avaliaÇÃo de pÓs-ocupaÇÃo da arquitetura...

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I S A M A S e m i n á r i o d e a r q u i t e t u r a m o d e r n a n a A m a z ô n i a 17, 18 e 19 de fevereiro de 2016. AVALIAÇÃO DE PÓS-OCUPAÇÃO DA ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA AMAZÔNICA: ESTUDO DE CASO DA ESCOLA ESTADUAL GONÇALVES DIAS, EM BOA VISTA/RR, DE SEVERIANO MÁRIO PORTO NASCIMENTO, CLAUDIA HELENA CAMPOS (1), BORGES, HELENA DA SILVA (2) Mestre em Arquiteta e Urbanismo, com ênfase em Patrimônio; Especialista em Semiótica e Artes Visuais; Bacharel em Arquitetura e Urbanismo; professora da linha de Teoria e História da Arte, Arquitetura e Urbanismo do curso de bacharelado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Roraima /UFRR. Avenida Ene Garcêz, 2413, Bloco V, CCT, Arquitetura e Urbanismo-Bairro Aeroporto-Boa Vista/RR E-mail: [email protected]. 2. Graduanda do curso de bacharelado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Roraima UFRR; Assistente Administrativo da Pro-reitoria de Ensino de Graduação da UFRR. E-mail [email protected] RESUMO A exigência por qualidade e eficiência das edificações tem se tornado cada vez mais frequente desde o processo de planejamento a execução. Um dos métodos de avaliação desses critérios e a Avaliação de Pós-Ocupação APO, que se caracteriza como um processo de avaliação de edifícios na fase de uso, por meio da análise do desempenho físico dos edifícios e níveis de satisfação dos usuários. Estetrabalho, que apresenta dados preliminares, abordará como seráa aplicação deste método em uma unidade educacional de nível médio, Escola Estadual Gonçalves Dias, em Boa Vista/RR, edifício de autoria do arquiteto brasileiro Severiano Mario Vieira de Magalhães Porto, popularmente conhecido como o Arquiteto da Amazônia. Esta pesquisa segue o método de APO educacional do Programa de Tecnologia de Habitação (HABITARE), promovido conjuntamente pela Caixa Econômica Federal e pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) desde 1994, que possui como principais itens de análise de qualidade e eficiência de um edifício; no estudo de caso em questão serão considerados os desempenhos físico e ambiental, a partir do nível de satisfação dos usuários e análise da estrutura física do edifício. Ao considerarmos para o estudo a obra de Severiano Mário Porto, objetiva-se contrapor a proposta da arquitetura bioclimática amazônica, em sua eficiência propositiva e o estudo diacrônico do bem em questão, apontando as intervenções que sofreu o imóvel que possam ter contribuído para seu estado atual. Palavras chave: Boa Vista/RR; Arquitetura Bioclimática Amazônica; Avaliação de Pós-Ocupação - APO.

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I S A M A – S e m i n á r i o d e a r q u i t e t u r a m o d e r n a n a A m a z ô n i a 17, 18 e 19 de fevereiro de 2016.

AVALIAÇÃO DE PÓS-OCUPAÇÃO DA ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA AMAZÔNICA: ESTUDO DE CASO DA ESCOLA

ESTADUAL GONÇALVES DIAS, EM BOA VISTA/RR, DE SEVERIANO MÁRIO PORTO

NASCIMENTO, CLAUDIA HELENA CAMPOS (1), BORGES, HELENA DA SILVA (2)

Mestre em Arquiteta e Urbanismo, com ênfase em Patrimônio; Especialista em Semiótica e Artes Visuais; Bacharel em Arquitetura e Urbanismo; professora da linha de Teoria e História da Arte, Arquitetura e Urbanismo do curso de bacharelado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade

Federal de Roraima /UFRR. Avenida Ene Garcêz, 2413, Bloco V, CCT, Arquitetura e Urbanismo-Bairro Aeroporto-Boa Vista/RR

E-mail: [email protected].

2. Graduanda do curso de bacharelado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Roraima – UFRR; Assistente Administrativo da Pro-reitoria de Ensino de Graduação da UFRR.

