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1 Aula de Sapiência subordinada ao tema: O processo da construção da Democracia e da Paz em África, Trajectória, Especificidades e Desafios: o caso de Moçambique Por Edson da Graça Francisco Macuácua Doutorando em Direito; Doutorando em Paz, Democracia, Desenvolvimento Humano e Movimentos Sociais; Mestre em Direito; Mestre em Administração Pública; Mestrando em Direito dos Petróleos e do Gás; Consultor e Docente Universitário Maputo, 25 de Maio de 2018

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1

Aula de Sapiência subordinada ao tema:

O processo da construção da Democracia e da

Paz em África, Trajectória, Especificidades e

Desafios: o caso de Moçambique

Por Edson da Graça Francisco Macuácua

Doutorando em Direito; Doutorando em Paz, Democracia, Desenvolvimento Humano e Movimentos Sociais; Mestre em Direito; Mestre em

Administração Pública; Mestrando em Direito dos Petróleos e do Gás;

Consultor e Docente Universitário

Maputo, 25 de Maio de 2018

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2

I

1. Enquadramento Conceitual

1.1. O conceito de Democracia

A democracia no seu sentido clássico é um termo que tem o seguinte

significado etimológico: governo do povo (demos = povo; cracia = poder,

governo), cuja ideia geral, conforme Barreto (2006 p. 30-31)1

[...] sugere que o poder político é exercido por todos ou pela maioria,

que reúne condição de cidadania. Privilegia-se, no entanto, a participação

directa no processo de decisões políticas e os cidadãos dividem-se,

simultaneamente, nas condições de soberano e súbdito. Nesse caso,

ressalta-se que o evento histórico, que originou o termo, se refere à forma de

governo adoptada pelos atenienses, no século 500 a.C., e perdurou por 200

anos, até serem dominados pelo império macedónico2.

Seguindo a tradição schumpeteriana, um sistema político do século XX é

democrático na medida em que nele seus principais tomadores de decisões

colectivas sejam seleccionados através de eleições periódicas honestas e

imparciais era que os candidatos concorram livremente pelos votos e em que

virtualmente toda a população adulta tenha direito de voto. A democracia,

assim definida, envolve duas dimensões - contestação e participação - que

Robert Dahl considerou críticas para a sua democracia realista, ou

oligarquia. Implica também a existência daquelas liberdades políticas e civis

de expressão, publicação, reunião e organização, necessárias para o debate

político e para a realização de campanhas eleitorais3.

Estando em Viena, seria pretensioso ter que vir ao centro da Europa para

definir democracia. Seria, como se diz, vir ensinar o Pai Nosso ao vigário.

1 Ricardo Ossago de Carvalho, Que democracia? Uma perspectiva do estudo comparado dos

modelos da democracia, democratização e transição politica implementada nos países na

América Latina e África p.3 2 Ibdem

3 Samuel P. Hunting, a terevira onda, a democratização no final do século XX, Editora Atica

S.A, 1994, Pag. 17

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3

Como ignorar todo o percurso do pensamento europeu da democracia, do

Estado, desde Platão, passando pelo Maquiavel, Jean Bodin, Thomas

Hobbes, John Lockes, Emmanuel Kant, Jean-Jacques Rousseau, Benjamim

Constant de Rebecque, Tocqueville, Hegel, Max Weber e, por que não

Benedetto Croce, K. Marx, A. Gramsci, Rosa Luxemburgo. Não pretendo

altercar-me com o vigário, mas tão-somente dialogar com ele, até porque na

própria Europa consegue-se distinguir visivelmente uma democracia

francesa, da alemã e, possivelmente, da austríaca, porque são universos

culturais diferentes, reportando-me a Kabengele Munanga. Tomo aquela

coragem metódica de Axelle Kabou. Isto significa que, há alguns aspectos

gerais da democracia, na prática ela especifica-se de acordo a cultura do

povo. Isto justifica, por um lado, a necessidade e importância deste festival

cultural-científico de Viena para troca de experiências, como mútua

aprendizagem e, por outro lado, relativiza modelos de democracia, residindo

o seu valor por serem estruturas analíticas que ajudam o estudo das

relações entre uma série de variáveis da mesma democracia. Quero então

acreditar que seja possível uma democracia africana e, mais

especificamente, uma democracia moçambicana. Estou a dizer que

democracia é uma noção cultural. Este é o segundo desafio da democracia4.

O Professor Brazão Mazula5 chama a atenção para a necessidade de

considerar a dimensão cultural da democracia, e neste sentido admite que é

possível uma democracia moçambicana, aquela que tem em conta a cultura

e se faz com ela e, não tanto da democracia em Moçambique, que pode

consistir apenas na implantação de um modelo de democracia importado

ou, mesmo sendo originário de Moçambique, se restrinja apenas a algumas

camadas ou grupos sociais e económicos, na senda de uma democracia,

restrita a um determinado grupo social dos iluminados e para o benefício

próprio.

4 Idem. 5 Idem.

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Neste contexto Brazão Mazula6 define o conceito de democracia, no contexto

moçambicano, como capacidade e oportunidade de convivência social-

política-económica, na diversidade de ideias, opiniões e culturas, para a

realização de um desenvolvimento real, em cada tempo e lugar. A primeira

observação deste conceito é que a democracia se caracteriza por ser

essencialmente dialógica, numa “sociedade emancipada”.

Como se pode ver por este conceito supra, a democracia é ela própria um

desafio, porque começa a ser antes de tudo um processo de construção

interno. A própria sociedade moçambicana é chamada a ser capaz de fazer a

democracia e ser democrática, tendo em conta a sua cultura e a experiência

doutros povos. Ao mesmo tempo que trabalha a sua cultura, sublimando-a,

vai construindo uma cultura democrática necessária ao Estado de Direito7.

1.2. Modelos de democracia

De acordo com Arend Lijphart8, definir a democracia como “governo pelo

povo e para o povo” levanta uma questão fundamental: quem governará, e a

quais interesses deverá o governo atender, quando o povo estiver em

desacordo e as suas preferências divergirem? Uma resposta a esse dilema é

a de que prevaleça a maioria do povo. Esta é a essência do modelo

democrático maioritário. A resposta maioritário é simples e directa, e tem

um grande apelo, porque o governo pela maioria, é de acordo com os anseios

da maioria, deseja obviamente aproximar-se mais do ideal democrático do

“governo pelo povo e para o povo” do que o governo por uma maioria e

comprometido com esta.

Uma resposta alternativa é: prevalece a vontade do maior número de

pessoas. É este o ponto vital do modelo consensual. Ele não difere do

modelo maioritário, concordando em que é melhor o governo da maioria do

que da minoria9. Mas considera a exigência de uma maioria com um

6 Idem. 7 Idem. 8 Arend Lijphart, Modelos de Democracia, Rio de Janeiro, 2003, Pag. 17-19.

9 Idem.

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requisito mínimo: em vez de se satisfazer com mínimas maiorias, ele busca

ampliar o tamanho das mesmas. Suas regras e instituições visam a uma

ampla participação no governo e a um amplo acordo sobre as políticas que

este deve adoptar. O modelo maioritário concentra o poder político nas mãos

de uma pequena maioria, e muitas vezes, mesmo, de uma maioria simples

(plurality), em vez de uma maioria absoluta, como mostrará o capítulo 2 – ao

passo que o modelo consensual tenta compartilhar, dispersar e limitar o

poder de várias maneiras. Uma outra diferença, relacionada a esta última, é

que o modelo maioritário de democracia é exclusivo, competitivo e

combativo, enquanto que o modelo consensual se caracteriza pela

abrangência, a negociação e concessão. Por esta razão, a democracia

consensual poderia também ser chamada de “democracia de negociação”

(Kaiser, 1997: 434)10.

Dez diferenças relativas às mais importantes instituições e regras

democráticas podem deduzir-se dos princípios maioritários e consensual.

Pelo facto de que as características maioritárias derivam do mesmo princípio

e, por isso, apresentam uma conexão lógica, poder-se-ia também esperar

que elas ocorressem juntas no mundo real. O mesmo se aplica às

características do modelo consensual. Seria de se esperar que todas as dez

variáveis estivessem, por isso, intimamente relacionadas. As pesquisas

anteriores já confirmaram, em grande parte, essas expectativas, com uma

importante excepção: as variáveis agrupam-se em duas dimensões

nitidamente separadas11. A primeira dimensão reúne cinco características

da estrutura composta pelo Poder Executivo, pelos sistemas partidários e

eleitorais e pelos grupos de interesse. Para resumir, vou me referir a essa

primeira dimensão como dimensão executivos-partidos. Uma vez que as

cinco diferenças, na segunda dimensão, são normalmente associadas, em

sua maioria, ao contraste entre federalismo e governo unitário – assunto ao

qual deverei logo retornar –, chamarei a essa segunda dimensão de

dimensão federal-unitária.

10 Idem. 11 Idem.

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As dez diferenças são formuladas a seguir, em termos dos contrastes

dicotómicos entre os modelos maioritário e consensual. As cinco diferenças

na dimensão executivos-partidos são as seguintes12:

1. Concentração do Poder Executivo em gabinetes monopartidários de

maioria versus distribuição do Poder Executivo em amplas coalizões

multipartidárias;

2. Relações entre Executivo e Legislativo em que o Executivo é

dominante versus relações equilibradas entre ambos os poderes;

3. Sistemas bipartidários versus sistemas multipartidários;

4. Sistemas eleitorais maioritários e desproporcionadas versus

representação proporcional;

5. Sistemas de grupos de interesse pluralistas, com livre concorrência

entre grupos versus sistemas coordenados e “corporativistas” visando

ao compromisso e à concertação.

As cinco diferenças na dimensão federal-unitária são13:

1. Governo unitário e centralizado versus governo federal e

descentralizado;

2. Concentração do Poder Legislativo numa legislatura unicameral

versus divisão do Poder Legislativo entre duas casas igualmente

fortes, porém diferentemente constituídas;

3. Constituições flexíveis, que podem receber emendas por simples

maiorias, versus constituições rígidas, que só podem ser modificadas

por maiorias extraordinárias;

4. Sistemas em que as legislaturas têm a palavra final sobre a

constitucionalidade da legislação versus sistemas nos quais as leis

estão sujeitas à revisão judicial de sua constitucionalidade, por uma

corte suprema ou constitucional;

5. Bancos centrais dependentes do Executivo versus bancos centrais

independentes.

12 Idem. 13 Idem.

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De acordo com António Manuel Martins14, a teoria da democracia conheceu

um desenvolvimento notável nas últimas décadas numa proliferação

assinalável de modelos teóricos que nem sempre é fácil caracterizar. Aqui,

como noutros casos, não estamos perante uma teoria da democracia mas

sim perante muitas teorias da democracia. Por uma questão de orientação,

sem qualquer pretensão de classificação sistemática exaustiva, seguimos a

tipologia sugerida por Manfred G. Schmidt que distingue quatro grandes

famílias de teorias da democracia. Assim, teríamos que distinguir

basicamente quatro famílias de teorias da democracia: 1) teorias centradas

nos processos; 2) teorias centradas nas instituições e formas de

constituições democráticas; 3) teorias orientadas para o input e output num

esforço de síntese das três dimensões do político: forma, processo e

conteúdo; 4) teorias centradas nos pressupostos funcionais da democracia e

nas condições de transição para a democracia.

Habermas pertence ao grupo de autores que não identifica a democracia

com qualquer conjunto de mecanismos institucionais definindo-a pela

qualidade do processo de participação fundante de uma relação peculiar de

soberania popular. Podemos mesmo dizer que a sua conceptualização da

democracia aponta para uma superação do conceito tradicional de

soberania. Esta opção por uma definição da democracia mais simples

permite a concentração de todo o esforço teórico na característica fulcral a

tematizar mas comporta o perigo de idealização excessiva e uma dificuldade

real de integração de dados empíricos relevantes15.

Habermas introduz o seu modelo discursivo de democracia através de um

contraste entre duas alternativas muito estilizadas: o modelo liberal e o

republicano. Por outras palavras, estamos perante um esboço que tem como

pano de fundo uma esquematização do debate em termos típicos dos EUA.

Independentemente das limitações que esta escolha comporta, interessa-

nos, aqui, pelo que tem de constitutivo na configuração da compreensão

habermasiana da democracia discursiva e deliberativa. De facto, o seu

14 António Manuel Martins, Modelos de Democracia, in Revista Filosófica de Coimbra – nº

11 (1997). 15 Idem.

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modelo de uma democracia processual pretende, explicitamente, integrar as

características mais positivas dos dois modelos clássicos nos EUA. O

confronto com estes modelos passa pela articulação de alguns conceitos

fundamentais na teoria política: cidadania, direito e natureza do processo

político16.

A posição de Habermas aproxima-se bastante das concepções da

"democracia deliberativa" desenvolvidas nos EUA no contexto das teorias do

direito de inspiração republicana17. A proliferação de estudos em torno da

cidadania torna cada vez mais difícil uma orientação nesta área da reflexão

sobre a democracia. Este fenómeno resulta, em grande parte, da percepção

crescente das dimensões múltiplas das crises a que estão expostas as

democracias. Depois de uma fase de certa euforia neo-institucionalista nos

anos 80 multiplicam-se os sinais de desconfiança face às competências das

instituições democráticas. O interesse pelo cidadão vive da convicção de que

a resolução dos problemas nas democracias mais avançadas inclui

necessariamente um momento subjectivo18. Não admira que todas as

análises se concentrem cada vez mais no cidadão como categoria central

não só das teorias da democracia mas da teoria política das mais diversas

orientações ideológicas e programáticas19. Também Habermas partilha da

convicção generalizada de que a democracia só terá um futuro garantido

quando as sociedades democráticas forem capazes de produzir os actores

competentes para a criação das suas regras fundamentais.

