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  • UNIVERSIDADE DE TAUBAT

    Oberdan Martins Silva

    AVALIAO DO EFEITO AMBIENTAL NAS

    PROPRIEDADES MECNICAS DO COMPSITO DE

    PEEK/FIBRA DE CARBONO PROCESSADO VIA

    MOLDAGEM POR COMPRESSO A QUENTE

    Taubat-SP

    2011

  • UNIVERSIDADE DE TAUBAT

    Oberdan Martins Silva

    AVALIAO DO EFEITO AMBIENTAL NAS

    PROPRIEDADES MECNICAS DO COMPSITO DE

    PEEK/FIBRA DE CARBONO PROCESSADO VIA

    MOLDAGEM POR COMPRESSO A QUENTE

    Dissertao apresentada como parte dos requisitos para obteno do Ttulo de Mestre no curso de ps-graduao em Engenharia Mecnica do Departamento de Engenharia Mecnica da Universidade de Taubat. rea de Concentrao: Tecnologia de materiais e processos de fabricao. Orientador: Prof. Dr. Evandro Lus Nohara

    Taubat-SP

    2011

  • OBERDAN MARTINS SILVA

    AVALIAO DO EFEITO AMBIENTAL NAS PROPRIEDADES MECNICAS DO

    COMPSITO DE PEEK/FIBRA DE CARBONO PROCESSADO VIA MOLDAGEM

    POR COMPRESSO A QUENTE

    Dissertao apresentada como parte dos requisitos para obteno do Ttulo de Mestre no curso de ps-graduao em Engenharia Mecnica do Departamento de Engenharia Mecnica da Universidade de Taubat. rea de Concentrao: Tecnologia de materiais e processos de fabricao. Orientador: Prof. Dr. Evandro Lus Nohara

    Data: 06 de setembro de 2011

    Resultado: ___________________________

    BANCA EXAMINADORA

    Prof. Dr. Evandro Lus Nohara Universidade de Taubat

    Presidente da banca Orientador

    __________________________________________

    Prof. Dr. Aluisio Pinto da Silva Universidade de Taubat

    Membro interno

    Assinatura _________________________________

    Prof. Dra. Liliana Burakowski Nohara Universidade Estadual Paulista UNESP

    Membro externo

    Assinatura _________________________________

  • Dedico este trabalho como prova do amor que

    tenho minha esposa Joelma, aos meus queridos

    pais, Helvcio e Maria Jos e minha querida irm

    Dbora, que sempre me apoiaram e incentivaram

    para a realizao deste feito.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Jesus, meu Senhor e meu Deus, que me deu sade, paz e

    perseverana para a realizao deste trabalho.

    Ao meu orientador, Prof. Dr. Evandro Lus Nohara pela ateno, pacincia e

    sugestes importantes durante todo o curso, sem os quais no teria sido realizado.

    Universidade de Taubat (UNITAU) pela oportunidade da realizao do Curso

    de Mestrado Profissional em Engenharia Mecnica, na rea de concentrao

    Tecnologia de Materiais e Processos de Fabricao.

    Aos funcionrios do Departamento de Engenharia Mecnica da UNITAU, em

    especial, s secretrias da seo de ps-graduao, Helena Barros Fiorio e Ruth

    Nobuko Nakabayashi pelo pronto atendimento e dedicao.

    empresa Hexcel pelo fornecimento do semi-impregnado de PEEK/fibra de

    carbono.

    empresa ALLTEC Indstria de Componentes em Materiais Compsitos Ltda e

    Eng. Juliana Machado da Mota, pela disponibilizao da prensa utilizada na

    confeco dos compsitos, e aos tcnicos Jarbas e Marcelo pelo apoio e colaborao

    na realizao dos processamentos.

    Pesq. Dra. Mirabel Cerqueira Rezende e tcnica Andreza de Moura, da

    Diviso de Materiais (AMR), do Instituto de Aeronutica e Espao (IAE) do

    Departamento de Cincia e Tecnologia Aeroespacial/DCTA, pela viabilizao das

    anlises de DMTA.

    Ao Prof. Dr. Edson Cocchieri Botelho do Departamento de Materiais e

    Tecnologia da Faculdade de Engenharia de Guaratinguet (FEG) / Universidade

    Estadual Paulista - UNESP, pela viabilizao dos equipamentos para ensaios de

    condicionamento higrotrmico, condicionamento por radiao ultravioleta e anlises de

    DSC e TGA.

  • Agradeo a todos os colegas, parentes e amigos que de alguma forma

    contriburam para a realizao desta dissertao.

  • Suba o Primeiro degrau com f. No necessrio que voc veja

    toda a escada. Apenas d o primeiro passo.

    Martin Luther King

  • RESUMO

    A utilizao de compsitos com matrizes termoplsticas na indstria aeronutica

    aparece com forte tendncia de utilizao na construo de aeronaves, dado o seu

    potencial de produo a baixo custo, a sua possibilidade de reciclagem e a facilidade

    na execuo de reparos. Dentre os polmeros termoplsticos utilizados em compsitos,

    o PEEK (poli(ter-ter-cetona)) tem atrado considervel interesse como um polmero

    avanado de engenharia, devido ao seu desempenho mecnico, que reforado com

    fibras de carbono apresenta caractersticas de resistncia mecnica desejveis para

    serem utilizadas em estruturas de alto desempenho. Entretanto, os compsitos

    polimricos podem apresentar mecanismos de degradao quando expostos a

    ambientes agressivos como a elevada temperatura e umidade e tambm, a radiao

    ultravioleta. Neste sentido, o objetivo do presente trabalho avaliar a influncia do

    condicionamento higrotrmico e da radiao ultravioleta na propriedade mecnica de

    resistncia ao cisalhamento interlaminar (ILSS) e no comportamento viscoelstico

    (DMTA) do compsito termoplstico de PEEK/fibra de carbono, assim como, avaliar a

    influncia dos parmetros de processamento na obteno do compsito via moldagem

    por compresso a quente. Os resultados mostram que no processamento, a utilizao

    constante de presso durante a etapa de resfriamento do compsito fundamental

    para a sua consolidao, refletindo no ensaio de resistncia ao cisalhamento

    interlaminar (18,4 MPa). As anlises viscoelsticas das amostras submetidas aos

    condicionamentos ambientais (higrotrmico e ultravioleta) mostram que o

    condicionamento que mais afetou o compsito foi o higrotrmico. As anlises

    demonstraram que a temperatura de transio vtrea das amostras ensaiadas por

    condicionamento higrotrmico (Tg=115 C) foi muito afetada, comparativamente as

    amostras no condicionadas (Tg=147 C), indicando o efeito deletrio do

    condicionamento higrotrmico nas amostras.

    Palavras-chave: Compsito termoplstico, PEEK, condicionamento ambiental,

    propriedades mecnicas, anlises viscoelsticas.

  • ABSTRACT

    The use of thermoplastic matrix composites in the aerospace industry comes up with a

    strong tendency to use in airplane applications, because of potential low cost

    production, recyclability and making repairs facilities. Among the thermoplastic

    polymers used in composites, PEEK (poly(ether ether ketone)) has attracted

    considerable interest as an advanced engineering polymer due to its mechanical

    performance which reinforced with carbon fibers, provides mechanical strength

    characteristics desirable for use in high performance structures. However, polymeric

    composites can present degradation mechanisms when exposed to aggressive

    atmosphere such as high temperature and moisture, also ultraviolet (UV) radiation. This

    way, the aim of this study is to evaluate the influence of hygrothermal conditioning and

    ultraviolet radiation on the interlaminar shear strength (ILSS) mechanical property and

    the viscoelastic behavior (DMTA) of the PEEK/carbon fiber thermoplastic composite,

    and also to evaluate the processing parameters influence to make the composite via hot

    compression molding. The results show in this method that, the use of constant

    pressure is critical to its consolidation during the composite cooling step, reflecting the

    shear strength testing (18.4 MPa). The samples viscoelastic analysis subjected to the

    environmental conditioning (hygrothermal and UV) show that the hygrothermal

    conditioning the most affected the composite. Analysis showed that the samples glass

    transition temperature tested by hygrothermal conditioning (Tg=115 C) was very

    affected compared to non-conditioned samples (Tg=147 C), indicating the hygrothermal

    conditioning deleterious effect on the samples.

    Keywords: Thermoplastic composite, PEEK, environmental conditioning, mechanical

    properties, viscoelastic analysis.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Linha do tempo dos materiais compsitos termoplsticos na aviao

    comercial ....................................................................................................................... 20

    Figura 2 (a) Bordo de ataque da asa do Airbus A380; (b) Soldagem por resistncia do

    bordo de ataque ............................................................................................................ 21

    Figura 3 Painel do piso da caverna de presso das aeronaves Gulfstream G550 e

    G650 .............................................................................................................................. 22

    Figura 4 Leme obtido com compsito termoplstico do novo jato executivo Gulfstream

    G650 soldado por induo ............................................................................................. 23

    Figura 5 Longarina do piso em compsito termoplstico de PEKK/fibra de carbono . 24

    Figura 6 Junta de topo (butt joint) entre a nervura reforadora com a longarina ........ 24

    Figura 7 Seo transversal da junta de topo com a adio de um raio na base ........ 24

    Figura 8 (a) viga com a alma em forma de onda senoidal com junta de topo com a

    flange; (b) Painel de revestimento integrado com os reforadores em forma de T ..... 25

    Figura 9 Tipos de molculas polimricas: a) linear; b) ramificado; c) com ramificaes

    em estrela; d) escalar; e) grafitizado ou enxertado; f) semi-escalar; g) com ligaes

    cruzadas ou reticulado................................................................................................... 32

    Figura 10 Grfico esquemtico da variao do mdulo de elasticidade em funo da

    temperatura para vrios tipos de polmeros. ................................................................. 33

    Figura 11 Grfico esquemtico das movimentaes moleculares de um polmero no

    estado amorfo, considerando as variaes de mdulo de elasticidade em funo da

    temperatura ................................................................................................................... 35

    Figura 12 Ilustrao representativa da mobilidade segmental resultante da

    movimentao conjunta entre segmentos envolvendo 20 a 50 ligaes ....................... 36

    Figura 13 Tipos de configurao de cadeia para polmeros termoplsticos (a) linear

    (b) ramificada ................................................................................................................. 38

    Figura 14 Representao de um polmero com ligaes cruzadas ............................ 43

    Figura 15 Ocorrncia de antiplastificao quando baixos teores de DOP so

    adicionados ao PVC ...................................................................................................... 48

    Figura 16 Efeito da natureza do plastificante na magnitude da antiplastificao do

    PVC ............................................................................................................................... 49

  • Figura 17 Estrutura qumica do PEEK ........................................................................ 56

    Figura 18 Valores do ndice Trmico Relativo (RTI) conforme norma UL 746B ......... 56

