avaliação de dois ecotipos de macaúba final
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Artigo publicado nos anais do Congresso Brasileiro de Macaúba, em 2013.TRANSCRIPT
AVALIAÇÃO DE DOIS ECOTIPOS DE MACAÚBA 1
2
Wesley Machado1; Felipe Fernandes Lira1; José Victor Freitas dos Santos1; Lúcia Sadayo 3
Assari Takahashi1; Maria de Fátima Guimarães1; Gracielle Teodora da Costa Pinto Coelho2; 4
Alex Carneiro Leal3; 5
6
INTRODUÇÃO 7
Atualmente existem inúmeras espécies, principalmente nativas, com grande potencial para a 8
produção de óleo e coprodutos. A palmeira macaúba [Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart.], 9
se destaca neste contexto pela sua produtividade. Esta planta ocorre naturalmente em todo o 10
território brasileiro, com maiores concentrações no bioma Cerrado (LORENZI, 2006). Seu fruto 11
possui elevado teor de óleo e os coprodutos do processamento podem ser utilizados como energia 12
ou na alimentação animal, similar aos do dendê (Elaeis guineenses Jacq.) (CLEMENT et al. 2005). 13
A qualidade e o rendimento dos materiais vegetais passíveis de serem utilizados como 14
energia estão ligados à sua composição química, centesimal e biométrica. Estes indicadores podem 15
ser empregados no direcionamento dos produtos e coprodutos do processamento de acordo com seu 16
melhor uso (energético, alimentício, etc). A polpa da macaúba pode ser utilizada na fabricação de 17
alimento e fortificantes (LORENZI, 2006) e seu óleo, além do uso na fabricação de biodiesel, 18
também possui ação anti-inflamatória (BRESSAN et al. 2009). A amêndoa tem potencial de uso na 19
alimentação humana e animal cujo óleo tem inúmeras aplicações industriais, como bioquerose, 20
sabões, cosméticos, etc. (LORENZI, 2006; EMBRAPA, 2008). 21
Entretanto, os materiais silvestres de macaúba apresentam grande variabilidade e precisam 22
ser avaliados quanto ao potencial energético. Logo, a avaliação de frutos de diferentes regiões é 23
crucial para obtenção de óleo e co-produtos de melhor qualidade. A biometria associada às 24
características físico-químicas do fruto fornece informações para detectar a variabilidade genética 25
de populações de uma mesma espécie e as relações com fatores ambientais (SANJINEZ-26
ARGANDOÑA & CHUBA, 2011) O estudo centesimal é importante para evidenciar os 27
rendimentos do produto em questão e estimar seu potencial de uso energético ou como alimento. 28
O objetivo do trabalho foi avaliar a composição mineral, centesimal e biometria de frutos de 29
dois ecotipos de macaúba coletados em diferentes regiões. 30
31
MATERIAL E MÉTODOS 32
1 Universidade Estadual de Londrina – [email protected] 2 Centro Universitário Newton Paiva – [email protected] 3Instituto Agronômico do Paraná – [email protected]
O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Nutrição Vegetal, da Universidade Estadual 33
de Londrina. Os frutos do ecotipo totai (A. aculeata) foram coletados em Paranavaí, Paraná e os 34
frutos do ecotipo sclerocarpa (A. aculeata) foram coletados em Contagem, Minas Gerais. Foram 35
avaliados 20 frutos de cada subespécie para a biometria, sendo a massa (g) e a espessura (cm) do 36
endocarpo; a massa (g) e diâmetro (cm) da amêndoa; massa (g), diâmetro (cm) e volume (ml) do 37
fruto; massa (g) do epicarpo e do mesocarpo. As análises químicas foram realizadas seguindo a 38
metodologia descrita por Myazawa et al. (2009). Para a realização das análises de P, K, Ca, Mg, Cu, 39
Fe, Zn e Mn. Para P utilizou espectrofotometria com azul-de-molibdênio a 660nm. O K por 40
fotometria de chama. As análises de Ca, Mg, Cu, Fe, Zn, e Mn por espectrofotometria de absorção 41
atômica. Para análise de N, em triplicata, as amostras foram levadas para o Destilador (Kjeldahl) e 42
tituladas com HCl 0,01 mol L-1. As amostras foram determinadas em duplicatas e em base seca para 43
a composição centesimal. Seguindo a metodologia descrita por Embrapa (2005). A matéria seca foi 44
baseada pela diferença. Para as análises de determinação de cinzas, a amostra foi calcinada em 45
forno do tipo mufla. A determinação de proteína bruta baseia-se no método de Kjedahl de destilação 46
e titulação do N. Na determinação do extrato etéreo foi utilizado o éter de petróleo usando o extrator 47
Soxhlet. Para a determinação de fibra foi feita digestão ácida e básica. A matéria mineral foi 48
determinada pelo o que sobrou da fibra após passar pela mufla. A determinação de carboidratos foi 49
feito pela diferença. 50
Os resultados encontrados foram submetidos a análises de variância e teste de Tukey a 5% 51
