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Page 1: AVALIAÇÃO DAS PERDAS NA PRODUÇÃO DE HORTALIÇAS … · O consumo de frutas e hortaliças é considerado marcador de um padrão de alimentação saudável, ... A consignação

AVALIAÇÃO DAS PERDAS NA PRODUÇÃO DE

HORTALIÇAS EM UMA COMUNIDADE RURAL DE

AGRICULTORES FAMILIARES DO SUL FLUMINENSE/RJ

T.K.A. Silva1, S.M.Carvalho2, E.L.O. Carmo3 1- Departamento de Ciências e Tecnologia de Alimentos – Universidade Federal do Rural do Rio de Janeiro,

Instituto de Tecnologia – CEP: 23897000 – Seropédica – RJ – Brasil, Telefone: (24) 999711664 - e-mail:

([email protected]) 2- Departamento de Ciências e Tecnologia de Alimentos – Universidade Federal do Rural do Rio de Janeiro,

Instituto de Tecnologia – CEP: 23897000 – Seropédica – RJ – Brasil, Telefone: (21) 964777712 - e-mail:

([email protected]) 3 – Departamento de Nutrição – Centro Universitário de Volta Redonda – CEP: 27240-560 – Volta Redonda – RJ – Brasil, Telefone: (24) 998127810 - e-mail: ([email protected]) RESUMO – As hortaliças são inclusas em uma alimentação saudável e esses alimentos são oriundos da agricultura familiar. O presente trabalho consistiu em avaliar as perdas das principais hortaliças cultivas por agricultores familiares da região Sul Fluminense do Rio de Janeiro. Também foi diagnosticado os motivos que ocasionam perdas dos alimentos durante a produção. Para obtenção dos dados foi realizada visitas nas propriedades com aplicação de questionário previamente elaborado. Os dados foram tabulados e calculados, gerando resultado em porcentagem. A avaliação dos dados mostrou que há 34% de perdas em relação as hortaliças que foram plantadas e/ou semeadas. Os principais motivos que colaboraram para as perdas foram: comércio por consignação, irregularidades na venda, armazenamento inadequado, pragas e doenças e ausência de fornecedor fixo. Conclui-se que é necessário implantação de políticas públicas que visam a minimização dos problemas a fim de diminuir a quantidade de perdas e colaborar com a segurança alimentar.

ABSTRACT – Vegetables are healthy foods that come from family farming. The present work

consisted in evaluating the losses of the main vegetables cultivated by family farmers of the South

Fluminense region of Rio de Janeiro. The reasons for losses in production were also diagnosed. To

obtain the data, visits were made to the properties with the application of a previously elaborated

questionnaire. The information were tabulated and calculated, generating a percentage result. The

assessment of the data showed that there were 34% losses in relation to the vegetables that were

planted and / or planted.The main reasons that contributed to the losses were: consignment trade,

irregularities in the sale, inadequate storage, pests and diseases and absence of a fixed supplier. It is

concluded that it is necessary to implement public policies aimed at minimizing the problems in order

to reduce the amount of losses and to collaborate with food security.

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PALAVRAS-CHAVE: Agricultura; Perdas de Alimentos; Hortaliças.

KEYWORDS: Agriculture; loss of food; Vegetables.

1. INTRODUÇÃO

A olericultura pertence ao grupo vegetables, que engloba as raízes, tubérculos, parte aérea, caules, folhas, frutos e flores comestíveis de plantas anuais em sua maior parte. Uma característica marcante da horticultura, diferenciando das demais plantas no contexto agronômico, é o fato de se referir a produtos vegetais que são consumidos crus (Andriolo, 2017).

Com área cultivada de aproximadamente 837 mil hectares e produção em torno de 63 milhões de toneladas no Brasil, a produção de hortaliças contempla mais de uma centena de espécies cultivadas em todas as regiões do país (CNA, 2017).

