auxiliar de processos metalúrgicos 1 - via rápida · você vai, também, conhecer a evolução...

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GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO 1 Auxiliar de processos metalúrgicos

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g o v e r n o d o e s ta d o d e s ã o pa u l o

1

Auxiliar de processos metalúrgicos

1

Auxiliar deProcessos

Metalúrgicos

m e t a l u r g i a

emprego

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Geraldo Alckmin

Governador

SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO,

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Rodrigo Garcia

Secretário

Nelson Baeta Neves Filho

Secretário-Adjunto

Maria Cristina Lopes Victorino

Chefe de Gabinete

Ernesto Masselani Neto

Coordenador de Ensino Técnico, Tecnológico e Profissionalizante

Coordenação do ProjetoCETTPro/SDECT

Juan Carlos Dans SanchezFundação do Desenvolvimento

Administrativo – Fundap José Lucas Cordeiro

Apoio Técnico à CoordenaçãoFundação do Desenvolvimento

Administrativo – Fundap Laís Schalch

Apoio à ProduçãoFundação do Desenvolvimento

Administrativo – Fundap Ana Paula Alves de Lavos

Emily Hozokawa DiasIsabel da Costa M. N. de Araújo

José Lucas CordeiroKarina SatomiLaís Schalch

Maria Helena de Castro LimaSelma Venco

CETTPro/SDECT Bianca Briguglio

Cibele Rodrigues Silva

Textos de referênciaEdison Marcelo SerbinoIrineu de Souza Barros

Luiz Cláudio PaulaMarcos Antonio Batalha

FUNDAÇÃO PADRE ANCHIETAPresidente

João SayadVice-Presidentes

Ronaldo BianchiFernando Vieira de Mello

Diretoria de Projetos EducacionaisDiretor

Fernando José de AlmeidaGerentes

Monica Gardelli FrancoJúlio Moreno

Coordenação técnica Maria Helena Soares de Souza

Equipe EditorialGerência editorial

Rogério Eduardo AlvesProdução editorial

Janaina Chervezan da Costa CardosoEdição de texto Lígia Marques

Marcelo AlencarRevisão

Conexão EditorialIdentidade visual

João Baptista da Costa AguiarArte e diagramação

Paola NogueiraPesquisa iconográfica

Elisa RojasEveline Duarte

Ilustrações Bira Dantas

Luiz Fernando MartiniConsultoria

Marcos Antonio Batalha

Agradecemos aos seguintes profissionais e instituições que colaboraram na produção deste material:Carla Cruz dos Santos, Empresa Servimig, Empresa Signo Arte, Empresa Starrett, Fundição TUPY S.A., Graziele da

Silva Santos, Grupo Voith, Instituto de Pesquisas Tecnológicas, Neise Nogueira, Valdemar Carmelito dos Santos.

Secretaria de deSenvolvimentoeconômico, ciência e tecnologia

Caro(a) Trabalhador(a)

Estamos felizes com a sua participação em um dos nossos cursos do Programa Via Rápida Emprego. Sabemos o quanto é importante a capacitação profissional para quem busca uma oportunidade de trabalho ou pretende abrir o seu próprio negócio.

Hoje, a falta de qualificação é uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo desempregado.

Até os que estão trabalhando precisam de capacitação para se manter atualizados ou quem sabe exercer novas profissões com salários mais atraentes.

Foi pensando em você que o Governo do Estado criou o Via Rápida Emprego.

O Programa é coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, em parceria com instituições conceituadas na área da educação profis-sional.

Os nossos cursos contam com um material didático especialmente criado para facilitar o aprendizado de maneira rápida e eficiente. Com a ajuda de educadores experientes, pretendemos formar bons profissionais para o mercado de trabalho e excelentes cidadãos para a sociedade.

Temos certeza de que iremos lhe proporcionar muito mais que uma formação profissional de qualidade. O curso, sem dúvida, será o seu passaporte para a realização de sonhos ainda maiores.

Boa sorte e um ótimo curso!

Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia

Caro(a) Trabalhador(a)

Aqui começa seu caminho para um novo aprendizado. Um aprendizado que precisa ser ampliado. Sabe por quê?

Porque no mundo de hoje não é suficiente conhecer as técnicas e os procedimentos necessários ao desempenho da função de auxiliar de processos metalúrgicos.

Também é preciso, por exemplo, saber como você pode melhorar sua busca por um novo emprego e perceber que o campo de atuação de um profissional da área não se restringe ao ambiente industrial. Para isso, é necessário dominar muito mais do que os aspectos técnicos da ocupação.

O ponto de vista do Via Rápida Emprego da Secretaria de Desenvolvimento Eco-nômico, Ciência e Tecnologia do Governo de São Paulo é o de que o profissional, para iniciar sua carreira ou aperfeiçoar aquilo que já sabe, deve conhecer as técnicas, mas também precisa se diferenciar em alguns aspectos, para ter mais chances na obtenção de um emprego ou conseguir trabalhar por conta própria.

Nesta publicação, você vai conhecer as várias facetas da ocupação de auxiliar de processos metalúrgicos. Onde ele atua? O que precisa conhecer para desempenhar melhor seu trabalho? Como este ofício surgiu? Questões assim serão discutidas ao longo do curso.

Você vai, também, conhecer a evolução histórica da metalurgia e descobrir a impor-tância do setor nas lutas pela Independência do Brasil no século 18 (XVIII) e, mais recentemente, pela redemocratização do país.

Como você vê, nosso curso será cheio de novidades para que sua formação seja a mais completa possível.

Vamos ao estudo!

Sum á ri o

Unidade 19

a história da metalurgia

Unidade 237

a profissão de auxiliar de processos metalúrgicos

Unidade 359

o setor metalúrgico

dados internacionais de catalogação na publicação (cip) (bibliotecária silvia marques crb 8/7377)

P964

Programa de qualificação profissional: Metalurgia / Auxiliar de processos metalúrgicos. -. -- São Paulo: Fundação Padre Anchieta, 2011. v.1, il (série: Arco Ocupacional).

Vários autoresPrograma de qualificação profissional da Secretaria do

Emprego e Relações do Trabalho - SERT

ISBN 978-85-61143-99-2

1. Ensino profissionalizante 2. Metalurgia-técnico I. Título II. Série

CDD 371.30281

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 9

Unida d e 1

A históriA dA metAlurgiA

A indústria metalúrgica gera milhões de empregos no mundo inteiro. É muito fácil entender o que essa gigante faz. Basta dar uma olhadinha à sua volta para comprovar: a geladeira, a luminária, a moldura de muitas janelas, a torneira, a estrutura da cadeira, o fogão, a ponta da caneta esferográfica, os talheres, as panelas, as ferramentas, os pregos, o portão de casa, o carro, a grade de proteção do canteiro central da avenida, o metrô, os trilhos do metrô, o ônibus, o avião...

E você já parou para pensar sobre a origem disso tudo? Escava-ções arqueológicas mostram que o homem já fabricava objetos metálicos na Pré-História (ou seja, desde antes da invenção da escrita). Vamos acompanhar, na linha do tempo a seguir, alguns dos fatos mais importantes ligados aos primórdios da metalurgia.

Os produtos da indústria metalúrgica estão em toda parte: no metrô, nos trilhos do metrô...

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10 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

PRÉ-HISTÓRIA ANTIGUIDADE IDADE MÉDIA

3,5 mil a.C.Surgimento da escrita

476 d.C.Queda do

Império Romano

+ 5 milhões de anos atrás

6000 a.C.-3500 a.C. (antes de Cristo)

Os primeiros instrumentos em cobre, moldados com pedradas, datam dessa épo-ca e foram localizados no Oriente Médio. Na mesma região, cientistas encontra-ram armas e ornamentos do mesmo metal, fundido e vazado, produzidos em 3500 a.C. Em metalurgia, o termo vazado significa que o metal em estado líquido foi despejado num molde para preenchê-lo. O cobre, a prata e o ouro foram os primeiros metais a serem descobertos, pois existem na natureza em seu estado nativo. O ouro, bem distri-buído pela superfície do pla-neta, provavelmente atraiu o homem primitivo por causa do seu forte brilho.

Você conhece a definição de Pré-História? E de História? A fim de facilitar o estudo e a compreen-são da História, estudiosos a dividiram em grandes períodos de tempo.

Vamos ver que períodos são esses e o que os separa:

•Pré-História: da origem do homem, há cerca de 5 milhões de anos, até 3,5 mil a.C. (antes de Cristo), quando surgiu a escrita.

•Antiguidade: do surgimento da escrita até a queda do Império Romano (no ano 476 d.C.).

• Idade Média: da queda do Império Romano até 1453, quando ocorreu a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos.

• Idade Moderna: da tomada de Constantinopla até 1789, data da Revolução Francesa.

• Idade Contemporânea: da Revolução Francesa até nossos dias.

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 11

IDADE MODERNA IDADE CONTEMPORÂNEA

1453 d.C.Tomada de

Constantinopla

1789 d.C.Revolução Francesa

Atual

3300 a.C.

O bronze, que é uma liga (junção) de cobre e estanho, foi produzido pela primeira vez, possivelmente por acidente, na Suméria. Mais dura e resistente do que o cobre puro, essa mistura revelou-se mais apropriada para ser vazada (despejada em estado líquido) em moldes.

2000 a.C.

Os chineses conheceram o ferro nesse período. Pesquisadores acre-ditam que as primeiras formas desse metal usadas pelo homem eram provenientes de meteoritos, pois continham quantidades significa-tivas de níquel. Mais duro que o ouro, a prata e o cobre, o ferro era caro devido à sua raridade. Muito mais tarde, quando nossos ante-passados aprenderam a extraí-lo das rochas onde se encontra, passou a ser utilizado em abundância.

1600 a 600 a.C.

Chineses, persas e palestinos desenvolvem o latão, uma liga de cobre e zinco.

Meteoroides são peque-nas rochas que giram em torno do Sol. Algumas vezes, são atraídos pela Terra ou por outro astro. Quando entram na at-mosfera terrestre, pegam fogo por causa do atrito com o ar e passam a se chamar meteoros, tam-bém conhecidos, popu-larmente, como estrelas cadentes. Quando uma parte do meteoroide atra-vessa a atmosfera sem se desintegrar totalmente e atinge o solo, ele é cha-mado de meteorito.

Você sabia?

12 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

PRÉ-HISTÓRIA ANTIGUIDADE IDADE MÉDIA

476 d.C.Queda do

Império Romano

3,5 mil a.C.Surgimento da escrita

+ 5 milhões de anos atrás

1350 a.C.

É dessa data o primeiro artigo fabricado com ferro de que se tem notícia: uma lâmina de punhal encontrada no sarcófago (túmulo) do faraó egípcio Tutancâmon. Esse punhal ficava no local de maior importância do túmulo. Ele resistiu durante tanto tempo sem ser corroído porque é um pedaço de ferro que contém pouco carbono, o que dificulta o aparecimento da ferrugem. Trocando em miúdos, o ferro com baixo teor de carbono apresenta grande resistência à corrosão, ou seja, é mais difícil de ser destruído.

A sociedade egípcia

O Egito é famoso por suas pirâmides. Vamos ver também como era formada a “pirâmide social”, isto é, como era dividida a sociedade no antigo Egito.

O faraó era a autoridade máxima do país, a pessoa mais importante, e sua vontade precisava ser sempre respeitada. Abaixo dele, vinham os nobres e os altos funcionários. Repare no formato da pirâmide: ela é maior na parte de baixo. Essa base representa quem estava em maior número naquela sociedade: os escravos, os camponeses e os artesãos. Os escravos eram obrigados a realizar serviços forçados – carregavam as pedras na construção das pirâmides, por exemplo. Eles tam-bém realizavam o trabalho agrícola, além de cuidar do gado. Ou seja, escravos, camponeses e artesãos eram a maioria da população e possuíam pouco ou ne-nhum direito. Aqueles que tinham algum conhecimento ou poder econômico es-tavam mais acima na escala social. As mulheres não aparecem nessa pirâmide, apesar de os egípcios terem sido gover-nados por várias rainhas, como Cleópatra.

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 13

IDADE MODERNA IDADE CONTEMPORÂNEA

1453 d.C.Tomada de

Constantinopla

1789 d.C.Revolução Francesa

Atual

Cerca de 400 a.C.

Os gregos e os romanos desenvolveram uma forma de tratamento térmico do ferro chamada têmpera. Esse processo consiste no resfria-mento rápido de uma peça cuja temperatura está superior à chamada temperatura crítica (a partir da qual o metal pode sofrer transformação): entre 780°C e 980°C. Sua finalidade é gerar um metal com alta dureza.

Pouco tempo depois, esses mesmos povos criaram outro processo de tratamento térmico, hoje conhecido como revenido. Ele consiste em aquecer o ferro abaixo da zona (ou temperatura) crítica (que é de 723°C) e, depois, resfriá-lo lentamente. A finalidade é remover as tensões internas e a dureza excessiva proporcionadas pela têmpera.

Cerca de 300 d.C.

Ninguém sabe ao certo quando eles surgiram, mas, nesse período, um grupo de químicos/pesquisadores, de origem árabe, ficaram co-nhecidos como alquimistas. Entre outras coisas, eles tentavam criar ouro por meio da transformação de outros metais “menos nobres”. Tomavam como base as ideias de Aristóteles, um filósofo grego que afirmava que tudo que existia na natureza era formado por terra, água, fogo e ar em diferentes proporções. Hoje sabemos que isso não é verdade, e a alquimia nunca conseguiu produzir ouro. Mas re-sultou das experiências dos alquimistas a descoberta de diversas substâncias como o arsênico, o fósforo, o nitrato de prata, o acetato de chumbo, o bicarbonato de potássio, os ácidos sulfúrico, clorídrico, canfórico, benzoico e nítrico e os sulfatos de sódio e de amônia.

Século 13 (XIII)

O homem deu um passo im-portante para a criação do aço (uma mistura de ferro e carbo-no): a produção do ferro es-ponja. Ela teve início na Índia, por meio de um processo de carbonização (inclusão de car-bono) do ferro conhecido des-de o tempo dos antigos egíp-cios. Depois de forjada com um martelo, uma esponja de ferro era colocada entre placas de madeira num cadinho (recipiente usado para fundir metais) que, por sua vez, era posto num forno e coberto de carvão vegetal para absorver o carbono.

Mas o grande salto nesse sentido só ocorreu mesmo em 1856, quando a metalurgia finalmente conseguiu fabricar o aço – que é mais resisten-te que o ferro fundido e pode ser produzido em enormes quantidades.

Na Antiguidade (período que vai de 3,5 mil a.C. até o ano 476 d.C.), gregos e romanos acreditavam que existiam muitos deuses. A mitologia desses po-vos era riquíssima e seus deuses eram associados – entre outras coisas – a elementos e fenômenos da natureza. Uma dessas divindades era um ferreiro gigantesco cujas marreta-das na bigorna originariam os raios das tempestades. Para os gregos, esse deus chamava-se Hefesto; para os romanos, Vulcano.

Você sabia?

Vulcano forjando os raios de Júpiter, óleo sobre tela de Peter Paul Rubens, 1636-1638, Museu Nacional do Prado, Madri, Espanha.

Cadinho.

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14 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Será que é importante saber tudo isso? Por quê?

Quando analisamos a trajetória da humanidade, desco-brimos muitas coisas e podemos perceber como os acon-tecimentos do passado moldam o mundo (incluindo as relações sociais e de trabalho) do presente.

PRÉ-HISTÓRIA ANTIGUIDADE IDADE MÉDIA

476 d.C.Queda do

Império Romano

3,5 mil a.C.Surgimento da escrita

+ 5 milhões de anos atrás

Existem vários modos de produção (escravista, capi-talista, socialista etc.). Ca-da um é formado por um conjunto de forças pro-dutivas e pelas relações técnicas e sociais que de-terminam essas forças. O capitalismo, por exemplo, tem como protagonistas das forças produtivas os patrões e os empregados.

