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UNIVERSIDADE POTIGUAR UnP PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E GRADUAÇÃO CURSO DE DIREITO RAMÂNI HORTÊNCIO DE LIMA NÓBREGA MEDEIROS AUMENTO DOS ÍNDICES DOS ATOS INFRACIONAIS NA CIDADE DE NATAL/RN NATAL 2007

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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E GRADUAÇÃO CURSO DE DIREITO

RAMÂNI HORTÊNCIO DE LIMA NÓBREGA MEDEIROS

AUMENTO DOS ÍNDICES DOS ATOS INFRACIONAIS NA CIDADE DE NATAL/RN

NATAL 2007

RAMÂNI HORTÊNCIO DE LIMA NÓBREGA MEDEIROS

AUMENTO DOS ÍNDICES DOS ATOS INFRACIONAIS NA CIDADE DE NATAL/RN

Monografia apresentada à Universidade Potiguar – UNP, como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Direito.

ORIENTADORA: Profº BRUNA DANIELA CORTE REAL DE SOUZA LEAO

NATAL 2007

RAMÂNI HORTÊNCIO DE LIMA NÓBREGA MEDEIROS

AUMENTO DOS ÍNDICES DOS ATOS INFRACIONAIS NA CIDADE DE NATAL/RN

Monografia apresentada à Universidade Potiguar – UnP, como parte dos requisitos para obtenção do título Bacharel em Direito.

Aprovado em: ____/____/_____

BANCA EXAMINADORA

____________________________________ Profº BRUNA DANIELA CORTE REAL DE SOUZA LEAO

Orientadora Universidade Potiguar – UnP

_________________________________ Profº Drª. ANA MARIA ROCHA Universidade Potiguar – UnP

__________________________________

Universidade Potiguar – UnP

Dedico este trabalho as pessoas que eu mais

amo na vida e todos que de forma direta ou

indireta me ajudaram na conclusão deste

trabalho.

De modo especial às meus pais (Tásia e

Inamar), minha irmã (Ina), e meu cunhado

(André) e a minha namorada Daniele (Dani) pelo

incansável subsídio, compreensão e apoio.

AGRADECIMENTOS

A minha orientadora professora Bruna, que através da sua competência e

capacidade me ensinou o universo cientifico.

A todos na Delegacia Especializada no Atendimento ao Adolescente infrator.

A Deus o único responsável pela minha existência, por permitir e me dar

ânimo em toda esta longa caminhada.

À minha família, à professora Ana Rocha, aos meus amigos e colegas de

curso que estiveram juntos por toda essa jornada.

Não preciso me drogar para ser um gênio; Não preciso ser um gênio para ser humano; Mas preciso do seu sorriso para ser feliz.

(Charles Chaplin)

RESUMO

A presente pesquisa objetiva analisar os motivos do aumento dos atos infracionais ocorridos na cidade de Natal/RN, no período compreendido entre janeiro de 2000 a agosto de 2007. Abordando inicialmente os aspectos históricos do Estatuto da Criança e Adolescência, as Doutrinas de Proteção Integral, o Conselho Tutelar e o ato infracional. Para aplicação desse estudo selecionou-se como amostra 40 adolescentes, de ambos os sexos com idades compreendidas entre 12 a 17 anos e que tiveram passagem pela DEA. Este é um estudo qualitativo descritivo. Para o instrumento de coleta de dados foi formatado questionários individuais, estruturado em perguntas fechadas dividido em partes: 1ª) informações sobre o início do ato infracional; 2ª) uso e drogas mais freqüentes; 3ª) informações socioeconômicas. Foram realizadas análises descritivas. Os índices do uso do álcool, da maconha, do tabaco e do crack são elevados e ocorrem concomitantemente com idade média de 12 anos. A associação dessas variáveis demonstrou que existe uma correlação significativa entre o uso do álcool, da maconha e do crack e os infracionários. Os resultados do presente estudo nos apontam indicadores para o desenvolvimento de programas educacionais, preventivos do uso de drogas entre adolescentes, e que podem contribuir para o desenvolvimento de programas para uma redução a escalada para outros comportamentos de riscos. Portando, o Estado estaria acoplado aos diversos seguimentos sociais e assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, ao direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Palavras-chave: Estatuto da Criança e Adolescente. Proteção Integral. Ato

Infracional.

ABSTRACT

This study intends to analyze the reasons to the increase of the illegal acts occurrences in the city of Natal/RN, in the period understood between January of 2000 to August of 2007. It approach the historical aspects of the Statute of the Child and Adolescence, the Doctrines of Integral Protection, the tutor counsel and the illegal acts. For application of this study it was selected as sample 40 adolescents, both of the gender with ages understood between 12 to 17 years, who had passed to the DEA. This is a descriptive qualitative study. For the instrument of collection of data it was formatted individual questionaires, structuralized in closed questions divided in parts: 1ª) information on the beginning of the illegal acts; 2ª)most frequent drugs use; 3ª) social-economic information. They had been accomplish analysis descriptive. The index of the use of alcohol, marijuana, tobacco and crack are raised and usually occur in the average age of 12 years. The association of these variable demonstrated that a significant correlation there is among the use of the alcohol, marijuana, crack and the adolescents in infractor. The results point out to the development of educational, preventive programs of the use of drugs between adolescents, when they can contribute to the development of programs to a reduction of the scale to other behaviors of risks.So the State would be connected to the several social sequence and to assure the child and to the adolescent, with absolute priority, the right to the life, the health, the feed, the education, the leisure, the professionalizing, the culture, the dignity, the respect, the freedom and the family and communitarian convenience, beyond put them save of all form of recklessness, discrimination, exploration, violence, cruelty and oppression.

Key words: Statute of the child and the adolescent. Integral protection. Illegal acts.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Procedimentos instaurados e índices

Tabela 2 Divisão por sexo

Tabela 3 Atos infracionais cometidos agrupados por espécie no ano 2000

Tabela 4 Atos infracionais cometidos agrupados por espécie no ano 2001

Tabela 5 Atos infracionais cometidos agrupados por espécie no ano 2002

Tabela 6 Atos infracionais cometidos agrupados por espécie no ano 2003

Tabela 7 Atos infracionais cometidos agrupados por espécie no ano 2004

Tabela 8 Atos infracionais cometidos agrupados por espécie no ano 2005

Tabela 9 Atos infracionais cometidos agrupados por espécie no ano 2006

Tabela 10 Atos infracionais cometidos agrupados por espécie no ano 2007

LISTA DE SIGLAS

ECA Estatuto da Criança e Adolescência DEA Delegacia Especializada do Atendimento ao Adolescente Infrator BOC boletim de Ocorrência Circunstanciado PI Procedimento Investigatório CF Constituição Federal IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística VIJ Vara da Infância e Juventude ITEP Instituto Técnico de Policia

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 12

2. ESTATUTO DA CRIANÇA E ADOLESCÊNCIA ............................................... 15

2.1. ASPECTOS HISTÓRICOS............................................................................ 15

2.2. A DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL .................................................. 18

2.3. COMPREENSÃO DO CONCEITO DE ADOLESCENTE.............................. 19

3. CONSELHO TUTELAR...................................................................................... 21

3.1. CONSELHEIROS TUTELARES.................................................................... 22

4. ATO INFRACIONAL........................................................................................... 23

4.1. PROCEDIMENTO NA APREENSÃO DO ADOLESCENTE ......................... 23

4.2. PROCEDIMENTO DA PROMOTORIA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE ...... 25

5. AUMENTO DOS ÍNDICES DOS ATOS INFRACIONAIS .................................. 28

5.1. AUMENTO DOS PROCEDIMENTOS TOMBADOS ..................................... 29

5.2. AUMENTO DOS ATOS INFRACIONAIS COMETIDOS PELO SEXO

FEMININO ..................................................................................................... 31

5.3. TIPO DE ATOS INFRACIONAIS PRATICADOS POR ANO......................... 37

6. RESULTADOS.................................................................................................... 42

6.1. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ...................................................... 42

CONSIDERAÇÔES FINAIS ..................................................................................... 49

REFERÊNCIAS........................................................................................................ 51

ANEXO .................................................................................................................... 53

INTRODUÇÃO

Este trabalho está sendo produzido na busca pelo aprofundamento de um

tema que é um elemento importante da pratica do autor: O Estatuto da Criança e

do Adolescente.

O estágio na Delegacia Especializada do Atendimento ao Adolescente

Infrator – DEA, na cidade de Natal/RN, que desempenhou durante um período de

dois anos, destacou uma grande preocupação dos altos índices de atos

infracionais.

O Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8.069 de 13 de julho de

1990, destacou-se como verdadeira ruptura com o modelo até então vigente e

orientador do antigo Código de Menores – Lei nº 6.697/79.

O ECA é um tema que sugere um grande estudo e sensibilidade, já que

envolvem crianças e adolescentes em formação. O Estatuto da Criança e do

Adolescente tem o dever de dar Proteção Integral que se baseia no

reconhecimento de todos os direitos da criança e do adolescente e tem por base a

satisfação dos interesses e necessidades das pessoas com até dezoito anos de

idade, vislumbra as questões civis que esteja envolvendo crianças e adolescentes

e de caráter penal, observando a prática de atos infracionais por adolescentes.

A proteção do adolescente infrator estabelece direitos e garantias, postas

na Constituição Federal, destacando desta forma a sustentar a inimputabilidade

dos adolescentes menores de dezoito anos de idade, conforme esta descrito no

artigo 228 da Constituição Federal Brasileira,

A motivação pessoal por este estudo, foi originada pelo elevados índices de

adolescentes em conflito com a lei brasileira, buscando algumas soluções e os

motivos levados ao aumento dos atos praticados relacionados ao uso de droga.

Esta motivação pelo aprofundamento deste tema que é um elemento

importante da pratica do autor, deu-se inicio na Delegacia Especializada do

Atendimento ao Adolescente Infrator – DEA, na cidade de Natal/RN, destacou

uma grande vontade de ampliar os conhecimentos em referência ao Estatuto da

Criança e do Adolescente, que é uma Lei Federal sob n° 8.069, de 13 de julho de

1990.

No mesmo tempo buscou-se no Estatuto da Criança e Adolescência

objetivo da proteção integral, de tal forma que cada brasileiro que nasce possa ter

assegurado seu pleno desenvolvimento, desde as exigências físicas até o

aprimoramento moral e religioso.

Do ponto de vista acadêmico, este estudo pretende acrescentar

literatura jurídica e servir como fonte para futuras pesquisas acadêmicas sobre o

tema administrado, contribuindo para a conscientização no que concerne o

aumento dos atos infracionais na cidade do Natal/RN.