    Figura 19 Exemplo de puxador de porta em compsito polimrico PEEK.................. 58

    Figura 20 Prendedores em compsito polimrico PEEK ............................................ 58

    Figura 21 Tampa de orifcio de inspeo em compsito polimrico PEEK................. 59

    Figura 22 Carenagem do Pilone em compsito polimrico de PEEK ......................... 59

    Figura 23 Calotas do sistema de monitoramento dos freios do avio Boeing 777 ..... 60

    Figura 24 Principais tipos de tecidos utilizados para materiais compsitos................ 61

    Figura 25 Resumo das tecnologias de fabricao de compsitos termoplsticos ...... 64

    Figura 26 Efeito da temperatura e umidade na resistncia trao em laminados

    termorrgido seco e mido de AS4/3501-6 a 45 ........................................................ 68

    Figura 27 - Efeito do tempo de exposio radiao ultravioleta na elongao mxima

    do polipropileno ............................................................................................................. 69

    Figura 28 - Efeito do tempo de irradiao por ultravioleta na frao de gel do PEBD ... 70

    Figura 29 Representao da fase matriz e da fase fibra em um material compsito,

    com a fibra intermediria rompida ................................................................................. 72

    Figura 30 Representao da matriz suportando as fibras e resistindo ao

    carregamento em um material compsito sob compresso .......................................... 73

    Figura 31 Diferentes planos de separao de compsitos reforados com fibras

    contnuas. (a) fratura intralaminar, (b) fratura interlaminar e (c) fratura translaminar .... 74

    Figura 32 Representao do ensaio de resistncia ao cisalhamento interlaminar de

    trs pontos "short beam" ............................................................................................... 76

    Figura 33 Modos de falhas possveis de ocorrer em amostras ensaiadas por

    cisalhamento interlaminar ILSS ..................................................................................... 77

    Figura 34 Representao das funes senoidais da deformao aplicada () e da

    tenso resposta () para materiais: (a) elsticos lineares, (b) viscosos lineares e (c)

    viscoelsticos ................................................................................................................ 79

    Figura 35 Fluxograma com as etapas executadas no presente trabalho. .................. 82

    Figura 36 Configurao do tecido tipo twill weave do semi-impregnado PEEK/ fibra de

    carbono. ......................................................................................................................... 83

    Figura 37 Fotografia do tecido semi-impregnado de PEEK/fibra de carbono ............. 83

  • Figura 38 Prensa hidrulica utilizada para o processamento via moldagem por

    compresso a quente dos compsitos de PEEK / fibra de carbono .............................. 84

    Figura 39 Detalhe da prensa hidrulica adaptada com placas equipadas com

    resistncias cilndricas e termopares para controle eletrnico do aquecimento ............ 85

    Figura 40 Moldes utilizados para a consolidao dos compsitos processados via

    moldagem por compresso a quente: a) parte inferior - fmea e b) parte superior

    macho ............................................................................................................................ 86

    Figura 41 Representao do recorte do compsito consolidado para obteno dos

    corpos de prova. ............................................................................................................ 86

    Figura 42 Ciclo de consolidao proposto para a moldagem por compresso a quente

    do compsito de PEEK/fibra de carbono. ...................................................................... 87

    Figura 43 Cmara de condicionamento higrotrmico ................................................. 89

    Figura 44 Cmara de radiao ultravioleta (UV) ........................................................ 90

    Figura 45 Equipamento TA Instruments - 2980 TMA V1.7B. ...................................... 91

    Figura 46 Equipamento DSC Seiko Exstar 6000 - DSC 6220 .................................... 93

    Figura 47 Analisador Termogravimtrico Seiko Exstar 6000 TG/DTA 6200. ........... 94

    Figura 48 Mquina de ensaios universal, preparada para o ensaio de ILSS.............. 95

    Figura 49 Estereoscpio da marca ausJENA. ............................................................ 97

    Figura 50 Microscpio ptico ausJENA ...................................................................... 98

    Figura 51 Ciclo termo-mecnico do processamento utilizado na consolidao dos

    compsitos. ................................................................................................................. 100

    Figura 52 Imagem obtida por microscopia ptica do compsito termoplstico de

    PEEK/fibra de carbono. ............................................................................................... 104

    Figura 53 Estereoscopia do corpo de prova processado, logo aps ILSS. .............. 107

    Figura 54 Estereoscopia do corpo de prova aps o condicionamento higrotrmico e

    aps ILSS. ................................................................................................................... 107

    Figura 55 Estereoscopia do corpo de prova aps o condicionamento UV e aps ILSS.

    .................................................................................................................................... 108

    Figura 56 Grfico de DMTA do compsito utilizado como referncia. ...................... 109

    Figura 57 Grfico de DMTA do compsito resultante do condicionamento

    higrotrmico ................................................................................................................. 111

  • Figura 58 Grfico de DMTA do compsito resultante do condicionamento por

    radiao ultravioleta .................................................................................................... 112

    Figura 59 Curva DSC do semipreg PEEK/fibra de carbono utilizado como referncia,

    com taxa de aquecimento de 10 C/min, em atmosfera de nitrognio ........................ 114

    Figura 60 Curva DSC do compsito PEEK/fibra de carbono resultante do

    condicionamento higrotrmico. .................................................................................... 116

    Figura 61 Curva DSC do compsito PEEK/fibra de carbono resultante do

    condicionamento por radiao ultravioleta. ................................................................. 117

    Figura 62 Grfico de TGA/DTA do compsito utilizado como referncia.................. 120

    Figura 63 Grfico de TGA/DTA do compsito resultante do condicionamento

    higrotrmico. ................................................................................................................ 121

    Figura 64 Grfico de TGA/DTA do compsito resultante do condicionamento por

    radiao ultravioleta. ................................................................................................... 122

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Exemplos de alguns polmeros termoplsticos com as suas respectivas

    morfologias e temperaturas de transio vtrea (Tg) ...................................................... 42

    Tabela 2 Propriedades tpicas para os principais tipos de fibras de carbono comercial

    ...................................................................................................................................... 53

    Tabela 3 Matrizes termoplsticas com algumas propriedades tpicas ........................ 55

    Tabela 4 Efeitos do ciclo de processamento nas propriedades do PEEK .................. 57

    Tabela 5 Resistncia ao cisalhamento aproximado de laminados de PEEK/fibra de

    carbono com base em 61% em volume de fibra de carbono de alta resistncia ........... 75

    Tabela 6 Taxas de aquecimento do molde utilizadas para o processamento dos

    compsitos de PEEK/fibra de carbono por moldagem por compresso a quente ....... 100

    Tabela 7 Valores de massa e volume de matriz e de reforo obtidos a partir da

    tcnica de digesto cida aps o processamento. ...................................................... 102

    Tabela 8 Resultados experimentais da resistncia ao cisalhamento interlaminar dos

    compsitos processados em moldagem por compresso a quente. Valores mdios

    obtidos por 5 corpos de prova de cada condio. ....................................................... 105

    Tabela 9 Resultados do comportamento dinmico-mecnico do compsito de

    PEEK/fibras de carbono em funo da temperatura, antes e aps os condicionamentos

    ambientais, em cmaras de climatizao higrotrmica e de radiao ultravioleta. ..... 112

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS

    AMR - Diviso de Materiais do Instituto de Aeronutica e Espao

    ASTM - American Society for Testing and Materials

    DCTA - Departamento de Cincia e Tecnologia Aeroespacial

    DMTA - Dynamic Mechanical Thermal Analysis (anlise trmica dinmico-

    mecnica)

    DTA - Differential Thermal Analysis

    DSC - Calorimetria exploratria diferencial

    E* - Mdulo complexo

    E - Mdulo elstico

    E - Mdulo de dissipao viscosa

    HDPE - High-density polyethylene

    IAE - Instituto de Aeronutica e Espao

    ILSS - Interlaminar Shear Strength (resistncia ao cisalhamento interlaminar)

    LDPE - Low-density polyethylene

    MOLP - Microscopia ptica de luz polarizada

    PA - poliamida

    PAI - poli(amida-imida)

    PAN - poliacrilonitrila

    PBI - polibenzimidazila

    PC - policarbonato

    PE - polietileno

    PEEK - poli(ter-ter-cetona)

    PEI - poli(ter-imida)

    PEK - poli(ter-cetona)

    PEKK - poli(ter-cetona-cetona)

    PET - poli(etileno tereftalato)

    PI - poliimida

    PMMA - poli(metacrilato de metila)

    PP - polipropileno

    PPS - poli(sulfeto de fenileno)

  • PREPREG - pr-impregnado

    PS - poliestireno

    PSU - polisulfona

    PTFE - poli(tetrafluoro-etileno)

    PVC - poli(cloreto de vinila)

    SEMIPREG - semi-impregnado

    Tan - amortecimento mecnico ou atrito interno

    TAPAS - Thermoplastic Affordable Primary Aircraft Structure

    Tc - temperatura de cristalizao

    Tg - temperatura de transio vtrea

    TGA - anlise termogravimtrica

    Tm - Temperatura de fuso

    - deformao aplicada (funo senoidal)

    - tenso resposta (funo senoidal)

