avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as...

21
1 Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva 1 Solange Khauam Colaço Maricatto 2 [email protected] Maria Irene Pellegrino de Oliveira Souza 3 [email protected] Resumo: O presente artigo é um relato de uma pesquisa-ação cujo objetivo era pesquisar uma proposta de avaliação inclusiva nas aulas de arte a partir do portifólio realizada na escola Colégio Estadual Professor Malvino de Oliveira no ano de 2009. Adotando como referencial teórico Hernández, Buoro, Grace, Cathy & Elizabeth Shores, Chiovatto, Kincheloe, Gadotti e Lorrosa, entre outros, propõe o portifólio como uma modalidade de avaliação (e ao mesmo tempo instrumento de coleta de dados), que considera o outro e percebe como este pensa e constrói as relações de aprendizagem em que os estudantes co-responsáveis pelos resultados obtidos. Conclui que é possível utilizar a avaliação tanto como instrumento de aprimoramento docente, como contribuição na formação do cidadão consciente e, consequentemente, na melhoria da escola. Palavras-chave: avaliação; ação docente; portifólio. Abstract: The present article is a relate from a action-survey whose scope was to research a proposal of inclusion in the art class from portfolio carried out in Colégio Estadual Professor Malvino de Oliveira in the year of 2009. Adapting as theorical reference from Hernàndez, Buoro, Grace, Cathy & Elizabeth Shores, Chiovatto, Kincheloe, Gadotti e Lorrosa, among others and proposes a portfolio as an avaliation modality( and at the same time be a way of datum collect) that consider the other( the fellow) and perceive how ther once thinks and build up the relation of learning in which the students are co-responsible for obtained resuets. It concluded tha's possible to make use of avaluation litter as an instrument of teaching improving or as a contribution in the conscious citizen development and, consequently, in the improvemait of the school. Key-words: avaluation; work teacher; portfolio Introdução Pisar o chão da escola há anos ministrando a disciplina de arte levou-me a buscar apoio em relação à avaliação, pois percebi que sempre ficava com a sensação de ter sido injusta com algum aluno, por mais que esclarecesse sobre os critérios adotados. Foi a partir dessa observação em sala de aula, que decidi pela proposta de avaliação por portfólio, visando 1 O presente artigo é conclusão, ou melhor, é uma reflexão sobre o projeto de intervenção na escola, parte obrigatória do Programa de Desenvolvimento Educacional. 2 Professora PDE do ano de 2008, atuante no município de Porecatu. 3 Professora do Departamento de Arte Visual da UEL e orientadora deste projeto.

Upload: ngodang

Post on 14-Dec-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

1

Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva1

Solange Khauam Colaço Maricatto2

[email protected] Maria Irene Pellegrino de Oliveira Souza3

[email protected]

Resumo: O presente artigo é um relato de uma pesquisa-ação cujo objetivo era pesquisar uma proposta de avaliação inclusiva nas aulas de arte a partir do portifólio realizada na escola Colégio Estadual Professor Malvino de Oliveira no ano de 2009. Adotando como referencial teórico Hernández, Buoro, Grace, Cathy & Elizabeth Shores, Chiovatto, Kincheloe, Gadotti e Lorrosa, entre outros, propõe o portifólio como uma modalidade de avaliação (e ao mesmo tempo instrumento de coleta de dados), que considera o outro e percebe como este pensa e constrói as relações de aprendizagem em que os estudantes co-responsáveis pelos resultados obtidos. Conclui que é possível utilizar a avaliação tanto como instrumento de aprimoramento docente, como contribuição na formação do cidadão consciente e, consequentemente, na melhoria da escola.

Palavras-chave: avaliação; ação docente; portifólio.

Abstract: The present article is a relate from a action-survey whose scope was to research a proposal of inclusion in the art class from portfolio carried out in Colégio Estadual Professor Malvino de Oliveira in the year of 2009. Adapting as theorical reference from Hernàndez, Buoro, Grace, Cathy & Elizabeth Shores, Chiovatto, Kincheloe, Gadotti e Lorrosa, among others and proposes a portfolio as an avaliation modality( and at the same time be a way of datum collect) that consider the other( the fellow) and perceive how ther once thinks and build up the relation of learning in which the students are co-responsible for obtained resuets. It concluded tha's possible to make use of avaluation litter as an instrument of teaching improving or as a contribution in the conscious citizen development and, consequently, in the improvemait of the school.

Key-words: avaluation; work teacher; portfolio

Introdução

Pisar o chão da escola há anos ministrando a disciplina de arte

levou-me a buscar apoio em relação à avaliação, pois percebi que sempre

ficava com a sensação de ter sido injusta com algum aluno, por mais que

esclarecesse sobre os critérios adotados. Foi a partir dessa observação em

sala de aula, que decidi pela proposta de avaliação por portfólio, visando

1 O presente artigo é conclusão, ou melhor, é uma reflexão sobre o projeto de intervenção na escola, parte obrigatória do Programa de Desenvolvimento Educacional. 2 Professora PDE do ano de 2008, atuante no município de Porecatu.3 Professora do Departamento de Arte Visual da UEL e orientadora deste projeto.

Page 2: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

2

responder a essas e a outras questões. Vale lembrar que minha participação

no PDE4 foi decisiva para a elaboração da presente proposta de avaliação

inclusiva.

Durante o primeiro semestre do ano de 2009 pude experimentar e

aprofundar esta prática, através de um convite a reflexões, buscando uma nova

estratégia de avaliação.