E-mail [email protected]

RESUMO

A exigência por qualidade e eficiência das edificações tem se tornado cada vez mais frequente desde o processo de planejamento a execução. Um dos métodos de avaliação desses critérios e a Avaliação de Pós-Ocupação – APO, que se caracteriza como um processo de avaliação de edifícios na fase de uso, por meio da análise do desempenho físico dos edifícios e níveis de satisfação dos usuários. Estetrabalho, que apresenta dados preliminares, abordará como seráa aplicação deste método em uma unidade educacional de nível médio, Escola Estadual Gonçalves Dias, em Boa Vista/RR, edifício de autoria do arquiteto brasileiro Severiano Mario Vieira de Magalhães Porto, popularmente conhecido como o Arquiteto da Amazônia. Esta pesquisa segue o método de APO educacional do Programa de Tecnologia de Habitação (HABITARE), promovido conjuntamente pela Caixa Econômica Federal e pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) desde 1994, que possui como principais itens de análise de qualidade e eficiência de um edifício; no estudo de caso em questão serão considerados os desempenhos físico e ambiental, a partir do nível de satisfação dos usuários e análise da estrutura física do edifício. Ao considerarmos para o estudo a obra de Severiano Mário Porto, objetiva-se contrapor a proposta da arquitetura bioclimática amazônica, em sua eficiência propositiva e o estudo diacrônico do bem em questão, apontando as intervenções que sofreu o imóvel que possam ter contribuído para seu estado atual.

Palavras chave: Boa Vista/RR; Arquitetura Bioclimática Amazônica; Avaliação de Pós-Ocupação - APO.

I S A M A – S e m i n á r i o d e a r q u i t e t u r a m o d e r n a n a A m a z ô n i a 17, 18 e 19 de fevereiro de 2016.

1. INTRODUÇÃO

Esta pesquisa abordará como será a aplicação do método de Avaliação de Pós-

Ocupação – APO em uma unidade educacional de nível médio, Escola Estadual Gonçalves

Dias/RR. O estudo de caso em questão é feito sobre o objeto-projeto arquitetônico do

arquiteto brasileiro Severiano Mário Vieira de Magalhães Porto, popularmente conhecido

como o Arquiteto da Amazônia.

O desenvolvimento desta pesquisa se justifica na busca pela melhoria da qualidade

das edificações e auxílio no processo de concepção projetual, a partir do estudo e aplicação

da APO, que avaliará o desempenho do edifício (estudo de caso) através de análises de

seus aspectos funcionais, sistemas construtivos e de conforto ambiental.

Pretende-se, portanto, analisar a situação atual do edifício com o objetivo de

contrapor a proposta da arquitetura bioclimática amazônica, em sua eficiência propositiva e

o estudo diacrônico do bem em questão, apontando as intervenções às quais sofreu o

imóvel que possam ter contribuído para seu estado atual onde há a hipótese de que os

princípios preconizados no projeto de Severiano Mário Porto tenham sido subvertidos

através de intervenções alheias ao processo conceitual da arquitetura bioclimática.

Para a realização desta pesquisa serão utilizados os métodos e procedimentos de

avaliação aplicáveis à Unidade do APO Educacional (ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003).

O objeto principal deste trabalho consta de uma análise preliminar da Escola

Estadual Gonçalves Dias, localizada no bairro São Pedro, cidade de Boa Vista/RR, as

modificações ocorridas até o momento e que influências podem ter exercido sobre a

proposta inicial do projeto arquitetônico de Severiano Mario Porto.

2. DESENVOLVIMENTO

O presente artigo almeja apresentar a fundamentação do trabalho de pesquisa em

andamento de APO da Escola Gonçalves Dias. O presente artigo apresentará o processo

metodológico que será empregado, assim como o resultado preliminar dessa pesquisa.

Assim sendo, apresentaremos a metodologia para o desenvolvimento da pesquisas e os

resultados iniciais da aplicação da mesma.

2.1. Metodologia para o desenvolvimento da pesquisa

Como metodologia para a pesquisa em andamento, haverá dois enfoques de

procedimentos: um de revisão bibliográfica e outro de campo. O diálogo entre dois

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tratamentos da pesquisa visará estabelecer fundamentação teórica que possa ser avaliada

no campo prático, a partir do reconhecimento das questões que se apresentam na

arquitetura presente da Escola Gonçalves Dias.