Perante a problemática apresentada, encontram-se vários

doutrinadores que explanam acerca deste tema, não só analisando a Lei Federal

sob n° 8.069, de 13 de julho de 1990, como também adequando o direto à

realidade social mostrando os motivos levados a pratica de atos infracionais.

O principal referêncial teórico está intrínseco na nossa Constituição

Federal1, onde os direitos das crianças e adolescentes estão expressos

relacionados de forma direta.

Portanto, há vasto campo de pesquisa no que se refere ao estudo do

Estatuto da Criança e Adolescente. Existe varias citações doutrinárias sobre os

adolescentes em conflito com a lei. Dentre elas, conveniente citar algumas

conclusões de SIMONS e CAREY (2003), onde afirmam que No Brasil, o álcool, o

tabaco, e a maconha são as drogas mais usadas pelos adolescentes e entre os

adolescentes infratores, o consumo de álcool é a maior incidência, seguido pela

maconha, o Crack, o mesclado “maconha com o Crack”, cola de sapateiro e loló.

1 Constituição Federal Art. 227 “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

O doutrinador Storr (2007) no estudo realizado revela os problemas

graves de comportamentos que podem estar vinculados o maior risco de uso de

todas as drogas, mas o comportamento adolescente em conflito com a lei parece

ser o mais importante fator para o uso de maconha do que para o uso de álcool ou

de tabaco.

O Estatuto da Criança e Adolescente é um tema de extrema

importância para a sociedade, pois traz subsídios com o intuito de construir uma

consciência não só nos operadores do direito, mas acima de tudo, na sociedade,

acerca da pertinência de se inserir minorias sociais na esfera da juridicidade.

Este presente trabalho está abordado sobre dois eixos. O primeiro, destaca

o estudo do aumento dos índices dos atos infracionais na cidade de Natal/RN,

cometidos entre janeiro de 2000 a agosto de 2007 e o segundo eixo deste trabalho

consiste nos motivos que levam a praticar o ato infracional, dando ênfase uso de

droga.

Neste trabalho foram aplicados dois tipos de pesquisas: em primeiro lugar,

a pesquisa bibliográfica, dando ênfase nas analises de varias referências de

diversos doutrinadores, e em seguida a pesquisa descritiva, dando destaque às

pesquisas documentais, focalizando os aumentos dos índices de atos infracionais

cometidos pelos adolescentes infratores na cidade de Natal/RN, os principais atos

infracionais cometidos em cada ano e os números de atos cometidos pelo sexo

masculino e pelo sexo feminino.

2 ESTATUTO DA CRIANÇA E ADOLESCÊNCIA

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS

O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA é uma Lei Federal sob n°

8.069, de 13 de julho de 1990. Estabelece um sistema que assegura os direitos e

interesses individuais fundamentais das crianças e dos adolescentes. Sendo o

principal a Proteção Integral, a qual é descrita pela Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988, formalmente sintetizada nos artigos 227 e 228 em

conjugação com o disposto na parte final, do artigo 5°, parágrafo 2°, dessa mesma

Magna Carta. Desta forma, os adolescentes que praticarem atos infracionais com

a lei, de acordo com os artigos 103 e posteriores, da Lei n° 8.069, estarão sujeitos

à aplicação de medidas protetora e sócio-educativa.

O Estatuto, em seus 267 artigos, garante os direitos e deveres de cidadania

a crianças e adolescentes, determinando ainda a responsabilidade dessa garantia

aos setores que compõem a sociedade, sejam estes a família, o Estado ou a

comunidade. Ao longo de seus capítulos e artigos, o Estatuto discorre sobre as

políticas referentes à saúde, educação, adoção, tutela e questões relacionadas a

crianças e adolescentes autores de atos infracionais.

Antes o que havia no Brasil era o Código de Menores, criado em 1927, para

lidar com as chamadas “crianças em situação irregular”, conceito que tem uma

história antiga no país.

O surgimento do Código de Menores de 1927 propor-se legislar sobre

crianças e adolescentes de 0 (zero) a 18 (dezoito) anos, em estado de abandono

e delinqüência, quando não possuíssem moradia certa, possuíssem pais falecidos

ou que fossem declarados incapazes, estivessem presos há mais de dois anos,

fossem mendigos, vagabundos, exercessem trabalhos proibidos, fossem

prostitutos ou economicamente incapazes de suprir as necessidades de seus

filhos. O Código de Menores classificou os menores de 7 (sete) anos como

expostos, que seriam as crianças enjeitadas pelos entes familiares e os menores

de 18 (dezoito) como abandonados. Dessa forma, os meninos moradores de rua

passaram a ser classificados como vadios.

O Código de Menores só teve uma preocupação na denominação do menor

delinqüente, somente no artigo 682, diferenciando os menores de 14 (catorze)

anos daqueles com idades entre 14 (catorze) completos e 18 (dezoito)

incompletos, evidenciando a competência do juiz para determinar todos os

procedimentos em relação a eles e a seus pais. Estabeleceu ainda a

obrigatoriedade da separação dos menores delinqüentes dos condenados adultos.

A mudança do Código de Menores de 1927 para o de 1979, caracterizou-se

pela criação da Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor – FUNABEM. As

Fundações Estaduais de Bem-Estar do Menor - FEBEMs e a FUNABEM foram

criadas a fim de terem autonomia financeira e administrativa, incorporando todas

as estruturas do Serviço de Assistência ao Menor dos estados, incluindo aí o

atendimento tanto aos carentes e abandonados quanto aos infratores.

Com o surgimento e promulgação da Constituição de 1988, que se iniciou

no fim do Regime Militar que durou de 1964 a 1985, o país voltou à discussão dos

direitos humanos, sobretudo no que diz respeito à proteção à mulher, à família, à

criança e ao adolescente. No entanto, a partir do artigo 227 se fez necessária à

criação de uma lei específica, surgindo daí o ECA.

Importantes diferenças existem entre os Códigos de Menores e o Estatuto

da Criança e do Adolescente, em destaque os Códigos de Menores de (1927 e

1979) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). Na Visão do conceito de

criança e do adolescente em relação ao Código de Menores de 1927, a criança e

o adolescente seria o menor abandonado ou delinqüente, objeto de vigilância da

autoridade pública do juiz. No Código de Menores 1979 nota-se uma mudança em

relação à visão da criança e adolescente, sendo menor em situação irregular,

objeto de medidas judiciais. Já com a criação da Lei Federal nº. 8.069/90 as

crianças e os adolescentes tiveram uma nova idealização, sendo sujeito de

2 Códigos de menores Art. 68. O menor de 14 anos, indigitado autor ou cúmplice de facto qualificado crime ou contravenção, não será submetido a processo penal de, espécie alguma; a autoridade competente tomará somente as informações precisas, registrando-as, sobre o facto punível e seus agentes, o estado físico, mental e moral do menor, e a situação social, moral e econômica dos pais ou tutor ou pessoa em cujo guarda viva.

direitos e pessoa em condição peculiar de desenvolvimento. O mecanismo de

participação existentes no Código de Menores de 1927 seria a existência do

Conselho de Assistência e Proteção aos Menores, desta forma uma associação

de serventia pública. E suas funções seriam a nomeações dos conselheiros, pelo

Governo, que caracterizava como auxiliador do Juízo de Menores, sendo os

Conselheiros denominados Delegados da Assistência e Proteção aos Menores. O

Código de Menores promulgado pelas Leis nº. 6.697/79 e 4.513/64 limitava os

poderes da autoridade Policial Judiciária e Administrativa. Já o ECA possui

participação de Conselhos de Direitos, Estado e Sociedade e criação nos

municípios dos Conselhos Tutelares, formado por membros escolhidos pela

sociedade local e encarregados de zelar pelos direitos das crianças e

adolescentes.

A Lei Federal 8.069/90 foi um importante passo na luta pelos direitos e

deveres da criança e do adolescente. O ECA criou normas para que se respeitem

os direitos instituídos pela lei e considerou também a criança e o adolescente

como prioridade absoluta, sobretudo no que diz respeito à elaboração e

implementação de políticas públicas em todo território nacional.

2.2 A PROTEÇÃO INTEGRAL

O ECA, ao contrário do Código de Menores, preocupa-se com a Proteção

Integral das crianças e dos adolescentes até 18 (dezoito) anos e, em alguns

casos, com jovens até 21(vinte e um) anos, dando as condições de exigibilidade,

ou seja, o poder de exigir através das leis. Garantir os direitos escritos no ECA

tornou-se dever da família, do Estado e da Sociedade.

A Proteção Integral caracteriza-se pelo fato de a criança e o adolescente

serem alçados à uma posição de sujeito de direitos, independentemente de

estarem em uma situação de irregularidade em relação à Lei. A doutrina da

proteção integral aplicada no ECA inspirou-se em tratados e convenções, dentre

os quais destacam-se a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da

Criança, Regras Mínimas das Nações Unidas para Administração da Justiça da

Infância e da Juventude. Portanto, desde 1988 o Brasil adotou tal concepção ao

inseri-la no art. 227, da Constituição da República Federativa do Brasil, nos

seguintes termos:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao

adolescente, com absoluta prioridade, ao direito à vida, à saúde, à alimentação, à

educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à

liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de

toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e

opressão3. Neste sistema de idéias, que norteia o Estatuto da Criança e do

Adolescente em destaque, se assenta no princípio de que:

Todas as crianças e todos os adolescentes, sem distinção, desfrutam dos

mesmos direitos e sujeita-se à obrigações compatíveis com a peculiar condição de

desenvolvimento que desfrutam, rompendo, definitivamente com a idéia até então

vigente de que os Juizados de Menores seriam uma justiça para os pobres, posto

que, analisada a doutrina da situação irregular, constatava-se que para os bem-

nascidos, a legislação baseada naquele primado lhes era absolutamente

indiferente.4

2.3 COMPREENSÃO DO CONCEITO DE ADOLESCENTE

3 Artigo 227 da Constituição Federal de 1988 4 SARAIVA, João Batista da Costa. Adolescente e Ato Infracional – Garantias Processuais e Mediadas Sócio-educativas. op. cit. p. 25.

