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DIMENSÕES E CARACTERÍSTICAS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL EM PERNAMBUCO Autoria: Mônica Monteiro Liausu Cavalcanti, James Anthony Falk RESUMO Os modelos de responsabilidade social empresarial (RSE) desenvolvidos têm se fixado em torno da problemática se as empresas se enquadram numa dimensão singular de produzir bens e serviços e maximizar os lucros ou se se enquadram numa visão de múltiplas dimensões, com as empresas servindo aos grandes interesses da sociedade. Esta pesquisa aplicou o modelo bi-dimensional de responsabilidade social empresarial, de Quazi e O’Brien (2000) para um conjunto de empresas em Pernambuco. Os resultados obtidos confirmam a validade do modelo bi-dimensional, na medida em que emergiram da análise fatorial 9 fatores, desde fatores que representam a visão clássica da responsabilidade social, com as empresas servindo ao propósito de geração de lucros e remuneração dos acionistas, a fatores que apresentam a visão mais moderna da RSE, que incorpora o compromisso com os stakeholders, e motivações éticas e instrumentais para a prática de RSE. Com a análise de cluster foi possível identificar dois grupos distintos, entre as empresas associadas. Um que rejeita categoricamente a visão clássica da RSE e outro consistente com os princípios da visão moderna da RSE. INTRODUÇÃO A problemática da responsabilidade social das empresas tem se constituído em temática de muito debate e está presente nas discussões em diversos setores da sociedade assumindo grande importância. Se por um lado é uma temática emergente e atual, aparece na mesma intensidade, como criadora de conceitos, metodologias e estratégias de ação cujo conteúdo ainda é claramente “disputado”, como sugere Cappellin et al. (2002). Diante desse quadro, não têm sido poucos os esforços para a identificação e experimentação de modelos de responsabilidade social empresarial, considerando-se como define Jack (1993) que um modelo conceitual é uma seleção de conceitos, com ou sem proposições, usado para representar ou descrever um evento, objeto ou processo. Na evolução dos modelos de análise da responsabilidade social empresarial, destaque- se as abordagens iniciais propostas por Ackerman (1973) e Preston e Post (1981). O primeiro, classificado como o modelo da reatividade social das empresas, baseia-se na idéia de que a reatividade deveria ser o objetivo dos esforços sociais das empresas. O modelo analisa como as empresas reagem individualmente a questões sociais. Na abordagem proposta por Ackerman, a reatividade e não a responsabilidade deveria ser o objetivo dos esforços sociais das empresas, prevalecendo a análise em nível micro. O segundo, dito o modelo de responsabilidade pública analisa as forças que determinam às questões sociais às quais as empresas devem reagir, incorpora o nível macro, ou seja, o ambiente externo. O modelo da responsabilidade pública, proposto por Preston e Post, incorpora a abordagem macro ao conceito de reatividade das empresas, além de prever que as empresas tendem a reagir devagar a quase todo problema social. As empresas e a sociedade interagem de dois modos distintos: relações primárias - com clientes, empregados, acionistas e credores; quando essas relações criam problemas sociais, as relações secundárias, como a lei e a moralidade são requeridas. Com o objetivo de formular uma única teoria de ação social das empresas, Carroll (1991,1999) propõe o conceito de desempenho social das empresas, abrangendo princípios, processos e políticas sociais, partindo da idéia de combinar as idéias filosóficas da responsabilidade social e os modelos de reatividade social. No nível macro, o debate sobre responsabilidade social é moldado por princípios econômicos, legais e éticos. Cria-se um contrato social entre as empresas e a sociedade. No

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DIMENSÕES E CARACTERÍSTICAS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL EM PERNAMBUCO

Autoria: Mônica Monteiro Liausu Cavalcanti, James Anthony Falk

RESUMO Os modelos de responsabilidade social empresarial (RSE) desenvolvidos têm se fixado em torno da problemática se as empresas se enquadram numa dimensão singular de produzir bens e serviços e maximizar os lucros ou se se enquadram numa visão de múltiplas dimensões, com as empresas servindo aos grandes interesses da sociedade. Esta pesquisa aplicou o modelo bi-dimensional de responsabilidade social empresarial, de Quazi e O’Brien (2000) para um conjunto de empresas em Pernambuco. Os resultados obtidos confirmam a validade do modelo bi-dimensional, na medida em que emergiram da análise fatorial 9 fatores, desde fatores que representam a visão clássica da responsabilidade social, com as empresas servindo ao propósito de geração de lucros e remuneração dos acionistas, a fatores que apresentam a visão mais moderna da RSE, que incorpora o compromisso com os stakeholders, e motivações éticas e instrumentais para a prática de RSE. Com a análise de cluster foi possível identificar dois grupos distintos, entre as empresas associadas. Um que rejeita categoricamente a visão clássica da RSE e outro consistente com os princípios da visão moderna da RSE. INTRODUÇÃO A problemática da responsabilidade social das empresas tem se constituído em temática de muito debate e está presente nas discussões em diversos setores da sociedade assumindo grande importância. Se por um lado é uma temática emergente e atual, aparece na mesma intensidade, como criadora de conceitos, metodologias e estratégias de ação cujo conteúdo ainda é claramente “disputado”, como sugere Cappellin et al. (2002). Diante desse quadro, não têm sido poucos os esforços para a identificação e experimentação de modelos de responsabilidade social empresarial, considerando-se como define Jack (1993) que um modelo conceitual é uma seleção de conceitos, com ou sem proposições, usado para representar ou descrever um evento, objeto ou processo. Na evolução dos modelos de análise da responsabilidade social empresarial, destaque-se as abordagens iniciais propostas por Ackerman (1973) e Preston e Post (1981). O primeiro, classificado como o modelo da reatividade social das empresas, baseia-se na idéia de que a reatividade deveria ser o objetivo dos esforços sociais das empresas. O modelo analisa como as empresas reagem individualmente a questões sociais. Na abordagem proposta por Ackerman, a reatividade e não a responsabilidade deveria ser o objetivo dos esforços sociais das empresas, prevalecendo a análise em nível micro. O segundo, dito o modelo de responsabilidade pública analisa as forças que determinam às questões sociais às quais as empresas devem reagir, incorpora o nível macro, ou seja, o ambiente externo. O modelo da responsabilidade pública, proposto por Preston e Post, incorpora a abordagem macro ao conceito de reatividade das empresas, além de prever que as empresas tendem a reagir devagar a quase todo problema social. As empresas e a sociedade interagem de dois modos distintos: relações primárias - com clientes, empregados, acionistas e credores; quando essas relações criam problemas sociais, as relações secundárias, como a lei e a moralidade são requeridas. Com o objetivo de formular uma única teoria de ação social das empresas, Carroll (1991,1999) propõe o conceito de desempenho social das empresas, abrangendo princípios, processos e políticas sociais, partindo da idéia de combinar as idéias filosóficas da responsabilidade social e os modelos de reatividade social. No nível macro, o debate sobre responsabilidade social é moldado por princípios econômicos, legais e éticos. Cria-se um contrato social entre as empresas e a sociedade. No