Assim sendo, o desenvolvimento da pesquisa será realizado de forma teórico-

prática. O levantamento teórico tem como foco os temas que envolvem a Avaliação de Pós-

Ocupação - APO, a arquitetura de Severiano Mário Porto e o planejamento do levantamento

prático, isso é, construção de instrumentos para as técnicas de avaliação. Em outro

momento, será realizada a análise da estrutura física do edifício, objeto de estudo, a partir

de levantamentos in loco da Escola Estadual Gonçalves Dias e verificação do nível

satisfação dos usuários por meio de aplicação de questionários.

2.2. Revisão bibliográfica

A revisão bibliográfica visa construir o referencial teórico sobre o tema a ser

desenvolvido, dessa forma, podemos identificar quatro enfoques temáticos sobre os quais

será pautado o trabalho:

Avaliação de Pós-Ocupação: histórico, desenvolvimento e métodos de aplicação;

Arquiteto Severiano Mário Porto: biografia, principais obras, características

arquitetônicas empregadas, importância nacional e internacional do arquiteto

Severiano Mario Porto para o cenário arquitetônico e sua contribuição na

conformação da Arquitetura Bioclimática Amazônica;

Escola Estadual Gonçalves Dias: histórico da edificação, incluindo-se o processo

de produção projetual, construção e modificações, identificação das

características arquitetônicas comumente empregadas pelo arquiteto Severiano

Porto;

Metodologia de pesquisa de campo: escolha instrumentos e procedimentos de

APO a serem aplicados, elaboração de instrumentos, procedimentos de

levantamento de campo e aplicação dos questionários, vistorias técnicas e

medições de conforto ambiental.

2.2.1. Avaliação de Pós-Ocupação

A qualidade de edifícios construídos depende da avaliação e manutenção periódica

realizada pelos usuários e profissionais. É necessário o emprego de uma metodologia

capaz de diagnosticar os aspectos positivos e negativos do ambiente, considerando fatores

técnico-construtivo, funcionais, comportamentais, econômicos, estéticos e ambientais.

(CASTRO; LACERDA; PENNA, 2004).

A Avaliação de Pós-Ocupação é considerada uma disciplina acadêmica das

escolas de Arquitetura e ainda como uma metodologia de estudo para a fase de uso dos

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edifícios. Consiste basicamente em uma avaliação da edificação depois que começou a ser

usada, com o emprego de técnicas e métodos específicos.

A APO, portanto, diz respeito a uma série de métodos e

técnicas que diagnosticam fatores positivos e negativos

do ambiente no decorrer do uso, a partir da análise de

fatores socioeconômicos, de infra-estrutura e

superestrutura urbanas dos sistemas construtivos,

conforto ambiental, conservação de energia, fatores

estéticos, funcionais e comportamentais, levando em

consideração o ponto de vista dos próprios avaliadores,

projetistas e clientes, e também dos usuários.

(ORNSTEIN E ROMERO, 2003, p. 26)

A APO é uma importante ferramenta para determinação de aspectos positivos e

negativos a serem evitados ou repetidos em projetos semelhantes, tendo como referência

ambientes em fase de uso. Teve inicio nos anos 1960, na Europa e EUA no pós-guerra, a

partir da avaliação dos conjuntos habitacionais e da arquitetura moderna de massa. Os

estudos desenvolveram-se em diferentes áreas como desempenho físico das edificações,

padrões culturais, privacidade, territorialidade, personalização, apropriação, segurança,

apropriação, faixa etária com ênfase no usuário dos ambientes (ORNSTEIN; ROMERO,

1992).

Em psicologia ambiental destaca-se a utilização dos métodos da APO, em especial

por psicólogos norte-americanos, com estudos voltados para a interferência dos ambientes

no comportamento humano e vice-versa.

