avaliaÇÃo de efeito e seguranÇa da toxina...
TRANSCRIPT
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MYRIAN KATIA ISER TEIXEIRA
AVALIAÇÃO DE EFEITO E SEGURANÇA DA TOXINA
BOTULÍNICA TIPO A NA INDUÇÃO DE PTOSE
PALPEBRAL TEMPORÁRIA EM GATOS DOMÉSTICOS
CAMPINAS
2015
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Faculdade de Ciências Médicas
MYRIAN KATIA ISER TEIXEIRA
AVALIAÇÃO DE EFEITO E SEGURANÇA DA TOXINA BOTULÍNICA
TIPO A NA INDUÇÃO DE PTOSE PALPEBRAL TEMPORÁRIA
EM GATOS DOMÉSTICOS
Tese de Mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a
obtenção do título de Mestra em Ciências Médicas, área de concentração em
Ciências Biomédicas.
ORIENTADOR: PROF. DR. JOSÉ PAULO CABRAL DE VASCONCELLOS
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO
FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO
ALUNO MYRIAN KATIA ISER TEIXEIRA, E ORIENTADO PELO
PROF. DR. JOSÉ PAULO CABRAL DE VASCONCELLOS.
___________________________________________________
CAMPINAS
2015
Título em outro idioma:
Palavras-chave em inglês:
Área de concentração:Titulação:Banca examinadora:
Data de defesa:Programa de Pós-Graduação:
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RESUMO
Objetivo: Avaliar o efeito e a segurança da toxina botulínica tipo A quando
aplicada na região do músculo elevador da pálpebra superior, para a indução de
ptose palpebral protetora em gatos domésticos. Métodos: Neste estudo do tipo
longitudinal, série de casos com intervenção, um total de 10 gatos foram
submetidos à quimiodenervação do músculo elevador da pálpebra superior
esquerdo, através da aplicação transpalpebral de 10 unidades de toxina botulínica
do tipo A. Alterações sistêmicas, mobilidade ocular, função visual, pressão
intraocular, o aparecimento, grau e duração da ptose foram avaliados antes da
aplicação, diariamente, durante os sete primeiros dias e, posteriormente, nos dias
14, 21 e 28 após a aplicação. A mensuração da fenda palpebral foi realizada
também no olho contralateral que funcionou como controle. Resultados: O início
do efeito clínico foi observado entre os dias 1 e 4 após a aplicação; a ptose
máxima foi observada entre o quinto e o sétimo dia e a duração média de ação da
toxina foi de 21 dias. O tempo máximo para recuperação da ptose foi de 28 dias. A
porcentagem média de redução da fenda palpebral foi de 39,66% (16,55% –
59,64%). A análise qualitativa demonstrou que duas gatas (20%) apresentaram
cobertura corneal maior que 50%, sete gatas (70%) obtiveram cobertura corneal
entre 25 e 49% e uma gata (10%) mostrou cobertura corneal menor que 25%. Os
valores da pressão intraocular permaneceram dentro dos limites de normalidade.
A toxina botulínica não causou efeitos adversos nos gatos desse estudo.
Conclusão: O uso de toxina botulínica tipo A no músculo elevador da pálpebra
superior foi seguro e promoveu ptose palpebral temporária parcial nos gatos desse
experimento.
Palavras-chave: gatos, blefaroptose, toxinas botulínicas tipo A.
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ix
ABSTRACT
Purpose: To evaluate the effect and safety and of botulinum toxin A for the
induction of palpebral ptosis in felines. Methods: In this prospective interventional
study, a total of 10 cats underwent transpalpebral chemodenervation of levator
palpebral superioris with 10 units of botulinum toxin type A in the left eye. The
systemic changes, ocular mobility, visual function, intraocular pressure, and the
onset, degree and duration of ptosis were evaluated before application, on a daily
basis during the first seven days and on days 14, 21 and 28 after application.The
palpebral edge of the contralateral eye was also measured. Results: A clinical
effect was observed beginning between the first and fourth days after botulinum
toxin A administration. The extent of ptosis was maximal between the fifth and
seventh days after administration, and ptosis was observed for a mean duration of
21 days. The maximum time for recovery of ptosis was 28 days. The palpebral
edge was reduced by an average of 39.6% (16.55% - 59.64%). Qualitative analysis
showed that two cats (20%) had greater than 50% coverage corneal, seven cats
(70%) achieved corneal coverage between 25 and 49% and one cat (10%) showed
corneal coverage less than 25%. Intraocular pressure values were within normal
limits. Botulinum toxin did not cause undesirable effects. Conclusions: The use of
botulinum toxin A in the levator palpebrae superioris muscle was safe and provided
transient, partial palpebral ptosis in all of the studied cats.
Key words: cats, blepharoptosis, botulinum toxins, type A.
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xi
SUMÁRIO
Pág.
1- INTRODUÇÃO................................................................................... 1
2- REVISÃO DE LITERATURA............................................................. 3
2.1- Revisões anatômicas e funcionais......................................... 3
2.1.1- Pálpebras.......................................................................... 3
2.1.2- Terceira pálpebra.............................................................. 6
2.1.3- Córnea.............................................................................. 7
2.2- Ceratites no paciente felino..................................................... 8
2.2.1- Características das ceratites felinas.................................. 8
2.2.2- Ceratites ulcerativas felinas............................................... 9
2.3- Recobrimento protetor............................................................. 11
2.3.1- Flap de terceira pálpebra................................................... 11
2.3.2- Tarsorrafia temporária........................................................ 13
2.3.3- Desvantagens dos recobrimentos cirúrgicos...................... 14
2.4- Toxina botulínica....................................................................... 15
2.4.1- Introdução.......................................................................... 15
2.4.2- História............................................................................... 16
2.4.3- Estrutura............................................................................ 17
2.4.4- Mecanismo de ação........................................................... 18
2.4.4.1- Ligação ao terminal nervoso colinérgico................ 20
2.4.4.2- Internalização e translocação.................................. 20
xii
2.4.4.3- Inibição da exocitose............................................... 21
2.4.4.4- Resposta da junção neuromuscular ao bloqueio... 22
2.4.5- Farmacologia....................................................................... 23
2.4.6- Antigenicidade da toxina botulínica..................................... 24
2.4.7- Toxina botulínica nas ciências médicas.............................. 24
2.4.7.1- Efeitos adversos..................................................... 25
2.4.7.2- Toxina botulínica na oftalmologia........................... 26
2.4.8- Toxina botulínica tipo A na produção de ptose temporária 27
2.4.9- Uso terapêutico da toxina botulínica tipo A na veterinária 28
3- JUSTIFICATIVA................................................................................. 31
4- OBJETIVOS....................................................................................... 33
5- HIPÓTESES....................................................................................... 35
6- MATERIAL E MÉTODOS................................................................... 37
6.1- Amostra...................................................................................... 37
6.1.1- Critérios de inclusão.......................................................... 37
6.1.2- Critérios de exclusão......................................................... 37
6.2- Seleção e ambientação........................................................... 38
6.2.1- Exame físico..................................................................... 38
6.2.2- Exames laboratoriais......................................................... 38
6.2.3- Exame oftalmológico......................................................... 39
6.2.4- Ambientação...................................................................... 39
6.3- Fase experimental.................................................................... 40
6.3.1- Avaliação clínica................................................................ 40
xiii
6.3.1.1- Exame físico........................................................... 40
6.3.1.2- Exame oftalmológico............................................... 40
6.3.2- Aplicação da toxina botulínica tipo A................................. 41
6.3.3- Seguimento dos pacientes................................................. 42
6.4- Aspectos éticos da pesquisa.................................................. 45
7- RESULTADOS.................................................................................. 47
8- DISCUSSÃO..................................................................................... 55
9- LIMITAÇÕES DO ESTUDO.............................................................. 61
10- CONCLUSÃO.................................................................................... 63
11- PERSPECTIVA................................................................................. 65
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................. 67
ANEXOS............................................................................................ 77
xiv
xv
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos gatos,
seres tão especiais,
e verdadeiros inspiradores profissionais.
xvi
xvii
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelas bênçãos que recebo a cada dia.
Aos meus pais e avós, pelo exemplo, dedicação, carinho e amor. Com
certeza vocês construíram meu alicerce com muita maestria.
Às minhas tias, Fanny e Deinha, por acreditarem nos meus sonhos e
por, literalmente, serem as minhas mães queridas, sempre presentes em oração,
apoio, dedicação e carinho.
Ao Cristiano, pelo exemplo profissional e de fortaleza, assim como pelo
incomensurável apoio ao meu crescimento na profissão. Caminhar juntos significa
escolha e exige maestria, companheirismo, dedicação e amor.
À Fabiana, pelo inestimável apoio e amizade.
À Maura, pela amizade ou melhor dizendo, pela irmandade. Obrigada
pela oportunidade, por toda a ajuda e por encher a minha vida de alegrias. Você é
uma pessoa muito especial.
Ao meu orientador, Prof. Dr. José Paulo Cabral de Vasconcellos,
por ter aberto as portas para mais uma etapa tão importante na minha vida e por
ter me recebido com tanta generosidade.
À Marcinha, por estar sempre pronta para ajudar.
À professora Heloísa Justen, pela amizade e pelo exemplo e
pioneirismo e amor à Medicina Felina.
Por fim, aos gatos, minha grande paixão. Fonte de inspiração e
aprendizado de vida e profissional.
xviii
xix
"O menor dos felinos é uma obra-prima"
Leonardo Da Vinci
xx
xxi
LISTA DE FIGURAS
Pág.
Figura 1 Músculo orbicular (indicado pela seta), responsável pelo
fechamento palpebral............................................................
4
Figura 2 Músculo elevador da pálpebra superior do gato (indicado pela
seta), responsável pela abertura palpebral (visão
dorsal).....................................................................................
4
Figura 3 Músculo elevador da pálpebra superior do gato (indicado pela
seta), responsável pela abertura palpebral (visão
lateral).....................................................................................
5
Figura 4 Dissecação do músculo elevador da pálpebra superior do
gato......................................................................................... 5
Figura 5 Terceira pálpebra do gato (indicada pela seta)........................ 6
Figura 6 Corte histológico da córnea felina normal, mostrando epitélio,
estroma, membrana de Descemet e
endotélio................................................................................
8
Figura 7 Úlcera de córnea corada pela fluoresceína em gato............... 9
Figura 8 Úlcera dendrítica em gato causada por herpesvírus felino..... 10
Figura 9 Flap de terceira pálpebra....................................................... 12
Figura 10 Tarsorrafia temporária........................................................... 14
Figura 11 Estrutura da toxina botulínica................................................ 18
Figura 12 Mecanismo de ação da toxina botulínica.............................. 19
xxii
Figura 13 Ligação da toxina botulínica à célula nervosa...................... 20
Figura 14 Processo de internalização e translocação da toxina
botulínica................................................................................
21
Figura 15 Ação catalítica da toxina botulínica, evitando a exocitose da
acetilcolina...............................................................................
22
Figura 16 Resposta da junção neuromuscular ao bloqueio................... 23
Figura 17 Gata 6 em gatil individual com vista externa e
enriquecimento ambiental....................................................... 40
Figura 18 Aplicação da toxina botulínica no paciente felino................. 42
Figura 19 Mensuração da abertura palpebral......................................... 43
Figura 20 Evolução do grau de ptose da gata 4 ao longo do
experimento.............................................................................. 47
Figura 21 Gata 1: A- Dia 6 - ptose máxima (16,55%). B- Dia 21 -
recuperação total da ptose....................................................... 49
Figura 22 Gata 5: A- Dia 5 - ptose máxima (59,64%). B- Dia 21 -
25,54% de ptose...................................................................... 50
Figura 23 Gata 5 apresentando ptose satisfatória (59,64%)................... 50
Figura 24 Gata 8 apresentando ptose incompleta (35,16%)................... 51
Figura 25 Gata 1 apresentando ptose insatisfatória (16,55%)................ 51
xxiii
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS
TABELAS
Pág.
Tabela 1 Porcentagem de redução da fissura palpebral...................... 48
Tabela 2 Comparação entre PIO e TLS antes e após aplicação da
TBA no MEPS.........................................................................
52
GRÁFICO
Pág.
Gráfico 1 Desenvolvimento e recuperação da ptose.............................. 49
xxiv
xxv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Ach Acetilcolina
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
ARVO Association for Research in Vision and Ophthalmology
BO Bulbo ocular
CEUA Comitê de Ética no Uso de Animais
CL Cadeia leve
CP Cadeia pesada
DL50 Dose intraperitoneal letal média
F
FeLV
FIV
Fêmea
Leucemia viral felina
Imunodeficiência felina a vírus
FDA Food and Drug Administration
G Gauge
Hc Cadeia pesada subdomínio c
Hn
HVF-1
Cadeia pesada subdomínio n
Herpesvírus felino tipo 1
kDa Quilodalton
Kg Quilograma
MEPS Músculo elevador da pálpebra superior
Ml Mililitro
Mm Milímetro
xxvi
mm/min Milímetro por minuto
mmHg Milímetro de mercúrio
MO Músculo orbicular
MRS Músculo reto superior
ng
NTB
Nanograma
Neurotoxina botulínica
PIO Pressão intraocular
SNARE Soluble N-ethylmaleimide-sensitive fusion attachment protein
receptor
TB Toxina botulínica
TBA Toxina botulínica do tipo A
U Unidade
Unicamp Universidade Estadual de Campinas
%
°C
Por cento
Grau Celsius
1
1- INTRODUÇÃO
A toxina botulínica (TB) é um complexo proteico purificado de origem
biológica, produzido pela bactéria anaeróbica gram-negativa Clostridium
botulinum. Essa neurotoxina possui uma potente ação biológica e seu mecanismo
de ação consiste em inibir a transmissão neuromuscular através do bloqueio da
liberação exocitótica de acetilcolina, resultando em uma quimiodenervação
temporária do músculo e consequente paralisia flácida. A TB tem várias utilidades
nas ciências médicas e um de usos na oftalmologia humana é a produção de
ptose palpebral, fornecendo assim um recobrimento corneano protetor temporário
(1-7).