A denominação adolescência deriva do latim adolescentia, 5 o qual é

composto pelos prefixos latinos “ad” (para frente), mais “dolescere” (crescer, com

dores) expressando a idéia de que se trata de um período de transformações e,

portanto, de crise.6 Levando-se em conta o Estatuto da Criança e do Adolescente,

a adolescência é o período de vida de uma pessoa que dura entre os doze e os

dezoito anos de idade. Segundo Zimermam, “a adolescência é dividida em três

fases: inicial ou pré-adolescência, dos 12 aos 14 anos; intermediária ou

adolescência propriamente dita, dos 15 aos 17 anos; e, adolescência tardia, dos

18 aos 21 anos”.

A adolescência, tal como é concebida atualmente pela ciência e pelo

senso comum, “refere-se a uma fase de transição entre a infância e a idade

adulta, marcada por profundas alterações no desenvolvimento biológico,

psicológico e social”.7

Amaral e Silva anotam que o novo direito da criança e do adolescente “traz

normas e institutos exclusivos, não de alguns, mas de todas as crianças e

adolescentes. Consagra na ordem jurídica a doutrina da proteção integral; reúne,

sistematiza e normatiza a proteção preconizada pelas Nações Unidas”8.

É, portanto, a doutrina da proteção integral a base configuradora de todo

um novo conjunto de princípios e normas jurídicas voltadas à efetivação dos

direitos fundamentais da criança e do adolescente, assegurando às crianças e aos

adolescentes todas as facilidades e oportunidades a fim de ajudar no seu

desenvolvimento físico, mental, moral, social e espiritual com liberdade e

dignidade. A Doutrina da Proteção Integral traz em sua essência a proteção e a

garantia do pleno desenvolvimento humano reconhecendo a condição peculiar de

5 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa: versão eletrônica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. 6 ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica – uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed, 1999. P. 95. 7 KAPLAN, Harold I.; SADOCK, Benjamin J.; GREEB, Jack A. Compêndio de psiquiatria;

ciências do comportamento e psiquiatria clínica. 7ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. p. 61.

8 AMARAL E SILVA. O Estatuto, o novo Direito da Criança e do Adolescente e a Justiça da Infância e da Juventude. São Paulo: Malheiros/UNICEF, 1994 p. 37.

pessoas em desenvolvimento e a articulação das responsabilidades entre a

família, a sociedade e o Estado para a sua realização por meio de políticas sociais

públicas.

3 CONSELHO TUTELAR

O Estatuto da Criança e Adolescente descreve nos artigos 112 a 125, Título

II, Capítulo IV, Seção I, da Lei n° 8.069, que nenhuma criança menor de 12 (doze)

anos que se tornem autoras de atos infracionais, seja qual for o ato infracional

cometido e independentemente de sua seriedade, aplicam-se tão somente

medidas específicas de proteção, através do competente Conselho Tutelar que é

um órgão público municipal de caráter autônomo e permanente, existente em

quatro regiões da cidade, que são o Conselho Tutelar zona sul, Conselho Tutelar

zona norte, Conselho Tutelar zona oeste e Conselho Tutelar zona leste, que

ambos atendem as ocorrências de cada zona de domicilio, portanto diminuindo

assim a distancia da família ao Conselho Tutelar e melhorando o acesso dos

conselheiros no acompanhamento, cuja função é zelar pelos direitos da infância e

juventude, conforme os princípios estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente. Haja vista que criança não responde por ação sócio-educativa.

Portando, à criança autora de ato infracional nunca se pode atribuir nenhum tipo

de medida sócio-educativa, mas serão aplicadas nestes casos medidas de

proteção, como encaminhamento aos pais ou responsáveis mediante Termo de

Responsabilidade, orientação, apoio, acompanhamento temporário, matrícula e

freqüência obrigatória em estabelecimento oficial de ensino fundamental, inclusão

em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao

adolescente, requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico em

regime hospitalar ou ambulatorial, inclusão em programa oficial ou comunitário de

auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos e abrigo em entidade.

No Código de menores, quem decidia, investigava, julgava, era o juiz, que

tinha quase um poder absoluto. Hoje, os juizes da 1º VIJ, 2º VIJ e 3º VIJ e os

promotores da infância, são obrigados a compartilhar esse poder com os

Conselhos Tutelares, feitos por pessoas escolhidas pela sociedade, que

participam e zelam pelo direito da criança.

Dentre as inovações estabelecidas pela Lei nº. 8.069/90, para a sistemática

de atendimento à criança e ao adolescente, está sem dúvida à previsão de

criação, em todos os municípios brasileiros, de pelo menos um Conselho Tutelar.

O Conselho Tutelar através da Lei nº. 8.069/90 passou a assumir uma

função determinante na defesa dos direitos de crianças e adolescentes. Na

verdade, o conselheiro tutelar, na condição de agente político investido de

mandato popular possui poderes e atribuições equiparados ao do Juiz da Infância

e Juventude, cujas funções substitui, nesse sentido, vide art. 262 da Lei nº.

8.069/90.

3.1 CONSELHEIROS TUTELARES

Os Conselheiros Tutelares são pessoas que têm o papel de porta-voz das

suas respectivas comunidades, atuando junto a órgãos e entidades para

assegurar os direitos das crianças e adolescentes. São eleitos através do voto

direto da comunidade, para mandato de 3 (três) anos. Suas competência e

organização estão previstas no ECA, nos artigos 131 a 140. Sendo suas principais

atribuições do Conselho Tutelares atender às crianças e adolescentes que tiverem

seus direitos ameaçados por ação ou omissão da sociedade ou do Estado,

omissão ou abuso dos pais ou responsáveis, atender e aconselhar os pais e

responsáveis, podendo aplicar algumas medidas, tais como encaminhamento a

cursos ou programas de orientação. Na Lei nº. 8.069/90, em seu art.132

estabelecer que o Conselho Tutelar, cuja criação e manutenção é obrigação do

município, deve ser invariavelmente composto de 05 (cinco) membros, é deverar

elementar o que desejou o legislador que todos exercessem as mesmas funções,

em absoluta igualdade de condições.

4 ATO INFRACIONAL

O ato infracional é a conduta análoga como tipo ou contravenção penal,

cuja designação se sobrepõe aos inimputáveis. Na maioria das vezes ocorre que

esses adolescentes em conflito com a lei não praticam atos infracionais

condizentes com a sua condição legal de incapacidade, quando surge então os

altos índices de atos infracionais, por isso, que segundo diversos doutrinadores

pesquisados possuir devesas apreciações, apresentando várias causas, alguns

doutrinadores enxergam o fato dos aumentos dos índices de adolescentes em

conflito com a lei, como sendo situação de abdicação dos adolescentes pelos

entes familiares, sendo assim o adolescente estará exposto, já outros

doutrinadores pesquisados possuem um distinto entendimento, como um modo de

viver escolhido pelo próprio adolescente.

Os adolescentes em ações conflitantes praticadas, ou seja, por pessoas

com idade entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos completos, descrito na Lei n° 8.069

no artigo 2° combinado com os artigos 103, 104 e 105, serão encaminhados para

uma delegacia especializada no atendimento ao adolescente, que na nossa

cidade é a Delegacia Especializada no Atendimento ao Adolescente Infrator –

DEA, localizada na Rua Sampaio Correia, s/n, no bairro Cidade da Esperança.

4.1 PROCEDIMENTO NA APREENSÃO DO ADOLESCENTE

Na Delegacia Especializada no Atendimento ao Adolescente Infrator o

adolescente apreendido na pratica de ato infracional, será encaminhado ao CIAD,

com isto ficará aguardando a sua oitiva e a comunicação de seus familiares, no

Pronto Atendimento. Ao iniciar Procedimento Investigatório, a vitima e o condutor

relatam o fato ocorrido e dependendo do ato infracional, se cometido mediante

violência ou grave ameaça, será lavrado um Auto de Apreensão em Flagrante,

que deverá haver comunicação ao juiz, ao familiar para propiciar a presença de

advogado, cientificar ao infrator do por que ele está sendo apreendido e por fim

será encaminhado ao representante do Ministério Público e ao Defensor Público.

E se o ato infracional não tiver sido cometido de nenhum tipo de violência ou

ameaça será feito um Boletim Circunstanciado de Ocorrência, que é um

Procedimento especial previsto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, neste

caso, lavra-se o BOC, apenas se fazendo à entrega do adolescente aos pais ou

responsável. No caso de não comparecimento de seus responsáveis será

nomeado um curador. Após os tramites legais se iniciará as oitivas das vitimas e

testemunhas e dos condutores, posteriormente será apreendido o material

subtraído pelo adolescente infrator ou encontrado em seu poder. E logo após será

ouvido o adolescente infrator na presença de seus responsáveis ou do curador

nomeado na delegacia. Ao iniciar a ouvida do adolescente será indagado se ele

sofreu algum tipo de ameaça ou lesão corporal e se o adolescente mostrar a

necessidade, ele será encaminhado ao Instituto Técnico de Policia – ITEP, com a

guia de exame de lesão corporal. Se o ato do adolescente necessitar de perícias

será feito imediatamente, alguns atos infracionais são essenciais às perícias, de

acordo com o artigo 158 do Código de Processo Penal, a perícia criminal é

obrigação do Estado. A atividade consiste no levantamento de provas ou indícios

de crimes, basicamente nos próprios locais de delito, além de pesquisas e outros

procedimentos em laboratório.

Abrange áreas como crimes contra o patrimônio (roubos, estelionatos e

outras fraudes), contra a pessoa (homicídios e lesões corporais), ambientais,

fiscais, de informática, de natureza sexual e adulterações diversas (de chassis de

veículos, documentos e papel-moeda).

Nos atos infracionais não cometidos de nenhum tipo de violência ou

ameaça, no caso do BOC, o adolescente após a lavratura do ato infracional e com

o comparecimento de seus pais ou responsável, deverá ser liberado pela

autoridade policial, sob Termo de Compromisso e Responsabilidade, com o dia

agendado de seu comparecimento na Promotoria da Infância e da Juventude e

Adolescência, no mesmo complexo que foi lavrado auto de apreensão, ficando

indispensável à presença de um responsável legal. O não comparecimento de

nenhum responsável do adolescente na DEA, o mesmo será conduzido pelos

policias a sua residência, mas mesmo assim não sendo possível a localização de

responsáveis, será encaminhada para a Casa de Passagem, localizada na rua do

Carbono, no bairro de Potilândia. Esta casa tem como objetivo promover os

direitos de cidadania de crianças e adolescentes, em situação de vulnerabilidade

social, buscando como resultado a reestruturação da identidade, a inserção na

família, na escola, na comunidade e na sociedade.

