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Publicidade Este suplemento faz parte integrante do Jornal de Negócios n. o 3414, de 10 de Janeiro de 2017, e não pode ser vendido separadamente. Automóvel está a mudar paradigma Retrato Estatístico Só com a crise os carros ajudaram o PIB Os números que mostram o sector Comércio automóvel a crescer Indústria quer subir incorporação nacional Qualificação há, agora é ter investigação Inês Gomes Lourenço

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Page 1: Automóvelestá amudarparadigma · 2017-01-18 · anos60,alturaemquehouvealeide montagemdosautomóvel. Agoraéalturadesefalarnasmu-dançasqueaíestãoàporta.Hámes-moquemassumaqueestaindústria

Publicidade

Este suplemento faz parte integrante do Jornal de Negócios n.o 3414,de 10 de Janeiro de 2017, e não pode ser vendido separadamente.

Automóvel estáa mudar paradigma

Retrato EstatísticoSó com a crise os carros ajudaram o PIB

Os números que mostram o sector

Comércio automóvel a crescerIndústria quer subir incorporação nacionalQualificação há, agora é ter investigação

Inês Gomes Lourenço

Page 2: Automóvelestá amudarparadigma · 2017-01-18 · anos60,alturaemquehouvealeide montagemdosautomóvel. Agoraéalturadesefalarnasmu-dançasqueaíestãoàporta.Hámes-moquemassumaqueestaindústria

II|

TERÇA-FEIRA|

10 JAN 2017

RETRATO ESTATÍSTICO

Só com a crise oscarros ajudaram o PIB

NEGÓCIOS INICIATIVAS Observatório do sector automóvel

O peso da indústria de componentesem números (2015)

20102011

20122013

20142015

20162011

20122013

2014201560

70

80

90

Exportações dominam vendasPeso no volume de negócio nos componentes

Nível de malparadoPercentagem no crédito total do sector automóvel

Distribuição dos componentes automóveis por indústriaPercentagem do volume de negócio em 2015

Onde estão as empresas?Localização das empresas de componentes de automóvel (2015)

Alguns dos maisrarosUnidadesem circulação

Para onde exportam as empresas?Destino das vendas de bens da indústria de componentes automóveis (2015)

Outros2%

Metalurgiae metalomecanica

34%

Têxteis e outrosrevestimentos11%

Plásticos, borrachae outros compósitos19%

Montagem de sistemas7%

Eléctricoe electrónica

27%

Viana do Castelo 17 Bragança 2

Vila Real 1

Viseu 7Guarda 4

Castelo Branco 1

Portalegre 2

Évora 7

Braga 26

Porto 43

Aveiro 50

Coimbra 6

Leiria 8

Lisboa 6

Santarém 17

Setúbal 16

30000

36000

42000

48000

-36

-18

0

18

20102011

20122013

20142015

39.3

00

40.

500

40.

600

41.

00

0

42.

700

45.

100

5

9

13

17

20112012

20132014

2015

7,2

10,8

13,8

15,4

16,2

16,7

79%

79%

81%

82%

83%

84%

%do PIB

5%

Impacto no empregoTrabalhadores da indústria de componentes

Facturação das empresasVariação homóloga das vendas do sector automóvel

%do empregona indústria

7%% das

exportaçõesde bens

13%

Espanha 20%Alemanha 18%França 12%Reino Unido 9%Outros países europeus 16%NAFTA 3%Países africanos 3%Ásia e oceânia 2%Mercosul 1%

Os doisgráficos

a vermelho escuro (dir.)

dizem respeito a todo o sector

automóvel, enquanto

os doisa vermelho (esq.) são

apenas da indústria de

componentes.

Itália 7,9%

Japão 12,4%

Espanha 3,9%Coreia do Sul 2,4%

Reino Unido 2,2%

-12

-19,

5

1,9

14,2

13,7

A onda deausteridadevivida duranteo programade ajustamentocomprimiuo consumo dasfamílias, o quepermitiu quePortugal exportassemais carros do queos que importou.