O modelo liberal define o estatuto do cidadão, antes de mais, pelos direitos

negativos face ao Estado e aos outros cidadãos. Enquanto sujeito deste tipo

de direitos, o cidadão goza da protecção do Estado na medida em que se

confinar aos limites traçados pela lei. Direitos políticos e direitos civis teriam

a mesma estrutura. Os cidadãos ao defenderem os seus interesses através

16 Idem. 17 Idem. 18 Idem. 19 Idem.

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do voto, em vários processos eleitorais, estariam a agir de acordo com a

mesma lógica dos participantes num mercado20.

O modelo republicano, pelo contrário, conceptualiza o cidadão como sujeito

de direitos políticos. A liberdade do cidadão é positiva. Não significa,

primordialmente, protecção contra interferências na esfera privada mas sim

possibilidade de participação numa praxis comum21. Habermas faz a

caracterização do modelo republicano de tal modo que se toma difícil

distingui-lo de traços característicos da sua própria posição teórica22.

García-Pelayo (1986, p. 82-83) pressupõe três etapas na evolução das

formas democráticas. Entretanto, com intuito de esclarecer mais

rigorosamente os recursos categoriais utilizados aqui, torna-se necessário

incluir a democracia representativa partidária, como sucedânea do modelo

liberal de representação política que por sua vez excluía, e até mesmo

combatia, os partidos políticos. Isto posto, seriam estas as fases evolutivas

da democracia23:

a) Democracia directa – caracterizada pela identidade entre a acção dos

governantes e a vontade dos governados. Neste modelo, entre o povo

e o exercício do poder não há nenhum tipo de mediação política,

pois membros de grupo social deliberam directamente;

b) Democracia representativa – quando a identidade se transforma na

dualidade representante/representado. Nesta relação, somente a

vontade do representante terá valor jurídico como a vontade

expressa do representado. Modelo de representação política que

identifica-se com o próprio pensamento liberal clássico, remetendo

directamente à sua concepção de representação;

c) Democracia representativa partidária – em que o papel de

intermediação entre representantes e representados, passa a ser

desempenhado pelos partidos políticos. Evolução do modelo anterior

20 Idem. 21 Idem. 22 Idem. 23 Orides Mezzaroba, A crise do modelo liberal de representação e a construção da

democracia de Partidos, Constituição e Estado Social, Coimbra Editora, Coimbra, 2008.

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e que guarda com ele uma relação ao mesmo tempo de continuidade

e conflito; e

d) Democracia de partidos (ou Estado de partidos) – neste modelo, além

de mediar os interesses de órgãos representativos e dos

representados, os partidos também funcionam como factor decisivo

na mediação entre os cidadãos e os seus representantes, caso em

que estes últimos ficam submetidos ao mandato partidário, ou seja,

à vontade única é exclusiva do partido, pois considera-se a vontade

do individuo é inerente à vontade da organização partidária. Desta

forma, o representante perde o seu carácter de exclusividade na

actividade de representação “e, consequentemente, as eleições

adquirem um carácter plebiscitário”, já que o eleitor passa a

outorgar a sua confiança e a sua capacidade de decisão ao partido

como organização, e não aos candidatos apresentados por ele.

Entretanto, é necessário esclarecer que a presença do instituto da

representação política em determinado país não se constitui por si só

exclusiva garantia democrática. Com efeito, a existência mal ou bem

acabada dos mecanismos representativos pode ser vislumbrada em qualquer

modalidade de Estado, mesmo os não democráticos. O que torna um Estado

democrático não é, portanto, a presença de partidos políticos como órgãos

privilegiados na representação do cidadão junto as instâncias políticas

estatais, mas sim, e no mínimo, o comprometimento partidário com a

democracia, somado a sua capacidade de veicular a participação e as

demandas sociais às decisões políticas24.

Não existe, em parte alguma, democracia ideal à qual se oporia o carácter

excepcional de certas experiências democráticas. Existem, pelo contrário,

três tipos principais de democracia consoante qualquer destas três

dimensões ocupe um lugar preeminente25:

O primeiro tipo dá uma importância central á limitação do poder do

Estado pela lei e pelo reconhecimento dos direitos fundamentais.

24 Idem. 25 Alain Touraine, O que é a Democracia? Pag. 45-46.

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11

Estou tentando a dizer que este tipo é o mais importante

historicamente, mesmo que não seja superior aos outros. Esta

concepção liberal da democracia contenta-se facilmente com uma

representatividade limitada dos governantes, como se viu quando do

triunfo dos regimes liberais do século XIX, mas ela protege melhor os

direitos sociais ou económicos contra os ataques de um poder

absoluto, como mostra o exemplo secular da Grã-Bretanha.

O segundo tipo dá a maior importância à cidadania, à Constituição

ou às ideias morais ou religiosas que assegurem a integração da

sociedade e dêem um fundamento sólido às leis. A democracia

progride neste caso mais pela vontade de igualdade do que pelo

desejo de liberdade. O que melhor corresponde a este tipo é

experiência dos Estados Unidos e o pensamento daqueles que a

interpretaram: ele tem um conteúdo mais social que político, como

disse com veemência Tocquiville, que via os Estados Unidos o triunfo

da igualdade, quer dizer, do desaparecimento do homo hierarchius,

próprio das sociedades holistas, para falar a linguagem de Louis

Dumont.

Por último, um terceiro tipo insiste mais na representatividade social

dos governantes e opõe a democracia, que defende os interesses das

categorias populares, à oligarquia, quer esta esteja associada a uma

monarquia definida pela posse de privilégios quer esteja associada à

propriedade do capital. Na história política da França no século XX –

mas não no momento da Revolução – liberdades públicas e lutas

sociais estiveram mais fortemente associadas que nos Estados

Unidos e na Grã-Bretanha.

1.3. Princípio democrático e Estado de Direito

O artigo 3 da CRM, estabelece “A República de Moçambique é um Estado de

Direito, baseado no pluralismo de expressão, na organização política

democrática, no respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais do

Homem”.

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Democracia e Estado de Direito26 não se confundem. Houve democracia sem

Estado de Direito (a democracia jacobina, a cesarista, a soviética e, mais

remotamente, a ateniense). E houve Estado de Direito sem democracia (de

certo modo, na Alemanha do século XIX).

Mas a democracia representativa postula Estado de Direito. Postula-o pela

sua complexidade organizatória e procedimental, traduzida na separação de

poderes e no princípio da competência. Postula-o pela exigência de garantias

de direitos fundamentais: o direito de sufrágio e os demais direitos políticos

se valem em si mesmos pelo valor da participação, valem, sobretudo,

enquanto postos ao serviço da autonomia e da realização das pessoas27.

Não basta proclamar o princípio democrático e procurar a coincidência entre

a vontade política manifestada pelos órgãos de soberania e a vontade

popular manifestada por eleições. É necessário estabelecer um quadro

institucional em que esta vontade se forme em liberdade e em que cada

pessoa tenha a segurança da previsibilidade do futuro. É necessário que não

sejam incompatíveis o elemento objectivo e o elemento subjectivo da

Constituição e que, pelo contrário, eles se desenvolvam simultaneamente28.

Há uma interacção de dois princípios substantivos – o da soberania do povo

e o dos direitos fundamentais – e a mediatização dos princípios adjectivos da

constitucionalidade e da legalidade. Numa postura extrema de irrestrito

domínio da maioria, o princípio democrático poderia acarretar a violação do

conteúdo essencial de direitos fundamentais; assim como, levado aos

últimos corolários, o princípio da liberdade poderia recusar qualquer decisão

política sobre a sua modelação; o equilíbrio obtém-se através do esforço de

conjugação, constantemente renovado e actualizado, de princípios, valores e

interesses, bem como através de uma complexa articulação de órgãos

26 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional-Estrutura Constitucional da Democracia, Tomo VII, Coimbra Editora, 2007, Pag.67-68. 27 Idem 28 Idem

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políticos e jurisdicionais, com gradações conhecidas. Nisto consiste o Estado

de Direito democrático29.

1.4. Conceito de paz

A Peace research parte de interrogações radicais sobre as causas profundas

do conflito e sobre a totalidade dos passos necessários a causas superação,

incluindo as exigências de reestruturação social, seja no plano interno seja

no internacional, que antecipem a ausência plena de violência directa ou

indirecta. Subjaz a esta agenda de investigação a um concito amplo de paz.

Galtung postulou-o logo em 1964: paz negativa ou ausência de guerra e paz

positiva ou comunidade humano integrada e harmónica. Essa amplitude do

conceito de paz vem em relação directa com a amplitude conferida pelos

peace studies a violência: para la da violência pessoal ou directa, existe a

violência estrutural, resultante da desigualdade de poder e da injustiça

social. E ainda a violência cultural aquela que se traduz no sistema de

normas e comportamentos que legitimam socialmente as duas anteriores.30

Mais recentemente, Galtung sintetizou a amplitude do seu conceito de paz

na formula “Paz=paz directa+paz estrutural + paz cultural”. Formula que

viria a desenvolver em peace by peace fullmeans, de 1996:” A paz positiva

directa consistiria na bondade física e verbal, boa para o corpo, a mente eo

espírito do próprio e do outro; seria orientada para todas as necessidades

básicas, a sobrevivência, o bem-estar, a liberdade e a identidade. (…)31.

A paz positiva estrutural substituiria a repressão pela liberdade, e a

exploração pela equidade, reforçando-as com dialogo em vez de

fragmentação e participação em vez de marginalização. (…)32.

A paz positiva cultural substituiria a legitimação da violência pela

legitimação da paz na religião, no direito e na ideologia; na linguagem; na

29 Idem 30 PUREZA, José Manuel: Pag. 38-39. 31

PUREZA, José Manuel: Pag. 39 32

Ibdem

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arte e na ciência; nas escolas, universidades e média, construindo uma

cultura de paz positiva.”33

A abertura do conceito de paz na obra de Johan Galtung veio a ser ampliada

em etapas ulteriores de desenvolvimento dos estudos sobre a paz. Assim, de

acordo com a síntese de Linda Groff e Paul Smoker (1996:103), as décadas

de 70-80 assistiram a afirmação da perspectiva feminista do concito de paz,

centrada na abolição da violência praticada em microestruturas sociais

como alternativa a qualquer forma de violência, seja contra as pessoas seja

contra a natureza (a chamada tese Gaia dos estudos contexto dos estudos

sobre a paz deve ser lido com alguma cautela. Vale a advertência de

Galtung: “ a cultura da paz não e um conjunto de representações pacificas e

não violentas da realidade. O teste de validade de uma cultura da paz faz-se

no modo como ela afecta o comportamento num conflito. “Nesse sentido,

Galtung defende que “ a paz e a condição para transformar os conflitos de

modo criativo e não-violento. (…) A paz e um contexto para uma forma

construtiva de abordar um conflito (…).”34.

2. Relação entre a Paz e a Democracia

De acordo com uma visão credenciada na matéria, a democracia é uma

condição sine qua non na verificação da paz, sendo (quase) igualmente certo

que a paz se torna necessária para que a democracia possa subsistir35.

Assim, à partida, também a defesa da paz, enquanto valor universal, deve

associar-se à defesa da democracia, enquanto outro valor universal. Esta

constatação suportou a criação da, chamada, teoria da paz democrática,

cujo desenvolvimento terá ocorrido a partir dos anos 1960s. Na verdade, os

primórdios desta visão teórica, afirmando ser menos provável a ocorrência

de conflitos entre países democráticos, podem associar-se aos trabalhos de

alguns filósofos (políticos), em particular Thomas Paine (1776), Emmanuel

Kant (1795) e Alexis de Tocqueville (1835,1840)36.

33

Ibdem. 34

Ibdem 35 António Bento Caleiro, Paz e Democracia: De que forma estão relacionadas, Pag. 17-21. 36 Idem.

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15

Mais recentemente, a literatura sobre a paz e a democracia tem explorado as

várias dimensões associadas à paz e à democracia, bem como as suas

relações com outros aspectos, nomeadamente o desenvolvimento (Galtung e

Scott, 2008). A responsabilização (por tradução de accountability) dos lideres

que, de certa forma, desempenha um papel fundamental em Galtung e Scott

(2008) – aqui pode ler-se “One essential aspect of democracy is obviously rule

by rules making rulers accountable to the consent of the ruled.” – é também o

elemento essencial na explicação da paz democrática sistémica, por parte de

Bausch (2015)37.

De facto, a literatura tem vindo a apresentar resultados empíricos

suportando a existência do postulado na teoria da paz democrática.

Por exemplo, Hegre (2014) conclui que, de facto, os estados democráticos

apresentam uma menor propensão ao estabelecimento de conflitos armados

entre si.1 Esta já tinha sido também conclusão de Bennoit (1996). Por sua

vez, Gleditsch e Hegre (1997), desde logo, estudaram as relações entre a paz

e a democracia, a três níveis distintos: a nível da díade, a teoria da paz

democrática parece adequar-se (para um estudo que confirma este resultado

veja-se Dafoe et al., 2013); já a nível nacional, a relação entre a democracia

e a participação na guerra seria controversa; a nível internacional, os

autores mostraram que um aumento na democratização produz, de início,

mais guerra, existindo uma redução no nível de conflito somente a partir de

níveis superiores de democracia38.

