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Ecofisiologia. FCTUC. 2010 Relações hídricas das plantas - índice 1. O papel da água no funcionamento das plantas; 2. Potencial hídrico; 3. Disponibilidade de água no solo; 4. Relações hídricas das células; 5. Movimento da água ao longo das plantas; 6. Eficiência do uso da água; 7. Disponibilidade hídrica e crescimento; 8. Adaptações ao stress hídrico 9. Tolerância ao congelamento Ecofisiologia. FCTUC. 2010 5. Movimento da água ao longo da planta A água move-se na planta ao longo de gradientes, de potencial hídrico mais alto para mais baixo (se o transporte ocorre através de uma membrana selectiva), de pressão hidrostática elevada para baixa (se não existe membrana envolvida) ou de concentração de vapor alta para baixa.

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Ecofisiologia. FCTUC. 2010

Relações hídricas das plantas - índice

1. O papel da água no funcionamento das plantas;2. Potencial hídrico;3. Disponibilidade de água no solo;4. Relações hídricas das células;5. Movimento da água ao longo das plantas;6. Eficiência do uso da água;7. Disponibilidade hídrica e crescimento;8. Adaptações ao stress hídrico9. Tolerância ao congelamento

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5. Movimento da água ao longo da planta

A água move-se na planta ao longo de gradientes, de potencial hídrico mais alto para mais baixo (se o transporte ocorre através de uma membrana selectiva), de pressão hidrostática elevada para baixa (se não existe membrana envolvida) ou de concentração de vapor alta para baixa.

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À medida que o solo seca, há uma diminuição paralela do potencial hídrico do solo e das plantas.

Hammada scoparia, planta C4

5. Movimento da água ao longo da planta

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Água nas raízes

Quando as plantas crescem em solos húmidos, as membranas celulares são a maior barreira ao fluxo de água através das raízes.

Se não existe exoderme (uma camada de células corticais da raiz adjacentes à epiderme e que tem as paredes cobertas com suberina), a água pode deslocar-se através do apoplasto (paredes celulares e outros espaços preenchidos com água fora das células vivas), ou através do simplasto(espaço constituído por todas as células conectadas por plasmodesmata e rodeado pela membrana plasmática) ou através das células atravessando paredes, citoplasma e vacúolos – via transcelular – que em condições normais é a principal via utilizada pela água.

5. Movimento da água ao longo da planta

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5. Movimento da água ao longo da planta

Na endoderme ou exoderme, a água é obrigada a entrar nas células antes de chegar ao sistema vascular (vasos ou traqueídos). As paredes radiais e transversais das paredes celulares da endoderme e exoderme são ricas em proteínas e impregnadas com lenhina, suberina e ceras, formando as bandas de Caspary.

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5. Movimento da água ao longo da planta

Células de passagem: áreas de menor resistência à passagem de água

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Água nas raízes

As plantas apresentam uma família de proteínas condutoras de água – aquaporinas – abrindo canais nas membranas àpassagem de água, reduzindo a resistência ao fluxo de água ao longo da via transcelular.

O número de aquaporinas diminui durante a noite e aumenta antes do nascer do dia, sugerindo uma renovação rápida destas proteínas.

5. Movimento da água ao longo da planta

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Água nas raízes

Os factores ambientais que afectam a condutividade hidráulica das raízes afecta o número ou o ‘estado’ das aquaporinas.

A temperaturas baixas, quando os lípidos das membranas são menos fluidos e as proteínas das membranas estão imobilizadas, a resistência da membrana ao fluxo de água é elevada.

Adaptação a temperaturas baixas implica um aumento de ácidos gordos não saturados que aumentam a fluidez da membrana a baixas temperaturas.

A resistência ao fluxo de água também é elevada em plantas expostas a solos encharcados, que resulta numa diminuição do O2 disponível no solo, inibição da respiração aeróbica e diminuição do pH do citoplasma, que provoca uma diminuição da actividade das aquaporinas.