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nível micro as empresas buscam implantar os princípios do contrato social em seus processos decisórios e em suas políticas empresariais. As decisões e políticas podem ser: a) reativa: a empresa responde a uma questão social depois que ela ameaça seus objetivos; b) defensiva: a empresa age para se proteger de um desafio; c) acomodativa: a empresa se alinha às exigências do governo e da opinião pública; ou d) pró-ativa: a empresa antecipa exigências que ainda não foram feitas.

A visão estrutural de Carroll explicita que os negócios têm responsabilidade econômica para com seus acionistas, mas apresenta uma visão mais ampliada do conjunto das responsabilidades empresarias sugerindo uma hierarquização da responsabilidade social empresarial de acordo com as dimensões: econômica, legal, ética e filantrópica. Nesse modelo cada dimensão da RSE pode ser examinada em relação aos stakeholders da organização. A evolução dos modelos conceituais propostos por Ackerman, Preston e Post e Carroll pode ser visualizada na Figura 1:

FIGURA 1 – Modelos de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) Fonte: Elaboração da autora a partir das leituras feitas O MODELO DE DUAS DIMENSÕES DE QUAZI E O’BRIEN

Numa abordagem mais recente, Quazi e O’Brien (2000) assinalam que os modelos de Responsabilidade Social Empresarial foram ao longo do tempo examinados sob duas perspectivas: a primeira, se os negócios têm a função única de maximizar lucros, e a segunda, ou multidimensional, se os negócios devem servir aos interesses da sociedade. Os modelos de RSE, representativos da visão mais tradicional, enfatizam o paradigma ortodoxo de que os negócios têm função de maximizar os lucros e dessa forma a RSE dos negócios está associada à obtenção de resultados, bens e serviços para a sociedade, como previu Friedman (1989). A ênfase são os custos do envolvimento social para os negócios, e a

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consideração de que o lucro deve ser o único critério para julgar a eficiência das operações dos negócios, ignorando que a organização é parte da grande sociedade. As empresas, dessa forma, estariam submetidas aos seguintes enquadramentos: conceito da função institucional, onde o governo, os sindicatos, organizações civis e outras, existem para realizar o tipo de trabalho requerido pela responsabilidade social; os gestores das empresas não possuem habilidades e/ou tempo para implementar ações sociais e devem se concentrar na sua competência - objetivo de gerar lucro, argumento que se apóia na premissa do auto-interesse; e por fim o direito de propriedade que dirige as ações dos administradores no sentido de aumentar o valor dos acionistas. Na perspectiva multidimensional, o envolvimento das empresas com a responsabilidade social não é mais visto apenas criando uma rede de custos, mas contribuindo para a geração de vantagens estratégicas em longo prazo, evitando regulações futuras, melhorando o desempenho das empresas em termos de produtividade e inovação.

Nesse sentido ampliado, os modelos são apresentados fundamentados na percepção de que as empresas integram a matriz social e dessa forma devem contribuir para o welfare da sociedade, como afirmam Quazi (1997) e Carroll (1979). Esses modelos enfatizam que para entender a complexidade da responsabilidade social nas organizações modernas, é necessário incorporar a visão mais ampla da sociedade, e considerar o macro ambiente como assinalaram Carroll (1979) e Wood (1991) e Ashley (2000). O modelo proposto por Quazi e O’Brien apresentado a seguir na Figura 2, representa a visão desde a visão restrita à ampliada da responsabilidade social e justifica-se, segundo os autores, por que os gestores estão sempre decidindo sobre a rede de benefícios e de custos que deve ou pode ser criada a partir do exercício da responsabilidade social.

FIGURA 2: Modelo de Duas Dimensões de Responsabilidade Social Empresarial Fonte: Quazi e O’Brien, 2000. O modelo de duas dimensões é representado pelos eixos: horizontal (primeira dimensão) representa os extremos das visões sobre responsabilidade; vertical (segunda

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dimensão) retrata os extremos das percepções sobre as conseqüências das ações sociais em termos de custos e benefícios para as empresas. Na primeira dimensão, o ponto extremo direito indica a visão restrita da responsabilidade social, onde a responsabilidade dos negócios é percebida em termos de prover resultados e maximizar lucros, ou seja, a responsabilidade dos negócios é percebida da maneira clássica, e a ênfase é a maximização dos lucros em curto prazo e legislação fixa os limites da atuação; o ponto extremo esquerdo representa a visão ampliada da RSE, com as empresas respondendo e provendo às expectativas da sociedade, em áreas como proteção ambiental, desenvolvimento comunitário e conservação de recursos e filantropia, estendendo os seus compromissos para além da regulação. Na segunda dimensão, os dois extremos representam: o inferior, o lado negativo do envolvimento social para a empresa, na medida em que caracteriza a criação de uma rede de custos, e o lado positivo, o extremo superior, com o envolvimento social criando uma rede de benefícios para a própria empresa envolvida. Assim, afirmam os autores, o paradigma ou modelo proposto apresenta quatro distintos quadrantes identificados como a visão clássica, a visão socioeconômica, a visão moderna e a visão filantrópica que caracterizam as ações de responsabilidade social empresarial (Quazi e O’Brien 1997, 2000). A visão clássica da responsabilidade social empresarial está apoiada na idéia de que o envolvimento social representa custos adicionais para as empresas e de que as mesmas serão avaliadas por critérios associados à eficiência de suas operações. Já a visão socioeconômica, representando ainda uma visão limitada da responsabilidade social, admite que adotando algum nível de RSE, a empresa criará uma rede de benefícios, podendo evitar algum tipo de regulamentação. Em sentido oposto, o quadrante da visão moderna, privilegia a idéia de que as empresas devem manter relação com a matriz social, especialmente os stakeholders, e que a rede de benefícios criada a partir das ações de RSE, trazem resultado a curto e longo prazos. O quarto quadrante, a abordagem filantrópica retrata a visão ampliada da RSE, onde o envolvimento com ações sociais, mesmo que represente uma rede de custos, deve ser adotado por razões éticas e sentimentos altruístas em relação à sociedade. A fim de melhor conhecer qual o real entendimento de RSE nas empresas pernambucanas, esta pesquisa propôs a seguinte pergunta a ser analisada: Que dimensões caracterizam as ações de responsabilidade social empresarial do conjunto das empresas associadas ao Instituto Ação Empresarial pela Cidadania de Pernambuco? O objetivo geral da pesquisa é o de identificar as dimensões conceituais em vigor entre os responsáveis por programas de Responsabilidade Social Empresarial, em empresas pernambucanas. Para isto, a pesquisa tem os seguintes objetivos específicos:

a) Revelar as visões conceituais de Responsabilidade Social Empresarial que norteiam as ações de empresas pernambucanas em programas de RSE em vigor ou que tenham interesse em desenvolvê-los;

b) Avaliar a aplicabilidade do modelo bidimensional de responsabilidade social empresarial desenvolvido por Quazi e O`Brien (2000) para as empresas pernambucanas.

O estudo justifica-se pela limitação da aplicação empírica de modelos de classificação de RSE, especialmente no Brasil, que sejam capazes de favorecer análises precisas e realistas sobre os esforços de responsabilidade social que estão sendo desenvolvidos. Segundo Zadeck (2001) o campo da cidadania corporativa é marcado por uma série de visões divergentes sobre que dados realmente contam e de como medir um progresso efetivo nessa área

Inúmeros e abrangentes registros sobre experiências exitosas e inovadoras no campo da RSE, estão presentes na literatura brasileira, a exemplo dos dados apresentados em pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2003). Eles realçam o

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desempenho das ações sociais das empresas no Nordeste do Brasil, apontando um crescimento de 35% de participação das empresas na área social, passando de 55% em 1999 para 74% em 2003. Apesar desses registros, porém, a discussão sobre a aplicação de modelos de interpretação dessas iniciativas, motiva o aprofundamento dos estudos no meio acadêmico.

METODOLOGIA Planejamento da pesquisa

A Pesquisa exploratória ex post facto foi desenvolvida junto ao conjunto das empresas associadas ao Instituto Ação Empresarial pela Cidadania em Pernambuco e visou identificar dimensões relacionadas à responsabilidade social empresarial, num processo transversal, através da aplicação de uma survey auto-administrada dirigida a 70 empresas associadas. Os dados foram coletados junto aos principais executivos no universo das 70 empresas associadas ao AEC-PE visando manter o foco sobre o grupo decisório das ações de responsabilidade social em busca de suas percepções sobre RSE. A coleta de dados foi programada de forma a obter as informações dos respondentes através de uma survey auto-administrada e foi coordenada diretamente pela pesquisadora.

O modelo de RSE proposto por Quazi e O’Brien, utilizado como referência neste trabalho, foi testado nas duas cidades mais populosas da Austrália e Bangladesh entre empresários dos setores têxtil e de alimentação, na perspectiva de testar a validade, em termos das percepções dos gestores sobre responsabilidade social empresarial, em duas culturas diferentes. O trabalho realizado na aplicação da survey auto-administrada buscou garantir uma participação significativa das empresas pesquisadas sabendo-se que a colaboração qualificada dessas empresas estaria condicionada ao entendimento pleno das questões tratadas e à facilidade de acesso e resposta aos questionamentos encaminhados. O estudo exploratório iniciou-se em julho de 2005, com entrevistas semi-estruturadas aos dirigentes do Instituto Ação Empresarial - PE para mapear o quadro das empresas associadas e os dados cadastrais de associação visando facilitar a estratégia de aproximação e abordagem aos principais executivos. Instrumento de coleta de dados O instrumento constou de 25 declarações relacionadas à responsabilidade social corporativa e a visão de negócios na atualidade. As declarações são argumentos para visões favoráveis e desfavoráveis às associações de negócios e responsabilidade social, compondo conjuntos de declarações que podem caracterizar percepções ampliadas ou restritas da responsabilidade social que se vincula às empresas.

As declarações seguem o modelo de Quazi e O’Brien (2000), validado em pesquisa realizada entre empresas da Austrália e Bangladesh, no ano de 2000.

Universo da pesquisa Empresas associadas ao Instituto Ação Empresarial de Pernambuco- AEC-PE, em número de 70. O estudo foi conduzido para o conjunto total das unidades elementares, que de acordo com Lapponi (2005), representa a população da pesquisa, e taxa de resposta foi de 81,42% com 57 empresas respondentes. Métodos para tratamento dos dados Para as análises quantitativas, o estudo utilizou técnicas de estatística descritiva e multivariadas, com análises fatorial e de clusters a partir da aplicação dos software Statical Package for Social Science (SPSS) versão 12.0 e Excel for Windows 2000.

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A análise fatorial visou a confirmação ou não do teste empírico do modelo de responsabilidade social elaborado por Quazi e O`Brien, visto que a necessidade de validação em outros contextos e culturas é referida pelos pesquisadores nos seus estudos. Análise fatorial é um termo geral para diversas técnicas computacionais específicas. Todas têm o objetivo de reduzir a um número menor de variáveis, formando um grupo que se sobrepõe às características de mensuração do total das variáveis (COOPER E SCHINDLER, 2003). A análise fatorial tem como objetivo principal explicar a correlação ou covariância, entre um conjunto de variáveis, em termos de um número limitado de variáveis não-observáveis. Essas variáveis não-observáveis ou fatores são calculados pela combinação linear das variáveis originais. Freqüentemente um pequeno número de fatores pode ser usado, em lugar das variáveis originais, nas análises de regressões, análises de agrupamentos etc. Os fatores são extraídos na ordem do mais explicativo para o menos explicativo.

