avaliaÇÃo da educaÇÃo e da...
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Neyre Correia da Silva
IESDE BRASIL S/ACuritiba
2015
AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO E DA APRENDIZAGEM
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Silva, Neyre Correia da Avaliação da educação e da aprendizagem / Neyre Correia da Silva. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2015.
138 p. : il. ; 21 cm.
ISBN 978-85-387-4819-9
1. Escolas - Organização e administração. 2. Planejamento educacional. I. Título.
15-22539 CDD: 371.207CDU: 37.014.5
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Apresentação
O Guia de Estudo desta disciplina tem como objetivo contribuir para consolidar conceitual e instrumentalmente os professores e profissionais da educação com re-lação à avaliação da educação e da aprendizagem. Tema este que tem sido alvo de intensos debates e pesquisas nos contextos educacionais e escolares. Tratar de tal temática tem se revelado um grande desafio: além de imprescindível e indissociável do processo de ensino e aprendizagem, a avaliação educacional e escolar tem sido concebida, e de fato tem ocupado esse lugar, como determinante dos rumos do trabalho escolar e do planejamento e da implementação de políticas educacionais.
Assim, este Guia pretende auxiliar os profissionais da educação a constituir uma importante base teórica que os instrumentalize a fazer reflexões acerca de suas con-cepções e práticas avaliativas de modo a transformá-las e a torná-las efetivamente mais formativas e democráticas, contemplando a transformação da realidade edu-cacional brasileira, principalmente no sentido de construirmos uma escola verdadei-ramente de qualidade.
Acreditamos que este material deva suscitar muitos questionamentos, inquieta-ções, dúvidas, e mesmo angústias, que são necessárias à modificação e desenvolvi-mento de pessoas, de profissionais, da educação e das aprendizagens – os principais alvos da avaliação autenticamente inovadora e formativa.
Bons estudos!
Sobre a autora
Neyre Correia da Silva
Doutora em Educação, Mestre em Psicologia da Infância e Adolescência e gra-duada em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. Atua como pro-fessora nos Cursos de Pedagogia e Psicologia, além de ser professora pesquisadora, orientadora de projetos de iniciação científica e de trabalhos de conclusão de curso, atuando com temas relacionados à Psicologia e Educação, com ênfase em Avaliação, Autoavaliação e Autorregulação da Aprendizagem no início do Ensino Fundamental. Possui também experiência com as seguintes tematizações: Educação Especial e Educação Inclusiva, Psicologia do Desenvolvimento Infantil, da Aprendizagem e Psicologia Escolar.
Sumário
Aula 01 AVALIAÇÃO E ÉTICA 9
PARTE 01 | DO SIGNIFICADO ETIMOLÓGICO DA AVALIAÇÃO AO CONCEITO DE “VALOR” 11
PARTE 02 | A DIMENSÃO ÉTICA E POLÍTICA DA AVALIAÇÃO 15
PARTE 03 | O COMPROMISSO COM A EDUCAÇÃO E COM A APRENDIZAGEM 18
Aula 02 TRAJETÓRIA DA AVALIAÇÃO EDUCACIONAL E DA APRENDIZAGEM 23
PARTE 01 | A CONSTRUÇÃO SOCIAL E HISTÓRICA DA NECESSIDADE DE AVALIAÇÃO 25
PARTE 02 | PERÍODOS HISTÓRICOS DA AVALIAÇÃO EDUCACIONAL E DA APRENDIZAGEM 29
PARTE 03 | MODELOS E PARADIGMAS EDUCACIONAIS BRASILEIROS E AVALIAÇÃO 34
Aula 03 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE AVALIAÇÃO 39
PARTE 01 | A LDB 9.394/96 E UM NOVO MODELO DE AVALIAÇÃO 41
PARTE 02 | CONHECENDO O ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA – IDEB 45
PARTE 03 | O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E O COMPROMISSO COM A QUALIDADE EDUCACIONAL 49