No Brasil os primeiros estudos datam de fins da década de 1970, estimativas de 30

pesquisadores nesse campo, com destaque para os centros de conhecimento sobre o tema:

NUTAU – USP/FAUUSP, em São Paulo, Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) do

Estado de São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo; no Núcleo Orientado para a

Inovação da Edificação (NORIE), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; na

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco; no Grupo

de Estudos Pessoa-Ambiente (GEPA), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte; na

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro; e no

Laboratório de Psicologia Ambiental da Universidade de Brasília, além de algumas

atividades nesse campo realizadas pela empresa particular Centro de Tecnologia de

Edificações (CTE).

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Observa-se que a APO desde os anos 1960 atua como auxílio no controle de

qualidade e desenvolvimento de projetos complexos, como por exemplo aeroportos,

shopping centers, ginásios de esportes, hospitais, asilos, estabelecimentos penais, parques,

entre outros, ou aquelas tipologias passíveis de repetição, a exemplo de conjuntos

habitacionais, escolas e postos de saúde (ORNSTEIN; ROMERO, 1992).

A metodologia da APO é bastante diversificada, onde o pesquisador pode adequar

a análise a partir dos seus objetivos propostos.

APO é um conjunto de métodos e técnicas que são

utilizados e combinados de acordo com os objetivos de

cada pesquisa e também dos recursos humanos e

financeiros envolvidos. Esse conjunto de abordagens é

definido, via de regra, na etapa de programação do

trabalho, embora em alguns casos determinadas

inserções metodológicas possam ser feitas durante a

etapa de desenvolvimento (ORNSTEIN E ROMERO,

2003, p. 264).

Para a elaboração desta pesquisa será dada ênfase a análise dos aspectos

ambientais da edificação – considerando o objetivo da caracterização da arquitetura

bioclimática – além dos demais a serem avaliados: técnico-construtivo e funcionais.

2.2.2. Arquitetura bioclimática amazônica de Severiano Mário Porto

O conceito de arquitetura bioclimática engloba uma série

de valores relacionados à redução de impactos

ambientais, conservação de energia e obtenção de

conforto ambiental no projeto construído (NEVES, 2006,

p. 17).

A arquitetura como um processo de planejamento do espaço, a fim de obter a

qualidade essencial e desejada deve, portanto, se adequar ao ambiente a ser construindo,

considerando o clima e características próprias da localidade. O estudo das soluções para a

redução de impactos ambientais, conservação de energia e obtenção de conforto ambiental

proporciona elementos a serem empregados em uma edificação que consequentemente

apresentará melhor eficiência construtiva, uma vez que estará adequada ao seu entorno.

Essa adequação existente entre uma edificação e o ambiente que deve ser

realizada com o mínimo de impacto possível, define a arquitetura bioclimática, considerando

ainda o aproveitamento dos materiais e recursos naturais disponíveis e conforto ambiental.

O estudo da arquitetura bioclimática se intensificou a partir da década de 1970, com a

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preocupação da escassez dos recursos naturais e energéticos do planeta, atentando para a

preservação ambiental, nas diversas áreas de produção: construção civil, indústrias e

outros.

As premissas básicas da arquitetura bioclimática são a adequação ao entorno, ao

clima, aproveitamento dos recursos naturais, evitar a utilização de sistemas mecânicos de

transmissão energética.

Na década 1960, houve uma migração de arquitetos por todo território nacional

brasileiro, incentivados pela política de gestão desenvolvimentista do período, de

fundamento modernista. Estes arquitetos, ao se depararem com as características regionais

diferenciadas, tiveram que buscar ou utilizar métodos tradicionais e materiais locais para se

adaptarem às condições existentes, diferentemente do que se preconcebia no International

Style do Modernismo. Como resultado houve o reconhecimento das especificidades da

arquitetura e dos processos construtivos locais, com especial atenção à condição

amazônica, fazendo surgir um grupo de profissionais que defendiam soluções que que

consolidaram no que passou a ser conhecido como arquitetura bioclimática. Esta

contribuição técnica tornou-se igualmente uma contribuição teórica, sendo seus estudos e

pesquisas abarcados como linguagem arquitetônica e fundamento de estudo no meio

universitário.