    mx - carga mxima de ruptura

  • SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS 10

    LISTA DE TABELAS 14

    LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS 15

    1. INTRODUO 19

    1.1. CONSIDERAES INICIAIS 19

    1.2. OBJETIVO 28

    1.3. JUSTIFICATIVA 28

    1.4. ORGANIZAO DA DISSERTAO 29

    2. REVISO BIBLIOGRFICA 30

    2.1. POLMERO 30

    2.1.1. Polmero Termoplstico 32

    2.1.2. Temperatura de Transio Vtrea 34

    2.1.3. Polmero Termoplstico Amorfo 39

    2.1.4. Polmero Termoplstico Semicristalino 40

    2.1.5. Polmero Termorrgido 42

    2.2. ADITIVOS 43

    2.2.1. Plastificantes 44

    2.2.2. Mecanismo de plastificao 46

    2.2.3. Antiplastificao 47

    2.3. COMPSITOS 50

    2.3.1. Compsitos termoplsticos 51

    2.3.2. Fibras de carbono 52

    2.3.3. Matriz 54

    2.3.3.1. Matriz termoplstica de PEEK 55

    2.3.4. Tecidos impregnados com matriz polimrica 60

    2.3.5. Processamento de compsito termoplstico 62

    2.4. EFEITOS AMBIENTAIS 65

    2.4.1. Fotodegradao de polmeros 69

    2.5. PROPRIEDADES MECNICAS 71

    2.5.1. Resistncia ao Cisalhamento 72

    2.5.1.1. Ensaio de Resistncia ao Cisalhamento Interlaminar 76

    2.5.2. Comportamento dinmico mecnico 77

    3. MATERIAIS E MTODOS 81

    3.1. MATERIAIS 82

    3.2. PROCESSAMENTO DOS COMPSITOS TERMOPLSTICOS 84

  • 3.2.1. Processamento do compsito 84

    3.2.2. Condicionamento higrotrmico 88

    3.2.3. Condicionamento por radiao ultravioleta (UV) 89

    3.2.4. Anlise trmica dinnico-mecnica (DMTA) 90

    3.2.5. Calorimetria exploratria diferencial (DSC) 92

    3.2.6. Anlise termogravimtrica (TGA) 93

    3.2.7. Resistncia ao cisalhamento interlaminar (ILSS) 95

    3.2.8. Clculo do volume de fibras, matriz e vazios 96

    3.2.9. Estereofotomicroscopia 97

    3.2.10. Microscopia ptica 97

    4. RESULTADOS E DISCUSSES 98

    4.1. CICLO DO PROCESSAMENTO DO COMPSITO 98

    4.1.1. Avaliao do processamento - digesto cida 101

    4.2. ANLISE MORFOLGICA 103

    4.3. CARACTERIZAES FSICAS DO COMPSITO 104

    4.3.1. Resistncia ao cisalhamento interlaminar 104

    4.3.2. Anlise trmica dinmico-mecnica (DMTA) 108

    4.3.3. Calorimetria exploratria diferencial (DSC) 113

    4.3.4. Anlise termogravimtrica (TGA) 118

    CONCLUSES 124

    4.4. SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS 125

    4.5. PRODUO TCNICO-CIENTFICA GERADA 125

    REFERNCIAS 126

  • 19

    1. INTRODUO

    1.1. CONSIDERAES INICIAIS

    O mercado da aviao est cada vez mais competitivo e agressivo e a indstria

    aeronutica est constantemente procura de materiais que visem reduo de

    custos operacionais das companhias areas, como a diminuio da manuteno,

    associada elevada confiabilidade operacional da aeronave e aos componentes de

    baixa densidade, que tambm, atendam aos severos requisitos de resistncia

    mecnica em servio. Essas caractersticas fazem dos materiais compsitos

    desejveis em estruturas primrias e secundrias de aeronaves civis e militares. Esta

    tendncia de utilizao de materiais compsitos na aviao civil pode ser observada

    nos novos projetos das empresas Boeing e Airbus com os avies 787 Dreamliner e

    A380, respectivamente. Os materiais compsitos representam aproximadamente 50%

    do peso do Boeing 787, incluindo a maior parte da fuselagem e asa (DANIEL, 2005;

    REZENDE, 2007).

    Dentro deste contexto, diante da grande quantidade de materiais disponveis

    para uso em engenharia, os materiais compsitos com matrizes termoplsticas surgem

    como uma excelente opo, pois alm de apresentar uma baixa massa especfica (<

    2,0 g/cm3), apresentam tambm um potencial de produo a baixo custo, possibilidade

    de reciclagem da matria prima e a praticidade de estocagem em temperatura

    ambiente (DANIEL, 2005). O uso de compsitos termoplsticos reforados com fibras

    contnuas tem sido ampliado no setor aeroespacial, devido, principalmente, reduo

    drstica da fadiga, maiores valores de resistncias ao impacto e ao fogo, baixa

    absoro de umidade, temperatura de servio mais elevada e grande versatilidade na

    produo em srie, exibindo propriedades mecnicas iguais ou superiores s

    apresentadas pelos compsitos termorrgidos. No setor aeronutico, o uso de

    compsitos termoplsticos promissor na construo de fuselagens, permitindo com

    isto uma reduo de peso em torno de 25%, em relao s estruturas metlicas hoje

    utilizadas (REZENDE, BOTELHO, 2000).

    A constante necessidade de reduo de peso em aeronaves e estruturas

    espaciais tem continuamente impulsionado a tecnologia de processamento de

    compsitos estruturais. A maior facilidade de obteno de peas com geometrias

  • 20

    2

    0

    complexas e flexibilidade de projeto na concepo de peas com estruturas integradas,

    tm acarretado na reduo do nmero de componentes aeroembarcados e vem

    impulsionando o desenvolvimento da tecnologia de processamento de compsitos

    polimricos. A Figura 1 mostra que as aplicaes esto evoluindo a cada nova

    aeronave (COMPOSITESWORLD, 2011).

    Figura 1 Linha do tempo dos materiais compsitos termoplsticos na aviao comercial

    (COMPOSITESWORLD, 2011).

    Os processos atuais de fabricao correspondem de 50 a 60% do valor final de

    uma pea em compsito. Por este motivo, esse um assunto que desperta significativa

    ateno tanto dos processadores quanto da comunidade cientfica, que atuam nesta

    rea do conhecimento, tendo em vista a reduo final do custo de processamento dos

    compsitos polimricos (REZENDE, BOTELHO, 2000).

    Atualmente, dois processos tecnolgicos esto sendo aprimorados, de modo a

    ampliar o uso deste tipo de compsitos sem, no entanto, onerar em demasia os custos

    com a aquisio de novas ferramentas de moldagem. O primeiro processo, conhecido

    como termoformagem de lminas, consiste em laminar os semi-impregnados e pr-

    consolid-los por prensagem a quente. Estes laminados so, ento, cortados e

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    2

    1

    moldados na obteno da pea. O segundo processo conhecido como consolidao

    in-situ, o qual utiliza a laminao contnua e a consolidao direta da pea. Hoje, estes

    compsitos esto sendo utilizados na obteno de componentes externos, como portas

    de aeronaves da Boeing e Airbus (REZENDE, BOTELHO, 2000; REZENDE, 2007;

    MAZUR, 2010; FOKKER, 2011).

    A viabilidade da tecnologia de termoplsticos tem sido comprovada por um

    nmero crescente de aplicaes na produo, onde peas e conjuntos podem ser

    encontrados no estado da arte em aeronaves. Exemplos so encontrados em novos

    avies, como os bordos de ataque das asas do avio A380, onde incluem conceitos de

    multi-nervuras, feitos a partir de compsitos de PPS (poli(sulfeto de fenileno))/fibra de

    vidro da empresa Ten Cate, fixados por solda, conforme apresentado nas Figura 2 (a)

    e (b) (JEC, 2010).

    (a) (b)

    Figura 2 (a) Bordo de ataque da asa do Airbus A380; (b) Soldagem por resistncia do bordo de ataque

    (JEC, 2010).

    Peas estruturais de responsabilidade primria em compsitos termoplsticos

    uma rea em que incurses foram feitas recentemente. Por exemplo, o piso da caverna

    de presso, das aeronaves Gulfstream G550 e G650 (Figura 3), formado por uma

    srie de estruturas sanduche de PEI (poli(ter imida))/fibra de carbono estruturalmente

    colados com os reforadores e moldados por compresso (JEC, 2010).

  • 22

    2

    2

    Figura 3 Painel do piso da caverna de presso das aeronaves Gulfstream G550 e G650

    (JEC, 2010).

    A Airbus produz o piso do cockpit do avio A400M em compsitos

    termoplsticos. Esforos vm sendo a fim de avanar a tecnologia de solda em

    compsito termoplstico para aplicao em superfcies de controle primrio de avies

    (aileron, leme e profundor). As multi-nervuras da estrutura do caixo torsional do leme

    e do profundor do novo jato executivo Gulfstream G650 so soldados por induo

    (Figura 4). O profundor e o leme com 6m e 4m de comprimento, respectivamente, so

    montados por meio de solda por induo em compsito termoplstico de PPS/Fibra de

    carbono. Normalmente, uma estrutura de multi-nervura resultaria em uma montagem

    de alto custo, o que no o caso, devido ao processo de soldagem como a principal

    tecnologia de montagem. Nervuras moldadas por compresso a quente e duas

    longarinas so soldadas ao revestimento por um processo de solda por induo

    robotizada. Ferramentas especiais garantem que a rea fundida seja limitada na

    interface da solda.

    O potencial mercado para a inovao amplo, com aplicaes que incluem

    superfcies de controle, tais como lemes, profundores, ailerons e spoilers para uma

    ampla gama de aeronaves. Outros conjuntos soldados, tais como painis reforados da

    fuselagem ou bordos de ataque e de fuga tambm so possveis com esta tecnologia e

    atualmente esto sendo pesquisados (JEC, 2010).

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    2

    3

    Figura 4 Leme obtido com compsito termoplstico do novo jato executivo Gulfstream G650 soldado

    por induo

    (JEC, 2010).

    O projeto da estrutura multi-nervura de PPS/fibra de carbono da Ten Cate

    Advanced Composite 10% mais leve e 20% mais barato do que o projeto

    predecessor de estrutura sanduche epxi/fibra de carbono. A substituio de

    parafusos e ligaes adesivas, por solda, um fator importante na reduo de custos,

    assim como a nervura moldada por compresso a quente e a fcil consolidao/layup

    dos revestimentos e longarinas (JEC, 2010).

    Em 2003, uma longarina do piso de um avio (Figura 5) foi desenvolvida

    utilizando fita (tape UD (unidirectional)) de PEKK (poli(ter-cetona-cetona))/fibra de

    carbono da empresa Cytec. Este produto (tape UD) possui uma alta produtividade e

    adequado para a aeronutica, deste modo, foi escolhido o mtodo layup para fazer as

    pr-formas da alma e da flange da longarina. Assim, estes so fundidos juntos e unem-

    se em um processo chamado de consolidao in-situ. Durante o desenvolvimento do

    componente da longarina em forma de I, um mtodo foi procurado para simplificar a

    fabricao de um grande nmero de nervuras reforadoras. A soluo foi uma unio

    tipo junta de topo (butt joint) entre um laminado plano e a longarina em forma de I por

    consolidao in-situ (Figura 6). Isto provou ser uma soluo eficaz, muito mais simples

    de fabricar do que o projeto inicial, com o reforador moldado por compresso a

    quente. A resistncia da junta de topo foi posteriormente otimizada pela adio de um

    raio na base da junta usando um molde de injeo de preenchimento, conforme Figura

    7 (JEC, 2010).

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    2

    4

    Figura 5 Longarina do piso em compsito termoplstico de PEKK/fibra de carbono

    (JEC, 2010).

    Figura 6 Junta de topo (butt joint) entre a nervura reforadora com a longarina

    (JEC, 2010).

    Figura 7 Seo transversal da junta de topo com a adio de um raio na base

    (JEC, 2010).

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    2

    5

    O desenvolvimento do sistema de junta de topo abriu uma nova gama de

    possibilidades de projetos inovadores, como uma viga com a alma em forma de onda

    senoidal (Figura 8-a), que normalmente no fcil de conseguir em compsitos. Outro

    projeto que surgiu com o conceito de junta de topo foi um painel de revestimento com

    os reforos integrados. Os reforos em forma de T so feitos a partir da pr-forma

    plana e consolidado in-situ com o revestimento. O conceito deste painel reforado foi

    desenvolvido e testado com sucesso, em teste simultneo de cisalhamento e de

    compresso pelo laboratrio aeroespacial nacional holands em 2008 (Figura 8-b)

    (JEC, 2010).

