, Paulo Roberto Raposo; Otávio M. ROCHA-LEÂO. Trabalho de

Campo: uma ferramenta essencial para os geógrafos ou um instrumento banalizado? In:

Boletim Paulista de Geografia, v. 84, p. 51-68, 2006.

_____VENTURI, Luís Antônio. O papel da técnica no processo de produção científica.

In: Boletim Paulista de Geografia, v. 84, p. 69-76, 2006.

_____LACOSTE, Yves. A pesquisa e o trabalho de campo: um problema político para

os pesquisadores, estudantes e cidadãos. Revista Heródote nº 8, out./dez. páginas 3 à 20,

1977. In: Boletim Paulista de Geografia, v. 84, p. 77-92, 2006.

_____KAISER, Bernard. A implicação: um novo sedimento a se explorar na Geografia?

In: Boletim Paulista de Geografia, v. 84, p. 25-50, 2006.

_____MARCOS, V. Trabalho de campo em Geografia: reflexões sobre uma experiência

de pesquisa participante. In: Boletim Paulista de Geografia, v. 1 n 84, p. 105-136, 2006.

TUAN, Yi-Fu. Geografia Humanística. p.143-164. In: CHRISTOFOLETTI, Antônio.

Perspectivas da Geografia. São Paulo: DIFEL – Difusão Editorial S. A, 1982.

BUTTIMER, Anne. Apreendendo o dinamismo do mundo vivido. p. 165-193. In:

CHRISTOFOLETTI, Antônio. Perspectivas da Geografia. São Paulo: Difel, 1982.

CLAVAL, Paul. Introdução; Gênese e evolução das interpretações culturais na

geografia. p.9-40. In: CLAVAL, Paul. Geografia Cultural. 3.ed. Florianópolis: Ed. da

UFSC, 2007. Disponível: https://sites.google.com/site/flamariongeografia/geografia-

cultural

HOLZER, Werther. O conceito de lugar na geografia cultural-humanista: uma

contribuição para a geografia contemporânea. p.113-123. In: Geographia. ano V, n.10,

2003. Disponível: https://sites.google.com/site/flamariongeografia/geografia-cultural

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LA BLACHE, Paul Vidal de. As características próprias da geografia. p.37-47. In:

CHRISTOFOLETTI, Antônio. Perspectivas da Geografia. São Paulo: Difel, 1982.

https://sites.google.com/site/flamariongeografia/historia-do-pensamento-geografico

LOPES, Claudivan S.; PONTUSCHKA, Nídia N. Estudo do meio: teoria e prática.

Geografia (Londrina) v. 18, n. 2, 2009. Disponível em:

http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/geografia/

MARQUES, Renata Moreira. GEOGRAFIAS PORTÁTEIS: arte e conhecimento

espacial. Tese (Doutorado) Universidade Federal de Minas Gerais. Instituto de

Geociências UFMG, 2009.

PLANO POLÍTICO PEDAGÓGICO GEOGRAFIA LICENCIATURA. Universidade

Federal de Alfenas – UNIFAL/MG. Alfenas, 2O11. Disponível em: < http://www.unifal-

mg.edu.br/geografia/?q=node/3>

SPOSITO, Eliseu Savério. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino do

pensamento geográfico. São Paulo: Editora da UNESP, 2004.

Page 72: A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DE CAMPO PARA A GEOGRAFIA E … - Vinícius... · de Geografia (nº. 84, 2006)2 que trata nesta edição especial o tema Trabalho de Campo. A Revista contém

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APÊNDICE I – Quadro Síntese (completo)

BPG: conceitos e temas presentes nos Artigos do Boletim Paulista de Geografia (NÚMERO 84. SÃO PAULO-SP, JUL.2006 – O Trabalho de Campo)

Quadro síntese

Artigo Formação/Biogr

afia

Escola Geográfica/

Método de Análise

Temas/debates Conceitos Referências

1- Ângelo

Serpa

(Ângelo

Szaniecki

Perret

Serpa)

Brasileiro..