As ceratites ulcerativas são bastante frequentes no atendimento
oftalmológico de gatos. Essas ceratites podem ser de origem traumática como nos
casos de brigas, de origem infecciosa, principalmente quando causadas pelo
herpes vírus felino tipo 1, assim como podem estar vinculadas a anormalidades
palpebrais ou a injúrias térmicas ou químicas(8). As úlceras de córnea podem ser
classificadas de acordo com a sua profundidade. As ulcerações superficiais
envolvem o epitélio corneano e membrana basal, com mínimo ou nenhum
envolvimento estromal, enquanto que as ulcerações profundas alcançam o
estroma e a membrana de Descemet(9-11). As ceratites ulcerativas são manejadas
através de tratamentos clínicos e ou cirúrgicos corretamente direcionados de
acordo com a etiologia e gravidade da lesão(12). O tratamento dessas ceratites tem
o objetivo de evitar a perda da função visual e consequente diminuição da
qualidade de vida do animal(2-3). As técnicas cirúrgicas de recobrimento protetor
temporário da córnea, como a tarsorrafia e o flap de terceira pálpebra, são usadas
como forma adicional à terapia instituída(13,14).
Portanto, na abordagem terapêutica das ceratites ulcerativas, o
tratamento preconizado deve ser compatível com a origem e a gravidade da lesão,
podendo incluir, além da aplicação tópica de medicamentos, a realização de
2
procedimentos como debridamentos, enxertos conjuntivais ou de membranas e
recobrimentos protetores. Esses últimos fornecem uma proteção mecânica da
córnea e podem ser realizados de forma cirúrgica ou através de denervação
química, o que será abordado mais detalhadamente ao longo deste trabalho(1, 8-11).
3
2- REVISÃO DE LITERATURA
2.1- Revisões anatômicas e funcionais
2.1.1- Pálpebras
Os animais domésticos possuem em cada olho duas estruturas móveis
que apresentam uma face externa formada por pele e uma face interna recoberta
por conjuntiva, chamadas de pálpebra superior e inferior, que têm como uma de
suas funções mais importante proteger a parte do bulbo ocular (BO) que não é
coberta pela cavidade orbitária(15,16). Entre as faces externa e interna há a
presença de músculos, glândulas e elementos de suporte estrutural formados por
lâminas tarsais de tecido fibroso. A porção glandular das pálpebras é composta
por anexos da pele, glândulas tarsais ou meibomianas, e por elementos da
conjuntiva, células caliciformes, responsáveis respectivamente pela produção dos
componentes lipídico e mucoso do filme lacrimal(15-18).
A fenda ou fissura palpebral é o espaço entre as bordas livres das
pálpebras superior e inferior(19). A medida do comprimento da fenda palpebral em
gatos adultos é de aproximadamente 27,8 milímetros (mm) (+- 2,7mm), sendo que
gatos da raça persa apresentam uma fissura mais longa de 28,7 mm (+- 2,9 mm)
(17).
Os gatos, na grande maioria das vezes, não apresentam cílios na
pálpebra inferior nem na superior(17). Cada pálpebra possui um ponto lacrimal que
se abre no sistema de drenagem nasolacrimal, localizado na comissura medial
posterior aos orifícios dos ductos das glândulas tarsais(20).
Assim como em seres humanos e em cães, a pálpebra superior dos
gatos domésticos apresenta maior mobilidade que a inferior. Os gatos adultos
piscam com pouca frequência. Uma piscada completa ocorre aproximadamente a
cada cinco minutos e piscadas incompletas são raras(17).
4
O fechamento palpebral está vinculado ao músculo orbicular (MO), que
é inervado pelo nervo facial e dispõe-se de forma circular em torno das pálpebras
(Figura 1) (16, 21).
Figura 1- Músculo orbicular (indicado pela seta), responsável pelo fechamento
palpebral. Fonte: Slatter, 2005
O músculo elevador da pálpebra superior (MEPS) é responsável pela
abertura palpebral e possui inervação pelo nervo oculomotor. O MEPS é um
músculo fino, que origina-se próximo ao forame óptico, passa dorsalmente ao
globo ocular entre o músculo reto superior e a glândula lacrimal e insere-se na
pálpebra superior (Figura 2, 3 e 4) (17,20,21).
Figura 2- Músculo elevador da pálpebra superior do gato, responsável pela
abertura palpebral (visão dorsal). Fonte: Gilbert, 2000
5
Figura 3- Músculo elevador da pálpebra superior do gato, responsável pela
abertura palpebral (visão lateral). Fonte: Gilbert, 2000
Figura 4- Dissecação do músculo elevador da pálpebra superior do gato. Fonte:
Arquivo pessoal
As principais funções das pálpebras são: atuar na remoção de corpos
estranhos, produzir parte do filme lacrimal (porção lipídica e mucopolissacarídea),
evitar evaporação precoce da lágrima, distribuir e drenar o filme lacrimal através
da movimentação palpebral, promovendo um filme pré-corneano com espessura
uniforme e propriedades ópticas, além de auxiliar na nutrição da córnea(16,18).
6
2.1.2- Terceira pálpebra
A terceira pálpebra, também chamada de membrana nictitante, é uma
estrutura móvel formada por uma prega semilunar de conjuntiva localizada nasal e
ventralmente no olho do gato (Figura 5), composta por uma borda livre e um
esqueleto cartilaginoso em forma de “T”. Possui folículos linfóides sobre a
superfície bulbar e uma glândula lacrimal que produz uma parte da porção aquosa
do filme lacrimal(22,23). O gato é a única espécie entre os animais domésticos que,
além dos mecanismos passivos de proteção, apresenta movimentos ativos da
terceira pálpebra. A protusão ativa é feita através de das fibras musculares
estriadas do MEPS e do músculo reto lateral anexadas à terceira pálpebra e
inervadas pelo nervo abducente; a manutenção da contração tônica é realizada
por fibras musculares lisas sob inervação simpática(23).
As funções da membrana nictitante são: produzir parte da porção
aquosa do filme pré-corneano, distribuir a lágrima e proteger a córnea(22,23).
Figura 5- Terceira pálpebra do gato indicada pela seta. Fonte: arquivo pessoal
7
2.1.3- Córnea
A córnea é a porção anterior da túnica fibrosa do BO que atua como
barreira entre o meio externo e interno. É uma estrutura avascular, transparente,
inervada por um ramo do nervo trigêmeo, com função refrativa e, em função de
ser um elemento mais exposto, pode sofrer lesões com maior frequência.
A córnea de gatos adultos é praticamente circular com um diâmetro horizontal de
16,5mm (+-0,60mm) e vertical de 16,2mm (+-0,61mm), havendo variações de
acordo com a idade, raça e sexo. Histologicamente é composta pelo epitélio,
estroma, membrana de Descemet e endotélio (Figura 6)(8,9,18,24).
O epitélio da córnea é estratificado, não queratinizado, composto por
aproximadamente seis finas camadas celulares. O epitélio é impermeável à água,
eletrólitos, nutrientes, metabólitos e a maioria dos microorganismos, contudo é
permeável ao oxigênio a ao dióxido de carbono(8,9,18).
A membrana basal separa a camada epitelial do estroma (lâmina
própria). O estroma perfaz 90% da espessura total da córnea e é composto por
fibrócitos, ceratócitos, ramos nervosos, glicosaminoglicanos e fibrilas de colágeno
dispostas de forma paralela e regular, estruturação essa, que mantém a
transparência da córnea(8,9,18,24,25).
A superfície posterior da córnea é formada por uma única camada de
células endoteliais que produzem uma membrana basal de colágeno, chamada
membrana de Descemet, localizada entre a lâmina própria e o endotélio(1,24,25). A
membrana de Descemet é elástica, acelular, uniforme e não se cora ao uso de
fluoresceína. O endotélio é semipermeável a nutrientes e metabólitos e possui
uma alta atividade metabólica, responsável pela manutenção da desidratação do
estroma (8,18,24).
8
Figura 6- Corte histológico da córnea felina normal, mostrando: epitélio, estroma,
membrana de Descemet e endotélio. Fonte: Barnett e Crispin, 2005
2.2- Ceratites no paciente felino
2.2.1- Características das ceratites felinas
As ceratites são bastante comuns no paciente felino, podendo ser
ulcerativas ou não ulcerativas. Os gatos possuem algumas peculiariadades em
relação às características das ceratites. A quemose costuma ser muito marcante
devido à natureza frouxa da conjuntiva. A ocorrência de pigmentação corneana
em resposta a uma lesão e deposição lipídica são raras. As cicatrizes da córnea
normalmente são menos graves do que na espécie canina(8).
9
2.2.2- Ceratites ulcerativas felinas
As úllceras de córnea podem ser superficiais ou profundas. As lesões
superficiais abrangem o epitélio corneano e a membrana basal, com mínimo ou
nenhum envolvimento estromal. A solução de continuidade epitelial com exposição
do estroma corneano ocasiona sinais como: secreção serosa, mucosa ou
purulenta, blefaroespasmo, hiperemia conjuntival, fotofobia, edema e ou
neovascularização(9,10,24). O diagnóstico é baseado nos sinais clínicos e na
marcação da úlcera pela fluoresceína aplicada topicamente, que tem a
característica de corar unicamente o estroma corneano, dando a ele uma
coloração verde fluorescente em caso de dano epitelial( Figura 7)(9,24).
Figura 7- Úlcera de córnea corada pela fluoresceína em gato. Fonte: Arquivo pessoal
As ceratites ulcerativas podem ser de origem traumática, como nos
casos de brigas e arranhaduras entre os gatos. Nesses casos a apresentação
clínica tende a ser aguda, unilateral, com presença de dor, blefaroespasmo e
lacrimejamento(8,26). Algumas anormalidades palpebrais como: coloboma e
neoplasias (carcinoma de células escamosas) também podem causar úlceras de
córnea. Já as queimaduras térmicas ou químicas acontecem com menor
frequência na espécie. As alterações nos cílios, assim como a ceratoconjuntivite
seca, que frequentemente levam a ceratites ulcerativas em cães, praticamente
não ocorrem em gatos(8).
10
O herpesvírus felino tipo 1(HVF-1) é a única causa viral documentada
de ceratite ulcerativa em gatos. Esse patógeno tem distribuição mundial e é muito
prevalente na espécie felina, apresentando uma morbidade de quase 100% em
ambientes com alta densidade populacional. Esse vírus apresenta uma
característica de latência e o recrudescimento dos sinais clínicos ocorre mediante
situações de estresse como nos casos de mudanças de rotina (introdução de um
novo animal ou criança, alteração de dieta ou de ambiente, viagem) ou em casos
de imunossupressão (infecção pelos vírus da leucemia felina e da
imunodeficiência felina a vírus, tratamento prolongado com corticoides,
quimioterapia). A reativação viral acontece em 80% dos gatos infectados pelo
HVF-1. Os locais de quiescência viral são: turbinados nasais, região de palato,
conjuntiva ocular e, principalmente, nos gânglios trigeminais. A presença de úlcera
dendrítica é sinal patognomônico da infecção pelo HVF-, resultante do efeito
citopático do vírus no epitélio corneal. O HVF-1 também pode atingir o estroma. A
ceratite herpética mostra-se ferquentemente resistente ao tartamento e as
recidivas são bastante comuns(8,24,25,27-32).
Figura 8- Úlcera dendrítica em gato causada por herpesvírus felino. Fonte: Andrew,
2001
11
Há várias modalidades de tratamento para as ceratites ulcerativas, que
são preconizadas de acordo com a etiologia e o comprometimento tecidual. As
úlceras superficiais de córnea normalmente se resolvem com tratamento clínico
tópico adequado num período de 5 a 7 dias, com mínina formação cicatricial. Na
ausência de resposta à terapêutica clínica instituída, essas úlceras refratárias ou
indolentes ou aquelas que progridem em tamanho ou profundidade são
manejadas através de procedimentos adicionais como, por exemplo, os
recobrimentos protetores (10,12,13,24).
2.3- Recobrimento protetor
O recobrimento corneano protetor é comumente usado nos casos de
ceratites superficiais refratárias ou complicadas ou após debridamentos corneanos
ou ceratotomias. Esse procedimento funciona como uma proteção da superfície
lesionada, evitando a progressão da lesão, controlando a dor e facilitando a
cicatrização.Tal recobrimento pode ser feito através de procedimentos cirúrgicos
como a tarsorrafia ou o flap de terceira pálpebra(13,14,24,33,34).
O mecanismo de ação do recobrimento protetor ainda é incerto.
Acredita-se que além da redução do atrito palpebral durante o ato de piscar,
ocorra uma ação favorável de fatores de crescimento e citocinas liberadas pelos
vasos da conjuntiva tarsal que ficam próximos à lesão. A redução da evaporação
da lágrima e o maior contato da lesão com as lisozimas lacrimais também podem
ser importantes no processo de reparo(35).
2.3.1- Flap de terceira pálpebra
O procedimento de recobrimento ocular através do flap de terceira
pálpebra é indicado para proteção da córnea, sendo usado como tratamento
adjuvante de ceratites ulcerativas superficiais ou nas proptoses pós-traumáticas e
após debridamento epitelial nas ceratotomias. Contudo, fica contra indicado em
casos de úlceras que ultrapassem a metade da espessura do estroma corneano,
12
úlceras infectadas e que necessitem de acompanhamento da evolução(36).
A técnica de recobrimento corneano através do flap de terceira pálpebra
descrita por Slatter(24) consiste na fixação da terceira pálpebra na conjuntiva bulbar
ou na face bulbar da pálpebra superior Quando a sutura é feita na pálpebra
superior há maior resistência à tração. Utiliza-se um fio de nylon 2-0 ou 3-0
agulhado, passando pelo capton, fragmento de equipo macrogotas ou de sonda
uretral, e, em seguida, alcança-se a pálpebra superior a uma distância de 10 a 15
mm da margem, na região temporal. A borda da terceira pálpebra é presa com
uma pinça anatômica e a agulha entra pela face palpebral dessa em um ponto
cerca de 2 a 3mm da borda, penetrando na conjuntiva e passando abaixo da
cartilagem sem perfurar a superfície bulbar da terceira pálpebra, evitando assim
expor a sutura à córnea. A sutura é passada ao longo da superfície ocular da
cartilagem, paralela à borda palpebral e retorna pela face palpebral da conjuntiva.
A agulha volta então à pálpebra superior, entrando pela conjuntiva e saindo pela
pele, à mesma distância da margem que o ponto inicial. Atravessa-se novamente
o capton e ata-se o nó, sem apertá-lo. A tensão da sutura segue a direção normal
do movimento da terceira pálpebra (Figura 9). Caso necessário, pode-se repetir o
procedimento paralelamente.