Você sabia?

Idade Moderna

Apesar de a Revolução Francesa ser um marco do final da Idade Moderna, vários acontecimentos já sinalizavam a transição que ocorria nesse período. Estava sendo gestado um novo modo de produção que prevalece até os dias de hoje: o capitalismo. E muitas mudanças ocorreram:

•nocampodaeconomia,comaexpansãocomercialeaconquistade novos mercados por meio da expansão marítima (as navegações que levaram à conquista da América, por exemplo);

•nocampodacultura,comoRenascimento(cujaliberdadeesté-tica propiciou a criação de obras como a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, e a escultura Pietá, de Michelangelo);

•nareligião,comaReformaProtestante(quepôsfimaopoderirrestrito e a muitos desmandos da Igreja Católica); e

•napolítica,comosurgimentodosEstadosModernos(paísescomfronteiras bem definidas, idioma oficial, uma só legislação) e das monarquias absolutistas.

O desenvolvimento desse novo modo de produção contou com a ajuda da metalurgia. À medida que o capitalismo – essa nova forma de fazer economia – evoluía, também evoluíam as técnicas utilizadas na meta-lurgia. Mais tarde, em uma outra Idade, a Contemporânea, essas téc-nicas fariam toda a diferença na conhecida Revolução Industrial.

Idade Contemporânea

O homem conseguiu unir a evolução tecnológica às últimas des-cobertas da metalurgia para promover um desenvolvimento indus-trial tão grande a ponto de ser conhecido como uma revolução: a Revolução Industrial. Mas, sobre esse capítulo da história, falaremos mais tarde. Antes, é preciso entender melhor como, na história da metalurgia, aqueles instrumentos de cobre se transformaram em produtos sem os quais hoje não conseguimos viver. Das primeiras experiências, na Idade dos Metais, à criação do aço, há um longo caminho a percorrer!

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 15

IDADE MODERNA IDADE CONTEMPORÂNEA

1453 d.C.Tomada de

Constantinopla

1789 d.C.Revolução Francesa

Atual

Prise de la Bastille, gravura de Francois-Hippolyte Lalaisse (1812-1884). A Bastilha era uma prisão onde ficavam confinados os inimigos políticos do rei Luís XVI. Sua tomada, liderada pelo povo parisiense em 14 de julho de 1789, marca o início da Revolução Francesa.

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A pintura La Gioconda (1503-1506), óleo sobre tela: popularmente conhecida como Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, é um dos principais símbolos do Renascimento. Hoje faz parte do acervo do Museu do Louvre, em Paris.

Outro ícone renascentista: a Pietá (1499-1500), de Michelangelo Buonarroti, foi esculpida em mármore e representa Cristo morto nos braços da Virgem Maria. A obra fica exposta na Basílica de São Pedro, em Roma.

16 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Atividade 1resgAte histórico

O que você descobriu com este resgate histórico? Debata com os colegas, sob a orientação do monitor.

Não é possível entender completamente a importância da metalurgia sem ter em mente o que é trabalho. Podemos dizer, de um modo bem simplificado, que trabalho é o ato de transformar a natureza. Ele acontece, por exemplo, quando usamos uma tora de madeira para fazer um banco ou algum metal para moldar um trinco de porta. Ao longo do tempo, o homem foi ampliando seus saberes e criando novas maneiras de aplicá-los. A Idade dos Metais, sobre a qual vamos falar a seguir, marca uma fase da capacidade humana de transformar a natureza e, portanto, do seu trabalho.

A Idade dos Metais

Foi o uso de materiais metálicos como o bron-ze e o ferro pelo homem pré-histórico que deu nome ao período hoje conhecido como Idade dos Metais. Considerada a última fase da Pré--História, ela marca o início do domínio das téc-nicas de trabalho com metais fundidos pelo Homo sapiens (em latim, homem inteligente). Nessa época nossos antepassados aprenderam a transformar, por meio de seu trabalho, um recurso natural até então pouco conhecido. Você pode imaginar qual a importância dessa conquista? Ela foi fundamental para as sociedades que surgiram depois.

A partir do momento em que o homem dominou técnicas de fundição (processo pelo qual os me-tais são aquecidos e passam para o estado líquido, e que ainda hoje é utilizado na indústria metalúrgica, como veremos na Unidade 3), conseguiu criar ferramentas para facilitar sua vida. As práticas da agricultura e da caça foram bastante aperfeiçoadas na Idade dos Metais com a criação de instru-mentos que as auxiliavam. Também a produção de armas foi uma das áreas que mais se desenvolveu e influenciou acontecimentos futuros. O domínio sobre os metais mudou as formas de disputa entre as comunidades: as primeiras guerras já contaram com o desenvolvimento de armas metálicas.

Ferramentas Pré-Históricas: produtos da Idade dos Metais.

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Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 17

Atividade 2A revolução dos metAis

Tente imaginar o impacto que o desenvolvimento de ferramentas e outros instrumentos metálicos provocou no cotidiano dos homens pré-históricos. Se possível, reforce essas noções com uma pesquisa orientada pelo monitor. Escreva abaixo as informações que apurar e, depois, compare-as com os resultados obtidos por seus colegas.

Importante

Os historiadores dividem a Pré-História em três períodos: o Paleolítico (que já foi popularmente conhecido como Idade da Pedra Lascada), o Neolítico (também chamado de Idade da Pedra Polida) e a Idade dos Metais. No Paleolítico, nossos antepassados não tinham moradia fixa, deslocando-se constantemente atrás de alimento. O chamado “homem nômade” não praticava a agricultura nem criava animais. Quando os alimentos se esgo-tavam, ele se mudava para outra região. Foi no Período Neolítico que teve início o sedentarismo humano, isto é, sua fixação em um lugar.

18 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Idade do Cobre (6000 a.C. a 3500 a.C.)

A Idade do Cobre também poderia ser chamada de Era da Agricultura, pois, paralelamente ao domínio da ex-tração (retirada da terra) e da manipulação desse metal, o cultivo de alimentos passou a ser fator determinante para a organização da sociedade. Canais de irrigação tornavam férteis as terras áridas e montanhosas; casas feitas de galhos e argila ganhavam a resistência de tijolos moldados; a escrita pictográfica, baseada em desenhos, evoluía. Esse fato marcou um novo momento na história da humanidade. As ideias passavam, assim, a ser mais bem expressas e articuladas.

Os instrumentos feitos de pedra, ossos e madeira foram deixados de lado gradativamente enquanto o homem descobria as possibilidades oferecidas pelo cobre. Esse material tinha maleabilidade, flexibilidade. Podia ser fun-dido, moldado e remoldado até assumir novas formas, que facilitavam, por exemplo, o trabalho com a terra e ajudou no desenvolvimento da agricultura. O homem também passou a moldar, no metal endurecido após o resfriamento, um fio capaz de cortar.

Para a humanidade, antes limitada ao uso da pedra, o cobre representou um gigantesco salto tecnológico. Movidos pela curiosidade, nossos antepassados fizeram diversas experiências – e esse período foi fechado com a descoberta de que se podia misturar o cobre com outros metais, como o chumbo. A produção do bronze, uma liga formada por cobre e estanho, representou um novo passo nessa evolução.

Idade do Bronze (3500 a.C. a 2000 a.C.)

A Idade do Bronze coincidiu com mais um conjunto de avanços e conquistas bastante significativos para a espécie humana. A escrita tornou-se mais simples e objetiva. Um sistema numérico foi desenvolvido para acompanhar a evolução nos mais variados setores. E a construção de

Os metais puros têm pouca utilidade para nós. Em geral, eles são com-binados com outros me-tais nas chamadas ligas. Veremos esse assunto com mais detalhes na Unidade 3.

Você sabia?

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 19

Foi na Idade do Bronze que se criou a roda, uma das invenções de maior impac-to sobre a humanidade.

Você sabia?

grandes obras e templos (as pirâmides egípcias, por exem-plo) exigiu a padronização de pesos e medidas. Antes da Idade do Bronze, os métodos de medição de grandezas eram bastante simples e pouco precisos: as pessoas usa-vam partes do próprio corpo, como as dimensões do pé, a largura da mão, a grossura do dedo, o tamanho do palmo e dos passos e até o comprimento do nariz! Com isso, cada indivíduo tinha uma medida diferente para a mesma coisa. E dá para imaginar como devia ser difícil chegar a um acordo...

Um grande progresso também ocorreu na metalurgia durante esse período. A partir do bronze, implementos feitos de metais se multiplicaram e o conhecimento das ligas – e de suas características – foi sendo aprimorado pelo homem. O bronze começou a ser utilizado para produzir diversos instrumentos, principalmente armas.

Arma fabricada durante a Idade do Bronze: na época, os instrumentos metálicos se multiplicaram.

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20 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Alguns povos do Oriente Médio, que viviam na re-gião onde hoje fica a Tur-quia, já usavam técnicas de metalurgia do ferro em 1400 a.C. (antes de Cristo). Eles fabricavam armas que os transformaram em guerreiros poderosos.

Você sabia?

Idade do Ferro (1200 a.C. a + 1000 d.C.)

Com os primeiros experimentos, o homem logo percebeu uma grande vantagem do ferro sobre o cobre e o bronze: sua abundância na natureza. Por esse motivo, desde mais ou menos 1200 a.C. (antes de Cristo), ele se tornou um dos materiais mais presentes na civilização. Naquele tempo, porém, as fornalhas não atingiam as temperaturas neces-sárias para a fundição do ferro. Por causa dessa limitação surgiu o ferro forjado – que é aquecido e depois moldado a golpes de martelo.

Diferentemente do que ocorreu com o cobre e o bronze, reservados aos grupos mais abastados, o ferro era acessível às camadas pobres da sociedade. Isso porque tanto a ob-tenção do metal quanto sua moldagem envolviam custos baixos. Camponeses passaram a usar machados e arados de ferro e os artesãos, as mais diversas ferramentas. As guerras entre os povos se deram com maior igualdade bélica, já que todos podiam, finalmente, forjar as próprias armas.

Ainda hoje é possível encontrar fábricas e institutos de pesquisa que utilizam a antiga técnica de fundição de metais com a ajuda de um cadinho. Esse conhecimento, que há muito tempo vem sendo aplicado, ainda tem lugar, mesmo nas fundições mais bem equipadas.

Fundição, em instituto de pesquisa, com a ajuda de um cadinho.

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Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 21

O homem transforma a natureza e, ao mesmo tempo, se transforma. Transforma os seus instrumentos, os métodos e as relações de trabalho.

Enquanto aprimoravam-se as técnicas que levaram os homens ao domínio dos me-tais, o trabalho era artesanal e o sistema de trocas foi organizado gradativamente. Com esse sistema, as pessoas trocavam mercadorias entre elas. Cada um produzia para sustento próprio e o que sobrava era trocado com os demais. Essa forma de troca, associada ao fato de alguns produtos passarem a ter mais procura que outros, abriu caminho para mais uma invenção que envolveu a transformação dos metais: a moeda. Isso aconteceu por volta dos anos 500 a.C. a 400 a.C. (antes de Cristo). Com o advento do dinheiro, os metais foram adquirindo um valor muito maior.

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Moeda de Lesbos, Grécia, cerca de 500-450 a.C. Moeda de Creta, Grécia, de 300 a 270 a.C.

Muito tempo depois, já na Idade Média, surgiram as “oficinas artesanais”, com algu-mas características da indústria – que só apareceria séculos mais tarde. Nas oficinas havia o mestre (geralmente um pai de família), o artífice ou companheiro (o filho mais velho) e o aprendiz (o filho mais novo). Aquele que acompanhava o mestre em todos os processos, enquanto esse trabalhava com metais, pode ser considerado o primeiro auxiliar de processos metalúrgicos.

É importante saber, no entanto, que nessas oficinas todos conheciam o trabalho do princípio ao fim e participavam de cada etapa de produção até que a arma, a ferramenta, o utensílio ou o ornamento fosse finalizado. Mas fatores variados – entre os quais a ampliação das relações mercantis, por exemplo – levaram a uma mudança nos processos de trabalho. A produção passou a ser dividida em etapas, dando origem ao trabalho especializado: se, no início, a equipe toda participava de todas as fases de fabricação de um produto, mais tarde cada um passou a exercer uma só tarefa. Essa transformação foi um dos fatores que criaram condições para a Revolução Industrial.

22 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

A Revolução Industrial

A palavra “revolução” tem, entre outros significados, o sentido de grande transformação, mudança expressiva. E o que foi a Revolução Industrial? Um conjunto de mu-danças que aconteceram ao mesmo tempo na economia, no modo de vida das pessoas, na política e, também, nas artes. Mas vamos nos concentrar naquilo que é mais importante para este curso: as mudanças no modo de produção de bens e mercadorias.

As primeiras máquinas a vapor, que usavam carvão como combustível, surgiram no século 18 (XVIII) na Inglaterra – país abundante em carvão mineral e ferro. Essa conquis-ta tecnológica marcou o início do que seria a chamada Primeira Revolução Industrial.

As indústrias foram diretamente responsáveis pelo cres-cimento das cidades, pois naquela época muita gente do campo precisou deixar o local onde vivia e migrar para os centros urbanos em busca de trabalho. E o aparecimento das primeiras metrópoles gerou problemas (e agravou outros) como alcoolismo, prostituição, fome, desemprego etc.

Mas as mudanças não pararam e, em 1860, veio uma Segunda Revolução Industrial. Se no século anterior a novidade foi o uso do carvão para movimentar as má-quinas, agora era a vez da descoberta da eletricidade e do uso do petróleo. Você pode se aprofundar no assunto consultando o Caderno do Trabalhador 1 – Conteúdos Gerais, no tema “História do trabalho”. Neste nosso curso interessa, principalmente, saber que a transforma-ção do ferro em aço permitiu aumentar e variar toda a forma de produção. Isso porque a nova liga metálica era mais resistente e durável, proporcionando, por exemplo, a criação de enormes estruturas industriais: máquinas que ajudam a fazer novas máquinas.

Uma vez extraído da natu-reza, o minério de ferro tem endereço certo: a usi-na siderúrgica, onde é transformado em aço. Es-se processo leva o nome de redução. Você saberá mais sobre as proprieda-des do aço na Unidade 3.

Você sabia?

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 23

Vamos agora dar mais um salto temporal e visitar uma montadora de automóveis norte-americana no início do século 20 (XX), a Ford, que pôs em prática um novo jeito de trabalhar. Para produzir um de seus carros, o célebre Modelo T, Henry Ford (nascido em 1863 e falecido em 1947), dono da fábrica, decidiu que as peças iriam até os operários (por meio de instalações móveis que compunham a chamada linha de montagem) e não o contrário, como era feito até então. Com isso, ganhava--se tempo, e cada trabalhador só poderia parar quando seu chefe permitisse.

É fácil perceber como o dia a dia do profissional de me-talurgia mudou após a invenção das linhas de montagem.

Henry Ford não mudou apenas o modo de traba-lhar, mas também, a ma-neira de pensar dos norte--americanos e do mundo. Como? As propagandas da Ford vendiam a ideia de que felicidade era ter um automóvel e poder passear com ele.

Você sabia?

Londres nos tempos da Primeira Revolução Industrial: muitos trocaram o campo pela cidade em busca de trabalho.

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24 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Charles Chaplin em seu papel mais famoso: Carlitos, de Tempos Modernos.

Henry Ford, criador da linha de produção, e seu Modelo T: na montagem dos carros, as peças iam até os operários.

FilmeTempos Modernos –

Nesta comédia de 1936, o ator Charles Chaplin (que também dirige a trama) interpreta um operário que tem como função apertar parafusos em uma grande indústria. Mas as

peças avançam numa esteira rolante em alta velocidade, num

ritmo que o personagem não consegue acompanhar. O filme

mostra, de modo divertido, como todos trabalhavam de forma mecânica e sem descanso.