O consumo de frutas e hortaliças é considerado marcador de um padrão de alimentação saudável, diminuindo os riscos de morte causada por doenças crônicas não transmissíveis em razão de sua composição rica em vitaminas, minerais e fibras, além da baixa densidade energética (Maziero et al., 2017). O consumo mínimo de frutas, verduras e legumes recomendado é de 400 gramas per capita ou de pelo menos cinco porções por dia, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O baixo consumo desses alimentos encontra-se no ranking dos dez principais fatores de risco de mortalidade global (Melo et al., 2017). No Brasil, dados de pesquisa de orçamentos familiares revelaram que menos de 10% da população consumiam diariamente a quantidade de vegetais recomendada (Figueira et al., 2016).

O cultivo de hortaliças no Brasil é caracterizado como uma atividade realizada predominantemente em micro e pequenas propriedades, que estão, normalmente, localizadas próximas aos centros urbanos, consequentemente próximo ao mercado consumidor (Albuquerque, 2016). Desta forma, os alimentos que chegam à mesa do brasileiro vêm da agricultura familiar (Paula et al., 2017). No entanto, na atividade reconhecida como fundamental na segurança alimentar há diversos entreves, entre eles, as perdas no decorrer da cadeia produtiva das hortaliças.

A perda de alimentos é a redução não intencional de alimentos disponíveis para o consumo humano que resulta de ineficiências na cadeia de produção e abastecimento: infraestrutura e logística deficiente, falta de tecnologia, insuficiência nas competências, conhecimentos e capacidade de gerenciamento (Santos, 2017).

As perdas de alimentos trazem consigo uma série de problemas que envolvem vários âmbitos, sejam eles econômicos, sociais ou ambientais. Perda do valor econômico, insegurança alimentar, emissão de gás carbônico e utilização da água de forma desnecessária são apenas alguns desses problemas (Embrapa, 2016).

Apesar da importância, o valor das perdas de produtos agrícolas é de difícil mensuração a partir dos dados econômicos mundiais (Gustavsson et al., 2011). Se tratando de hortaliças, há pouca informação na literatura que estima o valor das perdas deste grupo de alimentos.

O presente trabalho objetivou determinar e quantificar as perdas das hortaliças produzidas por agricultores familiares da região Sul Fluminense do estado do Rio de Janeiro, como também, realizar o levantamento dos principais motivos que ocasionam as perdas na referida comunidade rural.

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2.MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho constitui em uma pesquisa descritiva. O levantamento dos dados foi por meio de questionários elaborados conforme o manual de olericultura da Embrapa, o qual foi submetido a uma prévia avaliação com os produtores a fim de adequar as questões a realidade da produção e quantificar os resultados de forma mais precisa possível. A aplicação dos questionários foi realizada através de visitas em 40 propriedades familiares produtoras de hortaliças, que executam a atividade há aproximadamente 40 anos. Também foi realizado um acompanhamento através da associação de produtores familiares da região, onde as propriedades são cadastradas. A pesquisa foi realizada entre os meses de agosto e outubro de 2017. Os dados foram tabulados, quantificados e os resultados foram obtidos em forma de porcentagem.

3.RESULTADOS E DISCUSSÃO

Primeiramente foi diagnosticado a porcentagem de perdas totais em relação a quantidade produzida. A perda de alimentos corresponde a 34% de toda produção durante a cadeia produtiva de olerícolas nas presentes propriedades nos meses de setembro, outubro e novembro de 2017. A falta de tecnologia e informação são os fatores primordiais que contribuem nas perdas das hortaliça no decorrer da cadeia produtiva na presente comunidade.

Em relação a quantidade de hortaliças que é perdida, a tabela 1 demostra, de forma hierárquica, a porcentagem de perdas em relação ao que é plantado e/ou semeado das principais olerícolas cultivadas pelos agricultores familiares, ou seja, como demostra a tabela 1, 80% do brócolis plantado e/ou semeando, perde-se no decorrer da cadeia produtiva.