Para uma aferição empírica de relação entre paz e democracia, pode-se

recorrer aos dados do Índice Global de Paz (Institute for Economics Peace,

2017) e do Índice de Democracia (The Economist Intelligence Unit, 2016),

correspondentes a 160 países (em todo o mundo). O Índice Global de Paz

(IGP) apresentou, em 2017, valores que variaram entre 1,111,

correspondente à Islândia (o país mais pacífico). Sendo um indicador

compósito, o IGP apresenta três dimensões, a saber39:

37 Idem. 38 Idem. 39 Idem.

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16

Conflitos Domésticos e Internacionais em Curso (por tradução de

Ongoing Domestic and International Conflict), a qual pretende ser um

indicador do número e intensidade de conflitos civis e internacionais;

Segurança Social (por tradução de Societal Safety and Security), a qual

pretende ser um indicador dos níveis de segurança num determinado

país, tais como a percepção da criminalidade na sociedade, o nível de

instabilidade política e as taxas de homicídios e outros crimes

violentos;

Militarização (por tradução de Militarisation), a qual pretende ser um

indicador da capacidade militar do país, quer em termos dos recursos

económicos alocados à actividade militar, quer em termos do suporte

a acções multilaterais.

Tendo em conta a natureza daquelas três dimensões – a qual se reflecte,

naturalmente, na forma de cálculo do IGP –, espera-se a existência de uma

correlação positiva entre elas (e entre o próprio IGP). De facto, conforme a

correlação é, somente, apreciável no que diz respeito ao par (Conflitos,

Segurança), sendo pouco apreciável no caso do par (Segurança,

Militarização), o que indicará que a militarização de um país não tem uma

correspondência quanto ao nível de segurança, tanto quanto se poderia

esperar, à partida. Deste ponto de vista, não surpreende a, relativamente,

baixa correlação da militarização com o valor do IGP, enquanto a mesma se

apresenta, claramente, elevada, no caso dos conflitos e da segurança40.

40 Idem.

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17

Fonte: Produção do autor, com base nos dados disponíveis em Institute for

Economics Peace.

Conforme a Figura 2 ilustra, grosso modo, os continentes europeu,

americano (sobretudo na parte norte) e da Oceânia apresentam os maiores

níveis de democracia, enquanto os continentes asiáticos

(em particular a zona do Médio Oriente) e africano apresentam os menores

níveis de democracia.

Tal como o IGP, o ID é um indicador compósito, o qual compreende as

seguintes dimensões41:

Processo Eleitoral e Pluralismo (por tradução de Electoral process and

pluralism);

Funcionamento do Governo (por tradução de Functioning of

government);

Participação Política (por tradução de Political participation);

Cultura Política (por tradução de Political culture);

Liberdade Civil (por tradução de Civil liberties).

Conforme a Tabela 2 ilustra, a existência de liberdade, de um processo

eleitoral justo e plural, e de um correcto funcionamento do Governo, são as

dimensões que mais se associam ao nível de democracia. Quanto à cultura

41 Idem.

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18

política, é a dimensão democrática que menos se correlaciona com as

restantes (e, naturalmente, com o próprio ID).

Dado que os dados para o ID dizem respeito a 2016, importa utilizar

também os dados do IGP para este mesmo ano, os quais se apresentam na

Figura 3. A sua semelhança, em termos visuais, com a Figura 1 confirma a

forte inércia no IGP (neste caso, entre 2016 e 2017, cuja correlação é de,

aproximadamente, 99,4%). De facto, os mesmos países, Islândia, com 1,192,

e Síria, com 3,806, eram, respectivamente, os países mais e menos pacíficos,

em 216, tal como em 201742.

Figura 3: O Índice Global de Paz (2016).

Fonte: Produção do autor, com base nos dados disponíveis em Institute for

Economics Peace.

42 Idem.

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Figura 4: A relação entre a Paz e a Democracia).

A Figura 4 comprova que a paz e a democracia se apresentam positivamente

correlacionadas. O coeficiente de correlação é, em termos absolutos, de

64,27%, sendo este um valor, eventualmente, abaixo do esperado. De facto,

a elevada dispersão correspondente ao grupo de países menos democráticos,

resulta numa correlação menos elevada do que seria expectável43.

Na sequência do que imediatamente atrás foi dito, procedeu-se à

determinação de dois clusters de países no que diz respeito aos pares de

valores assumidos pelo IGP e ID. O resultado desta análise pode ser

visualizado na Figura 4, em que o clusters 1 corresponde aos países cuja

sigla está representada a cinzento claro, enquanto o cluster 2 corresponde

aos países cuja sigla está representada a cinzento escuro6. De salientar é o

facto de a partição dos clusters se fazer do nível de democracia, i.e. para

43 Idem.

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valores, sensivelmente, superior (resp. inferior) a 5,5, o país é classificado

como pertencente ao cluster 1 (resp. 2)44.

Feita a partição dos países naqueles dois clusters, é imediato verificar que,

em ambos os clusters, a paz e a democracia se apresentam positivamente

correlacionadas, mas que esta correlação é substancialmente mais elevada

no grupo de países mais democráticos. Na verdade, o coeficiente de

correlação entre o IGP e o ID é, em termos absolutos, de 59,33% e de

33,76%, respectivamente, no clusters 1 e no cluster 2. Significa isto que, se

o país for suficientemente democrático, um aumento no nível de democracia

associa-se, em termos gerais, a um aumento no nível de paz. No que diz

respeito ao grupo de países menos democráticos, tal associação também é

verdade, mas de forma muito menos robusta45.

Tendo em conta aquele resultado, é interessante referir que em Bausch

(2015) se concluiu que, abaixo de um determinado limiar, um aumento na

democracia não tem um efeito (peremptório) no conflito, enquanto acima

daquele limiar, aquele aumento (na democracia) associa-se a uma

diminuição nos conflitos. O estudo de Binningsbo (2013), em certa medida,

ajuda também a compreender porque a correlação entre a paz e a

democracia não é também ‘forte’ quanto se pudesse pensar. De facto,

conforme se chama a atenção naquele estudo, um aumento do grau de

democratização, por via de uma maior partilha de poder (por tradução de

power-sharing) pode não significar (necessariamente) uma redução nos

níveis de conflito, sobretudo a nível internacional. Podemos também

aproveitar o resultado de Gartzke e Weisiger (2013) – o qual, reconheça-se,

questiona a validade dos princípios da paz democrática, qualquer que seja o

nível de democratização – para entender melhor este resultado. A níveis

mais baixos de democracia, as suas diferenças serão maiores, logo os seus

interesses serão mais discordantes, o que se associa a maiores diferenças no

estabelecimento de conflitos, enquanto, a níveis mais elevados de

44 Idem. 45 Idem.

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democratização, as suas diferenças serão menores, logo os seus interesses

mais concordantes, o que se associa a uma menor propensão ao conflito46.

De acordo com Miguel de Brito47 o recurso à violência traduz a incapacidade

dos protagonistas construírem consensualmente as regras de base da

convivência democrática nas condições específicas de Moçambique. o

desafio da paz em Moçambique é, na realidade, o desafio da democracia e

inclusão. Miguel de Brito defende que o Acordo Geral de Paz assinado em

Roma e o processo de transição política que se lhe seguiu, apesar de terem

introduzido elementos de democratização na sociedade moçambicana, foram

insuficientes para garantir um progresso significativo na construção

democrática do país; num segundo momento, caracterizamos de forma

sintética o itinerário histórico mais recente da Frelimo, da Renamo e do

Movimento Democrático de Moçambique (MDM), os três partidos com

representação parlamentar que dominam a cena política, para ilustrar as

dificuldades de convivência pacífica entre eles; por fim, analisamos a

emergência da sociedade civil e a lógica da recomposição do campo político

moçambicano48.

Para Brazão Mazula49, a paz, a estabilidade social-política-militar, em

Moçambique, estaria condicionada, cumulativamente, ao exercício

democrático do poder, que implica a participação activa e responsável do

cidadão e das forças políticas, num ambiente multipartidário, de gestos e

acções concretas de reconciliação nacional, à realização regular das eleições

gerais multipartidárias. Reside aqui o primeiro desafio da democracia50: que

a democracia não é tão-somente a tomada legítima do poder, a manter-se

somente pela força da lei e ordem, numa perspectiva policial da estabilidade

social, mas, sobretudo, consiste no exercício democrático desse poder.

46 Idem. 47 Miguel de Brito, Uma Reflexão sobre o desafio da paz em Moçambique, 2014. 48 Idem. 49

Brazão Mazula, A construção da democracia em África: o caso moçambicano, Ndjira

editora, Maputo, 2000, Pag. 45-48. 50 Idem.

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3. As diferentes fases da democratização

De acordo com Schneider e Schmitter (2004), o processo de

democratização apresenta três componentes: a) a liberalização da

autocracia; b) a transição democrática e c) consolidação da democracia51.

3.1. Primeira fase da democratização: liberalização política

Para Schneider e Schmitter (2004), a liberalização é um termo muito

utilizado e bem aceito nos discursos académicos e políticos. Apesar das suas

diferentes perspectivas, os autores abarcam somente a sua dimensão

política, sendo essa abordagem o foco da liberalização adoptado na presente

tese. Para medir a liberalização da autocracia, eles sugerem sete

indicadores, sendo eles52:

a) O regime realiza concessões públicas significativas no nível dos

direitos humanos;

b) O regime não tem (ou quase não tem) prisioneiros políticos;

c) O regime demonstra crescente tolerância pela dissidência/ oposição

pública de grupos sociais ou de organizações formais/ informais (por

exemplo: partidos, associações ou movimentos);

d) Existe mais de um partido político independente legalmente

reconhecido;

e) Existe pelo menos um partido de oposição reconhecido no

Parlamento ou na Assembleia Constituinte;

f) Existem sindicatos ou associações profissionais que não são

controlados por agências estatais ou partidos governantes;

g) Existe uma imprensa independente e acesso a fontes alternativas de

informação que são toleradas pelo governo.

51

Thais de Oliveiras Queiroz, Tese de Doutorado, Trajectória democrática e estratégica de

liberalização politica: A Evolução da democracia nos países Africanos de língua oficial

portuguesa no pós-guerra fria, 2017, Pag.31. 52 Idem, Pag. 32.

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23

3.2. Segunda fase da democratização: transição democrática

Schneider e Schmitter (2004) afirmam que o final da transição

democrática ocorre com a presença de dois fenómenos principais, a saber: a)

realização das primeiras eleições presidenciais (“founding elections”) e b)

formulação e ratificação de uma nova Constituição ou de mudanças

constitucionais (SCHNEIDER; SCHMITTER, 2004). Esses dois componentes

foram observados nos cinco PALOP, o que permite assumir que todos eles

concluíram os seus processos de transição democrática. Contudo, os

resultados dessas transições foram distintos para cada um desses países,

com alguns se tornando democráticos enquanto outros permaneceram

autocráticos. Visando a mensurar a transição democrática, os referidos

autores construíram oito indicadores que demonstram aspectos importantes

que devem ser alcançados pelos países que estão realizando a sua transição

para a democracia, sendo eles53:

a) Existência de negociações públicas entre movimentos

sociais/políticos de oposição e o regime em vigor;

b) Existência de conflitos abertos dentro do aparato administrativo do

Estado sobre políticas públicas e o seu reconhecimento pelo governo;

c) Introdução de mudanças formais legais que tem como objectivo

limitar o uso arbitrário de poder pelo regime;

d) Introdução de mudanças constitucionais ou legais que eliminam o

papel de “non-accountable powers” de grupos de veto;

e) Uma constituição que tenha sido redigida e ratificada que garanta

igualdade de direitos políticos e de liberdades civis a todos os cidadãos;

f) Realização de “founding elections”;

g) As “founding elections” devem ser livres e justas e

53 Idem, Pag. 34-35.

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h) Os resultados das “founding elections” devem ser amplamente

aceitos.

3.3. Terceira fase da Democratização: a consolidação da

democracia

Desse modo, e sempre ao utilizar Dobry, a consolidação democrática

vem a ser a fase na qual o valor desses recursos (valor potencialmente

redefinido pela confrontação desses recursos) estabiliza- se e predomina.

Dito de outra maneira, a consolidação e a fase em que o valor dos recursos

jurídicos proporcionados pelo arranjo institucional nascido da transição?

Firma-se em relação ao valor dos outros recursos, porque esses recursos

jurídicos terão demonstrado as elites politicas (mas também económicas,

militares, culturais - ai reside uma nítida diferença com as teses de Juan

Linz) e aos simples indivíduos (outra grande divergência com Linz) sua

capacidade de assegurar uma ordem politica socialmente aceitável54.

Em outras palavras, a consolidação é esse momento (de duração

variável) no qual o pessoal politico e o essencial da população são levados a

depositar sua confiança nas instituições, nas relações inter e intra-

institucionais (principalmente naquelas que organizam as modalidades da

redistribuição periódica dos postos de poder no seio do Executivo e do

Legislativo, nos níveis local e nacional, e naquelas encarregadas de fazer

respeitar essas modalidades), com base no "valor de ordem" que nelas

reconhecem-"55.