Aula 04 AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA E DA EDUCAÇÃO SUPERIOR 53
PARTE 01 | REFERÊNCIAS PARA A AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL 55
PARTE 02 | COMPREENDENDO O SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA – SAEB 60
PARTE 03 | CONHECENDO O SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR – SINAES 66
Aula 05 AVALIAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE GESTÃO EDUCACIONAL 71
PARTE 01 | AVALIAÇÃO COMO ELEMENTO DO PROCESSO INSTITUCIONAL 73
PARTE 02 | AVALIAÇÃO E O PROJETO PEDAGÓGICO 78
PARTE 03 | AVALIAÇÃO DOCENTE 82
Sumário
Aula 06 A INTERDEPENDÊNCIA ENTRE A AVALIAÇÃO, O CURRÍCULO E A ESCOLA 87
PARTE 01 | A AVALIAÇÃO DO CURRÍCULO ESCOLAR 89
PARTE 02 | PLANEJAMENTO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO 94
PARTE 03 | AVALIAÇÃO E A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO 98
Aula 07 AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS 103
PARTE 01 | MODELOS E FUNÇÕES DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM 105
PARTE 02 | CRITÉRIOS E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO 110
PARTE 03 | REGISTRO E FORMAS DE COMUNICAÇÃO DOS RESULTADOS DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM 114
Aula 08 AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: METODOLOGIA, TÉCNICAS E INSTRUMENTOS 119
PARTE 01 | OBSERVAÇÃO E AUTOAVALIAÇÃO 121
PARTE 02 | PARECERES, RELATÓRIOS, FICHAS AVALIATIVAS E PORTFÓLIOS 127
PARTE 03 | REFLETINDO SOBRE AS NOTAS ESCOLARES E OS PARECERES AVALIATIVOS 133
Caracterizar os aspectos etimológicos, éticos e políticos que estão envolvidos na
temática da avaliação da educação e da aprendizagem.
AVALIAÇÃO E ÉTICA
Aula 01
Objetivo:
IESD
E BR
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AVALIAÇÃO E ÉTICAPa r t e
01
DO SIGNIFICADO ETIMOLÓGICO DA AVALIAÇÃO AO CONCEITO DE “VALOR”
A palavra “avaliação”, etimologicamente, segundo Luckesi (2006), tem sua origem no latim e provém da composição a-valere, que significa “dar, atribuir ou estimar valor a [...]”. Para o autor, a investigação do significado etimológico da pala-vra em questão permite, e é recomendável, que façamos uma distinção entre os conceitos de verificação e avaliação, que correntemente são usados como sinônimos. A palavra “verifi-car” origina-se do latim verum facere, cujo significado é “tor-nar verdadeiro”. Verificar faz menção à ação intencional de investigar se algo é verdadeiro. Coletam-se informações, pro-cede-se a análise e a síntese das mesmas e se configura o obje-to-alvo da observação. A verificação acaba no instante em que
[...] o objeto ou ato de investigação chega a ser configurado, sinteticamente, no pensamento abs-trato, isto é, no momento em que se chega à con-clusão que tal objeto ou ato possui determinada configuração. (LUCKESI, 2006, p. 92)
A avaliação, por sua vez, além de envolver as ações de co-leta, análise e síntese que configuram o objeto que está sendo avaliado, engloba a ação de atribuir um valor ou qualidade ao objeto-alvo da análise por meio de uma comparação entre a configuração desse objeto e um padrão de qualidade preesta-belecido para esse tipo de objeto, o que implica posicionar-se positiva ou negativamente frente ao que foi avaliado. Portanto, a avaliação não se encerra na constatação/configuração de um
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01dado fenômeno; ela vai além, “manifesta-se como um ato di-nâmico que qualifica e subsidia o reencaminhamento da ação, possibilitando consequências no sentido da construção dos re-sultados que se deseja.” (LUCKESI, 2006, p. 94).
