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     M     a     c     r     o     e     c     o     n     o     m     i     a     A     u     l     a     1     3       S     e     t     o     r     e     x     t     e     r     n     o     e     b     a     l     a     n     ç     o     d     e     p     a     g     a     m     e     n     t     o     s 1 8 1 Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb Aula 13 - Setor externo e balanço de pagamentos Desenvolver habilidades e competências que permitam ao aluno compreender o papel do Setor Externo da economia; conhecer e interpretar o Balanço de Pagamentos, as contas especí cas que o constituem e o agrupamentos destas em dois blocos básicos e conhecer e avaliar o signi cado da dívida externa e das reservas internacionais e o impacto destas últimas sobre os meios de pagamento. Introdução  T odos os países mantêm relaç ões comer ciais e nan ceiras com o resto do mundo. Nenhum país produz internamente todos os bens e serviços, nem dispõe de todos os insumos de que necessita. À medida que a economia de mercado se expandiu para o mundo inteiro, essas relações se intensicaram. O Balanço de Pagamentos registra o conjunto dessas relações de um país com o resto do mundo, abrangendo o comércio de bens e serviços e o movimento de capitais. Nesta aula, estudaremos as relações comerciais e nanceiras entre um país e o resto do mundo (também referido como setor externo) e sua contabilização no Balanço de Pagamentos. Observaremos também a dívida externa e as reservas internacionais em moeda estrangeira, bem como o impacto destas últimas sobre os meios de pagamento (estudados na aula anterior). Estrutura do Balanço de Pagamentos Há dois grupos básicos de contas que registram os uxos entre o País e o Exterior. O primeiro denomina-se Transações Correntes, que concentra o comércio de bens e serviços e todas as transações não nanceiras. O outro

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181Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

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Aula 13 - Setor externo e balanço

de pagamentosDesenvolver habilidades e competências que permitam ao aluno

compreender o papel do Setor Externo da economia; conhecer e

interpretar o Balanço de Pagamentos, as contas especícas que o

constituem e o agrupamentos destas em dois blocos básicos e conhecer

e avaliar o signicado da dívida externa e das reservas internacionais e o

impacto destas últimas sobre os meios de pagamento.

Introdução

Todos os países mantêm relações comerciais e nanceiras com o resto

do mundo. Nenhum país produz internamente todos os bens e serviços,

nem dispõe de todos os insumos de que necessita. À medida que a

economia de mercado se expandiu para o mundo inteiro, essas relaçõesse intensicaram.

O Balanço de Pagamentos registra o conjunto dessas relações de um país

com o resto do mundo, abrangendo o comércio de bens e serviços e o

movimento de capitais. Nesta aula, estudaremos as relações comerciais

e nanceiras entre um país e o resto do mundo (também reerido

como setor externo) e sua contabilização no Balanço de Pagamentos.

Observaremos também a dívida externa e as reservas internacionais em

moeda estrangeira, bem como o impacto destas últimas sobre os meios

de pagamento (estudados na aula anterior).

Estrutura do Balanço de Pagamentos

Há dois grupos básicos de contas que registram os fuxos entre o País e o

Exterior. O primeiro denomina-se Transações Correntes, que concentra o

comércio de bens e serviços e todas as transações não nanceiras. O outro

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182Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

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grupo é o Movimento de Capitais, onde são registradas as movimentações

nanceiras. Estes dois grupos constituem o Balanço de Pagamentos.

As Transações Correntes

Quatro contas ormam as transações correntes do Balanço de

Pagamentos:

• Balança Comercial – registra as Exportações (X) e as Importações (M)

de mercadorias ísicas (bens);• Balança de Serviços – compreende as viagens internacionais (turismo),

retes, seguros, assistência técnica, royalties (pelo uso de patentes),

etc.;

• Rendas: registra os pagamentos dos serviços do capital e do

trabalho (basicamente, juros, lucros e salários) entre países; estes

são denominados serviços de atores (reerem-se a atores de

produção), enquanto aqueles constantes da Balança de Serviços

denominam-se serviços não-atores;

• Transerências Unilaterais: compreende-se neste item os pagamentos

sem qualquer contrapartida comercial ou nanceira, tais como

manutenção de embaixadas no Exterior (e de outros países no

Brasil), remessas de emigrantes e imigrantes, doações, etc.

Cada uma dessas balanças tem seu saldo apurado (no caso, serviços e

rendas são agrupados depois da apuração), podendo ser um décit ou

superávit. A soma simples desses saldos orma o saldo de transações

correntes do Balanço de Pagamentos, também chamado saldo em conta

corrente. Formalizando, TC = BC + BS + TU, onde:

TC = saldo em transações correntes do B.P.