Fundamentos teórico–metodológicos do ensino de Arte

As diferentes formas de pensar a Arte e seu ensino são frutos das

relações socioculturais, econômicas e políticas. É preciso que o ensino de arte

reflita sobre a finalidade da educação e por isso, os objetivos, os conteúdos e a

metodologia adotada deve contribuir para a ampliação da diversidade de

pensamento e a vivência com a criação artística. Não é por acaso que o

conhecimento estético se relaciona com objeto artístico e constitui um processo

de reflexão nos diferentes momentos históricos e a formação social em que se

manifesta.

O conhecimento da produção artística está relacionado aos

processos do fazer e da criação. Além disso, tal conhecimento considera o

artista no processo de criação das obras, as condições que subsidiam a

produção, o saber científico e o nível técnico alcançado, a maneira como a

obra é disponibilizada ao público.

O objeto artístico torna possível o conhecimento da realidade do

indivíduo criador quanto ao contexto histórico e social em que este vive e cria

suas obras. A arte pode revelar aspectos do real em relação a individualidade

humana. É preciso esclarecer que a existência humana é objeto específico da

arte.

Podemos dizer que a arte é uma forma sensível que revela a

visão de mundo construída pela percepção do artista. A arte é um

conhecimento de um aspecto específico da realidade do homem como ser vivo

e concreto, com idéias e concepção de mundo.

4 Programa de Desenvolvimento Educacional voltado para os professores da Rede Pública Estadual do Paraná cujo objetivo é a formação continuada visando a melhoria da escola.

Page 3: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

3

O Ensino de Arte e as imagens

Em todo processo de aprendizagem o professor tem se esforçado

em buscar o que desperta a atenção nos estudantes e este desafio está em

trabalhar concepções que possibilitem uma aprendizagem significativa.

Para Arnheim (1980, p.195) o pensamento visual é indivisível,

assim, a visão inteligente não pode se limitar ao atelier de arte, que isola e cria

uma distância da realidade, mas ao contrário, tal visão necessita da

experiência cotidiana atenta e crítica.

Nas funções cognitivas existem a organização e invenção visual

que resultam da percepção sensória do mundo exterior na elaboração da

experiência do pensamento visual e intelectivo, e o educador deve estar apto a

observar a mente pensante e perceptiva nas aspirações, paixões e temores do

ser humano total.

O conhecimento deve ter como base todo processo educativo do

jovem, buscando no estudo o que vai de encontro aos seus anseios, desde que

se considere a noção de arte em sua complexidade, na multiplicidade de níveis

de significado sempre renováveis.

Para Ostrower (1996, p.23) a complexidade é uma qualidade

essencial que caracteriza certos fenômenos da arte e toda esta estrutura faz

com que o seu estudo tenha relevância e qualidade.

É fato extraordinário que as mensagens visuais possam ser

legíveis e ter sentido para nós e que elas se articulam através de elementos

formais e que não é necessária a erudição para uma obra ser entendida e sim

a sensibilidade. Nisto a atividade estética tem o poder de reunir o que está

disperso, arrumar e criar uma composição, e o primeiro motor da criação é a

imagem visual.

Os recursos ou procedimentos criativos são meios de

concretização da obra, são formas de ação que envolvem a manipulação e a

transformação da matéria. Por isso, o desenvolvimento da criatividade e do

senso estético é, e será cada vez mais, um requisito importante para se

ingressar, permanecer e ter sucesso no novo mundo do trabalho.

Page 4: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

4

E no trabalho educacional o senso estético é uma maneira

permanentemente válida de apreender o mundo e atuar sobre ele, através de

atividade dotada de sentido. Isto é, especialmente válido quando consideramos

como objetivo da educação a realização das potencialidades do ser humano e

a sua preparação para a cidadania e o trabalho.

O ensino pelas imagens propõe pessoas que sejam criativas, que

raciocinem e resolvam problemas e, sobretudo, que sejam capazes de auto

determinar-se assumindo responsabilidades e correndo riscos, criando seu

próprio futuro.

A leitura pressupõe um olhar construtor de significação e o aluno

é levado a interpretar, a fazer associações, a partir da maneira como a arte se

faz e se mostra a ele.

O estudo das obras de arte pode levar a conhecer também o

contexto histórico no qual elas estão inseridas, muito embora, a obra de arte

não tenha prazo de validade e sua complexidade permita conhecer o homem

ainda que esteja distante de seu tempo.

O pensamento visual e verbal são necessários para a

interpretação de obras, pois a apropriação de imagens da arte é uma prática

familiar na arte contemporânea. Segundo Parsons (1999) a visão

contemporânea é a de que pode haver muitas formas significativas de

interpretação de uma obra de arte. Para esse autor isso é possível,

Desde que há diferentes contextos que podem ser relevantes para um trabalho, pode haver muitas interpretações dele e elas não necessariamente excluem-se umas às outras. Um espectador pode achar cada uma dessas interpretações razoável porque cada uma delas pode ser justificada em relação a um contexto diferente. Mesmo não enfatizando que os próprios contextos têm de ser reconstruídos pelos espectadores, há espaço considerável para diferentes e bem fundadas interpretações. (PARSONS, 1999, p. 9)

A compreensão da Arte reflete a sociedade contemporânea:

complexa, exigente, atenciosa, carregada de emoção e sensível. E as obras de

arte encarnam interesses comuns, unem diversos pensamentos, relacionam

contextos e são suscetíveis a várias interpretações. E o estudo da arte

promove entendimento de uma sociedade pluralista com diferentes histórias e

Page 5: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

5

valores. E a tarefa do ensino da arte é o de investigar os meios pelos quais os

estudantes encontram significados em obras de arte, como relacionam as

múltiplas interpretações sobre elas.