Tabela 1. Relação das perdas das hortaliças em relação a quantidade plantado e/ou semeado.

Colocação Cultura

(Nome comum) Nome cientifico

Perdas

(%)

1° Brócolis Brassica oleracea L.

var. itálica 80

2° Cebolinha Allium schoenoprasum 80

3 Tomate Solanum lycopersicum 60

4° Hortelã Mentha piperita L. 55

5° Rúcula Eruca sativa 53

6° Espinafre Spinacia oleracea 44

7° Serralha Sonchus oleraceus L. 43

8° Beterraba Beta vulgaris, L. 38

9° Couve-flor Brassica oleracea var.

botrytis 36

10° Mandioca Manihot esculenta

Crantz 34,5

Fonte: Tabela elaborada pelo próprio autor.

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Dentre os fatores que provocam perdas de produtos agrícolas in natura destacam-se: as condições ambientais que são favoráveis ao desenvolvimento de fungos e bactérias, depreciando a qualidade das hortaliças no campo; manejo, manuseio e acondicionamento incorreto durante o fluxo de comercialização; estrutura e instalações dos equipamentos de comercialização inadequados e agrotecnologia insuficiente no campo (Almeida et al., 2012).

A elevada porcentagem de perdas demostrado na tabela 1, é um fator preocupante, que necessita

urgentemente ser estudado e tratado, devido ao impacto negativo econômico e sustentável, contribuindo, desta forma, com a insegurança alimentar.

Os fatores que ocasionam as perdas dos alimentos, segundo o relato dos produtores e as observações realizadas na propriedades são comercialização no comercio por consignação; deterioração no armazenamento; ataques de pragas e doenças; queda nas vendas; falta de planejamento; ausência de fornecedor fixo. A parcela de contribuição dos motivos citados para perda estão exposto na figura 1.

Figura 1. Principais motivos de perdas e seus respetivos valores de contribuição.

Fonte: Figura elaborada pelo autor.

A consignação é um tipo de procedimento de venda, no qual o risco é do fornecedor, onde se é pagado somente o que foi vendido, sendo o produtor, quem assume as perdas. Se tratando da comercialização de hortaliças, por serem alimentos altamente perecíveis, a reutilização na comercialização é impossibilitada. Segundo os produtores, a maior parte das sobras dos comércios é descartada no lixo. Desta forma, justifica-se a comercialização por consignação o principal fator de perdas de hortaliças.

O planejamento da produção nas lavouras compõe a segunda colocação com contribuição de 26% nas perdas das hortaliças. Apesar da grande importância da agricultura familiar no setor agro, os pequenos produtores não desempenham as funções de forma eficiente e com qualidade, ocasionando o enfraquecimento da atividade pela deficiência na gestão da propriedade. Uns dos motivos para tais fatos são devidos ao desconhecimento de informações administrativas e a resistência do produtor em se qualificar (Lourenzani et al., 2008).

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A queda nas vendas, com a cooperação de 15% no total das perdas, apesar de ser um relato bem discutido entre os produtores, está intimamente ligado com a falta de planejamento. É necessária a realização de uma pesquisa de mercado, com dados atuais, para planejar a produção conforme a necessidade do mercado. O fato de não possuir fornecedor fixo, também ocasiona prejuízos aos produtores que cultivam sem saber se conseguirão comercializar. Neste caso é necessário formalizar a comercialização para garantir as vendas e facilitar o planejamento. O armazenamento de vegetais é uma questão crítica, pois são alimentos altamente perecíveis (Pinela, 2015), necessitando de tecnologias que possuem custo alto para serem empregados, como o uso de cadeia de frio e embalagens com atmosfera modificada. Essas tecnologias não estão presentes na produção familiar da região. Desta forma, o tempo de vida útil desses alimentos associado ao armazenamento indevido contribuem na elevação do índice de perdas. No caso da comunidade estudada, a contribuição foi de 3% nas perdas. Isso deve-se ao descarte dos alimentos na consignação, ou seja, armazenamento não é tratando como alternativa pelos produtores.