A análise de clusters, técnica exploratória de análise multivariada “permite agrupar sujeitos ou variáveis em grupos homogêneos ou compactos relativamente a uma ou mais características comuns” (MAROCO, 2003, p. 295). Na análise de clusters os agrupamentos de variáveis são feitos a partir de medidas de semelhança ou de medidas de distância entre dois sujeitos, depois entre dois clusters usando técnicas hierárquicas ou não-hierárquicas de agrupamento como indica Maroco (2003). No presente estudo o agrupamento hierárquico de clusters foi realizado através do método do centróide. Na pesquisa desenvolvida a análise fatorial foi aplicada para 25 variáveis. Os itens dessa escala são frases, de acordo com a Tabela 1 apresentada a seguir, e serão avaliadas por meio de atribuição de um escore de 1 a 5, onde 1 indica uma discordância total da frase e 5 a concordância total.

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TABELA 1 - Declarações de Quazi e O’Brien sobre Responsabilidade Social Empresarial

Item Descrição A1. As empresas podem evitar mais controle governamental pela adoção de programas de responsabilidade

social. A2. O envolvimento crescente das empresas em responsabilidade social pode levar ao crescimento das

expectativas da sociedade em relação à contribuição das empresas. A3. Responsabilidade social é um fundamento sólido para aumento da competitividade. A4. Empresas devem compreender que são parte da sociedade e por isso devem responder pelas questões

sociais. A5. Como a legislação social já tem regulado o comportamento das empresas é desnecessário para as

empresas se envolver com programas de responsabilidade social. A6. A contribuição empresarial para a solução dos problemas sociais pode ser lucrativa para as empresas. A7. A legislação não é suficiente para assegurar o comportamento organizacional socialmente responsável. A8. Considerando que as instituições sociais têm falhado na solução dos problemas sociais, então agora as

empresas precisam tentar. A9. As empresas devem tratar os problemas sociais que forem criados pelas suas próprias ações. A10. Os programas de responsabilidade social de uma empresa podem se prestar para encorajar o

comportamento responsável de outras. A11. As empresas já têm muita coisa para fazer e não podem assumir outras responsabilidades. A12. As empresas têm dinheiro e talento necessários para se engajarem em ações sociais. A13. A sociedade espera que as empresas possam ajudar a resolver os problemas sociais, e também

produzam bens e serviços. A14. A empresa é principalmente uma instituição econômica e é mais socialmente responsável quando

atende estritamente aos interesses econômicos. A15. Programas de ações sociais podem ajudar a construir uma imagem favorável para a empresa. A16. As empresas têm responsabilidade definida para com a sociedade, além de perseguirem o lucro. A17. Os gerentes corporativos precisam também ser treinados para que possam efetivamente participar da da

solução dos problemas da sociedade. A18. A empresa que não pratica a responsabilidade social pode ter uma vantagem em relação aos custos,

comparando-se com as que praticam. A19. É injusto pedir a empresa para se envolver em programas de responsabilidade social por que ela já

cumpre com a legislação social. A20. O envolvimento social pode ser “suicídio” para as pequenas empresas, por que os altos custos

envolvidos podem jogá-las para fora do mercado. A21. As empresas poderiam usar recursos e talentos para promover o seu próprio crescimento e assegurar

serviços melhores para a sociedade. A22. A sociedade espera que as empresas contribuam para a promoção do crescimento da economia como

sua única preocupação. A23. Transferindo o custo do envolvimento social para a sociedade, a empresa pode enfraquecer sua

imagem com o público. A24. Pedindo à empresa para se envolver em qualquer atividade, que não seja aquela de ter lucros,

provavelmente transformará a sociedade em uma sociedade pior e não melhor. A25. É uma tolice pedir às empresas para resolver os problemas sociais criados por outros e que não trazem

lucro potencial. Fonte: Quazi e O’Brien, 2000

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Resultados e análise das questões por grandes grupos As tabelas 2 a 6 apresentam a distribuição dos entrevistados quanto ao questionário das vinte e cincos declarações sobre responsabilidade social empresarial baseadas no Empirical Test of a Cross-national Model of Corporate Social Responsabilityde Quazi e O’Brien ( 2000). Tabela 2 – Distribuição dos entrevistados quanto às afirmações 1 a 5 relacionadas à responsabilidade social empresarial

A1

A2

A3

A4

A5

Questão

Classificação Grau concordância

N % N % N % N % N %

DT - - 1 1,8 1 1,8 1 1,8 30 52,6 D 18 31,6 - - 6 10,5 - - 26 45,6 I 12 21.1 1 1,8 10 17,5 1 1,8 1 1,8 C 15 26,3 37 64,9 22 38,6 22 38,6 - - CT 4 7,0 18 31,6 18 31,6 33 57,9 - -

Legenda DT=discordo totalmente D= discordo I=indeciso C=concordo CT=concordo totalmente

Para 98,2% das empresas os entrevistados discordam completamente da idéia que a legislação é suficiente e que as empresas não precisam se envolver em ações sociais (A5). Isto ajuda a explicar a falta de convicção ou consenso que a organização pode evitar controle governamental pela adoção de um programa de RSE (A1). Enquanto 38,8% dos respondentes concordam, simplesmente ou totalmente que podem evitar controle governamental com a adoção dos programas de responsabilidade social, 61,2% estão indecisos ou discordam. Isto pode revelar a compreensão de que a realização de ações sociais não é um meio de evitar regulação.

A declaração de que o envolvimento das empresas em ações de responsabilidade social pode levar ao crescimento das expectativas da sociedade em relação à contribuição das empresas (A2) é compartilhada por 96,5% dos respondentes. Os dados sugerem que para os empresários pesquisados, a sociedade exerce uma pressão positiva em favor das ações sociais. Este ponto é corroborado, na medida em que os entrevistados concordam no mesmo percentual, que as empresas, como parte da sociedade, devem ter responsabilidades para com ela (A4), mostrando uma visão mais moderna da RSE.

De fato a maioria dos respondentes, 70,2% acreditam que a RSE é um fundamento sólido para aumento da competitividade (A3), embora que 17,5% dos dirigentes pesquisados ainda tenham dúvida sobre isto ou 12,3% discordam. Tabela 3 – Distribuição dos entrevistados quanto às afirmações 6 a 10 relacionadas à

responsabilidade social empresarial

A6

A7

A8

A9

A10 Questão

Classificação Grau concordância

N % N % N % N % N %

DT 2 3,5 1 1,8 2 3,5 1 1,8 - - D 4 7,0 5 8,8 14 24,6 7 12,3 - - I 3 5,3 3 5,3 16 28,1 5 8,8 1 1,8 C 38 66,7 27 47,4 24 42,1 20 35,1 24 42,1 CT 10 17, 5 21 36,8 1 1,8 24 42,1 32 56,1

Legenda DT=discordo totalmente D= discordo I=indeciso C=concordo CT=concordo totalmente

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Nesse rol de declarações 84,2% dos respondentes concordam que a contribuição empresarial para a solução dos problemas sociais pode ser lucrativa para as empresas, numa visão clássica da RSE (A6), revelando a percepção de uma motivação instrumental, ao mesmo tempo que 56,2% dos respondentes discordam ou não têm certeza, que devem assumir essa responsabilidade simplesmente pelo fato que as instituições sociais têm falhado na tarefa (A8) numa visão mais sócio-política da situação.

