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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE Avaliação da Aprendizagem Conceitual VANIZE APARECIDA MISAEL DE ANDRADE VIEIRA MARINGÁ 2008

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

Avaliação da Aprendizagem Conceitual

VANIZE APARECIDA MISAEL DE ANDRADE VIEIRA

MARINGÁ2008

VANIZE APARECIDA MISAEL DE ANDRADE VIEIRA

Unidade Didática apresentada por Vanize Aparecida Misael de Andrade Vieira à SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO como parte dos quesitos do Programa de Desenvolvimento Educacional-2008.

Orientador(a):Prof ª. Dr ª. Marta Sueli de Faria Sforni

MARINGÁ2008

SUMÁRIO

2

Introdução __________________________________________04

1. Afinal, o que é aprender? ____________________________ 13

1.1. Leontiev e os objetivos de sua investigação __________15

1.2.Relação entre trabalho e desenvolvimento ____________16

1.3. Instrumentos físicos e simbólicos ___________________19

2. Apropriação e objetivação _____________________________25

3. A avaliação da aprendizagem e a formação de conceitos_____36

3

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM CONCEITUAL

INTRODUÇÃO

Por que discutir avaliação novamente? O que mais precisa ser dito sobre

a prática avaliativa? As discussões realizadas até o momento não foram

suficientes para que a prática avaliativa realmente se efetivasse como

instrumento a favor da aprendizagem dos alunos? A avaliação da

aprendizagem continua sendo um tema relevante?

Muitas vezes, em ambiente escolar, nos parece que as discussões sobre

a avaliação já se esgotaram, que tudo o que era para ser dito já foi citado e

exaustivamente discutido, no entanto, muitas dúvidas cercam sua prática.

A idéia de que as discussões acerca da avaliação já se esgotaram está

pautada na quantidade de pesquisas, livros, cursos, seminários, grupos de

estudos que têm a prática avaliativa como foco. No entanto, mesmo sendo

freqüentes as discussões sobre o referido tema, ainda percebemos uma certa

inquietação dos professores ao falar e mesmo realizar a prática avaliativa em

contexto escolar. Parece-nos que falta algo, uma espécie de lacuna e muitas

vezes não conseguimos identificar claramente do que se trata.

Também não podemos deixar de apontar que, embora a avaliação da

aprendizagem tenha sido objeto de estudo de muitos educadores e tema de

palestras e estudos, em contexto escolar, ainda são comuns opiniões

divergentes sobre o tema, sendo que, ora a avaliação é vista como um mero

mecanismo disciplinador, seletivo e excludente, ora a prática avaliativa é tida

como um importante instrumento que pode contribuir para os processos de

ensino e aprendizagem.

Até o momento apontamos aqui algumas questões importantes sobre a

avaliação da aprendizagem:

4

Ao levantar essas questões, podemos, então, afirmar que a prática

avaliativa continua sendo um assunto polêmico e, portanto, é relevante discuti-

la numa tentativa de concretizar a avaliação da aprendizagem como

instrumento que auxilia o professor a acompanhar a aprendizagem do aluno,

apontando o que foi aprendido e o que é ainda necessário o aluno aprender.

Consideramos que nessa perspectiva a avaliação da aprendizagem apresenta

ao professor importantes elementos que permitem repensar a sua prática,

contribuindo para uma posterior mudança da ação docente. Essa postura

difere, sem dúvida, da concepção de avaliação que objetiva o registro de dados

quantitativos ou a busca de provas que evidenciam a capacidade intelectual do

aluno (VIEIRA, et al, 2001).

A idéia de romper com a prática da avaliação seletiva e excludente,

utilizada como instrumento disciplinador foi defendida por teóricos Luckesi

(1983, 1998, 2003); Hoffman (1993, 1995, 2001); Saul (1988, 1994); Sousa

(1995); Freitas (1991, 2002, 2003, 2004) entre outros. Esses teóricos atribuem

a essa prática um inquestionável valor no processo de ensino e aprendizagem

quando utilizada para acompanhar a aprendizagem dos alunos.

De diferentes formas, esses teóricos defendem que a avaliação da

aprendizagem é de fundamental importância para o professor acompanhar a

aprendizagem e o desenvolvimento dos estudantes, bem como, de que sua

prática não deve estar restrita a classificação e aprovação dos alunos para a

Trata-se de:

tema amplamente discutido tanto em contexto escolar como em

palestras, grupo de estudos, seminários e outros eventos;

há opiniões divergentes sobre o assunto, sendo a avaliação ora tida

como mecanismo de disciplina e exclusão, ora como instrumento

que auxilia no processo de ensino e aprendizagem;

muitas dúvidas ainda cercam sua prática.

5

série subseqüente. Luckesi faz severas críticas ao modelo de avaliação

classificatório e seletivo de avaliação:

O professor utiliza-se da avaliação para classificar o aluno e não para verificar o seu estado momentâneo de aprendizagem tendo em vista o atendimento de um objetivo proposto. O educando é classificado em ‘inferior’, ‘médio’ ou ‘superior’ quanto a sua aprendizagem e aí permanece, mesmo que modifique para melhor a sua ‘performance’. E, mais, se for avaliado por duas ou três vezes não se verifica o crescimento. O que se faz é traduzir a ‘performance‘ em quantidade de tal forma que essas quantidades possam ser somadas e divididas, de tal maneira que o valor da conduta anterior pode ser determinante sobre o valor da conduta atual (LUCKESI, 1983, p. 50 - Itálico do autor).

De acordo com os teóricos que discutem a avaliação da aprendizagem,

essa forma de conduzir a prática avaliativa não está em consonância com a

aprendizagem de conteúdos dos alunos, e tem como objetivo classificar o

aluno, bem como, representa o controle dos professores sobre seus alunos.

As críticas ao modelo excludente, classificatório e autoritário da

avaliação foram amplamente discutidas em contexto escolar e em eventos

educacionais. No quadro a seguir, apresentaremos uma síntese do conteúdo

dessa discussão.

Essas práticas avaliativas foram severamente criticadas, principalmente

a partir de 1980, devido ao processo de abertura política e democratização da

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

CLASSIFICATÓRIA EXCLUDENTE AUTORITÁRIA SELETIVA

6

sociedade brasileira. Nesse período, as discussões sobre a escola e suas

características ganham força e a avaliação da aprendizagem praticada nas

escolas é denunciada como um elemento que contribui decisivamente para as

altas taxas de evasão e repetência. Essa prática dificultaria o processo de

democratização da escola, pois constitui-se em um obstáculo à permanência

de todos na escola.

Dessas críticas, surgiram propostas de uma prática avaliativa que

pudesse auxiliar no processo de ensino e aprendizagem revertendo o quadro

de repetência e evasão e contribuindo para a qualidade do aprendizado e para

o acesso e permanência de todos na escola.

Vejamos no quadro abaixo uma síntese dessas propostas:

PROPOSTA DE AVALIAÇÃO CONTEÚDO

Avaliação diagnóstica

Avaliação realizada com o objetivo de

investigar o que o aluno aprendeu e,

dessa forma, redirecionar a prática de

ensino tendo em vista os objetivos

propostos.