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Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 25

Atividade 3

1. Vida de operário

Sob a orientação do monitor, faça uma pesquisa na internet sobre as condições de vida dos operários na época da Primeira Revolução Industrial. As relações de trabalho mudaram dessa época para os dias de hoje? Em quais aspectos? O que mudou e o que permaneceu igual?

2. Objetos metálicos

Você conhece algum objeto que, no passado recente, era fabricado com um tipo de metal e que hoje é produzido com outra matéria-prima? O ferro de passar roupas é um bom exemplo disso: no tempo dos nossos bisavós, era mesmo feito de ferro. Mas agora, apesar de manter o nome, ele tem o corpo de plástico e a base de aço inoxidável.

Procure lembrar-se de outros casos e aponte as possíveis vantagens e desvantagens dessas mudanças.

26 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

A metalurgia no Brasil

Rico em recursos naturais, o Brasil passou quase 300 anos de sua história forne-cendo metais para a Europa. Isso aconteceu durante todo o período em que foi colônia de Portugal, entre 1500 e 1822. A descoberta de grandes reservas de ouro em Minas Gerais, no final do século 17 (XVII) e no início do século 18 (XVIII), fez daquela região o centro da economia do país. Embora quase toda a produção desse metal fosse enviada para o Velho Mundo, retirando do Brasil a maior parte da riqueza gerada, as áreas que concentravam as minas mais ricas deram origem às chamadas Vilas do Ouro, entre as quais se destacam as atuais cidades de Ouro Preto, Mariana, São João del Rei, Sabará, Tiradentes e Diamantina. Nesses lugares o ouro financiou a construção de belíssimas igrejas em estilo barroco.

Importante

O Barroco é um estilo artístico surgido no século 16 (XVI) que se mani-festou principalmente na arquitetura, na pintura e na escultura. Suas características mais marcantes são a valorização dos detalhes, dos or-namentos e das linhas curvas. Nas Vilas do Ouro há belíssimas constru-ções nesse estilo, especialmente igrejas, decoradas com painéis pintados por Manuel da Costa Ataíde e com esculturas moldadas por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 27

Quem visita Congonhas do Campo, uma típica “vila do ouro” de Minas Gerais, encontra uma das obras mais conhecidas do es-cultor Antônio Francisco Lisboa: Os Doze Profetas. A imagem, que você pode ver à esquerda represen-ta um dos 12 profetas que impressionaram, inclusive, o poeta Oswald de Andra-de, para quem as obras de Aleijadinho eram a “Bíblia de pedra sabão, banhada no ouro das Minas”.

Você sabia?

Acima, interior da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto. À esquerda, escultura de Aleijadinho.

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28 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

A produção de ouro começou a diminuir na década de 1750. Para compensar a queda em seus lucros, Portu-gal passou a cobrar impostos ainda mais altos sobre a extração desse metal.

Em outras palavras, a Coroa não aceitava que as reservas das Minas Gerais estivessem diminuindo. E, em vez de tomar medidas que melhorassem a situação, instituiu a chamada “Derrama”, exigindo de cada região produtora o pagamento de 100 arrobas (1.500 quilos) do metal – além do “Quinto”, imposto de 20% sobre o ouro encontrado, que já era cobrado até então. Quando a região não conseguia cumprir a cota, soldados invadiam as casas dos moradores e retiravam seus pertences até completar o valor devido.

Essa medida, associada à proibição de que a Colônia de-senvolvesse atividades produtivas – o que diminuiria sua dependência de Portugal –, causou revolta entre a elite mi-neira: fazendeiros, escritores, donos de minas e militares. Reunidos e organizados, eles começaram a discutir como tornar o Brasil um país independente. Esse movimento ficou conhecido como Inconfidência Mineira.

Em 1789, a tentativa de rebelião foi abortada e suas li-deranças, acusadas de infidelidade ao rei. Parte desses líderes foi exilada do país. Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi executado, sendo o dia 21 de abril – aniversário de sua morte – comemorado como uma data histórica no Brasil, um exemplo de luta contra a tirania.

Joaquim José, “o Liberdade”

Tiradentes (1746-1792), chamado de “o Liberdade” pelos colegas inconfiden-tes, aprendeu com o tio o ofício de dentista (daí seu apelido mais conhecido). Também tentou a vida como tropeiro e minerador. Cansado de ganhar mal, alistou-se no Regimento da Cavalaria e recebeu o posto de alferes (o equiva-lente, hoje, a subtenente). Chegou a pedir licença da tropa, mas depois retor-nou. Passou a lutar contra a Coroa ao conhecer as ideias de pensadores como Rousseau e Montesquieu, que influenciaram a Revolução Francesa.

FilmeO longa-metragem Tiradentes,

dirigido por Oswaldo Caldeira em 1999, mostra a Inconfidência

Mineira por um ângulo diferente daquele que os livros escolares

geralmente apresentam. O filme sugere que Joaquim José da Silva Xavier (interpretado nas telas por Humberto Martins) foi condenado à morte porque era o único entre

os revoltosos que não tinha grandes posses.

Entre outras medidas, os inconfidentes pretendiam criar uma universidade em Vila Rica (atual Ouro Pre-to), transferir a capital da colônia para São João del Rei e construir fornos side-rúrgicos em Minas Gerais.

Você sabia?

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 29

Apesar da fase que envolveu a extração de ouro e da ri-queza gerada por ela, não houve nenhum considerável progresso industrial no país até o século 19 (XIX). Até a vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, era vetada a instalação de fábricas por aqui. Dessa maneira, os brasileiros consumiam apenas produtos portugueses.

Tiradentes esquartejado, 1893, óleo sobre tela de Pedro Américo. Museu Mariano Procópio, Juiz de Fora, MG.

Pedro Américo de Figueiredo e Melo, autor da tela repro-duzida ao lado, foi pintor, ro-mancista e poeta. Nascido em 1843 na cidade paraibana de Areia, estudou na Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e aperfeiçoou--se em Paris. Admirado por Dom Pedro II, o artista se tornou conhecido por retratar cenas históricas como A Ba-talha do Avaí (1877), quadro exposto no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio, e In-dependência ou Morte (1888), painel gigante que faz parte do acervo do Museu Paulista, em São Paulo. Pedro Amé-rico morreu em 1905, em Florença, na Itália.

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30 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Mesmo com a chegada de D. João VI e sua corte, a indústria no Brasil não conse-guiu se desenvolver imediatamente. Em 1o de abril daquele ano, a Coroa liberou o estabelecimento de indústrias e manufaturas, mas os produtos brasileiros já enfrentavam a concorrência das mercadorias inglesas, que entravam no país sem pagar nenhum imposto.

Assim, depois de um período no qual criar indústrias no país era proibido, houve a fase na qual privilégios eram concedidos aos produtos fabricados na Inglaterra, fazendo com que a atividade industrial no Brasil tardasse a se desenvolver.

Alguns historiadores chegam a afirmar que o capitalismo – modo de produção baseado na indústria e no trabalho assalariado – só se firmou no Brasil depois da década de 1930, mais de 100 anos após a Proclamação da Independência.

Se considerarmos a indústria metalúrgica, veremos que seu desenvolvimento no país é posterior a essa data e está fortemente associado às políticas de desenvolvimento implementadas por dois presidentes: Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.

Operários em frente a uma fábrica paulista fundada no século 19 (XIX): a indústria metalúrgica se desenvolveu bem depois.

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Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 31

A Era Vargas

Vargas ficou no poder por 15 anos (de 1930 a 1945), comandando o país de forma ditatorial – sem que ocor-ressem eleições e sem permitir manifestações políticas de oposição nem a expressão da população. Depois, voltou eleito ao poder, governando entre os anos de 1951 e 1954.

Durante sua primeira passagem pela presidência da Re-pública, Vargas deparou-se com uma forte crise econô-mica – efeito da Depressão que se seguiu à quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929 – e a combateu promovendo o fortalecimento da indústria e investindo em infraestrutura.

De acordo com sua política de desenvolvimento, o governo faria intervenções diretas na economia, com o Estado ficando responsável pela criação de indústrias de base, entre elas a metalúrgica.

Indústrias de base são aquelas que produzem matérias-primas para ou-tras empresas. Também conhecidas como indús-trias de bens de produção ou indústrias pesadas, elas incluem principal-mente os ramos siderúr-gico, metalúrgico, petro-químico e de cimento.

Você sabia?

Getúlio Vargas e uma antiga máquina de laminação da Companhia Vale do Rio Doce, criada por ele em 1942: investimento pesado em infraestrutura.

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32 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Essas indústrias de base, por sua vez, dariam suporte para que os demais setores industriais se desenvolvessem. Várias indústrias e diversos institutos de pesquisa, todos estatais, foram criados nesse período.

Entre as empresas públicas fundadas por Vargas podemos citar a Companhia Siderúrgica Nacional (1940), a Com-panhia Vale do Rio Doce (1942), a Fábrica Nacional de Motores (1943) e a Hidrelétrica do Vale do São Francisco (1945). Todas elas são do ramo de metalurgia e empre-gam auxiliares de processos metalúrgicos. A instalação dessas indústrias fez parte da política de substituição de importações adotada pelo então presidente.

JK: 50 anos em 5

Juscelino Kubitschek assumiu a presidência da República em 1956, após um período de turbulências na política que culminou com o suicídio de Getúlio Vargas em 1954, interrompendo seu segundo mandato. O vice de Vargas,

Substituição de importa-ções é o nome do proces-so econômico que leva ao aumento da produção interna de um país e à diminuição de suas im-portações. Em outras palavras, o país passa a produzir aquilo que vai consumir para não preci-sar comprar os produtos de fora, valorizando, as-sim, a indústria nacional.

Você sabia?

Juscelino Kubitschek (em pé, acenando para o público): incentivo à instalação de empresas do setor automobilístico.

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Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 33

Café Filho, chegou a comandar o governo, mas foi afasta-do pouco mais de um ano depois por problemas de saúde.

JK, eleito em 1955, seguiu uma política considerada “desenvolvimentista” e dizia que sua meta de governo era fazer o Brasil avançar “50 anos em 5”. A promessa entusiasmou o país.

Na economia, a proposta de Juscelino era dar continuidade ao desenvolvimento industrial (e acelerá-lo) e, para isso, tinha como um de seus focos as indústrias de base, o que, como já vimos, envolve a área metalúrgica.

Mas o governo também apostou na atração de investimen-tos estrangeiros, incentivando a instalação de empresas internacionais, principalmente do setor automobilístico. Isso levou o país a criar uma enorme dívida com conse-quências sérias para as décadas seguintes.

O projeto urbanístico de Brasília, que lembra um avião, coube a Lúcio Costa. Já o arquiteto Oscar Niemeyer projetou os principais prédios públicos da nova capital, como o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e a Catedral de Brasília.

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A fundação de Brasília, que substituiu o Rio de Janeiro como capital fe-deral, ocorreu em 21 de abril de 1960, durante a presidência de JK. A pro-messa de deslocar o nú-cleo do poder político para o Planalto Central era uma das metas do pla-no “50 anos em 5”.

Você sabia?

34 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

De 1964 a 1984, o Brasil mergulhou num dos capítulos mais sombrios de sua história: uma ditadura militar reple-ta de censura, violência e repressão. Você pode recordar o assunto consultando o Caderno do Trabalhador 5 – Conteúdos Gerais, no tema “Repassando a história”.

Em 1968, em represália contra os opositores, o gover-no baixou o Ato Institucional no 5 (ou AI-5), medida que suprimiu as liberdades políticas e de expressão dos brasileiros. Qualquer ação considerada subversiva pelos agentes do poder poderia resultar em prisão, tortura, extradição e até morte.

Dez anos depois da publicação do AI-5, em 12 de maio de 1978, mais de 3.000 metalúrgicos de uma monta-dora de caminhões em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, desafiaram a truculência dos generais: eles entraram na fábrica, mas deixaram as máquinas desligadas. Tinha início, então, a primeira de uma série de greves organizadas pela categoria, que se estenderam

A região conhecida como ABC Paulista engloba os municípios de Santo An-dré, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul. Também há quem se refira ao ABCD, que in-clui a cidade de Diadema.

Você sabia?

Trabalhadores da metalurgia na redemocratização do país

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 35

até o ano seguinte. Aumento salarial e melhores condições de trabalho estavam na pauta de reivindicações. Entretanto, mais do que as demandas relacionadas diretamente ao trabalho, as mobilizações dos grevistas das indústrias metalúr-gicas em São Paulo (e depois em Minas Gerais) tornaram-se símbolos da luta pela redemocratização do país, já que, na época, o Estado vetava manifestações públicas. Entre outras lideranças, o movimento dos operários do ABC revelou o então torneiro mecânico Luiz Inácio Lula da Silva, que anos mais tarde chegaria à presidência da República por meio do voto.

Atividade 4reflexão

Com a supervisão do monitor, você e seus colegas vão debater a importância dos movimentos grevistas dos metalúrgicos durante a ditadura militar e as vitórias conquistadas pela categoria em consequência disso. E o país, o que ganhou a médio e longo prazo?

Operários de São Bernardo do Campo em greve, no final da década de 1970: símbolo da luta contra a ditadura militar.

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A profissão de auxiliar de processos metalúrgicos

Não será difícil encontrar outros nomes para a ocupação de auxiliar de processos metalúrgicos. No Brasil, você poderá ser chamado de: auxiliar de processos, auxiliar técnico, auxiliar de produção, assistente técnico de produção ou, simplesmente, de assistente técnico.

Na verdade, auxiliar de processos metalúrgicos é a nomenclatura que o alimentador de linha de produção recebe na indústria siderúr-gica. Por isso, sempre que for pesquisar sobre a ocupação lembre-se desse nome mais utilizado: alimentador de linha de produção.

Mas o nome, neste caso, é o menos importante. Por ora, o prin-cipal é entender que, como auxiliar de processos metalúrgicos, você terá um papel essencial na rotina produtiva das indústrias deste setor, servindo de apoio para a equipe técnica que atua na área produtiva.

38 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

O Ministério do Trabalho e Emprego produz um docu-mento que organiza as diversas categorias profissionais e ajuda o trabalhador a orientar-se no mercado. Esse docu-mento é a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Ele descreve 2.422 ocupações e diz o que é preciso para exercê-las: a escolaridade necessária, o que cada profis-sional deve fazer, onde pode atuar etc.

Nas indústrias metalúrgicas, não há atividade que ocorra sem a ajuda de um auxiliar de processos. É ele quem sustenta a produção.

A descrição de cada ocu-pação da CBO é feita pe-los próprios trabalhadores. Dessa forma, temos a ga-rantia de que as informa-ções vêm de quem atua no ramo e, portanto, conhece bem a profissão. Você po-de ver esse documento na íntegra e pesquisar sobre ocupações acessando o site: www.mtecbo.gov.br. Você pode encontrar na CBO o que faz o auxiliar de processos metalúrgi-cos, de forma resumida, procurando pelo alimen-tador de linha de produ-ção. Agrupamos aqui suas atribuições por temas.

Você sabia?

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Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 39

Atitudes pessoais

• Demonstrar iniciativa. • Reconhecer limitações pessoais.• Utilizar equipamento de proteção individual (EPI). • Manter tranquilidade no ambiente de trabalho,

contribuindo para evitar estresse.

Atitudes profissionais

• Trabalhar em equipe.• Trabalhar em sintonia com outras etapas da

produção.• Controlar o tempo de trabalho.• Manter as operações diárias, ou seja, cumprir

suas tarefas de todo dia.

Formação/qualificação profissional

• Apresentar escolaridade de quarta a sétima série do ensino fundamental.

• Apresentar curso básico de qualificação profissional de 200 a 400 horas-aula.