No quesito legislação, 84,3% ratificam que a legislação não é suficiente para assegurar o comportamento organizacional socialmente responsável (A7), coincidindo com a discordância plena de 98,2% dos respondentes, referida na questão A5, de que a legislação já é suficiente e por isso as empresas não precisam se envolver em programas de RSE.

Um ponto de grande concordância, com 77,2% das respostas de concordância simples e plena à afirmativa de que a legislação as empresas devem tratar dos problemas que são criados por eles (A9), reforça a idéia de que as empresas têm uma postura mais reativa, do que pró-ativa reforçando, novamente, a visão sócio-política de Quazi e O’Brien.

As boas práticas sociais, para 98,2% dos respondentes, podem se prestar para encorajar o comportamento de responsabilidade de outras (A10), revelando um campo onde a estratégia do marketing, no contexto da responsabilidade social, além dos benefícios relacionados à imagem das empresas pode potencializar as ações sociais das organizações.

Tabela 4 – Distribuição dos entrevistados quanto às afirmações 11 a 15 relacionadas à responsabilidade social empresarial

A11

A12

A13

A14

A15

Questão

Classificação Grau concordância

N % N % N % N % N %

DT 24 42,1 1 1,8 1 1,8 12 21,1 - - D 25 43,9 11 19,3 21 36,8 36 63,2 - - I 6 10,5 11 19,3 12 21,1 4 7,0 - - C 2 3,5 23 40,4 21 36,8 5 8,8 30 52,6 CT - - 11 19,3 2 3,5 - - 27 47,4

Legenda DT=discordo totalmente D= discordo I=indeciso C=concordo CT=concordo totalmente A maioria dos pesquisados, 86,0%, discordam que as empresas já têm muita coisa para fazer e não podem assumir outras responsabilidades (A11), embora apenas 59,7% demonstram a precariedade das empresas em assumir essa responsabilidade quando concordam que as empresas dispõem de recursos e talentos necessários para se engajarem em ações sociais (A12), contra apenas 21,1% que acham que não tem. A idéia de que a empresa é essencialmente um ente econômico (A14) conta com a discordância de 84,3% dos respondentes contra apenas 8,8% que concordam com essa idéia. Isto poderia sugerir que a visão clássica parece ter sido ultrapassada pela visão sócio-política da RSE; pelo menos em discurso.

Porém, no quesito que se busca atribuir às empresas responsabilidades para com a resolução dos problemas sociais, para além da produção de bens e serviços (A13) o quadro não é muito claro. Enquanto 40,3% acreditam que a sociedade espera que as empresas possam resolver os problemas sociais, 38,6% dos pesquisados discordam dessa afirmativa, ficando 21,1% indecisos. Todos concordam, contudo, que os programas de ações sociais podem ajudar a construir uma imagem favorável para a empresa – a visão de marketing da visão sócio-política.

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Tabela 5 – Distribuição dos entrevistados quanto às afirmações 16 a 20 relacionadas à responsabilidade social empresarial

A16

A17

A18

A19

A20

Questão

Classificação Grau concordância

N % N % N % N % N %

DT - - - - 16 28,1 15 26,3 18 31,6 D 7 12,3 12 21,1 26 45,6 34 59,6 33 57,9 I 5 8,8 12 21,1 3 5,3 4 7,0 3 5,3 C 31 54,4 24 42,1 10 17,5 3 5,3 1 1,8 CT 14 24,6 9 15,8 2 3,5 1 1,8 2 3,5

Legenda DT=discordo totalmente D= discordo I=indeciso C=concordo CT=concordo totalmente Numa pergunta genérica, onde não são explicitados os tipos, medidas ou o alcance das responsabilidades das empresas para com a sociedade, percebe-se que a tendência dos pesquisados é revelar uma concordância expressiva, 79%, com a tese de que as empresas têm responsabilidade com a sociedade além de perseguirem lucros (A16). Visão clássica definitivamente não é prioritária.

Mas quando averiguado o item relacionado a necessidade de habilitar os gestores para o trato das questões sociais (A17), o quadro revela um estado um pouco confuso. 57,9% concordam com declaração, ao tempo que 42,2% situam-se entre indecisos (21,1%) ou discordantes (21,1%). Se o gerente não é o responsável, quem deve ser na cabeça dos entrevistados? É a pergunta que fica.

A análise da relação entre ação social e os custos e a competitividade resultante das empresas produziu os seguintes resultados: 73,7% discordam que a empresa que não pratica a responsabilidade social pode ter uma vantagem em relação aos custos, comparando-se com as que praticam (A18), e 89,5% não acham que o envolvimento social pode ser “suicídio” para as pequenas empresas, por que os altos custos envolvidos podem jogá-las para fora do mercado (A20). Nesse quadro, os dados dos empresários pesquisados, podem sugerir que os custos decorrentes da implementação de projetos sociais não devem ser fatores impeditivos às práticas sociais. Mais uma vez a visão clássica perde terreno.

Nova declaração envolvendo a legislação aplicada às empresas e a cobertura das questões sociais resume que 85,9% discordam simplesmente ou totalmente da idéia de que é injusto pedir à empresa para se envolver em programas de responsabilidade social por que ela já cumpre com a legislação social (A19).