Avaliação contínua

Avaliação que visa a acompanhar o

processo de aprendizagem do aluno,

rompendo com uma prática em que a

avaliação ocorre somente em um período

delimitado, geralmente no final do

bimestre ou ano letivo. Dessa forma, a

avaliação deve estar integrada às

atividades do cotidiano escolar,

acompanhando diferentes manifestações

dos alunos em situações de

aprendizagem.

Avaliação formativa

A avaliação pode ter um papel muito

importante no processo de aprendizagem,

quando mais do que medir o desempenho

na prova, mostra como os alunos atuam

durante a aprendizagem, permitindo uma

reorientação da ação pedagógica. Nesse

sentido, o erro é uma pista importante

7

para o professor e o aluno sobre como

aprender melhor, quais são as dificuldades

e o que pode ser mudado na prática

educativa.

Sabemos que tanto as críticas como as propostas dos teóricos da

educação tiveram grande repercussão em contexto escolar e sem dúvida

chegaram aos professores. Para confirmar essa afirmativa, basta indagar os

professores acerca da avaliação que realizam e certamente ouviremos que a

“a avaliação deve ser contínua”; “ a avaliação serve como parâmetro para o

professor retomar o conteúdo não aprendido”; ”tudo que o aluno faz deve ser

avaliado;” a avaliação não pode limitar-se a um único momento” .

Como vimos, tanto as críticas como as propostas de uma avaliação

democrática foram aceitas pelos educadores e passaram a ser incorporadas

em seus discursos. Quando afirmamos que a avaliação deve ser contínua,

diagnóstica, formativa, servir como instrumento de orientação no processo de

ensino e aprendizagem estamos nos referindo aos procedimentos da

avaliação, a sua forma, certamente um aspecto importante da avaliação. Mas,

afirmar que a avaliação deve ser processual, diagnóstica e contínua é

suficiente para explicitar o que e como avaliar a aprendizagem dos conteúdos

ensinados?

Consideramos que a busca por uma avaliação da aprendizagem

contínua, processual e mais democrática foi de extrema importância para a

prática pedagógica, à medida que os professores refletiram acerca de sua ação

e buscaram alternativas para uma prática avaliativa que auxiliasse no processo

de ensino e aprendizagem.

Mais ainda, quando avaliamos a aprendizagem dos estudantes podemos

nos deter somente na forma de avaliar? E o conteúdo da avaliação? Qual

conteúdo deve ser avaliado?Não seria de extrema importância voltar nosso

olhar também para o que é importante avaliar?

Ao defender os procedimentos ideais de uma prática avaliativa

democrática, sem um olhar atento ao que de fato o aluno aprendeu, corremos o

risco de perder os parâmetros para avaliar os conteúdos específicos e

8

necessários de cada área do conhecimento. Assim, afirmamos que avaliamos

de forma contínua e processual sem, no entanto, explicitar o que identificamos

de avanços na aprendizagem dos alunos.

A ênfase nos aspectos de “como avaliar” em detrimento de “o que

avaliar” foi identificada pelos examinadores de projetos enviados para um

concurso divulgado por uma revista de grande receptividade junto aos

professores da educação básica em todo o país, a “Revista Nova Escola”. 1

De acordo com os examinadores, os projetos enviados para o concurso

não apresentam indicadores de avaliação e apontam como sendo essa uma

das principais falhas em todas as áreas. Para o selecionador dos projetos da

área de Educação Física, dizer que se faz uma avaliação processual e

contínua não é suficiente para explicitar o que e como os estudantes

aprenderam. Para ele, ”Apesar de muitos professores apresentarem boa

referência teórica, eles não demonstram saber em que a turma avançou ou de

que forma se avaliam os avanços em determinado conteúdo” (d’Ângelo,2008,

p.89).

Na perspectiva que muito se tem discutido sobre a forma de avaliar e

pouco ou quase nada se tem discutido sobre o que avaliar, consideramos

fundamental avançar nas discussões até agora realizadas e nos direcionarmos

para uma reflexão sobre o conteúdo da avaliação da aprendizagem. Certos de

que, na condição de educadores, precisamos de subsídios teóricos que nos

auxiliem nessa prática.

Para isso, consideramos necessário compreender o que é aprender um

conceito, tendo em vista que essa compreensão pode nos auxiliar na prática

avaliativa, à medida que teremos subsídios teóricos que nos permitam

identificar como o aluno expressa um conteúdo aprendido.

1 O concurso é uma iniciativa da Fundação Victor Civita e é aberta a professores em exercício nas redes pública e privada, escolas comunitárias ou filantrópicas de acesso público, de educação infantil, de 1ª à 8ª série do ensino fundamental, urbanas ou rurais de todo o território nacional. De acordo com o regulamento, o concurso “visa a identificar, valorizar e divulgar experiências educativas de qualidade e executadas por professores em escolas de ensino regular”.

9

Dessa forma, consideramos primordial para o avanço das discussões

para além da forma de avaliação, recorrer às produções sobre a apropriação

de conceitos, já que essa é a função primeira da escola e a avaliação é a

maneira pela qual o professor verifica se houve ou não a apropriação dos

conteúdos esperada.

O que se espera é que ao atrelarmos a avaliação da aprendizagem aos

princípios teóricos da formação de conceitos, tenhamos elementos teóricos e

práticos para uma avaliação específica de conteúdos aprendidos. Ou seja,

pautados em princípios da psicologia da aprendizagem e desenvolvimento,

possamos identificar com mais clareza o que de fato o aluno aprendeu, para,

dessa forma, direcionarmos nossa prática pedagógica, tendo em vista o que

precisa ser aprendido pelo aluno.

REFERÊNCIAS

D’ANGELO, Fábio. Amostra do Brasil. In: Revista Nova Escola. Rio de

Janeiro: Abril, n. 215, setembro. 2008.

FREITAS, Luiz Carlos de. A dialética da eliminação no processo seletivo.

Educação & Sociedade, n.39, v.12, 1991.

FREITAS, Luiz Carlos de. A internalização da exclusão. Educação &

Sociedade, n. 80, v. 23, 2002.

FREITAS, Luiz Carlos de. Ciclos, seriação e avaliação: confrontos de

lógicas. São Paulo: Moderna, 2003.

FREITAS, Luiz Carlos de. A avaliação e as reformas dos anos de 1990:

novas formas de exclusão, velhas formas de subordinação. Educação &

sociedade, n. 86, v. 25, 2004.

HOFFMAN, Jussara. Avaliação mediadora: uma prática em construção da

pré-escola à universidade. Porto Alegre: Educação & Realidade, 1993.

10

HOFFMAN, Jussara. Avaliação: mito e desafio: uma perspectiva

construtivista. 16.ed. Porto Alegre: Educação & Realidade, 1995.

HOFFMAN, Jussara Avaliar para promover: as setas do caminho. 7.ed.

Porto Alegre: Mediação, 2001.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Equívocos teóricos na prática educativa. Série

Estudos e Pesquisas. 2.ed. n.27.Rio de Janeiro: ABT, 1983.

LUCKESI, Cipriano Carlos, Avaliação da aprendizagem escolar. 7. ed. São

Paulo: Cortez, 1998.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem na escola:

reelaborando conceitos e recriando a prática. Salvador: Malabares

Comunicação e Eventos, 2003.

SAUL, Ana Maria. Avaliação emancipatória: desafios à teoria e à prática de

avaliação e reformação de currículo. 4.ed. São Paulo: Cortez: Autores

Associados,1994.

