autor: vladimir 41 · e queria ver você. pode ser? - claro -apressou-se ele a dizer- eu vou aí...

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Aqui você vai encontrar importantes obras da riquíssima Literatura Brasileira. Agora ela está nos ônibus de Belo Horizonte e contamos com a sua ajuda para conservar este texto. Patrocínio: Realização: Incentivos: Se você quiser opinar sobre os textos e o projeto, entre em contato conosco: (31) 3586-2511 www.letras.ufmg.br/atelaeotexto [email protected] Realizado com os benefícios da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte 41 Autor: Vladimir Veio em um jardim. Jardim das alegrias, jardim das tristezas, Jardim das paixões, jardim dos amores. Jardim da pura beleza, jardim de ervas daninhas, Jardim de minhas saudades, jardim de minhas esperanças Jardim que me dá vida, jardim que será meu túmulo. Em meu jardim a rosa mais bonita Não é vermelha, nem amarela, nem branca É a rosa que mesmo seca e negra, me encanta e me aprisiona. O JARDIM

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41Autor: Vladimir

Veio em um jardim.Jardim das alegrias, jardim das tristezas,

Jardim das paixões, jardim dos amores.

Jardim da pura beleza, jardim de ervas daninhas,Jardim de minhas saudades, jardim de minhas esperanças

Jardim que me dá vida, jardim que será meu túmulo.

Em meu jardim a rosa mais bonitaNão é vermelha, nem amarela, nem branca

É a rosa que mesmo seca e negra, me encanta e me aprisiona.

O JARDIM

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42Autor: Myriam Reis

Você entra no cinema, vira à esquerda, senta-se sorrindo na penúltima fila,

aconchegando-se entre duas mulheres, então você beija uma delas, eu penso: “Nossa!” E

depois “Ele tem alguém, é claro...que pena” e quando nos revemos por acaso, você me diz

que eu tenho uma cara conhecida, eu tentando conversar a sério e você dizendo que minha

cor de cabelos e de batom não combinam, que eu me darei bem em Miami com essa tinta e

esse senso prático de dizer o que quero e terminar a conversa e sair de repente e então você

começa a passar mal, a dizer que o astral está pesado, e que você está ficando cada vez mais

tonto, fraco, de pressão baixa, e eu fico preocupada contigo, e te levei pra casa, não pra sua

ou pra minha, que moro em hotel, mas pra casa da sua namorada, e me despeço de você

com a nítida impressão de que já nos conhecemos em outra vida e fiz algum mal pra você,

te abandonei, te fiz sofrer, e é bom que fique assim - você brincando de paranormal e eu

criando os mistérios em torno - mas ninguém sabe, nem saberá.

VERTIGEM

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43Autor: Moacyr Scliar

De volta ao primeiro beijo

continua...

"O primeiro beijo é uma coisa muito falada. Sem dúvida é uma experiência muito marcante, inesquecível. O primeiro beijo é uma maturação, uma descoberta. Ao mesmo tempo, para alguns, ele pode ser um monstro assustador", diz o cineasta Esmir Filho, diretor de "Saliva". O filme conta como Marina, uma garota de 12 anos, é pressionada a dar o seu primeiro beijo no experiente Gustavo. (Folhateen)

TINHA ACABADO de ler a matéria sobre o primeiro beijo, no pequeno apartamento em que morava desde que ficara viúvo, anos antes, quando (coincidência impressionante, concluiria depois) o telefone tocou. Era uma mulher, de voz fraca e rouca, que ele de início não identificou: - Aqui fala a Marília -disse a voz. Deus, a Marília! A sua primeira namorada, a garota que ele beijara (o primeiro beijo de sua vida) décadas antes! De imediato recordou a garota simpática, sorridente, com quem passeava de mãos dadas. Nunca mais a vira, ainda que freqüentemente a recordasse -e agora, ela lhe ligava. Como que adivinhando o pensamento dele, ela explicou: - Estou no hospital, Sérgio. Com uma doença grave... E queria ver você. Pode ser? - Claro -apressou-se ele a dizer- eu vou aí agora mesmo. Anotou rapidamente o endereço, vestiu o casaco, saiu, tomou um táxi. No caminho foi evocando aquele namoro, que infelizmente não durara muito tempo -o pai dela, militar, havia sido transferido para o Norte, com o que perdido o contato -mas que o marcara profundamente. Nunca a esquecera, ainda que depois tivesse beijado várias outras moças, uma das quais se tornara a sua companheira de toda a vida, mãe de seus três filhos, avó de seus cinco netos. E não a esquecera por causa daquele primeiro beijo, tão desajeitado quanto ardente.