• Desempenhar atividades por um ou dois anos para conseguir experiência profissional.

Existem empresas que fornecem capacitação pa-ra trabalhadores dessa área quando já estão con-tratados. Quando você estiver procurando em-prego no setor, procure saber quem oferece opor-tunidades de formação.

Você sabia?

Independentemente de as empresas adotarem nomes dife-rentes para essa função, entre as informações que constam desse documento existe a que nos interessa definir neste momento: auxiliar de processos metalúrgicos.

40 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Atividade 1o profissional

1. Vamos pesquisar mais sobre o profissional auxiliar de processos metalúrgicos utilizando o computador. Visite o Portal do Trabalho e Emprego do Governo Federal: http://www.mtecbo.gov.br. Se precisar, peça ajuda ao monitor.

O dia a dia do Auxiliar de Processos Metalúrgicos

O Auxiliar de Processos Metalúrgicos é um profissional que trabalha no que se chama de “chão de fábrica”, onde acontece a produção de bens nas indústrias. Embora não possua responsabilidade técnica final por processos ou produtos, suas atividades são de grande importância no suporte àqueles que são responsáveis pelos processos nas indústrias metalúrgicas, entre os quais os técnicos e engenheiros. Diferentemente de outros trabalhadores do setor, seu trabalho também não é o de desenvolver produtos. Como o próprio nome indica, cabe a ele auxiliar os responsáveis por essas atividades.

Trabalhar em equipe e receber com atenção as orientações dos responsáveis pelo processo são as duas atitudes que devem guiar o auxiliar em qualquer emprego.

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Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 41

Em contrapartida, o auxiliar participa de todas as etapas do processo industrial. A principal característica dessa ocupação é a relação direta que ela possui com todas as fases de fabricação do produto:

• fase inicial: o auxiliar executa atividades que envolvem o controle e o recebimento da matéria-prima;

• fase intermediária: o auxiliar realiza atividades que envolvem o controle operacional; ou seja, ele auxilia na coleta e controle de dados essenciais aos processos produtivos (tanto os relacionados aos equipamentos, quanto aos produtos);

• fase final: o auxiliar realiza atividades relacionadas às etapas de inspeção e controle da qualidade final.

Assim, a rotina de um auxiliar de processos metalúrgicos pode ser bastante diversificada. Mas, em todas as fases do processo de produção, suas atividades estão relacionadas à garantia da qualidade dos produtos fabricados.

No processo de fundição, a fase inicial conta com a presença do auxiliar de processos metalúrgicos, que controla o recebimento de matérias-primas como o pó de carvão.

DICAA oportunidade de deslanchar na

carreira e disputar melhores cargos dentro da empresa não é

um privilégio apenas dos executivos! Várias pesquisas

apontam que as indústrias estão de olho no potencial dos

colaboradores de base que são, justamente, os profissionais do “chão de fábrica”. Fique de olho

porque as grandes empresas têm oferecido vários cursos técnicos que podem lhe interessar. Quem

investe garante: o retorno compensa, e muito!

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42 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Uma das funções do auxiliar, na fase inicial, é controlar o recebimento de materiais e sua adequada disposição no depósito.

O controle da qualidade, fase final de qualquer processo metalúrgico, também conta com a ajuda do auxiliar, que deve apoiar os técnicos responsáveis pela análise dos produtos finais.

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DICANa Unidade 3, você saberá

detalhes sobre os segmentos da metalurgia: extração;

transformação; beneficiamento; montagem ou aplicação; e

serviços, ensino e pesquisa.

Pelo fato de atuar em diferentes etapas do processo de produ-ção, o auxiliar de processos sempre precisará conhecer todas as etapas pelas quais o produto passa e, com isso, desenvolver um bom conhecimento técnico de todo o processo.

Também deve estar ciente de que falhas simples no pro-cesso de produção podem comprometer um imenso vo-lume de material, implicar falhas técnicas em produtos, e, no limite, gerar problemas de ordem comercial para a empresa fabricante.

As atividades específicas de um auxiliar de processos metalúrgicos dependerá da indústria em que atuar. Ele terá atribuições diferentes em uma indústria de extração, beneficiamento ou transformação. Mas, em todas elas, terá o seu espaço.

Além disso, uma grande empresa pode possuir diversos setores produtivos, cada um com uma missão e envolvendo processos diferentes, que necessitarão mais ou menos do trabalho dos auxiliares.

A importância do auxiliar de processos metalúrgicos

Como futuro auxiliar de processos metalúrgicos, é im-portante que você saiba que seu trabalho pode contribuir com informações essenciais e, por vezes, decisivas para toda a produção.

Muitas vezes, é o auxiliar quem fornece dados que, mais tarde, serão reunidos em boletins técnicos, documentos de controle de produto e parâmetros de controle de equipamen-tos. Esses dados são fundamentais para que ações corretivas sejam aplicadas, melhorando um produto existente, ou mesmo auxiliando no desenvolvimento de novos produtos.

Portanto, o que parecia um simples controle de equipa-mento pode se transformar em uma atividade fundamental para o processo produtivo. Conheça, nas próximas páginas, alguns equipamentos utilizados em processos metalúrgicos.

44 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Maçarico – utilizado para corte de materiais na realização de pequenos reparos.

Lixadeira de cinta – utilizada para retirar rebarbas e dar acabamento em metais.

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Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 45

Paquímetro, micrômetro e régua graduada – instrumentos usados em medições lineares.

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Transferidor de grau (ou goniômetro) – realiza medições angulares.

46 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Atividade 2equipamenTos usados no dia a dia de

um auxiliar de proCessos meTalúrgiCos

Com a orientação do monitor, discuta, em grupo, qual a importância de cada um desses equipamentos apresenta-dos nas páginas anteriores no processo produtivo e quais dificuldades o auxiliar de processos metalúrgicos poderia encontrar ao trabalhar com eles.

O perfil do profissional

Como em uma indústria metalúrgica são realizadas ati-vidades diferenciadas – tanto simples como complexas – nela trabalham profissionais de diversos níveis de esco-laridade e com funções e cargos variados. Nesse sentido, ter disposição para trabalhar em equipe e atuar de forma cooperativa é importante. A cooperação no ambiente de trabalho possibilita que toda a equipe cresça junto e você poderá aprender cada vez mais sobre sua ocupação.

Nessa função – como em quase todas – também é impres-cindível realizar as atividades sem perder a concentração, sendo cuidadoso na manipulação dos materiais, de modo a evitar riscos desnecessários.

Mas, lembre-se: a preocupação com os riscos no ambiente de trabalho é, antes de tudo, uma responsabilidade da empresa. É ela que deve – por lei – dispor as condições e os equipamentos de proteção individuais e coletivos (sobre os quais falaremos detalhadamente mais adiante), para que os profissionais não atuem em condições que possam causar danos à sua saúde e segurança.

Por fim, planejar o trabalho e as atividades do dia poderá ajudá-lo a organizar o que irá fazer e tornar a sua rotina mais fácil.

Segundo o Dicionário Hou-aiss, o verbo cooperar signi-fica “atuar, juntamente com outros, para um mesmo fim”. Essa atitude é a que se espera de todos os traba-lhadores de uma indústria metalúrgica e, principalmen-te, do trabalhador do “chão de fábrica”, sem o qual uma produção não funciona!

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 47

Atividade 3ConheCendo a profissão

1. Leia a entrevista a seguir. Ela traz o depoimento de um metalúrgico que atua como auxiliar de processos metalúrgicos.

P – Qual é o seu nome e o que você faz?

R – Meu nome é Weden Rodrigues da Silva e sou auxiliar de processos metalúrgicos.

P – Qual é a sua idade?

R – 24 anos.

P – Há quanto tempo você exerce a profissão de auxiliar de processos metalúrgicos?

R – Eu exerço a profissão de auxiliar de processos metalúrgicos há 10 meses.

P – Como iniciou sua carreira?

R – Sempre tive vontade de trabalhar na empresa em que atuo hoje, pois meu pai e meu irmão trabalharam aqui. Ago-ra é a minha vez, é aqui, nesta indústria de fundição, que estou iniciando a minha carreira. Eu comecei no setor de moldagem, mas logo passei para a engenharia de qualidade e, hoje, estou no setor de controle de processos.

P – Qual é a sua rotina de auxiliar de processos metalúrgicos?

R – O meu trabalho, como auxiliar, é inspecionar pacotes, inspecionar parâmetros das máquinas e acom-panhar se as recomendações da produção estão sendo seguidas. Também é sempre importante que eu tenha uma boa noção de todas as etapas da produção para poder orientar e ajudar a todos.

P – O que é preciso para ser um auxiliar?

R – É preciso ser uma pessoa observadora, saber se comunicar com diversos níveis hierárquicos e ter muita vontade de estar sempre aprendendo.

P – Quais são os principais cuidados que se deve ter ao realizar as suas funções em uma fundição?

R – O principal cuidado que o auxiliar deve ter, em qualquer setor, é realizar apenas as atividades para as quais possui capacidade e sempre cuidar da segurança de todos.

P – Hoje em dia, você costuma fazer cursos de especialização?

R – Sim, estou fazendo o curso de técnico em metalurgia para aumentar e melhorar os conhecimentos que já adquiri.

P – O que é preciso para ser um profissional qualificado?

R – Para ser um profissional qualificado e, mais do que isso, requisitado é preciso ter conhecimento técnico, teórico e prático. E não faltam oportunidades para quem está qualificado!

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48 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

2. Organizados em trios, você e dois colegas vão entrevistar um profissional da área. Se possível, escolham alguém que atue num bairro próximo à escola.

Investiguem como é o seu trabalho no dia a dia, como aprendeu a ocupação e as oportunidades de trabalho existentes. Procurem saber também quais são as dificuldades e facilidades que essa atividade envolve.

Não esqueçam ainda de anotar alguns dados pessoais do(a) entrevistado(a), prin-cipalmente seu nome, escolaridade e local de trabalho.

Segue abaixo um roteiro com sugestões de perguntas.

a) Quem é o entrevistado? Qual o seu nome? Onde trabalha?

b) Qual sua escolaridade?

c) Há quanto tempo está exercendo essa ocupação?

d) Como é o trabalho que realiza no seu dia a dia?

e) Como aprendeu a ocupação?

f) Quais são as principais dificuldades para exercer o trabalho no dia a dia?

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 49

3. Investiguem as oportunidades de trabalho existentes para quem exerce essa ocupação.

4. Criem um cartaz com as principais informações levantadas na entrevista (item 2) e na pesquisa (item 3) e exponham os resultados do trabalho para a classe. Vocês podem usar o espaço abaixo para anotar os pontos mais importantes.

Conhecer o que faz um auxiliar de processos metalúrgicos é importantíssimo para você decidir se vai mesmo abraçar tal ocupação.

O mercado de trabalho

A economia nacional cresceu em ritmo acelerado nos últimos anos, o que gerou, entre outros efeitos, um aumento significativo na quantidade de empregos na indústria, inclusive no setor metalúrgico.

A boa notícia inclui a área de atuação do auxiliar de processos metalúrgicos.

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50 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Identificando seus saberes

Antes de começarmos a observar de forma mais detalhada cada um dos aspectos da ocupação, convidamos você a olhar para seus saberes atuais.

Afinal, você já tem conhecimentos, experiências e percepções que podem ser úteis no dia a dia de um auxiliar de processos metalúrgicos.

Nossa proposta é identificar esses itens por duas razões.

A primeira delas é que há muitas coisas que já fizemos (ou ainda fazemos) e não valorizamos. Certamente você possui saberes adquiridos durante a vida, por meio de experiências e aprendizagens obtidas na escola ou fora dela.

Veja esse exemplo: uma das competências listadas na CBO é “manter as operações diárias”. Vamos imaginar, então, a situação a seguir. Você, por algum motivo, está sozinho em casa. E tem uma série de atividades a fazer: arrumar as camas, lavar a louça, pôr ordem na casa, preparar seu almoço, fazer compras e guardá-las, revisar o seu currículo, buscar informações sobre empresas de metalurgia que estão con-tratando auxiliares, preparar o jantar... – e ainda encontrar tempo para conversar um pouco com os vizinhos.

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 51

Tudo isso vai exigir de você uma boa dose de disciplina e organização, concorda? Você está acostumado a assumir várias responsabilidades assim em seu cotidiano.

A segunda razão para identificarmos nossos conhecimentos passados e experiências acumuladas é que isso vai permitir às pessoas da classe partilharem seus saberes uns com os outros. Um ajudará o outro a reconhecer e a extrair, das vivências individuais, saberes que podem ser úteis para a profissão que estão buscando.

Aprender a ouvir é um grande começo. Essa é uma característica importante (e valorizada) quando buscamos uma profissão na qual precisamos lidar com pessoas diferentes o tempo todo.

Atividade 4sua hisTória de vida

1. Escolha alguém da classe – de preferência, uma pessoa que você ainda não conhece bem – para fazer uma dupla. Um de vocês começa a contar sua vida e o outro anota o que achar relevante. Depois vocês vão trocar de posição. Não deixem nada de fora.

Cada um deve falar sobre seus estudos, trabalhos e bicos; o que faz no dia a dia (seus hábitos cotidianos); o que gosta de fazer para se divertir e relaxar; o que sabe fazer em casa; o que aprendeu um dia, mas hoje não sabe mais fazer etc.

Fale também sobre como você é: do que gosta e não gosta; se você é organizado, dorminhoco, falante etc.

As duplas terão cerca de 40 minutos para essa parte da atividade. Cada um pode falar durante 20 minutos, mais ou menos, sem ser interrompido pelo outro (a menos que seja para esclarecer dúvidas).

2. Agora que os dois já contaram quem são, que tal organizar essas informações e listar seus saberes?

Vocês devem fazer isso juntos, tendo como base a conversa e as anotações men-cionadas no item anterior. Mas cada um vai escrever no próprio caderno o que descobriu (ou já sabia) sobre si mesmo.

52 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Exemplo Minhas características

Até que série estudei

Estudei até a sexta série (parei em 1999).

Cursos de qualificação que fiz

Nenhum.

Saberes relacionados às minhas experiências de trabalho

Trabalhei no setor de estoque de uma pequena metalúrgica. Fui ajudante de um serralheiro do meu bairro.

Saberes relacionados ao meu jeito de ser e de agir

Gosto bastante de conversar. Tenho facilidade para aprender.

Outras coisas que sei ou aprendi

Sei jogar bola e desenho bem.

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 53

Lembre-se de que existem saberes:

• de tipos diferentes – relacionados à comunicação (fala e escrita), aos números, aos esportes, às habilidades manuais etc.

• que aprendemos em lugares diferentes – na escola, no trabalho, na vizinhança, na reunião da associação de bairro etc.

• que aprendemos de maneiras diversas – olhando os outros fazendo (ou seja, pelo exemplo), lendo, exercitando etc.

Assim como o compositor Noel Rosa cantava que “Ba-tuque é um privilégio / Ninguém aprende samba no colé-gio”, há coisas que aprendemos depois de treinar bastante (futebol, por exemplo); e outras que aprendemos mais facilmente na escola, quando alguém nos ensina passo a passo (como ler e escrever).

Todos são saberes válidos. Mas, dependendo do que você faz, alguns podem ser mais úteis do que outros. Por isso, vamos agora dar mais um passo no reconhecimento dos seus saberes.

Noel Rosa nasceu no Rio de Janeiro em 1910. Foi compo-sitor e cantor e é considerado um dos maiores sambistas brasileiros. Morreu em 1937, com apenas 26 anos. Mas nesse curto tempo de vida compôs mais de 250 músicas.

Se possível, ouça – usando a internet – a canção Feitio de oração, que contém os versos transcritos na página a seguir.

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Noel Rosa: o talento para unir a letra à melodia lhe rendeu o título de “filósofo do samba”.