Se o ato infracional for cometido mediante violência ou grave ameaça, o

adolescente ficará custodiado no Pronto Atendimento e será encaminhado a

Promotoria no prazo de 24 (vinte e quatro) horas na presença dos seus

responsáveis. As possíveis causas da não-liberação do adolescente acusado da

prática de ato infracional pela Autoridade Policial seria Flagrante de ato infracional

cometido com violência ou grave ameaça à pessoa – arts. 173 e 175, da Lei nº.

8.069/90, o ato infracional que provoque repercussão social, a necessidade do

adolescente de proteção ou segurança pessoal, em decorrência da conduta

infracional, necessidade de manutenção da ordem pública.

4.2 PROCEDIMENTO DA PROMOTORIA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

A promotoria analisará cópia do Auto de Apreensão em Flagrante, e

analisará a hipótese de liberação do adolescente, nesta analise deverá ser

questionada o grau de reincidência e a oitiva informal do adolescente.

A oitiva informal do adolescente conflitante com a lei é a chance que o

Ministério Público tem de obter subsídios acerca das circunstancias da prática do

ato conflitante, bem como o grau de participação e a personalidade do infrator,

podendo ser ouvidos os pais ou responsáveis e testemunhas, além da vítima. No

termo de oitiva o Promotor de Justiça já indicará a providência a ser tomada9, que

poderá ser: arquivamento, remissão simples ou cumulada com medida sócio

educativa, representação com ou sem pedido de internação provisória.

O Arquivamento é forma do representante ministerial, posteriormente

seguida à oitiva informal, pedir o arquivamento do procedimento quando fica claro

que o ato exposto inexistiu ou não é descrito como crime ou contravenção penal e,

ainda, quando o adolescente não houver participação na prática delituosa. Nesse

caso a liberação do adolescente deverá dar-se imediata.

A Remissão será concebida quando o Promotor de justiça levar em conta

os artigos seguintes 12610 e 12711 do ECA. Caracterizando o ato infracional

praticado em condições de reduzida violência ou gravidade e limitada repercussão

social, e o adolescente não apresentar antecedentes, deverá o Promotor de

9 ECA. Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo anterior, o representante do Ministério Público poderá: I - promover o arquivamento dos autos; II - conceder a remissão; III - representar à autoridade judiciária para aplicação de medida sócio-educativa.

10 ECA. Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato infracional, o representante do Ministério Público poderá conceder a remissão, como forma de exclusão do processo, atendendo às circunstâncias e conseqüências do fato, ao contexto social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou menor participação no ato infracional. Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da remissão pela autoridade judiciária importará na suspensão ou extinção do processo.

11 ECA. Art. 127. A remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação em regime de semi -liberdade e a internação.

Justiça conceder remissão, que poderá ou não, de acordo com o caso, vir a ser

cumulada com medida sócio educativa em meio aberto, que poderá ser

advertência, reparação de danos, prestação de serviço à comunidade ou liberdade

assistida. Portanto o promotor de justiça conceder à remissão ela deverá ser

acompanhada de homologação judicial. Neste caso o adolescente apreendido

deverá ter sua liberdade concebida imediatamente. Portando o promotor

encaminhará um Oficio para a DEA, comunicando a liberação do adolescente.

A representação e o pedido de internação provisória só será concedido

quando não ocorrer o arquivamento ou remissão, o Promotor de Justiça

representará à autoridade judiciária em face da conduta do adolescente.

Normalmente são os casos das situações nas quais ocorrem mediante violência

ou grave ameaça contra a pessoa, com intensa repercussão social ou pondo em

cheque a segurança pública ou do próprio jovem, levando a autoridade policial a

não liberá-lo.

Os requisitos do pedido de internação provisórios, em determinadas

condições, fazem necessária a cumulação da Representação, nestes casos

deverá haver indícios suficientes de autoria e materialidade do ato infracional,

necessidade imperiosa da medida, ato infracional praticado mediante violência ou

grave ameaça à pessoa, reincidência na prática de atos infracionais graves, ato

infracional que provoque repercussão social, necessidade de segurança pessoal

do jovem e de resguardo da ordem pública.

5 AUMENTO DOS ÍNDICES DOS ATOS INFRACIONAIS

Vale ressaltar que a violência entre os adolescentes tem aumentado nos

últimos anos. Além disso, o número de adolescentes infratores que debanda ao

mundo dos atos infracionais vem aumentando de devesas classes sociais.

No inicio da pesquisa buscou-se o principal significado para o aumento dos

índices dos atos infracionais cometidos pelos adolescentes infratores, e as

principais causas apontadas pelos adolescentes foram às razões econômicas,

familiares, sociais e uso de droga. Conforme dados obtidos junto a Delegacia

Especializada ao Atendimento ao Adolescente Infrator – DEA e a 3ª Vara da

Infância e Juventude da Comarca de Natal. Os dados colhidos foram proveitosos

para indicar uma linha de pesquisa a ser seguida, portanto os dados obtidos

deram uma idéia quantitativa referente aos Índices dos Atos Infracionais praticado

na cidade do Natal.

A maior parte dos atos infracional em Natal são, em sua maioria, oriundos

de famílias com renda de um salário mínimo, são do sexo masculino e com idade

acima de 15 anos. Sendo o uso de drogas o principal fator para o cometimento do

delito.

Na doutrina não há uma opinião uniforme a cerca das possíveis causa de

um adolescente estar conflitante com a lei. O que ocorre são presunções,

possivelmente de caráter social. A família sempre foi colocada como a principal

responsável por levar um adolescente a praticar ato infracional.

5.1 AUMENTO DOS PROCEDIMENTOS TOMBADOS

Os dados obtidos na Delegacia ao Atendimento ao Adolescente Infrator –

DEA mostram um crescimento no total de Procedimentos tombados, com um

aumento significativo em relação aos anos pesquisados.

No ano 2000, ano inicial da pesquisa, teve 379 Procedimentos Instaurados

e encaminhados Vara da Infância e Juventude, no ano subseqüente houve uma

pequena queda 29 procedimentos, dando um índice na ordem de -7,65%. No ano

seguinte, um aumento em percentual de 14,28%, em relação ao ano anterior, e

um aumento de 50 procedimentos.

Pode se perceber que no ano de 2003 existiu uma nova redução nos

procedimentos tombados, em relação ao ano anterior de 51 procedimentos, isso

significa uma redução de –12,75%. No ano seguinte um novo acréscimo de

20,34%, sendo 420 Procedimentos Instaurados.

Os atos infracionais praticados pelos adolescentes infratores registram um

alto índice referênte ao ano de 2000 e ao de 2006 na ordem de 85,75%, dando

destaque à diferença dos procedimentos tombados do ano 2000 à 2006 de 325

Procedimentos Investigatórios. Um índice em percentual de 1,85 vezes menor em

relação ao ano de 2006.

O ano de 2005 destaca-se pelo alto índice dos atos praticados em relação

ao ano anterior na ordem de 55,47% e um aumento dos procedimentos

instaurados de 233.

Em 2006 percebe-se novo aumento significativo de 7,81% em relação ao

ano anterior. No ano de 2006 teve 704 Procedimentos Instaurados, sendo 454

Procedimentos Investigatórios e 250 Boletins de Ocorrência Circunstanciados. Um

dos motivos deste acréscimo foi à implantação de um novo Complexo Integrado

ao Atendimento ao Adolescente, localizado na Avenida capitão-mor Gouveia. Este

complexo busca a união dos órgãos de atendimento ao adolescente à Promotoria

da Infância e Juventude, Defensoria Pública, Centro Integrado de Atendimento ao

Adolescente acusado de Ato Infracional – CIAD e a Delegacia Especializada ao

Atendimento ao Adolescente Infrator – DEA, dando mais agilidade ao

cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Em Junho de 2006, os procedimentos instaurados foram divididos em PI e

BOC, tornando um meio mais ágil de encaminhar os procedimentos para a Vara

da Infância e Juventude, dividindo em Procedimentos Investigatórios para os

crimes de violência e grave ameaça, que precisam de maiores detalhes e relatório

e dos Boletins de Ocorrência Circunstanciados, que são os atos infracionais sem

violência e grave ameaça, portanto necessita de menos detalhes na investigação,

conseqüentemente desta forma diminuiu o tempo de investigação nos atos

infracionais de menor gravidade, com isso possuiu uma diminuição

circunstancialmente do período de investigação e conseqüentemente aumentando

os índices de atos praticados no decurso de cada ano. As Queixas Crimes estão

sendo substituídas pelos Boletins de Ocorrência Circunstanciado, dando mais

agilidade no procedimento e encaminhando a vara competente com mais

celeridade.

Neste ano de 2007 até o mês de agosto, já possui registrado 513

Procedimentos Instaurados, como sendo 179 – PI e 334 – BOC. Com estes dados

podemos caracterizar o ano de 2007, sendo um ano com aumento significativo

dos atos infracionais.

Os resultados foram computados e analisados, sendo demonstrados

através de tabela.

Tabela 1 – Procedimentos instaurados e Índices

Ano Procedimentos instaurados

Índice %

2000

Janeiro a Dezembro 379 -

2001 Janeiro a Dezembro

350 - 7,65

2002 Janeiro a Dezembro

400 +14,28

2003 Janeiro a Dezembro

349 -12,75

2004 Janeiro a Dezembro

420 +20,34

2005 Janeiro a Dezembro

653 +55,47

2006 Janeiro a Dezembro

PI 454 e BOC 250 = 704 +7,81

2007 Janeiro a agosto

PI 179 e BOC 334 = 513 -

Fonte: DEA, Natal/RN

5.2 AUMENTO DOS ATOS INFRACIONAIS COMETIDOS PELO SEXO FEMININO

Nos anos analisados de janeiro de 2000 a agosto de 2007, notou-se um

significativo aumento dos índices dos atos infracionais cometidos pelo sexo

feminino. O percentual do sexo masculino ainda é bem superior ao sexo feminino.

Mas este indicie das adolescentes, em conflito com a lei vem aumentando

gradativamente. No ano de 2000, que foi o inicio da investigação foi de 88% o

percentual do sexo masculino, em relação ao sexo feminino, um percentual de

11% e 1% para os atos infracionais contendo ambos os sexos.

Os dados obtidos na DEA demonstram uma estatística do crescente

número do sexo feminino, na conduta da pratica dos atos infracionais. No ano de

2006 teve instaurado 704 procedimentos, sendo 653 do sexo masculino, 45 do

sexo feminino e 6 comedidos por ambos sexos. Isso demonstra que 7,2% dos atos

infracionais são comedidos pelo sexo feminino.

O ano de 2004 possuiu o maior acréscimo da porcentagem no número do

sexo feminino de 10,71%.

