aula 2 - deposito

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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL – EAD MÓDULO PROCEDIMENTOS ESPECIAIS E INOVAÇÕES DO PROCESSO CIVIL Data: 29/04/2014 Professor: Dr. Darlan Barroso 1. Material pré-aula a. Tema Depósito, Embargos de terceiro e Ação monitória. b. Noções Gerais A ação de depósito tem por fim exigir a restituição da coisa depositada. Sua previsão legal encontra-se nos artigos 901 a 906, do Código de Processo Civil. Na ação de depósito, a petição inicial será instruída com a prova literal do depósito e a estimativa do valor da coisa, caso não conste o valor no contrato. O autor então requererá a citação do réu para no prazo de cinco dias entregar a coisa, depositá-la em juízo ou consignar-lhe o equivalente em dinheiro; ou contestar a ação. Em sua defesa, o réu poderá alegar, além da nulidade ou falsidade do título e da extinção das obrigações, as defesas previstas na lei civil, sendo que, no caso do réu apresentar contestação, será observado o procedimento ordinário. Julgada procedente a ação de depósito, o juiz ordenará a expedição de mandado para a entrega da coisa ou do equivalente em dinheiro no prazo de 24 horas. Dispõe o artigo 902, § 1º, do CPC que é possível requerer a pena de prisão do depositário infiel, o que gerou muitas divergências (vide item e. Divergência), porém, atualmente encontra-se pacificado o entendimento de não ser possível a prisão civil do depositário infiel. No entanto, sem prejuízo do depósito ou da prisão do réu, é lícito ao autor promover a busca e apreensão da coisa, sendo que, se a coisa for encontrada ou entregue voluntariamente pelo réu, cessará a prisão e será devolvido o equivalente em dinheiro, nos termos do artigo 905, do CPC. Quando não receber a coisa ou o equivalente em dinheiro, poderá o autor prosseguir nos próprios autos para haver o que lhe foi

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Aula de pós-graduação em direito civil e processual civil.

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Page 1: Aula 2 - Deposito

PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL – EAD

MÓDULO PROCEDIMENTOS ESPECIAIS E INOVAÇÕES DO PROCESSO CIVIL

Data: 29/04/2014 Professor: Dr. Darlan Barroso 1. Material pré-aula

a. Tema

Depósito, Embargos de terceiro e Ação monitória. b. Noções Gerais

A ação de depósito tem por fim exigir a restituição da coisa depositada. Sua previsão legal encontra-se nos artigos 901 a 906, do Código de Processo Civil. Na ação de depósito, a petição inicial será instruída com a prova literal do depósito e a estimativa do valor da coisa, caso não conste o valor no contrato. O autor então requererá a citação do réu para no prazo de cinco dias entregar a coisa, depositá-la em juízo ou consignar-lhe o equivalente em dinheiro; ou contestar a ação. Em sua defesa, o réu poderá alegar, além da nulidade ou falsidade do título e da extinção das obrigações, as defesas previstas na lei civil, sendo que, no caso do réu apresentar contestação, será observado o procedimento ordinário. Julgada procedente a ação de depósito, o juiz ordenará a expedição de mandado para a entrega da coisa ou do equivalente em dinheiro no prazo de 24 horas. Dispõe o artigo 902, § 1º, do CPC que é possível requerer a pena de prisão do depositário infiel, o que gerou muitas divergências (vide item e. Divergência), porém, atualmente encontra-se pacificado o entendimento de não ser possível a prisão civil do depositário infiel. No entanto, sem prejuízo do depósito ou da prisão do réu, é lícito ao autor promover a busca e apreensão da coisa, sendo que, se a coisa for encontrada ou entregue voluntariamente pelo réu, cessará a prisão e será devolvido o equivalente em dinheiro, nos termos do artigo 905, do CPC. Quando não receber a coisa ou o equivalente em dinheiro, poderá o autor prosseguir nos próprios autos para haver o que lhe foi