SAUL, Ana Maria. A avaliação educacional. Séries Idéias n. 22, São Paulo:

FDE, 1998.

SOUSA. Clarilza Prado de. Avaliação do rendimento escolar sedimentação de

significados. In: SOUSA, Clarilza Prado de. et al Avaliação do rendimento

escolar (org) – 4.ed. Campinas, S.P.: Papirus,1995.

VIEIRA, Vanize A. M. de Andrade. Et al. Avaliação e planejamento em

diferentes áreas do conhecimento, como suporte para a coordenação

pedagogia. In SEMINÁRIO INTERNACIONAL, 2001, Cianorte. Anais do “I

Seminário Internacional de Educação”. Cianorte {s.n.}, 2001.

11

VIEIRA, Vanize A. M. de Andrade. Avaliação da aprendizagem conceitual:

concepções, práticas e perspectivas. Dissertação de Mestrado: Universidade

Estadual de Maringá, 2008.

UNIDADE I

À primeira vista, essa questão parece óbvia. Como nós, educadores,

podemos não saber o que seja aprender? Lidamos com essa questão

cotidianamente, afinal, nosso ofício está intimamente ligado ao aprender.

Espera-se que ao ensinar, nossos alunos aprendam. As avaliações nos servem

para sabermos o que o aluno aprendeu.

AFINAL, O QUE É APRENDER?

12

Muitas teorias explicam como ocorre o processo de aprendizagem e sua relação com o desenvolvimento cognitivo. A Teoria Histórico-Cultural defende a idéia que o homem desenvolve-se, em parte, devido a suas funções biológicas, mas enquanto espécie humana é o aprendizado que impulsiona o desenvolvimento.

Mas, como o aluno demonstra que aprendeu o

conteúdo?

Não nos parece tão simples assim.....

Vejamos, estamos falando de aprender, mais especificamente como o

aluno pode demonstrar que aprendeu um conteúdo.

Quais conhecimentos podem nos auxiliar nessa compreensão?

Consideramos que ao compreender como o estudante aprende podemos ter

subsídios para analisar de maneira criteriosa a aprendizagem do aluno. Nesse

caso, as teorias que tratam da aprendizagem e do desenvolvimento cognitivo

podem fornecer elementos que nos auxiliam no reconhecimento do que seja

aprender e como o estudante pode demonstrar que aprendeu.

Optamos por buscar essas explicações na Teoria Histórico-Cultural, por

considerarmos que essa perspectiva teórica tem um forte vínculo com as

13

Quando responde todas as questões da prova?

Quando participa ativamente da aula demonstrando interesse pelo

conteúdo estudado?

Quando consegue descrever os fatos, os acontecimentos, o

processo, enfim todo o conteúdo ensinado pelo professor?

ara os teóricos da abordagem Histórico-Cultural, para que o ensino

realmente impulsione o desenvolvimento psicointelectual das

crianças é necessário que esse ensino oferecido dirija a atividade

dos estudantes para o domínio do saber e da cultura da humanidade,

desenvolvendo, assim, o pensamento dos alunos, a sua capacidade

de analisar e generalizar os fenômenos da realidade.

questões educacionais, pois, à medida que concebe a aprendizagem como

promotora do desenvolvimento, atribui à escola e ao bom ensino um papel

imprescindível ao desenvolvimento mental da criança.

Recorremos a algumas produções de autores dessa linha teórica, mais

especificamente a Lev S. Vygotky e Alexis N. Leontiev, buscando subsídios

teóricos que possibilitem a reflexão acerca da formação de conceitos,

procurando depreender dessa discussão a compreensão de como o aluno

apropria-se dos conceitos ensinados pelo professor.

Essa compreensão é necessária, pois, à medida que compreendemos

como o aluno apropria-se dos conteúdos escolares, teremos mais elementos

para compreender como o estudante pode demonstrar que aprendeu, bem

como pode servir de guia para buscar caminhos a fim de direcionar nossa

prática pedagógica, tendo em vista os objetivos estabelecidos.

Iniciaremos com as contribuições de Leontiev sobre a apropriação de

conceitos. Para isso, apresentaremos alguns aspectos importantes das

teorizações desse autor, estabelecendo a seguinte seqüência:

14

Pautado nos pressupostos do materialismo dialético esse grupo de teóricos russos considera o homem como sujeito ativo e entende que nas interações que ele estabelece com o meio e com outros homens desenvolvem-se suas funções psicológica superiores (memória, atenção voluntária, imaginação, raciocínio, abstração) (VIEIRA, 2008).

• objetivos das investigações elaboradas por Leontiev;

• relação entre trabalho e desenvolvimento humano;

• instrumentos físicos e simbólicos;

• conhecimento historicamente acumulado e conteúdo

escolar.

Leontiev e os objetivos de sua investigação

Aléxis N. Leontiev foi uns dos colaboradores mais próximos de Vygotsky

que junto a Luria fazia parte de um grupo de jovens intelectuais da Rússia, pós-

Revolução e que tinha como objetivo a investigação referente ao

desenvolvimento e à natureza humana, pautando-se no materialismo dialético.

Esses teóricos buscaram estabelecer a relação entre trabalho e o

desenvolvimento da consciência humana, e assim, compreender como o

trabalho influenciou a maneira de pensar, sentir e agir dos homens em geral e

de cada sujeito em particular. É o que apresentaremos a seguir.

15

RELAÇÃO ENTRE TRABALHO E DESENVOLVIMENTO

Pautado nos pressupostos do materialismo histórico, Leontiev toma como

referência principalmente a produção de Engels (Engels, 1984) para explicar o

surgimento da consciência humana.

Com base nesses pressupostos, Leontiev considera que a natureza

proporciona os materiais necessários à sobrevivência dos homens, mas, no

entanto, o homem, ao utilizar esses materiais, modifica a natureza e também se

modifica.

A produção de Engels oferece elementos significativos

para a compreensão do caráter histórico do

desenvolvimento humano. De acordo com Engels, o

elemento desencadeador da consciência humana e do

próprio processo de humanização foi o trabalho. Com

base na análise das primeiras formas de interação do

homem primitivo com a natureza, Engels vai

demonstrando que o trabalho é o elemento desencadeador do processo de

hominização, como podemos verificar quando afirma que:

Toda riqueza provém do trabalho, asseguram os economistas. E assim o é na realidade: a natureza proporciona os materiais que o trabalho transforma em riqueza. Mas o trabalho é muito mais até afirmar que, sob determinado aspecto, o trabalho criou o próprio homem (ENGELS, 1984, p. 9).

Essa idéia fica clara quando nos remetemos há centenas de anos e

constatamos as transformações ocorridas com nossos antepassados.

Percebemos uma relação direta entre a atividade laborativa e o

desenvolvimento da consciência e que podem ser evidenciadas mediante

algumas modificações na própria estrutura anátoma-fisiológica do homem,

como também alterações na estrutura do cérebro, nos órgão dos sentidos e nos

órgão da atividade externa (LEONTIEV, 1978).

16

Leontiev define trabalho: “O trabalho é um processo que liga o homem à natureza, o processo de acção do homem sobre a natureza (LEONTIEV, 1978, p. 74).

Como ocorre o processo de desenvolvimento do

homem?

Qual a relação entre esse desenvolvimento e o

trabalho?