Já no ano de 2005 foi o maior índice obtido na pesquisa de ato infracional

cometido pelo sexo masculino de 94% e o sexo feminino de 6%.

Os resultados foram analisados, sendo demonstrado através de tabela.

Tabela 2 – Divisão por sexo

ANO SEXO

MASCULINO

SEXO

FEMININO

AMBOS

SEXOS TOTAL

2000 335 42 02 379

2001 316 27 07 350

2002 351 44 05 400

2003 321 25 03 349

2004 275 44 01 420

2005 611 40 02 653

2006 653 45 06 704

Agosto 2007

448 57 08 513

5.3 TIPO DE ATOS INFRACIONAIS PRATICADOS POR ANO

A maioria dos atos infracionais são de menor potencial ofensivo, causados

em função do uso de entorpecentes. Um elemento importante a ser observado foi

o número elevado de adolescentes que desistiu de estudar. Portando, nos mostra

que ocorrem graves falhas em manter estes adolescentes estudando. Por este

motivo muitos não tem expectativa de vida, seja da escola, da família e da

sociedade. É importante a contribuição dos Conselhos Tutelares para manter

crianças e adolescentes nas escolas e dando uma expectativa melhor de vida. Os

dados colhidos nos mostra que 55% dos adolescentes não freqüenta a escola,

este é uma um dado muito preocupante, pois o nível educacional de uma da

população é considerado um dos indicadores chaves na determinação do grau de

desenvolvimento social e econômico de um país.

Os dados da pesquisa mostram que os furtos que são delitos de menor

poder ofensivo, lideram os delitos praticados pelos adolescentes, em percentual

na ordem de 30,33%, seguidos pelo roubo na ordem de 21,31%, porte de arma

13,05%, lesão corporal 7,51%, ameaça 2,60%, e homicídio 3,92%.

Os atos infracionais mais praticados no ano de 2000 à 2002 foram: furto,

roubo, porte de arma de fogo, lesão corporal, homicídio, porte de drogas e

ameaças. Se tomarmos como referência apenas esses atos, os cinco primeiros

delitos juntos, representa um montante de 78,41% de todos os atos praticados.

Nos anos de 2003 e 2004 teve-se uma mudança na ordem dos atos

praticados, ficando o roubo, furto, porte de arma de fogo, lesão corporal, como os

atos mais cometidos pelos adolescentes em conflito com a lei, com isto,

pressupõe o maior uso de violência.

Em relação aos homicídios, o ano de 2003, tive o maior índice em

porcentagem de 7,7%, cerca de 27 homicídios, em seguida o ano de 2000 com

cerca de 21 homicídios.

Os resultados foram analisados e serão demonstrados através de tabelas.

Tabela 3 – Atos infracionais cometidos agrupados por espécie no ano 2000

ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DESCRITO NO ANO 2000 TOTAL

Art. 155 do CPB (furto) 134

Art. 157 do CPB (roubo) 64

Art. 12, 14, 16, da lei 10.826/03 (Porte de arma de fogo) 41

Art. 129 do CPB (lesão corporal) 33

Art 121 do CPB (homicídio) 21

Art 16 da Lei 6.368/76 (porte de drogas) 21

Art 147 do CPB (ameaça) 12

Art 309 da Lei 9.503/97 (dirigir sem habilitação) 09

Art 12 da Lei 6.368/76 (tráfico ilícito de drogas) 08

Art 121 c/c art 14, II, ambos do CPB (homicídio tentado) 07

Art 163 do CPB (dano) 06

Art 157, § 3º, do CPB (latrocínio) 04

Art 213 do CPB (estupro) 04

Art 157, § 3º, c/c art 14, II, ambos do CPB (latrocínio tentado) 03

Art 214 do CPB (atentado violento ao pudor) 02

Art 304 do CPB (uso de documento falso) 02

Art 331 do CPB (desacato) 01

Art 171 do CPB (estelionato) 01

Art 150 do CPB (violação de domicilio) 01

Art 180 do CPB (receptação) 01

Art 139 do CPB (difamação) 01

Art 220 do CPB (rapto consensual) 01

Art 21 da Lei 3.688/41 - LCP (vias de fato) 01

Art 42 da Lei 3.688/41 - LCP (perturbação do trabalho ou do sossego alheio) 01

TOTAL 379

Tabela 4 – Atos infracionais cometidos agrupados por espécie no ano 2001

ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DESCRITO NO ANO 2001 TOTAL

Art 155 do CPB (furto) 128

Art 157 do CPB (roubo) 62

Art 12, 14, 16, da lei 10.826/03 (Porte de arma de fogo) 42

Art 129 do CPB (lesão corporal) 31

Art 121 do CPB (homicídio) 19

Art 16 da Lei 6.368/76 (porte de drogas) 13

Art 147 do CPB (ameaça) 04

Art 309 da Lei 9.503/97 (dirigir sem habilitação) 09

Art 12 da Lei 6.368/76 (tráfico ilícito de drogas) 13

Art 121 c/c art 14, II, ambos do CPB (homicídio tentado) 10

Art 163 do CPB (dano) 03

Art 157, § 3º, do CPB (latrocínio) 01

Art 213 do CPB (estupro) 03

Art 157, § 3º, c/c art 14, II, ambos do CPB (latrocínio tentado) 03

Art 214 do CPB (atentado violento ao pudor) 03

Art 171 do CPB (estelionato) 01

Art 150 do CPB (violação de domicilio) 02

Art 180 do CPB (receptação) 02

Art 333 do CPB (corrupção ativa) 01

TOTAL 350

Tabela 5 – Atos infracionais cometidos agrupados por espécie no ano 2002

ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DESCRITO NO ANO 2002 TOTAL

Art 155 do CPB (furto) 130 Art 157 do CPB (roubo) 71 Art 12, 14, 16, da lei 10.826/03 (Porte de arma de fogo) 58 Art 129 do CPB (lesão corporal) 28 Art 121 do CPB (homicídio) 18 Art 16 da Lei 6.368/76 (porte de drogas) 10 Art 147 do CPB (ameaça) 14 Art 309 da Lei 9.503/97 (dirigir sem habilitação) 02 Art 12 da Lei 6.368/76 (tráfico ilícito de drogas) 24 Art 121 c/c art 14, II, ambos do CPB (homicídio tentado) 13 Art 163 do CPB (dano) 08 Art 157, § 3º, do CPB (latrocínio) 02 Art 213 do CPB (estupro) 02 Art 157, § 3º, c/c art 14, II, ambos do CPB (latrocínio tentado) 01 Art 214 do CPB (atentado violento ao pudor) 04 Art 304 do CPB (uso de documento falso) 01 Art 331 do CPB (desacato) 01 Art 171 do CPB (estelionato) 02 Art 150 do CPB (violação de domicilio) 01 Art 180 do CPB (receptação) 04 Art 139 do CPB (difamação) 02 Art 129, § 3º, do CPB (lesão corporal seguida de morte) 01 Art 233 do CPB (atos obscenos) 01 (fraude) - PI 268 Alexandre Augusto da Silva 01 PI 075 = SEM EFEITO 01 TOTAL 400

Tabela 6 – Atos infracionais cometidos agrupados por espécie no ano 2003

ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DESCRITO NO ANO 2003 TOTAL

Art 155 do CPB (furto) 96

Art 157 do CPB (roubo) 100

Art 12,14, 16, da lei 10.826/03 (Porte de arma de fogo) 34

Art 129 do CPB (lesão corporal) 26

Art 121 do CPB (homicídio) 27

Art 16 da Lei 6.368/76 (porte de drogas) 08

Art 147 do CPB (ameaça) 10

Art 309 da Lei 9.503/97 (dirigir sem habilitação) 03

Art 12 da Lei 6.368/76 (tráfico ilícito de drogas) 12

Art 121 c/c art 14, II, ambos do CPB (homicídio tentado) 08

Art 163 do CPB (dano) 01

Art 157, § 3º, do CPB (latrocínio) 01

Art 213 do CPB (estupro) 01

Art 214 do CPB (atentado violento ao pudor) 05

Art 331 do CPB (desacato) 01

Art 171 do CPB (estelionato) 01

Art 150 do CPB (violação de domicilio) 01

Art 180 do CPB (receptação) 02

Art 139 do CPB (difamação) 01

Art 21 da Lei 3.688/41 - LCP (vias de fato) 02

Art 129, § 3º, do CPB (lesão corporal seguida de morte) 01

Art 288 do CPB (quadrilha ou bando) 01

Art 168 do CPB (apropriação indébita) 01

Art 176 do CPB (outras fraudes) 01

Art (crime ambiental) 01

Art 354 do CPB (motim de presos) 02

PI - 308 SEM EFEITO e PI - 317 SEM EFEITO 02

TOTAL 349

Tabela 7 – Atos infracionais cometidos agrupados por espécie no ano 2004

ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DESCRITO NO ANO 2004 TOTAL

Art. 155 do CPB (furto) 95

Art. 157 do CPB (roubo) 104

Art. 12, 14, 16, da lei 10.826/03 (Porte de arma de fogo) 53

Art. 129 do CPB (lesão corporal) 27

Art. 121 do CPB (homicídio) 12

Art. 16 da Lei 6.368/76 (porte de drogas) 28

Art. 147 do CPB (ameaça) 07

Art. 309 da Lei 9.503/97 (dirigir sem habilitação) 02

Art. 12 da Lei 6.368/76 (tráfico ilícito de drogas) 25

Art. 121 c/c art 14, II, ambos do CPB (homicídio tentado) 11

Art. 163 do CPB (dano) 11

Art. 157, § 3º, do CPB (latrocínio) 01

Art. 214 do CPB (atentado violento ao pudor) 05

Art. 304 do CPB (uso de documento falso) 01

Art. 331 do CPB (desacato) 04

Art. 171 do CPB (estelionato) 02

Art. 150 do CPB (violação de domicilio) 01

Art. 180 do CPB (receptação) 07

Art. 139 do CPB (difamação) 01

Art. 21 da Lei 3.688/41 - LCP (vias de fato) 07

Art. 168 do CPB (apropriação indébita) 02

Art. (crime ambiental) 02

Art. 299 do CPB (falsidade ideológica) 01

Art. 233 do CPB (atos obscenos) 03

(crime contra o ordenamento urbano) 01

Art. 158 do CPB (extorsão) 01

Art. 169, § único, II, do CPB (apropriação de coisa achada) 01

Art. 15 da Lei 10.826/03 (disparo de arma de fogo) 01

Art. 351 (fuga) 01

PI - 190 SEM EFEITO e PI – 148 e PI – 371 FALTA REGISTRAR 03

TOTAL 420

Tabela 8– Atos infracionais cometidos agrupados por espécie no ano 2005

Nº ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DESCRITO NO ANO 2005 TOTAL