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reconhecido na sentença, observando-se o procedimento da execução por quantia certa. Os embargos de terceiro estão previstos nos artigos 1046 a 1054, do CPC, e são cabíveis quando alguém que não é parte no processo judicial sofre turbação ou esbulho na posse de seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como penhora, depósito, arresto, sequestro, alienação judicial, arrecadação, arrolamento, inventário, partilha, etc. Poderá então apresentar embargos de terceiro e requerer a manutenção ou restituição de seus bens. Os embargos de terceiro são admitidos também para a defesa da posse, quando nas ações de divisão ou de demarcação, for o imóvel sujeito a atos materiais, preparatórios ou definitivos, da partilha ou da fixação de rumos, bem como para o credor com garantia real obstar alienação judicial do objeto da hipoteca, penhor ou anticrese. Tem legitimidade para apresentar os embargos o terceiro senhor e possuidor ou apenas possuidor. Equiparam-se ainda à terceiros o cônjuge quando defende a posse de seus bens dotais, próprios, reservados ou de sua meação, bem como aquele que ainda que figure no processo defende bens que, pelo título de sua aquisição ou pela qualidade em que os possuir, não podem ser atingidos pela apreensão judicial. Os embargos podem ser opostos em qualquer tempo no processo de conhecimento enquanto não houver trânsito em julgado da decisão. No processo de execução, podem ser opostos até 5 dias após a arrematação, adjudicação ou remição, mas sempre antes da assinatura da respectiva carta. O embargante deverá elaborar petição nos termos do artigo 282, do CPC, bem como fazer a prova sumária de sua posse e qualidade de terceiro, oferecendo documentos e rol de testemunhas. Os embargos serão distribuídos por dependência e correrão em autos distintos perante o mesmo juiz que determinou a apreensão dos bens. Se o juiz entender que a posse foi suficientemente provada, deferirá liminarmente os embargos com a expedição de mandado de manutenção ou restituição em favor do embargante, que receberá os bens após prestar caução de os devolver com seus rendimentos, caso sejam ao final declarados improcedentes. Os embargos poderão ser contestados no prazo de 10 dias, findo o qual serão julgados.

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Por fim, a ação monitória encontra previsão nos artigos 1102-A a 1102-C, do CPC, e compete “a quem pretender, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, pagamento de soma em dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel”. O juiz deferirá de plano a expedição do mandado de pagamento ou de entrega da coisa, no prazo de 15 dias, sendo que nesse mesmo prazo poderá o réu oferecer embargos, que suspenderão a eficácia do mandado inicial. Os embargos não dependem de prévia segurança do juízo e serão processados nos próprios autos, pelo procedimento ordinário. Se o réu efetuar o pagamento no prazo assinalado, ficará isento do pagamento de custas e honorários advocatícios. Se os embargos não forem opostos ou se forem rejeitados, constituir-se-á de pleno direito o título executivo judicial, convertendo-se em mandado executivo e prosseguindo-se na forma do cumprimento da sentença.

c. Legislação

Código de Processo Civil (arts. 901 a 906, 1046 a 1054 e 1102-A a 1102-C) STF (Súmula Vinculante 25 do STF) STJ (Súmula 84, 134, 282, 292, 299, 339, 384, 419)

d. Julgados/Informativos

- STF. RE 466343/SP. Rel. Min. Cezar Peluso. DJe 04/06/2009 EMENTA: PRISÃO CIVIL. Depósito. Depositário infiel. Alienação fiduciária. Decretação da medida coercitiva. Inadmissibilidade absoluta. Insubsistência da previsão constitucional e das normas subalternas. Interpretação do art. 5º, inc. LXVII e §§ 1º, 2º e 3º, da CF, à luz do art. 7º, § 7, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica). Recurso improvido. Julgamento conjunto do RE nº 349.703 e dos HCs nº 87.585 e nº 92.566. É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”. - Informativo STJ 527, 9 de outubro de 2013, Quarta turma: Direito processual civil. Amplitude da matéria de defesa dos embargos à monitória. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/infojur/doc.jsp?livre=@cod=0527

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- Informativo STJ 511, 6 de fevereiro de 2013, Quarta turma: Direito processual civil. Embargos de terceiro. Legitimidade ativa do condômino que não participa da ação possessória. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/infojur/doc.jsp?livre=@cod=0511 - Informativo STJ 418, 30 de novembro a 4 de dezembro de 2009, Corte Especial: Repetitivo. Prisão civil. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/infojur/doc.jsp?livre=@cod=0418