A consolidação é um quíntuplo processo cujas fases combinam-se e

nutrem-se umas das outras: 1) valorização desse tipo de recurso (processo

já iniciado no fim da transição); 2) objectivação da superioridade

progressivamente construída e atribuída ao valor desses recursos; 3)

aprendizagem desse valor em via de estabilização e já parcialmente

objectivada; 4) aumento dos usos tácticos desses recursos mais e mais

legítimos, e 5) rotinização de seu uso. Essa naturalização do valor e dos

usos dos recursos permite ao regime ser tendencialmente percebido 54 Stephane Monclaire, Democracia. Transição e consolidação: precisões sobre conceitos

bestializados, Universidade de Paris I p.68-69. 55 Idem

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25

Como necessário e contribui assim para sua estabilidade56.

II

4. A Democratização do Estado Africano

4.1. O contexto envolvente e condicionante do processo da

democratização em África

O processo da construção da democracia em África, está intrinsecamente

ligado ao processo histórico de criação e desenvolvimento dos Estados e

Nações Africanas e é condicionado por factores de ordem histórica, política,

económica, social e cultural nomeadamente:

1. As fronteiras físicas dos Estados africanos foram definidas pelas

potências colonizadoras, na base de uma lógica de interesses

económicos exógenos;

2. Enquanto na Europa, foram as Nações que deram origem aos

Estados, no caso africano, o processo foi inverso, foram os Estados

que constituíram as Nações. O projecto de Nação, é um projecto

político, do Movimento da Libertação, que depois transforma-se em

projecto do Estado, um estado configurado sem o respeito pela

configuração cultural das sociedades africanas sendo por isso nações

ainda em processo de consolidação;

3. Os condicionalismos dos parceiros externos de cooperação nos

processos políticos internos, tem levado a que os ciclos de

transformações políticas, mesmo quando endógenas, nem sempre são

isentos de pressões e condicionalismos externos;

4. As guerras, conflitos, as crises e instabilidade política que assolaram o

continente, influenciam algumas opções políticas adoptadas em

contextos de pressões de negociações em que a urgência da busca da

paz, nem sempre permite a necessária serenidade para escolha das

melhores opções;

56 Idem

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26

5. A tendência de padronização de modelos políticos, deixando pouca

margem para o exercício soberano interno de construção de modelos

políticos endógenos ajustados às condições políticas, económicas,

sociais e culturais dos países africanos;

6. As condições económicas dos países africanos, que não produzem o

suficiente para o seu consumo, não produzem receitas públicas

suficientes para fazer face ás suas despesas o que afecta a soberania.

4.2. A descentralização e a reforma do Estado em África

4.2.1. Contexto e Principais Questões

Se considerarmos a sua localização geográfica (em diferentes sub-regiões)

no continente ou a sua cultura administrativa (Francófona, Lusófona,

Arabófona, Anglófona) o estado Africano pós-colonial sofre de um défice

de legitimidade que se manifesta por dificuldades reais em garantir a

coesão e estabilidade no seu seio, e para atender às necessidades

incompressíveis da sua população. Consequentemente, existe um

desfasamento entre as realidades institucionais do Estado e a dinâmica

das sociedades. A crise do Estado em África tem como base várias

causas, incluindo o facto de57:

O estado pós-colonial é um modelo importado cuja implementação em

África muitas vezes ignorou a necessidade de se adaptar à

personalidade sociocultural das sociedades e a participação das

populações na sua construção;

O estado pós-colonial foi monopolizado e pervertido pelas elites

políticas que esvaziaram o modelo importado da sua substância,

desviando o seu espírito e sentido, transformando a sua vocação e

seus poderes através da gestão patrimonial dos assuntos públicos;

O estado pós-colonial está emaranhado numa crise económica que

persiste e tem vindo a aumentar desde os anos 70, e que limitou

severamente sua capacidade de intervenção a favor das exigências

57Lttp://jaga.afrique-governence.net, memorando do workshop 3.

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27

sociais e do desenvolvimento;

O estado pós-colonial instalou-se numa dependência ideológica e

financeira resistente e perniciosa relativamente aos países

estrangeiros. Face às suas dificuldades internas, favoreceu o encontro

com o exterior (instituições financeiras internacionais, antigas

potências coloniais, a doutrina liberal) em detrimento da mobilização

das populações e da pesquisa de soluções endógenas;

O estado pós-colonial evoluiu num sistema fechado (democracia

formal, e abordagem partidária), que teve frequentemente, como meio

de acção contra as aspirações e demandas do povo, a coerção e a

violência.

Hoje em dia, a relação entre o Estado pós-colonial e as sociedades

africanas parece entrar numa terceira fase (com a esperança da

independência, a rejeição da crise, o interesse renovado com a "onda de

democratização" e da "Primavera Árabe"). Para reforçar esta tendência, o

Estado Africano deve ser reinventado para ser58:

– Um Estado visionário e inteligente. Deve ser capaz de visão, ou seja,

fora da influência do curto prazo e da lógica da emergência, dar-se a um

projecto colectivo, inclusivo a longo prazo, assegurando ao mesmo tempo a

coerência da sua acção;

- Um Estado capaz de gerir e resolver as crises sociais, económicas,

ecológicas, com meios de regulação por vezes ancorados nos valores e

mecanismos das sociedades africanas, integrando valores universais e os

mecanismos internacionais para a resolução de crises;

– Um Estado capaz de atender às necessidades das populações e de lhes

oferecer perspectivas e oportunidades para o desenvolvimento

socioeconómico, cultural, científico, etc.;

– Um estado inclusivo que envolve todos os seus componentes na decisão,

e cuja acção é benéfica para todos;

58Ibidem

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28

– Um Estado que opera com base em princípios fundamentais como o

consenso, a solidariedade, a justiça e a transparência.

A construção deste Estado deve ser alimentada por uma verdadeira

prospectiva dinâmica e uma reflexão constante - com a instituição do "think

tank" ou "ideia de negócio” - que vai além de curto prazo dos mandatos

políticos e seus objectivos de manutenção do poder59.

4.2.2. A necessidade de reinvenção do Estado Africano através da

descentralização

No processo das reformas, a descentralização é o caminho a seguir.

Precisamos de reformar o Estado, de modo que Moçambique seja um Estado

unitário descentralizado, uma descentralização que reforça a unidade

nacional, a paz, a coesão nacional, o desenvolvimento e a partilha de

oportunidades. Uma descentralização que promova a eficácia e a eficiência

no funcionamento do Estado. Uma descentralização que sem ignorar os

padrões internacionais, assenta na realidade histórica, política, económica,

social e cultural específico de Moçambique. O processo da descentralização

é mais do que uma reforma legal, é uma reforma política, uma reforma

constitucional, uma reforma do Estado, que deve ser inclusiva, gradual que

não deve fraccionar o Estado, mas sim consolidar a unidade nacional, a

coesão social, a paz, a estabilidade, a inclusão e o bem-estar.

Tendo em conta o processo histórico da criação da Nação entende-se que

durante o processo da fundação do Estado em África, a centralização era o

garante da unidade e da coesão nacional, porém, na actual fase do

desenvolvimento do Estado de Direito Democrático, o paradigma inverteu-

se, pois a descentralização afigura-se o garante da unidade e da coesão

nacional, pois permite a participação e representação de todos actores

políticos, sociais e económicos.

No entanto, se a descentralização em África vem como auxílio, deverá ser na

condição de ser um projecto de uma nova sociedade com uma visão

59Ibidem

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29

compartilhada e um entendimento comum das questões, um projecto

eminentemente colectivo, inclusivo e virado para o futuro60:

– Que inclui todos os componentes da sociedade, do Estado ao indivíduo,

na sua concepção e na sua implementação (superando a concepção

administrativa e tecnicista de descentralização como é praticada hoje);

– Que visa mudanças profundas na vida social, política, económica,

cultural, ambiental, etc. (Que não se limita a uma simples transferência de

competências e de recursos entre o Estado e as autoridades locais);

– Que sirva para alavancar uma verdadeira política de planeamento do

território e de desenvolvimento económico local (convergência entre o

Estado, as autoridades locais e o sector privado, levando a grandes

investimentos, bem como equipamentos estruturantes);

– Que reflicta e afecte o novo papel do Estado refundado e suas relações com

os atores, territórios e recursos de toda a ordem (que não se reduza, por um

lado, à resistência dos funcionários públicos e do poder político ameaçado, e

por outro, às colectividades locais);

– Que seja uma descentralização multi-nivelada (autoridades locais base,

e autoridades locais intermediárias entre estas e o Estado), de modo a levar

em conta a relevância de todos os níveis e conseguir uma relevante

cooperação e complementaridade eficaz entre elas;

– Que não seja um modelo a ser replicado em todos os países, mas que

cada estado faça a sua própria descentralização de acordo com a sua

própria realidade, e os seus objectivos específicos.

Para garantir uma maior eficácia e eficiência na actuação do Estado no

contexto do aprofundamento da descentralização e desconcentração, é

fundamental a consagração gradual do princípio da subsidiariedade.

Em termos gerais, o significado e a finalidade do princípio da

subsidiariedade residem na concessão de um determinado grau de

60Ibidem

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autonomia a uma autoridade subordinada a uma instância

hierarquicamente superior, nomeadamente de uma autoridade local ao

poder central, o que implica, portanto, uma repartição de competências

entre diversos níveis do poder61.

A essência da subsidiariedade é a busca da eficácia, efectividade e eficiência

do Estado, isto é, garantir que as decisões sejam tomadas o mais próximo

possível do cidadão, isto é, o Estado, os órgãos centrais, mantem sob sua

alçada as atribuições e competências que só podem ser melhor

desempenhadas por si e descentralizam para o nível local, e para outras

entidades não-governamentais (sociedade civil e sector privado), as

atribuições e competências que podem melhor ser desempenhadas por estas

para melhor servir com efeito, a solidariedade e a subsidiariedade são os

principais orientadores para o bem-estar, justiça social e uma actividade

económica sustentável na medida em que por um lado a solidariedade faz

com que a economia de mercado volte sempre a ser legitimada a partir da

sua orientação pelo bem comum e por outro lado a subsidiariedade cria e

garante espaço para a iniciativa e responsabilidade autónoma62.

III

5. O caso de Moçambique

5.1. Enquadramento histórico do processo da democratização em

Moçambique

Moçambique conquistou a Independência Nacional a 25 de Junho de 1975,

depois de uma luta de libertação nacional, desencadeada sob a liderança da

FRELIMO, iniciada a 25 de Setembro de 1964.

A FRELIMO, foi fundada a 25 de Junho de 1962, fruto da fusão entre

três movimentos: a UDENAMO, MANU, e UNAMI. A fusão dos três

movimentos, representou um ponto culminante de um processo de

61Www.europarl.europa.eu 62Konrad Adenamer Stiftung, Princípios para o bem-estar, justiça social e uma actividade

económica sustentável.

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31

resistência secular anticolonial dispersa que conheceu várias fases, desde a

resistência à penetração colonial, a resistência a ocupação efectiva até as

manifestações protonacionalista consubstanciadas em movimentos

associativos, literários, de imprensa, de operários e camponeses.

A Conferência constitutiva de 25 de Junho de 1962, mais do que

representar a fusão entre os três movimentos, simbolizava a união de um

povo, que antes lutava disperso, numa única frente e com um objectivo

comum: conquistar a Independência Nacional.

Com a proclamação da Independência Nacional a FRELIMO instituiu

um sistema político de partido único, adoptou a via de orientação socialista,

marxista, leninista que foi formalmente adoptada pelo III Congresso da

FRELIMO em 1977, e consagrada de forma expressa na Constituição da

República Popular de Moçambique na revisão de 1978, através da Lei nº

11/78, de 16 de Agosto.

Com a realização do IV Congresso da FRELIMO em 1983, inicia um

processo de reformas do Estado que consubstanciam a marcha do processo

de construção de uma nova República, de um Estado de Direito

Democrático, multipartidário e da economia de mercado que conheceu as

seguintes fases, a fase de abertura diplomática (para o ocidente), abertura

religiosa, a abertura económica e a liberalização da economia e a abertura

politica com o processo de revisão constitucional que culmina com a

introdução do multipartidarismo em 1990 e a assinatura do acordo geral de

paz em 1992.

A realização do V Congresso da FRELIMO marca o início de uma etapa

decisiva no processo de transição democrática, a abertura politica, com a

adopção da Constituição de 1990 que institui o Estado de Direito

Democrático, o multipartidarismo e consagra formalmente a economia de

mercado.

A adopção da Constituição de 1990, a Constituição multipartidária,

criou bases para uma nova fase de negociação com a RENAMO que culmina

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com assinatura do Acordo Geral de Paz, (AGP). A adopção da Constituição

de 1990, representou um marco decisivo para o processo da democratização

e sobretudo de busca de paz por três motivos:

-Primeiro, ao nível da opinião pública nacional e internacional,

esvaziou o fundamento que era evocado pela RENAMO, de que lutava pela

democracia, contra o marxismo, pois com a instauração constitucional do

Estado de Direito Democrático do multipartidarismo e da economia do

mercado este argumento ficou esvaziado como fundamento para a guerra;

-Segundo, Permitiu que o Estado moçambicano pudesse reconhecer a

RENAMO, que no sistema de Partido único não poderia ser reconhecido.

-Terceiro, permitiu que a RENAMO reconhecesse o Estado

Moçambicano, os seus órgãos e a ordem pública instituída.

O reconhecimento recíproco entre o Governo e a RENAMO era uma

condição básica para as negociações para o alcance da Paz em Moçambique,

portanto as negociações decorriam numa base em que se reconhecia o

Estado Moçambicano e a ordem constitucional.