Figura 9- Flap de terceira pálpebra. O primeiro ponto é colocado superior, com
uma distância de 10 a 15mm da rima palpebral perfurando o capton ou
passando pelo seu interior (1). Sutura entra pela pele (2) e sai via
13
fórnice para a terceira pálpebra 2 a 3mm da borda palpebral (3),
passando sob a cartilagem sem penetrar a superfície bulbar (seta
vermelha). Sai pela terceira pálpebra (4) e volta à pálpebra superior (5),
finalizando a sutura sobre o "capton" (6), que protege a pele de lesões
causadas pela tensão na sutura. Fonte: Slatter, 2005
2.3.2- Tarsorrafia temporária
A tarsorrafia também é uma opção cirúrgica que pode ser empregada
no tratamento de lesões de córnea. É uma técnica simples, baseada no
fechamento cirúrgico temporário da fissura palpebral, sendo útil na proteção e no
suporte da córnea durante a sua cicatrização(22,25). A técnica pode ser realizada de
forma isolada ou combinada com o recobrimento de terceira pálpebra com o intuito
de aumentar a segurança. Deve-se utilizar uma técnica de sutura intermarginal
com o intuito de evitar abrasões corneanas pelo contato do fio de sutura com a
córnea(14,33).
A técnica cirúrgica consiste na introdução de um fio de nylon 2-0 ou 3-0
agulhado, atravessando o capton e, em seguida, a pálpebra superior, inserindo a
agulha a 5 a 7mm da margem e saindo através da própria borda (rima palpebral).
A agulha é introduzida na rima palpebral inferior em posição equivalente à
superior, saindo pela pele da pálpebra inferior, à distância de 5 a 7mm da
margem. O fio atravessa outro capton e retorna à pálpebra inferior paralelamente,
fazendo o trajeto ao contrário, passando pela rima palpebral inferior, rima
palpebral superior, pele da pálpebra superior e novamente pelo capton (Figura
11). Normalmente são necessárias 2 a 3 suturas para o fechamento adequado das
pálpebras(14).
14
Figura 10- Tarsorrafia temporária. Notar o fio passando através da rima palpebral
inferior e superior e o aspecto ideal da sutura, coaptando
adequadamente as pálpebras. Fonte: Slatter 2005
2.3.3- Desvantagens dos recobrimentos cirúrgicos
Há algumas desvantagens com o uso das técnicas cirúrgicas de
recobrimento. Para a realização desses procedimentos cirúrgicos, há a
necessidade de anestesia geral, assim como de sedação para a retirada dos
pontos(14).
Outro ponto a ser salientado é em relação à dificuldade de avaliação da
lesão, do processo de cicatrização e da pressão intraocular (PIO) ao longo do
tartamento. A aplicação local de medicamentos também enfrenta obstáculos
físicos promovidos pelos recobrimentos corneanos. Nos casos de flap de terceira
pálpebra, a medicação tópica alcança o alvo de ação por difusão, o que pode
interferir no resultado terapêutico da droga. Na tarsorrafia, há a dificuldade e, até
mesmo, impossibilidade de administração de medicação tópica ocular (5,13,14).
Esses recobrimentos necessitam de cuidados diários de limpeza da
pele, onde as suturas são fixadas, a fim de se evitar uma blefarite. Outra
complicação é a possibilidade de deiscência da ferida cirúrgica devido à
inflamações, infecções ou à tensão exercida pelos fios de sutura. No sítio de
15
sutura podem ocorrer reações inflamatórias, gerando desconforto pós-operatório e
prurido local e provável interferência do animal. Alguns sinais que demonstram
problemas relacionados ao evento cirúrgico são suspeita de dor percebida através
de alterações comportamentais e diminuição de apetite, presença de pirexia,
neutrofilia, secreção purulenta. Tais indícios são fortes indicativos para a remoção
dos recobrimentos cirúrgicos(13,14).
Na execução da técnica de flap de terceira pálpebra, diante de um
manuseio não tão delicado do profissional, existe a possibilidade de danificação
marginal da membrana ou eversão deformadora da mesma. Outra probabilidade,
em caso de falha na disposição adequada das suturas, é o posicionamento
incorreto da sutura através da cartilagem. Além disso, pode ocorrer laceração
palpebral e transfixação da terceira pálpebra, sendo que essa última resulta em
contato do fio com a córnea e possível agravamento das lesões corneanas
preexistentes ou, até mesmo, geração de novas injúrias na córnea(13,14).
No caso de execução inapropriada da tarsorrafia, algumas
complicações são observadas, como, por exemplo, o posicionamento incorreto
das pálpebras, que pode ocasionar lesões corneanas por atrito da pele, do fio de
sutura ou dos pelos. Outros fatores que contribuem para o insucesso do
procedimento são as lacerações palpebrais, inflamações e desconfortos causados
pela utilização de materiais inapropriados ou por excesso de tensão na sutura
(5,14).
2.4- Toxina Botulínica
2.4.1- Introdução
As neurotoxinas botulínicas (NTB) são produzidas pela bactéria
anaeróbica gram-negativa Clostridium botulinum e por outras espécies de
Clostridium relacionadas como, por exemplo, a C. barati, e C. butyricum(1). Existem
sete sorotipos das NTB, denominados de A a G, além de suas variantes, sendo a
toxina botulínica tipo A (TBA), a mais potente. As bactérias produtoras dessas
16
neurotoxinas podem ser encontradas no solo ou em coleções de água doce ou
salgada em todo o mundo. Os esporos do C. botulinum são bastante resistentes,
podendo sobreviver por mais de 2 horas a uma temperatura de 100°C.
Considerada como a substância mais letal conhecida atualmente, a TB possui a
dose letal média (DL50 - dose de toxina capaz de levar à morte metade da
população a ela exposta) de um nanograma (ng) de toxina por quilograma (kg) de
peso corporal(37). A utilização das TB como armas biológicas foi feita pela primeira
vez há mais de 60 anos por japoneses que testaram a sua letalidade em
prisioneiros de guerra(1). Essas toxinas possuem uma forte ação biológica e,
quando ingeridas por meio de alimentos contaminados, podem causar o
botulismo, doença caracterizada por sinais gastrointestinais e paralisia flácida. O
mecanismo de ação da dessas toxinas consiste em inibir a transmissão
neuromuscular, através do bloqueio da liberação exocitótica de acetilcolina,
resultando em uma quimiodenervação temporária do músculo e consequente
paralisia flácida (1-7,37).
2.4.2- História
Os primeiros estudos científicos sobre o botulismo e a TB foram
iniciados em 1817 pelo médico e poeta alemão Justinus Kerner, que, além do
primeiro relato, publicou experimentos realizados por ele com animais e em si
mesmo com o objetivo de extrair e isolar a substância tóxica até então
desconhecida, chamada de “veneno da salsicha”. Kerner, em 1820 sumarizou 76
casos de pacientes com características clínicas do que hoje chamamos de
botulismo. E, em 1822, publicou 155 relatos de botulismo e descreveu a
fisiopatologia da toxina das linguiças, concluindo corretamente que a toxina
desenvolve-se em ambientes anaeróbios, tem a capacidade de bloquear a
transmissão neuromuscular, é letal em pequenas doses, além disso ele também
sugeriu hipóteses sobre a sua sua utilização para fins terapêuticos(1,37-41).
Em 1895, o microbiologista Emile-Pierre Van Ermengem conseguiu
isolar esporos de um bacilo anaeróbio que, inicialmente, chamou de Bacillus
17
botulinus. Essa bactéria, responsável pela produção da toxina que causava essas
intoxicações alimentares, posteriormente, foi renomeada para Clostridium
botulinum (37-41).
Em 1973, Allan Scott relatou o uso da TBA em primatas não humanos
para correção de estrabismo. Posteriormente (1977-1982) o mesmo autor publicou
os resultados de estudos em pacientes humanos com estrabismo. Scott
desenvolveu juntamente com colegas entre os anos de 1972 e 1989 extensa
pesquisa laboratorial e clínica, o que permitiu a aprovação da utilização da TBA
na área médica. Além do estrabismo, Scott e equipe também foram os pioneiros
no uso da TB para tratamento de torcicolo, espasmo muscular de membros
inferiores e blefaroespasmo(37-40).
Em 1989, o Food and Drug Administration (FDA) aprovou o uso
terapêutico da TBA em pacientes maiores de 12 anos com estrabismo,
blefaroespasmo e outras distonias. O laboratório Allergan adquiriu o direito de
comercializar a toxina em 1991 e mudou o seu nome de Oculinum® para Botox®
(Allergan Inc, Irvine, California, USA). Em 2000 o FDA aprovou Botox®, e a toxina
botulínica tipo B (MyoblocTM, Elan Pharmaceuticals Inc, Morristown, New Jersey,
USA) para o tratamento de distonia cervical e Botox Cosmetic (Allergan Inc, Irvine,
California, USA) para o tratamento de linhas faciais de expressão(37,42,43). No Brasil,
o Botox® foi aprovado em 1992 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA) para indicações terapêuticas e em 2000 para o tratamento de rugas e
hiperidrose axilar e palmar(1).
Rapidamente seu uso se expandiu para o tratamento de diversas
desordens caracterizadas pela contração muscular excessiva, anormal ou
inapropriada, sendo atualmente utilizada na oftalmologia, gastroenterologia,
ortopedia, otorrinolaringologia, neurologia e dermatologia(1,42).
2.4.3- Estrutura
A molécula da TB é formada por duas porções: uma cadeia leve (CL)
(50kDa) e uma cadeia pesada (CP) (100 kDa). A CL é responsável pela ação
18
catalítica, proteolítica e pela atividade metaloproteásica zinco-dependente que
bloqueia a fusão das vesículas pré-sinápticas, impedindo a liberação de
neurotransmissores. A CP possui dois domínios: o de ligação, cadeia pesada
subdomínio c (Hc) e o de translocação, cadeia pesada subdomínio n (Hn). A CP,
portanto, tem como função promover a ligação da TB à célula nervosa, bem a sua
internalização, além de auxiliar na translocação da CL (Figura 11)(1,44).
Figura 11- Estrutura da TBA. Cadeia leve representada como fita azul clara e
cadeia pesada dividida em Hn (azul escuro) e Hc (verde).
Fonte: Montecucco, 2004
2.4.4- Mecanismo de ação
A contração muscular ocorre quando a acetilcolina (Ach) é liberada nos
terminais nervosos motores por estímulo de um impulso nervoso. A TBA, ao ser
aplicada por via intramuscular, penetra nos neurônios por endocitose e impede a
liberação de Ach ao interferir no metabolismo de cálcio. Com a interrupção dos
potenciais de ação através da placa, há o bloqueio da contração muscular e
consequente paralisia flácida. A ação da TB sobre os músculos estriados se dá
em três etapas: ligação ao terminal nervoso colinérgico, internalização,
translocação e inibição cálcio dependente da exocitose do neurotransmissor, a
Ach (Figura 12) (6,44,47,48).
19
A intensidade da inibição da contração muscular dependente da dose
de TB utilizada, uma vez que será proporcional ao número de placas motoras
bloqueadas. Contudo, as placas que têm função trófica e não são dependentes de
cálcio, continuam promovendo uma liberação basal de Ach, evitando que haja
degeneração muscular(2).
Figura 12- Mecanismo de ação da TB. Cada um dos elementos estruturais da TB
representados como: Cadeia leve (LC) de endopeptidase (amarelo),
o domínio Hn de translocação (verde) e o domínio de ligação celular Hc
(azul). O primeiro estágio do processo de intoxicação se dá pela ligação
ao terminal nervoso colinérgico (1), seguido da internalização do
complexo receptor-toxina em uma vesícula intracelular (2) e da
translocação, caracterizada pela libertação da cadeia leve
endopeptidase para o citosol ácido (3). Uma vez liberada a partir da
vesícula, a cadeia leve desempenha a etapa final de intoxicação,
20
através da clivagem proteolítica altamente específica de uma das
proteínas do complexo SNARE (4). As proteínas SNARE clivadas não
promovem a fusão das vesículas de Ach com a membrana celular no
terminal nervoso, assim a liberação do neurotransmissor é inibida.
Fonte: Turton(49)
2.4.4.1- Ligação ao terminal nervoso colinérgico
A TB liga-se a um receptor de alta afinidade predominantemente
encontrado nos neurônios colinérgicos dos nervos motores através do domínio
de ligação Hc da CP (Figura 13)(1).
Figura 13- Ligação da toxina botulínica à célula nervosa. Fonte: Allergan, 2003
2.4.4.2- Internalização e translocação
O processo de internalização inicia-se quando a TB está ligada à célula
neuronal provavelmente por intermédio de receptores de endocitose, que
localizam-se na porção amielínica da junção neuromuscular de mamíferos.
Parecem existir duas fases de internalização, uma rápida, que utiliza sistema
vesicular e outra lenta, que necessita de horas e é menos específica. A
21
translocação acontece devido à alterações na estrutura proteica do domínio Hn da
CP sob condições ácidas, de modo que a CP facilita a entrada da CL para o
compartimento citoplasmático da célula nervosa (Figura 14)(1).
Figura 14- Processo de internalização e translocação da toxina botulínica.
Fonte: Allergan, 2003
2.4.4.3- Inibição da exocitose do neurotransmissor
Um complexo de proteínas agregadas denominado SNARE
(soluble N-ethylmaleimide-sensitive fusion attachment protein receptor) está
associado às vesículas de Ach e são essenciais para a liberação deste
neurotransmissor na fenda sináptica através de um mecanismo cálcio dependente
(8,14).
A CL da TBA quebra seletivamente as ligações peptídicas da SNARE,
o que impede a fusão das vesículas de Ach com a membrana celular no terminal
nervoso e há interrupção do influxo de cálcio no momento da fusão (Figura 15)
(1,7,44,47,48).
22
Figura 15- Ação catalítica da toxina botulínica, evitando a exocitose de
acetilcolina. Fonte: Allergan, 2003
2.4.4.4- Resposta da junção neuromuscular ao bloqueio
Após o bloqueio, há o início do processo de brotamento, onde o
terminal nervoso faz a sua expansão pela superfície muscular, reestabelecendo a
função motora nervosa através de novas conexões. Esses brotamentos produzem
uma re-inervação temporária nas fases precoces de recuperação. Já nas fases
tardias, a recuperação da atividade muscular ocorre pelo reestabelecimento da
atividade exocitótica do neurotransmissor na terminação nervosa original que volta
a ser totalmente funcional(1,7,49).
23
Figura 16- Resposta da junção neuromuscular ao bloqueio. Fonte: Allergan, 2003
2.4.5- Farmacologia
Os sete tipos sorológicos de TB são nomeados de A a G. Numerosos
subtipos têm sido recentemente identificados. Os subtipos A, B, E e F são
responsáveis pelo botulismo neuroparalítico humano. As neurotoxinas tipo A e B
são as utilizadas nas preparações terapêuticas comerciais, sendo que o tipo A
possui maior potência neurotóxica e mais fácil isolamento e armazenamento(8,41).