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44Autor: Moacyr Scliar

"Chegando ao hospital foi direto ao quarto. Bateu; uma moça abriu-lhe a porta, e era igual à Marília: sua filha. Ele entrou e ali estava ela, sua primeira namorada. Quase não a reconheceu. Envelhecida, devastada pela doença, ela mal lembrava a garota sorridente que ele conhecera. Consternado, aproximou-se, sentou-se junto ao leito. A filha disse que os deixaria a sós: precisava falar com o médico.Olharam-se, Sérgio e Marília, ele com lágrimas correndo pelo rosto. - Você sabe por que chamei você aqui? -perguntou ela, com esforço. - Porque nunca esqueci você, Sérgio. E nunca esqueci o nosso primeiro beijo, lembra? Na porta da minha casa, depois do cinema... - Claro que lembro, Marília. Eu também nunca esqueci você... - Pois eu queria, Sérgio... Eu queria muito... Que você me beijasse de novo. Você sabe, os médicos não me deram muito tempo... E eu queria levar comigo esta recordação.Ele levantou-se, aproximou-se dela, beijou os lábios fanados. E aí, como por milagre, o tempo voltou atrás e de repente eles eram os jovenzinhos de décadas antes, beijando-se à porta da casa dela. Mas a emoção era demais para ele: pediu desculpas, tinha de ir. A filha, parada à porta do quarto, agradeceu-lhe: você fez um grande bem à minha mãe. E acrescentou, esperançosa: - Acho que ela agora vai melhorar. Não melhorou. Na semana seguinte, Sérgio viu no jornal o convite para o enterro. Mas, ao contrário do que poderia esperar, apenas sorriu. Tinha descoberto que o primeiro beijo dura para sempre. Ou pelo menos assim queria acreditar.

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45Autor: Cláudio Bento

Um trem corta os trilhos

Da ferrovia

Vitória-------------------------------------------------Minas

Carregado

De gente minério e sonho

Um trem

Corta os trilhos de Minas

Adeus Ipatinga

Adeus Santa Bárbara

Adeus Barão de Cocais

Adeus para quem fica

Boa sorte para quem vai

FERROVIA VITÓRIA-MINAS

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46Autor: J. Estanislau Filho

Os ipês estão floridosEnfeitam a cidade sem exigir nada em trocaDerramam luzes e coresComo só a mãe natureza sabe fazer

Monóxido de carbonoLixos

Cores fabricadas dos outdoorsO cinzento dos concretosFlores artificiais mortas

RuídosQue me lambem o corpo.

Quero ver os ipês floridosQuero resgatar o homem do mato que habita em mimO homem meigo manso...Ipês floridos: atirem suas flores em mimE me asfixiemIpês floridos: deixem cair suas luzesSobre este corpo poluído de som e fúriaE o desintegremPara se misturar à terraE nascer de novoPurificado.

OS IPÊS ESTÃO FLORIDOS

(Do livro: O comedor de livros – Ed. do autor – 1991 – esgotado)

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47Autor: João Freitas

Cocorococó, ai, ai, ai!Eu sou um galo da paz,Da raça dos galos de briga.Sou o filho da dor:Dor de bater nos amigos,Dor de apanhar dos semelhantes,Dor da ferida aberta e profunda,Dor da cicatrização sem pontos,Da bicada do bico amolado,Do esporão de ponta afiada,Do meu dono que me maltrata,Que despreza a minha vidaNas lutas sem sentido das rinhas.

Ah, Anjo Protetor dos animais!Não te esqueças dos da cidade,Desce voando aí do Céu Verde,Vem ao Coliseu das frustrações,Soprar nos ouvidos da insanidadeA cura deste desvio de condutaAlimentado pela indefesa dor alheia:Um divã freudiano de veludo,Um cofre com segredo digital,Para guardar a vergonha coletivaDa prática cruel das brigas de galo.E impedir a volta da vítima ao cativeiroDeste humano desumano.

(ONG +Vida - PiauíJoão Freitas escreveu em verso ao IBAMA, protestando contra o sacrifico de 140 galos de briga apreendidos numa rinha nos arredores de Teresina)

SEM SENTIDO

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48Autor: Adirson

E com sua força arrasta pequenos arbustos E cava no chão duro um sulco que lhe servirá por caminho.