Este reconhecimento recíproco permitiu que as negociações não partissem

de um paradigma zero, e tivessem como referência o quadro constitucional

reconhecido pelas partes em negociação e consequentemente, o respeito pelo

Estado e seus órgãos.

5.2. Contexto da Independência de Moçambique e a Unidade Nacional

A independência nacional verifica-se e consolida-se numa excepcional

conjunção de factores63:

1º. Moçambique nascia em resultado de uma vitória político-militar sobre

um país da Europa que, embora pequeno, beneficiava do apoio da

NATO e representava aos olhos do povo africanos a arrogância, o

63 José Luís Cabaço, Pag. 83.

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poder, a riqueza e a superioridade científica e tecnológica daquele

continente;

2º. A derrota portuguesa em África (e neste caso, em Moçambique) não

era porém um facto isolado: no sudeste asiático a maior potência

mundial sofria igualmente uma humilhante derrota militar que

introduzia, no panorama internacional, uma alteração nos equilíbrios

tradicionais;

3º. A grande potência regional, a África do Sul racista, não conseguia os

seus intentos em Angola, poucos meses após a independência de

Moçambique e a presença militar cubana era vista como um escudo

de protecção contra o perigo global do “apartheid”;

4º. A solidariedade política e material com os países em desenvolvimento

alargava-se em todo o mundo e mesmo os governos ocidentais, nas

próprias políticas ou no quadro das organizações internacionais,

iniciavam vastos programas de ajuda económica e cooperação,

procurando evitar que as forças políticas de esquerda e os países

socialistas assumissem o monopólio desta solidariedade.

Forte dessa unidade, confundindo o entusiasmo com consciência política, o

poder que se institui, se bem que portador de uma natureza popular,

teorizou o autoritarismo de Estado e a repressão de interesses e ideologias

divergentes ou dissidentes assim como das suas formas de expressão social.

As causas fundamentais disto residem na sua própria caracterização e

nomeadamente64:

a) A génese militar da formação política da maioria dos seus quadros;

b) A autoridade de que o poder fora investido pela luta de libertação

nacional e o carácter fortemente carismático do seu líder;

c) A coerência anticolonialista que determina a necessidade de mobilizar

a população para o apoio activo às lutas de libertação dos povos

vizinhos da região;

d) A urgência de o novo poder se consolidar num contexto geopolítico

hostil;

64 Idem, Pag. 84.

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e) O inevitável choque entre a experiência rural e camponesa, de que o

poder era portador, e a complexidade da sociedade urbana;

A unidade nacional que se começara a consolidar durante a luta pela

independência baseara-se na formação e transformação de todos os

indivíduos, mulheres e homens, em combatentes da liberdade, contra o

inimigo comum e com a disciplina, o comportamento e os princípios da

Frente de Libertação de Moçambique65.

Trata-se, assim, de uma unidade nacional concebida, não como baseada no

respeito pela diferença e na busca de denominadores comuns, mas como a

convergência de todos na forma superior de identidade que nasce da

experiência fundamental da libertação66.

A coesão da sociedade, no pensamento do poder, deveria realizar-se, através

do conceito de “ditadura da aliança operário-camponesa”, pela

uniformização de todos os interesses sociais aos interesses das camadas

trabalhadoras67.

A prática da luta anticolonial e do momento da independência parecia

demonstrar que, com uma forte motivação e uma direcção clara e incisiva,

era possível ultrapassar alguns dos factores que, na análise da FRELIMO,

constituíam obstáculos ao progresso e ao desenvolvimento68.

Esta visão impositiva e voluntarista mergulhava as suas raízes na

experiência de luta de libertação nacional, ainda recente, a qual havia

marcado profundamente o movimento e a sua direcção. Dois aspectos desta

experiência tiveram influência decisiva nesta fase inicial da independência69:

1º. A Frente de Libertação de Moçambique saíra, há poucos anos, de uma

confrontação ideológica interna que tinha afectado a luta e provocado

graves cisões. Os protagonistas dessa crise reapareciam no panorama

político do país e o poder receava que eles buscassem apoios étnicos

65 Idem 66 Idem 67 Idem, Pag. 85. 68 Idem 69 Idem

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ou regionais e pudessem representar interesses externos importantes,

em particular os interesses dos colonos portugueses ou dos regimes

racistas vizinhos.

2º. A experiência de uniformização político-militar que havia sido levado a

cabo no campo militar de Nashingwea marcara profundamente a

geração da luta de libertação nacional. O “espírito de Nashingwea”

imprimira um impulso decisivo na libertação do país e dera a

sensação de que se havia criado uma real alternativa às injustiças da

sociedade moçambicana sob o jugo da dominação portuguesa.

A tentativa ensaiada de estender o modelo de vida de Nashingwea às zonas

libertadas de Moçambique tinha respondido positivamente a uma exigência

estratégica fundamental dos jovens guerrilheiros: a de organizar a vida da

população em formas alternativas à organização social do colonialismo,

facilitando deste modo uma ruptura global com o passado e com o inimigo70.

6. As fases do processo da democratização em Moçambique

Em Moçambique o processo conheceu duas fases, a primeira de uma

democracia monopartidária de 1975 a 1990 e a segunda de 1990 com a

introdução do Estado de Direito Democrático e de multipartidarismo.

As primeiras eleições no sistema monopartidário tiveram lugar em 1977.

No contexto Moçambicano falar da democratização, significa falar do

processo da passagem do sistema de Partido Único para um sistema de

democracia representativa, isto é, para a liberalização político e económica

que leva à instauração de um Estado de Direito Democrático e

Multipartidário, e da economia de mercado

Em Moçambique o processo da democratização conheceu os seguintes

momentos:

1975 – A Proclamação da Independência Nacional e a instauração de

um sistema político de Partido-único no modelo de democracia de

70 Idem

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inspiração soviética de um Estado monopartidário, centralizado e de

orientação socialista;

1977 – A adopção pelo III Congresso da FRELIMO do Marxismo-

Leninismo como ideologia do Partido e do Estado;

As primeiras eleições monopartidárias, realizou-se em 1977 e foram

regulados pela Lei nº 1/77, de 1 de Setembro e obedeceram ao

seguinte calendário:

Eleições das Assembleias de Localidade, de 25 de Setembro de 1977 a

13 de Novembro de 1977;

Eleições dos Deputados à Assembleia Popular, entre os dias 1e 4 de

Dezembro de 1977.

Estas eleições permitirão a constituição da Assembleia Popular em 1978,

que substituiu a Assembleia Provisória instalada de 1975 e assumiu os

poderes constituintes que até então eram exercidos pelo Comité Central da

FRELIMO nos termos do disposto no artigo 70 da Constituição de 1975.

A abertura diplomática para o ocidente, que inicia em 1982 com as

visitas do Presidente Samora Machel, aos países ocidentais e a

assinatura do acordo de Nkomati;

A abertura ou liberalização económica, a partir de 1983/84, com a

realização do IV Congresso da FRELIMO e a adesão de Moçambique ao

Banco Mundial, e ao FMI, e adopção do Programa de Reabilitação

Económica e de reajustamento estrutural;

A abertura religiosa que leva à distensão na relação entre o Estado e

as confissões religiosas, no reconhecimento pela liberdade religiosa e

com a abertura para o envolvimento das confissões religiosas no

processo de busca da paz e de reconciliação nacional. O processo de

reconciliação entre o Estado e as confissões religiosas inicia na

reunião da Direcção máxima do Partido e do Estado que teve lugar de

14 a 17 de Dezembro de 1982, onde o Estado reconheceu o papel da

confissões religiosas, a liberdade religiosa e definiu-se mecanismos

para institucionalização do relacionamento entre o Estado e as

religiões;

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A abertura ou liberalização política, com a realização do V Congresso

da FRELIMO, o diálogo entre o Governo e a Renamo, alterações

internas nos Estatutos da FRELIMO, a alteração do seu estatuto

jurídico e a sua relação com o Estado, com o início da separação entre

o Partido FRELIMO e o Estado-administração. Uma das manifestações

do início do processo da separação entre o Partido e o Estado e mesmo

da separação de poderes ao nível do Estado, foi a adopção do

“princípio da desacumulação”, a luz do qual os dirigentes do Partido

FRELIMO, passaram a não ser por inerência dirigentes

administrativos do Estado no respectivo escalão territorial, à excepção

do nível da Presidência;

Em 1986 foi feita uma revisão pontual da Constituição da República,

através da Lei nº 4/86, de 25 de Julho onde foram criados os cargos

de Presidente da Assembleia e de Primeiro-Ministro que passaram a

ter diferentes titulares. Esta alteração profunda de desconcentração

do poder, foi tomada pela 5ª Sessão do Comité Central do Partido

FRELIMO, realizada de 30 de Junho a 8 de Julho de 1986;

A abertura e maior democratização interna do partido FRELIMO,

através da realização das seguintes mudanças internas na FRELIMO:

Ao nível interno do Partido FRELIMO, cria-se a figura do

Secretário-Geral do partido que passa a dirigir o Secretariado do

Comité Central, o órgão executivo de gestão do dia-a-dia dos

assuntos do partido;

O partido FRELIMO realizou mudanças internas profundas na sua

natureza, organização e funcionamento, deixando de ser um

partido marxista-leninista, promoveu uma maior abertura e

democratização interna, e reconfigurou a sua organização antes

concebida numa lógica de Partido-Estado, para uma lógica de um

Partido Político que actua no quadro de um sistema

multipartidário.

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Entre as principais mudanças internas introduzidas pelo 6º Congresso na

natureza, organização e funcionamento do partido FRELIMO, no quadro do

processo de abertura política e democratização destacam-se71:

a) Sobre os Membros do Partido:

Para ser membro do Partido FRELIMO basta ter dezoito anos, aceitar

os Estatutos e Programa e candidatar-se a membro. A admissão é

decidida pela célula no prazo máximo de trinta dias, sem necessidade

de confirmação, bastando a constatação de não estar filiado num

outro partido e consagra-se o direito de renunciar a qualidade de

membro. Realça-se o direito ao recuso das sanções aplicadas e

estabelece-se a possibilidade de readmissão ao Partido. Consagra-se a

abertura e tolerância, o voto directo, secreto e pessoal e os

mecanismos de garantia do princípio de renovação e continuidade.

b) Sobre o do Partido

O Bureau político passa a designar-se Comissão Política, e o Comité

de Controlo passa a designar-se Comité de Verificação;

O mandato dos órgãos centrais e provinciais é de cinco anos, os

secretários das células são eleitos por um ano e os restantes órgãos

locais são eleitos por um mandato de dois anos e meio;

O Presidente do Partido é o Presidente do Comité Central e da

Comissão Política e a coordenação da actividade do Partido é

assegurada pelo Secretário-Geral do Partido que dirige o Secretariado

do Comité Central;

O Presidente do Partido passa a ser eleito pelo Congresso.

No processo decisório, introduz-se o princípio do recurso ao voto para a

confirmação da importância de certas questões.

A transição democrática, formalmente inicia com a aprovação da

Constituição de 1990, que introduziu formalmente o Estado de Direito

Democrático, o multipartidarismo e a economia de mercado, e criou

71 Partido FRELIMO Estatutos e Programa, Colecção 6º Congresso.

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bases jurídicas para a assinatura do Acordo Geral de Paz, que pós fim

aos 16 anos de guerra e a realização de primeiras eleições

presidenciais e legislativas.

Ainda no quadro das alterações internas da FRELIMO, em preparação

da transição democrática, o Conselho de Ministros aprovou através do

Decreto nº 18/90, de 28 de Agosto, “o Estatuto do Partido Político

FRELIMO”, no qual a FRELIMO deixa de ser “a força dirigente do

Estado e da Sociedade” como estava definido no artigo 3 da

Constituição de 1975, e passa a ser definido como: uma associação de

carácter político, dotada de personalidade jurídica, autonomia

administrativa, financeira e patrimonial, constituída para a

consecução dos objectivos definidos nos seus Estatutos e

Programas72.

Neste momento Moçambique precisa de concluir o processo da transição

democrática e iniciar um processo de consolidação democrática.

Estas mudanças e transformações internas da FRELIMO, mostram que o

processo da democratização em Moçambique, não é apenas fruto de factores

exógenos, foi sim um processo que não estando imune ao contexto

internacional envolvente, resultou antes de um processo também endógeno,

protagonizado pelos próprios moçambicanos como agentes activos da sua

própria história.

7. Evolução constitucional do Estado Moçambicano

7.1 A fase da Primeira República: da Independência Nacional, 1975 à

1990

Com a proclamação da Independência Nacional, a FRELIMO instituiu um

Sistema Político de Partido Único, centralizado e de orientação socialista que

do ponto de vista constitucional tinha as seguintes características73:

72 Artigo 1 do Decreto nº 18/90, de 28 de Agosto. 73

Jorge Bacelar Gouveia, Sistemas Constitucionais Africanos de Língua Portuguesa: a

caminho de um paradigma? P. 11.

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- O sistema social: a prevalência dos direitos económicos e sociais, como

instrumentos de "desalienação do homem", em detrimento dos direitos e

liberdades políticos e civis, num forte monismo ideológico e partidário;

- O sistema económico: a apropriação dos meios de produção, com a

colectivização da terra, que passou a ser propriedade do Estado, e a

planificação imperativa da economia;

- O sistema político: a concentração de poderes no órgão parlamentar de

cúpula, com a omnipresença a do partido único e a sua localização paralela

em todas as estruturas do Estado.