Tabela 6 – Distribuição dos entrevistados quanto às afirmações 21 a 25 relacionadas à responsabilidade social empresarial

A21

A22

A23

A24

A25

Questão

Classificação Grau concordância

N % N % N % N % N %

DT 2 3,5 12 21,1 5 8,8 23 40,4 19 33,3 D 2 3,5 33 57,9 19 33,3 27 47,4 34 59,6 I 5 8,8 8 14,0 10 17,5 2 3,5 1 1,8 C 33 57,9 4 7,0 17 29,8 3 5,3 1 1,8 CT 15 26,3 - - 6 10,5 2 3,5 2 3,5

Legenda DT=discordo totalmente D= discordo I=indeciso C=concordo CT=concordo totalmente Para a grande maioria dos pesquisados, 84,2%, as empresas poderiam usar recursos e talentos para promover o seu próprio crescimento e assegurar serviços melhores para a

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sociedade (A21), ratificando a função das empresas como ente social responsável pelo desenvolvimento da sociedade.

Na percepção dos respondentes, a atribuição de um perfil essencialmente econômico às empresas, que privilegie a visão do lucro (visão clássica) sobre todas as outras questões deve ser categoricamente rejeitada: 79,0% discordam que a sociedade espere que as empresas contribuam para a promoção do crescimento da economia como sua única preocupação (A22); da mesma forma que 87,8% discordam que pedindo à empresa para se envolver em qualquer atividade, que não seja aquela de ter lucros, provavelmente transformará a sociedade em uma sociedade pior e não melhor (A24), enquanto 92,9% discordam que seja uma tolice pedir às empresas para resolver os problemas sociais que não trazem lucro potencial (A25) .

Na declaração sobre a transferência dos custos com o envolvimento social para sociedade (A23), 42,1% discordam que tal medida possa enfraquecer a imagem da empresa junto ao público, enquanto 30,3% dos respondentes compartilham dessa preocupação e 17,5% se declaram indecisos sobre a questão.

Análise Fatorial Os resultados da análise fatorial estão apresentados nas tabelas 7 e 8. Na tabela 7 podemos verificar que as 25 variáveis (afirmações) foram reduzidas para nove fatores que explicam 74,81% da variação total. A Tabela 8 apresenta os Loading Factors para os nove fatores de responsabilidade social empresarial obtidos pelo método Varimax.

Tabela 7 - Autovalores e percentual de variância explicada pelos nove fatores.

Fator Autovalor % da Variância

Explicada Acumulada

1 2,88 11,54 11,54 2 2,85 11,39 22,93 3 2,68 10,73 33.66 4 2,07 8,29 41,95 5 1,74 6,95 48,90 6 1,71 6,86 55,76 7 1,62 6,48 62,24 8 1,62 6,46 68,70 9 1,53 6,11 74,81 Total 74,81

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Tabela 8 – Loading Factors para os nove fatores de responsabilidade social empresarial obtidos pelo método Varimax

Fator 1 2 3 4 5 6 7 8 9

A1 -0,017 0,136 -0,047 0,081 0,918 -0,010 -0,026 0,046 -0,064 A2 0,006 0,026 0,023 0,732 0,156 -0,252 0,283 0,082 0,004 A3 -0,237 -0,053 0,558 0,091 0,059 0,483 0,136 -0,091 0,203 A4 -0,236 -0,011 0,679 0,194 0,104 0,102 -0,241 0,135 0,010 A5 0,281 0,294 -0,641 0,029 0,208 0,152 0,110 -0,175 0,110 A6 -0,200 0,239 0,336 0,588 -0,161 0,119 0,123 0,044 0,058 A7 0,108 -0,728 0,214 0,109 -0,060 -0,172 -0,087 0,283 0,299 A8 0,220 0,186 -0,042 0,554 0,040 0,274 -0,028 0,446 0,088 A9 -0,173 -0,059 -0,085 0,221 -0,201 0,012 0,011 0,028 0,816 A10 -0,140 -0,426 0,581 0,079 0,174 -0,161 -0,166 0,259 0,011 A11 0,840 0,028 -0,159 -0,086 0,182 -0,043 0,009 -0,373 0,069 A12 -0,530 -0,216 -0,100 0,111 -0,170 0,455 -0,010 0,454 0,047 A13 -0,145 -0,021 0,052 0,740 0,066 0,241 -0,255 -0,199 -0,010 A14 0,853 -0,019 -0,188 -0,063 -0,080 -0,108 0,040 0,044 -0,021 A15 -0,101 -0,119 0,261 -0,036 0,078 -0,077 0,033 0,843 0,029 A16 -0,055 -0,030 0,791 -0,006 -0,171 0,245 0,151 0,022 0,029 A17 -0,207 -0,048 0,173 0,079 -0,026 0,860 -0,094 -0,017 0,005 A18 0,197 0,190 0,007 -0,083 0,046 -0,046 0,771 0,126 0,254 A19* 0,412 0,477 -0,212 -0,078 0,352 -0,277 0,103 0,005 -0,031 A20 0,079 0,345 -0,142 0,173 0,530 -0,091 0,488 -0,001 0,153 A21 0,225 0,175 0,080 -0,203 0,029 -0,004 -0,658 0,169 0,371 A22 0,693 0,006 -0,295 0,032 -0,087 -0,157 0,022 0,181 -0,232 A23 0,007 0,101 0,178 -0,234 0,401 0,094 0,129 0,015 0,629 A24 0,069 0,833 -0,025 0,187 0,129 -0,004 0,069 0,130 0,058 A25 -0,001 0,866 -0,059 0,103 0,094 -0,182 -0,039 -0,090 0,124

* não significativo

Na tabela 9 propõe-se a identificação e denominação dos fatores e os itens que integram cada fator conforme o grau de concordância da maioria dos entrevistados às perguntas, todas colocadas de forma direta, ou negativa ou positiva para melhor compreensão.