Frange (2003, p.38) assegura que na contemporaneidade,

precisamos de aportes filosóficos, estéticos, antropológicos, sociológicos,

culturais e contextuais para que possamos penetrar nas imagens. Esta

complexidade fascina ao despertar para suas múltiplas significações, unidos os

discursos visuais e verbais de um mesmo artista ou de outros artistas. A obra

de um artista contém toda a história da Arte, pois traz junto toda a vivência

construída, incessantemente. A autora diz ainda que a Arte na

contemporaneidade está ancorada muito mais em dúvidas, do que em

certezas, desafia levanta hipóteses e antíteses, em vez de confirmar teses.

As transformações nas concepções que têm orientado o ensino

de Arte enfrentam o desafio de refletir sobre seus processos e noções

contemporâneas. Conforme Tourinho (2003, p.33) o Ensino da Arte não está

em busca de soluções, e sim em busca de provocações e a avaliação no

ensino da Arte é uma provocação que deve nos atrair.

Uma das funções da Arte na escola é expressar o modo de ver o

mundo nas linguagens artísticas dando forma e colorido. E por isso, quando se

compreende o contexto dos materiais utilizados, as propostas e a pesquisa dos

artistas é também uma forma de se pensar sobre a Arte, refletir sobre o olhar.

No questionamento de Pillar (2003, p.73), ver é atribuir significado

e o significado está relacionado ao sentido que se dá à situação, às relações

que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O

sentido vai ser completado pelo contexto e pelas informações que o leitor

possui, e o que é descrito contribui para a interpretação que o leitor conferiu,

em um determinado momento e lugar.

Para Pillar (2003, p.75) a imagem é, hoje, um componente central

da comunicação. Com a multiplicação, ampla difusão e sua repetição infinita,

estes dispositivos fazem com que, por intermédio de sua materialidade, uma

imagem prolongue sua existência no tempo. Por isso, nas leituras das imagens

a diversidade de significados, o contexto, as informações, as vivências dão

sentido para cada imagem. É preciso apreciá-la na diversidade de sentidos.

Page 6: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

6

O olhar de cada um está impregnado com experiências

anteriores, associações, lembranças, fantasias e interpretações. O que se vê

não é o dado real, mas aquilo que se consegue captar e interpretar, acerca do

visto e do que nos é significativo. (PILLAR, 2006)

Os professores de arte necessitam aprofundar seus

conhecimentos, organizar materiais visando favorecer o conhecimento em

Artes Visuais, pois, há um percurso que engloba a análise, a informação

histórica e a contextualização, propriamente dita.

Espera-se que o ensino de arte dê conta de habilitar o aluno a

produzir uma imagem e ser capaz de ler uma imagem e seu contexto, pois

estas habilidades estão inter-relacionadas, o desenvolvimento de uma ajuda no

desenvolvimento da outra.

Ana Mae Barbosa (2003, p.17-20) ressalta que o sentido da Arte

mudou e que ela pode ser percebida pelos professores, no compromisso com a

cultura e com a história, na ênfase entre o fazer, a leitura de obra de Arte e a

contextualização histórica, social, antropológica e estética da obra. Assim,

desenvolver a percepção e a imaginação, apreender a realidade do meio

ambiente, desenvolver a capacidade crítica, analisar a realidade e desenvolver

a criatividade são atributos do ensino de arte.

Ainda, a vivência com a arte permite desenvolver qualidades

como a elaboração e a flexibilidade, a seleção, reelaboração a partir do

conhecido e a modificação de acordo com o contexto. Questionar o que a obra

nos diz, aqui e agora em nosso contexto. Interagir com diferentes culturas e

reconhecer que a imagem é de fundamental importância, não só para o

desenvolvimento da subjetividade, mas também para o desenvolvimento

profissional.

Tourinho (2003, p.33) comenta que a perspectiva relacional e

contextual do ensino da Arte poderia reativar uma teorização sobre a

importância das diferenças individuais, fator que a escola pública é bastante

presente, mas que muitas vezes não é considerado.

Conforme Ostrower (1998, p.26), a Arte representa um caminho

de conhecimento da realidade humana e hoje em dia os campos de

conhecimento se ramificam de tal modo, tornando-se tão vastos e tão

especializados, que é praticamente impossível ter-se noção de uma coerência

Page 7: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

7

espiritual em nossa época, coerência esta que se estenderia das formas de

raciocínio às formas de sensibilidade, abrangendo ciência e arte.

Pode-se dizer que Arte é a linguagem natural da humanidade, que

representa uma via de acesso a este mundo interior, de sentimentos, reflexões

e valores de vida, a única maneira de expressá-los é também comunicá-los aos

outros.

A Arte é uma necessidade de nosso ser, tanto espiritual quanto

físico. Está presente em todas as culturas na história da humanidade, desde os

tempos mais remotos até os tempos presentes. Refere-se à própria condição

humana e certos questionamentos sobre a realidade de nosso viver. Ela

sempre formula uma visão de mundo e tem uma linguagem própria que é

expressiva em si, como as cores, linhas e formas.