As preparações comerciais que usam o tipo A são o Botox®, o Dysport® (Ipsen
Slough, Ltd., Berkshire, UK) e o Xeomin® (Merz Pharmaceuthics GmbH, Frankfurt
am Main, Germany) o tipo B da TB é utilizado no Neurobloc/Myobloc® (MyoblocTM,
Elan Pharmaceuticals Inc, Morristown, New Jersey, USA) e Myobloc® (Solstice
Neurosciences, Inc., San Francisco , CA, USA) (37).
As preparações terapêuticas comerciais da TB contêm o complexo ativo
somado a proteínas não tóxicas, chamadas de acessórias, cujo papel é de
proteger a NTB da degradação(1,43,45).
O efeito biológico da toxina é expresso em unidades (U), sendo que
24
uma U corresponde a DL50, que é a quantidade de toxina letal em 50% de
camundongos fêmeas Swiss-Webster após injeção intraperitoneal(43,45).
As preparações comerciais disponíveis são assim denominadas:
onabotulinumtoxin A (onaBoNT-A®, BOTOX®, Prosigne®), abobotulinumtoxin A
(Dysport®), icobotulinumtoxin A (Xeomin®) e rimabotulinumtoxin B (Myobloc®
eNeurobloc®). Elas apresentam diferentes doses e perfis de eficácia e segurança,
não permitindo equivalência precisa entre algumas dessas apresentações
terapêuticas(1,6,46).
2.4.6- Antigenicidade da toxina botulínica
As TB são proteínas estranhas ao corpo, portanto, a exposição a tais
antígenos pode induzir uma resposta imune, ativando linfócitos B e T, células de
memória, citocinas e produzindo anticorpos. Esses anticorpos formados,
chamados de neutralizantes, bloqueiam a ação biológica da toxina e levam à falha
terapêutica. Há também a formação de anticorpos contra a porção proteica não
tóxica da TB, denominados anticorpos não neutralizantes. As células de memória
também são acionadas, resultando em respostas imunes a aplicações
sequenciais, comprometendo tratamentos crônicos. Outro fator ligado à
antigenicidade é a reagilidade individual do sistema imune. Há também o
fenômeno de reação cruzada que pode ocorrer entre os sorotipos da TB e com a
neurotoxina do tétano. A formação de anticorpos pode ser um problema potencial
para as terapias com a TB, portanto torna-se prudente usar a menor dose
terapêutica possível, com o maior intervalo entre aplicações(1).
2.4.7- Toxina botulínica nas ciências médicas
A TBA possui uma ação eficiente e seletiva na produção de
quimiodenervação temporária quando é aplicada de forma correta(6). Há várias
indicações terapêuticas para a TBA na medicina, incluindo desordens
oftalmológicas, gastrointestinais, urológicas, ortopédicas, neurológicas,
dermatológicas, secretórias, dolorosas e cosméticas(1).
25
Após a aplicação no sítio específico, a TBA inicia a sua ação em
pacientes humanos, a partir de 24 horas e a paralisia flácida, por ser dose
dependente, pode ter duração variável, perdurando em média de quatro a oito
semanas com desaparecimento progressivo(2).
A TB tem demonstrado uma excelente tolerância, eficácia e segurança
relacionada ao uso local e não sistêmico da TB, mesmo em casos de uso
prolongado. Com o avanço no desenvolvimento de novas formulações, há uma
redução do risco de formação de anticorpos neutralizantes e de instalação de
efeitos colaterais. Essas novas preparações terapêuticas também propiciam
respostas mais eficientes(37,42).
2.4.7.1- Efeitos adversos
Os efeitos adversos descritos da TB podem ser locais ou sistêmicos e
são similares entre as diversas formulações terapêuticas comerciais disponíveis
no mercado(46).
Na maior parte dos casos relatados, os efeitos colaterais decorrentes
do uso da TB foram locais e não sistêmicos, sendo normalmente relacionados à
dose, local e frequência de aplicação. Os sinais clínicos importantes são de baixa
ocorrência e, raramente, determinam a descontinuidade da terapia(43,50).
Um trabalho realizado a partir de dados do FDA indicou que os efeitos
adversos mais graves, como convulsão e morte, são os associados ao uso
terapêutico da TB e não ao uso cosmético, devido, provavelmente ao uso de altas
doses ou utilização concomitante de outra medicação ou, ainda, à presença de
doenças pré-existentes (51,52).
Um efeito local bastante comum relatado por pacientes é desconforto
ou dor no sítio de aplicação(50). Já efeitos sistêmicos isolados foram reportados em
diversos estudos. Foram citados: incontinência urinária, fraqueza muscular
generalizada, alterações gastrointestinais, disfagia, aborto em gestantes no
primeiro trimestre de gravidez e síndrome botulínica generalizada(3,50,43,53,54,55,56).
26
Em aplicações da TB na face, os trabalhos indicam efeitos indesejáveis,
além da ptose palpebral, como diplopia, cefaleia, olho seco, boca seca, ceratites,
epífora, paresia e reações locais de edema, eritema, sangramento, prurido e
equimose(3,50,52).
A aplicação da TB é contra indicada em pacientes que façam uso de
aminoglicosídeos, bloqueadores de canais de cálcio, aminoqueínas, ciclosporina e
D-Penicilamina, em função da possibilidade de interferência na neurotransmissão
muscular e alteração do efeito da toxina(57).
2.4.7.2- Toxina botulínica na oftalmologia
A TB foi utilizada pela primeira vez na oftalmologia para a correção de
estrabismo por Alan Scott(59). Nesses casos, a ação da toxina consiste na inibição
transitória da contração do músculo determinante do desvio(58).
A TB tornou-se o tratamento de escolha para o blefaroespasmo
essencial desde 1983, sendo efetivo em 75 a 100% dos pacientes que necessitam
de controle dos espasmos palpebrais(3,59).
Outras distonias de face como espasmos hemifaciais, Síndrome Meige,
além da apraxia de abertura palpebral também são bem manejadas com o uso da
TB(3,60).
A TB também é usada tratamento de nistagmo congênito adquirido,
ocilopsia, retração palpebral, entrópio espástico(10,62), hipersecreção lacrimal(63), e
ptose protetora(3,63,64,65,66).
Nas aplicações para tratamento de desordens relacionadas à
oftalmologia, o principal efeito colateral é a ptose palpebral, relatada em diversos
estudos como sendo uma complicação frequente relacionada à difusão ou
aplicação inadvertida da TB próxima à região medial superior do septo orbital(3,52).
O efeito adverso de olho seco é relatado com certa frequência, uma vez
27
que o enfraquecimento do MO pode diminuir a frequência do ato de piscar,
causando uma maior exposição e ressecamento da córnea. Como consequência,
algumas lesões podem ser formadas (erosões corneanas epiteliais, ceratopatias
superficiais e ulcerações estéreis)(3,67).
A diplopia, apesar de infrequente, é resultante da paralisia do músculo
oblíquo inferior, que pode ser exposto à TB quando essa é aplicada na porção
medial da pálpebra inferior. Outro efeito indesejável que pode ocorrer nessa região
é a fraqueza muscular com alteração da expressão facial e desvio da rima
labial(3).
Há um relato de glaucoma agudo de ângulo fechado após a aplicação
da TB, que causou midríase pelo efeito parassimpático no gânglio ciliar(68). Outra
descrição científica foi o caso de um paciente que apresentou descolamento de
retina devido à aplicação intraocular inadvertida(69).
2.4.8- Toxina botulínica tipo A na produção de ptose temporária
A aplicação da TBA no MEPS promove uma ptose palpebral superior e
consequente recobrimento temporário protetor da córnea, fornecendo um efeito
semelhante ao de um procedimento de recobrimento cirúrgico(35).
A utilização da TBA com a finalidade de auxílio no tratamento de lesões
corneanas foi primeiramente descrito por Magoon em 1985(70).
Em 1987, Adams e colaboradores(64) realizaram o primeiro ensaio clínico
prospectivo com 15 pacientes que receberam a TBA via transconjuntival para a
produção e ptose protetora temporária. O resultado mostrou uma ptose efetiva em
60% desses pacientes durante oito semanas. Kirkness(65), em um segundo estudo
realizado juntamente com o autor citado anteriormente, aumentou o número de
pacientes para 21 e, com a mesma dosagem de 0,0652ng de TBA e obteve 75%
de sucesso na produção de ptose, que levou 3,6 dias em média para se instalar,
com duração média de efeito de 8,5 semanas.
Já Fraco e Fraco(35), em seu trabalho em 2001, com metodologia
28
semelhante à usada por Adams(64) e Kikness(65), utilizou doses entre 2,5 U e 10U.
A eficácia encontrada entre esses 21 pacientes foi em média de 75% coma dose
de 5U , perdurando o efeito por 46 dias.
Em 2007, Vleming e colaboradores(5), relataram a via transpalpebral
para a aplicação da TBA em dois pontos: região medial e lateral da borda tarsal.
Os 10 pacientes receberam a dose de 7,5U. Como resultados os autores
encontraram 70% de ptose completa, com início de efeito entre 2 e 6 dias e
duração média de 40,6 dias. Nesse estudo nenhum efeito colateral foi observado.
Em 2008, Naik et al.(63) avaliou os efeitos da aplicação transpalpebral
em 10 pacientes, utilizando uma dose entre 10 e 15U e relatou uma redução de
mais de 50% do tamanho da fissura palpebral em 90% dos casos. A duração
média da ptose foi de 9,2 semanas (entre 5 e 16 semanas), o que foi atribuido à
maior dose utilizada.
Yücel e Aritürk(66), em seu trabalho em 2012, induziram ptose protetora
em 15 pacientes para tratamento de lagoftalmia associada com paralisia facial,
usando uma dose de 15 U da TBA, também por via transpalpebral. Seus
resultados foram: efeito inicial entre o promeiro e o décimo dia, duração média de
efeito de 10 semanas, com promoção de ptose completa em 80% dos pacientes,
sem efeitos colaterais.
O principal efeito colateral observado com o uso da TBA com o intuito
de produzir ptose palpebral temporária nos estudos realizados foi a hipoatividade
do MRS com consequente diplopia, porém com resolução espontânea em todos
os casos(35,64,65).
2.4.9- Uso terapêutico da toxina botulínica tipo A na veterinária
Na medicina veterinária, a TB é mais utilizada com o objetivo de testar a
terapia em modelos animais para posterior uso em pacientes humanos. Com fins
terapêuticos na espécie canina, a TBA foi usada em um cão com possível
29
blefaespasmo essencial. Nesse paciente houve uma boa resposta terapêutica,
sem o desenvolvimento de efeitos adversos como ptose, conjuntivite e diminuição
do filme lacrimal, durante um período de três anos de tratamento(71).
Recentemente, foi realizado um estudo para avaliação do efeito de
produção de ptose palpebral temporária em cães, cujo resultado mostrou uma
redução média de fenda palpebral de 42,86%, com duração média de efeito de 21
dias. Nesse estudo a TB foi aplicada por via transpalpebral e também foram
avaliados parâmetros como função visual, mobilidade ocular, produção lacrimal e
PIO, cuja análise demonstrou segurança ao uso desse fármaco(72).
Na medicina felina o uso da TBA de forma terapêutica é bastante
recente, datando o seu primeiro relato no ano de 2007, quando esse fármaco foi
usado para correção de artrogripose tarsal congênita em um filhote de gato, que
apresentava grave hiperextensão tarsal, contratura e encurtamento do
´gastrocnêmio. Nessa descrição clínica, foi relatado uma eficácia clínica sutil da
ação daTB, sem a presença de efeitos colaterais(73).
30
31
3- JUSTIFICATIVA
O uso da TBA na indução de ptose palpebral temporária é uma
realidade na medicina humana. Esse tipo de recobrimento corneano seria uma
excelente opção terapêutica para o paciente felino, uma vez que é um método
pouco invasivo e que permite a avaliação da lesão ao longo do tratamento. Este
estudo é inédito na investigação do uso da TBA para promoção de ptose protetora
na espécie felina.
A partir dessa proposta, várias possibilidades poderiam estar
disponíveis como:
Disponibilizar um procedimento menos invasivo que não
necessite de anestesia geral para a sua execução
Evitar as complicações advindas dos procedimentos cirúrgicos
de recobrimento como, por exemplo, infecção e inflamação no
sítio cirúrgico ou deiscência da sutura
Permitir o acompanhamento do processo de cicatrização da
lesão
Possibilitar a mensuração da PIO
Facilitar a aplicação de medicação tópica
Evitar o procedimento de retirada de pontos requerida pelos
métodos cirúrgicos de recobrimento corneano
32
33
4- OBJETIVO
O objetivo deste trabalho determinar o efeito e a segurança do uso da
toxina botulínica tipo A, quando aplicada na região do MEPS, na indução de ptose
palpebral superior protetora temporária em gatos domésticos.
Avaliando os seguintes dados:
• Efeito produzido
• Início da ação do fármaco
• Tempo necessário para a máxima ptose
• Período de duração da ptose
• Grau de ptose palpebral de forma qualitativa e quantitativa
• % média de redução da fenda palpebral
• Influência da TBA sobre a mobilidade e função ocular, e pressão intraocular
• Efeitos adversos tais como alterações na função visual, mobilidade ocular,
pressão intraocular e comportamento do paciente
34
35
5- HIPÓTESES
Como não há relatos do uso da TBA para a produção de ptose
protetora em gatos, os resultados esperados neste estudo são baseados nas
observações dos trabalhos já realizados em pacientes humanos e caninos.
Através da aplicação da TBA no MEPS dos gatos, espera-se o
desenvolvimento de uma ptose, sem alterações oculares de mobilidade e
PIO(3,5,35,70,72).
36
37
6- MATERIAL E MÉTODOS
6.1- Amostra
Este estudo foi do tipo longitudinal, série de casos com intervenção
para descrever a ação da TBA sobre a pálpebra superior de gatos foi aprovado
pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) do Instituto de Biologia da
Unicamp. O experimento foi realizado na Clínica Veterinária Especializada em
Felinos, Gato Leão Dourado, em Belo Horizonte, Minas Gerais, de acordo com as
normas de uso de animais em pesquisas oftalmológicas da Associação de
Pesquisa em Visão e Oftalmologia (Association for Research in Vision and
Ophthalmology - ARVO)
A pesquisa envolveu 10 gatos da Clínica Veterinária Especializada em
Felinos Gato Leão Dourado, no período entre 10 de agosto de 2014 a 20 de
janeiro de 2015, previamente selecionados de acordo com os critérios de inclusão
especificados abaixo.