O autor esclarece que em relação à aprendizagem prefere afirmar que a avaliação é a atribuição de qualidade às apren-dizagens que estão em foco, pois considera que o termo “va-lor” possui uma significação sócio-filosófico-política abrangen-te, que ultrapassa as práticas avaliativas do cotidiano escolar (LUCKESI, 2006).
De fato, valor é um conceito complexo e remete a dimen-sões bem amplas do ser humano. Para a filósofa Agnes Heller, valor é tudo aquilo que faz parte do ser genérico do homem, e que contribui para a explicação/explicitação dessa generali-dade humana. Valor é, portanto, uma categoria ontológico-so-cial, assim sendo, é “algo objetivo; mas não tem objetividade natural [...] e sim objetividade social”. É independente das avaliações dos indivíduos isolados, “mas não da atividade dos homens, pois é expressão e resultante de relações e situações sociais.” (HELLER, 1985, p. 5).
Nessa perspectiva, a história é um processo de construção dos valores ou da degenerescência e do fim de um ou outro valor. A explicitação dos valores, além de depender do decurso histórico e cultural, produz-se em esferas heterogêneas — a produção, a estrutura política, a moral, a ética, a ciência, a arte etc. —, que se desenvolvem de modo desigual: “a história
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01é a história de colisão de valores de esferas heterogêneas.” (HELLER, 1985, p. 7). Assim, em uma mesma comunidade/cul-tura, poderíamos observar a presença de valores antagônicos em função das diferentes esferas em que foram concebidos e gestados.
Portanto, a explicitação dos valores transforma e é trans-formada pela história e cultura; é social e individual; engloba todas as esferas e permeia as diversas atividades cotidianas hu-manas, e deve ser devidamente considerada em se tratando das práticas, concepções e políticas da avaliação da educação e da aprendizagem, “compreendendo que a avaliação carrega consigo a problemática sempre plural dos valores, e, então, da ética e da cultura.” (DIAS SOBRINHO, 2004, p. 705).
Extra
Para aprofundarmos o tema, sugerimos a leitura e análise do artigo Ética e prática educativa, do autor Cipriano Carlos Luckesi, disponível em: <www.luckesi.com.br/artigos_abc_educatio.htm>. Acesso em: 25 fev. 2015.
Atividade
Passe a observar no seu dia a dia que “valor” os objetos, as pessoas e as situações têm para você. Reflita sobre como cons-truiu o valor de algo ou alguém na sua vida. Observe se existem objetos ou situações que aprendeu a valorizar (ou o contrário) e que, se for dimensionar o “real valor” daquilo, encontrará dú-vidas para justificar tamanha valorização (ou desvalorização).
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Referências DIAS SOBRINHO, José. Avaliação ética e política em função da educação como direito público ou como mercadoria? Educação & Sociedade, Campinas, v. 25, n. 88, p. 703-725, Especial, out. 2004. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302004000300004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 25 fev. 2015.
HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. 2. ed. Rio Janeiro: Paz e Terra, 1985.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 18. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
Resolução da atividade
Provalvente, notará que não possui clareza sobre como foi construindo o significado/o valor que determinados obje-tos, pessoas e situações possuem na sua vida. Observará que aprendeu a valorizar objetos, pessoas e situações com base na apropriação de valores que foram construídos social e cultural-mente no grupo social a que pertence. Notadamente, talvez se dê conta de que existem objetos e/ou eventos que considera-va “valiosos”, relevantes, mas, refletindo a respeito, acabou percebendo que não eram tão valiosos assim, principalmente aqueles itens que aprendeu a valorizar em função da moda, das divulgações midiáticas etc.
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A DIMENSÃO ÉTICA E POLÍTICA DA AVALIAÇÃO
A avaliação é atravessada e configurada pelas dimensões da ética e da política, que se interpenetram mutuamente, for-mando um fenômeno único e que não pode ser reduzido a esse ou àquele aspecto (VILLAS BOAS, 2006). No entanto, para me-lhor compreendermos as questões que encerram essa temática, trataremos primeiro do conceito de ética e de política, para, em seguida, abordarmos a impossibilidade da separação dessas duas dimensões na avaliação da educação e da aprendizagem.