BC = saldo da Balança Comercial

BS = saldo da Balança de Serviços e Rendas

TU = saldo das Transerências Unilaterais

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Anotações do Aluno

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O Movimento de Capitais

Paralelamente e em ligação com as transações correntes, ocorre o fuxo

de capitais entre o país e o resto do mundo. Trata-se dos empréstimos,

nanciamentos e investimentos de um país para outro(s). Caso haja décit

em conta corrente, o movimento de capitais deverá ter saldo positivo para

que o país consiga liquidar os compromissos assumidos, na medida em

que comprou mais do que vendeu bens e serviços aos demais países e

tem um saldo negativo a acertar em moeda estrangeira.

O movimento de capitais pode ser autônomo ou compensatório. O

primeiro é regular, reqüente e decorre de decisões autônomas dos

aplicadores e investidores do país e do resto do mundo. O segundo ocorre

em situações de crise, quando o país precisa recorrer a emprestadores de

última instância para cobrir insuciência de moeda estrangeira (chamada

de divisa) para liquidar os compromissos externos.

O movimento autônomo de capitais é registrado na Balança de Capitais.

Consiste, basicamente, em empréstimos, nanciamentos e investimentos.

No sentido oposto, guram as amortizações de nanciamentos anteriores

(pagamento do principal). Lembre-se de que os juros constam da Balança

de Serviços como pagamento de serviços-atores.

A dierença entre empréstimos e nanciamentos, basicamente, é de

prazo. Os primeiros são curtos, de até um ano. Prazos maiores conguram

nanciamentos, cujo pagamento – principal e juros – onerará as Balanças

de Capitais e de Serviços dos anos subseqüentes.

Os investimentos subdividem-se em duas modalidades: diretos e em

carteira. Os primeiros são da maior importância, porque, via de regra,

representam aumento da capacidade produtiva do país que os recebe.

Por isso, há um acompanhamento minucioso desse tipo de investimento.

O Investimento Direto Estrangeiro (IDE) é um indicador da conança dos

investidores externos na economia nacional, uma vez que expressa a

disposição de arriscar capital nessa economia.

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184Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

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Nos anos 1990, quando inúmeras empresas estatais brasileiras oram

privatizadas, houve intenso debate no País sobre as características

dos capitais externos que entravam para adquirir as ações leiloadas

pelo governo. Tratar-se-ia do conceito normal de IDE, com todas as

conseqüências? Críticos alegavam que só estava ocorrendo transerência

de propriedade, não a criação de novas capacidades. Ativos já amortizados

estavam trocando de mãos e passariam a remeter lucros e dividendos

ao Exterior posteriormente, deixando de pagá-los ao Governo, com o

risco de setores estratégicos ao desenvolvimento passarem a responder

a interesses externos. Os deensores argumentavam que a exaustão de

recursos do Governo (crise scal) inviabilizava os novos investimentosnecessários a essas empresas, o que sucateava a inra-estrutura econômica

do País, com prejuízo para a expansão do PIB. Além disso, prioridades

com o gasto social e a amortização da pesada dívida pública (resultado

de gastos passados) exigiam mudança de prioridades governamentais. Aí 

está mais uma polêmica para você refetir a respeito.

Os investimentos em carteira são aplicações em títulos privados e públicos

por instituições estrangeiras. Em geral, refetem menos a conança naeconomia e mais a busca de ganhos rápidos e vultosos.

O dierencial de taxas de juros dos títulos do país com relação aos demais

mercados internacionais costuma ser a maior atração para esses capitais.

Na segunda metade dos anos 1990, quando o Brasil adotou uma estratégia

macroeconômica totalmente avorável a importações, nossos décits em

conta corrente oram cobertos com grandes entradas de investimento em

carteira¹. Os mesmos, em virtude de sua orte sensibilidade à taxa de juros

e outras variáveis de curto prazo, receberam o apelido de “capital volátil”.

Olhando o B.P em conjunto: o Saldo Final (BP)

(e, em geral, isso ocorre, pois permite à empresa ortalecer sua posição

no mercado nacional), reduzindo as saídas pela Balança de Capitais. O

IDE traz ainda outros beneícios, como novos aportes tecnológicos, maior

interação econômica do país com o Exterior, etc.