6.1.1- Critérios de inclusão
Foram incluídos 10 gatos adultos (faixa etária entre 3 e 4 anos),
fêmeas (F), sem raça definida, pesando entre 2 e 4 kg, sem alterações clínicas
sistêmicas ou oftálmicas, devidamente vacinadas e vermifugadas, respeitando
todos os critérios de bem-estar e higiene(75).
6.1.2- Critérios de exclusão
Os critérios de exclusão foram: gatos com presença de alterações
sistêmicas e ou oculares, como entrópio ou ectrópio da pálpebra superior,
inflamação ou infecção no local de aplicação do fármaco, fêmeas gestantes,
animais com histórico de reações anafiláticas, distúrbios do sangramento.
Também foram excluídos animais doentes ou com resultado positivo de teste para
38
as retroviroses felinas: leucemia viral felina (FeLV) e imunodeficiência felina a
vírus (FIV). E ainda gatos que tenham recebido alguma medicação como
aminoglicosídeos, drogas bloqueadoras dos canais de cálcio ou relaxantes
musculares.
Consideraram-se critérios para suspender ou encerrar a pesquisa o
aparecimento de reações adversas graves que pudessem comprometer a função
visual do animal de forma permanente, assim como colocar em risco a sua vida.
O acompanhamento de possíveis reações adversas foi realizado pelos exames
sistêmicos e oculares incluídos no segmento do estudo.
6.2- Seleção e ambientação
6.2.1- Exame físico
Cada gata passou por avaliação física completa antes do início do
estudo. O exame físico consistiu na mensuração do peso, ectoscopia, avaliação
de parâmetros como temperatura retal, frequência cardíaca, frequência
respiratória, tempo de perfusão capilar, coloração das mucosas, grau de
hidratação, avaliação dos linfonodos palpáveis, palpação da região de tireoide,
auscultação e percussão torácica palpação e percussão abdominal.
6.2.2- Exames laboratoriais
As gatas escolhidas foram avaliadas laboratorialmente. Foram
realizados os seguintes exames: hemograma completo, perfil renal (ureia,
creatinina, cálcio, fósforo, potássio) e hepático (proteínas totais e frações,
fosfatase alcalina, gama-glutamil transferase, alanina trasaminase e aspartado
trasaminase. Essas gatas também foram testadas para FeLV e FIV através de
teste imunocromatográfico (FIV Ac/FeLV Ag Test Kit Alere, São Paulo, Brasil),
uma vez que a infecção por qualquer um desses dois retrovírus, seria fator
limitante para a participação no experimento, pois qualquer estresse sofrido por
esses animais poderia provocar manifestações clínicas vinculadas aos vírus.
39
6.2.3- Exame oftalmológico
O exame oftalmológico consistiu na avaliação dos testes de ameaça,
teste de movimento, teste de obstáculos no claro e no escuro, reflexos pupilares
fotomotores diretos e consensuais, pressão intraocular com tônometro de
aplanação (Tonopen Vet, Reichert Inc, Depew, NY, USA), inspeção e palpação
das órbitas, avaliação da integridade e função das pálpebras, terceira pálpebra,
conjuntiva, aparelho lacrimal, teste de fluoresceína (Fluoresceína Strip
Ophthalmos, SP, Brasil) e de Jones. Além da avaliação da mobilidade ocular e das
estruturas oculares como córnea, câmara anterior, pupila, íris, lente, fundo de olho
e vítreo através da biomicroscopia com lâmpada de fenda portátil Reichert PSL
(Reichert Inc., of Buffalo, NY), oftalmoscopia indireta com a lente VOLK Panretinal
(VolkOptical Inc.,Mentor, OH ) e direta com o oftalmoscópio Panoptic 11820
(PanOptic™ Ophthalmoscope with Cobalt Blue Filter and Corneal Viewing Lens,
Welch Allyn Inc.,Skaneateles Falls, NY).
6.2.4- Ambientação
As gatas escolhidas foram mantidas em gatis individuais, com vista
externa, luz e ventilação natural, com ambientes separados para alimentação,
descanso e eliminação (Figura 17). Houve o cuidado de oferecer enriquecimento
ambiental (ambientes verticais e brinquedos), assim como nutrição de alta
qualidade, incluindo ração seca super premium (Fit 32 Royal Canin, Desalvado,
Brasil), dieta úmida (sachês) e petiscos diversas vezes ao longo das 24 horas,
respeitando o hábito alimentar ad libitum da espécie felina. O fornecimento de
água fresca também aconteceu várias vezes ao dia. Outro ponto fundamental para
os gatos realizado nesse experimento foi a manutenção de rotina, ambiente
calmo e interação. Essas gatas foram ambientadas durante 60 dias, foram
vacinadas e vermifugadas e receberam ectoparasiticidas .
40
Figura 17- Gata 6 em gatil individual com vista externa e enriquecimento
ambiental. Fonte: arquivo pessoal
6.3- Fase experimental
6.3.1- Avaliação clínica
6.3.1.1- Exame físico
As gatas foram pesadas e submetidas a um exame físico e
oftalmológico completo antes de aplicação e de cada avaliação, assim como o que
foi feito na fase de seleção. O exame físico consistiu na mensuração do peso,
ectoscopia, avaliação de parâmetros como temperatura retal, frequência cardíaca,
frequência respiratória, tempo de perfusão capilar, coloração das mucosas, grau
de hidratação, avaliação dos linfonodos palpáveis, palpação da região de tireoide,
auscultação e percussão torácica, palpação e percussão abdominal.
6.3.1.2- Exame oftalmológico
O exame oftalmológico, assim como na fase inicial, consistiu na
41
avaliação dos testes de ameaça, teste de movimento, teste de obstáculos no claro
e no escuro, reflexos pupilares fotomotores diretos e consensuais, pressão
intraocular com tônometro de aplanação (Tonopen Vet, Reichert Inc, Depew, NY,
USA), inspeção e palpação das órbitas, avaliação da integridade e função das
pálpebras, terceira pálpebra, conjuntiva, aparelho lacrimal, teste de fluoresceína
(Fluoresceína Strip Ophthalmos, SP, Brasil) e de Jones. Além da avaliação da
mobilidade ocular e das estruturas oculares como córnea, câmara anterior, pupila,
íris, lente, fundo de olho e vítreo através da biomicroscopia com lâmpada de fenda
portátil Reichert PSL (Reichert Inc., of Buffalo, NY), oftalmoscopia indireta com a
lente VOLK Panretinal (VolkOptical Inc.,Mentor, OH ) e direta com o oftalmoscópio
Panoptic 11820 (PanOptic™ Ophthalmoscope with Cobalt Blue Filter and Corneal
Viewing Lens, Welch Allyn Inc.,Skaneateles Falls, NY).
6.3.2- Aplicação da TBA
O frasco de TBA da marca Botox, laboratório Allergan, Lote C3390 C3,
mantido sob refrigeração (temperatura entre dois e oito graus), foi diluído,
imediatamente antes da aplicação, com um mililitro (ml) de solução salina a 0,9%
estéril, de acordo com as recomendações do laboratório fabricante, a fim de se
obter concentração de 10 U em um volume de 0,1ml.
Após sedação com cetamina, CETAMIN® (Syntec, lote 007/13), na dose de
5mg/kg e xilazina, XILAZIN® (Syntec, lote 006/12), na dose de 1mg/kg por via
intramuscular, foi feita antissepsia com solução de iodopolvidona na região do sítio
de aplicação e, posteriormente, as gatas receberam a dose de 10 U da toxina
onabotulínica A diluída em 0,1 mL, em ponto único, no olho esquerdo, na
localização do músculo elevador da pálpebra superior através da face palpebral
externa. A administração foi realizada na região palpebral medial, paralelamente
ao teto da órbita ocular com uma seringa estéril de um ml com agulha 26 G
(Figura 18). Os animais foram monitorados durante o retorno da sedação e, após
a sua total recuperação, não sofreram nenhuma restrição de movimentação.
42
Figura 18- Aplicação da TBA no paciente felino (na região do MEPS com auxílio
de uma seringa de um ml). Fonte: arquivo pessoal
6.3.3- Seguimento dos pacientes
No acompanhamento do efeito da aplicação da TBA para a indução de
ptose protetora, as gatas foram avaliadas por dois examinadores (sendo um deles
o mesmo aplicador da toxina), um dia antes da aplicação da TBA (dia zero) e, a
cada 24 horas, durante os sete primeiros dias após a aplicação e nos dias 14, 21 e
28 após a aplicação. As variáveis analisadas neste estudo foram o início e o
tempo de duração do efeito clínico do fármaco, tempo de desenvolvimento da
ptose máxima, porcentagem média de redução da fenda palpebral, mensuração
da PIO, avaliação da função visual, alterações locais e sistêmicas. A avaliação foi
realizada no olho esquerdo que recebeu a TBA e no olho direito, contralateral,
considerado como controle. As medidas da fenda palpebral foram comparadas
entre os olhos direito e esquerdo, assim como entre o dia zero e os demais dias
43
de avaliação. As gatas desse estudo receberam monitoração diária. Parâmetros
sugestivos de desconforto foram averiguados, pois, apesar dos pacientes felinos
serem sutis na demonstração de desconforto, a equipe é especializada em
medicina felina e treinada para verificar alterações comportamentais. Portanto, os
sinais comportamentais condizentes com incômodo como: diminuição da
alimentação, da interação, do hábito de se lamber ("grooming"), do
comportamento exploratório, assim como presença da postura de congelamento
("freezing", gato estático no fundo do gatil) foram avaliados a cada duas horas,
durante a realização do estudo.
A medida da abertura palpebral (AB) foi considerada como sendo a
distância em milímetros entre a borda palpebral superior e inferior na região ocular
central (criando uma linha imaginária reta traçada na vertical na região próxima ao
centro da pupila) (Figura 20).
Figura 19- Mensuração da abertura palpebral (AB). Fonte: Arquivo pessoal.
A documentação fotográfica de todos os animais foi realizada antes da
aplicação, depois e ao longo do experimento utilizando a função macro da
máquina digital Canon PowerShot SX110 em uma condições de iluminação
padronizadas e a uma distância aproximada de 10 cm do olho, com os gatas em
estado de alerta. As imagens foram processadas com o auxílio do programa de
domínio público NIH program 1.55 (written by Wayne Rasband at the U.S. National
44
Institutes of Health and available on the Internet by anonymous ftp from
zippy.nimh.nih.gov), que, após o ajuste do contraste das imagens, estabelece
pontos ao longo do contorno da margem palpebral superior e inferior, delineando a
fissura palpebral. Foi determinado, então, a distância em milímetros da abertura
palpebral direita e esquerda, usando-se uma média de cinco fotos por olho e por
dia de avaliação.
Posteriormente, as mensurações das distâncias AB obtidas pré e pós
aplicação foram convertidas para porcentagens de redução, considerando como
0% a medida AB antes da aplicação e 100% o fechamento total da palpebral.
A avaliação qualitativa foi proposta da seguinte forma: uma ptose foi considerada
satisfatória com uma cobertura corneana igual ou maior que 50%, incompleta com
uma cobertura entre 25 e 49% e insatisfatória com uma cobertura da superfície da
córnea menor que 25%.
O início do efeito clínico foi considerado através de uma porcentagem de
redução da fenda palpebral maior ou igual a 5% e a duração do efeito foi
contabilizada no intervalo de tempo em que houve redução da fenda palpebral
maior ou igual a 5%.
A análise das medidas palpebrais foi mascarada com relação à
identidade dos animais e sequências das fotos.
A análise estatística utilizou "software" Minitab 16 e Biostat 5.0 e os
testes: teste t de Student, teste de normalidade de Anderson Darlin e teste de
Wicoxon. Todos os valores de P menores que 0,05 foram considerados
significativos. Nesse estudo o nível alfa foi de 0,05 (95% de confiabilidade). A
verificação dos dados comparativos entre as medidas da fenda palpebral do olho
que recebeu o fármaco e do olho controle ao longo dos dias foi feita através do
teste t de Student de forma pareada bilateral, com uma confiabilidade de 95%,
visto que está sendo analisado a evolução de cada animal em relação ao tempo.
45
O teste de normalidade de Anderson Darlin foi usado para verificação da
normalidade e valores sem normalidade foram avaliados pelo teste de Wilcoxon.
6.4- Aspectos éticos da pesquisa
Este estudo longitudinal, série de casos com intervenção, para
descrever a ação da TBA sobre a pálpebra superior de gatos foi aprovado pelo
Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) do Instituto de Biologia da Unicamp
sob o protocolo 3437-1 (Anexo1).
As gatas utilizados nesse estudo, adotadas de um abrigo pela Clínica
Especializada em Felinos Gato Leão Dourado, foram acomodadas em gatis
individuais com enriquecimento ambiental e receberam nutrição de qualidade e
cuidados de saúde e higiene. A limpeza dos gatis foi realizada diversas vezes ao
longo das 24 horas com a retirada dos dejetos e lavagem com soluções
desinfetantes. Os comedouros e bebedouros, individuais, também foram lavados
várias vezes ao dia, respeitando a característica higiênica da espécie. A
alimentação foi fornecida seis vezes ao dia em média, ficando disponível ao longo
das 24 horas, em função do hábito alimentar comportamental dos gatos
domésticos de ingerir pequenas porções em intervalos curtos. A nutrição,
balanceada e de ótima qualidade, incluiu dieta seca, úmida e petiscos. A água
fresca e limpa foi fornecida à vontade ao longo do dia. Os cuidados com a saúde,
o fornecimento de alimentação e de água e a limpeza foram realizados por
funcionários e médicos veterinários da Clínica Gato Leão Dourado ao longo das
24 horas de cada dia. Essa gatas receberam acompanhamento médico veterinário
frequente, foram vacinadas, receberam endoparasiticidas e ectoparasiticidas e
foram colocadas para adoção com a finalização do projeto.
O experimento foi conduzido de forma que não ocorresse nenhum
desconforto com o exame clínico e antes e após a aplicação da TBA. O exame
clínico foi realizado antes do início do experimento e periodicamente conforme
descrito na metodologia do projeto e consistiu na avaliação física e oftalmológica
dos gatos. Os protocolos de contenção física para a colheita de sangue destes
46
animais foram respeitados, para que se produzisse o mínimo desconforto possível
durante o procedimento de coleta, máxima segurança para quem estiver lidando
com esses animais e mínima alteração de resultados decorrentes de estresse.