Nossos antepassados, em certo período da história da humanidade, não

utilizavam nenhum instrumento para pescar, pescavam usando apenas as

mãos. Nesse período, o fator fundamental para a pesca era a força.

Paulatinamente, os homens foram criando instrumentos para facilitar essa

pesca. Inicialmente, utilizaram pedras, posteriormente, um galho com a ponta

afinada servia como uma lança e ainda mais tarde, criaram a rede.

Nesse processo de criação foram

necessários movimentos mais

delicados e precisos, tanto para a

própria criação, como para a

utilização desse instrumento e,

dessa forma, a mão foi adquirindo

cada vez mais “[...] destreza e

habilidade, qualidades que iriam

se transferir por hereditariedade e

aumentar a cada geração”

(ENGELS, 1984, p.11).

Ao utilizar os recursos disponíveis na natureza, criando novos

instrumentos para satisfazer suas necessidades, o homem também modifica

sua forma de pensar e agir, ou seja, o trabalho não é responsável somente

pelas modificações físicas do homem que foram ocorrendo ao longo dos anos,

mas também pelas modificações psíquicas.

Leontiev confirma essa afirmação quando destaca que o cérebro humano

é quatro vezes mais pesado e que sua estrutura é bem mais complexa e

evoluída que o cérebro símio. O referido autor ainda destaca que as áreas

17

Anderson- Figura 01

corticais que foram se desenvolvendo em nossos antepassados atingem seu

pleno desenvolvimento no homem atual (LEONTIEV, 1978).

Também os órgão dos sentidos foram aperfeiçoados pelo trabalho, como

a capacidade olfativa que ficou bem mais acentuada ante a estimulação da

variedade de elementos oferecidos ao homem, assim como a audição que se

tornou mais sensível às diferenças e semelhanças entre os sons da linguagem

do homem (VIEIRA, 2008).

Cabe aqui perguntar:

Por que apresentar a relação entre trabalho e desenvolvimento humano

quando estamos discutindo o que é aprender?

No decurso do desenvolvimento histórico da sociedade, os homens

criaram instrumentos físicos e simbólicos para satisfazer suas necessidades. O

uso e fabrico desses instrumentos contribuíram de forma decisiva para o

desenvolvimento humano.

A compreensão desse processo é essencial para responder a essa

questão.

odemos, então, concluir que o trabalho foi o

elemento principal no processo de

desenvolvimento humano, modificando as

capacidades motoras e os órgãos dos sentidos,

sendo que essas modificações possibilitaram

também mudanças na estrutura do cérebro

humano.

18

Instrumentos físicos e simbólicos

Para Leontiev, ao nascer, o homem não se diferencia de seus

antepassados mais longínquos, ou seja, ele nasce com todas as funções

psíquicas elementares, mas as características tipicamente humanas

desenvolvem-se durante a vida do indivíduo, mediante a interação do homem

com o meio cultural.

Esse fato pode ser verificado em situações nas quais, por motivos

diversos, crianças deixadas em ambientes selvagens são “criadas por animais”.

Quando encontradas, essas crianças não apresentam comportamento humano,

geralmente andam com o apoio das mãos, não falam, seus hábitos alimentares

são iguais ao do grupo com o qual conviveram, não expressam sentimentos

como riso e choro.

19

m exemplo típico é o das “Meninas Lobo”, encontradas em 1920,

em uma caverna na Índia. Elas tinham idade entre dois e oito

anos, andavam com o apoio das mãos, não falavam, não

demonstravam sentimentos, uivavam para a lua e sua visão era

melhor à noite do que de dia. Outro exemplo é conhecido como

“Menino Selvagem de Aveyron”, encontrado em setembro de

1799 perto de uma floresta de Aveyron, no sul da França. O

menino tinha cerca de doze anos, não falava e andava de quatro.

Isso quer dizer que não basta simplesmente nascer da espécie humana

para adquirir as características conhecidas por nós como tipicamente humanas.

Como os homens adquirem em poucos anos, as características

humanas próprias da sua espécie e que levaram milhões de anos para

serem construídas?

Agora podemos retornar à pergunta feita anteriormente: Por que

apresentar a relação entre trabalho e desenvolvimento humano quando

estamos discutindo o que é aprender?

ara os teóricos assentados na abordagem Histórico-Cultural os

instrumentos criados pelos homens ao longo dos tempos são

portadores dos conhecimentos construídos pela humanidade.

Ao se apropriarem desses instrumentos, as gerações futuras

apropriam-se dos conhecimentos neles presentes.

INSTRUMENTOS

FÍSICOS SIMBÓLICOS

20

Os instrumentos físicos são objetos externos aos indivíduos, como a

moenda, o machado, a lança, os diferentes utensílios criados pelos homens

para satisfazer suas necessidades e facilitar a sua vida e a sua atuação sobre a

natureza.

Obviamente estamos citando os instrumentos elementares criados pelo

homem, mas essa criação está em processo contínuo, por isso, no nosso dia-a-

dia, podemos contar com uma enorme quantidade de instrumentos como o

computador, a televisão, o microfone, telefone, talheres, e tantos outros.

Diferentemente dos instrumentos físicos que são materiais, os

instrumentos simbólicos são os fenômenos objetivos ideais criados pelo

Vasilha

Possibilita o armazenamento de água ou

alimento

Moenda

É utilizado pelo homem para moer cereais

com rapidez e menos força.

21

COSTA, Helena, M. da.Figura 02.

GERONAZZO, Cláudia Q. – Figura 03.

homem, como a língua, os conceitos, as idéias, enfim, são os conhecimentos

produzidos pelo homem nas diferentes áreas científicas e artísticas.

Mas, assim como a criação dos instrumentos físicos, o conhecimento

humano é um processo contínuo. Para evidenciar esse fato, basta acompanhar

os avanços da ciência, da astronomia, da engenharia nuclear e genética dentre

outras e compará-los aos conhecimentos de apenas vinte anos atrás.

Para Leontiev, o processo contínuo de criação humana, passado de

geração a geração, garante o desenvolvimento da humanidade:

O indivíduo é colocado diante de uma imensidade de riquezas acumuladas ao longo dos séculos por inumeráveis gerações de homens, os únicos seres, no nosso planeta, que são criadores. Às gerações humanas morrem e sucedem-se, mas aquilo que criaram passa às gerações seguintes que multiplicam e aperfeiçoam pelo trabalho e pela luta as riquezas que lhes

22

mbora distintos, instrumentos físicos e simbólicos estão ligados

entre si. Foram, aqui, explicados separadamente, apenas para

fins didáticos.

Pensemos assim, quando nossos antepassados criaram, por

exemplo, o machado, instrumento físico, nele estava também a

idéia o pensamento do homem que o criou, estava nesse

instrumento material a função, o modo de uso, sua utilidade, ou

seja, instrumentos físicos e simbólicos não estão dissociados.

foram transmitidas e ‘passa o testemunho’ do desenvolvimento da humanidade (LEONTIEV, 1978, p. 267).

Mas não basta o contato direto do indivíduo com os objetos e com os

fenômenos para que ocorra a apropriação do conhecimento acumulado

historicamente, pois essa apropriação não ocorre espontaneamente. É

necessário que se desenvolvam relações práticas e verbais entre o sujeito e

outras pessoas que fazem parte do seu entorno.