54 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Na tabela a seguir, você irá relacionar os seus saberes atuais com aqueles identificados como necessários à ocupação de auxiliar de processos metalúrgicos.

O objetivo deste exercício é fazê-lo perceber e registrar tudo que precisa aprender ou aprimorar a fim de trabalhar como auxiliar de processos metalúrgicos. Faça um x na coluna que descreve sua situação em relação a esses saberes.

Feitio de oração

Noel Rosa e Vadico

Quem acha vive se perdendo

Por isso agora eu vou me defendendo

Da dor tão cruel desta saudade

Que, por infelicidade,

Meu pobre peito invade

Batuque é um privilégio

Ninguém aprende samba no colégio

Sambar é chorar de alegria

É sorrir de nostalgia

Dentro da melodia

Por isso agora lá na Penha

Vou mandar minha morena

Pra cantar com satisfação

E com harmonia

Esta triste melodia

Que é meu samba em feitio de oração

O samba na realidade não vem do morro

Nem lá da cidade

E quem suportar uma paixão

Sentirá que o samba então

Nasce do coração.

Copyright © 1954 By IRMÃOS VITALE S/A IND. E COMÉRCIO

Todos os direitos autorais reservados para todos os países.

ALL RIGHTS RESERVED. INTERNATIONAL COPYRIGHT SECURED.

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 55

O que diz a CBO

Saberes que eu já tenho

(Inclua aqui tanto os saberes que

você domina – cursos e atividades

que já fez –, quanto os que você

está adquirindo)

O que eu preciso saber

(Inclua aqui tanto os saberes que

você precisa aprimorar, como os

que você precisa aprender –

aqueles que você “tem que

começar do zero”)

OK Em processo

Preciso aprimorar

Preciso aprender

Escolaridade

Ensino Fundamental

Capacitação profissional

Curso de qualificação

Participação em eventos e palestras

Estágio em metalúrgica

Consultas em livros e publicações especializadas

Saberes relacionados à ocupação: atitudes profissionais

Agir com iniciativa

Manter a tranquilidade no ambiente de trabalho

56 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

O que diz a CBO

Saberes que eu já tenho

(Inclua aqui tanto os saberes que

você domina – cursos e atividades

que já fez –, quanto os que você

está adquirindo)

O que eu preciso saber

(Inclua aqui tanto os saberes que

você precisa aprimorar, como os

que você precisa aprender –

aqueles que você “tem que

começar do zero”)

OK Em processo

Preciso aprimorar

Preciso aprender

Trabalhar em equipe

Trabalhar em sintonia com outras operações

Controlar o tempo de trabalho

Manter as operações diárias

Atividade 5planeje seus próximos passos

Liste na tabela a seguir algumas atividades que você pode fazer durante este curso e que podem ajudá-lo a se preparar para ser auxiliar de processos metalúrgicos. Por exemplo: ler apostilas e livros técnicos sobre os processos metalúrgicos.

Não se esqueça de indicar o motivo que o levou a escolher esse passo e de definir de que forma você vai agir. Depois é só colocar um prazo para isso acontecer.

Construa agora o seu próprio roteiro. Coloque nele quantas ações quiser.

Mas lembre-se: você não vai esgotar todas as atividades de uma só vez e, ao programá--las passo a passo, a chance de desanimar é menor. Além disso, você poderá voltar a esse roteiro quantas vezes achar necessário, durante o curso e depois de concluí-lo.

Para que o planejamento dê certo, você deve rever o seu roteiro de tempos em tempos e modificar suas ações e prazos, adequando-os quando preciso.

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 57

O que fazer? Por quê? Como? Quando?

Ler livros e apostilas sobre os processos metalúrgicos.

Para conhecer as normas e os procedimentos obrigatórios para o exercício da profissão.

Procurando textos na internet e, se possível, em bibliotecas especializadas (de escolas técnicas, por exemplo).

Até o final deste mês.

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 59

unida d e 3

O setor metalúrgicoComo já vimos, a área da metalurgia pode ser dividida em:

• metalurgia extrativa;

• metalurgia de transformação ou conformação mecânica;

• beneficiamento;

• montagem ou aplicação.

Esses segmentos são também as etapas que estruturam o tra-balho do setor metalúrgico, desde a extração do minério até a montagem do produto final.

1. A metalurgia extrativa

A metalurgia extrativa é a área que trabalha com a obtenção (ou extração, retirada) de metais a partir de fontes minerais naturais e, eventualmente, de sucata. Os metais estão divididos em duas grandes categorias: ferrosos e não ferrosos.

O trabalho do auxiliar de processos metalúrgicos, na metalurgia extrativa, está relacionado:

• à estocagem;

• ao controle dos dados das matérias-primas;

• ao acompanhamento dos processos de extração;

• aos cuidados com os equipamentos utilizados;

• aos parâmetros a serem seguidos no processo de extração.

O primeiro passo da metalurgia extrativa é verificar se realmente existe minério no local que se pretende explorar.

60 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Hoje, essa tarefa ficou relativamente mais fácil graças à tecnologia, pois para fazê-la são usadas sondas que detectam minérios, dispensando as caras e demoradas escavações do passado.

Os metais podem ser encontrados na crosta terrestre en-tranhados em rochas.

A região rochosa onde há uma concentração de minerais com valor comercial recebe o nome de jazida.

As jazidas podem ser superficiais ou profundas. No Brasil, as jazidas de ferro, por exemplo, são superficiais, formando morros. Já as de ouro e as de carvão são muito profundas e necessitam de técnicas de extração que envolvem o uso de máquinas sofisticadas ou o trabalho manual de mineiros ou garimpeiros.

Minério e mineral são coisas diferentes. O mi-nério é o mineral que pode ser explorado eco-nomicamente, isto é, po-de ser comercializado.

Conforme a sua formação, as rochas podem ser clas-sificadas em ígneas (tam-bém conhecidas como magmáticas), sedimenta-res ou metamórficas.

As rochas ígneas são for-madas pelo resfriamento do magma vulcânico; as sedimentares, pelo acúmu-lo de sedimentos transpor-tados pelo vento e pela água; as metamórficas, pela modificação de ro-chas existentes por meio da pressão e do calor no interior da crosta terrestre.

Você sabia?

Você sabia?

Jazida de ferro: o metal entranhado nas rochas forma morros.

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Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 61

A palavra jazida, na língua portuguesa, tem significados diferentes. Pode ter o senti-do que nos interessa neste texto – ou seja, “camada de uma substância (como car-vão, ferro etc.) que existe naturalmente nas rochas” – mas também pode significar “a ação de jazer”, isto é, deitar-se. Esse tipo de situa-ção (formas linguísticas idên-ticas com significados diver-sos), na língua portuguesa, é chamado de homonímia.

Um exemplo de jazida profunda é a da mina de cobre de San José, no De-serto de Atacama, no Chi-le. Em 2010, 33 mineiros que trabalhavam na extra-ção de cobre no local so-freram um acidente e fi-caram soterrados durante 69 dias, 700 metros abai-xo da superfície. O resga-te dos mineiros, que ocor-reu no dia 13 de outubro, durou 22 horas e foi con-siderado um sucesso, pois todos saíram com vida!

Você sabia?

Extração de hematita na Mina de Timbopeba em Mariana (MG): a céu aberto.

Resgate dos mineiros de cobre, no Chile: operação de 22 horas foi um sucesso.

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62 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Observe o gráfico abaixo. Ele contém uma estimativa da presença (em porcentagens) de metais que podem ser encontrados na natureza no mundo todo.

Fica bastante destacada, nesse gráfico, a importância rela-tiva do ferro perante os demais metais. Vê-se que, apesar da diversidade de minérios existente, o mais popular é o ferro, o metal mais abundante no planeta.

Aluviões são camadas de areia, argila ou cascalho pro-venientes de erosão recente e que são transportados e depo-sitados por correntes de água.

O extrativismo, atividade pela qual o homem explora os minérios, é conhecido desde a Pré-História. No Brasil, antes mesmo da descoberta de ouro em Minas Gerais (da qual falamos na Unidade 1), a atividade fez parte de um capítulo importante da história.

Foi durante o século 16 (XVI), período em que o Brasil ainda era colônia de Portugal. Os chamados bandeirantes (homens contratados pelos colonizadores lusitanos para desbravar terras brasileiras ainda desconhecidas, além de capturar índios e escravos) partiam das vilas de São Paulo e São Vicente em busca de riquezas. Ouro e diamantes eram encontrados na superfície da terra, nos aluviões dos rios ou no solo.

Porcentagem ou porcen-tual é uma fração de uma centena. Para obtê-la, dividimos algo por 100 e contamos quantos centé-simos vamos usar. Quan-do falamos em 25%, por exemplo, significa que estamos usando 25 par-tes do total de 100 partes em que algo foi dividido.

Você sabia?

Al 1,7% Ni 0,1%

Mg, Sn, Ti 0,1%

Fe 95,6%

Cu 1,1% Pb 0,6%Zn 0,8%

Al AlumínioCu CobreZn ZincoPb ChumboNi NíquelMg MagnésioSn EstanhoTi TitânioFe Ferro

Presença de metais no mundo

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 63

A história dos bandeiran-tes foi tratada de diferen-tes maneiras pelos histo-riadores brasileiros. Houve quem considerasse que esses exploradores foram heróis nacionais. Um filme produzido em 1940 – Os Bandeirantes, de Humber-to Mauro –, ajudou a pro-pagar essa ideia. Outra vertente, mais atual, mos-tra um lado menos roman-tizado desses viajantes, retratando sua atuação na captura e escravização de índios e, mais tarde, na perseguição de escravos que fugiam das fazendas.

Você sabia?

Monumento às Bandeiras, escultura em granito de Victor Brecheret, 1954, Praça Armando Salles de Oliveira, São Paulo.

Anhanguera, óleo sobre tela de Theodoro Braga, 1930, Museu Paulista da USP, São Paulo. A imagem mostra o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva acendendo fogo diante de índios goitacazes, que atribuíram poderes mágicos ao explorador e o apelidaram de Diabo Velho.

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64 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

O Brasil é bastante rico em recursos naturais, incluindo minérios de vários tipos. Ao lado de Canadá, Austrália, Rússia, China e Estados Unidos, nosso país dispõe de quase 60 minerais, sendo que algumas das maiores reservas do mundo estão aqui. A terceira maior jazida de bauxita (minério do qual se extrai o alumínio), por exemplo, localiza-se em território nacional.

Entre os principais minérios encontrados no Brasil estão o ferro, a bauxita, o cobre, o cromo, o ouro, o estanho, o níquel e o manganês.

Um exemplo dessa riqueza natural é o chamado Quadrilátero Ferrífero, região do estado de Minas Gerais localizada a poucos quilômetros da capital, Belo Horizonte. A região já atraiu muita gente no século 17 (XVII) com a descoberta de grandes reservas de ouro (assunto tratado na Unidade 1). Atualmente, o Quadrilátero con-tinua sendo a região mais populosa daquele estado e ainda é uma área de extrema importância para a economia do país, respondendo por 60% da produção brasileira de ferro e por 40% da produção de manganês.

Quadrilátero Ferrífero: localizado em uma área de aproximadamente 7 mil km2 na região central de Minas Gerais.

Quadrilátero Ferrífero

Borda Oeste da Cordilheira do Espinhaço

Borda do Craton do São Francisco

Supergrupo do São Francisco

Supergrupo do Espinhaço

Supergrupo Minas

Supergrupo Rio das Velhas

Gnaisses não retrabalhados no Brasiliano

Faixa Araçari

Faixa Alto Rio Grande

Faixa Brasília

Sete Lagoas

Belo Horizonte

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O Quadrilátero Ferrífero

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 65

Para você ter uma ideia da importância do ferro na vida des-sa região, vale destacar que o poeta Carlos Drummond de Andrade dedicou ao tema um de seus textos mais célebres, a Confidência do Itabirano. Vamos conhecer esse poema?

Confidência do Itabirano

Carlos Drummond de Andrade

Alguns anos vivi em Itabira.

Principalmente nasci em Itabira.

Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.

Noventa por cento de ferro nas calçadas.

Oitenta por cento de ferro nas almas.

E esse alheamento do que na vida é porosidade

e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,

vem de Itabira, de suas noites brancas, sem

mulheres e sem horizontes.

E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,

é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te

ofereço:

esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;

este São Benedito do velho santeiro Alfredo

Duval;

este couro de anta, estendido no sofá da sala

de visitas;

este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.

Hoje sou funcionário público.

Itabira é apenas uma fotografia na parede

Mas como dói!

O poeta Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabi-ra do Mato Dentro, uma das cidades do Quadrilátero Fer-rífero, em 31 de outubro de 1902, e morreu no Rio de Janeiro, em 17 de agosto de 1987. Entre suas obras mais conhecidas merecem desta-que Alguma Poesia (1930), Sentimento do Mundo (1940), José (1942) e A Rosa do Povo (1945). Você pode conhecer mais sobre ele e suas poesias pesquisando o site www. carlosdrummond.com.br.

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Confidência do Itabirano, publicado no livro Sentimento do Mundo,

de Carlos Drummond de Andrade, Editora Record, Rio de Janeiro

Carlos Drummond de Andrade (c) Graña Drummond

www.carlosdrummond.com.br

66 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

O ferro, como vimos, é o metal mais presente no planeta, e aproximadamente 8% de suas reservas estão no Brasil. Por isso, ele se tornou o principal minério extraído no país, que já é o segundo maior produtor de ferro do mundo.

O papel desse metal, como já estudamos, é histórico. Sua participação na Revolução Industrial foi fundamental e até hoje sua utilização é relevante.

Mas você deve ficar atento, pois, atualmente, quando alguém menciona o ferro, muito provavelmente está fa-lando do aço – resultado de uma liga de carbono com ferro. Ferro e aço são tão importantes que foi criada uma categoria de indústria só para eles: a siderurgia. Não é à toa que essa indústria é tão comentada na história do país.

Veja, a seguir, um trecho da reportagem “AEB: Exportação de minério de ferro excede US$20bi” (O Estado de S. Paulo, 3 de janeiro de 2011): “Com o boom no mercado de minério de ferro, pela primeira vez um único produto ultrapassa a marca de US$ 20 bilhões exportados do Brasil para o exterior. A projeção é de que as exportações do mi-nério tenham fechado 2010 em US$ 28,5 bilhões, afirma o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro”.

As reservas de minério de ferro que já foram identificadas e medidas no Brasil alcançam 33 bilhões de toneladas – o total mundial é de 370 bilhões de toneladas.

O país ganha uma posição de ainda maior destaque no ce-nário internacional se consideramos que em nosso território há minérios cuja composição contém grandes quantidades de ferro. É o caso da hematita, bastante presente no estado do Pará, que possui 60% de ferro em sua composição, e do itabirito, encontrado em Minas Gerais, com 50% de ferro.

As principais empresas extratoras de ferro no Brasil são a Vale, responsável por 79% da produção nacional; a CSN (com 7,4% da produção) e a Anglo American/MMX (3%). Outras siderúrgicas respondem pelos 10,6% restantes. Os principais estados produtores são Minas Gerais (71%) e Pará (26%).

DICANo cenário internacional do

mercado de minério existe um ator principal: a China, o maior comprador de minério de ferro do mundo. Há uma razão para

isso. Como você já sabe, o ferro é a principal matéria-prima para a obtenção do aço, metal muito necessário para a manutenção

de um país de território tão vasto e economia crescente.

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 67

Importante

Segundo a Constituição Federal do Brasil, todas as jazidas localizadas em território brasileiro pertencem à União, que garante a uma em-presa concessionária a propriedade dos minerais explorados. As regras para a concessão de áreas para extração mineral também são estabelecidas por lei. Entre as principais exigências está a obrigato-riedade das concessionárias em compensar os prejuízos ambientais das áreas exploradas. Desde 1995, uma emenda constitucional per-mite concessões ou autorizações para exploração realizada com ca-pital estrangeiro – o que era proibido até então.