Inicialmente, torna-se relevante fazer a distinção entre mo-ral e ética, que, embora vinculadas, se referem a compreen-sões diferentes da realidade. Segundo Moretto (2007), esses con-ceitos têm em sua origem etimológica um elemento comum: o termo “moral” é proveniente do latim mos/moris, que significa costumes, e a palavra “ética”, originada do grego ethos, tam-bém pode significar costumes. Villas Boas (2006) esclarece que a moral corresponde ao ethos cultural, ao espaço da cultura, do mundo transformado pelo homem (que transcende a natureza); por meio do ethos engendram-se os valores. Assim, “valorizar” é relacionar-se com o mundo, atribuindo-lhe significação.
A ética não deve ser confundida com o conjunto de normas, regras e leis que orienta as ações e relações sociais (o código moral); ela é a reflexão crítica sobre o ethos, sobre as normas, é análise das consequências dos nossos atos e da qualidade de vida social que almejamos (MORETTO, 2007).
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02Já a política refere-se ao trânsito pelos caminhos do poder,
do comprometer-se com um sentido da vida, com os interesses de um determinado grupo/classe social. Para Saviani (2009, p. 79), toda a prática educativa (incluindo a avaliação) “contém inevitavelmente uma dimensão política”, e a importância po-lítica da educação, de acordo com o autor, está justamente na sua função de socialização do conhecimento.
Não dissociar essas duas dimensões, ética e política, é im-portante para que se compreenda a avaliação como um ato po-lítico-ético, na medida em que toda e qualquer avaliação tem consequências para os seres humanos envolvidos. Portanto, é necessário analisar comprometida, crítica e responsavelmente a repercussão da avaliação adotada na história escolar e de vida de todas as pessoas participantes do processo (educandos, pro-fessor, família, comunidade escolar). “Toda equipe pedagógica da escola deve pensar continuamente sobre a seguinte questão: quem é beneficiado e quem pode ser prejudicado com a avalia-ção praticada?” (VILLAS BOAS, 2006, p. 90).
Também podemos acrescentar as seguintes questões, cujas respostas explicitam claramente a dimensão política e ética da avaliação: a avalição adotada está a serviço de quem ou de quais interesses? De que forma ela colabora para a qualidade da educação e das aprendizagens em jogo, e para a qualidade de vida de todos os envolvidos?
Extra
Com a finalidade de se entrosar com a temática em questão, recomendamos o artigo Avaliação ética e política em função da
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02educação como direito público ou como mercadoria?, de José Dias Sobrinho, disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script =sci_arttext&pid=S0101-73302004000300004&lng=pt&nrm=i-so>. Acesso em: 25 fev. 2015
Atividade
Descreva situações em que você questionou os critérios de avaliação utilizados em uma prova, em um exame ou em um teste seletivo. E considere em que exatamente, do ponto de vista ético e político, os critérios eram questionáveis.
Referências MORETTO, Vasco. Avaliação e ética: Um binômio necessário na relação entre professor e aluno. In: MELO, Marcos Muniz (Org.). Avaliação na educação. Pinhais, PR: Melo, 2007, p. 229-236.
SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre a educação política. 41. ed. revista. Campinas: Autores Associados, 2009.
VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Portfólio, avaliação e trabalho pedagógico. 3. ed. Campinas: Papirus, 2006.
Resolução da atividade
É provavel que você descreva situações em que não tenha concordado com a forma como a prova/teste/exame foi aplica-do e/ou corrigido. Considerou os critérios utilizados arbitrários e unilaterais, portanto antiéticos e politicamente tendencio-sos. Essas situações, não tão incomuns, ressaltam a importância da reflexão acerca da dimensão ética e política da avaliação.