Ao nível das vendas, o pico foi no ano 2000. Na indústria, o volume de ne-gócios tem vindo a subir, nomeadamente ao nível dos componentes auto-móveis que só por si vale 5% do PIB.

O RETRATO DA INDÚSTRIAE COMÉRCIO AUTOMÓVEL

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TERÇA-FEIRA|

10 JAN 2017|

SUPLEMENTO|

III

20102011

20122013

20142015

20042005

20062007

20002001

20022003

20082009

Compramos mais carros do que vendemosExportações, importações e saldo comercial de veículos

O parque automóvel em PortugalQuota de mercado por nacionalidade (2014)

O ciclo da vida das empresas automóveisTaxas de natalidade e mortalidade de empresas de produção e comércio automóvel

-1.4

71-737

112

-70

1

-3.2

09

-2.4

67

-2.1

70 -1.3

31

-2.0

92

-2.2

00

-2.0

27 -2.6

02

-2.7

01

-1.6

61

-2.3

24

Taxa de mortalidade Taxa de natalidadee

20116,4

20125,8

20136,7

2014

6,8

7,9

2015

5,5

6,2

7,0

6,9

6,4

Produção tem menos empresas, mas mais pesoPeso de cada um dos ramos na totalidade do sector (2015)

Número de empresas Volume de negócio Trabalhadores

Ligeiros18,82

Pesados0,45

Tractoresagrícolas0,41

Motos*Este não é um rácio, mas simo parque automóvel de motas em Portugal

Ligeirosde passageiros

16,07Ligeirosde mercadorias

2,76

Quantos se vendemem Portugal?Veículos novos vendidospor 1.000 habitantes (2015)

6.836

3.627

6.877

5.406

0

2500

5000

7500

-5000

-2500

0

2500

1970

1978

20002012

2015

Vendas de automóveis Vendas de veículos ligeiros em Portugal entre 1970 e 2015

0

150000

300000

450000

69.175 64.245

410.530

111.320

209.361

585

ImportaçõesExportaçõesSaldo

produção automóvelcomércio automóvel

Pesadosde passageiros

0,03Pesadosde mercadorias

0,09Tratores de espécie diversa

0,34

Lada | Rússia

1.848UMM | Portugal

1.258Tata | Índia

289Aro | Roménia

6

Alemanha 42%

França 25,7%

Carros em circulaçãoem Portugalem unidades, O líder: Renault | França

528.290

Outros 3,6%

96,9%

3,1%

31,1%

68,9%

31,4%

68,6%

486.000

Fonte: AFIA, INE, ACAP e Banco de Portugal

oi preciso a recessãochegarcomforçaaPor-tugal para que a vendade carros começasse a

ajudar o produto interno bruto(PIB)nacional.Nosúltimos15anos,apenas em 2012 e 2013 as exporta-ções de automóveis ultrapassaramas importações e permitiramalcan-

çar um excedente nestacategoria.Otítulodestetextodeveserin-

terpretado com cautela. O sectorautomóvelajudaadinamizaraac-tividade económica nacional. Noentanto,aquiestamosatratarape-nas darelação entre os veículos (eas suas partes) que compramos evendemos ao exterior. Como asimportaçõessãosubtraídasnocál-culo do PIB, isso significa quequanto mais se comprar lá fora,mais penalizados serão os núme-ros daeconomia.

Apesar de se falar muito doscarros que produzimos e exporta-

mos – nomeadamente através daAutoeuropa–, averdade é que so-mos umpaís deficitário no que dizrespeito aos veículos automóveis.O ramo de actividade dos veículosautomóveis tem o segundo con-teúdo importado mais elevado emPortugal (68%), apenas superadopelos combustíveis (que tambémtemos de importarparadepois re-finar e vender ao exterior).

Leia-se, compramos mais car-ros e partes dos mesmos ao exte-riordoqueaquelesquevendemos.Desde 2000 que esse défice temflutuado entre os mil e os três mil

milhões de euros.Porém,em2012e2013essare-

laçãoinverteu-sedevidoaumafor-tecontracçãodasimportações,quereagiramàquebradoconsumo,ini-ciada em 2010 com as primeirasmedidas de austeridade e que sehaveriadeagravarnosanosseguin-tes. Nesses dois anos, observou-seum saldo positivo de 585 e 112 mi-lhões de euros, respectivamente.

