auto da índia análise global

15
Análise global Plural 9, Raiz Editora, pág. 161

Upload: margarida-claro

Post on 23-Jun-2015

2.478 views

Category:

Education


1 download

DESCRIPTION

Gil Vicente - Auto da Índia - análise global - Raiz Editora, Plural 9

TRANSCRIPT

Análise global

Plural 9, Raiz Editora, pág. 161

1. ESTRUTURA EXTERNA1.1. Três atos, correspondentes a:

parte inicial, quando o marido da Ama parte paraa Índia;

período de ausência do Marido em que a Amatem relações extra-conjugais;

chegada do Marido.

1.2. A primeira parte tem três cenas:-Moça e Ama;-Ama;-Moça e Ama.

2 . ESTRUTURA INTERNA2.1. Cada momento corresponde a cada um dosatos:exposição - momento inicial que introduz aação, apresentando a situação - expectativa daAma, relativamente à partida ou não do Maridopara a índia, confirmação da partida e confissãoda sua predisposição ao adultério; apresentaçãoda protagonista, a Ama, uma mulher jovem,formosa e sem escrúpulos;conflito – é a fase do adultério, em que,sucessivamente, entram em cena ospretendentes, Lemos e Castelhano;desenlace – corresponde à chegada do Maridoque fica com a Ama.

2.2. Campo lexical de viagem:Partida / Ausência / Regresso.2.3. A unidade de ação deve-se ao facto de a peçapossuir uma intriga com princípio, meio e fim.2.4. O argumento (enredo, intriga) é a vida amorosa daAma que, na ausência do marido que embarcara paraa Índia, mantém simultaneamente duas ligaçõesextraconjugais. Na parte final do auto, com a chegadado marido, a mulher mostra uma alegria que nãosente pelo seu regresso e mente tranquilamentedizendo que sentiu muitas saudades. A vida do casalretoma pacificamente o seu curso normal, como senada tivesse acontecido.

3.1. Processos de caracterização Todas as personagens são caracterizadas direta e

indiretamente. Lemos e o Castelhano são caracterizados

diretamente, através do que a Ama e a Moça dizemdeles e as duas mulheres através do que uma dizda outra.

Além disso, podemos deduzir as suascaracterísticas a partir dos comportamentosevidenciados (caracterização indireta), o que éfundamental para os caracterizar com verdade.

Casal, século XV

3.2. Relevo

Ama- é a protagonista,é em torno dela quegira toda a ação(permanece em cenado início ao fim darepresentação).

Lemos, Castelhano eMarido – personagenssecundárias.

CONCEÇÃO 3.3. As personagens do Auto da Índia são tipos,

pois representam determinados comportamentos egrupos: a mulher adúltera, a criada cúmplice einteresseira, os amantes ociosos e oportunistas que,na época se aproveitavam do facto de as mulheresficarem desamparadas e, portanto, mais vulneráveis,o marido que representa os maridos da época,atraídos pela miragem da riqueza oriental, quepartiam em busca de fortuna fácil, acabando por sertraídos pelas esposas.

CONCEÇÃO

3.4. São personagens planas, pois agem sempre deacordo com um padrão e, para funcionarem comotipos, não podem apresentar traços profundos queos individualizem.

Constança é uma personagem mais completa doque a maioria dos tipos vicentinos.

4.1. Lisboa: casa da Ama (o quintal, a câmara daAma, a cozinha). A Moça desloca-se ao Restelo deonde parte a armada e à Ribeira para fazer compras.O Marido parte para a Índia.

5.1. A armada parte na madrugada de um domingode maio. (l.6, pág. 153)

5.2. Regressa passados três anos. 5.3. Essa noite simboliza todo o período em que o

marido de Constança esteve fora e ela o enganou.

4 – ESPAÇO

5 – TEMPO

6.1. A Moça e mesmo a Ama – usam, com frequência,um registo popular.O Castelhano usa um registo cuidado (literário) àmaneira dos poetas de corte da época.

6.2. Os apartes da Moça são muito importantes, namedida em que explicitam os comportamentos da Amae produzem o cómico.

6.3. Os monólogos da Ama revelam, de forma maisaprofundada, a personagem e as suas intenções.

6 – LINGUAGEM

Estrofes de noveversos (nonas);

Versos em redondilhamaior (7 sílabas);

Esquema rimáticopredominante:abbaccddc (rima

emparelhada einterpolada).

Mas que graça que seria, se este negro meu marido, tornasse a Lisboa vivo pera minha companhia! Mas isto não pode ser; que ele havia de morrer Somente de ver o mar. Quero fiar e cantar, Se/gu/ra /de o /nun/ca/ver.

• 8.1. Cómico de situação – o cómico é criado porsituações inesperadas e hilariantes. É o queacontece com o Castelhano, obrigado a aguardar noquintal, ao frio, durante a noite, autorização paraentrar em casa da Ama.

• O mesmo acontece, quando Lemos é constrangido aesconder-se na cozinha para que a Ama possatranquilamente falar com o Castelhano.

“(Quantas artes, quantas manhas,/ que sabe fazer minhaama!/ Um na rua, outro na cama!)” l. 270-272

• 8.1. Cómico de linguagem - está presente ao longode todo o texto, por exemplo, em algumasexpressões insultuosas dirigidas pela Ama à Moça,mas sobretudo na fala do Castelhano, pomposa,exagerada, cheias de expressões de cunho literário,que, por inadequadas às personagens e à situação,provocam o riso na Ama e no público.

• Ex.:• O discurso excessivo do Castelhano:

“Ò, mi vida y mi senora, /luz de todo Portugal,/tenéis gracia especial/ para linda matadora”.(l. 27-30)

• As pragas da Moça:“Melhor veja eu Jesu Cristo:/ isso é que em porcos há menos”(l.22-23)

CENÁRIO DE RESPOSTA - Deve ser respeitada aestrutura:

Introdução (apresentação do tema) – no Auto daÍndia, através de uma história familiar, é mostradoo lado negro da expansão.

Desenvolvimento (o que se passa cá, através docomportamento da Ama e dos outros; e lá, atravésdo relato do Marido).

Conclusão (a intriga revela uma sociedade emcrise de valores a que a expansão não é alheia).

FIGURINOS TEATRO VICENTINOpeças vicentinas, representadas pelo Vicenteatro

no auditório do Padrão dos Descobrimentos, Lisboa