É possível identificar nesta fase períodos diferenciados74:

-1º período: O período inicial de implantação das estruturas do Estado, com

o retorno de muitos portugueses e a sua reorganização interna;

- 2° período: O período intermédio de organização política e social segundo o

modelo de inspiração soviética, com a intensificação da cooperação com os

países do bloco comunista, principalmente a URSS, Cuba e a República

Democrática Alemã; e

-3º período: O período final de progressiva crise económica, com o

recrudescimento da guerra.

7.2. A fase da Segunda República: da 1990 aos nossos dias

Em 1990 foi aprovada uma nova Constituição da República, de ruptura em

relação ao regime anterior, a qual criou a segunda República, na qual

avultam as seguintes inovações:

Consagração do Estado de Direito Democrático;

Introdução do Multipartidarismo;

Consagração do sufrágio universal, directo, igual, secreto e periódico,

como regra geral de designação dos titulares dos órgãos electivos de

soberania, das províncias e do poder local;

Instituição da economia de mercado;

Consagração do princípio de separação de poderes;

74 Idem

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Consagração dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos

cidadãos;

A Descentralização e Desconcentração administrativas.

8. Modelo da democracia Moçambicana

De acordo com Orides Mezzarola75 existem os seguintes modelos

Democracia:

Democracia directa: o povo delibera directamente;

Democracia representativa: a vontade do povo (representado) é

expressa pelo representante;

Democracia representativa partidária: os partidos políticos

intermedeiam a relação entre os representados e os

representantes

Democracia de partidos (Ou Estado de partidos): os partidos

políticos intermedeiam a relação entre os representados e os

representantes e tem factor decisivo pois os representantes

estão submetidos ao mandato partidário porque se entende que

a vontade do indivíduo é inerente à vontade do partido político.

Assim, o representante perde a exclusividade na actividade de

representação e o eleitor passa a dar confiança e a capacidade

de deliberação ao partido e não aos candidatos apresentados.

O modelo moçambicano é misto reunindo elementos dos quatro modelos

democráticos, embora tenha um pendor para um modelo de democracia

representativa partidária e de democracia de partidos, como se pode

depreender, o artigo 2 da CRM, dispõe que “1. A soberania reside no povo. 2. O

povo moçambicano exerce a soberania segundo as formas fixadas na

Constituição. O nº 3 do artigo 170 da CRM, estabelece que “concorrem às

eleições para a Assembleia da República os Partidos Políticos, isoladamente

ou em coligação de partidos, e as respectivas listas podem integrar cidadãos

não filiados nos partidos” e a alínea b), do nº 2 do artigo 178 da CRM dispõe

75A Crise do Modelo Liberal de Representação e a Construção da Democracia de Partidos in

Constituição e Estado Social: os obstáculos à concretização da Constituição, págs. 289/290.

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que “perde o mandato o Deputado que [...] se inscreva ou assuma função em

partido ou coligação diferentes daquele pelo qual foi eleito”.

O artigo 168 da CRM, dispõe que “a Assembleia da República é a assembleia

representativa de todos os cidadãos moçambicanos e o Deputado representa

todo o país e não apenas o círculo pelo qual é eleito”.

O nº 1 do artigo 74 da CRM, define que “1. Os partidos expressam o

pluralismo político, concorrem para a formação e manifestação da vontade

popular e são instrumento fundamental para a participação democrática dos

cidadãos na governação do país”.

8.1. As três dimensões da democracia Moçambicana

De acordo com o plasmado nos números 1 e 2 do artigo 2 da CRM “a

soberania reside no povo. [...] o povo moçambicano exerce a soberania

segundo as formas fixadas na Constituição”.

O artigo 73 da CRM preceitua que o “povo moçambicano exerce o poder

político através do sufrágio universal, directo, igual, secreto e periódico para a

escolha dos seus representantes, por referendo sobre as grandes questões

nacionais e pela permanente participação democrática dos cidadãos na vida

da Nação.”

Da análise do disposto no artigo 73 da CRM e seguindo os ensinamentos do

Professor Jorge Bacelar Gouveia, pode-se aferir que a democracia

moçambicana compreende três dimensões a saber: a dimensão

representativa, a dimensão semidirecta e a dimensão participativa.

a) Dimensão representativa

A dimensão representativa “assenta no fenómeno da representação

política. […] Entre os governantes e governados – há um nexo de relação

política. […] Os governantes, enquanto representantes do povo, governam

em atenção aos interesses da colectividade”76.

76 JORGE BACELAR GOUVEIA. Estudos de Direito Público de Língua Portuguesa, pág. 29

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A representação política implica a eleição, em que os cidadãos de um

Estado, exercendo direito de sufrágio, escolhem os titulares dos respectivos

órgãos de poder77.

b) Dimensão semidirecta

A dimensão semidirecta “pressupõe a presença de alguns mecanismos

que possibilitam ao povo participar directamente na governação do país.

[…] A intervenção popular agora já não se faz por intermédio da escolha

das pessoas que são incumbidas das tarefas de governação, mas por

decisões governativas tomadas pelo próprio povo”78. A democracia

semidirecta opera-se através do referendo, do veto popular e das

assembleias abertas79.

A CRM impõe a realização do referendo sobre questões de relevante

interesse nacional80 e para a revisão constitucional quando esta afecte os

princípios estruturantes do Estado moçambicano81.

c) Dimensão participativa

A dimensão participativa pode significar “um maior

empenhamento por parte dos cidadãos no exercício dos direitos de

natureza política constitucionalmente consagrados, influenciando e

controlando, mais de perto, se bem que informalmente, a actividade

governativa” mas também pode implicar a “atribuição aos

administrados de direitos específicos de intervenção no exercício da

função administrativa”82.

77 JORGE BACELAR GOUVEIA. Estudos de Direito Público de Língua Portuguesa, pág. 30 78 JORGE BACELAR GOUVEIA. Estudos de Direito Público de Língua Portuguesa, pág. 32 79 JORGE BACELAR GOUVEIA. Estudos de Direito Público de Língua Portuguesa, pág. 32 80 Nº 1, in fine, do artigo 136 81 Artigo 292 82 JORGE BACELAR GOUVEIA. Estudos de Direito Público de Língua Portuguesa, pág. 35

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Uma das manifestações da dimensão participativa encontra-se

consagrada no artigo 78 da CRM que preconiza que “1.As

organizações sociais, como formas de associação com afinidades e

interesses próprios, desempenham um papel importante na promoção

da democracia e na participação dos cidadãos na vida pública. […] 2.

As organizações sociais contribuem para a realização dos direitos e

liberdades dos cidadãos, bem como para a elevação da consciência

individual e colectiva n cumprimento dos deveres cívicos”.

9. Forma de Governo Moçambicano

Nos termos do plasmado no artigo 1 da CRM, “A República de

Moçambique é um Estado independente, soberano, democrático e de

justiça social”.

De acordo com o disposto no artigo 2 da CRM, “1. A soberania reside no

povo. 2. O povo moçambicano exerce a soberania segundo as formas

fixadas na Constituição. 3. O Estado subordina-se à Constituição e funda-

se na legalidade. 4. As normas constitucionais prevalecem sobre todas as

restantes normas do ordenamento jurídico”.

Como versa o artigo 3 da CRM, “A República de Moçambique é um Estado

de Direito, baseado no pluralismo de expressão, na organização política

democrática, no respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais

do Homem”.

Do supra exposto, pode-se concluir que a forma de Governo

Moçambicano é uma democracia representativa, ou seja Governo

representativo.

As componentes principais do governo representativo são83:

a) A soberania nacional ou o princípio de que o poder reside

essencialmente (isto é, potencialmente) no povo, na nação

83 Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional-Estrutura Constitucional da

Democracia, Tomo II, Coimbra Editora, 2007, Pags. 15-17.

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entendida como colectividade distinta dos indivíduos que a

constituem;

b) A incapacidade da nação de exercer o poder e, por conseguinte, a

necessidade de o <<delegar>> em representantes por ela

periodicamente eleitos, únicos que o podem assumir;

c) O sufrágio restrito, só tendo direito de participação política os

que tenham responsabilidades sociais (pelas funções exercidas ou

pela propriedade);

d) A natureza puramente designativa da eleição, destinada apenas à

selecção dos governantes entre os cidadãos mais aptos;

e) A autonomia dos representantes relativamente aos eleitores, em

virtude da natureza da eleição, do princípio de que representam

toda a nação, e não só os círculos porque são eleitos, e da

proibição do mandato imperativo;

f) A limitação dos governantes pelas regras da separação dos poderes

e pela renovação periódica através das eleições.

As traves-mestras da democracia representativa ou governo representativo84:

a) A soberania nacional entendida agora não tanto como princípio de

legitimidade quanto como princípio de titularidade do poder no povo;

b) A possibilidade de ter o povo, sujeito do poder, uma vontade, actual

ou conjectural, jurídica e politicamente eficaz;

c) A concorrência da vontade do povo, manifestada pelo colégio de todos

os cidadãos com direitos políticos, com a vontade manifestada pelos

órgãos governativos de carácter representativo – e isso quer a nível de

Estado quer a nível local e regional;

d) A eleição como servindo não apenas para a escolha dos governantes

(dos titulares dos órgãos da função política) mas também para a

escolha de grandes opções programáticas;

e) O sufrágio universal e, com ou sem constitucionalização, o papel do

Partido Político.

84 Idem

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10. Formas de exercício do Poder Político em Moçambique

De acordo com o disposto no artigo 2 da CRM, “1. A soberania reside no

povo. 2. O povo moçambicano exerce a soberania segundo as formas

fixadas na Constituição”.

De acordo com o plasmado no artigo 73 da Constituição da República

(CRM), o “povo moçambicano exerce o poder político através do sufrágio

universal, directo, igual, secreto e periódico para a escolha dos seus

representantes, por referendo sobre as grandes questões nacionais e pela

permanente participação democrática dos cidadãos na vida da Nação.”

Nos dias de hoje, a Ciência Política e a Ciência do Direito Constitucional

anotam a existência de três principais modelos de exercício do poder político

pelo povo, numa evolução já longa e que possivelmente não irá parar por

aqui85:

Em primeiro lugar, e como experiência mais antiga, temos a dimensão

representativa da democracia, modelo em que o povo exerce o poder

político escolhendo os titulares dos respectivos órgãos, particular

forma de designação que tomou o nome de eleição, na qual o povo

intervém através de direito de sufrágio.

Outro modelo igualmente considerado é o da democracia semidirecta,

que se define pelo facto, de o povo ser chamado a decidir, por ele

próprio e directamente, questões se ponham à governação.

Finalmente, encontramos o modelo da democracia participativa, o

qual corresponde ao exercício do poder político pelo povo em termos

de influência – e não decisão – das providências governativas, com a

utilização de uma panóplia apreciável de instrumentos.

85 Jorge Bacelar Gouveia, Estudos de Direito Público de Língua Portuguesa, Livraria

Almedina, 2004, Pags. 28-29.

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A observação do Direito Constitucional Moçambicano permite dizer que se

optou, ao mesmo tempo, por estas três dimensões do princípio

democrático86.

É a resposta que se extrai do capítulo III do título I, respeitante à

“Participação na vida política do Estado”, em cujo preceito fundamental a

este propósito pode ler-se o seguinte87:

“O povo moçambicano exerce o poder político através do sufrágio universal,

directo, igual, secreto e periódico para a escolha dos seus representantes,

por referendo sobre as grandes questões nacionais e pela permanente

participação democrática dos cidadãos na vida da Nação”.

Nesta fórmula quase lapidar, deparamos com a síntese da igual relevância

destas três dimensões que assinalámos ao princípio democrático88:

A dimensão representativa expressa-se pela referência ao “sufrágio

universal, directo, igual, secreto e periódico para a escolha dos seus

representantes”;

A dimensão semidirecta retira-se da alusão ao “referendo sobre as

grandes questões nacionais”;

A dimensão participativa deriva do apelo à “permanente participação

democrática dos cidadãos na vida da Nação”.

11. Papel dos Partidos Políticos no Sistema Democrático

Moçambicano

Nos termos do disposto no nº 1 do artigo 74 da CRM “1. Os partidos

expressam o pluralismo político, concorrem para a formação e

manifestação da vontade popular e são instrumento fundamental para

a participação democrática dos cidadãos na governação do país. […] 2.

A estrutura interna e o funcionamento dos partidos políticos devem ser

democráticos”.

86 Idem. 87 Idem. 88 Idem

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O artigo 75 da CRM preceitua que:

“1. No profundo respeito pela unidade nacional e pelos valores

democráticos, os partidos políticos são vinculados aos princípios

consagrados na Constituição e na lei.

2.Na sua formação e na realização dos seus objectivos os partidos

políticos deve, nomeadamente:

a) ter âmbito nacional;

b) defender os interesses nacionais;

c) contribuir para a formação da opinião pública, em particular sobre as

grandes questões nacionais;

d) reforçar o espírito patriótico dos cidadãos e a consolidação da Nação

moçambicana.

1. Os partidos devem contribuir, através da educação política e cívica

dos cidadãos, para a paz e estabilidade do país.

2. A formação, estrutura e o funcionamento dos partidos políticos rege-

se por lei”.