Na região da Amazônia com o seu clima quente e úmido, sociedade e cultura local

com características bem especificas essas adaptações ocorreram de forma distinta, dita

Arquitetura Amazônica ou Arquitetura Bioclimática Amazônica. O arquiteto Severiano Mário

Vieira de Magalhães Porto foi o um dos pioneiros a atuar na região, sendo o principal

representante com obras de destaque: Campus da Universidade Federal do Amazonas

(UFAM), Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Aldeias Infantis SOS

Brasil, Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM), entre outras. O diálogo técnico

com arquitetos como Milton Monte e João Castro Filho, do Pará, sendo Severiano Mário

Porto o representante amazonense, permitiu o fortalecimento do discurso da necessidade

de implementar métodos e materiais regionais na rotina do planejamento arquitetônico

amazônico.

Reconhecido internacionalmente pela sua produção arquitetônica que apresenta

adaptação ao clima quente e úmido da região amazônica, aspectos da arquitetura regional,

adaptação da construção ao meio e aplicação de soluções de conforto ambiental,

destacando-se o uso da ventilação natural como elemento principal de seus projetos.

Os princípios bioclimáticos nos projetos de Porto estão

presentes na procura por uma linguagem coerente,

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voltada para as características regionais, na busca em

utilizar soluções simples e originais, através do maior

uso de recursos materiais locais, na preocupação em

elaborar soluções arquitetônicas condizentes ao clima,

que preservem e integrem o edifício à paisagem.

(NEVES, 2006, p.25)

As obras do arquiteto podem ser hipoteticamente classificadas como as de

vertente regionalista com o emprego de madeira e materiais regionais, técnicas e práticas

construtivas locais. E as de vertente brutalista, “a última trincheira do movimento moderno”

(FUÃO, 2000) que se caracteriza pela utilização do concreto armado aparente, associado à

simplicidade do partido arquitetônico, horizontalidade das coberturas e jogo de níveis que

caracterizam uma resposta geométrica à solução da arquitetura, características do

Modernismo. O projeto da Escola Gonçalves Dias apresenta características marcantes

desta segunda vertente.

A arquitetura de Severiano Porto é aquela que não se enquadra em estilos, o

regionalismo configura-se como fator principal, onde o importante é a obra está adaptada as

condições do meio.

2.3.2. Levantamento de campo

Para o desenvolvimento desta fase serão utilizados os procedimentos indicados por

Romero & Ornstein (2003) na Unidade do APO Educacional. O Programa de Tecnologia de

Habitação – HABITARE (FINEP/MCT) foi desenvolvido com o objetivo de contribuir para o

avanço do conhecimento no campo da tecnologia do ambiente construído, apoiando

pesquisas científicas, tecnológicas e de inovação, visando o atendimento das necessidades

de modernização do setor de habitação e contribuir para o atendimento das necessidades

habitacionais do país.

O material de estudo está dividido em 03: Série Coleções, Coletânea Habitare, e a

de Recomendações Técnicas. A coletânea HABITARE consiste em uma série de livros em

07(sete) volumes, sendo o primeiro referente à Avaliação Pós-Ocupação. Esse volume

apresenta uma abordagem sobre a APO e sua aplicação, com exemplos de estudos em

habitações sociais e unidades institucionais; no caso desta pesquisa utilizaremos os

procedimentos, devidamente adaptados ao caso, aplicados à unidade educacional em

estudo. O processo de avaliação será realizado seguindo o roteiro com as seguintes etapas:

Levantamento da memória do projeto e das possíveis modificações realizadas no

edifício: leitura de projetos (arquitetônicos, estruturais, entre outros) e das

especificações técnicas;

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Levantamento do estado de conservação e manutenção do edifício, com

levantamento fotográfico;

Vistorias técnicas para aferição dos aspectos construtivos: a partir da observação

direta do edifício;

Medições in loco de aspectos referentes ao conforto ambiental, tais como

predominância de ventos e medições;

Aplicação de questionário/entrevista preliminar para obtenção de dados de

funcionamento da escola e das características de seus estudantes;

Aplicação de questionários aos professores, alunos, funcionários administrativos e

serviços gerais;

Recepção da devolução dos questionários;

Tabulação e análise dos dados;

Diagnóstico final (satisfação dos usuários versus avaliação técnica);

Recomendação e diretrizes para projetos futuros.