Em 2015, ano do regresso aocrescimento, o consumo reagiu e arelaçãoretornouaumasituaçãode-ficitária.Portugalvoltouaimportarmais1,4milmilhõesdoqueexporta.

Estaevoluçãoétambémvisívelnos números das vendas de auto-móveis ligeiros. Apartir dadécadade 80, avendade carros em Portu-gal seguiu uma trajectória clara-mente ascendente até atingir unsrecordistas410milveículosvendi-dos em 2000. No entanto, a partirdesse ano, observou-se uma ten-dência de quebra, bastante acen-tuadanos anos mais duros do pro-grama de ajustamento. Em 2012,porexemplo,asvendascaíram41%,começandoarecuperarapartirdaí.Em2014e 2015, jáse observouumreforço de 36% e 24%.�

NUNO [email protected] CASTELOInfografia

F

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IV|

TERÇA-FEIRA|

10 JAN 2017

NEGÓCIOS INICIATIVAS Observatório do sector automóvel

parque automóvelportu-guês está a tornar-se, denovo, envelhecido. As po-

líticaspúblicasnãoprivilegiam,pelocontrário penalizam, apropriedadede automóvel. Um sector que estápressionado com as novas tecnolo-gias que, ainda assim, admite estaraqui uma oportunidade. Factoresque condicionamavenda, mas tam-bém pode condicionar a produçãode automóveis. Mas os dados são,hoje, mais animadores. E Portugal

estáacrescernosveículoseléctricos.Além disso, tem outro fenómeno aseu favor. “Do mercado que entraem circulação anualmente, o nossotem dos níveis médios mais baixosdeemissões”,“abaixo,até,dosobjec-tivos definidos para 2020”, avançaHélder Pedro, secretário-geral daACAP, apesar de acrescentar quePortugaltem,noconjunto,debaixarasemissões.Eumdosinstrumentospara o conseguir é não penalizar avendadoscarros,nomeadamenteao

níveldeimpostos.Issopermitiráre-duzirníveis de emissão, ao renovar--se o parque automóvel que está,hoje, novamente envelhecido. Estánumamédiade 12,4anos, quando jáesteve nos 7,5 anos. Acima dos 10anos é considerado um parque en-velhecido. Hácarros que chegamaocentro de abate com 20 anos. Em2011, amédiacomque chegavamaocentro paraabater erade 15,6 anos.

Eosincentivosaoabatetermi-naram em Portugal. Permitiu-seincentivar a compra de eléctricosou “plug in”, mas não chega. Oseléctricos ainda têm vendas bai-xas,apesardosexpressivosnúme-ros de crescimento. “Ainda têmpouco peso.” Há1.900 carros eléc-tricos a circular e 750 “plug in”.

Sabe-se que hoje há um incentivo– não apenas monetário – à aqui-siçãodestetipodeautomóveis.Há,lembram os responsáveis, umadiscriminação positiva para estetipo de carros, eléctricos ou híbri-dos eas políticas públicas vãocon-tinuar a fazer esse caminho, acre-dita-se. Dá-se como exemplo ocaso de Xangai, onde existem lei-lões para se conseguir matrículasdecarrosacombustão.Aslicençaspodem atingir os 10 mil euros (háquem lembre que em Singapurapode chegaraos 50 mil), mas paraos automóveis eléctricos a matrí-culaé dadanahora.

Revoluções mais ou menos si-lenciosas têm contribuído paramudar todo este sector.

“THINK TANK” NEGÓCIOS/BANCO POPULAR PORTUGAL

Automóvel alerta para políticasque afectam dinamismo

ACAP, AFIA, Instituto Politécnico e Entreposto foram os convidados do Negócios e Popular para debaterem o sector automóvel.

Há vários investimentos anunciados na indústriaautomóvel. As vendas estão, por outro lado, acrescer. Mas todo o sector se une nos alertas paraos constrangimentos que sentem no dia-a-dia e namudança das sociedades.