Embora a reserva de ferro de Minas Gerais seja grande, o minério está espalhado pelo Brasil inteiro. Não está concentrado como outros metais: a bauxita e o nióbio, por exemplo. Este segundo, relativamente caro, é usado para fazer ligas, e a maior reserva mundial está aqui. A Companhia Brasileira de Mineração, na cidade de Araxá, explora o nióbio em uma reserva que contém muito mais da metade da quantidade desse metal encontrada no planeta.

Áreas de reflorestamento: uma das obrigações das concessionárias.

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68 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

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Fonte: http://rosvelytr.wikispaces.com/Geografia

Reservas de minérios no Brasil

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 69

Os metais não ferrosos

Entre os metais não ferrosos (aqueles que não contêm ferro), o alumínio é o que mais cresce em importância no mundo todo. O alumínio não é encontrado na natu-reza. Ele é produzido a partir de um minério específico, a bauxita.

Em 2008, mesmo sob efeito de uma crise econômica, a produção anual de alumínio no mundo aumentou cerca de 4%, alcançando 39,6 milhões de toneladas. Segundo a Associação Brasileira do Alumínio, em 2009, só o Brasil obteve um saldo de 25,5 bilhões de dólares com a exportação do metal.

Depois do aço, o alumínio é o segundo metal mais comer-cializado no mundo. A partir da produção do alumínio chamado primário (obtido da bauxita), os caminhos toma-dos por esse produto são inúmeros. Há um leque imenso de aplicações para o alumínio, pois ele é um material flexível, leve e, ao mesmo tempo, forte.

Outra vantagem é que o alumínio contém uma espécie de antioxidante natural, e, por isso, é resistente à corrosão e às intempéries – ideal, portanto, para compor desde móveis e esquadrias, que ficam nas áreas externas dos edifícios, até barcos e plataformas de petróleo.

O alumínio é capaz de criar uma barreira contra a luz, a umidade e a formação de micro-organismos; além de preservar características como aroma, textura, sabor e integridade de alimentos, medicamentos e cosméticos. Isso o torna perfeito para a composição de embalagens.

Pode-se dar ao alumínio diferentes tipos de acabamentos: ele pode ser polido, escovado, pintado etc. Também por essa razão é bastante utilizado em arquitetura e decoração.

Por fim, o alumínio é um material capaz de conduzir calor. Essa característica, aliada ao fato de ser durável e de fácil manutenção, o torna ideal para a obtenção de energia solar.

Em 2008, grande desta-que foi dado a uma crise econômica que, segundo se acreditou na época, provocaria um desaqueci-mento generalizado em todos os setores da eco-nomia. Na realidade, essa crise atingiu principalmen-te os bancos americanos e teve reflexos em outros países. Mas não chegou a abalar, de forma significa-tiva, a economia brasileira.

Você sabia?

São chamadas de intempé-ries as ações de fenômenos naturais como chuvas, tem-pestades, erosão etc.

70 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Há mais um aspecto que faz do alumínio um metal es-pecial: ele é 100% reciclável e pode passar infinitas vezes pelo processo de reciclagem sem perder suas caracterís-ticas originais. Atualmente, 50% do alumínio usado na fabricação de automóveis, ônibus e caminhões é produto de reciclagem, um processo que é mais econômico e consome menos energia do que sua produção primária a partir da bauxita.

Segundo a Associação Brasileira do Alumínio (Abal), a indústria nacio-nal investiu R$ 382 mi-lhões em 2009 na coleta de latas de alumínio, em-pregando 216 mil traba-lhadores naquele ano.

Você sabia?

Coleta de latinhas: 216 mil pessoas trabalharam no setor em 2009.

Alumínio: o metal não perde suas características quando é reciclado.

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Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 71

As indústrias de trans-formação não são exclu-sividade da área metalúr-gica. Encaixam-se nessa definição todas as indús-trias que transformam alguma matéria-prima obtida na natureza em produto final ou interme-diário para outra indús-tria. Quer um exemplo? Pense nas refinarias que transformam petróleo em gasolina (produto fi-nal) ou em nafta (produto intermediário), que é o principal componente de certos plásticos.

Você sabia?

2. A metalurgia de transformação ou conformação mecânica

A metalurgia de transformação – ou conformação me-cânica – inclui um conjunto de processos de fabricação que alteram a forma e/ou características de um metal por meio de sua submissão a esforços físicos. Para isso, são utilizados equipamentos adequados a cada um dos processos, que são muitos. Os metais podem ser, por exemplo, fundidos, forjados, laminados, extrudados, trefilados ou estampados. E essas mudanças podem ser efetuadas a frio ou a quente.

A indústria de transformação leva esse nome porque transforma o metal original em algo que pode ser usado em outras indústrias. Por exemplo, a partir do alumínio primário ela produz um perfil de alumínio que, depois, poderá ser usado para montar esquadrias de janelas; ou, a partir do aço, essa indústria produz uma chapa que poderá, posteriormente, servir para montar uma porta de geladeira ou de carro. Ou seja, estamos falando de um tipo de indústria que pode produzir uma infinidade de peças e componentes para muitas e muitas aplicações.

Indústria de transformação: aço vira chapa, que vira peça de geladeira.

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72 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

O processo de transformação oferece um conjunto de possibilidades de trabalho ao auxiliar de processos me-talúrgicos. O auxiliar poderá atuar no momento do rece-bimento do material (quando o metal chega à indústria), nas etapas de transformação e também no momento em que ele será aplicado, ou seja, utilizado para a fabricação de outro produto.

Os processos de transformação mecânica

Vamos conhecer agora alguns exemplos de processos de transformação mecânica e os equipamentos usados em cada um deles:

• forjamento;

• laminação;

• extrusão;

• trefilação; e

• estampagem.

Vamos apresentar os processos para que você comece a ganhar familiaridade com eles. A participação do auxiliar de processos metalúrgicos será tratada em cada um.

O forjamento

Forjamento é o mesmo que forjadura – o ato ou efeito de forjar. A palavra deriva do substantivo forja, que tem dois significados importantes para o auxiliar de processos metalúrgicos: (1) oficina, es-tabelecimento onde se fun-dem e se modelam metais, especialmente o ferro, e se produzem objetos metálicos; fundição, ferraria, frágua; e (2) conjunto dos instrumentos de trabalho do ferreiro: forna-lha, bigorna, fole, malho etc.

Estiramento Dobramento

Laminaçãoão

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Embutimento Profundo

Cisalhamento

Trefilação Extrusão

Forjamento

Matriz

Desenho esquemático de uma forja industrial.

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 73

O forjamento é a conformação (ou mudança de forma) dos metais por meio de uma prensa ou um martelo. Ele consiste em aplicar uma força de compressão sobre o metal, em tem-peratura adequada, até que ele alcance o formato desejado.

Essa é a mais antiga das formas de transformação de metais. Sua origem está ligada ao trabalho dos ferreiros da Idade Média. Talvez você já tenha visto em algum filme a imagem de trabalhadores fazendo ferraduras ou espadas, batendo um martelo sobre um pedaço incandescente de ferro. Esse é o processo de forjamento do metal.

FilmeHá muitos filmes ambientados no período medieval que mostram, em alguma cena, um ferreiro em

ação forjando espadas ou fabricando ferraduras. Uma

boa dica é Robin Hood, dirigido por Ridley Scott em 2010,

disponível em DVD.

Mas, como vimos na Unidade 1, muitas mudanças ocorre-ram na história da metalurgia ao longo do tempo. E durante a Revolução Industrial os primeiros maquinários substituí-ram o braço dos ferreiros. Atualmente, existe uma variedade muito grande de máquinas de forja, capazes de fazer peças que se diferenciam no tamanho e em outras características.

Uma máquina de forja pode fabricar desde pequenos parafusos até grandes componentes de aviação.

Forjamento de uma ferradura: trabalho ligado aos ferreiros medievais.

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74 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Forja industrial.

Peça forjada.

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Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 75

O trabalho do auxiliar de processos metalúrgicos nos processos de forjamento

O processo de forjamento é realizado em etapas:

1. Recebimento e controle da matéria-prima.

2. Corte do material.

3. Aquecimento do material.

4. Pré-conformação mediante forjamento livre, ou seja, sem a utilização de uma forma.

5. Forjamento em matriz, isto é, utilizando-se uma forma.

6. Retirada do excesso de material.

7. Controle e inspeção final.

Em meio a essas etapas, o auxiliar de processos metalúr-gicos terá as seguintes funções:

• Controlar o recebimento de materiais e sua adequada disposição no depósito/estoque.

• Atuar no corte do metal que será forjado – “blanks” – e na identificação de possíveis defeitos no material.

Blank é o volume de material que será forjado. Pensando numa forma de bolo, o blank seria a quantidade de massa (volume) para preencher aquela forma sem derramar.

Corte do metal.

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76 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

• Retirar amostras do recebimento para realização de ensaios laboratoriais.

• Verificar as condições superficiais das matrizes (formas), antes, durante e após as operações de trabalho.

• Controlar a temperatura do material durante o processo de forjamento (forjamento a quente).

• Auxiliar no levantamento de dados que serão utilizados para controles estatísticos do processo de forjamento.

• Coletar as amostras das peças já produzidas destinadas a controle laboratorial.

Cabe ao auxiliar de processos metalúrgicos limpar e organizar as peças que serão enviadas para a inspeção final.

• Auxiliar na inspeção final.

• Auxiliar na percepção de situações operacionais ou ambientais que possam gerar alguma condição insegura para si ou para os colegas de trabalho.

DICANas operações de forjamento,

é essencial que a peça seja aquecida de maneira uniforme e

sob temperatura adequada. O aquecimento pode ser feito em fornos de tamanhos e formatos

variados, conforme o tipo de metal utilizado e os produtos a

serem fabricados.

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Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 77

A laminação

Esse processo de mudança de forma (ou conformação) dos metais pode ser comparado ao procedimento de abrir uma massa de torta. O cozinheiro, para preparar a massa, usa um rolo e, assim, estica a massa até ela ficar da espessura desejada. Na metalurgia, a diferença é a quantidade de rolos. Em vez de ser amassado por um só, o metal passa en-tre vários rolos e, assim, ganha outra forma. A laminação é um dos processos de transformação mais utilizados na indústria metalúrgica, pois é rápido e possibilita controlar com precisão a espessura do produto acabado.

A expressão laminação existe na língua portugue-sa desde 1881 e, segundo o Dicionário Houaiss, signifi-ca “re dução de um bloco de metal a lâminas”. Já a palavra lâmina (com o sentido de pe-daço de metal delgado e cha-to, destinado a fins diversos) faz parte do nosso idioma desde o século 15 (XV).

Estiramento Dobramento

Laminaçãoão

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Lamin

Embutimento Profundo

Cisalhamento

Trefilação Extrusão

Forjamento

Matriz

Desenho esquemático dos dois rolos de laminação.

78 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Equipamento de laminação.

Peça estampada em aço laminado.

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Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 79

O trabalho do auxiliar de processos metalúrgicos nos processos de laminação

Na laminação, como nos demais processos de conforma-ção dos metais, as atividades do auxiliar de processos me-talúrgicos estão relacionadas à parte operacional, ou seja, aos procedimentos de controle do produto e do processo:

• Controlar a temperatura de forno de placa (tipo de forno específico para o processo de laminação a quente).

• Verificar as condições de trabalho dos cilindros (rolos) de laminação.

DICAComo auxiliar de processos

metalúrgicos, você deve ter uma boa noção da importância do seu

trabalho para que os metais possam ser aproveitados na produção de bens e para a qualidade do produto final.

O auxiliar de processos metalúrgicos deve sempre estar atento ao funcionamento dos cilindros de laminação.

• Verificar os defeitos superficiais nos cilindros.

• Auxiliar na identificação de defeitos existentes na superfície dos materiais que estão sendo laminados (principalmente na laminação a frio).

• Auxiliar no levantamento de dados que serão utilizados para controles estatísticos do processo de laminação.

• Auxiliar na coleta de amostras destinadas a controle laboratorial.

• Auxiliar na percepção de situações operacionais ou ambientais que possam gerar alguma condição insegura para si ou para os colegas de trabalho.

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80 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Geometria é a parte da Matemática que estuda o espaço e as figuras que podem ocupar esse es-paço. Depois de subme-tido ao processo de ex-trusão, o metal muda completamente de for-ma, como a massa que origina um churro.

Você sabia?

A extrusão

Muito utilizada na produção de barras e tubos vazados (com furos, aberturas na parte interna), a extrusão pode ser comparada ao processo de fabricação de churros.

A massa que o vendedor coloca de um lado da máquina adquire um novo perfil (ou uma nova forma geométrica) no final do processo. A mesma coisa acontece com o metal que passa pela extrusão. Ele entra na máquina de um lado e escoa por um pequeno orifício, saindo do outro lado. A extrusão pode ser executada a quente ou a frio.

Estiramento Dobramento

Laminaçãoão

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Lamin

Embutimento Profundo

Cisalhamento

Trefilação Extrusão

Forjamento

Matriz

Desenho esquemático de uma matriz de extrusão.

Fabricação de churro: processo semelhante ao da extrusão.

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Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 81

Processo de extrusão: o metal adquire a geometria da matriz.

Peças extrudadas.

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82 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

O trabalho do auxiliar de processos metalúrgicos nos processos de extrusão

Na extrusão, as atividades do auxiliar de processos meta-lúrgicos estão relacionadas às seguintes etapas:

• Fazer o controle e a limpeza preliminar da matéria-prima.

• Avaliar as condições das matrizes (formas) utilizadas.

• Auxiliar no levantamento de dados que serão utilizados para controles estatísticos do processo de extrusão.

• Coletar as amostras das peças já produzidas e destinadas a controle laboratorial.

• Auxiliar na inspeção final.

• Auxiliar na percepção de situações operacionais ou ambientais que possam gerar alguma condição insegura para si ou para os colegas de trabalho.

Estatística é o ramo da Ma-temática que se ocupa da coleta, da análise, da inter-pretação e da apresentação de dados numéricos.

O auxiliar deve controlar o que acontece em todas as etapas da extrusão para que os dados estatísticos sejam, mais tarde, repassados aos responsáveis pelo processo.

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Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 83

Só é possível medir o diâ-metro se tivermos uma circunferência, isto é, um círculo. O diâmetro é qual-quer segmento de reta que passe pelo centro des-se círculo e chegue às bor-das da circunferência.

Você sabia?

diâmetro

A trefilação

Usada na fabricação de barras, arames e fios, a trefila-ção consiste em puxar o metal até que ele passe a ter o diâmetro desejado. Quanto mais se estica o metal, mais fino ele fica. Esse processo é feito, geralmente, em tem-peratura ambiente, sendo que, por causa do movimento de transformação, ocorre um aumento da temperatura.

Estiramento Dobramento

Laminaçãoão

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Embutimento Profundo

Cisalhamento

Trefilação Extrusão

Forjamento

Matriz

Desenho esquemático de uma fieira.

Trefiladores de arame: o metal é forçado a passar por fieiras até adquirir o diâmetro necessário.

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84 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Arame trefilado: durante a transformação, a temperatura do metal aumenta.

O trabalho do auxiliar de processos metalúrgicos nos processos de trefilação

• Fazer o controle e a limpeza preliminar da matéria-prima.

• Avaliar as condições das matrizes (formas) utilizadas.

• Auxiliar no levantamento de dados que serão utilizados para controles estatísticos do processo de trefilação.

• Coletar as amostras das peças já produzidas e destinadas a controle laboratorial.

• Auxiliar na inspeção final.

• Auxiliar na percepção de situações operacionais ou ambientais que possam gerar alguma condição insegura para si ou para os colegas de trabalho.