    (a) (b)

    Figura 8 (a) viga com a alma em forma de onda senoidal com junta de topo com a flange; (b) Painel de

    revestimento integrado com os reforadores em forma de T

    (JEC, 2010).

    A indstria e os institutos holandeses, mais a Airbus tm trabalhado em

    cooperao na rea de compsitos termoplsticos desde 2005. Esta cooperao foi

    intensificada em 2009. Abordado pela Airbus, o ministrio de assuntos econmicos

    holands iniciou um grupo de empresas e institutos holandeses que juntamente com a

    Airbus lanaram em 4 anos um projeto chamado TAPAS (Thermoplastic Affordable

    Primary Aircraft Structure). O objetivo do projeto TAPAS criar a tecnologia em

    compsito termoplstico necessria para produzir grandes estruturas primrias de

    aeronaves para programas futuros. Processos de fabricao, materiais, projetos

    conceitos e ferramentas devero ser desenvolvidos em um alto nvel de prontido

    tecnolgica. Produtos para testes em escala real esto sendo desenvolvidos como

    parte deste esforo. Os desafios tecnolgicos incluem: desenvolvimento e qualificao

    de materiais adequados, unio de peas tipo junta de topo, tecnologias de fabricao

  • 26

    2

    6

    como soldagem de fibras, moldagem por compresso a quente e fiber placement

    (JEC, 2010).

    Os parceiros no projeto TAPAS so: a Airbus, Fokker Aerostructures, Ten Cate

    Advanced Composites, Centro de Tecnologia Airborne, Grupo KVE Composites, DTC

    (Dutch Thermoplastic Composites), Technobis Fibre Technologies, Universidade

    Tcnica de Delft e da Universidade de Twente. Em paralelo o laboratrio aeroespacial

    nacional da holanda realiza projetos de pesquisa e programas de testes relacionados

    com o projeto TAPAS (JEC, 2010).

    Atualmente, dentre os polmeros termoplsticos de alta temperatura mais

    utilizados no campo aeroespacial so o PPS com o incio de sua comercializao em

    1973, o PEI que vem sendo usado desde 1982 e o PEEK (poli(ter-ter-cetona)), que

    comeou a ser comercializado no incio dcada de 1980. Desses polmeros, o PEEK

    tornou-se um dos mais conhecidos e utilizados (HANSMANN, 2003). Em funo de seu

    carter cristalino e de sua morfologia, as propriedades de tenacidade e impacto do

    PEEK so atrativas (NOHARA, 2005). Destacam-se tambm os polmeros poliamida,

    poliimidas e o polisulfona, atendendo a requisitos de resistncia mecnica na faixa de -

    60 C a 200 C (REZENDE, BOTELHO, 2000).

    O PEEK apresenta sinais de crescimento do consumo no Brasil. Depois da

    Solvay e da Evonik (antiga Degussa) apresentarem suas verses do polmero ao Pas,

    a empresa Victrex, inventora do termoplstico PEEK e primeira no ranking mundial,

    com fatia de 90% do mercado, passa a atuar diretamente no Brasil. Porm, seus

    produtos de PEEK e derivados na forma de p, pellets, fitas, filmes, espumas e

    revestimentos, j eram processados no mercado brasileiro e em outros pases da

    Amrica do Sul, pela parceira global e fabricante de semi-acabados Ensinger, maior

    processadora do polmero h quase uma dcada no Brasil, onde liderou o

    desenvolvimento de aplicaes para alguns plsticos de alto desempenho (AZEVEDO,

    RETO, 2010).

    H dois anos, a Victrex acordou com a sua parceira uma nfase ao

    desenvolvimento do mercado sul-americano de PEEK, para delinear mais

    precisamente seu potencial. Esse movimento ocorreu em outros mercados, casos de

    China e Japo, em decorrncia de uma nova estratgia de atuao, buscando

    descentralizar o foco restrito aos Estados Unidos e Europa. A Victrex busca em 2011

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    2

    7

    vender entre 30 t a 50 t de PEEK. Essa rpida expanso lastreada pela entrada da

    empresa em segmentos nos quais no competia, como para revestimentos e filmes. O

    material ainda caro (h grades na faixa de US$ 100/kg), mas possui propriedades

    que o posicionam no topo da pirmide em desempenho de plsticos: temperatura de

    transio vtrea (Tg) de 143 C; temperatura de fuso (Tf) de 345 C; HDT (heat

    deflection temperature) de 315 C e temperatura de uso contnuo de 250 C. A

    resistncia trao pode chegar a 200 MPa, o nico produto qumico que o degrada

    o cido sulfrico concentrado (AZEVEDO, RETO, 2010).

    Apesar das vantagens que motivam a utilizao dos materiais compsitos na

    indstria aeroespacial, essa classe de materiais apresenta algumas desvantagens em

    comparao aos metais quanto susceptibilidade aos danos, que perde muito de sua

    integridade estrutural quando isso ocorre. Os danos podem ocorrer durante o

    processamento da matria prima, durante a fabricao da pea, manuseio, transporte,

    armazenagem, manuteno ou em servio. Os danos tambm podem ser causados

    por outras formas, como as descontinuidades das fibras, a porosidade, as

    delaminaes, as reas pobres ou ricas em resina ou em operaes que envolvam

    abraso, eroso, impacto de granizo, pedras e pssaros. Um ponto importante a

    destacar que os danos nem sempre so visveis, mas podem reduzir a resistncia do

    componente significativamente. E, os componentes podem ficar expostos a severas

    condies ambientais, podendo o material sofrer diversos tipos de degradao. As

    principais agresses ambientais so causadas pela radiao ultravioleta proveniente

    do sol, umidade relativa do ar e temperatura, tais agresses ambientais quando

    associadas a esforos mecnicos, como trao, compresso e cisalhamento, podem

    conduzir a uma sinergia com os mecanismos de degradao, havendo um aumento

    significativo da degradao de suas propriedades fsicas e mecnicas, levando ao

    colapso a estrutura do material (CNDIDO, 2001; COSTA, 2002; REZENDE, 2007;

    MAZUR, 2010).

    Nesse contexto, com o objetivo de avaliar o desempenho mecnico dos

    materiais compsitos aplicados na rea estrutural, a caracterizao mecnica vem

    sendo realizada por meio dos ensaios mecnicos de trao, compresso e

    cisalhamento. Porm, muitas vezes esses ensaios no so suficientes para entender

    claramente como os efeitos ambientais atuam na interface entre a fibra de reforo e a

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    2

    8

    matriz polimrica. Os ensaios dinmico-mecnicos tm a vantagem de simular uma

    situao real na qual o compsito poder ser submetido em servio, como por

    exemplo, os esforos mecnicos que ocorrem durante o vo devido vibrao da

    estrutura causada pela turbulncia da aeronave, isto sob a influncia da temperatura.

    Esse tipo de ensaio permite ainda um melhor entendimento de como os efeitos

    ambientais atuam na interface fibra/matriz (BRITO JUNIOR, 2007; MAZUR, 2010).

    1.2. OBJETIVO

    Este trabalho tem como objetivo:

    Estudar e avaliar as variveis do processamento via moldagem por compresso

    a quente dos compsitos de PEEK/fibra de carbono, a partir de matria prima

    semi-impregnada (semipregs).

    Estudar e avaliar o efeito dos condicionamentos ambientais (higrotrmico e

    ultravioleta) no comportamento mecnico (resistncia ao cisalhamento

    interlaminar), viscoelstico (DMTA) e trmico (DSC e TGA) dos compsitos

    processados.

    1.3. JUSTIFICATIVA

    De maneira geral dentre as inmeras razes que justificam a execuo do presente

    trabalho as principais so destacadas a seguir:

    Apresentar influncia dos efeitos ambientais (radiao ultravioleta e efeito

    higrotrmico) nas propriedades trmicas, mecnicas e viscoelsticas de

    compsitos termoplsticos de PEEK/fibra de carbono;

    Contribuir para o aprimoramento do processamento via moldagem por

    compresso a quente de compsitos termoplsticos com matriz polimrica de

    alto desempenho;

    Contribuir para o aumento da capacitao cientfica e tcnica na rea de

    processamento e de condicionamento ambiental em compsitos termoplsticos;

    Contribuir com o setor industrial (transporte/energia/esporte e lazer) por meio de

    estudos e avaliaes do processamento e condicionamentos ambientais do

    compsito de PEEK/fibra de carbono, pois apresenta utilizao promissora,

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    2

    9

    porm ainda pouco explorada na literatura e conseqentemente pouco aplicada

    industrialmente.

    1.4. ORGANIZAO DA DISSERTAO

    O contedo desta dissertao composto, alm da Introduo, de mais quatro

    captulos a seguir apresentados.

    Captulo 2 Reviso da Literatura: rene a reviso da literatura sobre os polmeros

    termoplsticos e termorrgidos, matriz polimrica de PEEK, materiais compsitos

    termoplsticos, fibras de reforo e semi-impregnados. Rene tambm, processos de

    conformao com nfase em moldagem por compresso a quente e condicionamento

    ambiental (higrotrmico e UV) e uma reviso sucinta do ensaio mecnico de

    cisalhamento (ILSS) e viscoelstico utilizados neste trabalho.

    Captulo 3 - Materiais e Mtodos: apresenta os materiais e os respectivos mtodos

    experimentais utilizados neste trabalho de pesquisa, como: tecido semi-impregnado de

    PEEK/fibra de carbono; equipamentos para os condicionamentos ambientais

    (higrotrmico e UV); microscopia ptica; estereofotomicroscopia; prensa hidrulica.

    Apresenta tambm, a avaliao mecnica, como anlise trmica e termo dinmico-

    mecnica e o ensaio de resistncia ao cisalhamento interlaminar, com a sua relativa

    digesto cida.

    Captulo 4 Resultados e Discusso: so discutidos todos os resultados obtidos

    neste trabalho, destacando-se a avaliao do processamento do compsito e a

    influncia que os condicionamentos higrotrmicos e por radiao UV exerceram sobre

    as propriedades mecnicas e viscoelsticas do compsito de PEEK/fibras de carbono.

    Captulo 5 Concluses: rene as concluses do presente trabalho. E tambm esto

    descritas as sugestes para trabalhos futuros e a produo tcnico-cientfica gerada

    com o presente trabalho.

    Referncias Bibliogrficas: rene a bibliografia utilizada no presente trabalho.

  • 30

    3

    0

    2. REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1. POLMERO

    Polmero uma macromolcula composta por dezenas de milhares unidades de

    repetio. A palavra polmero origina-se do grego poli (muitos) e mero (unidade de

    repetio). Estes meros so ligados por ligao covalente. A matria prima para a

    produo de um polmero o monmero, ou seja, uma molcula com uma unidade

    (mono) de repetio. Dependendo da estrutura qumica (tipo de monmero), do

    nmero mdio de meros por cadeia e do tipo de ligao covalente, pode-se dividir os

    polmeros em trs grandes classes: Plsticos, Borrachas e Fibras (CANEVAROLO,

    2004).