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185Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

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Caso o volume de IDEs não seja suciente para cobrir o décit em conta

corrente, o país terá que depender dos investimentos em carteira e dos

empréstimos e nanciamentos. Estes últimos também dependem de

percepções dos aplicadores externos de recursos sobre a capacidade de

pagamento das empresas brasileiras que tomarão os recursos. Além disso,

para estimular estas empresas a buscar nanciamento externo, a taxa de

 juros interna terá que ser desestimulante – isto é, elevada.

Outra razão para elevar os juros surgirá, caso nem os empréstimos e

nanciamentos sejam sucientes. O país precisará de investimentos em

carteira (“capital volátil”), para o BaCen poder liquidar os compromissosexternos e não ocorrer inadimplência. Estes investimentos vão atrás

de rendimentos nanceiros competitivos em escala internacional. Não

se trata da taxa de juros tomada isoladamente, mas em conjunto com

a avaliação do risco de inadimplência. Assim, os aplicadores desses

recursos – geralmente, grandes undos e instituições nanceiras – exigem

taxas mais altas por conta do risco. E é exatamente a situação de risco

de inadimplência internacional que torna o país dependente dessa

modalidade de capital, num círculo vicioso que leva os juros internos a seelevarem substancialmente.

O grande problema é que essa solução de curto prazo agrava o perl do

Balanço de Pagamentos de médio e longo prazos, devido à elevação da

saída líquida de juros pela Balança de Serviços – gerando novos décits

em transações correntes. O ciclo recomeça. Há ainda o agravante de que a

alta dos juros piora as contas públicas, gerando novas despesas correntes

e omentando o décit público, o que penaliza o crescimento econômico

e o bem-estar social (parte crescente da receita pública é desviada para os

 juros da dívida interna e externa, reduzindo a parcela dos investimentos

e dos gastos sociais). Lembra-se da analogia com o sistema de “vasos

comunicantes” (Aula 12 - Material de Reerência)?

Enm, o que você leu até aqui é uma resenha dos últimos dez anos da

economia brasileira, no que se reere ao movimento de capitais. Ela

ajuda a identicar a natureza desse movimento: o décit de transações

correntes, quando houver, tem que ser coberto pelo superávit na Balança

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Anotações do Aluno

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de Capitais. Em outras palavras, o saldo total do Balanço de Pagamentos

resulta da soma do saldo em conta corrente com o saldo na Balança de

Capitais, ou seja:

BP = TC + BK, onde

BP = Saldo nal do Balanço de Pagamentos

TC = Saldo de Transações Correntes

BK = Saldo da Balança de Capitais

E agora, uma pergunta incômoda: e quando o saldo de BK é insucientepara cobrir o décit de TC?

Temos aí uma crise cambial. O país ca ameaçado de inadimplência

internacional e a economia pode entrar em colapso. O ex-ministro da

Fazenda Mário Henrique Simonsen dizia a respeito: “Infação aleija; Balanço

de Pagamentos mata”. As importações cessam; as próprias exportações

sorem diversos percalços, começando pelas linhas de crédito de curto

prazo reqüentemente contratadas pelos exportadores no Exterior parapossibilitar os embarques. Ativos brasileiros no exterior podem sorer

seqüestro judicial; contratos podem vir a ser questionados devido à

inadimplência.

Para evitar essa situação, existem os Capitais Compensatórios. Eles ormam

a segunda parte do movimento de capitais. Trata-se de empréstimos de

emergência, realizados para saldar o décit total do Balanço de Pagamentos

(não apenas o décit de transações correntes).

A principal – na verdade, praticamente a única – onte desses recursos

é o Fundo Monetário Internacional (FMI). Ao pedir-lhe socorro, o país

submete-se a uma auditoria na sua economia e compromete-se com uma

série de medidas macroeconômicas que restabeleçam sua capacidade de

pagamentos internacionais. Só assim o empréstimo é liberado. Geralmente,

isso é eito em parcelas e, a cada uma, relatórios têm que ser produzidos,

atestando o cumprimento das medidas e metas denidas em comum.

Essas medidas costumam gurar em Cartas de Intenção do país ao FMI. O

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Anotações do Aluno

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aval do Fundo corresponde a um sinal verde para a comunidade nanceira

internacional voltar a nanciar o país.