Toda criação na Arte envolve um processo de transformação,

essencialmente dinâmico e flexível. A cada nova linha, a cada cor, o contexto

se altera e os seus significados também. A natureza intuitiva passa a se

desenvolver quando se inicia a execução de uma obra, pois, surgem as

associações, possibilidades, imaginação, empatia, reunindo o consciente e o

inconsciente, tudo que a pessoa sabe e o que sente, o que ela é, integrando

tudo em sua personalidade. Assim, todos os processos criativos se originam

em uma intensa inquietação pessoal, uma plenitude que procura rumos e

ordenações para expressar-se.

A aprendizagem do olhar

Segundo Martins (2006) nossas escolhas e nosso modo de

provocar experiência são os responsáveis por nos mover para olhar aquilo que

antes não víamos, ou ainda, para nos pasmar, nos assombrar.

Para Vergara (s.d.), a idéia de experiência estética está

intimamente ligada à construção da consciência do olhar, como uma

experiência da consciência ativa. Uma experiência, um caminho que leve a

pensar na vida, a linguagem da arte, provocando leitores de signos.

Os objetos como obra de arte deixam de ter valor pela excessiva

valorização da pintura por nossa cultura, mesmo assim é preciso apresentar

obras contemporâneas através de objetos do cotidiano e coleções pessoais de

Page 8: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

8

miniaturas. Essa é uma tarefa para o professor como curador, pois, ao

adentrar a sala de aula e levarmos junto as imagens, somos semelhantes aos

curadores e cabe a nós sermos os mediadores entre estas e nossos alunos.

Para Parsons (1999), o estudo da arte promove em sua mais alta

sofisticação, o tipo de entendimento exigido por uma sociedade pluralista, na

qual grupos podem coexistir com diferentes histórias, valores e pontos de vista.

Tiburi (s.d.) complementa que para ver, olhar, é preciso pensar, e

com essa questão torna-se cada vez mais fundamental a excelência de seu

exercício no mundo das artes.

Finalidade da avaliação

As avaliações no cotidiano não se diferenciam entre intenção e

resultado, pois ambos têm como objetivo ensinar e o indivíduo, antes mesmo

de nascer, já passa por avaliações. Algo tão comum em nossas vidas deveria

ser tratado com maior clareza, entretanto, não é o que acontece,

principalmente quando o assunto é avaliação na disciplina de arte.

A avaliação deve contribuir para um futuro social qualificado para

o professor e a escola. Enquanto um projeto intencional e planejado como

referência para uma aprendizagem continuada na sala de aula deve apresentar

critérios definidos e estratégias claras, a fim de poder organizar o trabalho

docente.

Espera-se que os critérios sejam definidos pela intenção, pois

articulam as etapas da ação pedagógica. Os instrumentos de avaliação devem

ser pensados de acordo com o que se oferece para avaliar os critérios

estabelecidos.

Investigar para intervir, eis a avaliação do processo de ensino e

aprendizagem, e, devido a isto, a clareza dos critérios de avaliação, os

encaminhamentos metodológicos e a seleção de conteúdos fornecem

oportunidade de expressar conhecimento acerca do desenvolvimento do aluno.

É preciso refletir sobre a prática pedagógica da avaliação, para

que esta promova um salto de qualidade no ensino, pois o acesso ao

conhecimento é um benefício social, ao qual todos têm direito e é a razão de

ser da escola.

Page 9: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

9

A avaliação é feita para compararmos o lugar que o aluno ocupa

no momento e o lugar onde deveria estar, pois só podemos mudar o que bem

conhecemos, e com tal diagnóstico estabelecer estratégias que nos

encaminhem para uma situação mais favorável. Com isso é possível valorizar a

diversidade de conhecimentos e o processo de sua construção e socialização.

Na modalidade formativa a avaliação serve para o professor

reorientar suas práticas para que o aluno compreenda sua aprendizagem.

Avaliar para localizar a necessidade do aluno e para atender a superação e

desenvolver sua capacidade de aprender, de garantir o acesso ao

conhecimento, de promover e de incluir o aluno e acima de tudo, para

aprimorar a prática docente.

A avaliação deve ser contínua e por isso a importância de avaliar

um processo e não um produto, verificando os vários estágios de

desenvolvimento dos alunos.

O que se espera de uma avaliação transformadora é que seus

resultados façam parte de um diagnóstico, e que dessa análise da realidade

sejam tomadas decisões para superar problemas.

A concepção de avaliação para a disciplina de Arte, presente nas

Diretrizes Curriculares para a Educação Básica é diagnóstica e processual,

pois pertence a todos os momentos da prática pedagógica. A avaliação

processual deve incluir formas de avaliação de aprendizagem do ensino, como

a auto-avaliação dos alunos, por exemplo.

De acordo com a LDB (n.9.394/96, art.24,inciso V) “a avaliação é

contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos

qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre

os de eventuais provas finais”.

A avaliação em Arte supera o papel de mero instrumento de

medição da apreensão de conteúdos e busca propiciar aprendizagens

socialmente significativas para o aluno.

Nas Diretrizes Curriculares estaduais para a Educação Básica a

avaliação está presente como importante instrumento para a reflexão da prática

pedagógica, pois possibilita uma abordagem formadora em que a

aprendizagem é o fim desse processo. As decisões que são tomadas permitem

no processo educativo o acesso ao conhecimento. Com isso, a escola fica mais

Page 10: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

10

próxima da comunidade e dos alunos e contribui para a compreensão de suas

dificuldades.