    A partir das unidades de repetio (meros) unidas por ligaes primrias fortes,

    so formadas as cadeias polimricas ou macromolculas. Essas ligaes so

    chamadas intramoleculares, porque so referentes s ligaes dentro de uma mesma

    molcula, so normalmente do tipo covalente. O outro tipo de ligao so as chamadas

    de ligao intermoleculares, que so ligaes por foras secundrias fracas entre as

    distintas cadeias polimricas ou segmentos de uma mesma cadeia. As ligaes

    moleculares primrias ou intramoleculares podem ser de vrios tipos: as ligaes

    Inicas ou eletrovalentes, onde um tomo com apenas um eltron na camada de

    valncia cede este eltron para outro tomo com sete eltrons em sua ltima camada,

    neste caso ambos vo satisfazer a regra dos octetos. Essas ligaes inicas ocorrem

    nos termoplsticos contendo grupos carboxlicos ionizveis. As ligaes coordenadas,

    onde um tomo contribui com um par de eltrons para a formao da ligao, ocorre

    em polmeros inorgnicos ou semi-orgnicos. As ligaes metlicas que so pouco

    comuns em polmeros, ocorrem quando ons metlicos so incorporados ao polmero.

    A ligao covalente, onde consiste o compartilhamento de dois eltrons entre os

    tomos, a ligao mais comum em polmeros determinando as foras

    intramoleculares. Ligaes covalentes normalmente envolvem curtas distncias e altas

    energias, em uma faixa prxima de 1,5 angstrons e 100 Kcal/mol. As ligaes

    moleculares secundrias ou intermoleculares entre segmentos de cadeias polimricas

    aumentam com a presena de grupos polares e diminuem com aumento da distncia

    entre molculas. Diferentemente do caso anterior, esses encontram-se em uma faixa

  • 31

    3

    1

    prxima de 3 Angstron e apenas 5 Kcal/mol. Estas ligaes podem ser de dois tipos:

    foras de van der Waals e ligaes de Hidrognio. As foras de van der Waals podem

    ser do tipo interao dipolo-dipolo, interao dipolo-dipolo induzido e foras de

    disperso (CANEVAROLO, 2004).

    Na prtica, as foras intramoleculares vo determinar, por meio do arranjo das

    unidades de repetio, a estrutura qumica e o tipo de cadeia polimrica, o que

    influenciar na rigidez / flexibilidade do polmero e na sua estabilidade trmica, qumica

    e fotoqumica. As foras intermoleculares por sua vez vo determinar decisivamente a

    maioria das propriedades fsicas do polmero, como a temperatura de fuso cristalina, a

    solubilidade, a cristalinidade, a difuso, a permeabilidade a gases e vapores, a

    deformao e escoamento, envolvendo em todos os casos a quebra e a formao das

    ligaes intermoleculares. Conseqentemente, quanto mais fortes forem essas foras,

    maior a atrao entre as cadeias, o que torna mais difcil qualquer evento que envolva

    a separao ou o fluxo de uma cadeia sobre a outra (LUCAS, 2001).

    As cadeias polimricas podem apresentar variaes quanto forma como os

    meros se repetem ao longo da cadeia. Quando os meros so ligados entre si formando

    uma entidade contnua, como um fio, a cadeia linear; quando as unidades so

    conectadas de forma tridimensional formando uma rede (ou mais redes unidas), o

    polmero reticulado ou contm ligaes cruzadas (as cadeias esto unidas

    covalentemente); e quando uma cadeia possui ramificaes laterais, o polmero

    chamado de ramificado ou no-linear. Existem diferenas fundamentais nos

    comportamentos fsico e fsico-qumico desses trs tipos. A Figura 9 ilustra os

    principais tipos de arranjos dos meros (AKCELRUD, 2007).

    As propriedades de polmeros de mesma frmula estrutural, porm com tipos e

    graus de ramificao diferentes, podem variar em larga escala. As ramificaes podem

    ser longas ou curtas e de espaamento varivel, dependendo do processo de

    polimerizao empregado. A presena dos ramos responsvel pelas diferenas nas

    propriedades fsicas, como a densidade, dureza, flexibilidade e viscosidade do

    polmero fundido. O principal efeito das cadeias laterais inibir a cristalizao e

    plastificar internamente o polmero. Neste sentido, quanto maior for o grau de

    ramificaes, menor a cristalinidade e menor as coeses intermoleculares

    (AKCELRUD, 2007).

  • 32

    3

    2

    Figura 9 Tipos de molculas polimricas: a) linear; b) ramificado; c) com ramificaes em estrela; d)

    escalar; e) grafitizado ou enxertado; f) semi-escalar; g) com ligaes cruzadas ou reticulado

    (AKCELRUD, 2007).

    Os materiais polimricos apresentam duas subdivises que so: os polmeros

    termoplsticos e os polmeros termorrgidos. Esta classificao feita de acordo com o

    comportamento frente elevao da temperatura, pois a resposta de um polmero sob

    a aplicao de foras mecnicas em temperaturas elevadas est relacionada sua

    estrutura molecular dominante (CALLISTER, 2007).

    2.1.1. Polmero Termoplstico

    Os polmeros termoplsticos apresentam-se na forma slida temperatura

    ambiente. So fundidos quando aquecidos acima da temperatura de fuso e se

    solidificam novamente quando resfriados. O processo totalmente reversvel e pode

    ser repetido. Os termoplsticos no possuem ligaes cruzadas como os termorrgidos

    (NOGUEIRA, 2004). Os polmeros termoplsticos so caracterizados por suas

    molculas de cadeias lineares. importante ressaltar que embora a fuso e o

    processamento repetidos sejam possveis para termoplsticos, a exposio trmica do

    polmero temperatura prxima ou acima da fuso, alm do longo tempo de

    permanncia a uma dada temperatura, pode degradar as propriedades do polmero,

    especialmente as propriedades de impacto (NOHARA, 2005). A degradao

    irreversvel ocorre quando aumenta-se excessivamente a temperatura do polmero

  • 33

    3

    3

    termoplstico fundido. Esses materiais so fabricados normalmente com uma aplicao

    de calor e presso simultaneamente (CALLISTER, 2007).

    A baixas temperaturas, os polmeros termoplsticos podem ser parcialmente

    cristalinos e amorfos. O grau de cristalinidade depende da estrutura do polmero e da

    taxa de resfriamento. Com o resfriamento rpido ou com polmeros com cadeias

    laterais volumosas, a estrutura pode se apresentar em grande parte, amorfa. Abaixo de

    uma certa temperatura, chamada de temperatura de transio vtrea (Tg), o movimento

    aleatrio molecular cai para um nvel muito baixo, o que particularmente significativo

    nas regies amorfas. As cadeias se tornam definidas em padres aleatrios e o

    material torna-se rgido e vtreo. Acima da Tg, polmeros apresentam uma baixa rigidez

    e comportamento borrachoso. Esses comportamentos acima e abaixo da Tg tambm

    ocorrem por razes semelhantes em termorrgidos, mas no to acentuada porque o

    movimento da cadeia polimerica limitado pelas ligaes cruzadas. A Figura 10 ilustra

    esquematicamente os comportamentos polimricos. Onde apresenta o comportamento

    do mdulo de elasticidade de polmeros termorrgidos e termoplsticos (cristalino,

    amorfo e borracha) com a temperatura. Os polmeros termoplsticos possuem uma

    variao mais abrupta do mdulo de elasticidade em relao aos termorrgidos, uma

    vez que no apresentam ligaes cruzadas entre as cadeias (BAKER, 2004).

    Figura 10 Grfico esquemtico da variao do mdulo de elasticidade em funo da temperatura para

    vrios tipos de polmeros.

    (BAKER, 2004)

  • 34

    3

    4

    Os polmeros termoplsticos podem ser classificados quanto ao desempenho

    mecnico quando usado em um item ou pea: 1) Os termoplsticos convencionais

    (commodities) so polmeros de baixo nvel de exigncia mecnica, alta produo,

    facilidade de processamento e conseqentemente, de baixo custo. Como exemplo,

    tem-se as poliolefinas (LDPE (Low-density polyethylene), HDPE (High-density

    polyethylene), PP (polipropileno)), poliestireno (PS) e o policloreto de vinila (PVC); 2)

    Os termoplsticos especiais so polmeros com um custo ligeiramente superior aos

    convencionais, mas com caractersticas melhores. Como exemplo, tem-se nesta classe

    os homopolmeros de politetrafluoro-etileno (PTFE), onde procura-se alta estabilidade

    trmica e qumica, e o poli(metacrilato de metila) (PMMA), onde procura-se alta

    transparncia; 3) Os termoplsticos de engenharia (TE), so para a confeco de

    peas de bom desempenho para aplicaes em dispositivos mecnicos, (engrenagens,

    peas tcnicas para a indstria eletroeletrnica e automobilstica, etc.) e que exigem do

    polmero, principalmente boa resistncia mecnica (rigidez), tenacidade e estabilidade

    dimensional. Como exemplo, tem-se as poliamidas (nylons em geral), polisteres

    (poli(etileno tereftalato)) - PET), poliacetais (policarbonato - PC); 4) Os termoplsticos

    de engenharia especiais so para aplicaes onde a alta temperatura a exigncia

    maior, para isto so utilizados polmeros com grande quantidade de anis aromticos

    na cadeia principal, o que aumenta a estabilidade trmica para o uso ininterrupto a

    temperatura acima de 150 C. Como exemplo, tem-se polmeros contendo enxofre

    (polissulfonas, como o PPS), poliimidas, alguns poliuretanos, politer-ter-cetona

    (PEEK) e polmeros de cristal lquido (CANEVAROLO, 2004).

    2.1.2. Temperatura de Transio Vtrea

    Uma variedade de polmeros se apresenta com aspecto vtreo ou borrachoso,

    onde na temperatura de transio vtrea (Tg) acontece transio de vtreo para

    borrachoso. Esta temperatura no determinada somente pela estrutura qumica, mas

    tambm, pelo volume livre disponvel entre as cadeias, permitindo o seu movimento

    rotacional. Em mdia, esse volume livre representa o volume disponvel, para o

    movimento coletivo da cadeia principal e tem um valor crtico, que define o valor da Tg

    (CAMPBELL, 2000; NOHARA, 2005). De maneira esquemtica, a Figura 11 ilustra as

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    3

    5

    movimentaes moleculares de um polmero amorfo, considerando as variaes de

    mdulo de elasticidade em funo da temperatura.