Geralmente, as medidas preconizadas pelo FMI partem do diagnóstico de

excesso de demanda por bens e serviços internacionais. Isso leva a medidas

de contenção da Demanda Agregada: retração do crédito e das despesas

governamentais, elevação dos juros, contenção salarial. Freqüentemente,

as conseqüências são recessivas. Um caso exemplar oi a saga do Brasil

com o FMI quando nossa economia enrentou séria crise cambial em

1980. Os três anos seguintes assistiram a uma orte recessão, com quedas

reais no PIB, alências, desemprego e quedas no salário real. Sete Cartasde Intenção oram assinadas entre 1982 e 1984. Medidas de estímulo às

exportações oram adotadas. Em 1984, o país voltou a crescer, liderado

pelas exportações, e iniciou uma recuperação de suas contas externas.

Mas o custo social e econômico das políticas praticadas oi imenso e seu

resultado político oi a crise que levou ao m do regime militar.

Recentemente, economistas, antes alinhados com o sistema internacional

vigente, têm criticado o FMI, apoiando-se em exemplos recentes de paísessocorridos pela instituição, alegando que os remédios arriscam matar o

paciente. O Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, ex-economista-

chee do Banco Mundial e ex-assessor econômico do Presidente Clinton,

dos EUA, é o mais notório desses críticos. Economistas keynesianos e

outros, mais à esquerda, são críticos antigos do FMI, cuja solução segue

orientação monetarista (identica no excesso de moeda em circulação a

causa dos problemas econômicos do país, como a infação e o décit em

transações correntes). Eis outro tema para você se interessar em construir

uma opinião própria.

Para concluir, vamos apresentar a orma completa como se compõe o saldo

nal do Balanço de Pagamentos. No caso brasileiro, computa-se um item

denominado Erros e Omissões, que representa os lançamentos incorretos

e as omissões de lançamentos, seja nas entradas, seja nas saídas de divisas.

Esse item é apurado por dierença, de orma a igualar todos os lançamentos

do Balanço (tecnicamente, é um balanço contábil, com partidas dobradas

para as receitas e despesas). Ao nal, entram os Capitais Compensatórios,

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Anotações do Aluno

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que equilibram o Balanço de Pagamentos. Eles são compostos, na verdade,

de dois elementos: os empréstimos de regularização (geralmente do FMI)

e a variação das reservas cambiais, que também são utilizadas em caso

de necessidade. Este último caso será mais bem explicado no próximo

ponto.

Por ora, a seqüência para o echamento do BP é a seguinte:

BC + BS + TU = TC

TC + BK + EO = BP (1)

BP + KC = BP (2)

A primeira equação já oi apresentada no ponto II.1. A segunda complementa

a órmula apresentada em II.3, acrescentando os Erros e Omissões (EO). A

última mostra o que ocorre em caso de décit no saldo nal: os Capitais

Compensatórios (KC) entrarão em sentido oposto, zerando o Balanço de

Pagamentos. Como já explicamos, KC compõe-se de empréstimos do FMI

e de variação das reservas, as quais serão abordadas a seguir, em conjunto

com a dívida externa.

Dívida externa, reservas internacionais e política

monetária

Entre os décits em conta corrente e a dívida externa, existe uma relação

semelhante àquela que estudamos na Aula 11 entre o décit público e

a dívida pública. Décits são fuxos e dívidas são estoques. A parte dodécit em transações correntes não coberta pelos IDEs transorma-

se em nova dívida externa. Uma parte dela é eita de títulos públicos e

privados lançados nos mercados nanceiros internacionais, que ormam a

dívida externa mobiliária (isto é, em títulos). Outra parte é contratada em

empréstimos e nanciamentos, denominando-se dívida contratual.

Quando a entrada líquida de capitais² não é suciente para cobrir o décit

de transações correntes (isto é, quando o BP acusa um décit nal), o

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Anotações do Aluno

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país tem duas alternativas: perder reservas internacionais ou recorrer aos

Capitais Compensatórios, como já explicado. As reservas são depósitos

em ouro, moedas ortes e um tipo especial de moeda escritural, chamada

Direitos Especiais de Saque (DES), emitida pelo FMI e válida apenas para

transações entre Bancos Centrais. Esses depósitos geralmente são eitos

 junto ao Banco de Compensações Internacionais (Bank or International

Settlements – BIS), sediado na Basiléia, Suíça. As reservas rendem juros,

geralmente a taxas bem mais baixas que aquelas do mercado.

Todos os países buscam manter certo nível de reservas, como garantia

de pagamento aos credores internacionais. O nível das reservas é umdos indicadores acompanhados pelos analistas do mercado nanceiro

internacional para medir o risco de inadimplência de cada país e recomendar

– ou não – o empréstimo e o investimento de recursos externos nos países

analisados.