5. Movimento da água ao longo da planta

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À medida que o solo seca, as raízes e o solo encolhem, reduzindo o contacto entre as raízes e a água do solo. Em ambientes secos, o contacto entre raízes e o solo constitui a maior barreira ao fluxo de água do solo para a planta. Para aumentar a condutividade das raízes, há um maior investimento no crescimento de raízes novas.

5. Movimento da água ao longo da planta

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Em solos extremamente secos, onde o potencial hídrico do solo é menor do que o da planta, pode ser vantajoso aumentar a resistência das raízes ao fluxo de água. Por exemplo, os cactos perdem raízes finas no Verão para prevenir a perda de água para o solo.

A espécie Agave deserti, do deserto de Sonora, produz raízes em 24 horas, após a ocorrência de chuva – raízes de chuva.

5. Movimento da água ao longo da planta

Agave deserti

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Algumas plantas têm raízes contrácteis – diminuem em comprimento e aumentam em largura. Na contracção das raízes de Hyacinthus oriemntalis, as células corticais aumentam em diâmetro e diminuem em comprimento.

5. Movimento da água ao longo da planta

Jacinto

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As espécies lenhosas dominantes em locais áridos ou semi-áridos apresentam um sistema radicular dimórfico: raízes superficiais que funcionam durante a estação húmida e raízes profundas, localizadas em rochas ou areias profundas, que funcionam durante a estação seca.

A maior parte dos nutrientes ocorre nas camadas superficiais dos solos e são absorvidos essencialmente pelas raízes mais superficiais.

Plantas a crescer em solos pouco profundos, ou mesmo em cima de rocha, continuam a transpirar durante o Verão e adquirem a água a partir de raízes que crescem nas fissuras das rochas, muitas vezes com menos de 100 µm.

5. Movimento da água ao longo da planta

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5. Movimento da água ao longo da planta

A água nos vasos do xilema das raízes está sob tensão (pressão hidrostática negativa). À noite em condições de humidade alta e transpiração baixa, o transporte de solutos pode ser suficientemente rápido originando um potencial osmótico negativo no xilema. A água pode entrar por pressão osmótica nos vasos do xilema, criando uma pressão hidrostática positiva, forçando a água a subir para o caule –pressão radicular.

No entanto, determinou-se que a concentração de solutos no xilema é bastante baixa, mesmo quando a pressão hidrostática no xilema é elevada.

Independentemente do mecanismo que origina a pressão radicular, esta pode elevar a água até à extremidade das folhas em plantas de pequena dimensão: gutação.

A pressão radicular também pode ser importante para estabelecer colunas de água contínuas, depois de quebradas por embolismo.

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5. Movimento da água ao longo da planta

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5. Movimento da água ao longo da planta

O fenómeno designado por elevador hidráulico é o movimento de água de solos profundos para solos mais superficiais e mais secos, através do sistema radicular. Nas plantas C3 e C4 este fenómeno ocorre durante a noite quando os estomas estão fechados, e a planta está em equilíbrio com o potencial hídrico das raízes. Na planta CAM da espécie Yuccaschidigera, do deserto de Mojave, o elevador hidráulico ocorre durante o dia.

A água move-se de camadas mais profundas do solo com um potencial hídrico elevado para as raízes e destas para o solo superficial mais seco.

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5. Movimento da água ao longo da planta

A água proveniente das camadas mais profundas do solo éredistribuída à superfície e pode alterar as interacções competitivas entre as plantas. Por exemplo, 20-50% da água utilizada pela espécie Agropyron desertorum, com raízes pouco profundas, provém da água transportada por elevador hidráulico de outra espécie, Artemisia tridentata.

Agropyron desertorumArtemisia tridentata

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5. Movimento da água ao longo da planta

O nevoeiro pode ser uma fonte importante de água em muitos ecossistemas costeiros. No norte da Califórnia, no Verão 1/5 da água de árvores como a Sequoia sempervirens e 2/3 das plantas mais pequenas é proveniente do nevoeiro. A água do nevoeiro constitui 13-45% da transpiração anual das árvores.

A entrada de água através das folhas ocorre provavelmente a partir dos hidátodos, como se observou no género Crassula no deserto da Namíbia.