utilizando o programa Sisvar®. 52
53
RESULTADO E DISCUSSÃO 54
As médias dos parâmetros biométricos dos dois ecotipos encontram-se na tabela 1. Os 55
resultados obtidos apresentaram significância estatística, em praticamente todas as variáveis 56
analisadas, evidenciando a variabilidade entre a Acrocomia aculeata. Sanjinez-Argandoña e Chuba 57
(2011), avaliando frutos colhidos no MS e em SP obtiveram resultados semelhantes aos 58
apresentados pelos autores deste trabalho, corroborado também pelos dados encontrados por 59
Almeida et al. (1998). 60
De acordo com a tabela 2, a amêndoa se sobressaiu em alguns elementos como nitrogênio, 61
potássio, cálcio e cobre quando comparada à polpa, em ambos os ecotipos. Entretanto a polpa 62
apresenta os demais nutrientes em níveis elevados, similar aos observados na amêndoa. Os valores 63
encontrados para os micronutrientes conferem com os encontrados por Ramos et al. (2008) e Marin 64
et al. (2009). Os resultados demonstram o alto valor encontrado na polpa em comparação com a 65
amêndoa, mesmo sendo a polpa com alto valor de umidade. 66
67
Tabela 1: Resultados de médias de 20 frutos para dois ecotipos de Acrocomia aculeata, 68 provenientes de duas diferentes regiões do país. 69
Característica biométrica sclerocarpa totai
MD (g) 10,48 ± 0,74 a 4,05 ± 0,40 b MA (g) 2,09 ± 0,19 a 1,37 ± 0,18 b MM (g) 31,05 ± 6,22 a 10,49 ± 3,01 b MP (g) 23,14 ± 2,13 a 3,76 1,04 b MF (g) 66,76 ± 5,41 a 19,67 ± 3,19 b
DLF (cm) 5,03 ± 0,13 a 3,42 ± 0,15 b DLA (cm) 2,03 ± 0,08 a 1,53 ± 0,10 b EE (cm) 0,55 ± 0,07 a 0,38 ± 0,04 b VT (ml) 61,50 ± 5,87 a 19,00 ± 4,47 b
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% ± desvio padrão. MD, massa do 70 endocarpo. MA, massa da amêndoa. MM, massa do mesocarpo. MP, massa do epicarpo. MF, massa do fruto. DLF, diâmetro 71 longitudinal do fruto. DLA, diâmetro long. da amêndoa. EE, espessura do endocarpo. VT, volume do fruto. Valores em base úmida. 72 73 Tabela 2: Composição mineral da amêndoa e polpa de dois ecotipos de Acrocomia aculeata. 74
Composição Mineral
Elementos Amêndoa Polpa Sclerocarpa Totai Sclerocarpa Totai
Nitrogênio 4,22±0,47 a 3,61±1,06 a 1,30±0,10 a 0,73±0,03 b Fósforo 0,59±0,09 a 0,64±0,01 a 3,58±0,37 a 4,18±0,09 a Potássio 14,55±0,28 a 9,25±0,02 b 3,95±0,00 a 5,44±0,49 b Cálcio 0,42±0,12 a 0,81±0,10 b 0,55±0,11 a 0,45±0,12 a
Magnésio 1,73±0,09 a 1,42±0,06 b 2,21±0,16 a 2,35±0,09 a Cobre 7,10±0,55 a 2,50±0,10 b 5,05±0,00 a 4,66±0,12 a Ferro 18,73±1,95 a 54,67±9,77 b 40,70±14,50 a 55,23±2,55 a
Manganês 2,13±0,66 a 5,76±0,86 b 38,16±0,85 a 27,46±2,80 b Zinco 10,13±1,11 a 8,06±0,40 b 27,33±1,93 a 28,53±1,20 a
Médias seguidas pelas letras minúsculas iguais na mesma linha e para cada parte do fruto não diferem entre si pelo teste de Tukey 75 p<0,05. (±) desvio padrão. N, P, K, Ca, Mg em g Kg-1. Zn, Fe, Mn, Cu em mg Kg-1. Material bruto. 76 77 Tabela 3: Médias de composição centesimal em % de dois ecotipos de macaúba. 78
Composição centesimal (%) Amêndoa Polpa
Sclereocarpa Totai Sclereocarpa Totai Matéria seca 89,92±0,05 a 83,11±0,18 b 44,17±0,28 a 42,65±0,27 b
Cinzas 1,54±0,14 a 1,29± 0,16 a 3,22±0,16 a 2,03±0,26 b Proteína Bruta 6,70±0,28 a 5,66±0,06 a 1,20±0,80 a 1,15±0,65 a
Lipídios 55,42±0,58 a 47,76±0,26 b 32,76±0,87 a 32,05±1,73 a Fibra Bruta 64,63±0,39 a 62,79±1,32 a 57,87±2,92 a 51,70±4,31 b
Matéria Mineral 0,63±0,08 a 0,39±0,08 a 0,76±0,08 a 0,66±0,09 a Carboidratos 40,61±0,72 a 33,40±0,50 b 18,19±0,75 a 18,10±1,78 a
Umidade 4,42±0,00 a 3,18±0,00 b 45,86±0,00 a 45,42±0,00 b Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha e por parte do fruto não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%. Valores em 79 base seca. 80 81
A amêndoa da macaúba mostrou-se rica em lipídios, carboidratos e fibra bruta (tabela 3). A 82
polpa apresentou maior quantidade de água em relação à amêndoa. Foram encontrados maiores 83
valores de lipídios na amêndoa do ecotipo sclerocarpa, cerca de 55,42%. Por outro lado, o teor de 84
lipídeos observado na polpa não foi estatisticamente diferente entre os ecotipos avaliados, em torno 85
de 32%. Ramos et al. (2008) encontrou valores de lipídeos na polpa muito inferiores, cerca 8,14%. 86
Hiane et al. (2006) encontraram valores intermediários entre estes dois trabalhos cerca de 16,50%, 87
evidenciando a grande variabilidade encontrada nos materiais silvestres de Acrocomia aculeata. 88
89 CONCLUSÃO 90
As características encontradas na amêndoa e polpa variam entre os ecotipos avaliados. 91
92 REFERÊNCIAS 93
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