Nessa unidade nos propomos a apresentar o que é aprender na

perspectiva Histórico-Cultural. Para isso, trilhamos um caminho de discussão.

Vimos que o desenvolvimento da humanidade ocorreu (e ainda continua

em processo) devido ao trabalho. O trabalho exigiu o uso e fabrico de

instrumentos. Nesse processo, o homem produziu conhecimentos sobre a

natureza de modo a poder dominá-la e tirar dela os elementos necessários à

vida em sociedade.

Vimos, também, que cada sujeito singular, ao apropriar-se desses

instrumentos físicos e simbólicos, alcança o nível de desenvolvimento

intelectual já alcançado pelos seus antepassados.

Na próxima unidade discutiremos como ocorre o processo de

apropriação dos conhecimentos acumulados historicamente. Processo

essencialmente de aprendizagem.

REFERÊNCIAS

23

Mas como ocorre essa apropriação?

ENGELS. Friedrich. Sobre o papel do trabalho na transformação do

macaco em homem. 2. ed, São Paulo: Global Editora, 1984.

LEONTIEV, Aléxis. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Editora Livros

Horizontes, 1978.

Portal da Educação - Banco de Imagens. Figuras 1, 2,3Disponível em:http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/educadores/index.php?logado=ok

&PHPSESSID=2008112916352992.

VIEIRA. Vanize Aparecida Misael de Andrade. Avaliação da aprendizagem

conceitual: concepções, práticas e perspectivas. Dissertação de Mestrado:

Universidade Estadual de Maringá, 2008.

UNIDADE II

24

Nesta unidade discutiremos como as novas gerações apropriam-se dos

conhecimentos que foram criados ao longo do tempo pelos nossos

antepassados.

Vimos que, na luta pela sobrevivência, os sujeitos criam instrumentos

que passam de geração a geração, dando continuidade ao desenvolvimento da

humanidade.

São esses instrumentos, criados pelos homens, que garantem às futuras

gerações chegarem ao nível de desenvolvimento alcançado pelos seus

antepassados, evitando assim que cada geração comece todo o processo de

desenvolvimento dos povos mais primitivos.

Voltemos ao exemplo da rede utilizada para pescar. Não é necessário

que cada geração passe pelo mesmo processo que passaram nossos

antepassados e com a criação da rede em determinado momento, as próximas

gerações apropriaram-se desse instrumento e dessa forma não foi mais preciso

para essa geração pescar com as próprias mãos, com pedras e só

posteriormente utilizarem a rede.

Embora outros animais também se utilizem de instrumentos, não o

fazem como os homens, não o tomam como ferramenta de trabalho, mas

utilizam-se de instrumentos para, por exemplo, saciar a sua fome, sede ou

qualquer outra necessidade de sobrevivência, esses instrumentos não são

usados coletivamente. Outro aspecto que diferencia substancialmente o uso de

instrumentos pela espécie humana é que as formas de uso desses

instrumentos, nos demais animais, não são passadas às gerações futuras.

Vejamos, inúmeras vezes vemos um macaco utilizar-se de um graveto

para alcançar uma fruta ou qualquer alimento, no entanto, o macaco jamais

modificará esse graveto, transformando-o em um outro instrumento. As

gerações futuras desses animais repetirão o mesmo gesto por milhões de anos

e cada membro dessa espécie começa sua luta pela sobrevivência da mesma

maneira que seus antepassados (SFORNI, 2004).

APROPRIAÇÃO E OBJETIVAÇÃO

25

Alguns animais, como a aranha, o joão-de-

barro, a formiga são reconhecidos

popularmente pela sua engenhosidade,

organização e precisão, no entanto, a aranha

continua construindo sua teia com a mesma

forma e materiais como outras aranhas que a

antecederam e o mesmo ocorre com a

formiga e com o joão-de-barro.

Os homens, diferentemente dos

animais, além de agir sobre a natureza como forma de garantir sua

sobrevivência e satisfazer suas necessidades básicas, criam novas

necessidades, como por exemplo, a de descobrir outros materias que

possam ser usados na produção de instrumentos de caça, pesca, moradia,

etc. Sobre essa questão Duarte esclarece: “Torna-se necessário conhecer

mais a natureza, desenvolver mais as habilidades necessárias à

transformação de objetos naturais em objetos sociais” (DUARTE, 2004,p.49).

O homem, em determinado momento, utilizou-se dos elementos

presentes na natureza para garantir a sua alimentação através da caça e

pesca. Assim, utilizava, por exemplo, um osso de animal como instrumento

que o auxiliasse na caça e na pesca. Aos poucos, o homem vai de

desvencilhando das formas naturais. Nesse caso, o osso, e passa a produzir

esse instrumento com materiais que o substituem, como o ferro. Nesse

processo, se apropria desses instrumentos e cria outros que serão

apropriados pelas gerações futuras, num processo contínuo.

Nesses objetos materiais, estão presentes a idéia, o pensamento e ação

dos homens que os construíram, ou seja, a atividade física e mental dos

seres humanos “incorpora-se”, cristaliza-se no instrumento. Leontiev

esclarece esse fenômeno:

26

AGB Photo-Figura 04.

Como isso ocorre?

O instrumento não é apenas um objecto de forma particular, de propriedades físicas determinadas; é também um objecto social, isto é, tendo um certo modo de emprego, elaborado socialmente no decurso do trabalho coletivo e atribuído a ele [...] Razão por que dispor de um instrumento não significa simplesmente possuí-lo, mas dominar o meio de acção de que ele é o objecto material de realização (LEONTIEV, 1978, p. 82).

Leontiev, seguindo a linguagem de Marx, denomina esse processo de

objetivação, processo em que a atividade física e mental dos seres humanos

transfere-se para os instrumentos físicos e para a linguagem, neles se

objetivando.

As palavras de Leontiev esclarecem com precisão o processo de

objetivação:

Qualquer objeto criado pelo homem – desde o mais simples utensílio à moderníssima máquina calculadora eletrônica – realiza tanto a experiência histórica do gênero humano como as capacidades intelectuais formadas nesta experiência. O mesmo pode comprovar-se com maior clareza na linguagem, na ciência, nas obras de arte (LEONTIEV, 2003, p. 64).

Em toda produção humana (a cultura material e não material) fica como

que em repouso a atividade que lhe deu origem. Ao se apropriar dessa cultura,

sso quer dizer que todos os instrumentos (material ou não

material) criados pelos homens, não representam apenas o objeto

em si, mas neles estão contidas as faculdades dos seres humanos

“corporificadas” nesse produto, o que por sua vez, carrega em si

um significado socialmente estabelecido.

27

o sujeito torna sua a atividade intelectual que ali está objetivada. Processo esse

denominado de apropriação, sendo essa apropriação que garante o

desenvolvimento da sociedade humana na medida em que cada geração se

apropria das produções precedentes, num processo contínuo. Para Leontiev, a

apropriação é um processo:

[...] que tem como conseqüência a reprodução no indivíduo de qualidades, capacidades e características humanas de comportamento. Em outras palavras, é um processo por meio do qual se produz na criança o que nos animais se consegue mediante a ação da hereditariedade; a transmissão para o indivíduo das conquistas do desenvolvimento da espécie (LEONTIEV, 2003, p. 65).