Os partidos políticos desempenham a seguintes funções89:

função pedagógica: os partidos políticos funcionam como

canal de comunicação entre os cidadãos e os poderes públicos,

transformando as necessidades individuais em exigências

políticas colectivas. Os partidos políticos formam a opinião

pública, privilegiando debate e confronto de ideias.

função eleitoral: nos processos eleitorais os partidos políticos

definem as suas opções políticas e seleccionam candidatos a

cargos políticos. Os partidos políticos, como principais

interessados, fiscalizam o desenrolar do processo eleitoral.

função parlamentar: os partidos políticos apoiam as acções

levadas a cabo pelo Governo e respectivo discurso político e

89 JORGE BACELAR GOUVEIA. Direito Constitucional de Moçambique, 2015, págs. 278/279

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outros partidos contestam a política governamental.

Desempenham um papel importante para o bom funcionamento

do regime democrático, através do debate ideológico, pelas

campanhas eleitorais e a titularidade e exercício do poder

político.

Portanto, nos termos do plasmado no artigo 74 da CRM, os partidos

políticos são o principal instrumento de participação democrática dos

cidadãos na governação do País.

12. Principais Acordos de Paz Assinados por Moçambique

Em Moçambique, os processos de construção da democracia e da paz,

sempre foram paralelos, configurando-se como se fossem duas faces da

mesma moeda.

Entre os principais acordos de paz, assinados e que concorrem para o

aprofundamento da democracia em Moçambique avultam:

O acordo de Lusaka assinado a 7 de Setembro de 1974 entre a

FRELIMO e o Estado Colonial

Este acordo permitiu o reconhecimento formal de direito à independência e

a autodeterminação do povo moçambicano e criou as bases para a

transferência da soberania do Estado Colonial Português para os

Moçambicanos e a criação das condições para a proclamação da

Independência Nacional.

O acordo de Nkomati, assinado a 16 de Março de 1984 entre o

Estado Moçambicano e o Regime do apartheid da África do Sul

Este acordo pretendia por fim a desestabilização de Moçambique, através do

apoio que o regime do apartheid, prestava a Renamo, era um acordo de não

agressão e boa vizinhança.

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Acordo Geral de Paz, assinado a 4 de Outubro de 1992

Permitiu por fim a 16 anos de guerra, e criou condições para conquista da

paz, e criou as condições políticas para a realização das primeiras eleições

multipartidárias, concorrendo para o aprofundamento da democracia.

Acordo de Cessação das Hostilidades assinado a 5 de Setembro de

2014

Este acordo permitiu o fim das hostilidades militares, o que permitiu que as

eleições de 2014 tivessem lugar num clima de paz, o que possibilitou a

participação da Renamo nas eleições de 2014, o que era importante, para

garantir a credibilização do processo eleitoral, a legitimidade do vencedor, e

assim assegurar a estabilidade política e a governabilidade do país.

O consenso alcançado em 2018 entre o Presidente Filipe Jacinto

Nyusi e o Presidente da Renamo, Afonso Dlhakama

Este consenso, fruto de um diálogo directo permitiu por fim ao conflito

militar, e pretende-se com o acordo, a restauração da paz definitiva, através

da descentralização e do desarmamento da Renamo.

Em todas as fases do processo de construção da Paz e da Democracia em

Moçambique, existem alguns princípios e valores defendidos, como

inegociáveis e inalienáveis, desde o acordo de Lusaka, ao mais recente

acordo designadamente:

A paz e a democracia sempre foram equacionados como duas faces da

mesma moeda e por isso foram construídos em paralelo, como parte

do processo da construção do Estado e da Nação;

Em todos processos de negociação da paz, os interesses nacionais

sempre estiveram em primeiro lugar;

As negociações em cada processo, nunca partiram de um “paradigma

zero”, sempre respeitaram a existência do Estado Moçambicano, como

uma instituição que devia ser respeitada e reconhecida como existente

com a sua Constituição, seus órgãos e uma ordem estabelecida.

A independência e a soberania do Estado Moçambicano;

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A unidade nacional;

A unicidade do Estado.

13. Desafios específicos de Moçambique no âmbito da

consolidação da democracia e da paz

Na actual fase do desenvolvimento do Estado de Direito Democrático,

Moçambique enfrenta os desafios decorrentes da necessidade de conclusão

da transição democrática, de consolidação da democracia e da

descentralização do Estado.

Entre as manifestações de uma transição democrática ainda não concluída

destacam-se:

As cíclicas tensões eleitorais;

As tensões político-militares;

A existência de um partido político armado;

As negociações políticas dos assuntos do Estado fora do Parlamento;

A bipolarização política na discussão de assuntos de interesse

nacional;

A discussão prevalecente dos princípios estruturantes do Estado

moçambicano, tais como forma do Estado, sistema de Governo,

sistema Eleitoral, modelo da descentralização, sistema da

administração da justiça;

O recurso a expedientes inconstitucionais e ilegais para atingir fins

políticos;

A luta pelo controlo do Estado pelos Partidos Políticos;

Organizações da sociedade civil pouco democráticas e pouco

representativas.

Uma democracia está consolidada quando90:

90Juan J. Linz e Alfredo Stepan, A transição e consolidação da democracia, a experiência do

Sul da Europa e da América do Sul, Pag. 23

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• Em termos comportamentais, nenhum actor nacional de importância

significativa, quer social, económica, política ou institucional, despenda

recursos consideráveis na tentativa de atingir seus objectivos por

intermédio da criação de um regime não-democrático, lançando mão de

violência ou de intervenção estrangeira, visando a secessão do Estado.

• Em termos de atitudes, uma grande maioria da opinião pública

mantém a crença de que os procedimentos e as instituições democráticas

são a forma mais adequada para o governo da vida colectiva em uma

sociedade como a deles, e quando o apoio a alternativas contrárias ao

sistema e bastante pequeno, ou mais ou menos isolado das forças pró-

democráticas.

• Em termos constitucionais, tanto as forças governamentais quanto as

não-governamentais, em todo o território do Estado, sujeitam-se e

habituam-se a resolução de conflitos dentro de leis, procedimentos e

instituições específicas, sancionadas pelo novo processo democrático.

13.1. Os cinco campos de uma democracia consolidada

A democracia é uma forma de governo do Estado. Nenhuma comunidade

política, portanto, pode tornar-se democraticamente consolidada a não

ser que ela seja, antes de mais nada, um Estado. Desse modo, a

inexistência de um Estado, ou uma falta de identificação tão intensa com

ele, a ponto de grandes grupos de indivíduos habitando aquele território

pretenderem, juntar-se a um outro, ou criar um Estado independente,

gera problemas fundamentais e muitas vezes insolúveis. Uma vez que

esses problemas de "estatalidade" são tão básicos, e tem sido objecto de

tão poucas análises, dedicaremos o próximo capítulo ao exame desse

tópico. Em termos de argumentação, contudo, neste ponto, basta dizer

que, sem a existência de um Estado não pode haver um regime

democrático moderno consolidado91.

91 Idem, Pag. 25

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Se existe um Estado que funciona, cinco outras condições

interrelacionadas, e que se reforçam mutuamente, devem também existir,

ou serem criadas, para que uma democracia venha a se consolidar.

Primeiramente, deve haver condições para o desenvolvimento de uma

sociedade civil livre e activa. Em segundo lugar, deve haver uma

sociedade política relativamente autónoma e valorizada. Terceiro, deve

haver o estado de direito para assegurar as garantias legais relativas as

liberdades dos cidadãos e a vida associativa independente92.

Quarto, deve existir uma burocracia estatal que possa ser utilizada pelo

novo governo democrático. É por último, deve haver uma sociedade

económica institucionalizada. Expliquemos agora, o que está em questão

na construção desse conjunto de campos inter-relacionados. Por

sociedade civil, queremos dizer o campo da comunidade política na qual

grupos, movimentos e indivíduos, auto-organizados e relativamente

independentes do Estado tentam articular valores, criar associações e

entidades de auxílio mútuo, e defender seus interesses. A sociedade civil

pode inc1uir uma grande diversidade de movimentos sociais (grupos de

mulheres, associações de vizinhança, grupos religiosos e organizações

intelectuais) e de associações cívicas provenientes de todas as camadas

sociais (como sindicatos de trabalhadores, grupos empresariais,

jornalistas ou advogados). A ideia de sociedade civil como uma aspiração

normativa e um estilo de organização teve grande capacidade de

mobilizar a oposição aos regimes burocrático – autoritários liderados

pelos militares na América do Sul, de forma mais patente no Brasil, e foi

de importância crucial no Leste europeu, como veiculo para afirmar a

autonomia daqueles que desejavam agir "como se fossem livres", em

especial na Polonia93.

Além de toda uma gama de organizações, tais como sindicatos ilegais ou

para-legais, comunidades religiosas, ordens de advogados, associações

estudantis e docentes, que constituem a complexa trama da sociedade

92Idem, Pag. 26 93Ibidem

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civil, não devemos nos esquecer de uma outra parte da sociedade: os

cidadãos comuns, que não pertencem a qualquer organização. Esses

cidadãos são, muitas vezes, de importância crítica na alteração do

equilíbrio regime/oposição, porque eles vão as ruas em passeatas de

protesto, ridicularizam a polícia e as autoridades, manifestam sua

discordância, primeiramente a medidas específicas, para em seguida dar

apoio a reivindicações mais amplas e, por fim, acabam por desafiar o

regime. Em geral, de início eles são numericamente inexpressivos, mas

tornam-se mais numerosos e podem chegar a pressionar os

representantes do regime, forçando-os a considerar a alternativa de uma

liberalização crescente e, por fim, de uma mudança de regime94.

O custo de uma repressão em tal escala era demasiado alto, e a crença

na legitimidade de uma tal reacção, demasiado frágil. Os regimes não-

democráticos, ao menos no Sul da Europa, no Cone Sul da América do

Sul e em grande parte da Europa Comunista não desfrutavam de uma tal

legitimidade, e muitas pessoas comuns e não pertencentes a

organizações da sociedade civil muitas vezes chegaram a essa conclusão,

praticamente antes dos próprios governantes. Isso se deu de forma mais

contundente em partes da Europa Comunista, como na Alemanha

Oriental e na Tchecoslovaquia95.

Por sociedade política em um contexto em vias de democratização

queremos dizer o campo no qual a comunidade política se organiza de

forma específica, visando reivindicar o direito legitimo de exercer controlo

sobre o poder público e o aparato estatal. Na melhor das hipóteses, a

sociedade civil pode destruir um regime não-democrático. Uma transição

democrática plena, no entanto, e principalmente consolidação da

democracia, tem de contar com a sociedade política. A composição e a

consumação de uma comunidade política democrática requer graves

reflexões e acção decidida com relação ao desenvolvimento de uma

apreciação normativamente positiva das instituições centrais de uma

94Ibidem 95Idem, Pag. 27

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sociedade política democrática - os partidos políticos, as eleições, as

regras eleitorais, a liderança política, as alianças interpartidárias e as

legislaturas, pelas quais as sociedades se constituem politicamente para

escolher e monitorar o governo democrático96.

Para a teoria democrática moderna, em especial no tocante as questões

sobre como consolidar a democracia, é importante ressaltar não apenas

as diferenças entre sociedade civil e sociedade política, mas também sua

complementaridade97.

Essa complementaridade nem sempre é reconhecida. Como

documentamos ao longo de todo este livro, uma dessas duas dimensões

costuma ser negligenciada em favor da outra. E o que é pior, na

comunidade democrática, os defensores, da sociedade civil ou da

sociedade política costumam adoptar um discurso e um conjunto de

práticas que são implicitamente contrários ao desenvolvimento normal da

outra. Como essa oposição raramente e explicita, permitam-nos discutir

as formas que essa oposição implícita pode assumir, e o como e o porque

desse discurso e dessa pratica prejudicam a consolidação democrática

América Latina, foi construído um discurso que dava enfâse a "sociedade

civil versus Estado". Essa dicotomia, claro, tem uma longa genealogia

filosófica98.

E o que é mais importante para nossos propósitos, essa tradição

filosófica foi politicamente útil para os movimentos democráticos que

surgiram em contextos recentes, em que as organizações explicitamente

políticas eram ou proibidas ou extremamente fracas. A ideia de uma

sociedade civil opondo-se ao Estado foi politicamente útil também

quando a oposição tentava isolar o regime não – democrático e seu

Estado, com a criação de uma ética política de "nós " versus "eles". A

96 Ibidem 97 Ibidem 98 Ibidem

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sociedade civil, em muitos países, foi correctamente considerada como a

estrela da resistência e da transição democrática99.

Os problemas começam no momento da transição democrática. É comum

os líderes democráticos da sociedade política afirmarem que a sociedade

civil, tendo desempenhado seu papel histórico, deveria ser desmobilizada,

de modo a permitir o desenvolvimento de uma política democrática

normal. Um tal argumento e má teoria democrática e má política

democrática. Uma sociedade civil robusta, com a capacidade de gerar

alternativas políticas e de monitorar o governo e o Estado, pode ajudar a

dar início a transição, a oferecer resistência a retrocessos, a forçar a

transição até seu termo, e a consolidar e aprofundar a democracia100.