    Na regio V, os tomos vibram em torno de suas posies de equilbrio e estas

    movimentaes acontecem em um nvel energtico muito baixo. Para vidros orgnicos,

    o mdulo encontra-se na faixa de 109 Pa. Movimentaes localizadas envolvendo um

    nmero pequeno de tomos podem iniciar-se antes da Tg, como pequenos segmentos

    de cadeia (como -CH2-CH2-) ou rotaes de grupamentos laterais (metila, fenila, etc).

    Estas movimentaes so chamadas de transies secundrias , , e acontecem

    dentro da regio V. As energias para essas relaxaes so geralmente pequenas, da

    ordem de 4 a 20 KJ/mol. Na regio C, em uma faixa de temperatura em torno da Tg, de

    20 C para mais ou para menos, o mdulo cai cerca de trs ordens de grandeza,

    atingindo valores na faixa de 105,5 Pa, como caracterstica de borrachas levemente

    vulcanizadas ou de cadeias emaranhadas (AKCELRUD, 2007).

    Figura 11 Grfico esquemtico das movimentaes moleculares de um polmero no estado amorfo,

    considerando as variaes de mdulo de elasticidade em funo da temperatura

    (AKCELRUD, 2007).

    A temperatura atinge valores que permitem a mobilidade segmental resultante

    da movimentao cooperativa entre segmentos envolvendo 20 a 50 ligaes (Figura

    12). A temperatura na qual este ponto atingido caracteriza a transio vtrea. A

    energia associada com essa relao da ordem de 40 a 120 KJ/mol. Na regio B, o

    mdulo poder manter-se mais ou menos constante durante ampla faixa de

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    3

    6

    temperatura se o material contiver ligaes cruzadas (plat borrachoso), porm, se no

    for reticulado, o mdulo sofrer queda em temperatura que depender de sua massa

    molar. A movimentao translacional nesse ponto est inibida pelas interaes

    intermoleculares. Na regio E, quando a energia suficiente para ultrapassar a energia

    de coeso intermolecular ocorre a separao entre as molculas e, conseqentemente,

    o escoamento viscoso. O mdulo da razo entre tenso aplicada pela deformao

    resultante na regio vtrea da ordem de 108 Pa para um grande nmero de polmeros.

    No entanto, se foras intermoleculares muito fortes estiverem atuando, tais como as

    resultantes da presena de grupos inicos, o valor do mdulo na transio vtrea ser

    muito maior (AKCELRUD, 2007).

    Figura 12 Ilustrao representativa da mobilidade segmental resultante da movimentao conjunta

    entre segmentos envolvendo 20 a 50 ligaes

    (AKCELRUD, 2007).

    Em polmeros, as ligaes intramoleculares correspondem a ligaes de

    valncia primria (covalente), enquanto que as atraes intermoleculares

    correspondem s foras de ligaes secundrias. A degradao trmica nos polmeros

    ocorre quando a energia ultrapassa a ligao primria entre os tomos, enquanto que

    os fenmenos transitrios associados com o ponto de fuso cristalina, a temperatura

    de transio vtrea e as deformaes do polmero esto relacionadas com a rotao e

    a vibrao das cadeias moleculares (EBEWELE, 2000).

    A natureza fundamental da transio vtrea um processo complexo que

    envolve equilbrio, fatores termodinmicos e cinticos. As vrias teorias da transio

    vtrea, no entanto, tm utilizado a abordagem termodinmica ou cintica. A abordagem

    termodinmica baseada em consideraes de entropia do estado vtreo, enquanto

    que, a teoria cintica da transio vtrea considera os fenmenos de relaxao

    associados com a transio vtrea. O conceito de cintica da transio vtrea considera

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    3

    7

    a transio vtrea como um fenmeno dinmico, uma vez que a posio da Tg depende

    da taxa de aquecimento ou arrefecimento. Ela prev que o valor da Tg medido depende

    da escala de tempo do experimento em relao aos movimentos moleculares

    decorrentes da perturbao do sistema polimrico atravs das mudanas na

    temperatura. O conceito de equilbrio trata a transio vtrea ideal como uma

    verdadeira transio termodinmica de segunda ordem que tem propriedades de

    equilbrio. Conforme a teoria, o processo de transio vtrea uma conseqncia das

    mudanas na entropia conformacional com as mudanas na temperatura. O nvel

    reduzido de reorganizao molecular observado prximo temperatura de transio

    atribuda reduo no nmero de conformaes disponveis conforme a temperatura

    diminuda. O equilbrio na entropia conformacional se torna zero quando uma transio

    termodinmica de segunda ordem finalmente atingida (EBEWELE, 2000).

    Entretando, a teoria mais eficiente e popular de transio vtrea o modelo de

    volume livre. Esta teoria considera que o volume livre de uma substncia a diferena

    entre o volume especfico e o espao efetivamente ocupado pelas molculas. Muitas

    propriedades fsicas importantes dos polmeros (particularmente polmeros amorfos)

    mudam drasticamente na temperatura de transio vtrea. A variao dessas

    propriedades com a temperatura forma um mtodo conveniente para a determinao

    da Tg. Alguns dos mtodos de teste incluem a variao da temperatura em um volume

    especfico (dilatometria), ndice de refrao (refratometria) e calor especfico

    (calorimetria, DSC (Differential Scanning Calorimetry)). Outros incluem a temperatura

    para induzir mudanas no nvel de energia vibracional (espectroscopia no

    infravermelho), mdulo de elasticidade (fluncia) e absoro de energia mecnica

    (DMTA (Dynamic Mechanical Thermal Analysis)) (EBEWELE, 2000).

    Na temperatura de transio vtrea h um movimento em larga escala de

    cooperao entre os segmentos da cadeia. Portanto, de se esperar que todas as

    caractersticas estruturais ou condies impostas externamente que influenciam a

    mobilidade da cadeia tambm afetaro o valor da Tg. Alguns desses fatores estruturais

    incluem a flexibilidade das cadeias, como: a rigidez, a polaridade ou as foras de

    atrao entre as cadeias, tambm os fatores geomtricos, a copolimerizao, o peso

    molecular, as ramificaes, as ligaes cruzadas e a cristalinidade. As variveis

    externas so: a plasticizao, a presso e a quantidade de testes (EBEWELE, 2000).

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    3

    8

    Polmeros amorfos so geralmente usados na proximidade e abaixo de suas

    respectivas temperaturas de transio vtrea (Tg). Acima da Tg, o mdulo de

    elasticidade diminui rapidamente, limitando a utilizao desses materiais em aplicaes

    de resistncia ao carregamento. Seu comportamento abaixo da Tg tende a ser vtreo e

    frgil, polmeros amorfos compostos de molculas de fitas simples seriam polmeros

    lineares. Outra possibilidade que existe algum grau de ramificao, como mostrado

    na Figura 13 (DOWLING, 1999).

    Os polmeros lineares (Figura 13 (a)) so produzidos a partir de monmeros

    bifuncionais e cada molcula de polmero consiste em unidades repetidas que esto

    unidas em suas extremidades formando uma nica cadeia. Nestes polmeros podem

    existir grandes quantidades de ligaes interatmicas secundrias, as ligaes de van

    der Waals, e ligaes de hidrognio entre as cadeias. Os polmeros ramificados (Figura

    13 (b)) possuem uma estrutura molecular de cadeias secundrias estendidas a partir

    das cadeias primrias principais, estas ramificaes so consideradas parte da

    molcula da cadeia principal e so resultados de reaes paralelas ocorridas durante a

    sntese do polmero (DOWLING, 1999).

    (a) (b)

    Figura 13 Tipos de configurao de cadeia para polmeros termoplsticos (a) linear (b) ramificada

    (DOWLING, 1999).

    Polmeros semicristalinos so mais resistentes do que os polmeros amorfos, a

    rigidez e a resistncia no caem to drasticamente alm Tg. Como resultado deste

    comportamento, muitos polmeros semicristalinos podem ser usados acima de sua Tg.

    Os polmeros semicristalinos tendem a ser opacos luz, enquanto que polmeros

    amorfos, transparentes (DOWLING, 1999).

  • 39

    3

    9

    2.1.3. Polmero Termoplstico Amorfo

    O termo amorfo sugere que as cadeias polimricas esto configuradas

    desordenadamente, sem qualquer grau de ordenamento local, como estaria um

    polmero semicristalino. Os polmeros amorfos podem ser facilmente dissolvidos em

    uma variedade de solventes industriais, o que revela a sua desvantagem para

    aplicaes em servio. Esta sensibilidade ao ataque por solventes, inicialmente

    deslocou esse tipo de polmero para aplicaes no estruturais em aeronaves, tais

    como revestimentos de compartimento de bagagens, onde as suas boas

    caractersticas de resistncia ao fogo, fumaa e toxicidade combinadas com a

    tenacidade ainda podem ser exploradas. Outro problema associado a solventes a

    dificuldade de eliminar os solventes residuais aps o processo de semi-impregnao

    do reforo (tecido impregnado) por polmero termoplstico amorfo. Esta presena de

    solvente residual amplamente reconhecida como um problema, o que resulta na

    reduo da temperatura de transio vtrea e defeitos na moldagem de compsitos.

    Esse problema tambm causa preocupao para o meio ambiente. O solvente residual

    pode ser posteriormente removido como parte da operao do processo de

    modelagem (COGSWELL, 1992).

    Um fator em favor de sistemas amorfos que no se cristalizam, de modo que

    h uma varivel a menos a considerar. Entretanto, importante mencionar que o

    recozimento do polmero altera o seu volume livre (free volume annealing), que

    gradualmente muda as propriedades dos materiais amorfos com o tempo. Esta

    mudana pode ser particularmente perceptvel no caso do envelhecimento em

    temperaturas pouco abaixo de Tg. No caso de polmeros semicristalinos essas regies

    amorfas so menos importantes e o envelhecimento menos evidente. Uma vantagem

    real para polmeros amorfos que h uma menor variao em seu volume na

    solidificao do fundido. Uma vez que, no h mudana na densidade associada com a

    formao de regies cristalinas, tais materiais so menos sujeitos s distores na

    operao de resfriamento do processo e, no caso de materiais compsitos, menores

    nveis de tenses internas podem ser geradas (COGSWELL, 1992).

    Polmeros amorfos tambm podem apresentar um acabamento satisfatrio da

    superfcie. Entretanto, os polmeros amorfos esto mais propensos a deformao e a

    fadiga do que os polmeros semicristalinos, alm da crtica questo de resistncia

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    4

    0

    ambiental, que continua a ser o grande obstculo para esta classe de material. No

    entanto, nem todas as aplicaes estruturais exigem a resistncia ambiental dos

    polmeros semicristalinos. A indstria aeroespacial est pesquisando cada vez mais os

    polmeros termoplsticos amorfos e tem encontrado importantes reas de aplicao

    para eles, especialmente onde o desempenho a alta temperatura necessrio e a

    susceptibilidade do solvente pode ser adaptada (COGSWELL, 1992).