Desse modo, a ação pedagógica pode contribuir para a formação

de sujeitos que se apropriam do conhecimento para compreender as relações

humanas.

O método de avaliação proposta nessas Diretrizes inclui

observação e registro do processo de aprendizagem, com avanços e

dificuldades percebidos na apropriação do conhecimento pelos alunos. Assim,

o aluno deve elaborar seus registros de forma sistematizada com

oportunidades para refletir e discutir sua produção e a dos colegas, que é uma

forma de socializar o conhecimento adquirido.

Avaliação através do portfólio

A partir da observação em sala de aula, sobre a dificuldade em se

avaliar de maneira justa, eqüitativa, a proposta de avaliação por portfólio, vem

responder a essas questões.

Conforme Alvarenga e Araújo (2006) relatam, os portifólios

documentam o desenvolvimento e as habilidades do indivíduo, pois na sua

construção está caracterizado o processo que envolve auto-reflexão do aluno e

o induz à auto-avaliação.

Para Haip e Hurnsker (1997, p. 227), o portfólio é como uma

coletânea de trabalhos, que demonstram o crescimento, as crenças, as

atitudes e o processo de aprendizagem de um aluno, como reflexões sobre os

temas importantes tratados em sala de aula, conteúdos em evidência, relatório,

síntese de discussões, produções escritas e gravadas que devem ser a base

para a avaliação contínua e evolutiva do progresso dos alunos em relação ao

aprendizado.

Este trabalho por portfólio convida o aluno a contar a história do

seu trabalho, força-o a questionar-se, e a base da educação é ensinar o aluno

a pensar a partir da capacidade de síntese de informação, a partir da análise e

avaliação. Outro aspecto que se destaca é o elemento sócio-emocional de

reflexão, melhora a auto-estima, do auto conceito positivo, da auto confiança,

quando os estudantes percebem o progresso.

Page 11: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

11

Para Alvarenga e Araújo (2006) avaliar por portfólio demanda

tempo, paciência e prática. Decisões sobre quais trabalhos são informativos ou

quais objetivos são mais importantes para documentar, requerem certa

aprendizagem por parte do professor e do aluno.

Pilloto e Mognol (2007) afirmam que estamos em uma geração de

avaliação cuja principal característica é a negociação e o consenso é buscado

entre pessoas com diferentes valores, respeitando-se os dissensos

identificados, num processo interativo e negociado. As autoras referem-se às

pesquisas internacionais, na área, que enfatizam a importância da avaliação

formadora, na qual os alunos analisam seu próprio desempenho por meio da

auto crítica, além da produção de pastas de atividades, reflexões, diálogo entre

professor e aluno, e posição de trabalhos, ensaios, fotografias e outros

registros como fonte de análise para o processo de avaliação.

Na metodologia pautada na aprendizagem, cabe a todos os

envolvidos no processo, sejam eles, alunos ou professores, atuarem como

avaliadores. É necessário participar de uma comunidade, na qual a negociação

e a troca são a base do planejamento e entrelaçá-lo ao dia-a-dia.

(MAGDALENA e COSTA, 2003.)

Neste interjogo, deixamos de ser os donos da verdade e

passamos a ser companheiros dos alunos, podendo escutá-los, e muitas

vezes, contribuir no florescer do processo de conhecimento, que possibilitará

uma ação mais efetiva na escola. Nesse interjogo, o diálogo ocupa lugar de

destaque, principalmente, quando ocorre em torno daquilo que é produzido em

sala de aula, pois os estudantes ao expressarem suas opiniões vão adquirindo

mais confiança no próprio aprendizado. Em relação a isso, as palavras de

Bondía são esclarecedoras:

Eu creio no poder das palavras, na força das palavras, creio que fazemos coisas com as palavras e, também, que as palavras fazem coisas conosco. As palavras determinam nosso pensamento porque não pensamos com pensamentos, mas com palavras, não pensamos a partir de uma suposta genialidade ou inteligência, mas a partir de nossas palavras. (2002, p.2)

A velocidade com que os fatos acontecem, tudo ao redor

inconstante, agitado, faz com que o silêncio e a memória, se afastem da

experiência significativa, tão necessária para a aprendizagem escolar.

Page 12: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

12

Precisamos estar receptivos, disponíveis, abertos para sermos sujeitos da

experiência, aquele que expõe, e que se propõe.

Bondía (2002) afirma que quando falamos em fazer uma

experiência isso não significa precisamente que nós a façamos acontecer,

fazer significa aqui: sofrer, padecer, tomar o que nos alcança receptivamente, e

aceitar, à medida que nos submetemos a algo.

O saber da experiência é o que se adquire no modo como alguém

vai respondendo ao que vai lhe acontecendo ao longo da vida, e como vamos

dando sentido ao que nos acontece. A experiência, como diz Bondía (2002),

não é o caminho até um objetivo previsto, até uma meta que se conhece, é

uma abertura para o desconhecido. É a diferença das palavras que pode

revelar uma diferença em nossos gestos, ações e comportamentos.

E neste caminhar de palavras e imagens vou construindo um

olhar leitor, selecionando e capturando leituras, que nos fazem pensar e nos

revelam múltiplas interpretações.

E estas reflexões nos fazem olhar para nós mesmos e pensar a

nossa prática e quais caminhos estamos seguindo e se estamos efetivamente

fazendo uma mediação cultural que provoca a experiência estética.