OHá países comleilões paramatricular carrosa combustão eque dão na horapara os eléctricos.

Inês Gomes Lourenço

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TERÇA-FEIRA|

10 JAN 2017|

SUPLEMENTO|

V

Comércio está a crescer,mas longe do ano estrela

Portugal já vendeu 400 mil veícu-los num só ano. Decorria o ano2000. Agora está em metade. Difi-cilmente voltará a atingir os valo-resde2000,admitemosagentesdosector. Miguel Félix António, doEntreposto, acredita que “voltar a2000serádifícilenãoéapenaspelopoder de compra. É pelas mudan-ças comque o mundo e asociedadeestão confrontados.”

Anovageração, nascidano mi-lénio (“millennials”), tem a suaquota-partederesponsabilidade,jáqueéumgrupoetárioquequermo-bilidade, pelo que prefere a econo-miadapartilhaeconceitosmaisba-ratos.Hojeatéoaviãoéumconcor-rente ao carro.

Se isto está a acontecer comestageração, certo é que as marcasconsideradas“premium”começamhoje a ter um peso como nunca ti-nham conseguido. Há ainda quemveja o automóvel como uma jóia,acreditam os responsáveis do sec-

tor que lembram, por outro lado,que hoje com a facilidade de aqui-sição – nomeadamente ao nível docrédito – as pessoas conseguemteracesso a veículos que antes não ti-nham. Além disso, hoje, “já nãocompram o carro que lhes queremvender, mas querem um especifi-cado. É um pouco como deixar decomprarnopronto-a-vestireir,an-tes, ao alfaiate. A exigência é tam-bém maior.

“Há de facto muitos desafios”,acredita Nuno Martinho que seprepara,aníveldeensino,paraeles.

Se os números estão longe dosanos2000,oanode2016represen-tou,noentanto,umasubidafaceaoanterior.“Temosaindaespaçoparacrescimento”, admite MiguelFélixAntónio, que, no entanto, acreditaque o mercado ajustaráemvaloresmais baixos do que os conseguidosem 2000. É por isso que o sectoracredita que o número de espaçosavenderemautomóveis é acimado

necessário. “Não é por ter maispontos de venda que se vendemais”, sustenta, explicando quetambém nesta área há novos desa-fios, como o canal digital a retirarpessoas dos “stands” que são cadavez mais pontos de entrega de veí-culos. “Temos a convicção de quehá operações a mais para a dimen-são do mercado”, considera.

A nível de saúde financeira dosector,há,deacordocomCarlosÁl-vares, presidente do Banco Popu-larPortugal,feridasasarar.Noseg-mentodocomércioaautonomiafi-nanceira é baixa e a dívida líquidasobre EBITDAestános 5%, mas jáchegouaestarnos20%,comencar-gos financeiros que estão nos 30%,mas que jáchegaramasersuperiorao EBITDA. “Há empresas fantás-ticas, mas amédiaaindanão é mui-to boa, precisa de dois ou três anospara ganhar músculo.” Com a me-lhoriadosector,abancaestarámaisatenta, assegura.�

Sector quer aumentarincorporação nacionalAindústria de componentes orgu-lha-sedocrescimentoquetemcon-seguido nos últimos anos, atingin-do jáumvolume de vendas de novemil milhões de euros, sendo 85%para exportação. Adolfo Silva, di-rectordaassociação que represen-ta este sector (AFIA), vai dizendoque, por isso, os investimentosanunciados ao níveldos construto-rescomeçam,cadavezmenos,aterum impacto grande nos compo-nentes. Já que a maior parte dasempresas deste segmento játraba-lha para o exterior. A produção deveículos em Portugal é, pois, “umapequenafracção do que servimos”.Afinal, “provavelmente”, em cadadoisveículosvendidosanívelmun-dial um tem pelo menos um com-

ponente produzido em Portugal.Eoobjectivodaindústriaé,mes-

mo,aumentaraincorporaçãonacio-nalque,noscomponentes,variaen-treos22eos45%dasvendasdasem-presas,dependendodaáreadeacti-vidade que se estejaaconsiderar.