Assim, em certos momentos, o Brasil chegou a tomar empréstimos e

nanciamentos para engordar suas reservas, mesmo incorrendo em custos

líquidos para isso (as taxas de juros dos empréstimos eram maiores do queas taxas de remuneração das reservas).

A perda de reservas – isto é, seu uso para liquidar compromissos

internacionais quando o saldo nal do Balanço de Pagamentos é negativo –

pode ser uma alternativa parcial, em casos de saldos moderados, para evitar

o recurso ao FMI (ou para reduzir a necessidade de recursos do Fundo). Por

isso mesmo, os credores e analistas econômicos internacionais, ao analisar

a dívida externa, também utilizam o conceito de dívida líquida: a dívida

bruta, menos as reservas cambiais do País. Esse é o montante eetivamente

devido, porque as reservas, em último caso, podem cobrir uma parcela da

dívida.

Numa situação oposta à anterior, a entrada líquida de recursos pela Balança

de Capitais pode superar o décit em transações correntes (ou, numa

situação ainda mais olgada para o país, pode haver equilíbrio ou superávit

em conta corrente e mesmo assim ocorrer entrada líquida de capitais).

Nesses casos, haverá aumento das reservas internacionais do país.

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Anotações do Aluno

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Se você recordar como unciona o mecanismo cambial (item II.3), poderá

entender que toda perda de reservas representa um enxugamento dos

meios de pagamento internos ao país. Com eeito, as reservas caíram

porque a saída de divisas excedeu a sua entrada. O que isso signica? É

simples: cada pagamento externo eito pelos importadores ou devedores

brasileiros implica num recolhimento de reais ao Banco Central, o qual

enviará o equivalente em moeda estrangeira aos ornecedores ou credores

internacionais. Aqui, ocorreu um enxugamento de moeda nacional (dizemos

que houve enxugamento de liquidez doméstica). Já os recebimentos

externos são depositados em divisa estrangeira no BaCen pelos exportadores

ou receptores de empréstimos e investimentos; a autoridade monetárialibera o equivalente em reais e os gastos são

realizados no mercado nacional. Houve, portanto, uma liberação de reais

retidos pelo BaCen, que irrigarão o mercado monetário no País. Dizemos,

aqui, que ocorreu uma expansão de liquidez doméstica. Quando os

pagamentos externos são maiores que os recebimentos, o enxugamento é

maior que a expansão. Este processo é a contrapartida monetária doméstica

da perda de reservas internacionais para cobrir o décit do BP.

Pela mesma razão, o aumento das reservas representa uma expansão dos

meios de pagamento. De ato: os depósitos de moeda estrangeira superaram

os envios; a cada depósito, o BaCen libera moeda nacional e a cada envio, o

BaCen recolhe o equivalente em moeda nacional. Portanto, as liberações de

moeda nacional suplantaram os recolhimentos da mesma³.

Dessa orma, os fuxos cambiais também aetam os fuxos monetários

internos e devem ser considerados na política monetária.

Síntese

Nesta aula, você cou sabendo:

· Quais as principais transações econômicas de um país com o resto do

mundo e como são contabilizadas no Balanço de Pagamentos;

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191Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

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· O que são a Balança Comercial, a Balança de Serviços e Rendas, as

Transerências Unilaterias e o saldo de Transações Correntes do

BP;

· O que é o Movimento de Capitais Autônomos e como se compõe;

· O que são os Capitais Compensatórios, as duas modalidades possíveis

e o papel do FMI;

· A importância e os impactos da dívida externa e das reservas.

Na próxima aula, continuaremos analisando o setor externo da economia,

estudando a taxa de câmbio e seus impactos, as políticas de comércio

exterior e o atual ambiente internacional globalizado. Esperamos você lá!

Notas

1 - Houve também entrada de IDE por conta das privatizações da época,

gerando a polêmica tratada acima. Mas os investimentos em carteira

tornaram-se um elemento orte da Balança de Capitais durante todo o

período.

2 - Como estamos tratando de contas representadas em balanços, isto é,

registros de entradas e saídas, todas as reerências aos saldos também

podem ser eitas com o uso da expressão entradas líquidas. Isso signica

computar as entradas subtraídas das saídas. Exportações líquidas equivale

ao saldo da Balança Comercial (X-M); a entrada líquida de capitais é o mesmo

que o saldo da Balança de Capitais.

3 - Convém recordar que os recursos retidos no Banco Central não azem

parte dos meios de pagamento, embora sejam parte da base monetária.

Reveja a Aula 12 sobre esse ponto.