Cada indivíduo, ao nascer, é colocado diante todas as riquezas

acumuladas ao longo dos séculos pelas gerações antecedentes. Para Leontiev:

Cada geração começa, portanto, a sua vida num mundo de objetos e de fenômenos criado pelas gerações precedentes. Ela apropria-se das riquezas deste mundo participando no trabalho, na produção e nas diversas formas de actividade social e desenvolvendo assim, as aptidões especificamente humanas que se cristalizaram, encarnaram nesse mundo (LEONTIEV, 1978, p. 266).

No decurso da história do desenvolvimento humano, os homens foram

construindo conhecimentos para atender às suas necessidades, compreender

os fenômenos da natureza e as relações humanas. Esses conhecimentos são

instrumentos que guardam em si o conhecimento construído e acumulado

historicamente pelos homens.

Qual o papel da linguagem no processo de apropriação?

De acordo com a perspectiva Histórico-Cultural, a linguagem tem um

papel decisivo no processo de apropriação e no desenvolvimento dos

28

processos de pensamento, já que ela carrega consigo os conceitos

generalizados que constituem a fonte do conhecimento humano. Para Leontiev:

[...] o conteúdo da experiência histórica do homem, a experiência histórico-social, não está consolidada somente nas coisas materiais; está generalizada e reflete-se de forma verbal na linguagem. E precisamente nesta forma a criança acumula o conhecimento humano, os conceitos sobre o mundo que a rodeia (LEONTIEV, 2003, p.72-3).

Podemos dizer que uma palavra representa não somente os objetos em

si, não é apenas designação verbal, mas as palavras guardam em si as

significações abstraídas na atividade prática dos homens. Ao apropriar-se das

palavras, a criança apropria-se também da experiência humano-social,

possibilitando assim, a formação de “capacidades e funções especificamente

humanas, como as capacidades de falar e entender, as funções de ouvir e de

articular a linguagem falada” (LEONTIEV, 2003, p.65).

É por meio da linguagem que os indivíduos apropriam-se dos conceitos

e das formas de organização do real. Podemos, então, afirmar que a linguagem

é instrumento de pensamento e constitui a mediação entre o sujeito e o objeto

do conhecimento.

29

O APROPRIAREM-SE DA LINGUAGEM, OS SUJEITOS APROPRIAM-SE

DA EXPERIÊNCIA DA HUMANIDADE CONSTRUÍDA AO LONGO DO

TEMPO.

A palavra gato, por exemplo, denomina um conjunto de elementos que

tanto nas semelhanças como nas diferenças, permitem aos indivíduos

reconhecerem, nessa palavra o seu significado e dessa forma, pode ser

compreendido por outras pessoas. Mediante a linguagem, os indivíduos

têm a possibilidade de agrupar os elementos da mesma categoria, ao

mesmo tempo em que diferencia esses elementos de outras

categorias. Assim, no exemplo dado, “gato” são todos os gatos que

pertencem a essa categoria, não importa qual gato estejamos nos

referindo, pode ser o gato da vizinha, o gato que vi na revista, ou

qualquer outro gato que por sua vez distingue-se de outras categorias,

como “lápis”, “cachorro”, “carro”, “cavalo”, etc.

“Na instituição escolar, os conteúdos escolares das diferentes disciplinas expressam os conhecimentos que foram construídos pelos homens ao longo do tempo para atender às suas necessidades, compreender os fenômenos da natureza e as relações humanas” (VIEIRA, 2008, p. 108).

Proporcionar essa apropriação é o objetivo primordial do processo

educativo, podendo ocorrer em situações cotidianas ou de modo

institucionalizado.

Quando afirmamos que cabe à escola garantir aos alunos a apropriação dos

conhecimentos acumulados historicamente, estamos nos referindo

especificamente a esses conhecimentos e não a qualquer conhecimento. Ou

seja, todos os conhecimentos que estão disponíveis na cultura e que servem

para facilitar nossa vida, para auxiliar na resolução de problemas e na

compreensão dos fenômenos.

À escola cabe a função de garantir a apropriação desses conhecimentos

expressos nos conteúdos escolares das diferentes disciplinas, por meio de um

30

Por exemplo, quando a criança é ainda bem pequena e pela primeira vez tem um contato com o lápis , leva-o a boca, utiliza-o para bater na mesa e tantas outras formas de manipular esse objeto. Mas, ao interagir com outras crianças mais experientes e com adultos do seu entorno, seja apenas pela observação ou pela intervenção direta das outras pessoas em sua ação, ela vai percebendo como segurá-lo, quais movimentos possíveis, para quê serve o objeto. Até que desenvolve uma relação direta com esse objeto, reproduzindo assim, os traços essenciais encarnados nele (LEONTIEV, 1978). No exemplo dado, traçar linhas, letras e formas.

ensino sistematizado e organizado de tal forma que possibilite ao aluno

conhecer a realidade e dominar o saber e a cultura da humanidade.

Para Leontiev o processo de apropriação é sempre ativo. Isso quer dizer

que para a criança apropriar-se do ambiente cultural é necessário que ela

exerça uma atividade efetiva em relação aos objetos culturais. Nas palavras de

Leontiev: “Assim, o indivíduo, a criança, não é apenas ‘colocada’ diante do

mundo dos objectos humanos. Para viver, deve agir (activamente e)

adequadamente neste mundo” (LEONTIEV, 1978, p.238).

Ao apropriar-se dos

instrumentos, os sujeitos

podem usá-los com

precisão, e isso implica na

apropriação das operações

motoras e mentais que nele

estão incorporadas, e ao

Conhecimentos historicamente

acumulados

Hidrografia Transformações Químicas Fração

Conteúdos escolares

O que significa para Leontiev apropriar-se de um conceito?

31

mesmo tempo, é um processo de formação ativa de “[...] aptidões novas, de

funções superiores, ‘psicomotoras’, que ‘hominizam’ a sua esfera motriz”

(LEONTIEV, 1978, p. 269).

Na apropriação dos instrumentos simbólicos o processo

Com base nos escritos de Leontiev, podemos afirmar que sim. Na

apropriação dos instrumentos simbólicos o processo é o mesmo. Basta lembrar

da linguagem, que nada mais é que o processo de apropriação de palavras que

são fixadas ao longo dos anos pela humanidade e têm a sua significação em

dada sociedade. Para Leontiev, o processo de apropriação é o resultado de

uma atividade efetiva do indivíduo, tanto em relação aos objetos, como aos

fenômenos do mundo circundante e que foram criados no desenvolvimento da

cultura humana (LEONTIEV, 1978).

Mas apenas o contato direto da criança

com os objetos e fenômenos não

garante a apropriação dos conceitos, ou

seja, essa apropriação não ocorre

espontaneamente.

Para que ocorra a apropriação é

necessário que se desenvolva, nesse

processo, uma relação com outros seres

humanos. Isso quer dizer que a

apropriação é sempre um processo

Na apropriação dos instrumentos simbólicos, o

processo é o mesmo?

32

as palavras de Leontiev: “Quando dizemos, por exemplo, que a

criança assimila instrumentos, isto significa que começa a usá-los

com precisão, que forma as correspondentes ações e operações

motoras e mentais” (LEONTIEV, 2003, p.66).