A aplicação local da TBA na pálpebra superior de pacientes humanos e caninos
mostrou ser bem tolerada.
Com a produção do efeito desejado (ptose da pálpebra),
um déficit visual temporário foi produzido no olho em questão,
o que não prejudicou a realização das atividades normais desses animais.
Para que não houvesse prejuízo na qualidade de vida das gatas utilizados,
a aplicação foi realizada em apenas uma das pálpebras (olho esquerdo),
evitando assim, uma ptose bilateral, o que comprometeria temporariamente a
função visual.
A pesquisa, por ser realizada com gatos, recebeu aval do tutor através
o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).
Os animais desta pesquisa não foram submetidos ao sofrimento ou
desconforto evitável, para isso foi realizado um planejamento experimental
cuidadoso e observação constante do pesquisador responsável. O experimento foi
projetado para reduzir ao máximo o número de animais utilizados através de
técnicas estatísticas, sem comprometer a qualidade científica.
47
7- RESULTADOS
O início do efeito da TBA foi observado entre o primeiro e o quarto dia
após a aplicação, o tempo para o desenvolvimento da máxima ptose variou entre
cinco e sete dias. O período de duração do efeito produzido mostrou que no dia 7
1 gata em 8 apresentou retorno da pálpebra em sua posição original, no dia 14
outra gata apresentou recuperação da ptose pálpebral, apenas 3 gatas no dia 21
ainda não mostraram retorno da pálpebra na posição inicial do estudo e,
finalmente, no dia 28 todas as palbebras recuperaram sua posição inicial. (Tabela
1, figura 20)
Houve diferença estatística entre as medidas da fenda palpebral do
olho esquerdo, antes e após aplicação da TBA ao longo do experimento,
excluindo-se os dias 0 e 28, demonstrando´clara redução da fissura pálpebral (p <
0,05) (Anexo 3). Assim como verificou-se diferença estatística, na comparação das
mensurações das fendas palpebrais entre os olhos esquerdo e direito P (p< 0,05),
excluindo-se os dias 0,1 e 28 (Anexo 3).
Figura 20- Evolução do grau de ptose da gata 4 ao longo do experimento. (Ptose
satisfatória, com 51,97% de redução de fenda palpebral, identificada
no sexto dia). Fonte: Arquivo pessoal
A média da porcentagem da redução palpebral foi 39,66%
(valores entre 16,55 e 59,64%). Em todas as gatas, no vigésimo oitavo dia após a
aplicação da TBA, o tamanho da fissura já havia retornado às mensurações
anteriores à administração do fármaco, apresentando medidas similares no olho
Dia 1 Dia 3 Dia 6 Dia 21 Dia 28
48
esquerdo (que recebeu a droga) e no olho direito (controle) (Tabela 1 e gráfico 1).
Tabela 1- Porcentagem de redução da fissura palpebral
Kg- quilogramas; % porcentagem
Fonte:Arquivo pessoal
Animal
Análise Qualitativa Dia 1 (%)
Dia 2 (%)
Dia 3 (%)
Dia 4 (%)
Dia 5 (%)
Dia 6 (%)
Dia 7 (%)
Dia14 (%)
Dia21 (%)
Dia 28 (%) (Grau de ptose)
Gata1 3,4 kg Insatisfatória -2,61 7,89 9,83 11,02 16,55 13,8 5,3 4,36 2,43 -1,65
Gata 2 3,3 kg Incompleta 0,11 2,01 15,54 19,07 29,61 48,04 21,78 14,37 1,55 -1,22
Gata 3 2,5 kg Incompleta 10,39 12,2 15,14 19,2 23,52 29,74 35,15 15,76 11,88 -0,35
Gata 4 2,9 kg Satisfatória 6,83 21,9 32,18 38,49 45,48 51,97 39,73 16,86 7,23 -4,96
Gata 5 3,4 kg Satisfatória 9,86 21,06 26,8 35,34 53,11 59,64 41,35 15,86 25,54 0,33
Gata 6 3,4 kg Incompleta -0,28 0,35 2,24 9,19 31,13 22,2 13,37 8,41 1,32 0,42
Gata 7 2,9 kg Incompleta 9,15 18,38 29,9 33,75 42,28 46,9 40,8 22,85 13,99 0,79
Gata 8 3,7 kg Incompleta 1,86 5,99 19,84 28,35 35,16 28,26 4,66 3,97 2,46 -0,62
Gata 9 3,8 kg Incompleta 2,26 4,29 14,49 17,3 33,38 24,57 18,6 10,88 2,47 -0,79
Gata10 3,0 kg Incompleta 3,6 6,68 14,76 22,27 27,35 38,65 28,87 14,54 5,21 0,8
49
Gráfico 1- Desenvolvimento e recuperação da ptose. Detalhe da linha e setas
amarelas, mostrando que 2 gatas apresentaram redução da fenda palpebral maior
que 50% (ptose satisfatória) e detalhe da linha e seta vermelhas, demonstrando
que apenas uma gata apresentou cobertura corneana menor que 25% (ptose
insatisfatória. Fonte: Arquivo pessoal
A gata 1 apresentou o resultado menos favorável: ptose máxima no
quinto dia após a aplicação da TBA, mostrando uma cobertura corneana de
16,55% e a recuperação completa do recobrimento ocorreu no vigésimo primeiro
dia (Figura 21).
Figura 21- Gata 1: A- Dia 6 - ptose máxima (16,55%). B- Dia 21 - recuperação
total da ptose. Fonte: Arquivo pessoal
A B
50
A melhor resposta observada foi a da gata 5, cuja redução da fenda
palpebral foi de 59,64%, no sexto dia, após a administração do fármaco. O retorno
ao tamanho inicial da fenda palpebral ocorreu gradualmente, sendo que no dia 21
ainda havia uma cobertura corneana de 25,54% e, no vigésimo oitavo dia, não era
percebido mais diferença entre o tamanho das fissuras palpebrais esquerda e
direita (Figura 22).
Figura 22- Gata 1: A- Dia 5 - ptose máxima (59,64%) B- Dia 21- ptose de 25,54%.
Fonte: Arquivo pessoal
Na análise qualitativa, mais de 50% de redução da fissura palpebral
(ptose satisfatória) foi observada em duas gatas (20%), no sexto dia após a
aplicação da TBA. Um recobrimento corneano entre 25% e 49%, considerado
incompleto, foi encontrado em sete gatas (70%), entre o quinto e o sétimo dia. E
somente uma gata (10%) apresentou uma redução de fenda palpebral menor do
que 25%, caracterizando uma ptose insatisfatória (Figuras 23, 24 e 25).
Figura 23- Gata 5 apresentando ptose satisfatória (59,64%). Fonte: Arquivo pessoal
A
B
B
51
Figura 24- Gata 8 apresentando ptose incompleta (35,16%). Fonte: Arquivo pessoal
Figura 25- Gata 1 apresentando ptose insatisfatória (16,55%). Fonte: Arquivo pessoal
Não houve diferença significativa da PIO, com variações menores ou
iguais a 2 mmHg, antes e após a aplicação da TBA entre os olhos que receberam
o fármaco e o controle; todos os valores permaneceram dentro dos limites de
normalidade (Tabela 2). Houve diferença estatística com diminuição do valor da
PIO no olho esquerdo nos dias 2, 3 e 21 (Anexo 3), contudo sem relevância
clínica, uma vez que esse valor continuou dentro do intervalo considerado normal
para a espécie.
52
Tabela 2- Comparação entre PIO do olhos esquerdo (TBA) e direito (controle)
antes e após aplicação do fármaco no MEPS
Animal Olho Dia 0 Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Dia 5 Dia 6 Dia 7 Dia 14 Dia 21 Dia 28
PIO Gata 1 TBA 22 19 21 20 20 20 19 19 21 21 20
(mmHg) Controle 22 21 21 21 20 21 21 19 21 22 21
PIO Gata 2 TBA 21 21 21 20 21 20 19 20 22 21 21
(mmHg) Controle 21 21 19 19 21 20 20 20 20 21 20
PIO Gata 3 TBA 24 23 22 22 22 23 20 23 24 22 23
(mmHg) Controle 24 23 23 22 22 23 22 24 22 23 23
PIO Gata 4 TBA 22 22 19 20 22 20 22 22 22 20 22
(mmHg) Controle 20 22 19 20 22 21 22 22 23 20 22
PIO Gata 5 TBA 23 22 22 23 23 24 22 24 23 22 23
(mmHg) Controle 23 22 22 24 23 23 24 22 20 23 24
PIO Gata 6 TBA 19 19 19 20 20 19 21 19 21 20 20
(mmHg) Controle 18 19 20 20 20 20 22 19 20 20 21
PIO Gata 7 TBA 23 23 22 22 23 21 22 23 22 22 22
(mmHg) Controle 21 23 24 22 23 22 22 22 20 22 22
PIO Gata 8 TBA 22 22 19 20 22 23 22 23 21 22 21
(mmHg) Controle 22 22 19 21 22 23 22 23 22 22 22
PIO Gata 9 TBA 20 20 22 21 20 20 22 20 21 20 21
(mmHg) Controle 21 21 22 22 20 21 22 20 20 21 22
PIO Gata 10 TBA 21 21 21 22 20 19 19 22 20 20 21
(mmHg) Controle 19 19 21 21 20 20 19 21 20 21 21 PIO: pressão intraocular; mmHg: milímetros de mercúrio
Fonte: Arquivo pessoal
A mobilidade ocular se manteve preservada, assim como o ato de
piscar, uma vez que a função de fechamento da pálpebra pela ação do MO não foi
afetada. Também não foram constatados alterações clínicas sugestivas de
comprometimento da função visual. Em relação à produção lacrimal, sugere-se
que que a mesma manteve-se dentro da normalidade, uma vez que não houve
marcação de úlcera de córnea ao uso de fluoresceína. Nenhum outro efeito
adverso tanto ocular quanto sistêmico foi observado em associação com a
administração da droga nessa pesquisa.
53
Sinais de desconforto provavelmente sinalizados através de alterações
de comportamento como: diminuição da alimentação, da interação, do hábito de
se lamber, do comportamento exploratório, assim como presença da postura de
congelamento não foram observados durante o estudo.
54
55
8- DISCUSSÃO
A espécie felina é bastante acometida por ceratites ulcerativas de
origem infecciosa, traumática ou em função de alterações anatômicas. Essas
ceratites necessitam de abordagem terapêutica clínica e ou cirúrgica(8). O
recobrimento da córnea pode ser usado como terapia adicional ao tratamento
instituído e possui caráter protetor com o objetivo de facilitar a cicatrização,
reduzir a dor e o desconforto e minimizar a irritação causada pelas pálpebras
durante o constante ato de piscar, evitando assim, o agravamento do quadro ou
aparecimento de novas lesões(5,12,13,33). Os procedimentos cirúrgicos como a
tarsorrafia e o flap de terceira pálpebra usados com essa finalidade, possuem
algumas desvantagens como a necessidade de anestesia geral, cuidados no pós-
operatório, dificuldade de administração de medicação tópica e impossibilidade do
acompanhamento da cicatrização das lesões(12,14). Uma forma alternativa de
promover um recobrimento corneano terapêutico é através da utilização da
TBA(1,5,35,63-66,72).
Esse estudo, pioneiro na medicina felina, teve a influência de
diversos trabalhos publicados, realizados em pacientes humanos e caninos, que
demonstraram a viabilidade do uso da TBA no MEPS para a produção de ptose
palpebral protetora, um procedimento de fácil execução, que não necessita de
anestesia geral nem tampouco habilidade cirúrgica. A partir dos resultados desses
trabalhos, estabeleceu-se a hipótese de que os gatos poderiam também se
beneficiar da aplicação da TBA para produção de recobrimento corneano
temporário(5,35,63-66,72).
No nosso trabalho, o uso da TBA em gatos com a intenção de
promover ptose palpebral temporária mostrou ser um procedimento exequível e
seguro, assim como observado na medicina humana e canina(1,5,35,63,65,72).
56
A duração média do efeito de recobrimento corneano em seres
humanos foi de 30 dias , usando doses variando entre 2,5 e 7,5 U(5,35). Esses
resultados corroboram favoravelmente sobre o tempo de ação desse fármaco na
promoção de recobrimento corneano, com a finalidade de auxiliar na cicatrização
da maioria da lesões de córnea superficiais dos pacientes felinos. No nosso
trabalho encontramos uma duração média de ação da TBA de 21 dias, dado
similar ao visto por Bittencourt el at(72) em cães.
Em seres humanos, o uso da TBA mostrou um efeito inicial de ptose
observado entre 1 a 4 dias(5,35,63). Na espécie canina esse início de efeito foi
percebido em média no segundo dia(72) e, na nossa pesquisa em felinos
domésticos, o início de ação do fármaco aconteceu entre o primeiro e quarto dia.
As doses de TBA aplicadas no músculo elevador da pálpebra
superior em seres humanos para produzir ptose palpebral completa variaram entre
2,5 a 15 U (5,35,63,66). A média de recobrimento corneano conseguida nos pacientes
do estudo de Naik et al(63) foi de 70,4%. No entanto, Bittencourt el al (72) observou
uma redução média da fenda palpebral de 49,86%, usando uma dose de 15 U de
TBA em cães com peso entre oito e 25 kg, enquanto que, no nosso experimento, o
resultado obtido foi uma redução média de 39,66% (valores entre 16,55% e
59,64%) com a dose de 10 U de TBA em gatos que pesavam de dois a quatro kg.
O peso não pareceu ser fator determinante na ação do fármaco, uma vez que nos
trabalhos realizados em seres humanos, cães e gatos, a dose e os métodos não
sofreram grande variação frente a diversidade dos pesos nas citadas espécies. A
porcentagem de pacientes que responderam satisfatoriamente em relação ao grau
de ptose nos gatos estudados foi menor, mostrando que somente 20% dos
pacientes apresentaram recobrimento corneano satisfatório, comparado com 40%
na espécie canina(72) e 90% em seres humanos(63).
57
Essa resposta menor observada nesses estudos pioneiros em cães e
em gatos que utilizaram doses semelhantes àquelas usadas em seres humanos
nos leva a refletir sobre a possibilidade de maior resistência à ação da toxina
botulínica nas espécies canina e felina. O botulismo é considerado raro em
cães(75,76) e, na literatura, de acordo com o nosso conhecimento, há somente um
relato de suspeita de botulismo clínico em um grupo de gatos após a ingestão de
carne contaminada de um pelicano eletrocutado(77).