    2.1.4. Polmero Termoplstico Semicristalino

    Termoplsticos semicristalinos so designados desta maneira porque parte de

    seu volume apresenta morfologia estrutural slida ordenada (cristalina). Os materiais

    denominados amorfos, no tm esta caracterstica morfolgica. Quando

    termoformados, os materiais semicristalinos diferem dos amorfos porque sua estrutura

    cristalina muda dependendo do ciclo trmico durante a moldagem, ou seja, pela razo

    de resfriamento, o grau de cristalinidade pode ser controlado. A compreenso do

    mecanismo e da cintica da cristalizao dos polmeros importante, uma vez que o

    grau de cristalinidade influencia as propriedades mecnicas de um polmero

    semicristalino. As regies melhor ordenadas da matriz polimrica so mais rgidas e

    resistentes, devido ao empacotamento das cadeias polimricas (maior densidade),

    quando comparadas com as regies amorfas do mesmo polmero (COSTA, 2006).

    A cristalinidade aumenta o desempenho do polmero em altas temperaturas e,

    em particular, oferece maior resistncia aos fenmenos de longo prazo, tais como a

    deformao sob tenso. Se a cristalinidade muito baixa, ento os benefcios fsicos

    desta no so observados; se for muito alto, a fase cristalina restringe severamente a

    capacidade de absoro de energia das regies amorfas e o polmero pode, em

    conseqncia, ser frgil (DOWLING, 1999).

    Nos ltimos 25 anos, os polmeros termoplsticos semicristalinos como matrizes

    para compsitos de alto desempenho tem aumentado cada vez mais as aplicaes em

    avies comerciais e militares, fruto dos esforos da comunidade cientfica e

    empresarial que desenvolveram materiais e processos, permitindo o uso de matrizes

    avanadas, tais como PPS, PEI, PEEK e o poli(ter-cetona-cetona) (PEKK)

    (COMPOSITESWORLD, 2011).

  • 41

    4

    1

    Polmeros semicristalinos possuem uma ordem cristalina em vrios nveis. Os

    pontos mais evidentes referem-se s famlias de cristalinidade que se originam de um

    ponto de nucleao e crescem no modo esferultico. A estrutura esferultica

    facilmente demonstrada e o tamanho pode ser alterado por variaes na histria do

    processamento. Os esferulitos no so os principais determinantes das propriedades

    dos polmeros semicristalinos, o nvel de cristalinidade que o fator mais importante

    (BAKER, 2004).

    A Tabela 1 apresenta alguns exemplos de polmeros termoplsticos e suas

    respectivas morfologias, bem como as temperaturas de transio vtrea (Tg) (TEXAS

    A&M UNIVERSITY, 2011).

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    4

    2

    Tabela 1 Exemplos de alguns polmeros termoplsticos com as suas respectivas morfologias e

    temperaturas de transio vtrea (Tg)

    (TEXAS A&M UNIVERSITY, 2011).

    Polmero termoplstico Morfologia Temperatura de

    transio vtrea - Tg (C)

    Polietileno (PE) Semicristalino: 70-90% -90

    Polipropileno (PP) Semicristalino: 70-90% -8

    Poliestireno (PS) Semicristalino: 70-90% 100

    Poli(tetrafluoro-etileno) (PTFE) Semicristalino: 70-90% 117

    Poli(cloreto de vinila) (PVC) Semicristalino 73

    Poli(etileno tereftalato) (PET) Semicristalino 61

    Poli(acetado de vinila) (PVA) Semicristalino 85

    Poli(metil metacrilato) (PMMA) Amorfo 105

    Policarbonato (PC) Amorfo 150

    Poli(ter-sulfona) (PES) Amorfo 225

    Poli(ter-imida) (PEI) Amorfo 220

    Poli(sulfeto de fenilelo) (PPS) Semicristalino 88

    Poli(ter-ter-cetona) (PEEK) Semicristalino 143

    Poli(ter-cetona-cetona) (PEKK)

    Semicristalino 156

    2.1.5. Polmero Termorrgido

    Os polmeros termorrgidos ou termofixos so polmeros em rede, ou seja, so

    polmeros com ligaes cruzadas (Figura 14) que possuem cadeias moleculares

    lineares adjacentes unidas em vrias posies por meio de ligaes covalentes, que

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    4

    3

    so ligaes interatmica primrias. Esta formao de ligaes cruzadas obtida ou

    durante a sntese ou por uma reao qumica irreversvel (DOWLING, 1999).

    Figura 14 Representao de um polmero com ligaes cruzadas

    (DOWLING, 1999).

    Os polmeros termorrgidos so materiais curveis ou endurecidos em uma

    forma irreversvel, no amolecem com um aquecimento subseqente (CALLISTER,

    2007). Algumas resinas termorrgidas so curadas somente com o emprego de

    catalisadores/agente de cura, sem o fornecimento de calor, enquanto que outras

    necessitam de calor para a sua cura. No processo de cura, as cadeias lineares so

    unidas para formar uma estrutura rgida tridimensional (NOGUEIRA, 2004). O grau de

    formao de ligaes cruzadas elevado, tal que entre 10 e 50% das unidades

    repedidas na cadeia possuem ligaes cruzadas (CALLISTER, 2007). Os termorrgidos

    no so reciclveis, pois no passam pela fuso, sendo que um aquecimento at

    temperaturas excessivas ir causar o rompimento dessas ligaes cruzadas e

    conseqentemente a degradao do polmero.

    2.2. ADITIVOS

    A maioria das propriedades dos polmeros est relacionada e controlada pela

    estrutura molecular. Entretanto, muitas vezes torna-se necessrio modificar as

    propriedades mecnicas, qumicas e fsicas a um nvel maior do que possvel pela

    simples alterao dessa estrutura molecular fundamental. Substncias, chamadas de

    aditivos, so introduzidas intencionalmente para melhorar ou modificar muitas dessas

    propriedades a fim de tornar o polmero mais til em servio. Os aditivos mais comuns

    so: as cargas; os estabilizadores; os corantes; os retardantes de chama e os

    plastificantes (CALLISTER, 2007).

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    4

    4

    As cargas so adicionadas aos polmeros para melhorar as propriedades

    mecnicas, como por exemplo, os limites de resistncia trao e a compresso, a

    tenacidade, alm da estabilidade dimensional e trmica. Os materiais usados como

    cargas particuladas incluem p de madeira, p e areia de slica, vidro, argila, talco,

    calcrio e at mesmo alguns polmeros sintticos (CALLISTER, 2007).

    Os estabilizadores ou estabilizantes so aditivos que atuam contra o processo

    de deteriorao, pois sob condies ambientais normais, os materiais polimricos

    esto sujeitos a uma rpida deteriorao, geralmente comprometendo a sua

    integridade mecnica. O processo de deteriorao ocorre principalmente pela

    exposio a luz ( particularmente radiao ultravioleta (UV)), onde a radiao UV

    interage com algumas das ligaes covalentes ao longo da cadeia do polmero,

    provocando o seu rompimento, o que pode resultar tambm na formao de algumas

    ligaes cruzadas. Para a estabilizao radiao UV, adiciona-se uma fina camada

    sobre a superfcie do polmero de um material capaz de bloquear essa radiao. Um

    outro tipo de deteriorao a oxidao, conseqncia da interao qumica entre o

    oxignio e as molculas do polmero. Os estabilizantes neste caso atuam ou

    consomem o oxignio antes da interao com o polmero, prevenindo a ocorrncia das

    reaes de oxidao que causariam danos ao material (CLOUGH, 1996).

    A maioria dos polmeros inflamvel na sua forma pura; as excees incluem

    aqueles que contm teores significativos de cloro ou flor, como o cloreto de polivinila e

    o politetrafluoretileno. A resistncia flamabilidade dos demais polmeros combustveis

    pode ser melhorada por aditivos chamados de retardantes de chama. Esses

    retardantes podem funcionar pela interferncia com o processo de combusto atravs

    da fase gasosa, ou pela iniciao de uma reao de combusto diferente que gera

    menos calor, o que reduz a temperatura e conseqentemente, causando uma

    desacelerao ou interrupo da queima do polmero (ZWEIFEL, 2009).

    2.2.1. Plastificantes

    Os plastificantes so aditivos empregados em alguns tipos de materiais

    polimricos, com o objetivo de melhorar a processabilidade e aumentar a flexibilidade.

    A plastificao ou plasticizao de um polmero consiste em adicionar os plastificantes

  • 45

    4

    5

    para alterar a viscosidade do sistema, aumentando a mobilidade das macromolculas

    (RABELLO, 2000).

    A plastificao pode ser externa ou interna. Na externa, os plastificantes

    reduzem as temperaturas de transio vtrea e de fuso, alm de afetar todas as

    propriedades mecnicas e fsicas, mas no alteram a natureza qumica das

    macromolculas. A plastificao interna consiste em aumentar a flexibilidade molecular

    atravs de copolimerizao com um monmero que gere polmeros de menor Tg

    (RABELLO, 2000).

    Uma forma de atuao dos plastificantes em polmeros envolve a neutralizao

    ou reduo das foras intermoleculares do polmero pelas molculas do plastificante,

    ou seja, atuam como solventes, provocando a separao entre as molculas e assim, a

    dissoluo. O efeito final a diminuio da energia necessria para os movimentos

    moleculares, caracterizando ento a flexibilidade. O plastificante precisa ser compatvel

    com o polmero. A compatibilidade funo da atrao relativa entre o polmero e o

    plastificante. Esta compatibilidade pode ser estimada por dois parmetros: o parmetro

    de solubilidade e a constante dieltrica. A constante dieltrica avalia as interaes de

    dipolo e de ligaes de hidrognio presentes (RABELLO, 2000).

    O plastificante no atua simplesmente como espaador molecular, ele forma

    ligaes momentneas com as molculas do polmero por meio de interaes de dipolo

    entre um grupo polar do polmero e um do plastificante. Quanto mais forte for esta

    interao, menor o efeito do espaamento, o que torna o produto mais rgido. De

    acordo com esta teoria, cada grupo polar do polmero fica fortemente ligado a uma ou

    duas molculas do plastificante. Protegidos pelas molculas de plastificantes, os

    grupos polares das cadeias vizinhas no podem interagir entre si e, portanto, ocorre

    diminuio na temperatura de transio vtrea. O plastificante tambm pode formar

    ligao de hidrognio com o polmero (RABELLO, 2000).