Considerar que basta estar em contato com os objetos e os fenômenos para que ocorra a apropriação seria supor que os sujeitos compreenderiam, por exemplo, o ciclo da chuva somente pelo fato de presenciarem as chuvas no seu cotidiano. Ou seja, compreenderiam como ocorre, quais os elementos naturais que interferem nesse processo, bem como quais os resultados da interferência da ação do homem nesse fenômeno.

mediatizado pelas relações entre seres humanos. Sobre o processo de

apropriação, Leontiev afirma:

As aquisições do desenvolvimento histórico das aptidões humanas não são simplesmente dadas aos homens nos fenómenos objetivos da cultura material e espiritual que os encarnam, mas são aí apenas postas. Para se apropriar destes resultados, para fazer deles as suas aptidões, “os órgãos da sua individualidade”, a criança, o ser humano, deve entrar em relação com os fenómenos do mundo circundante através doutros homens, isto é, num processo de comunicação com eles. Assim, a criança aprende a actividade adequada. Pela sua função, este processo é, portanto, um processo de educação (LEONTIEV, 1978, p. 272, grifos do autor).

Pautados nos estudos sobre a abordagem Histórico-Cultural, podemos

afirmar que os sujeitos apropriam-se das aquisições históricas da humanidade

mediante a sua atividade, tanto com os objetos e fenômenos, como nas

relações que estabelece com outros sujeitos, sendo que nessas atividades

mediadas estão inseridas as condições para o desenvolvimento psíquico da

criança.

Isso quer dizer que a apropriação dos conhecimentos das diversas áreas

das ciências que foram construídos ao longo dos tempos pelos homens está

infinitamente relacionada com o desenvolvimento psíquico dos indivíduos, ou

seja, a apropriação pelos sujeitos dos conhecimentos construídos pela

humanidade possibilita o seu desenvolvimento psíquico.

Esses conhecimentos expressos nos conteúdos escolares das diferentes

disciplinas foram produzidos pelos homens para que pudessem compreender a

natureza e as próprias relações humanas, com vistas a atender certas

necessidades. São, portanto, instrumentos simbólicos ou mediadores culturais.

A idéia de que a apropriação, pelos indivíduos, dos conhecimentos

construídos no decurso do desenvolvimento da humanidade é o motor do

desenvolvimento psíquico evidencia o papel que o ensino exerce nesse

desenvolvimento, já que se espera que a escola possibilite essa apropriação.

Mas é importante ressaltar que não é qualquer ensino que é capaz de ampliar

os conhecimentos dos estudantes. Estamos nos referindo a um ensino

intencionalmente organizado, voltado ao desenvolvimento cognitivo dos alunos.

33

No sentido de propiciar um ensino intencional e organizado é

extremamente relevante pensar na avaliação como um elemento fundamental

nesse processo, à medida que, por meio dessa avaliação, o professor pode ter

parâmetros precisos sobre o que ainda é necessário ensinar, tendo em vista o

que foi estabelecido e o que ainda não foi aprendido pelo aluno.

Pensar na avaliação como um elemento importante no processo de

ensino e aprendizagem nos remeteu à seguinte indagação: O que é aprender?

Na tentativa de responder essa questão, nos remetemos aos conceitos

de apropriação e objetivação dos instrumentos físicos e simbólicos propostos

na abordagem Histórico-Cultural, mais precisamente pelo teórico Alexis N.

Leontiev

Mediante a compreensão desses conceitos, podemos agora pensar em

como avaliar o que aluno aprendeu.

É o que veremos na próxima unidade: quais as inferências para a prática

avaliativa, tendo como base os conceitos de apropriação e objetivação dos

instrumentos simbólicos ou mediadores culturais.

REFERÊNCIAS

DUARTE. Newton. Formação do indivíduo, consciência e alienação: o ser

humano na psicologia de A.N. Leontiev. Caderno Cedes, V. 24, nº 62.

Campinas. 2004.

LEONTIEV, Aléxis. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Editora Livros

Horizontes, 1978.

LEONTIEV, Aléxis. Os princípios do desenvolvimento mental e o problema do

atraso mental. In: LURIA, A. R. at al.. Psicologia e Pedagogia: bases

psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento. Tradução: Rubens

Eduardo Frias. São Paulo, Centauro Editora, 2003.

Portal da Educação - Banco de Imagens. Figura 04Disponível em:

34

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/educadores/index.php?logado=ok

&PH PSESSID=2008112916352992.

SFORNI, Marta Sueli de Faria. Aprendizagem conceitual e organização do

ensino: contribuições da teoria da atividade. Araraquara: JM Editora, 2004

UNIDADE III

35

Da simples lança ao mais sofisticado instrumento magnético, podemos afirmar que foram criados pelo homem para atender uma necessidade. Assim como a produção do fogo, os conhecimentos acerca da célula, relevo, hidrografia, fração e outros que nos auxiliam a compreender os fenômenos na natureza.

Para redirecionar a prática avaliativa além da discussão acerca da forma

de avaliar, traçamos uma meta. Inicialmente, buscamos na teoria da

aprendizagem e do desenvolvimento subsídios teóricos que possibilitam a

compreensão dos conteúdos escolares como expressão dos conhecimentos

que foram construídos pelos homens ao longo dos tempos e como ocorre a

apropriação desses conceitos.

Elegemos a abordagem histórico-cultural como base para essa

discussão, tendo em vista, principalmente, o envolvimento dessa corrente

teórica com as questões de ensino e aprendizagem.

Na perspectiva de que a avaliação da aprendizagem implica

necessariamente na avaliação dos conteúdos ensinados, mais precisamente,

na avaliação do que de fato o aluno aprendeu, é imprescindível a compreensão

de como ocorre a formação de um conceito, dito em outras palavras, como o

aluno aprende o conteúdo ensinado.

Consideramos que, à medida que o professor compreende esse

processo, terá subsídios teóricos para direcionar a prática avaliativa, ou seja,

tendo em vista o processo pelo qual o aluno aprende, o professor pode utilizar

indicativos mais precisos para avaliar a aprendizagem.

Nesse percurso, discutimos que os conhecimentos produzidos pela

humanidade estão expressos nos conteúdos escolares das diferentes áreas

das ciências. No entanto, esses conhecimentos não surgiram por acaso, como

uma mera descoberta. Na verdade, esses conhecimentos foram produzidos

pelos homens para atender suas necessidades e para que pudessem

compreender a natureza e as próprias

relações humanas.

Nas palavras de Leontiev, esses

conhecimentos produzidos pelos

36

A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E A

FORMAÇÃO DE CONCEITOS

homens no decurso de seu desenvolvimento são instrumentos simbólicos ou

mediadores culturais.

A perspectiva de que os conceitos das diversas áreas do conhecimento são

instrumentos ou mediadores culturais aponta para uma nova abordagem, tanto

no que se refere à aprendizagem dos conceitos escolares, bem como a

verificação da sua apropriação.

Vejamos, o termo instrumento significa algo que serve a alguma

finalidade, ou seja, é um recurso utilizado para alcançar algum objetivo. O termo

mediador é algo que se interpõe entre uma coisa e outra, atuando como

intermediário (VIEIRA, 2008).

A compreensão dos conceitos das diferentes áreas do conhecimento

como instrumentos simbólicos ou mediadores culturais nos conduz a um

diferente entendimento desses conceitos e, conseqüentemente, nos remete a

uma compreensão do que seja apropriação desses conceitos.