Alguém provido de sabedoria,Desvia o curso da água

Para que ela lhe serva de bebida e fonte de energia.O moinho, construído abaixo da casa,

Aguarda os jatos de água Que farão mover a engenhosa máquina

Que tritura o milho, Transformando-o em subprodutos.

É a vida brotando do nada,E encantando os olhos

Que vêem da aridez do pasto nascer a água.Enquanto isso, a água continua a brotar,

A cortar o pasto, a se encontrar com outras águas,A formar o ribeirão, a gerar energia,

A mover o moinhoE a matar a sede do homem.

A água brota nas grotas que salpicam o pastoGenerosamente esculpido.Aqui e ali uma pedra, grande ou pequena,Enfiada na terra, circundada pela vegetação que serve ao gado.O pasto, forrado pela grama, é também cortado pelo veioQue escorre e faz nascer, no brejo,Vegetais e arbustos que protegem a nascente.O fio de água desliza pasto abaixo,Abrindo caminho entre pedras e mato, Contornando ilhotas, criando miniaturas de arquipélagos.Encontrando com a água de outras minasQue também brotam no pasto,Aquele fiozinho ganha força E já se pode ouvi-lo descer numa cascata de pedras e mato.O barulho das águas é acalentador, poisA natureza é mesmo perfeita em tudo o que faz,E aqueles fios d'água continuam seu percurso e com outras águas,De outras nascentes, vão formando um estreito ribeirão,Que deságua pasto abaixo,

ÁGUA

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49Autor: Tânio César

Se nas curvas do coração, derrapam meus sonhos

e se precipitam sem fim

Das pistas do pensamento decolam anseios e pousam suaves...

e pousam suaves dentro de mim

Ter um dia após o outro, ter meus pés inquietos

Ter motivos pra ser pouco. Ter desejos e ações, sem vetos

Correr atrás, querer ser mais. Sem atropelar ninguém

Sem esquecer o amor, a amizade e o querer bem

Se o brilho de outros olhos ofuscam as vontades

E elas se esbarram “meio assim”; com a força da minha voz

Se rendem, acatam, enxergam e seguem em frente...

...e seguem em frente, enfim.

Ser meu pai e minha mãe. Ser guardião do meu destino

Ser o filho que nunca veio, ter o meu próprio caminho

Correr atrás, querer ser mais. Sem atropelar ninguém

Sem esquecer o amor, a amizade e o querer bem

MAIS

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Autor: Rogério Salgado 50

Venderam o piano que mamãe tocavaa sala hoje, encontra-se vazia.

No tempo do tempo do tempohavia no canto de nossa velha casada Rua Doutor Mattosalém do criado mudo e móveis maisa canção e a vida, na viagemdo piano que mamãe tocava.

- Quase tudo tem seu preço.O piano que mamãe tocavanão tinha preço: tinha valor -

A tristeza e a alegriana história dessa senhorae o toque sutil de suas mãostão calejadas e sofridasfaziam todas as canções, belas.

Hoje, o canto encontra-se vaziomas a nostalgia embala a criançaque amadureceu criançanas lembranças daquele tempo.

Acordaram todos os sonhosa velha senhora se foie a canção desencantou-seno dia em que venderamo piano que mamãe tocava.

O piano que mamãe tocava

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51Autor: Wilmar Silva

nem one nem um nem eins nas mãos nem two nem dois nem zwei nos pésnem three nem três nem drei nos pés nem four nem quatro nem vier nos pésnem five nem cinco nem fünf nos pésnem six nem seis nem sechs nos pésnem seven nem sete nem sieben nos pésnem eight nem oito nem acht nos pésnem nine nem nove nem neun nos pés nem ten nem dez nem zehn nos péscem eleven cem onze cem elf mil mãos cem mil pés

Brazil Brasil Brasilien

ATLAS

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52Autor: José Aloise Bahia

Eu, olho-me no espelho oval da parede,

Procuro detalhes desta minha presença.

Tento achar em minha verdadeira aparência

Ainda atraente, sentir algum contentamento,

No limiar da idade estampada no rosto:

Sutilezas, algum sulco ao redor dos olhos,

Que faz o corpo pedir azul kleiniano e branco,

Deixando-me satisfeito, na expectativa, entregue.

Mas não pensem que é uma mudança radical

O que se passa em minha proposta pessoal,

Esta tentativa de ficar mais jovem e refeito,

Bonito pra mim mesmo. Prestem bem atenção:

A razão suficiente da minha imagem refletida,

Demonstra o prazer em vestir as cores do céu.