    A absoro de gua em poliamida, por exemplo, tem sido extensivamente

    estudada desde 1959, sobre o seu efeito nas propriedades dieltricas do material

    seguido principalmente, pelos experimentos com a constante dieltrica. A umidade

    nesses materiais tem um forte efeito nas suas propriedades dieltricas devido

    existncia de stios de ligaes intermoleculares de hidrognio entre os dois grupos de

    amida, que esto presentes na estrutura qumica do material. Como resultado da

  • 46

    4

    6

    absoro das molculas de gua, a mobilidade dos segmentos moleculares e/ou o

    nmero dos segmentos orientados so alterados, resultando em mudanas

    significativas em baixa temperatura nos modos de relaxao e e a relaxao , que

    a manifestao da transio entre o estado vtreo e borrachoso. Estes trs modos de

    relaxao so detectados por anlise termo dinmico mecnica (DMTA) (LAREDO,

    1997). Nylons so extremamente sensveis absoro de umidade, sendo esta

    umidade um plastificante eficaz. O ponto de equilbrio de absoro dependente da

    umidade relativa (% UR) para o qual est exposto o material. Como conseqncia, h

    dificuldades na determinao da Tg versus a % UR, desde que o teor de umidade varie,

    enquanto a temperatura est sendo digitalizada para observar a Tg. Muitos trabalhos

    apresentam metodologias para medies de mudanas primria (Tg) e secundrias (,

    ) devido absoro de umidade, para ser aplicveis no s para os nylons como para

    outros polmeros sensveis a umidade (KHANNA, 1995; FRANK, 1996; LAREDO,

    1997).

    2.2.2. Mecanismo de plastificao

    Quando um polmero imerso em um plastificante, as molculas deste

    comeam a penetrar na fase polimrica, modificando seu arranjo conformacional. Se o

    plastificante for compatvel com o polmero, toda a estrutura deste se desintegra

    gradualmente no decorrer da diluio, com as molculas de plastificante se

    posicionando entre as macromolculas, aumentando a mobilidade das cadeias e

    unidades. Tal plastificao conhecida como plastificao intraestrutural, caracterizada

    por uma diminuio contnua na temperatura de transio vtrea quando se aumenta a

    quantidade de plastificante. Se o plastificante for um solvente fraco para o polmero,

    misturando-se pouco com este, suas molculas destroem algumas estruturas enquanto

    outras permanecem no destrudas. Esta plastificao conhecida como plastificao

    interestrutural, caracterizada por uma diminuio em Tg at certo valor (RABELLO,

    2000).

    Os polmeros amorfos contm cavidades de dimenses moleculares e atmicas

    que surgem por causa de empacotamento molecular irregular na fase vtrea e

    movimentos segmentares na fase borrachosa. A soma destas cavidades descrita

    como o volume livre, que pode ser definido como o volume de um polmero amorfo que

  • 47

    4

    7

    exceda a um volume ocupado hipottico. O volume livre afeta muitas propriedades

    fsicas dos polmeros. A difuso de pequenas molculas (gases, orgnicos e

    inorgnicos lquidos) em polmeros vtreos ocorre por meio de volumes livres locais. As

    poliamidas (nylons) formam um grupo de polmeros que podem absorver at cerca de

    10% em peso de gua da atmosfera ambiente. A gua modifica as propriedades

    mecnicas e dieltricas das poliamidas. Apesar da absoro de gua ser investigada

    h mais de 30 anos, o mecanismo de incorporao das molculas de gua na estrutura

    do polmero ainda um assunto de discusso (DUBLEK, 2002).

    A teoria do gel, desenvolvida para polmeros amorfos, considera a resistncia

    deformao resultado de uma estrutura interna tridimensional, ou gel, formado pelos

    contatos entre as cadeias (emaranhados). Estes muitos pontos de contato mantm a

    estrutura fechada, possibilitando baixa deformao. Como um solvente, o plastificante

    penetra entre as cadeias quebrando seus pontos de contato e solvatando-as. As

    molculas do plastificante possuem interaes com as macromolculas, mas na forma

    de um equilbrio dinmico entre solvatao e desolvatao, isto , ocorre uma troca

    contnua de uma molcula de plastificante por outra, no sendo ligado a uma

    macromolcula em particular. Os grupos polares do plastificante interagem com os

    grupos polares do polmero, enquanto os grupos apolares atuam como espaadores

    entre dipolos, resultando em liberdade molecular (flexibilidade) e mantendo-se a

    coeso global da estrutura. Em polmeros semicristalinos a plastificao afeta

    primariamente as regies amorfas e de imperfeies cristalinas, de forma que quanto

    maior o grau de cristalinidade menor a aceitao de plastificantes (RABELLO, 2000).

    2.2.3. Antiplastificao

    Quando certos aditivos de baixa massa molar so incorporados em baixa

    concentrao em polmeros vtreos, observa-se uma restrio da mobilidade das

    cadeias polimricas e efeitos sobre o comportamento mecnico do material, que

    normalmente o oposto do que a observada quando plastificantes so adicionados a

    um polmero em alta concentrao. Esse comportamento no usual chamado

    antiplastificao, e de alguma forma, relacionado com uma perda de volume livre e a

    conseqente reduo na mobilidade molecular (VIDOTTI, 2007). A Figura 15 mostra o

    efeito da antiplastificao quando so adicionados baixos teores de DOP (dioctil ftalato)

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    ao PVC. Este fenmeno foi denominado antiplastificao e muito comum em

    polmeros de cadeia rgida como exemplos, o PVC, o policarbonato e o PMMA. As

    molculas de plastificantes so fisicamente adsorvidas nas interfaces das estruturas

    dos polmeros, ocorrendo a plastificao intraestutural. Porm neste caso, o

    plastificante atua como uma substncia ativadora de superfcie, formando camadas de

    adsoro. Estas camadas exercem a funo de um lubrificante, facilitando o

    deslocamento mtuo das estruturas, o que favorece a orientao e conseqentemente

    aumenta a resistncia mecnica. Mesmo assim h uma reduo na temperatura de

    transio vtrea. Outra explicao para este fenmeno seria a formao de cristalitos,

    possibilitada pela maior liberdade de movimento das macromolculas, ou interaes

    polares fortes entre os componentes, atuando assim como reticuladores fsicos. A

    Figura 16 mostra que o fenmeno da antiplastificao mais intenso quando

    plastificantes polares so utilizados, o plastificante polar utilizado no PVC para o efeito

    da antiplastificao foi o di-isononil ftalato, enquanto o apolar foi o di-isononil adipato

    (RABELLO, 2000).

    Figura 15 Ocorrncia de antiplastificao quando baixos teores de DOP so adicionados ao PVC

    (RABELLO, 2000).

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    Figura 16 Efeito da natureza do plastificante na magnitude da antiplastificao do PVC

    (RABELLO, 2000).

    VIDOTTI apresenta um estudo referente ao efeito da antiplastificao nas

    propriedades trmicas, volumtricas e de transporte do poli(ter-sulfona) (PES), onde

    foi adicionado um aditivo de baixa massa molar, o que resultou em mudanas na

    mobilidade molecular e nas propriedades da matriz vtrea do PES. Estas mudanas

    foram acompanhadas por redues na permeabilidade ao vapor de gua do polmero,

    reduo na Tg da mistura; deslocamento da transio (transio associada a

    movimentos segmentares) para temperaturas mais altas, e at mesmo a supresso

    dessa transio em algumas condies e aumento do mdulo de elasticidade. A

    reduo na magnitude da transio com a incorporao de aditivos de baixa massa

    molar em polmeros vtreos atribudo supresso dos movimentos locais das cadeias

    polimricas responsveis por essa transio. Este comportamento pode ser explicado

    pela maior rigidez das molculas dos aditivos. Os anis aromticos apresentados na

    estrutura desses aditivos levam restrio da mobilidade local das cadeias do

    polmero. Em outras palavras, o aditivo interage com anis aromticos do PES e/ou

    grupos sulfona promovendo maior coeso entre as cadeias polimricas.

    Conseqentemente, o movimento dos grupos qumicos que responsvel pela

    transio reduzido. Outro parmetro que confirma a rigidez do aditivo a sua maior

    temperatura de transio vtrea (VIDOTTI, 2007).

    DUBLEK realizou um trabalho com polmero amorfo, a poliamida 6 (PA6), no

    qual foi investigado o volume livre no PA6 usando a tcnica de espectroscopia de vida

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    por aniquilao de psitron (PALS). Foi comparada a dependncia da temperatura com

    o volume livre no PA6 seco na faixa entre 25 C a 220 C. O volume livre do PA6 foi

    exposto a ambientes diferentes de umidade relativa, apresentado mudanas no volume

    livre devido soro isotrmica de umidade. Nesta comparao foram obtidas

    informaes que contribuem para o entendimento das razes e do mecanismo que a

    umidade induz na antiplastificao. Dois intervalos de comportamento de soro foram

    observados, para pequena e mdia umidade relativa ambiental, houve um decrscimo

    do volume livre o que corresponde a mais da metade do volume de uma molcula de

    gua. Esse comportamento do volume livre foi interpretado como antiplastificao

    (perda de volume livre) da poliamida amorfa. Para maiores valores de umidade relativa

    ambiental, a mdia de volume livre aumenta novamente em direo ao valor do PA6

    seco, indicando uma plastificao (ganho de volume livre), comportamento que

    compensa e, finalmente, anula a anterior antiplastificao (DUBLEK, 2002).

    2.3. COMPSITOS

    Como definio bsica, os materiais compsitos so uma combinao de dois

    ou mais componentes distintos, o que produz um novo material com propriedades

    resultantes mais atrativas em relao quelas dos constituintes individuais. Existem

    vrios tipos de materiais compsitos, dos quais so constitudos basicamente de um

    certo tipo de reforo embebido em uma determinada matriz. Dentre os compsitos mais

    conhecidos podemos citar o compsito de matriz polimrica, onde as matrizes so

    constitudas de polmeros que podem ser do tipo termorrgido e termoplstico, tendo

    como reforo diversos tipos de fibras, como as fibras de carbono, vidro e de polmeros

    (como por exemplo, a aramida, o polietileno e a poliamida) (NOGUEIRA, 2004).

    Os compsitos estruturais foram introduzidos de modo definitivo na indstria

    aeroespacial a partir da dcada de 60. Com seu avano foram criadas novas linhas

    para estruturas de elevado desempenho e com baixa massa especfica, favorecendo o

    desenvolvimento de sistemas estratgicos tais como: msseis; foguetes e aeronaves de

    geometrias complexas. Devido ao seu custo de obteno, o uso dos compsitos

    polimricos estruturais, tambm denominados avanados, foi restrito a alguns setores

    da indstria durante dcadas. Entretanto, atualmente a aplicao de estruturas em

    compsitos vem crescendo dia aps dia em diferentes setores da indstria moderna,

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    representando um crescimento de 8% ao ano (REZENDE, BOTELHO 2000; DANIEL,

    ISHAI, 2005).

    2.3.1. Compsitos termoplsticos

    Embora os polmeros termorrgidos sejam responsveis pela maior demanda de

    matrizes para compsitos avanados e possam, quando necessrio, ser tenacificados,

    a utilizao de matrizes termoplsticas tm continuamente evoludo como uma

    alternativa para aplicaes estruturais. A motivao pelo uso de compsito de matriz

    termoplstica consiste, basicamente, por trs diferentes razes. A primeira razo que