À medida que compreendemos que os conceitos escolares são

instrumentos, reconhecemos que eles não têm uma finalidade em si, mas foram

construídos em uma atividade prática e intelectual para atender a uma

necessidade.

Dessa forma, a apropriação desses conceitos implica não somente na

sua descrição, mas se sabemos fazer uso deles, tanto na resolução de

problemas, como também, mediante essa apropriação conseguimos explicar os

fenômenos presentes no mundo objetivo. “O aluno demonstra a apropriação de

um conceito quando faz uso dele em diversas situações, quando por meio dele

explica um fenômeno e consegue resolver problemas” (VIEIRA, 2008, p.120).

As palavras de Leontiev citadas anteriormente possibilitam pensar em

como verificar se o aluno assimilou ou não os conceitos:

Quando dizemos, por exemplo, que a criança ‘assimila’ instrumentos, isto significa que começa a usá-los com precisão, que forma as correspondentes ações e operações motoras e mentais (LEONTIEV, 2003, p. 66).

Isso quer dizer que a apropriação de um conceito implica em saber usá-lo

em diversas situações, dito em outras palavras, ao apropriar-se de um conceito,

os sujeitos podem utilizar esse conhecimento como instrumento do seu

pensamento.

37

Podemos observar esse processo no cotidiano escolar, quando os alunos

apropriam-se, por exemplo, da escrita. Inicialmente, para escrever qualquer

palavra, mesmo as consideradas mais simples, é necessário que o aluno pense

qual letra usar, para escrever algumas é ainda necessário que busque na sala

de aula outras palavras com o mesmo fonema e em outras situações de escrita

ainda precise de auxílio do professor. No entanto, à medida que esse aluno

apropria-se dos fonemas e grafemas correspondentes, ele não precisa mais

pensar sobre qual letra usar, e assim a escrita ocorre de forma automática.

Assim também ocorre quando nas séries iniciais, o aluno adquire

conhecimentos relacionados à estrutura adequada de um texto. Ele passa por

um processo de aprendizagem no qual lhe é ensinado o uso de letra maiúscula

no início das frases e da pontuação adequada a cada situação. A princípio, esse

aluno precisa de auxilio, de uma interferência direta da professora e até mesmo

ao ditar um texto é ainda necessário que a professora aponte o momento

adequado para o uso desses conhecimentos citados. Mas, ao apropriar-se

desses conhecimentos, quando toma esse conhecimento para si, quando ele

apropria-se de seu significado, usa esses conhecimentos adequadamente, e

esses conhecimentos passam a orientar automaticamente sua ação em

qualquer produção de texto, seja essa produção um bilhete, um texto narrativo

ou informativo.

Lentiev ilustra esse processo com o exemplo da assimilação da adição:

Com efeito, a criança aprende primeiro a adição como uma acção determinada, em que o meio, isto é, a operação, é a adjunção unidade por unidade. Depois tem de resolver problemas cujas condições exigem que se efectue a adição de grandezas (“para saber tal coisa, deve-se adicionar tais ou tais grandezas”). Neste caso, a acção mental da criança já não é a adição, mas a resolução do problema; a adição torna-se então uma operação e deve, portanto, tomar a forma de uma prática suficientemente elaborada e automatizada (LEONTIEV, 1978, p. 306).

Os conceitos aprendidos, assimilados pelos alunos, assumem um caráter

diferenciado, tornando possível usá-los em situações diversas, realizar novas

tarefas e enfrentar novos desafios.

38

Essa compreensão pode representar um caminho para a

avaliação da aprendizagem dos alunos?

Consideramos que essa compreensão permite sim um novo olhar para a

realização da prática avaliativa.

À medida que o professor compreende que a designação verbal, a

descrição de fatos não implica necessariamente em apropriação de

conhecimentos e que o aluno pode expressar que aprendeu um conceito

quando o utiliza como instrumento do pensamento, ele pode pensar em quais

formas possibilitam de fato ao aluno exteriorizar conceito aprendido.

Pensemos em um conteúdo específico de Ciências: “Cadeia Alimentar”.

Mediante pesquisas, exposição do professor, leitura de textos didáticos,

projeção de filmes, ensina-se aos estudantes o que é uma cadeia alimentar, o

que representa para a sobrevivência das espécies, as conseqüências da

extinção de alguns animais para o equilíbrio da natureza. Após o trabalho

realizado, o que o aluno deve manifestar como demonstração de conteúdo

aprendido?

Basta que os alunos representem com uma ilustração uma cadeia

alimentar?Ou a simples descrição desse processo é o suficiente para garantir a

apropriação?

Pelo exposto até o momento a definição e a representação pelo desenho

não revela se o aluno aprendeu esse conteúdo. Concordamos com Sforni

quando afirma: “Não basta descrever, nomear, definir objetos e fenômenos, é

preciso ir além do aparentemente dado” (SFORNI, 2004, p.65).

Nesse caso, o aluno pode demonstrar que aprendeu esse conteúdo ao

ler uma reportagem cujo assunto é a matança desordenada de jacarés e o

aumento significativo de piranhas em um determinado rio, e com o

conhecimento adquirido “Cadeia Alimentar”, consegue relacionar o aumento do

número de piranhas à matança desordenada de jacarés. Ou seja, consegue

explicar esse fenômeno que faz parte de seu entorno, utilizando o conceito

como instrumento de pensamento.

Pensemos agora no exemplo citado anteriormente acerca da aquisição

de conhecimentos relacionados à estrutura de um texto. Consideremos que o

39

professor necessita avaliar se o aluno aprendeu usar adequadamente a

pontuação. Como o aluno pode expressar que aprendeu esse conteúdo?

Descrevendo a função desses sinais gráficos? Nomeando os sinais de

pontuação?

O que se espera é que o aluno use os conceitos aprendidos orientando

automaticamente suas ações, nesse caso, use adequadamente a pontuação

ao escrever diferentes textos. Isso quer dizer que o professor pode verificar a

aprendizagem desses conceitos no próprio texto escrito pelo aluno, na

pontuação utilizada por ele nas diferentes situações presentes no texto.

Longe de definir modelos ideais, nossa intenção certamente não é a de

elaborar um manual com idéias prontas e acabadas sobre a avaliação. Os

exemplos dados são tentativas de explicitar o que consideramos “utilizar os

conceitos como instrumento do pensamento”, e ao mesmo tempo se constitui

em um convite para pensarmos coletivamente como aplicar esse princípio a

diferentes áreas do conhecimento presentes no currículo escolar.

REFERÊNCIAS

LEONTIEV, Aléxis. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Editora Livros

Horizontes, 1978.

LEONTIEV, Aléxis. Os princípios do desenvolvimento mental e o problema do

atraso mental. In: LURIA, A. R. at al.. Psicologia e Pedagogia: bases

psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento. Tradução: Rubens

Eduardo Frias. São Paulo, Centauro Editora, 2003.

SFORNI, Marta Sueli de Faria. Aprendizagem conceitual e organização do

ensino: contribuições da teoria da atividade. Araraquara: JM Editora, 2004

VIEIRA, Vanize A. M. de Andrade. Avaliação da aprendizagem conceitual:

concepções, práticas e perspectivas. Dissertação de Mestrado: Universidade

Estadual de Maringá, 2008.

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