Art. 155 do CPB (furto) 142

Art. 157 do CPB (roubo) 130

Art. 12, 14, 16, da lei 10.826/03 (Porte de arma de fogo) 110

Art. 129 do CPB (lesão corporal) 58

Art. 121 do CPB (homicídio) 16

Art. 16 da Lei 6.368/76 (porte de drogas) 37

Art. 147 do CPB (ameaça) 17

Art. 309 da Lei 9.503/97 (dirigir sem habilitação) 03

Art. 12 da Lei 6.368/76 (tráfico ilícito de drogas) 23

Art. 121 c/c art 14, II, ambos do CPB (homicídio tentado) 25

Art. 163 do CPB (dano) 32

Art. 213 do CPB (estupro) 01

Art. 214 do CPB (atentado violento ao pudor) 05

Art. 304 do CPB (uso de documento falso) 02

Art. 331 do CPB (desacato) 05

Art. 150 do CPB (violação de domicilio) 07

Art. 180 do CPB (receptação) 04

Art. 139 do CPB (difamação) 01

Art. 21 da Lei 3.688/41 - LCP (vias de fato) 07

Art. 333 do CPB (corrupção ativa) 01

Art. 168 do CPB (apropriação indébita) 01

Art. 140 do CPB (injúria) 01

Art. 250 do CPB (causar incêndio) 01

Art. 330 do CPB (desobediência) 01

Art. 286 do CPB (incitação ao crime) 01

Art. 24 da Lei 3.688/41 - LCP (instrumento de emprego usual na prática de furto) 01

Art. 40 da Lei 3.688/41 - LCP (provocação de tumulto. Conduta inconveniente) 01

Art. 329 do CPB (resistência) 02

Art. 65 da Lei 9.605/98 (pichar, grafitar edificações ou monumentos) 02

Adulteração de sinal de identificação de veículo 01

PI's SEM EFEITO POR CONSTATAR A IMPUTABILIDADE DO AUTOR 03

PI’s SEM EFEITO 12

TOTAL 653

Tabela 9 – Atos infracionais cometidos agrupados por espécie no ano 2006

ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DESCRITO NO ANO 2006 TOTAL

Art 155 do CPB (furto) 216

Art 157 do CPB (roubo) 178

Art 12, 14, 16, da lei 10.826/03 (Porte de arma de fogo) 97

Art 129 do CPB (lesão corporal) 48

Art 121 do CPB (homicídio) 23

Art 16 da Lei 6.368/76 (porte de drogas) 27

Art 147 do CPB (ameaça) 19

Art 309 da Lei 9.503/97 (dirigir sem habilitação) 04

Art 12 da Lei 6.368/76 (tráfico ilícito de drogas) 42

Art 121 c/c art 14, II, ambos do CPB (homicídio tentado) 07

Art 163 do CPB (dano) 11

Art 213 do CPB (estupro) 04

Art 214 do CPB (atentado violento ao pudor) 02

Art 304 do CPB (uso de documento falso) 01

Art 331 do CPB (desacato) 04

Art 150 do CPB (violação de domicilio) 12

Art 180 do CPB (receptação) 02

Art 21 da Lei 3.688/41 - LCP (vias de fato) 03

Art 42 da Lei 3.688/41 - LCP (perturbação do trabalho ou do sossego alheio) 01

Art 286 do CPB (incitação ao crime) 01

Art. 184 do CPB (violação de direitos autorais) 01

Art. 211 do CPB (ocultação de cadáver) 01

TOTAL 704

Tabela 10 – Atos infracionais cometidos agrupados por espécie no ano 2007

ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DESCRITO NO ANO 2007 ATÉ O MES DE AGOSTO TOTAL

Art 155 do CPB (furto) 202

Art 157 do CPB (roubo) 94

Art 12,14, 16, da lei 10.826/03 (Porte de arma de fogo) 57

Art 129 do CPB (lesão corporal) 32

Art 121 do CPB (homicídio) 12

Art 16 da Lei 6.368/76 (porte de drogas) 23

Art 147 do CPB (ameaça) 15

Art 309 da Lei 9.503/97 (dirigir sem habilitação) 02

Art 12 da Lei 6.368/76 (tráfico ilícito de drogas) 17

Art 121 c/c art 14, II, ambos do CPB (homicídio tentado) 03

Art 163 do CPB (dano) 11

Art 157, § 3º, do CPB (latrocínio) 02

Art 213 do CPB (estupro) 03

Art 214 do CPB (atentado violento ao pudor) 02

Art 304 do CPB (uso de documento falso) 02

Art 331 do CPB (desacato) 03

Art 171 do CPB (estelionato) 01

Art 150 do CPB (violação de domicilio) 03

Art 180 do CPB (receptação) 03

Art 139 do CPB (difamação) 04

Art 21 da Lei 3.688/41 - LCP (vias de fato) 04

Art 42 da Lei 3.688/41 - LCP (perturbação do trabalho ou do sossego alheio) 01

Art 129, § 3º, do CPB (lesão corporal seguida de morte) 01

Art 168 do CPB (apropriação indébita) 01

Art 299 do CPB (falsidade ideológica) 01

Art 233 do CPB (ato obsceno) 01

(crime contra o ordenamento urbano PI – 136) 01

Art 15 da Lei 10.826/03 (disparo de arma de fogo) 03

Art 286 do CPB (incitação ao crime) 01

Art 24 da Lei 3.688/41 - LCP (instrumento de emprego usual na prática de furto) 02

Art 40 da Lei 3.688/41 - LCP (provocação de tumulto. Conduta inconveniente) 01

Art 65 da Lei 9.605/98 (pichar, grafitar edificações ou monumentos) 01

Art 17 da Lei 10.826/03 (portar munição) 02

Art. 184 do CPB (violação de direitos autorais) 01

Art. 211 do CPB (ocultação de cadáver) 01

TOTAL 513

6. RESULTADOS

6.1 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Na pesquisa realizada na DEA, através de questionário, participaram deste

estudo os adolescentes que praticaram atos infracionais de janeiro de 2000 a

agosto de 2007. Durante este período foram entrevistados 40 (quarenta)

adolescentes infratores aleatoriamente. O questionário foi aplicado pessoalmente,

sendo o instrumento utilizado, na busca de uma média dos anos que os

adolescentes em conflitos com a lei iniciaram na prática delituosa, seus principais

motivos levado ao uso de drogas e suas drogas mais utilizadas.

A coleta de dados foi obtida através de um questionário com perguntas

fechadas (anexo). Sendo dividido em duas partes; 1ª) Contendo 12 (doze)

perguntas com relação às informações sociais e a 2ª) contendo 06 (seis)

perguntas com informações em relação ao motivo principal para praticar o ato

infracional, sua inicialização no ato infracional e no uso de entorpecentes.

Os adolescentes participantes deste estudo possuíam idade entre 12 a 18

anos. Os dados revelaram que dos 40 (quarenta) adolescentes entrevistados: 03

(três) possuíam menos de 14 (catorze) anos, sendo 7 (sete) com 15 (quinze) anos,

11 (onze) com dezesseis anos e 19 (dezenove) com dezessete anos.

Os dados revelaram que a maioria dos adolescentes são de cor negra,

portanto, 21 (vinte e um) dos adolescentes são de cor negra, 14 (catorze) de cor

parda e 05 (cinco) de cor branca. Outro dado relevante é que mais de 50% se

autodenominam católicos, um montante de 26 (vinte e seis) adolescentes, 04

(quatro) são evangélicos e 10 (dez) não possuem religião alguma. Em relação à

religião foram perguntados se eram praticantes e se freqüentavam, cerca de 63%

revelaram que não freqüentam regulamente. Mas, apesar de quase 63% dos

jovens relatarem afastamento em relação à religião, suas famílias se mostram

bem mais interessadas. A principal tendência religiosa presente nestas famílias é

a evangélica, seguida pela católica.

Em relação à escolaridade, mais da metade dos adolescentes não estudam

e os que estudam, ou melhor, que diziam estar estudando, na verdade só estavam

matriculados. Cerca de 22 (vinte e dois) adolescentes não freqüentavam a escola

e 18 (dezoito) dos adolescentes freqüentavam a escola. Sendo o grau de

escolaridade dos adolescentes em conflitos com lei correspondente ao ensino

fundamental incompleto, o que demonstra alta defasagem escolar. Cerca de 13

(treze) não possui nenhuma escolaridade, 23 (vinte e três) possuíam o ensino

fundamental incompleto, 03 (três) ensino fundamental completo, 01 (um) ensino

médio incompleto. Portanto o perfil do adolescente infrator, traz um ponto de

reflexão, para o aumento dos atos infracionais, pois se os adolescentes não

estiverem na sala de aula, desta forma estaria com bastante tempo desocupado e

acabariam se envolvendo em conflitos com a lei.

Segundo a assistente social da DEA, a pesquisa do grau de escolaridade

serve para demonstrar a urgência da implementação de políticas públicas voltadas

aos adolescentes. Portanto estes fatos contribuem para o envolvimento dos

adolescentes com a violência. As crianças e os adolescentes não possuem escola

pública de qualidade em tempo integral para ocupar essa criança e esse

adolescente, que estimulem a freqüentar e também não têm um programa de

políticas públicas que combatam essa situação de abandono. Sendo um fato

importante para o aumento da violência, e conseqüentemente o aumento da

pobreza, que contribui para uma desagregação da família, que traz no seu bojo

problemas com o álcool e as drogas. O aumento do uso de drogas e a falta de

programas de tratamento são fatores preponderantes para o aumento da prática

de atos infracionais.

A maioria dos adolescentes vivem na companhia de sua mãe, 18 (dezoito)

dos casos pesquisados, 08 (oito) na presença dos pais e mães biológicos, 11

(onze) dos adolescentes vivem na presença de uma madrasta ou padrasto e 03

(três) na presença de parentes. Outro dado relevante e que confirma a

desagregação familiar que é 42,5%, 17 (dezessete) dos casos pesquisados não

possuir nenhum contato com seus pais. Este fato demonstra o grande numero de

adolescentes que não possuem o nome do pai declarado na certidão de

nascimento. Isso confirma a desagregação familiar, formando adolescentes sem

referênciais na estrutura familiar paterna, com isto o pré-adolescente elege outros

modelos com os quais se identifica levando a pratica de conflitos com a lei. Os

adolescentes com pais desconhecidos, mesmo os que são registrados, muitos não

tiveram referenciais na estrutura familiar paterna, e alguns que tiveram contato

com pai ou padrasto, muitos não possuem estrutura alguma de transmitir um

referencial paterno para os adolescentes, em muitos casos o pai ou padrasto é

alcoólatra e sem estrutura familiar, o pré-adolescente elege nas ruas os modelos

com os quais se identifica.