Além disso, o menor grau de ptose palpebral e a menor duração do
efeito da TBA (média de 21 dias) nos gatos desse estudo podem estar
relacionados à dose utilizada e ao local da aplicação. Sabe-se que o aumento da
paralisia flácida é alcançado quando o fármaco é aplicado diretamente na placa
motora(78,79). O MEPS em gatos é um músculo delgado que origina próximo ao
forame ótico e passa dorsal ao globo ocular entre o reto superior e a glândula
lacrimal para inserir na pálpebra superior(21). Uma limitação a ser questionada é a
possibilidade da TBA administrada não ter alcançado diretamente a placa
neuromuscular, uma vez que o músculo em questão é bastante fino e o nosso
estudo não contou com o auxílio de eletromiógrafo, ferramenta bastante útil na
localização da junção motora(79). Outro ponto a ser considerado é que alguns
pesquisadores têm sugerido o uso de doses mais altas e ou mais pontos de
injeção com a finalidade de potencializar o efeito e a duração da ptose
palpebral(35,64,73).
Ainda no quesito dose escolhida para esse estudo, é importante
ressaltar, que no nosso conhecimento, não houve experimentos prévios da
administração da TBA no músculo elevador da pálpebra superior em gatos. A TBA
foi testada em alguns outros músculos na espécie felina como no caso do músculo
gastrocnêmio de um gato com artrogripose na dose de 20 UI divididos em quatro
pontos de aplicação com a finalidade de promover relaxamento muscular(73).
Misisazek e Pearson(80) testaram em modelo experimental animal doses entre 20
e 90 UI aplicadas em vários sítios nos músculos extensores do quadril. Com esse
mesmo propósito de testar o efeito da NTB em animais para posterior utilização na
58
medicina humana, a TBA também já foi usada no músculo reto lateral de felinos
domésticos com doses variando entre 50 e 70 UI(81). Outro estudo utilizou doses
entre uma e 10 UI de TBA no músculo reto medial(82).
Outro questionamento que se faz necessário é sobre a comparação
entre o número de fibras e a sua disposição nas espécies humana, canina e felina.
De acordo com a nossa revisão de literatura somente encontramos uma pesquisa
onde foi relatado que o músculo reto lateral dos gatos possui a metade do número
de fibras musculares do mesmo músculo no homem(83). Portanto são necessários
mais estudos que esclareçam dados comparativos entre espécies sobre tamanho,
números de fibras e unidade funcional do músculo elevador da pálpebra superior.
A aplicação da TBA no músculo elevador da pálpebra superior pode
ser feita por via transconjuntival, porém para esse estudo optou-se pela via
transpalpebral. Esse método foi usado por Naik et al(63), assim como por
Bittencourt et al(72) e mostrou menor possibilidade de complicações como a
perfuração ocular e a hipofunção do músculo reto superior.
No nosso trabalho, o uso da TBA em gatos com o objetivo de
produzir ptose palpebral temporária mostrou ser seguro, assim como observado
em seres humanos e cães(1,5,35,63,65,72).
A dipoplia transitória e hipofunção do músculo reto superior foram as
consequências adversas mais encontrados em seres humanos submetidos a esse
tratamento(63,84). Não é possível avaliar dipoplia em gatos e hipofunção não foi
observada nos animais estudados. Outro efeito colateral descrito na literatura foi o
aparecimento de glaucoma agudo em um paciente humano predisposto que
recebeu a toxina botulínica para correção de blefaroespasmo(68). Ao longo do
nosso estudo a PIO manteve-se dentro dos limites de normalidade para a espécie
felina.
59
Um efeito adverso local bastante comum, relatado por pacientes
humanos, é a presença de desconforto ou dor no sítio de aplicação(50). Não houve
manifestações nem alterações comportamentais sugestivas de desconforto nas
gatas desse estudo. Também não foram constatados inflamação local nem
nenhum outro indício de efeitos adversos sistêmicos no período do experimento.
Restrições de movimento não foram feitas, pois é sabido que
acontece difusão mais efetiva da toxina mediante maior atividade após a
aplicação, ocorrência que não é desejável, por exemplo, em tratamentos de
blefaroespasmo, nos quais a ptose é considerada um efeito colateral. Como o
efeito desejado no caso desse estudo é a ptose, a não restrição da movimentação
pode ser importante para contribuir para um melhor resultado(35).
Esse trabalho no seu formato próprio, série de casos, com objetivo
de realizar uma avaliação preliminar do uso da TBA na produção de ptose
protetora na espécie felina, teve seu tamanho de amostra definido, de forma que,
o menor número possível de animais fosse utilizado. Estabeleceu-se então, uma
amostra de 10 gatos, baseando-se em trabalhos já publicadas com pacientes
humanos e caninos e sob consulta estatística. No caso de ensaios clínicos
randomizados posteriores, um aumento do tamanho amostral torna-se mais
relevante em função das diferenças entre os distintos tratamentos.
Os gatos dessa pesquisa receberam Botox®, uma forma congelada a
vácuo e estéril da TBA produzida a partir da cepa Hall de Clostridium botulinum
tipo A. Cada unidade corresponde à dose intraperitonial média letal (DL-50)
calculada em camundongos(85). A primeira preparação comercial de toxina
botulínica disponível para uso terapêutico foi o Botox®, aprovada pelo Food and
Drug Administration (FDA) em 1989 e, no Brasil, passou a ser utilizada
comercialmente a partir de 1991(1,41,83,85,86).
O método de análise da fenda palpebral proposta para esse estudo
foi o processamento computadorizado das imagens digitais. Trata-se de uma
60
ferramenta simples, acessível, não invasiva e precisa que possibilita análises
refinadas das medidas das fissuras palpebrais(87,88).
A aplicação de TBA produziu ptose parcial nos gatos dessa pesquisa
e mostrou ser segura, bem tolerada e de fácil execução. Há a necessidade de
mais estudos com diferentes doses e formas de aplicação, a fim de obter um
protocolo que resulte em maior grau e tempo de cobertura palpebral protetora,
além de ensaios clínicos para avaliar se esse recobrimento traz benefícios reais
na cicatrização de lesões corneanas, quando comparados aos tratamentos
cirúrgicos convencionais.
61
9- LIMITAÇÕES DO ESTUDO
Esse estudo foi pioneiro na avaliação do uso da TBA em gatos para
indução de ptose palpebral. A notável escassez de literatura científica sobre a
utilização desse fármaco na espécie felina foi uma grande limitação para essa
pesquisa. São poucos os estudos publicados sobre o uso terapêutico da TBA no
paciente felino. Portanto, a definição da dose a ser utilizada foi a principal
dificuldade no desenvolvimento dos métodos, afinal, ao contrário da medicina
humana, não foram encontrados estudos que indicassem o efeito de diferentes
doses relacionadas ao uso da TBA no MEPS com o intuito de produzir ptose
palpebral ou um protocolo que funcionasse como guia para estipular a melhor
forma de aplicação desse fármaco em gatos domésticos.
O tamanho do MEPS e o seu número de fibras musculares são dados
também não relatados na literatura. Tais esclarecimentos quando comparados
com características desse músculo em seres humanos e em outras espécies,
facilitariam a análise de parâmetros para a escolha da dose. Um outro
questionamento é se o MEPS sofre variação funcional e ou anatômica de acordo
com o peso e ou raça dos animais.
Um ponto a ser ponderado é sobre as particularidades terapêuticas
felinas, portanto, o uso de drogas e respectivas doses na espécie deve ser
estudado cuidadosamente. Os gatos apresentam um metabolismo hepático
peculiar e o processo de glicuronidação na espécie felina é deficiente, resultando
em predisposição a efeitos tóxicos ou, ainda, aumento da meia-vida de certos
fármacos.
Outra dificuldade foi em relação ao local de administração da TBA. O
MEPS é bem fino na espécie felina e sabe-se que o efeito produzido pela toxina é
maior quando a mesma é injetada diretamente na junção neuromuscular. Nesse
estudo, a aplicação do fármaco foi realizada na região do MEPS e a pesquisa não
62
contou com o auxílio de eletromiógrafo para identificação precisa da localização
da placa nervosa muscular, por ser uma realidade distante da rotina clínica da
medicina veterinária.
63
10- CONCLUSÃO
O uso da TBA, 10 U de Botox®, quando aplicada no MEPS, foi seguro
e promoveu ptose palpebral temporária parcial nas gatas domésticas desse
estudo, produzindo um início de efeito entre os dias 1 e 4, ptose máxima entre o
quinto e o sétimo dia, duração média do efeito de 21 dias, recuperação total da
fissura palpebral em 28 dias e redução média da fenda palpebral de 39,66%. De
acordo com a avaliação qualitativa, 20% dos animais apresentaram ptose
satisfatória, 70% ptose incompleta e, somente 10%, mostraram ptose
insatisfatória.
64
65
11- PERSPECTIVA
Por ser uma pesquisa inédita na avaliação do uso da TBA para a
produção de ptose palpebral em gatos, há a necessidade de mais estudos com outras
doses e, também, pontos múltiplos de aplicação do fármaco, com o intuito de
estabelecer a dose mais apropriada para esse fim na espécie felina.
Portanto, o resultado de indução de uma ptose maior que 75% de
cobertura corneana seria mais condizente com a proposta de eficácia clínica no
tocante ao auxílio nas cicatrização de úlceras de córnea. Outro ponto a ser
buscado, é uma maior duração de efeito.
O passo seguinte é iniciar ensaios clínicos para avaliação de eficácia
terapêutica da TBA, a partir do estabelecimento de dose e forma de aplicação
mais adequados, uma vez que o quesito segurança foi bem demonstrado nesse
trabalho.
66
67
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84- Heyworth PLO, Lee JP. Persisting hypotropias following protective ptosis
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85- Quagliato EMAB, Carelli EFV, Aparecida M. A Prospective, randomized,
double-blind study comparing the efficacy and safety of type A botulinum toxins
Botox® and Prosigne® in the treatment of cervical dystonia. Clinical
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76
86- Truong D, Dressler D, Hallett M. Botulinum toxin: history of clinical
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manual e digital da fenda palpebral. Arq Bras Oftalmol. 2005;68(6):785-7.
77
ANEXOS
Anexo 1- Parecer do comitê de ética
78
Anexo 2- Artigo submetido na revista American Journal fo Veterinary
Research
Evaluation of the efficacy and safety of botulinum toxin A for the induction of transient ptosis in
cats
Myrian K. Teixeira, DVM1; Cristiano R. Silva, MSc2; Maura K Bittencourt, PhD1; José P Vasconcellos,
PhD1
1Department of Ophthalmology, School of Medicine, University of Campinas (UNICAMP), CXP –
6111 Campinas, São Paulo 13083-970, Brazil. 2Department of Veterinary Clinical Medicine, Itajubá Veterinary College (FEPI), CXP 50 Itajubá,
Minas Gerais 37501-002, Brazil.
This manuscript represents a portion of a thesis by Dr. Teixeira at the
Department of Ophthalmology, School of Medicine, University of Campinas (UNICAMP), in
partial fulfillment of the requirements for a Master of Science degree.
Funding declaration: This study received no funding.
Financial conflicts of interest: The authors have no conflicts of interest to declare
Correspondence should be addressed to Myrian Teixeira at [email protected]
79
Abstract
Objective: To evaluate the safety and efficacy of botulinum toxin A (BTA) for the induction of
palpebral ptosis in felines.
Design: Prospective interventional study.
Animals: Ten female cats.
Procedures: All cats were subjected to chemodenervation of the levator palpebrae superioris
muscle by the transcutaneous administration of BTA into this muscle. Ocular function, ocular
mobility, intraocular pressure, and the onset, extent, and duration of ptosis were evaluated before
(day 0) and on days 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 14, 21, and 28 after BTA administration. The palpebral edge
of the contralateral eye was also measured.
Results: A clinical effect was observed beginning between the first and fourth days after BTA
administration. The extent of ptosis was maximal between the fifth and seventh days after
administration, and ptosis was observed for a mean duration of 21 days. The palpebral edge was
reduced by an average of 39.6% (16.55% - 59.64%). Quantitative analysis demonstrated that in
one queen (10%), corneal coverage of less than 25% was achieved. Intraocular pressure values
were within normal limits. BTA did not cause undesirable effects.
Conclusions and clinical relevance: The use of BTA in the levator palpebrae superioris muscle was
safe and provided transient, partial palpebral ptosis in most of the studied cats. This therapeutic
use of BTA is minimally invasive. BTA can be used to induce protective temporary ptosis in felines.
Abbreviation list
BTA: Botulinum toxin A
IOP: Intraocular pressure
Ulcerative keratitis is commonly observed in cats during routine ophthalmologic
examinations. Ulcerative keratitis can result from trauma (e.g., fights), infections (e.g., feline
herpesvirus 1), and palpebral abnormalities.1 Ulcerative keratitis is managed by clinical or surgical
treatments, such as tarsorrhaphy and third eyelid flaps, depending on the etiology and severity of
the lesions.1,2 In addition, transient corneal coverage may be performed.3,4 BTA administration to
the levator palpebrae superioris muscle in human patients produces safe and efficient palpebral
ptosis with transient corneal coverage and provides the same protective effect as surgical
procedures such as tarsorrhaphy.5–7 Furthermore, several investigators8 have demonstrated the
safety and efficacy of BTA in the induction of transient protective ptosis in dogs.
Botulinum toxins are produced by the gram-negative anaerobic bacterium Clostridium
botulinum, which is classified into seven serogroups, from A to G.9 These toxins have potent
biological activity and cause botulism when ingested by consuming infected food, resulting in
gastrointestinal disease and flaccid paralysis.9-12 These toxins inhibit neuromuscular transmission
by blocking presynaptic release of acetylcholine, resulting in transient chemodenervation of
80
muscle and consequent flaccid paralysis.9,10,12-14 In 1817, the German physician Justinus Kerner
first reported cases of botulism and the potential therapeutic use of the toxin.11,15-17 The
therapeutic potential of BTA was first reported by Alan Scot who, in 1980, described the use of
BTA in strabismus correction.15,17,18 BTA is mainly used in ophthalmology to treat blepharospasm,
strabismus, congenital nystagmus, chronic dry conjunctivitis, facial paralysis, lacrimal
hypersecretion, palpebral retraction, and inferior entropion and to produce protective ptosis. 9,11,19
Although several reports have demonstrated the therapeutic use of BTA in generating
protective ptosis in humans, few studies have examined this approach in veterinary medicine, and
these reports have mainly reported the used of this approach in dogs. A previous study
demonstrated the induction of transient protective ptosis in dogs using 10 IU of BTA, which
resulted in at least 50% of the cornea being covered for over 21 days, on average.8 However, no
data regarding the use of BTA to achieve protective ptosis in felines are available. Consequently,
the aim of this study was to evaluate the safety and efficacy of BTA administration for inducing
transient protective palpebral ptosis in cats.