Soneto

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Autor: Luana Dandara 53

Sou uma mistura de você consigo mesmo.Não vê, meu caro, estou feliz hoje!Acordei com uma vontade imensa de sair às ruasE desejar bom dia ao moço que vende balas na calçada.Acordei já sabendo que algum diaMeus olhos não mais se abririam, indolentesPara qualquer filete de luz intruso.Fiquei sabida!Mas me pus, inconsciente,A dançar tango com os pássaros,A balançar a cabeleira solta como se não mais houvesseQuem me fizesse parar.Mas havia, de fato.Uma velhinha no encalçoDe um moleque maltrapilho, apressado,Que tinha atrelado ao corpo, a pequena bolsa de contas.Um esbarrou-me em cada ombroE, de repente, parei para ouvir a garota que se vendiaCom a mão na cintura, generosos seiosA um carro da esquina.Fechei os olhos e pude sentir a sôfrega dilataçãoDas minhas pupilas, no escuroRemexendo por entre folhas e galhosTemendo o ataque de mais um bicho selvagem.Foi quando um cara de terno e colarinho brancoOfereceu-me uns trocados,Que percebi que as árvores que oxigenavam meu cérebroForam, inopinadamente, cortadas.

Devaneios do século XXI

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Autor: Myriam Reis 54

Na casa de meus pais, no interior de Minas, havia uma banheira antiga que ficava no porão e que só eu usava. Chamávamos meu banheiro de "verde" em contraposição ao "amarelo" de meus pais e do "rosa" social, como se habitássemos uma mansão! A "mansão da esquina", um sobradinho, começou a se parecer mais com a casa dos Adams quando um visitante inesperado veio trazer jabuticabas para chupar aqui. No início, pensei tratar-se de um calango gigante, daqueles que caíam pesadamente da trepadeira do telhado no chão da varanda. Mas minha mãe sorriu seu sorriso de experiência índia e disse, categórica: "É morcego". Vi que ela tinha razão: quando eu chegava com o carro na garagem e, ao abrir o portão e iluminar a escuridão, algo voava em direção à liberdade; desta vez, minha mãe julgava ser um pássaro, eu já apostava no morcego. Mas o mais interessante é que o bicho usava a toalete, quer dizer, ele vinha fazer suas necessidades na banheira - não no vaso, como gatos e cachorros ensinados, mas isso já é querer demais!

Então uma noite, depois de uma viagem, resolvi conferir se alguém mais havia usado meu banheiro em minha ausência, e ei-lo, o morcego, dependurado no cano do chuveiro, gordinho, chupando! Gritei a família inteira e eles desceram correndo. Meu pai queria pegar a espingarda de chumbinho, mas tive medo que ele errasse a pontaria e furasse o cano d´água. "A bala pode ricochetear no azulejo e ferir alguém", completou minha mãe. Nessa conversa, nosso hóspede invasor saiu voando para fora da garagem, pois as luzes acesas o tinham espantado. Foi então que decidimos tomar uma providência. "Temos que chamar alguém pra matar o vampiro. Ou ele ou eu." "Matar não pode, os ecologistas não deixam." " Mas a mordida desse bicho é igual à de rato, transmite raiva", completei. "Chama aquele rapaz meio doido, ele já matou um monte no sótão, uma vez". "Já disse que é proibido, gente, tem que chamar o veterinário que ele coloca um remédio num lugar para espantar os morcegos". "Cacá disse que na fazenda do pai dela tem um sujeito com boa pontaria". "Eu podia ter matado, meu tiro é bom, já matei, há trinta anos atrás, uma aranha caranguejeira..." "Pai, há trinta anos atrás essa mão não tremia." " Gente, já disse que onde põe o remédio o bicho não volta, se matar eles voltam." "Eles? Então é mais de um?"

Vieram os técnicos e colocaram uma tela para impedir o morcego de entrar. Funcionou. Na escola em que eu trabalhava, um outro morcego passou por mim em direção ao telhado do velho casarão. Um aluno que estava por perto me tranqüilizou: "Ele é herbívoro, só come frutas. Lindo, não?" O bicho era inofensivo, então...e eu com medo de um vegetariano!