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Tabela 9 – Análise fatorial dos dados do AEC-PE Declarações C/D (*) Fator Fator 1 (negócio é negócio) – visão clássica abolida As empresas já têm muita coisa para fazer e não podem assumir outras responsabilidades; (A11) As empresas têm dinheiro e talento necessários para se engajarem em ações sociais;(A12) A empresa é principalmente uma instituição econômica e é mais socialmente responsável quando atende estritamente aos interesses econômicos;(A14) A sociedade espera que as empresas contribuam para a promoção do crescimento da economia como sua única preocupação. (A22)

D C D

D

0,840 0,530 0,853

0,693

Fator 2 ( legislação não assegura o comportamento socialmente responsável) A legislação não é suficiente para assegurar o comportamento organizacional socialmente responsável. (A7) Pedindo à empresa para se envolver em qualquer atividade, que não seja aquela de ter lucros, provavelmente transformará a sociedade em uma sociedade pior e não melhor. (A24) É uma tolice pedir às empresas para resolver os problemas sociais criados por outros e que não trazem lucro potencial. (A25)

C

D

D

0,728

0,833

0,866

Fator 3 ( RS traz benefícios mútuos) visão moderna Responsabilidade social é um fundamento sólido para aumento da competitividade.(A3) Empresas devem compreender que são parte da sociedade e por isso devem responder pelas questões sociais. (A4) Como a legislação social já tem regulado o comportamento das empresas é desnecessário para as empresas se envolver com programas de responsabilidade social. (A5) Os programas de responsabilidade social de uma empresa podem se prestar para encorajar o comportamento responsável de outras. (A10) As empresas têm responsabilidade definida para com a sociedade, além de perseguirem o lucro.(A16)

C C

D

C

C

0,558 0,679

0,641

0,581

0,791

Fator 4 ( RSE eleva as expectativas da sociedade) – como elemento político O envolvimento crescente das empresas em responsabilidade social pode levar ao crescimento das expectativas da sociedade em relação à contribuição das empresas; (A2) A contribuição empresarial para a solução dos problemas sociais pode ser lucrativa para as empresas; (A6) Considerando que as instituições sociais têm falhado na solução dos problemas sociais, então agora as empresas precisam tentar; (A8) A sociedade espera que as empresas possam ajudar a resolver os problemas sociais, e também produzam bens e serviços; (A13)

C

C

?

?

0,732

0,588

0,544

0,740

Fator 5 ( RSE é bom por si só) - Filantropia As empresas podem evitar mais controle governamental pela adoção de programas de responsabilidade social; (A1) O envolvimento social pode ser “suicídio” para as pequenas empresas, por que os altos custos envolvidos podem jogá-las para fora do mercado. (A20)

?

D

0,918

0,530

Fator 6 (os recursos humanos devem ser treinados para RS)- instrumental gestão RH Os gerentes corporativos precisam também ser treinados para que possam efetivamente participar da da solução dos problemas da sociedade.(A17)

C

0,860

Fator 7 ( custos da RSE)- instrumental gestão da produção A empresa que não pratica a responsabilidade social pode ter uma vantagem em relação aos custos, comparando-se com as que praticam; (A18) As empresas poderiam usar recursos e talentos para promover o seu próprio crescimento e assegurar serviços melhores para a sociedade. (A21)

D

C

0,771

0,658

Fator 8 (RSE e marketing) – instrumental gestão Relações públicas Programas de ações sociais podem ajudar a construir uma imagem favorável para a empresa (A15)

C 0,843

Fator 9 (as empresas devem assumir os custos da RS) – anti- visão clássica As empresas devem tratar os problemas sociais que forem criados pelas suas próprias ações; (A9) Transferindo o custo do envolvimento social para a sociedade, a empresa pode enfraquecer sua imagem com o público (A23)

C D

0,816 0,629

(*) Legenda : D – maioria discorda; C- maioria concorda; ? não há consenso

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O fator 1 representa a visão clássica de que as empresas são essencialmente instituições econômicas e a medida do desempenho organizacional são os resultados econômicos. o fator 2 reúne declarações que favorecem a visão de que as organizações são instituições econômicas e que a legislação não é suficiente para assegurar o comportamento socialmente responsável das empresas. No fator 3 as declarações apóiam a argumentação de que a responsabilidade social traz benefícios potenciais para os negócios. No Fator 4 as declarações favoráveis à responsabilidade social situam-se no campo da crescente expectativa da sociedade até por que as instituições sociais têm falhado nas suas funções. O Fator 5 retrata a preocupação com o controle governamental e com os custos da RS. O Fator 6 é a expressão da necessidade de recursos humanos treinados para RSE. O Fator 7 é compatível com a visão de que as empresas são entidades sociais e econômicas. O Fator 8 revela a associação positiva entre RSE e imagem empresarial. No Fator 9 as declarações confirmam a postura reativa em relação à RSE e que a transferência dos custos de RSE para a sociedade enfraquece a imagem das empresas. De maneira muito clara o posicionamento dos entrevistados, observados o grau de concordância e discordância sobre as declarações, ratifica o entendimento, para esse grupo, de que a visão clássica da RSE está absolutamente superada. Da mesma maneira é consensual o entendimento sobre o papel que as empresas devem exercer na sociedade e dos benefícios mútuos com a adoção de programas de RSE. A novidade que se apresenta nesse contexto, não identificada nos estudos de Bangladesh e da Austrália é a ênfase instrumental para as ações de RSE, notadamente nas abordagens sobre recursos humanos, produção e marketing. Essas constatações reforçam a importância da motivação instrumental para a prática da RSE, que associa clara e objetivamente vantagens competitivas às empresas, como sugere Ashley (2000).

Análise de clusters Os resultados da análise de cluster estão apresentados na tabela 10. Podemos ver a

classificação dos respondentes nos dois estratos, e os centróides dos itens de responsabilidade social de acordo com os dois grupos. Nesta podemos ver que os grupos não diferem em relação às afirmações 2, 6, 8, 13, 18, 21 e 23. O primeiro cluster reúne as sentenças A1, A5, A11, A14, A19, A20, A22, A24 E A25 que dão suporte ao abandono da visão clássica da responsabilidade social empresarial, pois os entrevistados não concordam com as afirmações. As declarações descartam a idéia de que a legislação já é suficiente para garantir as ações sociais das empresas e que os programas de responsabilidade social podem ser benéficos apenas na medida em que podem evitar mais controle governamental. A visão eminentemente econômica da função das empresas, declarada na máxima de que o lucro deve ser o único objetivo empresarial e de que as empresas não podem assumir outras responsabilidades, inclusive devido aos altos custos que essas iniciativas envolvem, não encontra abrigo entre os entrevistados. O segundo cluster é agrupado pelas sentenças A3, A4, A7, A9, A10, A12, A15, A16 e A17 convergindo para a visão moderna da responsabilidade social empresarial quando associa aumento da competitividade e melhoria da imagem das empresas às ações de responsabilidade social. Nesse segmento a empresa é vista como um ente social que deve assumir responsabilidades pelo bem estar da sociedade. Os dados reunidos nos permitem sugerir a localização de um dos clusters no quadrante da visão moderna, a exemplo do verificado em Bangladesh e na Austrália, e rejeitar o enquadramento na visão clássica da RSE, diferentemente do ocorrido nos estudos citados.