Adolfo Silva vai lembrando que

os construtores em Portugal nãotêmdimensãoparaabsorverovolu-me de negócios que a indústria decomponentes já tem. “O mercadonacionalépequenodemaisparaain-dústria [de componentes] que estáinstalada”, assegura o responsáveldaAFIA. O mercado interno absor-ve 15/16% da produção de compo-nentes,masorestoéexportado,sen-do os primeiros mercados ainda naEuropa–Espanha,Alemanha,Fran-ça e Inglaterra. Já vai havendo ex-portações para outras localizações,masaindasãodiminutas,atéporqueas grandes centrais de compras dosfabricantes estão naEuropa.

Este é um sector reconhecida-mente de exportação, embora nemsempre a balança comercial acabe

positiva. Aliás, quer ao nível dosconstrutores, quer dos componen-tes,HélderPedrogaranteque“Por-tugal é considerado um país de in-dústria automóvel, que é uma dasmais importantes da União Euro-peia, quer ao nível do emprego, doinvestimentoeminvestigaçãoede-senvolvimento, etc”. Atradição in-dustrial de Portugal vem desde osanos60,alturaemquehouvealeidemontagemdos automóvel.

Agoraéalturadesefalarnasmu-dançasqueaíestãoàporta.Hámes-moquemassumaqueestaindústriaestá a entrar num novo paradigma,com o conceito automóvel amudarradicalmentee“quandosemudadeparadigmao relógio voltaazero. Asoportunidades vão estaraí.”�

Os dados da indústria mostra-ramatéfinaldeOutubrodoanopassadoumaquebranaprodu-ção automóvel em Portugal. Osector, explica Hélder Pedro, ésazonal, mas a descida de Ou-tubro de 21% – e que resultounumaquedaconsecutivadedezmeses – tem que vercom os ci-clos de produção de linhas. Osecretário-geral da ACAP acre-dita,noentanto,queem2017obalanço da produção será me-lhorjáquesurgirãonovosciclosde produção, o que implicará,por outro lado, o aumento daprocuranosmercadosaquees-ses produtos se destinam.Aindústriaandoupertodas300milunidades,estandoagoraemmenos de metade. Apesar daconfiançanainversãodequeda,Hélder Pedro lembra algunscondicionalismos: rigidez labo-ral, não ajustada aos picos deprodução, mas também a con-corrênciacrescente jánão ape-nas da Europa de Leste, mastambém do Norte de África aonível dainstalação de fábricas.

Produção vairecuperar?

São desafios para os quaiso sector vai chamando a aten-ção, lembrando que estásujei-to a outros constrangimentosque deviam ser olhados pelospoderespúblicoseregulamen-tações, nomeadamente ao ní-veldalegislaçãolaboral,dacar-gafiscalouemalgo que parecesimples: a classificação dasportagens. Está, dizem os res-ponsáveis, desactualizada e émais uma forma de penalizarquem tem carro.

E penalizar “tanto” a pro-priedade de automóveis podesignificar, também, penalizaraindústria,comasconsequên-cias que daí podem advir.�

ALEXANDRA MACHADO

Não é por ter maispontos de vendaque se vende mais.(...) Temos aconvicção deque há operaçõesa mais para adimensão domercado nacional.MIGUEL FÉLIX ANTÓNIOGrupo Entreposto

A indústriade componentesjá exporta maiorparte da suaprodução. O paísé pequeno.

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VI|

TERÇA-FEIRA|

10 JAN 2017

ão é caso único dizer-sequeestaáreadenegóciotem falta de quadros

qualificados. E que o nível de qua-lificação é elevado e reconhecido.Tambémaquiosectorsequeixadefalta de quadros. Apesar do esfor-ço que algumas entidades de ensi-no superior têm feito. É o caso doInstituto Politécnico de Leiria(IPL) que tem uma formação su-periornaáreadeengenhariaauto-móveldesde1997.Naalturadetec-tou-seumanecessidadedeformarde raiz engenheiros automóveiscom várias componentes.