É professor titular

de Geografia

Humana da

Universidade

Federal da Bahia;

doutor em

Planejamento

Paisagístico e

Ambiental pela

Universitaet Für

Bodenkultur

Wien (1994), com

pós doutorado em

Estudos de

Organização do

Espaço Exterior e

Planejamento

Urbano-Regional

e Paisagístico

realizado na

Universidade de

São Paulo (1995-

1996) e em

Geografia

Cultural e Urbana

realizado na

Université Paris

IV

(Sorbonne/2002-

2003) e na

Humboldt

Universität zu

Berlin (2009).

Geógrafia Crítica e

Geografia Cultural -

fenomenológica.

- Reflexão teórico-

metodológica sobre

a importância do

trabalho de campo

na construção do

conhecimento

geográfico na

contemporaneidade;

- O Trabalho de

Campo como

especificidade

disciplinar da

geografia;

- Articulação de

conceitos, teorias e

procedimentos

metodológicos na

geografia;

- O Trabalho de

campo e a

possibilidade de

recortar, analisar e

conceituar o espaço,

de acordo com as

questões, metas e

objetivos definidos

pelo sujeito da

pesquisa;

- O Trabalho de

campo como

instrumento para a

superação de

dicotomias na

ciência geográfica.

Espaço;

Recorte

espacial

significant

e;

Paisagem;

Paisagem

Vertical;

Paisagem

Cultural;

Teoria-

método;

elementos;

totalidade

Milton

Santos, Paul

Claval, Yves

Lacoste, Iná

Elias de

castro;

Roberto

Lobato

Corrêa;

Hannah

Arendt;

Odeiblier

Guidugli;

Racine,

J.B.;Raffestin,

C.;Ruffy, V.;

Márcio

Mendes

Rocha;

Edward W.

Souza;

Marcelo José

de Lopes

Souza; Eliseu

Saverio

Sposito, Henri

Lefbvre.

2-Ricardo

Baitz

Geógrafo

FFLCH/ USP.

Advogado pela

PUC/SP e Pós-

Graduação em

Direito Público –

ESA/SP

Geografia Crítica. - A implicação

como metodologia

para o trabalho de

campo;

- A relação sujeito

implicado x objeto

implicado;

- A aproximação

com o

objeto/pesquisador

sujeito ativo;

- A não

neutralidade da

ciência;

- Implicação e

Implicação

sujeito-

objeto;

instituições

exposição

Henri

Lefbvre;

Remi Hess;

René Lourou;

Edgar Morin;

Friedrich

Nietzsche;

Paulo Freire;

Piaget

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73

pedagogia;

- Implicação e

participação;

3-

Alentejan

o, Paulo

R.R

& Rocha-

Leão,

Otávio M.

Brasileiros.

Professores do

Departamento de

Geografia da

UERJ-FFP

Geografia Crítica;

(Diálogo entre

geógrafo físico e

geógrafo humano)

- Trabalho de

campo e teorias

geográficas;

articulação entre

teoria e prática;

- Importância do

trabalho de campo

para a pesquisa e o

ensino de geografia;

- O trabalho de

campo como

ferramenta à

serviço do

geógrafo;

- A AGB como

difusor da ciência a

partir das práticas

com trabalho de

campo;

- Perigos que

rondam a

banalização do

trabalho de campo

- Teoria e método,

- Dicotomias na

geografia,

- Ação

transformadora,

Modelos

de

evolução

da

paisagem;

Monitoram

ento de

campo;

escala;

teoria e

prática;

Yves Lacoste;

Bernard

Kaiser,

Antônio

Tomaz

Junior,

Maurício de

Almeida

Abreu, David

Harvey,

Manoel

Corrêa de

Andrade,

Richard J.

Chorley,

Antônio

Christofoletti,

Ana Luiza

Coelho Netto,

João Rua,

Armen

Mamigonian,

Milton Santos,

Arthur N.

Stralher, Dirce

M.

Suertegaray,

Mao Tsé

Tung.

4- Luis

Antônio

Bittar

Venturi

Brasileiro.