Materials and Methods
This prospective longitudinal study was based on a case series that presented for clinical
examination at a private veterinary clinic. This study complied with the statement of the
Association of Research in Vision and Ophthalmology regarding the use of animals in ophthalmic
and vision research. This study was approved by the Ethics Committee of the Biology Institute of
Campinas University. Ten female cats with no signs of previous disease were selected for inclusion
in this study. The cats were vaccinated, dewormed, and subjected to nutritional and
environmental adaption for 30 days before inclusion in the study. The inclusion criteria were age
(adult queens between two and four years of age), weight (between two and four kg), and the
absence of ophthalmic or other systemic disease. Exclusion criteria included pregnancy; a history
of anaphylaxis; bleeding disorders; ophthalmic disease, such as entropion, superior ectropion,
inflammation or infection at the site proposed for BTA administration; scars in the region of the
levator palpebrae superioris muscle; the use of aminoglycosides, calcium channels blockers, or
anticholinergic muscle relaxants; or a history of hypersensitivity to any component of the
therapeutic agent to be used. It was decided that the study would be terminated if any serious
adverse effects occurred that could permanently compromise visual function or endanger a cat's
life. Physical and ophthalmic examinations were performed, and the cats’ conditions were
documented photographically before (day 0) and on days 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 14, 21, and 28 after
BTA administration. Ocular mobility, the average of three intraocular pressure (IOP)
measurementsa, and the degree of superior palpebra ptosis were evaluated. All measurements
were performed by a single researcher to avoid interobserver variability.
For this study, onabotulinum toxin Ab, a lyophilized, sterile BTA produced from the Hall
strain of Clostridium botulinum A, was used. The drug was refrigerated at 2 to 8oC and diluted
immediately before use according to the manufacturer’s instructions (10 IU in 0.1 mL).
81
The animals were sedated by intramuscular administration of 5 mg/kg of ketamine and 1
mg/kg of xylazine, and the site of administration was cleaned with iodopolvidone, an antiseptic
agent. Afterwards, 10 IU (diluted to 0.1 mL) of onabotulinum toxin A was injected into one region
of the left eye through the external palpebral surface of the levator palpebrae superioris muscle.
The drug was administered in the medial region of the palpebra above the upper ocular region
using a 1-mL sterile syringe and a 27-G needle. The animals were monitored until fully sedated,
and their movements were not restricted after total recovery.
Digital images were obtained using the macro function of a camerac for all cats at a
standard distance of 10 cm from each eye (Figure 1); the images were subsequently processed
using image-processing softwared.
The palpebral opening measurement (AB; Figure 2) was considered to be the greater of
the distance between the superior palpebral border and inferior palpebral border ar the center of
each eye. During computer analysis, two locations were marked on the palpebral borders of the
eye that received the drug (left) and the contralateral eye (right), which acted as the control. The
researcher was blinded and did not know the sequence of images when the palpebral opening
measurements were made.
The following evaluation was performed: ptosis was considered satisfactory when the
corneal coverage was equal to or greater than 50%, incomplete when the coverage was between
25 and 49%, and unsatisfactory when the coverage was less than 25%.
The onset of clinical effect was considered to occur when the percentage reduction in the
palpebral edge was 5% or greater, and the duration of effect was measured as the time during
which the palpebral edge was reduced by 5% or more.
To analyze the viability and safety of BTA in producing transient protective ptosis, the
following parameters were evaluated: the onset and duration of clinical effect, the period of
maximum effect, the percentage reduction in the palpebral edge, and IOP variations. Statistical
analysis was performed using softwaree,f and testsg,h,i; values of p < 0.05 were considered
statistically significant.
Results
The use of 10 IU of onabotulinum toxin A in the left levator palpebrae superioris muscle
did not cause any undesirable effects in the studied animals. Intraocular pressure measurements
were within normal limits in both eyes in all queens. No statistically significant differences in IOP
were observed before and after drug administration (p = 0.386). No changes in ocular mobility,
systemic or ophthalmic condition were detected. On average, the onset of the clinical effect of
onabotulinum toxin A was noted on the second day after administration (between the first and
fourth days), and the time at which the extent of ptosis was maximal ranged from the fifth to the
seventh day after onabotulinum toxin A administration and lasted an average of 21 days. On
average, the palpebral edge was reduced by 39.65% (range, 16.55% to 59.64%). The palpebral
edge measurements were significantly different between the eyes that received BTA and the
contralateral eyes (Figure 3). Two cats (20%) developed more than 50% corneal coverage
(satisfactory ptosis), seven cats (70%) developed between 25 and 49% corneal coverage
82
(incomplete ptosis), and only one animal (10%) developed less than 25% corneal coverage
(unsatisfactory ptosis). The distances between the palpebral borders gradually returned to normal
values in all cats. At day 28, no significant difference between the left and right palpebral edge
measurements was observed in any cat.
Discussion
Cats commonly present with ulcerative keratitis, due to infection, trauma, or a congenital
cause, that requires clinical or surgical treatment.1 Clinical treatment consists of the instillation of
artificial tears and antibiotics. In addition, coverage of the cornea provides a protective effect for
these conditions that aids in cicatrization, reduces pain and discomfort,3,4 and minimizes irritation
caused by the palpebra during blinking.5,20 Surgical procedures such as tarsorrhaphy and third
eyelid flap are used for this purpose; however, these procedures have some disadvantages,
including the need for general anesthesia and postoperative care, difficulties with applying topical
drugs after surgery, and difficulties with monitoring wound healing.2,4
BTA has been used as a therapeutic option for inducing protective corneal coverage in
humans, with high rates of success and safety.5–7,9,21 This study demonstrates the safety of BTA use
in cats, and the results obtained in this study are comparable to those reported previously in
dogs.8
In this study, lyophilized, sterile BTA produced by the Hall strain of Clostridium botulinum
A was administered to cats.b Each unit of the toxin is the median lethal intraperitoneal dose (LD-
50) for mice.22 This drug was the first commercial botulinum toxin available for therapeutic use
and was approved for use in humans by the Food and Drug Administration (FDA) in 1989.9,19,23,24
The mean duration of the corneal coverage effect in humans was 40 days at doses of 2.5,
55 and 7.5 IU.6 In humans, BTA use caused ptosis beginning between one and four days after
administration.5–7 In dogs, on average, this effect has been observed beginning on the second
day,8 as in our study. These results suggest that BTA may be used to facilitate cicatrization in the
feline superficial cornea.
Palpebral edge evaluation was performed in this study via digital image processing and
analysis. This technique represents a simple, accessible, noninvasive, and accurate tool for
refining25 BTA doses administered into the levator palpebrae superioris muscle in humans in the
range of from 2.5 to 15 IU.6,7 In dogs, the palpebral edge was observed to be reduced by an
average of 49.86% (35.71% - 59.82%) when a BTA dose of 15 IU was administered.8 In contrast, in
our study, an average reduction of 39.65% (16.55% - 59.54%) was observed when using a BTA dose
of 10 IU. The greater responses observed in previous studies conducted in dogs and humans at
doses of BTA similar to those used in our study of cats could potentially reflect a greater resistance
to the botulinum toxin in felines. Botulism is considered to be rare in dogs,26,27 and in cats,
presumptive botulism has only been reported in a group of cats that ate the meat of an
electrocuted pelican.28
Additionally, the lesser extent of palpebral ptosis and the shorter duration of the effect of
BTA (an average of 21 days) observed in the cats in this study could be related to the
concentration of the drug used in this study and/or to the region in which it was administered.
83
Increased flaccid paralysis occurs when the drug is administered directly at the neuromuscular
junction.29,30 The levator palpebrae superioris muscle is thin in cats and originates from the optic
foramen. This muscle passes dorsally to the ocular globe between the superior rectus muscle and
the lacrimal gland and inserts at the superior eyelid.31 BTA could potentially be of limited use
because of the possibility that the drug would not reach the neuromuscular junction, as this
muscle is thin in cats; we did not use electromyography, a tool that is useful for locating the
neuromuscular junction, to guide BTA application.
It is also important to consider that some researchers recommend the use of higher doses
or more application spots to increase the effect of BTA administration and the duration of BTA
effects.6,32,33 In our study, because no previous studies had examined the dose of BTA required to
induce ptosis at the levator palpebrae superioris muscle in cats, we employed a low dose to
ensure that there were no adverse effects. BTA has been tested in other muscles in felines, such as
in the gastrocnemius of a cat with arthrogryposis (20 IU in four application spots) to promote
muscle relaxation.33 Other authors34 have tested doses ranging from 20 to 90 IU at various sites in
hip extensor muscles. BTA has also been used in the lateral rectus muscle of cats using doses
ranging from 50 to 70 IU.35 A further study used BTA doses from 1 to 10 IU in the medial rectus
muscle.36
It is also important to compare the numbers of muscle fibers available in different species.
According to the veterinary literature, the lateral rectus muscle of cats has half the number of
muscle fibers compared to that in humans.24 Consequently, studies are needed in other species to
obtain comparative data regarding the size, fiber number, and functional units of the levator
palpebrae superioris muscle.
Application of BTA at the levator palpebrae superioris muscle can be performed
transconjunctivally; however, in this study we chose transpalpebral administration. This method
was previously used7 and exhibited less possibility of complications such as ocular perforation and
superior rectus muscle hypofunction. Transient diplopia and superior rectus muscle hypofunction
were the most frequent adverse effects in humans using BTA.7,37 We did not observe muscle
hypofunction in this study, suggesting that the procedure is safe in felines, and diplopia cannot be
evaluated in cats. Another adverse effect that has been described is acute glaucoma, which was
observed in a human patient who received BTA for blepharospasm correction.38 In our study, IOP
was within normal limits for felines, demonstrating that the BTA dose used does not produce
adverse effects.
In our study, the use of 10 IU of onabotulinum toxin A at the levator palpebrae superioris
muscle was found safe and promoted transient partial palpebral ptosis in cats. No adverse effects
or systemic or ophthalmic changes were observed. Further studies are necessary to establish the
most appropriate dose for inducing transient ptosis in felines.
Footnotes
a. Tono-Pen Vet, Reicher Inc., Depew, NY
b. Botox, Allergan Pharmaceuticals, Ireland, C3390C3
84
c. Canon PowerShot SX100
d. NIH Image Homepage, software NIH version 1.55 (available online at http://zippy.nimh.nih.gov)
e. Minitab 16
f. Biostat 5.0
g. Student’s test
h. t-test, Wilcoxon signed-rank test
i. Anderson-Darlin normality test
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Figure legends
Figure 1. Photographic documentation showing the evolution of the degree of ptosis in cat no. 4
on days 1, 3, 6, 21, and 28.
Figure 2. Computed analysis of palpebral edge measurement (distance from A to B) for the left
eye.
90
Figure 3. Development of and recovery from palpebral ptosis induced by the administration of
botulinum toxin A into the levator palpebrae superioris muscle. Comparison of the degree of
reduction of the palpebral edge between an eye in the muscle above which BTA had been
administered and the contralateral eye.
91
Anexo 3- Material complementar da análise estatística
Verificação de valores outliers da PIO do olho esquerdo
Dia 28Dia 21Dia 14Dia 7Dia 6Dia 5Dia 4Dia 3Dia 2Dia 1Dia 0
24
23
22
21
20
19
PIO
olh
o e
sq
ue
rdo
Boxplot of Dia 0; Dia 1; Dia 2; Dia 3; Dia 4; Dia 5; Dia 6; Dia 7; ...
92
Valores da PIO do olho esquerdo
Teste t de Student pareado e teste de Wilcoxon.
Comparativos
dos dias
Médias dia 0 Média
outros dias
Valor p (testes)
0 vs 1 21,7 21,2 0,1338
0 vs 2 21,7 20,8 0,036*(W)
0 vs 3 21,7 21,0 0,042*(W)
0 vs 4 21,7 21,3 0,108(W)
0 vs 5 21,7 20,9 0,084(W)
0 vs 6 21,7 20,8 0,060(W)
0 vs 7 21,7 21,5 0,620
0 vs 14 21,7 21,7 1,000
0 vs 21 21,7 21,0 0,036*(W)
0 vs 28 21,7 21,4 0,344
* valores significativos com 95% de confiança.
Os valores dos dias 2, 3 e 21 considera-se uma redução significativa no PIO do
olho esquerdo.
93
Valores das medidas da fenda palpebral do olho esquerdo
Teste t de Student pareado e teste de Wilcoxon (4,6 e 14).
Comparativos
dos dias
Médias dia 0 Média
outros dias
Valor p (testes)
0 vs 1 13,798 13,266 0,019*
0 vs 2 13,798 12,400 0,002**
0 vs 3 13,798 11,295 0,000**
0 vs 4 13,798 10,564 0,000**
0 vs 5 13,798 9,111 0,000**
0 vs 6 13,798 8,823 0,000**
0 vs 7 13,798 10,352 0,000**
0 vs 14 13,798 11,743 0,001**
0 vs 21 13,798 12,736 0,010*
0 vs 28 13,798 13,896 0,107
* valores significativos com 95% de confiança.
** valores significativos com 99% de confiança.
Segundo o teste comparativo, foi encontrado diferença significativa entre os dados
do olho esquerdo.
94
Comparação entre as medidas da fenda palpebral do olho esquerdo e direito
Tabela do teste t de Student independente e Mann-Whitney (M)
Comparativos 1ª. Média
(controle)
2ªMédia.
(tratamento)
Valor p
Dia 0 13,885 13,798 0,365
Dia 1 13,787 13,266 0,082
Dia 2 13,788 12,400 0,003**
Dia 3 13,799 11,295 0,000**
Dia 4 13,751 10,564 0,000**(M)
Dia 5 13,696 9,111 0,000**(M)
Dia 6 13,742 8,823 0,000**(M)
Dia 7 13,870 10,352 0,000**(M)
Dia 14 13,701 11,743 0,001**
Dia 21 13,851 12,736 0,008**
Dia 28 13,858 13,896 0,443
** diferença significativa com 99% de confiança
Segundo os testes aplicados, é verificado que o olho esquerdo possui um valor
significativamente menor do que o olho direito (controle) com 99% de
confiabilidade do 2 ao 21 dia