A empregabilidade do cursoé,dizNuno Martinho,coordena-

dordalicenciaturadeLeiria,“to-tal”. Garante mesmo que “nãoformamos estudantes suficien-tes para o número de pedidosque temos. Háumdéfice grandede pessoas formadas nesta áreano país.”

A ligação da academia à in-dústria é uma preocupação e oPolitécnico de Leiria tem mes-mo protocolo com associaçõesda região para que haja relaçãoentre as necessidades dos agen-tes industriais e o conhecimen-to produzido. “É um exemplo aserseguidoetemtrazidomuitosfrutos para ambos os actores”,diz o professor de Leiria.

Acriação de um “cluster” dosector automóvel, que está a serdesenvolvida, pode contribuirpara reforçar essa ligação, acre-dita-seaoredordamesaquejun-touensino,indústria,fornecedo-res e comércio automóvel. “Aprincipalvantagemé claramen-te ade aproximação do conheci-mento à indústria e o ‘cluster’ éum veículo para promover estaaproximação”,salientaomesmoresponsável que, no entanto, la-mentaque Portugal não estejaaconseguirtrazercentrosdecom-petência, nomeadamente ao ní-vel do projecto industrial para opaís.Mesmoquandoosconstru-tores estão cá, o que fazem émontar carros, não fazem qual-quer componente do projecto.

Nuno Martinholamentanãohaver o domínio de todo o pro-cesso. “Aí sim a mais-valia esta-

ria cá.” De outra maneira, o co-nhecimento que existe em Por-tugal acaba por sair para o exte-rior. “Os estudantes acabam atrabalhar naEuropa.”

Adolfo Silva, director daAFIA,junta-seaocorodelamen-tos por não haver mais centrostecnológicos e de competênciaautomóvel dos construtores emPortugal. E acaba por dizer queo país não se vende bem. Até aoníveldecaptaçãodeinvestimen-to dos construtores. “Devíamostermaisinvestimentoestrangei-ro e de qualidade. Estamos a fa-zer um mau trabalho de vendado país.” Adolfo Silva acreditaque “estamos aesquecer-nos deir lá fora dizer que existimos eque temos excelentes condi-ções”. E agora que a indústriaestánumamudançade paradig-ma, háque aproveitá-lo.�

“THINK TANK” NEGÓCIOS/BANCO POPULAR

Há qualificações,agora é captar centros

O sector automóvel acredita que Portugal podiater um papel mais relevante na indústriaautomóvel, nomeadamente ao nível dos centrosde competências dos fabricantes e fornecedores.

NEGÓCIOS INICIATIVAS Observatório do sector automóvel

N

Nuno Martinho, do Politécnico de Leiria, fala em falta de mão-de-obra qualificada, mas que dá cartas lá fora.

Inês Gomes Lourenço

FORÇASQualificação profissionalPortugal tem boa qualificação nestasáreas ligadas ao automóvel, nomeada-mente nas engenharias.Tradição e peso na economiaA indústria automóvel está há muitosanos em Portugal e com peso.Muitos fornecedoresTambém há muitos fornecedores decomponentes que ajudam a indústria.

FRAQUEZASRelação duradoura, mas demoradaFornecedores demoram muito tempoa estabelecer relação com fabricantes.Mobilidade pode limitar vendasJovens privilegiam a mobilidade, peloque preferem a partilha à detenção.Longe dos fabricantes e concorrênciaPortugal está longe de onde estão fa-bricantes. E há concorrência nova.

AMEAÇASConcorrentes vendem-se melhorEspanha é agressiva na captação deinvestimento. E há mais concorrentes.Carga fiscal e custos de energiaO sector queixa-se dos impostos querecaem sobre o automóvel. E dos ele-vados preços da electricidade.Legislação laboralNão está adaptada ao sector.

OPORTUNIDADESQualificação profissionalPortugal devia tentar conquistar maiscentros de competência.Componentes relevantesA indústria de componentes tem “knowhow” e capacidade de fornecimento.Novos conceitosNovas formas de mobilidade e desa-fios tecnológicos são oportunidades.Parque automóvel envelhecido

Asvendasde automóveisaumentaramem 2016. Mas ainda estão longe dosanos áureos. Portugal tem, por outrolado, tradição na produção automó-vel. Mas há desafios e oportunidades.