Professor Doutor

do departamento

de Geografia da

USP. Atua nas

áreas de

Geografia dos

Recursos

Naturais, Teoria,

Método e

Técnicas de

Campo e

Laboratório da

pesquisa em

Geografia, temas

sobre os quais

tem proferido

palestras,

publicado artigos

e livros, a

exemplo do

"Geografia -

práticas de

campo,

laboratório e sala

- Método e técnica

são

complementares;

- Trabalho técnico x

trabalho científico;

- As técnicas

evoluem segundo a

necessidade do

homem;

- domínio da

técnica =

complexidade das

novas tecnologias x

opção de utilização

de instrumentos

mais simples.

- Técnicas de

laboratório

- Técnicas de

trabalho de campo

= planejamento

flexível.

“Pensar e

fazer”,

“trabalho

científico”,

instrument

os

tecnológic

os –

“sedução

da

tecnologia

”,

laboratório

, trabalho

de campo,

“gabinete”,

“objeto” de

estudo,

T. R. Giles,

Yves Lacoste,

Bernard

Kaiser, G.G.

Granger, A. G

Cunha,

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de aula' (Ed.

sarandi, 2011)

5- Yves

Lacoste

Geógrafo

Francês. Lançou

no início de 1970

a revista

Hérodote, que nos

trinta anos

seguintes

procurou revelar

a face oculta da

Geografia, isto é,

seu caráter

político. Em

1976, Lacoste

escreveu o livro:

“A geografia -

isso serve, em

primeiro lugar,

para fazer a

guerra.” Em 1980

Lacoste e os

membros do

Hérodote se

dedicaram aos

problemas de

geopolítica

interna e externa,

em escala

regional,

nacional,

continental e

internacional.

Geografia Crítica - A pesquisa e o

trabalho de campo:

problemas de

ordem política;

- O papel da

universidade; -

pesquisa coletiva x

pesquisa individual;

- O papel social do

pesquisador; -

propor

soluções/comunicar

os resultados, o que

provocará no grupo

estudado?;

- Compromisso

com a organização;

- Formação teórica

+ prática +

articulação de

escala;

- O “poder” da

pesquisa;

- O papel do estado

e das grandes

empresas;

- O monopólio das

tecnologias;

- dificuldades

orçamentárias;

Responsab

ilidade do

pesquisado

r;

resultados

de

pesquisa;

expedição/

exposição;

sujeito-

objeto de

pesquisa;

paisagem;

evocação

da

paisagem;

relação

homem-

natureza;

6-

Bernard

Kaiser Geógrafo francês,

professor na

Universidade de

Toulouse-le-

Mirail, e um dos

criadores da

Geografia Ativa,

movimento que

defendia a

geografia como

fator ativo e de

mudança no

mundo,

movimento esse

que influenciou a

propiciou a

criação da

Geografia Crítica.

Geografia Ativa - A importância da

pesquisa de campo;

- pesquisador =

cidadão;

- tipologia do

trabalho de campo

para o levantamento

social;

- pesquisa

geográfica de

campo específica?;

- proposta de

metodologia:

referências

bibliográficas do

local + formação

teórica +

repercussão da

hipótese;

- proposta social:

conflitos e

problemas; lutas de

classes;

- o cotidiano;

- justificativa da

Sub-

sistema;

análise de

situação,

análise

local,

análise

histórica;

local/globa

l

Mao Tsé

Tung, Yves

Lacoste,

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pesquisa e a

responsabilidade do

pesquisador;

- valorização da

utilização do saber

da população local;

7- Valéria

de

Marcos

Brasileira.

Formada na USP;

Professora

Doutora do

Departamento de

Geociências

CCNE UFPB e

do PPGG CCEN

UFPB.

Geografia

Humanística-

Cultural.

- Discute a

importância do

trabalho de campo

na geografia;

- A pesquisa

participativa como

metodologia e

experiência;

- A forma de

realização da

pesquisa;

- o compromisso do

pesquisador com a

comunidade;

- a postura do

pesquisador durante

sua aproximação

com a comunidade;

- a diferença da

compreensão

temporal para o

pesquisador e a

comunidade que

estuda;

- a importância do

olhar na realização

da pesquisa;

Pesquisa-

participant

e;

produção-

comunitári

a; processo

ensino-

aprendizag

em, ação

educativa

Mao Tsé

Tung, José de

Souza

Martins, C. R.

Brandão, E. P

de Godói, S.

Cardoso, J. G.

C Magnani, A.

U. de Oliveira

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