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O COMPROMISSO COM A EDUCAÇÃO E COM A APRENDIZAGEM
Em uma perspectiva mais contemporânea, a avaliação não pode ser definida como um instrumento que auxilia o proces-so de ensino/aprendizagem, mas sim que é indivisível deste. Consequentemente, a avaliação é aprendizagem, é parte inte-grante (inseparável) da prática pedagógica (do professor) e da prática do aluno, além de incluir todos os componentes desse processo (gestão e comunidade escolar). “Trata-se de uma ava-liação, portanto, que seria mediada pelo processo de ensino/aprendizagem e mediadora deste.” (FIDALGO, 2006, p. 24).
Concebida dessa forma, a avaliação está irremediavel-mente comprometida com sua finalidade última, e qual seria? A universalização do saber produzido historicamente, de modo que todas as pessoas dele se apropriem, principalmente aque-las que enfrentam obstáculos ao seu acesso. Isto, segundo Paro (2001), implica a assunção de um compromisso, de uma posição política (e ética), que pressupõe a adoção de alguns princípios/valores: a defesa/luta pela participação de todos os integrantes nas tomadas de decisão (na escola e no que se refere ao ensino/aprendizagem); e a (auto)reflexão e o posicionamento crítico no que concerne a posturas inadequadas, desrespeitosas, para com o outro, parceiro nos/dos processos educacionais e de en-sino/aprendizagem (VILLAS BOAS, 2006).
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03Este último item poderia ser exemplificado, de forma
vasta, por meio do relato de inúmeras cenas que acontecem, infelizmente, no nosso cotidiano escolar, nas quais emergem comentários e atitudes desrespeitosas, com base no que Villas Boas (2006) chama de avaliação informal, e que negam ao outro o direito à aprendizagem. É como Freire (2004, p. 60) afirma: “o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, [...] que se furta ao dever [...] de estar respeitosamente presente à experiência formadora do educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência.”
Villas Boas (2006) ressalta que uma avaliação descompro-metida com a aprendizagem — com a qualidade da aprendiza-gem — de cada educando, pode ter repercussões catastróficas:
a. corrobora para a construção de uma autoimagem ne-gativa, especialmente por parte de crianças que prin-cipiam o processo de escolarização;
b. ocasiona reprovações e repetências, estendendo por mais anos os estudos;
c. contribui para a busca de escolas, turnos ou cursos de baixa qualidade; e
d. força a evasão escolar.
Todas essas consequências representam fracasso na vida de uma pessoa, e possivelmente do seu entorno, que dificilmente podem ser revertidas e ressignificadas.
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Extras
Para comprender a importância da educação e da avalia-ção escolar, como integrante plena dos processos de ensino e aprendizagem, e para a análise do compromisso que a avaliação deve assumir com a qualidade da aprendizagem de cada edu-cando, sugerimos que assista ao documentário Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim, disponível em: <www.youtube.com/wat-ch?v=g5W7mfOvqmU>. Acesso em: 25 fev. 2015.
Atividade
Argumente sobre as razões para afirmarmos que a ava-liação tem um compromisso indiscutível com a educação e aprendizagem.
Referências FIDALGO, Sueli Salles. Avaliação na escola: um histórico de exclusão social-escolar ou uma proposta sociocultural para a inclusão? Revista Brasileira de Linguística Aplicada, Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p. 15-31, 2006. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S1984-63982006000200002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso: 17 fev. 2015.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 30. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004.
PARO, Vitor Henrique Gestão democrática da escola pública. 3. ed. São Paulo: Ática, 2001.
VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Portfólio, avaliação e trabalho pedagógico. 3. ed. Campinas: Papirus, 2006.
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Resolução da atividade
Uma das principais razões que justificam o compromisso da avaliação com a educação e com a aprendizagem diz res-peito à inseparabilidade da avaliação da educação e dos pro-cessos de ensino/aprendizagem. Como tal, a avaliação tem o compromisso de asseverar, fortalecer, enriquecer, desenvolver, complementar e prescrever caminhos para uma satisfatória e bem qualificada aprendizagem de cada aluno.
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