O morcego domesticado

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Autor: Djalma da Silva, o Didi 55

A morte do cãoApós correr, correr muito, cheguei ao quintal da casa antiga onde vivi. Lá, sentados em frente à porta principal, meu irmãos me olhavam. Todos tristes, pálidos e com lágrimas nos olhos. Nosso cachorrinho havia morrido. Agora que morro eu, percebo com clareza que naquele dia quem morreu não foi o cão, fomos nós. Palavras não ditas devem ser esquecidas.

Anti-didáticaPercebo a vida como uma estranha mistura de contingência e inutilidade. E, afinal, o que pode ser a vida senão uma leve percepção? A vida não nos dá tempo para nos conhecermos. Quando começamos a aprender, acabamos.

Ouçam! É Música!Sentir-me leve, livrar-me desse ser gorduroso e sujo que sou. Ser um bailarino: ter graça e arte em cada gesto. Ser poeta: escalar o edifício das formas e dos símbolos para ver que ele é uma ilusão. Ser músico: botar abaixo a infame estrutura da realidade dos triviais.

Três estórias sobre o "eu" que desconheço

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Autor: Janaína Souza 56

Sabe os limites?Guarde-os em uma caixa de sapatos e feche!Deixe-os lá, no escuro, sozinhos.Sim!Eles se educarão.

Um amor sem limites, será melhor!Uma paixão desenfreada... Exagerada.Assim como eu, e talvez como você.

Que seja inenarrável... (eu consigo?)De dar calafrio...Algo novo... Algo novo? Sim algo novo!(eu sempre digo novo)

Voe longe como os pássaros,Se modele, você é barro!Se liberte como a borboleta.Siga-as!

Até onde você consegue ir?

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Autor: Cláudio Bento 57

Meu povo tem fome de comida e livrosNão existe solidão para quem lê Um livro pode conterRios montanhas alegrias esperanças ruas cidades países A liberdadeMora na asa da palavra

Asa da palavra

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Autor: Simone Andere 58

Dias difíceis. Vendemos um carro e não compramos outro. Resultado: eu e meu marido vamos juntos para o trabalho e para casa. Nestas idas e vindas coletivas, ganhei um cão. Um filhote de dálmata. Chega meu marido para me buscar. Eu com o cão no colo como se fosse de pelúcia. Entrei rapidamente no veículo como se nada houvera. - Olha que lindo. Pois é. Ganhei. - Vai ter que devolver. - Nem pensar. A gente só devolve presente que não serve. Ele é meu número.

Este é Pierrô

Page 19: Autor: Vladimir 41 · E queria ver você. Pode ser? - Claro -apressou-se ele a dizer- eu vou aí agora mesmo. Anotou rapidamente o endereço, vestiu o casaco, saiu, tomou um táxi

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Brasileira. Agora ela está nos ônibus

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59Autor: J. Estanislau Filho

Meu amigo vira-lata ao me ver de cara amarrada, vira a cara. Faz greve, não

vira lata, não derruba objetos, não revira o lixo. E se enrosca em sua toca,

não troca carícias, não toca a ração. Mas que cão cheio de manhas! Mas se

assanha quando grito “saia já daí e vamos dar um passeio”. Com seu focinho

frio, toca meu rosto, me lambe... Sinto arrepios. Feliz, cheira meus livros,

sobe na poltrona e faz xixi no tapete. Dá-me uma vontade dar-lhe um tabefe.

De tão feliz se esquece de usar o xixizeiro. Deixo o tapete de molho e

andamos pelas ruas de olho em tudo. E se alguém se aproxima, para falar

comigo, ele late e me fita, como se dissesse “fica tranqüilo, aqui estou para

defender meu amigo”. Depois de intensa caminhada, voltamos para casa. Ele

quer água e comida. Come, bebe água, come mais, bebe mais e de barriga

cheia, vai dormir depois de me sorrir. Cai em sono profundo. Entra em outro

mundo. Um mundo de sonhos, pois rosna dormindo, abana o rabo, pois cão

sem rabo é como árvore sem galhos. Chega mesmo a latir. Acho que ri. E é de

mim. Sonha que sou um vira-latão. Ah, como amo esse cão.

MEU AMIGO VIRA-LATA

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Autor: Affonso Romano de Sant'Anna 60

SOMA UM:1 carro azul1 carro branco1 carro vermelho1 carro amarelo1 carro preto1 carro marrom1 carro verde1 carro bege1 carro cinza1 carro coral_________________= 10 carros coloridos

SOMA DOIS:1 político1 paralítico1 psicólogo1 psicótico1 pianista1 piadista1 pastor1 pecador1 poeta1 profeta_____________9.999.999.999

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