Neste processo de busca de uma melhor aprendizagem no ensino

de arte, vem de encontro uma nova forma de avaliar uma estratégia, que

diversifica e contribui para uma aproximação do conhecimento e da experiência

do aluno. A prática do portifólio, para Nunes (1999), contribui para o

desenvolvimento integral dos alunos, dotando-os da capacidade de investigar,

de espírito crítico, do pensamento divergente, capacidade de resolver

problemas.

O autor completa que o portifólio é uma sistemática e organizada

coleção de evidências usadas pelos professores e alunos, onde não faltam

análises e reflexões sobre suas aprendizagens.

Para Hernández (2000), o que definitivamente particulariza o

portifólio, é o processo constante de reflexão, de contraste entre as

pluralidades educativas e as atividades realizadas para sua concepção, a

maneira como cada aluno explica seu próprio processo de aprendizagem,

como diálogo com os problemas e temas da série.

Page 13: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

13

O autor garante que cada portifólio é uma criação única e é uma

forma de avaliação dinâmica realizada pelo estudante e que reflete seu

desenvolvimento e suas mudanças através do tempo.

A avaliação por portifólio é para Hernández recolher da melhor

maneira o processo vivido pelo aluno, pronunciar-se sobre seu valor, utilizá-lo

como referencial e guia para melhorar os processos de aprendizagem e

compreensão dos alunos, empregá-lo como elemento de reflexão no momento

de planejar as atividades de ensino.

Caracterização do grupo

Este projeto foi desenvolvido no Colégio Estadual Malvino de

Oliveira, na cidade de Porecatu, com a turma do 3º ano do ensino médio, no

período da manhã, com 26 alunos de uma condição sócio-econômica de classe

média baixa e de idades entre 16 e 17 anos, morando na região central da

cidade, próxima do colégio. A duração do trabalho foi de um bimestre.

A proposta de trabalho girou em torno dos DVD´s de dois artistas:

Amélia Toledo e Leonilson. Ambos apresentam questões relativas à coleções

e, a faixa etária dos alunos com os quais realizei esta pesquisa-ação é

extremamente adequada para se tratar desse assunto. Eles têm o hábito de

guardar marcas das experiências sobre as quais passam, assim, é um

guardanapo da lanchonete onde conheceu uma menina, a caixa de fósforos da

pizzaria que foi com os amigos, a capa do CD preferido, cadernos com as

assinaturas dos amigos, enfim, são guardados para recordar. Assim, acreditei

que poderia desenvolver portifólios que mostrassem o processo de

desenvolvimento das idéias propostas em aula.

De fato, meus alunos abraçaram a idéia de criar coleções e foram

esclarecidos sobre a importância de adquirirem o hábito de refletir acerca

dessas experiências, e, preferencialmente, fazendo isso através de textos.

O hábito de pensar por escrito, ou melhor, de escrever tudo o que

se pensa a respeito de algo pode desenvolver habilidades de argumentação e

observação e por isso, contribui com o desenvolvimento da percepção, do olhar

– dos sentidos. Desse modo, sempre após um estímulo na aula eu solicitava

aos estudantes que fizessem uma análise das obras apresentadas e posterior

Page 14: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

14

reflexão por escrito. Para se ter uma idéia desse exercício vejamos o que diz

uma aluna sobre o DVD de Amélia Toledo:

“Amélia Toledo faz arte por diversos meios: natureza, espelhos, conchas,

aquarelas, etc. Ela traz a paisagem para dentro do objeto e nos ensina a

encontrar a mesma em todo o lugar. As pedras têm todo um olhar profundo,

recordando as montanhas como os cristais. A espontaneidade é o princípio

vital para a arte e se torna fundamental e indispensável. Um dos seus projetos

é contar histórias para crianças e os personagens desse enredo a natureza já

criou. A paixão pelos astros é muito importante, no olhar das bolhas faz pensar

e refletir. Os elementos naturais fazem com que a arte fique leve e com

qualidade.” (V5.).

Dentro da pesquisa realizada procurei explorar diversas

alternativas a fim de sensibilizar os alunos, pois queria perceber como eles se

relacionavam com as diversas linguagens da arte.

Dando continuidade ao trabalho, após compartilharem com os

colegas as coleções que cada um fazia, procuramos brincar com o acaso,

considerando que as coleções trazidas para a sala de aula mais pareciam as

imagens de um caleidoscópio, e para construirmos algo concreto, fizemos

diversas experiências com garrafas pet contendo líquidos coloridos projetadas

no retroprojetor. Essa experiência promoveu muitos exercícios de percepção e

culminou com a produção de poesias. A seguir apresento uma destas:

“Água

Água colorida e cristalina Seu movimento nos lembra,O batimento de um coraçãoCom sua áura com tanta vida.”

Passa-nos tranqüilidade De uma praia deserta O movimento sereno Das ondas quebrando na praia

No movimento do compassoDe uma bela cançãoEm cada movimento Uma nova imagem

Criando uma nova atraçãoQue nos lembra do brilho do sol O brilho de um olhar Ó... águas serenas”

5 A fim de proteger a identidade dos alunos, utilizarei apenas a inicial do primeiro nome de cada um.

Page 15: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

15

(A.)

Após essa experiência, continuamos a procurar colecionar aquilo

que a natureza nos oferece, assim, os alunos trouxeram flores, plantas, carvão,

terra, sementes e tudo o que conseguiram juntar para traduzir a nossa região.