2.4 Análise preliminar da Escola Gonçalves Dias

A Escola estadual de Ensino Médio Gonçalves Dias /RR, esta localizada na Av.

Getúlio Vargas, nº 4333, bairro Canarinho, no município de Boa Vista, estado de Roraima. A

proposta de criação foi aprovada em 12 de março de 1977, a partir do Decreto n° 12,

assinado pelo governador no respectivo período do ex-território federal, Fernando Ramos

Pereira.

A escola funciona com uma estrutura em blocos que apresenta divisões em área

administrativa e de salas de aula. Possui 22 salas de aula, das quais 18 estão sendo

utilizadas, e conta com aproximadamente 1300 alunos1. Possui 87 funcionários entre

professores, da área administrativo-pedagógica e serviços gerais. A modalidade de ensino

atende ao Ensino Médio e Ensino Médio - Profissionalizante.

No entorno da edificação, na parte frontal têm uma praça e complexo esportivo do

Estádio Canarinho com quadra de esporte e piscinas olímpicas. Na parte posterior encontra-

se a Faculdade de Ensino Superior (FARES) e na lateral direita o Colégio Militar da Polícia

Militar de Roraima. As edificações e espaços próximos são todos de níveis instrucionais

e/ou privados, com destaque às edificações que abrigam a Universidade Estadual de

Roraima (UERR), Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE/RR), secretarias estaduais

entre outros. Destaca-se a proximidade do rio Branco na parte posterior da edificação, que

influência na climatização do ambiente.

1 Por se tratar de dado coletado anteriormente à greve dos professores estaduais ocorrida em 2015, informações

ainda não comprovadas e carentes de revisão para a pesquisa, indicam ter havido considerável evasão de matriculados.

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2.4.1. O projeto arquitetônico

A edificação não segue uma plástica arquitetônica definida da linguagem do estilo

Modernista paradigmático, contudo esse é um fator predominantemente presente nos

projetos do arquiteto Severiano Porto. Observa-se, como abordado anteriormente, uma

breve vinculação ao Brutalismo, como tendência que consolida o valor plástico da matéria

do concreto aparente em sua dupla função – estrutural e estética – e caracteriza a

concepção de caráter vinculado ao modernismo (Figura 1). Essa afirmação encontra na

planta baixa baseada em formas regulares, modulares e retangulares, a opção pelo uso de

concreto armado como principal substância do bem, além da opção pelos amplos vãos

livres, o diálogo com a fachada sem ornamentação, sendo a arquitetura em sua verdade

estrutural (FONSECA; PONTES & SANCHÉZ, 2013).

O projeto arquitetônico do arquiteto Severiano Mario Porto, possui como

característica a divisão em blocos, sendo em número de 05 (cinco): o principal compõe-se

dos setores administrativos, de uso comum e serviços gerais e os demais blocos são de

salas de aula e laboratórios (Tabela 1).

Figura 1 - Detalhe da cobertura e esquadrias Fonte: Mattos et all., 2014

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Tabela 1 – Programa da Escola Gonçalves Dias, projeto original.

As dependências possuem, em sua maioria, forma retangulares, com exceção da

sala dos professores que possui formato hexagonal, em destaque no bloco principal. A

edificação incorpora áreas de grandes vãos (pátio coberto e circulações) e amplos

corredores, que tiram proveito da iluminação e ventilação naturais (Figuras 2 e 3), com

profuso uso de elementos vazados.

PROJETO BÁSICO

Bloco Principal Blocos secundários Anexos

Sala de diretoria

Sala de professores

Sala de secretaria

Salas administrativas

Refeitório

Cozinha

Despensa

Biblioteca

Sala de leitura

Auditório

Pátio coberto

Banheiros

Laboratório de informática

Laboratório de ciências

Salas de aula

Banheiros

Quadra de esportes coberta

Quadra de esportes descoberta

Figura 2 – Corredor. Fonte: Helena Borges, 2015.

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Caracteriza-se, em especial, pela horizontalidade de sua cobertura com grandes

beirais e vigas de concreto aparente. Apresenta elementos vazados em grande parte da

edificação, o que proporciona iluminação e ventilação natural. Ambos, cobertura e

elementos vazados, definem a unidade arquitetônica do projeto.