Crassula

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5. Movimento da água ao longo da planta

Sequoia sempervirens

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5. Movimento da água ao longo da planta

Água nos caules

Uma bomba de vácuo não consegue elevar água a mais de 10m. Um vaso de xilema com um raio de 20µm apenas consegue subir a água até 0,75m apenas por forças de capilaridade – no entanto, as plantas conseguem puxar água acima destes limites. A Sequoia gigantea ou o Eucalyptusdiversicolor transportam diariamente água em quantidades substanciais a 100m de altura.

Sequoia gigantea

Eucalyptus diversicolor

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5. Movimento da água ao longo da planta

A água no xilema dos caules, ao contrário das células vivas das raízes e caule, está sob tensão (pressão hidrostática negativa) em plantas a transpirar – teoria da coesão-tensão.

A evidência da existência de uma pressão negativa no xilemafoi obtida através da utilização da bomba de Scholander.

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5. Movimento da água ao longo da planta

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5. Movimento da água ao longo da planta

µ

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5. Movimento da água ao longo da planta

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5. Movimento da água ao longo da planta

As espécies diferem consideravelmente na sua vulnerabilidade à cavitação, com as espécies menos vulneráveis a serem mais tolerantes à dissecação.

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5. Movimento da água ao longo da planta

O diâmetro das perfurações membranares determina a vulnerabilidade das espécies à cavitação em resposta ao stress hídrico, e determina a tensão no xilema para a qual a bolha de ar é aspirada para o lúmen do xilema.

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5. Movimento da água ao longo da planta

Insectos que se alimentam da seiva do xilema podem provocar embolismo? O insecto Philaenus spumarius (cigarra das pastagens, espumadora dos prados) provoca a formação de ‘babas’ nas plantas. A água dessas ‘babas’ provém da seiva do xilema que é sugada pelo estilete do insecto que estáinserido nas células do xilema.

Porque a concentração de nutrientes no xilema é baixa, estes insectos bombeiam grandes quantidades de água contra um gradiente de pressão. Como é que este insecto evita a cavitação? A saliva segregada pelo insecto forma uma camada entre o estilete e os tecidos da planta, evitando desta forma a entrada de ar.

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5. Movimento da água ao longo da planta

Philaenus spumarius

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5. Movimento da água ao longo da planta

Vasos embolizados podem tornar-se funcionais se forem novamente cheios com água. Isto pode ocorrer durante a noite em condições de humidade, condições para a formação de uma pressão radicular positiva.

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5. Movimento da água ao longo da planta

As plantas também podem desenvolver pressão no caule. A forma como isto acontece ainda é desconhecida. Implica a entrada de água no lúmen dos vasos forçando a dissolução do ar. Este processo requer energia que pode vir da actividade das células vivas que rodeiam o xilema.

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5. Movimento da água ao longo da planta

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5. Movimento da água ao longo da planta

Existe uma correlação linear forte entre a área de ‘sapwood’(As), a parte do xilema que é funcional no transporte de água, e a área foliar (Af). No entanto, como a condutividade hidráulica difere entre as espécies, a razão entre Af/As difere entre espécies e ambientes.

Espécies resistentes à dissecação apresentam menos área foliar por área de xilema funcional (‘sapwood’) do que espécies sensíveis à dissecação. Espécies de habitats mais secos apresentam vasos mais estreitos e por isso, necessitam de uma maior área de ‘sapwood’ para terem uma capacidade de transporte semelhante.

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5. Movimento da água ao longo da planta

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5. Movimento da água ao longo da planta

cresc. rápido cresc. médio

cresc. lento

fertilizado

controlo

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5. Movimento da água ao longo da planta

Bauhinia sp.Bauhinia sp.

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5. Movimento da água ao longo da planta

As plantas podem acumular água nos caules e temporariamente suportar a transpiração. Por isso, o diâmetro dos caules é maior no início da manhã e mais pequeno à tarde.

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5. Movimento da água ao longo da planta

Em florestas tropicais secas, a perda de folhas em espécies de folha caduca eliminam a perda de água por transpiração na época seca. A água acumulada no tronco é utilizada na floração e formação de folhas novas durante a época seca.