Com relação à situação da renda familiar, 17 (dezessete) dos

adolescentes pesquisados tem renda familiar de até um salário mínimo. Um fato

que comprova a situação de pobreza das famílias dos adolescentes infratores é

que ao chegar na DEA, as famílias dos adolescentes apreendidos necessitam tirar

3 (três) fotocópias de um documento de identificação para o procedimento

investigatório e na sua maioria seus entes familiares não têm condições

financeiras de tirar e nem de dirigir-se aà delegacia para assinar o Termo de

Responsabilidade por falta de condições financeiras para a condução. 12 (doze)

adolescentes possuem renda familiar de até 02 (dois) salários mínimos, 6 (seis) de

2 (dois) aà 4 (quatro) salários mínimos, 3 (três) com 5 (cinco) à 6 (seis) salários

mínimos,1 (um) de 7 (sete) a 10 (dez) salários mínimos e 1 (um) acima de 12

(doze) salários mínimos. O que foi demonstrado que existem adolescentes de

classe media e media alta, mas estes índices são bem menores. E na sua maioria

estão ligados ao uso de drogas, lesão corporal e vias de fato.

Em relação à moradia, os adolescentes infratores 23 (vinte e três) mora

em casa própria e 17 (dezessete) não possuem casa própria. Em virtude da falta

de uma habitação, a solução encontrada pela maioria das famílias de baixa renda

é ir para áreas sem infra-estrutura e longe de políticas publicas, aproximando

ainda mais os adolescentes da violência.

Os adolescentes foram indagados se possuíam filhos, o número de

adolescentes infratores que já possuem filhos é de 09 (nove) e 31 (trinta e um)

não possuem filhos.

A segunda etapa do questionário abordado, contém informações com

relação aos motivos principais levados aos adolescentes a praticarem atos

infracionais, sua inicialização e o uso de entorpecentes.

Em relação ao motivo principal de praticar o ato infracional, os dados

apurados demonstram que o motivo principal seria o uso de drogas, sobretudo as

ilícitas, formadas por substâncias que alteram as funções do sistema nervoso.

Apresentando como um agente motivador dos cometimentos de atos infracionais.

Cerca de 27 (vinte e sete) dos casos abordados, quando indagado qual o motivo

de se encontrar praticando atos infracionais, 67,5% adolescentes responderam

que esta é a única forma de manter o seu vicio, e por este motivo tem que praticar

pequenos delitos. Em segundo lugar seria a falta de dinheiro para o convívio com

os amigos, os exemplos mais abordados seriam saídas para festa e comprar

roupas, esta característica é mais encontrada nos atos infracionais cometidos pelo

sexo feminino e geralmente cometido por pequenos furtos em supermercados,

cerca de 08 (oito), uma porcentagem de 20%. Em terceiro motivo seria a compra

de comida. Neste caso, na maioria dos casos, se dão através dos furtos e roubos

de adolescentes apreendidos pela primeira vez.

O retrato dos indicadores de quantos anos os adolescentes iniciam sua vida

na prática de atos infracionais, nos mostra um dado alarmante que 11 (onze) dos

adolescentes iniciaram a prática de atos conflitantes com menos de catorze anos,

09 (nove) com quinze anos, 07 (sete) com dezessete anos e 13 (treze) com

dezessete anos.

As drogas mais utilizadas pelos adolescentes em conflitos com a lei seriam

o álcool e o tabaco, estes dos tipos de drogas foram citadas por 96% dos

adolescentes, como algo normal do cotidiano que só tem característica de

diminuição de sua inibição. A maconha foi citada por 63% dos adolescentes, como

uma droga relaxante, o mesclado, uma mistura de maconha com o crack, por

44%, crack por 37%, cola de sapateiro é utilizada pelos adolescentes com a faixa

etária entre 12 e 14 anos e foi utilizada por 38%, o loló no relato obtido pelos

adolescentes na DEA, demonstram que este tipo de droga tem mais incidência no

sexo feminino, cerca de 41% e a lança-perfume é um produto desodorizante com

aroma aproximado do perfume L'Air Du Temps de Nina Ricci em forma de um

spray. O líquido, que é à base de cloreto de etila, é acondicionado sob pressão em

ampolas de vidro. Esta droga tem uma grande incidência na classe de um maior

potencial econômico, cerca de 8% e a cocaína não foi citada como droga utilizada.

Em relação ao uso de drogas, os dados apurados demonstram uma parcela

significativa dos adolescentes infratores usuários de drogas nas praticas de atos

infracionais. Na pesquisa realizada, aplicado aos adolescentes em conflito com a

lei indicam que, em media, 83% dos adolescentes já haviam experimentado

álcool, tabaco e maconha. E possuíam uma idade media de 14 (catorze) anos

quando experimentaram o álcool pela primeira vez, e 73% relataram que,

experimentaram por vontade própria e pelo convívio de seus amigos.

No Brasil, o álcool, o tabaco, e a maconha são as drogas mais usadas

pelos adolescentes SCHENKER e MINAYO, (2005). Entre os adolescentes

infratores, o consumo de álcool é a maior incidência, seguido pela maconha, o

Crack, o mesclado “maconha com o Crack”, cola de sapateiro e loló12.

A droga é um multiplicador da violência entre os adolescentes, precisa ser

evitada entre as crianças e adolescentes, e os que já são usuários devem passar

por um programa de tratamento, deste modo sua família deverá ser assistida

garantido atendimento psicológico e de assistência social.

Desta forma, as pesquisa demonstra que vem aumentando

significativamente o número de adolescentes a cometerem atos infracionais

ligados ao tráfego de droga e ao consumo. Além disso, vale ressaltar que a

12 SCHENKER, M.; MINAYO, M.C.S., Fatores de risco e de proteção para o uso de drogas na adolescência. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, Supl. 3, p. 707 – 717, 2005.

adolescentes em conflitos com a lei não é exclusivo das classes econômicas mais

carentes.

Segundo SIMONS e CAREY, (2003), os usuários de maconha têm a maior

probabilidade de assumir comportamento de risco e levando a prática de atos

infracionais13. A pesquisa realizada por BUI et al. (2000) sugere que o uso de

drogas pode induzir o adolescente a se envolver com a pratica dos atos

infracionais, como o tráfego de drogas, ou diminuir a inibição, levando o

adolescente a praticar atos conflitantes com a lei14.

As apreensões de adolescentes ligado ao uso de drogas nas classes

sociais mais favorecidas vêm aumentando o amplo indicie de adolescentes

debandado os atos infracionais. Podemos citar a pesquisa realizada por Duncan et

al (2001) que demonstra os períodos das transformações biopsicossociais das

crianças e adolescentes, pois aumentam a vulnerabilidade do adolescente e o

predispõem a comportamentos de risco, como o inicio do uso de drogas15.

Demonstrando a facilidade dos adolescentes em transformações biopsicossociais

na pratica de atos em conflito com a lei, pela fase de transição entre a infância e a

idade adulta, marcada por profundas alterações no desenvolvimento biológico,

psicológico e social.

Na pesquisa foram presenciadas apreensões de adolescentes com uma

renda media familiar de 2.500 a 4.500 reais. Este número de adolescentes de

classe média e media alta, estão envolvidas com furto em supermercados, lesões

corporais, roubos, vias de fato e principalmente uso de drogas. O número de

adolescentes infratores destas classes passaram a freqüentar a DEA com mais

freqüência e se intensificou nos últimos anos. As causas da elevação dos índices

13 SIMONS, J.S.; CAREY, K.B., Personal strivings and marijuana use initiation, frequency and problems. Addictive Behaviors, Oxford, v.28, 2003 14 BUI, K.T.; ELLICKSON, P.L.; BELL, R.M. Cross-lagged relationships among adolescent problem drug use, delinquent behavior and emotional distress. Journal of Drung. New York, v. 30, p. 283-304, 2000. 15 DUNCAN B. C.; KEVIN G. L.; JOHN E. D.; GEOFFREY D. B.; Health Problems in adolescents With Alcohol Use Disorders: Self-Report, Liver Injury, and Physical Examination Findings and Correlates. Alcoholism: Clinical And Experimental Research, New York, v. 25, n. 9, p. 1350 – 1359, September 2001.

entre os adolescentes das classes sociais mais favorecidas são o uso de drogas,

embora eles não reconheçam as más companhias, embriaguez, irreverência

religiosa ou moral e vontade dirigida para o crime, configuram-se como as

principais. Um fato marcante do adolescente apreendido das classes favorecidas,

é sem duvida o medo da comunicação aos seus pais ou responsáveis do ato

delituoso, e com isso deixa de lado o seu ato praticado, pois na mente de vários

adolescentes passa uma idéia de que aquele ato não acontecerá nada de sério, e

que será liberado.

Nas classes sociais menos favorecidas, com uma renda familiar de 200 a

700 reais, demonstram alta incidência da pratica de atos delituosos em destaque

com mais de 75% dos procedimentos instaurados. Os adolescentes praticantes

destes atos infracionais mostram um pensamento bem oposto dos adolescentes

de classes mais privilegiadas. O seu pensamento é da não internação e a

comunicação de sua família é tida como facilitador de sua saída da DEA. Estes

adolescentes possuem grave problema de comportamentos, e com isto estão

vinculadas suas maiores incidências no uso de drogas e principalmente o roubo.

Segundo o estudo realizado por Storr et al. (2007), os problemas graves de

comportamentos podem estar vinculados a maior risco de uso de todas as drogas,

mas o comportamento adolescente em conflito com a lei parece ser o mais

importante fator para o uso de maconha, do que para o uso de álcool ou de

tabaco16.

O estudo abordado TIFFER SOTOMAYOR (1997), relata que o

envolvimento de jovens de 12 a 18 anos com comportamentos de risco, por

exemplo, uso de álcool e de outras drogas, pode ser considerado como conduta

normal, como conseqüência do período da adolescência e da falta de maturidade,

16 STORR, C.L.; ACCORNERO, V. H.; CRUM, R.M.; Profiles of disruptive behavior: Association with recent drug consumption among adolescents. Addictive Behaviors, Oxford, v.32, p.248-264, 2007.

já que se encontram em uma etapa transitória e em dificuldade de se adaptarem

as mudanças17.