Decidimos que produziriam pinturas explorando o que cada um desses

materiais poderia oferecer.

Pude observar com Hernández (2000) que a realização de um

diário reflexivo constitui uma ferramenta de inquestionável interesse para

reconstruir o processo e assim revelar a importância de encontrar um fio

condutor que organize a seleção de evidências que deverão passar a fazer

parte do portifólio.

Page 16: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

16

Observando essas três pinturas anotamos a presença do

estereótipo que tem espaço marcante na vida dos alunos. A escola seria um

ótimo espaço para discutirmos essa presença, entretanto, dificilmente é

combatido, pois está ligado ao gosto e à prática escolar.

O estereótipo está presente na televisão, nos livros didáticos, nas

histórias em quadrinhos, na família, etc. É necessário criar possibilidades a fim

Page 17: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

17

de mostrar aos alunos que podemos tirar proveito dos estereótipos sem

contudo nos tornarmos reféns destes. Talvez se promovêssemos discussões e

reflexões a esse respeito, provavelmente possibilitaríamos o desenvolvimento

de um olhar mais crítico em relação a isso. Nosso desejo é que os

estereótipos sejam combatidos em uma prática constante da inquietação e

mudança na maneira de encarar a própria vida, com resultados que

surpreendam e inovem.

Apesar da presença apontada – o estereótipo – , entendemos que

as experiências dos alunos permitiram maior envolvimento com os trabalhos e

também a preocupação em construir algo coerente, com objetivo claro. Isso se

expressa nas palavras da aluna:

“Neste trabalho percebi como podemos fazer Arte de forma diferente, com

elementos naturais. Essas cores puras deixam o desenho bem mais delicado,

suave, com muita naturalidade. Utilizei elementos como flores, café, chá mate,

urucum e folhas de plantas. A coloração foi diversa, com as rosas obtive a cor

violeta e das folhas a cor verde. Além da naturalidade o trabalho ficou com um

leve aroma.” (V.)

Seguindo os passos de Amélia Toledo e atendendo aos pedidos

dos alunos decidimos trabalhar, a partir da música popular brasileira, pinturas a

guache, e é curioso como as coisas fluíram, independente de idade e sexo,

pois percebemos que todos os alunos se envolveram muito com essa proposta

e muitas discussões brotaram daí. Esta aluna diz:

“A música simplesmente nos inspira na hora de pintar, se a música é alegre

nossa pintura será alegre, se ela é triste nossa pintura será triste, é assim que

funciona, o grupo fica mais reunido, criamos novas idéias para pintar e é muito

bom. É o tipo de terapia, você pode demonstrar o que sente através da

pintura.” (J.)

Page 18: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

18

O DVD do artista Leonilson resultou em trabalho proveitoso, mais

reflexivo, pois esse artista fala de arte e vida. E ao analisar as obras dele esse

aluno disse coisas sobre as quais nunca havia falado:

“Ele era um artista plástico que gostava de mexer com a imaginação, e as

pequenas coisas da vida, gostava de criar objetos, desenhos e imagens

diferentes, misturava muito as cores, dando vida e alegria a seus trabalhos. Em

cada obra que fazia era uma mensagem que escrevia, ele despertava o

interesse e a curiosidade das pessoas pelas suas obras, seus desenhos, cores

e escritas, ele gostava muito de cores em metais em suas obras. O que ele faz

são objetos de curiosidades. Em cada obra ele queria passar algum

sentimento, alguma mensagem, muitas das suas obras ele fazia em pano, um

pequeno pedaço de pano, para ele se transformava em obra, em uma bela

arte, ele ousava nos desenhos e nos significados ele gostava muito de passar

verdade em suas obras, era uma de suas frases preferidas. “O meu trabalho é

uma observação de mim mesmo.” Ele se observava quando fazia seus

trabalhos. Ele dizia que não precisava falar para expressar algum sentimento.”

(L.)

A fala do aluno nos mostra que é necessário reconhecermos nas

imagens e objetos possibilidades para serem utilizadas como produto artístico

e cultural cheio de significados. E no encontro deste olhar, do existir, da

experiência alongada no tempo e no espaço, ligado à contemplação da obra,

ela nos faz pensar. É familiarizando-nos com esta prática que construiremos o

Page 19: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

19

hábito de ler imagens. Como diz Frange (2003), as imagens estão no mundo,

não são imagens do mundo.

De fato, os alunos se impressionaram com as obras de Leonilson,

uma vez que o futuro não é dilema de poucos. As palavras dessa outra aluna

são reveladoras:

“Futuro Você sabe seu dia de amanhã? Não, você só pode ter certeza do que

aconteceu no seu passado. E o seu futuro como será? Você já tem planos?

Você sabe o que fará de sua vida? Isso é complicado, você não sabe nada, um

acontecimento pode mudar sua vida completamente, por isso viva

intensamente cada momento, como se fosse o último, diga sempre para as

pessoas que você gosta palavras amorosas, pois pode ser a última vez que

você irá vê-los. Você pode ter planejado seu futuro inteiro, porem, cuidado a

vida pode mudar seu destino como você nunca imaginou. O mundo muda o

tempo todo e com isso muda sua vida, como diz o poema: estude como se

fosse viver eternamente, e viva como se fosse morrer amanhã. (A.C.)