O que afectae impulsionao automóvel?

ANÁLISE SWOT

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TERÇA-FEIRA|

10 JAN 2017|

SUPLEMENTO|

VII

sector automóvel tam-bém se junta às queixasdaelevadacargafiscal.E

mais do que isso há incerteza. Acada 15 de Outubro, data habitualdaentregapelo Governo do Orça-mento do Estado para o ano se-guinte, o sector fica em suspenso,aaguardarasmudançasquesevãooperar. As regras, dizem os res-ponsáveisdosector, estãoemmu-dança constante. “Há questõesquetêmcustosescondidosequan-do se alteramparametrizações ouse criam novas taxas ou impostosobriga-se as empresas aalteraremprocessos.” Além de que, acres-centaAdolfoSilva,daAFIA (Asso-ciação de Fabricantes para a In-

dústria Automóvel), este nível deincerteza“é difícilemserpercebi-doláfora”,oquepodeatécompro-meter investimento estrangeiro.

A queixa de que a carga fiscalnoautomóvelégrandeétransver-sal. Da produção à comercializa-ção. Hélder Pedro, secretário-ge-raldaACAP (AssociaçãoAutomó-vel de Portugal), fala numa carga“absolutamente excessiva”, comaagravante,noseuentender,deser-mosumpaísdeindústriaautomó-vel há muitas décadas. Este res-ponsáveldiz mesmo que os paíseseuropeus onde há indústria auto-móvel é onde a carga fiscal é me-nos penalizadora. Em Portugal, é“desproporcionada”. “A elevada

carga fiscal sobre o automóvelafastainvestidores”,peloqueose-cretário-geral da ACAP diz mes-mo que Portugaltemumacontra-dição, jáque queratrairindústria,masaomesmotemposobrecarre-gaos impostos.

Umestudodaassociaçãoeuro-peiadeautomóvelconcluiuqueem2015 os impostos arrecadados em15 Estados-membros com o auto-

móvel superou os 400 mil milhõesdeeuros,aparecendoPortugalcomumareceitatotalde5,9milmilhõesdeeuros,dosquais1,85milmilhõesdeIVAnavendadeveículos,peças,pneusecomponentes.

HélderPedro reclamamesmoque anível de fiscalidade no auto-móvelse comece afalarde merca-do único. “No automóvel não hámercado único, enquanto houverdiscriminaçãofiscal.”Paraosecre-tário-geral da ACAP podia fazersentido harmonizar-se acargafis-cal sobre o automóvel na Europaque se pretende aumasó voz.

A chamada de atenção dosprotagonistas deste sector surgeno momento em que se falade in-vestimentos na indústria, com onovomodelodaAutoeuropa,ouosinvestimentosemCacia(Renault)e em Mangualde (PSA). Para osresponsáveis é, pois, uma indús-triavital parao país.�

INVESTIMENTOS

Alerta para a elevadacarga fiscal no sector

O país encerra uma contradição: quer captarinvestimento estrangeiro, mas ao mesmo temposobrecarrega o automóvel com impostos. Uma visãodo sector que se diz prejudicado pela carga fiscal.

O

Um olhar sobre a indústria e o comércio automóvel.

Inês Gomes Lourenço

400MIL MILHÕESA carga fiscal sobreo sector resultou em re-ceitas para 15 Estados daUnião Europeia de 400mil milhões em 2015.

ADOLFO SILVAMembro do conselhode direcção da AFIA

CARLOS ÁLVARESPresidentedo Banco Popular Portugal

HÉLDER PEDROSecretário-geralda ACAP

NUNO MARTINHOCoordenador da licenciatura emEngenharia Automóvel do IPL

MIGUEL FÉLIX ANTÓNIODirector-geralda Entreposto Logística

PROTAGONISTAS

Umamesa-redondasobre o sectorau-tomóvel para falar dos fornecedores,fabricantes e comércio. Um sectorqueesperamais crescimento em Portugal,tanto no fabrico como nas vendas.

Quem esteveno “think tank”sobre automóvel

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