DICAAs matérias-primas da trefilação

– vergalhões chamados fios- -máquinas – são lavadas em água corrente depois de passar por um

processo mecânico de descascamento e outro, químico,

de decapagem.

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Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 85

A estampagem

Esse processo pode ser comparado a um carimbo. Uma matriz é pro-duzida de acordo com o produto a ser fabricado e, então, prensada sobre o metal (material bruto). Nes-sa ação, o metal assume a mesma forma geométrica da matriz, resul-tando, assim, no produto desejado. O procedimento é feito a frio e com a ajuda de ferramentas que fazem parte das prensas.

Atividade 1arTe e esTampagem

Muitos artistas que trabalham com esculturas metálicas precisam recorrer a moldes para criar suas obras. Procure pesquisar, na internet, técnicas como o alto-relevo em bronze – usado, por exemplo, no Portal do Inferno, do francês Auguste Rodin.

Carimbo: seu funcionamento pode ser comparado ao processo de estampagem.

Processo de estampagem: realizado a frio.

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86 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

O trabalho do auxiliar de processos metalúrgicos nos processos de estampagem

Caberá ao auxiliar de processos metalúrgicos que atuar na estampagem exercer as seguintes atividades:

• Fazer o controle e a limpeza preliminar da matéria-prima.

• Avaliar as condições das matrizes (formas) utilizadas.

• Auxiliar no levantamento de dados que serão utilizados para controles estatísticos do processo de estampagem.

• Coletar as amostras das peças já produzidas e destinadas a controle laboratorial.

• Auxiliar na inspeção final.

• Auxiliar na percepção de situações operacionais ou ambientais que possam gerar alguma condição insegura para si ou para os colegas de trabalho.

Etapa intermediária da montagem de automóveis: o metal, prensado, assume a forma da matriz.

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Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 87

3. Indústrias metalúrgicas de beneficiamento

Já vimos, nesta unidade, dois tipos de indústria metalúr-gica: a de extração e a de transformação. Além dessas, um terceiro tipo são as indústrias que fazem beneficiamento dos metais, um processo que pode ocorrer antes, durante ou depois da transformação.

Na língua portuguesa, o verbo beneficiar significa me-lhorar o estado de algo ou alguém. Na metalurgia não é diferente. O beneficiamento é um procedimento que faz uma melhoria nos metais.

Mas o que significa tornar um metal melhor?

A depender do destino que vai se dar ao metal (ou seja, do que vai se fazer com ele), às vezes, é preciso aumentar a sua dureza ou, ao contrário, reduzi-la. Também pode ser ne-cessário tornar um metal mais flexível ou mais resistente. São esses processos que são chamados de beneficiamento.

Existem muitos tipos de beneficiamento que podem ser aplicados aos produtos metalúrgicos. O auxiliar de pro-cessos metalúrgicos, no entanto, normalmente estará en-volvido com um beneficiamento específico, realizado pela alteração da temperatura e da velocidade do resfriamento do metal: o tratamento térmico.

É muito comum a necessidade de submeter uma peça de metal a um tratamento térmico e isso pode acontecer em qualquer etapa da produção.

Por esse processo pode-se modificar e ajustar caracterís-ticas dos metais para obter condições que atendam às necessidades de um determinado projeto.

DICAA expressão beneficiamento aplica-se a produtos variados

e das mais diversas áreas. O beneficiamento dos grãos de arroz, por exemplo, inclui

a separação da casca e a eliminação de outras impurezas.

Caso tenha interesse, tente conhecer os processos de

beneficiamento de tecidos, de madeira etc.

88 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Tratamento térmico

Quando um metal passa por um processo de conformação ou alteração de forma (forjamento, extrusão, trefilação etc.), ele sofre também transformações na sua es-trutura interna, por causa das tensões que recebe. Por isso, em algum momento, ele precisará receber um tratamento térmico, que também é conhecido como “alívio de tensões”. Isso fará com que a estrutura interna volte a ser homogênea, uniforme.

Barra metálica comum, antes de ser submetida ao processo de forjamento.

Já forjada, a peça adquire novo formato e, por causa das tensões recebidas, sofre transformações em sua estrutura interna.

Depois de passar por um tratamento térmico – ou “alívio de tensões” –, o metal recupera a uniformidade estrutural. Esse tipo de tratamento também serve para aumentar ou reduzir a dureza do material, como veremos a seguir.

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 89

Metais são estruturas cristalinas

A estrutura interna dos metais é muito especial, pois possui cristais. É por isso que os metais são considerados materiais cristalinos.

Isso quer dizer que, se olharmos um metal “por dentro”, com o auxílio de um microscópio, veremos pequenas formas geométricas que se repetem, tudo muito organizado.

Se você cortar uma romã ou um kiwi ao meio, vai conseguir enxergar uma organização interna da polpa e das sementes. Está tudo organizado, ou ainda, arranjado.

Com a estrutura cristalina ocorre a mesma coisa. Um cristal nada mais é do que um arranjo regular de átomos.

Fica mais fácil se imaginarmos um cubo, ou melhor, um cristal em forma de cubo. Os átomos que fazem parte desse cristal têm os arranjos – a organização – nos vértices (cantos). Esses átomos, na verdade, não estão parados, mas vibram sem sair do lugar. Devido à forma de cubo que parece ter, esse cristal leva o nome de cristal cúbico.

Estrutura cristalina: os átomos dos metais são organizados em forma de cubo.

O nome átomo (partícula fundamental da matéria) foi dado pelo filósofo gre-go Demócrito, que viveu na Antiguidade. Ele acre-ditava que todos os ma-teriais possuem uma me-nor parte, indivisível (em grego, a = não; tomos = divisão). Hoje, sabemos que os átomos não são as menores porções de uma matéria, nem as menores porções indivisíveis dela, como pensava Demócri-to. Eles são compostos por outras partículas ain-da menores, como pró-tons, nêutrons e elétrons.

Você sabia?

O filósofo grego Demócrito.

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90 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Na verdade, todo material tem uma estrutura própria (ou um arranjo atômico próprio). Em metalurgia, essas estruturas influenciam diretamente as propriedades mecâ-nicas que cada material proporciona. Algumas estruturas propiciam um trabalho mecânico (uma conformação) que exige menos esforço do que outras.

Para que esse conceito fique bem claro, vamos pensar em frutas novamente. O esforço que fazemos para mastigar (deformar) a polpa de uma maçã é maior do que aquele necessário para mastigar a polpa de um kiwi, certo?

Nos metais, o esforço exigido para deformar um material de estrutura CCC (sigla que significa cúbica de corpo centrado) é maior do que aquele capaz de deformar um material de estrutura CFC (cúbica de faces centradas). Isso porque o arranjo atômico da estrutura CCC é mais compacto que o da estrutura CFC. Porém, quando é aquecida sob determinada temperatura, a estrutura CCC adquire o arranjo CFC, facilitando sua deformação.

Imagine um queijo do tipo canastra, por exemplo. Em temperatura ambiente, ele é duro. Mas, aquecido em uma chapa, ele fica mole como manteiga – dá até para passar no pão! Para o comportamento das estruturas cristalinas, vale a mesma lógica.

Não são apenas os me-tais que sofrem mudan-ças no arranjo de seus átomos sob diferentes temperaturas. Pense na água: quando fervida, ela assume o estado gasoso (vapor) e, congelada, tor-na-se sólida (gelo). Isso tudo implica grandes al-terações na organização de suas moléculas!

Você sabia?

Kiwi: polpa organizada e fácil de morder.

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Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 91

Existem metais que se arranjam de maneira diferente. Em vez de se organizarem como um cubo, eles formam outra figura geométrica. O importante é saber que cada um desses cubos, ou outras figuras imaginárias, são unidades.

A estrutura cristalina, por fim, é, justamente, o arranjo dessas diversas unidades, que compõem o “edifício” cristalino. Esse arranjo cristalino é chamado de célula unitária, por ser um único cristal. Em metalurgia, o cristal único também leva o nome de grão.

Atividade 2a CiênCia dos meTais

1. Escreva, com suas próprias palavras, o que aprendeu sobre a estrutura interna dos metais. Ao terminar, troque o seu texto com o colega ao lado e veja se vocês tiveram a mesma compreensão do assunto. Se ficarem dúvidas, procure resolvê-las com o monitor.

92 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Um jeito simples de entender o que é uma tensão é com-pará-la com as reações do nosso corpo. Imagine que seja um dia de muito frio e você está andando desagasalhado. A tendência natural é que você contraia a sua musculatura e cruze ou feche os braços para tentar aquecer o corpo.

Provavelmente você já passou por isso. O que talvez não saiba é que não é o clima que esfria o seu corpo, mas sim o fato de o seu corpo transferir o seu calor para o ambiente. Ou seja, mesmo sem querer, você cede seu calor para o ambiente, fazendo com que a temperatura do seu corpo abaixe. Chamamos esse fenômeno de transmissão de calor. Essa transferência sempre ocorre do corpo ou objeto que estiver mais quente para o mais frio, nunca ao contrário.

Mas o que as tensões têm a ver com a transmissão de calor? Bem, conforme a temperatura do seu corpo vai caindo, você se contrai e gera tensões internas na sua musculatura.

Agora vamos imaginar que você chega em casa e toma um banho quente. Desta vez, a temperatura da água está mais quente que a do seu organismo e, portanto, ela aquece o seu corpo. Com esse “tratamento térmico”, você consegue relaxar e diminuir a quantidade de tensões geradas pela contração da musculatura.

Da mesma forma que o clima não esfria nosso corpo, as blusas e cober-tores também não o aque-cem (repare que, quando você tira um agasalho do armário, ele não está quente, mas em tempera-tura ambiente). O que acontece é que o corpo humano perde calor, mas as roupas “de inverno” impedem que ele se dis-perse, mantendo-o junto à pele numa espécie de circuito fechado.

Você sabia?

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 93

Com o metal acontece, mais ou menos, o mesmo processo. Para que ele possa ser conformado e a peça possa ser moldada da maneira necessária, o metal precisa estar com um nível baixo de tensões (como se estivesse descontraído). Do contrário, ele pode se quebrar em alguma etapa do processo. Pense, por exemplo, no capô de um carro ou na porta de uma geladeira; quanto prejuízo se eles trincarem ou se partirem!

Vamos ver outro exemplo. Imagine que você está fazendo uma peça de aço e, por meio de um processo de laminação, precisa reduzir a espessura desse metal o suficiente para poder enrolá-lo em forma de uma bobina.

Mas, cada vez que o aço passa pela laminação e é reduzido, são geradas tensões no material e podem acontecer falhas. Se tais tensões não forem corrigidas podem provocar, por exemplo, o “efeito casca de laranja” – uma consequência típica do processo de conformação por laminação. Ou seja, a superfície do aço ficará irregular ou porosa, em vez de lisa.

Para evitar problemas como esse (ou outros tipos de falhas, como trincas, racha-duras etc.), existe o tratamento térmico, que distribui e alivia as tensões que são geradas, garantindo ao metal um comportamento mais uniforme. E é somente após esse tratamento que o metal poderá ser utilizado para o processo de fabricação definitiva de uma peça.

“Efeito casca de laranja”: em vez de lisa, a superfície do aço torna-se irregular.

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94 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

O tratamento térmico e a ductibilidade

Ductibilidade é a capacidade que uma determinada peça de metal tem de ser moldada. Quanto maior for a sua possibilidade de ser moldada, maior será a sua ductibilidade.

Há situações em que a maior ductibilidade do metal é extremamente necessária. Por exemplo, para fazer um capô, um para-lama ou uma porta de carro, a chapa tem que ter alta capacidade de conformação (ou elevada ductibilidade), porque os desenhos que são feitos para essas peças estão cada vez mais elaborados.

No entanto, em geral, quanto maior for a facilidade de moldar (ou conformar) uma peça, menor será a sua resistência. Então, se uma grande força for colocada sobre ela, a peça poderá se romper.

Pode-se dizer que há uma relação inversa entre essas duas características:

• Ductibilidade baixa: resistência mecânica alta.

• Ductibilidade alta: resistência mecânica baixa.

Os tratamentos térmicos (aquecimento ou resfriamento de uma peça) podem tornar maior ou menor a flexibilidade e a ductibilidade do metal.

O arame é um bom exemplo de como os tratamentos térmicos podem agir, trazendo características distintas para um mesmo material.

Ductibilidade: peças mais fáceis de moldar têm resistência mecânica menor.

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Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 95

Atividade 3CaraCTerísTiCas do arame

Você e seus colegas devem trazer para a sala de aula di-versos tipos de arames e examinar as características de cada um, procurando identificar:

• um arame mais ou menos flexível;

• um arame altamente flexível, capaz de ser dobrado o tempo todo sem quebrar; e

• um arame tão duro e resistente que seja preciso fazer uma força enorme para dobrá-lo, correndo o risco, in-clusive, de rompê-lo de uma vez só.

As possibilidades são muitas, mas a escolha dependerá da aplicação que o metal terá, ou seja, do tipo de peça que, com ele, será feita. Por isso, os tratamentos térmicos devem ser definidos conforme o tipo de peça que se deseja produzir. Antes de sofrer um tratamento, o metal deve ter destino certo.

A importância do tratamento térmico levou a indústria a desenvolver um conjunto de normas (também chamadas de protocolos) para o controle rigoroso: das taxas de aqueci-mento e resfriamento das peças; do tempo de permanência de uma peça em dada temperatura (processo chamado de “encharque”); e do ambiente de aquecimento.

Tipos de tratamentos térmicos

A função dos tratamentos térmicos, como vimos, pode ser a de aumentar ou reduzir a dureza do material e a de aliviar as tensões internas do metal. Mas a escolha do tipo de tratamento dependerá, como também já falamos, dos objetivos desejados.

Entre os tratamentos térmicos mais utilizados estão o recozimento, a normalização, a têmpera e o revenimento. Vamos ver, com mais detalhe, cada um deles.

Encharque ainda não cons-ta nos principais dicionários de português. Termo técnico razoavelmente recente e de uso restrito a certos grupos (os metalúrgicos, por exem-plo), ainda é um neologis-mo, uma expressão nova. O que determina o surgimento e a “sobrevivência” de uma palavra é a necessidade do seu uso. Se um vocábulo vem ou não para ficar, só o tempo pode dizer.

96 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Placas metálicas passando pelo forno de recozimento: processo melhora a “usinabilidade”.

Forno de bier: usado em fisioterapia, gera calor em seu interior tal qual a máquina de recozimento.

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O recozimento do metal é utilizado quando se deseja:

• diminuir tensões que decorrem de tratamentos mecâ-nicos, como o forjamento e a laminação;

• diminuir a dureza para melhorar a “usinabilidade” do aço, ou seja, a sua capacidade de ser talhado por uma máquina-ferramenta;

• alterar outras propriedades mecânicas do metal; e

• ajustar o tamanho do grão.

No recozimento, o aquecimento do metal pode ser feito a temperaturas superiores à crítica (recozimento total ou pleno para alteração da dureza do material) ou inferiores a ela (recozimento para alívio de tensões internas). A veloci-dade desse aquecimento deve ser controlada, mantendo-se parâmetros previamente definidos para que o material possa adquirir a estrutura de grãos desejada. A velocidade de resfriamento é sempre lenta e ocorre dentro do forno.

DICAReleia o quadro “Metais são estruturas cristalinas” para lembrar o que são os grãos.

Importante

O recozimento pode ser aplicado em aço, alumí-nio e cobre. Os outros tipos de tratamento tér-mico são mais adequados para o aço.

A normalização

A normalização, assim como o recozimento, tem como objetivo aliviar as tensões internas criadas no metal por processos de conformação mecânica, como a laminação e o forjamento.