As pragas e doenças são fatores que provocam perdas na agricultura, atingindo também os pequenos produtores. No entanto, as olerícolas são submetidas a tratamento fitossanitário, não sendo uma ameaça. O clima no momento ainda não favorecia o desenvolvimento e ataque de de pragas e doenças na região.

Na América Latina estima-se que as perdas desse tipo de alimento sejam particularmente importantes nas fases de produção (colheita), pós-colheita e comercialização, devido às condições de clima quente e úmido e manuseio inadequado durante a colheita, beneficiamento, transporte e comercialização (FAO, 2011). Essas perdas de alimentos afetam direta e indiretamente a segurança alimentar e a geração de renda dos produtores (Lana, 2016).

4. CONCLUSÃO

É necessário pensar em alternativas e políticas públicas para resolução dos problemas abordados no trabalho, a fim de diminuir as perdas dos alimentos na comunidade de agricultores familiares da região Sul Fluminense do estado do Rio de Janeiro. A quantidade de alimentos que se perde em relação ao que é plantando é um valor alarmante, que impacta negativamente o setor econômico, sustável, cultural e social na presente comunidade, além de contrariar as perspectivas da segurança alimentar. Desta forma, faz-se necessário estudos, acompanhamentos, fornecimento de informação e aplicação de tecnologias na produção familiar do local estudado, por parte dos órgão competentes e instituições de ensino e pesquisa da região.

5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Albuquerque, Jakson Douglas Rocha; Chaves, Francisco Cleo Maia (2016). Agricultura familiar: análise comparativa da produção de hortaliças na várzea e terra firme de Parintins, AM. Disponível em: http://tede.ufam.edu.br/handle/tede/5496

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Andriolo, Jerônimo Luiz (2017). Olericultura geral. Fundação de Apoio a Tecnologia e CienciaEditora UFSM.

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Embrapa (2016). Perdas e Desperdício de alimentos: perguntas e respostas. Disponível em: https://www.embrapa.br/tema-perdas-e-desperdicio-de-alimentos/perguntas-e-respostas

FAO (2011). Global Food Losses and Food Waste - extent, causes and prevention. Rome: FAO. Disponível em: http://www.fao.org/docrep/014/mb060e/mb060e00.pdf

Figueiras, Cristina Almeida Cunha (2017). Insegurança, Desperdício e Ajuda Alimentar na Europa do Século XXI 1. Política & Sociedade, 16 (35) 432.

Figueira, Taís Rocha, Lopes, Aline Cristine Souza; Modena, Celina Maria (2016). Barreiras e fatores promotores do consumo de frutas e hortaliças entre usuários do Programa Academia da Saúde. Rev. Nutr.29 (1).

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Lourenzani, W. L.; Pinto, L. B.; Carvalho, E. C. A.; Carmo, S. M. A. (2008). Qualificação em Gestão da Agricultura Familiar: A Experiência da Alta Paulista. Revista Ciência em Extensão. 4, 62.

Mazierio, Carolina Carpinelli Sabbag; Jaime, Patrícia Constante; Duran, Ana Clara. (2017). A influência dos locais de refeição e de aquisição de alimentos no consumo de frutas e hortaliças por adultos no município de São Paulo. Revista Brasileira de Epidemiologia, 20, 611-623.

Melo, Rosemary Barbosa; Dorow, Reney; Finoccjio, Caroline Pauletto Spanhol; Feitosa, Thiago Borges Feitosa (2017). Economias em desenvolvimento e o Consumo de Frutas e Hortaliças. Revista Semiárido De Visu, 4(3), 108-122. Paula, Márcia Maria; Oliveira, Adriana Leonidas; Silva, José Luís Gomes (2017). Promoção da saúde e produção de alimentos na agricultura familiar. Revista Interação Interdisciplinar, 1(1), 50-67, 2017.

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