Figura 3 – Pátio coberto Fonte: Helena Borges, 2015.

Figura 4 – Detalhe da cobertura, com a presença de telhamento visível. Fonte: Helena Borges, 2015.

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Apresenta sistema estrutural em concreto armado de vigas e pilares e vedação em

blocos de alvenaria, laje de forro e cobertura em telhas, estas inseridas a posteriori da

finalização do projeto original (Figura 4).

Destaca-se ainda pela a integração da edificação com a paisagem, adaptação ao

clima, a economia de espaços, ventilação e iluminação natural. A área externa (Figura 5) e

composta de pátio de convivência arborizado, estacionamento privativo para carros e

bicicletas.

Figura 6 – Diferença de níveis da edificação. Fonte: Helena Borges, 2015.

Figura 5 – Pátio externo arborizado Fonte: Helena Borges, 2015.

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Outros detalhes importantes do projeto são:

painel artístico em desenho geométrico presente no pátio coberto;

esquadrias de madeira, venezianas e vidro da área interna;

adaptação da edificação à topografia (Figura 6), desenvolvendo-se em três níveis

diferentes.

2.4.2. Avaliação técnico-construtiva

O edifício apresenta, de maneira geral, boa manutenção em sua estrutura, apesar

da demora no conserto dos equipamentos que precisam de melhorias, como no caso das

salas de aula em desuso, devido a problemas de manutenção na central de ar condicionado.

O terreno está bem conservado sem mato ou lixo, possui boa drenagem das águas pluviais.

Os detalhes construtivos possuem boa execução nos acabamentos de pisos,

paredes e lajes necessitando, contudo de revisão na rede de instalações elétricas, visto que

foi observada a presença de eletrodutos aparentes que denotam intervenções e acréscimos

recentes e sem a devida atenção à segurança, especialmente se tratando de um espaço de

multiusuários, no caso, escolar.

Em relação às patologias nota-se a presença de pequenas áreas com infiltrações

na estrutura da cobertura (biblioteca) e lajes (corredores). Esta análise é importante, pois em

uma das reformas realizadas no ano de 2010, foi devido ao desmoronamento da laje do

pátio coberto. Em um questionamento inicial com os funcionários da escola sobre as

reformas realizadas, os mesmos relataram que o desmoronamento foi apenas do

revestimento e pintura da laje, não havendo qualquer dano a estrutura.

As transformações significativas ocorrida na estrutura física foram à ampliação de

um bloco de sala de aula (que formou um grande corredor) e modificação na cobertura,

inserindo telhas. Observam-se ainda outras alterações em detalhes de acabamento e

adaptações realizadas após alteração do projeto inicial.

As esquadrias do projeto inicial eram de venezianas de madeira e vidro, atualmente

apenas as esquadrias da área interna foram mantidas e as da área externa, como as janelas

das salas de aula foram substituídas por vidraças, o que conseqüentemente provocou a

necessidade da utilização de central de ar condicionado em todas as salas de aula e setores

administrativos, visto terem se tornado barreiras à proposta arquitetônica original de

ventilação cruzada.

No período de 2010 a 2012 a edificação passou por uma significativa reforma nas

instalações elétricas e hidrossanitárias, cobertura, muro, recuperação de portas e janelas,

quadra de esportes e pintura geral.

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As alterações realizadas na cobertura foi a mais significativa, pois aumentou a

inclinação das telhas deixando o telhado aparente, o que descaracterizou a forma

arquitetônica do edifício, que era fortemente marcada pela horizontalidade da cobertura

presente na exposição das vigas e amplos beirais. A modificação justificou-se devido à

necessidade de melhorar o escoamento das águas pluviais, pois o formato antigo com

pouca inclinação, não escoava as águas de forma adequada, acumulava sujava a estrutura

e consequentemente gerando as já citadas infiltrações que danificavam a estrutura e a

pintura.