Quando se analisa a estrutura dos metais, com o auxí-lio de um microscópio, é possível verificar que eles são formados por grãos. Além de aliviar as tensões internas do metal, a normalização proporciona, ainda, que o tamanho desses grãos do metal fique menor. Ou seja,

98 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Tenacidade é a medida da força necessária para que-brar um material. Quando se diz que a tenacidade é baixa, significa que a for-ça para romper a peça não precisa ser grande.

Você sabia?

ela possibilita que essa estrutura fique mais fina do que aquela que é obtida com o recozimento. Isso acontece porque, nesse caso, o resfriamento é realizado ao ar livre – e, portanto, é mais rápido que no recozimento. Uma estrutura mais fina propicia, por sua vez, um aumento da dureza do metal, maior resistência à tração e compressão e diminuição de ductibilidade e tenacidade.

Outra vantagem do processo de normalização é o seu cus-to, menor que o do tratamento térmico por recozimento.

Independentemente disso, o tipo de tratamento térmico é definido em função das propriedades que se deseja obter em um material, e não em função do custo do tratamento.

Granulação grosseira

Os metais com granulação grosseira tornam-se quebradiços porque apresen-tam uma grande concentração de impurezas em seus contornos, o que pre-judica a coesão entre os grãos. O material também pode sofrer mais fissuras. Por isso, quando comparamos aços de mesma composição, percebemos que aqueles de grãos mais finos possuem melhores propriedades mecânicas.

Peça metálica com granulação grosseira: grande concentração de impurezas prejudica a coesão, tonando o material quebradiço.

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A têmpera

A têmpera é o processo de resfriamento rápido de uma peça cuja temperatura está superior à chamada crítica: entre 780 °C e 980 °C.

Sua finalidade é gerar um metal com alta dureza deno-minado estrutura martensítica.

A velocidade do resfriamento dependerá da composição química do metal (se são ligas de aço, ferro fundido etc.), da forma ou geometria da peça e de seu peso (ou massa).

Embora esse processo leve a um aumento do limite de resistência do metal à tração (estiramento) e da sua dureza, há também uma redução da maleabilidade e o aparecimen-to de tensões internas. Para atenuar esses inconvenientes, há outro tipo de tratamento térmico: o revenimento.

DICATemperatura crítica é aquela a partir da qual o material pode

sofrer transformações metalúrgicas no estado sólido –

o que altera propriedades importantes dele e aumenta o

risco de defeitos. Cada metal tem uma temperatura crítica diferente.

O revenimento

Esse tratamento térmico é usado, geralmente, depois da têmpera e tem como objetivo eliminar problemas ou falhas geradas pelo processo de resfriamento rápido.

Detalhe de uma estrutura martensítica: metal com alta dureza gerado pela têmpera.

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100 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Para corrigir tais inconvenientes, o revenimento alivia ou remove tensões internas e diminui a excessiva dureza e fragilidade do metal, além de aumentar a sua maleabili-dade e a resistência ao choque.

Nesse processo, o metal é aquecido a uma temperatura inferior a 723 °C (temperatura crítica). A depender da temperatura de aquecimento, a peça de metal poderá adquirir uma ou outra característica.

O auxiliar de processos metalúrgicos e o tratamento térmico

Quando trabalhar com tratamentos térmicos, o auxiliar de processos metalúrgicos exercerá as seguintes atividades:

• Conhecer os princípios de funcionamento dos equi-pamentos (principalmente dos fornos).

• Controlar a temperatura e os parâmetros de funciona-mento dos fornos.

• Conhecer as maneiras de colocar corretamente na má-quina as peças que serão tratadas termicamente.

• Conhecer os parâmetros (temperatura, força aplicada, dureza etc.) que devem ser checados nas peças antes de entrarem nos fornos de tratamento térmico.

• Auxiliar na identificação de defeitos superficiais exis-tentes nas peças a serem tratadas.

• Auxiliar no levantamento de dados que serão utilizados para controles estatísticos do processo.

• Auxiliar na coleta de amostras destinadas a controle laboratorial.

• Auxiliar na percepção de situações operacionais ou ambientais que possam gerar alguma condição insegura para si ou para os colegas de trabalho.

O verbo revenir tem origem na língua francesa, em que significa “reconduzir, levar de volta”. Se você pensar bem, isso faz sentido, pois o revenimento reconduz o me-tal à sua condição original, sem tensões.

Parâmetros são padrões por meio dos quais podemos estabelecer uma relação ou uma comparação entre dois ou mais termos. Por exem-plo: a velocidade máxima permitida em uma estrada serve de parâmentro para impedir que os motoristas acelerem demais.

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 101

As ligas metálicas

Como já vimos, antes de escolher um tipo de metal para fabricar um produto (ou seja, antes de aplicá-lo), é preciso conhecer as suas características. Em outras palavras, você irá escolher um determinado metal imaginando qual será o seu destino: a porta de uma geladeira; os componentes de um motor de caminhão; a estrutura de um móvel etc. Tendo isso decidido, você saberá quais os processos de transformação e beneficiamento a que o metal terá que ser submetido, a que temperatura ele será exposto, e qual aparência ele deve tomar.

Vimos também como age o tratamento térmico, um dos processos que concorre para a melhoria ou beneficiamento dos metais. No entanto, esta não é a única opção de aprimoramento do metal para torná-lo adequado à fabricação de um ou outro tipo de produto.

A criação das ligas metálicas, de que trataremos a seguir, é outra possibilidade de melhoria das propriedades do metal.

Instrumento musical: a escolha da matéria-prima para a sua fabricação depende das características do metal.

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Atividade 4produTos meTáliCos

1. Nosso mundo está rodeado de produtos metálicos. Você seria capaz de dizer de que metais ou ligas são feitos alguns objetos que fazem parte de seu cotidiano? Há uma pequena lista no espaço abaixo, mas você pode incluir outros objetos.

a) Portão da minha garagem Ferro fundido

b) Roda do meu carro Aço

c) Latinha de cerveja Alumínio

d) Anel de casamento Ouro

Vejamos agora algumas dessas ligas.

O ferro e suas ligas: aço e ferro fundido

Uma vez extraído da natureza, o minério de ferro segue para a usina siderúrgica, onde é transformado em aço, um processo chamado de redução.

Pensando em uma receita de bolo, o aço é o ferro puro ao qual se acrescenta uma pequena quantidade (geralmente, 0,5% do volume total) de carbono. Quando o que se acresce de carbono é superior a 2,11%, o metal passa a ser ferro fundido.

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 103

E quais são as melhorias resultantes dessa mistura? O ferro puro é maleável e facil-mente trabalhável, mas tem baixa resistência. Quando acrescentamos o carbono, sua resistência tende a aumentar. Mas vale lembrar: há situações em que o que se quer é justamente o contrário; ou seja, um metal com pouca resistência mecânica de modo a ser moldado. É o caso de uma chapa de carro, por exemplo. Já a barra de segurança lateral da porta do mesmo carro precisa ser muito resistente!

O aço é constituído, principalmente, de ferro e carbono. Mas também pode conter outros elementos, chamados de “microligantes”.

A mistura do ferro apenas com carbono forma o aço carbono. Quando pequenas quantidades de outros elementos são agregados a essa liga – manganês, nióbio, titânio, vanádio, alumínio etc. –, ela passa a ser chamada de aço microligado.

O aço possui excelentes propriedades mecânicas, o que justifica o seu uso e presença tão extensos (por exemplo, na construção civil, em embalagens, no setor automotivo, em tubos etc.). Ele pode ser tracionado, comprimido e flexionado com facilidade, processos que serão vistos em detalhes no segundo volume deste curso. Além disso, por ser um material homogêneo, responde bem quando é submetido aos processos da indústria de transformação. Pode ser laminado, forjado, estampado e até trefilado.

Aço laminado. Aço estampado.

Aço forjado. Aço trefilado.

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Estrutura metálica de uma ponte: o uso do aço é comum na construção civil.

Tampa de bueiro: peça de ferro fundido.

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O alumínio e suas ligas

O alumínio, como já vimos, é muito utilizado pela in-dústria por causa de sua versatilidade e pode compor ligas com vários metais: magnésio, berílio, titânio, zinco, ferro, níquel, cobre, estanho e tungstênio – cada uma com características e vantagens diversas.

Entre as principais ligas de alumínio podemos destacar: o AlCu (alumínio e cobre), usado em peças que requerem alta resistência mecânica (bastante comuns nas indústrias de equipamentos de transportes); o AlMn (alumínio e manganês) e o AlMg (alumínio e magnésio). Esses dois possuem alta resistência à corrosão e, por isso, são utili-zados em carrocerias de ônibus e outras estruturas que precisam ficar expostas a intempéries, como fortes chuvas.

DICAQuando o símbolo de um

elemento químico é formado por uma só letra, como o carbono (C)

ou o hidrogênio (H), devemos escrevê-lo com maiúscula. Se o símbolo levar duas letras – é o

caso do alumínio (Al), do ouro (Au) e do ferro (Fe), por exemplo –, a

primeira será sempre maiúscula e a segunda, minúscula.

Liga de alumínio e magnésio: resistência à corrosão.

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O cobre e suas ligas

O cobre é um metal maleável, fácil de moldar, de cor avermelhada e que pode ser reduzido a lâminas e fios extremamente finos. Quando entra em contato com o ar, o cobre ganha a cobertura de uma camada de óxido e carbonato que, embora seja prejudicial à saúde, protege o metal, dando-lhe duração quase indefinida.

O cobre é muito empregado em instalações elétricas, pois é um bom condutor de eletricidade. Para a transmissão de energia elétrica, são usados fios e cabos de alumínio ou de cobre. Nas instalações hidráulicas domiciliares, praticamente, só se usa o cobre, por ser um metal mais flexível e excelente condutor de calor.

As ligas mais importantes do cobre são:

• o bronze, mistura de cobre e estanho, comumente em-pregada em peças ornamentais, varetas de soldagem, buchas e tubos flexíveis;

• o latão, uma liga de cobre e zinco, muito usado na con-fecção de moedas, bijuterias e conexões hidráulicas. A definição de sua aplicação está relacionada à proporção de zinco, que pode chegar a 45% da liga; e

• o metal monel, mistura de cobre e níquel, que serve como matéria-prima para a fabricação de pás de turbinas a vapor.

O bronze também marca presença na composição de peças de ouro, proporcionando mais resistência mecânica e conformabilidade (facilidade de moldar).

DICAVocê sabe o que significa falar que uma peça de ouro tem 18

quilates? O quilate é uma medida de peso que equivale a 0,2 grama. Ouro 18 quilates significa que em cada 24 quilates de metal a ser manuseado, dezoito partes são ouro puro (Au), três partes são

prata (Ag) e três partes são cobre (Cu). Essas partes, fundidas,

produzem o ouro próprio para a fabricação de joias.

Esse produto também é conhecido como ouro 750, pois, em cada 1.000 gramas de peças trabalhadas, 75% são ouro puro

e 25% são ligas metálicas. O ouro é misturado com prata e cobre porque, em seu estado puro, apesar de ser um metal

nobre, raro e imune a corrosão e a oxidação, é muito macio

e flexível e não resiste à manipulação no dia a dia.

Fiação de cobre: bom condutor elétrico, o metal é muito utilizado em instalações domiciliares.

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Normas e especificações das ligas

As propriedades e condições de entrega dos produtos metálicos estão definidas em normas. Você não precisará memorizar todas elas, mas, quando for consultar a composição química de um metal qualquer para fazer um teste, deverá consultá--las em um documento produzido pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Nesse documento, você poderá verificar se o metal atende, ou não, a determinada especificação.

Vale lembrar que as normas da ABNT foram criadas para que todos “falem a mesma língua”: usem o mesmo conjunto de regras e, também, o mesmo nome para identificar um determinado metal. Há um incontável número de ligas catalogadas e normalizadas.

Isso não quer dizer que todo o conhecimento possível sobre ligas metálicas já tenha sido produzido. Existem muitos centros de pesquisa pelo mundo, e é possível que uma nova liga seja produzida em um desses centros, ou mesmo por um trabalhador de uma pequena indústria. Boas ideias podem ser geradas em qualquer lugar.

108 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

4. A indústria metalúrgica de montagem ou aplicação

Já tratamos dos processos de extração, transformação e beneficiamento dos metais, não é mesmo?

Só depois de tudo isso é que o metal pode se tornar um produto acabado. Nesse momento, a peça está apta a seguir para seu destino final, que pode ser uma mon-tadora de carros, uma fábrica de eletrodomésticos, um estaleiro de barcos e navios e assim por diante. Pode ser a chapinha para a fabricação de uma luminária, o tubo para a montagem de uma cadeira, o perfil para uma porta, entre outros.

As indústrias de montagem ou aplicação também em-pregam auxiliares de processos e, assim como aqueles que trabalham no extrativismo e na transformação, cabe a eles ajudar nos procedimentos que acontecem nessas indústrias.

DICAAlém de reduzir custos, o controle de qualidade por

amostragem proporciona maior rapidez na apuração dos

resultados e permite estudar características destrutivas –

o que seria impensável se todas as peças fossem testadas.

Carro desmontado: entre as peças há vários produtos metalúrgicos. As indústrias de aplicação também empregam auxiliares de processos metalúrgicos.

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Atividade 5merCado de Trabalho

1. Será que a metalurgia realmente emprega ou poderá empregar muitos trabalhado-res? Vamos fazer uma pesquisa entre as pessoas das nossas relações. Na coluna da esquerda coloque o nome das 15 primeiras pessoas que você conhece e na coluna da direita indique as suas ocupações.

a) Tio Zeca Mecânico

b) A vizinha Maria Manicure

c) O amigo Claudião Ajustador mecânico

d) O namorado da filha Engenheiro civil

110 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

2. Agora agrupe as pessoas de acordo com os setores em que elas trabalham.

Setor metalúrgico Setor de alimentos

Setor de saúde Setor de construção civil

Setor ( ) Setor ( )

Setor ( ) Setor ( )

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 111

3. O próximo passo é desenhar um gráfico em forma de pizza, usando os dados apurados no seu levantamento. Olhe o exemplo abaixo e, se for o caso, peça ajuda ao monitor para aprender a fazer este tipo de gráfico no computador, tendo como base algumas regras de cálculo.

Faça uma tabela com os dados da sua pesquisa e, depois, desenhe o resultado em forma de gráfico.

Tabela

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD.

7%

5%11%

37%

21%

19%

Distribuição da População Ocupada, segundo Setores de Atividade Econômica

Estado de São Paulo 2009

Serviços

Construção

Indústria

Agrícola

Comércio

Outras atividades

112 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1

Gráfico

4. Finalmente, reflita sobre os resultados a que chegou e discuta com a classe sobre as ocupações mais presentes entre as pessoas com quem vocês se relacionam.

Atividade 6o mundo da meTalurgia

Pense em alguns exemplos de peças de metal que você usa em seu dia a dia e tente imaginar quais foram os processos de fabricação utilizados. Depois, escolha uma das peças e pesquise na internet para verificar se o que você imaginou é o que acontece na realidade. Anote aqui suas conclusões.

Auxiliar de Processos Metalúrgicos 1 Arco Ocupacional Me ta lu rg i a 113

Referências bibliográficas

CALLISTER JR, W. D. Fundamentals of Materials Science and Engineering. 7th ed. Nova York: John Wiley and Sons Inc, 2007.

DIETER, E. G. Metalurgia Mecânica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1988.

Site

O Estado de S. Paulo. “AEB: Exportação de minério de ferro excede US$20bi”, 03 de janeiro de 2011. Disponível em: <http://economia.ig.com.br/empresas/industria/aeb+exportacao+de+minerio+de+ferro+excede+us+20+bi/n1237909188130.html>. Acesso em: 3. abr. 2011.

v i a r á p i d a e m p r e g o

A história da metalurgia

A profissão de auxiliar de processos metalúrgicos

O setor metalúrgico

www.viarapida.sp.gov.br