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Tabela 10 – Distribuição dos centróides dos itens de responsabilidade social de acordo com os dois grupos. Centróides dos Clusters Variáveis 1 2

F p-valor

A1 3,20 2,50 5,25 0,03 A2 4,24 4,25 0,00 0,96 A3 3,36 4,28 13,58 <0,01 A4 4,28 4,72 7,62 0,01 A5 1,80 1,25 19,46 <0,01 A6 3,68 4,03 2,14 0,15 A7 3,48 4,56 25,05 <0,01 A8 3,08 3,19 0,18 0,67 A9 3,60 4,38 8,06 0,01 A10 4,32 4,72 8,82 <0,01 A11 2,16 1,44 14,80 <0,01 A12 2,76 4,19 44,39 <0,01 A13 2,80 3,22 2,63 0,11 A14 2,32 1,81 6,15 0,02 A15 4,32 4,59 4,40 0,04 A16 3,48 4,25 11,97 <0,01 A17 3,08 3,88 10,31 <0,01 A18 2,48 2,03 2,18 0,15 A19 2,48 1,56 23,11 <0,01 A20 2,28 1,56 11,38 <0,01 A21 3,92 4,06 0,34 0,56 A22 2,32 1,88 4,64 0,04 A23 2,96 3,03 0,05 0,83 A24 2,28 1,50 10,43 <0,01 A25 2,28 1,47 16,38 <0,01

LIMITAÇÕES E PESQUISAS FUTURAS

Na análise e aplicação do modelo de responsabilidade social empresarial de Quazi e O’Brie não foram considerados os aspectos culturais que envolvem a realidade de 3 países bastante diferentes. Como propõe Barbosa (1999), uma nação determina o que se pode esperar como resultado de uma atitude ou ação, ou seja, através de comportamentos determinados por traços culturais. É necessário, assim, que se compreenda que os padrões de ação social seguem e são modelados de acordo com a realidade do país. Em linhas gerais, pode-se abordar: “O que essas diferenças culturais e a especificidade brasileira implicariam para o conceito de responsabilidade social corporativa?” (VELOSO, 2006, p.13), num estudo que incorpore a dimensão cultural. CONCLUSÕES Os resultados encontrados de acordo com a análise fatorial desenvolvida aproximam a experiência das empresas pernambucanas, no que se refere à visão moderna da RSE, com os resultados verificados em Bangladesh. Para os dois conjuntos foram extraídos 9 fatores com um percentual de variância explicada de 74,81% para o primeiro grupo e de 59,8% para Bangladesh. Os dados da Austrália apresentaram 7 fatores com um percentual de 64,4% de variância explicada. Para as empresas pernambucanas foram identificados 2 clusters: o 1º que corresponde a negação da visão clássica da RSE, na medida em que ela representa a noção teórica de que as empresas servem à sociedade no desempenho de suas funções econômicas, através da oferta de empregos e serviços. E de que mesmo dispondo de recursos e talentos não seria função das empresas dedicar-se ao trato das questões sociais que fogem ao escopo de seu

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trabalho. Esta visão foi rejeitada pelos entrevistados ou pelo menos colocada em cheque. Eles não concordam com as premissas. O 2º cluster vem representar a visão mais ampliada da RSE. As empresas não estão focadas apenas na visão de maximização dos lucros e do cumprimento das leis e têm incorporada a dimensão social, por que entendem que as empresas são parte da sociedade e por isso devem responder pelas questões sociais. Revela-se ainda que o comportamento socialmente responsável de uma empresa é capaz de influenciar positivamente outras organizações. Às definições passadas de responsabilidade social, deve ser integrada a perspectiva instrumental da RSE, numa abordagem gerencial. Na interpretação de Petrus e Woodruffs’s (1992) a RSE deve ser vista como o comprometimento da organização para minimizar ou eliminar efeitos nocivos e maximizar, a longo prazo, impactos positivos na sociedade. REFERÊNCIAS ACKERMAN, R. How companies respond to social demands. Havard Business Review, v.51. n.4. 1973. ASHLEY, Patrícia. A responsabilidade social corporativa em um contexto de fusões, aquisições e alianças. Organizações e Sociedade, UFBA, v.6, n.16, set/dez.1999. CAPPELLIN, P. Empresa, Empresários e Globalização. Rio de Janeiro: Relume Dumará. 2002. CARROLL, A. B. A Three-dimensional conceptual model of corporate performance. Academy of Management Review 4, 497-505, 1979 ________. The pyramid of corporate social responsibility: toward the moral management of COOPER, Donald R. e SHINDLER, Pamela. Métodos de pesquisa em administração. 7ed. Porto Alegre, Bookman, 2003. FRIEDMAN. M. “Freedom and Philantropy (Na Interview)”, Business and Society Review 71 (Fall), 11-21 r. 1989 INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Pesquisa Ação Social das Empresas. Segunda Edição. Release de lançamento dos primeiros resultados. 2003. JACK, M. Theory building trough conceptual methods. International Journal of Operations & Production, vol 13, n.5, p 3-9, 1993. LAPPONI, J. C. Estatística Usando Excel. 4ed. Rio de Janeiro. Elsevier, 2005. MAROCO, João. Análise Estatística. Com Utilização do SPSS. 2 ed.Edições Silabo. Lisboa, 2003. PETKUS, Ed, Jr e Robert B. Woodruff. A model of the socially responsible decision-Making process in marketing: linking ecision makers and stakeholders. In: Proceedings of the Winter Process . American Marketing Associaton, edited by Chris T, Allen et al., Chicago: American Marketing Association .1992. PRESTON, L.; POST, J. Privative management and public policy. California Management Review v. XXIII, n.3, 1981. QUAZI, A. M. and O`BRIEN D. An Empirical Test of a Two-Dimensional Model of a Managerial Perception of Corporate Social Responsibility in Diverse Cultures`, paper presented at the ANZAM Conference, held at the University of Wollongong, December 4-7, 1996. __________. An Empirical Test of a Cross-national Model of Corporate Social Responsibility. Journal of Business Ethics; May 2000; 25, 1. 2000. WOOD, Donna J. Corporate social perfomance revisited. Academy of Management Review, Biarcliff Manor, v.16. n.4, outubro, 1991. ZADECK, Simon. Human Values come to market. New Statesman. London, v. 10 n.444. Mar 1977.