e. Divergência

Com relação à prisão civil do depositário infiel, esta tem previsão legal no Código de Processo Civil e na Constituição Federal (art. 5º, LXVII). No entanto, em 1992, o Brasil ratificou o Pacto de São José da Costa Rica, que impede a prisão por dívidas. Nesse sentido, houve muita discussão acerca da aplicação ou não do Pacto de São José da Costa Rica, em razão de os tratados e convenções internacionais serem recepcionados ao ordenamento jurídico brasileiro na qualidade de normas infraconstitucionais. No entanto, com a promulgação da Emenda Constitucional nº. 45/2004, os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos aprovados em cada Casa do Congresso Nacional por três quintos dos votos, em dois turnos, passaram a equivaler às emendas constitucionais. Ocorre que o Pacto de São José da Costa Rica não foi aprovado observando o quórum previsto na EC 45/2004, razão pela qual a aplicação da pena de prisão civil continuou a gerar divergências. Em 2008, o Supremo Tribunal Federal entendeu pela impossibilidade de se decretar a prisão civil do depositário infiel, nos termos da decisão anexa, cuja ementa se transcreve: “EMENTA: PRISÃO CIVIL. Depósito. Depositário infiel. Alienação fiduciária. Decretação da medida coercitiva. Inadmissibilidade absoluta. Insubsistência da previsão constitucional e das normas subalternas. Interpretação do art. 5º, inc. LXVII e §§ 1º, 2º e 3º, da CF, à luz do art. 7º, § 7, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica). Recurso improvido. Julgamento conjunto do RE nº 349.703 e dos HCs nº 87.585 e nº 92.566. É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”.

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(STF. RE 466343/SP. Rel. Min. Cezar Peluso. DJe 04/06/2009). Essa decisão foi utilizada como precedente na elaboração da súmula vinculante nº 25, pelo STF, de 11/02/2010, que determina que “é ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”.

f. Questão debate

Antonio descobriu um impedimento administrativo gravado nos registros de seu automóvel perante o Detran, impossibilitando sua transferência, em decorrência de um processo judicial movido em face do anterior proprietário do veículo, que figurava como executado no processo, razão pela qual opôs embargos de terceiro. O juiz julgou a demanda improcedente, sob o fundamento de que não seria cabível a oposição de embargos de terceiro no presente caso, por não constar o impedimento administrativo dentre as hipóteses previstas no artigo 1046, do CPC. Em relação ao caso, pergunta-se:

a) A decisão do juiz está correta? b) As hipóteses do artigo 1046, do CPC, são taxativas?

g. Leitura sugerida

- BARROSO, Darlan; LETTIERE, Juliana Francisca. Prática jurídica civil. 6ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. - AGUIAR JÚNIOR, Ruy Rosado de. Embargos de terceiro. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 77, n.36, p. 17-24, out. 1988. Disponível em http://bdjur.stj.gov.br/dspace/handle/2011/452 - SHIMURA, Sérgio Seiji. Ação monitoria. Justitia, São Paulo, v. 58, n. 173, p. 27-36, jan./mar. 1996. Disponível em http://www.justitia.com.br/links/edicao.php?ID=173 - WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil. 13 ed. São Paulo: RT, 2014, v. 3 (ação de depósito, embargos de terceiro e ação monitória).

h. Leitura complementar

- AMADEO, Rodolfo da Costa Manso Real. Embargos de Terceiro: Legitimidade Passiva. São Paulo: Atlas.

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- BRUSCHI, Gilberto Gomes. Recurso especial. Embargos de terceiro. Citação pessoal ou na pessoa do advogado? Revista de Processo, v. 139, p. 183-190, 2006. - CARREIRA ALVIM, José Eduardo. Procedimento monitório. Curitiba: Juruá. - CRUZ E TUCCI. José Rogério. Ação monitória. São Paulo: RT. - HOFFMAN, Paulo. Monitória efetiva ou cobrança especial? Uma proposta para que o processo monitório atinja seus objetivos. Revista de Processo, São Paulo, n. 117. - MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sergio Cruz. Procedimentos Especiais. São Paulo: RT, 2012 (ação de depósito). - MAZZEI, Rodrigo; ZANETI JÚNIOR, Hermes. Ação monitória: primeiras impressões após a Lei n° 11.232/05. De Jure: revista jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, n. 9, p. 50-66, jul./dez. 2007. Disponível em http://bdjur.stj.jus.br/dspace/handle/2011/27936 - TALAMINI, Eduardo. Tutela monitória: a ação monitória – Lei 9.079/95. São Paulo: RT. - SILVA, Bruno Campos. Ação de embargos de terceiro – Algumas nuances diante da novel sistemática executiva. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et alli (coord.). O terceiro no processo civil brasileiro e assuntos correlatos: Estudos em homenagem ao Professor Athos Gusmão Carneiro. São Paulo: RT, 2010, p. 142-147. - SILVA, Bruno Freire e. Efeito e benefício dos embargos de terceiro ajuizados de forma preventiva. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et alli (coord.). O terceiro no processo civil brasileiro e assuntos correlatos: Estudos em homenagem ao Professor Athos Gusmão Carneiro. São Paulo: RT, 2010, p. 148-152.