Agnew (1992) apresenta dados significativos para explicar a delinqüência,

destacando vários fatores, a saber: o estresse; o fracasso em alcançar seus

objetivos; a perda de reforços positivos e a presença de reforços negativos18.

Os dados do IBGE de (1992 a 2001) e os mais recentes do Departamento

da Criança e do Adolescente da Secretaria Especial dos Direitos Humanos

apontam que, do total da população brasileira, o percentual de adolescentes

infratores em conflito com a lei, entre 12 e 18 anos, representa 15%, ou seja, 0,2%

de toda a população responsável pela prática de infrações.

Foram pesquisados os meios dos adolescentes se sustentarem, com isso

revelou que 09 (nove) dos adolescentes se sustentam com seu trabalho, 07 (sete)

se matem com pequenos furtos e roubos, 19 (dezenove) com o dinheiro de sua

família e 05 (cinco) se matêm pela venda de pequenas quantidades de drogas e

nos transportes, mais conhecidos de mulas.

No mesmo questionário foi indagado aos adolescentes usuários de drogas,

se eles queriam deixar o uso de entorpecentes, 32% responderam que não, pois

não era viciado e que deixaria de usar entorpecentes quando sentirem vontade.

Outros 15% responderam que não deixaria, pois a droga é tudo na vida. Um

adolescente pesquisado que é usuário de mesclado uma mistura de maconha com

o crack, a cerca de três anos respondeu: “o mesclado é minha vida e a única

felicidade que eu tenho, sem ela não sou nada”. Os 53% restantes deixariam de

ser usuário de droga se tivessem alguma ajuda.

17 TIFFER SOTOMAYOR, C. Levantamento sobre adolescentes de sexo masculino privados de liberdades. Local: ILANUD, 1997. 18 AGNEW, R. Theory of crime and delinquency; Criminology, London, v.30, p. 47-85, 1992.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao fazer uma análise sobre o aumento dos índices dos atos infracionários

na cidade de Natal-RN, no período de janeiro de 2000 a agosto de 2007,

constatou-se os motivos de tais atos. Esse método de análise forneceu

indicadores de que a maior incidência de atos infracionais são entre os

adolescentes de15 e 17 anos, do sexo masculino, de cor negra ou parda, que não

freqüentam nenhum tipo de religião, atualmente não freqüentam escola, seu grau

de instrução é o ensino fundamental incompleto, fazem uso de drogas, sendo as

mais freqüentes o tabaco, álcool e maconha, têm renda familiar entre um e dois

salários mínimos, em sua maioria moram com a mãe, não tem muito contato com

a estrutura paterna e em sua maioria moram em casa própria.

Ainda com relação a pesquisa às infrações mais cometidas por esses

adolescentes infratores foram furtos, roubo, porte de arma, lesão corporal, e que

os anos de 2005 e 2006 foram os que registraram o maior número de atos

infracionais.

Entretanto, o que se identificou, foi que 50% dos adolescentes

entrevistados iniciaram dos 15 aos 17 anos e a droga mais utilizada seria o álcool,

maconha e o crack. Os dados apurados demonstram uma parcela significativa de

dos adolescentes infratores usuários de drogas nas praticas de atos infracionais. E

que 83% dos adolescentes já haviam experimentado álcool, tabaco e maconha.

apresentando uma idade media de 14 (catorze) anos quando experimentou o

álcool pela primeira vez, e 73% relataram que experimentaram por vontade própria

e pelo convívio de seus amigos.

A implantação de projetos objetivando conhecer os motivos que levam a

maioria dos adolescentes praticarem os atos infracionais, ou melhor, a natureza

dos atos praticados pelos adolescentes e suas circunstâncias como as condições

socioeconômicas dos adolescentes, familiares, as drogas mais consumidas, seria

o primeiro passo para a construção de políticas públicas nesta área.

O que se questiona é a ausência no estado do Rio Grande do Norte

acoplado aos diversos seguimentos sociais, a sua omissão em relação às

condições das crianças e adolescentes usuárias de drogas. Atualmente o Estado

não possui programas de recuperação de drogados, os adolescentes dependentes

de álcool, maconha e crack, não tem nenhuma casa que propicie sua

recuperação. Portanto os adolescentes que são dependentes dessas drogas têm

maior facilidade de reincidir na pratica delituosa e conseqüentemente ampliando

ainda mais os índices de atos infracionais.

No sistema de idéias que norteia o Estatuto da Criança e do Adolescente

constata-se que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança

e ao adolescente, com absoluta prioridade, ao direito à vida, à saúde, à

alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao

respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a

salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,

crueldade e opressão.

Com base nestas análises, nos apontam indicadores para o

desenvolvimento de programas educacionais, preventivos do uso de drogas entre

adolescentes, e que podem contribuir para o desenvolvimento de programas para

uma redução a escalada para outros comportamentos de riscos. Portando, o

Estado estaria acoplado aos diversos seguimentos sociais e assegurar à criança e

ao adolescente, com absoluta prioridade, ao direito à vida, à saúde, à alimentação,

à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à

liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de

toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e

opressão. Nessa investida, acreditamos que temos às condições necessárias para

alcançar tal meta. É nesse caminho que queremos acreditar nas mudanças e que

em poucos anos iremos presenciar na cidade de Natal-RN.

REFERÊNCIAS

AGNEW, R. Theory of crime and delinquency; Criminology, London, v.30, p. 47-85, 1992.

AMARAL E SILVA, Antonio Fernando do. O Estatuto, o novo Direito da Criança e do Adolescente e a Justiça da Infância e da Juventude. In: SIMONETTI, Cecília,

BLECHER, Margaret, MENDEZ, Emilio Garcia (Orgs.). Do avesso ao direito. São Paulo: Malheiros/UNICEF, 1994.

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LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2002.

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ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica – uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed, 1999.

Anexo

QUESTIONARIO:

1. Idade:

1) 12 anos 2) 13 anos 3) 14 anos 4) 15 anos 5) 16 anos 6) 17 anos

2. Cor:

1) Branca 2) Parda 3) Negra 4) Indígena

3. Religião:

1) Católica 2) Evangélica 3) Não possui religião 4) Outras

4. Se possuir religião, você freqüenta?

1) Sim 2) Não

5. Qual a religião de seus pais ou parentes?

1) Católica 2) Evangélica 3) Não possui religião 4) Outras

6. Esta matriculado em alguma escola?

1) Sim 2) Não

7. Qual o seu nível de instrução?

1) Sem escolaridade 2) Ensino fundamental (1º grau) incompleto 3) Ensino fundamental (1º grau) completo 4) Ensino médio (2º grau) incompleto 5) Ensino médio (2º grau) completo

8. Mora com quem:

1) Mãe 2) Pai/mãe 3) Madrasta ou padrasto 4) Parentes

9. Possui contato com seu Pai:

1) Sim 2) Não

10. Assinale a renda familiar mensal de sua casa:

1) ATÉ 380,00 2) DE R$ 380,00 a R$ 760,00 3) DE R$ 761,00 a R$ 1.140,00 4) DE R$ 1.401,00 a R$ 1.800,00 5) DE R$ 1.801,00 a R$ 2.600,00 6) DE R$ 2.601,00 a R$ 3.900,00 7) DE R$ 3.901,00 a R$ 5.200,00

11. Em relação à moradia:

1) Mora em casa própria 2) Não tem casa própria

12. Possua filhos, quanto são?

1) Não possuo filhos 2) Um 3) Dois 4) Três

13. Qual o motivo principal de praticar o ato infracional?

1) Comprar droga, pois é usuário 2) Ter dinheiro para sair festas ou comprar roupa 3) ajudar família

4) Comprar comida

14. Quantos anos você iniciou a praticar ato infracional?

1) menor 14 anos 2) 15 anos 3) 16 anos 4) 17 anos

15. Quantos anos iniciou a usar entorpecentes?

1) menor 14 anos 2) 15 anos 3) 16 anos 4) 17 anos

16. Qual a substancia que usa regulamente ou já usou?

1) Maconha 2) Álcool 3) Cigarro 4) Mesclado 5) Crack 6) Loló 7) Lança Perfume 8) Cocaína 9) Cola

17. Como se sustenta:

1) Trabalha 2) Roubos/furtos 3) Trafego de drogas 4) Dinheiro da renda familiar

18. Você pretende deixar de ser usuário de entorpecentes?

1) Não 2) Sim

TERMO DE AUTORIZAÇÃO

Eu, Ramâni Hortêncio de Lima Nóbrega Medeiros, Brasileiro, solteiro, estudante, residente e domiciliado na Rua Cel. Auris Coelho, 280, na cidade de Natal, Estado do Rio Grande do Norte, portador do documento de Identidade: 1.731.455 – SSP/RN, CPF: 047.299.884-69, na qualidade de titular dos direitos morais e patrimoniais de autor da obra sob o título: aumento dos índices dos atos infracionais na cidade de Natal/rn, sob a forma de Monografia, apresentada na Universidade Potiguar – UnP, em 30/11/2007, com base no disposto na Lei Federal nº 9.160, de 19 de fevereiro de 1998. Sob a orientação da Profª Bruna Daniela Corte Real de Souza Leão:

1. ( ) AUTORIZO, disponibilizar nas Bibliotecas do SIB / UnP para consulta a OBRA, a partir desta data e até que manifestações em sentido contrário de minha parte determina a cessação desta autorização sob a forma de depósito legal nas Bibliotecas, bem como disponibilizar o título da obra na Internet e em outros meios eletrônico."

2. ( ) AUTORIZO, disponibilizar nas Bibliotecas do SIB / UnP, para consulta e eventual empréstimo, a OBRA, a partir desta data e até que manifestações em sentido contrário de minha parte determina a cessação desta autorização sob a forma de depósito legal nas Bibliotecas.

3. ( ) AUTORIZO, a partir de dois anos após esta data, a Universidade Potiguar - UnP, a reproduzir, disponibilizar na rede mundial de computadores - Internet e permitir a reprodução por meio eletrônico, da OBRA, até que manifestações contrária a minha parte determine a cessação desta autorização.

4. ( ) CONSULTE-ME, dois anos após esta data, quanto a possibilidade de minha AUTORIZAÇÃO à Universidade Potiguar - UnP, a reproduzir, disponibilizar na rede mundial de computadores - Internet - e permitir a reprodução por meio eletrônico, da OBRA.

Natal, 30 de novembro de 2007.

______________________________ Ramâni Hortêncio de Lima Nóbrega Medeiros

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