3. CONCLUSÃO

A arquitetura de Severiano Mário Porto, que se manifesta na Escola Estadual

Gonçalves Dias, em Boa Vista, estado de Roraima, em seu estado atual, apresenta-se sob a

forma de importante objeto de estudo para a compreensão da eficiência dos projetos de

proposição bioclimática para a região amazônica. Não deixando de atentar ao detalhe,

extremamente relevante, de que o bioma Amazônia insere várias condições climáticas

diferenciadas e não somente a condição das chamadas florestas úmidas, que serviu de

referência para o desenvolvimento propositivo da Arquitetura Bioclimática Amazônica, a

Escola Gonçalves Dias é um dos edifícios e projetos de Severiano Mário Porto em Boa

Vista, devendo induzir a necessidade de estudos mais profundos e posteriores sobre a

forma da concepção nesses moldes para o ambiente de savana, em que Boa Vista se

insere.

Desta forma, a Avaliação de Pós-Ocupação se torna uma metodologia importante

para o estudo analítico da eficiência dos projetos da Arquitetura Bioclimática Amazônica, e

dos processos de adaptação que estes edifícios sofreram ao longo dos anos, incorporando

tecnologias de climatização e iluminação, especialmente, e outras intervenções, buscando

entender a relação de causa e efeito dessas intervenções.

No estudo de caso em tela, da Escola Estadual Gonçalves Dias, é possível

observar alterações que, além de comprometer esteticamente a composição arquitetônica,

também indicam terem sido indutoras do comprometimento da eficiência do projeto original.

Em uma análise preliminar, temos que as alterações realizadas na cobertura foram as mais

significativas. O aumento da inclinação do ângulo da cobertura e sua projeção, configurando

um beiral, fez com que a leitura, marcadamente horizontal, e os elementos estruturais do

sistema de vigas superiores, fosse comprometida. A partir da informação das entrevistas

preliminares desta pesquisa, a modificação justificou-se devido à necessidade de melhorar o

escoamento das águas pluviais, pois o formato antigo com pouca inclinação, não escoava

I S A M A – S e m i n á r i o d e a r q u i t e t u r a m o d e r n a n a A m a z ô n i a 17, 18 e 19 de fevereiro de 2016.

as águas de forma adequada, acumulava sujava a estrutura e consequentemente gerando

as já citadas infiltrações que danificavam a estrutura e a pintura. Pode-se supor, a partir de

iconografia de época, como hipótese, que o inicialmente proposto consistia de sistema

telhado e calha, oculta pelas vigas e que, na verdade, o problema da drenagem da água

pluvial pudesse estar associado à falta de devida manutenção de calhas e tubos de queda.

Da mesma forma temos que a substituição de esquadrias de venezianas por vidros,

de forma clara e evidente, compromete a ventilação cruzada nos ambientes, gerando a

necessidade de incorporação de sistemas mecânicos de climatização ambiental e, por

conseguinte, a presença de redes elétricas aparentes. A construção de anexos também

pode ter sido fator para o comprometimento do fluxo eólico, contudo, esses elementos

entram sob a forma de hipóteses a ser consideradas na análise.

Entretanto, a partir da análise preliminar destas duas modificações realizadas na

edificação – cobertura e alteração das esquadrias – é possível verificar que as mesmas

influenciarão na avaliação geral, no estado atual de uso da edificação, a ser realizada por

meio da aplicação dos instrumentos da APO, especialmente os questionários e entrevistas,

o que comprometerá a verificação da eficiência da proposta de arquitetura bioclimática.

Assim sendo, há de ser relevante a avaliação técnica e os aspectos históricos da edificação,

a fim de permitir a proposição de indicativos para futuras intervenções que venham ao

encontro da maturidade propositiva inicial.

Discutir a obra de Severiano Mário Porto, Milton Monte e demais arquitetos dessa

cepa é importante e atual, mesmo que nos remeta a proposições de décadas passadas,

visto que preocupações vem sendo incorporadas à agenda de estudos no campo da

Arquitetura e Urbanismo, como a eficiência energética e questões de inserção ecoeficientes

dos espaços construídos.

I S A M A – S e m i n á r i o d e a r q u i t e t u r a m o d e r n a n a A m a z ô n i a 17, 18 e 19 de fevereiro de 2016.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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