O portifólio, por ser uma coleção de registros, permite que tanto o

professor, como o aluno façam uma reflexão sobre tudo o que é produzido

durante o processo de construção do mesmo, isto leva os envolvidos

inevitavelmente à auto-avaliação. Sobre tal característica do portifólio, Kish e

outros (1997) destacam que o portifólio como elemento moral de reflexão que

pode facilitar o questionamento ético que guia as ações das pessoas, incentiva

a reflexão moral, questiona e forma uma visão de mundo, permite um

pensamento crítico, que são a base desse processo.

As palavras da aluna referendam o que dizem os autores sobre as

potencialidades do portifólio:

“Nestes trabalhos realizados aprendi me auto-avaliar, a criar Arte, a ter novas

idéias. Ao ver as obras de Amélia Toledo, que usa materiais naturais que

passam a leveza, paz em cada composição. O artista Leonilson em suas obras

descrevia em seu cotidiano, tudo o que sentia, escrevia em poesias. No

portifólio realizado, me fez lembrar coisas que passam despercebidas no meu

dia-a-dia, que foi ótimo lembrá-lo, através de um diário. Por fim foi muito

prazeroso desenvolver estes trabalhos de Amélia Toledo e Leonilson. Entre

trabalhos de escrita, coleção, desenhos de atração e estranhamento com

elementos naturais fez com que conhecêssemos a verdadeira essência de sua

beleza e necessidade” (V)

A reflexão da aluna mostra que lidar com a arte é construir um

olhar sensível e crítico, para perceber como os elementos estéticos trazem

Page 20: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

20

significados diversos e o que está por trás de uma obra. Ser capaz de refletir

sobre o lugar em que se vive: a escola, a praça, o próprio cotidiano.

Conclusão

Procurar caminhos mais adequados para avaliar apontou para

diversas questões, entre elas, a de que não é possível mais descartar o que

pensam os alunos sobre avaliação e sobre o processo de construção do

próprio conhecimento.

A questão central desta pesquisa era o portifólio como recurso

para a realização de uma avaliação inclusiva e isso de fato aconteceu, pois

houve mudança de comportamento nas aulas a partir dessa proposta. Desse

modo, acreditamos ter alcançado o objetivo da PDE, pois o fato de ter sido

realizada uma pesquisa-ação promoveu grande melhora na ação docente e

consequentemente, na participação dos estudantes na sala de aula.

Como toda pesquisa, esta não se acaba aqui, pois os próprios

alunos querem continuar alimentando seus portifólios e de minha parte sei que

não é mais possível adotar prática avaliativa diferente desta que acabo de

relatar. Assim, pelo que percebi até aqui é possível ter indicações daquilo que

alunos e professores julgam positivo no avaliar e ser avaliado.

Referências

ALVARENGA, Georflávia montoza; Araújp, Aildaa Rossi. Portfólio: conceitos

básicos e indicações para utilização. Estudos em Avaliação Educacional.

v.17, n.33, jan. abr.2006, p.137-147.

ARNHEIM, Rudolf. Arte e Percepção Visual. Ed. Pioneira- USP. São

Paulo-1980

OSTROWER, Fayga. Universos da Arte. Campus 9 ed. Rio de Janeiro- 1991

BARBOSA, Ana Mae. Org. Inquietações e mudanças no Ensino da Arte. 2

ed. São Paulo: Cortez, 2003.

Page 21: Avaliação do portifólio: uma proposta de avaliação inclusiva · que estabelecemos entre as nossas experiências e o que estamos vendo. O sentido vai ser completado pelo contexto

21

BUORO, Anamélia Bueno. Olhos que pintam: a leitura de imagem e o ensino de arte.São Paulo:Educ/Fapesp/Cortez,2003.

FRANGE, L. B. P. Arte e leitura de imagens – Considerações. Revista Univille, Joinvile, vol. 10, n.1, julho, 2005. Disponível em <http://www.artenaescola.org.br/pdf/artigo_arteleitura.pdf>. Acesso em: 23 jan.

2007._______. A arte e seu ensino, uma questão ou várias questões. In: BARBOSA, A. M. (org.). Inquietações e mudanças no ensino de arte. São Paulo: Cortez, 2002.

KINCHELOE,J.L.. A Formação do Professor Como Compromisso Político: mapeando o pós-moderno. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

HERNÁNDEZ, Fernando. Cultura Visual, Mudança Educativa e Projeto de Trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2000.

SHORES Elizabeth F. e GRACE Cathy. Manual do Portfólio: um guia passo a passo. Porto Alegre: Artmed editora, 2001.

MARTINS, M. C. Aquecendo uma transforma-ação: atitudes e valores no ensino de arte. In: BARBOSA, Ana Mae. (org.). Inquietações e mudanças no ensino de arte. São Paulo: Cortez, 2002.

_______. (coord.). Curadoria educativa: inventando conversas. Reflexão e ação. Revista do Departamento de Educação / UNISC – Universidade de Santa Cruz do Sul, vol.14, jan-jun 2006.

OLIVEIRA, S. R. e. Imagem também se lê. São Paulo: Edições Rosari, 2005 (Coleção TextosDesign).

PARSONS, M. J. Compreender a Arte: um ato de cognição verbal e visual. São Paulo, 1999. Disponível em: <http://www.sescsp.com.br/sesc/hotsites/arte/index.htm>. Acesso em: 21 fev. 2005.

TIBURI, M. Aprender a pensar é descobrir o olhar. Jornal do Margs, edição 103 (setembro/outubro).