Em todos os estágios do processo de democratização, portanto, uma

sociedade civil activa e independente é de valor incalculável. Mas

devemos também examinar como reconhecer, em termos conceituais, e

assim poder supera-las, as falsas contradições criadas por alguns entre

sociedade civil e sociedade política. O perigo que os grupos democráticos

antes situados na sociedade civil poderiam representar para o

desenvolvimento de uma sociedade política consiste em que as

preferências normativas e estilos de organização perfeitamente

apropriados a sociedade civil poderiam vir a ser considerados desejáveis

ou, até mesmo, o único estilo legítimo de organização da sociedade

política. Por exemplo, muitos líderes da sociedade civil vêem com

antipatia moral o "conflito interno" e a "divisão" no interior das forças

democráticas, a rotina institucional, as intermediários e os acordos

políticos muitas vezes são mencionados de forma pejorativa? Cada um

dos termos acima, porem, refere-se a uma prática indispensável da

sociedade política em uma democracia consolidada. A consolidação da

democracia requer partidos, e uma dentre as tarefas primordiais desses

99Idem, Pag. 28 100 Ibidem

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partidos é precisamente agregar e representar as diferenças entre os

democratas101.

A consolidação exige que seja desenvolvido o hábito as normas e

procedimentos da regulação democrática do conflito. Um alto grau de

rotina institucional e uma parte da importância-chave nesse processo. A

intermediação entre o Estado e a sociedade civil, bem como a

estruturação de acordos são igualmente tarefas legítimas e necessárias

de uma sociedade política. Em suma, a sociedade política, informada,

pressionada e periodicamente renovada pela sociedade civil deve, de

alguma maneira, atingir um acordo viável quanto a miríade de modos

pelos quais o poder democrático virá a ser construído e exercido102.

Para que se alcance uma democracia consolidada, o grau necessário de

autonomia e independência das sociedades civil e política deverá também

ser embasado no estado de direito, nos só terceiro campo, e por ele

apoiado. Todos os actores de importância significativa - em especial o

governo democrático e o Estado - devem respeitar e defender o estado de

direito. Para os tipos de sociedade civil e de sociedade política que

acabamos de descrever, o estado de direito, corporificado em um espírito

constitucionalista, é uma condição indispensável103.

Um espírito constitucionalista requer mais do que o preceito do governo

da maioria, implicando um consenso relativamente forte no que diz

respeito a constituição e, em especial, ao compromisso com

procedimentos "de autolimitação de governo", que exigem maiorias

excepcionais para que mudanças sejam efectuadas. Ele requer também

uma clara hierarquia das leis, interpretadas por um sistema judiciário

independente e apoiada por uma forte cultura legal na sociedade civil104.

As três condições acima - uma sociedade civil activa e independente; uma

sociedade política com autonomia suficiente e consenso operacional

101 Ibidem 102Idem, Pag. 29 103Ibidem 104 Ibidem

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quanto aos procedimentos de governo; e o constitucionalismo e a estado

de direito são, praticamente, pré-requisitos. Por definição de uma

democracia consolidada. Entretanto, é muito mais provável que essas

condições sejam satisfeitas se existir uma burocracia que possa ser

utilizada pelos líderes democráticos e uma sociedade económica

institucionalizada105.

A democracia é uma forma de governo da vida em uma polis, na qual os

cidadãos possuem direitos que são assegurados e protegidos. A fim de

proteger os direitos de seus cidadãos e fornecer os demais serviços

básicos demandados por eles, um governo democrático tem de ser capaz

de exercer efectivamente sua prerrogativa de monopólio do uso legítimo

da força naquele território. Mesmo que o governo não tivesse outras

funções que não teria que impor tributos compulsórios para remunerar a

polícia, os juízes e os serviços básicos. A democracia moderna, portanto,

necessita da capacidade efectiva de comandar, regular e cobrar. Para tal,

precisa de um Estado operacional e\uma burocracia estatal vista como

capaz de ser utilizada pelo novo governo democrático106.

A última condição de apoio a uma democracia consolidada diz respeito a

economia, ou melhor, a um campo que acreditamos deva ser chamado de

sociedade económica. Empregamos a expressão "sociedade económica "

para chamar a atenção para dois postulados que acreditamos serem

correctos, tanto em termos teóricos quanto empíricos. Primeiro, jamais

houve e não pode haver, em tempos de paz, uma democracia consolidada

em uma economia planificada107.

Segundo, nunca houve e quase certamente jamais haverá uma

democracia consolidada moderna em uma economia de mercado pura. Se

for possível demonstrar que esses dois postulados são correctos,

podemos concluir que as democracias consolidadas modernas requerem

um conjunto de normas, instituições e regulamentações, construídas e

105 Ibidem 106Ibidem 107Idem, Pag. 30

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acordadas de forma sociopolítica, as quais denominamos sociedade

económica, que actua como mediadora entre o Estado e o mercado108.

Em termos empíricos, nunca se chegou a apresentar provas de que uma

comunidade política que atendesse a nossa definição de democracia

consolidada tenha jamais existido em uma economia centralizada. Mas a

questão permanece. Haverá uma razão teórica para explicar esse

resultado empírico universal? Acreditamos que sim. Em termos teóricos,

nossa suposição é a de que pelo menos um grau significativo de

autonomia do mercado e de diversidade da propriedade, na economia, é

necessário para produzir a independência e a actividade da sociedade

civil, de forma que esta possa dar sua contribuição a democracia109.

Do mesmo modo, se toda a propriedade estiver em mãos do Estado, e

todas as decisões relativas a preços, mão-de-obra, oferta e distribuição

forem da alçada exclusiva do Estado no controle da economia planificada

a relativa autonomia da sociedade política, necessária a uma democracia

consolidada, não poderia existir110.

Mas por que os mercados completamente livres não podem coexistir com

as democracias consolidadas modernas? Em termos empíricos, os

estudos sérios das comunidades políticas modernas constantemente

verificam a existência de graus significativos de intervenção no mercado e

de propriedade estatal, em todas as democracias consolidadas. Em

termos teóricos, há pelo menos três razões para que isso aconteça. Em

primeiro lugar, apesar das alegações neoliberais ideologicamente

extremas, mas surpreendentemente difundidas e influentes, relativas a

auto-suficiência do mercado, as economias de mercado puro não

poderiam nem surgir nem se manter sem algum grau de regulamentação

estatal. Os mercados exigem legislação empresarial, regulamentação das

bolsas de valores, normatização de padrões de pesos, medidas e

ingredientes, além da protecção da propriedade, tanto pública quanto

108Ibidem 109Ibidem 110Idem, Pag. 31

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privada. Todos esses factores tornam necessária a participação do Estado

na economia. Em segundo, mesmo os melhores mercados tem falhas que

devem ser corrigidas para que o mercado funcione bem. Ninguém menos

que um defensor da "mão invisível" do mercado, como Adam Smith,

reconheceu que o Estado é necessário para desempenhar uma série de

funções. De facto, em uma passagem negligenciada, porem importante de

A Riqueza das Nações, Adam Smith conferiu ao Estado moderno três

tarefas indispensáveis111:

- Em primeiro lugar, o dever de proteger a sociedade da violência e

da invasão por outras sociedades independentes;

- Em segundo, o dever de proteger, na medida do possível, todos os

membros da sociedade da injustiça e da opressão por parte dos

demais membros, ou o dever de criar a administração exacta da

justiça; e, finalmente, o dever de dirigir e manter determinadas

obras e instituições públicas as quais jamais um indivíduo ou um

pequeno número de indivíduos terá interesse em criar e manter,

porque o lucro jamais recompensaria a despesa para um individuo

ou pequeno número de indivíduos, embora, frequentemente, para

uma grande sociedade, essas despesas sejam mais do que

compensadoras;

- A terceira razão para a intervenção no mercado, nas democracias

consolidadas, é que a democracia implica a livre discussão pública

relativa as prioridades e políticas governamentais.

Qualquer que seja a forma pela qual analisemos o problema, a consolidação

democrática requer a institucionalização de um mercado social e

politicamente regulado. Para isso, é necessário uma sociedade económica, o

que por sua vez requer um Estado eficaz. Mesmo um objectivo tão neoliberal

quanto o de restringir a abrangência da propriedade pública (privatização)

de forma ordeira e legal e, quase que certamente, posto em prática de forma

111Ibidem

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mais eficaz por um governo mais forte (no sentido de capacidade) que por

um governo mais fraco112.

Um grave colapso dos actuais níveis da economia, em razão da

incapacidade do Estado de exercer qualquer tipo de função reguladora,

contribui em muito para os problemas das reformas económicas e da

democratização113.

14. Desafios para a consolidação da paz e da democracia em

Moçambique

14.1. Ao nível do Sistema Político

Consolidar a unidade nacional;

Manter a unicidade do Estado;

Assegurar uma maior participação e representatividade dos

cidadãos na vida política;

Reforçar a coesão e a reconciliação nacionais;

Consolidar o Estado de Direito Democrático;

Desencadear um processo ordinário de Revisão Geral da

Constituição da República.

No quadro da consolidação democrática, destacam-se os seguintes desafios:

Necessidade de estabilização jurídica do estado com a emanação

de normas que estabilizam a organização do estado e o seu

funcionamento;

Estabilização das normas eleitorais com vista a assegurar a

estabilidade do sistema eleitoral, e garantir que o sistema eleitoral

seja o mais simples, mais transparente, que inspira mais confiança

e mais consenso nos actores políticos e na sociedade civil;

Necessidade de encerar o consenso do debate latente sobre o

sistema político moçambicano, mormente quanto ao sistema

eleitoral e ao sistema do Governo;

112Idem, Pag. 32 113Ibidem

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Desarmar, desmobilizar e integrar os guerrilheiros da Renamo.

14.2. Ao nível da organização e funcionamento dos órgãos do

Estado

Aprofundar a descentralização e a desconcentração;

Materializar o princípio da subsidiariedade;

Garantir o respeito pelo Estado de Direito Democrático e

consequentemente pelo princípio da legalidade democrática;

Maior responsabilização dos servidores públicos.

14.3. Ao nível dos Partidos Políticos

Os Partidos Políticos são os principais sujeitos da democracia.

Com efeito, de acordo com o disposto no nº 1do artigo 74 da Constituição da

República, os partidos expressam o pluralismo político, concorrem para a

formação e manifestação da vontade popular e são instrumentos

fundamentais para a participação democrática dos cidadãos na governação

do país. O nº 2 da mesma disposição constitucional preceitua que a

estrutura e o funcionamento dos partidos políticos devem ser democráticos.

Neste quadro o desafio dos Partidos Políticos de uma forma geral reside na

necessidade da sua conformação e a materialização da Constituição,

através:

Da democratização interna no processo da sua organização e

funcionamento;

Democratização e transparência no processo de constituição e eleição

dos órgãos internos dos Partidos Políticos;

Descentralização e Desconcentração dos partidos, quanto ao processo

da sua organização, funcionamento e processo decisório;

Promoção do respeito pela diferença, diversidade e tolerância e

Garantia do respeito pela legalidade, pela ordem constitucional e

democrática.

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14.4. Ao nível da Sociedade Civil

De acordo com o disposto no nº 1 do artigo 78 da CRM, as organizações

sociais, como formas de associação com afinidades e interesses próprios,

que desempenham um papel importante na promoção da democracia e na

participação dos cidadãos na vida pública.

Entre os desafios das organizações da Sociedade Civil, destacam-se:

A sua maior democratização interna, na sua constituição,

organização, funcionamento e eleição dos seus órgãos;

A sua sustentabilidade financeira, pois são dependentes de doações

de parceiros externos;

O reforço da filantropia na sua actuação;

A garantia da transparência e da prestação de contas;

Da sua representatividade, pois a sua maioria está centrada em elites

urbanas.

Se as organizações da Sociedade Civil não forem democráticas e

transparentes não terão autoridade e legitimidade moral para exigir o

mesmo do Estado, pelo que paralelamente à necessária reforma do Estado,

coloca-se com a mesma urgência a necessidade de reforma da Sociedade

Civil.

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15. Conclusão

Há uma relação de fecundidade reciproca entre o processo da construção da

paz e da democracia em Moçambique.

Os processos da construção da democracia e da paz, são dinâmicos,

permanentes e contínuos, e não são perfeitos e nem acabados.

Moçambique precisa de concluir o processo da transição democrática, e

caminhar para a consolidação democrática.

Em cada fase da construção da Nação, Moçambique deve diagnosticar os

aspectos de democratização e da paz que devem ser desenvolvidos para

consolidar a Nação e assegurar que o Estado realize eficazmente os seus

fins, que são garantir a segurança, a justiça e o bem-estar aos cidadãos.

A consolidação da democracia, não será feita de um dia para o outro, será

sim um processo, que conhecerá etapas, sendo que o mais importante é a

definição do caminho a seguir.

Os processos de construção da Democracia e da Paz, devem reforçar a

coesão da Nação Moçambicana, através do reforço da unidade nacional, da

elevação do orgulho pela moçambicanidade e da unicidade do Estado.

A descentralização é um dos caminhos a seguir no processo da consolidação

da paz e da democracia. O processo da descentralização deve ser gradual,

participativo, tomando em consideração as características específicas de

Moçambique e deve reforçar a unicidade do Estado, a unidade e coesão

nacionais e o Estado de Direito Democrático.

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3. Imprensa Nacional, Constituição da República, Maputo, 2 de

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4. Decreto nº 18/90, de 28 de Agosto, aprova o Estatuto do Partido

Político FRELIMO.

5. Lei nº 4/86, de 25 de Julho, Lei de Revisão Constitucional.

6. Lei nº 1/77, de 1 de Setembro.

b) Sites de Internet

1. Lttp://jaga.afrique-governence.net, memorando do workshop3.

2. Www.europarl.europa.eu.